CRAULY

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O versículo AL I,8 é o primeiro de muitos no Livro da Lei que inicialmente parece obscuro.

"Todo homem e toda mulher são estrelas" é algo que podemos compreender facilmente. "Sê
Tu Hadit, meu centro secreto, meu coração e minha língua!" é mais enigmático, mas
podemos alcançar seu significado. No entanto, "O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs"
é mais difícil de decifrar.

A resposta não é complexa, mas sutil, e pode ser difícil de apreender. Sua posição como o
oitavo verso de 220 nos dá uma dica de sua importância, e, sem dúvida, em suas doze
palavras está sintetizada a mensagem do Capítulo I.

De acordo com Budge, "Khabs" literalmente significa "estrela", enquanto "Khu" significa
"espírito". Outra interpretação é "céu estrelado" e "alma", respectivamente, que
essencialmente significam a mesma coisa. No "Novo Comentário" de Crowley, ele explica
que "Khabs" é a "Luz Secreta" ou "L.V.X.", enquanto "Khu" é a entidade mágica do ser
humano. Khabs representa a essência individual, eterna e original, enquanto Khu é a
construção mágica que o ser humano tece para si mesmo, uma "forma" além de qualquer
forma, através da qual pode experimentar a existência conscientemente.

Aqui, Khabs é emparelhado com a "essência individual, eterna", como expresso em AL I,3:
"Todo homem e toda mulher são estrelas". Khu é então entendido como a "entidade mágica
do ser humano", seu eu consciente, sua identidade e individualidade, através da qual ele pode
experimentar a existência. Este conceito desafia a ideia tradicional de que a alma é o núcleo
mais profundo, sugerindo que a alma é, na verdade, uma concha ou veículo externo, enquanto
há uma essência mais profunda, o Khabs, dentro dela.

É preciso uma reflexão mais profunda para compreender completamente essa afirmação.
Crowley frequentemente discute sua equação "0 = 2", que simplifica a cosmogonia básica de
Thelema. Esta equação explica metafisicamente como algo pode surgir do nada e retornar ao
nada.

O Livro da Lei descreve esses processos em AL I,29-30: "Pois sou dividida em nome do
amor, pela chance da união. Esta é a criação do mundo, de forma que a dor da divisão nada
significa, e o deleite da dissolução, tudo."

Essa "divisão" refere-se à separação do zero em (+1) e (-1), uma expansão simétrica a partir
de um ponto, enquanto a "dissolução" é o processo reverso, a combinação de (+1) e (-1), e
sua absorção de volta ao zero. Esses são os dois lados do ciclo de vida de todas as coisas
manifestadas, o nascimento e a morte. A infinita variedade das coisas manifestadas é
explicada pelo fato de que (+438.112.329) + (-438.112.329), por exemplo, equivale a zero da
mesma forma que (+1) + (-1). Essa equação também ilustra como, de acordo com essa teoria,
nada pode ser adicionado ou removido do universo, já que a soma total de todas as coisas
existentes sempre será zero, quer o universo esteja vazio ou repleto de vida.

Essa observação nos aproxima de entender não apenas "como" a criação funciona de acordo
com o Livro da Lei, mas também "por que". Segundo AL I,29-30, o "propósito" da criação
(da divisão) é pela oportunidade da união, pela oportunidade da dissolução, permitindo que
essas criaturas criadas sejam novamente absorvidas ou destruídas.

Este raciocínio pode parecer estranho, mas é crucial para entender o significado do verso AL
I,8. Como mencionado anteriormente, a equação 0 = 2 sugere que nada pode ser adicionado
ou removido do universo. Nuit, a "circunferência que nunca pode ser encontrada", personifica
o potencial total, representando tudo o que existe, existiu ou poderá existir. Esta
personificação apresenta um dilema imediato: se Nuit é o potencial total e nada pode ser
adicionado ou removido do universo, então, à primeira vista, Nuit não pode criar algo
separado dela mesma. Se este é o caso, é difícil conceber por que Nuit criaria algo ou
qualquer coisa.

Este dilema não é novo e é reconhecido em todas as teologias que abordam deidades
semelhantes. Por exemplo, se o Deus Abraâmico é onipotente, onisciente e onipresente, por
que criaria pessoas? Se ele é verdadeiramente todo-poderoso, poderia simplesmente criar um
exército de autômatos sem vida ou vontade própria além do que ele lhes deu. Brincar sozinho
com seus próprios brinquedos perde a graça muito rápido. A ideia de que este deus criou seu
povo com "livre arbítrio" é frequentemente apresentada como uma resposta, mas se ele já
sabe de antemão o que as vontades livres decidirão, então dificilmente pode ser descrito
como "livre".

Da mesma forma, se Nuit é todo o potencial e nada pode ser adicionado ou subtraído, qual
seria o motivo para ela criar algo? Se a soma total da existência sempre é igual a zero, qual é
a diferença entre um universo cheio de coisas e um vazio? Por que se dar ao trabalho de criar
coisas quando poderia alcançar o mesmo efeito não fazendo nada?

O Livro da Lei resolve onde outros relatos de criação falharam, fornecendo uma resposta
coerente e satisfatória para este problema (embora devamos lembrar que estamos lidando
com metáforas aqui e não devemos assumir que Nuit seja uma entidade consciente com um
propósito consciente e que realmente faça algo). Para ilustrar esta solução, Crowley escreve o
seguinte em "O Livro do Grande Auk", citado em seus trabalhos "Magick in Theory and
Practice" e "Magick Without Tears":

"Todos os elementos devem em algum momento ter sido separados - isso ocorre quando são
expostos a altas temperaturas. Assim, quando átomos alcançam o sol, há esse calor extremo, e
todos os elementos se tornam eles mesmos novamente. Imagine que cada átomo de cada
elemento retém a memória de todas as suas jornadas. Por esta razão, aquele átomo
(fortalecido com essa memória) não é mais o mesmo átomo; e ainda assim, é, porque não
agregou nada de lugar nenhum, exceto essa memória."

Portanto, através da passagem do tempo e pela virtude da memória, algo pode se tornar mais
do que é em si mesmo; assim, o desenvolvimento real é possível. Isso explica por que
qualquer elemento escolheria passar por essas encarnações, porque assim, e somente assim,
pode progredir. Sofre o esquecimento dessa memória durante essas encarnações, sabendo que
sairá delas inalterado.

O ponto crucial aqui é que "através da passagem do tempo e pela virtude da memória, algo
pode se tornar mais do que é em si mesmo; assim, o desenvolvimento real é possível." Nuit,
apesar de aparentemente impotente, tem um trunfo na manga: ela pode criar seres que se
percebem como separados dela. Se Nuit é o potencial total, ela não pode perceber nada
separado dela mesma, o que é o mesmo que dizer que ela não pode perceber nada - já que a
percepção requer pelo menos a existência de algo a ser percebido e alguém para perceber. No
entanto, um subconjunto consciente deste potencial total, acreditando-se separado e distinto,
pode perceber algo além de si mesmo.

Uma vez que Nuit, em si mesma, não pode perceber nada, criar indivíduos autoconscientes
adiciona algo real ao seu potencial. E esta é a explicação oferecida em AL I,29-30. A
"divisão" é, em parte, a criação de indivíduos autoconscientes que podem perceber e
experimentar, enquanto a "alegria da dissolução" é a união desses indivíduos com os objetos
de sua percepção - a aquisição de experiência.

Portanto, "Pois sou dividida em nome do amor" significa que indivíduos autoconscientes são
unidos aos objetos de sua percepção - o amor - à alegria, a dissolução como não todo que.
fazemos significam
VERSÍCULOS UTILIZADOS
1 AL I, 3
2 AL I, 6
3 AL I, 8
4 Published as An Extenuation of The Book of the Law in 1926, and posthumously as The
Law is for All.

5 AL II, 3

NT1 – Ernest Alfred Thompson Wallis Budge, arqueólogo britânico e diretor do Museu
Britânico.
NT2 – pontuar que a estrutura de ‘alma’ dos egípcios tradicionalmente não é tida como tão
simplista, com todo aquele bagulho de ‘ka’, ‘ba’ e tudo mais…
NT3 – obviamente o termo ‘man’ não se refere aqui ao indivíduo do gênero masculino, e foi
portanto substituído por ‘ser humano’.
NT4 – optei por ‘mágicko’ com ‘k’ porque este é o termo mais comum na literatura
thelemita, para que se faça distinção entre a arte e ciência de Magick e a prestidigitação e
ilusionismo (magic).

NT5: Penso que é pertinente apontar a importância do entendimento de Geburah, enquanto


sephira relacionada à separação, para aprofundar o raciocínio do autor. Note-se, também a
frequente relação entre a referida sephira e a existência do mal. Recomendo a leitura dos
capítulos “A sephira Geburah e a Origem do Mal”, “Geburah e Satan” e “Geburah e a
Criação”, do livro “Qabalah, Qliphoth & Goetic Magic”, de Thomas Karlsson, e cito também
um excerto do rabino Isaac Lúria, excerto também de minha tradução.
“Vede, que antes de as emanações haverem sido emanadas e as criaturas, criadas,
A simples luz superior preenchia completamente a existência.
Não havia vacuidade, tal como uma atmosfera, um oco ou um fosso,
Mas tudo estava preenchido de uma luz simples e sem fim.
E não havia nenhuma parte, nem cabeça nem cauda,
Mas tudo era a luz simples e imperturbada, homogeneamente equilibrada,
E era chamada de A Luz Ilimitada.
E, quando apenas por Sua simples vontade, veio o desejo de criar o mundo e emanar as
emanações,
Para trazer à vida a perfeição de Seus feitos, Seus nomes e Seus títulos –
que é a causa e razão da criação dos mundos –
Ele, então, restringiu a Si Mesmo, no meio,
Precisamente no centro,
Ele restringiu a luz.”
Rav Isaac Lúria apud Taylor 2008 em “The Creator and the Creation”, Upper Light
Publishing, Israel.

NT6 – II,23: Eu estou só: não há nenhum deus onde eu estou. II,47: Onde eu estou estes não
estão.
NT 7 – II,9: Lembrai-vos todos vós de que a existência é puro deleite; que as tristezas são
como meras sombras; elas passam e se vão; mas há aquilo que permanece.
NT 8 – I, 32: Então as alegrias do meu amor os redimirão de toda a dor.
NT9 – II,58: Sim! Não considerai mudança: vós sereis como sois & não de outra forma.
II,57: Aquele que é correto, que permaneça correto; aquele
que é imundo, que permaneça imundo.
NT10 – Ver Liber OZ.
NT11 – II, 58: Ninguém há de ser rebaixado ou elevado: tudo é como sempre foi.
NT 12 – I,52: Se isto não estiver correto; se confundirdes as marcas do espaço, dizendo: Eles
são um; ou dizendo: Eles são muito; Se o ritual não for
sempre dedicado à mim, então aguardai o severo julgamento de Ra Hook Khuit!
NT13 – II,2: Vinde, todos vós, E descobri o segredo que ainda não havia sido revelado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
[1] Crowley, A., The Book of the Law, Liber AL vel Legis sub figura
CCXX, Ordo Templi Orientis/London-England, 1st edition, 1938
[2] Crowley, A., An Extenuation of the Book of the Law, Privately
printed/Tunis-Tunisia, 1st edition, 1926
[3] Crowley, A., Magick in Theory and Practice, Lecram Press/ParisFrance, 1st edition, 1929
[4] Crowley, A., Magick Without Tears, Thelema Publishing
Co./Hampton-New Jersey, 1st edition, 1954
[5] Crowley, A., Liber II, The Message of the Master Therion appearing in The Equinox,
Volume III, Number I, The Universal Publishing Company/Detroit-Michigan, 1st edition,
1919

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