Revista-Infancias-e-Territorios-n-2 2
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e territórios 2
Prefeito do Município de São Paulo Equipe Administrativa
Ricardo Nunes Anna Maria de Feo Vieira
Secretário de Educação Márcia Landi Basso
Fernando Padula Estagiária
Secretário Adjunto de Educação Bianca Carlos Cruz
Bruno Lopes Correia
Secretária Executiva Municipal Produção editorial
Malde Maria Vilas Bôas Conselho editorial
Chefe de Gabinete Ana Barbara dos Santos
Omar Cassim Neto Dolores Prades
Coordenadoria Pedagógica — COPED Elenice de Carvalho Roda
Simone Aparecida Machado Tathiana Augusta Rodrigues Lourenço Martinez
Thiago Pacheco
Coordenação editorial
Divisão de Educação Infantil — DIEI
Dolores Prades
Diretor
Fotografia Elena Pasoli
Tássio José da Silva
Ana Barbara dos Santos
Equipe Técnica
Capa Fatima Ordinola;
Ana Barbara dos Santos
Contra capa Chengliang Zhu
Ana Paula Pereira Gomes Gibim
(ilustrações vencedoras do concurso internacional
Elenice de Carvalho Roda
de ilustração da 60ª edição da BCBF)
Juliana Manso Presto
Jussara Nascimento dos Santos Revisão textual
Kátia Regina Cavalcanti Roberta Cristina Torres da Silva
Matilde Aparecida da Silva Franco Campanha Revisão técnica
Shirley da Silva Santos Equipe SME/COPED/DIEI
Talita Alves Silva
Tathiana Augusta Rodrigues Lourenço Martinez
Thiago Pacheco Qualquer parte desta publicação poderá ser compartilhada (cópia
e redistribuição do material em qualquer suporte ou formato) e
adaptada (remixe, transformação e criação a partir do material
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) para fins não comerciais), desde que seja atribuído crédito
apropriadamente, indicando quais mudanças foram feitas na obra.
Infâncias e territórios [recurso eletrônico] / Secretaria Municipal de Educação.
Direitos de imagem, de privacidade ou direitos morais podem
Coordenadoria Pedagógica. – n. 2 (dez. 2022). – São Paulo : SME /
COPED, 2022. limitar o uso do material, pois necessitam de autorizações para o
262 p. : il. color uso pretendido. A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo
recorre a diversos meios para localizar os detentores de direitos
Bibliografia
autorais a fim de solicitar autorização para publicação de conteúdo
1. Educação Infantil. 2. Educação – Periódicos. I. Título. intelectual de terceiros, de forma a cumprir a legislação vigente.
Caso tenha ocorrido equívoco ou inadequação na atribuição
CDD 372.21
de autoria de alguma obra citada neste documento, a SME se
Código da Memória Documental: SME113/2022 compromete a publicar as devidas alterações tão logo seja possível.
Elaborado por Patrícia Martins da Silva Rede – CRB-8/5877
DISPONÍVEL TAMBÉM EM: <EDUCACAO.SME.PREFEITURA.SP.GOV.
BR/REVISTA-INFANCIAS-E-TERRITORIOS>
CARTA
5
DO
SECRETÁRIO perspectivas, diferentes formas de atuar, diferentes formas
de estar com e pelas crianças nessa empreitada que é a
educação.
Vamos alcançando os diferentes territórios da Cidade,
do Estado e do mundo, sempre na perspectiva de que
É com muita alegria que apresentamos a segunda edição da aprendemos melhor quando narramos nosso fazer, bem
Revista Infâncias e Territórios em versão online. A primeira como quando conhecemos o fazer do outro.
edição já teve milhares de visualizações, o que significa que Celebramos a continuidade desse trabalho ampliando
esse periódico está se tornando uma referência para estudos a implementação dos princípios do Currículo da Cidade e
e práticas. Continuamos esse trabalho com o objetivo de valorizando a experiência estética como parte essencial do
alcançar todas(os) as(os) nossas(os) professoras(es) da Rede, processo de desenvolvimento e aprendizagem de bebês e
seja como espaço de autoria, ou como fonte de estudos. crianças.
Acreditamos que a Rede Municipal de Ensino de São Paulo
tem muita potência a ser compartilhada. Desejamos a todas(os) uma excelente leitura!
Nessa edição, continuamos versando sobre o tempo
como principal elemento de diferentes fazeres. São 10 textos Fernando Padula
abordando o tempo a partir de diferentes olhares, diferentes Secretário Municipal de Educação
SUMRIO
Editorial 8 [EMEI] PROJETO MOTOCA NA PRAÇA, Lívia Guimarães Arruda 136
[CEMEI] JANELAS EDUCACIONAIS, Luciana Dias Simões 154
Artigo / Tema 12
Guia de leitura,
COMO TEM ÁRVORE NESSE MUNDO! Simone de Oliveira Andrade Silva e Cássia V. Bittens 172
Rayssa Oliveira e Viviana Cukier
MEU CRESPO É DE RAINHA, bell hooks 172
Entrevista 36 BUSCAR INDÍCIOS, CONSTRUIR SENTIDOS, Graciela Montes 182
ELENA PASOLI, À CAMINHO DE BOLONHA
TO-
RIAL
A edição nº 2 da Revista Infâncias e Territórios fecha o ciclo Entrevistamos Elena Pasoli, diretora da Feira do livro
do tempo como tema. O tempo é o fio condutor dos relatos. de Bologna, durante sua passagem no Brasil para acompanhar
O tempo da infância, o tempo da vida, o tempo da escola e a exposição Ilustradores Italianos, em junho de 2022.
o tempo da experiência. O tempo sempre será um elemento Na oportunidade, conversamos sobre as tendências no
essencial em nosso olhar para as infâncias, mas vamos universo editorial, a responsabilidade de pensar o trabalho
seguindo um caminho que precisa avançar para outros com livros com/para bebês e crianças. Como pensamos
organizadores do cotidiano da Educação Infantil. critérios, seleção e o lugar das políticas públicas para além
Este número abre com o artigo das pesquisadoras Rayssa da oferta de livros.
Oliveira e Viviana Cukier contando sobre as descobertas que As sessões Aqui mundo, Logo ali e Aqui rede (CEI direto,
podem ocorrer no tempo de caminhada entre um museu e CEI parceiro, CEMEI e EMEI) trazem o cotidiano das Unidades
outro, sobre convocar sentidos, sobre o tempo e o espaço no tempo que corre devagar do lado de fora, a falta de tempo
da relação e sobre o tempo e a lentidão necessários para que gera inquietações e convoca a expandi-lo, o tempo da
caminhar e fazer o caminho. formação de professoras(es) e de toda a equipe, o tempo dos
10 bebês como tempo da experiência, o tempo para ocupar a 11
cidade com motocas e o tempo das visitas pedagógicas.
O guia de leitura está um pouco diferente da primeira
edição. Temos a indicação do livro literário Meu crespo é de
Rainha, de bell hooks, título que faz parte do acervo das
Unidades de Educação Infantil, assim como entrou para
o Minha Biblioteca 2022. E uma indicação do livro Buscar
indícios, construir sentidos, de Graciela Montes, — livro que faz
parte do acervo de formação de professoras(es) presente
nas Unidades de Educação Infantil da Cidade de São Paulo
desde 2021 — e nos provoca com questionamentos como
por que ficar perplexo é um bem de onde novas significações
podem nascer?
Nas palavras de nossas formadoras e nossas assessoras,
encontramos elemento tempo na estética dos encontros e na
estética das relações na Educação Infantil como compromisso
para uma educação antirracista, não xenofóbica e para a
equidade de gênero. O educativo do Museu de Arte Brasileira
da Fundação Armando Alvares Penteado — MAB FAAP conta
os processos formativos vivenciados com professoras(es) da
Rede e versa sobre o tempo do distanciamento.
Desejamos boa leitura e que se sintam instigadas(os) a
revisitar suas relações com tempo.
COMO TEM
ARTIGO TEMA
12 13
RVORE
NESSE
M UNDO!
1
Numa manhã de segunda-feira, a frase de Jonas rompe o
ruído pesado do trânsito. Ele está numa calçada, em frente
à sua escola, com educadoras e crianças de sua turma.
Os adultos presentes se surpreendem com a frase, uma vez
que se encontram em frente à Praça Roosevelt, no centro de
São Paulo, e estão habituados a enxergar ali aridez, cimento,
concreto e fumaça. Em meio a tantos prédios e pressas,
na cidade que gosta de pronunciar a palavra escassez,
[email protected]
Viviana Cukier é pesquisadora da infância e professora, formada em
pedagogia na Universidade de São Paulo e especialista em arte-educação
RAYSSA OLIVEIRA pelo Instituto Singularidades. Atualmente, atua como professora e
e-mail: [email protected] atelierista no Colégio Santa Cruz e participa do Coletivo Desinvenções,
Arte-educadora, formada em Arquitetura (FAU-USP), realiza ateliês um coletivo de projetos para a infância que visa desinventar as muitas
com crianças e adultos e formação de educadores em escolas públicas certezas com que os adultos vêem essa fase da vida. É co-autora do livro
e privadas. Foi educadora no Bináh Espaço de Arte, atuou como arte- “Arquiteturas Fantásticas”, uma publicação da Escola Ateliê Carambola.
educadora em instituições culturais, como Sesc e Instituto Tomie
Ohtake, foi professora de artes na Rede Pública Municipal de São Paulo,
educadora e consultora no programa Jovens Urbanos do CENPEC,
colaboradora do Território Educativo das Travessias e do Prêmio REFERÊNCIAS
em seu ateliê itinerante que existe desde 2019. O ANDORINHA é um SALÓ, Julia; BARBUY, Santiago. Terra, Água, Ar, Fogo: para uma oficina-escola
inicial. 1977
carro-ateliê que percorre escolas e outros espaços com propostas
artísticas e convites ao encontro entre arte, natureza e território, SOCHA, Piotr e GRAJKOWSKI, Wojciech. Árvores. 2022.
ELENA A CAMINHO
37
DE
BOLONHA
PASOLI
Depois de dois anos de pandemia e de edições on-line, 2022
voltou a ser presencial, como foi preparar a Feira depois de
dois anos na telinha?
38 Elena Foi um processo bastante contraditório, por um lado encontros e abraços depois de 2 anos de contatos on-line. 39
foi um milagre, por outro, algo lógico e natural, depois dos Foi uma feira incrível. No final, estiveram presentes 1.070
últimos anos on-line. Foi um milagre, porque só em meados expositores de 90 países, incluindo o país convidado Sharjah,
de janeiro de 2022 foi decidido que a Feira se realizaria em e um programa de 18 exposições e mais de 250 eventos ao
março. Quando começamos a telefonar para os editores, eles vivo. E 21.432 visitantes — com mais de 40% de profissionais
achavam que seria impossível, que não teríamos tempo de vindos do exterior.
organizar tudo. Então, pensamos em organizar uma feira
pequena, pois continuávamos todos on-line, as restrições AB: Teve uma parte on-line também?
pela pandemia ainda estavam em vigor em muitos países, e
isso talvez impedisse muitos de comparecer. Foi complicado Elena Sim, realizamos transmissões ao vivo da Feira, aliás,
organizar os espaços, normalmente a Feira tem um espaço disponíveis na Internet; apresentamos de forma on-line o
determinado para cada país, mas era um tal de confirmar e espaço também, ajudando a quem não pode ir. Além disso,
desistir que era impossível prever. Para que vocês tenham uma coisa importante foi que a edição on-line pode ser vista
uma ideia, a Coreia, por exemplo, já tinha confirmado, por todos, sendo a Feira só para profissionais, famílias e
estava tudo certo e teve que desistir devido ao coronavírus outros interessados podem agora ter acesso.
e às determinações de quarentena. Redesenhar o espaço foi
complicado e desafiador, mas, por outro lado, foi natural,
pois, durante os dois anos on-line, realizamos muitos Elenice: Em 2018, São Paulo recebeu a exposição A ilustração
contatos e mantivemos tudo muito vivo, não paramos, e a
como porta para o mundo, com curadoria de Paola Vassali
e Dolores Prades, organizada pelo Instituto Emília com o
programação foi fácil de fazer.
apoio do Sesc São Paulo e do Instituto Italiano de Cultura
A surpresa foi a enorme participação que no final de São Paulo, em comemoração aos 50 anos da Feira do
tivemos. Foi incrível, totalmente inesperado para nós. Quem Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. Agora, em 2022, temos
pode veio e se deparou com uma Feira calorosa e ávida de a exposição A nova geração de ilustradores italianos, que
reúne trabalhos de 20 jovens artistas voltados ao universo Elenice: Concepção simplista, você quer dizer.
40 41
infantil. Você acredita que o livro ilustrado abre as portas do
universo das artes para bebês e crianças? Elena Sim, exatamente. Na Itália, existe uma feira de moda muito
importante de roupa para crianças. Eles escolheram os livros infantis
Elena Sim, muito! Květa Pacovská resume isso muito bem quando sobre os ícones da moda para vender durante o período da feira.
diz que: “Um livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma Os visitantes compraram os livros, livros de editoras que não
criança visita”. Vejam como é importante para a formação e para o conseguiam vender esses títulos, venderam tudo.
desenvolvimento da sensibilidade nas questões da arte. Outro exemplo foi quando o Papa Francisco esteve em Bolonha,
Na Itália, se trabalha muito a arte, mas pouco, muito pouco com o em 2017, uma série de livros lindos com temáticas sobre desigualdades,
álbum ilustrado. Pela minha experiência, o adulto não tem formação intolerância, enfim sobre questões humanas em geral foram escolhidos
sobre ilustração e álbum ilustrado, precisa ampliar esse repertório. para fazer uma exposição dentro de uma igreja. Não foi uma exposição
Na Itália, quando eu era criança e mesmo meus filhos, apesar de toda a católica, nem com conotação religiosa, foram selecionados livros
presença da história da arte, nas escolas não se fazia praticamente sobre diferentes temáticas que trabalham com temas humanistas e
nada em relação ao álbum ilustrado. de diferentes religiões. Foi incrível.
As pessoas não têm ideia, poucos sabem sobre a diversidade
AB: A proposta da revista Infâncias e territórios e a qualidade do que é produzido na literatura infantil. Mesmo
é precisamente sensibilizar para a arte também, levar para
meus amigos, advogados, médicos que têm acesso às livrarias e
os professores esta preocupação. Criar este repertório
conhecimento, não têm ideia da amplitude da literatura infantil e
e levar o álbum ilustrado para as escolas, “a primeira galeria de
arte que uma criança visita”. acreditam que qualquer livro serve. E, olha que eles poderiam me
perguntar!
Elena Uma coisa importante do álbum ilustrado é a qualidade dos
Ana Bárbara: Como você entende que esses dois anos
livros, os temas e tipos diferentes, as pessoas desconhecem. De modo
de distanciamento impactaram a produção e o processo
geral, se mantém a ideia de que os livros para crianças tem que ter
criativo do livro para infância?
gatinho, cachorrinho, estrelinha que fala…
42 Elena É possível perceber uma tendência temática Elena Exato. Uma coisa incrível que aconteceu na Europa e 43
internacional mais reflexiva no âmbito da pessoalidade, nos EUA, e imagino que por aqui também, foi o surgimento
da intimidade, da casa, da família, livros infantis sobre como de diversas formas novas de acesso aos livros e de como
a humanidade habita o mundo, uma reflexão sobre a relação se relacionar com eles. Formas novas de distribuição,
com a natureza, sobre a pandemia, a contaminação. abertura de pequenas livrarias de bairro, cafés literários,
Sobre o papel do ser humano no mundo e de como os seres todas iniciativas para se contrapor e combater essa guerra
humanos se relacionam com seus semelhantes e com a promovida pelos grandes grupos, como empresas de
natureza, uma reflexão sobre quem é esse ser humano diante comércio eletrônico . Quando o leitor entra nesses sites
de tudo o que está acontecendo, de como um vírus pode ter à procura de um título específico, ele vai e encontra, mas
atingido dessa forma o mundo inteiro. quando ele vai na livraria pequena, lá do seu bairro, o
Outra questão muito significativa, agora do ponto de vista livreiro, certamente, vai conversar sobre o livro e vai indicar
da estratégia editorial, é que as editoras se deram conta de outros. Esses encontros fomentam a formação de leitores e
que não é preciso produzir tanto, do enorme excesso que se retomam coisas que já existiam e que se perderam.
produziu nos últimos anos. E da importância de se recuperar
Elenice: Retomando a sua resposta de coisas incríveis que
o backlist, as publicações que estavam esquecidas.
aconteceram, a edição deste ano 2022 da Feira do Livro Infantil e
A necessidade de se recuperar títulos importantes e de
Juvenil de Bolonha teve uma mesa intitulada “Infâncias à margem:
mantê-los vivos. Esta estratégia é fundamental para o projetos de leitura em contextos vulneráveis”, como foi essa
mercado e a manutenção da qualidade das publicações. experiência?
AB: Isso dialoga com a questão de que o livro infantil pode falar de Elena Essa mesa surge de uma conversa com Dolores Prades
coisas diferentes, além das temáticas de bichinhos, e ampliou os temas — consultora da BCBF (Bologna Children’s Book Fair —
reflexivos, pessoais e teve uma pausa de produções excessivas.
em português Feira do Livro Infantil de Bologna) para a
América Latina — que me fez refletir sobre o fato de que a
44 pandemia evidenciou fortemente a distância e a diferença A participação do Brasil nesta mesa foi incrível, Bel 45
entre as diferentes infâncias, fruto do aprofundamento da Santos Mayer apresentou como a promoção da leitura, da
desigualdade social no mundo. A BCBF, maior evento cultural leitura literária, como direito de todas e todos, tem sido uma
em torno do livro para as infâncias, não podia ficar alheia a das vias de democratização e de conquista de visibilidade.
este problema. Milhões de crianças sem acesso ao livro, sem Mostrou como jovens conseguiram driblar a ausência de
as mínimas condições de existência e totalmente vulneráveis futuro por conquistas de afirmação em vários setores e áreas
diante dos conflitos e desigualdades. do conhecimento e profissionais. Experiências como esta
Países ricos como a Itália, por exemplo, tiveram um devem ser divulgadas!
percentual alto de crianças que tinham aulas on-line, mais
AB: Sabe-se que uma das formas de manter os professores,
ou menos nas mesmas condições. Sabe-se que não foi essa
os mediadores atualizados do que se produz é por meio
a realidade da maioria dos países, onde a desigualdade de
da imprensa, dos suplementos de cultura, etc. No nosso país,
acesso às aulas abriu um fosso ainda maior entre as infâncias. para além de alguns veículos especializados, os espaços são muito
Impossível não reconhecer os efeitos disso na formação das reduzidos. Como você vê isto?
futuras gerações de leitores.
Faço parte da comissão do IBBY (International Board Elena Essa questão é importante, pois não é só aqui que o
on Books for Young), que seleciona projetos de leitura pelo livro infantil não tem um espaço significativo nos grandes
mundo afora. Por intermédio desta instituição, conheci veículos de comunicação. Durante o período da Feira, todos
vários projetos voltados à promoção do livro e da leitura para os grandes jornais fazem suplementos especiais sobre
populações periféricas vulneráveis. A partir daí, junto com literatura infantil, menos quando as edições foram on-line, aí
Dolores, montamos um projeto, convictas de que esse tipo eles, penso, não achavam que fosse importante. Praticamente
de reflexão não apenas tem a finalidade de dar visibilidade nada foi divulgado. Outro exemplo: quando se trata de
a quem está nas margens, como é um momento para divulgar os prêmios Strega — prêmio anual de grande
multiplicar ideias e ser fonte de inspiração. prestígio na Itália — , para adultos, temos páginas e páginas
essa professora que lê seja também uma apreciadora do livro, da
46 nos jornais, mas quando se trata do mesmo prêmio para a 47
leitura. Seja, no final das contas, ela mesma uma leitora?
infância, as matérias são sempre pequenas, notas.
O mundo vive uma onda das séries, imagino que aqui Elena Voltamos sempre ao mesmo tema: o da formação
seja também essa febre, quantas são as séries que mostram do mediador. Essa é a grande questão. Se o Ministério da
crianças lendo, entrando em uma livraria, com livros nas Educação, o Estado, não dão importância e oportunidade
mãos, uma família leitora? Não é possível que só o professor, de formação dos professores, dos mediadores, fica difícil,
o bibliotecário, o mediador, fale de leitura… é um tema tão só comprar e oferecer livros. É fundamental que essa
importante que deve extrapolar esses espaços. professora seja leitora, sem isso fica difícil ela transmitir esse
amor pelos livros e pela leitura.
Elenice: Como você vê a importância da leitura para
as crianças nas escolas? AB: A SME comprou milhões de livros, esse ano tivemos a compra de
7 milhões de livros literários para as Unidades da Rede Municipal
de Ensino, sendo 5 milhões destinados ao programa Salas e Espaços
Elena A leitura para crianças pequenas é importantíssima, mas é
de Leitura, e os outros 2 milhões distribuídos por meio do programa
fundamental que haja uma continuidade para além da escola, nas Minha Biblioteca. Existem livros que vão para casa dos bebês e
famílias. Penso que o papel da família é fundamental, na pandemia crianças e outros para o acervo da escola, são milhões de livros. Existe
isso foi muito importante. É a família o primeiro lugar onde a criança uma comissão para a seleção desses livros, recebemos em média
pequena desperta para a musicalidade da linguagem, para a leitura, 5 mil livros e, para 2023, mais de 10 mil títulos que as editoras enviam
para serem analisados. E, no entanto, existe um impacto negativo
para a familiaridade com o objeto livro, que, além de um momento
quanto à compreensão do tema, cria-se um abismo, pois se o
lúdico, alimenta a curiosidade, traz conhecimento e prazer e é um
professor não tem formação fica difícil o trabalho. São muitos os
momento especial de aconchego. pontos complicados: desde as temáticas, como a “religiosa”,
até as questões de gênero, questões raciais, etc. É preciso formar o
AB: Você tem razão, mas voltando à escola e pensando nas professor, a escola e a família também.
professoras e professores, quanto é importante que
48 Elena Isso é um problema também na formação inicial desses ilustradores que se destacaram, considerar diferentes 49
professores. É necessário atualizar esses professores, conectá-los com critérios. E claro, se identificar com o livro, que deve nos
as questões atuais, diminuindo a brecha que os separa destas gerações tocar de algum modo. No caso dos pequenos leitores, os livros
mais jovens. Tem que formar esses professores como leitores. precisam se destinar a eles, falar com eles.
AB: Tem que mudar o curso de pedagogia, AB: Fica claro que o livro para as infâncias e juventudes é todo
o professor entra na sala de aula, lê para as crianças e nunca um mundo. E que BCBF é o ponto de encontro e a materialização
estudou nada sobre literatura infantil, é um curso que não estuda desse mundo. Elena, agradecemos imensamente o seu tempo e
literatura, o que deveria ser obrigatório. E quando tem é muito raso ou disponibilidade. As professoras e professores, certamente, vão
tem aquele caráter utilitário, curso para que o professor trate o livro agradecer poder conhecer mais de perto este trabalho incrível que a
como temática de uma aula e não pela literatura. Feira faz. Tomara que o nosso próximo encontro seja em Bolonha!
50 51
BELEZA E AO
TEMPO
A estética da aprendizagem ou a procura da beleza, como
Vea Vecchi (2010, p. 70) descreveu, foi abraçada pela filosofia
educacional de Reggio Emilia e pode ser vista e sentida nas
suas escolas, na riqueza de todos os espaços e ambientes
das salas e nos ateliers; na apresentação dos processos de
aprendizagem das crianças por meio da documentação
DA INFNCIA
52 dimensões: relações entre pessoas, entre objetos, materiais, 53
ambientes e lugares. A estética, neste contexto pedagógico,
é também uma abordagem multissensorial, pois os tempos,
materiais e espaços projetam a identidade da escola. Por
isso, é necessário que essa abordagem seja visível, que faça
sentido e tenha coerência para ser reconhecida por todos,
para permitir criar memórias do que vivemos e clarificar o
caminho que seguimos.
Carroll (1999, p. 188) considera a “Experiência estética”
como uma forma de encontrar estímulos que envolvam:
atenção, contemplação e reflexão crítica. É, por isso,
necessário estar-se consciente e atento para vivenciar
plenamente esta experiência. Vea Vecchi (2010) descreve
frequentemente como a estética deve ter uma presença
pedagógica significativa, porque é uma parte importante da
condição do ser humano e, para as crianças, a sensibilidade e
a sua expressão estética devem ser a sua forma de aprender.
Aproximar o olhar de uma criança à linguagem
artística como forma de comunicação é o que procuram os
1
atelieristas , apelidando este processo de “dimensão estética”,
O feijão-verde da
nossa horta
54 carregado do desejo de significado, curiosidade e admiração. investigador do mundo natural e inspirado pela sua beleza, 55
O atelierista prepara o atelier como um espaço cheio de luz, tal como as crianças que se encantam por tudo o que está
material natural, preparando para a exploração sensorial, lá fora. No nosso trabalho, os dois caminhos completam-
repleto de propostas de ampliação, projeção e outras se: apreciar a estética, mas compreender a ciência. Assim,
ferramentas de investigação. É no atelier que as crianças precisamos especialmente de imaginação na ciência. Não é só
se envolvem no processo de criar para alargar os seus matemática, nem só lógica, mas também alguma beleza e poesia,
horizontes de aprendizagem: como nos diz a astrônoma Maria Mitchell. (1896)
Tal concepção não significa afastar as crianças da
A arte significa ter mais linguagens e mais linguagens significa natureza, mas exatamente o contrário. “Encontrar beleza
mais formas de ver o mundo… devíamos ensinar as nossas em qualquer lugar” é uma premissa que nos faz abrir os
crianças a não ter olhares superficiais, queremos que tenham olhos para as possibilidades de descobrir o extraordinário
várias possibilidades de ver a mesma coisa, uma riqueza de no cotidiano. Como se pode ler na exposição permanente no
formas de ver. (RABITTI, 1992, p. 109). Museu Van Gogh, em Amsterdam, Vincent Van Gogh “via a
natureza e o artista como inseparavelmente ligados”. E tal como
Ainda na perspetiva de uma aprendizagem alargada e ele adorava pintar no exterior, o ateliê, muitas vezes, é o
enriquecedora, Albert Einstein (1931, p. 256) escreveu: exterior. Uma estética partilhada com o mundo natural, em
“A coisa mais bonita que podemos experimentar é o misterioso. É a que o interior e o exterior se fundem.
fonte de toda a verdadeira arte e ciência”. Arte e ciência são dois No exterior, o tempo corre devagar. Somos levados a
métodos entrelaçados de investigação que nos levam a uma abrandar e, tal como na arte, na natureza nada se faz com
maior compreensão do universo. Vemos o artista como um pressa. Precisamos aprender a transpor os limites dos espaços
e do tempo, precisamos entender que, para as crianças,
a aprendizagem ocorre em qualquer lugar e no seu tempo, ao
formação artística e como um “organizador, intérprete, co-organizador
seu ritmo, motivada pelo seu interesse. As noções temporais
e colaborador” (GANDINI, 2012).
56 são abstrações dos adultos, não se tocam, não se veem, não se 57
ouvem, não são reais para as crianças. Na infância, vive-se um
tempo contínuo do presente, do agora.
Para as crianças explorarem, os adultos precisam já com cinco gerações de famílias que sempre desenvolveram
atividades agropecuárias. Desde 2020, foi criada a Associação Casa
pesquisar e explorar aquilo que é oferecido, assim terão todas
do Monte que desenvolve atualmente atividades pedagógicas para
as condições para que possam também sentir-se encantados
maiores de três anos.
60 encontro geracional e à partilha de valores, como a cultura 61
local e os valores familiares; a sustentabilidade e a ecologia;
o sentido de pertença a uma comunidade e a um mundo
natural. As propostas que são pensadas no presente refletem
o ritmo da terra, das estações, do imenso calor ou do frio que
se sente na herdade, traduzem os ciclos de vida naturais e os
seus tempos.
O cuidado estético na apresentação dos materiais e propostas
Com tanta diversidade e beleza que nos rodeia, mantemos
um espírito inebriado de estímulos visuais que transparecem
em tudo o que fazemos. Os ateliers passam a integrar, As fontes de informação visual são cuidadosamente
selecionadas para ampliar as possibilidades estéticas
assim, as diferentes ciências e formas de olhar o mundo. Por
As propostas são enriquecidas
exemplo, ao contrário do que normalmente acontece nos por materiais de qualidade visual e
textual significativa
ateliers de expressão plástica, aqui não se trata apenas de
uma proposta de representação gráfica de flores, mas também
um autêntico atelier de botânica: de flores colhidas ali e das
flores que plantamos, e vimos crescer e florir. As mesmas
flores que observamos na primavera e no outono e que
sabemos identificar, as flores que também decoram os nossos
espaços interiores e que servem, por vezes, de elementos
que exploramos na mesa de luz ou na projeção com o
videoprojector. As flores que são fotografadas e se tornam
parte da nossa gramática visual, da nossa documentação e
do nosso conceito de belo. O mesmo acontece com a cortiça
62 torna a nossa Casa do Monte única, com uma identidade 63
singular.
O uso de um mesmo elemento nos vários contextos faz
com que as crianças entendam que uma coisa tem inúmeras
potencialidades. E este saber é transversal às artes e faz
parte de um pensar criativo. Assim, enquanto ateliêrista,
esta ideia da expansão de um mesmo material que possa ter
múltiplas utilizações tem de ser partilhado por toda a equipe.
Da mesma forma como quando adquirimos um livro para a
biblioteca, ele não chega com a função de explorar um tema,
mas sim com a infinita potencialidade de ampliar muitas
outras temáticas.
Deste modo, as crianças quando vêem as suas imagens
são capazes também de rever aprendizagens já abordadas
e de se questionar sobre tantas outras. As diferentes
bibliotecas temporárias que surgem agregadas aos contextos
de investigação são igualmente formas de permitir que as
O exterior e o retirada dos nossos sobreiros, que se torna suporte e parte crianças acedam, a seu tempo, à quantidade de informação de
interior diluem-se
nas suas propostas de contextos que permitem tantas aprendizagens, e as suas que necessitam. Os livros transitam nos espaços como reforço
pedagógicas
texturas tornam-se parte da nossa linguagem. visual, principalmente quando trabalhamos com crianças pré-
A escolha de espaços repletos por elementos naturais e leitores, e com o seu conteúdo textual como apoio informativo
uma paleta de cores que se vai redefinindo e crescendo, com para o adulto, mas eles pertencem aos espaços, estão
as contribuições daquilo que as crianças trazem nos bolsos, acessíveis, e não a um tempo determinado de exploração.
64 Na realidade, tudo precisa de tempo, e os adultos 65
correm muito. Dividem o tempo todo em parcelas pequenas
de objetivos, competição, avaliação, com a finalidade de
atingirem o sucesso. As escolas estão carregadas de currículos
rígidos, horários preenchidos, que impedem o adulto de parar,
estar presente, observar e refletir. Da mesma forma, impedem
as crianças de exercitar pensamentos profundos e estados
3
de fluxo , tornando-se a aprendizagem sempre superficial e
transitória de um dia para o outro, do saltitar constante entre
4
festividades e interesses que não são deles. O free-flow play é
algo que valorizamos muito, é muito próximo do brincar em
casa e muito distante do brincar na escola tradicional.
O processo
A riqueza e de pensar
diversidade de criativamente é
materiais maior do que o
e partes soltas espaço do atelier
68 O tempo que roubamos à infância não é devolvido, Cabe-nos perguntar como podemos educar 69
nem recuperável. Por isso, temos nós, os adultos, de exigir esteticamente as crianças? A educação estética está
menos dos dias e aproveitar mais. Fazemos do nosso espaço intimamente ligada ao imaginário pessoal, ou seja,
um exercício de contemplação, do viver devagar, ensinar pensar com imagens. O imaginário pessoal transcende a nossa
5
devagar , de tardes cheias de “nada programado”, e damos o personalidade (BLANCO, 2019, p. 85).
exemplo quando nos orientamos para os trabalhos da quinta É tudo o que temos como referencial e disponível, por
(como cuidar e alimentar os animais), convidando as crianças isso quão maior for a qualidade estética daquilo que nos
para as tarefas do cuidar sem pressa. Construindo espaços rodeia, melhor será este nosso imaginário. A educação
de ócio, como cabanas, casas na árvore, montando tendas e estética permite-nos ampliar os nossos conhecimentos nas
cantinhos onde se possa fugir à pressa: São necessários tempos áreas de design, ilustração, arquitetura, cinema, entre outras
lentos para uma infância rica (MARCANO, 2015, p. 76). linguagens artísticas. Assim, entendendo que não existe uma
única definição de beleza, cabe-nos, enquanto educadores,
Reduzir a velocidade da mente pode resultar numa melhor possibilitar o acesso às artes, à cultura, a outras formas de ver
saúde, calma interior, melhorar a concentração e capacidade e fazer. E para isso, temos de ser conscientes da importância
de pensar de uma forma mais criativa. Podemos recordar da qualidade estética do espaço educativo e de tudo o que
Kundera que lhe chamou sabedoria da lentidão. (HONORÉ, faz parte dele.
2016, p. 35). Num ambiente exterior, a natureza providencia a
harmonia, o equilíbrio, as diversidades de cores, tonalidades
e padrões, a luminosidade e a sua ausência, as formas,
elementos de design que aprendemos a imitar nas nossas
5 Slow living e slow teaching é uma adaptação do movimento slow produções humanas. Então, esse mesmo cuidado estético
que ensina a importância de viver sem pressa para ter momentos
é trazido para o espaço interior e mantido através do olhar
de qualidade. O slow teaching é inspirado também na obra de Shari
da criança: para onde ela olha, como interage com o espaço
Tishman.
70 e os materiais, onde gosta de passar o seu tempo. O espaço 71
tem de crescer, de ser modificado ao longo do tempo, com as
crianças refletindo os seus gostos e os seus interesses.
Todos os
espaços podem
ser o atelier
72 demoram muito tempo, revisitar e acrescentar ou se propõem atividades que permitem expressar-se com 73
concluir obras. o corpo todo, as crianças imergem-se e perde-se a noção
Afinal, quando é que uma obra está terminada? do tempo, do princípio e do fim. Por isso, para elas todo
Quando acaba a aula (um tempo demarcado pelo adulto) o tempo é pouco. E a fruição exige repetição, quer seja a
ou quando o artista a termina? É necessário um tempo fruição estética de contemplar algo verdadeiramente belo,
diferente do dos adultos para se conectar e criar enquanto quer seja a fruição emocional de fazer algo que se considera
criança, enquanto artista. extremamente prazeroso.
Por vezes, o processo criativo é como o inverno, escuro, Se considerarmos que o direito à beleza é fundamental
onde parece não existir nada mais do que um compasso para ser cidadão do mundo, então temos que reconhecer
de espera até à primavera. E, entretanto, ela chega, como o tempo como elemento essencial para a fruição do belo.
um rasgo de inspiração em que tudo floresce. Para as Temos de entender que ele tem diferentes percepções para
crianças (e artistas), o processo de criar começa com o fazer adultos e crianças, e que se queremos humanizar a escola
qualquer coisa, como exemplo, manipular os materiais, infantil, temos de o deixar correr, dando tempo à infância
atravessando estes momentos de vazio e saltitando muitas para passar devagar.
vezes entre atividades, voltando depois à bancada de
trabalho e explorando novamente. Neste vai e vem de
movimentos criam-se as conexões e geram-se as ideias. Por Palavras-chave: tempo; arte; atelier; infância; estética
isso, precisamos de free-flow play, de liberdade de ir e vir, da
liberdade dos movimentos (de pé, sentado, deitado). O atelier
de um artista é um puro estado de caos onde a liberdade flui,
tal como fluem os pensamentos e os movimentos.
E, se para algumas crianças é a mão a principal
ferramenta (ou a tela), para outras é o corpo inteiro. Quando
GANDINI, L.; HILL, L.; CADWELL, L.; SCHWALL, C. O papel do atelier na
74 ANA DE MESQUITA GUIMARÃES educação infantil: a inspiração de Reggio Emilia. Porto Alegre: Penso, 2012. 75
[email protected] HONORÉ, C. Elogio de la lentitud: un movimiento mundial desafía el culto
Formadora desde 2010 nas áreas artística e da pedagogia. Desenvolve a la velocidad. Barcelona: RBA, 2016.
consultoria em diversas comunidades educativas em Portugal. Colabora KORINTUS, M. Mamá venderá a recogerte despúes de la siesta. El tiempo
com diferentes editoras portuguesas e participa ativamente em de la infancia, Rosa Sensat, p. 25-27, oct. 2013.
TISHMAN, S. Slow looking: the art and practice of learning through observation.
BLANCO, V.; CIDRÁS, S. Educar a través da arte: cara a unha escola
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imaxinada. Santiago de Compostela: Kalandraka, 2019.
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FRANCHESCH, J. Ellogio dell’educazione lenta. Brescia: La Scuola, 2011.
LOGO ALI / SÃO BERNARDO
76 77
SOB
DIFERENTES Cantar, dançar e viver a experiência mágica de suspender o
céu é comum em muitas tradições. Suspender o céu é ampliar
o nosso horizonte; não o horizonte prospectivo, mas um
TEMPOS
existencial. (KRENAK, 2019, p. 17).
CHRONOS E AIN NA apresentar estes textos para outros, mas escrevia para mim,
para olhar e criar um diálogo com a minha prática, como
Iasmin de Oliveira
78 O ensaio que aqui apresento, construído a partir de dentro deste sistema precisamos acompanhá-lo. Pouco 79
leituras, ideias e encontros, representa um exercício a pouco, vamos nos afastando do que é essencial e nos
de reflexão e ressignificação da minha prática educativa. Por aproximando de um tempo, como diz Krenak (2019, p. 14),
isso, narro em primeira pessoa, exteriorizando desconfortos, especialista em criar ausências.
preocupações e anseios guardados em mim. Essa rotina das ausências chega também às Unidades
No meu percurso como arte-educadora atuando em Educacionais. Muitas vezes, parecem transbordar de nós
espaços de ensino formal, a começar pelo Programa educadora(es) e recair sobre as crianças, que acabam por ser
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID — ignoradas em suas necessidades mais puras e simples em prol
CAPES) na Prefeitura de São Paulo (2016-2018), em que atuei do cumprimento de rotinas, prazos, grade curricular e tarefas
na EMEF Celso Leite Ribeiro Filho, com turmas de 3º e 4º ano, de todos os tipos, que aparentam ser mais importantes do
e como Professora de Arte pela Prefeitura Municipal de que a própria experiência da criança.
São Bernardo do Campo (desde 2019), atuando em diversas Um dos maiores desafios com o qual me deparei ao
escolas, de pequeno, médio e grande porte, com turmas de ingressar na Prefeitura Municipal de São Bernardo do
Educação Infantil e Ensino Fundamental, pude observar que Campo (2019) e iniciar minha carreira como professora de
o cotidiano de uma escola pode ser muito acelerado, cheio Arte na Educação Infantil foi a qualificação do tempo de
de afazeres, demandas e cobranças em todos os níveis. aprendizagem. Pela primeira vez, me encontrei com duas
A preocupação de dar conta de tudo pode transformar um realidades diferentes: atuar como Professora de Arte
ambiente fértil em um espaço sem brilho e com pouca vida. de crianças de três a seis anos e em uma escola de período
Acredito que esta é uma ação que também acontece no integral. Desde então, atuei em quatro escolas, atendendo
cotidiano de forma (anti)natural conforme vamos crescendo turmas de Educação Infantil: EMEB Mariana Benvinda da
e nos ajustando às necessidades e demandas da sociedade Costa (2019-2021); EMEB Luiza Maria de Farias (2019); EMEB
contemporânea e capitalista, e passamos a acreditar que as Marcos José Ribeiro (2021-2022); EMEB Hygino Baptista
coisas são assim porque “tem de ser” e que para sobreviver de Lima (desde 2022), todas estas Unidades fazem parte
80 do Programa Educar Mais, logo, escolas de tempo integral que não se submetem ao tempo 81
que contam com aulas de Arte e Educação Física. Dentro cronológico.
desta realidade, encontrei uma configuração horária já
estabelecida: duas horas-aula semanais de Arte por turma, Dessa forma, ao realizar os encontros de arte com as
normalmente organizadas em dias e turnos diferentes. crianças, fui enxergando como a concepção de “aula de Arte”
Conforme fui compreendendo melhor a dinâmica das com tempo preestabelecido de uma hora pode apresentar
crianças nos encontros de arte e a vida que pulsa na Educação um viés controlador se pensarmos que todas as crianças
Infantil, comecei a ter alguns conflitos relacionados à gestão precisam realizar a mesma proposta durante todo o período
do tempo desses encontros em detrimento do tempo de do encontro, e até mesmo ser limitante, visto que o tempo da
experiência das crianças. experiência não se restringe ao tempo cronológico.
Neste percurso, me deparei com a definição de dimensão
Se considerarmos que a aprendizagem
estética apresentada por Vea Vecchi (2017), como uma
artística se faz no contato com atitude de cuidado e de atenção para aquilo que se faz,
como desejo de significado, maravilhamento e curiosidade.
o outro e com a arte, partilhando
Era o que buscava trazer para meus encontros com as
olhares, experimentando crianças. Compreendi que para que a experiência de fato
acontecesse e fosse algo que atravessasse as crianças, era
materialidades, gestos, sons
preciso criar espaço e tempo de conexão significativa entre
e diferentes formas de fazer, acontecimentos.
conseguimos compreender que é um É interessante pensar a estética para além da sua relação
com a arte e dos modelos de beleza clássica tão conhecidos,
processo que demanda tempo de compreender que a estética não está estritamente relacionada
experiência e conexão. Duas ações à arte, mas à vida, pois tem a ver com o olhar sensível, que
82 dá atenção aos detalhes, que extrai o extraordinário do
ordinário, que se atém às minúcias da existência, ao tempo
da experiência. É o oposto da ausência. É uma conexão
significativa.
Foi a partir desse olhar para a estética do sensível, que
se faz no encontro com o outro, que passei a questionar
como poderia qualificar o tempo dos encontros de arte:
Como garantir às crianças um tempo de aprendizagem que
busque a inteireza do ser? Quais estratégias poderiam ser
criadas para alargar este tempo de experiência, de contato
com o outro? Como garantir que as pesquisas iniciadas pelas
crianças não se limitassem ao tempo preestabelecido de Após reflexão entre teoria e prática, trocas estabelecidas
um encontro? A partir dessas inquietações, busquei refletir com colegas e reconhecimento de alguns incômodos
sobre a minha prática e pensar “fora da caixa”, pensar nas que me tocavam diretamente, compreendi que qualificar o
necessidades das crianças que se apresentavam diante de tempo de encontro não significava aumentar ou diminuir
mim e no que eu poderia fazer para supri-las, sem esquecer a duração preestabelecida, mas garantir o tempo de
que permanecia dentro de uma rotina escolar de educação experiência da criança, considerando que este tempo pode
de tempo integral, que fazia parte de uma engrenagem variar de criança para criança, afinal as experiências são
muito maior, que dependia não somente de mim para girar, pessoais. Assim sendo, o desafio consistia em como equilibrar
mas de profissionais de diferentes áreas — cozinha, apoio os diferentes tempos — de cada criança e de cada grupo —
escolar, auxiliares de educação, oficiais de escola, gestão ante a rotina escolar.
e demais professores — que também apresentavam suas Aos poucos, fui me ajustando junto às crianças,
especificidades quanto ao tempo. professoras e professores da sala referência, estabelecendo
84 diálogos e traçando estratégias para que juntos pudéssemos Os encontros com os pequenos grupos deixaram ainda 85
tirar o melhor proveito de cada encontro e oportunizar um mais em evidência a necessidade de organizar o tempo de
encontro entre criança e processo criativo que tivesse acordo com a experiência. Em alguns encontros, a depender
como eixo central a qualidade e não a quantidade de horas. da proposta a ser desenvolvida junto com as crianças, era
Afinal, se afirmamos que a experiência é um processo pessoal necessário um tempo maior que trinta minutos. Passei a
de conexão, dissociado da hora-aula, podemos repensar o compreender a grade horária apenas como uma organizadora
modo como enxergamos esse encontro, criando dentro dele da rotina, de modo a permitir que toda a engrenagem
novas configurações, de modo a respeitar o processo de continuasse girando, mas que dentro dela poderiam ser
construção de conhecimento da criança em cada etapa da criadas variações para atender as necessidades das crianças a
criação artística. cada encontro.
A princípio, optei por realizar os encontros com A partir deste momento, me reorganizei junto com as
pequenos grupos, o que consistia em levar metade da turma professoras e professores das salas referência e, de acordo
para o ateliê (ou outro espaço em que aconteceria o encontro com o que seria desenvolvido no encontro de arte e/ou na
de arte), enquanto a outra metade permanecia com a proposta da sala referência, combinamos se seria feita a
professora ou professor da turma realizando outra proposta, divisão do número de crianças em pequenos grupos ou não, e
depois os agrupamentos eram trocados, garantindo assim qual o tempo de duração do encontro (trinta minutos ou uma
que todas as crianças da turma pudessem vivenciar as duas hora). Era o tempo da experiência conseguindo seu espaço.
propostas. Era o chronos dando a mão para o aión.
Inicialmente, esta nova configuração me ofereceu uma Segundo Walter Omar Kohan (2004, p. 94):
qualidade de encontro que nunca havia experimentado.
Estar com a turma reduzida, me oportunizou olhar mais As distinções entre história e devir, chrónos e aión, macro e
individualmente para as crianças, ouvi-las e estabelecer micropolítica, podem nos ajudar a pensar a infância. Em certo
mediações mais assertivas. sentido, há duas infâncias.
86 Uma é a infância majoritária, a da continuidade cronológica, 87
da história, das etapas do desenvolvimento, das maiorias
e dos efeitos: é a infância que, pelo menos desde Platão, se
educa conforme um modelo. Essa infância segue o tempo
da progressão sequencial: seremos primeiro bebês, depois,
crianças, adolescentes, jovens, adultos, velhos. Ela ocupa uma
série de espaços molares: as políticas públicas, os estatutos,
os parâmetros da educação infantil, as escolas, os conselhos
tutelares.
Existe também uma outra infância, que
habita outra temporalidade, outras linhas,
a infância minoritária. Essa é a infância
como experiência, como acontecimento,
como ruptura da história, como revolução, como resistência e
como criação. […] É a infância como intensidade, um situar-se
intensivo no mundo; um sair sempre do “seu” lugar e se situar
em outros lugares, desconhecidos, inusitados, inesperados.
REFERÊNCIAS
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
96 97
REPENSANDO
TEMPOS,
ESPAÇOS E
O CURRICULO MATERIAIS
DA Ressignificar (v.)
É olhar de dentro para fora. É encontrar novidade no que
CIDADE
a gente vê todo dia. É saber que as coisas mudam tanto
quanto pessoas. É recriar o que um dia foi criado. É a própria
regra. É saber lidar com o novo. É perceber que tem um
pouco da gente em tudo o que a gente faz. É um exercício de
autoconhecimento.
organizaria contextos também nesses A partir de nossos estudos nos momentos de formação,
locais. A areia não precisaria mais estar surgiram algumas ações concretas garantidas por intermédio
do Programa de Transferência de Recursos Financeiros —
presente apenas no dia do tanque de PTRF e pensadas para ampliar a oportunidade dos bebês,
areia, ela poderia estar presente em mesmo os bem pequenos, para que pudessem ter o
movimento livre garantido e ir descobrindo por eles mesmos
112 o que seus corpos poderiam fazer, sem intervenção direta 113
do adulto. Desta forma, uma estratégia que utilizamos foi
retirar os berços da sala do Berçário, possibilitando maior
espaço para os bebês se movimentarem, e trocamos o piso da
sala por outro com maior conforto térmico, mas, ao mesmo
tempo, firme. Posteriormente, também realizamos a troca
dos mobiliários, pensando em como oferecer desafios para o
desenvolvimento motor dos bebês e garantindo a segurança
naquele espaço. Outras aquisições feitas com o uso das
verbas foi uma rampa de madeira para proporcionar desafios
motores e uma cerca na intenção de separar os bebês que
não engatinhavam daqueles com maior desenvolvimento
motor. E as mudanças não pararam aí! Outros espaços
também foram transformados com a intenção de ampliar a
autonomia e proporcionar experiências interessantes para os
bebês e crianças pequenas. No fundo da Unidade, tínhamos
um espaço que não era utilizado. E se construíssemos
um deck? Parecia impossível, mas aconteceu! A ideia que
surgiu como uma sugestão das famílias em uma Reunião
de Conselho de Escola foi ganhando vida a partir do
momento em que buscamos as formas reais de concretizar,
como solicitar aprovação da obra pela engenheira da DRE,
prever os custos no planejamento anual de gastos, dialogar
114 coletivamente sobre como gostaríamos que este espaço 115
ficasse… por isso, foi necessário muito empenho coletivo
para que pudéssemos ter um deck de madeira como um novo
espaço na escola. E quanto mais investimos nas mudanças
nos espaços, mais potentes se tornam as pesquisas das
crianças! As novas materialidades e os espaços transformados
refletiram na forma como os bebês e as crianças pequenas
se relacionavam com os espaços, proporcionando novas
interações entre elas e os objetos, a natureza e o mundo. Os
bebês que antes estavam limitados a alguns espaços do CEI
passaram a utilizar o deck, as oportunidades de contato com
materialidades de diversas texturas para além do plástico se
ampliaram significativamente, e a liberdade de movimentos
proporcionaram que bebês e crianças descobrissem por eles
mesmos novas formas de interagir com o mundo. Além disso,
as professoras passaram a organizar os espaços e materiais a
partir de uma escuta sensível dos interesses dos bebês e das
crianças registrada em seu planejamento, garantindo que as
pesquisas acontecessem sem que eles tivessem que ensinar
ou intervir, ou seja, ofereciam situações interessantes,
desafiadoras mas sem determinar previamente como os
bebês e as crianças iriam interagir com aquele contexto.
Foram mudanças muito significativas!
116 Ainda são inúmeros os desafios e os tempos que precisamos 117
flexibilizar. E é preciso enfatizar que todo esse caminho percorrido REFERÊNCIAS
desde 2018 não foi simples, nem linear, mas entendemos que
este é um processo que estamos construindo juntos e que tem BARBOSA, Maria Carmen Silveira; HORN, Maria da Graça Souza.
Organização do espaço e do tempo na Educação Infantil. In: CRAIDY,
permitido que os bebês e as crianças pequenas vivam suas Carmem; KAERCHER, Gládis E. (org.). Educação Infantil: pra que te quero?.
infâncias plenamente no CEI SILVIA COVAS. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Palavras-chave: infância; currículo; tempos e espaços DOEDERLEIN, João. (Akapoeta). O livro dos ressignificados. São Paulo:
Paralela, 2017.
Pedagógica na Prefeitura Municipal de São Paulo desde 2012. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Orientação Normativa de registros na Educação Infantil. — São
Idealizadora do perfil @infanciaeinspiracoes nas redes sociais
Paulo: SME / COPED, 2020.
Instagram e Facebook.
AQUI NA REDE / CEI PARCEIRO
118 119
PEQUENA
verde, destinado às crianças pequenas. Inicia-se um trabalho
de escuta, o compromisso era lançar um fio condutor,
traçando caminhos que pretendíamos percorrer no Centro
ESTTICA
montada na região de Shang. Esse lugar, creche, CEI, ao longo
desses anos, tem nos apresentado suas montanhas, relevos,
planícies. Paulatinamente, vamos descobrindo e encontrando
as belezas do entorno e da vida que pulsa por aqui e, dessa
forma, se concretizando todos os dias com novas descoberta.
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: formação; coletivo; processo Instituição: CEI Jardim Shangrila
CEI Jardim Shangri-lá, do Centro Comunitário Jardim Autódromo e BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na infância?. São Paulo:
Blucher, 2012. (Coleção InterAções).
professora de educação infantil da rede municipal de São Paulo.
BARDANCA, Ángeles Abelleira; BARDANCA, Isabel Abelleira. O pulsar do
Participa da Formação Continuada com o Instituto Avisa lá desde 2000 e
cotidiano de uma escola da infância. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2020.
atualmente em parceria com avisa lá – No projeto de formação do CCJA
BRASIL. Lei nº 8.069, de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
“A natureza como essência do humano – Revisitando os ambientes dos do Adolescente, e dá outras providências. Brasília, DF, 1990.
CEIs do CCJA”
BRASIL. [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional]. Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996.Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, DF, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Padrões
136 DF: MEC, 2016. básicos de qualidade da Educação Infantil Paulistana: Orientação 137
Normativa nº 01/2015.São Paulo: SME/DOT, 2015.
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de 2 anos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação.
Currículo Integrador da Infância Paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2015.
CABANELLAS, Maria Isabel; ESLAVA, Clara; ESLAVA, Juan José; POLONIO,
Raquel. Ritmos infantis: tecidos de uma paisagem interior. 2. ed. São SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Tempos
Carlos: Pedro João Editores, 2020. e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, creches e EMEIs da
Cidade de São Paulo. São Paulo: SME/DOT, 2006.
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em regime de mútua cooperação, de Centros de Educação Infantil — CEI TRIVELA, Murilo. O que significa Shangrilá?. Disponível em educacao.
para o atendimento de crianças na faixa etária de zero a três anos. São umcomo.com.br/artigo/o-que-significa-shangrila-30556.html
Paulo: SME, 2017. acesso em 25/03/2023
SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Orientação
Normativa nº 01/13: avaliação na Educação Infantil: aprimorando os
olhares. São Paulo:SME/DOT, 2014.
AQUI NA REDE / EMEI
138 139
PROJETO
MOTOCA
Ah, a rua! Só falam de tirar as crianças da rua.
Para sempre? Eu sonho com as ruas cheias delas
É perigosa, dizem: Violência, drogas… E nós adultos
Quem nos livrará do perigo urbano?
De quem eram as ruas? Da polícia e dos bandidos?
Vejo por outro ângulo: Um dia devolver a rua às crianças
DA REPBLICA E perguntas que nos tocam como educadores, entre elas: onde
ARREDORES
Lívia Guimarães Arruda
140 estão as crianças na cidade? Qual é o lugar da criança na 141
cidade? Existe um lugar de criança? E, a principal delas, como
podemos tornar a cidade menos hostil e mais acolhedora
para todos e todas, incluindo as crianças bem pequenas?
Nosso projeto acontece num entorno que, inicialmente,
se apresenta hostil aos encontros e vivências. Nossa escola
fica dentro da Praça da República, que é tradicionalmente
vista como um local perigoso, sujo e violento e,
definitivamente, um espaço não acolhedor às crianças.
Considerando esta conjuntura, o projeto, ainda de maneira
despretensiosa e intuitiva, começou a tomar forma. Como
citado no Currículo da Cidade:
Objetivos do projeto
O objetivo amplo do Projeto Motoca na Praça é ativar
experiências das crianças com e na cidade, utilizando as
saídas com as motocas como um disparador. A partir desse
objetivo amplo, temos seu desdobramento em alguns
objetivos específicos:
serviços, instituições e equipamentos culturais e sociais
• Destacar a cidade como espaço de aprendizagem e, da região.
sobretudo, de experiência para as crianças.
• Propiciar experiências lúdicas com as motocas para Partindo da praça da República, temos a possibilidade
além do chão da nossa escola, transformando a cidade em de conhecer e perceber as mais diversas realidades de nossa
espaço de brincar. cidade, e também de sermos vistos como participantes
• Contribuir para a visibilidade da infância na cidade, desta. Por meio de nossos passeios, nos deparamos com
especificamente na região central de São Paulo. uma enorme gama de pessoas, trabalhadores do comércio,
• Fortalecer as relações em nosso território educativo, garis, turistas, pessoas em situação de rua, mas também
estabelecendo parcerias com moradores vizinhos, nos fazemos presentes, não como observadores de uma
146 alguns pontos primordiais de atenção e direcionamentos uma 147
vez estando com as crianças na rua. Isso significa que
mais do que organizar um grande evento de saída como
um “passeio” escolar que ocorre de modo eventual,
queremos que as saídas componham as vivências cotidianas
das crianças tal como ir ao parque, tomar lanche, ir
à brinquedoteca, o que implica em sensibilidade das
educadoras e educadores envolvidos para reconhecer os
ritmos urbanos e fazer uso dele com as crianças.
O projeto na prática
A proposta teve início em minha turma, porém a Unidade
Educacional já apresentava um histórico de intervenções no
realidade distante ou alheia a nós, mas como membros desta sentido de se apropriar do entorno do prédio com pequenos
comunidade tão plural. Pois, como já mencionado, um dos passeios pela praça, colando adesivos com a frase “Criança
objetivos centrais da proposta se dá neste intuito, de tornar na área”, marcando território. Portanto, o projeto apenas deu
a presença de crianças nestes espaços algo natural e, de certa seguimento e ampliação a uma prática já experimentada,
forma, esperado. inclusive no PPP da escola consta a intencionalidade de
Para atingirmos este objetivo, as saídas possuem um exploração do entorno, em especial da praça, mas também
caráter ambivalente, pois devem ser conduzidas com certa dos equipamentos culturais do entorno.
“despreocupação”, como algo corriqueiro e sem grande Começamos explorando as motocas dentro do nosso
alarde, mas, ao mesmo tempo, exigem grande esforço da espaço, exercitando a pedalada em si. Aqui cabe destacar
equipe escolar para que o planejamento das saídas considere o fato de a nossa escola já ter disponível um grande
148 número de triciclos, garantindo a participação de todas as devemos ter com elas? São perguntas que ficam no 149
crianças de determinada turma. Após esta primeira etapa, ar, sem a necessidade de respostas fechadas, mas se fazem
começamos a nos aventurar pela praça. Para garantir a fundamentais porque não eram realizadas até então.
segurança de todas e todos, as crianças sempre saem com um Além de ir ao encontro das pessoas, também queríamos
colete de identificação, e a gestão da Unidade Educacional ser vistas(os). Para isso, convidávamos as crianças para dar
disponibiliza, no mínimo, dois ou mais funcionários para um belo “Bom dia” em uníssono a todas(os) que
acompanhar o trajeto. Além disso, as crianças possuem uma cruzavam nosso caminho, estratégia que sempre teve
autorização permanente de saídas pelo entorno assinada êxito na hora de chamarmos a atenção para nós. As respostas
pelos responsáveis. eram variadas, pois cada uma(um) que estava naquele espaço
Nas primeiras saídas, o percurso se resumia ao pode ter uma impressão sobre nós e sobre aquela atividade.
contorno da Unidade pela parte de fora, rente ao gradil. Uns cumprimentavam de volta, outros achavam graça,
Aos poucos, conforme nos sentíamos mais outros, ainda, ignoravam. E esta é a vida na cidade para
confiantes e seguras(os), sensação esta todas(os) nós. Mas, de uma forma ou de outra, marcávamos
perceptível por meio de linguagem corporal, nossa presença. Afinal, quem não se afeta por um grupo de
com as crianças demonstrando domínio dos crianças exclamando um sonoro “Bom dia”?
caminhos, tomando a frente nas saídas e solicitando De certa forma, percebemos como a simples presença de
cada vez mais sua realização, começamos a alongar nosso crianças nestes espaços reverbera processos humanizadores
trajeto, adentrando a praça. Quando começamos a entrar, no entorno. Momentos singelos, curtos, efêmeros, mas que
de fato, na praça, começamos a ver e ser vistos por todas(os) valem a pena.
que lá estavam e passavam, nos motivando a produzir Algumas saídas tinham algum foco mais específico, por
rodas de conversa com as crianças sobre nosso entorno: exemplo, procurar os garis da praça para entregar desenhos
quem são essas pessoas? O que elas estão feitos pelas crianças, ou então entregar flores ou chá para
fazendo? Quais cuidados e/ou tratamentos os transeuntes. Também realizamos várias saídas para fazer
150 desenho de observação e fotografias. Propus intervenções 151
mais direcionadas na tentativa de trabalhar o olhar sobre o
outro, sobre as pessoas que passam e/ou habitam a praça, um
contato mais concreto e não apenas à distância.
Atravessando a rua
O projeto acontece desde 2019, inicialmente com uma das
turmas de nossa Unidade Educacional, porém com uma pausa
nos momentos de ensino remoto. Em 2022, voltou mais
fortalecido, com saídas mais frequentes, em média uma vez
por semana e com participação de mais turmas da escola.
As famílias foram sempre informadas da proposta, inclusive
com participações eventuais de acordo com disponibilidade e
demanda, dependendo do trajeto a ser percorrido. de Memória do Circo. Também pedalamos até o Copan,
Em 2022, também iniciamos as andanças além da praça, visitamos a feira, o largo do Arouche, o Vale do Anhangabaú
pois começamos a atravessar a rua. Isso possibilitou novas e o viaduto do Chá.
descobertas e aventuras. Nosso entorno conta com muitos A cada saída, nós nos apropriamos,
equipamentos culturais a poucas pedaladas. Começamos uma aos poucos, do espaço urbano, tornando
busca por parcerias, por espaços que estavam dispostos a caminhos, ruas e prédios presentes em nossa
receber as nossas crianças com as suas motocas. Dessa forma, rotina e, desta forma, um pouco nossos
começamos a ir aos locais utilizando os triciclos, deixando de também. As crianças já sabiam identificar alguns pontos
circular apenas pela praça. Alguns locais que visitamos: Sesc importantes de nossas pedaladas, e não apenas edifícios,
24 de Maio, Galeria Pivô, Biblioteca Mário de Andrade, Centro mas também alguns personagens, como os moradores de
152 rua e seus cachorros, policiais, garis, etc… Se, num primeiro Praça estão cada vez mais familiares. As crianças conhecem 153
momento, determinado passeio ou caminho possa causar o coreto, a garça que está sempre no lago, a ponte com uma
certo estranhamento ou até mesmo receio, este passa a descida que as crianças mesmo deram o nome de “Ponte
se tornar corriqueiro, comum a nós, e nos sentimos mais radical”. Enfim, são inúmeros exemplos da familiaridade
prontas(os) não apenas a fazê-lo novamente, mas ir um conquistada pela relação com a praça.
pouquinho além, descobrir o que mais existe ao atravessar a Formas de representação e pensamentos espaciais
rua. E atrás daquele prédio? Será que há outras praças como também foram trabalhados, como o início de uma
esta? Desta forma, vamos criando um senso de segurança e compreensão cartográfica: entender pontos de referência e
pertencimento aos locais em que já estamos habituados a conceitos básicos de lateralidade e localização. As crianças
visitar, mas também alimentamos uma curiosidade e desejo elaboraram mapas simples da praça e desenhos com base em
de ver mais. itinerários e, a partir desses registros, foi possível observar as
Com o passar do tempo, as crianças se mostraram diversas aprendizagens das crianças.
bastante engajadas no projeto, demonstrando domínio do Ter um novo olhar para a praça e para as
território da praça, inclusive sugerindo e solicitando rotas pessoas da praça sem dúvida foi um ganho
alternativas. muito grande do projeto. Convidamos semanalmente
A partir das rodas de conversa, as crianças a olharem todas as pessoas da praça, e isso
comentários e desenhos, percebemos o possibilitou a quebra de alguns preconceitos, minimizando o
quanto as crianças começaram a entender a medo e a indiferença ao outro.
praça como “delas” também. Já sabem que a escola Nossa percepção do projeto e seus resultados é não
fica dentro da praça da República, localizada no centro de apenas de satisfação e consciência da relevância da proposta,
São Paulo. Reconhecem alguns prédios do entorno, por como da importância de sua sequência, e que este se
exemplo, o Edifício Copan e o Prédio da Secretaria Estadual estabeleça como ação permanente de nossa comunidade
de Educação. Observamos, também, que os caminhos da educacional.
154 Em 2022, o Projeto Motoca na praça recebeu dois 155
prêmios: Prêmio Paulo Freire de Educação Municipal, no qual LÍVIA GUIMARÃES ARRUDA
REFERÊNCIAS
156 157
JANELAS
“Janela: abertura ou vão na parede externa de uma edificação
ou no corpo de um veículo, que se destina a proporcionar
iluminação e ventilação ao seu interior” (Oxford Languages,
2023). Desde criança, sempre escutei a frase “os olhos são
a janela da alma”, inicio esta reflexão com algo que muito
EDUCACIONAIS
me chamou atenção na viagem para Novo Hamburgo, em
outubro 2021, com o grupo de formadores da DIEI e das
DIPEDs, as janelas. Outro ditado popular que muito escutei:
“quando se fecha uma porta, Deus abre uma janela”. A janela
mostra o quanto a formação é fundamental, pois cada um BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
olha para a janela de um jeito e cada um terá contribuições
JANELA. In: Oxford Languages. Oxford University Press, 2023 Dicionário
para que a “escola” ganhe o mundo através dos nossos bebês
online. Disponível em https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/
e nossas crianças. acesso em 25/05/2023
de leitura
Jean Watkins. Escrevemos o nome da autora com letras
minúsculas, bell acreditava que desta forma as obras estariam
em mais destaque do que a pessoa.
Em 2014, foi fundado o “bell hooks center” que tem
como objetivo ser um espaço inclusivo e de suporte às alunas
Por Simone de Oliveira Andrade Silva e Cássia V. Bittens e alunos historicamente sub-representados.
Você pode conhecer mais acessando www.berea.edu/bhc
1
e utilizando a ferramenta tradutor no browser.
MEU CRESPO É DE RAINHA
Autor: bell hooks; Ilustrador: Chris Raschka CHRIS RASCHKA
Editora Boitatá Nascido no ano de 1959 na Pensilvânia, nos Estados Unidos,
Chris Raschka já ilustrou dezenas de livros ao longo de sua
carreira. Em 2012, foi indicado ao prêmio Hans Christian
Sobre a autora e ilustrador Andersen. Meu crespo é de rainha, não foi o único título
de bell hooks ilustrado por Chris Raschka. No Brasil, temos
BELL HOOKS também publicado Minha dança tem história e A pele que eu tenho
1
Nascida no ano de 1952 em Kentucky, nos Estados Unidos, pela mesma editora.
bell hooks faleceu em dezembro de 2021. A autora é uma
referência nos estudos antirracistas e feministas. Iniciou sua
1 As fontes consultadas para a escrita das biografias foram:
trajetória como escritora ainda criança, porém as publicações
bell hooks www.britannica.com/biography/bell-hooks
iniciaram após formada no doutorado. Duas curiosidades:
Chris Raschka: en.wikipedia.org/wiki/Chris_Raschka
176 Convite ao conhecer O autocuidado perpassa pelo vínculo afetivo com o outro 177
que se cuida e cuida da criança. O tempo é apresentado
O livro exalta a relevância dos cabelos cacheados e crespos no tanto entre as gerações como no tempo de cuidar (a criança
processo de autoconhecimento na infância. É uma narrativa sentada e tendo seu cabelo penteado).
alegre, dançante e criativa, que descreve a pluralidade e Um ponto que chama a atenção são os calçados.
a diversidade do humano ao mesmo tempo que afirma as As pessoas adultas não têm os calçados coloridos, já as
individualidades e promove a cultura do cuidado. crianças sim! Parece representar a transmissão/continuidade
deste saber, é fluido e não uma imposição do adulto.
Menininha do cabelo lindo e de cheiro doce A alegria retratada pela fonte, cores e movimentos das
“Menininha do cabelo lindo e de cheiro doce”, a primeira personagens permeiam a narrativa do início ao fim, e a
frase da obra já convida a leitora e o leitor a imaginar cada virada de página reafirmam a diversidade em que a
as texturas e cheiros dos cabelos. Na ilustração, os olhos personagem principal é “o crespo de rainha”.
fechados da criança somados ao fundo em aquarela,
nos remetem a sensação de bem-estar. Convite ao brincar — Uma experiência de convite à leitura
Nas páginas duplas seguintes, percorremos, ora aqui
ora ali, penteados e estilos que se multiplicam em A escuta atenta é o início de um diálogo profícuo com as
possibilidades coloridas, rítmicas e infinitas — que dançam crianças, com desdobramentos que permitem a reflexão
com o vento e libertam. sobre o cotidiano.
A imagem da pessoa adulta é inserida na narrativa como Em uma turma da EMEI, todos os dias é realizada a “Hora
um elo temporal, afetivo e de espelhamento. da Leitura”, e a escolha do título é feita com antecedência,
“Sentadinha de manhã, esperando as mãos carinhosas porém pode haver exceções. E foi o que aconteceu com a
que escovam ou trançam para o dia começar enrolado e leitura de Meu crespo é de rainha.
animado!”
178 Certo dia, uma menina disse ter o “cabelo lindo e e passar as mãos nos próprios cabelos. Os meninos tentaram 179
cheiroso” e relatou que sua mãe havia lido o livro Meu trazer o cabelo até o nariz, mas a maioria deles tem o cabelo
crespo é de rainha, as outras crianças ficaram curiosíssimas e bem curto, então, começaram a cheirar o cabelo uns dos
solicitaram a leitura deste livro. A professora, conhecendo o outros, iniciando uma agitação e risadas.
acervo da Unidade Educacional, sabia que poderia facilmente Essa imagem (das crianças tocando e cheirando os
encontrar a obra. cabelos) merece atenção, pois a leitura literária feita pelos(as)
No momento da hora da leitura, convidou as crianças a se bebês e crianças pequenas está relacionada (também) aos
sentarem em roda, apresentou a capa do livro, perguntou o movimentos do corpo. A ilustração do cabelo das crianças
que as crianças achavam da ilustração e qual seria a história personagens fez lembrar que as crianças leitoras também
que iriam ler. Neste dia, algumas ideias surgiram: têm cabelo e, ao brincar com e cheirar os cabelos, o sentido
da história é construído, resultando na leitura literária.
• “de uma princesa” (talvez pelo título do livro e/ou pela A responsabilidade da(o) professora(or) mediadora(or) está
frequência com que o tema surge nas conversas entre as também na disponibilidade para as conversas em torno da
crianças); narrativa, com atenção às perguntas que surgem.
• “de uma criança”; No livro lido, com o virar de páginas, as crianças leitoras
• “não, do cabelo dela, olha como está voando!”. foram fisgadas pela trama, afinal o que é o “crespo de rainha”?
E, como desdobramento, foram apresentadas à diversidade e
Após essa introdução, a professora convidou para a puderam se perceber como pessoas únicas e livres.
leitura, leu primeiro o título, depois o autor e a editora,
mostrou a capa às crianças. Abriu o livro e, após ler, virava Convite ao refletir
o livro para as crianças poderem ler as imagens. Na leitura
de Meu crespo é de rainha, as crianças ficaram atentas a cada Abrir espaço para ouvir atentamente e conversar com as
ilustração e, com um gesto espontâneo, começaram a cheirar crianças é sempre enriquecedor para nós, adultos. E se
180 for com as crianças da Educação Infantil, então, é preciso 181
estar atento para largar os roteiros e se deixar levar pela
imaginação infantil.
Na seleção de livros literários, é importante ter atenção
para a bibliodiversidade e incluir no acervo livros que
pautem diversidade, respeito, cuidado, escolhas etc.
A poética de bell hooks versa sobre cabelos que são
pensamentos livres e autônomos. A liberdade de escolha do
seu próprio penteado está intimamente ligada à liberdade de
expressão, desde a infância.
“Feliz com o meu cabelo firme e forte, com cachos que
giram, e o fio feito mola se enrola, vira cambalhota!”
2
182 BUSCAR INDÍCIOS, CONSTRUIR SENTIDOS em 18 de março de 1947, em Buenos Aires. Formada em 183
Graciela Montes Letras pela Universidade de Buenos Aires, foi membro
Editoras Selo Emília & Solisluna fundadora da Alija (Associação de Literatura Infantil da
Argentina), co-fundadora da Revista Cultural La Mancha.
por Débora Olandinni Vencedora e indicada a diversos prêmios como o Prêmio
Lazarillo, que venceu em 1980, e Prêmio Internacional Hans
Christian, ao qual foi indicada Andersen Argentina nos anos
2
Um convite inicial 1996, 1998 e 2000.
186 187
A ENFERMA
E O PORTAL O que uma criança, uma enferma e um portal podem nos
fazer sentir e pensar sobre modos de estar e se relacionar
com o mundo?
Trago, no texto, essas imagens para pensarmos sobre
experiência estética, atitude estética e formação estética.
Meu convite é para que o leitor transite e dialogue com
disponibilidade generosa. Ou com atitude estética, como
IMAGENS veremos adiante. Para os que esperam uma discussão
ESTTICA
de profissionais da educação infantil, em redes públicas e
Em determinado ponto do caminho, há uma grande Como quem deseja isolar aquele encontro das outras
área de solo coberta por musgos. Parecia que estávamos informações que atravessam o bosque. Está entregue ao
pisando em um tapete fofo. Lívia deita de bruços sobre a momento.
vegetação, aproxima bem o ouvido dos musgos e fala: Escuta Nenhum de nós, adultos, havia escutado o chão e acho
o chão! Permanece deitada de bruços, estica os braços, que nem teríamos ventilado que isso fosse possível, se
palmas viradas para baixo, fecha os olhos e fica escutando o não tivéssemos visto a Lívia. Poderia tentar inferir sobre
musgo. Fecha os olhos parecendo estar com atenção a experiência de Lívia. Sobre a atitude estética, o “sim”
singular ao acontecimento — o encontro dela com a escuta que ela dá para esse encontro com o chão de musgo — se
do chão. Fecha os olhos como quem quer ouvir melhor. aproximando, sentindo, escutando, tentando compreender
Fecha os olhos como quem deseja suspender o tempo. essa forma musgo e suas características — Seria o musgo
196 provido de alguma voz? Qual? Poderiam ser essas as A enferma que quer ouvir uma história numa língua desconhecida 197
perguntas de Lívia, ou não, e tantas outras. Mia Couto, escritor moçambicano, na Conferência
Mas escolho falar da minha experiência estética em Internacional de Literatura WALTIC, de Estocolmo, em
observá-la. Sobre o que esse acontecimento gerou em 2008, fez uma apresentação intitulada “Língua que não
mim. Das reflexões que fiz e faço quando me coloco nesse sabemos que sabíamos”. Na parte inicial de sua fala, Couto
encontro. Primeiro, preciso dizer o quanto ver uma criança compartilha um conto que nunca havia publicado. Ele narra
escutando o chão me comoveu e me colocou num estado de o diálogo de uma mulher enferma com o marido. Trata-se de
contemplação. Estou inteira enquanto a observo e tenho uma um pedido inusitado que, num primeiro momento, parece
vontade genuína de também me deitar no musgo e escutá-lo. não fazer sentido ao ponto de o marido se desorganizar.
Posterior a esse primeiro sentimento/vontade, passo a me Mesmo assim, o marido atende. Desde que o li, nunca mais
questionar sobre o que sei mesmo sobre as crianças, para pude esquecer. E, seguidamente e sem motivo aparente, ele
além do que está nos livros; sobre o que sei do encontro delas retorna aos meus pensamentos. É uma narrativa que faz
com o mundo; sobre os modos como investigam. E, por fim, parte do meu pequeno inventário de possíveis chaves para
sou arrebatada por um quase lamento: quanto deixei de perceber e atuar no mundo.
ver das crianças porque estava distraída ou
porque estava sem tempo e energia? O que Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte:
acontecia enquanto eu não olhava? uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que
A minha experiência estética não foi planejada, não se lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores.
deu num museu, nem com uma manifestação artística. Mal ele inicia a narração, ela o faz parar:
Mas se deu ante um acontecimento, num encontro que — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua
pressupôs uma atitude estética. Foi a partir dessa desconhecida.
atitude que pude me colocar no jogo, e os efeitos desse — Desconhecida? — pergunta ele.
encontro puderam se produzir.
198 — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não esse texto me atravessa e produz efeitos. Para mim, a leitura 199
compreender nada! desse texto é uma das experiências estéticas mais potentes
O marido se interroga: como se pode saber falar uma que vivenciei nos últimos anos. Ela reverbera na pessoa, na
língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras professora, na formadora que sou. Entre outros afetos, me faz
estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas pensar sobre os tempos e os modos de vivê-los. Esse conto me
da incapacidade de ser humano. Aos poucos, porém, vai oferece a dimensão de uma existência pautada pelo tempo
ganhando mais à-vontade nesse idioma sem regra. E ele já não que finda — chronos — alguém está prestes a morrer, mas
sabe se fala, se canta, se reza. também pelo tempo da oportunidade — kayrós — e é este
Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e o tempo da criança, um tempo de presença e nascimento
mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela da criação de outros sentidos — do marido que entra no
lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças jogo — suspendendo o juízo em atitude estética, da mulher
de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo que precisa, pela condição que vive, inventar um jeito de se
sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos. relacionar com o mundo. Infiro que para ambos se deu uma
Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro experiência estética.
idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento No entanto, o fato de a leitura desse conto se constituir
divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo como experiência estética para os personagens, como
ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de suponho, e para mim, não faz desse texto um passaporte para
“caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. a experiência estética de outros leitores. Pois a experiência
(COUTO, 2011, p. 11). é individual e pode ou não se dar para os diferentes
sujeitos que vivenciam o encontro com o mesmo objeto
Compartilho esse conto não para dar a minha ou acontecimento. A atitude estética é imprescindível, no
interpretação, até porque a cada leitura ela vai se entanto, não é garantia para que ela, a experiência estética,
transformando e ainda me faltam palavras pra dizer o quanto aconteça.
200 O portal a duas quadras da escola Era sábado, com um Sol nascido para permanecer em nós 201
Portais são passagens, são aberturas, são possibilidades de como ânimo para a aventura. Aventura, do latim “adventure”:
ver, de conhecer, de existir de outro modo. A terceira imagem o que vem pela frente. Nesse caso, a aventura foi o convite
que trago para a reflexão é decorrente de uma caminhada feito às professoras, para uma caminhada nas quadras
fotográfica, com um grupo de professoras, pelo entorno da do entorno da Unidade, com a finalidade de realizar registros
escola em que trabalham. Trata-se de um momento vivenciado fotográficos a partir de um olhar que vê e repara. Inspirada
pelo grupo em um encontro formativo, realizado em 2022. na literatura de José Saramago, “Olhar, ver e reparar” é um
Avistamos um portão que dava acesso para um bosque. dos exercícios que costumo propor nas oficinas de fotografia
Ele ficava a duas quadras da escola, defronte à esquina que realizo:
debaixo. Uma pontezinha levava até o portão. O portão
cadeado impedia a passagem ao bosque. Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Nem todos os portões são portais, no entanto, embora (SARAMAGO, 1998, epígrafe).
ainda não soubéssemos, esse era, como veremos adiante.
A demanda formativa da Unidade Educacional tinha Olhar, ver e reparar são maneiras distintas de usar o órgão
como objetivo qualificar os registros fotográficos, na da vista, cada qual com sua intensidade própria, até nas
perspectiva de contribuir e aprimorar os processos de degenerações, por exemplo, olhar sem ver, quando uma
documentação pedagógica. Diante desta solicitação, organizei pessoa encontra ensimesmada, situação comum nos antigos
o encontro de quatro horas de duração, prevendo um romances, ou ver e não dar por isso, se os olhos por cansaço
momento inicial de conversa, a caminhada fotográfica, ou fastio se defendem de sobrecargas incómodas. Só o reparar
o compartilhamento das imagens produzidas na caminhada, pode chegar a ser visão plena, quando num ponto determinado
e a finalização com uma breve sistematização do vivido em ou sucessivamente a atenção se concentra, o que tanto se
articulação com o foco formativo e o convite para sucederá por efeito de uma deliberação da vontade quanto por
o desdobramento de ações no cotidiano da docência. uma espécie de estado sinestésico involuntário em que o visto
202 solicita ser visto novamente, assim se passando de uma sensação o que existe, insiste —, reparar os encontros, os desvios, 203
a outra, retendo, arrastando o olhar, como se a imagem tivesse os tropeços, o que aproxima e/ou distancia os sujeitos, as
de produzir-se em dois lugares distintos do cérebro com preferências, as formas de estar, de se comunicar, os corpos,
diferença temporal de um centésimo de segundo, primeiro o os gestos, as expressões, as linguagens.
sinal simplificado, depois o desenho rigoroso, a definição nítida, O fotografar e a fotografia são, nesse caso, tanto
imperiosa de um grande puxador de latão amarelo, brilhante, estratégia potente para ajudar a olhar, ver e reparar, quanto
numa porta escura envernizada, que subitamente se torna conteúdo, material, para conversar sobre nossos modos de ser
presença absoluta. (SARAMAGO, 2011, p. 166). docente da/na educação infantil e a forma como concebemos
as escolas para as infâncias.
É esse estado de reparo que me interessava que fosse
Quem fotografa, fotografa como pode,
ativado no grupo de professoras. Reparar o que pode estar
sempre ali e ninguém mais enxerga — as plantas que como sabe, como valoriza e enxerga
crescem entre as pedras, a majestosa árvore — que ninguém
o ser/objeto/evento/paisagem
sabe o nome —, a casinha das crianças com suas janelas
penduradas pela dobradiça, aquele espaço lá atrás que parece a ser fotografado. Fotografa a partir de
um bosque encantado e ninguém mais vai, os brinquedos
uma perspectiva, do seu ponto
perdidos nos caminhos, a luz que entra pela janela. A casinha
de marimbondo, as teias de aranha, os passarinhos que vêm de vista, do que escolhe mostrar, dar a
e vão, as frestas do muro. As frestas da escola. As frestas da
ver ao outro. Uma fotografia é sempre
docência. Não para consertá-las, mas para reinventá-las: abrir,
dar nova forma, ampliar, transcender, transver. um “Olhe, Olhem! Eis aqui”
Reparar o que acontece pela primeira vez com as (BARTHES, 2002, p. 14).
crianças, as recorrências, o que se repete — lembrando:
204 Nesse dia, do portal a duas quadras da escola, o convite, 205
já referido, foi para uma caminhada no entorno da
escola com o objetivo de realizar registros
fotográficos com um olhar que repara, um
olhar que atenta, que perscruta, que seleciona,
que experimenta ângulos, distâncias,
enquadramentos, para depois clicar. Cada
professora produziria 3 fotos para compartilhar com o grupo,
posteriormente.
Situo essa proposta — de fotografar e olhar fotografias
— no campo da formação estética, compreendendo-a como
modo de favorecer e/ou provocar uma atitude estética — uma
atenção, uma disponibilidade, uma abertura para o encontro
com os objetos e acontecimentos e que podem, ou não,
culminar em uma experiência estética.
Nem todas saímos para o mesmo lado. O grupo,
aproximadamente 20 professoras, foi se remodelando em
grupos menores e cada qual ia criando seu trajeto, sua
própria deriva. Acompanhei três professoras que iam juntas.
Duas quadras de distância, uma pontezinha, o portão/portal
para o bosque estava cadeado, e sobre o arco flores e uma
girafa simpática, de borracha, quase dando boas-vindas.
Espiamos. De fora não víamos todo o espaço, mas dava pra
206 ver as miniaturas de brinquedos em torno de um helicóptero, 207
todos sobre o telhado de um viveiro. O jardim de vasos
sanitários com flores plantadas, dispostos um ao lado do
outro, formando uma linha sinuosa. O homem de plástico
translúcido caminhando na árvore. Alvoroço. Euforia.
Curiosidade que impulsionou nosso pequeno
grupo. Gente, o que tem aqui? Vamos entrar? De quem é esse
espaço? É de um senhor que mora na frente da escola, falou uma
das professoras. E lá foi ela perguntar se podíamos conhecer.
Nenhuma das professoras jamais tinha entrado no lugar. Seu
Adenilson trouxe a chave e a vontade de nos apresentar o
local. Cruzamos o portal. De repente, estávamos imersas em
um local que subvertia qualquer expectativa. Deparamo-nos
com as obras do Seu Adenilson — além das que podiam ser
vistas da rua, encontramos árvores repletas de bonecas e
bichinhos de pelúcia afixados nos troncos e galhos, fileiras de
carrinhos em ruas suspensas, mosaicos, lagos com peixes de
verdade, casinha na árvore.
Satisfeito com nosso interesse, Seu Adenilson nos contou
que tudo que existe lá é resultado de um trabalho que realiza
há quase uma década, com o auxílio de algumas poucas
pessoas. Tudo o que tem no espaço é fruto de
elaboração com materiais que coleta nas ruas
208 — descartados pelas pessoas — e ressignifica 209
em novos arranjos.
Se, no início, éramos quatro pessoas perplexas e quase
sem palavras ante tudo o que víamos, em pouco tempo,
os outros grupos de professoras também foram chegando,
reparando e fotografando aquele lugar: estávamos
visivelmente comovidas, interessadas e admiradas com tudo
o que Seu Adenilson criou.
orientadores. Foi Conselheira no Conselho Municipal de Educação de KAUTZMANN, Larissa Kovalski. Poéticas do instante: fotografia, docência
Porto Alegre. Realizou a coordenação técnica do Programa Fundo do e educação infantil. 2011. 105 f. Dissertação (Mestrado em Educação)
— Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Milênio para a Primeira Infância — Mesa Educadora, projeto da Unesco
Porto Alegre, 2011.
em parceria com a Secretaria de Educação de Porto Alegre. Foi docente
PEREIRA, Marcos Villela. Contribuições para entender a experiência
no Ensino Superior em cursos de graduação e pós-graduação. Integra o estética. Revista Lusófona de Educação, v. 18, p. 111-124, 2011.
ARTEVERSA — Grupo de estudo e pesquisa em arte e docência (UFRGS/ SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das
CNPq) e o FEIPAR — Fórum Paranaense de Educação Infantil. Realiza Letras, 1998.
assessoria e consultoria pedagógica em redes públicas e privadas. SARAMAGO, José. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das
Atualmente, é assessora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação Letras, 2011.
220 221
BOA
APARNCIA” Priscila Aparecida Santos de Oliveira
ESTTICA DAS e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a
decência e com a seriedade”.
RELAÇES NA Pedagogia da Autonomia — Paulo Freire, 1997.
EDUCAÇO
O Currículo da Cidade de São Paulo: Educação Infantil
INFANTIL (2019), cunhado por seus princípios de inclusão, equidade
e integralidade indica que, a partir da intencionalidade
docente, as propostas para/com os bebês e as crianças sejam
construídas por meio do compromisso ético que, dentre
outros, espera-se não reproduzir comportamentos, falas
222 ou quaisquer formas de des-humanização ou violação dos e as sobreposições de opressões e discriminações presentes 223
direitos de ser e existir destes sujeitos. O documento dá na sociedade em relação aos recortes de raça, classe, gênero
diretrizes quanto ao compromisso com a educação para a e na promoção de políticas públicas, implica ações de
equidade e as relações étnico-raciais: prevenção, combate e enfrentamento por meio de práticas
pedagógicas que rompam com comportamentos excludentes
Quando consideramos a Educação Infantil, é preciso atentar no cotidiano das Unidades Educacionais, de modo que bebês
para a formação identitária, uma vez que se trata de crianças e crianças, sujeitos de direitos, não sejam determinados por
de zero a seis anos. É no contexto das diversas formas de marcas sociais, capazes de perpetuar negativamente em
socialização que as diferenças negativas ou positivas se sua constituição como sujeito, nas aprendizagens e em suas
estabelecem e despertam os sentimentos de rejeição ou estruturas emocionais e identitárias.
empatia em relação aos pares. É preciso ter atenção, sobretudo, O maior projeto de combate à reprodução
ao racismo implícito, contido no tom de voz, no toque, no das discriminações na prática docente
olhar, na brincadeira, nas brigas e nos xingamentos. é compreender onde cada pessoa está
(SÃO PAULO, 2019, p. 44). localizada nesta luta e a forma como
nos relacionamos a partir deste lugar.
1
Apoiar-se no conceito da interseccionalidade , que ajuda Compreender que o compromisso para o
a localizar e compreender os marcadores das desigualdades enfrentamento e o combate das opressões
não se deve pautar por discursos rasos ou
1 O conceito de Interseccionalidade foi cunhado pela professora
estadunidense Kimberlé Williams Crenshaw, cientista nas áreas
de raça e gênero, para descrever a localização interseccional das feminista negra, promovendo intervenções políticas e letramentos
mulheres negras e sua marginalização estrutural, aportada à teoria jurídicos sobre quais condições estruturais o racismo, o sexismo
crítica da raça e conceito provisório de interseccionalidade. e a violências correlatas se sobrepõem, discriminam e criam
O termo demarca o paradigma teórico e metodológico da tradição encargos singulares às mulheres negras (AKOTIRENE, 2019).
224 baseados em “boas intenções” que culminem 225
em propostas que reforcem negativamente
as experiências dos bebês e das crianças,
em suas especificidades, necessidades,
diversidades e em seus componentes culturais.
Os murais, as materialidades, a maneira de organizar
o ambiente para as refeições, o corpo do adulto enquanto
tempo e espaço dos bebês, o tom de voz, o olhar, o
pertencimento, a escuta, a construção de contextos aliados
à prática social, a observação da estética do entorno das
Unidades Educacionais e a boniteza de ser afetuoso ao
enxergar o sujeito em sua inteireza compõem as ferramentas
necessárias para que os rituais pedagógicos ante o elas, rompendo com violações de direitos e exaltando de
compromisso com as aprendizagens de meninas e meninos forma positiva, emancipatória e para o empoderamento da
aconteçam. estética e da formação identitária de meninos e meninas,
A defesa é, portanto, por uma educação estética negras e negros, indígenas e migrantes, historicamente
que sirva de estratégia formativa para o estereotipados e invisibilizados.
refinamento da percepção de educadoras e Vale reforçar que, como estratégia formativa, a estética
educadores, tornando-os atentos e sensíveis não se refere, exclusivamente, às vivências e experiências
ao que acontece diariamente no ambiente das linguagens das artes. A forma estética proposta, é aquela
educacional, na intencionalidade docente e nas relações que provoca o alargamento de repertório
interpessoais, de modo a antecipar ações de combate a pedagógico e de mundo à prática docente,
opressões implícitas e a capacidade de refletir e agir sobre o que requer tensionamentos e sensibilidade. A coordenação
226 pedagógica tem papel fundamental no gerenciamento 227
do conhecimento, com vistas à implementação de uma Vozes-mulheres
educação antirracista nos momentos formativos que
ratificam o compromisso com a qualidade na educação
[...]
pública no Município de São Paulo, na condição de estrutura A voz de minha filha
social: “as expressões do racismo no cotidiano, seja nas
relações interpessoais, seja na dinâmica das instituições,
recolhe todas as nossas vozes
são manifestações de algo profundo, que se desenvolve nas recolhe em si
entranhas políticas e econômicas da sociedade.
(ALMEIDA, 2021, p. 21)
as vozes mudas caladas
Os impactos psíquicos e emocionais do racismo, da engasgadas nas gargantas.
misoginia e xenofobia desumanizam e deixam marcas
A voz de minha filha
perversas nos corpos das pessoas negras e indígenas, de
meninos e meninas. Não se trata de suprimir a história recolhe em si
da escravização, mas cabe aos espaços educativos, lugar
a fala e o ato.
privilegiado para construção de novas narrativas, ofertar,
desde a primeiríssima infância, o direito de viver a história O ontem — o hoje — o agora.
a partir de vivências afetuosas, com representatividades
Na voz de minha filha
positivas e do acolhimento das diversidades, das identidades
e estéticas que ampliem a compreensão dos diferentes modos se fará ouvir a ressonância
de ser, estar, existir e ecoar no mundo, como narra Conceição
O eco da vida-liberdade.
Evaristo, no trecho de seu poema “Vozes-Mulheres”,
(EVARISTO, 2017):
Caminho formativo
228 Mariana Cuisse Lopes Suller e Priscila Aparecida Santos 229
Morei na periferia da zona norte de São Paulo até os meus de Oliveira, compôs a formação mensal da coordenação
quinze anos. Este espaço periférico, que me fez conhecer as pedagógica em pequenos grupos. A formação nasce
diferentes facetas e consequências da ausência de políticas da observação das formadoras diante da
públicas, também me fez aprender sobre coletividade, estética, necessidade de fortalecer o compromisso com
religiosidade, movimentos sociais e culturais, sobre a relação e para uma educação antirracista, não sexista
das crianças com a rua, com as múltiplas linguagens, com e não xenofóbia e, também, fortalecer as concepções de
a inventividade, a corporeidade e me fez entender a ação infâncias à luz dos princípios do Currículo da Cidade de
educativa de mulheres fortes como rede de apoio e afetividade São Paulo: equidade, integralidade e inclusão. Para atingir
umas das outras. Estas experiências constituíram minha linha este objetivo, a cada mês, um “Giro” na formação, com
de estudos e atuação, dentro e fora do campo profissional. pautas tematizadas entre os grupos, mas que, ao final,
Trajetória pessoal, acadêmica e partilha com os pares me todos passam por todos os grupos: 1. Étnico Racial, Gênero
nutrem cotidianamente para atuar na equipe de formadoras da e Diversidades, 2. A alimentação enquanto prática social e 3. Os
educação infantil. registros e acompanhamento pela Coordenação Pedagógica.
Cada passo dado nesta caminhada torna a minha história Em comum, as três pautas aproximaram,
ainda mais especial e devo isso às mulheres que inspiraram e estrategicamente, as propostas planejadas para bebês e
sustentaram o meu chão até que eu mesma pudesse asfaltar crianças às práticas sociais, de modo que o adulto educador
2
meu caminho. lançasse um olhar para a estética das relações na educação
Formadora de DIPED
2 “Educação estética”, termo cunhado por René Pablo Estevez,
Giro Formativo — Narrativas da coordenação pedagógica leva em conta a dimensão da pessoa em suas relações com
outras, com sua própria história e com o devir. O autor aponta
O Giro Formativo, idealizado pela equipe de formadoras
a necessidade da educação estética como possibilidade de se
da Educação Infantil da DRE/JT: Fabiana Lopes Laurito,
trabalhar a percepção humana e favorecer condição para uma
230 ratificando seu compromisso ético, sem desconsiderar as relações étnico-raciais, equidade de gênero e diversidades. 231
ressignificações subjetivas, que inevitavelmente atravessam O racismo estrutural, que também estrutura
cada sujeito de forma diferente diante da função social em as relações, se revela em muitas dimensões
ambientes educacionais, lugar onde as ações e concepções e nos encontros formativos não foi diferente.
são significadas, como aponta Stuart Halls: Alegar desconhecimento ou afirmar não estar preparado
para lidar com a pauta talvez tenha sido uma das maiores
[…] a ação social é significativa tanto para aqueles que a dificuldades apresentadas pelos gestores. Na mesma medida
praticam quanto para os que a observam: não em si mesma, em que há sentimento de indignação com os relatos de
mas em razão dos muitos e variados sistemas de significado racismos cotidianos, há também barreiras de compreensão
que os seres humanos utilizam para definir o que significam as subjetivas que atravessam cada sujeito, interferindo,
coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em invariavelmente, nas necessidades de intervenções diante das
relação aos outros. (HALL, 1997, p. 16). ações propositivas para/na relação com os bebês, as crianças,
famílias, comunidade e na própria identidade, conforme
3
Numa perspectiva de “homologia de processos” , os relato abaixo:
encontros formativos do Giro evidenciaram concepções e
favoreceram o pensar e o repensar da atuação da coordenação “[…] passei a levar os estudos de casos, textos e vídeos da nossa
com seus grupos em relação às pautas da educação para as formação do Giro em DIPED para os encontros formativos com
o grupo de professores para pautar a educação para as relações
educação que desenvolva olhares estéticos que desautomatizem as étnico raciais e equidade de gênero. Em um dos encontros,
relações e a vida cotidiana. depois de assistirmos a um vídeo e debatermos sobre o que as
3 “Homologia de processos”: termo cunhado pelo pedagogo falas traduziram em convergência com as nossas realidades
estadunidense Donald Schön, que propõe aproximar a formação
profissionais e subjetivas sobre o racismo, uma das professoras
vivida à forma com que esta experiência refletirá em sua prática
relatou que ‘foi a partir das formações que ela acessou sua
pedagógica.
232 ancestralidade e passou a reconhecer-se negra’ … Daí eu tive a maneira contínua, rompendo com impactos já estabelecidos e 233
dimensão da importância do nosso compromisso em diminuindo a distância entre discurso e prática:
pautar raça e gênero. E como disse no vídeo em questão:
enquanto os professores não reconhecem sua própria VIII Jornada Pedagógica — Educação Infantil
identidade, como é que serão capazes de empoderar e O anúncio da VIII Jornada Pedagógica — “O olhar para as
valorizar as identidades das crianças?” relações étnico-raciais e equidade de gênero” evidenciou pontos
Relato de uma coordenadora pedagógica durante o Giro Formativo a serem considerados: por um lado, reconhecer a grandeza
que foi ter toda a Rede Municipal de Ensino articulada e
O desafio da coordenação está em fazer intervenções no mobilizada para dialogar sobre a pauta raça e gênero e, por
planejamento, no diário de bordo, nas cartas de intenção, outro, cabe uma pergunta: o que se revela na concepção de
nas produções expostas, no conflito das relações cotidianas e, profissionais da educação quando da tentativa de se desviar
mais difícil ainda, diante da necessidade de sinalizar quando deste debate, demonstrando comportamento reativo diante
uma ação é problemática mesmo que tenha havido boa da pauta da Jornada?
intenção por parte da(o) docente. No entanto, a experiência na VIII Jornada Pedagógica
Por mais difícil que pareça ser, é necessário fortaleceu os rituais pedagógicos da coordenação ao
compreender que, por ser parte da sociedade, contribuir na construção de novas narrativas, ampliação de
o ambiente escolar reproduz opressões. No repertórios formativos e novas perspectivas ante os desafios
entanto, de maneira nenhuma ele pode produzir. Daí a para superação dos impactos negativos do racismo e das
importância do acompanhamento da coordenação, partindo opressões estruturais, viabilizando, ainda, o letramento racial
de uma pauta de observação consistente, que considere os dos profissionais da educação:
recortes interseccionais, que expanda a experiência de estudos
nos encontros formativos de modo que os profissionais da O racismo presente na educação infantil aparece de forma um
Unidade Educacional se movimentem entre ver e rever-se de pouco distinta daquela encontrada no ensino fundamental.
234 brancas temem ou não gostam de dar as mãos para as 235
negras etc. O racismo aparece na educação infantil, na faixa
etária entre 0 a 3 anos, quando os bebês negros são menos
“paparicados” pelas professoras do que os bebês brancos. Ou
seja, o racismo, na pequena infância, incide diretamente sobre
o corpo, na maneira pela qual ele é construído, acariciado ou
repugnado. (OLIVEIRA; ABRAMOWICZ, 2010, p. 221).
BRINCAR PARA
242 243
ALM DA
INFNCIA TERRITRIOS
Este artigo é um breve relato de como foi o processo de
criação e regência do curso Brincar para além da infância —
Territórios de aprendizagem, ministrado para os professores da
rede pública municipal da cidade de São Paulo, e idealizado
por meio de uma parceria entre o Educativo do Museu de
Arte Brasileira da FAAP — MAB FAAP com a Coordenadoria
espaço de experimentação da arte de forma completamente ou brincar? Quando e onde se brinca? Para que serve a brincadeira?
Qual a importância de brincar? Adultos podem brincar? Adultos
livre, mas que, ao mesmo tempo, pressupunha que eles
brincam? Adultos gostam de brincar? Você sente falta de brincar?
refletissem sobre como deveria ser a ocupação desse
Qual foi a última vez que você brincou?
250 o que os professores haviam compreendido sobre o filme e instituições culturais, enquanto espaços de 251
para discutirmos e estabelecermos um panorama comum experimentação da arte e do lúdico, possuem
entre o grupo de professores sobre o que poderíamos definir características pedagógicas importantíssimas,
como brincadeira e qual a sua importância. Com isso, pois aproximam o público escolar de diversas
conseguimos resgatar algumas lembranças e sentimentos, manifestações culturais, ao mesmo tempo que
problematizamos o motivo pelo qual a maneira que reafirmam a importância que outras formas
brincamos se modifica nas diferentes fases da vida e de educação podem ter no desenvolvimento
pensamos quais as funções e importância das brincadeiras psicossocial dos indivíduos em nossa
no aprendizado e na estruturação das relações sociais sociedade. Aliado a essa discussão, trabalhamos também
estabelecidas entre os indivíduos. os aspectos históricos da educação pública no Brasil e como a
Por meio das discussões a respeito do brincar e suas mudança de características e funções dessa educação estava
potencialidades, conseguimos estabelecer uma ponte relacionada com outras mudanças sociais que aconteciam
entre a educação em ambiente formal (escolas) e não no país. Por exemplo, o avanço da industrialização no
formal (instituições culturais). Na escola, a brincadeira país e a necessidade de uma mão de obra minimamente
é uma ferramenta pedagógica muito utilizada para o qualificada para esse novo tipo de trabalho fez com que as
desenvolvimento de: habilidades motoras, socialização, escolas aumentassem em quantidade, em detrimento da
construção e elaboração de abstrações, incentivo ao trabalho qualidade do ensino.
em equipe, resolução de problemas, resolução de conflitos, Aqui, a inspiração para o módulo foi um jogo de
expressão e compreensão das próprias emoções, entre outras. palavras no qual propúnhamos aos professores que eles
Nos equipamentos culturais, a experimentação do lúdico e das “re-aprendessem” a brincar, trabalhando as potencialidades
brincadeiras se faz corriqueira no trabalho dos educadores e da brincadeira como ferramenta pedagógica, mas também
aproxima a arte e a cultura da realidade escolar ao utilizar-se repensando-a para outros momentos e espaços da vida
das mesmas ferramentas. Assim sendo, os museus e as cotidiana. Desse modo, a atividade O corpo no espaço, proposta
252 acostumados a ocupar, sendo que, em muitos casos, eles 253
passaram a valorizar novas perspectivas desses espaços, que
antes só eram de interesse para outros habitantes da casa
como as crianças e os animais de estimação.
Por fim, como proposta de encerramento e avaliação
do curso, pedimos aos professores que produzissem um
projeto didático que deveria ser aplicado com a sua turma
de alunos ou com os seus colegas de trabalho da Unidade
Educacional. A elaboração do projeto ocorreu durante uma
semana inteira com debates intensos antes, durante e depois
do processo de desenvolvimento, procurando ajudá-los com
a estruturação e o direcionamento dos projetos. Pensamos
para essa etapa da formação, pretendia que os professores a metodologia dessa forma para auxiliar os professores que
pensassem como o corpo deles estava inserido no espaço estivessem menos habituados com a realização de um projeto
das suas residências, e como eles poderiam experimentar pedagógico e para que eles pudessem trocar experiências
novas perspectivas de utilização desses espaços. Para a respeito dos problemas que cada um enfrentava em
isso, eles deveriam escolher novos pontos de vista e se suas respectivas Unidades. A avaliação final da atividade
colocarem fisicamente de outros modos em três lugares buscou observar se os professores conseguiram articular
que teoricamente eram conhecidos de suas casas, porém algum conteúdo trabalhado durante o curso com questões
alterando a sua percepção. Os resultados da atividade foram e problemas típicos da Unidade Educacional e do território
registrados por meio de fotografias com pequenos relatos no qual trabalhavam. Deixamos a proposta bem aberta para
de cada imagem e nos mostraram como a relação dos que fosse possível contemplar as diferentes realidades sociais
professores se modificou com o ambiente que estavam tão existentes nas Unidades Educacionais da Cidade de São Paulo,
254 o que também foi importante para proporcionar discussões 255
diversas e muito ricas no decorrer do curso. ALINE MARIA OLEGÁRIO DA SILVA
Ficamos muito satisfeitos ao final do período de Pós-graduada em História da Arte pela FAAP e bacharel em Artes Cênicas
formação, porque, apesar de todas as adversidades que pela Universidade São Judas Tadeu. Desenvolve trabalhos na área artística
enfrentamos durante esse período atípico de pandemia, desde 2006, atuando como atriz, figurinista e aderecista. Atualmente é
conseguimos terminar o curso com a participação de educadora no Museu de Arte Brasileira da FAAP — MAB FAAP.
aproximadamente 600 professores da Rede Municipal de
Ensino durante os anos de 2020 e 2021. Acreditamos que todo BRUNA MEDEIROS PASSOS
esse processo tenha sido importante para todos os envolvidos, É artista da dança e mestranda em Filosofia da Arte pelo Programa de
pois, apesar de acreditarmos fortemente na importância Pós-Graduação em Filosofia da UFSC. Formada em Gestão de Turismo
da conexão e presença física como fatores primordiais pelo IFSP, em Filosofia pela UFSC e em dança pela ETEC de Artes.
para o aprendizado, pudemos colher frutos decorrentes Trabalha com educação desde 2008. É educadora no MAB FAAP.
do encurtamento das distâncias no ambiente virtual e dos
recursos únicos que só existem nessas plataformas. Além CAROLINE BRUNCA SPAGNOL
disso, ao término do curso foi possível manter a esperança Bacharel em Artes Visuais pelo Centro Universitário SENAC. Pós-
que nós temos nessa formação e esperamos ter contribuído graduada em História da Arte pela FAAP. Desde 2008, atua na área
de maneira significativa para o cotidiano de cada professor. de mediação cultural como educadora e supervisora em instituições
culturais, sendo assistente de coordenação do Educativo no Museu de
Arte Brasileira da FAAP — MAB FAAP até 2021.
Palavras-chave: formação de professores; museu; educativo;
brincar; territórios de aprendizagem PAULA YIDA
Bacharel em Educação Artística pela Universidade São Judas Tadeu. RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. Trad. Ivone C. Benedetti. São
Paulo: Martins Fontes, 2012.
Licenciado em Artes Visuais pela Faculdade de Educação Paulistana.
SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. Tradução Tatiana Berlinky. São
Integrante do Coletivo Deriva. Educador, músico e artista visual. Tem
Paulo: Summus, 1978.
atuado na educação não formal desde 2011, em diversas instituições.
SPOLIN, Viola. Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin. Tradução de Ingrid
Dormien Koudela. São Paulo: Perspectiva, 2001.
TATIANA BO KUN IM
VÍDEOS
Mestre em História da Arte pela UNIFESP. Pós-graduada em História da
O BRINCAR na educação infantil: descomplica professor #19. Londrina:
Arte pela FAAP. Bacharel em Artes Plásticas pela UNESP. Coordenou até o Ênfase Educacional, 2017. 1 vídeo (2 min). Disponível em: www.youtube.
fim de 2022 o Educativo do Museu de Arte Brasileira — MAB FAAP. Tem- com/watch?v=Oj26cyqZPR8. Acesso em: 12 maio 2020.
se dedicado ao estudo de Museus de Arte e Moda, e Arte-Educação. O QUE a escola deveria aprender antes de ensinar?. Viviane Mosé.
Campinas: CPFLCultura, 2013. 1 vídeo (49 min). Disponível em:
258 www.youtube.com/watch?v=EigUj_d5n80. Acesso em: 20 maio 259
2020.
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