1 Savater Resenha

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RESENHA DO LIVRO “O VALOR DE

EDUCAR” DE FERNANDO SAVATER

Ilda Neta Silva de Almeida 1


Valter Domingos Rezende Carvalho 2
Adriana Londina Silva de Almeida 3

Mestre em Educação -UFT (2017-2019) Pedagoga- Faculdade 1


Aphonsiano(2006) Docência Universitária-Faculdade Araguaia (2008) Sociologia
e educação Faculdade Aphonsiano (2009) professora da educação básica –
Rede Estadual de Ensino do estado do Tocantins.SEDUC. Professora do curso de
Pedagogia- Faculdade ITOP. E-mail: [email protected]

Jornalista e comunicólogo (2007), Letras (2013), Especialista em Língua 2


Portuguesa e Literaturas. Professor da Rede Municipal de Ensino de Palmas.
E-mail: [email protected]

Pedagoga (2019) Faculdade Wallon. E-mail: [email protected] 3


292 Revista Humanidades e Inovação v.6, n.18 - 2019

O autor, Fernando Savater, é espanhol, reside no país Basco, nasceu em21 de Junho de
1947. Conhecido por ser um filósofo da ética e da educação, ativista em movimentos contra o
nacionalismo e o terrorismo. É professor catedrático de ética, formado em letras e filosofia. Obteve
influencias de Nietzsche e Spinoza. Escreveu mais de cinquenta obras, que formam traduzidas em
muitos idiomas.
Abordaremos aqui sobre a obra “O valor de educar” escrita em 1997 de forma filosófica,
sociológica e pedagógica em que aponta sua preocupação com a crise da educação espanhola.
É interessante que, vinte anos mais tarde, hoje, em 2019, as reflexões apontadas no livro se
encontram ainda atuais e pertinentes a realidades e questões do nosso tempo e do nosso país,
Brasil. “Falarei do valor de educar no duplo sentido da palavra “valor”. Quero dizer que a educação
é valiosa e válida, mas também que é um ato de coragem, um passo a frente da valentia humana.
Covardes e receosos abstenham-se (SAVATER, 1998, p 24).”
Savater inicia o livro com: “À guisa de prólogo. Carta à professora”. Em seguida apresenta seis
capítulos. Sendo o primeiro: o aprendizado humano. Segundo: os conteúdos do ensino. Terceiro: o
eclipse da família. Quarto: A disciplina da liberdade. Quinto : Uma humanidade sem humanidades?
E Sexto: Educar é universalizar. Concluindo sua produção escreve:” À guisa de epílogo. Carta à
ministra”. Ainda no livro, o autor apresenta referências bibliográficas que foram citadas em seu livro
e para finalizar apresenta alguns textos como apêndices: “Pensadores em face da educação”.
A obra começa com “Carta a professora”, abordando as complexidades e dificuldades de
educar atualmente, infere a filosofia para sustentar a necessidade de sermos inquietos e de buscar
reflexão para o oficio de ser professor. Aponta sobre as dificuldades da carreira de docente, como
baixos salários, pouco prestígio social, e que na grande maioria a educação só é lembrada como
parte de programas políticos. O autor cita Freud que disse que é impossível educar, governar e
psicanalisar. Porém o que é impossível é passível de melhorar.
Aborda que seu livro é visto como otimista e que para ser professor temos de ser otimistas
e acreditar na perfectividade do ser humano. “os pessimistas podem ser bons domadores, mas
não bons professores”. (SAVATER, 1998, p 22). Situa o professor da educação básica que não é
valorizado, não tem valor ou importância social, não é reconhecido enquanto sujeito transformador.
Coloca que a educação passa por uma crise, de valores, de finalidades, de ações e que não
está sabendo como atender as diversas necessidades sociais, mas que se tornou apenas instrumento
mercantil de formar para demandas mercadológicas. Faz muitos questionamentos e aponta a
importância e o valor de educar! Comenta sobre o educar filosófico, legal, pedagógico, obrigatório
e NECESSARIO! É otimista e afirma que educar é possível, mas para isso a família, o indivíduo, a
sociedade e o estado devem cumprir com as suas respectivas frações de responsabilidade.
Pergunta o que é educação e tece uma teia de questionamentos que não se encontra
respostas curtas, breves e simples, daí o livro gera dor de cabeça no leitor pedagogos e demais
professores, porque pensar sobre a complexidade contemporânea nos gera desconforto e,
sobretudo uma dor de cabeça sutil. Aponta que se o nosso modelo anterior deu errado, somos
todos errados, mas então temos que apontar um modelo bom, certo e que supere o anterior.
Se somos frutos da educação da ditadura militar e somos assim, temos muitas falhas, mas como
lidar com os resultados da geração liberdade? A crise da educação é uma preocupação do autor,
quando ele fala o valor de educar, remete a duas possibilidades, valor enquanto coragem, ousadia,
irreverência, mas também no valor como importância e essência.
“O aprendizado humano”, propõe ampliar a concepção de aprendizagem humana em
vertentes sociológicas, antropológicas e existenciais saindo da matriz de compleição somente
biológico . “[...] ao passo que nós seres humanos, o que parece mais prudente dizer é que nascemos
para a humanidade. Nossa humanidade biológica necessita uma confirmação posterior, algo como
segundo nascimento (SAVATER, 1998 p. 30-31).”Aponta para a possibilidade de aprendermos
em nossas interações o que na medida do possível nos humaniza e qualifica nosso processo de
desenvolvimento humano.  O autor infere Kant o que demonstra um modelo idealista de educação,
que acredita na força da aprendizagem coletiva “ninguém é sujeito na solidão e no isolamento “ o
que nos possibilita concluir que na medida que mais aprendemos mais nos tornamos humanos !
Ser humano consiste na vocação de compartilhar com todos o
que já sabemos, ensinando os recém chegados ao grupo o que
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devem conhecer para se tornar socialmente válidos.Ninguém


é sujeito na solidão e no isolamento , sempre se é sujeito entre
outros sujeitos: o sentido da vida humana não é monologo,
mas provem do intercambio de sentidos. (SAVATER, 1998 p.
36)

“Os conteúdos do Ensino”, neste capítulo o autor aponta para as construções simbólicas do
conhecimento produzido pela humanidade, diferenciando-nos dos animais destacando construções
sociais como: o tempo, o processo educativo, a sabedoria e o desenvolvimento humano que
são elaborações temporais, sociais e se manifestam em nossas interações, vivências e trocas de
saberes. “Para ser homem não basta nascer, é preciso também aprender. A genética nos predispõe
a chegarmos a ser humanos, porem só por meio da educação e da convivência social conseguimos
sê-lo efetivamente (SAVATER, 1998 , p. 47)”. De modo que afirma que a condição humana da a todos
nos a possibilidade de sermos pelo mesmo em alguma ocasião professores de alguma coisa para
alguém, porque estamos o tempo todo e ao mesmo tempo aprendendo, mas estamos também
ensinando. “A condição humana da a todos nos a possibilidade de sermos , pelo menos em alguma
ocasião , professores de alguma coisa para alguém (SAVATER, 1998,p. 53).”E devido a produção
do conhecimento aumentar, multiplicar e pluralizar; sistematizar tornou se um pouco abstrato .
Foram surgindo as instituições de ensino destinadas ao ensino e com isso surge algumas indagações
sobre o conceito de instrução e educação. Concluindo que o importante é ensinar a aprender e não
ensinar sobre algo, possibilitar aos sujeitos que tenham condições de pensar, argumentar, indagar, se
ocupando de muitas perguntas e poucas respostas. Mostra a importância das capacidades abertas
e capacidades fechadas como possibilidade de conhecer e reconhecer um modelo que valorize a
autoestima dos indivíduos como resultado englobador de todo seu aprendizado. As capacidades
fechadas são as próprias das nossas condições físicas, fisiológicas e psicomotoras como andar, falar
,fechar e etc . Já as capacidades abertas referem-se ao aprimoramento cada vez maior e melhor do
ser humano em ir aprendendo e melhorando suas competências como por exemplo escrever e
produzir, que referem se ao seu “aprender evolutivo” quanto mais ele sabe, mas tem consciência
que precisa aprender mais ainda.
No texto, “O eclipse da Família”, é abordado à socialização primária e socialização
secundarização. A socialização acontece ou deveria acontecer no seio da família norteado pela
afetividade e convivência enquanto que a socialização secundaria ocorrer na escola no âmbito
formal. O eclipse da família ocorre quando a escola tem que se preocupar além da formação
cognitiva com a formação social e moral que antes era responsabilidade da família. “Cada vez
com maior freqüência, os pais e outros familiares encarregados das crianças sentem desânimo ou
desconcerto diante da tarefa de formar as pautas mínimas de consciência social e a deixam aos
professores (SAVATER, 1998, p. 73)”. O autor ainda colocar sobre o quanto é preocupante o desvio
comportamental dos pais diante dos filhos “para que uma família funcione educacionalmente é
imprescindível que alguém nela se resigne a ser adulto”. Fernando tem uma pegada Rossouriana,
quando fala que para a criança ser educada adequadamente ela terá de ter medo de alguma coisa
ou alguém, que o medo ainda é um bom conselheiro. “Mas a criança deverá temer alguma coisa se
quisermos que ela se aplique na árdua tarefa de aprender. [...] as crianças tem que ter aprendido
a temer alguma coisa antes de ingressar na escola (SAVATER, 1998, p. 82)”. Segue destacando da
intensa educação televisiva que hipnotiza crianças e adultos. Perante a tv as crianças tem o efeito
“Desaparecimento da infância e os adultos se infantilizam. O autor aborda sexo, religião, ética ,
drogas e violência.
A disciplina da Liberdade, filosoficamente belo! Traz em suas linhas: “ser livre não é nada,
tornar se livre é tudo. Não partimos da liberdade, mas chegamos a ela. Ser livre é libertar-se da
ignorância primitiva, do determinismo genético”. Nesse sentido o autor reflete que chegar a
liberdade é uma pratica constante de esforço responsável, transparece que para se entender o
que é liberdade é preciso primeiro saber o que é “prisão”, o que é ter limite, disciplina e que para
romper tais barreiras será necessário o esforço. Este esforço é a chave da liberdade, por isso ser
livre não é nada, mas tornar se livre é tudo! Propõe que este exercício seja feito na escola, porque
brincar ela brinca em casa ou em outros espaços, mas é na escola que se disciplina o neófito para
a liberdade.
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Combate a ideia da prontidão de respostas, da servidão ao reino infantil, da ausência de


respeito pelos mais velhos sejam professores ou pais. Propõe uma relação professore- aluno baseada
na sensatez docente e na capacidade discente de não ser insolente, ambos devem aprender a viver
no conflito de forma civilizada.
“Uma humanidades sem Humanidades”, nesta tela é apresentado a preocupação de
como educar a humanidade para a humanidade com uma concepção educacional tão técnica,
mercadológica, mercantil ou mesmo meramente somente racional. Percebe se uma ênfase
apológica quanto aos conhecimentos úteis, práticos, de usos imediatos e pouco expressivos em
reflexão, debate e problematização. Fernando é categórico quando afirma que “As verdadeiras
humanidades são a matérias de estudo que conservam viva a pulsação biográfica de quem as
explorou, assim como seu compromisso com nossas necessidades vitais e nossos sonhos”. Formar
a humanidade para a humanidade pressupõe partir de uma concepção humanitária significativa,
com linguagem acessível e compreensível, com humildade e esforço de ambos os envolvidos
neste processo lindo que é a vida. Falando em vida, Savater encerra com poema sobre a vida
.“vive-a em madrugadas infelizes ou em manhãs gloriosas , a cavalo ou cidades em ruínas ou selvas
contaminadas ou por paraísos sem olhar traz, vê a vida .”
No último tema, “Educar é universalizar”, Fernando de modo filosófico, crítico e num tom até
poético expressa que, enquanto humanos não somos objetos, portanto não podemos ser objetivos,
mas somos sujeitos dai somos subjetivos. De forma que devemos valorizar e está aberto a conhecer
as diversas culturas em seus modos, comportamentos, linguagem, processos históricos e padrões
culturais. Não que devamos nos apropriar das mesmas como guias de conduta comportamental
ou mental, mas vê-las como diversidades culturais importantes que compõe o universo humano.
Aponta para a democracia como forma de organização do ensino para combater a falsa ideia de
neutralidade. A própria democracia em si não é neutra!
Finalizando o livro, o autor em “Carta a Ministra”, estabelece uma proposta de educação
humana, onde afirma“ mundializam se os interesses econômicos, mas não se consegue
mundializar o interesse pelos direitos básicos da pessoa humana”. Questionando a ineficiência das
propostas educacionais atuais que não se atentam para “despertar a fome de mais educação, de
novos aprendizados e ensinamentos.” E sem esta perspectiva, educar continua tendo seu valor
secundarizado e sem possibilidade de mudança, mas sejamos otimistas como Fernando Savater.

Referências
SAVATER, Fernando. O valor de Educar. São Paulo; Martins, 1998.

Recebido em 29 de julho de 2019.


Aceito em 10 de dezembro de 2019.

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