Manual Acolhimento Pedagogico Trabalhador2021
Manual Acolhimento Pedagogico Trabalhador2021
Manual Acolhimento Pedagogico Trabalhador2021
ISBN 978-65-00-27355-7
______________________________________________________________________________________________
RUI COSTA
FÁBIO VILAS-BOAS
Ficha Técnica
DIRETORIA DE ATENÇÃO BÁSICA COORDENAÇÃO GERAL
DIRETOR Elisa Maria Ramos Carvalho
José Cristiano Soster
e-mail: [email protected] ELABORAÇÃO
Consultoria PROSUS - Vania Priamo e
ASSESSORIA Letícia de Moraes Falleiro
Elisa Maria Ramos Carvalho DAB – Márcia Ediméia Costa de Matos e
Helena Oliveira Salomão Vânia Gomes Theodoro
Vânia Gomes Theodoro
e-mail: [email protected] REVISÃO TÉCNICA
Elisa Maria Ramos Carvalho
COORDENAÇÃO DE APOIO E DESENVOLVIMENTO - Iêda Zilmara de Queiroz Jorge da Silva
COAD Marcia Ediméia Costa de Matos
Kally Cristina Soares Silva Vânia Gomes Theodoro
Marcus Vinícius Bonfim Prates
Monica Maria Lemos Pereira COLABORADORES
e-mail: [email protected] TÉCNICOS DA DIRETORIA DE ATENÇÃO BÁSICA
Adeilda Ananias de Lima
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO Adrielly Costa Freire de Carvalho
- COAM Agda Maria de Castro S. Lacerda
Marcia Ediméia Costa de Matos Alessandra Vasconcelos dos S. Cerqueira
Pedro Hernando Pairazamán Díaz Aline Gomes Fernandes Santos
e-mail: [email protected] Ana Paula Torres Pinheiro
Anderson Freitas de Santana
COORDENAÇÃO DE GESTÃO E PROJETOS - COGEP Anny Everson Belas Hayvanon
Aloisio Guillen Moreira Bárbara Conceição Vilas Boas Marques Brito
Ivonete de Santana Queiroz Carla Belo de Matos
e-mail: [email protected] Cintia Santos Conceição
Denise Rodrigues Diniz
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO TÉCNICO DE Diego Emanuel Lisboa da Silva
TELESSAÚDE / BA Diego Rangel dos Anjos Prata
Daiana Cristina Machado Alves Eliane Maria de Souza
Érica Lima Costa de Menezes Elis Carla Costa Matos Silva
e-mail: [email protected] Fábio Brito dos Reis
Françoise Elaine Silva Oliveira
EQUIPE DE APOIO ADMINISTRATIVO Gabriela Pereira Santos
Daiane Fernandes Sena Gladys Reis de Oliveira
Iramaia Cerqueira de Andrade Helen Ingrid Vieira Barreto
Karina Amorim Brandão Iêda Zilmara de Queiroz Jorge da Silva
Lindinalva Soares Silva Isabella Oliveira Cordeiro Andrade
Luciene Araújo de Oliveira Janaína Cardoso Rodrigues
Maria José Santana Jandira Lopes Cruz
Paulo Roberto de Santana Juliana Lamounier Elias
Valéria Aguiar Matos Karena Maria Cruz Dultra
Karina de Sá Adami Gonçalves Brandão
Karina Rodrigues Lelis Livia Brito Castro
Kassia Jeane Félix dos Santos Vieira Luzia de Souza Torregrossa
Ludmilla Monfort Oliveira Sousa Maria Ana Nogueira Nunes
Luisa Gervalina Larchert Carvalho Dias Maria Auxiliadora Mariano Cunha
Lyz dos Santos Vianna Maria Aparecida Souza Conceição
Manuela Oliveira da Silva Paz Maria José J. S. Costa
Marcelo Rios Lopes Marília de Queiroz V. Marques
Maria Cristina Santos Santana Marlúcia Rocha Santana
Maria Gabriele de Almeida Dantas Miguel Bispo Costa
Mariana de Azevedo Pinto Olívia Maria Matos Almeida
Mariângela Costa Vieira Rafaela M. Barreto
Marina Souza Vieira Rita de Cácia A. Correia
Naiara Freitas Carvalho de Andrade Rosimeire da Costa Castro
Nilma Lima dos Santos Samantha de Jesus Andrade
Patrícia Carvalho Andrade Silvanio Silva Souza
Pedro Hernando Paerazaman Diaz Vinicius Rodrigues Santos
Rivany Ribeiro da Silva Lima
Rosana Maria Rehem da Silva Fialho TÉCNICOS DA DIRETORIA DE VIGILÂNCIA
Rosivan Barbosa de Matos EPIDEMIOLÓGICA
Samantha Habib Miguel B. Ferreira Carla Taiana Bressy
Sávia Souza Machado Maria Aparecida Rodrigues
Sílvia Pereira Aleluia
Simone Janete Oliveira Barbosa RESIDENTES DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM
Tereza Cristina Guimarães Lima Cruz SAÚDE DA FAMÍLIA – UNEB, TURMA 10-2018
Thiago Gonçalves do Nascimento Piropo Ana Carolina de Castro e Silva
Ticiana dos Santos Ferreira Deise Nascimento
Vanessa Santos Estrela Emily Karle dos Santos Conceição
Xênia Paula Correia Reis Irani Santos Silva
Yolanda Silva de Oliveira Juliana Vasconcelos Silva
Leonardo Lima Ribeiro
COLABORAÇÃO ESPECIAL DAB Luane Rocha da Silva
Elisa Maria Ramos Carvalho Maiane Ferreira dos Santos
Helen Ingrid Vieira Barreto Simone Almeida Santiago
Nilma Lima dos Santos Síntique Priscila Alves Lopes
Rivany Ribeiro da Silva Lima
PROJETO GRÁFICO
TÉCNICOS NRS/BRS Fábio Brito dos Reis
Andréa Raimundo Dias
Bárbara Rosário dos Santos TIRAGEM
Catarina Ribeiro Fernandes 800 unidades
Celita Nazareth Menezes
Danilo Souza Amorim DIRETORIA DE ATENÇÃO BÁSICA
Denise Batalha O. Lima Endereço - 4ª Avenida, nº 400, Bloco B, 1º andar
Eduarda M. Santos Centro Administrativo da Bahia, Salvador/BA CEP- 41.750-300
Elba Mascarenhas Tel. - (71) 3115-4375
Fabíola Mesquita Mangabeira Grassi Endereço eletrônico: www.saude.ba.gov.br/dab
Leidilania Soares de Oliveira
Listas
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Carga horária do Acolhimento Pedagógico Quadro 30 - Exemplo 5: Agenda organizada por bloco de
(AP). horas.
Quadro 2 - Cronograma geral do AP. Quadro 31 - Programação do Dia 7.
Quadro 3 - Programação do Dia 1. Quadro 32 - Matriz para planejamento de ação educativa.
Quadro 4 - Modelo assistencial médico-privatista e Quadro 33 - Matriz para o plano de educação permanente
estratégia de saúde da família. da equipe.
Quadro 5 - Programação do Dia 2.
Quadro 6 - Sistematização do estudo de caso da gestante LISTA DE FIGURAS
com sífilis. Figura 1 - Desenho Lógico do Acolhimento Pedagógico.
Quadro 7 - Participação e controle social no SUS. Figura 2 - Modelo de determinação do processo saúde-
Quadro 8 - Programação do Dia 3. doença, por Dahlgren e Whitehead, 1991.
Quadro 9 - Roteiro para caracterização da área de Figura 3 - Modelo de determinantes sociais, por
abrangência. Diderichsen e Hallqvist, 1998.
Quadro 10 - Programação do Dia 4. Figura 4 - Proposta de organização de serviços em rede
Quadro 11 - Matriz para sistematização da lista de do Relatório Dawson, 1920.
problemas. Figura 5 - Os momentos do Planejamento e da
Quadro 12 - Matriz de priorização de problemas referente Programação Local em Saúde (PPLS).
ao estado de saúde da população. Figura 6 - Desenho representativo do diagnóstico
Quadro 13 - Matriz de priorização de problemas referente situacional.
a unidade de saúde. Figura 7 - Pinakarri.
Quadro 14 - Matriz para construção da árvore de
problemas. LISTA DE SIGLAS
Quadro 15 - Matriz para definição de objetivos. AB - Atenção Básica
Quadro 16 - Matriz de definição de ações e análise de ABEn - Associação Brasileira de Enfermagem
viabilidade. ACE - Agente de Combate às Endemias
Quadro 17 - Matriz de programação operativa. ACS - Agente Comunitário de Saúde
Quadro 18 - Programação da 2ª etapa - Interação entre ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Equipe e Território. AP - Acolhimento Pedagógico
Quadro 19 - Programação do Dia 5. APS - Atenção Primária à Saúde
Quadro 20 - Indicadores para monitoramento da ASIS - Análise de situação de saúde
programação operativa. BEG - Bom Estado Geral
Quadro 21 - Exemplo de programação operativa. CAMAB - Caderno de Avaliação e Monitoramento da
Quadro 22 - Exemplo de indicadores para monitoramento Atenção Básica
da programação operativa. CES - Conselho Estadual de Saúde
Quadro 23 - Programação do Dia 6. CIB - Comissão Intergestores Bipartite
Quadro 24 - Matriz para sistematização da reflexão do CLS - Conselho Local de Saúde
grupo sobre trabalho em equipe. CMS - Conselho Municipal de Saúde
Quadro 25 - Matriz para demonstração de agenda. CNDSS - Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais
Quadro 26 - Exemplo 1: Agenda orientada por ficha. da Saúde
Quadro 27 - Exemplo 2: Agenda orientada por programa. CNES - Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
Quadro 28 - Exemplo 3: Agenda com momento para CNS - Conselho Nacional de Saúde
acolhimento à demanda espontânea. COAM - Coordenação de Avaliação e Apoio Matricial
Quadro 29 - Exemplo 4: Agenda com acolhimento DAB - Diretoria de Atenção Básica
à demanda espontânea em dois períodos e com a DATASUS - Departamento de informática do SUS
participação de médico, enfermeiro e dentista DSS - Determinantes Sociais da Saúde
DUM - Data da Última Menstruação SINAN - Sistema de Informação de Agravo de Notificação
eAP - equipe de Atenção Primária SISAB - Sistema de Informação em Saúde para a Atenção
eCnR - equipe Consultório na Rua Básica
eSB - equipe de Saúde Bucal SMS - Secretaria Municipal de Saúde
eAB - equipe de Atenção Básica SNVS - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
eAP - equipe de Atenção Primária SUS - Sistema Único de Saúde
eSF - equipe de Saúde da Família SVS - Secretaria de Vigilância Sanitária
eSPr - equipe de Saúde Prisional UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância
eSFR - equipe de Saúde da Família Ribeirinha US - Ultrassom
EP - Educação Permanente UTI - Unidade de Terapia Intensiva
EPS - Educação Popular em Saúde TR - Teste Rápido
ESF - Estratégia Saúde da Família UBS - Unidade Básica de Saúde
HPP - Hospital de Pequeno Porte USB - Unidade de Suporte Básico
ID - Idade Gestacional VS - Vigilância em Saúde
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IST - Infecção Sexualmente Transmissível
LGBTQIA+ - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais,
Queer/Questionando, Intersexo, Assexual e mais
LOC - Lúcida, Orientada e Coerente
MA - Metodologias Ativas
MRSB - Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira
MS - Ministério da Saúde
NASF - AB - Núcleo Ampliado de Saúde da Família e
Atenção Básica
NHS - National Health Service
NOAS - Norma Operacional da Assistência à Saúde
NOB - Norma Operacional Básica
NRS - Núcleo Regional de Saúde
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONG - Organização Não Governamental
OPAS - Organização Pan ‒ Americana da Saúde
PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PEAB - Política Estadual da Atenção Básica
PCDT - Protocolo Clínico e de Diretrizes Terapêuticas
PIB - Produto Interno Bruto
PMAQ-AB - Programa Nacional de Melhoria de Acesso e
da Qualidade da Atenção Básica
PNAB - Política Nacional de Atenção Básica
PNSIPN - Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra
PPP - Parto, Pós-parto e Puerpério
PPLS - Planejamento e Programação Local em Saúde
PPS - Políticas Públicas de Saúde
PSF - Programa Saúde da Família
PSE - Programa Saúde na Escola
RAS - Rede de Atenção à Saúde
RENASS - Rede Nacional de Serviços de Saúde
RN - Recém Nascido
SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SESAB - Secretaria da Saúde do Estado da Bahia
“Quem dera eu achasse um jeito, de fazer tudo
perfeito, feito a coisa fosse o projeto e tudo já
nascesse satisfeito”
(Paulo Leminski).
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 13
Apresentação
O Manual do Trabalhador é um dos instrumentos que contribui para o desenvolvimento do
Acolhimento Pedagógico (AP) no Estado da Bahia. Seu texto e formato subsidiaram-se nas discus-
sões da oficina realizada entre trabalhadores da Diretoria de Atenção Básica (DAB/SAIS/SESAB),
técnicos da Atenção Básica dos Núcleos Regionais de Saúde (NRS/SESAB) e duas consultoras do
PROSUS, em abril de 2019. Como o próprio termo “manual”, que significa feito à mão, este vem
recheado de significados e se constitui em algo que nos remete ao fazer das diversas mãos que
contribuíram para sua elaboração. Esperamos que o seu formato oportunize o manuseio fácil de seu
conteúdo e contribua para a melhor produção de suas atividades no desenvolvimento do AP.
O material aqui contido envolve temáticas atinentes à Estratégia Saúde da Família, apresenta-
das por meio de dispositivos diversos, que contribuirão para aprimorar a atuação dos trabalhado-
res(as) da Atenção Básica: cronograma das atividades; textos e vídeos que orientam as discussões;
uma Linha do Tempo com marcos importantes da saúde pública no Brasil e na Bahia; propostas de
atividades que podem ser adaptadas para cada realidade e indicações de sites oficiais.
Este Manual pretende que você, trabalhador(a), sinta-se provocado(a) a refletir sobre a AB no
SUS e, assim, implique-se na qualificação do seu processo de trabalho e da equipe em que está inse-
rido(a), em busca de efetivar o SUS e seus princípios na prática cotidiana.
Não temos a pretensão de esgotar aqui toda discussão e muito menos de considerar essa obra
acabada, mas temos a intenção de que esta produção gere análise, reflexão e mudança do fazer.
Prefácio
A primeira oferta estruturada de preparação para atuar na ESF, no estado da Bahia, foi o Trei-
namento Introdutório para Equipes de Saúde da Família nos anos de 2003 e 2004, realizada em
parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia. A partir de 2010, a
concepção assumida adotou novos formatos e nova designação para este processo de qualificação,
que passou a se chamar ACOLHIMENTO PEDAGÓGICO PARA EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA.
Com a priorização desta iniciativa, pretende-se qualificar a atenção prestada pelos profissio-
nais atuantes ou a atuar na Saúde da Família, alinhando conceitos, princípios e diretrizes voltadas à
estruturação desse espaço estratégico na política pública de saúde.
Sumário
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO..................................................................................................................................................................................... 13
PREFÁCIO................................................................................................................................................................................................. 15
DIA 1 ................................................................................................................................................................................................ 28
Texto Base 2 | Dia 1 - Estratégia Saúde da Família e os Modelos de Atenção à Saúde no Brasil................................................ 34
DIA 2................................................................................................................................................................................................. 42
LINHA DO TEMPO........................................................................................................................................................................ 48
Texto Base 2 | Dia 2 - Participação e controle social no Sistema Único de Saúde ............................................................................. 56
DIA 3................................................................................................................................................................................................. 64
DIA 4................................................................................................................................................................................................. 84
Orientações para a apresentação das atividades práxicas na 3ª etapa - Interação Pedagógica ................................................ 85
Relação de produtos/atividades práxicas para postagem no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)........................... 109
DIA 5...............................................................................................................................................................................................112
DIA 6...............................................................................................................................................................................................122
Texto Base 1 | Dia 6 – A importância do trabalho em equipe na Estratégia Saúde da Família e Atenção Básica............. 125
DIA 7...............................................................................................................................................................................................150
CASO GUIA.............................................................................................................................................................................................160
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................................192
MATRIZES MODELO............................................................................................................................................................................206
9. Considerando a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS/2017, das normas sobre as políticas nacionais de saúde
do Sistema Único de Saúde - SUS (BRASIL,2017), e a Portaria nº 2.539 GM/MS/2019 (BRASIL,2019) que institui a equipe
de Atenção Primária e dá outras providências, neste manual, as equipes a seguir serão todas consideradas como equipes
de AB: equipe de Saúde da Família (eSF), equipe de Atenção Básica (eAB), equipe de Atenção Primária (eAP), equipe do
Consultório na Rua (eCnR), equipe de Saúde Bucal (eSB), equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Famíliae Atenção Bási-
ca (NASF-AB), equipe de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR) e equipe de Saúde Prisional (eSPr).
20 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
A carga horária total do AP é de 80 horas, sendo 28 horas para a 1ª etapa de Interação Pedagó-
gica (sala de aula); 16 horas para a etapa de Interação entre Equipe e Território (unidade de saúde/
território); e mais uma etapa de Interação Pedagógica de 20 horas (sala de aula). Ainda compõem a
carga horária 10 horas para acesso ao AVA e 06 horas para os registros em diário de campo, conside-
rando uma hora após cada dia ou turno de atividade desenvolvida, tanto durante a Interação Peda-
gógica quanto durante a Interação entre Equipe e Território. Observe o quadro a seguir:
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 21
ACOLHIMENTO PEDAGÓGCO
DIÁRIO DE CAMPO
ETAPA DIA CARGA HORÁRIA
DO TRABALHADOR
AVA -- 06 horas
Total -- 80 horas
Kit facilitador - é um kit que reúne os materiais voltados para o participante trabalhador do AP,
para apoio ao desenvolvimento das atividades. Está disponível no AVA, assim como este Manual
completo.
D Texto Base- são os textos oferecidos em cada parte deste manual, que subsidiam as
atividades.
D Videos - Símbolo que indica vídeos que fomentam a discussão no grupo e/ou a amplia-
ção da reflexão sobre determinado tema. Os vídeos constam no kit facilitador e a maioria
acompanha endereço eletrônico para busca na internet.
D Para Pensar e Refletir- indica uma situação especial que pode ser melhor desenvol-
vida a partir da reflexão / ideia que se apresenta.
D Para saber mais! - indica textos, vídeos e informações que não fazem parte do mate-
rial utilizado no dia, mas que podem ampliar a compreensão sobre determinado tema.
Ao retornar da Interação entre Equipe e Território, inicia-se a nova etapa de Interação Pedagó-
gica, com duração de três dias (em 5 turnos), quando ocorrerão trocas de experiências, que serão o
pano de fundo para a abordagem dos demais temas.
Apresentamos a cronograma geral do AP organizado por etapas, dias e turnos, conforme descri-
tos no quadro 2.
24 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
CRONOGRAMA GERAL AP
Políticas de Saúde
no Brasil Rede de Atenção
1ª ETAPA Determinantes à Saúde Planejamento e
Sociais da Saúde Controle Social Programação
INTERAÇÃO Territorialização Local em Saúde -
PEDAGÓGICA Modelos de Integração entre e Análise de PPLS
atenção à saúde Atenção Básica Situação de
e Vigilância à Saúde
Saúde
2ª ETAPA -
INTERAÇÃO
ENTRE EQUIPE E Territorialização PPLS PPLS
TERRITÓRIO
Educação em
3ª ETAPA Planejamento e Trabalho em equipe Saúde
INTERAÇÃO Programação
PEDAGÓGICA Local em Agenda da equipe Educação Popular
Saúde – PPLS em Saúde
(continuação) Tecnologias para o cuidado em saúde
Educação
Permanente
P R I M E I R A E T A P A
INTERAÇÃO
PEDAGÓGICA
1ª etapa - Interação Pedagógica
Dia 1
Olá trabalhador(a), bem-vindo(a) à 1ª etapa do Acolhimento Pedagógico (AP).
O convite é para que aproveite esse momento e contribua com o desenvolvimento das
atividades que foram elaboradas pensando em você. Certamente, ao final, colheremos
bons frutos. Neste primeiro dia, você conhecerá o grupo, realizará o pacto de convivên-
cia e iniciará as atividades. A seguir, apresentamos os objetivos e a proposta de crono-
grama para esse primeiro dia.
ATIVIDADE
INTERVALO
ALMOÇO
INTERVALO
A partir de meados do século passado, o Brasil vive uma grande mudança social, política, econô-
mica e demográfica, impactando nas condições de vida da população. Atualmente, há predomínio da
vida urbana e a ampliação de serviços essenciais como acesso ao saneamento, água potável, saúde
e educação, com vistas a acompanhar esse desenvolvimento (RIBEIRO, 2014).
Essa reafirmação, juntamente com o lema inspirador da época pela OMS “Saúde para todos
no ano 2000”, destaca novamente o tema dos determinantes sociais. Além disso, o tema é impul-
sionado também pelo movimento pela Reforma Sanitária Brasileira (MRSB), iniciado na década
de 1970, com ápice na realização da 8.ª Conferência Nacional de Saúde, no ano de 1986, que, por
conseguinte, levou à criação do SUS.
Outros fatores que contribuíram foram o debate sobre as Metas do Milênio e a criação da
Comissão Nacional de Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) no Brasil. Essa comissão foi esta-
belecida em 13 de março de 2006, por um decreto presidencial, com mandato de dois anos, tendo
como referência o conceito de saúde concebido pela OMS e o preceito constitucional de reconhe-
cer a saúde conforme consta no artigo 196 da Constituição Federal de 1988 (CNDSS, 2008; BUSS e
PELLEGRINI FILHO, 2007).
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômi-
cas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação(BRASIL, 1988, Art. 196).
D Modelo mágico-religioso: afirma que cabia aos deuses decidir pelo adoecimento e cura,
marcado também pela noção de pecado-doença e redenção-cura;
No kit facilitador há o texto de Moacyr Scliar (2007), na íntegra, para quem quiser conhecer
mais sobre os modelos unicausais e multicausais do processo saúde e doença.
Frente a esta evolução dos processos explicativos para saúde e doença, diversos modelos
buscam esquematizar os inúmeros fatores que compreendem o conceito ampliado de saúde, sendo
o modelo de determinação do processo saúde-doença, desenvolvido com foco nos determinantes
sociais da saúde, no ano de 1991, por Dahlgren e Whitehead; e o modelo de determinantes sociais
proposto por Diderichsen e Hallqvist, em 1998, que posteriormente foi adaptado por Diderichsen,
Evans e Whitehead em 2001, os dois mais difundidos (BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007).
Podemos observar que este é um modelo que recai sobre o indivíduo, considerando seu estilo de
vida e o livre arbítrio, incluindo as redes sociais e comunitárias as quais participam, suas condições
de vida e de trabalho e também as condições socioeconômicas, culturais e ambientais na compreen-
são do processo saúde-doença (CNDSS, 2008; BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007).
Uma crítica ao modelo, feita por Borghi, Oliveira e Sevalho (2018), é que ele não considera a
coletividade, somente o indivíduo. Além disso, não menciona raça e etnia nos fatores individuais e a
nomeação da estrutura de classes sociais é ausente no esquema, sendo substituída por algo que não
contempla a plenitude dessa influência das diferenças sociais no processo de saúde-doença.
Buss e Pellegrini Filho (2007) chamam atenção para o fenômeno da globalização que influencia
fortemente os macrodeterminantes dos países, tendo analisado a influência da globalização sobre a
pobreza e as condições de saúde, e sobre as condições de vida em geral.
Neste sentido, o modelo proposto por Diderichsen e Hallqvist que, conforme mencionado,
passou por uma adaptação em 2001, enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social,
conferindo posições sociais diversas aos indivíduos, o que recai sobre os diferenciais de saúde
(BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007).
Na figura representativa abaixo, é importante observar que, de acordo com a posição social
ocupada pelo indivíduo, há diferenciais de saúde que geram “consequências sociais”, ou seja, aumen-
tam os impactos da doença sobre a situação socioeconômica do indivíduo e da sua família.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 33
Observamos ainda que a posição social (I) é influenciada pelo contexto social e pelo contexto
das políticas, como o acesso ao sistema educacional e o mercado de trabalho, o que determina os
diferenciais, como a exposição a riscos, que aumentam os danos à saúde (II), o grau de vulnerabili-
dade da ocorrência de uma doença conforme a exposição ao risco de adquiri-la (III) e as diferentes
consequências sociais ou físicas após o indivíduo ter contraído a doença (IV) (BUSS e PELLEGRINI
FILHO, 2007).
Apesar de mais complexo, esse segundo modelo parte da percepção de que, quanto melhores as
condições sociais oportunizadas pelo acesso a políticas, menor o risco de danos à saúde, assim como
as consequências que influenciam o indivíduo e sua família, tratando-se de um modelo que passa a
considerar a coletividade, em determinada medida (BORGHI, OLIVEIRA e SEVALHO, 2018).
✄ Acesse e conheça mais sobre o Observatório de DSS. Este apresenta também indicado-
res do Brasil e macrorregiões das regiões metropolitanas e da região nordeste. Vale a pena
conhecer! Disponível em: http://dssbr.org/site/
34 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Neste texto discutiremos os princípios e diretrizes da saúde da família, enquanto uma estraté-
gia que tem como propósito a reorientação dos modelos assistenciais vigentes, a partir da reorga-
nização da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde, impri-
mindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas com definição de responsabilidades
entre os serviços de saúde e a população (BRASIL, 1997).
Segundo Paim (1999), modelos assistenciais podem ser entendidos como combinações de sabe-
res (conhecimentos) e técnicas (métodos e instrumentos) utilizadas para resolver problemas e aten-
der necessidades de saúde individuais e coletivas, não sendo, portanto, simplesmente uma forma
de organização dos serviços de saúde nem tampouco um modo de administrar (gerir ou gerenciar)
um sistema de saúde. Nessa perspectiva, os modelos de atenção à saúde são formas de organização
das relações entre sujeitos (profissionais de saúde e usuários) mediadas por tecnologias (materiais
e não materiais) utilizadas no processo de trabalho em saúde, cujo propósito é intervir sobre proble-
mas (danos e riscos) e necessidades sociais de saúde historicamente definidas.
10. Médica, Mestre em saúde Comunitária. Docente da Residência em Medicina Social, Formação Multiprofissio-
nal em Saúde da Família.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 35
torna-se uma alternativa aos programas verticais, que não levam em conta as características da
população e suas condições de vida. Um terceiro enfoque teórico-conceitual compreende a combi-
nação de saberes e técnicas utilizadas para resolver problemas e atender necessidades de saúde
individuais e coletivas, considerando-se a relação entre os sujeitos (profissionais de saúde e usuá-
rios) como fator inerente para a organização dos serviços. Um quarto enfoque, que influenciou a
concepção de um modelo sistêmico, articula três dimensões: a gerencial, que aborda os mecanis-
mos de condução do processo de reorganização das ações e serviços; a organizativa, que se refere
às relações entre as unidades de prestação de serviços e a hierarquização entre os diferentes níveis
de complexidade; e a técnico-assistencial, que trata as relações entre os sujeitos das práticas e seus
objetos de trabalho (TEIXEIRA, 2006; TEIXEIRA; VILASBÔAS, 2014).
D Distritos Sanitários: adota uma perspectiva sistêmica de organização dos serviços, desta-
cando a base territorial como critério para definição e cobertura populacional e do perfil da
oferta de serviços, considerando a articulação entre os diferentes níveis da assistência, o
perfil da demanda e a identificação das necessidades de saúde da população. Inspirado na
proposta de unidades sanitárias locais, do sistema Italiano, e nos SILOS, sua implantação é
anterior à criação do SUS.
É importante salientar que nenhuma das propostas de mudança no modelo de atenção não
dá conta, sozinha, de todos os aspectos envolvidos no processo de mudança das práticas de saúde
(TEIXEIRA, 2006).
36 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Para que possamos discutir como a estratégia de saúde da família pode contribuir para a refor-
mulação dos modelos de atenção no Brasil, iniciaremos refletindo acerca contribuições de Teixeira;
Paim; VilasBôas (1998) e de Paim (1999). Para estes autores, no Brasil, existem dois modelos assis-
tenciais convivendo de forma contraditória ou complementar: o modelo assistencial médico-priva-
tista – ênfase na assistência médico-hospitalar e nos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico; e
o modelo assistencial sanitarista - campanhas, programas especiais e ações de vigilância epidemio-
lógica e sanitária (TEIXEIRA; PAIM; VILASBÔAS, 1998; PAIM, 1999).
D está voltado para o atendimento da demanda espontânea, isto é, para atender os indivíduos
que procuram os serviços de saúde;
D tem como sujeito o sanitarista, cujo trabalho tem por objeto os modos de transmissão e
fatores de risco das doenças, numa perspectiva epidemiológica;
A partir da década de 80, em alguns municípios do país, vêm sendo construídos modelos assis-
tenciais alternativos” ao modelo hegemônico, voltados para a qualidade de vida, buscando articular
ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação na dimensão individual e coletiva. Estas
propostas têm como objetivo concretizar os princípios e diretrizes para a saúde estabelecidos pela
Constituição, como universalidade, regionalização, hierarquização, descentralização e participação
popular (TEIXEIRA; PAIM; VILASBÔAS, 1998; PAIM, 1999).
Neste sentido, há que se trabalhar com a ideia de atenção básica como atenção resolutiva a
situações e problemas sanitários extremamente complexos, e não com a proposta de atenção primá-
ria centrada na assistência de baixo custo, simplificada e com poucos equipamentos (SCHRAIBER;
MENDES GONÇALVES, 1996).
No nível da atenção básica, embora muitas vezes tratemos com doenças simples, do ponto
de vista clínico, a maioria dos problemas de saúde possui diversos fatores determinantes (sociais,
econômicos, culturais, biológicos, etc.). Por exemplo, embora diarreia na infância seja um problema
simples do ponto de vista do diagnóstico e tratamento médico, muitas crianças padecem e morrem
por essa doença porque no cotidiano de suas vidas imperam a fome, a falta de saneamento básico e
outras condições de vida que levam ao adoecimento.
Para enfrentar estes problemas é preciso ampliar as práticas de saúde; ou seja, além da consulta
médica e dos procedimentos de diagnóstico e tratamento, é necessário o desenvolvimento de ações
e práticas de outros profissionais da equipe de saúde, profissionais de outros setores (educação,
ação social e saneamento) e da comunidade.
Estamos tratando da atenção básica que, ao mesmo tempo, deve servir de porta de entrada
para um sistema de saúde hierarquizado, mas também constituir, no sistema, um nível próprio de
atendimento, resolvendo um elenco de necessidades que englobam demandas sanitárias de várias
ordens, como a intervenção curativa individual; as medidas tradicionais de saúde pública, como o
saneamento do meio, o desenvolvimento nutricional, a vacinação, prevenção, a profilaxia de doen-
ças (SCHRAIBER; MENDES GONÇALVES, 1996); até a atenção a problemas sanitários, de forte
caráter social, como a violência, os transtornos mentais, o uso de drogas na adolescência, etc.
38 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
A organização da atenção básica, com base na Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/90), tem como
fundamento os princípios do SUS:
D “Saúde como direito - a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, por meio de políticas econômi-
cas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabeleci-
mento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e serviços para a
promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva;
D Universalidade – significa acesso garantido aos serviços de saúde para toda a população,
em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie.
No nível local e municipal, a estratégia de saúde da família tem demonstrado seu potencial para
reorientação da atenção básica. Este potencial relaciona-se com as características desta proposta
que apontam para a ruptura com os modelos assistenciais hegemônicos e para o fortalecimento dos
princípios do SUS na construção de modelos de atenção mais resolutivos e humanizados.
doenças e realizado principalmente no hospital. Na ESF, a atenção deve estar centrada na família,
entendida e percebida a partir de seu ambiente físico e social, o que vem possibilitando às equipes
de saúde da família uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e da necessidade de
intervenções que vão além das práticas curativas (BRASIL, 2000).
1. Eleição da família e seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento
à saúde;
2. Trabalho em equipe – indica que o cuidado não ocorre apenas por um profissional de saúde,
mas alguns de diferentes categorias, que atuam com foco na integralidade da assistência,
humanização das práticas, estabelecimento de vínculos, respeito aos valores e crenças,
democratização do saber e estímulo à participação social;
3. Adscrição de clientela: ocorre após o mapeamento das áreas de atuação das equipes e
cadastramento das famílias; seu significado é de que a população seja capaz de reconhe-
cer seu serviço enquanto o serviço possa identificar sua população (FIOCRUZ/UnB,1998).
D Identificação das pessoas e famílias que necessitam de atenção especial, por estarem sujei-
tas a situações de maior risco de adoecer ou morrer;
D Priorização das ações a serem desenvolvidas para enfrentamento dos problemas identifica-
dos. Por exemplo, ações voltadas para a saúde da criança, da gestante, da mulher, do idoso,
para tratamento e recuperação de portadores de doenças endêmicas, infecciosas ou dege-
nerativas, como malária, tuberculose, hanseníase, hipertensão, diabetes e outras;
40 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
D Ênfase na promoção à saúde, facilitada pelo vínculo estabelecido entre a equipe e as famí-
lias, que cria um espaço privilegiado para a incorporação de hábitos saudáveis;
Doença Saúde
Dia 2
Trabalhador(a), hoje iniciamos o segundo dia de Interação Pedagógica. Neste dia serão aborda-
das a evolução histórica da saúde pública no Brasil, a inserção do controle social nesse contexto e a
importância da integração da Atenção Básica com a Vigilância em Saúde. A seguir, apresentamos os
objetivos e a proposta de cronograma para esse dia.
ATIVIDADE
08h30 às 10h30 Conversando sobre as Políticas Públicas de Saúde no Brasil, Participação e Controle Social
INTERVALO
ALMOÇO
13h30 às 15h30 Compreendendo a integração entre Atenção Básica e Vigilância em Saúde (VS)
INTERVALO
Que tal iniciar com uma música que nos faz refletir sobre a grandiosidade do nosso país?
A VIDA DO VIAJANTE
Luiz Gonzaga.
Minha vida é andar por este país Minha vida é andar por este país
Pra ver se um dia descanso feliz Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações Guardando as recordações
Das terras onde passei Das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos Andando pelos sertões e dos amigos
que lá deixei. que lá deixei.
Essa canção nos inspira a pensar nos caminhos da vida e, nesse contexto, nos caminhos para a
construção do SUS.
O quadro abaixo deve ser preenchido dentro da atividade sobre a importância da integração
entre Atenção Básica e Vigilância em Saúde, que ocorrerá durante a apresentação do facilitador a
respeito das soluções para a o Caso Guia - parte 2.
CONDUTA PROFISSIONAL
SITUAÇÃO PROBLEMA IDENTIFICADA
(ORIENTAÇÕES / RECOMENDAÇÕES)
✄ Conheça o manual prático para implementação da Rede Cegonha. Disponível em: http://
www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/09/MANUAL_PRATICO_MS_IMPLE-
MENTACAI_REDE_CEGONHA.pdf)
✄ https://www.telelab.aids.gov.br/index.php/cursos
46 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Arrisco começar esse texto utilizando mais uma vez o trecho da música: "minha vida é andar
por esse país, pra ver se um dia descanso feliz, guardando as recordações, das terras onde passei,
andando pelos sertões e os amigos que lá deixei...”(Luiz Gonzaga). Representando, uma singela
homenagem à construção da saúde pública no Brasil, que passou por caminhos sinuosos e chega
aos dias de hoje com uma proposta estruturada, ainda que necessitando constantemente de ajus-
tes. É um orgulho dizer: o SUS é uma conquista do povo brasileiro!
Outro ponto a ser considerado antes de iniciarmos, é compreendermos do que se trata uma
política de saúde. Segundo Amélia Cohn (2009), nos estudos de natureza política deve se conside-
rar a dimensão do poder e a dimensão da racionalidade no processo de formulação e implementa-
ção de uma política de saúde, em que ocorrem constantes disputas até que a decisão seja tomada,
por parte do Estado (representado pelo grupo que detém o poder em determinada conjuntura
histórica).
Frente a isso, os grupos sociais distintos entram na arena de disputa, defendendo sua priori-
dade, até que se traduza essa necessidade na política de um determinado governo, o que pode não
agradar a todos, mas que se leva em conta na democracia. Neste processo, se consideram estudos
de caráter científico e epidemiológico, entre outros, que contribuam para a melhor escolha entre as
alternativas disponíveis (COHN, 2009).
Certamente os “fatos” nem sempre acontecem com tamanha sensatez, mas efetivamente, para
uma política de saúde passar a existir, um longo caminho é percorrido. E é isso que queremos apre-
sentar a você através de uma Linha do Tempo, que apresenta marcos importantes para a constru-
ção do SUS a partir de 1930, dando ênfase também a alguns acontecimentos, no mesmo período, no
estado da Bahia.
Você deve estar se perguntando: Por que a partir da década de 1930? Vejamos a seguir.
Durante a República Velha (1889-1930) o país foi governado pelos estados mais ricos, como São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Oswaldo Cruz, à frente da Diretoria Geral de Saúde Pública,
reforçou o papel de instituições públicas de higiene e saúde no Brasil. Neste período, foram imple-
mentados os serviços e programas de saúde pública nacional e, em paralelo, adotou-se o modelo das
“campanhas sanitárias”, com vistas a enfrentar epidemias urbanas e, posteriormente, as epidemias
rurais” (LUZ, 1991; BERTOLLI FILHO, 1996).
Do tempo do Brasil colônia de Portugal até a década de 1930, pouco se fez por uma saúde
pública. As ações não eram organizadas e as diferenças de classes sociais no tratamento de doenças
eram evidentes. Buscava-se atenção de curandeiros, benzedeiras, parteiras etc., e muitas pessoas
desvalidas dependiam da caridade das Santas Casas de Misericórdia, entre elas, a de Santos (1543),
Salvador (1549), Rio de Janeiro (1567), Vitória (1818), São Paulo (1599), João Pessoa (1602),
Belém (1619), São Luís (1657), Campos (1792) e Porto alegre (1803). Ainda assim, o Brasil manti-
nha cultivada a imagem de um país doente. Com a chegada da República e o fim da escravidão, mais
imigrantes vieram ao país, porém a fama de país insalubre continuava a afugentar muitas pessoas
(FIOCRUZ, 2015; CMB,19--?).
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 47
Entre as décadas de 1900 a 1920, foram realizadas reformas urbanas e sanitárias, nas áreas
portuárias, pois era preciso garantir um país com controle nas fronteiras para que os navios
pudessem atracar e movimentar o comércio. No período de 1903 a 1909, Oswaldo Cruz atua
como Diretor Geral de Saúde Pública com a missão de sanear a capital do país, na época o Rio de
Janeiro, de três grandes males: febre amarela; peste bubônica; varíola. No ano de 1904, torna
obrigatória a vacinação contra a varíola, provocando na população uma grande revolta que ficou
conhecida como a “Revolta da Vacina”, que revogou sua obrigatoriedade. Neste mesmo ano, em 8
de março, por meio do Decreto nº 5.156, o governo regulamenta os serviços sanitários da União
(PROJETO MEMÓRIA, 2003).
No ano de 1907, a Febre Amarela é erradicada no Rio de Janeiro e Oswaldo Cruz é condeco-
rado. Em seguida, outros estados começam o trabalho para a erradicação desse agravo, a exemplo
do Pará que desenvolve a campanha de erradicação entre os anos de 1910 e 1911. Este modelo
campanhista, embora bastante criticado, trouxe algum alívio para o comércio que mostrou melho-
ras após a erradicação de algumas doenças da época (PROJETO MEMÓRIA, 2003).
A Lei nº8.142/90 é complementar a Lei nº 8.080/90 e normatiza como deve ser acontecer
as transferências de recursos financeiros entre os órgãos intergovernamentais e principal-
mente como deve acontecer a participação popular e controle social no SUS.
Veja o breve vídeo no you tube (7’6”), sobre a importância da Lei nº 8.142/90. Disponí-
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=sC8wzo_EHhU
LINHA DO TEMPO
48 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Linha do TempoP O L Í T I C A S . D E . S A Ú D E . N O . B R A S I L
1930 - A partir desse ano, inicia no Brasil 1932 - É criada a Carteira de Trabalho, porém a assis-
o segundo período republicano, onde o tência médica previdenciária estava restrita aos seg-
país foi governado, provisoriamente, por mentos assalariados urbanos da população. Ao Estado
Getúlio Vargas, conhecido como o “pai era atribuição o “saneamento do ambiente”, como a va-
dos pobres”. cinação e o isolamento de doentes. Os pobres doentes
dependiam da caridade dos hospitais filantrópicos e
Figura 2 – carteiras de das Santas Casas de Misericórdia.
Figura 1 – foto de trabalho - 1932
Getúlio Vargas no
primeiro mandato
1930 - No dia 14 de novembro, 1939 - Criação do Serviço de Malária do
com o Decreto - 19.402, o Governo Nordeste (SMN) para intensificar o com-
criou o " Ministério dos Negócios bate ao Anopheles gambiae. Esse serviço
da Educação e Saúde Pública. esteve vigente até 1941, quando foi erra-
dicado o mosquito (Decreto nº 1.042, de
11/1/1939).
1930
1950
Nesse período aconteceu a nova Reforma da Saúde Pública Federal, com re-
organização do Departamento Nacional de Saúde, do Ministério dos Negócios
da Educação e da Saúde Pública (Decreto Lei no 3.171 de 02/04/1941).
1940
1960
Art. 1º do Código Nacional da Saúde, que esteve Nos anos de 1965 e 1966, foram instituídas duas campanhas bas-
vigente até o ano de 1991: tante importantes para a situação vivida no Brasil nessa época:
Respectivamente a Criação da Campanha de Erradicação da Ma-
“O Código Nacional de Saúde regulamenta normas ge-
lária e a Criação da Campanha de Erradicação da Varíola.
rais de defesa e proteção da saúde a serem observadas
em todo o território nacional por qualquer pessoa, física
Ainda no ano de 1966, na Bahia houve a criação da SESAB, Secre-
ou jurídica, de direito público ou privado, inclusive Es-
taria da Saúde do Estado da Bahia, atravé da Lei nº 2.321, com a
tados, Territórios, Distrito Federal e Municípios, insti-
finalidade de formulação da política estadual de saúde e agestão
tuições civis ou militares, entidades autárquicas, pa-
da saúde em âmbito estadual.
ra-estatais e privadas, de qualquer natureza”.
50 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
1970
1980
Nessa década, há o
enfraquecimento do regime
ditatorial vivido no país desde
Na década de 1980, continuam as discussões sobre a importância de um sistema de saúde
1964. A queda do regime ocorreu
para todos e sobre a necessidade de se considerar a saúde em seu conceito ampliado.
em 15 de março de 1985. Houve a
A saúde passou a ser defendida enquanto direito de cada cidadão e dever do estado eleição do Presidente Tancredo
brasileiro. A partir deste período, não poderia mais haver distinção de qualquer natureza Neves, porém o mesmo faleceu
para ter acesso aos serviços de saúde, como a obrigatoriedade de contribuir com a antes da assunção ao cargo,
Previdência Social através de “carteira assinada”. tomando posse como presidente
O setor saúde vive uma crise política que impulsiona o MRSB. José Sarney. Esse período ficou
conhecido como Nova República.
Marco AChistórico
O L H I Mpara a Atenção
E N TO Básica,
P EDAGÓGIC O no anoNUA
- MA de L D O T RABALH ADOR 51
1978, quando aconteceu a Conferência Interna-
cional de Assistência Primária em Saúde, promovi-
da pela OMS e pelo Fundo das Nações Unidas (U-
Importante lembrar que, na década de 1970,
NICEF), resultou na elaboração da Declaração de
dá-se início às discussões que culminaram no
Alma-Ata, que reafirma a saúde como direito hu-
Movimento pela Reforma
mano fundamental.
Sanitária Brasileira (MRSB), com a bandeira
Figura 7 – Declaração
de luta pela saúde enquanto direito universal
da Alma-Ata
de cidadania. O movimento avançaria até a
Em 1977 acontece a 6ª CNS com temáticas que tra- década de 1980, quando aconteceu a 8ª
taram da situação do controle das grandes ende- Conferência Nacional de Saúde e foi
mias, da interiorização dos serviços de saúde e da marcado por ampla mobilização da sociedade
Política Nacional de Saúde. brasileira, que exigia melhores condições de
saúde. Nessa época a expectativa de vida do
Foi o ano em que foi aprovado o primeiro do modelo
brasileiro ficava entre 57 e 62 anos (IBGE).
da Caderneta de Vacinação (Portaria GM/MS
nº 85, de 4/4/1977) e da instituição do Sistema Na-
cional de Laboratórios de Saúde Pública (Portaria
GM/MS nº 280, de 21/7/1977).
Foi também nessa época que o estado da Bahia instituiu a realização das
Conferências Estaduais de Saúde - CONFERES. (PAIM,1999).
No ano de 1990, o SUS passa a ser devidamente instituído através 1992 - acontece a 9ª Conferência Nacional,
52Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90, que definiu seus objetivos,
da DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
realizada com o tema central: a municipali-
competências e atribuições, princípios e diretrizes, organização, zação é o caminho; e alguns temas específi-
direção e gestão; criou o subsistema de atenção à saúde indígena; cos, como: sociedade, governo e saúde; im-
regulou a prestação de serviços privados de assistência à saúde e definiu políticas de recursos hu- plantações do SUS; e controle social.
manos, financiamento, gestão financeira, planejamento e orçamento.
Neste mesmo ano ocorreu a implantação do
Foi instituída a Gestão participativa no SUS (Lei nº 8.142/90), que também orienta a forma de alo- Plano Nacional de Eliminação do sarampo.
cação dos recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde.
1990
2000
Realização da 10ª CNS, que tratou dos temas: Saúde, cidadania e políticas 1998 - a Norma Operacional Básica (NOB) nº 96
públicas; Gestão e organização dos serviços de saúde; Controle social na entra em vigor, trazendo a responsabilização direta
saúde; Financiamento da saúde; Recursos humanos para a saúde; e, Atenção dos municípios pela execução da vacinação na rede
integral à saúde. de serviços e habilitando a Gestão Plena de AB e
Gestão Plena do Sistema Municipal.
2007 - acontece a VII Conferes na Bahia, ampliando as discussões dos municípios, levando
propostas para a 13ª CNS, cujo tema central foi: saúde e qualidade de vida, políticas de
Estado e desenvolvimento. A Bahia implanta o Comitê Técnico Estadual de Saúde da
População Negra (Decreto nº 10.572), tendo como uma de suas atribuições: formular,
sistematizar, apoiar, monitorar e avaliar a implementação da Política Estadual.
O ano de 2006 foi bastante im-
É instituído o Programa Saúde na Escola (PSE), que visa contribuir para a formação in-
portante: houve a publicação da
tegral dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde.
primeira Política Nacional de
Esse programa tem caráter intersetorial, integrando escola e equipe de saúde no desen-
Atenção Básica (PNAB), por meio
volvimento de ações. (Decreto Presidencial nº 6.286).
da portaria de nº 648 [Revogada].
Com esta portaria, o caráter de
ordenadora da Rede e Coordena- Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados
dora do cuidado para esse nível em 2008 pelo Ministério da Saúde, objetivando apoiar a consoli-
de atenção foi fortalecido. dação da AB e ampliar as ofertas de saúde na rede de serviços.
No ano de 2010, foi instituído o Programa Telessaúde Brasil com o objetivo de qualificar, ampliar a
resolubilidade e fortalecer a AB e ESF. (Lei nº 11.897)
O calendário de Vacinação para os Povos Indígenas foi instituído em todo o território nacional (Por-
taria GM/MS nº 1.946/10).
Nesse mesmo ano, na Bahia, foi criado o conselho Estadual dos Direitos dos Povos Indígenas do Es-
tado da Bahia – COPIBA, passo importante no reconhecimento das singularidades dessa população.
A Bahia é o segundo estado com maior número de equipes e o único com uma Política Estadual para
o NASF, aprovado apartir da Resolução CIB no 66 no ano 2010.
O ano de 2011 foi tão intenso quanto os demais, ocorreu a implantação da Rede Cegonha, que busca implementar
uma rede de cuidados e as regulamentações da Lei Orgânica da Saúde no 8.080/90 e do Cartão Nacional de Saúde.
Foi também um ano de fortalecimento da AB, com republicação da PNAB, através da Portaria n 2.488 [Revogada],
que reforça esse nível de atenção como ordenador da rede e coordenadora do cuidado.
Figura 14 – Rede Foi o ano de Lançamento do Programa Academia da Saúde, que atua de forma articulada com as equipes NASF.
cegonha
Na Bahia foi o ano de realização da VIII CONFERES, tendo como tema: “Todos usam o SUS! SUS na seguridade
social, política pública, patrimônio do povo brasileiro”, que aprovou propostas para a 14ª CNS.
2010
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O ano de 2013 é um marco para o estado da Bahia, com a pu-
Chegamos ao final dessa Linha do Tempo. Espero que tenha 5 5
blicaçãoAC
daOPolítica
L H I M E NEstadual
TO P EDAGÓGIC O - Básica
da Atenção MA NUA naL Bahia
D O T RABALH
– ADOR
curtido e aprendido muito nessa viagem!
PEAB (Decreto nº 14.457), que reforça o modelo de organiza-
ção desse nível de atenção no território, tendo esta como or- Certamente há marcos que você lembrou e que não foram
denadora da rede de serviços e coordenadora do cuidado. sinalizados aqui. Assim, você pode usar o quadro a seguir para
completar com fatos que cosiderar essenciais nessa trajetória,
Também foi instituída a Política Estadual de Atenção Integral
além de aproveitar para destacar como você visualiza e
à Saúde da População Negra (Decreto nº 14.720), reforçando
compreende o atual momento da saúde no Brasil.
a necessidade de reduzir as barreiras de acesso aos serviços
de saúde. É importante conhecer a trajetória, saber como chegamos até
aqui e continuar a luta pela melhoria da saúde pública de
Houve a implantação do Núcleo Técni-
qualidade no nosso país.
co Científico Telessaúde Bahia, com a
proposta de potencializar a qualificação Afinal, o SUS é meu! É seu! É nosso!
da AB, por meio de ofertas de Telecon-
Figura 14 – Logo do sultoria, Teleducação, Telediagnóstico
Telessaúde bahia
e Segunda Opinião Formativa (SOF), di- 2019 - realizada a X CONFERES na Bahia e a 16ª CNS, com o propósito de reafirmar
rigidos a todas as categorias de profis- a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, que ficou conhecida
sionais e à gestão da Atenção Básica. como 8+. O tema foi: “Democracia e Saúde: Saúde como Direito e Consolidação
A Bahia foi um dos primeiros estados a e Financiamento do SUS”.
aderir ao Programa Mais Médicos para Foi publicada a Portaria MS 2.979, que instituiu o Programa Previne Brasil, esta-
o Brasil, implantado neste ano. belecendo um novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à
Saúde (APS) no âmbito do SUS.
Em 2015 acontece a IX CONFERES na Bahia 2017 - Início da implantação das Policlínicas Regionais na
e a 15ª CNS, com o tema: Saúde Pública de Bahia, integrando a rede de atenção de forma regionalizada,
qualidade para cuidar bem das pessoas. Di- com a demanda encaminhada pela AB.
reito do povo brasileiro.
Nesse ano, nacionalmente é publicada a Portaria de conso- Figura 15 – 16ª Conferência
lidação nº 2, que consolida normas nacionais do SUS, incluin- Nacional de Saúde.
do a PNAB.
2020
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56 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
É um bem-estar social que pode significar que as pessoas tenham mais alguma coisa do
que simplesmente não estar doentes: que tenham direito à casa, ao trabalho, ao salário
condigno, à água, à vestimenta, à educação, às informações sobre como dominar o mundo e
transformá-lo. Que tenham direito ao meio ambiente que não os seja agressivo, e que, pelo
contrário, permita uma vida digna e decente. Direito a um sistema político que respeite a
livre opinião, a livre possibilidade de organização e autodeterminação de um povo, e que
não esteja todo tempo submetido ao medo da violência, daquela violência resultante da
miséria, e que resulta no roubo, no ataque. Que não esteja também submetido ao medo da
violência de um governo contra o seu próprio povo, para que sejam mantidos interesses
que não são do povo [...]. (AROUCA,1986).
Neste contexto, o controle social no SUS foi instituído com a participação dos setores organi-
zados da sociedade desde as suas formulações – planos, programas e projetos –, acompanhamento
de suas execuções até a definição da alocação de recursos para que estas atendam aos interesses
da coletividade.
Entretanto, nem sempre foi assim. O primeiro Conselho Nacional de Saúde (CNS) surgiu, no
Brasil, há mais de 70 anos, em 1948, durante um regime autoritário, e, portanto, sua composição
incluía membros do governo e técnicos na perspectiva do sanitarismo campanhista, dentro de uma
estrutura rígida, militarizada, focada na “guerra às endemias” (BRASIL,2013a). Até os anos 1980,
não era permitida a representação de usuários e de profissionais de saúde.
Os conselhos de saúde são órgãos deliberativos, permanentes e colegiados, sendo que sua
composição é paritária, ou seja, o número de conselheiros que representam os usuários dos servi-
ços de saúde (50%) deve ser igual ao número de conselheiros que representam outros segmentos da
sociedade (50%). Atualmente, no Brasil, temos o Conselho Nacional de Saúde, os Conselhos Esta-
duais de Saúde e os Conselhos Municipais de Saúde. Cabe ao município avaliar a criação dos conse-
lhos locais e distritais de saúde (BRASIL, 2013a).
Destacam-se como atribuições dos conselhos locais a discussão do funcionamento dos servi-
ços, a definição de propostas para melhorar o “acolhimento” dos usuários, a proposição de estraté-
gias para superar os problemas detectados na UBS, bem como a articulação com a comunidade para
a superação de conflitos entre trabalhadores de saúde e usuários (SOLLA, 2005).
Considerando a importância dos CLS para a harmonização entre serviço de saúde e comuni-
dade, é fundamental que as Equipes de Saúde da Família fomentem a formação dos mesmos em sua
área de abrangência. Existem alguns passos considerados mínimos para formação de um CLS, são
eles: identificação das lideranças e instituições/entidades de usuários da área, tais como associa-
ções de moradores, organizações não-governamentais, entidades religiosas e escolas; realização
de reuniões e encontros com os líderes, entidades e comunidade em geral para discussão sobre a
importância da implantação do CLS; constituição de comissão eleitoral para estruturar o processo
de eleição dos membros representantes dos usuários para compor o Conselho; publicação de edital
de convocação da eleição do Conselho Local de Saúde e acompanhamento de seu processo de publi-
cação no Diário Oficial do Município; inscrição das entidades da comunidade candidatas a serem
membros do Conselho; e realização da eleição dos representantes dos usuários para comporem o
CLS. Após sua criação, o CLS deve ser registrado no Conselho Municipal de Saúde. (NOGUEIRA et
al, 2008).
A conferência de saúde se reúne a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos
sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde
nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por este ou
pelo Conselho de Saúde (BRASIL, 1990).
Neste contexto, o movimento de mulheres negras conferiu maior visibilidade às questões espe-
cíficas de saúde da mulher negra, sobretudo aquelas relacionadas à saúde sexual e reprodutiva. No
âmbito estadual e municipal, as primeiras formulações sobre a saúde da população negra ocorreram
na década de 1980 por meio do Movimento Social Negro e pesquisadores (BAHIA, 2013a).
Nos anos 1990, o Grupo de Trabalho Interministerial para Valorização da População Negra
organizou uma mesa redonda sobre a saúde da população negra, que resultou na introdução do
quesito cor nos sistemas de informação de mortalidade e de nascidos vivos; na elaboração da reso-
58 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
lução CNS nº 196/96, que introduziu o recorte racial em toda e qualquer pesquisa envolvendo seres
humanos; e na recomendação de implantação de uma política nacional de atenção às pessoas com
anemia falciforme.
Na Bahia, foi criado o Comitê Técnico Estadual de Saúde da População Negra e diversas ações
realizadas contribuíram para a instituição da Política Estadual de Saúde da População Negra
(BAHIA, 2013a).
Para além das conferências e conselhos de saúde, a participação da comunidade no SUS não
se restringe ao controle social, pelo contrário, ela é mais ampla, e significa que cabe a população ir
além do que só controlar as ações da gestão. É uma manifestação de democracia participativa, pois
tem como pressuposto a participação direta dos cidadãos na tomada de decisões. A participação da
comunidade é decidir coletivamente qual o caminho a ser trilhado para garantir o direito à saúde
(COSEMS-RJ, 2016).
Além do controle social, representado pelos conselhos e conferências de saúde, são exemplos
da participação da comunidade: a construção do plano municipal de saúde; o orçamento partici-
pativo; ouvidoria; ações de mobilização voltadas à promoção da saúde e prevenção de doenças de
iniciativa ou com apoio popular (COSEMS-RJ, 2016).
http://www.blog.saude.gov.br/index.php/
Disque Saúde 136 servicos/53405-ouvidoria-sus-ajuda-a-melhorar-
os-servicos-de-saude
A partir da chegada da família real portuguesa no Brasil, no início do século XVIII, com a neces-
sidade de contenção de epidemias no país, e a partir da Campanha de Erradicação da Varíola (CEV)
iniciada em 1966, a vigilância passaria dos seus marcos fundamentais à constituição da Vigilância
em Saúde que conhecemos hoje. Sua construção foi ancorada no controle sanitário de viajantes,
bens e serviços de interesse da saúde, bem como na vigilância epidemiológica e controle de doen-
ças (DE SETA; PEPE, REIS, 2020).
Por muito tempo, as ações de vigilância foram realizadas apenas pelos estados e pelo governo
federal. A vigilância sanitária e a epidemiológica passaram a ter ações desenvolvidas pelos municí-
pios após a implementação da Norma Operacional Básica do SUS 01/96 (NOB SUS 01/96), a partir
de 1998, que reforçou o papel das instâncias intergestores e introduziu critérios relacionados às
vigilâncias para transferências financeiras automáticas para estados e municípios. Além disso, outra
circunstância que contribuiu para aprofundar a descentralização das ações foi o fortalecimento dos
serviços federais das vigilâncias epidemiológica e sanitária (DE SETA, 2014).
A Resolução 588/2018 do Conselho Nacional de Saúde, que institui a Política Nacional de Vigi-
lância em Saúde (PNVS), afirma que esta política incide sobre todos os níveis e formas de atenção à
saúde, abrangendo todos os serviços de saúde públicos e privados, além de estabelecimentos rela-
cionados à produção e circulação de bens de consumo e tecnologias que, direta ou indiretamente,
se relacionem com a saúde. Diz ainda, que a Vigilância em Saúde compreende a articulação dos
saberes, processos e práticas das quatro vigilâncias: vigilância epidemiológica, vigilância em saúde
ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e vigilância sanitária.
Sobre a construção da AB, o movimento iniciado após a instituição do SUS levou à criação
do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), no ano de 1991, e posteriormente, do
Programa Saúde da Família (PSF) no ano de 1994, culminando com a publicação da primeira porta-
ria da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), no ano de 2006. Neste contexto, optou-se pelo
uso do termo AB com incorporação de atributos da APS (porta de entrada preferencial e ponto de
partida da estruturação dos sistemas locais de saúde), explicitando o PSF como estratégia priori-
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 61
tária para sua implantação (AQUINO et al, 2014; CONASS, 2011; GIOVANELLA e MENDONÇA,
2008; BRASIL, 2017).
Assim, ficou definido que a AB “caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde no âmbito
individual e coletivo que abrangem a promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diag-
nóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde” (BRASIL, 2006). No ano de 2011, é acres-
cida a essa definição de abrangência, a redução de danos, sendo também reforçada a compreensão
de que os termos AB e APS são considerados equivalentes, associando-se a ambos os mesmos prin-
cípios e diretrizes definidos pela PNAB (BRASIL, 2011).
A Atenção Básica é o conjunto de ações individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção,
prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos
e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada,
realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais
as equipes assumem responsabilidade sanitária.
Art 5º A integração entre a Vigilância em Saúde e Atenção Básica é condição essencial para o
alcance de resultados que atendam às necessidades de saúde da população, na ótica da integrali-
dade da atenção à saúde e visa estabelecer processos de trabalho que considerem os determinan-
tes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e intersetorialidade.
No Estado da Bahia, a Política Estadual da Atenção Básica (PEAB), caracteriza este nível de
atenção:
[...] por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a
proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de
danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte
na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das
coletividades (BAHIA, 2013b).
A qualificação da AB é uma das frentes de ação do estado da Bahia, por meio das seguintes
estratégias:
Segundo De Seta; Pepe; Reis (2020), a finalidade “mais ampla” do processo de trabalho das vigi-
lâncias é promover e proteger a saúde, atuando sobre determinantes e riscos à saúde. No âmbito
local, a finalidade específica é reconhecer os problemas de saúde locais e atender às necessidades
de saúde em seu território, sejam elas “sentidas” ou não pela comunidade.
Além disso, é importante que os profissionais da AB trabalhem com a lógica de risco, utilizando
a epidemiologia como ferramenta para mapear vulnerabilidades da sua população. O processo de
formação das equipes deve desenvolver o raciocínio epidemiológico para compreensão e interven-
ção sobre os problemas de saúde prioritários (BRASIL, 2018).
Depois, os processos de trabalho precisam estar organizados para atender aos principais
problemas de saúde-doença identificados na análise situação de saúde. Assim, se é reconhecida a
presença de hipertensos, de diabéticos e de crianças com doença respiratória crônica, por exemplo,
a unidade precisará se organizar para atender as necessidades que cada usuário destes grupos certa-
mente vai demandar, considerando ainda as suas especificidades. As demandas estarão relaciona-
das às consultas (previstas ou urgentes, na unidade ou no domicílio), aos procedimentos e às ativi-
dades educativas. As ações sobre a demanda representam a intervenção nos problemas. Tomando
como exemplo a doença respiratória em crianças, as equipes precisam ainda propor intervenções
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 63
em fatores ambientais que contribuem para a presença ou agravamento do problema nestas crian-
ças. Essas intervenções representam exatamente as medidas de prevenção e controle das doenças
ou agravos e dos riscos à saúde.
Portanto, falar das ações de vigilância em saúde também é falar do cotidiano das equi-
pes de atenção básica, pois é nas consultas, procedimentos e ações educativas do dia a dia
que também estão incorporadas.
1ª etapa - Interação Pedagógica
DIA 3
Caro trabalhador(a), chegamos ao terceiro dia da 1ª etapa de Interação Pedagógica. Hoje os
trabalhadores conversarão sobre a importância da Atenção Básica na rede de Atenção à Saúde
e serão preparados para a segunda etapa do AP, por meio de exercícios sobre territorialização e
análise de situação de saúde, que são conteúdo de algumas tarefas práxicas na próxima etapa (Inte-
ração entre Equipe e Território). A seguir, mostramos os objetivos e a proposta de cronograma para
esse dia.
ATIVIDADE
INTERVALO
ALMOÇO
INTERVALO
16h às 17h30 Planejamento e Programação Local em Saúde (PPLS): análise da situação de saúde
Trecho de Mori (2014), que fala sobre a experiência do autor, trabalhador da saúde, ao adentrar
no cotidiano do território, objeto do seu trabalho:
À medida que o trabalho invade a vida, trata-se de um movimento lógico o caminho inverso; a vida
logo invade com toda sua intensidade o trabalho.
Assim, pensar acesso a coisas, lugares e pessoas, ajuda a pensar acesso aos serviços de saúde. Diria
que viver e sentir a dificuldade de acesso ajuda a se identificar (criar empatia) com as necessidades
de saúde das pessoas usuárias do sistema, gera incômodo [no(a) trabalhador(a)] e necessidades de
se criar mecanismos capazes de produzir cenários de mudanças (MORI, 2014, p. 162).
66 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
✄ Américo Mori, é enfermeiro sanitarista, atua nas áreas de gestão e formação em saúde. É
autor desse relato reflexivo “os sentidos de uma experiência ao habitar o território no Apoio
Institucional descentralizado”. Este relato encontra-se no livro “Experiências de Apoio Insti-
tucional no SUS: da teoria à prática”, assim como a experiência de Sílvia Cardoso no apoio à
implantação da Linha de Cuidado Materno-Infantil num município da Bahia, que aborda a
Rede Cegonha. Ficou curioso? Acesse http://historico.redeunida.org.br/editora/biblioteca-
-digital/colecao-micropolitica-do-trabalho-e-o-cuidado-em-saude/experiencias-de-apoio-
-institucional-no-sus-pdf e leia este relato na íntegra.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 67
Assim, propôs-se que a “porta de entrada” no sistema fosse um centro de saúde, que empre-
garia os general practitioners (GP‘s) – os médicos generalistas ingleses, que já então clinicavam de
forma autônoma. Estes centros de saúde, localizados em vilas, estariam ligados a um centro de
saúde mais complexo, já então denominado secundário; e os casos que não pudessem ser resolvidos
aí seriam referenciados aos hospitais – no modelo proposto, hospitais de ensino. Os generalistas,
então, teriam a função de definir a forma como o paciente “caminha” pelo sistema e, por isto,rece-
beram o nome de gate-keeper – literalmente o porteiro, o que toma conta da porta - e o de coorde-
nadores do cuidado.
É interessante observar como os conceitos que hoje utilizamos e discutimos, como porta de
entrada, regiões, níveis de complexidade, entre outros, já estavam delimitados e claramente defini-
dos no relatório de 1920. Inclusive, a ilustração utilizada é marcadamente semelhante aos modelos
que são utilizados até hoje para ilustrar os conceitos de redes de serviços de saúde.
68 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
A proposta do relatório Dawson, embora solicitada pelo governo, não foi implementada à época
e o sistema de saúde britânico seria criado apenas 28 anos depois, em 1948, após o fim da Segunda
Guerra Mundial.
Antes do sistema britânico, o primeiro sistema público universal foi instituído pela União Sovié-
tica, a partir de fins da década de 1920. O sistema de tipo soviético foi também implantado nos
demais países do bloco socialista, como Cuba, e nos países europeus que passaram a compor o
bloco após a Segunda Guerra Mundial, como a Polônia e Hungria. É conhecido como sistema de tipo
Semashko, denominação derivada de Nikolai Alexandrovich Semashko (NA Semashko), primeiro
comissário do povo para a saúde da União Soviética. É caracterizado por um sistema público, finan-
ciado diretamente pelo Estado, centralizado e com alto grau de normatização. Como todos os siste-
mas universais, é estruturado em redes hierarquizadas e regionalizadas de serviços e gerido pelos
diferentes níveis da administração estatal – central, regional e local. É estruturado verticalmente e
com responsabilidades muito bem delimitadas. Um exemplo mais próximo de um sistema deste tipo,
extremamente bem-sucedido, é o sistema cubano.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 69
A organização funcional da rede foi a mesma proposta por Dawson e já adotada pelo
modelo soviético. A partir do cuidado realizado pelo generalista no primeiro nível de aten-
ção, caso este considerasse necessário – e apenas nestes casos –, o paciente seria encami-
nhado ao atendimento especializado ambulatorial e deste para o atendimento hospitalar
– em geral, para o hospital distrital e deste para o hospital regional, se fosse o caso. Pode-
-se observar que a ampliação da cobertura do primeiro nível de atenção se deu a partir dos
generalistas, que garantem, até hoje, literalmente 100% de cobertura da população. No caso
inglês, os generalistas são pagos por capitação, uma forma de remuneração bastante utili-
zada para a atenção de primeiro nível, que paga ao médico pelo paciente inscrito em sua lista,
independentemente do número de consultas realizadas. Nesta forma de pagamento, paga-
-se não pela produção de consultas, mas pela responsabilidade pelo cuidado.
11. O Relatório Beveridge, oficialmente intitulado Seguro Social e Serviços Afins (Cmd. 6404), [1]foi um relató-
rio de governo, publicado em novembro de 1942, influente na fundação do estado de bem - estar social no Reino
Unido. [2]Foi redigido pelo economista liberal William Beveridge , que propôs reformas generalizadas ao sistema
de bem-estar social para abordar o que ele identificou como «cinco gigantes no caminho da reconstrução»
70 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Esta é, portanto, a origem dos conceitos de rede que discutimos como base para a construção
de sistemas universais. A rede é, em sua concepção básica, uma característica dos sistemas nacio-
nais de saúde, que são característicos de sociedades que têm por base a concepção de que as polí-
ticas e os serviços sociais são direitos do cidadão, portanto, para todos e sem diferenciação – um
sistema universal e equitativo. Na maior parte dos casos, a provisão dos serviços é feita quase que
exclusivamente por serviços públicos.
Este modelo, o mais clássico dos modelos de redes de serviços de saúde, foi seguido, em sua
concepção básica de organização funcional, por todos os países que construíram sistemas únicos
de saúde. É ainda o preconizado pela Organização Mundial de Saúde. No entanto, mesmo que o
modelo de redes de serviços de diferentes países tenham a mesma concepção básica não significa,
de modo algum, que as características – escopo das atividades e escala – dos serviços em cada nível
da rede sejam as mesmas em todos os casos. Em alguns, o primeiro nível é constituído por genera-
listas contratados, a exemplo do modelo inglês; em outros, por generalistas ou clínicos, pediatras e
ginecologistas trabalhando em centros de saúde. Em todos os casos, no entanto, é mantida a lógica
de acesso aos outros níveis do sistema através da referência a partir do primeiro nível.
O fato de, nos sistemas de tipo universal, os serviços serem organizados em redes regionali-
zadas e hierarquizadas não se dá por acaso, na medida em que há uma relação intrínseca entre a
proposta de universalização e equidade e a constituição de redes.
Já nos sistemas de seguro social, inclusive na Alemanha, os objetivos centrais da reforma foram
conter o gasto em saúde e tentar minorar a fragmentação e a descontinuidade do cuidado. A partir
de 2000, algumas medidas nesta direção puderam ser introduzidas, como, por exemplo, a obrigato-
riedade de oferta pelos fundos/caixas de modelos com gate-keepers. Além disso, vêm sendo tentadas
novas estratégias de fortalecimento da articulação entre os vários níveis do sistema, aproximando-se,
portanto, das formas organizacionais tradicionalmente adotadas pelos sistemas nacionais de saúde.
A partir da década de 2000, algumas novas formas de articulação entre serviços vêm sendo
testadas a partir de rearranjos institucionais, tanto nos sistemas nacionais quanto nos de seguro
social. No Reino Unido, o desenvolvimento de clinical networks (redes clínicas) para o tratamento de
pacientes crônicos começou na Escócia, inicialmente dirigido ao tratamento de câncer e mais recen-
temente vem sendo proposto para o tratamento da doença renal crônica. Os networks são confor-
mados por profissionais que trabalham nos diversos níveis de atenção do sistema, por organizações
representativas de pacientes e suas famílias e por sociedades de especialistas, que passam a traba-
lhar articuladamente, desenvolvendo protocolos clínicos e mecanismos próprios de articulação das
práticas, que perpassam todos os serviços envolvidos. Em suas propostas para o desenvolvimento
da política nacional de atenção aos pacientes crônicos, o NHS propõe que futuramente a contratua-
lização de serviços para o tratamento seja feita com os networks, configurando na prática um novo
ente que se responsabilizaria pelo cuidado integral.
É importante levar em conta que a busca por mecanismos cada vez mais sofisticados de integra-
ção – sejam eles destinados à integração entre serviços, entre as práticas ou entre as ações dirigi-
das ao mesmo usuário –, torna-se mais importante à medida que a população envelhece e aumenta
o número de portadores de doenças crônicas. Para um paciente agudo, a continuidade do cuidado é
central durante um período curto de tempo, correspondente ao episódio específico, como por exem-
plo, uma amigdalite ou um trauma. No entanto, no caso de pacientes crônicos, muitas vezes apre-
sentando múltiplas patologias, o cuidado é contínuo e envolve muitos profissionais e instituições.
O foco muda para a manutenção do equilíbrio funcional e a coordenação é um elemento-chave.
Os custos gerados pela fragmentação, aliados a formas de pagamento por itens e procedimen-
tos, geraram o significativo crescimento do cuidado gerenciado (managedcare), que engloba dife-
rentes arranjos organizacionais, centrados no pagamento por capitação a distintos tipos de organi-
zações, que se responsabilizam pela provisão de todo o cuidado a um paciente, seja através de rede
própria de serviços, seja por diferentes tipos de contratos estabelecidos com provedores.
A definição adotada por Shortel (1994) para os sistemas integrados – “uma rede de organiza-
ções que provê, ou faz arranjos para prover, um continuum coordenado de serviços de saúde a uma
população definida e que está disposta a prestar contas por seus resultados clínicos e econômi-
cos e pelo estado de saúde da população a que serve” – acabou por tornar-se amplamente adotada,
muitas vezes como sinônimo de redes regionalizadas.
2. Extensa rede de serviços de saúde que provê promoção, prevenção, diagnóstico, trata-
mento, gestão de enfermidades, reabilitação e cuidados paliativos e integra os progra-
mas focalizados em patologias, riscos e populações específicas e os serviços pessoais e de
saúde pública;
3. Um primeiro nível de atenção que cubra toda a população e atue como porta de entrada do
sistema, que integre e coordene o cuidado da saúde e que resolva a maioria das necessida-
des de saúde da população;
13. Ação intersetorial ampla e abordagem dos determinantes da saúde e da equidade em saúde.
Estes atributos remetem à proposta de Dawson das redes regionalizadas, que são constituí-
das por população e território definidos; extensa rede de estabelecimentos de saúde que presta
serviços integrais; primeiro nível de atenção com cobertura de toda a população, porta de entrada
do sistema, que integra e coordena a atenção e o sistema de governança única para toda a rede e
devem utilizar mecanismos de coordenação ao longo de todo o continuum dos serviços.
Uma outra contribuição central do documento da OPAS é a clara separação entre os atributos
da rede e os mecanismos e instrumentos de coordenação a serem utilizados para sua implemen-
tação. De acordo com a proposta, dada a diversidade de contextos, não seria possível prescrever
um modelo organizacional único para as redes e vários esquemas seriam possíveis. O objetivo da
política pública seria o de propor um desenho que satisfaça as necessidades organizacionais espe-
cíficas de cada sistema, ressaltando-se que, quaisquer que sejam os mecanismos e instrumentos
de coordenação utilizados, estes devem estar sempre respaldados por uma política de Estado que
impulsione as redes como estratégia fundamental e com referencial jurídico coerente.
Os atributos das redes definidos no documento da OPAS são também os adotados pelo Minis-
tério da Saúde do Brasil (MS), um dos países signatários do documento, e constam na Portaria 4.279,
publicada pelo MS em 31 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010d), em que são estabelecidas as dire-
trizes para a Organização de Redes de Atenção à Saúde no âmbito do SUS (MS, 2010). Na referia
Portaria, tem-se a respeito de rede de saúde:
“Rede de Atenção à Saúde é definida como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferen-
tes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão,
buscam garantir a integralidade do cuidado.”
“O objetivo das RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços de saúde com provisão de aten-
ção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem como incrementar o desempenho do
Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária; e eficiência econômica.”
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 75
“Caracteriza-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção com o centro de comu-
nicação na Atenção Primária à Saúde (APS), pela centralidade nas necessidades em saúde de uma popula-
ção, pela responsabilização na atenção contínua e integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo comparti-
lhamento de objetivos e compromissos com os resultados sanitários e econômicos.”
“Fundamenta-se na compreensão da APS como primeiro nível de atenção, enfatizando a função resolutiva
dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde e a partir do qual se realiza e coordena o
cuidado em todos os pontos de atenção.”
“Os pontos de atenção à saúde são entendidos como espaços onde se ofertam determinados serviços de
saúde, por meio de uma produção singular.”
“São exemplos de pontos de atenção à saúde: os domicílios, as unidades básicas de saúde, as unidades
ambulatoriais especializadas, os serviços de hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial,
as residências terapêuticas, entre outros. Os hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o
ambulatório de pronto atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade,
a unidade de terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros.”
“Todos os pontos de atenção à saúde são igualmente importantes para que se cumpram os objetivos
das redes de atenção à saúde, se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades tecnológicas que
os caracterizam.”
Aprofunde seu conhecimento sobre redes assistindo aos seis primeiros episódios da
série britânica Doc Martin – 1a temporada e observe os elementos característicos de redes
de atenção à saúde em suas cenas. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=C0__-
87xRbQ.
76 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Usufruindo da definição de território apresentada pela Política Nacional de Saúde Integral das
Populações do Campo e da Floresta (BRASIL, 2019), como “espaço que possui tecido social, trama
complexa de relações com raízes históricas e culturais, configurações políticas e identidades, cujos
sujeitos sociais podem protagonizar um compromisso para o desenvolvimento local sustentável”
(BRASIL, 2019, art. 2º, inciso XXVII), damos início a esse texto sobre território e territorialização.
Esse conceito nos convida a olhar o território para além do espaço geográfico, por conside-
rar a influência da natureza nos processos de saúde e doença e sua determinação social para estas
populações, que subsistem do território. Milton Santos (1978) afirma que a utilização do território
pelo povo cria o espaço, e, neste sentido, o autor se refere ao território como um espaço geográfico
que deve ser considerado como algo que participa igualmente da condição do social e do físico, um
misto, um híbrido (SANTOS, 2006).
Segundo Monken e Barcellos (2007), apesar dos muitos conceitos ou representações que
possamos ter, o território está sempre relacionado a uma área delimitada onde a vida acontece,
submetida a certas inter-relações, regras ou normas. Os autores ainda complementam que a
adoção de um limite territorial para analisar e atuar, por exemplo, sobre as condições ambientais
e de saúde, é reconhecidamente artificial, pois nem o ambiente e nem os processos sociais ficam
restritos a esses limites.
[...] a unidade geográfica única, de construção descentralizada do SUS na execução das ações estra-
tégicas destinadas à vigilância, promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde. [...] O terri-
tório é destinado para “dinamizar a ação em saúde pública, o estudo social, econômico, epidemioló-
gico, assistencial, cultural e identitário, possibilitando uma ampla visão de cada unidade geográfica
e subsidiando a atuação na Atenção Básica, de forma que atendam a necessidade da população
adscrita e ou as populações específicas (BRASIL, 2019, anexo I do anexo XXII).
O território também precisa ser compreendido como o espaço em que se coleta dados sobre
ambiente e saúde e estes podem transcender seus limites, ou seja, analisa-se uma área adscrita, mas
muitas questões ultrapassam o limite geográfico dessa área. Há diferenças também entre a popula-
ção urbana e rural de um mesmo território, onde as pessoas vivem e trabalham de maneiras diferen-
tes (MONKEN e BARCELLOS, 2007).
rial da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Porém, mesmo sendo considerada a coordenadora da rede
que articula os diversos níveis de atenção, a AB não deve ser a única responsável pela territoriali-
zação, devendo esta ser adotada por todos os níveis do sistema (MONKEN e BARCELLOS, 2007;
MENDES, 2011; COSEMS-RJ, 2016).
Embora exista o esforço de integração dos SIS, diversos ainda são utilizados pelos serviços e
pela gestão em saúde. Para Atenção Básica, são muito utilizados o SINAN, SISVAN, SINASC, SIM e
alguns já estão integrados ao e-SUS AB, que é atualmente o principal sistema informatizado para
alimentação das ações desenvolvidas pelas equipes de AB. No e-SUS, é possível obter como unidade
de análise tanto o município quanto cada equipe de saúde que faz parte dele. Com o e-SUS, é possí-
vel extrair, a respeito da área adscrita da equipe, o número de habitantes por faixa etária e sexo,
informações sociodemográficas (ocupação, raça/cor, orientação sexual e outros), algumas situações
de saúde (gestante, doenças crônicas, acamados, deficientes, entre outros), informações sobre a
população em situação de rua, além de informações de produtividade da equipe. Neste sentido, a
base local do sistema e-SUS AB é uma excelente fonte dados para a equipe elaborar a territorializa-
ção singularizada para a sua área.
78 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
A gestão municipal deve definir o território de responsabilidade de cada equipe, para que estas
conheçam o território onde devem atuar e programem as ações de acordo com o perfil de morbi-
dade e mortalidade e com as necessidades da comunidade (BRASIL, 2018).
A seguir, está proposto um roteiro para territorialização com o objetivo de facilitar sua constru-
ção e subsidiar a primeira tarefa práxica da etapa de Interação entre Equipe e Território.
D Realizar o levantamento de informações sobre o município: site IBGE, entre outros, e pesqui-
sar sobre os aspectos geográficos, populacionais, econômicos, sociais, históricos, culturais e
epidemiológicos.
D Verificar a base municipal do e-SUS, coletando informações sobre sua área adscrita: doen-
ças mais prevalentes na população; taxa de mortalidade geral do município; taxa de morta-
lidade por causas evitáveis; taxa de mortalidade infantil; perfil de internação; proporção
das internações por condições sensíveis à atenção básica; cobertura vacinal no município;
cobertura de serviços de AB, entre outros. Para este fim, utilize o Plano Municipal de Saúde,
o site do DATASUS, entre outras fontes.
Acessar e conhecer mais sobre o e-SUS - PEC municipal. Para isso, acesse a base municipal
do e-SUS em seu município.
Caminhar pela área para levantar informações como: limites territoriais, barreiras geográ-
ficas, áreas rurais e urbanas e áreas de vulnerabilidade (invasão, assentamento, quilombo, etc.);
áreas com risco ambiental; densidade populacional; aspectos políticos, econômicos (modo de
produção, renda), culturais e sociais; equipamentos sociais e institucionais (igrejas, associações,
serviços de proteção social, escolas, etc.); malha viária e meios de transporte; equipamentos
sociais; pontos de atenção à saúde: UBS, centros de especialidades, consultórios/ambulatórios
privados, hospitais, laboratórios, residências terapêuticas, pronto-atendimento, hospitais muni-
cipais e de referência, entre outros. Incluir nesse levantamento os fluxos e processos de referên-
cia e contra-referência na RAS.
Consolidar as informações coletadas para que possam ser expostas na unidade de saúde, de
modo a facilitar o conhecimento e uso pela população e pela equipe de saúde. Por exemplo, a equipe
pode expor o mapa da área de abrangência, em um quadro com caracterização da população da área
e dados epidemiológicos mais relevantes (número de crianças, de idosos, gestantes, hipertensos,
internações, cobertura vacinal, etc.), uma lista de locais/instituições que disponibilizaram espaço
para realizar reuniões, e assim por diante.
A equipe pode utilizar diferentes materiais para fixar estas informações na unidade, tais como:
papel madeira, banner, etc.
80 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Geografia e ambiente: descrição do relevo; existência de rios ou córregos, especificando (Re)conhecimento da área adscrita por meio de
se canalizados ou em leito natural; lagos e represas, naturais ou artificiais; existência caminhada, assim como informação dos ACS,
de fontes de água naturais, especificando a sua utilização pela população circunvizinha; lideranças comunitárias da área, Secretaria Municipal
barreiras geográficas. da Saúde.
Recursos existentes no território: pontos de atenção à saúde além da própria UBS, ou (Re)conhecimento da área adscrita por meio de
seja, centros de referência/especialidades, consultórios/ambulatórios privados, hospitais, caminhada, assim como informação dos ACS,
laboratórios, residências terapêuticas, pronto atendimento e outros. lideranças comunitárias da área, Secretaria Municipal
da Saúde e CNES.
Áreas de lazer: campos de futebol, pistas para caminhada, parques etc. (Re)conhecimento da área adscrita por meio de
caminhada, assim como informação dos ACS,
lideranças comunitárias da área.
Áreas de risco: áreas de risco ambiental: lixão; áreas sujeitas a (Re)conhecimento da área adscrita por meio de
deslizamento, soterramento ou inundação; fontes de poluentes (tipo, caminhada, assim como informação dos ACS,
origem etc.) e outros riscos. lideranças comunitárias da área, Secretaria Municipal
da Saúde, Secretaria de Ação Social, Prefeitura
Municipal, órgão da Defesa Civil
População total; população segundo faixa etária e sexo; população usuária de plano Instalação PEC municipal,
de saúde; número total de usuários do SUS, raça/cor, orientação sexual, identidade de Relatório de Cadastro Individual.
gênero, deficiência.
Número de chefes de família analfabetos; número de famílias com renda familiar per
capita inferior a R$ 89,00 (oitenta e nove reais)*; número de famílias sem acesso à pasta e Secretaria de Ação Social, Instalação PEC municipal,
à escova de dente, por área; número de famílias segundo o grau de risco. Relatório de Cadastro Individual.
Critério do Programa Bolsa Família, Ministério da Previdência e Assistência Social.
Informações sociodemográficas: Ocupação, Situação no mercado de trabalho.
Doenças mais prevalentes na população; principias causas de internação; número de Instalação PEC municipal, Relatório de Cadastro
óbitos e suas causas; cobertura vacinal; cobertura de pré-natal; número de pessoas com Individual, Sistema de Informações sobre
hipertensão e diabetes; número de gestantes, incluindo gestantes adolescentes; número Mortalidade – SIM, Sistema de Informação de Agravos
de pessoas acima de 60 anos; número de pessoas acamadas e em situação de restrição de Notificação - SINAN, Sistema de Informações sobre
ao domicílio; índice de infestação pelo Aedes Aegypti; entre outros que a equipe julgar Nascidos Vivos – SINASC e Sistema de Informação
importante frente ao perfil epidemiológico local. Hospitalar – SIH/SUS
Lideranças comunitárias da área, equipe de saúde.
Fonte: FALLEIRO; PRIAMO (Adaptado de BRASIL, 2018, MONKEN; BARCELLOS, 2007; OLIVEIRA; CHAGAS; GARCIA,
2019), 2019,DAB/SAIS/SESAB, 2020.
82 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
IMPORTANTE!
Regiões com população flutuante devem ser registradas para um melhor planejamento das
ações da equipe!
No Guia PNAB (2018), páginas 17 a 23, há um texto sobre a Escala de Coelho e Savassi:
como posso identificar riscos e vulnerabilidades no território? Mais uma oferta para os
trabalhadores.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 83
1ª Etapa - Interação Pedagógica
DIA 4
Trabalhador(a), estamos no quarto dia da 1ª etapa de Interação Pedagógica, muito importante
para a continuidade da preparação para a 2ª etapa do AP - Interação entre Equipe e Território, por
meio de exercícios do PPLS que subsidiam a equipe na realização das tarefas práxicas. A seguir,
apresentamos os objetivos e a proposta de cronograma para esse dia.
ATIVIDADE
08h30 às 10h30 PPLS: definição de objetivos, análise de viabilidade e elaboração das ações
INTERVALO
10h45 às 12h Orientações para a 2ª etapa do AP: interação entre equipe e território
O dia 5 iniciará com a apresentação das atividades práxicas. A apresentação deve contemplar:
(a) territorialização com apresentação do mapa da área de abrangência da equipe, (b) breve relato
do levantamento dos problemas junto à comunidade, (c) a lista de problemas e problemas prioriza-
dos, do estado de saúde e da unidade de saúde, (d) a árvore de um dos problemas trabalhados, (e)
matriz de árvore de objetivos e (f) a programação operativa.
A equipe deverá relatar o desenvolvimento das atividades, para que todos tenham conheci-
mento sobre como foram realizadas em território, buscando destacar pontos relevantes da expe-
riência, as dúvidas, os aspectos positivos e negativos.
É importante pensar antecipadamente na forma da apresentação que será realizada, para que
a mensagem seja comunicada de forma compreensível. O uso da criatividade é sempre bom, em
qualquer formato de apresentação: programa de computador, cartolina, roda de conversa, teatro,
cordel, etc.
86 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
12. Carlos Matus: economista chileno que desenvolveu uma reflexão abrangente sobre Política, Planejamento e
Governo. Suas obras foram bastante difundidas no Brasil, especialmente na área da saúde (TEIXEIRA, 2010).
88 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
que de refere à unidade de saúde. Além disso, a análise toma como referencial os modelos expli-
cativos do processo saúde-doença, em sua dimensão individual e coletiva, e o conceito ampliado
de saúde, que foram abordados no dia 1 do AP (VILASBÔAS e TEIXEIRA, 2001; TEIXEIRA, VILAS-
BÔAS e JESUS, 2010).
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Elaborado a partir de: Costa, Pinho e Ferreira, 2015; Oliveira, Chagas e Garcia, 2019),
2019.
Levantamento de problemas
A análise de situação de saúde se configura como a atividade que inicia o primeiro momento
de atividades do PPLS. Após ela, segue-se a atividade identificação e formulação dos problemas,
entendendo problema como algo considerado fora dos padrões de normalidade para o ator social
que está analisando uma determinada situação. Cada problema deve ser descrito contemplando as
seguintes informações: O que é? Quem é atingido? Onde ocorre? Quando ocorre? (VILASBÔAS e
TEIXEIRA, 2001; VILASBÔAS, 2004). Esta descrição do problema é importante para que o mesmo
expresse a realidade em que está inserido e para facilitar a compreensão de todos. A seguir, um
modelo de matriz para ajudar na sistematização da lista de problemas.
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10
11
12
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
É importante destacar que existem dois tipos de problemas a serem reconhecidos: os proble-
mas do estado de saúde da população, que se referem aos riscos à saúde, às formas de adoecimento
e morte da população (Ex: Alta prevalência de complicações por Hipertensão na área da UBS X,
município Y, 2021); e, os problemas da unidade de saúde , que estão relacionados à organização e
funcionamento dos serviços de saúde (Ex: Dificuldade para realização do exame preventivo na UBS
X município Y, 2021) (VILASBÔAS, 2004).
Existem vários critérios que podem ser utilizados na priorização de problemas, mas é impor-
tante ressaltar que a mesma deve ser o resultado do acordo possível entre os interessados – equipe
de saúde e comunidade.
90 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
A análise de situação de saúde da área e a discussão com comunidade resulta em uma lista preli-
minar de problemas que podem ser trabalhados. Com o objetivo de realizar uma triagem inicial,
sugere-se que cada participante vote nos cinco problemas que considera mais importante; ao final,
os 5 problemas mais votados, do estado de saúde e da unidade de saúde, serão transcritos paras
matrizes 10 e 11, de acordo com sua classificação. Nessas matrizes, os critérios de priorização estão
apresentados em forma de pergunta e o grupo, preferencialmente por consenso, deve respondê-
-las, conforme as pontuações abaixo:
0 1 2 3 4
Magnitude
Disponibilidade de tecnologia
Valorização
0. insignificante; 1. baixa; 2. média; 3. alta; 4. muito alta
0 1 2 3 4
Custos
0.muito alto ; 1. alto; 2. média; 3. baixo; 4. muito baixo
1 2 3 4 5
Relevância
1. sem gravidade; 2. pouco graves; 3. graves; 4. muito graves; 5. gravíssimas.
1 2 3 4 5
Urgência
1. sem pressa; 2. pode esperar um pouco; 3. mais cedo possível; 4. urgente; 5. imediato.
1 2 3 4 5
Factibilidade
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1. os recursos não existem; 2. os recursos existem, mas não estão disponíveis; 3. os recursos exis-
tem, não estão disponíveis, mas podem ser obtidos com dificuldade; 4. os recursos existem, não
estão disponíveis, mas podem ser obtidos; 5. os recursos existem e estão disponíveis.
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
QUAL O PRAZO
O PROBLEMA É OS RECURSOS EXISTENTES
O QUE É O PRO- PARA ENFRENTAR
ITEM IMPORTANTE? ESTÃO DISPONÍVEIS? SOMA
BLEMA? O PROBLEMA?
(RELEVÂNCIA) (FACTIBILIDADE)
(URGÊNCIA)
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
92 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
Ao final, é realizada a somatória dos pontos de cada um dos problemas, sendo a ordem de prio-
ridade definida pelo valor total obtido, em ordem decrescente, em cada uma das matrizes.
ÁRVORE DE PROBLEMAS
Consequências
Problema
Causas
Definição de Objetivos
O segundo momento do PPLS é a definição de objetivos (ver figura 5), que, de forma bastante
direta, constituem a expressão positiva dos problemas, ou seja, o objetivo geral é a expressão posi-
tiva do problema. Do mesmo modo, os objetivos específicos são a expressão positivada das causas
do problema (TEIXEIRA e VILASBÔAS, 2001).
ÁRVORE DE OBJETIVOS
Problema
Objetivo
geral
Objetivo
específico
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 93
Problema
Objetivo
geral
Estratégia(s)
Programação Operativa
O quarto momento é a elaboração da programação operativa, em que se identificam as ações e
atividades necessárias, com responsáveis e prazos, para viabilizar o alcance do objetivo específico
(VILASBÔAS e TEIXEIRA, 2001).
PROGRAMAÇÃO OPERATIVA
Problema
Objetivo
geral
Objetivo
específico Ações/atividades Responsáveis Prazos
O PPLS ainda possui alguns passos no seu desenvolvimento, que serão discutidos na 3ª etapa do
AP, Interação Pedagógica. Assim, este texto terá seguimento no Texto Base 1 – Dia 5.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 95
S E G U N D A E T A P A
INTERAÇÃO
ENTRE EQUIPE E
TERRITÓRIO
2ª etapa - Interação entre Equipe e Território
O objetivo da Interação entre Equipe e Território é associar os conhecimentos teóricos aborda-
dos na Interação Pedagógica com a prática do cotidiano do trabalho, identificando novos elementos
que serão trabalhados na próxima etapa de Interação Pedagógica.
A duração prevista é de 30 a 40 dias, mas pode variar conforme cada caso. O ideal é que tudo
seja pactuado em equipe e com a gestão local. Devem ser realizadas 4 reuniões de um turno cada.
Entretanto, a carga horária, bem como a quantidade de turnos, pode variar conforme o ritmo de
cada equipe. É importante realizar um planejamento das atividades, garantindo que não se demore
muito em uma única atividade e prejudique o desenvolvimento das demais.
Proposta
A proposta é que cada atividade da segunda etapa tenha como resultado um produto que
contribui com o trabalho da equipe na ESF.
Para realizar esta atividade, você precisará de um momento prévio à exploração da área junto
com sua equipe, que ocorre no passo 4. Este momento está previsto nos passos 1, 2 e 3, para os quais
sugere-se que seja reservada 1 (uma) hora.
Para os passos 4 e 5, sugere-se que sejam distribuídas cerca de 4 horas para caminhar pelo terri-
tório e desenhar o mapa.
PASSO 1
PASSO 2
PASSO 3
Verifique a base municipal do e-SUS, coletando informações sobre sua área adscrita: população
por faixa etária e sexo, doenças mais prevalentes na população, cobertura vacinal, óbito infan-
til, entre outros.
A Equipe deve ter em mãos os seguintes relatórios do e-SUS: cadastro individual, atendimento
individual, atividade coletiva, visita domiciliar e territorial, vacinação, procedimentos consoli-
dados e atendimento domiciliar.
Como roteiro, pode ser utilizado o quadro 9 do dia 3 da Interação Pedagógica, que apresenta as
informações que podem ser coletadas e a fonte que dispõe da mesma.
PASSO 4
Se já existir o mapa da área, a sugestão é levá-lo durante a caminhada para que seja atualizado.
PASSO 5
• Os limites de cada micro área (incluindo áreas descobertas), assim como as características
específicas (áreas de risco, como aterros sanitários, de risco para violência, como de tráfico,
áreas que concentram terrenos baldios, assentamento, entre outras), caso exista;
PASSO 6
Reúna-se com sua equipe para discutir os dados coletados nos passos anteriores. O subsídio
para este momento são: os elementos identificados durante a atividade de caminhada pela
área, os dados coletados nos sistemas de informação em saúde, as informações oriundas dos
informantes – chave, entre outros que a equipe considerar relevante.
PASSO 7
Selecione algumas características da área para serem expostas na unidade de saúde, de modo
a facilitar o conhecimento e uso pela população e pela equipe de saúde. Por exemplo, a equipe
pode expor o mapa da área de abrangência, um quadro com caracterização da população da
área e dados epidemiológicos mais relevantes (número de crianças, de idosos, gestantes, hiper-
tensos, internações, número de óbitos e suas causas, cobertura vacinal, etc.), uma lista de locais/
instituições que disponibilizaram espaço para realizar reuniões, as associações existentes com
seus representantes e assim por diante.
A equipe pode utilizar diferentes materiais para fixar estas informações na unidade, tais como:
papel madeira, painel plotado (banner), etc.
Para realizar esta atividade, você precisará de um momento de preparo (passos 1, 2 e 3), ante-
rior à reunião para o levantamento, priorização de problemas e elaboração das árvores de proble-
mas. Para este preparo, sugere-se que seja utilizado o turno de reunião de equipe.
PASSO 1
Identifique um local para realizar uma reunião com a comunidade; caso não exista, realize na
própria Unidade.
PASSO 2
PASSO 3
Junto à equipe, prepare o material a ser apresentado: sugere-se que sejam o mapa e alguns
dados da área de abrangência da equipe, para que a apresentação não seja muito extensa. A
equipe pode usar papéis, videoprojetor, encenação, cordel ou outros recursos que considere
adequado. Leve também tarjetas em branco para os participantes escreverem.
PASSO 4
PASSO 5
Realize junto ao grupo o preenchimento da matriz lista de problemas, listando todos os proble-
mas identificados na territorialização e também os apontados pela equipe e comunidade.
Escreva as informações da matriz do quadro 11 em um papel grande, como papel metro, para
facilitar a visualização de todos.
Durante a reunião, os problemas que forem sendo apontados devem ser escritos em tarjetas e
estas coladas na matriz.
1 -
10
11
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
104 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
É importante salientar que a listagem inicial de problemas não tem um número máximo a ser
considerado. Entretanto, para viabilizar a metodologia do PPLS, sugere-se que no máximo doze
problemas se mantenham elencados para o desenvolvimento da etapa de priorização. Neste
sentido, com o objetivo de realizar uma triagem inicial, após a listagem de vários problemas, solicite
que cada participante da oficina vote em doze problemas que considerar mais importantes, ideal-
mente sendo seis do estado de saúde e seis da unidade de saúde, quando possível.
PASSO 6
A partir da lista de problemas apontados como mais importantes, aplique a técnica de prioriza-
ção de problemas, conforme o Texto Base 2 – Dia 3.
QUAL A
HÁ CONHECIMENTOS QUANTIDADE
E RECURSOS PARA DE RECURSOS
O PROBLEMA OPROBLEMAÉ
QUE O PROBLEMA FINANCEIROS
OQUEÉO É MUITO CONSIDERADO
ITEM POSSA SER NECESSÁRIA SOMA
PROBLEMA? FREQUENTE? IMPORTANTE?
ENFRENTADO? PARA
(MAGNITUDE) (VALORIZAÇÃO)
(DISPONIBILIDADE DE ENFRENTAR O
TECNOLOGIA) PROBLEMA?
(CUSTOS)
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 105
QUAL O
O PROBLEMA É PRAZO PARA OS RECURSOS EXISTENTES
ITEM O QUE É O IMPORTANTE? ENFRENTAR ESTÃO DISPONÍVEIS? SOMA
PROBLEMA? (RELEVÂNCIA) O (FACTIBILIDADE)
PROBLEMA?
(URGÊNCIA)
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
PASSO 7
Elabore apenas duas árvores de problema com a comunidade, conforme a matriz do quadro
13 e o Texto Base 1 - Dia 4, visto que o período de Interação entre Equipe e Território é curto e
prevê apenas quatro turnos de atividade.
Dentre os problemas que foram selecionados para passar pela etapa de priorização, apenas
o de maior pontuação do estado de saúde e o de maior pontuação da unidade de saúde serão
trabalhados pela equipe nas demais etapas do PPLS. Assim, você terá duas matrizes de árvore
de problema ao final: uma sobre o problema mais pontuado do estado de saúde e outra sobre o
problema mais pontuado da unidade de saúde.
As demais árvores podem ser elaboradas posteriormente pela equipe durante o turno de
reunião regular.
106 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
ÁRVORE DE PROBLEMA
Consequências
Problema
Causas
PASSO 1
A partir de cada problema (trabalhado nas árvores de problemas), elabore o objetivo geral e, a
partir das três principais causas, elabore os respectivos objetivos específicos. Dessa forma, você
terá construído, ao final, duas matrizes de árvore de objetivos, sendo uma para cada problema.
Sugere-se que seja construído um objetivo específico para cada uma das três causas considera-
das mais relevantes.
É importante lembrar que os objetivos devem ser escritos com o verbo na forma nominal infini-
tivo (exemplos: ampliar, construir).
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 107
ÁRVORE DE OBJETIVOS
Problema
Objetivo
geral
Objetivo
específico
Fonte: FALLEIRO e PRIAMO (Adaptado de: TEIXEIRA; VILASBÔAS; JESUS, 2010, VILASBÔAS; TEIXEIRA, 2001), 2019.
PASSO 2
Considere uma das matrizes de árvore de objetivos e, para cada objetivo específico, defina as
ações e atividades que são necessárias para alcançá-lo, assim como os responsáveis e os prazos
das ações/atividades. Com isso, você estará realizando o preenchimento da matriz de progra-
mação operativa (Quadro 17).
Repita o processo considerando a outra matriz de definição de objetivos (outro objetivo geral),
realizando o preenchimento da segunda matriz de programação operativa.
Ao final, você terá duas matrizes de programação operativa, sendo uma para cada objetivo geral.
Observe que não está sendo pedido que a matriz de análise de viabilidade, componente do PPLS,
seja elaborada nem postada no AVA. Entretanto, durante a construção da programação opera-
tiva, é preciso estar atento para que não sejam propostas ações ou atividades para as quais a
equipe tem pouca autonomia de realização, ou seja, ações fora da governabilidade da equipe,
que dependam de decisões de outros e, assim dificultem a execução do plano. Se a equipe consi-
derar necessária a elaboração da análise de viabilidade, a matriz pode ser construída conforme
descrito do Texto Base 1 - 4.
PROGRAMAÇÃO OPERATIVA
Problema
Objetivo
geral
Pode acontecer de sua equipe utilizar outro método ou outras ferramentas para realizar
o planejamento. Se preferirem assim, será ótima a experimentação, pois o importante é que
consigam planejar com foco nas necessidades de saúde das pessoas e do território. Contudo,
lembre-se de registrar todos os passos desse outro método para poder relatá-los aos colegas
na próxima etapa do AP.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 109
T E R C E I R A E T A P A
INTERAÇÃO
PEDAGÓGICA
3ª etapa - Interação Pedagógica
DIA 5
Olá, Trabalhador(a). Reservamos um tempo maior para a troca de experiências, que será espe-
cial no dia de hoje, durante as apresentações das tarefas práxicas. A partir delas também daremos
continuidade ao PPLS, com a definição dos indicadores para o acompanhamento e avaliação da
programação operativa. A seguir, apresentamos os objetivos e a proposta de cronograma para esse
primeiro dia da 3ª etapa do Acolhimento Pedagógico.
ATIVIDADE
08h30 às 10h Apresentação das atividades práxicas desenvolvidas na segunda etapa do AP.
INTERVALO
ALMOÇO
INTERVALO
Segundo Vilasbôas e Teixeira (2001), um indicador é uma medida utilizada para verificar
determinada situação e pode ser expresso por número inteiro ou proporção. Durante o planeja-
mento, há indicadores que são estabelecidos para monitorar o andamento dos trabalhos, acom-
panhar o que se se faz nas ações, e assim medem a realização de um processo (como consultas a
uma população-alvo, atividades educativas) ou entrega de um produto (elaboração de um rela-
tório, publicação do regimento do Conselho de Saúde, construção de uma UBS). Tais indicadores
traduzem o esforço empreendido pela equipe de saúde para realizar as ações e podem ser classi-
ficados como indicadores de processo ou, ainda, indicadores de produto (BRASIL, 2010c). Todos
estes são úteis para verificar se as ações estabelecidas estão alcançando o que se pretendia com
os objetivos específicos. São os que a equipe de saúde mais vai utilizar, pois dizem respeito ao dia
a dia empreendido pela equipe.
PROGRAMAÇÃO OPERATIVA
Objetivo geral: Reduzir o número de casos de gestantes com sífilis, Local X, ano Y
Mas, durante o planejamento, há ainda indicadores que são estabelecidos para expressar,
direta ou indiretamente, os benefícios no público-alvo decorrentes das ações empreendidas: estes
são chamados indicadores de resultado (BRASIL, 2010c). Eles possuem uma amplitude maior de
interpretação em relação aos indicadores de esforço e, por isso, também mostram melhor um cená-
rio epidemiológico. São úteis para verificar se um conjunto de ações empreendidas (esforços) tem
sido importantes no sentido de alcançar o que se pretendia com o objetivo geral.
Novamente, vamos considerar o problema “elevado número de casos de gestantes com sífilis,
local X, ano Y”. Para este problema, o objetivo geral é reduzir o número de casos de sífilis em gestan-
tes e então o indicador: número de casos de sífilis em gestantes, evidencia o quanto se alcançou o
objetivo geral de reduzir o número de casos da doença na referida população.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 117
Conforme descrito por Vilasbôas e Teixeira (2001), após definir qual indicador será utilizado,
devem ser definidas a fonte de informação para a coleta do mesmo, a periodicidade das coletas e as
formas de divulgação dos resultados, que pode ser a apresentação na reunião do Conselho Muni-
cipal de Saúde ou uma sala de situação na UBS, por exemplo. Observe o quadro 22, que contém o
desenvolvimento de indicadores para o problema elevado número de casos de gestantes com sífilis.
PERIODI-
OBJETIVO FONTE DE FORMAS DE
AÇÃO INDICADOR CIDADE DA
ESPECÍFICO VERIFICAÇÃO DIVULGAÇÃO
COLETA
e-SUS –
relatório de
Número de atividade Sala de
Salas de coletiva no situação da
Realização espera item atividade, UBS
de sala de educação em
espera. Número de saúde Mensal Relatório
semanalmente participantes anual da
sobre IST (gestantes) e-SUS – Equipe
que relatório de
participaram atividade Redes sociais
coletiva no
item público-
alvo
e-SUS –
relatório de
Sala de
Número de atividade
Realização situação da
Salas de coletiva no
Realizar de sala de UBS
espera item atividade.
atividades espera.
Número de
educativas semanalmente Mensal Relatório
participantes e-SUS –
sobre o tema sobre anual da
(gestantes) relatório de
planejamento Equipe
que atividade
familiar
participaram coletiva no
Redes sociais
item público-
alvo
E-SUS –
relatório de
atendimento Sala de
individual situação da
no item UBS
Orientações Número de problemas
sobre sífilis nas consultas de e condições Mensal Relatório
consultas pré-natal avaliadas anual da
(pré-natal) e/ Equipe
ou problemas
e condições Redes sociais
avaliadas
-outros CID 10
Um planejamento não acaba em sua formulação inicial. Ele deve ser visitado periodicamente
(monitoramento), avaliado e ajustado quando necessário. Assim, no PPLS, o monitoramento do
plano se chama acompanhamento e avaliação da programação operativa.
O monitoramento (de um plano) pode ser definido como o acompanhamento dos objetivos
quantitativos e qualitativos pré-definidos. Deve ser realizado de forma contínua, possibilitando
aferir as metas, comparar o alcançado com o desejado, permitindo também que se façam adapta-
ções às mudanças que podem acontecer durante o desenvolvimento do planejamento (CONASS,
2016; BLANKE et al., 2013).
Durante o monitoramento das ações, algumas questões devem ser respondidas: estamos
agindo dentro do prazo? Os recursos humanos, financeiros, materiais e equipamentos estão dispo-
níveis? É preciso adaptar o planejamento? Como estamos gerindo o estresse e as dificuldades em
relação ao plano? Como minimizamos os riscos? Será que estamos realmente realizando o plano
original ou estivemos tão ocupados que cegamente se mudou para uma direção completamente
nova? (BLANKE et al., 2013).
ATENÇÃO!
Ao final, TODO MUNDO culpou ALGUÉM quando NINGUÉM fez o que QUAL-
QUER UM poderia ter feito.”
✄ Fonte: http://www.contandohistorias.com.br/historias/2004302.php#.XgImlkdKjIV
120 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
DIA 6
Trabalhador(a), a partir de agora, abordaremos assuntos estruturantes para o desenvolvimento
das atividades das equipes de AB: o processo de trabalho em saúde, a construção da agenda da
equipe e o conhecimento de diversas tecnologias que contribuem com o cotidiano do trabalho com
o usuário e a família. Assim, após a conclusão do AP, os trabalhadores retornarão ao território com
mais ferramentas para aprimorar a sua atuação. Acompanhe a seguir os objetivos e a proposta de
cronograma para esse dia.
ATIVIDADE
08h30 às 10h A importância do trabalho em equipe na Estratégia Saúde da Família (ESF) e Atenção Básica (AB)
INTERVALO
ALMOÇO
INTERVALO
LIMITAÇÕES POTENCIALIDADES
Matutino
Vespertino
Matutino
Vespertino
Matutino
Vespertino
“Trabalhar com pessoas nunca é fácil, muita gente acredita que [é] trabalho braçal. É não. Mas difícil e sofre-
dor [o trabalho braçal] porém tem suas rotinas na qual já se sabe sua tarefa e o organismo se adapta, já
no nosso caso, cada dia é único, não fazemos ideia do que esperar, podemos tentar se organizar e se ante-
vir em algumas tarefas porém o fator pessoas, o fator gente, sempre irá nos surpreender, seja para o bem
ou para tentar nos colocar para baixo, todavia quero dizer que estou feliz e orgulhoso de trabalhar com as
pessoas que hoje trabalho, bom fim de semana e bom feriado.” (mensagem de um trabalhador de uma
UBS, enviada por whatsapp para sua equipe. Ano 2019)
Observe, ainda, que numa equipe de UBS existem múltiplas divisões dentro de um mesmo
espaço e dentro de uma mesma equipe. Estas divisões são orientadas por diferentes motivações e
podem expressar as relações de vínculo e de conflito entre os profissionais. As Equipes Flor 1 e Flor
2, por exemplo, possuem uma composição multiprofissional, que as caracteriza como uma equipe,
com um objetivo comum de atender às necessidades da população adscrita, mas existem também
subdivisões, como a equipe de ACS com a enfermeira supervisora; a equipe de odontologia; a equipe
dos profissionais que não são da saúde, como a recepcionista, vigilante, auxiliar de limpeza; pode se
conformar também uma equipe por categoria profissional, etc. Estes diferentes agrupamentos vão
acontecendo, de forma consciente ou inconsciente, a depender das necessidades de cada sujeito
dentro deste grupo maior, que são as equipes Flor 1 e 2. Assim, Fortuna (1999) descreve a imagem
de uma teia, de diversos fios, em direções antagônicas e convergentes, destacando ainda o inter-
câmbio entre a satisfação de usuários e trabalhadores.
Para Araújo e Rocha (2007), a importância do diálogo na busca do consenso constitui elemento
imprescindível para o bom desenvolvimento do trabalho em equipe. Isso aponta à possibilidade do
desenvolvimento de uma prática comunicativa. O trabalho em equipe “provoca” a escuta do outro,
o que pressupõe o estabelecimento de um canal de comunicação (ARAÚJO e ROCHA, 2007).
Segundo Barros (2015), são atributos do trabalho em equipe: agir de forma colaborativa na qual
busca participar da construção de um projeto comum para a atuação da equipe; estar disponível
para participar de encontros regulares para a discussão da organização do processo de trabalho
da equipe; estabelecer comunicação direta com os colegas compreendendo o conflito como uma
dimensão inerente ao trabalho em equipe e como potência para gerar crescimento e construir a
inovação; reconhecer a interdependência de ações entre os integrantes da equipe.
De acordo com o item 4- Atribuições dos Profissionais da Atenção Básica, no Anexo 1 do Anexo
XXII da Portaria de Consolidação nº 2/2017, onde consta a Política Nacional de Atenção Básica
(disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0002_03_10_2017.html,
acesso em janeiro/2021), as atribuições comuns a todos os membros das Equipes que atuam na
Atenção Básica são:
II. Cadastrar e manter atualizado o cadastramento e outros dados de saúde das famílias e
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 127
IV. Realizar ações de atenção à saúde conforme a necessidade de saúde da população local,
bem como aquelas previstas nas prioridades, protocolos, diretrizes clínicas e terapêu-
ticas, assim como, na oferta nacional de ações e serviços essenciais e ampliados da AB;
VIII. Praticar cuidado individual, familiar e dirigido a pessoas, famílias e grupos sociais, visando
propor intervenções que possam influenciar os processos saúde-doença individual, das
coletividades e da própria comunidade;
X. Utilizar o Sistema de Informação da Atenção Básica vigente para registro das ações de
saúde na AB, visando subsidiar a gestão, planejamento, investigação clínica e epidemio-
lógica, e à avaliação dos serviços de saúde;
XI. Contribuir para o processo de regulação do acesso a partir da Atenção Básica, partici-
pando da definição de fluxos assistenciais na RAS, bem como da elaboração e implemen-
tação de protocolos e diretrizes clínicas e terapêuticas para a ordenação desses fluxos;
XII. Realizar a gestão das filas de espera, evitando a prática do encaminhamento desne-
cessário, com base nos processos de regulação locais (referência e contrarreferência),
ampliando-a para um processo de compartilhamento de casos e acompanhamento longi-
tudinal de responsabilidade das equipes que atuam na Atenção Básica;
XIII. Prever nos fluxos da RAS entre os pontos de atenção de diferentes configurações tecno-
lógicas a integração por meio de serviços de apoio logístico, técnico e de gestão, para
garantir a integralidade do cuidado;
128 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
XIV. Instituir ações para segurança do paciente e propor medidas para reduzir os riscos e
diminuir os eventos adversos;
XV. Alimentar e garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas de informação
da Atenção Básica, conforme normativa vigente;
XVI. Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de notificação compulsória, bem como
outras doenças, agravos, surtos, acidentes, violências, situações sanitárias e ambientais
de importância local, considerando essas ocorrências para o planejamento de ações de
prevenção, proteção e recuperação em saúde no território;
XXVI. Identificar parceiros e recursos na comunidade que possam potencializar ações interse-
toriais;
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 129
XXVIII. Realizar outras ações e atividades, de acordo com as prioridades locais, definidas pelo
gestor local.
Você pode conhecer também as atribuições específicas dos profissionais das equipes que
atuam na Atenção Básica na Política Nacional de Atenção Básica – Operacionalização da Porta-
ria de Consolidação nº 2/2017, Anexo XXII, Anexo 1, disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2017/prc0002_03_10_2017.html (acesso em janeiro/2021).
Livro: Estórias da rua que foi Balsa. Trilhas e intuições na Educação Popular em Saúde.
Guayaboedições,2016.
3. Vai vendo: estratégia de saúde do cada um no seu quadrado. Ernande Valentim do Prado.
A agenda dos profissionais é recurso-chave para ampliar o acesso aos usuários, otimizar o
tempo, priorizar e programar a assistência com base na análise das necessidades de saúde da popu-
lação. Essa organização contribui para uma ação integrada da equipe, multiprofissional e interdisci-
plinar, assim como para a garantia de continuidade do cuidado (programático ou não), reforçando o
vínculo, a responsabilização e a segurança dos usuários (BRASIL, 2017).
Para que isso aconteça, é fundamental uma metodologia consistente de planejamento e gestão
das agendas que contemple essas diferentes situações: oferta programada para grupos específicos,
oferta de atendimentos agudos e oferta de retorno/reavaliação de usuários que não fazem parte de
ações programáticas (BRASIL, 2017).
Segundo Pinto e Coelho (2008), a composição de uma proposta de agenda de trabalho da equipe
deve considerar as seguintes questões: as características da população adscrita; a capacidade da
equipe de realização de ações de saúde; as ações de saúde propostas pela equipe ou pelo serviço de
saúde para serem implementadas junto à população adscrita; as características individuais, como o
tipo de formação e a capacidade de trabalho de cada membro da equipe, entre outras.
De acordo com as experiências vivenciadas pela Diretoria de Atenção Básica da Bahia junto às
equipes de Saúde da Família,são identificados a seguir alguns exemplos de agenda:
Tarde Reunião com ACS Visitas Visitas Grupo Reunião com ACS
Manhã Grupo e Pré- Grupo e Criança Grupo e Pré- Grupo e Criança Grupo e Exame
Natal Natal preventivo
CIRURGIÃO -
SEG TER QUA QUI SEX
DENTISTA
Os exemplos 1 e 2 de organização de agenda, apesar de coexistirem com os demais modelos que serão
apresentados, não são recomendados, pois não ocorrem de acordo com as necessidades dos usuários. O acesso
por meio de distribuição de senhas promove a formação de filas antes do início do expediente da equipe, inclu-
sive durante a madrugada (o que é muito comum);privilegia aqueles que conseguem chegar cedo na fila ou
que moram mais perto, em detrimento de outros; pode gerar tempo ocioso de trabalho dos profissionais às
tardes/ao final do dia e nem sempre garante os atendimentos de casos urgentes. Já o acesso à unidade apenas
por programas de saúde, ainda que pensado para garantir o atendimento aos grupos considerados prioritá-
rios (mulheres, gestantes, crianças, hipertensos e diabéticos), não o torna equânime, pois contempla somente
algumas pessoas, excluindo a atenção aos demais usuários que não se enquadrem nesses perfis. Além disso,
pode não garantir o atendimento às urgências na atenção básica e à demanda espontânea.
As agendas 3, 4 e 5 são agendas que indicam o acolhimento à demanda espontânea, ainda que sejam
organizadas de maneiras distintas. O acolhimento é uma prática presente em todas as relações de cuidado,
podendo acontecer de diversas maneiras. O fundamental no acolhimento à demanda espontânea, mais espe-
cificamente na Atenção Básica, é a inclusão do usuário a partir da escuta dos seus problemas, independente
se o mesmo está ou não incluído em determinados grupos populacionais. Neste sentido, o acolhimento amplia
o acesso da população, uma vez que contempla tanto a agenda programada quanto a demanda espontânea, de
acordo com a necessidade do usuário e dinâmica da Equipe (BRASIL, 2014d).
132 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
MÉDICO E
SEG TER QUA QUI SEX
ENFERMEIRO
10h30
9h30
Agenda Rápida (c/ Risco e/ou Situação que exige atenção rápida).
12h30
11h30
15h
CIRURGIÃO -
SEG TER QUA QUI SEX
DENTISTA
Quadro 29 - Exemplo 4: Agenda com acolhimento à demanda espontânea em dois períodos e com a participação de
médico, enfermeiro e dentista.
MÉDICO E
SEG TER QUA QUI SEX
ENFERMEIRO
Organização da UBS e Atividade de Sala de Espera (ACS, Técnico de enf., Auxiliar de Saúde Bucal).
8h-9h
Manhã
Atendimento das demandas encaminhadas pelo acolhimento para consulta no dia (Enfermeiro, Dentis-
ta e Médico).
9h-
12h
Consultas agendadas.
12h -
13h
Reunião Equipe/
Educação Perma-
14h – 15:30
Atividade Coletiva
CIRURGIÃO -
SEG TER QUA QUI SEX
DENTISTA
8h-
9h
06 Con-
Manhã
06 Con- sultas de
9h-12h
Reunião
14h – 17h
Equipe/ 06
06 Consultas Agendada 06 Consultas Educação Grupo Consultas
Agendadas Perma- Agendas
nente
MÉDICO E
SEG TER QUA QUI SEX
ENFERMEIRO
Organização da UBS e Atividade de Sala de Espera (ACS, Técnico de enf., Auxiliar de Saúde
Bucal).
8h-9h
Acolhimento
Atendimento das demandas encaminhadas pelo acolhimento para consulta no dia
(Enfermeiro, Dentista e Médico).
MÉDICO E
SEG TER QUA QUI SEX
ENFERMEIRO
Acolhimento
(Rodízio de profissionais para manter acolhimento na UBS)
12h - 13h
Reunião Equipe/
Educação Perma- 3 Consultas
3 Consultas 3 Consultas 3 Consultas agen- nente agendadas
agendadas agendadas dadas (med) e Avaliação / Ativi- (med)
15h-16h
CIRURGIÃO -
SEG TER QUA QUI SEX
DENTISTA
8h-9h
Acolhimento e atendimento das demandas encaminhadas pelo acolhimento
02 Consultas
14h – 15h
Atividade coletiva
02 Consultas 02 Consultas Reunião Equipe/ Educa- (com e/ou sem 02 Consultas
Agendadas Agendadas ção Permanente procedimento) Agendadas
15h-16h
02 Consultas Agendadas
02 Consultas Agendadas
A agenda com blocos de horas compreende agendar, por exemplo, 3 usuários para o médico
no bloco de 9 às 10h, mais 3 no bloco de 10 às 11h, e assim por diante, de acordo com a capaci-
dade do profissional. Essa forma de organizar reduz a quantidade de pessoas que precisam chegar
na unidade de saúde ao início da manhã ou da tarde, evita acumular pessoas esperando na recep-
ção, proporciona ao profissional chamar o usuário seguinte caso o usuário do horário anterior falte
ou atrase-se, além de possibilitar que os atendimentos e procedimentos que vão ser realizados
sejam otimizados para cada usuário. Assim, se um usuário do bloco de 9 às 10h vai ser atendido
pelo médico e precisa também receber uma dose de vacina, o agendamento permite essa previsão
dentro daquele mesmo bloco.
Apesar dos vários exemplos apresentados anteriormente, a agenda não deve ser padroni-
zada para todas as equipes e precisa ser revisada periodicamente, de acordo com as necessida-
des da população assistida e com a capacidade de operacionalização da agenda pela equipe, o que
está relacionado com o estado de desenvolvimento da equipe de saúde na realização do trabalho
comum. Assim, a equipe deve buscar fazer sua agenda de forma que contemple melhor as diretrizes
de organização abaixo:
D NAFS-AB com 5 a 9 equipes de Atenção Básica vinculadas (profissionais com carga horária
de 40 horas por semana)
• Reunião de matriciamento: uma reunião por mês por equipe de Atenção Básica vincu-
lada, com duração mínima de 2 horas
• Turnos para ações compartilhadas (individuais ou coletivas): pelo menos dois a três
turnos por semana
D NAFS-AB com 3 a 4 equipes de Atenção Básica vinculadas (profissionais com carga horária
de 40 horas por semana)
• Turnos para ações compartilhadas (individuais ou coletivas): pelo menos dois a três
turnos por semana
D NAFS-AB com 1 a 2 equipes de Atenção Básica vinculadas (profissionais com carga horária
de 20 horas por semana)
• Reunião de matriciamento: 1-2 reuniões semanais por equipe de Atenção Básica vincu-
lada, com duração de aproximadamente 2 horas
“Reunião é um espaço de diálogo e é preciso que haja um clima em que todos tenham
direito à voz e à opinião (BRASIL, 2009)”.
Assista o vídeo do Dr. Pablo Araújo Alves, sobre a situação da Saúde no Brasil, formas
de organização da agenda, acolhimento à demanda espontânea, e gestão da demanda progra-
mada. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=804rnAspcQU
Destacamos a seguir algumas das Tecnologias para o cuidado em saúde de grande relevância
para o trabalho na Atenção Básica:
Se o profissional de saúde reunir as pessoas em círculo para fazer uma palestra, ele está
fazendo uma roda de conversa?
Série SUS - Você sabe como fazer uma roda de conversa? https://youtu.be/cy8rxq8xNj8
(7’30’’)
2. CLÍNICA AMPLIADA: é uma forma de abordagem à situação das pessoas que buscam o
serviço de saúde. Pressupõe uma visão ampliada sobre o processo saúde-doença, tendo
como eixo central o usuário, ou seja, não se deve priorizar uma ou outra abordagem disci-
plinar sobre determinada situação, mas sim integrá-las, buscando o que mais se adequar
àquela situação. Possui como eixos: a concepção ampliada do processo saúde-doença; a
construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas; a ampliação do objeto de traba-
lho e a transformação dos meios ou instrumentos de trabalho. Reconhece a dimensão inter-
-relacional como base do trabalho na AB (BRASIL, 2009).
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 141
A que se propõe a clínica ampliada? Conheça o relato de uma turma do Mestrado Profissio-
nal de Ensino da Saúde, da Universidade Federal de Alagoas - UFAL, disponível em: http://
redehumanizasus.net/clinica-ampliada/
✄ Conheça o relato do Rogério Café Pessoa no site da Rede Humaniza. Ele comenta sobre a
realização de uma oficina na USF João Sampaio. Disponível em: http://redehumanizasus.net/
oficina-para-construir-o-fluxograma-analisador-do-processo-de-trabalho/
É uma das possibilidades para colocar em análise o cuidado realizado a partir da elaboração de
narrativas (EPS em MOVIMENTO, 2014).
Conheça uma narrativa de caso guia, que contribuiu para um momento de educação perma-
nente com uma equipe de saúde do território da atuação da apoiadora do projeto “Sífilis
Não”13, Vania Priamo. Disponível no kit facilitador.
✄ Quer conhecer mais sobre os quatro momentos em que se desenvolve o PTS? Leia a
pág.74 do Caderno de Atenção Básica nº 39: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
nucleo_apoio_saude_familia_cab39.pdf
✄ Na publicação da PNH, página 39, há mais informações sobre PTS. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_compartilhada.pdf
✄ Conheça o relato do contato inicial da equipe com o PTS, feito por Franklin, em: http://
redehumanizasus.net/projeto-terapeutico-singular-aproximacoes-iniciais-estranhamen-
tos-e-possibilidades-de-trabalho-na-usf-da-comunidade-do-pontal-da-barra-maceio-al/
13. Projeto “Sífilis Não” é uma parceria OPAS, OMS, Ministério da Saúde e Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, para apoio a 100 municípios prioritários para organização de ações de enfrentamento da sífilis. Projeto vigente
entre 2017 e 2020. Para saber mais, acesse: www.sifilisnão.com.br.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 143
seus processos relacionais, já o ecomapa mapeia as redes, apoios sociais e ligações da família
com a comunidade. Ambos os instrumentos costumam ser utilizados em associação, tanto
para fins diagnósticos, quanto em planejamento de ações em saúde. Através da produção
de um retrato gráfico, representam-se as relações dentro do sistema multigeracional fami-
liar e as interações da família com pessoas, instituições ou grupos sociais em determinado
momento (BRASIL, 2014b).
✄ Leia a partir da pág. 75 do Caderno de Atenção Básica nº 39, sobre os instrumentos geno-
grama e ecomapa: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/nucleo_apoio_saude_familia_
cab39.pdf
✄ Conheça o relato de experiência e veja que há diversas possibilidades para uso dessas
ferramentas: https://www.cmfc.org.br/sul/article/view/30
O método da Roda carrega consigo esses sentidos e pretende levá-los pra o interior das
instituições.
Esta proposta é um método que busca fortalecer sujeitos e construir uma democracia institu-
cional. Objetiva analisar e gerir pessoas trabalhando em conjunto, com foco em pensar o significado
e o modo como se organiza o trabalho em duas vertentes: produzir bens e serviços necessários ao
público; constituir sujeitos e coletivos. É um método que “tenta reinventar e ampliar as possibili-
dades históricas de mudança” (CAMPOS, 2000, p.17) na lógica da autonomia do sujeito, conforme
a concepção de Paulo Freire. Propõe se estabelecer a partir de quatro funções: gerencial, política,
pedagógica e terapêutica.
✄ Conheça uma experiência que retrata os desafios entre a teoria e a realidade do método
da roda: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v40n108/0103-1104-sdeb-40-108-00034.pdf
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 145
segundo a OPAS,
É um espaço físico e virtual onde a informação em saúde é analisada sistematicamente por uma
equipe técnica, para caracterizar a situação de saúde de uma população. [...] é apresentada e divul-
gada em diversos formatos como tabelas, gráficos, mapas, documentos técnicos ou relatórios estra-
tégicos (OPAS, 201-?).
Neste contexto, a sala de situação, em uma unidade de saúde, pode contribuir para um plane-
jamento e acompanhamento da situação de saúde local, mantendo ainda a informação visível para
a comunidade.
✄ Você pode conhecer um pouco mais sobre a sala de situação da OPAS: https://www.
paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=324:sala-de-situacao-de-
-saude&Itemid=685
Educação em saúde é uma prática social, cujo processo contribui para a formação da consciência
crítica das pessoas a respeito de seus problemas de saúde, a partir da sua realidade, e estimula a
busca de soluções e organização para a ação individual e coletiva (BRASIL, 2007, p.19).
✄ A sala de espera pode ser mais do que uma sala de espera: http://redehumanizasus.net/
cantinho-da-leitura-ressignificando-o-espaco-de-espera-do-ambulatorio-do-hilp
Assim, compreende-se como um modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num
processo de construção compartilhada e colaborativa, elaboram uma proposta de intervenção
pedagógico-terapêutica (BRASIL, 2011).
✄ Conheça a experiência Matriciamento na Vila, tem até um vídeo. Disponível em: http://
redehumanizasus.net/93417-na-vila-e-assim/
✄ São tantas experiências que tem até um cordel. Disponível em: http://redehumanizasus.
net/cordel-apoio-matricial/
13. VISITA DOMICILIAR: a visita domiciliar (VD) na AB deve ser realizada pela equipe, na pers-
pectiva da promoção, proteção e recuperação da saúde do indivíduo, da família e da cole-
tividade. É uma ação que deve ser liderada pelo ACS, a fim de legitimar sua atuação na ESF.
Por constitui-se numa ação realizada em âmbito domiciliar, leva os profissionais a conhe-
cerem a realidade do indivíduo e sua família, fortalecendo o vínculo entre esses sujeitos. A
equipe pode classificar as famílias por critérios de risco e assim priorizar as visitas domici-
liares para quem mais necessita delas (CAMARGOS, 20-?). Entre as ações de visita domici-
liar, podemos citar cadastramento, busca ativa, ações de vigilância e de educação em saúde,
lembrando que durante uma visita domiciliar também se pode fazer uma consulta ou aten-
dimento e ainda alguns procedimentos.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 147
✄ Conheça uma experiência que retrata a visão do usuário sobre a visita domiciliar. Dispo-
nível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/registro/Visita_domiciliar_
sob_o_olhar_de_usuarios_do_programa_saude_da_familia/291
15. TELESSAÚDE: consiste na oferta de serviços de atenção à saúde nas situações em que a
distância é um fator crítico, utilizando tecnologias de informação para a troca de informa-
ções imprescindíveis para o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, para pesqui-
sas e avaliação e para a educação continuada dos profissionais de saúde, com o objetivo
maior de promover a melhoria da saúde (WHO, 2010). Entre os serviços que fazem parte do
telessaúde estão a teleconsultoria, a tele-educação, o telediagnóstico, a telerregulação e a
teleconsulta/telemonitoramento.
IMPORTANTE!
✄ https://www.youtube.com/channel/UC7ZvaumIwltw0ZTn1LF3qfg?view_as=subscri-
ber
✄ Para ter acesso a todas as webpalestras realizadas pelo Telessaúde Bahia, basta se
inscrever e seguir o canal no youtube. É fácil e gratuito: https://www.youtube.com/user/
CanalTelessaudeBA
✄ Caso você, como facilitador(a), não tenha familiaridade com a proposta da roda de
conversa, ou deseje aprimorar-se, sugerimos um vídeo curto da Série SUS - Você sabe como
fazer uma roda de conversa? https://youtu.be/cy8rxq8xNj8(7’30’’)
DIA 7
Querido(a) trabalhador(a), chegamos ao último dia do AP e temos algumas missões importantes: conversar sobre
Educação Popular em Saúde; discutir sobre outras estratégias de interação com a comunidade e o território, abordando
a Educação em Saúde; e compreender a educação permanente enquanto dispositivo para a equipe dar seguimento ao
processo de qualificação profissional iniciado no AP. A seguir, apresentamos os objetivos e a proposta de cronograma para
esse dia.
D Refletir sobre a EP como dispositivo para a equipe desenvolver seu processo de qualifica-
ção profissional;
D Sendo este o último dia de interação presencial, é muito importante também um fecha-
mento deste ciclo realizando a avaliação do AP.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 151
ATIVIDADE
08h30 às 11h Conversando sobre Educação Popular em saúde, Educação em Saúde e Educação Permanente (EP)
INTERVALO
Figura 7 - Pinakarri
O “Pinakarri” pode ser solicitado por qualquer membro do grupo, a qualquer momento
em que sentir a energia das pessoas baixando; ou que o grupo esteja muito disperso, com
excesso de conversas paralelas; ou naquele momento em que as pessoas estão com dificul-
dade de chegar a um consenso, com rigidez nas opiniões ou com dificuldade de abrir mão de
suas convicções ou ideias individuais em benefício do grupo (BLANKE et al, 2013).
RESPONSÁVEIS
TEMA
O quadro a seguir deve ser preenchido durante a atividade sobre educação permanente:
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 153
Após o aprendizado de hoje, você receberá uma ficha para avaliação do Acolhimento Pedagó-
gico. A avaliação é muito importante, por isso, pedimos que responda com tranquilidade. Contamos
com você para fazer momentos, como esse, cada vez melhores!
CIRANDA:
MINHA CIRANDA
(Lia de Itamaracá)
O NASF
(Alberis Luís, estagiário de Psicologia UNIFAVIP/ Caruaru-PE)
✄ Fonte: http://redehumanizasus.net/96002-cordel-do-nasf-nucleo-de-apoio-a-saude-
-da-familia/
A Educação Popular em Saúde é um tema que merece ser conhecido por todos os profissionais
que atuam diretamente com AB, nas comunidades e nas regiões com maior vulnerabilidade, por
entendermos que, nestes lugares, há uma maior necessidade de luta pela dignidade e pela igualdade
de direitos, que são questões relevantes para a qualidade de vida das pessoas. Não temos a preten-
são de esgotar este assunto aqui, neste Manual, mas consideramos este um elemento essencial para
a integração das equipes com o território pelo qual são responsáveis.
Segundo Vasconcelos (2014), para atuar junto às chamadas classes subalternas, não é suficiente
buscar apenas as soluções para os problemas de saúde de forma dialogada. É preciso compreender
que, naquele local, existem outros valores, diferentes daqueles em que está inserida a maior parte
dos trabalhadores da saúde. Muitas vezes, isso significa destituir-se do seu saber pré-existente para
então compreender o lugar do outro e, nesta interação, construir um diálogo efetivo (FALLEIRO,
2010).
Já abordamos, no início do AP, o tema dos DSS e também falamos sobre a importân-
cia da produção de cuidado na perspectiva da clínica ampliada, com foco no bem-estar, e
não exclusivamente na doença ou num indivíduo de forma isolada do seu contexto social.
Ajude os trabalhadores a lembrar sugerindo que relembrem o conceito ampliado de saúde.
Ações de EPS poderão vir a contribuir com a promoção da saúde e a qualificação da educação em
saúde tradicionalmente realizada, fortalecendo vínculos emancipatórios para que o cidadão tenha
cada vez mais autonomia de decisão em como se cuidar e mais amplamente no seu jeito de andar a
vida. Vale destacar que, na perspectiva de fortalecer a mudança do modelo de atenção centrado na
doença, é muito significativa a aproximação dos serviços de APS às práticas populares de cuidado,
pois estas carregam uma visão de mundo e de saúde que se aproxima dos princípios que cotidiana-
mente temos nos esforçado para implementar, como a integralidade, a humanização e o acolhimento
(BONETTI, CHAGAS e SIQUEIRA, 2014. p.16).
D Diálogo:
“É preciso recuperar a educação como diálogo, síntese do processo educativo e dimensão funda-
156 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
mental de reconhecimento de sujeitos, que são agentes de uma história, trajetória, cultura e valo-
res” (PULGA, 2014, p.126).
D Humanização:
“É preciso reconhecer a dimensão pedagógica das relações humanas como parte constitutiva do
trabalho em saúde. [...] A educação problematiza a própria vida humana e busca a construção de
sentidos para qualificá-la e fortalecê-la em todas as suas dimensões [...]” (PULGA, 2014, p.126).
Educar é trabalhar com a totalidade das dimensões do sujeito [...]. O ser humano precisa ter autono-
mia e maturidade para tomar decisões, enquanto sujeitos conscientes e éticos, cuja expressão se dá
pela vivência cotidiana de valores, atitudes, ações e posturas condizentes com a ética [...] (PULGA,
2014, p.126).
D Matrizes Pedagógicas:
As rádios comunitárias também podem ser aliadas da equipe de saúde na divulgação de infor-
mações sobre a UBS, como horário de funcionamento, agendas e horário das atividades, campanhas
e também para o repasse de informações sobre cuidados em saúde. Trata-se de radiodifusão sonora,
com cobertura restrita. Podem explorar esse serviço somente associações e fundações comunitá-
rias sem fins lucrativos, com sede na localidade da prestação do serviço. As estações de rádio comu-
nitárias devem ter uma programação pluralista, sem qualquer tipo de censura, e devem ser abertas
à expressão de todos os habitantes da região atendida. (AGERT: https://www.agert.org.br/index.
php/2-noticias/12042-o-que-e-uma-radio-comunitaria).
Já pensou que pode ter uma rádio comunitária na localidade da UBS, que é ouvida por diver-
sas pessoas, e que pode servir como um elo entre a equipe e a comunidade?
158 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
✄ Conheça a experiência com a webrádio, que produziu um diálogo com jovens sobre
métodos contraceptivos, no sertão do Ceará. Disponível em: https://sanare.emnuvens.com.
br/sanare/article/view/1219
[...]as práticas grupais de educação em saúde na Atenção Básica são excelentes espaços e oportu-
nidades de promoção à saúde. O vínculo, o acolhimento, a escuta, o apoio, o suporte e o espaço de
reflexão que existem nesses grupos promovem saúde, fortalecendo os sujeitos e prevenindo o adoe-
cimento. Mas podemos ousar ir além. Existem hoje, na Estratégia Saúde da Família, diversos exem-
plos de grupos que começam a ser feitos nessa lógica de empoderamento e de participação, mas
não apenas dentro de uma perspectiva de educação em saúde. São grupos de suporte e de apoio,
promovendo novos hábitos, atividades, modificando estilos de vida e relações interpessoais. Além
disso, esses grupos representam intervenções especialmente eficazes em termos de promoção e de
prevenção (BRASIL, 2014, p.68).
CASO GUIA
O local já era conhecido por esse nome antes da emancipação, por se tratar de um lugar de onde
era possível ver uma grande extensão de terras. Além disso, a facilidade de acesso para os comer-
ciantes tornou o lugar “bonito” também para os negócios. Seus munícipes são conhecidos por boni-
to-sertanense ou sertaozinhenses.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
A cidade possui extensão territorial de 9.090,75 Km² e, na área urbana, está dividida em quatro
bairros: Sertão Antigo, Sertão Novo, Comércio e Mandacaru. O município possui ainda duas locali-
dades rurais: distritos de Xique-Xique e Olhos D’água.
Na sede do município (zona urbana), predominam as casas de adobe ou tijolo. A maioria das
casas possui água encanada, porém, devido à seca, carros pipa abastecem a cidade a cada 15 dias.
Apenas 31% dos domicílios possuem esgotamento sanitário adequado; para os demais, o destino
das fezes e urina se dá a céu aberto ou por fossa. Há coleta de lixo duas vezes por semana. Entre-
tanto, não há aterro sanitário adequado e o resíduo é depositado em um terreno na saída da cidade.
Em 65% das casas há energia elétrica. Apenas 15% das vias públicas são asfaltadas.
Na zona rural, a maioria das casas é de taipa revestida. O Riacho do Angico, que faz divisa entre
a sede e a estrada que dá acesso ao distrito de Olhos D’Água, secou há 10 anos. Quando chove, a
pouquíssima água do riacho é barrenta e imprópria para o consumo. Em torno de 1/3 das proprieda-
des possuem cisternas, as demais dependem dos carros pipa que levam água uma vez ao mês para os
dois distritos. As fezes e urina são destinadas a fossas ou mesmo a céu aberto. A coleta de lixo acon-
tece apenas a cada 15 dias em cada localidade, e os moradores frequentemente queimam e enter-
ram os resíduos. A maior parte da população desta área não possui energia elétrica em suas casas.
Apenas algumas propriedades de famílias mais ricas possuem acesso à rede elétrica e uma minoria
possui geradores. Todas as vias de acesso são de estrada de chão e não há iluminação pública.
Equipamentos sociais
Há uma praça, em frente à igreja matriz da cidade, onde as pessoas se encontram logo após a
missa; um Ginásio Municipal, onde acontecem alguns eventos da prefeitura e os jogos escolares; um
campo de futebol, que recebe torneios locais e regionais; e uma rádio comunitária, que funciona nos
dias de feira e realiza a transmissão das partidas de futebol da comunidade.
Dados da Educação
O município possui 14 quatorze estabelecimentos de ensino, sendo nove escolas (sete na sede
e duas na zona rural) e cinco creches municipais. A taxa de escolarização de 6 a 14 anos é de 94%.
Dados da saúde
Possui um Hospital de Pequeno Porte (HPP) com 15 leitos, sendo um leito de Parto, Pós-parto
e Puerpério (PPP); e uma Unidade de Suporte Básico (USB) do SAMU, com central de regulação no
município sede da Região de Saúde.
O munícipio desenvolve a atenção básica por meio de três equipes de Saúde da Família14, que
14. Considerando as diversas mudanças na Política da Atenção Básica e consequentemente nos mé-
todos de cálculo de cobertura de Saúde da Família, sugere-se que seja realizado o cálculo de cobertura de
acordo com o método que esteja vigorando no momento da oficina.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 163
cobrem cerca de 57,67%, e uma equipe de Atenção Básica na sede (atuando na UBS Centro). As
equipes de Saúde da Família (eSF) estão assim distribuídas: duas na sede (ambas atuando na UBS
Mandacaru) e uma na zona rural (atuando na UBS de Olhos D’Água). A equipe de Atenção Básica
possui uma enfermeira atuando 40 horas semanais e três médicos atuando 20 horas cada. Existem
duas equipes de Saúde Bucal, uma atuando 40 horas semanais na equipe da UBS Olhos D’Água, e
outra na UBS Mandacaru, sendo 20h de atuação em cada eSF desta unidade.
No âmbito da atenção básica, há ainda uma Academia da Saúde e um Núcleo Ampliado de Saúde
da Família e Atenção Básica - NASF-AB (composto por dois fisioterapeutas, um nutricionista, um
assistente social, um psicólogo e um professor de educação física), que dá suporte a todas as unida-
des do município.
Localizada no bairro Mandacaru, esta unidade foi fundada há 13 anos. Possui uma estrutura
física boa, incluindo consultório odontológico, recepção e sala de vacina, mas foi construída para
acomodar apenas uma equipe de saúde e hoje comporta duas: Flor 1 e Flor 2. Não há espaço para
todos os profissionais, faltam consultórios e a recepção está pequena para tanta gente. Nos dias que
contam com atendimento da equipe NASF-AB, o revezamento de consultórios é ainda mais compli-
cado, o que ocasiona, para alguns profissionais, um turno de folga.
A equipe Flor 1 foi a primeira equipe na modalidade Saúde da Família a ser implantada no muni-
cípio de Sertão Bonito. Possui uma população adscrita de 5.000 pessoas, residentes na zona urbana.
Frente às condições de vulnerabilidade identificadas no Bairro Mandacaru, como uma área de inva-
são com 280 pessoas na fronteira com o bairro Comércio e a necessidade de ampliar o atendimento
para uma parcela da população da localidade de Xique-Xique, a gestão municipal decidiu implantar
mais uma equipe de Saúde da Família, a Flor 2.
A equipe Flor 2 funciona há 8 anos nesta unidade e aguarda a realização da promessa de amplia-
ção da estrutura física da UBS Flor de Mandacaru. Possui uma população de 4.150 pessoas na sua
área de abrangência, sendo ⅕ na zona rural, onde foi adaptada uma casa para funcionar como UBS
satélite. A extensão territorial da área adscrita da equipe Flor 2 é maior, em relação à equipe Flor 1.
Contudo, esta última é mais populosa. A equipe de Saúde Bucal divide seu tempo de atendimento
entre os dois territórios adscritos.
Tanto a equipe Flor 1 quanto a Flor 2 possuem dificuldades para concluir seu processo de
territorialização. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das duas equipes estão redistri-
buindo as áreas e atualizando os cadastros, conforme as orientações da nova política de finan-
ciamento da AB, o que tem gerado alguns atritos com a população, por conta da mudança de ACS
para algumas famílias.
No dia da feira, os moradores da zona rural que necessitam de atendimento aproveitam o trans-
lado do ônibus da prefeitura. Assim, a UBS Flor de Mandacaru e a UBS Centro, localizada no bairro
Comércio, ficam bastante cheias neste dia, sendo necessário distribuir senhas de atendimento por
ordem de chegada.
Aqui foi evidenciado o método de cálculo para estimativa da população coberta pelas equipes da Estratégia
Saúde da Família, conforme Nota Técnica Explicativa do Ministério da Saúde, disponível no site e-gestor (ht-
tps://egestorab.saude.gov.br/paginas/acessoPublico/relatorios/nota_tecnica/nota_tecnica_relatorio_de_co-
bertura_AB.pdf): (nº eSF x 3.450/população) x 100.
164 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
As duas equipes não possuem frequência de encontros para reunião. Geralmente, se reúnem
quando a coordenadora da AB envia ofício para a unidade, para falar sobre algum indicador de
saúde que está “frágil” e solicitar empenho para melhoria; ou, ainda, sobre alguma campanha a ser
realizada, como o outubro Rosa.
1 auxiliar de saúde bucal - ASB (40 horas - 20 horas por equipe): Gideon
Equipe Flor 1
1 médica pediatra (40 horas): Dra. Ilana - atende três dias na semana
6 ACS (40 horas): Alencar, Miriam, Eliane, Maria das Graças (Gracinha), Santiago e Marta
(licença médica)
Equipe Flor 2
1 médico generalista (40 horas): Dr. Deoclécio - atende três dias na semana
6 ACS (40 horas): Lindainês, Louanne, Mirtes, Roberto, Marciano e Conceição (localidade de
Xique-Xique)
• Visitas Domiciliares: solicitadas pelos ACS, com priorização de consultas puerperais e para
idosos acamados;
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 165
• Grupos realizados na UBS: pessoas com hipertensão e diabetes (para renovar receita);
idosos; gestantes (com apoio de uma ONG que distribui fraldas, lata de leite e roupas para
os bebês); grupo para mulheres que querem perder peso, organizado por profissionais do
NASF-AB (nutricionista, fisioterapeutas, psicóloga, professor de educação física);
• Atendimento zona rural: às quartas-feiras, pela equipe Flor 2, na UBS satélite. Entretanto,
o carro que transporta os profissionais é também utilizado para transportar pacientes para
atendimento em outros municípios, e a população da zona rural frequentemente precisa se
deslocar até a UBS Centro, ou tentar atendimento por meio das fichas de demanda espon-
tânea na UBS Flor de Mandacaru;
• Agendamento de consultas médicas: a agenda abre no primeiro dia útil do mês, sendo o
próprio usuário responsável por ir à unidade para marcar.
• Atendimento médico na UBS: tanto a médica da equipe Flor 1 quanto o da equipe Flor 2
atuam três dias por semana, sendo que um turno é reservado para as visitas domiciliares e
um turno para o pré-natal médico de cada equipe.
• Sala de espera: conta com apoio de alguns ACS e ocorre como ação de reforço das campa-
nhas municipais, como o outubro Rosa;
• Tratamento odontológico: a agenda também é aberta no primeiro dia útil do mês e a marca-
ção é para quatro dias da semana, sempre com um turno por dia para pessoas adscritas de
cada equipe (manhã - Flor 1; tarde - Flor 2). Um dia por semana é reservado para atendi-
mento de gestantes das duas áreas, encaminhadas pela enfermeira. Uma vez por mês não
ocorre atendimento em consultório para ser realizada atividade de escovação coletiva nas
duas escolas municipais do bairro.
• Atividades do Programa Saúde na Escola (PSE): a equipe prioriza o cumprimento das ações
previstas no planejamento anual do PSE e não consegue adaptar as ações conforme as
demandas que surgem ao longo do ano. As professoras sempre solicitam ações educati-
vas sobre sexualidade, porque há muitos casos de adolescentes com vida sexual ativa e de
gestantes nesta faixa etária. A enfermeira da equipe também identifica a necessidade de
abordar o tema sexualidade com os alunos, porém, há uma dificuldade de integrar a agenda
das escolas com a agenda do NASF-AB, o que impossibilita a realização de mais atividades
além do programado.
166 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
D Proporção de internações por hipertensão arterial sistêmica: 80% das internações por
doenças cardiovasculares.
LÉA (gerente ): Boa tarde a todos e todas! Na terça-feira, pela manhã, eu participei
de uma reunião na SMS com a enfermeira do Hospital, Gilda, e a nova coordenadora da Atenção
Básica do município, Marina, que está presente em nossa reunião hoje (Marina, cumprimenta o
grupo). Esta reunião teve como pauta a situação da sífilis no nosso município e a necessidade de
investigação de três casos de sífilis congênita notificados no ano de 2018.
Todos fazem cara de espanto, mas sabem que só no ano de 2018 identificaram oito gestantes
com sífilis, entre elas, duas adolescentes. Realizaram o tratamento de sete gestantes, porém apenas
quatro parcerias sexuais, destas gestantes, foram tratadas. De toda forma, três casos de sífilis
congênita notificados é um número alto frente à população do município. A Organização Mundial da
Saúde (OMS), recomenda um número menor que 0,5 por mil nascidos vivos, e Sertão Bonito regis-
trou 3,87 por mil nascidos vivos.
Léa continua:
LÉA (gerente ): Infelizmente, os três casos que a Câmara Técnica Estadual de Trans-
missão Vertical determinou a investigação pelo município estão na área de abrangência das equi-
pes Flor 1 e Flor 2, sendo dois desses casos notificados aqui no nosso Hospital Municipal e o outro
caso em uma maternidade em Salvador. Como vocês sabem, a Sífilis Congênita é um agravo de
notificação compulsória desde o ano de 1986, e todos os casos devem ser investigados pelas equi-
pes, conforme recomendação do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia.
Ainda não temos uma Câmara Técnica Municipal e, por isso, temos que responder sobre estes
casos em até 15 dias para a Câmara Estadual, preenchendo a ficha de investigação. Assim, ao me
reunir com Marina, para responder, percebemos que faltam dados para finalizar as investigações,
como idade da mãe, raça/cor, escolaridade, unidade de saúde em que realizou o pré-natal, entre
outros que vocês poderão observar nas fichas. Então, decidi chamar essa reunião, pois preciso do
empenho de vocês para preenchê-las e também aproveitar o momento para atualizar algumas
questões referentes a notificação. Já vou entregar o material para vocês.
LÉA (gerente ): Ainda falando sobre a sífilis: na reunião foi comentado sobre o
aumento de detecção dos casos de sífilis congênita, em gestante e adquirida em nosso município,
desde 2017. Tem o lado bom, de termos melhorado a notificação desse agravo no SINAN, o
Sistema de Informação de Agravos de Notificação, mas, por outro lado, mostra a necessidade de
reorganizar melhor nossos serviços para proceder com o controle desse agravo. Sendo assim,
168 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
temos algumas tarefas para executar: a primeira, é realizar teste rápido em todos usuários que
chegam na unidade de saúde; a segunda, é realizar a aplicação de penicilina na UBS, conforme
protocolo estabelecido; a terceira, é realizar atividade nas escolas, sobre prevenção de infecções
sexualmente transmissíveis (IST) e uso de preservativo; a quarta, realizar ...
DORALICE (técnica de enfermagem ): Espera ai!!Eu mesma não vou aplicar penicilina
aqui na unidade, pois não tem carrinho de parada e não vou comprometer minha atuação profis-
sional. Além disso, essa meninada, que está aí, não quer nada com a hora do Brasil, alguns vem
pegar camisinha aqui no posto, mas é pra ficar se amostrando, na hora de encapar e usar, ninguém
quer usar, não! E isso, é adolescente, velho, mulher, todo mundo. Ninguém quer “chupar bala” com
papel. Eu lavo as minhas mãos.
Todos na sala começam a falar ao mesmo tempo, cada um trazendo questões do cotidiano que
“impediam” a realização das tarefas apresentadas pela gerente.
ALENCAR (ACS ): Concordo com Dora. Não vou ficar dando murro em ponta de faca,
já que o problema é mais em baixo. Toda vez que vejo os adolescentes da minha área me arrepio,
pois só fazem ficar lá na “boca”. Deus é mais! (fica falando baixinho e faz o sinal da cruz três vezes).
Dr. DEOCLÉCIO (médico ): Se eu for fazer o Teste Rápido, não dou conta da
agenda de atendimentos! E, na quinta-feira, essa unidade parece que vai explodir de tanta gente!
Lembrando que meu horário de saída é às 16 horas, pois todos sabem que Ilana e eu moramos em
outro município. Sem contar que tenho que ir uma vez por semana no posto satélite lá em Xique-
-Xique. Não tenho tempo pra mais nada.
Léa tenta retomar o “controle” da reunião, mas está muito difícil, pois são muitos problemas
surgindo, e resolve falar:
LÉA (gerente ): Gente, não está fácil pra ninguém, eu mesma fico encarregada das
notificações e sei dos casos de gestantes notificados em 2018. Além disso, tenho inúmeras outras
atribuições e em dias de campanha de vacina, ainda coloco a mão na massa. O acúmulo é muito
grande para todos, mas, reclamar não vai ajudar. Teremos que trabalhar em equipe!
Após a reunião com os gerentes das equipes e com a diretora do Hospital Ana Nery, viu que
poderia contribuir mais do que simplesmente “cobrar” a produção das equipes. Então, teve uma
ideia: “Por que não começar com a Unidade Flor de Mandacaru?”. Assim, convidou-se para participar
desse momento.
LINDAINÊS (ACS ): Olha, D. Marina, fico muito feliz com sua boa vontade, é a
primeira vez que vejo uma coordenadora de Atenção Básica vir pra uma reunião na unidade. Aqui
não temos reunião de equipe com muita frequência, não. Me lembro de algumas que tivemos
quando estava participando do curso técnico, mas, depois disso, as reuniões acontecem “lá de vez
em quando”, e são sempre pra “distribuir” tarefas e cobrar coisas. Por isso que estamos aqui um
pouco estressados. Mas, se tiver alguma forma de ajudar, pode contar comigo.
Apesar de receberem com receio a proposta de ajuda de Marina, todos queriam saber quais
os outros dois casos de sífilis congênita, pois um já era bastante conhecido da equipe Flor 2. Neste
caso, não houve acompanhamento adequado da gestante que tinha um marido “complicado” e a
impedia de sair de casa.
Há um silêncio na sala. As fichas passando de mão em mão. Após alguns cochichos, o enfermeiro
da equipe Flor 2 pede para falar:
MARINA (coordenadora AB): Pessoal, vamos fazer o seguinte: já que temos aqui em
mãos a notificação da RN de Isis, que tal pegarmos o prontuário familiar e analisarmos a situação
dessa gestante? Assim, podemos identificar o que ocorreu e já ir preenchendo os dados que faltam
na investigação. E depois cada equipe pode ir fazendo com os outros dois casos, o que acham?
A maioria faz uma afirmação com a cabeça e Léa pede, então, que Aretuza (auxiliar administra-
tivo) busque o prontuário familiar. Enquanto isso, a ACS Louanne, referência da área dessa notifica-
ção, faz alguns comentários:
170 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
LOUANNE (ACS ): Dr. Jailton está certo. Todo mês eu realizava a visita pra essa
gestante e a lembrava da consulta do pré-natal. E quando era o dia de tomar a penicilina, que
foram três doses, eu ia junto, porque ela tinha medo e me pedia. Todo mundo reclama que essa
injeção dói muito e são duas furadas, uma de cada lado. Por isso eu acho que o marido dela não
quis tomar. Homem é mais medroso.
Jailton pega o prontuário e faz questão de começar a leitura, complementando com as informa-
ções que conhece sobre essa usuária:
LÉA intervém:
LÉA (gerente ): Então, na reunião que participamos, soubemos que a Isis Laura deu
entrada no Hospital Ana Nery no dia 08 de dezembro, pela manhã, em trabalho de parto. Reali-
zou TR, que acusou reagente para sífilis. No resultado do VDRL a titulação estava em 1/128, o que
indica que ela estava com infecção por sífilis. Os registros no cartão da gestante, segundo a enfer-
meira obstetra Gilda, informam a realização de tratamento para sífilis ainda no primeiro trimes-
tre, mas faltaram informações sobre o seguimento a partir do resultado de VDRL. Tivemos alguns
problemas no município quanto à realização desse exame, mas foi corrigido. Infelizmente, o bebê
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 171
precisou ser transferido para o hospital do município de referência e ficou na UTI neonatal, reali-
zando tratamento por dez dias com penicilina cristalina, sendo notificado o caso como sífilis
congênita.
LOUANNE (ACS ): Por isso, quando passei na casa dela a mãe comentou que ela
não estava. Mas também não me falou mais nada, parecia nervosa. Eu não quis mais atrapalhar.
Dr. DEOCLÉCIO (médico ): Mas o hospital deveria ter informado que ela já teve o
bebê. Já estamos em janeiro e nada de termos informação.
LÉA (gerente ): Então a consulta puerperal não foi realizada? Já passamos do prazo.
Ninguém acompanhou?
JAILTON (enfermeiro ): Foi por isso que pedi pra Louanne ir lá. Como ela não
estava em casa, e como era período de final de ano, não consegui organizar agenda de visita ainda.
Todos começam a falar ao mesmo tempo e ninguém se escuta. Marina tenta acalmar os ânimos
e comenta:
MARINA (coordenadora AB): Por favor, vamos manter a calma e avaliar a situação com
cuidado. É evidente a falha na comunicação, mas também há distanciamento das ações entre
Atenção Básica e Vigilância em Saúde, que deveriam estar mais integradas para garantir o melhor
acompanhamento. Mesmo que essa criança não tivesse nascido com sífilis, necessitaria de segui-
mento, pois foi exposta à sífilis na gestação. E, mesmo assim, não conseguimos nos organizar para
acompanhar. Há falhas no registro do cartão da gestante. Sobre o cartão da criança, não temos
ainda nenhuma informação do preenchimento. O prontuário familiar não está dando conta de
todas as informações. Esse caso é uma responsabilidade de toda equipe e também do município.
Vocês compreendem?
Há um silêncio. Alguns abaixam a cabeça. Outros se olham. Uns chacoalham as pernas. Marina
continua:
MARINA (coordenadora AB): Precisamos esclarecer quais são estas falhas para corrigir-
mos a conduta e evitarmos que esta situação se repita. Vamos dar um intervalo de 10 minutos, e, ao
retornar, sugiro que cada equipe analise os casos e identifique quais são os equívocos que ocorreram
e as ações que podem ser realizadas para evitar situações como essa. Vamos ser propositivos!
Cada equipe retorna do intervalo, se dedica a leitura dos prontuários e estuda a situação de
cada caso. Pensam algumas ações possíveis para serem realizadas e, após cada equipe apresentar
sua produção, Marina parabeniza o empenho de todos:
posso deixar de comentar com vocês o quanto é importante que cada profissional conheça seu
território: os determinantes e condicionantes da saúde, áreas de risco e vulnerabilidade, perfil da
população atendida, áreas descobertas, entre outras situações que servem de alerta para as equi-
pes. Ainda, reconhecer que o prontuário familiar é um importante registro para acompanhamento
dos casos; que a correta utilização da caderneta de saúde da gestante e da criança contribui para
evitarmos tratamentos desnecessários, e garante que a informação necessária circule nos locais
da rede de saúde onde esses usuários serão atendidos.
Assim, partindo das propostas que vocês apresentaram hoje, sugiro que planejem uma sequência de
reuniões de equipe para sanar as carências em relação ao (re)conhecimento e vínculo com o território e
planejamento das ações. Estarei à disposição para participar das reuniões quando for possível e acompa-
nharei o trabalho de vocês mantendo o contato semanal com Léa. Bom trabalho a todos e todas!
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 173
LÉA (gerente ): Oi Marina, tudo bem? Estou precisando de seu apoio para o desen-
volvimento de ações de planejamento com as equipes. Todos ficaram bastante mobilizados após a
última reunião e vejo que podemos aproveitar esse momento. O que você acha? Tem disponibili-
dade em nos ajudar?
MARINA (coordenadora AB): Certamente, Léa. Penso ser, este, o momento ideal. Vamos
combinar uma reunião incluindo os demais gerentes de UBS, para nos organizarmos. Poderia ser
amanhã à tarde aqui na secretaria. Para ajudar, vou encaminhar, por e-mail, um material sobre
Planejamento e Programação Local em Saúde (PPLS), que me ajudou muito na época da Residência.
MARINA (coordenadora AB): Você está sendo bem estratégica em aproveitar este
momento de empolgação da equipe. Vamos lá, quais são as suas dúvidas? Você tem clareza de
como a equipe pode utilizar a análise de situação de saúde?
174 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
LÉA (gerente ): Então, eu sei que a análise de situação de saúde faz parte do PPLS,
mas ainda não abordamos este tema de forma direta, pois estamos focados no levantamento de
dados da territorialização. É bastante coisa. E estou com dificuldade de entender por onde come-
çar. Qual seria o primeiro passo?
LÉA (gerente ): Sim, eu citei na reunião. Alguns já conheciam, mas geralmente não
utilizam nenhuma dessas informações para organizar a agenda. Acaba tudo sendo a partir da
demanda que chega. Queremos começar a fazer isso a partir de agora.
MARINA (coordenadora AB): Certo. A coleta das informações é importante, para que os
dados sejam fidedignos. Assim, é essencial que a equipe observe algumas questões no seu territó-
rio, como as doenças e causas de morte mais prevalentes por grupo populacional, por exemplo.
Desta forma, pode começar a desenhar o perfil da população e identificar quais os problemas que
precisam de maior atenção. Podem também levantar a quantidade de gestantes por faixa etária,
já que esse foi um ponto identificado pela equipe. A ideia de dividir por faixa etária pode ajudar no
planejamento das ações. É importante também que a equipe identifique outras informações que
sejam preocupantes no bairro, como esgoto a céu aberto, lixo acumulado, etc. Para não se restrin-
gir apenas a problemas biológicos.
LÉA (gerente ): Entendi. Todas estas informações estão presentes no roteiro que
eles elaboraram e que ficou muito bom. Mas minha dúvida continua sendo: como vamos utilizar
estas informações para priorizar os problemas? Porque problema é o que não falta, né? Dá até um
desânimo! [Suspira, colocando as mãos no rosto].
MARINA (coordenadora AB): Vou te mostrar como funciona. O primeiro passo, após a
territorialização, é a consolidação da análise de situação de saúde, utilizando os dados coletados
nas atividades anteriores. Esse material auxilia a equipe a identificar os problemas do território.
Por exemplo, a equipe identificou nos sistemas de informação registros de muitos casos de gestan-
tes com sífilis e de crianças com sífilis congênita. Assim, o elevado número de gestantes com sífilis
é um problema para essa equipe. Do ponto de vista do PPLS, o problema deve ser encarado como
uma realidade insatisfatória, mas superável.
LÉA (gerente ): Aff...e precisamos ter todo esse cuidado pra definir o que é um
problema? Pensei que fosse mais simples…
ção do problema: o quê? quando? onde? e quem? Por exemplo: no ano de 2018 (quando) foram
notificados muitos casos de sífilis (o quê) em gestantes (quem) no território de atuação da
equipe Flor 2 (onde).
LÉA (gerente ): [pensativa] Deixe-me ver: primeiro, temos o território definido com
diagnóstico; em seguida, levantamos todos os problemas; depois, buscamos a explicação de suas
causas… pois é, qual passo vem agora? Que dúvida!
MARINA (coordenadora AB): Sim, você pode partir de uma situação-problema, como
essa. Porém, pode também priorizar algum a partir de problemas identificados na territorializa-
ção. A equipe pode identificar vários problemas, como lixo acumulado nas ruas; tráfico de drogas;
grande número de homicídios de jovens abaixo de 21 anos; número elevado de pessoas com hiper-
tensão; número elevado de pessoas acamadas; grande quantidade de pessoas com intoxicação
por agrotóxicos; não funcionamento da sala de vacina todos os dias… e a lista segue. O ideal é
fazer esse levantamento junto com a comunidade. Para planejar as ações, é preciso priorizar, pois
não podemos resolver todos de uma vez só, concorda?
MARINA (coordenadora AB): Então, vou te mostrar aqui uma forma de priorizar os
problemas, lembrando que priorizar alguns não significa descartar os demais problemas, mas
decidir os que serão enfrentados em um primeiro momento. Existem várias formas de realizar a
priorização e os critérios podem ser criados pela própria equipe, conforme a sua realidade. Vamos
fazer uma adaptação, a partir da sugestão deste material de sobre planejamento que tenho aqui,
de TEIXEIRA e VILASBÔAS15, para que a equipe se familiarize com esta forma de trabalhar.
15. TEIXEIRA C.F.; VILASBÔAS, A.L.; JESUS, W.L.A. Proposta metodológica para o planejamento no Sis-
tema Único de Saúde. in: TEIXEIRA, C.F. (org.). Planejamento em saúde: conceitos métodos e experiências.
Salvador: EDUFBA, 2010. Pág. 51-75.
176 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
MARINA (coordenadora AB): Então, uma das formas de priorizar é fazer um processo de
escolha que implica na ordenação dos problemas listados mediante a aplicação de critérios para
atribuição de valor e, ao final, o problema que receber a nota mais alta será o primeiro a ser prio-
rizado, e assim sucessivamente; ou, identificar qual critério terá maior peso na priorização, por
consenso com o grupo. A priorização é um procedimento necessário, mediante o caráter sistêmico
e complexo dos problemas de saúde e a escassez de recursos para enfrentá-los. Segundo Teixeira e
Vilasbôas (2001), para priorizar pode-se responder às seguintes perguntas, de acordo com o tipo
de problema:
O problema é frequente?
MARINA (coordenadora AB): Você pode fazer da seguinte forma: pegar a lista com todos
problemas elaborada a partir da territorialização e priorizá-los respondendo às perguntas acima,
considerando se o problema é referente ao estado de saúde da população ou se é um problema da
unidade de saúde. No texto você encontra os critérios e pontos possíveis.
LÉA (gerente ): Entendi. A priorização vem antes de explicar a causa dos problemas,
se fosse o contrário, teríamos que aprofundar muitos problemas, inclusive aqueles que não vamos
trabalhar agora e não terminaríamos nunca! Parece bem óbvio agora! Vou passar isso para as
equipes. Ah! Mas fiquei curiosa com outra coisa… já estou pensando na próxima etapa e li que a
parte explicativa dos problemas pode ser desenvolvida através de um método chamado “árvore
explicativa de problemas”. Você conhece? Parece ser bacana, já que trabalha de forma mais lúdica,
assim, ajudaria a sensibilizar os profissionais para o planejamento.
MARINA (coordenadora AB): Então, esta é uma metodologia de fácil aplicação e pode
ajudar nessa etapa. Após a equipe listar e priorizar os problemas identificados, é preciso conhecer
bem suas causas e consequências, para que o planejamento das ações seja exitoso.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 177
Então, de forma representativa, o problema central é o caule; as causas são as raízes; e, as consequên-
cias, os galhos e folhas. Para trabalhar com a árvore de problemas, utilize um papel metro com o desenho
da árvore. Cada participante deve escrever, em tarjetas, três causas que explicam o problema principal, e
então, devem colar as tarjetas na árvore. O facilitador retira as causas repetidas. A partir disso, cada parti-
cipante identifica, verbalmente, qual a causa que considera principal e o grupo deverá escolher as causas
mais importantes. E na sequência, o grupo deve proceder da mesma forma para escolher as consequências
mais importantes.
LÉA (gerente ): Então, se o problema escolhido for o alto número de gestantes com
sífilis, este é o problema central, certo?
Não parece muito complicado, mas é preciso estar bem atenta ao que é causa e ao que é consequên-
cia, para não confundir. Agora, quero ver na prática. Marina, deixa eu ver se entendi: ainda estamos no
primeiro momento do PPLS, que consiste na identificação, formulação, priorização e explicação de proble-
mas. Correto?
LÉA (gerente ): E o que virá depois? Li que o segundo momento do PPLS é a defini-
ção de objetivos. Penso que, quando chegarmos a esse ponto, teremos avançado bem, não é
mesmo?
A reunião é encerrada, mas já com novo momento de encontro marcado para a próxima semana,
quando darão continuidade à organização de apoio às equipes para a definição dos objetivos.
LÉA (gerente ): Marina, o planejamento pelo PPLS leva tempo e exige dedicação! Já
estamos no terceiro encontro e ainda tem tanto pra fazer! Após realizada a territorialização, utili-
zamos um encontro para compartilhar as informações e diagnóstico da comunidade. O encontro
seguinte foi para priorização dos problemas. Este encontro foi demorado e um pouco pesado.
Acabei deixando um intervalo maior entre as reuniões para diminuir a tensão na equipe. A ideia de
trabalho em equipe ainda está mal entendida. Entendo que cada um tem a boa intenção de resol-
ver da melhor forma os problemas da sua área de referência, porém, tem dificuldade de compreen-
der que é preciso colaborar e, por vezes, ceder para que todos possam atuar sem sobrecarga. Por
um momento pensei que tudo iria por água abaixo. Mas dei um tempo, respirei… e conto com você
pra me ajudar.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 179
LÉA (gerente ): Com certeza! Você estará presente na nossa próxima reunião? A
proposta é realizarmos a definição dos objetivos. Alguns profissionais estão sentindo falta de
algum tipo de instrumento para utilizar e pensei em disponibilizar algum material.
MARINA (coordenadora AB): Sim, estarei presente. Pode ser interessante mesmo. Veja a
tabela que vou enviar para você por email, para ajudar na definição dos objetivos.
Uma semana depois, acontece mais uma reunião de equipe na UBS Flor de Mandacaru. O
professor de educação física da equipe NASF-AB, Alisson, está presente. Lea aguarda que todos se
acomodem:
LEA (gerente ): Boa tarde! Quero agradecer a presença de todos e todas, e também
agradecer a presença do NASF-AB. É muito importante essa integração para ampliarmos possibi-
lidades de ações.
ALISSON (NASF-AB): Boa tarde pessoal. Hoje consegui participar pois estava em uma
agenda aqui perto, na Academia da Saúde. Preciso estar mais atento aos idosos que vem utili-
zando os equipamentos. Nas sextas-feiras, a equipe do NASF-AB está em atendimento na UBS
Centro, e as agendas andam lotadas. Mas, na medida do possível, podemos nos organizar para
estar presente. Se puderem alterar o dia da reunião para os momentos que temos agendas aqui na
unidade, poderia facilitar. Mas é uma sugestão.
LEA (gerente ): Certo Alisson, ao final da reunião podemos avaliar sua sugestão.
Que bom que você conseguiu vir hoje. Estamos na etapa de priorização de problema e, após a
reunião, posso te colocar a par de tudo que já realizamos. E, dando início, passo a palavra para
Marina.
MARINA (coordenadora AB): Boa tarde pessoal! Quero parabenizar a todos e todas pelo
trabalho que vem sendo realizado. Lea tem me mantido atualizada sobre as reuniões e a produção
de vocês, e vejo que estão indo muito bem. Soube também que a última reunião foi cansativa. Atri-
buo a isso o fato de estarem realizando algo novo, que não estão acostumados, e sabemos que leva
um tempo pra gente se familiarizar com esta rotina de planejamento. O importante é não desani-
mar. Vocês produziram bastante nestes últimos encontros, e agora mantém a frequência das
reuniões semanais. Esse é o primeiro ganho com esse processo de planejamento, não acham?
Mesmo que nem todos estejam presentes, ou não deem a devida importância, valorizar este
espaço para se encontrarem e criarem uma sintonia entre vocês é essencial para o trabalho em
equipe. Mas, agora, retomando o planejamento:
MARINA (coordenadora AB): Hoje estou aqui para ajudar na definição dos objetivos,
uma etapa bastante importante e que antecede a definição de ações que vocês conversaram
180 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
após a árvore de problemas. De forma bastante direta, o objetivo geral é a expressão positiva
do problema principal. Continuando com o exemplo da sífilis, para o problema alto número
de gestantes com sífilis, o objetivo geral deve ser escrito como reduzir o número de gestantes
com sífilis.
Já os objetivos específicos, por sua vez, são a expressão positiva das causas dos problemas. Para a
causa dificuldade na busca e tratamento das parcerias sexuais das gestantes, o objetivo específico pode
ser escrito, por exemplo: intensificar a busca e o tratamento das parcerias sexuais das gestantes.
Objetivo específico: intensificar a busca e o tratamento das parcerias sexuais das gestantes
E, para cada objetivo específico, devemos definir as ações necessárias para alcançá-los. Por exemplo,
para intensificar a busca e o tratamento das parcerias sexuais, podemos escrever as ações: qualificação
das estratégias de busca das parcerias, realização da testagem e tratamento acompanhado das parce-
rias (que é fazer teste rápido no domicílio da parceria sexual e tratamento imediato para os casos positi-
vos). Além dessas ações, várias outras podem ser planejadas. A necessidade e capacidade da equipe é que
vão definir quantas e quais.
Ações:
Qualificação das estratégias de busca das parcerias sexuais
Realização da testagem (teste rápido) no domicílio e na consulta em que a parceria da gestante estiver
presente
Realização do tratamento acompanhado das parcerias sexuais
Em um outro exemplo: para a causa não adesão ao tratamento da sífilis pelas parcerias sexuais das
gestantes, o objetivo específico pode ser escrito como estimular a adesão das parcerias sexuais das gestan-
tes ao tratamento da sífilis e, para o alcance deste objetivo, as ações poderiam ser a realização de ativi-
dades educativas e de prevenção da sífilis. Observem que há ações que podem contribuir para o alcance
de mais de um objetivo específico.
Ações:
Realização de atividades educativas e de prevenção da sífilis
Realização da testagem (teste rápido) no domicílio e na consulta em que a parceria da gestante estiver
presente
Realização do tratamento acompanhado das parcerias sexuais
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 181
Quando vocês forem realizar a programação operativa em torno do problema priorizado, que está ao
final do PPLS, as ações descritas poderão ser decompostas em atividades menores dentro da ação. Por
exemplo, na ação realização de atividades educativas e de prevenção da sífilis, vocês podem pensar nas
atividades de sala de espera para sensibilizar a presença das parcerias sexuais no pré-natal, atividades de
saúde do homem um sábado por mês e outras atividades educativas e preventivas a serem realizadas em
pontos estratégicos do território.
NILDINHA (dentista ): Então, iremos seguir assim para cada um dos problemas prio-
rizados?
MARINA (coordenadora AB): Sim. Mas, não precisam fazer tudo de uma vez só. Vocês
podem elaborar os objetivos para o primeiro problema, por exemplo, e seguir para a próxima
etapa, para deixar o planejamento referente a este problema bem organizado. Somente depois
elaborariam os demais. Pode ser que algumas ações se complementem e vocês possam integrar os
planos. Afinal, o planejamento não é algo rígido e precisa ser periodicamente visitado. Podemos
seguir?
Todos concordam, acenando a cabeça, alguns com semblante desconfiado, mas seguem adiante.
MARINA (coordenadora AB): O próximo passo é importante para avaliar quais são as
potencialidades e limitações da equipe perante o problema escolhido. Chama-se análisede viabi-
lidade. Nesta etapa, vocês responderão à seguinte pergunta: qual a potencialidade da equipe
para atuar neste problema? No exemplo que estamos utilizando, percebam que as ações escolhi-
das são bem passíveis de serem realizadas pela equipe.
LÉA (gerente ): A partir daqui estou mais familiarizada com o processo. Vamos
planejar as ações, ou seja, como fazer melhor a busca das parcerias, definindo quem, quando,
onde, frequência… correto?
MARINA (coordenadora AB): Isso mesmo. Porém, para o dia de hoje, sugiro que estejam
focados na elaboração dos objetivos, e planejem as ações em outra reunião. Para que o processo
seja mais tranquilo e que todos possam esclarecer as dúvidas.
MARINA (coordenadora AB): Por isso sugeri que vocês dividam as atividades para cada
reunião, para que o processo não seja tão cansativo. Demora um pouco mais, porém vocês ganham
em qualidade da discussão. E o tema da avaliação e monitoramento é muito importante, sendo
um dos momentos do PPLS que vamos trabalhar mais adiante.
LÉA (gerente ): Pronto. Agora, mãos à obra! Vamos elaborar os objetivos, come-
çando pelo problema prioridade 1.
NILDINHA (dentista ): Veja só, estou aqui angustiada e preciso falar: eu atendo pacien-
tes das duas equipes, pois aqui é só uma equipe de saúde bucal. Um território pela manhã e outro
pela tarde. Tem dias que entro no consultório e só saio quando o sol está descendo. Não tenho
muito tempo pra fazer atividades fora do consultório. Já basta ir uma vez por mês nas duas esco-
las do bairro pra fazer escovação supervisionada. Além disso, nunca tomei curso para realizar TR.
Não estou me vendo nesse PPLS.
Léa fica um pouco preocupada e pensativa: “Será que vou conseguir trabalhar com a equipe desta
forma? São tantos problemas...”
LÉA (gerente ): Nildinha, vamos seguir com as atividades, e, enquanto isso, pensare-
mos juntos na melhor forma de incluir as ações de odontologia no nosso planejamento, a partir do
que você relatou. Talvez tenhamos que inserir, nas nossas ações, o treinamento dos profissionais
para realização dos TR. O que acham? Quando chegarmos na elaboração das ações, ficará mais
fácil perceber a inserção da equipe de saúde bucal. Vamos aproveitar esse exercício de planejar.
Quero compartilhar com vocês uma frase que li e me mobilizou bastante: “Planeja quem executa”.
Marina sorri, com a sensação de que a equipe está bem encaminhada. Pede licença pra se ausentar,
pois precisa ir para outra reunião. Lea agradece a presença de Marina e dá continuidade, apresentando
as matrizes de análise de viabilidade e de programação operativa, para preenchimento. Sem esquecer
que, ao final, precisará avaliar com o grupo a possibilidade de alteração da agenda de reuniões.
Problema
Objetivo
geral
PROGRAMAÇÃO OPERATIVA
Problema:
Objetivo geral:
Agora, as equipes já possuem um turno fixo de reuniões semanais acontecendo nas terças feiras,
no período da tarde, e, assim, a equipe NASF-AB consegue estar presente. Entretanto, alguns traba-
lhadores das equipes nem sempre participam. Várias questões foram apontadas pela equipe na dinâ-
mica da “árvore de problemas”, e o alto número de gestantes com sífilis foi identificado como um dos
problemas prioritários, pois o ano mal começou e três novos casos surgiram. Porém, ao planejar as
ações, algumas dificuldades para desenvolvimento do trabalho em equipe ficaram mais evidentes.
A reunião tem como pauta o fechamento das ações e elaboração dos indicadores, mas todos
estão muito dispersos e falando ao mesmo tempo:
PRISCILLA (enfermeira ): Gente, eu já tentei falar com Beatrice, a psicóloga, para
realizarmos juntas a sala de espera do pré-natal, para sensibilizar as parcerias das gestantes a
virem na consulta, mas os dias previstos não coincidem, o atendimento é na sexta e ela só pode na
terça. Essa ação precisará ser revista, penso eu.
LÉA (gerente ): Pois é. Mas, voltando para o PPLS, vocês identificaram algumas
questões, não é mesmo?! A dificuldade está sendo quanto aos responsáveis e prazos? E quanto aos
indicadores, estão tendo dificuldades? Alguém quer falar mais sobre isso?
GIDEON (ASB ): Aqui! Nesses últimos tempos, a Dra. Nildinha e eu estamos conver-
sando muito e chegamos à conclusão que vou compartilhar com vocês, já justificando que a
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 185
mesma não está presente pois seu netinho nasceu esta manhã.
GIDEON (ASB ): A cada dia, percebemos que muitas pessoas que chegam ao consultó-
rio não têm qualquer informação sobre uma escovação adequada. Quando chegam, já é perdendo
dentes. Além disso, a escovação supervisionada, que realizamos nas duas escolas, tem nos ajudado
a perceber que as crianças são mais do que dentes. Outro dia, um menino veio me perguntar sobre
umas manchas que ele tem no braço e no peito, e disse que a mãe não tem tempo de trazê-lo à
unidade. Conversei com o ACS Roberto, que acompanha a área da invasão do Riacho, e ele vai
passar lá essa semana. Me senti tão útil e foi tão fácil, que pensei: como podemos produzir melhor
o momento de ida na escola? Como podemos nos organizar pra sair mais do consultório? Temos o
PSE, mas tudo já vem programado para executarmos. Isso desanima.
Todos consentem.
LÉA (gerente ): Para iniciar, compartilho com vocês o relato que ouvi de um traba-
lhador de uma UBS, ano passado. Ele me fez refletir muito. Diz o seguinte:
“Trabalhar com pessoas nunca é fácil, muito gente acredita que [é] trabalho braçal. É não. Mais difícil e
sofredor [o trabalho braçal], porém tem suas rotinas na qual já se sabe sua tarefa e o organismo se adapta,
já no nosso caso, cada dia é único, não fazemos ideia do que esperar, podemos tentar se organizar e se ante-
vir em algumas tarefas porém o fator pessoas, o fator gente, sempre irá nos surpreender, seja para o bem
ou para tentar nos colocar para baixo, todavia quero dizer que estou feliz e orgulhoso de trabalhar com as
pessoas que hoje trabalho, bom fim de semana e bom feriado. (mensagem de um trabalhador de uma UBS,
enviada por whatsapp para sua equipe. Ano 2019).”
Após a leitura, há um silêncio que aos poucos começa a ser quebrado. Um comenta sobre o
quanto é difícil o trabalho com pessoas, pois todos possuem suas prioridades. Outro comenta que o
fato de alguns terem privilégios em relação a outros, como folgas, carga horária diferenciada, etc.,
contribui para causar mal-estar e distanciar as relações. Uma outra pessoa também comenta que,
para trabalhar com gente, é preciso ter empatia. Assim, surgem diversos comentários, até que Léa
pergunta:
LÉA (gerente ): Quem aqui, de fato, trabalha em equipe? Cada um conhece sua atri-
buição e a do outro? E a atribuição do trabalho em equipe?
186 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
LÉA (gerente ): Tenho aqui três experiências bem interessantes, que busquei no site
da Rede Humaniza. Gostaria que se dividissem em grupos para ler, levantando suas impressões.
Depois vamos organizar um grande painel, com frases que nos motivem nessas mudanças. Vamos
lá!
Após a leitura, Léa também relembrou a cada um as atribuições individuais e coletivas do traba-
lho na AB. Comentou, ainda, sobre a Nota Técnica nº 3/2017, do Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), afirmando que a penicilina pode ser feita na AB e que não há necessidade de “carrinho de
parada”, visto que a ocorrência de reação anafilática à penicilina tem uma incidência muito baixa,
sendo menor que a incidência de reação por ingestão de camarão, por exemplo. Assim, sua aplica-
ção nesse nível de atenção é muito segura e respaldada pela legislação.
Outros apontamentos surgiram, mas, em consenso, concluíram que a agenda precisa estar
mais integrada para que o trabalho em equipe possa fluir melhor e de acordo com o que está plane-
jado. Concluíram também que o PPLS chegou em um momento importante para contribuir com as
mudanças que alguns estavam dispostos a fazer. Alguns ainda estão ansiosos, outros esperançosos,
uns poucos ainda descrentes, mas todos já compreendem que não conseguirão mais escapar de um
pensamento: “se todos estão dispostos, também estou!”.
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 187
Marina e Léa preconizaram a importância do manejo da sífilis na AB, por ser de responsabili-
dade de todos os profissionais. Estão organizando o treinamento para realização do TR para médi-
cos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e cirurgião-dentista, pois a ampliação de profissionais
que realizam o TR dará maior garantia de captação das pessoas que necessitam de tratamento.
Perceberam que é muito simples organizar o curso, pois está disponível via plataforma do Telelab,
então, é só organizar quem já tem a prática para ir treinando quem já concluiu a parte teórica.
“Há muito o que fazer para que essa população alcance uma melhor qualidade de vida, [pensou alto
Léa]”. E continuou reflexiva: “como a equipe pode estar se preparando melhor e não perdendo o
olhar analítico e contínuo para seu território? É… creio que é chegada a hora de aprofundarmos o
tema da Educação Permanente (EP) com as equipes. Será que percebem que já estão nesse movi-
mento? Precisamos que seja mais.”
LÉA (gerente ): Oi Marina, tudo bem? Estava querendo conversar contigo sobre o
andamento do trabalho com as equipes. Tem muita coisa boa acontecendo. O PPLS deu um gás
danado na equipe, e eu estou me sentindo bastante motivada também. Sempre há algumas ques-
tões cotidianas que surgem, mas o bom é ver a própria equipe em busca de solucionar esses entra-
ves. Vejo um amadurecimento do grupo, em geral. E sem contar que o que não está na governabi-
lidade da equipe, eles vêm encaminhando de forma mais organizada. O trabalho está bem mais
fluido.
MARINA (coordenadora AB): Que bom, Léa. Esse movimento é muito bacana e um dos
resultados esperados. Certamente, cada equipe reagirá de uma forma, mas já é um bom caminho
ter uma unidade com duas equipes e diversos problemas em território, dialogando e buscando
encontrar juntas a solução.
188 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
LÉA (gerente ): Verdade. Espero que consigamos manter esse ritmo. E é por isso que
estou te ligando, pensei em proporcionar uma discussão sobre EP, você topa? Pensei numa roda de
conversa, que acha?
MARINA (coordenadora AB): Topo. Podemos ver se o telessaúde Bahia tem algum mate-
rial para nos ajudar. Precisamos explorar mais esta ferramenta, que ajuda bastante. Vamos solici-
tar treinamento para nossas equipes de Sertão Bonito. Vou fazer contato hoje com a SESAB.
LÉA (gerente ): Obrigada Marina. Sua participação pode ser na próxima reunião de
equipe? Agora as reuniões acontecem nas terças feiras à tarde, a partir de 13:30. Se precisar de
data-show, me avisa.
LÉA (gerente ): Boa tarde pessoal, vou passar aqui algumas questões pra vocês e, em
seguida, teremos nosso momento com Marina, sobre Educação Permanente. Primeiro, informo
que recebemos um material a ser fixado em cada mesa de consultório, que orienta a conduta para
tratamento dos casos de sífilis. Preciso que cada equipe organize a fixação desses adesivos.
Segundo, que a equipe NASF-AB estará conosco no planejamento das ações do PST do Riacho do
Angico. Consegui reservar o salão da igreja para fazermos nosso primeiro momento, contando
também com a presença das lideranças. Lembrando que será na sexta-feira pela manhã, a partir
de 8h. Conto com a presença todos, em especial a equipe Flor 2. Organizem suas agendas. Alguma
dúvida? Não? Bem, se precisarem de algo, é só me procurar. Passo agora para Marina, que vai
conduzir a atividade conosco.
MARINA (coordenadora AB): Boa tarde a todos e todas! Então, a proposta é que nossa
roda de conversa de hoje seja sobre Educação Permanente, que alguns autores também gostam de
utilizar Educação Permanente em Saúde. Alguém aqui conhece ou já ouviu falar?
CONCEIÇÃO (ACS ): Quando fiz o curso técnico de ACS, abordaram esse tema.
Disseram que a EP surge da necessidade do que vivenciamos no dia a dia, que pode ser minha, da
equipe ou do território. Confesso que no começo achei um pouco estranho, não conseguia enten-
der muito bem. Mas a facilitadora usou uma frase que me ajudou muito: “A EP surge da prática do
trabalho, da necessidade de aprimorar o que fazemos todos os dias e do nosso olhar sobre o que
pode ser mais bem realizado”. Depois disso, comecei devagarinho a perceber a diferença, princi-
palmente agora que estamos realizando nosso PPLS.
PRISCILLA (enfermeira ): Quando fiz minha pós em Saúde da Família, este tema foi
colocado como central para o trabalho das equipes, sugerindo reuniões em que pudessem ser
trabalhados os assuntos pertinentes ao território, seja para compreender alguma situação de
saúde, como a abordagem a algum caso de criança com microcefalia, por exemplo, ou para contri-
buir para a equipe organizar seu processo de trabalho. Mas sempre fico em dúvida sobre como
perceber a necessidade de determinados temas.
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MARINA (coordenadora AB): Muito bom pessoal. Mas tenho uma pergunta pra ajudar a
aquecer mais: por que estamos aqui hoje?
NILDINHA (dentista ): Estou feliz com o planejamento. Finalmente, estou me vendo ali,
e já pensei vários temas para estudar a partir do que nos foi solicitado para hoje. E falando nisso,
hoje vamos fechar o plano de EP?
MARINA (coordenadora AB): Uma das propostas é essa, Nildinha. Tenho dois vídeos
curtinhos pra apresentar para vocês. Depois, a proposta é elaborarmos nosso plano de ação de EP.
Tranquilo até aqui?
A história das equipes da UBS Flor de Mandacaru não encerra aqui. Muitas outras vão aconte-
cer pelo território. O importante é buscarmos meios de sempre fazer melhor o que já fazemos coti-
dianamente.
REFERÊNCIAS
192 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
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ANEXOS
206
1
Matrizes modelo
10
DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
11
MATRIZ PARA PRIORIZAÇÃO DE PROBLEMAS REFERENTE AO ESTADO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO
2
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR
6
207
208
6
DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR 209
CONSEQUÊNCIAS
PROBLEMA
CAUSAS
210
PROBLEMA
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
MATRIZ PARA PROGRAMAÇÃO OPERATIVA
PROBLEMA:
OBJETIVO GERAL:
OBJETIVO
AÇÕES/ATIVIDADES RESPONSÁVEIS PRAZOS
ESPECÍFICO
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR
211
212
LIMITAÇÕES POTENCIALIDADES
FONTE OU
INDICADOR PERIODICIDADE DA COLETA FORMAS DE DIVULGAÇÃO
FORMA DE VERIFICAÇÃO
AC O L H I M E N TO P EDAGÓGIC O - MA NUA L D O T RABALH ADOR
213
214
MATRIZ PARA SISTEMATIZAÇÃO DA REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO EM EQUIPE – HABILIDADES NECESSÁRIAS À EQUIPE DESENVOLVER
DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
MATRIZ PARA DEMONSTRAÇÃO DE AGENDA
MATUTINO
VESPERTINO
MATUTINO
VESPERTINO
MATUTINO
VESPERTINO
215
216
TIPO DE
ATIVIDADE
OBJETIVO A (PALESTRA, MATERIAIS ONDE SERÁ QUANDO SERÁ
TEMA PÚBLICO ALVO RESPONSÁVEIS
ALCANÇAR FEIRA DE SAÚDE, NECESSÁRIOS REALIZADA REALIZADA
PEÇA TEATRAL,
ETC.)
DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
MATRIZ PARA PLANO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE DA EQUIPE
Este é o seu Diário de Campo do Trabalhador. A proposta é que seja utilizado para o registro
das atividades, não o passo a passo da realização, mas sim as reflexões, sensações e observações
individuais, a fim de sistematizar a vivência no AP.
As páginas a seguir possibilitam que tenha o instrumento em mãos. Quem desejar, pode utilizar
a anotação em outro espaço, mas sempre escrevendo conforme o desejo surgir.
Não há um número limitado de anotações por dia, nem mesmo um horário pré-definido para
escrever em seu diário. Na contabilização da carga horária do AP, foram previstos trinta minutos
para cada turno, para fins de certificação, mas quem fará essa gestão do tempo de dedicação ao
instrumento é você mesmo, podendo utilizar mais tempo em alguns momentos e menos em outros.
Vale ainda mencionar que seu diário poderá conter fotos, imagens, músicas, poesia, textos de
outros autores e qualquer material que te mobilize mas, em especial, que tenha sua escrita. Permi-
ta-se criar esse sentido, pois há muitas possibilidades de ver e dizer os acontecimentos e as afecções
9
, ou seja, há uma possibilidade de produção de visibilidades e dizibilidades para os acontecimen-
tos, que se estabelecem na produção da vida pessoal, vida no trabalho, seus afetos e suas práticas
(DELEUZE e GUATTARI, 1995).
9. Afecção: ato de afectar, de fazer crer, deixar transparecer, exteriorizar etc. (PORTO EDITORA, 2020).
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230 DIR ETOR IA DA ATEN ÇÃO BÁS ICA DA BAHI A
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