41-Saúde Do Trabalhador e Da Trabalhadora 2018
41-Saúde Do Trabalhador e Da Trabalhadora 2018
41-Saúde Do Trabalhador e Da Trabalhadora 2018
CADERNOS
de
ATENÇÃO BÁSICA
SAÚDE DO TRABALHADOR
E DA TRABALHADORA
Versão Preliminar
41
Brasília – DF
2018
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora
Versão Preliminar
Brasília – DF
2018
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora
Versão Preliminar
Brasília – DF
2018
© 2018 Ministério da Saúde.
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A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: <www.saude.gov.br/bvs>.
Ficha Catalográfica
ISBN xx
Referências.....................................................................................................................................................109
processos produtivos. A pergunta – quem é você? com frequência é respondida com a menção ao
trabalho ou ocupação. Desse modo, o trabalho está presente e permeia as práticas de saúde, de
modo especial na Atenção Básica.
Porém, esse é um processo em construção e um dos objetivos deste Caderno é dar visibilidade às
práticas e às intervenções já realizadas pelos profissionais da AB, considerando o papel do trabalho
na determinação das condições de vida e de saúde e doença dos(as) trabalhadores(as).
Os capítulos deste Caderno abordam: os conceitos gerais relativos à Saúde do Trabalhador (ST); a
atenção à saúde da população trabalhadora no processo de trabalho das eAB/eSF; as ações assistenciais
para o cuidado da população trabalhadora; os elementos para a ação da AB pertinentes à Vigilância
em Saúde do Trabalhador (Visat); a participação e o controle social em Saúde do Trabalhador.
Dessa forma, esta publicação deve ser incorporada como ferramenta de apoio à construção
compartilhada e sistemática de modos de cuidar e gerir, durante o cotidiano das eAB/eSF,
no desenvolvimento de atenção qualificada aos(às) usuários(as)-trabalhadores(as). sob sua
responsabilidade, considerando a importância que o trabalho ocupa na vida das pessoas e sua
contribuição na determinação do processo saúde-doença. Com essa iniciativa, espera-se contribuir
efetivamente para o fortalecimento do protagonismo da AB na produção e na gestão do cuidado em
rede, causando impacto positivo na vida dos(as) trabalhadores(as).
14
Atenção à saúde dos(as)
trabalhadores(as): conceitos gerais 1
No Brasil, as atividades produtivas estão organizadas de múltiplas formas, com distintos graus
de incorporação tecnológica e formas de gestão, na lógica de cadeias produtivas, em todos os
setores econômicos (Agroindústria, Mineração, Construção Civil,Indústria, setor de Serviços e
outros). Assim, podem ser observadas distintas formas de organização dos processos produtivos e
de incorporação tecnológica – do trabalho manual, artesanal à produção por robôs – e de formas
de gestão e de vínculo do(a) trabalhador(a) com o empregador ou responsável pela produção,
por meio de maneiras diversas, desde o trabalho formal, com carteira assinada e outros contratos
por meio de cooperativas e associações e arranjos informais.
Ainda verificam-se, em alguns contextos, situações de trabalho ilegal como o trabalho análogo
ao de escravo e/ou que incorpora crianças e adolescentes, que devem ser combatidas e consideradas
na avaliação dos impactos sobre a saúde e a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as) e suas
famílias. Todos estes aspectos devem ser considerados na avaliação dos impactos sobre a saúde
e a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as) e suas famílias.
De acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em
2015 os(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) somavam cerca de 105 milhões de pessoas (BRASIL,
2013) dos quais, cerca de 43 milhões, ou quase 41%, estavam segurados pelo Seguro Acidente de
Trabalho (SAT) da Previdência Social, observando-se grande disparidade entre as regiões do País.
A complexidade da composição da força de trabalho no Brasil pode ser observada na Figura1
e está relacionada aos diferentes tipos de vínculos, estabilidade, acesso aos direitos trabalhistas
e previdenciários, os quais influenciam as condições de vida, de trabalho e de saúde dos(as)
trabalhadores(as) e suas famílias.
15
Figura 1 – Classificação da população ocupada, de acordo com a posição na ocupação e a categoria
do emprego
16
O trabalho, ou a ausência dele, é um importante determinante das condições de vida e da
situação de saúde dos(as) trabalhadores(as) e de suas famílias.
O trabalho é um dos determinantes da saúde e do bem-estar do(a) trabalhador(a) e de sua
família. Além de gerar renda, que viabiliza as condições materiais de vida, tem uma dimensão
humanizadora e permite a inclusão social de quem trabalha, favorecendo a formação de
redes sociais de apoio, importantes para a saúde. Assim, ele pode ter um efeito protetor, ser
promotor de saúde, mas também pode causar mal-estar, sofrimento, adoecimento e morte dos(a)
trabalhadores, aprofundar iniquidades e a vulnerabilidade das pessoas e das comunidades e
produzir a degradação do ambiente. Esta visão do trabalho enquanto determinante social de
saúde e doença orienta este capítulo que apresenta elementos para reconhecer e lidar com os
agravos relacionados ao trabalho.
A figura dos Determinantes Sociais da Saúde proposta por Dahlgren e Whitehead (1991) coloca
em posição central as condições de vida e de trabalho, de emprego/desemprego e os fatores e
situações de risco presentes nos ambientes de trabalho (Figura 2).
demanda dos(as) usuários(as) nos diversos pontos da rede, cujas principais portas de entrada são
a AB e as redes de urgência e emergência.
A organização da atenção à saúde da população a partir da AB tem sido considerada estratégia
importante para reduzir a iniquidade e prover cuidado resolutivo e com qualidade. O processo
de trabalho das equipes de saúde permite que se conheça mais sobre as condições de vida e de
trabalho da população sob sua responsabilidade, facilitando a definição de políticas e ações
de saúde mais adequadas ao perfil de morbimortalidade e o acesso e acompanhamento dos
grupos vulneráveis. No campo da ST, as ações de saúde desenvolvidas pelas eAB/eSF facilitam o
reconhecimento das relações entre as condições de vida e trabalho, expressos nos determinantes
sociais de saúde e sua incorporação no cuidado.
Na perspectiva da atenção integral, o cuidado em saúde envolve ações de promoção e
proteção da saúde, vigilância, assistência e reabilitação. Assim, todos os profissionais da rede de
saúde, em especial das eAB/eSF, precisam estar qualificados para estabelecer as relações entre
as condições de vida e saúde-doença e o trabalho, atual ou pregresso do usuário, de modo a
estabelecer o diagnóstico correto, a relação do evento com a atividade de trabalho e definir o
plano terapêutico adequado, incluindo a reabilitação, a orientação do(a) trabalhador(a) sobre as
medidas de promoção e proteção da saúde, os encaminhamentos trabalhistas e previdenciários
e a notificação ao sistema de informação em saúde.
As ações coletivas de Vigilância em Saúde do Trabalhador (Visat) no âmbito da AB devem
começar pelo reconhecimento e registro das atividades produtivas desenvolvidas no território
que está sob responsabilidade da eAB/eSF, incorporando-o em seus planos de trabalho e incluem
a vigilância dos agravos à saúde relacionados ao trabalho – os acidentes e as doenças – que é
viabilizada a partir da notificação dos casos identificados no Sistema de Informação de Agravos
de Notificação (Sinan) e a vigilância dos ambientes e processos de trabalho, com destaque para
as atividades produtivas desenvolvidas no domicílio e no peridomicílio no território.
A Saúde do Trabalhador é o campo da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e
intervenção as relações produção-consumo e o processo saúde-doença das pessoas e, em particular,
dos(as) trabalhadores(as). Neste campo, o trabalho pode ser considerado como eixo organizador
da vida social, espaço de dominação e resistência dos(as) trabalhadores(as) e determinante das
condições de vida e saúde das pessoas. A partir dessa premissa, as intervenções devem buscar a
transformação dos processos produtivos, no sentido de torná-los promotores de saúde, e não
de adoecimento e morte, além de garantir a atenção integral à saúde dos(as) trabalhadores(as),
levando em conta sua inserção nos processos produtivos.
O Movimento da Saúde do(a) Trabalhador(a) organizou-se no Brasil, ao longo dos anos 80, no
bojo do processo de redemocratização do País e da luta pela Reforma Sanitária, que culminou na
instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal (CF) de 1988. Ao estabelecer
a saúde como direito de cidadania e dever do estado, a CF garantiu a atenção integral à saúde para
18 todos(as) trabalhadores(as) independentemente do tipo de vínculo que possuem no mercado de
trabalho. Antes disso, apenas os(as) trabalhadores(as) com contratos regidos pela Consolidação das
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Leis do Trabalho (CLT), ou seja, com “carteira de trabalho assinada”, tinham direito à assistência
médica e à Previdência Social.
Assim, o compromisso do SUS com a vida e a saúde dos(as) trabalhadores(as) tem por referência
sua inserção no processo produtivo/processo de trabalho, desde o início da vida laborativa,
qualquer que seja a atividade de trabalho, incluindo os períodos de inatividade, desemprego,
aposentadoria e velhice. Esta compreensão tem implicações importantes sobre as práticas de saúde.
Cabe ressaltar que, para o SUS, trabalhadores(as) são todos(as), homens e mulheres que
trabalham na área urbana ou rural, independentemente da forma de inserção no mercado de
trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado,
autônomo, avulso, temporário, cooperativado, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado e
mesmo os desempregados (BRASIL, 2012).
Desse modo, a organização das ações de saúde direcionadas ao(à) trabalhador(a), nas diversas
instâncias da rede SUS deve considerar que:
• a integralidade das ações de saúde pressupõe que as ações preventivas e curativas são
indissociáveis, porém com primazia das ações de promoção e da vigilância em saúde;
O Quadro 1 apresenta exemplos de riscos mais frequentes nos ambientes de trabalho e seus
efeitos sobre a saúde.
Desidratação, câimbras
Trabalho na rua e a céu
pelo calor, fadiga,
Temperaturas aberto; frigoríficos; cozinhas
alergia respiratória,
extremas: industriais; ambientes com ar-
sinusite, resfriados
condicionado.
frequentes.
continua
21
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica
conclusão
Este quadro ajuda a entender a presença de fatores de risco para a saúde nas situações de
trabalho e seus possíveis efeitos sobre a saúde dos(as) trabalhadores(as). Entretanto, no cotidiano
de trabalho, raramente se observa a exposição a um fator de risco isoladamente, sendo frequente
a exposição simultânea a vários desses fatores de risco, o que potencializa os efeitos. Por exemplo:
a exposição simultânea a certos solventes orgânicos e ao ruído pode produzir quadros de surdez
mais graves e mais precoces do que a exposição apenas ao ruído.
A relação entre o trabalho e o processo de adoecimento dos(as) trabalhadores(as) pode ser
melhor compreendida ao considerar a classificação proposta por Schilling (Quadro 2), que combina
a abordagem clínico-individual com a coletivo-epidemiológica e agrupa as doenças, segundo a
contribuição ou o “papel causal” desempenhado pelo trabalho no adoecimento.
CATEGORIA EXEMPLOS
Intoxicação por chumbo
I – Trabalho como causa necessária Silicose
Asbestose
Doença coronariana
II – Trabalho como fator contributivo, Doenças do aparelho locomotor
mas não necessário Câncer
Varizes dos membros inferiores
Bronquite crônica
III – Trabalho como provocador de
Dermatite de contato alérgica
distúrbio latente, ou agravador de
Asma
doença já estabelecida
Doenças mentais
Fonte: (SCHILLING, 1984).
Esta classificação foi adotada para a elaboração da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho,
disposta do Anexo LXXX da Portaria de Consolidação n.º 5, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL,
2017a), com a finalidade de orientar os profissionais de saúde sobre a possível relação do
adoecimento com a exposição a riscos para a saúde presentes no trabalho.
Ela está organizada em “dupla entrada”: a Lista A, que considera o agente ou grupos de
agentes patogênicos responsáveis pelo adoecimento ou que guardam evidências sólidas de nexo
causal entre a exposição e a doença; e a Lista B, que tem como referência os códigos dos grupos
de patologias definidos na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), com elenco
de aproximadamente 400 agravos relacionados ao trabalho.
Esta forma de organização permite ao profissional consultar a lista a partir do reconhecimento
da exposição a um agente, fatores de risco ou condição adversa de trabalho referidos ou
identificados na entrevista com o(a) trabalhador(a) (anamnese ocupacional) ou a partir dos
problemas de saúde que o(a) trabalhador(a) apresenta ao ser atendido no serviço de saúde.
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Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
1.2.1 Exemplos de doenças comuns, com potencial relação com o trabalho, que modifica
sua evolução
A seguir são apresentados exemplos de situações frequentes no cotidiano das eAB/eSF, segundo
as listas A e B.
Conclusão
Agentes etiológicos ou Doenças causalmente relacionadas com os respectivos
fatores de risco de agentes ou fatores de risco (denominadas e
natureza ocupacional codificadas segundo a CID-10)
Micro-organismos e parasitas •• Hepatites Virais (B15-B19.-)
infecciosos vivos e seus •• Doença pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
produtos tóxicos (Exposição (B20-B24.-)
ocupacional ao agente e/ou •• Dermatofitose (B35.-) e Outras Micoses Superficiais (B36.-)
transmissor da doença, em •• Paracoccidiomicose (Blastomicose Sul Americana,
profissões e/ou condições de Blastomicose Brasileira, Doença de Lutz) (B41.-)
trabalho especificadas) •• Malária (B50-B54.-)
•• Leishmaniose Cutânea (B55.1) ou Leishmaniose Cutâneo-
Mucosa (B55.2)
•• Pneumonite por Hipersensibilidade a Poeira Orgânica
(J67.-): Pulmão do Granjeiro (ou Pulmão do Fazendeiro)
(J67.0); Bagaçose (J67.1); Pulmão dos Criadores de Pássaros
(J67.2);Suberose (J67.3); Pulmão dos Trabalhadores de
Malte (J67.4); Pulmão dos que Trabalham com Cogumelos
(J67.5); Doença Pulmonar Devida a Sistemas de Ar-
Condicionado e de Umidificação do Ar (J67.7); Pneumonites
de Hipersensibilidade Devidas a Outras Poeiras Orgânicas
(J67.8); Pneumonite de Hipersensibilidade Devida a Poeira
Orgânica não especificada (Alveolite Alérgica Extrínseca SOE;
Pneumonite de Hipersensibilidade SOE (J67.0)
•• "Dermatoses Pápulo-Pustulosas e suas complicações
infecciosas" (L08.9)
Continua
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Continuação
Agentes etiológicos ou fatores
Doenças
de risco de natureza ocupacional
Conclusão
Agentes etiológicos ou fatores
Doenças
de risco de natureza ocupacional
Mononeuropatias dos
Membros Superiores (G56.-):
Síndrome do Túnel do Carpo
(G56.0); Outras Lesões do
Nervo Mediano: Síndrome do
Pronador Redondo (G56.1);
Síndrome do Canal de Guyon
(G56.2); Lesão do Nervo • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
Cubital (ulnar): Síndrome do
Túnel Cubital (G56.2); Lesão
do Nervo Radial (G56.3);
Outras Mononeuropatias
dos Membros Superiores:
Compressão do Nervo
Supraescapular (G56.8)
Transtornos mentais e
comportamentais devidos
• Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego:
ao uso do álcool: Alcoolismo Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
Crônico (Relacionado com o
• Circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)
Trabalho) (F10.2)
– Silicose (J62.8).
– Pneumoconiose associada com tuberculose (sílico-tuberculose) (J63.8).
– Síndrome de Caplan (J99.1; M05.3).
Por outro lado, ao identificar uma das doenças mencionadas anteriormente em um(a)
trabalhador(a), e consultar a Lista B, o profissional verá que ela pode estar relacionada à exposição
à poeira de sílica e as ocupações nas quais esta exposição é mais frequente em nosso país.
As listas A e B preparadas pelo Ministério da Saúde (MS) foram adotadas pela Previdência
Social, no ano de 1999, para orientar as avaliações médico periciais e a concessão de benefícios
previdenciários e acidentários a seus segurados. Em 2007, a Previdência Social acrescentou às
listas A e B, a Lista C (Anexo II do Decreto Federal n.º 3.048/1999, alterado pelo Decreto Federal
n.º 6.042/2007) elaborada com base na significância estatística da associação entre a doença
identificada como responsável pela incapacidade do(a) trabalhador(a) e a atividade econômica da
empresa a qual o segurado é vinculado – Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP), que passou a ser
utilizado nas avaliações médico-periciais (BRASIL, 1999; BRASIL, 2007; SILVA JUNIOR et al., 2014).
A Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990) prescreve que as seguintes ações de Saúde do(a)
Trabalhador(a) devem ser desenvolvidas na rede de serviços de saúde do SUS:
Art. 8º.III - garantir a integralidade na atenção à saúde do trabalhador, que pressupõe a inserção
de ações de saúde do trabalhador em todas as instâncias e pontos da Rede de Atenção à
Saúde do SUS, mediante articulação e construção conjunta de protocolos, linhas de cuidado
e matriciamento da saúde do trabalhador na assistência e nas estratégias e dispositivos de
organização e fluxos da rede, considerando os seguintes componentes:
a) atenção primária em saúde;
III – atuar como centro articulador e organizador das ações intra e intersetoriais
de saúde do trabalhador, assumindo a retaguarda técnica especializada para o
conjunto de ações e serviços da rede SUS e se tornando polo irradiador de ações e
experiências de vigilância em saúde, de caráter sanitário e de base epidemiológica.
Referências
32
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
______. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.
DAHLGREN, G.; WHITEHEAD, M. Policies and Strategies to Promote Social Equity in Health.
Stockholm: Institute for Future Studies, 1991.
33
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
______. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: volume Brasil. 2013. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2013/>. Acesso
em: 9 fev. 2017.
SILVA JUNIOR, J. S. et al. Caracterização do nexo técnico epidemiológico pela perícia médica
previdenciária nos benefícios. Rev. Bras. Saúde Ocup., São Paulo, v. 39, n. 130, p. 239-246, 2014.
34
Atenção à Saúde dos(as)
Trabalhadores(das) no processo de
trabalho das equipes de Atenção
Básica/Saúde da Família
2
Este capítulo tem por objetivo apresentar estratégias e instrumentos para o desenvolvimento
de cuidado à saúde dos(as) trabalhadores(as) no âmbito da AB, tomando por referência o processo
de trabalho das eAB/eSF.
Segundo MERHY(1995), o processo de trabalho em saúde é constituído pelos seguintes elementos:
•• os sujeitos – trabalhadores(as) de saúde, empregadores(as), gestores(as);
IMPORTANTE
As eAB/eSF devem conhecer e saber identificar como se expressam as relações trabalho-saúde-doença
e ambiente no seu território de atuação para que possam compreender e intervir sobre as condições
de vida e trabalho, sobre o perfil de adoecimento e morte e de vulnerabilidade social da população
sob sua responsabilidade.
35
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
São apresentados, a seguir, alguns instrumentos e abordagens utilizados rotineiramente pelas eAB/
eSF, que podem auxiliar a identificação e o manejo das relações trabalho-saúde-doença dos indivíduos,
das famílias e da comunidade. Em especial, como abordar os acidentes e as doenças relacionadas
ao trabalho, incorporando essas ocorrências no desenvolvimento das ações de saúde no território.
LEMBRE-SE DE QUE:
Atividade produtiva ou atividade econômica pode ser entendida como um processo, ou seja, a
combinação de ações que resultam em um produto ou ainda, uma combinação de recursos que
gera bens e serviços específicos (IBGE, 2013).
Situação – Caso
A presença de uma fábrica de cimento em um território, próxima aos locais de moradia das
pessoas, potencializa a exposição a situações de risco para a saúde e o desencadeamento de
problemas para os(as) trabalhadores(as) e para a população residente no entorno: maior número
de acidentes de trânsito provocados pelo tráfego de carretas pesadas; problemas respiratórios,
como por exemplo quadros de bronquite ou asma, relacionados à exposição a poeira de cimento,
que a depender da vulnerabilidade do grupo exposto, como crianças e idosos, aparecerão com
maior frequência ou gravidade. Também pode acarretar desconforto decorrente do pó que invade
as casas e se deposita sobre os móveis e utensílios (LACERDA E SILVA; DIAS, 2012).
UNIDADE BÁSICA
DE SAÚDE
UBS
ESCOLA
MATERNIDADE
FÁBRICA DE
CIMENTO
PREFEITURA
PR
EF
EIT
UR
A
HOSPITAL
37
Fonte: DAB/MS.
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica
Nessa situação, as eSF/eAB devem estar preparadas para oferecer assistência adequada aos
usuários e suas famílias; articular-se com os setores da Vigilância em Saúde (Saúde Ambiental,
Sanitária, Epidemiológica, Saúde do(a) Trabalhador(a)); participar e apoiar as intervenções
por eles(as) indicadas; realizar ações de educação em saúde e informar a comunidade sobre
os potenciais riscos e danos à saúde decorrentes dessa atividade produtiva, favorecendo sua
mobilização, com vistas à melhoria das condições de vida, de trabalho e de saúde. Para o
mapeamento das atividades produtivas no território, as equipes podem contar com o apoio dos
profissionais do NASF-AB, do Cerest e das referências técnicas em ST dos municípios e do estado.
O cadastro individual de membros das famílias, realizado por ACS, utilizando os instrumentos
disponíveis no e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), permite à equipe obter informações sobre o
perfil demográfico, ocupacional e da situação de saúde dos(as) usuários(as)-trabalhadores(as)
que compõem a população sob responsabilidade das eAB/eSF. No Cadastro Individual, é essencial
registrar a ocupação dos(as) usuários(as) e sua situação no mercado de trabalho. O preenchimento
do campo “ocupação” dos membros da família é de extrema relevância para subsidiar a
investigação diagnóstica dos agravos e das doenças potencialmente relacionadas ao trabalho
e para a compreensão do processo trabalho-saúde-doença, como apresentado no Capítulo 1.
O Manual do Sistema com Coleta de Dados do e-SUS AB orienta que seja informada a ocupação
principal do(a) usuário(a) cadastrado(a), de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) (BRASIL, 2016).
Para mais informações sobre a CBO, consulte a página do Ministério do Trabalho sobre esse
tema. No caso de trabalhador(a) aposentado(a) e/ou inativo (a), deve ser registrada a ocupação
que exerceu a maior parte da vida. Se for aposentado(a), mas estiver exercendo alguma atividade,
esta atividade atual é que deve ser registrada no campo ocupação.
O preenchimento do campo situação no mercado de trabalho do Cadastro Individual deve
considerar as definições do Quadro 5.
38
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Conclusão
ATENÇÃO
Muitas vezes, a profissão dos(as) trabalhadores(as) ou a forma pela qual ele(a) se apresenta
não permite identificar o que ele(a) realmente faz, como faz e consequentemente, os riscos
à saúde a que está exposto(a). Muitas vezes, o contrato de trabalho informa pouco quando
registra, por exemplo – auxiliar de serviços gerais. Ser auxiliar de serviços gerais em um hospital,
em uma indústria química ou na construção civil significa condições de trabalho, exposição a
riscos para a saúde e formas de adoecimento muito distintas. É importante saber como e onde
ele/ela desenvolve suas atividades.
O reconhecimento do(a) usuário(a) como trabalhador(a) acontece em vários momentos
do processo de trabalho da equipe. Geralmente, começa no momento do cadastramento das
famílias no território adscrito, e continua no acolhimento e na consulta com a realização da
anamnese ou história ocupacional.
Os dados sobre as condições/situações de saúde gerais, registrados no Questionário
Autorreferido de Condições/Situações de Saúde, permitem conhecer parte do perfil
epidemiológico da população e identificar agravos e doenças potencialmente relacionadas ao
trabalho. De rotina, as doenças e condições referidas e registradas nesta ficha são: hipertensão
arterial; diabetes; AVC/derrame; infarto; doença cardíaca; doença respiratória; doença renal;
hanseníase; tuberculose; câncer; problemas de saúde mental; internação no último ano, entre
outras. É importante considerar a potencial contribuição do trabalho no desencadeamento e
na evolução dessas doenças.
O registro e a análise dessas informações qualificam as avaliações posteriores, feitas pelo
profissional médico e demais profissionais da equipe, sobre a possível relação do trabalho com
as patologias apresentadas pelos usuários.
O cadastramento das famílias também permite a identificação de fatores e de situações
de risco para a saúde dos indivíduos, como por exemplo: tabagismo, uso de álcool e outras
40
drogas, baixo peso ou obesidade, que podem estar relacionados a situações de trabalho ou ao
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
desemprego. Outras condições relacionadas aos ciclos de vida, por exemplo idosos e gestantes
em situação de trabalho, também podem ser identificadas e consideradas no planejamento
e desenvolvimento das ações.
Uma situação de especial importância refere-se à presença de crianças e de adolescentes
com menos de 16 anos em situação de trabalho, ressalvada a condição de aprendiz a partir
dos 14 anos, ou pessoas com menos de 18 anos realizando trabalho noturno, perigoso
ou insalubres, ainda que desenvolvidas no contexto familiar (EC 20/1998, DEC 6481/2008).
Nesses casos, além do conhecimento da equipe, orienta-se ser acionado o Conselho Tutelar
da Criança e do Adolescente, a Assistência Social e a Educação do município, a Procuradoria
Regional do Ministério Público do Trabalho e a Superintendência Regional do Trabalho mais
próximas, e outras instâncias sociais responsáveis pelo encaminhamento/solução da questão.
Sempre que identificada a ocorrência de acidente ou doença relacionada ao trabalho, esta
deve ser registrada e especificada (tipo de acidente ou doença) no campo “outras condições
de saúde” e informada à equipe de saúde para desencadear as ações de cuidado e vigilância
adequadas.
Em áreas de produção rural, no Cadastro Domiciliar e Territorial, devem ser observadas
as condições de acesso e uso da terra, identificando se o(a) trabalhador(a) é: proprietário
(a); parceiro (a)/meeiro (a); assentado (a); posseiro (a); arrendatário (a); comodatário(a) ou
beneficiário(a) do banco da terra. Essas condições podem sinalizar situações de vulnerabilidade
dessas populações. Além disso, a eAB/eSF deve estar atenta à possibilidade de exposição a
múltiplos riscos ocupacionais, entre eles os agrotóxicos, radiação solar, temperaturas extremas
e acidentes de trabalho (SILVA et al., 2013).
A identificação do perfil produtivo compõe o diagnóstico da situação de saúde dos(as)
trabalhadores(as) com a finalidade de produzir informações sobre o trabalho, situações
de risco para a saúde e de vulnerabilidade dos(as) trabalhadores(as) que residem e/ou
trabalham no território de atuação das equipes, com vistas ao planejamento de ações para
intervenção no processo trabalho-saúde-doença. No Quadro 6, estão resumidos os principais
componentes do perfil produtivo, sociodemográfico, epidemiológico e recursos de saúde, a
serem identificados pelas eAB/eSF.
Conclusão
Perfil epidemiológico:
Ocorrência de acidentes de trabalho, especialmente os acidentes graves e com óbito.
Distribuição de agravos e doenças relacionadas ao trabalho com maior prevalência no
território de abrangência das eAB/eSF.
Principais queixas dos(as) usuários(as) trabalhadores(as), potencialmente relacionadas ao trabalho.
Principais fatores e situações de riscos ocupacionais a que estão expostos(as) os(as)
trabalhadores(as) que residem e/ou trabalham no território, incluindo o trabalho em
domicílio e peridomicílio.
Esse diagnóstico poderá ser feito pelas eAB/eSF, com apoio de profissionais do NASF-AB, Cerest
e referências técnicas em ST dos municípios e estado. As informações levantadas nesse diagnóstico
preliminar articuladas com a percepção das equipes devem ser analisadas de forma participativa,
com representantes da população trabalhadora e dos gestores de saúde, para identificação das
principais necessidades e demandas existentes no território, que envolvem a relação trabalho/
saúde/doença e ambiente, a serem incluídas no plano de ação das eAB/eSF. Cabe ressaltar que
o planejamento, a programação e a implementação de atividades de atenção à saúde devem
estar de acordo com as necessidades de saúde da população, de forma contínua e sistemática.
2.4.1 Acolhimento
No acolhimento, os profissionais de saúde devem estar atentos para o fato de que todo(a)
42
usuário(a) é potencialmente, um(a) trabalhador(a). Na primeira etapa do acolhimento, na
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
IMPORTANTE!
O acolhimento do(a) usuário(a)-trabalhador(a) baseia-se na escuta qualificada, objetivando
identificar se queixas, sinais e/ou sintomas apresentados estão relacionados com o trabalho/
ocupação atual ou pregresso do usuário.
Por exemplo: queixas de dor e ardência ao urinar relatadas por mulheres jovens podem
ter relação com o trabalho que desenvolvem. A infecção urinária em operadoras de caixa de
supermercado pode estar associada a pouca ingestão de líquidos e ao excessivo controle da saída
do posto de trabalho para ir ao banheiro, procedimentos comuns na gestão e na organização
do trabalho nessa atividade.
Obs.: Para facilitar a comunicação e conhecer melhor sobre o trabalho do(a) usuário(a) é
interessante pedir a ele/ela que descreva um dia típico de seu trabalho.
A inserção das PICS como cuidado voltado aos(às) trabalhadores(as) estabelece uma visão
ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente
do autocuidado e deve ser implementada de forma gradativa, atendendo as especificidades,
obedecendo as características regionais, contextualizando-as aos problemas existentes nos diversos
grupos e territórios levando-se em conta as necessidades de saúde dos(as) trabalhadores(as) e
sua comunidade laboral.
46
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
O cuidado em saúde por meio das PICS pode ser ofertado em diversos pontos da RAS. Entre
elas, ressalta-se a importância de recursos terapêuticos da medicina tradicional chinesa (MTC),
ayurveda, práticas corpo e mente como tai chi chuan, yoga e meditação, entre outras.
47
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Para que as eAB/eSF incorporem em sua rotina de trabalho o cuidado integral à saúde do(a)
trabalhador(a), considerando sua inserção no processo produtivo, é necessário contar com suporte
para o desenvolvimento do processo de trabalho. Esta prática tem sido chamada de apoio matricial
ou matriciamento.
O apoio matricial busca romper com a fragmentação dos processos de trabalho na rede de
saúde e oferece possibilidades de trocas de saberes entre profissionais especialistas e as equipes
de saúde, nos diversos níveis de atenção, contribuindo para modificar positivamente situações
e/ou problemas de saúde de indivíduos e coletividades.
Trata-se de uma relação de mão dupla, de construção de espaços de comunicação dialógica e
compartilhamento de saberes entre os profissionais, que possibilita a ampliação das competências,
da capacidade de análise e ação e da autonomia dos profissionais e das equipes. Espera-se que
resulte em cuidado de qualidade, resolutivo e humanizado, respeitando os arranjos de cada
sistema de saúde, as configurações e características das equipes e pessoas que as compõem, dos
territórios e das realidades do mundo do trabalho local.
Lembre-se:
Alguns termos importantes no processo de Apoio Matricial
Compartilhamento = corresponsabilização pelos casos e ações.
• Equipe ou profissional de referência = responsáveis pela condução de um caso individual,
familiar ou comunitário, pela coordenação do cuidado.
• Equipe ou profissional de apoio = detém saberes e habilidades específicas de determinado
núcleo ou campo de conhecimento.
• Responsabilidade de condução = tarefa de encarregar-se da atenção ao longo do tempo.
• Núcleo de saber = saberes específicos de cada profissional, seus domínios técnicos e de
48 experiências.
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
O suporte efetivo dos Cerest às eAB/eSF depende de vários fatores, a começar pela existência
deste equipamento na região, ou seja, o fato do território de abrangência sob responsabilidade
dessas equipes contar com a cobertura deste ponto de atenção especializada. Atualmente, o
Brasil conta com 213 Cerests habilitados, cuja atuação também depende da conformação da rede
de atenção e da capacitação e disponibilidade da equipe técnica para realizar essa atividade. Há
registros e relatos de experiências exitosas que reforçam essa possibilidade.
CASO 1
D – Bom dia, Gabrielle! Aqui quem fala é a Daniela, enfermeira da UBS São Leopoldo. Tudo
bem?
G – Bom dia, Daniela! Como vai você? Como posso te ajudar?
D – Gostaria de discutir com vocês a situação do Sr. José. Ele é hipertenso e faz acompanhamento
conosco há uns seis meses. Não estamos conseguindo manter a pressão estável, a médica e
eu já fizemos diversas orientações e ajustes na medicação. Ele é um paciente participativo,
segue as orientações e toma a medicação corretamente. Hoje, na consulta médica ele referiu
algumas situações do trabalho e então pensamos que vocês do Cerest podem nos ajudar.
Pode estar relacionado ao trabalho, não é?
G – Claro. O que ele faz e onde trabalha?
D – É padeiro numa grande padaria no centro da cidade. Não me recordo o nome no momento. 49
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
CASO 2
Cerest, enfermeira Gabrielle – Hoje nós trouxemos o caso do Sr. Jorge, que vocês nos encaminharam
para avaliação, com uma proposta de trabalho conjunto. O Sr. Jorge tem um sítio e planta chuchu
e tomate, lembram-se dele?
50
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Cerest, médico Flávio – Eu já enviei a vocês a “contrarreferência” por escrito, com os detalhes
da avaliação clínica, exames laboratoriais etc. Confirmou-se a intoxicação crônica e nexo com o
trabalho e depois da minha próxima avaliação devo retornar o caso para a UBS acompanhar. Não
sei se há alguma dúvida em relação ao meu relatório.
UBS, médico Valter e enfermeira Daniela – Não, está tudo bem claro no relatório! A esposa dele
esteve aqui em consulta ontem e referiu que ele ficou satisfeito em receber as informações no
Cerest, inclusive quanto aos seus procedimentos no trabalho.
Cerest, médico Flávio – Então, neste caso percebemos que seria importante uma ação coletiva,
pois no território desta unidade há uma grande área rural, com pequenos sítios produtivos não
é mesmo? Vocês não acham importante fazermos algo para prevenir outros casos? E também
pode ser que outros(as) trabalhadores(as) rurais estejam com problemas, mas não vieram procurar
ajuda aqui na unidade; poderíamos fazer uma busca ativa para avaliação dos expostos e dos
suspeitos. O que acham?
UBS, Enfermeira Daniela – Ótima idéia! Há alguns anos, em razão de outro usuário nosso,
pensamos em fazer alguma coisa neste sentido, mas nós não sabíamos como fazer e o médico
disse que iríamos precisar de uma retaguarda laboratorial e não tínhamos; o trabalho foi correndo
e nós deixamos isso prá lá. Agora se for com vocês é diferente, né?
Cerest médico Flávio – Quanto ao laboratório para alguns exames específicos, vamos precisar
mesmo, mas poderemos tentar uma parceria com a Universidade ou apresentar ao secretário de
saúde a situação. Pode ser que consigamos usar o recurso da Renast para comprar o serviço de
laboratório.
UBS Médico Valter – É interessante podermos fazer uma ação mais abrangente, preventiva. O
problema é o tempo para isso! Nossa agenda de consulta médica está lotada! Os enfermeiros
também estão muito sobrecarregados.
UBS, enfermeira Célia – É verdade, mas acontece que se conseguirmos realizar ações deste tipo,
vai facilitar para nós no futuro, porque vamos trabalhar com a prevenção. Além do mais, pode
ser uma atividade que nos tire um pouco do peso do cotidiano aqui.
UBS, Valter – É, pode ser.
Cerest, médico Flávio – Valter, eu entendo a sua preocupação, mas nós vamos construir e executar
a proposta juntos, de acordo com nossas possibilidades. E vamos mapear outros parceiros também;
por exemplo, já mencionei a universidade, por conta dos exames laboratoriais, mas poderíamos
pensar também em órgãos ligados à agricultura, apoio técnico ao agricultor. Ali em Monte
Alegre tem uma fazenda experimental da Secretaria de Agricultura. Eles fazem pesquisa e dão
apoio técnico aos agricultores da região. Pode ser que tenham interesse em participar conosco,
vai depender da proposta que fizermos.
51
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
UBS, Técn. Enf. Sandra – Olha, tem também o Conselho de Desenvolvimento Rural no município.
Meu tio vai às reuniões e posso me informar melhor como funciona e se haveria interesse nosso
ou deles em participar.
UBS, enfermeira Célia – E se formos fazer alguma ação educativa, não pode ser nada chato,
tipo palestra, pois estas pessoas não têm paciência para isso. A equipe aqui já está experiente
em inventar modos diferentes de trabalhar a educação em saúde; uma vez fizemos um teatro
sobre as infecções sexualmente transmissíveis (IST) e foi muito divertido e tivemos um bom
resultado. Muita gente veio na unidade depois para conversar e fazer exames, o “consumo”
de camisinhas aumentou.
UBS, Técn. Enf. Palmira – Foi ótimo! Até o Dr. Gustavo participou do teatro e se saiu bem!
UBS, Enfermeira Daniela– Então, penso que estamos de acordo em fazermos esta ação conjunta.
Mas hoje não temos tempo para fazer o desenho do projeto. Podemos tirar algumas pessoas
de nossa equipe para formar tipo uma comissão para fazer a proposta com vocês. Depois o
grupo apresenta aqui na reunião de equipe e fazemos os acertos e fechamos o cronograma.
O que acham?
Cerest, enfermeira Gabrielle – Está ótimo! Pelo Cerest quem está responsável por esta atividade
sou eu, o Flávio e a Luzia. Ela não pôde vir hoje, mas estará na próxima. Podemos vir aqui para
o trabalho da comissão. Quem participará pela UBS?
UBS, Enfermeira Daniela – Eu posso participar e indico a Palmira, a Sandra e o Valter (para ele se
animar! rsrsrs).
O apoio matricial sempre envolve dois polos: a eAB/eSF, que é considerada equipe de referência
e as equipes especializadas, que são equipes de apoio. Os profissionais das equipes dos Cerests
e as referências técnicas em ST dos municípios e estados são os principais responsáveis pelo
apoio técnico, pedagógico e institucional às eAB/eSF no tema da ST. Além desses, as equipes e
profissionais do Nasf, das redes de atenção especializada, de média e alta complexidade, bem
como da vigilância em saúde, podem operar como apoiadores das eAB/eSF.
Considerando o perfil das atividades produtivas e as patologias relacionadas ao trabalho
mais comuns registradas no Sinan durante o período de 2007 a 2016, nas ações de assistência,
pode-se sinalizar que os profissionais especializados e as redes a serem acionadas com maior
frequência são das seguintes áreas: Ortopedia, Reumatologia, Pneumologia, Dermatologia,
Otorrinolaringologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Saúde Mental e Rede de Atenção Psicossocial
(Caps), Rede de Centros de Reabilitação.
O Quadro 7 apresenta os principais recursos da RAS e de apoio diagnóstico necessários, com
destaque para os agravos relacionados ao trabalho definidos como de notificação compulsória
no País. Essa relação pode ser útil para orientar as equipes na organização e na construção das
linhas de cuidado para atenção à saúde dos(as) trabalhadores(as) nos territórios.
53
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Centro de
Outros Serviços/
Referência de Assistência Social (Cras) , Centro de Referência Especializado da
Instituições
Assistência Social (Creas) e grupos de trabalhadores(as) com LER/Dort
54
Continua
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Continuação
Otorrinolaringologista, clínico(a)
- geral, médico(a) do Trabalho,
Especialidades
fonoaudiólogo,enfermeira(a),
assistente social
Audiometria Tonal
Exames Exames Laboratoriais para diagnóstico diferencial, a depender do quadro clínico
Complementares e da exposição ocupacional; outros exames complementares: Potenciais Evocados
Auditivos de Tronco Encefálico (Peate- Bera); Imitância Acústica, Timpanometria
Outros Serviços/
Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras e Creas.
Instituições
Outros Serviços/
Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras e Creas.
Instituições
55
Continua
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica
Continuação
Outros Serviços/ Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras e Creas.
Instituições
Outros Serviços/ Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras e Creas.
56 Instituições
Continua
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Continuação
Agravo Pneumoconiose
Pneumologista e/ou clínico(a)- geral com capacitação para leitura de raios X padrão
OIT.
Especialidades
Médico(a) do Trabalho
enfermeira(o), assistente social.
Serviços de Saúde
Ações de apoio matricial e vigilância em saúde por Cerest , serviços de vigilância em
saúde e Núcleo de Vigilância Epidemiológica
Hospitalar.
Outros Serviços/ Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras, Creas e
Instituições grupos de trabalhadores(as) expostos ou contaminados(as)
Outros Serviços/ Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras, Creas e
Instituições Instituto Médico Legal (IML).
57
Continua
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
Continuação
Outros Serviços/
Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras e Creas.
Instituições
Outros Serviços/ Previdência social (se for segurado do INSS), Sindicatos. MPT, SRTE, Cras, Creas e IML
Instituições
Na organização das linhas de cuidado, destacam-se as atribuições e o papel dos Cerests em:
•• Prover subsídio técnico para o SUS, nas ações de promoção, prevenção, vigilância,
diagnóstico, tratamento e reabilitação em saúde de trabalhadores(as) urbanos e rurais.
•• Desenvolver ações de assistência e vigilância em saúde do(a) trabalhador(a) de maior
complexidade, e em caráter complementar aos municípios, na área de abrangência.
•• Apoiar e desenvolver processos de educação permanente em saúde do(a) trabalhador(a).
•• Promover articulações intrassetoriais no âmbito do SUS.
•• Promover articulações intersetoriais com outros órgãos governamentais, entidades da
sociedade civil organizada e representantes de trabalhadores(as) e movimentos sociais.
A contribuição do NASF-AB dependerá de sua composição, uma vez que alguns núcleos
de conhecimento são atualmente mais requisitados para as abordagens em ST, tais como:
fisioterapeuta; assistente social; fonoaudiólogo; psicólogo; médico psiquiatra; terapeuta
ocupacional; médico acupunturista; profissional/professor de educação física; profissional de
saúde sanitarista.
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) está disposta no anexo XXII, da Portaria de
consolidação n.º 2 de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2017b).
61
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
Referências
___BRASIL. Ministério da Saúde. e-SUS Atenção Básica. Manual do Sistema com Coleta de
Dados Simplificada – CDS (versão 2.1). Brasília, 2016.
______ BRASIL. Ministério da Saúde. Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho no SUS -
NOB/RH-SUS. Brasília: 2005.
______ BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília, 2014.
(Cadernos de Atenção Básica, n. 39).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde mental e Atenção Básica: o vínculo
e o diálogo necessários: inclusão das ações de saúde mental na atenção básica. Brasília, 2003. n. 1.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Volume Brasil 2013. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2013/
consulta>. Acesso em: 28 out. 2014.
LACERDA e SILVA, T.; DIAS, E. C. O Agente Comunitário de Saúde e o cuidado à saúde dos
trabalhadores em suas práticas cotidianas. Belo Horizonte, Nescon, UFMG, 2012.
MACHADO, J. H.; ASSUNÇÃO, A. A. (Org.). Panorama da Saúde dos Trabalhadores da Saúde. Belo
Horizonte: UFMG/Faculdade de Medicina, 2012.
MERHY, E. E. O SUS e um dos seus Dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de trabalho
em saúde (um ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo). Rio de Janeiro: CEBES, 1995.
SILVA, J. M. et al. Saúde do trabalhador na Atenção Primária à Saúde: subsídios para a elaboração
de uma proposta de atuação. In: DIAS, E. C.; SILVA, T. L. (Org.). Saúde do Trabalhador na Atenção
Primária à Saúde: possibilidades, desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Coopmed, 2013. p. 330-341.
63
O cuidado em Saúde do(a)
Trabalhador(a): ações de assistência 3
A maioria dos (as) trabalhadores (as) da saúde reconhece a importância do trabalho na
determinação do processo saúde-doença das pessoas, porém, alguns apresentam dificuldades para
estabelecer a relação entre as queixas ou o adoecimento e a ocupação e/ou situação de trabalho
do(a) usuário(a). Reconhecer o(a) usuário(a) como um(a) trabalhador(a) é uma identificação que
precisa ser realizada pelos profissionais de saúde, incluindo os indivíduos com emprego formal
e carteira de trabalho assinada, mas também os empregos informais.
LEMBRANDO
1
Adaptado da Resolução na Resolução do Conselho Federal de Medicina – CFM n.º 1.488/1998. 65
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
IMPORTANTE
Para o estabelecimento da relação causal entre a doença e o trabalho devem ser considerados,
além do exame clínico e exames complementares:
• A história clínica e ocupacional.
• Informações sobre o local de trabalho: atividade, processo, condições de trabalho e
organização do trabalho; presença de riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos,
psicossociais, de acidentes e outros.
• Os dados epidemiológicos e da literatura atualizada.
• O depoimento e a experiência dos(as) trabalhadores(as).
Com frequência, o(a) trabalhador(a) que sofreu um acidente de trabalho ou que recebe o
diagnóstico de uma doença relacionada ao trabalho necessita ser afastado(a) de suas atividades
habituais, como parte do tratamento e/ou pela necessidade de interromper a exposição aos
fatores de risco presentes no trabalho. A incapacidade laborativa pode ser classificada em: total
ou parcial; temporária ou indefinida (permanente).
É importante distinguir entre a necessidade de afastamento somente da função/atividade,
e necessidade de afastamento total do trabalho. Esta decisão nem sempre é fácil para o(a)
profissional que atende o(a) trabalhador(a) e muitas vezes é motivo de conflito e desgaste na
relação médico-paciente.
O atestado médico possibilita a justificativa do afastamento ao trabalho, por 15 dias (sob
responsabilidade do empregador). Se houver necessidade de afastamento superior a 15 dias,
o(a) trabalhador(a) segurado(a) deverá ser encaminhado à Perícia Médica do INSS, para avaliação
médico-pericial.
•• Para a avaliação da existência (ou não) de incapacidade laborativa devem ser considerados:
•• O diagnóstico da doença.
67
•• A natureza e o grau de deficiência ou disfunção.
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
– Você contribui para a Previdência Social? Ou você tem direito à Previdência Social ou ao INSS?
A seguir são apresentados alguns dos agravos à saúde relacionados ao trabalho que aparecem
com maior frequência no cotidiano das eAB/eSF. Eles foram selecionados considerando a
frequência, a gravidade e a magnitude, além de sua importância epidemiológica em distintas
regiões do País. Todos eles constam da lista nacional de agravos de notificação compulsória
(BRASIL, 2016a, 2016b).
CASO 3
MJC, 47 anos, sexo masculino, chega à Unidade de Saúde se queixando de dor forte no cotovelo
direito após cair do andaime na obra em que trabalha. Ao exame, o médico observa escoriações
na pele e dor à manipulação do braço direito. Solicita que seja feita medicação sintomática para
aliviar a dor e radiografia para avaliar se houve fratura. Constatada ausência de fratura, o médico
receita medicação sintomática e orienta o trabalhador. Fica com as seguintes questões sobre os
demais encaminhamentos:
Trata-se de acidente de trabalho?
Quantos dias o trabalhador precisa ser afastado do trabalho?
É necessário emitir a CAT?
Que outros procedimentos devem ser adotados?
Não é preciso ter vínculo empregatício formal, carteira de trabalho assinada, para se caracterizar
o evento como acidente de trabalho. Este pode ocorrer com quaisquer trabalhadores(as),
independentemente de seu tipo de vínculo ou inserção no mercado de trabalho.
Apesar do uso consagrado, a denominação "acidente" é inadequada, por sugerir que é
um evento fortuito e casual. Na maioria dos casos, são eventos potencialmente previsíveis e
preveníveis. São sempre um alerta sobre as condições de trabalho.
Geralmente chegam para atendimento pelas eAB/eSF os acidentes de trabalho menos graves,
cuja ocorrência costuma ser preditor de casos mais graves.
De acordo com a definição adotada pelo Sinan na Ficha de Investigação Acidente de Trabalho
Grave, “são considerados acidentes de trabalho aqueles que ocorram no exercício da atividade
laboral, ou no percurso de casa para o trabalho e vice-versa (acidentes de trajeto), podendo o(a)
trabalhador(a) estar inserido tanto no mercado formal quanto no informal de trabalho. São
considerados Acidentes de Trabalho Graves aqueles que resultam em morte, aqueles que resultam
em mutilações e aqueles que acontecem com menores de 18 anos”.
ATENÇÃO
*Acidente de trabalho fatal: é quando o acidente resulta em óbito imediatamente ou até 12
horas após sua ocorrência.
*Acidentes de trabalho com mutilações: é quando o acidente ocasiona lesão (politraumatismos,
amputações, esmagamentos, traumatismos cranioencefálico, fratura de coluna, lesão de medula
espinhal, trauma com lesões viscerais, eletrocussão, asfixia, queimaduras, perda de consciência
e aborto) que resulte em internação hospitalar, a qual poderá levar à redução temporária ou
permanente da capacidade para o trabalho.
*Acidentes de trabalho em crianças e adolescentes: é quando o acidente de trabalho acontece
com pessoas menores de 18 anos.
Fonte: adaptado de BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Básica à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas estratégicas. Notificação de Acidentes do Trabalho fatais, graves e com crianças e adolescentes.
(Brasília, 2006) – Saúde do Trabalhador – [Protocolos de Complexidade Diferenciada no. 2].
É importante ressaltar que, nos casos de AT com óbito, o tempo estipulado de 12 horas após o
acidente para considerá-lo fatal é, na prática, variável. O óbito pode ocorrer em até dias ou meses após
o acidente. Nesses casos, se a notificação no Sinan for feita após se ter conhecimento do óbito, será
registrado como AT com óbito. Se for algum tempo após, a ocorrência do óbito poderá ser registrada
como desfecho, após a investigação, no fechamento do caso no sistema. Em geral, acompanhar o
caso até o seu encerramento é uma tarefa da equipe de vigilância em saúde.
Importante destacar que os ATs envolvendo crianças e adolescentes devem ser notificados
e investigados como AT graves independentemente da gravidade do tipo e natureza da lesão.
Além disso, considerando que estar trabalhando já é uma situação não aceitável para crianças e
adolescentes, ou seja, configura uma situação de violência, também deve ser registrada na ficha
específica de violência do Sinan.
70
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Seguindo uma nomenclatura anteriormente utilizada pela Previdência Social, também o SUS
especifica os acidentes de trabalho como AT típicos e AT de trajeto. Essa forma de classificação,
acrescida da especificação dos tipos de circunstâncias, auxilia na adoção das distintas abordagens
de proteção e de prevenção.
Os ATs Típicos são aqueles que ocorrem durante o exercício da própria atividade de trabalho,
no ambiente de trabalho. Por exemplo: queda de andaime em trabalhador(a) da Construção
Civil; choque elétrico em obra, em outro estabelecimento, em conserto de linha de transmissão;
acidentes com máquinas e equipamentos etc.
São considerados Acidentes de Trajeto aqueles que ocorrem no percurso da residência para
o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção. Nele estão
incluídos tanto os acidentes de transporte como outros acidentes e violências interpessoais. No
caso de motoristas profissionais de táxis, caminhões e ônibus, mototaxistas, entregadores de
encomendas, que utilizam motocicletas, conhecidos como “motoboys”, trabalhadores(as) de
empresas de eletricidade e de telefonia, vendedores(as) ambulantes e outros, que têm a rua como
espaço de trabalho, os acidentes de trânsito (colisões, atropelamentos e outros) são considerados
acidentes de trabalho típicos de suas atividades, e não de trajeto.
Outro grupo de acidentes de importância crescente são as diversas formas de violência no
trabalho, que se expressam desde agressões verbais, assédio moral, assédio sexual, agressões
físicas, suicídios e homicídios. Essas violências atingem inúmeras categoriais profissionais, sendo
os grupos mais expostos os policiais civis e militares, guardas de trânsito, guardas penitenciários,
vigilantes; profissionais da Educação e da Saúde, entre outros.
Os fatores mais comuns responsáveis pela ocorrência de AT são: improvisação e arranjo
físico inadequado do espaço de trabalho; falta de proteção em máquinas perigosas e obsoletas;
ferramentas defeituosas; possibilidade de incêndio e explosão; exigência de esforço físico intenso,
como levantamento manual de peso, posturas e posições anômalas. A esses fatores se somam a
pressão das chefias por produtividade, ritmo acelerado na realização das tarefas, repetitividade
de movimentos, jornadas de trabalho extensas, com horas extras em excesso; ausência de pausas,
trabalho noturno ou em turnos, que predispõem o(a) trabalhador(a) a se acidentar. Também a
presença de animais peçonhentos; substâncias tóxicas nos ambientes de trabalho podem ocasionar
acidentes do trabalho, entre outras.
PARA REFLETIR
Você se lembra de casos de ATs ocorridos com trabalhadores(as) no território em que atua?
Que tipo de acidente é mais frequente?
•• Entre os acidentes de trajeto quais são os mais frequentes? Que meios de transporte
esses trabalhadores(as) utilizavam: a pé? bicicleta? motocicleta? outros veículos
automotores ou meios de transporte?
•• São frequentes acidentes envolvendo motociclistas profissionais?
•• Você tem registro de episódios de violência ocorridas no trabalho que se enquadram
no conceito de “acidentes de trabalho”?
71
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
Na investigação de outras causas de Lesões por Causas Externas, que não o acidente laboral,
a eAB/eSF deve estar atenta para situações de violência interpessoal/autoprovocada, agravo este
de notificação compulsória, em conformidade com a definição presente na respectiva ficha de
notificação e investigação do Sinan:
Caso suspeito ou confirmado de violência doméstica/intrafamiliar, sexual, autoprovocada,
tráfico de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal e violências
homofóbicas contra mulheres e homens em todas as idades. No caso de violência extrafamiliar/
comunitária, somente serão objetos de notificação as violências contra crianças, adolescentes,
mulheres, pessoas idosas, pessoa com deficiência, indígenas e população LGBT (grifo dos autores).
Figura 3 – Fluxograma 1 – Manejo dos Acidentes de Trabalho pelas equipes de Atenção Básica/
equipes de Saúde da Família.
NÃO SIM
Ignorado
Há indícios de
que a pessoa estava trabalhando?
Acidente
não laboral NÃO SIM
Lesão grave
ou fatal?
NÃO NOTIFICAR
Tratar sintomas NÃO SIM
e investigar
outras causas
paciente menor
de 18 anos
NÃO
SIM
Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/06_0442_M.pdf>.
São doenças produzidas ou que têm seu curso modificado, antecipado ou agravado pelas
condições de trabalho como apresentado no Capítulo 1. É importante lembrar-se de que não
é preciso ter vínculo empregatício formal, carteira de trabalho assinada para se caracterizar a
doença como sendo provocada pelo trabalho. Todo(a) trabalhador(a), urbano e rural, formal e
informal, celetista ou estatutário, está sujeito a adoecer em decorrência do trabalho (BAHIA, 2014).
Durante visita domiciliar, o ACS Rafael encontrou D.Josefa, 43 anos, viúva, negra, ensino
fundamental incompleto, mãe de cinco filhos, que quando questionada sobre seu estado de saúde,
reclamou que estava em casa, sem condições de ir trabalhar em decorrência de dor intensa no
braço direito, contínua e persistente, com sensação de peso e diminuição de sensibilidade na mão
direita, e dificuldade para realizar qualquer movimento. Queixou-se ainda de insônia que, segundo
ela, provoca cansaço e irritação durante o dia. Relatou que vinha sentindo dor e limitações há
algum tempo, obtendo certo alívio com o uso de anti-inflamatório, porém com repercussões
sobre sua produção diária, e dificuldade para realização de horas extras, que proporcionavam
aumento na renda mensal da família. Relata que ficou incapaz para o trabalho há uma semana.
Ela trabalha há 25 anos como empacotadora na indústria alimentícia, em jornada de cerca de nove
horas diárias (horas extras), seis dias na semana, em posição sentada, em uma tarefa que exige
movimentos repetitivos dos membros superiores, sob grande pressão de tempo, para atender
às metas de produção estabelecidas, o que a impede de fazer as pausas recomendadas. Informa
haver outros(as) trabalhadores(as) com as mesmas queixas na empresa.
Em discussão com a eSF, o ACS relacionou as queixas clínicas de Josefa com a sua atividade de
trabalho, e ressaltou o agravamento da situação financeira da família por se encontrar impedida
de trabalhar, o que agrava o estresse emocional e a insônia. Foi agendada uma consulta médica
e sugerida discussão deste caso com a equipe do NASF-AB, do Cerest ou da Referência Técnica
em Saúde do(a) Trabalhador(a).
73
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
76
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Figura 4 – Fluxograma 2: Manejo dos casos de LER/Dort pelas equipes de Atenção Básica
SIM
NÃO
Há evidência epidemiológica da
relação do caso com Trabalho
como fator contribuinte ou determinante
(Clínco-epidemiologico)?
NOTIFICAR (SINAN)
NÃO Emitir CAT
TRATAR/
Inconclusivo SIM ENCAMINHAR
(critérios de gravidade)
Pesquisar casos
similares
Avaliar funcionalidade
Afastados diagnósticos
diferenciais por propedêutica
complementar e/ou critérios
clínico-epidmiológicos
presentes
Funciona?
NÃO SIM
NÃO SIM
CASO 5
JCS, 45 anos, pedreiro procura a Unidade de Saúde com queixa de prurido intenso nas mãos,
rachadura que sangra, que o estão impedindo de trabalhar. Trabalha há três meses em uma construtora
de pequeno porte, como pedreiro de acabamento, assentando azulejos e pisos, atualmente sem
registro na carteira profissional. Trabalha na construção civil desde os 12 anos, tendo começado como
ajudante. Sabe do problema causado pelo cimento, mas tem grande dificuldade para trabalhar com
luvas, pois acha que elas “atrasam o trabalho” e reduzem a produção.
Já fez uso de muitas pomadas que no início melhoravam o quadro, mas atualmente não
observa mudança. Há cerca de uma semana, está sem trabalhar e está preocupado com a situação
financeira da família. O exame físico das mãos revela edema de ambas as mãos, espessamento da
pele e unhas, fissuras.
Quando necessário, podem ser utilizados sabões ou sabonetes para limpeza de áreas expostas,
neutros ou os mais leves possíveis. Nunca devem ser usados solventes, como querosene, gasolina,
thinner, para limpeza da pele; pois eles dissolvem a barreira cutânea (camada protetora de gordura
da pele), induzem à dermatite irritativa e predispõem à dermatite de contato.
O uso de creme hidratante nas mãos é recomendado, especialmente se for necessário lavá-las
com frequência. Os uniformes e os aventais têm a finalidade de bloquear o contato da substância
com a pele e devem estar limpos e serem lavados e trocados diariamente. A roupa deve ser escolhida
de acordo com o local da pele que necessita de proteção e com o tipo de substância química
envolvida, incluindo luvas de diferentes comprimentos, sapatos e botas, aventais e macacões, de
materiais diversos: plástico, borracha natural ou sintética, fibra de vidro, metal ou combinação
de materiais.
Os cremes protetores ou cremes de barreira oferecem menos proteção do que as roupas, mas
podem ser úteis nos casos em que, por motivos de segurança ou tipo de tarefa, não é possível
o uso de luvas. Esses cremes devem ser aplicados na pele limpa e removidos sempre que a pele
ficar excessivamente suja ou no final do turno, e então reaplicados.
O uso apropriado desses cremes não só protege a pele como induz o(a) trabalhador(a) a lavar-
se, pelo menos, duas vezes durante o turno de trabalho, lembrando que alguns constituintes
desses cremes, como lanolina, propileno glicol e protetores solares, podem induzir a dermatites
de contato.
Especial atenção deve ser dada à recomendação de utilização de filtros solares em
trabalhadores(as) com exposição prolongada ao sol, incluindo os(as) ACS.
Sobre o uso de luvas, é importante lembrar-se de que as de borracha natural são impermeáveis
à maioria dos compostos aquosos, porém se deterioram após exposição a ácidos e bases fortes.
Os sais de níquel penetram na borracha, mas não em luvas de policloreto de vinila (PVC). As
borrachas sintéticas são mais resistentes a álcalis e solventes; algumas são alteradas por solventes
hidrocarbonetos clorados. É recomendável utilizar luvas de algodão por dentro das luvas sintéticas,
para maior proteção das mãos.
82
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Agentes químicos: “irritantes” (por exemplo: cimento, solventes, óleos de corte, detergentes,
ácidos, bases ou álcalis, entre outros) ou “alergênicos” (aditivos da borracha, níquel, cromo e
cobalto como contaminantes do cimento, resinas, madeiras etc.).
Agentes físicos: radiações ionizantes, radiações não ionizantes, calor, frio, eletricidade, exposição
direta ao sol, entre outros.
Agentes biológicos: bactérias, fungos, leveduras, vírus, insetos, plantas e madeiras, entre outros.
Fonte: Adaptado pelos autores de DOENÇAS DA PELE E DO TECIDO SUBCUTANEO RELACIONADAS AO TRABALHO.
Cap 17 . in: BRASIL. doenças relacionadas ao trabalho : Manual de procedimentos para os serviços de saúde.\Brasilia,
2001. pág.387-424. disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho1.pdf
Ritmos de trabalho intensos e/ou jornadas de trabalho longas e excessivas: produção de sudorese,
sem ventilação ou aeração, sem possibilidade de banhos (pelo ritmo e duração, ou ausência de
chuveiros no trabalho).
Fonte: Adaptado pelos autores de DOENÇAS DA PELE E DO TECIDO SUBCUTANEO RELACIONADAS AO TRABALHO.
Cap 17 . in: BRASIL. doenças relacionadas ao trabalho : Manual de procedimentos para os serviços de saúde.\Brasilia,
2001. pág.387-424. disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho1.pdf
83
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
Exposição a condições de
trabalho potenciamente
causadoras de doenças? Tipo de Exposição
Dermatite
Queimaduras irritativa
Positivo? e outras de contato
Tratar sintomas e lesões físicas
investigar outras
causas
NÃO SIM
NÃO SIM
Demartose ocupacional
Notificar no Sinan
Emitir CAT, se segurado SAT/INSS
Pesquisar casos similares
Afastar do Acompanhar na AB
Tratar/reabilitar Encaminhar à Orientar prevenção
trabalho ou Avaliar EPI Dermatologia
avaliar troca de Cuidado longitudinal
Pesquisar casos Manter acompanhamento Elaborar PTS
função e/oureabilitar similares longitudinal e integrado
para outra atividade Reavaliação periódica
CASO 6
Os danos provocados pelo trabalho sobre a saúde mental dos(as) trabalhadores(as) podem
decorrer de múltiplos fatores, entre eles, da exposição aguda ou permanente a agentes químicos
e substâncias tóxicas, de fatores agressores presentes na organização e no gerenciamento do
processo produtivo. As mudanças tecnológicas e da organização do trabalho que sustentam os
processos de reestruturação produtiva na atualidade são responsáveis pelo aumento da frequência
e do surgimento de novas formas de adoecimento, ainda pouco conhecidos. 85
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
•• Categoria I de Schilling (trabalho como causa necessária), como, por exemplo, nos
casos desencadeados pela exposição a substâncias químicas neurotóxicas ou em
trabalhadores(as) vítimas de violência no trabalho.
•• Categoria II de Schilling (trabalho como fator contributivo, mas não necessário), como
na síndrome de Burnout e no alcoolismo crônico.
•• Categoria III de Schilling (trabalho como provocador de um distúrbio latente ou agravador
de doença já estabelecida ou preexistente), como em alguns casos de alcoolismo e do
Transtorno do Ciclo Vigília-Sono. 87
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Fonte: AMA Guides to the Evaluation of Permanent Impairment, Sixth Edition. [Robert D. Rondinelli] (BRASIL, 2001).
NÃO SIM
Tratar sintomas e
investigar outras causas
Há necessidade de
inspecionar o local
de trabalho
NÃO SIM
Situação de risco no
ambiente de trabalho
NÃO
SIM
NÃO SIM
Notificação no Sinan
Emissão de CAT
Avaliar
funcionalidade
Funcional?
NÃO SIM
3.4.5 Silicose e outras doenças respiratórias causadas pela inalação de poeira de sílica
CASO 7
Em São Thomé das Letras (MG) e região, a exploração da pedra “São Thomé”, também
conhecida como pedra branca ou quartzito folhado, ocorre em escala crescente, representando
a principal atividade econômica da região. Os quartzitos são rochas metamórficas que contêm de
70% a 95% de quartzo em sua estrutura e são largamente utilizadas no revestimento de paredes
e assentamento de pisos de construções.
Embora a prevalência de silicose seja conhecida nas atividades de beneficiamento de outros
minerais rochosos, como o granito e ardósia, são poucas as referências na literatura sobre a
ocorrência de silicose nos(as) trabalhadores(as) envolvidos(as) na extração e no beneficiamento
da pedra “São Thomé”. Em 2008, segundo dados fornecidos pela Superintendência Regional
do Trabalho e Emprego (SRTE), a população total de expostos no mercado formal da região,
excluindo empregados de setores administrativos, apontam para a existência de cerca de 1.200
trabalhadores(as) na extração, 800 no beneficiamento e um número expressivo no setor informal.
É alta a rotatividade da mão de obra, uma vez que os(as) trabalhadores(as) migram e circulam
entre as empresas de extração ou beneficiamento.
A visita a duas pedreiras e a uma empresa de beneficiamento da região revelou a exposição
à poeira de sílica, principalmente nas atividades de beneficiamento da pedra, como serragem
e polimento. Na extração, destacaram-se as atividades de perfurador e blaster (detonadores).
Além da exposição à sílica, os(as) trabalhadores(as) enfrentam também outros riscos para a saúde,
como ruído, vibração, exposição por longas horas à luz solar, adoção de posturas inadequadas,
risco de explosões e desmoronamentos.
Foram identificados 185 trabalhadores(as) expostos à sílica em 34 diferentes empresas, de
quatro municípios da região. Destes, 73 foram diagnosticados como casos de silicose suspeitos
ou confirmados pelos serviços locais de saúde.
A caracterização da situação e a articulação para buscar soluções envolveram profissionais
das eSF na região, o Serviço de Saúde do(a) Trabalhador(a) do Hospital das Clínicas da UFMG,
médicos do trabalho das empresas, radiologistas dos serviços de saúde da região de São Thomé
das Letras e Furnas-MG, representantes da Fundacentro, da SRTE/MG, do INSS, do Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM) e da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e trabalhadores
da mineração e da extração visando às ações institucionais para o enfrentamento do problema
90 (ALMEIDA et al., 2011).
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Muitos aspectos na situação descrita, envolvendo as relações entre o trabalho com exposição
à poeira contendo sílica e o adoecimento de trabalhadores(as), são familiares no cotidiano das
eAB/eSF em nosso país. Entre as questões que podem ser formuladas estão:
Estas são as principais questões que este texto pretende contribuir para responder.
A inalação de poeira contendo sílica pode causar várias doenças, sendo a silicose a de
maior importância epidemiológica e clínica para a Saúde Pública. São doenças evitáveis, porém
irreversíveis, sem tratamento específico, que podem progredir para formas graves, levando à
morte por insuficiência respiratória. Muitas vezes, acometem indivíduos jovens, interrompendo
a capacidade laborativa, com sérios impactos socioeconômicos.
Além da silicose, a exposição à sílica pode levar ao desenvolvimento de tuberculose (TB), da
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças autoimunes e câncer de pulmão, de forma
independente da silicose, ou seja, podem ocorrer sem a existência concomitante da silicose,
embora sejam mais comuns em sua presença (CARNEIRO; ALGRANTI, 2014).
As doenças respiratórias causadas pela inalação de poeiras constituem uma família de
entidades mórbidas graves e complexas, evitáveis se adotados os meios de prevenção adequados e
constituem um típico “problema de Saúde Pública”. A elevada prevalência ainda é acompanhada
pela incidência de casos novos, lembrado que as pneumoconioses têm ampla distribuição em
nosso país.
O termo pneumoconiose designa, genericamente, todas as doenças pulmonares
parenquimatosas causadas por inalação de poeiras, independentemente do processo
fisiopatogênico envolvido. São excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações
de vias aéreas, como asma e a bronquite, e o enfisema. 91
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção a Saúde | Departamento de Atenção Básica
92
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
A silicose apresenta forte correlação dose-resposta, ou seja, sua prevalência e gravidade crescem
com o aumento da “dose” de sílica inalada, dada pela duração da exposição e concentração de
sílica na fração respirável. A doença pode progredir mesmo após o afastamento da exposição,
com maior probabilidade em trabalhadores que tiveram exposição excessiva e/ou apresentem
quadros precoces e reação orgânica intensa. Assim, é estritamente contraindicada a manutenção
do(a) trabalhador(a) na exposição após o diagnóstico da doença, pois pode favorecer a progressão
e acarretar pior prognóstico.
No Brasil, o número de casos de silicose tem crescido observando-se a ocorrência de casos
novos, significando que exposições a poeiras “fibrogênicas” continuam em níveis inaceitáveis. O
impacto dessas doenças sobre a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as) acometidos é grande,
gerando sofrimento para os indivíduos e famílias e custos sociais decorrentes da incapacidade
laborativa, agravando a condição social e econômica do(a) trabalhador(a).
3.4.7 Manejo dos casos de pneumocosiose (silicose) pelas equipes de Atenção Básica
Conduta básica2 :
O(a) trabalhador(a) deve ser afastado(a) da exposição à poeira de sílica, tanto aqueles(as)
nos quais a doença já se manifestou quanto os(as) que ainda não apresentam nenhum sinal ou
sintoma da doença, considerando a gravidade do quadro e as repercussões para a qualidade de
vida.
A definição dos procedimentos e dos prazos de avaliação pode e deve ser modificada de acordo
com peculiaridades de cada caso, e definidas pelo médico assistente. Os(as) trabalhadores(as)
portadores(as) de silicose na forma aguda deverão ser encaminhados(as) para seguimento em
centros especializados. Os(as) portadores(as) de forma acelerada podem ter evolução desfavorável
e não necessariamente se encaixar na periodicidade de avaliação aqui proposta.
Os(as) trabalhadores(as) diagnosticados(as) como portadores(as) de doença tuberculosa
devem seguir as recomendações de tratamento preconizadas pelo Programa Nacional de Controle
de Tuberculose. Na presença de DPOC relacionada à sílica, o(a) trabalhador (a) deverá ser
acompanhado(a) de acordo com a classificação de gravidade (A, B, C ou D) e receber medicação
broncodilatadora, adaptada às necessidades individuais.
2
Protocolo elaborado pela Dra. Ana Paula Scalia Carneiro, coordenadora do Setor de Pneumopatias Ocupacionais do Serviço
94 de Saúde do Trabalhador do Hospital das Clínicas da UFMG.
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Uma vez definido o diagnóstico de silicose ou de outra doença relacionada à exposição à sílica,
o(a) trabalhador(a) deve ser orientado(a) quanto ao afastamento da exposição à poeira, sobre o
curso da doença e se existe incapacidade para o trabalho. Se o(a) trabalhador(a) é segurado(a)
pelo SAT-INSS, deve-se solicitar a emissão da CAT e proceder os encaminhamentos ao INSS. A
emissão da CAT é de responsabilidade da empresa contratante, mas também pode ser feita pelos
profissionais dos serviços de saúde, incluindo a Atenção Básica, pelo sindicato da categoria, pelo(a)
próprio(a) trabalhador(a) ou familiar.
ATENÇÃO
“Incapacidade” é diferente de “disfunção”:
Todos os casos diagnosticados de silicose devem ser registrados no Sinan. Se o(a) trabalhador(a)
possui vínculo de trabalho formal, carteira de trabalho assinada e é segurado(a) pelo Seguro de
Acidente do Trabalho do INSS, a CAT deve ser emitida, ainda que ele(a) não se encontre incapaz
para o trabalho. O profissional médico deve preencher o relatório que assiste o(a) trabalhador(a),
na empresa ou nos serviços de saúde, com descrição da atividade e posto de trabalho para
fundamentar o nexo causal e o nexo técnico previdenciário.
95
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica
Mesmo os(as) trabalhadores(as) expostos e não doentes devem ser afastados da exposição e
acompanhados por exames periódicos, adotando-se a mesmas medidas de promoção da saúde,
como cessação do tabagismo. A realização do teste tuberculínico (PPD) e vacinação também estão
indicadas, além do controle radiológico segundo os padrões estabelecidos pela OIT.
Sobre as ações coletivas destinadas à proteção da saúde dos(as) trabalhadores(as) expostos(as) à
sílica, que apresentem ou não manifestações da doença, elas devem estar alinhadas com as diretrizes
e orientações do “Programa Nacional de Eliminação da Silicose (Pnes)” coordenado pelo Ministério
do Trabalho e Previdência Social, com a participação dos movimentos sociais organizados.
Como ponto central dessas ações, destaca-se a eliminação (ou minimização) da exposição à poeira
contendo sílica por meio de mudanças nos processos de trabalho. Muitas vezes, iniciativas de menor
complexidade tecnológica, como a umidificação dos processos e a segregação da exposição, podem
ter efeitos protetores para a saúde dos(as) trabalhadores(as), especialmente nas situações de trabalho
domiciliar. Mas, medidas de maior alcance e definitivas devem ser articuladas por meio de ações
intersetoriais, com a participação direta dos(as) trabalhadores(as) envolvidos.
Outros esforços e articulações intra e intersetoriais, envolvendo entidades públicas e privadas,
direcionados à capacitação para o trabalho e à readaptação profissional devem ser
implementados no sentido de evitar a exposição à poeira.
96
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Figura 7 – Fluxograma 5 – Manejo dos casos de silicose e outras doenças respiratórias causadas
pela inalação de poeira de sílica pelas equipes da Atenção Básica
Anamnese
ocupacional breve
Exame clínico, raio x Escuta Trabalhadores Trabalhadores
de tórax padrão OIT Qualificada Expostos sem exposição
PropedêuticaS
complementar (PPD,
Consulta Vigilância dos Expostos
Espirometria Médica e Orientação
Acompanhamento
pela equipe Medicação para
SIM Caso grave? NÃO da AB/SF Dpoc +
Oxigênioterapia
Referência à
Atenção Acompanhamento
Ambulatorial Consulta com Elaboração de Doença
das comorbidades estabilizada? SIM
Especializada pneumologista plano terapêutico TB-DPOC
Encaminhamento para
Atenção Terciária NÃO
Referência à
Atenção Realiza contrarreferência
Hospitalar Cuidado especializado, Doença para a AB/SF com o
estabilizada? SIM
Especializada CTI, etc. plano terapêutico
97
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
DIAS, E. C. E.; CARNEIRO, A. P. S. (Org.). Atenção à saúde dos trabalhadores expostos à poeira de
sílica e portadores de Silicose, pelas equipes da Atenção Básica/Saúde da Família. Belo Horizonte,
2016. Disponível em:
<http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/02_0388_M1.pdf>.
Cinara, 26 anos, parda, com quatro anos de estudo (fundamental incompleto), trabalhadora
rural, diarista, em plantio de tomate há dois meses, acolhida pela enfermeira da eSF, foi
encaminhada para consulta médica, com queixas de tonturas, dores de cabeça, cansaço, náuseas,
geralmente no final do dia de trabalho. Cinara referiu que começou a apresentar esses sintomas
há duas semanas, após a plantação ter sido pulverizada com agrotóxicos. Disse também que uma
colega de trabalho apresentava os mesmos sintomas.
O médico suspeitou tratar-se de um caso de intoxicação por agrotóxicos; pediu alguns exames
complementares; notificou o caso no Sinan; emitiu atestado médico com afastamento do trabalho
por uma semana, com recomendação de retorno à UBS para reavaliação do quadro clínico.
Em reunião da equipe, foi decidida a realização de investigação conjunta com a vigilância
em saúde do município, com a finalidade de obter informações sobre as condições de trabalho
e os agrotóxicos utilizados, bem como a existência de outros casos suspeitos. A equipe iniciou o
planejamento de ações de promoção da saúde, incluindo ações educativas com apoio do NASF-AB,
Cerest, vigilância em saúde e sindicato de trabalhadores(as) rurais. No retorno, a paciente relatou
melhora do quadro clínico, sendo confirmada a intoxicação, por critério clínico epidemiológico.
Diversos casos de intoxicação foram relatados por famílias moradoras do Assentamento Vale
do Guará, no município Vargem Grande do Rio Pardo. Cerca de 30 pessoas, entre elas, crianças,
jovens e adultos, sentiram diversos sintomas depois que um avião pulverizador de agrotóxicos
passou por uma enorme plantação de eucalipto. Segundo as vítimas, um inseto parecido com um
piolho chegou a infestar as casas dos moradores, provavelmente vindo da área de monocultura de
eucalipto. A aplicação do veneno por parte dos donos da plantação acabou poluindo o ambiente,
98 causando grande mal-estar entre as diversas pessoas.
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
O posto de saúde mais próximo ficou pequeno para tantas pessoas, todas com os mesmos
sintomas: náuseas, febre, vômitos e coceiras na pele foram os mais comuns. Pessoas que já tinham
a saúde frágil ainda tiveram maiores complicações com a baixa imunidade, acabaram tendo
ataque de outras doenças como gripes, resfriados e até alergia (Publicado: 20 de agosto 2012).
Disponível em: <http://www.contraosagrotoxicos.org/index.php/noticias/41-agrotoxicos/226-
agrotoxicos-em-monocultura-de-eucalipto-intoxicam-mais-de-30-geraizeiros-no-norte-de-minas>.
Acesso em: 20 ago. 2016.
Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores
de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na
proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos,
hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de
preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e
produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento.
(BRASIL, 2002). Decreto no. 4.074/2002, que regulamentou a Lei no 7.802/1989. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4074.htm>.
99
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
ATENÇÃO
Quadro 14 – Classe toxicológica dos agrotóxicos, segundo a DL 50, a dose capaz de matar um
adulto e a cor da faixa no rótulo do produto
Conclusão
Fonte: BRASIL. Anvisa. Cartilha sobre Agrotóxicos. Série Trilhas do Campo. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
2011; OPAS/OMS. Representação do Brasil. Manual de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos.
Brasília, 1997.
Os agrotóxicos mais utilizados são inseticidas, fungicidas e herbicidas,, além dos fumigantes,
moluscicidas, nematicidas, raticidas etc. Quanto à composição química, os mais conhecidos são
os organofosforados, carbamatos, piretroides, ácido fenoxiacético, etil bis-ditiocarbamatos. Os
clorados tiveram seu uso proibido em meados dos anos 80, mas ainda podem ser identificados
efeitos crônicos e contaminações ambientais.
Os inseticidas são utilizados no combate a insetos, larvas e formigas, compreendendo os
seguintes grupos químicos: organofosforados, carbamatos e piretroides.
Os fungicidas são utilizados no combate aos fungos; e os principais grupos químicos são:
Etileno-bis-ditiocarbonatos (Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb, Tiram); Trifenil estânico (Duter
e Brestan); Captan: (Ortocide a Merpan) e Hexaclorobenzeno.
Os herbicidas são utilizados no combate às chamadas "ervas daninhas". Nas últimas duas
décadas, este grupo tem tido uma utilização crescente na agricultura. Seus principais representantes
são: Glifosato (Round-up); Paraquat (Gramoxone) e derivados do ácido fenoxiacético - 2,4
diclorofenoxiacético (2,4 D) e o 2,4,5 triclorofenoxiacético (2,4,5 T).
É importante lembrar-se de que essas substâncias e os princípios ativos estão presentes em
muitas formulações e produtos comerciais, com diferentes nomes e fabricantes e essas informações
devem ser facilmente acessível às eAB/eSF.
As principais vias de absorção dos agrotóxicos pelo organismo humano são a dérmica (pele)
e a respiratória (inalatória). A absorção pela via oral e digestiva é pouco expressiva na situação
de trabalho, exceto quando ingerido acidental ou intencionalmente.
A quantidade de agrotóxicos absorvida pela derme e/ou por inalação resulta da combinação
entre a natureza e a quantidade do produto utilizado, a condição da pele e da respiração e
de fatores ambientais externos. Temperaturas elevadas e/ou esforço físico podem aumentar a
absorção orgânica dos produtos. Assim, no Brasil, as condições climáticas e de trabalho devem
ser consideradas ao se avaliar a exposição e a intoxicação ocupacional pelos agrotóxicos.
Outros fatores e variáveis importantes na avaliação da exposição ocupacional para a absorção
dos agrotóxicos e os efeitos sobre a saúde dos(as) trabalhadores(as) são:
101
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Conclusão
Fonte: Protocolo de Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos a agrotóxicos. Diretrizes para Atenção Integral
à Saúde do Trabalhador de Complexidade Diferenciada. 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/protocolo_atencao_saude_trab_exp_agrotoxicos.pdf>.
3
Disruptores endócrinos são produtos capazes de desequilibrarem o sistema endócrino, causando alterações comportamentais,
anomalias na função reprodutiva e certos tipos de câncer que sofrem influência de hormônios. Vários agrotóxicos fazem parte
da lista dos prováveis “Disruptores ou Desreguladores Endócrinos”. 103
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Sistema/órgão Efeito
Síndrome asteno vegetativa; polineurite, radiculite;
Sistema nervoso encefalopatia; distonia vascular; esclerose cerebral;
neurite retrobulbar; angiopalia da retina.
Traqueíte crônica; pneumofibrose; enfisema pulmonar;
Sistema respiratório
asma brônquica.
Miocardite tóxica crônica; insuficiência coronária crônica;
Sistema cardiovascular
hipertensão; hipotensão.
A seguir, apresenta-se o Fluxograma 6 de manejo das intoxicações por agrotóxicos pelas equipes
da Atenção Básica.
104
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Figura 8 – Fluxograma 6 – Manejo das intoxicações por agrotóxicos pelas equipes de Atenção Básica
Fluxograma/ Atendimento – Suspeita de Intoxicação
105
Fonte: Elaboração própria.
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Informações adicionais:
•• Nexo técnico por doença equiparada a acidente de trabalho ou nexo técnico individual
decorrente de acidentes de trabalho típicos ou de trajeto, bem como de condições
especiais em que o trabalho é realizado e com ele relacionado diretamente, nos termos
do § 2º do art. 20 da Lei n.º 8.213/1991 (BRASIL, 1991).
•• Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) aplicável quando houver significância
estatística da associação entre a entidade mórbida motivadora da incapacidade e a
atividade econômica da empresa na qual o segurado é vinculado. Essas relações constam
na Lista C do Anexo II do Decreto n.º 3.048/1999 (BRASIL, 1999), alterado pelo Decreto n.º
6.042/2007 (BRASIL, 2007). No caso do NTEP, a legislação instituiu que o ônus da prova é
da empresa, pois cabe a ela demonstrar a inexistência de riscos para a saúde no trabalho
que possam levar ao agravo incapacitante em análise (BRASIL, 2007).
A legislação previdenciária em vigor estabelece que todos os segurados pelo Regime Geral
da Previdência Social, no caso de doenças comuns e acidentes não decorrentes do trabalho, têm
direito aos seguintes benefícios e serviços, entre outros:
O Decreto Presidencial n.º 8.691, publicado em 2016, trouxe mudanças na concessão do auxílio-
doença e perícia médica do INSS. O(a) segurado(a) que necessitar se afastar do trabalho por
período superior a 15 dias poderá ser submetido à avaliação pericial por profissional médico(a)
tanto da Previdência Social quanto do SUS. Assim, o benefício é concedido com base no atestado 107
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
do(a) médico(a) assistente. Também, o(a) empregado(a) pode retornar ao trabalho no dia seguinte
à data indicada para sua recuperação, independentemente de realização da perícia médica.
A concessão ou prorrogação do auxílio-doença será dada após a realização de avaliação pericial
ou recebimento da documentação médica do do(a) segurado(a), sendo que o benefício será
concedido com base no período de recuperação indicado pelo médico assistente. O INSS poderá
convocar o segurado em qualquer hipótese e a qualquer tempo para avaliação pericial. O INSS
poderá ainda estabelecer, com base na avaliação pericial ou da documentação médica, o prazo
que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do(a) segurado(a).
No caso do prazo concedido para a recuperação ser considerado insuficiente, o segurado poderá
solicitar sua prorrogação.
Desde a publicação da Lei Federal n.º 8.213/1991, que dispõe sobre os benefícios da Previdência
Social muitas alterações têm sido feitas nos critérios de avaliação e concessão de benefícios, com
repercussões sobre os direitos dos(as) trabalhadores(as). Sendo assim, é necessária a atualização
periódica dos profissionais do SUS.
IMPORTANTE
108
Referências
CARNEIRO, F. F. (Org.). Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde.
Organização de Fernando Ferreira Carneiro, Lia Giraldo da Silva Augusto, Raquel Maria
Rigotto, Karen Friedrich e André Campos Búrigo. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão
Popular, 2015. 624 p.
111
4
Vigilância em Saúde do(a)
Trabalhador(a): elementos para
a ação da Atenção Básica
A vigilância em saúde é uma importante área da Saúde Pública e compreende, entre outras, as
ações de vigilância epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental, em saúde do(a) trabalhador(a)
(BRASIL, 2013). A Visat é, portanto, um dos seus componentes.
Por outro lado, é importante ressaltar que as necessidades de saúde dos indivíduos e das
populações são atendidas não somente no âmbito das RAS; mas dependem também de ações
intersetoriais que envolvem além da rede do SUS, outras instituições e órgãos responsáveis por
políticas públicas que impactam a saúde.
[…] uma atuação contínua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer,
pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados
aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional
e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre esses
aspectos, de forma a eliminá-los ou controlá-los (BRASIL, 1998).
114
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Saiba mais:
CORREA, M. J. M.; PINHEIRO, T. M. M.; MERLO, A. R. C. Vigilância em Saúde do Trabalhador no
Sistema Único de Saúde: Teorias e Práticas. Belo Horizonte: Coopmed, 2013. 388 p.
DIAS, E. C.; SILVA, T. L (Org.). Saúde do Trabalhador na Atenção Primária à Saúde: Possibilidades,
desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.
NOBRE, L. C. C. A Política de Saúde do Trabalhador no Brasil e na Bahia. In: NOBRE, L.; PENA, P.;
BAPTISTA, R. (Org.). Saúde do Trabalhador na Bahia: história, conquistas e desafios. Salvador:
SESAB, CESAT, 2011. 642 p.
O mapeamento das atividades de trabalho do território adscrito às eAB/eSF pode ser feito
utilizando-se as seguintes estratégias e fontes de informações:
• Levantamento das atividades de trabalho e dos estabelecimentos existentes no
território, realizado durante as atividades de rotina dos ACS, como cadastramento e
recadastramento das famílias, visitas domiciliares etc.
• As informações sobre as atividades de trabalho e estabelecimentos existentes no
território podem ser obtidas a partir de registros administrativos públicos de Secretarias
e órgãos municipais (Fazenda, Administração, Vigilância Sanitária etc.) e de outras fontes
secundárias (IBGE, Rais). Essa sistematização pode ser obtida pelas análises de situação
de saúde do(a) trabalhador(a) e documentos produzidos pelos setores de Vigilância em
Saúde e pelo Cerest de sua respectiva área.
• Outras possíveis fontes de dados: informações dos moradores, de membros das equipes
de saúde, de representantes de trabalhadores(as), de associação de moradores(as), da
mídia etc.
Para coletar a variável ocupação, facilitando a atribuição do seu respectivo código da CBO,
recomenda-se perguntar ao(à) trabalhador(a) o que ele(a) faz, registrando a informação da
forma mais completa e específica possível, complementando com dados sobre o tipo de atividade,
ramo produtivo ou estabelecimento em que ele(a) trabalha. No caso de desempregado(a) ou
aposentado(a), perguntar e registrar o que fez durante a maior parte de sua vida de trabalho.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Observe que em ambas as situações de trabalho alguns riscos são comuns, a exemplo de
sobrecarga postural. Mas, enquanto no hospital existe o risco de acidente com exposição a
materiais biológicos, o risco praticamente inexiste para aquele inserido na fábrica de biscoitos.
Nessa, poderá haver exposição a níveis elevados de ruído, poeiras (farinha de trigo e outras),
acidentes no manuseio de máquinas e equipamentos, que poderão resultar em perdas auditivas,
asma ocupacional e cortes e amputações de dedos.
No Cadastro Individual do e-SUS AB, constam as seguintes especificações: empregador;
assalariado com ou sem carteira de trabalho; autônomo com ou sem previdência social; aposentado/
pensionista; desempregado; não trabalha; servidor público/militar; outro. 117
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Ao realizar uma visita domiciliar, um ACS identificou a seguinte situação: Sr. José, tratorista,
36 anos, negro, com ensino fundamental completo assalariado com carteira de trabalho assinada
numa empresa de Agronegócio, sofreu um acidente de trabalho, que resultou numa fratura
exposta da perna direita. Precisou ser internado no hospital regional, onde passou por cirurgia.
Recebeu alta, com recomendação de ficar afastado do trabalho por, no mínimo, 90 dias. Sr. José
informou ainda que, entre 30 colegas, outros dois também tinham sofrido acidente de trabalho
nos últimos meses.
O ACS apresentou essa situação para discussão na reunião semanal da eSF, sendo acordados
os seguintes encaminhamentos: acompanhar a evolução do trabalhador acidentado; verificar
se houve notificação no Sinan e emissão da CAT; reunir com a equipe de vigilância em saúde e
do Cerest regional para programar e planejar uma investigação deste e de outros acidentes de
trabalho ocorridos na empresa.
A Srª Joana, 34 anos de idade, branca, com ensino fundamental completo, chega à UBS
queixando-se de dor e inchaço no joelho direito. Informa que os sintomas começaram há cinco
dias e que, nos últimos dois dias, houve piora do quadro, estando com dificuldades para subir
e descer escadas. O médico a examina e constata que o joelho direito da Srª Joana está com
edema, eritema, limitação de movimentos e dor. Na anamnese, não é identificado histórico de
doenças reumáticas ou osteoarticulares, mas ela referiu que há alguns anos, volta e meia sente
uma “dorzinha no joelho direito”. Ao perguntar o que faz piorar a dor, a Srª Joana informou ao
médico que notou seu aparecimento desde que sua máquina de costura quebrou e ela teve que
acabar um lote de uniformes para entregar à empresa que a contratou utilizando uma máquina de
costura antiga, movida a pedal. A Srª Joana informou que é costureira há 15 anos; que trabalhava
120 em casa, com máquina fornecida pela empresa fabricante de uniformes; que pega encomendas
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
de empresas, com maior quantidade de roupas para costurar em algumas épocas do ano, como
no início e no final do ano. Frequentemente, fica sentada à máquina por mais de 12 horas diárias.
Discutindo o caso com a equipe, foi concluído que se tratava de um caso de LER/Dort, sendo
então feita notificação no Sinan. Além disso, como é uma situação de trabalho em domicílio
contratado por uma empresa, a equipe sentiu necessidade de acionar o apoio do Cerest para
realizar inspeção na empresa contratante e apoiá-la nas ações de promoção e de prevenção.
IMPORTANTE
A vigilância de ambientes e processos de trabalho é uma das ações da Visat e tem por finalidade
a promoção e a proteção da saúde dos(as) trabalhadores(as), mediante a intervenção, nos
ambientes e nos processos de trabalho. Com essa intervenção busca-se a melhoria das condições
de trabalho e, em consequência, a melhoria das condições de saúde. Essa intervenção se efetiva
mediante inspeções nos locais de trabalho, nas quais se busca identificar os fatores e as situações
de risco à saúde a que estão expostos(as) os(as) trabalhadores(as), bem como avaliar as tecnologias,
produtos e matérias-primas; os modos, os processos e a organização do trabalho; as atividades
desenvolvidas pelos(as) trabalhadores(as); suas estratégias de proteção; a utilização, ou não, das
medidas de proteção coletiva e individuais e as políticas de gestão do trabalho e de gestão de
saúde e segurança desenvolvidas pelas empresas e/ou pelos próprios trabalhadores(as). Também
se busca identificar os impactos à saúde deles(as), o perfil de morbidade e mortalidade, as doenças
e os agravos relacionados ao trabalho.
Os fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e nos processos de trabalho são
classicamente organizados em cinco grandes grupos: mecânicos, físicos, químicos, biológicos e
aqueles decorrentes da organização do trabalho, por vezes denominados de “ergonômicos”.
Na atualidade, fatores psicossociais têm sido apontados como outro grupo de risco relevante.
É importante considerar que raramente os agravos à saúde são causados ou determinados
pela exposição a um único fator de risco. Geralmente, os(as) trabalhadores(as) são expostos(as)
concomitantemente a vários fatores que podem ter efeitos cumulativos, sinérgicos ou aditivos.
Também é importante considerar que, com frequência, os(as) trabalhadores(as) são duplamente
expostos: em situação de trabalho, na denominada exposição ocupacional, e enquanto moradores
de áreas contaminadas – exposição ambiental. Assim, é importante identificar o conjunto e a
dinâmica das exposições nos ambientes e nos processos de trabalho. 121
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Departamento de Atenção Básica
Tais ações desenvolvidos pelo SUS têm amparo na Constituição Federal de 1988, nas
Constituições dos estados e municípios, na Lei Orgânica da Saúde (Leis Federais n.º 8.080/1990 e
n.º 8.142/1990), nos Códigos de Saúde dos estados e municípios e em portarias federais, estaduais
e municipais específicas.
As ações de vigilância de ambientes e processos de trabalho são complexas e devem ser
executadas pelas equipes de Vigilância em Saúde (sanitária, saúde do trabalhador, Cerest),
especialmente pela diversidade, amplitude e aprofundamento requerido pela intervenção a ser
proposta. Entretanto, há diversas possibilidades de atuação e participação da AB/SF nessas ações.
Uma vez que as eAB/eSF realizam o mapeamento ou cartografia do território, nele reconhecendo
as atividades de trabalho e o perfil da população trabalhadora, e mantêm acompanhamento
sistemático das famílias, sua primeira contribuição para a Visat consiste em identificar as situações
potenciais de risco à saúde dos(as) trabalhadores(as), para a saúde da população circunvizinha,
assim como os casos de agravos e de adoecimentos (o perfil de morbimortalidade) relacionados
ao trabalho.
A partir daí, é necessário estabelecer se a situação identificada pode ser enfrentada pela eAB/
eSF ou se é necessário acionar a rede de apoio da vigilância em saúde, seja a Visat, inclusive o
Cerest ou referências técnicas em saúde do(a) trabalhador(a) de sua região, a vigilância sanitária,
a vigilância em saúde ambiental ou a epidemiológica do município ou do estado. Também é
importante envolver a equipe do NASF-AB.
Outra contribuição fundamental consiste no desenvolvimento de ações de promoção e de
educação em saúde. Em algumas situações, as eAB/eSF podem atuar na orientação das famílias
e dos(as) trabalhadores(as) de sua área de abrangência quanto às medidas de proteção da saúde
e de prevenção dos principais agravos relacionados ao trabalho, conforme o perfil de atividades
produtivas, o perfil da população trabalhadora e as prioridades definidas.
Sendo definida a necessidade de levantamentos ou inspeções em ambientes de trabalho,
recomenda-se que a eAB/eSF acione a vigilância em saúde e/ou o Cerest e referencias técnicas em
Saúde do(a) Trabalhador(a), seja para discutir a situação e obter orientação e apoio técnico, seja
para realizar essa ação conjuntamente. Essas ações podem ser planejadas e ou motivadas por:
a. inspeções programadas e realizadas para cumprimento das metas pactuadas, planejada
pela equipe, segundo os critérios técnicos estabelecidos e o reconhecimento do território;
b. inspeções para investigação de situações de risco identificadas, a qualquer tempo, pela
eAB/eSF ou pelos ACS em visita domiciliar;
c. inspeções para auxiliar na investigação diagnóstica de problemas de saúde atendidos na
AB/SF, para identificar possíveis exposições associadas ao quadro clínico; por exemplo, a
investigação de um caso de asma que não melhora com a terapia, identificando exposição
a poeiras de costureiras que trabalham em domicílio; de conjunto de sintomas (astenia,
dispneia, desânimo) em trabalhador(a) agrícola com possível exposição a agrotóxicos;
d. inspeções conjuntas planejadas com os setores de vigilância em saúde (vigilância em
saúde do(a) trabalhador(a), sanitária, epidemiológica e em saúde ambiental);
e. inspeções motivadas por denúncia de trabalhadores(as), sindicatos, comunidade,
representações de movimentos sociais.
122
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
A partir das informações já construídas, as eAB/eSF têm condições para planejar as atividades
de Visat no território, definindo as prioridades para sua intervenção, assim como aquelas que
deverão ser encaminhadas para outro nível de vigilância em saúde. Para esta ação, será necessário:
Dessa forma, as eAB/eSF podem selecionar junto à Visat as atividades produtivas prioritárias,
considerando critérios epidemiológicos e sociais, como magnitude dos impactos à saúde,
relevância social e vulnerabilidades identificadas no levantamento feito pelas equipes na etapa
do reconhecimento do seu território e da população trabalhadora.
A identificação de demandas dos(as) trabalhadores(as) e dos movimentos sociais é muito
importante. Frequentemente populações vulneráveis têm mais acesso às ações das eAB/eSF do
que às demais instâncias das redes. Por exemplo, populações ribeirinha, pescadora, marisqueira,
comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, trabalhadores(as) em atividades informais
e em domicílio. Ações de promoção da saúde, de educação em saúde e orientações básicas de
123
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
prevenção para esses grupos de trabalhadores(as) são bastante factíveis de serem implementadas
por essas equipes.
Os seguintes critérios podem ser utilizados para definir as ações de Visat prioritárias pelas
eAB/eSF:
a. produção, em pequena escala, de alimentos para venda, tais como refeições, doces,
balas, bolos, picolés etc;
b. atividades de empresas que contratam mão de obra familiar para trabalhar em seus
próprios domicílios, executando diversos serviços e tarefas, tais como: colagem e
acabamento de calçados; corte e costura; fabricação de fogos de artifício, entre outras.
Essas atividades podem acarretar exposição a substâncias e agentes perigosos para a
saúde, não só de quem está diretamente trabalhando, mas para os demais membros da
família que convivem naquele ambiente, em especial crianças, adolescentes e idosos. É
o caso de alergias respiratórias, de rinites, asma em adultos e crianças, provocadas por
exposição a poeiras produzidas nos processos de corte e costura. Nessas situações, as
eAB/eSF podem avaliar quantos casos estão relacionados a essas exposições, além de
desenvolverem ações de prevenção, proteção e promoção da saúde.
c. atividades no peridomicílio, como oficinas mecânicas e de pintura de veículos, serrarias,
marmorarias, hortas e plantações peridomiciliares etc, implicam em exposição a diferentes
riscos ocupacionais e ambientais, tais como exposições a ruído, a solventes orgânicos,
óleos, sílica, agrotóxicos, entre outros.
conforme os fluxos da rede definidos e pactuados em seu território. Nesses tipos de acidente,
será necessário que a equipe de vigilância investigue as circunstâncias de ocorrência do evento
no ambiente de trabalho, identificando sua rede de causalidade, elabore relatório ou documento
técnico contendo recomendações para a prevenção de novos episódios e acompanhe a implantação
das medidas recomendadas. Essa é uma tarefa mais complexa; entretanto, as eAB/eSF devem
participar e acompanhar a equipe de vigilância.
ATENÇÃO
Um acidente de trabalho de pequena gravidade é um alerta (um evento sentinela) para
a possibilidade de que a qualquer tempo pode ocorrer um evento de maior gravidade ou,
até mesmo, casos de óbito. Por isso, a identificação desses pequenos e contínuos eventos
pelas eAB/eSF, com orientações para sua prevenção e a sinalização deles para as equipes de
vigilância em saúde pode fazer a diferença e evitar novas e mais graves ocorrências.
Para os casos de trabalho no domicílio, é importante que a equipe converse com clareza
e abertamente com os(as) moradores(as), sempre buscando orientar e, junto com eles(as),
identificar situações críticas e possibilidades de melhorias nas condições de produção visando
à proteção da saúde.
Para lidar com essas questões e adquirir capacidade e conhecimentos técnicos para
desenvolver ações de Visat, de promoção e educação em saúde dos(as) trabalhadores(as),
é importante planejar e estabelecer uma agenda conjunta de capacitação e de apoio
institucional e matricial entre as eAB/eSF do NASF-AB, das vigilâncias, do Cerest e referências
técnicas em saúde do(a) trabalhador(a).
Referências
BRASIL. Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em: <shttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/L8080.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.
______. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei nº 8.080, de 1990,
para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a
assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 29 jun. 2011.
126
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
DIAS, E. C.; SILVA, T. L (Org.). Saúde do Trabalhador na Atenção Primária à Saúde: Possibilidades,
desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Coopmed, 2013.
NOBRE, L. C. C. A Política de Saúde do Trabalhador no Brasil e na Bahia. In: NOBRE, L.; PENA, P.;
BAPTISTA, R. (Org.). Saúde do Trabalhador na Bahia: história, conquistas e desafios. Salvador:
SESAB, CESAT, 2011. 642 p.
127
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
5
Participação e controle social
em Saúde do(a) Trabalhador(a)
na Atenção Básica
Instância Características
Os Conselhos de Saúde, nos três níveis de gestão, constituem
as instâncias máximas de deliberação do SUS, têm caráter
permanente e deliberativo, com a missão de deliberar, fiscalizar,
acompanhar e monitorar as políticas públicas de saúde.
Conselho de Saúde É competência do Conselho, entre outras, aprovar o orçamento
(Nacional, Estadual e da saúde assim como, acompanhar a sua execução orçamentária.
Municipal) Também cabe ao pleno dos Conselhos a responsabilidade de aprovar
a cada quatro anos o Plano de Saúde, conforme o nível de gestão.
Os(as) trabalhadores(as) das eAB/eSF podem assumir o papel de
conselheiros e defender os interesses dos(as) trabalhadores(as)
neste colegiado.
Continua
4
Decreto n.º 7.508 de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei n.º 8.080 de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a
organização do Sistema Único de Saúde – SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa,
130 e dá outras providências.
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Continuação
Instância Características
A Cistt é subordinada ao Conselho de Saúde, em cada esfera de
governo, de forma articulada com as respectivas instâncias de
controle social, com os seguintes objetivos e finalidades5 :
– Participar da construção ou sugerir ações no Plano de Trabalho
dos Cerest.
– Acompanhar e fiscalizar os serviços e as ações realizadas pelos
Cerest observando seus planos de trabalho.
– Articular políticas e programas de interesse para saúde do(a)
trabalhador(a), cuja execução envolva áreas compreendidas e não
compreendidas no âmbito do SUS.
– Propor às instituições e entidades envolvidas que, no âmbito de
suas competências, atuem no sentido de eliminar ou reduzir os
riscos à saúde do(a) trabalhador(a).
– Propor e acompanhar a implantação de medidas que objetivem a
melhoria dos serviços de saúde do(a) trabalhador(a) público e privado.
Comissão Intersetorial de
Saúde do Trabalhador e – Integrar as diversas instâncias envolvidas nas ações em saúde
da Trabalhadora (Cistt) do(a) trabalhador(a) em torno de um projeto comum, visando à
efetivação dos princípios do SUS.
Continua
5
Resolução nº 493, de 07 de novembro de 2013 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
131
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Conclusão
Instância Características
– Contribuir para a promoção da Sensibilização e da Educação
Permanente de gestores(as), prestadores(as), trabalhadores(as) e
usuários(as) do SUS sobre a importância da discussão sobre saúde
do(a) trabalhador(a).
132
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
ATENÇÃO
Ouvidorias de Saúde
SAIBA MAIS
Em maio de 2014, o governo federal instituiu a Política Nacional de Participação Social (PNPS)
e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), que endossam a participação social como
direito do cidadão e expressão de sua autonomia e a complementaridade entre mecanismos
da democracia representativa, participativa e direta. A PNPS intensifica e amplia os espaços de
diálogo por meio do ambiente virtual de participação social, que permite a qualquer trabalhador
se comunicar com os gestores e manifestar sobre as políticas públicas (BRASIL, 2014).
O ambiente virtual de participação social diz respeito ao mecanismo de interação social que
utiliza tecnologias de informação e de comunicação, em especial a internet, para promover o
diálogo entre administração pública federal e sociedade civil.
Considerando que a participação dos(as) trabalhadores(as) e o exercício efetivo do controle
social requerem capacidade de analisar criticamente a realidade, para tomada de decisões,
buscando resolver problemas e modificar situações de risco, as eAB/eSF têm a oportunidade de
contribuir para o acesso ao conhecimento e a conscientização sobre os direitos e deveres dos(as)
trabalhadores(as) e o papel do trabalho no processo saúde-doença.
133
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
•• Ações educativas.
•• Produção e difusão de informação.
•• Busca de estratégias para responder às necessidades concretas de saúde dos(as)
trabalhadores(as).
•• Fomento à organização dos(as) trabalhadores(as).
134
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
135
Ministério da Saúde | Secretaria de Atenção à Saúde | Secretaria de Vigilância em Saúde
Referências
BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de Setembro de 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe sobre
as Condições para a Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, a Organização e o
Funcionamento dos Serviços Correspondentes e dá Outras Providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF. 1990a. Disponível em: <https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm>. Acesso em: 23 set. 2016.
______. Ministério da Saúde. Ouvidoria Portal Ministério da Saúde. 2017. Disponível em:
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/872-sgep-raiz/
doges-raiz/ouvidoria-geral-do-sus/l1-ouvidoria-g-sus/12221-conheca-a-ouvidoria-geral-do-sus>.
Acesso em: 23 set. 2016.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 2003. 148 p.
______P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 213 p.
136
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
www.saude.gov.br/bvs