Tutela Evidencia Rd-21-04-Rogria-Dotti
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RESUMO
Este trabalho tem a finalidade de analisar, no novo Código
de Processo Civil, a possibilidade de antecipação da tutela, sem
urgência e com base na aplicação de precedentes judiciais. Ele
trata, portanto, da tutela da evidência: uma forma de tutela
antecipada com base apenas na probabilidade do direito e que
não exige a presença do periculum in mora. Trata-se de
importante inovação no direito brasileiro e tem o objetivo de
garantir, ao mesmo tempo, a razoável duração do processo e o
tratamento igualitário para casos iguais. Tal estudo considera
que o ônus do tempo no processo deve ser racionalmente
distribuído entre as partes, mesmo quando não houver risco.
Considera também que deve haver uma coerência e isonomia
nas decisões judiciais. Conclui-se assim que, dentro do devido
processo legal, o direito provável e reconhecido pela
jurisprudência deve ser desde logo tutelado.
ABSTRACT
This work aims to analyze the possibility of injunctive relief
in the New Civil Procedure Code, without urgency and based on
the precedent system. Therefore, it focuses on the evident
provisional measure: a kind of preliminary injunction based only
on the clear right, which does not require the presence of
periculum in mora. It is an important innovation in Brazilian
law, that has the aim to assure, at the same time, the reasonable
length of proceedings and the equal treatment for equal cases.
This study considers the need to distribute rationally the time
of proceedings among plaintiffs, even when there is no risk at
all. It also considers that there must be coherence and equality
in judicial decisions. The conclusion is that, in a due process of
Introdução
O processo civil da atualidade depara-se com dois graves
problemas: a demora na prestação jurisdicional e a instabilida-
de da jurisprudência. Ambos são igualmente nocivos. Tanto o
atraso como a existência de decisões diferentes para casos iguais
geram a sensação de injustiça e a descrença no Poder Judiciário.
Ciente dessa realidade, o legislador do novo Código de Pro-
cesso Civil (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015) procurou
encontrar alternativas. O art. 926, por exemplo, estabelece o dever
dos tribunais quanto à uniformização da jurisprudência, a fim
de mantê-la estável, íntegra e coerente. E, complementando o
dispositivo anterior, o art. 927 determina que os juízes (de pri-
meiro e segundo grau) observem as decisões do Supremo Tribu-
nal Federal em controle concentrado de constitucionalidade, os
enunciados de súmulas vinculantes, os acórdãos em incidente
de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas, assim como os julgamentos de recursos repetitivos,
os enunciados de súmulas do STF e STJ nas matérias que lhes são
inerentes e a orientação do plenário ou órgão especial dos tri-
bunais de segundo grau.
Por outro lado, o novo Código de Processo Civil assegura
também a possibilidade da antecipação da tutela nas hipóte-
ses em que, apesar de não concluída a instrução, a existência
do direito do autor já se mostre clara. É a chamada tutela da
evidência, disciplinada pelo art. 311 e baseada em um forte
juízo de probabilidade. O interessante é que a antecipação nesse
caso dispensa o requisito da urgência, ou seja, do periculum in
mora. A satisfação do direito do autor decorre pura e simples-
mente de uma melhor equação em relação ao tempo de espera
do processo.
A solução legal é de uma lógica inquestionável. Com efei-
to, se o direito do autor já se mostra muito mais do que prová-
vel, nada mais adequado que permitir sua imediata realização.
Embora não se trate de verdadeira novidade – uma vez que o
art. 273, inciso II do Código de Processo Civil de 1973 já autori-
zava a antecipação sem urgência –, não há como negar que o
instituto foi significativamente ampliado pela nova lei.
1
“Por outra parte es menester recordar que en el procedimiento el tiempo es
algo más que oro: es justicia” (COUTURE, 1945 apud NERY JUNIOR, 2009, p.
315).
5
No que diz respeito à urgência, há três formas distintas de référé atualmen-
te na França: aquele tradicional baseado no perigo da demora (art. 808 do
Nouveau Code de Procédure Civile), aquele cuja urgência pode ser simples-
mente presumida (art. 809, 1ª parte do mesmo Código) e, por fim, o référé
provision e injonction (art. 809, 2ª parte do Código), que dispensa a urgência
e baseia-se única e exclusivamente na defesa inconsistente. É o que vem
previsto expressamente na segunda parte dos arts. 809, 849, 873 e 894 do
Noveau Code de Procédure Civile.
Conclusão
A entrada em vigor de um novo Código de Processo Civil
fomentará discussões acadêmicas, dando assim oportunidade
para mudanças culturais e quebras de paradigmas. Essa é a fun-
ção da doutrina: gerar reflexão e orientação na aplicação da lei,
conduzindo os operadores do Direito a caminhos até então não
imaginados ou explorados.
É bem verdade que a morosidade processual, especialmen-
te nos países mais pobres, não decorre apenas de deficiência das
leis, mas também de fatores culturais, institucionais e materiais,
6
“Esta visa, portanto, como os procedimentos que o direito inglês entende
sob a denominação de Contempt of Court, a salvaguardar o imperium
judicis, ou seja, a impedir que a soberania do Estado, na sua mais alta
expressão que é aquela da justiça, se reduza a ser uma atrasada e inútil
expressão verbal, uma vã ostentação de lentos engenhos destinados, como
os guardas da ópera bufa, a chegar sempre muito tarde” (CALAMANDREI,
2000, p. 209/210).
7
“Além de assimilar a ideia de direito evidente ao contexto do direito
incontroverso expresso no § 6º, definimos a possibilidade de decisão a qual-
quer momento, inclusive liminar, e o regime da efetivação da tutela
antecipatória proposta nos mesmos termos do empregado nas tutelas ur-
gentes” (RODRIGUES, 2009, p. 13).
Referências