Caso 01

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.20.047241-3/003 Númeração 5000384-


Relator: Des.(a) Armando Freire
Relator do Acordão: Des.(a) Armando Freire
Data do Julgamento: 07/11/2023
Data da Publicação: 10/11/2023

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO - APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO


ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO C/C REINTEGRAÇÃO AO
CARGO, INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E COBRANÇA DE
VENCIMENTOS ATRASADOS - PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE -
REJEITADA - PENA MÁXIMA DE DEMISSÃO APLICADA AO SERVIDOR -
CONDUTA DESIDIOSA - CONDENAÇÃO JUSTIFICADA COM BASE EM
APENAS UM ANTECEDENTE FUNCIONAL - DESPROPORCIONALIDADE
E FALTA DE RAZOABILIDADE - ANULAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO -
POSSIBILIDADE - REINTEGRAÇÃO DO SERVIDOR AO CARGO -
RECEBIMENTO DE VENCIMENTOS E VANTAGENS REFERENTES AO
PERÍODO DE AFASTAMENTO - POSSIBILIDADE - INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - NÃO CABIMENTO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
BASE DE CÁLCULO - VALOR DA CONDENAÇÃO - CABIMENTO - ART. 85,
§3º, DO CPC - SENTENÇA CONFIRMADA - RECURSOS DESPROVIDOS.
É certo que os entes públicos possuem discricionariedade e autonomia para
a prática dos atos administrativos, devendo o controle judicial realmente ficar
restrito à avaliação da legalidade e da moralidade na prática pública. Não
obstante a confirmação da tipicidade da conduta do servidor como sendo
desidiosa, houve violação aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade na aplicação de sanção máxima, de modo que deve o ato
demissional ser tido como nulo e, em decorrência lógica dessa anulação,
pertinente a determinação de reintegração do servidor ao cargo, com o
recebimento dos vencimentos e vantagens correspondentes ao período de
afastamento. Inexistentes razões para o reconhecimento da ocorrência de
dano moral, que ocorre quando há a violação da honra ou imagem de
alguém e resulta da ofensa aos direitos de personalidade (intimidade,
privacidade, honra e imagem). De acordo com o disposto no art. 85, §3º, I, do
CPC, "§ 3º Nas causas

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em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os


critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os seguintes percentuais: I
- mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação
ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;".
Recursos desprovidos.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.047241-3/003 - COMARCA DE ELÓI


MENDES - APELANTE(S): MARCO LOURENCAO, MUNICIPIO DE ELOI
MENDES - APELADO(A)(S): MARCO LOURENCAO, MUNICIPIO DE ELOI
MENDES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS.

DES. ARMANDO FREIRE

RELATOR

DES. ARMANDO FREIRE (RELATOR)

VOTO

Cuidam-se de recursos de apelação aviados contra a r. sentença de


ordem n.º 166, que, nos autos da ação anulatória de ato administrativo de
demissão c/c reintegração em cargo público, indenização por dano moral e
cobrança de vencimentos atrasados, movida por MARCO LOURENÇÃO em
desfavor do MUNICÍPIO DE ELÓI MENDES, julgou parcialmente
procedentes os pedidos, nos seguintes termos, para:

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"a) declarar nulo o ato administrativo de demissão do autor, editado na


Portaria nº 3136/2020; b) confirmando a liminar obtida em sede recursal,
reintegrar o requerente ao cargo público de motorista de carga leve perante o
Município requerido; c) condenar o Município ao pagamento dos vencimentos
e vantagens adquiridos durante o período de afastamento (de 16/03/2020 até
29/04/2020), acrescido de correção monetária por índice da tabela do TJMG
desde a data em que deveria ter recebido, e juros de mora conforme índices
da poupança, a partir da citação."

Condenou o Município ao pagamento de honorários advocatícios em


favor do patrono da parte contrária, ora fixados no patamar mínimo de 10%
sobre o valor da condenação (art. 85, §3º, inciso I, do CPC), vez que não
alcançará 200 salários mínimos, ressalvada a isenção do ente público quanto
ao pagamento de custas e despesas processuais por força de lei.

Nas razões de ordem n.º 168, MARCO LOURENÇÃO alega que deve
haver a reforma da sentença quanto ao não acolhimento do seu pedido de
indenização por dano moral e a forma de fixação dos honorários advocatícios
de sucumbência, a serem pagos pelo Município, fixados no valor mínimo de
10% sobre o valor da condenação. Afirma que lhe foi aplicada a penalidade
máxima de demissão, ao fundamento de conduta desidiosa, pelo simples fato
de ter deixado de abastecer a ambulância de placa HLF-7288, de
propriedade da municipalidade, fato que lhe fez experimentar profundo
sentimento de tristeza, angústia e constrangimento. Alega que possui família
que depende de seu sustento e já conta com mais de 50 (cinquenta) anos,
circunstância que potencializa ainda mais a insegurança causada pelo ato
demissional injusto, fazendo jus, portanto, ao recebimento de indenização
por dano moral. Aduz, ainda, que a verba honorária dos advogados do
apelante deve ser fixada mediante apreciação equitativa, porquanto a
condenação prevista na sentença não superará a importância de R$
4.000,00 (quatro mil reais), o que culminará em valor irrisório a título de
honorários. Requer, ao final, o provimento do recurso.

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Por sua vez, no apelo de ordem n.º 170, o MUNICÍPIO DE ELÓI


MENDES alega que o art. 30 da Constituição Federal confere autonomia ao
Município para legislar sobre assuntos locais, no caso, sobre seu pessoal.
Afirma, assim, que o Estatuto Municipal (Lei n.º 353/94), em seu art. 111,
prevê pena de demissão quando restar comprovado que o servidor atuou
com desídia no exercício de sua função, sendo exatamente essa a presente
hipótese, nos termos do que consta do relatório elaborado pela Comissão
Processante e até mesmo da própria sentença recorrida, que reconheceu a
tipicidade da conduta. Ressalta que todo o procedimento administrativo
tramitou em observância e respeito ao devido processo legal e que, não
obstante, o douto juízo a quo entendeu pela desproporcionalidade na
aplicação da pena, configurando ingerência indevida do Poder Judiciário na
esfera administrativa. Aduz que deve ser mantida a demissão do servidor
pela prática de conduta desidiosa descrita nos autos. Pugna pelo provimento
do recurso.

Foram apresentadas as respectivas contrarrazões por ambos os


litigantes (docs. de ordem n.º 173 e 175).

Este, contendo o essencial, é o relatório.

Recebo e conheço dos recursos interpostos, eis que atendidos os


pressupostos de admissibilidade. Passo à análise conjunta de mérito de
ambas as apelações, tecendo breves considerações, contudo, em caráter
preliminar, acerca das respectivas alegações de inadmissibilidade do apelo
da parte contrária arguida tanto pelo Município de Elói Mendes quanto pelo
Sr. Marco Lourenção, já adiantando meu posicionamento no sentido de
rejeitá-las.

Isso porque, ao contrário do que alegam, não houve, nem em um e nem


em outro recurso, violação ao princípio da dialeticidade recursal, porquanto
foram impugnados especificamente os fundamentos contidos na sentença
recorrida. Vale dizer, o apelo do sr. Marco Lourenção se insurge em face do
não reconhecimento da ocorrência de dano moral, bem como em relação ao
parâmetro de fixação dos honorários, fundamentos de fato utilizados pelo
douto

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magistrado a quo no deferimento parcial dos pedidos. Do mesmo modo, o


Município de Elói Mendes, em seu recurso, aponta argumentos que entende
válidos na desconstituição dos fundamentos da sentença acerca da validade
e legitimidade da aplicação da pena de demissão ao servidor. Rejeito, pois,
ambas as preliminares.

MÉRITO

MARCO LOURENÇÃO, servidor público efetivo, ocupante do cargo de


Motorista de Carga Leve I, ajuizou a presente ação anulatória de ato
administrativo em face do MUNICÍPIO DE ELÓI MENDES alegando, em
síntese, que: (i) foi instaurado Processo Administrativo Disciplinar (PAD n.º
4190/2019) em seu desfavor para apurar suposta afronta aos incisos I, II, III,
VII e IX do art. 110 e inciso XVI do art. 111, ambos da Lei Municipal n.º
353/1994 (Estatuto dos Servidores); (ii) a Comissão Processante, por maioria
de votos, imputou ao autor a prática de conduta desidiosa, unicamente por
ter deixado de abastecer a ambulância HLF-7288, que provocou uma parada
forçada do veículo durante o trajeto de retorno para a cidade; (iii) inexiste
infração disciplinar na espécie, porquanto apenas obedeceu a orientação e
ordens de seu superior hierárquico; (iv) é atípica a conduta desidiosa que lhe
fora imputada, uma vez que esta pressupõe a prática habitual, reiterada e
repetitiva de atos que infringem a atividade funcional, sendo que o que
ocorreu com o servidor foi caso isolado; (v) houve aplicação da pena em
sentido contrário à prova dos autos, tendo ocorrido, ainda, afronta ao
princípio da proporcionalidade e da razoabilidade na aplicação imediata da
pena máxima de demissão; (vi) faz jus, portanto, a ser reintegrado ao cargo
público, com o recebimento dos vencimentos e vantagens correspondentes
ao período de afastamento, além de ser indenizado pela ocorrência de danos
morais, em virtude de ter sido submetido a penalidade administrativa ilegal.

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A d. Magistrada, como relatado, julgou parcialmente procedentes os


pedidos para declarar nulo o ato administrativo de demissão do autor e
determinar a sua reintegração ao cargo público de Motorista de Carga Leve
nos quadros do Município requerido, com o direito ao recebimento dos
vencimentos e vantagens adquiridos durante o período de afastamento (de
16/03/2020 a 29/04/2020). Deixou, contudo, de reconhecer a ocorrência de
dano moral, em virtude da ausência de comprovação de dano
extrapatrimonial que repercuta na esfera dos direitos da personalidade.

Condenou o Município ao pagamento de honorários advocatícios


arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação (art. 85, §3º,
CPC), ressalvada a isenção do ente público quanto ao pagamento de custas
e despesas processuais.

Analisando o processado, verifica-se que a sentença não merece


quaisquer reparos. Vejamos.

No que concerne à argumentação recursal do ente municipal, vejo que


não merece prosperar, porquanto, de fato, parece-me que a aplicação da
penalidade máxima de demissão ao servidor, neste específico caso, se deu
de maneira desarrazoada e desproporcional.

É certo que os entes públicos possuem discricionariedade e autonomia


para a prática dos atos administrativos, devendo o controle judicial realmente
ficar restrito à avaliação da legalidade e da moralidade na prática pública. Por
essa razão é que, atento aos fatos apresentados, entendo que a sentença
recorrida andou bem ao avaliar que, não obstante a confirmação da
tipicidade da conduta do servidor como sendo desidiosa - uma vez que,
independentemente de ter havido ou não comando de um superior
hierárquico no sentido da desnecessidade de abastecimento do veículo, era
de sua responsabilidade, enquanto condutor, fazer esse juízo de ponderação
-, houve violação aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade na
aplicação de sanção máxima.

Isso porque, a própria decisão final no PAD fez constar que, em

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que pese ter havido o reconhecimento da conduta desidiosa, "a desídia ora
comprovada caracteriza como um descuido do momento, por uma
desatenção não intencional, não constituindo, dessa forma, motivo de
punição para a pena de demissão, segundo o princípio da
proporcionalidade". E continua concluindo que "entretanto, diante dos
antecedentes funcionais desfavoráveis do servidor que se encontra
comprovado nos autos, e com fundamento no artigo 122 da Lei 353/94, tal
penalidade deverá ser considerada". Vale dizer, a penalidade de demissão
não seria aplicada com fundamento tão somente na conduta desidiosa do
servidor, sendo certo que sua imposição foi decorrente da existência de
antecedentes funcionais do autor.

E quanto a esse aspecto, peço vênia para transcrever trecho da bem


fundamentada sentença, que assim considerou:

"Ainda que o autor tenha sofrido penalidade administrativa anterior por fato
distinto, consoante Portaria nº 2782/2018 que lhe aplicou pena de suspensão
de 75 dias (ID 175785238), devidamente anexada no processo administrativo
questionado (f. 60 do PAD), esta foi a única razão relevante que implicou na
pena de demissão do autor, ou seja, um único antecedente funcional
desfavorável.

Em que pese ter sido provada a conduta desidiosa do autor, ao não conferir
o combustível de veículo e dar ensejo a paralisação do automóvel no trajeto,
tal situação não se enquadra como suficientemente grave a ponto de implicar
pena máxima de demissão do serviço público, o que inclusive foi reconhecido
na própria decisão administrativa impugnada.

Ora, restou evidente que por um único antecedente funcional desfavorável


sancionado com suspensão de 75 dias, acrescido de nova infração
administrativa que não admitiria penalidade máxima, o autor foi submetido a
maior gravosidade possível, a demissão.

É certo que devem ser consideradas na aplicação das penalidades a


natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela

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provierem para o serviço

público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes


funcionais (art. 122 do Estatuto).

Porém, na espécie, não se seguiu a imprescindível gradação de aplicação


das penalidades previstas e existentes, pois não houve esgotamento prévio
de repressão mediante suspensão pelo prazo máximo de 90 dias (art. 124 do
aludido Estatuto Municipal).

Assim, dada a patente desproporcionalidade entre a gravidade da conduta


praticada (que não implicava por si só demissão) aliada a existência prévia
de um

único antecedente funcional com suspensão que não alcançou o prazo


máximo de 90 dias, e a sanção de demissão aplicada, o ato administrativo
merece ser anulado por ilegitimidade."

Assim, suficientemente demonstrada a desproporcionalidade na


aplicação da penalidade máxima de demissão ao servidor, deve o ato
demissional ser tido como nulo, de modo que a decorrência lógica dessa
anulação é a determinação de reintegração do servidor ao cargo, com o
recebimento dos vencimentos e vantagens correspondentes ao período de
afastamento, nos termos da já consolidada jurisprudência pátria.

Nesse sentido, vejamos inteligência da jurisprudência deste e. Tribunal


de Justiça:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


ATO ADMINISTRATIVO DE DEMISSÃO - IRREGULARIDADE -
INEXISTÊNCIA - ABANDONO DE CARGO - "ANIMUS ABANDONANDI" -
AUSÊNCIA - PENA DE DEMISSÃO - DESARRAZOADA E
DESPROPORCIONAL - SENTENÇA CONFIRMADA.

O controle judicial dos processos administrativos deve se limitar ao exame da


legalidade e da moralidade dos atos nele praticados.

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Nulo revela-se o ato administrativo que aplica a pena de demissão ao


servidor público, por abandono de cargo, quando a prova dos autos
demonstra que estas faltas não se fizeram sem justificativa, mas se deram
em razão de prisão preventiva do requerente e sem o ânimo de abandonar o
cargo. (Apelação Cível 1.0000.22.001759-4/001; Des.(a) Geraldo Augusto;
Pub.: 29/03/2022). (g.n.)

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA - APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE


SEGURANÇA - DIREITO ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO -
PROCURADOR DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA - NULIDADE DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO.

- A demissão é o ato administrativo pelo qual se dá o desligamento


compulsório e definitivo do servidor público estável, do cargo ou emprego em
que fora investido e, por conseguinte, dos quadros do funcionalismo público.
Tem natureza punitiva e ocorre em decorrência da prática de ilícito
administrativo.

- A decisão pela demissão do servidor é ato discricionário do Administrador,


sendo passível de interferência pelo Poder Judiciário quando não atendidos
os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade na aplicação da pena,
limitando-se à apreciação dos aspectos legais do procedimento.

- Uma vez desproporcional e desarrazoada a penalidade de demissão


aplicada ao servidor, cabível a apreciação judicial, diante da arbitrariedade
cometida.

- Ausência de previsão legal para aplicação da pena de demissão.


Segurança concedida, determinando a reintegração. (Apelação Cível
1.0338.16.006317-2/004; Rel. Des.(a) Dárcio Lopardi Mendes; Pub.:
09/04/2019). (g.n.)

E, ainda, jurisprudência da c. Corte Superior:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS À EXECUÇÃO EM MANDADO DE

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SEGURANÇA. CARGO EM COMISSÃO E ABONO DE PERMANÊNCIA.


INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DOS VALORES DEVIDOS A TÍTULO
DE REINTEGRAÇÃO. RESTABELECIMENTO DO STATUS QUO ANTE.
AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

Ocupante de cargo em comissão e já tendo reunido os requisitos para


requerer aposentadoria por tempo de serviço, o servidor demitido e
reintegrado ao serviço faz jus ao recebimento da remuneração
correspondente a ambas vantagens ("Opção DAS - P. Permanente" e "Abono
Permanência"). Cuida-se, afinal, do reconhecimento do direito ao
recebimento dos vencimentos a que faria jus se estivesse na ativa.

É entendimento desta Corte que "A anulação do ato de demissão tem como
consequência lógica a reintegração do servidor afastado com o
restabelecimento do 'status quo ante', vale dizer, assegura-se ao servidor a
recomposição integral de seus direitos, inclusive o de receber os
vencimentos que deveriam ter sido pagos durante o período em que esteve
indevidamente desligado do serviço público, em observância ao princípio da
'restitutio in integrum', (...)." (AgRg nos EmbExeMS 14.081/DF, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/4/2012, DJe 17/4/2012).

3. Agravo interno improvido. (AgInt nos EmbExeMS 13520 / DF

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS À EXECUÇÃO EM MANDADO DE


SEGURANÇA

2015/0096391-9; Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA; Pub.:


DJe 28/11/2022). (g.n.)

Sendo essa, portanto, a única fundamentação de que se valeu o


Município de Elói Mendes em seu apelo, a ele nego provimento.

Indo adiante, entendo que tampouco merecem prosperar as alegações


do apelante MARCO LOURENÇÃO, porquanto inexistentes razões para o
reconhecimento da ocorrência de dano moral. Ora, sabe-se que o dano
moral é aquele que ocorre quando há a violação

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da honra ou imagem de alguém e resulta da ofensa aos direitos de


personalidade (intimidade, privacidade, honra e imagem). E, em que pese o
servidor tenha experimentado situação de desconforto e sensação de
insegurança ao ser destituído de seu cargo público, entendo que não houve
qualquer extrapolação das consequências inerentes a este fato. Vale dizer,
pelo que consta dos autos, o servidor em nenhum momento foi exposto a
qualquer situação vexatória ou humilhante capaz de causar repercussão
negativa a sua moral, ou capaz, ainda, de lhe gerar transtornos ou abalos
psíquicos graves a ponto de ensejar a indenização.

Prosseguindo, também não prospera a alegação tecida em seu apelo, no


sentido de que a verba honorária deve ser fixada mediante apreciação
equitativa, nos termos do art. 85, §8º, CPC.

Digo isso porque, de acordo com o disposto no art. 85, §3º, do CPC:

§ 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos


honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º e os
seguintes percentuais:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação


ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos; (g.n.)

Por conseguinte, tendo em vista que os honorários advocatícios foram


estabelecidos em estrita observância à legislação processual vigente, não há
falar em alteração da base de cálculo da verba, com a devida vênia do
primeiro apelante.

Com essas considerações, entendo que as razões expostas pelo primeiro


apelante também não merecem amparo, motivo pelo qual nego provimento
ao seu apelo.

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CONCLUSÃO

À luz do exposto, NEGO PROVIMENTO a ambos os apelos.

Fixo os honorários advocatícios recursais em 2% (dois por cento) sobre o


valor da condenação, à razão de 50% (cinquenta por cento) para cada parte,
e condeno os apelantes a arcarem com as custas de seus respectivos
recursos, observada a hipótese de isenção legal.

É como voto.

DES. MÁRCIO IDALMO SANTOS MIRANDA

DECLARAÇÃO DE VOTO CONVERGENTE DO 1.º VOGAL

Em sessão anterior desta Câmara, pedi vista dos presentes autos para
melhor refletir sobre as questões postas em debate no recurso deles objeto,
após votar o eminente Relator, que nega provimento a ambos os recursos,
mantendo, na íntegra, a sentença que julgou parcialmente procedente a
pretensão inicial, anulando o Ato Administrativo correspondente à aplicação,
pelo Município Réu, da penalidade de demissão ao Autor da demanda, nos
termos da Portaria n.º 3.136/20, determinando sua reintegração no cargo
efetivo até então ocupado, bem como condenando o Requerido no
pagamento dos vencimentos correspondentes ao período de seu
afastamento (de 16.03.2020 a 29.04.2020), considerado, ao fim e ao cabo,
indevido.

De plano, impositiva se mostra a adesão ao judicioso voto da relatoria


na fração em que afasta a pretensão do Autor, ora 1.º Apelante, quanto ao
reconhecimento do dever reparatório do Demandado por dano moral, à
míngua dos requisitos a tanto exigidos,

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consoante bem explorado pelo eminente Relator.

Quanto ao 2.º Apelo, manifestado pelo Réu, em que se discute


primordialmente a questão da legitimidade da reprimenda disciplinar por ele
aplicada ao Autor, após detido exame do processado, da mesma forma, não
vejo como possa apresentar entendimento diverso daquele expresso no
judicioso voto proferido pelo ilustre Desembargador Relator, Armando Freire.

Nesse particular, há de se registrar, quanto à possibilidade de revisão


judicial da pena de demissão aplicada a servidor público, que, de uma
maneira geral, mostra-se cabível segundo a jurisprudência dominante, sob
perspectiva da permissividade de apreciação da conformidade dos atos
administrativos com a Lei e com princípios da administração pública, como
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior


Tribunal de Justiça (STJ) têm entendimento consolidado quanto à
possibilidade de revisitação, pelo Poder Jurisdicional, de Ato Administrativo
pertinente à aplicação de penalidade disciplinar a servidor público (aí incluída
a de demissão), sempre que aquele (Ato) for praticado mediante: (i) violação
do devido processo legal, dos princípios constitucionais atinentes à garantia
da ampla defesa e do contraditório; (ii) Erro de fato ou de direito na aplicação
do castigo e, por fim; (iii) manifesta desproporção e razoabilidade da
reprimenda diante das circunstâncias objetivas do caso.

Nesse sentido, merecem menção, mutatis mutandis, os seguintes


julgados:

"MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR. DEMISSÃO. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL. FORMAÇÃO
INSUFICIENTE DO CONJUNTO PROBATÓRIO.
DESPROPORCIONALIDADE DA PENA DE DEMISSÃO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Consoante orientação traçada pela Egrégia Terceira Seção
do STJ, a infração funcional consistente em recebimento de vantagem
econômica indevida, e de

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resto todas as infrações que possam levar à penalidade de demissão, deve


ser respaldada em prova convincente, sob pena de comprometimento da
razoabilidade e proporcionalidade. Precedentes. 2. No caso, o acervo
probatório não se mostra suficiente para comprovar, de maneira ampla e
indubitável, a atuação da agente da polícia federal em cobrar propina do
estrangeiro que se encontrava com visto de turista expirado no território
nacional, evidenciando a desproporcionalidade da pena aplicada. 3. Não
obstante a independência das esferas penal e administrativa, mister ressaltar
que a impetrante foi absolvida do crime de corrupção passiva, por falta de
provas, na Ação Penal Pública que tramitou perante a primeira vara federal
do Rio de Janeiro. 4. Segurança concedida para anular a Portaria 47, de
18.01.2008, que demitiu o impetrante do cargo de Agente da Polícia Federal,
determinando-se sua reintegração ao cargo, assegurando-lhe os efeitos da
segurança à data da publicação do ato de demissão." (Superior Tribunal de
Justiça - Mandado de Segurança n.º 13581/DF 2008/0109832-4, Relatora:
Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO T/MG), Data
de Julgamento: 05/12/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: --
> DJe 04/02/2009) (Destaque nosso)

"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


INTERPOSIÇÃO EM 29.10.2018. DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO. PREENCHIMENTO DE REQUISITOS DO ART. 19 DO ADCT.
NULIDADE DO ATO DE DEMISSÃO. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE DA PENA APLICADA. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. SÚMULA 279 DO STF. ILEGALIDADE. CONTROLE PELO
PODER JUDICIÁRIO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS
PODERES. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES. 1. Nos termos da orientação
firmada no STF, o controle jurisdicional do ato administrativo considerado
ilegal ou abusivo não viola o princípio da separação dos Poderes, sendo
permitido, inclusive, ao Judiciário sindicar os aspectos relacionados à
proporcionalidade e à razoabilidade. 2. Para se chegar a conclusão diversa
daquela a que chegou o Tribunal de origem, quanto à falta de razoabilidade,
proporcionalidade na aplicação da penalidade e de motivação da decisão
que a aplicou, bem assim, da observância da ampla defesa, seria necessário
o reexame de fatos e provas constantes dos autos, o

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que inviabiliza o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação


contida na Súmula 279 do STF. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento, com previsão de aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º,
do CPC. Incabível majoração de honorários, tendo em vista não houve
fixação de honorários na instância de origem." (Supremo Tribunal Federal -
Agravo em Recurso Extraordinário n.º 1.147.283/ PI, Relator: Min. EDSON
FACHIN, Data de Julgamento: 05/11/2019, Segunda Turma, Data de
Publicação: DJe-261 29-11-2019) (Destaque acrescido)

Anote-se que, nesses casos, a compreensão é a de que, à luz do


princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5.º, inc., XXXV da
Constituição), não há falar-se na impossibilidade de revisão, pelo Poder
Judiciário, de prática ilegal e/ou inconstitucional da Administração Pública em
face de seus servidores, sob o pretexto da impossibilidade de revolvimento
do chamado mérito administrativo, à consideração de que autonomia e a
independência dos Poderes prevalecer quando o resultado prático de sua
incidência é desproporcional, desarrazoado e/ou teratológico.

Assim estabelecido, no caso dos autos, como bem apontado pelo


eminente Relator, ao reverberar o entendimento constante da sentença, a
própria decisão proferida no âmbito do Processo Administrativo Disciplinar
(PAD) correspondente à aplicação da pena de demissão ao Autor cuidou de
destacar em seus fundamentos, quanto à base fática do castigo a ele
imposto, que: "(...) a desídia ora comprovada caracteriza como um descuido
do momento, por uma desatenção não intencional, não constituindo, dessa
forma, motivo de punição para a pena de demissão, segundo o princípio da
proporcionalidade".

No entanto, na sequência, motivou o cabimento da reprimenda,


exclusivamente, no fato de possuir o servidor histórico pregresso de
cometimento de falta disciplinar, qual seja, a aplicação de pena de
suspensão, por fato diverso, nos termos da Portaria n.º 2782/2018.

Em tais circunstâncias, impositivo concluir que a demissão do

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

servidor não se lastreia, a rigor, no fato atual (de diminuta reprovabilidade,


repita-se, consoante reconhecido pelo próprio Órgão processante), mas sim,
pelo fato anterior, já processado, a que se somaria a infração mais recente.

É o tanto quanto tenho por bastante para, prestando integral adesão


ao judicioso voto do eminente Relator, negar provimento a ambos os
recursos, mantendo, na íntegra, a bem lançada sentença recorrida.

É como voto.

Márcio Idalmo Santos Miranda

Desembargador - 1.º Vogal

DESA. JULIANA CAMPOS HORTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS"

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