O Materialismo Histórico-Dialético Como Enfoque PDF
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ser um mergulho num universo muito completo, embora sua importncia deva ser
reconhecida.
No entanto, faz-se necessrio tematizar ao menos a dialtica na tradio
marxista. A dialtica, na concepo materialista, define-se como um mtodo cientfico,
ou seja, uma dialtica epistemolgica. Define-se ainda como um conjunto de leis ou
princpios que governam a totalidade da realidade, ou seja, uma dialtica ontolgica. E
por fim, por captar o movimento da histria, define-se como uma dialtica relacional
(Bottomote, 1987).
A dialtica sob o prisma do materialismo histrico parte do conceito
fundamental de que o mundo no pode ser considerado um complexo de coisas
acabadas, mas sim um processo de complexos. As coisas e suas representaes refletem
conceitos na mente, os quais esto em mudanas contnuas e ininterruptas de devir. Para
Marx, a dialtica se fundamenta no movimento, tanto do mundo exterior como do
pensamento humano. Portanto, s existe dialtica se houver movimento, e s h
movimento se existir processo histrico (Sanfelice, 2008).
Portanto, esta realidade sobre a qual a concepo materialista se debrua traz
consigo todas suas contradies, conflitos e transformaes evidenciando que as idias
so, de fato, reflexos do mundo exterior e objetivo vivenciado pelos sujeitos e, por isso,
as idias independem do pensamento, so representaes do real.
Nesta perspectiva, o grande desafio do pensamento trazer para o plano racional
a dialtica do real, buscando a essncia do fenmeno, aquilo que est por detrs da
aparncia, ou seja, o carter conflitivo, dinmico e histrico da realidade (Frigotto,
1991).
A concepo metafsica entende que a definio apriorstica do mtodo garante
pesquisa critrios de cientificidade, neutralidade e objetividade; j a concepo
materialista entende que o mtodo constitui-se muito mais como uma concepo de
realidade que mediar o processo de apreenso do conhecimento, do que uma simples
ferramenta para medir ou observar os fenmenos sociais. A concepo materialista vai
alm das leis que regem os fenmenos; busca a lei de sua modificao e de seu
desenvolvimento, destacando o dinamismo da prxis transformadora dos homens como
agentes histricos.
Muitas pesquisas tm se pautado pelo ecletismo metodolgico, caracterstico das
perspectivas metafsicas. Essa postura de integrao de diferentes pontos de vista
implica, como bem aponta Lowy (1995), na caracterizao de uma inteligncia sem
vnculo e, portanto, merece um esforo sistemtico para sua superao.
Tratando-se do estudo de polticas educacionais que, geralmente, abordam temas
em nveis mais amplos, dentro de um contexto complexo, h a necessidade de superar
as anlises redundantes, caracterizadas por conceituao fraca e por um poder de
generalizao, que se esquiva de realizar uma anlise crtica da realidade com vistas
sua transformao, configurando-se muito mais em radiografias, sem outra conotao
que no seja a linearidade. Isto faz com que os progressos no campo das polticas
educacionais sejam muito lentos.
Com o avano das concepes neoliberais e gerencialistas no processo de
definio de polticas educacionais, sobretudo a partir da dcada de 1990, a utilizao
do materialismo histrico dialtico apresenta-se como o enfoque metodolgico mais
apropriado e que mais contribui para o desenvolvimento de pesquisas neste campo de
investigao. Neste artigo buscaremos apontar alguns elementos fundamentais deste
enfoque:
Esta experincia de misria extrema na qual vivia o proletariado ingls deixou marcas
profundas na sua memria as quais o induziram a sustentar a luta de classes:
Nesta relao sujeito-objeto, o objeto ser sempre algo produzido pelo sujeito,
resultando numa autoimplicao do sujeito ao objeto, o que evidencia uma relao
muito mais de unidade com o objeto do que de identidade. Assim, ao mesmo tempo em
que a sociedade produz o homem, ela tambm produzida por ele:
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Assim, ao mesmo tempo em que o pesquisador deve ficar atento ao rigor dos
conceitos tericos e procura de respostas para a problemtica levantada, deve estar
livre para captar as tramas da realidade investigada de modo que a sensibilidade do
pesquisador possibilite captar as entrelinhas (a essncia), o que exige um conhecimento
prvio da realidade investigada.
Considerando que a educao, enquanto prtica social, resultante das
determinaes econmicas, sociais e polticas, atuando na reproduo da ideologia
dominante, como tambm reproduzindo as contradies que dinamizam as mudanas e
possibilitam novas formaes sociais, a anlise das polticas educacionais deve estar
associada a um processo de produo de um conhecimento efetivamente transformador
e politicamente engajado, lembrando que, para Marx, o conhecimento terico
necessariamente conhecimento poltico. A proposta do materialismo histrico-dialtico
contempla esta apropriao crtica e interveniente do processo histrico para a
compreenso do fenmeno no presente no intuito de possibilitar um conhecimento
cclico, em processo de evoluo, que rebata os trabalhos meramente confirmatrios,
politicamente inofensivos e ideologicamente difusos (Tambara, 2000).
Investigar polticas educacionais requer o desenvolvimento da capacidade de
captao, anlise e compreenso no s do que conservado, mas fundamentalmente do
que mudado e criado, e este processo de mudana e criao se d dentro de limites
muito estreitos, dadas as condies estruturais de origem e desenvolvimento da
sociedade brasileira, o que exige, portanto, um alto grau de acuidade para captar este
movimento.
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fato que a compreenso das teses de Marx exige uma ruptura com o senso
comum e um caminhar do abstrato para o concreto. Exige ainda um entendimento de
que a leitura que ele faz da realidade social tem como fundamento uma sociedade
assentada na dominncia do modo de produo capitalista e, portanto, medularmente
contraditria e tencionada por sujeitos histricos. Por este motivo, a universalidade do
pensamento de Marx est restrita aos quadros da ordem do capitalismo.
O objeto de anlise da teoria marxista a ordem burguesa e, mais
especificamente, o nvel do movimento do capital, adotado por Marx como o ponto de
partida para a anlise da sociedade, no esgotando esta anlise em absoluto. Por isso,
importante ter conscincia dos limites de suas anlises.
Sendo assim, para a anlise crtica da sociedade capitalista, o pensamento
marxista se apresenta na contemporaneidade como um referencial revolucionrio e
transformador da ordem existente.
Ademais, compreender Marx implica ainda em recusar as posies dogmticas e
apaixonadas, de modo a buscar uma conscincia crtica para que, mediada pela
conjuntura histrica, permita analisar os oportunismos do momento que apontam o
marxismo como uma concepo ultrapassada, que no responde s necessidades de uma
poca globalizada. A perspectiva revolucionria de Marx se mantm atual no
desvelamento da sociedade burguesa e, como diz Hobsbawm (1998)
[...] Quanto ao futuro previsvel, teremos que defender Marx e o
marxismo dentro e fora da histria, contra aqueles que os atacam no
terreno poltico e ideolgico. Ao fazer isso, tambm estaremos
defendendo a histria e a capacidade do homem de compreender
como o mundo veio a ser o que hoje, e como a humanidade pode
avanar para um futuro melhor (HOBSBAWM, 1998).
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BIBLIOGRAFIA
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