O Esporte Na Cultura Escolar
O Esporte Na Cultura Escolar
O Esporte Na Cultura Escolar
O ESPORTE NA CULTURA
ESCOLAR – COM A PALAVRA O
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Belo Horizonte
2002
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O ESPORTE NA CULTURA
ESCOLAR – COM A PALAVRA O
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Belo Horizonte
2002
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AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
1. Aos meus pais – Seu Nazaré (>) e Dona Rosa – pela existência,
pela persistência, pela fé na vida, pela fé no homem e pela fé no
que virá.
DEDICATÓRIAS
No Campo institucional
No Campo acadêmico
No Campo pessoal
SUMÁRIO
Introdução................................................................................... 11
1 – O PERCURSO METODOLÓGICO.......................................19
1. – Natureza do estudo........................................................
19
2. – A Caracterização da realidade pesquisa.......................
20
1.3 – Critérios para escolha dos sujeitos....................................24
1.3.1 – A Formação Profissional dos professores pesquisados.28
1.3.2 – A experiência esportiva dos professores........................31
1.4 - A escolha do instrumento e a coleta de dados.................. 34
1.5 – Porque ouvir os professores.............................................. 38
2 - A ESPORTE ENSINADO PELOS PROFESSORES.............40
2.1 – Como os professores “escolhem” modalidades................ 41
2.2 – O processo de “composição” das turmas.......................... 49
2.2.1 – Habilidades, Gênero e Sexualidade como parâmetros.. 51
2.3 – Os eventos esportivos como lugar dos esportes...............63
2.4 – O “labirinto” dos registros das atividades.......................... 70
3 – AS REPRESENTAÇÕES DOS PROFESSORES................ 77
3.1 – As expectativas sobre o esporte que ensinam..................78
3.2 – As estratégias de ensino do esporte................................. 84
3.3 – As representações dos professores sobre a “escola” e o
esporte que ensinam.................................................................. 87
3.3.1 – De onde vem o esporte do qual falamos........................91
3.3.2 – Classificações e Princípios do esporte...........................93
3.3.3 – A legislação sobre o esporte escolar..............................96
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................105
5 – LISTA DE QUADROS, GRÁFICOS E ESQUEMAS.............112
9
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
que atuavam como técnicos das categorias de base1 do Goiás Esporte Clube.
Acreditava que a educação física podia atingir todos os seus objetivos
educacionais através da prática esportiva.
Quando do ingresso na carreira do magistério em nível superior, a partir
de 1989 – coincidentemente, quando da criação do segundo curso de
graduação em Educação Física do Estado, pela Universidade Federal de Goiás
– senti a necessidade de me reaproximar das “leituras de caráter pedagógico”
(terminologia muito utilizada no interior dos cursos de formação de professores,
especialmente entre os acadêmicos, para designar as publicações não
relacionadas às disciplinas técnicas) da área de educação física. Até então,
julgava o suficiente para o desempenho da função de professor de educação
física a experiência da prática esportiva (acumulada por vários anos!)
amparada pelos vários livros/técnicos ou manuais, amplamente divulgados até
então e os conhecimentos adquiridos durante o curso de graduação. Tal
reaproximação me fez conhecer uma série de análises2 sobre a educação
física e o ensino do esporte no ambiente escolar que denunciavam valores
como a competitividade, a seleção e a busca do rendimento na prática
pedagógica do professor de educação física, no que diz respeito ao ensino do
esporte no ambiente escolar.
Surgiam então meus primeiros questionamentos em relação à forma
como se ensinava o esporte nas aulas de educação física. Ou seja, será que o
trabalho desenvolvido com o esporte, baseado na experiência como ex-atleta e
como treinador de equipes escolares, só servia para selecionar, para excluir e
para competir? Será que o esporte no ambiente escolar, como eu o concebia,
somente reproduzia os valores da sociedade capitalista, como afirmava Bracht
(1992)? Será que existia algum aluno que não gostava de nenhuma
modalidade esportiva e, por isso, estivesse sendo desrespeitado em sua
liberdade de escolha?
Sem conseguir respostas para minhas indagações, preocupava-me, o
fato destas análises orientarem-se por questões ou interesses da educação
física, muitas delas sem a devida aproximação com o cotidiano da escola e
1
Grupos de atletas, divididos em faixas etárias distintas para o treinamento de habilidades esportivas
específicas do futebol para futuro ingresso nas equipes semiprofissionais e profissionais do referido clube.
2
Dentre elas: Medina (1983), Guiraldelli Jr. (1988), Lino Castellani Filho (1988) e Bracht (1992).
14
3
Conforme jornal O Popular de 23/12/2001, Goiânia – Goiás.
15
4
Segundo Bracht (1992), os códigos da instituição esportiva podem se resumir em princípios do
rendimento atlético-desportivo, competição, comparação de rendimentos e recordes, regulamentação
rígida, sucesso esportivo e sinônimo de vitórias e racionalização de meios e técnicas (p.22).
17
(2001)5, que serviram como antecedentes básicos para este estudo. Como
identificação, preliminar, dos estudos temos os seguintes dados.
O estudo de Borges (1995) buscou compreender o processo de
construção dos saberes docentes por parte dos professores de educação física
que atuavam em, pelo menos, duas realidades profissionais diferenciadas
(escolas públicas municipais e estaduais e escolas privadas) e abordou
questões relacionadas à formação inicial, à trajetória esportiva e profissional
dos dois professores de educação física da cidade de Belo Horizonte/MG, que
serviram como sujeitos de pesquisa para o estudo de caso desenvolvido no
início da década de 90. Após minucioso trabalho descritivo e interpretativo do
processo de construção dos saberes docentes de seus sujeitos de pesquisa, a
autora aponta, entre outras contribuições, para a necessidade de realização de
mais estudos etnográficos no interior do cotidiano escolar ou envolvendo os
vários segmentos, atores, situações, conteúdos e práticas que ali se
relacionam. Estudos, estes, que deveriam dar voz ao professor, ouvir o que
este tem a dizer a respeito de seus saberes e dos saberes da formação
acadêmica, retraduzidos em sua prática (p.168).
Assis Oliveira (1999) tem como questão central a reinvenção do esporte
como possibilidade da prática pedagógica do professor de educação física.
Após uma consistente revisão bibliográfica sobre estudos sociológicos e
historiográficos, relacionados à área de educação física, o autor analisa os
dados coletados, em um estudo de caso realizado na cidade de Recife/PE
durante o ano letivo de 1997, à luz de um referencial teórico de inspiração
marxista. Enquanto contribuição do seu estudo, destaco, neste momento, o
aprofundamento dos estudos em relação ao esporte e à prática pedagógica do
professor de educação física no sentido de construir propostas de trabalho que
privilegiem a inversão da lógica presente no tratamento do esporte por parte
dos professores de educação física. Isto é, sair da tematização de atividades
esportivas de caráter essencialmente competitivas e eventualmente lúdicas
para uma tematização essencialmente lúdica e eventualmente competitiva.
O estudo de Faria (2001) teve como foco central a identificação, análise
e compreensão dos usos e significados atribuídos ao esporte, nos vários
5
Todos em nível de dissertação de mestrado e que, com exceção do último, tornaram-se livros.
18
Entretanto, para além das indicações feitas pelos autores citados acima,
me pareceu existir, ainda, uma lacuna no que diz respeito à compreensão do
processo de construção das representações que os professores têm do esporte
que ensinam. Assim, desenvolvi este estudo com o objetivo de contribuir para
o esclarecimento das seguintes perguntas:
1. O PERCURSO METODOLÓGICO
6
Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior.
22
7
Terminologia adotada pela lei 9394/96 para designar os estudos desenvolvidos nos níveis da educação
infantil (de 0 a 6 anos), do ensino fundamental (de primeira a oitava série) e do ensino médio (do
primeiro ao terceiro ano) que constituem a educação básica no Brasil.
23
25
20
Municipio
15
Estado
10 Particular
União
5
0
Escolas
realidade, por sua história de vida e por suas relações com o esporte que, por
sua vez, servem para construir representações acerca do esporte que ensinam.
Outro aspecto que me pareceu importante para sustentar a escolha de
sujeitos de pesquisa de ambos os sexos foi o fato – conhecido previamente em
função de minha proximidade com as práticas esportivas da realidade social
onde ocorreu a pesquisa – de existir entre os professores de educação física
da cidade um certo “receio”, um certo “constrangimento”, porque não dizer, um
certo “preconceito” em relação à prática do voleibol por atletas do sexo
masculino. Preconceito, este, que parece necessitar de um maior debate entre
os professores de educação física e a comunidade escolar. Principalmente se
levarmos em consideração, como Louro (1992) que
8
Considerando a legislação trabalhista brasileira que prevê a aposentadoria por tempo de serviço a partir
dos vinte e cinco anos de carreira como professor.
28
9
Conforme combinado com os participantes da pesquisa serão utilizadas nomes fictícios ao me referir a
eles assim como não será mencionado o nome de suas escolas com o objetivo de garantir-lhes o
anonimato
29
resolução cada uma das instituições deveria dar uma forma, fazer os ajustes
necessários e implantar o currículo definido pela medida.
Assim, como a prática pedagógica do professor de educação física sofre
influência da formação profissional e dos saberes ali veiculados, como afirma
Borges (1995), parto do pressuposto de que, esta mesma formação pode
contribuir para a formação das percepções dos professores sobre o esporte.
Vejamos alguns aspectos da formação dos professores pesquisados.
O professor Edson graduou-se em educação física no início dos anos
70, pela Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás – ESEFEGO
(Goiânia), quando o curso podia ser concluído em três anos e com grades
curriculares distintas para homens e mulheres. A ênfase na técnica e no
desporto de alto rendimento que norteava os currículos das instituições
formadoras de professores de educação física naquele período (cf. Ghiraldelli
Jr., 1988) parece ter exercido importante influência na construção dos saberes
docentes do professor, como se pode perceber durante seu depoimento.
Segundo ele próprio, especializou-se na modalidade de Natação na década de
1980, somente para obter acesso a outro nível de sua carreira como professor
do sistema público estadual, uma vez que sempre preferiu trabalhar com o
futebol e o futsal. Durante o seu curso de graduação, sempre que possível,
participou de competições nas mais variadas modalidades esportivas. Segundo
o professor, essas vivências lhe garantiram e garantem sucesso profissional.
Como egressos do curso superior na década de 80, temos os casos do
professor Léo e da professora Ana.
Embora tenham se graduado, aproximadamente, na mesma época, os
professores percorreram trajetórias bastante diferenciadas. O professor Léo é
ex-atleta profissional de futebol, envolveu-se, tanto quanto pode, no movimento
estudantil quando da realização de seu curso de graduação na Universidade
Estadual de Londrina/PR e afirma, com orgulho, ter participado de várias
passeatas e manifestações em favor do movimento nacional pelas “Diretas
Já!”, em 1984. A professora Ana, por sua vez, afirma ter concluído seu curso
de graduação em educação física na ESEFEGO, com o firme propósito de
retornar para sua cidade natal (Jataí/Goiás) e constituir sua família. Em
momento algum de seu relato a professora parece arrepender-se do que, ela
própria, chamou de “passar pelo curso” e não ter se envolvido nos debates
31
ingresso no curso superior, afirma que seu curso de graduação lhe foi muito útil
para sua prática pedagógica atual. Atualmente a professora Ana – que possui
também o curso superior de Direito – ministra aulas de história e de educação
física numa mesma escola da rede municipal de Jataí, enquanto que o
professor Carlos coordena um projeto de iniciação esportiva mantido pela
prefeitura municipal de Jataí, onde atua com as modalidades de basquete e
handebol além de atuar como instrutor de musculação em uma academia da
cidade.
10
Segundo a autora, constituem a trajetória de vida dos professores de educação física as experiências
adquiridas como praticantes/atletas, como alunos do curso de graduação e como profissional inserido no
mercado de trabalho.
33
Assim, por atender aos requisitos básicos dos estudos qualitativos, por
facilitar o acesso às informações que buscava e por possibilitar a troca de
experiências durante a coleta de dados, é que optei pela entrevista.
36
disse sentir-se mais inspirada para falar de seu trabalho. O professor Léo, que
inicialmente havia escolhido a sede do Sindicato dos Trabalhadores em
Educação de Goiás/Jataí (SINTEGO) como local da entrevista, pediu para
transferi-la para um bar, nas proximidades do Sindicato. Por último, o professor
Carlos foi entrevistado em sua própria casa e na companhia de sua esposa
(que parecia estar tomando conhecimento, naquele encontro, da trajetória de
vida de seu esposo).
Todos os professores mostraram-se bastante à vontade durante a
entrevista, ressaltando que a liberdade de terem podido escolher o local e a
hora em que seriam entrevistados foi muito importante para que sentissem tal
sensação.
As entrevistas duraram, em média, noventa minutos, tendo sido
gravadas em fita cassete. A transcrição das entrevistas foi feita associando à
fala dos professores, algumas anotações sobre as circunstâncias da realização
de cada uma delas, assim como os gestos e expressões usados por eles.
Busquei, também, colher a maior quantidade de informações possíveis
sobre a prática pedagógica dos professores pesquisados e o esporte ensinado
– vivenciado – pelos mesmos. Foram também utilizadas as informações que
constavam nos diários dos professores, nos planejamentos de ensino e nos
documentos/relatórios que me foram disponibilizados pelas secretarias das
escolas onde os professores atuavam e pela SRE de Jataí. Convém destacar
que a coleta dos documentos, citada anteriormente, teve como base o ano de
1999 por ser este o período estabelecido como básico para a coleta de dados
deste estudo.
Quando da construção do relatório final deste estudo foram identificadas
algumas inconsistências entre o relato dos professores e os registros contidos
nos documentos coletados – existentes em pequena quantidade nas
secretarias das escolas onde os sujeitos de pesquisa atuavam – que
dificultariam ou fragilizariam o “processo de triangulação” (apresentado por
Trivinõs, 1987, e sugerido durante o processo de orientação deste estudo).
Assim, recorri, novamente, à entrevista com os professores pesquisados. Desta
vez, entretanto, o roteiro semi-estruturado da entrevista foi construído com a
preocupação de esclarecer pontos específicos do relato e dos diários de classe
de cada um dos professores.
38
...uma das razões por que estes dados não têm sido
utilizados devem-se ao fato de os investigadores os
rotularem de demasiados “pessoais” ou “inflexíveis” em
suma, mais um exemplo da utilização seletiva da “voz” do
professor. Ou seja, o investigador só escuta o que quer
ouvir e sabe o que tem melhor aceitação por parte da
comunidade científica (p. 70).
11
Todos eles, treinadores de futebol e futsal, com atuação destacada nas décadas de 70 e 80 no estado
de Goiás.
45
lecionaram disciplinas com as quais ele não tinha a menor afinidade ( no caso
do professor, o basquete).
O fato de os professores do curso de graduação do professor Edson não
terem a menor paciência com quem não jogava indica uma valorização dos
melhores e de uma exclusão dos menos habilidosos, estabelecendo uma
relação direta com princípios como a competitividade, a exclusão e a busca do
rendimento12 por parte destes professores.
Se considerarmos, como Tardif et al (1991), o habitus como um
dispositivo adquirido na e pela prática real, com capacidade de fixar-se em um
estilo, em “macetes”, em traços da personalidade profissional, expressando um
saber fazer e um saber ser, validados pelo trabalho cotidiano (apud Borges,
1998, p. 111) e a noção de transposição didática de Perrenoud (1993),
enquanto o conjunto de transformações que recebem os saberes para se
tornarem ensináveis, talvez se possa compreender melhor o relato do professor
Edson. Isto é, o fato de este professor trabalhar com uma única modalidade
esportiva em suas aulas de educação física (o futsal!) e o nível de treinamento
de equipes da escola se apoia no fato desta modalidade esportiva, em forma
de competições esportivas (escolares e profissionais) ter estado presente em
todas as etapas de sua trajetória de vida e, em determinados momentos, se
confundindo com a mesma. A transposição didática, neste caso, parece se
evidenciar na prioridade dada à “especialização” aos elementos básicos do
futebol na prática pedagógica do professor.
A professora Cássia, em seu relato sobre a escolha dos
conteúdos/modalidades esportivas a serem trabalhados durante o ano, fala da
sua opção pelo trabalho com iniciação esportiva do handebol por não se achar
competente para trabalhar com treinamento de equipes da escola. Para esta
professora, a sustentação de sua prática pedagógica está associada à sua
trajetória esportiva anterior ao seu ingresso no curso de graduação. Segundo a
professora, os alunos, através dos meios de comunicação (principalmente a
televisão!), têm adquirido conhecimentos sobre as inovações das várias
modalidades esportivas numa velocidade bem superior àquela que a
professora necessita para se apropriar, assimilar e transpor didaticamente
12
Citados por Bracht (1997), como princípios básicos do esporte moderno de alto rendimento ou
espetáculo.
46
13
Sobre este assunto, ver o estudo da professora Renata Machado de Assis GORI (2000) sobre as
dificuldades do professor de educação física iniciante.
47
Já o professor Léo, por sua vez, não opta claramente por um ou outro
nível técnico (iniciação ou treinamento) para a definição de suas turmas, mas
deixa claro qual a modalidade que gosta de trabalhar durante o ano. Ao
apontar suas preferências o professor relata:
Como já dito neste estudo, até o final do ano 2000 na cidade de Jataí, as
aulas de educação física não eram oferecidas no mesmo turno em que são
ministradas as demais aulas, ou seja, quem estava matriculado no turno
vespertino fazia aula de educação física pela manhã e vice-versa. Aliás, tal
sistemática estava amparada na proposta de matriz curricular construída pela
própria SRE/Jataí, da seguinte forma:
14
Evidenciadas em sua pesquisa de doutoramento, concluído em 1994.
56
15
Em 1998, por exemplo, ano de eleições estaduais e de início do processo de privatização dos Bancos
Estaduais, o governo do Estado de Goiás assumiu o patrocínio total do evento e determinou que a idade
limite dos participantes deveria ser alterada para 18 anos e teriam direito, como premiação, a abrir contas
correntes e cadernetas de poupança, isentas de qualquer taxa de serviço.
66
16
Citados por Bracht (1997).
17
Atividade recreativa da modalidade futebol de salão onde duas equipes se enfrentam pelo tempo
máximo de dez minutos, ou até que uma delas sofra dois gols, quando a perdedora deixa a quadra.
69
Ainda que tenha optado pela entrevista como fonte privilegiada de coleta
dos dados que sustentariam empiricamente este estudo, durante o percurso de
construção desta Dissertação, observei que havia a necessidade de estar
relacionando os dados coletados junto aos sujeitos de pesquisa com algo mais
que apenas os pressupostos teóricos defendidos pelos vários autores que
abordaram a temática. Neste sentido, busquei – depois de mais de um ano da
realização da primeira entrevista – todos registros que os professores
pesquisados pudessem ter de sua prática docente nos anos de 1999 e 2000
(referências deste estudo). Busca esta que suscitou uma nova entrevista com
os professores pesquisados para o esclarecimento de alguns aspectos
conflitantes entre o registro encontrado e os relatos anteriores dos professores.
O primeiro deles diz respeito ao documento de registro dos conteúdos
trabalhados pelos professores. Neste caso, embora os professores tenham
relatado que o processo de enturmação ocorria a partir de parâmetros como
tamanho, idade, sexo, nível técnico e modalidades esportivas, verifiquei que o
registro das atividades era feito em diários semelhantes ao das demais
disciplinas do currículo escolar. Ou seja, em diários com turmas mistas e
separadas apenas pela estrutura de seriação anual do sistema escolar.
Ao retornar ao campo para um novo contato com os professores
pesquisados e perguntar-lhes sobre os diários de classe, os professores
apontaram para este “instrumento” como uma formalidade a ser cumprida. A
professora Cássia, por exemplo, diz apenas cumprir uma formalidade. Segundo
ela:
...já sei, já sei; tá todo mundo num diário só né?
Aquilo lá é só para cumprir a formalidade legal
mesmo... na verdade as turmas são separadas entre
meninos e meninas que tenham o mesmo tamanho,
o mesmo desenvolvimento e idades mais ou menos
iguais para facilitar o nosso trabalho.
A professora Ana, que atua com alunos de uma escola estadual e outra
federal, dentro de uma mesma turma e tem o apoio didático pedagógico da
estrutura federal de ensino, registra suas atividades sob a forma de códigos
que correspondem ao conteúdo relacionado no plano de ensino apresentado
do início de cada ano. Porém, a professora também registra as notas e
freqüências nos mesmos diários de classe das demais disciplinas cursadas
pelos alunos; ou seja, turmas mistas e separadas apenas pelo nível definido
pelo sistema de seriação anual de ensino adotado pela Secretaria Estadual de
Educação do Estado de Goiás.
O registro das atividades da professora Ana difere dos demais
professores pesquisados pelo fato de a mesma apresentar, no início do ano
letivo, um planejamento de atividades por modalidades esportivas que pode ser
utilizado desde o nível de iniciação esportiva até o nível de treinamento. Ao
explicar a forma de registro de suas atividades a professora coloca que
18
Foram localizados, nas secretarias das escolas onde atuam os professores pesquisados, apenas os
diários de classe de parte das turmas de educação física dos professores pesquisados e referentes aos anos
de 1999 e 2000.
76
álcool com sua população jovem. Entretanto, pode se dizer, sim, que a
incidência destes problemas é bem menor que nos grandes centros urbanos.
Desta forma, a socialização, a ser desenvolvida pelo esporte – de
acordo com os professores Ana e Edson – esta diretamente relacionada à
aquisição de uma forma de comportamento social aprovado pelo grupo social
ao qual pertencem. E, neste sentido, o esporte que ensinam em suas aulas
parece servir como elemento de adaptação às regras e normas impostas pelo
sistema de ensino e pelo esporte de alto rendimento; o que nos parece traduzir
uma visão restrita de socialização e das possibilidades de socialização do
esporte que tem lugar na escola.
19
De acordo com o artigo 32 do Regulamento Geral dos Jogos Escolares Goianos/2001 cada escola
poderá inscrever apenas uma equipe com, no máximo, 16 atletas em cada modalidade.
87
20
Ao serem questionados sobre o que significaria “apoio” para a área, os professores pesquisados
relacionaram uma série de itens; dentre eles: aquisição e renovação de materiais pedagógicos (bolas,
redes, etc.) e de jogo (uniformes, bolas, etc.), dispensa das demais aulas quando da participação nos
eventos oficiais e apoio financeiro para a realização de viagens de intercâmbio e competição.
89
21
Termo jurídico que indica a ausência ou a falta de conhecimento de uma das partes.
90
22
Enquanto professor da rede pública no estado de Goiás, no período de 1992 a 1996, tal situação se
verificava sempre quando da realização dos momentos de avaliação coletiva e encontros de planejamento.
91
23
No sentido de conhecer o tratamento dado ao esporte, independente das considerações de Bracht (1997)
sobre os princípios norteadores do esporte moderno.
92
24
Cf. Bracht (1992) e Vago (in: Sousa e Vago, 1997) quando a importância pedagógica da atividade
depende diretamente de sua repercussão social, esta atividade não constitui uma prática legitima por si
própria.
96
25
Em seu artigo 217.
26
Condição essencial para o recebimento de verbas e subvenções do governo federal.
98
28
Refere-se, neste estudo, às DCN’s do Ensino Fundamental em função de ser o nível onde os professores
pesquisados afirmaram ter a maior parte de seus alunos.
100
29
Um coletivo de professores de educação física e pedagogos da Universidade Federal de Goiás e da
Secretaria Estadual de Educação de Goiás.
101
30
Entendido pela proposta como uma função pedagógica socio-cultural de especial significância, no
desenvolvimento orgânico, na formação motora e corporal, da personalidade e da ludicidade inerente ao
ser humano (p.52)
102
31
O que vai ao encontro da perspectiva de enturmação desenvolvida pelos professores pesquisados.
32
Cf. Relatório geral de atividades do Grupo de Estudos sobre o esporte escolar da Faculdade de
Educação Física da Universidade Federal de Goiás (2001).
103
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
33
Que parecem constituir, para efeito deste estudo, o que Forquin (1993), chamou de cultura da escola.
110
34
Conceito introduzido por Kunz (1994) para representar o universo de conhecimentos de que se ocupa a
educação física.
35
Na concepção de Borges (1995), que entende a trajetória de vida dos professores de educação física
como o resultado das experiências vivenciadas no campo esportivo, no campo acadêmico e no campo
profissional.
111
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
29. CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática - 6ª. ed. -
Campinas/SP : Papirus, 1996.
30. DAÓLIO, Jocimar. Educação física brasileira: seus autores e atores. São
Paulo: Universidade Estadual de Campinas, 1997. Tese (Doutorado em
Educação) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de
Campinas, 1997.
46. KUNZ, Elenor. Educação física: ensino e mudanças. Ijuí, RS: Unijuí,
1991.
118