Necrose 2014

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Universidade Federal de Goiás

Escola de Veterinária
Departamento de Medicina Veterinária
Setor de Patologia Animal

Necrose
Prof. Dr. Luiz Augusto Batista Brito
Mecanismos Gerais da Resposta Celular

Resposta
Celular Adaptação (hipertrofia)
À Lesão
Célula Normal Lesão
Celular
Reversível

Lesão
Celular
Irreversível
Necrose Apoptose
Alterações Irreversíveis da célula

1. Ocorre quando a célula passa do ponto de não

retorno a normalidade

2. Assim não retornará ao normal se o estímulo à

resposta celular não for removido.

Célula normal Necrose Apoptose


Necrose - Definições

 Morte de uma célula ou de parte de um tecido em um


organismo vivo.
 é a perda irreversível das atividades integradas da célula
 com conseqüente incapacidade de manutenção de seus
mecanismos de homeostasia
 isto é, de equilíbrio da célula com o seu meio

 Resulta, em grande parte:


 da ação degradativa progressiva de enzimas
 sobre a célula letalmente lesada

 levando a alterações da necrose:


1. Digestão enzimática célular
2. Desnaturação de proteínas
Necrose - Definições

 As enzimas catalíticas
 são derivadas de lisossomos das células mortas
 nas quais a digestão enzimática é chamada de AUTÓLISE
 ou derivadas de lisossomos de leucócitos imigrantes e denominada
HETERÓLISE.

 No primeiro caso desenvolve-se :


 Necrose Coagulativa

 No segundo caso, uma catálise progressiva das estruturas celulares


leva a:
 Necrose Liquefativa

 Ambos os processos requerem horas para se desenvolver.


Causas de Necrose

 Hipóxia:
 É a causa mais importante e freqüente da agressão e necrose
tecidual.
 Alguns exemplos de fatores determinantes:
 arteriosclerose obstrutiva
 trombose ou trombo-embolia
 insuficiência cardíaca e/ou respiratória
 anemias
 envenenamentos, como por ex. Monóxido de Carbono

 Dependendo do estado hipóxico, as células podem:


 se adaptar
 sofrer lesões reversíveis
 morrer
Causas de Necrose

 Agentes Físicos:
 traumatismos mecânicos
 variações de temperatura
 variações repentinas de pressão atmonsférica
 radiações ionizantes, que produzem radicais livres
 choque elétrico

 Agentes Químicos:
 drogas, que podem produzir lesões celulares
 venenos biológicos
 sais mercuriais, arsênico
 substâncias de uso diário:
 poluentes ambientais
 inseticidas
 herbicidas
Causas de Necrose

 Agentes Biológicos ou Infecciosos:


 vírus
 parasitos
 rickettsias
 bactérias
 protozoários
 fungos
 São causas diretas de agressões celulares

 Mecanismos Imunes:
 reação anafilática
 enfermidades auto-imunes
 Distúrbios Nutricionais
 deficiências nutricionais, especialmente def. vitamínicas
 excesso de alimentos
Morfologia Microscópica da Necrose

 Picnose
 retração nuclear
 aumento de basofilia
 condensação do DNA
 redução do volume nuclear  Núcleo Hipercromado

 Cariorrexe
 o núcleo sofre fragmentação
 dispersão da cromatina nuclear
 perda dos limites nucleares

 Cariólise ou Cromatólise
 dissolução da cromatina, devido a DNAse
 núcleo sem coloração ou muito pouco corado
Morfologia Microscópica da Necrose

 Acidofilia (eosinofilia)

 em razão da redução do pH local

 lise do citoplasma
 que mostra-se pálido e vacuolizado

 perda do contorno celular

 redução na afinidade tintorial do citoplasma e do núcleo


 aos corantes de rotina (H&E)

 Todas estas alterações celulares podem ser também observadas na AUTÓLISE

 Razão pela qual:

 deve-se ter o cuidado de colher fragmento necrosado, em áreas limítrofes ao


tecido vivo
Necrose de Caseosa de um Linfonodo
Aspectos celulares microscópicos

Necrobiose
Necrose de coagulação no Fígado
Aspectos celulares microscópicos

Necrose de coagulação
em infarto isquêmico de baço
Necrose de coagulação - Aspectos celulares microscópicos

Figado de Ovino com necrose e inflamação por Campylobacter..


Necrose de coagulação no Miocárdio
Aspectos celulares microscópicos

P
Morfologia Macroscópica

 O reconhecimento da Necrose

 em lesões macroscópicas é um dos aspectos práticos

 mais difíceis da Patologia Geral.

 Ocorre:

 perda da cor do tecido, que fica pálido

 perda da elasticidade do tecido, que torna-se friável

 os músculos assumem um aspecto de “carne cozida”

 2 a 3 dias do início do processo necrótico


 observa-se uma “zona de demarcação”
 entre o tecido necrosado e o tecido vivo
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose de Coagulação
 é o tipo mais comum de necrose
 macroscopicamente:
 amarelo pálido
 sem brilho
 limites mais ou menos precisos
 de forma irregular ou triangular
 dependendo do órgão atingido

 do tipo de circulação

 Em 99% das vezes:


 é dependente da obstrução de ramo arterial
 em órgão com circulação terminal
 A tonalidade pálida da área necrosada também pode ser denominada 
Necrose Isquêmica
 Representa as necroses observadas nos Infartos:
 do coração, rim, baço e tumores
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose de Coagulação
 Implica:
 na preservação do contorno básico da célula coagulada

 por pelo menos alguns dias

 o aumento da acidose intracelular


 desnatura as proteínas estruturais e enzimáticas
 bloqueia a proteólise da célula
 O processo de necrose coagulativa é característico
 da morte hipóxica das células, em todos os tecidos
 exceto no cérebro

 Exemplos:
 infarto do miocárdio
 necrose focal da placenta bovina na Brucelose
 necrose focal em ruminantes em infecções pelo Fusobacterium
necroforum.
Necrose de coagulação

Necrose Papilar Necrose Medular

Rim de Eqüino – Ambas associadas a Intoxicação por Antiinflamatórios

Necrose isquêmica
Bexiga - cão
Necrose de Coagulação - Macroscópica

2
Músculo esquelético
Def. Selênio/Vit. E

Rim
Isquemia e Infarto

Baço – Infarto de origem vascular


Necrose de coagulação

Teta de bovino com Mastite


Necrose de coagulação

Mesentério e Intestino Delgado de bovino


CID – Coagulação Intravascular Disseminada
Necrose de Coagulação - Microscópica
Necrose de Coagulação por Anóxia

Fígado
Rim
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose Caseosa ou de Caseificação


 estrutura semelhante a “caseum” (queijo branco e fresco)

 Apresenta-se como:
 massa amorfa e esbranquiçada

 sem brilho e consistência pastosa

 friável e seca

 É freqüente em focos de infecções crônicas granulomatosas:


 Tuberculose bovina ( Mycobacterium bovis)

 Linfadenite caseosa dos ovinos (Corynebacterium pseudotuberculosis)

 Tularemia ( Francisella ou Pasteurella tularensis)


Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose Caseosa ou de Caseificação

 A cronicidade e a presença de lipídeos especiais impedem:

 a resolução e liquefação do tecido

 Histologicamente:

 apresenta “debris” granular amorfo

 composto de células coaguladas e fragmentas

 as vezes, com calcificações

 bordo inflamatório delimitado

 O processo é conhecido como: Reação Granulomatosa


Necrose de Caseificação - Macroscópica

1
Fígado de Bovino – Necrobacilose - Fusobacterium necrophorum Linfonodo Peribronquial de Bovino - TB

4
3 3
4

Pulmão de Papagaio - Aspergillus Fígado de Bovino – Hepatite Parasitária Crônica


Necrose de Caseificação - Tuberculose
Necrose de Caseificação - Microscópica

Pulmão

Linfonodo
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose de Liquefação

 resulta da ação de enzimas hidrolíticas

 com dissolução enzimática rápida e total do tecido morto

 favorecida pela estrutura e constituição do mesmo.

 Há prevalência da heterólise

 que favorece a desnaturação das proteínas

 É característica de infecções bacterianas focais

 que levam a formação de pús

 com liberação das enzimas proteolíticas


Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose de Liquefação

 O PÚS, é o principal resultado da agressão celular

 por agentes que evocam reação inflamatória supurativa

 Quando localizado e com cápsula é denominado: Abscesso

 Se difuso , sem cápsula e sem limites definidos: Flegmão

 Se em cavidade pré-formada, como cavidades torácica e abdominal,

vesícula biliar, bexiga, etc é denominado: Empiema


Flegmão no membro posterior esquerdo de um cão.
Necrose muscular e inflamação subcutânea em cão devido a flegmão
provocado pela aplicação de injeção sem assepsia
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose de Liquefação
 O Tecido Nervoso é um dos locais prediletos de sua ocorrência
 Por ser rico em lipóides e pobre em proteínas
 apresenta pouca capacidade de coagulação
 o que facilita a sua liquefação e amolecimento
 Na Supra-renal é outro local onde ocorre a Necrose de Liquefação
 A necrose de coagulação pode evoluir para Necrose de Liquefação se invadida por
neutrófilos, com amolecimento do tecido pela ação das enzimas proteolíticas

 O cérebro responde
 a injúria anóxica e tóxica intensa
 com digestão enzimática rápida
 e formação de focos de dissolução tecidual
 Conhecidos como MALÁCIA
Necrose de Liquefação
2
1

Cérebro

3 4

Cérebro Pulmão
Necrose de Liquefação

Leucoencefalomalácia
dos Equinos

Intoxicação por milho mofado


Toxina de Fungo : Fusarium moniliforme
Toxina Fumonisina
Necrose de Liquefação

Leucoencefalomalácia dos Equinos

Intoxicação por milho mofado


Toxina de Fungo : Fusarium moniliforme
Necrose de Liquefação - Microscopia

Cérebro

2
Perda de neurônios e
Células neurogliais

Macrófagos e Debris celulares


Necrose de Liquefação - Microscopia

Comum a presença de neutrófilos decorrentes de agressão bacteriana


Necrose Fibrinóide

O objetivo desta lesão necrótica é mostrar a alteração hialina conjuntiva


denominada alteração ou necrose fibrinóide.

O termo fibrinóide quer dizer semelhante à fibrina: é um material hialino,


portanto, homogêneo e eosinófilo, de aspecto grumoso ou filamentoso.

Ocorre em pequenas artérias (portanto, maiores que arteríolas) em duas


situações básicas: em algumas doenças autoimunes e na hipertensão arterial
maligna.

 O tecido necrótico adquire um aspecto hialino e acidofílico, semelhante a


fibrina. Pode aparecer na aterosclerose, na úlcera péptica etc.
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose Fibrinóide

Necrose fibrinóide (NF) em úlcera péptica (estomacal). O tecido necrosado apresenta um


aspecto hialino e está rodeado por infiltrado inflamatório (IC) (HE, 100X).
Necrose Fibrinóide segmentar da parede vascular – Útero
Poliarterite nodosa
Necrose Fibrinóide segmentar da parede vascular – Útero
Poliarterite nodosa

A necrose fibrinóide da fase inicial é, com o tempo, substituída por tecido fibroso,
originando o espessamento nodular da adventícia que caracteriza a doença.
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Necrose Gordurosa Enzimática


 Necrose Enzimática
 Esteatonecrose

 É uma forma de necrose do tecido adiposo


 na qual a gordura é desdobrada
 pela ação de lipases pancreáticas
 Em Ácidos Graxos Livres e Glicerol
Mecanismo:
Os Acidos Graxos liberados se combinam com o Cálcio para produzir áreas
brancas saponificadas.
Ocorre:
 No tecido peripancreático ( pancreatite aguda)
 No tecido gorduroso da glândula mamária
Necrose Gordurosa Enzimática Pâncreas

Necrose enzimática da gordura do pâncreas Observem-se os focos de cor amarelo intenso na


gordura do omento correspondendo às zonas necrosadas.
Necrose Gordurosa Enzimática Pâncreas

Mink (Marta) – Pancreatite/Necrose Gordurosa / Infarto esplênico


Necrose Gordurosa Enzimática

Pâncreas
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Gangrena
 Ocorre quando bactérias saprófitas crescem no tecido necrótico.

 O termo gangrena é usado:


 para designar a necrose dos tecidos

 de uma extremidade

 na qual a oclusão vascular

 provocou necrose de coagulação

 ou quando:
 ocorre a interação entre a Necrose e a Putrefação
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Gangrena
 As gangrenas são necroses que ocorrem com:
 Isquemia
 Liquefação
 as custas de bactérias e leucócitos
 onde as bactérias geralmente são anaeróbicas
 levando a putrefação do tecido necrótico

 É encontrada em tecidos de fácil acesso as bactérias saprofíticas


tais como:
 pele
 pulmão
 intestino
 glândula mamária

 Tipos de Gangrena : Seca, Úmida e Gasosa


Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Gangrena Seca
 desidratação dos tecidos necrosados
 secos e duros, semelhante a múmias  Mumificação

 Causa isquêmica
 no congelamento ou vasoconstrição devido:
 ergotismo
 bandagem ou gesso muito apertado
 localização em extremidades como:
 cauda
 nariz
 orelha
 membros
 não apresentando o fator “dor”
 apresentando macroscopicamente, linha demarcatória entre a área
normal e o tecido necrosado
 Ocorre fisiologicamente no Cordão Umbilical
Gangrena Seca – Orelha de Suíno
Gangrena Seca – Orelha de Suíno
Em alguns casos associado a Endocardite Valvular Vegetativa
Gangrena Seca
Gangrena – Necrose Isquêmica – (diabetes)

2
Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Gangrena Úmida ( facilitada pela umidade dos tecidos )


 Ocorre preferencialmente:
 nos pulmões:
 pneumonias agudas por aspiração
 mucosa uterina:
 metrite purulenta e/ou morte fetal
 intestino:
 torções ou deslocamento com bloqueio circulatório
 glândula mamária:
 mastite aguda por coliformes e/ou estafilococos

 É geralmente fatal, devido ao quadro de Toxemia Sistêmica


Gangrena Úmida

Pneumonia Gangrenosa por falsa via - Bovino


Gangrena Úmida

Pneumonia Necrohemorágica por falsa via - Eqüino


Gangrena Úmida

Mastite Gangrenosa - Vaca


Gangrena Úmida

Colum e Cecum de Eqüino - Colite e Tiflite Urêmica por Falha Renal


Tipos de Necrose: Padrões Morfológicos

 Gangrena Gasosa
 formação de bolhas de gás devido
 ação de bactérias anaeróbias gasógenas
 sobre o tecido necrosado

 Bactérias do gênero Clostridium


 Clostridium chauvoei do Carbúnculo Sintomático
 o exemplo típico
 com formação de gás em massa muscular necrosada
 miosite
 toxemia sistêmica fatal
 Clostridium septicum e Clostridium novyi
 também podem produzir lesões gangrenosas de caráter gasoso
Carbúnculo Sintomático - Clostridium chauvoei

1 2

Miosite Gangrenosa
Gangrena Gasosa Endometrial por Clostridium septicum ou Clostridium novyi - Vaca
Carbúnculo Sintomático - Clostridium chauvoei

Miocardite gangrenosa

Enterite gangrenosa
Conseqüências da Necrose

Necrose

Calcificação Localização Localização Lise do Infecção


material Secundária
Distrófica
necrótico

Seqüestro
Reabsorção
Abscesso
Tecido de
Cavidade
Granulação
Absorção Cística Gangrena
( + SNC )
pelos
Macrófagos
Cicatrização
Apoptose

 Do grego “cair fora” introduzida em 1972

 É uma forma distinta de morte celular ( morte programada)

 manifestada pela condensação da cromatina

 fragmentação do DNA

 cuja a função é de:

 deleção de células no desenvolvimento normal

 organogênese

 funcionamento imune

 crescimento tissular

 mas que pode ser induzida por estímulos patológicos


Apoptose

 É responsável por vários eventos fisiológicos e patológicos:


 Destruição programada das células durante a embriogênese
 Involução hormônio-dependente do adulto:
 atresia folicular ovariana
 regressão da mama após a lactação
 descolamento das células endometriais durante o ciclo estral
 Descamação celular do epitélio da cripta intestinal
 Morte celular em tumores
 Morte de células imunológicas ( Linfócitos B e T )

 Histologicamente:
 não há inflamação no local, em contrate a necrose
Mecanismo de Apoptose
 A apoptose é melhor observável com objetiva de imersão.
 As células em apoptose estão dispersas entre as células viáveis.
 Mostram cromatina condensada em grumos na periferia do núcleo.
 O nucléolo pode ainda estar evidente.
 Fragmentos nucleares isolados representam corpos apoptóticos (resultado da
fragmentação dos núcleos que sofreram apoptose).
 A ocorrência de apoptose sugere que muitas das células tumorais apresentam
anormalidades genômicas que as tornam inviáveis, ativando o gem p53, que induz a
célula a sofrer apoptose (suicídio celular).
Apoptose
Apoptose
Apoptose
Características da Necrose X Apoptose

Necrose Apoptose
Estímulo: hipóxia, Toxinas Estímulo: Fisiológico e Patológico

Histologia: Histologia:
Células Isoladas
Degeneração Turva
Condensação cromatina
Necrose de Coagulação
Corpos apoptóticos
Rompimento de organelas

Degradação do DNA:
Degradação do DNA: Internucleossomal
Aleatório, depleção ATP Ativação gênica
Lesão Membranosa Endonuclease
Danos por Radicais Livres
Reação Tissular:
Reação Tissular: Sem inflamação
Com Inflamação Fagocitose de Corpos apoptóticos

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