Avaliação Da Viabilidade Técnica de Um Sistema Fotovoltaico de Minigeração Conectado À Rede de Energia Elétrica
Avaliação Da Viabilidade Técnica de Um Sistema Fotovoltaico de Minigeração Conectado À Rede de Energia Elétrica
Avaliação Da Viabilidade Técnica de Um Sistema Fotovoltaico de Minigeração Conectado À Rede de Energia Elétrica
Agradeço também ao meu melhor amigo e noivo Leandro, que esteve comigo desde o pré-vestibular, e
que percorreu todo esse caminho ao meu lado, sendo paciente e me dando força e motivação para buscar
meus objetivos até o fim.
Quero agradecer também aos amigos que fiz durante o curso. Obrigada pelo apoio nos momentos difíceis
e pela amizade que me foi oferecida. Com certeza todo esse trajeto teria sido mais difícil sem vocês.
Agradeço ao meu professor e orientador Rodrigo Calili, pela ajuda dada no desenvolvimento do trabalho
e por possibilitar todo o conhecimento adquirido nesse último semestre.
Agradeço também à Mundivox pela disponibilidade das informações para a elaboração do projeto e a
todos que se dispuseram a me ajudar durante seu desenvolvimento.
Por fim, agradeço à vida e a todas as oportunidades que me foram dadas para que eu chegasse a esse
momento.
Obrigada.
Resumo
Com base na resolução 482/2012 da ANEEL, que regulamenta o acesso a microgeração e minigeração
distribuída, o presente projeto tem por objetivo apresentar uma avaliação da viabilidade técnica para a
implementação de uma usina remota de minigeração solar fotovoltaica conectada à rede de 592 kWp,
para suprimento de um estabelecimento comercial. Serão consideradas as etapas necessárias para a
implantação, levantando equipamentos utilizados, como módulos fotovoltaicos, inversores e proteções,
e que após dimensionada será validada através da simulação do software PVSyst. Esse trabalho foi
realizado visando uma posterior análise de viabilidade econômica. O local para a instalação da usina é
um site fictício, porém deve se localizar na região de atuação da concessionaria Light, uma vez que a
empresa a obter a compensação está localizada no Centro do Rio de Janeiro.
Abstract
Based on ANEEL Resolution 482/2012, which regulates access to distributed microgeneration and
minigeneration, this project aims to present an assessment of the technical feasibility for the
implementation of a grid-connected remote photovoltaic solar minigeneration plant of 592 kWp, to supply
a commercial establishment. The necessary steps for the implementation will be considered, presenting
the equipment used, such as photovoltaic modules, inverters and protections, and after dimensioning will
be validated through the simulation of PVSyst software. This work was carried out aiming at a subsequent
economic viability analysis. The site for the installation of the plant is a fictitious site, but it must be
located in the Light concessionaire's area of operation, since the company to obtain compensation is
located in downtown Rio de Janeiro.
1.1 Introdução.......................................................................................................................................... 1
4 Conclusão .......................................................................................................... 28
Anexo I .......................................................................................................................................................... 32
Anexo II ......................................................................................................................................................... 33
Anexo IV ........................................................................................................................................................ 36
1 Introdução e Contextualização
1.1 Introdução
Em 1972, mais de 100 anos após o fim da Revolução Industrial, período de grande desenvolvimento
tecnológico, porém de exploração desenfreada dos recursos naturais, ocorreu a Conferência das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, ou Conferência de Estocolmo, na qual pela
primeira vez o tema de preservação ambiental foi levantado. A reunião abordou temas relacionados ao
aumento da poluição no planeta e o esgotamento dos recursos naturais, porém as reações dos países
foram adversas; os Estados Unidos, por exemplo, foi o primeiro país a concordar com a redução de suas
atividades industriais, mas países subdesenvolvidos, como o Brasil, se direcionaram para o oposto, sob
o lema de “desenvolvimento a qualquer custo”.
Apesar das diferentes opiniões durante a Conferência de Estocolmo, ela impulsionou outras discussões
sobre o tema da preservação ambiental e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), voltado à proteção do meio ambiente e à promoção do desenvolvimento sustentável. Em 1983
ocorreu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que após 4 anos culminou no
chamado Relatório de Brutland. Esse relatório apresentou ao mundo o conceito de desenvolvimento
sustentável, além de tratar de questões como aquecimento global e destruição da camada de ozônio.
Com o passar dos anos, outros encontros para discussão do tema surgiram, como a Rio92. Em 1997, foi
elaborado o chamado Protocolo de Quioto, que definiu metas para que os países integrantes da ONU
reduzissem suas emissões dos gases causadores do efeito estufa, vigorando a partir de fevereiro de
2005.
Esses encontros deram abertura para a ampla discussão sobre o desenvolvimento sustentável que existe
hoje. Em 2015, em Paris, foi realizada a COP21, na qual foi gerado um acordo global conhecido como
Acordo de Paris, que visa combater os efeitos das mudanças climáticas e reduzir as emissões de gases
de efeito estufa por meio de metas que passam a valer a partir de 2020. A Contribuição Nacionalmente
Determinada (NDC, acrônimo em inglês) brasileira define que até 2025 as emissões de gases de efeito
estufa sejam reduzidas em 37% dos níveis de 2005, e em 43% no ano de 2030 (MMA, 2015). Além da
NDC, em 2015 também foi criada a Agenda 2030, que propõe 17 Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), na qual o ODS7 foca na transição energética de fontes não renováveis e poluidoras
para fontes renováveis limpas.
A matriz elétrica mundial ainda é composta principalmente por termelétricas, que produzem energia por
meio de combustíveis fósseis, como carvão e gás natural, e apesar do recente aumento da geração de
energia elétrica por meio de fontes renováveis, os combustíveis fósseis ainda representam cerca de 75%
da produção de energia elétrica mundial (MME, 2016).
O panorama energético brasileiro se difere bastante do mundial. Hoje o Brasil totaliza 165.963.910 kW
de potência instalada em 7.534 empreendimentos, sendo previsto para os próximos anos a implantação
de mais 22.806.675 kW na capacidade de geração do país (ANEEL, 2019). Cerca de 60% da matriz
elétrica brasileira é composta por hidrelétricas, o que torna o Brasil um país com a maior parte de sua
produção de energia elétrica proveniente de fontes renováveis e de baixo custo. Fontes renováveis são
ditas inesgotáveis e causam menor impacto ambiental do que aquelas que utilizam combustíveis fósseis
como fonte, e não contribuem para o “efeito estufa”. Porém, há desvantagens na criação de hidrelétricas.
O desmatamento de áreas naturais, extinção de espécies de animais e a retirada de pessoas de suas
residências para inundação da área são alguns exemplos. Além disso, nos meses em que a previsão
hidrológica indica vazões abaixo da esperada e redução dos níveis dos principais reservatórios, as
termelétricas do país são acionadas, influenciando principalmente no aumento do preço da energia (PLD)
(ANEEL, 2019).
Dessa forma, é cada vez mais urgente, principalmente para grandes consumidores, buscar formas de
redução dos seus custos com energia elétrica. A Resolução Normativa (REN) 482/2012 da ANEEL
apresentou uma oportunidade para que todos os consumidores, não apenas aqueles com altos consumos,
produzam sua própria energia, por meio da regulamentação da microgeração e minigeração distribuída.
Além disso, a REN 687/2015, alteração da 482/2012, apresenta o conceito de autoconsumo remoto, que,
de forma sucinta, é a possibilidade de a produção de energia ser em local diferente de onde ela será
compensada, desde que seja na mesma área de concessão e ambos os locais sejam de mesma Pessoa
Física ou Jurídica (REN ANEEL 687, 2015). Essa e outras definições, como empreendimento com múltiplas
unidades consumidoras e geração compartilhada, através de consócio e cooperativas, fizeram surgir
novas possibilidades de negócios e criação das chamadas fazendas solares.
A forma de geração distribuída (GD) mais difundida hoje no país é a solar fotovoltaica, tendo em vista
seu grande potencial de geração, facilitado pelo posicionamento geográfico do Brasil, pela facilidade de
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implantação do sistema e barateamento dos sistemas fotovoltaicos, que de 2013 a 2017 caíram em torno
de 25% (BNDES, 2018). Segundo dados da ANEEL (2019), em termos de potência instalada, os valores
realizados estão acima das projeções mais otimistas. Em dezembro de 2018, a potência instalada já
ultrapassava os 600MW, enquanto o previsto era em torno de 300MW, conforme gráfico apresentado na
Figura 1.1.
Um dos motivos para o crescimento acelerado da GD no último ano foram as propostas da ANEEL
apresentadas na Audiência Pública (AP) 001/2019, que visa modificar o texto da REN 482/2012. Foram
definidas 6 diferentes alternativas, que se diferenciam pela valoração da energia injetada na rede (ANEEL,
2019). O ponto é, os “prosumidores” (unidades consumidoras que também produzem sua própria energia
elétrica) que se conectarem à rede até o fim de 2019 continuam com as regras atuais vigentes, cuja
compensação de energia é integral, porém os demais deverão seguir as regras que estão sendo definidas
na revisão, que chegam a uma compensação mínima de 37%, por conta do pagamento dos custos de
rede e encargos. Com isso, houve uma corrida para a implementação das usinas de microgeração e
minigeração distribuída antes da modificação da regra. Vale ressaltar que, para dar prosseguimento a AP
001/2019, a ANEEL abriu consulta pública até da 30/11/2019, a fim de receber contribuições sobre as
possíveis alterações na REN 482/12.
1.2 Objetivos
Com a difusão da geração distribuída, possibilitada pela resolução 482/2012 da ANEEL e pela redução
dos preços dos painéis fotovoltaicos, mais empresas buscam produzir sua própria energia, visando, além
da redução em suas contas de energia elétrica e maior confiabilidade no seu fornecimento de energia, os
benefícios decorrentes do chamado Marketing Verde.
Este trabalho tem por objetivo apresentar o dimensionamento de uma usina solar fotovoltaica de geração
distribuída conectada à rede, que forneça remotamente 592 kWp para suprimento de um estabelecimento
comercial localizado no Centro do Rio de Janeiro. O estudo irá apresentar os materiais necessários, bem
como os aspectos legais que devem ser atendidos para a implantação da usina, considerando a
implementação em site fictício, porém na região da atuação da mesma concessionária da empresa a ser
atendida. Esse trabalho servirá de base para um futuro estudo da viabilidade econômica do projeto.
O trabalho está dividido em quatro capítulos. No capítulo 1 são abordados os principais fatos que
influenciaram a busca por geração de energia limpa e renovável, além de apresentar a crescente da
energia solar no Brasil e os objetivos do estudo. No capítulo 2 é apresentado o referencial teórico que
servirá de base para o desenvolvimento do estudo, com os diferentes tipos de sistemas e módulos
fotovoltaicos, as principais definições da área, o potencial de geração do Brasil, a estrutura de proteção
e suportes de uma usina, além das resoluções e normas que regem a micro e minigeração distribuída.
No capítulo 3 é demonstrada a metodologia de dimensionamento dos equipamentos para a usina e os
resultados do estudo, e uma comparação com as simulações realizadas no PVSyst. Por fim, no capítulo
4, são apresentadas as conclusões do estudo e as sugestões de trabalhos futuros.
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2 Referencial Teórico
Antes de apresentar o desenvolvimento do projeto, é preciso expor os conceitos e as normas que servem
como base para sua elaboração. Abaixo são apresentadas algumas definições básicas que auxiliarão no
andamento do trabalho.
Potência instalada: segundo a ANEEL, potência instalada é definida como somatório das potências
elétricas ativas nominais das unidades geradoras. Dessa forma, num sistema solar fotovoltaico, é dada
pela soma das potências nominais de todos os módulos fotovoltaicos do sistema, fornecida em MWp;
Energia gerada: considerando 1kWp de potência instalada, a energia gerada por um sistema fotovoltaico
corresponde a aproximadamente 120kWh/mês de energia gerada. Ou seja, a energia gerada é expressa
em kWh.
Radiação: energia emitida pelo Sol. Sua intensidade depende da altura solar, determinada pela
localização do ponto medido no globo terrestre (latitude e longitude) e do ângulo de incidência dos raios
solares.
Irradiância solar: medida de potência de radiação solar por metro quadrado (densidade de potência),
expressa em W/m².
Horas de Sol a Pico (HSP): indica a quantidade de horas em que uma irradiação solar padronizada de
1000W/m² é recebida no local indicado, expressa em um determinado período (normalmente dia ou
ano). Abaixo é apresentada a Figura 2.1, retirada da apresentação do Professor Alceu Ferreira Alves da
Universidade de Engenharia de Bauru (UNESP), disciplina 2379EE2 Energia Solar FV no ano de 2016 que
mostra claramente a relação entre irradiância e HSP.
Eficiência: razão entre a potência de saída do sistema solar e a potência de irradiância solar (dada pelo
produto entre a irradiância solar e a área dos módulos), expressa geralmente em percentual.
O Sol é fonte inesgotável de energia e pode ser utilizado como fonte de inúmeros tipos, desde fonte
natural de iluminação e calor, até em sistemas que preveem sua captação. Um exemplo é a energia solar
térmica, na qual a energia é captada por painéis solares térmicos (coletores solares), a fim de aquecer a
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água, geralmente utilizada em chuveiro e em processos industriais. Outra forma de utilização da energia
solar é na energia heliotérmica (ou solar concentrada), a qual utiliza um sistema de espelhos
(concentradores), concentrando a radiação solar e então gerando energia elétrica. Esse tipo de energia
é menos difundido por conta de seu alto custo e complexidade de implantação.
A energia solar mais difundida na atualidade é a energia solar fotovoltaica, obtida por meio da conversão
direta da radiação do Sol em eletricidade, realizada nas chamadas células fotovoltaicas. Nelas ocorre o
efeito fotovoltaico, fenômeno físico que surge em materiais semicondutores quando expostos à luz
natural. O material mais utilizado como semicondutor é o silício, base das células solares, que em
conjunto formam os módulos fotovoltaicos.
Uma única célula fotovoltaica tem tensão em torno de 0,7 V e corrente de aproximadamente 3 A,
dependendo de seu material (CRESESB, 2008). Quando conectadas em série ou em paralelo, elas formam
os módulos fotovoltaicos.
O material semicondutor mais difundido no mercado atualmente, para a fabricação dos módulos
fotovoltaicos, é o silício, monocristalino (mono-Si) ou policristalino (poli-Si), que representa 85% do
mercado mundial (SENAI-SP, 2016). Porém, há também outras tecnologias, como as células de filmes
finos baseadas no uso de silício amorfo, telureto de cádmio (CdTe) ou disseleneto de cobre índio e gálio
(CIGS), e até células fotovoltaicas orgânicas, cuja tecnologia ainda está em desenvolvimento.
Os módulos fotovoltaicos feitos de silício monocristalinos são fabricados a partir de um único cristal de
silício puro, e uma vez que a pureza do silício determina a eficiência do módulo, esse tipo é mais eficiente
do que os policristalinos, com eficiência de até 22% (PortalSolar, 2019). Porém, seu processo de
fabricação é complexo, gerando maior custo de produção do que os demais tipos de módulos. Já os
módulos fotovoltaicos policristalinos são formados por múltiplos cristais fundidos, tem eficiência próxima
a eficiência dos módulos monocristalinos, porém mais baixa, com média de 17% (PortalSolar, 2019).
Os módulos mono-Si e poli-Si podem facilmente ser diferenciados quando observados de perto, uma vez
que os monocristalinos possuem cor mais escura, próximo ao preto, e bordas arredondadas, e os
policristalinos têm tonalidade mais azulada, além de ser possível observar os diferentes cristais que os
formam. Quando comparados os módulos mono e policristalinos de mesmo fabricante e de potência
similar, tem-se que a eficiência dos primeiros está em torno de 18%, e dos segundos em torno de 16%.
De modo geral, os módulos solares de filmes finos não são utilizados em instalações de sistemas
fotovoltaicos, uma vez que, apesar de mais baratos, possuem menor eficiência por m² do que os
monocristalinos e policristalinos, além de possuírem menor tempo de garantia. Abaixo é apresentada
uma figura dos três diferentes tipos de módulos fotovoltaicos citados.
Figura 2.2 – Exemplos de módulos fotovoltaicos, monocristalinos (esq.), policristalinos (centro) e filme
fino (dir.) (Ecofener, 2019)
Cada módulo solar tem acoplada uma caixa de conexão, onde se encontra o diodo de desvio (ou diodo
de by-pass), responsável por reduzir os efeitos do sombreamento nos módulos conectados. Quando uma
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região do módulo fotovoltaico está sombreada, sua corrente, e por consequência, a potência gerada pelo
sistema é reduzida. O diodo de desvio é então um caminho alternativo para a corrente nesses casos.
A caixa de conexão também possui dois terminais do tipo MC4, um terminal positivo e um negativo, que
servem para conectar os módulos entre si, seja em série, quando o terminal positivo deve ser ligado ao
terminal negativo do módulo seguinte, ou em paralelo, quando terminais positivos e negativos se
conectam entre si. Os terminais MC4 também permitem a conexão dos módulos com cabos de 4 mm²
ou 6 mm², que devem ter grau mínimo de proteção IP 67 (proteção contra poeira e resistente a um
mergulho na água de até 1 metro de profundidade durante 30 minutos) (SENAI-SP, 2016). Abaixo é
apresentada uma figura dos terminais, retirada do Manual de Energia Solar da empresa Solarize.
Os módulos fotovoltaicos são produzidos de forma a terem 36, 60 ou 72 células, e suas tensões nominais
são de 18 V, 30 V ou 36 V, respectivamente. Em geral, eles são conectados em série, a fim de obter
maiores tensões, formando uma string. Quando um conjunto de strings é conectado em paralelo, a tensão
é mantida e suas correntes são somadas. Nesse caso, a configuração dos módulos é chamada de arranjo,
comumente visto nas usinas solares para produção de uma grande quantidade de energia. A imagem
abaixo, retirada da apresentação do workshop Projeto de micro/minigeração de sistemas fotovoltaicos,
ministrado pelo professor Delberis Araujo Lima, diretor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-
Rio, apresenta claramente os conceitos de célula, módulo, string e arranjo.
O comportamento das células e módulos fotovoltaicos é observado por meio da chamada curva IxV. Nela,
é apresentado o chamado Ponto de Máxima Potência (Pm), ou potência de pico (a sigla MPPT - Maximum
Power Point Tracking - também é utilizada para identificar esse ponto), que é dado pelo produto entre a
Tensão de Máxima Potência (Vm) e a Corrente de Máxima Potência (Im). Ou seja, Pm identifica a máxima
potência nominal da placa, Vm é a tensão associada ao ponto de máxima potência, comumente chamado
de tensão de operação, e Im é a corrente associada ao ponto de máxima potência, ou corrente de
operação.
Além desses parâmetros, outros dois pontos da curva IxV também são apresentados no datasheet dos
módulos fotovoltaicos: Voc, tensão de circuito aberto, ou seja, quando não há carga conectada ao módulo
(corrente nula) e o Isc, corrente de curto circuito, valor máximo da corrente sob carga (tensão nula).
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Esses pontos são apresentados nas especificações dos módulos em duas situações: nas condições de
teste padrão (STC, acrônimo em inglês), que apresenta irradiância de 1.000 W/m², índice de massa de
ar (IAM) de 1,5 e temperatura das células de 25ºC, e sob temperatura operacional do módulo nominal
(NMOT, acrônimo em inglês), com irradiância de 800 W/m², índice de massa de ar (IAM) igual a 1,5,
20ºC de temperatura e velocidade do vento de 1 m/s. Abaixo é apresentada a curva IxV de uma placa
genérica, onde os pontos citados estão indicados.
Quando os módulos fotovoltaicos são agrupados em série ou paralelo, é recomendável que a associação
seja feita entre módulos de mesmas características, evitando perda por descasamento ou mismatch. Na
conexão em série, a corrente fornecida deve ser a mesma em todos os módulos, pois caso um deles
forneça valor de corrente abaixo da dos demais, a corrente de toda a string será reduzida, ocasionando
em perda no sistema. No caso das conexões em paralelo, a perda será na tensão, porém tal perda é
menos prejudicial do que a diferença de correntes nas conexões em série (SENAI-SP, 2016).
Um ponto muito importante a ser observado em relação as perdas do sistema é que os valores utilizados
para os cálculos são referentes a STC, mas durante sua operação, os módulos estão expostos a inúmeros
fatores que influenciam em sua performance. Os dois principais fatores de influência são a intensidade
luminosa e a temperatura das células.
A corrente gerada nos módulos aumenta linearmente com o aumento da intensidade luminosa, de forma
que um dos principais fatores de perdas é o chamado sombreamento. Ele está relacionado com a
disposição dos módulos para recebimento da energia luminosa e com a sujeira depositada sobre eles.
Vale ressaltar que mesmo que o sombreamento seja parcial, haverá diminuição de corrente, uma vez
que os módulos ligados em série irão se adequar a menor corrente produzida. Este é o principal fator de
perdas dos módulos fotovoltaicos, por isso um estudo de sombreamento na área de implementação da
usina é recomendado.
Já com aumento da temperatura da célula ocorre queda da eficiência do módulo, uma vez que a tensão
é inversamente proporcional ao aumento de temperatura (CRESESB, 2008). A taxa de variação (Coef%)
é entre 0,3%/ºC e 0,5%/ºC, conforme Tabela 1, e para correção da tensão, corrente e potência dos
módulos fotovoltaicos, é utilizada a expressão (1), onde Tamb é a temperatura ambiente, considerada
25ºC como padrão quando o local de instalação dos módulos não é definido. O valor de perda percentual
encontrado deve ser multiplicado aos valores obtidos de tensão, corrente e potência, a fim de se obter
os valores corrigidos.
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Tabela 1 - Coeficientes de correção da produção de energia (CanadianSolar, 2018)
Características de Temperatura
Especificação Dado
Coeficiente de Temperatura (Pmáx) -0,4%/°C
Coeficiente de Temperatura (Voc) -0,31%/°C
Coeficiente de Temperatura (Isc) -0,05%/°C
No documento com as especificações dos módulos fotovoltaicos são apresentados dois gráficos,
referentes a ambos fatores, intensidade luminosa e temperatura, em função das variações de tensão e
corrente geradas; eles foram reproduzidos abaixo.
Curvas I-V
Figura 2.6 - Curvas IxV com influência da irradiação (esq.) e da temperatura (dir.) (CanadianSolar,
2018)
Da radiação solar que penetra nas camadas superiores da atmosfera terrestre, apenas uma fração chega
ao solo, a qual se divide nas componentes direta (ou de feixe) e difusa. A componente direta é toda a
radiação que chega à Terra sem sofrer nenhum tipo de interferência da atmosfera, em linha reta, e
segundo o Departamento de Física da Universidade Federal do Paraná, constitui cerca de 25% de toda a
radiação que atinge o solo. Já a componente difusa é constituída pela radiação solar espalhada,
decorrente dos gases e aerossóis; a radiação refletida é considerada um caso especial da radiação
espalhada, que surge quando a superfície receptora do raio solar é inclinada em relação à horizontal. A
fração da radiação que é refletida por uma superfície é chamada de albedo, que varia dependendo da
natureza do material refletido e da altura do Sol. O albedo da Terra é cerca de 30% (superfícies com
máxima reflexibilidade possuem albedo de 100%).
Nem todos os pontos da superfície da Terra possuem a mesma quantidade de irradiação solar. As regiões
localizadas próximo à Linha do Equador, por exemplo, possuem mais disponibilidade de radiação solar
do que as localizadas próximo aos polos, fato que se deve aos movimentos de rotação e translação da
Terra e da quantidade de massa de ar que a radiação precisa atravessar. Por conta disso, o Brasil é um
dos melhores países para a geração de energia solar fotovoltaica, e apesar de estar apenas entre os 30
países que mais produzem esse tipo de energia, ele já alcança a marca de mais de 870 MW em capacidade
instalada.
Atualmente, os 5 países com maior capacidade instalada são a China, o Japão, Alemanha, Estados Unidos
e Índia. A China, líder em capacidade instalada, representa cerca de 37% da produção solar global, e
com os incentivos de Governo, que anunciou o investimento de US$ 360 bilhões em energia alternativa
até 2020, tende a se destacar cada vez mais. O Japão, segundo no ranking, corresponde a 11,5% da
capacidade de geração mundial; inclusive o país já possui uma cidade cuja geração de eletricidade é
totalmente por solar fotovoltaica, chamada de Fujisawa. A Alemanha, que no passado já esteve com o
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título de país que mais produz energia solar fotovoltaica, hoje está entre os três países com maior
capacidade instalada. É importante ressaltar que a região mais ensolarada da Alemanha possui índice de
radiação solar 40% menor do que a região menos ensolarada do Brasil (CABRAL; TORRES; SENNA, 2013,
p.4). A figura abaixo, produzida por meio dos dados da SolarGis, apresenta as irradiações solares média
anual no plano horizontal do Brasil e da Alemanha. É possível observar, por meio das escalas, que de
fato a região com menor irradiação do Brasil supera a região de maior irradiação da Alemanha.
Figura 2.7 – Irradiação solar média anual no plano horizontal do Brasil e da Alemanha (SolarGis, 2019)
O movimento de translação da Terra e a inclinação de 23,45º do eixo terrestre em relação ao Sol geram
as estações do ano. Considerando o Hemisfério Sul, onde se localiza o Brasil, os dias durante o verão são
mais longos do que os dias durante o inverno, e quanto mais próximo da Linha do Equador, menor o
efeito da duração dos dias ao longo do ano. Em relação a inclinação dos módulos fotovoltaicos, para a
análise solarimétricas, alguns ângulos devem ser considerados:
• Ângulo azimutal do Sol ou azimute solar (𝛼): ângulo entre a projeção dos raios solares no plano
horizontal e a direção Norte-Sul, onde o deslocamento angular é tomado a partir do norte
geográfico;
• Ângulo azimutal da superfície (𝛾𝑠 ): ângulo entre a projeção da reta normal à superfície o plano
horizontal e a direção Norte-Sul.
Abaixo é apresentada uma ilustração, retirada do livro Instalação de sistema de microgeração solar
fotovoltaica, desenvolvido pelo SENAI-SP em parceria com o Procobre, que apresenta os principais
ângulos que devem ser considerados na análise.
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Figura 2.8 – Trajeto dos raios solares e ângulo zenital (SENAI-SP, 2016)
Para a máxima captação de energia solar durante o dia, a face coletora do módulo fotovoltaico deve estar
direcionada para o norte terrestre. Isso se dá ao fato de que o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste, e
no período de maior incidência solar, por volta do meio dia, ele está no Norte. Além disso, uma correção
deve ser efetuada, de acordo com o local da instalação, conforme apresentado na figura abaixo.
Para maximizar o aproveitamento da radiação solar durante as estações do ano, os módulos devem estar
ajustados de acordo com o zênite, de forma que o módulo será inclinado conforme a latitude do local
mais uma correção. Para sistemas conectados à rede, é recomendado que o ângulo 𝛼 entre o solo e o
módulo solar tenha inclinação conforme expressão (2), a fim de obter maior captação dos raios solares
durante o verão.
Há três principais classificações dos sistemas fotovoltaicos (SF): desconectados da rede (off-grid);
conectados à rede (on-grid); e híbridos (conectados à rede com baterias). Cada um destes tipos de
sistemas será melhor explicado nas seções que se seguem.
Também chamado de sistema off-grid, autônomo e isolado, o SFDR é o sistema que não está conectado
à rede da concessionária de energia elétrica e que toda a energia gerada deve ser consumida ou
armazenada para suprir os períodos onde há pouca ou nenhuma geração, como a noite ou em dias de
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pouca insolação. Geralmente a energia é armazenada em baterias, que possuem pouco tempo de vida
útil quando comparados com os demais elementos do sistema e eleva consideravelmente o custo de
implantação. Esse tipo de sistema é mais encontrado em regiões remotas e de difícil acesso à rede
elétrica, como zonas rurais.
Além dos painéis solares, há elementos necessários para proteção do sistema e para que a energia seja
entregue da forma adequada aos equipamentos que irão consumi-la. O primeiro deles é o controlador de
carga, equipamento responsável por gerenciar e controlar o processo de carga e descarga do banco de
baterias.
A energia que sai dos painéis solares está em corrente contínua (CC) com tensões entre 12 V e 48 V,
porém a energia que provém da rede elétrica e alimenta os principais equipamentos das casas e
comércios está em corrente alternada (CA), com tensões entre 127 V e 240 V, em geral. Dessa forma,
para a passagem de CC para CA e adequação das tensões, é utilizado um inversor. Outras funções do
inversor é garantir a proteção do sistema fotovoltaico e medir a energia produzida pelos módulos solares.
Uma característica muito importante do inversor é seu sistema de reconhecimento da curva característica
IxV, apresentada na seção 2.2. Por meio dessa curva, os inversores realizam o rastreamento do ponto
de máxima potência, ou MPPT, assegurando que o sistema trabalhe o mais próximo possível da máxima
potência dos módulos.
Outro ponto a ser ressaltado em sistemas off-grid é que não há necessidade da troca do equipamento de
medição da concessionaria, uma vez que ele não é conectado à rede.
Na Figura 2.11 é apresentado o esquema de um sistema solar fotovoltaico desconectado da rede com
armazenamento em baterias.
Também chamados de sistemas on-grid, esse é o tipo mais difundido de sistema fotovoltaico na
atualidade. Nesses sistemas, o arranjo fotovoltaico representa uma fonte complementar ao sistema
elétrico de grande porte ao qual está conectado (CRESESB, 2004). Nele não é realizado armazenamento
de energia, uma vez que toda a potência não consumida instantaneamente é entregue à rede da
concessionária.
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Para esse sistema, o inversor, do tipo grid-tie, além de converter corrente contínua em alternada, deve
também realizar o monitoramento da rede, verificando os principais parâmetros, como tensão e
frequência, e entregar aos equipamentos a melhor forma de onda. Esse tipo de inversor também tem a
função de garantir que o sistema fotovoltaico se desconecte automaticamente da rede quando verificada
queda de energia da concessionária, possuindo o chamado sistema anti-ilhamento. Isso é necessário
para a segurança operacional do sistema, uma vez que não deve haver fluxo na linha durante sua
manutenção.
Em sistema on-grid, é necessária a utilização de um medidor bidirecional, capaz de medir tanto a energia
injetada na rede por produção dos módulos solares, quanto a energia consumida da concessionária.
Nessa configuração, o excesso de energia produzida é injetado na rede e gera créditos que serão abatidos
nas faturas dos meses seguintes, com validade de até 60 meses.
De forma geral, os sistemas fotovoltaicos híbridos são obtidos pela junção dos sistemas off-grid e on-
grid. Se por um lado ele se conecta à rede e possui os benefícios desse tipo de sistema, como o
autoconsumo remoto e o sistema de compensação de créditos, por outro lado ele oferece a segurança
contra apagões, pois os sistemas são compostos por bancos de baterias ou outra fonte de energia
secundária. O inversor para esse tipo de sistema prioriza a conexão on-grid, migrando automaticamente
para os bancos de baterias (ou outra forma de armazenamento) quando identificada a queda de energia
da rede elétrica. Muitos desses inversores já funcionam também como controlador de carga.
11
Figura 2.12 – Sistema Híbrido (Gridsolaris, 2019)
É fato que os inversores e os módulos solares representam a maior parte dos custos de instalação de
sistemas fotovoltaicos, porém um componente importante e que não deve ser desconsiderado é o suporte
de fixação dos módulos fotovoltaicos; eles que indicarão a qualidade e segurança das instalações,
mantendo o sistema em funcionamento e o protegendo contra a ação dos ventos e tempestades. A
instalação dos módulos solares deve ser feita de forma adequada e acordo com o local onde eles serão
instalados (podem ser em telhados de barro, telhados metálicos ou no solo).
Os suportes com inclinação fixa é a estrutura mais comumente utilizada, principalmente em residências,
já que possui facilidade de instalação e não possui muitos gastos com manutenção. Para a utilização
desse tipo de suporte, é calculada a angulação ideal do sistema, que irá proporcionar maior incidência
dos raios solares e menor interferência. Existe também a estrutura com inclinação ajustável, mais
eficiente do que a com inclinação fixa, já que é possível ajustar seu ângulo de inclinação, buscando obter
maior incidência do sol no decorrer do dia e nas diferentes estações do ano.
Em relação as bases para o solo, utilizados em geral em grandes usinas de geração fotovoltaicas, existe
grande variedade de modelos, desde estruturas fixas, que serão as consideradas na análise para a planta
proposta nesse trabalho, até os chamados rastreadores ou trackers, que se ajustam de acordo com a
incidência do sol.
Os trackers possuem mecanismo de movimentação controlado por algoritmo que possibilita que o módulo
altere sua angulação de acordo com o movimento do sol ao decorrer do dia e ao longo do ano. Esse
movimento pode ocorrer em um ou mais eixos e os módulos estarão sempre na posição mais favorável
para recebimento dos raios solares, ocasionando em maior produção de energia elétrica. A desvantagem
desse tipo de suporte é seu custo, uma vez que requer mais manutenção do que os demais, e o fato de
consumir parte da energia gerada na execução de seus movimentos.
Independente da estrutura escolhida, o maior cuidado a ser tomado é em relação ao sombreamento que
um painel pode gerar no outro, por conta de sua proximidade. Dessa forma, é preciso definir a distância
mínima entre as fileiras de painéis, considerando suas inclinações.
12
O livro Instalação de sistema de microgeração solar fotovoltaica, elabora pelo SENAI-SP em parceria com
o Procobre, apresenta duas diferentes estratégias para a determinação da distância entre as fileiras.
Abaixo é reproduzida a imagem que servirá de base para as expressões utilizadas. Um ponto a ser
destacado é que o ângulo 𝜑 da figura abaixo é o mesmo ângulo determinado na expressão (2), definido
como 𝛼.
𝑑 = 3,5 ∙ 𝑧 (3)
Já a outra estratégia busca o melhor aproveitamento da área disponível, mesmo com um pouco de perda
de eficiência. Nesse caso, a expressão (4) deve ser considerada.
𝐷 = 2,25 ∙ 𝐿 (4)
Um sistema fotovoltaico requer grande investimento, seja para consumidor residencial ou comercial.
Dessa forma, para evitar danos ao sistema, alguns itens de proteção são necessários, tanto do lado CC
quanto do lado CA.
É chamada de string box (caixa de junção) o conjunto de proteções contra curtos circuitos e surtos
elétricos, instalada entre os módulos solares e os inversores e composta por fusíveis, dispositivo
interruptor-seccionador e Dispositivo de Proteção contra Surto (DPS), que proporcionam abertura do
circuito quando reconhecida alguma anormalidade no sistema. Em geral, ela se localiza próxima ao
inversor, sendo uma exceção quando a distância entre os painéis fotovoltaicos e o inversor é superior a
10 metros; nesse caso, é necessário instalar mais de uma string box, uma próxima ao inversor e outra
próxima aos módulos.
Os fusíveis fazem a proteção contra correntes de curtos circuitos e sobrecorrente, realizando a abertura
do sistema quando essas falhas são identificadas. É recomendado o uso de fusíveis de efeito retardado
em sistemas implementados em locais abertos, uma vez que a corrente sofre consideráveis variações
durante todo o dia. Os fusíveis empregados devem ser do tipo gPV, onde a letra g indica o intervalo de
ruptura do fusível, nesse caso indicando proteção contra sobrecorrente e curto circuito, e PV indica que
este tipo é próprio para sistemas fotovoltaicos, conforme a norma IEC 60269-6 (Solarize, 2019). Em
geral, são utilizados fusíveis feitos de cerâmica, que possuem a propriedade de extinguir o arco voltaico
e impedir a fusão do elo (SENAI-SP, 2016).
O dispositivo interruptor-seccionador, que pode ser uma chave seccionadora ou um disjuntor, deve ser
capaz de abrir o circuito sob plena carga na máxima corrente de curto-circuito e de mantê-lo aberto de
forma segura (Solarize, 2019). Um ponto importante na utilização dessa proteção é que jamais deve ser
utilizada um componente de CA no lado CC, uma vez que componentes para corrente alternada não tem
a mesma isolação e capacidade de interrupção do arco elétrico do que componentes de corrente contínua.
Além disso, as normas NBR 5410 e NBR 16690, que regem os sistemas fotovoltaicos, exigem a separação
entre os circuitos CC e CA.
O DPS protege o sistema contra surtos ou descargas atmosféricas na rede elétrica ou nos próprios
módulos, fazendo a proteção do circuito contra sobretensão. Nas instalações, se recomenda que dois
diferentes tipos de DPS sejam utilizados, um CC próximos aos módulos fotovoltaicos, e um CA, após o
inversor, no quadro de distribuição principal e o mais próximo possível do ponto de entrada. De acordo
com a NBR 5410, a seleção do DPS deve atender à NBR IEC 61643-1, e ser selecionado com base no
13
nível de proteção, que para sistemas de baixa tensão (BT - tensão entre fases cujo valor eficaz é igual
ou inferior a 1 kV) deve ser de categoria II (conectados à instalação elétrica de edificações, utilizado em
equipamentos eletrônicos e análogos).
Os cabos fotovoltaicos ou cabos CC fazem a ligação entre as strings e as string boxes, e entre as string
boxes e o inversor. De acordo com a ABNT NBR 16690, eles devem ser adequados para aplicações em
corrente contínua, resistentes a radiação ultravioleta (UV), se expostos ao tempo, resistentes à água e
do tipo retardador de chama. Além disso, cada condutor deve ter proteção dupla ou reforçada. É
recomendado que a seção transversal dos cabos em corrente contínua não seja inferior à dos módulos,
usualmente de 4 mm² (Solarize, 2016).
Após o inversor e sua caixa de proteção, tem-se o quadro de distribuição, que faz a conexão do sistema
fotovoltaico à rede predial. Nesse quadro, para a planta remota proposta, serão ligadas as cargas a serem
supridas no local de implantação, caso haja. Como proteção de toda a rede predial, em geral é utilizado
um DPS no quadro de distribuição, além de disjuntores residuais (DR), que detecta fuga de corrente e
faz o desarme do disjuntor e abertura do circuito, evitando choques.
Um ponto importante numa instalação elétrica é seu aterramento. Ele visa à segurança do sistema, serve
como referência para o inversor e deve ser feito nos DPS e nos módulos fotovoltaicos. Vale lembrar que
em instalações on-grid deve ser realizada a troca do medidor, para que seja possível medir as potências
injetada na rede pelo gerador e consumida da distribuidora, a fim de realizar o cálculo da compensação.
2.8 Eletrocentro
Um dos quadros presentes numa usina fotovoltaicos de médio ou grande porte é o quadro de baixa
tensão, que tem a função de fazer a ligação em paralelo dos inversores e fornecer as proteções
necessárias a eles.
Já o transformador geral é o que realiza a transformação da tensão da saída dos inversores para a tensão
da rede elétrica da concessionária conectada. No geral, essa tensão é de 13,8 kV no caso de redes de
distribuição de média tensão.
O conceito de sistema de compensação de energia diz respeito ao sistema no qual a energia ativa injetada
na rede por micro ou minigeração distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora
local e após compensada com o consumo de energia elétrica ativa (REN ANEEL 687, 2015). Já
autoconsumo remoto, conceito apresentado anteriormente de forma breve, possibilita a geração de
energia elétrica em local diferente de onde essa energia é consumida, uma vez que o excedente produzido
em um local pode ser compensado em outro, utilizando a rede de distribuição existente, desde que a
14
usina de geração e o local de consumo sejam de posse da mesma Pessoa Física ou Jurídica e ambos
fiquem na mesma área de concessão.
Outros conceitos que podem ser considerados num posterior estudo de viabilidade econômica, para a
definição exata da localidade de implantação da planta projetada, são os conceitos de geração
compartilhada e empreendimento com múltiplas unidades consumidoras, chamado também de
condomínio. Eles possibilitam que, em uma mesma localidade, sejam implementadas usinas de diferentes
Pessoas Físicas (PF) e/ou Jurídicas (PJ). A geração compartilhada é a reunião de unidades consumidoras,
dentro de uma mesma área de concessão, em consórcios ou cooperativas, composta por PF ou PJ com
unidade consumidora em local diferente de onde o excedente de energia será compensado (REN ANEEL
687, 2015). Já empreendimento com múltiplas unidades consumidoras expõe que cada fração de um
local é considerado uma unidade consumidora independente, desde que o local de implantação das usinas
seja área contígua, sem a passagem de via pública ou propriedade de terceiros.
A ANEEL, órgão que deve fiscalizar e regulamentar sistema elétrico brasileiro, elaborou o chamado
PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional), que são
documentos normativos para padronização das atividades técnicas relacionadas aos sistemas de
distribuição de energia elétrica. O PRODIST é dividido em módulos, e o Módulo 3 é o que versa sobre o
Acesso ao Sistema de Distribuição, importante para um sistema conectado à rede (on-grid).
A seção do PRODIST que trata da microgeração e minigeração distribuída é a Seção 3.7, que expõe as
obrigatoriedades para as centrais geradoras. A primeira etapa obrigatória é a solicitação de acesso,
formulário que deve ser preenchido e entregue pelo solicitante à concessionária. Ele pode ser obtido dos
Anexos II, III e IV da Seção 3.7 do Módulo 3 – PRODIST. No Anexo IV, é disponibilizado o formulário de
solicitação de acesso para minigeração distribuída, que foi reproduzido abaixo (Figura 2.14). Além do
formulário de solicitação de acesso, deve ser entregue também a Anotação de Responsabilidade Técnica
(ART) do responsável pelo projeto elétrico e pela instalação do sistema, o diagrama unifilar do sistema
fotovoltaico, incluindo geração e distribuição, o descritivo executivo da instalação do sistema, os dados
da ANEEL que caracterizam o sistema solar fotovoltaico conectado à rede, a lista das unidades
consumidoras onde a energia será compensada e uma cópia do instrumento jurídico que comprove a
cooperativa ou relação entre o local de geração e local de compensação da energia (SENAI-SP, 2016).
15
Figura 2.14 - Formulário de solicitação de acesso (PRODIST - Módulo 3, 2019)
A segunda e última obrigatoriedade a ser atendida é o parecer de acesso, acordo celebrado entre
consumidor e distribuidora, em que são informadas as atribuições, responsabilidades, condições de
acesso e os requisitos técnicos que permitem a conexão da nova usina de geração distribuída, bem como
os modelos de contrato. Após o recebimento da solicitação de acesso, a concessionária de energia elétrica
tem como prazo de 15 dias para o encaminhamento do parecer de acesso em casos de usinas de
microgeração e 30 dias para usinas de minigeração. Os contratos devem ser celebrados no prazo máximo
de 120 dias para que o parecer de acesso não perca sua validade.
Após o parecer de acesso positivo e atendimento das requisições feitas pela distribuidora, deve ser
solicitada uma visita técnica da concessionária, na qual será certificado que o sistema instalado
corresponde ao sistema enviado anteriormente à concessionária. Após a solicitação, há o prazo de 7 dias
para que a visita seja feita. Com a visita finalizada e caso nenhuma alteração do projeto tenha sido
apontada, a distribuidora tem prazo de até 5 dias para a liberação do ponto de conexão, e a ligação da
planta fotovoltaica à rede é realizado paela própria distribuidora, acompanhada pelo solicitante.
Um ponto importante a ser ressaltado é que há diferenças entre o que é requerido para uma instalação
de microgeração e minigeração. Os estudos solicitados para a conexão à rede elétrica, descritos no item
5 da seção 3.2 do Módulo 3 do PRODIST, são dispensados para usinas de microgeração, porém
obrigatórios para minigeração quando visto como necessário pela distribuidora, e seu custeamento é todo
feito pelo proprietário da usina que deseja se conectar à rede. Além disso, o custo de adequação do
sistema de medição, no caso da minigeração, fica a cargo da unidade consumidora, enquanto na
microgeração, a distribuidora assume o fornecimento.
A Seção 3.7 do Módulo 3 do PRODIST apresenta uma série de normas que devem ser seguidas para o
acesso de uma usina de geração distribuída (GD) à rede de distribuição. No Quadro 1 são expostas as
proteções mínimas em função da potência instalada.
16
Quadro 1 - Requisitos mínimos de proteção em função da potência instalada (PRODIST - Módulo 3,
2019)
Potência instalada
Maior que 75 kW e Maior que 500 kW e
Equipamento Maior ou igual a 75
menor ou igual a menor ou igual a 5
kW
500 kW MW
Transformador de
Não Sim Sim
acoplamento
Proteção de sub e
Sim Sim Sim
sobretensão
Proteção de sub e
Sim Sim Sim
sobrefrequência
Proteção contra
Não Não Sim
desequilíbrio de corrente
Proteção contra
Não Não Sim
desbalanço de tensão
Sobrecorrente com
Não Sim Sim
restrição de tensão
Como a unidade consumidora que se deseja compensar a energia gerada se localiza no Centro da Cidade
do Rio de Janeiro, a concessionária Light que deverá realizar a análise de projeto, vistoria, teste e, se de
acordo, liberação para funcionamento da central geradora. Ela fornece em sua página de Internet
(www.light.com.br) a RECON (Regulamentação para o Fornecimento de Energia Elétrica para os
Consumidores), que deve ser seguida para conexão a sua rede. Essas são as normas a serem atendidas
para que qualquer instalação esteja no padrão da Light.
No momento da elaboração do projeto de micro ou minigeração, deve ser observado também que,
segundo as informações da Light, a potência instalada fica limitada à potência disponibilizada para a
unidade consumidora. Caso a central geradora projetada necessite de potência acima do limite
estabelecido, o aumento da potência disponibilizada deve ser requerido antes da solicitação do acesso.
Além disso, as contas de energia elétrica possuem um valor mínimo faturável, que é definido pela ANEEL
como o valor referente ao custo de disponibilidade do sistema elétrico, aplicável ao faturamento de
unidades consumidoras do grupo B, de acordo com os limites fixados por tipo de ligação. O custo de
disponibilidade é a taxa cobrada pela concessionária para disponibilizar a eletricidade, mesmo que não
haja consumo, que inclui os custos de infraestrutura elétrica.
17
2.9.4 ABNT NBR 16690:2019
Em 03 de outubro deste ano, a ABNT publicou a NBR 16690 – Instalações elétricas de arranjos
fotovoltaicos – Requisitos de projeto, que complementou a ABNT NBR 5410 em relação às normas de
sistema fotovoltaicos e que tem como objetivo especificar os requisitos de segurança que surgem das
características particulares dos sistemas fotovoltaicos (NBR ABNT 16690, 2019). Nela são apresentados
os termos e definições recorrentes da área, os padrões mínimos de proteção que devem ser atendidos,
entre outros pontos de extrema importância para a realização de um projeto de qualidade.
18
3 Planta Fotovoltaica Proposta
Neste capítulo, serão apresentados os dados utilizados para o desenvolvimento do projeto (contas de
energia, dados solares etc.) e definidos os seus componentes (módulos, inversor, proteções etc.). Vale
ressaltar que como não foi definido o local para a implementação da usina solar, este será considerado
hipoteticamente na região de Seropédica, município do Rio de Janeiro, que tem como distribuidora de
energia elétrica a Light, a mesma da empresa a ser atendida pela planta solar proposta e possui áreas
disponíveis para a criação de usinas fotovoltaicas de grande porte.
De acordo com o Ayrão (2018), na sua publicação Energia Solar Fotovoltaica no Brasil: conceitos,
aplicações e estudo de caso, as primeiras etapas para a concepção de projetos de instalações elétricas
fotovoltaicas são análise inicial, quantificação do gerado e esquema básico de instalações. Ele ainda
apresenta duas fases além das citadas: seleção, especificação e dimensionamento dos componentes, e
levantamento dos materiais. Essas duas últimas fases, que dizem respeito às características técnicas e
às normas que os itens do projeto devem atender, serão incorporadas às etapas anteriores.
Nessa etapa são obtidos os dados básicos para o desenvolvimento do projeto, como o consumo de energia
elétrica da unidade consumidora, as condições de instalação dos módulos (telhados, laje, solo, direção),
tipo de atendimento feito pela concessionária (tensão, potência, padrão de entrada), levantamento da
área disponível e possíveis pontos de sombreamento.
Como já dito, o local da instalação não foi definido, de forma que será considerada instalação dos módulos
no solo, e posteriormente definida a mínima área que deverá ser disponibilizada para tal. Já em relação
ao padrão de entrada e os pontos de sombreamento, somente após a definição do local esses itens
poderão ser discutidos, porém será apresentada a tensão de saída do inversor, caso seja necessária a
utilização de transformador.
Foi levantado o consumo no decorrer de um ano, considerando os dados de maio de 2018 a abril de
2019, conforme apresentado na Tabela 2, com mês e ano de referência, consumo em kWh e,
considerando uma tarifa média de R$ 0,95/kWh, o valor pago, mês a mês. A empresa que serve de base
para o desenvolvimento do projeto é uma empresa do ramo de Telecomunicações, com funcionamento
24h e em que um de seus datacenters está localizado no local de análise.
Para o cálculo da capacidade do gerador fotovoltaico, é preciso avaliar a irradiação no local de instalação
dos módulos. É recomendada também uma análise do local, a fim de identificar a geometria da área, a
19
área em m² disponível, e fazendo uso de alguns dispositivos, como uma bússola e um inclinômetro,
avaliar a orientação geográfica e a inclinação do plano de instalação dos módulos fotovoltaicos.
Para a obtenção das Horas de Sol a Pico (HSP), que indica a quantidade de horas que o módulo irá
produzir a máxima energia, foi utilizado o SunData, programa desenvolvido pelo CRESESB (CEPEL) para
calcular a irradiação solar diária média mensal em qualquer ponto do território nacional. A partir dos
dados da região de análise, que possui latitude de 22º 44' 29" Sul e longitude de 43º 42' 19" Oeste,
foram obtidos os dados solarimétricos da região considerada, com diferentes ângulos de inclinação dos
módulos (Tabela 3). Em destaque está a maior média anual, que será utilizada nos cálculos.
A partir das informações da Tabela 3, o valor de HSP que deverá ser utilizado nos cálculos é de 4,87, que
indica maior média anual. Além disso, é possível identificar que o melhor ângulo de inclinação para os
módulos fotovoltaicos na região, para a maior média anual de HSP, é de 20º.
Nessa fase será determinada a potência do gerador fotovoltaico, bem como a potência e quantidade de
módulos e inversores e a geração anual estimada. Na definição da quantidade de módulos e de
inversores, já são apresentados também os modelos a serem utilizados e a disposição dos módulos.
A partir dos dados apresentados na Tabela 2, são definidas as médias dos consumos mensal e diário do
local de análise, de forma a obter o quanto a planta geradora deverá produzir de energia diariamente.
Mas antes, como não é possível zerar a conta de energia, é preciso descontar o custo de disponibilidade.
Considerando que o local seja atendido em baixa tensão, deve ser descontado 1.200 kWh do valor de
potência consumida por ano, tendo em vista que o custo de disponibilidade para baixa tensão é de 100
kWh por mês.
A energia média mensal (EMM) é dada pela divisão do valor total anual, de 829.360 kWh, por 12.
829.360
𝐸𝑀𝑀 = = 69.113,33𝑘𝑊ℎ/𝑚ê𝑠 (6)
12
A partir do valor da energia média mensal, dos dados de Horas de Sol a Pico (HSP) apresentados na
Tabela 3 e do fator de redução (FR), que considera as perdas da planta fotovoltaica e é estimado na
literatura como 20% (AYRÃO, 2018), será obtido o valor em Wp que deve ser gerado diariamente.
Observe que a Tabela 3 apresenta, para a maior média anual de HSP, o valor de 4,87. Abaixo é
apresentada a expressão utilizada na prática para o cálculo da potência do gerador fotovoltaico.
20
𝐸𝑀𝑀 69.113,33
𝑃𝑝𝑖𝑐𝑜 = = = 591,32 𝑊𝑝 ~ 592 𝑊𝑝 (7)
30 ∙ 𝐻𝑆𝑃 ∙ (1 − 𝐹𝑅) 30 ∙ 4,87 ∙ (1 − 0,20)
O módulo definido para a implantação da planta proposta foi um módulo de silício policristalino, modelo
CS6U- 335P, com 335 Wp e eficiência de 17,23%. Abaixo são apresentados os principais dados do módulo
escolhido, na condição de teste padrão (STC).
Assim, a partir da potência total do sistema e da potência do módulo escolhido, tem-se o seguinte número
de módulos (NM):
592 ∙ 1000
𝑁𝑀 = ~ 1.768 (8)
335
Ou seja, serão necessários 1.768 módulos fotovoltaicos de 335 W para geração da energia elétrica
demandada.
Para a planta proposta, será considerado o inversor modelo SG80KTL, do fabricante Sungrow, empresa
fundada em 1997 especializada em pesquisa e desenvolvimento, produção e venda de materiais para
energia e muito difundida entre as empresas que criam plantas solares de grande porte. Na Tabela 5 são
apresentadas as principais informações de seu datasheet que serão consideradas nos cálculos.
21
Na Tabela 4 é apresentado que a tensão em circuito aberto dos módulos fotovoltaicos, ou seja, a máxima
tensão de cada módulo fotovoltaico, que é de 45,8 V, e na Tabela 5 é possível observar que a tensão
máxima de operação MPPT do inversor para operação em potência nominal é de 850 V. Dessa forma,
para a definição do maior número de módulos em série (NMS) recomendado, tem-se:
A partir do número de NMS obtido acima, e sabendo que o número de módulos para gerar a potência
necessária é 1.768, tem-se então que a planta deverá ter no mínimo 98 strings.
Já para o cálculo do máximo número de strings em paralelo (NSP) que podem ser atendidas por um
mesmo inversor, será considerada a corrente de curto circuito de cada módulo (ou de uma string,
módulos em série possuem mesma corrente), e a máxima corrente de entrada do inversor, de 144 A,
conforme expressão abaixo.
Assim, é possível agrupar até 15 strings em paralelo, e considerando que a planta deve ter no mínimo
98 strings, serão necessários 6 inversores, cada um ligado à 270 módulos.
Um ponto importante que deve ser considerado é que, observando o datasheet do inversor, tem-se que
a tensão de saída do dispositivo é até 480 V e sua potência de saída 80 kW. A planta proposta prevê a
utilização de 6 inversores desse modelo, de forma que no total, a saída do sistema e potência demandada
é de 480 kW. Além disso, caso o local da instalação não possua transformador de 480 V para se ligar a
rede da distribuidora, será preciso utilizar um transformador para adequação da tensão.
Nessa fase devem ser definidas as proteções do sistema fotovoltaico implementado, bem como suas
localizações e o esquema unifilar da planta projetada.
A NBR 5410 – Norma Brasileira de instalações elétricas em baixa tensão – e a NBR 16690 – Norma
Brasileira de instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos – preveem que as instalações do tipo da
projetada devem ter proteções contra sobrecorrentes e contra sobretensão, capacidade de
seccionamento e proteção contra choques elétricos de usuário e contra efeitos térmicos e incêndios.
De acordo com a ABNT NBR 16690, para a definição da proteção contra sobrecorrente em string, deve-
se atender a equação abaixo, na quais 𝐼𝑆𝐶 𝑀𝑂𝐷 é a corrente de curto circuito dos módulos fotovoltaicos e
𝐼𝑛 é o valor nominal do dispositivo de proteção. Assim, pelo valor de corrente de curto-circuito presente
no datasheet do módulo escolhido, tem-se:
1,5 ∙ 𝐼𝑠𝑐 𝑀𝑂𝐷 < 𝐼𝑛 < 2,4 ∙ 𝐼𝑆𝐶 𝑀𝑂𝐷 ∴ 1,5 ∙ 9,54 > 𝐼𝑛 < 2,4 ∙ 9,54 ∴ 14,31 𝐴 < 𝐼𝑛 < 23,85𝐴 (11)
Dessa forma, uma proteção de 15 A, 16 A ou 20 A atende. Vale ressaltar que observando o datasheet do
módulo fotovoltaico, no Anexo I, o fusível recomendado é o de 15 A.
Como dispositivo de manobra, será considerada uma chave seccionadora por string, para facilidade de
manutenção. Caso seja preciso desligar uma série de módulos, as demais ainda estarão produzindo
energia. A chave recomendada é de 16 A e tensão 1.500 Vcc e um modelo possível é o BYSS-5-50-2P,
do fabricante Beny.
Para a definição do DPS do lado CC, a tensão dos módulos em série deve ser menor do que a tensão
máxima de operação contínua (Uc) do DPS. Na planta proposta, a tensão fornecida pela associação dos
módulos é de cerca de 825 V, de forma que o DPS escolhido para o lado CC foi de 1.000 Vcc, 3P 20-
22
40ka, do fabricante World Sun Light, projetado de acordo com a norma IEC61643-1: 2005. É importante
ressaltar que um DPS de corrente contínua deve ser colocado a cada 10 metros de cabos fotovoltaicos,
para garantir o correto direcionamento dos raios para a terra.
Para o lado CA, visando a proteção do inversor, o DPS deve ter Uc maior do que a tensão de saída do
inversor e ser do tipo 2 (recomendado para locais onde não ocorre a incidência direta de raios) ou do
tipo 1+2 (recomendado para locais que podem ter a incidência direta ou indireta de raios). Como a saída
do inversor é de 480 V, foi escolhido o DPS de Uc 580 Vcc, modelo 5SD7 473-1 da Siemens, do tipo 2.
Para a definição do disjuntor do lado CA, a corrente observada deve ser a máxima suportada pelo
inversor, que conforme expresso em seu datasheet, é de 116 A. O disjuntor empregado deve suportar
até 20% acima desse valor máximo, ou seja, 140 A. Uma opção é utilizar um disjuntor de 125 A, modelo
SDLS125, do fabricante Markis.
Segundo a ABNT NBR 16690, para a definição da mínima seção transversal dos condutores, a capacidade
de corrente de arranjos com proteção contra curtos circuitos deve ser definida de acordo com a corrente
nominal da proteção. Dessa forma, conforme definido anteriormente, um fusível de 16 A será utilizado
para proteção de cada uma das strings, de forma que os cabos fotovoltaicos definidos devem suportar,
ao menos, 16 A. Segundo o documento “Cabos para instalações de energia solar fotovoltaica: para uma
energia limpa” da General Cable, fabricante de cabos fotovoltaicos, é possível utilizar o cabo de seção
transversal de 5,01 mm².
Abaixo é apresentado um esquema elétrico básico da planta proposta, com as proteções definidas para
cada um dos 6 arranjos a serem implementados (6 inversores devem ser utilizados em toda a usina,
cada um atendendo cerca de 15 strings em paralelo).
Figura 3.1 – Esquema básico de ligação da planta proposta com as proteções definidas
Para a determinação da área necessária para a implementação da usina, é considerado que os módulos
solares serão dispostos de forma semelhante à Figura 3.2. Conforme definido anteriormente, serão
criadas 98 fileiras em paralelo, cada uma com 18 módulos solares ligares em série e lado e lado.
23
Figura 3.2 – Disposição dos módulos fotovoltaicos (Merkasol, 2019)
Para a planta proposta, foi considerado o suporte de fixação RSO-232C, feito de aço zincado e
recomendado para módulos entre 230 W e 350 W e que permite inclinação entre 5º e 30º. Na compra,
os parafusos e demais itens de fixação estão inclusos, além do manual de instalação, reproduzido no
Anexo III.
Conforme apresentado na seção 2.6, duas estratégias serão utilizadas para a determinação da mínima
distância necessária entre duas fileiras de módulos solares.
A primeira visa maximizar a eficiência do sistema, e faz uso do maior comprimento da placa (L) e do seu
ângulo de inclinação com o solo 𝜑. Como dito no capítulo anterior, para definir a inclinação da placa, é
utilizada a latitude do local de construção da planta fotovoltaica, conforme expressão (2). Vale ressaltar
que está sendo considerada a implantação da usina na região de Seropédica, Rio de Janeiro, de latitude
22,75º.
Observe que é o mesmo ângulo apresentado na Tabela 5 para a maior média anual.
Para a placa definida, 𝐿 = 1,956 𝑚, de forma que conforme apresentado no Figura 2.13, tem-se:
Com base na mesma figura, tem-se que a distância entre as placas é dada por:
Já a segunda estratégia busca o melhor aproveitamento da área disponível, mesmo com um pouco de
perda de eficiência. Nesse caso, a partir do maior comprimento do módulo fotovoltaico se obtém o valor
de D, soma da projeção x do módulo no solo e a distância recomendada entre os módulos.
Para a definição da mínima metragem necessária para acomodação das fileiras será considerada a
primeira estratégia, de menor distância entre os módulos. Para acomodação de todo o arranjo, será
necessário dispor da seguinte metragem:
Vale lembrar que serão colocadas 98 fileiras de módulos solares em série, de forma que 97 espaçamentos
devem ser considerados.
O cálculo acima definiu a metragem no sentido de acomodação das strings. Já para determinar a outra
metragem, para acomodação das 18 placas em série, basta saber a medida da largura da placa (menor
24
medida). Para a placa escolhida é 0,992 m, de forma que será necessário a seguinte metragem
horizontal:
Assim, a menor área para a acomodação dos 1.768 módulos solares para a geração da potência definida
é:
Para certificar que de fato a planta proposta irá produzir a energia necessária, é válido fazer uso de
softwares para simulação. Neste trabalho, o software utilizado foi o PVSyst V6.85, um dos programas
mais difundidos para a realização dos cálculos da área de energia solar fotovoltaica.
Para a simulação da planta proposta, primeiro foi preciso inserir os dados do município de Seropédica no
software, a partir de suas informações de latitude, longitude e elevação. Em seguida, foram inseridos os
dados de orientação, com inclinação dos módulos fotovoltaicos em 20º e azimute da área, próximo de
58º. Vale ressaltar que para o cálculo do azimute foi utilizada a latitude e longitude da área e a maior
distância necessária para acomodação dos módulos, de cerca de 400 m, calculada na seção anterior. É
apresentado no Anexo IV a planilha disponibilizada pelo site gcitech.com.br para realização do cálculo.
Em seguida, foi definido o sistema, a partir dos modelos das placas e dos inversores escolhidos e da
quantidade de módulos em série e de strings em paralelo. Nesta simulação é considerado o uso de 1.764
módulos fotovoltaicos, com 18 módulos em série, 98 strings em paralelo e utilização de 6 inversores. Os
resultados obtidos são apresentados nas figuras abaixo, onde pode ser visto na penúltima coluna que a
produção anual é de 841.480 kWh, com rendimento do sistema de cerca de 84% (última coluna). Além
disso, o diagrama de perdas expõe que de fato a temperatura é o parâmetro de maior influência no
rendimento da planta, apresentando perda de mais de 10%.
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Figura 3.3 – Gráfico de perdas do sistema com 18 módulos em série e 98 strings em paralelo (PVSyst)
O PVSyst é um software interativo, que após a escolha do inversor indica o número de módulos e strings
permitido em cada dispositivo. Quando feito isso, foi indicado que o inversor suporta até 19 módulos em
série, o que reduz para 93 o número de strings do sistema. Abaixo são apresentados os resultados desta
segunda simulação, com o total de 1767 módulos.
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Figura 3.4 – Gráfico de perdas do sistema com 18 módulos em série e 98 strings em paralelo (PVSyst)
A eficiência se manteve em 84%, e a energia produzida por ano nesse caso é de 843.750 kWh, aumento
de cerca 2.000 kWh com o acréscimo de apenas 3 módulos solares.
A PVSyst permite que mais dados sejam inseridos para a obtenção de resultados ainda mais próximos
do real. É possível fazer alterações nas perdas, indicar os possíveis pontos de sombreamento, definir
fator de albedo, entre outras informações relevantes para a análise. Como o local para a implantação da
planta proposta não está definido, os dados padrão do software foram mantidos.
Como dito anteriormente, a produção anual obtida para a planta fotovoltaica da primeira simulação, com
18 módulos em série e 98 strings em paralelo, foi de 841.480 kWh. Já a produção anual desejada, com
base no consumo médio mensal de 69.113,33 kWh calculado em (6) é de 829.359,96 kWh, apresentando
diferença de apenas 1,5% entre os resultados da simulação e os cálculos feitos com base nas contas
mensais de energia elétrica.
Por outo lado, a segunda simulação, que prevê a utilização de 19 módulos em série e 93 strings em
paralelo, entregou a produção anual de 843.750 kWh, apresentando diferença de 1,7% em relação ao
cálculo realizado a partir das contas.
Os resultados dos cálculos realizados nas seções anteriores não apresentaram grande desvio em relação
aos resultados obtidos por meio do PVSyst. Porém, vale ressaltar que há diferenças, principalmente na
obtenção dos valores de irradiação, entre os dois métodos utilizados. O SunData utiliza a base de dados
de radiação solar do Atlas Brasileiro de Energia Solar, produzido pelo Centro de Ciência do Sistema
Terrestre (CCST) do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que é obtida a partir de um total
de 17 anos de imagens de satélite. O banco de dados contém informações de mais de 72.000 pontos em
todo o território brasileiro, com distâncias de aproximadamente 10 km entre eles.
Já o PVSyst gera dados sintéticos, a fim de construir dados horários meteorológicos a partir dos valores
mensais conhecidos. Ele utiliza o banco de dados do Meteonorm, que oferece informações de parâmetros
meteorológicos, como irradiação e temperatura, de qualquer local na Terra.
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4 Conclusão
Este trabalho teve como objetivo realizar o dimensionamento de uma usina solar fotovoltaica remota de
minigeração distribuída, a partir de uma demanda de energia requerida, com a intuito de ter sua energia
gerada compensada em uma empresa de Telecomunicações localizada no Centro do Rio de Janeiro. O
estudo também apresenta as normas e as requisições necessárias para a implantação, desde a solicitação
de acesso até a liberação do ponto de conexão.
Para realizar o dimensionamento foi considerada implantação da usina na região de Seropédica, município
do Rio de Janeiro e área de concessão da distribuidora Light, mesma concessionária do Centro do Rio. O
local é fictício e foi escolhido pela facilidade de obtenção de áreas disponíveis para instalação da planta
proposta. Foi então calculado o quanto a planta proposta deve gerar e escolhidos os módulos, inversores,
elementos de proteção dos lados CC e CA, estrutura de fixação e definida a área mínima necessária para
acomodação dos módulos.
Para validação dos cálculos feitos, foi feita a simulação da planta no software PVSyst. Os resultados
obtidos foram próximos, porém uma outra configuração, que melhor utiliza a capacidade dos inversores
foi proposta, com mais módulos em série, ocasionando em redução do número de strings em paralelo.
Ao fim, a melhor configuração faz uso de 1767 módulos fotovoltaicos, com 19 módulos em série e 93
strings em paralelo, além de utilizar 6 inversores, cada um atendendo a cerca de 15 strings.
Por conta da não definição do local para a implantação da usina, não foi possível realizar uma análise de
viabilidade economia, uma vez que um dos principais custos de uma usina de minigeração é a adequação
da área para que seja permitida o acesso à rede da concessionária.
Assim, como sugestão de trabalhos futuros, recomenda-se, após definição do local da usina, a análise da
região de implantação da usina, para solicitação de acesso à rede da Light e o estudo de viabilidade
econômica. Além disso, é interessante verificar os requisitos a serem atendidos para tornar o sistema
híbrido e avaliar as tecnologias disponíveis para otimizar o armazenamento de energia, além de realizar
um estudo sobre os módulos fotovoltaicos bifaciais e utilização de trackers, para aumento da capacidade
de geração.
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31
Anexo I
32
Anexo II
33
Anexo III
34
35
Anexo IV
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