Artigo 1 Cintia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Artigo Original

Ocorrência da dor nos pacientes


oncológicos em cuidado paliativo
Occurrence of pain in cancer patients in palliative care
Thaís Rezende Mendes1
Rafaela Peres Boaventura2
Marielly Cunha Castro1
Maria Angélica Oliveira Mendonça1

Descritores Resumo
Dor; Cuidados paliativos; Pesquisa Objetivo: Avaliar a ocorrência da dor e qualidade de vida entre pacientes oncológicos em cuidado paliativo.
em Enfermagem, Cuidados de Métodos: Estudo transversal, incluindo 56 pacientes com câncer em tratamento paliativo, avaliados quanto a
Enfermagem; Enfermagem oncológica; dor referida (escalas verbal, numérica e visual), uso de analgésicos (adjuvantes, opióides fracos, fortes ou não
Qualidade de vida opióides) e qualidade de vida (WHOQOL bref).
Resultados: A maioria dos pacientes (n=53, 94,6%) usava algum tipo de analgésico e pouco mais da metade
Keywords (n=30, 53,7%) referia dor. Considerando a qualidade de vida como consequência da intensidade de dor (leve,
Pain; Palliative care; Nursing research; moderada ou intensa) tratada ou não com analgésicos, observou-se que a dor intensa - a mais frequente -
Nursing care; Oncology nursing; Quality obteve pior escore para o domínio físico. Por outro lado, o meio ambiente apresentou maior escore (77,4),
of life independente da dor referida ou uso de analgésicos.
Conclusão: Os resultados mostraram a ocorrência de dor, afetando a qualidade de vida e comprometendo as
atividades diárias de vida.
Submetido
27 de Fevereiro de 2014 Abstract
Aceito Objective: Evaluating the occurrence of pain and quality of life among cancer patients in palliative care.
23 de Junho de 2014 Methods: Cross-sectional study including 56 cancer patients in palliative care evaluated for reported pain
(verbal, numerical and visual scales), analgesic treatment (adjuvants, weak opioids, strong opioids or non-
opioids) and quality of life (WHOQOL-BREF).
Results: Most patients (n = 53, 94.6%) used some type of analgesic drug and just over half (n = 30, 53.7%)
reported pain. Considering the quality of life as consequence of pain intensity (mild, moderate or intense),
treated with painkillers or not, it was observed that intense pain - the most common - had the worst score for
the Physical domain. On the other hand, the Environment domain showed the highest score (77.4), regardless
of reported pain or analgesic use.
Conclusion: The results showed that the occurrence of pain affects the quality of life and compromises the
daily life activities.
Autor correspondente
Maria Angélica Oliveira Mendonça
Av. Pará, 1720, Uberlândia, MG, Brasil.
CEP 38400-902
[email protected]

DOI 1
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil.
http://dx.doi.org/10.1590/1982- 2
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.
0194201400059 Conflitos de interesse: não há conflitos de interesse a declarar.

356 Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61.


Mendes TR, Boaventura RP, Castro MC, Mendonça MA

Introdução Métodos

O aumento da expectativa de vida e o controle das Estudo transversal realizado com pacientes adul-
doenças infectocontagiosas tem sido responsável tos com câncer de diferentes etiologias, atendidos
pela modificação no panorama das causas de mor- em nível domiciliar por equipe multiprofissional
bimortalidade em todo o mundo. Neste sentido, do Programa de Cuidado Paliativo do Hospital do
destacam-se as doenças crônicas e, em particular Câncer de Uberlândia, região sudeste do Brasil, du-
o câncer.(1) rante o período de janeiro a agosto de 2013.
No Brasil, um dos principais problemas envol- Foram incluídos 56 pacientes que estavam rece-
vidos no diagnóstico do câncer está relacionado bendo analgésicos para tratamento da dor, obede-
ao estadiamento tumoral. A maioria dos casos é cendo ao cálculo amostral realizado a partir do soft-
diagnosticada em fase avançada, conferindo pior ware Epi InfoTM 7.1.3, 95% de confiança e 5% de
prognóstico, menor sobrevida e maior risco de re- risco de erro (alfa 2). A amostra foi selecionada por
cidivas e metástases.(2) As metástases são responsá- amostragem não probabilística, por conveniência e
veis pela maioria dos casos incuráveis e estão asso- de forma consecutiva no período de realização do
ciadas a diversas manifestações clínicas, tais como estudo até completar o número previsto de sujeitos.
a dor.(3) Os dados foram obtidos durante atendimento
A dor, quinto sinal vital, afeta significativamen- domiciliar, por meio de três instrumentos aplicados
te a qualidade de vida do paciente e requer preven- a cada participante em um único encontro: (1) for-
ção e tratamento adequados, prioritariamente para mulário para coleta de dados pessoais (idade e sexo)
aqueles já em Cuidados Paliativos.(3) É demonstra- e clínicos (sítio tumoral e tratamento oncológico e
do que a adoção de práticas terapêuticas eficazes analgésico nas últimas duas semanas que antecede-
podem reduzir em 80% a 90% dos casos de dor ram a coleta), (2) escalas de avaliação da dor (numé-
oncológica.(4) Neste sentido, para padronização da rica, verbal e analógica) e (3) questionário WHO-
analgesia farmacológica da dor oncológica, a Or- QOL bref versão validada para a língua portuguesa
ganização Mundial de Saúde introduziu a Escada e disponibilizada pelos seus autores.
Analgésica em três degraus, recomendando o uso WHOQOL-bref é uma versão abreviada do
de fármacos em acordo com a intensidade da dor. WHOQOL-100, com características psicométricas
(4)
Em estudos recentes, um quarto degrau foi suge- satisfatórias para avaliação da qualidade de vida per-
rido a fim de incluir, além dos analgésicos clássicos, cebida por um adulto jovem. Sua estrutura com-
procedimentos minimamente invasivos capazes de preende um total de 26 questões que compõem, de
produzir uma analgesia eficaz em casos de dores de forma distinta, os quatros domínios: Físico (avalia-
difícil controle.(5) ção da dor, desconforto, fadiga, sono, mobilidade,
Apesar disto, dados estimam que 62% a 90% dependência de medicamentos e capacidade para
dos brasileiros portadores de neoplasias ainda apre- o trabalho); Psicológico (sentimentos positivos e
sentam algum tipo de dor.(5) Esta condição sugere, negativos, pensar, aprender, auto-estima, imagem
dentre outras, que as práticas analgésicas atuais não corporal, espiritualidade); Relações Sociais (relações
são suficientemente eficazes para o controle da dor pessoais, apoio social e atividade sexual); e Meio
oncológica. É importante salientar que a cessação Ambiente (segurança física, ambiente físico, recur-
da dor promove diminuição do estresse do pacien- sos financeiros, cuidados de saúde, informação, re-
te e aumento de sua qualidade de vida, refletindo creação e lazer e transporte). Cada questão possui
positivamente sobre as relações com seus familiares, uma escala tipo Likert, ranqueada com alternativas
cuidadores e equipe de saúde. que variam de um a cinco. Os pontos obtidos para
O objetivo do presente estudo foi avaliar a ocor- cada domínio foram transformados em uma escala
rência de dor e qualidade de vida entre pacientes de zero a cem e quanto mais alto o resultado melhor
oncológicos em cuidado paliativo. foi considerada a qualidade de vida percebida.(6)

Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61. 357


Ocorrência da dor nos pacientes oncológicos em cuidado paliativo

Os dados foram avaliados por meio do softwa- tro lado, para o grupo em uso de opióides fortes
re GraphPad Prism®, versão 5. As variáveis foram (n=26, 49,0%) observou-se o pior controle da dor
submetidas a análise univariada, com verificação (sem dor: n=5, 19,2%), sendo a dor moderada e
das frequências e cálculo das medidas de tendência intensa relatada por 15 (57,7%) pacientes.
central (média e mediana) e de dispersão (desvio pa-
drão (DP) e valores mínimos e máximos). O nível Tabela 1. Caracterização dos pacientes (n=56) quanto aos dados
de significância estabelecido foi de p<0,05. pessoais e da doença, ocorrência de dor e uso de analgésicos
O desenvolvimento do estudo atendeu as nor- Variáveis n(%)

mas nacionais e internacionais de ética em pesquisa Idade (anos)

envolvendo seres humanos. Média ± DP 65,77 ± 14,69


Mediana (mín – máx) 65,5 (28 – 92)
Sexo n(%)
Feminino 31(55,4)

Resultados Masculino
Sítio tumoral primário
25(44,6)

Trato gastrointestinal 20(30,7)


O estudo envolveu 56 pacientes com idade mé- Trato respiratório 8(14,3)
dia (± DP) de 65,77 ± 14,69 anos, variando de Trato geniturinário 8(14,3)
Cabeça e pescoço 6(10,7)
28 a 92. Pouco mais da metade era do sexo fe- Ginecológico 5(8,9)
minino (n=31, 55,4%) e o sítio tumoral primá- Mama 4(7,1)

rio de maior frequência foi o trato gastrointestinal Outros 5(8,9)


Tratamento oncológico*
(n=20, 30,7%). A maioria dos pacientes (n=43, Nenhum 43(76,8)
76,8%) não estava em tratamento quimioterápico, Quimioterapia 9(16,1)

radioterápico ou cirurgia recente, mas estava em Radioterapia 4(7,1)


Analgésicos*
uso de alguma droga analgésica (n=53, 94,6%), Sim 53(94,6)
perfazendo uma média (± DP) de 2,2 ± 1,2 anal- Não 3(5,4)

gésicos por paciente. Quanto à percepção de dor, Analgésicos por paciente


Média ± DP 2,2 ± 1,2
30 (53,7%) pacientes referiram alguma dor, sendo Dor* n(%)
a de forte intensidade a mais frequente (n=11, Não 26(46,4)

36,7%), seguida pela dor leve (n=10, 33,3%) e Sim 30(53,6)


Intensidade da dor**
moderada (n=9, 30,0%) (Tabela 1). Leve 10(33,3)
A tabela 2 demonstra que apenas três (5,4%) Moderada 9(30,0)

pacientes não utilizaram drogas analgésicas, apesar Intensa 11(36,7)


*ocorrência nas duas últimas semanas que antecederam a entrevista; **refere-se apenas aos pacientes
de um deles (33,3%) queixar dor leve. Drogas não com queixa de dor (n=30)

opiáceas e adjuvantes foram utilizadas pela maioria


dos pacientes (n=33, 58,9% e n=32, 57,1%, res- Tabela 2. Analgésicos e intensidade da dor referida
Sem dor Leve Moderada Intensa
pectivamente). Dentre aqueles em uso de não opiá- Analgésicos n
n(%) n(%) n(%) n(%)
ceos, aproximadamente metade (n=17, 51,5%) es- Nenhum 3 2(66,7) 1(33,3) 0(0) 0(0)
tava sem dor e os demais pacientes (n=16, 48,5%) Não opiáceos 33* 17(51,5) 5(15,2) 6(18,2) 5(15,2)
Adjuvantes 32** 10(31,3) 7(21,9) 5(15,6) 10(31,3)
ou com dor leve (n=5, 15,2%), moderada (n=6, Opiáceos fracos 11*** 6(54,5) 2(18,2) 0(0) 3(27,3)
18,2%) ou intensa (n=5, 15,2%). Já para os ad- Opiáceos fortes 26**** 5(19,2) 6(23,1) 7(26,9) 8(30,8)
juvantes, a dor foi relatada pela maioria (n=22, *Dexametasona, Lyrica®, Amitriptilina, Gabapentina, Sertralina, Fenitoína, Clonazepan; Diazepan,
Razapina, Alprazolan®, Fluoxetina, Lorazepan®, Fenobarbital; **Dipirona®, Paracetamol, Buscopan®,
68,7%), sendo a de maior intensidade observada Novalgina®, Ibuprofeno®, Dorflex®, Toragesic®; ***Tylex® (Codeína + Paracetamol), Codeína, Tramadol;
****
Dimorf®, Metadona
em 31,1% dos casos. Os opiáceos foram utiliza-
dos pela maioria dos pacientes (n=37, 69,8%) em
uso de algum analgésico (n=53). Considerando o Os resultados demonstram ainda, que todos os
grupo sem dor, os opiáceos fracos foram responsá- pacientes com dor moderada ou intensa utilizavam
veis pelo maior controle da dor (54,5%). Por ou- algum tipo de analgésicos.

358 Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61.


Mendes TR, Boaventura RP, Castro MC, Mendonça MA

Em relação à qualidade de vida, observou-se que Discussão


nenhum dos participantes deixou de responder às
questões do WHOQOL bref. A tabela 3 possibili- Os limites dos resultados deste estudo referem-se
ta analisar descritivamente os resultados completos ao método transversal que não permite o estabele-
para cada domínio. cimento de relações de causa e efeito. Os resultados
poderão contribuir com a equipe de enfermagem,
Tabela 3. Escalas de valores de 0 a 100, considerando o domínio demonstrando as características clínicas da popula-
Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente com os ção a ser atendida e o controle álgico.
domínios do WHOQOL bref e a intensidade da dor referida Antigamente a prioridade no tratamento on-
Variáveis
Domínios cológico era a regressão tumoral, porém nos dias
Físico Psicológico Relações sociais Meio ambiente
Sem dor 47,9 63,6 60,9 74,8
atuais, também é considerada a qualidade de vida
Dor leve 50,9 61,4 62,2 74,9 durante o tratamento ou quando cessam as possibi-
Dor moderada 55,5 63,4 63,8 77,4 lidades de cura. Dentre os sintomas, a dor é o mais
Dor intensa 51,3 56 61,3 70,7
frequente em pacientes com câncer,(7) a sua preva-
lência nos portadores de neoplasia avançada pode
Constata-se que o domínio Meio Ambien- ser superior a 75%.(8) Os resultados deste estudo
te apresentou o melhor aspecto da QV dentre mostraram que, pouco mais da metade dos parti-
todos os participantes. Com escore 77,4, estão cipantes apresentaram algum tipo de dor ainda que
os pacientes com queixa de dor moderada, se- estivessem em uso de terapia farmacológica. A in-
guido dos pacientes com dor leve (escore 74,9), tensidade mais prevalente foi a dor intensa, apresen-
pacientes sem dor (escore 74,8) e pacientes em tando o maior uso de opiáceos fortes e analgésicos
dor intensa (escore 70,7). Neste domínio estão adjuvantes, assim como uma pior qualidade de vida
incluídas perguntas relacionadas à segurança, em todos os domínios, perante os diversos tipos de
condições do ambiente físico, dinheiro para as dores relatadas.
necessidades, lazer, moradia, transporte e acesso A Organização Mundial de Saúde por meio da
aos serviços de saúde. escada analgésica, recomenda que o controle da dor
Em segundo lugar, o domínio Relações Sociais intensa seja feito mediante associação de opiáceos
apresentou sua média mais baixa em pacientes sem fortes e adjuvantes.(4) Porém, neste estudo, esta as-
dor (escore 60,9). Vale ressaltar, que neste domínio, sociação não foi eficaz. Para a maioria dos pacien-
avalia-se o nível de satisfação com as pessoas do cír- tes, os efeitos colaterais aos opióides prejudicam a
culo pessoal, o apoio que recebe e a satisfação com qualidade de vida, a eficácia da terapêutica paliativa
a atividade sexual. e justificando o grande número de pacientes em te-
No domínio Psicológico, que avalia se o entre- rapia adjuvante.
vistado está satisfeito consigo mesmo e com a sua Diante desta realidade, a análise da prevalência de
aparência ou a freqüência de sentimentos negativos, analgésicos não opiáceos neste estudo é contraditória
o melhor escore obtido foi em pacientes sem dor aos dados da literatura, onde apresentam o uso de
(63,6), seguido de dor moderada (escore 63,4), pa- medicamentos opióides em aproximadamente 84%
cientes com dor leve (escore 61,4) e pacientes com dos pacientes.(9,10) Frente à gravidade de pacientes
dor intensa (escore 56). com câncer em tratamento paliativo, o uso de vários
Nota-se que domínio Físico, apresentou um medicamentos é frequente. A tolerância aos efeitos
score comprometido em todos os relatos, tendo o colaterais é baixa, necessitando de resposta rápida
melhor desempenho na queixa de dor moderada para o alívio dos seus sintomas,(9) além de vários tipos
(55,5). Neste domínio, questiona-se principalmen- de medicamentos para controle álgico rápido e eficaz.
te a presença de dor ou desconforto, dependência Diante disso, constatou-se que 53,2% dos pa-
de medicação, satisfação com o sono, capacidade cientes que associaram medicamentos adjuvantes à
para o trabalho e atividades diárias. terapia analgésica, relataram ausência de dor e dor

Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61. 359


Ocorrência da dor nos pacientes oncológicos em cuidado paliativo

de leve intensidade, enquanto 46,8% relataram dor na fundamental para os pacientes darem continui-
de moderada a intensa. Foi observado que dentre dade ao tratamento, já que funciona como suporte
os pacientes que não relataram dor, a maioria estava importante, aumentando a adesão e as expectativas
sem tratamento medicamentoso. Alguns fatores po- para a conclusão do tratamento. Tais objetivos são
dem ter influenciado negativamente a avaliação da componentes do Programa Nacional de Controle do
dor neste contexto, por meio da omissão da inten- Câncer pelo Sistema Único de Saúde, cujas metas são
sidade pelo paciente ao enfermeiro, além do receio principalmente, cura, prolongamento da vida útil e
por possíveis procedimentos invasivos, novas hos- melhora da qualidade de vida.(15-17)
pitalizações e condutas no caso. Dentre os relatos O alívio eficaz da dor depende de uma avaliação
de dor, o maior controle álgico foi obtido pelo uso muito abrangente, a fim de identificar os aspectos
de opiáceos fracos, que de acordo com a literatura físicos, psicológicos, sociais e espirituais, e como
devem ser usados em dores moderadas, como por base para intervenções multidisciplinares.
exemplo, o tramal e a codeína.(11,12) Foi constatado Sugere-se então, a realização de novas pesquisas
ainda que, os clientes com câncer em tratamento com vistas a abordar o paciente em diferentes mo-
paliativo tiveram os quatro domínios de qualidade mentos e situações, fornecendo dados clínicos mais
de vida afetados, com maior destaque para o do- abrangentes, acompanhando e avaliando de perto
mínio Físico, o qual já era previsto. Este domínio, a influência que a dor causa na qualidade de vida,
apresentou um menor escore em todos os tipos de explorando e prevendo suas tendências.
dores relatados e também naqueles sem dor. Nesse
sentido, a qualidade de vida desses pacientes piorou,
traduzindo como um preditor negativo da capaci- Conclusão
dade para as atividades cotidianas, tornando-as difí-
ceis ou dolorosas, corroborando outros autores.(13,14) Os resultados mostraram a ocorrência de dor, afe-
Além disso, o efeito da intensidade da dor con- tando a qualidade de vida e comprometendo as ati-
trolada por meio da avaliação da QV do paciente vidades diárias de vida.
paliativo também evidenciou que, a satisfação com
Domínio Psicológico foi maior naqueles sem dor, Colaborações
demonstrando a influência da dor nos sentimentos Mendes TR contribuiu na concepção do projeto, exe-
positivos, auto-estima e espiritualidade, satisfação cução da pesquisa, interpretação dos resultados e reda-
consigo mesmo e aparência. Ao contrário, nestes ção final do artigo. Boaventura RP colaborou na revi-
pacientes, quanto ao Domínio Relações Sociais a são e formatação final do artigo. Castro MC cooperou
satisfação não foi obtida. Podendo relacionar este na coleta de dados do trabalho. Mendonça MAO con-
fato a dificuldade de manter as relações pessoais e tribuiu com a concepção do projeto, revisão e redação
atividades sexuais diante um câncer avançado e sem do artigo e aprovação final da versão a ser publicada.
possibilidades de cura mesmo na ausência de dor.
Quanto à percepção de qualidade de vida, os
resultados obtidos referentes ao domínio Meio Am- Referências
biente, que apresentaram um maior escore em todos
os tipos de dor, podem ser justificados pela satisfação 1. Organização Mundial de Saúde. Global status report on
noncommunicable diseases 2010 [Internet]. Genebra, 2011.
e acessibilidade dos pacientes aos serviços de saúde [citado 2014 Jan 27]. Disponível em: <http://whqlibdoc.who.int/
locais. O serviço prestado na instituição pesquisada publications/2011/9789240686458_eng.pdf?ua=1.
é mediado por profissionais de saúde que trabalham 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Informática do SUS (Datasus). Sistema de Informações
para garantir o acesso aos benefícios previstos pela sobre Mortalidade – SIM [Internet]. [citado 2014 Jan 27].Disponível em:
legislação, aumentando a possibilidade de cura para <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205.
alguns cânceres e reduzindo a mortalidade resultante 3. Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados
da doença e de seu tratamento. Essa medida se tor- Paliativos[Internet]. Rio de Janeiro: Diagraphic; 2009. 320p.

360 Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61.


Mendes TR, Boaventura RP, Castro MC, Mendonça MA

4. Thomaz, A. Dor oncológica: conceitualização e tratamento en los servicios de oncología del Hospital de Navarra. Ann Sis San
farmacológico. Revista Onco, 2010; p. 24-9, ago./set. 2010. Disponível Navarra. 2011;34(1):9-20.
em:<http://revistaonco.com.br/wp-content/uploads/2010/11/
12. Nguyen TV, Bosset JF, Monnier A, Fournier J, Perrin V, Baumann C,
artigo2_edicao1.pdf>. Acesso em 05 out.2012.
et al. Determinants of patient satisfaction in ambulatory oncology:
5. II Consenso Nacional de Dor Oncológica. São Paulo: EPM - Editora a cross sectional study based on the OUT-PATSAT35 questionnaire.
de Projetos; 2011. 176p. BMC Cancer; 2011;11:526.
6. Organização Mundial de Saúde. Grupo WHOQOL. Versão em Português 13. Zandonai AP, Cardozo FM, Nieto IN, Sawada NO. Qualidade de vida
dos Instrumentos de Avaliação de Qualidade de Vida (WHOQOL). nos pacientes oncológicos: revisão integrativa da literatura latino-
[Internet]. Porto Alegre; 1998. [citado 2012 Out 6]. Disponível em: americana. Rev Eletron Enferm. 2010;12(3):554-61.
http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol.html. 14. Rodriguez KL, Bayliss N, Alexander SC, Jeffreys AS, Olsen MK, Pollak
7. Instituto Nacional de Câncer. Cuidados paliativos oncológicos: KI, et al. How oncologists and their patients with advanced cancer
controle da dor [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2001. [citado 2014 communicate about health-related quality of life. Psychooncology.
Jan 20]. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/publicacoes/ 2010;19(5):490–9.
manual_dor.pdf. 15. Instituto Nacional do Câncer. Tratamento do câncer no SUS
8. Paice JA, Ferrell B. The management of cancer pain. CA Cancer J Clin. [Internet] . Rio de Janeiro: INCA; 2006. [citado 2014 Jan 27].
2011;61(3):157–82. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/situacao/arquivos/acoes_
tratamento_cancer_sus.pdf.
9. Bottino SM, Fraguas R, Gattaz WF. Depressão e câncer. Rev Psiq
Clín. 2009;36(3):109-15. 16. Terra FS, Costa AM, Damasceno LL, Lima TS, Filipini CB, Leite MA.
Avaliação da qualidade de vida de pacientes oncológicos submetidos à
10. Silva PB, Lopes M, Trindade LC, Yamanouchi CN, Controle dos quimioterapia. Rev Bras Clin Med. 2013;11(2):112-7.
sintomas e intervenção nutricional. Fatores que interferem
na qualidade de vida de pacientes oncológicos em cuidados 17. Apolone G, Corli O, Caraceni A, Negri E, Deandrea S, Montanari
paliativos. Rev Dor. 2010;(4):282-8. M, Greco MT; Cancer Pain Outcome Research Study Group (CPOR
SG) Investigators. Pattern and quality of care of cancer pain
11. Arrarás JI, Arias de la Veja F, llarramendi JJ, Manterola A, Salgado management. Results from the Cancer Pain Outcome Research
E, Domínguez MA, et al. Calidad de vida relacionada con la salud Study Group. Br J Cancer. 2009; 100(10):1566–74.

Acta Paul Enferm. 2014; 27(4):356-61. 361

Você também pode gostar