Avaliação Da Dor Cronica

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ANÁLISE DA DOR CRÔNICA EM PACIENTES COM SÍNDROME DA DOR

MIOFASCIAL DE UM AMBULATÓRIO UNIVERSITÁRIO NA CIDADE DE SÃO


PAULO

Santana, J L S,¹ El-Mafarjeh R,² Villegas, R B,³ Silva, V J,4


Silva, M,5 Guimarães, M V C,6

RESUMO
Introdução: A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial.
Dentre as diversas causas destaca-se a Síndrome da Dor Miofascial (SDM) com prevalência de até 70% em
clínica de dores. Para sua avaliação na prática clínica, diversos questionários podem ser utilizados. Hoje, ainda
existe uma compreensão limitada dos mecanismos que causam a dor crônica. Assim, surge a necessidade de
avaliar seus diversos parâmetros, através de múltiplos aspectos clínicos, fadiga, prejuízo funcional e qualidade de
vida em pacientes que recebem medicação. Objetivo: descrever os parâmetros supracitados em pacientes com
SDM frente ao tratamento farmacológico. Método: recorte descritivo de um estudo modelo antes e depois que
ainda está em andamento. Foram inclusos pacientes após avaliação clínica para confirmação do diagnóstico e
avaliação de outras doenças e/ou condições. Não houve restrição quanto ao sexo, idade e comorbidades
associadas, exceto doenças oncológicas. Foram excluídos os que apresentavam sintomas e/ou sinais sistêmicos.
Foi realizada intervenção medicamentosa com antidepressivo tricíclico e avaliação de diversos parâmetros
através de questionários. Resultados: Foram encontrados pacientes em maioria do sexo feminino, com média de
idade de 46 anos que apresentavam dor crônica de caráter sensitivo, associado a prejuízo na qualidade de vida,
limitações físicas, queda na vitalidade e capacidade funcional, alterações de humor, elevação do cansaço e fadiga
com dores, principalmente, em região cervicoescapular. Conclusão: Nossos resultados corroboram e somam aos
dados existentes na literatura quanto às alterações multidimensionais da dor em seu caráter biopsicossocial,
contudo é importante a elaboração de estudos mais abrangentes.

Palavras-chave: Dor; Síndrome da Dor miofascial; Medição da Dor; Qualidade de Vida.

ANALYSIS OF CHRONIC PAIN IN PATIENTS WITH MYOFASCIAL PAIN SYNDROME FROM A


UNIVERSITY CLINIC IN THE CITY OF SÃO PAULO

ABSTRACT
Introduction: Pain is an unpleasant sensory and emotional experience, associated with present or potential
damage. Among the various causes, the Myofascial Pain Syndrome (SDM) stands out, with a prevalence of up to
70% in pain clinic. For its evaluation in clinical practice, several questionnaires can be used. Today, there is still
a limited understanding of the mechanisms that cause chronic pain. Thus, there is a need to evaluate its various
parameters, through multiple clinical aspects, fatigue, functional impairment and quality of life in patients
receiving medication. Objective: describe the aforementioned parameters in patients with SDM facing
pharmacological treatment. Method: descriptive section of a model study before and after it is still in progress.
Patients were included after clinical evaluation to confirm the diagnosis and to evaluate other diseases and / or
conditions. There was no restriction on sex, age and associated comorbidities, except for oncological diseases.
Those with systemic symptoms and / or signs were excluded. Drug intervention was performed with tricyclic
antidepressants and assessment of various parameters through questionnaires. Results: Most of the patients found
were female, with a mean age of 46 years, who presented chronic pain of a sensitive nature, associated with
1
Santana, J L S: Acadêmico de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi São Paulo-SP, Brasil. João Lucas
Silva Santana, endereço: Rua Zeca Timóteo, Nº 791, Boa Vista, Picos-PI, e-mail: [email protected]
2
El-Mafarjeh R: Acadêmica de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo-SP, Brasil.
endereço: Rua Vergueiro 266 ap 41 bloco B, liberdade, São Paulo e-mail: [email protected].
Conflito de interesse:
3
Villegas, R B: Acadêmica de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo-SP, Brasil, endereço:
Rua Maria Marcolina ap. 112, Brás, São Paulo-SP, e-mail: [email protected]
4
Sousa, V J G: Acadêmico de Medicina na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo-SP, Brasil, endereço:
Rua Zeca Timoteo, 791, Boa Vista, Picos-PI , e-mail: [email protected] Conflito de interesse: Não Há.
5
Silva, M: Enfermeira, Professora da Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, Brasil. endereço: Rua. Dr.
Almeida lima 1134, Mooca, São Paulo – setor medicina, e-mail: [email protected] 6 Guimarães, M
C V: Médico Neurologista e Professor de neurologia da Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, E-mail:
[email protected]

Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria. 2021 Maio./Ago;25(2):42-57.


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impaired quality of life, physical limitations, drop in vitality and functional capacity, mood changes, elevation of
tiredness and fatigue with pain, mainly in the cervico-scapular region. Conclusion: Our results corroborate and
add to the data in the literature regarding multidimensional changes in pain in its biopsychosocial character,
however it is important to develop more comprehensive studies.

Keywords: Pain; Myofascial Pain Syndromes; Pain measurement; Quality of life.

INTRODUÇÃO
A dor segundo a IASP - Internacional Association for the Study of Pain - é uma
experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou
descrita em termos de tal dano (1). Sua etiologia pode ser explicada através de alterações
físicas - pela compressão de estruturas tais como osso, cartilagem, fáscia, tecido cicatricial,
músculos e nervos; assim como através de alterações psicogênicas, fenômenos de
sensibilização central e somatização. (2) Ainda, podemos classificá-la como aguda (até 3
meses) ou crônica (mais 3 meses) (3).
A dor crônica é considerada, por alguns autores, como uma doença própria e não como
um sintoma de outra patologia de base, sendo denominada Síndrome de Sensibilização
Central (SSC) em que ocorrem sintomas dolorosos associados a alterações de humor, sono e
transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade. Tal patologia acomete mais de 50% da
população em países pobres e é mais prevalente em mulheres, idosos e trabalhadores quando
comparado à população adulta em geral; sendo essa a principal causa de incapacidade e
aposentadoria por invalidez no mundo, no que diz respeito às atividades diárias, levando à
diminuição da qualidade de vida. (4) (5), (6),(7) Essa disfunção associada a doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares e oncológicas está associada a maior mortalidade. Ainda,
sabe-se que quanto maior a intensidade da dor, maior é o risco cardiovascular do paciente. (8)
As principais causas de dor crônica são ocasionadas por afecções musculoesqueléticas
e para avaliação destas, o padrão ouro é o exame físico manual por meio da palpação dos
pontos dolorosos (9). Os pontos são divididos em dois grandes grupos, os tender points que
são 18 pontos dispersos pelo corpo que podem ser dolorosos à palpação na fibromialgia (10)
(11) e os trigger points que são pontos musculares, rígidos, palpáveis, com discretos nódulos
localizados dentro de bandas musculares, dolorosos à compressão em uma qualidade
semelhante a dor referida pelo paciente e associado ao quadro, o paciente pode ter sintomas
neurológicos como parestesias, disfunções motoras e autonômicas. (12) (13) (9)
Os pontos gatilhos (trigger points) são os sinais mais encontrados nos quadros de dor
miofascial - processo resultante de tensão muscular, podendo ser advindo de um único
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músculo ou de um grupamento destes, gerando padrões variáveis e complexos de dor (2) - e
são classificados em 2 grupos: latentes, ou seja, aqueles pacientes espontaneamente
assintomáticos ou ativos que são os pacientes sintomáticos de forma espontânea.
Dentre as diversas patologias em que podemos encontrar os trigger points, a Síndrome
da Dor Miofascial (SDM) é a principal representante. Em clínica de dores a prevalência da
SDM pode atingir 70% dos casos, sendo essa mais comum em mulheres (14). Ela pode ser
originada de encurtamentos musculares e tendinosos, sedentarismo, maus hábitos diários,
carências vitamínicas e disfunções metabólicas e endócrinas (2). A fisiopatologia dos trigger
points na SDM ainda não foi elucidada na literatura (15) e seu diagnóstico é feito quando há a
presença de pelo menos 1 ponto gatilho ativo (9).
Para a avaliação da dor na prática clínica, diversos questionários podem ser utilizados,
e estes são classificados como unidimensionais (avaliação da intensidade da dor) ou
multidimensionais (avaliação da dor em mais de um aspecto, tais como características
espaciais, pressão, tensão térmica, vivacidade da dor e afeto emocional). Como exemplo para
tais, temos a Escala visual Analógica (EVA) como unidimensional e Mcgill como
multidimensional. Os multidimensionais são considerados, segundo a literatura, os mais
confiáveis para avaliação do quadro doloroso.(1) (16)
Além da avaliação diretamente do sintoma doloroso, em muitos casos é necessária
uma avaliação da qualidade de vida, fadiga e prejuízo funcional. Para tal, temos o
questionário SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey) que é um
instrumento multidimensional de avaliação de qualidade de vida composto por um
questionário com 36 itens, englobados em 8 escalas ou componentes (17) (18).
A literatura mostra diversos grupos medicamentosos para tratamento de base da dor
crônica, bem como analgésicos simples, opioides, anti-inflamatórios, analgésicos tópicos e
antidepressivos tricíclicos. Sendo que o último é o mais utilizado, devido ao seu efeito de
modulação da dor, ocasionado uma melhora deste sintoma. (19)
Além da farmacoterapia isolada ou combinada, existem diversas modalidades
terapêuticas para o manuseio da dor crônica, tais como acupuntura, exercício físico e terapias
manuais. Os recursos de eletroterapia e fototerapia também são citados como recursos para
analgesia, em especial o ultrassom e o laser. (20), (21)
Hoje, ainda existe uma compreensão limitada dos mecanismos exatos que causam a
dor musculoesquelética crônica, sendo que para seu manejo e controle, a literatura evidencia

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maior eficácia da terapia medicamentosa frente às demais possibilidades (19),(20). Surge,
então, a necessidade de avaliar os diversos parâmetros da dor crônica, através de múltiplos
aspectos clínicos, da fadiga, prejuízo funcional e da qualidade de vida em pacientes em uso de
terapia medicamentosa. Com isso, o objetivo deste trabalho é descrever os parâmetros
supracitados em pacientes diagnosticados com SDM frente ao tratamento farmacológico.

MÉTODOS
Este é um recorte descritivo de um estudo modelo antes e depois que está sendo
realizado no Centro Integrado de Saúde (CIS) da Universidade Anhembi Morumbi, localizada
na rua Frei Gaspar, 131, Mooca - São Paulo. Para serem inclusos no trabalho os pacientes
passaram por uma avaliação clínica de um único médico Neurologista para que haja
confirmação do diagnóstico de SDM, e avaliadas doenças e/ou condições como
hipotiroidismo, hiperparatireoidismo, hipovitaminose D. Não houve restrição quanto ao sexo,
idade e comorbidades associadas, exceto doenças oncológicas. Foram excluídos os pacientes
que apresentavam sintomas e ou sinais sistêmicos, como febre, perda de peso e dor difusa.
Para a avaliação médico-clínica foi utilizada o seguinte protocolo: consultas mensais
com durações entre 30 a 45 minutos que tiveram como objetivo avaliar a resposta
medicamentosa e as possíveis intercorrências. Nelas os pacientes foram submetidos a um
inventário breve de dor para uma avaliação multidimensional da dor durante o decorrer do
estudo. Em relação ao tratamento medicamentoso foi instituída a Nortriptilina na dose de
25mg/dia, a depender da indicação do paciente, e para terapia de resgate, foi utilizada
Dipirona 2g/dia. Os pacientes foram orientados a usarem apenas as medicações indicadas no
protocolo do estudo. Ainda, foi aplicado uma ficha única padronizada para avaliação médico-
clínica no decorrer das consultas (ANEXO 2).
Para a avaliação dos parâmetros clínicos da dor foram utilizados os seguintes
questionários: o questionário de avaliação multidimensional da dor de McGuill (Anexo 3) que
foi aplicado na primeira e última avaliação do paciente por um dos autores; o inventário breve
de dor (anexo 4) foi aplicado mensamente a cada consulta médica para avaliar de forma
multidimensional a dor do paciente. Associado a essa avaliação de dor foram aplicados
questionários de avaliação de qualidade de vida (anexo 5) no início e na última consulta
(SF36), questionário de fadiga de Piper (Anexo 6) e escala de prejuízo funcional (anexo 7).

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Para a tabulação dos dados e formulação de gráficos e tabelas foi utilizado o Microsoft
Office Excel 2016.

RESULTADOS
Foram avaliados 144 prontuários de pacientes e destes, 8 se encaixaram nos critérios
de inclusão, sendo que 5 pacientes realizaram a consulta inicial e retorno. A maioria dos
pacientes era do sexo feminino (62,5%) e a média de idade encontrada foi de 46 anos (mínimo
17 - máximo 66). A média de renda mensal foi de 2 salários mínimos (mínimo 1 - máximo 4).
Desses, as etnias encontradas foram: branca (50%), pardos (37,5%) e amarelos (12,5%). Três
pacientes frequentaram ensino superior (37,5%), 2 o ensino médio (25%), 2 o fundamental
incompleto (25%) e 1 paciente não foi alfabetizado (12,5%). Dois pacientes encontram-se em
sobrepeso (25% - IMC > 25 kg/m³) e os demais, estão no peso ideal (75% - IMC < 25 kg/m³).
As comorbidades coexistentes mais prevalentes foram diabetes mellitus tipo II e hipertensão
arterial sistêmica (37,5%), seguido de hipercolesterolemia (12,5%), sendo que 50% dos
pacientes não relataram comorbidades associadas á SDM.
Quanto ao Questionário de Qualidade de Vida foram encontrados os seguintes
resultados médios para os parâmetros: capacidade funcional 50,6% (15-70); limitação do
aspecto físico 34,3% (0-75); dor 27,2% (0-82); estado geral de saúde 71,3% (55-92);
vitalidade 43,7% (15-60); aspectos sociais 67,2% (0-100); limitações por aspectos emocionais
54,2% (0-100) e saúde mental 59,5% (36-84). (Tabela1).

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Em relação ao Questionário de Piper, na consulta inicial e de retorno, os pacientes
autodeclaravam qual seu o nível de cansaço na última semana e foram obtidas as seguintes
respostas: um pouco cansado (30,7%); moderadamente cansado (23%), muito cansado
(7,6%), extremamente cansado (38,4%) e ninguém se autodeclarou sem cansaço (Gráfico 1).
Já em relação a sensação de cansaço e o quanto ele impede a realização das atividades diárias,
os pacientes declararam que: consegue fazer tudo que habitualmente fazia (7,6%), consegue
fazer quase tudo (38,4%), consegue fazer algumas coisa que habitualmente fazia (15,4%), só
faz o que tem que fazer (15,4%) e consegue fazer muito pouco do que fazia (30,7%). (Gráfico
2)

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Gráfico 1

Fadiga
Quanto cansado você se sentiu
na última semana?

nada cansado um pouquinho cansado


moderadamente cansado muito cansado
extremamento cansado

Gráfico 2

Fadiga
Quanto a sensação de cansaço
te impede de fazer o que você
quer fazer?

eu consigo fazer tudo


que habitualmente faço

eu consigo quase fazer


tudo que habitualmente
faço

Sobre o Inventário Breve de Dor, durante todas as consultas, em 10 vezes foram


declaradas dor na região 18, 8 vezes na região 19, 5 vezes na região 27, 4 vezes na região 21,
30 e 47. As outras regiões foram apontadas em menos de 3 vezes (Gráfico 3 e figura 1). Em
uma escala de 0 a 10, a média de dor encontrada nos pacientes foi de 4 pontos, variando entre
2 e 7 pontos. Na interferência da dor na atividade geral, a média foi de 5 pontos, variando de 0
a 9 pontos. Na interferência da dor no humor, a média foi de 6,3 pontos variando entre 4 e 10
pontos. Na interferência da dor na habilidade de caminhar, a média foi de 5,8 pontos, variando
entre 0 e 9 pontos. Na interferência da dor no trabalho, média foi de 5,7 pontos, variando de 0
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a 10 pontos. Na interferência da dor relacionamento interpessoal, média foi de 4,4 pontos,
variando entre 0 e 8 pontos. Na interferência da dor no sono, média de 4,5 pontos, variando de
0 a 9 pontos. Na interferência da dor na habilidade de apreciar a vida, média 4,7 pontos,
variando entre 0 e 9 pontos (Gráfico 4).

Gráfico 3

Locais de mais prevalentes de dor nos


pacientes do estudo
12

10

0
9 17 18 19 20 21 23 24 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 40 41 42 46 47

Gráfico 4

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Figura 1

No tocante da incapacidade funcional dos pacientes com dor crônica, avaliado pelo
Questionário de Incapacidade da USP foram observados os seguintes resultados na primeira
consulta:
 Sono: sem alteração 3 (37,5%); parcialmente comprometido 4 (50%); totalmente
comprometido 1 (12,5%); não se aplica 0.
 Apetite: sem alteração 5 (62,5%); parcialmente comprometido 1 (12,5%);
totalmente comprometido 0; e não se aplica 2 (25%).
 Deambulação: sem alteração 2 (25%); parcialmente comprometido 5 (62,5%);
totalmente comprometido 1 (12,5%); não se aplica 0.
 Atividade: sem alteração 0; parcialmente comprometido 7 (87,5%); totalmente
comprometido 1 (12,5%); não se aplica 0.
 Trabalho: sem alteração 0; parcialmente comprometido 6 (75%), totalmente
comprometido 1 (12,5%); não se aplica 1 (12,5%).
 Higiene pessoal: sem alteração 6 (75%); parcialmente comprometido 0;
totalmente comprometido 0; não se aplica 2 (25%).

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 Higiene intestinal: sem alteração 3 (37,5%); parcialmente comprometido 2 (25%);
totalmente comprometido 0; não se aplica 3 (37,5%).
 Relacionamento interpessoal: sem alteração 2 (25%); parcialmente comprometido
3 (37,5%); totalmente comprometido 1 (12,5%); não se aplica 2 (25%).
 Concentração: sem alteração 2 (25%); parcialmente comprometido 4 (50%);
totalmente comprometido 1 (12,5%); não se aplica 1 (12,5%).
 Atividade sexual: sem alteração 1 (12,5%); parcialmente comprometido 4 (50%);
totalmente comprometido 1 (12,5%); não se aplica 2 (25%).
 Humor: sem alteração 2 (25%); parcialmente comprometido 3 (37,5%);
totalmente comprometido 2 (25%), não se aplica 1 (12,5%).
 Lazer: sem alteração 3 (37,5%); parcialmente comprometido 4 (50%); totalmente
comprometido 1 (12,5%); não se aplica: 0.
Em relação ao questionário de McGILL, dos 10 descritores sensoriais possíveis, a
média de uso foi de 8 descritores. Dentre os 5 descritores afetivos possíveis, a média foi de 4;
todos os pacientes utilizaram o único descritor avaliativo disponível e dentre os 4 descritores
miscelânia possíveis, a média foi de 2. Assim, em um universo de 20 descritores
disponibilizados, a média foi de 16. Sobre os índices de dor sensorial de 114 pontos
disponíveis a média foi de 21 pontos. Sobre o índice de dor afetiva dos 30 pontos disponíveis
a média foi de 7 pontos. Sobre índice de dor avaliativo de 15 pontos a média 3,5. Sobre
miscelânia de 46 pontos disponíveis a média foi de 8,5. Assim, de um total de 205 pontos
possíveis, a média foi de 40 pontos (Gráfico 5 e 6).

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Gráfico 5

Descritores das características da


dor: Questionário de McGuill
12
10
8
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8

Número de descritores sensoriais Número de descritores afetivos


Número de descritores avaliativos Número de descritores miscelânea

Gráfico 6

Índice da dor: Questionário de


McGuill

40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8

Índice de Dor: Sensorial Índice de Dor: Afetivo


Índice de Dor: Avaliativo Índice de Dor: Miscelânea
.

DISCUSSÃO
O perfil epidemiológico encontrado entre os pacientes analisados com diagnóstico de
SDM em nosso estudo foi de predomínio de mulheres, de etnia branca, com ensino superior
completo, peso adequado e com média de idade de 46 anos e média de renda mensal de 2
salários mínimos. De acordo com Jackson et al (2016) (4) e como o encontrado em nosso
estudo, mais de metade dos pacientes com dor crônica são mulheres de meia idade, sendo que
a prevalência aumenta a cada ano após os 50.

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Apesar das diversas teorias para tentar explicar a maior frequência da dor
musculoesquelética em mulheres, a causa definitiva permanece desconhecida. Fatores
biopsicossociais, hormonais e, mais recentemente, genéticos, como os microRNAs (que
podem atuar na repressão da expressão genética) tem um importante papel nesse predomínio,
pois há uma associação entre dor e microRNA significativamente reportada mais em mulheres
do que em homens.(7)
Em relação ao Questionário de Qualidade de Vida, em que as perguntas são divididas
em oito parâmetros com pontuação variável de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de
100 melhor a resposta do paciente diante desse parâmetro, nosso estudo encontrou pacientes
com alto índice de dor, média de 27,25 pontos, o que era esperado devido ao fato de o estudo
avaliar pacientes com dor crônica.
Associado a isso, foi verificado que há limitação por aspectos físicos e queda na
vitalidade dos pacientes uma vez que ambos os índices foram menores que o total de pontos
possíveis. Quando analisado os pacientes em relação aos parâmetros de capacidade funcional,
limitação por aspectos emocionais e saúde mental foi verificado padrões medianos de
resposta, o que pode indicar uma interferência desses parâmetros pela presença da dor, mas
apenas parcial, sem comprometimento total dessa variável. As limitações por aspectos físicos
e sociais tiveram um menor impacto à análise dos resultados.
Queiroz et al (2012)(22), avaliaram a qualidade de vida em 31 pacientes com dores
crônicas atendidos em uma clínica multiprofissional e evidenciaram os domínios de
capacidade funcional -47,09- e saúde mental -40,00- como os com maiores valores e os
domínios de limitação por aspectos físicos e dor como os de menores valores – 21- , Sendo
assim, mesmo os domínios com maiores valores encontrados em relação ao total, é um valor
abaixo da metade dos pontos possível de atingir, denotando interferência significativa da dor
na qualidade de vida.
Entretanto, é importante salientar que, como cita Siebra et al (2017), o conceito de
qualidade de vida tem um desenvolvimento independente, não bem delimitado, apresentando
várias vertentes, sendo que pela visão biológica relaciona-se com o status de saúde e o status
funcional e pela visão psicológica, com o bem-estar, satisfação e felicidade. Assim, sendo
uma avaliação subjetiva (22).
A análise do Questionário de Piper deve ser baseada em relação à resposta do paciente
frente a duas questões: quanto à sensação de cansaço e/ou fadiga o impede de fazer suas

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atividades e o nível de cansaço do mesmo ao longo da última semana; sendo que em nosso
estudo, a maioria dos pacientes referiu cansaço extremo, mas que ainda os permitiam realizar
quase todas as atividades diárias que necessitavam.
O Inventário breve de dor permite a avaliação da dor em diversos aspectos como
localização, intensidade e comparação entre os extremos de intensidade da dor, avaliação do
tratamento e o alívio trazido pelo mesmo, além do impacto da dor no cotidiano do paciente.
Ainda, ele analisa as principais características clínico-propedêuticas e o impacto pessoal da
dor (1). Nesse quesito, os pacientes relataram que a região mais comum de dor foi região
cervicoescapular, seguida pela região lombar. A média da intensidade da dor encontrada, em
uma escala de 0 a 10, foi de 4 pontos, interferindo na atividade geral, humor, habilidade de
caminhar, trabalho, relacionamento interpessoal, sono e na habilidade de apreciar a vida. De
forma mediana, em uma escala de 0 a 10, os pontos dados a esses itens giraram em torno de 5
(variando 0,6 a menos e 1,3 a mais) demonstrando que a dor é classificada como fraca a
moderada e interfere nas atividades de vida diária
Quanto ao Questionário de incapacidade da USP, foi possível observar que a dor não
comprometeu totalmente os pacientes em nenhum dos indicadores. No entanto, a dor
comprometeu parcialmente nos indicadores de sono, deambulação, atividade, trabalho,
relacionamento interpessoal, concentração, humor e lazer. Não foi observada interferência nos
indicadores de apetite, higiene pessoal, higiene intestinal e atividade sexual.
Já o Questionário de McGILL, permite uma análise ampla da dor do paciente por
diversos aspectos da dor. Este avalia descritores verbais individualmente e em sua totalidade,
além de sua localização no diagrama corporal. Ainda, ele analisa de forma simples e objetiva
a intensidade da dor. No entanto, seus pontos fracos são o longo tempo aplicação e seus
descritores verbais, que são considerados de difícil compreensão pelos pacientes. Esse
questionário concentra em uma lista descritores que são classificados em sensorial,
discriminativo, afetivo motivacional, avaliativo cognitivo e miscelânia. (1). Assim, ele avalia
tanto o valor da dor do paciente, por meio da somatória dos índices, quanto a qualidade dessa
dor por meio dos descritores utilizados. Em nosso estudo a prevalência foi de dor sensitiva
caracterizando uma dor de origem somatossensorial, dado semelhante ao evidenciado por
Siebra et al (2017) que obtiveram maior parte da dor dos pacientes sensorial.

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CONCLUSÃO
A dor, considerada como uma experiência pessoal e subjetiva, afeta milhões de
pessoas em todo o mundo e se mostra como principal motivo de consultas médicas e de
grande impacto socieconômico para um país. Ainda, é conceituada como de caráter
multidimensional e seu alívio é visto como um direito básico, tratando-se assim, não apenas
de uma questão clínica, mas também de uma questão ética e que envolve uma equipe de saúde
multidisciplinar.
Dessa forma, o recorte parcial do nosso estudo, vem somar a literatura atual dados
sobre as alterações multidimensionais da dor, em caráter biopsicossocial. Contudo, torna-se
importante a elaboração de novos estudos mais abrangentes que possam subsidiar e ampliar o
conhecimento científico diante da dor crônica frente às diferentes terapias disponíveis para o
alívio da mesma, principalmente referentes à terapia medicamentosa que já é evidenciada na
literatura como a que possui melhores respostas, visando melhora da qualidade de vida,
diminuição da fadiga e melhoria da incapacidade. O que, possivelmente, promoverá a
diminuição dos impactos pessoais e sociais provocados.

REFERÊNCIAS
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avaliação de dor em distintas unidades de atendimento: ambulatório, enfermaria e urgência.
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2. Beneli LDM, Carvalho CF De, Baldin AD. Avaliação da dor na síndrome miofascial e da
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