Venezolanos en Dourados MS

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ISSN:1984-9540 DOI: 10.12957/periferia.2023.

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“VENEZOLANOS EN DOURADOS MS”:


UM ESTUDO NETNOGRÁFICO DE COMUNIDADES IMIGRANTES NAS
REDES SOCIAIS DIGITAIS

Guélmer Júnior Almeida de Faria1

Resumo

As migrações Sul-Sul evidenciadas no início do século XXI configuram-se como


uma expressão dos fluxos migratórios globais. Este artigo discute as
sociabilidades migrantes em redes sociais digitais capturadas em uma sociedade
global informacional. O objetivo foi analisar a aplicação do método

1
Pesquisador Doutor do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS/UFV). Pós Doutorado em Ciências Sociais Aplicadas (PNPD/CAPES) no Programa de Pós
Graduação em Economia Doméstica (PPGED) da Universidade Federal de Viçosa (2021). Doutor
pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de
Montes Claros (2019), tendo realizado Estágio de Doutoramento Sanduíche na Universidade de
Coimbra (Portugal), no Centro de Estudos Sociais (CES) sob a orientação da profª Drª Sílvia
Portugal, Mestre em Desenvolvimento Social (Área de concentração: Desigualdades Sociais e
Políticas Públicas) pela Universidade Estadual de Montes Claros (2014), Bacharel em Economia
Doméstica pela Universidade Federal de Viçosa (2008) e Licenciado em Sociologia pela
Faculdade de Educação Paulistana (2019). É avaliador de projeto de Extensão cadastrado no
Sistema Unificado de Administração Pública - SUAP/IFNMG (2018). Membro do corpo editorial
dos Periódicos: Revista Lecturas: Educación Física y Deportes (Argentina), Revista Espaço
Acadêmico (UEM), colaborando como Parecerista ad hoc: , Revista Ibero-Americana de Estudos
em Educação (UNESP), Revista Holos (UFRN), REMHU - Revista Interdisciplinar da Mobilidade
Humana, Cadecs: Caderno Eletrônico de Ciências Sociais (UFES), Revista Sociedade em Debate
(UCPel), Revista OIKOS: Família e Sociedade (UFV), Revista Estudos de Sociologia (UNESP),
Revista Redes (UNISC), Revista Espaço Acadêmico (UEM). Membro do Grupo de Pesquisa OPARÁ-
MUTUM: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Migrações e Comunidades Tradicionais do rio São
Francisco (UNIMONTES) e do Grupo GERAR: Grupo de Estudos Rurais - Agriculturas e Ruralidades
(UFV). Atuou como Especialista Colaborador em projetos de Extensão Universitária, Professor
Convidado no Instituto de Ciências Agrárias da UFMG (ICA/UFMG) na disciplina de Extensão
Rural e Professor dos Cursos de Especialização da Unidade de Ensino e Aprendizado de Viçosa
(UNESAV)/Faculdade de Educação da Serra (FASE): Instrumentalidade do Serviço Social, Gestão
de Pessoas e Criminologia, Direitos Humanos e Segurança Pública, lecionando as disciplinas de:
Metodologia da Pesquisa, Técnica de Elaboração de Monografia e Estudos Empíricos da Violência
e Criminalidade. Atuou como Professor Formador CEAD/IFNMG (2019-2020) na disciplina de
Seminário Temático na LFE I - Gestão Ambiental Pública e como Professor Visitante na
Universidade Federal da Grande Dourados, no Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e
Direitos Humanos (2021-2022), lecionando as disciplinas de: Fronteiras e Direitos Humanos:
perspectivas conceituais interdisciplinares, Tópicos Especiais em Fronteiras e Direitos
Humanos: Gênero, Migrações e Direitos Humanos e Seminários de Pesquisa. Tem experiência na
área de Desenvolvimento Social, atuando principalmente nos seguintes temas: metodologia da
pesquisa qualitativa, trabalho doméstico, relações de gênero, teorias
interseccionais/consubstanciais de gênero, direitos humanos das mulheres migrantes,
sociologia das migrações, redes sociais, análise de redes sociais, extensão rural, sociologia
rural, ruralidades, extensão universitária. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2089-3064. E-
mail: [email protected].

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netnográfico em uma comunidade do Facebook denominada de “Venezolanos
en Dourados MS”. Por meio da netnografia, procurou-se codificar alguns
comportamentos, estratégias, situações da comunidade que se configuram
nesse ambiente online, assim como o fluxo de informações a partir da
observação e das análises temáticas. Os resultados evidenciam que essa
transposição das relações sociais face a face para o ambiente “entre-telas”
favorece a aproximação entre grupos e pessoas. Os imigrantes venezuelano/a/s
enxergaram nessas mediações tecnológicas um espaço de desenvolvimento
criativo para minimizar as consequências vorazes para quem é marginalizado,
e assim diminuir as lacunas das dificuldades de inserção e acolhimento no país
de destino.

Palavras-chave: Venezuela, Migração, Redes Sociais Digitais, Sociabilidades,


Netnografia.

“VENEZOLANOS EN DOURADOS MS”:


A NETNOGRAPHIC STUDY OF IMMIGRANT COMMUNITIES IN
DIGITAL SOCIAL NETWORKS

Abstract

South-South migrations in the early 21st century are an expression of global


migration flows. This paper discusses migratory sociabilities in digital social
networks captured in a global information society. The objective was to analyze
the application of the netnographic method in a Facebook community called
"Venezuelans in Dourados MS". Through netnography, we sought to codify some
of the community behaviors, strategies and situations that are configured in
this online environment, as well as the flow of information, through observation
and thematic analysis. The results show that this transposition of face-to-face
social relations to the "between screens" environment favors closeness between
groups and individuals. Venezuelan immigrants saw in these technological
mediations a space for creative development to minimize the voracious
consequences for the marginalized, and thus reduce insertion gaps and
reception difficulties in the country of destination.

Keywords: Venezuela, Migration, Digital Social Networks, Sociabilities,


Netnography.

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UN ESTUDIO NETNOGRÁFICO DE COMUNIDADES INMIGRANTES EN
REDES SOCIALES DIGITALES

Resumen

Las migraciones Sur-Sur de principios del siglo XXI son una expresión de los
flujos migratorios mundiales. Este artículo analiza las sociabilidades migratorias
en las redes sociales digitales captadas en una sociedad global de la
información. El objetivo fue analizar la aplicación del método netnográfico en
una comunidad de Facebook llamada “Venezolanos en Dourados MS”. A través
de la netnografía, se buscó codificar algunos de los comportamientos,
estrategias y situaciones comunitarias que se configuran en este entorno online,
así como el flujo de información, mediante la observación y el análisis
temático. Los resultados muestran que esta transposición de las relaciones
sociales cara a cara al entorno “entre pantallas” favorece la cercanía entre
grupos e individuos. Los inmigrantes venezolanos vieron en estas mediaciones
tecnológicas un espacio de desarrollo creativo para minimizar las voraces
consecuencias para los marginados, y reducir así las brechas de inserción y las
dificultades de acogida en el país de destino.

Palabras clave: Venezuela, Migración, Redes Sociales Digitales, Sociabilidades,


Netnografía.

INTRODUÇÃO

A Venezuela enfrenta uma situação econômica e social complexa que se


manifesta em diferentes níveis da dimensão humana do seu povo. Atualmente,
o fluxo migratório de venezuelano/a/s para o Brasil tem ocorrido em volume
intenso. Esse fenômeno foi intensificado a partir de 2016, quando a Polícia
Federal brasileira informou 8.670 novos imigrantes venezuelano/a/s no país
(BAENINGER; DEMÉTRIO; DOMENICONI, 2022).
Ademais, diversos fatores têm movido venezuelano/a/s a arriscarem a
sorte no Brasil em busca de uma nova possibilidade de vida: fuga de problemas
econômicos e políticos, falta de perspectiva de trabalho, violência urbana,
dentre outros. Frisa-se que a natureza da migração venezuelana abordada aqui
é de caráter forçado, gerada pela carência de alimentos, de remédios, de
empregos, de estruturas básicas de saúde e de serviços socioassistenciais.

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Por outro lado, esse movimento não se dá de forma pacífica. Em geral,
os imigrantes que chegam a um novo país experienciam situações conflituosas.
Quando não são vistos como ilegais, a desconfiança, o medo e a xenofobia, se
relacionam com a concorrência aos postos de trabalho ou pelos serviços
públicos. De fato, a imigração e a migração se entrelaçam no contato com novas
culturas, diferentes maneiras de pensar e distintas crenças, fazendo surgir
dificuldades de adaptação, conforme aponta Waldman (2011).
A disporá venezuelana tem sido analisada pela migração laboral, que
entre 2000 e 2015 era formada essencialmente por trabalhadores altamente
qualificados, com destino às capitais (sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo); no
período entre 2016 e 2017, a classe média venezuelana se põe em movimento
pela fronteira terrestre, em busca por trabalho em outras cidades brasileiras;
e finalmente, o deslocamento a partir de 2018, constituída por uma população
pauperizada denominada de “crise migratória”, concentrada no estado de
Roraima e que tem sido gestada pelo governo brasileiro através da Operação
Acolhida2 (BAENINGER; DEMÉTRIO; DOMENICONI, 2022).
A ascensão da sociedade de rede, proclamada por Castells (2000), foi
consolidada justamente nesse mesmo período (2000-2018), em razão do
crescimento da internet, a globalização dos fluxos de informação e o comércio
de produtos e serviços a partir dos meios digitais conforme Falcão et al. (2018).
Dessa forma, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados ou
Agência das Nações Unidas (ACNUR) enunciou uma nota aos seus Estados-
membros com orientações para que os cidadãos que saem da Venezuela passem
a receber tratamento de refugiados, não de migrantes. Neste artigo, adotamos
o termo migrantes/refugiados como sinônimos e em conjunto com as
imbricações que ambos acarretam. Destarte, a situação dos refugiados, de
acordo com Alfaya e Souza (2022), especificamente a dos venezuelano/a/s,
revela-se preocupante quanto à adaptação e, principalmente, à recepção

2
Decreto n.º 9.286 de 15 de fevereiro de 2018. Define a composição, as competências e as
normas de funcionamento do Comitê Federal de Assistência Emergencial para acolhimento a
pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise
humanitária (BRASIL, 2018).

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ofertada pelo Brasil, que mundialmente é reconhecido como país acolhedor.
Porém, não é bem assim quando se trata de asilo aos refugiados.
Assim, as redes sociais digitais têm sido com frequência importantes
ferramentas estratégicas de comunicação nos dias atuais, possibilitando a
obtenção de informações pelos imigrantes, sobretudo o que ocorre em seu novo
local de residência e como manutenção da cultura originária e sociabilidades,
além de facilitar a esses indivíduos o acesso ilimitado a notícias e assuntos
específicos em determinados contextos. Dessa maneira, as redes sociais
mediadas pelas estruturas digitais, atuam como redes amplificadas, através das
quais a “vozes” dos seus atores se beneficiam de um alcance incomensurável.
Isso é possível uma vez que o ser humano é eminentemente social e necessita
do estabelecimento de interações sociais para a sua satisfação e integração em
um determinado grupo e/ou comunidade (SIMMEL, 2002).
Recentemente, destacam-se os trabalhos de Oliveira e Neto (2016) sobre
a experiência de criação e administração de um grupo nas redes sociais para
imigrantes brasileiras em Portugal. Em relação a netnografia, Falcão et al.
(2018) analisaram atividades empreendedoras e fluxos de informação, que
acontecem em comunidades de imigrantes brasileiros em Sidney, Austrália. Os
autores apresentam o método e discutem sua aplicação no contexto de uma das
comunidades do Facebook. O estudo de Brignol (2021) discute como as
mediações das identidades e tecnicidades atravessam experiências migrantes
de usos sociais das mídias, especialmente das mídias digitais e em rede. O
estudo sobre usos das mídias sociais pelas brasileiras imigrantes no Canadá foi
desenvolvido por Fessel Sega (2021), focando nas estruturas físicas dessas
mídias atreladas às funções, às intenções e às formas de utilização pelas
imigrantes. Já no estudo de Cruz, Falcão e Santos (2022) a análise recai em
evidenciar o perfil sociodemográfico de imigrantes brasileiros na Alemanha,
realizando um survey com 652 respondentes acessados em grupos do Facebook.
Os resultados foram triangulados com a netnografia abrindo espaço para
discussões acadêmicas e/ou de políticas públicas.
Ademais, Alfaya e Souza (2022) relatam que, na tentativa de colaborar
com as possibilidades criadas com as novas tecnologias e tornar as informações

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e processos mais acessíveis aos imigrantes, surgiram nos últimos anos iniciativas
tecnológicas que se dedicam a preencher essa lacuna. Essas ações ocorrem,
especialmente, por meio de aplicativos de celular e das comunidades das redes
sociais digitais, e algumas sequer dependem do acesso à internet para
utilização. Conforme será exposto a seguir, muitos grupos e organizações
tentam contribuir na busca dos imigrantes por apoio, proteção e acesso aos seus
direitos humanos.
Esse estudo justifica-se por reconhecer o entrelaçamento entre
migrações, mídias e redes sociais digitais problematizados a partir das
sociabilidades migrantes. Desse modo, meios de comunicação como blogs,
aplicativos de interação (Facebook, Instagram, Tik-Tok, Twitter) entre outros
trazem contribuições significativas para o cotidiano de famílias migrantes,
aproximando-os no cyberespaço e proporcionando uma cybercultura. Para isso,
direciona-se a cybercultura nos termos de Pierre Lévy (1999) cujo significado
não está atrelado à cultura dos fanáticos da internet, mas sim a uma
interconexão que comporta uma gama de diversidades de sentidos. Em outras
palavras, a interconexão mundial de computadores forma a grande rede, mas
cada nó dela é fonte de heterogeneidade e diversidade de assuntos, abordagens
e discussões em permanente renovação.
Diante desse contexto, a questão que dimensiona o estudo é: quais as
sociabilidades em rede estão presentes em comunidades imigrantes
venezuelanas nas redes sociais digitais?
Nesse viés, o presente estudo permite avançar no entendimento dos
estudos migratórios a partir de uma etnografia online, já que muitas vezes o
acesso a esses sujeitos sociais é difícil. Dessa maneira, pode-se compreender
suas trajetórias de migração e lógicas de comunicação em rede, em uma
dinâmica construída entre deslocamentos, pertenças identitárias e usos das
tecnologias da informação e comunicação.
Assim, o objetivo desse artigo foi de analisar a aplicação do método
netnográfico em uma comunidade do Facebook denominada de “Venezolanos
en Dourados MS”. A partir da netnografia, procurou-se codificar alguns
comportamentos, estratégias, situações da comunidade que se configuram

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nesse ambiente online, assim como do fluxo de informações. O estudo
exploratório do método aplicado à comunidade virtual de imigrantes se mostrou
promissor, pois foi capaz de evidenciar dimensões importantes do senso de
comunidade e comportamentos relativos às sociabilidades. Além disso,
identificou caminhos para a pesquisa a respeito da importância dos produtos e
serviços vendidos por meio dessa plataforma, assim como o entendimento a
respeito da forma como se configuram esses fluxos, sua importância para a
sobrevivência e para o pertencimento dos membros da comunidade (FALCÃO et
al., 2018).
Esse trabalho apresenta, no referencial teórico, conceitos relacionados
às redes sociais digitais e sociabilidades em rede. Em seguida, refere-se aos
percursos metodológicos e os instrumentos utilizados nesse estudo para a coleta
de dados online. Além disso, realiza-se a análise temática e interpretação dos
resultados da observação da comunidade digital de venezuelano/a/s em
Dourados, Mato Grosso do Sul. Por fim, postulam-se os resultados da referida
análise, chegando-se a ponderações e reflexões finais.

Referencial teórico
Redes Sociais Digitais e sociabilidade em rede

Estas ambiências digitais são pensadas, em um primeiro momento, a


partir do conceito de sociabilidades e inserem-se em um contexto mais amplo,
de rearticulações do próprio processo comunicacional a partir das lógicas da
comunicação em rede. A aproximação com os espaços criados e gerenciados por
esses migrantes na rede social Facebook nos possibilita observar, conforme é
intenção deste artigo, quais são as sociabilidades e o que sinalizam as
interações destes sujeitos que se associam (também) através das redes sociais
na internet.
Portanto, as redes são de sociabilidade, segundo Georg Simmel (2002,
2006), sustentadas pela necessidade de manter contato, de estar junto, de
pertencer a algo e de estar em sociedade que tem origem a sociabilidade entre
os indivíduos. Simmel (2002) afirma que é a sociabilidade que condiciona a

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sociedade e os sujeitos sociais à procura de melhor convivência, interação,
socialização e associação, através das relações sociais, estabelecidas no
espaço, que aqui são representadas pelas redes sociais digitais de imigrantes
venezuelano/a/s.
O uso das Redes Sociais Digitais (RSD’s), conforme aponta Souza (2013)
em diversos âmbitos como educação, organizações com ou sem fins lucrativos,
governamentais ou entretenimento, faz aumentar, proporcionalmente, o
número de usuários da internet, no caso dos imigrantes elas tem potencial para
estabelecer redes de relações sociais, vínculos, pertencimentos e afirmação de
identidade.
De acordo com Lévy (1999) a cybercultura constitui-se de uma civilização
sem fronteiras e de tele presença generalizada. Para o autor, a conexão entre
os computadores, aparelhos inteligentes e dispositivos móveis são um bem em
si, sendo o horizonte técnico da cybercultura a comunicação universal.
No entanto, Recuero (2008) verificou que as comunidades virtuais têm
elementos como interação, laço e capital social, inclusive estes são seus
elementos definidores. A autora também observou que, em alguns dos fotologs
analisados, os grupos constituíam-se de interações mútuas, dialógicas e
associadas a uma relação existente. Nesse sentido, os fotologs poderiam ser
considerados as RSI’s, como o Facebook e o Orkut, já que são formados de laços
sociais prévios entre os seus usuários.
O uso de redes sociais para o migrante é de extrema importância. Elas
são usadas para manter laços com a família e amigos, e até mesmo para
pesquisar a cultura, modo de vida, mercado de trabalho e oportunidades no
país imigrante. Estudos relacionais sobre o uso do Facebook e do WhatsApp
indicam que a rede WhatsApp é uma rede mais específica e simples em suas
funcionalidades se comparada à rede do Facebook, isso é mais complexo dado
seus múltiplos atributos (FERREIRA; ARRUDA FILHO, 2015).
Foi a partir do aparecimento dos laços associativos, caracterizados como
laços sociais, e do surgimento dos sites de rede social, que se percebeu a
influência dessas redes na sociabilidade contemporânea. E, de acordo com
Recuero (2008) os sites de rede social intensificam e tornam esses laços

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efetivamente sociais, na medida em que eles não indicam apenas um grupo de
indivíduos com uma característica comum, mas representam conexões efetivas
que intervêm na rede social e sofrem interferência dela.
Neste trabalho, os usos que são feitos das redes sociais online e de outros
espaços de trocas e dinâmicas culturais e comunicacionais por migrantes
venezuelano/a/s indicam o caráter dinâmico e complexo de uma diáspora que
se constrói a partir de experiências transnacionais atravessadas pela mediação
tecnológica como afirma Brignol e Costa (2018).

Material e Métodos

Para a realização do presente trabalho, foi realizada uma pesquisa


qualitativa de caráter exploratória e descritiva. Assim, para se esboçar um
quadro sobre a migração venezuelana no Brasil fez-se cogente: primeiro,
identificar o perfil desses migrantes; segundo, as principais pautas e postagens
da comunidade; e por último, as sociabilidades, por meio das relações sociais.
Em um trabalho de campo multissituado e que integra as ambiências
online, através da observação participante como assevera Kozinets (2014, p.
61-62) “a netnografia é pesquisa observacional participante baseada em
trabalho de campo online”. Realizado entre maio e outubro de 2022, procurou-
se conhecer as dinâmicas de redes de migrantes venezuelano/a/s no grupo do
Facebook: “Venezolanos en Dourados MS” (figura 1), em suas práticas
associativas, como encontros, mobilizações, festas, atividades religiosas e de
comércio e negócios.

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Figura 1: Grupo “Venezolanos en Dourados MS”.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

Dessas observações foram extraídas as postagens ou participações


ilustrativas de aspectos relevantes ou muito discutidos e, sobretudo, os
relativos à imigração venezuelana para o Brasil, sempre se respeitando os
princípios éticos de pesquisa netnográfica (KOZINETS, 2014).
Diante do protocolo da técnica preconizada por Kozinets (2014),
elaborou-se o seguinte esquema de pesquisa, conforme a figura 2 abaixo:

Figura 2: Fluxograma do esquema de pesquisa netnográfica.


Primeira etapa
Definição do Grupo escolhido a investigar: comunidade de imigrantes em redes
sociais digitais

Segunda etapa
Identificação e seleção de comunidade: “Venezolanos en Dourados MS”

Terceira etapa
Observação participante (envolvimento, imersão) e coleta de dados (garantir
procedimentos éticos)
Observação online de maio a outubro de 2022

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Definição do Grupo escolhido a investigar: comunidade de imigrantes de redes
sociais digitais

Quarta etapa
Análise temática dos dados e interpretação interativa dos resultados

Quinta etapa
Redação, apresentação e relato dos resultados de pesquisa e/ou implicações
teóricas e/ou práticas
Fonte: Adaptado a partir de Kozinets (2014).

Partindo dessa observação, procuramos identificar práticas


comunicativas que segundo Brignol (2021) em usos sociais da mídia, através de
apropriações e produções em sites, redes sociais online, vídeos e outras
publicações diversas. Tenta-se identificar também seus processos de
comunicação em diferentes contextos de sociabilidades.
Assim sendo, a coleta de dados foi produzida por duas fontes de
informação: (i) dados copiados diretamente das comunicações e (ii) dados
descritivos de suas observações das comunidades e de seus membros, suas
interações e significados como demonstraram Cruz, Falcão e Santos (2022).
Amparado pelo estudo netnográfico proposto por Falcão, Cruz e Amaral
(2018), aonde investigam atividades de negócios e empreendimentos com fluxos
de informação, demonstraram e testaram uma codificação de temas debatidos
nos grupos pesquisados. Orientando-se desta codificação as postagens foram
catalogadas, classificadas e analisadas.
Para análise e interpretação dos resultados fez-se uso da análise
temática, preconizada por Braun e Clarke, 2006 apud Souza (2019), que é um
método de análise qualitativa de dados para identificar, analisar, interpretar e
relatar padrões (temas) a partir de dados qualitativos.
Em relação aos aspectos éticos de pesquisa online, seguiu-se os
protocolos éticos de Kozinets (2014) em relação a metodologia da netnografia,
as postagens individuais e originais foram mantidas em sigilo, quando extraída

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por print screen3 cobriu-se o nome para que não fosse possível rastrear por meio
de mecanismos de busca. Ademais, para condução de pesquisas de forma ética
nos grupos de Facebook foi obtido o consentimento dos gestores dos grupos e o
“concordo” das comunidades online selecionadas para participar, garantindo-
se o anonimato das postagens extraídas resguardado na Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais (LGPD, Lei nº 13.709/2018) que estabeleceu regras
específicas para o tratamento de dados pessoais para fins acadêmicos e para a
realização de estudos por órgãos de pesquisa.

Características da região em análise

Segundo relatório do Subcomitê Federal Para Recepção, Identificação e


Triagem dos Imigrantes (Migração Venezuelana) publicado em janeiro de 2022,
das 689.694 entradas de venezuelano/a/s no Brasil entre janeiro de 2017 e
janeiro de 2022, 47% correspondem ao perfil de mulheres (324.156) e 53% de
homens (365.531) (CAVALCANTI, OLIVEIRA; MACEDO, 2020).
A pesquisa se justifica por oportunizar uma análise aprofundada sobre a
situação dos venezuelano/a/s e seu processo de integração na cidade de
Dourados/MS. A escolha do local da pesquisa se deu em função do relatório
MigraCidades (2020) apontar que em dezembro de 2019 o município contava
com cerca de 1.636 venezuelano/a/s, sendo o quarto maior receptor de
imigrantes venezuelano/a/s interiorizados no Brasil.
A realocação voluntária e assistida, na visão de Silva e Folle (2022) desses
indivíduos nessa localidade ocorreu, maioritariamente, por meio de ações
implementadas pela Operação Acolhida em conjunto com a sociedade civil
organizada, sob a égide do Projeto Acolhida. Até maio de 2021, já haviam sido
interiorizados 2.611 imigrantes venezuelano/a/s em Dourados. Ademais, o
estado do Mato Grosso do Sul desde 2015 tem se configurado em rota de
passagem de migrantes e refugiados que chegam ao Brasil pelas fronteiras com
Bolívia e Paraguai.

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Pela captura de tela foi possível identificar o momento e o contexto de análise.

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De acordo com o MigraCidades (2020) de 2000 a 2020, 2.494 migrantes
internacionais obtiveram o Registro Nacional Migratório como habitantes do
município, de acordo com dados do Sistema de Registro Nacional Migratório
(Sismigra). Entre abril de 2018 e agosto de 2020, o município de Dourados
recebeu cerca de 2.179 venezuelanos/a/s por meio da estratégia de
interiorização do Governo Federal.
O movimento diaspórico dos imigrantes e refugiados venezuelano/a/s
para o município de Dourados, teve início em 2019, segundo Silva (2020) a
Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mormóns) a Caritas Diocesana
de Dourados e a Igreja Metodista foram as primeiras instituições de acolhimento
unificadas em um projeto humanitário denominado de Projeto Acolhida com
a finalidade de auxiliar a Força-Tarefa Logística Humanitária, instaurada
em Roraima em março de 2018 e conhecida por “Operação Acolhida”, na
recepção e no processo de integração local dos beneficiários da estratégia
de interiorização implementada pelo Governo Federal.
O processo de interiorização teve seu início, em âmbito nacional em abril
de 2018, constituindo-se no processo de realocação voluntária e assistida dos
nacionais venezuelano/a/s do estado de Roraima para outros estados
federativos brasileiros, além de ser compreendida pelo Governo Federal como
a principal gestão das migrações em território nacional a partir de 2015. Tal
processo ocorre em cinco modalidades, quais sejam: a) interiorização “abrigo
a abrigo” b) interiorização por reunificação familiar; c) interiorização por
oferta de emprego sinalizada; d) interiorização pela sociedade civil e; e)
interiorização por reunião social (SILVA; FOLLE, 2022).
No caso de Dourados a migração laboral vincula-se as quatro primeiras
etapas de interiorização que ocorreram maioritariamente pela modalidade de
oferta de emprego sinalizada pela Empresa Seara Alimentos LTDA, ao
longo dos meses de fevereiro a maio de 2019. Embora, opta-se por compreender
esse tipo de migração ancorado no viés econômico e do trabalho, a noção do
pesquisador é ampliada para uma perspectiva multidimensional do processo
migratório, sendo transversal à várias categorias implicadas na migração. A

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seguir, analisa-se como se dá essa interação, pertencimento e o fluxo de
informação de uma comunidade digital nas mídias sociais.

Apresentação e Análise dos Dados

O Grupo “Venezolanos en Dourados MS” foi criado no Facebook em 27 de


março de 2019. De acordo com o administrador do grupo, para seu efetivo
funcionamento, diversas estratégias foram desenvolvidas, como a criação de
grupos de Whatsapp. Depois do contato com outros grupos de nacionalidade
venezuelana, os convites foram enviados para o público desejado.
O Facebook é uma rede social que possibilita a uma pessoa, a uma
entidade ou a um grupo postar o seu perfil na internet para divulgar dados
pessoais com fotos, vídeos, links e notas adicionando, para efeitos de
correspondência virtual, outros usuários que são aceitos como “membros” dessa
comunidade. Dessa forma, no espaço voltado para a descrição do grupo aqui
analisado, há um texto curto sobre os objetivos e os temas a serem
compartilhados.

Hola, Bienvenidos al mejor grúpo de Venezolanos unidos y


emprendedores de Brasil-Mato Grosso Do Sul-Dourados. Aquí
aprenderas a compartir y a informarte en asuntos de interés, trabajo,
educación, trámites de documentación, compras, ventas y ofertas en
promociones importantes de supermercados y otros. "pueden ofertar
sus productos, servicios y todo lo que nos ayude para progresar en
este país". ¡Dios los bendiga!

Durante as observações, foi possível identificar que o grupo possui 7.238


membros, com uma média de 30 publicações ao dia. Quanto ao acesso, o
administrador não estipula critérios para o público, sendo que qualquer pessoa
pode ver quem está no grupo e o que é publicado nele. Entretanto, quando se
pergunta: o que pode publicar? A resposta é: “El propósito es compartir asuntos
de interés; trabajo, educación, trámites de documentación, compras y ventas,
ofertar de productos, servicios y noticias de promociones especiales”.
Também, as buscas no grupo são facilitadas e visíveis por qualquer pessoa.

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Além disso, foi observado que nessa comunidade virtual os fóruns de
circulação de ideias e trocas de informações tem um caráter mais significativo,
pois abordam temáticas muito presentes no cotidiano daqueles que migram.
Entre os tópicos do grupo, temos: #envios (107 publicações), #remessas (104
publicações), #venezolanos (99 publicações), #giros (62 publicações) e #unimos
(27 publicações). A criação do grupo e as formas de comunicação nesse espaço
corroboram a proposta de Elhajjie Malerba, 2016 apud Oliveira e Netto (2016):
comunidade e comunicação. Assim, comunicar, formar uma comunidade ou
entrar em comunhão implicam no mesmo gesto existencial de troca, partilha,
participação, contribuição, aproximação e vinculação.
O tipo de agrupamento social encontrado no ciberespaço por Recuero
(2008) auxilia a compreender a utilização desse novo espaço social por
migrantes comunicantes, transpassa as barreiras do espaço físico, e também
pode ser útil para a manutenção e o fortalecimento de laços sociais de
diferentes tipos de sociabilidade.
A análise das postagens, seguindo as categorias trabalho, situação
migratória, remessas, pequenos negócios e produtos típicos originários da
cultura venezuelana e ocupações femininas apresentou-se significante para as
interações respondidas e reativas pelos membros do grupo, e isso ratificou os
dados apontados na metodologia,
Esse contexto permite a constatação, no grupo de observação online,
dos preceitos de Sayad (1998) sobre a subordinação da estadia do imigrante
à sua sujeição ao trabalho disponibilizado no “mercado de trabalho para
imigrantes”, pois as vagas de empregos ofertadas aos venezuelano/a/s pelas
empresas de frigoríficos foram aquelas não preenchidas pelos moradores de
Dourados e dos municípios vizinhos, devido tanto a baixa remuneração quanto
ao tipo de atividade laboral e suas dificuldades inerentes, aos turnos de
trabalho, além de não serem condizentes com o nível de qualificação
profissional de tais imigrantes na maioria das vezes.
De acordo com Baeninger, Demétrio e Domeniconi (2022) o município de
Dourados, no Mato Grosso do Sul, concentrou 17% de todas as pessoas

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interiorizadas na migração dirigida4 por vaga de emprego. Ambas as localidades
concentram importantes frigoríficos e acenam para a centralidade dessa
migração dirigida e do Programa de Interiorização no provimento de toda a
força de trabalho demandada pelo setor. A figura 3 é um exemplo de postagens
sobre a indicação e oportunidades de trabalho das quais mais se sobressaem no
grupo.

Figura 3: Postagem sobre informação de trabalho em outubro de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

É interessante perceber que a comunidade dos venezuelano/a/s no Brasil


é composta em sua maioria por casais jovens (entre os 20 e 30 anos) com filhos
pequenos (idade inferior a 10 anos), embora perceba-se uma estrutura etária
com perfil bastante diversificado. As postagens sobre venda de móveis usados,
carros e geladeiras, são típicos de famílias transnacionais em constante
processo de mobilidade ou retorno. Ao mesmo tempo que se tem famílias indo
embora, observa-se também famílias com chegadas a procura de carros,
roupas, móveis usados ou para troca, além de um considerável fluxo de
postagens relativas ao aluguel de casas e kitinets.

4
A compreensão das migrações venezuelanas para o Brasil no século XXI assenta-se na presença
do Estado brasileiro para gerir as migrações venezuelanas na fronteira, com a Operação
Acolhida, e fora dela: a política interna de redistribuição das migrações venezuelanas como
pontua Baeninger; Demétrio e Domeniconi (2022).

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As postagens com maior frequência são aquelas dos pequenos negócios,
dos empreendedores imigrantes, conforme a figura 4, sobretudo as relacionadas
ao setor de alimentação. As empanadas é um prato típico consumido no café
da manhã. A forma de preparar os alimentos, as técnicas específicas para a
produção de determinado preparo - como a necessária nixtamalização5 do milho
para o posterior preparo de arepas 6, por exemplo - são particulares de um
contexto cultural que carrega uma vivência comum a alguns países da América
Latina. Na visão de Zhou, 2004 apud Falcão et al. (2018) como consumidores,
os imigrantes preferem itens ligados ao país de origem, em termos de utilidade
do bem ou da representação simbólica, relacionado à identidade do seu povo.
Talvez devido à dificuldade de acesso, esse comércio informal de pequenos
volumes de produtos da terra natal pelo Facebook seja uma forma de buscar
esse pertencimento e garantir a reprodução social de suas famílias. Vale
ressaltar que a grande oferta de trabalho autônomo diversos sugere que muitos
venezuelanos/a/s estão no mercado informal trabalhando por conta própria.

Figura 4: Postagem sobre negócios migrantes – venda de alimentos em setembro de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

5
É um processo de cozimento e maceração do milho maduro em solução alcalina de cal (CaO).
Esse processo facilita a moagem, melhora o sabor, aroma e valor nutritivo.
6
Tradicional pão venezuelano feito a partir da farinha de milho branco pré-cozida, água e óleo.

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Essas postagens sugerem uma sociabilidade marcada pela tradição e que


alguns anunciantes e comerciantes identificam oportunidades de negócios que
ultrapassam o pertencimento a um grupo específico.
No que tange à situação migratória, a figura 5 abaixo traz alguns relatos
publicados no grupo relacionados com tramites para regularização migratória e
também de pedidos de ajuda por pessoas que já tenham algum know-how7 na
desburocratização dos documentos exigidos.

Figura 5: Postagem sobre a emissão de documentos para regularizar a situação migratória em


outubro de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS”.

Desse modo, por meio da postagem acima, ficam evidentes as


dificuldades e soluções para conseguir se manter legal ou tornar cidadão, isto

7
O termo significa transmitir algum conhecimento vivido na prática. Alguns migrantes fazem
papel de intermediários, repassando informações confiáveis e de ajuda mútua.

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é, garantido pelos laços sociais de união entre os membros. Para Rheingold,
1995 apud Recuero (2008), essas comunidades virtuais são agregados sociais que
surgem na web quando uma quantidade suficiente de pessoas leva adiante
facilidades para o processo migratório com suficientes sentimentos humanos
para formar redes de relações pessoais no ciberespaço. Essas redes não servem
só para a comunicação entre migrantes e a sociedade de origem, mas também
como meio de construção de comunidade étnicas virtuais que possibilitam a
troca de informações acerca da experiência migratória e não se desconectam,
independente da condição migratória e das questões econômicas, sociais e
culturais.
Ademais, ainda em relação a essa postagem, foram mostrados a relação
da dimensão “integração e satisfação das necessidades” conforme proposta por
Falcão et al. (2018, p. 41), que compreende isso “como as experiências vividas,
por exemplo, a forma de enviar dinheiro para sua terra natal ou onde encontrar
determinados ingredientes para seus pratos típicos”. A figura 6 a seguir informa
sobre onde encontrar determinados ingredientes da dieta venezuelana para
seus pratos típicos. O milho foi o ingrediente de maior destaque, seguido de
banana da terra, feijão preto e ají dulce8. A partir dos ingredientes destacados,
podem ser feitos os pratos típicos que tiveram maior notoriedade ao longo da
pesquisa. Nesse processo, a apropriação das mídias digitais, como aponta
Brignol (2021), é importante na articulação dos empreendedores; na divulgação
dos produtos e oferta de serviços; no contato com outros migrantes e com a
população local, como possíveis clientes; e na disseminação da rede de
informações e de comunicações construídas a partir dos espaços de negócios
étnicos.

8
É um tipo de pimentão verde pequeno que fica laranja e depois vermelho se deixado tempo
suficiente no arbusto. Esse tipo de pimentão de sabor doce, não picante e marcado é utilizado
para dar sabor a todo o tipo de guisados, especialmente os conhecidos refogados.

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Figura 6: Postagem sobre produtos típicos da Venezuela em agosto de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

As postagens sobre comidas e pratos típicos são imperativas no grupo,


sobretudo em relação ao provimento, ao acesso e ao preparo. O que dialoga
com o estudo de Vasconcelos (2018) que entende a busca pela comida como
algo que coloca o indivíduo em movimento, expondo fragilidades, mas também
revelando capacidades, como os pequenos negócios e os negócios étnicos. Por
um lado, gera relações de dependência econômica com os/as brasileiros/as;
por outro, ocasiona o empoderamento de provedores/as de famílias
transnacionais e contribui para a comunhão entre pessoas de origens diferentes
que enfrentam dificuldades semelhantes.
Outro ponto com repetidos anúncios é a oferta de envio de remessas
como um dos principais usos dos produtos disponíveis pela Internet. De modo
geral, isso dá a possibilidade de garantir sobrevivência de seus membros
familiares no país de origem, mesmo trabalhando em condições adversas, sem
acesso a direitos sociais e tratados/as como pessoas inferiores.
Entre as principais motivações dos entrevistados para migrar aparecem,
justamente, a busca por melhores condições de trabalho e a possibilidade de
envio de dinheiro para parentes na Venezuela, em dinâmicas de famílias
ampliadas que reconfiguram vínculos no contexto transnacional como
evidenciando por Brignol (2021). Para o autor “[...] essas remessas podem ser

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entendidas como responsáveis pela manutenção de vínculos familiares e de uma
comunicação constante e ininterrupta entre lá e cá, em uma dinâmica
transnacional que pode atuar tanto no sentido de desenvolvimento econômico,
como de dependência” (BRIGNOL, 2021, p. 16).
Nesse viés, com base nos dados apontados, é possível notar na figura 7
adiante os envios e as remessas como responsáveis pela maior parte das
publicações. Esses transportes são realizados por intermediários que se dispõem
a facilitar o processo de transferência de dinheiro da moeda real para o Bolívar
venezuelano, sendo 1,00 Real brasileiro equivalente a 466.475,40 bolívares
venezuelano. Na Venezuela, o salário mínimo mensal é de 126 bolívares, ou
seja, R$ 103,12 reais (UOL ECONOMIA, 2022). Esses dados sugerem como a
importância das remessas ultrapassam o viés econômico e se problematiza nas
diversas motivações para o deslocamento.

Figura 7: Postagem sobre remessas em maio de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

Os setores produtivos agrícolas, em especial o frigorífico, como


pesquisado por Petean, Benini e Nemirovski (2021) destacam sua relevância
econômica, sobretudo para o estado de Mato Grosso do Sul, lócus desta
pesquisa. No quarto trimestre de 2017, foi o segundo estado brasileiro em
número de abate bovino, ficando atrás apenas do Mato Grosso. Em abate suíno,

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foi o sétimo do ranking; em aves, o oitavo, no mesmo período. A empresa Seara
Alimentos pertencente a JBS S.A., citada na figura 8, presente em Dourados,
atua no setor alimentício produzindo e comercializando carnes bovinas, suínas,
ovinas e de aves, massas e vegetais.

Figura 8: Postagem sobre busca por trabalho na empresa de alimentos SEARA em agosto de
2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

É interessante perceber que a procura por indicação de trabalho reflete


um grupo de imigrantes aptos a encarar os contraturnos oferecidos pela
empresa. Durante a observação online, surgiram relatos em que a empresa
instituiria turnos noturnos (00:00 às 8:00) para que as mulheres pudessem
trabalhar durante a madrugada já que seus filhos estariam dormindo. Assim, a
empresa se isentaria do oferecimento de creches e auxílios para as
trabalhadoras.
Essas constatações vão de encontro ao que os estudos de Petean, Benini
e Nemirovski (2021) relataram, de que os trabalhos realizados em frigoríficos
são degradantes, além de exigir dos trabalhadores imigrantes força em excesso,
agregado a um ambiente insalubre. É preciso entender que existem motivos que
levam uma pessoa a se submeter a esse tipo de trabalho, como a insegurança
por medo do desemprego, fazendo com que as pessoas se submetam a regimes

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de trabalho intensos, em condições precárias, em ambientes insalubres e de
alto risco.
Dessa maneira, quando analisamos as postagens das mulheres
venezuelanas, notamos a procura por trabalhos naturalizados com ocupações
femininas, conforme a figura 9. Atualmente, as mulheres representam uma
parcela considerável do universo global da população migrante disseminada
pelo mundo. Essa feminização da migração deve ser acompanhada
concomitantemente por ações de proteção e apoio a esse grupo, como aponta
Oliveira e Netto (2016).

Figura 9: Postagens sobre ocupações femininas em junho de 2022.

Fonte: Extraído do Grupo do Facebook “Venezolanos en Dourados MS” (2022).

É a partir dos contrastes sociais que as mulheres venezuelanas vendem


sua força de trabalho como domésticas/babás/cuidadoras, enaltecendo como
qualificação a escolaridade, já que muitas têm curso superior e não são
admitidas aqui no Brasil. Outra questão é a exportação do afeto, por meio do
amor e das emoções, como produto natural da cultura mais amorosa da
periferia, com seus laços de família calorosos, vida comunitária forte e longa
tradição de um amor materno e paciente pelas crianças. Com isso, tornou-se
muito comum a contratação de uma “cultura nativa” e de “valores familiares”

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para abastecer o déficit de cuidados dos empregadores no Brasil (HOCHSCHILD,
2002).
Por fim, recorrendo a Brignol (2021) que descreve as técnicas e as
identidades dos migrantes nos usos sociais das comunidades digitais, essa
etnografia online do grupo de venezuelano/a/s em Dourados no Mato Grosso do
Sul indica a existência de uma migração forçada e dirigida entre países
fronteiriços na América Latina, cujos intérpretes se associam em redes na
contemporaneidade - redes sociais digitais, reivindicando dignidade, trabalho
digno e decente e manutenção da reprodução social de suas famílias.
Diferentemente das migrações passadas, em que o migrante era um ser solitário
e isolado no país de destino, na sociedade urbano-industrial-informacional tem-
se como aliado as tecnologias de informação e comunicação como meios de
estabelecer vínculos, associações, redes, desejos e sonhos.

Considerações Finais

Neste artigo, apresenta-se uma experiência de etnografia online em


tempos marcados pelas tecnicidades das redes sociais digitais, da inteligência
artificial (ChatGPT), da cybercultura e de como se desenrolam as sociabilidades
em rede. Essa transposição das relações sociais face a face para o ambiente
“entre-telas” favorece a aproximação entre grupos e pessoas.
Entre as evidências sobre a potencialidade e as repercussões da pesquisa
netnográfica estão, inicialmente, limitações do método quando há dúvidas e
situações compartilhadas que são geradas no ambiente virtual de observação,
que não podem serem sanadas pelo fato de não estabelecer um contato físico
com os sujeitos de pesquisa, por exemplo, as expectativas quanto ao sucesso
na procura de trabalho. Referente à situação migratória, pairam dúvidas se esse
grupo de comunidade do Facebook estão documentados e legalizados, visto que
para exercerem o trabalho na empresa de alimentos e realizar remessas
bancárias para a Venezuela necessitem de documentos regularizados.
Em seguida, as redes sociais digitais como a comunidade virtual – grupo
no Facebook – se mostrou como um ambiente pulsante e latente das demandas

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da associação de imigrantes venezuelano/a/s em Dourados/MS. Essa facilidade
de observação do público-alvo não foi evidenciada com a ida a campo, já que
muitos estão inseridos nos bairros periféricos da cidade de Dourados, medo e
desconfiança do contato com o pesquisador em ser um representante de algum
órgão oficial do governo de migração.
Desse modo, uma das repercussões e contribuição para outros
pesquisadores é a de que nos ambientes virtuais como blogs, aplicativos de
interação (Facebook, Instagram, Tik-Tok, Twitter, Whatsapp) é possível
compreender o universo cultural e de interação dos processos migratórios.
Sugere-se que os pesquisadores brasileiros que queiram inovar nos desenhos de
pesquisa se envolvam com a pesquisa netnográfica com as novas ondas de
migrantes que chegam ao Brasil, por exemplo, ucraniano/a/s fugindo da Guerra
da Ucrânia sendo a maioria das famílias chefiadas por mulheres, porque seus
maridos e filhos não conseguiram atravessar a fronteira, já que todos os homens
de 18 a 60 anos foram convocados para a frente de batalha. Quais as
expectativas no novo país e como estão apreensivos sobre o que está realmente
acontecendo com seus familiares e maridos que estão na Ucrânia.
No contexto analisado do artigo, o grupo de venezuelano/a/s que vivem
em Dourados no estado do Mato Grosso do Sul tem contribuído com as
sociabilidades em rede, que muitas vezes são transpostas do real para o virtual
dado o caráter da sociedade em rede como sinaliza Castells (2000). Para ele,
as tecnologias de informação e de comunicação vieram, paulatinamente,
substituir muitos meios e mecanismos de funcionamento das relações pessoais
e interpessoais, formais e informais, materiais e imateriais. Dessa forma, os
imigrantes venezuelano/a/s enxergaram nessas mediações tecnológicas um
espaço de desenvolvimento criativo para minimizar as consequências vorazes
para quem é marginalizado.
No caso observado, o grupo no Facebook vem desempenhando um papel
de apoio, troca de informações e acolhimento tão necessários no processo
migratório. Assim, a mediação tecnológica na experiência migratória preenche
as lacunas das dificuldades de inserção e acolhimento no país de destino. Entre
as sociabilidades em rede que foram evidentes nessa rede social digital, foram:

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a procura por trabalhos, busca por ocupações femininas, situação migratória,
remessas, pequenos negócios e produtos típicos originários da cultura
venezuelana.
Por fim, a problemática da integração de venezuelano/a/s no território
nacional está orientada para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS 30) que devem ser implementados por todos os países até
2030, que são igualdade de gênero, trabalho decente e crescimento econômico,
redução das desigualdades, paz, justiça e instituições eficazes. Com isso,
espera-se contribuir para que os direitos humanos sejam capazes de fornecer
um atendimento compatível com as particularidades culturais e sociais desses
sujeitos.

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sociais digitais: conceitos, vivências e comportamento. 177 f. 2013.
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem), Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, Campos dos
Goytacazes, Rio de Janeiro, 2013.

UOL ECONOMIA. Venezuelanos precisam de 21 salários mínimos para pagar


cesta básica, diz ONG. Agosto de 2022. Disponível em:
https://economia.uol.com.br/noticias/efe/2022/08/22/venezuelanos-
precisam-de-21-salarios-minimos-para-pagar-cesta-basica-diz-
ong.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 03 de março de 2023.

VASCONCELOS, Iana dos Santos. Receber, enviar e compartilhar comida:


aspectos da migração venezuelana em Boa Vista, Brasil. REMHU, Revista
Interdisciplinar de Mobilidade Humana, Brasília, v. 26, n. 53, p. 135-151,
2018.

Periferia, v. 15, p. 1-29, 2023, e74521 28


ISSN:1984-9540 DOI: 10.12957/periferia.2023.74521
WALDMAN, Tatiana Chang. Movimentos migratórios sob a perspectiva do
direito à saúde: imigrantes bolivianas em São Paulo. Revista de Direito
Sanitário, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 90-114, 2011.

Recebido em: 29/03/2023


Aprovado em: 09/05/2023
Publicado em: 19/05/2023

Periferia, v. 15, p. 1-29, 2023, e74521 29

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