COMUNIDADE: A Busca Por Segurança No Mundo Atual - Zygmunt Bauman

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COMUNIDADE: A busca por segurança no mundo atual – Zygmunt


Bauman
Luize Castro Garim1

A obra Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, escrita por Zygmunt
Bauman, é composta por nove capítulos, uma pequena introdução e um posfácio. Para
melhor compreendê-la, é necessário um prévio conhecimento de alguns conceitos criados
pelo autor pois, nela, ele se utiliza novamente de suas já consagradas expressões (como
modernidade líquida e modernidade sólida), além de revisitar - com mais detalhes - o
conceito de comunidade cabide, ideia que já havia sido pincelada em na sua obra
Modernidade Líquida. Seus capítulos, os quais serão aqui comentados, nos fazem refletir a
inserção do indivíduo no mundo atual e são terrenos férteis para se construir distintos
olhares sobre questões que, via de regra, têm passado despercebidas de quem vive as
constantes e velozes mudanças dos tempos atuais.
No primeiro capítulo, A agonia de Tântalo, o sociólogo começa contando sobre este
mito grego: Tântalo era um filho bem quisto de Zeus, mas que cometeu o crime de
compartilhar o conhecimento divino com os seres humanos. Em razão disso, sofre a
seguinte punição: tem ao seu dispor frutas e água para saciar sua fome ou sua sede mas, no
momento de ingeri-los, vê seu alimento ser levado pelo vento. Por meio da punição de
Tântalo, a história mítica revela a mensagem que, para encontrar a felicidade
despreocupada, deve-se manter a inocência. Mesma mensagem é trazida, segundo Bauman,
pela história bíblica de Adão e Eva, na medida em que os dois foram expulsos do paraíso
por comerem do fruto do conhecimento.
Essas duas narrativas são revisitadas no conceito de comunidade, sobre a qual
Bauman discorre que o entendimento entre as pessoas que dela fazem parte é dito de
natureza tácita, não sobrevivendo ao auto exame. Se a comunidade fala ou reflete acerca
de si mesmo - isto é, se se autoconhece -, gera uma contradição. O autor, então, se utiliza
de uma divisão de Robert Redfield 2 , o qual explica por que, em uma verdadeira
comunidade, não há motivo pra reflexão: uma comunidade é distinta de outros grupos de
humanos, com seu início e fim bem delimitados; pequena, estando à vista de todos os seus

1 Graduada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas e aluna do Mestrado Profissional em Educação e
Tecnologia, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (Pelotas – RS).
2 Antropólogo, sociólogo e etnolinguista americano.

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membros; e auto-suficiente, atendendo a todas as necessidades dos que dela fazem parte.
Bauman nos explica que essa divisão não é aleatória. A distinção é a divisão clara
entre o nós e o eles e não deve haver ambivalência nesse sentido. Pequenez significa que a
comunicação dentro do grupo é densa, colocando os significados que eventualmente vêm
de fora em desvantagem. Por último, auto-suficiência é o isolamento em relação aos
membros de fora do grupo. A comunidade natural é, portanto, feita de homogeneidade.
Quando a comunicação entre os que estão dentro da comunidade e os que estão fora se
intensifica, a homogeneidade desaparece. Segundo Bauman, a fronteira que separava o
dentro e o fora foi brutalmente atingida pelo surgimento dos meios de transportes e da
informática, que aumentaram o fluxo de pessoas e de informações, de modo que o que
resta hoje para aqueles que ainda procuram o conforto comunitário é um acordo artificial
que está sempre à mercê de vigilância, reforço e defesa.
Assim surge a questão da individualidade como a substituta post mortem da
comunidade. Em tempos de globalização, a busca da identidade é o caminho que promete
trazer segurança e confiança. Do conjunto dessas individualidades surge o que Bauman
denomina de comunidades cabides, que de maneira bem vulnerável buscam oferecer
algum porto seguro contra as incertezas enfrentadas individualmente. É nesse sentido que
ele amarra as comunidades contemporâneas ao Mito do início do capítulo, na medida em
que afirma que “os contemporâneos em busca da comunidade estão condenados à sina de
Tântalo” (BAUMAN, 2003, p. 22). No segundo capítulo, A reinserção dos desenraizados,
Bauman se aprofunda um pouco nas questões que envolvem a dicotomia segurança versus
liberdade. Desde que surgiu, a individualização expressou a troca desses dois valores
humanos – abre-se mão da liberdade pela segurança.
Para poucos abastados, tal mudança não trouxe tantas consequências já que, em
razão de seus privilégios, puderam exercer sua liberdade pessoal com segurança,
alcançando um certo nível de emancipação individual. Contudo, para as massas dos menos
afortunados, essa mutação originou uma rotina de supressão. A outrora vigilância exercida
pela comunidade foi substituída pela rigorosa e exaustiva rotina das indústrias capitalistas
e, a honra do trabalho bem-feito (típico dos artífices e artesãos), pelo controle do capataz.
Assim, duas tendências descenderam do capitalismo moderno: a substituição do
entendimento natural da comunidade pela rotina projetada artificialmente e
permanentemente monitorada; e a tentativa de ressuscitar o sentido comunitário dentro

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dessa nova estrutura de poder.


No terceiro capítulo, Tempos de desengajamento ou a grande transformação,
Bauman começa dissertando sobre a fonte do poder na primeira modernidade. Esse poder
já não consistia mais na luta pelas posses, mas advinha da capacidade de comando e
gerência. Passada a destruição causada pelas guerras e com a Europa se reerguendo, esse
contexto viria a se modificar: na modernidade tardia a dominação deixa de ser a palavra de
ordem e dá seu espaço à desregulamentação, o que significa que os que detinham o poder
já não tinham necessidade de controlar os demais sujeitos – e é assim que os governados
são abandonados à incerteza dos seus próximos passos. Nesse contexto, a disciplina anda
por conta própria. Bauman ressalta:

Quando a ameaça da mudança unilateral ou do fim dos arranjos correntes


por parte daqueles que decidem o meio em que os afazeres da vida devem
ser realizados paira perpetuamente sobre as cabeças daqueles que os
realizam, as chances de resistência aos movimentos dos detentores do
poder, e particularmente de resistência firme, organizada e solidária, são
mínimas - virtualmente inexistentes (BAUMAN, 2003, p. 42).

Sob as novas condições, desataram-se os últimos laços firmes da comunidade. Ainda


que em conjunto, os indivíduos não puderam mais somar suas causas nem lutar por elas
em uníssono, pois já não existia mais uma causa comum. Com a decadência da
comunidade, a desintegração dos laços humanos foi a próxima consequência. O quarto
capítulo é intitulado A secessão dos bem-sucedidos. Para falar sobre esse tema, Bauman
recorre à ópera Don Giovanni, de Mozart, a partir da qual explica que o passatempo de
Don Juan era a sedução das mulheres e que seu interesse nelas terminava assim que sua
conquista triunfava. O exemplo é usado para explicar que a fórmula de vida de Don
Giovanni “postulava a ausência de comunidade” (BAUMAN, 2003, p. 52).
Nos dias atuais, assim agem os bem-sucedidos na estratégia de vida de secessão.
Essas pessoas se isolam em comunidades cercadas (como os condomínios fechados), onde
podem se manter distantes dos demais sujeitos que possam ter um modo de vida
alternativo ao seu: “o que seus moradores estão dispostos a comprar ao preço de um braço
ou uma perna é o direito de manter-se à distância e viver livre dos intrusos” (BAUMAN,
2003, p. 52). Essa secessão é, segundo Bauman, a fuga da comunidade. Por último,
Bauman nos apresenta o indivíduo cosmopolita, que é aquele cujo estilo de vida preza pela
secessão das masssas, pela globalização e pela irrelevância do lugar, com o gosto pela

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variedade. Enquanto as pessoas comuns estão presas ao chão, essa elite global, segundo o
autor, passa sua vida em uma zona de livre comunidade.
No quinto capítulo, Duas fontes do comunitarismo, Bauman traz para discussão,
novamente, a figura do novo cosmopolita. Esse é exatamente o indivíduo que considera
não precisar da comunidade, pois ela traz a ideia, segundo o sociólogo, de uma obrigação
fraterna, partilhando vantagens entre os seus membros. Assim, o comunitarismo acabou se
tornando sinônimo de uma filosofia dos fracos, onde a obrigação de compartilhar não é
bem vista. Outro esclarecimento importante neste capítulo é a questão da comunidade
estética, conceito kantiano3 adotado por Bauman. Embora a elite cosmopolita se esforce
para se manter longe da obrigação fraterna de uma comunidade natural, isso não significa
que eles não façam parte de um tipo específico de comunidade, como bem expresso no
excerto a seguir:

(...) Assim como a beleza se resume à experiência artística, a comunidade


em questão se apresenta e é consumida no “círculo aconchegante” da
experiência. Sua “objetividade” é tecida com os transitórios fios dos juízos
subjetivos, embora o fato de que eles sejam tecidos juntos empreste a esses
juízos um toque de objetividade (BAUMAN, 2003, p. 62).

A comunidade estética atua ora pela sedução, através da indústria do


entretenimento e suas celebridades, ora pela figura do inimigo público ou dos problemas
rotineiros dos indivíduos. Quanto ao primeiro caso, a autoridade das celebridades,
sobretudo atualmente, se manifesta por meio de seus números de seguidores ou
espectadores, sobre os quais utiliza o seu poder de sedução. Esses ídolos representam a
própria instabilidade e transitoriedade. Como exemplo de um inimigo público, o autor cita
o caso de um pedófilo à solta em determinada região, fazendo com que os indivíduos do
lugar se aglomerem em torno dessa comunidade transitória. O sociólogo afirma que a
comunidade estética também pode ser chamada de comunidade cabide (BAUMAN, 2003,
p. 67), uma vez que, durante a breve duração dessas comunidades, as preocupações que
devem ser enfrentadas individualmente são “penduradas” (como em cabides) para serem
encaradas posteriormente. No sexto capítulo, Direito ao reconhecimento, direito à
redistribuição, afirma Bauman que, na modernidade sólida, havia a visão de um estado
final, uma sociedade justa. Com a modernidade líquida prevaleceram as forças da
mudança, onde cada indivíduo é liberado para, sozinho, encontrar seu próprio nível
3 Referente ao filósofo prussiano Immanuel Kant (1724 - 1804).

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(eminentemente transitório). Assim, os políticos abandonaram o modelo de justiça social


atentado para um padrão de direitos humanos.
O modelo de justiça social tem características substantivas e compreensivas,
enquanto o de direitos humanos é formal e aberto. Dentro da regra dos direitos humanos
são traçadas as batalhas de reconhecimento:

isto é, repetidas demonstrações de força para descobrir o quanto o


adversário pode ser empurrado para trás, de quantas de suas prerrogativas
ele poderá ser forçado a abrir mão e que parte da reinvindicação ele poderá
ser persuadido, compelido ou subornado a reconhecer. Com todas as suas
ambições universalistas, a consequência prática do apelo aos “direitos
humanos” e da busca do reconhecimento é uma situação envolvendo sempre
novas frentes de batalha e um traçar e retraçar das linhas divisórias que
propiciarão conflitos sempre renovados (BAUMAN, 2003, p. 70).

A nova elite do poder, então, abandonou as ambições que eram comuns às elites
modernas, qual seja, a ambição de produzir uma nova e melhor ordem e a busca por um
projeto de “alta civilização, alta cultura e alta ciência” (BAUMAN, 2003, p. 70). Como
consequência de tudo isso, as reinvindicações de reconhecimento tornaram-se sectárias. A
forma de reverter essa situação seria, conforme Bauman, substituir o contexto da auto-
realização pelo da justiça social, onde as demandas por reconhecimento seriam veículos de
integração e não de divisão. O sétimo capítulo, Da igualdade ao multiculturalismo,
começa tratando das minorias étnicas. Bauman afirma que elas são uma espécie de exceção
à desintegração da comunidade ortodoxa. Entretanto, no caso dessas minorias, não se trata
de uma opção: não há consentimento por parte daqueles que pertencem a este grupo e os
seus limites são impostos de fora, por parte das comunidades mais poderosas.
O fenômeno da minoria étnica tem relação, segundo o autor, “com a passagem do
estado moderno de construção da nação para o estágio pós-Estado-nação” (BAUMAN,
2003, p. 83). No Estado-nação não deveria haver diversificação étnica entre os súditos e a
produção de lealdade e obediência patrióticas eram as palavras de ordem. Eram duas as
facetas de construção desse Estado-nação: a nacionalista, que ocorria por assimilação, e a
liberal, que ocorria por perecimento. A face nacionalista era a mais severa: se o uso da
persuasão e da doutrinação não funcionasse, era utilizado o uso da força e coação. Quanto
à face liberal, ela tinha uma imagem mais benévola e possuía aversão à coação, porém
recusava liberdade aos inimigos da liberdade e tolerância aos que não possuíam tolerância
(BAUMAN, 2003, p. 84). Em ambos os casos, o resultado foi o mesmo: não havia espaço

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para as comunidades que, ou eram assimiladas, ou pereciam. Contudo, essas minorias


acabam por enfrentar um dilema arriscado: ao aceitar a oferta de assimilação, acabam
suspeitos do vício da traição pelos seus comunitários e, ao recusar essa oferta, sofrerão a
acusação de duplicidade. Ainda há aqueles a quem o direito de assimilação foi negado, já
que essa é uma decisão que cabe à classe dominante.
Por fim, Bauman traz algumas reflexões acerca do pluralismo cultural e sua política,
chamada de multiculturalismo. Essa política é marcada pela tolerância liberal e pelo
reconhecimento público das identidades de uma comunidade (por herança ou por escolha).
Entretanto, sua força é conservadora na medida em que denominam de diferenças
culturais as desigualdades incapazes de obter aceitação pública. Assim, o
multiculturalismo é um mero joguete nas mãos da globalização. No oitavo capítulo, O nível
mais baixo: o gueto, Bauman começa seu texto preparando o leitor para compreender o
significado que o gueto ocupa na nossa sociedade. Para chegar nesse destino, ele reflete a
respeito da própria sociedade como uma entidade que deixou de ter uma aparência
paternal e de cuidado e transformou-se num espaço em que os indivíduos devem exercer,
por si mesmos, a procura da sobrevivência e do progresso. A noção de boa sociedade não
tem mais importância.
Não sendo um lar seguro para todos, a sociedade deixou de cumprir as antigas
promessas e a segurança deve ser um bem protegido individualmente. Assim, deve cada
grupo defender-se por si mesmo das mazelas do mundo, e inclusive a elite busca essa
proteção. Contudo, para os afortunados, essa é uma segurança adquirida com base em seus
recursos da conta bancária, que os possibilita morar em bairros de proteção, os quais
ganham a alcunha de guetos voluntários (BAUMAN, 2003, p. 106). O sociólogo deixa bem
claro que existe uma sensível diferença entre pertencer aos guetos voluntários ou aos
guetos reais. Enquanto no primeiro se dá uma opção baseada na segurança da mesmice,
no segundo caso há uma situação sem alternativa, onde os moradores se veem confinados
em uma verdadeira prisão.

A guetificação é paralela e complementar à criminalização da pobreza; há


uma troca constante de população entre os guetos e as penitenciárias, um
servindo como grande e crescente fonte para outra. Guetos e prisões são
dois tipos de estratégia de “prender os indesejáveis ao chão”, de
confinamento e imobilização (BAUMAN, 2003, 109).

Ainda que confinadas em um mesmo gueto, isso não significa que as pessoas que

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ali residem formem uma verdadeira comunidade, pelo contrário. A humilhação pública a
que todos são submetidos conjuntamente só alimenta o ódio e desprezo mútuos. Há um
sentimento de que parecer com o outro o torna mais indigno do que já é. Nas palavras de
Bauman, “gueto quer dizer impossibilidade de comunidade” (BAUMAN, 2003, P. 111). No
último capítulo da obra, Muitas culturas, uma humanidade?, para abordar a questão das
culturas e sua relação com a humanidade, o sociólogo começa tratando do
multiculturalismo como a forma com que as classes ilustradas fazem a reconciliação das
diversas classes à nova realidade.

O “multiculturalismo” é a resposta mais comum dada em nossos dias pelas classes


ilustradas e formadoras de opinião para a incerteza do mundo sobre os tipos de
valores que merecem ser apreciados e cultivados, e sobre as direções que devem ser
seguidas com férrea determinação (BAUMAN, 2003, p. 112).

As tarefas que a elite ilustrada já desempenhou sempre estiveram interligadas com a


construção do Estado e da nação: eram as responsáveis pela orientação e pelo objetivo de
vida de homens e mulheres, bem como pela tarefa de auxiliar no trabalho dos legisladores.
Essa construção exigia o movimento de administradores e professores; porém, Bauman
sugere que hoje esse planejamento é desnecessário, já que os tempos são de
desengajamento. Nos tempos de desengajamento tem-se o fim da normatização com sua
substituição pelo desejo do excesso, o que começou a acontecer quando deixou-se de viver
em uma sociedade de produtores para embarcar em uma sociedade de consumidores (a
mentalidade do consumo surgiu no final do século XIX). Na sociedade de produtores,
excesso e desperdício eram equivalentes, devendo ser ambos evitados, mas, na sociedade
da mentalidade do consumo, o excesso passou a ser o único remédio possível para as
doenças da vida. Por último o autor debate a questão do direito à diferença e da
diversidade cultural e explica que esse é o ponto de partida para qualquer discussão que
envolva valores humanos e que o referencial para esse debate deve ser sempre a república.
Para que ocorra o diálogo entre as mais diferentes culturas é preciso que a sensação de
segurança seja vencida, de forma que as comunidades possam abrir-se umas às outras.
Bauman conclui sua obra afirmando que nós sentimos falta da comunidade por que
nos sentimos inseguros e que a segurança é fundamental para uma vida feliz. O problema é
que atualmente habitamos uma realidade onde sentir-se seguro está longe de ser uma
prioridade. Esse universo fluído, desregulamentado e imprevisível nos obriga a procurar,
individualmente, a solução de problemas compartilhados, processo que gera grande

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ansiedade. Toda essa insegurança e ansiedade voltam-se para os cuidados com a proteção,
tomando o lugar do espaço que deveria ser preenchido pela comunidade. Algumas tarefas
não podem e não devem ser enfrentadas individualmente e, por isso, seguir esfarelando a
noção de comunidade não acarretará nenhum bem.
Comunidade: a busca por segurança no mundo atual é um livro denso e que
explora o mundo globalizado sem romantismos, a partir de um ponto de vista realista,
característica do autor da obra. Entretanto, esse não é um livro pessimista, pelo contrário:
ao expor as inquietudes da contemporaneidade, Bauman nos oferece a oportunidade de
refletir e rever alguns dos nossos hábitos cotidianos e nossos posicionamentos sociais. A
partir desta obra específica, passamos a meditar acerca da importância da comunidade e
da sociedade nas nossas decisões individuais. De posse da informação de que o bem
comum já não tem a mesma relevância que já exerceu no início da modernidade, é possível
orientar as novas gerações a repensarem uma forma de vida que não priorize somente a
autonomia, mas que viabilize a convivência pacífica e coletiva. Neste aspecto, a obra
mostra todo o seu potencial como leitura a ser utilizada em estudos na área da educação:
as diferenças sociais entre os alunos de diferentes escolas (públicas e particulares) e a
inserção desses alunos no mercado de trabalho são temas que podem ser debatidos a partir
das perspectivas baumanianas - quando nos fala do gueto, por exemplo, o autor abre a
possibilidade para que o professor reflita a respeito do ambiente em que aquele aluno foi
criado, facilitando o diálogo em docente e educando. Este é apenas um exemplo de como
tal obra pode acrescentar valorosas camadas para discussões no campo a Educação motivo
pelo qual indicamos sua leitura.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. Comunidade: A busca por segurança no mundo atual. Tradução de Plínio


Dentzien. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

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