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AULA 8
O Nacionalismo e o Regionalismo em foco
Meta
Apresentar as noções de nação, nacionalismo e regionalismo no âmbito das
relações socioespaciais.
Objetivos
1. Definir a relação formada entre as noções de Estado, nação e
nacionalismo;
2. Identificar uma tipologia e teorias de nacionalismos;
3. Discutir a relação formada entre região e regionalismo;
4. Distinguir os termos região, regionalização, regionalidade e
regionalismo.
Qualquer território – e neste caso o território que reclama para si a condição de suporte
da nação reivindicada – possui uma delimitação, ocupa uma porção da superfície da
terrestre. Neste sentido, a primeira questão que se delineia, implícita ou explicitamente,
em qualquer movimento nacionalista é até onde chega territorialmente a nação; quais
são os seus limites ou, na maioria dos casos, quais deveriam ser esses limites, e a
partir de que critérios são estabelecidos. São, certamente, questões elementares, mas
de uma grande transcendência, porque, como lembra Raffestin (1980), “o limite
provoca a diferença, ou, se preferirmos, a diferença suscita limite”. É um fato evidente
que o discurso nacionalista necessita, antes de mais nada, esclarecer este ponto.
Grupo de pessoas unido por vínculos étnicos, linguísticos ou culturais (em latim, natio),
ainda que não necessariamente compartam o mesmo território. Noção enunciada
primeiramente na tradição francesa (Rousseau, Sièyes, Renan) que representa uma
comunidade histórica estável com consciência própria e cultura, valores e símbolos
comuns, unida por vínculos contratuais que manifestam sua vontade de viver sob as
mesmas leis. Um grupo de população unificado, cultural e politicamente, dotado de um
elevado sentimento de participação em valores e instituições, do que decorre a
prevalência de determinados interesses nacionais, trasladado á ideia da tradição alemã
do Volksgeist [espírito de um povo] que considera a nação como um órgão ou ser vivo,
que cresce e se desenvolve graças a ação inconsciente de uma força superior ou gênio
nacional e que inspirou a escola de geografia política alemã a partir de Ratzel (LÓPEZ
TRIGAL, 2013: 219).
Joan Nogué (1998:17), nos alerta de que
ATIVIDADE 1
Atividade 1 (Atende ao objetivo 1)
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RESPOSTA COMENTADA
As origens do nacionalismo estão condicionadas à ideia de uma nação que se
reconhece como tal e de um Estado que lhe corresponda, culminando na
fórmula Estado-nação. Essa fórmula política se desenvolve por meio dos ideais
de afirmação de um Estado face aos demais, o que implica a seguinte situação:
quanto mais coesa for a nação, mais forte será o Estado a ela correspondente.
Desde as suas origens, o nacionalismo é, pelo exposto, uma prática política
vinculada inseparavelmente às figuras do Estado e da nação.
ATIVIDADE 2
Atividade 2 (Atende ao objetivo 2)
Explique a frase:
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RESPOSTA COMENTADA
Os movimentos independentistas que se verificam atualmente no Canadá (no
exemplo do Québec), na Espanha (nos exemplos do País Basco e da
Catalunha) e no Reino Unido (no exemplo da Escócia) expressam claramente o
nacionalismo de separação que defende a criação de um novo Estado-nação,
dotado de território soberano. O Estado de origem ver-se-ia, desse modo,
alijado de uma parte sociopolítica e territorial para dar lugar ao nascimento de
uma nova entidade político-geográfica, isto é, de um novo país.
Teoricamente, podemos sistematizar os nacionalismos entre i) aqueles que
surgem de cima para baixo, ii) aqueles que surgem de baixo para cima e iii)
aqueles que surgem de uma negociação de ideias. Essas variações nos
permitem analisar os casos particulares da manifestação geo-histórica dos
nacionalismos. Para tanto, apenas advertimos que os nacionalismos nunca
ocorrem como fatos isolados, mas sempre vinculados a processos estruturais
mais amplos que devem ser contemplados. É assim que Benedict Anderson,
em seu livro mencionado há pouco, fala de comunidade imaginada para se
referir à nação, ou seja, àquilo que poderá levar aos nacionalismos, como
comunidades geradas a partir de um sistema cultural abrangente e, inclusive,
anterior ao próprio nacionalismo, sem cair em posturas eurocêntricas, por
exemplo.
A frase mencionada por Gottmann – “morrer pela pátria” – expressa muito bem
o sentimento de patriotismo. Para muitos autores, como Ben Dupré (2011), o
nacionalismo é uma espécie de “primo-irmão” desse sentimento patriota, pois,
com frequência, exige uma devoção fanática que exclui os outros e que pode
alimentar um sentimento de superioridade sobre eles. Para Dupré, o caráter
nacional que defende o nacionalismo pode ser, como apontou o filósofo alemão
Schopenhauer em 1851, “somente outro nome para a forma que a pequenez, a
perversidade e a vileza da humanidade adotam em cada país”. O Autor
menciona Albert Einstein. Quando este afirma que o nacionalismo é uma
“enfermidade infantil da humanidade”, pois o nacionalismo teria sido a causa
fundamental das Guerras Mundiais do século XX, e em tempos recentes, teria
estado diretamente implicado nos fatos de violência espantosa e na grotesca
“limpeza étnica” em lugares como Ruanda e os Bálcãs.
Regionalização
Esse termo, aparecido na França por volta de 1960 no quadro das políticas de
administração do território [aménagement du territoire], designa os esforços
destinados a contrabalançar o papel considerado excessivo da aglomeração
parisiense, visando favorecer o desenvolvimento econômico de grandes
regiões. Essas últimas não tinham, todavia, uma existência oficial, devido ao
retalhamento do território nacional, desde 1790, em um grande número de
departamentos. Era necessário então reagrupá-los progressivamente numa
vintena de regiões e essa foi a primeira etapa de uma política de
regionalização. Foi necessário, em seguida, escolher em cada região uma
capital regional (o que deu lugar às rivalidades entre as cidades) e financiar
em cada uma dessas regiões os equipamentos coletivos (sobretudo do
terciário superior) para que cada uma pudesse responder melhor às
demandas da população do novo conjunto regional. Essa foi a segunda etapa
da regionalização. Foi necessário, enfim, dotar cada região de um poder
regional que tomaria a iniciativa de novas realizações, sem depender,
portanto, de decisões tomadas na capital [Paris]. A lei de descentralização de
1982 conferiu novos poderes aos conselhos regionais e decidiu enfim as
eleições com base no sufrágio universal. Mas, pouco depois, em 1984, os
poderes dos departamentos, pelo menos aqueles dos conselhos gerais, foram
reforçados. Em 2003, a descentralização na França foi ainda acentuada por
uma reforma da Constituição, notadamente fazendo com que crescessem os
poderes de cada um dos conselhos regionais das 22 regiões. Contudo, isso
suscita as rivalidades com os conselhos gerais departamentais ou com as
grandes comunidades urbanas, os quais dispõem, frequentemente, de meios
financeiros mais importantes do que aqueles das regiões onde eles se situam.
As políticas de regionalização levadas na França ou em outros Estados
revelam a geopolítica, pois tratam das rivalidades de poderes no território.
Regionalismo
Movimento geopolítico que se impõe ao centralismo de um Estado-nação e
que reivindica a outorga [concessão] de vantagem de poder aos
representantes de uma região em razão de suas particularidades culturais,
notadamente da persistência de uma língua regional. Os movimentos
regionalistas que, frequentemente, são minoritários na sua região, podem
lentamente se tornar autonomistas e depois separatistas, a fim de romper com
o Estado-nação e transformar a identidade regional naquela da nação
independente, onde a língua (mesmo se ela for muito marginal) é, a seus
olhos, a comprovação real.
Extraído de: LACOSTE, Y. De La géopolitique aux paysages. Dictionnaire de
la géographie. Paris: Armand Colin, 2003, pp. 326-327.
Movimento político e cultural tendente a alcançar para uma região uma certa
autonomia, o que supõe, de fato, reformar o Estado desde dentro, atendendo a tais
demandas. Se ode entender, em certo sentido, enfrentando-se ao nacionalismo,
enquanto que este não considera a região como uma comunidade territorial soberana,
mas sim uma integrante da comunidade nacional que é aquele com supremacia política
e administrativa. Na Espanha, o regionalismo aparece no final do século XIX,
pretendendo afirmar a identidade e a personalidade histórica, cultural, econômica e
social como também normativa e político-administrativa de algumas regiões no marco
institucional de um Estado centralizado, reivindicando um “Estado regionalizado”. A
depender das especificidades locais, tem-se um “regionalismo descentralizador” (para
alguns, um regionalismo saudável como repulsa ao nacionalismo) e um “regionalismo
desagregador” ou nacionalismo regional, tal como aparece atualmente na Europa
(Catalunha, País Basco, Escócia, Flandres, Padania) com projetos favorecedores do
reconhecimento de uma nação e com presença frequentemente entre as regiões mais
desenvolvidas e dinâmicas de cada Estado, para os quais se considera o regionalismo
como “um mero ajuste técnico do Estado”.
Atividade Final
Atividade Final (Atende ao conteúdo geral da aula)
Resposta comentada
O texto é bastante esclarecedor quanto às dinâmicas político-territoriais
internas de um Estado, sobretudo, às dinâmicas vinculadas às reivindicações
autonomistas de caráter regionalista/nacionalista. Em outras palavras, as ideias
do texto nos permitem deduzir que algumas mobilizações regionalistas, ao
requerem mais autonomia regional, podem se converter em manifestações
nacionalistas, posto que a ideia de comunidade regional pode vir a ser
complexificada e passar a representar uma comunidade nacional. Este parece
ser o caso atual da Catalunha, na Espanha, haja vista que, nessa região
autônoma espanhaola, se expressa publicamente o desejo popular de se criar
um Estado catalão independente. Percebe-se que a relação entre regionalismo
e nacionalismo pode ser traçada por uma linha muito tênue e ultrapassada a
depender da situação real em que se encontram as sociedades locais que
reivindicam mais autonomia territorial. A luta política da região catalã é, pois,
uma luta (sub)nacionalista, se acompanharmos as mencionadas ideias de José
Gil.
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Resumo
Nesta aula, propusemos uma sistematização básica dos termos nação,
nacionalismo, região, regionalização, regionalismo e regionalidade, com ênfase
maior no termo nacionalismo e, em segundo lugar, no termo regionalismo. Os
objetivos visavam o esclarecimento conceitual dos termos, mas, sobretudo a as
conexões que existem entre eles. Esperamos ter apresentado uma
sistematização que permita ao futuro profissional da Geografia a capacitação
para realizar análises dos fenômenos político-geográficos ligados a essa
temática regional-nacionalista.
Referências bibliográficas