A Estética Da Hiperestilização em Videoclipes Narrativos: Um Estudo Sobre A Videografia Da Artista Melanie Martinez
A Estética Da Hiperestilização em Videoclipes Narrativos: Um Estudo Sobre A Videografia Da Artista Melanie Martinez
A Estética Da Hiperestilização em Videoclipes Narrativos: Um Estudo Sobre A Videografia Da Artista Melanie Martinez
2
Silvia Cristina França LIMA
3
Rodrigo OLIVA
Universidade Paranaense, Umuarama, PR
Resumo
Introdução
1
Trabalho apresentado no IJ 4 - Comunicação Audiovisual do XIX Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Sul, realizado de 31 de maio a 2 de junho de 2018.
2
Acadêmica do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Paranaense (UNIPAR), e-mail:
[email protected].
3
Docente do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Paranaense e Doutor em Comunicação e
Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, e-mail: [email protected]
1
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
2
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
3
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
4
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
Isso aponta, de acordo com o autor (2017, p. 132) videoclipes que se aproximam
dos filmes de curta duração, com narrativas ampliadas. Para Lipovetsky e Serroy (2009,
p. 279), o clipe conta uma história:
(...) cuja trama tem a ver com a canção: é onde se mantém a ligação
com o cinema enquanto narrativa-em-imagem. Estamos a anos-luz dos
primeiros clipes que se contentavam em registrar frontalmente um
cantor cantando a sua canção. Um clipe é um filme, que se apresenta
como tal e que se alimenta da visão e do estilo que o cinema lhe
oferece. (LIPOVETSKY; SERROY, 2009, p. 279).
“You seem to replace your brain with your heart/You take things so hard and
then you fall apart/You try to explain, but before you can start/Those cry baby tears
4
come out of the dark ” (Cry Baby, Melanie Martinez, 2016). Assim começa a faixa
título do álbum da jovem cantora norte americana Melanie Martinez, já deixando claro o
tipo de obra a ser encontrada. Cry Baby é um álbum pessoal, confessional e intimista,
mas não pequeno ou simples em temáticas e visualidades. Para seu álbum de estreia,
lançado no ano de 2015, Melanie Martinez cria um alter-ego, a personagem Cry Baby,
uma jovem inconsistente, insegura e depressiva. As letras das músicas e as histórias
4
Tradução livre: Você parece que troca seu coração com seu cérebro/Você leva as coisas para o lado pessoal e
começa a chorar/Você tenta explicar, mas antes que você possa começar/Aquelas lágrimas de bebê chorona surgem
do escuro.
5
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
mostradas nos vídeos tocam em feridas sociais, com críticas a padrões estéticos e
familiares, abuso infantil e de drogas, violência, sequestro, assassinatos, amores que não
funcionam e medos, imaginários ou não.
A videografia da artista conta com treze videoclipes, todos gravados para o
álbum Cry Baby, que narra vivências da personagem criada por Melanie desde o
nascimento, história narrada na faixa título do álbum, seu crescimento em uma família
disfuncional, apresentada nas faixas Dollhouse e Sippy Cup, inseguranças,
arrependimentos e paixões, em Mrs. Potato Head e Soap, respectivamente, até
sequestro e pedofilia, narrados nos vídeos de Tag, You're It e Milk and Cookies, que
estão disponíveis na plataforma YouTube como um vídeo único, pela sequencialidade da
narrativa, mas que podem ser vistos individualmente.
O primeiro detalhe a se discutir que caracteriza a hiperestilização é, justamente,
o tratamento narrativo dedicado aos videoclipes. Dez desses vídeos contam histórias,
sem necessariamente interromper a música com falas, fugindo do pressuposto básico da
linguagem audiovisual cinematográfica em que o videoclipe narrativo se baseia. A
narrativa dos vídeos é dilatada, a música cantada se torna apoio ao que o vídeo está
contando e não o contrário, como era típico da linguagem videoclípica tradicional. Em
alguns dos vídeos o tempo da música é expandido, com a inserção de prólogos sem a
música que nomeia o clipe e até falas.
A linguagem cinematográfica se faz presente em toda a composição do álbum,
desde o tratamento narrativo dedicado a maioria dos videoclipes, como citado, até o
emprego da estética surrealista. Eduardo Peñuela Cãnizal, em seu texto Surrealismo
(2006, p. 143) fala do surrealismo no cinema, que veio da estética na pintura, como um
movimento de vanguarda surgido na década de 1920, que baseia seus princípios nos
processos oníricos, com obras que desejavam romper as fronteiras entre realidade e
sonho, consciente e inconsciente.
O movimento surrealista trouxe ao cinema novas possibilidades de se contar
uma história, onde o inconsciente toma forma e imagens aparentemente desconexas
criam sentido a partir das relações estabelecidas entre elas. E o videoclipe, devido
também ao seu caráter de tempo diminuto comparado à filmes longa metragem, está se
6
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
7
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
8
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
todas as obras. Todos os vídeos aqui citados seguem a linha narrativa cinematográfica
básica, conforme já apresentado, com exposição, conflito e resolução (BLOCK, 2010, p.
233), não obrigatoriamente nessa ordem.
Os videoclipes seguem histórias individuais da personagem Cry Baby, alter-ego
de Melanie, mas se vistos de maneira ampla, os vídeos mantêm conexão direta entre si,
além de todo o visual e características. Seguindo a sequência das faixas no encarte do
álbum, a história da personagem se expande e se torna contínua, em que é possível ver
desde o nascimento à entrega a insanidade, de uma pessoa maltratada por questões
pessoais.
Cry Baby (2016), a faixa que nomeia o álbum, é o nascimento da personagem
Cry Baby. Uma mulher grávida, a mãe, entra em trabalho de parto e dá à luz devido a
uma paulada na barriga dada pelo médico, que veste uma máscara de coelho. Uma
Melanie bebê chora pelos descasos da mãe até que inunda o quarto. Está dada a largada
pelo mundo louco da “bebê chorona”.
A estética surrealista aqui é identificada por meio do parto da mãe que, com a
paulada recebida, dá a luz a doces, os brinquedos distribuídos pelo quarto da Cry Baby,
que se movem sozinhos, o choro excessivo capaz de inundar o quarto e a representação
do médico mascarado de coelho. Esse personagem mascarado participa também da
encenação em Mrs. Potato Head, realizando cirurgias plásticas de resultados
desastrosos.
Seguindo a história, temos Dollhouse (2014). Numa metáfora a casa de bonecas,
a família da personagem é apresentada. Cry Baby e a família vivem uma falsa perfeição.
A mãe é traída e para esconder a dor se torna alcoólatra, o irmão usa drogas. Através da
letra, Melanie fala com uma terceira pessoa para que reconheça a podridão escondida
por trás das cortinas. Essa terceira pessoa é representada por uma criança, que não faz
parte dessa dinâmica familiar e que assiste aos personagens dentro da casa de bonecas,
mas também somos nós, espectadores, já que Melanie atua como intérprete
protagonista, cantando a música quase que integralmente olhando para a câmera. A
maquiagem dos personagens é carregada e todos portam-se como bonecos, sem fluidez
nos movimentos e expressões. A iluminação azul se faz presente na maior parte do
9
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
vídeo, sendo mais intensa quando o uso de drogas é revelado e em closes nos
personagens, como no rosto triste da mãe ao saber da traição do marido.
Ainda sobre disfunções familiares, em Sippy Cup (2015), novos segredos são
revelados. A mãe está cada vez mais se afundando em seu vício em álcool e um
assassinato acontece. Inserido ao instrumental da música está o som de líquido
derramado. Aqui há a presença ativa de apenas duas personagens, a mãe e a Cry Baby.
O tempo, espaço e ações de cada uma são bem definidos, mesmo sem a existência de
falas. A cor predominante no vídeo novamente é o azul, carregado na iluminação do
quarto da Cry Baby, antecipando no espectador um desconforto em relação ao clima
soturno e melancólico empregado a esse ambiente, o que se mostra fundado, já que ao
final do vídeo ficamos sabendo que a personagem é ali mantida sedada pela mãe.
Em se tratando da forma em que as imagens são inseridas e mixadas no quadro,
Soap (2015) é o videoclipe que mais aproveita da estética surrealista. A história aqui é
não linear, iniciando com um prólogo sem música e com fala. A ação do vídeo acontece
quase que inteiramente dentro de um banheiro em que há uma grande banheira. Há um
personagem masculino em cena. As luzes piscam frequententemente, deixando o visual
psicodélico. Ocorrem momentos em que a mixagem da imagem se dá por incrustação,
combinando fragmentos de imagens de origens diferentes, como quando uma pequena
TV disposta próximo à banheira liga e roda um vídeo de Melanie cantando dentro de
uma outra banheira cheia de espuma. Oliva (2017, p 65), a partir de um estudo de
Dubois (2004), afirma que “a incrustração da imagem se caracteriza pela junção de duas
imagens, geralmente de bases temporais e espaciais opostas”.
Os segundos finais do videoclipe são marcados por psicodelia intensa. Bolhas de
sabão saídas da boca da cantora voam pelo ambiente e Melanie novamente aparece
cantando em uma banheira com espumas, com o recurso de sobreposição de imagens,
como se “coladas” umas sobre as outras, formando imagens fantasmagóricas.
Há ainda, entre os videoclipes Cry Baby, Sippy Cup e Soap uma outra
similaridade: a cantora é inserida como intérprete de sua música de forma entrecortada à
história que está sendo contada. Ela aparece no quadro em closes e primeiros planos,
10
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
11
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
12
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
a marca da artista e causa uma ideia de saturação repleta de exageros visuais e recursos
cinematográficos.
Considerações Finais
Referências
BLOCK, B. A narrativa visual: criando a estrutura visual para o cinema, TV e mídias digitais.
São Paulo: Elsevier, 2010.
DOLLHOUSE. Direção: Nathan Scialom e Tom McNamara. Videoclipe, 4'25''. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HcVv9R1ZR84. Acesso em: 03 mar. 2018.
LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna.
Porto Alegre: Sulina. 2009.
13
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Cascavel - PR – 31/05 a 02/06/2018
MRS. POTATO head. Direção: Melanie Martinez. Videoclipe, 5'32''. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wkri1NUq9ro. Acesso em: 14 ago. 2017.
TAG you’re it/MILK and cookies. Direção: Melanie Martinez. Videoclipe, 6'44''. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=BEYHJFIONvU. Acesso em: 04 mar. 2018.
14