Dr. Antonio Vilar Homenagem RAMON MULLERAT
Dr. Antonio Vilar Homenagem RAMON MULLERAT
Dr. Antonio Vilar Homenagem RAMON MULLERAT
António Vilar
Advogado
Árbitro
Abstract: This article is intended to provide a perspective of arbitration in the euro-atlantic region to
lawyers, businesses leaders, and other market players; also highlighting how arbitration could be relevant
for corporations.This article reflects our views as of march 2020.
I – Preliminares
1. A ideia de arbitragem2
A arbitragem, enquanto situação jurídica3 adveniente, por decisão de
partes conflituantes, da entrega da composição de litígios a terceiros, tem um
1
Este texto, que tem a sua génese no amabilíssimo convite formulado pelo Prof. Doutor Alfonso Hernandez
Moreno, cuja memória está aqui presente em pungentíssima dor, pretende homenagear um outro grande
Mestre, Ramon Mullerat. Versa sobre a arbitragem comercial internacional vista numa perspetiva euro-
atlântica; não é mais, porém do que uma imagem em movimento, singela, que exprime, em português suave,
as angústias de um árbitro à procura do Direito da arbitragem num espaço maior.
2
Cf. Jan Paulsson, The idea of Arbitration, Oxford University Press, 2013.
3
Utiliza-se aqui o conceito de situação jurídica em desfavor de outros, como instituição, pois este não
contemplará a arbitragem ad hoc (além da institucionalizada), o que em nada afetará, porém, o instituto
exaltante passado que se perderá, aliás, nos confins da peregrinação da
humanidade, anterior, historicamente, pois, à justiça que, um dia, veio a caber aos
tribunais judiciais aplicar e à respetiva organização judiciária enquadrar. Está
inscrito no nosso património civilizacional no capítulo da luta contra o recurso à
força bruta para resolver conflitos4 e assente na especial confiança das partes em
litígio naqueles a quem vão confiar a sua solução5.Tem, também, um presente com
muitos possíveis em aberto e com outras tantas dificuldades, endógenas e
exógenas, num mundo diversificado e complexo, em acelerada mudança,
nomeadamente no campo das tecnologias de comunicação e de informação, e
perante diversas e proteiformes forças transnacionais que não desistem de impor
os seus pressupostos de relações jurídicas, os seus modelos de relações contratuais
e, até, os mais subtis e enigmáticos processos e meios de resolução de conflitos,
assim colonizando, para além do Direito, também, a dinâmica dos negócios.
Face a questões novas – algumas antes ausentes, mesmo, da narrativa
jurídica6 - e, outras, recorrentes, com novos rostos, a arbitragem voluntária, como
meio de resolução alternativo de litígios, vive um processo de expansão e de
popularização. Cada vez é maior, também, a juridificação desse espaço que, se
vem alargando seja quanto ao seu âmbito – onde os conflitos entre partes de
diferentes países cada vez são mais globais e relevantes – seja quanto às matérias
para cuja resolução a arbitragem é convocada. De relevar, ainda, que, em situação
de crise persistente, vinda já dos anos 1970, da jurisdição do Estado7, a arbitragem
é uma alternativa possível para se alcançar rapidamente a resolução de muitos
litígios, ou de prováveis conflitos e com óbvias vantagens. A arbitragem,
nomeadamente no âmbito internacional, tem-se afirmado, e mais se afirmará no
tempo que aí vem, como solução privilegiada para a ultrapassagem de litígios
emergentes de relações jurídicas plurilocalizadas, tão comuns e em expansão, mas
sem que uma jurisdição mundial lhes possa valer, longe que ainda está um
paradigma cosmopolita do Direito.8
jurídico em causa. Cf. António Menezes Cordeiro, Tratado da Arbitragem: comentário à Lei 63/2011, de
14 de dezembro, p.16. Não se ignora, contudo, a dificuldade persistente de uma definição de arbitragem.
4
O que parece não afetar o direito ao uso e porte de arma e, logo, à sua venda para defesa pessoal, por vezes
ilimitadamente, como acontecer nos E.U.A. (Second amendment à constituição americana).
5
Cf. Paulsson, Jean, The Idea of Arbitration, Oxford, 2013, p.1
6
Refere-se a propósito o fenómeno recente conhecido como “class arbitration” ou, ainda
“classwidearbitration”. Cf. Pinto Monteiro, António, Artur Flamínio Silva, Daniela Mirante, Manual da
Arbitragem, Coimbra, 2019, p.329 ss com referências bibliográficas.
7
Entre os diversos aspetos da crise com que a Justiça se tem confrontado, sublinhe-se o bloqueamento dos
tribunais judiciais face à procura crescente dos seus serviços e à míngua de recursos para lhe responder.
Não tendo agido preventivamente, os Estados tentaram medidas de profilaxia e aí, se acolheram soluções
alternativas como a arbitragem. Ver, com muito interesse, o Livro Verde sobre os Meios Alternativos de
Resolução de Litígios em Matéria Civil e Comercial, documento apresentado pela Comissão Europeia em
19 de abril de 2002. Sublinhe-se que, por esse tempo, o direito de acesso à justiça se confrontou, no contexto
de complexos problemas no domínio das finanças públicas, com uma certa inversão ou mudança de
paradigma em que os meios alternativos de resolução de controvérsia viram abrir-se-lhes amplas
oportunidades de crescimento. Cf. Paula Costa e Silva, A Nova Fase da Justiça, os Meios Alternativos de
Resolução de Controvérsias, p.20 e ss.
8
Cf. Nuria Belloso Martín, Hacia un paradigma cosmopolita del derecho?: pluralismo jurídico, ciudadanía
y resolución de conflictos, Editorial DYINKSON, Madrid, 2008.
O Direito que é o do nosso tempo9, por outro lado, num contexto de
relações internacionais onde impera a desordem, tem vindo a configurar-se como
um direito desterritorializado10, imposto, por vezes, pela força de conceções
geopolíticas e geostratégicas subtis e peritas de poderes vários, mesmo que não
eleitos. A globalização económica impulsionou, também, a “exportação do
Direito” dos mais fortes (incluindo o processo da sua aplicação) e está a conduzir,
ainda, a mudanças estruturais no domínio das leis (nacionais ou supranacionais),
da cultura jurídica e da cidadania. Neste contexto há que admitir que as novas
tecnologias de comunicação e de informação estão vocacionadas para ser
parceiros decisivos no futuro da arbitragem voluntária. Os sistemas de
informação, na “aldeia planetária” que é o nosso presente, permitem, no espaço
da arbitragem voluntária, aceder, por um lado, a mais informação (data) e mais
rapidamente que nunca11. Por outro lado, os meios eletrónicos de comunicação já
ao dispor – Whatsapp, Skype e os sistemas de videoconferência, em geral – não
só vieram facilitar a comunicação, mas, num outro plano, poderão revelar-se
muito importantes, concretamente no que se refere à transparência do processo e
dos procedimentos arbitrais; mas geram problemas delicados, também, como o da
prova digital. O direito da arbitragem e a inteligência artificial12têm encontro
marcado. Nos EUA tem sido defendida, em geral, a possibilidade de os algoritmos
serem, de algum modo, “autores” de decisões de direito por via da inventariação
de soluções jurídicas que o permitem. Será possível? E quanto à decisão de facto?
O caminho não nos parece viável – a imediação não será substituível por não
humanos ou autómatos. Mas sabemos que o contrário também tem arautos.
As novas tecnologias de comunicação e de informação, a automação, a
robotização, a inteligência artificial – e que mais? – assumirão – decerto, no
domínio da arbitragem, dimensões e práticas inauditas, de excecional eficácia13.
Disso não haverá dúvidas; como as não haverá, decerto, sobre os limites e o
necessário enquadramento, sobretudo ético, das múltiplas interações entre homem
9
A globalização do Direito, de algum modo, traduz-se na passagem de um Direito que antes se afirmava
paradigmaticamente como fundamental dimensão estruturante de uma sociedade – um sistema completo,
unitário e coerente – para um outro que aparece, agora, como dependente da economia e da finança, flexível
e adaptável aos seus caprichos. Em causa estará, mesmo, a par da crise do Estado – nação (soberano), o
próprio modelo de produção jurídica. O Direito vê perder-se, assim, o seu fundamento normativo, o que o
legitima como Direito, a final. Cf. Alfonso de Julios-Comprezano, in Nuria Belloso Martin, Hacia un
paradigma…p.49 ss.
10
No século XXI tem assistido, com efeito, a mudanças de vulto na ordem internacional que, mais ou menos
estabilizada, vinha do fim da II Grande Guerra. O equilíbrio internacional do poder entre as grandes
potências é, na atualidade, uma questão crítica, em aberto, nomeadamente quanto a áreas de influência
político-estratégica e às disputas comerciais. Em causa, também, estará a conceção territorial da soberania.
Esta situação de “desordem mundial” é aspeto que não pode deixar de ser tido em conta no âmbito
problemático da arbitragem comercial internacional que só poderia aproveitar com uma nova ordem
mundial partilhada.
11
Mas informação é menos que conhecimento e menos, ainda, que sabedoria: aos da arbitragem pede-se,
pois, que cultivem a arte da arbitragem, como via superior de alcançar a justiça, também nas relações de
negócio, ultrapassando o pensamento não dialogante, monolítico, hoje dominante.
12
Sobre as relações entre o direito e a robótica se pronunciou o Parlamento Europeu através da resolução
de 16 de novembro de 2017.
13
Cf. Richard Susskind, The Future of Law, Facing the Challenges of Information Technology e, ainda,
The End of Lawyers, Rethining the Nature of Legal Services, Oxford (2005 (reimp.) e 2008 ; Fernando
Galindo (ed.), El derecho de la sociedad en red, Lefis, 2013.
e máquina para que aquele não se veja perdido em novas servidões, voluntárias
ou não14.
É no campo da arbitragem que poderão vir a situar-se, também, as
trincheiras, porventura necessárias, para a defesa das pessoas face a eventuais
manipulações “tecnológicas” com finalidades comerciais ou, mesmo, políticas,
porventura menos visíveis noutros areópagos. Mas é também aí que se poderá,
descobrir a inspiração, a intuição, o bom senso (a inteligência emocional?), a
prudência que as máquinas e os inerentes sistemas não têm e nunca terão, ou
seriam deuses15.
À arbitragem é essencial a confiança, um conceito indeterminado no
Direito mas incontornável no domínio da arbitragem voluntária. Sendo, uma
exigência no mundo dos negócios, tem a maior centralidade no âmbito da
arbitragem voluntária. Convocam-se, para tal, outros saberes – da Psicologia à
Sociologia, da História à Economia e tantos mais – como fatores relevantes no
domínio da arbitragem, sobretudo a internacional. Não se trata de invocar aqui
uma perspetiva metajurídica do direito (moral, nomeadamente), mas de sublinhar
que este modo de resolução de conflitos tem de dar provas da sua legitimidade, de
utilidade e de validade para além do que as regras do ius strictum permitem. É
esse, porventura, o seu maior desafio na atualidade: ser confiável.
Os árbitros, por seu lado, têm de ter conhecimento e sensibilidade para, além do
mais, enfrentar as questões geopolíticas que, geralmente, afetam o status quo
internacional e local com consequências para a boa solução de litígios envolvendo
negócios. Decerto que cabe, antes de mais, às empresas conhecer o ambiente
(matrix) em que desenvolvem ou pretendem desenvolver as suas atividades
internacionais, sendo que raramente o fazem, porém, convenientemente. Quem
assume profissionalmente o estatuto e a função de árbitro não poderá, todavia,
desconsiderar esses aspetos, tendo de apreciar, na sua função decisória,
necessariamente, questões culturais16, políticas e geopolíticas – além de jurídicas,
claro17 - que se possam colocar em vista de soluções também práticas, viáveis e
aceitáveis pelas partes para a resolução de litígios e o julgamento de causas. O
conhecimento da língua ou línguas em que o conflito se expresse é decisivo, tanto
quanto o da história envolvente e a da situação política vigente. A correta escolha
dos árbitros é, então, um ponto crucial na medida em que terão de ter, para o
melhor cumprimento da sua função arbitral, uma visão estratégica da
complexidade das situações, quer a nível global, quer local18.
14
«O problema é que eu violara a linha de fronteira e misturava o homem de bem, que sempre mostrara
ser, com o impostor que dava aí os seus primeiros passos. Era um paradoxo, mas quanto pior me sentia
como pessoa, não só pelo remorso, mas também pela vivacidade, melhor juiz me parecia ser”, Álvaro
Laborinho Lúcio, O Beco da Liberdade, Quezal, 2019.
15
Cf. Franklin Foer, World Without mind: the existential threat of big tech, Penguin Press, New York,
2017.
16
A arbitragem permite atender, no respeito dos princípios fundamentais do processo arbitral, à
diversidade cultural, a questões de interculturalidade e, contra, sobretudo, qualquer perspetiva
etnocentrista ou nacionalista.
17
Dentro da realidade cultural há que ter em conta especificamente a realidade técnica – científica.
18
Cfr. Mike Rosenberg, Strategic and Geopolitics : Understanding Global Complexity in a Turbulent
World, p.257 ss. Ver, também, Tim Marshall, Prisioners of Geography, Elliot and Thompson, Limited,
London 2016.
Dos árbitros espera-se, em geral, uma sólida formação jurídica, mas, a esta,
há-de acrescentar-se um conhecimento multidisciplinar que vá para além daquela
formação e, mesmo, da sua experiência jurídica. É óbvio que a arbitragem
contempla a intervenção de peritos19, mas, ainda assim, até para os saber “ouvir”
é indispensável ao árbitro ser mais do que jurista. Só assim poderão ser alcançadas
plenamente soluções curiais para problemas empresariais, comerciais, sociais –
ou seja, soluções que não se confinem à mera resolução de questões legais. Aqui
há-de valer a ideia de que quem é apenas jurista, nem sequer jurista é.
2. Um sistema em construção
O recurso à arbitragem comercial está em acentuado crescimento por todo o
mundo, quer a nível interno, quer internacional, sendo possível dizer-se, neste
contexto, que o Direito da arbitragem se apresenta como um lugar do Direito em
construção20 num terreno de “combate” entre o Direito Internacional Privado e o
Direito Processual Civil, designadamente. Sendo um Direito em construção, tem,
um relevante “mercado” de olhos em si focados, sobretudo no que se refere a
arbitragem internacional21. A arbitragem concita atualmente, de facto, a atenção
dos meios empresariais e de negócios onde, sobretudo em países da África e da
América Latina, tem a seu favor uma urgência relevante face à escassez e à
insegurança dos sistemas estatais do Estado para diminuir conflitos22. Sublinhe-
se, porém, que se trata de um “mercado” onde escasseia, em geral, a regulação23
- realidade esta que não é, em si, preocupante, mas que exige dos que a ela se
dedicam profissionalmente - e por isso mesmo - virtudes específicas e qualidades
excecionais. A intervenção passada do Estado na conformação autoritária das
regras da arbitragem ainda levanta temores em alguns círculos. O Estado e o
Direito são, todavia, coisas diferentes, ou seja, a juridicidade não é, apenas,
caracterizável em função da estadualidade, embora coincidam tendencialmente24.
A arbitragem voluntária há - de ter presente, esta problemática, num tempo em
que se multiplicam os fenómenos de desestadualização e de
desjurísdicionalização e, também, desditosamente, intencionalidades autoritárias,
totalitárias e, porventura, criminosas de alguns Estados. O recurso à arbitragem
comercial internacional apresenta-se, de resto, como uma possibilidade muito
vantajosa para as partes em conflito mesmo, ou sobretudo, até, por causa desses
eventuais condicionalismos. Desde logo porque a causa poderá ser dirimida em
país alheio a essas problemáticas, ou seja, um país diverso do das partes em litígio
19
Cf. LAV art.º 37.º Em certas situações jurídicas, como nomeadamente perante aquisições e fusões de
empresas onde, por vezes, o preço final está ligado a cláusulas earn Out a intervenção de peritos é
determinante e evidencia, também, as mais valias de um processo arbitral face à jurisdição do Estado.
20
Valerá, no transe, citar os versos de António Machado: Caminante, son tus huellas/el camino y nada
más;/Caminante, no hay camino, /se hace camino al andar./Al andar se hace el camino,/y al volver la vista
atrás/se ve la senda que nunca/se ha de volver a pisar./Caminante no hay camino/sino estelas en la mar.
21
Cf. Margaret L. Moses, The Principles and Practice of International Commercial Arbitration, Cambridge
Universitu, 3ª ed., 2017.
22
Cf. Jeremy I Levitt, África, Mapping New Boundaries in international Law, Oxford and Portland, Oregon,
2008, onde se diz relativamente a Àfrica: “Africa is a legal market place, not a lawless basket case.” (p.1)
23
Cf. Menezes Cordeiro, Tratado …, p.64
24
O sistema jurídico do Commom Law é, neste aspeto, um exemplo pois não é um sistema de legislação,
mas um sistema de precedentes. Além de que, nomeadamente o direito dos contratos, sendo Direito não é
criado (às vezes moldado, porém) pelo Estado.
e por árbitros cuja nacionalidade seja, também, outra que a das partes. À
neutralidade daqui decorrente acresce, ainda, o faco de as partes poderem, por
essa vida, aceder aos melhores profissionais e especialistas, nos temas em causa,
seja como árbitros ou como peritos, de outras nacionalidades. O recurso à
arbitragem internacional apresenta, ainda, vantagens ligadas à maior celeridade
das decisões arbitrais, a mais baixos custos com o processo e em sede de
confidencialidade e privacidade além de deixar um vasto campo de escolhas à
autonomia privada, designadamente em vista da flexibilização do processo, sem
prejuízo, porém, dos princípios fundamentais a que a um processo arbitral deve
obediência. A ideia de um espaço de liberdade para as partes serem relevantes
quanto ao meio e ao modo de solucionarem as suas controvérsias, encontra-se e
convive bem com a ideia de arbitragem que, além disso, lhes abre portas para um
campo de flexibilidade de procedimentos e, até, criatividade, que as jurisdições
do Estado estão longe de oferecer.
Em Portugal, como em outros países, tal meio de resolução alternativo de
litígios tem previsão constitucional25 e, desde que entrou em vigor a Lei n.º
63/2011 de 14 de dezembro, vigora uma nova regulamentação – a quarta em 50
anos!– que versa expressamente sobre a “Arbitragem Voluntária”, tendo-se,
alargado o âmbito das questões suscetíveis de encontrar solução através da
arbitragem voluntária numa outra conjugação, nova, do critério da
patrimonialidade dos interesses em litígio com o critério da transigibilidade. Neste
aspeto integraram-se no âmbito das matérias arbitráveis litígios relativos a direitos
indisponíveis de índole exclusivamente patrimonial.
25
Cf. art.º 209, n. º2 da Constituição da República Portuguesa (CRP). Foi com a lei Constitucional n.º
1/82 de 30 de setembro que os tribunais arbitrais foram reconhecidos enquanto tribunais. Para uma
perspetiva histórica do tema, Francisco Cortez, A arbitragem voluntária em Portugal: dos “ricos homens”
aos tribunais provados, in O Direito, ano 124 (1992), 365-404.
26
Relevam aqui os instrumentos internacionais como a Convenção de Nova Iorque (CNY) sobre o
reconhecimento e a execução de sentença estrangeira, a Convenção de Washington (CW) sobre a
arbitragem de investimentos e, naturalmente, a Lei-Modelo da UNCITRAL. Estas fontes influenciaram
decisivamente, ou são seguidas na ordem jurídica de muitos Estados, nomeadamente a portuguesa e a de
Espanha, bem como, de um outro modo, nas de países de língua portuguesa e de língua espanhola em África
e na América do Sul. Cf. A. Menezes Cordeiro, Tratado …, p.25.
27
A jurisprudência desenvolveu, porém, numerosos princípios incontornáveis no domínio da arbitragem
comercial que a doutrina tem estudado. Cf. Vidal, Dominique, Droit français de l’arbitrage interne et
international, Gualino, Numilog, 2012.
outros…e, até, hindu, budista, confucionista; também com o direito em vigor em
Estados onde politicamente prevalece a democracia liberal, e o de outros onde o
domínio é o de ordens jurídicas típicas dos Estados autoritários, senão totalitários.
A consideração no transe mais relevante parece ser, ainda, a que se refere
aos ordenamentos jurídicos que, no plano jurídico-institucional, seguem o Civil
Law e os do Common Law. O direito anglo-saxónico, sobretudo no domínio
processual, têm um vasto acolhimento no campo da arbitragem internacional em
diversos ordenamentos nacionais, como é o caso de Portugal. O Direito inglês,
por razões históricas conexas com o domínio britânico dos mares e a colonização
de terras e seus efeitos e consequências nas relações comerciais entre vários
povos, já, pelo menos, desde o século XIX (Common Law Procedure Act, de 1889
acolheu a arbitragem tendo o Arbitration Act de 1899, versado especificamente
sobre a arbitragem. Em 1996 surgiu um novo regime através do Arbitration Act
de 1966 que, todavia, não caminha pelo mesmo trilho seguido pelas leis dos países
que acolheram a Lei-Modelo da UNCITRAL28. É, porém, o Direito inglês da
arbitragem aquele que mais “atraente” parece ser ainda no comércio internacional,
ao que não será indiferente a contribuição norte-americana na sua normatização.
Mas não será o mais “amigo”.
28
Cf. Sir Michael Kerr, The English Arbitration Act 1996 and the Model Law, FS Karl-Heinz,
Böckstingel, 2001.
II – O Direito português da arbitragem
Esta lei poderá analisar-se autonomizando três partes ou blocos principais, sendo
que um outro, relativo ao âmbito de aplicação da lei no espaço e à criação de
centros de arbitragem institucionalizada, aqui será apenas referenciado.
Na primeira parte (capítulos I, II e III), de feição civil e comercial, trata a
LAV da Convenção de Arbitragem, dos Árbitros e do Tribunal arbitral; na
seguinte, de cariz processual (capítulos IV, V e VI), das providências cautelares,
das ordens preliminares e, em geral, da condução do processo arbitral; antes das
disposições finais vem a terceira parte que se refere à sentença (decisão) arbitral,
29
A Convenção de Nova Iorque (CNY) sobre o reconhecimento e a execução de sentença estrangeira; a
Convenção de Washington (CW) sobre a arbitragem de investimentos e, naturalmente, a Lei-Modelo da
UNCITRAL, influenciaram decisivamente, e são seguidas na ordem jurídica de muitos Estados,
nomeadamente na portuguesa e na de Espanha, bem como, de um ou outro modo, nas de países de língua
portuguesa e de língua espanhola em África e na América do Sul.
30
Sobre a arbitragem desportiva pode ver-se Artur Flamínio da Silva, A resolução de conflitos
desportivos em Portugal, Almedina, 2017.
31
São muitos os paralelismos que, obviamente, apresenta, pois com a Ley da Arbitraje em vigor no Direito
espanhol, igualmente muito ligada à referida Lei-Modelo. Esse fator não tem tido, porém, relevância para
uma abordagem mais próxima – e tão necessária! – dessa área jurídica entre profissionais de Espanha e de
Portugal – o que é de lamentar e terá de ser rapidamente ultrapassado.
sua eventual impugnação, sua execução e, se estrangeira, ao seu reconhecimento
em Portugal (cap. VII,VIII e IX)32.
Tendo em conta a similitude, da sua base comum, face ao Direito da
arbitragem vigente em Espanha, apenas se deixam aqui breves notas que a prática
da arbitragem nos vem suscitando.
5.1. A convenção de arbitragem, posto que o litígio seja arbitrável, é uma pedra
angular da arbitragem, desde logo porque é nesse negócio jurídico, autónomo, que ela se
legitima, e nele assenta, de resto, a competência dos árbitros; mas, também, porque aí se
determinará o perímetro de questões a resolver em sede de arbitragem bem como os
caminho a seguir no seu desenvolvimento. Ou assim deveria ser33.
O Direito português da arbitragem acolheu, neste domínio, o sistema dualista para
a resolução de litígios, sejam estes contratuais ou extracontratuais: o compromisso arbitral
e a cláusula compromissória, conforme, de resto, previsto no artigo 7 (1) da Lei Modelo
da UNCITRAL. Tem em conta, deste modo, quer os litígios já existentes, concretos, reais,
aquando da celebração da convenção (atuais), quer os litígios a emergir eventualmente na
ordem jurídica, mas ainda não existentes (futuros e eventuais).34
A convenção de arbitragem é tida, consensualmente, como um negócio jurídico,
autónomo, assente na vontade das partes, logo contratual. Aí se deverão definir os limites
(matéria) da jurisdição do tribunal. Apesar da sua óbvia relevância não lhe é dada por
vezes a devida atenção no que toca à sua elaboração e redação, “coladas” que são ao
negócio principal ou de base, como apêndices, descuidadamente, as pertinentes cláusulas.
E isto acontece generalizadamente, seja no domínio interno, seja no da arbitragem
comercial internacional, onde, aliás, foi cunhada a expressão “midnight clauses” para
apontar essa prática, negligente e perigosa que leva, frequentemente, à transcrição pura e
simples do teor convenções de arbitragem de um qualquer contrato para outro mesmo que
o objeto e as finalidades dos mesmos sejam completamente distintas: copy past.
A convenção de arbitragem é considerada um contrato autónomo, sublinhe-se,
face à situação jurídica que visa o seu objeto. De tal modo que esse acordo pelo qual as
partes voluntariamente se vinculam a submeter a um tribunal arbitral a resolução de um
litígio poderá ser nulo, anulável ou ineficaz… e a convenção de arbitragem válida. E a
32
Versando este escrito sobre a arbitragem voluntária, ou seja, a que tem a sua génese na vontade das partes,
afastada fica a problemática da arbitragem obrigatória e da arbitragem necessária apenas se deixando
consignado que, neste último domínio se incluem questões relativas aos direitos de autor e do foro laboral.
Sublinhe-se ainda que, a partir da entrada em vigor das alterações introduzidas pelo D.L. 110/2018 de 10
de dezembro (art.º 4.º), no domínio dos litígios emergentes da invocação de direitos de propriedade
industrial em que estejam em causa medicamentos de referência a medicamentos genéricos, passou a ser
possível a arbitragem voluntária, ainda que com algumas regras específicas.
33
Diversas são as “patologias” que a poderão afetar, sendo as mais comuns as relativas à capacidade das
partes e à vontade negocial, no que regerá a lei civil.
34
Sublinhe-se, no transe, que aqui poderá caber um relevante papel à arbitragem, na resolução de problemas
de interpretação de cláusulas de contratos em cumprimento e que, por qualquer razão, não alcançam a
composição pelas partes. O mesmo vale para a integração de lacunas contratuais (completar o contrato) e,
ainda, para a atualização de cláusulas que se tenham tornado obsoletas ou desadaptadas no decurso da vida
do contrato.
situação inversa é também possível35. O mais comum é, porém, que a invalidade do
contrato (principal) arraste a caducidade da inerente convenção de arbitragem. No direito
português (art. 21, n.º2 da LAV) a invocada autonomia tem, porém, uma restrição: não
funcionará se se provar que o contrato base ou principal não teria sido concluído sem tal
convenção.
5.2. Os árbitros ocupam o centro do processo arbitral. Deles se exigem decisões que,
hão-de estar enraizadas na sua honra, idoneidade e probidade moral. Também, decerto,
na sua qualificação profunda e na sua imparcialidade. Nenhum árbitro deverá ser a longa
manus de qualquer das partes, ainda que a estas caiba a sua designação. Pessoa de
confiança, sim, mas pelo conhecimento do direito aplicável, pela sua formação e
competência específica, pela sua experiência profissional – e nada mais.
Os árbitros estão juridicamente unidos entre si e, também, às partes, ainda que a sua
designação possa ter outras origens, sendo que a natureza jurídica destes vínculos,
controversa, é uma questão clássica do direito da arbitragem38. Parece, porém, que se está
perante um contrato de prestação de serviço de arbitragem na sua essencialidade.
35
Será o caso de um contrato comercial que, numa cláusula final, consagre o recurso à arbitragem, mas
que, por qualquer razão, venha a ser declarado inválido: a convenção de arbitragem, em princípio,
permanece. Cfr. Manuel Pereira Barrocas, Manual da Arbitragem, p.149 ss.
36
Relativo à vontade das partes quanto ao recurso à arbitragem e à determinação do litígio ou litígios que
a esta serão submetidos.
37
V. art.º 18 da LAV.
38
Cfr. Menezes Cordeiro, Tratado da Arbitragem, p.128 ss.
5.3. A decisão arbitral envolve, como é sabido, questões jurídicas e questões
de facto que não poderão considerar-se dissociáveis uma da outra. O desfecho do litígio
implicará, pois, uma prévia decisão sobre matéria de facto que verá, depois, os
pertinentes factos ser subsumidos às normas jurídicas aplicáveis. Estaremos perante
decisões relativamente diversas – o que não significa que sejam vertidas em peças
processuais autónomas – que devem ser apreciadas em operações independentes39. Uma
questão maior que se tem levantado relaciona-se com a necessidade de uma fase de
condensação ou saneamento do processo e sua substanciação em peça processual.
Adianta-se que o direito português da arbitragem não impõe tal fase40, antes deixando
uma ampla liberdade, nesse domínio, ao tribunal arbitral. Daqui não decorre, porém, a
desnecessidade e, muito menos, a inutilidade de o tribunal vir circunscrever
oportunamente os temas de prova, e de determinar, depois, quais os factos tidos como
provados por acordo, documentos, ou outros meios de prova. Se não por outras razões,
pelo menos por uma questão de método.
A decisão arbitral versará sobre as questões de direito emergentes da pretensão da
parte demandante – e do pedido reconvencional da demandada e de eventuais exceções,
se for o caso41. Se a explicitação da motivação da decisão de facto não é obrigatória por
lei, já a “a sentença deve ser fundamentada, salvo se as partes tiverem dispensado tal
exigência ou se trate de sentença proferida com base em acordo das partes”. (art.º 42,
n.º 3 da LAV).
A legislação portuguesa consagra como regime regra o da irrecorribilidade das
decisões arbitrais que ponham termo ao litígio, total ou parcialmente salvo no caso de
as partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de arbitragem e
desde que a causa não haja sido decidida segundo a equidade ou mediante composição
amigável.” (art.º 39, n.º 4 da LAV).
Os fundamentos de impugnação de sentença arbitral estão taxativamente definidos na
lei (art.º46 da LAV) sendo que tal impugnação reveste a forma de um pedido de
anulação.
39
Relevam aqui os princípios da transparência, da fundamentação e do controlo que são estelares no
domínio da arbitragem enquanto limites a decisões de direito pré-concebidas.
40
Os regulamentos da generalidade dos centros de arbitragem em vigor vão no mesmo sentido enquanto,
conferem, aos árbitros liberdade de escolha. É o caso, entre outros, do Regulamento de Arbitragem da
Câmara de Comércio Internacional. Por vezes aludem, no entanto, às questões litigiosas a decidir
deixando no ar a conveniência de o tribunal arbitral as definir.
41
Admite-se que outras, novas questões de direito, não suscitadas pelas partes possam ser objeto da
decisão arbitral, mas, neste caso, as partes terão de ser previamente ouvidas para que não aconteçam
“decisões surpresa”.
também várias e geralmente conhecidas. E é neste “mercado” que entra a urgência da
questão, relevantíssima, que aqui se formula como “a cultura ibérica da arbitragem”.
Em diversos países deste espaço euro-atlântico em que por tantos nós e laços
estamos unidos, são amplas as dificuldades de jurisdição do Estado e, também, a
insegurança jurídica assume aí, por vezes, dimensões de altíssima preocupação. A
arbitragem internacional configura-se, então, como uma solução vantajosa para todos
os interessados – ponto é que esteja assegurada a exequibilidade das decisões arbitrais,
como adiante se há-de compreender. O recurso à arbitragem internacional oferece, na
verdade, em diversas situações, respostas que não se encontrarão facilmente em
outros areópagos. Desde logo ao permitir que a decisão arbitral venha a ser tomada
por especialistas na área do concreto conflito, nacionais ou estrangeiros; depois, por
ser mais célere do que, em regra, as jurisdições do Estado; ainda por razões ligadas à
confidencialidade dos litígios, que assegura, quer quanto aos processos, quer quanto
às decisões. E, por vezes fundadamente, afastará ainda receios de parcialidade na
decisão de questões plurilocalizadas pelos tribunais de certos Estado.
42
Cf. Wald, Arnold, Lemas, Selma Ferreira (coord.s), Arbitragem Comercial Internacional, Ed. Saraiva,
S. Paulo, 2011.
direito comercial europeu, nomeadamente do Código das Sociedades Comerciais
português43.
III
A arbitragem comercial internacional numa perspetiva euro-atlântica.
7. Europa, África e América Latina
Estamos a chegar ao ponto crucial que presidiu à elaboração deste texto.
O mundo atual e o Direito que nele vive, age e sofre44, exige-nos o conhecimento-
recíproco – dos povos, das nações, das culturas e, até, dos fenómenos religiosos. É
essencial, no domínio também da resolução voluntária de litígios comerciais
internacionais, impulsionar o diálogo livre e de igual para igual entre os que, sendo
diferentes, aspiram, do mesmo modo, à Justiça.
Se alguns pretendem transformar a história em herança e viver dos seus
rendimentos e, outros, ainda, disputam o estatuto de herdeiros na partilha de bens
coloniais sem compreender que o tempo é pós-colonial – e não deveria voltar atrás –
o caminho a percorrer pela arbitragem voluntária internacional terá de ser diverso.
Sobretudo numa perspetiva euro-atlântica onde o passado conta, e muito.
43
Cf. Gonçalves, Manuel/Sofia Vale/ Lino Diamvutu, Lei da Arbitragem Voluntária Comentada,2013.
44
E não se deverá ignorar que no mesmo tempo e lugar coexistem, por vezes, diferentes sistemas
jurídicos com vocação ou pretensão de apreciar as mesmas situações jurídicas entre os mesmos sujeitos.
A segurança jurídica poderá, então, encontrar na arbitragem o reforço de que tanto carece. Cfr. M. Isabel
Garrido Gomes, Las Transformaciones … p.47 ss.
8. O lugar da arbitragem de expressão euro-atlântica.
A dimensão atlântica da nossa cultura, de Espanha e de Portugal, é inegável sendo
também as línguas que nos unem às nações de África e da América Latina fatores do
maior relevo no atual contexto mundial. No interesse recíproco – e sem pretensões de
impor padrões culturais ou jurídicos ocidentais- o Direito da arbitragem, que se situa
na confluência do passado com o futuro das relações sociais, económicas, culturais e
jurídicas entre todos, é chamado a responder às transformações do Direito na
sociedade global e às necessidades que tal envolve, nomeadamente no que respeita à
sua aplicação. Também em África e na América Latina
O que consideramos ser o espaço euro-atlântico no seu recorte histórico e
geográfico não parece difícil de enunciar ao menos em traços largos – aí se falam
também as línguas dos antigos colonizadores. E, quanto à real partilha de interesses,
a atualidade, marcada por enorme instabilidade na ordem mundial em que atores
relevantes do passado e pretensos novos senhores de todas as rotas se disputam e
assim nos levam a possíveis vassalagens cada vez mais inigualitárias, não hão-se
subsistir grandes dúvidas. A arbitragem comercial internacional tem de estar lá, neste
momento histórico, também como afirmação de liberdade e de igualdade universais.
O lugar da arbitragem de expressão euro – atlântica não é uma qualquer miragem,
mas há um assustador mostrengo lá no fundo do mar. Que temos de derrotar. Do nosso
lado, ocidentais, e do “Lado de lá”, na África e na América latina.45.
Há muitas áfricas em África e muitas américas na América do Sul. Todavia, no que à
cultura jurídica respeita, é muito mais o que nos aproxima, do que o que nos afasta
neste espaço euro-atlântico. E tal é um fator relevantíssimo no que à arbitragem
internacional diz respeito. Na verdade aí são evidentes marcas de um passado comum
que em todos deixou sulcos, para o bem e para o mal. E projetos de futuro que, ou
serão comuns, ou não serão!
Urge, pelo exposto, olhar a arbitragem comercial a partir de novas ambições e,
desde logo, reunir formalmente especialistas com experiência e formação elevada na
construção de redes de troca de experiências e em outras modalidades de intercâmbio.
Entre nós, os do Ocidente e os dessas terras, o Novo Mundo em que, todos, nos
construímos afinal.
45
Camões, O mostrengo que está no fim do mar/Na noite de breu ergueu-se a voar;/À roda da nau voou
três vezes,/Voou três vezes a chiar,/E disse: «Quem é que ousou entrar/Nas minhas cavernas que não
desvendo,/Meus tectos negros do fim do mundo?» /E o homem do leme disse, tremendo:/ «El-Rei D. João
Segundo!»/«De quem são as velas onde me roço?/De quem as quilhas que vejo e ouço?»/Disse o
mostrengo, e rodou três vezes,/Três vezes rodou imundo e grosso,/«Quem vem poder o que só eu
posso,/Que moro onde nunca ninguém me visse/E escorro os medos do mar sem fundo?»/E o homem do
leme tremeu, e disse:/«El-Rei D. João Segundo!»/Três vezes do leme as mãos ergueu,/Três vezes ao leme
as reprendeu,/E disse no fim de tremer três vezes:/«Aqui ao leme sou mais do que eu:/Sou um Povo que
quer o mar que é teu;/E mais que o mostrengo, que me a alma teme/E roda nas trevas do fim do
mundo;/Manda a vontade, que me ata ao leme,/De El-Rei D. João Segundo!».
Conclusões
- Na arbitragem, como jurisdição que é exercida por um tribunal arbitral e não por
um órgão de soberania, têm lugar muitos saberes para além do jurídico sendo que
deverá corresponder-lhe uma real cultura de arbitragem - leis esclarecidas;
instituições arbitrais vivas; árbitros competentes e absolutamente imparciais e
rigorosos; uma cultura jurídica, enfim, amiga da arbitragem.
- O espaço euro-atlântico, que vai da Europa, à África e à América Latina, por
razões históricas e culturais – e outras políticas e económicas bem atuais – tem
interesse vital em construir, também, a sua própria “cultura de arbitragem euro-
atlântica”.
- O sucesso da arbitragem passa pela cooperação entre pessoas e instituições que
se lhe devotam e que devem necessariamente partilhar conhecimentos.
- Não é essa a situação no que se refere aqueles que têm especial obrigação de, em
Portugal e em Espanha, cuidar do seu presente e construir o seu futuro.
- África e América Latina são geografias económicas que, por várias razões, têm
muito a dar e a receber da arbitragem comercial internacional, sendo que a partilha do
futuro comum deverá levar a um aprofundamento das relações euro-atlânticas.
- Sugere-se a constituição de um centro de estudos da arbitragem, porventura em
Barcelona e com nome Alfonso Hernandez Moreno para dar corpo a tal projeto.
- BORN, Gary B., International Commercial Arbitration, 2.ª edição, Kluver Law
Almedina, 2006.
- MUSTILL, Sir Michael J.& Boyd, Stewart C.& Andrews, Neil, Commercial
-TOMÉ, Luís L., Novo Recorte Geopolítico Mundial, EDUAL, Lisboa, 2004.
2018.