Notas de Aula MAT130
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Notas de Aula MAT130
Notas de Aula:
MAT130 - Matemática
Outubro de 2021
Conteúdo
Prólogo 5
1 Funções 9
1.1 Introdução: modelos com variáveis contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Funções reais de uma variável real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2.1 Funções polinomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.2 Funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2.3 Funções algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2.4 Funções potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2.5 Funções exponenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2.6 Funções logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.2.7 Funções trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3 Transformações de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.3.1 Identicando as transformações em uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.4 Salvando grácos no SAGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.5 Raízes de funções e resolução de equações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.6 Interseção de grácos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.7 Síntese do capítulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2 Limites 55
2.1 Limites para x nito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.1.1 Limites innitos para x nito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.2 Limites no innito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.3 Propriedades de limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.4 Calculando limites com o sistema Sage . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3 Derivadas 73
3.1 Taxa de variação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.1.1 Taxa de variação variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.1.2 Interpretação da taxa de variação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.1.3 Taxa de variação instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.2 Derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.2.1 Função derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
2
CONTEÚDO 3
4 Integrais 125
4.1 Integral indenida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
4.1.1 Cálculo de integrais indenidas no Sage . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.2 Integração por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
4.2.1 Dedução da regra de integração por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . 132
4.2.2 Procedimento passo-a-passo para integração por substituição . . . . . . . . . 132
4.2.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
4.2.4 Exemplos no Sage . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
4.3 Integração por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
4.3.1 Dedução da regra de integração por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
4.3.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
4.4 Integral denida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4.4.1 Integral denida em geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
4.4.2 Cálculo de integrais denidas no Sage . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
4.4.3 Área sob o gráco de funções negativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
4.4.4 Área entre grácos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
4.4.5 Área delimitada por grácos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
4.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
Estas Notas de Aula têm o objetivo de fazer uma apresentação das ideias que normalmente são
discutidas em disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral e de Equações Diferenciais para um público
que, por um lado, não irá seguir uma trajetória de estudos tradicional dos cursos da área de Ciências
Exatas, que tipicamente requer mais de 300 horas de disciplinas relacionadas com essa temática. Por
outro lado, esse público testemunha uma crescente utilização de modelos analíticos quantitativos
em seus campos de conhecimento, nas Ciências da Vida ou ou nas Ciências Sociais Aplicadas.
Especicamente, este material encontra-se estruturado de maneira a privilegiar a apresentação de
exemplos e contextos de aplicação da área de Ciências Biológicas e da Saúde, visando ao atendimento
do público matriculado na disciplina de Matemática (MAT130) que é ofertada na UFMG para
os cursos de graduação em Ciências Biológicas, Farmácia e Aquacultura. Este texto pressupõe,
portanto, um leitor munido apenas do conhecimento padrão da matemática do ensino médio.
Com o objetivo de contribuir para que os estudantes dos cursos de graduação da UFMG dessas
áreas tenham acesso a uma compreensão mais aprofundada sobre a natureza das técnicas matemá-
ticas com que terão de lidar como usuários especialistas, este material foi preparado, visando:
A concepção desta disciplina somente torna-se possível neste momento devido à atual disponi-
bilidade de pacotes computacionais que permitem a execução automatizada de procedimentos de
manipulação simbólica de funções matemáticas. Sem isso não seria possível, com uma carga horária
reduzida, ensinar toda a parafernália de técnicas de manipulação de expressões matemáticas que se
fariam necessárias para a dedução da solução de cada problema, o que teria de preceder a análise
do signicado dessas soluções. Com o uso de um pacote computacional que realize a maior parte da
manipulação das expressões, torna-se possível concentrar a discussão na análise do signicado das
soluções.
Este material foi desenvolvido utilizando o pacote SageMath, que é um software livre, que pode
ser obtido gratuitamente para ser instalado em qualquer computador. Esse pacote pode ser obtido
no seguinte endereço:
https://www.sagemath.org/
Esse pacote também pode ser utilizado em uma versão on-line, que não requer a instalação. Essa
versão pode ser utilizada diretamente por meio de qualquer navegador de internet, sendo acessível
pelo endereço:
5
CONTEÚDO 6
https://sagecell.sagemath.org/
Se você for utilizar a versão on-line, o link acima irá levar a uma página que contém os elementos
mostrados na gura abaixo:
Para utilizar o pacote, basta inserir os comandos na janela de comandos, que encontra-se indicada
na gura. Quando os comandos estiverem inseridos, pressiona-se o botão Evaluate, e então o
SageMath executará os cálculos solicitados.
Ao longo do texto destas Notas de Aula, serão mostrados exemplos de código SageMath capaz
de executar operações relacionadas com o assunto que estiver sendo estudado. Esses exemplos terão
um formato parecido com o exemplo abaixo:
Esse pequeno exemplo mostra um código executável no SageMath, que realiza as seguintes
operações:
Na terceira linha, as funções denidas anteriormente são utilizadas para denir uma nova
função h(x) = f (x) + g(x);
CONTEÚDO 7
Na quarta linha, o comando integral é chamado para realizar o cálculo da integral da função
h em relação à variável x. O resultado dessa operação é armazenado na função H(x) (ou seja,
a função H(x) é denida como a integral de h(x));
Por m, na quinta linha o comando show é chamado para fazer a exibição da expressão da
função H(x), anteriormente calculada.
Após o usuário digitar essa sequência de comandos na janela de comandos do Sage, este deve
pressionar o botão Evaluate feito isso, o sistema SageMath irá executar os comandos, exibindo
a resposta.
Atenção: O símbolo '>' que aparece no início de cada linha tem a função apenas de indicar o
início de uma nova linha. Esse símbolo não deve ser colocado no código a ser executado no
SageMath. Quando esse símbolo não aparece no início de uma linha, isso signica apenas que o
conteúdo dessa linha é continuação da linha anterior, como pode ser visto no trecho a seguir:
Nesse exemplo, a segunda linha é muito extensa para poder aparecer em uma única linha neste texto
(essa limitação não existe no sistema SageMath em si, ela ocorre apenas quando tentamos escrever
o conteúdo da linha em um documento PDF como este). Essa linha é então apresentada em uma
linha que mostra o início do comando e outra linha que mostra sua continuidade. Podemos saber
que a linha que mostra o trecho legend_label='$f(x) = sen(x)$') é continuidade da anterior
porque no início dessa linha não aparece o símbolo '>'.
Recomenda-se ao estudante ler ao menos o primeiro capítulo do manual de referência do Sage-
Math, que também está postado no Moodle da disciplina. Ao longo do texto, diversos exemplos de
análises utilizando o sistema SageMath serão apresentados. Além disso, serão propostos trabalhos
a serem executados nesse sistema.
SageMath X.X
onde X.X signica o número da versão do SageMath. Recomenda-se utilizar o terceiro ícone, ou
seja, aquele denominado SageMath X.X Notebook, que abre uma interface mais amigável. Após
clicar nesse ícone, siga os seguintes passos:
1. Ao clicar nesse ícone, aparece inicialmente uma tela preta que serve apenas para inicializar o
sistema. Você não deve mexer nessa tela.
CONTEÚDO 8
2. Logo após a tela preta, será aberta uma aba no navegador de internet cujo título é Jupy-
ter. O sistema Jupyter serve para fornecer a interface para a execução de diversos pacotes
computacionais, incluindo o SageMath.
3. No canto superior direito da tela do Jupyter, aparece um botão denominado New. Você deve
pressionar esse botão, e escolher a opção SageMath, que irá aparecer junto com outras opções.
4. Feito isso, aparecerá a tela da interface com o SageMath. Basta utilizar o quadro que aparece
para escrever os comandos do Sage.
5. Caso você queira que apareçam mais blocos para poder dividir o código SageMath em diversos
pedaços, basta pressionar o menu Insert, e escolher a opção Insert Cell Below.
Em alguns computadores, o símbolo de acento circunexo, que é utilizado no Sage para indicar
a operação de exponenciação, é codicado de maneira diferente da usual. Isso faz com que esse
símbolo não sirva para signicar a operação de elevar uma base a uma potência. Felizmente
há uma outra forma de indicar a exponenciação: basta utilizar dois símbolos de asterisco
seguidos. Assim, por exemplo, 2**3 signica o mesmo que 23, ou seja, dois elevado ao cubo.
Funções
1
É importante lembrar que, a rigor, essa nossa percepção de um mundo contínuo pode não corresponder à
realidade em um nível microscópico. Por exemplo: a matéria é constituída de átomos, e não por uma substância
que seria contínua em qualquer escala em que fosse observada. Apesar disso, a representação contínua das grandezas
físicas permite a obtenção de modelos que são sucientemente precisos para a maior parte das nalidades práticas.
9
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 10
reais o que nos permite obter resultados analíticos que seriam muito difíceis de obter se zéssemos
análises considerando as variáveis como números inteiros.
Algo semelhante, porém diferente, acontece quando analisamos fenômenos relacionados a -
nanças. Deve-se notar que, para qualquer nalidade prática, uma grandeza monetária pode ser
considerada contínua, ainda que nós saibamos que não há fracionamento de valores monetários em
quantidades menores que um centavo. Aproximar grandezas monetárias por números contínuos,
em certo sentido, é parecido com aproximar uma massa por um número contínuo mesmo sabendo
que a matéria é constituída de átomos: o erro resultante dessa aproximação normalmente é comple-
tamente desprezível, para ns práticos. No entanto, no caso dos fenômenos nanceiros, o temponão
pode ser adequadamente considerado como contínuo. A aplicação de taxas de juros, por exemplo,
ocorre sempre de um dia para o outro, e nunca de segundo a segundo. Pois bem: mesmo havendo,
no caso da variável tempo, uma imprecisão relevante, ainda assim é muito frequente a construção
de modelos considerando o tempo como se este fosse uma variável contínua.
Em síntese, as funções reais de variáveis reais foram primeiramente desenvolvidas para repre-
sentar grandezas do mundo físico que aparentavam ser contínuas. Com o passar do tempo, foram
sendo descobertas diversas situações em que a aplicação dessas funções sobre variáveis não contínuas
permitia a construção de modelos interessantes, capazes de produzir informações relevantes sobre a
estrutura de funcionamento dos sistemas reais que estavam sendo modelados. Por essa via, foram
construídas muitas das aplicações dessas funções, bem como das técnicas do cálculo diferencial e
integral, a sistemas provenientes das ciências biológicas e da vida e das ciências sociais aplicadas.
Esta disciplina é dirigido principalmente para estudantes de cursos dessas áreas de conhecimento.
y = f (x) (1.1)
sendo xey dois números reais, o que é representado pela notação: x ∈ R e y ∈ R. A expressão (1.1)
signica que se escolhermos um número real x e zermos uma conta representada pela operação
f (·) sobre esse número, obteremos um outro número real y que corresponde à aplicação da função
f sobre x. Por exemplo, consideremos a função f (x) descrita pela expressão:
x2 + 1
f (x) =
x
Essa expressão está dizendo que a função f, neste caso, corresponde à realização das seguintes
operações sobre um número x:
1. elevar o número x ao quadrado;
2. somar 1 ao resultado;
Embora evidentemente possam existir innitas formas de denir operações que possam ser reali-
zadas sobre números reais, nós iremos estudar aqui apenas um pequeno número destas. Estudaremos
as funções dos seguintes tipos:
polinomial
racional
algébrica
potência
exponencial
logarítmica
A maior parte da matemática das funções contínuas é construída utilizando apenas esse pequeno
número de funções e suas combinações. Para se construir as técnicas matemáticas adequadas para
tratar a maior parte das aplicações, não se fazem necessárias funções de tipos extravagantes que não
estão incluídas nessa lista. A seguir, apresentaremos uma breve explanação sobre como são feitas
as contas que denem cada uma das funções dessa lista.
f (x) = x3 − 7x + 1
corresponde a multiplicarx vezes x vezes x (ou seja, obtendo x3 ), a seguir subtrair disso o resultado
da multiplicação de 7 vezes x, e então somar 1. Todo polinômio pode ser construído com base
apenas nessas três operações. Em geral, um polinômio f (x) de grau n é dado por:
As guras 1.1, 1.2 e 1.3 mostram os grácos de funções polinomiais de graus 1, 2 e 3, respecti-
vamente.
Os grácos mostrados nas guras 1.1, 1.2 e 1.3 podem ser traçados no sistema Sage. No caso
da gura 1.1, os comandos são os seguintes:
A primeira linha faz a denição da função f (x) como sendo o primeiro polinômio, no caso:
f (x) = 2x + 1. A segunda linha faz o traçado do gráco de f (x) no intervalo −2 ≤ x ≤ 2.
No caso da gura 1.2, deve-se mudar a primeira linha, assim denindo f (x) como sendo o
segundo polinômio, f (x) = x2+ x − 2, e mudar a segunda linha de forma a que o gráco seja
traçado no intervalo −3 ≤ x ≤ 3:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 12
f(x) = 2x + 1 4
-2 -1 1 2
-2
10
f(x) = x 2 + x − 2
6
-3 -2 -1 1 2 3
-2
30
f(x) = x 3 − x 2 − 4 ∗ x + 4
20
10
-3 -2 -1 1 2 3 4
-10
-20
−∞ < x < ∞
0.6
0.4
-15 -10 -5 0 5 10 15 20
sendo n e m dois inteiros que representam os graus dos polinômios do numerador e do denominador,
respectivamente.
A gura 1.4 mostra o gráco da função racional dada por:
x2 − x + 1
f (x) =
x2 + 3
Um gráco bastante diferente ocorre para a função racional dada por:
x2 − x + 1
f (x) =
x2 − 3
O gráco dessa função é mostrado na gura 1.5. Nessa gura, para dois valores de x, o gráco
parece crescer de maneira ilimitada. A causa disto é que o polinômio do denominador (x2 − 3)
agora possui duas raízes (ou seja, dois valores para os quais esse polinômio ca igual a zero), iguais
√ √
a x= 3 e x = − 3. O fenômeno, portanto, é causado por essa divisão por zero, fazendo com
que a função (e portanto também o gráco) não seja denida para esses valores de x. Mais adiante,
na seção sobre limites, discutiremos o que acontece com essa função quando x se aproxima desses
valores, sem car igual a eles.
O gráco da gura 1.5 tem uma característica diferente dos grácos traçados anteriormente:
nos valores de x em que ocorreria uma divisão por zero na função, encontram-se traçadas linhas
tracejadas verticais, que indicam exatamente isso: para esses valores de x, a função não pode ser
calculada. Esses valores de x que causariam uma divisão por zero são chamados de polos da função.
Para traçar um gráco como o da gura 1.5, o comando plot é chamado de uma maneira um pouco
diferente no sistema Sage:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 15
f(x) = x 2x−2 −x +3 1 4
-15 -10 -5 5 10 15 20
-2
-4
Agora aparecem dois tipos de diretivas diferentes na chamada da função plot: as diretivas
ymin=-5 e ymax=5 fazem com que a janela do plano cartesiano mostrada no gráco abranja apenas
o intervalo −5 ≤ y ≤ 5. Caso não fossem utilizadas essas diretivas, a escala mostrada no gráco
poderia ser da ordem de alguns milhões, uma vez que a função cresce arbitrariamente quando x
se aproxima dos polos. Já a diretiva detect_poles='show' faz com que sejam traçadas as retas
verticais tracejadas nos valores de x correspondentes aos polos o que auxilia a interpretação do
gráco.
x2 − x + 1
f (x) =
x2 + 3
No caso dessa função, o seu domínio corresponde a todo o conjunto dos números reais:
−∞ < x < ∞
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 16
Um exemplo de função racional que não pode ser calculada para alguns valores de x é:
x2 − x + 1
f (x) =
x2 − 3
√ √
Agora, é claro que quando x = 3 e quando x = − 3 o denominador da função ca igual a zero. A
função então não pode ser calculada, pois ocorreria uma divisão por zero. O domínio desta função
é, então: n √ √ o
x 6= − 3, 3
Essa expressão quer dizer que a função
√ √ f (x) pode ser calculada para qualquer valor de x diferente
de − 3 e 3.
soma / subtração;
multiplicação / divisão;
potenciação / radiciação
sobre polinômios. As formas dessas funções podem ser muito variadas; por esse motivo não é fácil
escrever uma expressão geral das funções algébricas do tipo que nós escrevemos para as funções
polinomiais e para as funções racionais.
Um exemplo de função algébrica é dado por:
p
f (x) = x2 + 1
O gráco dessa função é mostrado na gura 1.6. Nessa gura também é mostrado, em linhas
tracejadas, o gráco da função g(x) = |x|. Pode-se notar que, à medida em que os valores de x
se dirigem para +∞ e para −∞, esses dois grácos se aproximam. O leitor curioso poderá tentar
encontrar uma explicação para esse comportamento desses grácos. Outro exemplo de função
algébrica é a seguinte função:
x4 − 16x2 √
f (x) = √ + (x − 2) 3 x + 1
x+ x+1
O gráco dessa função é mostrado na gura 1.7. Desta vez, um aspecto importante do gráco é que
√
ele só existe para x ≥ 0. Isso ocorre porque a função contém um termo x, que não se encontra
denido para x < 0.
O trecho de código a seguir pode ser utilizado para produzir o gráco da gura 1.7:
1 1
Deve-se notar que o termo x2 é o mesmo que a raiz quadrada de x, e o termo (x + 1) 3 representa
a raiz cúbica de (x + 1). Para representar a raiz quadrada, também seria possível também usar o
comando sqrt (o nome desse comando vem das palavras em inglês: square root). Nesse caso, o
código caria assim:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 17
5
p
f(x) = x 2 + 1
4
-4 -2 2 4
Figura 1.6: Função algébrica. Este gráco também mostra a função |x|, em linhas tracejadas.
30
p
f(x) = xx+4 − 16x +x 21 + (x − 2)3 x + 1
p
20
10
1 2 3 4 5
-10
Figura 1.7: Função algébrica. Este gráco só existe para valores de x maiores ou iguais a zero,
√
devido à presença de um termo x que não existe para valores negativos de x.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 18
Para a raiz cúbica, assim como para quaisquer outras raízes de ordem diferente de dois, não existe
um comando como o sqrt, sendo necessário utilizar a notação de potência fracionária.
Quando uma expressão que se encontra no denominador de uma divisão ca igual a zero;
Há casos mais gerais da situação anterior: não se pode extrair raiz de ordem par (ou seja, raiz
quarta, raiz sexta, etc) de número negativo.
Um exemplo de situação que se enquadra nos dois primeiros casos é a seguinte função:
1
f (x) = √
1− x
√
No caso desta função, o denominador 1− x ca igual a zero quando x = 1; portanto x não pode
assumir esse valor. Além disso, x não pode car negativo, pois não se pode tirar a raiz quadrada
de um número negativo. Dessa forma, o domínio dessa função é o seguinte conjunto:
x ≥ 0 ; x 6= 1
xn = x
| · x ·{zx · · · x}
n vezes
Neste caso, ca fácil notar que, para dois números inteiros n e m, tem de valer:
1 1 1 1 1 1 1 1
n n x n · · · x n} = x( n + n + n +...+ n )
|x · x ·{z
n vezes
1
Essa expressão nos diz que xn é um número que, elevado à potência n, resulta em x, ou seja:
1
x n é a n-ésima raiz de x: √
1
n
xn = x
p
A seguir, vamos procurar qual deve ser o signicado da expressão x q , sendo p e q dois números
inteiros positivos. Observamos que a expressão a seguir é verdadeira:
√
1
1 1 1 1 + 1q + 1q +...+ 1q p
q
|x · x ·{zx · · · x } = x
q q q q q
= xq = xp
p vezes
p
Podemos então interpretar x q como sendo um número obtido da seguinte forma: (i) tiramos
1 p
a q -ésima raiz de x, obtendo x q ; (ii) a seguir, elevamos o resultado a p, obtendo x q . Desta
a
forma, descobrimos o que signica x quando a é um número racional positivo, lembrando
que os números racionais são os números reais que podem ser escritos na forma de frações,
com numerador e denominador inteiros.
r1 < a < r2
Nós já descobrimos, no passo anterior, como calcular xr1 e xr2 . Escolhemos, para fazer a
conta, dois números r1 e r2 que, permanecendo respectivamente menor e maior que a, devem
estar muitíssimo próximos de a. Isso fará com que x r1 e x r2 quem muito próximos entre si.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 20
Notando que podemos escolher números r1 e r2 tão próximos quanto se queira, a diferença
r
entre x 1 ex cará tão próxima de zero quanto quisermos. O valor de xa é esse número do
r 2
r r
qual tanto x 1 quanto x 2 estão se aproximando.
Só falta agora denir o que acontece com a expressão xa quando a é um número negativo.
Tomamos a mesma expressão x
n · xm = xn+m utilizada anteriormente, e notamos que ela
implica o seguinte:
xa · x−a = x(a−a) = x0 = 1
Então obtemos:
1
x−a =
xa
Ou seja, x elevado a um número negativo é o mesmo que um sobre x elevado ao mesmo número
com sinal positivo.
Com essas etapas, nós denimos completamente o que signica a função potência
f (x) = xa
Essa gura mostra apenas valores positivos de x, uma vez que as funções potências com expoentes
não inteiros podem car não denidas para x < 0.
A gura 1.9 mostra a superposição das seguintes funções potência, para valores negativos do
expoente a:
3 5
f1 (x) = x−1 f2 (x) = x− 2 f3 (x) = x−2 f4 (x) = x− 2 f5 (x) = x−3
Essa gura mostra apenas valores positivos de x, e se inicia em x = 0.5 e não em x = 0 porque
todas essas funções não estão denidas para x = 0. (Perguntamos ao leitor: porquê as funções não
estão denidas em x = 0?)
As guras 1.8 e 1.9 são as primeiras, neste capítulo, que apresentam os grácos de várias funções
superpostos em uma mesma gura. Para exemplicar como se faz isso no Sage, os comandos para
o traçado da gura 1.8 são mostrados a seguir:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 21
x 1.5
x2
3 xx 2.5
x3
2.5
1.5
0.5
Figura 1.8: Função potência. Superposição das funções potência f (x) = xa , para a = 1, a = 1.5,
a = 2, a = 2.5 e a = 3.
8
x −−11.5
x −2
x −2.5
x −3
x
0
0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2
Figura 1.9: Função potência. Superposição das funções potência f (x) = xa , para a = −1, a = −1.5,
a = −2, a = −2.5 e a = −3.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 22
> f1(x) = x
> f2(x) = x1.5
> f3(x) = x2
> f4(x) = x2.5
> f5(x) = x3
> P1 = plot(f1,0,1.5,color='blue')
> P2 = plot(f2,0,1.5,color='orange')
> P3 = plot(f3,0,1.5,color='magenta')
> P4 = plot(f4,0,1.5,color='red')
> P5 = plot(f5,0,1.5,color='green')
> P1 + P2 + P3 + P4 + P5
As cinco primeiras linhas denem as cinco funções cujos grácos devem ser traçados. Nas cinco
linhas seguintes, o traçado do gráco de cada uma dessas funções no intervalo 0 ≤ x ≤ 1.5 é
processado, e então armazenado nas variáveis computacionais P1, P2, P3, P4 e P5. Quando se faz o
armazenamento do traçado de um gráco em uma variável computacional, o gráco não é mostrado
imediatamente, ele apenas ca guardado nessa variável. Deve-se notar que cada comando plot, neste
caso, especica uma cor diferente para o gráco a ser traçado, o que irá facilitar identicação de
cada gráco. Para fazer isso, é utilizada a diretiva color='nome_de_cor'. No código acima, foram
utilizadas as cores azul (blue), laranja (orange), magenta (magenta), vermelha (red) e verde (green).
Finalmente, na última linha, é chamada a execução da soma das variáveis nas quais encontram-se
armazenados os cinco grácos; isso faz com que os cinco grácos sejam traçados todos juntos, em
uma mesma gura.
Quando o expoente é inteiro positivo, o domínio corresponde a todo o conjunto dos números
reais. Exemplo: f (x) = x4 .
Quando o expoente é inteiro negativo, o domínio corresponde a todo o conjunto dos reais,
excluindo-se x = 0. Exemplo: f (x) = x−3 .
Quando o expoente é um número racional positivo com denominador par, o domínio corres-
ponde ao conjunto x ≥ 0. Exemplo: f (x) = x1/4 .
f (x) = ax
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 23
1.x5 x
2 x
2.x5 8
3
-2 -1 1 2
Figura 1.10: Funções exponenciais. Superposição das funções exponenciais f (x) = ax , para a = 1.5,
a = 2, a = 2.5 e a = 3.
sendo a um número real positivo. A gura 1.10 mostra a superposição dos grácos das funções
exponenciais para os seguintes valores da base: a = 1.5, a = 2, a = 2.5, a = 3. Pergunta-se ao
leitor: como seria o gráco da função quando a = 1? Já a gura 1.11 mostra a superposição dos
grácos das funções exponenciais para os seguintes valores da base: a = 0.7, a = 0.5, a = 0.3.
Pergunta-se ao leitor: por quê os grácos das funções exponenciais são decrescentes quando a < 1?
O trecho de código a seguir pode ser utilizado para traçar os grácos mostrados na gura 1.10:
Diferentes funções exponenciais são obtidas para diferentes valores da base a. Há um valor em
especial, o número e ≈ 2.71828, que é utilizado com muito maior frequência que outros valores de
base. Assim, embora existam muitas funções exponenciais com diferentes valores de base, quando
se menciona a função exponencial, sem se especicar um valor de base, deve-se entender a função
exponencial com base e, ou seja:
f (x) = ex = exp(x)
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 24
0.7 xx
0.5 x
10 0.3
-2 -1 1 2
Figura 1.11: Funções exponenciais. Superposição das funções exponenciais f (x) = ax , para a = 0.7,
a = 0.5, a = 0.3.
Ambas as formas são equivalentes, não faz diferença utilizar uma ou outra.
O leitor deve procurar observar a denição de funções exponenciais e compreender as seguintes
propriedades dessas funções:
Uma função exponencial, qualquer que seja sua base (lembrando que a base é sempre positiva),
sempre fornecerá um resultado estritamente positivo (maior que zero). Dizendo de outra
forma, uma função exponencial nunca retornará nem um resultado negativo nem um resultado
igual a zero, para nenhum valor de x.
As funções exponenciais f (x) = ax com base a > 1 serão todas crescentes, ou seja, sempre
que x cresce, o valor de f (x) também cresce.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 25
-2 -1 1 2
As funções exponenciais f (x) = ax com base a < 1 serão todas decrescentes, ou seja, sempre
que x cresce, o valor de f (x) deve decrescer.
−∞ < x < ∞
f (x) = ax
sendo a um número real positivo. Nós vamos agora falar de uma função g(x), que ainda não sabemos
qual é, que é a inversa de f (x), o que signica que:
Para conseguirmos compreender o que signica essa função, vamos falar do logaritmo na base 10,
que normalmente é estudado no ensino médio. Por exemplo, temos que:
É claro que x pode ser qualquer número real positivo: se tomamos por exemplo x = 3.5, obtemos
a relação:
log10 (3.5) ≈ 0.544068 ↔ 100.544068 ≈ 3.5
Deve car claro para o leitor que x só pode assumir valores positivos, uma vez que sempre que
elevarmos 10 a qualquer número, o resultado sempre será positivo. A gura 1.13 mostra o gráco
da função g(x) = log10 (x).
Assim como, dentre as funções exponenciais, existe uma função exponencial que é especialmente
útil no contexto de cálculo, que é a função exponencial com base e, também dentre as funções
logaritmo nós temos a função logaritmo com base e (também conhecida como logaritmo neperiano)
que é particularmente adequada para manipulações de cálculo. Essa função logaritmo recebe uma
notação diferente das demais:
loge (x) = log(x) = ln(x)
Ou seja, podemos representar o logaritmo de base e pela notação ln(x), que deixa mais claro que
esta função se trata do logaritmo neperiano, ou podemos simplesmente representar a função como
log(x), sem dizer explicitamente qual é a base do logaritmo. Nesse caso, ca implícito que a base é
o número e. É claro que, para esta função, temos que:
loge (a) = b ↔ eb = a
Quando a base a é tal que a > 1, a função logaritmo será sempre crescente, ou seja, sempre
que x cresce a função loga (x) também cresce.
Toda função loga (x) é igual a zero para x = 1. Convidamos o leitor a explicar a razão disso.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 27
0.5
2 4 6 8 10
-0.5
-1
Quando a base a é tal que a > 1, a função logaritmo será negativa para valores de x no intervalo
0 < x < 1, e positiva para valores de x no intervalo x > 1. Também aqui, convidamos o leitor
a encontrar uma explicação para isso.
Deve-se notar que esse comando tem dois argumentos, o primeiro é o número cujo logaritmo será
calculado e o segundo é a base do logaritmo. Para denir a função logaritmo de base e, são possíveis
as três formas a seguir:
As três formas são equivalentes: não faz qualquer diferença adotar uma ou outra. Chamamos a
atenção em especial para a última das três: o comando log com apenas um argumento representa
o logaritmo neperiano, ou seja, assume implicitamente que a base do logaritmo seja igual a e.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 28
g(x) = ln(x)
2 4 6 8 10
-1
-2
(a, b)
sin(θ)
0.5
θ
-1 -0.5 0.5 1
cos(θ)
-0.5
-1
1 1 1
(a, b) (a, b)
sin(θ) sin(θ)
θ θ
θ cos(θ)
-1 -0.5 0.5 1 -1 -0.5 0.5 1 -1 -0.5 0.5 1
cos(θ) cos(θ)
sin(θ)
-1 -1
(a, b) -1
Figura 1.16: Círculo trigonométrico: valores de seno e cosseno quando θ ca igual a: (a) π3 (no
2π 4π
primeiro quadrante do círculo); (b)
3 (no segundo quadrante); (c) 3 (no terceiro quadrante).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 30
1
sin(x)
cos(x)
0.5
-10 -5 5 10
-0.5
-1
Figura 1.17: Funções trigonométricas. Superposição dos grácos das funções sen(x) e cos(x).
Chamamos a atenção para que, no SageMath, as funções seno e cosseno sejam representadas res-
pectivamente pelo comando sin e pelo comando cos. Os nomes desses comandos vêm das palavras
sine e cosine, que signicam seno e cosseno, em língua inglesa.
Já o código abaixo faz o traçado do gráco da função tangente, como mostrada na gura 1.18:
No SageMath, o comando tan representa a função tangente (que, em inglês, se escreve tangent).
Nesse trecho de código, ainda deve-se notar que foi necessário denir valores mínimo e máximo
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 31
10
-10 -5 5 10
-5
-10
As funções seno, cosseno e tangente são periódicas com período 2π , ou seja: sen(x) = sen(x +
2π), cos(x) = cos(x + 2π) e tan(x) = tan(x + 2π). Isso decorre do fato de que, a cada vez que
θ percorre um ângulo de 2π , o ponto de referência volta sempre ao mesmo lugar no círculo
trigonométrico.
As funções seno e cosseno produzem resultados que sempre se encontram dentro do intervalo
[−1, 1], ou seja: −1 ≤ sen(x) ≤1 e −1 ≤ cos(x) ≤ 1.
O estudante deve sempre se lembrar dos valores das funções seno e cosseno indicados na tabela
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 32
abaixo:
x sen(x) cos(x)
0 0 1
π
1 0
2
π 0 −1
3π
−1 0
2
2π 0 1
Deve-se ainda notar que são esses os valores de x para os quais as funções seno e cosseno
passam por zero ou atingem seu máximo ou seu mínimo.
−∞ < x < ∞
sen(x)
tan(x) =
cos(x)
não pode ser calculada nos valores de x que fazem com que cos(x) se iguale a zero. Neste texto,
não discutiremos em detalhe o domínio dessa função.
Transformações em f (x)
Translações verticais
Considere-se a função:
f (x) = x2
A partir dessa função, construímos duas funções transformadas:
fa (x) = x2 + 1 fb (x) = x2 − 1
A função fa (x) tem um gráco que corresponde à translação vertical para cima do gráco da função
f (x), e a função fb (x) tem um gráco que corresponde à translação vertical para baixo do gráco
da função f (x). Os três grácos são mostrados sobrepostos na gura 1.19.
Translações horizontais
Considere-se a função:
√
f (x) = x
A partir dessa função, construímos duas funções transformadas:
√ √
fa (x) = x+1 fb (x) = x−1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 34
Figura 1.19: Gráco da função original f (x) = x2 , superposto à sua translação para cima fa (x) =
x2 +1 e à sua translação para baixo fb (x) = x2 − 1.
A função fa (x) tem um gráco que corresponde à translação horizontal para a esquerda do gráco
da função f (x), e a função fb (x) tem um gráco que corresponde à translação horizontal para a
direita do gráco da função f (x). Os três grácos são mostrados sobrepostos na gura 1.20.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 35
f(x)
1.4
fa (x)
fb (x) 1.2
0.8
0.6
0.4
0.2
1 ff(ax(x))
fb (x)
0.5 1 1.5 2
-1
-2
-3
-4
Figura 1.21: Gráco da função original f (x) = ln(x), superposto à sua expansão vertical fa (x) =
2 · ln(x) e à sua contração vertical fb (x) = 21 ln(x).
1
fa (x) = 2 · ln(x) fb (x) = ln(x)
2
A função fa (x) tem um gráco que corresponde à expansão vertical do gráco da função f (x), e a
função fb (x) tem um gráco que corresponde à contração do gráco da função f (x). Os três grácos
são mostrados sobrepostos na gura 1.21.
1
f(x) 0.5
-10 -5 -0.5 5 10
-1
1
0.5
fa (x)
-10 -5 -0.5 5 10
-1
1
0.5 fb (x)
-10 -5 -0.5 5 10
-1
Figura 1.22: Gráco da função original f (x) = sen(x), de sua contração horizontal fa (x) = sen(2x)
x
e de sua expansão horizontal fb (x) = sen
2 .
Na primeira linha, a funçãof (x) é denida. A segunda linha dene a função fa (x) utilizando a
função f (x) anteriormente denda. A terceira linha dene a função fb (x), também a partir de f (x).
A quarta, a quinta e a sexta linhas têm comandos que fazem a geração dos grácos de f (x), fa (x)
e fb (x), sendo que o gráco de fa (x) é gerado em vermelho ('red', em inglês) e o gráco de fb (x) é
gerado em verde ('green', em inglês). Esses grácos são armazenados nas variáveis computacionais
P1, P2 e P3. Na sétima linha, o comando graphics_array agrupa os grácos gerados anteriormente
em um arranjo gráco, que é armazenado na variável computacional Graf. A diretiva ncols=1
serve para dizer que esse arranjo gráco tem apenas uma coluna; se não colocássemos essa diretiva
os três grácos seriam colocados em sequência em uma única linha. Por m, na última linha o
gráco anteriormente montado é nalmente exibido, quando se chama a variável computacional na
qual ele está armazenado.
-4
f(x)
fa (x) -6
fb (x)
Figura 1.23: Gráco da função original f (x) = exp(x), de sua reexão fa (x) = − exp(x) ao redor
do eixo dos x, e de sua reexão fb (x) = exp(−x) ao redor do eixo dos y .
10 f1 (x)
f4 (x)
-4 -2 2 4 6
-5
1
Figura 1.24: Gráco da função original f1 (x) = x , superposto ao gráco da função transformada
f4 (x).
A gura 1.24 mostra a superposição dos grácos de f1 (x) e f4 (x). Nessa gura, também encontram-
se exibidos, em linha tracejada na cor cinza, as assíntotas do gráco de f4 (x), que ajudam a enxergar
a sua relação com o gráco de f1 (x).
Exemplo 1.1 Na gura 1.25, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.25, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente no
gráco de g(x) que está situado na mesma ordenada y , sendo que cada ponto no gráco de g(x) tem abscissa
x igual à abscissa x do gráco de f (x) mais 1. Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto
A2 tem coordenadas (p + 1, q), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (r + 1, s).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (x + 1, y) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = f (x − 1)
Exemplo 1.2 Na gura 1.26, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.26, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 40
4
A1 A2
2
-4 -2 2 4
B1 -2
B2
-4
Figura 1.25: Translação horizontal: Gráco da funçãof (x), em azul, e de uma translação horizontal
dessa função, indicada por g(x), em vermelho. Os pontos A1 e B1 , do gráco da função f (x), são
transformados nos pontos A2 e B2 do gráco de g(x).
A2
4
A1
2
B2
-4 -2 2 4
-2
B1
-4
Figura 1.26: Translação vertical: Gráco da função f (x), em azul, e de uma translação vertical
dessa função, indicada por g(x), em vermelho. Os pontos A1 e B1 , do gráco da função f (x), são
transformados nos pontos A2 e B2 do gráco de g(x).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 41
4
A1 A2
2
-4 -2 2 4
-2
-4
B1 B2
Figura 1.27: Contração horizontal: Gráco da função f (x), em azul, e de uma contração horizontal
dessa função, indicada por g(x), em vermelho. Os pontos A1 e B1 , do gráco da função f (x), são
transformados nos pontos A2 e B2 do gráco de g(x).
no gráco de g(x) que tem a mesma abscissa x, sendo que cada ponto no gráco de g(x) tem ordenada igual
à ordenada y do gráco de f (x) mais 2. Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto A2 tem
coordenadas (p, q + 2), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (r, s + 2).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (x, y + 2) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = f (x) + 2
Exemplo 1.3 Na gura 1.27, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.27, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente
no gráco de g(x) y , sendo que cada ponto no gráco de g(x) tem abscissa igual
que tem a mesma ordenada
à abscissa x f (x) dividida por 2. Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto
do gráco de
A2 tem coordenadas (p/2, q), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (r/2, s).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (x/2, y) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = f (2x)
Exemplo 1.4 Na gura 1.28, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.28, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 42
A2
4
A1
2
-4 -2 2 4
B1 -2
-4
B2
no gráco de g(x) que tem a mesma abscissa x, sendo que cada ponto no gráco de g(x) tem ordenada igual
à ordenada y do gráco de f (x) vezes 2. Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto A2 tem
coordenadas (p, 2q), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (r, 2s).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (x, 2y) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = 2f (x)
Exemplo 1.5 Na gura 1.29, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.29, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente
no gráco de g(x) x, sendo que cada ponto no gráco de g(x) tem ordenada igual
que tem a mesma abscissa
a menos a ordenada y do gráco de f (x). Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto A2
tem coordenadas (p, −q), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (r, −s).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (x, −y) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = −f (x)
Exemplo 1.6 Na gura 1.30, estão mostrados o gráco de uma função f (x) e de uma transformação dessa
função, indicada por g(x). Na gura 1.30, estão mostrados os pontos A1 e B1 do gráco de f (x), ligados
por linhas tracejadas aos pontos A2 e B2 , que são os correspondentes pontos transformados no gráco de
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 43
B1
A2 1
0.5 C1
-8 -6 -4 -2 2 4 6 8
-0.5 C2
-1
A1
B2
Figura 1.29: Reexão ao redor do eixo x: Gráco da função f (x), em azul, e de uma reexão dessa
função em relação ao eixo dos x, indicada por g(x), em vermelho. Os pontos A1 e B1 , do gráco da
função f (x), são transformados nos pontos A2 e B2 do gráco de g(x).
B2 B1
1
C2 0.5 C1
-8 -6 -4 -2 2 4 6 8
-0.5
-1
A1 A2
Figura 1.30: Reexão ao redor do eixo y: Gráco da função f (x), em azul, e de uma reexão dessa
função em relação ao eixo dos y, indicada por g(x), em vermelho. Os pontos A1 e B1 , do gráco da
função f (x), são transformados nos pontos A2 e B2 do gráco de g(x).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 44
g(x). O leitor pode reconhecer facilmente que cada ponto do gráco de f (x) tem um ponto correspondente
no gráco de g(x) que tem a mesma ordenada y, g(x) tem abscissa igual
sendo que cada ponto no gráco de
a menos a abscissa x f (x). Assim, por exemplo, se A1 tem coordenadas (p, q), o ponto A2 tem
do gráco de
coordenadas (−p, q), e se o ponto B1 tem coordenadas (r, s), o ponto B2 tem coordenadas (−r, s).
Como cada ponto (x, y) do gráco de f (x) é levado em um ponto de coordenadas (−x, y) no gráco de
g(x), nós podemos concluir que a transformação é dada por:
g(x) = f (−x)
Na primeira linha, é denida a função f (x) = sen(x). Na segunda linha, é criado um gráco dessa
função no intervalo −2π ≤ x ≤ 2π , sendo esse gráco armazenado na variável computacional P. Na
terceira linha, o gráco que se encontra armazenado nessa variável computacional é então salvo no
arquivo denominado grafico.png. Deve-se notar que:
O nome da variável computacional utilizada para armazenar o gráco pode ser qualquer nome
denido pelo usuário. No exemplo acima, essa variável foi chamada de P.
O nome do arquivo a ser salvo também pode ser qualquer nome denido pelo usuário, seguido
de uma extensão que seja ou png, pdf ou eps. No exemplo acima, o arquivo foi denominado
grafico, e a extensão utilizada foi png.
Encontra-se destacado, no canto inferior esquerdo desta imagem, um link que o sistema SageMath
devolve, como resultado da execução do trecho de código. Quando esse link é acionado, o navegador
abre a gura em uma nova aba. Clicando com o botão direito do mouse sobre a gura que foi aberta,
abre-se uma caixa de diálogo que permite salvar o arquivo da gura em um diretório à escolha do
usuário.
f (x) = 0 (1.4)
ser satisfeita. Deve-se notar que a expressão (1.4) é uma equação. Encontrar as raízes de f (x),
portanto, é o mesmo que resolver a equação (1.4).
No ensino médio, foram estudados alguns casos de determinação de raízes de funções. Por
exemplo, a fórmula das raízes da função polinomial de segundo grau é um importante tópico do
ensino médio: √
−b + b2 − 4ac
x1 =
2a
ax2 + bx + c = 0 ⇒ √ (1.5)
−b − b2 − 4ac
x2 =
2a
O problema de se determinarem as raízes de uma função aparece com muita frequência em
aplicações. No entanto, são relativamente raras as situações em que existem fórmulas analíticas,
tais como as mostradas em (1.5). Por exemplo, um importante teorema da álgebra
2 mostra que é
impossível a existência de uma fórmula fechada geral, como as fórmulas (1.5), para a determinação
das raízes de polinômios de grau 5 ou maior. Deve-se notar ainda que funções mais gerais, como
aquelas que podem ser construídas combinando funções dos tipos discutidos neste capítulo, só
2
Esse teorema foi proposto pelos matemáticos Paolo Runi (demonstração em 1799, contendo um erro) e Niels
Abel (demonstração nal em 1824).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 46
admitem fórmulas analíticas para o cálculo de suas raízes em situações bastante particulares; em
geral, tais fórmulas não estão disponíveis.
Por esse motivo, em situações práticas é bastante comum que se busquem as chamadas soluções
numéricas de equações. Isso signica que pacotes computacionais, tais como o SageMath, irão
procurar os valores das raízes de uma função f (x) por meio de métodos numéricos de aproximações
sucessivas. Como resultado, encontrarão valores que aproximam os valores exatos das raízes com
uma precisão de dezenas de casas decimais.
No sistema Sage, a determinação numérica de raízes de funções é feita por meio do comando
find_root. Suponha-se que a função f (x) já tenha sido denida, e que o usuário já saiba que
existe uma raiz dessa função situada no intervalo entre x = a e x = b. O código a seguir faz a
determinação numérica desta raiz:
> r = find_root(f,a,b)
É preciso fornecer, como entradas, o nome da função, f, o extremo inferior do intervalo no qual a
raiz vai ser buscada, a, e o extremo superior do intervalo de busca, b.
Para exemplicar o uso do comando find_root na determinação das raízes de uma função,
consideremos a seguinte função:
g(x) = 5 sen(x) + x2 − 4 (1.6)
Suponhamos que deseja-se encontrar todas as raízes dessa função, ou seja, todas as soluções da
equação:
5 sen(x) + x2 − 4 = 0 (1.7)
Para que seja possível utilizar o comando find_root para resolver esse problema:
Para cada raiz, é preciso conhecer um intervalo da variável x que contenha apenas essa raiz,
e nenhuma outra.
Essas informações podem ser obtidas observando o gráco da função. Esse gráco é mostrado na
gura 1.31. O gráco revela que:
A primeira raiz encontra-se no intervalo entre x = −3 e x = −2, ou seja, o intervalo [−3, −2].
Note-se que outras escolhas para os intervalos que contêm as raízes seriam possíveis. Por exemplo,
o intervalo que contém apenas primeira raiz também poderia ser expresso como o intervalo [−4, 0].
Conhecendo-se os intervalos correspondentes a cada raiz, a determinação dos valores numéricos
das duas raízes é feita pelo código a seguir:
30 g(x) = 5 sin(x) + x 2 − 4
25
20
15
10
5
-6 -4 -2 2 4 6
-5
> print(r1)
> print(r2)
-2.580667959
0.755685642969
5 sen(x) = 4 − x2 (1.8)
é idêntico ao problema de determinar as raízes da função g(x) denida em (1.6), de forma que as
raízes encontradas acima são também soluções dessa equação.
b = f (a)
b = g(a)
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 48
A primeira relação signica que (a, b) é um ponto do gráco de f (x) e a segunda relação signica
que (a, b) é um ponto do gráco de g(x). O atendimento simultâneo às duas relações signica que o
ponto (a, b) pertence a ambos os grácos, sendo portanto um ponto de interseção dos dois grácos.
Um exemplo simples de interseção entre grácos ocorre para as funções f (x) = x e g(x) = x .
2
A gura 1.32 mostra os grácos dessas funções, destacando os dois pontos de interseção, que são os
pontos (0, 0) e (1, 1).
3 g(x) = x 2
2
1 (1, 1) f(x) = x
(0, 0)
-2 -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 2
-1
-2
O estudante mais atento já deve ter notado que a resolução do problema de determinação
dos pontos de interseção entre os grácos de duas funções f (x) e g(x) envolve a utilização do
procedimento de determinação de resolução de equações, visto na seção 1.5. Os passos para resolver
esse problema são:
Para encontrar todos os pontos de interseção entre os grácos das funções, é preciso executar essa
sequência de passos considerando intervalos que contenham cada uma das interseções.
Como exemplo, vamos examinar o problema de determinar todas as interseções dos grácos das
funções f (x) e g(x) dadas por:
exp(x)
f (x) = 1 − exp(−x2 ) g(x) = (1.9)
10
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 49
Primeiro traçamos os grácos das duas funções, para descobrir quantas interseções existem e para
escolher intervalos que contenham essas interseções. Esses grácos são mostrados na gura 1.33.
Pode-se constatar, pela gura, que os grácos dessas funções têm três pontos de interseção, situados
f(x) = 1 − exp(−x 2 )
1
0.5
-3 -2 -1 1 2 3
Figura 1.33: Interseções dos grácos das funções f (x) e g(x) conforme denidas em (1.9).
nos intervalos [−1, 0],[0, 1] e [2, 3]. Executamos então o seguinte código Sage para determinar esses
pontos:
(-0.28029127092343165, 0.07555636356843021)
(0.4024846399906394, 0.1495535953602275)
(2.2974713246053673, 0.9948992846653113)
Essas são as coordenadas dos três pontos que correspondem às três interseções dos grácos de f (x)
e g(x).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 50
Uma função possa ser representada de diferentes maneiras, e cada representação é capaz de
evidenciar algumas de suas propriedades, talvez tornando mais difícil enxergar outras pro-
priedades. Por exemplo, a expressão matemática da função e o gráco da função são duas
representações de uma mesma entidade (a função), que servem para evidenciar diferentes as-
pectos da função. Há outras representações possíveis para uma função, a maioria das quais
não serão discutidas neste texto. Devemos notar que há uma representação que discutiremos
nos últimos capítulos deste texto: uma função pode ser denida como sendo a solução de
uma equação diferencial, e mesmo nos casos em que não tenhamos ferramentas para calcular
a expressão explícita que representa tal função, ela continuará existindo no mesmo sentido em
que as funções cujas expressões conhecemos também existem.
Uma função possa sofrer transformações tais como: translação horizontal, translação vertical,
contração ou expansão vertical, contração ou expansão horizontal, reexão em relação ao eixo
dos x, reexão em relação ao eixo dos y , ou ainda outras não discutidas neste material. Ao ser
transformada, uma função f1 (x) se transforma em uma outra função f2 (x) relacionada com
a primeira, porém um pouco diferente. A maioria das propriedades da primeira, no entanto,
ainda está presente na segunda função, e as propriedades que tiverem mudado irão se alterar
de maneira bastante previsível.
Para o efeito do estudo conceitual das funções, visando a que o estudante adquira a habilidade
de pensar as funções, sendo capaz de realizar operações mentais de manipulação dessas entidades
conceituais, nos concentraremos em algumas poucas funções básicas, cujas propriedades espera-se
que os estudantes apreendam. Assim, nos exercícios e nas avaliações que os estudantes encontrarão
para resolver manualmente, sem o auxílio de um computador, neste capítulo aparecerão apenas as
seguintes funções, além de suas transformações:
f (x) = x2
1
f (x) =
x
√
f (x) = x
f (x) = ex
f (x) = ln(x)
f (x) = sen(x)
f (x) = cos(x)
No Capítulo 2, passarão a ser consideradas somas, produtos ou divisões de funções desses tipos. A
partir do Capítulo 3, serão também consideradas funções do tipo:
f (x) = xp
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 51
sendo p um número inteiro ou um número racional (uma fração tendo números inteiros no numerador
e no denominador), positivo ou negativo. Como já visto neste capítulo, essa formulação inclui os
três primeiros casos da lista anterior:
f (x) = x2
1
f (x) = = x−1
x
√ 1
f (x) = x = x 2
2
f (x) = √1
3 2 = x− 3
x
1.8 Exercícios
Questão 1: Para cada grupo de funções abaixo:
Faça o esboço do gráco da função (a) do grupo. Note que essa é a função original, que será
modicada para formar as demais funções do grupo.
Faça o esboço de cada um dos grácos das demais funções do grupo. Esse esboço deve ser
traçado superposto a um esboço da função (a), assim permitindo evidenciar as diferenças entre
a função original e a função modicada.
Em todos os casos, indique claramente as interseções de cada gráco com o eixo coordenado hori-
zontal e com o eixo coordenado vertical, mostrando os valores das coordenadas dessas interseções.
Grupo 1:
(a) f (x) = x2
(c) f (x) = x2 − 1
Grupo 2:
(a) f (x) = ex
(b) f (x) = −ex
Grupo 3:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 53
(f ) f (x) = ln(x) + 1
Grupo 4:
Grupo 5:
Grupo 6:
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES 54
√
(a) f (x) = x
√
(b) f (x) = x−1
√
(c) f (x) = − x
√
(d) f (x) = −x
Grupo 7:
1
(a) f (x) =
x
1
(b) f (x) = −
x
1
(c) f (x) = +1
x
1
(d) f (x) =
x+1
Questão 2: Determine, para cada função indicada na questão anterior, quais são as faixas de valores
da variável x para as quais a função é denida (ou seja, determine o domínio de cada função).
Questão 3: Utilizando o sistema SageMath, determine todas as raízes das funções a seguir:
Questão 4: Utilizando o sistema SageMath, determine todas as soluções das equações a seguir:
x2 − 1 √
(a) 2
= − x3
x +1
√
(b) sen2 (x) = x − 1
1
(c) ln(2 − x) + 2 =
sen(x) + x + 1
Capítulo 2
Limites
A invenção do conceito de limite de uma função f (x) quando x se aproxima de um valor foi a chave
para formalização rigorosa do cálculo diferencial e integral. Neste texto não iremos trabalhar com
a noção rigorosa de limite. No entanto, uma noção intuitiva da ideia de limite é importante para
que seja possível uma compreensão sobre as propriedades relevantes que uma função pode ter. Essa
noção intuitiva será necessária para denirmos, nos próximos capítulos, os conceitos de derivada e
de integral. Este capítulo tem por objetivo fazer a apresentação dessa noção intuitiva.
π+
A notação x→ 2 signica que x se aproxima de π/2 pela direita, ou seja, por valores maiores que
π/2, e a notação x → π2 − signica que x se aproxima de π/2 pela esquerda, ou seja, por valores
menores que π/2.
55
CAPÍTULO 2. LIMITES 56
1.5
0.5
-6 -4 -2 π 2 4 6
2
-0.5
-1
-1.5
O conceito de limite irá representar algo menos trivial quando ocorrer a situação em que os
limites à esquerda e à direita forem diferentes um do outro. Por exemplo, consideremos a função:
(x − 1)2
para x<2
f (x) =
x x≥2
para
Deve-se notar que essa função foi denida por partes, havendo uma expressão diferente para cada
intervalo da variável x. O gráco dessa função é mostrado na gura 2.2. Imediatamente percebemos,
pelo gráco, que a função tem uma descontinuidade em x = 2, sendo que quando x se aproxima de
2 pela esquerda observamos que:
lim f (x) = 1
x→2−
Já quando x se aproxima de 2 pela direita, observamos:
lim f (x) = 2
x→2+
O valor da função em x = 2, como podemos vericar a partir da expressão que a dene, é f (2) = 2,
ou seja, é igual ao limite à direita, mas é diferente do limite à esquerda.
Formalmente, nós identicamos as funções chamadas de descontínuas a partir do conceito de
limite. Quando ocorre:
lim f (x) 6= lim f (x)
x→a− x→a+
sabemos que a função f (x) é descontínua no ponto x = a. Na verdade, nós dizemos que uma função
f (x) é contínua em um ponto x = a sempre que:
-1 1 2 3 4
Quando essa condição é vericada para todos os valores de x, nós dizemos simplesmente que f (x)
é uma função contínua.
1
f (x) =
x2
A gura 2.3 mostra o gráco dessa função. A causa desse comportamento da função quando x→0
é a divisão por zero, que iria ocorrer quando x = 0, o que faz com que a função não seja denida
para esse valor de x. Quando o valor de x se aproxima de zero, mesmo não cando igual a zero,
o resultado de se fazer a divisão de 1 por x2 (ou seja, uma divisão de 1 por um número muito
pequeno) resultará em um número muito grande, tão maior quanto menor for x2 . No caso desta
função, o crescimento ilimitado quando x se aproxima de zero ocorre tanto para a aproximação à
direita quanto para a aproximação à esquerda. Então temos, neste caso:
1 1 1
lim 2
= lim 2 = lim 2 = ∞
x→0+ x x→0− x x→0 x
1
f (x) =
x
CAPÍTULO 2. LIMITES 58
∞ ∞
5
-5 5
1
Figura 2.3: Limite de f (x) = x2
quando x → 0.
CAPÍTULO 2. LIMITES 59
+∞
4
-5 5
-2
-4
−∞
A gura 2.4 mostra o gráco dessa função. Como no caso anterior, a função f (x) assume valores
ilimitados quando x se aproxima de zero. No entanto, desta vez o limite à esquerda é diferente do
limite à direita de x = 0. Temos, desta vez:
1 1
lim = +∞ lim = −∞
x→0+ x x→0− x
Isso ocorre porque a função 1/x assume valores negativos para x < 0 e valores positivos para x > 0.
Se, quando x cresce, a função f (x) também cresce de maneira ilimitada (ou seja, sem car
abaixo de um valor máximo), dizemos que o limite de f (x) quando x tende a innito é innito.
Utilizamos a seguinte notação para dizer isso:
lim f (x) = ∞
x→∞
Se, quando x cresce, a função f (x) decresce de maneira ilimitada (ou seja, sem se deixar limitar
por um valor mínimo), dizemos que o limite de f (x) quando x tende a innito é menos innito.
Utilizamos a seguinte notação para dizer isso:
lim f (x) = −∞
x→∞
Se, quando x decresce (indo em direção a menos innito), a função f (x) cresce de maneira
ilimitada (ou seja, sem car abaixo de um valor máximo), dizemos que o limite de f (x) quando
x tende a menos innito é innito. Utilizamos a seguinte notação para dizer isso:
lim f (x) = ∞
x→−∞
Se, quando x decresce (indo em direção a menos innito), a função f (x) também decresce de
maneira ilimitada (ou seja, sem se deixar limitar por um valor mínimo), dizemos que o limite
de f (x) quando x tende a menos innito é menos innito. Utilizamos a seguinte notação para
dizer isso:
lim f (x) = −∞
x→−∞
∞ 25
∞
20
15
10
-4 -2 2 4
Examinemos o gráco da função f (x) = x2 , exibido na gura 2.5. Essa gura torna visível que
a função vai para ∞ tanto quando x → ∞ quanto quando x → −∞. O leitor interessado poderá
2
elaborar um raciocínio intuitivo capaz de explicar que a função f (x) = x de fato vai para ∞ quando
x vai para ∞ ou para −∞ com base na observação de que não existe nenhum valor fmax capaz de
ser sempre maior que f (x); sempre existirá algum x que fará f (x) ultrapassar fmax .
Outro conjunto de possibilidades que ocorre com frequência é:
lim f (x) = K
x→∞
lim f (x) = K
x→−∞
1 1
0.5
-6 -4 -2 2 4 6
-0.5
−1 -1
x
f (x) = √
x2+1
O gráco sugere que, de fato, ocorrem:
O leitor mais curioso poderá seguir um raciocínio intuitivo para compreender por quê o limite da
função f (x) é igual a 1 quando x → ∞. Em linhas gerais, basta observar que: (i) quando x cresce,
f (x) também cresce; (ii) f (x) é sempre menor que 1; e (iii) sempre será possível encontrar um valor
de x que fará f (x) car maior que qualquer valor menor que 1.
Para concluir nossa discussão sobre limites no innito, é preciso acrescentar que as funções
podem apresentar outros comportamentos distintos desses mencionados anteriormente. Vejamos
por exemplo a gura 2.7, que mostra os grácos das funções f (x) = sen(x) e f (x) = x sen(x). No
caso da função f (x) = sen(x), o valor de f (x) ca sempre oscilando entre o valor mínimo de −1 e o
valor máximo de 1, sem nunca convergir para algum número entre esses dois valores. Já no caso da
função f (x) = x sen(x), o valor de f (x) nem sequer é limitado, podendo oscilar entre −∞ e +∞.
Nesse caso, o limite de f (x) quando x vai para innito não é nem −∞ nem +∞.
1.5 20
10
0.5
-0.5
-10
-1
-1.5 -20
(a) (b)
Figura 2.7: Quando limites no innito não existem: (a) f (x) = sen(x); (b) f (x) = x sen(x).
nitos L1 e L2 :
lim f (x) = L1 lim g(x) = L2
x→a x→a
As seguintes propriedades são válidas:
5. O limite de um quociente de funções é o quociente dos limites, desde que o limite no denomi-
nador não seja nulo:
f (x) limx→a f (x) L1
lim = = ; se L2 6= 0
x→a g(x) limx→a g(x) L2
6. O limite de uma função composta com outra função é a primeira função composta com o
limite da outra função:
lim f (g(x)) = f lim g(x)
x→a x→a
CAPÍTULO 2. LIMITES 64
Em todos os casos acima, a pode tanto ser uma constante nita como também +∞ ou −∞.
Assim:
lim exp(x) + 2 = 3
x→0
Assim:
1
lim − ln(x) = 1
x→1 x
♦
Assim:
lim (ln(x) + 4) = 4
x→1
Finalmente: p q √
lim ln(x) + 4 = lim (ln(x) + 4) = 4=2
x→1 x→1
♦
CAPÍTULO 2. LIMITES 65
Operação Resultado
+∞ + c +∞
−∞ + c −∞
+∞ − c +∞
−∞ − c −∞
+∞ + ∞ +∞
−∞ − ∞ −∞
c·∞ +∞
c · (−∞) −∞
−c · ∞ −∞
−c · (−∞) +∞
+∞ · (+∞) +∞
+∞ · (−∞) −∞
−∞ · (−∞) +∞
+∞
+∞
c
−∞
−∞
c
+∞
−∞
−c
−∞
+∞
−c
c
0
+∞
c
0
−∞
−c
0
+∞
−c
0
−∞
É preciso mencionar que em outros casos o resultado é indeterminado, como por exemplo: ∞−∞
ou ∞/∞.
Exemplo 2.4 O limite a seguir: p
lim exp(−x) + 4
x→∞
CAPÍTULO 2. LIMITES 66
Assim:
lim (exp(−x) + 4) = 4
x→∞
Finalmente: p q √
lim exp(−x) + 4 = lim (exp(−x) + 4) = 4 = 2
x→∞ x→∞
> L = limit(f,x=a)
> print(L)
Na primeira linha, é feito o cômputo do limite. O comando limit recebe como entradas o nome
da função, f, e o valor a para o qual a variável x deverá tender. O resultado é armazenado na
variável L. Na segunda linha, o comando print é utilizado para fazer com que o valor armazenado
na variável L seja exibido. Para exemplicar, vamos calcular o seguinte limite:
1
L = lim √
x→10 x2 −1
O código para o cálculo deste limite é o seguinte:
CAPÍTULO 2. LIMITES 67
√
x 7→ 2 6
√
A expressão 2 6 representa o valor exato do limite solicitado.
A utilização do comando limit desta forma pressupõe que os limites laterais à esquerda e à
direita sejam iguais. Caso os limites laterais sejam diferentes, ou seja, caso ocorra:
torna-se necessário especicar qual desses limites se deseja calcular. Nesse caso, o comando limit
do Sage deve ser utilizado da seguinte forma:
> L1 = limit(f,x=a,dir='left')
> L2 = limit(f,x=a,dir='right')
> print(L1,L2)
Nas duas primeiras linhas, são calculados os limites laterais, respectivamente à esquerda e à
direita. O limite lateral à esquerda é armazenado na variável L1, e o limite lateral à direita é
armazenado na variável L2. Na terceira linha, o comando print faz com que os resultados, que se
encontram armazenados nas variáveis L1 e L2, sejam exibidos. Para exemplicar a utilização do
comando limit em tal situação, os limites a seguir serão calculados:
1
L1 = lim
x−1
x→1+
1
L2 = lim
x→1− x − 1
x 7→ +∞
x 7→ −∞
CAPÍTULO 2. LIMITES 68
Finalmente, examinamos o caso em que se deseja calcular os limites quando x tende a innito,
ou seja:
L1 = lim f (x)
x→+∞
L2 = lim f (x)
x→−∞
O comando limit deve ser usado da seguinte forma para tratar essas situações:
> L1 = limit(f,x=infinity)
> L2 = limit(f,x=-infinity)
> print(L1,L2)
Nas duas primeiras linhas, são calculados os limites quando o valor de x tende respectivamente
para ∞ e para −∞. O primeiro é armazenado na variável L1, e o segundo é armazenado na variável
L2. Na terceira linha, o comando print faz com que os resultados, que se encontram armazenados
nas variáveis L1 e L2, sejam exibidos. Um exemplo dessa situação é o cálculo do seguinte limite:
1
lim
x→−∞ 1 − exp(x)
x 7→ 1
CAPÍTULO 2. LIMITES 69
2.5 Exercícios
Questão 1: Calcule os limites a seguir:
√
1. lim x
x→+∞
√
2. lim x
x→4
√
3. lim x
x→0+
4. lim x2
x→−∞
5. lim x2
x→2
6. lim x2
x→+∞
7. lim ex
x→−∞
8. lim ex
x→0
9. lim ex
x→+∞
1
13. lim
x→−∞ x
1
14. lim
x→0− x
1
15. lim
x→0+ x
1
16. lim
x→1 x
1
17. lim
x→+∞ x
√
2. lim x+5
x→4
√
3. lim 3 x
x→0+
x2
4. lim
x→−∞ 2
5. lim (x + 1)2
x→2
6. lim (x + 1)2
x→+∞
7. lim −ex
x→−∞
8. lim ex + 5
x→0
9. lim e−x
x→+∞
3
13. lim
x→−∞ x
1
14. lim
x→0− x+1
1
15. lim
x→0+ 3x
1
16. lim
x→1 3x
1
17. lim −
x→+∞ x
x2
4. lim
x→−∞ ex + 1
CAPÍTULO 2. LIMITES 71
x2
5. lim
x→2 (x − 2)2
6. lim x2 · ln(x)
x→+∞
ex
7. lim
x→−∞ x
ex
8. lim
x→0− x
2
9. lim ex −
x→+∞ x
2
10. lim ln(x) −
x→0+ x
11. lim ln(x) · (x2 + 2x + 1)
x→1
1
13. lim
x→−∞ ex
1
14. lim
x→2− x−2
1
15. lim
x→2+ x−2
1
16. lim
x→1 x−2
1
17. lim
x→+∞ x−2
Questão 4: Os limites mostrados abaixo são de tipos que não foram abordados neste texto, e que
portanto não serão solicitados em avaliações desta disciplina. Incentivamos que o estudante
mais interessado tente descobrir como calculá-los, primeiro simplesmente por meio de raciocínio e
pelo exame dos grácos das funções envolvidas. Nos casos em que for necessário, qualquer livro
de Cálculo I poderá ser consultado. Alertamos ainda que, em alguns casos, a técnica formal de
resolução desses limites faz uso do conceito de derivadas, que será mostrado no próximo capítulo.
√
x
1. lim
x→+∞ ex
2. lim x2 − ln(x)
x→+∞
x2 − 1
4. lim
x→1+ ln(x)
ex−2 − 1
5. lim
x→2− (x − 2)2
x2 + 2x − 5
6. lim
x→+∞ x3 − 7x + 1
2x3 + 2x − 5
7. lim
x→+∞ x3 − 7x + 1
−x4 + 2x − 5
8. lim
x→+∞ x3 − 7x + 1
Capítulo 3
Derivadas
∆y = y − y0 ∆x = x − x0
∆y = a · ∆x
onde a é a constante de proporcionalidade. Essa expressão pode ser reescrita da seguinte forma:
y − y0 = a · (x − x0 )
Os exemplos 3.1 e 3.2, a seguir, ilustram situações nas quais apareceriam relações desse tipo.
Exemplo 3.1 Uma companhia de distribuição de água cobra de seu clientes uma tarifa de R$10, 00 por
cada metro cúbico de água consumido. No local onde ca o consumidor, há um medidor de água que mede o
total de água fornecido desde o momento em que o medidor foi instalado. Esse total será designado por x.
A variável y, por sua vez, irá designar o montante total pago pelo cliente, desde que o serviço foi iniciado,
sendo incluído no valor, além do consumo de água medido, também uma taxa cobrada pela instalação do
medidor. No início de um determinado mês, o total de água já consumido pelo cliente desde o início do
serviço era dado por x0 = 15. No mesmo momento, o total já cobrado desse consumidor pela companhia era
y0 = 250. O valor a ser cobrado pela companhia ao nal desse mês será dado por:
Ou seja, o montante total que já terá sido pago pelo cliente, após esse mês, será dado por y, enquanto o
montante pago apenas no nal desse mês, como pagamento pelo consumo de água nesse mês, será dado por
73
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 74
300
250
(x, y)
200
∆y
(x0 , y0 )
150
∆x
100
50
5 10 15 20
Figura 3.1: Total cobrado do cliente, y, como função do total de água consumida, x.
y − y0 . O total de água consumido ao longo de todo o tempo em que o medidor esteve instalado, após o nal
do mês, é dado por x, enquanto que o total do consumo apenas nesse mês é dado por x − x0 . Simplicando
a equação acima, obtemos:
y = 10x + 100
A taxa de variação de y em relação a x é igual a 10. O gráco que mostra y em função de x é mostrado na
gura 3.1. Nesse exemplo, a taxa de variação de y em relação a x é constante, ou seja, o acréscimo de um
determinado consumo extra de água custará sempre 10 vezes o volume extra consumido, qualquer que tenha
sido esse consumo. Em situações como esta, o gráco de y em função de x será uma reta. A expressão que
relaciona y com x, claro, será a equação de uma reta. A inclinação dessa reta é igual à taxa de variação, ou
seja, 10. ♦
Exemplo 3.2 Um veículo se move a uma velocidade constante de 60 quilômetros por hora. Às 10 horas da
manhã, esse veículo estava passando exatamente pela placa que indica o quilômetro 120"em uma rodovia.
A expressão que indica a posição do carro, y, como função do tempo t, é dada então por:
∆y = 60∆t
(y − y0 ) = 60(t − t0 )
Substituindo os valores y0 = 120 e t0 = 10, temos:
400
350
300
250 (t, y)
200
∆y
150
(t0 , y0 )
100 ∆t
50
0
9 10 11 12 13 14 15
Nos exemplos 3.1 e 3.2, foram mostradas situações em que a taxa de variação de uma grandeza em
relação a outra grandeza é constante. Nesse tipo de situação, a relação que descreve a dependência
da primeira grandeza em relação à segunda é uma função linear, cuja expressão é do tipo:
y(x) = a · x + b
O gráco dessa função é uma reta. A inclinação dessa reta é dada pelo parâmetro a da equação.
Essa inclinação, ou seja, esse parâmetro a, corresponde à chamada taxa de variação de y em relação
a x.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 76
150
100
50
Figura 3.3: Valor a pagar pela conta de energia elétrica, y, como função do consumo x.
Exemplo 3.3 Uma concessionária de energia elétrica vende energia para consumidores residenciais de
acordo com uma tabela de preços que variam de acordo com a faixa de consumo do cliente. Os preços
praticados são mostrados na tabela a seguir:
De acordo com essa tabela, um cliente que consumisse por exemplo 400 kWh em um mês iria pagar: 100 ×
R$0,30 = R$30,00 pelos primeiros 100 kWh, 100 × R$0,70 = R$70,00 pelos 100 kWh a seguir, e 200 ×
R$1,30 = R$260,00 pelos restantes 200 kWh. A gura 3.3 mostra o gráco da curva que relaciona o valor a
pagar pela conta de energia elétrica, y, com o consumo total de eletricidade x.
A expressão que descreve essa função é dada por:
0,30 x ; x < 100
y(x) = 0,70 (x − 100) + 30 ; 100 ≤ x < 200
1,30 (x − 200) + 100 ; x ≥ 200
O estudante interessado irá facilmente vericar que essa expressão produz os mesmos resultados que a apli-
cação da tabela. Sugere-se que o estudante tente compreender porquê as duas coisas são equivalentes (o
raciocínio não é difícil, e requer apenas conhecimentos referentes ao ensino médio).
Chama-se a atenção para que cada uma das três expressões que compõem a descrição de y(x) corresponde
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 77
y =a·x+b
Cada equação de reta vale em um intervalo da variável x. Agora, podemos notar que a taxa de variação de
y em relação a x assume três valores diferentes. Esses valores são mostrados na tabela a seguir.
Essas taxas de variação correspondem às inclinações das três retas que compõem o gráco de y(x), ou seja,
correspondem às constantes que multiplicam a variável x nas equações das retas. Na equação da reta, essas
constantes correspondem ao parâmetro a, que representa a inclinação da reta. ♦
O exemplo 3.4 apresenta outra situação em que a taxa de variação de uma grandeza varia.
Exemplo 3.4 Um veículo se move a uma velocidade constante de 60 quilômetros por hora. Às 10 horas da
manhã, esse veículo estava passando exatamente pela placa que indica o quilômetro 120"em uma rodovia.
Às 12 horas, o veículo entra em um trecho da estrada em que a velocidade máxima é de 40 quilômetros por
hora; o motorista então reduz imediatamente a velocidade para esse valor máximo permitido. Às 14 horas, o
veículo chega nalmente a um trecho da estrada no qual é permitida a velocidade máxima de 100 quilômetros
por hora, e o motorista imediatamente coloca o veículo nessa velocidade máxima permitida.
A expressão que indica a posição do carro, y , como função do tempo t, é dada por:
60t − 480 ; t < 12
y(t) = 40t − 240 ; 12 < t < 14
100t − 1080 ; t > 14
A gura 3.4 mostra o gráco da função y(t). É fácil vericar que essa formulação para y(t), construída
com três expressões diferentes, atende ao enunciado acima. Note-se que quando t = 12 tanto a primeira
expressão quanto a segunda expressão indicam que y(12) = 240 (o que é coerente com o enunciado que diz
que às 10 h o veículo estava na posição 120, e durante as duas horas seguintes se manteve à velocidade de
60 km/h, chegando à posição 240 duas horas depois). Quando t = 14, tanto a segunda expressão quanto
a terceira indicam y(14) = 320, o que também é coerente com o enunciado. Fazemos uma pergunta para o
leitor interessado: como se fazem as contas para determinar os valores de −480, −240 e −1080 que aparecem
nas três expressões?
É fácil perceber que as três expressões que representam a função y(t) em diferentes intervalos da variável
t têm a forma da equação de uma reta:
y =a·t+b
As taxas de variação de y em relação a t em cada intervalo, que correspondem à inclinação a da reta
correspondente ao intervalo, são mostradas na tabela abaixo:
Novamente, é fácil perceber que essas taxas de variação correspondem aos valores que o parâmetro a,
que representa a inclinação da reta, assume em cada intervalo. ♦
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 78
500
400
300
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0
10 11 12 13 14 15 16
Taxa de variação: A taxa de variação de uma função y em relação à variável x representa o quão
rapidamente o valor de y varia quando o valor de x é variado.
Nós já vimos que o valor numérico que representa a taxa de variação de uma função y em relação
à variável x, quando a relação entre y e x é descrita pela equação de uma reta (y = a · x + b) é o
parâmetro a da equação da reta, também chamado de inclinação dessa reta. Fazemos as seguintes
perguntas para o leitor:
1. Por que o parâmetro a dessa equação signica um valor que indica o quão rápido y varia
quando x varia?
250
200
150
100
50
1 ta 2 tb 3 tc 4 5
Figura 3.5: Posição do veículo, y , em quilômetros, como função do tempo t. A velocidade do veículo
vai aumentando do início até o instante ta . Entre os instantes ta e tb o veículo vai diminuindo sua
velocidade. Entre os instantes tb e tc a velocidade novamente vai aumentando. Por m, depois de
tc a velocidade vai diminuindo.
em movimento em uma estrada vá mudando de instante para instante: às vezes o motorista acelera,
às vezes ele tem de freiar, e isso irá ocorrer todo o tempo ao longo de um trajeto de várias horas de
duração.
Uma situação como essa é ilustrada na gura 3.5. Essa gura ilustra o gráco da distância y
percorrida por um veículo como função do tempo t, sendo que a velocidade do veículo vai mudando
continuamente ao longo do tempo. Do início do trajeto até o instante ta , nota-se que a velocidade
do veículo vai aumentando. Isso pode ser constatado de maneira clara se notarmos que o gráco
tem linhas de grade que servem de referência para analisarmos o que acontece. Nesse intervalo, a
cada vez que o tempo avança uma subdivisão (ou seja, um aumento constante em t), temos que
a variável y sempre cresce mais do que havia crescido na subdivisão anterior. Ou seja, a taxa de
variação de y em relação a t está aumentando à medida em que t aumenta no intervalo 0 < t < ta .
Observando agora o intervalo ta < t < tb , podemos notar que a cada vez que avançamos uma
subdivisão das linhas de grade do gráco, a variável y cresce um pouco menos do que havia crescido
na subdivisão anterior. Isso signica que nesse intervalo a taxa de variação de y em relação a t
está diminuindo, à medida em que t aumenta. O mesmo tipo de análise irá levar à conclusão de
que a taxa de variação de y em relação a t vai aumentando à medida em que t cresce no intervalo
tb < t < tc , e vai diminuindo à medida em que t cresce no intervalo t > tc .
Até agora, enquanto falamos apenas de retas ou de funções cuja composição seria formada por
várias retas, denir a taxa de variação da função como sendo a inclinação da reta pareceu bastante
adequado. Mas funções em geral podem ter grácos curvos: como fazer nesse caso? Um dos grandes
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 80
250
200
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100
50
1 2 3 4 5
Figura 3.6: Gráco da função y(t), superposto ao gráco de uma função ŷ(t) que aproxima y(t) por
intervalos, com uma aproximação linear em cada intervalo.
saltos conceituais da Matemática, obtido simultaneamente por Newton e por Leibniz no nal do
século XVII, foi precisamente a descoberta de uma resposta para essa pergunta. Essa resposta
encontra-se na origem da invenção do Cálculo Diferencial e Integral.
Vamos aqui apresentar essa ideia por meio de aproximações sucessivas. Vamos olhar, na gura
3.6, para o mesmo gráco já exibido na gura 3.5. Agora, nós olhamos para o valor da função y(t)
quando a variável t assume os valores 0, 1, 2, 3, 4 e 5. Marcamos esses pontos no gráco, e traçamos
trechos de retas que ligam esses pontos.
Deve car claro que cada uma dessas retas será representada por uma equação do tipo:
ŷ = a · t + b
sendo que cada reta terá seus próprios parâmetros a e b. Utilizamos a notação ŷ(t) para representar
a função representada por cada um desses trechos de retas, assim distinguindo essa função da função
original que era representada por y(t). A taxa de variação de cada uma das retas, que corresponde
à sua inclinação, será dada pelo parâmetro a de cada reta. O aspecto importante a ser observado
nessa gura é que o valor da taxa de variação da função y(t), observada instante a instante (também
chamada taxa de variação instantânea), em cada intervalo, pode ser aproximado pelo valor da taxa
de variação de ŷ(t) nesse intervalo. É claro que essa aproximação causa um certo erro, mas os
valores de taxas de variação assim obtidos já servem para dar uma ideia de quão rápido a função
y(t) está variando em cada intervalo, conforme mostrado na tabela abaixo:
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 81
250
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1 2 3 4 5
Figura 3.7: Gráco da função y(t), superposto ao gráco de uma função ŷ(t) que aproxima y(t) por
intervalos, com uma aproximação linear em cada intervalo.
Prosseguindo, vamos agora olhar na gura 3.7 um gráco com a mesma função y(t) anterior,
novamente superposto ao gráco de uma função ŷ(t) constituída por várias retas, traçadas de
maneira a passarem por pontos do gráco de y(t). Há, desta vez, muito mais intervalos, obtidos
quando os valores de t são iguais a 0, 0,2, 0,4, . . ., 5.
A gura 3.7 torna visível que as retas que fazem parte de ŷ(t) começam a car bastante próxi-
mas da função y(t), nos respectivos intervalos. Desta forma, as inclinações destas retas passam a
aproximar, com muito menor erro que no caso anterior, as taxas de variação instantâneas da função
y(t) em relação a t dentro de cada intervalo.
O leitor agora é convidado a utilizar a imaginação:
Pense que cada sub-intervalo mostrado na gura 3.7 poderia ser dividido em intervalos ainda
menores.
Se se zesse essa nova subdivisão, as retas que passariam a compor o gráco de ŷ(t) cariam
ainda mais próximas da função y(t).
Continuaria sendo possível subdividir novamente cada intervalo, assim sendo obtidos intervalos
ainda menores, nos quais a aproximação seria ainda melhor. A cada subdivisão, a inclinação
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 82
O ponto-chave que é uma das ideias decisivas para a invenção do Cálculo Diferencial e Integral é:
Imagine que esse processo de subdivisão dos intervalos seja realizado innitas vezes, de forma
que o tamanho de cada intervalo resultante se aproxime de zero.
Esse processo de diminuição sucessiva do tamanho dos intervalos é mostrado na gura 3.8. Nessa
gura apenas um intervalo é mostrado, de maneira a ilustrar o que acontece com a reta que corta o
gráco da função nos extremos desse intervalo. Na parte superior da gura 3.8, são mostrados três
quadros mostrando o gráco de uma função y(t), nos quais é considerado um intervalo dado por:
t0 < t < t0 + δ
sendo que o valor do comprimento do intervalo, δ , é reduzido de quadro para quadro. Nota-se que a
reta que corta o gráco da função nos extremos do intervalo vai cando mais próxima do gráco da
função, à medida em que o intervalo diminui. Essa reta vai pouco a pouco se acomodando em uma
posição nal que será nalmente atingida quando a redução do intervalo for feita innitas vezes, ou
seja, quando o comprimento δ tender a zero.
Na verdade, utilizamos agora aquele conceito discutido no capítulo anterior, os limites:
Vamos estudar a situação em que o tamanho do intervalo considerado tende a zero, ou seja:
δ → 0.
Como consequência, esse intervalo considerado, dado por t0 < t < t0 + δ , tende a coincidir
com um único ponto, o ponto t0 .
A reta que cortava o gráco da função nos extremos do intervalo obedece a uma equação da
reta:y = a · x + b. No limite em que δ → 0, essa reta se torna a reta tangente ao gráco da
função no ponto t0 , e a sua inclinação (dada pelo parâmetro a da equação da reta) tende a
um valor muito bem denido. Esse valor é a taxa de variação instantânea da função y(t) no
ponto t0 .
O quadro inferior da gura 3.8 mostra o gráco da função y(t) e a reta tangente ao gráco no
ponto t = t0 . Essa reta tangente surge como resultado do processo de se tomar o limite quando o
comprimento do intervalo, δ, tende a zero.
3.2 Derivada
Estamos nalmente em posição para denir um dos conceitos centrais do Cálculo Diferencial e
Integral: a derivada.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 83
2 2 2
1 1 1
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
t0 t0 + δ t0 t0
1.5
0.5
1 2 3 4 5
t0
Figura 3.8: Alto: Gráco da função y(t) e da reta que corta o gráco nos extremos do intervalo
t0 < t < t0 + δ . Os três subgrácos mostram etapas sucessivas do processo de diminuição do
comprimento do intervalo, δ, que vai se aproximando de zero. Baixo: gráco da função y(t) e da
reta tangente ao gráco no ponto t = t0 .
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 84
Denição 3.1 (Derivada) A derivada de uma função f (x) em um ponto x0 , indicada por f 0 (x0 ),
é igual à taxa de variação instantânea de f (x) em relação a x no ponto x0 , dada por:
f (x0 + δ) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim (3.1)
δ→0 δ
Como consequência da discussão feita anteriormente, sabemos ainda que a derivada de uma
função f (x) em um ponto x0 também é igual à inclinação da reta tangente ao gráco de f (x) no
ponto x0 .
Há três tipos de notação que são utilizados para representar a derivada:
df d2 f
Leibniz f (x)
dx d x2
df
dx
sendo os termos df e dx respectivamente conhecidos como os diferenciais de f e de x, os quais
podem ser intuitivamente entendidos como se fossem respectivamente os limites de ∆f e de ∆x.
Embora pareça mais complicada, a notação de Leibniz é empregada muito frequentemente hoje
em dia. Ela tem a vantagem de permitir a manipulação simbólica dos diferenciais, o que é impor-
tante para a análise de expressões mais complexas, envolvendo derivadas e integrais. No contexto
destas Notas de Aula, tais expressões mais complexas não serão abordadas. No entanto, também
utilizaremos essa notação ao longo deste texto, juntamente com a notação simplicada, para fa-
miliarizar o leitor com ambas as notações o que é importante para permitir a leitura de textos
contendo expressões matemáticas.
f (x + δ) − f (x)
f 0 (x) = lim (3.2)
δ→0 δ
A diferença da expressão (3.2) em relação à expressão (3.1) é que agora a operação de cálculo do
limite é feita para cada ponto x. Assim, é de se esperar que, se conhecermos a expressão da função
f (x), deva ser possível obter a expressão da função f 0 (x) que retorna, para cada valor dex, o valor
da taxa de variação instantânea de f (x), ou seja, a expressão da função derivada de f (x). Isso
normalmente é verdade. Para exemplicar isso, vamos calcular a derivada de uma função bastante
simples:
f (x) = x2
Utilizamos, para fazer o cálculo, a denição de derivada dada pela expressão (3.2):
f (x + δ) − f (x) (x + δ)2 − x2
f 0 (x) = lim = lim
δ→0 δ δ→0 δ
Desenvolvendo a expressão entre parêntesis obtemos:
x2 + 2xδ + δ 2 − x2 2xδ + δ 2
f 0 (x) = lim = lim
δ→0 δ δ→0 δ
Colocamos em evidência δ, e fazemos a simplicação da fração:
(2x + δ)δ
f 0 (x) = lim = lim (2x + δ)
δ→0 δ δ→0
Por m obtemos:
f 0 (x) = lim 2x + lim δ = 2x
δ→0 δ→0
Com isso, mostramos que a derivada de f (x) = x2 é dada por f 0 (x) = 2x.
No entanto, calcular a derivada a partir da denição de derivada, dada pela expressão (3.2),
pode ser um processo difícil e demorado quando estiverem em questão funções mais complicadas.
Por esse motivo, o cálculo de derivadas normalmente é feito utilizando uma outra estratégia, que é
basicamente a seguinte:
Nós já sabemos que a maioria das funções que surgem quando procuramos descrever fenôme-
nos do mundo real podem ser construídas utilizando as chamadas funções elementares, que
foram apresentadas no primeiro capítulo destas Notas de Aula: as funções polinomiais, as fun-
ções potência, as funções exponenciais, as funções trigonométricas seno e cosseno, as funções
logarítmicas.
Então, a estratégia para determinação das derivadas de funções em geral envolve primeiro
conhecer as derivadas dessas funções elementares. Isso é feito na seção 3.3.
A seguir, é preciso saber como utilizar o conhecimento das derivadas de funções elementares
no processo de descobrir a derivada de uma função mais complicada, que tenha sido mon-
tada a partir de funções elementares. Para isso, é preciso entender o que acontece quando
1
funções elementares são: somadas, multiplicadas, divididas, ou compostas . Essa discussão é
apresentada na seção 3.4.
1
Dizemos que a função composta das funções f (x) e g(x) é a função f (g(x)).
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 86
O cálculo da derivada de uma função complicada, construída a partir das funções elementares,
é feito utilizando as expressões das derivadas das funções elementares e das regras que explicam
como a derivada se comporta sob soma, multiplicação, divisão e composição de funções.
Esse procedimento corresponde àquilo que normalmente fazemos quando estamos diante da
tarefa de encontrar a derivada de uma função. As seções 3.3 e 3.4 a seguir são dedicadas a mostrar
como se faz esse procedimento.
f 00 (x) = [f 0 (x)]0
df
f (x)
dx
c 0
xn nxn−1
xa axa−1
ex ex
1
ln(x)
x
sen(x) cos(x)
cos(x) − sen(x)
f 0 (x) = 0
O gráco da função constante f (x) = 1 é mostrado na gura 3.9. A mesma gura mostra também o
gráco da derivada dessa função, sendo f 0 (x) = 0. Conforme a discussão já realizada anteriormente,
notamos que:
A derivada representa a taxa de variação da função. Como a função constante, f (x) = c, não
varia, sua taxa de variação é igual a zero, o que está de acordo com a expressão f 0 (x) = 0.
A derivada de uma função também pode ser interpretada como a inclinação da reta tangente
ao gráco de uma função. A função f (x) = c tem um gráco que corresponde a uma reta
horizontal. A reta tangente a uma reta é a própria reta. Como a inclinação de uma reta
horizontal é igual a zero (ou seja, o coeciente a da expressão y = ax + b é igual a zero), então
a derivada da função f (x) = c é dada pela
0
função f (x) = 0.
3.3.2 Função xn
Examinamos agora o caso da função
f (x) = xn
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 88
1.5
f(0 x) = 1
f (x) = 0
0.5
-3 -2 -1 1 2 3
-0.5
Figura 3.9: Gráco da função f (x) = 1, superposto ao gráco de sua derivada f 0 (x) = 0.
sendo n um número inteiro positivo. Para esta função, a tabela 3.1 indica que a sua função derivada
é dada por:
f 0 (x) = nxn−1
ou seja, o procedimento para determinação da derivada desta função pode ser enunciado da seguinte
forma:
n f (x) f 0 (x)
1 x1 = x 1x1−1 = 1x0 = 1
2 x2 2x2−1 = 2x
3 x3 3x3−1 = 3x2
4 x4 4x4−1 = 4x3
É interessante examinar como os grácos dessas funções se relacionam com os grácos de suas
respectivas derivadas. A gura 3.10 mostra o gráco da função f (x) = x3 superposto ao gráco
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 89
f(x) = x 3
f 0 (x) = 3x 2
100
50
-4 -2 2 4
-50
-100
Figura 3.10: Gráco da função f (x) = x3 , superposto ao gráco de sua derivada f 0 (x) = 3x2 .
de sua derivada f 0 (x) = 3x2 . É importante que o leitor examine essa gura em busca das relações
existentes entre os grácos de f (x) e de f 0 (x). Algumas relações a serem observadas são:
A reta tangente ao gráco da função f (x) = x3 é (quase) sempre inclinada para cima (ou
seja, a reta tangente sempre cresce da esquerda para a direita do gráco). Isso signica que
a inclinação da reta tangente é (quase) sempre positiva, ou ainda que a derivada de f (x) é
(quase) sempre positiva.
De fato, se olharmos para o gráco de f 0 (x), veremos que para quase todo valor de x temos
0
que f (x) > 0. Existe um único ponto em que ocorre uma exceção: quando x = 0, a expressão
f (x) = 3x2 ca f 0 (0) = 0. Isso signica que a reta tangente ao gráco de f (x) no ponto x = 0
0
Quando olhamos para o gráco de f (x) na região em que x < 0, vemos que a inclinação da
reta tangente vai diminuindo à medida em que x se aproxima de zero. Essa observação está
de acordo com o gráco de f 0 (x), que indica que o valor de f 0 (x), mesmo sendo positivo, vai
diminuindo à medida em que x se aproxima de zero quando x < 0.
Já quando olhamos para o gráco de f (x) na região em que x > 0, vemos que a inclinação
da reta tangente vai aumentando à medida em que x cresce. Essa observação também está de
acordo com o gráco de f 0 (x), que indica que o valor de f 0 (x) vai crescendo à medida em que
x cresce, quando x > 0.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 90
3.3.3 Função xa
Consideremos agora a função:
f (x) = xa
sendo que desta vez a constante a que aparece no expoente de x é um número real qualquer. A
tabela 3.1 indica que a regra de cálculo da derivada f 0 (x), neste caso, é muito parecida com a regra
de cálculo anteriormente examinada:
f 0 (x) = axa−1
O procedimento de determinação da derivada, neste caso, é idêntico ao anterior:
Alguns exemplos de aplicação desta regra, para diferentes valores não inteiros do expoente a, são
mostrados a seguir:
a f (x) f 0 (x)
1 2
−2 x−2 = −2x−2−1 = −2x−3 = −
x2 x3
1 1
−1 x−1 = −1x−1−1 = −x−2 =− 2
x x
1 1 1 1 1 1 1 3 1 1
− x− 2 = 1=√ − x− 2 −1 = − x− 2 = − 3 = − √
2 x2 x 2 2 2x 2 2 x3
1 1 1 1 1 1 1 4 1 1
− x− 3 = 1= √
3
− x− 3 −1 = − x− 3 = − 4 = − √
3
3 x3 x 3 3 3x 3 3 x4
1 1 √ 1 1 −1 1 − 1 1
x2 = x x2 = x 2 = √
2 2 2 2 x
1 1 √ 1 1 −1 1 − 2 1 1
x3 = 3
x x3 = x 3 = 2 = √
3
3 3 3 3x 3 3 x2
4 4 √
3 4 4 −1 4 1 4√
x3 = x4 x3 = x3 = 3 x
3 3 3 3
π xπ πxπ−1
É claro que, para valores inteiros do expoentea, a regra para cálculo da derivada de xa é a mesma
n
coisa que a regra para cálculo da derivada de x .
1
A gura 3.11 mostra o gráco da função f (x) = x 3 superposto ao gráco de sua derivada
2
f 0 (x) = 13 x− 3 .
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 91
f(x) = x 1/3
f 0 (x) = (1/3)x −2/3
4
1 2
Figura 3.11: Gráco da função f (x) = x 3 , superposto ao gráco de sua derivada f 0 (x) = 31 x− 3 .
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 92
3
f(x) = f 0 (x) = e x
y=x
-4 -3 -2 -1 1 2
-1
Figura 3.12: Gráco da função f (x) = ex . A derivada dessa função é ela própria: f 0 (x) = ex .
Também é mostrada a reta tangente ao gráco de f (x) em x = 0.
f (x) = ex
Esta função é bastante peculiar: é a única função cuja derivada é a própria função. Isso signica
que:
f 0 (x) = ex
A gura 3.12 mostra o gráco da função f (x) = ex superposto ao gráco da reta tangenge à curva de
ex em x = 0. Deve-se notar que f (0) = e0 = 1, ou seja, a tangência ocorre no ponto de coordenadas
(0, 1). O leitor é convidado a acompanhar o gráco de f (x) = ex , vericando de maneira qualitativa
que o valor de f (x) para cada x corresponde ao valor da inclinação do gráco de f (x). Em particular,
x
a reta tangente ao gráco de e em x = 0, mostrada na gura 3.12, é a reta de equação:
y =x+1
Como seria de esperar, a inclinação dessa reta é igual a 1, o que corresponde ao valor de f (0). Ou
seja, de fato verica-se nesse ponto que o valor da função é igual ao valor de sua derivada, f 0 (0) = 1
(que é o mesmo que o valor da inclinação da reta tangente no ponto). Tomando esse ponto como
referência, é fácil vericar que quando tomamos valores de x menores que 0, o valor de ex diminui,
e é fácil visualizar que o valor da inclinação da reta tangente também diminui. À medida em que
tomamos valores de x cada vez maiores, o valor de ex vai crescendo, assim como a inclinação da
reta tangente.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 93
8
f(0 x) = log(x)
f (x) = 1/x
-2
-4
Figura 3.13: Gráco da função f (x) = ln(x), superposto ao gráco de sua derivada, a função
f 0 (x) = 1
x.
1
f 0 (x) =
x
A gura 3.13 mostra o gráco da função f (x) = ln(x) superposto ao gráco de sua derivada,
f 0 (x) = 1
x.
f (x) = sen(x)
f 0 (x) = cos(x)
A gura 3.14 mostra o gráco da função f (x) = sen(x) superposto ao gráco de sua derivada,
f 0 (x) = cos(x). O leitor é convidado a observar que o gráco de f 0 (x) descreve precisamente a
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 94
1.5
f(0 x) = sen(x)
f (x) = cos(x)
tangentes
1
0.5
-1 1 2 3 4 5 6
-0.5
-1
-1.5
Figura 3.14: Gráco da função f (x) = sen(x), superposto ao gráco de sua derivada, a função
f 0 (x)
= cos(x). São também mostradas as retas tangentes ao gráco de sen(x) para x = 0, x = π
2,
x = π e x = 3π
2 .
f (x) = cos(x)
f 0 (x) = − sen(x)
A gura 3.15 mostra o gráco da função f (x) = cos(x) superposto ao gráco de sua derivada,
f 0 (x) = − sen(x). O leitor é convidado a observar que o gráco de f 0 (x) descreve precisamente a
3π
inclinação da reta tangente ao gráco da função f (x), que é máxima em x = 2 , é mínima em
π
x= 2 , e é nula em x = 0, x = π e x = 2π , pontos nos quais a reta tangente ao gráco da função
cosseno é horizontal.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 95
1.5
f(0 x) = cos(x)
f (x) = − sen(x)
tangentes
1
0.5
-1 1 2 3 4 5 6
-0.5
-1
-1.5
Figura 3.15: Gráco da função f (x) = cos(x), superposto ao gráco de sua derivada, a função
f 0 (x) = − sen(x). Também são mostradas as retas tangentes ao gráco de cos(x) nos pontos x = 0,
π
x= 2, x = π e x = 3π
2 .
Essas propriedades podem ser enunciadas verbalmente como: a derivada da soma (ou subtração)
de duas funções é igual à soma (ou subtração) das derivadas dessas funções , e a derivada da
multiplicação de uma função por uma constante é igual à multiplicação da derivada dessa função
pela mesma constante .
Como exemplo da utilização da regra da soma, consideremos a função:
f (x) = x2 + x
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 96
operação resultado
0
f 0 (x) g(x) − f (x) g 0 (x)
f (x)
divisão de funções
g(x) (g(x))2
0
x2 = 2x [x]0 = 1. f 0 (x)
Nós já vimos que e que Obtemos então aplicando a regra da soma:
0
f 0 (x) = x2 + [x]0 = 2x + 1
f (x) = x2 − x
As derivadas de cada termo são as mesmas que no caso anterior. Obtemos então f 0 (x) aplicando a
regra da subtração:
0
f 0 (x) = x2 − [x]0 = 2x − 1
Por m, para exemplicar a utilização da regra do produto por uma constante, iremos considerar:
f (x) = 5x2
0 0
f 0 (x) = 5x2 = 5 x2 = 5(2x) = 10x
Utilizando essas propriedades e mais as derivadas da função constante e da função xn , que são
mostradas na tabela 3.1, é possível calcular a derivada de qualquer função polinomial.
Exemplo 3.5 Para exemplicar o cálculo da derivada de funções polinomiais, consideremos a seguinte
função:
f (x) = 5x7 + 3x4 − 10x3 + x2 − 7x + 14
Queremos calcular f 0 (x). Utilizando a regra que diz que a derivada de uma constante é sempre nula obtemos:
0
[14] = 0
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 97
0
A regra da derivada de xn nos diz que [xn ] = n xn−1 . Utilizando essa regra obtemos:
0 4 0 3 0 2 0 0
x7 = 7x6 x = 4x3 x = 3x2 x = 2x [x] = 1
Agora utilizamos as regras da soma, da subtração e do produto por constante para chegar ao resultado
desejado:
0
f 0 (x) = 5x7 + 3x4 − 10x3 + x2 − 7x + 14
0 0 0 0 0 0
= 5 x7 + 3 x4 − 10 x3 + x2 − 7 [x] + [14]
= 5(7x6 ) + 3(4x3 ) − 10(3x2 ) + (2x) − 7(1) + 0
= 35x6 + 12x3 − 30x2 + 2x − 7
♦
Exemplo 3.6 Evidentemente, as regras da soma, subtração e produto por constante se aplicam a outros
tipos de funções, além de polinômios. Por exemplo, consideremos a função:
1 √
f (x) = 5 sen(x) − ex − 3 x − 5
2
As regras de cálculo de derivadas de funções elementares indicadas na tabela 3.1, nos permitem fazer os
seguintes cálculos:
√ 0 1
[ sen(x)] = cos(x)
0 0 0
[ex ] = ex x = √ [5] = 0
2 x
Calculamos então a derivada de f (x) utilizando as regras da soma, subtração e produto por constante:
1 x0 √ 0
f 0 (x) = 5 [ sen(x)] −
0 0
[e ] − 3 x − [5]
2
1 1
= 5(cos(x)) − (ex ) − 3 √ − (0)
2 2 x
Obtemos nalmente:
ex 3
f 0 (x) = 5 cos(x) − − √
2 2 x
♦
Essa regra pode ser enunciada verbalmente como: a derivada do produto de duas funções é igual
à derivada da primeira função vezes a segunda função mais a primeira função vezes a derivada da
segunda função .
Um exemplo simples de aplicação dessa regra pode ser visto com o cálculo da derivada da
seguinte função:
h(x) = x2 sen(x)
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 98
A função h(x) pode ser vista como um produto de duas funções elementares, f (x) = x2 e g(x) =
sen(x):
h(x) = f (x) g(x)
Então, pela regra do produto:
h0 (x) = f 0 (x)g(x) + f (x)g 0 (x)
Pelas regras de cálculo das derivadas de funções elementares temos que:
0
f 0 (x) = x2 = 2x
g 0 (x) = [ sen(x)]0 = cos(x)
Finalmente obtemos:
h0 (x) = 2x sen(x) + x2 cos(x)
0
f 0 (x) g(x) − f (x) g 0 (x)
f (x)
=
g(x) (g(x))2
Essa regra pode ser enunciada verbalmente como: a derivada da divisão de duas funções é igual
à derivada da função do numerador vezes a função do denominador menos a função do numera-
dor vezes a derivada da função do denominador, tudo isso dividido pelo quadrado da função do
denominador .
Um exemplo simples de aplicação dessa regra pode ser visto com o cálculo da derivada da
seguinte função:
x2
h(x) =
sen(x)
A função h(x) pode ser vista como a divisão de duas funções elementares, f (x) = x2 e g(x) = sen(x):
f (x)
h(x) =
g(x)
0
f 0 (x) = x2 = 2x
g 0 (x) = [ sen(x)]0 = cos(x)
Finalmente obtemos:
2x sen(x) − x2 cos(x)
h0 (x) =
( sen(x))2
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 99
g(f (x))
Para exemplicar, vamos considerar f (x) = x2 e g(x) = sen(x). Para obter essa função composta
f (g(x)), nós tomamos a função f (x) e substituímos cada ocorrência da variável x nessa função pela
expressão de g(x). No caso desta função que estamos tratando, x só ocorre uma vez, elevado ao
quadrado. Em lugar desse x, vamos colocar a expressão de g(x), que é sen(x). A função composta
f (g(x)) ca então:
f (g(x)) = ( sen(x))2
Já no caso da função composta g(f (x)), temos de pegar a expressão da função g(x) e substituir
cada ocorrência da variável x nessa expressão pela expressão de f (x). Obtemos então:
2
g(f (x)) = sen(x )
A regra para o cálculo da derivada de uma função composta f (g(x)) é dada por:
Essa regra pode ser enunciada verbalmente da seguinte forma: a derivada da função f composta
com a função g é igual à composta da derivada de f
0
(ou seja, f ) com a função
g vezes a derivada
da função g (ou seja, g 0 ) . Essa regra é conhecida pelo nome de regra da cadeia. Os exemplos a
seguir ilustram a aplicação dessa regra.
g(x) = sen(x)
(a) Calcular a derivada da função composta f (g(x)) = ( sen(x))2 .
0
g 0 (x) = [ sen(x)] = cos(x)
0
f 0 (x) = x2 = 2x
0
[f (g(x))] = ( sen(x))2 = f 0 (g(x)) g 0 (x)
0
0
Nesse ponto, aparece uma situação em que temos de determinar a composta da derivada de f (x) com a
0 0
função g(x), para obter a expressão de f (g(x)). Já sabemos que f (x) = 2x. A expressão de f 0 (g(x)) é
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 100
obtida então substituindo cada ocorrência da variável x na expressão de f 0 (x) pela expressão de g(x). Com
isso, obtemos:
f 0 (g(x)) = 2g(x) = 2 sen(x)
0
Lembrando que já sabemos que g 0 (x) = cos(x), nós estamos nalmente em posição de calcular [f (g(x))] , que
ca:
[f (g(x))] = f 0 (g(x)) g 0 (x) = 2 sen(x) cos(x)
0
g(x) = x2 + 2x + cos(x)
Inicialmente vamos determinar a expressão da função composta f (g(x)). Para fazer isso, substituímos a
variável x em f (x) pela expressão da função g(x), assim obtendo:
p
f (g(x)) = x2 + 2x + cos(x)
0
[f (g(x))] = f 0 (g(x)) g 0 (x)
Pelas regras de derivação de funções elementares, sabemos que a expressão de f 0 (x) é dada por:
√ 0 1
f 0 (x) = x = √
2 x
A função g(x) é uma soma de funções elementares, de forma que podemos rapidamente calcular g 0 (x):
0
g 0 (x) = x2 + 2 [x] + [cos(x)] = 2x + 2 − sen(x)
0 0
Nesse ponto, aparece uma situação em que temos de determinar a composta da derivada de f 0 (x) com a
0
função g(x), para obter a expressão de f (g(x)). Já sabemos que
1
f 0 (x) = √
2 x
A expressão de f 0 (g(x)) é obtida então substituindo cada ocorrência da variável x na expressão de f 0 (x) pela
expressão de g(x). Com isso, obtemos:
1 1
f 0 (g(x)) = p = p
2 g(x) 2 x2 + 2x + cos(x)
Lembrando que já sabemos que g 0 (x) = 2x + 2 − sen(x), nós estamos nalmente em posição de calcular
0
[f (g(x))] , que ca:
hp i0 1
(2x + 2 − sen(x))
0
[f (g(x))] = x2 + 2x + cos(x) = f 0 (g(x)) g 0 (x) = p
2
2 x + 2x + cos(x)
Inicialmente, vamos determinar a expressão da função composta g(f (x)). Desta vez, há três ocorrências da
variável x dentro da expressão de g(x). Devemos substituir cada uma das ocorrências de x em g(x) pela
expressão de f (x), o que leva a:
√ √ √ √ √
g(f (x)) = ( x)2 + 2 x + cos( x) = x + 2 x + cos( x)
0 √ √ 0
[g(f (x))] = x + 2 x + cos( x)
Nesse caso, observamos que a expressão da função a ser derivada é uma soma de termos, de forma que a
regra da soma se aplica:
0 0 √ 0 √ 0
[g(f (x))] = [x] + 2 x + cos( x)
As derivadas dos dois primeiros termos correspondem a derivadas de funções elementares:
0 √ 0 1
[x] = 1 x = √
2 x
0
Assim, a expressão de [g(f (x))] ca:
0 √ √ 0 1 √ 0
[g(f (x))] = x + 2 x + cos( x) = 1 + √ + cos( x)
x
Podemos ver que o último termo, cuja derivada falta determinar, é formado pela composição de duas funções:
√
h(x) = cos(x) e p(x) = x, sendo o termo dado por:
√
cos( x) = h(p(x))
√ 0 0
Temos de calcular [cos( x)] = [h(p(x))] . Aplicamos a regra da cadeia:
0 √ 0
[h(p(x))] = cos( x) = h0 (p(x)) p0 (x)
Precisamos então determinar h0 (x) e p0 (x). Como essas são funções elementares, obtemos diretamente:
√ 0 1
h0 (x) = [cos(x)] = − sen(x)
0
p0 (x) = x = √
2 x
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 102
0
Para encontrar a expressão de [h(p(x))] , temos de determinar a função composta h0 (p(x)):
√
h0 (p(x)) = − sen(p(x)) = − sen( x)
0
Estamos agora em posição de encontrar a expressão de [h(p(x))] :
√ 1
[h(p(x))] = h0 (p(x)) p0 (x) = − sen( x) √
0
2 x
0
Falta agora apenas voltar na expressão de [g(f (x))] que já tínhamos encontrado:
0 1 √ 0
[g(f (x))] = 1 + √ + cos( x)
x
Faltava apenas determinar a derivada do último termo, o que acabamos de fazer. A expressão nal ca
então:
1 √ 1
[g(f (x))] = 1 + √ − sen( x) √
0
x 2 x
♦
1. Primeiro, tentamos responder à pergunta: a função f (x) pode ser interpretada como sendo
p(q(x)), sendo p(x) e q(x) duas funções mais simples? Tomaremos como exemplos as funções
mostradas na tabela abaixo.
p
sen(x) ? ?
cos(x2 ) ? ?
(cos(x))2 ? ?
O estudante deve estar atento para o fato de que, nesta tabela, estamos chamando de p(x) a
função de fora, e estamos chamando de q(x) a função de dentro
f (x) = p(q(x)),
da expressão
ou seja, a expressão de f (x) é obtida quando tomamos cada ocorrência da variável x na
expressão de p(x) e substituímos essa variável pela expressão completa de q(x).
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 103
2. Se a resposta à pergunta for "sim", temos de determinar quem são essas funções p(x) e q(x). Se
for "não", a regra da cadeia não se aplica à derivação de f (x). Em todos os casos apresentados
na tabela anterior, a resposta será "sim", ou seja, a função f (x) pode sim ser interpretada
como a composição de duas funções elementares. A primeira tarefa do estudante é então
determinar p(x) e q(x). No caso dos exemplos apresentados na tabela anterior, os resultados
desta etapa são mostrados na tabela abaixo.
cos(x2 ) cos(x) x2
(cos(x))2 x2 cos(x)
É fácil perceber que se substituímos a variável x na expressão da função p(x) pela expressão
da função q(x), obtemos a função f (x) em todos os casos listados na tabela.
3. Agora sabendo quais são as funções p(x) e q(x) que se compõem para formar a função f (x) =
p(q(x)), o próximo passo é calcular as expressões das derivadas de p(x) e de q(x). O resultado
desta etapa é mostrado na tabela abaixo.
4. Por m, aplicamos a regra da cadeia: f 0 (x) = p0 (q(x)) · q 0 (x). Concluindo o exemplo apresen-
tado nas tabelas anteriores, o resultado desta etapa é mostrado na tabela abaixo:
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 104
Os resultados da derivada da função mostrada na primeira coluna desta tabela são as expres-
sões mostradas na última coluna da tabela.
Esse roteiro pode ser sintetizado como um problema de preencher a seguinte tabela:
1. Começa-se preenchendo a primeira coluna: qual é a expressão da função que se deseja derivar,
f (x)? Essa informação é colocada no campo indicado por (1).
3. Calculam-se então as expressões das derivadas de p(x) e de q(x). Essas informações são
colocadas nos campos indicados por (3).
4. Por m, obtém-se a expressão de f 0 (x) aplicando-se a fórmula f 0 (x) = p0 (q(x)) · q 0 (x), o que
é feito utilizando as informações anteriormente levantadas. A expressão nalmente obtida é
colocada no campo (4), que assim irá conter a resposta à questão que se queria responder.
Resolução:
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 105
A função f (x) claramente não é uma função elementar. Colocamos a sua expressão no primeiro campo
da tabela:
1
p(x) =
x
e
q(x) = sen(x)
Claramente, a função f (x) é obtida como a composição de p(x) com q(x), sendo p(x) a função de fora
nessa composição, e q(x) a função de dentro:
1
p(q(x)) =
sen(x)
Temos que f (x) = p(q(x)). Também é fácil vericar que se tentássemos compor as funções na ordem inversa,
tomando q(p(x)), ou seja, fazendo q(x) ser de fora e p(x) ser de dentro, nós não obteríamos a função
f (x) como resultado dessa composição ou seja, não há dúvida de que f (x) seja dada pela composição de
p(x) com q(x), e não o contrário.
Então podemos preencher os próximos dois campos da tabela com essas expressões:
1
f 0 (x) = p0 (q(x)) · q 0 (x) = − · cos(x)
( sen(x))2
Assim, concluímos o preenchimento da tabela:
Resolução:
Agora, o leitor pode rapidamente vericar que a função f (x) é uma composta de três funções elementares:
x , r(x) = sen(x) e s(x) = 2x + 1:
1
p(x) =
f (x) = p(r(s(x)))
No entanto, para aplicar a regra da cadeia, temos de expressar a função a ser derivada como sendo a
composição de duas funções. Vamos então escrever a função f (x) como sendo a composição das funções
p(x) = x1 e q(x) = sen(2x + 1). Desta forma temos:
f (x) = p(q(x))
1
p0 (q(x)) = p0 ( sen(2x + 1)) = −
( sen(2x + 1))2
Para obtermos q 0 (x), entretanto, temos de aplicar novamente a regra da cadeia, pois q(x) é uma função
composta:
q(x) = r(s(x))
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 107
0
q 0 (x) = [r(s(x))] = r0 (s(x)) s0 (x)
Como r(x) é uma função elementar e s(x) é uma função polinomial, obtemos diretamente suas derivadas:
É claro que:
r0 (s(x)) = cos(2x + 1)
Então:
q 0 (x) = r0 (s(x)) s0 (x) = cos(2x + 1) · 2
Finalmente obtemos:
0 1
f 0 (x) = [p(q(x))] = p0 (q(x)) q 0 (x) = − · (2 cos(2x + 1))
( sen(2x + 1))2
Rearranjando essa expressão, de forma a representá-la de forma mais elegante, obtemos nalmente:
2 cos(2x + 1)
f 0 (x) = −
( sen(2x + 1))2
Essa linha de código realiza o cômputo da expressão da derivada de f (x). O comando diff
recebe como entradas o nome da função, f, e o nome da variável em relação à qual está sendo
feita a operação de derivada, x. Isso é importante porque, na denição da função, podem existir
parâmetros denidos identicados por letras e não por números, e o Sage precisa ser informado
sobre quem é a variável e quem é apenas um parâmetro. Por exemplo, a função h(x) = sen(ax)
depende das entidades a
x. Embora, para a maioria das pessoas, pudesse parecer óbvio que a
e
devesse ser um parâmetro e x devesse ser a variável da função, o sistema Sage não assume esse tipo
de premissa. Caso se queira calcular a derivada da função h(x) em relação à variável x, será preciso
escrever o comando: p(x) = diff(h,x).
5
Para exemplicar, o código abaixo realiza o cálculo da derivada da função f (x) = x +3x+ sen(x):
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 108
x 7→ 5x4 + 3 + cos(x)
Essa resposta aparece por causa do comando show(g). Esse comando faz com que o Sage exiba
o conteúdo da expressão armazenada em g. A resposta signica que g é uma função da variável x,
e sua expressão é dada por: 5x4 + 3 + cos(x).
É possível ainda calcular derivadas de ordem superior utilizando o comando diff. Suponha-se
que a ordem da derivada a ser calculada seja previamente armazenada em n, ou seja, n é um número
inteiro maior que 1. O cálculo é feito da seguinte forma:
Nessa linha de código, é feito o cômputo da expressão da derivada de ordem n da função f (x).
O comando diff recebe como entradas o nome da função, f, o nome da variável em relação à qual
está sendo feita a operação de derivada, x, e a ordem da derivada a ser calculada, n.
Para mostrar um exemplo do cálculo de derivadas de ordem superior no Sage, o código abaixo
realiza o cálculo da derivada terceira da função f (x) = x5 + 3x + sen(x):
x 7→ 60x2 − cos(x)
Essa resposta signica que a função h(x), cuja exibição foi realizada devido ao comando show(h),
é uma função da variável x, e sua
2
expressão é igual a 60x − cos(x). Essa função h(x) é a derivada
terceira de f (x).
1
1 f(x) = x33 − x
f(x) = sen(x) 0.5
0.5
−π2
-4 -3 -2 -1 1 π 2 3 4 -2 -1 1 2
2
-0.5
-0.5
-1
-1
(a) (b)
Figura 3.16: (a) A função f (x) = sen(x) é crescente no intervalo −π/2 < x < π/2. (b) A função
x3
f (x) = 3 −x é decrescente no intervalo −1 < x < 1.
15 15
10 10
5 5
-4 -3 -2 -1 1 2 -2 -1 1 2 3 4
-5 -5
-10 -10
(a) (b)
Figura 3.17: (a) A função é crescente em um ponto em que a sua derivada é positiva. (b) A função
é decrescente em um ponto em que a sua derivada é negativa.
x3
é crescente. A gura 3.16(b) mostra que a função f (x) = 3 −x é decrescente em todos os pontos
situados no intervalo −1 < x < 1.
Uma maneira precisa de caracterizar uma função f (x) como sendo crescente ou decrescente em
um ponto x=a é vericar o sinal da função
0
derivada, f (x), nesse ponto:
Isso faz sentido, se lembramos que a derivada de uma função em um ponto corresponde à inclinação
da reta tangente ao gráco da função nesse ponto. Uma reta tangente com inclinação positiva indica
que a função é crescente naquele ponto, enquanto uma reta tangente com inclinação negativa indica
que a função é decrescente no ponto. Esse fato geométrico é ilustrado na gura 3.17.
Fazendo o estudo do sinal da derivada da função, é possível caracterizar todo um intervalo de
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 110
3
2 f(x) = x33 − x
1
-2 -1 1 2
-1
-2
-3
5
df 2
4 dx = x − 1
3
2
1
-2 -1 -1 1 2
Figura 3.18: Alto: gráco da função f (x). Baixo: gráco da função derivada f 0 (x). Comparando
0
os dois grácos, observa-se que o intervalo no qual f (x) <0 corresponde ao intervalo no qual f (x)
é decrescente.
x3
f (x) = −x (3.3)
3
Sua derivada é dada por:
df
= x2 − 1 (3.4)
dx
É fácil descobrir que a derivada é negativa no intervalo −1 < x < 1:
df
−1 < x < 1 ⇒ = x2 − 1 < 0 (3.5)
dx
Isso signica que f (x) é decrescente nesse intervalo. Esse processo de caracterização de um intervalo
de decrescimento de f (x) a partir da determinação de um intervalo no qual f 0 (x) seja negativo é
ilustrado na gura 3.18.
f(x)
f 0 (x)
15
10
-10 -5 5 10 15
-5
-10
Figura 3.19: Grácos da função f (x) (azul) e de sua derivada f 0 (x) (vermelho).
4. Verique qual é o sinal de f 0 (x) em cada um dos intervalos delimitados por esses pontos, ou
seja, nos intervalos (−∞, r1 ), (r1 , r2 ), . . . , (rn−1 , rn ), (rn , +∞).
5. A função f (x) será crescente naqueles intervalos nos quais f 0 (x) for positiva, e será decrescente
nos
0
intervalos em que f (x) for negativa.
O resultado da execução desse código é o gráco mostrado na gura 3.19 (na gura são acrescentadas
legendas, não mostradas no código). Estamos interessados em descobrir em quais intervalos da
variável x a função é crescente e em quais intervalos ela é decrescente. Pela observação dos grácos
ca evidente que, no trecho mostrado no gráco, f (x) começa decrescente, depois passa a crescer,
diminui novamente e então volta a crescer. Esses intervalos são separados exatamente pelas raízes
de f 0 (x). O código a seguir encontra a localização dessas raízes:
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 112
f(x)
f 0 (x)
15
10
-10 -5 5 10 15
-5
-10
> r1 = find_root(df,-10,0)
> r2 = find_root(df,0,10)
> r3 = find_root(df,10,15)
> print(r1,r2,r3)
Observando ao mesmo tempo o gráco de f 0 (x) na gura 3.19 e esses valores das raízes de f 0 (x),
podemos chegar às seguintes conclusões:
f (x) é decrescente no intervalo −10 < x < −4.0851, pois f 0 (x) é negativa nesse intervalo;
f (x) é crescente no intervalo −4.0851 < x < 4.2499, pois f 0 (x) é positiva nesse intervalo;
f (x) é decrescente no intervalo 4.2499 < x < 13.9447, pois f 0 (x) é negativa nesse intervalo;
f (x) é crescente no intervalo 13.9447 < x < 17, pois f 0 (x) é positiva nesse intervalo;
Nossa análise não diz nada a respeito de f (x) quando x < −10 nem quando x > 17 porque nós não
chegamos a examinar como a função se comporta fora do trecho mostrado na gura. Uma análise
mais detalhada iria mostrar que a função é decrescente para todo x < −10, e é crescente para todo
x > 17.
Para nalizar, é interessante observar os grácos da gura 3.20. Essa gura exibe linhas tra-
cejadas verticais passando sobre as raízes da derivada, ou seja, nos pontos em que f 0 (x) = 0. É
possível ver que antes da primeira linha vertical, a função f (x) é decrescente e sua
0
derivada f (x) é
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 113
6 6
A
4 4
2 2
-1 1 2 3 4 5 -1 1 2 3 4 5
-2 -2
A
-4 -4
(a) (b)
Figura 3.21: (a) A função f (x) é crescente para x < 2, e é decrescente para x > 2; então x=2 é
um ponto de máximo, no qual a função atinge um valor máximo. O máximo no gráco da função é
representado pelo ponto A. (b) A função f (x) é decrescente para x < 2, e é crescente para x > 2;
então x = 2 é um ponto de mínimo, no qual a função atinge um valor mínimo. O mínimo, no gráco
da função, é representado pelo ponto A.
negativa. Entre a primeira e a segunda linhas verticais, a função f (x) é crescente e a derivada f 0 (x)
é positiva. Já entre a segunda e a terceira linhas verticais, a função f (x) é decrescente e a derivada
f 0 (x) é negativa. Por m, após a terceira linha vertical, a função f (x) é crescente e a derivada f 0 (x)
é positiva.
O estudante mais curioso pode ter interesse em ver o código Sage que constrói a gura 3.20,
mostrado a seguir:
> P1 = plot(f,-10,17,gridlines=true,legend_label='$f(x)$')
> P2 = plot(df,-10,17,color='red',legend_label='$f\'(x)$')
> L1 = line([(r1,-10),(r1,16)],color='orange',linestyle='--')
> L2 = line([(r2,-10),(r2,16)],color='orange',linestyle='--')
> L3 = line([(r3,-10),(r3,16)],color='orange',linestyle='--')
> Q1 = point([(r1,0),(r1,f(r1))],color='black',size=20)
> Q2 = point([(r2,0),(r2,f(r2))],color='black',size=20)
> Q3 = point([(r3,0),(r3,f(r3))],color='black',size=20)
> Graf = P1 + P2 + L1 + L2 + L3 + Q1 + Q2 + Q3
> Graf
32
30
28
26
24
x = a1 x = b1 x = a2 x = b2 x = a3
12 14 16 18 20 22 24 26 28
de x contido nesse intervalo, o valor de f (x) for maior que f (a). Dizemos então que x=a é um
ponto de mínimo da função nesse intervalo. Pode-se notar que se uma função é decrescente quando
x < a x > a, então um valor mínimo será atingido pela função
e passa a ser crescente quando
quando x = a, também em comparação com valores da função em pontos próximos. Isso é ilustrado
na gura 3.21(b).
A gura 3.22 ilustra a ideia de que os máximos e mínimos de uma função podem ser globais ou
locais. Essa gura mostra um trecho do gráco da seguinte função:
x2
f (x) = − + 3 cos(x) + 30 (3.7)
10
O conceito de máximo local se refere à situação em que existe algum intervalo ao redor de um ponto
de máximo no qual todos os demais pontos têm valores de função menores que o valor no máximo
local. É fácil identicar, na gura 3.22, a existência desses intervalos ao redor dos pontos x = a1 ,
x = a2 , x = a3 , que são, portanto, pontos de máximo local da função. No caso do ponto x = a2 ,
este leva a função a atingir o maior valor em todo o seu domínio, de forma que nós então dizemos
que x = a2 também é um ponto de máximo global da função.
Analogamente, o conceito de mínimo local se refere à situação em que existe algum intervalo ao
redor de um ponto de mínimo no qual todos os demais pontos têm valores de função maiores que
o valor nesse ponto de mínimo. Na gura 3.22, os pontos x = b1 e x = b2 são mínimos locais da
função. Nenhum dos dois no entanto é mínimo global, pois a função atinge valores ainda menores
Ao longo do restante deste capítulo, quando mencionarmos máximos e
em outros pontos.
mínimos, estaremos fazendo referência à noção de máximos locais e de mínimos locais.
É claro que, tanto em um mínimo quanto em um máximo, a reta tangente ao gráco de uma
função será horizontal, conforme mostrado na gura 3.23. Isto signica que, tanto nos valores de
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 115
6 6
4 4
2 2
-1 1 2 3 4 5 -1 1 2 3 4 5
-2 -2
-4 -4
Figura 3.23: As retas que são tangentes aos grácos de funções nos pontos em que estas atingem
um valor máximo ou mínimo são retas horizontais, ou seja, com inclinação nula.
x em que ocorre um máximo (os pontos de máximo) quanto nos valores de x em que ocorre um
mínimo (os pontos de mínimo), a derivada da função deverá ser igual a zero. É possível então
utilizar um procedimento numérico de busca dos pontos em que a derivada se anula como parte de
um procedimento para a localização de máximos e mínimos de funções.
3. Observando o gráco de f (x) em uma faixa de valores de x que contenha todos os pontos
r1 , r2 , . . . , rn , determine quais são pontos de máximo e quais são pontos de mínimo.
Para exemplicar a utilização desse procedimento, vamos considerar novamente a seguinte fun-
ção:
p
exp(x) − x3 + 50x
f (x) = (3.8)
100
Começamos por utilizar o mesmo código Sage empregado anteriormente que calcula a expressão da
derivada da função, e então traça os grácos de f (x) e de f 0 (x):
O resultado da execução desse código é o gráco mostrado na gura 3.24. Essa é a mesma gura
mostrada anteriormente, que é exibida novamente aqui por conveniência.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 116
f(x)
f 0 (x)
15
10
-10 -5 5 10 15
-5
-10
Figura 3.24: Grácos da função f (x) (azul) e de sua derivada f 0 (x) (vermelho).
Estamos interessados em descobrir quais são os valores de x para os quais a função f (x) atinge
valores máximos ou mínimos. Pela observação dos grácos ca evidente que, no trecho mostrado no
gráco, f (x) apresenta um mínimo próximo a x = −5, depois um máximo próximo a x = 5, depois
novamente um mínimo próximo a x = 14. Esses pontos de mínimo e de máximo correspondem
exatamente a raízes de f 0 (x). O código a seguir encontra as posições dessas raízes:
> r1 = find_root(df,-10,0)
> r2 = find_root(df,0,10)
> r3 = find_root(df,10,15)
> print(r1,r2,r3)
Observando ao mesmo tempo o gráco de f 0 (x) na gura 3.24 e esses valores das raízes de f 0 (x),
podemos chegar às seguintes conclusões:
Para vericar visualmente que esses resultados estão corretos, podemos traçar o gráco de f (x)
acrescentando pontos nas coordenadas correspondentes aos mínimos e ao máximo. O código a
seguir, quando executado logo depois dos códigos anteriores, gera a gura desejada:
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 117
f(x)
-10 -5 5 10 15
-5
Figura 3.25: Grácos da função f (x) destacando os pontos em que a função atinge valores máximos
e mínimos.
> P = plot(f,-10,17,gridlines=true,legend_label='$f(x)$')
> Q = point([(r1,f(r1)),(r2,f(r2)),(r3,f(r3))],color='red',size=20)
> P + Q
A gura 3.25 mostra o resultado da execução desse código. É possível constatar que os pontos
encontrados com o procedimento numérico de busca dos máximos e mínimos correspondem, em
uma inspeção visual, aos pontos em que o gráco realmente atinge valores máximos e mínimos.
Nossa análise não diz nada a respeito de possíveis máximos ou mínimos de f (x) que pudessem
surgir quando x < −10 nem quando x > 17 porque nós não chegamos a examinar como a função se
comporta fora do trecho mostrado na gura. Uma análise mais detalhada iria mostrar que a função
não tem mínimos ou máximos além daqueles que nós já localizamos.
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 118
3.8 Exercícios
Questão 1: Calcule as derivadas das funções abaixo.
a) f (x) = 1
b) f (x) = x
c) f (x) = x2
d) f (x) = x3
e) f (x) = 3
f) f (x) = 3x
g) f (x) = 3x2
h) f (x) = 3x3
i) f (x) = x3 + 2x2 + 3
j) f (x) = −3x5 + x3 − 4x
a) f (x) = x−1
1
b) f (x) =
x
c) f (x) = x−2
1
d) f (x) =
x2
e) f (x) = x−3
1
f) f (x) =
x3
1
g) f (x) = x 2
√
h) f (x) = x
1
i) f (x) = x 3
√
j) f (x) = 3 x
1
k) f (x) = x 4
√
l) f (x) = 4 x
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 119
1
m) f (x) = x− 2
1
n) f (x) = 1
x2
1
o) f (x) = √
x
1
p) f (x) = x− 3
1
q) f (x) = 1
x3
1
r) f (x) = √
3
x
5
a) f (x) = x 2
√
b) f (x) = x5
5
c) f (x) = x 3
√
3
d) f (x) = x5
5
e) f (x) = x 4
√
4
f) f (x) = x5
5
g) f (x) = x 6
√
6
h) f (x) = x5
3
i) f (x) = x 2
√
j) f (x) = x3
3
k) f (x) = x 4
√
4
l) f (x) = x3
3
m) f (x) = x 5
√
5
n) f (x) = x3
5 5
a) f (x) = 2x 2 + 5x 3
√ √3
b) f (x) = 2 x5 + 5 x5
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 120
5 √
6
c) f (x) = −3x 4 + 7 x5
1√4 3 3 √
5
d) f (x) = x5 − x 4 + 5 x3
2 7
a) f (x) = sen(x)
b) f (x) = cos(x)
c) f (x) = ln(x)
d) f (x) = exp(x)
e) f (x) = ex ln(x)
f) f (x) = x sen(x)
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 121
g) f (x) = x cos(x)
h) f (x) = x ln(x)
i) f (x) = xex
j) f (x) = x2 sen(x)
k) f (x) = x2 ex
1
a) f (x) =
cos(x)
1
b) f (x) =
ex
√
2
c) f (x) =
ln(x)
√
x
d) f (x) =
ln(x)
sen(x)
e) f (x) =
cos x
x2 − 3x + 1
f) f (x) =
x2 + 2
1
g) f (x) =
x2 +2
x2 − 3x + 1
h) f (x) =
x2
exp(x) + 1
i) f (x) =
ln(x) + 1
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 122
√
ln(x) − x3 + x
j) f (x) =
exp(x) + 2 sen(x)
1
k) f (x) = + sen(x) cos(x)
cos(x)
√
2
l) f (x) = − exp(x) sen(x)
ln(x)
√
x
m) f (x) = + 10ex ln(x)
ln(x)
sen(x)
n) f (x) = (x2 + 3x + 1)
cos x
x2 − 3x + 1
o) f (x) = (x3 + sen(x))
x2 + 2
sen(x) x2 − 3x + 1
p) f (x) = +
x2 + 2 x2 − cos(x)
√
exp(x) + 1 ln(x) − x3 + x
q) f (x) = ·
ln(x) + 1 exp(x) + 2 sen(x)
√
3
p(x) = sen(x) q(x) = x2
w(x) = x5 + 3x3 − 1 z(x) = ln(x) − exp(x)
a) f (x) = p(q(x))
b) f (x) = q(p(x))
c) f (x) = w(z(x))
d) f (x) = z(w(x))
e) f (x) = p(q(z(x)))
f) f (x) = z(q(p(x)))
g) f (x) = p(x)q(x)
h) f (x) = q(x)z(x)
i) f (x) = p(x)q(x)w(x)
j) f (x) = p(x)q(z(x))
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 123
k) f (x) = p(z(x))q(x)
p(x)
l) f (x) =
q(x)
p(q(x))
m) f (x) =
z(x)
p(x)
n) f (x) =
q(z(x))
p(x) z(x)
o) f (x) =
q(x) w(x)
A seguir, determine a derivada de cada f (x).
Questão 9: As funções f (x) abaixo podem ser representadas na forma de funções compostas, tais
quef (x) = p(q(x)). Em cada caso, determine as funções p(x) e q(x) que permitem tal representação:
√
a) f (x) = x3 + 5x
1
b) f (x) =
x3 + 5x
c) f (x) = cos(x3 + 5x)
x3 + 3 sen(x)
a) f (x) = √
3x2 + 5
√
b) f (x) = (x3 + 3 sen(x))( 3x2 + 5)
exp(x3 − cos(x))
c) f (x) =
x2 − ln(x)
x3 cos(x)
d) f (x) =
(x2 + 1) ln(x)
CAPÍTULO 3. DERIVADAS 124
Questão 11: As funções f (x) abaixo têm, em sua expressão, a presença de uma outra função g(x).
Em cada caso, calcule a expressão da derivada de f (x):
√
a) f (x) = g(x). x3 + 5x
g(x)
b) f (x) =
x3 + 5x
c) f (x) = cos(g(x) + 5)
Questão 12: Determine todos os pontos de máximo local e de mínimo local das funções abaixo:
1 4
a) f (x) = − x + 5x2 + 100
20
√
x exp(−(x − 3)2 )
b) f (x) = 2 +
x +1 2
Capítulo 4
Integrais
Supomos agora que conhecemos a derivada f 0 (x) de uma função. A própria função f (x) não
é, a princípio, conhecida.
Sabemos que o gráco da função f (x) passa por determinado ponto (x0 , f (x0 )).
Sabemos ainda qual é a direção que deve ser seguida para traçar o gráco da função, começando
pelo ponto (x0 , f (x0 )). A cada ponto traçado, sempre sabemos em qual direção devemos traçar
o próximo ponto. Essa informação vem da derivada f 0 (x) da função.
Desta forma, conseguimos recuperar o gráco da função f (x) a partir da informação de sua
0
derivada f (x). Equivalentemente, conseguimos recuperar a própria função f (x) a partir da
0 0
expressão da derivada f (x). A essa operação de recuperação de f (x) a partir de f (x) nós
denominamos integração.
125
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 126
6
4
2
-4 -2 2 4 6 8 10
-2
2
1
-4 -2 2 4 6 8 10
-1
-2
-3
-4
-5
Figura 4.1: Representação do conceito de derivada como inclinação da reta tangente. A gura de
cima mostra o gráco da função f (x), superposto a setas que indicam a inclinação desse gráco em
diversos pontos. O valor dessa inclinação é igual ao valor da derivada da função, f 0 (x), em cada
ponto, que é mostrada na gura de baixo.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 127
6
4
2
-4 -2 2 4 6 8 10
-2
2
1
-4 -2 2 4 6 8 10
-1
-2
-3
-4
-5
Figura 4.2: Representação do conceito de integração. A gura de cima mostra que é possível
recuperar o gráco da função f (x) se conhecermos um ponto de partida e a direção para a qual deve
ser traçado o próximo ponto. Sempre que um ponto for acrescentado, saberemos em qual direção
devemos nos mover para traçar o próximo ponto. A gura de baixo mostra a função derivada f 0 (x),
que é o local onde está essa informação sobre qual direção deve ser seguida para traçar cada próximo
ponto.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 128
função nula 0 C
função constante K Kx + C
xn+1
função potência inteira de x xn +C
n+1
xa+1
função potência real de x xa +C
a+1
função exponencial ex ex + C
1
função logaritmo ln(x) + C
x
A operação de integração, como vimos, produz um efeito inverso ao efeito da operação de derivação.
Por esse motivo, dizemos que a integral pode ser interpretada como uma anti-derivada. Isso é
expresso pela seguinte relação:
dF
= f (x)
dx
ou seja, a derivada da integral de f (x) tem de ser a própria f (x).
Poderia parecer então, a princípio, que para se obter a expressão da integral de uma função
f (x), basta se tomar a tabela de derivadas de funções, e olhar qual é a função F (x) cuja derivada é
igual a f (x). Essa função seria a integral de f (x). Esse raciocínio está quase certo, exceto por um
detalhe: acontece que a derivada de uma constante é sempre igual a zero. Isso signica que, quando
perguntamos qual é a integral de zero, no sentido de perguntar qual é a função cuja derivada é igual
a zero, a resposta é: qualquer função constante atende a essa condição. Ou seja:
dC
=0
dx
Z
0dx = C
sendo C uma constante qualquer. Para levar esse fato em consideração, a tabela de integrais das
funções elementares é montada como mostrado na Tabela 4.1.
Devido à presença dessa constante, a princípio desconhecida, no resultado da operação de inte-
gração, a integral formulada desta maneira é chamada de integral indenida. O leitor mais curioso
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 129
Z Z
produto por uma constante: K f (x)dx = K f (x)dx
Z Z Z
soma de funções: (f1 (x) + f2 (x))dx = f1 (x)dx + f2 (x)dx
Z Z Z
subtração de funções: (f1 (x) − f2 (x))dx = f1 (x)dx − f2 (x)dx
Z Z Z
em geral: (K1 f1 (x) + K2 f2 (x))dx = K1 f1 (x)dx + K2 f2 (x)dx
é convidado a reetir sobre a relação que existe entre essa constante desconhecida e a operação de
se traçar um gráco conhecendo apenas a direção a ser seguida para se traçar cada próximo ponto:
diferentes escolhas de um valor inicial f (0) para a função no ponto x=0 irão produzir grácos que
seguirão o mesmo desenho, porém estarão localizados em diferentes alturas no plano cartesiano.
Além de conhecermos as integrais de funções elementares, também será necessário conhecermos
algumas propriedades básicas de integrais para podemos trabalhar com elas. A Tabela 4.2 mostra
essas propriedades.
Antes de prosseguirmos, convém apresentarmos um exemplo sobre o uso de uma integral para
análise de uma situação do mundo real. Desta forma, deverá car mais claro o signicado da
operação de integração.
Exemplo 4.1 Uma esfera de madeira cuja massa é de 1kg é solta encontra-se inicialmente em repouso.
No instante t = 0, essa esfera é solta de uma altura de 10m. Determine a expressão da altura y em que se
encontra a esfera, como função do tempo t (ou seja, determine a expressão de y(t)). Considere a aceleração
2
da gravidade igual a 10m/s .
X
F =m·a
ou seja, a somatória das forças que agem sobre o objeto é igual à massa do objeto vezes a sua aceleração.
Existe uma única força atuando sobre a esfera, que é a força peso, que é constante e igual a p = −10,
sendo que o sinal negativo signica que essa força é para baixo. A aceleração, por sua vez, é igual à taxa de
variação da velocidade v(t), e a velocidade é igual à taxa de variação da posição y(t). A expressão da lei de
Newton ca então:
d2 y
= −10
dt2
Queremos saber qual é a expressão de y(t). Para isso integramos duas vezes a expressão acima, de forma a
recuperar a expressão de y(t). Integrando uma vez, obtemos:
Z
dy
= (−10)dt = −10t + C1
dt
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 130
10
Figura 4.3: Gráco da altura em que a esfera se encontra, y(t), como função do tempo.
Deve-se notar que, de acordo com a tabela de integrais, a integral de uma constante, no caso igual a -10, é
igual a essa constante vezes a variável (que agora é t, que representa o tempo), mais uma constante, aqui
dy
indicada por C1 . Note-se que dt é a taxa de variação da posição da esfera, ou seja, é a velocidade da esfera.
Como o enunciado do problema armou que a esfera partiu do repouso, temos que:
dy
(0) = −10(0) + C1 = 0
dt
ou seja, a velocidade inicial da esfera era igual a zero. Isso signica que a constante C1 , neste caso, também
é igual a zero. A equação da velocidade ca então:
dy
= −10t
dt
Temos de integrar essa expressão para nalmente obter a expressão de y(t):
t2
Z
y(t) = (−10t) dt = −10 + C2 = −5t2 + C2
2
O enunciado da questão arma que, no instante inicial, a esfera se encontra a uma altura de 10m, ou seja:
y(0) = −5(02 ) + C2 = C2 = 10
♦
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 131
Nessa linha de código, o comando integral recebe como entradas f, que é a variável computa-
cional que armazena a expressão de f (x), e x, que representa a variável da função f (x) em relação
à qual será realizada a operação de integração. O resultado dessa operação, que é a expressão da
integral de f (x), é armazenada em F.
Para exemplicar a realização de uma operação de integração no Sage, o código a seguir realiza
a integração da função f (x) = x sen(2x):
A primeira linha desse código dene a expressão de f (x). A segunda linha realiza o cálculo da
integral, que resulta na expressão de F (x). A terceira linha provoca a exibição dessa expressão.
Quando esse código é executado, o sistema Sage produz a seguinte resposta:
1 1
x 7→ − x cos(2x) + sin(2x)
2 4
Essa resposta signica que a expressão que se encontra armazenada em F, que foi exibida devido
ao comando show(F), é uma função da variável x, sendo expressa como − 21 x cos(2x) + 14 sin(2x). É
fácil vericar que essa expressão é de fato a integral de f (x); isso pode ser constatado calculando-se
a derivada dessa expressão, o que conduz de volta à expressão de f (x).
O leitor mais atento, entretanto, já deve ter notado que falta um detalhe na resposta apresentada
pelo Sage: a constante arbitrária resultante da integração não é mostrada no resultado.
Na verdade, em F(x) ca armazenada a expressão de uma primitiva de f (x), ou seja, uma função
cuja derivada é f (x). Para se obter a expressão da integral indenida, o leitor deve acrescentar a
constante de integração: Z
f (x)dx = F (x) + C
d[f (g(x))]
= f 0 (g(x)) · g 0 (x) (4.1)
dx
Integrando esta equação: Z
f 0 (g(x)) · g 0 (x) dx = f (g(x)) (4.2)
du
u = g(x) ⇒ = g 0 (x) (4.3)
dx
Reescrevemos a equação (4.2) evidenciando termos que serão substituídos por essas variáveis:
Z
f 0 (g(x)) · g 0 (x) dx = f (g(x))
(4.4)
u = g(x) du = g 0 (x) dx
2. Nessa função, identicamos duas expressões que dependem da variável x que, neste exemplo,
estão realçadas em vermelho e em azul, ou seja, x2 e 2x, que são tais que:
dx2
(ii) A expressão azul, 2x, é igual à derivada da expressão vermelha, x2 , ou seja: = 2x.
dx
Como as condições (i) e (ii) são vericadas, então o método da integração por substituição
pode ser aplicado.
du
3. Denimos então uma nova variável u = x2 . É claro que:
dx = 2x. Então podemos dizer que:
du = 2x dx.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 133
Como u = x2 e du = 2x dx, nós fazemos essas substituições, obtendo uma integral na variável
u. No caso do exemplo, o resultado dessa substituição é a integral:
Z
sen(u) · du
− cos(u) + C = − cos(x2 ) + C
4.2.3 Exemplos
A seguir são apresentados alguns exemplos de cálculo de integrais pela técnica de substituição, sendo
as contas realizadas manualmente.
Z p
(1) x2 + 3x + 1 · (2x + 3) dx
u = x2 + 3x + 1 → du = (2x + 3) dx
3
√ 2√ 3
Z p Z
u2
x2 + 3x + 1 · (2x + 3) dx = u du = 3 + C = u +C
2
3
2p 2
= (x + 3x + 1)3 + C
3
Z p
1
(2) ln(x) + 1 · dx
x
1
u = ln(x) + 1 → du = dx
x
3
√ 2√ 3
Z p Z
1 u2
ln(x) + 1 · dx = u du = 3 + C = u +C
x 2
3
2p
= (ln(x) + 1)3 + C
3
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 134
Z
x
(3) √ dx
4x2 + 1
u = 4x2 + 1 → du = 8x dx
1
1√
Z Z
1 1 1 1 1 u2
√ · (8x) dx = √ du = 1 + C = u+C
4x + 1 8
2 8 u 8 2 4
1p 2
= 4x + 1 + C
4
Z
cos(x)
(4) p dx
1 + sen(x)
Z
1
(5) sen(ln(x) + x2 ) · + 2x dx
x
2 1
u = ln(x) + x → du = + 2x dx
x
Z Z
2 1
sen(ln(x) +x )· + 2x dx = sen(u) du = − cos(u) + C
x
= − cos(ln(x) + x2 ) + C
Z p
(1) x2 + 3x + 1 · (2x + 3) dx
Código Sage:
Resultado:
2 2 3
x 7→ x + 3x + 1 2
3
Z p
1
(2) ln(x) + 1 · dx
x
Código Sage :
1
Resultado:
2 3
x 7→ (log(x) + 1) 2
3
Z
x
(3) √ dx
4x2 + 1
Código Sage:
Resultado:
1
Deve-se notar que, por convenção, o Sage utiliza a função log para designar a função logaritmo neperiano.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 136
1p 2
x 7→ 4x + 1
4
Z
cos(x)
(4) p dx
1 + sen(x)
Código Sage:
Resultado:
p
x 7→ 2 sin(x) + 1
Z
1
(5) sen(ln(x) +x )·2
+ 2x dx
x
Código Sage :
2
Resultado:
x 7→ − cos(x2 + log(x))
Chamamos a atenção para a principal diferença entre os resultados apresentados pelo sistema
Sage e os resultados obtidos pelo cálculo manual: o sistema Sage não mostra a constante de
integração que deve fazer parte de toda expressão que representa o resultado de uma integral
indenida. O usuário deve se lembrar disso, e deve acrescentar tal constante sempre que estiver
resolvendo um problema de cálculo de uma integral indenida utilizando o sistema Sage.
2
Deve-se notar que, por convenção, o Sage utiliza a função log para designar a função logaritmo neperiano.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 137
Z
f 0 (x) · g(x) + f (x) · g 0 (x) dx = f (x) · g(x)
(4.7)
Z Z
0
f (x) · g(x)dx + f (x) · g 0 (x)dx = f (x) · g(x) (4.8)
du
u = f (x) ⇒ = f 0 (x)
dx
(4.9)
dv
v = g(x) ⇒ = g 0 (x)
dx
Reescrevemos a equação (4.8) evidenciando termos que serão substituídos por essas variáveis:
Z Z
f (x) · g 0 (x) dx = f (x) · g(x) − g(x) · f 0 (x) dx
(4.10)
Z Z
u dv = u · v − v du (4.11)
4.3.2 Exemplos
Alguns exemplos de aplicação da técnica de integração por partes são mostrados a seguir.
Z
(1) x· sen(x) dx
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 138
u = x → du = dx
dv = sen(x) dx → v = − cos(x)
Z Z
u dv = x· sen(x) dx
Z Z
=u·v− v du = −x · cos(x) − (− cos(x)) dx
= −x · cos(x) + C
x2 x2
Z Z
x· sen(x)dx = sen(x) − cos(x)dx
2 2
que é uma expressão mais complicada que a inicial.
Z
(2) t2 · et dt
Z
I= t2 · et dt
u = t2 → du = 2t dt
dv = et dt → v = et
Z
I = t2 · et − 2t · et dt
Z
J= 2t · et dt
u = 2t → du = 2dt
dv = et → v = et
Z
t
J = 2t · e − 2 et dt = 2t · et − 2et + C
I = t2 · et − 2t · et + 2et − C
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 139
Z
(3) ex · sen(x) dx
Z
I= ex · sen(x) dx
u = ex → dx = ex dx
dv = sen(x) dx → v = − cos(x)
Z
x
I = −e · cos(x) + ex · cos(x) dx
= −ex · cos(x) + J
u = ex → du = ex dx
dv = cos(x) dx → v = sen(x)
Z
x
J =e · sen(x) − sen(x) · ex dx = ex · sen(x) −I
Z
(4) ln(x) dx
1
u = ln(x) → du = dx
x
dv = dx → v = u
Z Z
1
ln(x)dx = x · ln(x) − x dx
x
Z
= x · ln(x) − dx
= x · ln(x) − x + C
2.5
1.5
0.5
0
1 2 a 3 4 5 b 6 7
Figura 4.4: Gráco de uma função f (x) destacando, em hachurado, a região entre o gráco e o eixo
dos x, no intervalo entre x=a e x = b. Deseja-se calcular o valor dessa área hachurada.
resultados. O estudante interessado conseguirá resolver todas essas integrais com o SageMath, sem
diculdade.
15
10
1 2 3 4
Figura 4.5: Gráco da função f (x) = x2 destacando, em hachurado, a região entre o gráco e o eixo
dos x, no intervalo entre x = 1 e x = 3. Deseja-se calcular o valor dessa área hachurada.
0
1 1.5 2 2.5 3
Figura 4.6: Aproximação da região abaixo do gráco da função f (x) = x2 por 10 retângulos. Em
cinza, é mostrada a área dos retângulos. Em amarelo, é mostrada a área que corresponde à diferença
entre a área abaixo do gráco de f (x) e a área aproximada pelos retângulos, ou seja, a área em
amarelo corresponde ao erro dessa aproximação.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 142
área encontrada por tal aproximação por retângulos corresponde à área indicada em amarelo nessa
gura. Essa área em amarelo corresponde, portanto, ao erro da aproximação.
A expressão para a área dada pela soma das áreas dos retângulos pode ser obtida notando-se
que a base de cada retângulo é dada por:
b−a
δ=
N
Nessa expressão, a e b correspondem aos extremos do intervalo no qual se deseja calcular a área sob
o gráco da função, e N corresponde ao número de retângulos com que se faz a aproximação. Já a
altura de cada retângulo é dada por:
h = f (a + kδ)
onde k é um número inteiro que signica, para k = 1, o primeiro retângulo, para k = 2, o segundo
retângulo, e assim por diante, até o último dos N retângulos. A aproximação da área é dada então
por:
N
X
A= δ · f (a + kδ)
k=1
ou seja, a área corresponde à soma das áreas dos N retângulos.
Quando aumentamos o número de retângulos com que é feita a aproximação, por exemplo
passando a aproximação a ser feita com 40 retângulos, o erro de aproximação diminui. A área
calculada com a aproximação dada por esse número de retângulos ca igual a 8.4675. Esse efeito é
mostrado na gura 4.7. Essa observação motiva o seguinte procedimento: podemos tomar o limite
da área aproximada pelos retângulos, quando o número de retângulos tende a innito:
N
X b−a b−a
A = lim ·f a+k
N →∞ N N
k=1
A esse limite damos o nome de integral denida da função f (x) no intervalo [a, b]:
b N
b−a b−a
Z X
f (x)dx = lim ·f a+k
a N →∞ N N
k=1
Z b
f (x)dx = F (b) − F (a)
a
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 143
0
1 1.5 2 2.5 3
Figura 4.7: Aproximação da região abaixo do gráco da função f (x) = x2 agora com 40 retângulos.
Em cinza, é mostrada a área dos retângulos. Em amarelo, é mostrada a área que corresponde à
diferença entre a área abaixo do gráco de f (x) e a área aproximada pelos retângulos, ou seja, a
área em amarelo corresponde ao erro dessa aproximação. Deve-se notar que o erro agora é bem
menor que no caso de 10 retângulos.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 144
Ou seja, podemos calcular a área sob o gráco de uma função f (x) utilizando a expressão da integral
indenida (ou anti-derivada) de f (x).
Aplicando esse resultado ao exemplo que vimos desenvolvendo ao longo desta seção, temos que
a área localizada entre o gráco da função f (x) = x2 e o eixo dos x, no intervalo 1 ≤ x ≤ 3, pode
ser calculada de maneira exata da seguinte forma:
x3
Z
F (x) = x2 dx = +C
3
3
33 13
Z
2 26
A= x dx = F (3) − F (1) = +C − +C = ≈ 8.67
1 3 3 3
O leitor mais atento já terá notado que a constante desconhecida C que aparece na expressão da
integral indenida não irá nunca afetar o cálculo da integral denida, uma vez que ela sempre será
cancelada quando calculamos a diferença entre F (b) e F (a).
A seguinte notação é utilizada para representar a operação F (b) − F (a) de maneira mais sintética:
Z b b
f (x)dx = F (x) = F (b) − F (a)
a a
Resolução: Iniciamos por calcular a integral indenida, a partir da tabela de integrais indenidas das funções
elementares:
x4 x4
Z
2x3 + 5 sen(x) dx = 2 − 5 cos(x) + C =
− 5 cos(x) + C
4 2
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 145
Note-se que podemos colocar apenas uma constante desconhecida C na expressão da integral indenida, uma
vez que uma soma de constantes desconhecidas é uma constante desconhecida. A integral denida é então
calculada:
π π
x4
Z
2x3 + 5 sen(x) dx =
− 5 cos(x) =
2 2 2
π4
4
2
= − 5 cos(π) − − 5 cos(2) =
2 2
π4
= − 3 + 5 cos(2)
2
♦
> q = integral(f,x,a,b)
Nessa linha de código, o comando integral recebe como entradas: f, que é a variável computa-
cional que armazena a expressão de f (x); x, que representa a variável da função f (x) em relação à
qual será realizada a operação de integração; a, que é o extremo inferior do intervalo de integração;
e b, que é o extremo superior do intervalo de integração. O resultado dessa operação, que é o valor
da integral denida de f (x) no intervalo de a até b, é armazenado em q. Assim, essa operação
resulta no cálculo do valor de q denido como:
Z b
q= f (x)dx
a
A primeira linha desse código dene a função f (x) a ser integrada. A segunda linha utiliza o
comando integral para calcular a integral denida de f (x) no intervalo [2, π], armazenando o
resultado em q. A terceira linha provoca a exibição do conteúdo armazenado em q, resultando em:
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 146
1 4
π + 5 cos(2) − 3
2
b N
b−a b−a
Z X
f (x)dx = lim ·f a+k
a N →∞ N N
k=1
f a + k b−a
dará um resultado negativo, pois o termo será negativo. É claro que a área deve ser
N
sempre uma grandeza positiva. Então, nesses casos, a área entre o gráco da função f (x) e o eixo
dos x será dada por:
Z b
A=− f (x)dx , se f (x) < 0 para a≤x≤b
a
Exemplo 4.3 Para exemplicar essa situação, consideremos a função f (x) = −x2 , e vamos calcular a
integral denida dessa função no intervalo 1 ≤ x ≤ 3. Começamos pelo cálculo da expressão da integral
indenida:
x3
Z
F (x) = −x2 dx = − +C
3
A integral denida dessa função no intervalo 1≤x≤3 é dada por:
Z 3
2 27 1 26
−x dx = F (3) − F (1) = − − − =−
1 3 3 3
Essa integral resulta em um número negativo o que não consiste em nenhum problema. No entanto, caso
estejamos interessados em calcular a área entre o eixo dos x e o gráco da função, essa área tem de ser um
número positivo, dado por:
Z 3
27 1 26
A=− −x2 dx = −(F (3) − F (1)) = − =
1 3 3 3
Z b
A= (f1 (x) − f2 (x))dx sendo f1 (x) > f2 (x) no intervalo a≤x≤b
a
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 147
12
10
0
1.5 2 2.5 3 3.5
-2
Figura 4.8: Deseja-se calcular a área situada entre o gráco da função f1 (x) = x2 e o gráco da
função f2 (x) = −x, no intervalo 2 ≤ x ≤ 3.
Exemplo 4.4 Para exemplicar, vamos calcular a área entre os grácos das funções f1 (x) = x2 e f2 (x) =
−x, no intervalo 2 ≤ x ≤ 3. Essa área é mostrada na gura 4.8. Como a função f1 (x) é maior que a função
f2 (x) no intervalo 2 ≤ x ≤ 3, tomaremos a diferença f1 (x) − f2 (x) para o cálculo da área:
Z 3 Z 3 Z 3
A= (f1 (x) − f2 (x))dx = (x2 − (−x))dx = (x2 + x) dx =
2 2 2
3
x3 x2 33 32 23 22
= + = + − +
3 2 2 3 2 3 2
9 8 53
=9+ − −2=
2 3 6
O mesmo cálculo realizado no Exemplo 4.4 pode ser realizado pelo sistema Sage, por meio do
código a seguir:
O leitor deve notar que o código acima dene as funções f1 (x) e f2 (x) nas duas primeiras linhas.
Na terceira linha, o comando integral recebe, como função a ser integrada, a função diferença:
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 148
4
3
2 f2 (x)
1 f3 (x)
0.5 1 1.5 2 2.5 3
-1
f1 (x)
-2
-3
-4
Figura 4.9: Grácos das funções f1 (x), f2 (x) e f3 (x) dendas na equação (4.12). A região delimitada
pelos grácos das três funções é mostrada hachurada em amarelo.
53
6
√ 1
f1 (x) = − x f2 (x) = 3 − f3 (x) = 4 − x2 (4.12)
x
Os grácos das funções f1 (x), f2 (x) e f3 (x) são mostrados na gura 4.9. A mesma gura mostra,
hachurada em amarelo, a região que é delimitada pelos grácos das funções.
Para podermos utilizar a técnica de cálculo de área utilizando uma integral denida, é preciso
que os intervalos de integração sejam conhecidos. A gura 4.10 mostra os mesmos elementos da
gura 4.9, acrescentando a exibição dos pontos de interseção entre os grácos das funções, os quais
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 149
4
3
2 f2 (x)
1 f3 (x)
r1 r3
0.5 1 r2 1.5 2 2.5 3
-1
f1 (x)
-2
-3
-4
Figura 4.10: Grácos das funções f1 (x), f2 (x) e f3 (x) dendas na equação (4.12). A região delimi-
tada pelos grácos das três funções é mostrada hachurada em laranja e em verde claro. Os vértices
dessa região estão indicados por pontos pretos, e as coordenadas x dos vértices são indicadas por
r1 , r2 e r3 .
denem os chamados vértices da região delimitada pelos grácos das funções. Examinando a gura
4.10, ca claro que o cálculo da área A da região hachurada pode ser feito utilizando duas integrais
denidas, formuladas da seguinte maneira:
Z r2
A1 = (f2 (x) − f1 (x)) dx
r1
Z r3
(4.13)
A2 = (f3 (x) − f1 (x)) dx
r2
A = A1 + A2
A parcela A1 corresponde à área da região hachurada em laranja, que é limitada superiormente
pelo gráco de f2 (x) e limitada inferiormente pelo gráco de f1 (x). A parcela A2 , por sua vez,
corresponde à área da região hachurada em verde claro, que é limitada superiormente pelo gráco
de f3 (x) e limitada inferiormente pelo gráco de f1 (x). Para se realizar o cálculo dessas duas
parcelas, é necessário conhecer os valores de r1 , r2 e r3 , que correspondem às coordenadas x dos
vértices da região, e que denem os intervalos de integração utilizados na equação (4.13).
Como já foi visto no capítulo 1, a determinação das coordenadas x dos pontos de interseção entre
os grácos de duas funções é equivalente à determinação das raízes da diferença entre as funções.
Isso signica que as seguintes relações são válidas:
f2 (r1 ) − f1 (r1 ) = 0
f3 (r2 ) − f2 (r2 ) = 0 (4.14)
f1 (r3 ) − f3 (r3 ) = 0
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 150
> A1 = integral(f2-f1,x,r1,r2)
> A2 = integral(f3-f1,x,r2,r3)
> A = A1 + A2
> print(A)
4.433022474245226
> Q1 = plot(f1,0,3,color='red')
> T1 = text('f1 (x)',(1,-1.5),color='red',fontsize=15)
> Q2 = plot(f2,0.1,3,ymin=-4,color='green')
> T2 = text('f2 (x)',(0.6,2),color='green',fontsize=15)
> Q3 = plot(f3,0,3)
> T3 = text('f3 (x)',(2.03,0.8),fontsize=15)
> FA1 = plot(f1,r1,r2,fill=f2,fillcolor=hue(0.1),color='red')
> FA2 = plot(f1,r2,r3,fill=f3,fillcolor=hue(0.25),color='red')
> PP = point([(r1,f1(r1)),(r2,f2(r2)),(r3,f3(r3))],color='black',size=20)
> L1 = line([(r1,0),(r1,f1(r1))],linestyle='--',color='black')
> TL1 = text('$r_1$',(r1-0.01,0.28),color='black',fontsize=15)
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 151
> L2 = line([(r2,0),(r2,f2(r2))],linestyle='--',color='black')
> TL2 = text('$r_2$',(r2-0.01,-0.28),color='black',fontsize=15)
> L3 = line([(r3,0),(r3,f3(r3))],linestyle='--',color='black')
> TL3 = text('$r_3$',(r3-0.01,0.28),color='black',fontsize=15)
> Graf = FA1 + FA2 + Q1 + Q2 + Q3 + T1 + T2 + T3 + PP + L1 + TL1 + L2 + TL2 + L3 + TL3
> Graf
Nesse código aparece um tipo de comando que não havia sido mostrado antes, que produz o efeito
de hachurar uma região da gura. A sétima e a oitava linhas do código realizam essa operação.
Para entender a lógica desses comandos, examinemos o comando de plot que aparece na sétima
linha:
plot(f1,r1,r2,fill=f2,fillcolor=hue(0.1),color='red')
Esse comando, na verdade, pode ser pensado a partir do seguinte comando que iria traçar um gráco
usual:
plot(f1,r1,r2,color='red')
Esse comando irá traçar o gráco da função f1 (x) no intervalo r1 < x < r2 . A esse comando, são
acrescentados os seguintes elementos:
fill=f2
fillcolor=hue(0.1)
A diretiva fill=f2 diz ao Sage que a gura a ser construída deve ser hachurada entre o gráco da
função f1 (x), que está sendo traçado pelo comando plot, f2 (x). Deve car
e o gráco da função
r1 < x < r2 ,
claro que a região a ser hachurada é a região entre os grácos dessas funções no intervalo
conforme o funcionamento usual do comando plot. Já a diretiva fillcolor=hue(0.1) dene a cor a
ser utilizada para hachurar a região. Se utilizássemos, por exemplo, fillcolor='yellow', a região
seria hachurada com a cor amarela. O comando hue(·) serve para denir uma escala de cores que
varia continuamente com o número entre parêntesis, que pode variar entre 0 e 1. Utilizando esse
comando, uma maior variedade de cores torna-se disponível.
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 152
4.5 Exercícios
Questão 1: Calcule as integrais indenidas indicadas abaixo.
Z
a) 1dx
Z
b) xdx
Z
c) x2 dx
Z
d) x3 dx
Z
e) 3dx
Z
f) 3xdx
Z
g) 3x2 dx
Z
h) 3x3 dx
Z
i) (x3 + 2x2 + 3)dx
Z
j) (−3x5 + x3 − 4x)dx
Z 0
f) 3xdx
−1
Z 4
g) 3x2 dx
2
Z 5
h) 3x3 dx
2
Z 3
i) (x3 + 2x2 + 3)dx
1
Z 1
j) (−3x5 + x3 − 4x)dx
0
√
Z
4
l) xdx
Z
1
m) x− 2 dx
Z
1
n) 1 dx
x2
Z 4
1
o) √ dx
1 x
Z
1
p) x− 3 dx
Z
1
q) 1 dx
x3
Z
1
r) √
3
dx
x
Z
3
k) x 4 dx
Z √
4
l) x3 dx
Z
3
m) x 5 dx
Z 1 √
5
n) x3 dx
0
Z π
b) cos(x)dx
0
Z 2
1
c) dx
1 x
Z 0
d) exp(x)dx
−5
Z 2π
e) (7 sen(x) − 3 cos(x))dx
0
Z
1
f) − + 15 sen(x)dx
x
Z
3
g) 3 exp(x) − + 6 sen(x) − 6 cos(x) dx
x
Z 4
√
h) ( x − exp(x))dx
0
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 156
Z
10 3
i) − 5x 4 dx
x
Z
2 3
j) −4 cos(x) + x − 7x + dx
x
Z
x 7 exp(x) 2 cos(x)
k) − + − √ dx
7 x 5 2
Z π √
3 2
l) 5 sen(x) − 3 dx
1 x
Z √ √
3
2 3 3
m) x + 2x + √ dx
2
Z 2π
cos(x) 3
n) −√ dx
π π x
Z p
1
g) ln(x) · dx
x
Z p
h) x2 + 1 · 2xdx
Z
1
i) cos(x)dx
sen(x)
Z
1 1
j) · dx
ln(x) x
Z
1
k) · 2xdx
x2 + 1
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 157
Z
l) exp( sen(x)) cos(x)dx
Z
m) exp(x2 + 1) · 2xdx
1
x2
Z
e) dx
0 (x3 + 5)5
Z p
f) (3x2 + 1) x3 + x − 2 dx
Z
1
g) dx
x ln(x)
ex
Z
h) dx
ex + 1
Z p
i) cos(2x) sen(2x) dx
Z
j) (3e3x − sen(x))(cos(x) + e3x )45 dx
Z
k) (3x2 + 4x + 1)(x3 + 2x2 + x + 5)45 dx
Z 1 p
l) 2x2 x3 + 1 dx
0
[ln(x + 1)]3
Z
m) dx
x+1
2
ex + e−x
Z
n) √ dx
1 ex − e−x
Z
o) (x − 1) cos[(x − 1)2 ] dx
CAPÍTULO 4. INTEGRAIS 158
Z 1
x
p) √ dx
0 +1 x2
Z p
q) sen(2x − 1) cos(2x − 1) + 1 dx
Z 1
x
r) dx
−1 (x2 + 1)5
Z 1 3
s) (14x6 + 6)(x7 + 3x) 5 dx
0
Z 2
1
t) p dx
1 x ln(x)
√
1
e x
Z
u) √ dx
0 x
Z
v) cos(x − 1) [ sen(x − 1)]10 dx
Z
w) (ex + 1) sen(ex + x) dx
Z
4
x) dx
(1 + 2x)3
2
e(x−1)
Z
y) √ dx
1 e(x−1)
Z 1 √
sen( x)
z) √ dx
0 x
Questão 8: Calcule a área situada entre o gráco da função f (x) e o gráco da função g(x), no
intervalo indicado. Em cada caso, desenhe em uma mesma gura os grácos de f (x) e de g(x),
hachurando a área em questão.
a) f (x) = x2 ; g(x) = x; 0 ≤ x ≤ 1
b) f (x) = ex ; g(x) = 0; 0 ≤ x ≤ 2
Equações Diferenciais
5.1 Introdução
Neste capítulo estudaremos as chamadas equações diferenciais. Equações diferenciais são equações
que incluem, entre seus termos, as derivadas de uma função. Para formarmos uma compreensão
sobre o que são as equações diferenciais, pode ser interessante começarmos dando exemplos de
equações que não são equações diferenciais:
A(r) = π r2 (5.1)
x2 − 3x + 2 = 0 (5.2)
y 2 + x2 = 1 (5.3)
d2 y dy
2
+ 5 + 4y = sen(t) (5.4)
dt dt
Essa equação inclui dois termos que envolvem derivadas de uma função y(t), que são a derivada
d2 y dy
segunda de y em relação a t, dada por
dt2
, e a derivada de y em relação a t, dada por
dt . Devido
ao fato de incluir esses termos, essa é uma equação diferencial.
Um ponto crucial para o entendimento sobre equações diferenciais é a pergunta: o quê estamos
procurando quando resolvemos uma equação diferencial? Nos casos das equações que foram estuda-
das até o ensino médio, as quais não são equações diferenciais, estamos normalmente em busca de
159
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 160
um ou mais valores de x que fazem com que a igualdade seja válida (caso da equação (5.2) mostrada
acima), ou de um conjunto de pares de valores das variáveis x e y que fazem com que a igualdade
seja satisfeita (caso da equação (5.3) mostrada acima). Mas, e no caso das equações diferenciais, o
que estamos procurando? Esse ponto é bastante importante:
d2 y
1. Se tomarmos a derivada segunda de y(t), ou seja,
dt2
;
É isso que signica dizer que a função y(t) satisfaz à equação (5.4).
Essa lei diz que a força (F ) que atua sobre um objeto é igual à massa (M ) desse objeto vezes
a sua aceleração (a). Designamos a posição do objeto pela função y(t). Devemos lembrar que
a velocidade corresponde à derivada da posição do objeto, enquanto a aceleração corresponde à
derivada da velocidade v(t) do objeto, o que quer dizer que a aceleração corresponde à derivada
segunda da posição do objeto:
dv d2 y
F =M· =M· 2 (5.7)
dt dt
Essa equação diferencial corresponde à descrição mais geral do movimento de um objeto. A partir
dela, obtemos descrições de diferentes situações quando especicamos o que é a força que está agindo
sobre o objeto em cada caso. Por exemplo, se supomos que o objeto simplesmente cai pela ação da
força da gravidade (força peso), a força agindo sobre o objeto será dada por:
Fp = −M · g (5.8)
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 161
Nessa expressão g representa a constante gravitacional, e o sinal de menos signica que a força
gravitacional sempre tem ação para baixo (convencionamos o nosso eixo y como representando a
altura em que o objeto se encontra, o que signica que y cresce para cima). A equação da velocidade
do objeto é dada por:
dv dv
M· = −M · g ⇒ = −g (5.9)
dt dt
A solução da equação diferencial da velocidade é então obtida por uma simples integração:
Z
v(t) = (−g)dt = −g · t + c1 (5.10)
sendo c1 a constante arbitrária decorrente da integração. É fácil notar que, quando t = 0, temos que
v(0) = c1 . Ou seja, a constante c1 signica a velocidade do objeto no instante inicial. Chamaremos
essa velocidade inicial de v0 , de forma que a equação da velocidade ca:
v(t) = −g · t + v0 (5.11)
dy
= v(t) (5.12)
dt
de forma que a posição é dada pela integral da velocidade:
Z Z
1
y(t) = v(t)dt = (−gt + v0 )dt = − gt2 + v0 t + c2 (5.13)
2
onde c2 é a constante arbitrária decorrente desta última integração. Novamente, podemos facilmente
notar que no instante inicial t = 0 temos y(0) = c2 , ou seja, a constante c2 corresponde à posição
inicial do objeto, que chamaremos de y0 . A expressão da posição do objeto em função do tempo
então ca:
1
y(t) = − gt2 + v0 t + y0 (5.14)
2
Essa expressão, que representa o movimento de um objeto sujeito à força da gravidade, é usualmente
ensinada nos livros de ensino médio. Por quê a expressão tem essa forma? E por quê isso nunca
é explicado nos livros de ensino médio? Essa forma é consequência das regras de integração, que
foram vistas no capítulo anterior. Só é possível explicar a forma dessa expressão utilizando conceitos
de cálculo diferencial e integral por esse motivo a explicação não é mostrada no ensino médio.
Conhecendo o cálculo diferencial e integral, no entanto, nós podemos estudar situações mais
complexas do que essa. Podemos supor, por exemplo, que o objeto está sujeito à força da gravidade
somada à força de atrito do ar, que age quando o corpo se desloca no ar. Suponhamos que a força
de atrito do ar seja proporcional à velocidade do objeto:
Fa = −K · v (5.15)
O sinal de menos nessa expressão signica que a força de atrito age sempre na direção contrária à
da velocidade, e K corresponde à constante de atrito. A força total agindo sobre o objeto é igual à
força da gravidade mais a força de atrito, ou seja:
F = Fa + Fp = −K · v − M · g (5.16)
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 162
dv
M = −K · v − M · g (5.17)
dt
ou ainda:
dv K
=− ·v−g (5.18)
dt M
Desta vez, a solução da equação diferencial não pode ser obtida diretamente por meio de uma
integração. Nós mostraremos, mais adiante, como essa equação pode ser resolvida utilizando o
método de equações separáveis. Desta vez, a solução da equação da velocidade será dada por:
−Kt Mg
v(t) = C1 exp − (5.19)
M K
Nessa equação, C1 é uma constante arbitrária, decorrente de uma integração que é realizada durante
o processo de resolução da equação diferencial. A equação da posição do objeto pode agora ser obtida
pela simples integração da velocidade:
C1 M −Kt Mg
y(t) = − exp − t + C2 (5.20)
K M K
Agora, C2 é outra constante arbitrária, decorrente desta última integração. Embora a situação de
um objeto caindo sob a ação tanto do peso quanto do atrito do ar seja bastante comum, tal situação
normalmente não é ensinada no ensino médio. O estudo de situações assim ocorre no âmbito do
estudo das equações diferenciais. Utilizando equações diferenciais, podemos estudar uma innidade
de situações que correspondem a diferentes possíveis casos práticos.
Grande parte das leis da natureza servem para explicar como grandezas variam, ou seja, dizem
respeito a derivadas dessas grandezas; ou
Outra parcela das leis naturais explica como as variações em diferentes grandezas são relaci-
onadas entre si, ou seja, relacionam as derivadas dessas diferentes grandezas.
Fenômenos de difusão, nos quais uma grandeza física se propaga em um meio no sentido de
caminhar dos locais de maior concentração para os locais de menor concentração, conduzirão a
equações diferenciais do tipo difusivo. Exemplos de situações assim são: propagação do calor,
mistura ou espalhamento de substâncias em uidos, processos osmóticos, difusão de fármacos
nos tecidos do organismo, e outros.
Fenômenos envolvendo reações em cadeia, que vão desde as reações químicas e as reações
termonucleares até a propagação de epidemias, de boatos e de fake news, envolverão equações
diferenciais de reação.
A maioria dos fenômenos de interesse encontrados no mundo real envolve uma combinação de vários
desses fenômenos mencionados acima, produzindo equações diferenciais que envolvem termos com
propriedades diversas. No próximo capítulo, vamos mostrar alguns exemplos clássicos de equações
diferenciais aplicáveis a sistemas biológicos, que são utilizadas nos contextos da farmacocinética, da
epidemiologia e da ecologia.
algumas situações a expressão analítica da função seja indispensável para viabilizar a análise a ser
feita, em grande parte das situações práticas o gráco da função é tudo o que se precisa.
Neste texto, utilizaremos o sistema SageMath para encontrar as soluções numéricas de equações
diferenciais. Ao nal deste capítulo, serão apresentados exemplos que ilustram a obtenção de tais
soluções.
5.2 Terminologia
Nesta seção são apresentadas as denições de alguns termos (ou seja, a terminologia) empregados
no estudo de equações diferenciais.
d2 y dy
+ 5 − 3y = sen(t) (5.21)
dt2 dt
∂2q ∂2q ∂2q 2
+ + = sen(x + y2 + z2) (5.22)
∂x2 ∂y 2 ∂z 2
Em primeiro lugar, notamos que o símbolo ∂ é utilizado para representar a operação de derivada
de funções de várias variáveis (cumprindo um papel análogo ao símbolo d no caso das funções de
uma única variável).
Fica claro, à primeira vista, que a equação (5.21) só tem derivadas de y em relação a t. A função
y(t) que será solução dessa equação terá apenas t como variável. Já na equação (5.22)aparecem
derivadas de q em relação tanto a x, quanto a y e a z. A função q(x, y, z) terá portanto três
variáveis, x, y e z. Assim, a equação (5.21) é uma equação diferencial ordinária, e a equação (5.22)
é uma equação diferencial parcial.
O leitor mais atento já deve ter notado que a variável dependente é a função que aparece sendo
derivada, em todas as operações de derivação que fazem parte da equação diferencial, enquanto as
variáveis independentes aparecem como sendo as variáveis em relação às quais a variável dependente
é derivada. Dessa maneira, conseguimos facilmente distinguir quem são as variáveis independentes e
quem é a variável dependente em uma equação diferencial. No âmbito deste curso, nós só trabalha-
remos com equações diferenciais organizadas dessa maneira. O leitor deve ser alertado, no entanto,
que em situações mais complexas essa distinção pode não ser válida.
Nestas Notas de Aula, iremos tratar exclusivamente das equações diferenciais ordinárias, que se
referem a funções de uma única variável. Assim, sempre que falarmos aqui simplesmente de uma
equação diferencial, deve car subentendido que se trata de uma equação diferencial ordinária.
1
y(t) = − gt2 + 5t + 30 (5.26)
2
Nós dizemos que a expressão (5.26) é uma solução particular da equação diferencial (5.24) porque ela
descreve como um corpo se movimenta em uma situação particular, para dadas condições iniciais.
Em geral, chamamos a expressão da função que resolve uma equação diferencial de solução geral
de uma equação diferencial se essa expressão contém, em formato ainda indeterminado, as constantes
arbitrárias que surgem no processo de resolução da equação. Essas constantes sempre surgem, e
elas ou são as próprias constantes de integração decorrentes do cálculo de integrais envolvidas no
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 166
procedimento de resolução, ou são obtidas por meio de operações realizadas sobre tais constantes.
O fato da expressão da solução geral conter essas constantes indeterminadas é que permite que a
equação seja válida para descrever o comportamento do sistema, quaisquer que sejam suas condições
iniciais.
Também de maneira geral, quando especicamos todas as condições iniciais do problema, es-
sas constantes passam a receber valores numéricos determinados, que representam essas condições
iniciais. Assim, nós dizemos que uma dada expressão é uma solução particular de uma equação
diferencial se as constantes que estavam não denidas na solução geral já tiverem sido substituídas
por valores numéricos. Nesse caso, essa expressão irá representar uma dada situação em que todas
as condições iniciais do problema já se encontram denidas.
Dentre as técnicas de resolução de equações diferenciais, a técnica mais simples é a das equações
diferenciais separáveis; e
Várias equações diferenciais que são importantes sob o ponto de vista das aplicações podem
ser resolvidas por essa técnica;
a técnica das equações diferenciais separáveis foi escolhida para ser apresentada aqui.
Uma equação diferencial é dita separável quando é possível rearranjar seus termos de forma que
do lado esquerdo quem todos os termos que dependam da variável dependente y, e do lado direito
quem todos os termos que dependam da variável independente x. Por exemplo:
dy M (t)
= (5.27)
dt N (y)
Após esse rearranjo, a resolução da equação diferencial se resume a resolver as duas integrais e,
a seguir, manipular a igualdade obtida de forma a explicitar a função y(t).
dy t2 + 3
=
dt exp(y)
Resolução:
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 167
Primeiro rearranjamos a equação, de forma a deixar do lado direito todos os termos que contêm a variável y,
tudo multiplicado por dy , deixando do lado direito todos os termos que contêm a variável t, tudo multiplicado
por dt:
exp(y) dy = (t2 + 3) dt
Integramos então os dois lados da equação:
Z Z
exp(y) dy = (t2 + 3) dt
Decaimento radioativo
dR
= −γR (5.29)
dt
sendo:
R: massa da substância radioativa presente na amostra (varia em função do tempo - variável de-
pendente)
Esta equação diferencial representa um fenômeno que pode ser descrito da seguinte forma, em
palavras:
No momento inicial, existe uma certa quantidade de um material que inclui, em sua compo-
sição, um tipo de átomo (ou seja, uma substância) radioativo.
A cada momento, cada átomo radioativo tem igual probabilidade de decair. Essa proba-
bilidade é uma característica da substância radioativa. Substâncias cujos átomos têm alta
probabilidade de decair emitem mais radiação (mais átomos decaem por segundo), mas sua
radioatividade dura menos porque o número de átomos radioativos diminui rapidamente. Já
substâncias cujos átomos têm probabilidade mais baixa de decair emitem menos radiação (me-
nos átomos decaem por segundo), mas sua atividade radioativa dura mais porque o número
de átomos radioativos diminui mais lentamente .
1
Como consequência do fato de que cada átomo da substância radioativa tem igual probabili-
dade de decair em determinado instante, a equação diferencial que representa o decaimento
radioativo tem de ter a forma (5.29). Essa expressão diz que a taxa de variação da quanti-
dade de partículas radioativas presentes no material é proporcional ao número de partículas
existentes em dado momento. A variação é sempre negativa, ou seja, o número de partículas
diminui a cada intervalo de tempo (de onde concluímos que o sinal da taxa de variação tem
de ser negativo).
Resolução:
Z Z
1
dR = (−γ) dt
R
ln(R) = −γt + C
eln(R) = e(−γt+C)
R = eC · e−γt
Para nalizar, substituímos o termo eC , que corresponde à exponencial da constante de integração,
por k , que representa uma constante indeterminada, uma vez que a exponencial de uma constante é
uma constante. Assim obtemos a expressão da solução geral da equação diferencial do decaimento
radioativo:
R(t) = k · e−γt (5.30)
Essa solução nos mostra um fato interessante: o processo de decaimento radioativo como função
do tempo tem como solução uma função exponencial com expoente negativo. A constante arbitrária
k que aparece na solução permite que esta se adapte para representar qualquer massa inicial de uma
substância: quando t = 0, a massa da substância radioativa será R(0) = k .
A gura 5.1 mostra um gráco que representa a massa R(t) de um determinada substância
radioativa em função do tempo. A massa inicial da substância radioativa contida na amostra, neste
exemplo, é de 5g . A constante de decaimento é, neste exemplo, 0.1s−1 . Nota-se que, após 60
segundos, a massa da substância radioativa já será menor que 0.01g .
1
Chamamos a atenção para que a intensidade da radiação emitida depende também do número de partículas que
o átomo emite quando decai, que varia de substância para substância, assim como da energia dessas partículas e da
energia da radiação gama.
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 169
5
R(t)
20 40 60 80 100
Figura 5.1: Massa de uma substância radioativa, R(t), como função do tempo. A constante de
decaimento é igual a 0.1s−1 .
(por exemplo a temperatura), a dinâmica básica será dada pela probabilidade de decomposição das
moléculas da substância. Simplicando a situação de maneira a examinar apenas essa dinâmica
básica, a equação diferencial será idêntica à do decaimento radioativo.
A equação diferencial (5.31) descreve como varia a quantidade de bactérias presentes em uma colônia
de bactérias, em uma situação de ausência de qualquer fator limitante para o crescimento da colônia.
2
Há processos de decomposição diferentes, que decorrem de reações entre diferentes moléculas. Nesses casos, a
equação diferencial será diferente.
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 170
Essa ressalva é importante: se existir por exemplo limitação de alimento disponível, as bactérias
irão competir pelo alimento, e a equação mudará de formato. No formato apresentado na expressão
(5.31), estamos supondo que uma vez que uma bactéria surja, ela terá todas as condições para
se multiplicar, gerando um certo número de outras bactérias após certo intervalo de tempo. A
expressão (5.31) então signica um processo com as seguintes características:
Após um intervalo de tempo, cada bactéria terá dado origem, em média, a N outras bactérias,
sendo que cada bactéria que deu origem a outras irá desaparecer, sendo substituída por essas
N novas bactérias.
Assim, a cada intervalo de tempo, o número de bactérias existente no início do intervalo será
multiplicado por N. Após k intervalos de tempo, o número de bactérias terá sido multiplicado
k
por N .
Esse processo, que nós descrevemos nos itens anteriores como se o tempo fosse dividido em
intervalos, na verdade acontece continuamente. A representação contínua para essa lógica de
um crescimento do número de bactérias proporcional ao número de bactérias já existente em
cada momento, é dada exatamente pela equação (5.31).
Aplicamos agora a técnica de resolução de equações diferenciais separáveis para encontrar a solução
da equação do crescimento de colônias de bactérias.
Resolução:
Z Z
1
dB = (β) dt
B
ln(B) = βt + C
eln(B) = e(βt+C)
B = eC · eβt
Fazemos agora o mesmo que na equação do decaimento radioativo, substituindo o termo eC (que é
uma constante arbitrária) por uma representação mais simples da mesma coisa, ou seja, k:
B(t) = k · eβt (5.32)
A gura 5.2 mostra o crescimento de uma colônia de bactérias com o passar do tempo. Nesse
exemplo, há inicialmente 100 bactérias em uma amostra. A constante de crescimento da colônia,
neste exemplo, é dada por β = 0.3. Nota-se que, após 10 horas, o número de bactérias cresce para
2000. Se considerássemos um tempo de 20 horas, o número de bactérias caria maior que 40.000.
Notamos que a equação do crescimento de bactérias conduz a uma solução (5.32) que tem a
forma de uma função exponencial do tempo. Isso corresponde a um crescimento explosivo: uma
quantidade muito pequena de bactérias, em pouco tempo, se transforma em uma grande quantidade,
e essa quantidade continua crescendo cada vez mais rápido. É evidente que esse tipo de crescimento
não pode continuar por muito tempo, uma vez que mais cedo ou mais tarde os recursos disponíveis
terão sido consumidos, e o crescimento terá de parar. Apesar disso, a equação (5.31) tem uma
grande importância prática para representar situações tais como:
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 171
2000
B(t)
1500
1000
500
0 2 4 6 8 10
Figura 5.2: Número de bactérias, B(t), como função do tempo. A constante de crescimento da
colônia é igual a 0.3h−1 .
Contaminação de alimentos por bactérias. Nessa situação, tipicamente uma porção de ali-
mento, possivelmente industrializado e embalado, sofre a contaminação de um pequeno nú-
mero de bactérias. Após pouco tempo, a contaminação se torna visível, e o alimento deve
ser descartado. No tempo decorrido entre a contaminação ocorrer e ela se tornar visível, o
processo de crescimento da colônia de bactérias será parecido com o crescimento exponen-
cial descrito pela expressão (5.32), uma vez que a quantidade de alimentos será tipicamente
proporcionalmente grande, comparada ao tamanho da colônia de bactérias.
Outros processos biológicos, não relacionados com bactérias, também podem ser descritos por
equações diferenciais semelhantes a (5.31). Um exemplo disso é a chegada de pragas (insetos,
fungos, etc) em lavouras de monocultura, na ausência de predadores naturais. A expansão
da quantidade dessas pragas tende a ocorrer inicialmente de acordo com uma lei exponencial,
do tipo (5.32), até que tal expansão atinja uma limitação, que é a própria destruição da área
cultivada.
Crescimento logístico
dP P
=k 1− P (5.33)
dt S
sendo:
P
1− (5.34)
S
Nesse termo, P (t) é o tamanho da população, e S representa o tamanho máximo que essa população
pode ter para poder existir no ambiente, dada a limitação de recursos nesse ambiente. Deve-se notar
que, à medida em que P (t) cresce e se aproxima de S, o termo (5.34) se aproxima de zero. Isso
dP
faz com que a taxa de crescimento da população,
dt , também que próxima de zero, ou seja, o
crescimento passa a car cada vez mais lento. Se ocorrer de P (t) igualar S , o termo (5.34) ca igual
a zero, e a taxa de crescimento também se anula.
Deve-se notar que a introdução desse termo na equação diferencial do crescimento permite
incluir o efeito de restringir a disponibilidade de recursos, sem que se faça a modelagem de como
especicamente a espécie em questão interage com o recurso, e até mesmo sem especicar qual é o
recurso cuja limitação causa a limitação do crescimento da população. Grande parte das situações
relacionadas com a existência de alguma limitação de recursos no ambiente pode ser modelada desta
forma. No entanto, é importante manter em mente que algumas vezes se faz necessária a construção
de modelos mais detalhados sobre o efeito da limitação de recursos.
Resolução:
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 173
Z Z
1
dP = k dt
1 − PS P
Z Z 1 Z
1 S
= dP + dP = k dt
P 1 − PS
P
ln(P ) − ln 1 − = kt + C
S
!
P
ln = kt + C
1 − PS
P
P
= ekt+C = eC · ekt = γekt
1− S
P
P = 1− γekt
S
P kt
P+ γe = γekt
S
γekt
P 1+ = γekt
S
A expressão nal da solução da equação diferencial do crescimento logístico ca:
γekt
P (t) = γekt
(5.35)
1+ S
A gura 5.3 mostra, em azul, o gráco de um processo de crescimento logístico de uma população
de bactérias P (t), considerando uma constante de crescimento γ = 0.3 e um tamanho máximo de
população suportado pelo ambiente dado por S = 5000. A população inicial é de 10 bactérias.
Na mesma gura, é mostrado em vermelho o gráco do que seria o processo de crescimento dessa
população se não houvesse a restrição de recursos no ambiente, Pe (t), que ocorreria se a equação
não tivesse o termo logístico (5.34), cando com a forma (5.31). Essa gura mostra que os grácos
de P (t) e de Pe (t) praticamente coincidem enquanto a população é pequena, ou seja, enquanto
os recursos do ambiente podem ser considerados abundantes para aquele tamanho de população.
Isso ocorre aproximadamente nas primeiras 12 horas, período em que a população de bactérias se
mantém abaixo de 200 indivíduos. Quando o número de bactérias ultrapassa esse valor, passa a
haver uma competição entre as bactérias pelo recurso disponível, o que causa uma desaceleração no
ritmo de crescimento da população. A gura então mostra que enquanto Pe (t) cresce de maneira
ilimitada, atingindo valores enormes do número de bactérias na colônia, a função P (t), que tem o
seu crescimento limitado pela restrição de recursos no ambiente, tem uma desaceleração que leva o
tamanho da população a convergir gradualmente para o total de 5000 indivíduos, que é o número
máximo suportado pelo ambiente.
P(t)
5000 Pe (t)
4000
3000
2000
1000
10 20 30 40
Figura 5.3:
Ta : temperatura do ambiente
especicamente, essa equação, com essa forma, faz referência a uma situação em que um objeto que
tem uma temperatura T se encontra em um ambiente cuja temperatura é Ta . Se a temperatura do
objeto for diferente da temperatura do ambiente, o objeto irá trocar calor com o ambiente, de forma
que sua temperatura irá gradativamente se aproximar da temperatura do ambiente. Assume-se que
o objeto é pequeno, de forma que a sua temperatura não irá afetar a temperatura do ambiente.
A lógica dessa equação é que a taxa de variação da temperatura do objeto será tão maior (ou
seja, a mudança em sua temperatura será tão mais rápida) quanto maior for a diferença entre a
temperatura do objeto e a temperatura do ambiente. Assim, por exemplo, uma xícara de café
servido a90o C , em um ambiente que se encontra a 25o C , irá inicialmente esfriar de maneira rápida.
o
Em poucos minutos estará a 80 C , por exemplo. Se a xícara for deixada no ambiente por muito
o
tempo, ela acabará atingindo a temperatura de 30 C em algum momento. Ela vai então demorar
o
muito mais tempo para atingir 26 C , sendo que a sua temperatura irá variar de maneira cada vez
3
Embora essa equação diferencial seja chamada lei do resfriamento, ela funciona igualmente bem para representar
o aquecimento de objetos frios deixados em um ambiente mais quente que eles.
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 175
100
T(t)
Ta
80
60
40
20
2 4 6 8 10
Figura 5.4:
Resolução:
Z Z
1
dT = α dt
Ta − T
− ln(Ta − T ) = αt + C
ln(Ta − T ) = −αt − C
Ta − T = e−αt e−C
Para se chegar à forma nal da equação, substituímos a constante indeterminada e−C pela constante
também indeterminada γ, assim tornando a expressão mais simples:
É fácil notar que, quando o tempo t se aproxima de innito, o termo γe−αt se aproxima de zero,
fazendo a função T (t) se aproximar de Ta . A temperatura do objeto, T (t), somente se igualará à
temperatura Ta do ambiente para um tempo innito.
A gura 5.4 mostra o gráco da temperatura de um objeto que se encontra inicialmente à
temperatura de 100o C , em um ambiente à temperatura Ta = 25o C . A constante de transferência
de calor, neste exemplo, é dada por γ = 0.5. A mesma gura mostra também uma linha horizontal
tracejada que representa a temperatura Ta do ambiente. Pode-se ver, na gura, o comportamento
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 176
dX
= α(Xs − X) (5.38)
dt
e a solução da equação ca:
X(t) = Xs − γe−αt (5.39)
De maneira mais geral, a concentração do fármaco na corrente sanguínea também será uma função
do tempo e, portanto, também terá de ser descrita por uma equação diferencial. Nesse caso, a
equação (5.38) continuará válida, mas a sua solução terá de ser determinada por um processo que
envolve resolver simultaneamente a equação de X(t) e a equação de X(s), de forma que a expressão
(5.39) não mais representará a solução do problema. Veremos essa discussão em maior detalhe no
próximo capítulo, que irá tratar de sistemas de equações diferenciais, e que irá discutir os modelos
de alguns sistemas biológicos.
dy
= f (y, t)
dt
sendo f (y, t) uma função cuja expressão envolve as variáveis y e de t. Nessa equação, y é a variável
dependente e t é a variável independente. Suponha-se que a expressão de f (y, t) já tenha sido
previamente denida. O código a seguir realiza o cálculo da expressão da solução da equação
diferencial:
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 177
A primeira linha desse código serve para denir t como uma variável. Lembramos que, no
Sage, apenas x já é pré-denida como sendo uma variável; qualquer outra variável deve ser denida
explicitamente por meio do comando var. A segunda linha dene y como uma variável dependente,
ou seja, como uma função da outra variável, t. A terceira linha faz o armazenamento da expressão
da equação diferencial na variável computacional de. Para entender essa linha, deve-se notar:
Os dois sinais de igual juntos, ou seja, ==, signicam o sinal de igual da expressão da equação
diferencial. É preciso utilizar essa notação, e não a notação que pareceria mais natural que
seria simplesmente um sinal de igual, porque no Sage o sinal de igual tem outro signicado:
um sinal de igual signica o comando de atribuição, ou seja, o que está à direita do sinal de
igual é atribuído
4 à variável computacional que se encontra à esquerda do sinal.
Essa expressão é então atribuída à variável computacional de, ou seja, é armazenada nessa
variável, quando se faz de = diff(y,t) == f(y,t).
Por m, na quarta linha o comando desolve resolve a equação diferencial e então armazena a
expressão da solução na variável computacional ys. A sintaxe desse comando é a seguinte:
O primeiro argumento do comando, acima denominado de, deve conter a expressão da equação
diferencial a ser resolvida.
O terceiro argumento, escrito acima como ivar=t, faz a identicação da variável independente
da equação diferencial. Deve-se notar que, neste caso, a variável independente é t. Se a variável
independente fosse x, o terceiro argumento seria escrito como: ivar=x.
Para exemplicar o uso do sistema Sage para a determinação da solução analítica de uma equação
diferencial, consideremos o problema de resolver a seguinte equação diferencial:
dy
= −3y + cos(t)
dt
O código mostrado a seguir faz a determinação da solução deste problema:
4
Isso é o mesmo que dizer que o que está à direita do sinal de igual é armazenado na variável computacional que
se encontra à esquerda do sinal.
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 178
Como resultado da execução desse código, o sistema Sage exibe a seguinte resposta:
1
3 cos(t) + sin(t)e3t + 10C e−3t
10
Essa resposta pode parecer um pouco estranha, mas basta reorganizá-la um pouco para se obter
a expressão de y(t) que resolve a equação diferencial:
3 −3t 1 −3t
y(t) = e cos(t) + sen(t) + Ce
10 10
A expressão de y(t), como esperado, depende de uma constante arbitrária C.
O mesmo comando desolve pode ser utilizado para resolver equações diferenciais nos casos em
que se conhecem as condições iniciais, ou seja, conhece-se o valor de y(t) quando t = t0 , sendo
y(t0 ) = y0 . Nesse caso, o código caria assim:
A única diferença deste código em relação ao anterior ocorre na quarta linha, que agora tem
quatro argumentos. O quarto argumento, escrito acima como ics=[t0,y0], dene as condições ini-
ciais da equação diferencial. A primeira condição, t0, dene o valor inicial da variável independente
t. A segunda condição, y0, dene o valor inicial da variável dependente y.
Para exemplicar a utilização do sistema Sage para casos deste tipo, consideramos a mesma
equação diferencial utilizada anteriormente:
dy
= −3y + cos(t)
dt
agora com as condições iniciais dadas por:
t0 = 0 y0 = 10
> show(ys)
Como resultado da execução desse código, o sistema Sage exibe a seguinte resposta:
1
3 cos(t)e3t + e3t sin(t) + 97 e−3t
10
dy
= f (y, t)
dt
com a seguinte condição inicial:
y(t0 ) = y0
sendo f (y, t) uma função cuja expressão envolve as variáveis y e t, com y a variável dependente e
t a variável independente da equação diferencial. Suponha-se que a expressão de f (y, t) já tenha
sido previamente denida. O código a seguir realiza a determinação numérica dos valores de y para
diferentes valores de t no intervalo t0 ≤ t ≤ tmax .
A primeira linha desse código serve para denir t como uma variável. A segunda linha dene y
como uma variável dependente, ou seja, como uma função da outra variável, t. A terceira linha faz
o armazenamento da expressão da equação diferencial na variável computacional de. Por m, na
quarta linha o comando desolve_rk4 resolve numericamente a equação diferencial, determinando
um conjunto de pontos (t, y) que correspondem ao gráco da função y(t) que resolve a equação
diferencial. Esses pontos serão mostrados em uma gura, que será o resultado da execução desse
comando. A sintaxe desse comando é a seguinte:
O terceiro argumento, escrito acima como ivar=t, faz a identicação da variável independente
da equação diferencial. Deve-se notar que, neste caso, a variável independente é t.
O quinto argumento, indicado como end_points=tmax, diz que a solução será calculada até o
tempo tmax.
Por m, o sexto argumento, output='plot', diz que o resultado deve ser apresentado na
forma de um gráco. Seria possível, mudando este argumento, fazer com que o resultado fosse
apresentado na forma de uma tabela de valores de y e t, e não como um gráco.
Para exemplicar o uso do sistema Sage para a determinação da solução analítica de uma equação
diferencial, consideremos o problema de resolver a seguinte equação diferencial:
dy
= −3y + cos(t)
dt
com as condições iniciais dadas por:
t0 = 0 y0 = 5
Nesse código, pode ser visto que o valor inicial de t foi denido igual a 0, o valor inicial de y foi
estabelecido como sendo 5, e o tempo nal da simulação foi denido como 15. Como resultado da
execução desse código, o Sage mostra o gráco da gura 5.5.
Caso desejássemos armazenar essa gura em um arquivo no formato PDF, poderíamos utilizar
a seguinte variação do mesmo código:
Esse código não irá exibir a gura. Em vez disso, na quarta linha a gura será guardada na variável
computacional P. Na quinta linha, a gura será salva no arquivo denominado figura.pdf.
CAPÍTULO 5. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 181
2 4 6 8 10 12 14
Figura 5.5: Gráco de y em função de t que representa a solução numérica da equação diferencial
mostrada no exemplo.
Capítulo 6
6.1 Introdução
No capítulo anterior nós discutimos as equações diferenciais, com especial ênfase em mostrar como
essas equações servem para representar processos que ocorrem no mundo real. Neste capítulo,
falaremos dos chamados sistemas de equações diferenciais, enfocando especicamente a sua aplicação
na construção de três modelos biológicos de grande importância:
Os sistemas de equações diferenciais são conjuntos de equações diferenciais, em que cada equação
representa um processo, sendo que os processos interagem entre si. Um exemplo disso é a situação
em que, em um determinado ambiente, duas espécies convivem, sendo que uma delas é um predador,
e a outra é uma presa que constitui o principal alimento do predador. A variação do número de
indivíduos de cada espécie será regida por uma equação diferencial, que irá descrever a população
dessa espécie. No entanto, o número de indivíduos de uma das espécies interfere em como varia o
número de indivíduos da outra espécie. Assim, se há mais presas, os predadores terão mais alimento,
e o número de predadores tende a aumentar. Por outro lado se há mais predadores, mais presas
serão capturadas, e o número de presas deverá diminuir. As equações do número de indivíduos de
cada espécie, portanto, têm de levar em conta o número de indivíduos da outra espécie.
Faremos a discussão detalhada de cada um desses modelos a seguir, mostrando como os modelos
baseados em sistemas de equações diferenciais permitem a construção de modelos precisos para
tais processos, capazes de descrever seu funcionamento, assim como prever sua evolução futura
a partir de uma situação presente conhecida. Esse tipo de modelo tem hoje grande importância
tanto no estudo desses fenômenos quanto no manejo de situações práticas. No entanto, como tópico
preliminar, apresentaremos na próxima seção uma discussão sobre a utilização do sistema SageMath
para determinar a solução numérica
1 de sistemas de equações diferenciais.
1
Lembramos que há dois tipos de soluções de equações diferenciais: as soluçõesanalíticas, que são as expressões
das funções que resolvem as equações, e as soluçõesnuméricas, que são sequências de valores das funções que resolvem
as equações. Essas últimas podem ser entendidas como sendo os grácos das funções que solucionam as equações
diferenciais.
182
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 183
dy1
= f1 (y1 , y2 , . . . , yn , t)
dt
dy2
= f1 (y1 , y2 , . . . , yn , t)
dt (6.1)
.
.
.
dyn
= fn (y1 , y2 , . . . , yn , t)
dt
Essa representação é bastante geral, servindo para descrever o comportamento de um sistema de n
variáveis dependentes, representadas por y1 até yn . Cada linha mostra a expressão da derivada de
uma variável dependente, que é uma função de todas as variáveis dependentes e também da variável
independente t.
Para simplicar a apresentação, nesta seção faremos toda a discussão considerando o seguinte
exemplo de sistema de equações diferenciais:
dy1
= −2y1 + y2 − y3
dt
dy2
= −y1 − 3y2 + y3 (6.2)
dt
dy3
= −y2 − 5y3 + sen(2t)
dt
Este é um sistema de três equações diferenciais, que representam as expressões das derivadas das
variáveis dependentes y1 , y2 e y3 em relação à variável independente t. Vamos ainda supor que deseja-
se determinar a solução no intervalo 0 ≤ t ≤ 10, para condições iniciais das variáveis dependentes
dadas por:
y1 (0) = 1 y2 (0) = 2 y3 (0) = −1 (6.3)
A primeira linha do código declara as variáveis do problema, que recebem os nomes de y1, y2,
y3 e t. A ideia é que essas variáveis computacionais sirvam para representar as variáveisy1 ,
y2 , y3 e t que aparecem no sistema (6.2).
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 184
A segunda, terceira e quarta linhas denem as expressões das funções f1, f2 e f3, que signi-
cam as expressões das derivadas de y1, y2 e y3 em relação a t.
A quinta linha utiliza o comando desolve_system_rk4 para resolver o sistema de equações
diferenciais (6.2).
O primeiro argumento desse comando, [f1,f2,f3] informa os nomes das funções que
representam as derivadas das variáveis dependentes do sistema.
A primeira linha, cujo conteúdo é: Q1=[ [i,j] for i,j,k,w in H], extrai a primeira e a
segunda colunas da tabela que se encontra armazenada na variável H, e as armazena na variável
Q1. Analogamente, a terceira e a quinta linhas extraem respectivamente a primeira e a terceira
colunas da tabela e a primeira e a quarta colunas da tabela, armazenando os resultados nas
variáveis Q2 e Q3, respectivamente.
O primeiro argumento, Q1 é uma variável que contém os dados que serão traçados no
gráco, sendo que os dados da primeira coluna signicam as abscissas t e os dados da
segunda coluna signicam as ordenadas y1 desse gráco.
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 185
2
y1 (t)
y2 (t)
y3 (t)
1.5
0.5
2 4 6 8 10
-0.5
-1
Finalmente, a sétima linha, que contém LP1 + LP2 + LP3 faz com que os grácos que se
encontram armazenados nas variáveis LP1, LP2 e LP3 sejam todos traçados em uma única
gura.
A execução dos dois trechos de código mostrados acima resulta na gura 6.1.
dx
= αx − βx · y
dt
(6.4)
dy
= δ x · y − γy
dt
Nesse modelo, x(t) representa a quantidade de presas em cada instante de tempo e y(t) representa
a quantidade de predadores ao longo do tempo. A lógica desse modelo pode ser descrita da seguinte
forma:
O número de presas, x(t), cresce proporcionalmente ao próprio número de presas. Não há res-
trição ambiental (por exemplo, limitação da quantidade de alimento disponível). Na ausência
de predadores, a equação diferencial do número de presas caria com a seguinte forma:
dx
= αx
dt
o que levaria o número de presas a crescer exponencialmente (a equação caria igual à equação
do crescimento de colônias de bactérias, conforme mostrada no capítulo anterior).
Por sua vez, os predadores dependem da captura de presas para se alimentarem. Assim,
o número de novos indivíduos na população de predadores será proporcional ao número de
presas capturadas que, como já discutido, é proporcional ao produto x · y . Assim, o termo
δx · y representa o crescimento do número de predadores. Já o termo γy representa a redução
do número de predadores que naturalmente ocorre devido a causas múltiplas: envelhecimento,
doenças, acidentes, etc.
Exemplo 6.1 Considere-se o modelo presa-predador denido pelo sistema de equações (6.4), com os se-
guintes valores de parâmetros: α = 1, β = 4, δ = 2 e γ = 1.5. As populações iniciais de presas e de
predadores são, respectivamente, x(0) = 1 e y = 0.7, signicando que há uma população por exemplo de 1000
presas e 700 predadores inicialmente no ambiente. Os grácos que representam a evolução dessas populações,
x(t) e y(t), com o passar do tempo são obtidos com a ajuda do sistema SageMath, e são mostrados na gura
6.2. Nota-se nessa gura que: (i) quando o número de predadores é pequeno, o número de presas aumenta
rapidamente; (ii) o aumento do número de presas cria as condições para o rápido aumento do número de
predadores; (iii) quando o número de predadores torna-se grande, o número de presas diminui rapidamente;
(iv) a escassez de alimento, causada pela diminuição do número de presas, faz o número de predadores cair
rapidamente, de forma a tornar-se pequeno. Um processo periódico que repete ciclicamente essas etapas se
coloca em ação, criando uma oscilação das duas populações que irá prosseguir indenidamente.
O código SageMath que produz a gura 6.2 é mostrado a seguir.
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 187
x(t)
y(t)
1.5
0.5
0 10 20 30 40 50
Figura 6.2: Evolução das populações de presas e predadores ao longo do tempo. Azul: população
de presas, x(t). Vermelho: população de predadores, y(t).
Ao nal da execução deste código, a gura 6.2 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
5
x(t)
y(t)
20 40 60 80 100
Figura 6.3: Evolução das populações de presas e predadores ao longo do tempo, considerando a
limitação da população de presas decorrente de restrições ambientais. Azul: população de presas,
x(t). Vermelho: população de predadores, y(t).
Ao nal da execução deste código, a gura 6.3 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
I: Indivíduos infectados são aqueles que contraíram a doença. O modelo SIR assume que: (i) esses
indivíduos podem transmitir a doença para indivíduos susceptíveis, caso haja contato entre
esses indivíduos; e (ii) o indivíduo infectado irá se curar após algum tempo, e passará a contar
com uma imunidade temporária contra nova infecção pela mesma doença, tornando-se um
indivíduo recuperado.
R: Indivíduos recuperados são aqueles indivíduos não infectados que apresentam uma imunidade
temporária contra a doença, o que signica que não irão contrair a doença mesmo que tenham
contato com indivíduos infectados. A imunidade pode ser decorrente de esses indivíduos
já terem sido infectados recentemente, tendo se curado, ou ainda pode ser decorrente de
vacinação. Após ser decorrido algum tempo, esses indivíduos perdem a imunidade, tornando-
se novamente susceptíveis.
dS
= −β · I · S + µ · R
dt
dI
=β·I ·S−γ·I (6.6)
dt
dR
=γ·I −µ·R
dt
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 190
sendo que S(t) representa a proporção de indivíduos susceptíveis na população, a cada instante,
I(t) representa a proporção de indivíduos infectados, e R(t) representa a proporção de indivíduos
recuperados. Como todos os indivíduos da população devem estar em um dos três estados, ou
susceptível, ou infectado, ou recuperado, a soma das três proporções deve ser igual a um, ou seja:
O outro fator que faz variar o número de indivíduos susceptíveis, além do fato de que uma
proporção desses indivíduos se tornarão infectados, é a perda da imunidade dos indivíduos
recuperados. Assim, o termo µR representa a perda da imunidade de parte dos indivíduos
recuperados que se tornam novamente susceptíveis. Esse termo aparece, portanto, com sinal
positivo na equação da derivada do número de susceptíveis. O mesmo termo µR tem de
dR
aparecer também na equação da derivada do número de indivíduos recuperados,
dt , porém
com sinal negativo, pois signica um processo que reduz o número de recuperados, que se
tornam susceptíveis.
Por m, o termo γ·I signica que a cada intervalo de tempo uma proporção dos indivíduos
que contraíram a doença, estando infectados, irá se recuperar, e esses indivíduos passarão a
ser recuperados, deixando de ser infectados. Esse termo, portanto, deve aparecer com sinal
positivo na equação da derivada do número de indivíduos recuperados, e com sinal negativo
dI
na equação da derivada do número de indivíduos infectados,
dt .
O modelo SIR representado pelo sistema de equações (6.6) não tem solução analítica geral
conhecida. Seu estudo, portanto, é feito a partir de métodos numéricos que servem para determinar
os grácos das funções.
Exemplo 6.3 Considere-se o modelo SIR da propagação de uma doença contagiosa descrito pelo sistema
de equações diferenciais (6.6), com os seguintes parâmetros: β = 4.7, µ = 0.3 e γ = 1.5. Considere-se ainda
uma população em que inicialmente 99% dos indivíduos são susceptíveis à doença, 1% dos indivíduos estão
infectados e nenhum indivíduo (ou seja, 0% da população) tem imunidade. Os grácos que representam
a variação, ao longo do tempo, da proporção de indivíduos susceptíveis, S(t), da proporção de indivíduos
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 191
1
I(t)
S(t)
R(t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20 25 30
Figura 6.4: Evolução de uma epidemia em uma população ao longo do tempo. Azul: proporção
de susceptíveis, S(t). Vermelho: proporção de infectados, I(t). Verde: proporção de recuperados,
R(t).
infectados, I(t), e da proporção de indivíduos recuperados (ou seja, imunes), R(t), são obtidos utilizando
o sistema SageMath. Esses grácos são mostrados na gura 6.4. Pode-se notar que, após decorridas 30
unidades de tempo, o número de indivíduos infectados atinge um patamar constante, da ordem de pouco mais
de 10% da população. Uma epidemia com tais parâmetros atinge, portanto, um comportamento endêmico,
no qual uma certa parcela da população sempre estará doente.
O código SageMath que produz a gura 6.4 é mostrado a seguir.
Ao nal da execução deste código, a gura 6.4 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
♦
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 192
dS
= −β · I · S + µ · R − φ · S
dt
e ao mesmo tempo somado à derivada de R(t):
dR
=γ·I −µ·R+φ·S
dt
ele passará a representar um uxo de indivíduos sendo transferidos do compartimento S (grupo
de susceptíveis) para o compartimento R (grupo de imunes). Isso é exatamente o que a vacinação
deve fazer, o que signica que a vacinação pode ser representada dessa maneira. A constante φ irá
representar, então, a taxa de vacinação, ou seja, quanto maior φ, maior a proporção da população
de indivíduos susceptíveis que estará sendo vacinada por unidade de tempo. O sistema de equações
diferenciais que irá representar a propagação da epidemia agora sob a condição de vacinação de uma
parcela da população cará então:
dS
= −β · I · S + µ · R − φ · S
dt
dI
=β·I ·S−γ·I (6.7)
dt
dR
=γ·I −µ·R+φ·S
dt
O exemplo a seguir mostra o efeito da introdução da vacinação.
Exemplo 6.4 Considere-se o modelo SIR da propagação da mesma doença contagiosa que havia sido
considerada no exemplo 6.3, com os mesmos parâmetros, β = 4.7, µ = 0.3 e γ = 1.5, e considerando também
as mesmas condições iniciais da população com 99% dos indivíduos susceptíveis à doença, 1% dos indivíduos
infectados e nenhum indivíduo imune. Desta vez, iremos considerar também a presença de vacinação, de
acordo com o sistema de equações (6.7). Inicialmente, supomos uma taxa de vacinação φ = 0.4.
Os grácos que representam a variação, ao longo do tempo, da proporção de indivíduos susceptíveis, S(t),
da proporção de indivíduos infectados, I(t), e da proporção de indivíduos recuperados (ou seja, imunes), R(t),
são novamente obtidos utilizando o sistema SageMath. Esses grácos são mostrados na gura 6.5, sendo
agora superpostos aos grácos que haviam sido obtidos no exemplo 6.3, de forma a compararmos a situação
com e sem vacinação. Pode-se notar que, após decorridas 30 unidades de tempo, o número de indivíduos
infectados novamente atinge um patamar constante, agora da ordem de cerca de 5% da população. A mesma
epidemia também atinge, com a taxa de vacinação de φ = 0.4, um comportamento endêmico, no qual uma
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 193
1
I(t)
S(t)
R(t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20 25 30
Figura 6.5: Evolução de uma epidemia em uma população, ao longo do tempo, para uma taxa de
vacinação φ = 0.4. Azul: proporção de susceptíveis, S(t). Vermelho: proporção de infectados, I(t).
Verde: proporção de recuperados, R(t). As curvas em linha contínua correspondem à situação com
vacinação, e as curvas tracejadas correspondem à situação sem vacinação.
certa parcela da população sempre estará doente. O esforço de vacinação terá atingido apenas a redução do
número de indivíduos infectados, mas não terá eliminado a epidemia.
O código SageMath que produz a gura 6.5 é mostrado a seguir. Esse código deve ser acrescentado como
sequência do código do Exemplo 6.3, pois as variáveis computacionais LP1, LP2 e LP3, que armazenam os
grácos dos infectados, susceptíveis e recuperados na situação sem vacinação, são montadas no código ante-
2
rior , sendo apenas chamadas novamente neste código quando da montagem da gura nal, na antepenúltima
linha.
2
Na prática, se o estudante for utilizar a versão on-line do SageMath, deverá colocar na área de comando um
único código que corresponda ao código do Exemplo 6.3 seguido do código mostrado neste Exemplo. Se o estudante
estiver utilizando a versão instalada em seu computador, que é executada por meio do Jupyter Notebook, os dois
códigos podem ser colocados em janelas de comando separadas, colocadas uma logo depois da outra.
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 194
1
I(t)
S(t)
R(t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 5 10 15 20 25 30
Figura 6.6: Evolução de uma epidemia em uma população, ao longo do tempo, para uma taxa de
vacinação φ = 0.8. Azul: proporção de susceptíveis, S(t). Vermelho: proporção de infectados, I(t).
Verde: proporção de recuperados, R(t). As curvas em linha contínua correspondem à situação com
vacinação, e as curvas tracejadas correspondem à situação sem vacinação.
> Graf2.save('figura2.pdf')
Ao nal da execução deste código, a gura 6.5 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
Supomos, a seguir, uma taxa de vacinação φ = 0.8. O resultado é agora mostrado na gura 6.6, com os
novos grácos aqui produzidos novamente superpostos aos grácos correspondentes à situação sem vacinação.
Desta vez, após decorridas cerca de 15 unidades de tempo, o número de indivíduos infectados se aproxima
de zero. Com a taxa de vacinação de φ = 0.8, a epidemia agora tende a se extinguir.
O código SageMath para a simulação desse caso é exatamente o mesmo anterior, com uma única mu-
dança: na segunda linha, removemos o trecho phi = 0.4, fazendo sua substituição por: phi = 0.8. Execu-
tando novamente o código, após essa mudança, obtemos a gura 6.6.
todos os indivíduos potencialmente em contato uns com os outros; (ii) em geral não causem a morte
do doente; (iii) tenham um ciclo rápido, durante o qual ca irrelevante o número de mortes ou
nascimentos na população; (iv) levem a uma imunidade temporária, que seja perdida após algum
tempo.
Variações do modelo SIR podem ser construídas de forma a:
3. Considerar doenças para as quais parte dos indivíduos infectados permaneçam assintomáticos,
sem desenvolver o quadro da doença;
4. Considerar doenças cujo ciclo de epidemia seja longo, tornando relevante a dinâmica demo-
gráca de nascimentos e mortes;
6. Considerar doenças que levem à imunidade permanente dos indivíduos recuperados, ou ainda
que não levem a nenhuma imunidade, nem sequer temporária;
8. Considerar doenças cuja propagação ocorra sobre uma população espacialmente distribuída,
que irá se propagar apenas entre indivíduos localizados perto uns dos outros;
10. Considerar doenças que sejam propagadas através de vetores, tais como mosquitos.
O fármaco é administrado por via endovenosa (ou seja, é aplicado diretamente na corrente
sanguínea em um instante inicial);
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 196
O fármaco não é metabolizado pelo organismo, sendo eliminado do corpo por meio dos rins
sem alteração de sua composição química.
No modelo aqui considerado, o fármaco se difunde para os vários tecidos do corpo a partir do plasma
sanguíneo, obedecendo a uma equação de difusão:
dCt
Vt = γ (Cp − Ct ) (6.8)
dt
Essa equação, que descreve a concentração de fármaco presente nos tecidos do corpo a cada instante,
é construída a partir dos seguintes elementos:
Vt é uma constante que representa o volume total de líquido contido nos tecidos, de forma
que Vt · Ct (t) representa a massa total de fármaco presente nos tecidos no instante t. Assim,
o termo Vt dC t
dt representa a taxa de variação da massa de fármaco presente nos tecidos.
A equação (6.8) diz que a taxa de variação da massa de fármaco nos tecidos é proporcional
à diferença entre a sua concentração nos tecidos e a sua concentração no sangue. Se a sua
concentração no sangue for maior que a sua concentração nos tecidos, ou seja, se a diferença
dada por (Cp (t) − Ct (t)) for positiva, a taxa de variação da massa de fármaco nos tecidos
será positiva, ou seja, os tecidos irão absorver fármaco vindo do sangue. Se essa diferença for
negativa, ou seja, se a concentração de fármaco no sangue for menor que a sua concentração
nos tecidos, o sangue irá retirar fármaco dos tecidos.
dCp
Vp = −γ (Cp − Ct ) − ρ Cp (6.9)
dt
Essa equação é construída da seguinte forma:
−ρ Cp
Esse termo representa a eliminação do fármaco pelos rins. Esse termo é sempre negativo, ou
seja, ele sempre causa a diminuição da quantidade de fármaco no plasma sanguíneo, e nunca
um aumento dessa quantidade. Esse termo faz com que a taxa de variação da quantidade
de fármaco no plasma sanguíneo descrita por ele seja proporcional a essa quantidade, o que
causaria um decaimento exponencial da quantidade de fármaco no sangue, semelhante ao
decaimento radioativo. A constante ρ representa a taxa de retirada de fármaco do sangue
pelos rins, sendo tão maior quanto mais rápida for tal retirada.
A movimentação de fármaco pelo plasma sanguíneo é descrita pela superposição desses dois pro-
cessos, que ocorrem sempre ao mesmo tempo. Sintetizando então, o seguinte sistema de equações
diferenciais descreve um tipo de dinâmica de fármaco no organismo:
dCp γ ρ
= − (Cp − Ct ) − Cp
dt Vp Vp
(6.10)
dCt γ
= (Cp − Ct )
dt Vt
Essa dinâmica é examinada no exemplo 6.5.
Exemplo 6.5 Considere-se uma situação em que o volume de plasma sanguíneo no sistema circulatório
é igual a 1.4 litros, e o volume de sangue armazenado nos tecidos é igual a 0.53 litros. A taxa de difusão
do fármaco entre o plasma sanguíneo e os tecidos é igual a 0.25, e a taxa de retirada do fármaco do plasma
sanguíneo pelos rins é igual a 0.05. Uma dose do fármaco é aplicada no organismo por via endovenosa, no
instante inicial. A gura 6.7 mostra a evolução no tempo das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo,
Cp (t), e nos tecidos do organismo, Ct (t). Os grácos mostrados nessa gura foram calculados com auxílio
do sistema SageMath, que foi utilizado para resolver o sistema de equações (6.10). Pode-se notar que a alta
concentração inicial de fármaco no plasma sanguíneo faz subir rapidamente a concentração de fármaco nos
tecidos. Com essa movimentação do fármaco do plasma sanguíneo para os tecidos, a sua concentração no
plasma também diminui rapidamente. No instante t = 0.5 hora, as concentrações de fármaco nos tecidos e
no plasma sanguíneo se igualam (momentaneamente deixa de existir uxo de fármaco entre o sangue e os
tecidos). No entanto, durante todo o tempo, os rins estiveram atuando na eliminação de fármaco do sangue.
Assim, logo após esse instante, a concentração de fármaco no plasma sanguíneo passa a car menor que a
concentração nos tecidos. A partir desse momento, o sangue passa a retirar fármaco dos tecidos, levando-o
até os rins, onde este é eliminado. Após cerca de 8 horas, a concentração de fármaco no plasma sanguíneo
é cerca de dez por cento da concentração inicial.
O código SageMath que produz a gura 6.7 é mostrado a seguir.
1
Cp (t)
Ct (t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 2 4 6 8
Figura 6.7: Evolução das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo e nos tecidos, ao longo do
tempo, para a aplicação de uma única dose do medicamento por via intravenosa. Azul: concentração
de fármaco nos tecidos, Ct (t). Vermelho: concentração de fármaco no plasma sanguíneo, Cp (t).
Ao nal da execução deste código, a gura 6.7 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
dCp ν γ ρ
= D− (Cp − Ct ) − Cp
dt Vp Vp Vp
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 199
A constante ν aparece nessa equação dividida por pelo volume do plasma sanguíneo, Vp , porque
D representa uma quantidade (massa), enquanto Cp representa uma concentração (massa por vo-
lume). O sistema de equações diferenciais que descreve como variam as concentrações de fármaco
no organismo, em uma situação de administração da droga por via oral, ca então:
dCp ν γ ρ
= D− (Cp − Ct ) − Cp
dt Vp Vp Vp
dCt γ
= (Cp − Ct ) (6.11)
dt Vt
dD
= −ν D
dt
O exemplo 6.6 mostra o estudo de uma situação em que esse modelo se aplica.
Exemplo 6.6 Consideram-se agora os mesmos parâmetros do caso examinado no exemplo 6.5: o volume
de plasma sanguíneo no sistema circulatório é igual a 1.4 litros, o volume de sangue armazenado nos tecidos
é igual a 0.53 litros, a taxa de difusão do fármaco entre o plasma sanguíneo e os tecidos é igual a 0.25, e
a taxa de retirada do fármaco do plasma sanguíneo pelos rins é igual a 0.05. Agora, entretanto, o fármaco
é administrado por via oral, e a taxa de absorção do fármaco pelo sistema gastroentestinal é dada por
ν = 0.05. Uma dose do fármaco é aplicada no organismo por via oral, no instante inicial. A gura 6.8
mostra a evolução no tempo das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo, Cp (t), e nos tecidos do
organismo, Ct (t), e da quantidade de fármaco no sistema gastrointestinal, D(t). Os grácos mostrados
nessa gura foram calculados com auxílio do sistema SageMath, que foi utilizado para resolver o sistema de
equações (6.11). Pode-se notar que agora a concentração de fármaco no plasma sanguíneo demora a crescer,
devido à dinâmica do processo de absorção do fármaco pelo sistema gastrointestinal. Consequentemente,
a concentração de fármaco nos tecidos também demora a crescer. Essas concentrações atingem o máximo
cerca de três horas após a administração do medicamento, ao contrário do caso em que a administração era
feita por via endovenosa, quando o máximo de concentração era atingido em meia hora. Como o fármaco
permanece sendo absorvido pela corrente sanguínea, vindo do trato gastrointestinal, por bastante tempo,
nota-se também a permanência de uma concentração de fármaco no sangue e nos tecidos por mais tempo
que no caso da administração endovenosa, no qual a concentração do medicamento no organismo decai mais
rapidamente.
O código SageMath que produz a gura 6.8 é mostrado a seguir. Esse código deve ser acrescentado
como sequência do código do Exemplo 6.5, pois as variáveis computacionais LP1 e LP2, que armazenam os
grácos da concentração de fármaco no plasma sanguíneo e nos tecidos na situação de administração por
via endovenosa, são montadas no código anterior, sendo apenas chamadas novamente neste código quando
da montagem da gura nal, na antepenúltima linha.
1
D(t)
Cp (t)
Ct (t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 2 4 6 8
Figura 6.8: Evolução ao longo do tempo das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo e
nos tecidos, e da quantidade de fármaco no trato gastrointestinal, para a aplicação de uma única
dose do medicamento por via oral. Azul: concentração de fármaco nos tecidos, Ct (t). Vermelho:
concentração de fármaco no plasma sanguíneo, Cp (t). Verde: quantidade de fármaco no trato
gastrointestinal. Em linha tracejada, são também mostradas as concentrações de fármaco nos
tecidos e no plasma sanguíneo caso a administração do mesmo medicamento fosse feita por via
endovenosa.
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 201
1.2
Cp (t)
Ct (t)
1 D(t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 10 20 30 40 50 60
Figura 6.9: Evolução ao longo do tempo das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo e nos
tecidos, e da quantidade de fármaco no trato gastrointestinal, para a aplicação de múltiplas doses
do medicamento por via oral, com intervalo de quatro horas. Azul: concentração de fármaco nos
tecidos, Ct (t). Vermelho: concentração de fármaco no plasma sanguíneo, Cp (t). Verde: quantidade
de fármaco no trato gastrointestinal.
Ao nal da execução deste código, a gura 6.8 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
um arquivo em formato PDF (última linha).
O exemplo 6.7 mostra uma situação mais próxima dos casos reais, em que um fármaco é admi-
nistrado em múltiplas doses que são aplicadas periodicamente.
Exemplo 6.7 Consideram-se agora ainda os mesmos parâmetros corporais do caso examinado no exemplo
6.6: volume de plasma sanguíneo no sistema circulatório igual a 1.4 litros e volume de sangue armazenado
nos tecidos igual a 0.53 litros. O fármaco agora tem parâmetros diferentes, sendo a taxa de difusão do
fármaco entre o plasma sanguíneo e os tecidos igual a 0.8, taxa de retirada do fármaco do plasma sanguíneo
pelos rins igual a 0.3, taxa de absorção do fármaco pelo sistema gastroentestinal igual a 0.3. Desta vez,
uma dose do fármaco é aplicada no organismo, por via oral, a cada seis horas, durante dois dias. A gura
6.9 mostra a evolução no tempo das concentrações de fármaco no plasma sanguíneo, Cp (t), e nos tecidos do
organismo, Ct (t), e da quantidade de fármaco no sistema gastrointestinal, D(t). Os grácos mostrados nessa
gura foram calculados com auxílio do sistema SageMath, que foi utilizado para resolver o mesmo sistema
de equações (6.11) que continua válido para este caso. Pode-se notar que agora a concentração de fármaco
no plasma sanguíneo irá atingir um pico algum tempo após a aplicação de cada dose do medicamento.
O valor dos primeiros máximos ainda será menor que o máximo que será atingido após a quarta dose.
Utilizando esse sistema de aplicação de múltiplas doses, a concentração de fármaco no organismo (tanto
no plasma sanguíneo quanto nos tecidos) irá se manter por um longo tempo oscilando em torno de uma
média. Essa concentração, portanto, poderá cará próxima de um nível terapêutico considerado adequado
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 202
para o tratamento em questão. O tamanho da oscilação irá depender tanto da quantidade de medicamento
administrado em cada dose quanto do intervalo de tempo entre as aplicações.
O código SageMath que produz a gura 6.9 é mostrado a seguir. Esse código é mais complexo que os ante-
riores porque, para representar as várias doses de fármaco que são administradas, o comando desolve_system_rk4
tem de ser executado várias vezes, uma vez para cada dose. Isso faz com que sejam necessários comandos
da linguagem de programação Python (essa linguagem é compreendida pelo sistema SageMath). O leitor que
preferir não investir tempo estudando esses comandos pode simplesmente copiar o código no SageMath e
executá-lo. Encontram-se marcados em vermelho no código os parâmetros que o leitor deve mudar, de forma
a estudar outros casos que sejam de seu interesse.
Ao nal da execução deste código, a gura 6.9 aparecerá na tela (penúltima linha) e será armazenada em
CAPÍTULO 6. SISTEMAS DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 203