Intro Ao Calculo Diferencial e Integral

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Cálculo

Elementar

Programa de Educação Tutorial

Viola PET Física Licenciatura

Olavo Instituto de Física


Universidade Federal de Uberlândia
© 2022
Todos os ddireitos reservados.

99 32 11 88 48 01 998654

Primeira edição: mês 2022

VIOLA, O.
Cálculo Elementar / Olavo Viola. –
1 ed.
p. 132
Inclui ilustrações, exercícios e referências bibliográficas.
ISBN
1. Cálculo Elementar I. Título

PET Física Licenciatura,


Uberlândia, MG
petfisicaufu.wordprress.com
A Matemática é a rainha das ciências.
Carl Friedrich Gauss
Prefácio

Caro(a) leitor(a),

este material foi desenvolvido para aplicação de um minicurso de pré-cálculo em


nome do PET Física da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) voltado aos
discentes ingressantes em cursos de ciências exatas. O objetivo desse é revisar
assuntos fundamentais da Matemática e introduzir assuntos de nível superior, os
quais serão desenvolvidos com maior rigor num curso formal de Cálculo Diferencial
e Integral.

Att., Olavo Viola

7
Agradecimentos

9
Sumário

1 Conjuntos Numéricos 15
1.1 Números naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Números inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3 Números racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4 Números irracionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.5 Números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.6 Inequações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.6.1 Diagrama de sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.7 Módulo de um número real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.8 Potências de números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.8.1 Propriedades de potenciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.8.2 Inequações e equações expressas em potências . . . . . . . . . . 27
1.9 Raíz n-ésima de um número real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.9.1 Propriedades de raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.10 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2 Polinômios 31
2.1 Operações envolvendo polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1.1 O dispositivo de Briot-Ruffini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.1.2 Fatoração de polinômios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.2 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

3 Logaritmos de números reais 45


3.1 Propriedades dos Logaritmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.2 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4 Funções de uma variável real com valores reais 51


4.1 Determinação do subconjunto Df . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2 Gráficos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.3 Revisão de trigonometria elementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.4 Tipos de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.4.1 Função constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.4.2 Função linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.4.3 Função afim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.4.4 Função polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.4.5 Função exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.4.6 Função logarítmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4.7 Função racional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4.8 Funções trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.4.9 Função modular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.4.10 Translações horizontais e verticais de funções . . . . . . . . . . . 79
4.4.11 Funções compostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

5 Limites e Derivadas 87
5.1 Limites e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
5.1.1 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.1.2 Propriedades de limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.1.3 Limites fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.2 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.2.1 Propriedades de derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.2.2 Regra da cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.2.3 Derivabilidade e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
5.2.4 A regra de L’Hôpital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.3 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

6 Estudo da Variação das Funções 111


6.1 Pontos de máximos e mínimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
6.2 Os pontos de máximo e mínimo da função quadrática . . . . . . . . . . 114
6.3 Teorema do valor médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
6.4 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

7 Introdução ao Cálculo Integral 119


7.1 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
7.1.1 Propriedades das integrais indefinidas . . . . . . . . . . . . . . 120
7.2 Substituições simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
7.3 Integral de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
7.4 1º teorema fundamental do cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
7.4.1 Propriedades de integrais definidas . . . . . . . . . . . . . . . . 126
7.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

8 Referências 131
14
1

Capítulo
Conjuntos Numéricos

Define-se conjunto como a reunião de elementos vistos como um todo que satis-
fazem determinadas condições. Em matemática os números são organizados em
conjuntos numéricos, sendo eles os conjuntos dos números naturais, inteiros, racionais,
irracionais, reais e complexos (não abordaremos esse nesse curso).

1.1 Números naturais


Esse conjunto é composto somente pelos números arábicos (de apenas uma casa
decimal) maiores ou igual a zero, como segue a definição

N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}.

1.2 Números inteiros


Esse conjunto engloba o conjunto dos naturais, ou seja, o conjunto dos naturais é
um subconjunto dos inteiros, acrescentando agora os números arábicos menores que
zero.

Z = {..., −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, ...}.

15
16 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS

1.3 Números racionais

Racional significa razão, logo o conjunto dos números racionais será formado por
números escritos na forma de uma razão, de um quociente. Sejam a e b inteiros tal
que b ̸= 0, logo o conjunto dos números racionais (Q) será definido como:

a
Q= : a, b ∈ Z, b ̸= 0
b
Exemplo: O número 1, 75 é racional, pois tal pode ser escrito como 74 . Essa é a única
forma de representar 1, 75 por números racionais?

1.4 Números irracionais

O conjunto dos números irracionais (I), como o próprio nome sugere, é formado por
números que não podem ser escrito como a razão de outros dois inteiros. Exemplos
desse conjunto são o número pi (π = 3, 1415...), o número de Euler (e = 2, 7182...),
entre outros números, inclusive dízimas não periódicas. ATENÇÃO: I não é um
subconjunto de Q.

1.5 Números reais

O conjunto dos números reais (R) engloba todos os demais conjuntos vistos
anteriormente, é uma espécie de reunião de todos os números que podem ser
representados numa reta, daí a definição de reais.

R = {a ∈ Q ∪ I}

Neste curso nos atentaremos apenas ao estudo do conjunto dos números reais
e suas propriedades, bem como as operações existentes entre os elementos desse
conjunto. Esquematicamente podemos representar os conjuntos numéricos como
ilustra a Figura 1.1.
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 17

Figura 1.1: Representação gráfica dos conjuntos numéricos no universo dos Reais.

a c
Sejam , ∈ Q, então a soma e o produto desses são obtidos por:
b d

a c ad + bc
+ = (1.1)
b d bd

a c ac
· = (1.2)
b d bd

Definindo a quádrupla (Q, +, ·, ≤), conjunto dos números racionais que relações
de adição, multiplicação e grandeza existem, temos as seguintes propriedades para
quaisquer x, y, z ∈ Q:

• Associativa
x + (y + z) = y(x + z) = z + (x + y)
x(yz) = y(xz) = z(xy)

• Comutativa
x+y=y+x
xy = yx

• Elemento neutro
18 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
x+0=x
x·1=x

• Existência de oposto

Para todo x racional existe um único racional y tal que x + y = 0. Tal y é


denominado oposto de x, ou seja, y = −x. Formalmente:

∀ x ∈ Q ∃ y ∈ Q : x + y = 0 ⇒ y = −x.

• Existência de inverso

Para todo racional x ̸= 0 existe um único racional y tal que x · y = 1. É


denominado por inverso de x o racional y, o qual pode ser escrito como x−1 ou
1
x
. Logo:
∀ x ∈ Q ∃ y ∈ Q : x · y = 1 ⇒ y = x−1 .

• Distributiva da adição em relação a adição

x(y + z) = xy + xz

• Reflexiva

x≤x

• Antissimétrica

x≤yey≤x⇒x=y

• Transitiva

x≤yey≤z⇒x≤z

Observações. São válidas as seguintes afirmações:



0≤x<y
(1) ⇒ xz < yw
0≤z<w

1 1
(2) 0<x<y⇔0< <
y x
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 19
Demonstração. 1
 
0≤x<y xz < yz Transitiva
⇒ =====⇒ xz < yw
0≤z<w yz < yw

Demonstração. 2
Se x < y, então o inverso de x será maior que o inverso de y.

Denomina-se tricotomia a condição de que para dois racionais quaisquer x e y,


somente uma das relações abaixo é verdadeira

x < y ou x = y ou x > y

Também vale que se xy = 0, então x=0 ou y = 0 (um produto é nulo se, e somente se
um dos fatores for nulo.).

1.6 Inequações
Definimos uma inequação como uma relação entre racionais em que uma “não
igualdade” caracteriza a ordem de grandeza de uma variável. Essa ordem de grandeza
pode ser maior, menor, maior igual ou ainda menor igual. Um exemplo de inequação
é x − 16 ≤ 2 − 5x, perceba que ao invés de um sinal de igualdade (o que caracteriza
uma equação) usamos um sinal que relaciona a grandeza de x, ou seja, a solução
dessa inequação é composta por um conjunto de valores x que a satisfazem. Caso
tivéssemos um sinal de igual, teríamos dois valores de x que tornariam a igualdade
verdadeira. Vamos resolver agora essa inequação:

x − 16 ≤ 2 − 5x

6x ≤ 18

∴ x ≤ 3.

Portanto, os valores de x que satisfazem a inequação são aqueles menores ou iguais


que três. Outro exemplo: Para quais valores de x é valida a afirmação 3x − 15 ≥ 8x?
20 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
Desenvolvendo a inequação, temos

3x − 15 ≥ 8x

−5x ≥ 15

∴ −x ≥ 3 ⇔ x ≤ 3.

1.6.1 Diagrama de sinais


Considere a inequação 5x−20
6−2x
> 0. Para quais valores de x essa inequação é
verdadeira? Para solucionarmos esse problema é necessário montarmos uma espécie
de reta e analisar o domínio do numerador e do denominador separadamente, ou
seja, analisar os valores de x que satisfazem a inequação. O numerador 5x − 20 é
maior que zero se e somente se x > 4, logo, marcamos esse ponto numa reta tal que à
direita desse teremos valores positivos enquanto que à esquerda, valores negativos.
Acima desse ponto marcamos o zero, representando que quando x = 4 ⇒ 5x − 20 = 0.
Fazemos a mesma análise para o denominador e, portanto, o diagrama de sinais para
esse caso é representado na Figura 1.2.

− − − − − 0 + +
5x − 20
0 1 2 3 4 5

+ + + + 0 − − −
6 − 2x
0 1 2 3 4 5

− − − − ∄ + 0 − −
5x − 20
0 1 2 3 4 5 6 − 2x

Figura 1.2: Diagrama de sinais de 5x−20


6−2x
> 0. Realizamos uma regra de sinais entre
as duas primeiras retas para determinar o sinal do quociente 5x−20
6−2x
representado na
terceira reta. A divisão de um número negativo por um positivo dá negativo, enquanto
que a divisão de um número negativo por um negativo dá positivo.

Em x = 3 e em x = 4 na reta que representa do diagrama de sinais do quociente


desenhamos uma bola aberta, a qual representa que esses pontos não fazem parte
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 21
do conjunto solução da inequação, pois em x = 4 a inequação é igual a zero e não
maior que zero, enquanto que em x = 3 o quociente não é definido, ou seja, não existe
(∄) solução pois não se divide por zero. Portanto, os possíveis de x que satisfazem a
inequação serão aqueles entre três e quatro. Representamos esse conjunto solução
por S = {x ∈ R : 3 < x < 4}, ou por S = (3, 4), ou ainda por S =]3, 4[. Os parênteses
e colchetes invertidos representam um conjunto aberto, ou seja, que não contém o
ponto, já os colchetes normais representam um conjunto fechado.
Outro exemplo: determine quais valores de x satisfazem a inequação 7x+10 5x−5
≥ 4.
Para acharmos uma solução precisamos multiplicar o lado direito da desigualdade
por 5x−5
5x−5
, ou seja, por um, o que não altera o sentido da inequação. Se passássemos
5x − 5 multiplicando para o lado direito não teríamos uma equivalência, pois caso
x < 4/5 mudaríamos o sentido da desigualdade. Com isso teremos que:

7x + 10 4(5x − 4)

5x − 5 5x − 5
7x + 10 20x − 16
− ≥0
5x − 5 5x − 5
−13x + 26
≥0
5x − 5
Chegamos assim na inequação semelhante à que fizemos anteriormente, em que
queremos descobrir os valores de x para qual um quociente é, neste caso, maior ou
igual a zero. Para isso, façamos o diagrama de sinais: −13x + 26 ≥ 0 ⇔ x ≤ 2 e
5x − 5 ≥ 0 ⇔ x ≥ 1, o que na reta é representado na Figura 1.3.
22 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
+ + + 0 − −
−13x + 26
0 1 2 3

− − 0 + + +
5x − 5
0 1 2 3

− − ∄ + 0 − −
−13x + 26
0 1 2 3 5x − 5

Figura 1.3: Diagrama de sinais de −13x+26


5x−5
≥ 0. Em x = 1 a inequação não é definida
(não existe ∄ solução S), enquanto que x = 2 é uma solução e além do mais é a única
que zera a inequação, garantido que o quociente seja igual a zero.

Portanto, o conjunto solução para a inequação será S = {x ∈ R : 1 < x ≤ 2}. Perceba


que x não pode ser igual a um, pois nesse ponto estaríamos dividindo por zero, o que
é uma indeterminação. Devido a isso fazemos uma bola aberta em x = 1, enquanto
que em x = 2 uma bola fechada, pois nesse ponto o quociente é igual a zero, o que
satisfaz a inequação.

1.7 Módulo de um número real


Definimos o módulo de um número real x por |x|, o qual é definido por

x , se x ≥ 0
|x| = . (1.3)
−x , se x < 0

Um exemplo é | − 13|: nesse caso o x da definição (vide equação (1.3) é igual a −13,
logo | − 13| = −(−13) = 13. Em suma, o módulo de um número é sempre maior ou
igual a zero, ou seja, sempre é válido que |x| ≥ 0, ∀ x ∈ R. Uma das igualdades mais
importantes no estudo do módulo de um número real é que o quadrado desse é igual
ao quadrado do número, ou seja
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 23

|x|2 = x2 , ∀ x ∈ R (1.4)

Demonstração. Pela definição da equação (1.3), caso x ≥ 0, então |x|2 = x2 , enquanto


que caso x < 0, |x|2 = (−x)2 = x2 . Portanto, para qualquer x real, |x|2 = x2 .
Essa definição nos leva a outra muito importante: sabemos que a raiz quadrada de
um número real x qualquer maior ou igual a zero nos retorna o valor que, multiplicado
por ele mesmo, dá igual a x. Essa ideia provém da igualdade da equação (1.4), pois

√ √
| x|2 = ( x)2
1 √
|x 2 |2 = x2


x2 = |x| (1.5)

Exemplos:

1. Resolva a igualdade |x| = λ, λ ∈ R.


Solução: Pela equação (1.4), teremos que

|x|2 = λ2 ⇔ x2 = λ2 ⇔ x2 − λ2 = 0 ⇒

⇒ (x + λ)(x − λ) = 0 ⇔ x = λ ou x = −λ.

Portanto,

|x| = λ ⇔ x = λ ou x = −λ. (1.6)

Obs.: Lembre-se que a seguinte igualdade é válida e denominada diferença de


quadrados:

a2 − b2 = (a + b)(a − b) (1.7)
24 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
2. Resolva a desigualdade |x| ≤ λ, λ ∈ R.
Solução: Pela equação (1.4),

|x|2 ≤ λ2 ⇔ x2 ≤ λ2 ⇔ x2 − λ2 ≤ 0 ⇒

⇒ (x + λ)(x − λ) ≤ 0 ⇔ −λ ≤ x ≤ λ.

Portanto,

|x| ≤ λ ⇔ −λ ≤ x ≤ λ. (1.8)

3. Resolva a desigualdade |x| ≥ λ, λ ∈ R.


Solução: Pela equação (1.4),

|x|2 ≥ λ2 ⇔ x2 ≥ λ2 ⇔ x2 − λ2 ≥ 0 ⇒

⇒ (x + λ)(x − λ) ≥ 0 ⇔ x ≥ λ ou x ≤ −λ.

Portanto,

|x| ≥ λ ⇔ x ≥ λ ou x ≤ −λ. (1.9)

15 − 8x
4. Elimine o módulo em I = |x − 9| + .
x−1
Solução: Primeiramente faremos o diagrama de sinais (vide Figura 1.4) para cada
função que compõem o módulo acima:

− − − − − 0 +
x−9
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

+ + 0 − − − −
15 − 8x
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

− 0 + + + +
x−1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 1.4: Diagrama de sinais de I. Cuidado, em x = 1, I não está definido.


CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 25
Vamos agora analisar os possíveis casos de I:
Para x < 1 temos que x − 9 < 0, 15 − 8x > 0 e x − 1 < 0, logo

15 − 8x 15 − 8x x2 − 18x + 24
I = |x − 9| + = −(x − 9) + = .
x−1 −(x − 1) 1−x

15
Para 1 < x ≤ 8
temos que x − 9 < 0, 15 − 8x ≥ 0 e x − 1 > 0, logo

15 − 8x 15 − 8x −x2 + 2x + 6
I = |x − 9| + = −(x − 9) + = .
x−1 x−1 x−1

15
Para 8
< x ≤ 9 temos que x − 9 ≤ 0, 15 − 8x < 0 e x − 1 > 0, logo

15 − 8x −(15 − 8x) −x2 + 18x − 24


I = |x − 9| + = −(x − 9) + = .
x−1 x−1 x−1

Para x > 9 temos que x − 9 > 0, 15 − 8x < 0 e x − 1 > 0, logo

15 − 8x −(15 − 8x) x2 − 2x − 6
I = |x − 9| + = −(x − 9) + = .
x−1 x−1 x−1

Portanto, I pode ser escrito sem módulos como

 2

 x − 18x + 24

 se x<1

 1−x





 −x2 + 2x + 6

 15

 se 1 < x ≤ 8
x−1
I= .



 −x2 + 18x − 24

 se 15
<x≤9

 x−1 8





 x2 − 2x − 6

 se x>9
x−1
5. Módulo do produto
É válida a seguinte igualdade para quaisquer x, y ∈ R

|xy| = |x||y| (1.10)


26 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
Prova: |xy|2 = (xy)2 = x2 y2 = |x|2 |y|2 = (|x||y|)2 . Como |xy| ≥ 0 ⇒ |x||y| ≥ 0.

6. Desigualdade triangular
Para quaisquer x, y ∈ R temos

|x + y| ≤ |x| + |y| (1.11)

Prova: Se x + y ≥ 0 ⇒ |x + y| = x + y ≤ |x| + |y|, enquanto que se x + y < 0 ⇒


|x + y| = −(x + y) ≤ |x| + |y|. Portanto, para qualquer valor da soma de x com y
vale a desigualdade em (1.11).

1.8 Potências de números reais


Potenciação é toda operação escrita na forma

an = c (1.12)

em que a ∈ R é denominado base, n ∈ R é denominado expoente e c é denominado


potência. O termo an significa que a base a está sendo multiplicada por ela mesma n
vezes. Exemplos:

• 42 = 4 · 4 = 16;

• −32 = −(3 · 3) = −9;

• (−3)2 = (−3) · (−3) = 9;


1 1 1
• 2−3 = 3
= . Vale que an = −n , ∀ n < 0;
2 8 a

1.8.1 Propriedades de potenciação


Sejam a, b, p e q ∈ R, valem as seguintes igualdades:

1. ap · aq = ap+q
ap
2. = ap−q , ∀ a ̸= 0 e p ≥ q
aq
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 27
3. (ap )q = apq

 a p ap
4. = , ∀ b ̸= 0
b bp

5. (ab)p = ap · bp

1
6. a0 = 1, ∀ a ∈ R∗ . Prova: a0 = a1−1 = a1 · a−1 = a · =1
a

1.8.2 Inequações e equações expressas em potências


Como vimos o que é uma potenciação, conseguimos agora resolver inequações e
equações que são dadas por uma potência. A ideia é reescrever as potências até uma
base comum (redução de membros à mesma base), veja o exemplo a seguir:

1
6x−3 ≥
36
1
Solução: Vamos reduzir ambos membros a uma mesma potência. Perceba que 36
pode
ser reescrito como 612 , que por sua vez é igual a 6−1 . Logo:

6x−3 ≥ 6−1 ⇔ x − 3 ≥ −1 ⇒ x ≥ 2.

Exemplo: Determine para qual valor de x a igualdade abaixo é satisfeita:

28x−6 · 32−x+12 = 8−x

Solução: Vamos reescrever todas as bases numa comum: perceba que 32 e 8 podem
ser reescritos como 25 e 23 respectivamente, logo, reescrevendo a igualdade:

28x−6 · (25 )−x+12 = (23 )−x ⇒

28x−6 · 2−5x+60 = 2−3x ⇒

28x−6−5x+60 = 2−3x ⇔

8x − 6 − 5x + 60 = −3x ⇒

6x = 54 ⇒ x = 9
28 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS

1.9 Raíz n-ésima de um número real


Dado um a ∈ R+ e um n ∈ R∗ , definimos a raiz n-ésima de um número real a por
b, tal que bn = a, como segue


n
a = b ⇔ bn = a, (1.13)


em que n a é denominado radical e nele a é o radicando e n o índice. Caso o radicando
seja uma potência de um número, então vale que

p
q
aq = a p , ∀ a ≥ 0 e p ̸= 0 (1.14)

1.9.1 Propriedades de raízes


Sejam a, b ∈ R∗+ e p, q ∈ R∗ , valem as seguintes igualdades:
√ √ √
1. p a · p b = p ab
√ √ p+q
2. p a · q a = a pq
p√ √
3. q p a = pq a

4. (Racionalização)

p

p
1 1 an an

p
= √
p
· √ = 2n
an an p a n ap √
1 an
Para p = 2, teremos √ n = n .
a a
Exemplos:
√ √ √
• 4 = 2. Por convenção, a notação x significa 2 x;

• 22 = |2| = 2, vide equação (1.5);

• 3 −8 = −2, pois (−2)3 = −8;
√ 1
• −1 4 = 4 −1 = 4−1 = 14 ;
p2 3
√ √
• 64 = 6 64 = 2;
√ √
1 1 3 3
• √ =√ ·√ = ;
3 3 3 3
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS 29

1.10 Exercícios
1. Para quais valores de x as inequações são satisfeitas?

(a) 5x − 15 ≥ −7x + 14
32x − 13
(b) <0
8x + 4
x−1
(c) ≥0
(x + 4)2
−6x2 + 48
(d) ≤ 12
12 − x

2. Determine o conjunto solução S das seguintes inequações e equações.

(a) |x| < 3

(b) |x3 + 1| = 1

(c) |7x − 1| ≤ 6

(d) |(x − 3)2 | > 9

(e) |x2 + 3x + 1| = 1

(f) |x2 − x| ≥ 2
x−1
(g) > −1
x+1
(h) ||x − 27| − 3x| ≤ 7

3. Elimine o módulo

(a) |x − 15| + |7x + 9|

(b) |x3 + 1| + 12x


30 CAPÍTULO 1. CONJUNTOS NUMÉRICOS
(c) |x2 + 3x + 1|

(d) |x2 + 3x + 1| − |x2 |

4. Prove que | − 7 + x| ≤ 7 + |x| para qualquer que seja x ∈ R.

5. Efetue, racionalizando onde for necessário.



1/15
(a) 11589
√5
(b) 515

(c) 52
√ √
(d) 64 + 100
√3

16 + 3 54
(e) √3
8
p√
(f) 264
√ √
10 − 2
(g) √ √
10 + 2

6. Efetue:

(a) 4x ≥ 64

(b) (0, 001)x < 100
1
(c) 9x =
27
 3−x

3 x 1
(d) ( 25) =
625
 √
( 7)x = 3437x+y
(e)
2x−y = 64
2

Capítulo
Polinômios

Até o momento estudamos operações isoladas e suas propriedades, agora vamos


começar a estudar expressões algébricas, ou seja, expressões que misturam tudo o
que vimos até agora, a fim de generalizarmos nossos conceitos sobre operações para
estudarmos funções mais a frente.
Nosso objetivo neste capítulo é estudar polinômios, expressões formadas pela soma
algébrica de monômios. Um monômio é um produto de um coeficiente por uma
parte literal, em que um grau é associado a essa última, sendo o grau definido como
a soma dos índices que multiplicam as variáveis do monômio. Exemplo: x3 é um
monômio, seu coeficiente é 1, sua parte literal é x3 e a essa um grau três associado;
15axb2 também é um monômio, com coeficiente 15, parte literal axb2 e a essa um
grau quatro associado (o grau de um monômio é sempre a soma dos índices das
variáveis que compõem a parte literal).
Um polinômio genérico de uma única variável x pode ser escrito como

an xn + an−1 xn−1 + · · · + a2 x2 + a1 x + a,

em que {an , an−1 , · · · , a2 , a1 , a} são os coeficientes dos monômios que formam o


polinômio e {xn , xn−1 , · · · , x2 , x, 1} suas partes literais. Podemos ter polinômios com
infinitas variáveis que podem ser escritos de diversas formas. Definimos o grau de
um polinômio pelo monômio de maior grau que o compõe. Por exemplo, o polinômio

31
32 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS
15x − 9x3 + 18 possui grau três, pois o monômio de maior grau que o compõe é −9x3 ,
que por sua vez possui grau três.

2.1 Operações envolvendo polinômios


• Adição e subtração

Sejam P e Q dois polinômios que possuem somente coeficientes reais. Definimos


P + Q somando os monômios semelhantes que compõem os polinômios, ou seja,
ou monômios que possuem partes literais iguais. Essa operação é denominada
redução dos monômios semelhantes. Exemplo: sejam P(x, y) = −3x2 + 45 +
18xy + 58y2 e Q(x, y) = 8xy − 8xy2 + 7xy − x2 dois polinômios reais de duas
variáveis. A soma P(x, y) + Q(x, y) é definida como:

P(x, y) + Q(x, y) = −3x2 + 45 + 18xy + 58y2 + 8xy − 8xy2 + 7y2 − x2 .

Separando os monômios semelhantes, teremos:

P(x, y) + Q(x, y) = (−32 − x2 ) + (18xy + 8xy) + (58y2 + 7y2 ) − 8xy2 + 45.

Portanto,

P(x, y) + Q(x, y) = −4x2 + 26xy + 65y2 − 8xy2 + 45.

Definimos assim a soma entre dois polinômios. A subtração é semelhante e fica


a seu cargo determinar a subtração dos polinômios que somamos acima. Qual o
grau de P(x, y) + Q(x, y)?

• Multiplicação

Para multiplicarmos dois ou mais polinômios, devemos usar a propriedade


distributiva da multiplicação, ou seja, multiplicar termo por termo dos monômios
que compõem os polinômios envolvidos da multiplicação. Exemplo: considere
P(x, y, z) = xyz2 + x2 y + y e Q(x, y, z) = 4x2 − 2zy2 dois polinômios. A
multiplicação P(x, y, z) · Q(x, y, z) é definida como

P(x, y, z) · Q(x, y, z) = (xyz2 + x2 y + y)(4x2 − 2zy2 ).


CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 33
Pela propriedade distributiva da multiplicação, teremos

P(x, y, z) · Q(x, y, z) = (4x2 )(xyz2 + x2 y + y) + (−2zy2 )(xyz2 + x2 y + y)


= 4x3 yz2 + 4x4 y + 4x2 y − 2xy3 z3 − 2x2 y3 z − 2y3 z

Fica a pergunta, qual o grau de P(x, y, z) · Q(x, y, z)?

• Divisão

Antes de dividirmos polinômios vamos relembram do método da chave para


divisão de números reais. Toda divisão envolve um divisor D (o qual divide),
um dividendo d (o qual é dividido), um quociente Q (resultado da divisão)
e um resto R. Por exemplo, ao dividir-se 10 por 4, temos um quociente 2 e
um resto 2, de modo que o divisor (4), vezes o quociente (2) mais o resto (2) é
igual ao dividendo (10). Essa regra é denominada algorítimo da divisão de
Euclides.

Definição 1 (Algorítimo da divisão de Euclides). Considere uma divisão entre


dois reais ou dois polinômios tais que D é o divisor, d o dividendo, Q o quociente e
R o resto. Definimos o algorítimo da divisão de Euclides como a seguinte igualdade.

d = (D · q) + R (2.1)

OBS.: A divisão entre dois polinômios só é possível se, e somente se o grau do


polinômio divisor é menor ou igual ao grau do polinômio dividendo! Denotamos
grau de um polinômio P por gr(P), ou seja, pela Definição 1, grau(D) ≤ grau(d).
Também podemos dividir polinômios com variáveis diferentes, mas aqui nos
atentaremos apenas para divisão entre polinômios de uma mesma variável.

Para dividirmos dois polinômios deveremos montar uma chave de divisão


semelhante aquela usada para dividir dois números reais, como por exemplo 20
dividido por 5:

20 5
− 20 4
0
34 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS
Em polinômios seguiremos a mesma linha de raciocínio: considere que queremos
dividir d(x) = x2 + x − 20 por D(x) = x + 5, o que é possível, pois grau(d(x)) >
grau(D(x)). A ordem dos graus dos monômios de d(x) deve ser colocada em
ordem decrescente, sempre. Ao montarmos a chave devemos nos perguntar:
quantas vezes preciso multiplicar D(x) para obter o monômio de mais alto grau
de d(x)? Nesse caso a resposta é x, pois x · x é x2 . Após isso multiplicamos esse
quociente parcial (x) pelos monômios de D(x) e subtraímos esses valores dos
respectivos monômios de d(x) como segue esquema.

x2 + x − 20 x + 5
− x2 − 5x x
− 4x − 20

Podemos continuar a divisão? A resposta é sim, pois o grau(−4x − 20) =


grau(x + 5). Novamente, quantas vezes devemos multiplicar D(x) para obter o
grau de maior valor do dividendo parcial (−4x − 20)? A resposta é −4. Com
isso teremos:

x2 + x − 20 x + 5
− x2 − 5x x−4
− 4x − 20
4x + 20
0

Como obtemos zero de resto, não podemos continuar a divisão, pois o grau(0) =
0 < grau(D). Portanto, pela Definição 1, o polinômio x2 + x − 20 pode ser
reescrito como
d(x) = [D(x) · q(x)] + R(x) ⇒

⇒ x2 + x − 20 = (x + 5)(x − 4).

Aplique a propriedade distributiva de multiplicação e prove a volta, ou seja,


(x + 5)(x − 4) = x2 + x − 20.

Outro exemplo, divida o polinômio 4x3 − x2 + 2 pelo polinômio x2 + 1.

Solução: Aplicando o mesmo método visto anteriormente, teremos:


CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 35

4x3 − x2 + 2 x2 + 1
− 4x3 − 4x 4x − 1
− x2 − 4x + 2
x2 +1
− 4x + 3

Portanto, pela Definição 1, 4x3 − x2 + 2 pode ser reescrito como (x2 + 1)(4x −
1) + (−4x + 3).

2.1.1 O dispositivo de Briot-Ruffini


O dispositivo de Briot-Ruffini é um método prático para realizarmos divisão
entre polinômios, sendo o divisor um polinômio de grau 1. Tal método consiste
em isolar a raiz do polinômio divisor (o valor que o zera) e multiplicar tal pelos
coeficientes dos monômios que formam o polinômio dividendo. Exemplo: Vamos
dividir d(x) = x2 +x−20 por D(x) = x+5 (que fizemos anteriormente) pelo dispositivo
de Briot-Ruffini. Primeiramente, a raiz de D(x) é −5, e os coeficientes dos monômios
de d(x) em ordem decrescente de grau são 1, 1 e −20. Dessa forma, montamos o
seguinte dispositivo:

1 1 − 20
x= −5

A partir dele descemos o primeiro coeficiente (1) para abaixo da chave e multiplicamo-
os por −5. Após isso, somamos esse resultado (-5) com o próximo coeficiente:

1 1 − 20
x= −5 − 5+
*

·(−5)
? ?
1 −4

Agora refazemos o mesmo passo, multiplicamos −4 por −5 e somamos esse resultado


ao próximo coeficiente, e com isso obtemos 0 (zero).

1 1 − 20
x= −5 − 5+ 20+
*

 *

·(−5)
? ?·(−5)
 ?
1 −4 0
36 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS
Portanto, como chegamos ao final do dispositivo, significa que o método se finalizou.
Os coeficientes que obtivemos (1 e −4) são os coeficientes do quociente da divisão,
e o último, 0, é o resto. O grau do polinômio do quociente pelo dispositivo de
Briot-Ruffini é sempre um grau a menos do grau do dividendo. Como nesse caso
grau(d) = 2, então o grau(Q) será igual a 1 (um).
Vamos agora calcular a divisão de 4x3 − x2 + 2 por x2 + 1 por esse método. Não
é possível, pois o divisor não tem raízes reais (não existe um número real o qual
x2 = −1, pois nenhum número real ao quadrado dá um número negativo) e além do
mais o seu grau é 2 e o dispositivo de Briot-Ruffini é válido apenas para divisores tais
que grau(D(x)) = 1, ou seja, polinômios do tipo (px + q), ∀ p, q ∈ R. Façamos outro
exemplo: Divida o polinômio 5x6 − 4x2 − 8x + 7 por x − 1. Primeiramente devemos
achar a raiz de x − 1 que é 1, e depois escrever o polinômio dividendo com todos os
seus monômios como segue:

5 0 0 0 −4 −8 7
x=1

Abaixamos o primeiro coeficiente (5), multiplicamo-os por 1 e somamos o resultado


ao próximo coeficiente e assim por diante, obtendo o seguinte:

5 0 0 0 −4 −8 7
x=1 5 5 5 5+ 1+ − 7+
*+ 
 *+ 
 *+ 
 *
 *
 *

·1 
? ?·1 ?·1 ?·1 ?·1
 ?·1
 ?
5 5 5 5 1 −7 0

Com isso obtemos que o quociente da divisão é 5x5 + 5x4 + 5x3 + 5x2 + 5x − 7 e o resto
é 0. Verifique que (5x5 + 5x4 + 5x3 + 5x2 + 5x − 7) · (x − 1) = 5x6 − 4x2 − 8x + 7.

2.1.2 Fatoração de polinômios


Para números reais a fatoração é um método de reescrever um número como o
produto de outros, exemplo: 120 pode ser reescrito como 23 · 3 · 5 (método do mínimo
múltiplo comum). Em polinômios tem-se algo semelhante: a fatoração será um
procedimento de reescrita de polinômios como o produto de fatores irredutíveis.
Esses fatores irredutíveis são polinômios que não podem mais ser reduzidos, ou
seja, não é possível escrevê-los como o produto de outros polinômios ou monômios.
CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 37
Por exemplo, o polinômio x3 + x2 pode ser reescrito isolando x2 e colocando-o em
evidência na multiplicação como segue

x3 + x2 = x2 (x + 1).

Esse é um dos métodos que podem ser usados para fatorar polinômios, veremos agora
uma lista de métodos que podem ser usados e que facilitaram mais a frente o estudo
de limites.

Métodos de fatoração

1. Evidência de fator comum

Esse método consiste em colocar em evidência um termo do polinômio o qual


aparece em todos os seus monômios. Exemplo, o polinômio 3x2 − 15y2 − 12z
possui o múltiplo 3 como fator comum em todos os monômios, logo, colocando-o
em evidência, teremos:

3x2 − 15y2 − 12z = 3(x2 − 5y2 − 4z).

Perceba que x2 − 5y2 − 4z é um polinômio irredutível.

2. Agrupamento de comuns

Quando não há um termo comum em todos os monômios, podemos separar o


polinômio em agrupamentos. Exemplo, o polinômio x2 − 2z − 3xy − 4 pode ser
fatorado como:

x2 − 2z − 3xy − 4 = x(x − 3y) − 2(z + 2).

Veja que criamos dois grupos de fatoração, os quais não podem ser reduzidos.
Um exemplo interessante é a fatoração de ax + bx + ay + by que recai sobre um
único agrupamento, veja:

ax + bx + ay + by = x(a + b) + y(a + b) = (a + b)(x + y).

Exemplo: Fatore x2 − 4x − 5.

Solução: Perceba que podemos reescrever x2 − 4x − 5 como x2 − 5x + x − 5, que


38 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS
por sua vez pode ser agrupado como

x2 − 5x + x − 5 = x(x + 1) − 5(x + 1) = (x + 1)(x − 5).

Portanto, a fatoração de x2 − 4x − 5 é o produto dos fatores irredutíveis (x + 1) e


(x − 5).

3. Quadrado da soma e ou da diferença


Como diz o nome, trata-se de escrever um polinômio como o quadrado da
soma ou diferença entre dois termos. Essa construção é denominada produtos
notáveis. Sejam a e b dois reais ou dois termos, então os produtos notáveis que
se referem ao quadrado da soma ou da diferença serão:

(a + b)2 = (a + b)(a + b) = a2 + 2ab + b2 (2.2)

(a − b)2 = (a − b)(a − b) = a2 − 2ab + b2 (2.3)

Esse resultado é um polinômio de três termos, denominado trinômio do qua-


drado perfeito e isso se deve ao fato de que (a + b)2 e (a − b)2 podem ser vistos
geometricamente como um quadrado de lado a + b ou a − b respectivamente
(vide Figura).
Exemplo: O polinômios x2 − 6x + 9 pode ser fatorado como o produto notável
(x − 3)2 . Sempre que ver um trinômio pense em fatorá-lo como um produto
notável do tipo (2.2) ou (2.3). O método consiste em extrair as raízes do primeiro
e terceiro monômio e verificar se o produto entre elas é igual ao segundo
monômio. Outro exemplo: fatore 4x2 + 24x + 36.
Solução: Perceba que estamos tratando de um trinômio do quadrado perfeito e
que os monômios se somam somente, logo podemos reescrever o polinômio no
tipo (a + b)2 . Sendo assim teremos que
√ √
a= 4x2 = 2|x|, b = 36 = 6 e 2a · b = 2 · 2|x| · 6 = 24|x|

Suponha que x > 0 ⇒ |x| = x, logo 4x2 + 24x + 36 será reescrito como:

4x2 + 24x + 36 = (2x + 6)2


CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 39
4. Diferença de quadrados
A diferença de quadrados consiste na seguinte igualdade 2.4:

a2 − b2 = (a + b)(a − b) (2.4)

Exemplo: Fatore o polinômio 36x4 − 16.


Solução: Perceba que 36x4 − 16 pode ser reescrito como (6x2 )2 − (4)2 . Pela
igualdade 2.4 teremos:

36x4 − 16 = (6x2 )2 − (4)2 = (6x2 + 4)(6x2 − 4)

5. Cubo da soma ou diferença


Assim como o quadrado da soma ou da diferença, o cubo agora é a mesma base
((a + b) ou (a − b)) só que agora elevada a 3, logo, sejam a e b dois reais ou dois
termos, então:

(a + b)3 = (a + b)(a + b)2 = a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3 (2.5)

(a − b)3 = (a − b)(a − b)2 = a3 − 3a2 b + 3ab2 − b3 (2.6)

Exemplo: Fatore 8x3 − 6x2 + 6x − 1.


Solução: Temos um polinômio de grau 3, que provavelmente será fatorado como
um cubo perfeito. Nesse caso, extraindo as raízes assim como fizemos no caso
dos quadrados perfeitos, teremos:

8x3 − 6x2 + 6x − 1 = (2x − 1)3 .

6. Binômio de Newton
O binômio de Newton é uma generalização para o desenvolvimento de polinô-
mios do tipo (a + b)n . Define-se da seguinte forma
40 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS

Xn  
n k n−k
n
(a + b) = a b , (2.7)
k=0
k


n
em que k
é denominado coeficiente binomial e definido como
 
n n!
= . (2.8)
k k!(n − k)!

Os coeficientes binomiais formam podem ser organizados geometricamente


pelo triângulo de Pascal (vide Figura 2.1), que consiste na soma dos termos que
representam os coeficientes dos polinômios (a + b)n .

0

0 1
1
 1

0 1 1 1
2
 2
 2

0 1 2 1 2 1
3
 3
 3
 3

0 1 2 3 1 3 3 1
4
 4
 4
 4
 4

0 1 2 3 4 1 4 6 4 1
5
 5
 5
 5
 5
 5

0 1 2 3 4 5 1 5 10 10 5 1

Figura 2.1: À esquerda o triângulo de Pascal na notação de dos coeficientes binomiais


enquanto que à direita na representação do resultado dessas combinações.

Por exemplo, os binômios de Newton para n de 0 a 5 pela equação (2.7) terão os


coeficientes das partes literais, veja:

(a + b)0 = 1

(a + b)1 = 1a + 1b

(a + b)2 = 1a2 + 2ab + 1b2

(a + b)3 = 1a3 + 3a2 b + 3ab2 + 1b3

(a + b)4 = 1a4 + 4a3 b + 6a2 b2 + 4ab3 + 1b4


CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 41
(a + b)5 = 1a5 + 5a4 b + 10a3 b2 + 10a2 b3 + 5ab4 + 1b5

7. Fatoração por Briot-Ruffini


A fatoração pelo dispositivo de Briot-Ruffini é semelhante a que fizemos an-
teriormente para dividirmos polinômios. Agora precisamos determinar uma
raiz do polinômio que queremos fatorar, pois caso a seja essa raiz, a fatoração
do polinômio será o produto de (x − a) com o polinômio que obtivermos no
dispositivo.
Exemplo: Fatore o polinômio x3 + 3x2 − 13x − 15.
Solução: Devemos encontrar as raízes do polinômio, ou seja, os valores que
o zeram. Perceba que x = −5, x = −1 e x = 3 são raízes reais, logo, pelo
dispositivos de Briot-Ruffini, tomando a raiz x = −1, teremos:

1 3 − 13 − 15
x= −5 − 5+ 10+ 15+
*
 *
 *

·(−5)
? ?·(−5)
 ?·(−5)
 ?
1 −2 −3 0

Pelo algoritmo da divisão, obtemos que

x3 + 3x2 − 13x − 15 = (x + 5)(x2 − 2x − 3),

o que implica que precisamos dividir x2 − 2x − 3 agora. Esse polinômio tem


como raiz aquelas que não usamos no primeiro dispositivo, x = −1 e x = 3,
logo, dividindo por x = 3:

1 −2 −3
x=3 3+ 3+
*

 *


·3
? ?·3
 ?
1 1 0

Novamente, pelo algoritmo da divisão:

x2 − 2x − 3 = (x − 3)(x + 1).

Portanto, a fatoração de x3 + 3x2 − 13x − 15 será


42 CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS

x3 + 3x2 − 13x − 15 = (x + 5)(x − 3)(x + 1),

em que (x + 5), (x − 3) e (x + 1) são polinômios irredutíveis. Verifique agora


que a ordem dos dispositivos de Briot-Ruffini, ou seja, por qual das três raízes
de x3 + 3x2 − 13x − 15 começamos a fatoração, não interfere no valor obtido,
mesmo resultando quocientes diferentes no meio do caminho.
CAPÍTULO 2. POLINÔMIOS 43

2.2 Exercícios
1. Determine as raízes dos seguintes polinômios:

(a) x3 + 2x2 + x + 2

(b) (x − 5)2

(c) 4x2 − 8x + 2

2. Realize as seguintes divisões:

x3 − 3x2 − x + 6 x5 − x + 10
(a) (d)
x−2 x3 − x2
x3 − 3x2 − x + 6 x4 + 2x3
(b) (e)
x2 − 4 x3 − x
12x2 − 4x + 3 x3 − 9
(c) (f)
2x2 − x + 3 x+3
6x5 − 3x4 − 2x3 − αx2
3. Para que tenha resto 0, qual deve ser o valor de α?
3x2 − 6x

4. Fatore:

(a) 25x2 − 4y2 (d) 9x2 − 12xy + 4y2

(b) 64a2 − 1 (e) φ6 − 1

(c) x4 − 14x2 + 49 (f) −z2 + 16x + 6

5. Desenvolva

(a) (x + 5)4

(b) (x − y2 )3

(c) (x − y)4
44
3

Capítulo
Logaritmos de números reais

Assim como a divisão é a operação oposta à multiplicação, o logaritmo é a operação


inversa da exponenciação. Esse operador foi definido a fim de facilitar cálculos no
século XVII pelo matemático escocês John Napier e desde então foi amplamente
usado nos estudos de astronomia, tratamento de dados, criação de escalas, navegações
etc. Por definição, o logaritmo (log) de um real x maior que zero numa base real a
diferente de zero é definido da seguinte forma:

ax = y ⇐⇒ loga y = x (3.1)

Uma base muito usada é a base do número de Néper (e ≈ 2, 71828). Quando


estivermos nessa base, escreveremos o logaritmo de um real positivo α na forma ln α
ao invés de loge α. Essa última não está incorreta, mas para simplificar a notação é
comum usarmos ln. A representação log α significa o logaritmo na base 10 (dez),
mas em algumas literaturas representa também o logaritmo na base e. Neste livro, a
notação log α representa log10 α.
O interessante de trabalhar com logaritmos é que tais transformam multiplicações
em somas, divisões em subtrações e vice-e-versa, além de outras propriedades muito
interessantes que veremos a seguir.

45
46 CAPÍTULO 3. LOGARITMOS DE NÚMEROS REAIS

3.1 Propriedades dos Logaritmos


1. Soma
Sejam p e q dois reais positivos e a um real qualquer diferente de zero, então:

loga p + loga q = loga (pq) (3.2)

Demonstração. Defina loga p = α e loga q = β, então:

α + β = loga p + loga q ⇐⇒ aα = p e aβ = q

Multiplicando p por q:
pq = aα aβ = aα+β

Pela definição de logaritmos

aα+β = pq ⇐⇒ loga (pq) = α + β,

portanto
loga (pq) = loga p + loga q.

2. Diferença
Novamente, sejam p e q dois reais positivos e a um real qualquer diferente de
zero, então:
 
p
loga p − loga q = loga (3.3)
q

Essa demonstração fica a cargo do leitor (use a demonstração acima como base
para o desenvolvimento).

3. Log de potência
Sejam p um real positivo, a um real qualquer diferente de zero e k um real
qualquer, então:
CAPÍTULO 3. LOGARITMOS DE NÚMEROS REAIS 47

loga pk = k loga p (3.4)

Demonstração. Defina loga p = α e loga pk = β, então aα = p e aβ = pk . Perceba


que aβ = pk = (aα )k =⇒ β = kα. Portanto, loga pk = k loga p.

4. Mudança de base
Sejam a, b e c reais positivos com a e b diferentes de 1, então:

logb c
loga c = (3.5)
logb a

Demonstração. Defina loga c = α, logb c = β e logb a = γ, então aα = c, bβ = c e


bγ = a. Sendo assim obtemos que

β logb c
(bγ )α = bβ =⇒ γα = β =⇒ α = =⇒ loga c = .
γ logb a

5. Observações
A partir das propriedades acima podemos concluir que

• loga 1 = 0, ∀ a ∈ R∗ ;
• loga a = 1, ∀ a ∈ R∗ ;
• aloga x = x, ∀ a ∈ R∗ , x ∈ R∗+ ;

Exemplos:

1. Calcule log5 125.


Solução: Pela definição, log5 125 = x ⇐⇒ 5x = 125. Sabemos que 125 pode ser
escrito como 53 , então:

5x = 125 =⇒ 5x = 53 =⇒ x = 3.

Portanto, log5 125 = 3.


48 CAPÍTULO 3. LOGARITMOS DE NÚMEROS REAIS
2. Calcule 43+log4 2 .

Solução: Pela propriedade da adição de potências:

43+log4 2 = 43 · 4log4 2 = 43 · 2 = 64 · 2 = 128

3. Qual o valor da expressão log3 72 − log3 12 + log3 2?

Solução: A expressão pode ser vista como

(log3 72 − log3 12) + log3 2,

que pela definição pode ser reescrita como


   
72 72
log3 ·3 = log3 = log3 18 ≈ 2, 63093.
12 4

4. Sabendo que log12 27 = a, calcule, em função de a, o valor de log6 16.

Solução: Reescrevendo log6 16 como log6 24 = 4 log6 2. Dado que log12 27 = a,


então:
log12 27 = a =⇒ 3 log12 3 = a.

Por mudança de base:

6
log6 3 log6
a=3 =3 2 = 3 log6 6 − log6 2 = 3 1 − log6 2 .
log6 12 log6 2 · 6 log6 2 + log6 6 log6 2 + 1

Multiplicando e isolando log6 2, obtemos que

3−a
log6 2 = .
3+a

Como encontramos anteriormente que log6 16 = 4 log6 2, então


   
3−a 12 − 4a
∴ log6 16 = 4 = .
3+a 3+a

5. Demonstre que, para quaisquer a e b reais maiores que 1, vale a seguinte


igualdade: loga b · logb a = 1.
CAPÍTULO 3. LOGARITMOS DE NÚMEROS REAIS 49
Solução: Defina loga b = x e logb a = y, então ax = b e by = a. Dessas duas
últimas implica que (by )x = b, ou seja, se, e somente se, xy = 1. Portanto, fica
demonstrado que, agora escrito de outra forma:

1
loga b = . (3.6)
logb a

Perceba que a igualdade acima se trata de uma mudança de base.


50 CAPÍTULO 3. LOGARITMOS DE NÚMEROS REAIS

3.2 Exercícios
1. Determine os valores usando a definição de logaritmos:

(a) ln e300

(b) ln 10000

(c) log3 813

(d) log5 (−5)

(e) 625log25 7

2. Sabendo que log a = 3 e log b = 27, calcule:

(a) loga b

(b) log(ab)

(c) log3 33

3. Sabendo que log 300 = a, qual é, em função de a, o valor de x =


log 2 + log 3 + log 5?

4. Demonstre que, para todo a e k reais com a maior que zero, vale a seguinte
igualdade:
loga x = logak xk

5. Desenvolva:
 2 
b
(a) log
10a3
 2
8a
(b) log2
bc2

(c) ln (a2 − b2 )

(d) ln abc
4

Capítulo
Funções de uma variável real com valores reais

Chegamos ao capítulo mais crucial deste livro. Até agora estudamos operadores e
propriedades matemáticas elementares para que o estudo de funções flua de forma
mais leve. Mas afinal, o que é uma função? Defini-se função como uma operação
em que valores são "transformados” em outros por meio de uma lei, uma regra
pré-definida. Nos atentaremos para o estudo de funções que tomam valores reais em
reais, da reta na reta. A notação de uma função desse tipo é

f : A −→ B,

em que A representa o domínio da função (Df ), ou seja, os valores que tornam a


função real e B representa o contra-domínio de f (CDf ), os possíveis valores que
podemos obter com a lei de formação da função. Usualmente representamos uma
função f de uma única variável real e valores reais com domínio Df por

y = f(x), x ∈ Df .

Nesse caso dizemos que x é a variável independente e y é a variável dependente, pois


depende dos valores que x assume em Df .
Df e CDf são subconjuntos de R. Outro subconjunto importante é o imagem
de f (Imf ), que é também um subconjunto de CDf que representa os valores que
a função f levou de Df a CDf . Exemplo: considere os conjuntos A = {0, 1, 4, 5, 8} e

51
52 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
B = {−1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}. Sabendo que a função f é definida como f : A −→
B, f(x) = x + 1 (significa que para cada x ∈ A, f os torna valores em B que são
iguais a eles somados de uma unidade. Ou seja, o conjunto C imagem da função será
C = {1, 2, 5, 6, 9} (veja que C ⊂ B).
OBSERVAÇÃO: uma função só pode tomar um único valor em Imf referente a
um único valor em Df . Uma função em que dado um x ∈ Df obtêm-se dois ou mais
valores em Imf não é uma função. Já a volta é válida: um valor de Imf pode ser
resultado de f aplicada a valores distintos de x ∈ Df .

4.1 Determinação do subconjunto Df


Dada uma f qualquer, buscaremos encontrar o seu domínio, ou seja, encontrar os
valores que satisfaçam a lei da função. Satisfazer a função significa que seus valores
devem ser reais, não indeterminações e outros que violem as regras matemáticas. Veja
abaixo alguns exemplos de determinação do subconjunto Df .

1. O domínio da função f(x) = x é o conjunto dos números reais, pois todo x ∈ R


aplicado em f recai em um número real. [Df = R]

2. O domínio da função f(x) = 1/x é o conjunto dos reais não nulos, ou seja, todos
os números exceto o zero, pois 1/0 é uma indeterminação. [Df = R∗ ]

3. O domínio da função f(x) = x é o conjunto dos reais positivos, pois por
definição não existe raiz real de um número menor que zero. [Df = R+ ]

4. O domínio da função f(x) = x5x−15 2 −16 deve ser analisado em duas parte: no
numerador temos uma raiz, então 5x − 15 ≥ 0, ou seja, x ≥ 3. No denominador
devemos ter a condição de ser diferente de zero, ou seja, x2 − 16 ̸= 0 ⇐⇒ x ̸= ±4.
Juntando as informações concluímos que o domínio de f são os valores de
x maiores ou igual a 3 exceto o 4. Como −4 < 3 não precisamos explicitar.
[Df = {x ∈ R : x ≥ 3, x ̸= 4}]

ln (3x − 9)
5. Como exercício, determine o domínio da função f(x) = √ .
x + 10

Uma dica é pensar nos diagramas de sinais das funções que compõem a f em
questão, analisar os casos e concluir um resultado.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 53

4.2 Gráficos de funções

Definimos o gráfico de uma função f como

Gf = {(x, f(x)) : x ∈ Df },

assim Gf é um subconjunto do conjunto de todos os os pares ordenados (x, y). Os


gráficos são representações geométricas no R2 em que x representa o eixo das abscissas
(horizontal) o qual é perpendicular ao eixo das ordenas (vertical), que representa f(x),
o chamado sistema de coordenadas cartesianas. A Figura 4.1 representa um exemplo
de gráfico de uma função f qualquer.

y
3

0
−2 −1 0 1 2 3 4 5 6 x
−1

−2

−3

Figura 4.1: Exemplo de um conjunto Gf para uma f qualquer.

Vamos agora elaborar um gráfico do zero de uma função de x dada por f(x) = 1/x.
Primeiramente precisamos determinar o domínio de f, que nesse caso é dado por
Df = {x ∈ R : x ̸= 0}. É claro que para x = 0 chegamos na indeterminação 1/0, logo,
não é possível determinar f nesse ponto. Façamos uma tabela (Tabela 4.1) colocando
alguns valores de x e calculando os respectivos valores de f(x), isso nos ajudará a
entender o comportamento da curva que descreve f.
54 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS

y
4
x f(x)
3
-4 -0,25
-3 -0,33... 2

-2 -0,50 1
-1 -1
0
0 ∄ −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 x
−1
1 1
2 0,5 −2

3 0,33... −3
4 0,25
−4

Tabela 4.1: Pontos coordenados Figura 4.2: Representação do gráfico Gf


(x, f(x)) para a função f(x) = 1/x. de f(x) = 1/x.

Assim, marcando os pares (x, f(x)) num plano cartesianos, teremos a seguinte
curva de f representada na Figura 4.2. Perceba que a curva nunca toca o eixo das
ordenadas para x = 0, pois justamente esse ponto não pertence ao Df .
Vamos agora determinar gráficos de funções conhecidas e muito usadas no dia a
dia para o estudo de Matemática.

4.3 Revisão de trigonometria elementar

As trigonometria têm relação com as entidades geométricas e, em especial do círculo


trigonométrico (uma circunferência de raio 1 que relaciona os ângulos formados e
suas projeções nos eixos horizontal e vertical, cosseno e seno respectivamente). Dessas
relações podemos retirar várias equações que relacionam as leis da trigonometria.
Comecemos com um triângulo retângulo ABC da Figura 4.3 (em que um dos ângulos
é reto) de lados a, y e x e ângulo θ em C (ângulo é a medida em graus ou radianos da
abertura entre duas retas).
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 55

a y

θ
C x A
Figura 4.3: Triângulo retângulo ABC de ângulo θ em C.

A priori so conhecemos o valor de a, denominado hipotenusa do triângulo


retângulo, e a partir dele e do ângulo θ queremos determinar os valores dos catetos x
e y. Para isso, definimos as funções seno e cosseno, de modo que, a partir de θ, essas
funções são dadas como

y
sin θ = , (4.1a)
a
x
cos θ = . (4.1b)
a

Em resumo, o cosseno de ângulo é a razão entre o cateto adjacente ao ângulo


pela hipotenusa, enquanto que o seno é a razão entre o cateto oposto ao ângulo pela
hipotenusa. Caso não soubéssemos o valor de θ, somente os de x e y, então usaríamos
a função tangente, definida como a razão do seno pelo cosseno do ângulo, ou seja, o
cateto oposto pelo adjacente,

sin θ y
tan θ = = . (4.2)
cos θ x

Agora, caso o triângulo não fosse retângulo, mas sim com todos os lados diferentes
(o que implica diferentes ângulos), como o da Figura 4.4, usaríamos ou a lei dos
Cossenos (equação (4.3), a qual pode ser aplicada para cada lado do triângulo)
56 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
ou a lei dos Senos (equação (4.4)). A prova dessas duas leis fica a cargo do leitor
determinar/pesquisar, nesse curso apenas a usaremos como ferramentas.

b a

α β
A c B

Figura 4.4: Triângulo de lados a, b e c.

a2 = b2 + c2 − 2bc cos α. (4.3)

a b c
= = . (4.4)
sin α sin β sin γ

Outras relações importantes residem no cosseno, seno e tangente da soma ou


diferença de dois arcos. Novamente, a prova dessas relações ficam a cargo do leitor
em pesquisar. Sejam a e b dois arcos quaisquer, então seguem as seguintes relações:

cos a ± b = cos a cos b ∓ sin a sin b (4.5)

sin a ± b = sin a cos b ± sin b cos a (4.6)

tan a ± tan b
tan a ± b = (4.7)
1 ∓ tan a tan b
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 57
Vamos agora determinar os valores dos senos e cossenos dos ângulos, e isso se
dá por meio do círculo trigonométrico como o representado na Figura 4.5, em que o
triângulo que estudamos inicialmente se encontra no interior do círculo, só que agora
sabemos que sua hipotenusa é igual ao raio do círculo, ou seja, igual a um. Devido a
isso, pelas equações (4.1a), (4.1b) e (4.2), o valor das projeções do ponto P = (x, y) na
circunferência sobre os eixos coordenados é exatamente igual ao seno e cosseno do
ângulo α.

P = (x, y)
y

sin α tan α

α
x
−1 cos α x 1

−1

Figura 4.5: Círculo trigonométrico. Veja que a tangente é definida como o comprimento
da reta que é tangente (toca a curva em apenas um ponto, a tange) ao círculo em (1, 0)
dada pela interseção do prolongamento do raio dado o ângulo α.

O ângulo α é sempre medido do eixo positivo das abscissas, e para cada valor
dele teremos um seno, cosseno e tangente correspondentes. Geralmente utiliza-se
a medida em radianos, que por definição é o arco (pedaço da circunferência) que
58 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
tem o mesmo comprimento do raio (um). Isso ocorre somente quando o ângulo α
for aproximadamente a 57, 2958o (graus), ou seja, vale a relação que 1rad = 57, 2958o .
Com isso, sabendo que a circunferência completa tem 360o , podemos redesenhar o
círculo trigonométrico em função dos ângulos em radianos assim como determinar
os valores para seus correspondentes senos e cossenos, como ilustra a Figura 4.6.


−2

(0, 1)
1 ,

3

 −

√ 3


,
√ 2

1
2


2 2
2
π
2

√ 2


,

2 2
,
 2



2



π

3
3

3  1
2 , ◦ √ 3 ,
3π 4

1 90 2

π
4
120

2 2

60 ◦

45 ◦
13

6 6
5

150 ◦ ◦
30

(−1, 0) π 180◦ 0◦ 2π (1, 0)


x

◦ 330 ◦
210 11
5◦

7π π
31

 6 6 √
22

5
240 ◦


300

1 3
270◦

,− 
7π 4


√ 3 ,− 2 2
1
4

− 2 2


√


3

3

2 2


2
2

2



,−

,−
√ 2

2 2



2


,−
2

(0, −1)
,−

√ 3
1


2



Figura 4.6: Círculo trigonométrico com os valores de seno e cossenos de ângulos


usuais (0o , 30o , 45o , 60o , 90o e seus múltiplos).

Outras relações existem, como por exemplo definimos secantes como o inverso do
cosseno e cossecante como o inverso do seno. Temos também o que é certamente o
maior teorema de toda a trigonometria, o teorema de Pitágoras: dado um triângulo
retângulo como o da Figura 4.3, com hipotenusa a e catetos b e c, então vale que
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 59

a2 = b2 + c2 . (4.8)

Do círculo trigonométrico, de hipotenusa igual a um e catetos igual a cos α e sin α, ao


substituir em (4.8), teremos que

sin2 α + cos2 α = 1, ∀ α ∈ R. (4.9)

Geometricamente o teorema de Pitágoras pode ser visto como soma de áreas, dado
um triângulo retângulo de hipotenusa a e catetos b e c, dizer que a2 = b2 + c2 é a
mesma coisa que dizer que a área a2 é igual a soma da área b2 com a área c2 , veja a
Figura

a
a

B
a c
a
c c

c
C b A

b b

Figura 4.7: Teorema de Pitágoras.

Exemplo: Determine o valor de b no triângulo da Figura 4.4 sabendo que α = 30o ,


β = 45o , a = 5 cm.
Solução: Pela lei dos Senos, teremos:

b a
= =⇒
sin β sin α

a · sin β 5 · sin 45o 5 · ( 22 ) √
=⇒ b = = = 1
= 5 2 cm.
sin α sin 30o 2
60 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
Exemplo: Uma pessoa de 1.8 m de altura se encontra a 200 m de uma torre de
rádio. O ângulo de visão formado a partir do olho da pessoa (que se encontra a 1, 7 m
do solo) com a horizontal a partir dele forma um ângulo de 60o . Determine a altura
da torre de rádio.
Solução: Esquematicamente temos:

Esquematização do exemplo.

Visivelmente, a altura h da torre será h = x + 1, 7, agora basta encontrar o valor de


x. Pela definição de tangente:

o x o 3
tan 60 = =⇒ x = 200 · tan 60 = 200 · ≈ 115, 5 m.
200 3

∴ h = 115, 5 + 1, 7 = 117, 2 m.

(A cargo do leitor): Demonstre as seguintes igualdades:

cos (2a) = 2 cos2 a − 1

sin (2a) = 2 cos a sin a


CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 61

4.4 Tipos de funções

4.4.1 Função constante

A função constante como o próprio nome sugere se trata de uma constante k.


Definimo-a como f(x) = k, sendo k ∈ R. Exemplo: a função f(x) = e é do tipo
constante. Seu domínio são os reais e seu gráfico é definido como Gf = {(x, f(x)) : x ∈
R} = {(x, e) : x ∈ R}. O gráfico é dado por uma linha paralela ao eixo das abscissas
que passa pelo ponto (0, e) como está representado na Figura 4.8 abaixo.

y
4

0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 x
Figura 4.8: Função constante f(x) = e.

Perceba que a linha vai do −∞ até o ∞, pois o domínio da função são todos os
números reais. Temos também funções que são dados por duas ou mais leis por
exemplo, como segue o exemplo a seguir em que f(x) é definida em partes.


 −2 , se −∞ < x ≤ 2
f(x) = 2 , se 2 < x ≤ 3 .


1 , se 3 < x < ∞
Graficamente, temos a representação de f(x) na Figura 4.9 abaixo.
62 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
y
3

0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 x
−1

−2

−3

Figura 4.9: Exemplo de função constante definida em partes.

4.4.2 Função linear


Uma função f dos reais para os reais (denota-se f : R −→ R) dada por f(x) = ax em
que a ∈ R é denominada função afim. Em suma, essa função é uma reta que SEMPRE
passa pela origem do sistema cartesiano, o ponto (0, 0). A constante a é denominada
coeficiente angular da reta definida por f(x) e sua interpretação diz respeito ao quanto
a reta está inclinada em relação ao eixo positivo de x (abscissa).
A constante a está diretamente relacionada à tangente do ângulo θ formado entre
o eixo positivo de x com a reta, de modo que a ≡ tan θ. Essa relação veremos mais

a frente, mas abaixo seguem dois exemplos de funções lineares, uma com a = 3
(Figura 4.10) e outra com a = −1 (Figura 4.11).
y y
3 3
2 2
1 1 θ
θ
0 0
−3 −2 −1 0 1 2 3x −3 −2 −1 0 1 2 3x
−1 −1
−2 −2
−3 −3

Figura 4.10: Gráfico de f(x) = 3x. Figura 4.11: Gráfico de f(x) = −x.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 63
Portanto, se uma função linear tem coeficiente angular maior que zero, então a reta
gráfica será crescente, enquanto que se o coeficiente angular for negativo, então a reta
gráfica será decrescente.

4.4.3 Função afim


A função afim é a reta, ou seja, uma função f : R −→ R dada por f(x) = ax + b
em que a, b ∈ R sendo que a é o coeficiente angular da reta (assim como no caso da
função angular) e b e o coeficiente linear da reta. Esse último desloca a reta do ponto
(0, 0) para um outro qualquer (0, y0 ). Dizemos que b é o ponto em que a reta corta o
eixo y, ou seja, b ≡ y0 . Perceba que no caso das funções lineares b era igual a zero.
Tomemos como caso mais genérico a representação de uma f afim expressa na Figura
4.12 abaixo a qual passa pelos pontos P0 = (x0 = 0, y0 ) P = (x, y), sendo esse último
com (x, y) quaisquer.

P
y

θ
P0
A

0 x x

Figura 4.12: Exemplo de reta de uma função afim.

Perceba que formamos um triângulo PP0 A com um ângulo θ, o qual pode ser
descrito da seguinte forma

PA y − y0
tan θ = = .
AP0 x − x0
64 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
Mas como tan θ = a, o coeficiente angular da reta, x0 = 0 e y0 = b, chegamos na
seguinte relação

y−b
a= .
x
Portanto, a equação de uma reta qualquer no R2 é escrita na forma da equação (4.10)
em seguida

y = ax + b, (4.10)

em que a e b são os coeficientes angular e linear da reta respectivamente.


De forma generalizada, sabendo um ponto (x0 , y0 ) pertencente à reta e seu coefi-
ciente angular a, a equação que engloba de forma mais ampla a descrição da reta é
dada pela equação (4.11).

y − y0 = a(x − x0 ) (4.11)

Exemplo: Determine a equação da reta r que passa pelo ponto (−1, 3) e forma um
ângulo de 45o com o eixo das abscissas. Construa o gráfico.
Solução: Sabemos que o coeficiente angular é dado por a = tan θ, em que θ é o ângulo
formado do eixo positivo de x (eixo das abscissas) com a reta, logo, para esse caso,
a = tan 45o = 1. Pela equação da reta, equação (4.11), substituindo o ponto (x0 , y0 )
dado, obteremos que

y − 3 = 1(x − (−1))

∴ r : y = x + 4.

Geometricamente:
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 65
y
10

r
8

0
−2 −1 0 1 2 3 4 x

Figura 4.13: Gráfico de f(x) = x + 4.

Vamos agora estudar o caso em que duas retas, r e s são perpendiculares (formam
um ângulo de 90o entre si) no R2 . Como seus coeficientes angulares, ar e as se
comportam? Existe uma relação? Tomemos a seguinte distribuição dessas retas de
forma aleatória, formando os ângulos θ e α, conforme ilustra a Figura 4.14.

α
θ
x

Figura 4.14: Retas perpendiculares no R2 .

Por trigonometria de triângulos retângulos, podemos determinar α em função de


θ, de modo que α = θ + 90o . Sendo assim, os coeficientes angulares das retas serão
dados por

ar = tan θ,
66 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
as = tan α = tan(θ + 90o ).

Podemos reescrever as usando a definição da tangente da soma de dois ângulos


(equação (4.12), dada por

sin (a + b) sin a cos b + sin b cos a


tan (a + b) = = . (4.12)
cos (a + b) cos a cos b − sin a sin b

Logo,

sin θ cos(90o ) + sin(90o ) cos θ cos θ −1


tan (θ + 90o ) = o o
= = .
cos θ cos(90 ) − sin θ sin(90 ) − sin θ tan θ

Portanto, concluímos que as = −1/ar . Com isso podemos generalizar que, para
quaisquer duas retas r e s no R2 que sejam perpendiculares entre si, seus coeficientes
angulares, ar e as , se relacionam da seguinte forma expressa na equação (4.13). Pela
mesma relação, se duas retas ou mais são paralelas entre si, seus coeficientes angulares
são iguais. Fica a cargo do leitor provar.

ar · as = −1 (4.13)

Exemplo: Determine a equação da reta p que passa pela origem e é perpendicular à


reta q dada por y = −5x + π. Desenhe-as no plano cartesiano.
Solução: A equação da reta p é dada por

p : y − 0 = ap (x − 0).

Como p é perpendicular a q (escreve-se p ⊥ q), então pela equação (4.13) teremos que

−1 1
ap · aq = −1 =⇒ ap = = .
−5 5

Portanto, a equação da reta p será dada por

1
p : y = x.
5

No plano cartesiano:
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 67
y

q
1

p
0
x
−1 0 1

−1

Figura 4.15: Gráfico das retas p e q as quais são perpendiculares entre si.

Fica a cargo do leitor determinar a equação da reta r que passa pelo ponto (0, 1) e é
paralela à reta q. A reta r também é perpendicular à reta p? Se sim, prove!

4.4.4 Função polinomial

Uma função f é dita ser polinomial se tal é escrita em monômios ou suas combina-
ções, formando polinômios, resultando na forma (4.14), em que an são constantes.

f(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn (4.14)

A função da reta y = ax + b é também uma função polinomial, pois é formada


pelo monômio de grau um ax + b. As mais famosas funções polinomiais são as
quadráticas, cúbicas, quadras, quintas etc. A Figura 4.16 representa diferentes curvas
de funções polinomiais.
68 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
y
12

4
x
−3 −2 −1 1 2 3
−4
y = x2
−8 y = x3
y = x4
−12
y = x5

Figura 4.16: Comparação entre os gráficos de funções polinomiais. Perceba que para
xn com n par o gráfico toma somente valores de y ≥ 0, enquanto que se n é ímpar o
gráfico da função toma valores de y tanto positivos como negativos.

Também temos as funções dados por raízes, que são polinômios com grau 0 < n < 1.
A Figura 4.17 apresenta diferentes curvas de funções desse tipo.

y √
y= x

y= 3x

1 y= 4x

x
1
Figura 4.17: Comparação entre os gráficos de funções polinomiais do tipo xn com
0 < n < 1. Perceba que todas as curvas se interceptam em x = 1. O domínio das
funções apresentadas é definido por Df = {x ∈ R : x ≥ 0}.

Como vimos anteriormente, a potenciação é a operação inversa da radiciação, logo,



por analogia, a função inversa de f(x) = xn é g(x) = n x para todo x ≥ 0. Funções
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 69
inversas possuem simetria com relação à reta y = x (função identidade), ou seja,
todos os pontos de f distam o mesmo valor de g à y = x. Uma função g é dita ser
inversa de f se, e somente se, g(y) = x ⇐⇒ f(x) = y. As compostas, f(g(x)) e g(f(x))
são sempre iguais a x, a função identidade. A Figura 4.18 mostra a simetria entre

f(x) = x2 e sua inversa g(x) = x com relação a y = x (reta tracejada).

y
x2 x
4


2 x

0
0 1 2 3 4 x

Figura 4.18: A função f(x) = x2 tem como inversa g(x) = x, pois pela definição, se

f(x) = x2 ⇐⇒ x2 = y ⇐⇒ x = y = g(y), ∀ (y, x ∈ R+ ).

A função quadrática

Uma função polinomial muito conhecida é a quadrática (de grau n = 2), normal-
mente escrita na forma (4.15), com a, b e c constantes.

f(x) = ax2 + bx + c (4.15)

Para encontrarmos as raízes dessa função, ou seja, os valores de x para os quais


a função tem valor igual a zero, basta igualar f(x) = 0. Com isso ficamos que
ax2 + bx + c = 0, basta agora encontrar a solução dessa equação. Multiplicando todos
os termos por 4a e somando b2 ambos lados da igualdade teremos:

4a2 x2 + 4abx + b2 = b2 − 4ac

Perceba que o lado direito da igualdade pode ser reescrito como o quadrado da soma
70 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
de 2ax com b, então:
(2ax + b)2 = b2 − 4ac

Tomando a raiz de ambos os lados:


p
2ax + b = ± b2 − 4ac

Finalmente chegamos à solução da equação ax2 + bx + c = 0:



−b ± ∆
x= , ∆ = b2 − 4ac. (4.16)
2a

O termo ∆ na equação (4.16) é denominado discriminante e esse tem papel


fundamental na determinação de soluções de uma função quadrática. Se ∆ > 0 então
a função quadrática terá duas raízes reais. Caso ∆ = 0 a função terá apenas uma raiz
real e por fim, se ∆ < 0, então a função não terá raízes reais, pois a solução da equação
(4.16) leva a raiz de ∆, e como já vimos não existe solução real para raiz de um número
negativo. Veremos mais a frente que existem soluções dadas em números complexos,
mas por enquanto nos atentaremos apenas às soluções reais.
Uma característica importante para esboçar uma função quadrática é observar o
termo a que acompanha o x2 : se a > 0 então a concavidade a parábola é para cima,
enquanto que se a < 0 a concavidade será para baixo. Tanto para cima ou para baixo,
a função terá um valor máximo (ou mínimo), e esse ponto é determinado pelo par
ordenado (xv , yv ), os pontos x do vértice e y do vértice, e tais são calculados pelas
equações (4.17a) e (4.17b).

−b
xv = (4.17a)
2a
−∆
yv = (4.17b)
4a

A Figura 4.19 ilustra um caso de uma função quadrática f(x) genérica com a < 0
(concavidade para baixo), com o valor de máximo determinado por (xv , yv ). A prova
do por que esse par ordenado é dado pelas equações (4.17a) e (4.17b) será feita no
Capítulo 6.
Exemplo: Determine as raízes de f(x) = x2 + 4x − 5 e esboce seu gráfico.
Solução: Para determinar as raízes de uma função quadrática devemos primeira-
mente igualá-la a zero, então x2 + 4x − 5 = 0. As constantes são a = 1, b = 4 e c = −5,
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 71
y

(xv , yv )

Figura 4.19: Exemplo de função quadrática com a < 0. O ponto de máximo nesse
caso é determinado pelo x e y do vértice.

logo, calculando o discriminante, teremos que ∆ = 42 − 4 · 1 · (−5) = 36. Como ∆ > 0,


então f(x) tem duas raízes (corta o eixo das abscissas duas vezes). Pela equação (4.16)
a solução será x = 1 ou x = −5. Calculando o seu ponto de mínimo (pois nesse caso
a > 0, então a concavidade é para cima formando assim um ponto de mínimo) pelas
equações (4.17a) e (4.17b), teremos que (xv , yv ) = (−2, −9), logo, o esboço de f(x) será
ilustrado na Figura 4.20 abaixo.

0
−8 −6 −4 −2 0 2 4 x
−3

−6

−9

Figura 4.20: Esboço de f(x) = x2 + 4x − 5. Perceba que a curva corta o eixo Ox em −5


e 1 (raízes de f(x)) e tem como ponto de mínimo (xv , yv ) = (−2, −9).
72 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS

4.4.5 Função exponencial


Seja a > 0 e a ̸= 1 um real, então existe uma função f, definida em R, dada por
f(x) = ax , em que x é a variável independente de f, essa denominada por função
exponencial. A Figura 4.21 apresenta dois exemplos de curvas exponenciais, veja.

y y

1
1

x x
(a) f(x) = ax , a > 1. (b) f(x) = ax , 0 < a < 1.

Figura 4.21: Exemplos de funções exponenciais. Da definição, para a > 1 a curva será
estritamente crescente (a), enquanto que para 0 < a < 1, a curva será estritamente decrescente
(b).

Quanto maior for o valor de a, mais rápido a curva tenderá ao infinito, veja exemplo
na Figura 4.22 que compara diferentes exponenciais para diferentes valores de base.

y y = 2x
y = 5x
16
y = 20x

12

4
1 x
−2 −1 1 2 3

Figura 4.22: Comparação entre os gráficos de funções exponenciais do tipo y = ax . Perceba


que quanto maior o valor de a mais rapidamente a curva tende a valores no infinito.
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 73

4.4.6 Função logarítmica


A função logarítmica toma como variável independente x o logaritmando, criando
assim uma curva definida somente no R∗+ , haja vista que log 0 −→ −∞, e não existe
logaritmo de números negativos, pois a equação (3.1) da definição nesse caso não
é satisfeita. A Figura 4.23 apresenta dois casos de funções logarítmicas, um caso
em que a base a é maior que um, o que configura que f é estritamente crescente,
e um segundo caso em que a base a está entre zero e um, o que configura que f é
estritamente decrescente.

y y

1 x 1 x

(a) f(x) = loga x, a > 1. (b) f(x) = loga x, 0 < a < 1.

Figura 4.23: Exemplos de funções logarítmicas. (a) f é estritamente crescente pois


a > 1 e (b) f é estritamente decrescente por 0 < a < 1. Ambas as curvas tem domínio
definido por Df = {x ∈ R : x > 0}.

Novamente, pela definição de função inversa, a função f(x) = ex por exemplo tem
como inversa a função g(x) = ln x, pois pela definição y = ex ⇐⇒ x = ln y ⇐⇒ g(x) =
ln x. Perceba que a composta f(g(x)) gera a identidade, pois eln x = x (demonstre!). O
gráfico da Figura 4.24 ilustra essas funções em relação à simetria de y = x.

4.4.7 Função racional


Sejam p(x) e q(x) duas funções definidas num intervalo I, com p(x) ̸= 0, então a
função f(x) = p(x)/q(x) é definida como uma função racional, pois é dada pela razão
de duas outras funções, p e q. Para esboçar o gráfico dessas funções devemos sempre
desenvolver o quociente e observar o que ocorre com a curva. Vejamos o exemplo da
x2 + 1
função f(x) = : perceba que tal pode ser escrita como f(x) = x + x1 , segue que
x
74 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
y
ex x
4

2
ln x
1

0
−2 −1 0 1 2 3 4 x
−1

−2

Figura 4.24: A função f(x) = ex tem como inversa g(x) = ln x. Perceba que todos os
pontos de f distam o mesmo valor dos pontos simétricos de g à y = x.

f(x) é a combinação de duas curvas, x somada a x1 .


O gráfico na Figura 4.25 (a) mostra essas curvas esboçadas separadamente, enquanto
quem em (b) temos a resultante, a própria f(x).

y y
3 3

2 2

1 1

0 0
−3 −2 −1 0 1 2 3 x −3 −2 −1 0 1 2 3 x

−1 −1

−2 −2

−3 −3
2
(a) Curvas x e 1/x esboçadas separada- (b) Aqui o gráfico de f(x) = x x+1 for-
mente. mado pelas curvas separadas x e 1/x.

x2 + 1
Figura 4.25: Construção do esboço de f(x) = .
x
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 75
1
Exemplo: Esboce o gráfico de f(x) = 2 .
x
Solução: A função tende ao mais infinito quando x se aproxima de zero, diferentemente
da função f(x) = 1/x que tende a mais infinito quando x tende a zero pela direita
e menos infinito quando x tende a zero pela esquerda (vide Figura 4.25 (a)). Como
1/x2 é o quadrado de 1/x, seu gráfico será igual ao de f(x) = 1/x só que com a
parte negativa refletida para a parte positiva de Oy (eixo das ordenadas) devido a
propriedade de que x2 ≥ 0 ∀ x ∈ R. Tente esboçar o gráfico dessa função.

4.4.8 Funções trigonométricas

As funções trigonométricas que aqui apresentaremos (seno, cosseno e tangente)


correspondem ao caminho que o ponto P da Figura 4.7 percorre conforme se varia
o ângulo α. Sabemos que o cos α é máximo quando α = 0, enquanto que para esse
mesmo valor o seno é mínimo. Os valores de máximo e mínimo das funções são
iguais a 1 e −1 respectivamente pois no círculo trigonométrico tais valores variam de
[−1, 1] (o círculo trigonométrico tem raio igual a 1). Traçando essas curvas, obtemos o
seguinte gráfico representado na Figura 4.26.

f (α) sin(α) cos(α)

α
−2π −3π2 −π −π2 π2 π 3π2 2π

−1

Figura 4.26: Funções seno e cosseno.

Agora, para a função tangente, teremos que quando α = 0, a tangente é zero, e


quando α = π/2 a função tangente tenderá ao infinito, assim como em todos os pontos
múltiplos ímpares de π/2, como ilustra o gráfico da Figura 4.27.
76 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
f (α) tan(α)

α
−2π −3π2 −π −π2 π2 π 3π2 2π

−1

Figura 4.27: Funções seno e cosseno.

Podemos agora determinar duas propriedades das funções de modo em geral, em


especial as trigonométricas, a periodicidade e o tipo (par ou ímpar).

Definição 2 (Função periódica). Seja f uma função de uma variável real x e T um


número real. Dizemos que f é periódica de período T se, e somente se, para todo x ∈ Df ,
têm-se que
f(x + T ) = f(x). (4.18)

É de simples visualização que as funções seno e cosseno, por exemplo, são


periódicas de período 2π, pois a curva de suas funções se repetem a cada intervalo de
periodicidade 2π.

Definição 3 (Funções pares e ímpares). Dizemos que uma função f é par se, e somente
se, para todo x ∈ Df têm-se que
f(x) = f(−x), (4.19)

enquanto que uma função é dita ímpar se, para as mesmas especificações, têm-se que

f(x) = −f(−x). (4.20)

Uma função par tem simetria com relação ao eixo das ordenadas, ou seja, seu
gráfico é espelhado com relação a esse eixo. Um exemplo de função par é a função
cosseno (veja o gráfico de cos α na Figura 4.26). Já uma função ímpar tem simetria
com relação a origem, ou seja, seu gráfico tem simetria com relação ao ponto (0, 0),
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 77
que também pode ser interpretada como uma simetria em relação à função identidade
f(x) = x. Um exemplo de função ímpar é a função seno (veja o gráfico de sin α na
Figura 4.26).
Exemplo: Esboce o gráfico de f(x) = 2 sin (2x).
Solução: Sabemos que a função sin x tem raízes quando x é um múltiplo inteiro de π.
Agora, com a multiplicação 2π a função seno terá raízes quando x for múltiplo inteiro
de π/2, ou seja, a curva será mais comprimida. Quanto ao 2 que multiplica pela lado
de fora, tal implicará na maior amplitude da função, ou seja, o máximo e mínimo
agora serão 2 e −2 respectivamente. Veja gráfico na Figura 4.28.

f (x) 2 sin (2x)


2

x
−2π −3π2 −π −π2 π2 π 3π2 2π

−1

−2

Figura 4.28: Esboço da função f(x) = 2 sin (2x).

Exemplo: Esboce o gráfico de f(x) = x sin x.


Solução: Temos uma função dada pela multiplicação de duas, x e sin x. Para determinar
seu gráfico esboçamo-as separadamente e depois analisamos pontos de x no domínio
de f. Como sin x adota valores negativos, então vamos considerar que na multiplicação
da função x também posso assumir (todos os reais pertencem ao domínio de f), logo,
traçaremos as retas y = ±x e veremos que a função seno encontra-se entre elas. Isso
ocorre pois x que multiplica sin x atua como o termo de amplitude da função seno, só
que nesse caso a amplitude cresce linearmente. Veja o esboço de f na Figura 4.29.
78 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
y
20 x

16

12

0
−20 −16 −12 −8 −4 0 4 8 12 16 20 x
−4

−8

−12

−16

−20 −x

Figura 4.29: Esboço da função f(x) = x sin x.

Exemplo: A função f(x) = x3 + 2 é par ou ímpar?


Solução: Tomemos o valor x = −1 o qual pertence ao domínio da função. Para esse
valor temos que f(−1) = (−1)3 + 2 = 1. Agora, para x = 1 teremos que f(1) = 3.
Como f(x) ̸= f(−x) e f(x) ̸= −f(−x) concluímos que a função f(x) = x3 + 2 não é par
e nem ímpar. Verifique que g(x) = x3 é ímpar!

4.4.9 Função modular

A função modular é uma classe de aplicação do módulo de um conjunto de valores


como visto anteriormente. Podemos pegar qualquer função definida num intervalo I
e aplicar módulo. O que ocorrerá é que os valores negativos que a função original
tomava agora serão dados como pontos positivos, pois o módulo de um número é
sempre maior ou igual a zero. A Figura 4.30 ilustra vários gráficos de funções com o
módulo aplicado (perceba que é algo bem intuitivo: o que era negativo agora tem que
ser positivo: a curva reflete-se para a parte positiva de Oy).
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 79

y y
2 2
1 1
0 0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x
−1 −1
−2 −2

(a) (b)

y y
2 2
1 1
0 0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x
−1 −1
−2 −2

(c) (d)

y y
2 2
1 1
0 0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4x
−1 −1
−2 −2

(e) (f)

Figura 4.30: Esboço das funções (a) x, (b) ln x, (c) x2 − 1, (d) sin x, (e) cos x e (f) x3 − 2x2 + 1,
assim como suas respectivas moduladas (curvas em verde).

4.4.10 Translações horizontais e verticais de funções


os gráficos das funções podem ser movidos de posição, por exemplo, o gráfico
de y = x2 é diferente do gráfico de y = x2 + 1 que é concomitantemente diferente
de y = (x + 1)2 . Qual a diferença entre somar ou subtrair constantes às curvas de
funções? Vejamos a seguir duas definições que nos ajudarão a esboçar gráficos de
forma mais fácil e prática.
80 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS

Definição 4 (Translação vertical). Dizemos que uma função f é transladada vertical-


mente em t ∈ R (para cima ou para baixo) se a seguinte operação for realizada

f(x) −→ f(x) ± t.

Os pontos da curva irão transladar para cima se +t for aplicado à f e irão para baixo se
−t for aplicado à f.

Definição 5 (Translação horizontal). Dizemos que uma função f é transladada


horizontalmente em t ∈ R (para a esquerda ou para a direita) se a seguinte operação for
realizada
f(x) −→ f(x ± t).

Os pontos da curva irão transladar para a direita se −t for aplicado à x e irão para a
esquerda se +t for aplicado à x.

Para exemplificação, tomemos a função f(x) = |x2 − 2| representada em verde na


Figura 4.31. Se queremos translada-la em 3 unidades para a direita devemos aplicar
em x o valor de −3, conforme Definição 5. Ao realizar esse processo, obteremos a
curva em azul na Figura 4.31.

f (x) = |x2 − 2| y f (x) = |(x − 3)2 − 2|


4

0
−3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 6 x
−1

Figura 4.31: Exemplo de translação horizontal da função f(x) = |x2 − 2| (curva verde)
em três unidades para a direita (curva azul).

Agora um exemplo de translação vertical: tomemos f(x) = x3 . Se quisermos


translada-la em 2 unidade para cima somamos 2 à f, enquanto que se quisermos
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 81
translada-la em 2 unidades para baixo simplesmente subtraímos 2 à f, como ilustra a
Figura 4.32.
y
3
f (x) = x + 2 4

f (x) = x3 3

f (x) = x3 − 2 2

0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 x
−1

−2

−3

−4

Figura 4.32: Exemplo de translação vertical da função f(x) = x3 .

4.4.11 Funções compostas


Como o nome intuitivamente diz, uma função composta é dada pelo composição
de duas ou mais funções separadas. Por exemplo, a função h(x) = (x − 1)2 é dada
pela composição da função f(x) = x2 com a g(x) = x − 1, ou seja, denotamos que
h(x) = f(g(x)) (a g é o argumento da f).

Definição 6 (Função composta). Sejam f : A −→ B e g : B −→ C duas funções de


R em R. Define-se a composta de f com g a aplicação de g a f, ou seja, f(g) : A −→ C.
Para que isso seja verdade então Img ⊆ Df , ou seja, o domínio da composta f(g(x)) é o
domínio da função g(x). Uma possível notação para f(g(x)) é também f ◦ g.


Exemplo: Determine f ◦ g sendo f(x) = x3 + x e g(x) = x2 − 1.
Solução: Para determinarmos f ◦ g basta substituirmos g em x de f, ou seja, f ◦ g =
p
(x2 − 1)3 + x2 − 1. O domínio da composta é igual ao domínio da g(x), todos os
reais.
82 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS

4.5 Exercícios
1. Determine o domínio das seguintes funções:

(a) y = ln ex x
(e) y =
 2  ln(27 − x3 )
x −1
(b) y = ln
x x2
(f) y =
|27 − x3 |
x2 − 5x + 2 √
(c) y = √
−x (g) y = ln x3
 
x 1
(d) y = sin √ (h) y = √
x2 − 16 −1 + ln x3

2. Mostre que, dada a configuração de triângulos a seguir, vale a igualdade


a x
que = .
b y

3. Determine o valor de x na figura abaixo.


CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 83

4. Esboce os gráficos das seguintes funções explicitando seu domínio.

(a) y = ln 3x (h) y = − ln(−x)

(b) y = ln 4x − 2 x2 − 1
(i) y =
x2
(c) y = xe5x (j) y = log 1 x
4

(d) y = |x2 − 3| + 4 (k) y = x2 cos x


p
(e) y = cos2 x (l) y = |x|

(f) y = −e−x (m) y = |x − 4|


1
(g) y = ln(−x) (n) y = −2
x2

5. Qual a equação da reta que passa pela origem e é paralela à reta dada por
y = 5x − 4?

6. Qual a equação da reta que passa pela origem e é perpendicular à reta dada
por y = 5x − 4?

7. Qual a equação da reta que passa pelo ponto (1, −3) e é perpendicular à reta
dada por y = x + 3?
84 CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS
8. Qual a equação da reta que passa pelo ponto (0, −π) e é perpendicular à reta
dada por y = −πx + π2 ?

9. Determine b sabendo que a área do triângulo verde formado abaixo é igual


a 6 cm2 .

10. Encontre as raízes das seguintes funções e esboce seus gráficos:

(a) y = x2 − 3x + 2 (e) x4 − 2x3 + 4x2

(b) y = x2 − 4 (f) y = 2x3 − 6x2 + 4

(c) y = x2 + 16 (g) y = x3 − 3x2 + 3x − 1

(d) y = −x2 + x + 6 (h) y = x3 − 3x2 + 2x

11. É preciso transladar a função f(x) = 5x3 ln x2 + 1 duas unidades para baixo
e π unidades para a direita. Como deve ser reescrita f(x) para que tal atenda as
necessidades informadas?

12. Determine uma função que quando transladada 5 unidades para cima e 3
unidades para a esquerda obtêm-sem f(x) = x2 .
CAPÍTULO 4. FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL COM VALORES REAIS 85
13. Determine a distância d entre os pontos A = (x1 , y1 ) e B = (x2 , y2 ). Dica:
utilize o teorema de Pitágoras.

B
y2

y1
A

x1 x2 x

14. Determine a função composta f(g(x)) e g(f(x)) dada as funções f(x) e g(x)
abaixo. Qual o domínio das compostas formadas?

(a) f(x) = x3 e g(x) = ln x

(b) f(x) = ln x2 + x e g(x) = ln x


p
(c) f(x) = 1/x3 e g(x) = −x + x2

(d) f(x) = 1/x e g(x) = ln x

(e) f(x) = x3 e g(x) = 1/x3

(f) f(x) = ex e g(x) = ln x

15. Sejam f(x) = e2x e g(x) = x3 − 3 determine:

(a) f ◦ f ◦ f ◦ g

(b) g ◦ g ◦ f ◦ g
86
5

Capítulo
Limites e Derivadas

Neste capítulo vamos iniciar uma discussão acerca de uma função ser ou não
contínua. Para que possamos formalizar essa ideia discutiremos duas ferramentas
matemáticas denominadas limite e derivada. A primeira trata-se de um argumento
geométrico, um artifício geométrico para análise de funções, em especial as não
contínuas. A segunda ferramente está diretamente relacionada com a inclinação da
reta tangente a uma curva dada a função dessa. A composição dessas ferramentas é
fundamental importância e são a base para todo o calculo diferencial e integral que
será estudado aqui neste curso e em cursos mais avançados.

5.1 Limites e continuidade


Dizemos intuitivamente que uma dada função f é contínua se tal não apresenta
nenhum salto em seu domínio. Por exemplo, a função f(x) da Figura 5.1 (a) é contínua
em p pois p pertence ao domínio da função e essa não apresenta salto nesse ponto,
enquanto que g(x) na Figura 5.1 (b) não é continua em p pois nesse ponto a função
apresenta um salto.
Vamos agora introduzir o conceito de limite, o qual é puramente uma ideia
x2 − 1
geométrica. A função f(x) = não é contínua em x = 1, mas gostaríamos de
x−1
determinar o valor para a qual a função deveria tomar para ser contínua nesse ponto.

87
88 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS

y y

f (p) g(p)

p x p x

(a) (b)

Figura 5.1: (a) Função contínua em p e em (b) função não contínua em p devido ao salto
nesse ponto.

Esse valor é justamente o limite da função quando x tende a 1. Tender a 1 não significa
tomar f(1), mas sim valores muito próximos a 1. A Figura 5.2 ilustra esse função: veja
que em x = 1 a função não é definida.

y
4

0
−1 0 1 2 3 x
−1
x2 − 1
Figura 5.2: Esboço de f(x) = .
x−1

Denotamos o limite de uma função f com o argumento tendendo a um real a por


lim f = L, em que L é o valor do limite. Para que tal exista o valor de L deve ser um
x→a
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 89
x2 − 1
real. No caso da função f(x) = , o limite para x → 1 representa o valor que f
x−1
deveria assumir para ser contínua nesse ponto. Pelo gráfico vemos que o valor deve
ser igual a 2, mas vamos demonstrar que tal é, como segue:

x2 − 1 12 − 1 0
lim = = .
x→1 x−1 1−1 0
Aplicamos o limite e vimos que nos resultou em uma indeterminação. Para sairmos
dela devemos manipular a função, nesse caso desenvolver a diferença de quadrados
no numerador (x2 − 1 = (x − 1)(x + 1)), logo:

x2 − 1 (x − 1)(x + 1)
lim = lim = lim x + 1 = 1 + 1 = 2.
x→1 x − 1 x→1 x−1 x→1

Vejamos o exemplo a seguir: determine o valor de L para que a função f(x) abaixo
seja contínua em x = 3.
 2
 x − 6x + 9
, ∀ x ̸= 3
f(x) = x−3

L , se x = 3
Em x = 3 a função não é contínua, mas queremos determinar o valor de L para que
tal seja contínua nesse ponto, ou seja, devemos calcular o limite de f para quando x
tende a 3, logo:

x2 − 6x + 9 (x − 3)2
lim = lim = lim x − 3 = 3 − 3 = 0
x→3 x−3 x→3 x − 3 x→3

Ou seja, o valor de L para que f seja contínua em x = 3 deve ser 0 (zero). Perceba que
se tivéssemos substituído x por 3 diretamente no limite acima teríamos chego em uma
indeterminação. Para nos desviarmos desse problema reescrevemos o numerador
como o quadrado da diferença.
Resumindo, quando uma função não é contínua em um ponto p buscamos encontrar
um valor L para o qual a função se tornaria contínua, e esse ponto é exatamente o
limite da função quando x tende a p. A Figura 5.3 abaixo ilustra a diferença entre
um f(p) (valor de uma função contínua) e um L (valor que uma função não contínua
deveria assumir para ser contínua).
90 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS

y y

f (p) L

p x p x

(a) (b)

Figura 5.3: (a) Função contínua em p e em (b) função não contínua em p (L é o valor
do limite de f para quando x → p).

5.1.1 Limites laterais


Nem todo limite é igual caso x tenda a p pela esquerda ou pela direita. Na Figura
5.2 vimos que caso x tenda a 1, tanto pela esquerda quanto pela direita, o valor do
limite será igual a 2. No entanto, existem funções que caso mude por onde aplica-se o
limite tal muda e isso é fundamental para determinarmos se uma função é contínua
ou não. Denominamos tais limites por limites laterais: por exemplo, seja g(x) uma
função dada por

x2 − 1 , se −∞ < x ≤ 2
g(x) =
x + 2 , se x > 2,
cujo esboço é representado na Figura 5.4.
Veja que se x tende a 2 pela esquerda (x → 2− ), pela regra da função, o limite será

lim x2 − 1 = 22 − 1 = 3,
x→2−

enquanto que se x tende a 2 pela direita (x → 2+ ), o limite será

lim x + 2 = 2 + 2 = 4.
x→2+

Portanto, como o lim− g(x) ̸= lim+ g(x), conclui-se que g(x) não é contínua em
x→2 x→2
x = 2. Era visível que a função não era contínua nesse ponto pelo gráfico, mas agora
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 91
y
6

0
−4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 x
−1

−2

Figura 5.4: Esboço de g(x).

provamos usando a definição de limites laterais quer tal realmente não é contínua em
2. Concluímos também que não existe limite em x = 2 pelo fato dos limites laterais
nesse ponto serem diferentes.
Com isso, podemos generalizar duas regras para definir se uma função f(x) é ou
não contínua, que são expressas no seguinte Teorema 1.

Teorema 1 (Função contínua).

f(x) é contínua em p ⇐⇒ lim f(x) = f(p) e (5.1)


x→p

∃ lim f(x) ⇐⇒ lim− f(x) = lim+ f(x). (5.2)


x→p x→p x→p

5.1.2 Propriedades de limites


Seguem algumas propriedades referentes a operações envolvendo limites. Sejam
f e g duas funções de variável real e k uma constante, então desde que os limites
para quando o argumento das funções tenda a um real de f e g existam, as seguintes
igualdades são válidas.
92 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
• lim(f ± g) = lim f ± lim g;

• lim(f · g) = lim f · lim g;


 
f lim f
• lim = , desde que lim g ̸= 0;
g lim g
• lim(k · f) = k · lim f;

• lim(kf ) = klim f ;

• lim k = k;
√ √
n
• lim n f = lim f;
P P
• lim f= lim f;

5.1.3 Limites fundamentais


Alguns limites possuem uma prova complexa, e por isso são tabelados a fim de
serem usados em diversos cálculos. Comecemos com o limite quando x → 0 da função
sin x
x
. Esboçando a função (Figura 5.5) é possível visualizar que em x = 0 a função
não é definida pois temos uma indeterminação (0/0) nesse ponto, mas como vimos
anteriormente, o valor que então sinx x deveria assumir em x = 0 para ser contínua é 1
(um), ou seja

sin x
lim = 1. (5.3)
x→0 x

0
−20 −16 −12 −8 −4 0 4 8 12 16 20 x
−1

sin x
Figura 5.5: Esboço de .
x

Outro limite fundamental importante é o apresentado nas equações (5.4a) e (5.4b),


em que na segunda equação foi adotado que x1 = y, o que implica que se x tendia ao
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 93
infinito, então y tende a zero (um número dividido por outro muito grande resulta
em aproximadamente zero).

 x
1
lim 1 + =e (5.4a)
x→∞ x
1
lim (1 + y) y = e (5.4b)
y→0

O limite a seguir (equação (5.5)) é o último da classe dos fundamentais que veremos
aqui. Dado um real a ̸= 1, então vale a igualdade:

ax − 1
lim = ln a (5.5)
x→0 x

A prova desse limite é simples:

Demonstração. Definindo que ax − 1 = y então ax = y + 1. Aplicando ln de ambos


lados desse último teremos que x pode ser escrito na seguinte forma:

ln (y + 1)
ln (ax ) = ln (y + 1) =⇒ x = .
ln a

Substituindo em (5.5) teremos que y → 0 agora, logo:

y ln a ln a
lim = lim = lim 1 =⇒
y→0 ln (y + 1) y→0 1 y→0
ln (y + 1) ln (y + 1) y

ln a y

Utilizando as propriedades de limite e o limite fundamental apresentado na equação


(5.4b), teremos:

ln a ln a ln a
=⇒ h 1
i=  = = ln a.
lim ln (y + 1) y 1 ln e
y→0 ln lim(y + 1) y
y→0

e2x − 1
Exemplo: Calcule o limite da função f(x) = quando x → 0.
e3x − 1
94 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
Solução: Multiplicando o numerador e o denominador por 1/x, teremos:

e2x − 1
lim 3xx
x→0 e − 1

aγx − 1
Utilizando uma relação similar à (5.5), em que lim = ln aγ , sendo γ um
x→0 x
número real qualquer exceto igual a zero (demonstre o limite), teremos que:

e2x − 1 e2x − 1
lim ln e2 2
lim 3xx = x→0 3xx = 3
= .
x→0 e − 1 e −1 ln e 3
lim
x x→0 x

5.2 Derivadas

Definida as ideias de limite e continuidade de funções vamos agora nos atentar a


um problema matemático: dada uma curva qualquer representada por uma função
real, quanto vale a inclinação da reta tangente a essa curva em um ponto x qualquer?
Essa pergunta levou dois grandes matemáticos, Isaac Newton (1643 - 1727) e Gottfried
Wilhelm Leibniz (1646 - 1716) a desenvolverem o cálculo diferencial e integral que
estamos estudando hoje, em especial à derivada de uma função, solução da pergunta
feita acima.
Imagine a curva f(x) arbitrária representada pelo gráfico da Figura 5.6 . Fixemos
um ponto (x, f(x)) na curva e tomemos um consecutivo que dista h unidades de
x, demarcado por (x + h, f(x + h)). Nosso objetivo é encontrar a equação da reta
tangente à função em x. Para isso devemos traçar uma reta s entre esses dois pontos
(a reta secante aos pontos), formando assim um triângulo retângulo com ângulo α em
(x, f(x)) o qual está representado em cinza claro na Figura . Veja que o triângulo tem
catetos de comprimento h e ∆f = f(x + h) − f(x).
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 95

y y

f f
s
f (x + h) f (x + h)

∆f

α
f (x) f (x)
h

x x
x x+h x x+h

(a) (b)

Figura 5.6: (a) Esboço de f(x) com dois pontos em evidência, (x, f(x)) e (x + h, f(x + h))
e (b) reta secante a esses pontos formando um triângulo retângulo de catetos h e
∆f = f(x + h) − f(x) com ângulo α em (x, f(x)).

Pela Figura 5.6 (b) podemos determinar o coeficiente angular ms da reta secante s,
que é igual à tangente do ângulo α, ou seja

f(x + h) − f(x)
ms = tan α = . (5.6)
h

Agora, tomando o limite da equação (5.6) para quando h tende a zero, estaremos a
calcular o que denomina-se por derivada da função f, escrita como f ′ , ou também da
seguinte forma

df f(x + h) − f(x)
= lim . (5.7)
dx h→0 h

d
A derivada ( dx ) é um operador que nos retorna uma função quando se é aplicada
uma função a ele. Além do mais, aplicando-se um ponto x ∈ Df a essa nova função
obtêm-se o coeficiente angular da reta tangente à f (função a qual estar-se a derivar)
nesse ponto. Perceba que quando aplicamos o limite de h tendendo a zero, na Figura
5.6 (b) fizemos com que o cateto h fosse diminuindo cada vez mais até que o triângulo
todo vira-se um ponto em (x, f(x)). Nesse caminhar, a reta secante foi ”andando” pela
função até o ponto x, e é nesse exato ponto que tal representa agora a reta tangente à
função em x, que é nada mais nada menos que a derivada aplicada nesse ponto.
96 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
A Figura 5.7 representa essa evolução da reta secante pela função até que quando
h = 0 temos a reta tangente t à f no ponto x.

f
s

f (x)

x x

Figura 5.7: A reta tangente t à função f em x.

Exemplo: Utilizando a definição de derivada, determine dx d 2


x (ou por outra notação,
(x2 ) ′ ).
Solução:
Portanto, podemos encontrar a equação da reta tangente à curva de uma função f em
um ponto qualquer x = a. Agora, o coeficiente angular m da equação geral de uma reta
df
(equação (4.11)) será a derivada da função f no ponto a, ou seja, m −→ dx x=a
= f ′ (a),
como segue:

y − y0 = f ′ (a)(x − x0 ). (5.8)


Exemplo: Determine a equação da reta tangente à função f(x) = x no ponto x = 4.
Solução: Primeiramente devemos determinar um ponto o qual pertence a essa reta
tangente. Tal ponto é exatamente o mesmo em que a tangente toca a curva em x = 4,

ou seja, f(4) = 4 = 2, logo um ponto pertence à reta é (x0 , y0 ) = (4, 2). Agora,
devemos calcular a inclinação da reta tangente nesse ponto, ou seja, a derivada da
função aplicada nesse ponto, como segue utilizando a definição de derivada (equação
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 97
(5.7)):  √ √ 
df d √  x+h− x
= x = lim .
dx x=4 dx x=4
h→0 h x=4

Não podemos aplicar h = 0 diretamente pois chegaríamos numa indeterminação


(0/0). Devido a isso usaremos o artifício de multiplicar o numerador e o denominador
√ √
por x + h + x, o chamado par conjugado. Ao realizarmos isso, teremos
√ √ √ √ √ √
x+h− x x+h+ x ( x + h)2 − ( x)2
lim ·√ √ = lim √ √  =
h→0 h x + h + x h→0 h x + h + x

x+h−x h 1 1
lim √ √  = lim √ √  = lim √ √ = √ .
h→0 h x+h+ x h→0 h x+h+ x h→0 x+h+ x 2 x
Portanto,
d √  1 1 1
x = √ = √ = .
dx x=4 2 x x=4 2 4 4

Sendo assim, o valor da inclinação da reta tangente à f(x) = x em x = 4 é 1/4.
Como temos um ponto pertencente à reta, podemos determinar sua equação pela
(5.8), como segue:
y − 2 = f ′ (4)(x − 4),
x
∴ t : y = + 1.
4
Graficamente temos a representação dessas curvas na Figura 5.8 seguinte.
y
4
t

f (x) = x
3

0
−2 0 2 4 6 8 10 x
−1

Figura 5.8: Esboço de f(x) = x e a reta t, a tangente de f em x = 4.

Perceba que poderíamos determinar a equação da reta tangente


 em qualquer ponto
da curva pois a derivada da função nos retornou uma função 2√1 x que representa
98 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
os valores da inclinação da reta tangente à f em todo seu domínio. O que fizemos foi
aplicar, ou seja, substituir um valor (no caso x = 4) na derivada para obter o valor da
inclinação da reta tangente nesse ponto.
Vamos agora calcular outras derivadas utilizando a definição (equação (5.7)), a fim
de formular algumas regras práticas para derivação, antes de expor as propriedades do
operador derivada. Comecemos com o cálculo da derivada da função trigonométrica
sin x, que pela definição segue

sin (x + h) − sin x
(sin x) ′ = lim
h→0 h
Reescrevendo sin (x + h) pela relação (4.6), teremos

sin x cos h + sin h cos x − sin x sin x(cos h − 1) + sin h cos x


lim = lim =
h→0 h h→0 h

cos h − 1 sin h
sin x lim + cos x lim
h→0 h h→0 h
Como visto, o limite de sin h/h quando h → 0 é igual a um (5.3). No primeiro limite,
multiplicando pelo par conjugado obteremos

cos h − 1 cos h + 1 cos2 h − 12


sin x lim + cos x = sin x lim + cos x =
h→0 h cos h + 1 h→0 h(cos h + 1)

Relembrando a relação trigonométrica da equação (4.19), temos

− sin2 h sin h − sin h


sin x lim + cos x = sin x lim lim + cos x =
h→0 h(cos h + 1) h→0 h h→0 cos h + 1

− sin 0
sin x + cos x = cos x.
cos 0 + 1
Finalmente,

(sin x) ′ = cos x. (5.9)

Outra derivada importante é a da função exponencial ex , calculada como segue.

x ′ ex+h − ex ex e h − e x ex (eh − 1) x eh − 1
(e ) = lim = lim = lim = e lim =
h→0 h h→0 h h→0 h h→0 h
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 99
Usando a transformação que eh − 1 = t =⇒ h = ln (t + 1) com t → 0 (prove), então
teremos que

t 1 1 1
ex lim = ex lim = ex lim 1 = e
x
h i=
t→0 ln (t + 1) t→0 1 t→0 ln (t + 1) t 1
ln (t + 1) ln lim (t + 1) t

t t→0

Pela equação (5.4b), o limite em questão é um dos fundamentais e igual a e, portanto

1
ex = ex .
ln e

Finalmente,

(ex ) ′ = ex . (5.10)

Vamos agora demonstrar a chamada regra do tombo: seja xn um polinômio


qualquer, então sua derivada será nxn−1 (tomba o n e subtrai uma unidade no
expoente):

n n
  n−1  
n ′ (x + h)n − xn 0
x + n1 xn−1 h + · · · + n−1
n
xh + nn hn − xn
(x ) = lim = lim
h→0 h h→0 h
        
n n−1 n n−2 n n−1 n n−1
= lim x + ··· + xh + h = x
h→0 1 n−1 n 1

n
 n! n(n − 1)!
Como 1
= = = n, finalmente temos que
(n − 1)! (n − 1)!

(xn ) ′ = nxn−1 . (5.11)

Exemplo: Calcule a derivada de f(x) = x6 − 5x2 − x.


Solução: Pela regra do tombo, teremos que

df
= 6x6−1 − (5 · 2)x2−1 − x1 − 1 = 6x5 − 10x − 1.
dx

Outra derivada importante é a da função f(x) = ln x, que por definição é calculada


como segue.
100 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS

   1
′ ln (x + h) − ln x 1 x+h h h
(ln x) = lim = lim ln = lim ln 1 + =
h→0 h h→0 h x h→0 x

Usando a transformação que h/x = u =⇒ h = ux, com u → 0, teremos:

1 1 h 1
i
lim ln (1 + u) ux = ln lim (1 + u) u =
u→0 x u→0

O limite em questão é um dos fundamentais, dado pela equação (5.4b), logo

1 1
ln e = .
x x

Finalmente,

1
(ln x) ′ = . (5.12)
x

Por último, fica como exercício ao leitor provar, usando a definição, que a derivada
da função constante f(x) = k, k ∈ R é igual a zero (a derivada de qualquer constante
é igual a zero).

5.2.1 Propriedades de derivadas


O operador derivada possui algumas regras, as quais a prova fica a cargo do leitor.
Nesse curso nos atentaremos apenas na aplicação dessas propriedades, que são:

Soma e Subtração
d(f ± g) df dg
= ± (5.13)
dx dx dx

Multiplicação
d(fg) df dg
= g+f (5.14)
dx dx dx
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 101

Divisão
d(f/g) df
dx
g − f dg
dx
= (5.15)
dx g2

Constante multiplicativa

d(kf) df
=k , k∈R (5.16)
dx dx

x sin x
Exemplo: Calcule as seguintes derivadas: (a) sin x + 5x2 , (b) x ln x e (c) .
ln x
Solução:
(a)
d  d d 
sin x + 5x2 = (sin x) + 5x2 = cos x + 10x.
dx dx dx
(b)
d d d
(x ln x) = (x) · ln x + x · (ln x) = ln x + 1.
dx dx dx
(c)
  d d
d x sin x (x sin x) · ln x − x sin x · dx (ln x)
= dx 2
=
dx ln x ln x
d d
 d
dx
(x) · sin x + x · dx
(sin x) · ln x − x sin x · dx (ln x)
2
=
ln x
[sin x + x cos x] · ln x − sin x sin x ln x + x cos x ln x − sin x
2
= .
ln x ln2 x

5.2.2 Regra da cadeia


Vimos derivadas de funções simples, mas o que acontece quando uma função é
composta de outra, como fica sua derivada? Para isso devemos utilizar a regra da
cadeia, a qual nos diz que se uma função f é composta por uma g, ou seja, f(g(x)) é a
composição, então sua derivada é dada por

[f(g(x))] ′ = f ′ (g(x)) · g ′ (x). (5.17)


102 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
Para ficar mais visual, imagine uma sequência como ilustra a Figura 5.9 : temos
uma função f que depende da função g e essa que depende da variável x, ou seja, f
df
também depende de x. Para realizarmos dx devemos primeiro realizar as derivadas
em cadeia, ou seja, na sequência, e depois multiplicarmo-as. Por final, concluímos
que a regra da cadeia também pode ser escrita na forma da equação (5.18).

df df dg
= . (5.18)
dx dg dx

Figura 5.9: Esquema da regra da cadeia.

Exemplo: Calcule a derivada das seguintes funções utilizando a regra da cadeia:


(a) sin 2x, (b) esin x e (c) ln (sin x).
Solução:
(a) Vamos calcular por dois modos. Primeiro veja que a composta é a função
f(x) = sin x e g(x) = 2x, logo f(g(x)) = sin 2x. Pela definição de composta da equação
(5.17) temos que calcular f ′ (g(x)), ou seja, a derivada de f aplicada a g e a derivada
da g.
f ′ (g(x)) = cos 2x

g ′ (x) = 2

∴ (sin 2x) ′ = f ′ (g(x)) · g ′ (x) = 2 cos 2x.

Pelo segundo modo, equação (5.18), devemos determinar quem é a função composta,
ou seja, quem é a g(x). É fácil nesse caso visualizar que g(x) = 2x. Vamos então
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 103
df
calcular dg e dg
dx
. A primeira derivada é de f em função de g, pois quando determinamos
a a composta reescrevemos a função como f(x) = sin (g(x)), g(x) = 2x, logo

df
= cos (g(x)) = cos 2x,
dg

dg
= 2.
dx
Portanto,
d df dg
(sin 2x) = = 2 cos 2x.
dx dg dx
df
(b) A função composta g é sin x, então f(x) = eg(x) , g(x) = sin x. Portanto dx
será

df df dg d g(x)  d
= = e · (sin x) = eg(x) · cos x = esin x cos x.
dx dg dx dx dx

(c) Novamente, a função composta g é sin x, então reescrevendo a função original,


f(x) = ln (g(x)), g(x) = sin x. A derivada de f em relação a x pela regra da cadeia
será
df df dg 1 sin x
= = · cos x = .
dx dg dx g(x) cos x

5.2.3 Derivabilidade e continuidade

Vimos anteriormente que uma função contínua num dado intervalo I significa que
tal não apresenta saltos, geometricamente falando. Agora, dizer que uma função
é derivável num intervalo I significa dizer geometricamente que essa função não
apresenta bicos. Podemos entender essa afirmação da seguinte forma: a derivada
representa a inclinação da reta tangente em um ponto pertencente à curva em que se
deriva, logo, se essa curva apresenta um bico, infinitas retas podem ser tangentes a
esse ponto, logo não existe derivada nesse ponto.
Um exemplo disso é a função f(x) = |x|. Tal é contínua em x = 0, pois não apresenta
salto, no entanto não é derivável nesse ponto pois forma um bico. Nesse bico infinitas
retas no R2 podem ser tangentes (vide Figura 5.10). A prova matemática é que a
derivada da função f assume dois valores possíveis para esse ponto, ou seja, não existe
um único valor logo não é diferenciável nesse ponto.
104 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
y
3

0
−3 −2 −1 0 1 2 3 x

Figura 5.10: A função f(x) = |x| é contínua em x = 0 porem não é diferenciável nesse
ponto.

Exemplo: A função 
x2 , se x ≤ 1
f(x) =
1 , se x > 1
é contínua e diferenciável em x = 1?
Solução: Para verificar se a função é contínua precisamos satisfazer a condição da
equação (5.2), ou seja, os limites laterais de f quando x → 1 devem ser iguais entre si
e iguais a f(1).
lim− x2 = (−1)2 = 1 = f(1) e lim+ 1 = 1 = f(1).
→1 →1

Sendo assim, concluímos que a função é contínua em x = 1. Agora, para verificar


sua diferenciabilidade nesse ponto vamos analisar se os limites laterais da razão
incremental da definição de derivada são iguais quando aplicamos o mesmo limite de
x tendendo a um pela esquerda e pela direita.
 2
f(x) − f(1) 
x −1
, se x ≤ 1
= x−1
x−1 
0 , se x > 1

Sendo assim,  
x2 − 1
lim = lim− (x + 1) = 2,
x→1− x−1 x→1

lim 0 = 0
x→1+

Como os limites são diferentes então a função não é derivável em x = 1. Geome-


tricamente isso fica visível pois nesse ponto a função forma um bico (vide Figura
5.11).
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 105
y
3

0
−2 −1 0 1 2 3 x
Figura 5.11: A função é contínua em x = 1 mas não diferenciável nesse ponto.

A derivada em um ponto específico p por definição pode ser calculada da seguinte


forma

df f(x) − f(p)
f ′ (p) = = lim . (5.19)
dx x=p
x→p x−p

Se esse limite existir dizemos que f é diferenciável em p. Denomina-se por razão incre-
f(x) − f(p) f(x + h) − f(x)
mental o quociente , que tem o mesmo nome do quociente
x−p h
da outra forma de escrita de derivada, só que para o domínio da função e não somente
a um ponto p.
É possível ver pela Figura 5.12 que quando tomamos o limite de x tendendo a p, a
inclinação da reta que liga esses pontos se tornará cada vez mais próxima a p, até que
nesse ponto será tangente a ele. Essa é uma outra forma de geometricamente ver a
derivada num ponto, ou seja, a inclinação da reta tangente à função nesse ponto.
Com isso, fechamos a parte de derivadas com o seguinte Teorema 2.

Teorema 2 (Função diferenciável). Se f é uma função diferenciável num ponto p de


seu domínio, então f será contínua nesse ponto. A contra-positiva dessa afirmação não é
verdadeira.

Demonstração. f é diferenciável em p se o limite da razão incremental existir e for


igual a f ′ (p). Se f é contínua em p então pelo Teorema 1 lim f(x) = f(p). Sendo assim,
x→p
reescrevendo o limite da razão incremental da seguinte forma, teremos que

f(x) − f(p)
f(x) − f(p) = · (x − p).
x−p
106 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
y

f (x)

f (p)

p x
x

Figura 5.12: Esquema de derivada de uma função f em um ponto p de seu domínio.

Aplicando limite em todos os lados,


 
f(x) − f(p)
lim[f(x) − f(p)] = lim · lim(x − p) = 0.
x→p x→p x−p x→p

Pela unicidade da igualdade, concluímos que

lim[f(x) − f(p)] = 0 =⇒ lim f(x) = f(p).


x→p x→p

5.2.4 A regra de L’Hôpital


Para calcular alguns limites fica impossível de chegar ao resultado pelos métodos
vistos anteriormente. Para limites do tipo

f(x)
lim , g(x) ̸= 0
x→p g(x)

0 ∞
em que chegamos numa indeterminação do tipo ou podemos aplicar a
0 ∞
denominada regra de L’Hôpital, que diz que, dada as condições acima, o limite pode
ser reescrito como
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 107

f(x) f ′ (x)
lim = lim ′ . (5.20)
x→p g(x) x→p g (x)

sin (3x)
Exemplo: Calcule lim .
x→0 9x
Solução: Aplicando x = 0 diretamente chegaremos a uma indeterminação do tipo 0/0.
Por L’Hôpital,

d
sin (3x) dx
sin (3x) 3 cos 3x 3 1
lim = lim d
= lim = = .
x→0 9x x→0
dx
9x x→0 9 9 3

Exemplo: Calcule o limite seguinte, lim x ln x.


x→0
Solução: Para aplicar L’Hôpital devemos reescrever o limite para que cheguemos a
uma indeterminação do tipo 0/0 ou ∞/∞. Passando o termo x para o denominador,
teremos
ln x −∞ ∞
lim = = .
x→0 1 1 ∞
x 0
Assim sendo, podemos aplicar a derivada do numerador e denominador, obtendo

1 1
d
dx
ln x x = lim x = lim −x = 0
lim = lim dx
x→0 d 1 x→0 x→0 −1 x→0
dx−1
dx 2
x x
108 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS

5.3 Exercícios
1. Analise se as funções abaixo, esboçadas em (a), (b) e (c) são contínuas e
deriváveis em p. Justifique suas respostas.

(a) (b) (c)

2. Calcule os seguintes limites.

tan x (i) lim xsin x ;


(a) lim (determine grafica- x→0
x→0 x
sin x √
mente, assim como o de ); x−2
x (j) lim ;
x→4 x − 4

x2 + 2x  x
(b) lim ; 1
x→0 x2 − x (k) lim 1 + ;
x→∞ 2x
x−1  2
(c) lim ; 1
x→1 x2 − 3x + 2 (l) lim 1 + x;
x→∞ x
e2x − ex
(d) lim ; x2 − 7x + 10
x→0 x (m) lim ;
x→2 x2 − 4
sin (10x)
(e) lim ; ln (x − 2)
x→0 x (n) lim ;
x→3 x−3
1 x
(f) lim x sin ; (o) lim ;
x→∞ x x→0 cos x

3x − 1 1
(g) lim ; (p) lim+ ;
x→0 x x→2 x−2
sin x 2x
(h) lim+ ; (q) lim+ ;
x→0 x2 x→−2 x2 −4
CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS 109
3. Determine o valor de L para que as funções em seguida sejam contínuas.

(a)  2
 x − 3x + 2
, se x ̸= 1
f(x) = x−1

L , se x = 1

(b)  2x
 e −1
, se x ̸= 0
f(x) = ex − 1

L , se x = 0

(c)  x
 e − 1 , se x ̸= 0
f(x) = x
 L , se x = 0

(d)  3 2
 x − 5x − 4x + 20
, se x ̸= 2
f(x) = x−2

L , se x = 2

4. Calcule a derivada das seguintes funções.

(a) f(x) = x2 − 3x; (i) f(x) = ln (cos x);

(b) f(x) = x2 ln x; (j) f(x) = ecos x ;


1 (k) f(x) = esin x ;
(c) f(x) = sin x;
x
3
(d) f(x) = cos x (utilize a definição de (l) f(x) = 3x2 ex ;
derivada); cos x
(m) f(x) = ;
x − sin x
(e) f(x) = ln x cos x;
(n) f(x) = 5x ;
(f) f(x) = cos 3x;
(o) f(x) = ln (13x);
(g) f(x) = cos x2 ;
(p) f(x) = ln x ln 3x ;
ln x
(h) f(x) = ; (q) f(x) = cos2 x;
sin x
110 CAPÍTULO 5. LIMITES E DERIVADAS
5. Uma função h(x) é dada pela composição de uma f(x) com uma g(x) na
forma h(x) = f ◦ g. Se h ′ (x) = 3 e g ′ (x) = 6 determine o valor de f ′ (g(x)).

d
√  1
6. Mostre que dx
x = √
2 x
.

d
√ dα 1 α′
7. Mostre que, sendo α uma função de x, dx
α= dx
· √
2 α
= √ . (Dica:
2 α
utilize a regra da cadeia).

d dα 1 α′
8. Mostre que, sendo α uma função de x, dx
(ln α) = dx
· α
= α
.

9. Determine a equação da reta tangente à curva f(x) = ln 2x em x = 2.

10. Determine a equação da reta normal à curva f(x) = cos x em x = π2 .

x2
11. Determine a equação da reta tangente à curva f(x) = em x = e.
ln x
d2 2
 d2 f
12. Mostre que dx 2 x = 2. A notação dx2 significa a derivada de ordem dois

da função f, ou seja, a segunda derivada de f.

d2 −1
13. Mostre que dx2
(ln x) = x2
.

14. Verifique se a função abaixo é derivável em x = −1. Se não, ela é contínua


nesse ponto? Esboce o gráfico de f(x).
 3
 x +1
, se x ̸= −1
f(x) = x+1

1 , se x = −1
6

Capítulo
Estudo da Variação das Funções

O estudo da variação das funções de refere à aplicação do método de derivação


de funções para solução de problemas, tanto matemáticos quanto físicos, como por
exemplo análise gráfica das funções de movimento da mecânica clássica. Vamos
começar com um exemplo fundamental desse estudo, o cálculo de pontos de máximos
e mínimos de uma função.

6.1 Pontos de máximos e mínimos


Como diz o próprio nome, esses pontos se referem ao pontos em que uma função
assume o valor máximo ou mínimo, sendo eles gerais ou locais (restritos a um intervalo
de análise). Nesses pontos a inclinação da reta tangente é zero, ou seja, a reta tangente
a esses pontos é paralela ao eixo das abscissas. Sendo assim, para determinar um
ponto de máximo ou de mínimo basta derivar a função em análise e igualar a zero.
As raízes dessa igualdade serão nossa solução.
Agora, para determinar se os pontos que encontramos são de máximo ou mínimo
precisamos derivar a função uma segunda vez. Caso o valor seja positivo, então
teremos um ponto de mínimo, e caso o valor seja negativo, teremos um ponto de
máximo. A segunda derivada de uma função diz respeito se a reta tangente está
acima ou abaixo de sua curva como ilustra a Figura 6.1. Caso a segunda derivada
seja igual a zero, então teremos o ponto de inflexão (ponto em que a concavidade da

111
112 CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES
função muda).

y
f
df d2 f
= 0, < 0
dx dx2

conc. p/ baixo

ponto de inflexão
d2 f
= 0
dx2

conc. p/ cima

df d2 f
= 0, > 0
dx dx2

Figura 6.1: Exemplo de pontos de máximo, mínimo e inflexão. No ponto de máximo,


tangente de f está acima dessa, enquanto que no ponto de mínimo a tangente de f
está abaixo dessa. Perceba que em x = 0 temos o ponto de inflexão de f.

Exemplo: Determine os pontos de máximo, mínimo e inflexão da função h(x) =


3
4x − 12x.
Solução: Para determinar os pontos de máximo e mínimo devemos derivar h(x) e
igualá-la a zero.
dh
= 0 =⇒ 12x2 − 12 = 0
dx
A equação acima é uma função do segundo grau que tem como raízes x = ±1
(verifique!). Ou seja, em x = −1 e em x = 1 temos pontos de máximo e mínimo, agora
precisamos verificar qual é qual. Para isso precisamos derivar a função pela segunda
vez e analisar em cada ponto que obtemos: se a derivada der positivo então temos um
CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES 113
ponto de mínimo, e se der negativa temos um ponto de máximo.

d2 h
= 24x = −24, ponto de máximo,
dx2 x=−1 x=−1

d2 h
= 24x = 24, ponto de mínimo.
dx2 x=1 x=1

Portanto, em x = −1 temos um ponto de máximo local e em x = 1 um ponto de


mínimo local (dizemos local pois a função cresce infinitamente a medida que x se
distancia da origem depois dos pontos x = ±1). A função terá ponto de inflexão
quando a segunda derivada for igual a zero, o seja, se e somente se

d2 h
= 0 =⇒ 24x = 0 ⇐⇒ x = 0.
dx2

Sendo assim, temos ponto de máximo em x = −1, mínimo em x = 1 e inflexão em


x = 0. O esboço da função h(x) está representada na Figura 6.2.

y
12

0
−3 −2 −1 0 1 2 3 x
−4

−8

−12
Figura 6.2: Esboço de h(x) = 4x3 − 12x.
114 CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES

6.2 Os pontos de máximo e mínimo da função quadrática

Vimos anteriormente os valores para os determinados x e y do vértice, que é o ponto


de máximo ou mínimo da função f(x) = ax2 + bx + c. Para provar que realmente os
pontos são dados pelas equações (4.17a) e (4.17b) vamos derivar a função quadrática
e igualá-la a zero.

d  b
ax2 + bx + c = 2ax + b = 0 =⇒ x = − .
dx 2a

O valor encontrado corresponde ao x do vértice. Substituindo-o na função, teremos


 2   √
b b b2 − 4ac
a − +b − + c = y =⇒ y = − .
2a 2a 4a

Provamos assim os ponto de máximo ou mínimo de uma função quadrática usando


derivadas.
Exemplo: Determine o ponto de máximo (ou mínimo) da função g(x) = 3x2 −15x+64.
Solução: Derivando g e igualando a zero teremos

dg 5
= 0 =⇒ 6x − 15 = 0 =⇒ x = .
dx 3

Substituindo o valor encontrado na função, obteremos


 
3 25 5 142
g =3· − 15 · + 64 = .
2 9 3 3

Portanto, o ponto de mínimo (pois a concavidade da parábola é para cima, a > 0)



será (xv , yv ) = 53 , 142
3
. A função possui ponto de inflexão? Prove de sim ou não e
justifique sua resposta.
Exemplo: Deseja-se construir uma caixa retangular sem tampa de área máxima com
um volume de 40 centímetros cúbicos e altura fixa de 5 centímetros. Qual deve ser as
medidas da base dessa caixa?
Solução: Esse exercício trata-se de um problema de otimização, pois dado um conjunto
de informações precisamos construir uma função, a qual modela o problema, e atreves
dela extrair soluções. Vamos definir a altura por h = 5 cm e a base com dimensões x e
CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES 115
y. A função área dependerá desses dois últimos parâmetros, e pode ser definida como

A(x, y) = Abase + Alaterais = xy + 2xh + 2yh.

Uma outra informação dada é que o volume deve ser igual a 40 cm2 , ou seja

V = Abase · h = xyh =⇒ 5xy = 40 =⇒ xy = 8.

A função área pode ser reescrita substituindo y por 2/x, informação que tiramos
do volume. Devemos fazer isso para poder analisar a função área em apenas uma
variável ao invés de duas. Fazendo isso teremos
 2 
x +2
A(x) = 2 + 10 .
x

Como a área deve ser máxima, vamos derivar a função área em relação a x (pois agora
ela só depende de x) e igualar a zero, para encontrar os possíveis valores de máximo
(ou mínimo).
  2   
d x +2 d d x2 + 2
2 + 10 = 0 =⇒ (2) + 10 = 0 =⇒
dx x dx dx x
"  #  2 
d
x dx x2 + 2 − (x2 + 2) dx
dx x −2
=⇒ 0 + 10 = 0 =⇒ 10 =0
x2 x2

∴ x = ± 2.

Chegamos a dois valores, como o problema quer a área máxima devemos então
determinar qual dos dois valores é um ponto de máximo. A segunda derivada da

função é −4/x3 (verifique!), então para x = 2 teremos um valor de máximo pois
d2 A
dx2
< 0 para esse valor. Necessariamente não precisávamos provar isso, pois como x
representa um dos lados da base da caixa, tal não pode ser negativo pois não existe
lado negativo.
Com isso, vamos substituir o valor de x na relação que obtivemos anteriormente
8 8 √
(xy = 8), logo y = = √ = 4 2. Finalmente, para que a área da caixa seja máxima
x 2 √ √
os lados da base devem ter 2 cm e 4 2 cm.
116 CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES

6.3 Teorema do valor médio


O teorema do valor médio esboçado no Teorema nos diz que dados dois pontos
distintos no domínio de uma função f, então existe um ponto entre eles, um ponto c,
de modo que a derivada da função em c é igual à reta secante à função nos pontos
a e b. Em outras palavras a inclinação da reta secante s é igual à inclinação da reta
tangente t à função em c, ou seja, f ′ (c), conforme ilustra a Figura 6.3.

t : mt = f ′ (c)

f (b)−f (a)
s : ms =
f (b) b−a

f (a)

a c b x

Figura 6.3: Teorema do valor médio.

Teorema 3 (Teorema do valor médio). Seja f uma função contínua em [a, b] ∈ Df e


diferenciável em (a, b), então ∃ c ∈ (a, b) tal que

f(b) − f(a)
f ′ (c) = . (6.1)
b−a

Concluímos pelo Teorema 3 que as retas t e s são paralelas, e por isso que as
inclinações mt e ms são iguais.
CAPÍTULO 6. ESTUDO DA VARIAÇÃO DAS FUNÇÕES 117

6.4 Exercícios
1. Determine os pontos de máximo e mínimo locais das funções abaixo,
explicitando quais são os de máximo e os de mínimo. Caso haja ponto de inflexão,
o determine também. Esboce os gráficos.

(a) f(x) = 2x2 − 4; (g) f(t) = sin t − t3 ;

(b) f(x) = x2 − 2x + 3;
(h) f(x) = x5 + ex2 ;
(c) f(x) = x3 ;
(i) f(x) = ex − x;
(d) f(t) = t2 + t2 ;
(j) f(t) = −t5 + t3 − t2 + 1;
(e) f(x) = x3 − 3x;

(f) f(x) = (x − 3)3 − 3x + 10; (k) f(x) = ex − ex4 ;

2. Deseja-se cercar uma fazenda no formato retangular de modo que a área


seja máxima, no entanto, você dispõe somente de 500 metros de cerca. Qual deve
ser os lados desse retângulo?

3. Um circo deseja construir um globo da morte com o maior raio possível.


Tal dispõe de 300 metros quadrados de material para a construção. Sendo assim,
qual será o raio do globo da morte?

4. Você deseja construir uma pirâmide de base quadrada para ensinar seus
alunos sobre geometria. A base deve ter 100 centímetros quadrados e você dispõe
de uma cartolina de 1 metro quadrado. Qual a altura máxima dessa pirâmide?

5. Dado f(x) = −x2 + 3x determine a equação da reta tangente a f em x = c


donde c ∈ (0, 5; 2) sendo que essa tangente é paralela à reta que liga f(a) e f(b).
Esboce seus resultados.
118
7

Capítulo
Introdução ao Cálculo Integral

Neste capítulo introduziremos a ideia de integrais, a operação inversa da derivada.


Não nos aprofundaremos no momento às técnicas de integração avançadas, apenas
veremos a base dessa teoria e algumas aplicações interessantes como cálculo de áreas.

7.1 Primitivas
Dizemos que uma função F é primitiva de f se, e somente se

F′ = f (7.1)

1
para todo domínio da função f. Por exemplo, a função F(x) = x2 é primitiva da
2
função f(x) = x, pois derivando F(x) obtemos f(x), veja:

dF 1
= · 2x = x = f(x).
dx 2

Perceba que para qualquer constante k, F + k também é primitiva de f, pois a derivada


de uma constante é igual a zero. Vamos assim dizer que F + k é a família de primitivas
da função f, representada por

119
120 CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL
Z
f(x) dx = F(x) + k, k ∈ R. (7.2)

Nessa notação, denominada integral indefinida de f, o que vai dentro do operador,


no caso a própria f, é denominado integrando. Portanto, a família de primitivas de
uma função é também
Z denominada por integral indefinida dessa função.
Exemplo: Calcule xγ dx, sendo γ um real diferente de −1.
Solução:  ′ Z
xγ+1 γ xγ+1
=x , ∴ xγ dx = +k
γ+1 γ+1
Z√
Exemplo: Calcule
5
x3 dx.
Solução: Pelo exemplo acima,
Z√ Z 3 8 √
5
5 3 x 5 +1 x5 5 x8
x3 dx = x dx = 3
5 +k= 8 +k= .
5
+1 5
8
Z
Exemplo: Calcule x3 − 3x2 + 1 dx.
Solução:
Z
3 2 x3+1 x2+1 x4
x − 3x + 1 dx = −3 +x+k= − x3 + x + k
3+1 2+1 4
Z
1
Exemplo: Calcule dx , x > 0.
x
Solução: Z
′1 1
[ln x] = , ∴ dx = ln (x) + k.
x x
Dado os exemplos acima, podemos formular duas regras de integração, que são
 γ+1

 x
Z 
 γ + 1 + k , se γ ̸= −1
xγ dx = (7.3)



 ln (x) + k , se γ = −1

7.1.1 Propriedades das integrais indefinidas


Sejam f e g integráveis e γ uma constante, então valem as seguintes propriedades
CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL 121
Z Z Z
1. [f(x) ± g(x)] dx = f(x) dx ± g(x) dx;
Z Z
2. γf(x) dx = γ f(x) dx;

Uma função é dita integrável se e somente se satisfaz as propriedades acima.

7.2 Substituições simples


Algumas integrais indefinidas podem ter como integrando funções compostas e,
para que seja possível determinar a primitiva é preciso que denominemos a composta
por um termo, e a partir desse reescrever a integral. Um exemplo disso
Z é a integral em x
da função cos (4x). A função composta ao cosseno é 4x. Caso fosse cos x dx a resposta
seria sin x + k, pois [sin x] ′ = cos x. Como temos uma composta, determinaremos que
4x = u, um termo arbitrário. Logo,

du du
= 4 =⇒ dx = .
dx 4

Reescrevendo a integral, teremos que


Z Z Z
du 1 1
cos (4x) dx = cos u = cos u du = sin u + k.
4 4 4

Como definimos que u = 4x, então o resultado será


Z
1
cos (4x) dx = sin 4x + k.
4

De modo geral, podemos generalizar que


Z
1
cos (γx) dx = sin (γx) + k, ∀ γ ∈ R. (7.4)
γ
 ′
1
Utilizando a regra da cadeia, verifique a operação inversa, que sin (γx) = cos (γx).
Z γ
Verifique também que sin x dx = − cos x + k.
Z
Exemplo: Por substituição simples, calcule e12x dx.
122 CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL
du du
Solução: Denominando u = 12x, então dx
= 12 =⇒ dx = , logo
12
Z Z
12x 1
e dx = eu du =
12

Como [eu ] ′ = eu , temos Z


1 1
eu du = eu + k.
12 12
Finalmente, Z
1 12x
e12x dx = e + k.
12
Podemos generalizar também uma regra para integrais de eγx na forma
Z
1 γx
eγx dx = e + k, ∀ γ ∈ R. (7.5)
γ
Z
Exemplo: Efetue cos x · esin x dx .
du
Solução: Seja u = sin x, então dx
= cos x =⇒ du = cos x dx. Sendo assim,
Z Z
sin x
cos x · e dx = eu du = eu + k = esin x + k.

Veja que pela regra da cadeia (com g = sin x) têm-se que

d sin x  d g d
e = (e ) (sin x) = cos x · esin x ,
dx dg dx

ou seja, exatamente o valor do integrando.

7.3 Integral de Riemann


Vamos agora introduzir esse conceito de integral, conhecido como integral de
Riemann, ou também integral definida. Não nos atentaremos nesse momento a
definições sofisticadas, mas sim na ideia dessa integral: o cálculo da área abaixo de
uma dada curva f(x). Imagine que temos uma função arbitrária f(x) esboçada na
Figura e queremos calcular a área sob ela no intervalo [a, b] de seu domínio (região
cinza). Se a curva fosse uma reta teríamos a forma de um trapézio o qual sabemos
calcular a área, mas agora a curva f é mais complexa e é preciso que particionemos o
CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL 123
intervalo [a, b].
y

f (x)

a x
b

Figura 7.1: Exemplo de função f(x) arbitrária e área sob ela (abaixo dela e acima do eixo das
abscissas) em cinza determinada pelo intervalo [a, b] ∈ Df .

A ideia de partição é justamente dividir o intervalo de análise em n pedacinhos


cada vez menores. Se ∆xi é o tamanho de um intervalo dessa partição e ci um ponto
dentro de ∆xi , então a soma de todos esses intervalos resulta no tamanho do próprio
intervalo.

X
n
∆xi = xn − x0 = b − a. (7.6)
i=0

O tamanho de ∆x1 não precisa ser necessariamente igual ao de ∆x2 e assim por diante,
assim como os ci não precisam estar necessariamente no centro de ∆xi , como ilustra a
Figura abaixo.

Figura 7.2: Exemplo de partição do intervalo [a, b] em n partes.

Definimos como soma de Riemann o seguinte número


124 CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL

X
n
f(ci )∆xi = f(c1 )∆x1 + f(c2 )∆x2 + · · · + f(cn )∆xn . (7.7)
i=0

Tal soma representa a área de vários retângulos de base ∆xi e altura f(ci ). Esses
retângulos por terem altura igual ao valor da função nos pontos ci acompanham a
curva, conforme ilustra a Figura 7.3 (a) para uma partição com n = 7.
Se tomarmos o limite de ∆xi → 0, geometricamente os retângulos formados terão
uma base muito pequena, e a soma das áreas desses retângulos será exatamente a
área entre a curva e o eixo das abscissas na região que estávamos buscando calcular, o
intervalo [a, b]. Veja na Figura 7.3 (b) que para uma partição com n = 13 a área dos
retângulo se aproxima ainda mais da área em cinza do que quando fizemos n = 7.
Para uma partição muito grande, n → ∞, com ∆xi → 0, chegaremos ao valor exato da
área cinza. Denotamos esse limite como a integral definida de f(x) no intervalo [a, b].

X
n Zb
lim f(ci )∆xi = f(x) dx . (7.8)
∆xi →0 a
i=0

Zb
Se f(x) dx existe, dizemos que f é Riemann-integrável em [a, b]. Além disso,
a
a integral do módulo da função f nos retorna um número real (diferentemente da
indefinida que nos retorna uma família de funções primitivas), e esse número é
exatamente o valor da área entre a função e o eixo das abscissas.
Se f está abaixo de Ox então o valor da integral é negativo, mas seu módulo
representa o valor da área nessa região. Se o intervalo [a, b] compreende a função
em uma parte para baixo do eixo Ox e uma parte acima, então o valor da integral
representa a soma algébrica das áreas: parte positiva menos parte negativa. Portanto,
o valor da área será então a integral do módulo da função, como segue na equação
(7.9):
Zb
área A = |f(x)| dx . (7.9)
a

Outro fato importante é que o valor da integral independe da escolha dos ci , pois
dado o intervalo e função bem definida, o valor da área não muda pela escolha dos
pontos ci . Dizemos que a integral definida é invariante à escolha da partição do
intervalo de integração. Nesse caso o intervalo de integração é [a, b].
CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL 125

(a) (b)

Figura 7.3: (a) Soma de Riemann para uma partição com n = 7 intervalos e (b) soma
de Riemann para uma partição com n = 13 intervalos.

7.4 1º teorema fundamental do cálculo

Vimos até agora a definição de como a área descrita por uma função é calculada.
Vamos agora para como calcular a área, ou seja, como calcular a integral definida
da equação (7.8). É possível calcular pelo limite da soma, o que é bem trabalhoso e
não usual. Para isso, utilizamos do seguinte Teorema 4, conhecido como 1º teorema
fundamental do cálculo (7.10). Neste curso apenas o usaremos como ferramenta,
portanto sua prova fica para um curso de Cálculo Diferencial e Integral I.

Teorema 4 (1º Teorema fundamental do cálculo (1º TFC)). Seja f uma função
Riemann-integrável num dado intervalo [a, b] e seja F uma primitiva de f nesse mesmo
intervalo, então
Zb b
f(x) dx = [F(x)] = F(b) − F(a). (7.10)
a a
126 CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL
Z1
Exemplo: Calcule x2 dx.
0
Solução: Do Teorema 4,
Z1   1
2 x3 13 03 1
x dx = +k = +k− −k= .
0 3 0 3 3 3

Veja que nas integrais definidas a constante k sempre será anulada, logo, a partir de
adiante não a representaremos mais nos cálculos para esse tipo de integral.
Z1
Exemplo: Calcule ex dx.
0
Solução:
Z1 1
ex dx = ex = e1 − e0 = e − 1.
0 0

Exemplo: Calcule a área entre a função f(x) = sin(x) e o eixo Ox no intervalo [0, 2π].
Solução: Pela equação (7.9) temos que a área A será
Z 2π
A= | sin(x)| dx .
0

Como em [0, 2π] |f| varia de sinal de acordo com



sin x , se 0 < x < π
| sin(x)| =
− sin x , se π < x < 2π

então devemos reescrever a integral como


Z 2π Zπ Z 2π π 2π
| sin(x)| dx = sin(x) dx + − sin(x) dx = (− cos x) − (− cos x) =
0 0 π 0 π

− cos(π) − [− cos(0)] + cos(2π) − cos(π) = 1 + 1 + 1 + 1 = 4


Z 2π
∴A= | sin(x)| dx = 4 u.a.
0

7.4.1 Propriedades de integrais definidas

Sejam f e g duas funções integráveis em [a, b], c ∈ (a, b) e k ∈ R então valem as


seguintes relações:
CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL 127
Za
1. f(x) dx = 0;
a
Zb Zb Zb
2. [f(x) ± g(x)] dx = f(x) dx ± g(x) dx;
a a a
Zb Za
3. f(x) dx = − f(x) dx;
a b
Zb Zb
4. kf(x) dx = k f(x) dx;
a a
Zb Zc Zb
5. f(x) dx = f(x) dx + f(x) dx;
a a c

Exemplo: Prove a propriedade 5 acima.


Solução: Pelo Teorema 4, temos
Zb Zc Zb
f(x) dx = F(b) − F(a) = F(b) − F(c) + F(c) − F(a)+ = f(x) dx + f(x) dx
a a c
128 CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL

7.5 Exercícios
1. Encontra a família de primitivas das seguintes funções.

(a) f(x) = sin x; sin2 x


(d) f(x) = ;
2 sin x cos x

(b) f(x) = 15x; (e) f(x) = 15x2 ;
2
√ 3ex
(c) f(x) = 2x x2 ; (f) f(x) = ;
2x
2. Verifique que a família de primitivas da função f(x) = ln x é F(x) = x·ln x−x.

3. Calcule as seguintes integrais indefinidas.

√ √
(a) f(x) = 3
x; (d) f(x) = x3 − 3x + x;

(b) f(x) = ln(3x); (e) f(x) = 10x5 + x2 ;


2
(c) f(x) = log x; (f) f(x) = e2x − ex + 2xex ;

4. Calcule as seguintes integrais.

Ze Z1 √
5
(a) dx; (f) x4 − ex dx;
0 0
Z3 Z3
(b) x2 dx; (g) ex dx;
0 −3
Z2 Z1
3
(c) x dx; (h) eex dx;
−2 0
Ze Zπ
(d) e dx; (i) 3 sin (3x) dx;
−e 0

Z2 Zπ
2

(e) 5
(x − 5) dx; (j) cos x dx;
−1 −π
2
CAPÍTULO 7. INTRODUÇÃO AO CÁLCULO INTEGRAL 129
5. Encontra o valor da área em preto nos seguintes gráficos abaixo.

10 y y = x2 y
y = x2 √
y= x
8
1

4 y=x 0.5

x x
1 2 3 4 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4

(a) (c)

y
y
y = x3
8 y = ex
3
y = x2
6
2
4

1
2

x y = e−x x
0.5 1 1.5 −1 1 2 3 4

(b) (d)
130
8

Capítulo
Referências

IEZZI, Gelson; DOLCE, Osvaldo; DEGENSZAJN, David e PÉRIGO, Roberto. Mate-


mática Volume Único. 5. ed. São Paulo: Atual Editora, 2012.
GUIDORIZZI, Hamilton Luiz. Um curso de cálculo, vol. 1. 5. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2013.
DEMIDOVITCH, Boris. Probelmas e exercícios de análise matemática. 6. ed.
Moscou: Editora MIR, 1987.

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