Caso Prático

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Nome: Vanilson Marques Ferreira Londa

Turma: NA
Curso: Direito
Nº 191243

Caso pratico de Direito das Sucessões

Caso prático: A foi à discoteca e é assaltado por B que tem como arma uma
seringa com vírus de HIV. A oferece resistência e B injecta o seu conteúdo. Dois anos
depois, A morre. Terá A direito a indemnização pela sua morte?

O caso em apreço nos remete do modo geral a matéria sobre responsabilidade


civil extracontratual e de sucessões mortis cause e especificamente sobre
indemnização (compensação) de danos não patrimoniais.
Para o esclarecimento do caso e para se dar uma resposta directa a questão
colocada será necessária uma grande reflexão sobre os artigos 495º e seus números e
o 496º e seus números.
Em matéria de responsabilidade extracontratual, entende-se que, em princípio,
a titularidade do direito à reparação cabe à pessoa a quem pertence o direito ou
interesse juridicamente protegido que a conduta ilícita violou. Assim, apenas são
indemnizáveis os danos directos, sofridos pelo lesado imediato (neste caso A), ou seja,
o sujeito titular do direito absoluto ou do interesse legalmente protegido
imediatamente violados pela conduta lesiva.
Todavia, excecionalmente a indemnização pode competir também ou caber
apenas a terceiro – vítima secundária ou lesado mediato – que, embora tendo sofrido
um dano na sua esfera jurídica, resultante dos efeitos do mesmo facto lesivo, só reflexa
ou indiretamente seria atingido/prejudicado.
Na verdade, a lesão de um bem ou interesse jurídico de um sujeito pode
acarretar consequências negativas não só para si, como também para outros sujeitos
que com ele tenham alguma especial ligação, mormente de cariz afetivo. Nesse caso
temos danos produzidos a duas pessoas distintas - o lesado mediato (A) e o lesado
imediato (seus parentes).
Estes danos são denominados na doutrina e na jurisprudência de danos
indiretos ou danos reflexos ou, ainda, danos por ricochet.
Em Angola, no que respeita aos danos não patrimoniais, a compensabilidade de
danos indiretos é expressamente acolhida, em caso de morte, nos nºs 2 a 4 do art.
496º.
O art. 496.º consagra três linhas de pensamento: no n.º 1, quais os danos não
patrimoniais indemnizáveis; no n.º 2 e no n.º 3, quem são os beneficiários de tal
indemnização, não se esclarecendo se por danos próprios se por danos alheios; o n.º 4
parece optar pelo critério dos ‘’danos próprios’’ quando diz «os sofridos pelas pessoas
com direito a indemnização nos termos dos números anteriores». Quer isto significar
que a morte pode constituir danos não patrimoniais aos entes queridos do de cujus ou
aqueles afectos a ele.
A norma do n.º 2, dando cumprimento ao princípio da segurança jurídica,
exerce, a dupla função de identificar e limitar os beneficiários. Abrange não apenas
aquele que é diretamente atingido por lesões de natureza física ou psíquica graves,
mas também os
terceiros que só reflexamente são atingidos com tais lesões. De acordo com alguma
jurisprudência, «o tal resultado já se chegaria pela simples leitura do nº 1 do art. 496.º
CC, o qual impõe como única condição para haver lugar à ressarcibilidade dos danos
não patrimoniais que tais danos “pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito”, não
se fazendo, aí, qualquer limitação ao dano sofrido pelos lesados directos.
O n.º 3 atribui ainda direito a indemnização por danos não patrimoniais, por
morte da vítima, à pessoa que convivesse com a vítima falecida em união de facto.
De acordo com o n.º 4 do mesmo preceito, estes danos não patrimoniais
compreendem tanto os que a vítima tiver sofrido (padecimentos, dores físicas,
desgostos, inibições ou complexos de ordem estética, a perda da vida, etc.), como os
suportados diretamente pelas próprias pessoas a quem caiba a indemnização.
Embora não seja pacífico que a solução dos n.ºs 2 a 4 do art. 496.º encontre a
sua razão de ser no critério dos afetos25, assente em presunções da experiência
comum relacionadas com o preceituado para a sucessão legítima (art. 2133.º do CC) e
onde impera o princípio da proximidade comunitária e afetiva27, podemos dizer, com
algum
grau de verdade, que um dos fatores a ponderar na atribuição desta forma de
compensação será sempre o grau de proximidade ou ligação entre a vítima e os
titulares desta indemnização.
A doutrina e jurisprudência têm entendido que o evento lesivo mortal é
suscetível de causar danos não patrimoniais de distinta natureza: a perda da vida da
própria vítima (dano da morte), os danos não patrimoniais sofridos pelos familiares da
vítima em consequência da sua morte e, no caso de a morte não ser
imediata/instantânea, o padecimento da vítima no período que antecede a morte bem
como o sofrimento dos seus familiares até à ocorrência da morte.
Para objeto da presente reflexão, consideraremos apenas, de seguida, a
categoria dos danos não patrimoniais próprios sofridos pelos familiares da vítima com
a sua morte.
Repare-se que estes não se confundem com os danos sofridos pelo próprio
falecido – sejam, quanto a este, danos intercalares consumados entre o momento da
lesão e o momento da sua morte, seja o dano da perda da vida. Pelo contrário, refere-
se a um dano especial, o dano próprio dos familiares que sofrem com a perda do seu
ente querido, consubstanciada na perda do laço de afeição e que corresponde ao
sofrimento, à angústia e à perturbação provocados pela ocorrência da morte de
alguém com quem se tem grande proximidade existencial. Estes danos nascem, então,
por direito ‘’próprio’’ na titularidade das pessoas designadas pela lei, os familiares a
que se refere o art. 496.
Em primeiro lugar, foi defendido por alguma doutrina, nomeadamente por VAZ
SERRA, no seu Anteprojeto do CC de 1966, e por MAFALDA MIRANDA BARBOSA, que,
através de uma restrição teleológica, devia ser negada a indemnização nas situações
raras e excecionais em que se demonstre que, apesar da proximidade do vínculo legal
familiar, os laços de afeição não existem. A este respeito, o STJ já decidiu que «facto de
a indemnização pela perda do direito à vida ser fixada em valor sensivelmente igual em
todos os casos porque está em causa o dano da perda de vida, valor idêntico para cada
ser humano, não significa que o tribunal não possa excluir dessa indemnização o titular
provando-se que não existiam laços de afeto de espécie alguma entre ele e a vítima.
CURA MARIANO abraça as duas vias quando considera que os parentes
próximos são também titulares de um direito de indemnização por danos morais
resultantes da perturbação emocional que sofreram com a lesão corporal de que foi
vítima o ente querido, por interpretação extensiva do disposto no art. 496.º, n.º 2, do
CC, ou por ofensa do seu direito à saúde.
O sofrimento do filho por ficar privado do cuidado próximo da mãe e o
sofrimento da vida conjugal são exemplos de danos indemnizáveis tanto por via de
uma interpretação extensiva dos nº 2 a 4 do art. 496º do CC, no sentido de incluir os
danos não patrimoniais oriundos de situações de grave lesão da vítima, como por via
da consideração que a vítima reflexa é titular de um direito de personalidade também
ofendido – neste caso, a plena comunhão de vida com o cônjuge – tutelado
diretamente pela aplicação conjugada dos arts. 483.º, nº 1, 70.º, n.º 1 e 496.º, n.º 1 CC.

O artigo 493º ajuda muito no esclarecimento de toda nossa abordagem – pois,


parece-nos absolutamente irrazoável que se conceba ser admissível atribuir uma
compensação pelos danos não patrimoniais decorrentes da lesão de um animal de
companhia e que se recuse a compensação pelos danos não patrimoniais decorrentes
da lesão corporal de um filho ou de um irmão. Não se compreende a maior
intensidade de exigência relativamente aos casos em que é diretamente atingida uma
pessoa.
CONCLUSÃO
De forma conclusiva e respondendo a questão inicial, não, A não terá direito a
indemnização pela sua morte pois estando morto A não teria capacidade de ser titular
desse direito. Por um lado seus afectivos terão direito a indemnização por terem seus
próprios direitos feridos (nº 1 do artigo 70º) com a morte do seu ente querido, por
outro lado não existe aqui fenómeno sucessório mortis cause mesmo que da morte
resultou o direito porém, deve haver uma transferências de direito, ou seja, uma
mudança do titular da relação jurídica algo que no entanto não aconteceu pois, se
trata de um direito próprio de indemnização (para efeito o direito de ser indemnizado
tinha de ser de A).

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Manuel de – Sentido e Valor da Jurisprudência, Oração de Sapiência


lida em 30 de Outubro de 1953, Coimbra, Almedina, 1973;
ASCENSÃO, José de Oliveira – ‘’Interpretação das Leis. Integração das Lacunas.
Aplicação do Princípio da Analogia’’, in Revista da Ordem dos Advogados, N.º 3, Ano
57, 1997;

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