D. B. Reynolds - Vampires in America 09 - Deception
D. B. Reynolds - Vampires in America 09 - Deception
D. B. Reynolds - Vampires in America 09 - Deception
e
noites sensuais que escondem vampiros tão poderosos que podem
mudar o mundo.
Raphael – poderoso, extraordinário, arrogante. Ele está
eliminando rivais e reunindo aliados, determinado não apenas a
sobreviver, mas a demolir os europeus que pensam que podem roubar
o que ele tem trabalhado durante séculos para criar. Em uma tentativa
final para evitar uma guerra que parece inevitável, Raphael concorda
em encontrar um inimigo que ele conhece há muito tempo. Ela é
formidável, astuta, e não é de confiança. Mas em sua arrogância,
Raphael acredita que pode neutralizar qualquer traição que ela tenha
produzido.
Cynthia Leighton – a companheira humana de Raphael. Linda,
inteligente e mortal, quando ameaçada. Ela não confia em ninguém,
muito menos em um vampiro poderoso que afirma querer a paz. Assim,
enquanto Raphael se prepara para negociar um tratado, Cyn está se
preparando para a inevitável armadilha que ela sabe que está
chegando. Raphael se preocupa em salvar milhares de vidas de
vampiros. Ela só se preocupa com uma, e ela vai fazer qualquer coisa
para mantê-lo vivo e em seus braços.
Quando se prova que Cyn estava certa, quando tudo se
desmorona e os inimigos de Raphael se aproveitam da magia antiga
para prendê-lo, levando-o para longe de Cyn e da guerra, tudo cai sobre
ela – encontrar Raphael, salvar os milhares de vampiros que vão morrer
se ela não tiver sucesso... e matar cada ser, humano ou vampiro, que
ficar em seu caminho.
Prólogo
“Toda a guerra é baseada no engano”.
— Sun Tzu, A ARTE DA GUERRA
Malibu, Califórnia
A CARTA CHEGOU pela Federal Express, apenas uma das muitas entregues
aos portões da Raphael Enterprises em uma tarde de primavera fria. Tal cm
acontece com todos os pacotes, ela foi deixada sem abrir até depois do pôr do sol,
quando os vampiros acordavam durante a noite. Foi então levada para o quartel–
general de segurança sob uma mansão francesa do século XVIII situada bem atrás
entre as árvores da propriedade de Raphael. Essa mansão tinha sido uma vez a
casa de sua irmã, Alexandra, mas não mais.
O pacote foi primeiramente entregue a uma pequena equipe de vampiros
altamente treinados. Foi radiografado, e depois examinado por adulteração. Os
vampiros eram difíceis de matar, especialmente um tão poderoso como Raphael,
mas seu povo não se arriscava com sua segurança, assim como ele não assumia
riscos com os dele.
Finalmente, depois de determinado que não era nada mais do que parecia,
o pacote foi cuidadosamente aberto e o conteúdo revelado — era um envelope com
o nome de Raphael nele, escrito à mão em um elaborado estilo caligráfico. O técnico
vampiro examinando-o franziu o cenho, suas narinas queimando com o perfume
familiar. Sangue. O nome de Rafael tinha sido escrito em sangue. O técnico inalou
profundamente e percebeu que era muito provável que houvesse ainda mais
sangue dentro, que a própria carta tivesse sido escrita com a mesma tinta.
Seu cenho franzido aumentou, mas ele tinha idade suficiente para se
lembrar de quando tais coisas eram costumeiras entre vampiros poderosos. Ele
não gostou do que essa carta poderia significar para seu mestre, mas reconheceu
seu significado. Saindo da sua estação, ele pegou o envelope e caminhou pelo
corredor até o escritório do chefe de segurança de Raphael, Juro. Ao encontrar a
sala vazia, colocou o envelope na mesa de Juro, junto com um formulário que
indicava a data, hora e método de chegada, bem como as precauções de segurança
já tomadas.
E ficou ali até que Juro encontrou isso horas depois, a carta que mudaria
tudo...
Capítulo 01
CYNTHIA LEIGHTON permaneceu imóvel na sala escura, mal respirando,
enquanto assistia o seu amante destruir lentamente outro ser, um vampiro, na
sala ao lado. Esse era o Raphael em seu modo mais cruel. Muitas vezes ele era
rude, implacável em sua determinação de alcançar a verdade, em tirar os segredos
mais profundos de alguém a partir de gritos. Mas ele raramente brincava com as
suas vítimas desse jeito. Raramente ele era cruel assim. Era preciso um tipo
especial de ofensa para despertar aquilo nele. Mas o vampiro relutante que era o
atual foco da atenção de Raphael trouxera aquilo para si mesmo. Ele assassinara
a irmã de Raphael sem pensar duas vezes porque ela se tornara um estorvo, porque
ela não era mais útil para ele.
Cyn apostava que ele se arrependia, apesar de que, particularmente, ela
estava aliviada com a morte de Alexandra. A vadia tinha merecido. Ela traíra
Raphael várias vezes e se estivesse viva, sem dúvidas encontraria um jeito de traí-
lo de novo.
Mas apesar disso tudo, Raphael a amava, e sua morte o afligiu
profundamente. Até onde Cyn sabia, isso era o suficiente para garantir ao vampiro
no quarto ao lado uma vida de sofrimento. Não que Raphael tivesse consultado Cyn
ou qualquer outra pessoa sobre a justificativa para o que ele estava fazendo. E
ninguém se atrevera a oferecer uma opinião... Apesar de que ela tinha certeza que
todos os conselheiros vampiros mais próximos dele concordavam com os seus
métodos de interrogação. Na verdade, julgando pelas suas presas brilhantes e
músculos esticados, lhe parecia que Jared e Juro teriam gostado de se juntar à
mutilação. Os dois – Juro e o tenente de Raphael, Jared – estavam na sala de
interrogação com ele. Ostensivamente era para protegê-lo contra o prisioneiro,
embora dificilmente Raphael precisasse da proteção deles. Mas nunca se sabe. O
nome do prisioneiro era Damien, e os seus mestres europeus eram ambos velhos e
poderosos, alguns deles séculos mais velhos que Raphael, com conhecimento de
coisas há muito esquecidas pela maior parte do mundo. Pelo que Raphael ou seu
pessoal sabia, Damien poderia ter algum tipo de bomba relógio vampiresca
escondida em seu cérebro.
Cyn não duvidava que Jared e Juro se atirassem de bom grado em uma
bomba explodindo, ou em um prisioneiro explodindo para salvar a vida de Raphael.
Mas ela também suspeitava que eles simplesmente gostassem de assistir a então
chamada interrogação de perto e pessoalmente. Vampiros eram um tanto
sanguinários.
Apesar de todo o sofrimento óbvio de Damien, Cyn tinha que admitir que
Raphael tinha mostrado grande contenção em diferir sua vingança pessoal até que
ele extraísse cada parte de informação que o vampiro possuía sobre seus mestres
europeus e seus planos em invadir a América do Norte.
Damien Casimir. Esse era o nome completo do vampiro, e ele o anunciara
com grande orgulho e imponência quando Juro o levara para a cela de
interrogatório. Ele estivera tão confiante de seu poder, tão certo que ninguém
poderia superá-lo e que ele logo estaria voltando para a França.
Que idiota. Até Cyn, uma humana, portanto sem sensibilidade para a força
do poder de um vampiro, sabia que Raphael deixara Damien vencer o teste inicial
de forças na cidade do México. E ele havia feito isso para provocar exatamente
aquele tipo de resposta do vampiro francês. Raphael queria que seu prisioneiro
fosse arrogante e seguro de si, queria ver o choque em seus olhos quando Raphael
o quebrasse como um palito.
Cyn se aproximou do vidro. Não existia mais arrogância na criatura sentada
naquela sala. Ele estava exausto e espancado, sua pele brilhando com o suor
sangrento. Olhos monótonos seguiam o menor movimento de Raphael. Ele
estremeceu quando o velho vampiro chegou perto demais, o choramingo de um
animal subindo pela garganta que havia sido arruinada horas atrás pelos seus
gritos.
Cyn escutou de perto enquanto Raphael repetia a questão que ele já havia
perguntado diversas vezes, uma questão para a qual ele já conhecia a resposta e
que servia para um único propósito nesse ponto – para forçar o prisioneiro a
assinar a sua própria sentença de morte.
— Me diga de novo — Raphael murmurou em sua voz profunda de veludo.
— Porque você matou Alexandra?
Damien soluçou, seu corpo tremendo tanto que ele mal conseguia forçar as
palavras entre os lábios triturados. — Ela te traiu, meu lorde — ele gemeu. — Ela
me contou tudo o que sabia.
Cyn balançou a cabeça. O tolo achava que isso o salvaria? Que Raphael já
não sabia a profundidade da deslealdade da irmã? Lembrá-lo disso dificilmente o
faria ganhar a sua piedade.
— Ah — Raphael disse seus lábios puxados em um sorriso amigável,
brincando com a sua presa. — Então você a matou para me vingar, é isso que você
está dizendo?
Damien pareceu confuso por um momento, como se realmente
considerando o que Raphael estava dizendo. Mas então ele piscou e seus olhos se
preencheram mais uma vez de medo. — Não, não — ele gaguejou. — Eu... Por favor,
meu lorde... — ele soluçou abertamente, sabendo que mais dor se seguiria
independentemente do que ele dissesse.
A expressão de Raphael ficou fria e imóvel enquanto ele olhava para o
prisioneiro. Ele estava extraordinariamente bonito naquele instante, mas era uma
beleza terrível e perigosa. Lágrimas encheram os olhos de Cyn quando o olhar de
Raphael se iluminou com o brilho prateado de seu poder, enquanto suas presas
emergiam para serem pressionadas contra seu lábio inferior.
Ela não poderia dizer por que chorou se era porque esta provação
finalmente chegava ao fim, ou por ter começado um dia, em primeiro lugar. Mas
ela queria o Raphael dela de volta. Queria tirá-lo do lugar escuro para onde esse
interrogatório o havia sugado e trazê-lo de volta ao calor e à luz do seu abraço.
Os olhos de Damien ficaram selvagens poucos segundos antes de ele
começar a gritar. Cyn sabia que era obra de Raphael, assim como sabia que ele
não precisava tocar alguém para infligir dor. Uma linha vermelha manchou a
camisa esfarrapada do prisioneiro, escorrendo para fora pelo tronco até se tornar
tudo o que ela conseguia enxergar. E através disso tudo ele uivou de terror, se
batendo contra o canto enquanto tentava desesperadamente escapar. Mas não
havia escapatória. Em alguma parte do seu cérebro, Damien devia saber disso, mas
sua agonia claramente era grande demais para permitir pensamentos racionais.
Ou talvez fosse racional tentar o impossível ao enfrentar um vingativo lorde
vampiro.
Raphael estendeu a mão, seus dentes arreganhados em uma imitação de
um sorriso enquanto ele traçava uma linha no centro do peito sangrento de
Damien. Cyn queria desviar o olhar, mas ela não poderia fazer isso com Raphael,
não poderia rejeitar nem mesmo aquela parte terrível dele. Os gritos de Damien
atingiram um tom desumano quando seu peito se abriu enquanto Raphael
alcançava a cavidade ensanguentada e afundou até sua mão reemergir com o
coração pulsante de Damien preso entre os dedos. Parecia impossível que um
coração pudesse ser arrancado do peito de alguém e ainda bater por tempo
suficiente para provocar o dono, mas não para um vampiro como Raphael. Chame
de magia, chame de impossível, mas ela viu Raphael fazer isso antes, e escutara
histórias disso acontecendo com outros.
Damien olhou com horror para seu coração sangrento enquanto seus gritos
diminuíam para palavras murmuradas que fizeram pouco sentido e possuíam mais
do que um toque de loucura.
Mas então Raphael pareceu ficar entediado com isso. Seu olhar se tornou
preguiçoso um momento antes de o coração que ele estava segurando se incinerar
e virar poeira cinza, rapidamente seguida pelo próprio Damien. Mas Raphael havia
se afastado muito antes de Damien se tornar cinzas no chão. Batendo as mãos
para se livrar da poeira, ele abriu a porta e deixou a sala de interrogatório.
Cyn estava esperando quando ele entrou pela porta. Ela teria o abraçado,
mas ela o conhecia bem demais. Ele poderia não se importar com o que ele mesmo
fez naquela sala, mas ele não iria querer contaminá-la.
Ela subiu nos dedos dos pés e tocou apenas os lábios nos dele, então lhe
entregou uma das toalhas quentes e molhadas que tinha em mãos para aquele
propósito, esperando enquanto ele limpava primeiro as mãos, depois o rosto,
removendo as cinzas e o sangue. Ele tocou a bochecha dela em seguida,
segurando–a em sua mão grande, seus olhos encontrando os dela por apenas um
momento antes de Jared e Juro saírem da cela de interrogação atrás dele.
Eles foram diretamente para a caixa aquecida com seu fornecimento de
toalhas. Cyn poderia ter pego toalhas para os dois também, mas ela ainda não
tinha certeza se gostava de Jared o suficiente para oferecer cortesia a ele, e ela não
era mesquinha o bastante para pegar uma para Juro enquanto ignorava Jared.
Então, ela deixou ambos se virarem sozinhos.
Juro deu a ela uma piscadela conspiratória, enquanto tirava duas toalhas
da caixa e entregava uma a Jared. Juro se deu muito bem com Jared e confiava na
lealdade dele a Raphael, o que era tudo o que importava para Juro. Era tudo o que
importava para Cyn também, mas ela ainda estava trabalhando em superar sua
antipatia inicial com o tenente. Ela chegaria lá eventualmente, contudo. Por
Raphael.
Do outro lado da sala, Raphael jogou sua toalha suja de sangue, acertando
o cesto de lixo no canto. Cyn não esperou. Ela entrou em sua frente e envolveu os
braços ao redor dele. Ele enrijeceu por um momento, mas então suspirou e relaxou
em seu abraço, como se ele estivesse se mantendo em suspensão, esperando que
ela o libertasse. O que não estava longe da verdade. Seus braços poderosos a
cercaram quando ela se levantou nos dedos dos pés, esfregando a bochecha contra
a dele, deslizando os lábios ao longo de sua mandíbula para sua boca, e então
dando a ele um beijo quente e prolongado. Seu corpo afrouxou mais quando seus
lábios se separaram e ele descansou a testa contra a dela. Era em horas como essa
que ele mais precisava dela, Cyn pensou. Quando ele precisava de sua
humanidade, seu calor, para trazê-lo de volta da terra congelada de emoções onde
às vezes ele se aventurava.
— Lubimaya — ele murmurou para que somente ela escutasse.
— Amo você — ela sussurrou de volta para ele.
Eles permaneceram juntos até que Juro e Jared terminaram de se limpar,
mas mesmo assim Raphael manteve um braço ao redor dela, segurando–a perto.
— Então, esse cara não era ninguém — Jared disse, resumindo a
informação obtida durante as muitas horas da tortura de Damien em poucas
palavras sucintas. — Um descontente que pensou que poderia obter uma posição
firme nesse continente ao matar Raphael antes que seus chefes se mexessem para
assumir o controle. E quando isso não aconteceu, seu plano reserva foi tomar o
México de Enrique.
— Ele parecia muito confiante com sua capacidade de eliminar Enrique. —
Juro comentou.
— Não em uma disputa direta — Jared zombou. — Ele deu uma olhada na
corte de Enrique e pensou que o lorde mexicano estava pronto para uma boa
traição, achando que ninguém do seu pessoal gostava dele o bastante para
defende-lo. Felizmente para todos nós, bem, para todos nós exceto Damien — ele
corrigiu, rindo. — Vincent chegou lá primeiro.
— Infelizmente, seus mestres europeus não confiaram nele mais do que ele
confiava neles. — Juro disse sombriamente. — Eles aprovaram seu plano para
testar Raphael, sabendo muito bem que era provável que ele morresse na tentativa,
o que mostra o quão pouco eles o valorizavam. Mas eles ganhariam de qualquer
jeito. Se ele conseguisse, Raphael teria ido embora. Se não conseguisse, eles se
livrariam de um encrenqueiro.
— Eu teria adorado colocar as mãos naquela garota, Violet, que liderou a
equipe enviada para enfrentar Raphael naquela pequena igreja — murmurou
Jared.
— Damien acreditava que sua lealdade era dele, mas ela não perdeu tempo
em correr de volta para a Europa quando o resultado era claro. Apostaria um bom
dinheiro que ela pertence a alguém de lá.
— Nós quase certamente veremos Violet de novo antes que isso acabe. E o
mestre dela também — Raphael concordou, suas palavras pondo um ponto final
na conversa no mesmo instante em que o celular de Juro, que esteve sobre a mesa
branca enquanto ele estava com Damien, tocou uma música estridente na pequena
sala.
Juro se aproximou e olhou para a identificação na chamada, então atendeu,
dando nada além de respostas monossílabas para seja lá quem estivesse na outra
linha, mesmo enquanto trocava olhares significativos com Raphael que
provavelmente estava ouvindo cada palavra que a pessoa dizia. Assim como Jared,
para o que importa. O que significava que Cyn era a única pessoa no escuro.
Maldita audição de vampiros.
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1
É um tipo de carro, híbrido entre SUV e jipes.
— Você deveria ficar lá com Luci — Robbie disse, dando–lhe um olhar
sombrio.
Cyn ignorou o comentário com nada além de um bufar desdenhoso.
— Eu acho que eles se foram, — ela disse, mas esperou até que Robbie
concordasse com ela o suficiente para que ele tirasse a mão da Beretta em seu
quadril. Seus olhos procuraram pela rua agora vazia por alguns minutos mais,
antes que ele finalmente se afastasse e caminhasse até a cozinha onde Luci estava
sentada à mesa, com uma expressão alerta, mas não intimidada.
— Você tem um monte desse tipo de coisa, Luci? — Robbie perguntou,
encostado na entrada.
— De vez em quando. Tenho alguns jovens membros de gangues que
preferem ficar por aqui do que ir para a prisão. Isso não faz seus líderes felizes.
— Veja, Rob, não era eu desta vez. Eles estavam atrás de Luci.
— Nossa, obrigada — Cyn disse Luci. — Não pareça tão feliz com isso.
Cyn abraçou a amiga. — Não é você, é Raphael. Ele fica maluco toda vez
que alguém tenta me matar.
— Imagine isso.
— Você sabe, claro, que o Juro vai fazer alguma maluquice quando ele
souber disso.
Luci olhou para ela. — Então nós não contaremos a ele sobre isso. Não é
um negócio tão grande, Cyn. Eles estão apenas tentando me assustar. Eles nunca
fizeram nada.
— Muito tarde para pensar em não contar ao Juro. Raphael mantém guias
bem fechadas sobre mim. Qualquer coisa que dispare adrenalina, ele sabe. E o que
Rafael sabe, Juro sabe, especialmente no que se refere à questões de segurança.
Acostume-se a ele. Seus dias felizes de solteirice acabaram.
— Droga, droga, droga. Eu preciso ligar para ele — murmurou Luci,
perdendo a calma de uma maneira que fez Cyn rir, ainda que fosse apenas por ser
algo tão incomum.
— Vamos, — ela disse, puxando sua amiga para a porta da frente. — Você
pode muito bem vir para casa com a gente e evitar a viagem de Juro até aqui. De
qualquer forma, eles estão fechando a casa de manhã.
— Cyn está certa — disse Robbie. — Os vampiros não fazem as coisas na
metade, e o cara grande se importa com você.
— No que é que eu fui me meter? — murmurou Luci.
— Você o ama?
Luci olhou para cima e encontrou seus olhos por um longo tempo antes de
responder quase miseravelmente: — Sim, eu faço. Ele diz que me ama também.
— O amor é um risco, Luce. Ninguém acredita mais nisso do que eu. Mas
eu conheço Juro, e se ele diz que te ama, eu acho que é um risco que vale a pena.
Ele é um grande cara e também muito adorável agora que ele está apaixonado.
— Quem é adorável? — Robbie interrompeu, olhando para cima de onde ele
tinha estado enviando mensagens de texto para alguém em seu telefone.
— Ninguém, — Luci disse firmemente, passando na frente de Cyn para
enfrentar Rob. — Eu irei com vocês.
— Ótimo — disse Cyn. — E, Robbie, eu preciso falar com você sobre o Havaí.
Podemos falar no caminho.
Ele suspirou. — Sim, eu tinha a sensação de que você ia dizer isso.
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O VOO FOI longo, mas os fusos horários eram favoráveis, então eles
chegaram em Kauai com horas de escuridão de sobra. Não havia nenhum comitê
de boas-vindas desde que Raphael não tinha dito a ninguém que eles estavam
voando um dia antes do previsto. Se realmente havia um espião na equipe de
Raphael, ele esperançosamente tinha sido despistado com a decisão
cuidadosamente guardada de sair mais cedo.
Levar todo mundo do aeroporto de Kauai até a propriedade onde eles
estariam ficando precisou de vários veículos, o que não era exatamente discreto.
Mas Cyn esperava que a chegada deles no meio da noite, combinada com o hangar
privado onde eles tinham desembarcado, iria prover algum disfarce. De qualquer
modo, o melhor que eles poderiam esperar eram algumas horas de espaço para
respirar, o suficiente para tê-los seguros na casa temporária antes que eles
tivessem que lidar com o inimigo.
Porque negociações de paz ou não, os vampiros Europeus eram o inimigo.
Se eles estavam aqui para negociar a paz, era apenas com o pretexto de falar por
tempo o suficiente para avaliar a força de Raphael, para decidir se eles poderiam
eliminá-lo aqui mesmo, neste momento, antes de ir para o continente.
Cyn sentou próxima a Raphael na limusine a medida que eles viajavam para
a casa em Kauai, a mão dela segurando a dele muito apertada. Ele nunca disse
uma palavra, mas ela sabia que ele também estava preocupado. Não com ele
mesmo. Raphael nunca se preocupava com sua própria segurança; era parte de
sua arrogância, parte do que o fazia ser quem ele era. Mas ele odiava o pensamento
de Cyn estar em perigo junto com ele, odiava o risco para o povo dele. E isso era o
que fazia dele um ótimo líder, um que ganhou o amor e a lealdade de seu povo ao
invés de simplesmente demandar isso como uma obrigação.
— Como é esse lugar que estamos ficando? — ela perguntou a ele, enquanto
eles dirigiam pelas estradas escuras, cercados por uma vegetação exuberante e
uma chuva constante. Kauai recebeu o apelido de Ilha do Jardim, mas todo esse
verde vinha com um monte de chuva.
— Aparentemente, é uma casa de férias do presidente de uma das filiais da
Raphael Enterprises. Legalmente, é a própria filial que a possui. É uma propriedade
considerável, utilizada principalmente como um bem ativo para clientes
importantes. Há uma equipe completa durante essas visitas, embora obviamente,
eles não estarão lá durante a nossa estada.
— A filial é comandada por vampiros?
— Em segundo plano. O rosto público é humano, assim como a maioria dos
visitantes a essa casa.
Cyn franziu o cenho. — A casa será segura para vocês então?
Raphael assentiu uma vez. — Há vampiros no conselho de administração.
Acomodações foram feitas para os suas necessidades únicas. Discretamente, claro.
— Quem irá fazer as camas se não tem nenhum funcionário enquanto
estivermos aqui?
Raphael riu. — A maior questão era quem iria prover comida para os
humanos em nossa companhia. A maioria dos meus guardas de segurança diurnos
são ex-militares e totalmente capazes de cozinhar para si mesmos, mas Irina foi
gentil o suficiente para enviar um de seus cozinheiros para supervisionar, — disse
ele, se referindo a sua governanta vampira que também calhou de ser a
companheira de Robbie. — O cozinheiro que ela mandou é um homem, como eu
requisitei. Essa tarefa não é sem risco.
— Hey, garota viva aqui, — Cyn protestou.
Raphael libertou sua mão, puxando-a para o lado dele ao invés. — Eu estou
bem consciente disso. Mas você, minha Cyn, é uma verdadeira guerreira.
— Own, você diz as coisas mais doces.
Raphael sorriu distraidamente, sua atenção fixa fora da janela enquanto
eles viravam para o que parecia ser uma entrada. Era difícil de ver no escuro; ao
menos era difícil para ela. Os olhos de vampiro de Raphael viam tão claramente
como se fosse de dia. Ele não precisava de muito mais que a luz refletida de seus
vários veículos, ainda que os motoristas vampiros estivessem dirigindo apenas com
as luzes baixas, os faróis no máximo sendo na verdade brilhantes demais para os
olhos deles.
Cyn não poderia dizer para onde eles estavam indo até que uma pequena
luz perfurou através da floresta, ficando cada vez mais brilhante quanto mais perto
eles ficavam de seu destino. Na hora que o próprio prédio apareceu a vista, a luz
tinha se estabelecido em um brilho turquesa de uma grande piscina. Ela viu o
motorista vampiro da limusine deles colocar um par de óculos de sol, então viram
Juro, que estava sentado no banco da frente do passageiro, fazer o mesmo
enquanto que o motorista do primeiro SUV ligou seus faróis de luz alta e banhou
a frente do lugar em luz.
Era uma casa grande, mas ela esperava isso. A vida com Raphael nunca
envolveu uma cabana de dois quartos. Um edifício de três andares, toda metade de
trás do piso térreo foi construída na encosta atrás dele. Não tinha nenhuma dúvida
de onde os alojamentos compatíveis com vampiros ficavam localizados, desde que
um porão estava fora de questão. Haviam as usuais – para ilhas – sacadas em cada
andar e saindo de quase todos os quartos. Cyn não sabia o tamanho, mas ela não
conseguia ver nenhuma outra luz através da floresta circundante. Ela saberia a
extensão melhor durante o dia de amanhã, quando ela e Robbie iriam pegar uma
das SUVs para um passeio, mapeando a localização deles e aprendendo sobre a
vizinhança. Ela também queria localizar o lugar dos primos de Luci. Ela não iria
colocar aquele endereço no GPS. De fato, ela teria certeza de que todos os seus
passeios fossem deletados do histórico do sistema de navegação antes de eles
deixarem o veículo. Essa casa gigante parecia legal, mas se as coisas fossem piorar,
como todo mundo acreditava que iriam, ela queria uma rota de escape e ela queria
isso em segredo. Era tudo parte do plano reserva.
— Eu espero que eles tenham Wi-fi ali, — ela murmurou à medida que
estacionavam, pensando sobre a informação que Luci iria enviar para ela por e–
mail. Informação que ela precisava para o reconhecimento de amanhã.
— Tenho certeza que eles têm, — Raphael comentou enquanto Juro saiu da
limusine e abriu a porta para eles.
Uma onda de ar quente e úmido varreu a limusine, trazendo com isso o
esmagador aroma da floresta e solo molhado. Cyn aspirou o aroma para os seus
pulmões. Ela tinha estado no Havaí muitas vezes com o passar dos anos. Não era
tão perto assim de L.A., mas sempre pareceu como se fosse. Os presentes de
graduação do Ensino Médio incluíam viagens ao Havaí com os amigos, pessoas se
casavam no Havaí, a diversão pós-divórcio era no Havaí. No final das contas, ela
tinha estado muito aqui. Ela preferia a costa da Califórnia, mas o Havaí
definitivamente tinha o seu charme.
O pessoal da segurança de Raphael estava se espalhando, tendo certeza de
que não haviam surpresas. Normalmente, eles teriam feito isso antes que ele
chegasse, mas a mudança de planos tinha posto um fim na rotina normal deles.
Os seres humanos podem achar a chegada noturna uma complicação, mas não os
vampiros. Eles tinham aprimorado a audição para acompanhar a supervisão
noturna deles e poderiam detectar facilmente alguém espreitando no perímetro por
uma única batida do coração. Inferno, alguns dos guardas vampiros seriam
capazes de ouvir os pensamentos do intruso. Não haveria nenhum esgueirar nessa
casa.
Mas então, Raphael não estava preocupado com ninguém se esgueirando
até ele. Cyn sabia que o perigo aqui não estaria se escondendo nos arbustos. Iria
encontrá-lo cara a cara com um sorriso.
Deus, ela odiava isso!
As luzes internas repentinamente acenderam, então tão subitamente
esmaeceram. Esse era outro indicativo de uma residência vampírica, um
interruptor em todas as luzes. Haviam seres humanos o suficiente com eles,
entretanto, então algumas luzes eram necessárias. De fato, a metade humana do
contingente de segurança de Raphael iria procurar suas camas quase
imediatamente, então eles poderiam dormir um pouco antes que eles assumissem
seus deveres com o nascer do sol.
— Você está com fome, minha Cyn?
Ela balançou sua cabeça. — Irina tomou conta de mim e de Robbie antes
que deixássemos L.A. Ela nos fez companhia enquanto comíamos, e embalou para
nós alguns sanduíches em caso de sentirmos fome antes que chegarmos aqui. Ela
gosta que Robbie esteja bem alimentado.
Ela sorriu então, e se inclinou contra Raphael, abraçando sua cintura e
olhando para ele.— E quanto a você, garoto presos? Está com fome?
Os olhos negros de Raphael cintilaram através dos cílios pecaminosamente
longos enquanto ele a encarava com flagrante desejo. — Sempre.
— Deveríamos encontrar o nosso quarto.
— Os alojamentos seguros estão na parte de trás, — ele disse e, pegando a
mão dela, seguiu o resto do contingente vampiro passando de uma cozinha
gourmet brilhante para uma caixa–forte camuflada como uma estante de livros.
— Uma porta na estante? — Cyn comentou. — Isso é muito Jovem
Frankenstein para você.
— A porta tem um código de entrada para prevenir acesso não autorizado,
mas a maioria dos clientes que usa essa casa são humanos, então a fachada era
necessária. Jovem Frankenstein? — ele adicionou, intrigado.
Cyn encarou. — Você nunca viu esse filme? Eu não acredito que eu não
sabia disso ainda. Assim que voltarmos para L.A., você e eu teremos um encontro
com filme. Eu levarei a pipoca.
— E você comerá toda ela também.
Ela colocou a língua para fora enquanto ele a puxou em um corredor
estreito que estava alinhado com portas pesadas, cada uma com um teclado no
lado de fora.
— Como isso funciona? — ela perguntou. — Quem conhece todos esses
códigos?
— Há um código mestre, mas eles são individualmente programados pelo
ocupante, como um cofre em um quarto de hotel.
— Legal.
Eles alcançaram até o final do corredor e uma porta que era mais larga que
as outras. Raphael digitou um código e a porta abriu.
— Essa é uma programável, também?
— Sim. Embora leve uma sequência de códigos ligeiramente mais longa.
— Posso escolher o código?
— Nós discutiremos isso.
Cyn engasgou em falsa descrença. — Você não confia em mim para escolher
um bom código?
— Eu não confio no seu senso de humor.
Ela empurrou a porta fechada e o empurrou-o de costas em direção a
grande cama, mas apenas porque ele a deixou. Se Raphael não quisesse se mover,
ela poderia empurrá-lo a noite inteira e ele simplesmente continuaria ali e pareceria
entediado.
Nessa ocasião, no entanto, ele caiu de costas no colchão e a levou com ele,
prontamente rolando para cima dela. Cyn enrolou seus braços ao redor do pescoço
dele, os dedos dela brincando com seu cabelo curto. Ele tinha um lindo cabelo,
preto feito carvão e espesso, entretanto ele sempre o usava curto no típico estilo
homem de negócios, mais comprido no topo e curto na parte de trás. Coloque
Raphael em um de seus ternos elegantes, e ele estaria em casa nos altos escalões
de Wall Street.
Ele se esticou em cima dela, ainda completamente vestido, usando jeans da
501, uma camiseta preta de manga curta, e um par gasto de botas de engenheiro
da Frye. Não tinha nada de Wall Street sobre ele esta noite.
— Eu gosto das roupas, — ela disse acariciando suas mãos sobre o firme
abdômen embaixo da camisa, — mas você está usando muitas delas.
Raphael abaixou a cabeça e deu a ela um longo e lento beijo, a sua língua
rodando a dela, seus lábios sensuais movendo-se nos dela em uma carícia quente.
O beijo durou tanto tempo que ambos estavam arquejando por ar quando
finalmente se separaram. Os olhos negros de Raphael estavam iluminados de prata
enquanto ele tocava sua boca com a dela novamente, dessa vez lambendo o sangue
dos lábios dela das suas presas.
— Você pode escolher o código, lubimaya, — ele disse a ela, sorrindo.
Cyn deu-lhe um olhar estreito. — Essa foi muito fácil. Qual o problema,
garoto presas?
Raphael suspirou, balançando a cabeça pelo termo de carinho favorito dela.
Ela sabia que ele particularmente o amava, apesar disso, ou ele teria pedido a ela
para parar de usá-lo até agora.
— Eu tenho uma reunião, — ele disse a ela.
— Eu meio que imaginei, — ela disse secamente. — Quanto tempo até o
nascer do sol?
— Infelizmente, não tempo o suficiente. Eu estarei de volta a tempo de
dormir com você.
— Eu deixarei a porta aberta então você não precisará adivinhar o código.
— Isso seria sensato. Você não quer que seja necessário que eu arranque a
porta fora.
— Eu não tenho medo de você.
— Não, — ele concordou. — Você nunca teve. Esse é um dos motivos pelos
quais eu te amo.
— Você terá que me dizer o resto disso.
— O resto de quê?
— Os motivos pelos quais você me ama.
Ele sorriu e a beijou suavemente. — Se a gente tiver tempo. É uma lista
muito longa.
— Você só está dizendo isso para que eu deixe você ir para a sua reunião.
Ele riu e empurrou-se para cima e para fora dela até ficar de pé próximo à
cama. — Estarei de volta assim que eu puder.
Ela pulou para os seus pés e agarrou com os dois punhos sua camisa,
puxando-o para um rápido e duro beijo. — Eu estarei aqui.
Cyn observou da porta aberta enquanto Raphael andava abaixo pelo longo
corredor. Juro emergiu do quarto ao lado do deles, então os dois terminaram
andando juntos, seus ombros largos quase escovando as paredes de cada lado. Ela
esperou até que eles passassem a porta segura mascarada como uma estante de
livros e ficaram fora de vista. Então ela rapidamente leu as instruções para codificar
a fechadura, inseriu uma série de números que ela esperava serem aleatórios o
suficiente, enviou o número para Raphael por mensagem, então fechou a porta.
Pegando seu laptop, ela se estabeleceu na cama. O Wi-fi da casa apareceu,
e ela entrou com o código de acesso, o que tinha sido incluso na mesma folha de
informações que as instruções da fechadura da porta. Indo diretamente a sua caixa
de entrada, ela encontrou o e-mail de Luci. Ele incluía diversos nomes e números
de telefone de vários parentes, não apenas no Kauai, mas de outras ilhas também.
Luci realmente tinha um monte de primos por aqui. A casa de Kauai estava no topo
da lista com o endereço e uma foto, mais o número da prima dela na Europa só
para o caso. O próximo da lista era o primo honorário Brandon que possuía um
negócio de fretamento aéreo. Cyn iria ligar para ele de manhã, só pra trocar uma
ideia, então ele saberia quem ela era se ela precisasse dele com urgência. O resto
da lista era uma variedade de primos e serviços, incluindo um restaurante ou dois,
os quais Cyn checaria se esta fosse uma viagem de férias. Mas desde que não era,
ela pulou esses.
A prioridade amanhã teria que ser a casa no Kauai possuída pela prima de
Luci. Se tudo fosse para o inferno, ela e Raphael e os outros iriam precisar de um
lugar que os vampiros Europeus não tinham conhecimento. Ela e Robbie iriam
precisar checar a casa, ter certeza de que ela servia aos seus propósitos, e então
torná-la amigável aos vampiros tanto quanto eles pudessem em pouco tempo.
Ela ainda estava olhando a lista de Luci quando alguém bateu, ou
esmurrou, a porta fechada. Olhando para cima com um olhar culpado, ela fechou
o laptop, então pulou para fora da cama e digitou o código da fechadura com seu
dedo. A porta se abriu para revelar o seu segurança vampiro, Elke, em pé do lado
de fora e parecendo extremamente irritado.
— Que porra, Cyn? É muito mais fácil ser seu segurança se eu posso ver
seu corpo magro.
— Supere isso, — Cyn zombou, fingindo que seu coração não estava
acelerado. E o que era tudo isso? Ela não tinha nada pelo que se sentir culpada.
Ela estava simplesmente fazendo o que Raphael tinha pedido a ela para fazer.
— Eu estava apenas estabelecendo o código da porta, — ela disse a Elke,
puxando a porta completamente aberta e gesticulando para dentro. — Qual deles
é o seu? — ela perguntou, balançando a cabeça para a linha de portas idênticas ao
longo de ambos os lados do corredor, tentando desviar a ira de Elke.
— Segunda porta à esquerda, do lado de Juro. Você ficará feliz em saber
que Jared está bem aqui, — ela adicionou, acenando para a primeira porta na
direta.
— Pare com isso. Estou tentando me dar bem com ele esses dias. Onde está
as instalações dos guardas humanos? Eu quero falar com Robbie.
— Sim, mas ele quer falar com você? Isso normalmente termina mal para
ele.
— Você está exagerando. Você sabe onde ele está ou não?
— É claro que eu sei. O que você está tramando?
— Nada. O que te faz pensa...
Elke entrou mais no quarto e fechou a pesada porta novamente. — Cyn. Eu
te conheço. Estamos em um lugar não familiar e Raphael está se preparando para
encontrar um bando de vampiros que, por qualquer critério, são o inimigo. E você,
minha amiga, não é do tipo confiante. Você assume, assim como todos nós fazemos,
que isso não vai terminar em um encontro amigável de paz. Mas enquanto nosso
senhor e mestre, a quem todos nós amamos e admiramos, assume que ele pode
forçar uma saída sobre qualquer coisa, você sempre se planeja para o pior. Então,
diga–me. O que você está tramando?
Cyn encarou Elke, seus lábios achatados em irritação. Ela era tão óbvia
assim?
— Não se preocupe. Você só é óbvia para as pessoas que te conhecem e te
amam. E não há muitos de nós, então você está segura; agora diga–me.
Cyn soprou uma respiração irritada, mas a verdade era que se o plano dela
entrasse em vigor, ela iria precisar de Elke com ela.
— Ok, você está certa. Eu não confio em nada sobre essa situação, então
eu fiz algumas investigações. Robbie e eu estamos indo checar algumas coisas
amanhã e talvez no dia seguinte, enquanto o sol está ativo. Eu também tenho um
contato que conduz um serviço de voo, e vou verificar com ele o tempo de trânsito
entre as ilhas.
— Robbie já sabe sobre isso?
— Não, mas eu sei que ele vai concordar comigo quando ele ouvir o que eu
tenho em mente.
— Eu nunca pensei que eu diria isso, mas eu acho que você está certa. O
que eu posso fazer?
Cyn deu-lhe um sorriso genuíno. — Eu saberei mais por volta de amanhã à
noite. Que horas é a reunião de Raphael com a gangue Eurolixo?
— Ainda não sabemos, já que não era suposto ele chegar até amanhã à
noite. Não será até duas noites depois de hoje, entretanto, porque mesmo seus
inimigos não esperam que ele vá do aeroporto diretamente para uma reunião.
Especialmente não esses inimigos. Eles são em sua maioria velhos, e eu quero dizer
velhos. Mas mais importante, eles são da velha escola, o que significa que não estão
assim tão emocionados com as conveniências modernas como os aviões. Eles
esperarão que Raphael seja igualmente apreensivo, e enquanto eles adorariam
puxá-lo para uma reunião quando ele está fora de seu jogo, eles assumirão que ele
nunca iria concordar com isso.
— Isso pode funcionar a nosso favor quando as coisas forem à merda —
Cyn disse pensativamente.
— Você quer dizer se as coisas piorarem.
— Não realmente. Eu tenho um péssimo pressentimento sobre isso.
— Eu torcia para que você não dissesse isso.
— Eu desejava que eu não estivesse sentindo isso.
Elke suspirou. — Vamos lá, vamos encontrar o Robbie.
— Obrigada, Elke.
— Sim, sim. Só tenha certeza de que as minhas cinzas encontrem o caminho
delas de volta para Malibu quando tudo isso terminar.
****
****
O sol estava alto no céu, quando Cyn finalmente parou na entrada da casa
da filha da prima da mãe de Luci. Ou algo assim.
— Não é exatamente uma grande propriedade — observou Robbie.
— Não é uma cabana também — disse Cyn. — Casas neste bairro valem
mais de um milhão.
— Hã. Você tem uma chave?
— Eu sei onde encontrá-la.
— Por favor, não me diga que está debaixo de um vaso de flores.
Cyn sorriu quando saiu do SUV e caminhou pelo lado da casa, com Robbie
como uma sombra próxima. Ele levava ser seu guarda-costas a sério. Raphael
quase o matou na última vez em que ela ficou ferida. Não era culpa de Robbie, mas
Raphael não se importara. Estava no turno de Robbie e isso foi o suficiente.
Atravessando a parte de trás da casa, ela cavou em uma pilha de rochas
decorativas perto da grande churrasqueira ao ar livre e encontrou o que estava
procurando. Parecia todas as outras rochas cinzentas, mas era uma daquelas
falsas com um compartimento secreto. Ela abriu e segurou a chave para que
Robbie visse.
Ele tirou isso dela, enquanto eles viravam de volta para a frente da casa.
Ele inseriu a chave na porta e a abriu, uma mão na Beretta de 9mm no quadril e
a outra fazendo com que ela estivesse atrás dele quando a porta se abriu em
dobradiças silenciosas.
A casa tinha aquele sentimento vazio que lhes dizia que ninguém estava em
casa e não tinha estado por um tempo. O ar estava mofado e úmido, apesar do ar
condicionado que fazia ruídos, enquanto caminhavam para a cozinha. A
temperatura na casa foi ajustada apenas o suficiente para combater o penetrante
e potencialmente prejudicial, umidade e calor, mas não suficientemente baixo para
o conforto humano. Cyn não se preocupou com isso agora. Sua única preocupação
era verificar os quartos e outros ambientes e fazer o que fosse necessário para
torná-los seguros como um refúgio de emergência para os vampiros.
Robbie já estava na cozinha e abriu a porta para a garagem. — A garagem
está vazia — ele estava dizendo. — Eu vou puxar o SUV para dentro.
Cyn lhe lançou as chaves, depois fez uma rápida caminhada pelo piso
térreo. A casa era muito melhor do que parecia da rua. O interior era aberto e
arejado com o que pensava ser uma típica decoração havaiana – muitas cores
claras e padrões florais brilhantes. Havia um grande pátio que dava para um campo
de golfe, com muitas árvores fornecendo cobertura entre o verde e a casa em si.
Robbie voltou e eles verificaram o andar de cima juntos. Havia quatro
quartos, incluindo uma suíte master espaçosa. Uma varanda ampla e aberta era
acessível de cada quarto através de grandes portas de vidro deslizantes. Isso era
um problema, mas era um que ela havia antecipado. Alguns dos suprimentos que
eles pegaram no supermercado tratariam disso.
— Nós teremos que cobrir essas portas — disse ela, afirmando o óbvio.
Robbie estava acasalado com uma vampira, ele entendia a situação assim como ela
fez.
— Talvez devêssemos ter comprado alguns sacos de dormir. Os vampiros
terão que dormir, e não há camas suficientes — observou Robbie. E ele estava
certo. Havia apenas uma cama em cada um dos quatro quartos. Raphael teria
naturalmente um quarto para si mesmo, o que significava que os outros – incluindo
Juro e todos os guardas vampíricos de Raphael – teriam que se espremer nos outros
três. Ajudava que, uma vez que os vampiros estivessem fora para o dia, eles
estavam realmente fora. Não se levantavam para fazer um xixi rápido, sem rolar,
nem roncar. Pelo menos não na experiência de Cyn, que era apenas com Raphael.
Por tudo o que ela sabia, alguns vampiros roncavam como loucos.
— Nós, seres humanos, podemos dormir no andar de baixo — continuou
Robbie.
— Não devemos ficar aqui por mais de um dia — acrescentou Cyn. — Todo
mundo pode sofrer por um dia de merda.
— Concordo. Eu vou encontrar alguns cobertores e toalhas para usar nas
janelas. Deve haver muitas toalhas de praia, se nada mais.
— Nós também podemos usar folhas, se elas estiverem escura o suficiente.
Vamos sobrepor se tivermos que fazer.
— Espero que as pessoas de Luci não se importem com o fato de encontrar
buracos nos lençóis.
— Vou comprar novos para eles.
Robbie começou a subir as escadas. — Não entre em problemas enquanto
eu estiver fora.
— Você vai estar no andar de baixo — disse Cyn.
— Exatamente.
Cyn bufou com desdém e começou a abrir caixas de tachinhas e desenrolar
rolos de fita adesiva. Boa velha fita adesiva.
Robbie estava de volta em minutos, despejando uma braçada de cobertores,
lençóis e toalhas na grande cama king-size na suíte master.
— Vai ser mais rápido se trabalharmos juntos — ela disse e começou a
puxar lençóis da pilha. — Iremos de quarto em quarto.
Robbie tirou o lençol dela. — Eu vou segurar, você prende.
Demorou mais do que Cyn esperava, mas um pouco mais de uma hora
depois, eles tinham todas as janelas no andar de cima cobertas, mesmo as que
estão nos banheiros e no final do corredor. Eles não podiam fazer nada sobre a luz
subindo a escada aberta, mas isso não deveria ser um problema. Mesmo cobrir as
janelas nos banheiros e no corredor era exagerado. Se os vampiros estivessem
chegando tão perto que o sol já estava nascendo, eles teriam problemas muito
maiores do que um pequeno vazamento de luz. Inferno, se esse fosse o caso, eles
poderiam acabar à luz do dia na garagem.
— Você sabe — ela disse devagar. — Devemos cobrir aquela pequena janela
na garagem. Apenas no caso.
Robbie lhe deu um olhar pensativo. — Bom pensamento. Podemos fazê-lo
no caminho de saída. Quando deveríamos encontrar o seu piloto?
Cyn verificou o relógio. — Seu nome é Brandon, e ele está aguardando
minha ligação. Eu devo avisá-lo com uma hora de antecedência. Se eu ligar quando
sairmos daqui, deve dar tempo. O aeroporto fica a uma hora de carro, mas não
tenho ideia de como é o tráfego. Essa é uma das coisas que eu preciso saber.
— E na outra extremidade?
— Eu arrumei um carro alugado em Honolulu. Outro dos primos de Luci
tem um aluguel vazio Diamond Head, então eu estou fazendo Brandon nos levar
para Honolulu International. Eu mapeei a casa no Google e deve ser uma curta
viagem do aeroporto, mas novamente, eu não sei como é o tráfego. Nós também
não vamos fazer toda a preparação, já que não sei se usaremos a casa. Mas eu
quero ter suprimentos suficientes no local, para que possamos prepará-la
rapidamente para os vampiros, apenas no caso.
— Por que você está olhando para Honolulu? O que está acontecendo aqui,
Cyn?
Cyn lhe deu um olhar aflito. — Eu não quero parecer paranoica ou qualquer
coisa, mas não confio nesses vampiros europeus. Eu sei o que você vai dizer — ela
acrescentou apressadamente, erguendo uma mão. — Que Raphael também não
confia neles, que ele está entrando com os olhos abertos. Mas a diferença é que
enquanto ele gostaria de lhes dizer para se foderem, ele não pode. Ele deve
encontrá-los, o que é o mesmo que dizer que ele tem que entrar em uma armadilha
se é o que eles estão planejando, e eu realmente estou com medo. Eu acho que
Acuña não é mais que um ensaio geral para esta reunião, e pretendo estar
preparada para a real coisa.
— Ok, então isso explica ter esta casa como um esconderijo temporário,
mas o que acontece com Honolulu?"
— E se nós quisermos, ou precisarmos, sair dessa ilha rapidamente? Para
se afastar de qualquer armadilha que os europeus planejaram? Eles esperam que
Raphael vá para seu próprio avião no aeroporto principal. Mas ter Brandon nos
levando seria a última coisa que eles esperariam. E Honolulu é uma grande cidade,
fácil de perder-se.
— Você é um pouco pensativa sobre isso, querida.
— Talvez. Mas não vai nos custar muito para estar preparado.
Robbie encolheu os ombros. — Você me pegou lá. Assim... podemos pegar
o almoço em Honolulu?
Capítulo 06
MUITO MAIS TARDE NAQUELA noite, Cyn estava seguindo Raphael pela
selva – será que o Havaí poderia ser classificado como uma selva? O que
classificaria uma selva de qualquer maneira?
— Posso ouvir você pensando, Lubimaya
— Tudo que posso ouvir é você andando — Elke murmurou de trás dela
Raphael parou debaixo de uma larga folha de palmeira... ou talvez era uma
gigante samambaia... Seja lá o que fosse os protegia da persistente chuva que havia
começado a cair logo após o pôr-do-sol e nunca mais terminou.
Querendo proteger a visão noturna de Raphael, ela tapou uma pequena
lanterna Maglite que apenas ela precisava e tentou relembrar o porquê de ter
querido vir nessa pequena excursão.
Raphael sorriu para ela, claramente divertido com a sua situação. — Você
é normalmente mais discreta que isso. Você parece estar preocupada.
Cyn considerou dizer-lhe que a sua preocupação era mais voltada a
demasiada abundância de flora do Havaí, mas decidiu não dizer. O deixou pensar
que ela estava fazendo coisas importantes durante todo o dia, o que havia feito, e
era isso que a sua mente estava ponderando, o que havia feito. Ela estava satisfeita
com o que ela e Robbie tinham conseguido.
— Tentarei ficar quieta. Estamos muito distante?
Raphael bateu no botão do Bluetooth de sua orelha, seus olhos indo para
longe dela enquanto escutava. Ele tinha três equipes checando diferentes
propriedades naquela noite, então a chamada poderia ser de um dos outros grupos,
ou poderia ser alguém do próprio grupo de reconhecimento do Raphael, um dos
cincos que estavam espalhados ao redor dele, não incluindo ele, Cyn ou Elke.
Raphael tocou no botão de novo o desconectando, então: — O explorador a
frente alcançou o perímetro. Ele irá nós guardar até a gente se juntar a ele. Não
mais que noventa metros.
Cyn lutou para não suspirar. Mais noventa metros em uma selva molhada.
Ela preferia muito mais sua própria missão de reconhecimento, a qual apenas
envolvia uma verificação de casas caras. — Pronto quando você estiver — ela disse
alegremente.
Raphael pegou a sua mão — Fique atrás de mim e caminhe por onde
caminho. Vai ser mais fácil para você.
— E mais silencioso — Elke sussurrou formando uma fila detrás dela.
— Sem mais conversa — Raphael ordenou. Apertando a mão de Cyn com
mais força, ele acelerou o ritmo até finalmente romperem uma última linha de
árvores e então, pararem abruptamente.
A casa estava bem à frente deles, do outro lado da ampla faixa de gramado
bem aparado que provavelmente era de um verde-esmeralda em um dia ensolarado.
Não havia luzes do lado de fora, nem sequer uma luz na varanda ou no pátio para
quebrar as sombras. Embora dentro fosse outra história.
Luz fraca saía pelas pequenas frestas das janelas em ambos os andares da
casa de dois andares. Ela conseguia enxergar movimentos por meio das
translúcidas cortinas no andar de baixo, enquanto no andar de cima a janela
estava coberta com um blackout imperfeito que mostrava finas linhas de luz ao
redor das bordas. Parecia que vampiros estavam na residência.
O Explorador de Raphael materializou-se próximo a eles, movendo-se tão
silenciosamente que Cyn não o havia notado até que ele estivesse ali. Elke cutucou
Cyn, dando a ela um olhar significativo quando ela encarou, como se para dizer
que era assim que era para ser feito. Cyn apenas deu de ombros. Ela nunca foi
capaz de se mover como os vampiros; era inútil fingir o contrário.
— Definitivamente vampiros, meu senhor. — Disse o explorador, sua voz
mal discernível. — Eles têm um perímetro de segurança, mas apenas perto da casa.
Eles também são vampiros, embora não eu reconheça nenhum deles.
Raphael acenou e adquiriu aquele olhar não–realmente–lá em sua cara, que
lhe disse que ele estava examinando a casa com seus sentidos extremamente
superiores. Ele se agachou lentamente, levando-a com ele. Do outro lado, o
explorador copiou seus movimentos, encarando a casa como se estivesse tentando
ver o que o seu mestre estava vendo.
Eles permaneceram desse modo por alguns minutos até que entre um
piscar de olhos e outro, Raphael estava de volta. Ele não disse nada, simplesmente
sacudiu a cabeça para o explorador indicando que a trilha atrás dele, o que Cyn
considerou que significava que ele queria que eles voltassem para o veículo. Mais
caminhada longa e difícil pela selva molhada. Fantástico.
Raphael ficou de pé, puxando Cyn para seus pés, então girou-a para o lado
em que eles vieram. Ele ergue o queixo para a Elke que andou na frente, então Cyn
e Raphael em sequência. Cyn imaginou que provavelmente havia um par de
vampiros formando uma retaguarda. Raphael poderia ser o senhor deles e mestre
e superpoderoso, mas Juro iria esfolar esses guardas vivos se algo acontecesse com
o seu Sire.
Eles demoraram a chegar aos seus veículos – os quais felizmente eram
quatro por quatro. Eles estavam escondidos em uma estreita trilha que era um
pouco maior que um caminho de animais e Cyn não tinha desejo de andar de volta
para casa, porque seus carros ficaram afundados na lama –quando Raphael
recebeu uma nova chamada. Entretanto, isto o pôs em ação.
— No carro agora — Ele estalou, abrindo a porta e empurrando Cyn para
dentro.
— O que é? — Ela perguntou não mais se preocupando com a chuva ou a
lama.
A poderosa SUV rugiu a vida. O motorista trocou as marchas, rodas giraram
conforme ele manuseava o carro para dentro da trilha e mudando para alta
velocidade em direção a estrada principal.
— Raphael? — Cyn perguntou.
— Assumimos que nossos anfitriões estariam observando o aeroporto essa
noite, alertas para a nossa chegada, então arranjamos um chamariz de pouca
qualidade, uma armação de chegada para qualquer um que assistisse.
— Mas eles sabiam que não era você chegando naquele avião, não é?
— Não necessariamente. Eles não esperavam que eu anunciasse a minha
presença, então eles teriam que ir pela minha descrição física somente. O jato
entrou no hangar ao chegar essa noite, assim como nós na noite passada, que tem
o beneficio de esconder passageiros de uma vista casual. Três veículos saíram do
hangar e foram conduzidos por esse caminho. O telefonema era do líder da equipe
dos motoristas desses veículos. Eles pegaram um atalho direto do aeroporto.
— Mas isso provavelmente significava que eles caíram no chamariz e não
sabem que você já está aqui. Não é bom?
— Sem dúvidas.
— Então, por que estamos correndo de volta?
— Uma de nossas SUV ficou para trás para confrontar nossos seguidores,
deixando outra SUV e uma limusine seguir em frente. Eles assumirão que estou
dentro da limusine, o que significa que tenho que estar em casa quando os
observadores finalmente chegarem.
— Por que guiá-los para a casa? Deixar nossos caras despistá-los?
Raphael deu-lhe um aquele sorriso que significava que o lado violento de
sua personalidade estava se mostrando novamente.
— Era para ser um comitê de boas–vindas, minha Cyn. Um mensageiro do
mestre destas ilhas.
— Ok, certo. Eles estavam bisbilhotando claro e simples.
— Eles estavam curiosos — ele reconheceu — Contudo não posso deixá-los
tentar encontrar nosso avião.
Cyn franziu os lábios e encolheu os ombros, deixando sua linguagem
corporal dizer o que ela não sabia o porquê — Estou assumindo que Juro estará
na casa também.
— Tente mantê-lo afastado — disse Raphael, secamente, conforme o veiculo
fazia um movimento brusco de um lado para o outro, virando para a longa entrada
que levava a casa.
Os outros dois carros da equipe de observação estavam em sua cola e
seguiram para dentro da garagem de múltiplos carros. Pela primeira vez, Cyn
estava agradecida que estava chovendo, já que isso lavava a maioria dos rastros
dos pneus em caso de alguém se preocupar em olhar. A porta de chumbo da
garagem foi rolada para baixo pelo controle remoto assim que os veículos entraram.
Uma porta conduzia da garagem para a cozinha principal e a partir daí, eram
apenas alguns passos até o corredor privado atrás da estante de livros.
Raphael levou Cyn diretamente para o seu quarto e digitou o código da porta
num borrão na velocidade de vampiro. Abriu a porta apenas o suficiente para eles
entrarem e então, fechou a porta atrás deles.
— Há algum código de vestimenta para essa reunião? — Cyn perguntou
apenas meia irônica conforme corria em direção ao closet. Se essas pessoas fossem
tão antiquadas quanto Elke dissera, talvez eles esperassem que a companheira de
Raphael estivesse vestida formalmente. Ela trouxe um vestido e uma sandália de
salto alto, pensando que talvez houvesse algo como um jantar formal, então ela
estava mais ou menos preparada.
— Cyn
Era apenas o seu nome, mas o modo como Raphael o disse e o olhar em
seus olhos quando ela se virou para estudá-lo, lhe disse que tinha mais notícias
ruins chegando.
— Não quero você comigo.
Ela franziu o cenho. — Onde com você?
— Hoje, amanhã. Não quero que eles saibam que você está aqui, ou ao
menos saibam como você se parece.
— Mas eles já sabem como me pareço. Eu estava no México, lutei contra
Violet com você.
— Violet foi a única sobrevivente da noite. — Ele apontou — O resto não a
viu em pessoa, e nenhum deles sabe que você está aqui. E quero manter deste jeito.
— Por quê? Não confi...?
Raphael a agarrou pelos ombros, dando-lhe uma pequena sacudida. — Não
diga isso. Confio minha vida a você. Confio em você mais do que em qualquer um,
incluindo meus próprios filhos.
— Então por quê? — Cyn amaldiçoou, as lágrimas estavam pressionando a
parte de trás de seus olhos e podia sentir que seus sentimentos estavam feriados
e ela precisava saber o que ele estava pensando.
Raphael abrandou seu domínio sobre ela. — Dois motivos. O primeiro é que
não a quero machucada. Esses vampiros não terão escrúpulos em usá-la contra
mim. Isso é o porquê não te defendi no México, para que eles não conseguissem
ver o quanto você significa para mim.
Cyn assentiu. — Mas quero ficar com você, Raphael, não atrás de você.
— O que revela o meu segundo motivo. Se eles não sabem sobre você, eles
não podem se proteger contra você. Se algo der errado, você será minha arma
secreta.
Cyn bateu seu punho contra o peito dele. Ele estava certo, mas ela odiava
isso. — Não é justo — ela sussurrou.
— Eu sei. E sei que vai contra todos seus instintos permanecer nas coxias
e esperar. Mas estou pedindo para você fazer isso para mim.
Ela fechou os olhos, lutando contra o medo e a tristeza enrolando na parte
de trás de seu cérebro, ameaçando dominar seus pensamentos. Raphael pós seus
braços ao redor dela e a trouxe perto dele, seus lábios em seu cabelo. — Amo você,
Cyn.
Ela assentiu contra seu peito. — Eu sei. E irei fazer o que você quer com
uma condição.
Ela sentiu sua boca curvar em um sorriso. — E o que seria?
— Prometa-me, Raphael, que você permanecerá vivo e que irá voltar para
mim.
— Irei fazer tudo ao meu alcance para voltar para você, lubimaya. Sempre.
— Ok. — Ela saiu de seus braços, se afastando para sentar na cama. E lá
permaneceu, assistindo Raphael tirar suas roupas sujas e molhadas, lavar seu
rosto e passar uma toalha em seu cabelo molhado. Ele mudou para par de calças
e vestiu uma camisa, sem gravata, a camisa aberta no colarinho. Ela gostava dele
em seus jeans 501 e camisa, mas Raphael parecia bem em tudo e essa era a sua
versão havaiana do uniforme de mestre do universo. Quando ele ia conhecer outras
pessoas – aquelas que orquestravam encontros e eram verdadeiramente uma
ameaça para todos eles – ele ia para um terno completo e gravata, não importando
o clima tropical ou a localização. Mas esta noite era casual, desde que
supostamente ele acabou de chegar de um longo voo de L.A.
Quando terminou de se vestir, ele veio para perto da cama e puxou-a em
seus pés, então puxou sua cabeça para trás pelos cabelos e lhe deu um longo e
molhado beijo.
— Não irei demorar. É uma chamada de cortesia, nada mais.
— Estou supondo que irei esperar aqui?
Raphael sorriu. — Por acaso, sou um idiota? — ele perguntou
retoricamente. — Vamos. Não quero que eles a vejam, entretanto, definitivamente
quero que você os veja. — Andando até a porta, ele digitou o código e a porta se
abriu. Virando, ele lhe deu uma piscadela, então abriu a porta totalmente,
revelando o irmão de Juro, Ken’ich, esperando no corredor ao lado de uma porta
aberta.
Cyn deu-lhe um sorriso surpreso. Ken’ich não tinha voado com eles na noite
passada, o que a tinha deixado confusa na hora, já que Juro e seu irmão estavam
quase que constantemente ao lado de Raphael. Entretanto, agora ela notou que ele
chegou num segundo avião nesta noite, o que claramente fazia parte do plano o
tempo todo. Ainda assim, qual era a causa dele estar esperando por ela agora? Eles
deveriam ficar juntos? Jogar cartas ou assistir filmes para manter sua mente do
fato que Raphael estava indo se encontrar com os caras maus apenas alguns
metros dela? Ela gostava de Ken’ichi o suficiente, mas ele não era exatamente um
sujeito falante.
Raphael tinha uma mão em suas costas e a impulsionou para frente. —
Você veio no avião da isca? — ela perguntou, sabendo a resposta, mas necessitando
conversar.
Ken’ichi concordou em silêncio, apenas seus olhos oferecendo uma
saudação calorosa.
Ela e Raphael passaram pela porta aberta onde Ken’ichi estava parado, e
Cyn olhou para dentro. Ela não tinha estado em nenhum dos quartos, exceto
aquele que ela e Raphael compartilhavam, então ela estava curiosa.
— Oh! — Ela disse, encarando as prateleiras e fileiras de equipamentos e
monitores, um do qual mostrava os guardas de Raphael cumprimentando os
convidado naquele exato momento.
— Um sistema de segurança! — Ela disse encantada
— Um centro de controle de segurança — corrigiu Raphael.
— Tem som?
— Não seria útil de outra forma.
— Legal — girando, ela levantou-se nos dedos dos pés e beijou Raphael nos
lábios. — Fique bem, garoto presas. Estarei observando.
Raphael revirou seus olhos, algo que ela estava certa que ele nunca tinha
feito antes de encontrá-la, e depois, ele deu um tapinha na bunda dela e se dirigiu
para a porta escondida. Com seus visitantes inesperados significava que a porta
estaria fechada, então ele digitou os códigos antes de abri-la. Cyn o observou
desaparecer na cozinha, então se inclinou para trás para assistir Juro juntar-se a
ele no vídeo do monitor. Ambos foram passando de câmera para câmera até
aparecerem na sala de estar principal, aonde os convidados estavam esperando.
Entrando no quarto de segurança, Cyn puxou uma pequena cadeira na
frente do monitor principal, deixando a mais confortável para o seu companheiro,
que, sendo um gêmeo idêntico de Juro em todos os sentidos, precisava de espaço
e suporte extra. Ela estendeu a mão e aumentou o volume.
— Lorde Raphael — Os convidados disseram em uníssono quando Raphael
caminhou para dentro da sala. Os dois aparentavam terem origem havaiana; com
cabelo preto e olhos escuros, altura mediana e forte, não gordo, mas estruturados.
Estavam vestidos com roupas quase idênticas – calça de linho de cor clara e uma
camisa de estilo havaiana, mas com cores pastel sólidos, ao invés das estampas
florais. Também, pareciam ter aproximadamente a mesma idade, ao redor dos
trintas anos, mas aparências significavam pouco para um vampiro. Raphael
saberia no momento em que entrasse na sala a real idade deles e o quão poderoso
eles são. Não havia nenhuma maneira que Cyn pudesse julgar essas coisas pelo
monitor, o mesmo aconteceria se eles estivessem na frente dela. Ela poderia
distinguir vampiro do humano, mas era só isso.
O terceiro mensageiro não parecia que saia normalmente com os outros
dois. Não aparentava ter mais que uns vinte e poucos anos, usava um jeans escuro
e uma camisa de botões preta com as mangas enroladas na metade do seu
antebraço. Seu cabelo castanho escuro estava espetado com gel, suas orelhas e
sobrancelhas eram furadas, suas orelhas mais de uma vez, e ele usava óculos de
aro preto. Esse último item fez Cyn piscar em surpresa. Ela nunca viu um vampiro
usar óculos antes e se perguntou se ele não fez isso apenas para efeito. Indo para
um look nerd, talvez.
— Você acha que esses são óculos reais? — perguntou.
Ken’ichi pareceu pensar, então disse: — Sim, você pode ver a distorção nas
lentes. Elas são receitadas por médicos.
Cyn deu uma piscadela com um sorriso. Era uma noite de surpresas,
aparentemente. Isso foi o máximo que ela já o ouviu falar de uma só vez.
— Alguma vez você já viu um vampiro usar óculos? — Ela perguntou,
empurrando a sua sorte.
Ele franziu a testa, pensando, então balançou sua cabeça.
— Talvez não seja um vampiro.
— Pode dizer isso daqui?
Ele balançou a cabeça. Cyn respirou fundo para perguntar outra coisa,
contudo, Raphael e os outros estavam falando e ela não queria perder isso.
— Bem-vindo ao Havaí, Lorde Raphael. — Disse um dos outros dois caras
mais velhos, um com a camisa cor de pêssego.
— E você quem é? — Juro perguntou, nada amigavelmente.
— Perdoe-me, meu senhor. Eu sou Kale e esse... — ele disse, indicando o
vampiro de camisa azul ao seu lado — É o Jonathan.
Raphael deu ao homem nerd um olhar avaliador.
— Donovan Willis, Lorde Raphael. Eu sou um especialista de segurança de
Rhys Patterson. O mestre Patterson não sabia qual era sua estrutura de sistema
de segurança aqui e então me enviou para oferecer meus serviços.
Próximo a Cyn, Ken'ichi bufou com desdém.
— Eu sei, não é? — Ela disse agradavelmente. — O que essa cara pensa,
que vamos apenas deixá-lo dançar por aqui e invadir nosso sistema?
Na tela, a expressão de Juro refletia sua avaliação, mas Raphael parecia
quase divertido. — Minhas pessoas são completamente capacitadas, senhor Willis,
contudo, obrigado pela oferta.
— Tem certeza, meu senhor? Há aspectos específicos da internet...
— Deixe isso ir, garoto, — Kale estalou. — Desculpas, meu senhor. Ele é
humano.
— Bem, isso responde a questão, — Cyn murmurou. O comentário
sarcástico de Kale sobre a humanidade de Donovan Willis trouxe à mente a
precaução de Raphael de mais cedo. Ele estava certo sobre o desdém deles
aumentar o perigo dela, mas sob certas circunstâncias, ela podia fazer essa atitude
trabalhar a seu favor.
Mas Kale, ou Sr. Pêssego, como Cyn mentalmente estava se referindo a ele,
não tinha terminado. — Trago saudações do Mestre Patterson e de seus
convidados.
— Onde está o Mestre Patterson? — Raphael perguntou suavemente.
— Ele permanece com seus visitantes europeus esta noite, meu senhor. A
viagem deles foi longa e difícil.
— É uma distância significativa — Raphael concordou sem trazer à tona a
desagradável revelação precisa de quando eles fizeram essa longa e difícil jornada.
Especialmente, porque provavelmente forçaria o Sr. Pêssego a mentir. Embora
possa ser engraçado vê-lo tentar.
— O Mestre Patterson tem a honra de servir como mediador para essa
disputa, Lorde Raphael. — Jonathan (também conhecido como Sr. Azul)
concordou. — Ele aguarda com expectativa o que certamente será uma resolução
amigável.
— Como todos nós.
— Há mais alguma coisa? — Juro perguntou abruptamente. — Lorde
Raphael, também, fez uma longa viagem.
— Claro. Perdoe-nos, meu senhor. — Sr. Pêssego disse imediatamente. —
Se não houver objeções, Mestre Patterson gostaria de começar as negociações
amanhã à tarde em sua residência pessoal. — Ele estendeu o que parecia um
cartão de negócio excessivamente grande para Raphael, mas Juro interceptou,
tomando o cartão oferecido.
Sr. Pêssego parecia assustado com o movimento rápido de Juro, ou talvez
fosse por que o tamanho dele é facilmente o dobro do Sr. Pêssego. De qualquer
forma, deu a Juro um olhar inquieto, então mexeu no bolso da camisa que tinha o
cartão de visita, como se quisesse saber se ele deveria ter trazido mais, antes de
finalmente, dirigir-se a Raphael de novo — Esse cartão indica o local do encontro,
meu senhor. Posso dizer ao Mestre Patterson que você concorda?
Raphael não disse nada por um longo tempo, longo o suficiente para que
Pêssego e Azul tivessem ambos um distinto e desconfortável olhar, enquanto o nerd
Donovan Willis parecia apenas divertido. Interessante.
— Estaremos lá. — Raphael disse finalmente, com um pequeno sorriso que
parecia brincar sobre sua boca, embora fosse difícil ver os detalhes nas filmagens
de segurança.
— Excelente, meu senhor — Pêssego disse.
Se não fosse um vampiro, Cyn teria jurado que Pêssego estava suando com
a preocupação, o que era estranho considerando que seu único propósito essa noite
era ser parte de um glorioso comitê de boas-vindas. Sem o colar havaiano. Mas a
fonte dessa preocupação – parte da má atitude geral de Raphael, é claro – ficou
evidente nas suas próximas palavras.
— Uh, isto é, desculpe-me, Lorde Raphael, mas...
Raphael não facilitou para o cara. Ele apenas assistiu, esperando ele
gaguejasse isso para fora.
— Os, ah, termos da negociação estipulam que as partes da, eh, negociação,
tragam apenas um convidado cada um para o encontro.
Raphael inclinou a cabeça para o vampiro gaguejante, o que fez literalmente
Pêssego dar um meio passo para trás antes de se firmar e ficar parado.
— Esses eram os termos — Raphael disse.
O que ele não fez, Cyn notou, foi concordar. Mas Pêssego claramente usou
seu último fragmento de coragem e decidiu não empurrar Raphael para um
compromisso mais específico.
— Obrigado, meu senhor, e novamente, bem-vindo às ilhas. — Ele disse,
dando uma pequena saudação e apressou-se para a porta da frente, com Azul se
arrastando em seu rastro.
Donovan Willis, por outro lado, observou os dois vampiros com uma óbvia
antipatia antes de segui-los para fora. Em um último minuto, ele virou-se e deu a
Raphael um olhar penetrante, e Cyn poderia jurar que havia algo que ele gostaria
de dizer. Mas, então, ele deu uma pequena sacudida na cabeça e com aparência
relutante, seguiu o rastro de seus companheiros.
Cyn esperou até a porta da frente ser fechada, até que a câmera de
segurança da frente mostrasse seus visitantes entrando no carro e dirigindo de
volta, e então, ela empurrou a cadeira para trás e se dirigiu para a porta do quarto-
seguro. Antes de alcançá-lo, de qualquer forma, a porta oculta guinou aberta e
Raphael apareceu. Ela foi direto para seus braços, sentindo como se ele estivesse
em perigo, mesmo que nenhum dos três representavam uma real ameaça. Ao
menos, não que ela pudesse dizer.
— Você não está realmente... –— Cyn começou a protestar, mas Raphael a
levou de volta para a entrada e esperou até Juro fechar a porta segura antes de
colocar todos dentro da sala de segurança.
— Eles estavam mentindo sobre Patterson, meu senhor. — Juro grunhiu
em sua voz profunda. — Eles são tolos por pensar que podem mentir para você?
— Estavam mentindo — Raphael concordou. — Apesar disso, suas
motivações são mais difíceis de discernir. É possível que eles não estejam
completamente informados. Conheço as pessoas de Patterson, no entanto, nenhum
desses dois eram dele.
— Poderiam ser novos? — Cyn perguntou
— Eles não são — Raphael disse simplesmente.
— Então, eles estão aliados com os europeus, e assumiram que você não
saberia diferenciar já que eles pareciam locais. Isso não cheira bem para seu amigo
Patterson.
— Não, não faz. Apesar disso, penso que ele não está morto ainda. Eles
precisam dele para ao menos fazer uma aparição amanhã à noite.
— E quanto ao nerd? — Cyn perguntou. — O humano. — Ela esclareceu,
sob o olhar interrogativo de Raphael. — Ele não parecia gostar muito do Pêssego e
do Azul.
— Pêssego e Azul? — Raphael perguntou com evidente divertimento.
— Essas camisas são novas, provavelmente, ainda tem a etiqueta nelas. E
se vestiram mais como gêmeos do que como vocês garotos. — Ela acrescentou,
gesticulando para Juro e seu irmão que estavam lado a lado contra a parede,
preenchendo a pequena sala só com eles dois. E adicionando Raphael, que não era
uma pessoa pequena, havia definitivamente uma abundancia de vampiro por metro
quadrado.
— O Nerd, como você o chamou — Juro comentou, — não era afeiçoado por
seus companheiros, contundo ele realmente queria muito colocar suas mãos no
sistema de segurança.
— Isso foi estranho. — Cyn disse. — Ele realmente não pensou que o
deixaríamos fazer isso, não é?
— Por mais que ele queria o acesso, não acredito que era o seu real propósito
vir essa noite. Será interessante saber mais sobre o Sr. Willis.
— Irei fazer algumas escavações. — Cyn ofereceu, esperando contribuir um
pouco mais do que apenas levantar os cotovelos sobre os monitores de segurança
numa pequena sala e passear pelas mansões.
— A casa que tínhamos sob vigilância mais cedo, antes que tivéssemos que
correr de volta para cá, é quase que certamente uma das deles — Raphael
comentou, mudando o assunto. — Detectei dez vampiros, dois dos quais eram
senhores, e outros mais como mestres, incluindo dois guardas.
— Não puderam trazer tantas pessoas com eles, então, provavelmente
trouxeram apenas mestres ou acima disso. Não trouxeram um contingente de
segurança completa, pois a maioria dos lutadores não são mestres vampiros.
Assim, os mestres que vieram estão fazendo um dever duplo. —Juro comentou,
então, puxou de seu bolso, o cartão que o Pêssego lhe deu. — O endereço bate com
a casa em que você esteve mais cedo, Sire. Embora, no local que a minha equipe
investigou, também encontrou ao menos um Lorde e vários vampiros com poderio
considerável. A assinatura de poder era considerável. Poderiam ter dez dessas
casas na ilha — ele acrescentou sombriamente. — Não temos noção de seus
números.
— E o nosso homem no aeroporto? — Raphael perguntou.
— Ele viu um jatinho particular chegando cinco dias atrás. Entrou
diretamente no hangar, mas ele foi capaz de ver que apenas cinco passageiros
desembarcarem. Todos vampiros, mas ele não sensível o suficiente para determinar
seus níveis de poder. Julgando pela sua linguagem corporal e dos outros ao seu
redor, ele ousou supor que dois eram, se não lordes, pelo menos mestres
poderosos. Seguindo minhas instruções, ele não os seguiu do aeroporto, mas
permaneceu observando. Não houve mais chegadas desde então, mas ele é só um
homem, e apenas esteve lá por uma semana. É inteiramente possível que seus
inimigos vêm se agrupando há um tempo.
Cyn se aproximou de Raphael, deslizando sua mão na dele, enquanto seu
estômago se embrulhava com medo. Juro estava certo. Os caras maus aprenderam
com o México. Eles trouxeram mais poder de fogo desta vez. Maior em quantidade
e poder vampiro. Talvez muito mais.
Raphael apertou os dedos de Cyn e suspirou. — O que você faria no meu
lugar, Juro? Deveria ir para casa, recusar me encontrar com eles?
Juro franziu a testa, conflito estava escrito por todo o seu rosto.
Claramente, parte dele que era ferozmente leal ao Raphael queria que o seu Sire
fizesse exatamente isso. Ir para casa e deixar a luta chegar por si própria no
território deles. Mas o chefe de segurança nele, a parte que olha para toda situação
e pesava os prós e contras, sabia que eles tinham que ficar. Todo o continente
estava em risco, não apenas o Oeste, e eles precisavam saber mais sobre o inimigo,
mais sobre suas forças e fraquezas. Agora mesmo, eles não tinham sequer uma
certeza sobre os Lordes Europeus que estavam por trás da invasão. A carta que
eles enviaram não estava assinada por nenhum lorde vampiro. Raphael tinha feito
sua compreensão, sua oposição, da pauta de expansão bem clara. E a tinta de
sangue sozinha tinha sido o suficiente para ele tomar a sério esse convite.
— Não, meu senhor, — Juro finalmente falou com uma aceitação relutante
— acredito que deveríamos pelo menos ir nos encontrar com eles. Ele abriu a boca
para falar mais, mas Raphael levantou a mão o parando.
— Você me acompanhará no encontro amanhã, é claro. Levaremos uma
escolta de segurança completa, e depois os deixaremos parados perto, no caso de
precisarmos.
— Cynthia... — Juro começou, mas Raphael o cortou.
— Permanecerá aqui, — Raphael disse, virando com um olhar suave na
direção dela. — Nós concordamos com isso.
Juro encontrou o olhar de Cyn, suas sobrancelhas levantaram em questão.
Ela concordou. Não estava feliz com isso, mas ela entendia. Fazia sentido ter um
backup que o inimigo não sabia.
Raphael puxou Cyn para mais perto ao seu lado e disse a Juro, — Se você
quiser, chame Jared e informe-o sobre esses últimos eventos. Amanhã à noite,
teremos uma equipe pronta para sair uma hora antes do pôr-do-sol.
— Sire — Juro aceitou.
Raphael acenou com a cabeça para Juro e Ken'ichi, em seguida, puxou Cyn
pelo corredor até o quarto deles.
Uma vez dentro, Cyn deixou Raphael digitar o código de acesso e atravessou
para o closet. Antes dessa noite, ela estava meia convencida de que Raphael havia
pedido para ela ser o “Plano de backup” dele simplesmente como uma maneira de
mantê-la ocupada e fora de seu caminho. E ela ainda achava que sua preocupação
com sua segurança desempenhava um papel em sua decisão. Entretanto, havia
mais do que isso. Sua necessidade de suporte era real e ela precisava colocar o seu
traseiro na reta.
Ela percorreu mentalmente sua lista de verificação mental. Primeiramente
precisaria garantir um abrigo seguro. Ela tinha duas casas de segurança mais ou
menos preparadas para vampiros, uma aqui em Kauai e outra em Diamond Head
em Oahu. Assim, risque isso da lista. Próximo, escapar da ilha. Riscado. O primo
de Luci assegurou a ela que ele está disponível 24 horas por dia na próxima
semana, se necessário.
Próximo da lista era o plano de fuga, e ela percebeu enquanto caminhava
pela selva com Raphael esta noite, que ela não conhecia muito bem a área ao redor.
E se eles tivessem que mudar de rota de estradas? Ou se eles precisarem desviar
da rota para o aeroporto? Ou simplesmente um jeito de sair dessa propriedade sem
que seja por aquela longa, vulnerável e muito óbvia entrada?
Ela e Robbie precisavam adquirir um veículo não rastreável com um bom
GPS e fazer alguma exploração. Quando elas terminassem, eles precisariam
guardar o veículo fora do local, preferencialmente sem que haja uma longa
distância, caso precisassem de uma fuga por meio da selva.
Sua cabeça estava cheia com todos esses detalhes conforme, ela sentava
para desatar a bota de combate que vestira para a caminhada na selva. Atirando
as botas para o lado, ela tirou sua camisa por sua cabeça e tinha apenas abaixado
o zíper da sua calça quando um par de mãos grandes quentes estendeu a mão para
cobrir o seio dela, os polegares dedilharam asperamente seus mamilos apesar da
renda do sutiã.
— Vem para cama, lubimaya. — Raphael murmurou, roçando seus dedos
sobre sua costela e descendo, escorregando para o cós do jeans e mergulhando em
sua calcinha.
Cyn virou em seus braços, estendendo a mão para puxá-lo para baixo, para
um beijo quente, suculento e cheio de desejo.
— Você está vestindo muita roupa. — Ela sussurrou contra seus lábios.
Raphael parecia mais interessado nas roupas dela, empurrando o jeans e a
calcinha para baixo, ele encheu sua mão nas duas esferas gêmeas de sua bunda,
apertando e soltando, conforme ele a levantava até a dura ponta de sua ereção que
encaixava perfeitamente na fenda entre suas coxas.
Cyn gemeu suavemente e flexionou seu quadril contra a protuberância de
seu zíper, então percebeu, descontente, que estava nua, suas calças ao redor de
seu tornozelo, enquanto Raphael permaneceu completamente vestido. Atirando-se
contra seu aperto, ela retornou para seus pés e atracou-se nos botões da camisa
dele. Claramente, decidindo que estava levando muito tempo, Raphael rasgou sua
camisa, mandando os botões voando.
Rindo selvagemente, Cyn empurrou a camisa de seus ombros, então
inclinou-se para provar a perfeita pele macia de seu peito, lambendo seu caminho
de um mamilo para o outro, parando apenas tempo o suficiente para seus dentes
fecharem ao redor dos pequenos e duros mamilos, mordendo forte o suficiente para
Raphael sibilar de prazer, enquanto ele finalmente soltava os botões e o zíper de
sua calça.
Deixando-os cair no chão, ele levantou Cyn e saiu da pila amarrotada de
roupas, andando a passos largos pela pequena distância até a cama. Ele não a
atirou como normalmente fazia, mas a depositou no colchão muito macio e a seguiu
para baixo, rapidamente a cobrindo, deixando-a sentir todo o peso do corpo dele:
as firmes curvas e planos de seus músculos, o longo comprimento de suas pernas
e a estreiteza de seus quadris enquanto deslizava entre as coxas delas e espalhavas
suas pernas amplamente ao redor dele.
Ele se curvou para beijá-la, seus dedos enrolando em seus cabelos,
forçando sua cabeça para trás enquanto sua boca movia dos lábios dela para a lisa
linha de seu pescoço, sugando sua pele acima de sua jugular duro o suficiente para
doer, duro o suficiente para que ela tenha um chupão de ensino médio na manhã
seguinte. Duro o suficiente para sua veia dilatar, ávida para os toques de seu
canino. Mas ele não a mordeu, tranquilizando o seu tormento com carícias de sua
língua em vez disso, mesmo quando ele liberou o aperto do cabelo dela e segurou
sua cabeça suavemente, seu polegar acariciando as maças do seus rosto.
Cyn encontrou o olhar de seus olhos negros quando ele se inclinou para
beijá-la de novo e o que ela viu lá engrossou sua garganta com emoções. Os beijos
dele era terno e cheio de sentimento, conforme sua mão escorregou sobre seus
ombros até suas costas e a trouxe para perto, até que não havia nenhum
centímetro de espaço entre eles quando ele deslizou seu duro e quente pau dentro
dela.
Sobrecarregada com as emoções, com a sensação de que Raphael estava
tocando cada e todo centímetros dela, Cyn fechou seus olhos e se agarrou a ele,
alisando a curva dos músculos de suas costas, o firme inchaço de sua bunda, e de
volta para agarrar-se a ele tão firmemente quanto podia, desejando que eles
pudessem esquecer o resto do mundo, as ameaças dos vampiros europeus, os
milhares de vampiros em casa que estavam esperando por Raphael para protegê-
los, para fazer o mundo deles seguro. Eles não se importavam com o que iria custar
a ele, não se importavam com os outros vampiros que possivelmente morreriam, e
sobre o fato que Raphael arriscava sua vida uma e outra vez para eles pudessem
viver suas vidas sem preocupações.
O quadril de Raphael empurrou lentamente, seu pênis deslizava para
dentro e fora dela, escorregando facilmente no creme de sua excitação, seu
envoltório afagando e soltando-o, enquanto ele fazia amor com ela.
Cyn franziu a sobrancelha quando algo clicou em seu cérebro. Seus olhos
abriram-se, suas pernas cruzaram sobre a curva da bunda do Raphael, e ela
empurrou o peito dele antes de forçá-lo a olhar para ela.
— O que você está fazendo? — ela exigiu.
Raphael lhe deu um olhar interrogativo, mas não disse nada.
Os olhos de Cyn se estreitaram. — Não faça isso, Raphael. Não se atreva.
— Fazer o quê? — Ele perguntou, seu rosto cuidadosamente em branco.
Muito em branco. E Cyn sabia que estava certa. Ele não a estava fodendo, nem
mesmo fazendo amor com ela. Não, ele estava dizendo adeus porque não esperava
sobreviver a próxima noite.
Bem. Foda-se. Isso.
Cyn deixou as pernas dela cair em ambos lados de seu quadril, então
empurrou duramente, rolando-os até que ela estava no topo, sentada sobre ele,
encarando-o, quase muito furiosa para falar. Quase.
— Você não vai dizer adeus para mim assim. Não vai dizer adeus de
qualquer forma. Você me prometeu que iria voltar, e isso não significa que irei
conseguir as suas cinzas numa caixa, está me ouvindo? Ninguém pode te matar a
não ser eu, e eu juro, Raphael, irei estacá-lo eu mesma se você os deixar te matar.
Um canto de sua boca sensual se curvou em diversão com a sua ameaça
ilógica, e ela rosnou, na verdade, grunhiu para ele. O que fez o sorriso dele ainda
maior.
— Talvez eu simplesmente queira sentir o conforto da suave e doce carne
da minha companheira antes de ir para a batalha.
Cyn deu-lhe um olhar duvidoso, mas sorriu. — Neste caso, você tem a
mulher errada.
Raphael envolveu ambos braços ao redor dela e os rolou de novo, ficando
mais uma vez no topo. — Eu tenho exatamente a mulher que quero, lubimaya. Não
há outra.
Ela o encarou por um longo momento, tentando ver a verdade em seu olhar
cheio de estrelas — Eu te amo — ela disse solenemente — Não sobreviverei sem
você. Não quero.
A expressão do Raphael tornou-se feroz em um segundo. — Não diga isso.
— Ele rosnou.
— Por que não? — Cyn demandou. — É a verdade. Se algo acontecer com
você, eu...
— Você viverá sua vida.
Cyn lhe deu um sorriso presunçoso. — O mesmo para você, garoto presas.
Creio que vamos ter os dois que sobreviver, hein?
A única resposta de Raphael foi começar a se mover de novo, afundando
profundamente dentro de sua buceta em cada estocada, e depois, puxando para
fora quase que completamente, provocando-a por uma pulsação, e mergulhando
em todo seu percurso mais uma vez.
Cyn envolveu suas pernas ao redor do seu quadril, seus tornozelos cruzados
sobre sua bunda, seus braços ao redor das costas dele, mãos largas a segurava
próximo a ele enquanto suas bocas se encontravam num beijo que era muito mais
do que línguas e dentes. Isso era uma profusão do amor, do desejo, da promessa
não só de sobrevivência, mas de proteção.
Os dentes de Raphael perfuraram as gengivas dele, rasgando os lábios de
Cyn enquanto o beijo deles mudava, tornando-se quente e apaixonado ao mesmo
tempo em que os impulsos de Raphael tornaram-se mais forte, rápidos, seu quadril
batendo dentro dela, os poderosos músculos se juntando e soltando. Cyn sentiu a
áspera roçada de sua língua enquanto ele lambia o sangue dos lábios cortados
dela, também, sentiu o gemido rugir em sua garganta quando ela o mordeu de
volta. Ele ergueu a cabeça com um grunhido, seus olhos selvagens com brilho
prateado na luz fosca, sua presa enchendo sua boca conforme ele se inclinava no
pescoço dela. Sua respiração era quente contra a pele por um breve momento, e
então, a mordeu. Pontos afiados cortaram a pele, sua veia revelando-se com sua
chupada, tomando uma longa, suave sucção de sangue. A euforia da mordida
correu pelo sistema de Cyn, decolando ao longo de seus nervos, mandando ela
instantaneamente para um clímax que arqueou suas costas. Ela gritou, sua cabeça
jogou-se para trás, suas pernas cruzadas ao redor dos seus quadris estreitos ao
mesmo tempo em que o seu interior apertou-se ao redor do pênis dele, ondulando
ao redor do seu cumprimento duro, acariciando, o incitando a se juntar a ela.
Raphael ergueu a cabeça, as presas se distanciando de sua veia, sua língua
raspando a ferida aberta sem pensar, conforme seu quadril martelava entre as
pernas de Cyn, sua virilha moendocontra ela em cada estocada. Seu pau inchou-
se enquanto a buceta de Cyn apertava e alargava, até que finalmente seu orgasmo
se extravasou para fora numa abrasadora onda de prazer que uniu suas vozes em
êxtase.
Cyn enterrou-se nos braços de Raphael, envolvida pelo calor de seu clímax.
Ele se esticou para se mover, tirando o seu peso dela, mas ela o segurou por um
momento mais, saboreando o bater do coração contra seus seios, o calor de sua
respiração contra o pescoço dela enquanto ele lutava para retornar o seu controle.
Um controle que ela o fez perder. Ela acariciou calmamente as costas dele, o
confortando por essa prova de que ela não única aniquilada pelo sexo.
Sem aviso, ele a pegou em seus braços e a rolou para suas costas. O ar frio
fluiu sobre sua pele aquecida e ela estremeceu. Raphael jogou os cobertores sobre
eles, segurando-a até que ela estava quente de novo.
— O sol está subindo, minha Cyn — ele murmurou, encostando os lábios
no topo de sua cabeça.
— Estarei aqui quando você acordar.
— Mas você tem planos para o dia — ele disse secamente, interpretando
corretamente suas palavras.
— Mais coisas de backup. Robbie estará comigo. Seremos excepcionalmente
cuidadosos.
Ele suspirou, um longo estouro que soou mais exausto do que ela alguma
vez o ouviu.
Seu peito apertou com um medo estranho. — Raphael? — ela se apoiou em
seu cotovelo para olhar para ele, mas ele já tinha ido. Descansando a bochecha em
seu peito, ela esperou que pelo ritmo constante e lento da batida do coração, e da
profunda expansão do pulmão. Ela suspirou aliviada quando os sinais de vida
esperados vieram a vida como costumeiro. Sentando-se, ela estudou seu rosto,
escovando seu preto e curto cabelo com seus dedos.
Tudo estava bem. Normal. Por enquanto.
Mas essa noite, ele estaria se encontrando com o inimigo, e isso era outro
assunto. Ela sabia que não era a única preocupada, mas ela parecia ser a única a
pensar em simplesmente dizer para irem se foder e ir para casa. O problema era
que, embora, todos acreditassem que os vampiros europeus estavam tentando algo
desonesto, eles também acreditavam que Raphael era poderoso o suficiente para
derrotar ou ao menos, sabotar o que quer que fosse. Raphael era um poder como
o mundo nunca antes viu. Era quase inimaginável que alguém pudesse vencê-lo.
Infelizmente, Cyn poderia imaginar tudo isso facilmente.
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Cyn se pôs de pé, enquanto Raphael e os outros partiram. Ela não foi até a
porta. Se seus inimigos estivessem observando a casa, eles não queriam que
alguém a visse ou a reconhecesse. Especialmente desde que havia uma
possibilidade de quererem sequestrá-la e usá-la contra Raphael. Além disso, ela e
Raphael disseram adeus antes deles sequer chegarem até a sala de estar. Não havia
mais nada a ser dito.
Isso não a impediu de correr para o quarto de segurança na passagem
escondida para observar Raphael subir na limusine com Juro. Ken’ichi estava
ficando na casa com ela, assim como Elke, mas Raphael estava levando o resto da
sua guarda vampira, um total de doze dos seus melhores guerreiros, com ele. Um
deles estava dirigindo a limusine, enquanto Juro sentava no banco de passageiro
na frente, e Raphael atrás sozinho. Isso fez o coração dela doer que ela não estivesse
lá com ele, mas era por boas razões. Assim como havia boas razões para Juro
sentar-se na frente ao invés de se unir com Raphael no banco de trás.
Aparentemente, era tudo sobre propriedade quando se tratava desses velhos
vampiros, e Raphael estava simplesmente jogando um jogo, acalmá-los em
complacência e nada mais.
O resto dos guardas estavam empilhados em outras duas SUVs, deixando
um único veículo na casa para Cyn e para os guardas humanos, que eram todos
os que tinham ficado para trás. Normalmente, esses guardas estariam finalizando
os seus dias, jantando, relaxando, indo dormir cedo para ficar pronto para o início
do amanhecer. Mas não hoje. Ninguém estava relaxando essa noite. Eles estavam
se preparando para a luta, e empacotando para ir embora ao mesmo tempo.
Ninguém sabia exatamente o que essa noite traria, Cyn sabia menos ainda. Mas
todos esperavam voltar para casa e terminar com isso.
Assim que Raphael foi embora, Cyn deveria empacotar suas coisas e se
preparar. Roupas, ela poderia viver sem ou comprar seja lá o que precisasse, mas
as armas era outra questão. Ela tinha checado as leis armamentistas do Havaí
antes de sair de LA. Com uma residência legal e tempo o suficiente, podia-se obter
a autorização e a aquisição de qualquer coisa menos uma metralhadora. Mas
enquanto ela provavelmente poderia enganar sobre a residência, tempo era algo
que não tinha se tudo desse em merda. Então, ela trouxe seu próprio arsenal. A
mochila duffle2, guardada no closet que ela compartilhava com Raphael, estava
cheia de equipamentos ostensivamente ilegais, mas muito necessários. Continha
principalmente armas, um par de facas, e munições, 90% dos quais Cyn chamava
de assassinos-de-vampiros. Havia também, um colete de balística feito sob medida
desde que ela tinha dificuldades para caber, e também, era uma dor na bunda
vestir um colete. Ela pediu a Robbie para trazer seus equipamentos, embora ela
duvidasse que havia necessidade de pedir. Mesmo que ele não fosse o excelente
guarda-costas que era, seus anos no exército o deixou com hábitos que eram
difíceis de serem quebrados. Bons Hábitos, no ponto de vista de Cyn. Ela tinha
certeza que nem todo mundo iria concordar com isso, mas foda-se eles.
Ela observou até que nem sequer as luzes traseiras vermelhas pudessem
ser vistas, e então, ela voltou para o seu quarto para se preparar. E sim, claro, ela
esperava pelo melhor, mas em sua experiência, esperança era um frágil escudo.
Ela estava se preparando para o pior.
2
Duffle – estilo de mochila cilíndrica de tecido, muito usada pelo exército.
Capítulo 07
RAPHAEL ACENOU COM a cabeça para seu destacamento de guardas
vampiros, dizendo-lhe sem palavras para estar preparado. Eles discutiram o que
poderia vir desta noite, considerando todos os possíveis resultados que poderiam
imaginar. Seus guardas sabiam o que fazer.
Previsivelmente, seus anfitriões vampiros proibiram os guardas de Raphael
de se aproximarem da casa. Eles foram parados há umas boas centenas de metros
abaixo da estrada, antes do desvio para o curto caminho. Mesmo seu motorista
teve que sair e se juntar aos outros.
Apenas Juro foi permitido de continuar seu caminho com ele, que não era
nada mais do que eles tinham esperado. Enquanto ele saia da limusine, Raphael
olhou a residência. Havia dez vampiros presentes, três deles eram senhores.
Nenhuma surpresa aí também. Eles não queriam encará-lo com menos que isso.
Ele e Juro subiram as escadas. Um único mestre vampiro estava em pé
dentro da porta da frente aberta, olhando para Raphael com visível desgosto.
— Godard, — Raphael disse friamente, reconhecendo o outro vampiro. —
Estou assumindo que sua presença significa que Mathilde está lá dentro. Você
ainda é seu cão de ataque, ou ela finalmente cumpriu suas promessas, e elevou
você até sua cama?
Os olhos de Godard brilharam com raiva, antes que ele parecesse se lembrar
de quem ele estava encarando. Ou isso, ou ele simplesmente lembrou que sua
senhora, a Lady Mathilde, não perdoava os criados que desobedeciam a ela.
— Raphael, — Godard zombou. — Minha senhora, está ansiosa para
renovar o seu conhecimento depois de tanto tempo.
— Ela está? — Raphael perguntou, mais curioso do que ele admitiria para
um verme como Godard. O vampiro realmente tinha sido mais do que o cão de
ataque de Mathilde todos aqueles anos atrás, antes de Raphael deixar a Europa.
Godard fora seu torturador, um trabalho que ele abraçara com muito entusiasmo.
A presença de Mathilde aqui no Havaí não era uma surpresa, no entanto.
Ela era uma vampira poderosa, e certamente ambiciosa o suficiente para querer
mais do que a Europa tinha a oferecer a ela. Que ela tinha trazido Godard... isso
era mais preocupante. Embora fosse inteiramente possível que o vampiro sádico
tivesse finalmente chegado tão perto de Mathilde como ele sempre tinha desejado.
Armado com o conhecimento de pelo menos um dos senhores que ele iria
encontrar, Raphael avançou com cautela. Esta era a residência que ele e Cyn
haviam descoberta há duas noites, e nada havia mudado. A diferença desta noite
era que Raphael estava dentro, perto o suficiente para pesar o poder combinado
daqueles reunidos aqui e medi-lo contra o seu próprio. A assinatura de poder na
casa surgiu querendo que ele achasse tanto reconfortante, como não.
Se necessário, ele poderia ficar sozinho contra cada vampiro aqui,
individualmente ou todos de uma vez. Mas eles tinham que saber disso. E quanto
a todos aqueles vampiros que Juro tinha detectado na outra casa próxima. Onde
eles estavam? Por que trazê-los para a ilha, se os senhores europeus não iam usá-
los para enfrentar Raphael?
Ele trocou um olhar de conhecimento com Juro, que era poderoso o
suficiente por si mesmo para ter calculado a força reunida e inteligente o suficiente
para ter captado o mesmo problema preocupante.
Permitindo a ele mesmo não mais do que um olhar, no entanto, Raphael
manteve seu rosto cuidadosamente sem expressão – aquele que Cyn chamava de
sua cara de mestre do universo – enquanto ele seguia o vampiro que encontrou
eles na porta e que agora estava os escoltando do hall para a sala onde ele podia
sentir os três senhores vampiros esperando por ele. Ele reconheceu Mathilde agora,
como um deles. Mas ele pegou o gosto de outra mente familiar, e sabia que Rhys
Patterson, o mestre das Ilhas Havaianas, estava esperando ali também. Raphael
sentiu um momento de alivio por Patterson ainda estar vivo; ele temia o pior depois
de conhecer a delegação de boas-vindas na outra noite. Mas ao mesmo tempo, a
presença do havaiano o preocupou. Tinha Patterson conspirado com os Europeus
depois de tudo? Ou eles estavam usando-o?
Godard abriu um par de portas de correr, depois recuou, convidando
Raphael a entrar primeiro. Juro bufou em desdém e pisou na frente do outro
vampiro, não tão sutilmente escovando contra ele quando passou e jogando o
vampiro muito menor alguns passos para trás. Juro parou, impedindo Raphael de
entrar enquanto examinava a sala e seus ocupantes, a cabeça girando lentamente
de um lado para o outro.
Raphael esperou pacientemente, embora já suspeitasse das identidades dos
três senhores dentro da sala. O gosto de suas mentes se tornara mais forte a cada
passo que ele tomava para dentro da casa. Havia muito tempo desde que ele deixara
a Europa, mas não tanto que esqueceria qualquer um dos velhos senhores, os que
se recusaram a abrir espaço para ele apesar de sua óbvia superioridade no poder.
Os mesmos que tinham agora trazido os vampiros de dois continentes à beira da
guerra por causa de sua persistente recusa em reconhecer os poderes crescentes
entre eles.
Na frente dele, os ombros maciços de Juro se ergueram em uma respiração
profunda, então lentamente exalou enquanto ele se virava e se curvava para
Raphael. — Mestre, — ele disse simplesmente, seus olhos dizendo tudo o que ele
não podia, ou não diria, na frente de seu público. Juro odiava isso. Ele viu sua
necessidade, mas odiava.
Raphael deu a seu chefe de segurança um meio sorriso, descansando uma
mão sobre seu ombro brevemente, enquanto ele passava.
Eles esperavam por ele em uma fila, de pé ali vestidos em sua elegância
como algo fora de um drama de fantasia da televisão pública americana. Mathilde
era a mais forte dos três. Ela governava um território significativo no sul da França,
que incluía Nice, e era uma das mais opostas a compartilhar. Ela também era a
Mestre do recém-falecido Damien, o vampiro que, há poucos dias atrás, tinha sido
um convidado na sala de interrogatório de Raphael. Raphael tinha ficado um tanto
surpreso ao saber do parentesco de Damien, uma vez que se for de Mathilde, jovens
vampiros que se mostravam muito poderosos eram destruídos logo após o seu
despertar. Ela gostava de seus jovens machos bonitos e apenas fortes o suficiente
para servir seus propósitos, sem serem ameaçadores. Ela tinha gostado de Raphael
uma vez, até que ela descobriu as profundezas de seu poder. E então ela tinha
virado os olhos para outro lugar. Eles tinham uma história, ele e Mathilde. E ele
não se surpreendeu ao encontrá-la ao leme desta invasão.
Mas Mathilde sozinha não era párea para Raphael, e ela sabia disso. Foi
por isso que ela enviou Damien e sua flha Violet para enfrentar Raphael em vez de
fazê-la sozinha. E a razão pela qual ela não estava sozinha contra ele agora.
Os dois que estavam com ela nesta noite eram Berkhard de Munique e
Hubert de Lyon. Poderes significativos em seu próprio direito, embora um passo
abaixo de Mathilde. Mas, mesmo com os dois machos ao seu lado, Mathilde não
poderia derrotar Raphael, o que o fez pensar, mais uma vez, por que ela insistiu
nessa reunião.
— Raphael. — Foi Mathilde quem falou primeiro, sua voz, o chilrear infantil
de uma menina muito mais jovem, embora ela tivesse sido uma mulher casada em
seus vinte e poucos anos quando ela foi levada e tranformada por seu agora morto
Mestre. Ela estava lá em um vestido azul pálido de cetim que sua irmã morta
Alexandra teria apreciado. Raphael quase esperava que ela levantasse as saias e
fizesse uma reverência como a dama aristocrática que uma vez fora.
Ele olhou para Berkhard e Hubert, em suas roupas formais pretas,
esperando que eles expressassem suas próprias saudações. Mas eles claramente
designaram a parte faladora da noite para Mathilde, pois nenhum dos machos
ofereceu nada além de um aceno de cabeça em reconhecimento, permanecendo em
silêncio como se estivessem mudos.
O olhar de Raphael então viajou além da linha de saudação para Rhys
Patterson, que estava a vários passos atrás dos três senhores. Ele estava vestido
como Raphael, embora sem a gravata. Rhys estivera nas Ilhas há tanto tempo, que
provavelmente já não possuía uma gravata. Seu olhar estava fixo em Raphael, como
se ele quisesse de dizer alguma coisa, ou estava tentando comunicar alguma
mensagem silenciosa. Mas fosse o que fosse, Raphael não estava recebendo.
Raphael não permitiu nenhuma reação aparecer em sua expressão ou linguagem
corporal, mas interiormente ficou consternado com essa evidência de que Rhys não
era um participante voluntário. Lembrou-se dos dois vampiros desconhecidos que
apareceram como os emissários do senhor havaiano. Teria Mathilde e sua
tripulação prejudicado o povo de Rhys, ou ameaçado fazê-lo?
Raphael virou um olhar fixo para Mathilde, encontrando seus olhos azuis
pálidos. — Mathilde — ele reconheceu. — Berkhard, Hubert —acrescentou,
olhando para cada um dos outros.
— Você está parecendo bem, Raphael, — Mathilde disse com agrado, como
se fossem velhos amigos se cumprimentando.
Sua boca mal se moveu em um sorriso divertido. — Estamos fingindo gostar
um do outro agora, Mathilde? O que você quer?
Ela fez um tsk com a boca. — O teu tempo no Novo Mundo te endureceu —
ela repreendeu-o. — Não podemos nos comportar de forma adequada às nossas
posições?
Raphael sorriu ligeiramente. — Nossas posições, Mathilde? Nasci filho de
um camponês moscovita. Acredito que meu comportamento está bem de acordo
com a minha posição.
Sua boca franziu com repugnância. — Muito bem. — Ela deu um passo
para a frente e ofereceu um aperto de mão, embora fosse mais como uma bela
dama oferecendo a mão para ser beijada por alguém indigno de honra.
Ele deu o meio-passo necessário para aproximá-lo o suficiente, então pegou
seus frágeis dedos em sua mão muito maior... E várias coisas aconteceram ao
mesmo tempo.
Do outro lado da sala, a mente de Rhys Patterson subitamente emitiu um
aviso. Raphael só teve tempo de explodir uma advertência antes que uma força
invisível se encaixasse no lugar com um som como um trovão, e bandas de metal
rodeavam seus pulsos, metal tão frio que queimava, chamuscando sua carne e
marcando seus ossos.
Juro rugiu sua fúria enquanto Raphael caía de joelhos, balançando a
cabeça enquanto ele lutava para colocar seus pensamentos juntos. Ele pegou seu
poder, mas pela primeira vez em quase 500 anos, ele não estava lá. Ou melhor,
estava, mas ele não podia alcançá-lo. Era como se um grande peso estivesse
pressionando para baixo sobre ele e tudo o que ele poderia fazer simplesmente era
lembrar quem ele era e o que ele estava fazendo ali.
Mas, no entanto, Raphael não tinha vivido todos esses séculos sem
aprender algumas coisas. Ele não tinha o poder, mas ele ainda tinha seu intelecto.
Obrigando-se a ignorar o medo tentando sufocar a vida dele, o medo não por si,
mas por o seu povo, por Juro... por Cyn – ele avaliou a situação usando tudo o que
sabia, tudo o que ele tinha aprendido, e que ele encontrou era ambos aterrorizados
e isso enfureceu-o.
Seu povo sabia que havia mais vampiros na ilha do que poderia ser contado,
mas eles não tinham chegado perto de adivinhar os números reais. Violet tinha
advertido os europeus depois do México. Ela tinha-lhes dado prova de que dez não
era o suficiente. Mas eles não duplicaram ou mesmo triplicaram esse número. Eles
trouxeram dez vezes esse número, mais que Raphael podia adivinhar com precisão.
Mathilde e os outros devem ter se protegido como loucos para esconder tantos de
sua descoberta. Havia mais de cem vampiros mestres dispostos contra ele em
algum lugar, suas mentes trabalhando em conjunto, e cada um deles se
concentrava apenas em conter Raphael.
Ele tinha sido arrogante e um tolo. Cyn estava certa. Ele deveria ter matado
Violet quando ele teve a chance, antes que ela pudesse correr para casa para
compartilhar informações com Mathilde. Mas seu orgulho o fizera usá-la; uma
mensagem enviada a seus manipuladores de que eles não poderiam derrotá-lo, que
eles deveriam abandonar seus planos mal considerados de expansão para a
América do Norte. Ele não tinha considerado uma vez que eles iriam considerá-lo
um desafio. Que em vez de reconhecer sua força superior e recuar como vampiros
poderosos tinham feito por séculos, eles uniriam forças e se estabelecessem para
superar sua vantagem. Eles devem ter planejado isso por meses. Teria levado pelo
menos algum tempo para reunir tantos mestres vampiros. E como os moradores
não notaram? Havaí era um lugar relativamente insular. Você não poderia deixar
cair uma centena de vampiros em uma comunidade e esperar que ninguém
notasse. Como eles estavam sendo alimentados?
Ele estava errado sobre o México. Tão errado em sua arrogância. O México
não foi um grande gesto por parte de Mathilde. Estava planejando essa incursão
muito antes do México. Ela certamente tinha aprendido alguma coisa com aquele
confronto, mas era perfeitamente possível que todo o fiasco tivesse sido planejado
simplesmente para enganá-lo em complacência, em acreditar que eles ainda
estavam por fora e falhando.
— Pare-o, Raphael, ou eu vou matá-lo.
A voz infantil de Mathilde trouxe Raphael, arrastando-o de volta para a sala
onde Juro estava de pé sobre ele protetoramente, jogando de lado vampiro após
vampiro enquanto eles tentavam forçá-lo a se afastar. Mathilde e seus
companheiros conspiradores haviam recuado para a margem, é claro. Arriscando
nada de si mesmos, satisfeitos de ficar de pé e ver como seus próprios filhos eram
danificados ou destruídos em face da raiva de Juro.
— Juro, — Raphael disse.
Seu chefe de segurança lançou um último vampiro pelo quarto, então
parou, respirando pesadamente, mas com emoção, não tensão física. Juro poderia
ter jogado homens adultos por horas sem se preocupar.
— Senhor, — ele disse, sua voz cheia de dor.
Raphael descobriu que podia olhar para cima o suficiente e encontrar os
olhos de Juro. — Você sabe o que fazer — disse a ele.
Ele podia ver a negação no olhar atormentado de Juro, o desejo de negar.
Mas o grande vampiro era muito leal, muito disciplinado. Ele sabia o que tinha que
ser feito, e qual dado tinha que ser rolado.
Juro fechou os olhos enquanto ele puxou um suspiro resignado pelo seu
nariz, soltando com um longo suspiro antes de abrir seus olhos de novo e assentiu.
— Sim, Senhor.
Raphael sorriu. — Confie, Juro. E cuide do meu povo.
Juro assentiu de novo.
— É um bom rapaz, — disse Mathilde quase alegremente, como se já tivesse
ganho.
Raphael a odiava naquele momento, não tanto por si mesmo, mas por Juro,
por sua incapacidade de reconhecer a lealdade e a disciplina que levava para que
o grande vampiro permanecesse obediente a um Senhor que estava literalmente
ajoelhado diante dele, impotente. Para confiar que este não era o fim. Porque não
era. Aquela idiota da Mathilde podia pensar assim, mas Raphael sabia melhor. Ela
venceu a rodada, sem dúvida. Mas isso era guerra, e havia muitas batalhas ainda
por ser combatidas.
— Raphael ficará conosco — disse Mathilde, e Raphael percebeu que ela
estava falando com Juro, que a olhava com um ódio indiscriminado. — Mas você e
todos os seus vampiros e guardas voltarão a Los Angeles, ou de onde você for. —
ela acrescentou, desdenhosa, como se L.A. fosse alguma cidade de comércio de
gado no Oeste Selvagem Americano. — Estamos permitindo isso como uma
demonstração de boa fé.
Raphael duvidou que isso fosse verdade. Era mais provável que eles
estivessem sem vampiros fortes e não pudessem segurar seus poderosos filhos e
ele ao mesmo tempo.
— Você pode voltar para a propriedade de Raphael e defender seu território.
Nós buscamos apenas uma luta justa.
Foi tudo o que Raphael podia fazer para não zombar de seu rosto. Se eles
quisessem uma luta justa, eles teriam estado dispostos a enfrentar o senhor do
território de forma apropriada, em vez de desabilitá-lo com astúcia. Porque não era
só a centena de vampiros o segurando, eram as algemas de metal enroladas em
torno de seus pulsos como faixas de fogo frio. Elas eram antigas e cheiravam a
magia, e assim como os cem mestres que esmagavam seu poder vampírico, os
braceletes estavam roubando sua vontade, minando sua tremenda força física.
— Você partirá destas ilhas antes do nascer do sol, ou seu Senhor morre.
Raphael podia sentir o tormento de Juro. Eles tinham conseguido conter
seu poder, mas não o vínculo com seus filhos. O que significava... Cyn. Ela saberia
que algo estava terrivelmente errado agora. Seu coração estaria exigindo que ela
corresse até aqui para salvá-lo, mas ela era mais esperta do que isso. Ele estava
contando com isso. Concentrou-se brevemente na imagem dela em sua cabeça, o
intelecto por trás de seus belos olhos verdes, o sorriso perverso em seus lábios
exuberantes... seu coração leal e alma corajosa.
Eu amo você, minha Cyn. Ele não sabia se ela o ouviu ou não. Mas eles
estiveram separados antes e ele encontrou um jeito de alcançá-la. Ele faria isso de
novo. Não seria fácil; isso talvez levasse um dia ou dois para quebrar o aperto que
tinham nele. Mas ele faria isso. Ele não a deixaria sozinha. Ele não a deixaria. Não
desse jeito.
— Juro, — ele disse de novo, capturando a atenção do seu leal chefe de
segurança. — Você sabe o que fazer. — Ele repetiu firmemente.
A expressão de Juro ficou sombria e ele acenou com a cabeça. — Sim,
Senhor. Eu cuidarei disso.
— Obrigado. — Ele podia dizer que Juro queria dizer mais, mas qualquer
coisa que eles dissessem nesse ponto daria muito. Então eles trocaram um
silencioso adeus, então com um olhar final cheio de ódio para Mathilde e seu
pelotão, o grande vampiro japonês girou em seu calcanhar e saiu do quarto.
Deixando Raphael sozinho com seus captores.
— Me desculpe, Lorde Raphael. — A voz de Rhys estava baixa e áspera como
se ele não a usasse há um tempo. — Eles têm todas as minhas crianças. — As
emoções do mestre vampiro estavam repletas de arrependimento e medo, todas
genuínas o suficiente. Mas ele estava olhando para Raphael atentamente, como se
quisesse que ele entendesse algo que ele não estava dizendo.
Raphael olhou para ele, não dando nada de seus pensamentos. Haveria
tempo para descobrir o que Rhys estava tentando dizer a ele, mas por enquanto...
— Eu entendo, Rhys. Suas pessoas estão seguras pelo menos? Alguém foi ferido?
Rhys baixou a cabeça como se envergonhado, ou talvez em desespero por
sua falha em comunicar o que tinha sido a sua mensagem oculta. Quando olhou
para cima, seus olhos estavam cor de rosa com lágrimas não derramadas. — Tanto
quanto sei, estão bem e são fiéis ao legítimo senhor.
Raphael se permitiu um sorriso então, tanto para o benefício de Rhys como
para incitar seus captores.
— Seu legítimo senhor. — A voz ridícula de Mathilde interrompeu a troca
deles. — Nenhum de vocês sabe o significado disso — insistiu ela com estridência.
— Nós somos seus superores em todos os sentidos. Nós somos seus senhores
legítimos e em breve governaremos todos vocês como é nosso dever.
Raphael deslocou o olhar para a antiga fêmea, deixando que sua expressão
dissesse o que pensava dela e seus metros de cetim azul. — Esta é uma flagrante
violação da bandeira da trégua, Mathilde — disse ele calmamente. Sabia que ela
não se importaria. Isso era óbvio. Mas ele queria que fosse dito para o registro, por
assim dizer, para que mais tarde, ela não pudesse alegar que ele não tinha avisado.
— Pelas leis do nosso povo, esta ação é uma declaração de guerra.
Ela se irritou com o que ela sem dúvida considerava ser um sermão de sua
parte. — Conheço nossas leis, e você, Raphael. Mas seu povo se renderá
rapidamente, se sua vida estiver em jogo.
— Você pensa assim? — Raphael perguntou, deixando seu divertimento
mostrar.
Mathilde olhou fixamente, então recolheu o que restava de sua coragem em
um sorriso desprezo. — Estou ansiosa para conhecer sua mulher, Raphael. As
histórias que eu ouvi... — Ela balançou a cabeça. — Ridículo pensar que um único
ser humano poderia realmente realizar tudo o que eles atribuem a ela. Mas, então,
é parte da lenda, não é? — Ela olhou para a sua forma ajoelhada. — O grande
Raphael. Não estou impressionada.
Raphael permitiu que um sorriso perverso enrugasse seu rosto, enquanto
ele se lembrava do último vampiro que tinha dito isso a ele, e onde aquele vampiro
estava agora. Ele respondeu a Mathilde como fez com Damien. — Você ficará.
Capítulo 08
CYN PERAMBULOU PELA sala, incapaz de se manter quieta. Ela havia
começado na sala de controle da segurança, mas, como a caravana de Rafael havia
desaparecido, não tinha nada para ver. E mesmo ela sabendo logicamente que o
retorno do comboio apareceria na tela de segurança, ela não poderia ficar presa
naquela sala pequena por mais tempo.
Robbie apareceu alguns minutos depois que Rafael saiu. Ele andou
diretamente até Cyn e a puxou para um grande abraço, algo que mais ninguém
ousaria fazer. — Vai ficar tudo bem, docinho. Você vai ver.
Cyn retribuiu o abraço, mas não podia concordar com o que ele havia dito.
Ela tinha um pressentimento de que eles estariam fazendo trilha na selva antes do
fim da tarde, e só havia uma razão para isso acontecer. Por que tudo teria ido pro
inferno em uma manipulação. Se sentindo pronta para saltar fora de seu próprio
corpo, ela estava a caminho da sala de segurança, quando sentiu, uma onda forte
de poder que a fez se agarrar à soleira da porta, convencida de que o próprio planeta
tremia embaixo de seus pés. Em um minuto Rafael estava em sua mente, como
sempre, no próximo ele desapareceu. Sumu. Uma aterrorizante batida do coração
depois, ele voltou, mas estava mais fraco, tão fraco que ela mal reconheceu sua
essência, o vampiro poderoso que ela conhecia.
Ela deu meia volta e correu para a sala de estar, onde Robbie estava em pé
ao lado da janela, como se estivesse fazendo guarda.
— Prepare os equipamentos, Rob. — Disse ela com firmeza. — Estamos
saindo.
Ele a encarou. — Cyn? O que aconteceu? — Robbie não tinha nenhuma
ligação direta com Rafael. Ele não teria sentido nada do que ela vivenciou.
— Ainda não sei, mas é ruim. — Ela não gastou mais nenhuma palavra,
sabia que Robbie não esperaria por isso. A porta da estante de livros estava aberta,
ela se esgueirou pela abertura, disparando pelo corredor até o quarto que ela
dividia com Rafael. Elke apareceu da sala de controle.
— Cyn? — a voz de Elke estava tensa de preocupação, o mais próximo de
pânico que Cyn já tinha ouvido.
— Você sentiu aquilo? — ela perguntou pra Elke enquanto ela esmurrava o
código de entrada do quarto deles.
— O que foi aquilo? Rafael está...
Cyn virou com uma expressão raivosa. Rafael estava morto? Era isso que
Elke queria saber, mas estava com medo de perguntar. — Ele é o seu patriarca
Elke, — ela falou com rispidez, — você sabe a resposta disso. Elke assentiu,
rodando os ombros, balançando suas mãos e braços, como se estivesse
desativando seu próprio alarme.
— Você está certa. Desculpe. O que está fazendo?
— Medidas estão sendo tomadas...
— Que medidas? Não estou sabendo de nenhuma...
— Ninguém sabe. Rafael queria que fosse assim. Robbie e eu estivemos
trabalhando durante o dia, preparando as coisas. Mas a hora chegou. Esteja pronta
para sair.
Ken’ichi apareceu por trás de Elke. — Juro... — ele disse, sua voz que já é
grossa se tornou um barulho baixo de tensão, sua testa enrugada de preocupação.
Cyn teve que se esforçar para não encará-lo. Era mais emoção do que ela já tinha
visto em seu rosto geralmente impassível.
— Meu irmão está furioso... E aterrorizado.
Todo o fôlego deixou os pulmões de Cyn. O que seria necessário para
aterrorizar Juro? Agarrando a beirada da porta com tanta força que doía, ela olhou
para seu interior, procurando a centelha que era Rafael, seu aperto à porta era a
única coisa que a segurava em pé quando ela o encontrou, encontrou ele. Ainda
assustadoramente fraco, mas estava lá.
Naquele momento, o rádio gritou na sala de controle e Ken’ichi disparou
pelo corredor num borrão de rapidez vampiresca, Cyn seguiu seu rastro, chegando
à porta aberta bem a tempo para ver Ken’ichi colocar um fone de ouvido e bater
furiosamente no teclado.
— O que houve? — exigiu Cyn.
— Se foi. — Ele murmurou.
— Se foi?! — Cyn notou o pânico em sua própria voz ao perguntar isso.
— O sinal, — Ken’ichi esclareceu. — Eu não consigo, — ele endureceu
abruptamente. — Juro, — ele sussurrou.
Cyn queria agarrar seus ombros enormes e sacudi-lo. Mandá-lo parar com
aquela merda estúpida. Era hora de usar a porra das palavras.
— Fale comigo. — Disse ela com uma paciência forçada.
Ken’ichi levantou os olhos fazendo os encontrar os dela. Ele se parecia
demais com Juro.
— Juro estava furioso, sua raiva era como uma tempestade em minha
mente, de repente, como se um interruptor tivesse sido desativado, ele sumiu. E
agora... — ele se virou para o teclado e começou a trabalhar furiosamente de novo.
— Nossas comunicações já eram. Não consigo alcançar os acessos de segurança.
— É isso. — Cyn teve uma sacada e voltou para o corredor. — Robbie! ela
gritou. — Vamos lá fora. Elke, você vem conosco, Ken...
— Má ideia, Cyn — Rob advertiu, andando em sua direção. — Rafael queria
você escondida por alguma razão. Toda a preparação que fizemos pode dar em
merda se você for lá fora.
— Eu não posso ficar sentada aqui...
— E se eles já estiverem esperando isso? Qual a melhor maneira de atingir
Rafael que eles têm, hein? Vou te dizer. É você.
— Mas eles têm...
— Você não sabe o que está se passando lá fora. As comunicações não estão
funcionando, Cyn. Isso é tudo que você sabe até agora.
— Eu senti acontecendo, algo horrível... — as palavras dela foram cortadas
por um barulho agudo que fez todos taparem os ouvidos. Vozes vieram em seguida,
uma se destacando entre as demais, tentando alcançar Ken’ichi.
— Base, vá em frente. — Disse Ken’ichi.
— Estamos na casa, — disse a mesma voz, e Cyn a reconheceu como o chefe
da equipe de segurança que Rafael fazia parte. Ela ouviu gritos e depois —
Encontramos Juro, ele está... Sim, senhor, — mais gritos e então...
— Cynthia? — Era a voz de Juro, cheia de tensão e mais grave que nunca.
Cyn entrou na sala, enquanto Ken’ichi colocou as comunicações no alto
falante.
— O que houve? — Comandou ela. — Onde está Rafael?
— Estamos voltando, — disse ele, mas isso não respondia sua pergunta.
— Rafael está...
— Estaremos aí em três minutos, Cyn — disse Juro, gentilmente.
Cyn piscou surpresa, ficando assustada logo em seguida. Juro nunca a
chamara de Cyn. Todos chamavam, até Rafael. Mas Juro não.
Seus pulmões contraíram de horror. Ela se levantou desorientada. Sua mão
caindo sobre o ombro largo de Ken’ichi. — Ele não está morto. — Ela sussurrou,
suas palavras quase inaudíveis.
— Ele não está.
Ela olhou para cima, surpresa quando a voz grossa de Ken’ichi concordou
com ela.
— Você saberia, — disse ele. Seu olhar encontrando o dela, solenemente. —
Nós todos saberíamos.
Cyn engoliu em seco, depois assentiu. O movimento na tela chamou sua
atenção para o rastro de veículos em alta velocidade vindo em direção à casa,
espalhando cascalhos pelo caminho. Ela deu um salto e ficou de pé muito rápido.
Quase tropeçando na cadeira em sua urgência de sair para encontrá-los.
A porta da frente se abriu antes de ela alcançá-la. Juro permaneceu lá, seu
rosto rosa e cheio de lágrimas enquanto ele a encarava.
Cyn parou subitamente. — Juro?
— Eles o levaram. — Disse ele, simplesmente. — Eu lutei, mas... Ele
ordenou que eu parasse.
— Rafael?
Ele adentrou a casa, fechando a porta às suas costas. — Ele me fez
prometer, Cynthia. Ele sabia...
— Ele sabia que eles tentariam algo assim, — disse ela. Subitamente vazia.
— Ele sabia que eles poderiam levá-lo.
Juro assentiu. — Ele me deu ordens. Para caso acontecesse. Quando
acontecesse. — Ele cruzou a sala enquanto eles falavam, estando em pé em
próximo dela agora. Seus olhos negros eram como mananciais de tristeza, seu rosto
molhado de lágrimas sangrentas.
— Eles ordenaram que deixássemos a ilha, se não...
— Eu não vou a lugar algum sem Rafael, — disse ela rispidamente. — E é
melhor alguém me explicar que porra está acontecendo. Quem está com ele? E
como?
— Mathilde... — Juro fez uma pausa, tomando fôlego. Quando Cyn levantou
as mãos em desgosto. — Ela é uma das vampiras que estavam lá essa noite, —
explicou ele. — Haviam outros, mas ela parecia estar no comando. Ela governa um
território no sul da França. Ela é bastante velha, Cynthia. Muito mais velha que
Rafael, e muito perigosa.
— Ela é mais forte que ele? — Cyn perguntou confusa, — Como ela pôde...?
— Porque ela não estava sozinha. Ela tinha não só os dois que estão com
ela, mas muitos outros. Cem ou mais, todos eles trabalhando...
— Mais de cem? — Saber daquilo era como se uma bola de demolição
estivesse colidindo como seu peito, esmagando seu coração, suas esperanças.
— Cem ou mil, eles ainda podem ser mortos, — Robbie encorajou por trás
dela.
Cyn se virou para vê-lo em pé na soleira da porta.
— Estamos prontos para eles, querida. — Ele disse para ela, — Não se
esqueça disso.
Ela o encarou, lutando contra as lágrimas. Chorar não ajudaria em nada.
Ela cerrou os dentes até o seu maxilar doer, depois engoliu o choro e assentiu.
— Você não precisa matar todos eles, — Ken’ichi falou silenciosamente,
aparecendo perto de Robbie.
— O que você quer dizer? — perguntou Cyn.
— Meu irmão está certo, — concordou Juro. — Esses são mestres vampiros,
não lordes, mas, como todos os vampiros, eles estarão mais acostumados a
trabalharem juntos do que como uma força solitária. Alguns serão mais fortes que
outros, mas você só precisaria destruir um ou dois para perturbar a força que
existe neles e criar um ponto fraco para que Rafael consiga escapar.
Um sorriso repentino enrugou o rosto de Cyn. — Um ponto fraco, eu posso
fazer isso.
— Cynthia, — Juro falou lentamente — Eu lhe daria essa chance, mas...
precisamos sair. A vida de Rafael...
Cyn abriu a boca para tentar fazê-lo entender, para dizer mais uma vez que
ela não iria a lugar nenhum sem Rafael, mas algo no semblante de Juro a fez parar.
Seu olhar estava focado no dela, mas seus olhos se desviaram de repente para a
direita, na direção do quarto que ela dividia com Rafael.
Cyn franziu o cenho depois seus olhos se arregalaram quando ela entendeu
e gritou: — Vá se foder, Juro! E disparou para longe, seu punho esmurrando a
porta com força à medida que ela a abria.
— Cynthia, — Juro a chamou e a seguiu pelo corredor até a entrada do
quarto, fechando a porta atrás de si.
Cyn se virou, encarando interrogativamente Juro. Ele ergueu um dedo,
fazendo sinal para que ela esperasse, enquanto ele ouvia algo que ela não conseguia
escutar.
— Certo. — Ele disse de repente, — Ken’ichi está bloqueando os sinais de
eletrônicos por enquanto. Ele não pode deixar bloqueado por muito tempo sem
levantar suspeitas, então precisamos conversar rápido.
— Você acha que temos um espião na casa? Um dos guardas? — perguntou
Cyn, se lembrando da suspeita de Rafael de ter um espião em sua casa em Malibu.
— Nenhum dos nossos, não. Eu acredito que eles grampearam a casa antes
de nós chegarmos.
— Nós estamos seguros aqui?
— Eu suspeito de que eles não podem nos ouvir enquanto estamos na
câmara. Patterson não sabia da existência desses quartos e não teria a senha da
porta mesmo se soubesse. Mas eu prefiro ser cauteloso.
Cyn assentiu, — Ok, então o que aconteceu? — Perguntou ela, tentando se
manter calma.
— Foi uma armadilha...
— Certo, até aí eu sei, mas...
— E Rafael já esperava que fosse, — Juro continuou apesar da sua
interrupção. — Mas nós não esperávamos por isso, eu estava em pé bem do seu
lado. Eu vi tudo, mas ainda não entendo. Mathilde apertou a mão dele e... logo
depois, ele estava ajoelhado, como se não tivesse mais forças para ficar de pé. Ela
deve ter usado magia nele, ou algum tipo de truque mental, eu nunca vi... Rafael,
ele parecia desacreditado, sua expressão desolada, como uma criança que havia
descoberto pela primeira vez que seu pai não era infalível.
Cyn estava prestes a sacudi-l para que continuasse quando ele visivelmente
reuniu todas as suas forças e disse: — Ela sugou toda sua força física de alguma
maneira, drenou-o durante um momento crítico. Foi o suficiente para que eles
contivessem seu poder.
— Eles? Quem são eles?
— Todos aqueles mestres vampiros que ela tem do seu lado. Eu nunca senti
tantas mentes num só lugar, e todos focados em atingir o mesmo objetivo. Alguém
deve estar obrigando-os, Mathilde talvez, ou então os três juntos...
— Onde estão eles? — comandou Cyn, cortando sua balbuciação. Juro
geralmente não era tão taciturno quanto seu irmão gêmeo, mas ele também não
enrolava. Cyn sabia o que ela tinha sentido. Foi como estar em uma cratera gigante
no momento em que um meteoro colidiu. Quão pior deve ter sido para Juro,
estando tão perto de Rafael quando tudo aconteceu. — Eles estarão juntos? Quero
dizer, todos no mesmo lugar? O mesmo lugar onde Rafael...
— Não no mesmo lugar. Eles já abandonaram aquela casa. Foi por isso que
perdemos o sinal das comunicações, que eles me nocautearam. Eu não apaguei
por muito tempo, na hora que eu acordei eles já tinham sumido e levado Rafael
com eles.
— Merda, — Cyn praguejou, mas não persistiu. Não havia tempo para tais
indulgências. Eles teriam que sair agora, e teriam que sair rápido.
— Eles nos ordenaram a sair da ilha, deixar o Havaí juntos, ou eles vão
matá-lo.
Cyn encarou, — Matá-lo?
— Eles não vão fazer isso, — disse ele, já cansado, passando a mão na testa.
— A morte de Rafael seria sentida por todos os vampiros da ilha. Pretendentes
viriam de todos os lugares para lutar pelo território. Mathilde não quer isso, ou ela
teria matado Rafael logo de cara ao invés de capturá-lo. Ela pode ser forte, mas ela
não vai poder contar com os lordes aliados dela nisso. Pretendentes podem puxar
poder de seus apoiadores, mas eles ainda têm que lutar mano a mano numa
batalha. E haveria batalhas. Jared, ou eu, ou qualquer outro leal a Rafael seriamos
fortes o suficiente para conquistar o território, e nossos inimigos sabem disso.
— O que ela quer é valsar até Malibu e propor um desafio a Rafael
pessoalmente. E quando ele não responder ao seu desafio, porque ela garantiu que
ele não conseguisse, ela se declarará vencedora por omissão.
— Mas você não vai ficar parado e deixar isso acontecer.
Juro balançou a cabeça em negação. — Lucas também não, nem Duncan.
Mas o território de Rafael abriga milhares de vampiros. Mathilde pode planejar em
conquistar poder e então drenar os vampiros de Rafael até secarem de modo a
derrotar qualquer um que desafie seu controle.
— Mas o poder pode seguir o fluxo contrário, não pode? Os vampiros de
Rafael sugarem mais poder dele do que o ajudarem.
— Pode parecer isso, mas Rafael pode tomar deles na hora que ele quiser.
Ele não se aproveita disso, mas numa guerra ele com certeza faria. E eles dariam
por livre e espontânea vontade. Ele é muito querido.
A postura de Juro mudou, tomando aquele semblante vazio de quando ele
estava ouvindo algum outro vampiro em sua mente. Provavelmente seu irmão.
— Nosso tempo é curto, me desculpe Cynthia, mas eu preciso voltar para
Malibu. Mesmo se Mathilde e seu primeiro não exigirem isso, mas Rafael me
ordenou antes mesmo de sairmos de Los Angeles. Eles atacarão em breve,
acreditando que estamos fracos e despreparados. Nós não estamos, mas Jared
precisará do meu apoio para enfrentá-los. Mathilde sozinha ele consegue dar conta,
mas se eles unirem forças novamente...
— Eu entendo, vocês e os outros...
— Você deve vir comigo, — ele disse gentilmente, — eles querem todos nós...
— Juro, — ela disse categoricamente, — Eu não deixarei essa ilha sem ele.
Eles não sabem que eu estou aqui. Eles não sabem sobre Robbie, ou, neste caso,
Elke também. Nós ficaremos e nós vamos libertar Rafael. E depois mataremos cada
um deles.
A boca de juro se contraiu em uma linha fina enquanto ele olhava para
baixo para encará-la. — Meu senhor escolheu bem, Cynthia. Você é sua parceira.
Mas apesar toda a sua coragem, você precisará de mais que Elke. Ela é uma
lutadora feroz, e bastante fiel a você e Rafael, mas do jeito que os vampiros estão,
o poder dela não é suficiente.
— Eu não vou lutar essa batalha de acordo com os termos deles. Não sou
páreo para eles no que se refere ao seu tipo de poder, então farei do meu jeito. Será
inesperado, e eu vou usar isso contra eles.
Juro assentiu, — Uma estratégia inteligente, mas no final você pode
precisar de poder. Nosso tipo de poder.
Cyn deu de ombros, — Você mesmo disse, você precisa voltar para casa.
Além do mais, eles estarão de olho em você, em especial, lhe observando sair da
ilha.
— Mas não meu irmão.
Cyn franziu o cenho. — O que você quer dizer?
— Ken’ichi sempre preferiu dar um passo atrás, mas sua força é igual a
minha.
Cyn arregalou os olhos. Juro e seu irmão gêmeo são iguais em aparência,
mas ela aprendeu ao longo desses anos que aparência pouco importava quando o
assunto era vampiros. Ken’ichi sempre ficava atrás, na sombra de seu irmão, que
Cyn assumiu que ele fosse menos poderoso. Mas talvez sua ambição fosse menor,
ou ele gostasse mais da vida nas sombras.
— Mas eles não vão se certificar de que vocês dois irão embora? — ela
perguntou.
— Um pouco de desordem da minha parte e uma cutucada na direção certa
e o espião de Mathilde verá o que ele quer ver. Afinal, somos idênticos.
Cyn assentiu. — Feito. Nós escaparemos por trás, enquanto vocês chamam
atenção para a saída de vocês pela frente. — Ela começou a sair, detalhes
tempestuando a sua cabeça enquanto ela pensava em tudo que precisava fazer nos
próximos dez minutos.
— Cynthia, — ele disse silenciosamente, chamando a atenção dela. — Traga
Rafael de volta para casa. Manteremos o território dele, mas traga ele para casa.
— Pode contar com isso, — disse Cyn. Algumas pessoas o teriam abraçado
nesse momento, mas Cyn não é do tipo que abraça, e a única pessoa que ela já viu
Juro abraçar foi Luci. Então, ela olhou para ele com o que ela esperava que fosse
confiança e determinação e assentiu.
Juro fez o mesmo. Depois, sem falar nenhuma palavra, deu meia volta e
saiu do quarto, fechando a porta atrás dele.
Cyn imediatamente puxou o celular e discou para Robbie. — Juro acha que
fomos grampeados, — ela disse quando ele respondeu. Ela não precisava falar mais
nada, o ex–ranger do exército sabia mais do que ela sobre operações secretas. —
Elke está do nosso lado — ela disse a ele. — Ken’ichi também, sairemos por trás
em cinco minutos.
Capítulo 09
CYN IRROMPEU ATRAVÉS do quarto que ela tinha compartilhado com
Raphael, seu cérebro indo a mil milhas por minuto, tentando lembrar tudo que ela
precisava, todos os planos que eles tinham feito... tudo o que a impediria de pensar
sobre Raphael e o que ele estava passando, o que eles deviam estar fazendo para
ele. Ela tinha visto o tipo de dor que ele poderia infligir aos outros. Ela queria
acreditar que ela saberia se ele estivesse com dor, se aquela vadia da Mathilde o
estava torturando, mas ela não podia dizer isso com certeza. Não com a conexão
entre eles tão enfraquecida como estava agora. Não com a tendência de Raphael
em protegê-la.
Ela colocou alguns artigos de higiene em uma bolsa de lona com zíper,
sibilando irritada quando ela cortou sua mão nas tesouras já ali dentro. Parecia
estúpido estar preocupada sobre seu xampu e sabonete favorito naquele momento,
mas ela sabia por experiência que tais itens seriam importantes à medida que os
dias se arrastassem. Não havia como dizer quanto tempo demoraria para descobrir
uma forma de libertá-lo uma vez que eles o encontrassem. Ela e sua equipe seriam
quatro contra quem sabe quantos? Não só os cem ou mais mestres vampiros que
estavam com Raphael esforçando-se para mantê-lo prisioneiro, mas também
qualquer segurança que Mathilde trouxe junto com eles. E então havia a logística
a considerar. Mover Raphael a luz do dia seria problemático. Não faria bem libertá-
lo somente para deixar a luz do sol feri-lo ou até mesmo matá-lo, em vez disso. E
se eles decidissem organizar seu resgate à noite? E se ele tivesse sido torturado, e
se ele estivesse ferido ou faminto, e incapaz de mover-se sob seu próprio poder?
Ela tinha muitas perguntas, e nenhuma delas teria respostas até eles
encontrarem Raphael. Inferno, e se ele já havia sido movido da casa onde a reunião
tinha sido realizada. A reunião que não era uma reunião em tudo, mas uma
emboscada. As chances ainda eram boas de que ele estivesse em Kauai por
enquanto. Seria arriscado tentar movê-lo hoje à noite. Juro tinha dito a Cyn que
Mathilde teria espiões no aeroporto, mas a vampira vadia sabia, ou pelo menos
suspeitava, que Raphael tinha espiões lá também. E sobre o poderoso círculo de
mestres vampiros, a centena ou mais de vampiros mestres? Eles estariam aqui em
Kauai? Eles teriam que ser movidos, também. E todos antes do nascer do sol. Já
poderiam as centenas estarem em outra ilha? Era possível que Mathilde conectasse
as suas mentes em uma única unidade a tal distância? Ela teria que perguntar a
Juro antes dele partir.
Cyn queria ignorar o sangue escorrendo de sua mão. Era um corte
superficial e coagularia em breve. Mas ali era os trópicos. Uma pequena ferida
poderia se tornar uma infecção grave. Então ela pegou um daqueles band-aids fora
do saco. E o colocou nela, em seguida fechou o saco e atirou-o junto com as bolsas
já embaladas na sua cama – a cama deles. Ela tinha deixado a porta aberta e
quando ela ouviu a voz profunda de Juro, ela desceu o corredor até a cozinha onde
ele estava dando ordens da partida iminente a todos. Em pé na entrada da porta
da câmara privada, ela chamou sua atenção com um movimento de cabeça, então
recuou para seu quarto. O quarto dela e de Raphael, ela se corrigiu mentalmente.
— Eles o moverão para fora da ilha, não irão? — Ela perguntou.
Juro virou-se para fechar a porta e deu a ela um aceno relutante. — Não
hoje à noite, mas mais cedo ou mais tarde.
— Ele poderia acabar em qualquer lugar, — ela sussurrou, sentindo o
desespero que ameaçava afogá-la.
— Não qualquer lugar, Cynthia, — Juro replicou, colocando uma mão em
seu braço.
Ela sugou uma profunda respiração. Ela tinha que focar-se. — Você está
certo. Uma centena de vampiros não pode apenas se esconder em qualquer lugar.
E eles não podem se mover tão facilmente, também. Eles também têm que comer,
não tem? Talvez até mesmo mais do que o usual com a energia que eles estão
gastando.
— Mathilde terá planejado isso. Isso não foi algo que ela inventou de uma
hora para outra.
Ela quase o socou em seguida. Como se ela precisasse de algo mais para
ficar deprimida. Mas ele estava certo. Ela sabia que ele estava certo. Maldito seja
ele.
— Você está certo, — ela disse severamente. — Mas ainda, uma centena de
vampiros ou mais. Você não move assim tantos vampiros em um avião Cessna de
dois lugares, e mesmo os vampiros tem arquivos de planos de voo.
Juro assentiu em concordância. — Nós podemos ajudar com isso. Uma vez
que nós estivermos de volta em L. A. Os contatos de Raphael são extensos.
— Certo. Nós precisamos de uma maneira de permanecer em contato.
Telefones descartáveis seria o melhor.
Juro resmungou desdenhosamente. — Eu não sou o chefe de segurança
por nada. Eu dei a Ken’Ichi telefones descartáveis com uma longa lista de números
com que você pode nos contatar. Seus telefones estão numerados de um a vinte
cinco. Os nossos são do vinte seis até cinquenta. Nós usaremos um telefone novo
a cada dia. Se nós precisarmos de mais do que isso...
— Não precisaremos, — Cyn insistiu. — Nós não podemos.
Juro olhou como se ele quisesse discordar, mas ao invés disso assentiu
sombriamente. — Você checará diariamente.
— Sim, chefe.
— Eu estou falando sério, Cynthia.
Cyn encontrou seu solene olhar com o dela próprio. — Eu, também.
Grandão. Nós ficaremos em contato. Mas por agora, nós desapareceremos.
— Apenas lembre-se. Eu sei que você gosta de trabalhar sozinha, mas você
não está sozinha nisso.
Cyn olhou para ele e sorriu. — Eu sei. Eu tenho uma equipe, mas mais do
que isso... eu tenho Raphael.
Juro deu-lhe um meio sorriso, então abriu a porta e desapareceu corredor
abaixo. Cyn voltou para cama e colocou seu coldre no ombro, em seguida verificou
a carga de sua Glock–17 favorita – nada além de uma da assassina de vampiros ao
redor para essa missão – apertando a 9mm no lugar, em seguida ela colocou uma
arma idêntica no cós da calça atrás dela. A jaqueta preta de algodão que ela vestiu
estava indo para ser muito quente, mas ela não podia andar ao redor em quase
nada além de uma camiseta e os arreios com suas armas em exibição. Jeans pretos
estavam enfiados na parte de cima de suas botas, ela já estava tão pronta quanto
poderia estar para uma caminhada através da selva. Ela e Robbie tinham um carro
secreto nas proximidades – tamanho médio, quatro portas importado, o típico
alugado por turista.
Ela fechou sua mochila e deslizou-a sobre seus ombros, e estava virando
para a porta quando ela viu a jaqueta de couro que Raphael tinha jogado sobre a
parte de trás da cadeira quando eles tinham chegado. Ele tinha comentado o calor
sufocante, e eles tinham rido, porque geralmente era o frio que o irritava. Cyn tinha
provocado sobre ele ser impossível de agradar. Lágrimas encheram seus olhos
agora enquanto ela lembrava de como ele tinha trancado a porta e mostrado a ela
apenas o quão facilmente ele poderia ser agradado, como eles agradariam um ao
outro até que eles estivessem ambos estivessem literalmente drenados. As lágrimas
derramaram, molhando suas bochechas, quando ela admitiu para si mesma, pelo
menos, que ela estava genuinamente com medo pela primeira vez em sua vida. Ela
tinha lutado batalhas antes. Inferno, ela tinha sobrevivido a um tiroteio com a
máfia russa e encarado aquele idiota do Jabril, que alegremente a teria estuprado
até a morte, e então lhe dado seu sangue enquanto ela estivesse morrendo.
Mas ela nunca tinha amado ninguém da forma que ela amava Raphael. Se
ela o perdesse...
Ela engoliu em seco, esfregando as lágrimas fora de seu rosto. Ela não podia
pensar dessa forma. Ela o traria de volta. Raphael estava contando com ela. Ele
tinha praticamente a avisado de cada coisa que poderia acontecer. Agarrando sua
jaqueta de couro, ela empurrou-a dentro da bolsa, em seguida correu ao redor para
colocar uma muda de roupa para ele. Uma vez que ele fosse resgatado, ele
precisaria dela. Ela fechou o zíper da bolsa com todas as coisas dentro e colocou-
a firmemente sobre o ombro. Um olhar final ao redor do quarto assegurou-lhe que
não havia nada nesse quarto que eles poderiam precisar. Ela tinha o Ipad de
Raphael na bolsa junto com o seu laptop. Todo o resto era substituível. Com um
aceno silencioso de encorajamento para si mesma, ela deixou o resto para trás e
partiu para resgatar o amor da sua vida.
****
Raphael manteve seus olhos fechados atrás da venda, manteve seus
músculos relaxados sob o aperto das poderosas algemas encantadas com que eles
tinham o amarrado com magia. Ele era uma pessoa prática que acreditava em sua
própria força sobre todo o resto. Tudo que ele tinha conseguido, tudo que ele tinha
construído, era o produto de seu próprio poder e inteligência, seu trabalho duro e
determinação. Mas não poderia ser um vampiro sem acreditar em mágica. Ciência
poderia possivelmente explicar a simbiose vampira, com seu maciço poder de cura,
mas não poderia explicar a capacidade de Raphael de parar o coração de um
vampiro com o pensamento a milhas de distância. Ou quebrar cada osso do corpo
do inimigo com um simples desejo. Havia mágica no mundo. Tinha simplesmente
desaparecido da consciência humana até somente parecer ser inexistente.
Mas Mathilda era muito mais velha do que ele, centenas de anos mais velha.
O suficiente para que ela pudesse estar ao redor quando a mágica estava
diminuindo, mas ainda ativa no mundo. Quando tal dispositivo como as algemas
que atualmente estava minando sua força ainda se espalhava pela terra, enterrado
nas cavernas em ruínas.
Ele engoliu um suspiro de partes iguais de resignação por sua situação e
desgosto pelo que ele não tinha antecipado. Sob outras circunstâncias, ele poderia
ter medo por sua vida. Mas Mathilde e os outros não queriam ele morto, pelo menos
não ainda. Não havia dúvidas em sua mente que eles planejavam matá-lo antes do
fim. Mas não até que eles tivessem conquistado a América do Norte. Eles pareciam
bastante confiantes que teriam sucesso nesse fim. Eles não tinham nem mesmo se
preocupado em resguardar suas conversas ao redor dele. Pelo contrário, na
verdade. Eles tinham sentido prazer em deixá-lo saber apenas o quão facilmente o
continente iria cair para eles.
Sua confiança estava gravemente mal colocada, mas ele não seria o único
a lhes dizer isso. Na verdade, ele não estava indo lhes dizer nada. Eles tentaram
enganá-lo no começo, o provocando, inventando mentiras sobre Juro e os outros
enquanto eles evacuavam voltando para a Califórnia, sobre o estado das coisas
entre seu pessoal em Malibu. Eles pensaram que ele era cego? Pensaram que só
porque eles amarraram seu corpo e abafaram o seu poder, ele tinha perdido aquela
conexão básica entre o Senhor dos vampiros e seu pessoal?
Talvez um deles devia ter testado suas algemas mágicas antes de usá-las
nele. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo em seu território e com seu
pessoal. Ele podia não se comunicar com eles como normalmente desejaria, mas
ele ainda sabia quais eram os corações que estava batendo e quais não estavam,
quem permanecia ligado a ele e quem não.
Um dos vampiros menores de Mathilde – de força física, mas não um poder
significativo – colocou a mão sob seu cotovelo e empurrou-o de pé. Levou um
esforço determinado, mas Raphael se manteve por si mesmo mole e sem resistência
quando ele foi empurrado para fora da casa dentro do calor úmido na noite
Havaiana, e eventualmente dentro do veículo. Eles o mantiveram vendado, mas ele
ainda tinha ouvidos, ainda tinha o sentido do olfato. Ele sabia que havia múltiplos
veículos, que havia mais pessoas do que ele e o guarda que estavam saindo. Portas
bateram, passos arrastados, e vampiros chamando um ao outro. Este era o
segundo movimento da noite. Eles tinham evacuado a casa onde ele tinha
encontrado Mathilde poucos minutos após sua captura, e agora eles estavam se
movendo de novo, provavelmente antecipando a possibilidade da tentativa de
resgate de Juro e os outros.
Ele poderia ter lhes dito que isso não ia acontecer, que eles estavam
perdendo tempo desde que Juro tinha ordens estritas para retornar para a
Califórnia e se juntar a Jared na defesa de seu território até que Raphael pudesse
fazer sua fuga e proteger a si mesmo. Mas então, ele não estava inclinado a tornar
suas vidas mais fácies. Os deixaria correr e perder tempo e os esforços com sua
centena de vampiros adicionais todos focados hora após hora, noite após noite,
apenas o mantendo no lugar.
Ele tentou alcançar Cyn com sua mente, mas somente pode deslizar através
da névoa para chegar a ela. Ele podia ouvi--la, não sua voz, mas seus batimentos
cardíacos, sua existência no mundo. Ela estaria procurando por ele. Juro e os
outros estariam de volta a Califórnia, mas ele sabia que Cyn ficaria. Era frustrante
não ser capaz de tocá-la, não segurá-la da forma que ele tinha feito no passado
quando eles tinham estado separados. Mais do que qualquer um dos outros, ele
precisava de sua Cyn. Sua ausência era um aperto doloroso em seu peito, cavando
mais fundo com cada hora.
Ele se estabeleceu no banco traseiro de couro da limusine onde eles o
tinham colocado, lembrando a si mesmo para ser paciente. Esperar pelo momento
certo. Seus captores logo ficariam entediados e complacentes em sua tarefa. E a
cada hora um da centena de diligentes enfraqueceria. E os poderes de Raphael
cresceriam.
E além disso, sua Cyn estava vindo para ele. Querida Mathilde estava
prestes a aprender sobre o quão letal uma mulher humana poderia ser.
****
3
Off road significa fora da estrada, e é um termo inglês utilizado para designar atividades esportivas,
praticadas em locais que não possuem estradas pavimentadas, calçadas ou qualquer estrutura urbana, ou
caminho de fácil acesso.
— A casa é maior, — ela disse, desesperada para pensar sobre algo mais.
— Mas Robbie e eu arrumamos todos os quartos, cobrimos as janelas e as coisas.
E desde que somos apenas nós, deve ser grande o bastante.
Elke deu um encolher de ombros exagerado. — Hei, eu não preciso muito
espaço.
— Anã, — Cyn murmurou.
— Esquisita, — Elke murmurou de volta, Cyn sentiu sua boca curvar-se em
um meio sorriso e imediatamente se sentiu culpada. Ela não devia estar sorrindo,
não devia estar gostando de nada disso. Eles não estavam brincando de vadiar,
esquivando-se de alguma reunião entediante. Eles estavam correndo para salvar a
vida de Raphael.
Quando eles fizeram a retorno final na rua onde a casa segura ficava, Robbie
bateu no controle remoto da porta da garagem. Sendo aberta pelo tempo que eles
atingiram a entrada da garagem, e ele entrou direto na garagem aberta, fechando
a porta atrás deles logo que o carro estava completamente dentro.
— Essa casa pertence à família de Lucia? — Ken’ichi perguntou.
Cyn se assustou com o tom familiar de sua voz quando se referiu a Luci,
então percebeu que ela não devia ter estado surpresa. Juro era seu gêmeo, depois
de tudo. Ele provavelmente soube antes de Cyn que Luci e Juro iriam morar juntos.
— Sim, — ela disse, respondendo sua pergunta quando todos eles saíram
do carro muito pequeno. — Mas pelo lado de sua mãe e um par de ramos distantes,
então mesmo se os vampiros europeus souberam sobre a conexão de Luci conosco,
o que estará deturpado, eles não devem ser capazes de identificar esse lugar.
Assumindo que eles procurem em tudo. Com alguma sorte, eles caíram na trapaça
de Juro e pensarão que nós todos voamos de volta para casa.
Ken’ichi assentiu silenciosamente, então virou-se para Robbie e disse: —
Nós precisamos desligar as luzes.
Robbie olhou de relance para a luz da porta da garagem aberta e disse: —
Eu cuidarei disso hoje.
Cyn foi em frente, puxando a chave que ela manteve de sua última visita,
abrindo a porta entre a garagem e a casa. Ela entrou na cozinha escura,
imediatamente fechando as persianas.
— Elke, você devia verificar os arranjos para dormir e ter certeza que eles
são seguros para vocês, caras. A luz do sol não está muito longe. Robbie e eu
combinaremos um turno de vigia, dormiremos em turnos através do dia para que
um de nós esteja sempre acordado. Eu acho que nós estamos seguros, mas é
melhor ser cuidadoso.
Ela circulou ao redor do resto do piso térreo, verificando persianas e
cortinas, e descartando as sombras. Estava escuro lá fora por enquanto, e de
manhã, Elke e Ken’ichi estariam no andar de cima onde todas as janelas estavam
cobertas, mas ela estava preocupada sobre mais do que apenas com o nascer do
sol. Ela não queria ninguém olhasse e percebesse que a casa estava ocupada, e em
seguida ter curiosos sobre quem estava visitando. Melhor que eles simplesmente
assumissem que estava alugada para férias e deixassem por isso.
— Tudo está bem aqui, — Elke disse, descendo as escadas. — Nós devemos
discutir quais nossos próximos passos.
Cyn assentiu. — Concordo. Ela olhou ao redor da grande sala de estar com
mobília confortável. — Vamos sentar aqui. Provavelmente é melhor para os caras.
— Sim, nenhum vime, — Elke comentou com um sorriso afetado.
Cyn deu um sorriso fraco. — Quanto tempo antes do nascer do sol? — Ela
perguntou, olhando de relance para as janelas, procurando por qualquer sinal de
luz do dia ao redor das extremidades nas persianas.
— Cerca de uma hora. Tempo o suficiente para decidir sobre um plano para
mais tarde esta noite.
Cyn esperou até todo mundo estar acomodado, em seguida respirou fundo.
— Eu estive pensando sobre isso, e eu estou muito certa que eles moverão Raphael
assim que eles puderem. — Ela não mencionou seu contado de mais cedo com ele,
não sabia se era um negócio único, ou se ele a alcançaria de novo com mais
informações. Agora, a única coisa que ela sabia com certeza era que Raphael estava
vivo, mas todos eles já sabiam disso, especialmente Elke e Ken’ichi. Se Raphael
morresse, cada vampiro do território ocidental – e isso era milhares de vampiros,
incluindo os dois nessa sala – saberia instantaneamente. Inferno, a morte de
Raphael provavelmente seria sentida em cada vampiro da América do Norte, sem
importar o quão forte ou fraco eles eram. Ele era tão poderoso.
Mas então, se Raphael morresse, não haveria buraco profundo o bastante
para Mathilde se esconder. Lucas a caçaria e a estacaria no coração, e Cyn estava
certa que seguraria o martelo.
— Mathilde e sua gangue devia ter outro esconderijo montado, fosse nessa
ilha ou em outra, — Cyn disse, forçando-se a parar de pensar sobre o que
aconteceria se Raphael morresse, e se concentraria em mantê-lo vivo. — Tem que
ser algum lugar não associado com Rhys Patterson, porque isso seria muito fácil
para os aliados de Raphael o localizarem. Juro disse que havia uma centena de
vampiros ou mais trabalhando juntos para segurar Raphael. Vamos chamar de
uma centena só por motivo de simplicidade. Eu não sei exatamente como isso
funciona, mas eu imagino que é algo como um círculo de poder com alguém,
presumivelmente Mathilde, prendendo todos eles juntos. Eu estou certa?
— Eu não sei se algo assim já foi feito, — Ken’ichi disse pensativamente. —
Mathilde claramente os uniu, mas Juro acredita, e eu concordo, que seu plano é
viajar para Malibu onde ela lançará um desafio pessoal para Raphael, sabendo que
ele não poderá responder. Isso significa que ela não pode ser o ponto focal do
círculo de poder. Mas provavelmente, ela tem vários dos mais poderosos mestres
vampiros a sua disposição e eles são os únicos ligando os outros juntos.
Cyn franziu seus lábios ao pensar. — Todos eles teriam que estar em um
único lugar?
Ken’ichi e Elke trocaram um olhar pensativo antes que Elke falasse. — Nós
achamos que sim. Tem que ter um inferno de muita energia apenas para manter
esse círculo coeso. Por que desperdiçar energia tentando fazer isso à distância? —
Ela olhou para Ken’ichi por confirmação e ele assentiu sua concordância.
— Ok. Vamos dizer que eu esteja certa sobre eles moverem Raphael, — Cyn
continuou. — É possível que uma centena ou mais de vampiros já esteja na nova
localização? Mesmo que seja em outra ilha.
Elke olhou pra Ken’ichi para responder à pergunta de Cyn. Juro tinha dito
que os poderes de Ken’ichi eram iguais aos dele. A reação de Elke dizia a Cyn que
seu maior poder significava que ele também entendia as perguntas sobre os
poderes vampíricos melhor do que Elke fazia.
Ken’ichi pareceu refletir sobre a pergunta, então falou lentamente. — Eu
nunca encontrei Mathilde ou seus aliados, e não tenho nenhum conhecimento de
suas forças individuais. Mas o fato de que eles precisaram de subterfúgios para
subjugar Raphael é muito revelador. Os três poderiam trabalhar em conjunto para
manter a integridade de seu grupo à distância, mas apenas a curto prazo, um dia
ou dois no máximo.
Cyn considerou isso por um momento. — As probabilidades são, então, que
eles vão estar movendo Raphael para onde ela está escondendo sua centena de
vampiros. Deve ter levado meses apenas para conseguir trazer tantos aqui em
primeiro lugar. Realocá-los rapidamente seria uma grande dor de cabeça. E
francamente, apesar dela ser uma vadia, eu não acho que Mathilde seja estúpida.
Eu acho que o círculo está em algum lugar que ela considera mais seguro e que
eles moverão Raphael para lá mais cedo ou mais tarde.
— Faz sentido, — Robbie concordou. — Eles exigiram que Juro e os outros
saíssem, mas eles não acreditam que nós enviaremos uma equipe para investigar.
E a primeira coisa que qualquer equipe assim faria seria destruir qualquer
propriedade de Rhys Patterson.
— Nosso primeiro trabalho então é descobrir onde eles vão. Porque
enquanto eu gostaria de acreditar que nós os pegaremos antes que saiam de Kauai,
eu não acho que iremos. Eu imagino que eles sairão dessa ilha logo que o sol se
pôr hoje à noite, se eles já não fizeram. Então por onde nós começamos?
— Normalmente, eu diria aluguéis a curto prazo, — Robbie comentou. —
Mas esse é o Havaí. Aluguéis de férias são tão comuns quanto palmeiras.
Eles ficaram em silêncio por um momento, então Elke tamborilou seus
dedos e disse: — Comida.
Cyn franziu a testa por um momento antes do entendimento clicar. —
Sangue. Você está certa. São muito vampiros que precisam ser alimentados.
Mesmo se Mathilde estivesse inclinada a trazer sangue da Europa, seria quase
impossível manter o bastante em mãos para alimentá-los por mais do que um dia
ou dois. Isso são muitos voos, que são caros e fáceis de rastrear. Meu palpite é que
ela quer deixá-los se alimentarem nas ruas ou ela está roubando bancos de sangue.
Então é onde nós começaremos. Nós verificamos os registros policiais, registros
oficiais, qualquer coisa que nós podermos acessar, procurando por ondas de crimes
incomuns que indiquem a presença de vampiros.
— Isso é uma grande pesquisa, Cyn, — Robbie comentou.
— Eu sei, mas nós podemos pelo menos eliminar Kauai. Eu realmente não
acho que ela ficará aqui
— Ainda é um monte de chão para cobrir. As ilhas maiores têm muitas
jurisdições policiais diferentes, e nós não sabemos se eles são centralizados, ou
mesmo computadorizados.
— Mas os vampiros terão que ficar perto de uma grande cidade, não terão?
Se todos aqueles vampiros começarem a se alimentar em algum lugar com uma
pequena população, isso seria notado. Portanto, nós ficaremos com as cidades
centrais maiores por agora. Elas são mais propensas a serem computadorizadas
de qualquer maneira. Você também tem que imaginar que alguns vampiros podem
ficar excitados e arrancar uma garganta ou drenar alguém. Alguma coisa como isso
é mais plausível que apareça e provavelmente terminará na internet.
— É um lugar para começar, — Robbie concordou.
— Eu pesquisarei isso essa manhã, — Cyn continuou, — Mas eu não sou
exatamente uma hacker. Se as informações estiveram tão acessíveis quanto nós
esperamos, eu não devo ter problemas. Mas se eu não voltar com qualquer coisa,
eu chamarei algumas pessoas em quem confio. Eu também estou indo checar com
o primo de Luci que é um piloto fretado e ver se ele conhece alguém na polícia local.
De novo, esse tipo de crime deve criar um zumbido. Espero que eu tenha algumas
pistas para nós seguirmos mais tarde esta noite.
— Eu acho que nós devemos verificar as duas casas que sabemos que
Mathilde passou algum tempo, — Elke sugeriu. — Eu acho que você provavelmente
está certa, e ela sairá, mas alguns do pessoal de Patterson devem estar ao redor.
Juro informou para mim e Ken’Ichi enquanto vocês estavam ficando prontos, e ele
sentiu muito fortemente que Petterson era um cúmplice involuntário. Se isso for
verdade, Mathilde está provavelmente mantendo seu pessoal refém. Agora que ela
tem o que queria, os vampiros de Petterson devem estar soltos e dispostos a
conversar.
— E se Mathilde deixou uma equipe de guarda? — Robbie perguntou.
— Então nós observaremos por enquanto e reportaremos de volta.
Cyn assentiu. — Nós devemos nos comunicar pelo telefone celular até isso
acabar. Nós ainda não sabemos como ou quando eles hackearam a casa segura.
Eu não quero dar uma chance para nossas comunicações serem comprometidas
também. Juro me deu um monte de números de telefones descartáveis antes que
ele saísse, mas eu quero guardar estes para comunicação com Malibu. Robbie e eu
compramos alguns quando nós estávamos abastecendo esse lugar, então nós
usaremos aqueles. Eles estão em uma mochila preta na cozinha, então usem-os.
Apenas façam uma nota de qual telefone vocês pegaram.
Cyn levantou-se, esticando os músculos doloridos, exaustos e tensos ao
mesmo tempo. Ela precisava de cafeína. Havia uma cafeteira na cozinha e café
estava entre os mantimentos que ela e Robbie pegaram no outro dia. Ela se dirigiu
para a cozinha enquanto Elke e Ken’ichi se moveram em direção as escadas. O céu
ainda estava escuro do lado de fora, mas Cyn sabia que o nascer do sol estava
perto.
Robbie estava inclinado de costas no sofá, esfregando seu rosto com ambas
as mãos. Ele pulou em seus pés quando ela parou perto dele. — Eu ficarei primeiro
— Ele começou a dizer, mas Cyn o cortou.
— Não, — ela disse. — Você tem estado quase dormir por dois dias. Além
disso eu preciso fazer algumas chamadas, e eu não serei capaz de dormir de
qualquer forma. — Ela se aproximou e agarrou o telefone descartável da mochila
colocada sobre a ilha da cozinha.
— O clube dos companheiros está ativo. Hum? — Robbie perguntou,
assentindo para o telefone em sua mão. — Vocês, caras, tem uma palavra como
código secreto ou algo assim?
— Ainda não. Mas nós podemos chegar a uma depois disso. — Seu telefone
celular pessoal tocou. Ela verificou a chamada e não ficou surpresa pela identidade
de sua primeira chamada.
— Hei, — ela disse atendendo o celular. — Deixe-me ligar de volta para você.
— Ela desligou, então virou para enfrentar Robbie enquanto ela ligava o telefone
descartável. — Está tudo bem, — ela disse para ele. — É Murphy. Você pode ir para
cama, e eu acordarei você em algumas horas.
— Diga ‘oi’ a Murphy por mim, — Robbie disse, então deu a ela uma
saudação silenciosa e subiu as escadas, de dois em dois degraus. Cyn desmoronou
em uma grande cadeira estofada, café esquecido por agora, enquanto ela discava o
número de Murphy e apertava chamar.
Ele respondeu no primeiro toque. — Leighton.
— Olá para você também, — ela disse, cumprimentando seu colega do
Canadá. Colin Murphy era companheiro de Sophia, a única Lorde vampira na
América do Norte.
Cyn não teve que explicar o número inesperado que ela tinha ligado.
Murphy teria esperado aquilo depois que ela disse que ligaria de volta para ele. Na
verdade, eles haviam discutido esse tipo de coisa entre os vários membros do clube
dos companheiros, pela guerra dos vampiros se aproximando no horizonte.
— Como você está indo, Leighton? — A voz de Murphy era mais suave do
que o usual tom cínico que ele usava com ela. Ela e Colin tinham passado pelo
inferno e voltado juntos. Eles encobriam o carinho com o irritável bate-papo, mas
eles gostavam um do outro, e em uma vida diferente poderiam até ter sido mais do
que amigos. Colin era um guerreiro experiente, um ex-seal da marinha. E agora,
ele a entendia melhor do que qualquer um dos outros amigos, sua frustração por
não poder fazer nada, por não ter em quem atirar.
— Não muito bem, — ela admitiu brevemente, mas ela não elaborou. Se eles
começassem a discutir sentimentos e como ela realmente estava, ela terminaria
choramingando com seu inexistente café ao invés de descobrir como resgatar
Raphael.
— Entendi, — Colin disse, ela sabia que ele entendeu. — Então do que você
precisa?
— Nada ainda. Nós ainda estamos tentando determinar exatamente onde
Raphael está sendo mantido, então nós descobriremos como chegar a ele.
— Onde você está? Juro nos deu a linha oficial que ele tinha evacuado todo
mundo da ilha, mas eu apostei com Sophia mil dólares que você ainda estaria aí.
— Diga-lhe para pagar, mas mantenha para vocês. Eu não quero Mathilde
informada de nosso paradeiro antes que nós estejamos prontos para fazer nosso
movimento.
— Quem é “nós”? Rob está aí com você?
— É claro. Ele disse ‘oi’ de qualquer forma. Elke e Ken’ichi também estão
aqui.
Um momento de silêncio então Colin disse: — Quem, porra, é Ken’ichi?
— O irmão gêmeo de Juro, — Cyn disse–lhe, surpresa que ele não sabia.
— Merda, sério? Eu não tinha certeza se o cara tinha um nome. Eu nunca
o ouvi falar. Na verdade, eu tipo assim, pensei que ele era todo músculo, nenhum
cérebro.
— Errado em todos os aspectos. Ele fala muito bem e acredite em mim, seu
cérebro é completamente funcional. Ele só não gosta muito de pessoas.
— Mas ele gosta de você?
— O que eu posso dizer? Eu sou adorável. — Isso foi o mais perto de seu
usual de sarcasmo, e Cyn achou estranhamente reconfortante.
— Se você diz. Agora me diga o que eu posso fazer para ajudar. Eu não
posso deixar Sophia, mas...
— Você em nenhuma hipótese pode deixar Sophia nesse momento. Eles
acham que neutralizaram Raphael, então eles atingirão no próximo continente. Nós
esperamos que Mathilde atinja diretamente o território de Raphael. Mas ela tem
um par de poderosos aliados com ela essa noite. Ela quer o Oeste, então é duvidoso
que ela quererá eles com ela para enlamear a água em seu desafio lá. O fato de que
eles estejam aqui significa que eles provavelmente colocaram suas miras em
outros...
— Cyn, — ele interrompeu calmamente. — Sobre Raphael...
— Eu conseguirei ele de volta, — ela disse firmemente.
— Se alguém pode fazer isso, esse é você.
Cyn encontrou-se dissecando essa última sentença, se perguntando se era
a forma de Murphy dizer que ele não pensava realmente que Raphael poderia ser
resgatado, ela não acreditou nisso por nenhum minuto. Ela o resgataria. Ela quase
disse alguma coisa, mas então percebeu que a exaustão poderia estar nublando
seus pensamentos, porque Murphy nunca teria sugerido tal coisa. Ele não
acreditava em desistir mais do que ela fazia.
— O que eu realmente preciso é de um policial, — ela disse cansada.
— Um policial? Para que diabos?
— Acessar os relatórios policiais principalmente, mas também por fofocas.
Policiais falam um com o outro. Eu quero saber se há alguma coisa estranha
acontecendo localmente.
— Você está procurando por um pico de atividades vampíricas.
— Exatamente. Você sabe, eu continuo dizendo as pessoas que há um
cérebro embaixo de todos esses músculos de vocês, — ela provocou
automaticamente.
— Legal, — ele respondeu, em seguida voltou aos negócios. — Eu não
conheço nenhum policial pessoalmente, mas eu tenho um amigo em Oahu. Um
cara da marinha que cresceu aí. Ele deixou a equipe quase ao mesmo tempo que
eu, e voltou para casa para formar uma família. Eu posso dar um telefonema para
ele. Ele deve conhecer alguém que conhece alguém.
Cyn pensou sobre isso. — Quanto ele sabe sobre vampiros?
— Ele sabe que eu estou casado com uma, e ele sabe o que eu faria por ela.
— Ok, lhe dê esse número. Eu aprecio isso, Murphy.
— Hei, essa é a razão para o clube, certo?
— É agora. Embora originalmente, eu pensava mais ao longo de três
Martinis no almoço e viagens de compras.
— Eu estava imaginando que isso era antes de eu me juntar.
— Você não gosta de martinis?
— Você é engraçada. Eu gosto muito de martinis.
— Então você pode ficar em um bar e observar as sacolas enquanto o resto
de nós faz compras.
— Sim, porque eu não tenho o bastante com Sophia.
Cyn riu, então disse suavemente: — Obrigada, Murphy.
— A qualquer hora, Leighton. Eu ficarei em contato.
Ele desligou, e Cyn não tinha nem desconectado, quando seu celular
pessoal tocou de novo. Um olhar rápido para a tela lhe disse que era a vez do FBI
verificá-la.
— Kathryn, — ela cumprimentou, então foi para a mesma rotina que ela
teve com Murphy, dizendo que ela ligaria de volta e então discou no telefone
descartável.
— Cyn. Eu sinto muito, — Kathryn disse no minuto que elas reconectaram.
— Obrigado. Lucas deve estar ficando louco, heim? — Lucas era o Lorde
vampiro que governava o território das planícies, e Kathryn sua companheira.
Raphael era o Pai (Sire) de Lucas, e de todos os filhos vampiros de Raphael, ele e
Lucas tinham uma conexão única. Cyn não sabia se era porque Lucas tinha sido
o primeiro de Raphael, ou se era porque Lucas tinha sido somente um adolescente
quando ele e Raphael tinha se encontrado. Ele tinha sido um ladrão de rua que
Raphael tinha tirado da sarjeta para ser seu servo humano, e anos depois ele fez
dele um vampiro. A primeira vez que Cyn encontrou Lucas foi quando Raphael
tinha evitado uma tentativa de assassinato. Lucas tinha feito uma viagem especial,
voando centenas de milhas apenas para ver por si mesmo se Raphael estava vivo e
bem.
Kathryn fez um som de desprezo. — Eu ameacei atirar nele se ele pegasse
um avião sem falar com você primeiro, — ela disse, soando como se ela estivesse
apenas meio brincando.
— Balas não iriam realmente machucá-lo, sabe, — Cyn respondeu.
— Elas machucam se forem grandes o bastante.
Cyn engasgou rindo. — Eu sei como é Lucas em tudo, mas você não quer
realmente matá-lo, certo?
— Às vezes é um cara ou coroa, mas até agora, a resposta é não. Eu somente
ameacei atirar em sua perna dessa vez.
— Eu estou surpresa que isso o impediu.
— Ok, então talvez eu realmente disse que seria ambas as pernas. Eu
precisava que ele esfriasse e pensasse ao invés de correr em uma missão de resgate
que você já tinha em mãos.
— E se eu não tivesse? — Cyn perguntou fracamente.
— Vamos, Cyn. Eu tenho fé em você, e assim faz Lucas.
Cyn desejou privadamente que ela pudesse ser tão confiante quanto eles
eram sobre suas chances. Mas ela não disse isso em voz alta.
— A palavra oficial é que Juro veio para casa com a equipe toda, incluindo
você, — Kathryn lhe disse. — Mas eu não acreditei por um minuto.
— Isso foi o que Murphy disse, também. Vamos esperar que a cadela não
me conheça tão bem.
— A cadela que você se refere é Mathilde?
— A própria. Lucas a conhece?
— Sim. Ele disse que Raphael tem uma história com ela, e que essa história
é a razão de Raphael deixar a Europa quando ele fez.
— Uma mulher desprezada? — Cyn disse, odiando a cadela mais com cada
detalhe que ela descobria sobre ela.
— Lucas não me deu qualquer detalhe. Você pode perguntar a ele quando
ele ligar mais tarde, o que provavelmente será um minuto depois do pôr do sol.
— Considere-me avisada. Dê a ele o número desse telefone, ok? É um
descartável.
— Movimento esperto. — Houve um momento de silêncio. — Como eu posso
ajudar, Cyn? Deve haver alguma coisa com que eu possa contribuir além das
réplicas espirituosas.
Era engraçado, pensou Cyn. Suas razões para organizar o clube dos
companheiros em primeiro lugar tinha sido exatamente o que ela disse a Murphy.
Era suposto ser sobre Martini e compras, algum entretenimento para fazer
enquanto os grandes vampiros maus mantinham suas várias reuniões. Mas tinha
se tornado muito mais. Principalmente, porque as companheiras tinham se
tornado um grupo tão diverso e capaz de mulheres... e homens, ela adicionou,
pensando em Murphy.
— Eu estou em modo de pesquisa, — ela disse a Kathryn, voltando para
sua conversa. — Até agora, nós estamos procurando por fontes locais de relatórios
da polícia, colunas de registros policiais em jornais locais, e qualquer
acontecimento inexplicável coberto por artigos confiáveis. Com ênfase em confiável.
— Você está procurando por atividade vampírica inexplicável, — Kathryn
imaginou, apenas como Murphy fez. — Eu posso ajudar com isso. Muitas vezes os
vampiros de ataques selvagens são considerados em série, e terminam na VICAP 4,
— ela disse, se referindo ao banco de dados nacional do FBI para atividades
criminais violentas. — Eu farei uma busca e verei o que virá à tona. Eu imagino
que você ainda está procurando por toda a ilha?
— Eu estou excluindo Kauai por enquanto. Nada mais faz sentido. Eu
voltarei a isso se não tiver sucesso em mais nada, mas eu estou tentando restringir
minha busca.
— Eu verificarei o VICAP de manhã e retornarei para você de qualquer
maneira.
— Obrigada, Kathryn. Isso será de grande ajuda.
— É o mínimo que eu posso fazer. Bem, isso e acorrentar Lucas à cama,
então ele não aparecerá em sua porta.
— Pobrezinho.
Kathryn riu alto. — Sim. Ele pode ser uma dor na bunda, mas ele é muito
bonito.
— Eu falarei com você mais tarde? — Cyn disse, ansiosa para desligar o
telefone. Ela sabia que os outros estariam ligando e ela apreciava seu apoio. Mas
ela precisava tirar essa parte fora do caminho, então ela poderia se focar no
problema.
4
Do inglês Violent Criminal Apprehension Program, é uma unidade do FBI responsável pela análise de crimes violentos
e sexuais em série.
— Eu ligarei logo que eu tiver retorno.
— Ótimo, falo com você mais tarde, então. — Ela desligou o telefone
descartável e dirigiu-se para a cozinha com sua mente no café. Ela estava
procurando por filtros de café quando seu celular tocou de novo. Ela voltou para a
mesa para pegar seu telefone, e deslizou seus dedos para aceitar a chamada apenas
quando seu cérebro processou o toque e reconheceu como um texto ao invés de
uma chamada.
Franzindo um pouco o cenho, ela abriu suas mensagens e viu que havia na
verdade duas. A primeira era de... Nick de novo? Era a mesma mensagem
enigmática de antes, aquela em que ele tinha um problema e precisava de sua
ajuda. Mas dessa vez ele adicionou um insistente Me ligue!!! Ela imaginou que as
três marcas de exclamações eram para significar urgente. Infelizmente para Nick,
ela tinha apenas um assunto urgente agora, e não era o seu.
Movendo-se para a próxima mensagem, ela encontrou um número na
entrada que ela não reconheceu. Aparentemente essa era sua manhã para
mensagens misteriosas, porque esse consistia de um link e um texto de uma única
linha.
Eu pensei que você acharia isso interessante.
Cyn olhou fixamente. Anexado com um daqueles sites de utilidades que
diminuem links longos demais. Muito útil, mas o resultado não deu em nada de
onde o link a levaria. Normalmente, ela teria deletado uma mensagem como essa
sem um segundo pensamento.
Mas aqueles não eram tempos normais.
Ainda assim, não poderia machucar tomar algumas precauções. Ela enviou
uma mensagem para seu telefone descartável, em seguida clicou no link. Abriu no
que parecia como um site marginal de um website da internet que visava notícias
paranormais. Havia os habituais contos de avistamentos de alienígenas, mas
aqueles foram enviados as margens, correndo para uma coluna à esquerda que
estava cheia com histórias bizarras, como cobras de duas cabeças e cordeiros de
seis patas.
Indo para as presas gotejando sangue, exibidas proeminentemente na
página principal, entretanto os vampiros no website eram números interessantes.
Então, não era surpresa que era sua história principal de hoje – e, uma rápida
varredura lhe disse que era uma verdade na maioria dos dias – apresentava
relatórios de avistamentos de vampiros ou rumores. E não o tipo de ficção científica
brilhante de vampiros. Eram avistamentos na vida real, frequentemente incluindo
fotografias, de alguns dos mais poderosos vampiros da América do Norte. Cyn
examinou o arquivo de imagens rapidamente encontrando várias afirmando
mostrar Raphael, mas quando ela as checou, a única coisa que eles mostravam era
parte de cima da nuca de sua cabeça no meio de sua equipe de segurança. Ela
estava chocada por ver-se visível em uma das fotos, mas apenas de costas, o que
era um alívio. Ela notou de passagem que seu cabelo estava ótimo, mas ela também
pensou que a foto devia ser uma velha, provavelmente logo depois daquele fodido
agrupamento perto de Seattle, quando ela ainda estava se recuperando de seus
machucados, porque ela parecia muito magra.
Não havia nenhuma razão para seu remetente misterioso chamar sua
atenção para as velhas fotos dela e Raphael, no entanto. Muito mais interessante
era a história que denominava a manchete atual, a única detalhando um aumento
súbito na área de Honolulu de corpos mortos com suas gargantas rasgadas. O
repórter também afirmava ter conhecimento sobre um aumento de assaltos onde
as vítimas sobreviveram, mas foram deixadas com graves feridas no pescoço e uma
redução acentuada no volume de sangue. Em outras palavras, sobreviventes de
ataques de vampiros.
Cyn nem mesmo sabia que havia vampiros no Havaí até essa viagem, então
ela não conhecia a prática comum nas ilhas. Mas na América do Norte geralmente,
os vampiros não deixavam cadáveres, e eles também não deixavam... vítimas. A
maioria dos doadores de sangue eram voluntários com nenhum desejo de
apresentar queixa aos policiais ou a alguém mais sobre suas interações com
vampiros. Exceções aconteciam, é claro, mas naqueles casos, o vampiro ofensor
era tratado com rapidez e muitas vezes fatalmente pelo próprio Lorde vampiro ou
um de seus executores. Ela achava que mesmo a polícia segurava a verdade no
Havaí, ou Raphael teria feito algo sobre isso antes disso.
O que queria dizer, que se os repórteres nesse site da internet poderiam ser
creditáveis, Honolulu estava experimentando uma onda de crimes com vampiros,
o que era precisamente o que ela tinha estado procurando.
Por um momento, Cyn sentiu como uma daquelas vítimas anémicas
mordidas por vampiros. Seu coração estava batendo, mas o sangue parecia estar
correndo para toda parte, exceto sua cabeça. Com sua visão cinza, ela inclinou-se
para frente, cabeça entre os joelhos, o telefone caindo de seus dedos
repentinamente sem nervosos. Ela devia ter desmaiado por alguns minutos. Porque
a próxima coisa que ela sabia, foram os pesados passos de Robbie descendo a
escada o e ele estava chamando seu nome.
— Cyn? —Ele ficou em um joelho em sua frente. — O que foi isso?
Havia medo em sua voz, e ela sabia que ele pensava que algo tinha
acontecido com Raphael, algo poderoso o bastante que ela tinha sentido através de
sua conexão. Robbie temia por Raphael, mas era mais do que isso. Sua esposa
Irina, era uma das vampiras de Raphael. Se o pior acontecesse com Raphael,
atingiria forte em Irina, talvez até mesmo a mataria. Na melhor das hipóteses, ela
terminaria ligada a um novo Lorde vampiro, e não havia garantias de quem seria.
Cyn não pode levantar sua cabeça imediatamente, não sem desmaiar, mas
estendeu a mão e cegamente apertou o grosso antebraço de Robbie. — Não foi
Raphael, — ela conseguiu sussurrar. Ela procurou pelo telefone descartável, que
tinha escorregado da sua mão, agarrando-o com os dedos úmidos quando Robbie
o entregou. Ela segurou para que ele visse a tela, que ainda estava exibindo o
histórico de notícias de Honolulu.
Robbie leu silenciosamente. — Ok, então alguém fez nosso trabalho. Mas o
que há com você, querida?
Ela ergueu sua cabeça o suficiente para dizer: — Eu vi a história e soube
que nós estávamos certos, e eu apenas...
— Você foi uma menina e desmaiou? — Ele brincou, mas girou seu braço
embaixo de seus dedos e apertou sua mão firmemente.
— Eu não desmaiei, — ela insistiu, ouvindo a trepidação em sua própria
voz. — Eu acho que eu apenas estava com fome. Eu não consigo lembrar a última
vez que eu comi. Ela sentou lentamente. — Foda-se, eu odeio essa sensação. Faz-
me querer vomitar.
— Aqui.
Ela olhou para cima e viu-o segurando uma garrafa de água.
— Onde você conseguiu isso? Você sempre carrega uma reserva? — ela
perguntou ceticamente, mas pegou a garrafa oferecida e bebeu. — Isso é coisa de
Ranger?
— Isso é uma coisa “nós estamos no Havaí”. É fodidamente quente aqui,
fácil ficar desidratado. Você se sente melhor?
Cyn assentiu. — Por que você está acordado?
— Não consegui dormir. Eu pensei em pegar o primeiro turno por você, ou
pelo menos lhe fazer companhia.
— Nós somos um par, não somos? Os caras maus entrarão pela porta, e
estaremos tão cansados que não seremos capazes de levantar as armas.
— Hei, soldado Ranger aqui. Eu nunca estou muito cansado para levantar
minha arma.
— Seja como for. Você sente vontade de tomar café da manhã?
— Você está se oferecendo para cozinha?
— Eu posso fazer ovos mexidos e torradas.
— Torradas francesas?
— Torrada comum de torradeira. Você quer qualquer outra coisa, você está
por si mesmo.
Robbie ficou em pé e estendeu uma mão. Ele a ajudou a levantar e a segurou
até que eles estavam ambos certos que ela não ia cair, então viraram em direção a
cozinha.
— Eu não consigo lembrar, — ele disse em tom de conversa, — Nós
compramos bacon?
Cyn assentiu. — Você pelo menos. E se você quer isso, você cozinha. Os
ovos mexidos é o mais complicado que eu faço.
— Não me admira que você esteja tão magra. Você não cozinha nada.
— Eu principalmente como. E eu não estou magra, idiota.
— Sensível. Você deve estar se sentindo melhor.
— Esse fodido website tem uma foto da minha bunda.
— Nós devemos invadir esse site por si só. Cobrir suas páginas com
corações e flores.
— Boa ideia. Eu terei alguém nisso assim que levarmos Raphael de volta
em casa.
Ambos ficaram em silêncio por um longo tempo, o comentário de Cyn serviu
para lembrá-los do que exatamente a assustou em primeiro lugar.
— Você acha que o site é confiável? — Robbie perguntou, se movendo para
a geladeira e tirando os ingredientes para o café da manhã.
Cyn inclinou-se contra o balcão, outra garrafa de água em sua mão. Ela
tomou um longo gole antes de responder. — Confiável? Provavelmente não. Mas
isso não quer dizer que não haja verdade nessa história. Alguém acha que há. O
bastante para me enviar o link de qualquer forma.
Robbie franziu a testa. — Sim, mas quem? E por que nos ajudar?
— Poderia ser um do pessoal de Rhys Patterson. De acordo com Juro,
Patterson somente cooperou com Mathilde porque ela o ameaçou. Mas ele está
governando essas ilhas por conta própria a um longo tempo. Nem mesmo Raphael
realmente sabe quantos vampiros ele tem, ou quem eles são. Se Mathilde perdeu
alguém, esse vampiro poderia estar retaliando ao nos direcionar a informação que
nós precisamos.
— Ou poderia ser alguém da equipe de Mathilde nos enviando em uma
busca a um ganso selvagem, a fim de desviar nossa atenção de onde quer que seja
que eles realmente estão se escondendo.
— Mas isso pressupõe que Mathilde sabe que nós estamos aqui, e nós não
achamos que ela sabe, — Cyn protestou.
— Quem quer que seja que enviou essa mensagem não tem conhecimento
que você está aqui. Tudo que eles sabem é que você está sentada em Malibu roendo
suas unhas.
— Talvez.
— O que você me diz, Cyn. Ao invés de nos conduzir a loucura com os e se,
por que você não termina os ovos, e eu procurarei em fontes de notícias locais
legítimas e vejo o que eles têm.
Robbie puxou seu laptop de onde ele estava colocado na mochila e começou
a teclar. — O que Murphy tem a dizer? — ele perguntou sem olhar para cima.
Robbie estava com ela e Murphy no dia que ela quase morreu. Ele tinha
segurado sua garganta com suas mãos, enquanto Murphy tinha corrido de volta
para o complexo onde Raphael estava apenas acordando. Uma experiência
compartilhada como essa criava um laço que nunca se esquece.
Cyn começou a quebrar os ovos. — Murphy tem um amigo seal em Oahu.
Ele disse para eu esperar um telefonema. Eu estou esperando que o amigo conheça
um amigo policial que possa nos ajudar a rastrear essas histórias, desde que todos
os tipos gung-ho5 tendem a ficar juntos.
— Quando ele vai ligar?
5
Expressão em mandarim usada para designar os entusiastas e dedicados asiáticos na década de 40 e encorajar seu
batalhão.
— Assim que Murphy consiga contatá-lo, eu imagino. Esperançosamente
logo.
Robbie continuou a trabalhar em seu laptop, seus dedos grossos batendo
no teclado forte o bastante para fazer estremecer.
— Aqui vamos nós, — ele anunciou repentinamente.
— O que você conseguiu? — Cyn perguntou. Ela deixou de lado a tigela de
ovos crus, então caminhou ao redor para olhar sobre seu ombro. — Honolulu Star-
Adevertiser, — ela leu. — Esse é um grande jornal?
— O maior em circulação no estado, ou assim eles alegam.
— E?
— Eles não têm agressões, e eles não descrevem completamente o massacre
sangrentos como o site com o grupo de vampiros fez, mas eles têm três corpos,
todos mortos com as mesmas feridas, e todos nas últimas duas semanas.
— Três corpos não é muito, — ela comentou, ainda lendo sobre seu ombro.
— Não é em L.A., mas eu não tenho certeza sobre Honolulu. E comparando
com os outros relatórios, há uma forte possibilidade para um novo refúgio de
Mathilde.
Cyn recuou. — Eu gostaria de saber quem enviou-me aquele link em
primeiro lugar. Cheira como armadilha.
— Eles deixaram um número de telefone para chamar de volta?
— O número estava bloqueado, mas eu sempre posso tentar enviar um texto
de volta e ver o que acontece.
— Então, faça isso. Apenas pergunte quem são.
Cyn caminhou ao redor do balcão e entrou na sala de estar onde ela tinha
deixado o telefone descartável quando ela teve seu episódio que absolutamente não
era um desmaio. Agarrando seu telefone, ela rapidamente digitou: “Que diabos é
isso?” Então pensou melhor nisso, e mudou para simplesmente, quem é você?
A resposta veio antes mesmo que ela conseguisse voltar para a cozinha.
Robbie olhou para o toque de mensagem, seus olhos encontrando os delas com
uma pergunta. Ela assentiu, em seguida veio para perto dele então ambos podiam
ler o texto. Ela dizia simplesmente: Um aliado. Nós devemos nos encontrar.
— Oh, foda-se, não, — Robbie disse imediatamente. — Sem encontros, Cyn.
Nós não temos qualquer ideia de quem é esse palhaço.
— Só há uma maneira de descobrir, — ela continuou razoavelmente. — Nós
concordamos com o encontro.
— Bobagem. Peça a ele algo genuíno, e veja o que ele diz.
Cyn encolheu os ombros, em seguida digitou: Você me conhece. Mas quem
é VOCÊ? Ela destacou a última palavra para dar ênfase.
Ela largou o telefone, então ligou a panela para esquentar e despejou os
ovos nela. quando seu telefone soou, ela estava mexendo os ovos, então Robbie o
pegou e leu em voz alta. — Donavan Willis. Eu trabalho para Rhys Petterson.
Cyn franziu a testa. Donavan Willis. — Eu conheço o nome, — ela disse
distraída. Se ele trabalhava para Patterson, ele era local, alguém que ela conheceu
ou ouviu falar nos últimos dias. Mas ela não tinha encontrado muitas pessoas. Na
verdade, além do piloto primo de Luci, ela não tinha conhecido ninguém em tudo.
Raphael tinha cuidado disso, mas...
— Donavan Willis! — Ela repetiu com reconhecimento repentino. — Ele
apareceu no segundo dia que nós estávamos na casa, como parte do comitê de
boas-vindas. Eu estava na sala de controle vendo o vídeo de segurança com
Ken’ichi. Havia dois vampiros tentando passar por locais em camisas havaianas
combinadas e então havia o humano Willis. Cabelo espetado, piercings. Ele
queria... — Ela pensou no que ela tinha ouvido da conversa de Willis com Raphael.
— Ele ofereceu-se para consertar a internet de alta velocidade da casa, disse
que ele poderia fazer mais rápido ou alguma outra besteira. Todos nós achamos
que era um estratagema óbvio para grampear nosso sistema, e Raphael declinou
educadamente.
— E sobre os dois vampiros com Willis? Eles pareciam acolhedores com
Willis?
— Acolhedor? É uma daquelas palavras código das Operações Especiais que
os civis não entendem?
— Você está apenas com inveja que eles não levam garotas?
Cyn bufou. Isso era meio de verdade, embora ela nunca admitiria. —
Acolhedor não era a palavra que eu usaria para descrever aqueles caras. Na
verdade, eu tenho certeza que não uso essa palavra desde que eu tinha cerca de
seis anos. Mas, o ponto na verdade, Willis e os vampiros não pareciam estar
jogando na mesma equipe. Quando ele achou que eles não estavam olhando, os
sentimentos de Willis sobre os outros dois eram bastante óbvios, e eles
definitivamente não estavam cheios de admiração.
Cyn distribuiu os ovos, e adicionou torradas em cada prato. A cozinha ficou
silenciosa por alguns minutos enquanto as torradas eram lambuzadas com geleia
e os ovos eram consumidos. Cyn se surpreendeu por comer quase tanto quanto
Robbie. Aparentemente, ela estava com mais fome do que imaginava.
Robbie levantou-se e serviu café para ambos. Cyn assentiu em
agradecimento então afastou o prato e disse:— Ok, vamos com a ideia de que
Patterson não é um cúmplice disposto a sequestro. Onde isso nos deixa?
— Nos deixa com Willis, um humano que trabalha para Petterson,
oferecendo seus serviços.
— Pode valer a pena investigar.
— Como ele sabe que você ainda está na ilha?
— Talvez ele não saiba. L.A. fica somente seis horas de viagem daqui.
Robbie franziu o cenho. — Eu não sei. Ele pediu por uma reunião, não uma
chamada telefônica. Isso me diz que ele sabe que você está aqui.
Cyn olhou para baixo para o telefone descartável em sua mão, e sentiu a
lâmpada acender em sua cabeça. — Meu telefone celular, — ela disse, dando a Rob
um olhar de dãh. — Ele originalmente mandou a mensagem para meu telefone
celular e ele é um hacker. Um especialista em segurança pelo que Raphael me
disse. Quão difícil seria para um cara como ele rastrear a localização de meu
celular? Até mesmo se eu não o usasse, está ligado e nós dois sabemos o que
significa. Talvez ele não possa restringir a um local específico, mas ele com certeza
pode dizer que eu ainda estou em Kauai.
— Merda. Nós precisamos desligar os telefones pessoais de todos e tirar as
baterias. Nada mais além dos celulares descartáveis irrastreáveis daqui em diante.
Cyn lhe deu um olhar perturbado. — Mas e se Raphael...
— Querida, — ele disse pacientemente. — Nós dois sabemos que Raphael
não precisa de um telefone para contatá-la.
— Eu sei que você está certo, — ela disse, respirando fundo. — Mas eu não
posso fazer isso. Eu preciso deixar essa conexão aberta, apenas no caso.
— Eu entendi. Vamos apenas esperar que o pessoal de Matilde não seja tão
afiado quanto Willis, quando se trata de telefones celulares.
— Vamos esperar que Willis já não esteja trabalhando para Mathilde.
— Bom ponto. Nós devemos encontrá-lo, porém.
Cyn olhou para ele com surpresa. — Por que a mudança de coração?
Robbie fez uma careta. — Se ele está do nosso lado, ele pode nos ajudar. Se
ele não está, nós precisamos saber disse, também. Porque significará que Mathilde
sabe sobre nós.
— Nós provavelmente devemos definir um encontro à luz do dia, então. De
modo que nenhum dos aliados de Mathilde, pelo menos nenhum dos mais
perigosos, possa estar à espreita.
— Eu não tenho certeza que seja uma boa ideia. — Ele discordou. — Nós
não podemos deixar os vampiros sem vigilância.
— Você poderia ficar aqui enquanto eu...
O riso de Robbie foi um latido de descrença. — Não há nenhuma maneira
no inferno que eu deixarei você se encontrar com esse cara sozinha. Nós
esperaremos até depois de escurecer, e levaremos Ken’ichi e Elke conosco. Mande
a mensagem e volta. Marque o encontro para noventa minutos depois do pôr do
sol. Algum lugar perto.
— Quem morreu e fez de você o chefe?
— Quando se trata de merda como essa? Tio Sam. Hooah6.
— Que seja, — Cyn murmurou.
— Você fica aqui até o pôr do sol, então trás os vampiros com você para o
encontro. Eu me dirigirei para lá mais cedo e verei se alguém diferente de Willis
aparecerá. Você lembra como ele parece? Posso reconhecê-lo por algo mais?
— Cabelo castanho escuro espetado. Piercings em ambas as sobrancelhas
e orelhas, óculos pretos de armação.
— Peso? Altura?
— Eu só o vi no vídeo, — ela disse pensativamente. — Ele estava próximo a
Raphael, embora, então, um metro e sessenta mais ou menos, magro, mas em
forma talvez 72 quilos.
— Certo. Ele te encontrará no McDonald’s perto do mercado onde nós fomos
ontem. Eu estou assumindo que ele sabe como você parece, mesmo que ele não
tenha te visto na casa. Independentemente disso, certifique-se que nós saibamos
como ele parece. Há uma área de piquenique no lado sul do drive-thru. Não terá
6
É uma antiga gíria militar, que significa “head out of ass”, algo como tire a cabeça do traseiro.
tanta multidão quanto no restaurante ou na área de jogos, especialmente depois
de escurecer.
Os polegares de Cyn estavam voando enquanto ela escrevia a mensagem
para Willis, separando as instruções de Robbie em dois textos diferentes o que
tornava mais fácil seguir.
A resposta de Willis foi instantânea. Três palavras. Eu estarei lá.
Ela olhou para cima e encontrou os olhos marrons escuros de Robbie. —
Nós vamos. — Ela tinha que se forçar a manter a calma, manter as mãos firmes e
a voz fria. Essa era a primeira boa vantagem que eles tinham, um homem dentro
do campo do inimigo. Ela socou sua emoção para lembrar a si mesma que Willis
podia não estar no campo de Mathilde mais, se é que ele alguma vez esteve. O fato
de que ele estava disposto a ajudar Cyn argumentava contra isso, mas ele
provavelmente ainda sabia mais do que ela sobre o que estava acontecendo.
Robbie estava observando-a atentamente, parecendo entender sua batalha
interna. O que ele tinha dito sobre tio Sam treinando-o para situações que
acabavam como essa, era verdade. Robbie tinha visto a guerra real, tinha tomado
decisões de vida e morte em três campos de batalhas diferentes. Os vampiros eram
muito sanguinários, e Cyn tinha lutado sua cota de conflitos desde que assumiu
Raphael, mas ela sabia que sua experiência não chegava perto da de Robbie. O que
era provavelmente o porquê de ela estar praticamente saltando fora de sua pele
com o que ela esperava ser excitação bem escondida, enquanto ele estava em pé ali
fazendo uma clara imitação de homem de gelo.
— Eu levarei o carro de aluguel, — ele lhe disse. — É menos visível. Você
liga para a empresa de aluguel e pede para trazer algo maior. Ken’ichi e eu
precisamos de algum espaço para as pernas. E eu quero algo com mais poder.
— Você devia tentar o assento de trás, — ela resmungou.
— É, não obrigada. — Ele andou e pegou um par de telefones irrastreáveis
da mochila. — Anote esses números.
Cyn obedientemente anotou os números em seu telefone, então olhou para
Robbie. — Você conseguiu munição? Tudo mais que você precisará?
— Eu consegui duas Mags reserva, e, hei, eu estou indo para estar no
McDonald’s. Eu estou provavelmente melhor lá fora do que em sua casa com dois
sanguessugas e uma mulher que mal come comida.
— Eu acabei de ter ovos!
— Querida, isso foi apenas o aperitivo.
— Tudo bem. Vá para o McDonald’s e se polua com comida rápida.
— Você está morrendo de vontade de ir comigo, não está?
— Morrendo é uma palavra muito forte.
— Quer que eu pegue um hambúrguer com fritas? Eu poderia trazer na
volta...
— Não, não. Eu conseguirei algo mais tarde. Inferno, Willis é um geek de
computador. Talvez nós possamos nos unir pela junk food.
— Eu trancarei. Você deve tentar dormir... você vai precisar.
— Eu não sou uma boa guarda se eu estiver dormindo profundamente.
— Então pegue um travesseiro e alguns cobertores e durma na parte de
cima das escadas. A coisa do assento do amor no alto da escada parece muito
confortável. Não para mim, mas você pode se encaixar. Ou dormir aqui embaixo.
— Talvez, — ela disse, embora internamente ela estava pensando de jeito
nenhum. A única coisa que que ainda a tentara a dormir era a memória de como
Raphael tinha usado seus sonhos para contatá-la antes. Quando ela tinha estado
no Texas com aquele babaca do Jadril. Conceder-lhe o desejo de sonhar tinha sido
praticamente nada além de sexo, mas isso não queria dizer que ele não podia fazer
outras coisas, também. Seu coração doía, uma verdadeira dor física, quando ela
pensava sobre Raphael, sobre o que ele devia estar passando. Sobre o quanto ela
precisava acreditar que nada e nem ninguém poderia mantê-los separados.
Ela apertou sua mandíbula tão forte que machucou, engolindo a emoção
que ameaçava inundá-la. Ela não estava indo deixar Mathilde vencer. A cadela
pensava que ela era tão esperta, enquanto ela tivesse Raphael, e que ninguém nem
nada poderia tocá-la. Bem, boa sorte com isso. Porque Raphael pertencia a Cyn, e
ninguém ia levá-lo para longe dela.
— Agora essa é a Cyn que eu conheço e amo, — Robbie comentou com um
meio sorriso, enquanto ele via a expressão determinada em seu rosto. — E essa é
a Cyn que eu preciso para esta operação.
Cyn deu-lhe um olhar surpreso, em seguida riu pesarosamente. — Eu estou
apenas tentando não entrar em colapso em um pedaço encharcado como uma
garota esquisita.
— Vá em frente e desabafe por alguns minutos – depois que eu tiver ido
embora, por favor – e tire isso de seu sistema. Depois, esqueça sobre isso e venha
lutar.
— Obrigada, Robbie, — ela disse sinceramente.
— Hei, nós passamos pelo fogo juntos, querida.
— E saímos do outro lado, — ela adicionou. — E nós faremos isso desta vez,
também. Não se preocupe.
— Não estou preocupado. E agora eu vou embora antes que eu seja aquele
que se transforma em uma garota esquisita.
— Eu conseguirei uma SUV no local de locação tão logo você saia. Mantenha
contato.
— Sim, senhora. Eu verei você lá mais tarde.
Cyn dirigiu-se para frente, observando através da janela quando Robbie
saiu com o sedan para fora da garagem. Ela ouviu o barulho da porta fechando
atrás dela, então imediatamente foi para o andar de cima para verificar a garagem,
e todas as outras portas e janelas. Ela deu um telefonema rápido para uma
empresa de carros de aluguel diferente e arranjou uma SUV apropriada para ser
deixada em duas horas, em seguida ela pegou um travesseiro e esticou-se no
assento do amor com vista para as escadas, embora esticar-se não fosse
inteiramente exato – o pequeno sofá era pelo menos cinquenta centímetros menor
do que ela era – mas ela não imaginava que ela fosse dormir tanto assim.
****
Ela acordou ao som do celular próximo ao ouvido direito. Ela tinha deixado
dois dos telefones preparados próximo a ela antes de ir dormir então ela não
perderia qualquer ligação. O toque era de um dos telefones que Juro tinha lhe
dado, e uma rápida verificação do tempo lhe disse quem seria seu interlocutor.
Ainda era dia na costa leste, mas o sol tinha se posto na costa oeste, e os vampiros
estavam acordados.
Ela tocou a tela. — Duncan, — ela disse rapidamente deslizando para fora
do pequeno sofá do amor para sentar no chão pesadamente acarpetado.
— Cynthia, — ela ouviu sua voz familiar e tranquilizadora voz com um
ligeiro sotaque sulista.
Ela sabia que seu telefonema viria. Juro começaria a notificar os outros
assim que ele estivesse no ar ontem à noite. Depois de tudo, o sequestro de Raphael
era provavelmente o primeiro golpe da guerra vindo, e os outros Lordes vampiros
precisavam saber, para se prepararem, não havia muito tempo, o oposto seria
verdadeiro. O povo de Raphael teria se esforçado para manter seu sequestro em
segredo. Mas os vampiros da América do Norte eram uma aliança agora, e todos
eles concordariam que o primeiro ataque dos inimigos teria Raphael como alvo.
Agora que Mathilde teve sucesso nisso – pelo menos em curto prazo – Juro teria
avisado os outros que um ataque mais amplo poderia ser eminente.
— Duncan, — ela repetiu, uma vez mais lutando com as lágrimas que
apertavam sua garganta e faziam falar quase impossível. Ela estaria se tornando
um poço de emoções ultimamente. Se ela não conseguisse Raphael de volta logo,
ele não reconheceria o poço humano que ela se tornaria.
— Eu não lhe perguntarei como você está, Cynthia. Eu sei. — Duncan disse,
a afeição óbvia em sua voz não fez nada para trazer suas emoções sob controle.
Duncan tinha sido o tenente de Raphael por muitos séculos. Ele tinha saído apenas
no ano anterior quando ele havia lutado e vencido pelo seu próprio território. Cyn
e Duncan não confiaram um no outro inicialmente, mas eles eventualmente tinham
se tornado próximos, e ela ainda sentia falta de sua presença diariamente, desde
que ele se mudou todo o caminho através do país para Washington, D. C.
— Juro nos disse sobre seus planos, — ele disse, provavelmente para
preencher o silêncio criado por sua atual incapacidade de falar. — Como nós
podemos ajudar?
Cyn inclinou sua cabeça para trás no sofá do amor e fechou seus olhos. Ele
não ia tentar e falar para ela sobre o resgate de Raphael. Mas então, ele não faria
isso. Duncan a conhecia muito bem para pensar que ele poderia falar com ela sobre
qualquer outra coisa, especialmente quando vinha a ser a segurança de Raphael.
Por outro lado, ele amava Raphael tanto quanto ela fazia. Ele poderia estar soando
como o seu habitual eu imperturbável, mas ela sabia que ele estava lutando com a
vontade de pegar um avião e se unir a ela no Havaí por si mesmo.
— Nós ainda estamos coletando informações nesse ponto, — ela disse. —
Mas não se preocupe, se nós precisarmos de qualquer coisa eu chamarei. Como
você está indo, Duncan? E sem besteira.
— Basta dizer que as últimas vinte quatro horas tem sido estressantes, —
ele admitiu, o que era o equivalente a um grito primal de qualquer outra pessoas.
A contínua presença de seu sotaque por si só era um indicador de seus níveis de
estresse para qualquer um que o conhecia bem. Quanto mais irritado Duncan
ficava, mas seu sotaque tornava-se evidente. — Eles não precisam de mim aqui,
Cynthia, — ele disse, sua voz subjugada e suas palavras arrastadas, como se ele
não quisesse ninguém lá para captar o que ele estava dizendo. — Miguel pode...
— Duncan, — ela o interrompeu, aturdia por encontrar a si mesma uma
posição lógica na presente conversa. — Você não pode sair de seu território agora.
E mesmo se você pudesse, Anthony precisa de seu apoio. Nós não sabemos onde o
próximo ataque será.
— Foda-se Anthony, — ele disse maldosamente. Mais evidências de seu
estado emocional atual. Duncan nunca perdia sua calma e ainda mais raramente
amaldiçoava. — Raphael devia ter substituído ele muito antes disso.
— Sim, nisso Raphael é realmente indolente, — ela concordou, seu próprio
sotaque afetado. — É claro, houve algumas outras exigências sobre seu tempo
ultimamente.
Duncan suspirou. — Você está certa, eu sei. Mas se houver qualquer coisa
que eu possa fazer para ajudar...
— Eu ligarei. Mas Robbie está aqui comigo, e Elke e Ken’ichi. E eu acho que
nós ficaremos melhor em um time pequeno, indo no estilo guerrilha.
— Guerrilha, hum? — Ela ouviu o sorriso em sua voz.
— Ele me serve, você não acha?
— Surpreendentemente bem. Mas Cynthia, o que você precisar, mesmo que
não seja mais do que uma voz amigável no telefone, você deve prometer que ligará.
— Eu ligarei, — ela repetiu pacientemente. — Eu deveria esperar ouvir
Lucas depois? — Ela perguntou.
— Eu estou surpreso que eu cheguei primeiro, — Duncan lhe disse. — A
última vez que eu falei com ele, o garoto tinha seu jato abastecido e pronto para
partir.
— Você tem que impedi-lo, Duncan.
— Eu acredito que o convenci a ficar onde ele está por agora. Mas se algo
mudar... ele pode chegar a você mais rápido do que eu posso, Cynthia.
— Eu não acho que nós precisamos da ideia de ajuda de Lucas agora.
— Ele pode ser sutil quando necessário.
— Eu aceitarei sua palavra sobre isso, mas... — Ela parou quando seu
telefone indicou outra chamada. — Falando do diabo, — ela disse a Duncan. — É
Lucas.
Duncan suspirou alto. — Eu desejaria que nós todos não estivéssemos tão
longe.
O telefone tocou novamente. — Merda, eu tenho que atender isso, Duncan.
Eu tenho que falar com Lucas, ou ele convencerá a si mesmo que eu estou morta
e aparecerá aqui antes que a noite acabe. Você sabe que ele irá.
— Você está certa. Tome cuidado, Cynthia, e lembre-se...
— Qualquer coisa que eu precisar, eu sei. E, Duncan, eu o trarei de volta.
Eu prometo. Dê meu amor a Emma. — Ela atendeu a chamada de Lucas, antes
que ela fosse para o correio de voz. — Lucas, — ela respondeu.
— Cynthia, querida, — Lucas cumprimentou-a, seu sotaque exatamente o
oposto de Duncan, com aquela energia cintilante em cada sílaba. — Nós estamos
preparados e prontos para ir. Nos dê um alvo e nós estaremos lá.
— Lucas, — ela o repreendeu. — Eu sei que você e Raphael falaram sobre
isso. Juro e Jared precisam de você exatamente onde está.
— Foda-se eles, — ele disse com uma raiva repentina que combinava com
a explosão de Duncan mais cedo, — Ninguém disse nada sobre Raphael ser
capturado pela cadela da Mathilde.
— Você conhece Mathilde? Você já a encontrou? — ela perguntou
urgentemente, pensando que ela devia ter perguntado isso a Duncan, também.
Quando mais informação ela tivesse, melhor. Lucas tinha estado com Raphael na
Europa, então ele era mais provável que tivesse conhecido a cadela.
— Eu a conheci, mas eu ainda era humano naquele tempo e bem abaixo
para ela reparar. Então eu não sei muito sobre ela, — ele admitiu, e Cyn sentiu o
desespero pairar como uma espessa névoa cinza. — Raphael passou algum tempo
em sua corte, apenas alguns meses. Eles nunca se deram muito bem, mas eles
quase chegaram as vias de fato antes de nós sairmos por bem. Eu não tenho certeza
sobre o que foi a discussão, mas Raphael estava tão irritado quando eu o vi, e nós
saímos no dia seguinte.
O nevoeiro de desespero pareceu rastejar mais perto, mas então ela lembrou
a razão principal pela qual ela tinha atendido. — Não venha para cá, Lucas.
Mathilde acha que todo o pessoal de Raphael saiu das ilhas, e eu quero que ela
continue pensando assim. Se ela não souber que nós estamos aqui, ela não se
importará em se proteger contra nós.
— Querida. Eu amo uma mulher esperta.
— Você ama todas as mulheres.
— Aí, não mais. Eu sou o vampiro de uma mulher só.
— Kathryn acabou de entrar na sala, não foi? — Cyn perguntou, sentindo
seu humor clarear apesar de sua situação desesperadora. Ela ouviu uma voz baixa
feminina ao fundo um momento antes de Lucas voltar.
— Minha bela Katie enviou seus cumprimentos e disse para dizer a você
que sua pesquisa no VICAP não trouxe nada de útil, mas ela continuará
procurando.
— Diga a ela que eu agradeço, e que eu ligarei se eu tiver mais para
continuar.
— Sei disso, Cynthia, — Lucas disse em um raro momento de seriedade. —
Há muito poucos seres com quem eu verdadeiramente me importo nesse mundo.
Eu farei qualquer coisa por Raphael. Qualquer coisa.
— Eu o trarei de volta, — ela prometeu mais uma vez, fazendo a mesma
promessa para Lucas que ela tinha feito para Duncan e Juro antes disso.
Porque a verdade era essa, ela estava indo salvar Raphael... ou morrer
tentando.
— Você fique seguro, Lucas. Ambos, você e Kathryn. Eu estarei em contato,
— Cyn disse. Ela desligou a chamada, mas não se levantou imediatamente, levando
alguns minutos para controlar as emoções que as duas chamadas tinham
despertado, para reconstruir as paredes de aço e depois enfiar todas as emoções
atrás delas. Ela precisava desse distanciamento, a fim de funcionar em um nível
necessário para ver o que precisava ser feito e então seguir através e fazer isso. Ela
conhecia suas forças e fraquezas. Ela tinha um talento para remover as ervas
daninhas das resmas dos detalhes que vinham em um caso e encontrar os poucos
pedaços que importavam. Ela se destacava no pensamento tático, e era, alguns até
diziam obsessiva, em busca de seu objetivo. Mas ela estava certa como certeza não
era destemida. Não havia tal coisa. Havia somente a habilidade de continuar apesar
do medo, e ela podia fazer isso. Infelizmente, seu maior medo nesse caso não era
por si mesma, mas por Raphael. E isso estava tão emaranhado nela, o seu amor
por ele, que era muito mais difícil empurrar tudo atrás das paredes.
Suspirando, ela trouxe seu cobertor e travesseiro para o chão, esperando
pegar uma hora ou duas de sono antes do sol se pôr. Ela nunca seria capaz de
relaxar no quarto, sabendo que os vampiros estavam desprotegidos, mas, pelo
menos no chão, ela poderia se esticar.
Ela tinha acabado de começar a adormecer, quando a campainha soou. O
som inesperado a trouxe sobre seus joelhos em um instante, Glock em sua mão e
apontou em direção as escadas, antes que ela lembrasse da maldita SUV que ela
tinha pedido para a empresa de aluguel entregar.
Com o coração batendo com a corrida de adrenalina, ela desceu as escadas.
Com a Glock ainda mantida pronta e para baixo ao seu lado, ela abriu a porta
apenas o suficiente para verificar o jovem de aparência muito séria segurando a
prancheta. Cyn sorriu, tentando parecer uma amigável turista comum, mas a
julgar pelo olhar alarmado nos olhos do garoto, ela descobriu que falhou
miseravelmente. Ela entendeu sua reação ainda melhor quando ela alcançou atrás
da porta para colocar sua arma para baixo e pegou seu reflexo no espelho colocado
sobre a mesa ali. Ela parecia como a assassina do machado. Não admira que as
mãos do garoto estivessem tremendo.
Ela tirou sua carteira da sua mochila, depois o seguiu até o Suburban
estacionado na entrada da garagem. Usando uma das várias identidades falsas, ela
conseguiu acalmar o garoto o bastante para terminar a papelada. Ela apenas tinha
rubricado e assinado o último formulário quando seu amigo se acalmou de volta.
Ela deu ao garoto um sorriso e uma nota de dólares de gorjeta, tentando compensar
seu medo anterior, então voltou para dentro da escura e silenciosa casa. Ela
brevemente contemplou tentar dar outro cochilo, mas então se rendeu a realidade
e virou-se para a cozinha ao invés.
Ela estava indo precisar de café. Muitos e muitos cafés.
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Concluindo que Willis tinha um carro, e depois de um pouco de
reorganização entre os três veículos e a garagem para dois carros, foi acordado que
o carro de Willis devia definitivamente ficar fora de vista. Podia ser como ele disse,
que Mathilde mal sabia que ele estava vivo, mas não havia necessidade de instigar
o destino. Quanto a outra vaga na garagem, eles decidiram que o carro de palhaço
parecia mais como um carro alugado por turistas, então esse foi deixado na entrada
da garagem e o suburban foi estacionado na segunda vaga, fazendo o carro de dois
lugares do hacker parecer menor.
Cyn já havia entrado na cozinha, imaginado que o debate sobre o
estacionamento não requereria sua contribuição. Ela só tinha uma coisa em sua
mente, e isso era dormir, e se ela realmente estivesse com sorte, talvez sonhasse
com Raphael. Ela pegou uma garrafa de água, e começou a ir para o quarto, mas
encontrou-se sentando na escada, muito cansada para continuar indo, ou até
mesmo tirar sua jaqueta. Ela se perguntou se Raphael a alcançaria em seus sonhos
se ela dormisse aqui mesmo.
Sem aviso as grandes mãos de Robbie levantaram seu corpo para ficar em
pé. — Vá para cima, Cyn, se algo acontecer, eu acordarei você.
Cyn olhou friamente para ele. — Você me carregará?
Robbie sorriu. — Não, mas você pode inclinar-se sobre mim então nós não
fracassaremos antes de chegar lá.
Quando eles chegaram ao quarto que ela estava chamando de seu, Cyn deu
um tapinha no peito de Robbie em agradecimento, então fechou a porta, enquanto
ele se afastava. Tirando suas roupas uma peça por vez, ela as deixava onde quer
que caíssem. A única exceção seus arreios de ombro e a Glock 9mm que estava lá
no coldre. Os arreios, ela colocou sobre a cadeira perto da cama, a Glock foi para
mesa perto do travesseiro. Sua arma reserva ainda estava em sua mochila. Ela não
a usou para encontrar Willis, porque tinha muito poder de fogo em sua equipe sem
ela, mas desse momento em diante, ela teria ambas as armas com ela sempre que
eles saíssem.
Deitando-se sobre o colchão muito firme em nada além de suas roupas
debaixo e um top com elástico, Cyn contemplou tomar um banho, mas não tinha
força de vontade para fazer qualquer coisa, exceto puxar as cobertas e se colocar
embaixo delas. Os lençóis estavam frios e cheirando a limpeza, seu corpo doía com
o alívio por finalmente estar deitado. Ela relembrou a imagem de Raphael quando
ela o viu pela última vez, quando ele a beijou em despedida antes de ir encontrar
Mathilde. E ela se perguntava pelo que ele estava passando. Era noite. Não
importava o que eles estavam fazendo com ele, ele estaria acordado e consciente.
Eles estavam torturando-o? Ele estava se perguntando porquê ela não tinha o
encontrado ainda?
Seu olhar caiu sobre a jaqueta de couro de Raphael, a única que ela pegou
em seu caminho para fora da casa, a única que ele não tinha usado porque ele
queria se vestir adequadamente para as negociações com Mathilde. A vadia.
Cyn estendeu um braço e agarrou-a na cadeira, em seguida se enterrou de
volta nos travesseiros, abraçando em seu peito. Ela sentiu o primeiro rastro quente
do líquido ao longo de sua bochecha quando uma lágrima vazou e ensopou o
travesseiro. E então ela dormiu.
****
7
Tipo de café.
Murphy novamente, e ver se ele fez algum progresso com seu amigo de Oahu.
Poderia ser de grande ajuda ter um policial em nosso time.
— Você não precisa de um policial. Eu posso entrar no sistema do HPD8 no
momento que eu quiser. — Willis disse, claramente querendo provar seu valor.
— Isso é ótimo, e é por isso que precisamos de você. Mas os policiais falam,
e nem tudo o que eles dizem é encontrado em um registro oficial. Eu também
gostaria de aproveitar isso.
Willis assentiu com um acordo relutante. Os hackers tendiam a acreditar
que tudo poderia ser encontrado em algum lugar online.
— De qualquer maneira. — Cyn oficialmente continuou. — Nós estamos
deixando essa casa e provavelmente não vamos voltar. O que significa que as
janelas terão que ser descobertas, juntamente com qualquer evidencia que grite
vampiro. Eu vou ter Luci providenciando para a casa um serviço de limpeza que
virá e tomará conta do resto.
Ela bebericou o resto do seu café, então enxaguou a caneca e colocou dentro
da máquina de lavar, enquanto os outros empurravam as cadeiras e banquinhos.
— Robbie, você conheceu o piloto, Brandon. Ligue para ele, por favor, e
arranje um voo para mais tarde esta noite. O mais rápido que ele puder preparar.
E eu vou ligar para Murphy.
Ela saiu da cozinha, parando apenas para encontrar os olhos negros de
Ken’ichi com um sorriso confidencial. — Eu vou encontrá-lo. E então iremos tomar
conta do resto deles.
Ken’ichi deu a ela um sorriso raro, exultante como um predador. — Eles
morrem, Cynthia. Cada um deles.
— Eles com certeza irão.
****
O telefone tocou uma vez, antes de Colin Murphy responder com um curto:
— Leighton.
— Eu sou a única pessoa que nunca diz “Olá”, Murphy? — Cyn perguntou
secamente.
— Não, isso é praticamente o meu método padrão de saudação. A menos eu
8
Departamento de Polícia de Honolulu.
não saiba quem está ligando, então é: ‘O quê inferno você quer?’, então julgue-se
com sorte.
— Sorte é bom, mas um contato com a força polícia local poderia ser melhor.
Você ainda tem conversado com seu amigo SEAL?
— Eu conversei e tenho um nome para você. O nome do policial é Mal
Turner, e ele é um detetive do HPD, esse é Departamento de Polícia de Honolulu.
Se você precisa de uma jurisdição diferente...
— Não, isso está perfeito. O que eu digo a ele?
— O nome do meu amigo é Doug Burgess. Ele ligará para Turner, então ele
estará esperando ouvir de você.
— Isso é bom. Obrigada, Murphy. Como está a fronteira no Norte?
— Quieto por agora, mas estamos nos preparando para o pior. Estamos
tentando antecipar uma estratégia, mas é difícil com tão pouca informação.
— É tanto território para cobrir. — Cyn disse, referindo ao território de
Sophia, o qual era todo o Canadá.
— Raj e Aden realmente intensificaram a fronteira. Lucas também, embora
com Raphael faltando, ele está focado em ajudar Juro e Jared no Oeste.
— Raphael viu isso vindo.
— Parece que sim. Estaríamos pior sem a aliança.
Cyn queria sentir bem com isso, e ela se sentiu. Estava orgulhosa por
Raphael ter conseguido unir os oitos lordes vampiros do norte da América uma
única aliança funcionando. Mas era difícil sentir-se bem com as conquistas de
Raphael, enquanto ele permanecia prisioneiro da Mathilde.
— Mathilde e outros irão se arrepender de terem deixado Europa.
— Como está indo, Leighton?
— Eles o moveram para fora da ilha. Nós sabemos que isso é um fato. E
temos uma pista de onde ele pode estar. Seu amigo policial será útil para deduzir
isso.
— Então, você está otimista.
— Eu não estou otimista. Não quando se trata das pessoas com quem me
importo. Eu apenas faço o trabalho, e eu apenas faço com uma vingança quando
alguém fode com Raphael.
— Uh huh. Agora que temos isso fora do caminho, como estamos realmente
sentindo? A versão sem merda estúpida.
Cyn afundou na cama com um suspiro. — Eu estou assustada até a morte.
— Todo mundo fica assustado com coisas assim, que...
— Não, Murphy. E não estou assustado por mesma. Tenho medo de fazer
algum estupido e Raphael pagar o preço.
— Foda isso. Eu confio em você com a minha vida, Leighton. Seus instintos
são bons o bastante como de qualquer soldado que eu conheço, e eu conheço
alguns dos melhores.
Cyn sorriu ironicamente. — Obrigada, Murphy. Então se não é verdade, é
bom ouvir isso.
— Merda, Cyn. Eu quis dizer cada maldita palavra.
— Ok.
— Rob ainda está com você, certo?
— A cada passo do caminho. Ele não me deixa fora de sua vista.
— Aí está. Se um soldado como Rob segue você, então você está fazendo
algo certo.
— Ok. — Ela repetiu.
Murphy praguejou suavemente. — Chame Mal Turner, Cyn. E se você não
conseguir, você pode chamar meu amigo Doug. Eu estou enviando a você o número
pessoal dele, e eu também incluí o número do HPD, apenas no caso. Mas eu
avisarei Doug, que você provavelmente estará lingando essa noite dando a
circunstâncias.
Cyn olhou para baixo no seu telefone tocando uma mensagem. — Recebido.
— Ela falou a Murphy.
— Certo. Eu tenho que ir. Está tarde aqui e as reuniões estão acontecendo,
tentando ter todo mundo pronto.
— Eu entendo. Boa sorte, e eu vou falar com você quando nós estivermos
de volta em L.A.
— Ligue a qualquer momento, Leighton. Especialmente se for boas notícias.
— O mesmo, tchau Murphy.
Cyn desligou, então abriu o telefone e discou o número de Mal Turner. Ela
se preparou sem saber o que esperar. Ela nunca tinha sido nada além de uma
policial de rua, e ela não durou muito tempo no LAPD. Mas ela conhecia alguns
detetives. Eles eram geralmente obcecados com trabalho e não apreciavam ter que
lidar com amigos ou parente de alguém. Todos eles fazem, por que toda sua rede
de trabalho era crítica, mas eles não gostavam disso.
O telefone tocou cinco vezes e ela estava prestes a desligar quando a voz
rosnou: — Turner.
Cyn não gastava tempo com sutilezas. — Sou Cynthia Leighton. Doug
Burgess me deu seu telefone.
— Sim, ele deu. Isso é sobre o quê?
— Burgess não disse nada?
— Eu não perguntaria se ele tivesse feito, Docinho.
Cyn fez uma careta com a palavra de carinho, mas deixou passar. — Eu
estou procurando por um assassino que eu penso estar atuando na sua jurisdição.
— Yeah? Coisa engraçada. Isso é coisa do tipo que eu faço. Então me diga
porquê eu preciso de você para fazer meu trabalho.
— Por que esse assassino é um vampiro, Detetive Turner. E eu sei o muito
mais sobre vampiros do que você.
Ela esperou. O silêncio continuou por vários minutos, mas ela sabia que ele
continuava lá. Ela poderia ouvir o som de alguma coisa tocando no fundo, então
Turner amaldiçoou e o som cortou.
— Quem diabos é você? — Ele exigiu.
— Eu disse para você. Meu nome é Cynthia Leighton. Quanto ao resto,
deveríamos nos encontrar, isso não é coisa que se discute no telefone.
— Como eu sei que você não está cheia de merda?
— Verifique, você tem meu nome, E eu vou dar qualquer outra informação
que você precise. Eu sou formada pela LAPD e agora a licenciada no estado da
Califórnia como investigadora particular. E você provavelmente vai encontrar
outras histórias lá fora também. Algumas delas são até mesmo verdadeiras. Mas o
mais importante detetive, eu sou a pessoa que pode ajudar a você matar quem está
degolando gargantas em Honolulu.
— Você quer dizer capturar, não quer, Docinho? Você disse, matar.
— Sim. Primeira lição quando se trata de vampiros assassinos, querido.
Quando os você pega, você os mata.
Turner deu uma risada surpreso que soou como pedras rolando em seu
peito.
— Eu gosto de você, Leighton. Quando podemos nos encontrar?
— Eu vou estar em Honolulu tarde dessa noite, então qualquer hora
amanhã de manhã ou à noite.
— Então você não é um vampiro?
— Eu não sou.
— Está certo. Vamos manter isso fora do escritório. Esse é um bom número
para você?
— É um começo, mas é bom para um dia.
— O mistério aumenta, ok. Eu vou mandar uma mensagem para você com
a localização. Nós nos encontraremos às 8:30 amanhã à noite. Não esteja atrasada.
— Eu vou estar lá.
— E, Leighton?
— Sim?
— Estarei verificando você, então se tem algo que queira dizer...
— Nada a dizer, Turner. Vejo você amanhã à noite.
Cyn desligou, então levantou para reunir algumas coisas que ela não
empacotou, incluindo a jaqueta de Raphael. O telefone tocou e ela fez uma pausa
para ler a mensagem recebida de Mal Turner. Ele providenciou o nome e o local de
um bar, mas como ela não conhecia nada de Honolulu, a informação lhe dizia
pouco. Ela faria questão de verificar o bar com Robbie durante a manhã. Amigo de
amigos ou não, ela nunca foi despreparada para um lugar desconhecido, a fim de
encontrar uma pessoa desconhecida.
Robbie colocou a cabeça através da porta aberta, enquanto ela estava
puxando o zíper da duffler.
— Você está pronta? — Ele perguntou. — Brandon está preparando o avião
agora. Ele disse que dado o nosso tempo de condução, podemos decolar assim que
chegarmos lá.
Ela levantou a duffler, a qual Robbie imediatamente pegou dela. — Guarde
a sua força, querida. Murphy conseguiu um policial para você?
— Yeah. O nome dele é Mal Turner. Eu liguei e ele soou interessado no que
temos a dizer. Relutou no começo, mas não há surpresa nisso. No momento que
eu mencionei o assassino vampiro, ele mudou de tom. Nós iremos encontrá-lo
amanhã à noite.
— À noite é bom. Eu sinto melhor com Ken’ichi e Elke na nossa retaguarda.
Eu acredito que não iremos encontrá-lo na estação. Vampiros e policiais não se
misturam.
— Nós iremos nos encontrar em um bar. Você e eu podemos verificá-lo
amanhã à tarde.
— Isso soa bem.
Robbie desceu as escadas, enquanto Cyn fazia uma verificação final dos
quartos do andar de cima, para ter certeza de que os vários lençóis e toalhas
haviam sido removidos das janelas. Lá embaixo, todos os lençóis usados foram
colocados em uma enorme pilha na lavanderia. Cyn fez uma nota mental de
mandar uma mensagem para Luci sobre conseguir um serviço de limpeza e tudo
mais.
Elke estava esperando, quando ela terminou a vistoria no andar de baixo, e
elas se juntaram os outros na garagem para encontrar Robbie e Ken’ichi já subindo
no assento dianteiro do Suburban, com Willis uma pequena sombra no assento da
frente do seu próprio carro. Ela quase esqueceu sobre Willis. Ela não estava segura
se ainda precisaria dele, para ser sincera. Mas não machucaria ter um hacker na
mão, e todo o seu conhecimento das Ilhas e sua conexão com Patterson poderia
ainda provar ser útil antes de tudo isso acabar.
Mas isso não significava que ela confiava nele. Ele não estava indo para
Honolulu com eles. Eles iriam escondê-lo em um bom hotel não muito longe do
aeroporto de Lihue em Kauai. Cy tinha feito às reservas usando um de seus nomes
falsos e cartões de créditos. Ele estaria mais seguro lá, e ele estaria disponível se
ela precisasse dele, mas ele não saberia nada mais do que isso, sobre onde o resto
deles estaria ou o que eles fariam. Willis afirmou estar do lado deles, e o sentido de
verdade de Ken’ichi confirmou a sua intenção. Mas o interesse dele não estava
coincidindo com o deles. Se houvesse uma escolha entre Patterson e Raphael, não
haveria dúvidas em relação a quem ele escolheria.
— Isso significa que você e eu estamos pegando um carro palhaço? — Elke
exigiu, atraindo a atenção de Cyn com um amplo gesto em direção aos homens
dentro do Suburban.
Cyn suspirou. Sério? Ela precisava perder tempo com isso?
— Você pode ir com os rapazes. — Ela falou a Elke. — Eu vou estar bem
atrás de você no sedan.
— Como se isso fosse acontecer. — Elke resmungou. — Certo. Eu vou com
você, mas eu vou dirigir.
— Como você quiser. — Cyn disse facilmente, escondendo o seu sorriso. Ela
sabia que Elke nunca iria aceitar deixá-la sozinha, mesmo que significasse ter que
dirigir por cinquenta quilômetros em um carro pequeno.
Quando a pequena caravana se afastou, Cyn olhou para trás, sem
arrependimento por estar deixando Kauai para trás. Apesar de toda a beleza de
ilha, ela sempre a associaria aos recentes e devastadores eventos. Nas próximas
férias de verão, ela estava pensando em ficar em Malibu.
****
****
France, 1819
Raphael esperou impaciente por Mathilde fazer uma aparição. Ela estava
habitualmente atrasada. Era uma pretensão de sua parte, uma maneira de
demonstrar que ela era mais importante do que quem a esperava, que seu tempo
era muito mais valioso. Era irritante como o pecado e mais uma razão pela qual ele
nunca concordaria em servi-la.
Ele tinha vindo a esta parte da França à procura de uma casa, apenas a
última parada em sua busca por um território próprio. Mas o que ele encontrou foi
mais do que ele tinha encontrado em toda a Europa – muitos senhores vampiros
mais velhos, todos bem defendidos e dominados pelo poder. Ele poderia ter
desafiado qualquer um deles e triunfar, mas, francamente, a Europa estava
dividida em tantas pequenas explorações que ele teria que lutar desafio após
desafio, a fim de criar um território digno de seu poder e ambição.
Ironicamente, foi a oferta de Mathilde há duas noites que tomara sua
decisão por ele. Ele estava indo para a América e levando algumas pessoas com
ele. Ele esperava que a jornada fosse infernal e longa, mas nesses dias, a viagem
era rotineiramente suficiente para que ele não tivesse dúvidas de que sobreviveriam
à travessia.
E uma vez lá, as oportunidades seriam ilimitadas. Por que apesar de tudo,
o continente era vasto, aberto e, o mais importante, livre de vampiros.
Mas primeiro, ele tinha que lidar com Mathilde. Supondo que ela chegasse
para o encontro antes do sol nascer em um novo dia.
— Raphael.
Ele girou com o som de sua voz, seu olhar admirando sua aparência
cuidadosamente cultivada. Ela era uma mulher atraente, não bonita, mas sensível
e segura de si mesma, o que era atraente a seu modo. A menos que se conhecesse
a mente manipuladora que trabalhava constantemente atrás desse apelo enganoso.
Mathilde não fazia nada sem um motivo oculto, e seus motivos eram sempre
egoístas.
— Mathilde, — ele respondeu, intencionalmente omitido qualquer título ou
honorífico. Ela não era a única que podia jogar.
Sua delicada mandíbula se flexionou em irritação, mas sua expressão
nunca variou enquanto deslizava graciosamente pelo quarto e apresentava a mão
para ser beijada.
Raphael o fez, mas apenas porque era o costume humano. Ele teria de bom
grado beijado a mão de uma vendedora de flores na rua. Ele pegou os dedos
oferecidos por Mathilde, tocando-os em seus lábios no mais breve dos gestos.
Mathilde acomodou-se em seu assento favorito, que era uma cadeira de
grandes dimensões colocada sozinha na frente da sala, com outras cadeiras menos
elaboradas agrupadas à sua volta.
Raphael afastou as cadeiras menores, perturbando a sua colocação
cuidadosa, a fim de empurrar um sofá pequeno na posição em seu lugar. As
cadeiras eram muito frágeis para ele sentar-se com qualquer conforto, o que
Mathilde sabia muito bem. Ela franziu o cenho de desaprovação por seu rearranjo
improvisado, mas ainda não ofereceu nenhuma palavra de censura. Ela queria algo
dele, e ela estava disposta a tolerar alguma insubordinação menor para obtê-lo.
— Então, Raphael — ela ronronou. — Você considerou minha oferta?
Ele não respondeu diretamente. Em vez disso, ele fez uma pergunta. — Você
já ouviu falar da América, Mathilde?
Seus lábios franziram em desgosto. — Lugar não civilizado. Agricultores e
crentes. Nenhum dos quais eu escolheria me associar.
— Homens e mulheres trabalhadores que criam algo do nada, Mathilde. Um
vasto continente de possibilidades.
Ela deu de ombros. — Se você diz. Dificilmente um lugar para vampiros, ou
qualquer um de posição.
Raphael quase riu em seu rosto. Mathilde pode ter vindo da nobreza, ele
realmente não sabia. Mas ele certamente não tinha. Em sua vida anterior, ele tinha
sido um daqueles agricultores que ela tanto desprezava.
— O que isso tem a ver comigo? — ela retrucou, antes que a percepção
alterasse sua expressão em uma de descrença. — Você não pode estar pensando
seriamente em ir para lá?
— Eu não estou apenas pensando nisso. Estou determinado a fazê-lo.
Vamos fazer o nosso caminho.
— Eu ofereci-lhe um lugar à minha direita! Eu o faria meu tenente, e você
me deixaria por esse lugar selvagem?
Raphael levantou um ombro com desdém. — Quero um território, Mathilde.
Não faço segredo disso. E não há nenhum aqui.
— Você não precisa de território se você ficar ao meu lado. Isso não é poder
suficiente?
— Você não quer colocar seu poder nas minhas costas, Mathilde. Você quer
meu poder na sua, e nós dois sabemos disso. Não tenho interesse em ser o número
dois de ninguém.
— Sua arrogância me assusta. Eu governo centenas de vampiros, a maioria
dos quais são meus próprios filhos e me devem suas vidas. O que você tem? Nem
um único filho...
As palavras de Mathilde pararam quando uma porta na parte de trás da
sala se abriu e Lucas entrou, caminhando discretamente até o lado de Raphael,
onde se agachou, esperando para entregar qualquer mensagem que o trouxe a este
quarto.
Mas Raphael não estava olhando para Lucas; ele manteve sua atenção em
Mathilde. Ele viu o desejo em seu olhar enquanto observava Lucas, a cobiça. Apesar
de todo seu desprezo pela espécie humana, os amantes de Mathilde eram todos
jovens homens e humanos. Como os franceses o chamavam? Nostalgie de la boue.
Nostalgia pela lama. Assim como Mathilde gostava de provar sua superioridade
fazendo os outros esperar, ela preferia os amantes socialmente inferiores, amantes
que ela podia dominar e controlar.
E ela queria Lucas. Ela o desejava desde o primeiro momento em que o viu,
chegando até a perguntar a Rafael se poderia “emprestá-lo” em mais de uma
ocasião, como se o rapaz a quem ele havia resgatado das ruas de Londres fosse
uma posse a ser passada ao redor e emprestada entre amigos. Ou inimigos.
Mas Raphael nunca deixaria isso acontecer. Lucas era seu para proteger de
maneiras que Mathilde nunca entenderia.
— Aguarde-me lá fora, Lucas — ele ordenou.
Lucas não era tolo. Ele sentiu a tensão no momento em que entrou na sala.
Ele olhou Raphael brevemente, uma oferta silenciosa de apoio se Raphael
precisasse. Mas esse, era Lucas. Raphael enfrentaria um vampiro quase tão
poderoso e muito mais astuto do que ele, e Lucas estava preparado para ficar com
ele, mesmo sendo humano e vulnerável.
Raphael tocou-lhe o ombro com tranquilidade. — Eu estarei lá rapidamente.
— Lucas assentiu, então se levantou e saiu do quarto tão silenciosamente como
entrou, sem nem mesmo reconhecer a presença de Mathilde.
— Seu escravo precisa aprender algumas maneiras, Raphael. — A
expressão dela se tornou calculadora, e Raphael preparou-se para o que quer que
ela fosse fazer a seguir. — Talvez eu possa te ajudar com isso. Você sabe que eu
preferiria que você permanecesse ao meu lado, mas se você estiver pronto, eu vou
conceder-lhe licença. Lucas terá de permanecer, como pagamento pela proteção
que lhe dei ao longo da sua estadia aqui. Mas você não precisa se preocupar com
seu bem-estar. Vou levá-lo como meu próprio, e ele será bem cuidado.
Raphael riu. Ele realmente riu. Ele não podia evitar. Esta megera de uma
fêmea pensou que poderia reivindicar Lucas como pagamento de uma dívida?
Como se Raphael lhe devesse alguma coisa pelos meses que havia desperdiçado
em sua corte? Como se ele tivesse se beneficiado até mesmo do menor modo de sua
presença, quando na verdade era ela que tinha ganhado muito mais de sua
associação do que ele.
O riso dele sumiu. — Lucas nunca será seu. Quanto à sua permissão para
sair... eu não preciso, nem desejo isso. Nós somos vampiros. Se você acredita que
pode me impedir... — ele ficou de pé até a altura dele e olhou para ela — Então
faça isso. Se não eu me despeço. E duvido que nossos caminhos voltem a se cruzar
novamente.
Raphael girou no calcanhar e foi para a porta. Atrás dele, ele ouviu o
farfalhar de saias de cetim, enquanto Mathilde se levantava.
— Você não vira as costas para mim! — Ela sibilou. — Eu domino este
território e você me mostrará o respeito devido ao seu próprio lorde.
Raphael olhou para trás quando ele alcançou a porta. — Este território é
seu — concordou ele. — Mas eu nunca serei, nem Lucas. — Ele levantou o trinco
e saiu para o corredor, fechando a porta atrás de si enquanto Mathilde emitia um
grito de fúria sem palavras, acompanhado pelo som de algo quebrando.
Os olhos de Lucas estavam arregalados quando encontraram os dele. —
Vamos sair esta noite, meu senhor?
Raphael assentiu. — O mais cedo possível. O novo mundo nos espera.
Honolulu, Hawaii, dia atal
****
9
Investigadora Particular.
— Ok, é isso. — Ela murmurou, as pernas de madeira da cadeira rasparam
no chão quando ela se levantou. Ela precisava conseguir pelo menos algumas horas
de sono, mesmo que apenas para dar a Raphael a chance de se conectar com ela,
algo muito mais essencial para ela do que dormir. Havia drogas para mantê-la
acordada. Mas apenas Raphael podia fazê-la querer continuar tentando.
Robbie sentou-se quando ela tropeçou através do cômodo em seu caminho
para as escadas. Ele estava deitado no sofá, tendo um daqueles cochilos de
combate que os militares pareciam ser especializados. Ele estava pegando o
primeiro turno, não confiante que o sistema de segurança sozinho era o suficiente
para proteger os vampiros. Uma vez que eles encontraram Maleko Turner em um
bar de policiais, suas presenças tinham sido conhecidas. Eles não tinham
evidências de que Mathilde tinha algum policial como parte de sua conspiração,
mas eles não tinham nenhuma evidência de que ela não tivesse também. Então,
desse momento em diante, ele e Cyn tomariam turnos de dormir durante o dia.
— Alguma coisa nos arquivos? Qualquer coisa que você queira que eu dê
uma olhada? — Robbie perguntou, soando tão alerta quanto se ele não tivesse
apenas aberto os olhos.
Ela negou com a cabeça. — Eu mandei a Willis a informação de onde os
corpos foram encontrados e pedi a ele que conectasse isso com os bares vampiros
conhecidos. Mesmo que Rhys Patterson vivia no Havaí, ele devia saber sobre
qualquer vampiro aqui em Honolulu e onde eles passavam o tempo. Não é tão longe
para que ele nunca tenha visitado. — Ela cobriu a boca para esconder um bocejo
que abriu sua mandíbula. — Eu ainda preciso ir através dos livros de assassinato,
mas... eu não consigo ver direito.
— Durma um pouco. É de manhã. Mathilde e seu pessoal não vão a lugar
nenhum.
****
Cyn não se lembrava de cair no sono, mas ela sabia que não demorou muito
antes dela sentir o toque da mente de Raphael contra a sua, tão familiar que isso
a fez sentir dor com a sensação de perda.
— Lubimaya, — ele sussurrou, sua respiração quente contra a orelha dela.
Era tudo tão real, mas mesmo em seu sonho ela sabia que se ela girasse, se ela
virasse para olhar dentro dos seus olhos negros, que ele teria ido embora. E então
ela não tentou. Alguma coisa era melhor do que nada.
— Raphael.
Os braços deles se enrvolveram nas costas dela, e ela franziu a sobrancelha.
Isso era uma coisa que ele fazia o tempo todo quando eles dormiam, quando eles
faziam amor, seus braços sendo um peso ancorando ela contra ele. Mas isso era
diferente dessa vez, não tão pesado, seu puxar não tão forte.
— Raphael? — ela sussurrou alarmada, apertando seus olhos fechados
para não acordar, para não o fazer desaparecer. — Você está bem? Alguma coisa
está errada?
— Eu vou ficar bem, minha Cyn. Não é nada que eu não esperava.
— Eles fizeram alguma coisa? Você está...?
— Cynthia, — ele interrompeu, usando seu nome inteiro para ganhar sua
atenção. — Nós não temos tempo para isso. Mathilde deixou a ilha. Você precisa
avisar Jared e Juro que ela está a caminho.
— Mathilde — Cyn repetiu, arrastando sua mente para longe do estado
físico de Raphael. — Isso significa que o relógio está correndo.
Silêncio. Ela pensou por um momento que ele tinha ido, mas ela ainda podia
sentir a pressão do seu corpo contra o dela, o mergulho da cama atrás dela.
— Venha logo, lubimaya, — ele murmurou, e então se foi.
Cyn acordou de repente, seu coração batendo, ofegando por ar enquanto
ela automaticamente alcançava a Glock que ela deixou na mesa ao lado da cama.
Rolando para fora da cama, ela colocou suas costas contra a parede e escutou. Mas
tudo que ela conseguia ouvir era o tamborilar do seu próprio pulso. Com um
solavanco, ela se lembrou do seu sonho e da mensagem de Raphael.
Ela atravessou a cama, indo para a caixa de telefones descartáveis que Juro
tinha dado a ela, procurando pelo marcado #2. Tinha realmente que ser o #2? Qual
era a maldita diferença que isso fazia?
Encontrando o telefone correto, ela checou a hora. Era muito cedo. O sol
não tinha se posto ainda em Malibu. Juro tinha um correio de voz no seu telefone
#2? Será que ele ao menos pensaria em checar?
— Foda-se, — ela murmurou, então discou o número de Luci, ao invés.
Mathilde não devia saber sobre Luci, e mesmo que ela soubesse, ela não devia ser
capaz de encontrar o seu número de celular privado. Luci tinha vários números
para os vários conselhos de caridade que ela participava, mas seu número pessoal
de celular apenas um punhado de pessoas sabia.
Cyn não ficou surpresa quando a ligação foi para o correio de voz. Depois
de tudo, Luci estava dormindo com um vampiro agora.
— Luce, — ela disse depois do beep. — Você não conhece esse número, mas
você sabe quem é. Diga ao seu amante que eu tenho uma mensagem para ele do
seu chefe. A vadia está a caminho. Ele saberá o que significa. A vadia está a
caminho, Luce. Cuide-se.
Ela desligou, então se sentou do lado da cama e esperou até seu coração
parar de correr. Ela tinha dormido por um pouco mais de duas horas. Nem perto
do bastante, mas isso era tudo que ela ia ter. Juro tinha dado a ela três noites,
depois que Mathilde chegasse em Malibu. Três noites para encontrar Raphael e
levá-lo para casa.
E a noite um tinha oficialmente começado.
Capítulo 14
Noite Um – Malibu, Califórnia
Eles tinham pouco mais de quarenta minutos para se preparar, mas já era
suficiente. Na verdade, eles haviam começado a se preparar para esse confronto no
momento em que Raphael e sua escolta haviam saído para o Havaí. Era a principal
razão de Jared ter ficado para trás, enquanto Juro viajara com Raphael.
Toda aquela preparação não facilitou a espera, mas quando a limusine de
Mathilde fez a curva à esquerda da Pacific Coast Highway e parou em frente ao
portão fechado da propriedade – depois de percorrer uma estrada que havia sido
deliberadamente preenchida por obstáculos e crivada com buracos – Juro sabia
que estavam prontos para ela. Ou tão prontos como poderiam estar sem Raphael
lá para liderar a defesa.
Jared e Juro receberam a chamada de rádio do guarda de portão no mesmo
momento, seus fones de ouvido Bluetooth ajustados para a mesma frequência de
comando. — Senhor, há uma mulher aqui...
— Lady Mathilde, seu camponês — disse uma voz masculina fortemente
acentuada de algum lugar fora do microfone.
— Uh, Lady Mathilde — corrigiu o guarda, deliberadamente mal
pronunciando o nome com um “duh” no final, em vez do francês ma-TEELD. O jogo
era ferir o orgulho de Mathilde em cada oportunidade, porque um adversário
balançado era um adversário enfraquecido. A recente exposição de Juro a vampira
francesa, bem como as lembranças de Lucas sobre ela, falavam de um ego
extremamente narcisista. Que, concedido, vinha de mãos dadas com ser um senhor
de vampiro, mas o ego de Mathilde era acompanhado por uma personalidade
necessitada que requeria uma levantada em cada oportunidade. Era uma espécie
de insegurança que a tornava vulnerável. Mal pronunciar seu nome era um
pequeno tiro contra sua vaidade, mas então, era apenas o começo.
— Ela está exigindo entrada, senhor — continuou o guarda.
— Certifique-se de que ela não está bloqueando o portão, — Jared disse
deliberadamente, sabendo que o guarda teria seu volume alto o suficiente para que
a audição de vampiro de Mathilde pegasse sua resposta. — E eu estarei aí — ele
terminou.
Jared silenciou seu fone de ouvido com um sorriso, esperando Juro fazer o
mesmo.
— Eu sei que isso não é nada além da saudação inicial, mas, maldição, isso
foi bom.
— Pequenas vitórias — concordou Juro. — Vamos ver o que a puta tem a
dizer por si mesma.
— Você acha que ela vai sair de sua limusine? — Jared perguntou quando
saíram da sala de conferências e começaram a descer o corredor.
— Uma vez que ela perceba que não estamos abrindo os portões? E que ela
estará vivendo em um trailer? Foda-se, sim. Ela vai criar um inferno.
Jared e Juro pegaram uma escolta quando saíram da casa. Ambos eram
vampiros poderosos, e antes de Raphael ter sido levado, qualquer um deles poderia
ter deixado a propriedade sozinho, sem que ninguém protestasse. Mas não mais.
Não até que isso acabasse. Eles eram muito valiosos para a defesa da propriedade.
A distância da porta principal da casa até o portão onde Mathilde esperava
não era tão grande, menos de trezentos metros, em linha reta. Mas isso era guerra,
e caminhar aquela distância os deixava muito expostos. Assim, Jared e Juro
entraram em um dos SUVs à prova de balas com sua escolta e foram conduzidos
para o portão.
O complexo do Raphael foi projetado para garantir a segurança de seus
vampiros durante o dia quando eles eram vulneráveis, e para parar os inimigos no
portão, dia ou noite. A propriedade de quase dez hectares estava rodeada por três
lados por uma parede de dez metros, cada centímetro coberto por câmera de
vigilância, e grande parte coberta por arame farpado. Alarmes de placa de pressão
foram semeados em todas as áreas mais remotas, e havia patrulhas ao vivo em
torno do perímetro. O quarto lado da propriedade era uma queda de cinquenta
metros até o oceano, também coberto por câmera de vigilância, com uma única
escada em ziguezague que fornecia o único acesso da praia para o topo do
penhasco. E isso era apenas o terreno. A casa e outros edifícios tinham camadas
adicionais de segurança, mas Juro não tinha intenção de deixar Mathilde chegar
tão longe.
O portão principal para veículos, que agora estava frustrando a entrada de
Mathilde, era uma barreira pesada e sólida de aço, com uma casa de guarda
fortificada a um lado.
Enquanto ele e Jared saíam do SUV, Juro notificou o guarda via Bluetooth
de sua chegada. O portão foi aberto o suficiente para um vampiro de cada vez
passar. Sua escolta foi em primeiro lugar, seguido por Jared e Juro. Eles haviam
debatido que apenas um deles a confrontasse, enquanto o outro ficava para trás,
mas decidiram que era melhor mostrar uma frente forte e unida desde o início.
Afinal, embora nenhum deles pudesse igualar a força de Raphael, juntos eles eram
uma força poderosa, especialmente quando estavam em seu próprio território. Eles
eram mais que suficientes para se oporem a Mathilde, porque, vamos encarar,
Mathilde não poderia enfrentar Raphael também. Foi por isso que ela e seus aliados
foram forçados a violar a bandeira de trégua para tirá-lo da cena.
A primeira coisa que Juro notou quando o portão se abriu e ele se
aproximou do guarda foi a pressão implacável que Mathilde estava pondo na mente
do guarda, tentando forçá-lo abrir o portão. Juro reforçou imediatamente os
escudos do guarda. Mathilde tinha cometido um erro estratégico ao manter
Raphael vivo. Por um lado, fez esta pequena charada de desafio dela possível. Por
outro lado, no entanto, isso significava que a ligação de Raphael aos milhares de
vampiros que o chamavam senhor, e especialmente às centenas de vampiros que
ele próprio criara, estava intacta, incluindo Juro. Tudo o que Juro tinha que fazer
era usar seu próprio poder para reforçar o elo já existente que ele e o guarda
compartilhavam com Raphael, e os esforços de Mathilde deslizaram como chuva
no aço.
— Qual é o problema? — perguntou Jared, dirigindo a pergunta ao seu
próprio guarda, já que a limusine de Mathilde estava novamente fechada.
— Há uma senhora ali... — o guarda começou a explicar, mas naquele
momento a janela da limusine abaixou com um sibilar de som.
— Lady Mathilde chegou — disse o motorista com ironia. — Você abrirá o
portão.
Jared bufou. — Acho que não. Esta propriedade está em um pé de guerra.
Amigos apenas, e seu passageiro não é amigável, colega. Por outro lado, ninguém
da sua equipe foi autorizado a entrar neste território, o que significa que você está
em violação da soberania do Lorde Rafael. E isso nos dá o direito de matar cada
um de vocês, se nós escolhermos.
Naquele momento, as portas se abriram dos três veículos de Mathilde e
vampiros saíram.
Jared recuou para ficar ao lado de Juro, sua mão levantada em um sinal
silencioso que foi imediatamente respondido pelos booms quase simultâneos de
vários rifles de sniper de calibre 50, e um após o outro da escolta de vampiros de
Mathilde se desintegraram em poeira, seus corações se evaporaram junto com seus
peitos. Não precisava de uma estaca de madeira para matar um vampiro. Enquanto
o coração fosse destruído além da habilidade de curar, o vampiro estava morto. E
uma rodada de calibre 50 não deixava muita coisa para trás.
As armas dos franco-atiradores ficaram em silêncio. A noite fedeu a pólvora
e sangue, as portas dos SUVs ainda abertas. Somente um vampiro permaneceu à
vista, um macho que ainda se sentava no assento do motorista do segundo SUV,
parecendo congelado com ambas as mãos no volante.
Jared e Juro esperaram para ver o que Mathilde faria. Se tivessem muita
sorte, ela se viraria, voltaria para o aeroporto e terminaria com esse desafio
miserável. Mas nenhum deles esperava que isso acontecesse. Senhores vampiros
não eram nada se não arrogantes, e Mathilde não era exceção.
A porta de trás da limusine se abriu e, apesar dos protestos audíveis de
alguém no banco de trás, Mathilde saiu do veículo, seus lábios franzidos em
desgosto com a cena ao seu redor, mostrando a dor que se poderia esperar da perda
de tantos de seus próprios vampiros.
Parecia a mesma aristocráta arrogante que fora no Havaí, embora Juro
notasse que pelo menos ela trocou o vestido de cetim arcaico que usara na noite
em que havia traído Raphael. A roupa desta noite era composta de calças pretas e
uma camisa de gola alta, com um casaco comprido e botas de salto alto até o joelho.
— Jared, não é? — Ela disse, conseguindo olhar abaixo seu nariz apesar da
diferença em suas alturas.
Jared a olhou em silêncio. — Meu nome é Jared — disse finalmente. — E
você é?
Os lábios de Mathilde se curvaram em desdém. — Eu sou sua nova senhora,
rapaz. E você vai pagar caro por este ultraje. Seu fim não será nem rápido nem
indolor, asseguro.
Jared endireitou, um sorriso divertido brincando sobre seus lábios. — Este
território já tem um senhor. E não é você.
Ela devolveu um olhar presunçoso, suas presas abruptamente em plena
exibição conforme ela se endireitou a toda a altura e anunciou em uma voz
intencional para transportar além da parede: — De acordo com as antigas leis de
nosso povo, eu desafio Rafael, Lorde do Oeste, a me encontrar em defesa de seu
território.
Se ela esperava choque ou desânimo, ela não conseguiu isso de nenhum
dos vampiros de Raphael que estavam do lado de fora do portão. Mas isso não
impediu o brilho da vitória que iluminou seus olhos azuis, como se esse resultado
fosse uma coisa certa.
— Infelizmente, — Jared disse, como se seu desafio fosse uma questão de
pouca preocupação, — Lorde Raphael não está aqui no momento para responder
ao seu desafio. No entanto, ficarei feliz em transmitir suas intenções a ele.
— Três noites — disse ela, apressando as palavras, sem fôlego, como se ela
não pudesse esperar para entregar seu pequeno golpe de graça. — Raphael tem
três noites para me encontrar ou perderá o desafio.
— Então, se você diz, — Jared disse secamente.
Mathilde afastou um pouco de poeira que tinha pousado em seu suéter
preto. — Você vai me admitir imediatamente, e fornecer acomodações adequadas.
— Ah! Lamentavelmente, ou se eu for honesto, não tão lamentavelmente,
devo informá-la que, de acordo com essas mesmas leis antigas que você tão
recentemente invocou, e como uma desafiante não convidada, o que certamente
você é, agora você é considerada uma inimiga, e, portanto, lhe é negada a entrada
à propriedade do meu Sire.
Ela olhou para ele com incredulidade. — Eu sou a governante de um
território significativo na França, e uma senhora em meu próprio direito. Não serei
deixada como um mendigo no portão!
— Sim, bem, talvez você devesse ter ligado com antecedência. Eu sou o
tenente do Lorde Raphael, no comando desta propriedade em sua ausência, e eu
não permitirei você dentro das paredes sem a aprovação de meu Sire. E como eu
sou atualmente incapaz de entrar em contato com ele, como você bem sabe, eu não
posso obter essa aprovação. Assim, você não será permitida passar por estes
portões.
— Você acha que pode me parar, garoto?
Todas as pretensões de bom humor sumiram da expressão de Jared. Ele
deu um passo à frente como se estivesse preparado para desafiá-la, mas Juro tocou
seu braço levemente em advertência. Jared não conseguiria derrotar Mathilde em
um desafio. Mas se ele agisse como substituto de Raphael neste momento, o desafio
seria lutado aqui e agora. Jared perderia, e Raphael também.
O brilho da vitória no olhar de Mathilde morreu quando Jared rolou os
ombros, liberando a tensão. — Meu Sire não precisa de mim para lutar suas
batalhas por ele — disse ele.
— Uma coisa boa, ao que parece — ela murmurou, indo para um último
insulto. — Muito bem. Vamos ocupar sua casa de hóspedes enquanto esperamos
Raphael.
— Sinto muito de novo — disse Jared, sem sinceridade. — Nossas
acomodações estão todas dentro da propriedade o que as deixa indisponíveis para
você. Se você está decidida a perseguir esse desafio imprudente, no entanto,
suponho que você poderia fazer uso desses trailers ali. — Ele gesticulou para os
dois trailers idênticos que tinham sido trazidos naquela manhã. — Fizemos alguma
reforma recentemente — mentiu ele, — e os vários empreiteiros...
Mathilde virou-se lentamente na direção indicada, depois respirou fundo e
virou-se para ele em indignação.
— Você não pode esperar que eu...
— Ou você pode voltar para o aeroporto, pegar o avião que trouxe você aqui,
e voltar para a França. A escolha é sua.
Mathilde o olhou fixamente, seu olhar se deslocava de Jared a Juro
conforme ela fisicamente vibrava com raiva. — Eu não vou esquecer disso, — ela
sibilou. — Vocês dois morrerão gritando quando eu for sua senhora.
— Eu morrerei muito antes disso — disse Juro, as primeiras palavras que
ele tinha falado com ela desde que fora forçado a assistir enquanto preendia
Raphael, forçado a abandonar seu Sire a seu destino. — Eu preferiria morrer
defendendo o último humano nesta propriedade do que servir um único momento
sob seu governo.
— Feito, — ela zombou. Então, com um último olhar afiado para os trailers,
ela entrou na limusine.
Jared sinalizou novamente. Nas árvores, os atiradores já se moveram,
ocupando novas posições pelo resto da noite. Antes do nascer do sol, uma nova
equipe de franco-atiradores humanos viria, junto com um guarda humano. Mas,
por enquanto, uma equipe de guerreiros vampiros atravessou os portões para
cercar a limusine e o SUV solitário com seu motorista aterrorizado enquanto
manobraram na área recém-desmatada onde os dois trailers tinham sido
montados. Juro poupou um momento de simpatia pelo motorista do SUV. Alguém
teria que pagar o preço do desagrado de Mathilde depois da derrota de hoje à noite,
e provavelmente seria esse cara.
Juro esperou com Jared até que Mathilde estivesse instalada em suas
acomodações de “convidados” e os guardas foram implantados para sua satisfação.
Então os dois se afastaram atrás da parede da propriedade, e o portão de aço
fechou com um barulho alto. Era alto o suficiente para que Mathilde ouvisse atrás
das finas paredes de seu novo trailer, e ele esperava que a fizesse morder os dentes
até a raiz.
Nem ele nem Jared disseram uma palavra enquanto subiam de volta ao
SUV e faziam a pequena viagem de volta para a casa principal, permanecendo em
silêncio até que estivessem dentro e as portas da casa se fechassem atrás deles.
— Tudo correu bem — comentou Jared. As palavras dele estavam calmas o
suficiente, mas Juro podia ouvir a raiva e desconforto por baixo delas.
— Ela é muito velha e astuta para deixar isso aparecer — respondeu Juro,
— A morte de seus lutadores é um revés. E agora que ela declarou sua intenção,
ela não será capaz de trazer novos. Nós os mataremos antes deles a alcançarem.
Ela também sabe disso. É o melhor que poderíamos esperar esta noite.
Eles chegaram ao topo da escada e foram para a sala de conferências,
quando Jared parou e virou-se para considerar Juro. — Não parece suficiente. Só
temos três noites agora. Eu sei que você disse que Cyn...
— Jared. Temos um plano. Nós vamos cumpri-lo. Vou chamar Cyn e
atualizá-la, enquanto você liga para Lucas, e deixe ele saber que ele está acordado.
Cyn esfregou seus olhos, tentando se concentrar nas páginas na frente dela.
Ela tinha mudado para os registros dos assassinatos, lendo cada página dos
relatórios, lutando para decifrar o que ela assumiu ser a escrita de Maleko Turner.
Provavelmente, era uma boa coisa que ele estivesse vindo para encontrar Elke,
porque nesse momento, Cyn iria precisar de sua ajuda apenas para descobrir o
que alguns desses rabiscos diziam.
As fotos não deixaram dúvida. Essas três mortes foram causadas por
vampiros, um homem e duas mulheres. Os relatórios do ME10 sobre as três vítimas
indicaram relações sexuais consensuais antes da morte, sem agressão, além das
lesões no pescoço. O que significava que o vampiro ou os vampiros responsáveis
haviam seduzido doadores dispostos, como de costume, mas depois se deixaram
levar pela alimentação. Ou eles não estavam acostumados a doadores vivos e
tinham perdido o controle de seu instinto de alimentação, ou estavam fora da
coleira pela primeira vez em muito tempo e simplesmente tinham gostado da
matança.
O que levantou a pergunta... Com Mathilde fora das ilhas, quem estava no
comando? De acordo com Juro, e os relatos de sonhos necessariamente críticos de
Raphael, os cem ou mais vampiros que o restringiam eram em sua maioria
vampiros mestres. Vampiros geralmente não jogam bem juntos, e com Mathilde e
os outros senhores longe, pode ser um caso de muitos tenentes e ninguém no
comando. Isso poderia tornar o trabalho de Cyn mais fácil depois que ela localizasse
Raphael. O que ela tinha que fazer em breve. Como, esta noite.
Seu intestino queimava de muito café e sem comida suficiente conforme
seus níveis de estresse subiam. Ela se levantou abruptamente e caminhou até a
geladeira. Ela não estava com fome. O pensamento de comida realmente a enjoou,
mas os próximos dias exigiriam o melhor que ela tinha para dar, tanto mentalmente
quanto fisicamente, e isso significava que ela tinha que comer... alguma coisa.
Mesmo que fosse apenas para parar a queimadura em seu estômago.
Ela olhou para a geladeira. Metade estava cheia de comida. Robbie tinha
cuidado disso. Enquanto a outra metade estava cheia de alimento de um tipo
diferente. Eles tinham estocado sangue ensacado para os vampiros, cortesia de
Donovan Willis, que tinha organizado uma remessa do fornecedor de Rhys
Patterson.
Cyn fechou a porta. Nada ali apelava para ela. Ela abriu o freezer, em vez
disso, olhando para o relógio na parede. Era bem depois do pôr-do-sol em Malibu.
Por que ninguém a chamara ainda? Mathilde estaria lá agora. Teria ela emitido o
desafio formal? Será que os rapazes conseguiram matar seus seguidores como eles
esperavam? Alguma das pessoas de Raphael foi ferida?
10
Médico legista.
— Por que ninguém me ligou ainda? — ela perguntou enquanto Robbie
trovejava escada abaixo, indo direto para a geladeira e colocando-a de lado quando
ele chegou e pegou uma garrafa de suco de laranja. Agitando vigorosamente, ele
abriu a tampa e bebeu, drenando-a em um longo gole.
Ele abriu a tampa da lata de lixo para jogar o recipiente vazio, olhando para
a pilha de filtros de café descartados, restos de seu dia curvada sobre os registros
de assassinatos.
— Jesus, Cyn, quanto café você bebeu?
— Por que ninguém ligou? — ela repetiu.
Robbie lançou lhe um olhar paciente. — Porque eles estão no meio de uma
guerra? Porque até agora Mathilde mostrou seu traseiro magro no portão e eles
estão lidando com um vampiro que é mais poderoso do que qualquer um deles, um
que provavelmente apareceu com seu próprio exército em reboque? Vamos, Cyn.
Você sabe melhor do que isso.
Cyn empurrou seu cabelo para trás de seu rosto com as duas mãos,
puxando as pontas. — Eu sei.
— Por que você não sobe e toma um banho quente? Você vai se sentir
melhor.
Ela riu amargamente. — Sim. Eu tenho que estar no meu melhor para esta
noite. Não posso seduzir um vampiro assassino com o cabelo sujo, certo?
— Cyn.
— Eu sei, eu sei, eu só estou... — Seu telefone descartável mais recente
tocou ruidosamente e ela girou para a mesa, o agarrou e apertou o botão “Atender”
sem sequer olhar para ver quem estava chamando. Somente uma pessoa tinha esse
número e esse era Juro.
— Ei, — ela disse sem fôlego.
— Você está sem fôlego, está tudo bem aí?
— Tudo bem, o que aconteceu?
— Boa noite para você também.
— Juro!
Ele riu suavemente. — Foi como planejado. Mathilde apareceu com dois
SUVs cheios de vampiros e exigiu entrar. Nossos atiradores tiraram todos menos
um de seus vampiros, e ele não tem muita luta deixada nele.
— E o desafio?
— Ela lançou seu desafio, mas nós sabíamos que ela faria, Cynthia. Nós
nos planejamos para isso. Lucas está a caminho e vai atrasá-la tanto quanto
possível.
— Três noites, — Cyn sussurrou, principalmente para si mesma, mas Juro
ouviu.
— Lucas vai esticá-lo para quatro. Ele é um idiota, mas é isso que
precisamos agora.
Cyn sorriu, depois respirou fundo. — Então, tudo bem. Ok. Estamos
prontos para este fim. Você provavelmente não vai ouvir de mim até amanhã à
noite, então não...
— O que você está planejando, Cynthia? Raphael não...
— Raphael quer que eu faça o que for preciso para salvar seu povo, e você
sabe disso.
— Devo enviar o jato?
— Não. Preparei um dos jatos corporativos do meu pai para voar para
Honolulu amanhã. Eles estão vindo do Japão, então vai parecer uma parada
regular e não vai chamar a atenção. Eles vão ficar aqui até eu lhes dar a palavra,
então eles vão arquivar um plano de voo para Nova York com uma parada em L.A.
para combustível. Nós voaremos até Santa Monica, não LAX.
— Boa ideia. E você pode usar a minha casa quando chegar aqui.
— Eu estava pensando em meu condomínio, mas sua casa provavelmente
é melhor. Obrigada.
Um passo soou em cima. Cyn olhou pela janela e viu que o sol se pôs,
deixando apenas um brilho dourado no horizonte.
— Eu tenho que ir, Juro. Temos muito a fazer e não temos muito tempo
para fazê-lo.
— Tenha cuidado, Cynthia. Se alguma coisa acontecer com você...
— Nada vai acontecer comigo. Tenho muita gente aqui para ter certeza
disso.
— Boa sorte, então.
— Você também. Eu ligo quando puder.
Cyn desligou, em seguida, imediatamente abriu a parte de trás do telefone
e removeu o chip SIMM. Caminhando até pia, ela ligou a água, então deixou cair a
minúscula placa de circuito no lixo e virou o interruptor. O triturador resmungou
infeliz por alguns segundos, em seguida, parou.
— Não tenho certeza se isso é bom para a eliminação — comentou Robbie.
— Fez o truque, não foi?
— Esse martelo de carne teria feito a mesma coisa. Acho que tudo correu
de acordo com o plano em Malibu?
Ela assentiu. — Mathilde perdeu quase todos os seus lutadores, mas ela
lançou seu desafio, o que significa que o relógio está correndo.
— Você já conversou com Donovan Willis sobre possíveis bares de vampiros
locais?
— Sim. Ele gemeu um pouco, mas eu enviei–lhe a localização dos corpos e
ele prometeu dar uma olhada e enviar de volta os bares mais prováveis nas
proximidades. Estou supondo que os vampiros não foram longe com os corpos, já
que dificilmente poderiam levá-los de volta para casa com eles. — Ela indicou seu
laptop aberto. — Willis vai me enviar um e-mail de volta. Se entrar enquanto estou
me preparando, você e Turner deveriam dar uma olhada.
— Faremos. Ei, Ken,— Robbie disse enquanto Ken'ichi caminhava com seu
habitual passo silencioso descendo as escadas e entrando na cozinha.
Ken'ichi levantou o queixo em uma saudação silenciosa. — Já ouvimos falar
de Malibu?
Cyn levantou os restos do telefone descartável. — Tudo correu como
planejado. É nossa vez agora.
— Espero que isso signifique que Mathilde não está respirando mais —
grunhiu Elke, juntando-se à conversa.
— Se fosse tão fácil, — Cyn concordou. — Eu tenho que ir tomar banho.
— Sim, você precisa, — Elke murmurou, pulando para sentar na ilha da
cozinha.
— Você deve fazer um café fresco, — Cyn disse docemente enquanto ela
passou. — Seu namorado estará aqui em breve.
— Ele pode fazer seu próprio café, — Elke estalou. — E ele não é meu
namorado — ela gritou quando Cyn subiu as escadas.
****
Maleko Turner tinha chegado quando Cyn voltou para o andar de baixo. Ela
tomou banho e fez todas as coisas que uma pessoa tipicamente faria quando iria
sair para uma noite na cidade. Ela até tinha colocado algum rímel e brilho labial.
Seu jeans estava apertado e seu pescoço estava exposto, juntamente com a metade
de seus seios em uma bata, o que também revelava uma boa quantidade de seu
sutiã de renda preta. Ela olhou para si mesma no espelho e teve que lutar contra
o desejo de vomitar. Colocar seu casaco preto ajudou um pouco. Era necessário
esconder a Glock enfiada na cintura traseira, e enquanto ela deixasse a frente
aberta, ainda havia muito decote e pescoço em exibição. A própria ideia de que
outro homem a tocasse, de deixar outro vampiro se aproximar de sua pele, ainda
a deixava doente, mas pelo menos a arma a lembrava de que ele estaria morto
antes que ele conseguisse afundar a presa.
Ela se endireitou na frente do espelho, decidida a não deixar nenhuma das
suas dúvidas mostrar. Eles precisavam de um vampiro para questionar, e eles não
podiam se dar ao luxo de fazer uma grande cena sobre isso no bar. Se pudessem
ter encurralado um dos vampiros sozinhos, Maleko poderia simplesmente ter
caminhado para cima e prendido o cara. Mas eles não podiam contar com isso. Se
o vampiro não estava sozinho, se até um de seus companheiros europeus passasse
para ver algo suspeito, Raphael poderia ser movido antes que ela e os outros
pudessem chegar até ele.
E se isso acontecesse, eles teriam que começar tudo de novo. Não havia
tempo suficiente para isso.
— Ei, Mal — ela disse virando a esquina na cozinha.
— Leighton, — ele disse sem olhar, sua atenção em algo que ele e Robbie
estavam estudando. Ela se aproximou para ver o que era, e ele olhou para ela, seus
olhos se arregalaram em apreciação e surpresa.
Cyn encolheu os ombros. — Conheça sua isca para a noite.
Ele abaixou o queixo. — Você vai fazer.
Robbie também olhou para ela. Mas sua reação foi completamente
diferente, com suas sobrancelhas franzidas em uma careta. — Você não vai lá
sozinha.
Cyn suspirou. — Eu tenho que ir. Você sabe disso. Eu deveria estar
disponível.
— Raphael vai me matar se algo acontecer com você.
— Notícias rápidas... Raphael é a razão pela qual estamos fazendo tudo isso.
— Querida, se algo acontecer com você, não haverá vampiros suficientes no
hemisfério ocidental para mantê-lo aprisionado.
— Parece um plano — ela disse, rindo.
— Vamos, Cyn, seja razoável. Um de nós pode ir com você.
— Quem? Vocês são todos muito grandes e perceptíveis, e, além disso, você
vai pairar. Você não conseguirá se impedir. O vampiro irá vê-lo e você vai assustá-
lo. E se eu levar Elke, o meu alvo vai saber que ela é um vampiro e não um deles,
o que irá torná-lo suspeito. E eu não vou lá nua. Estou armada.
Turner a olhou de cima a baixo. — Você está carregando uma arma nesse
equipamento? O que é, uma faca?
— Glock 17. Nunca saia de casa sem uma.
— Eu não pensei que as armas trabalhassem contra vampiros — disse ele
suspeitosamente, como se eles estivessem guardando segredos de humanos
durante todos esses anos. O que eles tinham, é claro.
— No minuto que você achar que o policial sabe demais, ainda posso matá-
lo por você, Cyn. — Elke respondeu animadamente.
— Eu vou manter isso na mente, — Cyn murmurou. — Vocês escolheram
um bar para mim?
Robbie assentiu, gesticulando com um dedo para ela se juntar a eles na ilha
da cozinha onde ele tinha espalhado um mapa. — Eu marquei os locais de morte,
ou pelo menos onde os corpos foram encontrados, no mapa aqui. Willis fez a mesma
coisa e identificou dois bares.
Cyn abriu a boca para objetar. Tinha de haver mais de dois bares a uma
curta distância do corpo locais. Honolulu era uma cidade grande, depois de tudo.
Mas Robbie antecipou sua objeção com uma mão levantada.
— Eu tive o mesmo pensamento — disse ele. — Por que só dois bares? Mas
Willis diz que ele e Patterson visitaram Honolulu em uma base bastante regular, e
que pelo menos algumas dessas visitas foram a pedido de Mathilde e seu grupo.
Embora Patterson não percebesse isso até mais tarde. Alguns vampiros
aproximaram-se dele, procurando sua permissão para se instalarem no Havaí. Eles
voaram para um encontro e saudação, que é provavelmente quando eles
localizaram qualquer casa em que eles estão segurando Raphael. Eles também
foram em alguns bares enquanto eles estavam aqui, sob o pretexto de conhecer
uns aos outros. E ambos os bares estão na curta lista do Willis.
— Certo, então podemos ter que bater dois bares esta noite. Ken'ichi, Elke,
vocês podem ouvir bem o suficiente para se sentarem no estacionamento e me
dizerem se um vampiro anda por aqui? Eu não quero que ele fique assustado, se
ele sentir vocês lá, mas dessa maneira nós poderíamos cobrir ambos os bares de
uma só vez.
Ken'ichi e Elke trocaram um olhar como se estivessem tendo uma conversa,
então o grande vampiro assentiu. — Nós podemos fazer isso.
Elke sorriu, dizendo: — Eu sou uma presença poderosa, não fácil de ocultar,
mas vou conseguir.
— Não é a verdade, — Maleko disse fervorosamente.
Elke surpreendeu Cyn apertando o grande policial do braço brincando. —
Mal e eu podemos pegar um dos veículos. Cyn, você vai com os caras no outro.
Uma vez que nós localizarmos o bar, e você entrar para enganchá-lo, Mal e eu
vamos voltar e preparar as coisas aqui. Vamos ter que parar na loja primeiro, pegar
algumas folhas de plástico. Eu suspeito que haverá sangue uma vez que
começarmos a questionar esse cara. E talvez algumas dessas grandes almofadas
acolchoadas que assassinos usam. Você sabe, para sufocar os gritos.
Mal franziu o cenho para ela.
— Não me olhe assim. O que você acha? Que vamos hipnotizá-lo ou algo
assim? Bem-vindo ao mundo dos vampiros, Mister Cop. Ou eu poderia te matar
agora e, você sabe, acabar com isso.
— Porra, mulher, pare de se oferecer para me matar!
— Sim, ok — disse Cyn interrompendo o show de Elke e Mal. — Está escuro
e nós temos nossos alvos. Apenas para ser clara, vou seduzi-lo com meus caminhos
maus, atraí-lo para fora para uma mordida rápida, então Robbie e Ken'ichi irão
agarrá-lo. Ken'ichi, você pode apagá-lo rápido o suficiente para que ele não seja
capaz de gritar por ajuda, certo?
— Contanto que ele esteja suficientemente distraído.
— Ele ficará muito distraído — Cyn assegurou-lhe.
— Mas não morder — insistiu Robbie.
— Foda-se não, — ela concordou.
— Tudo bem então. Nós estamos indo, — disse Robbie. — Elke, certifique-
se de que você e Mal consigam o suficiente para cobrir completamente o interior da
garagem. Eu prefiro ter folhas de plástico sobrando do que ficar preso tentando
esfregar manchas de sangue.
— Que merda? — Mal murmurou, balançando a cabeça enquanto Elke
sorria.
— Você está pronta, Cyn? — Robbie perguntou.
Ela puxou o casaco no lugar para esconder os nervos fazendo as suas mãos
tremerem, e deu-lhe um breve aceno de cabeça. — Vamos fazer isso.
****
****
— Você não tem que fazer isso, Cyn — disse Robbie, ficando pé ao lado dela
em seu quarto escurecido, enquanto no andar de baixo Ken'ichi e Elke amarravam
seu prisioneiro com segurança na garagem recém-modificada. Maleko Turner
também estava lá, assistindo com os olhos de policial. Ele não parecia feliz, mas
ele não tinha dito nada sobre isso também.
— É claro que eu tenho, — ela insistiu enquanto tirava o casaco. Ela tirou
a Glock 9mm de seu cós traseiro, trabalhou a câmara para verificar que não havia
nenhuma bala no tubo, então deslizou a arma em seu coldre aberto. Ela não estava
se desarmando. Ela estava simplesmente trocando armas. Ela tinha mudado para
uma rodada padrão de 9mm n sua viagem para o bar lotado, mas agora ela estava
prestes a questionar um vampiro, o que significava que ela precisava de algo com
muito mais potente. Chegando no coldre, ela recuperou seu equipamento de ombro
e a segunda Glock, que ainda estava carregada com o que ela chamou de suas
matadoras de vampiro – balas de pontas ocas revestidas de Hydra–Shok, que fazia
um pequeno buraco entrando e um buraco realmente, muito grande saindo.
Apenas a coisa certa para destruir o coração de um vampiro. Ou talvez uma
articulação do joelho ou duas, se alguém queria extrair informações antes de matá-
lo.
Ela trabalhou o cano, mas desta vez foi para ter certeza de que havia uma
rodada lá. Gardet ficaria preso à sua cadeira, e Ken'ichi o estaria impedindo de
pedir ajuda. Mas isso não significava que ele não era perigoso. Os vampiros eram
imprevisíveis, e Gardet era um vampiro mestre, o que significava que seu poder
estava acima da média. Não tão forte como Ken'ichi, ou isso não teria funcionado.
Mas ele ainda era forte e, se suas tentativas de subornar a sua vontade no bar
eram qualquer coisa para ser levada em conta, ele não acima de usar truques para
obter o que queria. Ela teria que estar em guarda o tempo todo. Ela deslizou o
coldre de ombro e encaixou a arma no lugar.
— Ken ou mesmo Elke iria questionar este idiota para você se você
perguntasse, — Robbie persistiu.
— Eu sei disso. Mas eu não vou pedir-lhes para fazer algo cruel, só porque
eu não tenho coragem de fazê-lo sozinha.
Ela saiu da sala, mas Robbie entrou na frente dela.
— Cyn, você nunca fez nada assim. Infligir dor apenas para conseguir fazer
alguém falar, ouvindo-os gritar e, em seguida, fazê-lo novamente e novamente, à
espera de vê-los quebrar. Você não sabe... isso come sua alma.
Cyn parou, olhando para Robbie com olhos diferentes. Tinha pensado que
sabia tudo sobre seu serviço militar, mas nunca soube... Ela estava preocupada
que ele se opusesse a seu plano porque seus amigos haviam sido torturados, mas
e se suas objeções fossem porque ele tinha sido o único a fazer a tortura, porque
ele sabia o preço, e ele não queria que ela fosse pagá-lo.
— Rob — ela disse hesitante, tentando descobrir uma maneira de explicar
isso para ele. — Eu não quero fazer isso. Eu não estou... eu vi Raphael questionar
pessoas, humanas e vampiras. E eu sei que há uma parte dele que gosta do que
ele está fazendo. É como se a coisa que o faz vampiro, o simbionte ou o que quer
que você queira chamá-lo, vê a empatia humana como uma fraqueza, algo a ser
despojado. E quanto mais poderoso o vampiro, menos empático ele permanece.
— Mas eu não sou um vampiro. Eu sei que muita gente pensa que eu sou
uma cadela, mas isso é apenas personalidade. Eu tenho o complemento de empatia
humana, e eu não estou ansiosa para o que eu tenho que fazer esta noite. Mas não
vou cicatrizar as almas de Ken’Ichi ou Elke em vez da minha. Eu não me importo
se eles são vampiros. Porque enquanto alguma parte de Raphael gosta de ser cruel,
outra parte dele não, e rouba um pouco mais de sua alma de cada vez.
— Se nossos papéis fossem invertidos, se eu tivesse sido sequestrada,
Raphael faria qualquer coisa para me trazer de volta. Ele torturaria cada pessoa
em Honolulu se isso fosse o que custasse. E assim eu vou fazer isso por ele. É um
cara. Um cara que faz parte de uma gangue que tem torturado Raphael há dias.
Ele ganhou alguma dor por seu papel nisso. Ele ganhou muito.
Os lábios de Robbie se apertaram em uma linha sombria, mas ele
concordou com a cabeça. — Vamos fazer esse porco gritar.
Gardet ergueu os olhos quando Cyn abriu a porta entre a casa e a garagem,
em seus olhos um olhar furioso acima do pedaço de fita adesiva cobrindo sua boca.
Olhos furiosos, observaram Cyn, mas simplesmente marrons. Não havia nenhum
brilho carmesim em seu olhar, nenhum sinal de poder. O que Ken'ichi estava
fazendo, estava funcionando.
Cyn apontou para a fita adesiva sobre a boca dele. — Eu meio que preciso
que ele fale — ela disse, olhando para Elke que estava mais perto de Gardet, suas
mãos em seus quadris, seus olhos cheios de ódio enquanto ela olhava para o
prisioneiro.
— O bastardo não iria calar a boca — ela murmurou.
— Todo este preenchimento não conterá o ruído? Os vizinhos não estão tão
perto.
— Sim, nós somos bons nisso — Elke concordou. — E nós podemos sempre
ligar alguma música se nós precisarmos, — ela adicionou, chamando a atenção de
Cyn para a bancada de trabalho onde um iPhone tinha sido encaixado em um alto-
falante pequeno, sem fio.
— Essa foi a sugestão de Mal — disse Elke orgulhosamente, o que fez Cyn
lhe dar uma dupla olhada. Aparentemente, Elke não estava tão ansiosa para matar
o grande bobo. Isso também a fez pensar sobre Mal, mas talvez ele não visse
vampiros como parte da população que ele jurou proteger e servir. Ou talvez Elke
o tivesse convencido de quão diferente era realmente a sociedade de vampiros.
— Tudo certo. Vamos começar — disse Cyn. — Talvez nosso amigo aqui seja
inteligente. — Ela estendeu a mão e rasgou a fita na boca de Gardet, ignorando a
pele que veio com ela e se estremecer de dor. Ele estaria fazendo muito mais do
que estremecer se não lhe dissesse o que ela precisava saber.
— Você vai se arrepender disso, — ele rosnou para Elke. — Eu sou da
senhora Mathilde, e ela vai te comer viva por escolher um humano sobre o seu
próprio.
— Oh, querido — Elke murmurou. — Estou tão assustada.
— Você estará. Essas correntes...
— Sim, sim, — Cyn disse em uma voz entediada, interrompendo seu
discurso. — Você está chateado, porque eu não me apaixonei por sua rotina 'oh,
você é tão linda' lá. Foi o que você fez com essas outras mulheres antes de matá-
las?
— Eu não matei ninguém. Eu gosto de minhas mulheres vivas quando eu
as fodo — disse ele, sorrindo para ela.
— OK. Essa é uma imagem que eu nunca vou tirar da minha cabeça agora,
então obrigada por isso, idiota. Talvez você as tenha matado depois.
— Eu te disse, eu não matei ninguém. É disso que se trata? Um par de
putas humanas mortas e você vem toda Rambo? O quê? Você se relacionou com
um deles ou algo assim?
— Ou algo assim — ela concordou. — Então, se não foi você, quem foi? Eu
sei que foi um vampiro.
— Eu não sei — disse ele, sua expressão se fechando, como se dissesse que
ele tinha feito toda a conversa que pretendia fazer.
Cyn puxou sua Glock, suspirando enquanto enroscava um silenciador, e
recuou para evitar o sangue em suas roupas.
Gardet riu. — Essa arma não pode me prejudicar. Você conseguiu suprimir
meu poder com algum feitiço ou outro por agora, mas você não pode mudar minha
natureza. Meu corpo vai curar antes...
Seu júbilo foi interrompido com um grito, quando Cyn disparou uma rodada
diretamente em seu joelho, quase obliterando a articulação. O sangue espalhou-se
sobre o chão coberto de plástico, enquanto ele olhava horrorizado para a ruína de
sua perna, que estava quase cortada no joelho, seu pé pra cima apenas porque as
correntes que o amarravam o mantinham no lugar.
— Você provavelmente está certo, — Cyn disse, caminhando mais perto. Ela
se agachou para examinar o que restava do joelho de Gardet. — Eu tenho certeza
que seu sangue de vampiro será capaz de curar isso... Eventualmente. — Embora
ela achou interessante que ele assumiu que ela estava usando algum tipo de feitiço
para controlá-lo, assim como Juro insistiu que Mathilde deve ter feito para
enfraquecer Raphael em seu ataque inicial.
— Puta — sibilou Gardet. — Minha senhora vai...
Outro grito de dor cortou suas palavras enquanto Cyn apunhalou o pé em
sua perna sem ferimentos com a linda faca nova que Raphael lhe dera depois de
admirar as muitas facas de sua amiga Lana Arnold. Ela estava limpando o sangue
de sua lâmina, franzindo o cenho enquanto tentava encontrar um ponto limpo na
perna de sua calça, quando Mal se aproximou.
— Tudo bem, isso já foi longe o suficiente — ele disse calmamente. — Eu
concordei em deixar você me ajudar com isso, porque você parecia saber muito
mais do que eu...
— Mais? — Cyn exigiu, girando ao redor para confrontá-lo. — Os policiais
não sabiam nada sobre quem estava matando aquelas pessoas até eu aparecer.
— Ok, você está certa, — ele disse, suas mãos levantadas em um gesto
displicente. — Mas agora que temos um suspeito, talvez eu deva levá-lo...
— Você não vai levá-lo a lugar algum — disse Cyn, girando e esfaqueando
a faca no ombro de Gardet, enquanto cravando a lâmina na articulação, enquanto
ele gritava.
— Jesus, — Mal jurou. — Pelo menos deixe-me perguntar a ele...
— Você é um maldito policial? — gritou Gardet. — Que tipo de idiota
permitiria...
— Eu sou o tipo de policial que tem três corpos mortos, — Mal rosnou. —
Com quem eu poderia lidar. Imaginei que era uma aberração que vira muitos
filmes, mas três deles? E então ela aparece — ele apontou para Cyn — Me dizendo
que eram vampiros, e o que eu sei sobre eles? Nada. Mas ela disse que poderia te
encontrar e te fazer falar. E que tudo o que ela faria iria curar. Não imaginei
nenhum mal, nenhuma falta, e eu conseguia um assassino fora das ruas. — Ele
se virou para se dirigir a Cyn. — Mas isso... — Ele apontou para o vampiro
ensanguentado. — Eu não me inscrevi para isso.
— Você mata tantos vampiros quanto eu, e você vai se acostumar com isso
— Cyn zombou. Ela ergueu sua Glock, apontando para o outro joelho do vampiro,
mas o grito silencioso de Gardet a fez pausar.
— Você a ouviu, — ele implorou para Mal, rapidamente engolindo o soluço
que colocou um engate em suas palavras. — Ela quer me executar, mas eu não
matei aquelas pessoas. Eu juro.
Cyn deu um passo mais ameaçador. Seus olhos se arregalaram e ele quase
derrubou a cadeira enquanto ele se afastava dela. Ele mudou o olhar para Mal e
começou a falar rapidamente. — Eu vou te dizer quem foi. Vou lhe mostrar onde
ele mora. Qualquer coisa, apenas mantenha-a longe de mim. Ela é louca, você não
pode ver isso? — Ele exigiu, seu olhar mudando freneticamente de Cyn para Mal e
de volta novamente.
Mal tocou o braço de Cyn, empurrando a mão dela para baixo. — Vamos
ver o que ele tem a dizer.
— Foda-se — Cyn jurou em desgosto, mas ela se afastou para ficar perto
das escadas que dava para a casa.
— Então fale — disse Mal. — E nenhuma besteira. Ela tem um interesse
pessoal nisso, e gosta de seu trabalho. Então é melhor que seja bom.
— Há dois deles, — ele disse rapidamente, sua voz um raspão doloroso. —
Dois assassinos separados. O primeiro que eu acho que foi um erro. Samuel não
queria matar ninguém, mas acabávamos de chegar e fazia tanto tempo que não
tínhamos sangue... — Os olhos dele se arregalaram quando Cyn se moveu
abruptamente.
— Está tudo bem, — Mal disse a ele, dando um olhar de raiva para Cyn
antes de voltar para Gardet. — Você disse que havia dois assassinos. O primeiro
corpo que encontramos foi um homem. Alguém matou as duas mulheres?
Gardet estava olhando fixamente para Cyn, sua postura imóvel e atenta,
como se ela fosse o monstro, e ele a vítima indefesa. Que piada, ela pensou
amargamente, e bateu um punho na porta fechada da cozinha.
Gardet saltou quando o som rompeu o silêncio.
— Talvez você deva esperar lá em cima — sugeriu Mal. Ele apontou para
Robbie.
Robbie deu-lhe um olhar hostil, mas então caminhou até Cyn e tocou
gentilmente seu braço.
— Vamos, querida. Vamos fazer uma pausa.
Cyn encontrou seu olhar por um longo momento, depois cuspiu na direção
de Gardet e torceu a maçaneta, empurrando a porta aberta. Robbie a seguiu,
fechando a porta atrás deles, enquanto Cyn subia as escadas e entrava no banheiro
que estava usando. Ajoelhando-se, ela vomitou, vomitando o pouco de comida que
ela tinha conseguido comer naquela noite, saboreando a vodka que consumira no
bar.
Robbie entrou atrás dela. — Ah, Cyn, — ele murmurou, então se agachou
ao lado dela, segurando seus cabelos e esfregando suas costas.
— Sinto muito — disse ela entre um soluço, depois vomitou um pouco mais,
embora não houvesse nada que lhe deixasse o estômago.
Robbie levantou-se, puxando um pano do armário e passou-o sob água fria,
antes de se agachar ao lado dela novamente. — Aqui está.
Cyn tirou o pano molhado da mão dele, segurando-o em seu rosto
superaquecido primeiro. Sentia-se como uma merda, mas principalmente estava
envergonhada. Não por causa do que ela tinha feito – com a vida de Raphael em
jogo, ela teria feito muito pior – mas porque ela estava sendo tão fraca sobre isso.
— Vamos lá — Robbie persuadiu, puxando-a para seus pés, tirando o pano
dela e refrescando-o sob água mais fria. — Limpe o rosto.
Cyn assentiu sem dizer nada, pegou a toalha e limpou obedientemente,
antes de se curvar sobre a pia e enxaguar a boca com punhados de água fria.
— Sinto muito — disse ela novamente, apoiando os braços na pia e olhando
para a água enquanto ela corria pelo ralo.
Robbie se aproximou e desligou a água. — Por que você tem que se
desculpar? — Ele murmurou, puxando-a para fora do banheiro e sentando-a na
cama. Ele se agachou na frente dela, esfregando suas mãos frias com suas mornas.
— Você acha que é a primeira pessoa que atirou seus biscoitos depois de uma festa
sangrenta como essa?
Cyn ergueu o olhar para encontrar com o dele, seus olhos lacrimejantes
pelo esforço de vomitar.
— Eu vi alguns dos guerreiros mais difíceis que você já conheceu vomitar
seu jantar depois de um interrogatório áspero — Robbie disse a ela.
— Raphael não, — ela sussurrou.
— Isso é porque ele tem você para absolver seus pecados. Ele não precisa
vomitar, porque você está lá trazendo-o da escuridão. Assim como se ele estivesse
aqui, você ficaria bem.
— Se ele estivesse aqui, nada disto estaria acontecendo — ela murmurou.
— Então é melhor recuperá-lo, certo?
Cyn assentiu, esfregando ambas as mãos sobre o rosto. — Você acha que
Mal tem o que precisamos já?
Robbie assentiu com a cabeça. — Acho que o Gardet provavelmente está
contando tudo o que sabe e mais. Você tinha aquele vampiro assustado fora de sua
mente de merda, e Mal jogou com isso perfeitamente.
Ela sabia que ele estava tentando animá-la, mas não queria que lhe
dissessem o quão bem ela tinha torturado outro ser vivo, mesmo que ele tivesse a
resposta do paradeiro de Raphael.
— Eu preciso de um banho — ela disse, parando abruptamente, tentando
não pensar em por que ela precisava disso, ou o que ela precisava lavar.
— Você está sozinha nisso — brincou Robbie. — Eu estarei esperando lá
fora.
Cyn assentiu, mas agarrou seu braço antes de se virar. — Obrigada, Robbie.
— Você tem isso, Cyn.
****
****
CYN E MAL voltaram para a casa antes do pôr-do-sol, muito antes para o
óbvio alívio de Robbie. Ele não ficara satisfeito por ser deixado para trás, mas
alguém tinha que ficar com os dois vampiros dormindo, e era o barco de Mal.
Ela tinha dito a Robbie apenas que eles definitivamente encontraram a casa
onde Raphael estava sendo mantido, mas adiou qualquer informação mais
detalhada até que os dois vampiros estivessem acordados e pudessem se juntar a
eles. E então ela subiu para trocar de roupa e tomar um banho, esperando que a
despertasse um pouco.
Permanecendo debaixo da água caindo, ela tentou desviar sua mente. Ela
não conseguiu dormir mais do que duas horas das últimas vinte e quatro horas, e
tinha tido uma hora arrebatada no barco, e depois outra no carro no caminho de
volta para a casa. Ela estava preocupada com Raphael, preocupada com o que
sentira quando estavam sentados no barco, tão perto de onde ele estava
aprisionado. Ele estava muito fraco. Ela estava começando a suspeitar que as
pessoas de Mathilde estavam fazendo algo mais do que simplesmente o deixar sem
sangue. Raphael era mais forte do que isso. Alguns dias sem sangue o teriam
deixado fora de seu jogo, mas não tanto.
O relógio estava correndo, e seu coração lhe dizia que precisavam chegar lá
esta noite, para que Raphael não passasse por isso outro dia. Mas sua mente dizia
que tinham que esperar, que não ajudaria matar todos, inclusive Raphael, por
apenas algumas horas de diferença.
Porque de um jeito ou de outro, ela estava indo atrás de Raphael amanhã.
****
****
****
Cyn sentou no banco de trás do SUV, olhando para a casa que Gardet tinha
afirmado ter uma centena de vampiros focados em conter o poder de Raphael. Teria
sido fácil explodir tudo. Eles poderiam voltar de manhã, colocar algumas cargas
bem colocadas, lançar algumas granadas através das janelas para uma boa
medida, e ir embora. Robbie sabia tudo sobre explosivos, e ela tinha certeza que
Mal poderia dizer-lhes onde eles poderiam pegar alguns C4 e detonadores.
Mas de alguma forma, ela duvidava que Mal iria apoiar explodir uma
residência no meio de um bairro de Honolulu.
Então, em vez disso, ela se encontrou estudando a casa, vendo todos os
sinais reveladores de habitação de vampiros – janelas cobertas com cortinas
improvisadas, provavelmente cobertores ou lençóis e sem luzes, embora ela
pudesse ver algumas pessoas se movendo. Não tantas como você esperaria com
tantos vampiros vivendo no mesmo lugar, e sem vai e vem, mas isso não a
surpreendeu. Esses caras tinham um trabalho a fazer, e esse trabalho não permitia
socializar. Durante a hora em que estiveram observando a casa – do
estacionamento na frente da casa de um vizinho, a mais de um quarteirão de
distância – ela havia visto quatro vampiros. Três retornando, e depois mais três
saindo.
— Há tantos vampiros lá dentro, — Ken'ichi sussurrou, sua voz tensa como
se o machucasse estar tão perto. — E a casa é tão pequena, pequena demais para
tantos.
O celular do dia de Cyn tocou. Ela olhou para o número recebido. — Sim.
— Esse é definitivamente o lugar, certo? — Elke perguntou sem preâmbulo.
— Há tantos vampiros trabalhando lá que até eu posso sentir isso.
— Sim, — Cyn disse novamente. — Acho que já vimos o suficiente. Certo,
Ken'ichi? — Ela perguntou.
Ele não respondeu imediatamente. Mas então ele acenou lentamente. —
Podemos ir embora. Isso será para Raphael resolver. Nosso foco deve ser libertá-lo
em vez disso.
Cyn estava meio assustada com sua resposta. Ela poderia ter dito a ele que
seu foco inteiro sempre fora libertar Raphael. Mas não era só o que Ken'ichi havia
dito, era a maneira como ele havia dito isso. Foi assustador, como se sua mente
estivesse em outro lugar. Em algum lugar não tão bom.
Ela estremeceu. Ela não poderia sair desta ilha rápido o suficiente. Uma vez
que ela tivesse Raphael em seus braços novamente, eles estavam indo dar a merda
fora daqui e nunca mais voltar.
Com a luz do dia a menos de uma hora de distância, eles correram de volta
para a casa em Diamond Head. Havia pouco tempo para discutir os detalhes mais
críticos do plano de Cyn para chegar a Raphael, mas isso era provavelmente uma
coisa boa. Ela estava absolutamente decidida em seu curso de ação e não viu o
ponto de passá-lo com pessoas que só iriam tentar a fazer desistir dela. Ela não
podia admitir isso, entretanto. Então, quando voltaram para a casa, eles realizaram
uma sessão de estratégia apressada na cozinha, enquanto Ken'ichi sugava um saco
de sangue da geladeira. Aparentemente, a noite tinha o desgastado. Cyn percebeu
que Elke não bebia, o que significava que Mal provavelmente descobrira os
verdadeiros prazeres de ser amante de um vampiro, inclusive deixando Elke
afundar suas presas.
— Se nós estamos ignorando a casa dos vampiros por agora, — Cyn disse,
inclinando-se contra o balcão da cozinha, — Então tudo que nós temos que nos
preocupar é entrar naquela, onde Raphael está sendo mantido. E a melhor hora
para fazer isso é à luz do dia.
— Há guardas ali — lembrou Mal. — Ambos os vimos.
— Mas não havia muitos e não estavam bem colocados. Além disso, eu não
estou pensando em atacar a fortaleza. Eu só preciso entrar na casa e encontrar
Raphael, então eu posso estar lá quando ele acordar para a noite. Vou precisar de
sua ajuda, Mal, e de Robbie. Mas quando eu estiver lá, vocês desaparecerão até a
escuridão, quando Elke e Ken'ichi aparecerem.
— E depois? — Mal perguntou.
Cyn olhou ao redor do grupo. — Quando Ken'ichi e Elke chegarem à casa,
Raphael será o único a tomar decisões.
— Eu não entendo. Não vai ficar muito doente... — Mal começou a protestar,
mas Elke tocou seu braço.
— Eu vou explicar mais tarde — ela disse a ele.
Mal estava claramente frustrado, mas ele deixou ir. — Tudo bem, então
vamos voltar para a grande questão. Como você planeja entrar e encontrar
Raphael?
— Robbie e eu estaremos no lado da praia, mas eu preciso de uma distração,
e é aí que você entra. Quem estava morando naquela casa quando cometeu o erro
de convidar Mathilde para dentro provavelmente está morto. Ninguém os relatou
como desaparecidos, não que poderíamos encontrá-los de qualquer maneira, mas
os vampiros não sabem disso. Pode fazer algum tipo de checagem de segurança,
Mal? Você sabe, como se alguém tivesse chamado a polícia, preocupado porque
eles estavam tentando alcançar seus avós idosos e não conseguem achá-los?
Mal encolheu os ombros. — Não é o meu ritmo habitual, mas posso fazer
isso.
— Você precisa chegar com tanto barulho quanto possível. Eu não quero
dizer uma sirene ou qualquer coisa, eu só quero que você seja visível. Certifique-se
de que qualquer um que veja o veículo saberá que é HPD. Talvez estacionar na
frente da casa, ligar as luzes. Queremos que alguém te assista de dentro da casa
para pensar que os vizinhos definitivamente notaram você. Você poderia até bater
em um par de portas dos vizinhos primeiro, mostre seu crachá para quem
responder. Espero que a ameaça de sua presença na frente da casa atraia alguns,
ou mesmo a maioria, da segurança de Mathilde. Eu já estarei lá dentro, e enquanto
você jogar o seu jogo na frente, vou localizar Raphael e ficar com ele.
— Você vai entrar?
Cyn sacudiu a cabeça. — Não. Eles vão me convidar.
****
— Este plano é um saco, — Robbie murmurou enquanto eles amontoavam
equipamentos no SUV.
— Isso enche o saco, é o que isso faz, — Cyn murmurou. Ajeitou a parte
inferior do biquíni que atualmente usava debaixo da camiseta gigante com “meu
coração Havaiano” que ela usava sobre a parte superior. E isso era tudo que ela
tinha, um biquíni e uma camiseta. O biquíni era necessário para seu plano, mas
ela não tinha exatamente embalado ele para tomar sol quando ela estava se
preparando para esta viagem. Ela teve que correr para rua e comprar o traje de
banho bem cedo esta manhã. Estando no Havaí, havia muitas lojas para escolher,
mas ela não tinha tomado o tempo para escolher. Ela simplesmente pegou o que
melhor se adequava às suas necessidades, isto é, aquele que mostrava a maior
parte da pele, e a comprou sem nem experimentar.
Tecnicamente, ele se encaixa. Ela não estava acostumada a ter a metade de
seu traseiro pendurado em público, enquanto os fundos tentavam cortá-la pela
metade verticalmente.
Cyn olhou de relance e capturou o olhar preocupado de Robbie. — Não se
preocupe. Eu não posso explicar isso, mas eu sei que é isso que eu preciso fazer.
Além disso, você está dizendo que eu não estou bem o suficiente neste biquíni para
distrair os guardas?
Ele lhe deu um olhar seco. — Buscando elogios? Geralmente não é seu
estilo.
— Nem é esta maldita roupa — ela estalou, puxando de novo a tanga, que
só estava fazendo o que tinha sido projetado para fazer.
Ambos olharam para cima quando Mal saiu da casa, fechando a porta da
frente atrás dele, depois sacudindo a maçaneta da porta para ter certeza de que
estava segura.
— Eu não gosto de deixá-los, — ele rosnou, parando no caminho para o seu
veículo do HPD que estava estacionado na calçada.
— Não é o ideal — concordou Cyn. — Mas o sistema de segurança está
ligado e conectado aos nossos telefones, e você pode voltar logo que... — Seu
telefone celular tocou com uma chamada. Não o telefone do dia, mas seu telefone
celular pessoal.
Quem quer que a chamasse não podia ser alguém com quem ela quisesse
falar, já que todas aquelas pessoas estavam dormindo ou de pé na frente dela.
Ainda assim, pensando que poderia ser um de seus amigos do clube dos
companheiros, ela verificou e fez um duplo olhar no que viu. Nick Katsaros
novamente? Que porra é essa? Ela recusou o telefonema e saiu para guardar o
telefone, mas ele nem saiu de sua mão antes que ele a chamasse de novo. Ela
recusou e esperou. Mas, desta vez, era um texto.
Cyn. Atenda o maldito telefone. É crítico.
Essa era toda a mensagem dita. É Crítico. Por que ele diria isso? E apenas
neste momento, quando ela estava literalmente à beira da batalha mais importante
de sua vida.
O celular tocou, fazendo-a pular. Nick. Ela olhou para ele, tentando decidir.
— Cyn? — Robbie disse, sentindo sua preocupação. — Quem é...
Ela o cortou, levantando uma mão para ele esperar enquanto respondia a
chamada.
— Nicky, — ela disse cautelosamente. — Este não é um bom momento.
— Cyn, — ele respirou, como se aliviado que ela tinha atendido. — Eu sei o
que você está prestes a fazer, e você precisa se encontrar comigo primeiro.
— Você não pode sab...
— Você está se preparando para salvar Raphael. Eu não sei como você
planeja fazê-lo, mas eu sei que seja qual for o plano, ele não vai funcionar a menos
que você me encontre primeiro.
— Que porra é essa? Como você sabe sobre isso? — Ela olhou furiosamente
ao redor, escaneando cada casa, cada sombra, procurando quem quer que fosse
que os estivesse espionando. Procurando Nick. Mas como?
— Cyn,— Nick praticamente gritou, ganhando sua atenção. — Você confia
em mim?
Cyn respirou, com coração acelerado. Ela confiava nele? — Sim, — ela disse
a ele, sabendo que era verdade, mesmo que ela não pudesse dizer por quê.
— Então me encontre, querida. Eu quero a mesma coisa que você. Quero
que o seu Raphael seja libertado e que a cadela esteja morta.
Cyn respirou fundo. Como o inferno... — Tudo bem — disse ela, decidindo.
— Onde está você? Tem que ser agora, Nick. Estou sem tempo.
— Eu sei. Mova sua equipe. Nos encontraremos no parque de
estacionamento da Diamond Monument, então está no seu caminho. Parque no
trailhead. Estou num Panamera preto.
— Dez minutos — ela disse, e desligou. Ela olhou para cima para encontrar
Robbie observando-a de perto.
— Uma voz do passado — disse ela. — Mas um homem em quem confio. Ele
tem algumas informações sobre a situação de Raphael. Algo que ele diz que
precisamos saber antes de entrar. Nós vamos encontrá-lo no estacionamento do
Monument. — Ela estremeceu debaixo da camiseta fina enquanto dizia as palavras.
Algo aconteceu com Raphael? Alguma coisa ainda pior do que ela achava? Mas
Nick não a chamaria se não pudesse ser consertado. O que quer que fosse.
— Vamos — ela disse.
****
Eles chegaram em dois veículos, com Mal seguindo seu SUV em seu sedã
HPD em questão. Estava desmarcado, mas qualquer pessoa com olhos sabia o que
era.
Cyn viu o Porsche Panamera imediatamente, preto com janelas coloridas.
Um carro elegante com muito poder, mas sutil para Nick, que tendia a ir com
descapotáveis chamativos, como Ferraris de $200,000.
Robbie estacionou ao lado dele, intencionalmente colocando Nick em seu
lado do veículo, o que deixou duas larguras de veículo cheio entre Nick
pessoalmente e Cyn. Cyn sacudiu a cabeça. Ela entendeu o instinto que fez Robbie
fazê-lo, mas ela conhecia Nick, e ele não era uma ameaça para ela.
Nick saiu do Panamera quando eles saíram, cada polegada longa, e forte
dele. Cyn estava cem por cento comprometida com Raphael, mas isso não
significava que ela era cega. Nick Katsaros era um homem bonito. Ele sempre foi.
Mais de dois metros de músculo bem tonificado, com ombros largos e pernas longas
e magras. Seus cabelos ondulados e castanhos estavam mais longos do que a
última vez que ela o vira, e seus olhos castanhos estavam cobertos por um par de
óculos Oakleys polarizados, que ele puxou enquanto caminhava ao redor do carro
para cumprimentá-los.
— Cyn, — ele disse calorosamente, abrindo os braços. — Ainda podemos
nos abraçar?
Ela sorriu e entrou em um abraço rápido, mas foi Nick que se afastou
primeiro, olhando para ela de cima e abaixo, observando sua camiseta sobre o
conjunto de biquíni. — Não é o seu traje habitual, mas parece bom como sempre
— disse ele.
Cyn riu fracamente, virando-se quando sentiu Robbie se aproximar dela.
— Nick Katsaros, Robbie Shields, — ela disse, apresentando-os.
Os dois homens apertaram as mãos, sem sequer fingir que não estavam
tentando esmagar os ossos um do outro. Robbie era mais largo, mais grosso com
músculos, mas apesar de toda sua aparência magra, Nick sempre possuiu uma
força oculta.
Mal se juntou à multidão e se apresentou. — Maleko Turner, HPD —disse
ele, sem oferecer a mão, mas pelo menos pondo fim à luta de poder entre os outros
dois.
Nick piscou para Cyn enquanto flexionava os dedos. — Tão bom quanto é
te ver, Cyn, eu sei que o tempo é curto, então eu vou direto ao ponto. Eu sei que
Mathilde levou o seu cara, e eu suspeito que você está prestes a montar um resgate.
Eu teria chegado aqui mais ced...
— Eu nem vou perguntar como você sabe essas coisas, — Cyn interrompeu.
— Você é um vendedor, pelo amor de Deus. Ou pelo menos...
— Eu não sou um vendedor — ele disse, soando um pouco exasperado. —
Eu nunca fui um vendedor. Você simplesmente assumiu que eu era. Talvez tenha
tornado mais fácil para você esquecer as coisas que você não poderia explicar, mas,
querida não temos tempo para isso. Depois que você terminar, depois que você
trouxer Raphael para casa, nós conversaremos. Ok?
Cyn assentiu. — Então, por que o encontro?
Ele olhou para Robbie e Mal por sua vez, olhando-os inquietos. — Cyn...
Isso é delicado. Não sei quanto você compartilhou...
— Tudo — interrompeu ela. — Bem, tudo a ver com esta operação de
qualquer maneira. O que quer que seja, você pode dizer isso a todos nós.
Ele a olhou por um momento, depois deu de ombros como se quisesse
reconhecer que era sua decisão tomar.
— Você sabe o quão poderoso é Raphael, — ele disse falando em voz baixa.
— Então você sabe que teria levado muito tempo, não só para pegá-lo inconsciente,
mas para enfraquecê-lo até o ponto onde eles pudessem segurá-lo.
Ele estava dizendo o que Cyn havia pensado mais de uma vez nos últimos
dias, então ela não podia discordar. Embora ela certamente se perguntasse como
Nick sabia tudo isso.
— Elke acha que eles estão sangrando ele...
— Eu estou supondo que Elke é uma vampira, e ela está certa. Eles
provavelmente estão, para restringir seus ataques, se nada mais, mas há mais.
Mathilde colocou as mãos em um conjunto de... algemas como elas seriam
chamadas agora, mas elas são muito mais do que isso. Elas são as Algemas de
Âmbar e estão além de antigas, um artefato de poder tremendo que foi criado
quando a magia ainda dominava este mundo.
— Magia? — Cyn disse, não escondendo sua incredulidade.
Nick olhou fixamente. — Cyn, você vive com um vampiro, pelo amor de
Deus. E não apenas qualquer vampiro, mas um cara que é um dos maiores
sumidouros de energia mágica do mundo hoje. Como você pode não acreditar em
magia?
— Bem, sim, Raphael é incomum, mas... Algemas mágicas?
Nick piscou para ela. –Você é mais esperta do que isso, Cyn. Mas não temos
tempo para discutir sobre isso. As algemas de Âmbar fazem mais do que
simplesmente amarrar sua vítima; elas drenam sua energia até que ele mal possa
permanecer na posição vertical. Quanto mais ele as usar, mais fraco ele se tornará.
Pior ainda, elas não podem ser quebradas ou forçadas, só abrirão com a chave.
— Você está dizendo que Mathilde prendeu Raphael nestas algemas? Mas
se ela fez isso, então ela tem a chave, então como eu...?
— Eu nunca disse que havia apenas uma chave. — Nick alcançou através
da porta aberta do Porsche e agarrou algo do assento, deixando Robbie e Mal ambos
tensos e expectantes. Mas ele emergiu com algo nos dedos, algo longo e de bronze...
— Uma chave — sussurrou Cyn.
— Elas foram chamadas de Algemas Âmbar por uma razão. Duas chaves
foram feitas, uma para o captor, e outra para o prisioneiro. Só que a chave do
prisioneiro estava envolta em âmbar, posta à vista para atormentá-lo com o
conhecimento de que sua liberdade estava tão próxima e ainda completamente
inacessível. Mesmo que um prisioneiro conseguisse se apoderar da chave, ele não
teria força física para esmagar o âmbar para que a chave pudesse ser usada.
— E esta aqui? — Cyn perguntou, estudando o estreito pedaço de bronze.
Não parecia muito com uma chave, pelo menos não por padrões modernos. Era
uma vara longa e estreita, com um simples anel em uma das extremidades, e
esculturas ao longo do barril que poderiam ter sido algum tipo de linguagem, mas
não uma que ela reconhecia.
— A chave âmbar. Destruída por mim mesmo anos atrás, quando foi
recuperada de um colecionador sem escrúpulos que estava procurando as algemas.
Eu nunca estive com as algemas, mas ele não sabia disso. Eu sabia que elas
estavam na Europa em algum lugar, mas não foi até Mathilde usá-las que eu soube
a sua localização exata.
— E isso o trouxe para o Havaí?
Ele assentiu. — Seu uso delas em Raphael me trouxe aqui, mas esta não é
a primeira vez que ela as usa. Mathilde é muito velha e um pouco psicopata. Eu
pagaria um bom dinheiro para assistir Raphael matá-la, mas duvido que ele iria
acolher a minha presença — ele acrescentou, dando uma piscada Cyn.
— Se isso me ajuda a libertá-lo, você tem um lugar na primeira fila — disse
ela. — Como funciona?
— Simples. Você toca a chave direto no encaixe da algema e é isso.
— Nenhuma palavra mágica ou algo assim?
Nick sacudiu a cabeça. — Posso ver que precisamos conversar. Mas depois.
Você precisa chegar a Raphael agora. — Ele se inclinou e beijou-a levemente na
bochecha. — Boa sorte, querida.
— Por que você está fazendo isso? — Ela perguntou, estudando seu belo
rosto. — Você não conhece Raphael.
— Você está certa, mas eu conheço você. Há o bem e o mal neste mundo,
Cyn, e eu sei de que lado da linha você está. Então, se você ficar com seu vampiro,
então eu sei onde ele está, também.
— Obrigada, Nicky — disse ela solenemente.
Ele sorriu. — Além disso, seu vampiro me deve uma agora. E eu sempre
recolho minhas dívidas.
Deslizando os óculos de volta, ele acenou com a cabeça para os dois
homens, depois entrou no Panamera e fechou a porta. Afastando-se com um
guincho de pneus, ele fez uma volta de 180 graus e saiu do estacionamento com
um spray de sujeira e o cheiro de borracha queimando.
— Babaca, — Robbie murmurou, acenando uma mão na frente de seu rosto.
Cyn ignorou a réplica óbvia – que o babaca poderia ter salvo a vida de Rafael
– e disse apenas: — Vamos pegar Raphael.
****
Como Cyn tinha explicado aos outros, seu plano era duplo, e a primeira
parte era ela entrar na casa. Os guardas da luz do dia que ela observara haviam
sido menos disciplinados do que o que ela estava acostumada com Raphael, mas
eles ainda pareciam ser profissionais. Suas armas e a maneira como as carregavam
falavam de treino militar, e tinham estado alertas o suficiente para que ela
duvidasse de que pudesse simplesmente escapar pela porta dos fundos.
Não, como ela havia dito aos outros, ela pretendia ser convidada. Daí o
biquíni, e sua localização atual, que estava sentada no barco de Mal, a cem metros
do mar, duas casas em direção ao alvo. Ela verificou os relatórios marítimos esta
manhã, e agora estava feliz em ver que eles estavam certos sobre as condições de
surf. A água era plana e a temperatura quente, o que tornaria mais fácil nadar.
Mas a distância ainda asseguraria que ela chegasse parecendo molhada e
desarrumada em seu biquíni.
Cyn não pensava frequentemente em como se parecia, era simplesmente
parte de quem ela era. Mas isso não significava que ela não estava ciente dela.
Tinha sido dito muitas vezes a ela quão bonita ela era, mesmo antes de atingir o
ensino médio, quando algumas de suas babás estavam convencidas de que ela
deveria ter como objetivo uma carreira de modelo. Pelo menos, até que sua avó
apareceu e fechou essa linha de pensamento completamente. Naturalmente,
olhando para trás, sua avó poderia ter preferido que Cyn se tornasse uma modelo
em vez de uma policial, mas essa água passou há muito tempo sob a ponte.
Ela estava mais do que feliz em usar sua aparência quando podia fazê-la
trabalhar para ela, e esta era uma daquelas vezes. Uma bela, peituda, mas
desamparada, vestindo nada além de um biquíni, aparece na sua praia, e você é
um homem forte e capaz em uma profissão cujo treinamento enfatiza a proteção
dos fracos... o que você faz?
Cyn estava esperando que eles envolvessem seus braços fortes em torno
dela, lhe dessem uma toalha, e a convidassem para dentro para se aquecer. Talvez
até mesmo se oferecer para realizar CPR, embora ela esperasse que não chegasse
a isso. Ela realmente não queria ser uma bela vítima de afogamento, ela só queria
parecer uma.
— Você tem certeza sobre isso? — Robbie perguntou, enquanto tirava a
camiseta, deixando-a em nada além do biquíni.
— Tenho certeza — disse ela, tentando soar como se quisesse dizer isso. —
Apenas certifique-se de pegar minha sacola no jardim antes de Mal bater na porta.
Se eu acabar lutando com alguém, eu quero ter algo mais do que uma chave antiga.
— Essa chave ainda parece segura o suficiente? Porque nós podemos...
— Robbie, — ela disse, segurando seu pulso, que estava completamente
embrulhado em fita adesiva branca. Debaixo da fita estava a chave, que tinha sido
enroscada em um cabo à prova de água e, em seguida, enrolada ao redor e em
torno de seu pulso até que ela começou a se preocupar com a circulação na mão.
Mas entre as bobinas de corda e as camadas de fita segurando-a no lugar, a chave
estava segura, e isso era tudo o que importava.
Ela saiu para a plataforma de mergulho de barcos. — Raphael e eu
estaremos esperando por vocês, — ela disse a ele. — Não nos desaponte.
— Estaremos lá.
Ela deu-lhe um sorriso final por cima do ombro, depois mergulhou no
Oceano Pacífico e começou a nadar.
Capítulo 17
Noite Três – Malibu, California.
****
Eles a encontraram no andar de baixo, na sala de recepção, não querendo
que ela sujasse o espaço privado de Raphael no andar de cima. Jared e Juro
estavam esperando, juntamente com os seus guardas de segurança, quando
Mathilde entrou como uma monarca conquistadora.
— Jared, Juro, — ela disse, suas narinas apertadas como se doesse respirar
o mesmo ar que eles respiravam. Seu olhar se levantou para a dúzia de vampiros
nas costas deles, qualquer um que poderia derrubar seu próprio lacaio com um
pensamento. — Os outros podem ir embora. Falarei com vocês e seu capitão mais
tarde.
Juro riu, trazendo um silvo indignado de Mathilde. — Eles não têm um
capitão, — ele explicou. — Eles têm a mim. E eu sou o chefe da segurança de
Raphael.
— Não por muito tempo, — ela bateu. — Onde está ele de qualquer maneira?
O tempo está correndo, e eu estou ficando impaciente para reivindicar meu novo
território.
— Reivindicar e ter são coisas diferentes, — Jared a lembrou. —
Simplesmente dizer isso não faz verdadeiro.
O poder de Mathilde subiu de repente preenchendo a sala, pressionando a
alma de Juro de uma forma que ele sabia que Jared também estaria sentindo.
— Eu não pedi lições da sua parte sobre como reivindicar um território,
Jared Lincoln. Eu era uma lorde bem antes de você ter nascido naquela plantação
da Geórgia. Ah sim, — ela continuou, — eu sei tudo sobre você, e você também,
Juro. De qualquer forma, onde está seu irmão gêmeo? Eu quero ver se vocês são
tão idênticos como eu ouvi falar.
Nenhum dos dois se incomodou em responder as provocações de Mathilde,
e especialmente a sua questão sobre Ken’ichi. Essa era uma estrada que eles
definitivamente não queriam ir com ela.
— Por que você está aqui, Mathilde, e por que as roupas? — Juro perguntou,
passando seu olhar pelo vestido extravagante.
O nariz de Mathilde foi para cima, olhando de cima para eles, mesmo que
cada um deles fosse, pelo menos, trinta centímetros mais alto que ela. — Eu acho
que é obvio até para vocês. Sendo um desafio formal a Raphael, Lorde do Oeste, de
acordo com a lei e tradição vampira, eu por meio dessa...
— Lady Mathilde, — a voz de Lucas interrompeu o anúncio dela.
Apenas sobre a linha, como de costume. Juro pensou. Lucas podia ter
entrado muito antes, mas não havia dúvidas de que ele tinha prazer em encenar
uma entrada dramática, isso reafirmava a opinião de Juro sobre ele.
Mathilde ofegou audivelmente, girando em um dos seus saltos para
confrontar quem quer que ousou interromper seu momento de glória. Quando ela
viu Lucas, sua primeira reação foi choque, seguida de perto por um distinto olhar
feminino de apreciação.
Juro franziu os lábios reflexivamente. Talvez Lucas estivesse certo sobre
Mathilde, depois de tudo. Ou Raphael estava, desde que tinha sido sua ideia usar
Lucas como segurança e distração.
— Lucas? — Mathilde falou, seu jovem rosto assumindo uma expressão de
flerte. Ela olhou para ele de cima a baixo. — Você ainda serve Raphael?
Lucas deu de ombros negligentemente, rondando mais de perto para
analisar Mathilde da cabeça aos pés. — Você parece amável, Mathilde. A idade te
fez bem.
— E a você, — ela quase ronronou. — A última vez que te vi, você ainda era
um jovem desajeitado. Um homem humano muito jovem.
— Vamos, não vamos jogar. Você deve saber que Raphael me transformou
anos atrás.
Ela inclinou sua cabeça, sorrindo. — Você está certo, claro. Eu não sou tola
o suficiente para desafiar Raphael sem checar seus amigos e aliados. Mas eu
também sei que você tem seu próprio território. Então, por que você está aqui?
Lucas virou suas costas para ela, atravessando a sala para cair levemente
em um dos elegantes sofás espalhados pelo quarto. — Meu tenente faz a maior
parte do trabalho do dia a dia, — ele disse sem constrangimento. — Coisas tediosas.
Eu apenas dou um pulo quando há alguma coisa que valha a pena.
— E Raphael aprova?
Lucas bufou um riso. — Eu sou um lorde vampiro, Mathilde. Eu não preciso
de sua aprovação mais.
— Isso não foi o que eu ouvi. Eu ouvi que vocês dois são como parceiros de
crime... ou amantes.
Lucas fez um som de reprovação. — Depois de todos esses anos, você ainda
tem ciúmes de mim e de Raphael. Você nunca vai superar isso, vai?
Mathilde enrijeceu. — Eu não tenho ideia...
— Você me queria. Ele me tinha. Simples assim.
— Por que você está aqui, Lucas? — Ela perguntou, fungando
delicadamente.
Lucas ficou de pé com um longo suspiro. — Eu estou aqui para um desafio,
seu desafio... bem, isso soa ridículo, não? Vamos fazer isso simples. Eu desafio o
seu direito sobre esse território. Você quer? Então lute comigo por isso.
— Você não pode lutar o desafio por Raphael, apenas Jared...
— Por favor, — Lucas disse, derramando a palavra sarcasticamente. — O
que nós somos, humanos, que brigam sobre quem tem o direito? Nós somos
vampiros, e vampiros tem uma regra e apenas uma regra. Pegue o que consegue
segurar. Você quer o território. Eu quero o território. Então nós brigamos por ele.
— Por que, quando você governa as Planícies por quase 200 anos?
— Eu gosto mais do tempo daqui. Além disso, você dificilmente é alguém
para reclamar sobre alguém já ter um território. Você tem um seu, conforme eu me
lembro.
— Você está me desafiando de verdade?
Lucas piscou. — Eu estou realmente. Embora, — ele olhou suas roupas
elegantes mais uma vez. — Eu estou disposto a esperar uma noite. Eu odiaria
arruinar um belo vestido. Aliás, tem uma festa essa noite na minha casa de sangue
favorita, e você sabe o que eles falam sobre as garotas da Califórnia.
Mathilde franziu a sobrancelha profundamente, e Juro pensou por um
momento que ela fosse recusar. Ou pelo menos recusar a dar uma noite a mais a
Lucas, que era o ponto principal desse pequeno drama.
— Muito bem, — ela disse finalmente. — Embora eu espere que você
pensará sobre isso no meio tempo. Eu preferiria que fossemos amigos do que
inimigos, Lucas, — ela murmurou, inclinando-se para perto dele. Se endireitando
mais uma vez, ela se virou para Jared e disse: — Eu vou, no entanto, permanecer
na casa até que isso seja decidido. Você providenciará acomodações adequadas...
— Não irei, — Jared disse, a interrompendo.
Ela o encarou. — Rafael está em omissão. Pelos direitos...
— Você não tem direitos nessa casa, Mathilde. O território não é seu ainda.
Lucas contestou seu desafio, e, francamente, eu preferiria ele do que você. Se você
ganhar, você pode organizar qualquer acomodação que você gostar. Tenha certeza
que nem eu ou a maior parte das pessoas de Raphael irão ficar aqui para ver qual
quarto você selecionou.
Juro esperou Mathilde explodir, para finalmente usar algum poder
considerável que ele poderia sentir a invadindo. Mas mais uma vez, ela recuou,
claramente mais preocupada sobre a luta em potencial com Lucas do que sobre ela
dormindo no trailer por mais um dia.
— É melhor você correr rápido, Jared Lincoln. Eu não vou esquecer disso.
Jared deu um negligente encolher de ombros, então gesticulou para sua
equipe de segurança. — Mostrem a Lady Mathilde o portão, por favor.
— Lucas! — Mathilde ordenou, como se esperasse que ele intervisse.
Mas Lucas apenas deu de ombros. — Ainda não é meu território, baby. Não
são minhas regras. Eu te vejo amanhã de noite. Vamos ser civilizados e fazer isso
às dez horas. Podem ter sobrado senhoras para entreter. Você entende, — ele
adicionou com uma piscada.
A boca de Mathilde franziu com desaprovação, sua saia de cetim agitando
no chão de mármore enquanto ela se virava para encontrar seis vampiros que se
aproximavam para a escoltar de volta para o portão.
Juro e os outros esperaram até ouvirem a porta da frente fechar na bunda
dela, em seguida o bater das portas do SUV, e o som dos motores se distanciando
do portão, antes de falarem.
— Isso foi divertido, — Jared disse secamente.
— Foi como o esperado, de qualquer jeito, — Lucas concordou. — Vamos
esperar que eu possa atrasá-la amanhã de novo se for necessário. Alguma palavra
de Cyn?
Juro suspirou. — Ken’ichi ligou. Eles estão se movendo essa noite.
— Quando saberemos se eles tiveram sucesso? — Lucas perguntou
firmemente.
— Espero que antes da manhã, mas com a diferença de hora... — Ele
balançou sua cabeça. — Talvez não até a noite de amanhã.
— Cyn pode ligar e deixar uma mensagem... — Lucas começou a dizer.
Mas Juro o interrompeu. — Se eles tiverem sucesso, Cyn terá coisas mais
importantes em sua cabeça. Eu pedirei a Robbie para fazer isso.
— Ele pode ligar para Kathryn. Me dê o seu número. Eu mandarei uma
mensagem a ele.
— Certo. Vamos subir, então. Nós temos que estar prontos... apenas no
caso.
— Não há com o que se preocupar, meu amigo, — Lucas disse confiante. —
Raphael vai estar aqui, amanhã ou na outra noite. E ele vai limpar o chão com
Mathilde.
****
****
— Cyn. — A voz profunda de Raphael estava dizendo seu nome. Ela sorriu.
Ela amava sua voz, amava o som do seu nome na boca dele.
— Lubimaya, — ele sussurrou, seus lábios contra a sua orelha, seu hálito
quente sobre sua pele. — Beba, — e ela sentiu o gosto quente do sangue dele em
sua língua. Ela quase se virou. Ele tinha a mordido mais cedo, e ele quase a atacou.
E houve dor. Tanta dor. Mas o sangue encheu sua boca, a forçando a engolir ou
engasgar, então ela engoliu e quase rosnou quando cada nervo do seu corpo
pareceu vir a vida em um instante, surgindo com calor, tremendo com desejo. Ela
lambeu seus lábios e achou a boca de Raphael tão perto dela que ela lambeu seus
lábios também.
— Raphael, — ela sussurrou, quase com medo de dizer qualquer coisa,
medo que isso fosse apenas outro sonho e se ela falasse isso iria se estilhaçar.
— Minha Cyn, — ele murmurou, beijando-a gentilmente. — Me perdoe.
Ela rolou sua cabeça em negação. — Pelo o quê?
— Eu poderia ter te matado, — ele disse, sua voz sombria quase em
desespero.
— Eu sabia que você pararia a tempo, — ela insistiu, escolhendo esquecer
suas próprias lágrimas, para dizer a ele o que ele precisava ouvir. — Você nunca
me machucou.
— Deuses, eu senti sua falta. — Ele murmurou, pressionando-a contra a
cama, colocando seu quadril entre as coxas dela, balançando devagar enquanto
seus lábios trilhavam sua mandíbula.
Esse era Raphael, seu amor, seu companheiro.
Cyn dobrou uma perna, enrolando ao redor das costas dele, o roçar de seu
terno contra sua pele macia lembrando-a que ela estava dolorida e inchada, seu
sexo nu e gotejando com a libertação anterior dele. Mas ela ignorou tudo isso. Ele
precisava saber que ela o amava, que ela desculpava qualquer coisa que ele tivesse
feito quando ele acordou pela primeira vez.
Que não havia nada para desculpar.
Raphael grunhiu e se colocou em sua vagina inchada, antes de
repentinamente puxar com as duas mãos o fino tecido da camiseta dela e rasgá-lo
no meio, mostrando seus seios no minúsculo biquíni. Seus olhos se iluminaram de
desejo quando ele soltou o cordão fino segurando seu top no lugar. O tecido caiu
de seus peitos nus, e Raphael sibilou de prazer. Ele fechou a boca sobre a ponta
de um peito, sugando até que seu mamilo fosse apenas um centro carnudo de
prazer, suas presas provocando a delicada carne de seu peito até que elas se
fechassem sobre a ponta inchada. Raphael cantarolava avidamente enquanto
sugava seu sangue, mas Cyn só podia gritar, pressionando uma mão contra sua
boca para se silenciar enquanto uma facada de dor erótica disparava da ponta de
seu peito diretamente para seu sexo. O calor jorrava entre suas coxas, seu clitóris
pulsava no desejo como pulsava o tempo no seu coração
— Baby, baby, — ela disse suavemente, lágrimas rolando em suas
bochechas. — Eu senti tanto sua falta.
A resposta de Raphael foi mergulhar seus dedos entre suas coxas para
acariciar as dobras inchadas de sua vagina, deslizando no creme de sua excitação.
— Molhada, — ele rosnou, então empurrou dois dedos profundamente em
seu corpo, provocando-a com movimentos lentos para dentro e fora, enquanto seu
polegar circundava seu clitóris, roçando o suficiente para fazê-la gritar com
necessidade, para tê-la empurrando contra a sua mão para exigir mais.
Raphael levantou a cabeça de seu peito, soprando suavemente contra a
carne molhada, deixando-a desolada, até que ele mudou sua atenção para seu
outro seio, raspando suas presas sobre o mamilo dolorido, mordendo apenas o
suficiente para extrair mais sangue, atormentar Cyn com outro choque de euforia
que mudou a dor para o desejo crescente.
Cyn raspou seus dedos na parte de trás da cabeça dele e por cima de suas
costas, cavando sob o casaco do terno que ele ainda usava, puxando sua camisa
até que ela tivesse pele, então cavou as unhas até que ela estivesse tirando algum
sangue.
Raphael sibilou, então alcançou entre eles para pegar seu pênis e empurrá-
lo profundamente em sua vagina. Eles gemeram em uníssono quando o calor dela
o cercou, seus músculos internos apertando sobre seu pênis, acariciando-o
enquanto ela se esticava para acomodar seu tamanho, enquanto seu corpo o
recebia.
— Foda-se, você é tão boa, — ele sussurrou, repentinamente imóvel, seu
comprimento duro enterrado tão profundo dentro dela quanto poderia estar.
Cyn sentiu a flexão de seu pênis e apertou seus músculos internos,
apertando e soltando.
Raphael xingou e começou a se mover quase freneticamente, empurrando
seu pênis até as bolas, então saindo e batendo dentro dela de novo e de novo.
Cyn enrolou as duas pernas nas costas dele, o segurando tão perto quando
ela poderia, seus braços sobre os ombros dele, seu rosto enterrado em seu pescoço,
querendo dar a ele qualquer coisa que ele precisasse para acreditar que ainda era
Raphael, o mais poderoso vampiro na América do Norte, o Lorde do Oeste, seu
amante, seu parceiro, seu amado.
Que nada tinha mudado. Que ele estava livre.
Raphael desabou sobre Cyn, seu coração batendo tão forte que ela podia
ouvi-lo, podia senti-lo trovejando entre seus corpos. Sua língua saiu para lamber
preguiçosamente as poucas gotas de sangue em seu pescoço, sua respiração
quente contra sua pele suada. Ele não tinha relaxado seu aperto sobre ela – uma
mão segurava seu traseiro, matendo seus quadris contra ele, enquanto a outra
ainda estava enfiada em seus cabelos. Embora suas pontas dos dedos agora
acariciassem gentilmente seu couro cabeludo, suas raízes não estavam mais em
perigo.
Cyn desejou que eles estivessem em algum outro lugar, algum lugar seguro,
onde eles poderiam deitar juntos por quanto tempo quisessem. Fazendo amor,
beijando e saboreando, e fodendo também. Até dormirem nos braços um do outro.
Infelizmente, não era assim. Raphael estava de volta, mas seus inimigos
continuavam vivos.
Não haveria descanso para eles também essa noite.
Raphael suspirou, como se lesse seus pensamentos.
— Eu pensei ter ouvido uma briga mais cedo, — ele disse, rolando para
suas costas e colocando-a sobre seu peito. — Quem era?
— Robbie estava comigo, e um policial local chamado Maleko Turner.
Ken’ichi e Elke estão provavelmente na cena agora, também, ou eles estarão logo.
Eu não tenho certeza de que horas são.
— E os outros?
— Juro está em Malibu, como você queria. Mathilde está lá, fingindo te
desafiar, embora esta noite, ela alegou que você já perdeu por não aparecer. Mas
Lucas entrou e fez seu desafio. Ele está planejando...
Raphael cobriu sua boca com um beijo. — O bastante, lubimaya. Eu
entendo. E quanto aos outros, aqueles que Mathilde reuniu para me conter?
— Eles estão a um par de quarteirões daqui, esperando para morrer.
Raphael sorriu orgulhoso. — Minha Cyn. Eu sabia que você enganaria todos
eles.
— Essa sou eu. Embora tenha sido muito fácil enganar Mathilde. Ela nunca
nos viu chegando.
Raphael ficou quieto, como se estivesse escutando. Cyn sabia o que isso
significava. Ele estava estendendo a mão e tocando seus filhos, os vampiros que
ele criara. Em algum lugar de Malibu, Juro e os outros se regozijariam com essa
prova de sua liberdade, e restabelecimento de laços com seu Criador, laços que
haviam sido abafados por seu cativeiro, mas nunca quebrados.
— Ken’ichi e Elke estão esperando do lado de fora, — ele disse a ela.
Ela assentiu, não surpresa. — Ken'ichi disse que a casa de Mathilde era
sua para destruir, que não podíamos...
Ele deu a ela um olhar preguiçoso de um predador no ápice. — Ken’ichi está
certo.
— Eles não terão ido embora já? Eu quero dizer, se eu fosse eles, eu teria
corrido para as montanhas assim que...
— Você assume que eu permitiria tal coisa. — Ele se moveu rapidamente,
se sentando e então se levantando, levando-a com ele até que os dois estivessem
em pé perto da cama. Raphael se esticou, endireitou as roupas, enfiou o pênis de
volta nas calças do terno, depois fechou o fecho e afivelou o cinto.
Cyn examinou suas próprias roupas rasgadas. A camiseta era uma perda
total, mas ela deu um jeito de amarrar de volta vários pedaços de seu biquíni.
— Você tem outras roupas? — Raphael perguntou, olhando seu corpo quase
nu não muito feliz.
— No SUV que Robbie está dirigindo.
Raphael tirou a jaqueta, segurando-a enquanto ela deslizava os braços para
dentro das mangas, depois puxou as lapelas fechadas sobre o peito. Ficou muito
grande nela, mas estava quente, o forro de seda era macio, e era de Raphael. Então
ela enrolou as mangas, depois pegou sua Glock da mesa de cabeceira e
desenroscou o silenciador, colocando-o no bolso da jaqueta.
Ela se virou para a porta, mas Raphael puxou sua mão, enfiando seus dedos
nos dela enquanto a puxava para perto.
— Ainda não, lubimaya. Nós merecemos mais um momento juntos. Você e
eu. Venha.
— Eu já fui, — ela murmurou. — Três vezes, pelo menos.
Raphael soltou uma risada muito masculina, muito presunçosa. — Por
aqui, — disse ele, empurrando as cortinas pesadas e abriu a porta de vidro
deslizante, quebrando a fechadura sem sequer pensar nisso.
Oh, sim. Raphael estava de volta.
Ele segurou sua mão firmemente enquanto caminhavam sobre a grama
úmida, indo para a faixa de praia. O oceano era uma onda constante de som, a
ressaca uma dilatação suave de água para a costa e volta novamente. Raphael ficou
parado ali, com a mão segurando-a do seu lado, a cabeça jogada para trás
enquanto bebia o luar e o ar fresco e salgado. Seus olhos se fecharam brevemente,
e ele a puxou para um apertado abraço, ambos os braços a segurando contra seu
peito.
Cyn prendeu seus braços ao redor das costas dele, mais lágrimas rolando
por suas bochechas, molhando sua camiseta. Ela estava tão malditamente feliz de
ter ele de volta e seguro.
— Sem mais lágrimas, minha Cyn, — ele disse suavemente. — Nossos
inimigos ainda respiram.
Ela assentiu, esfregando seu rosto contra a camiseta dele, antes de se
afastar e olhar para ele.
— Robbie e os outros estão prontos para se moverem. Eles apenas estão
esperando uma palavra.
— A palavra está dada, minha Cyn. É hora de lutar de volta.
****
Raphael teria preferido pegar a rota pelo lado de fora da casa, mas Cyn
precisava pegar sua bolsa que ela tinha deixado no banheiro de convidados, e ele
não a queria naquela casa sozinha. Ele sabia que sua preocupação pela segurança
dela não era totalmente racional, mas ele tinha sofrido demais naquele lugar para
confiar em qualquer coisa a respeito dele. Se ele tivesse seus poderes ele teriam
queimado a coisa toda, mas enquanto ele podia ser irracional quando se tratava de
segurança Cyn, sua prisão não o privou de senso comum. Queimar a casa atrairia
atenção não desejada, e Mathilde já tinha feito muito disso com seus cem
homicidas que haviam matado humanos e deixado os corpos na rua.
O objetivo de Raphael era único neste ponto. Queria matar cada vampiro
que tinha alguma coisa a ver com o esquema de Mathilde. E então ele iria voar de
volta para Malibu e matar a cadela que pensou que poderia roubar seu território e
suas pessoas.
Enquanto ele e Cyn se dirigiam para a porta da frente, ele se demorou sobre
as formas imóveis dos quatro guardas humanos que haviam providenciado
segurança para a casa. Um tinha sido baleado no braço. A ferida tinha sido
enfaixada, mas o cheiro do sangue fresco fez suas presas doerem enquanto
pressionavam contra suas gengivas. Tinha passado muito tempo sem sangue. Ele
tinha bebido profundamente de Cyn, mas a coisa que o fez vampiro, o simbionte
em seu sangue, queria que ele bebesse ainda mais. Não era mais racional do que
sua preocupação com a segurança de Cyn na casa vazia, mas era instinto. Assim
como um humano morrendo de fome iria acumular comida, seu corpo também
queria acumular sangue.
— Eles nem ao menos sabiam que você estava aí, — Cyn disse, chegando
peto dele, onde ele estava de pé sobre os humanos inconscientes. — Eu disse para
os caras que fossem com armas de choque se pudessem.
Ela fez um pequeno som de dor, e ele percebeu que estava apertando sua
mão.
— Eu sei que você quer matar todos envolvidos, mas esses caras são
inocentes, Raphael.
Ele virou o olhar para ela, vendo os círculos negros debaixo de seus lindos
olhos verdes, a exaustão roubando a cor usual de seu rosto. Mas, então, ela sorriu
para ele, e ele viu mais. Triunfo por ter frustrado o plano de Mathilde, determinação
para ver seus inimigos destruídos, e brilhando mais brilhantemente do que
qualquer outra coisa... seu amor por ele.
— Como você diz. No entanto, vou garantir que eles não se lembrem do que
aconteceu neste lugar, e que quando acordarem, o único pensamento deles será ir
embora.
Cyn assentiu. — Vamos. Robbie e os outros devem estar esperando por nós.
Raphael passou o olhar por suas pernas nuas, seu corpo meio nu coberto
apenas por sua jaqueta enrugada. — Você disse que tem roupas no veículo?
Ela riu, e foi como se ele não tivesse ouvido aquele som há cem anos. Ele
passou um braço em torno de sua cintura e puxou-a contra seu peito, tomando
sua boca e bebendo a risada de seus lábios. Ela respondeu como sempre, com os
braços em volta do pescoço, os lábios se abrindo ansiosamente sob o dele enquanto
suas línguas se enredavam em um abraço sensual, até que ela se afastou o
suficiente para sussurrar contra seus lábios: — Eu te amo.
— Eu senti sua falta, minha Cyn. No final, eu não podia te encontrar mesmo
em meus sonhos.
— Eu estava lá. Eu sempre estive ali, procurando por você.
— Quando eu acordei essa noite, e você estava ao meu lado... eu pensei que
eu ainda estava dormindo.
Ela sorriu. — Há sonhos, e então há sonhos. E você, garoto presas, é
definitivamente meu sonho.
Raphael deu a ela um sorriso torto. — Garoto presas. Eu senti falta até
disso. Mas venha, a noite não durará para sempre.
Depois de uma rápida varredura mental para ter certeza de que não havia
surpresas esperando por eles fora da casa, Raphael abriu a porta da frente.
Segurando a mão de Cyn, ele saiu, aliviado por estar novamente no ar fresco, sentir
a luz pálida da lua em seu rosto.
— Lorde Raphael. — O prazer na voz de Rob era genuíno, como era o alívio.
— Rob, — Raphael disse. — Meus agradecimentos.
— Uma honra, meu senhor. Ken’ichi verificou há alguns minutos. Eles estão
se mantendo estáveis, mas os nativos estão ficando inquietos. Ele temia que eles
fossem se reunir em breve.
Raphael virou sua cabeça para a direita, apontando um olhar sombrio na
direção de uma casa que ele nunca tinha visto. Uma casa que estava cheia de
vampiros que alguns poderiam reivindicar que eram apenas soldados fazendo o
que tinham sido ordenados. Mas soldados morreriam em guerras o tempo todo. E
Mathilde declarara definitivamente a guerra.
Ele estendeu a mão com a mente, flexionando seu poder, tocando cada
mente naquela casa, sussurrando um desejo de ficar, de esperar. Adicionando uma
ameaça sutil para assombrar o sono forçado deles enquanto esperavam.
— Eles não irão. Não agora. Eles estão esperando por mim.
Rob o olhou com cuidado, seu olhar se voltou para Cyn e de volta. Rob sabia
do que Raphael era capaz, ou pelo menos do que tinha sido capaz antes de sua
recente captura. Mas ele provavelmente também sabia como Cyn, que algo tinha
sido feito a Raphael durante sua prisão. Agora mesmo, ele estava claramente se
perguntando se o Lorde Raphael estava verdadeiramente de volta.
— Tenha fé, Rob. — Raphael disse quietamente. — Eu sou eu mesmo.
Rob sorriu então. — Irina ficaria feliz de ouvir isso, senhor.
— Mas primeiro, nós temos que tirar o lixo. — Cyn lembrou a eles.
— E sobre os caras que deixamos na casa, Leighton? — Uma voz de homem
perguntou.
Raphael entrou na frente de Cyn quando um grande macho humano,
alguém que ele nunca tinha conhecido, veio em torno do SUV. Ele esteve ciente da
presença do ser humano enquanto falava com Rob. Devia ser Maleko Turner, o
policial humano que Cyn lhe contou. Aquele que estava fodendo Elke. Cyn não
mencionou isso, mas Raphael conseguia sentir o perfume de Elke no homem, e
soube que ela tinha tomado o sangue do humano.
— Raphael, esse é Maleko Turner, — Cyn disse, confirmando o que ele já
sabia. — Eu te disse sobre ele.
— Você disse. Meus agradecimentos a você também, Sr. Turner.
— Meu prazer. O caso mais interessante que eu tive por um tempo.
— E então tem Elke. — Raphael disse, dando a ele um olhar plano.
O humano corou, mas ficou alto e desafiador, dizendo: — E há minha Elke.
Raphael ergueu a sobrancelha com o “minha”. Ele não poderia parar de
imaginar como Elke se sentia sobre isso. Hora de descobrir. — Vamos, — ele disse,
puxando Cyn para frente. — Você pode se trocar no caminho.
Ela revirou os olhos para ele. — Voltou a menos de uma hora e já está dando
ordens.
— Você prefere ir para a luta usando... isso?
— Eu pareço bem nisso.
— Você parece linda, como sempre. Mas talvez não pronta para combate.
— Yeah, yeah. Vamos dar o fora daqui. Eu nunca quero ver essa casa de
novo.
****
O caminho para a outra casa era curto. Cyn teve tempo suficiente para
colocar uma regata e jeans sobre o que restou de seu biquíni, juntamente com um
par de meias frescas e botas de estilo de combate. Na verdade, o caminho era tão
curto que ela ainda estava amarrando a segunda bota quando Rob parou no meio-
fio.
A casa não era muito comparada com a que tinham acabado de deixar.
Obviamente, Mathilde estava muito mais preocupada com seu próprio conforto do
que com o da sua equipe. Esta casa era uma típica habitação, uma construção de
dois andares que era como a que estava ao seu lado, e aquela ao lado, todo o
caminho até o fim do quarteirão. Alguns dos moradores tinham tomado mais
cuidado com os seus jardins, com o paisagismo na frente dos quintais, alguns
haviam feito paisagismo ao redor da varanda e caminho, mas não havia dúvida de
que ainda pertenciam ao mesmo tipo de habitação.
Rob parou atrás do SUV de Ken'ichi, com Maleko Turner estacionando atrás
dele em seu sedã policial. Turner estava fora do carro em um flash, falando
brevemente a Ken'ichi antes de dirigir rapidamente ao redor até a parte traseira
onde Raphael soube Elke mantinha vigilância. Talvez ele realmente tivesse
sentimentos por Elke.
— Meu senhor. — Os olhos negros de Ken’ichi, normalmente tão calmos e
sem expressão como os do seu irmão, brilharam com o ouro amarelo de seu poder,
refletindo a intensidade de seus sentimentos ao ver Raphael novamente.
Raphael se aproximou dele e colocou uma mão em seu ombro largo. Ken'ichi
abaixou a cabeça, cobrindo a emoção nua em seus olhos. Raphael não disse nada,
só descansou a mão nele por um momento, depois apertou suavemente e levantou-
a.
— Situação? — Ele perguntou então, permitindo que ambos voltassem à
formalidade familiar de seu relacionamento.
— Nenhum movimento pelos últimos minutos, meu lorde. Um pequeno
grupo tentou sair antes, depois que chegamos. Nós lutamos. Eles perderam.
Raphael assentiu, então levantou seu olhar quando Elke veio ao redor da
casa para cumprimentá-lo. Turner não estava com ela. Ele era um policial. Talvez
ele estivesse cobrindo o posto por ela.
— Meu lorde, — ela disse, seu rosto pálido iluminado em uma felicidade
que ela não tinha reservas sobre mostrar.
— Elke, — ele disse afetivamente. — Você adquiriu um fã.
— O policial, — ela concordou. — Cyn disse que eu poderia matá-lo se ele
ficasse no caminho.
Raphael olhou para sua companheira. — Uma solução prática. Devemos
lidar com eles da mesma maneira? — Ele perguntou, erguendo o queixo para a
casa na frente dele, que estava repleta de vampiros. Mathilde nem fingira cuidar
do conforto de seus vampiros. Era uma surpresa que muitos continuassem leais a
ela.
— Nós esperamos por você, meu lorde — Ken’ichi disse.
Raphael assentiu enquanto estudava a casa, deslizando seu toque sobre
cada vampiro dentro, tentando decidir o que fazer. Ele podia deixá-los em seu
estado atual enquanto os matava. O mais forte entre eles poderia saber o que
estava acontecendo e sentir alguma dor, mas os outros trabalhadores do
empreendimento de Mathilde tinham sido úteis apenas como fontes de energia
bruta – eles não sentiriam nada. Sua existência terminaria simplesmente.
Essa era a escolha lógica a fazer, a solução mais limpa. Mas seu interior
não gostava dessa opção. Nem seu coração, nem sua alma, o que quer que você
chamaria aquela coisa que fazia dele um maldito lorde vampiro em vez de uma
dessas patéticas criaturas lá. Essa parte dele queria vingança. Quente, gritando,
uma terrível vingança. Ele queria que cada um deles soubesse o que estava
acontecendo e por quê. Ele queria que eles soubessem quem estava terminando
sua existência, para saber que eles estavam perdidos e ele tinha vencido.
Um pequeno sorriso enrugou seu rosto.
— Uh, oh, — Cyn murmurou. — Parece um tempo quente na cidade essa
noite.
O sorriso dele aumentou. — Elke, retome ao seu posto. Ninguém deve sair.
Mate-os se eles tentarem.
— Meu lorde, — Elke reconheceu e correu para longe.
— Ken’ichi.
— Meu senhor.
— Veja a frente.
A boca de Ken'ichi se comprimiu em uma linha de satisfação, seus olhos
brilhando. — Sim, meu lorde — disse ele claramente.
— Minha Cyn...
— Eu não vou te chamar de “meu lorde”, então esqueça.
Raphael a puxou para mais perto. — Vamos discutir como você me chama
mais tarde. Por agora, você precisa saber o que vai acontecer.
Ela tinha um olhar preocupado em seu rosto. — Raphael, você está...
— Eu sou um lorde vampiro, — ele a lembrou.
Ela suspirou audivelmente. — Sim, sim. Então, qual é o plano?
— Eu vou matar cada vampiro naquela casa. Mas eu vou acordá-los antes.
Vai ser barulhento, mas breve.
Cyn encolheu os ombros. — Ei, nenhum argumento. Eu queria explodir
toda a porra da casa com todos dentro, mas Mal não me deixaria.
— Essa é minha Cyn, — ele disse orgulhoso, então se endireitou com um
olhar para Ken'ichi. Começamos, ele enviou para seus vampiros.
****
Cyn assistiu quando Raphael acessou seu poder. Ela já tinha visto ele fazer
isso antes. Ela não sabia exatamente como funcionava, mas ela achava que era
alguma coisa como um estado meditativo que deixava ele descartar tudo que não
importava e focar apenas em seu alvo, ou nesse caso, seus alvos.
Seus olhos mal tinham se fixado na casa, que tinha estado tão calma antes
que parecia vazia, quando de repente dela emergiu sons. Os vampiros acordaram
do sono que Raphael havia imposto a eles e gritaram, principalmente com medo,
mas alguns com raiva. As sombras se moveram, os rostos aparecendo enquanto os
vampiros olhavam para fora na rua. Alguns gritos atravessaram a noite enquanto
alguns dos que estavam dentro viram quem os esperava. Algumas almas corajosas,
provavelmente alguns dos mestres mais fortes, surgiram pela porta da frente com
uma explosão de velocidade de vampiro. Embora se eles tivessem a intenção de
escapar ou atacar, Cyn nunca saberia, porque eles não caminharam nem cinco
passos antes do olhar casual de Raphael estourar seus corações e espalhar poeira
na varanda. Do interior da casa, logo depois da porta aberta, vieram gritos de
consternação com a morte de seus companheiros, e alguns vampiros se arrastaram
para a pequena varanda, pedindo misericórdia.
Mas Raphael não tinha misericórdia para dar. Esses, também, foram
desintegrados um após o outro, deixando uma faixa de pó de vampiro na varanda,
sobre o limiar, e dentro da casa. Cyn lembrou-se do jogo Candy Crush, quando
duas bombas de cores se encontraram e raios de luz dispararam destruindo todo
o tabuleiro. Raphael era assim, exceto que seu poder matava invisivelmente, e não
eram doces que estavam sendo destruídos.
Os olhos de Raphael eram manchas ardentes de prata derretida na
perfeição gelada de seu rosto, seu poder um nimbo de energia que o rodeava
enquanto ele entrava na casa. Cyn estava bem atrás dele, sua Glock segura em
ambas as mãos, mas ela encontrou pouco alvos preciosos para seus rounds de
matadores de vampiros, apesar do grande número de vampiros morando na casa.
Raphael não deixou ninguém para ela matar. Ele marchou pelo andar térreo, todos
os quartos lotados de vampiros que se afastavam dele, pisando um no outro
enquanto eles pediam por suas vidas. Mas se Raphael ouviu suas súplicas, Cyn
não viu nenhuma evidência disso. Seu poder disparou, destruindo a cada passo,
até que não havia ninguém.
Fez uma breve pausa, então, a cabeça girando de um lado para o outro,
como se conseguisse ver através das paredes, o que, por assim dizer, ele podia. Ele
pegou o olho de Cyn, e ergueu o queixo para a escada. Quando ela assentiu com a
cabeça, ele deslizou para cima, subindo as escadas de três em três, sem nenhum
esforço aparente. Cyn franziu o cenho nas suas costas enquanto ela o seguia,
desejando que parte daquela força de vampiro viesse junto com os outros benefícios
de beber sangue de Raphael.
Ele esperou no topo por ela, e então começou a limpar o segundo andar com
a mesma eficiência que ele tinha feito embaixo. Cada porta foi aberta, cada quarto
vazio de vida. Raphael ainda estava lidando com o quarto principal, que tinha
estado tão cheio de vampiros que Cyn pensou que eles tinham sido embalados
como sardinhas quando dormiam. Que tipo de poder Mathilde tinha para tratar
seus vampiros como merdas e ainda ter tanta lealdade? Ou talvez a questão era: o
que ela prometeu a eles se seu plano fosse um sucesso?
Sua mente preocupada com tais pensamentos, Cyn se aproximou da sala
final, que estava atrás de uma porta simples no final do corredor. Ela pegou a
maçaneta, encontrou-a trancada e abriu a porta frágil. O quarto era pequeno. Tão
pequeno que ela pensou que poderia ter começado como um armário de
armazenamento. Uma única cama de casal estava empurrada contra a parede e
uma pequena mesa quadrada segurava uma lâmpada. Com um olhar rápido por
cima do ombro, onde ela podia ver Raphael ainda se divertindo no quarto principal,
ela deu um cauteloso passo à frente, imediatamente colocando suas costas contra
a parede enquanto ela examinava a área aparentemente vazia. Mas por que esse
quarto ficaria vazio, quando todos os outros estavam cheios de vampiros? Estava
reservado para alguém especial? Talvez um dos mestres que tinha feito uma corrida
para isso mais cedo?
Mantendo suas costas contra a parede, ela se arrastou até ter uma visão
atrás da porta. Havia um armário lá, com um estreito conjunto de portas
deslizantes espelhadas. E as portas estavam fechadas.
Agachando-se para um olhar rápido debaixo da cama para se certificar de
que estava vazia – ela não queria qualquer monstro surpresa de baixo da cama –
ela empurrou a porta do quarto quase fechada e chutou a porta do armário com
um pé com bota.
— Venha para fora se você estiver aí. Ou eu apenas vou atirar através da
maldita porta.
A porta deslizante sacudiu quando alguém a alcançou, e ela deu vários
passos para trás, trazendo a Glock para cima em uma posição de duas mãos,
pronta para atirar. Quem quer que estivesse no armário, ele era um vampiro, e isso
significava que ele seria rápido.
A porta se abriu para revelar um único vampiro macho agachado dentro.
Não vendo ninguém mais que Cyn esperando por ele, simplesmente uma fêmea
humana como ela, seus olhos brilharam vermelho com poder e sua boca se abriu
para abrir espaço para as presas que de repente perfuraram através de suas
gengivas. Um grunhido baixo e ameaçador soou em seu peito quando ele se
levantou sobre seus calcanhares, se preparando para se lançar contra ela... e Cyn
sorriu
— Oh, por favor, — ela disse a ele alegremente. — Me dê uma razão. Raphael
está tendo toda a diversão essa noite.
Os olhos do vampiro estreitaram-se, e ele se afundou, estudando-a
curiosamente.
— Quem é você? — Ela perguntou.
— Sou ninguém, — o vampiro disse, encolhendo-se ainda mais, retraindo
seus dentes e olhando para ela através de longos cílios, tentando se fazer parecer
inofensivo. — Um servo trazido para cuidar dos outros.
Cyn não sabia quem era esse cara, mas ela sabia que ele não era um
inofensivo servo como que ele queria que ela acreditasse. Ela jogou junto com seu
jogo, no entanto, esperando aprender algo.
— Então, me diga, Ninguém, — ela disse, pegando o brilho irritado em seu
olhar quando ela o chamou assim. Podia ser o seu jogo, mas ele não gostava. — O
que exatamente você faz aqui? Você sabe qualquer coisa sobre os cadáveres?
— Isso foi tratado, — disse ele bruscamente, antes de parar a si mesmo. —
Os responsáveis não ficaram felizes quando isso aconteceu, — ele corrigiu,
tentando ser submisso e falhando miseravelmente. — Os vampiros responsáveis
fora...
Sua voz falhou quando Raphael abriu a porta e entrou para ficar ao lado de
Cyn.
— Esse é Ninguém, — Cyn disse a ele. — Ele é um servo aqui.
Raphael olhou para o vampiro. Um sorriso lento e terrível enrugou seu
rosto, suas presas brilhando úmidas de sangue.
— Godard, — Raphael cantou. — Eu esperava encontrá-lo aqui
— Lorde Raphael, eu estava...
— Oh, então é Lorde Raphael agora? Não foi disso que você me chamou na
outra noite.
— Eu estava apenas fazendo meu trabalho, meu lorde. Mathilde não me
deu...
— Os outros estavam fazendo seus trabalhos, Godard. Você aproveitava o
seu, como você sempre aproveitou. Você não estava satisfeito com apenas mandar
seus capangas de luz do dia para cortar minha garganta, você teve que cavar
também. E quero dizer isso literalmente, já que você teve que cavar fundo para
encontrar uma veia que não estava arruinada.
Cyn ouviu a recitação de Raphael do que eles tinham feito para ele, e levou
toda a sua força de vontade para não dar um passo e explodir a cabeça do bastardo
do Godard. Mas mais do que qualquer outro, essa matança era de Raphael.
Significava algo para ele.
Sem avisos, Godard gritou, segurando o braço direito com o esquerdo e
balançando contra a parede do armário.
— Meu senhor, por favor, — ele implorou, lágrimas de sangue rolando pelo
seu rosto.
Cyn olhou para Raphael, viu seu lábio curvado em um meio sorriso, e sabia
que ele era responsável por qualquer coisa que tinha causa o grito. Ele era capaz
de uma crueldade inacreditável, mas então, ela não tinha feito o seu melhor para
ser igualmente cruel apenas dois dias atrás? Ela foi forçada a usar balas ao invés
da sua mente, mas ela teve que fazer o que precisasse, causar qualquer dor que
ela pudesse, para ter o que precisava para salvar ele.
— Implorando, Godard? — Raphael zombou. — Não é isso que você exigiu
de mim? Talvez se eu tivesse visto você fazer isso primeiro — ele gesticulou
negligentemente para o vampiro sofrendo, — Eu teria sabido como.
Os olhos de Godard se iluminaram de raiva, substituindo o medo e a dor.
— Você não será tão alto e poderoso, assim que minha senhora, destruir você.
— Sim, — Raphael disse, arrastando a palavra para fora. — Onde está sua
senhora? Aqui estão todos, morrendo como ratos, e onde está Mathilde?
Godard conseguiu dar um olhar presunçoso, mas ficou em silêncio.
Raphael riu. — Eu sei onde ela está, seu tolo. Você acha que meu pessoal,
minha companheira, ficou sentado de braços cruzados enquanto a sua estúpida
amante planejava me destruir? Mathilde irá aprender a mesma lição que o resto de
vocês hoje. A única diferença? Sua morte será vista como um presente, comparado
ao que ela vai sofrer.
E Raphael aparentemente tinha terminado de falar. Mas ele não tinha
terminado com Godard. Cyn ouviu ossos se estalarem em sucessão, como dados
rangendo em um copo, enquanto Godard gritava. No momento em que Raphael
havia terminado, o vampiro só podia ficar deitado no chão, sem os ossos intactos
para se manter ereto. Ele choramingou lamentavelmente, seus olhos rolando na
direção de Raphael com sangue derramado de sua boca. Aparentemente, Raphael
tinha danificado mais do que ossos.
— Morte, — Godard murmurou, adicionando algo que soava vagamente
como: — Eu te imploro.
Raphael sacudiu uma mão descuidada e um corte vermelho se abriu na
garganta do vampiro, de modo que ele não podia sequer murmurar mais.
Raphael olhou para Cyn, ignorando o vampiro morrendo. — Você terminou
aqui, minha Cyn?
— A qualquer momento que você terminar, garoto presas.
Ele sorriu com o apelido, mas então parou. — Nós temos uma situação no
próximo quarto.
Cyn assentiu, mas manteve seus olhos em Godard. Quando se tratava de
inimigos vampiros, o único vampiro que ela confiava era em um morto. Se aquele
bastardo fizesse qualquer movimento...
Godard gritou. Cyn sentiu cheiro da carne queimada e olhou para baixo
para ver a camisa sobre seu coração começar a arder. Ick. Raphael estava
queimando o coração dentro de seu peito, e ele logo seria apenas mais uma pilha
de poeira. Raphael não esperou para ver isso acontecer, mas Cyn sim. Ela resistiu
ao puxão de Raphael em sua mão até que viu Godard se desintegrar em pó, então
seguiu Raphael para fora no corredor e para baixo, para o quarto principal, indo
direto para o armário de entrada.
Cyn seguiu curiosamente, a cabeça girando de um lado para o outro, ainda
esperando um vampiro ou dois sair dos cantos. Havia tantos deles na casa. Era
difícil acreditar que até Raphael tivesse conseguido matar todos.
Sua atenção voltou a Raphael quando ele se agachou e puxou uma manta
azul felpuda para revelar mais um vampiro, embora este não estivesse parecendo
muito animado. Na verdade, ele parecia um cadáver mais do que uma pessoa viva.
— Rhys Patterson, — Raphael disse, explicando porque esse vampiro entre
todos os outros ainda estava respirando. Mais ou menos.
— Ele está...
— Vivo, mas por pouco. Ele está faminto.
— Ele está vivo? Por que ele parece tão... — Ela não sabia como terminar
sem ser insensível sobre isso.
— Ele não tem poder o bastante para alimentar a simbiose. Sem sangue,
seu corpo começou a se alimentar dele mesmo.
— Ele pode voltar? — Cyn perguntou, pensando sobre Donovan Willis e o
que a morte de Rhy significaria para ele.
— Com sangue o suficiente, — Raphael disse, olhando para cima quando
Ken’ichi andou para dentro do armário carregando vários sacos.
O grande vampiro ajoelhou-se ao lado de Rhys do outro lado, enquanto
Raphael se levantou e puxou Cyn para fora do armário. — Vamos permitir a ele
toda a dignidade que podemos. Ken'ichi o ajudará a se alimentar.
Cyn olhou para ele com curiosidade. — Patterson ajudou Mathilde, não?
— Rhys não tinha uma chance contra Mathilde. Uma vez que ela tivesse
suas garras nele, ele seria impotente para desafiá-la, especialmente uma vez que
ela ameaçou seu povo. Ele tentou me avisar no final, o que é provavelmente o
porquê dela deixá-lo assim.
— Nós não podemos levá-lo para Malibu conosco, — ela disse
pensativamente. — Eu vou ligar para Willis. Ele virá.
— Willis?
— O nerd com óculos que apareceu na primeira noite com camiseta de
caveiras. Ele queria melhorar nossa segurança, lembra?
— Você confia nele?
— Ele e Patterson eram amantes, então sim. Ele não dá a mínima para
Mathilde, ou você, contanto que ele consiga Patterson de volta.
— Vamos levar Rhys conosco por enquanto. Ligue para o Robbie. Que ele
diga aos outros. Sairemos em três minutos.
Cyn assentiu, então apertou seu microfone de comunicação, e passou a
Robbie a palavra, enquanto ela assistia Ken’ichi carregar Rhys para fora do quarto,
descendo as escadas.
— Eu espero que os donos tenham conseguido um grande depósito quando
eles alugaram essa casa, — ela comentou secamente, olhando ao redor enquanto
eles seguiam.
— O que faz você pensar que eles alugaram isso? — Raphael perguntou
Cyn estalou para ele alto, fingindo choque. — Você quer dizer que eles
invadiram?
Ele balançou sua cabeça. — Vamos, minha Cyn. Essa é uma longa noite, e
longos dias. Eu preciso dormir, e eu preciso fazer uma ligação.
Cyn pegou sua mão e eles caminharam pelo corredor como se não
estivessem deixando para trás uma casa cheia de vampiros mortos. — Nosso lugar
não está longe — disse ela. — E é muito menos empoeirado.
****
Cyn tinha a porta aberta antes de Robbie parar totalmente a SUV dentro da
garagem. Ken’ichi parou ao lado deles, na segunda vaga da garagem. Ele tinha
Patterson em seu banco de trás. Elke e Mal estacionaram na calçada, saindo e
entrando antes da porta da garagem se fechar.
Raphael não disse nada, mas Cyn podia dizer que ele estava exausto. Ele
não tinha tido nenhum descanso antes de acabar com todos aqueles vampiros, e
sem sangue além do que ele pegou dela antes. Mesmo com os poderes curativos de
um senhor vampiro, ele pediu muito de si mesmo.
Ela deslizou para fora do SUV e esperou com a porta aberta até Raphael se
juntar a ela. Ela se colocou contra o lado dele, e seus braços caíram sobre os
ombros dela. Era um movimento natural. Raphael estava sempre a tocando. Mas
nesse caso, era um meio para ela ajudá-lo para dentro da casa e subir as escadas
sem mostrar sua fraqueza ser óbvia.
— Vocês vão na frente e empacotem tudo, — ela disse para Robbie enquanto
levava Raphael para as escadas. — Nós iremos fazer algumas ligações, e eu vou
deixá-los saber qual é o plano.
Robbie buscou em seu rosto, então assentiu. — Mal e eu vamos conseguir
alguma comida.
— Boa ideia.
— Devo trazer algo para você?
Ela negou com a cabeça. — Eu vou pegar algo mais tarde.
— Qual a situação do avião? — Raphael perguntou, puxando sua atenção
de volta a ele.
— Nós falaremos disso. Mas o tempo é curto para seu povo em Malibu. Nós
precisamos fazer aquela ligação.
Cyn encaminhou Raphael para a enorme suíte que estava ocupando
sozinha, antecipando sua chegada. Agora que ele estava lá, no entanto, não parecia
tão grande. Raphael dominava todos os quartos em que ele entrava, simplesmente
estando lá. Mesmo cansado como estava, saindo de dias de tortura sem descanso,
nem comida, ele ainda trazia tanta energia para a sala que o ar parecia vibrar.
Cyn fechou as portas duplas, dando a eles privacidade. — Telefone ou
chuveiro? — Ela perguntou sentando na cama e desamarrando suas botas. — O
nascer do sol é em meia hora em Malibu, se você preferir tomar um banho rápido
primeiro.
Raphael deixou cair seu paletó no chão, o mesmo que ela tinha usado por
cima de seu biquíni antes dela se trocar no carro. — Telefone, — ele decidiu,
chutando seus sapatos e meias, e se esticando na cama. — Venha aqui, minha
Cyn.
Ela colocou o telefone descartável do dia na mesa de cabeceira, depois tirou
suas botas e se arrastou pela cama. Ele puxou-a contra seu lado e envolveu ambos
os braços ao redor dela.
Eles ficaram ali em silêncio por um momento, apenas existindo.
— Eu sabia que você viria, — ele disse quietamente. — Mesmo quando eu
não pude mais tocar seus sonhos, eu sabia que você nunca desistiria.
Cyn apertou suas costas, enrolando uma perna em sua coxa. — Nunca. —
Ela disse.
Mais alguns minutos se passaram antes de Raphael dizer: — Quais são os
arranjos para o nosso retorno?
— Eu queria evitar usar seu avião particular. Isso seria muito óbvio. Então
eu recrutei o maior dos jatos do meu pai, que, estritamente falando, é um jato
corporativo. E como sou uma grande acionista e um membro do conselho para
começar, puxei algumas cordas, o que raramente faço. De qualquer forma, liguei
para os pilotos esta manhã e disse-lhes para estarem prontos para a decolagem já
esta noite. Esse avião tem uma câmara de sono privada, e a cabine principal tem
cortinas que cobrem toda a luz, que faz seguro para vampiros, também. Eu o tinha
adaptado no ano passado, só no caso.
— Seu pai concordou com isso?
— Não, mas a avó concorda, e nós ganhamos dele. — Ela disse
presunçosamente — De qualquer forma, eu sei que você odeia voar de dia, mas...
— Mas é necessário algumas vezes. Muito bem. Alerte seus pilotos. Nós
partiremos assim que conseguirmos ficar prontos. O nascer do sol não está tão
longe.
Cyn fez o telefonema necessário, o que levou cinco minutos desde que ela
já tinha avisado os pilotos que isso poderia acontecer.
— Feito, — ela disse a ele, sentando de pernas cruzadas na curva de seus
braços.
— Eu tenho que ligar para Jared e Juro.
— E Lucas.
Seu peito tremeu em um riso silencioso. — E Lucas, — ele concordou. —
Juro te deu os telefones?
Ela segurou para ele o descartável — Sim. Esse é o de hoje.
Raphael pegou o telefone, e ela podia sentir ele juntando sua força para a
ligação. Ela o conhecia. Ele queria falar com seu povo. Mas ele também precisava
projetar força e poder, estar no controle.
Ele segurou o telefone, e Cyn começou a dizer a ele como alcançar Juro.
Mas ele não precisava de sua ajuda. Ele abriu a agenda e ligou para o único número
armazenado lá.
Malibu, California
Juro olhou pela janela para o oceano banhado pela lua, desejando ver o que
estava acontecendo do outro lado. Ele tinha apenas alguns momentos antes de ter
que se juntar a Lucia lá embaixo. Normalmente, ele já teria partido, mas ele estava
se demorando, esperando ouvir alguma coisa. O resgate deveria ser esta noite, mas
Cyn ainda não tinha telefonado. Isso não significava nada, é claro. Seu plano tinha
começado enquanto o sol ainda estava em pé, mas não havia como saber quanto
tempo demoraria a operação completa. Não saber em que tipo de condição estaria
Raphael quando ela o encontrasse, ou quanto sangue ele precisaria. E então havia
a centena de vampiros que tinham estado trabalhando contra ele. Cyn e os outros
seriam duramente pressionados para tirar esses mestres vampiros se Raphael não
fosse capaz de ajudá-los.
Mas por que assumir o pior? Havaí tinha duas horas atraso do que Malibu.
Mesmo se o resgate tivesse sido um completo sucesso, talvez não houvesse tempo
suficiente para alguém telefonar antes que o sol nascesse deste lado do oceano.
Nesse caso, Cyn ligaria para Lucia com uma atualização, de modo que pelo menos
eles saberiam ao acordar primeiro o que tinha acontecido.
Ele e os outros tinham sentido alguma esperança um tempo atrás. Uma
súbita explosão de energia inundando cada célula de seu corpo, afugentando o frio
do pressentimento que o havia seguido por vários dias. Desde que Raphael fora
levado.
Ele acreditou, todos eles acreditaram, que isso significava que Raphael
tinha sido solto de qualquer magia que Mathilde tinha usado contra ele. Que o
plano de Cyn tinha tido sucesso.
Mas ele se sentiria melhor se ele pudesse saber com certeza. Se ele pudesse
ouvir a voz do seu Lorde dizendo a ele que estava em seu caminho para casa.
Ele se virou para longe da janela, pensando em checar o desenvolvimento
da guarda no portão antes de se juntar a Lucia no andar de baixo, quando um
telefone tocou. Ele ficou confuso por um momento, porque não era a linha da casa,
que eles estavam usando para se comunicar com o portão, nem a linha fixa, a qual
ele muito raramente usava nesses dias.
Ele franziu a testa, então, tardiamente, reconheceu o toque como o telefone
descartável daquela noite, e isso significava... Ele saltou para o telefone, com medo
de Cyn assumir que era tarde demais e desligar.
— Cyn! — Juro disse, atendendo o telefone.
— Juro, — Raphael disse.
Juro fechou seus olhos, quase desmoronando em uma cadeira com a pressa
do alívio que sentia ao som simples dessa voz. — Senhor, — ele respirou. — Ela
conseguiu.
— Ela conseguiu.
— Nós conseguimos, — Juro ouviu Cyn esclarecer do auto-falante.
— O tempo é curto, — Raphael falou. — Qual é a situação?
— Lucas desafiou Mathilde na última noite. Eles irão se encontrar às dez
da noite. Nós a isolamos completamente. Ela tem um vampiro muito assustado de
guarda, e um par de humanos.
— Ela vê Lucas como uma ameaça?
— Nem um pouco, meu lorde. Lucas fez papel de tolo, que ele faz tão bem.
E ela parece não ter feito a lição de casa, como ele estava preocupado. Isso ou ela
acredita que você seja o poder por trás de todos os seus talentos.
— Lucas recebeu minha mensagem, então.
— De Cyn, sim. Quando você retornará, meu lorde?
— Se Lucas está para se encontrar com Mathilde essa noite, eu preciso estar
aí.
— Senhor. — Isso foi tudo que Juro disse. Ele sabia o quanto Raphael
odiava voar a luz do dia, mas algumas vezes não havia outro jeito. Como nesse
momento.
— Nós iremos chegar antes do pôr do sol. Cyn arranjou transporte pela
empresa de sua família de modo que mascare nossa chegada.
— E você deveria ir para minha casa. Lucas vai estar lá.
— Nós veremos você de noite, então.
— De noite, Senhor.
Juro desligou a ligação e jogou o telefone descartável sobre a mesa, então
imediatamente pegou seu celular normal e ligou para Jared.
— Qualquer coisa? — Jared perguntou.
Juro nem tentou esconder a felicidade em sua voz. — Nosso Lorde estará
em casa essa noite.
Honolulu, Hawaí
****
Malibu, Califórnia
****
— Esta deve ser minha luta, lubimaya — disse Raphael. — Vá ficar com o
Lucas.
Mathilde ficou surpresa quando a mulher encontrou o olhar de Raphael
com um aceno de compreensão, então cruzou de volta para a porta para ficar com
Lucas.
— Então, Mathilde — murmurou Raphael. — Eu aceito seu desafio.
Mathilde olhou-o infeliz, o coração pesado pela forte probabilidade de sua
própria morte iminente. Desde os primeiros dias de sua vida como vampira, ela não
sentia esta sensação iminente de desgraça. — Você abateu meus melhores
esforços, — ela disse calmamente. — Matou muitos dos meus seguidores mais
fortes. Estou disposta a reconhecer a derrota e recuar...
Raphael riu. — Não é uma chance — disse ele brevemente. — Não em cem
anos, nem em mil. Defenda-se ou morra no minuto seguinte.
— Posso dizer adeus?
— Não há ninguém para dizer adeus. Estão todos mortos.
— Você se tornou cruel, Raphael.
— Sempre fui cruel, Mathilde, com aqueles que merecem.
Ela atacou enquanto ele ainda estava falando, sabendo que um ataque
surpresa era sua única chance. Mathilde tinha poder, mas Raphael... ele tinha sido
poderoso quando ela o conheceu na Europa, mas isso não era nada comparado
com o que ela estava enfrentando hoje à noite. Ela sabia agora que ele estava
segurando sua força naquela primeira noite no Havaí, na noite em que ela agiu
com tanta precipitação pensando em controlá-lo.
Antes que ele terminasse sua frase, ela atacou, cravando um chicote de
poder apontado em sua garganta, esperando sangrar alguma de sua força terrível,
mesmo enquanto ela envolvia seus escudos mais poderosos em torno de si mesma,
usando muito poder para selá-los firmemente, mas disposta a tomar essa chance.
Ela não podia derrotá-lo em uma prova de força; ela sabia disso agora. Mas talvez
ela pudesse sobreviver a ele. Ele tinha quebrado as restrições que ela tinha
envolvido, mas ele tinha que ter tomado um pedágio. Ele deve estar pelo menos
enfraquecido pelos dias de inatividade, de fome e perda de sangue. Se ela pudesse
aguentar até que sua força esgotasse, havia uma pequena chance de que ela
pudesse se afastar. Não como Lorde do Oeste – que estava perdido para ela – mas
pelo menos com sua vida.
****
****
Raphael deitou-se na cama, olhando com os olhos entreabertos enquanto
Cyn penteou seus cabelos brilhantes, depois se inclinou sobre a pia para lavar o
rosto. Ele inclinou a cabeça, sorrindo ligeiramente em apreço por seu corpo nu.
— Pare de olhar, — ela falou, levantando uma toalha para secar seu rosto.
— Por quê? Não posso admirar a beleza que é minha?
Ela jogou a toalha em seu rosto quando ela saiu do banheiro. Ele o esquivou
facilmente, puxando-a em seus braços quando ela subiu na cama ao lado dele.
— Você nunca vai me deixar esquecer isso, vai?
— Que você é minha? Nunca.
— Você entende, isso significa que você é meu, também, certo?
— É óbvio.
— Bem, diga de qualquer maneira.
Raphael riu. — Minha Cyn, amor da minha vida, eu sou seu.
— Bem, atire. Você não tem que ser tão doce sobre isso.
Ele se virou, colocando-a sob seu corpo, colocando-a entre seus braços. —
Mas eu faço. Eu não estaria aqui sem você. Muitos dos meus vampiros, meus filhos,
teriam morrido sem você. Devo-te muito mais do que doçura.
— Eu não fiz por eles, ou para que você ficasse me devendo. Eu fiz isso por
mim, porque a vida sem você não vale a pena viver.
— Eu sei.
Ela deu-lhe um sorriso tão desarmante, que ele estava imediatamente
suspeito. — O quê? — perguntou ele, lutando contra a diversão que estava
tentando curvar seus próprios lábios em um sorriso.
— Agora que você matou a bruxa má, acabou? Podemos tirar férias de
verdade?
Ele suspirou. — Eu lhe daria qualquer coisa, lubimaya. Mas isso eu não
posso te dar. Ainda não. Mathilde não agiu sozinha. Nós matamos todos aqueles
que ela se reuniu contra mim, mas há outros, tão poderosos quanto ela ou mais,
que conspiraram com ela. Esta guerra ainda não acabou.
— Eu pensei que você diria isso. Que tal um fim de semana em Malibu?
Conheço um belo condomínio na praia.
— Isso eu posso fazer, — ele disse, rolando em suas costas, abraçando-a
contra ele, muito consciente de que o sol estava prestes a aparecer no horizonte.
— Amo você, Raphael — disse ela sonolenta, colocando a cabeça em seu
ombro.
— Eu também te amo, minha Cyn. Sempre.
Epílogo
San Antônio, Texas, mais cedo na mesma noite
Continua...