D. B. Reynolds - Vampires in America 09 - Deception

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Kauai, Havaí, paraíso tropical, selva vibrante, mar turquesa...

e
noites sensuais que escondem vampiros tão poderosos que podem
mudar o mundo.
Raphael – poderoso, extraordinário, arrogante. Ele está
eliminando rivais e reunindo aliados, determinado não apenas a
sobreviver, mas a demolir os europeus que pensam que podem roubar
o que ele tem trabalhado durante séculos para criar. Em uma tentativa
final para evitar uma guerra que parece inevitável, Raphael concorda
em encontrar um inimigo que ele conhece há muito tempo. Ela é
formidável, astuta, e não é de confiança. Mas em sua arrogância,
Raphael acredita que pode neutralizar qualquer traição que ela tenha
produzido.
Cynthia Leighton – a companheira humana de Raphael. Linda,
inteligente e mortal, quando ameaçada. Ela não confia em ninguém,
muito menos em um vampiro poderoso que afirma querer a paz. Assim,
enquanto Raphael se prepara para negociar um tratado, Cyn está se
preparando para a inevitável armadilha que ela sabe que está
chegando. Raphael se preocupa em salvar milhares de vidas de
vampiros. Ela só se preocupa com uma, e ela vai fazer qualquer coisa
para mantê-lo vivo e em seus braços.
Quando se prova que Cyn estava certa, quando tudo se
desmorona e os inimigos de Raphael se aproveitam da magia antiga
para prendê-lo, levando-o para longe de Cyn e da guerra, tudo cai sobre
ela – encontrar Raphael, salvar os milhares de vampiros que vão morrer
se ela não tiver sucesso... e matar cada ser, humano ou vampiro, que
ficar em seu caminho.
Prólogo
“Toda a guerra é baseada no engano”.
— Sun Tzu, A ARTE DA GUERRA

Malibu, Califórnia

A CARTA CHEGOU pela Federal Express, apenas uma das muitas entregues
aos portões da Raphael Enterprises em uma tarde de primavera fria. Tal cm
acontece com todos os pacotes, ela foi deixada sem abrir até depois do pôr do sol,
quando os vampiros acordavam durante a noite. Foi então levada para o quartel–
general de segurança sob uma mansão francesa do século XVIII situada bem atrás
entre as árvores da propriedade de Raphael. Essa mansão tinha sido uma vez a
casa de sua irmã, Alexandra, mas não mais.
O pacote foi primeiramente entregue a uma pequena equipe de vampiros
altamente treinados. Foi radiografado, e depois examinado por adulteração. Os
vampiros eram difíceis de matar, especialmente um tão poderoso como Raphael,
mas seu povo não se arriscava com sua segurança, assim como ele não assumia
riscos com os dele.
Finalmente, depois de determinado que não era nada mais do que parecia,
o pacote foi cuidadosamente aberto e o conteúdo revelado — era um envelope com
o nome de Raphael nele, escrito à mão em um elaborado estilo caligráfico. O técnico
vampiro examinando-o franziu o cenho, suas narinas queimando com o perfume
familiar. Sangue. O nome de Rafael tinha sido escrito em sangue. O técnico inalou
profundamente e percebeu que era muito provável que houvesse ainda mais
sangue dentro, que a própria carta tivesse sido escrita com a mesma tinta.
Seu cenho franzido aumentou, mas ele tinha idade suficiente para se
lembrar de quando tais coisas eram costumeiras entre vampiros poderosos. Ele
não gostou do que essa carta poderia significar para seu mestre, mas reconheceu
seu significado. Saindo da sua estação, ele pegou o envelope e caminhou pelo
corredor até o escritório do chefe de segurança de Raphael, Juro. Ao encontrar a
sala vazia, colocou o envelope na mesa de Juro, junto com um formulário que
indicava a data, hora e método de chegada, bem como as precauções de segurança
já tomadas.
E ficou ali até que Juro encontrou isso horas depois, a carta que mudaria
tudo...
Capítulo 01
CYNTHIA LEIGHTON permaneceu imóvel na sala escura, mal respirando,
enquanto assistia o seu amante destruir lentamente outro ser, um vampiro, na
sala ao lado. Esse era o Raphael em seu modo mais cruel. Muitas vezes ele era
rude, implacável em sua determinação de alcançar a verdade, em tirar os segredos
mais profundos de alguém a partir de gritos. Mas ele raramente brincava com as
suas vítimas desse jeito. Raramente ele era cruel assim. Era preciso um tipo
especial de ofensa para despertar aquilo nele. Mas o vampiro relutante que era o
atual foco da atenção de Raphael trouxera aquilo para si mesmo. Ele assassinara
a irmã de Raphael sem pensar duas vezes porque ela se tornara um estorvo, porque
ela não era mais útil para ele.
Cyn apostava que ele se arrependia, apesar de que, particularmente, ela
estava aliviada com a morte de Alexandra. A vadia tinha merecido. Ela traíra
Raphael várias vezes e se estivesse viva, sem dúvidas encontraria um jeito de traí-
lo de novo.
Mas apesar disso tudo, Raphael a amava, e sua morte o afligiu
profundamente. Até onde Cyn sabia, isso era o suficiente para garantir ao vampiro
no quarto ao lado uma vida de sofrimento. Não que Raphael tivesse consultado Cyn
ou qualquer outra pessoa sobre a justificativa para o que ele estava fazendo. E
ninguém se atrevera a oferecer uma opinião... Apesar de que ela tinha certeza que
todos os conselheiros vampiros mais próximos dele concordavam com os seus
métodos de interrogação. Na verdade, julgando pelas suas presas brilhantes e
músculos esticados, lhe parecia que Jared e Juro teriam gostado de se juntar à
mutilação. Os dois – Juro e o tenente de Raphael, Jared – estavam na sala de
interrogação com ele. Ostensivamente era para protegê-lo contra o prisioneiro,
embora dificilmente Raphael precisasse da proteção deles. Mas nunca se sabe. O
nome do prisioneiro era Damien, e os seus mestres europeus eram ambos velhos e
poderosos, alguns deles séculos mais velhos que Raphael, com conhecimento de
coisas há muito esquecidas pela maior parte do mundo. Pelo que Raphael ou seu
pessoal sabia, Damien poderia ter algum tipo de bomba relógio vampiresca
escondida em seu cérebro.
Cyn não duvidava que Jared e Juro se atirassem de bom grado em uma
bomba explodindo, ou em um prisioneiro explodindo para salvar a vida de Raphael.
Mas ela também suspeitava que eles simplesmente gostassem de assistir a então
chamada interrogação de perto e pessoalmente. Vampiros eram um tanto
sanguinários.
Apesar de todo o sofrimento óbvio de Damien, Cyn tinha que admitir que
Raphael tinha mostrado grande contenção em diferir sua vingança pessoal até que
ele extraísse cada parte de informação que o vampiro possuía sobre seus mestres
europeus e seus planos em invadir a América do Norte.
Damien Casimir. Esse era o nome completo do vampiro, e ele o anunciara
com grande orgulho e imponência quando Juro o levara para a cela de
interrogatório. Ele estivera tão confiante de seu poder, tão certo que ninguém
poderia superá-lo e que ele logo estaria voltando para a França.
Que idiota. Até Cyn, uma humana, portanto sem sensibilidade para a força
do poder de um vampiro, sabia que Raphael deixara Damien vencer o teste inicial
de forças na cidade do México. E ele havia feito isso para provocar exatamente
aquele tipo de resposta do vampiro francês. Raphael queria que seu prisioneiro
fosse arrogante e seguro de si, queria ver o choque em seus olhos quando Raphael
o quebrasse como um palito.
Cyn se aproximou do vidro. Não existia mais arrogância na criatura sentada
naquela sala. Ele estava exausto e espancado, sua pele brilhando com o suor
sangrento. Olhos monótonos seguiam o menor movimento de Raphael. Ele
estremeceu quando o velho vampiro chegou perto demais, o choramingo de um
animal subindo pela garganta que havia sido arruinada horas atrás pelos seus
gritos.
Cyn escutou de perto enquanto Raphael repetia a questão que ele já havia
perguntado diversas vezes, uma questão para a qual ele já conhecia a resposta e
que servia para um único propósito nesse ponto – para forçar o prisioneiro a
assinar a sua própria sentença de morte.
— Me diga de novo — Raphael murmurou em sua voz profunda de veludo.
— Porque você matou Alexandra?
Damien soluçou, seu corpo tremendo tanto que ele mal conseguia forçar as
palavras entre os lábios triturados. — Ela te traiu, meu lorde — ele gemeu. — Ela
me contou tudo o que sabia.
Cyn balançou a cabeça. O tolo achava que isso o salvaria? Que Raphael já
não sabia a profundidade da deslealdade da irmã? Lembrá-lo disso dificilmente o
faria ganhar a sua piedade.
— Ah — Raphael disse seus lábios puxados em um sorriso amigável,
brincando com a sua presa. — Então você a matou para me vingar, é isso que você
está dizendo?
Damien pareceu confuso por um momento, como se realmente
considerando o que Raphael estava dizendo. Mas então ele piscou e seus olhos se
preencheram mais uma vez de medo. — Não, não — ele gaguejou. — Eu... Por favor,
meu lorde... — ele soluçou abertamente, sabendo que mais dor se seguiria
independentemente do que ele dissesse.
A expressão de Raphael ficou fria e imóvel enquanto ele olhava para o
prisioneiro. Ele estava extraordinariamente bonito naquele instante, mas era uma
beleza terrível e perigosa. Lágrimas encheram os olhos de Cyn quando o olhar de
Raphael se iluminou com o brilho prateado de seu poder, enquanto suas presas
emergiam para serem pressionadas contra seu lábio inferior.
Ela não poderia dizer por que chorou se era porque esta provação
finalmente chegava ao fim, ou por ter começado um dia, em primeiro lugar. Mas
ela queria o Raphael dela de volta. Queria tirá-lo do lugar escuro para onde esse
interrogatório o havia sugado e trazê-lo de volta ao calor e à luz do seu abraço.
Os olhos de Damien ficaram selvagens poucos segundos antes de ele
começar a gritar. Cyn sabia que era obra de Raphael, assim como sabia que ele
não precisava tocar alguém para infligir dor. Uma linha vermelha manchou a
camisa esfarrapada do prisioneiro, escorrendo para fora pelo tronco até se tornar
tudo o que ela conseguia enxergar. E através disso tudo ele uivou de terror, se
batendo contra o canto enquanto tentava desesperadamente escapar. Mas não
havia escapatória. Em alguma parte do seu cérebro, Damien devia saber disso, mas
sua agonia claramente era grande demais para permitir pensamentos racionais.
Ou talvez fosse racional tentar o impossível ao enfrentar um vingativo lorde
vampiro.
Raphael estendeu a mão, seus dentes arreganhados em uma imitação de
um sorriso enquanto ele traçava uma linha no centro do peito sangrento de
Damien. Cyn queria desviar o olhar, mas ela não poderia fazer isso com Raphael,
não poderia rejeitar nem mesmo aquela parte terrível dele. Os gritos de Damien
atingiram um tom desumano quando seu peito se abriu enquanto Raphael
alcançava a cavidade ensanguentada e afundou até sua mão reemergir com o
coração pulsante de Damien preso entre os dedos. Parecia impossível que um
coração pudesse ser arrancado do peito de alguém e ainda bater por tempo
suficiente para provocar o dono, mas não para um vampiro como Raphael. Chame
de magia, chame de impossível, mas ela viu Raphael fazer isso antes, e escutara
histórias disso acontecendo com outros.
Damien olhou com horror para seu coração sangrento enquanto seus gritos
diminuíam para palavras murmuradas que fizeram pouco sentido e possuíam mais
do que um toque de loucura.
Mas então Raphael pareceu ficar entediado com isso. Seu olhar se tornou
preguiçoso um momento antes de o coração que ele estava segurando se incinerar
e virar poeira cinza, rapidamente seguida pelo próprio Damien. Mas Raphael havia
se afastado muito antes de Damien se tornar cinzas no chão. Batendo as mãos
para se livrar da poeira, ele abriu a porta e deixou a sala de interrogatório.
Cyn estava esperando quando ele entrou pela porta. Ela teria o abraçado,
mas ela o conhecia bem demais. Ele poderia não se importar com o que ele mesmo
fez naquela sala, mas ele não iria querer contaminá-la.
Ela subiu nos dedos dos pés e tocou apenas os lábios nos dele, então lhe
entregou uma das toalhas quentes e molhadas que tinha em mãos para aquele
propósito, esperando enquanto ele limpava primeiro as mãos, depois o rosto,
removendo as cinzas e o sangue. Ele tocou a bochecha dela em seguida,
segurando–a em sua mão grande, seus olhos encontrando os dela por apenas um
momento antes de Jared e Juro saírem da cela de interrogação atrás dele.
Eles foram diretamente para a caixa aquecida com seu fornecimento de
toalhas. Cyn poderia ter pego toalhas para os dois também, mas ela ainda não
tinha certeza se gostava de Jared o suficiente para oferecer cortesia a ele, e ela não
era mesquinha o bastante para pegar uma para Juro enquanto ignorava Jared.
Então, ela deixou ambos se virarem sozinhos.
Juro deu a ela uma piscadela conspiratória, enquanto tirava duas toalhas
da caixa e entregava uma a Jared. Juro se deu muito bem com Jared e confiava na
lealdade dele a Raphael, o que era tudo o que importava para Juro. Era tudo o que
importava para Cyn também, mas ela ainda estava trabalhando em superar sua
antipatia inicial com o tenente. Ela chegaria lá eventualmente, contudo. Por
Raphael.
Do outro lado da sala, Raphael jogou sua toalha suja de sangue, acertando
o cesto de lixo no canto. Cyn não esperou. Ela entrou em sua frente e envolveu os
braços ao redor dele. Ele enrijeceu por um momento, mas então suspirou e relaxou
em seu abraço, como se ele estivesse se mantendo em suspensão, esperando que
ela o libertasse. O que não estava longe da verdade. Seus braços poderosos a
cercaram quando ela se levantou nos dedos dos pés, esfregando a bochecha contra
a dele, deslizando os lábios ao longo de sua mandíbula para sua boca, e então
dando a ele um beijo quente e prolongado. Seu corpo afrouxou mais quando seus
lábios se separaram e ele descansou a testa contra a dela. Era em horas como essa
que ele mais precisava dela, Cyn pensou. Quando ele precisava de sua
humanidade, seu calor, para trazê-lo de volta da terra congelada de emoções onde
às vezes ele se aventurava.
— Lubimaya — ele murmurou para que somente ela escutasse.
— Amo você — ela sussurrou de volta para ele.
Eles permaneceram juntos até que Juro e Jared terminaram de se limpar,
mas mesmo assim Raphael manteve um braço ao redor dela, segurando–a perto.
— Então, esse cara não era ninguém — Jared disse, resumindo a
informação obtida durante as muitas horas da tortura de Damien em poucas
palavras sucintas. — Um descontente que pensou que poderia obter uma posição
firme nesse continente ao matar Raphael antes que seus chefes se mexessem para
assumir o controle. E quando isso não aconteceu, seu plano reserva foi tomar o
México de Enrique.
— Ele parecia muito confiante com sua capacidade de eliminar Enrique. —
Juro comentou.
— Não em uma disputa direta — Jared zombou. — Ele deu uma olhada na
corte de Enrique e pensou que o lorde mexicano estava pronto para uma boa
traição, achando que ninguém do seu pessoal gostava dele o bastante para
defende-lo. Felizmente para todos nós, bem, para todos nós exceto Damien — ele
corrigiu, rindo. — Vincent chegou lá primeiro.
— Infelizmente, seus mestres europeus não confiaram nele mais do que ele
confiava neles. — Juro disse sombriamente. — Eles aprovaram seu plano para
testar Raphael, sabendo muito bem que era provável que ele morresse na tentativa,
o que mostra o quão pouco eles o valorizavam. Mas eles ganhariam de qualquer
jeito. Se ele conseguisse, Raphael teria ido embora. Se não conseguisse, eles se
livrariam de um encrenqueiro.
— Eu teria adorado colocar as mãos naquela garota, Violet, que liderou a
equipe enviada para enfrentar Raphael naquela pequena igreja — murmurou
Jared.
— Damien acreditava que sua lealdade era dele, mas ela não perdeu tempo
em correr de volta para a Europa quando o resultado era claro. Apostaria um bom
dinheiro que ela pertence a alguém de lá.
— Nós quase certamente veremos Violet de novo antes que isso acabe. E o
mestre dela também — Raphael concordou, suas palavras pondo um ponto final
na conversa no mesmo instante em que o celular de Juro, que esteve sobre a mesa
branca enquanto ele estava com Damien, tocou uma música estridente na pequena
sala.
Juro se aproximou e olhou para a identificação na chamada, então atendeu,
dando nada além de respostas monossílabas para seja lá quem estivesse na outra
linha, mesmo enquanto trocava olhares significativos com Raphael que
provavelmente estava ouvindo cada palavra que a pessoa dizia. Assim como Jared,
para o que importa. O que significava que Cyn era a única pessoa no escuro.
Maldita audição de vampiros.

****

Juro desligou. — Sire — ele disse a Raphael com um aceno. — Eu vou


retonar assim que eu souber de alguma coisa — ele saiu da sala de observação sem
outra palavra.
Jared pegou a porta antes que fechasse, murmurando algo sobre tomar um
banho antes que a merda atingisse o ventilador, então desapareceu tão rápido
quanto o outro.
Cyn apertou os dentes, esperando até que Jared saísse e os deixasse
sozinhos. — O que foi isso? — ela exigiu.
— Uma carta chegou hoje. Juro vai verificar — Raphael disse, dirigindo–a
para a saída.
— Uma carta. Dos vampiros europeus? — ela perguntou, seu coração
vibrando com a ideia de que a guerra poderia ser iminente, mesmo enquanto parte
dela se alegrava pela espera ter acabado.
— Parece que sim — Raphael confirmou, avançando para abrir a porta.
— Como você sabe que são eles?
— Em tempos passados, utilizavam uma tinta que deixavam poucas
dúvidas quanto à origem da carta para comunicações importantes entre vampiros.
Cyn pensou sobre aquilo por um momento, depois enrugou o nariz em
desgosto. — É escrito com sangue, não é?
Ele assentiu.
— Esperto — ela murmurou. — Bem, vamos começar a festa então.
Capítulo 02

RAFAEL E CYN saíram da cela de detenção sob a garagem, pegando a rota


do lado de fora do outro lado da propriedade para a casa principal, e subiram por
mais escadas até seu escritório, depois desceram no elevador de segurança para
seus alojamentos individuais. Era um monte de subidas e descidas, mas era tudo
para manter sua segurança pessoal, bem como a segurança de toda a propriedade.
Havia apenas três vampiros — Raphael, Juro, e Jared — que tinha acesso a todos
os edifícios e níveis, o que não incluíam os alojamentos que Raphael compartilhava
com Cyn. Ele queria que ela se sentisse completamente segura e à vontade quando
estava em casa. Inferno, demorou quase um ano para convencê-la a considerar sua
propriedade Malibu para ser sua casa. Ela se agarrou a seu apartamento na praia,
como se esperasse por ele dizer que tudo acabou, que o que eles tinham não era
para sempre no final das contas.
Mas isso nunca aconteceria. Ele sabia a verdade disso bem no fundo de sua
alma, antes mesmo de ter admitido para si mesmo. Ele a amava mais do que já
amou qualquer outra pessoa, mais do que a própria vida. Ele nunca ia desistir
dela.
Se Raphael estivesse sozinho esta noite, ele teria ido direto para seu
escritório e teria aberto a carta misteriosa. Ele pensava que era de alguém da
Europa, mesmo porque ele não conseguia pensar em um único vampiro na América
do Norte, que teria usado as antigas tradições dessa maneira. Pelo menos, não
mais. Eles estavam todos mortos. Uma das oponentes de Aden escreveu seu desafio
para ele em sangue, mas ela também estava morta, e não enviaria cartas de sangue
para mais ninguém.
Esta carta era quase que certamente o primeiro passo na próxima guerra
com os europeus, e Raphael estava curioso para descobrir qual seria sua
aclamação. Entretanto, ele não estava tão curioso assim para renunciar um
carinho de sua amante. Cyn o queria para si mesma por um tempo. Ela precisava
saber que ele estava seguro dentro de sua própria cabeça, que ele ia voltar do lugar
escuro que tinha ido quando estava interrogando Damien mais cedo.
E ele estava inclinado a dar Cyn o que ela quisesse. Ele sabia que a partir
do momento que se conheceram que ela iria virar o seu mundo de cabeça para
baixo, razão principal por ele ter levado tanto tempo para admitir seus sentimentos
por ela. Às vezes, ele pensava sobre aqueles meses que havia desperdiçado fugindo,
meses que poderia ter sido gasto com ela em sua vida, provocando-o à medida que
trabalhavam à noite, lembrando-o de sua própria humanidade com cada toque de
sua mão, cada beijo nos lábios... fazendo amor com ele com um desejo insaciável
que deixava ele com vontade de acorrentá-la em sua cama e nunca a deixar sair.
Ela o amava com uma paixão furiosa e odiava quando ele adentrava no
lugar frio em sua alma que era necessário para levar a cabo o tipo de interrogatório
que ele fazia. E a vingança que ele tinha procurado contra Damien o levara ainda
mais fundo na escuridão do que o de costume. E foi essa vingança que o agarrou
no final, a ira primitiva que havia exigido sua execução pela morte de Alexandra.
Não importava que Alexandra o havia traído, que, por seu ciúme tinha quase
causado a morte de Cyn, ou mesmo que ele jamais fosse perdoar a traição. Naquele
momento final com Damien, Alexandra ainda tinha sido a sua Sasha, a irmã mais
nova que ele tinha protegido desde o momento de seu nascimento, a bela
adolescente que tinha pedido para salvá-la de um casamento sem amor no mesmo
dia em que um terrível ataque tinha transformado os dois em vampiros. Mas, talvez
mais do que qualquer coisa – e ele sabia que isso não falava bem dele por ser
verdade — sua raiva estava enraizada no fato de que Alexandra era dele. E ninguém
jamais deveria ter a permissão de tocar no que era dele.
— Vamos, garoto presas, vamos para o banho.
A voz de Cyn o tirou de seus pensamentos.
— Você vai tomar banho comigo? — ele meio que provocou. Ela não tinha
nenhuma razão para tomar banho. Ela só não queria deixa-lo sozinho com seus
pensamentos.
— Claro — ela disse casualmente, puxando a blusa de cotton sobre a cabeça
e atraindo seu olhar para o volume de seus seios adoráveis acima da renda sedosa
de cor champanhe do sutiã.
Ele deslizou seu dedo sob uma alça estreita, deslizando–a para baixo do
ombro, e o sutiã desceu revelando um mamilo rosado.
— O que você está fazendo? — ela perguntou sem fôlego.
— Estou ajudando você a se despir — ele murmurou, esfregando o polegar
para trás e para frente sobre o cerne sensível, vendo-o despontar e implorar por
mais.
— Você devia... — ela suspirou baixinho, sua cabeça caindo para trás, os
olhos fechados, quando ele beliscou o pico inchado da forma que ela gostava, com
força suficiente para causar uma dor erótica, o suficiente para aquecer seu sangue
doce. Seus dedos apertaram sua camiseta, cavando em sua pele.
Raphael a queria. E ele sempre a quis. O que ele não queria era ela perto de
qualquer lugar da sujeira daquele idiota do Damien.
Ele a beijou suavemente, depois sussurrou contra seus lábios.
— Tire suas roupas, ou vou fazer isso para você.
Cyn se afastou com uma risada surpresa, mas imediatamente começou a
tirar a roupa, parando apenas para pedir o mesmo.
— Você também.
Raphael sorriu; seu primeiro sorriso verdadeiro desde que tinha entrado
naquela sala de interrogatório, então arrancou suas roupas com a velocidade de
sua natureza de vampiro.
Ele foi mais rápido que Cyn para alcançar o chuveiro, entrou e abriu a água
quente, abrindo os jatos múltiplos até que o grande banheiro estava preenchido
com vapor. Cyn se juntou a ele um momento depois, deslizando diretamente em
seu abraço, pele contra pele, até que nada os separava.
Ela logo começou a lavar cada centímetro dele, como se entendesse a sua
necessidade de apagar o menor traço persistente de Damien Casimir. Ela começou
com o seu cabelo, seus dedos fortes cavando e massageando o couro cabeludo,
envolvendo os braços em volta do pescoço e mordiscando os lábios, enquanto a
água quente limpava o shampoo sobre seus corpos colados. Ela passou para o resto
do corpo, passando gel de banho por toda a sua pele, em seguida, esfregando-o
como um cavalo, usando uma coisa esponjosa roxa que ele nunca, em um milhão
de anos, teria usado. Mas nas mãos de Cyn, parecia bom. Melhor do que bom. Foi
o tormento mais doce quando ela esfregou isso sobre a sua bunda, seu braço
roçando o pau endurecido, a boca tentadora perto quando se ajoelhou para lavar
suas pernas e pés.
— Cyn — ele sussurrou um aviso, segurando seu cabelo escuro em um
punho, forçando-a a olhar para cima, ajoelhada diante dele.
Ela encontrou seu olhar ardente, fingindo inocência, mas o brilho malicioso
em seus olhos a entregou. Ela sabia o que estava fazendo com ele.
— O que foi baby? — ela cantarolou. — Está com dor? — Sem quebrar o
contato visual, ela cruzou os dedos suaves ao redor de seu pau e beijou a ponta, e
ele pode sentir o toque mais sútil de sua língua, antes de ela começar a acariciá-
lo. Levemente no início, mais rápido conforme seu aperto aumentou e passou para
a base, e ela o levou mais profundo em sua boca, sugando mais forte, sua língua
rodando de um lado ao outro, e tudo isso olhando para seu corpo acima por inteiro,
seus olhos verdes cheios de fome.
Raphael rosnou sem palavras quando estendeu a mão e a agarrou pelos
braços, a erguendo e trazendo para perto. Seus olhos se arregalaram surpresos.
Ele adorava ter sua boca sobre ele, e ela sabia disso. Mas esta noite ele precisava
de mais. Precisava se enterrar no calor de seu corpo, precisava de suas pernas em
torno de seus quadris e os seios contra o peito dele. Então, girou ambos até que as
costas dela estavam contra a parede, segurando–a lá com a parte superior massiva
do seu corpo, agarrando sua bunda com as duas mãos ao levantá-la, abrindo as
pernas em torno de sua cintura. Cyn reagiu instintivamente, deslizando os braços
em volta do pescoço para se equilibrar, fechando os olhos e gemendo de prazer
quando ele mergulhou seu pau para o calor escorregadio entre suas coxas. Ele
afundou os dedos em seus quadris, forçando-a a ficar parada, quando ela teria
empurrado para frente para conseguir mais dele dentro dela. Seus olhos se
abriram, e ele deu–lhe um sorriso preguiçoso.
— Diga, por favor. — Ele ouviu a necessidade áspera em sua própria voz, e
não sabia por que estava brincando com ela. Seu corpo estava gritando com ele
para tomar o que ela oferecia, o que já era dele, mas uma pequena parte dele,
desesperadamente, necessitava afirmar o controle, provar que ele era mais do que
o monstro no calabouço.
— Por favor, Raphael, — Cyn sussurrou, seus dedos acariciando a parte de
trás do pescoço dele, os olhos brilhando de desejo cru, e algo mais. Compreensão.
De todos os seres que Raphael tinha conhecido em sua longa vida, somente ela
entendeu tudo o que ele era bom e mau, e o aceitou, o amou sem reservas.
Esmagando seus lábios nos dela, ele mergulhou seu comprimento inteiro
profundamente em seu corpo com um único golpe poderoso. Cyn ofegou, então
gemeu quando ele puxou e fez isso de novo, seus lábios macios contra seu pescoço,
fazendo pequenos barulhos famintos que tremiam sobre sua pele enquanto ele se
movia mais e mais rápido, batendo nela, indo fundo e com força suficiente para
que suas próprias mãos sangrassem, enquanto ele a protegia do azulejo duro.
Cyn gritou enquanto seu corpo espremia o pau dele, seus quadris
flexionando contra o seu quase freneticamente enquanto ela perseguia o prazer de
seu orgasmo. Raphael rosnou e a fodeu mais forte, os dedos afundando–se em sua
bunda para abri-la ainda mais, entrando profundamente em seu corpo, moendo
contra ela com cada impulso. Cyn beijou seu pescoço, ombro e, sem aviso, cravou
os dentes em sua carne, forte o bastante para tirar sangue, profundo o suficiente
para a dor o fazer uivar.
Suas presas romperam em suas gengivas. Segurando seu peso delgado em
uma das mãos, o peito esmagado contra os seios, levantou a outra mão e torceu os
dedos em seus cabelos, puxando sua cabeça para o lado e descobrindo o
comprimento elegante de seu pescoço. Sem qualquer delicadeza de costume, ele
afundou as presas em sua veia inchada e sugou profundamente. Cyn gritou,
contraindo contra ele quando a euforia da sua mordida a levou ao limite, direto
para um orgasmo poderoso. Sua boceta quente apertou em torno de seu pau
enquanto o sangue ardente dela descia em sua garganta. Ele chupou com mais
vigor, sugando mais do calor de sua vida para dentro dele, sentindo os braços em
torno dele, seus dedos acariciando a parte de trás de sua cabeça, segurando-o
perto, enquanto seus gritos ardentes enchiam o recinto cheio de vapor.
Raphael piscou de volta à consciência, era quase como se tivesse apagado
por um segundo ou dois. Exceto, que os vampiros não desmaiavam, e ele com
certeza nunca desmaiou. Abruptamente, ciente de que Cyn estava mole em seus
braços, a cabeça em seu ombro, ele retraiu suas presas e lambeu as duas pequenas
feridas que tinha feito. Havia hematomas no pescoço. Ele tinha sido mais áspero
do que o de costume com sua fome pelo sangue dela, porém ele não tinha dúvidas
de que o ombro dele guardava a violência de sua mordida também. Ele sorriu com
o pensamento, e beijou-a do pescoço até o queixo e sua boca.
— Lubimaya — ele murmurou.
— Me dê um minuto — ela respirou. — Não acho que tenho qualquer
sensibilidade abaixo da cintura.
Raphael sorriu e empurrou seus quadris preguiçosamente, deslizando seu
pau lentamente para dentro e para fora do sexo, ainda trêmulo, dela.
Cyn deu um gemido suave.
— Deixa-me reformular isso — disse ela, o sorriso óbvio em sua voz. — São
só minhas pernas que não têm qualquer sensação.
A mão de Raphael descansou na curva perfeita da sua bunda e ele retirou
seu pau do aperto confortável de seu corpo. Alcançando ao redor, ele desenrolou
as pernas de seus quadris, abaixando seu corpo e a segurando até ele ter certeza
de que ela pudesse ficar em pé sozinha. Ela levantou o rosto para ele e eles se
beijaram, por muito tempo, um beijo molhado e lento, com muita língua.
Cyn suspirou contra sua boca.
— Podemos ficar em casa esta noite? Ou tipo, para sempre?
Raphael tirou o cabelo molhado de seu pescoço e arrastou os dedos sobre
suas contusões já curadas.
— Não esta noite — ele disse com pesar. — Precisamos saber o que está na
carta.
— Talvez seja um convite de casamento.
Raphael riu, sabendo que era o que ela pretendia com o seu comentário.
— Então, nós precisamos saber onde encontrar a lista de presentes.
Foi a vez de Cyn a rir.
— Olhe para você, Sr. Homem Moderno, sabendo o que é uma lista de
presentes.
— Não há necessidade de ser insultante — ele respondeu, batendo em sua
bunda.
Cyn sorriu suavemente e descansou a testa contra seu ombro. Ela levantou
a cabeça e encontrou seus olhos.
— Ok, vamos descobrir o que tem nessa maldita coisa.
****

Juro apareceu no escritório de Raphael apenas alguns minutos depois que


eles se acomodaram, com Raphael em sua poltrona atrás da mesa, e Cyn andando
pelo quarto, inquieta. Ela não podia evitar, não conseguia ficar parada. Isso era
algo gigantesco; era o que todos eles estavam esperando. As portas se abriram, e
ela olhou quando Juro entrou com Jared, a apenas alguns passos atrás dele.
Cyn parou de andar e olhou para o envelope na mão de Juro. Sabendo que
era de um vampiro poderoso, talvez mais do que um, ela meio que esperava isso se
transformar em algo mais. Um grito, talvez um lagarto voador, aquele que iria
cuspir veneno para cegá-los enquanto rasgava o coração de Raphael de dentro do
peito. Vampiros eram como magos, afinal de contas. O que era um pouco de
metamorfose entre inimigos?
Ela estava deixando sua imaginação, e seu medo, correr por ela. Mas ela
não conseguia impedir isso. Desde o México, ela tinha sentido essa sensação
persistente de morte, como se, apesar de todas as suas precauções, algum inimigo
insidioso estivesse prestes a deslizar pelas barreiras que haviam erguido e destruir
tudo o que importava para ela. E a única coisa, a única pessoa que importava
demais para ela era Raphael. Ela nunca iria sobreviver se algo acontecesse com
ele. Ela não iria querer.
Seus temores doíam no seu peito enquanto ela caminhava até ficar
protetoramente ao lado dele, chegando o mais próximo possível até sentir sua
perna encostar na dele. Parecendo sentir sua inquietação, Raphael correu os dedos
ao longo da parte de trás da sua coxa antes de se aproximar mais de sua mesa e
estender a mão para o envelope que Juro tinha colocado lá.
— Espera! — Cyn disse, parando-o, — Como sabemos que não há algo
dentro, algo que não seja uma carta, ou junto com a carta?
Juro deu-lhe um olhar compreensivo.
— Você está familiarizada com os nossos protocolos de segurança, Cynthia
— disse ele, pacientemente. — Ele chegou via Federal Express, e o pacote foi
cuidadosamente examinado antes de ser aberto. Quando o envelope foi encontrado
dentro do pacote, ele, também, passou por verificação de todos os tipos de ameaças,
tanto física quanto biológica.
— E quanto a magia? — ela perguntou, sentindo suas bochechas corarem
de vergonha.
— Se contivesse magia, — Raphael disse a ela, sua voz profundamente
calma e sem pressa — Eu saberia.
Cyn soltou a respiração que estava segurando.
— Ok — disse ela com relutância. O que ela queria fazer era jogar o maldito
envelope no incinerador industrial lá embaixo, onde eles eliminavam as bolsas de
sangue vazias e, Cyn suspeitava, algum corpo ocasional. Mas ela sabia que Raphael
nunca iria concordar com isso.
Ele acariciou levemente sua coxa novamente, e depois estendeu a mão para
a carta mais uma vez.
Era um envelope de linho pesado. Do tipo que raramente se viu hoje em dia,
especialmente atualmente com as comunicações eletrônicas. O nome de Raphael
estava escrito na frente com escrita refinada e vários arabescos, hoje só encontrado
em convites do casamento e coisas do tipo. Não estava selada com cola ou fita, mas
com um selo de cera.
— Filhos da puta pretensiosos, não? — ela murmurou.
— Eles são muito velhos, — Raphael respondeu.
— Assim como você, mas não te vejo enviando as pessoas cartas escritas
com sangue e protegidas com um selo real do caralho.
— O selo não é real, apenas pessoal.
— Raphael.
Ele sorriu, sem tirar os olhos da carta.
— Você está preparada, minha Cyn?
— Não, mas vá em frente.
Raphael escorregou um dedo abaixo da aba e partiu a cera, depois virou o
envelope de cabeça para baixo e deixou a carta cair na mesa. Cyn observou quando
Raphael usou um abridor de cartas elegante na forma de uma espada para nivelar
a carta na mesa.
Ela podia ver a escrita. O marrom avermelhado da – tinta manchando um
pouco o papel de linho pesado com cada letra, e ela não podia deixar de pensar que
era apropriado, já que não era mesmo tinta, de acordo com os vampiros, mas
sangue. Ela se perguntou se molharam com água para diluir e facilitar o trabalho
com a escrita ou se o vampiro que escreveu a carta simplesmente ordenou que um
servo abrisse uma veia para que ele pudesse usá-lo como um tinteiro vivo. Ela
franziu a testa diante das próprias fantasias horríveis, então se inclinou para a
frente para poder dar um olhar mais atenta ao que a carta dizia.
— Francês — disse ela.
— É, — Raphael confirmou. — Você consegue ler?
— Eu passei dois anos numa escola francesa.
— Mas você aprendeu alguma coisa? — Ele murmurou, provocando.
— O suficiente para saber que isso foi escrito por alguém muito mais velho
do que eu.
Raphael assentiu. — O texto é um pouco arcaico.
— O que ele diz?
— Eles querem se encontrar sob uma bandeira de trégua. — O olhar de
Raphael levantou para encontrar o de Juro, antes de soltar a carta mais uma vez.
— Para discutir os termos.
— Termos de quê? — Cyn zombou.
— Eles querem que aceitemos seus encrenqueiros, vampiros mais jovens
que querem mais do que os lordes europeus estão dispostos a ceder, — Jared
sugeriu. — Mas aposto que eles não mencionaram isso abertamente.
Cyn olhou para ele, então de volta para Raphael, que completou. — A carta
simplesmente solicita uma reunião para discutir uma acomodação razoável, a fim
de evitar uma guerra que nenhum de nós quer.
— Só isso? E onde é que esta reunião deveria acontecer?
Raphael parecia estar lendo mais, e então ele disse, pensativo: — Havaí.
Cyn endureceu, surpresa. — Eu não sabia que tinha vampiros no Havaí.
— Alguns, menos de dez que conhecemos, — Juro disse lentamente, como
se também estivesse surpreendido pelo pedido.
— Mas... então quem é o lorde de lá? — Cyn perguntou, confusa.
— Estritamente falando, as ilhas seriam minhas — respondeu Raphael. Ele
se inclinou um pouco para trás, seus dedos pensativamente batendo debaixo do
queixo. — Mas a distância é enorme, e seu verdadeiro mestre é um vampiro
chamado Rhys Patterson. A maioria dos vampiros não gostam de ilhas. Mas
Patterson queria o seu próprio território e sabia que não era forte o bastante para
manter um, especialmente, não contra mim. Ele é um forte mestre vampiro, mas
nunca será um lorde. Então, ele pediu permissão para viajar ao Havaí e criar uma
colônia de sua autoria. Ele partiu para Oahu com uma delegação diplomática dos
EUA no final de 1800.
Raphael tinha baixado as mãos e começado a bater um dedo no braço da
cadeira, um gesto de estresse de um cara que raramente mostrava quaisquer sinais
externos, não importasse o quão ruim fosse. Cyn queria consolá-lo, queria se
sentar em seu colo e colocar os braços ao redor dele, mas isso não poderia ser feito
agora. Em vez disso, ela se aproximou da mesa sob o pretexto de avaliar a carta do
vampiro. Raphael imediatamente abriu espaço para ela, afastando-se para trás um
pouco e enrolando o braço em volta da parte de trás de suas coxas, seu toque
confortando a ambos.
— Ele fez vampiros depois que chegou lá? — ela perguntou.
— Segundo Juro, apenas alguns, — Raphael disse a ela. — Ele é mestre o
suficiente para criar seus próprios filhos, mas não forte o bastante para controlar
muitos deles. Ele nunca gerou um vampiro mais poderoso do que ele, pelo menos
nenhum que ele permitisse viver além da primeira noite.
Cyn piscou para a revelação casual, e brutal, do comentário.
— Ele veio para as reuniões do Conselho? — ela perguntou.
— Ele não é um membro do Conselho. Ele vive no Havaí pela minha boa
vontade. Mas nunca me preocupei com ele. Eu o visitei uma vez, depois das viagens
aéreas tornarem-se viáveis... eu tive minha cota de viagens marítimas na minha
vinda da Europa para cá. Foi uma visita sem incidentes, mas isso foi há alguns
anos... — Ele olhou para Juro, silenciosamente perguntando se ele se lembrava
exatamente da data.
— 1968? — Juro sugeriu.
Raphael considerou, e então assentiu. — 1968.
— E você não foi lá desde então? — Cyn perguntou.
Ele encolheu os ombros. — Não, mas falamos ao telefone algumas vezes por
ano.
— Onde no Havaí eles querem fazer a reunião, meu lorde? — Jared
perguntou, voltando ao assunto em questão. Era uma questão prática, e uma que
Cyn desejou ter pensado. Ficou irritada em admitir isso, especialmente, desde que
foi Jared quem os fez voltar ao ponto da discussão, mas ela estava muito,
emocionalmente, envolvida nesta situação e não estava pensando direito.
Raphael nem sequer olhou para a carta. — Kauai, que é onde Patterson
vive.
— Todo o seu pessoal vive em uma única ilha?
Raphael assentiu. — Até onde sei. Ele originalmente se fixou em Oahu, mas
não pensou muito à frente. Ele não reivindicou território suficiente para garantir a
privacidade para ele e seus filhos, e a ilha ficou muito lotada. Quando o visitei em
1968, ele já tinha se mudado para Kauai e garantido uma parcela bastante grande
de terra para garantir que não teria que se mudar de novo.
— Posso ver a carta, senhor? — Jared perguntou.
Raphael entregou a ele.
— Você lê francês? — Cyn perguntou, escondendo sua surpresa. Ela sabia
que Jared tinha sido trazido para este país como um escravo, embora, agora que
pensou nisso, ela não tinha certeza de qual país ele tinha sido trazido. A França
tinha sido muito ativa no comércio de escravos, mais ativo do que os EUA, a
verdade seja dita. Ela teria que perguntar a Raphael depois, porque Deus sabia que
ela não ia perguntar sobre isso a Jared.
Jared a olhou por causa de sua pergunta e deu um único aceno.
— Eles estão pedindo para se encontrar em Kauai — repetiu ele, lendo a
carta. — Mas não há nenhuma menção de Patterson. Você acha que ele ainda está
vivo?
Raphael deu de ombros. — Ele fez um juramento a mim, mas ele não é meu
filho. Não estou certo de que sentiria sua morte a essa distância.
Jared olhou para cima com uma expressão nada feliz. — Você vai. — Ele
disse como uma afirmação, como se a decisão de Raphael fosse uma conclusão
precipitada.
Raphael assentiu. — Não vejo outro jeito...
— Mas eu sim — Cyn protestou. — Não vá!
Juro deu a Cyn um olhar de simpatia, então inclinou–se ligeiramente na
direção de Raphael.
— Você provavelmente quer pensar sobre isso, Senhor, e o sol está próximo.
Vamos deixá-lo descansar.
Cyn reprimiu um suspiro de escárnio quando Jared ofereceu um
cumprimento duplo e seguiu Juro para fora do escritório, fechando as grandes
portas ao sair. Ela sabia o que Juro realmente quis dizer. Ele estava dando Raphael
a privacidade para discutir com a sua louca amada humana sobre uma decisão
que não ia mudar. Bem, caramba, ela com certeza iria tentar mudá-la.
Raphael pegou sua mão e a levou para o elevador, digitou o código de
segurança para abrir as portas, e a puxou atrás dele. Ele não disse nada até que
estavam lá embaixo na privacidade de sua suíte no subsolo.
— Cyn — ele começou, mas ela colocou os dedos nos seus lábios, parando-
o.
— Você se lembra do México, Rafael? Eu sei que lembra, porque só fazem
algumas semanas, mas você parece ter esquecido o que aconteceu lá.
— O que eu esqueci, minha Cyn? — ele perguntou suavemente.
Ele estava brincando, e ela queria dar um soco nele. Mas tinha que tentar
de qualquer maneira.
— Foi um teste, Raphael. Eles colocaram dez vampiros mestres contra você
para ver o que aconteceria. Se eles tivessem conseguido te matar, seria um bônus,
mas o seu verdadeiro propósito era te testar, medir sua força. Você deveria ter
matado Violet antes que ela pudesse relatar tudo a eles.
— Eu deveria — ele concordou, com um aceno curto. — Não acho que a sua
morte teria parado o que está por vir, mas poderia ter dificultado as coisas para
eles um pouco.
Cyn ainda queria dar um soco nele, mas agora também queria gritar de
frustração.
— Por que está fazendo isso, então? Eu sei que já decidiu, mas por quê?
Raphael puxou-a contra seu largo peito, segurando-a com bastante cuidado
com braços que poderiam partir um homem ao meio.
— Se lutarmos esta guerra, centenas de vampiros vão morrer — disse ele.
— E se você for para este encontro no Havaí, você pode morrer.
Ele ficou em silêncio por um momento como se estivesse tentando descobrir
como convencê-la. Finalmente, perguntou: — Quantos seres humanos vivem nos
Estados Unidos?
Cyn franziu a testa. — O quê? Eu não sei, talvez mais de trezentos milhões.
— E no Canadá?
— Raphael...
— Vamos, me alegre. Quantos?
Ela suspirou.
— Talvez trinta, quarenta milhões?
— E no México?
— O que é isso, um teste de geografia? — ela disse, impaciente, tentando se
afastar dele. — Nunca fui boa nessa matéria. — Ele não a soltou, só olhou para
ela, esperando. Ela revirou os olhos em desgosto e disse: — Acho que há
provavelmente mais de cem milhões no México, mas não sei o quanto ao certo.
— Então, em toda a América do Norte, podemos concordar que são mais de
quatrocentos e cinquenta milhões de seres humanos?
Cyn deu de ombros, não se importando com os números que ele usava com
tanto que ele fosse direto ao assunto. — Mais ou menos.
— Por outro lado, lubimaya, não há mais de quinze mil vampiros neste
continente. Responda mais uma pergunta para mim.
Ela bateu no peito dele. — Existe um porquê de tudo isso em algum lugar?
Ele sorriu. — Tem sim. Diga–me, se o seu presidente foi convidado a arriscar
sua vida por uma chance de salvar dez milhões de vidas humanas, você esperaria
que ele fizesse isso?
— Claro. É dele, ou dela, o trabalho. Um líder deve estar sempre disposto...
tudo bem, garoto presas, agora entendi onde você quer chegar com isso. Mas,
primeiro, não há milhões de vampiros em riscos...
— Relativamente falando, com os nossos números menores, há uma
porcentagem igual de vampiros em risco nesta guerra.
— ...e segundo — Cyn continuou, ignorando seu raciocínio, — você não é o
líder deles.
— Mas eu sou — disse ele, segurando seu rosto em suas mãos fortes. — Eu
sou, bem ou mal, o mais poderoso vampiro neste continente. Com grande poder
vem grande responsabilidade, minha Cyn. Você sabe disso. Exigiria isso de
qualquer outro líder.
Os olhos de Cyn se encheram de lágrimas fervorosas. — Mas você não é
qualquer outro líder, você é meu. Meu amor, meu companheiro, minha vida. E não
posso te perder, Raphael. Simplesmente não posso.
— E você não vai. Confie em mim. — Esfregou os polegares sob seus olhos,
limpando as lágrimas que caíam.
— Tudo bem — ela retrucou, sabendo que nada do que falasse ia mudar
coisa alguma. — Eu confio em você. Mas vou junto com você também.
— Claro que você vai. Porque, minha Cyn, se a merda bater no ventilador...
— Quando a merda bater no ventilador.
— ...confio em você para estar lá e desligar a porcaria do ventilador.

****

Na noite seguinte os quatro se encontraram novamente, mas desta vez na


sala de conferências, onde todos poderiam se sentar em torno da grande mesa e
discutir qual avião, pilotos, casa e equipe. Era como se estivessem saindo de férias,
em vez de voar para entregar a cabeça de Raphael em uma bandeja.
Jared e Juro tinham aparecido com todos os dados pertinentes já em seus
iPads. Não precisava dizer a eles qual foi a decisão de Raphael. Assim que tinham
visto o convite na noite anterior, sabiam o que ele faria. No fundo do seu coração,
Cyn admitiu para si mesma que ela também sabia. A diferença era que ela, pelo
menos, tinha tentado convencê-lo a não fazer isso.
Ela não sabia por que os outros dois não tinham feito o mesmo. Talvez, ela
pensou cruelmente, porque eles já tinham feito a mesma conta, assim como
Raphael, e estavam dispostos a sacrificar sua vida para salvar seus semelhantes.
Mas o pensamento mal tinha se formado e ela sabia que não era verdade. Não por
Juro, de qualquer maneira, e não por Jared tampouco, ela admitiu relutantemente.
Ele poderia ter estado disposto a ir junto com Raphael, ser baleado por um ser
humano assassino – assumindo em sua típica arrogância vampírica que nenhum
ser humano poderia enganar ou acabar com os planos de um vampiro e seus
reflexos –, mas ela honestamente não acreditava que até mesmo Jared casualmente
arriscaria Raphael contra toda uma equipe de vampiros mestres que queriam vê-
lo morto.
Não, os dois iam junto com o que Raphael decidisse, porque ele era o seu
senhor e seu lorde, e a decisão era sua. Não existia emoções humanas confusas
atrapalhando o trabalho, só obediência.
— Você deve trazer outro lorde vampiro com você? — ela perguntou,
interrompendo a discussão dos tempos de voo e acomodação disponível.
Raphael girou a cadeira para encará-la de onde ela estava sentada ao lado
dele.
— Eles não disseram na maldita carta com quem você se reuniria — ela
continuou. — Mas todos sabemos que enviarão mais de um vampiro para negociar
com você. Estão com muito medo de ficar sozinhos com você. E os vampiros que
enviarão não serão um grupo de funcionários de escritório. Pelo menos um deles,
e provavelmente mais do que um, será um lorde vampiro, ou pelo menos um
poderoso o suficiente para ser um. Afinal de contas, a razão pela qual eles estão
fazendo isso é porque têm muitos vampiros poderosos e nenhum lugar para colocá-
los. Que melhor maneira de os tirar de cena do que enviá-los para confrontá-lo?
— A carta especifica que só posso levar a minha própria equipe de
segurança.
— Que se foda a carta. Quem disse que são eles que ditam as regras? Você
deve levar Lucas ou Duncan, — Cyn insistiu, teimosamente. — Qualquer um deles
ficaria feliz em ir com você. Se isso vai fazer você se sentir melhor, pode dizer que
são parte de sua equipe de segurança.
— E se isso for uma armadilha para afastar Lucas ou Duncan do continente
junto comigo, e assim os europeus poderem atacar? Quem vai defender seus
territórios?
— Bem, quem vai defender o seu? Talvez seja esse o plano. É você quem
tem o maior território, afinal de contas.
— Jared vai cuidar do Oeste na minha ausência. Lucas vai ajudá-lo no que
for necessário.
Cyn deu a Jared um olhar sem expressão, então, só para ser teimosa,
argumentou.
— E se Lucas estiver sob ataque também?
Raphael a olhou divertidamente e puxou sua cadeira para mais perto dele.
— Então Aden ajudará Lucas — disse ele pacientemente. — E Duncan vai
ajudar Aden, e Vincent ajudará Anthony. Nós não acreditamos que o México estará
sob ameaça, pelo menos não imediatamente. Achamos que eles vão esperar para
ver se Vincent vai seguir o exemplo de Enrique ou optar por aliar-se com a gente.
Ele já se aliou a mim em particular, mas eles ainda não sabem disso.
— Então, você já pensou em tudo.
— Tanto quanto possa se pensar, — Raphael concordou. — Juro vai me
cobrir no Havaí, assim como você.
Cyn balançou a cabeça, desistindo de discutir por enquanto. Mas por
dentro, seus pensamentos estavam em uma direção completamente diferente. Se
ela ia proteger Rafael, se ela ia ser nada além de uma fachada, então ela tinha que
pensar em algo. Cyn tinha provado mais de uma vez que era alguém a ser
reconhecida, mas poucos na comunidade vampírica sabiam que esses eventos iam
além de boatos. Esses vampiros estrangeiros certamente não sabiam. E mesmo se
tivessem ouvido falar de seu papel na morte do Lorde Jabril, não levariam em
consideração.
— O erro deles — ela murmurou para si mesma.
Raphael olhou para cima, mas ela apenas sorriu e recostou–se na cadeira.
Os vampiros tinham planos para a viagem? Bem, ela também. Reforço para quando
os planos deles acabassem indo para o inferno e os seus planos fossem tudo o que
restava.
Capítulo 03

— ELE ESTÁ DEIXANDO VOCÊ ir com ele? — Os olhos castanhos de Luci


se arregalaram de surpresa.
Elas estavam sentados no escritório abarrotado da casa de Jessica, o
refúgio de adolescentes fugitivos que as duas tinham fundado anos antes.
Cyn deu a sua amiga um olhar cético. — Sério, Luci? Você está me
perguntando isso?
— Eu queria ir com Juro e ele me cortou totalmente. Não cedeu nem um
centímetro.
Cyn sorriu. Ainda lhe divertia que Lucia e Juro fossem um casal.
— Eu conheço esse olhar, — Luci disse, sua bela pele dourada corando
enquanto ela afastava Cyn. — Supere isso, já.
— Eu não posso. É apenas tão... fofo!
— Fofo? Juro não é fofo! Ele é 130 quilos de músculo lindo e sexy como o
inferno, mas ele não é fofo.
— Não Juro, você bobona, os dois juntos. Veja! Eu tenho lágrimas nos meus
olhos, eu amo tanto isso.
Luci entrecerrou os olhos irritada. — Quanto tempo mais essa porcaria vai
durar?
— Pelo menos um mês, talvez mais.
— Bem, não espere por nenhum telefonema, então.
— Ah, vamos lá, Luce. Eu aguentei seus comentários sobre Raphael.
— Eu odiava Raphael. Ele quebrou seu coração!
— Sim, mas ele compensou.
— Eventualmente.
— Veja! Aí. Você estendeu por pelo menos um mês, esperando por ele estalar
e queimar tudo depois que voltamos. Então eu recebo um mês de fofo.
— Tanto faz. Por que você quis se reunir hoje? Eu sei que não era só para
me dizer o quão fofa eu sou.
— Não apenas você, — Cyn gargalhou. — É você e...
— Eu entendi — Luci estalou. — Seguindo em frente.
— Você não é engraçada. Ok. Você tem família no Havaí, certo?
Luci piscou com a mudança inesperada de assunto. — Muitos, por quê?
Juro me disse que ele e Raphael já haviam feito arranjos...
— Raphael tem seus arranjos. Estes são os meus.
Luci estudou-a por um momento. — O que há, Cyn?
— Eu não sei o quanto Juro lhe disse...
— Apenas a versão resumida. Nós não estamos no modo de
compartilhamento de tudo ainda, especialmente não quando se trata de seu
trabalho. Ele me disse que Raphael foi convidado para uma negociação de paz com
os europeus, e que eles escolheram o Havaí como um local neutro, ou pelo menos
tão neutro quanto os vampiros são capazes.
— Ele lhe disse que é provavelmente uma armadilha e que o Raphael está
entrando nela?
Luci deu–lhe um olhar duvidoso. — Não, ele não mencionou isso. Você tem
certeza? Porque eu não posso ver Juro deixando Raphael entrar nisso.
— Como se Juro tivesse uma escolha. Você sabe como esses caras são. É
tudo sim, Sire, e imediatamente, Sire. Eles vão dar uma opinião se Raphael pedir,
mas eles não vão discutir.
— Tenho certeza de que você compensa qualquer falta no departamento de
argumento.
Cyn sorriu. — Eu tento. O meu ponto é, eu tenho um sentimento muito
ruim sobre esta chamada negociação. Quero estar pronta se tudo for para o inferno.
Luci franziu o cenho lentamente, depois disse: — Tudo bem. Do que você
precisa?
— Habitação e transporte, algo que não será rastreado de volta para
Raphael ou para mim. Há uma chance de eles saberem sobre você. É pequena,
mas...
— Então, vamos com os primos do lado de minha mãe. Estes são primos
dela, não meus. O que significa que eles estão um passo distantes de mim, e têm
nomes totalmente diferentes. Qual ilha?
— A reunião será em Kauai, então eu estou procurando por um lugar que
possamos nos esconder, se for necessário. Não mais do que um dia ou dois, apenas
no caso de fazerem um movimento contra Rafael e ele estiver muito machucado...
— Ela respirou fundo, incapaz de pensar muito profundamente sobre o que seria
necessário para ter Raphael longe da equação.
A mão de Luci cobriu a dela na escrivaninha barata do escritório. — Isso
não vai acontecer, Cyn, porque você não vai deixar.
— Raphael disse que confiava em mim — Cyn confidenciou num sussurro
rouco. — Ele disse que se a merda bater no ventilador, eu poderia lidar com isso.
Mas e se eu não puder, Luci? E se for tarde demais?
— Vamos, Raphael é um cara esperto. Ele sabe no que está se metendo e
ele conhece você. Além disso, apesar de toda a sua conversa de sim, Sire, não Sire,
eu não acredito que Juro deixaria Raphael caminhar em uma situação sem vitória.
Cyn assentiu, inspirando profundamente pelo nariz. — Você está certa. Ok.
Então, algum desses primos vive em Kauai?
— Só uma dúzia. Eu não estava brincando, Cyn. Meu povo está em todas
as ilhas.
— Precisa ser uma casa vazia. Eu não quero colocar ninguém em perigo, e
eu não posso ter alguém fofocando no supermercado sobre hábitos de vampiros
estranhos.
— Bem, uma das primas da minha mãe tem uma casa grande em
Princeville. O terreno não é nada para falar, mas tem um campo de golfe, de modo
que compensa o pequeno tamanho da propriedade. E o trabalho de seu marido
acabou de enviá-los para a Europa por um ano, por isso está vazio.
— Algum filho?
— Ambos vivem em Nova York. E com os pais fora, não há nenhuma razão
para que visitem. Ela e minha mãe são próximas, então eu a conheço muito bem.
Eu poderia ligar para ela.
— Isso parece perfeito, Luce, obrigada. E descubra se o lugar tem uma
patrulha de segurança, também. Ela precisa que eles saibam que alguém pode
estar usando a casa.
— Eu cuidarei disso. Você mencionou transporte?
— Eu estou provavelmente pensando demais nisso, mas eu pensei que
poderia ser útil ter o nome de um serviço aéreo privado de confiança, apenas entre
as ilhas. Você sabe que Raphael tem seu próprio avião, mas se não pudermos
chegar a ele, ou se precisarmos de algo mais discreto, seria bom ter uma alternativa
que nos tiraria da ilha.
— Isso é fácil. Meu primo Brandon opera um serviço de fretamento aéreo.
Ele pilota helicópteros e aviões pequenos. Ainda melhor, ele é um primo honorário,
então não há como rastreá-lo para mim. Ele é o melhor amigo de meu primo real
que se mudou para sua casa quando seus pais militares foram transferidos para o
exterior. Ele era um grande jogador de futebol na escola secundária local, em busca
de uma bolsa de estudos integral para atletas na faculdade. Ele teria perdido isso
se ele fosse com eles.
— Alguma chance de que você possa fazer algumas ligações antes de nós
partirmos amanhã à noite?
— Absolutamente. E uma vez que você estiver lá, posso ativar a rede Shinn
para o que você precisar.
Cyn já estava de pé e indo para o corredor quando a cadeira de Luci raspou
o chão atrás dela. — Hum, Cyn...
Alguma coisa em seu tom de voz fez Cyn parar e girar de volta. — O que foi,
Luce?
— Bem, você sabe Juro e eu...
Cyn lançou–lhe um olhar intrigado. — Sim, eu sei.
— Bem, sim, mas ele comprou uma casa em Malibu.
— Eu sei disso também. A da direita próxima à propriedade de Raphael. Ele
disse... — Seus olhos se abriram de par em par quando a percepção atingiu e um
enorme sorriso cruzou seu rosto. — É por isso que ele comprou. Vocês estão se
unindo, não é?
— Você tem tal maneira com palavras, Cynthia. Juro está preocupado por
eu estar aqui com nada além de uma casa cheia de crianças, especialmente desde
que aquele rastejante usou este lugar para chamar a sua atenção e infiltrar a
segurança de Raphael.
— Sim, mas ele não teve sucesso. Quer dizer, Juro soube o tempo todo...
— Essa não é a questão. Ele tentou, e Juro estava preocupado comigo sobre
eu morar aqui mesmo antes disso. E agora com esta guerra, isso o deixou ainda
mais preocupado. Mas eu não poderia deixar as crianças ssem ninguém para
cuidar deles. Ele entendeu... Não, isso não é certo, ele não entendeu. Não teve a
visão geral. A única coisa que ele se importava era a minha segurança e tudo o
mais poderia ir para o inferno. Mas depois recebi um telefonema.
Cyn franziu o cenho. — Alguém a ameaçou?
— Não, não, não assim. Você já ouviu falar de Halley–Willow.org?
Cyn respondeu imediatamente. — Grande assistência on-line, voltada para
crianças foragidas. Eles também administram um monte de abrigos,
principalmente no sudoeste.
Luci sorriu. — Veja, eu sabia que você prestou atenção. Você está certa, e
eles se aproximaram de mim um par de semanas atrás. Eles querem trazer
Jessica's House sob sua proteção e eu junto com ele.
Cyn piscou de surpresa. — Mas Jessica's House é seu bebê. Você trabalhou
tanto nela.
— Nós duas trabalhamos. Nós fizemos isso juntas.
— Eu escrevi alguns cheques. Você é a única que conviveu com os pequenos
monstros dia após dia.
Luci sorriu. — Besteira. Você sempre esteve lá quando eu precisava de você,
ou quando uma das crianças precisava de você. Este bebê pertence a nós. O que
significa que esta é uma decisão para nós duas.
Cyn encolheu os ombros. — O que você quer fazer?
— Haley–Willow quer que eu ajude com divulgação, angariação de fundos e
outras coisas, mas também para ajudar a criar novos abrigos em comunidades
carentes. Quero fazer isso, Cyn. Jessica’s é ótimo, mas posso fazer muito mais com
uma organização maior.
— Então faça.
— Tão fácil?
— Para mim é.
— Isso foi o que Juro disse que você diria.
— Ele é um cara esperto. Isto é, além de ser fofo.
— Você pode ir agora, — Luci disse e começou a empurrar Cyn para fora da
porta.
— Isso significa que vocês vão morar juntos na praia? — Cyn persistiu,
falando sobre seu ombro. — Você estará vivendo bem ao lado de mim! Podemos
tomar o café da manhã juntas, trocar notas de sexo enquanto os caras dormem.
— Oh, meu Deus, você não disse isso. Fora.
Elas já estavam na porta da frente. Luci empurrou a porta de tela para a
varanda e um grande sujeito negro saltou para seus pés. Um grande, fortemente
armado cara negro que acontece ser guarda–costas humano de Cyn, Robbie
Shields.
— Sendo expulsa do lugar de novo, Cyn? Não posso levá-la a lugar nenhum.
— Ei, Rob, — Luci o cumprimentou.
— Onde está a gangue, Luce? — Ele perguntou. — Não pode haver crianças
aí, está muito quieto.
— Cupins — explicou Luci.
O rosto de Robbie perdeu toda expressão. — Você alimentou as crianças
com os cupins? Nossa, não é esse tipo de...
— Muito engraçado — disse secamente. — A casa está sendo fechada pela
manhã, e será feita alguma reforma depois disso. As crianças foram transferidas
para um lugar...
— Devemos ir para dentro — disse Robbie com uma voz calma demais e
muito quieto. Cyn seguiu seu olhar para a rua, onde um Muscle SUV1 estava
cruzando muito lentamente. Era um carro indistinguível – preto com janelas
escurecidas e, sem surpresa, sem placa.
— Alguém que você conhece, Luce? — Ela perguntou, mesmo quando ela
empurrou Luci na frente dela e de volta para a casa, com Robbie logo atrás. Ele
fechou a porta e cruzou até a grande janela que dava para a rua. As cortinas
estavam abertas, mas um tecido fino impedia alguém de ver demasiado.
Robbie estava de lado, com a mão na arma, que ele ainda não havia puxado.
Cyn se certificou de que Luci estava fora de qualquer linha de fogo, então
se moveu silenciosamente para a sala de estar, tomando uma posição no lado
oposto da janela.

1
É um tipo de carro, híbrido entre SUV e jipes.
— Você deveria ficar lá com Luci — Robbie disse, dando–lhe um olhar
sombrio.
Cyn ignorou o comentário com nada além de um bufar desdenhoso.
— Eu acho que eles se foram, — ela disse, mas esperou até que Robbie
concordasse com ela o suficiente para que ele tirasse a mão da Beretta em seu
quadril. Seus olhos procuraram pela rua agora vazia por alguns minutos mais,
antes que ele finalmente se afastasse e caminhasse até a cozinha onde Luci estava
sentada à mesa, com uma expressão alerta, mas não intimidada.
— Você tem um monte desse tipo de coisa, Luci? — Robbie perguntou,
encostado na entrada.
— De vez em quando. Tenho alguns jovens membros de gangues que
preferem ficar por aqui do que ir para a prisão. Isso não faz seus líderes felizes.
— Veja, Rob, não era eu desta vez. Eles estavam atrás de Luci.
— Nossa, obrigada — Cyn disse Luci. — Não pareça tão feliz com isso.
Cyn abraçou a amiga. — Não é você, é Raphael. Ele fica maluco toda vez
que alguém tenta me matar.
— Imagine isso.
— Você sabe, claro, que o Juro vai fazer alguma maluquice quando ele
souber disso.
Luci olhou para ela. — Então nós não contaremos a ele sobre isso. Não é
um negócio tão grande, Cyn. Eles estão apenas tentando me assustar. Eles nunca
fizeram nada.
— Muito tarde para pensar em não contar ao Juro. Raphael mantém guias
bem fechadas sobre mim. Qualquer coisa que dispare adrenalina, ele sabe. E o que
Rafael sabe, Juro sabe, especialmente no que se refere à questões de segurança.
Acostume-se a ele. Seus dias felizes de solteirice acabaram.
— Droga, droga, droga. Eu preciso ligar para ele — murmurou Luci,
perdendo a calma de uma maneira que fez Cyn rir, ainda que fosse apenas por ser
algo tão incomum.
— Vamos, — ela disse, puxando sua amiga para a porta da frente. — Você
pode muito bem vir para casa com a gente e evitar a viagem de Juro até aqui. De
qualquer forma, eles estão fechando a casa de manhã.
— Cyn está certa — disse Robbie. — Os vampiros não fazem as coisas na
metade, e o cara grande se importa com você.
— No que é que eu fui me meter? — murmurou Luci.
— Você o ama?
Luci olhou para cima e encontrou seus olhos por um longo tempo antes de
responder quase miseravelmente: — Sim, eu faço. Ele diz que me ama também.
— O amor é um risco, Luce. Ninguém acredita mais nisso do que eu. Mas
eu conheço Juro, e se ele diz que te ama, eu acho que é um risco que vale a pena.
Ele é um grande cara e também muito adorável agora que ele está apaixonado.
— Quem é adorável? — Robbie interrompeu, olhando para cima de onde ele
tinha estado enviando mensagens de texto para alguém em seu telefone.
— Ninguém, — Luci disse firmemente, passando na frente de Cyn para
enfrentar Rob. — Eu irei com vocês.
— Ótimo — disse Cyn. — E, Robbie, eu preciso falar com você sobre o Havaí.
Podemos falar no caminho.
Ele suspirou. — Sim, eu tinha a sensação de que você ia dizer isso.

****

Cyn sentou–se na cadeira de Raphael em seus aposentos privados e


arrancou suas botas, chutando-as de lado enquanto caminhava descalça até o
armário. Seu casaco foi colocado em um cabide, mas o resto de suas roupas foram
tiradas e empurradas no cesto de roupas sujas.
Ela estava indo para o banheiro para se preparar para a cama, mas voltou
quando seu telefone celular piscou uma mensagem de entrada. Ela abriu o texto,
esperando uma atualização de Luci, mas encontrou algo totalmente diferente em
vez disso, algo totalmente inesperado. Nick Katsaros estava mandando mensagens
para ela. Falar de uma explosão do passado. Ela e Nick tinham sido... Bem,
amantes era uma palavra muito forte. Eles foram amigos de foda. Nick viajava
muito a negócios, e sempre que ele estava na cidade, os dois entravam em contato,
e marcavam de sair. Ele era perigosamente bonito, muito divertido e leal a seu
modo. Mas ela não tinha ouvido falar dele em mais de dois anos. Não desde que
ela e Raphael estavam definitivamente juntos.
Ela abriu a mensagem, lendo-a com o cenho franzido. Dizia apenas que
precisava da ajuda dela em algo. Sem detalhes. Provavelmente, algum trabalho de
investigação que ele queria fazer, ela pensou. Mas seja o que for, não era um bom
momento. Ela entraria em contato com ele depois que eles voltassem do Havaí.
Talvez. Raphael não ficaria muito entusiasmado por ela lidar com Nick novamente.
Então, talvez ela apenas indicasse a ele uma outra pessoa. Não era como se L.A.
tivesse poucos investigadores particulares.
Desligando a campainha do telefone por enquanto, jogou-p sobre a mesa.
Continuando seu caminho original para o banheiro, ela se lavou e escovou os
dentes, em seguida, desligou as luzes e deslizou nua na cama com Raphael,
abraçando a sua forma longa e musculosa. Ele estava deitado de costas como
sempre, um braço sobre o peito, o outro ao seu lado. Ela sorriu, porque sabia que
o braço ao seu lado era para ela. Colocando a cabeça em seu ombro, ela colocou
seu braço sobre sua barriga e dobrou sua perna sobre sua coxa. Ela suspirou com
prazer, relaxando completamente de uma maneira que não fazia com mais
ninguém, em nenhum outro lugar.
Quando Raphael finalmente acordasse com o pôr-do-sol, seu braço viria em
torno dela. Era sempre a primeira coisa que ele fazia ao acordar. Mesmo antes de
abrir os olhos, ele a abraçava contra seu peito. E se ela não estava lá, ele procuraria
por ela. Ele não ficava feliz quando isso acontecia, e ele não era tímido em deixá-la
saber disso. Mas então, Raphael não era tímido em nada.
Cyn fechou os olhos e respirou profundamente, inalando o perfume único
de Raphael, escutando seu coração batendo em seu peito, acalmando-a,
facilitando-a em um sono profundo.
Parecia que acabara de fechar os olhos quando o braço de Raphael caiu
pesadamente sobre suas costas, segurando-a firmemente enquanto ele a rolava
debaixo dele.
— Eu não acho que eles estavam procurando por mim. — Ela bocejou,
piscando os olhos abertos para olhar para ele. Sua conexão era profunda o
suficiente para que ele estivesse ciente do que acontecera na casa de Luci. O pico
em seu nível de estresse assegurou isso.
— Eu sei, — ele disse, sua voz de meia–noite, uma carícia de som. — Mas
uma bala não tem que ser dirigida a você para matá-la.
Ela sorriu para ele. — Bem, isso meio que acontece. Quero dizer...
— Cala a boca, Cynthia, — ele murmurou. Cobrindo sua boca com a dele,
ele provocou sua língua ao longo da costura de seus lábios até que ela se abriu
para ele, então ela deslizou para torcer convidativamente em torno de sua língua
em um beijo longo e luxurioso.
Cyn envolveu seus braços nos ombros dele e puxou–o para mais perto. Ela
adorava beijar Raphael, amava a maneira como ele tratava cada beijo como uma
sedução, mesmo que ele não precisasse mais seduzi–la. Ela já era dele.
— Eu senti sua falta hoje, minha Cyn, — ele sussurrou, depositando beijos
ao longo de sua bochecha, delineando a curva de sua orelha com sua língua e
depois até seu pescoço.
O corpo de Cyn respondeu ansiosamente. Ela ficou molhada no momento
em que ele começou a beijá-la, seus seios inchandos contra os planos duros de seu
peito, seus mamilos enrijecidos em picos famintos. Ele acariciou uma mão quente
sobre suas costelas, dedos curvando–se em torno de seu quadril antes de deslizar
para baixo para agarrar sua coxa e dobrar sua perna, abrindo-a ainda mais
enquanto ele acariciava sua vulva. Ela gemeu suavemente, empurrando contra sua
mão enquanto ele moldava seus lábios exteriores, espalhando-os suavemente,
provocando-a com os dedos enquanto seu polegar encontrava seu clitóris inchado.
Mas ele não deu a ela liberação. Seu polegar esfregou sobre e ao redor do nó
sensível, mal tocando, então circulando para provocar novamente.
— Raphael — ela sussurrou faminta. Ela podia sentir seu pênis quente e
pesado contra sua coxa. Ela o pegou em sua mão, apertando e soltando enquanto
seus dedos se moviam para cima e para baixo pelo eixo duro.
Raphael rosnou, e Cyn mostrou os dentes em resposta, acariciando-o até
que seus olhos negros brilharam prata sob suas pálpebras meio abaixadas e as
presas completaram seu sorriso de predador.
Sem aviso, ele agarrou seu pulso e deslizou seu pau para fora dos seus
dedos com um movimento de seus quadris. Então, agarrando seu outro pulso
também, ele forçou seus braços acima de sua cabeça onde ele segurou ambas as
mãos em uma das suas. Com a outra, ele alcançou entre seus corpos e guiou seu
pênis para a abertura de seu sexo, esfregando a ponta na umidade entre suas
coxas, enquanto ela abria as pernas e empurrava seus quadris para cima.
— Fique quieta — ordenou ele suavemente.
— Eu não quero ficar quieta — ela disse desafiadoramente, e balançou mais
duro, enganchando sua perna ao redor de seus quadris e puxando-se para cima
em seu pênis, ou tentando.
Raphael riu enquanto evitava seus esforços, depois a esmagou contra o
colchão, deixando-a sentir todo o peso de seu corpo grande.
Ela deu um grito sem palavras de frustração quando ela foi incapaz de se
mover, mas o sorriso dele só aumentou mais.
— Eu amo te foder, minha Cyn, — ele murmurou. — Sua boceta está sempre
tão molhada para mim, tão faminta.
Cyn respirou fundo. Suas palavras, faladas em uma voz profunda e
retumbante enquanto seu pênis acariciava preguiçosamente entre seus lábios de
sua vagina, deslizando no creme de sua excitação, enviou arrepios correndo sobre
sua pele da cabeça aos pés.
Ela parou de lutar contra sua espera e sussurrou: — Eu sempre te quero.
Isso nunca para. Você entra em um quarto e eu quero você. Eu me deito ao seu
lado todos os dias e espero que você desperte para que eu possa fazer amor com
você de novo.
Os olhos de Raphael brilharam a prata pura enquanto mergulhava
profundamente em seu corpo com um único impulso vigoroso. Cyn gritou,
adorando a sensação, enquanto seu corpo se esticava para acomodar a largura e o
comprimento de seu pênis, enquanto sua vagina inundava de desejo. Ele a fodeu
vigorosamente, os quadris flexionando, empurrando seu pênis profundamente em
sua vagina, então puxando para fora e fazendo tudo de novo.
Cyn puxou suas mãos, querendo segurá-lo, passar seus dedos sobre os
elegantes músculos de seus ombros, raspar suas unhas através das mechas
grossas de seu cabelo preto. Não havia uma polegada dele que não fosse bonito,
nem uma polegada que ela não amasse.
Mas Raphael estava em um modo dominante esta noite e não a soltou.
Fodendo-a com firmeza, ele inclinou a cabeça para seu pescoço, empurrando
contra a curva de sua mandíbula em demanda até que ela se rendeu, virando a
cabeça para o lado em oferta. Sua pele puxou em uma linha tensa quando sua
língua raspou contra sua veia, seus lábios fechando sobre o inchaço dela sugando
suavemente. Seu coração, já correndo de excitação, dobrou sua velocidade,
batendo tão forte contra suas costelas que ela sabia que Raphael sentiria, saberia
o quanto ela queria sua mordida, queria o toque de suas presas, cortando primeiro
em sua pele e então sua veia, queria aquele momento de fraqueza quando seu
sangue começava a escorrer em sua garganta, e então a incrível onda de prazer, o
emocionante calor do clímax quando a euforia de sua mordida percorria seu
sistema.
Ela gritou quando ele raspou seus dentes ao longo de sua pele, a dor um
prazer erótico que a fez ondular debaixo dele, cada nervo em seu corpo
sensibilizado a seu toque, seu cheiro, o som de sua voz dançando sobre sua pele,
enquanto ele sussurrava em russo todas as coisas que ele faria, todos os prazeres
carnais que ele daria a ela.
Cyn sussurrou apenas uma palavra: — Sim.
Com um grunhido de fome, Raphael enterrou suas presas em seu pescoço,
sugando com força enquanto a euforia atingia a corrente sanguínea de Cyn. Ele a
segurou na cama, enquanto ela se contraia quando o orgasmo gritou através de
seu corpo como um raio de eletricidade; acendendo seus nervos e contraindo seus
músculos, fazendo sua vagina apertar em torno de seu pênis. Ele gemeu com suas
presas ainda enterradas em sua veia, o som zumbindo através de seu corpo como
um diapasão. Seu sexo tremia ao redor dele, acariciando seu comprimento,
apertando e relaxando, dando prazer a ele, o incitando a climax.
Raphael ergueu a cabeça, deslizando os dentes de sua veia com uma
maldição sibilada, enquanto ele batia nela, cada impulso de seu eixo agora um
milhão de prazeres diferentes como os minúsculos nervos e músculos de sua
bainha agarrado nele, exigindo sua libertação. Finalmente, ela sentiu a onda
quente de seu orgasmo e ela foi sacudida em um novo clímax até que ela ficou mole
e saciada em seus braços.
As estocadas de Raphael diminuíram para um deslizamento sensual de seu
pau através da umidade misturada entre suas coxas. Ele afrouxou as mãos
finalmente, e ela envolveu seus braços em torno dele, segurando-o perto, sentindo
o ritmo de seus corações batendo.
Ele lambeu seu pescoço, selando a ferida, beijando-a gentilmente antes de
puxá-la em seus braços e rolar para suas costas, levando-a com ele para que ela
se deitasse dessosada sobre seu peito.
Eles ficaram em silêncio por um longo momento, e então ele disse: — Conte-
me o que aconteceu hoje.
— Luci acha que eram gangues. Já aconteceu antes. Robbie concorda.
— Bem, se Robbie concorda...
— Não seja sarcástico. Além disso, não há razão para alguém vir atrás de
mim agora. Se eu morresse, você provavelmente cancelaria sua viagem ao Havaí e
eles querem você lá.
— Por que eu cancelaria a viagem?
Ela podia ouvir o humor provocante em sua voz, que foi a única coisa que
o salvou. Ela ainda o socou na barriga, no entanto, apenas para fazer um ponto.
Ele grunhiu em reação – ela era forte e ela nunca se continha com ele – mas então
a abraçou com uma risada.
— Você provavelmente está certa, — ele concordou.
— Claro que estou. A propósito, você sabe a casa que Juro comprou ao lado
da nossa? Você sabia que ele quer que Luci more ali com ele?
Ele encolheu os ombros, rolando o músculo perfeitamente formado de seu
peito sob sua bochecha. — Não havia nenhuma outra razão para ele comprar a
casa, então eu não estou surpreso. Existe algum problema?
— Não para mim. Estou emocionada. Luci estava vivendo quase 24 horas
na Jessica’s House, o que aparentemente preocupava Juro ainda mais do que eu.
Mas agora há uma organização maior que quer administrar o abrigo. Isso liberta
Luci para ter uma vida real novamente.
— Tenho certeza de que Lucia pensa que já tem uma.
— Talvez — disse Cyn lentamente, então, — Eu adoraria ser uma mosca na
parede quando Juro encontrar Luci esta noite, no entanto. Eu nunca o vi surtar
antes.
Raphael riu. — É isso que eu faço? Surtar?
— Oh, inferno, sim. Foi a primeira coisa que Robbie e eu pensamos quando
aconteceu.
— Bom.
Cyn saltou quando Raphael bateu em seu traseiro, e ela revirou os olhos.
— Ainda estamos saindo amanhã à noite?
— Não, nós iremos esta noite.
Cyn ergueu–se sobre um cotovelo para estudar seu rosto. — Você acha que
eles têm um espião em sua casa?
— Não na casa, mas na propriedade. Não tenho nenhuma prova, mas é
provável. É o que eu faria nessas circunstâncias.
— Então, enquanto eles estão esperando você amanhã à noite, você vai
chegar esta noite.
— Exatamente. Você pode estar pronta em uma hora?
— Menos.
— Leve uma hora, e eu a gastarei com você. Qualquer coisa poderia
acontecer no Havaí. Vou passar qualquer tempo que tiver com você.
O estômago de Cyn se apertou com pressentimento. Ele estava certo.
Qualquer coisa poderia acontecer. E ela estaria muito pronta para isso.

****

A limusine parou suavemente ao lado do jato Boeing reluzente. Esta era a


maior das aeronaves privadas de Raphael e poderia facilmente transportar Raphael
e toda a sua equipe de segurança, tanto vampiros quanto humanos. O plano
original tinha sido para uma equipe de reconhecimento voar esta noite, com
Raphael e seu pessoal imediato indo com o jato menor amanhã. Mas com a
mudança de planos, todos estavam viajando hoje à noite e isso significava que um
avião maior tinha que ser usado.
Raphael abriu a porta da limusine e saiu, depois ofereceu uma mão a Cyn.
Ela não precisava da ajuda, mas ela a aceitou de qualquer maneira, porque era
Raphael. Quase imediatamente, Juro afastou-o para falr com Jared, deixando Cyn
livre para passear pelo hangar onde Luci estava observando o processo com um
olhar preocupado em seu rosto.
— Ei, Luci, — Cyn chamou quando ela se aproximou.
A atenção de Luci mudou de um enorme vampiro japonês para Cyn. — Ei.
Cyn sorriu e estendeu a mão para suavizar as linhas na testa entre as
sobrancelhas perfeitamente moldadas de sua amiga. — Não franza a testa, — ela
repreendeu sem entusiasmo. — Dá-lhe rugas.
Luci respirou fundo, seu peito visivelmente subindo e caindo no ruidoso
hangar. — Como você faz isso, Cyn?
Cyn lançou-lhe um olhar intrigado. — Fazer o quê?
— Deixá-lo ir, sem saber se ele voltará.
Cyn ficou séria de uma vez. — Eu sempre acredito que ele vai voltar. Não
posso pensar de outro modo.
— Mas você é uma lutadora. Você pode estar lá para ter certeza de que ele
está seguro.
— Não há certezas. Só há a minha crença em Raphael.
O olhar perturbado de Luci voltou-se para Juro. — E se ele cair?
— Então eu caio com ele.
— Cair com... — repetiu Luci, dando a Cyn um olhar aflito. — Não se atreva,
Cynthia Leighton.
— E essa é a parte da crença. Enquanto estivermos juntos, voltaremos. Nós
dois.
— Porra. Preciso aprender a atirar com uma arma?
Cyn deu a sua amiga um abraço inusitado. — A guerra não é apenas sobre
armas, Luce. Alguém tem que manter tudo funcionando em casa e isso nunca vai
ser eu. Então cabe a você estar aqui quando todos nós voltarmos. Quando ele
voltar, — ela acrescentou, apontando a cabeça na direção de Juro. — Ele parece
grande e resistente, mas ele precisa de alguém para segurá-lo, também.
— Eu sei, — Luci concordou suavemente, então respirou fundo e endireitou
seus ombros. — Ok. Eu posso fazer isso. Mas você volta para mim, Cyn. E traga
aqueles grandes chupadores de sangue com você.
— Farei isso, — Cyn disse distraidamente quando Raphael chamou seu
nome. Ela olhou para vê-lo estendendo a mão. Ele estava pronto para embarcar.
— Tenho que ir, mas me diga rápido, você conseguiu contactar a sua família?
— Os primos e as tias estão a bordo. Vou enviar o arquivo por e–mail para
você.
— Obrigada, Luci.
Luci acenou com a cabeça, então agarrou Cyn em um abraço apertado e a
soltou, dizendo: — Eu tenho que dar ao meu de vampiro um beijo de adeus.
Cyn caminhou até seu próprio vampiro impaciente, caminhando direto em
seus braços.
— Você está pronta, minha Cyn?
Ela assentiu com a cabeça. — Vamos chutar uns traseiros europeus.
Capítulo 04

O VOO FOI longo, mas os fusos horários eram favoráveis, então eles
chegaram em Kauai com horas de escuridão de sobra. Não havia nenhum comitê
de boas-vindas desde que Raphael não tinha dito a ninguém que eles estavam
voando um dia antes do previsto. Se realmente havia um espião na equipe de
Raphael, ele esperançosamente tinha sido despistado com a decisão
cuidadosamente guardada de sair mais cedo.
Levar todo mundo do aeroporto de Kauai até a propriedade onde eles
estariam ficando precisou de vários veículos, o que não era exatamente discreto.
Mas Cyn esperava que a chegada deles no meio da noite, combinada com o hangar
privado onde eles tinham desembarcado, iria prover algum disfarce. De qualquer
modo, o melhor que eles poderiam esperar eram algumas horas de espaço para
respirar, o suficiente para tê-los seguros na casa temporária antes que eles
tivessem que lidar com o inimigo.
Porque negociações de paz ou não, os vampiros Europeus eram o inimigo.
Se eles estavam aqui para negociar a paz, era apenas com o pretexto de falar por
tempo o suficiente para avaliar a força de Raphael, para decidir se eles poderiam
eliminá-lo aqui mesmo, neste momento, antes de ir para o continente.
Cyn sentou próxima a Raphael na limusine a medida que eles viajavam para
a casa em Kauai, a mão dela segurando a dele muito apertada. Ele nunca disse
uma palavra, mas ela sabia que ele também estava preocupado. Não com ele
mesmo. Raphael nunca se preocupava com sua própria segurança; era parte de
sua arrogância, parte do que o fazia ser quem ele era. Mas ele odiava o pensamento
de Cyn estar em perigo junto com ele, odiava o risco para o povo dele. E isso era o
que fazia dele um ótimo líder, um que ganhou o amor e a lealdade de seu povo ao
invés de simplesmente demandar isso como uma obrigação.
— Como é esse lugar que estamos ficando? — ela perguntou a ele, enquanto
eles dirigiam pelas estradas escuras, cercados por uma vegetação exuberante e
uma chuva constante. Kauai recebeu o apelido de Ilha do Jardim, mas todo esse
verde vinha com um monte de chuva.
— Aparentemente, é uma casa de férias do presidente de uma das filiais da
Raphael Enterprises. Legalmente, é a própria filial que a possui. É uma propriedade
considerável, utilizada principalmente como um bem ativo para clientes
importantes. Há uma equipe completa durante essas visitas, embora obviamente,
eles não estarão lá durante a nossa estada.
— A filial é comandada por vampiros?
— Em segundo plano. O rosto público é humano, assim como a maioria dos
visitantes a essa casa.
Cyn franziu o cenho. — A casa será segura para vocês então?
Raphael assentiu uma vez. — Há vampiros no conselho de administração.
Acomodações foram feitas para os suas necessidades únicas. Discretamente, claro.
— Quem irá fazer as camas se não tem nenhum funcionário enquanto
estivermos aqui?
Raphael riu. — A maior questão era quem iria prover comida para os
humanos em nossa companhia. A maioria dos meus guardas de segurança diurnos
são ex-militares e totalmente capazes de cozinhar para si mesmos, mas Irina foi
gentil o suficiente para enviar um de seus cozinheiros para supervisionar, — disse
ele, se referindo a sua governanta vampira que também calhou de ser a
companheira de Robbie. — O cozinheiro que ela mandou é um homem, como eu
requisitei. Essa tarefa não é sem risco.
— Hey, garota viva aqui, — Cyn protestou.
Raphael libertou sua mão, puxando-a para o lado dele ao invés. — Eu estou
bem consciente disso. Mas você, minha Cyn, é uma verdadeira guerreira.
— Own, você diz as coisas mais doces.
Raphael sorriu distraidamente, sua atenção fixa fora da janela enquanto
eles viravam para o que parecia ser uma entrada. Era difícil de ver no escuro; ao
menos era difícil para ela. Os olhos de vampiro de Raphael viam tão claramente
como se fosse de dia. Ele não precisava de muito mais que a luz refletida de seus
vários veículos, ainda que os motoristas vampiros estivessem dirigindo apenas com
as luzes baixas, os faróis no máximo sendo na verdade brilhantes demais para os
olhos deles.
Cyn não poderia dizer para onde eles estavam indo até que uma pequena
luz perfurou através da floresta, ficando cada vez mais brilhante quanto mais perto
eles ficavam de seu destino. Na hora que o próprio prédio apareceu a vista, a luz
tinha se estabelecido em um brilho turquesa de uma grande piscina. Ela viu o
motorista vampiro da limusine deles colocar um par de óculos de sol, então viram
Juro, que estava sentado no banco da frente do passageiro, fazer o mesmo
enquanto que o motorista do primeiro SUV ligou seus faróis de luz alta e banhou
a frente do lugar em luz.
Era uma casa grande, mas ela esperava isso. A vida com Raphael nunca
envolveu uma cabana de dois quartos. Um edifício de três andares, toda metade de
trás do piso térreo foi construída na encosta atrás dele. Não tinha nenhuma dúvida
de onde os alojamentos compatíveis com vampiros ficavam localizados, desde que
um porão estava fora de questão. Haviam as usuais – para ilhas – sacadas em cada
andar e saindo de quase todos os quartos. Cyn não sabia o tamanho, mas ela não
conseguia ver nenhuma outra luz através da floresta circundante. Ela saberia a
extensão melhor durante o dia de amanhã, quando ela e Robbie iriam pegar uma
das SUVs para um passeio, mapeando a localização deles e aprendendo sobre a
vizinhança. Ela também queria localizar o lugar dos primos de Luci. Ela não iria
colocar aquele endereço no GPS. De fato, ela teria certeza de que todos os seus
passeios fossem deletados do histórico do sistema de navegação antes de eles
deixarem o veículo. Essa casa gigante parecia legal, mas se as coisas fossem piorar,
como todo mundo acreditava que iriam, ela queria uma rota de escape e ela queria
isso em segredo. Era tudo parte do plano reserva.
— Eu espero que eles tenham Wi-fi ali, — ela murmurou à medida que
estacionavam, pensando sobre a informação que Luci iria enviar para ela por e–
mail. Informação que ela precisava para o reconhecimento de amanhã.
— Tenho certeza que eles têm, — Raphael comentou enquanto Juro saiu da
limusine e abriu a porta para eles.
Uma onda de ar quente e úmido varreu a limusine, trazendo com isso o
esmagador aroma da floresta e solo molhado. Cyn aspirou o aroma para os seus
pulmões. Ela tinha estado no Havaí muitas vezes com o passar dos anos. Não era
tão perto assim de L.A., mas sempre pareceu como se fosse. Os presentes de
graduação do Ensino Médio incluíam viagens ao Havaí com os amigos, pessoas se
casavam no Havaí, a diversão pós-divórcio era no Havaí. No final das contas, ela
tinha estado muito aqui. Ela preferia a costa da Califórnia, mas o Havaí
definitivamente tinha o seu charme.
O pessoal da segurança de Raphael estava se espalhando, tendo certeza de
que não haviam surpresas. Normalmente, eles teriam feito isso antes que ele
chegasse, mas a mudança de planos tinha posto um fim na rotina normal deles.
Os seres humanos podem achar a chegada noturna uma complicação, mas não os
vampiros. Eles tinham aprimorado a audição para acompanhar a supervisão
noturna deles e poderiam detectar facilmente alguém espreitando no perímetro por
uma única batida do coração. Inferno, alguns dos guardas vampiros seriam
capazes de ouvir os pensamentos do intruso. Não haveria nenhum esgueirar nessa
casa.
Mas então, Raphael não estava preocupado com ninguém se esgueirando
até ele. Cyn sabia que o perigo aqui não estaria se escondendo nos arbustos. Iria
encontrá-lo cara a cara com um sorriso.
Deus, ela odiava isso!
As luzes internas repentinamente acenderam, então tão subitamente
esmaeceram. Esse era outro indicativo de uma residência vampírica, um
interruptor em todas as luzes. Haviam seres humanos o suficiente com eles,
entretanto, então algumas luzes eram necessárias. De fato, a metade humana do
contingente de segurança de Raphael iria procurar suas camas quase
imediatamente, então eles poderiam dormir um pouco antes que eles assumissem
seus deveres com o nascer do sol.
— Você está com fome, minha Cyn?
Ela balançou sua cabeça. — Irina tomou conta de mim e de Robbie antes
que deixássemos L.A. Ela nos fez companhia enquanto comíamos, e embalou para
nós alguns sanduíches em caso de sentirmos fome antes que chegarmos aqui. Ela
gosta que Robbie esteja bem alimentado.
Ela sorriu então, e se inclinou contra Raphael, abraçando sua cintura e
olhando para ele.— E quanto a você, garoto presos? Está com fome?
Os olhos negros de Raphael cintilaram através dos cílios pecaminosamente
longos enquanto ele a encarava com flagrante desejo. — Sempre.
— Deveríamos encontrar o nosso quarto.
— Os alojamentos seguros estão na parte de trás, — ele disse e, pegando a
mão dela, seguiu o resto do contingente vampiro passando de uma cozinha
gourmet brilhante para uma caixa–forte camuflada como uma estante de livros.
— Uma porta na estante? — Cyn comentou. — Isso é muito Jovem
Frankenstein para você.
— A porta tem um código de entrada para prevenir acesso não autorizado,
mas a maioria dos clientes que usa essa casa são humanos, então a fachada era
necessária. Jovem Frankenstein? — ele adicionou, intrigado.
Cyn encarou. — Você nunca viu esse filme? Eu não acredito que eu não
sabia disso ainda. Assim que voltarmos para L.A., você e eu teremos um encontro
com filme. Eu levarei a pipoca.
— E você comerá toda ela também.
Ela colocou a língua para fora enquanto ele a puxou em um corredor
estreito que estava alinhado com portas pesadas, cada uma com um teclado no
lado de fora.
— Como isso funciona? — ela perguntou. — Quem conhece todos esses
códigos?
— Há um código mestre, mas eles são individualmente programados pelo
ocupante, como um cofre em um quarto de hotel.
— Legal.
Eles alcançaram até o final do corredor e uma porta que era mais larga que
as outras. Raphael digitou um código e a porta abriu.
— Essa é uma programável, também?
— Sim. Embora leve uma sequência de códigos ligeiramente mais longa.
— Posso escolher o código?
— Nós discutiremos isso.
Cyn engasgou em falsa descrença. — Você não confia em mim para escolher
um bom código?
— Eu não confio no seu senso de humor.
Ela empurrou a porta fechada e o empurrou-o de costas em direção a
grande cama, mas apenas porque ele a deixou. Se Raphael não quisesse se mover,
ela poderia empurrá-lo a noite inteira e ele simplesmente continuaria ali e pareceria
entediado.
Nessa ocasião, no entanto, ele caiu de costas no colchão e a levou com ele,
prontamente rolando para cima dela. Cyn enrolou seus braços ao redor do pescoço
dele, os dedos dela brincando com seu cabelo curto. Ele tinha um lindo cabelo,
preto feito carvão e espesso, entretanto ele sempre o usava curto no típico estilo
homem de negócios, mais comprido no topo e curto na parte de trás. Coloque
Raphael em um de seus ternos elegantes, e ele estaria em casa nos altos escalões
de Wall Street.
Ele se esticou em cima dela, ainda completamente vestido, usando jeans da
501, uma camiseta preta de manga curta, e um par gasto de botas de engenheiro
da Frye. Não tinha nada de Wall Street sobre ele esta noite.
— Eu gosto das roupas, — ela disse acariciando suas mãos sobre o firme
abdômen embaixo da camisa, — mas você está usando muitas delas.
Raphael abaixou a cabeça e deu a ela um longo e lento beijo, a sua língua
rodando a dela, seus lábios sensuais movendo-se nos dela em uma carícia quente.
O beijo durou tanto tempo que ambos estavam arquejando por ar quando
finalmente se separaram. Os olhos negros de Raphael estavam iluminados de prata
enquanto ele tocava sua boca com a dela novamente, dessa vez lambendo o sangue
dos lábios dela das suas presas.
— Você pode escolher o código, lubimaya, — ele disse a ela, sorrindo.
Cyn deu-lhe um olhar estreito. — Essa foi muito fácil. Qual o problema,
garoto presas?
Raphael suspirou, balançando a cabeça pelo termo de carinho favorito dela.
Ela sabia que ele particularmente o amava, apesar disso, ou ele teria pedido a ela
para parar de usá-lo até agora.
— Eu tenho uma reunião, — ele disse a ela.
— Eu meio que imaginei, — ela disse secamente. — Quanto tempo até o
nascer do sol?
— Infelizmente, não tempo o suficiente. Eu estarei de volta a tempo de
dormir com você.
— Eu deixarei a porta aberta então você não precisará adivinhar o código.
— Isso seria sensato. Você não quer que seja necessário que eu arranque a
porta fora.
— Eu não tenho medo de você.
— Não, — ele concordou. — Você nunca teve. Esse é um dos motivos pelos
quais eu te amo.
— Você terá que me dizer o resto disso.
— O resto de quê?
— Os motivos pelos quais você me ama.
Ele sorriu e a beijou suavemente. — Se a gente tiver tempo. É uma lista
muito longa.
— Você só está dizendo isso para que eu deixe você ir para a sua reunião.
Ele riu e empurrou-se para cima e para fora dela até ficar de pé próximo à
cama. — Estarei de volta assim que eu puder.
Ela pulou para os seus pés e agarrou com os dois punhos sua camisa,
puxando-o para um rápido e duro beijo. — Eu estarei aqui.
Cyn observou da porta aberta enquanto Raphael andava abaixo pelo longo
corredor. Juro emergiu do quarto ao lado do deles, então os dois terminaram
andando juntos, seus ombros largos quase escovando as paredes de cada lado. Ela
esperou até que eles passassem a porta segura mascarada como uma estante de
livros e ficaram fora de vista. Então ela rapidamente leu as instruções para codificar
a fechadura, inseriu uma série de números que ela esperava serem aleatórios o
suficiente, enviou o número para Raphael por mensagem, então fechou a porta.
Pegando seu laptop, ela se estabeleceu na cama. O Wi-fi da casa apareceu,
e ela entrou com o código de acesso, o que tinha sido incluso na mesma folha de
informações que as instruções da fechadura da porta. Indo diretamente a sua caixa
de entrada, ela encontrou o e-mail de Luci. Ele incluía diversos nomes e números
de telefone de vários parentes, não apenas no Kauai, mas de outras ilhas também.
Luci realmente tinha um monte de primos por aqui. A casa de Kauai estava no topo
da lista com o endereço e uma foto, mais o número da prima dela na Europa só
para o caso. O próximo da lista era o primo honorário Brandon que possuía um
negócio de fretamento aéreo. Cyn iria ligar para ele de manhã, só pra trocar uma
ideia, então ele saberia quem ela era se ela precisasse dele com urgência. O resto
da lista era uma variedade de primos e serviços, incluindo um restaurante ou dois,
os quais Cyn checaria se esta fosse uma viagem de férias. Mas desde que não era,
ela pulou esses.
A prioridade amanhã teria que ser a casa no Kauai possuída pela prima de
Luci. Se tudo fosse para o inferno, ela e Raphael e os outros iriam precisar de um
lugar que os vampiros Europeus não tinham conhecimento. Ela e Robbie iriam
precisar checar a casa, ter certeza de que ela servia aos seus propósitos, e então
torná-la amigável aos vampiros tanto quanto eles pudessem em pouco tempo.
Ela ainda estava olhando a lista de Luci quando alguém bateu, ou
esmurrou, a porta fechada. Olhando para cima com um olhar culpado, ela fechou
o laptop, então pulou para fora da cama e digitou o código da fechadura com seu
dedo. A porta se abriu para revelar o seu segurança vampiro, Elke, em pé do lado
de fora e parecendo extremamente irritado.
— Que porra, Cyn? É muito mais fácil ser seu segurança se eu posso ver
seu corpo magro.
— Supere isso, — Cyn zombou, fingindo que seu coração não estava
acelerado. E o que era tudo isso? Ela não tinha nada pelo que se sentir culpada.
Ela estava simplesmente fazendo o que Raphael tinha pedido a ela para fazer.
— Eu estava apenas estabelecendo o código da porta, — ela disse a Elke,
puxando a porta completamente aberta e gesticulando para dentro. — Qual deles
é o seu? — ela perguntou, balançando a cabeça para a linha de portas idênticas ao
longo de ambos os lados do corredor, tentando desviar a ira de Elke.
— Segunda porta à esquerda, do lado de Juro. Você ficará feliz em saber
que Jared está bem aqui, — ela adicionou, acenando para a primeira porta na
direta.
— Pare com isso. Estou tentando me dar bem com ele esses dias. Onde está
as instalações dos guardas humanos? Eu quero falar com Robbie.
— Sim, mas ele quer falar com você? Isso normalmente termina mal para
ele.
— Você está exagerando. Você sabe onde ele está ou não?
— É claro que eu sei. O que você está tramando?
— Nada. O que te faz pensa...
Elke entrou mais no quarto e fechou a pesada porta novamente. — Cyn. Eu
te conheço. Estamos em um lugar não familiar e Raphael está se preparando para
encontrar um bando de vampiros que, por qualquer critério, são o inimigo. E você,
minha amiga, não é do tipo confiante. Você assume, assim como todos nós fazemos,
que isso não vai terminar em um encontro amigável de paz. Mas enquanto nosso
senhor e mestre, a quem todos nós amamos e admiramos, assume que ele pode
forçar uma saída sobre qualquer coisa, você sempre se planeja para o pior. Então,
diga–me. O que você está tramando?
Cyn encarou Elke, seus lábios achatados em irritação. Ela era tão óbvia
assim?
— Não se preocupe. Você só é óbvia para as pessoas que te conhecem e te
amam. E não há muitos de nós, então você está segura; agora diga–me.
Cyn soprou uma respiração irritada, mas a verdade era que se o plano dela
entrasse em vigor, ela iria precisar de Elke com ela.
— Ok, você está certa. Eu não confio em nada sobre essa situação, então
eu fiz algumas investigações. Robbie e eu estamos indo checar algumas coisas
amanhã e talvez no dia seguinte, enquanto o sol está ativo. Eu também tenho um
contato que conduz um serviço de voo, e vou verificar com ele o tempo de trânsito
entre as ilhas.
— Robbie já sabe sobre isso?
— Não, mas eu sei que ele vai concordar comigo quando ele ouvir o que eu
tenho em mente.
— Eu nunca pensei que eu diria isso, mas eu acho que você está certa. O
que eu posso fazer?
Cyn deu-lhe um sorriso genuíno. — Eu saberei mais por volta de amanhã à
noite. Que horas é a reunião de Raphael com a gangue Eurolixo?
— Ainda não sabemos, já que não era suposto ele chegar até amanhã à
noite. Não será até duas noites depois de hoje, entretanto, porque mesmo seus
inimigos não esperam que ele vá do aeroporto diretamente para uma reunião.
Especialmente não esses inimigos. Eles são em sua maioria velhos, e eu quero dizer
velhos. Mas mais importante, eles são da velha escola, o que significa que não estão
assim tão emocionados com as conveniências modernas como os aviões. Eles
esperarão que Raphael seja igualmente apreensivo, e enquanto eles adorariam
puxá-lo para uma reunião quando ele está fora de seu jogo, eles assumirão que ele
nunca iria concordar com isso.
— Isso pode funcionar a nosso favor quando as coisas forem à merda —
Cyn disse pensativamente.
— Você quer dizer se as coisas piorarem.
— Não realmente. Eu tenho um péssimo pressentimento sobre isso.
— Eu torcia para que você não dissesse isso.
— Eu desejava que eu não estivesse sentindo isso.
Elke suspirou. — Vamos lá, vamos encontrar o Robbie.
— Obrigada, Elke.
— Sim, sim. Só tenha certeza de que as minhas cinzas encontrem o caminho
delas de volta para Malibu quando tudo isso terminar.

****

Raphael empurrou para o lado a estante de livros camuflada e começou a


andar no corredor escondido em direção ao quarto que ele estava compartilhando
com Cyn. Atrás dele, Juro trancou a porta segura para o dia. Estava muito perto
do nascer do sol. Seu pessoal humano da segurança tinha assumido o controle, e
a maioria de seus vampiros já tinham ido dormir em seus quartos. Raphael podia
sentir a presença de Cyn em seu alojamento privado e estava louco para chegar a
ela antes que o sol nascesse. A reunião com seus membros tinha levado mais tempo
do que o esperado e tinha envolvido um breve reconhecimento do terreno fora da
propriedade.
Juro estava numa firme crença de que os vampiros Europeus estavam
muito próximos. Kauai era a casa base de Rhys Patterson, o mestre vampiro que
controlava o que havia de vida vampira nessas ilhas, e Juro estava convencido de
que os Europeus tinham de algum modo persuadido Rhys a ajudá-los. Por que
mais organizar a reunião deles nessa ilha? Oahu era mais fácil de chegar com mais
voos diretos e uma população humana maior. Teria feito mais sentido de realizar a
reunião lá. Era bem possível que os Europeus estavam coagindo sua assistência,
ameaçando seu povo ou a ele pessoalmente. Mas, de qualquer jeito, parecia que os
Europeus estavam usando um de seus lugares como sua casa base.
Raphael tinha decidido fazer um reconhecimento de uma das residências
principais de Rhys, a qual estava apenas alguns quilômetros de distância. Era uma
das razões pelas quais Raphael tinha originalmente escolhido construir nessa
localização. Haviam exceções, mas vampiros normalmente tendiam a viver em
grupos, ou pelo menos construir suas casas na mesma vizinhança. Segurança
numérica era uma das lições duramente aprendidas através dos séculos, e era uma
das quais os vampiros nunca esqueceram.
Juro tinha objetado violentamente quando Raphael anunciou que ele iria
liderar o reconhecimento ele mesmo. Juro tinha até levantado o espectro da reação
de Cyn se ela descobrisse sobre isso, como se isso fosse dissuadir Raphael de ir.
Ele respeitava a opinião de sua companheira e, francamente, amava a exibição
agressiva de proteção em relação a ele. Mas ele não iria se acovardar atrás de
paredes como uma flor frágil. Ele era um senhor vampiro e um malditamente
poderoso. O povo dele precisava ser lembrado disso as vezes.
Como se revelou, a propriedade próxima de Rhys tinha estado vazia. O que
era estranho por si só. Não tinha confirmado a teoria de Juro de que o mestre
Havaiano tinha estado associado, mas certamente não tinha contestado isso. Rhys
tinha ao menos duas outras casas nessa ilha; os Europeus podiam estar se
hospedando em uma delas. Mas era curioso que não havia ao menos a menor força
de segurança na propriedade que eles haviam visto esta noite. Fazia Raphael temer
pela segurança de Rhys e de todo o seu povo.
— Eles estão esperando nossa chegada para amanhã à noite, — Raphael
disse, parando do lado de fora de sua porta. — Mas não até mais tarde. A primeira
coisa após o pôr do sol, eu quero um reconhecimento de todas as outras
propriedades de Rhys, e eu quero alguém com cada uma das patrulhas de
reconhecimento que seja forte o suficiente para me dizer quantos vampiros têm na
propriedade, se tiver algum.
— E você, Sire? — Juro perguntou cautelosamente.
Raphael sorriu. — Eu irei liderar uma das patrulhas novamente, mas dessa
vez levarei Cyn junto para me proteger.
Juro sorriu, conhecendo Cyn bem o suficiente para assumir que haveria
uma briga acerca da segurança de Raphael antes de eles sequer saírem pela porta.
Raphael pensou que ele não estava errado sobre isso. Por outro lado...
— Você gostaria de apostar o resultado? —Raphel perguntou ao seu chefe
de segurança.
Juro riu profundamente em seu peito. — Não obrigado, Sire. Mas eu espero
que essas paredes sejam suficientemente à prova de som.
Raphael sorriu, então disse: — O nascer do sol está próximo, e eu tenho
uma companheira para oferecer boa noite. Nos encontraremos uma hora depois do
pôr do sol na cozinha. Durma bem.
E com isso, ele rapidamente digitou o código da porta que Cyn tinha enviado
a ele por mensagem mais cedo e entrou.
Cyn estava sentada na cama, uma longa e nua perna pendurada de lado,
estendendo o robe de seda rosa que ela estava vestindo. Seu laptop estava aberto
na frente dela e ela olhou para cima quando ele entrou.
— Como foi sua reunião? — ela perguntou, fechando o laptop e guardando-
o na mochila.
Raphael a olhou cuidadosamente, se perguntando se ela já sabia que ele
tinha ido explorar mais cedo. — Produtiva, — ele disse com imprecisão. — Você
ficou aqui?
Ela deslizou para fora da cama e ele viu que ela não estava usando nada
embaixo do robe, seus seios cheios balançando sob o tecido sedoso. — Eu fiz algum
trabalho no computador, então Elke e eu fomos procurar Robbie. Só para, você
sabe, pegar a configuração do terreno, descobrir onde todo mundo está dormindo,
pegar um pouco de comida... para Robbie e eu, isso é. Elke já havia comido.
Raphael deslizou um braço ao redor da cintura dela assim que ela estava
próxima o suficiente, puxando-a duramente contra seu corpo e soltando o nó em
seu robe até que ele caísse aberto. O tempo era muito curto. O nascer do sol estava
se aproximando dele e enquanto ele era mais forte que a maioria e podia resistir à
demanda do sol por um curto período, não havia tempo para muitas preliminares.
Não se ele estivesse indo provar sua Cyn antes do nascer do sol.
Cyn respondeu prontamente, envolvendo seus braços envolta de seus
ombros e balançando-se levemente contra ele. Raphael engoliu um grunhido e
acariciou suas mãos para baixo da coluna dela até apalpar sua bunda,
pressionando seu quadril ainda mais perto, deixando-a sentir sua excitação.
Ela se levantou na ponta dos pés e o beijou, sem língua, apenas uma leve
carícia de seus lábios macios, se afastando com um rápido giro de sua língua sobre
a boca dele. Ela continuou a beijá-lo, movendo-se de sua mandíbula para o seu
pescoço, seus dedos trabalhando à medida que ela se movia, puxando sua camisa
para fora de suas calças, abrindo os botões de seus jeans um por vez. Era hábito
dele comandar a menos que ele estivesse usando um terno, e essa noite não era
exceção. Cyn olhou para cima, encontrando o olhar dele com um sorriso satisfeito
quando ele deslizou a mão dela em seu zíper e o cercou um seus dedos elegantes.
Ela manteve seus olhos nos dele quando começou a acariciá-lo e isso era
tudo que Raphael podia fazer para não pegá-la no colo e jogá-la na cama. Mas sua
Cyn estava em um humor estranho essa noite. Ela não era naturalmente submissa,
mas ela podia atuar convincentemente quando ela queria. E ele amava quando ela
o fazia.
Ele grunhiu quando ela caiu em seus joelhos e levou-o em sua boca. Cristo,
ela tinha uma boca quente. Uma talentosa, também. Ela fechou seus lábios sobre
ele e sugou com força, levando-o profundamente dentro dela, sua língua
rodopiando carícias ao redor de seu eixo, lambendo-o de cima a baixo como um
pirulito. Ele colocou uma mão atrás da cabeça dela e, incapaz de se ajudar,
impulsionou seus quadris para frente. Seu pau deslizou garganta abaixo, e ela
gemeu suavemente, o som vibrando em volta de seu comprimento duro, quase lhe
levando ao orgasmo. Mas ele não havia terminado com ela ainda. Ele começou a se
mover lentamente, deslizando seu pau dentro e fora, fodendo sua doce boca, vendo
a si mesmo movendo para dentro e para fora entre os lábios dela à medida que ela
olhava para cima para ele, seus olhos cheios com desejo.
Quando ele não podia mais aguentar, quando ele pensou que ele iria
estourar de sua pele se ele não aliviasse a pressão, ele aumentou o aperto no cabelo
dela e começou a se mover mais rápido. Cyn deslizou uma mão entre suas coxas
abertas e começou a acariciar a si mesma enquanto ele assistia, seus dedos se
movendo rapidamente em sua cremosa buceta molhada, até que ela gritou,
desencadeando a própria liberação poderosa dele.
Ela olhou para cima, para ele, enquanto ele entrava no clímax, sugando e
engolindo, pegando cada gota. E então ela o lambeu, limpando-o como uma boa
pequena escrava, até que com uma longa lambida, sugou-o deslizando para fora
de sua boca, ela beijou a ponta de seu pau e sentou em seus calcanhares, seus
olhos nunca deixando os dele.
Raphael encarou-a a medida em que o sorriso dela crescia. Isso totalmente
arruinou a personagem de escrava, mas era cem por cento Cyn. Ela parecia o gato
que lambeu a tigela até ficar limpa. Ele igualou seu sorriso, então colocou suas
mãos embaixo dos braços dela e a levantou, jogando-a na grande cama.
Rapidamente se livrando do resto de suas roupas, ele a seguiu, rolando ambos para
debaixo das cobertas.
Cyn envolveu-se nele, apoiando o queixo em suas mãos, então ela podia
olhar para o rosto dele, enquanto ela alcançava seu cabelo e puxava uma folha de
samambaia.
— Bom reconhecimento hoje, garoto presas? — ela perguntou com um olhar
malicioso em seus olhos verdes.
Raphael franziu. Ela sabia o tempo todo que ele tinha saído com sua equipe
essa noite. E ela tinha lhe dado um boquete de qualquer maneira, jogando de doce
submissa.
Ela piscou para ele, quando ela viu a realização cruzar seu rosto. Mas antes
que ele pudesse dizer qualquer coisa, o sol roubou sua consciência, deixando-lhe
com dois pensamentos: primeiro, ele não iria ser capaz de puni-la por qualquer que
fosse o que Robbie e ela planejaram para o dia, e segundo, ele realmente iria levá-
la com ele, quando ele sair em reconhecimento amanhã à noite.
Capítulo 05
CYN SE AJOELHOU na cama e descansou a mão no peito de Raphael,
esperando até que ela sentisse cinco batimentos cardíacos completos antes de
levantar a mão. Inclinando-se sobre ele, ela beijou seus lábios e afastou uma mecha
de cabelo de sua testa.
— Eu vou voltar, garoto presas. E vou ter cuidado.
Ela nunca tinha certeza do quanto Raphael estava ciente durante o dia. Ela
sabia que qualquer forte emoção da parte dela, especialmente o medo,
definitivamente o trazia a consciência. Mas além disso, não estava claro quantas
vezes ele realmente ficava com ela. Supondo que isso dependia do quão
determinado ele estava, da maneira como ele ficou no começo do seu
relacionamento quando sentiu que estava se apaixonando por ela e tinha tentado
quebrar isso. Exceto que, embora ele não quisesse se comprometer com ela, ele
não queria que ela se comprometesse com qualquer outra pessoa. Então, ele estava
escondido em seu subconsciente, enviando-lhe sonhos tão incrivelmente eróticos
que ela não sabia o que era real e o que não era. Sonhos que a fizeram sentir
dolorido quando acordava e se encontrava sozinha.
Mas isso foi há muito tempo, e neste dia em particular, ela suspeitava que
Raphael ficaria perto de sua mente por razões inteiramente diferentes. Primeiro,
porque apenas estar nesta ilha era um exercício de incerteza e perigo para eles.
Eles sabiam, ou pelo menos fortemente suspeitavam, que os vampiros europeus já
estavam aqui. Essa reunião foi ideia deles, e eles queriam se preparar antes que
Raphael chegasse, procurando vantagem em um terreno familiar. E então havia o
fato de que os europeus não podiam ser confiáveis e praticamente tudo o que eles
diziam era suspeito.
Ela também sabia que Raphael a vigiaria hoje porque ele percebeu, no
último minuto desta manhã, que ela tinha brincando com ele, que ela sabia o
tempo todo que ele tinha precisamente se arriscado na noite passada ao vagar em
torno da ilha com seus amigos vampiros, que ele teria ficado furioso se fosse ela
que fizesse isso. O que significava que ele não tinha motivos para discutir com ela
sobre o que ela e Robbie estariam fazendo hoje. Isso não significava que ele iria
deixá-la sair assim. Ele estaria observando-a ao máximo com suas habilidades
consideráveis, mesmo que seu corpo estivesse preso aqui no cofre. Mas ela não se
importava. Hoje não. Havia uma espécie de conforto em saber que se ela e Robbie
ferram-se tudo, se os europeus tivessem espiões há luz do dia, então Raphael e
seus vampiros saberiam onde encontrá-la e a Rob, esperançosamente ainda
intactos. Porque por mais que gostasse de correr riscos, riscos muito grandes, ela
não tinha um desejo de morte. Nem mesmo perto disso. Não importa o que algumas
pessoas pensassem.
Ela colocou o código na porta atrás dela, selando Raphael lá dentro. Em
seguida, fez o mesmo para a porta na estante. Por um capricho, ela fez uma pausa
o suficiente para examinar alguns dos títulos da estante e descobriu que eram
livros de verdade – livros de receitas e livros gerais sobre comida e vinho.
Provavelmente, para os clientes não vampiros que usavam a casa. Ela se
aproximou e abriu a geladeira. Estava cheia de comida de verdade também, para o
pessoal da segurança humana, e para ela. Para os vampiros, havia uma cozinha
menor no corredor secreto com um imenso frigorífico sub-zero de aço inoxidável
que foi abastecido com sangue ensacado.
— Está procurando o café da manhã?
Cyn girou ao redor com um sorriso para Robbie. Ele era um cara muito
grande, cerca de um metro e oitenta e dois de músculos sob sua pele lisa e escura.
Ele também era um ex-Ranger do Exército que estava acasalado com a governanta
vampira de Raphael, Irina. Cyn e Robbie tinham passado por algumas merdas
pesadas juntos não fazia muito tempo. Ele era mais do que seu guarda-costas; ele
era seu amigo, e ela confiava nele mais do que em qualquer outra pessoa quando
se tratava de lutar ao seu lado.
— Não estou com fome suficiente para o café da manhã — disse ela. — Eu
vou apenas pegar um iogurte. Você quer?
— Eu já comi com os caras da segurança mais cedo, um grande café da
manhã. Eu estarei bem por um par de horas pelo menos.
Cyn balançou a cabeça com um sorriso. Robbie tinha um grande apetite
para ir com seu enorme físico e, como ele estava acasalado com uma vampira,
nunca mais teria que se preocupar com a propagação de meia-idade. Ele tinha o
metabolismo de um homem muito mais jovem, e ele era muito ativo, o que
significava que ele podia comer o quanto quisesse.
— Vamos — ela disse, pegando sua mochila. — Vamos fazer nossa primeira
parada na mercearia. Você pode pegar alguns sanduiches para mais tarde.
Robbie alcançou-a enquanto se dirigiam para a porta da frente. — A
mercearia? Os caras fizeram grandes compras na noite passada.
— Eu sei. Mas eu quero ter certeza de que ninguém nos siga antes de
começar a trabalhar e precisamos de alguns suprimentos.
— E qual é nosso trabalho?
Cyn parou nas escadas da porta da frente, olhando os SUVs todos alinhados
e estacionados voltados para a frente, para uma fuga rápida. Ela ouviu a porta se
fechar atrás dela, então o chocalho da porta como Robbie se certificasse de que
estava trancado. Um dos sujeitos da segurança humana se materializou,
balançando a cabeça quando reconheceu Cyn. Ela acenou com a cabeça em
resposta, enquanto ele se misturava na floresta, depois ela apertou o botão no
controle remoto que Elke lhe havia dado. O SUV mais próximo da porta da frente
apitou, e ela caminhou até ele.
— Como eu disse na noite passada — ela disse a Robbie quando abriu a
porta e deslizou atrás do volante, — A prima da mãe de Luci tem uma casa próxima
que eu quero verificar. E então eu acho que estamos voando para Honolulu.
O grande veículo abaixou quando Robbie instalou-se no banco do
passageiro. — Por que diabos vamos lá?
— Quero verificar os horários de viagem, aqui em Kauai, mas especialmente
em Honolulu. Esse aeroporto é um zoológico e eu quero saber quanto tempo nos
levará a pousar, pegar um carro e entrar na estrada.
— O Raphael sabe sobre isso?
Cyn lhe deu um sorriso presunçoso. — Confie em mim, Raphael não se
importará.
— Uh hein. Você deveria me deixar dirigir — disse ele, sem qualquer
deferência.
— Por quê? — Ela exigiu.
— Porque eu sou um motorista melhor.
— Você não é.
— Sim, eu sou, meu amor. Especialmente, quando se trata de manobras
evasivas.
— Não vai chegar a isso. Somos apenas dois turistas que visitam as ilhas.
— Dois turistas bem armados. E como vamos pegar nossas armas em um
avião?
— É um fretamento privado, outro dos primos de Luci. Ele sabe o que
esperar. E eu estou dirigindo.
— Dê-me o endereço então, e eu vou programá-lo no navegador. Caso
contrário, você vai matar-nos tentando fazer os dois.
Ela entregou a cópia impressa do e-mail de Luci, apontando o endereço
local, que ela havia circulado.
— Não me deixe esquecer de apagar o histórico quando terminarmos hoje
— disse ela, começando pela longa entrada.
— Ok — Rob falou distraidamente, seus grandes dedos tocando as
informações no sistema de navegação, enquanto Cyn entrou na estrada principal
e virou em direção à mercearia local.

****

O sol estava alto no céu, quando Cyn finalmente parou na entrada da casa
da filha da prima da mãe de Luci. Ou algo assim.
— Não é exatamente uma grande propriedade — observou Robbie.
— Não é uma cabana também — disse Cyn. — Casas neste bairro valem
mais de um milhão.
— Hã. Você tem uma chave?
— Eu sei onde encontrá-la.
— Por favor, não me diga que está debaixo de um vaso de flores.
Cyn sorriu quando saiu do SUV e caminhou pelo lado da casa, com Robbie
como uma sombra próxima. Ele levava ser seu guarda-costas a sério. Raphael
quase o matou na última vez em que ela ficou ferida. Não era culpa de Robbie, mas
Raphael não se importara. Estava no turno de Robbie e isso foi o suficiente.
Atravessando a parte de trás da casa, ela cavou em uma pilha de rochas
decorativas perto da grande churrasqueira ao ar livre e encontrou o que estava
procurando. Parecia todas as outras rochas cinzentas, mas era uma daquelas
falsas com um compartimento secreto. Ela abriu e segurou a chave para que
Robbie visse.
Ele tirou isso dela, enquanto eles viravam de volta para a frente da casa.
Ele inseriu a chave na porta e a abriu, uma mão na Beretta de 9mm no quadril e
a outra fazendo com que ela estivesse atrás dele quando a porta se abriu em
dobradiças silenciosas.
A casa tinha aquele sentimento vazio que lhes dizia que ninguém estava em
casa e não tinha estado por um tempo. O ar estava mofado e úmido, apesar do ar
condicionado que fazia ruídos, enquanto caminhavam para a cozinha. A
temperatura na casa foi ajustada apenas o suficiente para combater o penetrante
e potencialmente prejudicial, umidade e calor, mas não suficientemente baixo para
o conforto humano. Cyn não se preocupou com isso agora. Sua única preocupação
era verificar os quartos e outros ambientes e fazer o que fosse necessário para
torná-los seguros como um refúgio de emergência para os vampiros.
Robbie já estava na cozinha e abriu a porta para a garagem. — A garagem
está vazia — ele estava dizendo. — Eu vou puxar o SUV para dentro.
Cyn lhe lançou as chaves, depois fez uma rápida caminhada pelo piso
térreo. A casa era muito melhor do que parecia da rua. O interior era aberto e
arejado com o que pensava ser uma típica decoração havaiana – muitas cores
claras e padrões florais brilhantes. Havia um grande pátio que dava para um campo
de golfe, com muitas árvores fornecendo cobertura entre o verde e a casa em si.
Robbie voltou e eles verificaram o andar de cima juntos. Havia quatro
quartos, incluindo uma suíte master espaçosa. Uma varanda ampla e aberta era
acessível de cada quarto através de grandes portas de vidro deslizantes. Isso era
um problema, mas era um que ela havia antecipado. Alguns dos suprimentos que
eles pegaram no supermercado tratariam disso.
— Nós teremos que cobrir essas portas — disse ela, afirmando o óbvio.
Robbie estava acasalado com uma vampira, ele entendia a situação assim como ela
fez.
— Talvez devêssemos ter comprado alguns sacos de dormir. Os vampiros
terão que dormir, e não há camas suficientes — observou Robbie. E ele estava
certo. Havia apenas uma cama em cada um dos quatro quartos. Raphael teria
naturalmente um quarto para si mesmo, o que significava que os outros – incluindo
Juro e todos os guardas vampíricos de Raphael – teriam que se espremer nos outros
três. Ajudava que, uma vez que os vampiros estivessem fora para o dia, eles
estavam realmente fora. Não se levantavam para fazer um xixi rápido, sem rolar,
nem roncar. Pelo menos não na experiência de Cyn, que era apenas com Raphael.
Por tudo o que ela sabia, alguns vampiros roncavam como loucos.
— Nós, seres humanos, podemos dormir no andar de baixo — continuou
Robbie.
— Não devemos ficar aqui por mais de um dia — acrescentou Cyn. — Todo
mundo pode sofrer por um dia de merda.
— Concordo. Eu vou encontrar alguns cobertores e toalhas para usar nas
janelas. Deve haver muitas toalhas de praia, se nada mais.
— Nós também podemos usar folhas, se elas estiverem escura o suficiente.
Vamos sobrepor se tivermos que fazer.
— Espero que as pessoas de Luci não se importem com o fato de encontrar
buracos nos lençóis.
— Vou comprar novos para eles.
Robbie começou a subir as escadas. — Não entre em problemas enquanto
eu estiver fora.
— Você vai estar no andar de baixo — disse Cyn.
— Exatamente.
Cyn bufou com desdém e começou a abrir caixas de tachinhas e desenrolar
rolos de fita adesiva. Boa velha fita adesiva.
Robbie estava de volta em minutos, despejando uma braçada de cobertores,
lençóis e toalhas na grande cama king-size na suíte master.
— Vai ser mais rápido se trabalharmos juntos — ela disse e começou a
puxar lençóis da pilha. — Iremos de quarto em quarto.
Robbie tirou o lençol dela. — Eu vou segurar, você prende.
Demorou mais do que Cyn esperava, mas um pouco mais de uma hora
depois, eles tinham todas as janelas no andar de cima cobertas, mesmo as que
estão nos banheiros e no final do corredor. Eles não podiam fazer nada sobre a luz
subindo a escada aberta, mas isso não deveria ser um problema. Mesmo cobrir as
janelas nos banheiros e no corredor era exagerado. Se os vampiros estivessem
chegando tão perto que o sol já estava nascendo, eles teriam problemas muito
maiores do que um pequeno vazamento de luz. Inferno, se esse fosse o caso, eles
poderiam acabar à luz do dia na garagem.
— Você sabe — ela disse devagar. — Devemos cobrir aquela pequena janela
na garagem. Apenas no caso.
Robbie lhe deu um olhar pensativo. — Bom pensamento. Podemos fazê-lo
no caminho de saída. Quando deveríamos encontrar o seu piloto?
Cyn verificou o relógio. — Seu nome é Brandon, e ele está aguardando
minha ligação. Eu devo avisá-lo com uma hora de antecedência. Se eu ligar quando
sairmos daqui, deve dar tempo. O aeroporto fica a uma hora de carro, mas não
tenho ideia de como é o tráfego. Essa é uma das coisas que eu preciso saber.
— E na outra extremidade?
— Eu arrumei um carro alugado em Honolulu. Outro dos primos de Luci
tem um aluguel vazio Diamond Head, então eu estou fazendo Brandon nos levar
para Honolulu International. Eu mapeei a casa no Google e deve ser uma curta
viagem do aeroporto, mas novamente, eu não sei como é o tráfego. Nós também
não vamos fazer toda a preparação, já que não sei se usaremos a casa. Mas eu
quero ter suprimentos suficientes no local, para que possamos prepará-la
rapidamente para os vampiros, apenas no caso.
— Por que você está olhando para Honolulu? O que está acontecendo aqui,
Cyn?
Cyn lhe deu um olhar aflito. — Eu não quero parecer paranoica ou qualquer
coisa, mas não confio nesses vampiros europeus. Eu sei o que você vai dizer — ela
acrescentou apressadamente, erguendo uma mão. — Que Raphael também não
confia neles, que ele está entrando com os olhos abertos. Mas a diferença é que
enquanto ele gostaria de lhes dizer para se foderem, ele não pode. Ele deve
encontrá-los, o que é o mesmo que dizer que ele tem que entrar em uma armadilha
se é o que eles estão planejando, e eu realmente estou com medo. Eu acho que
Acuña não é mais que um ensaio geral para esta reunião, e pretendo estar
preparada para a real coisa.
— Ok, então isso explica ter esta casa como um esconderijo temporário,
mas o que acontece com Honolulu?"
— E se nós quisermos, ou precisarmos, sair dessa ilha rapidamente? Para
se afastar de qualquer armadilha que os europeus planejaram? Eles esperam que
Raphael vá para seu próprio avião no aeroporto principal. Mas ter Brandon nos
levando seria a última coisa que eles esperariam. E Honolulu é uma grande cidade,
fácil de perder-se.
— Você é um pouco pensativa sobre isso, querida.
— Talvez. Mas não vai nos custar muito para estar preparado.
Robbie encolheu os ombros. — Você me pegou lá. Assim... podemos pegar
o almoço em Honolulu?
Capítulo 06
MUITO MAIS TARDE NAQUELA noite, Cyn estava seguindo Raphael pela
selva – será que o Havaí poderia ser classificado como uma selva? O que
classificaria uma selva de qualquer maneira?
— Posso ouvir você pensando, Lubimaya
— Tudo que posso ouvir é você andando — Elke murmurou de trás dela
Raphael parou debaixo de uma larga folha de palmeira... ou talvez era uma
gigante samambaia... Seja lá o que fosse os protegia da persistente chuva que havia
começado a cair logo após o pôr-do-sol e nunca mais terminou.
Querendo proteger a visão noturna de Raphael, ela tapou uma pequena
lanterna Maglite que apenas ela precisava e tentou relembrar o porquê de ter
querido vir nessa pequena excursão.
Raphael sorriu para ela, claramente divertido com a sua situação. — Você
é normalmente mais discreta que isso. Você parece estar preocupada.
Cyn considerou dizer-lhe que a sua preocupação era mais voltada a
demasiada abundância de flora do Havaí, mas decidiu não dizer. O deixou pensar
que ela estava fazendo coisas importantes durante todo o dia, o que havia feito, e
era isso que a sua mente estava ponderando, o que havia feito. Ela estava satisfeita
com o que ela e Robbie tinham conseguido.
— Tentarei ficar quieta. Estamos muito distante?
Raphael bateu no botão do Bluetooth de sua orelha, seus olhos indo para
longe dela enquanto escutava. Ele tinha três equipes checando diferentes
propriedades naquela noite, então a chamada poderia ser de um dos outros grupos,
ou poderia ser alguém do próprio grupo de reconhecimento do Raphael, um dos
cincos que estavam espalhados ao redor dele, não incluindo ele, Cyn ou Elke.
Raphael tocou no botão de novo o desconectando, então: — O explorador a
frente alcançou o perímetro. Ele irá nós guardar até a gente se juntar a ele. Não
mais que noventa metros.
Cyn lutou para não suspirar. Mais noventa metros em uma selva molhada.
Ela preferia muito mais sua própria missão de reconhecimento, a qual apenas
envolvia uma verificação de casas caras. — Pronto quando você estiver — ela disse
alegremente.
Raphael pegou a sua mão — Fique atrás de mim e caminhe por onde
caminho. Vai ser mais fácil para você.
— E mais silencioso — Elke sussurrou formando uma fila detrás dela.
— Sem mais conversa — Raphael ordenou. Apertando a mão de Cyn com
mais força, ele acelerou o ritmo até finalmente romperem uma última linha de
árvores e então, pararem abruptamente.
A casa estava bem à frente deles, do outro lado da ampla faixa de gramado
bem aparado que provavelmente era de um verde-esmeralda em um dia ensolarado.
Não havia luzes do lado de fora, nem sequer uma luz na varanda ou no pátio para
quebrar as sombras. Embora dentro fosse outra história.
Luz fraca saía pelas pequenas frestas das janelas em ambos os andares da
casa de dois andares. Ela conseguia enxergar movimentos por meio das
translúcidas cortinas no andar de baixo, enquanto no andar de cima a janela
estava coberta com um blackout imperfeito que mostrava finas linhas de luz ao
redor das bordas. Parecia que vampiros estavam na residência.
O Explorador de Raphael materializou-se próximo a eles, movendo-se tão
silenciosamente que Cyn não o havia notado até que ele estivesse ali. Elke cutucou
Cyn, dando a ela um olhar significativo quando ela encarou, como se para dizer
que era assim que era para ser feito. Cyn apenas deu de ombros. Ela nunca foi
capaz de se mover como os vampiros; era inútil fingir o contrário.
— Definitivamente vampiros, meu senhor. — Disse o explorador, sua voz
mal discernível. — Eles têm um perímetro de segurança, mas apenas perto da casa.
Eles também são vampiros, embora não eu reconheça nenhum deles.
Raphael acenou e adquiriu aquele olhar não–realmente–lá em sua cara, que
lhe disse que ele estava examinando a casa com seus sentidos extremamente
superiores. Ele se agachou lentamente, levando-a com ele. Do outro lado, o
explorador copiou seus movimentos, encarando a casa como se estivesse tentando
ver o que o seu mestre estava vendo.
Eles permaneceram desse modo por alguns minutos até que entre um
piscar de olhos e outro, Raphael estava de volta. Ele não disse nada, simplesmente
sacudiu a cabeça para o explorador indicando que a trilha atrás dele, o que Cyn
considerou que significava que ele queria que eles voltassem para o veículo. Mais
caminhada longa e difícil pela selva molhada. Fantástico.
Raphael ficou de pé, puxando Cyn para seus pés, então girou-a para o lado
em que eles vieram. Ele ergue o queixo para a Elke que andou na frente, então Cyn
e Raphael em sequência. Cyn imaginou que provavelmente havia um par de
vampiros formando uma retaguarda. Raphael poderia ser o senhor deles e mestre
e superpoderoso, mas Juro iria esfolar esses guardas vivos se algo acontecesse com
o seu Sire.
Eles demoraram a chegar aos seus veículos – os quais felizmente eram
quatro por quatro. Eles estavam escondidos em uma estreita trilha que era um
pouco maior que um caminho de animais e Cyn não tinha desejo de andar de volta
para casa, porque seus carros ficaram afundados na lama –quando Raphael
recebeu uma nova chamada. Entretanto, isto o pôs em ação.
— No carro agora — Ele estalou, abrindo a porta e empurrando Cyn para
dentro.
— O que é? — Ela perguntou não mais se preocupando com a chuva ou a
lama.
A poderosa SUV rugiu a vida. O motorista trocou as marchas, rodas giraram
conforme ele manuseava o carro para dentro da trilha e mudando para alta
velocidade em direção a estrada principal.
— Raphael? — Cyn perguntou.
— Assumimos que nossos anfitriões estariam observando o aeroporto essa
noite, alertas para a nossa chegada, então arranjamos um chamariz de pouca
qualidade, uma armação de chegada para qualquer um que assistisse.
— Mas eles sabiam que não era você chegando naquele avião, não é?
— Não necessariamente. Eles não esperavam que eu anunciasse a minha
presença, então eles teriam que ir pela minha descrição física somente. O jato
entrou no hangar ao chegar essa noite, assim como nós na noite passada, que tem
o beneficio de esconder passageiros de uma vista casual. Três veículos saíram do
hangar e foram conduzidos por esse caminho. O telefonema era do líder da equipe
dos motoristas desses veículos. Eles pegaram um atalho direto do aeroporto.
— Mas isso provavelmente significava que eles caíram no chamariz e não
sabem que você já está aqui. Não é bom?
— Sem dúvidas.
— Então, por que estamos correndo de volta?
— Uma de nossas SUV ficou para trás para confrontar nossos seguidores,
deixando outra SUV e uma limusine seguir em frente. Eles assumirão que estou
dentro da limusine, o que significa que tenho que estar em casa quando os
observadores finalmente chegarem.
— Por que guiá-los para a casa? Deixar nossos caras despistá-los?
Raphael deu-lhe um aquele sorriso que significava que o lado violento de
sua personalidade estava se mostrando novamente.
— Era para ser um comitê de boas–vindas, minha Cyn. Um mensageiro do
mestre destas ilhas.
— Ok, certo. Eles estavam bisbilhotando claro e simples.
— Eles estavam curiosos — ele reconheceu — Contudo não posso deixá-los
tentar encontrar nosso avião.
Cyn franziu os lábios e encolheu os ombros, deixando sua linguagem
corporal dizer o que ela não sabia o porquê — Estou assumindo que Juro estará
na casa também.
— Tente mantê-lo afastado — disse Raphael, secamente, conforme o veiculo
fazia um movimento brusco de um lado para o outro, virando para a longa entrada
que levava a casa.
Os outros dois carros da equipe de observação estavam em sua cola e
seguiram para dentro da garagem de múltiplos carros. Pela primeira vez, Cyn
estava agradecida que estava chovendo, já que isso lavava a maioria dos rastros
dos pneus em caso de alguém se preocupar em olhar. A porta de chumbo da
garagem foi rolada para baixo pelo controle remoto assim que os veículos entraram.
Uma porta conduzia da garagem para a cozinha principal e a partir daí, eram
apenas alguns passos até o corredor privado atrás da estante de livros.
Raphael levou Cyn diretamente para o seu quarto e digitou o código da porta
num borrão na velocidade de vampiro. Abriu a porta apenas o suficiente para eles
entrarem e então, fechou a porta atrás deles.
— Há algum código de vestimenta para essa reunião? — Cyn perguntou
apenas meia irônica conforme corria em direção ao closet. Se essas pessoas fossem
tão antiquadas quanto Elke dissera, talvez eles esperassem que a companheira de
Raphael estivesse vestida formalmente. Ela trouxe um vestido e uma sandália de
salto alto, pensando que talvez houvesse algo como um jantar formal, então ela
estava mais ou menos preparada.
— Cyn
Era apenas o seu nome, mas o modo como Raphael o disse e o olhar em
seus olhos quando ela se virou para estudá-lo, lhe disse que tinha mais notícias
ruins chegando.
— Não quero você comigo.
Ela franziu o cenho. — Onde com você?
— Hoje, amanhã. Não quero que eles saibam que você está aqui, ou ao
menos saibam como você se parece.
— Mas eles já sabem como me pareço. Eu estava no México, lutei contra
Violet com você.
— Violet foi a única sobrevivente da noite. — Ele apontou — O resto não a
viu em pessoa, e nenhum deles sabe que você está aqui. E quero manter deste jeito.
— Por quê? Não confi...?
Raphael a agarrou pelos ombros, dando-lhe uma pequena sacudida. — Não
diga isso. Confio minha vida a você. Confio em você mais do que em qualquer um,
incluindo meus próprios filhos.
— Então por quê? — Cyn amaldiçoou, as lágrimas estavam pressionando a
parte de trás de seus olhos e podia sentir que seus sentimentos estavam feriados
e ela precisava saber o que ele estava pensando.
Raphael abrandou seu domínio sobre ela. — Dois motivos. O primeiro é que
não a quero machucada. Esses vampiros não terão escrúpulos em usá-la contra
mim. Isso é o porquê não te defendi no México, para que eles não conseguissem
ver o quanto você significa para mim.
Cyn assentiu. — Mas quero ficar com você, Raphael, não atrás de você.
— O que revela o meu segundo motivo. Se eles não sabem sobre você, eles
não podem se proteger contra você. Se algo der errado, você será minha arma
secreta.
Cyn bateu seu punho contra o peito dele. Ele estava certo, mas ela odiava
isso. — Não é justo — ela sussurrou.
— Eu sei. E sei que vai contra todos seus instintos permanecer nas coxias
e esperar. Mas estou pedindo para você fazer isso para mim.
Ela fechou os olhos, lutando contra o medo e a tristeza enrolando na parte
de trás de seu cérebro, ameaçando dominar seus pensamentos. Raphael pós seus
braços ao redor dela e a trouxe perto dele, seus lábios em seu cabelo. — Amo você,
Cyn.
Ela assentiu contra seu peito. — Eu sei. E irei fazer o que você quer com
uma condição.
Ela sentiu sua boca curvar em um sorriso. — E o que seria?
— Prometa-me, Raphael, que você permanecerá vivo e que irá voltar para
mim.
— Irei fazer tudo ao meu alcance para voltar para você, lubimaya. Sempre.
— Ok. — Ela saiu de seus braços, se afastando para sentar na cama. E lá
permaneceu, assistindo Raphael tirar suas roupas sujas e molhadas, lavar seu
rosto e passar uma toalha em seu cabelo molhado. Ele mudou para par de calças
e vestiu uma camisa, sem gravata, a camisa aberta no colarinho. Ela gostava dele
em seus jeans 501 e camisa, mas Raphael parecia bem em tudo e essa era a sua
versão havaiana do uniforme de mestre do universo. Quando ele ia conhecer outras
pessoas – aquelas que orquestravam encontros e eram verdadeiramente uma
ameaça para todos eles – ele ia para um terno completo e gravata, não importando
o clima tropical ou a localização. Mas esta noite era casual, desde que
supostamente ele acabou de chegar de um longo voo de L.A.
Quando terminou de se vestir, ele veio para perto da cama e puxou-a em
seus pés, então puxou sua cabeça para trás pelos cabelos e lhe deu um longo e
molhado beijo.
— Não irei demorar. É uma chamada de cortesia, nada mais.
— Estou supondo que irei esperar aqui?
Raphael sorriu. — Por acaso, sou um idiota? — ele perguntou
retoricamente. — Vamos. Não quero que eles a vejam, entretanto, definitivamente
quero que você os veja. — Andando até a porta, ele digitou o código e a porta se
abriu. Virando, ele lhe deu uma piscadela, então abriu a porta totalmente,
revelando o irmão de Juro, Ken’ich, esperando no corredor ao lado de uma porta
aberta.
Cyn deu-lhe um sorriso surpreso. Ken’ich não tinha voado com eles na noite
passada, o que a tinha deixado confusa na hora, já que Juro e seu irmão estavam
quase que constantemente ao lado de Raphael. Entretanto, agora ela notou que ele
chegou num segundo avião nesta noite, o que claramente fazia parte do plano o
tempo todo. Ainda assim, qual era a causa dele estar esperando por ela agora? Eles
deveriam ficar juntos? Jogar cartas ou assistir filmes para manter sua mente do
fato que Raphael estava indo se encontrar com os caras maus apenas alguns
metros dela? Ela gostava de Ken’ichi o suficiente, mas ele não era exatamente um
sujeito falante.
Raphael tinha uma mão em suas costas e a impulsionou para frente. —
Você veio no avião da isca? — ela perguntou, sabendo a resposta, mas necessitando
conversar.
Ken’ichi concordou em silêncio, apenas seus olhos oferecendo uma
saudação calorosa.
Ela e Raphael passaram pela porta aberta onde Ken’ichi estava parado, e
Cyn olhou para dentro. Ela não tinha estado em nenhum dos quartos, exceto
aquele que ela e Raphael compartilhavam, então ela estava curiosa.
— Oh! — Ela disse, encarando as prateleiras e fileiras de equipamentos e
monitores, um do qual mostrava os guardas de Raphael cumprimentando os
convidado naquele exato momento.
— Um sistema de segurança! — Ela disse encantada
— Um centro de controle de segurança — corrigiu Raphael.
— Tem som?
— Não seria útil de outra forma.
— Legal — girando, ela levantou-se nos dedos dos pés e beijou Raphael nos
lábios. — Fique bem, garoto presas. Estarei observando.
Raphael revirou seus olhos, algo que ela estava certa que ele nunca tinha
feito antes de encontrá-la, e depois, ele deu um tapinha na bunda dela e se dirigiu
para a porta escondida. Com seus visitantes inesperados significava que a porta
estaria fechada, então ele digitou os códigos antes de abri-la. Cyn o observou
desaparecer na cozinha, então se inclinou para trás para assistir Juro juntar-se a
ele no vídeo do monitor. Ambos foram passando de câmera para câmera até
aparecerem na sala de estar principal, aonde os convidados estavam esperando.
Entrando no quarto de segurança, Cyn puxou uma pequena cadeira na
frente do monitor principal, deixando a mais confortável para o seu companheiro,
que, sendo um gêmeo idêntico de Juro em todos os sentidos, precisava de espaço
e suporte extra. Ela estendeu a mão e aumentou o volume.
— Lorde Raphael — Os convidados disseram em uníssono quando Raphael
caminhou para dentro da sala. Os dois aparentavam terem origem havaiana; com
cabelo preto e olhos escuros, altura mediana e forte, não gordo, mas estruturados.
Estavam vestidos com roupas quase idênticas – calça de linho de cor clara e uma
camisa de estilo havaiana, mas com cores pastel sólidos, ao invés das estampas
florais. Também, pareciam ter aproximadamente a mesma idade, ao redor dos
trintas anos, mas aparências significavam pouco para um vampiro. Raphael
saberia no momento em que entrasse na sala a real idade deles e o quão poderoso
eles são. Não havia nenhuma maneira que Cyn pudesse julgar essas coisas pelo
monitor, o mesmo aconteceria se eles estivessem na frente dela. Ela poderia
distinguir vampiro do humano, mas era só isso.
O terceiro mensageiro não parecia que saia normalmente com os outros
dois. Não aparentava ter mais que uns vinte e poucos anos, usava um jeans escuro
e uma camisa de botões preta com as mangas enroladas na metade do seu
antebraço. Seu cabelo castanho escuro estava espetado com gel, suas orelhas e
sobrancelhas eram furadas, suas orelhas mais de uma vez, e ele usava óculos de
aro preto. Esse último item fez Cyn piscar em surpresa. Ela nunca viu um vampiro
usar óculos antes e se perguntou se ele não fez isso apenas para efeito. Indo para
um look nerd, talvez.
— Você acha que esses são óculos reais? — perguntou.
Ken’ichi pareceu pensar, então disse: — Sim, você pode ver a distorção nas
lentes. Elas são receitadas por médicos.
Cyn deu uma piscadela com um sorriso. Era uma noite de surpresas,
aparentemente. Isso foi o máximo que ela já o ouviu falar de uma só vez.
— Alguma vez você já viu um vampiro usar óculos? — Ela perguntou,
empurrando a sua sorte.
Ele franziu a testa, pensando, então balançou sua cabeça.
— Talvez não seja um vampiro.
— Pode dizer isso daqui?
Ele balançou a cabeça. Cyn respirou fundo para perguntar outra coisa,
contudo, Raphael e os outros estavam falando e ela não queria perder isso.
— Bem-vindo ao Havaí, Lorde Raphael. — Disse um dos outros dois caras
mais velhos, um com a camisa cor de pêssego.
— E você quem é? — Juro perguntou, nada amigavelmente.
— Perdoe-me, meu senhor. Eu sou Kale e esse... — ele disse, indicando o
vampiro de camisa azul ao seu lado — É o Jonathan.
Raphael deu ao homem nerd um olhar avaliador.
— Donovan Willis, Lorde Raphael. Eu sou um especialista de segurança de
Rhys Patterson. O mestre Patterson não sabia qual era sua estrutura de sistema
de segurança aqui e então me enviou para oferecer meus serviços.
Próximo a Cyn, Ken'ichi bufou com desdém.
— Eu sei, não é? — Ela disse agradavelmente. — O que essa cara pensa,
que vamos apenas deixá-lo dançar por aqui e invadir nosso sistema?
Na tela, a expressão de Juro refletia sua avaliação, mas Raphael parecia
quase divertido. — Minhas pessoas são completamente capacitadas, senhor Willis,
contudo, obrigado pela oferta.
— Tem certeza, meu senhor? Há aspectos específicos da internet...
— Deixe isso ir, garoto, — Kale estalou. — Desculpas, meu senhor. Ele é
humano.
— Bem, isso responde a questão, — Cyn murmurou. O comentário
sarcástico de Kale sobre a humanidade de Donovan Willis trouxe à mente a
precaução de Raphael de mais cedo. Ele estava certo sobre o desdém deles
aumentar o perigo dela, mas sob certas circunstâncias, ela podia fazer essa atitude
trabalhar a seu favor.
Mas Kale, ou Sr. Pêssego, como Cyn mentalmente estava se referindo a ele,
não tinha terminado. — Trago saudações do Mestre Patterson e de seus
convidados.
— Onde está o Mestre Patterson? — Raphael perguntou suavemente.
— Ele permanece com seus visitantes europeus esta noite, meu senhor. A
viagem deles foi longa e difícil.
— É uma distância significativa — Raphael concordou sem trazer à tona a
desagradável revelação precisa de quando eles fizeram essa longa e difícil jornada.
Especialmente, porque provavelmente forçaria o Sr. Pêssego a mentir. Embora
possa ser engraçado vê-lo tentar.
— O Mestre Patterson tem a honra de servir como mediador para essa
disputa, Lorde Raphael. — Jonathan (também conhecido como Sr. Azul)
concordou. — Ele aguarda com expectativa o que certamente será uma resolução
amigável.
— Como todos nós.
— Há mais alguma coisa? — Juro perguntou abruptamente. — Lorde
Raphael, também, fez uma longa viagem.
— Claro. Perdoe-nos, meu senhor. — Sr. Pêssego disse imediatamente. —
Se não houver objeções, Mestre Patterson gostaria de começar as negociações
amanhã à tarde em sua residência pessoal. — Ele estendeu o que parecia um
cartão de negócio excessivamente grande para Raphael, mas Juro interceptou,
tomando o cartão oferecido.
Sr. Pêssego parecia assustado com o movimento rápido de Juro, ou talvez
fosse por que o tamanho dele é facilmente o dobro do Sr. Pêssego. De qualquer
forma, deu a Juro um olhar inquieto, então mexeu no bolso da camisa que tinha o
cartão de visita, como se quisesse saber se ele deveria ter trazido mais, antes de
finalmente, dirigir-se a Raphael de novo — Esse cartão indica o local do encontro,
meu senhor. Posso dizer ao Mestre Patterson que você concorda?
Raphael não disse nada por um longo tempo, longo o suficiente para que
Pêssego e Azul tivessem ambos um distinto e desconfortável olhar, enquanto o nerd
Donovan Willis parecia apenas divertido. Interessante.
— Estaremos lá. — Raphael disse finalmente, com um pequeno sorriso que
parecia brincar sobre sua boca, embora fosse difícil ver os detalhes nas filmagens
de segurança.
— Excelente, meu senhor — Pêssego disse.
Se não fosse um vampiro, Cyn teria jurado que Pêssego estava suando com
a preocupação, o que era estranho considerando que seu único propósito essa noite
era ser parte de um glorioso comitê de boas-vindas. Sem o colar havaiano. Mas a
fonte dessa preocupação – parte da má atitude geral de Raphael, é claro – ficou
evidente nas suas próximas palavras.
— Uh, isto é, desculpe-me, Lorde Raphael, mas...
Raphael não facilitou para o cara. Ele apenas assistiu, esperando ele
gaguejasse isso para fora.
— Os, ah, termos da negociação estipulam que as partes da, eh, negociação,
tragam apenas um convidado cada um para o encontro.
Raphael inclinou a cabeça para o vampiro gaguejante, o que fez literalmente
Pêssego dar um meio passo para trás antes de se firmar e ficar parado.
— Esses eram os termos — Raphael disse.
O que ele não fez, Cyn notou, foi concordar. Mas Pêssego claramente usou
seu último fragmento de coragem e decidiu não empurrar Raphael para um
compromisso mais específico.
— Obrigado, meu senhor, e novamente, bem-vindo às ilhas. — Ele disse,
dando uma pequena saudação e apressou-se para a porta da frente, com Azul se
arrastando em seu rastro.
Donovan Willis, por outro lado, observou os dois vampiros com uma óbvia
antipatia antes de segui-los para fora. Em um último minuto, ele virou-se e deu a
Raphael um olhar penetrante, e Cyn poderia jurar que havia algo que ele gostaria
de dizer. Mas, então, ele deu uma pequena sacudida na cabeça e com aparência
relutante, seguiu o rastro de seus companheiros.
Cyn esperou até a porta da frente ser fechada, até que a câmera de
segurança da frente mostrasse seus visitantes entrando no carro e dirigindo de
volta, e então, ela empurrou a cadeira para trás e se dirigiu para a porta do quarto-
seguro. Antes de alcançá-lo, de qualquer forma, a porta oculta guinou aberta e
Raphael apareceu. Ela foi direto para seus braços, sentindo como se ele estivesse
em perigo, mesmo que nenhum dos três representavam uma real ameaça. Ao
menos, não que ela pudesse dizer.
— Você não está realmente... –— Cyn começou a protestar, mas Raphael a
levou de volta para a entrada e esperou até Juro fechar a porta segura antes de
colocar todos dentro da sala de segurança.
— Eles estavam mentindo sobre Patterson, meu senhor. — Juro grunhiu
em sua voz profunda. — Eles são tolos por pensar que podem mentir para você?
— Estavam mentindo — Raphael concordou. — Apesar disso, suas
motivações são mais difíceis de discernir. É possível que eles não estejam
completamente informados. Conheço as pessoas de Patterson, no entanto, nenhum
desses dois eram dele.
— Poderiam ser novos? — Cyn perguntou
— Eles não são — Raphael disse simplesmente.
— Então, eles estão aliados com os europeus, e assumiram que você não
saberia diferenciar já que eles pareciam locais. Isso não cheira bem para seu amigo
Patterson.
— Não, não faz. Apesar disso, penso que ele não está morto ainda. Eles
precisam dele para ao menos fazer uma aparição amanhã à noite.
— E quanto ao nerd? — Cyn perguntou. — O humano. — Ela esclareceu,
sob o olhar interrogativo de Raphael. — Ele não parecia gostar muito do Pêssego e
do Azul.
— Pêssego e Azul? — Raphael perguntou com evidente divertimento.
— Essas camisas são novas, provavelmente, ainda tem a etiqueta nelas. E
se vestiram mais como gêmeos do que como vocês garotos. — Ela acrescentou,
gesticulando para Juro e seu irmão que estavam lado a lado contra a parede,
preenchendo a pequena sala só com eles dois. E adicionando Raphael, que não era
uma pessoa pequena, havia definitivamente uma abundancia de vampiro por metro
quadrado.
— O Nerd, como você o chamou — Juro comentou, — não era afeiçoado por
seus companheiros, contundo ele realmente queria muito colocar suas mãos no
sistema de segurança.
— Isso foi estranho. — Cyn disse. — Ele realmente não pensou que o
deixaríamos fazer isso, não é?
— Por mais que ele queria o acesso, não acredito que era o seu real propósito
vir essa noite. Será interessante saber mais sobre o Sr. Willis.
— Irei fazer algumas escavações. — Cyn ofereceu, esperando contribuir um
pouco mais do que apenas levantar os cotovelos sobre os monitores de segurança
numa pequena sala e passear pelas mansões.
— A casa que tínhamos sob vigilância mais cedo, antes que tivéssemos que
correr de volta para cá, é quase que certamente uma das deles — Raphael
comentou, mudando o assunto. — Detectei dez vampiros, dois dos quais eram
senhores, e outros mais como mestres, incluindo dois guardas.
— Não puderam trazer tantas pessoas com eles, então, provavelmente
trouxeram apenas mestres ou acima disso. Não trouxeram um contingente de
segurança completa, pois a maioria dos lutadores não são mestres vampiros.
Assim, os mestres que vieram estão fazendo um dever duplo. —Juro comentou,
então, puxou de seu bolso, o cartão que o Pêssego lhe deu. — O endereço bate com
a casa em que você esteve mais cedo, Sire. Embora, no local que a minha equipe
investigou, também encontrou ao menos um Lorde e vários vampiros com poderio
considerável. A assinatura de poder era considerável. Poderiam ter dez dessas
casas na ilha — ele acrescentou sombriamente. — Não temos noção de seus
números.
— E o nosso homem no aeroporto? — Raphael perguntou.
— Ele viu um jatinho particular chegando cinco dias atrás. Entrou
diretamente no hangar, mas ele foi capaz de ver que apenas cinco passageiros
desembarcarem. Todos vampiros, mas ele não sensível o suficiente para determinar
seus níveis de poder. Julgando pela sua linguagem corporal e dos outros ao seu
redor, ele ousou supor que dois eram, se não lordes, pelo menos mestres
poderosos. Seguindo minhas instruções, ele não os seguiu do aeroporto, mas
permaneceu observando. Não houve mais chegadas desde então, mas ele é só um
homem, e apenas esteve lá por uma semana. É inteiramente possível que seus
inimigos vêm se agrupando há um tempo.
Cyn se aproximou de Raphael, deslizando sua mão na dele, enquanto seu
estômago se embrulhava com medo. Juro estava certo. Os caras maus aprenderam
com o México. Eles trouxeram mais poder de fogo desta vez. Maior em quantidade
e poder vampiro. Talvez muito mais.
Raphael apertou os dedos de Cyn e suspirou. — O que você faria no meu
lugar, Juro? Deveria ir para casa, recusar me encontrar com eles?
Juro franziu a testa, conflito estava escrito por todo o seu rosto.
Claramente, parte dele que era ferozmente leal ao Raphael queria que o seu Sire
fizesse exatamente isso. Ir para casa e deixar a luta chegar por si própria no
território deles. Mas o chefe de segurança nele, a parte que olha para toda situação
e pesava os prós e contras, sabia que eles tinham que ficar. Todo o continente
estava em risco, não apenas o Oeste, e eles precisavam saber mais sobre o inimigo,
mais sobre suas forças e fraquezas. Agora mesmo, eles não tinham sequer uma
certeza sobre os Lordes Europeus que estavam por trás da invasão. A carta que
eles enviaram não estava assinada por nenhum lorde vampiro. Raphael tinha feito
sua compreensão, sua oposição, da pauta de expansão bem clara. E a tinta de
sangue sozinha tinha sido o suficiente para ele tomar a sério esse convite.
— Não, meu senhor, — Juro finalmente falou com uma aceitação relutante
— acredito que deveríamos pelo menos ir nos encontrar com eles. Ele abriu a boca
para falar mais, mas Raphael levantou a mão o parando.
— Você me acompanhará no encontro amanhã, é claro. Levaremos uma
escolta de segurança completa, e depois os deixaremos parados perto, no caso de
precisarmos.
— Cynthia... — Juro começou, mas Raphael o cortou.
— Permanecerá aqui, — Raphael disse, virando com um olhar suave na
direção dela. — Nós concordamos com isso.
Juro encontrou o olhar de Cyn, suas sobrancelhas levantaram em questão.
Ela concordou. Não estava feliz com isso, mas ela entendia. Fazia sentido ter um
backup que o inimigo não sabia.
Raphael puxou Cyn para mais perto ao seu lado e disse a Juro, — Se você
quiser, chame Jared e informe-o sobre esses últimos eventos. Amanhã à noite,
teremos uma equipe pronta para sair uma hora antes do pôr-do-sol.
— Sire — Juro aceitou.
Raphael acenou com a cabeça para Juro e Ken'ichi, em seguida, puxou Cyn
pelo corredor até o quarto deles.
Uma vez dentro, Cyn deixou Raphael digitar o código de acesso e atravessou
para o closet. Antes dessa noite, ela estava meia convencida de que Raphael havia
pedido para ela ser o “Plano de backup” dele simplesmente como uma maneira de
mantê-la ocupada e fora de seu caminho. E ela ainda achava que sua preocupação
com sua segurança desempenhava um papel em sua decisão. Entretanto, havia
mais do que isso. Sua necessidade de suporte era real e ela precisava colocar o seu
traseiro na reta.
Ela percorreu mentalmente sua lista de verificação mental. Primeiramente
precisaria garantir um abrigo seguro. Ela tinha duas casas de segurança mais ou
menos preparadas para vampiros, uma aqui em Kauai e outra em Diamond Head
em Oahu. Assim, risque isso da lista. Próximo, escapar da ilha. Riscado. O primo
de Luci assegurou a ela que ele está disponível 24 horas por dia na próxima
semana, se necessário.
Próximo da lista era o plano de fuga, e ela percebeu enquanto caminhava
pela selva com Raphael esta noite, que ela não conhecia muito bem a área ao redor.
E se eles tivessem que mudar de rota de estradas? Ou se eles precisarem desviar
da rota para o aeroporto? Ou simplesmente um jeito de sair dessa propriedade sem
que seja por aquela longa, vulnerável e muito óbvia entrada?
Ela e Robbie precisavam adquirir um veículo não rastreável com um bom
GPS e fazer alguma exploração. Quando elas terminassem, eles precisariam
guardar o veículo fora do local, preferencialmente sem que haja uma longa
distância, caso precisassem de uma fuga por meio da selva.
Sua cabeça estava cheia com todos esses detalhes conforme, ela sentava
para desatar a bota de combate que vestira para a caminhada na selva. Atirando
as botas para o lado, ela tirou sua camisa por sua cabeça e tinha apenas abaixado
o zíper da sua calça quando um par de mãos grandes quentes estendeu a mão para
cobrir o seio dela, os polegares dedilharam asperamente seus mamilos apesar da
renda do sutiã.
— Vem para cama, lubimaya. — Raphael murmurou, roçando seus dedos
sobre sua costela e descendo, escorregando para o cós do jeans e mergulhando em
sua calcinha.
Cyn virou em seus braços, estendendo a mão para puxá-lo para baixo, para
um beijo quente, suculento e cheio de desejo.
— Você está vestindo muita roupa. — Ela sussurrou contra seus lábios.
Raphael parecia mais interessado nas roupas dela, empurrando o jeans e a
calcinha para baixo, ele encheu sua mão nas duas esferas gêmeas de sua bunda,
apertando e soltando, conforme ele a levantava até a dura ponta de sua ereção que
encaixava perfeitamente na fenda entre suas coxas.
Cyn gemeu suavemente e flexionou seu quadril contra a protuberância de
seu zíper, então percebeu, descontente, que estava nua, suas calças ao redor de
seu tornozelo, enquanto Raphael permaneceu completamente vestido. Atirando-se
contra seu aperto, ela retornou para seus pés e atracou-se nos botões da camisa
dele. Claramente, decidindo que estava levando muito tempo, Raphael rasgou sua
camisa, mandando os botões voando.
Rindo selvagemente, Cyn empurrou a camisa de seus ombros, então
inclinou-se para provar a perfeita pele macia de seu peito, lambendo seu caminho
de um mamilo para o outro, parando apenas tempo o suficiente para seus dentes
fecharem ao redor dos pequenos e duros mamilos, mordendo forte o suficiente para
Raphael sibilar de prazer, enquanto ele finalmente soltava os botões e o zíper de
sua calça.
Deixando-os cair no chão, ele levantou Cyn e saiu da pila amarrotada de
roupas, andando a passos largos pela pequena distância até a cama. Ele não a
atirou como normalmente fazia, mas a depositou no colchão muito macio e a seguiu
para baixo, rapidamente a cobrindo, deixando-a sentir todo o peso do corpo dele:
as firmes curvas e planos de seus músculos, o longo comprimento de suas pernas
e a estreiteza de seus quadris enquanto deslizava entre as coxas delas e espalhavas
suas pernas amplamente ao redor dele.
Ele se curvou para beijá-la, seus dedos enrolando em seus cabelos,
forçando sua cabeça para trás enquanto sua boca movia dos lábios dela para a lisa
linha de seu pescoço, sugando sua pele acima de sua jugular duro o suficiente para
doer, duro o suficiente para que ela tenha um chupão de ensino médio na manhã
seguinte. Duro o suficiente para sua veia dilatar, ávida para os toques de seu
canino. Mas ele não a mordeu, tranquilizando o seu tormento com carícias de sua
língua em vez disso, mesmo quando ele liberou o aperto do cabelo dela e segurou
sua cabeça suavemente, seu polegar acariciando as maças do seus rosto.
Cyn encontrou o olhar de seus olhos negros quando ele se inclinou para
beijá-la de novo e o que ela viu lá engrossou sua garganta com emoções. Os beijos
dele era terno e cheio de sentimento, conforme sua mão escorregou sobre seus
ombros até suas costas e a trouxe para perto, até que não havia nenhum
centímetro de espaço entre eles quando ele deslizou seu duro e quente pau dentro
dela.
Sobrecarregada com as emoções, com a sensação de que Raphael estava
tocando cada e todo centímetros dela, Cyn fechou seus olhos e se agarrou a ele,
alisando a curva dos músculos de suas costas, o firme inchaço de sua bunda, e de
volta para agarrar-se a ele tão firmemente quanto podia, desejando que eles
pudessem esquecer o resto do mundo, as ameaças dos vampiros europeus, os
milhares de vampiros em casa que estavam esperando por Raphael para protegê-
los, para fazer o mundo deles seguro. Eles não se importavam com o que iria custar
a ele, não se importavam com os outros vampiros que possivelmente morreriam, e
sobre o fato que Raphael arriscava sua vida uma e outra vez para eles pudessem
viver suas vidas sem preocupações.
O quadril de Raphael empurrou lentamente, seu pênis deslizava para
dentro e fora dela, escorregando facilmente no creme de sua excitação, seu
envoltório afagando e soltando-o, enquanto ele fazia amor com ela.
Cyn franziu a sobrancelha quando algo clicou em seu cérebro. Seus olhos
abriram-se, suas pernas cruzaram sobre a curva da bunda do Raphael, e ela
empurrou o peito dele antes de forçá-lo a olhar para ela.
— O que você está fazendo? — ela exigiu.
Raphael lhe deu um olhar interrogativo, mas não disse nada.
Os olhos de Cyn se estreitaram. — Não faça isso, Raphael. Não se atreva.
— Fazer o quê? — Ele perguntou, seu rosto cuidadosamente em branco.
Muito em branco. E Cyn sabia que estava certa. Ele não a estava fodendo, nem
mesmo fazendo amor com ela. Não, ele estava dizendo adeus porque não esperava
sobreviver a próxima noite.
Bem. Foda-se. Isso.
Cyn deixou as pernas dela cair em ambos lados de seu quadril, então
empurrou duramente, rolando-os até que ela estava no topo, sentada sobre ele,
encarando-o, quase muito furiosa para falar. Quase.
— Você não vai dizer adeus para mim assim. Não vai dizer adeus de
qualquer forma. Você me prometeu que iria voltar, e isso não significa que irei
conseguir as suas cinzas numa caixa, está me ouvindo? Ninguém pode te matar a
não ser eu, e eu juro, Raphael, irei estacá-lo eu mesma se você os deixar te matar.
Um canto de sua boca sensual se curvou em diversão com a sua ameaça
ilógica, e ela rosnou, na verdade, grunhiu para ele. O que fez o sorriso dele ainda
maior.
— Talvez eu simplesmente queira sentir o conforto da suave e doce carne
da minha companheira antes de ir para a batalha.
Cyn deu-lhe um olhar duvidoso, mas sorriu. — Neste caso, você tem a
mulher errada.
Raphael envolveu ambos braços ao redor dela e os rolou de novo, ficando
mais uma vez no topo. — Eu tenho exatamente a mulher que quero, lubimaya. Não
há outra.
Ela o encarou por um longo momento, tentando ver a verdade em seu olhar
cheio de estrelas — Eu te amo — ela disse solenemente — Não sobreviverei sem
você. Não quero.
A expressão do Raphael tornou-se feroz em um segundo. — Não diga isso.
— Ele rosnou.
— Por que não? — Cyn demandou. — É a verdade. Se algo acontecer com
você, eu...
— Você viverá sua vida.
Cyn lhe deu um sorriso presunçoso. — O mesmo para você, garoto presas.
Creio que vamos ter os dois que sobreviver, hein?
A única resposta de Raphael foi começar a se mover de novo, afundando
profundamente dentro de sua buceta em cada estocada, e depois, puxando para
fora quase que completamente, provocando-a por uma pulsação, e mergulhando
em todo seu percurso mais uma vez.
Cyn envolveu suas pernas ao redor do seu quadril, seus tornozelos cruzados
sobre sua bunda, seus braços ao redor das costas dele, mãos largas a segurava
próximo a ele enquanto suas bocas se encontravam num beijo que era muito mais
do que línguas e dentes. Isso era uma profusão do amor, do desejo, da promessa
não só de sobrevivência, mas de proteção.
Os dentes de Raphael perfuraram as gengivas dele, rasgando os lábios de
Cyn enquanto o beijo deles mudava, tornando-se quente e apaixonado ao mesmo
tempo em que os impulsos de Raphael tornaram-se mais forte, rápidos, seu quadril
batendo dentro dela, os poderosos músculos se juntando e soltando. Cyn sentiu a
áspera roçada de sua língua enquanto ele lambia o sangue dos lábios cortados
dela, também, sentiu o gemido rugir em sua garganta quando ela o mordeu de
volta. Ele ergueu a cabeça com um grunhido, seus olhos selvagens com brilho
prateado na luz fosca, sua presa enchendo sua boca conforme ele se inclinava no
pescoço dela. Sua respiração era quente contra a pele por um breve momento, e
então, a mordeu. Pontos afiados cortaram a pele, sua veia revelando-se com sua
chupada, tomando uma longa, suave sucção de sangue. A euforia da mordida
correu pelo sistema de Cyn, decolando ao longo de seus nervos, mandando ela
instantaneamente para um clímax que arqueou suas costas. Ela gritou, sua cabeça
jogou-se para trás, suas pernas cruzadas ao redor dos seus quadris estreitos ao
mesmo tempo em que o seu interior apertou-se ao redor do pênis dele, ondulando
ao redor do seu cumprimento duro, acariciando, o incitando a se juntar a ela.
Raphael ergueu a cabeça, as presas se distanciando de sua veia, sua língua
raspando a ferida aberta sem pensar, conforme seu quadril martelava entre as
pernas de Cyn, sua virilha moendocontra ela em cada estocada. Seu pau inchou-
se enquanto a buceta de Cyn apertava e alargava, até que finalmente seu orgasmo
se extravasou para fora numa abrasadora onda de prazer que uniu suas vozes em
êxtase.
Cyn enterrou-se nos braços de Raphael, envolvida pelo calor de seu clímax.
Ele se esticou para se mover, tirando o seu peso dela, mas ela o segurou por um
momento mais, saboreando o bater do coração contra seus seios, o calor de sua
respiração contra o pescoço dela enquanto ele lutava para retornar o seu controle.
Um controle que ela o fez perder. Ela acariciou calmamente as costas dele, o
confortando por essa prova de que ela não única aniquilada pelo sexo.
Sem aviso, ele a pegou em seus braços e a rolou para suas costas. O ar frio
fluiu sobre sua pele aquecida e ela estremeceu. Raphael jogou os cobertores sobre
eles, segurando-a até que ela estava quente de novo.
— O sol está subindo, minha Cyn — ele murmurou, encostando os lábios
no topo de sua cabeça.
— Estarei aqui quando você acordar.
— Mas você tem planos para o dia — ele disse secamente, interpretando
corretamente suas palavras.
— Mais coisas de backup. Robbie estará comigo. Seremos excepcionalmente
cuidadosos.
Ele suspirou, um longo estouro que soou mais exausto do que ela alguma
vez o ouviu.
Seu peito apertou com um medo estranho. — Raphael? — ela se apoiou em
seu cotovelo para olhar para ele, mas ele já tinha ido. Descansando a bochecha em
seu peito, ela esperou que pelo ritmo constante e lento da batida do coração, e da
profunda expansão do pulmão. Ela suspirou aliviada quando os sinais de vida
esperados vieram a vida como costumeiro. Sentando-se, ela estudou seu rosto,
escovando seu preto e curto cabelo com seus dedos.
Tudo estava bem. Normal. Por enquanto.
Mas essa noite, ele estaria se encontrando com o inimigo, e isso era outro
assunto. Ela sabia que não era a única preocupada, mas ela parecia ser a única a
pensar em simplesmente dizer para irem se foder e ir para casa. O problema era
que, embora, todos acreditassem que os vampiros europeus estavam tentando algo
desonesto, eles também acreditavam que Raphael era poderoso o suficiente para
derrotar ou ao menos, sabotar o que quer que fosse. Raphael era um poder como
o mundo nunca antes viu. Era quase inimaginável que alguém pudesse vencê-lo.
Infelizmente, Cyn poderia imaginar tudo isso facilmente.

****

Cyn abriu a porta do SUV e deslizou para o chão, segurando-se quando


suas pernas cansadas ameaçaram ceder. Parte do problema era a fraca sandália
que usava. O tipo de viagem que ela e Robbie fizeram hoje demandava sapatos
melhores. Ela considerou isso quando deixou a cama de Raphael mais cedo, sua
principal preocupação tinha sido se misturar com os outros turistas, e botas de
combate simplesmente não faziam o truque. Não no calor úmido de Kauai. Mas
agora, seu corpo inteiro estava pegajoso com o suor, suas pernas nuas estavam
arranhadas e ela apenas sabia que havia pedaços de vegetação em suas roupas e
cabelo. Ela apenas esperava que as lembranças de sua caminhada na selva fossem
limitadas a variedade de plantas.
Suspirando cansada, ela afastou-se do veículo e fechou a porta, ouvindo-a
trancar atrás dela quando Robbie apertou o controle remoto. Ele se aproximou dela
e eles começaram a subir as escadas da casa.
— Estamos prontos aqui, Cyn. Você fez tudo que podia.
— Espero que sim. Deus, espero que sim.
— Haja o que houver você lidará com isso. Sempre lida.
Cyn parou na metade da cozinha e olhou para o grande Ranger do exército
que era mais do que um guarda-costas para ela. — Obrigada, Robbie. Isso significa
muito para mim.
— Não fique toda melosa em cima de mim. Vou perder o meu cartão de
fodão se eu chorar. — Ele estendeu a enorme mão e bagunçou o cabelo dela,
tirando algo verde.
Cyn olhou para isso duvidosamente. Parecia uma planta, mas...
— É uma folha. — Ele riu e a virou em direção a porta segura atrás da
estante. — Vá dormir com seu amorzinho. Irei fazer o mesmo, sem o amorzinho,
mas estarei aqui. Se precisar de mim, me ligue.
Cyn assentiu, depois digitou o código de entrada e abriu a porta segura
apenas o suficiente para deslizar para dentro. O corredor estava mais do que
perfeitamente quieto. Cada porta fechada, o centro de controle de segurança rodava
silenciosamente, monitores tremulavam com imagens. Havia guardas regulares no
quarto e em qualquer outro lugar da casa onde a segurança matutina ficava
vigiando. Era apenas sobre o centro de controle que a casa tinha que os soldados
de linhas, os humanos e os visitantes permaneciam inconsciente de toda extensão
da rede de vigilância de hardware da casa.
Cyn apoiou a testa na porta fria enquanto digitava o código do quarto que
compartilhava com Raphael, abrindo-a novamente apenas o suficiente para entrar
antes de fechar atrás dela.
Raphael estava dormindo exatamente como ela o deixara, deitado de costas,
com o lençol até a cintura, seu rosto sereno e belo à luz fraca. Tudo que ela queria
era rastejar na cama até ficar perto dele, mas ela tinha que tomar banho antes.
Tirando as roupas, ela andou até o banheiro e as deixou no chão ou na cadeira,
onde quer que elas caíssem. O banho foi morno no início, mas sentia-se
refrescantemente frio. Pensando nas possibilidades de insetos invasores, ela
esperou até que fluísse água quente, esfregando-se profundamente e ensaboando
seu cabelo.
Ela se secou e deslizou embaixo do lençol próximo a Raphael, puxando o
leve cobertor para cobri-los no quarto gelado. Verificou a hora. Três horas mais ou
menos até o pôr-do-sol.

****

O sol ainda estava no horizonte quando Raphael acordou. Sua primeira


sensação foi que Cyn estava deitada ao seu lado, sua suave e quente e ainda
profundamente adormecida. Deslizando seus braços ao seu redor, a puxou contra
seu lado. Ela murmurou algo sem palavras, um braço molhe caiu em sua barriga,
a cabeça dela, em seu ombro. Mas não acordou. Ele podia sentir a sua exaustão.
Ela tinha saído mais cedo, fazendo planos. Ele não sabia exatamente o que ela
havia feito. Não queria saber. Ele apenas sabia que podia confiar nela.
Seus vampiros estavam acordados, suas mentes clicando a vida ao seu
redor como uma séria de lâmpadas, algumas mais brilhantes, outras nem tanto.
Juro primeiro, o mais brilhante deles, então seu gêmeo ken’ichi, apenas segundos
depois e quase tão brilhante quanto. E depois os outros. A maioria poderia ir com
ele se encontrar com os europeus, mas mesmo assim, era provável que ninguém
exceto Juro pudesse entrar na casa. Os lordes europeus queriam uma testemunha
para seja lá o que eles estavam planejando, alguém para carregar a história de
volta para Malibu depois da derrota Raphael, na esperança de desencorajar as
pessoas de Raphael e enfraquecer as defesas de seu território. Mas Raphael
conhecia seu povo melhor do que eles. O que quer lhe acontecesse, o Oeste não
cairia.
Cyn se espreguiçou perto dele, o primeiro sinal de seu despertar. Ela deveria
estar furiosa, se soubesse a profundidade da sua certeza sobre o resultado desse
encontro. Ele não andaria para fora dessa casa hoje. Tanto quanto sabia, a única
questão era como os Europeus iriam conseguir contê-lo. Ele sabia da extensão de
seu poder, sabia que era mais velho que a maioria dos vampiros do velho
continente. Nenhum deles tinha conseguido controlá-lo, quando era jovem e
inexperiente, e com certeza não poderia fazer isso agora. Mas eles pensavam que
podiam. Ele estava perdendo algo. A única questão era o quê.
Cyn acordou finalmente, e seus braços se apertaram ao redor dela.
— Estamos indo embora? — Ela perguntou, sua voz sonolenta e sexy. Seu
pau endureceu em resposta, mas ele o ignorou com pesar. Não havia tempo para
tal coisa hoje à noite, tão bom quanto seria.
— Temo que não. — Disse ele, sabendo que o que ela queria era sair da ilha
e ir para casa, não simplesmente deixar a cama ou a casa.
Ela sentou-se, puxando seu cabelo para trás quando caiu em seu rosto,
seus seios balançaram tentadoramente perto. Ela era a mulher mais sensual que
ele já conheceu... a lutadora mais feroz. Oh, certamente, ele conheceu outras que
eram mais fortes, mais hábeis com uma arma ou outra coisa, mestre das mais
variáveis artes marciais. Mas ele nunca conheceu ninguém que fosse tão forte de
vontade como sua Cyn. Se ela acreditava em sua causa, se ela acreditasse em você,
ela nunca desistiria.
— Podemos ao menos tomar banho juntos? — ela perguntou, sabendo da
restrição de tempo assim como ele.
Raphael envolveu seus braços ao redor dela e saltou da cama, levando-a
com ele e extraindo um grito assustado. Ele sorriu, prazeroso que ainda tinha o
poder de surpreendê-la.
— Tomaremos banho, mas você deve evitar a tentação de me molestar. —
Ele disse severamente.
Cyn lhe deu uma risada de menina e colocou seus braços ao redor de seu
pescoço. — Sem promessas, garoto presa. Sem promessas.

****

Raphael estudou a si próprio no espelho, sorrindo quando Cyn saiu de trás


dele, seus dedos delgados alisando o ombro do seu paletó, circulando ao redor para
ficar na frente dele e endireitou a sua gravata.
— Eu sei que você será o super Raphael e tudo, mas não está muito
terrivelmente quente para um terno e gravata?
— Está sim, mas meus colegas estarão vestidos muito formalmente, ainda
mais formais que isso. E, tanto quanto eu preferiria não me incomodar, as
primeiras impressões importam quando estamos conduzindo uma negociação.
Os olhos verdes dela eram solenes quando olhou para ele — Realmente acha
que eles irão negociar?
Raphael considerou mentir, mas as coisas eram muito críticas e ela
precisava da verdade. Além do que, ele prometeu anos atrás, quando quase a
perdeu, que não manteria as coisas delas mais.
— Não, — admitiu, — Espero que eles exijam a nossa rendição. Eles vão
começar a oferecer incentivos em troca da nossa cooperação, possivelmente,
partilha de poder, embora com os territórios separados e as autoridades dos
senhores atuais severamente limitadas. Caso isso não funcione – e não irá – eles
irão recorrer às ameaças. Nesse ponto, eu irei agradecê-los graciosamente pelo
convite, retornarei aqui rápido o suficiente para pegar você e os outros, e
imediatamente deixarei a ilha.
— Você realmente acha que será assim?
— Penso que esse é o cenário mais otimista.
Ela suspirou. — Isso foi o que pensei — ela bateu no peito dele. — Ok, está
tão bonito quanto você vai conseguir, o que... — ela ficou nas pontas dos pés para
beijá-lo — ...é malditamente belo.
Raphael passou os braços ao redor da cintura dela, segurando-a perto. —
Dê-me um beijo de adeus. — Disse contra seus lábios.
Cyn envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, pressionando os seus
suaves seios contra ele, enquanto ela aprofundava o beijo, sua língua colidindo
com os dentes, enroscando com as presas que emergiram em resposta ao desejo.
Um rosnado deslizou da garganta de Raphael, conforme ele segurava a parte de
trás de sua cabeça, a prendendo no lugar, enquanto ele se afundava
profundamente no doce calor de sua boca, saboreando o sangue quando ela raspou
sua língua sobre umas das presas pontiagudas. Ele uniu essas sensações – a
suavidade de seus lábios nos deles, as pérolas duras dos mamilos dela contra o
seu peito, e mais do que tudo, a doçura requentada de seu sangue – e ampliou com
as possibilidades de que ele poderia muito bem estar o mais distante do que já
esteve antes de poder segurá-la em seus braços novamente.

****

Cyn se pôs de pé, enquanto Raphael e os outros partiram. Ela não foi até a
porta. Se seus inimigos estivessem observando a casa, eles não queriam que
alguém a visse ou a reconhecesse. Especialmente desde que havia uma
possibilidade de quererem sequestrá-la e usá-la contra Raphael. Além disso, ela e
Raphael disseram adeus antes deles sequer chegarem até a sala de estar. Não havia
mais nada a ser dito.
Isso não a impediu de correr para o quarto de segurança na passagem
escondida para observar Raphael subir na limusine com Juro. Ken’ichi estava
ficando na casa com ela, assim como Elke, mas Raphael estava levando o resto da
sua guarda vampira, um total de doze dos seus melhores guerreiros, com ele. Um
deles estava dirigindo a limusine, enquanto Juro sentava no banco de passageiro
na frente, e Raphael atrás sozinho. Isso fez o coração dela doer que ela não estivesse
lá com ele, mas era por boas razões. Assim como havia boas razões para Juro
sentar-se na frente ao invés de se unir com Raphael no banco de trás.
Aparentemente, era tudo sobre propriedade quando se tratava desses velhos
vampiros, e Raphael estava simplesmente jogando um jogo, acalmá-los em
complacência e nada mais.
O resto dos guardas estavam empilhados em outras duas SUVs, deixando
um único veículo na casa para Cyn e para os guardas humanos, que eram todos
os que tinham ficado para trás. Normalmente, esses guardas estariam finalizando
os seus dias, jantando, relaxando, indo dormir cedo para ficar pronto para o início
do amanhecer. Mas não hoje. Ninguém estava relaxando essa noite. Eles estavam
se preparando para a luta, e empacotando para ir embora ao mesmo tempo.
Ninguém sabia exatamente o que essa noite traria, Cyn sabia menos ainda. Mas
todos esperavam voltar para casa e terminar com isso.
Assim que Raphael foi embora, Cyn deveria empacotar suas coisas e se
preparar. Roupas, ela poderia viver sem ou comprar seja lá o que precisasse, mas
as armas era outra questão. Ela tinha checado as leis armamentistas do Havaí
antes de sair de LA. Com uma residência legal e tempo o suficiente, podia-se obter
a autorização e a aquisição de qualquer coisa menos uma metralhadora. Mas
enquanto ela provavelmente poderia enganar sobre a residência, tempo era algo
que não tinha se tudo desse em merda. Então, ela trouxe seu próprio arsenal. A
mochila duffle2, guardada no closet que ela compartilhava com Raphael, estava
cheia de equipamentos ostensivamente ilegais, mas muito necessários. Continha
principalmente armas, um par de facas, e munições, 90% dos quais Cyn chamava
de assassinos-de-vampiros. Havia também, um colete de balística feito sob medida
desde que ela tinha dificuldades para caber, e também, era uma dor na bunda
vestir um colete. Ela pediu a Robbie para trazer seus equipamentos, embora ela
duvidasse que havia necessidade de pedir. Mesmo que ele não fosse o excelente
guarda-costas que era, seus anos no exército o deixou com hábitos que eram
difíceis de serem quebrados. Bons Hábitos, no ponto de vista de Cyn. Ela tinha
certeza que nem todo mundo iria concordar com isso, mas foda-se eles.
Ela observou até que nem sequer as luzes traseiras vermelhas pudessem
ser vistas, e então, ela voltou para o seu quarto para se preparar. E sim, claro, ela
esperava pelo melhor, mas em sua experiência, esperança era um frágil escudo.
Ela estava se preparando para o pior.

2
Duffle – estilo de mochila cilíndrica de tecido, muito usada pelo exército.
Capítulo 07
RAPHAEL ACENOU COM a cabeça para seu destacamento de guardas
vampiros, dizendo-lhe sem palavras para estar preparado. Eles discutiram o que
poderia vir desta noite, considerando todos os possíveis resultados que poderiam
imaginar. Seus guardas sabiam o que fazer.
Previsivelmente, seus anfitriões vampiros proibiram os guardas de Raphael
de se aproximarem da casa. Eles foram parados há umas boas centenas de metros
abaixo da estrada, antes do desvio para o curto caminho. Mesmo seu motorista
teve que sair e se juntar aos outros.
Apenas Juro foi permitido de continuar seu caminho com ele, que não era
nada mais do que eles tinham esperado. Enquanto ele saia da limusine, Raphael
olhou a residência. Havia dez vampiros presentes, três deles eram senhores.
Nenhuma surpresa aí também. Eles não queriam encará-lo com menos que isso.
Ele e Juro subiram as escadas. Um único mestre vampiro estava em pé
dentro da porta da frente aberta, olhando para Raphael com visível desgosto.
— Godard, — Raphael disse friamente, reconhecendo o outro vampiro. —
Estou assumindo que sua presença significa que Mathilde está lá dentro. Você
ainda é seu cão de ataque, ou ela finalmente cumpriu suas promessas, e elevou
você até sua cama?
Os olhos de Godard brilharam com raiva, antes que ele parecesse se lembrar
de quem ele estava encarando. Ou isso, ou ele simplesmente lembrou que sua
senhora, a Lady Mathilde, não perdoava os criados que desobedeciam a ela.
— Raphael, — Godard zombou. — Minha senhora, está ansiosa para
renovar o seu conhecimento depois de tanto tempo.
— Ela está? — Raphael perguntou, mais curioso do que ele admitiria para
um verme como Godard. O vampiro realmente tinha sido mais do que o cão de
ataque de Mathilde todos aqueles anos atrás, antes de Raphael deixar a Europa.
Godard fora seu torturador, um trabalho que ele abraçara com muito entusiasmo.
A presença de Mathilde aqui no Havaí não era uma surpresa, no entanto.
Ela era uma vampira poderosa, e certamente ambiciosa o suficiente para querer
mais do que a Europa tinha a oferecer a ela. Que ela tinha trazido Godard... isso
era mais preocupante. Embora fosse inteiramente possível que o vampiro sádico
tivesse finalmente chegado tão perto de Mathilde como ele sempre tinha desejado.
Armado com o conhecimento de pelo menos um dos senhores que ele iria
encontrar, Raphael avançou com cautela. Esta era a residência que ele e Cyn
haviam descoberta há duas noites, e nada havia mudado. A diferença desta noite
era que Raphael estava dentro, perto o suficiente para pesar o poder combinado
daqueles reunidos aqui e medi-lo contra o seu próprio. A assinatura de poder na
casa surgiu querendo que ele achasse tanto reconfortante, como não.
Se necessário, ele poderia ficar sozinho contra cada vampiro aqui,
individualmente ou todos de uma vez. Mas eles tinham que saber disso. E quanto
a todos aqueles vampiros que Juro tinha detectado na outra casa próxima. Onde
eles estavam? Por que trazê-los para a ilha, se os senhores europeus não iam usá-
los para enfrentar Raphael?
Ele trocou um olhar de conhecimento com Juro, que era poderoso o
suficiente por si mesmo para ter calculado a força reunida e inteligente o suficiente
para ter captado o mesmo problema preocupante.
Permitindo a ele mesmo não mais do que um olhar, no entanto, Raphael
manteve seu rosto cuidadosamente sem expressão – aquele que Cyn chamava de
sua cara de mestre do universo – enquanto ele seguia o vampiro que encontrou
eles na porta e que agora estava os escoltando do hall para a sala onde ele podia
sentir os três senhores vampiros esperando por ele. Ele reconheceu Mathilde agora,
como um deles. Mas ele pegou o gosto de outra mente familiar, e sabia que Rhys
Patterson, o mestre das Ilhas Havaianas, estava esperando ali também. Raphael
sentiu um momento de alivio por Patterson ainda estar vivo; ele temia o pior depois
de conhecer a delegação de boas-vindas na outra noite. Mas ao mesmo tempo, a
presença do havaiano o preocupou. Tinha Patterson conspirado com os Europeus
depois de tudo? Ou eles estavam usando-o?
Godard abriu um par de portas de correr, depois recuou, convidando
Raphael a entrar primeiro. Juro bufou em desdém e pisou na frente do outro
vampiro, não tão sutilmente escovando contra ele quando passou e jogando o
vampiro muito menor alguns passos para trás. Juro parou, impedindo Raphael de
entrar enquanto examinava a sala e seus ocupantes, a cabeça girando lentamente
de um lado para o outro.
Raphael esperou pacientemente, embora já suspeitasse das identidades dos
três senhores dentro da sala. O gosto de suas mentes se tornara mais forte a cada
passo que ele tomava para dentro da casa. Havia muito tempo desde que ele deixara
a Europa, mas não tanto que esqueceria qualquer um dos velhos senhores, os que
se recusaram a abrir espaço para ele apesar de sua óbvia superioridade no poder.
Os mesmos que tinham agora trazido os vampiros de dois continentes à beira da
guerra por causa de sua persistente recusa em reconhecer os poderes crescentes
entre eles.
Na frente dele, os ombros maciços de Juro se ergueram em uma respiração
profunda, então lentamente exalou enquanto ele se virava e se curvava para
Raphael. — Mestre, — ele disse simplesmente, seus olhos dizendo tudo o que ele
não podia, ou não diria, na frente de seu público. Juro odiava isso. Ele viu sua
necessidade, mas odiava.
Raphael deu a seu chefe de segurança um meio sorriso, descansando uma
mão sobre seu ombro brevemente, enquanto ele passava.
Eles esperavam por ele em uma fila, de pé ali vestidos em sua elegância
como algo fora de um drama de fantasia da televisão pública americana. Mathilde
era a mais forte dos três. Ela governava um território significativo no sul da França,
que incluía Nice, e era uma das mais opostas a compartilhar. Ela também era a
Mestre do recém-falecido Damien, o vampiro que, há poucos dias atrás, tinha sido
um convidado na sala de interrogatório de Raphael. Raphael tinha ficado um tanto
surpreso ao saber do parentesco de Damien, uma vez que se for de Mathilde, jovens
vampiros que se mostravam muito poderosos eram destruídos logo após o seu
despertar. Ela gostava de seus jovens machos bonitos e apenas fortes o suficiente
para servir seus propósitos, sem serem ameaçadores. Ela tinha gostado de Raphael
uma vez, até que ela descobriu as profundezas de seu poder. E então ela tinha
virado os olhos para outro lugar. Eles tinham uma história, ele e Mathilde. E ele
não se surpreendeu ao encontrá-la ao leme desta invasão.
Mas Mathilde sozinha não era párea para Raphael, e ela sabia disso. Foi
por isso que ela enviou Damien e sua flha Violet para enfrentar Raphael em vez de
fazê-la sozinha. E a razão pela qual ela não estava sozinha contra ele agora.
Os dois que estavam com ela nesta noite eram Berkhard de Munique e
Hubert de Lyon. Poderes significativos em seu próprio direito, embora um passo
abaixo de Mathilde. Mas, mesmo com os dois machos ao seu lado, Mathilde não
poderia derrotar Raphael, o que o fez pensar, mais uma vez, por que ela insistiu
nessa reunião.
— Raphael. — Foi Mathilde quem falou primeiro, sua voz, o chilrear infantil
de uma menina muito mais jovem, embora ela tivesse sido uma mulher casada em
seus vinte e poucos anos quando ela foi levada e tranformada por seu agora morto
Mestre. Ela estava lá em um vestido azul pálido de cetim que sua irmã morta
Alexandra teria apreciado. Raphael quase esperava que ela levantasse as saias e
fizesse uma reverência como a dama aristocrática que uma vez fora.
Ele olhou para Berkhard e Hubert, em suas roupas formais pretas,
esperando que eles expressassem suas próprias saudações. Mas eles claramente
designaram a parte faladora da noite para Mathilde, pois nenhum dos machos
ofereceu nada além de um aceno de cabeça em reconhecimento, permanecendo em
silêncio como se estivessem mudos.
O olhar de Raphael então viajou além da linha de saudação para Rhys
Patterson, que estava a vários passos atrás dos três senhores. Ele estava vestido
como Raphael, embora sem a gravata. Rhys estivera nas Ilhas há tanto tempo, que
provavelmente já não possuía uma gravata. Seu olhar estava fixo em Raphael, como
se ele quisesse de dizer alguma coisa, ou estava tentando comunicar alguma
mensagem silenciosa. Mas fosse o que fosse, Raphael não estava recebendo.
Raphael não permitiu nenhuma reação aparecer em sua expressão ou linguagem
corporal, mas interiormente ficou consternado com essa evidência de que Rhys não
era um participante voluntário. Lembrou-se dos dois vampiros desconhecidos que
apareceram como os emissários do senhor havaiano. Teria Mathilde e sua
tripulação prejudicado o povo de Rhys, ou ameaçado fazê-lo?
Raphael virou um olhar fixo para Mathilde, encontrando seus olhos azuis
pálidos. — Mathilde — ele reconheceu. — Berkhard, Hubert —acrescentou,
olhando para cada um dos outros.
— Você está parecendo bem, Raphael, — Mathilde disse com agrado, como
se fossem velhos amigos se cumprimentando.
Sua boca mal se moveu em um sorriso divertido. — Estamos fingindo gostar
um do outro agora, Mathilde? O que você quer?
Ela fez um tsk com a boca. — O teu tempo no Novo Mundo te endureceu —
ela repreendeu-o. — Não podemos nos comportar de forma adequada às nossas
posições?
Raphael sorriu ligeiramente. — Nossas posições, Mathilde? Nasci filho de
um camponês moscovita. Acredito que meu comportamento está bem de acordo
com a minha posição.
Sua boca franziu com repugnância. — Muito bem. — Ela deu um passo
para a frente e ofereceu um aperto de mão, embora fosse mais como uma bela
dama oferecendo a mão para ser beijada por alguém indigno de honra.
Ele deu o meio-passo necessário para aproximá-lo o suficiente, então pegou
seus frágeis dedos em sua mão muito maior... E várias coisas aconteceram ao
mesmo tempo.
Do outro lado da sala, a mente de Rhys Patterson subitamente emitiu um
aviso. Raphael só teve tempo de explodir uma advertência antes que uma força
invisível se encaixasse no lugar com um som como um trovão, e bandas de metal
rodeavam seus pulsos, metal tão frio que queimava, chamuscando sua carne e
marcando seus ossos.
Juro rugiu sua fúria enquanto Raphael caía de joelhos, balançando a
cabeça enquanto ele lutava para colocar seus pensamentos juntos. Ele pegou seu
poder, mas pela primeira vez em quase 500 anos, ele não estava lá. Ou melhor,
estava, mas ele não podia alcançá-lo. Era como se um grande peso estivesse
pressionando para baixo sobre ele e tudo o que ele poderia fazer simplesmente era
lembrar quem ele era e o que ele estava fazendo ali.
Mas, no entanto, Raphael não tinha vivido todos esses séculos sem
aprender algumas coisas. Ele não tinha o poder, mas ele ainda tinha seu intelecto.
Obrigando-se a ignorar o medo tentando sufocar a vida dele, o medo não por si,
mas por o seu povo, por Juro... por Cyn – ele avaliou a situação usando tudo o que
sabia, tudo o que ele tinha aprendido, e que ele encontrou era ambos aterrorizados
e isso enfureceu-o.
Seu povo sabia que havia mais vampiros na ilha do que poderia ser contado,
mas eles não tinham chegado perto de adivinhar os números reais. Violet tinha
advertido os europeus depois do México. Ela tinha-lhes dado prova de que dez não
era o suficiente. Mas eles não duplicaram ou mesmo triplicaram esse número. Eles
trouxeram dez vezes esse número, mais que Raphael podia adivinhar com precisão.
Mathilde e os outros devem ter se protegido como loucos para esconder tantos de
sua descoberta. Havia mais de cem vampiros mestres dispostos contra ele em
algum lugar, suas mentes trabalhando em conjunto, e cada um deles se
concentrava apenas em conter Raphael.
Ele tinha sido arrogante e um tolo. Cyn estava certa. Ele deveria ter matado
Violet quando ele teve a chance, antes que ela pudesse correr para casa para
compartilhar informações com Mathilde. Mas seu orgulho o fizera usá-la; uma
mensagem enviada a seus manipuladores de que eles não poderiam derrotá-lo, que
eles deveriam abandonar seus planos mal considerados de expansão para a
América do Norte. Ele não tinha considerado uma vez que eles iriam considerá-lo
um desafio. Que em vez de reconhecer sua força superior e recuar como vampiros
poderosos tinham feito por séculos, eles uniriam forças e se estabelecessem para
superar sua vantagem. Eles devem ter planejado isso por meses. Teria levado pelo
menos algum tempo para reunir tantos mestres vampiros. E como os moradores
não notaram? Havaí era um lugar relativamente insular. Você não poderia deixar
cair uma centena de vampiros em uma comunidade e esperar que ninguém
notasse. Como eles estavam sendo alimentados?
Ele estava errado sobre o México. Tão errado em sua arrogância. O México
não foi um grande gesto por parte de Mathilde. Estava planejando essa incursão
muito antes do México. Ela certamente tinha aprendido alguma coisa com aquele
confronto, mas era perfeitamente possível que todo o fiasco tivesse sido planejado
simplesmente para enganá-lo em complacência, em acreditar que eles ainda
estavam por fora e falhando.
— Pare-o, Raphael, ou eu vou matá-lo.
A voz infantil de Mathilde trouxe Raphael, arrastando-o de volta para a sala
onde Juro estava de pé sobre ele protetoramente, jogando de lado vampiro após
vampiro enquanto eles tentavam forçá-lo a se afastar. Mathilde e seus
companheiros conspiradores haviam recuado para a margem, é claro. Arriscando
nada de si mesmos, satisfeitos de ficar de pé e ver como seus próprios filhos eram
danificados ou destruídos em face da raiva de Juro.
— Juro, — Raphael disse.
Seu chefe de segurança lançou um último vampiro pelo quarto, então
parou, respirando pesadamente, mas com emoção, não tensão física. Juro poderia
ter jogado homens adultos por horas sem se preocupar.
— Senhor, — ele disse, sua voz cheia de dor.
Raphael descobriu que podia olhar para cima o suficiente e encontrar os
olhos de Juro. — Você sabe o que fazer — disse a ele.
Ele podia ver a negação no olhar atormentado de Juro, o desejo de negar.
Mas o grande vampiro era muito leal, muito disciplinado. Ele sabia o que tinha que
ser feito, e qual dado tinha que ser rolado.
Juro fechou os olhos enquanto ele puxou um suspiro resignado pelo seu
nariz, soltando com um longo suspiro antes de abrir seus olhos de novo e assentiu.
— Sim, Senhor.
Raphael sorriu. — Confie, Juro. E cuide do meu povo.
Juro assentiu de novo.
— É um bom rapaz, — disse Mathilde quase alegremente, como se já tivesse
ganho.
Raphael a odiava naquele momento, não tanto por si mesmo, mas por Juro,
por sua incapacidade de reconhecer a lealdade e a disciplina que levava para que
o grande vampiro permanecesse obediente a um Senhor que estava literalmente
ajoelhado diante dele, impotente. Para confiar que este não era o fim. Porque não
era. Aquela idiota da Mathilde podia pensar assim, mas Raphael sabia melhor. Ela
venceu a rodada, sem dúvida. Mas isso era guerra, e havia muitas batalhas ainda
por ser combatidas.
— Raphael ficará conosco — disse Mathilde, e Raphael percebeu que ela
estava falando com Juro, que a olhava com um ódio indiscriminado. — Mas você e
todos os seus vampiros e guardas voltarão a Los Angeles, ou de onde você for. —
ela acrescentou, desdenhosa, como se L.A. fosse alguma cidade de comércio de
gado no Oeste Selvagem Americano. — Estamos permitindo isso como uma
demonstração de boa fé.
Raphael duvidou que isso fosse verdade. Era mais provável que eles
estivessem sem vampiros fortes e não pudessem segurar seus poderosos filhos e
ele ao mesmo tempo.
— Você pode voltar para a propriedade de Raphael e defender seu território.
Nós buscamos apenas uma luta justa.
Foi tudo o que Raphael podia fazer para não zombar de seu rosto. Se eles
quisessem uma luta justa, eles teriam estado dispostos a enfrentar o senhor do
território de forma apropriada, em vez de desabilitá-lo com astúcia. Porque não era
só a centena de vampiros o segurando, eram as algemas de metal enroladas em
torno de seus pulsos como faixas de fogo frio. Elas eram antigas e cheiravam a
magia, e assim como os cem mestres que esmagavam seu poder vampírico, os
braceletes estavam roubando sua vontade, minando sua tremenda força física.
— Você partirá destas ilhas antes do nascer do sol, ou seu Senhor morre.
Raphael podia sentir o tormento de Juro. Eles tinham conseguido conter
seu poder, mas não o vínculo com seus filhos. O que significava... Cyn. Ela saberia
que algo estava terrivelmente errado agora. Seu coração estaria exigindo que ela
corresse até aqui para salvá-lo, mas ela era mais esperta do que isso. Ele estava
contando com isso. Concentrou-se brevemente na imagem dela em sua cabeça, o
intelecto por trás de seus belos olhos verdes, o sorriso perverso em seus lábios
exuberantes... seu coração leal e alma corajosa.
Eu amo você, minha Cyn. Ele não sabia se ela o ouviu ou não. Mas eles
estiveram separados antes e ele encontrou um jeito de alcançá-la. Ele faria isso de
novo. Não seria fácil; isso talvez levasse um dia ou dois para quebrar o aperto que
tinham nele. Mas ele faria isso. Ele não a deixaria sozinha. Ele não a deixaria. Não
desse jeito.
— Juro, — ele disse de novo, capturando a atenção do seu leal chefe de
segurança. — Você sabe o que fazer. — Ele repetiu firmemente.
A expressão de Juro ficou sombria e ele acenou com a cabeça. — Sim,
Senhor. Eu cuidarei disso.
— Obrigado. — Ele podia dizer que Juro queria dizer mais, mas qualquer
coisa que eles dissessem nesse ponto daria muito. Então eles trocaram um
silencioso adeus, então com um olhar final cheio de ódio para Mathilde e seu
pelotão, o grande vampiro japonês girou em seu calcanhar e saiu do quarto.
Deixando Raphael sozinho com seus captores.
— Me desculpe, Lorde Raphael. — A voz de Rhys estava baixa e áspera como
se ele não a usasse há um tempo. — Eles têm todas as minhas crianças. — As
emoções do mestre vampiro estavam repletas de arrependimento e medo, todas
genuínas o suficiente. Mas ele estava olhando para Raphael atentamente, como se
quisesse que ele entendesse algo que ele não estava dizendo.
Raphael olhou para ele, não dando nada de seus pensamentos. Haveria
tempo para descobrir o que Rhys estava tentando dizer a ele, mas por enquanto...
— Eu entendo, Rhys. Suas pessoas estão seguras pelo menos? Alguém foi ferido?
Rhys baixou a cabeça como se envergonhado, ou talvez em desespero por
sua falha em comunicar o que tinha sido a sua mensagem oculta. Quando olhou
para cima, seus olhos estavam cor de rosa com lágrimas não derramadas. — Tanto
quanto sei, estão bem e são fiéis ao legítimo senhor.
Raphael se permitiu um sorriso então, tanto para o benefício de Rhys como
para incitar seus captores.
— Seu legítimo senhor. — A voz ridícula de Mathilde interrompeu a troca
deles. — Nenhum de vocês sabe o significado disso — insistiu ela com estridência.
— Nós somos seus superores em todos os sentidos. Nós somos seus senhores
legítimos e em breve governaremos todos vocês como é nosso dever.
Raphael deslocou o olhar para a antiga fêmea, deixando que sua expressão
dissesse o que pensava dela e seus metros de cetim azul. — Esta é uma flagrante
violação da bandeira da trégua, Mathilde — disse ele calmamente. Sabia que ela
não se importaria. Isso era óbvio. Mas ele queria que fosse dito para o registro, por
assim dizer, para que mais tarde, ela não pudesse alegar que ele não tinha avisado.
— Pelas leis do nosso povo, esta ação é uma declaração de guerra.
Ela se irritou com o que ela sem dúvida considerava ser um sermão de sua
parte. — Conheço nossas leis, e você, Raphael. Mas seu povo se renderá
rapidamente, se sua vida estiver em jogo.
— Você pensa assim? — Raphael perguntou, deixando seu divertimento
mostrar.
Mathilde olhou fixamente, então recolheu o que restava de sua coragem em
um sorriso desprezo. — Estou ansiosa para conhecer sua mulher, Raphael. As
histórias que eu ouvi... — Ela balançou a cabeça. — Ridículo pensar que um único
ser humano poderia realmente realizar tudo o que eles atribuem a ela. Mas, então,
é parte da lenda, não é? — Ela olhou para a sua forma ajoelhada. — O grande
Raphael. Não estou impressionada.
Raphael permitiu que um sorriso perverso enrugasse seu rosto, enquanto
ele se lembrava do último vampiro que tinha dito isso a ele, e onde aquele vampiro
estava agora. Ele respondeu a Mathilde como fez com Damien. — Você ficará.
Capítulo 08
CYN PERAMBULOU PELA sala, incapaz de se manter quieta. Ela havia
começado na sala de controle da segurança, mas, como a caravana de Rafael havia
desaparecido, não tinha nada para ver. E mesmo ela sabendo logicamente que o
retorno do comboio apareceria na tela de segurança, ela não poderia ficar presa
naquela sala pequena por mais tempo.
Robbie apareceu alguns minutos depois que Rafael saiu. Ele andou
diretamente até Cyn e a puxou para um grande abraço, algo que mais ninguém
ousaria fazer. — Vai ficar tudo bem, docinho. Você vai ver.
Cyn retribuiu o abraço, mas não podia concordar com o que ele havia dito.
Ela tinha um pressentimento de que eles estariam fazendo trilha na selva antes do
fim da tarde, e só havia uma razão para isso acontecer. Por que tudo teria ido pro
inferno em uma manipulação. Se sentindo pronta para saltar fora de seu próprio
corpo, ela estava a caminho da sala de segurança, quando sentiu, uma onda forte
de poder que a fez se agarrar à soleira da porta, convencida de que o próprio planeta
tremia embaixo de seus pés. Em um minuto Rafael estava em sua mente, como
sempre, no próximo ele desapareceu. Sumu. Uma aterrorizante batida do coração
depois, ele voltou, mas estava mais fraco, tão fraco que ela mal reconheceu sua
essência, o vampiro poderoso que ela conhecia.
Ela deu meia volta e correu para a sala de estar, onde Robbie estava em pé
ao lado da janela, como se estivesse fazendo guarda.
— Prepare os equipamentos, Rob. — Disse ela com firmeza. — Estamos
saindo.
Ele a encarou. — Cyn? O que aconteceu? — Robbie não tinha nenhuma
ligação direta com Rafael. Ele não teria sentido nada do que ela vivenciou.
— Ainda não sei, mas é ruim. — Ela não gastou mais nenhuma palavra,
sabia que Robbie não esperaria por isso. A porta da estante de livros estava aberta,
ela se esgueirou pela abertura, disparando pelo corredor até o quarto que ela
dividia com Rafael. Elke apareceu da sala de controle.
— Cyn? — a voz de Elke estava tensa de preocupação, o mais próximo de
pânico que Cyn já tinha ouvido.
— Você sentiu aquilo? — ela perguntou pra Elke enquanto ela esmurrava o
código de entrada do quarto deles.
— O que foi aquilo? Rafael está...
Cyn virou com uma expressão raivosa. Rafael estava morto? Era isso que
Elke queria saber, mas estava com medo de perguntar. — Ele é o seu patriarca
Elke, — ela falou com rispidez, — você sabe a resposta disso. Elke assentiu,
rodando os ombros, balançando suas mãos e braços, como se estivesse
desativando seu próprio alarme.
— Você está certa. Desculpe. O que está fazendo?
— Medidas estão sendo tomadas...
— Que medidas? Não estou sabendo de nenhuma...
— Ninguém sabe. Rafael queria que fosse assim. Robbie e eu estivemos
trabalhando durante o dia, preparando as coisas. Mas a hora chegou. Esteja pronta
para sair.
Ken’ichi apareceu por trás de Elke. — Juro... — ele disse, sua voz que já é
grossa se tornou um barulho baixo de tensão, sua testa enrugada de preocupação.
Cyn teve que se esforçar para não encará-lo. Era mais emoção do que ela já tinha
visto em seu rosto geralmente impassível.
— Meu irmão está furioso... E aterrorizado.
Todo o fôlego deixou os pulmões de Cyn. O que seria necessário para
aterrorizar Juro? Agarrando a beirada da porta com tanta força que doía, ela olhou
para seu interior, procurando a centelha que era Rafael, seu aperto à porta era a
única coisa que a segurava em pé quando ela o encontrou, encontrou ele. Ainda
assustadoramente fraco, mas estava lá.
Naquele momento, o rádio gritou na sala de controle e Ken’ichi disparou
pelo corredor num borrão de rapidez vampiresca, Cyn seguiu seu rastro, chegando
à porta aberta bem a tempo para ver Ken’ichi colocar um fone de ouvido e bater
furiosamente no teclado.
— O que houve? — exigiu Cyn.
— Se foi. — Ele murmurou.
— Se foi?! — Cyn notou o pânico em sua própria voz ao perguntar isso.
— O sinal, — Ken’ichi esclareceu. — Eu não consigo, — ele endureceu
abruptamente. — Juro, — ele sussurrou.
Cyn queria agarrar seus ombros enormes e sacudi-lo. Mandá-lo parar com
aquela merda estúpida. Era hora de usar a porra das palavras.
— Fale comigo. — Disse ela com uma paciência forçada.
Ken’ichi levantou os olhos fazendo os encontrar os dela. Ele se parecia
demais com Juro.
— Juro estava furioso, sua raiva era como uma tempestade em minha
mente, de repente, como se um interruptor tivesse sido desativado, ele sumiu. E
agora... — ele se virou para o teclado e começou a trabalhar furiosamente de novo.
— Nossas comunicações já eram. Não consigo alcançar os acessos de segurança.
— É isso. — Cyn teve uma sacada e voltou para o corredor. — Robbie! ela
gritou. — Vamos lá fora. Elke, você vem conosco, Ken...
— Má ideia, Cyn — Rob advertiu, andando em sua direção. — Rafael queria
você escondida por alguma razão. Toda a preparação que fizemos pode dar em
merda se você for lá fora.
— Eu não posso ficar sentada aqui...
— E se eles já estiverem esperando isso? Qual a melhor maneira de atingir
Rafael que eles têm, hein? Vou te dizer. É você.
— Mas eles têm...
— Você não sabe o que está se passando lá fora. As comunicações não estão
funcionando, Cyn. Isso é tudo que você sabe até agora.
— Eu senti acontecendo, algo horrível... — as palavras dela foram cortadas
por um barulho agudo que fez todos taparem os ouvidos. Vozes vieram em seguida,
uma se destacando entre as demais, tentando alcançar Ken’ichi.
— Base, vá em frente. — Disse Ken’ichi.
— Estamos na casa, — disse a mesma voz, e Cyn a reconheceu como o chefe
da equipe de segurança que Rafael fazia parte. Ela ouviu gritos e depois —
Encontramos Juro, ele está... Sim, senhor, — mais gritos e então...
— Cynthia? — Era a voz de Juro, cheia de tensão e mais grave que nunca.
Cyn entrou na sala, enquanto Ken’ichi colocou as comunicações no alto
falante.
— O que houve? — Comandou ela. — Onde está Rafael?
— Estamos voltando, — disse ele, mas isso não respondia sua pergunta.
— Rafael está...
— Estaremos aí em três minutos, Cyn — disse Juro, gentilmente.
Cyn piscou surpresa, ficando assustada logo em seguida. Juro nunca a
chamara de Cyn. Todos chamavam, até Rafael. Mas Juro não.
Seus pulmões contraíram de horror. Ela se levantou desorientada. Sua mão
caindo sobre o ombro largo de Ken’ichi. — Ele não está morto. — Ela sussurrou,
suas palavras quase inaudíveis.
— Ele não está.
Ela olhou para cima, surpresa quando a voz grossa de Ken’ichi concordou
com ela.
— Você saberia, — disse ele. Seu olhar encontrando o dela, solenemente. —
Nós todos saberíamos.
Cyn engoliu em seco, depois assentiu. O movimento na tela chamou sua
atenção para o rastro de veículos em alta velocidade vindo em direção à casa,
espalhando cascalhos pelo caminho. Ela deu um salto e ficou de pé muito rápido.
Quase tropeçando na cadeira em sua urgência de sair para encontrá-los.
A porta da frente se abriu antes de ela alcançá-la. Juro permaneceu lá, seu
rosto rosa e cheio de lágrimas enquanto ele a encarava.
Cyn parou subitamente. — Juro?
— Eles o levaram. — Disse ele, simplesmente. — Eu lutei, mas... Ele
ordenou que eu parasse.
— Rafael?
Ele adentrou a casa, fechando a porta às suas costas. — Ele me fez
prometer, Cynthia. Ele sabia...
— Ele sabia que eles tentariam algo assim, — disse ela. Subitamente vazia.
— Ele sabia que eles poderiam levá-lo.
Juro assentiu. — Ele me deu ordens. Para caso acontecesse. Quando
acontecesse. — Ele cruzou a sala enquanto eles falavam, estando em pé em
próximo dela agora. Seus olhos negros eram como mananciais de tristeza, seu rosto
molhado de lágrimas sangrentas.
— Eles ordenaram que deixássemos a ilha, se não...
— Eu não vou a lugar algum sem Rafael, — disse ela rispidamente. — E é
melhor alguém me explicar que porra está acontecendo. Quem está com ele? E
como?
— Mathilde... — Juro fez uma pausa, tomando fôlego. Quando Cyn levantou
as mãos em desgosto. — Ela é uma das vampiras que estavam lá essa noite, —
explicou ele. — Haviam outros, mas ela parecia estar no comando. Ela governa um
território no sul da França. Ela é bastante velha, Cynthia. Muito mais velha que
Rafael, e muito perigosa.
— Ela é mais forte que ele? — Cyn perguntou confusa, — Como ela pôde...?
— Porque ela não estava sozinha. Ela tinha não só os dois que estão com
ela, mas muitos outros. Cem ou mais, todos eles trabalhando...
— Mais de cem? — Saber daquilo era como se uma bola de demolição
estivesse colidindo como seu peito, esmagando seu coração, suas esperanças.
— Cem ou mil, eles ainda podem ser mortos, — Robbie encorajou por trás
dela.
Cyn se virou para vê-lo em pé na soleira da porta.
— Estamos prontos para eles, querida. — Ele disse para ela, — Não se
esqueça disso.
Ela o encarou, lutando contra as lágrimas. Chorar não ajudaria em nada.
Ela cerrou os dentes até o seu maxilar doer, depois engoliu o choro e assentiu.
— Você não precisa matar todos eles, — Ken’ichi falou silenciosamente,
aparecendo perto de Robbie.
— O que você quer dizer? — perguntou Cyn.
— Meu irmão está certo, — concordou Juro. — Esses são mestres vampiros,
não lordes, mas, como todos os vampiros, eles estarão mais acostumados a
trabalharem juntos do que como uma força solitária. Alguns serão mais fortes que
outros, mas você só precisaria destruir um ou dois para perturbar a força que
existe neles e criar um ponto fraco para que Rafael consiga escapar.
Um sorriso repentino enrugou o rosto de Cyn. — Um ponto fraco, eu posso
fazer isso.
— Cynthia, — Juro falou lentamente — Eu lhe daria essa chance, mas...
precisamos sair. A vida de Rafael...
Cyn abriu a boca para tentar fazê-lo entender, para dizer mais uma vez que
ela não iria a lugar nenhum sem Rafael, mas algo no semblante de Juro a fez parar.
Seu olhar estava focado no dela, mas seus olhos se desviaram de repente para a
direita, na direção do quarto que ela dividia com Rafael.
Cyn franziu o cenho depois seus olhos se arregalaram quando ela entendeu
e gritou: — Vá se foder, Juro! E disparou para longe, seu punho esmurrando a
porta com força à medida que ela a abria.
— Cynthia, — Juro a chamou e a seguiu pelo corredor até a entrada do
quarto, fechando a porta atrás de si.
Cyn se virou, encarando interrogativamente Juro. Ele ergueu um dedo,
fazendo sinal para que ela esperasse, enquanto ele ouvia algo que ela não conseguia
escutar.
— Certo. — Ele disse de repente, — Ken’ichi está bloqueando os sinais de
eletrônicos por enquanto. Ele não pode deixar bloqueado por muito tempo sem
levantar suspeitas, então precisamos conversar rápido.
— Você acha que temos um espião na casa? Um dos guardas? — perguntou
Cyn, se lembrando da suspeita de Rafael de ter um espião em sua casa em Malibu.
— Nenhum dos nossos, não. Eu acredito que eles grampearam a casa antes
de nós chegarmos.
— Nós estamos seguros aqui?
— Eu suspeito de que eles não podem nos ouvir enquanto estamos na
câmara. Patterson não sabia da existência desses quartos e não teria a senha da
porta mesmo se soubesse. Mas eu prefiro ser cauteloso.
Cyn assentiu, — Ok, então o que aconteceu? — Perguntou ela, tentando se
manter calma.
— Foi uma armadilha...
— Certo, até aí eu sei, mas...
— E Rafael já esperava que fosse, — Juro continuou apesar da sua
interrupção. — Mas nós não esperávamos por isso, eu estava em pé bem do seu
lado. Eu vi tudo, mas ainda não entendo. Mathilde apertou a mão dele e... logo
depois, ele estava ajoelhado, como se não tivesse mais forças para ficar de pé. Ela
deve ter usado magia nele, ou algum tipo de truque mental, eu nunca vi... Rafael,
ele parecia desacreditado, sua expressão desolada, como uma criança que havia
descoberto pela primeira vez que seu pai não era infalível.
Cyn estava prestes a sacudi-l para que continuasse quando ele visivelmente
reuniu todas as suas forças e disse: — Ela sugou toda sua força física de alguma
maneira, drenou-o durante um momento crítico. Foi o suficiente para que eles
contivessem seu poder.
— Eles? Quem são eles?
— Todos aqueles mestres vampiros que ela tem do seu lado. Eu nunca senti
tantas mentes num só lugar, e todos focados em atingir o mesmo objetivo. Alguém
deve estar obrigando-os, Mathilde talvez, ou então os três juntos...
— Onde estão eles? — comandou Cyn, cortando sua balbuciação. Juro
geralmente não era tão taciturno quanto seu irmão gêmeo, mas ele também não
enrolava. Cyn sabia o que ela tinha sentido. Foi como estar em uma cratera gigante
no momento em que um meteoro colidiu. Quão pior deve ter sido para Juro,
estando tão perto de Rafael quando tudo aconteceu. — Eles estarão juntos? Quero
dizer, todos no mesmo lugar? O mesmo lugar onde Rafael...
— Não no mesmo lugar. Eles já abandonaram aquela casa. Foi por isso que
perdemos o sinal das comunicações, que eles me nocautearam. Eu não apaguei
por muito tempo, na hora que eu acordei eles já tinham sumido e levado Rafael
com eles.
— Merda, — Cyn praguejou, mas não persistiu. Não havia tempo para tais
indulgências. Eles teriam que sair agora, e teriam que sair rápido.
— Eles nos ordenaram a sair da ilha, deixar o Havaí juntos, ou eles vão
matá-lo.
Cyn encarou, — Matá-lo?
— Eles não vão fazer isso, — disse ele, já cansado, passando a mão na testa.
— A morte de Rafael seria sentida por todos os vampiros da ilha. Pretendentes
viriam de todos os lugares para lutar pelo território. Mathilde não quer isso, ou ela
teria matado Rafael logo de cara ao invés de capturá-lo. Ela pode ser forte, mas ela
não vai poder contar com os lordes aliados dela nisso. Pretendentes podem puxar
poder de seus apoiadores, mas eles ainda têm que lutar mano a mano numa
batalha. E haveria batalhas. Jared, ou eu, ou qualquer outro leal a Rafael seriamos
fortes o suficiente para conquistar o território, e nossos inimigos sabem disso.
— O que ela quer é valsar até Malibu e propor um desafio a Rafael
pessoalmente. E quando ele não responder ao seu desafio, porque ela garantiu que
ele não conseguisse, ela se declarará vencedora por omissão.
— Mas você não vai ficar parado e deixar isso acontecer.
Juro balançou a cabeça em negação. — Lucas também não, nem Duncan.
Mas o território de Rafael abriga milhares de vampiros. Mathilde pode planejar em
conquistar poder e então drenar os vampiros de Rafael até secarem de modo a
derrotar qualquer um que desafie seu controle.
— Mas o poder pode seguir o fluxo contrário, não pode? Os vampiros de
Rafael sugarem mais poder dele do que o ajudarem.
— Pode parecer isso, mas Rafael pode tomar deles na hora que ele quiser.
Ele não se aproveita disso, mas numa guerra ele com certeza faria. E eles dariam
por livre e espontânea vontade. Ele é muito querido.
A postura de Juro mudou, tomando aquele semblante vazio de quando ele
estava ouvindo algum outro vampiro em sua mente. Provavelmente seu irmão.
— Nosso tempo é curto, me desculpe Cynthia, mas eu preciso voltar para
Malibu. Mesmo se Mathilde e seu primeiro não exigirem isso, mas Rafael me
ordenou antes mesmo de sairmos de Los Angeles. Eles atacarão em breve,
acreditando que estamos fracos e despreparados. Nós não estamos, mas Jared
precisará do meu apoio para enfrentá-los. Mathilde sozinha ele consegue dar conta,
mas se eles unirem forças novamente...
— Eu entendo, vocês e os outros...
— Você deve vir comigo, — ele disse gentilmente, — eles querem todos nós...
— Juro, — ela disse categoricamente, — Eu não deixarei essa ilha sem ele.
Eles não sabem que eu estou aqui. Eles não sabem sobre Robbie, ou, neste caso,
Elke também. Nós ficaremos e nós vamos libertar Rafael. E depois mataremos cada
um deles.
A boca de juro se contraiu em uma linha fina enquanto ele olhava para
baixo para encará-la. — Meu senhor escolheu bem, Cynthia. Você é sua parceira.
Mas apesar toda a sua coragem, você precisará de mais que Elke. Ela é uma
lutadora feroz, e bastante fiel a você e Rafael, mas do jeito que os vampiros estão,
o poder dela não é suficiente.
— Eu não vou lutar essa batalha de acordo com os termos deles. Não sou
páreo para eles no que se refere ao seu tipo de poder, então farei do meu jeito. Será
inesperado, e eu vou usar isso contra eles.
Juro assentiu, — Uma estratégia inteligente, mas no final você pode
precisar de poder. Nosso tipo de poder.
Cyn deu de ombros, — Você mesmo disse, você precisa voltar para casa.
Além do mais, eles estarão de olho em você, em especial, lhe observando sair da
ilha.
— Mas não meu irmão.
Cyn franziu o cenho. — O que você quer dizer?
— Ken’ichi sempre preferiu dar um passo atrás, mas sua força é igual a
minha.
Cyn arregalou os olhos. Juro e seu irmão gêmeo são iguais em aparência,
mas ela aprendeu ao longo desses anos que aparência pouco importava quando o
assunto era vampiros. Ken’ichi sempre ficava atrás, na sombra de seu irmão, que
Cyn assumiu que ele fosse menos poderoso. Mas talvez sua ambição fosse menor,
ou ele gostasse mais da vida nas sombras.
— Mas eles não vão se certificar de que vocês dois irão embora? — ela
perguntou.
— Um pouco de desordem da minha parte e uma cutucada na direção certa
e o espião de Mathilde verá o que ele quer ver. Afinal, somos idênticos.
Cyn assentiu. — Feito. Nós escaparemos por trás, enquanto vocês chamam
atenção para a saída de vocês pela frente. — Ela começou a sair, detalhes
tempestuando a sua cabeça enquanto ela pensava em tudo que precisava fazer nos
próximos dez minutos.
— Cynthia, — ele disse silenciosamente, chamando a atenção dela. — Traga
Rafael de volta para casa. Manteremos o território dele, mas traga ele para casa.
— Pode contar com isso, — disse Cyn. Algumas pessoas o teriam abraçado
nesse momento, mas Cyn não é do tipo que abraça, e a única pessoa que ela já viu
Juro abraçar foi Luci. Então, ela olhou para ele com o que ela esperava que fosse
confiança e determinação e assentiu.
Juro fez o mesmo. Depois, sem falar nenhuma palavra, deu meia volta e
saiu do quarto, fechando a porta atrás dele.
Cyn imediatamente puxou o celular e discou para Robbie. — Juro acha que
fomos grampeados, — ela disse quando ele respondeu. Ela não precisava falar mais
nada, o ex–ranger do exército sabia mais do que ela sobre operações secretas. —
Elke está do nosso lado — ela disse a ele. — Ken’ichi também, sairemos por trás
em cinco minutos.
Capítulo 09
CYN IRROMPEU ATRAVÉS do quarto que ela tinha compartilhado com
Raphael, seu cérebro indo a mil milhas por minuto, tentando lembrar tudo que ela
precisava, todos os planos que eles tinham feito... tudo o que a impediria de pensar
sobre Raphael e o que ele estava passando, o que eles deviam estar fazendo para
ele. Ela tinha visto o tipo de dor que ele poderia infligir aos outros. Ela queria
acreditar que ela saberia se ele estivesse com dor, se aquela vadia da Mathilde o
estava torturando, mas ela não podia dizer isso com certeza. Não com a conexão
entre eles tão enfraquecida como estava agora. Não com a tendência de Raphael
em protegê-la.
Ela colocou alguns artigos de higiene em uma bolsa de lona com zíper,
sibilando irritada quando ela cortou sua mão nas tesouras já ali dentro. Parecia
estúpido estar preocupada sobre seu xampu e sabonete favorito naquele momento,
mas ela sabia por experiência que tais itens seriam importantes à medida que os
dias se arrastassem. Não havia como dizer quanto tempo demoraria para descobrir
uma forma de libertá-lo uma vez que eles o encontrassem. Ela e sua equipe seriam
quatro contra quem sabe quantos? Não só os cem ou mais mestres vampiros que
estavam com Raphael esforçando-se para mantê-lo prisioneiro, mas também
qualquer segurança que Mathilde trouxe junto com eles. E então havia a logística
a considerar. Mover Raphael a luz do dia seria problemático. Não faria bem libertá-
lo somente para deixar a luz do sol feri-lo ou até mesmo matá-lo, em vez disso. E
se eles decidissem organizar seu resgate à noite? E se ele tivesse sido torturado, e
se ele estivesse ferido ou faminto, e incapaz de mover-se sob seu próprio poder?
Ela tinha muitas perguntas, e nenhuma delas teria respostas até eles
encontrarem Raphael. Inferno, e se ele já havia sido movido da casa onde a reunião
tinha sido realizada. A reunião que não era uma reunião em tudo, mas uma
emboscada. As chances ainda eram boas de que ele estivesse em Kauai por
enquanto. Seria arriscado tentar movê-lo hoje à noite. Juro tinha dito a Cyn que
Mathilde teria espiões no aeroporto, mas a vampira vadia sabia, ou pelo menos
suspeitava, que Raphael tinha espiões lá também. E sobre o poderoso círculo de
mestres vampiros, a centena ou mais de vampiros mestres? Eles estariam aqui em
Kauai? Eles teriam que ser movidos, também. E todos antes do nascer do sol. Já
poderiam as centenas estarem em outra ilha? Era possível que Mathilde conectasse
as suas mentes em uma única unidade a tal distância? Ela teria que perguntar a
Juro antes dele partir.
Cyn queria ignorar o sangue escorrendo de sua mão. Era um corte
superficial e coagularia em breve. Mas ali era os trópicos. Uma pequena ferida
poderia se tornar uma infecção grave. Então ela pegou um daqueles band-aids fora
do saco. E o colocou nela, em seguida fechou o saco e atirou-o junto com as bolsas
já embaladas na sua cama – a cama deles. Ela tinha deixado a porta aberta e
quando ela ouviu a voz profunda de Juro, ela desceu o corredor até a cozinha onde
ele estava dando ordens da partida iminente a todos. Em pé na entrada da porta
da câmara privada, ela chamou sua atenção com um movimento de cabeça, então
recuou para seu quarto. O quarto dela e de Raphael, ela se corrigiu mentalmente.
— Eles o moverão para fora da ilha, não irão? — Ela perguntou.
Juro virou-se para fechar a porta e deu a ela um aceno relutante. — Não
hoje à noite, mas mais cedo ou mais tarde.
— Ele poderia acabar em qualquer lugar, — ela sussurrou, sentindo o
desespero que ameaçava afogá-la.
— Não qualquer lugar, Cynthia, — Juro replicou, colocando uma mão em
seu braço.
Ela sugou uma profunda respiração. Ela tinha que focar-se. — Você está
certo. Uma centena de vampiros não pode apenas se esconder em qualquer lugar.
E eles não podem se mover tão facilmente, também. Eles também têm que comer,
não tem? Talvez até mesmo mais do que o usual com a energia que eles estão
gastando.
— Mathilde terá planejado isso. Isso não foi algo que ela inventou de uma
hora para outra.
Ela quase o socou em seguida. Como se ela precisasse de algo mais para
ficar deprimida. Mas ele estava certo. Ela sabia que ele estava certo. Maldito seja
ele.
— Você está certo, — ela disse severamente. — Mas ainda, uma centena de
vampiros ou mais. Você não move assim tantos vampiros em um avião Cessna de
dois lugares, e mesmo os vampiros tem arquivos de planos de voo.
Juro assentiu em concordância. — Nós podemos ajudar com isso. Uma vez
que nós estivermos de volta em L. A. Os contatos de Raphael são extensos.
— Certo. Nós precisamos de uma maneira de permanecer em contato.
Telefones descartáveis seria o melhor.
Juro resmungou desdenhosamente. — Eu não sou o chefe de segurança
por nada. Eu dei a Ken’Ichi telefones descartáveis com uma longa lista de números
com que você pode nos contatar. Seus telefones estão numerados de um a vinte
cinco. Os nossos são do vinte seis até cinquenta. Nós usaremos um telefone novo
a cada dia. Se nós precisarmos de mais do que isso...
— Não precisaremos, — Cyn insistiu. — Nós não podemos.
Juro olhou como se ele quisesse discordar, mas ao invés disso assentiu
sombriamente. — Você checará diariamente.
— Sim, chefe.
— Eu estou falando sério, Cynthia.
Cyn encontrou seu solene olhar com o dela próprio. — Eu, também.
Grandão. Nós ficaremos em contato. Mas por agora, nós desapareceremos.
— Apenas lembre-se. Eu sei que você gosta de trabalhar sozinha, mas você
não está sozinha nisso.
Cyn olhou para ele e sorriu. — Eu sei. Eu tenho uma equipe, mas mais do
que isso... eu tenho Raphael.
Juro deu-lhe um meio sorriso, então abriu a porta e desapareceu corredor
abaixo. Cyn voltou para cama e colocou seu coldre no ombro, em seguida verificou
a carga de sua Glock–17 favorita – nada além de uma da assassina de vampiros ao
redor para essa missão – apertando a 9mm no lugar, em seguida ela colocou uma
arma idêntica no cós da calça atrás dela. A jaqueta preta de algodão que ela vestiu
estava indo para ser muito quente, mas ela não podia andar ao redor em quase
nada além de uma camiseta e os arreios com suas armas em exibição. Jeans pretos
estavam enfiados na parte de cima de suas botas, ela já estava tão pronta quanto
poderia estar para uma caminhada através da selva. Ela e Robbie tinham um carro
secreto nas proximidades – tamanho médio, quatro portas importado, o típico
alugado por turista.
Ela fechou sua mochila e deslizou-a sobre seus ombros, e estava virando
para a porta quando ela viu a jaqueta de couro que Raphael tinha jogado sobre a
parte de trás da cadeira quando eles tinham chegado. Ele tinha comentado o calor
sufocante, e eles tinham rido, porque geralmente era o frio que o irritava. Cyn tinha
provocado sobre ele ser impossível de agradar. Lágrimas encheram seus olhos
agora enquanto ela lembrava de como ele tinha trancado a porta e mostrado a ela
apenas o quão facilmente ele poderia ser agradado, como eles agradariam um ao
outro até que eles estivessem ambos estivessem literalmente drenados. As lágrimas
derramaram, molhando suas bochechas, quando ela admitiu para si mesma, pelo
menos, que ela estava genuinamente com medo pela primeira vez em sua vida. Ela
tinha lutado batalhas antes. Inferno, ela tinha sobrevivido a um tiroteio com a
máfia russa e encarado aquele idiota do Jabril, que alegremente a teria estuprado
até a morte, e então lhe dado seu sangue enquanto ela estivesse morrendo.
Mas ela nunca tinha amado ninguém da forma que ela amava Raphael. Se
ela o perdesse...
Ela engoliu em seco, esfregando as lágrimas fora de seu rosto. Ela não podia
pensar dessa forma. Ela o traria de volta. Raphael estava contando com ela. Ele
tinha praticamente a avisado de cada coisa que poderia acontecer. Agarrando sua
jaqueta de couro, ela empurrou-a dentro da bolsa, em seguida correu ao redor para
colocar uma muda de roupa para ele. Uma vez que ele fosse resgatado, ele
precisaria dela. Ela fechou o zíper da bolsa com todas as coisas dentro e colocou-
a firmemente sobre o ombro. Um olhar final ao redor do quarto assegurou-lhe que
não havia nada nesse quarto que eles poderiam precisar. Ela tinha o Ipad de
Raphael na bolsa junto com o seu laptop. Todo o resto era substituível. Com um
aceno silencioso de encorajamento para si mesma, ela deixou o resto para trás e
partiu para resgatar o amor da sua vida.

****
Raphael manteve seus olhos fechados atrás da venda, manteve seus
músculos relaxados sob o aperto das poderosas algemas encantadas com que eles
tinham o amarrado com magia. Ele era uma pessoa prática que acreditava em sua
própria força sobre todo o resto. Tudo que ele tinha conseguido, tudo que ele tinha
construído, era o produto de seu próprio poder e inteligência, seu trabalho duro e
determinação. Mas não poderia ser um vampiro sem acreditar em mágica. Ciência
poderia possivelmente explicar a simbiose vampira, com seu maciço poder de cura,
mas não poderia explicar a capacidade de Raphael de parar o coração de um
vampiro com o pensamento a milhas de distância. Ou quebrar cada osso do corpo
do inimigo com um simples desejo. Havia mágica no mundo. Tinha simplesmente
desaparecido da consciência humana até somente parecer ser inexistente.
Mas Mathilda era muito mais velha do que ele, centenas de anos mais velha.
O suficiente para que ela pudesse estar ao redor quando a mágica estava
diminuindo, mas ainda ativa no mundo. Quando tal dispositivo como as algemas
que atualmente estava minando sua força ainda se espalhava pela terra, enterrado
nas cavernas em ruínas.
Ele engoliu um suspiro de partes iguais de resignação por sua situação e
desgosto pelo que ele não tinha antecipado. Sob outras circunstâncias, ele poderia
ter medo por sua vida. Mas Mathilde e os outros não queriam ele morto, pelo menos
não ainda. Não havia dúvidas em sua mente que eles planejavam matá-lo antes do
fim. Mas não até que eles tivessem conquistado a América do Norte. Eles pareciam
bastante confiantes que teriam sucesso nesse fim. Eles não tinham nem mesmo se
preocupado em resguardar suas conversas ao redor dele. Pelo contrário, na
verdade. Eles tinham sentido prazer em deixá-lo saber apenas o quão facilmente o
continente iria cair para eles.
Sua confiança estava gravemente mal colocada, mas ele não seria o único
a lhes dizer isso. Na verdade, ele não estava indo lhes dizer nada. Eles tentaram
enganá-lo no começo, o provocando, inventando mentiras sobre Juro e os outros
enquanto eles evacuavam voltando para a Califórnia, sobre o estado das coisas
entre seu pessoal em Malibu. Eles pensaram que ele era cego? Pensaram que só
porque eles amarraram seu corpo e abafaram o seu poder, ele tinha perdido aquela
conexão básica entre o Senhor dos vampiros e seu pessoal?
Talvez um deles devia ter testado suas algemas mágicas antes de usá-las
nele. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo em seu território e com seu
pessoal. Ele podia não se comunicar com eles como normalmente desejaria, mas
ele ainda sabia quais eram os corações que estava batendo e quais não estavam,
quem permanecia ligado a ele e quem não.
Um dos vampiros menores de Mathilde – de força física, mas não um poder
significativo – colocou a mão sob seu cotovelo e empurrou-o de pé. Levou um
esforço determinado, mas Raphael se manteve por si mesmo mole e sem resistência
quando ele foi empurrado para fora da casa dentro do calor úmido na noite
Havaiana, e eventualmente dentro do veículo. Eles o mantiveram vendado, mas ele
ainda tinha ouvidos, ainda tinha o sentido do olfato. Ele sabia que havia múltiplos
veículos, que havia mais pessoas do que ele e o guarda que estavam saindo. Portas
bateram, passos arrastados, e vampiros chamando um ao outro. Este era o
segundo movimento da noite. Eles tinham evacuado a casa onde ele tinha
encontrado Mathilde poucos minutos após sua captura, e agora eles estavam se
movendo de novo, provavelmente antecipando a possibilidade da tentativa de
resgate de Juro e os outros.
Ele poderia ter lhes dito que isso não ia acontecer, que eles estavam
perdendo tempo desde que Juro tinha ordens estritas para retornar para a
Califórnia e se juntar a Jared na defesa de seu território até que Raphael pudesse
fazer sua fuga e proteger a si mesmo. Mas então, ele não estava inclinado a tornar
suas vidas mais fácies. Os deixaria correr e perder tempo e os esforços com sua
centena de vampiros adicionais todos focados hora após hora, noite após noite,
apenas o mantendo no lugar.
Ele tentou alcançar Cyn com sua mente, mas somente pode deslizar através
da névoa para chegar a ela. Ele podia ouvi--la, não sua voz, mas seus batimentos
cardíacos, sua existência no mundo. Ela estaria procurando por ele. Juro e os
outros estariam de volta a Califórnia, mas ele sabia que Cyn ficaria. Era frustrante
não ser capaz de tocá-la, não segurá-la da forma que ele tinha feito no passado
quando eles tinham estado separados. Mais do que qualquer um dos outros, ele
precisava de sua Cyn. Sua ausência era um aperto doloroso em seu peito, cavando
mais fundo com cada hora.
Ele se estabeleceu no banco traseiro de couro da limusine onde eles o
tinham colocado, lembrando a si mesmo para ser paciente. Esperar pelo momento
certo. Seus captores logo ficariam entediados e complacentes em sua tarefa. E a
cada hora um da centena de diligentes enfraqueceria. E os poderes de Raphael
cresceriam.
E além disso, sua Cyn estava vindo para ele. Querida Mathilde estava
prestes a aprender sobre o quão letal uma mulher humana poderia ser.

****

Cyn caminhava através da selva molhada, suas roupas ensopadas em meio


a sua pele. Pelo menos metade da umidade que pesava sobre ela tinha que ser
suor. Era tão fodidamente quente e abafado lá fora. De quem foi a ideia de manter
essa pequena confabulação no Havaí de qualquer modo? Eles não poderiam ter
escolhido algum lugar mais frio? Que tal sobre o Alasca? Era legal nessa época do
ano. Bem, exceto pelos mosquitos. E as dezesseis horas de luz do dia. Não
exatamente o local vampiro ideal de férias.
A sua frente, Robbie amaldiçoava sucintamente quando repentinamente
começou a chover de novo. Embora, realmente, que mal poderia fazer um pouco
mais de água? Ele estava liderando seu bando alegre, porque ele e Cyn eram os
únicos que sabiam onde o carro estava escondido, e ele tinha recusado a deixar
Cyn ir primeiro. Elke estava diretamente atrás de Cyn, com Ken’Ichi assumindo a
retaguarda. Eles tinham saído da casa por trás, enquanto Juro e os outros partiam
muito ruidosamente pela frente. E agora seus três guardas costas a cercavam,
nunca deixando-a tomar a liderança, nunca deixando ela cuidar da retaguarda,
como se ela precisasse de mais proteção do que qualquer um deles. Chateava Cyn
ser tratada como o elo fraco, ou, mesmo pior, como alguém que merecia viver mais
do que os outros. Mas ela não protestaria, porque eles estavam apenas fazendo seu
trabalho, e eles tinham boas intenções. Além disso, quando a situação ficasse
crítica não importara. Todos eles lutariam lado a lado.
Ela segurou uma grande folha verde antes dela bater em seu rosto.
Samambaia? Palmeira? Ela ainda não tinha ideia do que era e ainda dão se
importava. Um olhar para baixo no aplicativo de navegação em seu telefone celular
disse a ela que eles estavam quase lá. Havia uma estrada de chão onde ela e Robbie
tinham estacionado seu veículo de fuga. Ela somente esperava que o carro alugado
estivesse à altura da tarefa. Talvez eles deveriam ter conseguido...
Um lampejo de calor tomou conta dela, trazendo um cheiro, um toque.
Raphael. Ela tropeçou quase caindo, antes de agarrar um galho grosso de alguma
coisa e se firmar, incapaz de mover-se. Ela ouviu sua voz chamar seu nome, mas
estava muito longe, como um sussurro em uma catedral, ecoando pelas paredes,
impossível de prender.
— Cyn? — A voz de Robbie trouxe ela de volta para o presente, de volta a
selva molhada e sua fuga desesperada. — Você está bem, querida?
Cyn fechou seus olhos, se afastando de Robbie e todo o resto, enquanto ela
alcançava Raphael, lutando para manter o fio frágil que era sua consciência. Ela
queria gritar seu nome, mas forçou-se a ficar imóvel e quieta ao invés disso. Sua
raiva e frustração não fariam qualquer bem a ela. Focando tão duro quanto ela
podia, ela enviou-lhe seu amor e disse a ele que ela estava indo. E que era melhor
estar esperando quando ela chegasse lá.
— Cyn? — Robbie disse novamente, sua voz cuidadosa e cheia com
preocupação.
Sua garganta estava espessa com emoção, mas ela conseguiu sussurrar: —
Eu estou bem.
Robbie a estudou por um minuto. — Raphael?
Cyn sorriu pesarosa. Ela esquecia, às vezes, que Robbie era companheiro
de uma vampira, que ele tinha estado com Irina a muito mais tempo do que ela
tinha estado com Raphael, e provavelmente entendia o laço de companheirismo
melhor do que ela fazia.
— Yep. — Ela aceitou a mão que ele ofereceu, segurando-a por um momento
até que sua cabeça parasse de girar. — Ele ainda está... muito longe, — ela disse
lutando para descrever o que sentia. — Mas a conexão já está mais forte do que
estava.
— Lorde Raphael é muito mais poderoso do que eu acho que Mathilde
entende — Ken’Ichi disse calmamente, chamando sua atenção para p fato de que
ambos, ele e Elke, estavam agachados enquanto eles verificavam a selva ao redor
deles.
— Ela está julgando-o pelo que ele era duzentos anos atrás, — Cyn disse
com súbita compreensão.
Ken’Ichi assentiu. — E do pouco que ela aprendeu do encontro com Violet.
Mas ela não esperava o laço de companheiro que você compartilha com ele, e ela
estará pressionando duro para suprimir tal significativa conexão.
— Bom, — Cyn exclamou. — Eu estou ansiosa para mostrar a ela apenas o
que nós podemos fazer juntos. — Ela se afastou de Robbie, acariciando seu braço
para tranquilizá-lo. — Eu estou bem. Nós precisamos continuar.
Ele estudou ela cuidadosamente na luz da lua, em seguida assentiu. —
Tudo bem. Eu tomarei a liderança.
— É claro que você irá, — ela murmurou com bom humor e mal
conseguindo se desviar por baixo do ramo que ele intencionalmente soltou em
retaliação.
Eles fizeram um bom tempo depois disso, trabalhando duro na última milha
ou mais até o local onde ela e Robbie tinham escondido o carro alugado. Embora
não antes que Cyn duvidasse de sua navegação mais do que da primeira vez.
Parecia um caminho direto a luz do dia, e muito mais perto, também. Mas então,
isso era porquê ela tinha programado a maldita localização no GPS de seu telefone
em primeiro lugar. Um pedaço de selva parecia apenas como todo o resto para ela.
Robbie tirou as folhas de palmeira e outros vegetais verdes que eles tinham
empilhado em cima do veículo de fuga. Então circularam o pequeno carro como se
esperassem encontrar armadilhas.
— Você não acha que eles realmente colocaram bombas nisso, acha? — Ela
perguntou duvidosa a ele. Ela imaginava que se alguém tinha descoberto o carro
de aluguel e quisesse ter certeza que ninguém poderia usá-lo, eles apenas
cortariam seus pneus. Isso é o que ela teria feito. Mas não havia razão para seus
inimigos estarem até mesmo procurando por isso.
— Na verdade não, — Robbie concordava. — Eu estou mais preocupado
com atolar do que bombas.
Cyn observou o chão molhado, pensando que eles nunca sairiam daqui se
o carro ficasse atolado na lama. Isso não era mais uma estrada. Se eles estivessem
nas montanhas em Malibu, ela teria chamado de estrada de fogo – uma pista
funcional para veículos utilitários, mas que não era usada para viagens regulares.
Além disso, o carro que eles tinham alugado era do tamanho médio de um sedan e
não exatamente equipado por off-road trekking3. Por outro lado, isso era tão
insignificante, com sua força de vampiro, Ken’Ichi provavelmente poderia levantá-
lo e colocá-lo de volta na estrada se ele ficasse preso.
Aparentemente satisfeito com o que ele encontrou, Robbie abriu as
maçanetas e entrou atrás do volante, em seguida manobrou o veículo para fora do
caminho estreito e esperou pelo resto deles entrarem. E entrar foi o que eles
fizeram. Geralmente falando, Cyn odiava quando os caras sentavam na frente, com
as mulheres relegadas aos bancos traseiros como fossem cidadãs de segunda
classe. Ela tinha um metro e oitenta e dois de altura e suas pernas eram mais
longas do que a maioria dos homens. Se alguém precisava de um espaço na frente
extra para as pernas era geralmente ela. Nesse caso, entretanto, Ken’Ichi e Robbie
não eram somente mais altos, mas cada um deles pesava uma centena de quilos a
mais. O único lugar que eles se encaixavam no veículo era na frente, e mesmo
assim, eles tinham que empurrar os assentos para trás quase em seus limites.
Elke, por outro lado, poderia chutar traseiros tão bem quando os dois homens,
mas só com um metro e cinquenta e dois de altura, por cinco centímetros que ela
não teria problemas com o arranjo de assentos. Ela sorriu quando Cyn teve que
mudar para o lado para se encaixar no estúpido banco traseiro.
— Nós parecemos um carro de palhaços, — Cyn murmurou. — Eu devia ter
conseguido algo maior.
— Nós dirigiremos o outro amanhã, — Robbie disse facilmente. — Esse é
bom o bastante para hoje à noite, e é mais fácil para esconder.
— Fácil para você dizer, — ela adicionou sob sua respiração, ganhando
outro sorriso de Elke que, sendo uma vampira ouviu o comentário.
— Quão longe é esse lugar para o qual nós estamos indo? — Elke
perguntou, tentando parecer como se ela não estivesse desfrutando da situação de
Cyn.
— Pouco mais de três milhas, — Robbie assegurou. Ele estava movendo-se
em um ritmo constante pela estrada estreita e já estava abrandando para virar
entrando na estrada principal por trás da propriedade onde tinham passado as
últimas duas noites. Apenas pensar sobre suas últimas horas com Raphael fazia o
coração de Cyn apertar dolorosamente.

3
Off road significa fora da estrada, e é um termo inglês utilizado para designar atividades esportivas,
praticadas em locais que não possuem estradas pavimentadas, calçadas ou qualquer estrutura urbana, ou
caminho de fácil acesso.
— A casa é maior, — ela disse, desesperada para pensar sobre algo mais.
— Mas Robbie e eu arrumamos todos os quartos, cobrimos as janelas e as coisas.
E desde que somos apenas nós, deve ser grande o bastante.
Elke deu um encolher de ombros exagerado. — Hei, eu não preciso muito
espaço.
— Anã, — Cyn murmurou.
— Esquisita, — Elke murmurou de volta, Cyn sentiu sua boca curvar-se em
um meio sorriso e imediatamente se sentiu culpada. Ela não devia estar sorrindo,
não devia estar gostando de nada disso. Eles não estavam brincando de vadiar,
esquivando-se de alguma reunião entediante. Eles estavam correndo para salvar a
vida de Raphael.
Quando eles fizeram a retorno final na rua onde a casa segura ficava, Robbie
bateu no controle remoto da porta da garagem. Sendo aberta pelo tempo que eles
atingiram a entrada da garagem, e ele entrou direto na garagem aberta, fechando
a porta atrás deles logo que o carro estava completamente dentro.
— Essa casa pertence à família de Lucia? — Ken’ichi perguntou.
Cyn se assustou com o tom familiar de sua voz quando se referiu a Luci,
então percebeu que ela não devia ter estado surpresa. Juro era seu gêmeo, depois
de tudo. Ele provavelmente soube antes de Cyn que Luci e Juro iriam morar juntos.
— Sim, — ela disse, respondendo sua pergunta quando todos eles saíram
do carro muito pequeno. — Mas pelo lado de sua mãe e um par de ramos distantes,
então mesmo se os vampiros europeus souberam sobre a conexão de Luci conosco,
o que estará deturpado, eles não devem ser capazes de identificar esse lugar.
Assumindo que eles procurem em tudo. Com alguma sorte, eles caíram na trapaça
de Juro e pensarão que nós todos voamos de volta para casa.
Ken’ichi assentiu silenciosamente, então virou-se para Robbie e disse: —
Nós precisamos desligar as luzes.
Robbie olhou de relance para a luz da porta da garagem aberta e disse: —
Eu cuidarei disso hoje.
Cyn foi em frente, puxando a chave que ela manteve de sua última visita,
abrindo a porta entre a garagem e a casa. Ela entrou na cozinha escura,
imediatamente fechando as persianas.
— Elke, você devia verificar os arranjos para dormir e ter certeza que eles
são seguros para vocês, caras. A luz do sol não está muito longe. Robbie e eu
combinaremos um turno de vigia, dormiremos em turnos através do dia para que
um de nós esteja sempre acordado. Eu acho que nós estamos seguros, mas é
melhor ser cuidadoso.
Ela circulou ao redor do resto do piso térreo, verificando persianas e
cortinas, e descartando as sombras. Estava escuro lá fora por enquanto, e de
manhã, Elke e Ken’ichi estariam no andar de cima onde todas as janelas estavam
cobertas, mas ela estava preocupada sobre mais do que apenas com o nascer do
sol. Ela não queria ninguém olhasse e percebesse que a casa estava ocupada, e em
seguida ter curiosos sobre quem estava visitando. Melhor que eles simplesmente
assumissem que estava alugada para férias e deixassem por isso.
— Tudo está bem aqui, — Elke disse, descendo as escadas. — Nós devemos
discutir quais nossos próximos passos.
Cyn assentiu. — Concordo. Ela olhou ao redor da grande sala de estar com
mobília confortável. — Vamos sentar aqui. Provavelmente é melhor para os caras.
— Sim, nenhum vime, — Elke comentou com um sorriso afetado.
Cyn deu um sorriso fraco. — Quanto tempo antes do nascer do sol? — Ela
perguntou, olhando de relance para as janelas, procurando por qualquer sinal de
luz do dia ao redor das extremidades nas persianas.
— Cerca de uma hora. Tempo o suficiente para decidir sobre um plano para
mais tarde esta noite.
Cyn esperou até todo mundo estar acomodado, em seguida respirou fundo.
— Eu estive pensando sobre isso, e eu estou muito certa que eles moverão Raphael
assim que eles puderem. — Ela não mencionou seu contado de mais cedo com ele,
não sabia se era um negócio único, ou se ele a alcançaria de novo com mais
informações. Agora, a única coisa que ela sabia com certeza era que Raphael estava
vivo, mas todos eles já sabiam disso, especialmente Elke e Ken’ichi. Se Raphael
morresse, cada vampiro do território ocidental – e isso era milhares de vampiros,
incluindo os dois nessa sala – saberia instantaneamente. Inferno, a morte de
Raphael provavelmente seria sentida em cada vampiro da América do Norte, sem
importar o quão forte ou fraco eles eram. Ele era tão poderoso.
Mas então, se Raphael morresse, não haveria buraco profundo o bastante
para Mathilde se esconder. Lucas a caçaria e a estacaria no coração, e Cyn estava
certa que seguraria o martelo.
— Mathilde e sua gangue devia ter outro esconderijo montado, fosse nessa
ilha ou em outra, — Cyn disse, forçando-se a parar de pensar sobre o que
aconteceria se Raphael morresse, e se concentraria em mantê-lo vivo. — Tem que
ser algum lugar não associado com Rhys Patterson, porque isso seria muito fácil
para os aliados de Raphael o localizarem. Juro disse que havia uma centena de
vampiros ou mais trabalhando juntos para segurar Raphael. Vamos chamar de
uma centena só por motivo de simplicidade. Eu não sei exatamente como isso
funciona, mas eu imagino que é algo como um círculo de poder com alguém,
presumivelmente Mathilde, prendendo todos eles juntos. Eu estou certa?
— Eu não sei se algo assim já foi feito, — Ken’ichi disse pensativamente. —
Mathilde claramente os uniu, mas Juro acredita, e eu concordo, que seu plano é
viajar para Malibu onde ela lançará um desafio pessoal para Raphael, sabendo que
ele não poderá responder. Isso significa que ela não pode ser o ponto focal do
círculo de poder. Mas provavelmente, ela tem vários dos mais poderosos mestres
vampiros a sua disposição e eles são os únicos ligando os outros juntos.
Cyn franziu seus lábios ao pensar. — Todos eles teriam que estar em um
único lugar?
Ken’ichi e Elke trocaram um olhar pensativo antes que Elke falasse. — Nós
achamos que sim. Tem que ter um inferno de muita energia apenas para manter
esse círculo coeso. Por que desperdiçar energia tentando fazer isso à distância? —
Ela olhou para Ken’ichi por confirmação e ele assentiu sua concordância.
— Ok. Vamos dizer que eu esteja certa sobre eles moverem Raphael, — Cyn
continuou. — É possível que uma centena ou mais de vampiros já esteja na nova
localização? Mesmo que seja em outra ilha.
Elke olhou pra Ken’ichi para responder à pergunta de Cyn. Juro tinha dito
que os poderes de Ken’ichi eram iguais aos dele. A reação de Elke dizia a Cyn que
seu maior poder significava que ele também entendia as perguntas sobre os
poderes vampíricos melhor do que Elke fazia.
Ken’ichi pareceu refletir sobre a pergunta, então falou lentamente. — Eu
nunca encontrei Mathilde ou seus aliados, e não tenho nenhum conhecimento de
suas forças individuais. Mas o fato de que eles precisaram de subterfúgios para
subjugar Raphael é muito revelador. Os três poderiam trabalhar em conjunto para
manter a integridade de seu grupo à distância, mas apenas a curto prazo, um dia
ou dois no máximo.
Cyn considerou isso por um momento. — As probabilidades são, então, que
eles vão estar movendo Raphael para onde ela está escondendo sua centena de
vampiros. Deve ter levado meses apenas para conseguir trazer tantos aqui em
primeiro lugar. Realocá-los rapidamente seria uma grande dor de cabeça. E
francamente, apesar dela ser uma vadia, eu não acho que Mathilde seja estúpida.
Eu acho que o círculo está em algum lugar que ela considera mais seguro e que
eles moverão Raphael para lá mais cedo ou mais tarde.
— Faz sentido, — Robbie concordou. — Eles exigiram que Juro e os outros
saíssem, mas eles não acreditam que nós enviaremos uma equipe para investigar.
E a primeira coisa que qualquer equipe assim faria seria destruir qualquer
propriedade de Rhys Patterson.
— Nosso primeiro trabalho então é descobrir onde eles vão. Porque
enquanto eu gostaria de acreditar que nós os pegaremos antes que saiam de Kauai,
eu não acho que iremos. Eu imagino que eles sairão dessa ilha logo que o sol se
pôr hoje à noite, se eles já não fizeram. Então por onde nós começamos?
— Normalmente, eu diria aluguéis a curto prazo, — Robbie comentou. —
Mas esse é o Havaí. Aluguéis de férias são tão comuns quanto palmeiras.
Eles ficaram em silêncio por um momento, então Elke tamborilou seus
dedos e disse: — Comida.
Cyn franziu a testa por um momento antes do entendimento clicar. —
Sangue. Você está certa. São muito vampiros que precisam ser alimentados.
Mesmo se Mathilde estivesse inclinada a trazer sangue da Europa, seria quase
impossível manter o bastante em mãos para alimentá-los por mais do que um dia
ou dois. Isso são muitos voos, que são caros e fáceis de rastrear. Meu palpite é que
ela quer deixá-los se alimentarem nas ruas ou ela está roubando bancos de sangue.
Então é onde nós começaremos. Nós verificamos os registros policiais, registros
oficiais, qualquer coisa que nós podermos acessar, procurando por ondas de crimes
incomuns que indiquem a presença de vampiros.
— Isso é uma grande pesquisa, Cyn, — Robbie comentou.
— Eu sei, mas nós podemos pelo menos eliminar Kauai. Eu realmente não
acho que ela ficará aqui
— Ainda é um monte de chão para cobrir. As ilhas maiores têm muitas
jurisdições policiais diferentes, e nós não sabemos se eles são centralizados, ou
mesmo computadorizados.
— Mas os vampiros terão que ficar perto de uma grande cidade, não terão?
Se todos aqueles vampiros começarem a se alimentar em algum lugar com uma
pequena população, isso seria notado. Portanto, nós ficaremos com as cidades
centrais maiores por agora. Elas são mais propensas a serem computadorizadas
de qualquer maneira. Você também tem que imaginar que alguns vampiros podem
ficar excitados e arrancar uma garganta ou drenar alguém. Alguma coisa como isso
é mais plausível que apareça e provavelmente terminará na internet.
— É um lugar para começar, — Robbie concordou.
— Eu pesquisarei isso essa manhã, — Cyn continuou, — Mas eu não sou
exatamente uma hacker. Se as informações estiveram tão acessíveis quanto nós
esperamos, eu não devo ter problemas. Mas se eu não voltar com qualquer coisa,
eu chamarei algumas pessoas em quem confio. Eu também estou indo checar com
o primo de Luci que é um piloto fretado e ver se ele conhece alguém na polícia local.
De novo, esse tipo de crime deve criar um zumbido. Espero que eu tenha algumas
pistas para nós seguirmos mais tarde esta noite.
— Eu acho que nós devemos verificar as duas casas que sabemos que
Mathilde passou algum tempo, — Elke sugeriu. — Eu acho que você provavelmente
está certa, e ela sairá, mas alguns do pessoal de Patterson devem estar ao redor.
Juro informou para mim e Ken’Ichi enquanto vocês estavam ficando prontos, e ele
sentiu muito fortemente que Petterson era um cúmplice involuntário. Se isso for
verdade, Mathilde está provavelmente mantendo seu pessoal refém. Agora que ela
tem o que queria, os vampiros de Petterson devem estar soltos e dispostos a
conversar.
— E se Mathilde deixou uma equipe de guarda? — Robbie perguntou.
— Então nós observaremos por enquanto e reportaremos de volta.
Cyn assentiu. — Nós devemos nos comunicar pelo telefone celular até isso
acabar. Nós ainda não sabemos como ou quando eles hackearam a casa segura.
Eu não quero dar uma chance para nossas comunicações serem comprometidas
também. Juro me deu um monte de números de telefones descartáveis antes que
ele saísse, mas eu quero guardar estes para comunicação com Malibu. Robbie e eu
compramos alguns quando nós estávamos abastecendo esse lugar, então nós
usaremos aqueles. Eles estão em uma mochila preta na cozinha, então usem-os.
Apenas façam uma nota de qual telefone vocês pegaram.
Cyn levantou-se, esticando os músculos doloridos, exaustos e tensos ao
mesmo tempo. Ela precisava de cafeína. Havia uma cafeteira na cozinha e café
estava entre os mantimentos que ela e Robbie pegaram no outro dia. Ela se dirigiu
para a cozinha enquanto Elke e Ken’ichi se moveram em direção as escadas. O céu
ainda estava escuro do lado de fora, mas Cyn sabia que o nascer do sol estava
perto.
Robbie estava inclinado de costas no sofá, esfregando seu rosto com ambas
as mãos. Ele pulou em seus pés quando ela parou perto dele. — Eu ficarei primeiro
— Ele começou a dizer, mas Cyn o cortou.
— Não, — ela disse. — Você tem estado quase dormir por dois dias. Além
disso eu preciso fazer algumas chamadas, e eu não serei capaz de dormir de
qualquer forma. — Ela se aproximou e agarrou o telefone descartável da mochila
colocada sobre a ilha da cozinha.
— O clube dos companheiros está ativo. Hum? — Robbie perguntou,
assentindo para o telefone em sua mão. — Vocês, caras, tem uma palavra como
código secreto ou algo assim?
— Ainda não. Mas nós podemos chegar a uma depois disso. — Seu telefone
celular pessoal tocou. Ela verificou a chamada e não ficou surpresa pela identidade
de sua primeira chamada.
— Hei, — ela disse atendendo o celular. — Deixe-me ligar de volta para você.
— Ela desligou, então virou para enfrentar Robbie enquanto ela ligava o telefone
descartável. — Está tudo bem, — ela disse para ele. — É Murphy. Você pode ir para
cama, e eu acordarei você em algumas horas.
— Diga ‘oi’ a Murphy por mim, — Robbie disse, então deu a ela uma
saudação silenciosa e subiu as escadas, de dois em dois degraus. Cyn desmoronou
em uma grande cadeira estofada, café esquecido por agora, enquanto ela discava o
número de Murphy e apertava chamar.
Ele respondeu no primeiro toque. — Leighton.
— Olá para você também, — ela disse, cumprimentando seu colega do
Canadá. Colin Murphy era companheiro de Sophia, a única Lorde vampira na
América do Norte.
Cyn não teve que explicar o número inesperado que ela tinha ligado.
Murphy teria esperado aquilo depois que ela disse que ligaria de volta para ele. Na
verdade, eles haviam discutido esse tipo de coisa entre os vários membros do clube
dos companheiros, pela guerra dos vampiros se aproximando no horizonte.
— Como você está indo, Leighton? — A voz de Murphy era mais suave do
que o usual tom cínico que ele usava com ela. Ela e Colin tinham passado pelo
inferno e voltado juntos. Eles encobriam o carinho com o irritável bate-papo, mas
eles gostavam um do outro, e em uma vida diferente poderiam até ter sido mais do
que amigos. Colin era um guerreiro experiente, um ex-seal da marinha. E agora,
ele a entendia melhor do que qualquer um dos outros amigos, sua frustração por
não poder fazer nada, por não ter em quem atirar.
— Não muito bem, — ela admitiu brevemente, mas ela não elaborou. Se eles
começassem a discutir sentimentos e como ela realmente estava, ela terminaria
choramingando com seu inexistente café ao invés de descobrir como resgatar
Raphael.
— Entendi, — Colin disse, ela sabia que ele entendeu. — Então do que você
precisa?
— Nada ainda. Nós ainda estamos tentando determinar exatamente onde
Raphael está sendo mantido, então nós descobriremos como chegar a ele.
— Onde você está? Juro nos deu a linha oficial que ele tinha evacuado todo
mundo da ilha, mas eu apostei com Sophia mil dólares que você ainda estaria aí.
— Diga-lhe para pagar, mas mantenha para vocês. Eu não quero Mathilde
informada de nosso paradeiro antes que nós estejamos prontos para fazer nosso
movimento.
— Quem é “nós”? Rob está aí com você?
— É claro. Ele disse ‘oi’ de qualquer forma. Elke e Ken’ichi também estão
aqui.
Um momento de silêncio então Colin disse: — Quem, porra, é Ken’ichi?
— O irmão gêmeo de Juro, — Cyn disse–lhe, surpresa que ele não sabia.
— Merda, sério? Eu não tinha certeza se o cara tinha um nome. Eu nunca
o ouvi falar. Na verdade, eu tipo assim, pensei que ele era todo músculo, nenhum
cérebro.
— Errado em todos os aspectos. Ele fala muito bem e acredite em mim, seu
cérebro é completamente funcional. Ele só não gosta muito de pessoas.
— Mas ele gosta de você?
— O que eu posso dizer? Eu sou adorável. — Isso foi o mais perto de seu
usual de sarcasmo, e Cyn achou estranhamente reconfortante.
— Se você diz. Agora me diga o que eu posso fazer para ajudar. Eu não
posso deixar Sophia, mas...
— Você em nenhuma hipótese pode deixar Sophia nesse momento. Eles
acham que neutralizaram Raphael, então eles atingirão no próximo continente. Nós
esperamos que Mathilde atinja diretamente o território de Raphael. Mas ela tem
um par de poderosos aliados com ela essa noite. Ela quer o Oeste, então é duvidoso
que ela quererá eles com ela para enlamear a água em seu desafio lá. O fato de que
eles estejam aqui significa que eles provavelmente colocaram suas miras em
outros...
— Cyn, — ele interrompeu calmamente. — Sobre Raphael...
— Eu conseguirei ele de volta, — ela disse firmemente.
— Se alguém pode fazer isso, esse é você.
Cyn encontrou-se dissecando essa última sentença, se perguntando se era
a forma de Murphy dizer que ele não pensava realmente que Raphael poderia ser
resgatado, ela não acreditou nisso por nenhum minuto. Ela o resgataria. Ela quase
disse alguma coisa, mas então percebeu que a exaustão poderia estar nublando
seus pensamentos, porque Murphy nunca teria sugerido tal coisa. Ele não
acreditava em desistir mais do que ela fazia.
— O que eu realmente preciso é de um policial, — ela disse cansada.
— Um policial? Para que diabos?
— Acessar os relatórios policiais principalmente, mas também por fofocas.
Policiais falam um com o outro. Eu quero saber se há alguma coisa estranha
acontecendo localmente.
— Você está procurando por um pico de atividades vampíricas.
— Exatamente. Você sabe, eu continuo dizendo as pessoas que há um
cérebro embaixo de todos esses músculos de vocês, — ela provocou
automaticamente.
— Legal, — ele respondeu, em seguida voltou aos negócios. — Eu não
conheço nenhum policial pessoalmente, mas eu tenho um amigo em Oahu. Um
cara da marinha que cresceu aí. Ele deixou a equipe quase ao mesmo tempo que
eu, e voltou para casa para formar uma família. Eu posso dar um telefonema para
ele. Ele deve conhecer alguém que conhece alguém.
Cyn pensou sobre isso. — Quanto ele sabe sobre vampiros?
— Ele sabe que eu estou casado com uma, e ele sabe o que eu faria por ela.
— Ok, lhe dê esse número. Eu aprecio isso, Murphy.
— Hei, essa é a razão para o clube, certo?
— É agora. Embora originalmente, eu pensava mais ao longo de três
Martinis no almoço e viagens de compras.
— Eu estava imaginando que isso era antes de eu me juntar.
— Você não gosta de martinis?
— Você é engraçada. Eu gosto muito de martinis.
— Então você pode ficar em um bar e observar as sacolas enquanto o resto
de nós faz compras.
— Sim, porque eu não tenho o bastante com Sophia.
Cyn riu, então disse suavemente: — Obrigada, Murphy.
— A qualquer hora, Leighton. Eu ficarei em contato.
Ele desligou, e Cyn não tinha nem desconectado, quando seu celular
pessoal tocou de novo. Um olhar rápido para a tela lhe disse que era a vez do FBI
verificá-la.
— Kathryn, — ela cumprimentou, então foi para a mesma rotina que ela
teve com Murphy, dizendo que ela ligaria de volta e então discou no telefone
descartável.
— Cyn. Eu sinto muito, — Kathryn disse no minuto que elas reconectaram.
— Obrigado. Lucas deve estar ficando louco, heim? — Lucas era o Lorde
vampiro que governava o território das planícies, e Kathryn sua companheira.
Raphael era o Pai (Sire) de Lucas, e de todos os filhos vampiros de Raphael, ele e
Lucas tinham uma conexão única. Cyn não sabia se era porque Lucas tinha sido
o primeiro de Raphael, ou se era porque Lucas tinha sido somente um adolescente
quando ele e Raphael tinha se encontrado. Ele tinha sido um ladrão de rua que
Raphael tinha tirado da sarjeta para ser seu servo humano, e anos depois ele fez
dele um vampiro. A primeira vez que Cyn encontrou Lucas foi quando Raphael
tinha evitado uma tentativa de assassinato. Lucas tinha feito uma viagem especial,
voando centenas de milhas apenas para ver por si mesmo se Raphael estava vivo e
bem.
Kathryn fez um som de desprezo. — Eu ameacei atirar nele se ele pegasse
um avião sem falar com você primeiro, — ela disse, soando como se ela estivesse
apenas meio brincando.
— Balas não iriam realmente machucá-lo, sabe, — Cyn respondeu.
— Elas machucam se forem grandes o bastante.
Cyn engasgou rindo. — Eu sei como é Lucas em tudo, mas você não quer
realmente matá-lo, certo?
— Às vezes é um cara ou coroa, mas até agora, a resposta é não. Eu somente
ameacei atirar em sua perna dessa vez.
— Eu estou surpresa que isso o impediu.
— Ok, então talvez eu realmente disse que seria ambas as pernas. Eu
precisava que ele esfriasse e pensasse ao invés de correr em uma missão de resgate
que você já tinha em mãos.
— E se eu não tivesse? — Cyn perguntou fracamente.
— Vamos, Cyn. Eu tenho fé em você, e assim faz Lucas.
Cyn desejou privadamente que ela pudesse ser tão confiante quanto eles
eram sobre suas chances. Mas ela não disse isso em voz alta.
— A palavra oficial é que Juro veio para casa com a equipe toda, incluindo
você, — Kathryn lhe disse. — Mas eu não acreditei por um minuto.
— Isso foi o que Murphy disse, também. Vamos esperar que a cadela não
me conheça tão bem.
— A cadela que você se refere é Mathilde?
— A própria. Lucas a conhece?
— Sim. Ele disse que Raphael tem uma história com ela, e que essa história
é a razão de Raphael deixar a Europa quando ele fez.
— Uma mulher desprezada? — Cyn disse, odiando a cadela mais com cada
detalhe que ela descobria sobre ela.
— Lucas não me deu qualquer detalhe. Você pode perguntar a ele quando
ele ligar mais tarde, o que provavelmente será um minuto depois do pôr do sol.
— Considere-me avisada. Dê a ele o número desse telefone, ok? É um
descartável.
— Movimento esperto. — Houve um momento de silêncio. — Como eu posso
ajudar, Cyn? Deve haver alguma coisa com que eu possa contribuir além das
réplicas espirituosas.
Era engraçado, pensou Cyn. Suas razões para organizar o clube dos
companheiros em primeiro lugar tinha sido exatamente o que ela disse a Murphy.
Era suposto ser sobre Martini e compras, algum entretenimento para fazer
enquanto os grandes vampiros maus mantinham suas várias reuniões. Mas tinha
se tornado muito mais. Principalmente, porque as companheiras tinham se
tornado um grupo tão diverso e capaz de mulheres... e homens, ela adicionou,
pensando em Murphy.
— Eu estou em modo de pesquisa, — ela disse a Kathryn, voltando para
sua conversa. — Até agora, nós estamos procurando por fontes locais de relatórios
da polícia, colunas de registros policiais em jornais locais, e qualquer
acontecimento inexplicável coberto por artigos confiáveis. Com ênfase em confiável.
— Você está procurando por atividade vampírica inexplicável, — Kathryn
imaginou, apenas como Murphy fez. — Eu posso ajudar com isso. Muitas vezes os
vampiros de ataques selvagens são considerados em série, e terminam na VICAP 4,
— ela disse, se referindo ao banco de dados nacional do FBI para atividades
criminais violentas. — Eu farei uma busca e verei o que virá à tona. Eu imagino
que você ainda está procurando por toda a ilha?
— Eu estou excluindo Kauai por enquanto. Nada mais faz sentido. Eu
voltarei a isso se não tiver sucesso em mais nada, mas eu estou tentando restringir
minha busca.
— Eu verificarei o VICAP de manhã e retornarei para você de qualquer
maneira.
— Obrigada, Kathryn. Isso será de grande ajuda.
— É o mínimo que eu posso fazer. Bem, isso e acorrentar Lucas à cama,
então ele não aparecerá em sua porta.
— Pobrezinho.
Kathryn riu alto. — Sim. Ele pode ser uma dor na bunda, mas ele é muito
bonito.
— Eu falarei com você mais tarde? — Cyn disse, ansiosa para desligar o
telefone. Ela sabia que os outros estariam ligando e ela apreciava seu apoio. Mas
ela precisava tirar essa parte fora do caminho, então ela poderia se focar no
problema.

4
Do inglês Violent Criminal Apprehension Program, é uma unidade do FBI responsável pela análise de crimes violentos
e sexuais em série.
— Eu ligarei logo que eu tiver retorno.
— Ótimo, falo com você mais tarde, então. — Ela desligou o telefone
descartável e dirigiu-se para a cozinha com sua mente no café. Ela estava
procurando por filtros de café quando seu celular tocou de novo. Ela voltou para a
mesa para pegar seu telefone, e deslizou seus dedos para aceitar a chamada apenas
quando seu cérebro processou o toque e reconheceu como um texto ao invés de
uma chamada.
Franzindo um pouco o cenho, ela abriu suas mensagens e viu que havia na
verdade duas. A primeira era de... Nick de novo? Era a mesma mensagem
enigmática de antes, aquela em que ele tinha um problema e precisava de sua
ajuda. Mas dessa vez ele adicionou um insistente Me ligue!!! Ela imaginou que as
três marcas de exclamações eram para significar urgente. Infelizmente para Nick,
ela tinha apenas um assunto urgente agora, e não era o seu.
Movendo-se para a próxima mensagem, ela encontrou um número na
entrada que ela não reconheceu. Aparentemente essa era sua manhã para
mensagens misteriosas, porque esse consistia de um link e um texto de uma única
linha.
Eu pensei que você acharia isso interessante.
Cyn olhou fixamente. Anexado com um daqueles sites de utilidades que
diminuem links longos demais. Muito útil, mas o resultado não deu em nada de
onde o link a levaria. Normalmente, ela teria deletado uma mensagem como essa
sem um segundo pensamento.
Mas aqueles não eram tempos normais.
Ainda assim, não poderia machucar tomar algumas precauções. Ela enviou
uma mensagem para seu telefone descartável, em seguida clicou no link. Abriu no
que parecia como um site marginal de um website da internet que visava notícias
paranormais. Havia os habituais contos de avistamentos de alienígenas, mas
aqueles foram enviados as margens, correndo para uma coluna à esquerda que
estava cheia com histórias bizarras, como cobras de duas cabeças e cordeiros de
seis patas.
Indo para as presas gotejando sangue, exibidas proeminentemente na
página principal, entretanto os vampiros no website eram números interessantes.
Então, não era surpresa que era sua história principal de hoje – e, uma rápida
varredura lhe disse que era uma verdade na maioria dos dias – apresentava
relatórios de avistamentos de vampiros ou rumores. E não o tipo de ficção científica
brilhante de vampiros. Eram avistamentos na vida real, frequentemente incluindo
fotografias, de alguns dos mais poderosos vampiros da América do Norte. Cyn
examinou o arquivo de imagens rapidamente encontrando várias afirmando
mostrar Raphael, mas quando ela as checou, a única coisa que eles mostravam era
parte de cima da nuca de sua cabeça no meio de sua equipe de segurança. Ela
estava chocada por ver-se visível em uma das fotos, mas apenas de costas, o que
era um alívio. Ela notou de passagem que seu cabelo estava ótimo, mas ela também
pensou que a foto devia ser uma velha, provavelmente logo depois daquele fodido
agrupamento perto de Seattle, quando ela ainda estava se recuperando de seus
machucados, porque ela parecia muito magra.
Não havia nenhuma razão para seu remetente misterioso chamar sua
atenção para as velhas fotos dela e Raphael, no entanto. Muito mais interessante
era a história que denominava a manchete atual, a única detalhando um aumento
súbito na área de Honolulu de corpos mortos com suas gargantas rasgadas. O
repórter também afirmava ter conhecimento sobre um aumento de assaltos onde
as vítimas sobreviveram, mas foram deixadas com graves feridas no pescoço e uma
redução acentuada no volume de sangue. Em outras palavras, sobreviventes de
ataques de vampiros.
Cyn nem mesmo sabia que havia vampiros no Havaí até essa viagem, então
ela não conhecia a prática comum nas ilhas. Mas na América do Norte geralmente,
os vampiros não deixavam cadáveres, e eles também não deixavam... vítimas. A
maioria dos doadores de sangue eram voluntários com nenhum desejo de
apresentar queixa aos policiais ou a alguém mais sobre suas interações com
vampiros. Exceções aconteciam, é claro, mas naqueles casos, o vampiro ofensor
era tratado com rapidez e muitas vezes fatalmente pelo próprio Lorde vampiro ou
um de seus executores. Ela achava que mesmo a polícia segurava a verdade no
Havaí, ou Raphael teria feito algo sobre isso antes disso.
O que queria dizer, que se os repórteres nesse site da internet poderiam ser
creditáveis, Honolulu estava experimentando uma onda de crimes com vampiros,
o que era precisamente o que ela tinha estado procurando.
Por um momento, Cyn sentiu como uma daquelas vítimas anémicas
mordidas por vampiros. Seu coração estava batendo, mas o sangue parecia estar
correndo para toda parte, exceto sua cabeça. Com sua visão cinza, ela inclinou-se
para frente, cabeça entre os joelhos, o telefone caindo de seus dedos
repentinamente sem nervosos. Ela devia ter desmaiado por alguns minutos. Porque
a próxima coisa que ela sabia, foram os pesados passos de Robbie descendo a
escada o e ele estava chamando seu nome.
— Cyn? —Ele ficou em um joelho em sua frente. — O que foi isso?
Havia medo em sua voz, e ela sabia que ele pensava que algo tinha
acontecido com Raphael, algo poderoso o bastante que ela tinha sentido através de
sua conexão. Robbie temia por Raphael, mas era mais do que isso. Sua esposa
Irina, era uma das vampiras de Raphael. Se o pior acontecesse com Raphael,
atingiria forte em Irina, talvez até mesmo a mataria. Na melhor das hipóteses, ela
terminaria ligada a um novo Lorde vampiro, e não havia garantias de quem seria.
Cyn não pode levantar sua cabeça imediatamente, não sem desmaiar, mas
estendeu a mão e cegamente apertou o grosso antebraço de Robbie. — Não foi
Raphael, — ela conseguiu sussurrar. Ela procurou pelo telefone descartável, que
tinha escorregado da sua mão, agarrando-o com os dedos úmidos quando Robbie
o entregou. Ela segurou para que ele visse a tela, que ainda estava exibindo o
histórico de notícias de Honolulu.
Robbie leu silenciosamente. — Ok, então alguém fez nosso trabalho. Mas o
que há com você, querida?
Ela ergueu sua cabeça o suficiente para dizer: — Eu vi a história e soube
que nós estávamos certos, e eu apenas...
— Você foi uma menina e desmaiou? — Ele brincou, mas girou seu braço
embaixo de seus dedos e apertou sua mão firmemente.
— Eu não desmaiei, — ela insistiu, ouvindo a trepidação em sua própria
voz. — Eu acho que eu apenas estava com fome. Eu não consigo lembrar a última
vez que eu comi. Ela sentou lentamente. — Foda-se, eu odeio essa sensação. Faz-
me querer vomitar.
— Aqui.
Ela olhou para cima e viu-o segurando uma garrafa de água.
— Onde você conseguiu isso? Você sempre carrega uma reserva? — ela
perguntou ceticamente, mas pegou a garrafa oferecida e bebeu. — Isso é coisa de
Ranger?
— Isso é uma coisa “nós estamos no Havaí”. É fodidamente quente aqui,
fácil ficar desidratado. Você se sente melhor?
Cyn assentiu. — Por que você está acordado?
— Não consegui dormir. Eu pensei em pegar o primeiro turno por você, ou
pelo menos lhe fazer companhia.
— Nós somos um par, não somos? Os caras maus entrarão pela porta, e
estaremos tão cansados que não seremos capazes de levantar as armas.
— Hei, soldado Ranger aqui. Eu nunca estou muito cansado para levantar
minha arma.
— Seja como for. Você sente vontade de tomar café da manhã?
— Você está se oferecendo para cozinha?
— Eu posso fazer ovos mexidos e torradas.
— Torradas francesas?
— Torrada comum de torradeira. Você quer qualquer outra coisa, você está
por si mesmo.
Robbie ficou em pé e estendeu uma mão. Ele a ajudou a levantar e a segurou
até que eles estavam ambos certos que ela não ia cair, então viraram em direção a
cozinha.
— Eu não consigo lembrar, — ele disse em tom de conversa, — Nós
compramos bacon?
Cyn assentiu. — Você pelo menos. E se você quer isso, você cozinha. Os
ovos mexidos é o mais complicado que eu faço.
— Não me admira que você esteja tão magra. Você não cozinha nada.
— Eu principalmente como. E eu não estou magra, idiota.
— Sensível. Você deve estar se sentindo melhor.
— Esse fodido website tem uma foto da minha bunda.
— Nós devemos invadir esse site por si só. Cobrir suas páginas com
corações e flores.
— Boa ideia. Eu terei alguém nisso assim que levarmos Raphael de volta
em casa.
Ambos ficaram em silêncio por um longo tempo, o comentário de Cyn serviu
para lembrá-los do que exatamente a assustou em primeiro lugar.
— Você acha que o site é confiável? — Robbie perguntou, se movendo para
a geladeira e tirando os ingredientes para o café da manhã.
Cyn inclinou-se contra o balcão, outra garrafa de água em sua mão. Ela
tomou um longo gole antes de responder. — Confiável? Provavelmente não. Mas
isso não quer dizer que não haja verdade nessa história. Alguém acha que há. O
bastante para me enviar o link de qualquer forma.
Robbie franziu a testa. — Sim, mas quem? E por que nos ajudar?
— Poderia ser um do pessoal de Rhys Patterson. De acordo com Juro,
Patterson somente cooperou com Mathilde porque ela o ameaçou. Mas ele está
governando essas ilhas por conta própria a um longo tempo. Nem mesmo Raphael
realmente sabe quantos vampiros ele tem, ou quem eles são. Se Mathilde perdeu
alguém, esse vampiro poderia estar retaliando ao nos direcionar a informação que
nós precisamos.
— Ou poderia ser alguém da equipe de Mathilde nos enviando em uma
busca a um ganso selvagem, a fim de desviar nossa atenção de onde quer que seja
que eles realmente estão se escondendo.
— Mas isso pressupõe que Mathilde sabe que nós estamos aqui, e nós não
achamos que ela sabe, — Cyn protestou.
— Quem quer que seja que enviou essa mensagem não tem conhecimento
que você está aqui. Tudo que eles sabem é que você está sentada em Malibu roendo
suas unhas.
— Talvez.
— O que você me diz, Cyn. Ao invés de nos conduzir a loucura com os e se,
por que você não termina os ovos, e eu procurarei em fontes de notícias locais
legítimas e vejo o que eles têm.
Robbie puxou seu laptop de onde ele estava colocado na mochila e começou
a teclar. — O que Murphy tem a dizer? — ele perguntou sem olhar para cima.
Robbie estava com ela e Murphy no dia que ela quase morreu. Ele tinha
segurado sua garganta com suas mãos, enquanto Murphy tinha corrido de volta
para o complexo onde Raphael estava apenas acordando. Uma experiência
compartilhada como essa criava um laço que nunca se esquece.
Cyn começou a quebrar os ovos. — Murphy tem um amigo seal em Oahu.
Ele disse para eu esperar um telefonema. Eu estou esperando que o amigo conheça
um amigo policial que possa nos ajudar a rastrear essas histórias, desde que todos
os tipos gung-ho5 tendem a ficar juntos.
— Quando ele vai ligar?

5
Expressão em mandarim usada para designar os entusiastas e dedicados asiáticos na década de 40 e encorajar seu
batalhão.
— Assim que Murphy consiga contatá-lo, eu imagino. Esperançosamente
logo.
Robbie continuou a trabalhar em seu laptop, seus dedos grossos batendo
no teclado forte o bastante para fazer estremecer.
— Aqui vamos nós, — ele anunciou repentinamente.
— O que você conseguiu? — Cyn perguntou. Ela deixou de lado a tigela de
ovos crus, então caminhou ao redor para olhar sobre seu ombro. — Honolulu Star-
Adevertiser, — ela leu. — Esse é um grande jornal?
— O maior em circulação no estado, ou assim eles alegam.
— E?
— Eles não têm agressões, e eles não descrevem completamente o massacre
sangrentos como o site com o grupo de vampiros fez, mas eles têm três corpos,
todos mortos com as mesmas feridas, e todos nas últimas duas semanas.
— Três corpos não é muito, — ela comentou, ainda lendo sobre seu ombro.
— Não é em L.A., mas eu não tenho certeza sobre Honolulu. E comparando
com os outros relatórios, há uma forte possibilidade para um novo refúgio de
Mathilde.
Cyn recuou. — Eu gostaria de saber quem enviou-me aquele link em
primeiro lugar. Cheira como armadilha.
— Eles deixaram um número de telefone para chamar de volta?
— O número estava bloqueado, mas eu sempre posso tentar enviar um texto
de volta e ver o que acontece.
— Então, faça isso. Apenas pergunte quem são.
Cyn caminhou ao redor do balcão e entrou na sala de estar onde ela tinha
deixado o telefone descartável quando ela teve seu episódio que absolutamente não
era um desmaio. Agarrando seu telefone, ela rapidamente digitou: “Que diabos é
isso?” Então pensou melhor nisso, e mudou para simplesmente, quem é você?
A resposta veio antes mesmo que ela conseguisse voltar para a cozinha.
Robbie olhou para o toque de mensagem, seus olhos encontrando os delas com
uma pergunta. Ela assentiu, em seguida veio para perto dele então ambos podiam
ler o texto. Ela dizia simplesmente: Um aliado. Nós devemos nos encontrar.
— Oh, foda-se, não, — Robbie disse imediatamente. — Sem encontros, Cyn.
Nós não temos qualquer ideia de quem é esse palhaço.
— Só há uma maneira de descobrir, — ela continuou razoavelmente. — Nós
concordamos com o encontro.
— Bobagem. Peça a ele algo genuíno, e veja o que ele diz.
Cyn encolheu os ombros, em seguida digitou: Você me conhece. Mas quem
é VOCÊ? Ela destacou a última palavra para dar ênfase.
Ela largou o telefone, então ligou a panela para esquentar e despejou os
ovos nela. quando seu telefone soou, ela estava mexendo os ovos, então Robbie o
pegou e leu em voz alta. — Donavan Willis. Eu trabalho para Rhys Petterson.
Cyn franziu a testa. Donavan Willis. — Eu conheço o nome, — ela disse
distraída. Se ele trabalhava para Patterson, ele era local, alguém que ela conheceu
ou ouviu falar nos últimos dias. Mas ela não tinha encontrado muitas pessoas. Na
verdade, além do piloto primo de Luci, ela não tinha conhecido ninguém em tudo.
Raphael tinha cuidado disso, mas...
— Donavan Willis! — Ela repetiu com reconhecimento repentino. — Ele
apareceu no segundo dia que nós estávamos na casa, como parte do comitê de
boas-vindas. Eu estava na sala de controle vendo o vídeo de segurança com
Ken’ichi. Havia dois vampiros tentando passar por locais em camisas havaianas
combinadas e então havia o humano Willis. Cabelo espetado, piercings. Ele
queria... — Ela pensou no que ela tinha ouvido da conversa de Willis com Raphael.
— Ele ofereceu-se para consertar a internet de alta velocidade da casa, disse
que ele poderia fazer mais rápido ou alguma outra besteira. Todos nós achamos
que era um estratagema óbvio para grampear nosso sistema, e Raphael declinou
educadamente.
— E sobre os dois vampiros com Willis? Eles pareciam acolhedores com
Willis?
— Acolhedor? É uma daquelas palavras código das Operações Especiais que
os civis não entendem?
— Você está apenas com inveja que eles não levam garotas?
Cyn bufou. Isso era meio de verdade, embora ela nunca admitiria. —
Acolhedor não era a palavra que eu usaria para descrever aqueles caras. Na
verdade, eu tenho certeza que não uso essa palavra desde que eu tinha cerca de
seis anos. Mas, o ponto na verdade, Willis e os vampiros não pareciam estar
jogando na mesma equipe. Quando ele achou que eles não estavam olhando, os
sentimentos de Willis sobre os outros dois eram bastante óbvios, e eles
definitivamente não estavam cheios de admiração.
Cyn distribuiu os ovos, e adicionou torradas em cada prato. A cozinha ficou
silenciosa por alguns minutos enquanto as torradas eram lambuzadas com geleia
e os ovos eram consumidos. Cyn se surpreendeu por comer quase tanto quanto
Robbie. Aparentemente, ela estava com mais fome do que imaginava.
Robbie levantou-se e serviu café para ambos. Cyn assentiu em
agradecimento então afastou o prato e disse:— Ok, vamos com a ideia de que
Patterson não é um cúmplice disposto a sequestro. Onde isso nos deixa?
— Nos deixa com Willis, um humano que trabalha para Petterson,
oferecendo seus serviços.
— Pode valer a pena investigar.
— Como ele sabe que você ainda está na ilha?
— Talvez ele não saiba. L.A. fica somente seis horas de viagem daqui.
Robbie franziu o cenho. — Eu não sei. Ele pediu por uma reunião, não uma
chamada telefônica. Isso me diz que ele sabe que você está aqui.
Cyn olhou para baixo para o telefone descartável em sua mão, e sentiu a
lâmpada acender em sua cabeça. — Meu telefone celular, — ela disse, dando a Rob
um olhar de dãh. — Ele originalmente mandou a mensagem para meu telefone
celular e ele é um hacker. Um especialista em segurança pelo que Raphael me
disse. Quão difícil seria para um cara como ele rastrear a localização de meu
celular? Até mesmo se eu não o usasse, está ligado e nós dois sabemos o que
significa. Talvez ele não possa restringir a um local específico, mas ele com certeza
pode dizer que eu ainda estou em Kauai.
— Merda. Nós precisamos desligar os telefones pessoais de todos e tirar as
baterias. Nada mais além dos celulares descartáveis irrastreáveis daqui em diante.
Cyn lhe deu um olhar perturbado. — Mas e se Raphael...
— Querida, — ele disse pacientemente. — Nós dois sabemos que Raphael
não precisa de um telefone para contatá-la.
— Eu sei que você está certo, — ela disse, respirando fundo. — Mas eu não
posso fazer isso. Eu preciso deixar essa conexão aberta, apenas no caso.
— Eu entendi. Vamos apenas esperar que o pessoal de Matilde não seja tão
afiado quanto Willis, quando se trata de telefones celulares.
— Vamos esperar que Willis já não esteja trabalhando para Mathilde.
— Bom ponto. Nós devemos encontrá-lo, porém.
Cyn olhou para ele com surpresa. — Por que a mudança de coração?
Robbie fez uma careta. — Se ele está do nosso lado, ele pode nos ajudar. Se
ele não está, nós precisamos saber disse, também. Porque significará que Mathilde
sabe sobre nós.
— Nós provavelmente devemos definir um encontro à luz do dia, então. De
modo que nenhum dos aliados de Mathilde, pelo menos nenhum dos mais
perigosos, possa estar à espreita.
— Eu não tenho certeza que seja uma boa ideia. — Ele discordou. — Nós
não podemos deixar os vampiros sem vigilância.
— Você poderia ficar aqui enquanto eu...
O riso de Robbie foi um latido de descrença. — Não há nenhuma maneira
no inferno que eu deixarei você se encontrar com esse cara sozinha. Nós
esperaremos até depois de escurecer, e levaremos Ken’ichi e Elke conosco. Mande
a mensagem e volta. Marque o encontro para noventa minutos depois do pôr do
sol. Algum lugar perto.
— Quem morreu e fez de você o chefe?
— Quando se trata de merda como essa? Tio Sam. Hooah6.
— Que seja, — Cyn murmurou.
— Você fica aqui até o pôr do sol, então trás os vampiros com você para o
encontro. Eu me dirigirei para lá mais cedo e verei se alguém diferente de Willis
aparecerá. Você lembra como ele parece? Posso reconhecê-lo por algo mais?
— Cabelo castanho escuro espetado. Piercings em ambas as sobrancelhas
e orelhas, óculos pretos de armação.
— Peso? Altura?
— Eu só o vi no vídeo, — ela disse pensativamente. — Ele estava próximo a
Raphael, embora, então, um metro e sessenta mais ou menos, magro, mas em
forma talvez 72 quilos.
— Certo. Ele te encontrará no McDonald’s perto do mercado onde nós fomos
ontem. Eu estou assumindo que ele sabe como você parece, mesmo que ele não
tenha te visto na casa. Independentemente disso, certifique-se que nós saibamos
como ele parece. Há uma área de piquenique no lado sul do drive-thru. Não terá

6
É uma antiga gíria militar, que significa “head out of ass”, algo como tire a cabeça do traseiro.
tanta multidão quanto no restaurante ou na área de jogos, especialmente depois
de escurecer.
Os polegares de Cyn estavam voando enquanto ela escrevia a mensagem
para Willis, separando as instruções de Robbie em dois textos diferentes o que
tornava mais fácil seguir.
A resposta de Willis foi instantânea. Três palavras. Eu estarei lá.
Ela olhou para cima e encontrou os olhos marrons escuros de Robbie. —
Nós vamos. — Ela tinha que se forçar a manter a calma, manter as mãos firmes e
a voz fria. Essa era a primeira boa vantagem que eles tinham, um homem dentro
do campo do inimigo. Ela socou sua emoção para lembrar a si mesma que Willis
podia não estar no campo de Mathilde mais, se é que ele alguma vez esteve. O fato
de que ele estava disposto a ajudar Cyn argumentava contra isso, mas ele
provavelmente ainda sabia mais do que ela sobre o que estava acontecendo.
Robbie estava observando-a atentamente, parecendo entender sua batalha
interna. O que ele tinha dito sobre tio Sam treinando-o para situações que
acabavam como essa, era verdade. Robbie tinha visto a guerra real, tinha tomado
decisões de vida e morte em três campos de batalhas diferentes. Os vampiros eram
muito sanguinários, e Cyn tinha lutado sua cota de conflitos desde que assumiu
Raphael, mas ela sabia que sua experiência não chegava perto da de Robbie. O que
era provavelmente o porquê de ela estar praticamente saltando fora de sua pele
com o que ela esperava ser excitação bem escondida, enquanto ele estava em pé ali
fazendo uma clara imitação de homem de gelo.
— Eu levarei o carro de aluguel, — ele lhe disse. — É menos visível. Você
liga para a empresa de aluguel e pede para trazer algo maior. Ken’ichi e eu
precisamos de algum espaço para as pernas. E eu quero algo com mais poder.
— Você devia tentar o assento de trás, — ela resmungou.
— É, não obrigada. — Ele andou e pegou um par de telefones irrastreáveis
da mochila. — Anote esses números.
Cyn obedientemente anotou os números em seu telefone, então olhou para
Robbie. — Você conseguiu munição? Tudo mais que você precisará?
— Eu consegui duas Mags reserva, e, hei, eu estou indo para estar no
McDonald’s. Eu estou provavelmente melhor lá fora do que em sua casa com dois
sanguessugas e uma mulher que mal come comida.
— Eu acabei de ter ovos!
— Querida, isso foi apenas o aperitivo.
— Tudo bem. Vá para o McDonald’s e se polua com comida rápida.
— Você está morrendo de vontade de ir comigo, não está?
— Morrendo é uma palavra muito forte.
— Quer que eu pegue um hambúrguer com fritas? Eu poderia trazer na
volta...
— Não, não. Eu conseguirei algo mais tarde. Inferno, Willis é um geek de
computador. Talvez nós possamos nos unir pela junk food.
— Eu trancarei. Você deve tentar dormir... você vai precisar.
— Eu não sou uma boa guarda se eu estiver dormindo profundamente.
— Então pegue um travesseiro e alguns cobertores e durma na parte de
cima das escadas. A coisa do assento do amor no alto da escada parece muito
confortável. Não para mim, mas você pode se encaixar. Ou dormir aqui embaixo.
— Talvez, — ela disse, embora internamente ela estava pensando de jeito
nenhum. A única coisa que que ainda a tentara a dormir era a memória de como
Raphael tinha usado seus sonhos para contatá-la antes. Quando ela tinha estado
no Texas com aquele babaca do Jadril. Conceder-lhe o desejo de sonhar tinha sido
praticamente nada além de sexo, mas isso não queria dizer que ele não podia fazer
outras coisas, também. Seu coração doía, uma verdadeira dor física, quando ela
pensava sobre Raphael, sobre o que ele devia estar passando. Sobre o quanto ela
precisava acreditar que nada e nem ninguém poderia mantê-los separados.
Ela apertou sua mandíbula tão forte que machucou, engolindo a emoção
que ameaçava inundá-la. Ela não estava indo deixar Mathilde vencer. A cadela
pensava que ela era tão esperta, enquanto ela tivesse Raphael, e que ninguém nem
nada poderia tocá-la. Bem, boa sorte com isso. Porque Raphael pertencia a Cyn, e
ninguém ia levá-lo para longe dela.
— Agora essa é a Cyn que eu conheço e amo, — Robbie comentou com um
meio sorriso, enquanto ele via a expressão determinada em seu rosto. — E essa é
a Cyn que eu preciso para esta operação.
Cyn deu-lhe um olhar surpreso, em seguida riu pesarosamente. — Eu estou
apenas tentando não entrar em colapso em um pedaço encharcado como uma
garota esquisita.
— Vá em frente e desabafe por alguns minutos – depois que eu tiver ido
embora, por favor – e tire isso de seu sistema. Depois, esqueça sobre isso e venha
lutar.
— Obrigada, Robbie, — ela disse sinceramente.
— Hei, nós passamos pelo fogo juntos, querida.
— E saímos do outro lado, — ela adicionou. — E nós faremos isso desta vez,
também. Não se preocupe.
— Não estou preocupado. E agora eu vou embora antes que eu seja aquele
que se transforma em uma garota esquisita.
— Eu conseguirei uma SUV no local de locação tão logo você saia. Mantenha
contato.
— Sim, senhora. Eu verei você lá mais tarde.
Cyn dirigiu-se para frente, observando através da janela quando Robbie
saiu com o sedan para fora da garagem. Ela ouviu o barulho da porta fechando
atrás dela, então imediatamente foi para o andar de cima para verificar a garagem,
e todas as outras portas e janelas. Ela deu um telefonema rápido para uma
empresa de carros de aluguel diferente e arranjou uma SUV apropriada para ser
deixada em duas horas, em seguida ela pegou um travesseiro e esticou-se no
assento do amor com vista para as escadas, embora esticar-se não fosse
inteiramente exato – o pequeno sofá era pelo menos cinquenta centímetros menor
do que ela era – mas ela não imaginava que ela fosse dormir tanto assim.

****

Ela acordou ao som do celular próximo ao ouvido direito. Ela tinha deixado
dois dos telefones preparados próximo a ela antes de ir dormir então ela não
perderia qualquer ligação. O toque era de um dos telefones que Juro tinha lhe
dado, e uma rápida verificação do tempo lhe disse quem seria seu interlocutor.
Ainda era dia na costa leste, mas o sol tinha se posto na costa oeste, e os vampiros
estavam acordados.
Ela tocou a tela. — Duncan, — ela disse rapidamente deslizando para fora
do pequeno sofá do amor para sentar no chão pesadamente acarpetado.
— Cynthia, — ela ouviu sua voz familiar e tranquilizadora voz com um
ligeiro sotaque sulista.
Ela sabia que seu telefonema viria. Juro começaria a notificar os outros
assim que ele estivesse no ar ontem à noite. Depois de tudo, o sequestro de Raphael
era provavelmente o primeiro golpe da guerra vindo, e os outros Lordes vampiros
precisavam saber, para se prepararem, não havia muito tempo, o oposto seria
verdadeiro. O povo de Raphael teria se esforçado para manter seu sequestro em
segredo. Mas os vampiros da América do Norte eram uma aliança agora, e todos
eles concordariam que o primeiro ataque dos inimigos teria Raphael como alvo.
Agora que Mathilde teve sucesso nisso – pelo menos em curto prazo – Juro teria
avisado os outros que um ataque mais amplo poderia ser eminente.
— Duncan, — ela repetiu, uma vez mais lutando com as lágrimas que
apertavam sua garganta e faziam falar quase impossível. Ela estaria se tornando
um poço de emoções ultimamente. Se ela não conseguisse Raphael de volta logo,
ele não reconheceria o poço humano que ela se tornaria.
— Eu não lhe perguntarei como você está, Cynthia. Eu sei. — Duncan disse,
a afeição óbvia em sua voz não fez nada para trazer suas emoções sob controle.
Duncan tinha sido o tenente de Raphael por muitos séculos. Ele tinha saído apenas
no ano anterior quando ele havia lutado e vencido pelo seu próprio território. Cyn
e Duncan não confiaram um no outro inicialmente, mas eles eventualmente tinham
se tornado próximos, e ela ainda sentia falta de sua presença diariamente, desde
que ele se mudou todo o caminho através do país para Washington, D. C.
— Juro nos disse sobre seus planos, — ele disse, provavelmente para
preencher o silêncio criado por sua atual incapacidade de falar. — Como nós
podemos ajudar?
Cyn inclinou sua cabeça para trás no sofá do amor e fechou seus olhos. Ele
não ia tentar e falar para ela sobre o resgate de Raphael. Mas então, ele não faria
isso. Duncan a conhecia muito bem para pensar que ele poderia falar com ela sobre
qualquer outra coisa, especialmente quando vinha a ser a segurança de Raphael.
Por outro lado, ele amava Raphael tanto quanto ela fazia. Ele poderia estar soando
como o seu habitual eu imperturbável, mas ela sabia que ele estava lutando com a
vontade de pegar um avião e se unir a ela no Havaí por si mesmo.
— Nós ainda estamos coletando informações nesse ponto, — ela disse. —
Mas não se preocupe, se nós precisarmos de qualquer coisa eu chamarei. Como
você está indo, Duncan? E sem besteira.
— Basta dizer que as últimas vinte quatro horas tem sido estressantes, —
ele admitiu, o que era o equivalente a um grito primal de qualquer outra pessoas.
A contínua presença de seu sotaque por si só era um indicador de seus níveis de
estresse para qualquer um que o conhecia bem. Quanto mais irritado Duncan
ficava, mas seu sotaque tornava-se evidente. — Eles não precisam de mim aqui,
Cynthia, — ele disse, sua voz subjugada e suas palavras arrastadas, como se ele
não quisesse ninguém lá para captar o que ele estava dizendo. — Miguel pode...
— Duncan, — ela o interrompeu, aturdia por encontrar a si mesma uma
posição lógica na presente conversa. — Você não pode sair de seu território agora.
E mesmo se você pudesse, Anthony precisa de seu apoio. Nós não sabemos onde o
próximo ataque será.
— Foda-se Anthony, — ele disse maldosamente. Mais evidências de seu
estado emocional atual. Duncan nunca perdia sua calma e ainda mais raramente
amaldiçoava. — Raphael devia ter substituído ele muito antes disso.
— Sim, nisso Raphael é realmente indolente, — ela concordou, seu próprio
sotaque afetado. — É claro, houve algumas outras exigências sobre seu tempo
ultimamente.
Duncan suspirou. — Você está certa, eu sei. Mas se houver qualquer coisa
que eu possa fazer para ajudar...
— Eu ligarei. Mas Robbie está aqui comigo, e Elke e Ken’ichi. E eu acho que
nós ficaremos melhor em um time pequeno, indo no estilo guerrilha.
— Guerrilha, hum? — Ela ouviu o sorriso em sua voz.
— Ele me serve, você não acha?
— Surpreendentemente bem. Mas Cynthia, o que você precisar, mesmo que
não seja mais do que uma voz amigável no telefone, você deve prometer que ligará.
— Eu ligarei, — ela repetiu pacientemente. — Eu deveria esperar ouvir
Lucas depois? — Ela perguntou.
— Eu estou surpreso que eu cheguei primeiro, — Duncan lhe disse. — A
última vez que eu falei com ele, o garoto tinha seu jato abastecido e pronto para
partir.
— Você tem que impedi-lo, Duncan.
— Eu acredito que o convenci a ficar onde ele está por agora. Mas se algo
mudar... ele pode chegar a você mais rápido do que eu posso, Cynthia.
— Eu não acho que nós precisamos da ideia de ajuda de Lucas agora.
— Ele pode ser sutil quando necessário.
— Eu aceitarei sua palavra sobre isso, mas... — Ela parou quando seu
telefone indicou outra chamada. — Falando do diabo, — ela disse a Duncan. — É
Lucas.
Duncan suspirou alto. — Eu desejaria que nós todos não estivéssemos tão
longe.
O telefone tocou novamente. — Merda, eu tenho que atender isso, Duncan.
Eu tenho que falar com Lucas, ou ele convencerá a si mesmo que eu estou morta
e aparecerá aqui antes que a noite acabe. Você sabe que ele irá.
— Você está certa. Tome cuidado, Cynthia, e lembre-se...
— Qualquer coisa que eu precisar, eu sei. E, Duncan, eu o trarei de volta.
Eu prometo. Dê meu amor a Emma. — Ela atendeu a chamada de Lucas, antes
que ela fosse para o correio de voz. — Lucas, — ela respondeu.
— Cynthia, querida, — Lucas cumprimentou-a, seu sotaque exatamente o
oposto de Duncan, com aquela energia cintilante em cada sílaba. — Nós estamos
preparados e prontos para ir. Nos dê um alvo e nós estaremos lá.
— Lucas, — ela o repreendeu. — Eu sei que você e Raphael falaram sobre
isso. Juro e Jared precisam de você exatamente onde está.
— Foda-se eles, — ele disse com uma raiva repentina que combinava com
a explosão de Duncan mais cedo, — Ninguém disse nada sobre Raphael ser
capturado pela cadela da Mathilde.
— Você conhece Mathilde? Você já a encontrou? — ela perguntou
urgentemente, pensando que ela devia ter perguntado isso a Duncan, também.
Quando mais informação ela tivesse, melhor. Lucas tinha estado com Raphael na
Europa, então ele era mais provável que tivesse conhecido a cadela.
— Eu a conheci, mas eu ainda era humano naquele tempo e bem abaixo
para ela reparar. Então eu não sei muito sobre ela, — ele admitiu, e Cyn sentiu o
desespero pairar como uma espessa névoa cinza. — Raphael passou algum tempo
em sua corte, apenas alguns meses. Eles nunca se deram muito bem, mas eles
quase chegaram as vias de fato antes de nós sairmos por bem. Eu não tenho certeza
sobre o que foi a discussão, mas Raphael estava tão irritado quando eu o vi, e nós
saímos no dia seguinte.
O nevoeiro de desespero pareceu rastejar mais perto, mas então ela lembrou
a razão principal pela qual ela tinha atendido. — Não venha para cá, Lucas.
Mathilde acha que todo o pessoal de Raphael saiu das ilhas, e eu quero que ela
continue pensando assim. Se ela não souber que nós estamos aqui, ela não se
importará em se proteger contra nós.
— Querida. Eu amo uma mulher esperta.
— Você ama todas as mulheres.
— Aí, não mais. Eu sou o vampiro de uma mulher só.
— Kathryn acabou de entrar na sala, não foi? — Cyn perguntou, sentindo
seu humor clarear apesar de sua situação desesperadora. Ela ouviu uma voz baixa
feminina ao fundo um momento antes de Lucas voltar.
— Minha bela Katie enviou seus cumprimentos e disse para dizer a você
que sua pesquisa no VICAP não trouxe nada de útil, mas ela continuará
procurando.
— Diga a ela que eu agradeço, e que eu ligarei se eu tiver mais para
continuar.
— Sei disso, Cynthia, — Lucas disse em um raro momento de seriedade. —
Há muito poucos seres com quem eu verdadeiramente me importo nesse mundo.
Eu farei qualquer coisa por Raphael. Qualquer coisa.
— Eu o trarei de volta, — ela prometeu mais uma vez, fazendo a mesma
promessa para Lucas que ela tinha feito para Duncan e Juro antes disso.
Porque a verdade era essa, ela estava indo salvar Raphael... ou morrer
tentando.
— Você fique seguro, Lucas. Ambos, você e Kathryn. Eu estarei em contato,
— Cyn disse. Ela desligou a chamada, mas não se levantou imediatamente, levando
alguns minutos para controlar as emoções que as duas chamadas tinham
despertado, para reconstruir as paredes de aço e depois enfiar todas as emoções
atrás delas. Ela precisava desse distanciamento, a fim de funcionar em um nível
necessário para ver o que precisava ser feito e então seguir através e fazer isso. Ela
conhecia suas forças e fraquezas. Ela tinha um talento para remover as ervas
daninhas das resmas dos detalhes que vinham em um caso e encontrar os poucos
pedaços que importavam. Ela se destacava no pensamento tático, e era, alguns até
diziam obsessiva, em busca de seu objetivo. Mas ela estava certa como certeza não
era destemida. Não havia tal coisa. Havia somente a habilidade de continuar apesar
do medo, e ela podia fazer isso. Infelizmente, seu maior medo nesse caso não era
por si mesma, mas por Raphael. E isso estava tão emaranhado nela, o seu amor
por ele, que era muito mais difícil empurrar tudo atrás das paredes.
Suspirando, ela trouxe seu cobertor e travesseiro para o chão, esperando
pegar uma hora ou duas de sono antes do sol se pôr. Ela nunca seria capaz de
relaxar no quarto, sabendo que os vampiros estavam desprotegidos, mas, pelo
menos no chão, ela poderia se esticar.
Ela tinha acabado de começar a adormecer, quando a campainha soou. O
som inesperado a trouxe sobre seus joelhos em um instante, Glock em sua mão e
apontou em direção as escadas, antes que ela lembrasse da maldita SUV que ela
tinha pedido para a empresa de aluguel entregar.
Com o coração batendo com a corrida de adrenalina, ela desceu as escadas.
Com a Glock ainda mantida pronta e para baixo ao seu lado, ela abriu a porta
apenas o suficiente para verificar o jovem de aparência muito séria segurando a
prancheta. Cyn sorriu, tentando parecer uma amigável turista comum, mas a
julgar pelo olhar alarmado nos olhos do garoto, ela descobriu que falhou
miseravelmente. Ela entendeu sua reação ainda melhor quando ela alcançou atrás
da porta para colocar sua arma para baixo e pegou seu reflexo no espelho colocado
sobre a mesa ali. Ela parecia como a assassina do machado. Não admira que as
mãos do garoto estivessem tremendo.
Ela tirou sua carteira da sua mochila, depois o seguiu até o Suburban
estacionado na entrada da garagem. Usando uma das várias identidades falsas, ela
conseguiu acalmar o garoto o bastante para terminar a papelada. Ela apenas tinha
rubricado e assinado o último formulário quando seu amigo se acalmou de volta.
Ela deu ao garoto um sorriso e uma nota de dólares de gorjeta, tentando compensar
seu medo anterior, então voltou para dentro da escura e silenciosa casa. Ela
brevemente contemplou tentar dar outro cochilo, mas então se rendeu a realidade
e virou-se para a cozinha ao invés.
Ela estava indo precisar de café. Muitos e muitos cafés.

****

— O que Duncan tinha a dizer? — Aquelas foram as primeiras palavras que


saíram da boca de Elke, quando ela entrou na cozinha várias horas depois.
Cyn olhou para cima onde ela tinha estado curvada sobre seu laptop por
horas, examinado os relatórios de crimes das últimas semanas. Ela não se
preocupou em perguntar como Elke sabia que Duncan tinha ligado. Elke conhecia
Duncan a muito mais tempo do que Cyn o fazia. Eles tinham trabalhado juntos
quase diariamente por décadas.
— Duncan e Lucas, ambos ligaram, e os dois se ofereceram para voar. Eu
disse para ficarem lá por agora.
— Lucas será mais difícil de controlar se isso continuar por muito tempo,
— Ken’ichi comentou calmamente se juntando a conversa quando ele entrou na
cozinha. Seus pensamentos um espelho quase exato aos de Cyn, e ela se encontrou
constantemente tendo que mudar sua avaliação dele. Ele permaneceu uma sombra
de Juro por tanto tempo que ela ainda estava se ajustando a essa nova versão –
uma que falava.
Cyn cobriu sua confusão tomando um gole do que parecia ser a centésima
xícara de café do dia. Nem mesmo o gosto era bom mais. Ela abaixou a xícara com
uma careta e atualizou ambos os vampiros.
— Lucas não é nosso problema hoje à noite. Eu recebi essa mensagem de
texto hoje. — Ela entregou seu telefone para Ken’ichi que colocou no balcão entre
ele e Elke, onde ambos poderiam ler. Amaldiçoando suavemente, Elke rolou até
eles lerem a conversa toda, então ela olhou para cima com um olhar acusador.
— Você concordou em encontrá-lo.
Cyn assentiu. — Robbie e eu discutimos, e decidimos que valia a pena
tentar, contanto que nós fôssemos espertos sobre isso. É sempre possível que
Mathilde o enviou, mas isso não se soma. Se ela sabe que eu ainda estou aqui, ela
não perderia seu tempo com um geek de computador. Ela enviaria um esquadrão
inteiro, ou ela me ignoraria completamente.
— Mas Willis disse que ele trabalhava para Rhys Patterson, e a última vez
que ouvimos, foi que Patterson estava apenas com Mathilde sob coação. Então
Willis podia apenas estar tentando ajudar seu chefe.
— Então, ele acha que nós podemos ajudá-lo, — Elke disse secamente. —
Mas o que isso significa para nós?
— Isso é o que eu quero saber, e eu estou disposta a encontrá-lo.
— Você e Rob já tem isso preparado? — Ken’ichi perguntou, encontrando
seu olhar solenemente.
Cyn assentiu. — Hoje à noite, no McDonald’s local, Robbie já está lá. Ele
manteve observando, apenas no caso de Willis tentar se esgueirar em um beco ou
três. O acordo foi que ele viria sozinho.
— Que horas que nós o encontraremos? — Elke perguntou.
— A reunião é noventa minutos após o pôr do sol, mas eu disse a Robbie
que nós chegaríamos mais cedo.
— Como nós supostamente chegaremos lá se Rob levou o carro de palhaço?
— Elke perguntou. — Eu quero dizer, Ken’ichi e eu podemos correr, mas você...
— Eu tive um local de locação diferente entregando outro veículo.
Elke ficou em pé. — Eu espero que você tenha um carro real dessa vez.
Cyn sorriu. — Eu cuidei disso. Caras, vocês estão prontos para o rock e
roll?
— Eu estou pronto para partir, — Ken’ichi concordou, afastando-se do
balcão.
Elke revirou seus olhos para ele, em seguida olhou para Cyn. — O que ele
quis dizer foi, “inferno, vamos foder um geek!”.

****

O McDonald’s estava aberto quando eles entraram no estacionamento. Com


as semanas de verão ainda longe, a escuridão veio mais cedo, e a hora do rush
estava completamente terminada. Mas como Robbie tinha predito, a área de
piquenique estava quase deserta. Na verdade, havia somente uma pessoa sentada
do lado de fora, e aquele era Donavan Willis. Cyn o reconheceu de sua breve visita
a casa. De fato, ele parecia exatamente o mesmo, até as roupas que ele estava
usando. O que fez ela pensar que ele devia estar se escondendo, apenas como eles
estavam.
Ele estava sentado na mesa, várias fileiras atrás, mas encarava o
estacionamento, um laptop aberto na frente dele como se ele fingisse trabalhar.
Cyn podia dizer que ele estava fingindo, porque mesmo no curto tempo que ela
tinha estado observando-o, seus olhos tinham ficado mais fixos nos carros vindo e
indo do que na tela de seu computador.
Cyn pegou seu telefone e discou o número de Rob.
— Ei, — ele respondeu. — Rodas legais.
— Elke também achou. Qualquer coisa que eu precise saber?
— Não que eu tenha visto. Nosso garoto apareceu cinco minutos antes do
que você. Imagino que ele não confia em nós também.
— Eu encontro-me bem com isso. Como você quer jogar isso?
— Eu farei o primeiro contato. Se as coisas estiverem seguras eu me
levantarei e virarei em direção a sua posição. Então você vem para frente com os
outros.
— Soa bem.
— Não se aproxime sozinha, Cyn. Deixe Ken’ichi e Elke fazerem seu
trabalho.
— Sem discussão. Eu tenho somente um objetivo aqui, e esse é chegar a
Raphael. Eu não posso fazer isso se eu for capturada ou morta.
— Ninguém vai chegar a você. Não no meu turno
— Eu sei. Nós esperaremos por seu sinal.
Ela desligou e colocou o telefone de lado, sem se preocupar em dizer aos
outros o que Robbie tinha dito. Eles eram vampiros. Eles provavelmente tinham
sido capazes de ouvi-lo melhor do que ela.
— Lá vai ele, — Elke disse suavemente.
Robbie saiu da escuridão em torno da área de piquenique, movendo-se
firmemente, mas sem correr, claramente tentando evitar assustar Willis. Cyn não
tinha certeza se isso funcionou. Willis se levantou em um salto, quase caindo
quando seus joelhos bateram no banco da mesa de piquenique, mal conseguindo
se segurar o bastante para não cair sem graça em seu traseiro.
Nunca tirando seus olhos de Robbie, ele empurrou seus óculos para cima
em seu nariz no que era claramente um gesto habitual. Ele disse algo que Cyn não
pode pegar, e ela desejou que eles tivessem tido bastante tempo para pegar algum
equipamento de comunicação. Ela colocou isso em sua lista mental de tarefas. Eles
precisavam de um tipo de dispositivos bluetooth que todo o pessoal de segurança
de Raphael usava. Se ela tivesse pensado sobre isso, ou se eles tivessem mais
tempo, ela teria agarrado alguns quando eles saíram pela porta de sua grande casa.
Mas não devia ser tão difícil encontrar algo equivalente, mesmo aqui no paraíso.
Ela focou de volta em Robbie que estava dizendo algo para Willis. Ele
inclinou-se para frente e estendeu uma grande mão, deslizando a outra para fechar
a tampa do laptop do homem, mantendo sua mão no dispositivo, dedos espalhados,
enquanto ele falava intensamente. Willis inclinou-se para longe, sua postura rígida,
mãos para cima em sua frente, boca se movendo enquanto ele respondia
rapidamente o que quer que Robbie tivesse tido.
Robbie olhou para o outro homem brevemente, em seguida girou em direção
ao estacionamento. Seu olhar foi diretamente para o canto escuro onde Cyn e os
outros estavam esperando, e deu um aceno quase imperceptível.
— Parece como um sim, — Cyn anunciou com cuidado para não deixar
nenhuma ansiedade que ela estava sentindo transparecer em sua voz. Sua
preocupação não era com ela. Não era nem mesmo com Robbie ou os outros. Sobre
o que ela se preocupava, o que tinha medo que deslizava ao longo de seus nervos
como um enxame de formigas mordedoras, era a possibilidade de falhar. A chance
que ela fizesse um movimento errado no tempo errado, e Raphael pagaria por seu
erro. Ela podia aceitar sua própria morte, mas não a de Raphael.
— Eu irei primeiro, — Ken’Ichi informou-a. Ele não estava pedindo sua
aprovação, ou solicitando seu consentimento. Esse era seu guarda-costas dizendo
a ela como iria ser.
— Elke seguirá, — ele continuou, — E em seguida você. Você permanecerá
dentro da nossa cobertura até nós sabermos se é seguro.
— Robbie concordou. Ele deve pensar...
— Rob é um excelente guarda-costas, mas ele é, todavia, humano. Há
métodos mais confiáveis para verificar as intenções de Willis.
— Não o machuquem, — Cyn advertiu. — Se ele está sendo sincero, nós
precisaremos de sua cooperação, se não de sua confiança.
— Eu estou ciente. Você está pronta, Elke?
Elke assentiu de novo, toda negócios, apenas como Ken’ichi. Ela abriu sua
porta e caminhou ao redor da frente da SUV para ficar em pé apenas na retaguarda
de Cyn. Uma vez que ela estava em posição, Ken’Ichi saiu do veículo, que
aparentemente era o sinal que Elke estava esperando. Ela estendeu a mão para a
maçaneta de Cyn, mas Cyn foi mais rápida que ela. Abriu a porta do seu lado,
pisando sobre o estribo quando seus pés bateram no estacionamento ela se
endireitou. As portas dos dois veículos bateram fechadas com praticamente
simultâneos sons de thunks, e então eles estavam em movimento.
Cyn pegou o momento que Willis viu eles vindo. Seus olhos se fixaram
primeiro em Ken’Ichi, arregalando-se em choque, e ocorreu a Cyn que Willis
provavelmente pensou ser Juro. Os gêmeos eram verdadeiramente idênticos em
aparência. Era somente depois que você os conhecia que percebia eles eram
facilmente distinguíveis um do outro.
Mas Willis não conhecia nenhum deles. Ele via aquele que ele
provavelmente pensava ser Juro avançando sobre ele, quando ele acreditava que
Juro e os outros tinham voltado para L.A.
Ele ergueu seu pé lentamente, parecendo como se ele estivesse pronto para
fugir.
Cyn deu um passo para fora da sombra de Ken’Ichi, ignorando seu grunhido
de aviso, enquanto ela colocava um sorriso no rosto e estendia uma mão em
saudação. Ela sabia que era contra as regras, mas ela não queria que Willis
desaparecesse antes que eles tivessem uma chance de falar.
— Senhor Willis? — Ela disse desnecessariamente, ainda oferecendo sua
mão. — Eu sou Cynthia Leighton. — Ela falou calmamente, para que ninguém
escutasse. Ela tinha fé em ambos, Robbie e Ken’Ichi, mas seu grupo não era
exatamente discreto na área de piquenique do McDonald’s. A brecha poderia ser
algo tão inadvertidamente quando uma pessoa ocupada os avistando e passando-
os como uma casual fofoca, e a pessoa seguinte fazendo o mesmo até serpentear
seu caminho de alguma forma aos ouvidos de Mathilde.
Willis ignorou sua mão no início. Ele estava muito ocupado examinando-a,
das roupas que ela usava até o arreio em seu ombro espreitando para fora de sua
jaqueta, a uma cuidadosa varredura de seu rosto.
Finalmente, ele estendeu sua mão através da mesa marcada, com suas
camadas de tinta grossa, e disse: — Chame-me de Donovan.
Cyn balançou sua mão. — E eu sou Cyn. Eu devo me juntar a você?
Ele sorriu para isso, um meio sorriso nervoso, que torceu um lado direito
de sua boca. — Essa é a razão para você estar aqui, não é?
Cyn balançou uma longa perna sobre o banco e sentou, disparando um
sorriso para Robbie que permanecia perto de Donovan, sua Beretta 9MM pronta e
mantida para baixo em sua coxa, fora de vista dos transeuntes, mas claramente
visível para Donovan. Robbie obviamente não confiava na tecnologia ainda, mas
em seguida, isso era o que fazia ele tão bom em seu trabalho.
— Esse é Rob, — ela disse, — Mas você provavelmente sabe disso. Atrás de
mim está Elke e Ken’Ichi.
— Ken’ichi, — Willis repetiu, principalmente para si mesmo, enquanto ele
olhava fixamente para Ken’Ichi. — Ele apenas se parece com...
— Ele faz, — Cyn concordou. — Mas ele não é. — Ela não explicou o porquê
dos dois vampiros japoneses serem tão parecidos. Isso não era da conta de Willis.
— Então, porquê você está aqui, Donovan? — Ela perguntou diretamente.
As mãos de Willis tremeram muito levemente quando ele as ergueu para
descansar sobre a mesa nos lados de seu laptop, seus olhos cabisbaixos, como se
ele estivesse se reunindo para o que quer que viesse a seguir. Finalmente, ele olhou
para cima e disse: — Porque ambos perdemos alguém que amamos.
Cyn olhou fixamente para ele. — Eu não perdi ninguém ainda. E eu não
pretendo.
Donovan balançou sua cabeça impacientemente. — Eu não quis dizer...
ninguém está morto, pelo menos não que eu saiba. E eu acho que eu saberia.
— Você é humano, — Ken’Ichi, afirmou o óbvio. — Então quem é sua
companheira?
Cyn piscou pela pergunta que parecia vir do nada, então ela percebeu...
Donovan afirmou que ele saberia se alguém tivesse morrido. E a única forma de ele
saber isso era se ele fosse companheiro, apenas como Cyn saberia se algo
acontecesse com Raphael. Então quem era a companheira de Donovan?
Donovan engoliu forte, olhando fixamente primeiro para Ken’Ichi, então
para Cyn, seus olhos piscando rapidamente como se lutasse contra as lágrimas. —
Rhys, — ele disse finalmente, falando em um quase sussurro. — Rhys Patterson.
Cyn o olhou de perto. Eles tinham assumido que Patterson estava sendo
forçado a ajudar Mathilde. As palavras de Donovan pareciam confirmar isso.
Cuidando para evitar que essas especulações colorissem suas palavras, ela disse
apenas: — Eu pensei que Rhys Patterson fosse o mestre destas ilhas.
Donovan assentiu. — Ele é.
— E vocês dois são companheiros.
— Nós somos, — ele disse quase desafiadoramente.
— Relaxe, — Cyn lhe disse. — Eu não me importo com quem Patterson ama.
Tudo que eu me preocupo é sobre se ele se manteve fiel ao seu juramento com o
Lorde. E esse é Raphael, não algum intruso da França.
— Rhys não traiu Lorde Raphael.
— Você perdoará meu ceticismo.
— Eu sei como isso parece, mas você não sabe de tudo. Mathilde tem o povo
de Rhys. Ela tomou eles sem qualquer aviso, antes que ele até mesmo soubesse
que ela estava aqui. Rhys não é um Lorde. Ele não é como Raphael ou os outros
que podem perceber o momento em que os poderes estrangeiros cruzam suas
fronteiras. Ele nem mesmo sabia que Mathilde estava no Havaí até que ela
apareceu em nossa porta, e então já era tarde demais.
— Como ela está prendendo os outros? Eu quero dizer eles são vampiros.
Se um número suficiente deles se aglomerar...
— Eles estão famintos. Ela dá a eles apenas sangue o bastante para mantê-
los vivos, mas não mais.
— Como você sabe? Eu quero fizer, sem ofensa, mas você é humano.
— Assim como você, — ele retrucou, mas Cyn apenas deu de ombros.
— Você disse isso, — ela lhe disse. — Raphael é muito mais poderoso do
que Rhys, nossa mente está sempre em contato.
— Você está certa. Rhys não é tão poderoso. Mas eu estou conectado o
bastante a Rhys para que eu possa sentir sua dor, não somente a dele, mas dos
outros. Eles são seus filhos e estão sofrendo terrivelmente.
Cyn não sabia se algo disso era verdade, mas ela estava convencida que
Donovan acreditava. Ela também estava convencida que ele amava Rhys Patterson.
— Então onde está Rhys agora?
— Ele está com a vagabunda maluca da Mathilde. Eu não sei exatamente
onde ainda, porque ela moveu todo mundo. Eu somente sei que ela mantém Rhys
perto.
— Por que ela não está preocupada sobre o que você está fazendo, deixado
totalmente sozinho? Ela não sabe sobre você e Rhys?
— Mathilde não tem um companheiro e é muito desdenhosa daqueles que
tem, alegando que isso os enfraquece, tornando-os como sua presa, ela nem mesmo
tem um amante regular que eu possa dizer. Seus vampiros saem caçando e trazem
para casa uma seleção de doadores, como um prato de sobremesa. Mathilde faz
sua escolha, dá uma mordida, os fode se ela achá-los atraentes, e então ela esquece
sobre eles.
— Eles estão matando pessoas? — Cyn perguntou, inclinando-se para
frente intencionalmente.
— O povo de Mathilde não está. Mas eu não posso falar pelos outros.
— Outros?
— Você deve saber sobre eles, — ele disse olhando para cima e dando a
Ken’Ichi um olhar confuso. — Mathilde voou com um exército inteiro de mestres
vampiros. Eles são os únicos bloqueando Raphael. Logo depois que eles chegaram,
Rhys ficou furioso porque eles estavam deixando vítimas humanas, ou doadores se
você quiser chamá-los assim, feridos e perto da morte. Ele disse que o pessoal de
Mathilde estava cagando sobre toda sua casa, e deixando ele para limpar sua
bagunça. Então um par de pessoas foi morta, e ele quase perdeu isso.
Cyn trocou um olhar com Robbie. Se Donovan estivesse certo, então aqueles
relatórios de notícias que ele tinha lhe dado deviam conduzir a qualquer lugar que
Raphael estava sendo mantido. A menos que...
— Você sabe para onde eles foram movidos? Onde eles estão mantendo
Raphael agora? — Ela perguntou urgentemente.
Mas Donovan balançou sua cabeça. — Todos eles desapareceram. Até
mesmo Rhys. Foi por isso que eu contatei você. Ela prometeu a Rhys que liberaria
ele e nosso pessoal uma vez que Raphael estivesse seguro. Mas quando eu voltei
essa manhã... todo mundo tinha ido, e Rhys não tem me contatado.
— Onde você estava quando eles desapareceram?
— Eu estava tentando encontrar a casa onde ela mantinha nosso pessoal.
Nós pensamos, isso é, Rhys e eu pensamos que se eu pudesse chegar aos seus
vampiros, e se todos eles trabalhassem juntos, então talvez ele pudesse partir. Ele
estava certo que ele sabia onde Mathilde tinha os escondidos, mas... ele estava
errado. E quando eu voltei para lhe dizer, ele tinha desaparecido, também.
— Essa é a casa onde Raphael encontrou Mathilde?
Ele balançou sua cabeça. — Não, ela somente usou aquele lugar para o
encontro. Ela estava ficando na casa onde Rhys e eu vivemos. Ela levou Raphael
para lá na primeira noite, logo depois que ele foi capturado, mas eu voltei noite
passada, e está completamente vazia.
— Qual era o plano de Rhys? Eu quero dizer, se você tivesse tido sucesso
em libertar seus vampiros? E sobre Raphael?
— Eu não sei, — Donovan disse sem olhar para ela. Mas então ele ergueu
sua cabeça com um olhar e grunhiu com veementemente, — E eu não me importo!
O grande Lord Raphael. Mesmo Rhys falava sobre ele como se ele fosse um deus,
o grande mal encarnado. Então ele podia salvar a si mesmo. Eu somente me
preocupo sobre Rhys.
Cyn encolheu os ombros. — Então por que você me ligou?
— Porque quer eu goste ou não, a melhor chance de Rhys sobreviver é se o
fodido do Raphael se soltar. E eu conheço sua reputação. Você vai ir atrás de
Raphael, e eu posso ajudá-la a fazer isso acontecer.
— Como você sabia que eu estava na ilha? — ela perguntou, ainda muito
desconfiada.
— Eu rastreei seu telefone celular.
— Você hackeou meu telefone?
— Como se fosse mesmo um desafio, — ele disse com desdém. — Eu disse
a você, eu ouvi sobre você. Eu não tinha certeza que você tinha vindo com Raphael
originalmente, mas eu soube que se você não estivesse aqui já, você estaria em
breve.
Cyn digeriu tudo isso. Pelo menos Rhys era honesto. Ele admitiu que ele
não dava a mínima sobre Raphael, que só estava pedindo carona em sua
investigação para salvar Rhys. Mas, enquanto ele pudesse ajudar, ela não se
importava quais eram suas motivações. Se ele estivesse dizendo a verdade sobre
tudo isso...
— Ken’Ichi? — ela disse, bloqueando seu olhar em Willis.
— Cynthia.
— Ele está dizendo a verdade?
Willis arregalou os olhos em realização. Ele não conhecia Ken’Ichi, mas com
sua pergunta, Cyn tinha acabado de informar que ele também era poderoso o
bastante para saber quando um humano estava mentido. Cyn esperou por Willis
entrar em pânico, talvez até mesmo tentar correr – embora ele nunca teria tido
sucesso – mas quando sua garganta se moveu ao engolir de nervoso, ele olhou por
cima do ombro dela e esperou pelo veredito.
— Ele está dizendo a verdade, — Ken’Ichi disse, sua voz profunda escura
com desgosto. — Ele verdadeiramente não dá a mínima sobre meu Lorde Raphael.
Que é também meu Sire, humano.
Cyn mostrou seus dentes em um sorriso forçado, enquanto Willis disparava
um olhar nervoso sobre seu ombro. Ela não precisava virar e olhar para saber que
Ken’Ichi estava dando a Willis seu melhor olhar ameaçador.
— Tudo bem, — ela disse, chamando a atenção de Willis de volta para ela.
— Então, eu entendo o porquê você quereria nossa ajuda, eu apenas não entendo
o porquê nós quereríamos a sua. Eu não estou exatamente trabalhando sozinha
aqui, — ela disse, levantando o queixo em um meio círculo para indicar Robbie e
os dois vampiros. — Por que eu preciso de você?
— Porque eu conheço as ilhas, e eu conheço Mathilde. Ela tem estado se
pavoneando ao redor por aqui a semanas, fazendo exigências como se fosse uma
rainha, ameaçando o resto de nós como lixo. Eu sei como ela pensa. E eu tenho
habilidades, — ele adicionou com mais do que um toque de arrogância. —
Habilidades que, com todo o devido respeito ao resto de seu time aqui, eu duvido
que eles possam duplicar. Eu posso quebrar qualquer banco de dados, qualquer
computador. E se você encontrar Mathilde, eu tenho uma porta dos fundos de saída
para cada sistema que ela possui, de seu telefone celular para as unidades de
comunicação que sua segurança está usando.
— Eu acredito que suas habilidades de hackear podem ser úteis, — Cyn
admitiu embora ela não estava prestes a dizer a ele que ela estava lamentando a
ausência daquelas mesmas habilidades apenas a poucas horas antes. — Mas por
que Mathilde teria incluído você em qualquer um de seus planos?
— Quem disse que ela me incluiu? Eu não era nem mesmo um ponto em
seu radar. O que é exatamente como eu entreouvi tanto quanto eu fiz. Ela teve que
incluir Rhys, porque ele era o único que conhecia as ilhas. Sem mencionar, que
sua participação era necessária para enganar Raphael. Mas aqui está a coisas...
Rhys me levou com ele na maioria das reuniões, e eu prestei atenção.
— E Mathilde não percebeu isso?
— Não mais do que ela notaria um cachorro sentado aos pés de Rhys.
Cyn bateu seus dedos na mesa distraidamente, tentando encontrar um
buraco em sua história, uma razão do porquê ela não devia aceitar sua ajuda. Ela
não veio com nada.
— Ok, — ela disse abruptamente. — Nós temos uma casa que estamos
usando por agora. Nos moveremos quando a investigação exigir, mas por agora, é
conveniente, nós voltaremos para lá e decidiremos para onde nós iremos a seguir.
Você tem um carro?

****
Concluindo que Willis tinha um carro, e depois de um pouco de
reorganização entre os três veículos e a garagem para dois carros, foi acordado que
o carro de Willis devia definitivamente ficar fora de vista. Podia ser como ele disse,
que Mathilde mal sabia que ele estava vivo, mas não havia necessidade de instigar
o destino. Quanto a outra vaga na garagem, eles decidiram que o carro de palhaço
parecia mais como um carro alugado por turistas, então esse foi deixado na entrada
da garagem e o suburban foi estacionado na segunda vaga, fazendo o carro de dois
lugares do hacker parecer menor.
Cyn já havia entrado na cozinha, imaginado que o debate sobre o
estacionamento não requereria sua contribuição. Ela só tinha uma coisa em sua
mente, e isso era dormir, e se ela realmente estivesse com sorte, talvez sonhasse
com Raphael. Ela pegou uma garrafa de água, e começou a ir para o quarto, mas
encontrou-se sentando na escada, muito cansada para continuar indo, ou até
mesmo tirar sua jaqueta. Ela se perguntou se Raphael a alcançaria em seus sonhos
se ela dormisse aqui mesmo.
Sem aviso as grandes mãos de Robbie levantaram seu corpo para ficar em
pé. — Vá para cima, Cyn, se algo acontecer, eu acordarei você.
Cyn olhou friamente para ele. — Você me carregará?
Robbie sorriu. — Não, mas você pode inclinar-se sobre mim então nós não
fracassaremos antes de chegar lá.
Quando eles chegaram ao quarto que ela estava chamando de seu, Cyn deu
um tapinha no peito de Robbie em agradecimento, então fechou a porta, enquanto
ele se afastava. Tirando suas roupas uma peça por vez, ela as deixava onde quer
que caíssem. A única exceção seus arreios de ombro e a Glock 9mm que estava lá
no coldre. Os arreios, ela colocou sobre a cadeira perto da cama, a Glock foi para
mesa perto do travesseiro. Sua arma reserva ainda estava em sua mochila. Ela não
a usou para encontrar Willis, porque tinha muito poder de fogo em sua equipe sem
ela, mas desse momento em diante, ela teria ambas as armas com ela sempre que
eles saíssem.
Deitando-se sobre o colchão muito firme em nada além de suas roupas
debaixo e um top com elástico, Cyn contemplou tomar um banho, mas não tinha
força de vontade para fazer qualquer coisa, exceto puxar as cobertas e se colocar
embaixo delas. Os lençóis estavam frios e cheirando a limpeza, seu corpo doía com
o alívio por finalmente estar deitado. Ela relembrou a imagem de Raphael quando
ela o viu pela última vez, quando ele a beijou em despedida antes de ir encontrar
Mathilde. E ela se perguntava pelo que ele estava passando. Era noite. Não
importava o que eles estavam fazendo com ele, ele estaria acordado e consciente.
Eles estavam torturando-o? Ele estava se perguntando porquê ela não tinha o
encontrado ainda?
Seu olhar caiu sobre a jaqueta de couro de Raphael, a única que ela pegou
em seu caminho para fora da casa, a única que ele não tinha usado porque ele
queria se vestir adequadamente para as negociações com Mathilde. A vadia.
Cyn estendeu um braço e agarrou-a na cadeira, em seguida se enterrou de
volta nos travesseiros, abraçando em seu peito. Ela sentiu o primeiro rastro quente
do líquido ao longo de sua bochecha quando uma lágrima vazou e ensopou o
travesseiro. E então ela dormiu.

****

O colchão próximo a ela afundou como se alguém se ajoelhasse na cama,


as cobertas movendo-se atrás dela. Ela reconheceu o cheiro dele, reconheceu a
força de sua presença, enquanto ele estendeu um braço poderoso e arrastou
através do lençol frio, aconchegando-se a ela na curva de seu grande corpo.
Cyn gemeu suavemente, entrelaçando seus dedos com os dele sobre seu
abdômen, prendendo seus braços no lugar antes que ele pudesse desaparecer.
— Durma, Lubimaya — ele murmurou.
— Eu não posso dormir. Eu tenho que encontrar você, — ela se queixou,
ouvindo o mal humor em suas próprias palavras. Ela soava como uma criança
cansada.
— Eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui, — ele disse, pressionando uma
mão em seu coração.
— Não! — Ela quase gritou, empurrando sua mão longe. — Não diga merda
como essa. Eu não quero você em meu fodido coração como uma memória. Eu
quero você em meus braços onde eu possa tocar você, onde eu possa deixar você
louco.
Seus lábios se moveram contra seu cabelo com um sorriso, e ela rolou,
enterrando seu rosto contra seu peito. — Você realmente está aqui, ou eu estou
sonhando?
Que pergunta estúpido de fazer, ela pensou. Se a coisa toda fosse um sonho,
sua mente sonhando não saberia disso. Dãh,
— Não importa, — ela murmurou, então cedeu e perguntou o que tinha a
assombrado a cada momento em que esteve acordada desde que ele tinha sido
levado. — Você está bem? Eles estão... machucando você?
Os braços de Raphael apertaram ao seu redor. — Eles não são poderosos o
bastante para me machucar, — ele disse. — Tudo que eles podem fazer é me
prender. E mesmo esse controle se desfaz com cada hora que passa ou eu não
estaria aqui com você agora.
Cyn ouviu cada palavra, cada sílaba de suas garantias, esforçando-se para
ouvir o menor indício de decepção, algo que diria a ela que ele estava dizendo o que
ela precisava ouvir ao invés da verdade. Mas ela não encontrou nada. Raphael era
um mentiroso talentoso, mas não com ela, não mais. Ela acreditava que ele
realmente estava bem... por agora.
— Onde você está? — Ela sussurrou, quase com medo de fazer a pergunta.
Com medo que ele desapareceria no momento que ela deixasse o reino do sentir e
cruzasse para o mundo real, das estratégias e dos resgates.
— Eu não sei, — ele admitiu, arrependimento e até mesmo embaraço óbvios
em seus pensamentos. — Era noite quando nós deixamos a casa, mas dia antes
que o avião partisse.
— Avião, — Cyn repetiu urgentemente. — Vocês estão em um avião...
Raphael?
Ele estava desaparecendo. Não indo como na vida real, não um gradual
deslizar, mas apenas... desaparecendo. E ela queria gritar. Ela tinha que fazer
aquela estúpida pergunta? Ele teria ficado mais tempo se ela apenas tivesse calado
a boca e o beijado? Beijar ele. Ela nem mesmo conseguiu beijá-lo.
Cyn acordou com a luz intensa do pôr do sol fluindo através da janela
aberta, e as lágrimas escorrendo em seus olhos. Ela enrolou-se em uma bola
abraçando a jaqueta de Raphael, segurando a memória dele perto enquanto ela
deixava as lágrimas virem. Coloque tudo para fora agora, ela pensou. Livre-se de
toda essa inútil emoção, em seguida levante, tome um fodido banho, e fique pronta
para chutar alguns traseiros.
Capítulo 10
— ELES O LEVARAM para outra ilha.
Todos olharam para cima com o anúncio de Cyn, quando ela entrou na
cozinha pouco tempo depois, após um banho rápido e uma troca de roupa. Ela foi
diretamente para a máquina de café e derramou um copo de Java7, adicionou
açúcar, e então deu a volta com a caneca na mão ainda mexendo-o.
Ken’ichi foi o primeiro a reagir. — Raphael entrou em contato com você? —
Quando Cyn confirmou a sua suposição com um aceno, sua expressão tornou-se
presunçosa com se ele soubesse o tempo todo que ninguém poderia segurar seu
Sire por um longo tempo.
Elke e Robbie estavam sorrindo, mas Willis era o único que parecia confuso.
— Vamos lá, rapaz. — Robbie disse impacientemente. — Você está ligado a
um vampiro razoavelmente poderoso. Vocês devem se falar em algum nível mental,
certo?
— Bem, sim, mas... você está dizendo que ele falou enquanto você dormia?
Enquanto ele dormia? Durante o dia?
Cyn encolheu os ombros. — Sim.
Willis apenas olhou a ela, aparentemente sem palavras. E Cyn lembrou o
que ela considerava por concedido como parte da vida com Raphael era realmente
extraordinário, mesmo entre vampiros.
— Ok. — Ela disse de repente desconfortável. — Nós tivemos a confirmação
que ele está fora da ilha. Não sabemos onde. Nossa melhor aposta são os
assassinatos semelhantes ataques de vampiros em Honolulu. Eu vou ligar para

7
Tipo de café.
Murphy novamente, e ver se ele fez algum progresso com seu amigo de Oahu.
Poderia ser de grande ajuda ter um policial em nosso time.
— Você não precisa de um policial. Eu posso entrar no sistema do HPD8 no
momento que eu quiser. — Willis disse, claramente querendo provar seu valor.
— Isso é ótimo, e é por isso que precisamos de você. Mas os policiais falam,
e nem tudo o que eles dizem é encontrado em um registro oficial. Eu também
gostaria de aproveitar isso.
Willis assentiu com um acordo relutante. Os hackers tendiam a acreditar
que tudo poderia ser encontrado em algum lugar online.
— De qualquer maneira. — Cyn oficialmente continuou. — Nós estamos
deixando essa casa e provavelmente não vamos voltar. O que significa que as
janelas terão que ser descobertas, juntamente com qualquer evidencia que grite
vampiro. Eu vou ter Luci providenciando para a casa um serviço de limpeza que
virá e tomará conta do resto.
Ela bebericou o resto do seu café, então enxaguou a caneca e colocou dentro
da máquina de lavar, enquanto os outros empurravam as cadeiras e banquinhos.
— Robbie, você conheceu o piloto, Brandon. Ligue para ele, por favor, e
arranje um voo para mais tarde esta noite. O mais rápido que ele puder preparar.
E eu vou ligar para Murphy.
Ela saiu da cozinha, parando apenas para encontrar os olhos negros de
Ken’ichi com um sorriso confidencial. — Eu vou encontrá-lo. E então iremos tomar
conta do resto deles.
Ken’ichi deu a ela um sorriso raro, exultante como um predador. — Eles
morrem, Cynthia. Cada um deles.
— Eles com certeza irão.

****

O telefone tocou uma vez, antes de Colin Murphy responder com um curto:
— Leighton.
— Eu sou a única pessoa que nunca diz “Olá”, Murphy? — Cyn perguntou
secamente.
— Não, isso é praticamente o meu método padrão de saudação. A menos eu

8
Departamento de Polícia de Honolulu.
não saiba quem está ligando, então é: ‘O quê inferno você quer?’, então julgue-se
com sorte.
— Sorte é bom, mas um contato com a força polícia local poderia ser melhor.
Você ainda tem conversado com seu amigo SEAL?
— Eu conversei e tenho um nome para você. O nome do policial é Mal
Turner, e ele é um detetive do HPD, esse é Departamento de Polícia de Honolulu.
Se você precisa de uma jurisdição diferente...
— Não, isso está perfeito. O que eu digo a ele?
— O nome do meu amigo é Doug Burgess. Ele ligará para Turner, então ele
estará esperando ouvir de você.
— Isso é bom. Obrigada, Murphy. Como está a fronteira no Norte?
— Quieto por agora, mas estamos nos preparando para o pior. Estamos
tentando antecipar uma estratégia, mas é difícil com tão pouca informação.
— É tanto território para cobrir. — Cyn disse, referindo ao território de
Sophia, o qual era todo o Canadá.
— Raj e Aden realmente intensificaram a fronteira. Lucas também, embora
com Raphael faltando, ele está focado em ajudar Juro e Jared no Oeste.
— Raphael viu isso vindo.
— Parece que sim. Estaríamos pior sem a aliança.
Cyn queria sentir bem com isso, e ela se sentiu. Estava orgulhosa por
Raphael ter conseguido unir os oitos lordes vampiros do norte da América uma
única aliança funcionando. Mas era difícil sentir-se bem com as conquistas de
Raphael, enquanto ele permanecia prisioneiro da Mathilde.
— Mathilde e outros irão se arrepender de terem deixado Europa.
— Como está indo, Leighton?
— Eles o moveram para fora da ilha. Nós sabemos que isso é um fato. E
temos uma pista de onde ele pode estar. Seu amigo policial será útil para deduzir
isso.
— Então, você está otimista.
— Eu não estou otimista. Não quando se trata das pessoas com quem me
importo. Eu apenas faço o trabalho, e eu apenas faço com uma vingança quando
alguém fode com Raphael.
— Uh huh. Agora que temos isso fora do caminho, como estamos realmente
sentindo? A versão sem merda estúpida.
Cyn afundou na cama com um suspiro. — Eu estou assustada até a morte.
— Todo mundo fica assustado com coisas assim, que...
— Não, Murphy. E não estou assustado por mesma. Tenho medo de fazer
algum estupido e Raphael pagar o preço.
— Foda isso. Eu confio em você com a minha vida, Leighton. Seus instintos
são bons o bastante como de qualquer soldado que eu conheço, e eu conheço
alguns dos melhores.
Cyn sorriu ironicamente. — Obrigada, Murphy. Então se não é verdade, é
bom ouvir isso.
— Merda, Cyn. Eu quis dizer cada maldita palavra.
— Ok.
— Rob ainda está com você, certo?
— A cada passo do caminho. Ele não me deixa fora de sua vista.
— Aí está. Se um soldado como Rob segue você, então você está fazendo
algo certo.
— Ok. — Ela repetiu.
Murphy praguejou suavemente. — Chame Mal Turner, Cyn. E se você não
conseguir, você pode chamar meu amigo Doug. Eu estou enviando a você o número
pessoal dele, e eu também incluí o número do HPD, apenas no caso. Mas eu
avisarei Doug, que você provavelmente estará lingando essa noite dando a
circunstâncias.
Cyn olhou para baixo no seu telefone tocando uma mensagem. — Recebido.
— Ela falou a Murphy.
— Certo. Eu tenho que ir. Está tarde aqui e as reuniões estão acontecendo,
tentando ter todo mundo pronto.
— Eu entendo. Boa sorte, e eu vou falar com você quando nós estivermos
de volta em L.A.
— Ligue a qualquer momento, Leighton. Especialmente se for boas notícias.
— O mesmo, tchau Murphy.
Cyn desligou, então abriu o telefone e discou o número de Mal Turner. Ela
se preparou sem saber o que esperar. Ela nunca tinha sido nada além de uma
policial de rua, e ela não durou muito tempo no LAPD. Mas ela conhecia alguns
detetives. Eles eram geralmente obcecados com trabalho e não apreciavam ter que
lidar com amigos ou parente de alguém. Todos eles fazem, por que toda sua rede
de trabalho era crítica, mas eles não gostavam disso.
O telefone tocou cinco vezes e ela estava prestes a desligar quando a voz
rosnou: — Turner.
Cyn não gastava tempo com sutilezas. — Sou Cynthia Leighton. Doug
Burgess me deu seu telefone.
— Sim, ele deu. Isso é sobre o quê?
— Burgess não disse nada?
— Eu não perguntaria se ele tivesse feito, Docinho.
Cyn fez uma careta com a palavra de carinho, mas deixou passar. — Eu
estou procurando por um assassino que eu penso estar atuando na sua jurisdição.
— Yeah? Coisa engraçada. Isso é coisa do tipo que eu faço. Então me diga
porquê eu preciso de você para fazer meu trabalho.
— Por que esse assassino é um vampiro, Detetive Turner. E eu sei o muito
mais sobre vampiros do que você.
Ela esperou. O silêncio continuou por vários minutos, mas ela sabia que ele
continuava lá. Ela poderia ouvir o som de alguma coisa tocando no fundo, então
Turner amaldiçoou e o som cortou.
— Quem diabos é você? — Ele exigiu.
— Eu disse para você. Meu nome é Cynthia Leighton. Quanto ao resto,
deveríamos nos encontrar, isso não é coisa que se discute no telefone.
— Como eu sei que você não está cheia de merda?
— Verifique, você tem meu nome, E eu vou dar qualquer outra informação
que você precise. Eu sou formada pela LAPD e agora a licenciada no estado da
Califórnia como investigadora particular. E você provavelmente vai encontrar
outras histórias lá fora também. Algumas delas são até mesmo verdadeiras. Mas o
mais importante detetive, eu sou a pessoa que pode ajudar a você matar quem está
degolando gargantas em Honolulu.
— Você quer dizer capturar, não quer, Docinho? Você disse, matar.
— Sim. Primeira lição quando se trata de vampiros assassinos, querido.
Quando os você pega, você os mata.
Turner deu uma risada surpreso que soou como pedras rolando em seu
peito.
— Eu gosto de você, Leighton. Quando podemos nos encontrar?
— Eu vou estar em Honolulu tarde dessa noite, então qualquer hora
amanhã de manhã ou à noite.
— Então você não é um vampiro?
— Eu não sou.
— Está certo. Vamos manter isso fora do escritório. Esse é um bom número
para você?
— É um começo, mas é bom para um dia.
— O mistério aumenta, ok. Eu vou mandar uma mensagem para você com
a localização. Nós nos encontraremos às 8:30 amanhã à noite. Não esteja atrasada.
— Eu vou estar lá.
— E, Leighton?
— Sim?
— Estarei verificando você, então se tem algo que queira dizer...
— Nada a dizer, Turner. Vejo você amanhã à noite.
Cyn desligou, então levantou para reunir algumas coisas que ela não
empacotou, incluindo a jaqueta de Raphael. O telefone tocou e ela fez uma pausa
para ler a mensagem recebida de Mal Turner. Ele providenciou o nome e o local de
um bar, mas como ela não conhecia nada de Honolulu, a informação lhe dizia
pouco. Ela faria questão de verificar o bar com Robbie durante a manhã. Amigo de
amigos ou não, ela nunca foi despreparada para um lugar desconhecido, a fim de
encontrar uma pessoa desconhecida.
Robbie colocou a cabeça através da porta aberta, enquanto ela estava
puxando o zíper da duffler.
— Você está pronta? — Ele perguntou. — Brandon está preparando o avião
agora. Ele disse que dado o nosso tempo de condução, podemos decolar assim que
chegarmos lá.
Ela levantou a duffler, a qual Robbie imediatamente pegou dela. — Guarde
a sua força, querida. Murphy conseguiu um policial para você?
— Yeah. O nome dele é Mal Turner. Eu liguei e ele soou interessado no que
temos a dizer. Relutou no começo, mas não há surpresa nisso. No momento que
eu mencionei o assassino vampiro, ele mudou de tom. Nós iremos encontrá-lo
amanhã à noite.
— À noite é bom. Eu sinto melhor com Ken’ichi e Elke na nossa retaguarda.
Eu acredito que não iremos encontrá-lo na estação. Vampiros e policiais não se
misturam.
— Nós iremos nos encontrar em um bar. Você e eu podemos verificá-lo
amanhã à tarde.
— Isso soa bem.
Robbie desceu as escadas, enquanto Cyn fazia uma verificação final dos
quartos do andar de cima, para ter certeza de que os vários lençóis e toalhas
haviam sido removidos das janelas. Lá embaixo, todos os lençóis usados foram
colocados em uma enorme pilha na lavanderia. Cyn fez uma nota mental de
mandar uma mensagem para Luci sobre conseguir um serviço de limpeza e tudo
mais.
Elke estava esperando, quando ela terminou a vistoria no andar de baixo, e
elas se juntaram os outros na garagem para encontrar Robbie e Ken’ichi já subindo
no assento dianteiro do Suburban, com Willis uma pequena sombra no assento da
frente do seu próprio carro. Ela quase esqueceu sobre Willis. Ela não estava segura
se ainda precisaria dele, para ser sincera. Mas não machucaria ter um hacker na
mão, e todo o seu conhecimento das Ilhas e sua conexão com Patterson poderia
ainda provar ser útil antes de tudo isso acabar.
Mas isso não significava que ela confiava nele. Ele não estava indo para
Honolulu com eles. Eles iriam escondê-lo em um bom hotel não muito longe do
aeroporto de Lihue em Kauai. Cy tinha feito às reservas usando um de seus nomes
falsos e cartões de créditos. Ele estaria mais seguro lá, e ele estaria disponível se
ela precisasse dele, mas ele não saberia nada mais do que isso, sobre onde o resto
deles estaria ou o que eles fariam. Willis afirmou estar do lado deles, e o sentido de
verdade de Ken’ichi confirmou a sua intenção. Mas o interesse dele não estava
coincidindo com o deles. Se houvesse uma escolha entre Patterson e Raphael, não
haveria dúvidas em relação a quem ele escolheria.
— Isso significa que você e eu estamos pegando um carro palhaço? — Elke
exigiu, atraindo a atenção de Cyn com um amplo gesto em direção aos homens
dentro do Suburban.
Cyn suspirou. Sério? Ela precisava perder tempo com isso?
— Você pode ir com os rapazes. — Ela falou a Elke. — Eu vou estar bem
atrás de você no sedan.
— Como se isso fosse acontecer. — Elke resmungou. — Certo. Eu vou com
você, mas eu vou dirigir.
— Como você quiser. — Cyn disse facilmente, escondendo o seu sorriso. Ela
sabia que Elke nunca iria aceitar deixá-la sozinha, mesmo que significasse ter que
dirigir por cinquenta quilômetros em um carro pequeno.
Quando a pequena caravana se afastou, Cyn olhou para trás, sem
arrependimento por estar deixando Kauai para trás. Apesar de toda a beleza de
ilha, ela sempre a associaria aos recentes e devastadores eventos. Nas próximas
férias de verão, ela estava pensando em ficar em Malibu.

****

O Aeroporto Internacional de Honolulu era previsivelmente muito mais


agitado que Lihue de Kauai tinha sido. Um dos aeroportos mais movimentados do
mundo, ele processava cerca de dez vezes mais passageiros. O primo Brandon
parecia conhecer não apenas o aeroporto, mas a maioria de seu pessoal de controle,
conversando livremente enquanto se preparavam para a descida. Ninguém lhe
perguntou quem eram seus passageiros. Eles eram apenas mais um fretamento
privado. Esse era o negócio de Brandon, afinal.
Uma vez no chão, Brandon tinha um Volkswagen antigo que ele mantinha
no hangar para andar por Honolulu, e ele deu a Robbie e Elke uma carona até o
local de aluguel de automóveis. Cyn reservou duas SUV’S dessa vez para evitar
brigas. Robbie e Elke foram escolhidos para pegar os veículos, porque o tamanho
de Ken’ichi o tornava muito memorável e nenhum deles iria deixar Cyn dirigir por
aí sozinha, mesmo ao redor do aeroporto.
Brandon estava mais do que feliz de permanecer à espera por futuros voos.
Cyn não achava que eles fariam mais viagens entre as ilhas, mas ninguém sabia.
E como eles iriam voltar para o continente depois que Raphael estivesse com eles...
ela não tinha pensado nisso ainda. Havia muitos fatores para considerar, muito
ainda em jogo, antes de tomar decisões.
Uma vez que todos entraram nos carros e dirigiram para sua casa
temporária, a qual estava perto de Diamond Head, Cyn se sentiu estranhamente
energizada. Ela dormiu um pouco no avião, mas não era isso. Era Raphael. Ele
estava próximo. Ela sentiu alguma coisa diferente no minuto que eles
desembarcaram e ela estava agora confiante que eles fizeram a decisão correta em
vir para essa ilha.
— Ele esta aqui. — Ela disse suavemente. Ela e Robbie estavam em um SUV
com os dois vampiros em um segundo veículo diretamente a sua frente.
Robbie deu a ela um olha de lado. — Cyn?
— Raphael. — Ela disse, sem ter certeza que ele a ouviu. — Ele está próximo
daqui. Eu posso senti-lo.
Algumas pessoas poderiam ter zombado e imaginado que ela estava
deixando o desejo tomar conta dela, mas não Robbie. Ele sabia o tipo de conexão
que um vínculo de união forjava.
— Isso significa nós estamos um pouco mais perto, querida. — Ele disse em
vez disso. — Não demorará muito agora.
Ela deu a ele um aceno com a cabeça, mais para ela mesma, já que Robbie
estava focado na estrada. — Você está certo, eu quero ver os relatórios policias de
Turner. E se ele não der para mim, eu vou ter Willis sendo útil. Eu preciso saber
onde todos essas mortes por vampiros ocorreram.
— Você pensa mesmo que os vampiros vão atacar novamente? Isso é
arriscado. Policias estarão procurando por eles, agora que deixaram corpos por aí.
— Normalmente, eu concordaria com você, mas esses são vampiros de
Mathilde. Se eles seguem a ordem de sua Mestre, eles provavelmente se consideram
acima das leis humanas. E eles também não conhecer tão bem a área. Eles vão
voltar para o que é familiar.
— Você pode estar certa, mas o que então? Você está pensando em segui-
los para onde estão ficando? Vampiros podem ser muito astuciosos. É muito difícil
de rastreá-los.
— Eu não vou segui-los. Eu irei encontrar um, seduzi-lo para fora do seu
grupo, então fazê-lo me dizer o que ele sabe.
Robbie riu. — Sim, certo.
— Você não acha que eu posso?
— Querida, você pode seduzir qualquer quer coisa masculina. Mas como
você irá fazer ele falar com você?
Cyn ficou em silêncio por um longo tempo, encarando a silhueta de
Diamond Head ficando cada vez maior na frente deles. Ela quase não disse nada,
por que enquanto ela sabia que Elke e Ken’ichi poderiam estar bem com o que ela
tinha planejado, ela não estava certa de como Robbie se sentiria sobre isso. Ele
lutou em guerras. Ele tinha amigos que foram capturados e torturados por inimigos
– às vezes por informações, e às vezes apenas por seu Deus ter um nome diferente.
Mas no fim, ela o respeitava muito para mentir para ele, e não seria justo
inclui-lo ele em algo sem um relato completo.
— Vou perguntar a ele educadamente. — Ela disse calmamente. — E se isso
não funcionar, então farei o que for preciso a fim de fazer o bastardo me dizer tudo
que ele sabe.
Quando ele não respondeu, ela olhou para ele sobre as luzes. — Eu entendo
se você não puder ser parte disso, Robbie. Eu gostaria de dizer que isso acontece
porque eu tenho estado ao redor de Raphael por muito tempo, e ele está
anestesiado para realidade. Mas a verdade é... isso não é sobre ele. É sobre mim.
Eu sou egoísta. Eu quero ele de volta. Não por centenas ou milhares de vampiros
que ele pode salvar, embora eu tenha considerado eles, também. Mas,
principalmente, eu estou fazendo por mim, por que eu preciso dele de volta.
Robbie assentiu lentamente. — Obrigada por ser honesta comigo. Mas
desde que minha Irina é uma desses vampiros, cuja vida nós provavelmente
estaremos salvando. Eu estou dentro. O que seja que você precise que eu faça.
Cyn fechou os olhos contra a onda de emoções. Ela poderia admitir a si
mesma agora, que ela tinha temido contar a ele o que ela tinha planejado, pois ela
odiava a ideia de que Robbie poderia pensar menos dela pelo que ela iria fazer. Não
a teria impedido, mas isso a teria machucado.
O clima sombrio foi quebrado pela voz artificial dos GPS dizendo-lhes que a
próxima curva seria a quinhentos metros. Os próximos minutos foram ocupados
com os dois SUVs rodando através das ruas escurecidas, até que chegaram na
entrada da sua mais recente e, esperançosamente, a última casa temporária.
Cyn encontrou a chave da propriedade que a companhia de administração
tinha deixado para ela. Eles tinham sido claros com ela no telefone que essa era
uma propriedade exclusiva e que deixar a chave debaixo do vaso de flores era muito
incomum. Mas aparentemente a prima de Lucia tinha feito uma ligação, e era isso.
Essa era a sua casa depois de tudo. Se ela queria emprestar a um bando de
moradores noturnos que não poderiam ser incomodados em seguir o procedimento,
era com ela então.
— Estamos com sorte com essa casa. — Cyn disse a outros uma vez que
eles desarmaram o alarme e fizeram um rápido reconhecimento de segurança da
casa. — Os quartos são nos andares de cima e todos têm blackout de janelas. Se
eu não soubesse melhor, acharia que vampiros já moraram aqui. Robbie e eu
armazenamos suprimentos o suficiente para cuidar de outras janelas que precisam
ser cobertas, mas lidaremos com isso amanhã.
Não levou muito tempo para acalmar depois disso, o que era uma boa coisa,
desde que o nascer do sol estava muito perto para o bem-estar. Essa casa era bem
maior do que a de Kauai e como a agente da administração da propriedade tinha
indicado, a vizinhança era muito mais exclusiva. A casa ficava a direita da água, e
tinha uma vista que continuava para sempre. As áreas comuns – as salas de jantar,
de estar e a cozinha – tinham janelas do chão ao teto que se deslizavam a maior
parte, mostrando o exterior, o qual era um estilo de construção havaiano comum.
Os seis quartos, pelo contrário, todos tinham janelas modestas que enfrentavam o
leste, o que provavelmente explicava aquelas sombras escuras. Os vampiros não
eram os únicos que não gostavam de levantar-se com o sol. A própria Cyn tinha
sido uma coruja noturna confirmada, mesmo antes de conhecer Raphael.
Com Ken'ichi e Elke escondidos em seus respectivos quartos – sem
necessidade de compartilhar, dado o número de quartos disponíveis – Cyn e Robbie
gravitavam em direção à cozinha com sua vista espetacular.
— Você já notou como cada costa é única? — Cyn perguntou, olhando para
a infinita extensão do Oceano Pacífico além das janelas. — Quero dizer, Malibu
está do outro lado do oceano, mas você nunca saberia ao olhar para este ponto de
vista.
Robbie deu-lhe um olhar que questiona sua sanidade ou se perguntou onde
diabos ela estava indo com isso. Ou ambos.
— As diferenças são principalmente geológicas — disse ele praticamente. —
O Havaí é composto de ilhas vulcânicas, enquanto Malibu se senta na borda de
uma grande placa tectônica.
Cyn deu-lhe um olhar cético. — Obrigado, Sr. Sabe tudo.
Ele deu de ombros alegremente.
— Preciso de café. — Murmurou ela. — E eu preciso mudar a senha do Wi-
Fi da casa. Podemos mudá-lo antes de partirmos, mas não quero que ninguém
mais tenha acesso enquanto estivermos aqui.
— Você precisa dormir, não de café. E nós dois precisamos.
— Nós temos que checar o bar onde estaremos encontramos Turner.
— Mais tarde. Nós podemos fazer isso à tarde. Dormir primeiro.
— Nós podemos pegar turnos revezados...
— Essa casa tem um top de linha em segurança. Eu vou adicionar alguns
meus aprimoramentos, pegue o quarto de baixo. Ninguém entrará sem que eu
saiba.
Ela se pôs de pé. — Dormir — ela concordou. Mas enquanto subia as
escadas, não pensava em dormir. Ela estava pensando em Raphael, e se
perguntando se ele entraria em contato com ela em seus sonhos novamente. Se
agora que estavam fisicamente mais perto, poderia ser mais fácil para ele. Talvez
ele pudesse contar a ela mais sobre onde ele estava.
Esticando-se sob as cobertas da cama king-size em seu quarto, ela
empurrou os travesseiros em torno de sua cabeça, tentando ficar confortável,
tentando impedir um zilhão de pensamentos correndo em torno de seu cérebro –
tudo o que Juro tinha lhe dito, criando imagens de pesadelos de Raphael, meio
morto de fome, porque eles não estavam o alimentando o suficiente, trancado no
escuro, ficando mais fraco a cada hora. a cima de tudo isso havia o conhecimento
dos muito fatores variados que ela tinha que antecipar. Ela não podia planejar com
antecedência para suas batalhas. Ela não sabia o suficiente. Tudo dependeria de
onde Raphael estava sendo mantido, quantos guardas havia – quantos vampiros e
quantos humanos. E como ele estava sendo mantido. Sabia que, inicialmente,
Raphael tinha sido drenado de alguma forma de seu poder físico, algum tipo de
magia, Juro tinha dito a ela. Mas Cyn acreditava que isso era possível? Mais
provável era simplesmente uma explosão de poder da própria Mathilde, algo
inesperado o suficiente que tinha conseguido derrubar Raphael pelos poucos
segundos que tinha levado sua gangue de cem para contê-lo com sua força
combinada de vampiro. Provavelmente era algo que eles haviam praticado
repetidamente na expectativa daquele momento. E quem sabia? Talvez Raphael
estivesse mesmo preso em um cofre de algum tipo, não muito diferente dos de
Raphael e seus vampiros todos dormiam lá dentro. Havia tanto que ela não sabia...
Ela sentou-se, abruptamente querendo bater-se na cabeça como um desses
personagens de desenho animado. Ela não sabia, mas Raphael sim.
Inclinando-se, ela agarrou a jaqueta de onde ela a empurrou no topo de sua
mochila e abraçou-a perto, respirando seu cheiro. Recostando-se com ela nos
braços, ela puxou um cobertor até os ombros, fechou os olhos e pensou em
Raphael. Não do jeito que ele poderia ser agora, mas do jeito que sempre foi. Seu
sorriso quando ele brincava com ela – tão raro quando eles se conheceram, mas
aparecendo mais a cada mês que ficavam juntos; o fogo de prata em seus olhos
negros quando ele fazia amor com ela, quando seus dentes afundaram em seu
pescoço, enquanto ela estremecia com o clímax; Sua beleza masculina, tão quente
quando estava relaxado, e tão gelado em seu modo de mestre do universo. Ela
sorriu.
E lentamente, ela adormeceu.

****

Algo roçou sobre sua testa e ela afastou-o, aconchegando-se mais


profundamente na jaqueta. O perfume de Raphael a cercava, muito mais forte em
seus sonhos, mais quente também. Ela franziu o cenho em seu sono, e sentiu o
familiar toque de seus dedos enquanto ele suavizava as rugas da testa franzida.
— Raphael, — Ela respirou, aterrorizada que ele desaparecesse se ela
falasse muito alto.
— Lubimaya. — Sua voz era a mesma de sempre, o mesmo som de veludo
profundo e meia-noite. Não era? Ele parecia diferente? Ele já era mais fraco? Ou
ela estava simplesmente impondo seus próprios medos, encontrando mudanças
que não estavam lá?
Seus braços apertaram ao redor dela, como se sentisse suas preocupações.
— Eu sou mais forte do que eles imaginam, minha Cyn.
Ela assentiu, envolvendo seus braços sobre os seus, onde a abraçaram,
apertando-o com força, como se pudesse de alguma forma mantê-lo com ela,
mesmo quando acordasse.
— Você quer saber o que todos... — ela começou a perguntar, mas ele
interrompeu.
— Quero apenas saber que você está segura e bem em minha ausência.
Ela bateu nos braços cruzados. — Você me conhece. Eu estou bem.
— Você não está, mas terá que esperar até eu retornar.
Seu coração apertou. Ele tinha tanta confiança nela. Ela falou rapidamente
para cobrir suas próprias inseguranças.
— Eu falei com Juro. Ele disse que Lucas...
— Eu sei o que Lucas fará. Meu tempo está curto lubimaya. Você deve
assistir e contar a Lucas o que você vê. Ele saberá o que fazer com isso.
Cyn começou a perguntar o que ele queria dizer, quando de repente ela
estava em outro lugar, em outro tempo, e vendo o mundo através dos olhos de
Raphael...

France, 1819

Raphael esperou impaciente por Mathilde fazer uma aparição. Ela estava
habitualmente atrasada. Era uma pretensão de sua parte, uma maneira de
demonstrar que ela era mais importante do que quem a esperava, que seu tempo
era muito mais valioso. Era irritante como o pecado e mais uma razão pela qual ele
nunca concordaria em servi-la.
Ele tinha vindo a esta parte da França à procura de uma casa, apenas a
última parada em sua busca por um território próprio. Mas o que ele encontrou foi
mais do que ele tinha encontrado em toda a Europa – muitos senhores vampiros
mais velhos, todos bem defendidos e dominados pelo poder. Ele poderia ter
desafiado qualquer um deles e triunfar, mas, francamente, a Europa estava
dividida em tantas pequenas explorações que ele teria que lutar desafio após
desafio, a fim de criar um território digno de seu poder e ambição.
Ironicamente, foi a oferta de Mathilde há duas noites que tomara sua
decisão por ele. Ele estava indo para a América e levando algumas pessoas com
ele. Ele esperava que a jornada fosse infernal e longa, mas nesses dias, a viagem
era rotineiramente suficiente para que ele não tivesse dúvidas de que sobreviveriam
à travessia.
E uma vez lá, as oportunidades seriam ilimitadas. Por que apesar de tudo,
o continente era vasto, aberto e, o mais importante, livre de vampiros.
Mas primeiro, ele tinha que lidar com Mathilde. Supondo que ela chegasse
para o encontro antes do sol nascer em um novo dia.
— Raphael.
Ele girou com o som de sua voz, seu olhar admirando sua aparência
cuidadosamente cultivada. Ela era uma mulher atraente, não bonita, mas sensível
e segura de si mesma, o que era atraente a seu modo. A menos que se conhecesse
a mente manipuladora que trabalhava constantemente atrás desse apelo enganoso.
Mathilde não fazia nada sem um motivo oculto, e seus motivos eram sempre
egoístas.
— Mathilde, — ele respondeu, intencionalmente omitido qualquer título ou
honorífico. Ela não era a única que podia jogar.
Sua delicada mandíbula se flexionou em irritação, mas sua expressão
nunca variou enquanto deslizava graciosamente pelo quarto e apresentava a mão
para ser beijada.
Raphael o fez, mas apenas porque era o costume humano. Ele teria de bom
grado beijado a mão de uma vendedora de flores na rua. Ele pegou os dedos
oferecidos por Mathilde, tocando-os em seus lábios no mais breve dos gestos.
Mathilde acomodou-se em seu assento favorito, que era uma cadeira de
grandes dimensões colocada sozinha na frente da sala, com outras cadeiras menos
elaboradas agrupadas à sua volta.
Raphael afastou as cadeiras menores, perturbando a sua colocação
cuidadosa, a fim de empurrar um sofá pequeno na posição em seu lugar. As
cadeiras eram muito frágeis para ele sentar-se com qualquer conforto, o que
Mathilde sabia muito bem. Ela franziu o cenho de desaprovação por seu rearranjo
improvisado, mas ainda não ofereceu nenhuma palavra de censura. Ela queria algo
dele, e ela estava disposta a tolerar alguma insubordinação menor para obtê-lo.
— Então, Raphael — ela ronronou. — Você considerou minha oferta?
Ele não respondeu diretamente. Em vez disso, ele fez uma pergunta. — Você
já ouviu falar da América, Mathilde?
Seus lábios franziram em desgosto. — Lugar não civilizado. Agricultores e
crentes. Nenhum dos quais eu escolheria me associar.
— Homens e mulheres trabalhadores que criam algo do nada, Mathilde. Um
vasto continente de possibilidades.
Ela deu de ombros. — Se você diz. Dificilmente um lugar para vampiros, ou
qualquer um de posição.
Raphael quase riu em seu rosto. Mathilde pode ter vindo da nobreza, ele
realmente não sabia. Mas ele certamente não tinha. Em sua vida anterior, ele tinha
sido um daqueles agricultores que ela tanto desprezava.
— O que isso tem a ver comigo? — ela retrucou, antes que a percepção
alterasse sua expressão em uma de descrença. — Você não pode estar pensando
seriamente em ir para lá?
— Eu não estou apenas pensando nisso. Estou determinado a fazê-lo.
Vamos fazer o nosso caminho.
— Eu ofereci-lhe um lugar à minha direita! Eu o faria meu tenente, e você
me deixaria por esse lugar selvagem?
Raphael levantou um ombro com desdém. — Quero um território, Mathilde.
Não faço segredo disso. E não há nenhum aqui.
— Você não precisa de território se você ficar ao meu lado. Isso não é poder
suficiente?
— Você não quer colocar seu poder nas minhas costas, Mathilde. Você quer
meu poder na sua, e nós dois sabemos disso. Não tenho interesse em ser o número
dois de ninguém.
— Sua arrogância me assusta. Eu governo centenas de vampiros, a maioria
dos quais são meus próprios filhos e me devem suas vidas. O que você tem? Nem
um único filho...
As palavras de Mathilde pararam quando uma porta na parte de trás da
sala se abriu e Lucas entrou, caminhando discretamente até o lado de Raphael,
onde se agachou, esperando para entregar qualquer mensagem que o trouxe a este
quarto.
Mas Raphael não estava olhando para Lucas; ele manteve sua atenção em
Mathilde. Ele viu o desejo em seu olhar enquanto observava Lucas, a cobiça. Apesar
de todo seu desprezo pela espécie humana, os amantes de Mathilde eram todos
jovens homens e humanos. Como os franceses o chamavam? Nostalgie de la boue.
Nostalgia pela lama. Assim como Mathilde gostava de provar sua superioridade
fazendo os outros esperar, ela preferia os amantes socialmente inferiores, amantes
que ela podia dominar e controlar.
E ela queria Lucas. Ela o desejava desde o primeiro momento em que o viu,
chegando até a perguntar a Rafael se poderia “emprestá-lo” em mais de uma
ocasião, como se o rapaz a quem ele havia resgatado das ruas de Londres fosse
uma posse a ser passada ao redor e emprestada entre amigos. Ou inimigos.
Mas Raphael nunca deixaria isso acontecer. Lucas era seu para proteger de
maneiras que Mathilde nunca entenderia.
— Aguarde-me lá fora, Lucas — ele ordenou.
Lucas não era tolo. Ele sentiu a tensão no momento em que entrou na sala.
Ele olhou Raphael brevemente, uma oferta silenciosa de apoio se Raphael
precisasse. Mas esse, era Lucas. Raphael enfrentaria um vampiro quase tão
poderoso e muito mais astuto do que ele, e Lucas estava preparado para ficar com
ele, mesmo sendo humano e vulnerável.
Raphael tocou-lhe o ombro com tranquilidade. — Eu estarei lá rapidamente.
— Lucas assentiu, então se levantou e saiu do quarto tão silenciosamente como
entrou, sem nem mesmo reconhecer a presença de Mathilde.
— Seu escravo precisa aprender algumas maneiras, Raphael. — A
expressão dela se tornou calculadora, e Raphael preparou-se para o que quer que
ela fosse fazer a seguir. — Talvez eu possa te ajudar com isso. Você sabe que eu
preferiria que você permanecesse ao meu lado, mas se você estiver pronto, eu vou
conceder-lhe licença. Lucas terá de permanecer, como pagamento pela proteção
que lhe dei ao longo da sua estadia aqui. Mas você não precisa se preocupar com
seu bem-estar. Vou levá-lo como meu próprio, e ele será bem cuidado.
Raphael riu. Ele realmente riu. Ele não podia evitar. Esta megera de uma
fêmea pensou que poderia reivindicar Lucas como pagamento de uma dívida?
Como se Raphael lhe devesse alguma coisa pelos meses que havia desperdiçado
em sua corte? Como se ele tivesse se beneficiado até mesmo do menor modo de sua
presença, quando na verdade era ela que tinha ganhado muito mais de sua
associação do que ele.
O riso dele sumiu. — Lucas nunca será seu. Quanto à sua permissão para
sair... eu não preciso, nem desejo isso. Nós somos vampiros. Se você acredita que
pode me impedir... — ele ficou de pé até a altura dele e olhou para ela — Então
faça isso. Se não eu me despeço. E duvido que nossos caminhos voltem a se cruzar
novamente.
Raphael girou no calcanhar e foi para a porta. Atrás dele, ele ouviu o
farfalhar de saias de cetim, enquanto Mathilde se levantava.
— Você não vira as costas para mim! — Ela sibilou. — Eu domino este
território e você me mostrará o respeito devido ao seu próprio lorde.
Raphael olhou para trás quando ele alcançou a porta. — Este território é
seu — concordou ele. — Mas eu nunca serei, nem Lucas. — Ele levantou o trinco
e saiu para o corredor, fechando a porta atrás de si enquanto Mathilde emitia um
grito de fúria sem palavras, acompanhado pelo som de algo quebrando.
Os olhos de Lucas estavam arregalados quando encontraram os dele. —
Vamos sair esta noite, meu senhor?
Raphael assentiu. — O mais cedo possível. O novo mundo nos espera.
Honolulu, Hawaii, dia atal

Os olhos de Cyn se abriram para uma sala escura e um momento de


desorientação. Ela alcançou automaticamente Raphael, mas ele se foi. Ele nunca
esteve lá. Seu cérebro sabia disso, mas seu coração demorou mais para enfrentar
isso.
Ela suspirou e sentou-se, forçando-se a lembrar de todos os detalhes do
sonho que Raphael enviara. Ou, mais precisamente, o sonho dentro de um sonho.
Uma verificação de seu relógio lhe disse que ainda havia duas horas até o pôr do
sol local. Mas em casa, os vampiros já estavam acordando, e Lucas, cujo território
se estendia por dois fusos horários, estava uma ou duas horas à frente de Malibu,
dependendo de sua localização. Mas de qualquer forma, ele teria acordado há muito
tempo.
Ela já tinha abandonado o velho telefone descartável que ela usara em
Kauai, esmagando-o em pedaços e jogando os restos em vários caixotes de lixo do
aeroporto, tanto aqui em Honolulu, como em Lihue em Kauai. Ela pegou o novo
que ela usou para chamar o Detetive Turner, sabendo que o número seria
registrado como “desconhecido” no telefone privado de Lucas. Sob as
circunstâncias, no entanto, ela também sabia que ele iria responder à chamada.
— Donlon.
Demorou um momento para reconhecer a voz severa que respondeu. Ela
nunca tinha visto o lado de negócios de Lucas, nem mesmo o guerreiro, embora
Raphael tinha lhe dito que Lucas era uma força sangrenta da natureza no campo
de batalha. Mas o Lucas que ela sempre viu foi o encantador playboy. Não mais,
aparentemente.
— Cyn aqui — ela disse, combinando com seu tom sério. E ela devia ter
feito um pouco demais, porque as próximas palavras de Lucas estavam longe de
serem lúdicas.
— Cyn? Aconteceu alguma coisa, Raphael...
— Relaxe. Raphael está bem até onde eu sei. E de qualquer maneira, você
saberia tão bem como eu se ele não estivesse.
— Certo, certo. Eu sei disso. As coisas estão um pouco... intensas por aqui.
Cyn não sabia se estava a ponto de fazer as coisas melhor ou pior para
Lucas, então ela foi direto ao ponto. — Tenho uma mensagem para você. De
Raphael.
— Uma mensagem. Acho que não foi um telefonema.
— Não, dificilmente. Mais como um sonho. Ele diz que você vai saber o que
fazer com ele, ou mais especificamente, eu acho, o que fazer com o que ele sobre
Mathilde. Posso te enviar um e-mail se...
— Não. Conte-me. Eu quero a emoção da história, não apenas as palavras.
— Ok, aqui vai... — E Cyn passou a contar tão fiel como ela poderia recordar
a história do último encontro de Raphael e Lucas com Mathilde.
Lucas ouviu, nunca interrompendo, nunca fazendo uma pergunta.
Quando ela terminou, houve um momento de silêncio, e então ele disse: —
Então Mathilde me queria como seu garoto brinquedo. Tenho que ser honesto com
você, Cyn. Eu acho isso meio estranho. Quero dizer, ela é como minha bisavó ou
algo assim. Acho que preciso de um abraço. — Ele se afastou do telefone e levantou
a voz para gritar: — Katie, querida, você tem um momento?
Cyn soltou um som exasperado. Somente Lucas. — Tenho a certeza de que
não era essa a mensagem da Raphael, Lucas.
— Relaxe. Um abraço quente nunca machucou ninguém. Mas eu entendo,
e ele está certo. Eu sei o que fazer com isso.
Cyn esperou que ele compartilhasse. Quando ele não ofereceu, ela
contemplou perguntar ele, mas decidiu que ela tinha o suficiente em seu prato sem
se preocupar com o que estava com Lucas.
— Ok. Se você tem isso, então eu preciso ir. Diga “oi” para Kathy para mim,
e... se cuida, Lucas. De Kathryn, também.
— Sempre. Você também, Cyn.
Cyn desligou. Ela podia ouvir alguém se deslocando lá embaixo,
presumivelmente Robbie, já que era muito cedo para os vampiros estarem
acordados. Mas também porque o aroma do café tinha começado a derivar acima
das escadas. A ideia de café era suficiente para levá-la a se mover, mas ainda havia
mais uma chamada que ela tinha que fazer. Dirigindo-se até sua mochila, ela cavou
a caixa de telefones que Juro tinha deixado com ela e tirou a do rótulo #1.
Ligando-o, ela discou o único número em sua lista de contatos e esperou.
Juro respondeu antes que pudesse tocar duas vezes.
— Esta é sua ideia de atualizações diárias?
Ele parecia tão descontente, e tão diferente de seu habitual, eu
imperturbável, que ela sorriu. — Eu prometi atualizações diárias? Não me lembro
disso. — Ela falou devagar como se estivesse realmente tentando se lembrar.
— Cynthia.
— Eu não vi o ponto em chamar antes que eu tivesse qualquer coisa para
relatar.
— Além do fato de que você estava segura e bem, você quer dizer.
— Imaginei que você saberia disso, já que você e Ken'ichi, ambos sendo
vampiros fortes, e também tendo essa coisa de conexão de gêmeos indo para você.
— Essa coisa de conexão de gêmeos — ele repetiu.
— Admite. Você já sabe o que está acontecendo, ou você estaria muito mais
puto do que você está. Então, com quem você conversou?
— Quase todo mundo, incluindo Colin Murphy.
— Murphy? Isso é uma surpresa.
— Estamos coordenando nossas defesas com Sophia.
— Murphy o atualizou sobre a situação aqui?
— Só para dizer que ele lhe deu o nome de um detetive de polícia em
Honolulu, o que achei interessante. Fora isso, ele não sabia onde você estava.
Cyn poderia ter dito a Juro que sua atual namorada e próxima a ser sua
companheira de casa tinha uma ideia muito boa de onde ela estava desde que tinha
sido um parente de Luci que tinha fornecido todas as suas habitações. Mas se Luci
escolheu não compartilhar isso, aquele era seu negócio.
— Estamos seguindo uma trilha promissora — disse ela. — Ainda não o
encontramos, mas estamos perto. Mais importante ainda, sei que Raphael está a
salvo.
— Raphael entrou em contato com você?
— É uma maneira de falar. — Ela não entrou em qualquer detalhe, sabendo
que Juro iria entender. — Como está tudo? Algum movimento da rainha vadia?
— Nada evidente. Estamos tentando determinar sua estratégia provável.
Com tantos de seus mestres vampiros amarrados no esforço para prender Raphael,
não consigo vê-la lançando um ataque frontal. Ela simplesmente não tem a força
de combate.
— E se ela aparecer em Malibu e fizer um desafio, como você disse que
faria? Existe uma formalidade para isso? Raphael tem um certo número de dias
para responder antes que ele perca?
— Três noites. Se ela seguiir as velhas leis... o que estou certo que fará,
Raphael terá três noites para enfrentar seu desafio. Mas como tenente de Rafael,
Jared também tem o direito de aceitar o desafio em seu nome.
— Jared pode derrotá-la? Eu sei que ele é forte, mas... Mathilde é um lorde
vampiro muito velha, e ela claramente não tem medo de trapacear para conseguir
o que quer, que parece ser o território de Raphael.
— Jared ficará satisfeito com a sua preocupação — ele comentou
secamente.
Cyn não teve nenhum retorno para isso. Sua preocupação principal tinha
sido para o território de Raphael, embora se fosse honesta, ela não quisesse que
qualquer coisa má acontecesse a Jared tampouco. Ele simplesmente não era sua
primeira prioridade.
— Jared pode segurá-la?
— Talvez, talvez não. Mas Lucas certamente pode.
— Lucas?
— Se Mathilde tentar reivindicar o território por padrão, Lucas vai desafiá-
la e reivindicar o território para si mesmo.
Cyn não contou a Juro sobre o sonho que Raphael enviara, uma vez que
tinha sido destinado a Lucas. Mas agora era óbvio que Raphael havia antecipado a
necessidade de Lucas se apresentar para desafiar Mathilde. Lucas deve ter obtido
alguma informação útil sobre como lidar com Mathilde a partir dos detalhes do
último encontro.
— Mas e o território de Lucas? Ele não estará em perigo? — Perguntou ela.
— Aden ajudará quando necessário. Sophia ofereceu, mas eu suspeito que
ela e Colin estarão ocupados lutando suas próprias batalhas, enquanto Aden pode
facilmente fundir as defesas dos territórios dele e de Lucas por trás de sua
liderança.
Cyn caiu sobre a cama, desanimada de novo. Tinha estado tão otimista
antes de ligar para Juro. Pela primeira vez desde que começara a história, começou
a pensar que finalmente estavam no caminho que levaria ao resgate de Rafael, e
que era apenas uma questão de tempo. Mas agora... Tudo era muito mais
complicado do que ela tinha acreditado. Mesmo depois que ela resgatasse Raphael
– e ela o resgataria – ele poderia não ter m território para voltar, ou ele teria que ir
para casa e reclamar tudo de novo, talvez com centenas de seus próprios vampiros
morrendo por nada. Qual era o número que ele tinha comparado as prováveis
vítimas de vampiros? Dez milhões de seres humanos?
De repente, ela ficou furiosa. Furiosa que aparentemente todo mundo
soubesse que Raphael seria atacado e todos simplesmente tomaram o passo como
parte de sua estratégia. E tão furiosa consigo mesma por acompanhá-lo. Raphael
advertira-a sobre o perigo. Ele viera direto para fora e disse a ela que ela precisava
se preparar para quando o desastre acontecesse. Talvez em vez de aplaudir sua
própria inteligência enquanto ela estava trabalhando com Lucia e Robbie para
definir esse plano de desastre no lugar, ela deveria ter tentado falar com Raphael
sobre encontrar Mathilde. Talvez se ela tivesse feito isso, ela não iria agora
encontrar-se trabalhando meio cega, lutando por cada migalha de informaçãos,
montando uma trilha para seguir para trazê-lo de volta.
Mas mais do que qualquer outra coisa, ela estava furiosa porque Raphael
tinha que sofrer mais um dia de prisão, ou que todos esses vampiros poderiam ter
que morrer, apenas para que a cadela da Mathilde não tivesse que compartilhar o
poder com seus próprios filhos vampiros.
— Quanto tempo eu tenho para resgatar Raphael e levá-lo para Malibu, a
fim de impedi-la? — Ela perguntou a Juro firmemente.
— Não podemos ter certeza de...
— Quanto tempo, Juro?
— Mathilde esperará até que Raphael se enfraqueça o suficiente para...
— Enfraquecido como?
— Inanição — ele disse sem rodeios. — Ela não vai alimentá-lo.
Cyn sentiu como se tivesse sido golpeada no estômago. — Nada? Mas ele
não precisa de muito sangue, — ela sussurrou.
— Não — disse Juro suavemente, — mas ele precisa de algo. Esta noite é a
quarta noite que ela o tem. Entre a falta de nutrição e a pressão de todas aquelas
mentes que o restringe, ele estará suficientemente enfraquecido para que os
mestres vampiros de Mathilde sejam capazes de segurá-lo sem ela. E ela vai direto
para Malibu.
— Você quer dizer...
— Acho que ela vai bater em nossas portas amanhã à noite.
— Mas você disse que pode deixá-la fora por três noites, uma vez que ela
chegar aí.
— E também não vamos recebê-la com os braços abertos. Dadas as
circunstâncias de seu ataque a Raphael, estaremos bem dentro de nossos direitos
de assumir uma intenção hostil e defender a propriedade de nosso senhor. Vamos
eliminar o maior número de guerreiros que pudermos quando ela se aproximar,
enfraquecendo-a antes mesmo que ela tenha a chance de declarar sua
reivindicação. Contudo, uma vez que ela conseguir expressar o desafio, as
hostilidades cessarão e o período de espera começará.
— E depois?
— Entre Jared e eu, e então Lucas entraremos para disputar seu direito ao
território, podemos empurrá-lo de três dias para quatro, talvez até cinco. Mas
depois disso, Lucas não terá escolha a não ser lutar contra ela.
— Então, para confirmar, depois desta noite, eu tenho quatro dias, ou mais
precisamente, noites, para levar Raphael para casa.
— O que você está planejando, Cynthia?
— Quanto menos você souber, melhor, cara grande. Mas saiba disso,
quando Mathilde finalmente chegar perto de cumprir suas demandas, ela vai ter a
surpresa de sua vida.
— O que você vai fazer?
— Tudo o que eu tiver que fazer.
Capítulo 11
— JURO DISSE QUE temos quatro noites para levá-lo de volta à Malibu
antes que as coisas fiquem realmente sangrentas.
Robbie lhe dá um olhar preocupado. — Incluindo esta noite?
Cyn balançoou a cabeça. — Não. A contagem regressiva aparentemente
começa quando Mathilde bater no portão em Malibu. Juro espera que ela apareça
amanhã à noite, então essa será a noite um. Mas os nossos planos devem incluuir
tempo o suficiente para que Raphael volte para casa. — Ela deixou a xícara de café
e caminhou até a porta de vidro de correr aberta, sentindo a brisa quente do
Pacífico e tentando imaginar o que estava acontecendo com todos aqueles à milhas
de distância em Malibu.
Robbie aproximou-se e ficou ao seu lado, os braços cruzados sobre o peito
largo, o crânio de sua tatuagem do exército Ranger brilhando em seu bíceps
enorme. — Certo. Vamos ver o que já temos. Nós entramos nas sombras tão rápido
e profundamente que nem sequer souberam que estávamos aqui, muito menos que
ainda estamos. Nós já descobrimos mais ou menos a área onde estão escondendo
Raphael, e por esta hora amanhã, nós sabemos ainda mais. Estamos perto agora,
Cyn.
Ela conseguiu dar um sorriso forçado, que provavelmente não o enganou.
— Acho melhor começarmos, então. Nós devemos encontrar Turner às 8:30 da
noite, mas quero verificar as coisas antes disso. Tudo o que sei sobre o lugar que
o encontraremos é que é um bar. Quero saber quão grande é, o movimento, quão
alta é a música... o de sempre.
— É um pouco cedo para beber, mas estou dentro.
— Certo, deixe-me pegar uma arma reserva, e então estou pronta.
— Você sabe que provavelmente será um bar de policiais, certo?
— Eu imagino que sim, por quê?
— Só dizendo... eles vão ver todas as armas que você está usando dois
minutos depois de atravessar a porta.
— Ótimo. Então talvez eles me deixaram em paz.
— Tente se lembrar que isso é apenas um reconhecimento, Cyn. Nós só
vamos lá para dar uma olhada antes do encontro desta noite, então seja legal.
— Eu sempre sou legal.
O riso de Robbie a seguiu pelo corredor.

****

O bar ficava à menos de 1,6 km de Waikiki, subestação de Honolulu. Cyn


não sabia em qual escritório Turner trabalhava, mas fazia sentido que os
assassinatos houvessem ocorrido perto da praia de Waikiki, porque era o centro de
atividades turísticas da ilha. Os vampiros não eram estúpidos ao procurar suas
vítimas. Os turistas tinham a tendência de se embebedar, o que os tornava
desinibidos e prontos para uma aventura mais selvagem nas suas férias, não
importando quão sãos e sóbrios estariam na volta para casa.
Robbie evitou o estacionamento do bar por um público nas proximidades,
nem sequer piscando para a taxa horária exorbitante. Encontrou um lugar no
primeiro nível, e armou uma rápida fuga. Cyn deduziu que ele nem sequer pensava
nessas coisas. Já era uma segunda natureza.
Caminharam metade de quarteirão até o bar, Cyn sentindo-se vestida
demais com suas calças pretas de combate e botas, e a jaqueta preta curta que
usava para esconder suas armas. Robbie usava a mesma regata preta que usara
em casa, mas vestiu uma camisa de mangas curtas havaiana para esconder a
beretta em seu quadril. Sua tatuagem de Ranger ainda amostra, o que chamou a
atenção de Cyn, porque era pessoal para Robbie e não algo que ele normalmente
exibia.
— O que há com a exibição da tatoo? — Ela perguntou, curiosa.
— Murphy me deu algumas informações sobre Turner. O amigo de Murphy
é SEAL, mas Turner é um dos meus.
— Do exército Ranger, você quer dizer — ela disse pensativamente — Isso
pode ser útil.
Robbie encolheu os ombros — Não vai fazer mal. Dá uma confiança, pelo
menos.
— Eu aceito qualquer vantagem que pudermos. — ela parou na frente de
um bar que provavelmente não recebia muitos turistas. Parecia o tipo de lugar que
servia projetos de cerveja americana, e doses em copos de vidros pesados, não
bebidas frutadas com bonitos guarda-sóis.
— Você está pronta? — Robbie perguntou.
— Com o risco de soar como uma paródia de um filme ruim... eu nasci
pronta.
Ele gemeu e abriu a porta. — Definitivamente soou como uma paródia de
um filme ruim. — Ele murmurou quando entrou primeiro, então avançou para que
Cyn pudesse fechar a porta atrás deles.
A conversa, que tinha um zumbido baixo apesar da hora adiantada, parou.
Cada policial – e, sim, este era um bar de policiais – virou-se para avaliar os recém-
chegados com olhos que catalogaram em dez segundos como estranhos.
A sala estava escura, especialmente depois da luz do sol brilhante, mas uma
vez que seus olhos se ajustaram, Cyn pode ver que o espaço era longo e estreito. O
bar em si era à direita, com alguns assentos contra a parede à esquerda, e algumas
mesas mais agrupadas na parte de trás. A iluminação consistia em uma fileira de
luzes pequenas e escuras sobre o espelho atrás das fileiras de garrafas de licor e
meia dúzia de enfeites de variados estanho perfurado ao longo da parede.
Ignorando os olhares fixos, que variavam de hostil à francamente suspeitos,
Cyn abriu caminho para um lugar vazio nos fundos. Robbie parou para pedir
algumas cervejas ao barman, que nenhum deles beberia. Mas chamaria muita
atenção ficar sem pedir qualquer coisa. Robbie também pegou um menu, que
inesperadamente incluía hambúrgueres e frango, juntamente com os costumeiros
nachos e batatas fritas.
O estômago de Cyn roncou. — Você vê alguém comendo? — ela perguntou
calmamente, enquanto Robbie pousava suas cervejas e tomava o assento de frente
para a porta. Cyn notara uma porta de trás no escuro corredor que levava aos
banheiros, e assim tinha intencionalmente escolhido o assento voltado para aquela
saída, enquanto confiava em Robbie para cobrir a frente.
— Sim. Por que, você está com fome?
— Morrendo de fome, mas se os moradores não comem a comida, então não
deve ser boa.
Robbie encolheu os ombros. — Vejo seis policiais comendo. E ninguém está
mais nos observando.
— Diretamente não, pelo menos. Quer um hambúrguer?
— Eu comeria um. E talvez um pouco de frango junto.
Cyn deu-lhe um meio sorriso. Convivendo com Raphael, ela às vezes
esquecia a quantidade de comida que caras grandes como Robbie comiam. — Você
pode ter metade do meu hambúrguer. Você pede ou eu?
— Eu serei um cavalheiro. Não quero que os caras tenham a impressão
errada.
Cyn inclinou a cabeça curiosamente, lembrando das mesas que tinham
passado no caminho para o bar. — Eu sou a única mulher aqui, não sou?
— Você entendeu, querida.
— Bem. Vá brincar de homem e fale com o barman, deixarei uma mensagem
para os vampiros que os encontraremos na casa. E desde que estou sendo
feminina, você pode muito bem me dar uma soda diet no lugar desta cerveja.
Dois hambúrgueres, uma cesta de nuggets de frango e um monte de batatas
fritas mais tarde, mas com ambas as garrafas de cerveja ainda intocadas, Cyn e
Robbie deixaram o bar e voltaram para casa. Eles prestaram muita atenção à sua
rota, indo tão longe que pegaram algumas ruas erradas, apenas para que o GPS
tivesse que redirecioná-los de volta para a rua principal. A luz do sol ainda era uma
mancha dourada no céu ocidental quando eles chegaram, mas o próprio sol estava
abaixo do horizonte. O que significava que ambos os vampiros já estavam em
movimento quando Cyn desarmou o sistema de alarme. O tempo de vigília era uma
questão de idade para os vampiros. Quanto mais velho o vampiro, mais cedo ele
poderia se levantar após o pôr do sol, enquanto os mais velhos e poderosos, como
Raphael, eram capazes de acordar antes mesmo do sol ter caído abaixo do
horizonte.
Ken’ichi desceu da escada, se movimentando tão silenciosamente que nem
Cyn nem Robbie notaram até que ele limpou a garganta para chamar a atenção.
Cyn acenou com os dedos um olá, então continuou para a cozinha. Ela precisava
de café. Esse encontro com Turner era importante, e se a noite fosse do jeito que
esperava, ia ser longa.
Capítulo 12
ELES LEVARAM OS veículos ao encontro com Turner, estacionando no
mesmo local na quadra abaixo que Cyn e Robbie haviam usado naquela tarde. As
ruas estavam muito mais ocupadas do que antes, cheias de carros e pessoas.
Aparentemente, era noite de sexta–feira. Cyn não esteve acompanhando
exatamente os dias desde que Raphael foi levado. Não importava para ela que dia
da semana era, apenas há quanto tempo ele tinha ido embora.
Mas enquanto o início do fim de semana não era algo que Cyn havia incluído
nos planos, aquilo na verdade era um pouco de sorte. Que momento melhor para
vasculhar os bares procurando por um vampiro do que no fim de semana quando
multidões estavam no seu auge e a caçada seria boa?
Primeiro, no entanto ela precisava conversar com Turner e convencê-lo a
compartilhar o que ele sabia.
Ken’ichi entrou primeiro no bar, dez minutos depois do combinado. Usando
a descrição da sala de Cyn, ele passou pelo bar e puxou duas mesas juntas no
fundo, incluindo a que ela e Robbie haviam sentado mais cedo naquele dia. Depois,
ele foi para o bar e pagou em dinheiro por uma garrafa de whisky e seis copos,
deixando ao bartender uma bela gorjeta antes de voltar para a mesa e sentar com
as costas viradas para a parede.
Cyn estava do lado de fora, esperando com os outros, quando seu recente
telefone descartável tocou.
— O policial já está aqui — Ken’ichi disse sem delongas. Colin Murphy tinha
enviado uma foto do grupo do time de beisebol que seu camarada Seal Doug jogou
com Turner, então eles tinham uma descrição clara do detetive de Honolulu.
— Ele está prestando atenção em você? — Cyn perguntou, curiosa com o
quanto Turner sabia sobre eles.
— Ele me encaruu quando entrei, e se certificou que eu visse quando fez
isso. Ele não fez nenhum movimento desde então.
— Então Murphy disse a ele por quem procurar. Tudo bem, estamos
chegando.
As calçadas estavam lotadas de pessoas que estavam mais do que felizes
em sair do caminho com Robbie liderando o caminho. Cyn e Elke seguiram atrás
dele, com Elke insistindo que Cyn fosse para dentro perto das construções, como
se ela fosse uma donzela frágil que desmaiaria se uma carruagem espirrasse lama
nela. Cyn sabia que não era essa exatamente a razão. Elke trabalhou basicamente
todos os dias com Cyn. Ela a viu no seu pior e no seu melhor, e ela sabia que Cyn
era capaz quando a merda batia no ventilador. Então Cyn sabia que ela estava
sendo irracional em deixar que o simples movimento de segurança a irritasse. Mas
agora que elas finalmente estavam fazendo algo, ela tinha pouca paciência para
toda a discussão sobre o seu bem-estar. Era com Raphael que deveriam estar
preocupados. Raphael que agora, aparentemente, estava há várias noites sem
sangue algum. Eles não fizeram amor na noite que ele foi encontrar Mathilde; eles
não tiveram tempo, nem mesmo no chuveiro. O que significava que ele não tomou
o sangue dela antes de sair da casa. Porque ela não insistiu que ele encontrasse
tempo?
Cyn sabia que aquilo também não era razoável. A retrospectiva era 20/20 e
uma completa perda de energia. Mesmo que eles tivessem feito sexo, mesmo que
Raphael tivesse tomado o sangue dela naquela noite, não seria suficiente para
sustentá-lo por muito tempo. Não quando ele estava aprisionado sobre sabe-se lá
quais condições. Ele estava acorrentado? Eles o torturaram? Eles estavam o
mantendo acima do solo, usando a luz do sol como uma ameaça enquanto ele
dormia, enfraquecendo-o mais com cada hora que ele permanecia prisioneiro
deles?
— Vai devagar, Cyn — a advertência na voz baixa de Elke fez Cyn perceber
que inadvertidamente ela tinha aumentado o ritmo até que Robbie foi forçado a
esticar um braço para impedir que ela passasse por ele.
— Desculpa — ela murmurou, reduzindo a velocidade enquanto eles
prosseguiam seu destino.
Robbie olhou rapidamente em volta, então abriu a porta.
O lugar estava tão escuro à noite como estivera à tarde. Mas sem a luz do
sol lá fora, seus olhos não precisavam se ajustar, e Cyn pôde enxergar claramente
de imediato. Apesar de tudo, o bar parecia melhor iluminado do que a rua. Robbie
não desacelerou, mas os levou diretamente para a mesa onde Ken’ichi esperava.
Ou teria levado, se Turner não tivesse se levantado de uma mesa adjacente
com um grande sorriso no rosto, como se estivesse cumprimentando velhos
amigos.
— Senhoras — ele disse, gesticulando largamente com os braços abertos.
— Murph disse que vocês eram lindas, mas ele nunca disse que eu encontraria a
mulher dos meus sonhos!
— Ela tem namorado, idiota, então pode parar. — rosnou Eike.
O sorriso de Turner só amentou. — Bom para ela, mas eu estava falando de
você, loira. Não quebre o meu coração dizendo que também tem namorado.
Era difícil ver com a luz baixa, mas Cyn juraria que a pele normalmente
pálida de Elke se iluminou com um rubor. Ela estava tentada a esperar e ver como
esse jogo particular de flerte andaria, mas eles não estavam lá para socializar.
— Makelo Turner, eu suponho — disse Cyn, estendendo a mão e pensando
que a foto de beisebol não fazia justiça. Ele era muito mais impressionante
pessoalmente e naturalmente carismático. Sua pele era negra, cabelo preto, olhos
pretos. Provavelmente nativo havaiano ou ao menos descendente da polinésia.
Seus músculos eram tão grossos quanto os de Robbie, e talvez um centímetro mais
alto, o que o colocava com um metro e oitenta mais ou menos. Seu cabelo liso,
preto como carvão era curto atrás, mas longo o suficiente na frente para que ele
tivesse que usar algum tipo de produto para mantê-lo para trás. Ele usava uma
camiseta preta e vestia uma calça, mas com um casaco esporte leve que cobria o
suporte de ombro.
Turner pegou a mão estendida de Cyn em uma grande garra e balançou
gentilmente, dizendo: — Em carne. E você, é claro, é a inestimável Cynthia
Leighton. Murphy fala muito de você.
Cyn deu a ele um sorriso apertado de reconhecimento e disse: — Essa é
Elke, e...
— Elke — interrompeu Turner com um murmúrio. — Me chame de Mal.
— ... Esse é Rob Shields — Cyn finalizou.
— Murphy tinha muitos elogios para você também, irmão. — disse Turner,
apertando as mãos com Robbie do jeito que grandes homens faziam, o peito alto,
os músculos esticados.
— Hooah — eles disseram quase que simultaneamente.
— E esse cavalheiro é Ken’ichi — Cyn continuou, deslizando pela reunião
Ranger para sentar à direita do grande vampiro.
Robbie imediatamente sentou ao lado de Cyn, o que deixou ambos
encarando a parte da frente da sala, olhando para além do bar. Turner olhou para
os assentos restantes, forçado a escolher entre um dos dois bancos à esquerda de
Ken’ichi, o que deixava suas costas para a sala principal, ou o banco no fim oposto
das mesas combinadas, o que o deixava na frente de Ken’ichi, mas longe demais
para uma conversa discreta.
Elke pareceu se decidir por ele quando deslizou na cadeira perto de Ken’ichi,
de frente para Cyn na mesa.
— Eu vou sentar perto de Elke — disse Turner com suavidade, colocando
ações nas palavras e em seguida imediatamente agarrando a garrafa de whisky e
serviu um copo para Elke e ele, antes de empurrar na direção dos outros. Elke
estreitou os olhos para Cyn, como se a desafiando a dizer qualquer coisa sobre o
flerte flagrante de Turner, mas Cyn começou a trabalhar.
Ignorando a dose de whisky no copo que alguém colocou na frente dela, ela
se inclinou sobre a mesa para Turner e disse: — Eu quero ver os seus arquivos
sobre aquelas três mortes, as que você e eu sabemos que foram mortes por
vampiros.
Turner tomou uma dose de whisky e então descansou o peso em seus
antebraços e se inclinou sobre a mesa, colocando o rosto apenas alguns
centímetros de distância de Cyn.
— Aqueles são arquivos policiais confidenciais. Porque eu compartilharia?
— Porque como eu te disse no telefone, eu posso encontrar e parar o
assassino muito mais rápido do que você — disse Cyn, tentando ser diplomática.
A verdade era que se realmente existisse um vampiro ou vampiros por trás daqueles
assassinatos – e ela sabia que existia – ela não achava que policiais humanos
seriam capazes de pará-los. Mas ela não disse aquilo, se contentando com uma
simples advertência, dizendo: — É provável que você esteja lidando com mais do
que um vampiro, o que tornará mais difícil ainda para você.
Turner franziu o cenho. — Pará-lo, você disse. O que exatamente isso
significa? O departamento policial está severo com seus detetives, mandando
armas contratadas para matar os suspeitos. Há aquela maldita coisa de ‘inocente
até que se prove o contrário’ que nós por acaso acreditamos.
— Vamos deixar uma coisa clara, Turner — disse Cyn sem rodeios. — Eu
gostaria da sua ajuda. Tornaria o meu trabalho muito mais fácil, e há muito mais
em jogo aqui para mim do que parar esses assassinos. Mas eu posso fazer isso sem
você. Eu não conheço a sua cidade, mas com certeza posso ler um mapa. E eu
conheço vampiros muito melhor do que você jamais conhecerá.
Turner encontrou o seu olhar em silêncio, os lábios franzidos em
pensamento. — Então me diga, o que você fará uma vez que encontrar os seus
supostos vampiros assassinos? Uma estaca direto no coração é isso? Sem
perguntas?
— Como eu lido com eles não é preocupação sua — Cyn insistiu.
— E veja, querida, é aí que você está errada. Eu sei quem você é, e me
parece que você deveria estar insistindo que esses vampiros tivessem a mesma
justiça que humanos teriam, o devido processo e tudo mais. Mas você não está. E
eu gostaria de saber o porquê.
— Vá em frente e conte a ele — disse Elke. — Eu posso matá-lo depois que
conseguirmos o que precisamos.
Ao invés de se assustar com a ameaça, Turner deu a ela um olhar
encantado, como se ela tivesse dito algo maravilhoso, e não acabado de se oferecer
para matá-lo.
Os olhos de Elke se arregalaram no que alguns poderiam ter confundido
com horror, mas Cyn conhecia a vampira bem o suficiente para ver que ela estava
particularmente satisfeita com a atenção de Turner. Muitas pessoas olhavam para
o cabelo loiro curto e platinado de Elke e para o seu corpo sólido e musculoso e
presumiam que ela era lésbica. Mas Cyn sabia que aquilo não era verdade. Elke
tinha boas razões para o percurso de carreira que ela tinha escolhido com Raphael,
e ela havia trabalhado arduamente para conseguir manter um lugar no círculo
secreto de segurança de Raphael. Mas aquele era o trabalho dela, não a soma total
do que ela era. Quando se tratava de suas preferências sexuais, ela era totalmente
hétero. E Turner era um homem muito atraente.
— São os negócios, Mal — Elke grunhiu com um olhar abafado.
Turner pousou uma mão dramática sobre o coração ao ouvir ela dizer o seu
nome, mas quando encarou Cyn novamente, ele era estava todo a trabalho. — Você
não está sendo totalmente sincera comigo, Leighton. Você não está caçando um
assassino, ou, pelo menos, essa não é a sua motivação principal. Você quer algo
desses vampiros. O que é?
Quando Cyn só o olhou fixamente, debatendo sobre o quanto deveria contar
a ele e se ele era confiável, Turner reiterou sua posição. — Você quer os arquivos?
Eu quero a história completa.
Cyn se forçou a permanecer calma, cerrando um punho sobre a coxa
debaixo da mesa. Willis havia insistido mais de uma vez que ele poderia hackear o
sistema do departamento policial e pegar qualquer arquivo que ela quisesse. Mas
ela queria mais do que os documentos oficiais. Ela queria as notas de Turner e de
todos os outros. Ela queria os livros de assassinatos, que conteriam cada evidência
que eles coletaram. E apenas Turner poderia conseguir aquilo pra ela.
Ela olhou para Ken’ichi, que lhe deu um aceno quase imperceptível que era
mais do que uma simples concordância com a barganha de Turner. Implícito
naquela concordância havia o que poderia acontecer se Turner os traísse. Elke
poderia estar brincando sobre matá-lo, mas Ken’ichi não.
— Tudo bem — disse Cyn. — Os vampiros que eu acredito que sejam
responsáveis por esses assassinatos fazem parte de uma conspiração maior, cujos
líderes sequestraram o meu companheiro, Raphael, quatro noites atrás, e estão
mantendo-o prisioneiro sob condições horríveis. Eu vou resgatá-lo de um jeito ou
de outro. Mas existe um problema muito maior no jogo do que apenas a minha
vingança pessoal. Se não encontrarmos Raphael a tempo, haverá guerra e
centenas, talvez milhares, morrerão tanto vampiros quanto humanos. Seus
assassinos, e eu acredito que haja mais de um, fazem parte dessa conspiração,
parte de um grande grupo de vampiros cujo único foco agora é manter Raphael
aprisionado.
— E é por isso que eu quero rastrear esses assassinos. Porque eu vou atrair
um deles e descobrir tudo o que ele sabe.
— Supondo que você consiga fazer isso e que você pegue o cara certo... e se
ele resistir e não te contar o que você quer saber?
Cyn lançou a ele um olhar encoberto. — Ele vai me contar. Ele vai implorar
para me contar.
Turner olhou de volta para Cyn, como se tentando envolver seu cérebro com
a realidade daquelas palavras vindas de uma mulher que parecia que deveria estar
fazendo compras no Rodeo Drive, não sentada em um bar policial em Honolulu
falando sobre caçar vampiros assassinos.
— Tudo bem. E depois? — Turner persistiu. — Uma vez que ele diga o que
você precisa saber, você vai entregá-lo para a polícia? Para mim?
Cyn deu a ele um olhar de pena. — Sem chances — ela disse, cada palavra
dura e firme. — Quando eu tiver acabado com ele, eu vou matá-lo. E acredite, ele
vai ficar feliz quando eu fizer isso. E então eu vou libertar Raphael e ajudá-lo a
matar cada um dos bastardos que foram tolos o bastante para pensar que eles
conseguiriam tê-lo como prisioneiro, ou que eu sentaria e torceria as mãos
enquanto eles faziam isso. Bem vindo ao mundo da justiça vampira, Mal.
Turner piscou. — Tudo bem, então — ele colocou lentamente a mão no bolso
e retirou um pen drive, levantando ambas as mãos na frente dele e movendo os
dedos para mostrar que ele não estava segurando mais nada.
— Isso é tudo o que eu tenho sobre os assassinatos — disse ele.
Cyn estendeu a mão para o pen drive, mas Turner fechou os dedos sobre
ele. — Com uma condição — disse ele, ganhando um olhar hostil. — Quero
participar da investigação.
— Fora de questão — murmurou Elke, ao mesmo tempo em que Robbie
disse: — Não é uma boa ideia, irmão.
Cyn apenas fitou o detetive, pensativa. — Por quê? — ela perguntou.
— Porque esses assassinatos aconteceram na minha área. Porque eu sou
um cara curioso e vampiros me intrigam. — Então ele piscou e disse: — E porque
eu preciso de tempo para persuadir Elke aqui a sair comigo.
Cyn podia sentir o olhar pálido de Elke tentando abrir um buraco em sua
testa, mas a vida amorosa da sua guarda-costas não era a principal preocupação
de Cyn no momento. Encontrar Raphael era a única preocupação, e Cyn poderia
evocar facilmente qualquer número de cenários onde poderia ser útil ter um policial
ao lado deles. E eram exatamente nisso que ela conseguia pensar naquele
momento.
— Tudo bem — disse ela. — Mas eu quero ver os registros dos assassinatos.
Turner fez uma cara como se ele esperasse que ela não soubesse sobre eles.
Mas então ele deu de ombros e disse: — Feito. — ele abriu a mão, dando o pen
drive para Cyn. — Quando começamos? — perguntou ele.
— Assim que eu voltar para a casa e dar uma olhada nesses arquivos —
disse Cyn distraidamente, já empurrando a cadeira.
— Ótimo. Eu vou até a estação para pegar os registros. Talvez Elke possa
andar comigo, desde que eu não sei aonde vou depois.
— Eu tenho um emprego, idiota — estalou Elke. — E não é ser o seu...
— Pode ser — Cyn interrompeu. — Mas Elke vai dirigir. Você vai usar um
dos nossos veículos e vai deixar o seu telefone no seu carro. Não quero ninguém
rastreando você até a casa.
— Estou de plantão, eu não posso...
— Eu vou te dar um telefone descartável. Você pode encaminhar as suas
chamadas para ele.
— Paranoica demais? — Turner zombou.
Cyn encolheu os ombros. — Você queria aprender mais sobre vampiros?
Essa é a sua primeira lição. Nós sobrevivemos sendo paranoicos. — ela se levantou
e deu a ele um olhar fixo através da mesa. — Você vai querer ser cuidadoso, detetive
Turner, para que a sua segunda lição não seja o que acontece com as pessoas que
nos traem.
Capítulo 13
CYN SE FORÇOU a colocar de lado seu laptop, fechando os últimos três
arquivos do pen drive que Maleko Turner tinha dado a ela no bar. Ele e Elke tinham
aparecido na casa há algumas horas, com o verdadeiro registro de assassinatos na
mão. Mas Cyn já tinha começado a passar pelos arquivos de computador e ela
tinha decidido terminá-los primeiro, e então ver qual informação adicional
detalhada o registro de assassinatos podia oferecer. Ela sabia pela sua experiência
como P.I.9 que algumas vezes o olho vê no papel o que perdeu na tela do
computador.
Mas ela estava muito exausta para olhar mais alguma coisa no momento.
O sol tinha nascido em algum momento atrás, e os vampiros estavam dormindo
profundamente em suas camas. Turner tinha querido ficar, insistindo que eles
precisavam de gente para ajudar na segurança da casa, mas quanto mais perto
ficava do dia D, menos disposta Cyn estava em confiar em alguém de fora do seu
pequeno grupo. Então, Elke tinha empurrado Turner porta a fora e a trancado. O
olhar no rosto de Turner quando os 56 quilos de Elke tinham rudemente
empurrado seus 90 quilos a mais de músculo para fora da casa sem derrubar uma
gota de suor tinha sido impagável. Infelizmente para Elke, tinha sido o olhar de um
homem que morreu e foi para o céu. Cyn teria se divertido muito se ela tivesse uma
gota de emoção sobrando.
Suspirando, ela alcançou a caneca que ela teria jurado que tinha enchido
com café quente, apenas para encontrar o liquido tão frio que ela nem poderia
tomar.

9
Investigadora Particular.
— Ok, é isso. — Ela murmurou, as pernas de madeira da cadeira rasparam
no chão quando ela se levantou. Ela precisava conseguir pelo menos algumas horas
de sono, mesmo que apenas para dar a Raphael a chance de se conectar com ela,
algo muito mais essencial para ela do que dormir. Havia drogas para mantê-la
acordada. Mas apenas Raphael podia fazê-la querer continuar tentando.
Robbie sentou-se quando ela tropeçou através do cômodo em seu caminho
para as escadas. Ele estava deitado no sofá, tendo um daqueles cochilos de
combate que os militares pareciam ser especializados. Ele estava pegando o
primeiro turno, não confiante que o sistema de segurança sozinho era o suficiente
para proteger os vampiros. Uma vez que eles encontraram Maleko Turner em um
bar de policiais, suas presenças tinham sido conhecidas. Eles não tinham
evidências de que Mathilde tinha algum policial como parte de sua conspiração,
mas eles não tinham nenhuma evidência de que ela não tivesse também. Então,
desse momento em diante, ele e Cyn tomariam turnos de dormir durante o dia.
— Alguma coisa nos arquivos? Qualquer coisa que você queira que eu dê
uma olhada? — Robbie perguntou, soando tão alerta quanto se ele não tivesse
apenas aberto os olhos.
Ela negou com a cabeça. — Eu mandei a Willis a informação de onde os
corpos foram encontrados e pedi a ele que conectasse isso com os bares vampiros
conhecidos. Mesmo que Rhys Patterson vivia no Havaí, ele devia saber sobre
qualquer vampiro aqui em Honolulu e onde eles passavam o tempo. Não é tão longe
para que ele nunca tenha visitado. — Ela cobriu a boca para esconder um bocejo
que abriu sua mandíbula. — Eu ainda preciso ir através dos livros de assassinato,
mas... eu não consigo ver direito.
— Durma um pouco. É de manhã. Mathilde e seu pessoal não vão a lugar
nenhum.

****

Cyn não se lembrava de cair no sono, mas ela sabia que não demorou muito
antes dela sentir o toque da mente de Raphael contra a sua, tão familiar que isso
a fez sentir dor com a sensação de perda.
— Lubimaya, — ele sussurrou, sua respiração quente contra a orelha dela.
Era tudo tão real, mas mesmo em seu sonho ela sabia que se ela girasse, se ela
virasse para olhar dentro dos seus olhos negros, que ele teria ido embora. E então
ela não tentou. Alguma coisa era melhor do que nada.
— Raphael.
Os braços deles se enrvolveram nas costas dela, e ela franziu a sobrancelha.
Isso era uma coisa que ele fazia o tempo todo quando eles dormiam, quando eles
faziam amor, seus braços sendo um peso ancorando ela contra ele. Mas isso era
diferente dessa vez, não tão pesado, seu puxar não tão forte.
— Raphael? — ela sussurrou alarmada, apertando seus olhos fechados
para não acordar, para não o fazer desaparecer. — Você está bem? Alguma coisa
está errada?
— Eu vou ficar bem, minha Cyn. Não é nada que eu não esperava.
— Eles fizeram alguma coisa? Você está...?
— Cynthia, — ele interrompeu, usando seu nome inteiro para ganhar sua
atenção. — Nós não temos tempo para isso. Mathilde deixou a ilha. Você precisa
avisar Jared e Juro que ela está a caminho.
— Mathilde — Cyn repetiu, arrastando sua mente para longe do estado
físico de Raphael. — Isso significa que o relógio está correndo.
Silêncio. Ela pensou por um momento que ele tinha ido, mas ela ainda podia
sentir a pressão do seu corpo contra o dela, o mergulho da cama atrás dela.
— Venha logo, lubimaya, — ele murmurou, e então se foi.
Cyn acordou de repente, seu coração batendo, ofegando por ar enquanto
ela automaticamente alcançava a Glock que ela deixou na mesa ao lado da cama.
Rolando para fora da cama, ela colocou suas costas contra a parede e escutou. Mas
tudo que ela conseguia ouvir era o tamborilar do seu próprio pulso. Com um
solavanco, ela se lembrou do seu sonho e da mensagem de Raphael.
Ela atravessou a cama, indo para a caixa de telefones descartáveis que Juro
tinha dado a ela, procurando pelo marcado #2. Tinha realmente que ser o #2? Qual
era a maldita diferença que isso fazia?
Encontrando o telefone correto, ela checou a hora. Era muito cedo. O sol
não tinha se posto ainda em Malibu. Juro tinha um correio de voz no seu telefone
#2? Será que ele ao menos pensaria em checar?
— Foda-se, — ela murmurou, então discou o número de Luci, ao invés.
Mathilde não devia saber sobre Luci, e mesmo que ela soubesse, ela não devia ser
capaz de encontrar o seu número de celular privado. Luci tinha vários números
para os vários conselhos de caridade que ela participava, mas seu número pessoal
de celular apenas um punhado de pessoas sabia.
Cyn não ficou surpresa quando a ligação foi para o correio de voz. Depois
de tudo, Luci estava dormindo com um vampiro agora.
— Luce, — ela disse depois do beep. — Você não conhece esse número, mas
você sabe quem é. Diga ao seu amante que eu tenho uma mensagem para ele do
seu chefe. A vadia está a caminho. Ele saberá o que significa. A vadia está a
caminho, Luce. Cuide-se.
Ela desligou, então se sentou do lado da cama e esperou até seu coração
parar de correr. Ela tinha dormido por um pouco mais de duas horas. Nem perto
do bastante, mas isso era tudo que ela ia ter. Juro tinha dado a ela três noites,
depois que Mathilde chegasse em Malibu. Três noites para encontrar Raphael e
levá-lo para casa.
E a noite um tinha oficialmente começado.
Capítulo 14
Noite Um – Malibu, Califórnia

LUCIA JÁ ESTAVA acordada quando os olhos de Juro se abriram para a


noite. Ela estava sentada ao lado dele na cama, franzindo a testa para o celular,
seu rosto banhado no brilho azul do quarto escuro.
— Lucia? — ele perguntou.
Ela saltou ao som de sua voz, seus olhos arregalados com algo próximo ao
medo quando ela se virou para olhá-lo.
— O que há de errado? — Ele disse instantaneamente, levantando e
puxando-a para seus braços, seus sentidos procurando a sala, o prédio, toda a
propriedade por algum perigo que ele ainda não sentia. Não havia nada, exceto a
forma trêmula da mulher que ele amava, e o celular na sua mão.
— Lucia, — ele repetiu, forçando-a a olhar para ele. — Quem te ligou? —
perguntou, intuindo a fonte de seu medo.
— Cyn, — ela disse em uma voz fraca. — Cyn me chamou. Ela me deu...
Juro sentou-se mais reto, seus sentidos de vampiro verificando
automaticamente o vínculo que tinha com seu Sire, achando-o distante, mais fraco
do que deveria ser, mas intacto. O que significava que Raphael estava vivo... —
Alguma coisa aconteceu com Cynthia? Com o Ken...
— Pare, — Lucia disse, colocando seus dedos sobre seus lábios. — Todo
mundo está bem, — ela disse pacientemente, sua compostura parecia ter retornado
enquanto a sua tinha se desintegrado. — Cyn me deu uma mensagem para você
do “seu chefe”. Ela disse para dizer a você... — Ela ergueu os olhos para ele,
encontrando seu olhar fixamente, como se quisesse avaliar sua reação a suas
próximas palavras. — Ela disse que a cadela está a caminho. — Juro congelou por
nada mais do que um piscar de olhos, mas Lucia pegou isso.
— Ela quer dizer Mathilde, não é?
Ele acenou a cabeça nitidamente. — Preciso subir. Tenho pessoas no
aeroporto que podem confirmar sua chegada, e preciso avisar o Jared.
Ele começou a sair da cama, mas parou, segurando o rosto de Lucia em
uma das mãos. — Preciso que fique aqui na propriedade por enquanto. Sei que não
é tão confortável quanto a nossa casa, mas...
— Pare, — Lucia murmurou, envolvendo os braços ao redor do pescoço dele,
seus dedos penteando através de seus cabelos soltos. — Você acha que eu não
entendo o que está acontecendo? Isso é guerra, Juro. Nós fazemos o que precisa
ser feito. Faça suas chamadas, então vamos conversar.
Ele bateu no número de Jared, já em discagem rápida, enquanto Lucia ia
para o banheiro para cuidar das necessidades. Ele não precisava se preocupar com
interceptações nesses telefones, especialmente não aqui no quarto de dormir do
cofre, que era onde Jared ainda seria encontrado a esta hora da noite. Deslizando
o telefone entre sua orelha e ombro, ele fez o seu caminho para o armário e começou
a se vestir.
— Juro, — Jared disse, soando sem fôlego.
— Cynthia ligou. Mathilde está a caminho — disse Juro.
— Como ela...
— Raphael.
— Porra. Eu estarei lá em cima em dois minutos. Nós precisamos...
— Eu chamarei nosso observador no aeroporto assim que nós terminarmos
aqui. Vou saber mais quando eu chegar lá em cima.
— Certo, — Jared disse, e desligou. Não havia mais nada a dizer. Mas se
Mathilde estava prestes a aparecer no portão deles, havia um inferno muito mais
para fazer.
A porta do banheiro abriu quando ele ligou para outro número. A pessoa do
outro lado da linha tinha uma boa razão para que seu telefone ficasse vibrando,
então ele ouviu o toque várias vezes enquanto observava Lucia emergir, trançando
seus longos cabelos sobre seu ombro.
A chamada foi para o correio de voz. — Aqui é o Juro. Preciso de um relatório
da situação. Daqui a dez minutos, — disse ele, depois desligou.
Lucia juntou-se a ele perto do closet e começou a colocar rapidamente
roupas íntimas e – jeans e um suéter, meias grossas e tênis. Sua Lucia não era
uma guerreira, mas era uma mulher sensata e competente.
Ela esperou até que ele se sentou na cama para atar suas botas, então ela
ficou diante dele, as mãos nos quadris. — Tudo bem, o que posso fazer para ajudar?
— Eu só preciso saber que você está segura — ele respondeu, seus dedos
automaticamente fazendo os laços da bota, amarrando-os. –— Não há como prever
o que Mathilde fará, nem o quanto ela sabe. Se ela perceber o que você significa
para mim...
— Estou segura enquanto estiver na propriedade, ou...
— Pelo menos por enquanto — ele interrompeu para dizer sombriamente.
— Não chegará a isso — ela repreendeu-o. — Eu confio em você, e você deve
confiar em Cyn. Ela vai trazer Raphael de volta a tempo.
— Eu confio nela. — Ele suspirou, balançando a cabeça enquanto ele foi
para o lado dela. — Se houvesse apenas mais tempo.
— Bem, não há, — ela disse sem rodeios. — Então, nós simplesmente
teremos que fazer o que pudermos para estarmos prontos para eles quando
chegarem aqui. Agora. Eu sei que tenho que ficar na propriedade, mas não há
motivo para me esconder no seu quarto. A menos que você esteja envergonhado...
Juro cobriu sua boca com seus lábios antes que ela pudesse terminar a
frase. Ele a beijou até que ambos respirassem com dificuldade, então ergueu a
cabeça, os olhos brilhando de emoção. — Nunca pense isso, Lucia. Amar você, ter
você ao meu lado, é o momento mais orgulhoso da minha vida.
Ela acariciou uma mão macia sobre sua bochecha. — Eu também te amo,
sabe.
Juro passou os dedos pela sua longa e sedosa trança e inclinou a cabeça
para beijá-la... Apenas para ser puxado de volta para a feia realidade pelo zumbido
de seu telefone celular.
Dando a Lucia um olhar pesaroso, ele lhe deu um rápido toque de seus
lábios, enquanto pegava o telefone da mesa. Um olhar para o identificador de
chamadas e suas entranhas se apertaram com medo.
— Status — ele disse secamente.
— Desculpe pelo atraso, senhor, mas estávamos em movimento. Nós temos
mantido o olho nesse avião privado fretado que veio em LAX de Honolulu muito
tarde ontem à noite. O hangar permaneceu fechado durante o dia com o avião
dentro, mas há aproximadamente dez minutos, surgiu uma limusine e duas SUV
de escolta. Meu parceiro e eu estamos seguindo-os, e parece que eles estão indo
em sua direção. Eles estão apontando para a estrada 10 oeste, mas o tráfego está
os atrasando.
— Entendido. Pare de seguir e volte aqui o mais rápido que puder. — Ele
não soletrou; Ele não precisava. Os dois iriam trocar seu carro em favor de
motocicletas, tomar ruas laterais para a costa, que apenas um local saberia sobre
elas e, em seguida, manobrar através dos engarrafamentos na Pacific Coast
Highway muito mais rápido do que a limusine da Mathilde e os acompanhantes.
— Sim, senhor.
Juro puxou Lucia para perto com uma mão, puxando-a para fora da porta
com ele, enquanto desligava a ligação e marcava o número de Jared.
— Confirmado, — ele disse, antes que o outro vampiro pudesse falar. —
Eles estão na Dez.
— Graças a Deus pelo tráfego da hora do hush — murmurou Jared. —
Levará pelo menos quarenta minutos para chegar até aqui. Certo, vou espalhar a
palavra. Você está chegando?
— No meu caminho.
Juro e Lucia tomaram a passagem subterrânea até a casa principal. Os
corredores em torno deles estavam vazios, o elevador aberto e esperando quando
eles chegaram lá. Todos os lutadores de Juro, todos os lutadores de Raphael, já
estavam lá em cima e espalhados. Eles suspeitaram que Mathilde estivesse nesse
voo fretado. O fato de que a aeronave tinha aterrissado em um hangar privado e
ficado lá, com ninguém desembarcando, foi quase prova suficiente. Juro poderia
ter ido ao aeroporto e verificado por si mesmo. Assim poderia Jared. Qualquer um
deles era forte o suficiente para detectar a presença de Mathilde, especialmente
porque era muito provável que ela tivesse trazido alguns de seus próprios vampiros
para apoiá-la na próxima batalha.
Mas eles tinham colocado intencionalmente observadores humanos no
aeroporto, indetectáveis a Mathilde, porque havia tantos humanos na área.
Deixaram-na acreditar que tinha entrado sem ser notada, que sua chegada à
propriedade de Raphael em Malibu viria como uma surpresa completa.
Haveria uma surpresa tudo bem, mas não seria para o povo de Raphael.
As portas do elevador se abriram ao som de vozes e movimento, mas não de
pânico. Um grupo de seis soldados passou por ali, todos carregando longos estojos
de rifle. Como um deles, eles acenaram nitidamente na direção de Juro quando ele
saiu do elevador, mas eles nunca quebraram o passo enquanto eles chegavam à
escada principal e começavam a descer como um trovão de botas de combate.
— Atiradores de Elite — Juro murmurou a Lucia, conduzindo-a para a sala
de conferências principal, que havia sido transformada em uma sala de guerra
nesse tempo. — Eles vão se instalar nas árvores ao redor do portão e atirar nas
pessoas de Mathilde.
Os olhos de Lucia se arregalaram. — São todos vampiros?
— Os atiradores são uma mistura, três vampiros, três humanos. Os alvos
também serão ambos, mas os vampiros são uma prioridade, pelo menos para esta
noite.
De repente, ela pegou uma de suas mãos em ambas as dela e segurou
firmemente, tão forte que ele podia sentir seu corpo inteiro tremendo como tinha
sentido quando ele acordou pela primeira vez esta noite.
— Lucia, — ele disse suavemente, envolvendo-a nos dois braços e
segurando-a firmemente. — Eu sinto muito. Você não precisa saber detalhes como
esse. Eu não estava pensando...
— Não, — protestou ela. — Sua mente precisa estar aqui, em tudo isso, sem
se preocupar comigo. Vou atender telefones, ou fazer sanduíches, ou... qualquer
coisa que eu possa fazer. Eu vou lidar. Você vai lidar com Mathilde.
Juro deu-lhe um beijo rápido e duro. — Nós vamos fazer de você uma
guerreira ainda — disse ele, com um sorriso torto que teria chocado a maioria das
pessoas que o conheciam. — Pelo corredor, última porta à esquerda. Irina vai
encontrar algo para você fazer. Oh, e pode ligar para Cyn por mim? Certifique-se
de que ela saiba que recebemos a mensagem dela a tempo. Diga a ela que vou ligar
mais tarde com uma atualização.
Lucia soltou uma muda saudação e então seguiu pelo corredor. Juro
esperou até que ela tivesse desaparecido de sua vista, então se virou de volta para
a sala de guerra, seus olhos frios e determinados enquanto ele caminhava e se
juntava a Jared na cabeceira da mesa. Ele deslizou um fone de ouvido Bluetooth,
em seguida, olhou para o seu técnico de comunicações que fez um teste rápido.
Juro assentiu.
— Tudo bem — disse ele a Jared. — Onde estamos?
— Snipers apenas chegaram ao portão principal, ocupando posições agora.
Portões fechando atrás deles.
— E o resto?
Jared sorriu maliciosamente. — Os reboques chegaram na programação
esta manhã. Dois deles. E eles estão preparados para os nossos hóspedes. Espero
que sua majestade não se importe em dormir em uma cama de solteiro.
Juro bufou desdenhosamente. — Ela vai criar um inferno sagrado. Mas olhe
para isso dessa maneira... uma vez que nossos atiradores acabarem com seu povo,
as acomodações não serão tão lotadas.
— Porra, eu odeio essa parte. A espera.
Juro olhou para o relógio. — Nós podemos usá-la para nos preparar. O
telefonema de Cyn nos deu um tempo.
Jared se endireitou de onde estava inclinado sobre a mesa, examinando um
mapa da fazenda. — Eu não conheço Cyn muito bem. E você sabe que ela e eu
tivemos um mau começo...
— Luci me disse que vocês chegaram a uma trégua não oficial.
Jared soltou uma gargalhada. — Sim. Mata ela admitir que eu poderia não
ser um babaca total, mas o gelo está derretendo... glacialmente, mas está
derretendo. De qualquer maneira, eu sei que Cyn é dura, e Deus sabe que ela ama
Raphael com cada célula em seu corpo, mas... você acha que ela pode fazer isso?
— Luci e eu tivemos a mesma conversa há alguns minutos. Mas eu era o
único a fazer essa pergunta. Lucia acredita que Cyn vai fazê-lo, e ela conhece Cyn
um inferno muito melhor do que qualquer um de nós. Então, sim, acho que ela vai
libertar Raphael. E eu acho que juntos eles deixarão uma grande pilha de poeira
em qualquer buraco úmido em que seus captores estiveram escondidos. E então
eu acho que ele entrará aqui e dará a Mathilde o maior choque de sua vida.
Jared sorriu brevemente. — Isso é o que eu quero ouvir. Agora, vamos ter
certeza de que manteremos a cadela esperando o tempo suficiente para que isso
aconteça.
— Foda-se sim, — Juro concordou.
****

Eles tinham pouco mais de quarenta minutos para se preparar, mas já era
suficiente. Na verdade, eles haviam começado a se preparar para esse confronto no
momento em que Raphael e sua escolta haviam saído para o Havaí. Era a principal
razão de Jared ter ficado para trás, enquanto Juro viajara com Raphael.
Toda aquela preparação não facilitou a espera, mas quando a limusine de
Mathilde fez a curva à esquerda da Pacific Coast Highway e parou em frente ao
portão fechado da propriedade – depois de percorrer uma estrada que havia sido
deliberadamente preenchida por obstáculos e crivada com buracos – Juro sabia
que estavam prontos para ela. Ou tão prontos como poderiam estar sem Raphael
lá para liderar a defesa.
Jared e Juro receberam a chamada de rádio do guarda de portão no mesmo
momento, seus fones de ouvido Bluetooth ajustados para a mesma frequência de
comando. — Senhor, há uma mulher aqui...
— Lady Mathilde, seu camponês — disse uma voz masculina fortemente
acentuada de algum lugar fora do microfone.
— Uh, Lady Mathilde — corrigiu o guarda, deliberadamente mal
pronunciando o nome com um “duh” no final, em vez do francês ma-TEELD. O jogo
era ferir o orgulho de Mathilde em cada oportunidade, porque um adversário
balançado era um adversário enfraquecido. A recente exposição de Juro a vampira
francesa, bem como as lembranças de Lucas sobre ela, falavam de um ego
extremamente narcisista. Que, concedido, vinha de mãos dadas com ser um senhor
de vampiro, mas o ego de Mathilde era acompanhado por uma personalidade
necessitada que requeria uma levantada em cada oportunidade. Era uma espécie
de insegurança que a tornava vulnerável. Mal pronunciar seu nome era um
pequeno tiro contra sua vaidade, mas então, era apenas o começo.
— Ela está exigindo entrada, senhor — continuou o guarda.
— Certifique-se de que ela não está bloqueando o portão, — Jared disse
deliberadamente, sabendo que o guarda teria seu volume alto o suficiente para que
a audição de vampiro de Mathilde pegasse sua resposta. — E eu estarei aí — ele
terminou.
Jared silenciou seu fone de ouvido com um sorriso, esperando Juro fazer o
mesmo.
— Eu sei que isso não é nada além da saudação inicial, mas, maldição, isso
foi bom.
— Pequenas vitórias — concordou Juro. — Vamos ver o que a puta tem a
dizer por si mesma.
— Você acha que ela vai sair de sua limusine? — Jared perguntou quando
saíram da sala de conferências e começaram a descer o corredor.
— Uma vez que ela perceba que não estamos abrindo os portões? E que ela
estará vivendo em um trailer? Foda-se, sim. Ela vai criar um inferno.
Jared e Juro pegaram uma escolta quando saíram da casa. Ambos eram
vampiros poderosos, e antes de Raphael ter sido levado, qualquer um deles poderia
ter deixado a propriedade sozinho, sem que ninguém protestasse. Mas não mais.
Não até que isso acabasse. Eles eram muito valiosos para a defesa da propriedade.
A distância da porta principal da casa até o portão onde Mathilde esperava
não era tão grande, menos de trezentos metros, em linha reta. Mas isso era guerra,
e caminhar aquela distância os deixava muito expostos. Assim, Jared e Juro
entraram em um dos SUVs à prova de balas com sua escolta e foram conduzidos
para o portão.
O complexo do Raphael foi projetado para garantir a segurança de seus
vampiros durante o dia quando eles eram vulneráveis, e para parar os inimigos no
portão, dia ou noite. A propriedade de quase dez hectares estava rodeada por três
lados por uma parede de dez metros, cada centímetro coberto por câmera de
vigilância, e grande parte coberta por arame farpado. Alarmes de placa de pressão
foram semeados em todas as áreas mais remotas, e havia patrulhas ao vivo em
torno do perímetro. O quarto lado da propriedade era uma queda de cinquenta
metros até o oceano, também coberto por câmera de vigilância, com uma única
escada em ziguezague que fornecia o único acesso da praia para o topo do
penhasco. E isso era apenas o terreno. A casa e outros edifícios tinham camadas
adicionais de segurança, mas Juro não tinha intenção de deixar Mathilde chegar
tão longe.
O portão principal para veículos, que agora estava frustrando a entrada de
Mathilde, era uma barreira pesada e sólida de aço, com uma casa de guarda
fortificada a um lado.
Enquanto ele e Jared saíam do SUV, Juro notificou o guarda via Bluetooth
de sua chegada. O portão foi aberto o suficiente para um vampiro de cada vez
passar. Sua escolta foi em primeiro lugar, seguido por Jared e Juro. Eles haviam
debatido que apenas um deles a confrontasse, enquanto o outro ficava para trás,
mas decidiram que era melhor mostrar uma frente forte e unida desde o início.
Afinal, embora nenhum deles pudesse igualar a força de Raphael, juntos eles eram
uma força poderosa, especialmente quando estavam em seu próprio território. Eles
eram mais que suficientes para se oporem a Mathilde, porque, vamos encarar,
Mathilde não poderia enfrentar Raphael também. Foi por isso que ela e seus aliados
foram forçados a violar a bandeira de trégua para tirá-lo da cena.
A primeira coisa que Juro notou quando o portão se abriu e ele se
aproximou do guarda foi a pressão implacável que Mathilde estava pondo na mente
do guarda, tentando forçá-lo abrir o portão. Juro reforçou imediatamente os
escudos do guarda. Mathilde tinha cometido um erro estratégico ao manter
Raphael vivo. Por um lado, fez esta pequena charada de desafio dela possível. Por
outro lado, no entanto, isso significava que a ligação de Raphael aos milhares de
vampiros que o chamavam senhor, e especialmente às centenas de vampiros que
ele próprio criara, estava intacta, incluindo Juro. Tudo o que Juro tinha que fazer
era usar seu próprio poder para reforçar o elo já existente que ele e o guarda
compartilhavam com Raphael, e os esforços de Mathilde deslizaram como chuva
no aço.
— Qual é o problema? — perguntou Jared, dirigindo a pergunta ao seu
próprio guarda, já que a limusine de Mathilde estava novamente fechada.
— Há uma senhora ali... — o guarda começou a explicar, mas naquele
momento a janela da limusine abaixou com um sibilar de som.
— Lady Mathilde chegou — disse o motorista com ironia. — Você abrirá o
portão.
Jared bufou. — Acho que não. Esta propriedade está em um pé de guerra.
Amigos apenas, e seu passageiro não é amigável, colega. Por outro lado, ninguém
da sua equipe foi autorizado a entrar neste território, o que significa que você está
em violação da soberania do Lorde Rafael. E isso nos dá o direito de matar cada
um de vocês, se nós escolhermos.
Naquele momento, as portas se abriram dos três veículos de Mathilde e
vampiros saíram.
Jared recuou para ficar ao lado de Juro, sua mão levantada em um sinal
silencioso que foi imediatamente respondido pelos booms quase simultâneos de
vários rifles de sniper de calibre 50, e um após o outro da escolta de vampiros de
Mathilde se desintegraram em poeira, seus corações se evaporaram junto com seus
peitos. Não precisava de uma estaca de madeira para matar um vampiro. Enquanto
o coração fosse destruído além da habilidade de curar, o vampiro estava morto. E
uma rodada de calibre 50 não deixava muita coisa para trás.
As armas dos franco-atiradores ficaram em silêncio. A noite fedeu a pólvora
e sangue, as portas dos SUVs ainda abertas. Somente um vampiro permaneceu à
vista, um macho que ainda se sentava no assento do motorista do segundo SUV,
parecendo congelado com ambas as mãos no volante.
Jared e Juro esperaram para ver o que Mathilde faria. Se tivessem muita
sorte, ela se viraria, voltaria para o aeroporto e terminaria com esse desafio
miserável. Mas nenhum deles esperava que isso acontecesse. Senhores vampiros
não eram nada se não arrogantes, e Mathilde não era exceção.
A porta de trás da limusine se abriu e, apesar dos protestos audíveis de
alguém no banco de trás, Mathilde saiu do veículo, seus lábios franzidos em
desgosto com a cena ao seu redor, mostrando a dor que se poderia esperar da perda
de tantos de seus próprios vampiros.
Parecia a mesma aristocráta arrogante que fora no Havaí, embora Juro
notasse que pelo menos ela trocou o vestido de cetim arcaico que usara na noite
em que havia traído Raphael. A roupa desta noite era composta de calças pretas e
uma camisa de gola alta, com um casaco comprido e botas de salto alto até o joelho.
— Jared, não é? — Ela disse, conseguindo olhar abaixo seu nariz apesar da
diferença em suas alturas.
Jared a olhou em silêncio. — Meu nome é Jared — disse finalmente. — E
você é?
Os lábios de Mathilde se curvaram em desdém. — Eu sou sua nova senhora,
rapaz. E você vai pagar caro por este ultraje. Seu fim não será nem rápido nem
indolor, asseguro.
Jared endireitou, um sorriso divertido brincando sobre seus lábios. — Este
território já tem um senhor. E não é você.
Ela devolveu um olhar presunçoso, suas presas abruptamente em plena
exibição conforme ela se endireitou a toda a altura e anunciou em uma voz
intencional para transportar além da parede: — De acordo com as antigas leis de
nosso povo, eu desafio Rafael, Lorde do Oeste, a me encontrar em defesa de seu
território.
Se ela esperava choque ou desânimo, ela não conseguiu isso de nenhum
dos vampiros de Raphael que estavam do lado de fora do portão. Mas isso não
impediu o brilho da vitória que iluminou seus olhos azuis, como se esse resultado
fosse uma coisa certa.
— Infelizmente, — Jared disse, como se seu desafio fosse uma questão de
pouca preocupação, — Lorde Raphael não está aqui no momento para responder
ao seu desafio. No entanto, ficarei feliz em transmitir suas intenções a ele.
— Três noites — disse ela, apressando as palavras, sem fôlego, como se ela
não pudesse esperar para entregar seu pequeno golpe de graça. — Raphael tem
três noites para me encontrar ou perderá o desafio.
— Então, se você diz, — Jared disse secamente.
Mathilde afastou um pouco de poeira que tinha pousado em seu suéter
preto. — Você vai me admitir imediatamente, e fornecer acomodações adequadas.
— Ah! Lamentavelmente, ou se eu for honesto, não tão lamentavelmente,
devo informá-la que, de acordo com essas mesmas leis antigas que você tão
recentemente invocou, e como uma desafiante não convidada, o que certamente
você é, agora você é considerada uma inimiga, e, portanto, lhe é negada a entrada
à propriedade do meu Sire.
Ela olhou para ele com incredulidade. — Eu sou a governante de um
território significativo na França, e uma senhora em meu próprio direito. Não serei
deixada como um mendigo no portão!
— Sim, bem, talvez você devesse ter ligado com antecedência. Eu sou o
tenente do Lorde Raphael, no comando desta propriedade em sua ausência, e eu
não permitirei você dentro das paredes sem a aprovação de meu Sire. E como eu
sou atualmente incapaz de entrar em contato com ele, como você bem sabe, eu não
posso obter essa aprovação. Assim, você não será permitida passar por estes
portões.
— Você acha que pode me parar, garoto?
Todas as pretensões de bom humor sumiram da expressão de Jared. Ele
deu um passo à frente como se estivesse preparado para desafiá-la, mas Juro tocou
seu braço levemente em advertência. Jared não conseguiria derrotar Mathilde em
um desafio. Mas se ele agisse como substituto de Raphael neste momento, o desafio
seria lutado aqui e agora. Jared perderia, e Raphael também.
O brilho da vitória no olhar de Mathilde morreu quando Jared rolou os
ombros, liberando a tensão. — Meu Sire não precisa de mim para lutar suas
batalhas por ele — disse ele.
— Uma coisa boa, ao que parece — ela murmurou, indo para um último
insulto. — Muito bem. Vamos ocupar sua casa de hóspedes enquanto esperamos
Raphael.
— Sinto muito de novo — disse Jared, sem sinceridade. — Nossas
acomodações estão todas dentro da propriedade o que as deixa indisponíveis para
você. Se você está decidida a perseguir esse desafio imprudente, no entanto,
suponho que você poderia fazer uso desses trailers ali. — Ele gesticulou para os
dois trailers idênticos que tinham sido trazidos naquela manhã. — Fizemos alguma
reforma recentemente — mentiu ele, — e os vários empreiteiros...
Mathilde virou-se lentamente na direção indicada, depois respirou fundo e
virou-se para ele em indignação.
— Você não pode esperar que eu...
— Ou você pode voltar para o aeroporto, pegar o avião que trouxe você aqui,
e voltar para a França. A escolha é sua.
Mathilde o olhou fixamente, seu olhar se deslocava de Jared a Juro
conforme ela fisicamente vibrava com raiva. — Eu não vou esquecer disso, — ela
sibilou. — Vocês dois morrerão gritando quando eu for sua senhora.
— Eu morrerei muito antes disso — disse Juro, as primeiras palavras que
ele tinha falado com ela desde que fora forçado a assistir enquanto preendia
Raphael, forçado a abandonar seu Sire a seu destino. — Eu preferiria morrer
defendendo o último humano nesta propriedade do que servir um único momento
sob seu governo.
— Feito, — ela zombou. Então, com um último olhar afiado para os trailers,
ela entrou na limusine.
Jared sinalizou novamente. Nas árvores, os atiradores já se moveram,
ocupando novas posições pelo resto da noite. Antes do nascer do sol, uma nova
equipe de franco-atiradores humanos viria, junto com um guarda humano. Mas,
por enquanto, uma equipe de guerreiros vampiros atravessou os portões para
cercar a limusine e o SUV solitário com seu motorista aterrorizado enquanto
manobraram na área recém-desmatada onde os dois trailers tinham sido
montados. Juro poupou um momento de simpatia pelo motorista do SUV. Alguém
teria que pagar o preço do desagrado de Mathilde depois da derrota de hoje à noite,
e provavelmente seria esse cara.
Juro esperou com Jared até que Mathilde estivesse instalada em suas
acomodações de “convidados” e os guardas foram implantados para sua satisfação.
Então os dois se afastaram atrás da parede da propriedade, e o portão de aço
fechou com um barulho alto. Era alto o suficiente para que Mathilde ouvisse atrás
das finas paredes de seu novo trailer, e ele esperava que a fizesse morder os dentes
até a raiz.
Nem ele nem Jared disseram uma palavra enquanto subiam de volta ao
SUV e faziam a pequena viagem de volta para a casa principal, permanecendo em
silêncio até que estivessem dentro e as portas da casa se fechassem atrás deles.
— Tudo correu bem — comentou Jared. As palavras dele estavam calmas o
suficiente, mas Juro podia ouvir a raiva e desconforto por baixo delas.
— Ela é muito velha e astuta para deixar isso aparecer — respondeu Juro,
— A morte de seus lutadores é um revés. E agora que ela declarou sua intenção,
ela não será capaz de trazer novos. Nós os mataremos antes deles a alcançarem.
Ela também sabe disso. É o melhor que poderíamos esperar esta noite.
Eles chegaram ao topo da escada e foram para a sala de conferências,
quando Jared parou e virou-se para considerar Juro. — Não parece suficiente. Só
temos três noites agora. Eu sei que você disse que Cyn...
— Jared. Temos um plano. Nós vamos cumpri-lo. Vou chamar Cyn e
atualizá-la, enquanto você liga para Lucas, e deixe ele saber que ele está acordado.

Noite Um – Honolulu, Hawai

Cyn esfregou seus olhos, tentando se concentrar nas páginas na frente dela.
Ela tinha mudado para os registros dos assassinatos, lendo cada página dos
relatórios, lutando para decifrar o que ela assumiu ser a escrita de Maleko Turner.
Provavelmente, era uma boa coisa que ele estivesse vindo para encontrar Elke,
porque nesse momento, Cyn iria precisar de sua ajuda apenas para descobrir o
que alguns desses rabiscos diziam.
As fotos não deixaram dúvida. Essas três mortes foram causadas por
vampiros, um homem e duas mulheres. Os relatórios do ME10 sobre as três vítimas
indicaram relações sexuais consensuais antes da morte, sem agressão, além das
lesões no pescoço. O que significava que o vampiro ou os vampiros responsáveis
haviam seduzido doadores dispostos, como de costume, mas depois se deixaram
levar pela alimentação. Ou eles não estavam acostumados a doadores vivos e
tinham perdido o controle de seu instinto de alimentação, ou estavam fora da
coleira pela primeira vez em muito tempo e simplesmente tinham gostado da
matança.
O que levantou a pergunta... Com Mathilde fora das ilhas, quem estava no
comando? De acordo com Juro, e os relatos de sonhos necessariamente críticos de
Raphael, os cem ou mais vampiros que o restringiam eram em sua maioria
vampiros mestres. Vampiros geralmente não jogam bem juntos, e com Mathilde e
os outros senhores longe, pode ser um caso de muitos tenentes e ninguém no
comando. Isso poderia tornar o trabalho de Cyn mais fácil depois que ela localizasse
Raphael. O que ela tinha que fazer em breve. Como, esta noite.
Seu intestino queimava de muito café e sem comida suficiente conforme
seus níveis de estresse subiam. Ela se levantou abruptamente e caminhou até a
geladeira. Ela não estava com fome. O pensamento de comida realmente a enjoou,
mas os próximos dias exigiriam o melhor que ela tinha para dar, tanto mentalmente
quanto fisicamente, e isso significava que ela tinha que comer... alguma coisa.
Mesmo que fosse apenas para parar a queimadura em seu estômago.
Ela olhou para a geladeira. Metade estava cheia de comida. Robbie tinha
cuidado disso. Enquanto a outra metade estava cheia de alimento de um tipo
diferente. Eles tinham estocado sangue ensacado para os vampiros, cortesia de
Donovan Willis, que tinha organizado uma remessa do fornecedor de Rhys
Patterson.
Cyn fechou a porta. Nada ali apelava para ela. Ela abriu o freezer, em vez
disso, olhando para o relógio na parede. Era bem depois do pôr-do-sol em Malibu.
Por que ninguém a chamara ainda? Mathilde estaria lá agora. Teria ela emitido o
desafio formal? Será que os rapazes conseguiram matar seus seguidores como eles
esperavam? Alguma das pessoas de Raphael foi ferida?

10
Médico legista.
— Por que ninguém me ligou ainda? — ela perguntou enquanto Robbie
trovejava escada abaixo, indo direto para a geladeira e colocando-a de lado quando
ele chegou e pegou uma garrafa de suco de laranja. Agitando vigorosamente, ele
abriu a tampa e bebeu, drenando-a em um longo gole.
Ele abriu a tampa da lata de lixo para jogar o recipiente vazio, olhando para
a pilha de filtros de café descartados, restos de seu dia curvada sobre os registros
de assassinatos.
— Jesus, Cyn, quanto café você bebeu?
— Por que ninguém ligou? — ela repetiu.
Robbie lançou lhe um olhar paciente. — Porque eles estão no meio de uma
guerra? Porque até agora Mathilde mostrou seu traseiro magro no portão e eles
estão lidando com um vampiro que é mais poderoso do que qualquer um deles, um
que provavelmente apareceu com seu próprio exército em reboque? Vamos, Cyn.
Você sabe melhor do que isso.
Cyn empurrou seu cabelo para trás de seu rosto com as duas mãos,
puxando as pontas. — Eu sei.
— Por que você não sobe e toma um banho quente? Você vai se sentir
melhor.
Ela riu amargamente. — Sim. Eu tenho que estar no meu melhor para esta
noite. Não posso seduzir um vampiro assassino com o cabelo sujo, certo?
— Cyn.
— Eu sei, eu sei, eu só estou... — Seu telefone descartável mais recente
tocou ruidosamente e ela girou para a mesa, o agarrou e apertou o botão “Atender”
sem sequer olhar para ver quem estava chamando. Somente uma pessoa tinha esse
número e esse era Juro.
— Ei, — ela disse sem fôlego.
— Você está sem fôlego, está tudo bem aí?
— Tudo bem, o que aconteceu?
— Boa noite para você também.
— Juro!
Ele riu suavemente. — Foi como planejado. Mathilde apareceu com dois
SUVs cheios de vampiros e exigiu entrar. Nossos atiradores tiraram todos menos
um de seus vampiros, e ele não tem muita luta deixada nele.
— E o desafio?
— Ela lançou seu desafio, mas nós sabíamos que ela faria, Cynthia. Nós
nos planejamos para isso. Lucas está a caminho e vai atrasá-la tanto quanto
possível.
— Três noites, — Cyn sussurrou, principalmente para si mesma, mas Juro
ouviu.
— Lucas vai esticá-lo para quatro. Ele é um idiota, mas é isso que
precisamos agora.
Cyn sorriu, depois respirou fundo. — Então, tudo bem. Ok. Estamos
prontos para este fim. Você provavelmente não vai ouvir de mim até amanhã à
noite, então não...
— O que você está planejando, Cynthia? Raphael não...
— Raphael quer que eu faça o que for preciso para salvar seu povo, e você
sabe disso.
— Devo enviar o jato?
— Não. Preparei um dos jatos corporativos do meu pai para voar para
Honolulu amanhã. Eles estão vindo do Japão, então vai parecer uma parada
regular e não vai chamar a atenção. Eles vão ficar aqui até eu lhes dar a palavra,
então eles vão arquivar um plano de voo para Nova York com uma parada em L.A.
para combustível. Nós voaremos até Santa Monica, não LAX.
— Boa ideia. E você pode usar a minha casa quando chegar aqui.
— Eu estava pensando em meu condomínio, mas sua casa provavelmente
é melhor. Obrigada.
Um passo soou em cima. Cyn olhou pela janela e viu que o sol se pôs,
deixando apenas um brilho dourado no horizonte.
— Eu tenho que ir, Juro. Temos muito a fazer e não temos muito tempo
para fazê-lo.
— Tenha cuidado, Cynthia. Se alguma coisa acontecer com você...
— Nada vai acontecer comigo. Tenho muita gente aqui para ter certeza
disso.
— Boa sorte, então.
— Você também. Eu ligo quando puder.
Cyn desligou, em seguida, imediatamente abriu a parte de trás do telefone
e removeu o chip SIMM. Caminhando até pia, ela ligou a água, então deixou cair a
minúscula placa de circuito no lixo e virou o interruptor. O triturador resmungou
infeliz por alguns segundos, em seguida, parou.
— Não tenho certeza se isso é bom para a eliminação — comentou Robbie.
— Fez o truque, não foi?
— Esse martelo de carne teria feito a mesma coisa. Acho que tudo correu
de acordo com o plano em Malibu?
Ela assentiu. — Mathilde perdeu quase todos os seus lutadores, mas ela
lançou seu desafio, o que significa que o relógio está correndo.
— Você já conversou com Donovan Willis sobre possíveis bares de vampiros
locais?
— Sim. Ele gemeu um pouco, mas eu enviei–lhe a localização dos corpos e
ele prometeu dar uma olhada e enviar de volta os bares mais prováveis nas
proximidades. Estou supondo que os vampiros não foram longe com os corpos, já
que dificilmente poderiam levá-los de volta para casa com eles. — Ela indicou seu
laptop aberto. — Willis vai me enviar um e-mail de volta. Se entrar enquanto estou
me preparando, você e Turner deveriam dar uma olhada.
— Faremos. Ei, Ken,— Robbie disse enquanto Ken'ichi caminhava com seu
habitual passo silencioso descendo as escadas e entrando na cozinha.
Ken'ichi levantou o queixo em uma saudação silenciosa. — Já ouvimos falar
de Malibu?
Cyn levantou os restos do telefone descartável. — Tudo correu como
planejado. É nossa vez agora.
— Espero que isso signifique que Mathilde não está respirando mais —
grunhiu Elke, juntando-se à conversa.
— Se fosse tão fácil, — Cyn concordou. — Eu tenho que ir tomar banho.
— Sim, você precisa, — Elke murmurou, pulando para sentar na ilha da
cozinha.
— Você deve fazer um café fresco, — Cyn disse docemente enquanto ela
passou. — Seu namorado estará aqui em breve.
— Ele pode fazer seu próprio café, — Elke estalou. — E ele não é meu
namorado — ela gritou quando Cyn subiu as escadas.

****
Maleko Turner tinha chegado quando Cyn voltou para o andar de baixo. Ela
tomou banho e fez todas as coisas que uma pessoa tipicamente faria quando iria
sair para uma noite na cidade. Ela até tinha colocado algum rímel e brilho labial.
Seu jeans estava apertado e seu pescoço estava exposto, juntamente com a metade
de seus seios em uma bata, o que também revelava uma boa quantidade de seu
sutiã de renda preta. Ela olhou para si mesma no espelho e teve que lutar contra
o desejo de vomitar. Colocar seu casaco preto ajudou um pouco. Era necessário
esconder a Glock enfiada na cintura traseira, e enquanto ela deixasse a frente
aberta, ainda havia muito decote e pescoço em exibição. A própria ideia de que
outro homem a tocasse, de deixar outro vampiro se aproximar de sua pele, ainda
a deixava doente, mas pelo menos a arma a lembrava de que ele estaria morto
antes que ele conseguisse afundar a presa.
Ela se endireitou na frente do espelho, decidida a não deixar nenhuma das
suas dúvidas mostrar. Eles precisavam de um vampiro para questionar, e eles não
podiam se dar ao luxo de fazer uma grande cena sobre isso no bar. Se pudessem
ter encurralado um dos vampiros sozinhos, Maleko poderia simplesmente ter
caminhado para cima e prendido o cara. Mas eles não podiam contar com isso. Se
o vampiro não estava sozinho, se até um de seus companheiros europeus passasse
para ver algo suspeito, Raphael poderia ser movido antes que ela e os outros
pudessem chegar até ele.
E se isso acontecesse, eles teriam que começar tudo de novo. Não havia
tempo suficiente para isso.
— Ei, Mal — ela disse virando a esquina na cozinha.
— Leighton, — ele disse sem olhar, sua atenção em algo que ele e Robbie
estavam estudando. Ela se aproximou para ver o que era, e ele olhou para ela, seus
olhos se arregalaram em apreciação e surpresa.
Cyn encolheu os ombros. — Conheça sua isca para a noite.
Ele abaixou o queixo. — Você vai fazer.
Robbie também olhou para ela. Mas sua reação foi completamente
diferente, com suas sobrancelhas franzidas em uma careta. — Você não vai lá
sozinha.
Cyn suspirou. — Eu tenho que ir. Você sabe disso. Eu deveria estar
disponível.
— Raphael vai me matar se algo acontecer com você.
— Notícias rápidas... Raphael é a razão pela qual estamos fazendo tudo isso.
— Querida, se algo acontecer com você, não haverá vampiros suficientes no
hemisfério ocidental para mantê-lo aprisionado.
— Parece um plano — ela disse, rindo.
— Vamos, Cyn, seja razoável. Um de nós pode ir com você.
— Quem? Vocês são todos muito grandes e perceptíveis, e, além disso, você
vai pairar. Você não conseguirá se impedir. O vampiro irá vê-lo e você vai assustá-
lo. E se eu levar Elke, o meu alvo vai saber que ela é um vampiro e não um deles,
o que irá torná-lo suspeito. E eu não vou lá nua. Estou armada.
Turner a olhou de cima a baixo. — Você está carregando uma arma nesse
equipamento? O que é, uma faca?
— Glock 17. Nunca saia de casa sem uma.
— Eu não pensei que as armas trabalhassem contra vampiros — disse ele
suspeitosamente, como se eles estivessem guardando segredos de humanos
durante todos esses anos. O que eles tinham, é claro.
— No minuto que você achar que o policial sabe demais, ainda posso matá-
lo por você, Cyn. — Elke respondeu animadamente.
— Eu vou manter isso na mente, — Cyn murmurou. — Vocês escolheram
um bar para mim?
Robbie assentiu, gesticulando com um dedo para ela se juntar a eles na ilha
da cozinha onde ele tinha espalhado um mapa. — Eu marquei os locais de morte,
ou pelo menos onde os corpos foram encontrados, no mapa aqui. Willis fez a mesma
coisa e identificou dois bares.
Cyn abriu a boca para objetar. Tinha de haver mais de dois bares a uma
curta distância do corpo locais. Honolulu era uma cidade grande, depois de tudo.
Mas Robbie antecipou sua objeção com uma mão levantada.
— Eu tive o mesmo pensamento — disse ele. — Por que só dois bares? Mas
Willis diz que ele e Patterson visitaram Honolulu em uma base bastante regular, e
que pelo menos algumas dessas visitas foram a pedido de Mathilde e seu grupo.
Embora Patterson não percebesse isso até mais tarde. Alguns vampiros
aproximaram-se dele, procurando sua permissão para se instalarem no Havaí. Eles
voaram para um encontro e saudação, que é provavelmente quando eles
localizaram qualquer casa em que eles estão segurando Raphael. Eles também
foram em alguns bares enquanto eles estavam aqui, sob o pretexto de conhecer
uns aos outros. E ambos os bares estão na curta lista do Willis.
— Certo, então podemos ter que bater dois bares esta noite. Ken'ichi, Elke,
vocês podem ouvir bem o suficiente para se sentarem no estacionamento e me
dizerem se um vampiro anda por aqui? Eu não quero que ele fique assustado, se
ele sentir vocês lá, mas dessa maneira nós poderíamos cobrir ambos os bares de
uma só vez.
Ken'ichi e Elke trocaram um olhar como se estivessem tendo uma conversa,
então o grande vampiro assentiu. — Nós podemos fazer isso.
Elke sorriu, dizendo: — Eu sou uma presença poderosa, não fácil de ocultar,
mas vou conseguir.
— Não é a verdade, — Maleko disse fervorosamente.
Elke surpreendeu Cyn apertando o grande policial do braço brincando. —
Mal e eu podemos pegar um dos veículos. Cyn, você vai com os caras no outro.
Uma vez que nós localizarmos o bar, e você entrar para enganchá-lo, Mal e eu
vamos voltar e preparar as coisas aqui. Vamos ter que parar na loja primeiro, pegar
algumas folhas de plástico. Eu suspeito que haverá sangue uma vez que
começarmos a questionar esse cara. E talvez algumas dessas grandes almofadas
acolchoadas que assassinos usam. Você sabe, para sufocar os gritos.
Mal franziu o cenho para ela.
— Não me olhe assim. O que você acha? Que vamos hipnotizá-lo ou algo
assim? Bem-vindo ao mundo dos vampiros, Mister Cop. Ou eu poderia te matar
agora e, você sabe, acabar com isso.
— Porra, mulher, pare de se oferecer para me matar!
— Sim, ok — disse Cyn interrompendo o show de Elke e Mal. — Está escuro
e nós temos nossos alvos. Apenas para ser clara, vou seduzi-lo com meus caminhos
maus, atraí-lo para fora para uma mordida rápida, então Robbie e Ken'ichi irão
agarrá-lo. Ken'ichi, você pode apagá-lo rápido o suficiente para que ele não seja
capaz de gritar por ajuda, certo?
— Contanto que ele esteja suficientemente distraído.
— Ele ficará muito distraído — Cyn assegurou-lhe.
— Mas não morder — insistiu Robbie.
— Foda-se não, — ela concordou.
— Tudo bem então. Nós estamos indo, — disse Robbie. — Elke, certifique-
se de que você e Mal consigam o suficiente para cobrir completamente o interior da
garagem. Eu prefiro ter folhas de plástico sobrando do que ficar preso tentando
esfregar manchas de sangue.
— Que merda? — Mal murmurou, balançando a cabeça enquanto Elke
sorria.
— Você está pronta, Cyn? — Robbie perguntou.
Ela puxou o casaco no lugar para esconder os nervos fazendo as suas mãos
tremerem, e deu-lhe um breve aceno de cabeça. — Vamos fazer isso.

****

— E se ninguém aparecer esta noite? — Cyn perguntou, quebrando o


silêncio.
Ela, Robbie e Ken'ichi estavam sentados no SUV, na última fila de um
estacionamento movimentado. Mesmo que a área fosse bem iluminada, havia
bastante árvores ao longo das bordas para que eles não fossem visíveis sentando-
se no escuro, esperando. E isso é o que eles estavam fazendo há uma hora.
— Podemos fazer isso amanhã à noite — disse Robbie em voz baixa.
— Raphael não pode esperar tanto.
— Willis diz que os visitantes vampiros também olharam propriedades.
Talvez nós possamos descobrir quais.
— Sim, porque os agentes imobiliários não são uma moeda de dez centavos
por aqui.
— Cyn.
— Sim?
— Você está sendo uma dor na bunda, querida. Estamos todos fazendo o
melhor que podemos.
Cyn queria gritar que seu melhor não era bom o suficiente, mas isso não
era verdade. Este não era o problema de Robbie, era dela. Ela odiava estar aqui
sem fazer nada, imaginando o que estava acontecendo com Raphael enquanto ela
espreitava em um estacionamento, esperando que algum vampiro desprezível
apareça para ser seduzido. Que plano fodido era esse. O que ela tinha pens...
— Lá está ele — disse Ken'ichi, sua voz calma e plana. — O macho nas
calças claras e camisa de flores.
Cyn olhou para fora do para–brisa. — O que há com esses caras e roupas
de resort? Alguém colocou um memorando? Quando estiver no Havaí, vestir calças
de linho e camisas pastel?
— Isso não é realmente pastel — observou Robbie. — Não com todas aquelas
flores nele.
— Ew, obrigada pelo conselho de moda, Rob. Ok, — ela disse, dando uma
rápida olhada ao redor para ter certeza que ninguém estava assistindo. — Eu estou
indo. — Ela tocou o botão de comunicação Bluetooth em seu ouvido para ter certeza
de que estava firmemente colocado e coberto por seu cabelo. O botão do microfone
correspondente foi anexado ao casaco. Era preto fosco e pequeno o suficiente para
que ele pudesse ser imperceptível, especialmente em um bar escuro.
— Eu vou fazer uma verificação de comunicação uma vez que eu chegar a
alguns metros de distância — disse ela, abrindo a porta do SUV. Todas as luzes do
interior tinham sido desligadas ou desativadas por isso não havia nada para indicar
a sua saída. — Vocês sabem o que fazer certo?
— Você traz o cara de volta aqui para o se pegar no carro, Ken ataca ele, e
nós o agarramos — confirmou Robbie. — Eu vou em frente e chamo Elke, para que
ela saiba que estamos indo.
Cyn assentiu. — Aqui vamos nós.
O bar já estava lotado quando Cyn entrou. Ele era mais uma saída de bairro,
não localizado no centro ou perto de qualquer um dos principais hotéis, mas havia
vários grandes complexos de condomínios a uma curta distância, a maioria
anunciando aluguel de férias. Que, combinado com um grande buffet de happy
hour e bebidas com desconto, provavelmente explicava as multidões. Estava bem
além do designado “happy hour”, mas as pessoas pressionando contra ela e
parecendo preencher cada centímetro de espaço na sala ainda estavam muito
felizes.
Cyn não gostava de multidões. Além do aspecto de segurança, o que a fazia
sentir vontade de tirar uma arma, simplesmente não gostava de ser tocada por
estranhos. Especialmente, por suados estranhos bêbados.
Examinando a multidão, ela encontrou seu alvo no bar e caminhou nessa
direção. Não há sentido em retardar isso, ou jogar de tímida. Quanto mais cedo ela
saísse desse lugar, mais feliz estaria.
Ela empurrou seu caminho para o balcão, afastando duas tentativas de
agarrar seu braço e um flagrante aperto de sua bunda – que quase fez o apertador
ganhar um pulso quebrado, e teria, se ela não tivesse negócios mais importantes
para atender. Quando finalmente chegou ao bar, ela sentiu que precisava tomar
um banho... E uma grande bebida. Infelizmente, ela não estaria fazendo qualquer
um em breve.
Ainda manobrando seu caminho através da multidão gritando por bebidas,
ela procurou por seu vampiro e viu-o prestes a colocar seu traseiro em um
banquinho que estava sendo desocupado. Movendo-se rapidamente, ela passou por
cima do cara que estava saindo e se deslizou para o assento bem na frente do
vampiro, dando-lhe um sorriso rápido que ela esperava ser coquete. Fazia tempo
que não flertava com ninguém além de Raphael. Suas habilidades estavam
enferrujadas.
— Desculpe, — ela disse, praticando aquele sorriso. — É tão cheio aqui e
você é tão grande— piada, ela pensou para si mesma — você pode se virar sozinho
contra essa máfia muito mais fácil do que eu posso. — Agarrando a frente do seu
casaco ela abriu um lado aberto, mostrando algum peito. — Está quente aqui, não
é?
O vampiro olhou para ela por tanto tempo que ela pensou que tinha feito o
movimento errado, mas então ele sorriu.
— Qualquer coisa para uma linda senhora — ele disse, com um forte
sotaque que traiu suas origens francesas e reafirmou sua crença de que este era
um dos caras de Mathilde.
— Você não é doce? — ela murmurou, olhando para ele através de suas
pestanas. — Eu vou te comprar um...
— Mais non! — Ele disse instantaneamente. — Você é muito bonita para
comprar sua própria bebida. O que você terá?
— Vodka rocks, Grey Goose se eles tiverem. — Ela riu um pouco. — Essa é
realmente uma vodka francesa, ou eles apenas dizem isso?
Ele ordenou dois Grey Goose no gelo, deixando de lado a bebida misturada
que estivera bebendo antes de sentar-se. Parecia uísque e algo, o que significava
que ele estava trocando para vodka por ela, mas os vampiros não precisavam se
preocupar com pequenas coisas como ressaca.
— Grey Goose é de fato francês — disse ele, dirigindo sua atenção de volta
para ela. — Mas não é a nossa melhor vodka. Você deve tentar Nuage, se você
puder obtê-lo. É muito superior.
Cyn deixou seus olhos se arregalarem de admiração por seu conhecimento,
embora ela achasse que ele escolheu Nuage apenas porque era a vodka francesa
mais cara do mercado. Babaca pretensioso.
— Você realmente é da França — ela disse com espanto. — Eu pensei que
eu reconheci o sotaque, mas não temos muitos turistas franceses aqui.
— Ah, mas não sou turista. Meu colega e eu estamos aqui a negócios.
O coração de Cyn afundou. Ele estava aqui com alguém afinal? Ele tinha
chegado sozinho, mas talvez seu amigo já estivesse aqui.
— Você está aqui com um amigo? — Ela perguntou, olhando ao redor como
se ela pudesse magicamente localizá-lo.
— Não esta noite, mon ange. Sou todo seu. Julien Gardet, ao seu serviço.
Bleah, Cyn pensou. Ela não era seu anjo de merda ou qualquer outra coisa.
— Eu amo francês, — ela soltou. — Parece sempre tão exótico. Eu tive isto
na escola secundária, é claro, mas eu não ousaria...
— Uma mulher como você não precisa se preocupar com essas coisas.
Quando um homem olha para você, cada palavra é música.
Duplo bleah! Será que essa porcaria realmente funciona em outras
mulheres? Ela estava envergonhada por seu gênero se isso fosse verdade.
Suas bebidas chegaram a tempo de impedir que ela risse em seu rosto. Ele
empurrou um em sua direção, então pegou o outro e ofereceu um brinde. — Para
mulheres lindas — disse ele, erguendo o copo para clicar com o dela. Mas não era
só o copo que ele alcançava. Julien Gardet estava sendo um menino muito mau.
Ela podia sentir sua mente tentando tocar a dela na versão vampírica de uma
espiada, tentando tirar sua vontade e substituí-la pela sua. Qualquer vampiro
capturado fazendo tal coisa no território de Raphael teria sido sumariamente
executado. Ela não conhecia as leis na Europa, mas suspeitava que variassem
amplamente, dependendo de cada senhor vampiro. Era possível que nem Mathilde
permitisse tal transgressão em seu território, mas ele estava em Malibu. Talvez
fosse simplesmente um caso do rato aproveitando a ausência do gato.
Felizmente, Cyn era imune a esse tipo de manipulação. De acordo com
Raphael, ela sempre foi uma pessoa difícil, mas agora que ele havia adicionado sua
própria camada de proteção à sua resistência natural, os esforços insignificantes
de Gardet não tinham chance.
Claro, ele não sabia disso.
Cyn conseguiu parecer convincentemente perturbada quando ela tocou seu
copo no dele. — E homens bonitos também — acrescentou timidamente.
Previsivelmente, ele amou isso. Ele tomou um gole longo de sua vodka,
observando como Cyn bebia a dela cuidadosamente. A proteção de Rafael não se
estendia a dar-lhe a resistência de um vampiro ao álcool, e ela não queria que
qualquer tipo de zumbido a abrandasse. Mas Gardet não devia esperar que ela
virasse tudo do jeito que ele fez, de qualquer forma. Ela era apenas uma menina e
uma menina humana.
— Então, você é uma... como eles dizem?... uma local? — ele perguntou.
— Como você soube? — Ela perguntou, enquanto o sentia empurrando e
empurrando. Qual era o seu jogo final? Ele era um dos assassinos? Ou ele
simplesmente queria um passeio pelo estacionamento, junto com uma mordida
rápida em um canto escuro?
— Você disse mais cedo que você não recebeu muitos turistas franceses —
ele continuou. — Eu entendi que isso significava que você vive nas proximidades.
— Oh, certo, — ela riu um pouco. — Eu esqueci disso. Mas você está certo.
Eu tenho uma casa em Diamond Head. — Ela sentiu seu interesse surgir junto
com suas tentativas de subornar sua vontade, e em sua cabeça, ela pensou, Ah ha!
Esse era o seu jogo. Voltar para seu lugar, um pouco de sexo, um pouco de sangue,
e tudo sem ela se lembrar de qualquer coisa.
Mal sabia ele que tinha exatamente o mesmo plano que ele, embora com
um resultado ligeiramente diferente.
Seus olhos brilharam brevemente. Talvez em antecipação da noite selvagem
de sexo que ele estava planejando, ou poderia ser devido aos sinais de dólar
piscando em sua cabeça por causa do caro código postal Diamond Head.
— Diamond Head — disse ele com apreço. — Eu esperava chegar lá antes
de partirmos, mas essas reuniões... elas desperdiçaram muitos dias. E agora não
há mais tempo.
— Você vai embora? — Cyn encheu a voz de decepção.
— Ainda temos alguns dias. Infelizmente, nosso único tempo livre agora
será à noite, então...
— Mas Diamond Head é linda à noite! — Cyn protestou na hora certa, a
pressão em sua mente agora atingindo o ponto onde estava lhe dando uma dor de
cabeça.
— Eu ouvi isso. — Ele estava se aproximando mais enquanto eles
conversavam, até agora ele estava sussurrando em seu ouvido. — Você poderia me
convidar para sua casa, — ele sugeriu.
Cyn quase suspirou de alívio. Finalmente. Ela tinha pensado por um
momento que ela teria que ter a ideia por conta própria.
— Podemos tomar um drinque em minha casa, — ela disse brilhantemente,
deixando-o pensar que ele tinha influenciado seus pensamentos. — Este lugar está
tão barulhento hoje à noite, e dessa forma você poderia ver Diamond Head,
também.
— Você tem certeza que não se importaria?
Cyn quase revirou os olhos. Gardet nem sabia como ganhar com graça.
— Claro que não. Ninguém deve deixar Honolulu sem ver Diamond Head à
noite. Você tem um carro, ou...
— Eu tenho, — ele disse imediatamente. — Posso segui-la até lá.
Claro, Cyn pensou cinicamente. Ele precisaria de um plano de saída. Não
ficaria bem se ela acordasse amanhã de manhã e encontrasse seu amante
dormindo no armário para evitar o sol.
— Eu não costumo fazer isso. — Ela deu uma risadinha enquanto ela saia
do banco de bar. Sim, uma risadinha. Ela teria que fazer os caras jurarem silêncio
quando tudo isso acabasse.
— Mas você está fazendo isso por mim, — ele cantarolou, adicionando uma
outra dose de oomph ao seu empurrão.
— Você está pronto? — Ela perguntou, tomando um gole final de sua vodka.
Ou fingindo.
— Eu estou — ele respondeu. Sua antecipação tomou o melhor dele por um
momento enquanto seus olhos brilharam brevemente no quarto escurecido, a cor
carmesim em torno de sua íris marrom que o marcava como vampiro.
Cyn olhou ao redor, mas ninguém parecia ter notado seu deslize. Ninguém
lhes prestou muita atenção. Era apenas um outro encontro no bar.
Ele empurrou a porta aberta à frente dela, segurando-a quando ela pisou
na frente dele. O ar havaiano úmido parecia frio depois de estar no bar lotado, e
uma brisa fresca tocou seu rosto quando eles começaram a atravessar o
estacionamento.
Robbie estava falando em seu ouvido, reformulando seu plano na mosca.
Foi um pouco de sorte que Gardet decidiu seguir Cyn de volta para sua casa para
completar a sua sedução com um drinque de noite. Eles não teriam que arriscar
uma agarração pública no estacionamento. Robbie disse a ela que ele e Ken'ichi
haviam se escondido nos fundos, com Ken'ichi protegendo sua presença da
detecção, para que ela pudesse dirigir o SUV enquanto Gardet a seguia, e que Elke
e Mal estavam prontos para eles.
Agora tudo que Cyn precisava fazer era descobrir como quebrar Gardet.

****

— Você não tem que fazer isso, Cyn — disse Robbie, ficando pé ao lado dela
em seu quarto escurecido, enquanto no andar de baixo Ken'ichi e Elke amarravam
seu prisioneiro com segurança na garagem recém-modificada. Maleko Turner
também estava lá, assistindo com os olhos de policial. Ele não parecia feliz, mas
ele não tinha dito nada sobre isso também.
— É claro que eu tenho, — ela insistiu enquanto tirava o casaco. Ela tirou
a Glock 9mm de seu cós traseiro, trabalhou a câmara para verificar que não havia
nenhuma bala no tubo, então deslizou a arma em seu coldre aberto. Ela não estava
se desarmando. Ela estava simplesmente trocando armas. Ela tinha mudado para
uma rodada padrão de 9mm n sua viagem para o bar lotado, mas agora ela estava
prestes a questionar um vampiro, o que significava que ela precisava de algo com
muito mais potente. Chegando no coldre, ela recuperou seu equipamento de ombro
e a segunda Glock, que ainda estava carregada com o que ela chamou de suas
matadoras de vampiro – balas de pontas ocas revestidas de Hydra–Shok, que fazia
um pequeno buraco entrando e um buraco realmente, muito grande saindo.
Apenas a coisa certa para destruir o coração de um vampiro. Ou talvez uma
articulação do joelho ou duas, se alguém queria extrair informações antes de matá-
lo.
Ela trabalhou o cano, mas desta vez foi para ter certeza de que havia uma
rodada lá. Gardet ficaria preso à sua cadeira, e Ken'ichi o estaria impedindo de
pedir ajuda. Mas isso não significava que ele não era perigoso. Os vampiros eram
imprevisíveis, e Gardet era um vampiro mestre, o que significava que seu poder
estava acima da média. Não tão forte como Ken'ichi, ou isso não teria funcionado.
Mas ele ainda era forte e, se suas tentativas de subornar a sua vontade no bar
eram qualquer coisa para ser levada em conta, ele não acima de usar truques para
obter o que queria. Ela teria que estar em guarda o tempo todo. Ela deslizou o
coldre de ombro e encaixou a arma no lugar.
— Ken ou mesmo Elke iria questionar este idiota para você se você
perguntasse, — Robbie persistiu.
— Eu sei disso. Mas eu não vou pedir-lhes para fazer algo cruel, só porque
eu não tenho coragem de fazê-lo sozinha.
Ela saiu da sala, mas Robbie entrou na frente dela.
— Cyn, você nunca fez nada assim. Infligir dor apenas para conseguir fazer
alguém falar, ouvindo-os gritar e, em seguida, fazê-lo novamente e novamente, à
espera de vê-los quebrar. Você não sabe... isso come sua alma.
Cyn parou, olhando para Robbie com olhos diferentes. Tinha pensado que
sabia tudo sobre seu serviço militar, mas nunca soube... Ela estava preocupada
que ele se opusesse a seu plano porque seus amigos haviam sido torturados, mas
e se suas objeções fossem porque ele tinha sido o único a fazer a tortura, porque
ele sabia o preço, e ele não queria que ela fosse pagá-lo.
— Rob — ela disse hesitante, tentando descobrir uma maneira de explicar
isso para ele. — Eu não quero fazer isso. Eu não estou... eu vi Raphael questionar
pessoas, humanas e vampiras. E eu sei que há uma parte dele que gosta do que
ele está fazendo. É como se a coisa que o faz vampiro, o simbionte ou o que quer
que você queira chamá-lo, vê a empatia humana como uma fraqueza, algo a ser
despojado. E quanto mais poderoso o vampiro, menos empático ele permanece.
— Mas eu não sou um vampiro. Eu sei que muita gente pensa que eu sou
uma cadela, mas isso é apenas personalidade. Eu tenho o complemento de empatia
humana, e eu não estou ansiosa para o que eu tenho que fazer esta noite. Mas não
vou cicatrizar as almas de Ken’Ichi ou Elke em vez da minha. Eu não me importo
se eles são vampiros. Porque enquanto alguma parte de Raphael gosta de ser cruel,
outra parte dele não, e rouba um pouco mais de sua alma de cada vez.
— Se nossos papéis fossem invertidos, se eu tivesse sido sequestrada,
Raphael faria qualquer coisa para me trazer de volta. Ele torturaria cada pessoa
em Honolulu se isso fosse o que custasse. E assim eu vou fazer isso por ele. É um
cara. Um cara que faz parte de uma gangue que tem torturado Raphael há dias.
Ele ganhou alguma dor por seu papel nisso. Ele ganhou muito.
Os lábios de Robbie se apertaram em uma linha sombria, mas ele
concordou com a cabeça. — Vamos fazer esse porco gritar.
Gardet ergueu os olhos quando Cyn abriu a porta entre a casa e a garagem,
em seus olhos um olhar furioso acima do pedaço de fita adesiva cobrindo sua boca.
Olhos furiosos, observaram Cyn, mas simplesmente marrons. Não havia nenhum
brilho carmesim em seu olhar, nenhum sinal de poder. O que Ken'ichi estava
fazendo, estava funcionando.
Cyn apontou para a fita adesiva sobre a boca dele. — Eu meio que preciso
que ele fale — ela disse, olhando para Elke que estava mais perto de Gardet, suas
mãos em seus quadris, seus olhos cheios de ódio enquanto ela olhava para o
prisioneiro.
— O bastardo não iria calar a boca — ela murmurou.
— Todo este preenchimento não conterá o ruído? Os vizinhos não estão tão
perto.
— Sim, nós somos bons nisso — Elke concordou. — E nós podemos sempre
ligar alguma música se nós precisarmos, — ela adicionou, chamando a atenção de
Cyn para a bancada de trabalho onde um iPhone tinha sido encaixado em um alto-
falante pequeno, sem fio.
— Essa foi a sugestão de Mal — disse Elke orgulhosamente, o que fez Cyn
lhe dar uma dupla olhada. Aparentemente, Elke não estava tão ansiosa para matar
o grande bobo. Isso também a fez pensar sobre Mal, mas talvez ele não visse
vampiros como parte da população que ele jurou proteger e servir. Ou talvez Elke
o tivesse convencido de quão diferente era realmente a sociedade de vampiros.
— Tudo certo. Vamos começar — disse Cyn. — Talvez nosso amigo aqui seja
inteligente. — Ela estendeu a mão e rasgou a fita na boca de Gardet, ignorando a
pele que veio com ela e se estremecer de dor. Ele estaria fazendo muito mais do
que estremecer se não lhe dissesse o que ela precisava saber.
— Você vai se arrepender disso, — ele rosnou para Elke. — Eu sou da
senhora Mathilde, e ela vai te comer viva por escolher um humano sobre o seu
próprio.
— Oh, querido — Elke murmurou. — Estou tão assustada.
— Você estará. Essas correntes...
— Sim, sim, — Cyn disse em uma voz entediada, interrompendo seu
discurso. — Você está chateado, porque eu não me apaixonei por sua rotina 'oh,
você é tão linda' lá. Foi o que você fez com essas outras mulheres antes de matá-
las?
— Eu não matei ninguém. Eu gosto de minhas mulheres vivas quando eu
as fodo — disse ele, sorrindo para ela.
— OK. Essa é uma imagem que eu nunca vou tirar da minha cabeça agora,
então obrigada por isso, idiota. Talvez você as tenha matado depois.
— Eu te disse, eu não matei ninguém. É disso que se trata? Um par de
putas humanas mortas e você vem toda Rambo? O quê? Você se relacionou com
um deles ou algo assim?
— Ou algo assim — ela concordou. — Então, se não foi você, quem foi? Eu
sei que foi um vampiro.
— Eu não sei — disse ele, sua expressão se fechando, como se dissesse que
ele tinha feito toda a conversa que pretendia fazer.
Cyn puxou sua Glock, suspirando enquanto enroscava um silenciador, e
recuou para evitar o sangue em suas roupas.
Gardet riu. — Essa arma não pode me prejudicar. Você conseguiu suprimir
meu poder com algum feitiço ou outro por agora, mas você não pode mudar minha
natureza. Meu corpo vai curar antes...
Seu júbilo foi interrompido com um grito, quando Cyn disparou uma rodada
diretamente em seu joelho, quase obliterando a articulação. O sangue espalhou-se
sobre o chão coberto de plástico, enquanto ele olhava horrorizado para a ruína de
sua perna, que estava quase cortada no joelho, seu pé pra cima apenas porque as
correntes que o amarravam o mantinham no lugar.
— Você provavelmente está certo, — Cyn disse, caminhando mais perto. Ela
se agachou para examinar o que restava do joelho de Gardet. — Eu tenho certeza
que seu sangue de vampiro será capaz de curar isso... Eventualmente. — Embora
ela achou interessante que ele assumiu que ela estava usando algum tipo de feitiço
para controlá-lo, assim como Juro insistiu que Mathilde deve ter feito para
enfraquecer Raphael em seu ataque inicial.
— Puta — sibilou Gardet. — Minha senhora vai...
Outro grito de dor cortou suas palavras enquanto Cyn apunhalou o pé em
sua perna sem ferimentos com a linda faca nova que Raphael lhe dera depois de
admirar as muitas facas de sua amiga Lana Arnold. Ela estava limpando o sangue
de sua lâmina, franzindo o cenho enquanto tentava encontrar um ponto limpo na
perna de sua calça, quando Mal se aproximou.
— Tudo bem, isso já foi longe o suficiente — ele disse calmamente. — Eu
concordei em deixar você me ajudar com isso, porque você parecia saber muito
mais do que eu...
— Mais? — Cyn exigiu, girando ao redor para confrontá-lo. — Os policiais
não sabiam nada sobre quem estava matando aquelas pessoas até eu aparecer.
— Ok, você está certa, — ele disse, suas mãos levantadas em um gesto
displicente. — Mas agora que temos um suspeito, talvez eu deva levá-lo...
— Você não vai levá-lo a lugar algum — disse Cyn, girando e esfaqueando
a faca no ombro de Gardet, enquanto cravando a lâmina na articulação, enquanto
ele gritava.
— Jesus, — Mal jurou. — Pelo menos deixe-me perguntar a ele...
— Você é um maldito policial? — gritou Gardet. — Que tipo de idiota
permitiria...
— Eu sou o tipo de policial que tem três corpos mortos, — Mal rosnou. —
Com quem eu poderia lidar. Imaginei que era uma aberração que vira muitos
filmes, mas três deles? E então ela aparece — ele apontou para Cyn — Me dizendo
que eram vampiros, e o que eu sei sobre eles? Nada. Mas ela disse que poderia te
encontrar e te fazer falar. E que tudo o que ela faria iria curar. Não imaginei
nenhum mal, nenhuma falta, e eu conseguia um assassino fora das ruas. — Ele
se virou para se dirigir a Cyn. — Mas isso... — Ele apontou para o vampiro
ensanguentado. — Eu não me inscrevi para isso.
— Você mata tantos vampiros quanto eu, e você vai se acostumar com isso
— Cyn zombou. Ela ergueu sua Glock, apontando para o outro joelho do vampiro,
mas o grito silencioso de Gardet a fez pausar.
— Você a ouviu, — ele implorou para Mal, rapidamente engolindo o soluço
que colocou um engate em suas palavras. — Ela quer me executar, mas eu não
matei aquelas pessoas. Eu juro.
Cyn deu um passo mais ameaçador. Seus olhos se arregalaram e ele quase
derrubou a cadeira enquanto ele se afastava dela. Ele mudou o olhar para Mal e
começou a falar rapidamente. — Eu vou te dizer quem foi. Vou lhe mostrar onde
ele mora. Qualquer coisa, apenas mantenha-a longe de mim. Ela é louca, você não
pode ver isso? — Ele exigiu, seu olhar mudando freneticamente de Cyn para Mal e
de volta novamente.
Mal tocou o braço de Cyn, empurrando a mão dela para baixo. — Vamos
ver o que ele tem a dizer.
— Foda-se — Cyn jurou em desgosto, mas ela se afastou para ficar perto
das escadas que dava para a casa.
— Então fale — disse Mal. — E nenhuma besteira. Ela tem um interesse
pessoal nisso, e gosta de seu trabalho. Então é melhor que seja bom.
— Há dois deles, — ele disse rapidamente, sua voz um raspão doloroso. —
Dois assassinos separados. O primeiro que eu acho que foi um erro. Samuel não
queria matar ninguém, mas acabávamos de chegar e fazia tanto tempo que não
tínhamos sangue... — Os olhos dele se arregalaram quando Cyn se moveu
abruptamente.
— Está tudo bem, — Mal disse a ele, dando um olhar de raiva para Cyn
antes de voltar para Gardet. — Você disse que havia dois assassinos. O primeiro
corpo que encontramos foi um homem. Alguém matou as duas mulheres?
Gardet estava olhando fixamente para Cyn, sua postura imóvel e atenta,
como se ela fosse o monstro, e ele a vítima indefesa. Que piada, ela pensou
amargamente, e bateu um punho na porta fechada da cozinha.
Gardet saltou quando o som rompeu o silêncio.
— Talvez você deva esperar lá em cima — sugeriu Mal. Ele apontou para
Robbie.
Robbie deu-lhe um olhar hostil, mas então caminhou até Cyn e tocou
gentilmente seu braço.
— Vamos, querida. Vamos fazer uma pausa.
Cyn encontrou seu olhar por um longo momento, depois cuspiu na direção
de Gardet e torceu a maçaneta, empurrando a porta aberta. Robbie a seguiu,
fechando a porta atrás deles, enquanto Cyn subia as escadas e entrava no banheiro
que estava usando. Ajoelhando-se, ela vomitou, vomitando o pouco de comida que
ela tinha conseguido comer naquela noite, saboreando a vodka que consumira no
bar.
Robbie entrou atrás dela. — Ah, Cyn, — ele murmurou, então se agachou
ao lado dela, segurando seus cabelos e esfregando suas costas.
— Sinto muito — disse ela entre um soluço, depois vomitou um pouco mais,
embora não houvesse nada que lhe deixasse o estômago.
Robbie levantou-se, puxando um pano do armário e passou-o sob água fria,
antes de se agachar ao lado dela novamente. — Aqui está.
Cyn tirou o pano molhado da mão dele, segurando-o em seu rosto
superaquecido primeiro. Sentia-se como uma merda, mas principalmente estava
envergonhada. Não por causa do que ela tinha feito – com a vida de Raphael em
jogo, ela teria feito muito pior – mas porque ela estava sendo tão fraca sobre isso.
— Vamos lá — Robbie persuadiu, puxando-a para seus pés, tirando o pano
dela e refrescando-o sob água mais fria. — Limpe o rosto.
Cyn assentiu sem dizer nada, pegou a toalha e limpou obedientemente,
antes de se curvar sobre a pia e enxaguar a boca com punhados de água fria.
— Sinto muito — disse ela novamente, apoiando os braços na pia e olhando
para a água enquanto ela corria pelo ralo.
Robbie se aproximou e desligou a água. — Por que você tem que se
desculpar? — Ele murmurou, puxando-a para fora do banheiro e sentando-a na
cama. Ele se agachou na frente dela, esfregando suas mãos frias com suas mornas.
— Você acha que é a primeira pessoa que atirou seus biscoitos depois de uma festa
sangrenta como essa?
Cyn ergueu o olhar para encontrar com o dele, seus olhos lacrimejantes
pelo esforço de vomitar.
— Eu vi alguns dos guerreiros mais difíceis que você já conheceu vomitar
seu jantar depois de um interrogatório áspero — Robbie disse a ela.
— Raphael não, — ela sussurrou.
— Isso é porque ele tem você para absolver seus pecados. Ele não precisa
vomitar, porque você está lá trazendo-o da escuridão. Assim como se ele estivesse
aqui, você ficaria bem.
— Se ele estivesse aqui, nada disto estaria acontecendo — ela murmurou.
— Então é melhor recuperá-lo, certo?
Cyn assentiu, esfregando ambas as mãos sobre o rosto. — Você acha que
Mal tem o que precisamos já?
Robbie assentiu com a cabeça. — Acho que o Gardet provavelmente está
contando tudo o que sabe e mais. Você tinha aquele vampiro assustado fora de sua
mente de merda, e Mal jogou com isso perfeitamente.
Ela sabia que ele estava tentando animá-la, mas não queria que lhe
dissessem o quão bem ela tinha torturado outro ser vivo, mesmo que ele tivesse a
resposta do paradeiro de Raphael.
— Eu preciso de um banho — ela disse, parando abruptamente, tentando
não pensar em por que ela precisava disso, ou o que ela precisava lavar.
— Você está sozinha nisso — brincou Robbie. — Eu estarei esperando lá
fora.
Cyn assentiu, mas agarrou seu braço antes de se virar. — Obrigada, Robbie.
— Você tem isso, Cyn.

****

Cyn parou novamente na garagem, com suas paredes e portas cobertas de


colchas, seu plástico salpicado de sangue. O sol estava brilhando lá fora em algum
lugar, mas você não podia dizer dentro da garagem.
Gardet ainda estava acorrentado à sua cadeira, e seu joelho despedaçado
ainda era uma bagunça. Se você olhasse de perto, você poderia ver onde o
vampirismo tinha começado a curar o dano. Mas levaria dias para ele curar
corretamente, dependendo de quão poderoso era Gardet. Era assim que o
vampirismo funcionava. Começaria a cicatrização mesmo que o joelho de Gardet
estivesse curvado e sua perna ainda atada à cadeira. Mas no instante em que
Gardet tentasse se levantar, o dano seria óbvio e o vampirismo começaria tudo de
novo, tentando fazer um trabalho melhor.
Era uma coisa espantosa para se contemplar, mas Cyn lembrou-se que
Gardet era um do povo de Mathilde, e que eles poderiam estar fazendo o mesmo ou
pior para Raphael. E de repente não a incomodou tanto. Além disso, Gardet
provavelmente estaria morto antes que ele precisasse de seu joelho novamente de
qualquer maneira. Ela não tinha dúvidas de que, assim que Raphael fosse
libertado, mataria todos os vampiros que tiveram qualquer coisa a ver com sua
captura, incluindo Gardet. Assumindo que Cyn não matou o vampiro primeiro. Ela
não ia se preocupar com a contagem de mortos quando eles finalmente entrassem
para pegar Raphael.
— Eles sempre caem assim logo que o sol nasce? — perguntou Maleko
Turner. Ele veio para ficar ao lado dela e olhar para o vampiro inconsciente.
Cyn assentiu. — Bastante. Depende do vampiro. Alguns são mais poderosos
que outros e podem aguentar mais, mas uma vez que bate... eles estão fora, não
importa onde eles estejam, de pé, sentados, deitados. Eles vão embora.
— O que você vai fazer com esse cara?
Cyn pensou em sua resposta, depois fez uma pergunta em vez disso: —
Você conseguiu tudo o que precisamos dele?
Turner deu uma inclinação lateral na cabeça. — Supondo que ele nos disse
a verdade, sim. Ele me deu nomes...
— Os nomes não importam. Preciso de um local.
— Também tenho isso. É uma casa não muito longe daqui. De acordo com
Gardet, Mathilde convenceu a velha que morava lá para convidá-la para dentro,
disse que admirava o jardim. Conversaram sobre flores e fizeram amizade. Mathilde
então convenceu o velho casal a tirar férias e deixá-la usar a casa enquanto eles
estivessem fora. Ele podia estar mentindo, claro. Ele parecia bem convencido de
que ele estaria saindo daqui amanhã à noite.
— Ele tem um sentimento inflado de seu próprio poder. Ele não vai a lugar
nenhum.
— Ainda assim, não podemos simplesmente tomar suas palavras em fé
cega. Você e eu devemos verificar o lugar enquanto o sol se levanta.
— Se ele está dizendo a verdade sobre essa ser a casa, estará cheia de
vampiros. Eles terão guardas, guardas diurnos, quero dizer. Temos que ter
cuidado.
— Eu percebi isso, mas a casa está na praia. Podemos fazer o nosso
reconhecimento do lado do oceano. Vamos atrair menos atenção, e na minha
experiência as pessoas tendem a não se preocupar tanto com um ataque pela água.
Cyn assentiu. — Vou pedir a Robbie para ficar por aqui e manter um olho
nas coisas. Ele não vai gostar, mas vocês sendo amigos Rangers e tudo, ele vai
aceitar.
— Pensei que tivesse dito que Gardet estaria apagado durante o dia?
— Não estou preocupada com o Gardet. Mas Elke e Ken'ichi estão lá em
cima também. Eles estão completamente vulneráveis, e com tudo em movimento,
eu não gosto de deixá-los desprotegidos.
— Elke? — Ele repetiu, seus olhos preocupados.
Cyn olhou-o interrogativamente. — Você realmente gosta dela? Ou você está
apenas fodendo ao redor?
— Eu realmente gosto dela, e eu realmente gostaria de estar fodendo ao
redor... mas não do jeito que você quer dizer.
Cyn mostrou os dentes. — Cuidado com minha Elke. Ela significa muito
para mim.
— Acho que você deveria estar mais preocupada comigo do que com ela. Ela
poderia limpar o chão comigo.
— Verdade. — Ela olhou ao redor da garagem, enrugando o nariz. —Vamos
sair daqui. Este lugar está começando a cheirar.

****

O barco balançava suavemente debaixo deles, o oceano inclinado com


ondulações cobertas de branco. Havia uma tempestade no Pacífico em algum lugar,
mas o barco de Turner parecia mais do que capaz de manejá-la.
— Este é um belo barco, Turner.
— Me chame de Mal. E, sim, é um belo barco. Por um tempo depois do meu
divórcio, pensei em viver nisto.
— Quase claustrofóbico, — Cyn comentou, alcançando os binóculos de alta
potência que ela trouxe para seu reconhecimento. — E você não é exatamente um
cara compacto.
Ele riu. — Então eu descobri isso, quando eu tentei viver com nesse bebê.
Eu tenho um apartamento em vez disso, mas eu mantive o barco. Eu tenho um
bom negócio com ele.
Enquanto, Mal se estendia em uma almofada de sol no convés traseiro,
sendo óbvio sobre isso para quem os observasse, Cyn instalou-se em uma almofada
plana sob a cobertura do toldo e mirou seus binóculos na casa onde Gardet
insistira que ele e seus “parceiros de negócios” estavam ficando. Examinou
lentamente de um lado para o outro. Era uma casa de bom tamanho, com muitos
contratempos para ambos os lados da propriedade, e o lote era todo murado. Quem
quer que morasse lá não queria qualquer estranho casual confundindo isso com
nada, além de uma praia privada. Era uma construção mais antiga, o que
significava que cada centímetro de superfície plana perto das paredes e ao redor
da casa estava coberto de folhagem. Havia o que parecia um jardim de estilo
japonês de um lado, mas também havia um gramado largo de grama verde bem
aparada e bem cortada.
— Mal, você tem Wi–Fi neste barco? — Ela perguntou, nunca tirando os
olhos dos binóculos.
— Sim — ele disse sem se mover de sua pose do adorador do sol. —
Microchip conectado ao computador. Código de acesso em um papel amarelo.
— É bom saber que o melhor de Honolulu tem o mais recente protocolo de
segurança de rede — ela disse secamente, enquanto ela se levantava e descia as
escadas para o “escritório” que ele havia montado na cozinha. Ela abriu seu laptop
e entrou. Ela queria ver o que ela poderia encontrar sobre a casa que eles estavam
olhando. Se tivesse sido colocada para venda em qualquer momento nas últimas
duas décadas, podia haver fotografias ou plantas.
Quando sua busca inicial não trouxe nada, ela fez uma busca rápida dos
registros da propriedade preferivelmente e descobriu que a casa tinha sido
possuída pela mesma família desde os anos 1930. Passando de geração em
geração, obviamente tinha sido renovado um tempo ou dois, mas não houve uma
mudança de propriedade.
Ela ligou o celular e chamou Donovan Willis.
— O quê? — Ele respondeu. — Você tem outro trabalho merda para mim?
— Posso ter, Willis. Eu não tenho tempo para seu temperamento. Patterson
possui alguma propriedade em Oahu?
— Ele tem um condomínio em Trump Tower em Waikiki.
— É isso aí? Nenhuma casa em algum lugar?
— Não, — ele disse lentamente. — Por que você está perguntando sobre
isso?
— Apenas seguindo uma pista — disse ela vagamente, ainda sem confiar
nele. — Podemos ter mais notícias mais tarde, então não tenha uma overdose de
Cheetos.
Ela desligou antes que ele conseguisse dizer uma resposta. Ela subiu os
poucos degraus de volta para seu posto de vigilância.
— Alguma coisa interessante? — Mal perguntou, sua voz preguiçosa como
de uma pessoa meio adormecida ao sol.
— Bem, — ela disse casualmente. — Estou um pouco preocupada com os
donos dessa casa. Se os vampiros realmente estão a usando... acho que podem
estar mortos.
Ele sentou-se abruptamente. — O quê?
— Sim. — Cyn falou sem tirar os olhos da casa alvo, que ela estava
novamente vigiando cuidadosamente. Os binóculos que ela usava eram
extraordinariamente poderosos. Ela e Mal estavam a cerca de um quarto de milha
no mar, mas ela podia aproximar-se e estudar cada detalhe de cada janela, até o
tipo de plantas que cobrem as soleiras.
— Esta casa está na mesma família há muito tempo. Eu pensei que poderia
ser do Patterson. Um monte de alterações no título do arquivo dos vampiros para
torná-lo parecido com uma geração que morreu e o próximo é herdado. Mas Willis
diz que Patterson não possui nada nesta ilha, exceto um condomínio.
— Então a história de Gardet é válida. Mathilde fez com que eles se fossem
e a deixassem usar.
— Talvez — concordou ela. Mas, em particular, ela não pensava assim. O
estilo de Mathilde não era persuasão. Ela poderia ter entrado em sua casa, mas
era mais provável que tivesse matado os donos para tirá-los do caminho. Ou talvez
Cyn tivesse sido cercada por tanta morte e violência no último ano que ela
automaticamente foi para a pior conclusão possível.
No entanto, Mathilde tinha invadido a casa, por isso ela era certamente
dominada por vampiros agora. Cada janela foi bloqueada, persianas ou cortinas
cobrindo cada pedaço de vidro. Não havia nenhuma luz entrando nesses quartos,
pelo menos não desse lado. Mas ela não estava procurando isso agora, ela estava
procurando os guardas humanos que ela sabia que tinham que estar lá. Nenhum
vampiro com o poder e o ego de Mathilde passaria um único dia em uma casa sem
guardas à luz do dia. Naturalmente, Mathilde não estava mais aqui, mas se
Raphael estava, então os cem vampiros da Mathilde tinham que estar aqui em
algum lugar, também. E certamente aquelas cem, e o prêmio que guardaram,
valeriam a pena uma equipe de segurança humana.
— Lá está você — ela murmurou, quando dois guardas apareceram do lado
direito da casa, suas mãos descansando em prontidão casual em carabinas M4
idênticas. Usavam camisas e shorts de cor cáqui, com botas de combate marrons
do Exército. Mas eles estavam mais interessados em sua própria conversa do que
em qualquer um que pudesse representar uma ameaça à casa. Evidentemente, não
lhes ocorreu olhar para o mar.
Cyn tinha visto isso antes em guardas humanos contratados para vigiar
uma residência provisória de vampiros. Mathilde provavelmente tinha uma força
de segurança muito eficaz em casa, mas ela já tinha trazido quem sabe quantos
vampiros no Havaí. Ela obviamente tinha decidido contratar guardas locais, em vez
de trazer suas pessoas regulares da Europa, porque Cyn apostaria um bom
dinheiro que os dois caras que ela estava olhando eram veteranos do Exército dos
EUA. Os M4 que carregavam eram padrão para as Forças Especiais, mas isso não
significava que os guardas fossem. Robbie provavelmente poderia ter contado a ela
mais, mas ela realmente não precisava mais neste momento. Ainda era possível
que Gardet estivesse mentindo e que se infiltrasse nessa casa só para descobrir
que estava ocupada por algum cara rico e velho que gostava de sua privacidade.
Mas seus instintos lhe diziam que não era isso.
Raphael estava preso lá em algum lugar, cercado por inimigos. Ela era uma
nadadora forte, na melhor forma de sua vida. Ela podia fazer essa distância. Ela
olhou para a casa, esperando Raphael falar com ela, para dar-lhe um sinal. Ela
sabia que ele estava enfraquecido por falta de sangue, que ele estava
profundamente no sono do dia quando ele só podia tocá-la através de sonhos. Mas
se ele estava lá, ele sabia que ela estava aqui? Que ela estava planejando, mesmo
agora, vir até ele? — Cyn?
Ela saltou ao som de seu nome naquela voz profunda. Mas não era Raphael,
era Mal.
— Você está bem?
— Sim, — ela disse irritada. — Por que não... — Ela olhou ao redor em
estado de choque. Que porra é essa? Ela estava a meio caminho do barco, um pé
mergulhado na água quente com ela montada de lado. Ela puxou a perna de volta
para o barco, então girou ao redor, deslizando para baixo para se aconchegar na
almofada espessa.
— Desculpe, — ela murmurou. — Eu fui... no momento.
Mal sentou-se no lado oposto do deck, inclinando-se para a frente, os braços
sobre as coxas, as mãos penduradas entre os joelhos. — Então, você acha que este
é o lugar?
Ela não respondeu imediatamente, sua garganta muito espessa com
emoção para obter as palavras. Ela queria um sinal. Será que contava a dor em
seu coração? Que todo instinto que ela tinha a atraía para aquela casa? Que ela
pudesse sentir o cheiro dele, podia sentir seu calor em seu sangue?
— Sim, — ela conseguiu. — É essa aí.
— Devemos voltar então — ele disse gentilmente. — Precisamos de um
plano.
— Eu tenho um plano — ela sussurrou. — E ninguém vai gostar.
Capítulo 15
Noite Dois – Malibu, Califórnia

O TELEFONE TOCOU, o tom diferenciado dizendo-lhes que era mais um


chamado do portão. Juro tinha perdido a conta, mas ele supunha que havia sido
pelo menos uma dúzia de chamadas desde que o sol se pôs. Com menos de duas
horas até o nascer do sol, ele esperava que Mathilde tivesse terminado com eles
durante a noite, mas aparentemente não.
— É a sua vez de lidar com ela — disse Jared, sem sequer tirar os olhos de
seu iPad onde ele estava revendo os horários de implantação mais recentes para a
presença considerável da guarda de Raphael. Embora chamá-los de guarda não
era mais exato. Eles eram um exército, uma das forças mais mortíferas na face da
terra.
Seu inimigo atual estava no portão, assim como os inimigos de antigamente.
Mas esta era uma cadela cósmica e ela estava intocável por mais dois dias. Depois
disso... Bem, depois disso, dependeria de eventos ocorrendo a mais de 4000
quilômetros de distância em Honolulu.
O telefone tocou novamente.
— Você não pode simplesmente ignorar. Isso não é justo com os guardas
que tiveram que lidar com ela.
Juro engoliu um gemido e pegou o telefone.
— Eu já estou indo — disse ele, sem nem sequer esperar o guarda dizer
nada. Ele não precisava. Se fosse uma emergência, a chamada teria sido feita pelo
canal de comunicação tático. Se o guarda estava usando o telefone fixo, a chamada
era apenas Mathilde reclamando novamente.
Ninguém esperava que ela aceitasse seu isolamento graciosamente. Ela era,
afinal de contas, uma vampira soberana e acostumada a um padrão mais alto de
tratamento de todos a seu redor. Mas alguns poderiam pensar que até uma
vampira soberana esperaria algum desconforto quando fosse para a guerra.
Juro desceu o corredor e as escadas, pegando sua escolta ao longo do
caminho. Teria sido fácil fazer corpo mole, acreditar que as coisas estavam seguras
por enquanto, que nada aconteceria por pelo menos mais dois dias. Seus franco-
atiradores tiveram um efeito devastador nas tropas de Mathilde, derrubando não
só quase toda sua tropa de vampiros, mas muitos de seus guardas diurnos,
também. Um ou dois de seus humanos haviam saído de seu trailer no início do dia,
carregando uma bandeira branca, alegando que não tinham se inscrito para isso.
Sua rendição havia sido aceita, mas depois de se certificar de que não estavam
armados ou com bombas presas ao corpo, eles haviam sido presos nas celas de
Raphael, abaixo da garagem. Jared e Juro não poderiam arriscar que eles
corressem para relatar a situação de Mathilde e possivelmente trazer novos aliados.
As tropas de Rafael tinham a vantagem por enquanto, mas isso poderia facilmente
se voltar contra elas.
Mathilde estava isolada, física e psicologicamente. Seus protetores
humanos haviam sido derrotados naquele primeiro dia, seu trailer investigado
enquanto ela dormia e seu celular confiscado, junto com outros dispositivos de
comunicação que encontraram. Fora isso, eles deixaram-na sem ser perturbada,
com sua entrega de sangue diária. Se ela preferisse se alimentar de seus
companheiros humanos ao invés disso, seria sua escolha.
Não haviam punido Mathilde por seu tratamento a Raphael, mas era
tentador. Porque a verdade era que alguns dias sem sangue não eram suficientes
para incapacitar um Lorde vampiro. Se Raphael estava tão fraco quanto Cyn
indicou, ele quase certamente perdera sangue e não simplesmente fora deixado
morrendo de fome. Provavelmente, alguns dos ajudantes humanos de Mathilde
tinham sido encarregados de cortar seus pulsos durante o dia enquanto ele dormia,
talvez até mesmo tenham injetado algum tipo de afinador de sangue para aumentar
o fluxo sanguíneo, mesmo que pelo pouco tempo antes de o vampiro simbionte
reagir. Todos sabiam o que os traficantes haviam feito com Vincent, como ele
perdera sangue. E aqueles traficantes estiveram na cama com Enrique, que
estivera na cama com os europeus. Estava começando a parecer que o
sangramento era a tática favorita dos europeus, porque, até onde Juro sabia,
nunca tinha sido visto na América do Norte.
Juro não tinha dito a Cyn nada disso, imaginando que se Raphael quisesse
que ela soubesse, ele mesmo teria dito a ela. Já era o bastante ela saber que ele
estava fraco e ficando mais fraco. Ela não precisava de mais motivação do que isso.
Juro e sua escolta pararam logo na entrada do portão da propriedade. Eles
trocaram olhares idênticos de medo, então um deles sinalizou para o guarda e o
aço pesado abriu-se o suficiente para que eles pudessem passar.
— Onde ela está? — Perguntou ao guarda, examinando a área ao redor do
portão, que começava a se assemelhar a uma verdadeira zona de guerra. Os dois
trailers estavam assentados de um lado como estiveram desde o início. Eles tiveram
que remover várias árvores para abrir espaço para eles, o que foi bastante
perturbador para as terras da fazenda. Mas sobre tudo isso estava a destruição
causada na longa calçada, substituindo sua superfície suavemente pavimentada e
bem-cuidada por uma bagunça esburacada e com pedras espalhadas. Pelo menos
não havia corpos. Os vampiros tinham virado pó e os corpos humanos tinham sido
removidos. Nem mesmo o povo de Mathilde tinha argumentado contra isso.
Ninguém queria estar cercado pelo fedor de cadáveres decadentes.
— Ela está no trailer — disse o guarda, atraindo a atenção de Juro. —
Provavelmente, esperando que você se apresente a sua grandeza.
Juro bufou. — Ela vai esperar um pouco se é isso que...
A porta do trailer abriu, interrompendo-o. O único criado vampiro de
Mathilde que restou emergiu, movendo-se lentamente, espiando com medo as
árvores vizinhas. Era o mesmo vampiro que estivera ao volante da SUV de escolta
quando ela chegou. Isso tinha sido apenas ontem à noite, embora suas exigências
incessantes fez parecer muito mais tempo.
— Lady Mathilde falará com você — disse o vampiro tentativamente.
— É por isso que estou aqui — respondeu Juro, não se movendo de onde
ele estava parado do lado de fora do portão.
— Ela, isto é, a Senhora Mathilde teria que...
— Olhe — disse Juro, impaciente. — Eu sei que você está apenas fazendo
seu trabalho, mas a situação é a mesma. Se Mathilde quiser falar comigo, ela terá
que sair para fazer isso. Eu garanto a segurança dela, e a sua também, então pare
de se encolher, cara.
De repente, um braço magro saiu da porta, empurrando o vampiro infeliz
para o chão. Ele saltou rápido o suficiente, lançando um olhar furioso para sua
patroa. Pelo que parecia, Mathilde não estava ganhando nenhum amigo em
qualquer um dos lados.
A própria Mathilde apareceu um momento depois, elegantemente vestida
como sempre. Sua roupa era profundamente roxa, aparentemente sua bagagem
tinha conseguido atravessar a luta na noite passada, mas, de qualquer forma, era
praticamente a mesma coisa. Calças justas enfiadas em botas de salto alto, um
suéter combinando, com um cardigan de comprimento até o joelho, em uma matiz
ligeiramente mais escura. Ela marchou para mais perto de Juro com graça
admirável dado seu entorno, parando a vários metros de distância.
— Você provou seu argumento — ela disse bruscamente. — Você é leal a
Raphael e eu sou o inimigo. Mas eu já ganhei essa batalha, Juro. Não seja tolo e
torne mais difícil para todos.
Juro observou-a sem expressão, sem acreditar no que estava ouvindo.
Certamente, ele sabia que Mathilde era egocêntrica, mas ela realmente pensava
que já ganhara?
— Três dias, Mathilde — disse finalmente — Tem mais alguma coisa?
— Você certamente não espera que eu resida nisso — ela apontou para o
trailer atrás dela — por mais duas noites.
— Isso depende de você. — respondeu ele — Se você optar por abandonar
este desafio infrutífero, teremos o prazer de oferecer-lhe uma escolta para o
aeroporto e garantir sua partida segura para sua casa na França.
Mathilde abriu a boca para responder, mas Juro não lhe deu uma chance.
— Se, por outro lado, sua intenção é aguardar a chegada do meu Senhor, Lorde
Raphael, como é certamente seu direito, então, sim, eu realmente espero que você
permaneça aqui. Lembro-lhe que não estamos obrigados a fornecer alojamento
durante a duração de seu desafio. A segurança ou conforto daqueles que
declararam guerra ao Lorde Raphael...
— Eu não fiz isso...
— ...seja através de palavra ou ação — persistiu Juro, ignorando sua
objeção, que era evidentemente falsa — Não é nossa preocupação. Mais alguma
coisa?
Mathilde olhou-o fixamente, seus olhos impondo o brilho turvo de seu
poder. Juro podia sentir sua raiva crescente, seu poder testando-o, pressionando
contra ele como um animal feroz se esforçando para se libertar. Os guardas ao
redor dele moveram–se nervosamente e ele concentrou-se, perguntando-se se ela
finalmente tinha se livrado das rédeas de sua paciência e ia atacá-lo francamente.
Ele tinha uma boa ideia do que ela era capaz, sabia que ela se absteve de usar seu
poder contra qualquer um deles até agora só porque ela estava conservando sua
força pela possibilidade de batalhas futuras. Mas ele e Jared a pressionaram muito
durante nas duas últimas noites.
— Você vai se arrepender disso — ela disse em uma voz baixa e ameaçadora.
— Seu Senhor está acabado. E, marque minhas palavras, você estará, também.
Ela girou sobre seu calcanhar e deslizou como uma modelo em uma
passarela de volta para as escadas do trailer, subindo-as em um único salto
gracioso antes de desaparecer lá dentro, seu lacaio vampiro seguindo-a e fechando
a porta.
Juro respirou aliviado. Ele era um vampiro poderoso, poderoso o suficiente
para ser o substituto de Raphael se ele tivesse escolhido aceitar a oferta. Mas ele
honestamente não sabia o que teria acontecido se tivesse chegado a uma briga
entre ele e Mathilde, aqui e agora. Era muito possível que ele pudesse ganhar dela
em uma disputa de poder bruto, mas ela era muito mais velha, com muitos mais
anos de desafios de luta e de enganar seus oponentes.
— Esperemos que tenha acabado por essa noite, rapazes — murmurou ele,
virando-se para a guarda. — Não se arrisquem com ela. Atire para matar se
precisar.
— Sim, senhor — disse o guarda e então entrou na guarita com suas
paredes fortemente reforçadas e vidro à prova de balas.
Juro não achava que Mathilde desperdiçaria seu tempo matando um
guarda, mas isso não significava que ela não teria outra pessoa que atirasse por
ela. Ele e Jared tinham feito o que podiam para isolá-la, mas era muito possível
que ela tivesse outros apoiadores na área que conheciam seus planos e
responderiam ao seu desaparecimento sem serem chamados.
Juro subiu no SUV para a curta viagem de volta para a casa, seus
pensamentos voltando-se para Honolulu, onde a verdadeira batalha pela
sobrevivência deles estava sendo travada. Agora mesmo, Mathilde não passava de
um pé no saco. Mas ela seria muito mais do que isso se Cyn e Ken'ichi não
conseguissem localizar Raphael e trazê-lo de volta para cá antes que fosse tarde
demais.
Capítulo 16
Segunda noite – Honolulu, Havaí.

CYN E MAL voltaram para a casa antes do pôr-do-sol, muito antes para o
óbvio alívio de Robbie. Ele não ficara satisfeito por ser deixado para trás, mas
alguém tinha que ficar com os dois vampiros dormindo, e era o barco de Mal.
Ela tinha dito a Robbie apenas que eles definitivamente encontraram a casa
onde Raphael estava sendo mantido, mas adiou qualquer informação mais
detalhada até que os dois vampiros estivessem acordados e pudessem se juntar a
eles. E então ela subiu para trocar de roupa e tomar um banho, esperando que a
despertasse um pouco.
Permanecendo debaixo da água caindo, ela tentou desviar sua mente. Ela
não conseguiu dormir mais do que duas horas das últimas vinte e quatro horas, e
tinha tido uma hora arrebatada no barco, e depois outra no carro no caminho de
volta para a casa. Ela estava preocupada com Raphael, preocupada com o que
sentira quando estavam sentados no barco, tão perto de onde ele estava
aprisionado. Ele estava muito fraco. Ela estava começando a suspeitar que as
pessoas de Mathilde estavam fazendo algo mais do que simplesmente o deixar sem
sangue. Raphael era mais forte do que isso. Alguns dias sem sangue o teriam
deixado fora de seu jogo, mas não tanto.
O relógio estava correndo, e seu coração lhe dizia que precisavam chegar lá
esta noite, para que Raphael não passasse por isso outro dia. Mas sua mente dizia
que tinham que esperar, que não ajudaria matar todos, inclusive Raphael, por
apenas algumas horas de diferença.
Porque de um jeito ou de outro, ela estava indo atrás de Raphael amanhã.

****

— Eu tenho que te dizer, — Mal estava dizendo quando ela começou a


descer as escadas. — Foi muito estranho. Eu pensei por um minuto que eu teria
que mergulhar atrás dela. Era como se ela estivesse em transe ou algo assim.
— Foi perto... ela sabia que Raphael estava lá. — Cyn reconheceu a voz de
Elke. Ela deveria ter adivinhado que era com quem Mal estaria falando. O cara
tinha uma queda séria.
— Todos os vampiros podem fazer isso? — Ele perguntou.
Elke bufou desdenhosamente. — Eu não acho que você entenda o poder
que levou para Raphael tocar em Cyn. Mesmo com toda a força, é preciso algum
magia forte para um vampiro se comunicar com um ser humano durante o seu
sono. Para Raphael ter feito isso agora, depois do que eles fizeram com ele? Isso é
inacreditável.
— Vocês todos continuam falando sobre o que eles fizeram com ele, ou o
que eles ainda estão fazendo. Que porra estão fazendo? Quero dizer, se ele é esse
vampiro poderoso, como o estão segurando?
Houve um momento de silêncio, e então Elke falou com uma voz fraca: —
Eu não disse nada para Cyn, porque eu não sei ao certo, mas... Acho que Mathilde
deve tê-lo sangrado, provavelmente seus lacaios humanos cortaram seus pulsos
durante o dia. Ela é muito covarde para chegar tão perto dele à noite, não importa
quantos vampiros ela tenha espremendo seu cérebro.
Cyn sentiu como se tivesse sido golpeada. Ela afundou na escada, suas
pernas já não estavam dispostas a mantê-la em pé. Elke ainda estava falando com
Mal lá embaixo, mas as palavras não faziam mais sentido. Mathilde tinha sangrado
Raphael. Ela cortou seus pulsos. E agora ela não o estava alimentando.
Cyn enterrou o rosto em seus braços. Ela sabia que havia algo de errado
com ele, algo mais do que apenas alguns dias sem alimentação. Raphael estava
morrendo. Ele estava morrendo esta tarde, quando ela estava a apenas cem metros
de distância. Ela deveria ter entrado. Se ela soubesse...
— Cyn?
Ela olhou para cima enquanto Robbie se sentava ao lado dela.
— Nós temos que pegá-lo hoje à noite — ela disse a ele com urgência. —
Isso significa moldar um pouco o meu plano, mas ainda podemos fazê-lo. Não havia
muitos guardas de dia, e à noite, a maioria dos vampiros provavelmente estará
ocupada demais segurando Raphael para se preocupar com a segurança. Na
verdade, aposto que os guardas noturnos também são humanos. Devemos
perguntar a Gardet. Ele vai estar acordado agora, nós podemos...
— Cyn! — Robbie estava praticamente gritando, o que lhe disse que ele
estava tentando chamar sua atenção por um tempo. — Pare. Você não está fazendo
nenhum sentido.
Cyn percebeu que estava sem fôlego, que estava andando. Mas isso não
mudava nada. Virando-se para encarar Robbie, ela segurou seu braço e repetiu
atentamente: — Temos que ir buscá-lo hoje à noite. Não há mais tempo. Mathilde
já está em Malibu. Não podemos perder...
— Nós não vamos esta noite.
Cyn girou ao som da voz profunda de Ken'ichi. — Por que diabos não? —
Ela perguntou, olhando para ele. — E quem o colocou no comando?
— Juro — disse ele simplesmente. — Mas mais que isso, Cynthia. Você é a
única que me queria aqui, porque sabia que precisaria de um vampiro poderoso. E
agora estou dizendo que devemos esperar até amanhã à noite.
Cyn deu-lhe um olhar cortante, perguntando-se por que o vampiro
normalmente silencioso tinha escolhido este momento para exercer suas
habilidades verbais. Mas ele estava certo sobre uma coisa. Ela era a pessoa que o
queria com ela nesta missão. — Tudo bem, eu estou disposta a ouvir. Porque
amanhã?
— Podemos mover esta discussão para a cozinha onde todos podem
participar?
Cyn encolheu os ombros com desdém. — Tanto faz. Eu poderia beber uma
xícara de café. — Ela se levantou e fez o seu caminho pelo resto das escadas,
rodeando a parede para a cozinha a tempo de ver Elke e Mal se separarem como
um casal de adolescentes culpados. Esses dois precisavam pegar um quarto e
apenas fazê-lo. Colocaria todos para fora de sua miséria.
Aproximando-se da cafeteira, ela serviu uma xícara, adoçou com açúcar e
virou para encarar Kenichi. — Então, faça o seu argumento. Por que não esta noite?
— Não há argumento, Cynthia. Não estamos preparados para fazer isso hoje
à noite.
— Não é verdade. Mal e eu fizemos o reconhecimento da casa esta tarde, e
Gardet pode nos dizer o layout específico e onde eles estão segurando Raphael.
— E quanto aos outros? — Ken'ichi perguntou calmamente.
— Que outros? Quer dizer os guardas? Quantos podem existir? Como eu
disse a Robbie, a maioria dos vampiros de Mathilde provavelmente estão muito
apavorados de perder o controle de Raphael para jogar tempo fora vigiando o
perímetro. Além disso, estive pensando nisso, e essa casa não é grande o suficiente
para manter mais de cem vampiros ao mesmo tempo. Aposto que há outra casa
por perto. Perto o suficiente para que eles trabalhem com sua magia.
— Se isso é verdade, como você se propõe a livrar o Lorde Rafael de seu
domínio?
Cyn olhou para ele.
— Eu o quero de volta tanto quanto você, Cynthia. — Ele ergueu a mão para
evitar o protesto que subiu imediatamente aos seus lábios. — Não da mesma
maneira — ele admitiu. — Mas Raphael é meu Sire. Quando ele encontrou meu
irmão e eu estávamos... — Sua boca apertou, como se ele tivesse dito mais do que
ele pretendia. — Ele nos tornou humanos novamente, e então ele nos fez mais.
Daria minha vida por ele em um instante. Mas não fará bem a nenhum de nós,
nem ao senhor Raphael, nem a você, nem a Juro ou aos outros em Malibu, se nós
tentarmos salvar Raphael e falharmos. Seus carcereiros só o protegerão mais
fortemente, enquanto nós teremos perdido a maior vantagem que temos.
Cyn suspirou e desviou o olhar. — O fato de que eles não sabem que
estamos aqui.
— Sim.
— Então, o que você propõe?
— Fazemos mais uma noite de reconhecimento. Elke e eu vamos vigiar a
casa para determinar se existem vampiros presentes e quantos. Entretanto,
concordo com a sua avaliação de que os cem de Mathilde estão provavelmente
muito próximos. E nosso amigo Gardet saberá onde.
— Tenho uma pergunta — disse Mal, chamando a atenção de todos. —
Nunca perguntei a Gardet sobre Raphael. Até onde ele sabe, Cyn está aqui porque
tinha uma ligação com uma das vítimas, e nós queremos o assassino. Então por
que Gardet me deu a casa onde eles estão segurando Raphael em vez desta outra
casa, aquela em que todos vocês pensam que o resto dos vampiros estão ficando?
Você pensaria que ele iria querer nos manter longe do prêmio.
Todos olharam para ele por um momento, então Elke apertou seu braço
com força suficiente para fazê-lo estremecer. — Parece que você é mais do que
apenas um rosto bonito — ela disse, e se virou para os outros. — O que acham?
— Acho que devemos perguntar a Gardet — disse Ken’ichi, sem rodeios. —
Foi você quem falou com ele na noite passada, Mal, então você toma a dianteira.
Mas estarei com você desta vez. Ele não pode mentir para mim. Ele não é forte o
bastante.
— E se ele tentar? — Mal perguntou curiosamente. — Chamamos Cyn com
sua arma?
Cyn apertou os dentes contra o tremor que suas palavras causaram. Ela
não queria entrar naquela garagem novamente, mas ela faria isso se tivesse que
fazer.
— Isso não será necessário — respondeu Ken'ichi. — Creio que a utilidade
do Sr. Gardet está no fim. Se necessário, vou vasculhar seu cérebro pelo que
precisamos, e depois descartar o que resta.
Cyn levantou os olhos rapidamente. — Se ele morrer, Mathilde não o
sentirá?
— Normalmente, — Ken'ichi concordou. — Ela é sua Sire, afinal. Mas eu
suspeito que ela esteja muito distante para sentir sua morte, ou se ela sentir, ela
provavelmente não vai saber a maneira que aconteceu. Ela provavelmente
assumirá que ele morreu no esforço para subjugar Raphael. Ela e seus aliados
teriam calculado certo número de fatalidades como uma questão em curso. Além
disso — acrescentou com uma voz que tinha ficado gelada — Uma vez que Gardet
enfrentasse o meu senhor, sua morte era uma conclusão inevitável.
— Mas se ele perceber que estamos atrás de Raphael... não podemos deixá-
lo sair para avisar a ninguém, — Cyn disse urgentemente.
— Isso não vai acontecer, Cynthia, — Ken'ichi disse pacientemente. –Você
deve confiar em mim.
Cyn encontrou seus olhos escuros e assentiu. — Eu confio.
A sombra de um sorriso tocou seu rosto antes de se virar para olhar para
Mal mais uma vez. — Você entende o que deve ser feito?
Mal acenou tristemente. — Nem tudo, mas o suficiente para saber que se
não fosse pela loirinha aqui, eu estaria desejando nunca ter ouvido falar de
vampiros. Então me diga, quando descobrirmos onde está esta outra casa, o que
faremos então?
— Esta noite é apenas para reconhecimento. Quando tivermos o que
precisamos, vamos voltar aqui e elaborar uma estratégia para amanhã.
— Eu tenho uma estratégia — disse Cyn. — Vou amanhã à tarde, durante
o dia. Vou encontrar Raphael e estar lá quando ele acordar. — Ela olhou para
baixo, relaxando as mãos quando ela percebeu que estava apertando a borda da
ilha da cozinha tão forte que seus dedos estavam brancos e sem sangue. — Quando
vocês chegarem depois do pôr-do-sol, ele será forte o suficiente para ajudar em seu
próprio salvamento. E para se vingar.
Ela olhou para cima então, percorrendo seus rostos. Somente Mal parecia
confuso. Os outros compreenderam que Raphael precisaria se alimentar, e Cyn
seria a única lá quando ele acordasse. Ela sabia o que isso significava, sabia que
ele estaria fora de controle por seu sangue. Mas não queria que mais ninguém o
alimentasse. E ela sabia que Raphael nunca a machucaria.
— Cyn... — Elke começou a objetar, mas deu uma olhada na determinação
no rosto de Cyn, e assentiu com a cabeça em concordância.
— Vamos discutir os detalhes de sua estratégia antes de encerrarmos a
noite — disse Ken'ichi. — De uma forma ou de outra, precisamos estar prontos
para nos mover amanhã ao pôr-do-sol.
Ken'ichi e Mal se dirigiram à garagem para questionar Gardet. Elke olhou
para a saída de Mal, depois se virou para Robbie e disse: — Você vai ficar com Cyn
esta noite?
Ele assentiu. — Como cola.
— Então vou para a garagem. Ken'ichi pode precisar de ajuda extra... e Mal
também.
— Podemos pegar algo pra comer — disse Robbie. — Pergunte a Mal se ele
quer alguma coisa e me avise.
— Entendi — disse Elke, então correu pelo corredor, como se estivesse
preocupada que eles pudessem começar sem ela.
— Você acha que é com Ken que ela está preocupada? — Robbie perguntou
levemente.
— De maneira nenhuma — disse Cyn.
— Isso é o que eu pensei, também. Vai colocar sapatos. Estamos fazendo
uma corrida atrás de hambúrgueres. Mal me deu instruções de como chegar ao In-
N-Out.
— Eu não estou com fome.
— Não? Você parece ter perdido dez quilos, e Cyn querida, você não tem dez
quilos pra perder. Além disso, você é uma humana muito pálida. Se você vai
alimentar Raphael amanhã à noite, você precisará de mais glóbulos vermelhos do
que sua carga atual. Você precisa de carne. E enquanto estamos fora, vamos pegar
alguns shakes de alta proteína. Eu sei que você nunca vai concordar em comer
antes de partirmos amanhã, mas você pode beber um shake ou dois.
— Robbie.
Ele deu a ela um olhar interrogativo. — Sim?
— Você não pode ir comigo amanhã. Você sabe disso certo? Tem que ser
apenas eu e Rafael.
Ele a encarou em silêncio. — Eu não posso ir tão longe quanto onde eles
estão segurando-o, no porão ou em um quarto, ou o que quer que seja. Mas eu
tenho certeza que o inferno que eu posso levá-la até a casa e cobrir seu traseiro.
Cyn deu um meio sorriso. — Meu plano realmente não pede que minha
bunda seja coberta.
— Que porra isso significa?
— É a única maneira...
Cyn parou quando a porta da garagem abriu e Elke colocou a cabeça para
fora. — Mal disse para trazer-lhe um shake de chocolate e um par de 3 x 3s. Sem
cebolas — ela acrescentou com uma piscadela, depois desapareceu de volta à
garagem sem esperar confirmação.
Robbie levantou-se abruptamente. — Vamos, vamos pegar os
hambúrgueres, e você vai me dizer o que é esse seu plano de traseiro descoberto.

****

— Eles não vão gostar disso — comentou Robbie.


Eles estavam sentados no In-N-Out, comendo hambúrgueres e batatas
fritas, enquanto Cyn explicava seu plano para Robbie. Cyn não esperava ter muito
apetite, mas quando começou a comer, descobriu que estava com fome. Ela tinha
terminado com um duplo, todas as suas batatas fritas, e uma boa parte de um
shake de chocolate, também. Porque Robbie estava certo. Se ela fosse alimentar
Raphael, precisaria de algo mais do que café em seu sistema.
— Eles vão ver a lógica disso — disse ela. — Além disso, você percebendo
ou não, o foco deles está cada vez mais em Raphael. Eles pensam que eu não sei o
que está acontecendo, que eu não o sinto ficar mais fraco, que sou apenas uma
estúpida arrogante mulher de vampiro. Eu sou sua companheira, pelo amor de
Deus. Mas eu tenho notado que os vampiros têm essa coisa de papaizinho com seu
Sire. Está sempre lá, mas sai mais quando estão sob estresse, ou, pior ainda,
quando estão sob ameaça. E como todas as crianças, eles querem acreditar que
seu pai os ama mais. Quanto maior o estresse, mais apegados eles se tornam.
Ela roubou uma das batatas fritas de Robbie, ignorando seu olhar não tão
sutil.
— Até amanhã, estarão tão empolgados que finalmente irão atrás de
Raphael que eles me servirão de mãos e pés amarrados, se isso for preciso.
Robbie riu da imagem, mas sacudiu a cabeça. — Isso não é verdade, e você
sabe disso.
— Talvez não seja tão ruim — admitiu ela. — Mas eles vão junto com meu
plano, porque eles sabem que é necessário. — Ela disse por cima de seu
guardanapo. — Devemos voltar.
Robbie suspirou e afastou-se da mesa. — Deixe-me fazer o pedido de Mal,
e nós iremos.
Eles pegaram a comida de Mal e uma segunda porção de batatas fritas para
o poço sem fundo que era o estômago de Robbie, então voltaram para a casa de
Diamond Head. Desde que a garagem tinha sido transformada em uma prisão para
Gardet, eles estacionaram na entrada e entraram pela porta da frente. A porta
estava trancada e o alarme estava armado no andar térreo, o que Cyn achava
estranho. Mas então ela ouviu o chuveiro no andar e cima. Se estivessem todos lá
em cima, poderiam ter armado o alarme neste andar com excesso de cautela. Mas
por que estavam todos lá em cima? E quanto a Gardet?
Seguindo Robbie para a cozinha, Cyn continuou pelo curto corredor até a
garagem enquanto ele deixava o pedido de Mal no balcão. Mesmo antes de abrir
completamente a porta da garagem, ela soube que algo havia mudado. As luzes
estavam apagadas, e o cheiro... este não era o cheiro que a garagem tinha da última
vez que ela estava nela.
Ela acendeu as luzes e olhou fixamente. Todos os sinais de que isso era
qualquer coisa diferente de uma garagem comum tinham desaparecido. As colchas
que haviam providenciado a cobertura improvisada contra o sol, os plásticos que
haviam sido manchados de sangue... e o mais importante, o próprio Gardet,
estavam todos desaparecidos.
Robbie veio por trás dela e empurrou-a de lado com um gentil toque.
Descendo os três degraus da garagem, ele se virou em um círculo.
— Eu vou dar-lhes isso — ele disse calmamente, — eles fizeram um bom
trabalho.
— Isso ajuda quando o corpo morto se desfaz por si mesmo — disse ela
distraída, ainda sem acreditar no que estava vendo. — Você acha que Ken'ichi tirou
alguma coisa dele antes?
— Eu apostaria nisso. Ele não teria acabado com o cara de outra forma, —
ele disse, mas então inclinou a cabeça pensativamente. — Ou ele pode ter feito.
Gardet era um idiota de classe mundial.
Cyn ouviu passos e se virou para ver Ken'ichi vindo pelo corredor, sendo
intencionalmente barulhento para não assustá-la.
— Ele desistiu do endereço da segunda casa e mais — disse ele, obviamente
ouvindo sua pergunta para Robbie – audição de vampiro e tudo isso.
— Como você tem certeza de que ele estava dizendo a verdade?
O grande vampiro lhe deu um sorriso de boca fechada que era em partes
igualmente presunçoso e perverso. — Tenho certeza. Embora, sabendo a
localização da casa onde Raphael está sendo mantido, estou confiante que
poderíamos ter localizado a outra casa sem ele. Eles tinham que estar perto, e
muitos vampiros estariam emitindo uma assinatura alta. Mas, de qualquer forma,
o Sr. Gardet estava ansioso para nos dizer o que sabia.
— Por que ele desistiu da prisão de Raphael em vez de seus amigos? — Ela
perguntou. Isso a incomodava mais do que qualquer outra coisa.
Ken'ichi assentiu com a cabeça. — Gardet assumiu que você seria a única
a investigar o endereço que ele nos deu. Que você, e talvez Robbie, entrariam
durante o dia com a intenção de encontrar os vampiros que mataram seu suposto
amigo e matá-los enquanto dormiam. Como você descobriu, a casa onde eles estão
segurando Raphael tem guardas na luz do dia. Gardet contou com eles matando
você quando tentasse invadir, eliminando assim a ameaça aos outros sem
comprometer o plano maior.
— Já lhe disse — comentou Robbie. — Assassino de classe mundial.
— Há mais — disse Ken'ichi. — Ele admitiu o que já sabíamos, que Mathilde
deixou as Ilhas, junto com seus dois senhores. Mais importante, Cynthia, você
precisa saber que Raphael nunca está sozinho. Não há nunca menos de três
vampiros diretamente na sala com ele, às vezes quatro, se eles não forem fortes o
suficiente. Servem como guardas à noite, mas dormem ao seu lado durante o dia,
servindo de foco para os outros assim que acordarem.
Cyn ajustou o resto do relatório de Ken'ichi, absorvida preferivelmente com
esta parte a mais atrasada de notícia indesejável. Seu plano sempre fora chegar ao
lado de Raphael o mais próximo possível do pôr-do-sol, para minimizar a
possibilidade de descoberta enquanto esperava que ele acordasse. Mas agora ela
teria que dar tempo suficiente para tirar três, talvez quatro, mestres vampiros antes
que eles, também, acordassem para a noite.
— Você está bem, Cyn? — A voz de Robbie interrompeu seus pensamentos,
dizendo a ela que ela estava muito quieta por muito tempo.
— Sim. Podemos sair daqui? O sangue era ruim, mas esse cheiro de
desinfetante está me dando dor de cabeça.
— Claro — disse ele, apontando para que ela o precedesse de volta à casa.
— Por falar em limpeza, o que você fez com todo o plástico e essas coisas, Ken?
— Mal e Elke desfizeram-se disso. Ter um detetive de polícia ao redor é mais
útil que eu esperava. Mal conhece uma instalação de incineração discreta onde, se
o preço for certo, o operador não faz perguntas.
— Usaram o veículo de Mal? — perguntou Cyn.
Ken'ichi assentiu com a cabeça.
— Ainda melhor — disse Robbie. — Se vamos contaminar um carro, melhor
que pertença a um policial do que a qualquer um de nós.
— Eles estão tomando banho agora — Ken'ichi disse, então inclinou a
cabeça, como se estivesse escutando. — Mais ou menos — acrescentou. — Quando
terminarmos, verificaremos as informações do Sr. Gardet, examinamos a área e
voltamos aqui para fazer nossos planos para amanhã à noite.
Cyn assentiu. — Você já conversou com o Juro?
— Falei com ele antes de você chegar. Mathilde provou ser bastante
previsível em sua resposta à estratégia de Jared e Juro. Está com raiva, mas, tendo
perdido a maioria de seu apoio vampiro naquela primeira noite, não está disposta
a empurrar o confronto além das ameaças verbais.
— Mas o período de espera se esgota amanhã — disse Cyn, preocupada. —
Ela pode reivindicar perda contra Raphael.
Ken'ichi assentiu com a cabeça. — Lucas está pronto para chegar esta noite,
embora Mathilde não saiba disso. Quando ela exigir entrada amanhã à noite,
reivindicando confisco, Lucas vai desafiá-la pelo território. Se ele tiver que lutar
com ela, ele vai, mas a nossa esperança é que ele seja capaz de atrasá-la até
Raphael retornar.
Cyn contou as noites em sua cabeça. Faltavam duas noites, ela calculou.
Ela tinha apenas duas noites para libertar Raphael e levá-lo de volta para Malibu.
E levá-lo em forma suficiente para derrotar Mathilde.
Essa era a única coisa da qual Cyn não tinha absolutamente nenhuma
dúvida. Se pudesse levar Raphael de volta para Malibu a tempo, ele iria derrotar
Mathilde. Cyn só esperava que ele fizesse a cadela sofrer primeiro.
A voz profunda de Mal e as risadas de Elke descendo as escadas, precedeu-
os na cozinha. Os dois tinham obviamente apenas acabado de sair de um chuveiro,
e, obviamente, tinha sido em um chuveiro juntos.
Mal imediatamente se dirigiu para a ilha central, e comeu seus
hambúrgueres e batatas fritas, mastigando como um homem faminto. Ou alguém
que tinha acabado de fazer sexo no chuveiro.
Cyn pegou o olhar de Elke e arqueou uma sobrancelha em questão. Mas
Elke simplesmente encolheu os ombros, escondendo um sorriso.
Eles não demoraram muito tempo depois disso. Enquanto Mal comia sua
comida, Cyn subiu e se trocou. Esta noite deveria ser sobre reconhecimento, mas
ao lidar com vampiros, nunca doía trazer algumas armas especiais. Apenas no
caso.

****
Cyn sentou no banco de trás do SUV, olhando para a casa que Gardet tinha
afirmado ter uma centena de vampiros focados em conter o poder de Raphael. Teria
sido fácil explodir tudo. Eles poderiam voltar de manhã, colocar algumas cargas
bem colocadas, lançar algumas granadas através das janelas para uma boa
medida, e ir embora. Robbie sabia tudo sobre explosivos, e ela tinha certeza que
Mal poderia dizer-lhes onde eles poderiam pegar alguns C4 e detonadores.
Mas de alguma forma, ela duvidava que Mal iria apoiar explodir uma
residência no meio de um bairro de Honolulu.
Então, em vez disso, ela se encontrou estudando a casa, vendo todos os
sinais reveladores de habitação de vampiros – janelas cobertas com cortinas
improvisadas, provavelmente cobertores ou lençóis e sem luzes, embora ela
pudesse ver algumas pessoas se movendo. Não tantas como você esperaria com
tantos vampiros vivendo no mesmo lugar, e sem vai e vem, mas isso não a
surpreendeu. Esses caras tinham um trabalho a fazer, e esse trabalho não permitia
socializar. Durante a hora em que estiveram observando a casa – do
estacionamento na frente da casa de um vizinho, a mais de um quarteirão de
distância – ela havia visto quatro vampiros. Três retornando, e depois mais três
saindo.
— Há tantos vampiros lá dentro, — Ken'ichi sussurrou, sua voz tensa como
se o machucasse estar tão perto. — E a casa é tão pequena, pequena demais para
tantos.
O celular do dia de Cyn tocou. Ela olhou para o número recebido. — Sim.
— Esse é definitivamente o lugar, certo? — Elke perguntou sem preâmbulo.
— Há tantos vampiros trabalhando lá que até eu posso sentir isso.
— Sim, — Cyn disse novamente. — Acho que já vimos o suficiente. Certo,
Ken'ichi? — Ela perguntou.
Ele não respondeu imediatamente. Mas então ele acenou lentamente. —
Podemos ir embora. Isso será para Raphael resolver. Nosso foco deve ser libertá-lo
em vez disso.
Cyn estava meio assustada com sua resposta. Ela poderia ter dito a ele que
seu foco inteiro sempre fora libertar Raphael. Mas não era só o que Ken'ichi havia
dito, era a maneira como ele havia dito isso. Foi assustador, como se sua mente
estivesse em outro lugar. Em algum lugar não tão bom.
Ela estremeceu. Ela não poderia sair desta ilha rápido o suficiente. Uma vez
que ela tivesse Raphael em seus braços novamente, eles estavam indo dar a merda
fora daqui e nunca mais voltar.
Com a luz do dia a menos de uma hora de distância, eles correram de volta
para a casa em Diamond Head. Havia pouco tempo para discutir os detalhes mais
críticos do plano de Cyn para chegar a Raphael, mas isso era provavelmente uma
coisa boa. Ela estava absolutamente decidida em seu curso de ação e não viu o
ponto de passá-lo com pessoas que só iriam tentar a fazer desistir dela. Ela não
podia admitir isso, entretanto. Então, quando voltaram para a casa, eles realizaram
uma sessão de estratégia apressada na cozinha, enquanto Ken'ichi sugava um saco
de sangue da geladeira. Aparentemente, a noite tinha o desgastado. Cyn percebeu
que Elke não bebia, o que significava que Mal provavelmente descobrira os
verdadeiros prazeres de ser amante de um vampiro, inclusive deixando Elke
afundar suas presas.
— Se nós estamos ignorando a casa dos vampiros por agora, — Cyn disse,
inclinando-se contra o balcão da cozinha, — Então tudo que nós temos que nos
preocupar é entrar naquela, onde Raphael está sendo mantido. E a melhor hora
para fazer isso é à luz do dia.
— Há guardas ali — lembrou Mal. — Ambos os vimos.
— Mas não havia muitos e não estavam bem colocados. Além disso, eu não
estou pensando em atacar a fortaleza. Eu só preciso entrar na casa e encontrar
Raphael, então eu posso estar lá quando ele acordar para a noite. Vou precisar de
sua ajuda, Mal, e de Robbie. Mas quando eu estiver lá, vocês desaparecerão até a
escuridão, quando Elke e Ken'ichi aparecerem.
— E depois? — Mal perguntou.
Cyn olhou ao redor do grupo. — Quando Ken'ichi e Elke chegarem à casa,
Raphael será o único a tomar decisões.
— Eu não entendo. Não vai ficar muito doente... — Mal começou a protestar,
mas Elke tocou seu braço.
— Eu vou explicar mais tarde — ela disse a ele.
Mal estava claramente frustrado, mas ele deixou ir. — Tudo bem, então
vamos voltar para a grande questão. Como você planeja entrar e encontrar
Raphael?
— Robbie e eu estaremos no lado da praia, mas eu preciso de uma distração,
e é aí que você entra. Quem estava morando naquela casa quando cometeu o erro
de convidar Mathilde para dentro provavelmente está morto. Ninguém os relatou
como desaparecidos, não que poderíamos encontrá-los de qualquer maneira, mas
os vampiros não sabem disso. Pode fazer algum tipo de checagem de segurança,
Mal? Você sabe, como se alguém tivesse chamado a polícia, preocupado porque
eles estavam tentando alcançar seus avós idosos e não conseguem achá-los?
Mal encolheu os ombros. — Não é o meu ritmo habitual, mas posso fazer
isso.
— Você precisa chegar com tanto barulho quanto possível. Eu não quero
dizer uma sirene ou qualquer coisa, eu só quero que você seja visível. Certifique-se
de que qualquer um que veja o veículo saberá que é HPD. Talvez estacionar na
frente da casa, ligar as luzes. Queremos que alguém te assista de dentro da casa
para pensar que os vizinhos definitivamente notaram você. Você poderia até bater
em um par de portas dos vizinhos primeiro, mostre seu crachá para quem
responder. Espero que a ameaça de sua presença na frente da casa atraia alguns,
ou mesmo a maioria, da segurança de Mathilde. Eu já estarei lá dentro, e enquanto
você jogar o seu jogo na frente, vou localizar Raphael e ficar com ele.
— Você vai entrar?
Cyn sacudiu a cabeça. — Não. Eles vão me convidar.

****
— Este plano é um saco, — Robbie murmurou enquanto eles amontoavam
equipamentos no SUV.
— Isso enche o saco, é o que isso faz, — Cyn murmurou. Ajeitou a parte
inferior do biquíni que atualmente usava debaixo da camiseta gigante com “meu
coração Havaiano” que ela usava sobre a parte superior. E isso era tudo que ela
tinha, um biquíni e uma camiseta. O biquíni era necessário para seu plano, mas
ela não tinha exatamente embalado ele para tomar sol quando ela estava se
preparando para esta viagem. Ela teve que correr para rua e comprar o traje de
banho bem cedo esta manhã. Estando no Havaí, havia muitas lojas para escolher,
mas ela não tinha tomado o tempo para escolher. Ela simplesmente pegou o que
melhor se adequava às suas necessidades, isto é, aquele que mostrava a maior
parte da pele, e a comprou sem nem experimentar.
Tecnicamente, ele se encaixa. Ela não estava acostumada a ter a metade de
seu traseiro pendurado em público, enquanto os fundos tentavam cortá-la pela
metade verticalmente.
Cyn olhou de relance e capturou o olhar preocupado de Robbie. — Não se
preocupe. Eu não posso explicar isso, mas eu sei que é isso que eu preciso fazer.
Além disso, você está dizendo que eu não estou bem o suficiente neste biquíni para
distrair os guardas?
Ele lhe deu um olhar seco. — Buscando elogios? Geralmente não é seu
estilo.
— Nem é esta maldita roupa — ela estalou, puxando de novo a tanga, que
só estava fazendo o que tinha sido projetado para fazer.
Ambos olharam para cima quando Mal saiu da casa, fechando a porta da
frente atrás dele, depois sacudindo a maçaneta da porta para ter certeza de que
estava segura.
— Eu não gosto de deixá-los, — ele rosnou, parando no caminho para o seu
veículo do HPD que estava estacionado na calçada.
— Não é o ideal — concordou Cyn. — Mas o sistema de segurança está
ligado e conectado aos nossos telefones, e você pode voltar logo que... — Seu
telefone celular tocou com uma chamada. Não o telefone do dia, mas seu telefone
celular pessoal.
Quem quer que a chamasse não podia ser alguém com quem ela quisesse
falar, já que todas aquelas pessoas estavam dormindo ou de pé na frente dela.
Ainda assim, pensando que poderia ser um de seus amigos do clube dos
companheiros, ela verificou e fez um duplo olhar no que viu. Nick Katsaros
novamente? Que porra é essa? Ela recusou o telefonema e saiu para guardar o
telefone, mas ele nem saiu de sua mão antes que ele a chamasse de novo. Ela
recusou e esperou. Mas, desta vez, era um texto.
Cyn. Atenda o maldito telefone. É crítico.
Essa era toda a mensagem dita. É Crítico. Por que ele diria isso? E apenas
neste momento, quando ela estava literalmente à beira da batalha mais importante
de sua vida.
O celular tocou, fazendo-a pular. Nick. Ela olhou para ele, tentando decidir.
— Cyn? — Robbie disse, sentindo sua preocupação. — Quem é...
Ela o cortou, levantando uma mão para ele esperar enquanto respondia a
chamada.
— Nicky, — ela disse cautelosamente. — Este não é um bom momento.
— Cyn, — ele respirou, como se aliviado que ela tinha atendido. — Eu sei o
que você está prestes a fazer, e você precisa se encontrar comigo primeiro.
— Você não pode sab...
— Você está se preparando para salvar Raphael. Eu não sei como você
planeja fazê-lo, mas eu sei que seja qual for o plano, ele não vai funcionar a menos
que você me encontre primeiro.
— Que porra é essa? Como você sabe sobre isso? — Ela olhou furiosamente
ao redor, escaneando cada casa, cada sombra, procurando quem quer que fosse
que os estivesse espionando. Procurando Nick. Mas como?
— Cyn,— Nick praticamente gritou, ganhando sua atenção. — Você confia
em mim?
Cyn respirou, com coração acelerado. Ela confiava nele? — Sim, — ela disse
a ele, sabendo que era verdade, mesmo que ela não pudesse dizer por quê.
— Então me encontre, querida. Eu quero a mesma coisa que você. Quero
que o seu Raphael seja libertado e que a cadela esteja morta.
Cyn respirou fundo. Como o inferno... — Tudo bem — disse ela, decidindo.
— Onde está você? Tem que ser agora, Nick. Estou sem tempo.
— Eu sei. Mova sua equipe. Nos encontraremos no parque de
estacionamento da Diamond Monument, então está no seu caminho. Parque no
trailhead. Estou num Panamera preto.
— Dez minutos — ela disse, e desligou. Ela olhou para cima para encontrar
Robbie observando-a de perto.
— Uma voz do passado — disse ela. — Mas um homem em quem confio. Ele
tem algumas informações sobre a situação de Raphael. Algo que ele diz que
precisamos saber antes de entrar. Nós vamos encontrá-lo no estacionamento do
Monument. — Ela estremeceu debaixo da camiseta fina enquanto dizia as palavras.
Algo aconteceu com Raphael? Alguma coisa ainda pior do que ela achava? Mas
Nick não a chamaria se não pudesse ser consertado. O que quer que fosse.
— Vamos — ela disse.

****
Eles chegaram em dois veículos, com Mal seguindo seu SUV em seu sedã
HPD em questão. Estava desmarcado, mas qualquer pessoa com olhos sabia o que
era.
Cyn viu o Porsche Panamera imediatamente, preto com janelas coloridas.
Um carro elegante com muito poder, mas sutil para Nick, que tendia a ir com
descapotáveis chamativos, como Ferraris de $200,000.
Robbie estacionou ao lado dele, intencionalmente colocando Nick em seu
lado do veículo, o que deixou duas larguras de veículo cheio entre Nick
pessoalmente e Cyn. Cyn sacudiu a cabeça. Ela entendeu o instinto que fez Robbie
fazê-lo, mas ela conhecia Nick, e ele não era uma ameaça para ela.
Nick saiu do Panamera quando eles saíram, cada polegada longa, e forte
dele. Cyn estava cem por cento comprometida com Raphael, mas isso não
significava que ela era cega. Nick Katsaros era um homem bonito. Ele sempre foi.
Mais de dois metros de músculo bem tonificado, com ombros largos e pernas longas
e magras. Seus cabelos ondulados e castanhos estavam mais longos do que a
última vez que ela o vira, e seus olhos castanhos estavam cobertos por um par de
óculos Oakleys polarizados, que ele puxou enquanto caminhava ao redor do carro
para cumprimentá-los.
— Cyn, — ele disse calorosamente, abrindo os braços. — Ainda podemos
nos abraçar?
Ela sorriu e entrou em um abraço rápido, mas foi Nick que se afastou
primeiro, olhando para ela de cima e abaixo, observando sua camiseta sobre o
conjunto de biquíni. — Não é o seu traje habitual, mas parece bom como sempre
— disse ele.
Cyn riu fracamente, virando-se quando sentiu Robbie se aproximar dela.
— Nick Katsaros, Robbie Shields, — ela disse, apresentando-os.
Os dois homens apertaram as mãos, sem sequer fingir que não estavam
tentando esmagar os ossos um do outro. Robbie era mais largo, mais grosso com
músculos, mas apesar de toda sua aparência magra, Nick sempre possuiu uma
força oculta.
Mal se juntou à multidão e se apresentou. — Maleko Turner, HPD —disse
ele, sem oferecer a mão, mas pelo menos pondo fim à luta de poder entre os outros
dois.
Nick piscou para Cyn enquanto flexionava os dedos. — Tão bom quanto é
te ver, Cyn, eu sei que o tempo é curto, então eu vou direto ao ponto. Eu sei que
Mathilde levou o seu cara, e eu suspeito que você está prestes a montar um resgate.
Eu teria chegado aqui mais ced...
— Eu nem vou perguntar como você sabe essas coisas, — Cyn interrompeu.
— Você é um vendedor, pelo amor de Deus. Ou pelo menos...
— Eu não sou um vendedor — ele disse, soando um pouco exasperado. —
Eu nunca fui um vendedor. Você simplesmente assumiu que eu era. Talvez tenha
tornado mais fácil para você esquecer as coisas que você não poderia explicar, mas,
querida não temos tempo para isso. Depois que você terminar, depois que você
trouxer Raphael para casa, nós conversaremos. Ok?
Cyn assentiu. — Então, por que o encontro?
Ele olhou para Robbie e Mal por sua vez, olhando-os inquietos. — Cyn...
Isso é delicado. Não sei quanto você compartilhou...
— Tudo — interrompeu ela. — Bem, tudo a ver com esta operação de
qualquer maneira. O que quer que seja, você pode dizer isso a todos nós.
Ele a olhou por um momento, depois deu de ombros como se quisesse
reconhecer que era sua decisão tomar.
— Você sabe o quão poderoso é Raphael, — ele disse falando em voz baixa.
— Então você sabe que teria levado muito tempo, não só para pegá-lo inconsciente,
mas para enfraquecê-lo até o ponto onde eles pudessem segurá-lo.
Ele estava dizendo o que Cyn havia pensado mais de uma vez nos últimos
dias, então ela não podia discordar. Embora ela certamente se perguntasse como
Nick sabia tudo isso.
— Elke acha que eles estão sangrando ele...
— Eu estou supondo que Elke é uma vampira, e ela está certa. Eles
provavelmente estão, para restringir seus ataques, se nada mais, mas há mais.
Mathilde colocou as mãos em um conjunto de... algemas como elas seriam
chamadas agora, mas elas são muito mais do que isso. Elas são as Algemas de
Âmbar e estão além de antigas, um artefato de poder tremendo que foi criado
quando a magia ainda dominava este mundo.
— Magia? — Cyn disse, não escondendo sua incredulidade.
Nick olhou fixamente. — Cyn, você vive com um vampiro, pelo amor de
Deus. E não apenas qualquer vampiro, mas um cara que é um dos maiores
sumidouros de energia mágica do mundo hoje. Como você pode não acreditar em
magia?
— Bem, sim, Raphael é incomum, mas... Algemas mágicas?
Nick piscou para ela. –Você é mais esperta do que isso, Cyn. Mas não temos
tempo para discutir sobre isso. As algemas de Âmbar fazem mais do que
simplesmente amarrar sua vítima; elas drenam sua energia até que ele mal possa
permanecer na posição vertical. Quanto mais ele as usar, mais fraco ele se tornará.
Pior ainda, elas não podem ser quebradas ou forçadas, só abrirão com a chave.
— Você está dizendo que Mathilde prendeu Raphael nestas algemas? Mas
se ela fez isso, então ela tem a chave, então como eu...?
— Eu nunca disse que havia apenas uma chave. — Nick alcançou através
da porta aberta do Porsche e agarrou algo do assento, deixando Robbie e Mal ambos
tensos e expectantes. Mas ele emergiu com algo nos dedos, algo longo e de bronze...
— Uma chave — sussurrou Cyn.
— Elas foram chamadas de Algemas Âmbar por uma razão. Duas chaves
foram feitas, uma para o captor, e outra para o prisioneiro. Só que a chave do
prisioneiro estava envolta em âmbar, posta à vista para atormentá-lo com o
conhecimento de que sua liberdade estava tão próxima e ainda completamente
inacessível. Mesmo que um prisioneiro conseguisse se apoderar da chave, ele não
teria força física para esmagar o âmbar para que a chave pudesse ser usada.
— E esta aqui? — Cyn perguntou, estudando o estreito pedaço de bronze.
Não parecia muito com uma chave, pelo menos não por padrões modernos. Era
uma vara longa e estreita, com um simples anel em uma das extremidades, e
esculturas ao longo do barril que poderiam ter sido algum tipo de linguagem, mas
não uma que ela reconhecia.
— A chave âmbar. Destruída por mim mesmo anos atrás, quando foi
recuperada de um colecionador sem escrúpulos que estava procurando as algemas.
Eu nunca estive com as algemas, mas ele não sabia disso. Eu sabia que elas
estavam na Europa em algum lugar, mas não foi até Mathilde usá-las que eu soube
a sua localização exata.
— E isso o trouxe para o Havaí?
Ele assentiu. — Seu uso delas em Raphael me trouxe aqui, mas esta não é
a primeira vez que ela as usa. Mathilde é muito velha e um pouco psicopata. Eu
pagaria um bom dinheiro para assistir Raphael matá-la, mas duvido que ele iria
acolher a minha presença — ele acrescentou, dando uma piscada Cyn.
— Se isso me ajuda a libertá-lo, você tem um lugar na primeira fila — disse
ela. — Como funciona?
— Simples. Você toca a chave direto no encaixe da algema e é isso.
— Nenhuma palavra mágica ou algo assim?
Nick sacudiu a cabeça. — Posso ver que precisamos conversar. Mas depois.
Você precisa chegar a Raphael agora. — Ele se inclinou e beijou-a levemente na
bochecha. — Boa sorte, querida.
— Por que você está fazendo isso? — Ela perguntou, estudando seu belo
rosto. — Você não conhece Raphael.
— Você está certa, mas eu conheço você. Há o bem e o mal neste mundo,
Cyn, e eu sei de que lado da linha você está. Então, se você ficar com seu vampiro,
então eu sei onde ele está, também.
— Obrigada, Nicky — disse ela solenemente.
Ele sorriu. — Além disso, seu vampiro me deve uma agora. E eu sempre
recolho minhas dívidas.
Deslizando os óculos de volta, ele acenou com a cabeça para os dois
homens, depois entrou no Panamera e fechou a porta. Afastando-se com um
guincho de pneus, ele fez uma volta de 180 graus e saiu do estacionamento com
um spray de sujeira e o cheiro de borracha queimando.
— Babaca, — Robbie murmurou, acenando uma mão na frente de seu rosto.
Cyn ignorou a réplica óbvia – que o babaca poderia ter salvo a vida de Rafael
– e disse apenas: — Vamos pegar Raphael.

****

Como Cyn tinha explicado aos outros, seu plano era duplo, e a primeira
parte era ela entrar na casa. Os guardas da luz do dia que ela observara haviam
sido menos disciplinados do que o que ela estava acostumada com Raphael, mas
eles ainda pareciam ser profissionais. Suas armas e a maneira como as carregavam
falavam de treino militar, e tinham estado alertas o suficiente para que ela
duvidasse de que pudesse simplesmente escapar pela porta dos fundos.
Não, como ela havia dito aos outros, ela pretendia ser convidada. Daí o
biquíni, e sua localização atual, que estava sentada no barco de Mal, a cem metros
do mar, duas casas em direção ao alvo. Ela verificou os relatórios marítimos esta
manhã, e agora estava feliz em ver que eles estavam certos sobre as condições de
surf. A água era plana e a temperatura quente, o que tornaria mais fácil nadar.
Mas a distância ainda asseguraria que ela chegasse parecendo molhada e
desarrumada em seu biquíni.
Cyn não pensava frequentemente em como se parecia, era simplesmente
parte de quem ela era. Mas isso não significava que ela não estava ciente dela.
Tinha sido dito muitas vezes a ela quão bonita ela era, mesmo antes de atingir o
ensino médio, quando algumas de suas babás estavam convencidas de que ela
deveria ter como objetivo uma carreira de modelo. Pelo menos, até que sua avó
apareceu e fechou essa linha de pensamento completamente. Naturalmente,
olhando para trás, sua avó poderia ter preferido que Cyn se tornasse uma modelo
em vez de uma policial, mas essa água passou há muito tempo sob a ponte.
Ela estava mais do que feliz em usar sua aparência quando podia fazê-la
trabalhar para ela, e esta era uma daquelas vezes. Uma bela, peituda, mas
desamparada, vestindo nada além de um biquíni, aparece na sua praia, e você é
um homem forte e capaz em uma profissão cujo treinamento enfatiza a proteção
dos fracos... o que você faz?
Cyn estava esperando que eles envolvessem seus braços fortes em torno
dela, lhe dessem uma toalha, e a convidassem para dentro para se aquecer. Talvez
até mesmo se oferecer para realizar CPR, embora ela esperasse que não chegasse
a isso. Ela realmente não queria ser uma bela vítima de afogamento, ela só queria
parecer uma.
— Você tem certeza sobre isso? — Robbie perguntou, enquanto tirava a
camiseta, deixando-a em nada além do biquíni.
— Tenho certeza — disse ela, tentando soar como se quisesse dizer isso. —
Apenas certifique-se de pegar minha sacola no jardim antes de Mal bater na porta.
Se eu acabar lutando com alguém, eu quero ter algo mais do que uma chave antiga.
— Essa chave ainda parece segura o suficiente? Porque nós podemos...
— Robbie, — ela disse, segurando seu pulso, que estava completamente
embrulhado em fita adesiva branca. Debaixo da fita estava a chave, que tinha sido
enroscada em um cabo à prova de água e, em seguida, enrolada ao redor e em
torno de seu pulso até que ela começou a se preocupar com a circulação na mão.
Mas entre as bobinas de corda e as camadas de fita segurando-a no lugar, a chave
estava segura, e isso era tudo o que importava.
Ela saiu para a plataforma de mergulho de barcos. — Raphael e eu
estaremos esperando por vocês, — ela disse a ele. — Não nos desaponte.
— Estaremos lá.
Ela deu-lhe um sorriso final por cima do ombro, depois mergulhou no
Oceano Pacífico e começou a nadar.
Capítulo 17
Noite Três – Malibu, California.

JURO ASSISTIU O monitor de segurança, enquanto Mathilde fazia uma


viagem curta do seu trailer até o portão da frente, acompanhada do seu último
vampiro sobrevivente. Aquele vampiro não era poderoso em nenhum sentido da
palavra, e Juro tinha certeza que Mathilde preferiria ter ao menos um único mestre
vampiro nas suas costas. Infelizmente para ela, isso era tudo que tinha sobrado.
Nada disso importava naquele momento, no entanto. Essa era a terceira
noite desde que Mathilde tinha anunciado sua intenção de desafio. Ela não estava
aqui dessa vez para exigir melhores acomodações ou um doador de sangue vivo.
Ela estava aqui para fazer um desafio final e declarar o território seu por perda,
desde que ela sabia muito bem que Raphael não estava aqui para responder.
— Ela está batendo de novo, — Juro disse.
— Vamos fazer ela esperar? — Jared perguntou do outro lado do quarto,
onde ele tinha apenas terminado a conferência por ligação com Anthony e Vincent.
Nenhum deles achava que os vampiros europeus iriam parar com o oeste. Se
Mathilde tivesse ou não sucesso em seu plano para tomar o território de Raphael,
os outros dois lordes vampiros que estavam com ela no Havaí tinham desaparecido
do radar de todo mundo na mesma noite que Mathilde tinha aparecido em Malibu.
Era uma aposta segura achar que eles tivessem delineados seus próprios planos
visando um ou mais territórios, mas ninguém sabia onde, e todo mundo estava
tentando estar pronto para eles.
— Isso importa? — Juro perguntou em resposta à pergunta de Jared.
— Você é sempre tão rígido, Juro, — Lucas disse, saindo da sala de
conferência como se não tivesse uma preocupação no mundo. — Eu tinha
esperanças de que uma boa mulher como Lucia iria iluminar um pouco você.
Juro virou e deu a ele um olhar sombrio.
Lucas levantou suas sobrancelhas em resposta. — Acho que não, — ele
disse levemente, então se jogou em uma das grandes poltronas giratórias ao redor
da mesa de conferência.
Juro sabia que Lucas era um bom lutador e um bom lorde para seu
território, mas o vampiro estava em seus nervos. Parecia que não havia nenhuma
situação grave o suficiente para o idiota ser sério.
— Então, o que a Lady Mathilde tem essa noite? — Lucas perguntou,
saindo da cadeira que ele tinha acabado de pegar. Ele andou e sentou ao lado de
Juro, assistindo o monitor enquanto a cena ao redor do portão se desdobrava. —
Além desse terrível gosto para roupas. — Ele disse fazendo uma careta. — Alguém
precisa mostrar a aquela vadia o calendário. O ano 1400 é tão ultrapassado. Ela
sempre se veste desse jeito?
Juro estudou a imagem de Mathilde na tela. Ele discordava de Lucas sobre
um monte de coisas, mas não sobre a escolha de vestido de Mathilde para essa
noite. Ela estava usando o mesmo tipo de estilo que usara quando se encontrou
com Raphael. O vestido era feito de um tecido brilhante em roxo real – não era uma
escolha casual de cor, Juro estava certo. Tinha um corpete apertado, babados,
mangas bufantes e uma saia cheia, que faria uma briga real impossível. Seu cabelo
loiro estava preso de uma maneira elaborada com grandes cachos pendurados
sobre seu ombro, e ela estava sorrindo diretamente para a câmera, sua expressão
era de triunfo, como se ela soubesse que eles estavam assistindo.
— Ela realmente acha que nós vamos ficar quietos e deixá-la valsar aqui?
— Ela provavelmente espera um desafio de mim ou de Jared, mas ela não
está preocupada conosco.
— Eu não tenho certeza se ela não deveria estar. — Lucas comentou
quietamente. — Qualquer um de vocês provavelmente poderia acabar com ela.
Juro fechou os olhos brevemente ao elogio, e a confiança que isso revelava.
Eram em momentos como esse que ele entendia a crença de Raphael em Lucas
como um amigo e aliado. O vampiro podia ser uma dor na bunda, mas quando o
empurrão vinha, ele era todo negócios, e sua lealdade era inabalável.
— Mas nós não queremos que ela saiba disso. Ela não deveria saber sobre
você também.
Lucas deu-lhe uma palmada nas costas, fazendo a mandíbula de Juro se
apertar em irritação. Ele odiava quando Lucas fazia isso, o que era provavelmente
o motivo dele continuar fazendo.
— Não se preocupe, grandão. Eu tenho isso. Deixe ela entrar na casa. Isso
fará ela sentir como se tivesse ganho alguma coisa, a fará mais receptiva quando
eu encenar a minha parte. Ela verá exatamente o que ela quer ver. Nosso único
problema será mantê-la fora da minha cama.
Juro não conseguiu impedir que o olhar de desgosto atravessasse o seu
rosto quando ele se virou para encarar Lucas. — Você está casado com Kathryn,
— ele lembrou a ele.
Lucas riu. — Eu não disse que eu vou deixar ela ir para minha cama, Juro.
Por Cristo, ela é como minha avó ou algo do tipo. Nojento. — Ele tremeu. — Eu
apenas disse que ela vai querer estar lá.
— Pare de atormentar todo mundo, — Kathryn Hunter brigou com Lucas,
entrando no quarto. — E sua cama já está preenchida. Permanentemente.
— E encantado eu estou minha, Katie, — Lucas cantarolou, atravessando
a sala para dar um beijo na sua parceira. — Devo apontar, no entanto, para vocês
que desconhecem minha proposta aqui, que meu objetivo aqui é desafiar a
reinvindicação de Mathilde, enquanto a encanto a fazendo acreditar que eu não
represento nenhuma ameaça real.
— Eu entendo bem o bastante, — Kathryn disse, apertando a bochecha
dele. — Mas sem toque.
Lucas sorriu, parecendo deliciado com a mostra de ciúmes de sua parceira.
— Eu disse ao guarda para deixá-la entrar. Ela está em seu caminho. —
Jared disse, interrompendo a troca alegre deles. — Não vai demorar agora.
— Bom, — Lucas disse, seu comportamento se tornando mortalmente sério
em um segundo, o que era tão típico dele. — Eu estou cansado de Mathilde e suas
demandas. É a hora dela jogar o nosso jogo agora.

****
Eles a encontraram no andar de baixo, na sala de recepção, não querendo
que ela sujasse o espaço privado de Raphael no andar de cima. Jared e Juro
estavam esperando, juntamente com os seus guardas de segurança, quando
Mathilde entrou como uma monarca conquistadora.
— Jared, Juro, — ela disse, suas narinas apertadas como se doesse respirar
o mesmo ar que eles respiravam. Seu olhar se levantou para a dúzia de vampiros
nas costas deles, qualquer um que poderia derrubar seu próprio lacaio com um
pensamento. — Os outros podem ir embora. Falarei com vocês e seu capitão mais
tarde.
Juro riu, trazendo um silvo indignado de Mathilde. — Eles não têm um
capitão, — ele explicou. — Eles têm a mim. E eu sou o chefe da segurança de
Raphael.
— Não por muito tempo, — ela bateu. — Onde está ele de qualquer maneira?
O tempo está correndo, e eu estou ficando impaciente para reivindicar meu novo
território.
— Reivindicar e ter são coisas diferentes, — Jared a lembrou. —
Simplesmente dizer isso não faz verdadeiro.
O poder de Mathilde subiu de repente preenchendo a sala, pressionando a
alma de Juro de uma forma que ele sabia que Jared também estaria sentindo.
— Eu não pedi lições da sua parte sobre como reivindicar um território,
Jared Lincoln. Eu era uma lorde bem antes de você ter nascido naquela plantação
da Geórgia. Ah sim, — ela continuou, — eu sei tudo sobre você, e você também,
Juro. De qualquer forma, onde está seu irmão gêmeo? Eu quero ver se vocês são
tão idênticos como eu ouvi falar.
Nenhum dos dois se incomodou em responder as provocações de Mathilde,
e especialmente a sua questão sobre Ken’ichi. Essa era uma estrada que eles
definitivamente não queriam ir com ela.
— Por que você está aqui, Mathilde, e por que as roupas? — Juro perguntou,
passando seu olhar pelo vestido extravagante.
O nariz de Mathilde foi para cima, olhando de cima para eles, mesmo que
cada um deles fosse, pelo menos, trinta centímetros mais alto que ela. — Eu acho
que é obvio até para vocês. Sendo um desafio formal a Raphael, Lorde do Oeste, de
acordo com a lei e tradição vampira, eu por meio dessa...
— Lady Mathilde, — a voz de Lucas interrompeu o anúncio dela.
Apenas sobre a linha, como de costume. Juro pensou. Lucas podia ter
entrado muito antes, mas não havia dúvidas de que ele tinha prazer em encenar
uma entrada dramática, isso reafirmava a opinião de Juro sobre ele.
Mathilde ofegou audivelmente, girando em um dos seus saltos para
confrontar quem quer que ousou interromper seu momento de glória. Quando ela
viu Lucas, sua primeira reação foi choque, seguida de perto por um distinto olhar
feminino de apreciação.
Juro franziu os lábios reflexivamente. Talvez Lucas estivesse certo sobre
Mathilde, depois de tudo. Ou Raphael estava, desde que tinha sido sua ideia usar
Lucas como segurança e distração.
— Lucas? — Mathilde falou, seu jovem rosto assumindo uma expressão de
flerte. Ela olhou para ele de cima a baixo. — Você ainda serve Raphael?
Lucas deu de ombros negligentemente, rondando mais de perto para
analisar Mathilde da cabeça aos pés. — Você parece amável, Mathilde. A idade te
fez bem.
— E a você, — ela quase ronronou. — A última vez que te vi, você ainda era
um jovem desajeitado. Um homem humano muito jovem.
— Vamos, não vamos jogar. Você deve saber que Raphael me transformou
anos atrás.
Ela inclinou sua cabeça, sorrindo. — Você está certo, claro. Eu não sou tola
o suficiente para desafiar Raphael sem checar seus amigos e aliados. Mas eu
também sei que você tem seu próprio território. Então, por que você está aqui?
Lucas virou suas costas para ela, atravessando a sala para cair levemente
em um dos elegantes sofás espalhados pelo quarto. — Meu tenente faz a maior
parte do trabalho do dia a dia, — ele disse sem constrangimento. — Coisas tediosas.
Eu apenas dou um pulo quando há alguma coisa que valha a pena.
— E Raphael aprova?
Lucas bufou um riso. — Eu sou um lorde vampiro, Mathilde. Eu não preciso
de sua aprovação mais.
— Isso não foi o que eu ouvi. Eu ouvi que vocês dois são como parceiros de
crime... ou amantes.
Lucas fez um som de reprovação. — Depois de todos esses anos, você ainda
tem ciúmes de mim e de Raphael. Você nunca vai superar isso, vai?
Mathilde enrijeceu. — Eu não tenho ideia...
— Você me queria. Ele me tinha. Simples assim.
— Por que você está aqui, Lucas? — Ela perguntou, fungando
delicadamente.
Lucas ficou de pé com um longo suspiro. — Eu estou aqui para um desafio,
seu desafio... bem, isso soa ridículo, não? Vamos fazer isso simples. Eu desafio o
seu direito sobre esse território. Você quer? Então lute comigo por isso.
— Você não pode lutar o desafio por Raphael, apenas Jared...
— Por favor, — Lucas disse, derramando a palavra sarcasticamente. — O
que nós somos, humanos, que brigam sobre quem tem o direito? Nós somos
vampiros, e vampiros tem uma regra e apenas uma regra. Pegue o que consegue
segurar. Você quer o território. Eu quero o território. Então nós brigamos por ele.
— Por que, quando você governa as Planícies por quase 200 anos?
— Eu gosto mais do tempo daqui. Além disso, você dificilmente é alguém
para reclamar sobre alguém já ter um território. Você tem um seu, conforme eu me
lembro.
— Você está me desafiando de verdade?
Lucas piscou. — Eu estou realmente. Embora, — ele olhou suas roupas
elegantes mais uma vez. — Eu estou disposto a esperar uma noite. Eu odiaria
arruinar um belo vestido. Aliás, tem uma festa essa noite na minha casa de sangue
favorita, e você sabe o que eles falam sobre as garotas da Califórnia.
Mathilde franziu a sobrancelha profundamente, e Juro pensou por um
momento que ela fosse recusar. Ou pelo menos recusar a dar uma noite a mais a
Lucas, que era o ponto principal desse pequeno drama.
— Muito bem, — ela disse finalmente. — Embora eu espere que você
pensará sobre isso no meio tempo. Eu preferiria que fossemos amigos do que
inimigos, Lucas, — ela murmurou, inclinando-se para perto dele. Se endireitando
mais uma vez, ela se virou para Jared e disse: — Eu vou, no entanto, permanecer
na casa até que isso seja decidido. Você providenciará acomodações adequadas...
— Não irei, — Jared disse, a interrompendo.
Ela o encarou. — Rafael está em omissão. Pelos direitos...
— Você não tem direitos nessa casa, Mathilde. O território não é seu ainda.
Lucas contestou seu desafio, e, francamente, eu preferiria ele do que você. Se você
ganhar, você pode organizar qualquer acomodação que você gostar. Tenha certeza
que nem eu ou a maior parte das pessoas de Raphael irão ficar aqui para ver qual
quarto você selecionou.
Juro esperou Mathilde explodir, para finalmente usar algum poder
considerável que ele poderia sentir a invadindo. Mas mais uma vez, ela recuou,
claramente mais preocupada sobre a luta em potencial com Lucas do que sobre ela
dormindo no trailer por mais um dia.
— É melhor você correr rápido, Jared Lincoln. Eu não vou esquecer disso.
Jared deu um negligente encolher de ombros, então gesticulou para sua
equipe de segurança. — Mostrem a Lady Mathilde o portão, por favor.
— Lucas! — Mathilde ordenou, como se esperasse que ele intervisse.
Mas Lucas apenas deu de ombros. — Ainda não é meu território, baby. Não
são minhas regras. Eu te vejo amanhã de noite. Vamos ser civilizados e fazer isso
às dez horas. Podem ter sobrado senhoras para entreter. Você entende, — ele
adicionou com uma piscada.
A boca de Mathilde franziu com desaprovação, sua saia de cetim agitando
no chão de mármore enquanto ela se virava para encontrar seis vampiros que se
aproximavam para a escoltar de volta para o portão.
Juro e os outros esperaram até ouvirem a porta da frente fechar na bunda
dela, em seguida o bater das portas do SUV, e o som dos motores se distanciando
do portão, antes de falarem.
— Isso foi divertido, — Jared disse secamente.
— Foi como o esperado, de qualquer jeito, — Lucas concordou. — Vamos
esperar que eu possa atrasá-la amanhã de novo se for necessário. Alguma palavra
de Cyn?
Juro suspirou. — Ken’ichi ligou. Eles estão se movendo essa noite.
— Quando saberemos se eles tiveram sucesso? — Lucas perguntou
firmemente.
— Espero que antes da manhã, mas com a diferença de hora... — Ele
balançou sua cabeça. — Talvez não até a noite de amanhã.
— Cyn pode ligar e deixar uma mensagem... — Lucas começou a dizer.
Mas Juro o interrompeu. — Se eles tiverem sucesso, Cyn terá coisas mais
importantes em sua cabeça. Eu pedirei a Robbie para fazer isso.
— Ele pode ligar para Kathryn. Me dê o seu número. Eu mandarei uma
mensagem a ele.
— Certo. Vamos subir, então. Nós temos que estar prontos... apenas no
caso.
— Não há com o que se preocupar, meu amigo, — Lucas disse confiante. —
Raphael vai estar aqui, amanhã ou na outra noite. E ele vai limpar o chão com
Mathilde.

****

Noite três – Honolulu, Havaí.


Cyn nunca havia se considerado uma boa atriz particularmente. Ela era
muito irritadiça para fingir que gostava de alguém que não gostava, muito
impaciente com a estupidez para ser... bem... paciente. Mas uma vez que ela
alcançou a areia atrás da casa de praia roubada de Mathilde, ela descobriu que
não havia necessidade de atuação. Ela estava realmente exausta. Aparentemente
toda aquela academia que Elke fez ela fazer diariamente, não a tinham preparado
para cem jardas a nado.
Ela cambaleou até a praia, então se forçou a continuar andando até ela
atingir a areia atrás da casa onde Raphael estava esperando por ela. O sol já estava
baixo no horizonte e o ar suave parecia frio na sua pele rapidamente fria. Suas
pernas e braços pareciam como borracha enquanto ela cambaleava para frente. Ela
finalmente se permitiu cair de joelhos, tremendo, esperando que alguém estivesse
vendo. Isso tudo seria por nada se ela não conseguisse entrar na casa. Dessa
distância, ela podia sentir a mente adormecida de Raphael procurando por ela. Era
uma sobra do seu usual, parecendo mais como um instinto do que um ato
proposital. Alguma parte dele sabia que ela estava perto e queria ela com ele.
— Eu estou indo, querido, — ela sussurrou, praticamente rastejando pela
areia até o gramado do quintal cuidado.
A grama era dura contra sua pele depois de tanto tempo no oceano, cada
folha como uma ponta sem corte de uma faca. Ela tremeu novamente,
chacoalhando tão forte que seus ossos doeram. Isso era mais do que uma reação a
temperatura do ar. Isso era seu corpo a lembrando que ela não tinha comido o
bastante por dias para manter sua temperatura interna depois de tanto esforço
físico. Ela não iria fazer nenhum bem para Raphael se ela não conseguisse se
aquecer logo.
Esse pensamento a levou de volta para seu pé, ela tropeçou em direção a
vista da casa.
— Hey! — Uma voz áspera de homem a assustou, a deixando cair em seus
joelhos mais uma vez. Ela se virou para o som, tirando o cabelo molhado de seu
rosto, e piscando enquanto um par de guardas se apressavam para frente. Era a
maldita hora.
— Ajuda, — ela disse, sua voz surpreendentemente fraca para suas
próprias orelhas. — Eu fui pega... — Ela tossiu violentamente, seu peito doendo
com o esforço.
— Mas que porra? — O segundo guarda a alcançou, um deles parado a
alguns centímetros, enquanto o outro veio aos joelhos perto dela. — De onde você
veio? — Ele perguntou, olhando para longe dela em busca na praia.
— Nadando. — Ela ofegou entre as tosses, então estremeceu quando outro
calafrio sacudiu seus ossos.
— Ela está congelando, homem, — o guarda próximo a ela falou para seu
companheiro. — Nós precisamos a levar para dentro.
— Nós não podemos fazer isso. Merda.
— Bem, nós não podemos deixar ela aqui para morrer, e nós não podemos
ligar para um médico exatamente.
Cyn segurou seu pulso firmemente, forçando-o a olhar para ela. —
Correnteza, — ela murmurou, mal capaz de sentir seus próprios lábios.
— É isso. — O cara moveu sua M4 ao redor, de modo que ela ficou em suas
costas, então levantou-a em seus braços. Ele se levantou relativamente tranquilo,
o que disse a Cyn que ela estava certa sobre esses caras. Eles não eram gordos,
fora de forma, farsas contratadas. Eles eram em forma e profissionais. E graças a
Deus, eles tinham um fraco por mulheres em biquínis afogadas.
— Não se preocupe, — ele disse a ela. — Nós a esquentaremos e a levaremos
de volta para seu hotel.
— Waikiki, — Cyn sussurrou, preenchendo o cenário.
— Eu te disse, — o cara disse ao seu amigo. — Nós vamos secá-la e dar a
ela uma carona. Sem mal, sem falta.
Dez minutos depois, Cyn estava sentada na cozinha da casa de família,
enrolada em várias toalhas grandes e com um copo de café na frente dela. Seu
socorrista tinha colocado açúcar em sua bebida escura, enquanto dizia que ela
precisava de energia. Ela não podia argumentar com isso. Outro dos guardas tinha
oferecido a ela um par de meias quentes e agora, quase todos os centímetros dela
estavam cobertos com alguma coisa. Eles estavam sendo tão bons, ela se sentiu
quase culpada. Culpada o suficiente para que esperasse que nenhum deles
morresse no tiroteio que se seguiria. Pelo que ela tinha ouvido da conversa deles e
de rádios unilaterais, não soava como se eles soubessem o que estavam guardando.
Eles pareciam apenas saber que tinha alguma coisa relacionada com vampiros,
mas não que alguém estava sendo mantido como prisioneiro. Era apenas alguma
coisa que os vampiros estavam guardando nos fundos da casa, onde eles estavam
proibidos de ir. De onde ela esta sentada, ela podia dizer que eles estavam
acampando na sala de estar aberta da família, e cozinhando suas refeições na
cozinha. Um conjunto de portas, que logicamente dizia a ela que levaria aos quartos
do outro lado da casa, estava fechada firmemente, e nenhum dos caras chegava
perto delas. Até mesmo as toalhas que eles enrolaram nela vieram de um grande
closet perto do banheiro de convidados.
Ela estava surpresa de saber que eles estavam vigiando a casa ao redor do
perímetro. Uma conversa murmurada entre seus socorristas, a maior parte
preocupada sobre ter ela fora da casa antes dos seus visitantes da noite chegassem,
confirmou que um novo contingente de vampiro aparecia toda noite logo após o pôr
do sol. Eles desapareciam dentro dos quartos de trás, os vampiros anteriores
surgiam e saiam sem dizer uma palavra, e era isso. Nenhuma saudação de
qualquer tipo, nenhuma informação trocada.
Mathilde estava aparentemente tão confiante do sucesso de seu plano, tão
certa que não teria nenhuma tentativa de resgate que ela não se incomodou com
uma força de segurança vampira. Claro, isso podia ser porque ela não tinha mais
vampiros de sobra para o trabalho, que toda sua força tinha que se concentrar em
simplesmente conter Raphael. Ou, talvez, ela estava contando com seus espiões no
aeroporto para alertar os vampiros locais se alguém ameaçasse aparecer.
Uma coisa parecia clara. Mathilde nunca nem considerou a possibilidade
que os salvadores de Raphael já estivessem na ilha, que eles estavam aqui quando
ele tinha sido pego, e que eles estavam esperando para resgatá-lo desde então.
— Você está se sentindo melhor, senhorita? — Seu bom samaritano original
perguntou.
Cyn concordou, segurando sua caneca de café com as duas mãos para
impedi-la de chacoalhar, enquanto ela tomava outro gole fortificante.
— Qual é seu nome? — Ele perguntou.
— Adela, — ela disse, tendo antecipado a pergunta. Era o nome da sua avó.
A velha mulher era dura como unhas.
Ele tocou a fita amarrando seu pulso. — O que é isso, Adela?
Ela puxou de volta sob a toalha, se recusando a encontrar os olhos dele,
como se estivesse envergonhada. — Eu machuquei meu pulso, — ela disse a ele,
intencionalmente soando defensiva, esperando que ele pensasse que ela tentou
machucar a si mesma. — Eu queria ir nadar, então meu companheiro de quarto
amarrou a bandagem desse jeito. Fita adesiva, — ela disse, fazendo uma piada
fraca. — Isso pode arrumar qualquer coisa.
Ele estudou seu rosto, como se tentasse decidir se prosseguia a questão do
seu chamado “machucado”, mas então ele deu a ela um olhar resignado, e disse:
— Onde você está ficando, Adela? Assim que você estiver... — Ele parou assim que
a sirene da polícia perfurou a tranquilidade do bairro.
Seu companheiro apareceu de repente na soleira da porta entre a sala de
estar e a entrada da cozinha. — Você chamou a polícia?
— Foda-se, não.
O companheiro encarou Cyn suspeitosamente.
— Jesus, homem, olhe para ela. Ela não ligou para ninguém.
— Tudo bem, fique aqui. Mantenha ela quieta.
Seu salvador sentou perto dela, e Cyn deu a ele um olhar preocupado. —
Policiais? — Ela perguntou
— Não se preocupe, — ele assegurou a ela. — Nós lidaremos com isso.
Cyn ouviu a voz de um homem na porta da frente e deu outro olhar ao seu
salvador. Ela ficou em pé, deixando a toalha cair. — Eu devia ir, — ela disse,
atirando olhares nervosos entre a porta e a saída de trás. — Eu não quero policiais
envolvidos.
— Hey, não é um problema. Meu amigo vai...
Um único tiro foi ouvido da frente da casa.
— Mas que porra? Fique aqui! — o guarda correu para frente da casa,
rodando sua M4 para ficar já na posição enquanto ele ia.
Cyn esperou até ele desaparecer na entrada, então se apressou através das
portas de vidro e nas sombras crescentes de um jardim japonês. Recuperando a
mala que Robbie tinha deixado ali para ela, ela só teve tempo suficiente para
procurar dentro do bolso lateral e pegar sua Glock, então levantou a bolsa sobre
seus ombros e deslizou de novo para dentro da casa, indo diretamente para as
portas duplas fechadas que levavam para os quartos do fundo. Se o guarda
voltasse, ele, esperançosamente, assumiria que ela tinha ficado nervosa e ido
embora. Entretanto, se as coisas fossem de acordo com o plano, ele não estaria
voltando para ela.
Estava escuro na parte de trás da casa, mofado com desuso, e frio, como se
estivesse fechada por um tempo. Ela parou por um momento, deixando seus olhos
se ajustarem, antes de se mover rapidamente para a primeira porta aberta e
esquivar-se para dentro. Era um pequeno banheiro – um chuveiro, um vaso, e uma
pequena janela com a sombra desenhada. Deixando cair sua bolsa no chão, ela se
agachou e puxou um silenciador, o colocando em sua Glock sem olhar enquanto
ela escutava o profundo silêncio nessa parte da casa. Colocando a agora silenciosa
Glock no chão, ela pegou sua camiseta, que ela tinha usado mais cedo, antes de
começar seu longo nado, e colocou-a pela sua cabeça. Ela não se incomodou com
mais nada. Roupas não eram exatamente a prioridade no momento. Ela não sabia
nada sobre os vampiros atualmente vigiando Raphael, ela não sabia quão fortes
eles eram ou quão logo após o pôr do sol eles iriam acordar. Mas ela sabia que o
pôr do sol estava malditamente perto e ela precisava pegar Raphael primeiro.
Ela deslizou o aparelho e seu comunicador deu dois cliques.
— Ocupado aqui, Cyn, — Robbie murmurou.
— Eu estou dentro. Tente não matar esses caras. Eles estavam apenas
fazendo o trabalho.
— Eu vou fazer meu melhor. Boa sorte. — Robbie disse, e então ele se foi, e
Cyn estava sozinha.
Que era como ela gostava. Ela removeu o aparelho, o desligou, e o colocou
na bolsa. Ela não queria que ninguém ouvisse o que aconteceria entre ela e
Raphael.
Empurrando a bolsa em um canto, e agradecendo as meias quentes que
ainda cobriam seus pés, ela começou a andar pelo corredor longo e escuro, usando
a lanterna de LED segura em baixo do cano da sua Glock. Havia várias portas,
todas fechadas. Ela parou, e abriu cada uma, checando como uma questão de
rotina, mesmo que cada célula do seu corpo estava a atraindo para as portas
duplas no fim. A suíte máster. Aquele era o lugar que eles tinham colocado
Raphael. Uma homenagem zombeteira ao seu poder? Ou simplesmente um lugar
conveniente para empurrá-lo, o quarto mais longe da porta da frente, o maior
quarto para ele seus vampiros vigilantes.
Cyn abriu a porta. Um quarto – cama de casal, criados mudos, uma cômoda
baixa. Ninguém ali. Ela podia ouvir a briga na parte da frente da casa, vozes roucas
de homens gritando um de volta para o outro, então dois tiros de uma arma. Seu
interior se apertou. Ela não queria ninguém machucado, mas especialmente não
Robbie ou Mal.
Ela não poderia se preocupar com isso, no entanto. Seu trabalho estava
aqui. Com Raphael.
Ela parou diante das portas duplas, ouvindo por uma armadilha. Ela
poderia jurar que ela podia ouvir o coração de Raphael batendo, mas provavelmente
era apenas o dela mesma. Usando a lanterna de LED, ela examinou cada pedaço
do batente. Não achando nada, pelo menos nada que ela pudesse detectar, ela pôs
sua mão na maçaneta e a girou.
Ela segurou uma respiração, enquanto abria a porta. Se o ar no corredor
tinha sido bolorento, aqui era rançoso. Sangue velho, suor, e cheiro de corpos não
lavados. Seu coração apertou com dor, e também com raiva silenciosa, novamente,
por terem ousado tratarem Raphael assim.
Ela procurou pelo quarto, seus olhos indo para a grande cama contra a
parede mais distante e para a figura imóvel deitada ali. Raphael. Estava muito
escuro para realmente ver seu rosto, mas seu coração disse a ela o que seus olhos
não podiam ver.
Ela queria se apressar até ele, mas se forçou a se mover cautelosamente.
Ela considerou ligar a luz. Nenhum dos vampiros iria notar a diferença. Mas ela
não sabia como estava à batalha do lado de fora do quarto, e não queria avisar sua
presença, apenas no caso.
Movendo o raio estreito da lanterna ao redor da sala, ela contou quatro
vampiros inimigos. Três estavam no chão entre ela e a cama. Eles tinham puxado
as almofadas do sofá e das cadeiras para se deitarem, e estavam realmente
dobrados em sacos de dormir. Isso era uma festa do pijama. Que doce.
O quarto vampiro estava na cama com Raphael, uma fêmea deitada do lado
da cama mais perto da parede, que tinha uma porta de vidro de correr atrás da
cobertura das cortinas que iam do chão até o teto. Essa porta levaria ao quintal e
para a praia.
Cyn diminuiu a lanterna, deixando seus olhos se adaptarem a pouca luz
provida das várias LEDs dos visores e computadores, e a luz azul brilhando do
despertador. E quando seus olhos se ajustaram, ela estudou os vampiros inimigos
no chão e na cama. Vampiros tinham a regra não escrita, um acordo de cavalheiros,
contra enviar assassinos humanos para matar uns aos outros durante as horas da
manhã. Algum vampiro há muito tempo atrás que ninguém lembra quando, tinha
percebido que se eles permitissem se matarem durante a luz do dia, a raça dos
vampiros não duraria muito. Depois de tudo, uma vez que você desse a um humano
a permissão de matar um vampiro em seu nome, o que o pararia de matar em seu
próprio nome?
Cyn estava muito consciente dessa regra. Era uma que Raphael jamais
quebraria. Nem mesmo Jabril ou Klemens – dois dos vampiros mais sem regras
que ela conheceu – tinham cruzado essa linha.
Mas ela não era vampira. E ela tinha quatro inimigos parados entre ela e
seu companheiro. Quatro vampiros que ela tinha que eliminar antes dela poder
devolver a ele o que eles tinham levado embora... literalmente o sangue em suas
veias.
O que foi que Ken’ichi tinha falado? Que eles não precisavam matar todos
os cem vampiros que estavam prendendo o poder de Raphael. Eles apenas
precisavam tirar um ou dois. E Gardet tinha dito a Ken’ichi que os vampiros
guardando Raphael no lugar seriam o foco para todos os outros.
A chave em seu pulso tinha o poder de soltar o corpo de Raphael das
algemas que drenavam seu poder. E ela sabia agora que tinha o poder para libertar
sua mente. Tudo que ela precisava fazer era matar quatro vampiros enquanto eles
dormiam, e Raphael iria acordar, verdadeiramente livre pela primeira vez desde que
ele foi pego.
— Foda-se, — ela disse para os vampiros dormindo. — Vocês não deviam
ter mexido com meu amado.
Ela andou para o primeiro vampiro dormindo no chão, puxou para trás o
saco de dormir aberto e colocou três buracos de Hydra-Shok diretamente em seu
coração. Antes mesmo dele virar poeira, ela tinha se movido para o próximo
vampiro. Ele estava dormindo no topo do seu saco, rosto para baixo. Nenhum
problema. As costas funcionavam tão bem para um tiro no coração quanto a frente.
Talvez até melhor. Ela colocou sua Glock um centímetro de suas costas, apenas
ligeiramente à esquerda de sua espinha, e atirou três vezes rápidas, as balas
estouraram através de seu coração e meio que todo o resto em seu caminho até o
outro lado. Ele se tornou poeira quase completamente antes mesmo dela se
levantar e se mover, o que lhe disse que ele era um vampiro velho. Uma pena ele
não ter aprendido a escolher seus amigos, ou inimigos, melhor.
O terceiro vampiro tinha evitado qualquer tipo de almofadas, e estava
simplesmente esticado no chão, seu saco de dormir fechado completamente sobre
sua cabeça. Como se talvez ele estivesse com medo que o sol iria estourar através
da janela e ele seria exposto, intencionalmente ou por outro motivo. Infelizmente
para ele, o sol não era o inimigo essa noite, e sua Glock não se importava se o sol
estava no céu ou não. Ela puxou o pesado zíper do saco para baixo e deu a ele o
mesmo tratamento dos outros. Três furos no coração, e ele era uma pilha de poeira
em um saco de refriamento rápido.
Cyn rondou a cama, encarando a vampira fêmea dormindo na cama com
Raphael. Essa merecia algo especial. Cyn teria gostado de esperar por essa abrir
os olhos, então a vampira poderia ver a morte esperando. Mas o amor de Cyn por
Raphael era muito mais forte do que seu ódio. Então ela se conformou em arrancar
a fêmea adormecida da cama, tendo prazer com o som de sua cabeça batendo no
chão de madeira antes de Cyn atirar até destruir seu coração e terminar com sua
longa vida em uma pilha de poeira.
Cyn ergueu a cabeça no repentino silêncio, o zip dos tiros silenciosos ainda
repetindo em sua mente enquanto se virava para olhar para Raphael, sentindo-se
congelar no lugar. Depois de todas as noites e dias cheios de medo, ela estava aqui.
Um soluço escapou de sua garganta, e ela pôs as costas de sua mão sobre sua
boca, a Glock ainda apertada em seus dedos.
Estava tão quieto. A luta tinha morrido no resto da casa. Parte do seu
cérebro registrou que Robbie e Mal deviam ter ganhado, porque ninguém estava
entrando no corredor para afastá-la de Raphael. Sua mandíbula apertou. Ela
mataria qualquer um que viesse através daquela porta. Ninguém estava tirando-o
dela de novo.
O pensamento a induziu a agir. Colocando sua Glock em cima do criado
mudo, ela subiu na grande cama e rastejou até Raphael, chocada com o que ela
viu. Ele estava tão magro, tão quieto. As bordas saltadas de suas maçãs do rosto,
normalmente lindas, lançavam sombras magras em seu rosto pálido, o osso
esticando contra a pele esticada demais. Seus lábios sensuais estavam secos e
finos, como se ele estivesse completamente desidratado, e suas belas e grandes
mãos estavam apenas ossos e juntas enquanto estavam cruzadas em seu peito.
Ela acariciou seu rosto amado, tirando o cabelo sujo da sua testa. Raphael
ficaria tão nervoso. Ele amava seus banhos, especialmente com ela neles, e ele
odiava ficar sujo. Ele disse que isso o lembrava dos anos que ele passou na fazenda
de seu pai antes de ser transformado em vampiro. A visão dele desse jeito a fez ter
lágrimas queimando por trás da sua garganta, mas ela as engoliu. Ele não precisa
das lágrimas dela. Ele precisava da sua força. Ele precisava da Cyn que o resto do
mundo via todo dia.
Ela sentou em seus calcanhares, tirou a fita de seu pulso, encontrando a
tira minúscula da faixa dobrada que deixou ao envolvê-la, então ela poderia tirar a
faixa sem precisar de algo afiado. Cavando as unhas na tira para segurar melhor,
ela começou a desenrolá-la, volta após volta em seu pulso. A água salgada era
implacável. Então eles usaram muita fita adesiva.
Cyn finalmente conseguiu tirar a fita à prova d’água e puxou-a do seu pulso,
desembaraçando o cordão até finalmente segurar a chave. A Chave Âmbar de
acordo com Nick. A chave para as algemas mágicas que pareciam velhas, mas
ordinárias algemas que agora ela estava perto o bastante para ver. Cruzando seus
dedos, esperando que Nick não estivesse completamente louco, ela procurou pelos
pulsos cruzados de Raphael, recuando com o toque frio de metal que queimou seus
dedos.
— Merda! — Ela puxou sua mão instintivamente. — Maldita mágica, — ela
murmurou. Aparentemente Nick sabia sobre o que ele estava falando. Ele tinha
algumas explicações para dar quando isso tudo tivesse terminado.
Aproximando-se de Raphael de novo, ela estendeu a mão e colocou a chave
no encaixe em torno do pulso direito dele. Ela não tinha certeza do que estava
esperando enquanto as algemas caiam, mas quando os segundos passaram e nada
mais aconteceu, ela quase ficou desesperada. Porque ela não pegou mais detalhes
de Nick quando ela teve chance?
Ela espremeu seus dedos tão apertados ao redor da maldita chave que os
pedaços de âmbar ainda agarrados ao metal cortaram seus dedos. Sentindo os
pequenos cortes, ela tocou distraidamente o cordão ao redor de seu pescoço,
imaginando o que mais ela poderia fazer quando de repente Raphael... respirou.
Ele respirou como um homem que não tinha enchido seus pulmões com ar
em um longo tempo, seu peito se expandindo, profunda inalação que ele soltou
apenas para sugar outra. Cyn se aproximou, até ela poder tocar seus lábios no
dele.
— Raphael? — ela sussurrou, seus dedos ao redor de suas bochechas
enquanto ela beijava seu rosto todo gentilmente, experimentando suas lágrimas na
pele dele, as lágrimas que ela não podia mais segurar.
De sua mochila, todo o caminho pelo corredor calmo onde ela tinha deixado,
veio o único som que ela tinha deixado ativado no telefone descartável de hoje... O
som triplo de um alarme. Pôr do sol.
Os olhos de Raphael se abriram, um brilho maçante de prata no quarto
escuro, sua luz uma fração do que costumava ser.
— Raphael? — Ela conseguiu sussurrar de novo.
E então suas presas rasgaram suas gengivas, e ele estava sobre ela. Suas
mãos magras estavam dolorosamente fortes quando agarraram seus braços e a
atiraram na cama, rolando seu pesado corpo em cima do dela em um movimento
único, ardentemente rápido.
Não houve finura em sua mordida, nenhuma sensualidade, nenhum ajuste
sensual de sua veia, sem mordidinhas ou beijos. Ele pegou seu cabelo em uma
mão, a outra estava em seus ombros, então esticou seu pescoço e afundou suas
presas na veia dela.
Isso doeu. Cyn queria gritar enquanto sua pele se abria, e sua veia
eraperfurada. Mas Robbie estava provavelmente dentro da casa agora, e ela sabia
que se ele ouvisse seu grito ele viria correndo. E Raphael iria matá-lo. Então ela
virou sua cabeça mais e afundou seus dentes no pulso de Raphael.
Raphael resmungou quando seu sangue correu na boca dela, um som
primitivo que estremeceu através de seu corpo enquanto suas presas foram ainda
mais fundo, segurando-a em seu lugar como um animal clamando sua presa. Ou
seu parceiro.
Sem aviso, a euforia natural em sua mordida inundou seu sistema,
movendo-a da dor para o êxtase no espaço de um suspiro. Ela gritou quando o
orgasmo se agarrou em seu corpo, suas costas se curvando sobre o peso de
Raphael, o sangue em suas veias aquecendo enquanto o prazer sensual passou por
ela em grandes ondas de desejo.
Raphael alcançou entre eles para rasgar a faixa fina de tecido que
compunha a metade inferior do seu biquíni. Cyn ouviu o raspar de seu zíper. Ele
agarrou sua coxa e a empurrou aberta um momento antes dela sentir a forte
pressão da sua ereção, e então ele a estava fodendo, suas presas ainda enterradas
em sua veia, seu pênis batendo para dentro e fora sem nenhum sentimento,
nenhuma sedução, nenhum cuidado com ela. Ele era vampiro. Ele queria sexo e
sangue, e ela estava disponível.
O coração de Cyn estava batendo selvagemente, uma combinação de pura
luxúria e terror, levando sangue pelo seu corpo, inchando suas veias enquanto
Raphael continuava a beber, parecendo sugar mais forte a cada momento. Ela
podia sentir cada onde que ele tirava do seu sangue, podia sentir seu corpo ficando
mais fraco enquanto a euforia da saliva dele passava, deixando-a com mais dor do
que êxtase. Ela gritou, mas Raphael apenas grunhiu possessivamente, seus dedos
em seu ombro com uma mão, a outra arrancando as raízes de seu cabelo.
Ela disse a si mesma que era Raphael, que ele nunca a machucaria. Mas
esse não era seu Raphael. Essa era a besta interior, a parte dele que foi levada a
sobreviver a qualquer custo, fazer qualquer coisa, mesmo se isso significasse
drenar a mulher que ele amava.
Cyn ergueu a mão, derrubando-a debilmente sobre a nuca dele,
acariciando-o ali, acariciando-o suavemente, lembrando-o de quem ela era. Quem
eles eram. E ela se segurou na crença de que ele nunca a machucaria, repetindo
isso como uma prece, até que a escuridão roubou seus pensamentos e não havia
mais nada.

****

— Cyn. — A voz profunda de Raphael estava dizendo seu nome. Ela sorriu.
Ela amava sua voz, amava o som do seu nome na boca dele.
— Lubimaya, — ele sussurrou, seus lábios contra a sua orelha, seu hálito
quente sobre sua pele. — Beba, — e ela sentiu o gosto quente do sangue dele em
sua língua. Ela quase se virou. Ele tinha a mordido mais cedo, e ele quase a atacou.
E houve dor. Tanta dor. Mas o sangue encheu sua boca, a forçando a engolir ou
engasgar, então ela engoliu e quase rosnou quando cada nervo do seu corpo
pareceu vir a vida em um instante, surgindo com calor, tremendo com desejo. Ela
lambeu seus lábios e achou a boca de Raphael tão perto dela que ela lambeu seus
lábios também.
— Raphael, — ela sussurrou, quase com medo de dizer qualquer coisa,
medo que isso fosse apenas outro sonho e se ela falasse isso iria se estilhaçar.
— Minha Cyn, — ele murmurou, beijando-a gentilmente. — Me perdoe.
Ela rolou sua cabeça em negação. — Pelo o quê?
— Eu poderia ter te matado, — ele disse, sua voz sombria quase em
desespero.
— Eu sabia que você pararia a tempo, — ela insistiu, escolhendo esquecer
suas próprias lágrimas, para dizer a ele o que ele precisava ouvir. — Você nunca
me machucou.
— Deuses, eu senti sua falta. — Ele murmurou, pressionando-a contra a
cama, colocando seu quadril entre as coxas dela, balançando devagar enquanto
seus lábios trilhavam sua mandíbula.
Esse era Raphael, seu amor, seu companheiro.
Cyn dobrou uma perna, enrolando ao redor das costas dele, o roçar de seu
terno contra sua pele macia lembrando-a que ela estava dolorida e inchada, seu
sexo nu e gotejando com a libertação anterior dele. Mas ela ignorou tudo isso. Ele
precisava saber que ela o amava, que ela desculpava qualquer coisa que ele tivesse
feito quando ele acordou pela primeira vez.
Que não havia nada para desculpar.
Raphael grunhiu e se colocou em sua vagina inchada, antes de
repentinamente puxar com as duas mãos o fino tecido da camiseta dela e rasgá-lo
no meio, mostrando seus seios no minúsculo biquíni. Seus olhos se iluminaram de
desejo quando ele soltou o cordão fino segurando seu top no lugar. O tecido caiu
de seus peitos nus, e Raphael sibilou de prazer. Ele fechou a boca sobre a ponta
de um peito, sugando até que seu mamilo fosse apenas um centro carnudo de
prazer, suas presas provocando a delicada carne de seu peito até que elas se
fechassem sobre a ponta inchada. Raphael cantarolava avidamente enquanto
sugava seu sangue, mas Cyn só podia gritar, pressionando uma mão contra sua
boca para se silenciar enquanto uma facada de dor erótica disparava da ponta de
seu peito diretamente para seu sexo. O calor jorrava entre suas coxas, seu clitóris
pulsava no desejo como pulsava o tempo no seu coração
— Baby, baby, — ela disse suavemente, lágrimas rolando em suas
bochechas. — Eu senti tanto sua falta.
A resposta de Raphael foi mergulhar seus dedos entre suas coxas para
acariciar as dobras inchadas de sua vagina, deslizando no creme de sua excitação.
— Molhada, — ele rosnou, então empurrou dois dedos profundamente em
seu corpo, provocando-a com movimentos lentos para dentro e fora, enquanto seu
polegar circundava seu clitóris, roçando o suficiente para fazê-la gritar com
necessidade, para tê-la empurrando contra a sua mão para exigir mais.
Raphael levantou a cabeça de seu peito, soprando suavemente contra a
carne molhada, deixando-a desolada, até que ele mudou sua atenção para seu
outro seio, raspando suas presas sobre o mamilo dolorido, mordendo apenas o
suficiente para extrair mais sangue, atormentar Cyn com outro choque de euforia
que mudou a dor para o desejo crescente.
Cyn raspou seus dedos na parte de trás da cabeça dele e por cima de suas
costas, cavando sob o casaco do terno que ele ainda usava, puxando sua camisa
até que ela tivesse pele, então cavou as unhas até que ela estivesse tirando algum
sangue.
Raphael sibilou, então alcançou entre eles para pegar seu pênis e empurrá-
lo profundamente em sua vagina. Eles gemeram em uníssono quando o calor dela
o cercou, seus músculos internos apertando sobre seu pênis, acariciando-o
enquanto ela se esticava para acomodar seu tamanho, enquanto seu corpo o
recebia.
— Foda-se, você é tão boa, — ele sussurrou, repentinamente imóvel, seu
comprimento duro enterrado tão profundo dentro dela quanto poderia estar.
Cyn sentiu a flexão de seu pênis e apertou seus músculos internos,
apertando e soltando.
Raphael xingou e começou a se mover quase freneticamente, empurrando
seu pênis até as bolas, então saindo e batendo dentro dela de novo e de novo.
Cyn enrolou as duas pernas nas costas dele, o segurando tão perto quando
ela poderia, seus braços sobre os ombros dele, seu rosto enterrado em seu pescoço,
querendo dar a ele qualquer coisa que ele precisasse para acreditar que ainda era
Raphael, o mais poderoso vampiro na América do Norte, o Lorde do Oeste, seu
amante, seu parceiro, seu amado.
Que nada tinha mudado. Que ele estava livre.
Raphael desabou sobre Cyn, seu coração batendo tão forte que ela podia
ouvi-lo, podia senti-lo trovejando entre seus corpos. Sua língua saiu para lamber
preguiçosamente as poucas gotas de sangue em seu pescoço, sua respiração
quente contra sua pele suada. Ele não tinha relaxado seu aperto sobre ela – uma
mão segurava seu traseiro, matendo seus quadris contra ele, enquanto a outra
ainda estava enfiada em seus cabelos. Embora suas pontas dos dedos agora
acariciassem gentilmente seu couro cabeludo, suas raízes não estavam mais em
perigo.
Cyn desejou que eles estivessem em algum outro lugar, algum lugar seguro,
onde eles poderiam deitar juntos por quanto tempo quisessem. Fazendo amor,
beijando e saboreando, e fodendo também. Até dormirem nos braços um do outro.
Infelizmente, não era assim. Raphael estava de volta, mas seus inimigos
continuavam vivos.
Não haveria descanso para eles também essa noite.
Raphael suspirou, como se lesse seus pensamentos.
— Eu pensei ter ouvido uma briga mais cedo, — ele disse, rolando para
suas costas e colocando-a sobre seu peito. — Quem era?
— Robbie estava comigo, e um policial local chamado Maleko Turner.
Ken’ichi e Elke estão provavelmente na cena agora, também, ou eles estarão logo.
Eu não tenho certeza de que horas são.
— E os outros?
— Juro está em Malibu, como você queria. Mathilde está lá, fingindo te
desafiar, embora esta noite, ela alegou que você já perdeu por não aparecer. Mas
Lucas entrou e fez seu desafio. Ele está planejando...
Raphael cobriu sua boca com um beijo. — O bastante, lubimaya. Eu
entendo. E quanto aos outros, aqueles que Mathilde reuniu para me conter?
— Eles estão a um par de quarteirões daqui, esperando para morrer.
Raphael sorriu orgulhoso. — Minha Cyn. Eu sabia que você enganaria todos
eles.
— Essa sou eu. Embora tenha sido muito fácil enganar Mathilde. Ela nunca
nos viu chegando.
Raphael ficou quieto, como se estivesse escutando. Cyn sabia o que isso
significava. Ele estava estendendo a mão e tocando seus filhos, os vampiros que
ele criara. Em algum lugar de Malibu, Juro e os outros se regozijariam com essa
prova de sua liberdade, e restabelecimento de laços com seu Criador, laços que
haviam sido abafados por seu cativeiro, mas nunca quebrados.
— Ken’ichi e Elke estão esperando do lado de fora, — ele disse a ela.
Ela assentiu, não surpresa. — Ken'ichi disse que a casa de Mathilde era
sua para destruir, que não podíamos...
Ele deu a ela um olhar preguiçoso de um predador no ápice. — Ken’ichi está
certo.
— Eles não terão ido embora já? Eu quero dizer, se eu fosse eles, eu teria
corrido para as montanhas assim que...
— Você assume que eu permitiria tal coisa. — Ele se moveu rapidamente,
se sentando e então se levantando, levando-a com ele até que os dois estivessem
em pé perto da cama. Raphael se esticou, endireitou as roupas, enfiou o pênis de
volta nas calças do terno, depois fechou o fecho e afivelou o cinto.
Cyn examinou suas próprias roupas rasgadas. A camiseta era uma perda
total, mas ela deu um jeito de amarrar de volta vários pedaços de seu biquíni.
— Você tem outras roupas? — Raphael perguntou, olhando seu corpo quase
nu não muito feliz.
— No SUV que Robbie está dirigindo.
Raphael tirou a jaqueta, segurando-a enquanto ela deslizava os braços para
dentro das mangas, depois puxou as lapelas fechadas sobre o peito. Ficou muito
grande nela, mas estava quente, o forro de seda era macio, e era de Raphael. Então
ela enrolou as mangas, depois pegou sua Glock da mesa de cabeceira e
desenroscou o silenciador, colocando-o no bolso da jaqueta.
Ela se virou para a porta, mas Raphael puxou sua mão, enfiando seus dedos
nos dela enquanto a puxava para perto.
— Ainda não, lubimaya. Nós merecemos mais um momento juntos. Você e
eu. Venha.
— Eu já fui, — ela murmurou. — Três vezes, pelo menos.
Raphael soltou uma risada muito masculina, muito presunçosa. — Por
aqui, — disse ele, empurrando as cortinas pesadas e abriu a porta de vidro
deslizante, quebrando a fechadura sem sequer pensar nisso.
Oh, sim. Raphael estava de volta.
Ele segurou sua mão firmemente enquanto caminhavam sobre a grama
úmida, indo para a faixa de praia. O oceano era uma onda constante de som, a
ressaca uma dilatação suave de água para a costa e volta novamente. Raphael ficou
parado ali, com a mão segurando-a do seu lado, a cabeça jogada para trás
enquanto bebia o luar e o ar fresco e salgado. Seus olhos se fecharam brevemente,
e ele a puxou para um apertado abraço, ambos os braços a segurando contra seu
peito.
Cyn prendeu seus braços ao redor das costas dele, mais lágrimas rolando
por suas bochechas, molhando sua camiseta. Ela estava tão malditamente feliz de
ter ele de volta e seguro.
— Sem mais lágrimas, minha Cyn, — ele disse suavemente. — Nossos
inimigos ainda respiram.
Ela assentiu, esfregando seu rosto contra a camiseta dele, antes de se
afastar e olhar para ele.
— Robbie e os outros estão prontos para se moverem. Eles apenas estão
esperando uma palavra.
— A palavra está dada, minha Cyn. É hora de lutar de volta.

****

Raphael teria preferido pegar a rota pelo lado de fora da casa, mas Cyn
precisava pegar sua bolsa que ela tinha deixado no banheiro de convidados, e ele
não a queria naquela casa sozinha. Ele sabia que sua preocupação pela segurança
dela não era totalmente racional, mas ele tinha sofrido demais naquele lugar para
confiar em qualquer coisa a respeito dele. Se ele tivesse seus poderes ele teriam
queimado a coisa toda, mas enquanto ele podia ser irracional quando se tratava de
segurança Cyn, sua prisão não o privou de senso comum. Queimar a casa atrairia
atenção não desejada, e Mathilde já tinha feito muito disso com seus cem
homicidas que haviam matado humanos e deixado os corpos na rua.
O objetivo de Raphael era único neste ponto. Queria matar cada vampiro
que tinha alguma coisa a ver com o esquema de Mathilde. E então ele iria voar de
volta para Malibu e matar a cadela que pensou que poderia roubar seu território e
suas pessoas.
Enquanto ele e Cyn se dirigiam para a porta da frente, ele se demorou sobre
as formas imóveis dos quatro guardas humanos que haviam providenciado
segurança para a casa. Um tinha sido baleado no braço. A ferida tinha sido
enfaixada, mas o cheiro do sangue fresco fez suas presas doerem enquanto
pressionavam contra suas gengivas. Tinha passado muito tempo sem sangue. Ele
tinha bebido profundamente de Cyn, mas a coisa que o fez vampiro, o simbionte
em seu sangue, queria que ele bebesse ainda mais. Não era mais racional do que
sua preocupação com a segurança de Cyn na casa vazia, mas era instinto. Assim
como um humano morrendo de fome iria acumular comida, seu corpo também
queria acumular sangue.
— Eles nem ao menos sabiam que você estava aí, — Cyn disse, chegando
peto dele, onde ele estava de pé sobre os humanos inconscientes. — Eu disse para
os caras que fossem com armas de choque se pudessem.
Ela fez um pequeno som de dor, e ele percebeu que estava apertando sua
mão.
— Eu sei que você quer matar todos envolvidos, mas esses caras são
inocentes, Raphael.
Ele virou o olhar para ela, vendo os círculos negros debaixo de seus lindos
olhos verdes, a exaustão roubando a cor usual de seu rosto. Mas, então, ela sorriu
para ele, e ele viu mais. Triunfo por ter frustrado o plano de Mathilde, determinação
para ver seus inimigos destruídos, e brilhando mais brilhantemente do que
qualquer outra coisa... seu amor por ele.
— Como você diz. No entanto, vou garantir que eles não se lembrem do que
aconteceu neste lugar, e que quando acordarem, o único pensamento deles será ir
embora.
Cyn assentiu. — Vamos. Robbie e os outros devem estar esperando por nós.
Raphael passou o olhar por suas pernas nuas, seu corpo meio nu coberto
apenas por sua jaqueta enrugada. — Você disse que tem roupas no veículo?
Ela riu, e foi como se ele não tivesse ouvido aquele som há cem anos. Ele
passou um braço em torno de sua cintura e puxou-a contra seu peito, tomando
sua boca e bebendo a risada de seus lábios. Ela respondeu como sempre, com os
braços em volta do pescoço, os lábios se abrindo ansiosamente sob o dele enquanto
suas línguas se enredavam em um abraço sensual, até que ela se afastou o
suficiente para sussurrar contra seus lábios: — Eu te amo.
— Eu senti sua falta, minha Cyn. No final, eu não podia te encontrar mesmo
em meus sonhos.
— Eu estava lá. Eu sempre estive ali, procurando por você.
— Quando eu acordei essa noite, e você estava ao meu lado... eu pensei que
eu ainda estava dormindo.
Ela sorriu. — Há sonhos, e então há sonhos. E você, garoto presas, é
definitivamente meu sonho.
Raphael deu a ela um sorriso torto. — Garoto presas. Eu senti falta até
disso. Mas venha, a noite não durará para sempre.
Depois de uma rápida varredura mental para ter certeza de que não havia
surpresas esperando por eles fora da casa, Raphael abriu a porta da frente.
Segurando a mão de Cyn, ele saiu, aliviado por estar novamente no ar fresco, sentir
a luz pálida da lua em seu rosto.
— Lorde Raphael. — O prazer na voz de Rob era genuíno, como era o alívio.
— Rob, — Raphael disse. — Meus agradecimentos.
— Uma honra, meu senhor. Ken’ichi verificou há alguns minutos. Eles estão
se mantendo estáveis, mas os nativos estão ficando inquietos. Ele temia que eles
fossem se reunir em breve.
Raphael virou sua cabeça para a direita, apontando um olhar sombrio na
direção de uma casa que ele nunca tinha visto. Uma casa que estava cheia de
vampiros que alguns poderiam reivindicar que eram apenas soldados fazendo o
que tinham sido ordenados. Mas soldados morreriam em guerras o tempo todo. E
Mathilde declarara definitivamente a guerra.
Ele estendeu a mão com a mente, flexionando seu poder, tocando cada
mente naquela casa, sussurrando um desejo de ficar, de esperar. Adicionando uma
ameaça sutil para assombrar o sono forçado deles enquanto esperavam.
— Eles não irão. Não agora. Eles estão esperando por mim.
Rob o olhou com cuidado, seu olhar se voltou para Cyn e de volta. Rob sabia
do que Raphael era capaz, ou pelo menos do que tinha sido capaz antes de sua
recente captura. Mas ele provavelmente também sabia como Cyn, que algo tinha
sido feito a Raphael durante sua prisão. Agora mesmo, ele estava claramente se
perguntando se o Lorde Raphael estava verdadeiramente de volta.
— Tenha fé, Rob. — Raphael disse quietamente. — Eu sou eu mesmo.
Rob sorriu então. — Irina ficaria feliz de ouvir isso, senhor.
— Mas primeiro, nós temos que tirar o lixo. — Cyn lembrou a eles.
— E sobre os caras que deixamos na casa, Leighton? — Uma voz de homem
perguntou.
Raphael entrou na frente de Cyn quando um grande macho humano,
alguém que ele nunca tinha conhecido, veio em torno do SUV. Ele esteve ciente da
presença do ser humano enquanto falava com Rob. Devia ser Maleko Turner, o
policial humano que Cyn lhe contou. Aquele que estava fodendo Elke. Cyn não
mencionou isso, mas Raphael conseguia sentir o perfume de Elke no homem, e
soube que ela tinha tomado o sangue do humano.
— Raphael, esse é Maleko Turner, — Cyn disse, confirmando o que ele já
sabia. — Eu te disse sobre ele.
— Você disse. Meus agradecimentos a você também, Sr. Turner.
— Meu prazer. O caso mais interessante que eu tive por um tempo.
— E então tem Elke. — Raphael disse, dando a ele um olhar plano.
O humano corou, mas ficou alto e desafiador, dizendo: — E há minha Elke.
Raphael ergueu a sobrancelha com o “minha”. Ele não poderia parar de
imaginar como Elke se sentia sobre isso. Hora de descobrir. — Vamos, — ele disse,
puxando Cyn para frente. — Você pode se trocar no caminho.
Ela revirou os olhos para ele. — Voltou a menos de uma hora e já está dando
ordens.
— Você prefere ir para a luta usando... isso?
— Eu pareço bem nisso.
— Você parece linda, como sempre. Mas talvez não pronta para combate.
— Yeah, yeah. Vamos dar o fora daqui. Eu nunca quero ver essa casa de
novo.

****

O caminho para a outra casa era curto. Cyn teve tempo suficiente para
colocar uma regata e jeans sobre o que restou de seu biquíni, juntamente com um
par de meias frescas e botas de estilo de combate. Na verdade, o caminho era tão
curto que ela ainda estava amarrando a segunda bota quando Rob parou no meio-
fio.
A casa não era muito comparada com a que tinham acabado de deixar.
Obviamente, Mathilde estava muito mais preocupada com seu próprio conforto do
que com o da sua equipe. Esta casa era uma típica habitação, uma construção de
dois andares que era como a que estava ao seu lado, e aquela ao lado, todo o
caminho até o fim do quarteirão. Alguns dos moradores tinham tomado mais
cuidado com os seus jardins, com o paisagismo na frente dos quintais, alguns
haviam feito paisagismo ao redor da varanda e caminho, mas não havia dúvida de
que ainda pertenciam ao mesmo tipo de habitação.
Rob parou atrás do SUV de Ken'ichi, com Maleko Turner estacionando atrás
dele em seu sedã policial. Turner estava fora do carro em um flash, falando
brevemente a Ken'ichi antes de dirigir rapidamente ao redor até a parte traseira
onde Raphael soube Elke mantinha vigilância. Talvez ele realmente tivesse
sentimentos por Elke.
— Meu senhor. — Os olhos negros de Ken’ichi, normalmente tão calmos e
sem expressão como os do seu irmão, brilharam com o ouro amarelo de seu poder,
refletindo a intensidade de seus sentimentos ao ver Raphael novamente.
Raphael se aproximou dele e colocou uma mão em seu ombro largo. Ken'ichi
abaixou a cabeça, cobrindo a emoção nua em seus olhos. Raphael não disse nada,
só descansou a mão nele por um momento, depois apertou suavemente e levantou-
a.
— Situação? — Ele perguntou então, permitindo que ambos voltassem à
formalidade familiar de seu relacionamento.
— Nenhum movimento pelos últimos minutos, meu lorde. Um pequeno
grupo tentou sair antes, depois que chegamos. Nós lutamos. Eles perderam.
Raphael assentiu, então levantou seu olhar quando Elke veio ao redor da
casa para cumprimentá-lo. Turner não estava com ela. Ele era um policial. Talvez
ele estivesse cobrindo o posto por ela.
— Meu lorde, — ela disse, seu rosto pálido iluminado em uma felicidade
que ela não tinha reservas sobre mostrar.
— Elke, — ele disse afetivamente. — Você adquiriu um fã.
— O policial, — ela concordou. — Cyn disse que eu poderia matá-lo se ele
ficasse no caminho.
Raphael olhou para sua companheira. — Uma solução prática. Devemos
lidar com eles da mesma maneira? — Ele perguntou, erguendo o queixo para a
casa na frente dele, que estava repleta de vampiros. Mathilde nem fingira cuidar
do conforto de seus vampiros. Era uma surpresa que muitos continuassem leais a
ela.
— Nós esperamos por você, meu lorde — Ken’ichi disse.
Raphael assentiu enquanto estudava a casa, deslizando seu toque sobre
cada vampiro dentro, tentando decidir o que fazer. Ele podia deixá-los em seu
estado atual enquanto os matava. O mais forte entre eles poderia saber o que
estava acontecendo e sentir alguma dor, mas os outros trabalhadores do
empreendimento de Mathilde tinham sido úteis apenas como fontes de energia
bruta – eles não sentiriam nada. Sua existência terminaria simplesmente.
Essa era a escolha lógica a fazer, a solução mais limpa. Mas seu interior
não gostava dessa opção. Nem seu coração, nem sua alma, o que quer que você
chamaria aquela coisa que fazia dele um maldito lorde vampiro em vez de uma
dessas patéticas criaturas lá. Essa parte dele queria vingança. Quente, gritando,
uma terrível vingança. Ele queria que cada um deles soubesse o que estava
acontecendo e por quê. Ele queria que eles soubessem quem estava terminando
sua existência, para saber que eles estavam perdidos e ele tinha vencido.
Um pequeno sorriso enrugou seu rosto.
— Uh, oh, — Cyn murmurou. — Parece um tempo quente na cidade essa
noite.
O sorriso dele aumentou. — Elke, retome ao seu posto. Ninguém deve sair.
Mate-os se eles tentarem.
— Meu lorde, — Elke reconheceu e correu para longe.
— Ken’ichi.
— Meu senhor.
— Veja a frente.
A boca de Ken'ichi se comprimiu em uma linha de satisfação, seus olhos
brilhando. — Sim, meu lorde — disse ele claramente.
— Minha Cyn...
— Eu não vou te chamar de “meu lorde”, então esqueça.
Raphael a puxou para mais perto. — Vamos discutir como você me chama
mais tarde. Por agora, você precisa saber o que vai acontecer.
Ela tinha um olhar preocupado em seu rosto. — Raphael, você está...
— Eu sou um lorde vampiro, — ele a lembrou.
Ela suspirou audivelmente. — Sim, sim. Então, qual é o plano?
— Eu vou matar cada vampiro naquela casa. Mas eu vou acordá-los antes.
Vai ser barulhento, mas breve.
Cyn encolheu os ombros. — Ei, nenhum argumento. Eu queria explodir
toda a porra da casa com todos dentro, mas Mal não me deixaria.
— Essa é minha Cyn, — ele disse orgulhoso, então se endireitou com um
olhar para Ken'ichi. Começamos, ele enviou para seus vampiros.

****

Cyn assistiu quando Raphael acessou seu poder. Ela já tinha visto ele fazer
isso antes. Ela não sabia exatamente como funcionava, mas ela achava que era
alguma coisa como um estado meditativo que deixava ele descartar tudo que não
importava e focar apenas em seu alvo, ou nesse caso, seus alvos.
Seus olhos mal tinham se fixado na casa, que tinha estado tão calma antes
que parecia vazia, quando de repente dela emergiu sons. Os vampiros acordaram
do sono que Raphael havia imposto a eles e gritaram, principalmente com medo,
mas alguns com raiva. As sombras se moveram, os rostos aparecendo enquanto os
vampiros olhavam para fora na rua. Alguns gritos atravessaram a noite enquanto
alguns dos que estavam dentro viram quem os esperava. Algumas almas corajosas,
provavelmente alguns dos mestres mais fortes, surgiram pela porta da frente com
uma explosão de velocidade de vampiro. Embora se eles tivessem a intenção de
escapar ou atacar, Cyn nunca saberia, porque eles não caminharam nem cinco
passos antes do olhar casual de Raphael estourar seus corações e espalhar poeira
na varanda. Do interior da casa, logo depois da porta aberta, vieram gritos de
consternação com a morte de seus companheiros, e alguns vampiros se arrastaram
para a pequena varanda, pedindo misericórdia.
Mas Raphael não tinha misericórdia para dar. Esses, também, foram
desintegrados um após o outro, deixando uma faixa de pó de vampiro na varanda,
sobre o limiar, e dentro da casa. Cyn lembrou-se do jogo Candy Crush, quando
duas bombas de cores se encontraram e raios de luz dispararam destruindo todo
o tabuleiro. Raphael era assim, exceto que seu poder matava invisivelmente, e não
eram doces que estavam sendo destruídos.
Os olhos de Raphael eram manchas ardentes de prata derretida na
perfeição gelada de seu rosto, seu poder um nimbo de energia que o rodeava
enquanto ele entrava na casa. Cyn estava bem atrás dele, sua Glock segura em
ambas as mãos, mas ela encontrou pouco alvos preciosos para seus rounds de
matadores de vampiros, apesar do grande número de vampiros morando na casa.
Raphael não deixou ninguém para ela matar. Ele marchou pelo andar térreo, todos
os quartos lotados de vampiros que se afastavam dele, pisando um no outro
enquanto eles pediam por suas vidas. Mas se Raphael ouviu suas súplicas, Cyn
não viu nenhuma evidência disso. Seu poder disparou, destruindo a cada passo,
até que não havia ninguém.
Fez uma breve pausa, então, a cabeça girando de um lado para o outro,
como se conseguisse ver através das paredes, o que, por assim dizer, ele podia. Ele
pegou o olho de Cyn, e ergueu o queixo para a escada. Quando ela assentiu com a
cabeça, ele deslizou para cima, subindo as escadas de três em três, sem nenhum
esforço aparente. Cyn franziu o cenho nas suas costas enquanto ela o seguia,
desejando que parte daquela força de vampiro viesse junto com os outros benefícios
de beber sangue de Raphael.
Ele esperou no topo por ela, e então começou a limpar o segundo andar com
a mesma eficiência que ele tinha feito embaixo. Cada porta foi aberta, cada quarto
vazio de vida. Raphael ainda estava lidando com o quarto principal, que tinha
estado tão cheio de vampiros que Cyn pensou que eles tinham sido embalados
como sardinhas quando dormiam. Que tipo de poder Mathilde tinha para tratar
seus vampiros como merdas e ainda ter tanta lealdade? Ou talvez a questão era: o
que ela prometeu a eles se seu plano fosse um sucesso?
Sua mente preocupada com tais pensamentos, Cyn se aproximou da sala
final, que estava atrás de uma porta simples no final do corredor. Ela pegou a
maçaneta, encontrou-a trancada e abriu a porta frágil. O quarto era pequeno. Tão
pequeno que ela pensou que poderia ter começado como um armário de
armazenamento. Uma única cama de casal estava empurrada contra a parede e
uma pequena mesa quadrada segurava uma lâmpada. Com um olhar rápido por
cima do ombro, onde ela podia ver Raphael ainda se divertindo no quarto principal,
ela deu um cauteloso passo à frente, imediatamente colocando suas costas contra
a parede enquanto ela examinava a área aparentemente vazia. Mas por que esse
quarto ficaria vazio, quando todos os outros estavam cheios de vampiros? Estava
reservado para alguém especial? Talvez um dos mestres que tinha feito uma corrida
para isso mais cedo?
Mantendo suas costas contra a parede, ela se arrastou até ter uma visão
atrás da porta. Havia um armário lá, com um estreito conjunto de portas
deslizantes espelhadas. E as portas estavam fechadas.
Agachando-se para um olhar rápido debaixo da cama para se certificar de
que estava vazia – ela não queria qualquer monstro surpresa de baixo da cama –
ela empurrou a porta do quarto quase fechada e chutou a porta do armário com
um pé com bota.
— Venha para fora se você estiver aí. Ou eu apenas vou atirar através da
maldita porta.
A porta deslizante sacudiu quando alguém a alcançou, e ela deu vários
passos para trás, trazendo a Glock para cima em uma posição de duas mãos,
pronta para atirar. Quem quer que estivesse no armário, ele era um vampiro, e isso
significava que ele seria rápido.
A porta se abriu para revelar um único vampiro macho agachado dentro.
Não vendo ninguém mais que Cyn esperando por ele, simplesmente uma fêmea
humana como ela, seus olhos brilharam vermelho com poder e sua boca se abriu
para abrir espaço para as presas que de repente perfuraram através de suas
gengivas. Um grunhido baixo e ameaçador soou em seu peito quando ele se
levantou sobre seus calcanhares, se preparando para se lançar contra ela... e Cyn
sorriu
— Oh, por favor, — ela disse a ele alegremente. — Me dê uma razão. Raphael
está tendo toda a diversão essa noite.
Os olhos do vampiro estreitaram-se, e ele se afundou, estudando-a
curiosamente.
— Quem é você? — Ela perguntou.
— Sou ninguém, — o vampiro disse, encolhendo-se ainda mais, retraindo
seus dentes e olhando para ela através de longos cílios, tentando se fazer parecer
inofensivo. — Um servo trazido para cuidar dos outros.
Cyn não sabia quem era esse cara, mas ela sabia que ele não era um
inofensivo servo como que ele queria que ela acreditasse. Ela jogou junto com seu
jogo, no entanto, esperando aprender algo.
— Então, me diga, Ninguém, — ela disse, pegando o brilho irritado em seu
olhar quando ela o chamou assim. Podia ser o seu jogo, mas ele não gostava. — O
que exatamente você faz aqui? Você sabe qualquer coisa sobre os cadáveres?
— Isso foi tratado, — disse ele bruscamente, antes de parar a si mesmo. —
Os responsáveis não ficaram felizes quando isso aconteceu, — ele corrigiu,
tentando ser submisso e falhando miseravelmente. — Os vampiros responsáveis
fora...
Sua voz falhou quando Raphael abriu a porta e entrou para ficar ao lado de
Cyn.
— Esse é Ninguém, — Cyn disse a ele. — Ele é um servo aqui.
Raphael olhou para o vampiro. Um sorriso lento e terrível enrugou seu
rosto, suas presas brilhando úmidas de sangue.
— Godard, — Raphael cantou. — Eu esperava encontrá-lo aqui
— Lorde Raphael, eu estava...
— Oh, então é Lorde Raphael agora? Não foi disso que você me chamou na
outra noite.
— Eu estava apenas fazendo meu trabalho, meu lorde. Mathilde não me
deu...
— Os outros estavam fazendo seus trabalhos, Godard. Você aproveitava o
seu, como você sempre aproveitou. Você não estava satisfeito com apenas mandar
seus capangas de luz do dia para cortar minha garganta, você teve que cavar
também. E quero dizer isso literalmente, já que você teve que cavar fundo para
encontrar uma veia que não estava arruinada.
Cyn ouviu a recitação de Raphael do que eles tinham feito para ele, e levou
toda a sua força de vontade para não dar um passo e explodir a cabeça do bastardo
do Godard. Mas mais do que qualquer outro, essa matança era de Raphael.
Significava algo para ele.
Sem avisos, Godard gritou, segurando o braço direito com o esquerdo e
balançando contra a parede do armário.
— Meu senhor, por favor, — ele implorou, lágrimas de sangue rolando pelo
seu rosto.
Cyn olhou para Raphael, viu seu lábio curvado em um meio sorriso, e sabia
que ele era responsável por qualquer coisa que tinha causa o grito. Ele era capaz
de uma crueldade inacreditável, mas então, ela não tinha feito o seu melhor para
ser igualmente cruel apenas dois dias atrás? Ela foi forçada a usar balas ao invés
da sua mente, mas ela teve que fazer o que precisasse, causar qualquer dor que
ela pudesse, para ter o que precisava para salvar ele.
— Implorando, Godard? — Raphael zombou. — Não é isso que você exigiu
de mim? Talvez se eu tivesse visto você fazer isso primeiro — ele gesticulou
negligentemente para o vampiro sofrendo, — Eu teria sabido como.
Os olhos de Godard se iluminaram de raiva, substituindo o medo e a dor.
— Você não será tão alto e poderoso, assim que minha senhora, destruir você.
— Sim, — Raphael disse, arrastando a palavra para fora. — Onde está sua
senhora? Aqui estão todos, morrendo como ratos, e onde está Mathilde?
Godard conseguiu dar um olhar presunçoso, mas ficou em silêncio.
Raphael riu. — Eu sei onde ela está, seu tolo. Você acha que meu pessoal,
minha companheira, ficou sentado de braços cruzados enquanto a sua estúpida
amante planejava me destruir? Mathilde irá aprender a mesma lição que o resto de
vocês hoje. A única diferença? Sua morte será vista como um presente, comparado
ao que ela vai sofrer.
E Raphael aparentemente tinha terminado de falar. Mas ele não tinha
terminado com Godard. Cyn ouviu ossos se estalarem em sucessão, como dados
rangendo em um copo, enquanto Godard gritava. No momento em que Raphael
havia terminado, o vampiro só podia ficar deitado no chão, sem os ossos intactos
para se manter ereto. Ele choramingou lamentavelmente, seus olhos rolando na
direção de Raphael com sangue derramado de sua boca. Aparentemente, Raphael
tinha danificado mais do que ossos.
— Morte, — Godard murmurou, adicionando algo que soava vagamente
como: — Eu te imploro.
Raphael sacudiu uma mão descuidada e um corte vermelho se abriu na
garganta do vampiro, de modo que ele não podia sequer murmurar mais.
Raphael olhou para Cyn, ignorando o vampiro morrendo. — Você terminou
aqui, minha Cyn?
— A qualquer momento que você terminar, garoto presas.
Ele sorriu com o apelido, mas então parou. — Nós temos uma situação no
próximo quarto.
Cyn assentiu, mas manteve seus olhos em Godard. Quando se tratava de
inimigos vampiros, o único vampiro que ela confiava era em um morto. Se aquele
bastardo fizesse qualquer movimento...
Godard gritou. Cyn sentiu cheiro da carne queimada e olhou para baixo
para ver a camisa sobre seu coração começar a arder. Ick. Raphael estava
queimando o coração dentro de seu peito, e ele logo seria apenas mais uma pilha
de poeira. Raphael não esperou para ver isso acontecer, mas Cyn sim. Ela resistiu
ao puxão de Raphael em sua mão até que viu Godard se desintegrar em pó, então
seguiu Raphael para fora no corredor e para baixo, para o quarto principal, indo
direto para o armário de entrada.
Cyn seguiu curiosamente, a cabeça girando de um lado para o outro, ainda
esperando um vampiro ou dois sair dos cantos. Havia tantos deles na casa. Era
difícil acreditar que até Raphael tivesse conseguido matar todos.
Sua atenção voltou a Raphael quando ele se agachou e puxou uma manta
azul felpuda para revelar mais um vampiro, embora este não estivesse parecendo
muito animado. Na verdade, ele parecia um cadáver mais do que uma pessoa viva.
— Rhys Patterson, — Raphael disse, explicando porque esse vampiro entre
todos os outros ainda estava respirando. Mais ou menos.
— Ele está...
— Vivo, mas por pouco. Ele está faminto.
— Ele está vivo? Por que ele parece tão... — Ela não sabia como terminar
sem ser insensível sobre isso.
— Ele não tem poder o bastante para alimentar a simbiose. Sem sangue,
seu corpo começou a se alimentar dele mesmo.
— Ele pode voltar? — Cyn perguntou, pensando sobre Donovan Willis e o
que a morte de Rhy significaria para ele.
— Com sangue o suficiente, — Raphael disse, olhando para cima quando
Ken’ichi andou para dentro do armário carregando vários sacos.
O grande vampiro ajoelhou-se ao lado de Rhys do outro lado, enquanto
Raphael se levantou e puxou Cyn para fora do armário. — Vamos permitir a ele
toda a dignidade que podemos. Ken'ichi o ajudará a se alimentar.
Cyn olhou para ele com curiosidade. — Patterson ajudou Mathilde, não?
— Rhys não tinha uma chance contra Mathilde. Uma vez que ela tivesse
suas garras nele, ele seria impotente para desafiá-la, especialmente uma vez que
ela ameaçou seu povo. Ele tentou me avisar no final, o que é provavelmente o
porquê dela deixá-lo assim.
— Nós não podemos levá-lo para Malibu conosco, — ela disse
pensativamente. — Eu vou ligar para Willis. Ele virá.
— Willis?
— O nerd com óculos que apareceu na primeira noite com camiseta de
caveiras. Ele queria melhorar nossa segurança, lembra?
— Você confia nele?
— Ele e Patterson eram amantes, então sim. Ele não dá a mínima para
Mathilde, ou você, contanto que ele consiga Patterson de volta.
— Vamos levar Rhys conosco por enquanto. Ligue para o Robbie. Que ele
diga aos outros. Sairemos em três minutos.
Cyn assentiu, então apertou seu microfone de comunicação, e passou a
Robbie a palavra, enquanto ela assistia Ken’ichi carregar Rhys para fora do quarto,
descendo as escadas.
— Eu espero que os donos tenham conseguido um grande depósito quando
eles alugaram essa casa, — ela comentou secamente, olhando ao redor enquanto
eles seguiam.
— O que faz você pensar que eles alugaram isso? — Raphael perguntou
Cyn estalou para ele alto, fingindo choque. — Você quer dizer que eles
invadiram?
Ele balançou sua cabeça. — Vamos, minha Cyn. Essa é uma longa noite, e
longos dias. Eu preciso dormir, e eu preciso fazer uma ligação.
Cyn pegou sua mão e eles caminharam pelo corredor como se não
estivessem deixando para trás uma casa cheia de vampiros mortos. — Nosso lugar
não está longe — disse ela. — E é muito menos empoeirado.

****

Cyn tinha a porta aberta antes de Robbie parar totalmente a SUV dentro da
garagem. Ken’ichi parou ao lado deles, na segunda vaga da garagem. Ele tinha
Patterson em seu banco de trás. Elke e Mal estacionaram na calçada, saindo e
entrando antes da porta da garagem se fechar.
Raphael não disse nada, mas Cyn podia dizer que ele estava exausto. Ele
não tinha tido nenhum descanso antes de acabar com todos aqueles vampiros, e
sem sangue além do que ele pegou dela antes. Mesmo com os poderes curativos de
um senhor vampiro, ele pediu muito de si mesmo.
Ela deslizou para fora do SUV e esperou com a porta aberta até Raphael se
juntar a ela. Ela se colocou contra o lado dele, e seus braços caíram sobre os
ombros dela. Era um movimento natural. Raphael estava sempre a tocando. Mas
nesse caso, era um meio para ela ajudá-lo para dentro da casa e subir as escadas
sem mostrar sua fraqueza ser óbvia.
— Vocês vão na frente e empacotem tudo, — ela disse para Robbie enquanto
levava Raphael para as escadas. — Nós iremos fazer algumas ligações, e eu vou
deixá-los saber qual é o plano.
Robbie buscou em seu rosto, então assentiu. — Mal e eu vamos conseguir
alguma comida.
— Boa ideia.
— Devo trazer algo para você?
Ela negou com a cabeça. — Eu vou pegar algo mais tarde.
— Qual a situação do avião? — Raphael perguntou, puxando sua atenção
de volta a ele.
— Nós falaremos disso. Mas o tempo é curto para seu povo em Malibu. Nós
precisamos fazer aquela ligação.
Cyn encaminhou Raphael para a enorme suíte que estava ocupando
sozinha, antecipando sua chegada. Agora que ele estava lá, no entanto, não parecia
tão grande. Raphael dominava todos os quartos em que ele entrava, simplesmente
estando lá. Mesmo cansado como estava, saindo de dias de tortura sem descanso,
nem comida, ele ainda trazia tanta energia para a sala que o ar parecia vibrar.
Cyn fechou as portas duplas, dando a eles privacidade. — Telefone ou
chuveiro? — Ela perguntou sentando na cama e desamarrando suas botas. — O
nascer do sol é em meia hora em Malibu, se você preferir tomar um banho rápido
primeiro.
Raphael deixou cair seu paletó no chão, o mesmo que ela tinha usado por
cima de seu biquíni antes dela se trocar no carro. — Telefone, — ele decidiu,
chutando seus sapatos e meias, e se esticando na cama. — Venha aqui, minha
Cyn.
Ela colocou o telefone descartável do dia na mesa de cabeceira, depois tirou
suas botas e se arrastou pela cama. Ele puxou-a contra seu lado e envolveu ambos
os braços ao redor dela.
Eles ficaram ali em silêncio por um momento, apenas existindo.
— Eu sabia que você viria, — ele disse quietamente. — Mesmo quando eu
não pude mais tocar seus sonhos, eu sabia que você nunca desistiria.
Cyn apertou suas costas, enrolando uma perna em sua coxa. — Nunca. —
Ela disse.
Mais alguns minutos se passaram antes de Raphael dizer: — Quais são os
arranjos para o nosso retorno?
— Eu queria evitar usar seu avião particular. Isso seria muito óbvio. Então
eu recrutei o maior dos jatos do meu pai, que, estritamente falando, é um jato
corporativo. E como sou uma grande acionista e um membro do conselho para
começar, puxei algumas cordas, o que raramente faço. De qualquer forma, liguei
para os pilotos esta manhã e disse-lhes para estarem prontos para a decolagem já
esta noite. Esse avião tem uma câmara de sono privada, e a cabine principal tem
cortinas que cobrem toda a luz, que faz seguro para vampiros, também. Eu o tinha
adaptado no ano passado, só no caso.
— Seu pai concordou com isso?
— Não, mas a avó concorda, e nós ganhamos dele. — Ela disse
presunçosamente — De qualquer forma, eu sei que você odeia voar de dia, mas...
— Mas é necessário algumas vezes. Muito bem. Alerte seus pilotos. Nós
partiremos assim que conseguirmos ficar prontos. O nascer do sol não está tão
longe.
Cyn fez o telefonema necessário, o que levou cinco minutos desde que ela
já tinha avisado os pilotos que isso poderia acontecer.
— Feito, — ela disse a ele, sentando de pernas cruzadas na curva de seus
braços.
— Eu tenho que ligar para Jared e Juro.
— E Lucas.
Seu peito tremeu em um riso silencioso. — E Lucas, — ele concordou. —
Juro te deu os telefones?
Ela segurou para ele o descartável — Sim. Esse é o de hoje.
Raphael pegou o telefone, e ela podia sentir ele juntando sua força para a
ligação. Ela o conhecia. Ele queria falar com seu povo. Mas ele também precisava
projetar força e poder, estar no controle.
Ele segurou o telefone, e Cyn começou a dizer a ele como alcançar Juro.
Mas ele não precisava de sua ajuda. Ele abriu a agenda e ligou para o único número
armazenado lá.

Malibu, California

Juro olhou pela janela para o oceano banhado pela lua, desejando ver o que
estava acontecendo do outro lado. Ele tinha apenas alguns momentos antes de ter
que se juntar a Lucia lá embaixo. Normalmente, ele já teria partido, mas ele estava
se demorando, esperando ouvir alguma coisa. O resgate deveria ser esta noite, mas
Cyn ainda não tinha telefonado. Isso não significava nada, é claro. Seu plano tinha
começado enquanto o sol ainda estava em pé, mas não havia como saber quanto
tempo demoraria a operação completa. Não saber em que tipo de condição estaria
Raphael quando ela o encontrasse, ou quanto sangue ele precisaria. E então havia
a centena de vampiros que tinham estado trabalhando contra ele. Cyn e os outros
seriam duramente pressionados para tirar esses mestres vampiros se Raphael não
fosse capaz de ajudá-los.
Mas por que assumir o pior? Havaí tinha duas horas atraso do que Malibu.
Mesmo se o resgate tivesse sido um completo sucesso, talvez não houvesse tempo
suficiente para alguém telefonar antes que o sol nascesse deste lado do oceano.
Nesse caso, Cyn ligaria para Lucia com uma atualização, de modo que pelo menos
eles saberiam ao acordar primeiro o que tinha acontecido.
Ele e os outros tinham sentido alguma esperança um tempo atrás. Uma
súbita explosão de energia inundando cada célula de seu corpo, afugentando o frio
do pressentimento que o havia seguido por vários dias. Desde que Raphael fora
levado.
Ele acreditou, todos eles acreditaram, que isso significava que Raphael
tinha sido solto de qualquer magia que Mathilde tinha usado contra ele. Que o
plano de Cyn tinha tido sucesso.
Mas ele se sentiria melhor se ele pudesse saber com certeza. Se ele pudesse
ouvir a voz do seu Lorde dizendo a ele que estava em seu caminho para casa.
Ele se virou para longe da janela, pensando em checar o desenvolvimento
da guarda no portão antes de se juntar a Lucia no andar de baixo, quando um
telefone tocou. Ele ficou confuso por um momento, porque não era a linha da casa,
que eles estavam usando para se comunicar com o portão, nem a linha fixa, a qual
ele muito raramente usava nesses dias.
Ele franziu a testa, então, tardiamente, reconheceu o toque como o telefone
descartável daquela noite, e isso significava... Ele saltou para o telefone, com medo
de Cyn assumir que era tarde demais e desligar.
— Cyn! — Juro disse, atendendo o telefone.
— Juro, — Raphael disse.
Juro fechou seus olhos, quase desmoronando em uma cadeira com a pressa
do alívio que sentia ao som simples dessa voz. — Senhor, — ele respirou. — Ela
conseguiu.
— Ela conseguiu.
— Nós conseguimos, — Juro ouviu Cyn esclarecer do auto-falante.
— O tempo é curto, — Raphael falou. — Qual é a situação?
— Lucas desafiou Mathilde na última noite. Eles irão se encontrar às dez
da noite. Nós a isolamos completamente. Ela tem um vampiro muito assustado de
guarda, e um par de humanos.
— Ela vê Lucas como uma ameaça?
— Nem um pouco, meu lorde. Lucas fez papel de tolo, que ele faz tão bem.
E ela parece não ter feito a lição de casa, como ele estava preocupado. Isso ou ela
acredita que você seja o poder por trás de todos os seus talentos.
— Lucas recebeu minha mensagem, então.
— De Cyn, sim. Quando você retornará, meu lorde?
— Se Lucas está para se encontrar com Mathilde essa noite, eu preciso estar
aí.
— Senhor. — Isso foi tudo que Juro disse. Ele sabia o quanto Raphael
odiava voar a luz do dia, mas algumas vezes não havia outro jeito. Como nesse
momento.
— Nós iremos chegar antes do pôr do sol. Cyn arranjou transporte pela
empresa de sua família de modo que mascare nossa chegada.
— E você deveria ir para minha casa. Lucas vai estar lá.
— Nós veremos você de noite, então.
— De noite, Senhor.
Juro desligou a ligação e jogou o telefone descartável sobre a mesa, então
imediatamente pegou seu celular normal e ligou para Jared.
— Qualquer coisa? — Jared perguntou.
Juro nem tentou esconder a felicidade em sua voz. — Nosso Lorde estará
em casa essa noite.

Honolulu, Hawaí

Raphael jogou o telefone descartável de lado, então levantou e começou a


se despir. Na verdade, Cyn pensou, seria mais exato dizer que ele começou a
arrancar suas roupas, já que ele estava literalmente rasgando as costuras de seu
terno enquanto ele o removia, e jogando os restos numa pilha no chão.
— Tire a roupa, — ele disse a ela. — Você está tomando banho comigo.
Cyn sorriu. Ver Raphael em pé no quarto deles, por mais temporário que
fosse, assistir ele se despir, e então estender uma mão imperiosa enquanto ele
exigia que ela se juntasse a ele... ela se sentiu cinquenta quilos mais leve. Ele estava
de volta. Seu sorriso era tão grande que doía seu rosto.
Até ela ver o que fizeram com ele. Ele ainda era lindo, seu peito ainda feito
com músculo, seus ombros largos e grossos. Mas seus quadris, sempre estreitos,
estavam muito finos, os ossos muito proeminentes. E seus olhos, enquanto a
olhavam impacientemente, estavam cansados de uma maneira ela que nunca tinha
visto antes.
E em menos de vinte e quatro horas, ele tinha que encarar Mathilde... e
matá-la.
Cyn arrancou o resto de suas roupas, então pegou sua mão e deixou que
ele a puxasse para o banheiro. O chuveiro aqui não era tão bom quanto o que eles
tinham em casa, mas era maior do que a média. Grande suficiente para o que ela
tinha planejado. Raphael precisava de sangue, e ele precisava de sexo. O primeiro
era a nutrição para o seu corpo, para dar ao seu vampiro simbionte algum
combustível para trabalhar, para continuar a curar os danos ao seu corpo. O outro
era para o seu coração e alma. Ele era um vampiro poderoso que tinha sido
derrubado. Ele precisava do amor de sua companheira para lembrá-lo de que ele
ainda era Raphael, o formidável Lorde do Oeste, e sempre seria.
O recinto de vidro se encheu de vapor enquanto Cyn encontrava toalhas
limpas e as empilhava na pia. Raphael não esperou. Ele deu um passo sob a água
caindo e ficou ali, sem se importar com a porta aberta e a água espirrando por todo
o chão. Seus olhos estavam fechados, a cabeça inclinada enquanto a água escorria
nas suas costas largas.
Cyn fechou a porta quando ela se juntou a ele, prendendo seus braços ao
redor dele por de trás e simplesmente o abraçando, reassegurando a si mesma que
ele estava realmente em seus braços, que isso não era um sonho.
Enquanto o vapor embaçava o vidro mais uma vez, ela se aproximou dele
para pegar xampu e lentamente lavou seus cabelos, massageando seu couro
cabeludo e pescoço, sentindo ele relaxar sob seu toque. Mudando para o gel de
banho, ela beijou suas costas e disse: — Eu não trouxe uma bucha comigo, então
você terá que fazer com um pano de lavar.
Raphael não disse nada, então ela ensaboou o pano e começou a esfregar.
Como ela tinha feito em Malibu, quando ela precisava lavar a mancha de sua
crueldade, assim ela o lavou agora, livrando-o do fedor do cativeiro. Esfregando
cada polegada de sua pele, começando com suas costas e pescoço, em seguida,
movendo-se sobre sua bunda e para baixo, para cada perna. Então, virando-o para
encará-la, ela lavou seu peito, seus braços, até mesmo sua virilha, ignorando, por
agora, sua excitação evidente por seu toque.
Quando ela terminou, quando ele estava limpo de novo, ela fechou a
distância entre eles até que seu mamilo duro estivesse roçando contra o peito dele.
Levantando a boca ao pescoço, ela o mordiscou levemente enquanto seus dedos se
fechavam sobre seu pau rígido.
Os olhos de Raphael abriram, seu olhar completamente escuro enquanto
ele olhava para ela.
— Eu te amo, — ela sussurrou. Ficando na ponta do pé, ela trilhou sua
boca pelo maxilar dele até seus lábios. — Me beije.
O braço de Raphael se fechou em torno de sua cintura, puxando-a contra
seu corpo enquanto sua boca bateu sobre a dela com um rosnado. Seus dentes
dispararam de suas gengivas, cortando seu lábio, de modo que seu beijo foi coroado
com o calor de seu sangue. Eles se beijaram como amantes que estavam separados
há meses, cujos corações haviam parado de bater enquanto estavam separados.
Cyn envolveu seus braços em torno de suas costas e sobre seus ombros,
pressionando-se contra ele até que não houvesse espaço entre eles. Tinha estado
tão desesperadamente com medo de fracassar, de perdê-lo para sempre. Ela não
pensou que seria capaz de soltá-lo novamente.
Ela aprofundou seu beijo, lambendo ao longo de suas gengivas inchadas,
derramando mais sangue em sua boca quando seus dentes picaram sua língua.
Seus dentes se fecharam sobre seu lábio inferior, misturando seu sangue com o
dela enquanto ela moveu seus beijos para seu rosto, então seu pescoço, e
finalmente até seu peito e abaixo para seu ventre plano, quando ela caiu de joelhos
na frente dele. Olhando para cima, ela o viu inclinado sobre ela, olhos fechados,
um poderoso braço apoiado no azulejo sobre sua cabeça, enquanto o outro se
aproximava para alcançar sua ereção.
Cyn mordeu a mão dele quando ele começou a se acariciar, e seus olhos se
abriram novamente. — Meu, — ela disse, então envolveu seus próprios dedos finos
em torno da base de seu pênis e bombeou lentamente, fechando seus lábios sobre
a cabeça e levando-o em sua boca até que ele tocou a parte de trás de sua garganta.
Os dedos de Raphael passaram por seus cabelos molhados, segurando-a
com força, segurando-a no lugar enquanto seus quadris se dobraram e ele começou
a empurrar. Cyn ergueu os olhos para vê-lo assistindo seu pênis deslizar dentro e
fora de sua boca, seu olhar intencionado, focado, estrelas prateadas brilhando no
preto de seus olhos.
Cyn abriu a garganta, tomando-o mais fundo enquanto os dedos dele se
apertavam em um punho e ele empurrava mais forte, a cabeça de seu pênis
batendo em sua garganta com cada golpe. Mais e mais rápido ele bombeou, até que
com um gemido, ele empurrou tão longe quanto ele poderia ir e ficou lá, sua
liberação um tiro abaixo da garganta dela quando ela engoliu mais e mais até que
ele terminou.
A mão dele se afrouxou e ela se afastou, girando a língua em torno de seu
pênis ainda duro, lambendo um lado e o outro, provocando a cabeça, até que com
um assobio, Raphael a agarrou debaixo dos braços e a puxou para seus pés,
pressionando-a contra a parede de azulejo com o peso de seu corpo.
— Você é a própria tentação. Pecadora — ele murmurou. — Minha Cyn.
Ela acariciou sua língua sobre a garganta dele e até sua boca, mordendo
seu lábio e tirando sangue.
Raphael riu profundamente e agarrou suas coxas, levantando-as mais alto
e abrindo seu sexo para sua crescente ereção.
Deus abençoe a resistência dos vampiros, pensou ela em particular, e então
raspou as unhas sobre os ombros dele, deixando linhas na carne.
— Seja boa, — Raphael rosnou, colocando o traseiro dela em uma mão
grande enquanto brincava com ela, deixando seu pênis deslizar dentro e fora de
sua umidade sem penetração.
— Ser bom é superestimado — ela provocou, flexionando seus quadris para
frente, empurrando contra seu comprimento.
Ele riu alto. Então, apoiou-a contra o azulejo, ele alcançou, posicionou seu
pênis em sua entrada, e empurrou lentamente e firmemente, enterrando-se em seu
calor com um impulso único e glorioso. Quando ele estava profundamente dentro
de seu corpo, suas bolas pressionadas contra sua carne delicada, seus músculos
internos tremendo em torno dele enquanto seu coração batia fora do ritmo, ambos
fizeram uma pausa. Cyn encontrou seus olhos se enchendo de lágrimas enquanto
ela encontrava olhar prateado dele.
— Não, — ele sussurrou, beijando seus olhos fechados, lambendo as
lágrimas salgadas. — Nós estamos onde nós pertencemos.
Ela assentiu, engolindo de volta um soluço. — Eu preciso de você.
— Você me tem. Sempre.
E então ele começou a se mover, poderosamente, sensualmente, o seu
espesso eixo entrando e sando dela enquanto seus quadris levantavam para
atender a cada impulso, quando ela torceu a cabeça, descobrindo seu pescoço em
convite tenso. Raphael gemeu com fome, sua boca se fechando sobre ela enquanto
sua língua lambia na sua veia. O coração de Cyn, já galopando em seu peito,
multiplicou enquanto ela acariciava a parte de trás de sua cabeça, sua vagina
tremulando em torno de sua espessura, seu clitóris inchado esfregando contra o
osso púbico toda vez que ele a fodia.
Ela estava ofegante, ansiosa por sua mordida, sentindo os primeiros
arrepios do clímax tremer de seu clitóris para seus músculos internos,
ziguezagueando até apertar seus mamilos até que eram seixos duros de sensação,
raspando em dor requintada contra os planos de seu peito.
— Raphael, — Ela ofegou quando as presas dele se afundaram em seu
pescoço, perfurando sua veia. De um instante para o outro, seu corpo estava em
chamas, cada nervo gritando, cada músculo se contraindo. O próprio sangue em
suas veias pareceu tão quente que ela pensou que iria explodir quando sua vagina
convulsionou em torno dele, apertando seu pênis tão forte que ele mal podia mover.
Ele se forçou contra seu apertado aperto, grunhindo enquanto acariciava os tecidos
internos, cada pequeno movimento parecendo como um fio vivo em sua pele nua.
Isso era demais. Cyn jogou a cabeça para trás e ela teria gritado, mas os
dedos de Raphael deslizaram entre seus dentes, forçando-a a morder, engolir seu
próprio grito quando o orgasmo rolou sobre ela como uma onda de maré, afogando-
a em sensação, cortando sua respiração, parando seu coração, até que não havia
nada além de Raphael, nada além de seu pênis entre suas coxas, seus dentes em
sua veia, seu sangue em sua garganta. E então sua liberação quente estava se
apressando profundamente dentro dela quando ele juntou seu clímax com o dela,
seus quadris batendo, empurrando mais e mais até que ele estava gasto.
Raphael ergueu a cabeça o suficiente para lamber suas feridas fechado-as,
em seguida, descansou a testa contra seu ombro, ambos respirando pesadamente,
agarrando-se um ao outro como se eles fossem desmoronar sem o apoio.
Eles ficaram assim por vários minutos, até que a água começou a esfriar.
Cyn estremeceu, e Raphael imediatamente se virou para protegê-la do jato.
— Você consegue ficar em pé? — Ele perguntou.
Ela riu sem fôlego. — Eu acho que sim. Eu tenho que fazer. A água está
ficando gelada.
Raphael deslizou-a pelo seu corpo até que seus pés tocaram o piso frio do
chuveiro. Ele abriu a porta e a abraçou quando ela saiu e agarrou uma toalha.
Desligando a água, ele a seguiu, aceitando a grande toalha que ela ofereceu, então
envolvendo-a ao redor dela, prendendo-a no círculo de seus braços.
Ela deu a ele um beijo barulhento, então perguntou: — Quanto tempo até
o nascer do sol?
— Duas horas, um pouco mais.
— Nós temos que empacotar e ir para o aeroporto. — Ela disse suavemente.
Ele encontrou seu olhar firme. — Você vai dormir comigo no avião.
— Cada minuto. E Robbie e Mal vão nos guardar durante o dia quando nós
chegarmos em Santa Monica.
— Mal está vindo com a gente?
— Aparentemente, ele não está pronto para deixar Elke apenas ir. Na
verdade, eu acho que ele pode estar procurando se mudar.
— Você confia nele?
— Eu não sei se você quer ouvir isso, mas ele veio com recomendações de
Colin Murphy.
Raphael fez uma cara. — Você está certa. Eu não quero ouvir isso, mas isso
tem algum peso.
Cyn deu um sorriso torto. — Vamos, garoto presas, vamos pegar algumas
roupas limpas. Temos um voo para pegar.

****

Meia hora depois, as poucas coisas deles estavam empacotadas, e Donovan


Willis tinha acabado de sair com um quase recuperado Rhys Patterson em seu
reboque. Cyn e os outros estavam verificando a casa em busca de qualquer coisa
que gritasse vampiro, quando Raphael subiu as escadas de repente e abriu a porta
da frente.
Temendo o pior, Cyn girou em torno de seu lugar na ilha da cozinha, onde
ela estava passando os detalhes com Robbie e Mal. Alcançando sua Glock enquanto
ela corria atrás de Raphael, com Robbie em seus calcanhares e Mal seguindo com
um murmurado: — O que agora?
Cyn chegou a varanda bem a tempo de ver Nick de pé na varanda da frente.
Raphael estava enfrentando-o, seu braço estendido para um lado para impedi-la
de passar por ele.
— O que...— ela começou a dizer, mas Raphael a parou.
— O que você quer, feiticeiro? — Raphael exigiu, sua voz efervescendo com
poder.
— Oi, Cyn querida, — Nick murmurou, ignorando Raphael
— Pare com isso, Nick, — Cyn disse, guardando a arma e colocando a mão
no braço de Raphael.
— Não fale com ela, — Raphael rosnou. — Que porra você está fazendo
aqui?
— Espere, — Cyn insistiu.
— Você me deve, vampiro, — Nick disse satisfeito.
— Você está me confundindo com Mathilde. Eu não negocio com feiticeiros,
— Raphael zombou.
— Esperem! — Cyn gritou. — Vocês dois, calem a boca. Raphael, — ela disse
quietamente. — Nick é a pessoa que me deu a chave das algemas que Mathilde
usou em você. Se não fosse por ele, eu não teria nem sabido onde elas estavam até
eu ter você. Mathilde fez algo para Juro, então ele esqueceu disso.
Raphael virou sua cabeça apenas o suficiente para ouvir o que ela estava
dizendo, mantendo seus olhos em Nick com um olhar não amigável.
— Como eu disse, vampiro. Você me deve, — Nick disse.
— Jesus, Nick, — Cyn disse impacientemente. — Pare de ser um idiota. E
um feiticeiro? Que porra é essa? E como você o conhece? — Ela exigiu de Raphael.
— Eu disse a você que eu não era um vendedor... — Nick começou a dizer,
mas Raphael o interrompeu.
— Eu não o conheço, eu sei sobre ele. Ele não é confiável. Nenhum deles
pode ser.
— Cyn, você poderia educar seu namorado...
— Pare! — Ela gritou de novo. — Vocês dois estão agindo como duas
crianças no jardim de infância. Nick, por que você está aqui?
Ele deu a ela um olhar sombrio, como se ela estivesse estragando sua
diversão, mas então admitiu: — Eu quero minha chave.
Cyn alcançou o bolso do seu jeans. Ela não sabia o que fazer com aquela
maldita coisa. Ela apenas sabia que mais ninguém iria colocar a mão nisso, então
ela manteve por perto.
— Aqui, — ela disse, segurando a chave para Nick.
— Sem beijo...
— Não teste sua sorte. — Raphael rosnou.
— Nick, pare!
— Tudo bem. Vocês eram mais divertidos antes de conhecerem Sr. Dark e
Broody aqui. E sobre as algemas?
Cyn congelou. — Hm.
— Por favor, me diga que você as tem.
— Bem — ela enrolou. — As coisas ficaram um pouco loucas, com os
guardas e tudo. Posso ter, hum, deixado naquela casa. No quarto principal. Onde
Raphael estava. — Ela escolheu cuidadosamente suas palavras, não querendo
mencionar que Raphael fora preso, embora todos soubessem que isso era o que
tinha sido feito. Mas ela não envergonharia Raphael na frente de Nick assim.
Nick rolou seus olhos. — Yeah, eu conheço vampiros, querida. Eu tenho
uma bela ideia do que, ou devo dizer quem, ficou um pouco louco.
Raphael grunhiu tão alto dessa vez que até mesmo Nick recuou um passo.
— Olhe, sinto muito, Nick — disse Cyn rapidamente. — Foi estúpido da
minha parte. Mas os vampiros que estavam trabalhando com Mathilde estão todos
mortos, e os guardas humanos tiveram suas memórias apagadas por Raphael, para
esquecer tudo e ir para casa. Portanto, as algemas provavelmente ainda estão lá
no chão do quarto. Gostaria de voltar e buscá-las para você, mas...
— Não, não — disse Nick, recusando a oferta. — Eu sei que você está com
pressa. Precisa ir para casa e matar Mathilde. Acredite, estou cem por cento atrás
disso. Então, sabe o quê. Vou verificar a casa. Se as algemas estiverem lá, está
tudo bem. Se não? Então, quando tudo isso acabar, você vai me ajudar a recuperá-
las.
Cyn passou a mão pelo braço de Raphael, entrelaçando os dedos com os
dele. — Raphael? — Perguntou ela.
Seus dedos seguraram os dela, mas ele não olhou para ela. Ele estava muito
ocupado olhando para o Nick, com a mandíbula tão apertada que ela ficou
espantada por não conseguir ouvir os dentes dele.
— Se isso acontecer, nós dois o ajudaremos. Não Cyn sozinha, —Raphael
estalou.
— Não será tão divertido com você lá, mas tudo bem. — Nick disse
animadamente, mas seus olhos o entregavam. Ele odiava Raphael tanto quanto
Raphael obviamente o odiava. — Você tome cuidado, Cyn. E se você precisar de
mim...
— Ela não precisará de você, — Raphael disse em uma voz difícil.
— Não querendo apontar o óbvio, mas...
— Nick, — Cyn disse, finalmente ficando nervosa. Raphael tinha passado o
suficiente pelo inferno, ele não precisava de Nick jogando jogos. — Obrigada pelo
que você fez. Realmente. Agora pare de ser um babaca.
A expressão de Nick se suavizou. — Ok, querida. Vou ligar e avisar se
encontrar as algemas. E se não, então vamos caçar juntos. Nós três. Isso não vai
ser grandioso?
Ele não esperou uma resposta. Ao invés, ele apenas deu a ela uma piscada,
então se virou e foi de volta para seu carro, que era o mesmo Porsche Panamera
preto que ele tinha dirigido antes naquele dia.
Raphael não se moveu até o carro desaparecer para baixo da montanha, até
que nem mesmo o brilho vermelho das lanternas traseiras fosse visível.
— Como você conhece Nick? — Ela perguntou a ele quietamente.
Ele não disse nada no começo, e ela pensou que ele não iria, mas então ele
a puxou para mais perto, deslizando um braço sobre seus ombros.
— Nicodemus Katsaros não é quem você pensa que ele é.
— Obviamente. Mas quem, ou o que, é ele?
— Ele é de outro tempo, quando magia era tão selvagem e disponível para
qualquer um que quisesse usá-la. Ele é antigo e mortal, minha Cyn. E não
confiável.
— Mas eu conhecia Nick...
— Você conhecia apenas o que ele queria que você conhecesse. Quem você
pensa que cria aparelhos como aquelas algemas que ele queria tanto?
— Nick fez aquelas?
— Não, não ele, especificamente. Mas alguém como ele, um feiticeiro.
Cyn olhou na direção que Nick tinha pego, ambos abalados e espantados
que ela poderia ter estado tão errada sobre alguém que ela conhecia tão bem. Ou,
pelo menos, ela pensou que conhecia.
— Venha, — Raphael disse, beijando o topo da cabeça dela. — O bastardo
maldito estava certo sobre uma coisa. Nós temos muito o que fazer e pouco tempo
para isso. Nós lidaremos com ele quando nós tivermos que fazer, mas não é essa
noite. Essa noite é para Mathilde. E talvez ela até nos diga como ela adquiriu
aquelas algemas infernais antes de eu matá-la.
Capítulo 18
Noite Quatro, Santa Mônica, Califórnia

— EU GERALMENTE ODEIO dormir em aviões — rosnou Raphael. — Mas


talvez isso seja porque você nunca esteve aqui ao meu lado. — Ele beijou a borda
externa de sua orelha, então baixou sua boca para seu pescoço onde ele sugou
suavemente. Cyn sorriu. Havia coisas muito piores na vida do que acordar ao som
da voz de um vampiro, mesmo que isso significasse dormir nessa cama muito
pequena.
— O colchão é uma porcaria — murmurou ela, inclinando a cabeça para
lhe dar um melhor acesso ao pescoço.
Raphael riu, envolvendo ambos os braços ao redor dela, puxando-a de volta
ao seu peito. — Essa pode ser sua próxima atualização para o jato do seu pai.
— Eu não quero falar sobre meu pai, — ela murmurou. O que era um
eufemismo, uma vez que ela raramente queria falar sobre seu pai, mas
especialmente quando ela estava acordada nua ao lado de seu amante, que ela
quase perdeu.
Como se quisesse pontuar sua declaração, ela balançou sua bunda contra
sua ereção crescente.
Raphael fez um ruído estrondoso no fundo de seu peito e puxou-a com força
contra seu corpo enquanto ele se aproximava para cobrir seu peito em uma grande
mão. Apertando o mamilo entre o polegar e o indicador, ele o enrolou com força,
até ficar vermelho e corado de sangue.
— Tão linda, minha Cyn. Tão maduro.
Cyn colocou sua mão sobre a dele, encorajando-o a apertar mais forte, mas
Raphael tinha outros planos. Deslizando a mão sobre o ventre dela, ele pressionou
os dedos entre suas pernas para brincar com o clitóris. Ela gemeu ansiosamente,
levantando um joelho para lhe dar melhor acesso, mas novamente, Raphael tinha
seus próprios planos. Batendo no seu traseiro o suficiente para picar, ele empurrou
seu joelho para baixo, então voltou a atormentar seu clitóris inchado, levando-a
até a própria borda do clímax, antes de deixar seus dedos vaguear, deslizando-os
no creme de sua excitação, mergulhando um dedo em sua vagina, então
acariciando de volta para seu clitóris para começar tudo de novo.
Cyn estava tremendo de necessidade. Seus músculos estavam apertados,
seus nervos cantando sob sua pele. Ela se esticou contra o poder dos braços
poderosos de Raphael, atormentada pelo duro comprimento de seu pênis contra
sua bunda, por seus dedos entre suas coxas. Chegando atrás, ela tentou pegar seu
pau, torturá-lo como ele estava fazendo com ela, mas ele bateu na mão dela e só
apertou mais forte contra ela.
— Raphael — sussurrou ela.
— Eu te amo assim, — ele disse, seus lábios se movendo contra a pele de
seu pescoço. — Sua buceta quente e lisa, seus mamilos como cerejas maduras
esperando para ser comidos, seu corpo retorcendo em meus braços, implorando
para ser fodida. Você está implorando para ser fodida, minha Cyn? — Ela apertou
seus lábios em uma linha apertada, recusando-se a dar-lhe a satisfação. Ele a
queria tanto quanto ela queria.
Seu pênis tinha que estar doendo, ansioso para estar enterrado em sua
vagina. Ela podia aguentar..
Seus dentes afundaram sem aviso em sua veia, sacudindo seu sistema com
um tiro de euforia, disparando-a de excitação para orgasmo no espaço de uma
única respiração. Ela sugou apenas oxigênio suficiente para gritar, então
estremeceu em seus braços, suas presas ainda enterradas, ainda drenando seu
sangue em sua garganta, dando-lhe a vida, dando-lhe o poder que ele precisaria
para derrotar Mathilde.
Os dedos de Raphael mergulharam brevemente em seu sexo, então
acariciou o nó de nervos requintadamente sensibilizado que era seu clitóris,
deixando uma trilha molhada de excitação através de seu ventre e sobre seu quadril
como ele mudou para cavar entre suas pernas por trás. Deslizando seus dedos
dentro e fora dela, ele esticou seu dedo mais largo, primeiro um, depois dois e três,
até que finalmente, ele posicionou a cabeça inchada de seu pênis em sua entrada
lisa e, com um rápido flexão de seus quadris, bateu para a frente até que seus
quadris bateram em seu traseiro.
Cyn adorava quando ele a fodia assim, adorava o quanto podia ir mais
fundo, como ele poderia preenchê-la completamente. Ela teria empurrado contra
ele, mas sua mão estava em sua barriga novamente, segurando-a ainda enquanto
ele a fodia por trás, seu pau grosso esfregando contra os músculos internos de sua
vagina, dedilhando a carne sensível, se sentindo
tão bem que ela só podia gemer sem poder fazer nada.
As presas de Raphael deslizaram para fora de sua veia, e ela sentiu um
rastro quente de seu sangue escorregar por seu pescoço para se juntar acima de
sua clavícula. Sua língua selou as feridas, continuando pela mesma trilha
sangrenta, lambendo seu sangue.
— Você gosta quando eu fodo com você? — Ele sussurrou.
Cyn estremeceu, ainda tremendo de seu orgasmo. Sua pergunta era tão
simples, mas havia algo na maneira como ele dizia, algo escuro e exigente.
— Você sabe que eu gosto, — ela sussurrou de volta. — Eu te amo.
Ele continuou a fodê-la, seu pênis deslizando em seus sucos lisos, úmidos,
seus dedos ainda enterrados nas dobras lisas de sua vagina enquanto brincava
com seu clitóris.
— Venha para mim, então, — ele exigiu. — Agora. — Sua voz parecia
acariciar cada nervo em seu corpo, deslizando sobre seu clitóris como uma luva de
veludo, dedilhando sua carne interior quando o seu quadril de repente começou a
bombear mais duro. Não houve uma acumulação lenta de sensação, nenhuma
antecipação trêmula. Seu clímax atingiu como um relâmpago, o prazer começando
em seu clitóris, em seguida, invadindo sua barriga, músculos contraindo seus seios
inchados e seus mamilos pedindo para ser tocado. Cyn estremeceu impotente,
esmagando seus próprios seios com os dedos, beliscando seus mamilos,
desesperada para aliviar alguma da pressão doce enquanto o orgasmo rugia através
de seu sistema.
Raphael segurou-a firmemente, com os dedos apoiados contra a barriga, o
pênis esquentando o seu núcleo enquanto se movia mais rápido, enquanto a vagina
se apertava o seu eixo, acariciando, ondulando ao longo de seu comprimento até
que finalmente, com um gemido de libertação, caiu sobre a borda.
Eles ficaram no escuro, respirando pesadamente, o pênis de Raphael
deslizando do seu canal liso, seus dedos suaves agora contra seu estômago. Ele
beijou seu ombro, seu pescoço, então puxou para fora e a rolou, colocando-a
debaixo dele.
— A quem você pertence, lubimaya? — Suas palavras foram ditas em uma
respiração, mal lá, mas de repente Cyn sabia o que ele estava realmente pedindo.
Isso era tudo sobre Nick. Raphael sabia que eles foram amantes. Claro que sim.
Ele sabia que ela tinha tido amantes antes dele, assim como ele tinha tido antes
dela. E normalmente não o incomodaria.
Mas estes não eram tempos normais. E Nick, aparentemente, não era um
homem normal. Ele apareceu quando Raphael estava mais vulnerável, quando
acabou de sobreviver ao que tinha que ser um dos pontos mais baixos de sua vida,
humano ou vampiro.
— A quem você pertence? — Ele repetiu, as faíscas de prata piscando,
advertindo em seus olhos negros.
Cyn encontrou seu olhar uniformemente e disse: — Eu não pertenço a
ninguém, garoto presas. Mas eu sou sua, e você é o único, o único que eu já amei.
Sempre.
Ele a beijou então, suave e terno, e cheio de amor. Era tudo o que tinham
compartilhado, tudo o que haviam sobrevivido no passado, tudo o que sobreviveria
no futuro. Juntos.
Lá fora no compartimento de passageiros principal, eles ouviram vozes,
batidas e murmúrios do resto doo pessoal acordando para a noite.
— Devemos tomar banho na casa de Juro. Haverá mais espaço — disse ele,
com mais do que um pingo de humor.
— Sem mencionar a água quente — ela disse secamente.
Seu celular tocou ruidosamente, vibrando sobre a mesa lateral em uma
dança viciosa.
— Deve ser Lucas — disse ele. — Preciso falar com ele, mas prefiro fazê-lo
pessoalmente.
— Devemos nos mover, então — disse Cyn. — Deve haver um par de SUVs
esperando por nós.
Apesar de suas palavras, nenhum deles se moveu imediatamente, ambos
relutantes em permitir que o resto do mundo entrasse na reconfortante escuridão
de seu casulo privado.
Raphael suspirou. Cyn se juntou a ele. — No três? — Ela perguntou.
Ele riu, então deu-lhe um beijo estalado e saltou da cama, levando-a com
ele.
— Três.

Malibu, Califórnia

A casa Juro tinha cerca de cem metros, do tamanho de um campo de


futebol, ao lado da propriedade de Raphael na praia. Não havia motivo para que
Mathilde suspeitasse que Raphael estava de volta à cidade, e todos os sinais
indicavam que ela nem sabia que ele tinha fugido. Eles tinham contado com isso,
a distância de Malibu para Honolulu, para mantê-la de sentir a morte de seus
vampiros, e de seu grande plano. A morte de tantos de seus próprios filhos
provavelmente teria atingido Mathilde com força, não importa a distância, mas nem
todos os vampiros mestres que estavam trabalhando para segurar Raphael eram
seus filhos. De acordo com Raphael, alguns deles tinham pertencido a Hubert ou
Berkhard, os outros dois lordes que ajudaram Mathilde a prender Raphael naquela
primeira noite. Enquanto os outros tinham lealdade aos lordes que permaneceram
na Europa, mas que apoiaram a causa enviando seus mestres vampiros para
ajudar Mathilde no Havaí.
Cyn não tinha planejado dessa forma, mas o fato de ter matado os quatro
vampiros que estavam com Raphael enquanto dormiam provavelmente atrasou a
consciência de alguém de que havia um problema. E no momento em que os cem
se tornaram conscientes, eles estavam totalmente concentrados em conter
Raphael, ainda lutando para controlá-lo como eles tinham sido ordenados.
Portanto, ninguém recebeu um aviso, ninguém enviou um alarme. Tudo aconteceu
muito rápido, e para muitos deles de uma só vez.
Agora que eles estavam de volta em L.A., Raphael estava se protegendo
como um louco. Mesmo com a metade de sua força habitual, Raphael era
suficientemente poderoso para que sua presença não se registrasse no radar de
vampiros de alguém como Mathilde. Podia ser uma puta, mas era inegavelmente
poderosa.
Mas apesar de tudo isso, Cyn não pôde evitar um olhar nervoso ou três,
enquanto seus dois SUVs cruzavam a Pacific Coast Highway e faziam a curva para
a casa de Juro. Eles estavam perto o suficiente da propriedade de Raphael que ela
poderia ver o Eucalyptus Grove que marcava a entrada. Se eles tivessem passado
por ele, ela poderia até ter sido capaz de vislumbrar o trailer onde Mathilde estava
vivendo várias noites passadas. Segundo relatos, os jardineiros de Raphael iam ter
seu trabalho dobrado, reparando todo o dano feito para acomodar aqueles
reboques estúpidos. Sem mencionar os danos intencionais que tinham causado na
estrada. Valeu a pena, porém, humilhar Mathilde e mantê-la fora da propriedade
propriamente dita.
A casa de Juro estava bem na areia. Ela tinha três andares, e grandes
janelas do chão ao teto ao longo do lado do mar. Ela tinha uma estrada estreita
que correu ao longo da praia, e, como a maioria de seus vizinhos, estava cercada
por uma parede para dar-lhe privacidade e manter os turistas de usar o seu quintal
como uma passarela para a água.
Alguém deveria estar atento à sua chegada, porque o portão já estava
abrindo suavemente no momento em que seu SUV chegou à casa. Dentro de
minutos, ambos os veículos estavam dentro da parede e o portão foi fechado atrás
deles.
Ken'ichi tinha deixado Elke dirigir, assim que o SUV parou, ele estava fora
e sondou o quintal, que logo foi preenchido com vampiros. Eles estavam em fileiras
ordenadas, alinhados, seus olhos cravados no SUV onde Raphael estava ao lado
de Cyn. Com um olhar final ao redor, Ken'ichi deu a alguém um aceno de cabeça e
abriu a porta do passageiro.
A primeira coisa que Cyn notou quando Raphael entrou no pátio foi um
zumbido quase elétrico no ar. Ele chiou sobre sua pele e ela percebeu que era
poder, poder vampiro. Estes eram vampiros de Raphael, muitos deles seus próprios
filhos, dando boas-vindas ao seu senhor e mestre para casa. A maioria daqueles
reunidos aqui eram guardas e guerreiros, o que significava que eles estavam na
linha de frente, defendendo contra Mathilde. Para eles, o retorno de Rafael foi
decisivo. A força de Rafael era baseada em grande parte em seu poder esmagador,
mas quase tão importante era o amor e o respeito que seus vampiros tinham por
ele. Ele governava com justiça e protegia o que era dele. E eles o protegiam em
troca.
Cyn não deveria ter ficado surpresa com o comparecimento para receber
seu mestre em casa, ou por sua reação ao seu retorno. Era justo...
— Será que Mathilde não notará que tantos dos guardas se foram? — ela
sussurrou para Raphael.
Ele balançou sua cabeça. — Seus movimentos estão bem controlados, seu
acesso à propriedade é limitado. É duvidoso que ela esteja ciente de mais de dez de
meus guardas de cada vez. E o meu povo precisa disto.
Ela pegou sua mão, apertando firmemente enquanto eles se dirigiam para
a casa. Eles tinham acabado de subir na varanda na parte de baixo, quando a porta
da frente se abriu para revelar...
— Ah, claro. Por que não estou surpresa? — Cyn disse, balançando a
cabeça.
Raphael sorriu. — Porque nada deve surpreendê-la sobre Lucas. — Ele
atravessou a soleira e diretamente no abraço acolhedor de Lucas.
— É tudo tão normal? — Cyn ouviu Mal murmurar de algum lugar atrás
dela.
— Esse é Lucas, querido, — Elke respondeu. — Não há nada de normal
nesse garoto.
Cyn olhou de relance quando os dois se aproximaram dela dentro do amplo
hall de entrada da casa. — Raphael e Lucas têm um vínculo especial — disse a
Mal. — E o Lucas é carinhoso.
Ela olhou para trás a tempo de ver Raphael murmurar algo para Lucas que
fez os dois rir, e então Lucas soltou Raphael para poder cumprimentar os outros,
inclusive Jared, que encarou Raphael com lágrimas traiçoeiras em seus olhos,
antes de abaixar a cabeça em um aceno. Raphael deu-lhe um tapinha no ombro,
sussurrou algo em seu ouvido, depois se virou para Juro.
— Bem-vindo ao seu lar, Sire — disse ele, sua voz normalmente fria
tremendo de emoção.
— Obrigado por ter certeza de que eu tinha uma casa para vir, — Raphael
respondeu, colocando uma mão no ombro largo de Juro. — Obrigado a ambos.
Cyn perdeu o que quer que eles dissessem, porque sua visão foi bloqueada
pela visão de Lucas vindo em sua direção com os braços abertos.
— Eu lhe disse que ele era carinhoso — ela murmurou, então se viu
esmagada contra o peito largo de Lucas.
— Cyn, querida — ele disse alegremente, então sussurrou contra sua
orelha, — Obrigado por trazê-lo de volta para nós.
Cyn se afastou o suficiente para olhar em seus olhos dourados incomuns.
— Fiz tanto por mim quanto por você. Provavelmente mais — disse ela
honestamente.
Mas Lucas apenas sorriu. — Eu sei. Mas obrigado de qualquer maneira.
— Mathilde não vai sentir falta de todos vocês? Você especialmente? — Ela
perguntou.
— Ah, nosso encontro não é até mais tarde. Imaginei que eu a deixaria gozar
suas últimas horas na terra.
— Por quê? — Cyn perguntou cinicamente.
Lucas riu. — Essa é uma das coisas que eu mais amo em você, Cyn. Você
é implacável na vitória.
Cyn encolheu os ombros. Ela não sabia outra maneira de ganhar,
especialmente quando se tratava de vampiros. — O que Raphael disse que te fez
rir antes?
— Eu não tenho certeza que eu deveria te dizer.
— Ok. Vou perguntar a ele.
Lucas falou. — Você não é engraçada. Ele disse que na próxima vez que ele
deixar sua arrogância entrar no caminho do senso comum, eu tenho sua permissão
para chutar o seu traseiro. Como se isso fosse acontecer.
— Você quer dizer você estar chutando o traseiro dele?
— Você me feriu. Mas, não, eu quis dizer que ele cometeu o mesmo erro
duas vezes. Mais do que qualquer um que eu já conheci, Raphael aprende com
seus erros. Isso não vai acontecer novamente.
— Não, com certeza não vai. Meu coração não poderá suportar —
acrescentou ela com sobriedade.
Lucas se moveu para ficar ao lado dela, e envolveu um braço apertado em
torno de seus ombros. — Você e eu, então.
Raphael olhou para eles naquele momento. Ele sorriu ao vê-los de pé juntos,
então estendeu a mão para Cyn.
— Meu mestre chama — ela disse secamente.
— Você adora.
Cyn riu. — Eu amo-o.
— A mesma coisa, Cyn querida.

****

Mathilde entrou na grande sala de recepção, olhando em volta para o


mobiliário esparso, catalogando as mudanças que ela faria nas próximas semanas.
Uma vez que ela se tornasse lorde do Oeste, tudo o que tinha sido de Raphael seria
dela, a partir desta propriedade elegante para seus ativos financeiros
consideráveis. Ela nem sequer conhecia a extensão de seu império, mas logo o
faria. Ela faria uma prioridade, ela pensou, e mentalmente fez uma nota para trazer
a sua própria equipe para rever os livros.
Muitas pessoas de Raphael teriam que morrer, é claro. Era lamentável, mas
necessário. Vampiros como Jared e Juro, que haviam trabalhado tão de perto com
Raphael, nunca a aceitariam. Ela supôs que alguns deles transfeririam sua
lealdade para outro lugar, para Duncan talvez, ou para Lucas. Embora, se esta
noite fosse como ela esperava, Lucas logo seria seu aliado, talvez até seu amante.
Naquele tempo, ele era um rapaz bonito. Ele era um homem ainda mais bonito
agora. E não doía que ele tivesse o território ao lado do dela – ou o que logo seria
dela. Juntos, eles seriam uma formidável aliança. Eles governariam esse
continente.
Ela sorriu enquanto caminhava pela sala, os saltos altos de suas botas
clicando no chão de mármore. Esta realmente era uma casa encantadora. Ela
provavelmente a guardaria, embora as linhas modernas não fossem normalmente
a seu gosto.
Seus pensamentos deslizaram sem aviso, seu passo tremendo. Ela lutou
para recuperar o equilíbrio, sentindo quase como se seu calcanhar tivesse pegado
uma borda. Exceto que o mármore era perfeitamente liso, e tinha sentido mais
como...
Ela girou ao redor, seu olhar procurando cada canto do quarto vazio.
Impossível. Ela emitiu uma lança de poder, sondando longe através do oceano para
o oeste, alcançando s mitos filhos de vampiros que ela tinha deixado guardando
Raphael. Não havia nada, mas isso não era suficiente para alarmá-la. Tinha sido a
falha em seu plano, a única fraqueza séria – que a distância e sua própria
necessidade de se concentrar no que estava acontecendo neste lado do oceano iria
impedi-la de ser capaz de monitorar o que estava acontecendo no Havaí.
Ela estava convencida de que teria sentido alguma coisa se Raphael tivesse
se libertado, no entanto. Se ele de alguma forma tivesse conseguido matar todos os
vampiros mestres que o contêm, certamente ela teria percebido o aumento de
poder. Não teria?
Seu olhar se virou para a direita, quando as portas duplas se abriram no
centro da sala. Ela ouviu uma voz masculina, seguida de riso, e ela relaxou. Era
Lucas, na hora certa. E de bom humor, o que significava que ele provavelmente iria
se aliar a ela. Foi uma jogada inteligente de sua parte. Ela nunca o conheceu como
vampiro antes da noite passada, mas suas suposições sobre sua base de poder
tinham provado ser precisas. Ele dependia de Raphael por sua posição. Se Raphael
não existisse mais, então juntar-se a ela era o único curso disponível para Lucas.
A menos que ele quisesse lutar desafio após desafio até que ele finalmente perdesse
para um senhor mais poderoso. O que não seria longo.
Lucas apareceu entre as portas, um amplo sorriso iluminando seu belo
rosto. Mathilde franziu o cenho diante do poder que ela podia sentir irradiando
dele. Era muito mais do que ele tinha demonstrado ontem à noite, muito mais do
que ela esperava, e isso a fez suspeitar que ele estivesse escondendo sua verdadeira
força dela. Era um movimento instintivo para a maioria dos vampiros. Ela fazia a
mesma coisa ao encontrar um oponente desconhecido. Nunca era bom revelar
segredos.
Ela estudou Lucas com cuidado, e depois relaxou. Eles iriam ser aliados,
não adversários. E, sendo esse o caso, era uma coisa boa que Lucas fosse mais
forte do que o esperado. Ele seria um melhor aliado.
Ela sorriu enquanto se aproximava para cumprimentá-lo. — Lucas, não é
surpresa? — Ela disse, referindo-se ao seu poder bastante substancial, agora que
ela teve a chance de examiná-lo.
— Oh, isso, — ele disse, afastando suas palavras. — Eu tenho uma surpresa
para você, mas é muito melhor do que isso.
— Oh? — Mathilde inclinou a cabeça, lutando contra a súbita onda de
náusea que estava torcendo em seu intestino.
— Sim, boa notícia! Afinal, não vou lutar com você.
Mathilde piscou em confusão. — Isso é uma boa notícia — ela disse
cautelosamente. Algo sobre toda essa organização estava de repente tocando sinos
de alarme em sua cabeça. E então, entre um piscar de olhos e o próximo, seus
piores temores foram confirmados. Uma onda de poder a atingiu, tão forte que ela
foi derrubada um passo ou dois. E quando ela viu quem estava vindo atrás de
Lucas, ela queria voltar muito mais.
— Impossível, — ela sussurrou, recorrendo a sua língua nativa.
Raphael entrou na sala, a arrogância se movendo em ondas, seu poder
enchendo todos os espaços disponíveis até que Mathilde sentiu que estava
tentando esmagá-la, como se a própria gravidade tivesse mudado repentinamente
com sua entrada.

— Compreendo que haja um desafio em andamento — disse ele


casualmente, como se ele fosse apenas um espectador.
— Você não pode estar aqui — ela respirou, desesperada para contatar seu
povo no Havaí, para descobrir o que tinha acontecido, se algum deles ainda estava
vivo.
Raphael inclinou a cabeça curiosamente. — Mas esta é a minha casa. Onde
mais eu estaria, Mathilde? — Houve uma nitidez nessa pergunta que desmentia
sua pose casual. Não que ela precisava de alguma evidência de que ele estava com
raiva, até mesmo amargo. Ela não esperaria nada mais dele.
— Alguma das minhas pessoas ainda está viva? — Ela perguntou
calmamente.
Raphael encontrou seu olhar por um momento, mas não em simpatia ou
compreensão. Era mais como se ele achasse curioso que ela fizesse essa pergunta.
— Não, — ele disse simplesmente. — Bem, ninguém além de Rhys
Patterson. Eu ouvi dele mais cedo esta noite, e ele está indo muito bem, reunindo
seus filhos de volta, reconstruindo sua pequena comunidade. Ele e eu estaremos
muito mais próximos depois disso, graças a você.
O coração de Mathilde apertava-se de dor, não pela morte dos outros, mas
por seus próprios filhos. Alguns deles haviam estado com ela durante séculos. Seria
impossível substituí-los. Mas então... A menos que ela pudesse derrotar Raphael
em um desafio direto, isso realmente não importaria.
— Uma pergunta — disse ela, mais curiosa do que qualquer outra coisa. —
Como escapou?
Raphael estendeu a mão para uma fêmea humana esbelta e de cabelos
escuros. Mathilde olhou para a mulher de cima a baixo. Ela era adorável, com olhos
de um tom invulgar de verde. E ela obviamente adorava Raphael. Mathilde podia
ver o apelo do ser humano ao senhor vampiro, mas não conseguia entender por
que ele a estava arrastando para uma conversa séria.
Raphael pegou a mão da mulher, puxando-a contra o seu lado. — Conheceu
a minha companheira, Cynthia Leighton?
Mathilde piscou de surpresa. Esta era a companheira de Raphael? Ela tinha
ouvido rumores sobre a mulher, até mesmo na Europa, mas esses rumores falavam
de uma guerreira, não este punhado de uma mulher que parecia demasiada fraca
para levantar uma arma decente. Mas mesmo assim... a realização a atingiu.
— Ela libertou você? — Mathilde perguntou em incredulidade. — Como isso
é possível?
— Bem, eu tive ajuda, — a mulher comentou, o que suscitou um sorriso
afetuoso de Raphael. Doentio.
— Seu desprezo pelos humanos sempre foi um ponto cego, Mathilde — disse
Raphael, chamando sua atenção de volta.
— Nenhum humano poderia ter matado todos os meus...
— Oh, não, — Raphael disse maliciosamente. — Esse foi o meu privilégio.
Minha Cyn tornou possível, no entanto. Ela suspeitava de seus motivos muito
antes de qualquer um de nós. E você nem sequer soube que ela estava na ilha.
Mathilde estudou a mulher, calculando quanto tempo demoraria para
matá-la agora, e se fazê-lo aumentaria suas chances de derrotar Raphael. Mas a
quem ela estava enganando? Ela não podia vencê-lo em uma luta direita, não
importa o quê. Era por isso que ela tinha inventado este esquema em primeiro
lugar. Mas se ela ia morrer de qualquer maneira, então por que não tirar a cadela
de Raphael primeiro? Dar-lhe-ia imensa satisfação em seus últimos momentos de
vida, e causaria a ele uma dor imensurável.
Como se tivesse lido os pensamentos em sua cabeça, Raphael pisou
abruptamente na frente de sua companheira. — Se você tentar tal coisa, sua morte
será infinitamente mais dolorosa.
— Cyn — Lucas chamou a fêmea, estendendo a mão. Mas enquanto ela
soltava o braço de Raphael, ela não saiu de seu lado, puxando uma arma de algum
lugar sob seu casaco e segurando-a com as duas mãos.

— Esta deve ser minha luta, lubimaya — disse Raphael. — Vá ficar com o
Lucas.
Mathilde ficou surpresa quando a mulher encontrou o olhar de Raphael
com um aceno de compreensão, então cruzou de volta para a porta para ficar com
Lucas.
— Então, Mathilde — murmurou Raphael. — Eu aceito seu desafio.
Mathilde olhou-o infeliz, o coração pesado pela forte probabilidade de sua
própria morte iminente. Desde os primeiros dias de sua vida como vampira, ela não
sentia esta sensação iminente de desgraça. — Você abateu meus melhores
esforços, — ela disse calmamente. — Matou muitos dos meus seguidores mais
fortes. Estou disposta a reconhecer a derrota e recuar...
Raphael riu. — Não é uma chance — disse ele brevemente. — Não em cem
anos, nem em mil. Defenda-se ou morra no minuto seguinte.
— Posso dizer adeus?
— Não há ninguém para dizer adeus. Estão todos mortos.
— Você se tornou cruel, Raphael.
— Sempre fui cruel, Mathilde, com aqueles que merecem.
Ela atacou enquanto ele ainda estava falando, sabendo que um ataque
surpresa era sua única chance. Mathilde tinha poder, mas Raphael... ele tinha sido
poderoso quando ela o conheceu na Europa, mas isso não era nada comparado
com o que ela estava enfrentando hoje à noite. Ela sabia agora que ele estava
segurando sua força naquela primeira noite no Havaí, na noite em que ela agiu
com tanta precipitação pensando em controlá-lo.
Antes que ele terminasse sua frase, ela atacou, cravando um chicote de
poder apontado em sua garganta, esperando sangrar alguma de sua força terrível,
mesmo enquanto ela envolvia seus escudos mais poderosos em torno de si mesma,
usando muito poder para selá-los firmemente, mas disposta a tomar essa chance.
Ela não podia derrotá-lo em uma prova de força; ela sabia disso agora. Mas talvez
ela pudesse sobreviver a ele. Ele tinha quebrado as restrições que ela tinha
envolvido, mas ele tinha que ter tomado um pedágio. Ele deve estar pelo menos
enfraquecido pelos dias de inatividade, de fome e perda de sangue. Se ela pudesse
aguentar até que sua força esgotasse, havia uma pequena chance de que ela
pudesse se afastar. Não como Lorde do Oeste – que estava perdido para ela – mas
pelo menos com sua vida.

****

Raphael bloqueou o ataque de Mathilde com uma facilidade surpreendente.


Fazia tempo que não via Mathilde, ainda mais desde que ele a vira elevar seu poder,
mas ele esperaria mais do que o que ela lhe lançou. Ele ergueu seus escudos quase
como um pensamento tardio, então percebeu onde seu poder tinha ido. Ela estava
desperdiçando força em seus escudos, mergulhando-os um sobre o outro, como se
estivessem se escondendo atrás deles, em vez de gastar sua energia lutando. Ele
sempre admirava o design elegante dos escudos de Mathilde. Cada um era quase
como uma segunda pele, de acordo com seu corpo, apenas um centímetro acima
de sua carne. Mas se esconder atrás de seus escudos parecia uma estranha
estratégia para ele, até que ele entendeu seu pensamento. Ela esperava esgotá-lo,
esperava que ele estivesse fraco depois da longa provação em suas mãos. Mas então
Mathilde nunca teve um companheiro, nunca experimentou o poder do sangue de
um companheiro, especialmente não um companheiro tão formidável quanto sua
Cyn.
— Faz quase dois séculos que enfrentei um desafio, Mathilde — disse ele,
deixando que ela ouvisse a zombaria em sua voz. — Me dê uma boa luta, e eu farei
sua morte rápida.
Mathilde sibilou com raiva. — Como você ousa? Você não é nada além de
um camponês da sujeira em uma elevação do sangue.
Raphael sorriu quando soltou todo o peso de seu poder, sentindo a corrida
familiar de liberdade que ela trouxe, vendo os olhos de Mathilde se arregalarem em
choque. Teria ela pensado que ele já estava em plena força? Que ele tinha entrado
no quarto cercado pelas nuvens cheias de seu poder? Talvez ele não fosse o único
que não tinha lutado um desafio em muito tempo.

— Nós, camponeses, somos feitos de material robusto — ele provocou.


Mathilde recuou mais dois passos, a cabeça girando de um lado para o
outro, examinando a sala. Estava procurando aliados? Não encontraria nenhum
aqui.
Seus pensamentos se interromperam quando um vaso grande veio voando
pelo quarto para esmagar contra seus escudos. Antes que ele pudesse rir da tolice
de tal estratagema, outro se quebrou contra suas costas, e ainda outro e outro até
que o chão estava cheio de pedaços de porcelana inestimável. Levantando as mãos,
ela reuniu os fragmentos em um redemoinho mortal com ele em seu centro, girando
cada vez mais rápido até que ele podia sentir a brisa de sua passagem.
Era um aborrecimento mais do que qualquer outra coisa, e Raphael estava
a ponto de dar uma bofetada quando percebeu abruptamente a loucura de seu
pensamento, e calculou mal o tempo. Mathilde empurrou uma lança firmemente
controlada de poder diretamente em seu coração, esperando tirar proveito de sua
distração com a porcelana. E ela quase conseguiu. Pegando a ondulação do poder
pelo canto do olho, ele endureceu os escudos em frente a seu peito e repeliu a
lança, mas não sem sentir a pressão de seu impulso.
Levantando as mãos em um movimento de empurrão lateral, ele sugou a
energia de seu ataque inicial. O mini-tornado de fragmentos de porcelana caiu ao
chão com um baque forte, deixando-o cercado pelo material.
— Muito bem feito, Mathilde — observou ele. — Embora eu preferisse que
você usasse a louça mais barata.
Mathilde mostrou os dentes por trás da fina distorção de seu escudo. —
Quanto melhor a porcelana, mais nítidas são as fendas. Seu arrogante bastardo.
Diga-me, como você se livrou das algemas?
— Por que eu diria isso?
— Por que não, oh grande? De acordo com você, eu estou morta de qualquer
maneira. Pense nisso como um presente de despedida.
Raphael riu. — Você sempre foi inteligente. Pena que você é uma puta sem
fé. Mas você me surpreende, então eu vou te dar isso... Minha Cyn tinha a chave.
Os olhos de Mathilde se arregalaram, uma mão indo até o peito. —
Impossível! A chave é minha.
Raphael disse. — Você tinha as algemas, você conhece sua história. Então
você deve saber que havia duas chaves feitas.
— Mas a outra...
— É isso mesmo, Mathilde. Minha companheira trouxe a chave âmbar —
disse Raphael orgulhosamente.
Mathilde riu. — Quantos feiticeiros ela teve que foder para conseguir isso?
Raphael sentiu os olhos ficarem frios, sentiu que todos os vestígios de
humor se afastavam. Apertando as mãos, ele enviou uma onda de poder contra os
escudos de Mathilde, observando com satisfação enquanto ela cambaleava para
trás, as veias se esticando no pescoço e na testa enquanto lutava contra isso. Uma
veia em sua têmpora explodiu sob a tensão, fazendo o sangue escorrer ao longo de
sua mandíbula para manchar seu suéter pálido. Respirando com dificuldade,
lutando para ficar de pé, ela enxugou o sangue quando ele tinha pingado em seu
olho, então endireitou suas costas para encará-lo novamente. Ela era corajosa o
suficiente, ele daria isso a ela. Mas ela tinha cometido um erro quando arrastou
Cyn na mistura.
Ele lançou uma série de golpes, um após o outro, chovendo-os em seus
escudos, lado a lado, de cima para baixo, até que ela nunca soube onde o próximo
golpe viria, seus olhos mudando descontroladamente quando ela tentou seguir
seus movimentos. Ela era muito inteligente para lutar, muito experiente para
pensar que ela poderia ter sucesso se ela tentasse. Ela estava colocando todo o seu
esforço em seus escudos, ainda esperando para se esconder atrás deles até que
sua força sinalizasse o suficiente para dar-lhe uma chance.
Raphael contornou Mathilde, mais para desequilibrá-la do que para servir
a qualquer propósito real. Tornara-o uma vítima, o tinha reduzido a uma
impotência que ele não sentia desde criança, à mercê dos punhos de seu pai. Não
havia suficiente sofrimento que pudesse encher com ela, nenhum tormento
suficiente...
Ele olhou para cima e viu Cyn de pé ao lado de Lucas, seu rosto encantador
uma máscara de medo por ele. Ocorreu-lhe que Cyn nunca o tinha visto lutar um
desafio antes, nunca o vira assumir um adversário que nem mesmo remotamente
correspondia a ele no poder. Mas ela estava preocupada com a segurança de seu
corpo, ou sua alma? Sua Cyn era uma guerreira de coração. Ela compreendia a
necessidade ocasional de crueldade na guerra, mas nunca aceitou o preço que ele
pagava por ela.
Raphael voltou o olhar para Mathilde, que olhava para ele, desafiadora e
desesperada, dentro dos limites de seus elegantes escudos. E ele estava
abruptamente cansado dessa luta. O resultado foi ordenado; não havia nada que
Mathilde pudesse fazer, nenhuma reserva para ela se aproveitar disso seria
suficiente para superar sua superioridade de poder bruto, muito menos sua
experiência muito maior em lutas reais. Mathilde tinha poder suficiente, mas sua
preferência sempre tinha sido evitar o confronto pessoal, para ganhar usando as
técnicas mais secretas como assassinato e manipulação. Ou magia. Assim como
ela tinha usado contra ele.
Esse pensamento o trouxe de volta ao que ela tinha feito para ele, e o que
ela lhe devia por isso. Sem aviso, ele desencadeou uma série de ataques letais, já
não mais com o objetivo de brincar com ela, para prolongar a luta. Estes foram
projetados para matar, para subjugar a sua capacidade de se defender.
Mathilde lutou até o fim amargo, tentando desesperadamente acompanhar
seus ataques, até que com um pop audível, seus escudos se derrubaram. Raphael
puxou para trás seu próximo ataque, quando ela caiu de costas contra uma mesa
lateral de pernas esguias, respirando com dificuldade, olhando com ódio para ele.
Raphael a olhou friamente. Ela lutou duramente até o fim, apesar das
probabilidades esmagadoras. Ele quase podia respeitar tal oponente. Poderia quase
considerar conceder a ela uma morte honrosa.
Quase.
Ele gesticulou, e um fino chicote de poder atacou, cortando sua garganta,
cortando cada veia e artéria em seu pescoço. Ele queria que ela soubesse como era
sentir o sangue de sua vida cair em um fluxo quente pelo seu peito, conhecer o
sentimento de desesperança, o conhecimento de que sua vida estava prestes a
terminar e todo o poder no mundo não a salvaria.
Ele observou como ela se engasgou com seu próprio sangue, viu o terror em
seus olhos, e eventualmente a súplica.
— Você ainda está impressionada, Mathilde? — perguntou.
E então ele bateu com um punho em seu peito, arrancou seu coração, e
esmagou-o diante de seus olhos.

****
Raphael deitou-se na cama, olhando com os olhos entreabertos enquanto
Cyn penteou seus cabelos brilhantes, depois se inclinou sobre a pia para lavar o
rosto. Ele inclinou a cabeça, sorrindo ligeiramente em apreço por seu corpo nu.
— Pare de olhar, — ela falou, levantando uma toalha para secar seu rosto.
— Por quê? Não posso admirar a beleza que é minha?
Ela jogou a toalha em seu rosto quando ela saiu do banheiro. Ele o esquivou
facilmente, puxando-a em seus braços quando ela subiu na cama ao lado dele.
— Você nunca vai me deixar esquecer isso, vai?
— Que você é minha? Nunca.
— Você entende, isso significa que você é meu, também, certo?
— É óbvio.
— Bem, diga de qualquer maneira.
Raphael riu. — Minha Cyn, amor da minha vida, eu sou seu.
— Bem, atire. Você não tem que ser tão doce sobre isso.
Ele se virou, colocando-a sob seu corpo, colocando-a entre seus braços. —
Mas eu faço. Eu não estaria aqui sem você. Muitos dos meus vampiros, meus filhos,
teriam morrido sem você. Devo-te muito mais do que doçura.
— Eu não fiz por eles, ou para que você ficasse me devendo. Eu fiz isso por
mim, porque a vida sem você não vale a pena viver.
— Eu sei.
Ela deu-lhe um sorriso tão desarmante, que ele estava imediatamente
suspeito. — O quê? — perguntou ele, lutando contra a diversão que estava
tentando curvar seus próprios lábios em um sorriso.
— Agora que você matou a bruxa má, acabou? Podemos tirar férias de
verdade?
Ele suspirou. — Eu lhe daria qualquer coisa, lubimaya. Mas isso eu não
posso te dar. Ainda não. Mathilde não agiu sozinha. Nós matamos todos aqueles
que ela se reuniu contra mim, mas há outros, tão poderosos quanto ela ou mais,
que conspiraram com ela. Esta guerra ainda não acabou.
— Eu pensei que você diria isso. Que tal um fim de semana em Malibu?
Conheço um belo condomínio na praia.
— Isso eu posso fazer, — ele disse, rolando em suas costas, abraçando-a
contra ele, muito consciente de que o sol estava prestes a aparecer no horizonte.
— Amo você, Raphael — disse ela sonolenta, colocando a cabeça em seu
ombro.
— Eu também te amo, minha Cyn. Sempre.
Epílogo
San Antônio, Texas, mais cedo na mesma noite

CHRISTIAN DUVALL sentou-se debaixo de um guarda-chuva ao longo da


River Walk em San Antonio bebendo um expresso, o delicado copo minúsculo em
sua grande mão. Alguns vampiros continuaram a voltar seus gostos para o álcool,
embora não tivesse nenhum efeito em seus metabolismos realçados. Christian
preferia explorar sua imunidade metabólica, entregando-se ao gosto altamente
cafeinado de um excelente expresso. Quanto mais encorpado, melhor.
Este estabelecimento em especial servia culinária italiana e uma
aproximação justa de sua bebida favorita, embora mesmo aqui, eles não podiam
corresponder a mistura escura de seu café em Toulouse. Mas, infelizmente, aquele
era um café que ele provavelmente nunca veria novamente.
Ele ergueu sua xícara enquanto um barco turístico passava, cheio de
americanos alegres. Ele não esperava gostar deste país, mas depois de apenas dois
meses, ele teve que admitir que tinha muito a recomendar. Ele esperava que sim,
porque de uma forma ou de outra, ele planejava torná-la sua casa.
Um garçom chegou à sua mesa para entregar um prato de biscoitos
italianos, polvilhado liberalmente com açúcar em pó. Christian não iria comer
qualquer um desses, mas por causa das aparências, ele sempre pedia alguma
coisa. Afinal das contas, os vampiros haviam sobrevivido a tanto tempo, se
misturando. Ele olhou para o garçom com um sorriso de agradecimento, depois
voltou para seu jornal e seu expresso. Ele acabara de começar a ler uma análise
da situação política local – sempre uma coisa boa para saber – quando seu mundo
foi abalado por uma explosão de poder tão forte que sua mente ficou
completamente em branco por um minuto ou até dois.
Foi tão avassalador e tão inesperado que, quando ele finalmente piscou de
volta à consciência, ficou chocado ao descobrir o mundo humano procedendo em
torno dele como se nada tivesse acontecido.
Mas algo tinha acontecido. Algo importante. Seu Sire, Mathilde, estava
morta. Ela tinha falhado em sua tentativa mal concebida de derrotar Raphael, e
Christian estava agora sozinho.
Ele não poderia ter pedido um resultado melhor.
Ele levantou o celular e ligou para o agente de viagens. Era hora de fazer
uma visita a Malibu...

Continua...

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