Manual PAV Finalissima

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FICHA TÉCNICA

Coordenação:
Rosa Marlene Manjate Cuco - Directora Nacional de Saúde Pública
Benigna Matsinhe - Directora Nacional Adjunta de Saúde Pública
Graça Matsinhe - Chefe Nacional do PAV
Célia Chirindza - Ponto Focal de HSS-PAV
Elisa Mavili Nambale - Responsável pela Áreas de Formação e Comunicação PAV

Autores:
Graça Matsinhe, Elisa Mavili Nambale, Basília Vaz, Sousa Ribe, Tímoteo Chaluco, Albino Boane, Patrício
Jaime, Jaime Macaringue, Ulmenia Mangujo, Arlindo Banze, Luisa Namburete, Isabel Menetiane, Melina
Matusse, Carlos Mocha, Balbina Mário, Ahamada Ossufo, Santos Sipaneque, Gregório Janeiro, Aida Momed,
Onei Uetela, Carlos Abel Fundzamo, Manuel Novela e Jeremias Mathe

Revisão / Consultores:
Sérgio Caetano
Acácio José Sabonete

Arte Gráfica:
Aly Hamido

Fotografias:
MISAU, UNICEF e OMS

Tiragem:
2000 exemplares

1ª Edição: 1989
2ª Edição: 1995
3ª Edição: 2009
4ª Edição: 2019

Maputo - Moçambique

2
ÍNDICE

Prefácio ........................................................................................................................................................................... 7

Agradecimenos .............................................................................................................................................................. 8

Introdução ...................................................................................................................................................................... 9

Capítulo 1 ....................................................................................................................................................................... 11
Vacinação ........................................................................................................................................................................ 13

Capítulo 2 ....................................................................................................................................................................... 17
Doenças-alvo do PAV .................................................................................................................................................... 19
1.2 Sarampo ..................................................................................................................................................................... 19
2.2 Rubéola ...................................................................................................................................................................... 21
2.3 Poliemielite ................................................................................................................................................................ 23
2.4 Tétano ........................................................................................................................................................................ 25
2.5 Tuberculose ............................................................................................................................................................... 27
2.6 Difteria ....................................................................................................................................................................... 28
2.7 Pertussis ou tosse convulsa ....................................................................................................................................... 29
2.8 Hepatite b ................................................................................................................................................................... 31
2.9 Doenças causadas pelo haemophilus influenzae ..................................................................................................... 32
2.10 Diarreia por rotavírus ............................................................................................................................................. 34
2.11 Papiloma vírus humano ......................................................................................................................................... 35

Capítulo 3 ....................................................................................................................................................................... 37
Vacinação e calendário vacinal ...................................................................................................................................... 39
3.1 Vacinação da criança ................................................................................................................................................ 39
3.2 Mulher grávida e mulher em idade fértil (MIF) ....................................................................................................... 41
3.3 Actividades especiais de vacinação .......................................................................................................................... 43

Capítulo 4 ...................................................................................................................................................................... 45
Administração de vacina e suplementação com vitamina A ........................................................................................ 47
4.1 Vias de administração de vacinas ............................................................................................................................ 47
4.2 Seringas e agulhas para a vacinação ......................................................................................................................... 48
4.3 Vacina da BCG .......................................................................................................................................................... 48
4.4 Vacina da DPT-HepB-Hib ...................................................................................................................................... 50
4.6 Vacina oral contra Pólio (OPV) ................................................................................................................................ 52
4.7 Vacina inactividade contra Pólio (IPV) ................................................................................................................... 53
4.8 Vacina da PCV .......................................................................................................................................................... 54
4.9 Vacina da rotavirus .................................................................................................................................................... 54
4.10 Vacina contra Sarampo e Rubeola ........................................................................................................................ 57
4.11 Toxóide Tetâno (IT ou VAT) ................................................................................................................................. 59
4.12 Suplementação com vitamina A ........................................................................................................................... 60

Capítulo 5 ....................................................................................................................................................................... 63
Eventos adversos pós-vacinação (EAPV) ..................................................................................................................... 65
5.1 Definição de caso de EAPV ..................................................................................................................................... 65
5.2 Categorias de eventos adversos pós-vacinação ....................................................................................................... 65
5.3 Notificação de EAPV ................................................................................................................................................ 67

3
5.5 Resposta imediata ..................................................................................................................................................... 69
5.6 Tratamento de um caso de EAPV ............................................................................................................................ 69
5.7 Notificação de casos de EAPV ................................................................................................................................. 70
5.8 Investigação de caso de EAPV ................................................................................................................................. 70
5.9 Desafios colocados pelos eapv durante os dias nacionais de vacinação (DNV) ................................................... 73
5.10 Estratégias para minimizar os casos de EAPV ...................................................................................................... 73

Capítulo 6 ....................................................................................................................................................................... 75
Vigilância epidemiológica e investigação de surtos epidémicos .................................................................................. 77
6.1 Propósito da vigilância no PAV ............................................................................................................................... 77
6.2 Tipos de vigilância .................................................................................................................................................... 77
6.3 Características de um bom sistema de vigilância..................................................................................................... 78
6.4 O Sistema de vigilância de Moçambique ................................................................................................................ 78
6.5 Investigação epidemiológica de surtos e epidemias ................................................................................................ 79
6.6 Vigilância da paralisia flacida aguda (PFA) ............................................................................................................ 80
6.7 Vigilância do Sarampo/Rubéola ............................................................................................................................... 83
6.8 Vigilância do tétano neonatal ................................................................................................................................... 85

Capítulo 7 ....................................................................................................................................................................... 87
Uso de frascos abertos de vacina em sessões subsequentes e segurança da vacina (política de frasco aberto) 89
7.1 Política de frasco aberto ............................................................................................................................................ 89
7.2 Potência da vacina ..................................................................................................................................................... 89
7.3 Segurança da vacina .................................................................................................................................................. 90

Capítulo 8 ....................................................................................................................................................................... 91
Equipamento de injecções .............................................................................................................................................. 93
8.1 Tipos de equipamento de injecções ......................................................................................................................... 93
8.2 Uso de seringas auto-destructíveis .......................................................................................................................... 95
8.3 Prevenção de picada com agulhas ........................................................................................................................... 95

Capítulo 9 ....................................................................................................................................................................... 97
Como organizar uma sessão de vacinação ..................................................................................................................... 99
9.1 Organização de uma sessão de vacinação ................................................................................................................ 99
9.2 Fortalecimento dos serviços de vacinação ...............................................................................................................104

Capítulo 10 ..................................................................................................................................................................... 107


Brigadas móveis .............................................................................................................................................................. 109
10.1 Vacinação em áreas distantes e de difícil acesso ...................................................................................................109
10.2 Brigada móvel - esquemas a considerar ................................................................................................................. 110

Capítulo 11 ..................................................................................................................................................................... 111


Comunicação para a mudança social e de comportamento ..........................................................................................113
11.1 Conceitos básicos .................................................................................................................................................... 113
11.2 Quais são as estratégias a serem usadas? ............................................................................................................... 113
11.3 Quem deve ser envolvido nos diálogos comunitários para a mudança de comportamento? ..............................114
11.4 A que nível a intervenção deve tomar lugar? .........................................................................................................115
11.5 Quais os canais ou meios a usar? ............................................................................................................................ 115
11.6 Quem pode comunicar? .......................................................................................................................................... 115
11.7 Que método usar para motivar a participação comunitária?.................................................................................116
11.9 Como o TS pode tornar o programa de vacinação num sucesso? .......................................................................117
11.10 Visita porta-a-porta ............................................................................................................................................... 117

4
Capítulo 12 ..................................................................................................................................................................... 123
Cadeia de frio ................................................................................................................................................................... 125
12.1 Equipamento da cadeia de frio .............................................................................................................................. 126
12.2 Refrigeradores (geleiras) ........................................................................................................................................ 127
12.3 Caixas isotérmicas .................................................................................................................................................. 133
12.4 Acumuladores ......................................................................................................................................................... 133

Capítulo 13 ..................................................................................................................................................................... 135


Monitores do sistema de cadeia de frio ......................................................................................................................... 137
13.1 Registo de temperatura ........................................................................................................................................... 137
13.3 Monitor do frasco de vacina (VVM) ..................................................................................................................... 139
13.5 Teste de agitação (shake test) ................................................................................................................................. 141

Capítulo 14 ..................................................................................................................................................................... 143


Gestão da vacina .............................................................................................................................................................. 145
14.1 Procurement de vacina ............................................................................................................................................ 145
14.2 Requisição de Vacina ............................................................................................................................................ 153
14.3 Controle de stock de vacina e materiais ................................................................................................................. 155
14.4 Teste de potência da vacina .................................................................................................................................... 157

Capítulo 15 ..................................................................................................................................................................... 159


Manutenção dos refrigeradores ...................................................................................................................................... 161
15.1 Refrigerador (geleira) eléctrico .............................................................................................................................. 161
15.2 Refrigerador (geleira) solar .................................................................................................................................... 165

Capítulo 16 ..................................................................................................................................................................... 169


Planificação ..................................................................................................................................................................... 171
16.1 Planificação no contexto da estratégia red/rec ....................................................................................................... 171
16.2 Planificação e gestão de recursos .......................................................................................................................... 171
16.3 Atingir as populações alvo de difícil acesso: ......................................................................................................... 173
16.4 Comunicação e ligação com a comunidade .......................................................................................................... 173
16.5 Supervisão e apoio técnico ..................................................................................................................................... 174
16.6 Monitoria e uso de dados para acção ..................................................................................................................... 174
16.7 Exemplo de um processo de planificação por etapas ............................................................................................ 175
16.8 Grupos-alvo do PAV .............................................................................................................................................. 179

Capítulo 17 ..................................................................................................................................................................... 181


Inventário e requisição de equipamento e material PAV .............................................................................................. 183

Capítulo 18 ..................................................................................................................................................................... 187


Monitoria e avaliação das actividades do PAV ............................................................................................................. 189
18.1 A monitoria e avaliação das actividades do PAV ................................................................................................. 189
18.2 Definição de alguns indicadores úteis para o PAV ............................................................................................... 190
18.3 Avaliação por inquéritos ........................................................................................................................................ 196

Capítulo 19 ..................................................................................................................................................................... 203


Eficácia da vacinação ...................................................................................................................................................... 205
19.1 Avaliação da eficácia .............................................................................................................................................. 205
19.2 Registo, análise e interptretação de dados da vigilância epidemiológica ............................................................ 206
19.3 Notificação de óbitos ou avaliação da letalidade ................................................................................................... 207

5
Capítulo 20 ..................................................................................................................................................................... 209
Sistema de informação de saúde (SIS) .......................................................................................................................... 211
19.1 Conceitos ................................................................................................................................................................. 211
19.2 Actividades do SIS .................................................................................................................................................. 211
19.3 Resumo .................................................................................................................................................................... 213
19.4 Fichas do pav e o modo de preenchimento ........................................................................................................... 214

Anexos ..................................................................................................................................................................... 215

Fichas ..................................................................................................................................................................... 225

6
PREFÁCIO

A vacinação constitui uma das intervenções de saúde pública mais custo-eficaz para assegurar a sobrevivência
da criança e melhorar o seu estado de saúde nos primeiros anos de vida.

O sucesso do processo de vacinação não depende apenas da disponibilidade das vacinas, mas sim de uma série
de combinação de factores que vão desde a disponibilidade de pessoal técnico melhor qualificado, sistema de
transporte e conservação das vacinas dentro dos padrões recomendados, sistemas de monitoria e avaliação e,
planificação funcional.

É neste propósito que o Programa Alargado de Vacinação actualizou e editou o presente manual na perspectiva
de torna-lo num instrumento de apoio aos profissionais de saúde, no cumprimento dos padrões recomendados
para oferta de um serviço de vacinação de qualidade. O mesmo servirá como um recurso imprescindível aos
académicos e estudantes de cursos de saúde, no aprimoramento dos conhecimentos técnicos do Programa
Alargado de Vacinação, proporcionando subsídios teóricos e práticos para a formação profissional com
fundamentação científica de modo a melhorar a sua capacidade de intervenção.

Espera-se que o presente manual possa contribuir para o fortalecimento das capacidades individuais, na
promoção de serviços de saúde, cumprimento do calendário de vacinação e prevenção de doenças preveníveis
por vacinação; através de oferta de serviços de vacinação com qualidade e atenção virada para o paciente adulto
ou criança.

Sendo assim, compete à cada um de nós divulgar, envolver e motivar os demais profissionais de saúde, no uso
ou consulta do presente manual nas suas actividades de rotina, actividades de vacinação suplementar, assim
como nas actividades académicas.

Em nome do Ministério da Saúde, gostaria de endereçar o meu apreço e agradecimento à todos os que, de
forma directa ou indirecta, contribuíram para a actualização e edição deste importante documento.

Maputo, Maio de 2019

A Ministra da Saúde

Dra. Nazira Karimo Vali Abdula

7
AGRADECIMENTOS

A actualização do presente manual do Programa Alargado de Vacinação (PAV) foi possível graças ao apoio
e colaboração de vários intervenientes, aos quais endereçamos os nossos profundos agradecimentos.

É de destacar o empenho da equipa central do PAV, pela dedicação e participação activa nas discussões durante
o processo de revisão bibliográfica e actualizacão do presente manual, que mantém as mesmas características
do manual anterior, na abordagem e interpretação de vários temas de interesse do PAV, desde a epidemiologia
das doenças alvo do PAV, vacinação e calendário vicinal, planificação, monitoria e avaliação e entre outras
áreas técnicas do PAV.

Os agradecimentos são extensivos ao Departamento de Promoção da Saúde, o Departamento de Vigilância


Epidemiológica e os seguintes parceiros: UNICEF, OMS, VillageReach, JSI, e CHAI, pela sua colaboração
e apoio técnico em todas as etapas de actualização deste manual, que incluem a revisão bibliográfica, síntese
da informação e redação dos seus capítulos.

8
INTRODUÇÃO

O Programa Alargado de Vacinação (PAV) foi lançado em Moçambique em 1979, no âmbito do Programa
de Cuidados de Saúde Primários, tendo como principal objectivo reduzir a morbilidade e mortalidade resultantes
de doenças previníveis por vacinação. Apesar de algumas dificuldades que o programa tem vindo a enfrentar,
os resultados indicam que a opção e os objectivos traçados no âmbito da sua criação, estão dentro do esperado
a olhar pela evolução das coberturas vacinais e uma considerável redução da morbilidade e mortalidade por
doenças previníveis através de vacinas.

Actualmente as vacinas de rotina disponíveis no PAV, previnem as seguintes doenças: Tuberculose, Tétano,
Tosse convulsa, a Influenza, Hepatite B, Poliomielite, Diarreias por Rotavírus, Cancro do colo do útero,
Pneumonia, Sarampo e Rubéola, estas últimas introduzidas no país em 2018.

Com a introdução de novas vacinas, o enfoque do PAV passou a incidir também em crianças até os dois de
idade e adolescentes. Para garantir que o seu grupo alvo seja vacinado, o PAV recorre a três estratégias de
vacinação: i) vacinação na unidade sanitária (posto fixo de vacinação), ii) vacinação em brigadas móveis,
iii) e campanhas de vacinação.

Segundo a UNICEF (2017), cerca de 15.000 crianças morrem a cada dia principalmente por doenças evitáveis
através das vacinas. A África Sub-Sahariana, região a qual Moçambique faz parte, continua sendo a região
com maior taxa de mortalidade de menores de cinco anos, com cerca de76 mortes por 1.000 nascidos vivo.
Calcula-se que a melhoria na cobertura de vacinação, possa evitar cerca de 1.5 milhões de mortes infantis
adicionais, contudo, dados recentes mostram que apesar do aumento da captação de novas vacinas, a proporção
global de crianças vacinadas permanece em 85%, sem alteração significativa nos últimos anos (WHO 2018).

Em Moçambique, o acesso aos serviços de vacinação é grátis, contudo o país continua a registar assimetrias
no número de crianças que beneficiam destes serviços. Dados do IMASIDA 2015, mostram que 66% de crianças
de 12-23 meses a foram completamente vacinadas antes do primeiro ano de vida, no entanto, esta percentagem
varia em função das províncias, o nível de escolaridade da mãe e o quintil de riqueza.

Por outro lado, o número de crianças que perdem a oportunidade de receberem as vacinas de doses múltiplas
continua elevado. A diferença na percentagem de crianças que tomam a primeira e terceira dose da vacina
DPT-Hep-hib é de 8 pontos percentuais e em relação a primeira e terceira dose da vacina contra pólio é de 19
pontos percentuais (IMASIDA 2015). Estes dados mostram que mais do que garantir o acesso grátis aos serviços
de vacinação, é importante que a todos níveis do Serviço Nacional de Saúde, sejam tomadas ações no sentido
de garantir que a qualidade e oferta de serviços de vacinação, as diferenças sociais e as oportunidades perdidas
de vacinação, não possam por em causa os objectivos e metas do PAV.

A actualização do presente manual teve em conta o actual perfil epidemiológico das doenças de infância
previníveis por vacinas, a introdução de novas vacinas em função de outros grupos alvo do PAV e factores
organizacionais, sem deixar de lado o objectivo inicial para o qual o PAV foi criado, que é de minimizar o
impacto das doenças previníveis por vacinas, na saúde da população, visando a erradicação de doenças como
a poliomielite, a eliminação do tétano neonatal e do sarampo.

Espera-se que este Manual possa servir de um instrumento de consulta na busca de soluções para os desafios
diários no trabalho do profissional de saúde, pelo facto do mesmo agregar um conjunto de informação fácil
de se adaptar às circunstâncias locais, dentro dos propósitos do Programa Alargado De Vacinação.

9
É natural que num capítulo ou outro, o presente Manual se mostre insuficiente na solução de algumas dúvidas
ou preocupações, contudo têm-se a certeza que com a informação que este contém, os profissionais de saúde
poderão fazer o uso na melhoria da qualidade de serviços de imunização oferecidos e consequente melhoria
das coberturas vacinais, através de acções coordenadas ao nível das unidades sanitárias ou actividades de
promoção de saúde, como as brigadas móveis nas comunidades, escolas e outros espaços públicos.

Vacinar as crianças e as mulheres é defender a saúde e o futuro do País.

10
VACINAÇÃO

A vacinação é um processo que permite a administração de uma vacina e ela é considerada a intervenção de
saúde pública mais bem-sucedida em termos de custos para reduzir a morbi-mortalidade por doenças transmissíveis
alvo de vacinação no País. Ela tem como objectivo, a redução ou eliminação de patologias que possam ser
prevenidas através de vacinas, beneficiando a saúde das populações, em termos de diminuição de custos em
cuidados médicos.

Vacina é uma substância produzida através de bactérias ou vírus (ou partes deles) mortos ou enfraquecidos.
Ao ser introduzida no corpo do ser humano, a vacina provoca uma reacção do sistema imunológico denominada
imunização, promovendo a produção de anticorpos específicos tal qual o que acontece relativamente a uma
qualquer doença. Desta forma, a vacina prepara o organismo para que, em caso de infecção por algum agente
patogénico, o sistema de defesa possa agir com força e rapidamente. Assim a doença não se desenvolve ou,
em alguns casos, se desenvolve de forma branda. A Administração de uma vacina, possibilita a aquisição de
imunidade num indivíduo vacinado.

Imunidade é a resistência ou protecção contra algo, normalmente relacionada com doenças e infecções que
podem atacar o organismo de um ser vivo. Ela consiste num conjunto de mecanismos que defendem o corpo
de agentes infeciosos invasores. A imunidade pode ser activa se a vacina desencadear a produção de anticorpos
por parte dos linfócitos B, ou pode ser passiva se a vacina apenas permitir uma imunidade temporária através
da administração de anticorpos pré-formados.

Para além da produção de anticorpos, as vacinas também possuem antigénios que, sendo componentes das
mesmas, permitem o desencadear de uma reacção imunológica. Na composição de uma vacina podem existir,
além dos antigénios, componentes designados como adjuvantes, ou seja, substâncias que ao serem adicionadas
na composição da vacina permitem potenciar o grau e/ou duração da resposta imunológica permitindo reduzir
a quantidade de imunogénico por dose ou mesmo reduzir o número de doses necessárias.

Vacinar é o acto de inocular ou administrar substâncias biológicas no organismo de forma a criar, artificialmente
e sem risco, um estado de protecção contra determinadas doenças transmissíveis.

Por exemplo:
• A vacina da BCG contém bactérias que causam a Tuberculose. Contudo, essas bactérias, modificadas
por um processo laboratorial, estão tão enfraquecidas que não conseguem provocar doença.
• A vacina contra o Sarampo contém vírus respectivos. Porém, esses vírus também estão modificados
e não conseguem desenvolver doença.

Esses preparados de bactérias ou vírus (vacinas), quando inoculados no organismo, estimulam-no, depois de
algum tempo, à criação de anticorpos contra aquela bactéria ou vírus.

Os anticorpos são os defensores do nosso organismo e têm a capacidade de eliminar a acção dos vírus e das
bactérias que, sem essa defesa, seriam capazes de causar a doença.

Os anticorpos são, assim, os elementos responsáveis pela defesa do organismo contra as doenças.

Quando o organismo de uma pessoa já vacinada entra em contacto com o vírus ou bactéria de outra pessoa
doente, o organismo reage e defende-se através dos anticorpos produzidos pela vacina, eliminando a acção dos
vírus ou bactérias invasoras.

Os anticorpos são específicos, isto é, protegem contra uma determinada doença para a qual é feita a vacinação.

13
Por exemplo: Os anticorpos contra o vírus do Sarampo protegem apenas contra esta doença. Por isso, a vacina
deve ser administrada à criança, antes do seu contacto com o vírus do Sarampo, para que dê tempo à formação
de anticorpos.

Perspectiva Histórica da Vacina

A) História global
A vacina surgiu em um importante momento histórico de combate à varíola, uma das doenças mais temidas
no mundo no século XVIII, com taxa de mortalidade em torno de 10 a 40%.

A descoberta de que os sobreviventes da varíola não contraiam a doença novamente, trouxe à tona a ideia de
provocar uma enfermidade de forma branda para evitar que ela fosse contraída de maneira mais virulenta.

Este legado coube ao médico inglês Edward Jenner, que após uma série de experiências, ele observou que os
ordenhadores que haviam sido contaminados pela “cowpox”, doença branda semelhante à varíola que atingia
gados, eram imunes à varíola. Mesmo sendo infectadas pelo vírus, estas pessoas mantinham-se refratários à
varíola, mesmo quando inoculados como vírus. Em 14 de Maio de 1796, Janner inoculou um rapaz de oitos
anos de idade, com o pus retirado de uma pústula (crosta cheia de pus formada sobre a pele de um doente) de
uma ordenhadora que sofria de cowpox. O rapaz contraiu uma infecção extremamente benigna e, dez dias
depois, estava recuperado. Meses depois, Jenner inoculava o rapaz com pus varioloso e o menino não adoeceu.

A partir de então, Jenner começou a imunizar crianças, com material retirado directamente das pústulas dos
animais e passado braço a braço. Em 1798, Jenner divulgava a sua descoberta, apesar da classe médica e alguns
grupos religiosos naquela altura terem demostrado um certo ceticismo.

Apesar das críticas, pouco tempo depois, a vacina conquistou a Inglaterra e em 1799 foi criado o primeiro
instituto de vacinação em Londres. Contudo, mas nada contribuiu tanto para a resistência à vacinação quanto
as epidemias de varíola na década de 1820, quando um grande número de indivíduos imunizados adoeceu.
Descobriu-se, então que a protecção contra varíola não era eterna e que era preciso revacinar-se, processo este
que é comum em algumas vacinas.

Depois da descoberta a vacina da varíola, vários ensaios foram realizados ao longos dos anos subsequentes,
com objectivo de identificar outras vacinas, como o caso da vacina contra a Tifóide e Raiva entre os anos 1885
e 1886 e a vacina contra cólera em 1896 e outras como ilustra a figura 1.1.

14
Figura 1.1: Gráfico temporal da história da descoberta das vacinas

Fonte: Adaptado da apresentação jornadas de saúde 2018 (OMS, Maputo).

B) Introdução das vacinas em Moçambique


A primeira campanha nacional de vacinação foi lançada em 1976, três anos antes da criação do PAV. No
decurso desta campanha, foram administradas as vacinas que até aquela altura já estavam disponíveis no país,
a destacar as vacinas contra varíola, sarampo, tuberculose e contra o tétano. Da campanha realizada, cerca de
onze milhões de pessoas receberam a vacina contra a varíola, um milhão e meio de crianças a vacina contra
o sarampo, mais de cinco milhões de crianças a vacina contra a tuberculose e cerca de dois milhões de mulheres
em idade fértil, a vacina contra o tétano. Esta campanha atingiu uma taxa de cobertura de noventa e seis por
cento, o que foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Com o apoio da Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI), Moçambique vem de forma cronológica,
introduzindo com sucesso novas vacinas, alargando os benefícios da vacinação para a prevenção da hepatite
B, pneumonia grave, meningite, rotavírus, rubéola e outras doenças previníveis por vacinas.

Entre as vacinas introduzidas na última década, a vacina contra infecção pelo papilomavírus humano (HPV),
é a única que ainda não faz parte da rotina, apesar desta ter já passado da sua fase de demonstração (Figura
1.2). Espera-se que a sua introdução possa acontecer em 2021, assim que estiverem criadas as condições para
sua rotinização no serviço nacional de saúde.

Algumas vacinas estão em processo de reforço por razões do perfil epidemiológico, como o caso da vacina
contra pneumonia e a vacina contra sarampo que se vê reforçada pela segunda dose.

15
Figura 1.2: Vacinas oferecidas pelo programa alargado de vacinação desde 1976-2018

Fonte: Ministério da Saúde 2018

16
DOENÇAS-ALVO DO PAV

DOENÇAS-ALVO DO PROGRAMA ALARGADO DE VACINAÇÃO, DESORDENS POR


DEFICIÊNCIA DE VITAMINA A

As doenças-alvo do PAV são as que se podem evitar com a aplicação de vacinas específicas incluídas no
Programa. Uma vez que cada país tem a sua política em relação às vacinas a serem usadas nos seus respectivos
programas, as doenças-alvo do PAV devem ser bem definidas de modo a facilitar a sua detecção e seguimento
a todos os níveis, através do sistema da vigilância epidemiológica. A seguir são enumeradas, de forma detalhada,
as doenças previníveis pela vacinação no país.

2.1 SARAMPO

O sarampo é uma doença altamente contagiosa, caracterizada por febre, mal-estar, erupção cutânea, tosse,
coriza e conjuntivite, causada por um vírus. A doença é frequente nalgumas populações e muita das vezes
ocorre em proporções epidémicas.

Figura 2.1: Exantema maculopapular de sarampo

2.1.1 Epidemiologia
O sarampo é uma das principais causas de morbimortalidade entre crianças menores de cinco anos de idade,
sobretudo as desnutridas e as que vivem nos países em desenvolvimento. A doença é particularmente comum
em condições de sobre-povoamento e pobreza, onde elevado número de pessoas não imunizadas vivem em
contacto muito próximo. Nos locais onde as coberturas vacinais não são homogêneas, e estão abaixo de 95%,
a doença tende a comportar-se de forma endêmica, com a ocorrência de epidemias a cada dois ou três anos,
aproximadamente. Na zona rural, a doença apresenta-se com intervalos cíclicos mais longos.

O sarampo é uma doença de notificação obrigatória, e a que mais crianças mata dentre as doenças previníveis
pela vacinação. A sua epidemiologia é dinâmica, mudando com o tempo à medida que os serviços de vacinação
alteram o “pool” de indivíduos susceptíveis (OMS, 1996). As epidemias continuam a ocorrer mesmo quando
as coberturas vacinais se situam acima dos 90%. Contudo, elas são de muito pequena magnitude e são separadas
por intervalos muito longos. Isto se deve ao acúmulo de indivíduos susceptíveis (os indivíduos não vacinados
e os que falham em fazer a seroconversão) associado ao facto de o sarampo ser uma doença altamente infecciosa.

Em condições de alta densidade populacional, é muito provável que o sarampo ocorra ao longo de todo o ano,
às vezes com picos sazonais. Em áreas de pouca densidade populacional, a cada dois ou três anos. Nos casos

19
em que um grande “pool” populacional de crianças é susceptível, um único caso de sarampo pode provocar
epidemias. As pessoas que se recuperam do sarampo são imunes por toda a vida, e crianças que nascem de
mães que tiveram sarampo, geralmente são imunes por 6 a 8 meses.

Atenção:
• A vacina contra o sarampo dada aos 9 e 18 meses de idade, protege 85% das crianças vacinadas.
• Se as crianças menores de 9 meses forem vacinadas em resposta a surtos epidêmicos, elas devem ser revacinadas
aos 9 meses, pois algumas podem não estar protegidas.

2.1.2 Modo de transmissão


O vírus do sarampo é transmitido através de gotículas respiratórias libertadas por pessoas infectadas quando tossem
ou expiram. Os casos são infecciosos um a três dias antes do apatrecimento do rash cutâneo até 7 dias depois.

O período de incubação vai de 7 a 18 dias. A doença propaga-se rapidamente nos locais onde as crianças e
adolescentes se juntam, tais como, hospitais, casas, escolas, mercados, centros de refugiados e locais de convívio.

Crianças entre os 9 a 12 meses de idade, se não forem vacinadas, são muito prováveis de serem infectadas pelo
vírus do sarampo. O Sarampo severo é também muito provável de ocorrer nos seguintes casos:
• Crianças malnutridas, especialmente aquelas com deficiência de Vitamina A.
• Crianças vivendo em ambiente superlotados.
• Crianças com fraco sistema imune devido, por exemplo, ao HIV/SIDA.

Prevenir o sarampo através da imunização terá influências profundas na morbilidade e mortalidade pela doença
e trará outros benefícios através da prevenção de outras condições tais como a desidratação, infecções respiratórias,
cegueira, malnutrição severa e deficiência de Vitamina A.

2.1.3 Quadro Clínico


A erupção característica que é acompanhada de inflamação da mucosa ocorre no momento em que a imunidade
para o vírus se desenvolve. A febre, constipação e diarréia precedem a erupção. Pode haver uma erupção na
boca que se apresenta como “manchas de koplik”.

A erupção cutânea usualmente aparece primeiro por detrás das orelhas e se espalha pela face e parte superior
do tronco e depois se estende para o resto do corpo. A erupção é macular ou mais frequentemente maculo-
papular e de cor mais escura do que a pele normal.

As seguintes complicações podem ocorrer especialmente em crianças menores de 5 anos:


• Infecções respiratórias agudas, principalmente pneumonia, que é a doenças mais comum associada a
mortalidade por sarampo.
• Infecções do ouvido (otites).
• Diarréia.
• Lesões da córnea (Keratomalácia) que podem provocar cegueira.
• Encefalite, entre outras complicações.

2.1.4 Diagnóstico
• Doenças exantemáticas nomeadamente: síndrome de mononucleose, dengue, doença de kawasaki,
síndrome do choque tóxico, escarlatina, rubéola, infecção por micoplasma e eritema infeccioso.
• Viroses respiratórias como: adenovírus, influenza, parainfluenza, rinovírus e vírus sincicial respiratório.

2.1.5 Tratamento
Uma vez tratar-se de infecção viral, não existe tratamento específico. No entanto, o tratamento sintomático e
de suporte (medidas gerais) é importante e deve ser feito pela mãe em casa nos casos ligeiros.

20
2.1.5.1 Os cuidados caseiros
Os cuidados caseiros incluem:
• Tratamento da febre (paracetamol, arrefecimento corporal), alimentação e cuidados oculares (limpeza
com água morna, sem usar medicamentos tradicionais).
• Reconhecimento dos sinais de complicação, especialmente dispnéia, desidratação e convulsões, os
quais requerem que o paciente seja referido com urgência para a unidade sanitária mais próxima.

2.1.5.2 Cuidados na unidade sanitária


Devem-se evitar o uso de medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico. Os antibióticos devem ser usados
somente nas complicações bacterianas.
• Dar vitamina A, (100.000 unidades para crianças entre os 6 e 12 meses, e 200.000 unidades para maiores
de 1 ano) a todos os casos e uma segunda dose no dia seguinte. Se houver xeroftalmia ou keratomalácia,
dar uma terceira dose uma semana mais tarde.
• Tratamento com antibióticos para as infecções (pneumonia, otites, etc.).
• Tratamento da desidratação com SRO ou líquidos intravenosos.
• Alimentação extra se houver perda de peso.

2.1.6 Medidas de controlo


Durante os surtos, devem ser realizadas vacinações de bloqueio a toda população da área afectada e circunvizinha.
Reforçar o sistema de vigilância (ver mais detalhes sobre sobre vigilância epidemiológica no capítulo 6).

2.1.7 Prevenção
A vacinação é a intervenção mais efectiva que existe em saúde pública, para proteger uma criança contra o
sarampo.

Atenção:
• O sarampo mata muitos infantes e crianças; assim, a vacinação contra o sarampo tem um grande impacto na
redução da morbilidade e mortalidade.
• Não existe tratamento específico para o sarampo, mas a vitamina A, quando administrada em dois dias consecutivos,
reduz dramaticamente a taxa de letalidade por sarampo.

2.2. RUBÉOLA

A rubéola é uma doença contagiosa causada por um vírus que acomete crianças, adolescentes e adultos. É uma
infecção viral que causa febre e manchas vermelhas pelo corpo, denominadas de rash.

2.2.1 Epidemiologia
A rubéola é geralmente uma doença leve; no entanto, é perigosa se uma mulher a tiver durante a gravidez. A
rubéola pode causar defeitos congénitos, como surdez, cegueira, problemas cardíacos, retardo mental ou
problemas ósseos em bebés antes de nascerem. Este risco é maior no primeiro trimestre de gestação. A rubéola
também pode provocar abortos espontâneos ou morte fetal.

Em muitos casos a infecção pela rubéola é tão fraca que passa despercebida, o que não impede, porém, que o
paciente contamine outras pessoas. Por este motivo, muitos indivíduos com rubéola não conseguem identificar
quem os contaminou.

O vírus habitualmente invade o organismo pelas vias aéreas, cinco a sete dias após a contaminação, este espalha-
se por todo o corpo, podendo ser encontrado no sangue, na urina, pulmão, na pele, etc. Após o aparecimento
do rash, a taxa de transmissão começa a cair, deixando o paciente de ser contagioso 5 ou 7 dias depois

21
2.2.2 Quadro clínico
Os sintomas começam aos 16 a18 dias após a exposição ao vírus. Os sintomas mais comuns incluem uma febre
baixa, inchaço das glândulas linfáticas (geralmente na parte de trás do pescoço), dor nas articulações, conjuntivite,
e uma erupção que geralmente dura três dias. Um exame físico mais cuidadoso pode revelar linfonodos (ínguas)
na nuca e atrás das orelhas, que são bem característicos da rubéola. Cerca de metade de todas as pessoas que
contraem a doença não apresenta sintomas.

2.2.3 Transmissão
O período de incubação, ou seja, o intervalo de tempo entre a contaminação e o aparecimento dos sintomas,
é em média de 14 a 18 dias. Entretanto, o individuo contaminado já torna-se contagioso entre uma a duas
semanas antes da infecção tornar-se clinicamente aparente. A transmissão pode ocorrer por:
a) Por contacto
O homem é o único hospedeiro do vírus da rubéola. O vírus é encontrado no nariz e na garganta das pessoas
infectadas. O contacto directo com secreções de nariz/garganta ou a exposição a tosse ou espirro de uma
pessoa infectada pode propagar a doença. As pessoas infectadas com rubéola são contagiosas desde 7 dias
antes até 7 dias após o início da erupção.
b) Vertical
Só acontece na fase aguda da doença e diminui a medida que a idade gestacional aumenta. No primeiro
trimestre o risco de acometimento fetal é na ordem de 80 á 90%, no 2º trimestre há risco de alterações
funcionais dos órgãos, e no 3º trimestre as repercussões fetais são raras.

2.2.4 Diagnóstico
O diagnóstico é habitualmente feito através do quadro clínico. Quatro dias após o aparecimento do rash, o
corpo já possui anticorpos contra a rubéola, o que permite realizar sorologia para confirmar laboratorialmente
a doença.

Como nesta fase a maioria das pessoas já está curada ou em processo de cura, e como não há tratamento
específico, sua confirmação laboratorial é geralmente desnecessária, excepto na gravidez.

Na sorologia existem dois tipos de anticorpos: anticorpos IgM e anticorpos IgG. O primeiro a aparecer é o
IgM, que é o anticorpo que ataca o vírus. O IgM contra rubéola é normalmente detectável no 4º dia de rash e
permanece positivo por até 8 semanas.

Após a cura, surge o segundo tipo de anticorpo, o IgG contra rubéola. O IgG é um anticorpo que indica que o
paciente teve a doença e agora encontra-se curado e imunizado. Portanto, quem está com rubéola apresenta
IgM positivo. Quem já teve a doença ou foi vacinado apresenta IgG reagente.

2.2.5 Tratamento
Não existe tratamento específico para rubéola. Mas isso não é um problema já que mais de 99% dos pacientes
se curam espontaneamente. Em geral, prescreve-se antitérmicos e analgésicos para aliviar os sintomas até que
o paciente esteja totalmente recuperado.

2.2.6 Prevenção
A vacina contra a rubéola faz parte da vacina (sarampo, Rubéola,) que protege contra o sarampo para além
da rubéola. A vacina geralmente é dada a crianças aos 9 e 18 meses de idade, segundo o calendário nacional
de vacinação.

Atenção:
Rubéola só se apanha uma vez na vida! Na infecção materna a serologia apresenta dois tipos de anticorpos:
• IgM positivo para quem está com Rubéola e;
• O IgG anticorpo que indica que o paciente teve a doença e agora encontra-se curado e imunizado.

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2.3 POLIOMIELITE

Poliometlite é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por sintomas inespecíficos como febre,
cefaleia, tosse e coriza; meningite asséptica, manifestando-se em cerca de 1% dos casos, com sintomatologia
inicial inespecífica e, posteriormente, sinais de irritação meníngea (Kernig e Brudzinski positivos) e rigidez
de nuca, e as formas paralíticas, que apresentam quadro clássico de paralisia flácida aguda (PFA).

2.3.1 Epidemiologia
O vírus propaga-se pela via fecal-oral e quase todas as crianças que vivem numa casa onde alguém esteja
infectado pelo vírus, podem ser infectadas. As pessoas infectadas são muito susceptíveis de propagar o vírus
7 a 10 dias depois de manifestarem os primeiros sintomas da doença. A pólio é a causa mais importante de
incapacidade física em crianças, é causada por uma das três estirpes de poliovirus (1, 2 ou 3), e têm um período
de incubação até ao início da paralisia de 2 a 3 semanas.

Pessoas infectadas assintomáticas também podem propagar a infecção. Durante uma epidemia, somente uma
pequena proporção de indivíduos manifesta a doença (Philips J et. al, 1998). No entanto, embora este seja o
caso, a incapacidade severa (a qual é prevenível) torna a pólio numa doença muito séria.

Não se conhece com exatidão o seu período de transmissibilidade, porém, pode iniciar-se antes do surgimento
das manifestações clínicas, sendo o vírus encontrado nas secreções da orofaringe após 36 a 72 horas a partir
da infecção. Em indivíduos infectados, a eliminação do vírus pela orofaringe persiste por um período de
aproximadamente 1 semana e nas fezes por cerca de 3 a 6 semanas, enquanto nos indivíduos reinfectados a
eliminação do vírus se faz por períodos mais reduzidos.

A transmissão é mais alta em áreas de saneamento pobre e de água contaminada e o seu periodo de incubação
geralmente é de 7 a 12 dias, podendo variar de 2 a 30 dias.

Figura 2.2: Incapacidade física associada a pólio

23
2.3.2 Quadro clínico
A infecção pode ser assintomática ou causar uma doença febril com mal-estar, cefaléias, náuseas, vômitos e
dores musculares. Depois de alguns dias começa a paralisia dos membros, geralmente de distribuição assimétrica.
Às vezes há envolvimento dos músculos respiratórios (nestes casos o doente pode morrer por dificuldades de
respirar) e da deglutição. É possível haver recuperação completa espontânea, mas mais frequentemente ocorre
paralisia residual, a qual se não for bem tratada com fisioterapia, pode levar à deformidade marcada do(s)
membro(s) e incapacidade física.

2.3.3 Modo de transmissão


A transmissão do poliovírus é principalmente por contacto direto pessoa a pessoa, pelas vias fecal-oral (a
principal), por objectos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou de portadores do vírus, ou
pela via oral-oral, por meio de gotículas de secreções da orofaringe ao falar, tossir ou espirrar. As más condições
habitacionais, a higiene pessoal precária e o elevado número de crianças numa mesma habitação constituem
factores que favorecem a transmissão do poliovírus

2.3.4 Diagnóstico

2.3.4.1. Diagnóstico laboratorial


• Isolamento do vírus, que é realizado a partir de uma amostra de fezes do caso ou de seus contactos.
Deve ser colhida, até o 14º dia do início do déficit motor, uma amostra de fezes em torno de 4 a 8 g,
correspondente a um volume de 2/3 de um coletor padrão.
• Método do PCR (Polymerase Chain Reaction), esta técnica permite a amplificação da sequência alvo
do genoma viral em pelo menos cem mil vezes. O vírus é considerado como vacinal se o número de
mutações na região VP1 for inferior a 1%. Quando o nível de divergência dessas mutações ocorrerem
entre 1 a 15%, o vírus e considerado um Poliovírus Derivado Vacinal, podendo adquirir neurovirulência
sendo classificados para fins de vigilância epidemiológica como vírus selvagem; se for superior a 15%,
trata-se de um Poliovírus Selvagem.
• Exames inespecíficos, é necessário para fazer o diagnóstico diferencial com a síndrome de Guillain-
Barre e com as meningites que evoluem com deficiência motora.

2.3.4.2. Diagnóstico Diferencial


Polineurite pós-infecciosa e outras infecções que causam paralisia: síndrome de Guillain-Barré, mielite transversa,
meningite viral, meningoencefalite e infecções por outros enterovírus (ECHO 71, e Coxsackie, especialmente
do grupo A, tipo 7

Critérios para a colecta de amostras de contatos


• Fazemos a colecta quando o caso sob investigação apresentar clínica compatível com Poliomielite, e se houver
suspeita de reintrodução da circulação do poliovírus selvagem.
• Contato de casos em que haja isolamento do vírus derivado vacinal.
• Se os contatos não receberam vacina oral contra pólio (VOP) nos últimos 30 dias.
Observação: Toda e qualquer coleta de amostra de contatos devera ser discutida previamente com o nível nacional.

2.3.5 Tratamento
Não existe tratamento para esta doença. No entanto, os sintomas podem ser aliviados com tratamento
sintomático. Às vezes o paciente necessita de respiração assistida, quando ocorre paralisia dos músculos
respiratórios.

2.3.6 Prevenção
A melhor maneira de prevenir a poliomielite é a vacinação. A vacina Sabin (“gotinha”) é de fácil aplicação e
bastante eficaz. Ela deve ser administrada à nascença, e continuada aos 2º, 3º,4º mês de idade.

24
2.4. TÉTANO

O Tétano é uma doença infeciosa, neurológica aguda, causada pela exotoxina (toxina) do bacilo do tétano
(Clostridium tetani), o qual cresce em tecidos mortos na ausência de oxigênio, como por exemplo, em feridas
profundas e sujas, ou no coto do cordão umbilical do bebé. O bacilo forma esporos que podem sobreviver no
ambiente, particularmente na superfície de metais enferrujados. A toxina que produzem, intoxica os nervos
que controlam os músculos e causa rigidez.

2.4.1 Epidemiologia
O reservatório do bacilo é o meio ambiente em locais com poeira e lixo. É uma doença comum com uma taxa
de letalidade muito alta. Estão particularmente em risco de apanhar a doença os que trabalham nas machambas,
recém-nascidos ou qualquer pessoa com ferida suja. Está também associada à convivência com animais, falta
de vacinação ou vacinação incompleta, e aplicação de remédios tradicionais como cinza ou outro tipo de
sujidade nas feridas.

2.4.1.1. Tétano neonatal


Os recém-nascidos podem sofrer de tétano neonatal (TNN), que ocorre via cordão umbilical se o parto ou
cuidados pós-parto não tiverem sido assépticos (limpos). A infecção ocorre como resultado do uso de instrumentos
contaminados. Qualquer pessoa pode apanhar tétano.

O tétano neonatal é uma doença notificável. A magnitude do tétano neonatal não é conhecida porque muitas
das mortes ocorrem em casa e não são na totalidade reportadas pela comunidade e, os recém-nascidos não
vacinados são o grupo mais exposto ao risco de tétano devido a infecção no umbigo.

Figura 2.3: Tetáno neonatal

2.4.1.2. Tétano no adulto


Adultos também podem contrair o tétano quando instrumentos sujos são usados para circuncisão, para perfurar
a pele, ou quando carvão, sujidade ou outras substâncias pouco claras são usadas para esfregar na ferida. Ocorre
pela introdução dos esporos da bactéria em ferimentos externos, geralmente perfurantes, contaminados com
terra, poeira, fezes de animais ou humanas. Podem também constituir portas de entrada, as queimaduras, tecidos
necrosados (úlceras diabéticas e pós-operatórios), pregos e outros objectos enferrujados.

2.4.2 Quadro clínico


A doença é caracterizada por espasmo doloroso e involuntário dos músculos voluntários. O recé-nascido nasce
normal, mas pára de sugar 3 a 10 dias mais tarde. O bebé fica irritável e chora muito. Depois ocorre rigidez

25
generalizada, convulsões e espasmos musculares severos, particularmente a seguir a estímulos como tocar na
criança, barulho ou luz, e a morte segue-se em muitos casos.

Os músculos da mandíbula são frequentemente os primeiros a serem afectados pela contração espástica, dando
o característico “riso sardônico”. Mais tarde são cada vez mais envolvidos outros grupos musculares resultando
no quadro característico de rigidez da nuca, rigidez abdominal (opistótonus) e dificuldades em respirar e
deglutir.

2.4.3 Modo de transmissão


A transmissão pode acorrer através da:
• Faca, lâmina ou outro instrumento usado para cortar o cordão umbilical, se estiver suja.
• Fezes ou cinza são quando usadas para esfregar no cordão umbilical, ou se a areia entrar no cordão
umbilical do bebé.
• das mãos da pessoa que fizer o parto, se estas não estiverem limpas.

Os esporos podem estar presentes tanto em solos contaminados por fezes, como na pele, instrumentos, substâncias
pouco higiénicas utilizados para cortar ou cobrir o cordão umbilical dando lugar a transmissão neonatal também
chamado de “mal de sete dias”.

2.4.4 Diagnóstico
O diagnóstico do tétano é essencialmente clínico, através da observação de sintomas e de lesões por onde a
bactéria pode ter entrado. Geralmente, testes de laboratório só são utilizados para descartar outras condições,
como meningite, raiva ou outras doenças com sintomas parecidos.

Faz-se o diagnóstico diferencial para septicemia, encefalopatias, meningites, hipoparatireoidismo, hipocalcemia,


hipoglicemia, alcalose, intoxicação por estricnina, encefalite, peritonites, distúrbios metabólicos transitórios
e lesão intracraniana secundaria ao parto.

Rotineiramente devem ser solicitados quando da internação, alguns exames como: hemograma, bioquímica
do sangue (TGO, TGP, uréia e creatinina) e radiografia de tórax.

2.4.5 Tratamento
Em caso de úlceras ou ferimentos deve-se remover o tecido morto (evitar proliferação) e administrar:
• Antibióticos (combater as bactérias).
• Imunoglobulinas (contra a toxina tetânica).
• Controle de espasmos violentos (benzodiazepínicos, entre outros), dependendo dos sintomas outros
medicamentos podem ser necessários.

2.4.6 Prevenção
A melhor forma de prevenção do tétano é a vacinação. A vacina é administrada a mulheres em idade fertil,
grávidas, crianças em idade escolar (1ª e 2ª classes) e trabalhadores cuja actividade diária expõe-lhes ao risco
de contrair o tétano.

A forma conjugada da vacina é: Difteria + pertussis ou tosse convulsa+ Tétano + Hepatite B + Haemophilus
Influenza b (DPT-HepB-Hib).

Indivíduos imunizados com VAT(vacina anti-tetânica) desenvolvem anticorpos contra o tétano. Mulheres
grávidas com vacinação anti-tetánica em dia passam os anticorpos para seus bebés, assim, garantindo sua
protecção contra o tétano à nascença, mas por período limitado. O tétano neonatal também pode ser prevenido
se forem observadas as condições de assepsia em todos os momentos do parto.

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Adicionalmente, o manejo adequado das feridas também previne o tétano. As feridas devem ser completamente
limpas e todo o tecido morto removido. Pessoas com feridas sujas e que não estejam completamente protegidas
contra o tétano, devem receber imunoglobulina tetânica para neutralizar os efeitos da toxina do tétano.

Atenção:
• O tétano e uma doença previnível por vacinação.
• A mesma confere protecção também contra difteria.
• Durante um surto de espasmos violentos, o técnico de saúde poderá prescrever benzodiazepínicos que produzem
um efeito relaxante. Mas, em primeiro lugar, quando surgir uma lesão, deve-se limpar a ferida e desinfectá-la.

2.5 TUBERCULOSE

A tuberculose (TB) é causada pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo gram-psitivo também conhecido
por Bacilo de Koch. Afecta primariamente os pulmões, mas outras partes do corpo podem ser atingidas, tais
como, os ossos, as articulações, os rins e o cérbro.

2.5.1 Epidemiologia
A TB é endêmica em Moçambique, tanto nas áreas rurais como nas urbanas, e afecta todas as idades. O
HIV/SIDA e a falência terapêutica são factores contribuintes para o agravamento do impacto da doença. A
fonte de infecção é uma pessoa com tuberculose pulmonar com baciloscopia positiva, e que espalha a doença
através da tosse. O período de incubação é de 4 a 12 semanas, mas a infecção pode persistir por meses ou anos
antes da doença se tornar sintomática.

Os factores de risco para a tuberculose incluem:


• Imunodeficiência.
• Malnutrição.
• Alcoolismo.
• Diabetes.
• Sobrelotação (sobrepovoamento).
• Locais com ventilação inadequada e contacto próximo com pessoa infectada.

2.5.2 Modo de transmissão


A transmissão da Mycobacterium tuberculosis é directa, ocorre de pessoa para pessoa, por via de gotículas de
saliva contendo o agente infeccioso, sendo maior o risco de transmissão durante contactos prolongados em
ambientes fechados e com pouca ventilação.

2.5.3 Casos suspeitos de tuberculose


Qualquer criança doente com história de contacto com um caso suspeito ou confirmado de tuberculose pulmonar.

Qualquer criança com as seguintes características:


• Perda de peso, tosse e expectoração, que não respondem ao tratamento antibiótico para doenças
respiratórias agudas.
• Massa anormal no corpo, dura, não dolorosa e livremente móvel debaixo da pele.
• Nódulos linfáticos aumentados, firmes e não dolorosos.

2.5.4 Quadro clínico


História de tosse há mais de 4 semanas.
Características gerais tais como, sudação nocturna, fraqueza geral e perda de peso.

2.5.4.1 TB pulmonar
Por tratar-se de uma doença progressiva, os sintomas evoluem ao longo dos vários estádios. Inicialmente,
durante a infecção, os indivíduos com tuberculose poderão ter febre, dor no peito e falta de ar (dispneia). Nos

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estádios iniciais da TB primária activa, o sistema imune não consegue controlar a infecção, a inflama-ção nas
zonas infectadas aumenta e os pacientes apresentam sintomas inespecíficos como fadiga, falta de apetite, perda
de peso ou febre. Nesta fase há o desenvolvimento de tosse não produtiva. Posteriormente, nos estádios mais
tardios da TB, a tosse torna-se produtiva, com o aumento da inflamação e necrose tecidular, e poderá conter
sangue (hemoptise). A perda de peso progressiva, em particular de massa muscular, provoca cansaço.

2.5.4.2 TB extrapulmonar
Os casos mais graves de TB extrapulmonar ocorrem no sistema nervoso central, onde a infecção pode provocar
meningite ou levar à formação de tuberculomas no cérebro. Este tipo de TB, se não for tratado, é quase sempre
mortal. Dores de cabeça e variações no estado de consciência após possível exposição ao agente infeccioso
ou a grupos de risco elevados devem ser tidos em conta nesta doença como diagnóstico diferencial. Outra
forma fatal de tuberculose extrapulmonar é a infecção generalizada através da corrente sanguínea, chamada
de TB miliar. Este tipo de TB progride rapidamente e pode ser difícil de diagnosticar devido aos sintomas
sistémicos e inespecíficos.

A TB nos nódulos linfáticos é o caso mais comum de TB extrapulmonar e a linfadenite cervical ou escrófula
é o mais frequente nesta categoria. Pacientes com este tipo de TB apresentam febre e perda de peso.

2.5.6 Tratamento
Pessoas com tuberculose devem completar o curso da terapia curativa, o qual usualmente inclui duas ou mais
drogas antituberculosas por pelo menos 6 meses. Infelizmente, algumas pessoas não tomam a medicação como
prescrito ou não completam o curso de terapia.

É imprescindível que este não seja interrompido - fato que pode ocorrer, principalmente, devido aos efeitos
colaterais, tais como enjoos, vómitos, indisposição e mal-estar geral, caso aconteça pode levar a formação de
estirpes resistentes aos antituberculosos, que podem ser propagadas às outras pessoas. Os medicamentos são
distribuídos gratuitamente pelo sistema de saúde.

2.5.7 Prevenção
A vacina BCG administrada á nascenca,protege principalmente contra as formas infantis severas de TB, que
são a tuberculose miliar e a meningites tuberculosa. Não protege efectivamente contra a forma adulta da
tuberculose. Presença da papula indica a correcta via de adminstração da vacina, à ausência desta, suscita a
repitção da vacinação.

2.6 DIFTERIA

É uma infecção aguda causada por estirpes da bacteria Corynebacterium diphtheria que produzem a toxina
diftérica. A toxina pode lesar ou destruir os tecidos do corpo humano e os órgãos. Há dois tipos:
• Forma tóxica, com falência cardíaca, contrações miocárdiacas fracas, pulso rápido, fraco e pressão
arterial baixa.
• Forma obstructiva, na qual as membranas necróticas podem propagar-se a partir da garganta e obstruir
a laringe.

2.6.1 Epidemiologia
A difteria afecta pessoas de todas as idades, mas principalmente crianças não-imunizadas menores de 15 anos
de idade. A mortalidade associada a esta doença afecta entre 5 a 10% das crianças e 20% de adultos com mais
de 40 anos de idade.

A difteria propaga-se quer por contacto directo pessoa-a-pessoa, ou através de gotículas quando um portador
nasal tosse. O portador pode ser assintomático e imune. A propagação da doença é favorecida em locais

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superpovoados e em baixas condições de vida. O período de incubação é de 1 a 7 dias. As pessoas infectadas
podem propagar a doença até 4 semanas. Raramente, podem continuar infectantes até 6 meses. Durante os
surtos e epidemias, algumas crianças podem ser portadoras assintomáticas, mas ainda podem espalhar a doença
à outras pessoas.

Os factores de risco constituem a baixa imunidade associada ao HIV, condições de superlotação ou deficiente condição
de higiene e saneamento do meio (exemplo quarteis, creches cadeias) e falta de vacinação.

2.6.2 Modo de transmissão


A transmissão da Corynebacterium diphtheriae ocorre através de gotículas de secreção respiratória, com espirros
ou tosse, durante a conversa com o individuos com a doença. A transmissão pode também oocorrer através
do consumo de leite não pasteurizado. Os pacientes tornam-se não infecciosos dois dias depois de iniciarem
o tratamento antibiótico.

2.6.3 Quadro clínico


O quadro clínico caracteriza-se por tosse, febre acima de 38 graus, mal-estar geral, dor e dificuldade ao deglutir,
cefaleia e manchas vermelhas na pele. Os locais do corpo humano mais afectados pela bactéria C. diphtheriae
são as vias respiratórias e a pele. Quando a difteria afecta a garganta e as amígdalas, os sintomas precoces são
a dor de garganta, perda de apetite e febre ligeira. No período de 2 ou 3 dias, aparece uma membrana esbran-
quiçada ou acinzentada na garganta e amígdalas, causando placas pseudomembranosas. A infecção purulenta
ainda pode acontecer no nariz e na conjuntiva (mucosa dos olhos). Os gânglios do pescoço aumentam de
volume. Os pacientes podem recuperar ou desenvolver fraqueza severa e morrer no período de 6 a 10 dias.

2.6.4 Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, acompanhado de culturas das secreções da garganta para para confirmação da diagnóstico
suspeita.

2.6.5 Tratamento
Os casos de difteria devem ser tratados com toxina anti-diftérica e antibióticos, e devem ser isolados para evitar
exposição às outras pessoas.

2.6.6 Prevenção
A melhor forma de prevenir a doença é através da vacinação, com a vacina pentavalente (DPT-HepB-Hib).
A vacina é indicada para crianças a partir dos 2 meses de idade, sendo continuada ao 3o e 4o mês de idade.
A vacina pentavalente é indicada para prevenir além da difteria, a tosse convulsa, tétano e hepatite B, outras
doenças causadas por Haemophilus influenzae tipo B.

2.7 PERTUSSIS OU TOSSE CONVULSA

A tosse convulsa é uma doença infecciosa do tracto respiratório causada por Bordetella pertussis, cocobacilo
pleomórfico gram-negativo. Outra espécie de Bordetella, Bordetella parapertussis, é responsável por uma forma
mais ligeira de síndrome pertussis, não sendo rara a co-infecção pelos dois agentes. Ela é caracterizada por pelo
menos um dos seguintes sinais: salva de tosse, inspiração em guincho ou vômito a seguir à tosse.

2.7.1Epidemiologia
A tosse convulsa constitui um importante problema de saúde pública, com morbilidade e mortalidade significativas,
particularmente em crianças. Os humanos são o único reservatório para a Bordetella pertussis. A transmissão
ocorre por contacto com gotículas respiratórias da pessoa infectada e é maior na fase catarral. Nem a infecção
nem a vacinação providenciam imunidade permanente.

29
A tosse convulsa é comum em crianças não imunizadas. A doença é extremamente contagiosa, especialmente
em ambientes de superpovoamento e má nutrição. Ela propaga-se muito facilmente de pessoa-para-pessoa
através de gotículas produzidas pela tosse ou expiro.

A doença é transmitida a partir de 7o dia depois da exposição até 3 semanas depois do início da tosse. O período
de infecção pode ir até 21 dias. Ocorre pouca ou nenhuma transferência de imunidade da mãe para o filho.
Infantes e crianças pequenas são muito susceptíveis de se tornar infectadas, desenvolver complicações sérias
e morrer.

A maioria das crianças com pertussis têm salvas de tosse que duram 4 a 8 semanas e a mortalidade associada
a doença é elevada quando afecta crianças com menos de 1 ano de idade. Por isso, as crianças com menos de
5 anos de idade, sobretudo as menores de 2 anos, são consideradas o grupo de risco para a doença.

2.7.2 Transmissão
Espalha-se através do contacto próximo com secreções orais ou gotículas respiratórias. Por isso é facilmente
disseminada através da tosse, especialmente quando as pessoas estão em contacto directo, como viver na mesma
casa com uma pessoa que tem tosse convulsa. Pode também ser transmitida através de espirros - qualquer coisa
que espalha secreções respiratórias.

2.7.3 Quadro clínico


Descrevem-se 3 estágios no caso típico de tosse convulsa. Eles são:
• 1º Estágio ou fase catarral (1-2 semanas): inicialmente, por volta da primeira semana, há um estágio
catarral, com sintomas respiratórios superiores semelhantes aos de um resfriado comum. A criança
parece ter um resfriado comum com corrimento nasal, olhos lacrimejantes, febre e tosse que piora
gradualmente.
• 2º Estágio ou fase paroxística (2-6 semanas): envolve numerosas salvas de tosse rápida. No fim destas
salvas, a criança inspira com um guincho. A criança pode ficar cianótica devido à falta de oxigénio
durante a longa salva de tosse. Vômito e exaustão frequentemente ocorrem a seguir aos ataques de
tosse, que são particularmente frequentes à noite. Este estágio dura uma a seis semanas, mas pode ir
até 10 semanas. Os ataques tornam-se menos severos com o passar do tempo.
• 3º Estágio ou fase de convalescença (2-6 semans): a tosse gradualmente torna-se menos intensa e pára
em 2 a 3 semanas. Pode prolongar-se durante meses com episódios recorrentes de tosse desencadeados
por infecções respiratórias virais. Geralmente a criança apresenta febre alta durante o curso da doença.

As complicações são mais prováveis em crianças menores, e incluem a pneumonia, que é a complicação mais
comum e causa mais comum de morte, convulsões, perda de apetite, otite e desidratação. Devido à tosse
acompanhada de vómitos constantes, o estado nutricional da criança doente tende a complicar-se.

2.7.4 Diagnóstico
O diagnostico pode ser feito através de:
• Reacção em Cadeia da Polimerase (PCR) de aspirado ou zaragatoa da nasofaringe. É um método mais
rápido e muito mais sensível que a cultura, principalmente em doentes com mais de 3 semanas de
doença ou sob antibioticoterapia.
• Cultura de amostras da nasofaringe: foi considerado o método de diagnóstico padrão. No entanto, o
isolamento da Bordetella pertussis é difícil, sendo o seu crescimento lento. Deve ser feita em laboratório
de referência, de preferência a nível nacional. As colheitas são realizadas por aspirado nasofaríngeo
ou zaragatoa em Dacron_ ou alginato de cálcio da nasofaringe posterior. Zaragatoas de algodão são
contra-indicadas por inibirem o crescimento bacteriano. Necessita de meio especial (Regan-Lowe ou
Bordet-Gengou) e a inoculação deve ser feita de forma imediata, de preferência à cabeceira do doente.
• Serologia: evidência indirecta de infecção. Os testes serológicos por imunoensaio enzimático (EIA)
são os mais sensíveis para diagnóstico em indivíduos há longo tempo imunizados e os que se apresentam

30
depois da 2ª semana de tosse. No entanto, apresentam limitações de estandardização e interpretação
em indivíduos vacinados. A sensibilidade destes testes tende a ser inferior à sua especificidade.
• Imunofluorescência directa das secreções nasofaríngeas: teste com especificidade variável. Requer
sempre confirmação por cultura ou PCR.

2.7.5 Tratamento
Os antibióticos ajudam a reduzir os episódios de tosse e no tratamento de complicações como pneumonia e
otite média. Deve-se também dar muitos fluídos para prevenir a desidratação. Em casos graves internamento
para a intubação e ventilação para auxiliar a respiração até recuperar da infecção.

A eritromicina é usada para a profilaxia dos contactos (reduz a propagação secundária entre os contactos)
especialmente quando administrada poucos dias depois do início dos sintomas.

2.7.6 Prevenção
A prevenção é garantida através da vacinação, com a vacina pentavalente (DPT-HepB-Hib). A vacinação
constitui a medida preventiva mais importante. Ela é indicada para crianças a partir dos 2 meses de idade, sendo
continuada ao 3º e 4º mês de idade.

2.8 HEPATITE B

A hepatite B é uma doença sexualmente transmissível transmitida pelo vírus. O principal órgão afetado pela
doença é o fígado que pode desenvolver cirrose hepática ou câncer, podendo resultar em morte.

2.8.1 Epidemiologia
A Hepatite B é o maior problema de saúde pública no mundo. Aproximadamente 30% da população mundial
tem evidências serológicas de infecção pelo vírus da hepatite B (VHB), que é uma doença viral altamente
infecciosa e que afecta o fígado.

A doença é altamente endêmica em África, 60 - 90% da população é infectada até à idade adulta, dos quais 5
- 25% são portadores crônicos. Estima-se que em áreas com maior incidência, 8 a 25% das pessoas carregam
o vírus e 60 a 85% já estiveram expostas ao vírus da hepatite B. A transmissão do VHB pode ocorrer com a
exposição percutânea ou da mucosa, de sangue ou fluídos corporais de portadores. O vírus é encontrado em
altas concentrações no sangue e exudatos serosos, moderada no sêmen e fluído vaginal, e baixa na saliva.

Muitas das consequências sérias da infeção pelo vírus da hepatite B (VHB) ocorre entre pessoas que se tornam
cronicamente infectadas. Pessoas com infeção crônica geralmente são assintomáticas durante décadas depois
da infecção, e 15-25% destas pessoas desenvolvem cancro do fígado ou cirrose. Estes portadores crônicos
também são um reservatório importante para a transmissão de novas infecções.

Constituem os grupos de risco para hepatite B, os usuários de drogas injectáveis, tatuagens, piercings em locais
duvidosos ou que não seja possível assegurar a assepsia e esterilização correta dos instrumentos.

2.8.2 Transmissão
As vias primárias de transmissão são:
• A transmissão perinatal que geralmente ocorre desde a exposição ao sangue materno, ao líquido
amniótico e ou fluído vaginal na altura do parto.
• A transmissão pessoa para pessoa (criança para criança), responde pela maioria das infecções pelo
VHB á nível mundial. Ocorre em contactos interpessoais através de feridas e ulcerações. Muitas crianças
se infectam nos primeiros anos de vida.
• Nas unidades sanitárias, a infecção pelo VHB pode ser transmitida através de agulhas e seringas usadas

31
e outro equipamento que não tenha sido devidamente esterilizado, e através de transfusão de sangue
contaminado e que não tenha sido testado para o antígeno do VHB (AgHbs).
• A transmissão sexual pode contribuir para uma alta proporção de casos de hepatite B entre os
adolescentes e adultos em países com uma baixa prevalência da hepatite B. Em países com alta
prevalência a maioria das pessoas já terá sido infectada durante a infância.

2.8.3 Quadro clínico


Pessoas infectadas com o VHB têm ambos resultados a curto e a longo termos. Quando uma pessoa é infectada
pela primeira vez com o VHB pode apresentar quer doença sintomática (hepatite B aguda) ou pode ter uma
infecção assintomática, sem sinais nem sintomas da doença. Independentemente de serem sintomáticos ou
assintomáticos, podem ambos os casos recuperar da infecção e desenvolver uma imunidade duradoura, ou
desenvolver uma infecção crónica que usualmente permanece pelo resto da vida.

Em pessoas com hepatite B aguda, o período de incubação é usualmente de 3 a 4 meses, com uma variação
de 6 semanas a 6 meses. Os sintomas e sinais da doença geralmente duram várias semanas, e incluem:
1. Mal-estar geral (Perda de apetite, Febre, fraqueza);
2. Distúrbios gastrointestinais (náuseas, vómitos, dor abdominal);
3. Icterícia (pele e olhos amarelados) e;
4. Urina carregada ou escurra e fezes esbranquiçadas.

2.8.4 Diagnóstico
O vírus da hepatite B é um dos 5 vírus causadores da hepatite no homem. A doença aguda causada por todos
estes vírus é similar e é necessário fazer testes laboratoriais específicos para determinar o vírus causador numa
pessoa com sinais e ou sintomas de hepatite aguda.

As crianças geralmente são assintomáticas quando são infectadas pelo VHB, mas frequentemente desenvolvem
infeção crônica. Assim, os casos reportados de hepatite B subestimam a magnitude da doença, particularmente
em países com alta endemicidade da infecção pelo VHB, onde a maioria das infeções crônicas são adquiridas
na infância.

2.8.5 Tratamento
Não existe tratamento específico para o vírus da hepatite B. Geralmente, recomenda-se dieta com baixo teor
de gorduras e não consumo de álcool.

2.8.6 Prevenção
A vacina da hepatite B é eficaz na prevenção da infecção pelo VHB quando aplicada quer antes ou pouco
depois da exposição ao vírus. Ela é administrada na forma combinada (DPT-HepB-Hib) á crianças, em três
doses (2º, 3º e 4º mês de idade). O objectivo primário da vacinação contra a hepatite B é prevenir a infecção
crónica que ocorre na infância, a qual pode resultar em doença crônica do fígado. mais tarde na vida.

2.9 DOENÇAS CAUSADAS PELO HAEMOPHILUS INFLUENZAE

Infecções causadas pelo Haemophilus influenzae (Hib) são uma das principais causas de morbilidade e
mortalidade em crianças menores de 5 anos no mundo. As manifesteções mais importantes causadas pelo Hib
são pneumonia, meningite e outras patologias como a epiglotite, septicemia, celulite, artrite, osteomielite,
pericardite devido a metástases sépticas à distância.

O Haemophilus influenzae é um Cocobacilo Gram-negativo, aeróbio. Estirpes não-capsuladas são menos


virulentas do que as capsuladas. Estirpes capsuladas podem ser classificadas em seis serotipos (tipo a,b,c,d,e,f),
a partir da diferença antigênica da cápsula polissacarídica. O tipo b que é o mais virulento e responsável pelos

32
quadros clínicos mais graves como:
• Meningite, acompanhada de secreção purulenta;
• Pneumonia em forma aguda;
• Envenenamento do sangue;
• Inflamação do tecido subcutâneo;
• Epiglotite e;
• Artrite

2.9.1 Epidemiologia
O Haemophilus influenzae tipo b, é normalmente comensal da nasofaringe das crianças. Portanto, as bactérias
são passadas de criança para criança através de gotículas e secreções nasofaringeas quando uma criança infectada
tosse ou expira.
O reservatório do H. influenzae é o homem doente ou portador . Geralmente o período de incubação é de 2 a
4 dias e a transmissão é interrompida após 48h de antibioterapia eficaz. A transmissão pode ainda ocorrer
quando há partilha de brinquedos ou outros objectos que levam a boca. Nos recém nascidos, os anticorpos
maternos protegem da infecção mas por volta dos 2 à 3 meses esta protecção entra em queda e a incidência
da infecção aumenta.

2.9.2 Diagnóstico e tratamento

2.9.2.1 Meningite por Haemophilus influenzae


É a infecção da membrana que cobre a medula espinal e o cérebro, provocando inflamação da mesma.

O diagnóstico pode ser:


• Clínico: caracterizado com febre, calafrios, cefaleia intensa, náuseas, vómitos, irritabilidade ou agitação,
abaulamento da fontanela, convulsões, alteração do estado de consciência, sinais menín-geos (sonolência,
rigidez da nuca, sinais de Kerning e Brudzinski presentes), prostração, opistótonus, hipotonia, gemido.
• Laboratorial: o exame bacteriológico, esfregaço corado com Gram, cultura e teste de sensibilidade a
antibióticos, é feito com amostra do líquido cefalo-raquídeo (LCR).

2.9.2.1.1 Tratamento:
• Isolamento nas primeiras 48 horas de antibioterapia.
• Antibioterapia com Ampicilina e Cloranfenicol, ou Cefalosporina da 3ª geração.

2.9.2.2 Pneumonia por Haemophilus influenzae


Nos países em desenvolvimento é a maior causa de infecção pulmonar baixa na faixa etária dos 2 meses até
5 anos.

O diagnóstico pode ser:


• Clínico: Caracteriza-se por inicio agudo de febre e tosse. Os achados do exame físico podem ser:
Dispneia com ou sem tiragem, expansibilidade torácica diminuída, macicez e murmúrio vesicular
diminuído, fervores crepitantes, sopro tubárico.
• Radiológico: o Rx do tórax pode apresentar padrão lobar, bronco-alveolar ou intersticial. O derrame
pleural pode estar associado.
• Laboratorial: o Hemograma pode revelar leucocitose com neutrofilia ou leucopénia. Aspirado traqueal
ou lavado bronco-alveolar para a baciloscopia e cultura. Hemocultura.

2.9.2.2.1 Tratamento
• Isolamento nas primeiras 48 horas de antibioterapia.
• Antibioterapia com Ampicilina e Cloranfenicol, ou Cefalosporina da 3ª geração.

33
2.9.3 Controlo dos contactos
A quimioprofilaxia é feita com Rifampicina só é importante se o contacto tem menos de 4 anos, não esta
imunizada e teve contacto com o doente há menos de 4 dias. Neste caso a dosagem é a seguinte:
• Crianças com menos de 1 mês: 5mg/kg em cada toma
• Outras crianças e adultos: 10mg/kg em cada toma, até um máximo de 600mg
• O esquema alternativo é:
• Crianças <de 12 anos: Ceftriaxona 125mg,IM, dose única

2.9.4 Prevenção
A vacina (Hib) contra o Haemophilus influenzae protege as crianças a partir dos 2 meses de vida, continuada
aos 3 e 4 meses. É segura e altamente eficaz, 90-99% das crianças desenvolvem anticorpos depois de três doses
de aplicação.
A melhor forma de prevenir a doença é a vacinação, pois, dá uma garantia acima de 95% de protecção.

2.10 DIARREIA POR ROTAVÍRUS

Doença diarreica aguda (DDA) é uma síndrome causada por diferentes agentes etiológicos (bactérias, vírus e
parasitas), cuja manifestação predominante é o aumento do número de evacuações, com fezes aquosas ou de
pouca consistência.

2.10.1 Epidemiologia
As doenças diarreicas continuam sendo um dos principais problemas de saúde pública a nível mundial
contribuindo com cerca de 9% das mortes em crianças menores de 5 anos de idade, atingindo pico de incidência
entre crianças nas idades de 4 a 36 meses.

A Diarreia por rotavírus afecta as crianças que vivem em países subdesenvolvidos, devido, principalmente, à
má qualidade da água potável, saneamento inadequado e a factores de risco nutricionais (amamentação exclusiva
e deficiência de zinco e vitamina A).

Em Moçambique, no ano 2015 o Rotavírus e o Cryptosporidium foram responsáveis por aproximadamente


27,8% e 14,6%, respectivamente de todos os casos de diarreia entre as crianças menores de 12 meses de idade.

2.10.2 Quadro clínico


Diarreia líquida aquosa, febre (>39ºC), vómitos, desequilíbrio electrolítico, desidratação grave, devido à
gravidade da diarreia associada aos episódios de vómitos com choque e morte da criança.

2.10.3 Diagnóstico
Laboratorial é o ensaio imunenzimático (EIA ou ELISA), o qual detecta o antígeno de grupo dos RVA (VP6)
directamente nas fezes. Também são usados os testes de aglutinação em látex, devido ao seu baixo custo,
simplicidade de uso e rapidez, alta sensibilidade e especificidade inferiores comparadas aos EIAs.

2.10.4 Tratamento
Reidratação oral e/ou intravenosa para manutenção do equilíbrio osmótico e de electrólitos.

2.10.5 Prevenção
Vacina contra rotavírus. Todas as crianças aos 2 e 3 meses devem receber a vacina contra rotavírus.

34
2.11 PAPILOMA VÍRUS HUMANO

Papilomavírus Humano (HPV) é um vírus que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto de homens
quanto de mulheres, provocando verrugas anogenitais (região genital e no ânus) e câncro, a depender do tipo
de vírus. A infecção pelo HPV é uma infecção de transmissão sexual (ITS).

2.11.1 Epidemiologia
A infecção por HPV tem sido associada ao câncro do colo uterino, visto que alguns serotipos são encontrados
em 95% dos casos do câncro. Mas também existem outros serotipos com baixo potencial de oncogenicidade.

2.11.2 Quadro clínico


A infecção pelo HPV não apresenta sintomas na maioria das pessoas. Em alguns casos, o HPV pode ficar
assintomático de meses á anos (2 á 20 anos), sem manifestar sinais visíveis. As manifestações costumam ser
mais comuns em gestantes e em pessoas com imunidade baixa.
A diminuição da resistência do organismo pode desencadear a multiplicação do HPV e, consequentemente,
provocar o aparecimento de lesões. A maioria das infecções em mulheres tem resolução espontânea, pelo
próprio organismo, em um período aproximado de até 24 meses.

2.11.3 Diagnóstico
O diagnóstico do HPV é atualmente realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais, dependendo do tipo
de lesão, se clínica ou subclínica.
Lesões clínicas: podem ser diagnosticadas, por meio do exame clínico urológico (pênis), ginecológico
(vulva/vagina/colo uterino) e dermatológico (pele).
Lesões subclínicas: podem ser diagnosticadas por exames laboratoriais, como: o exame preventivo VIA,
Papanicolaou (citopatologia).

2.11.4 Tratamento
O tratamento das verrugas anogenitais consiste na destruição das lesões. Independente de realizar o tratamento,
as lesões podem desaparecer, permanecer inalteradas ou aumentar em número e/ou volume.
O tratamento Pode ser domiciliares ou ambulatórios (aplicado no serviço de saúde: ácido tricloroacético - ATA,
podofilina, eletrocauterização, cirúrgica e crioterapia), conforme indicação profissional para cada caso.

2.11.5 Prevenção
Vacina contra o HPV: é a medida mais eficaz para prevenção contra a infecção. A vacina é distribuída
gratuitamente pelo MISAU e é indicada meninas de 9 a 14anos de idade.

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36
VACINAÇÃO E CALENDÁRIO VACINAL

O objectivo da vacinação no país é garantir que todas as crianças recebam todas as doses de todos os antígenos
antes do seu primeiro aniversário, embora crianças até aos 23 meses permaneçam elegíveis para a vacinação
de rotina. Uma criança completamente vacinada é aquela que tenha recebido a BCG, VAP3, DTP-HepB-Hib3,
RV2, PCV3, IPV, Sarampo e Rubéola até ao seu primeiro ano de vida. As crianças que abandonam, isto é, as
que não completam o calendário de vacinação devem ser identificadas e seguidas.

O MISAU adoptou a política de oferecer os serviços de vacinação de rotina às crianças e mulheres de uma
idade específica para satisfazer as necessidades do país. Assim, os grupos-alvo para a vacinação de rotina
incluem crianças menores de 2 anos de idade, mulheres grávidas e mulheres em idade fértil (15 - 49 anos).

Os serviços de vacinação devem ser integrados com outros aspectos de promoção da saúde, tais como, educação
para a saúde e aconselhamento, suplementação em micronutrientes, planeamento familiar, cuidados pré-natais
e pós-natais. Adicionalmente ao calendário de vacinação de rotina, em caso de necessidade, são também
organizadas campanhas especiais de vacinação.

3.1 VACINAÇÃO DA CRIANÇA

3.1.1 Calendário de vacinação


Cada criança deve receber uma dose de BCG, quatro de VAP, três de DTP-HepB-Hib, três de PCV, 2 de
Rotavírus e duas doses de Sarampo e rubéola, sendo a primeira antes do seu primeiro aniversário e a segunda
com 18 a 23 meses de idade. Se a criança é vista na unidade sanitária ou se ela se apresenta no posto de
vacinação da brigada móvel nas primeiras duas semanas de vida (até 6 semanas) deve receber a VAP0 ao
mesmo tempo que a BCG tabela 3.1.

Para as vacinas de doses múltiplas como a VAP e a DPT-Hepatite B-Hib, Rotavírus, PCV é enfatizado que o
intervalo entre as doses deve ser de pelo menos 4 (quatro) semanas. Dar doses de uma vacina com um intervalo
menor do que as 4 semanas recomendadas pode reduzir a resposta da produção dos anticorpos. No entanto,
um intervalo entre as doses maior do que o recomendado, não reduz a concentração final dos anticorpos.

Quando uma criança está atrasada no cumprimento do calendário vacinal, deve-se iniciar com a vacinação no
primeiro contacto com os serviços de saúde.

39
Tabela 3.1 Calendário de Vacinação de Rotina
VACINA IDADE IDEAL IDADE MÍNIMA IDADE MÁXIMA
BCG (contra tuberculose) À nascença ou ao 1º contacto À nascença 23 meses

VAP 0 (pólio primaria) À nascença ou ao 1º contacto antes das À nascença ou ao 1º 6 semanas


6 semanas de vida contacto antes das 6
semanas de vida

1ª dose VAP 2 meses ou logo ao 1º contacto após os 6 semanas 23 meses


1ª dose DPT-HepB-Hib 2 meses
1ª dose PCV
1ª dose RV

2ª dose VAP 3 meses ou logo ao 1º contacto após os 10 semanas 23 meses


2ª dose DPT-HepB-Hib 3 meses **14 semanas
2ª dose RV**

3ª dose VAP 4 meses ou logo ao 1º contacto após os 14 semanas 23 meses


3ª dose DPT-HepB-Hib 4 meses
2ª dose PCV
IPV (dose única)

1ª dose sarampo e rubéola (MR) Ao 9º mês ou 1º contacto depois dos 9 8,5 meses 23 meses
meses

3ª dose PCV (dose de reforço) Aos 9 meses ou 1º contacto depois dos 9 meses 23 meses
9 meses

Aos18 meses ou 1º contacto depois dos 18 meses 23 meses


2ª dose sarampo e rubéola (MR) 18 meses

3.1.2 Administração simultânea de vacinas


Múltiplas vacinas podem ser dadas ao mesmo tempo. Por exemplo, a BCG, ou a VAP,PCV,RV e a DTP-HepB-
Hib, devem ser dadas ao mesmo tempo se a criança for elegível para tal. Isto reduz o número de visitas
necessárias para completar o calendário de vacinação .

É importante que a criança receba as vacinas antes de ser exposta às doenças, mas depois da perda suficiente
de anticorpos maternos, dado que eles influenciam a eficácia das vacinas. Nalguns casos a vacinação antes das
idades recomendadas pode não ser eficaz, pois podem não manter a protecção necessária. No entanto, crianças
mais novas do que a idade recomendada não devem ser vacinadas, excepto em circunstâncias autorizadas pelas
autoridades sanitárias á nível nacional.

3.1.3 Vacinação de recuperação


Crianças mais velhas que não estejam completamente vacinadas devem receber as doses perdidas excepto a
vacina da Rotavírus. Todas as outras doses em falta devem ser dadas a intervalos de tempo normais, de acordo
com o calendário.

3.1.4 Contra-indicações para a vacinação


Existem poucas contra-indicações absolutas para a vacinação. O risco de adiar uma vacinação por causa de
uma doença intercorrente, é que a criança pode não voltar e perder a oportunidade de vacinar. Em todo o
mundo, oportunidades perdidas por causa de falsas contra-indicações, são a principal causa do atraso em
completar a vacinação ou da não vacinação.

Em geral, o PAV recomenda que todos os trabalhadores da saúde devem usar todas as oportunidades para
vacinar as crianças elegíveis, a vacina deve ser dada à todas as crianças que frequentam as unidades sanitárias
com posto fixo de vacinação e/ou brigadas móveis. Crianças hospitalizadas devem ser vacinadas logo que a
sua condição clínica melhore, pelo menos antes de terem alta do hospital. A vacina anti-sarampo deve,
preferencialmente, ser administrada na admissão, devido ao risco de transmissão nosocomial do sarampo.

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- Contra-indicação absoluta
Indivíduos com doenças imuno-deficientes, ou sob terapia com agentes imunossupessores, ou radiativos,
geralmente, não devem receber vacinas vivas. No entanto, todos os antígenos excepto a BCG, devem ser dados
à todas as crianças com HIV/SIDA sintomático.

Um evento adverso grave a seguir à aplicação de uma dose de vacina (anafilaxia ou alergia a qualquer um dos
componentes da vacina por exemplo toxóide da Difteria para o caso de Hib, colapso ou shock, convulsões não
febris) constitui uma verdadeira contra-indicação à vacinação. A mãe e o trabalhador de saúde podem facilmente
reconhecer tais efeitos. Uma segunda ou terceira dose de DTP-HepB-Hib não deve ser administrada a uma
criança que tenha sofrido tais eventos adversos à uma dose prévia.

- Falsas contra-indicações
É particularmente importante vacinar crianças sofrendo de mal-nutrição. Febre baixa, infecções respiratórias
médias e outras doenças menores não devem ser consideradas como uma contra-indicação para a vacinação.
A diarreia não deve ser considerada contra-indicação para a OPV (Vacina oral da pólio). Algumas condições
que não são contra-indicação para a vacinação são as seguintes:
• Doenças menores tais como, infecções respiratórias superiores ou diarreia, febre < 38.5o C;
• Alergia, asma ou outra manifestação atípica, renite alérgica;
• Malnutrição;
• Amamentação;
• História familiar de convulsões;
• Tratamento com antibióticos, dose baixa de corticosteroides;
• Dermatoses, eczema ou infecção localizada na pele;
• Doença crónica do coração, pulmões ou fígado;
• História de icterícia logo depois do nascimento.

As mães ou outros responsáveis pelas crianças, devem ser encorajados a conservar o cartão de saúde da criança
onde é registado o peso e vacinas das suas crianças mesmo depois da infância para referência futura.

3.2 MULHER GRÁVIDA E MULHER EM IDADE FÉRTIL (MIF)

Em todos os contactos com mulheres em idade fértil deve se verificar se a sua vacinação está em dia e dar o
seguimento adequado. Isto deve levar a uma redução de oportunidades perdidas de vacinar com VAT e melhorar
as coberturas com esta vacina. Cada dose de VAT deve ser registada no cartão de VAT ou caderneta da mulher.
Doses recebidas antes da gravidez actual, devem ser transferidas do cartão de VAT para a caderneta da mulher.
Cada mulher grávida deve ser protegida para prevenir o tétano neonatal, aderindo ao calendário de vacinação
tabela 2 abaixo. As doses de tétano recebidas durante a infância com a DTP-HepB-Hib, podem contar para o
calendário da VAT. Se uma mulher tiver uma história documentada de cinco (5) injecções de VAT, ela não
precisa fazer doses adicionais de VAT, dado que cinco (5) doses dão uma protecção completa durante os anos
de idade fértil como mostrado na tabela3.2.
Tabela 3.2 Calendário de Vacinação da mulher grávida ou mulher em idade fértil
DOSE DEVAT CONTACTO
VAT 1 Ao primeiro contacto ou o mais cedo possível durante a gravidez , incluindo o primeiro
trimestre.

VAT 2 Pelo menos quatro (4) semanas depois de VAT 1.

VAT 3 Pelo menos 6 meses depois da VAT 2 ou durante a gravidez subsequente.

VAT 4 Pelo menos 1 ano depois da VAT 3 ou durante a gravidez subsequente.

VAT 5 Pelo menos 1 ano depois de VAT 4 ou durante a gravidez subsequente.

41
Atenção
• Este é o calendário ideal. Se não fôr possível segui-lo exactamente, deve-se adaptá-lo às condições locais.

Tabela 3.3 Duração esperada da imunidade depois da aplicação de diferentes doses de VAT em Mulheres em Idade Fértil
(15 - 49 anos)

DOSES INTERVALOMÍNIMO PROTECÇÃO DURAÇÃO DA PROTECÇÃO


VAT1 1O CONTACTO 0 0

VAT2 4 SEMANAS 80% 3 ANOS

VAT3 6 MESES 95% 5 ANOS

VAT4 1 ANO 99% 10 ANOS

VAT5 1 ANO 99% TODA A VIDA

Atenção
• No calendário de vacinação de rotina do PAV, os grupos visados para VAT compreendem as mulheres grávidas,
as mulheres em idade fértil, os alunos das 1ª e 2ª classes e os trabalhadores cuja actividades lhes expõe em risco
de contrair o Tétano.

É necessário, no entanto, ter presente que as vacinas antitetânicas anteriormente recebidas, isto é, na infância,
idade escolar etc, são contadas para o cumprimento do calendário, desde que entre elas tenham sido respeitados
os intervalos mínimos. Não há intervalo máximo entre as doses.

A comprovação de vacinações anteriores exige a apresentação de um documento válido das Unidades Sanitárias
onde foram efectuadas (Cartão de Saúde da criança, Cartão de VAT, caderneta da mulher, etc.).

Na falta de comprovação nas condições referidas, a mulher deve iniciar e completar o calendário de 5 doses.
Neste caso, se a mulher estiver grávida, deve fazer 2 doses durante a gestação (Consulta Pré-Natal), uma 3.ª
dose seis meses depois, ficando a 4.ª dose para além de um ano e a 5.ª dose, passado também um outro ano.
O quadro seguinte indica a conduta a seguir em algumas situações que se podem apresentar comprovadas.

Tabela 3.4 Situações a considerar na vacina antitetânica (MIF's)


DOSES JÁ RECEBIDAS DOSES A RECEBER

NA INFÂNCIA NA ESCOLA NA IDADE ADULTA

VACINA-DOSES Doses válidas VACINA - DOSES VACINA-DOSES Doses válidas VACINA - DOSES

DTP-HepB-Hib0 ou DTP-HepB-Hib0 ou
1 Dose 0 VAT0 ou 1 Dose 1 Dose 0 VAT0 ou 1 Dose
DTP-HepB-Hib0 ou DTP-HepB-Hib0 ou
1 Dose 0 VAT - 2 Doses 1 Dose 0 VAT - 2 Doses
DTP-HepB-Hib2 ou DTP-HepB-Hib2 ou
3 Doses 2 VAT - 0 Doses 3 Doses 2 VAT - 0 Doses
DTP-HepB-Hib2 ou DTP-HepB-Hib2 ou
3 Doses 2 2 doses com um inter- 3 Doses 2 2 doses com um inter-
valo mínimo de 1 Ano valo mínimo de 1 Ano

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A última hipótese - 2 doses na infância e 2 doses na escola - só é válida se o intervalo entre as duas doses
recebidas na escola for superior a um ano (1.ª e 2.ª classes).

Se o intervalo for inferior (4 semanas por exemplo) deve-se contar apenas uma dose, anulando a
segunda por não corresponder ao intervalo entre a 3.ª e 4.ª doses do calendário.

Atenção
• As vacinas recebidas na infância, na escola ou noutras situações, só poderão ser consideradas válidas quando
comprovadas por um documento oficial e reconhecido pelo MISAU.
• Não há intervalo máximo entre as doses

3.3 ACTIVIDADES ESPECIAIS DE VACINAÇÃO

Moçambique também adoptou as políticas e princípios da organização mundial da saúde (OMS) em relacção
à eliminação do sarampo, eliminação do tétano neonatal e erradicação da poliomielite. Estas políticas incluem
campanhas de vacinação especiais, direccionadas a grupos de idade diferentes daqueles da vacinação de rotina.

3.3.1 Eliminação do Sarampo


As estratégias para a eliminação do sarampo incluem:
• Atingir coberturas de vacinação de rotina iguais ou superiores a 95% com uma dose de vacina contra
Sarampo e Rubéola dada aos 9 meses de idade;
• Atingir a cobertura de 80% da vacinação da segunda dose de sarampo e rubéola dada aos 18 meses;
• Realizar uma vez a nível nacional, uma campanha de vacinação de ataque para interromper a transmissão.
• Fazer á nível nacional, campanhas periódicas de seguimento para manter a interrupção da transmissão
do sarampo
• Estabelecer a vigilância baseada no caso com confirmação laboratorial.

A eliminação do sarampo requer uma vigilância intensiva a todos os níveis. Qualquer caso de suspeita de
sarampo deve ser investigado. Isto implica preencher a ficha de investigação de caso (FIC), colher amostra
de sangue entre 0 - 30 dias depois do início do rash e amostras de urina dos casos detectados somente durante
0 - 7 dias depois do início.

3.3.2 Erradicação da Pólio


As seguintes 4 actividades são necessárias no processo de erradicação da Pólio:
• Vacinação de rotina: atingir e manter altos níveis de cobertura com VAP3 (pelo menos 90% em todos
os distritos).
• Vacinação de rotina: atingir e manter altos níveis de cobertura (80%) com a IPV ao nível dos distritos;
• Vigilância Epidemiológica: focalizar na vigilância da paralisia flácida aguda (PFA), um sistema para
detectar todos os casos de paralisia flácida aguda e confirmar se são ou não pólio.
• Actividades de limpeza: campanhas sub-nacionais de vacinação antipólio, somente numa área focal,
quando nela se suspeite da circulação do vírus da pólio.

Moçambique está comprometido com os esforços globais de erradicação da pólio e tem levado a cabo com
sucesso, campanhas dos DNV`s desde 1996 a 2011. A vigilância da PFA é parte integral dos esforços para a
erradicação da Pólio. Qualquer caso de PFA em crianças menores de 15 anos de idade deve ser notificado. As
investigações devem ser iniciadas o mais cedo quanto possível incluindo a colecta de duas (2) amostras de
fezes, de preferência dentro dos primeiros 14 dias depois do início da paralisia. As amostras de fezes podem
ainda ser colhidas até 60 dias depois do início da paralisia. Um exame de seguimento para definir a paralisia
residual deve ser feito pelo menos 60 dias depois do início da paralisia.

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3.3.3 Eliminação do tétano neonatal
Para reduzir a incidência do tétano neonatal para menos do que 1caso em cada 1000 nados vivos, Moçambique
propõe-se a elevar a cobertura de VAT em mulheres em idade fértil através da redução de oportunidades
perdidas, intensificação da mobilização social e informação, educação e comunicação (IEC) a todos os contactos
e melhoria da vigilância epidemiológica. Deve-se dar ênfase as actividades especiais em áreas de alto risco.

Outra estratégia de suporte à vacinação na eliminação do tétano neonatal é a observância dos “cinco aspectos”
de assépsia durante o parto: 1) limpar o local de parto, 2) lavar bem as mãos, 3)usar fios limpos para laquear
o cordão umbilical, 4) usar lâmina ou tesoura limpa para cortar o cordão e 5) limpar bem o coto umbilical.

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ADMINISTRAÇÃO DE VACINA E SUPLEMENTAÇÃO COM VITAMINA A

Para minimizar o risco de falhas resultantes de um manuseamento e administração inadequados de vacina durante as sessões de
vacinação, os trabalhadores da saúde devem estar conscientes dos requisitos para cada vacina, os quais diferem em relação a quando
e como são administradas e como devem ser manuseadas. Outros princípios gerais, os quais se aplicam igualmente quando se faz a
triagem das crian-ças para a vacinação são:
• É seguro e imunologicamente eficaz administrar todas as vacinas no mesmo dia em diferentes locais do corpo.
• Febre moderada, malnutrição, infecções respiratórias moderadas, tosse, diarreia e vómitos não são contra-indicações para a
vacinação.

4.1 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS

A tabela 4.1 apresenta um sumário do calendário de vacinação, das vias e doses de administração de vacinas.

Tabela 4.1: Calendário de vacinação, vias e doses de administração de vacinas

VACINA IDADE IDADE IDADE DOSE VIA DE


IDEAL MÍNIMA MÁXIMA APLICAÇÃO
< 1 ano 0,05 ml
BCG à nascença à nascença 23 meses > 1 ano 0,1 ml Intradérmica
Pólio Zero à nascença à nascença 5 semanas 2 a 3 gotas* Oral
Pólio 1 2 meses 6 semanas 23 meses 2 a 3 gotas* Oral
Pólio 2 3 meses 10 semanas Idem Idem Idem
Pólio 3 4 meses 14 semanas Idem Idem Idem
PCV1 2 meses 6 semanas 23 meses 0,5 ml Intramuscular
PCV2 3 meses 10 semanas Idem 0,5 ml Idem
PCV3 4 meses 14 semanas Idem 0,5 ml Idem
RotaVirus1 2 meses 6 semanas 14 semanas 1.5 ml Oral
RotaVirus2 3 meses 6 semanas 24 semanas 1.5 ml Oral
IPV 1 4 meses 14 semanas Idem 0.5 ml Intramuscular
DPT-HepB-Hib1 2 meses 6 semanas 23 meses 0,5 ml Intramuscular
DPT-HepB-Hib2 3 meses 10 semanas Idem Idem Idem
DPT-HepB-Hib3 4 meses 14 semanas Idem Idem Idem
Sarampo-Rubeóla1 9 meses 8.5 meses 23 meses 0,5 ml Subcutânea
Sarampo-Rubeóla2 18 meses 18 meses 23 meses 0.5 ml Subcutânea
*Dependendo do fabricante

Figura 4.1: Vias de administração da vacina

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4.2 SERINGAS E AGULHAS PARA A VACINAÇÃO

Com a introdução de seringas auto-destructíveis (seringas AD) em julho de 2001, já não se justifica o uso de
seringas e agulhas esterilizáveis. As seringas AD são desenhadas para prevenir a reutilização por mecanismo
interno que bloqueia o êmbolo depois de usada uma vez. As seringas AD devem estar disponíveis em todas
as unidades sanitárias do país.

4.3 VACINA DA BCG

A BCG protege contra a tuberculose. É feita de uma microbactéria atenuada, desenvolvida por Calmette e
Guerin, daí o nome de BCG (Bacilo de Calmette e Guerin).
É uma vacina liofilizada e se apresenta em pó num frasco. É reconstituída com um diluente específico antes
de ser injectada. Somente o diluente específico pertencente ao mesmo lote de uma dada vacina deve ser usado.

4.3.1 Conservação da vacina de BCG


A vacina da BCG deve ser conservada e transportada a temperaturas entre + 2º C e + 8º C. O diluente não
deve ser congelado, mas deve estar à mesma temperatura que a vacina no momento da utilização. Isto significa
que o diluente deve ser colocado na geleira a temperaturas entre + 2º C e + 8º C pelo menos 24 horas antes
de ser usado. A vacina da BCG nunca deve ser exposta à luz do sol. A BCG é mais estável ao calor do que
a pólio antes da sua reconstituição, mas menos estável depois da reconstituição. A vacina reconstituída deve
ser descartada dentro de 6 horas ou no fim da sessão, o que ocorrer primeiro.

Figura 4.2 Aplicação da vacina BCG

Idade: à nascença ou a qualquer momento até aos 23 meses de Dose: 0.05 ml, para crianças < de 1 ano.
idade 0.1 ml, para crianças > = 1 ano.

Via: injecção intradérmica, na parte superior do ombro direito. No de doses: uma

Se não aparecer cicatriz no local de injecção seis (6) semanas depois da vacinação com BCG, a injecção deve
ser repetida.

4.3.3 Como administrar a BCG


- Prepare a BCG
• Verifique a data de expiração da vacina e do diluente.
• Verifique o monitor de frasco de vacina (VVM)
• Verifique se é o diluente apropriado (da mesma fábrica e mesmo lote que a vacina).
• Verifique se o diluente está frio.
• Retire o diluente segundo a dosagem para uma seringa de diluição (reconstituição).
• Misture a vacina com o diluente.

- Posição do bebé e enchimento da seringa


• Prepare a seringa apropriadamente.
• Insira a agulha no frasco da vacina e retire 0.05 ml do frasco para uma criança menor de 1 ano de idade,
e 0.1 ml para crianças com 1 ano ou mais.
• Deixe a mãe segurar a criança firmemente ou ajude-a.
• Segure o braço direito do bebé com a palma virada para cima com a sua mão esquerda, enquanto injectas
com a mão direita.

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- Dê a vacina por via intradérmica
• Insira a ponta da agulha na pele com o bisel virado para cima - apenas o bisel e um bocadinho mais.
• Mantenha a agulha paralela à parte superficial da pele, de modo que ela avance apenas na camada
superficial da pele.
• Não pressione muito e não aponte para baixo (senão a injecção será profunda demais, portanto,
subcutânea).
• Pressione o êmbolo com o polegar, enquanto seguras a seringa entre o indicador e os dedos médios.

Figura 4.3: Administração intradérmica da vacina BCG

Capa subcutânia

Derme
Músculo

4.3.4 O que acontece depois da injecção

- Reacção normal
Deve aparecer uma pequena pápula ou inchaço na pele no local de injecção semelhante ao da picada de
mosquito, com buracos muito pequenos. Isto geralmente desaparece dentro de 30 minutos. Depois de
aproximadamente duas semanas, aparece uma borbulha vermelha com cerca de 10 mm de diâmetro. A borbulha
permanece por mais duas semanas e depois cura. Fica uma pequena cicatriz de cerca de 5 mm permanece. Este
é um sinal de que a criança foi eficazmente vacinada com a BCG.

A mãe deve ser informada de que isto vai acontecer, e que desde que a lesão não aumente ou cause dor, não
é motivo para preocupação. Aconselhe a mãe a não esfregar ou pôr qualquer medicamento na ferida.

Se por engano a via de administracao não for correcta, ou seja se, a injecção for muito mais profunda, aparecerá
um inchaço redondo debaixo da pele (efeitos colaterais, tais como, abcesso ou gânglios aumentados são mais
prováveis se a BCG tiver sido subcutânea).

- Eventos Adversos
Às vezes ocorre inflamação local, inchaço na região axilar ou perto do cotovelo, ou abcesso profundo. Isto
pode acontecer porque:
• A seringa e agulha usada foi contaminada
• Ou a injecção tenha sido demasiado profunda.
• Dose elevada de vacina que tenha sido administrada.
• A estirpe usada pelo fabricante na produção da vacina.
• O diluente usado para reconstituição da vacina, não é apropriado.

Se a reacção permanecer localmente, não é necessário nenhum tratamento. Para úlceras muito grandes, o
tratamento antibiótico é efectivo. Tipicamente, linfonodos supurativos podem necessitar de excisão total, em
vez de incisão e drenagem.

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4.3.5 Contra-indicações
As crianças com infecção sintomática por HIV/SIDA, baixo peso á nascença (<2kg), não devem ser administradas
a vacina da BCG. prematuridade não são contra-indicações para a BCG.

4.4 VACINA DA DPT-HepB-Hib

A vacina DPT-HepB-Hib contém a bactéria diftérica enfraquecida, o toxóide tetánico, a bactéria pertussis
morta e o antígeno de superfície do Virus da Hepatite B (HBsAg). A vacina DPT-HepB-Hib é uma vacina
líquida mas a Hib esta disponível nas formas líquida ou liofilizada, em frascos de dose única ou multidoses e
como monovalente ou combinadas com outras vacinas por exemplo DTP, Hepatite B (Hep B), DTP-Hepatite
B. A vacina Hib liofilizada deve ser diluída com solução salina.

A vacina do Hib é preparada com o polissacarídeo capsular purificado do Haemophilus influenzae tipo b, ou
seja, um polímero de ribose, ribitol e fosfato poliribosil, conjugado com a proteína tetânica (PRP-T) ou toxina
diftérica ( PRP-CRM197) ou proteína da membrana externa do meningococo (PRP-OMP). Esta bactéria é
revestida com uma cápsula polissacarídica que a torna resistente ao ataque dos leucócitos. Neste caso a vacina
estimula a resposta imunitária dos linfócitos B T-dependentes contra o polissacarídeo.

4.4.1 Conservação da vacina DPT-HepB-Hib


A temperatura de armazenamento da vacina conjugada da DPT-HepB-Hib é de +2°C a +8°C. A vacina líquida
DPT-HepB-Hib não deve ser congelada mas a vacina liofilizada deve ser congelada até a sua reconstituição.
Portanto, A DPT-HepB-Hib deve ser conservada a temperaturas positivas. Nunca se deve congelar esta vacina.

Figura 4.4: Aplicação da DPT-HepB-Hib

Idade: comece à 6a semana de vida, depois na 10a e 14a semanas. Dose: 0.5 ml

Via: Injectável intramuscular, na face antero lateral da coxa Nr. de Doses: 3 com intervalo mínimo de 4
esquerda (lactentes) ou no músculo Deltóide (crianças maiores). semanas entre as doses.

Espere pelo menos 4 semanas entre as doses. Se o intervalo for maior, não precisa recomeçar o calendário.
Continue com as doses seguintes normalmente.

Atenção:
Crianças maiores de 12 meses que não foram vacinadas, uma dose da vacina é suficiente para a imunização. Crianças
que foram vacinadas podem receber um reforço entre os 12 à 23 meses.

4.4.3 Como administrar DPT-HepB-Hib


- Prepare a vacina
• Verifique a data de expiração da vacina.
• Agite para se assegurar que a vacina não congelou.
• Verifique o monitor de vacina se o frasco tiver.
• Remova o centro da tampa do frasco.
• Retire a quantidade de vacina necessária, 0.5 ml.
• Expelir o ar ou excesso de vacina.

- Posicione o bebé
• Peça a mãe para sentar com o bebé nas coxas
• O braço esquerdo da mãe passa à volta do bebé para suportar a cabeça, o pescoço, o ombro e seu braço
esquerdo.
• O braço direito do bebé fica em repouso para trás.
• O braço direito da mãe segura firmemente as pernas do bebé.

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- Aplique a vacina
• O melhor local para injectar é a porção central da face externa da coxa do bebé.
• Divida a coxa em 3 partes iguais entre o joelho e a espinha ilíaca.
• Limpe a pele se estiver suja com bola de algodão húmida e deixe secar
• Coloque seu polegar e indicador em cada um dos lados do local aonde vai injectar e estique a pele
suavemente.
• Introduza a agulha profundamente para dentro do músculo.
• Pressione o êmbolo com o polegar para injectar a vacina e depois retire a agulha.

Não injecte nas nádegas, pois a injecção pode lesar o nervo ciático e provocar paralisia da perna da
criança.

Figura 4.5: Administação da vacina DPT-HepB-Hib

4.4.4 Contra-indicações
No geral, não há contra-indicações para a vacinação com a DPT-HepB-Hib excepto se houver história de
hipersensibilidade (alergia) pós a vacinação a qualquer um dos componentes da vacina (por exemplo, o tétano
ou toxóide da Difteria). Em crianças com febre alta a vacinação pode ser feita mais tarde quando esta estiver
controlada.

4.4.5 Eventos adversos


• Febre: advirta a mãe de que muitas crianças experimentam febre e ficam irritáveis depois de receber
a vacina da DPT-HepB/Hib, e que isto desaparece dentro de 24 horas. A criança pode ser tratada com
paracetamol para resolver este problema.
• Dor local: informe à mãe que a criança pode ter um pequeno inchaço avermelhado e doloroso no local de
injecção. Isto não é sério e não necessita de tratamento. No entanto, se aparecer pus no local de injecção,
uma semana ou mais depois da injecção, a mãe deve levar a criança à unidade sanitária mais próxima.
• Abcesso: se a dor e o inchaço começarem tarde (uma semana ou mais depois da injecção), pode ser
devido a um abcesso. Os abcessos podem ocorrer:
• Se tiver tocado com os dedos (contaminando a agulha)
• Se tiver pousado a seringa em local não esterilizado
• Se o topo do frasco tiver sido tocado ou tiver estado em contacto com superfícies sujas
• Se não se injectar a vacina com a profundidade suficiente

Atenção:
Se a criança desenvolver um abcesso, ponha compressas mornas no inchaço e dê antibióticos. Se o abcesso não
resolver, refira a criança para a unidade sanitária de referência mais próxima para incisão e drenagem.

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Convulsões: esta é uma complicação rara que ocorre em cerca 1/1.200 a 1/1.600 crianças e está frequentemente
relaccionado com a febre. Isto é devido à componente pertussis da vacina.

Atenção:
Se uma criança que tenha recebido a vacina DPT-HepB-Hib tiver convulsões ou choque nos três dias seguintes, essa
criança não deve receber mais doses de DPT-HepB-Hib.

4.6 VACINA ORAL CONTRA PÓLIO (OPV)

A vacina contém um vírus vivo atenuado. É uma vacina muito sensivel ao calor do que as outras vacinas. Pode
ser armazenada e transportada a temperaturas negativas até ao nível da unidade sanitária. Entretanto, para os
níveis distritais e da Unidade Sanitária, deve sempre ser conservada a temperaturas positivas, entre + 2o C e
+ 8o C.

A OPV apresenta-se quer em frascos plásticos com conta-gotas ou em frasco de vidro com conta-gotas separado.
É importante usar o conta-gotas apropriado para a vacina a fim de evitar que esta jorre.

4.6.1 Conservação da vacina da Pólio


Deve ser conservada entre - 15o C a- 25o C nos níveis central e provincial. O monitor do frasco VVM da OPV
indica se a vacina esteve exposta ao calor. Se o quadrado é mais claro do que o círculo circundante, a vacina
pode ser usada normalmente(vide capítulo 12).

Figura 4.6: Aplicação da vacina da pólio oral (OPV)

Idade: dentro das primeiras 6 semanas depois do nascimento, à Dose: 2 a 3 gotas, dependendo do fornecedor
6a , 10a e 14a semanas (verificar sempre as instruções do fornecedor)

Nr de doses: 4 com intervalo mínimo de 4 semanas entre as doses Via: Oral

4.6.3 Como administrar a OPV


• Prepare a vacina
• Verifique a data de expiração
• Verifique o monitor do frasco de vacina para se certificar de que a vacina pode ser usada
• Verifique se é a vacina certa
• Verifique o número de gotas necessárias para uma dose de vacina do frasco
• Posicione o bebé. Peça à mãe para segurar o bebé firmemente, sentando-o de forma a que não cuspa
a vacina.
• Dê a vacina
• Abra a boca da criança apertando-a suavemente entre os dedos.
• Dê duas ou três gotas (depende das instruções do fabricante) na língua da criança, usando o conta-
gotas.
• Assegure-se de que a criança engole a vacina.
• Se ela cuspir, repita a dose.
• O conta-gotas nunca deve entrar em contacto com a boca ou língua do bebé.

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Figura 4.7: Administração da vacina anti-pólio

4.6.4 Contra-indicações
Não há contra-indicações. Se a criança tiver diarréia, administre a vacina mesmo assim.

4.6.5 Eventos adversos


Geralmente não existem efeitos colaterais

Atenção:
Os intervalos entre as doses de DPT/Hepatite B e OPV devem ser de pelo menos 4 semanas. Intervalos maiores de
4 semanas não prejudicam a criança e não implicam recomeçar o calendário

4.7 VACINA INACTIVADA CONTRA PÓLIO (IPV)

A vacina contém o vírus inactivado da pólio. A vacina é de forma líquida e não precisa e nenhuma reconstituição.

4.7.1 Conservação da vacina


Em todos os níveis a vacina deve ser conservada a temperaturas positivas, entre +2oC e +8o C. A vacina da
pólio inactivada é muito sensível ao frio, portanto, não deve congelar.

Figura 4.8: Aplicação da Vacina


Idade: comece 14a semanas até 23 mesees Dose: 0.5 ml

Via: Injectável intramuscular, na face antero lateral da coxa direita Nr. de Doses: 1.
(lactentes) ou no músculo Deltóide (crianças maiores).

4.7.3 Como administrar a vacina da Pólio inactivada (IPV)


• Prepare a vacina
• Verifique a data de expiração da vacina.

Agite para se assegurar que a vacina não congelou


• Verifique o monitor de vacina se o frasco tiver
• Remova o centro da tampa do frasco
• Retire a quantidade de vacina necessária, 0.5 ml
• Expelir o ar ou excesso de vacina

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- Aplique a vacina
• O melhor local para injectar é a porção central da face externa da coxa direita do bebé.
• A dose é de 0.5 ml, dada por via intramuscular .
• Introduza a agulha na parte da pele abaulada numa profundidade não superior a 1 cm. Agulha deve
penetrar num ângulo recto ( cerca de 90o ),.
• Pressione o êmbolo com o polegar para injectar a vacina.
• Retire a agulha
• Se houver algum sangramento, pressione o local de injecção com uma bolinha de algodão, mantenha
a pressão até este parar.

4.7.4 Contra- Indicações


No geral, não há contra-indicações para a vacinação com a IPV excepto se houver história de hipersensibili-
dade (alergia). Em crianças com febre alta a vacinação pode ser feita mais tarde quando esta estiver controlada.

4.7.5 Eventos Adversos


• Reacções locais (Eritema, nodulo e hiperstesia ao toque manual)

4.8 VACINA DA PCV

O que é a Vacina Conjugada Pneumocócica (PCV)?


A vacina conjugada pneumocócica consiste em açúcares (polissacarídeos) da cápsula da bactéria Streptococcus
pneumoniae que são conjugados com uma proteína portadora. Protege contra formas graves da doença
pneumocócica, tal como a meningite, pneumonia e bacteriémia. Não protegerá contra outros agentes causadores
que o pneumococo ou por serotipos pneumocócicos que não estão presentes na vacina.

4.8.1 Conservação da Vacina


A temperatura de armazenamento da vacina conjugada da PCV é de +2°C a +8°C. A vacina líquida da PCV
não deve ser congelada portanto, A PCV deve ser conservada a temperaturas positivas. Nunca se deve congelar
esta vacina.

4.8.2 Como Administrar a Vacina Conjugadas Pneumocócica


• As vacinas pneumocócicas são dadas por via intramuscular numa dose de 0.5 ml em três doses com
intervalos de pelo menos quatro semanas.
• A vacina conjugada pneumocócica pode ser administrada em simultâneo com outras vacinas do PAV.

4.8.2.1. O que é recomendado no caso de crianças que são imunodeprimidas ?


O calendário de vacinação proposto é o mesmo para todas as crianças com 23 meses de idade, indepen-
dentemente da presença de condições médicas subjacentes (por exemplo crianças com infecção HIV, anemia
falciforme ou que estão de outra forma imunocomprometidos). Foi provado que a vacina conjugada pneumocócica
é segura e bem tolerada.

4.8.3. Contra-indicações
A vacina pneumocócica não deve ser dada ao bebés nas seguintes condições:
• Febre 39°C não devem ser vacinados até melhorarem.
• Reacções alérgicas graves a uma dose anterior ou a qualquer componente da vacina, incluindo difteria.

4.9 VACINA DA ROTAVIRUS

A vacina contra o rotavírus é uma solução para administração oral. Existem dois tipos de vacinas contra o

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rotavírus: a RotaTeq e Rotarix. Ambas são eficazes e seguras. O nosso país está a introduzir a vacina Rotarix.
É importante compreender que a vacina contra o rotavírus não impede ou protege contra diarreia ou vómitos
causados por outros germes, mas é muito eficaz na prevenção da diarreia e vómitos causados por rotavírus.
Isso significa que, mesmo quando as crianças estão totalmente imunizadas contra o rotavírus, elas ainda podem
ter diarreias causada por outros agentes.

Como afirmado acima, a vacina contra o rotavírus é muito eficaz contra a doença causada por rotavírus. Estudos
mostram que a vacina é altamente eficaz (85% -98%) em qualquer estado de gravidade após a vacinação. Ao
administrar a vacina rotavirus, a chance das crianças serem hospitalizadas diminuiu consideravelmente em 96%.

Atenção:
A vacina contra o rotavírus deve ser administrada aos bebés por via oral, e não injectada.

4.9.1 Conservação da Vacina


A vacina contra rotavírus vem em um tubo especialmente concebido para administração oral directo. Um tudo
corresponde a uma dose e este possuí 1,5mL do líquido. A vacina deve ser armazenada numa geleira (refrigerador).
Não se pode colocar a vacina contra o rotavírus no congelador porque as vacinas quando congeladas,
perdem a sua potência e deixam de fornecer a protecção contra a doença.

Deve-se controlar a temperatura durante o armazenamento e transporte das vacinas, para garantir a eficácia e
segurança das mesmas. Vacinas contra o rotavírus devem ser armazenados entre +2 °C e +8°C. Procure não
abrir a porta da geleira com frequência e faça regularmente a monitoria da temperatura da geleira ou refrigerador.

4.9.2 Aplicação da vacina


A toma da vacina contra rotavírus é feita num esquema de 2 doses:
• A primeira dose é administrada com 6 semanas de idade,
• A segunda ou última dose é administrada com 10 semanas de idade.

Lembre-se que:
• Primeira dose da vacina deve ser administrada antes de 15 semanas;
• Segunda dose tem de ser antes de 32 semanas;
• a parir de 16 semanas é tarde para a primeira dose e 33 semanas é tarde demais para segunda dose;
• Deve haver um intervalo de 4 semanas entre as doses.

A vacina de rotavírus pode ser administrada ao mesmo tempo que a primeira e segunda dose de DTPHepB
-Hib (isto é, 1a e 2a Penta).

Para determinar a elegibilidade de um bebé, deve-se saber:


• A idade da criança;
• Se ele/ela já recebeu ou não a primeira dose.

Para cada caso, o fluxograma ajuda a determinar se a criança é elegível e o que fazer após a vacinação (ou não).

Atenção:
O termo "Nunca perca uma oportunidade de imunizar uma criança, mesmo que esta tenha maior idade para a
vacinação" não é válido para a vacina contra rotavírus:
• Crianças com mais de 15 semanas não são elegíveis para receber a primeira dose da vacina contra o rotavírus.
• Crianças com mais de 32 semanas idade não são elegíveis para receber a segunda dose da vacina contra o
rotavírus.

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4.9.3. Como Administrar a Vacina Contra Rotavírus
Para administrar a vacina contra rotavírus, a criança deve estar sentada em uma posição semi-eclináda (ou seja,
a posição normal de alimentação) para tomar a vacina por via oral. Antes da administração da vacina, deve-se
fazer uma inspecção visual para garantir que a ponta não tenha caído no interior do tubo.

Figura 4.9: Posicção recomendada para toma da vacina contra rotavírus

Confirmada a posição recomendada para toma da vacina contra rotavírus comece por:
1. Abrir a boca da criança, pressionando suavemente as bochechas.

• Coloque o tubo em direcção ao interior da bochecha. Deve-se fazer todos os esforços para apontar o
tubo contendo a vacina de um lado e para o fundo da boca da criança. Não coloque o tubo muito para
trás da boca. Nunca coloque o tubo no centro da boca para evitar o risco de sufocar a criança.

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• Administre a vacina lentamente pressionando o tubo. Para prevenir que a criança possa cuspir depois
da administração da vacina, deve-se introduzir em pequenas porções e lentamente

• Certifique de que a criança está engolindo a vacina. Pegue nas bochechas juntos e acariciá-las para
ajudar com a deglutição. A dose de reposição pode ser dada se a criança cospe uma parte da vacina.

4.9.4. Contra-indicações
Contra-indicações
• Hipersensibilidade após a administração anterior de vacinas contra o rotavírus;
• História prévia de invaginação intestinal;
• A administração de vacina contra o rotavírus deve ser adiada nos indivíduos que sofrem de diarreias
ou vómito e necessitam de rei-hidratação.

Note que uma doença ligeira, tal como uma infecção do trato respiratório superior não é uma contra-indicação.

4.10 VACINA CONTRA SARAMPO E RUBEOLA

A vacina contém o vírus do sarampo atenuado. A vacina é liofilizada congelada e deve ser reconstituída
(misturada com diluente) antes de ser usada. Use SOMENTE o diluente que é fornecido pelo mesmo fabricante
da vacina, para fazer a reconstituição desta.

4.10.1 Conservação da vacina anti-sarampo e rubeola


A todos os niveis, a vacina deve ser conservada a temperaturas entre entre + 2o C e + 8o C. O diluente não
deve ser congelado, mas resfriado antes de ser usado para não neutralizar a vacina. A vacina do sarampo é
muito sensível à luz. Assim, as seringas nunca devem ser preenchidas e deixadas sobre a mesa fora da caixa
isotérmica.

57
4.10.2 Aplicação da vacina anti-sarampo
Os anticorpos maternos contra o sarampo permanecem mais tempo do que outros anticorpos. Assim, a vacinação
contra o sarampo não é eficaz antes dos 9 meses de idade.

Idade: a 1ª dose é dada aos 9 meses; no entanto pode-se vacinar a Dose: 0.5 ml
partir dos 8.5 meses, e a 2ª é dada a partir dos 18 meses

Via: Subcutânea, na face lateral do braço. Nr de doses: duas

4.10.3 Como administrar a vacina anti-sarampo


- Prepare a vacina
• Verifique a data de expiração da vacina e do diluente.
• Verifique se é o diluente correcto (mesmo fabricante).
• Verifique se o diluente esta frio.
• Retire o diluente para a seringa de diluição.
• Misture a vacina e o diluente.
• Não agite a vacina, pois pode estragá-la.

- Aplique a vacina
• A dose é de 0.5 ml, dada por via subcutânea na parte lateral externa superior do braço esquerdo.
• A dose é de 0.5 ml, dada por via subcutânea na parte lateral externa superior do braço esquerdo.
• O local de injecção deve ser limpo com algodão mergulhado em água limpa para remover qualquer
sujidade visível.
• Segure o braço da criança pela parte inferior, seus dedos devem estar a volta do braço e formar uma
prega da pele entre os dedos polegar e indicador.
• Introduza a agulha na parte da pele abaulada numa profundidade não superior a 1 cm. Agulha deve
penetrar num ângulo inclinado (cerca de 35o a 45o), não recto.
• Pressione o êmbolo com o polegar para injectar a vacina.
• Retire a agulha e pressione o local de injecção com uma bolinha de algodão. Se houver algum sangra-
mento, mantenha a pressão até este parar.

Figura 4.10: Aplicação da vacina contra sarampo e rubéola

58
4.10.4 Efeitos Adversos
Informe à mãe de que a criança pode ter febre de 1 a 3 dias até cerca de uma semana depois da vacinação, e
que pode aparece um rash de sarampo ligeiro. Assegure à mãe de que este rash é muito mais ligeiro do que a
doença do sarampo, e que desaparece expôntaneamente.

Atenção:
História de suspeita de sarampo não constitui contra-indicação para a vacinação. Vacine todas as crianças elegíveis.

4.11 TOXÓIDE TETÂNICO (TT OU VAT)

A vacina consiste em um toxóide (uma anti-toxina ou neutralizador de toxina). A vacina é dada a mulheres
grávidas e às mulheres em idade fértil para prevenir o tétano neonatal. Em Moçambique, também é administrada
aos estudantes dos primeiros anos e trabalhadores cuja actividade lhes põe um certo risco de contrair o tétano.
É o mesmo toxóide tetânico da vacina DPT-HepB-Hib.

4.11.1 Conservação da VAT


Deve ser conservada a temperaturas entre + 2º C e + 8º C. O congelamento destrói a VAT. O teste da agitação
confirmará se esta foi ou não congelada, como no caso da DPT-HepB-Hib. O teste de agitação é descrito em
pormenores no capítulo 12.

Figura 4.11: Aplicação da VAT


Idade: a qualquer momento durante a gravidez Dose: 0.5 ml.
e mulheres em idade fértil.

Nr de doses: cinco (5), observando o intervalo Via: Intramuscular, na região deltóide do braço
mínimo entre as doses sucessivas. esquerdo.

4.11.3 Como administrar a VAT


• Prepare a vacina da mesma maneira como se prepara a DPT/Hepatite B
• Verifique a data de expiração da vacina.
• Agite para se assegurar que a vacina não congelou.
• Verifique o monitor de vacina se o frasco tiver:
• Remova o centro da tampa.
• Agite bem o frasco.
• Retire a quantidade de vacina necessária, 0.5 ml
• Expelir o ar ou excesso de vacina
- Posicione a mulher
- Aplique a vacina intramuscular na região deltóide do braço esquerdo.
• Use uma das suas mãos para apertar os músculos do braço da mulher.
• Introduza a agulha profundamente para o músculo.
• Injecte a vacina.
• Retire a agulha.

A primeira dose não dá nenhuma protecção. Cinco doses correctamente espaçadas dão protecção para todos
os anos da vida fértil da mulher.

59
Figura 4.12. Aplicação da vacina antitánica (VAT) nas MIF's

4.11.4 Eventos adversos


É comum haver dor ligeira a moderada, vermelhidão e inchaço no local de injecção, até 48 horas depois da
aplicação. Informe a mulher que isto passa expontaneamente e não necessita tratamento.

4.12 SUPLEMENTAÇÃO COM VITAMINA A

Suplementação com vitamina A significa dar gotas de vitamina A para aumentar a quantidade de vitamina A
no corpo. A suplementação periódica com vitamina A é feita para protecção contra a deficiência em vitamina
A e suas conseqüências, através da garantia de uma reserva desta vitamina para os períodos de reduzido
consumo ou de aumento de necessidades.

4.12.1 Conservação da vitamina A


A estabilidade química e, conseqüentemente, a actividade biológica da vitamina A é afectada pela temperatura
e exposição ao sol e outras fontes de raios ultravioletas. Contudo, ela é suficientemente estável para não
necessitar de cadeia de frio para a sua distribuição. A vida útil de uma solução oleosa de vitamina A num frasco
opaco, não aberto e devidamente conservado, é estimado em pelo menos dois anos. Uma vez o frasco tenha
sido aberto a potência é perdida gradualmente. Protecção parcial contra a perda da potência é conseguida
quando a solução oleosa é formulada em cápsulas.

Normas para a conservação da vitamina A


• Não coloque perto de fonte de calor, pois este destrói a vitamina A
• Não coloque o frasco ao sol, pois o calor destrói a vitamina A
• O frasco deve estar bem fechado para evitar humidade.
• Verifique a data de expiração e use o princípio “primeiro a expirar, primeiro a sair”.

Figura 4.13: Como administrar vitamina A


Quem recebe vitamina A Quando Dosagem
Crianças dos 6 - 11 meses Uma vez 100.000 UI
Crianças dos 12 - 59 meses De 6 em 6 meses 200.000 UI
Mulheres Dentro de 6 semanas depois do parto 200.000 UI

60
4.12.2 Dosagem na administração de Vitamina A
Verifique primeiro a data de expiração da vacina. Administre vitamina A da seguinte maneira:
• Peça á mãe/zelador para deitar a criança de costas e segurá-la firmemente.
• Abra a boca da criança apertando as bochechas suavemente entre os seus dedos.
• Dê ás crianças com idade dos 6-11 meses 4 gotas da cápsula vermelha (correspondentes a 100.000 UI).
• Dê ás crianças com idade dos 12-59 meses uma cápsula vermelha inteira (200 000 IU).
• Corte a ponta da cápsula e aperte-a para pingar o líquido na boca da criança. Se as gotas falharem a
boca ou se a criança cuspir imediatamente, dê outra cápsula.
• Deite fora (no recipiente) as cápsulas usadas.
• Registe a dose na folha de contagem, no local correcto para a idade da criança.
• Informe á mãe/zelador que a vitamina A deve ser dada a cada 6 meses até a criança completar 5 anos
de vida. (Aconselhe a mãe a levar de novo a criança á unidade sanitária mais próxima para a próxima
dose de Vitamina A seis meses mais tarde).

Dosagem de Vitamina A
• Crianças com idade dos 6-11 meses receberão 100,000 UI de Vitamina A (4 GOTAS de cápsula
vermelha).

• Crianças com idade dos 12-59 meses receberão UMA (1) cápsula VERMELHA de 200,000 UI de
Vitamina A.

Figura 4.14. Administração da vitamina A

4.12.4 Efeitos colaterais


Quando a vitamina A é administrada nas doses recomendadas, não há efeitos colaterais sérios nem permanentes.
Efeitos colaterais que podem ocasionalmente ocorrer (Por exemplo, fontanela tensa ou vômitos em bebés), são
menores e transitórios e não necessitam tratamento específico.

61
62
EVENTOS ADVERSOS PÓS-VACINAÇÃO (EAPV)

5.1 DEFINIÇÃO DE CASO DE EAPV

As vacinas usadas no Programa Nacional de Vacinação são extremamente seguras e efectivas. Contudo, muito
embora as vacinas sejam seguras, nenhuma vacina é completamente isenta de risco e os eventos adversos
podem ocorrer. Para além das próprias vacinas, o processo de vacinação e/ou imunização é uma fonte potencial
de reacção adversa.

Considera-se Eventos Adversos Pós-Vacinação, a qualquer ocorrência médica indesejada depois de uma
vacinação e que, não necessariamente possui uma relação causal com o uso da vacina. O EAPV pode ser
qualquer evento indesejável ou não intencional, isto é, sintoma, doença ou um achado laboratorial anormal
(WHO, 2012). Os eventos adversos podem ser inesperados ou esperados, tendo em conta a natureza e característica
da vacina, bem como o conhecimento já disponível pela experiência acumulada. Entre os eventos esperados,
podemos ter eventos relactivamente triviais, como febre, dor e edema no local, ou eventos mais graves, como
convulsões febris, episódio hipotómico-hiporresponsivo, anafilaxia etc.

Os eventos inesperados são aqueles não identificados anteriormente, ás vezes com vacinas de uso recente como
o caso da vacina rotavírus, ou com vacinas de uso mais antigo, como por exemplo, visceralização e falência
múltipla de órgãos, observada raramente após a vacina da febre amarela (Manual de vigilância epidemiológica
de EAPV, 2014).

Os EAPV podem resultar da qualidade de produto, como por exemplo a contaminação de lotes provocando
abscessos locais, ou teor indevido de endoxina em certas vacinas, levando a reacções de febris e sintomatologia
semelhante à sépsis. Por exemplo, podem advir da vacina ou processo de vacinação, ou eventos coincidentes
que não são devidos a vacina ou processo de vacinação mas que são temporalmente associados com a vacinação.

O objectivo da vacinação é proteger o indivíduo e a população de doenças previníveis pela vacina. As EAPV
podem minar os objectivos do programa de vacinação, fazendo com que os pais e a comunidade percam a
confiança nos benefícios da vacinação. É necessário monitorar os eventos adversos pós-vacinação, devido a
existência de calendário de vacinação diferentes, diferentes vacinas, problemas relacionados com os lotes no
fabrico, eventuais problemas da cadeia de frio, erros de vacinação, eventos coincidentes, diferenças genéticas
e globalização da segurança de vacinas. Assim, é importante que os programas de vacinação façam a monitoria
dos eventos adversos e tomem as medidas correctivas apropriadas.

5.2 CATEGORIAS DE EVENTOS ADVERSOS PÓS-VACINAÇÃO

Os EAPV são agrupados em 5 categorias. Eles podem ocorrer devido à erros de vacinação (antigamente
designado por erros programáticos), à própria vacina (resposta individual), a problemas de qualidade da vacina,
ansiedade na vacinação e coincidência.

5.2.1 Erros de vacinação


Refere-se a um evento que é causado pelo manuseamento inadequado da vacina, prescrição ou adminis-tração
(vide a tabela), sendo de natureza previsível, tais como:
• Sobredosagem numa aplicação
• Via de administração incorrecta
• Vacina reconstituída com diluente impróprio
• Quantidade errada de diluente usado
• Outra droga inadvertidamente tida como vacina

65
• Vacina preparada incorrectamente antes de ser usada, por exemplo, DPT-HepB-Hib ou VAT não agitada
apropriadamente antes do uso
• Seringa e agulhas inapropriadamente esterilizados
• Ignorar as verdadeiras contraindicações, por exemplo, quando uma criança com história de reac-ção
severa à DPT-HepB-Hib é vacinada com esta vacina.
• Vacina reconstituída não descartada no fim da sessão e usada na sessão seguinte.

Tabela 5.1: Descrição de tipos de erros de vacinação e reacções adversas relacionadas


Erros de vacinação Reacções relacionadas

Erro no Exposição excessiva de calor ou frio devido ao Reacção local ou sistémica devido a mudan-
manuseio da vacina transporte não apropriado, conservação ou ças da natureza física da vacina, como é o
manuseio da vacina (e diluente caso aplicável) caso de aglutinação de excepientes a base de
Uso do produto após a data de validade aluminio nas vacinas sensíveis ao congela-
mento.
Falha na proteção como resultado da perda
de potência ou a não viabilidade do produ-
to atenuado

Erro na prescrição Falha na adesão a contraindicação da vacina Anafiláxia, infecção disseminada por vacina
da vacina/não de componentes vivos e atenuadas
adesão das Falha na adesão de indicações ou prescrição da
recomendações vacina (Dose ou calendário) Reacção local ou sistemica, neurológica, mus-
do uso cular, vascular ou lesão óssea devido ao incor-
recto local de injecção, equipamento ou téc-
nica

Erro na administração Uso incorrecto de diluente ou injecção de um Falha na vacinação devida ao uso de diluen-
produto que não seja a vacina pretendida te incorrecto, reacção devido a propriedades
inerentes do que foi administrado, seja da
Técnica incorrecta de esterilização ou procedi- vacina pretendida ou diluente
mento não apropriado dos frascos multidose Infecção em/além do local de injecção

5.2.2 Eventos relacionados com às vacinas


É um evento que é causado ou precipitado pela vacina devido a uma ou mais propriedades inerentes a vacina
(adjuvantes, conservantes e estabilizadores). De um modo geral, são raras reacções associadas às vacinas. São
exemplos:
• Linfadenite a seguir à administração de BCG.
• Febre, convulsõess febris ou choque anafilático a seguir à administração da vacina anti-sarampo ou
DPT-HepB-Hib (componente pertussis).
• Paralisia a seguir à administração da vacina anti-pólio.
• Anafilaxia, choro persistente e reacção local severa.

5.2.3 Eventos coincidentes


São eventos que podem ser causados por algo não relacionado à vacina, erro de vacinação ou relacionado a
ansiedade. No entanto, é necessário que haja uma associação temporal com a vacinação, isto é, algu-mas
condições médicas que podem ocorrer depois da vacinação podem ser pura coincidência. As vezes a doença
parece mais evidente a seguir à vacinação devido à preocupação dos pais ou maior atenção prestada à criança
logo depois da vacinação. Por exemplo:
• Febre depois da vacinação (associação temporal) e parasita da malária detectada no sangue.
• Encefalite

5.2.4 Problemas de qualidade da vacina


Um evento causado ou precipitado pela vacina devido a um ou mais defeitos de qualidade da própria vacina,
incluindo o seu dispositívo para administração conforme fornecido pelo fabricante, isto é, por falha por parte
do fabricante no processo de inactivação completa de um lote de vacina.
São exemplos:
• Vacina anti-pólio leva a casos paralisia por pólio
• Adenite por BCG.

66
5.2.4 Problemas relacionados a ansiedade
Um evento decorrente da ansiedade sobre processo de vacinação. Esta reacção não esta relacionada com o
conteúdo da vacina. Por exemplo a íncope vasovagal em um adolescente após a vacinação.

5.3 NOTIFICAÇÃO DE EAPV

A detecção de casos é o primeiro passo importante na vigilância dos EAPV (vide a Figura 5.1). A detecção
de casos de EAPV é da responsabilidade de qualquer pessoa envolvida na atenção à criança. O notificador,
pode ser profissional de saúde da comunidade, um clínico ou pessoal da unidade sanitária, um voluntário de
saúde, os pais ou qualquer outra pessoa que detecte o EAPV. É importante verificar o cartão de saúde da criança
para confirmar se ela foi vacinada recentemente.

Uma suspeita é suficiente para reportar e o primeiro a notificar o caso não é necessário que conclua que o
evento foi causado pela vacina (avaliação de causalidade). Uma detecção rápida e avaliação da possível ligação
a vacina é essencial para garantir a segurança contínua da vacina.

5.3.1 O que deve ser notificado


Qualquer EAPV que preocupe os pais ou profissionais de saúde deve ser reportado, não obstante, o pro-fissional
de saúde deve notificar:
• Eventos graves
• Sinais e qualquer evento associados a vacinas introduzidas recentemente
• Eventos que tenham sido causados por erros de vacinação
• Eventos adversos adversos significativos inesperados que possam ocorrer 30 dias após depois da
vacinação
• Eventos que causam preocupação dos familiares ou da comunidade.

Notificar todos os EAPV menores como febre alta e reacções locais é óptimo. Essas são reacções esperadas
da vacina e, se notificadas, embora tenha valor limitado, é útil para monitorar problemas de qualidade, erros
de vacinação ou ainda aumentar o nível de suspeita da vacina quando esses problemas acontecem numa
determinada população.

5.3.2. Quando deve ser notificado


Imediatamente, após identificar o evento. A notificação do evento deve ser feita o mais rápido que possível
para que possam ser tomadas decisões imediatas e acção para investigação. Para incidentes que envolvam
varios casos ou preocupações na comunidade, é necessário o uso da linha telefónica de emergência, whatsapp,
fax ou e-mail para a tomada de decisão administrativa ou operacional.

5.3.3. Como deve ser notificado


O EAPV é notificado através do preenchimento da ficha de notificação de reacções adversas de medica-mentos
e vacinas (em anexo). É importante o preenchimento de todos os campos, a ficha deve ter ao menos informação
mínima para servir como base para tomada de decisão no que concerne a investigação. Isso inclui, código único
de identificação, informação do notificador, característica do paciente, detalhes do evento, vacina de interesse
e possibilidade de colher informações adicionais se necessário.

5.3.4 Notificação de EAPV em campanhas de vacinação


As campanhas de vacinação constituem uma oportunidade para fortificar ou estabelecer vigilância da segurança
na vacinação. Elaborar um plano para reduzir reacções causadas por erros de vacinação, monitorar e responder
aos EAPV, pode minimizar os eventos adversos e seus efeitos durante as campanhas de vacinação. Um plano
bem elaborado pode limitar rumores sobre um EAPV.

67
ACÇÕES A SEREM TOMADAS NO CASO DE EVENTOS ADVERSOS PÓS-VACINAÇÃO (EAPV)

Figura 5.1: Abordagem de um caso de EAPV

68
5.5 RESPOSTA IMEDIATA

O tratamento deve ser sempre a primeira resposta a um caso de EAPV. Todos os casos de EAPV graves devem ser
imediatamente referidos para uma unidade sanitária mais próxima para que possam ser tratados.

Os casos de anafilaxia devem ser tratados na unidade sanitária mais próxima, usando o kit de emergência.
Sintomas ligeiros a moderados tais como febre podem ser tratados em casa. Os clínicos ou profissionais de
saúde devem ser capazes de decidirem quais casos de EAPV devem ser tratados, quais devem ser referidos e
quais requerem atenção imediata, como por exemplo a anafilaxia.

5.6 TRATAMENTO DE UM CASO DE EAPV

5.6.1 Tratamento
O tratamento deve ser sempre a primeira resposta a um caso de EAPV. Todos os casos de EAPV devem ser
referidos imediatamente ao centro de saúde ou hospital mais próximos para tratamento. A ficha de investigação
de caso deve ser preenchida e seguir junto com o doente a ser referido, pois caso contrário a investigação pode
não ser prosseguida.

Os casos de anafilaxia devem ser tratados na unidade sanitária onde a vacinação teve lugar ou numa unidade mais
próxima onde exista o kit de emergência. Sintomas moderados tais como febre, podem ser tratados em casa ou na
Unidade Sanitária . Os trabalhadores de saúde devem ser capazes de decidir quais casos devem ser tratados e quais
requerem atenção imediata (p.e. anafilaxia). Atenção, o tratamento de EAPV deve ser grátis.

5.6.2 Procedimentos de Emergência nos Casos de Anafilaxia


A anafilaxia é uma reacção severa muito rara que pode ocorrer depois de qualquer injecção incluindo a vacinação
(ex: vacinação anti-sarampo). O paciente colapsa com sinais de choque e dificuldades respiratórias. Se isto
acontecer, siga imediatamente os seguintes passos (vide o Tabela 5.2):
1) Procure ajuda e coloque a criança numa superfície plana e comece a assisti-la imediatamente.
2) Verifique a respiração e os batimentos cardíacos.
a. Se o paciente não estiver a respirar, desobstruir as vias aéreas e fazer ventilação artificial com ambú
ou boca-a-boca.
b. Se não houver batimentos cardíacos, fazer ressuscitação cardio-pulmonar, se possível.

Tabela 5.2: Procedimentos de emergência em caso de Anafilaxia


A anafilaxia é um reacção severa que pode ocorrer raramente depois de qualquer injecção incluindo a vacinação. O paciente colapsa com sinais de
choque e problemas respiratórios. Se isto ocorrer, siga imediatamente os seguintes passos abaixo descritos:

1. Procure apoio e assista o paciente imediatamente.


2. Verifique a respiração e os batimentos cardíacos.
3. Se o paciente não está respirando:
- Assegure a ventilação e faça respiração artificial (ambú ou boca-a-boca)
- Se não houver batimentos cardíacos:
- Faça o RCP (resuscitação cardio-pulmonar)
4. Dê adrenalina 1:1000
- Crianças menores 3 anos: 0.1 ml subcutâneo duma só vez
- Crianças 4-7 anos: 0.2 ml subcutâneo duma só vez
- Crianças 8- 15 anos: 0.3 ml subcutâneo duma só vez
5. Dê a adrenalina como se segue: 1 ampola diluída com solução salina normal para 10 ml em pequenas quantidades
lentamente por via endovenosa ou tubo endotraqueal. O rítmo cardíaco não deve exceder 160/minuto.
6. Dê hidrocortisona sódio succinato lentamente por via IV nas doses seguintes:
Crianças menores de 1 ano: 100 mg
Crianças de 1- < 3 anos: 200 mg
Crianças de 3- < 7 anos: 300 mg
Crianças de 7- < 9 anos: 400 mg
Crianças de 9 anos e mais: 500 mg

7. Corra solução salina normal ( 0.9% ).


8. Uma vez estabilizada, referir para o hospital mais próximo

69
5.7 NOTIFICAÇÃO DE CASOS DE EAPV

O profissional ou trabalhador de saúde deve reportar todos os casos suspeitos de EAPV ao Distrito dentro de
24 horas. O profissional ou trabalhador que detectar o caso de EAPV, deve colher toda a informação relevante
possível à esse nível, e preencher o formulário de investigação de caso de EAPV (ver anexo 1). Este formulário
só deve ser completamente preenchido depois de completada a investigação do caso de EAPV.

As hospitalizações e mortes devem ser imediatamente notificadas e todos os “eventos catalizadores” de EAPV
devem ser notificados para qualquer vacina administrada.

5.8 INVESTIGAÇÃO DE CASO DE EAPV

O objectivo da investigação de um caso de EAPV é determinar a causa, como por exemplo, identificar e explicar
erros de vacinação, fazer avaliação de causalidade, tomada de decisão e corrigí-la, se possível. Os que são
afectados ou envolvidos, devem ser informados dos resultados. Uma investigação completa pode por si só,
aumentar a confiança dos usuários dos serviços de vacinação.

5.8.1. Preparação para investigação de EAPV


O primeiro passo consiste em estabelecer padrões (definição de caso, ficha de notificação e procedimentos
para investigação) e procedimentos (guiões, critérios, papeis e responsabilidade dos intervenientes e determinação
de prazos). Para tal deve-se:
• Designar e treinar o pessoal para o efeito
• Estabelecer uma equipa de investigação
• Identificar um porta-voz para questões de comunicação.

Mas antes de iniciar a investigação, deve-se verificar a precisão do evento, verificar- se a data do início da
reacção, ou se ocorreu depois da vacinação. Fazer a revisão sobre o perfil de segurança das vacinas em causa
e as taxas dos EAPV, possíveis mecanismos, tratamento e prevenção de casos adicionais e deve-se considerar
factores de risco da pessoa vacinada.

A equipa deve estar preparada para visitar o local de vacinação, locais de conservação das vacinas, se for
relevante a residência e localidade do paciente e o centro onde se efectou o tratamento. Fazer entrevista ao
paciente, pais ou cuidadores, o pessoal que tratou e vacinou o paciente e recolher informação relevante.

5.8.2 Quem dever investigar o caso de EAPV


O trabalhador de saúde que inicialmente viu o caso deve iniciar a investigação do caso e preencher a ficha de
investigação de caso o mais cedo possível. Ele pode necessitar da ajuda de outros na investigação, como por
exemplo, o trabalhador que realizou o acto de vacinação e o responsável do PAV ou um clínico.

Atenção
A detecção de casos é da responsabilidade de: cuidador da criança, profissional de saúde da comunidade e da unidade
sanitária.
• Todos os casos de EAPV devem devem ser notificados imediatamente ao nível hoerárquico superior, com a
finalidade de alertar a vigilância e obter orientações quanto à investigação se necessário:
(1) Fluxo imediato dentro das primeiras 24 horas por meio de telefone, e-mail, fax ou watsapp.
(2) O tempo máximo para se iniciar uma investigação de campo em tempo oportuno é de 48 horas após a
notificação.

70
5.8.3 Propósito da Investigação de EAPV
• Confirmar o diagnóstico reportado ou propor outros possíveis diagnósticos
• Determinar se outras pessoas não vacinadas estão a experimentar a mesma condição médica
• Determinar se o evento reportado era um caso de acidente singular ou parte de um “cluster” e, neste
caso, onde, quando e como a vacinação foi feita
• Identificar as especificações da vacina usada para vacinar o paciente ou pacientes
• Examinar os aspectos operacionais do programa. Mesmo nos casos em que o evento pareça ter sido
precipitado pelo acto de vacinação ou ser coincidente, erros programáticos podem ter aumentado a sua
severidade
• Para reassegurar ao público e trabalhadores de saúde de que a vacinação é um procedimento seguro e
efectivo.

A investigação deve colher dados sobre o paciente, o evento adverso, a vacina, a sessão de vacinação, outras
crianças vacinadas, como descrito na ficha de investigação de caso no anexo X.

5.8.4 Passos para Investigação

5.8.4.1. Confirmar a informação notificada, consiste em obter o registo clínico do paciente, verificar os
detalhes acerca do paciente e evento e confirmar a informação na ficha de investigação, particularmente a
sequência temporal da vacinação e o evento. Obter quaisquer detalhes em falta na ficha de notificação/In-
vestigação de EAPV (em anexo) e identificar quaisquer outros casos que precisam ser incluídos na investigação.

5.8.4.2. Investigar e recolher os dados


• Acerca do paciente, recolher a história da vacinação, antecedentes médicos anteriores, incluindo
histórico prévio de reações semelhantes ou outras alergias, história familiar de eventos similares
• Sobre o Evento, organizar a história do evento em ordem cronológica, descrição clínica detalhada
incluindo a sequência de manifestações clínicas e a resposta ao tratamento, testes laboratoriais realizados
e outras investigações relevantes (por exemplo, radiografia, electrocardiograma, etc.) e os respectivos
resultados. Detalhes do tratamento e resultados.
• Acerca da vacina suspeita, verificar as condições de envio do fabricante para o último grande ponto
de armazenamento, as condições do ponto de armazenamento (frigorífico), documentação e transporte
para o local de vacinação. Manuseamento da vacina no local, caixas frigoríficas, estado das embalagens
de gelo e duração da exposição à temperatura ambiente e monitorar o frasco da vacina.
• Outras pessoas, verificar se na comunidade ocorreram outros casos semelhante a doença, usar definição
de caso, categorizar os casos e determinar o estado de vacinação dos afectados. Se possível, procure
obter detalhes sobre os as pessoas que receberam a vacina:
- O mesmo ponto de distribuição
- O mesmo centro de vacinação
- O mesmo frasco.

5.8.4.3. Avaliar o processo de vacinação


• Fazendo inquéritos, deve-se questionar sobre:
• A posologia, pessoa, local e técnica de vacinação aplicada
• A distribuição, armazenamento e eliminação das vacinas
• O procedimento de reconstituição
• O tempo entre reconstituição e administração
• A utilização e esterilização de seringas e agulhas reutilizáveis (não recomendadas)
• O número/tipo de vacinação e outros medicamentos (por exemplo Vit A) no local do dia;
• O processo de treinamento da equipa
• Observar o processo vacinação, assistir como as vacinas são colocadas na cadeia de frio, se outros
medicamentos foram armazenados com vacinas/ diluentes

71
• Se algum frasco para injectáveis perdeu a sua etiqueta;
• O úmero de lote e data de validade
• Se os frascos abertos parecem contaminados.
• Se possível ver directamente os procedimentos de vacinação (reconstituição, elaboração da vacina,
técnica de injeção, segurança de agulhas, seringas descarte de frascos abertos)
• Avaliar o ambiente na sessão de vacinação (interação do profissional de saúde com os beneficiários)
e verificar se o profissional de saúde é atencioso com as crianças.

5.8.5 Papel do laboratório


O papel do laboratório é diagnosticar e ou confirmar o diagnóstico de um evento médico. O teste laboratorial
da vacina é de valor limitado. A maioria das vacinas usadas no dia da vacinação não poderão estar disponíveis
para serem testadas, dado que, de acordo com a política de frasco aberto, as vacinas da BCG e Sarampo devem
ser descartadas 6 horas após a sua reconstituição. Pode-se testar a vacina do mesmo lote, mas o seu valor é
bastante limitado. Vacinas como VAP, DPT/HepB e VAT, ainda podem ser testadas poucos dias depois da
administração da dose do frasco suspeito, dado que o frasco aberto pode ser usado até 28 dias depois, desde
que tenham sido observadas algumas regras básicas (ver a política do frasco aberto no capítulo 7).

As vacinas enviadas ao laboratório para testagem devem ser acompanhadas de uma cópia do relatório de
investigação e instruções claras sobre o que se pretende que seja testado. Nenhuma vacina deve ser enviada
para testagem antes que a investigação tenha sido levada a cabo, e a testagem está indicada apenas nos casos
em que estejam envolvidos grandes lotes de vacinas.

5.8.6 Análise de dados


Uma vez os dados necessários para a investigação do EAPV tenham sido colhidos, deve-se fazer uma análise
para diagnosticar o caso e determinar a causa. O profissional ou trabalhador de saúde que iniciou a investigação,
o ponto focal para os EAPV da área, a equipe de gestão distrital, os epidemiologistas e outros especialistas
que possam ser solicitados (ex, pediatras), devem fazer parte da análise. Pode ser necessária assistência técnica
de isntituições parceiras como a OMS ou UNICEF.

5.8.7 Retro-informação
Uma vez que se tenha chegado a uma conclusão, deve-se fazer a retro-informação a todos os que esti-veram
envolvidos na investigação, mas especialmente oas pais ou cuidadores das crianças, a outros membros da
família do paciente e à comunidade no geral.

Se o impacto do EAPV na comunidade for acentuado, ou gerar interesse dos mídia, os resultados da investigação
e as acções tomadas devem ser comunicados através dos mídias.

(1) Evento adverso grave (EAG): são consideradas graves quando: a) requer hospitalização por pelo menos 24
horas ou prolongamento de hospitalização já existente; b) causa disfunção significativa ou incapacidade persistente;
c) resulta em anomalia congénita; Causa morte (ou seja, induz à necessidade de uma intervenção clínica imediata
para evitar óbito) e; causa óbito.

(2) Evento adverso não grave (EANG): qualquer outro evento eu não esteja incluído nos critérios de evento adverso
grave (EAG).

Atenção
• Eventos clinicamente relevantes em pacientes que não necessitem de intervenção, tais como bronco-espasmo,
discrasias sanguíneas, convulsões fabris, por terem um potencial de gravidade, devem ser investigados e
acompanhados.

72
• É muito importante diferenciar-se “gravidade” e “intensidade” (esta última inedaquadamente traduzida em
alguns textos como severidade). Um evento pode ser leve, moderado ou intenso, independente de ser ou não
grave, por exemplo, uma hiperemia local intensa.

(3) Um Cluster (agrupamento) é definido como um evento de EAPV que ocorre com frequência incomum, geralmente
quando dois ou mais casos iguais ou eventos semelhantes relacionados com o tempo, por localidade (lugar), e/ou
vacina. Podendo estar associado a um particular provedor, unidade sanitária, recepiente ou lote de vacinas.

5.9 DESAFIOS COLOCADOS PELOS EAPV DURANTE OS DIAS NACIONAIS DE VACINAÇÃO


(DNV)

As campamnhas de vacinação em massa necessitam de considerações extra em em relação aos casos de EAPV
notificados na rotina. A planificação de campanhas de vacinação deve tomar em consideração medidas claras
e especificas para minimizar os EAPV pelas seguintes razões:
• A necessidade de dispensar um número maior de doses de vacina em um período de tempo curto em
todo o país, ferquentemente estreita os recursos do programa de vacinação no diz respeito à qualidade
da vacinação (número correcto de doses, segurança na prática das injecções, manutenção da cadeia de
frio). Tal situação é mais proeminente quando injectáveis são envolvidos.
• O impacto de um EAPV na reacção do público dentro de um curto período de tempo (comparado a um
grande intervalo de tempo entre os casos reportados de EAPV na rotina), requer uma investigação
imediata, resolução e retro-informação, o que impõe uma grande demanda ao programa.
• A urgência envolvida na prestação de serviços, as vezes torna a investigação de possíveis alergias
através de história, difíceis ou impossíveis.
• O impacto de um EAPV nos utentes no local de prestação de serviços pode minar os propósitos da
vacinação no local e para além.

5.10 ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS CASOS DE EAPV

• As vacinas devem ser reconstituídas somente com diluente fornecido pelo produtor das mesmas.
• A vacina reconstituída deve ser descartada no final de cada sessão de vacinação (ou 6 horas depois de
reconstituída) e nunca guardada para uso em sessões subsequentes.
• Na geleira de vacinas não devem ser conservados outros medicamentos ou produtos que não sejam
vacina.
• É essencial treinar os vacinadores e supervisores para garantir que procedimentos correctos sejam
seguidos de modo a prevenir lesões ou mortes a seguir à vacinação.
• Uma investigação epidemiológica cuidadosa deve ser levada à cabo no caso de um evento de EAPV.
É de importância vital completar a ficha de investigação de EAPV para detectar a causa do acidente e
corrigir as prácticas de vacinação de modo a prevenir futuros EAPV.

73
74
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E INVESTIGAÇÃO DE SURTOS EPIDÉMICOS

A Vigilância de doenças no Programa Alargado de Vacinações (PAV) consiste na recolha, a agregação, análise
e interpretação continuada e sistemática de dados essenciais para a planificação, implementação e avaliação
das intervenções do PAV, integrado à disseminação desta informação para uma tomada de decisão
apropriada. Os dados são relativos a tipo de evento em curso, local de ocorrência, período em que ocorre e
quem é o afectado.

A vigilância epidemiológica no PAV, está focada nas doenças sujeitas a eliminação e erradicação, nomeadamente
sarampo, tétano neo-natal (TNN) e poliomielite através da vigilância da paralisia flácida aguda (PFA). Contudo,
os efeitos adversos pós-vacinação (EAPV) e outras doenças prevenidas por vacinas, também estão sob vigilância.

A comunicação da ocorrência de uma determinada doença, feita à autoridade sanitária por profissionais de
saúde ou qualquer cidadão, para fins de adopção de medidas de intervenção pertinentes, denomina-se notificação.

Em vigilância das doenças do PAV, deve-se notificar a simples suspeita da doença, sem aguardar a confirmação
do caso, por forma a evitar perda de oportunidade de adopção de medidas de prevenção e controlo indicados.

6.1. PROPÓSITO DA VIGILÂNCIA NO PAV

A vigilância das doenças alvo do PAV tem como propósito a identificação de casos e surtos de forma a que
respostas rápidas e apropriadas possam ser levadas a cabo para controlar os surtos. A notificação rotineira de
doenças através do Sistema de Informação para a Saúde/ Monitoria e Avaliação (SISMA), bem como a
investigação através da vigilância baseada no caso, são mecanismos importantes para monitorar as tendências,
mas não são rápido o suficiente para os propósitos de controle de doenças.

A oportunidade de controlar os surtos epidémicos e prevenir mortes e doenças desnecessárias, dura apenas
poucos dias ou semanas. Assim, os distritos devem ser capazes de tomar decisões imediatas ao nível do mesmo,
com apoio logístico e supervisão do nível provincial.

A Informação gerada pelo sistema de vigilância epidemiológica é usada para:


• Identificar, investigar e controlar surtos epidémicos por doenças previníveis por vacinas;
• Identificar áreas e grupos de alto risco;
• Analisar as tendências das doenças;
• Planificar e implementar actividades do PAV para reduzir ou eliminar o risco;
• Monitorar a segurança da vacina;
• Medir o impacto das estratégias do PAV no controle das doenças alvo do PAV;
• Satisfazer os requisitos para a certificação da erradicação (por exemplo, PFA) ou eliminação, (por
exemplo, Sarampo).

6.2. TIPOS DE VIGILÂNCIA

Vigilância Passiva: É aquela em que a informação é colhida quando os pacientes visitam as unidades sanitárias,
usando a notificação de rotina, p.ex: livros de consultas, processos clínicos, certificados de óbitos, etc.

Vigilância passiva é sensível a algumas limitações, nomeadamente:


• Sub-notificação;
• Os casos não são representativos de todos os casos afectados pela doença;

77
• Falta de notificação atempada;
• Diagnóstico não acurado.

Vigilância Activa: Ocorre quando os técnicos executam pessoalmente a busca de informação específica, objecto
de vigilância, independentemente do doente ou utente dirigir-se ao serviço e registrar-se como dado de rotina.
Neste caso, a informação é colhida através da revisão dos registos ou investigação de casos. Nesta abordagem
há a possibilidade de encontrar mais casos da doença em tempo oportuno.

6.3. CARACTERÍSTICAS DE UM BOM SISTEMA DE VIGILÂNCIA

Um bom sistema de vigilância deve ser capaz de:


• Avaliar se as estratégias de controle de doenças são efectivas.
• Identificar problemas na prestação dos serviços de vacinação.
• Identificar grupos e áreas de alto risco.

6.4. O SISTEMA DE VIGILÂNCIA DE MOÇAMBIQUE

Todos os profissionais de saúde (da rede pública e privada), bem como os diversos níveis do sistema (unidades
sanitárias, distrital, provincial e nacional), têm atribuições de vigilância epidemiológica. Dependendo da inserção
profissional e da capacidade executiva, técnica e administração de cada área, essas funções vão da simples
notificação de casos suspeitos ou confirmados de doenças alvo do sistema de vigilância, até a investigação
epidemiológica (casos ou surtos), adopção de medidas de controle, colecta, análise e interpretação de dados, etc.

Todas as doenças prevenidas por vacina são notificadas numa base semanal no boletim de notificação. Os
dados são enviados das unidades sanitárias para o distrito, onde são agregados e lançados no SISMA. A
informação daí resultante é analisada e usada para a tomada de decisão localmente, ao mesmo tempo que
poderá ser acessada pelo nível provincial e nacional.

Cada distrito e cada província fazem a monitoria dos relatórios completos e atempados recebidos dos níveis
inferiores.

Quatro condições constituem o foco da vigilância activa enquadradas no âmbito da vigilância baseada no caso:
paralisia flácida aguda , Sarampo, Tétano neonatal e eventos adversos pós-vacinação, este último descrito no
capítulo 5 deste manual. Todo caso notificado na unidade sanitária ou comunidade, deverá ser investigado e
as fichas de investigação de caso (FIC), devem ser enviadas para o nível distrital, provincial e nacional, ficando
uma cópia da ficha em cada um dos níveis.

Dentro do sistema de vigilância, os papéis e responsabilidades dos trabalhadores de saúde e autoridades sanitárias
a diferentes níveis são como descrito abaixo:

6.4.1. Unidade Sanitária:


• Detectar e notificar os casos e surtos usando a definição de caso padrão para cada uma das doenças;
• Colher, agregar, analisar e interpretar os dados de vigilância;
• Investigar os casos de surtos epidémicos e fazer o tratamento adequado dos casos.

6.4.2. Nível Distrital:


• Realizar uma investigação do surto epidémico a qual inclui uma investigação imediata logo que o ponto
de alerta for atingido, fazendo vigilância activa na comunidade e anotando todos os casos com dados
essenciais tais como, a idade, o estado vacinal, a residência e a data do início da doença/surto;

78
• No caso de doenças-alvo de erradicação ou eliminação, como é o caso da Pólio e do Sarampo,
respectivamente, assegurar que as amostras sejam colhidas para todos os casos suspeitos e para os
primeiros 5 casos, em caso de epidemia de Sarampo;
• Analisar o padrão das doenças e as tendências, interpretar os dados e elaborar os relatórios;
• Recomendar e promover as medidas de controle apropriadas;
• Enviar os dados e relatórios para o nível provincial.

6.4.3. Nível Provincial:


• Analisar os padrões e tendências das doenças, interpretar os dados de vigilância em conjunto com os
dados de cobertura da vacinação de rotina e elaborar relatórios;
• Monitorar a performance da vigilância usando indicadores padronizados;
• Enviar os dados e o relatório para o nível nacional;
• Fazer retro-informação para o nível distrital e o pessoal local;
• Fazer supervisão das actividades no nível distrital e dar apoio técnico aos distritos.

6.4.4. Nível Nacional:


• Confirmar os casos e surtos epidémicos usando testes laboratoriais (dentro ou fora do país, conforme
apropriado) e organizar o envio de amostras para isolamento do vírus e determinação do genótipo (no
caso do Sarampo ou Pólio).
• Analisar as tendências e padrão de doenças, interpretar os dados de vigilância em conjunto com os
dados das coberturas de rotina e produzir relatórios.
• Monitorar a performance da vigilância usando indicadores padronizados (ver manual de vigilância
epidemiológica específico para cada uma das doenças).
• Fazer retroinformação aos níveis periféricos e avançar a informação à Organização Mundial de Saúde
- AFRO.
• Supervisar e dar assistência técnica às actividades do nível provincial e distrital.
• Usar os dados para avaliar os objectivos nacionais e direccionar o programa.
• Fazer a revisão de assuntos técnicos e programáticos regulamente.

6.5. INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE SURTOS E EPIDEMIAS

É um método de trabalho frequentemente utilizado em casos e epidemias de doenças transmissíveis, mas


também aplicável a outros problemas de saúde pública. Consiste em um estudo de campo realizado a partir
de casos (clinicamente declarados ou suspeitos) e de portadores, com o objectivo de avaliar a ocorrência do
ponto de vista de suas implicações para a saúde pública. Sempre que possível, deve conduzir à confirmação
do diagnóstico, à determinação das características epidemiológicas da doença, à identificação das causas do
fenômeno e à orientação sobre as medidas de controle.

6.5.1. Roteiro da investigação - As seguintes questões devem ser levantadas: a) de quem foi contraída a infecção
(fonte de infeção)?; b) qual foi a via de disseminação da infecção, da fonte ao doente?; c) quais outras pessoas
podem ter sido infectadas pela mesma fonte de infeção?; d) para quais pessoas o caso pode ter transmitido a
doença?; e) a quem o caso ainda pode transmitir a doença? e f) como evitá-lo?

6.5.2. Finalidade da investigação - A investigação de casos ou epidemias visa a adoção de medidas de controle
em tempo hábil. Para que isso aconteça, deve ser iniciada imediatamente após a ocorrência do evento.

6.5.3. Ficha de investigação epidemiológica - São os formulários, existentes nos serviços de saúde, específicos
para cada tipo de doença, que facilitam a colecta e agregação de dados. Devem ser preenchidos cuidadosamente,
registando-se todas informações indicadas, para permitir a análise e comparação de dados. No caso de evento
não esperado, deve-se elaborar uma ficha própria, de acordo com as manifes-tações clínicas e epidemiológicas

79
do evento. Os formulários contêm dados de identificação do paciente, anamnese, exame físico, diagnóstico
suspeito, informações sobre o meio ambiente (de acordo com a doença) e exames complementares de acordo
com a doença suspeita (Pólio e Sarampo).

6.5.4. Busca de fontes de transmissão - Visa buscar a origem da transmissão, cabendo ao investigador
estabelecer quais as mais importantes e o caminho a seguir. Em geral, é importante definir: o período de
incubação; a presença de outros casos na localidade; existência ou não de vectores ligados à transmissão da
doença (se aplicável); grupo etário mais acometido; fonte de infecção comum (água, alimentos); modos de
transmissão (respiratória, contato direto, etc.); época de ocorrência (estação). Por ser uma actividade que exige
tempo e custos adicionais, nem todas as doenças são investigadas.

6.5.5. Busca activa de casos - Procedimento realizado com vista ao conhecimento da magnitude de ocorrência
do evento, quando suspeita-se que casos possam estar a ocorrer sem registro nos serviços de saúde. É mais
restrita (domicílio, rua ou bairro) ou ampliada (cidade, distritos, acompanhando correntes migratórias, etc),
seguindo-se a área geográfica de abrangência da fonte de infecção.

Atenção
• Para as doenças alvo do PAV como sarampo, pólio, tétano neonatal, os casos suspeitos devem ser investigados

6.6. VIGILÂNCIA DA PARALISIA FLACIDA AGUDA (PFA)

A vigilância das PFA insere-se nas quatro estratégias para a erradicação global da pólio. A visão global visa
a certificação da erradicação da pólio até 2020.

A PFA é uma síndrome que caracteriza-se por fraqueza, perda ou diminuição do movimento, com perda do
tónus muscular. Devido a sua etiologia multicausal, a PFA foi definida como uma síndrome, para dar máxima
sensibilidade na estratégia de vigilância epidemiológica e evitar perda de casos de poliomielite. Entre as
diferentes causas de PFA destacam-se:
• Síndrome de Guillian-Baré,
• Mielite transversa,
• Meningite asséptica,
• Neurite traumática, entre outras.

6.6.1. Objectivos
A vigilância da PFA em Moçambique visa:
• Demonstrar a ausência de circulação do poliovirus selvagem;
• Identificar as zonas ou os grupos de alto risco (Cadeia de transmissão).
• Orientar as medidas de controle (dias nacionais de vacinação, operação limpeza, para cortar a cadeia
de transmissão);
• Demostrar um desempenho adequado da vigilância das PFA em menores de 15 anos, para que
Moçambique receba o certificado da erradicação.

6.6.2. O Processo de Vigilância da PFA


A Notificação é obrigatória, bem como a investigação imediata dos casos de paralisias flácidas agudas (PFA)
em menores de 15 anos ou de casos suspeitos de poliomielite em pessoas de todas as idades.

6.6.2.1. Definição de caso


Toda criança menor de 15 anos de idade ou um individuo de qualquer idade que apresentam algum quadro de
PFA ou uma pessoa de qualquer idade que apresentar alguma doença paralítica em que o clínico suspeite
poliomielite.

80
6.6.2.2. Investigação dos casos
Cada caso notificado de PFA deve ser investigado dentro de 24 horas após a notificação. Em virtude das
características de transmissão do poliovírus e da ocorrência de grande número de infecções sem manifestações
clínicas, a vigilância deve ser intensificada quando há notificação de casos de PFA que tenham suspeita de
poliomielite.

A intensificação da vigilância implica obter informação epidemiológica como, a data do início da paralisia,
sintomas e sinais iniciais, o local de residência do doente e as localidades visitadas nos 30 dias anteriores ao
início da paralisia. Em caso de viagem, deve-se obter informação dos locais de possíveis visitas no mesmo
período. Além da realização de visita às unidades de saúde, a situação vacinal do paciente e a cobertura vacinal
da área deve ser criteriosamente avaliada.

As visitas domiciliárias são vitais para:


• Fazer a busca activa adicional.
• Colher informação (tamanho da população, logística, etc.) em preparação para uma eventual intervenção.
• Estabelecer onde vivem os casos com o objectivo de facilitar o seguimento do caso aos 60 dias.
• Alertar as autoridades e líderes locais sobre uma eventual vacinação suplementar e obter o seu apoio
e cooperação.

Preencha a ficha de investigação de caso de PFA e solicite o clínico para elaborar a história clínica (ver anexo).

6.6.2.3. A colheita e transporte de amostras de fezes:


O vírus da poliomielite pode ser isolado de diversos materiais biológicos de acordo com a fase evolutiva da
doença. Devido ao facto da multiplição do vírus ocorrer no trato intestinal por várias seanas após a infecção,
amostras de fezes são as mais recomendadas para isolamento do vírus.
Em cada caso investigado de PFA deve-se:
• Colher duas (2) amostras de fezes, com um intervalo de 24 a 48 horas dentro dos primeiros 14 dias do
início da paralisia, aproveitando a fase aguda da doenças, momento em que a carga viral é elevada nas
fezes. As amostras podem ser colhidas até aos 60 dias depois do início da paralisia e segunda amostra
deve ser enviada imediamente após a colheita.
• Fechar bem o frasco para evitar que o conteúdo se despeje e identifica-lo pelonúmero da amostra, data
da colheita, nome e idade da pessoa.
• Guardar a amostra na geleira (refrigerador), à temperatura entre + 4oC - + 8oC ou numa caixa isotérmica
com acumuladores de gelo.
• Enviar as amostras para o Distrito ou Provincia, dependendo do nível de subordinação.

Atenção
• Para a colheita das amostras, use o frasco recomendado no serviço nacional de saúde, para colheita de fezes.
• O trabalhador de saúde deve assegurar-se de que as amostras de fezes são transportadas adequadamente em
conjunto com as fichas de investigação de caso (FIC) e a história clínica.

6.6.2.4. Colheita de amostras de contactos


Dado que o número de casos de póliovirus selvagem (PVS) detectados têm vindo a reduzir, há uma ne-cessidade
de aumentar a capacidade do sistema de vigilância capturar os poucos em circulação. Colheita de amostras de
fezes de contactos de casos de PFA com amostras inadequadas é o padrão dourado pois ajuda a detectar a
circulação do poliovírus, bem como na classificação final de casos de PFA.

Os casos de PFA com amostras inadequadas podem ser devido a:


• Detecção tardia de casos ou seja, detecção de casos aos 14 dias após o início da paralisia,
• Colheita de apenas uma amostra de fezes no período dos 14 dias,

81
• Colheita das duas amostras de fezes num intervalo superior a 48horas,
• Morte ou perda do caso de PFA antes de obtenção adequada de amostras de fezes,
• Manutenção inadequada da cadeia de frio durante o armazenamento e transporte das amostras,
• Fraca qualidade das amostras devido a vazamento, dessecamento ou quantidade inadequada,
• Perda da amostra durante a cadeia de transporte para o laboratório de referência.

Um contacto de um caso de PFA define-se como sendo uma criança menor de 5 anos de idade, que tenha tido
contacto directo com o caso de PFA no período de uma semana antes do início da paralisia e ou, no período
de duas semanas após o início da paralisia.
Nestes casos, as amostras de contactos devem ser colhidas em pessoas próximas a criança, incluindo irmãos,
familiares e amigos. Se estes forem em números reduzidos ou não estiverem disponíveis, pode-se colher as
amostras de crianças nas proximidades da casa.

Para cada caso elegível de PFA, deve-se colher uma (1) amostra de cada três (3) contactos. A amostra deve
ser colhida imediatamente após identificação de um caso elegível de PFA. O melhor momento para recolher
a amostra de fezes é no período de sete dias depois da identificação tardia do caso ou no período de duas
semanas depois do início da paralisia.

Um formulário específico de “Colheita de Amostras de Contacto” deve ser preenchido para cada contacto
selecionado (ver anexo)

A colheita, armazenamento e transporte de amostras de fezes para os casos de contacto, deve ser feita da mesma
forma como para o caso de PFA.

Em caso de detecção do Vírus Derivado de Pólio Vacinal (VDPV) é recomendado a colheita de uma amostra
de pelo menos vinte contactos

Controlo aos 60 dias

Qualquer caso de PFA que tenha sido colhido apenas uma amostra de fezes, ou duas amostras mas colhidas
depois de 14 dias do início da paralisia, ou então que as amostras tenham sido perdidas no transporte para o
laboratório, este deve ser submetido a um exame clínico de seguimento aos 60 dias depois da paralisia. Qualquer
profissional ou trabalhador de saúde capaz de testar os reflexos e avaliar o tónus e a força muscular, pode fazer
o exame de seguimento.

6.6.3. Resposta a um surto de pólio


Cada caso de PFA deve ser visto como um potencial para gerar epidemia de pólio, devendo-se monitorar os
resultados para acionar a resposta em caso de confirmação de um evento ou de um surto quer por poliovírus
selvagem, quer por vírus de polio derivado da vacina (VDPV). Os profissionais ou trabalhadores de saúde
devem mobilizar as áreas afectadas e as circunvizinhas, para vacinação suplementar. Todas crianças menores
de 5 anos nas áreas afectadas e circunvizinhas, independentemente do seu estado vacinal, devem tomar a vacina.
A vacina a ser usada na resposta depende do tipo de vírus identificado e a resposta deve ser efectuada segundo
os procedimentos operacionais padrão, actualizados no plano anual de resposta a pólio.

Atenção:
O caso de poliomielite ou vírus derivado de polio vacinal é uma emergência de saúde pública, e uma vez confirmado,
requer vacinação suplementar a todas as crianças menores de 5 anos na área afectada e na vizinhança de acordo com
o plano de resposta actualizado e elaborado segundo a OMS (Consultar no Departamento de Epidemiologia).

82
6.6.4. Metas da Vigilância da PFA
• Detectar e notificar pelo menos 3 casos de PFA em cada 100,000 crianças menores de 15 anos de idade.
Crianças menores de 15 anos = 45% da população.
• Investigar 100% dos casos de PFA notificados.
• Garantir que em 80% dos casos de PFA notificados, sejam colhidas duas amostras de fezes em
intervalos de 24 horas e dentro de 14 días após o inicio da paralisia.
• Garantir que 80% das amostras colidas cheguem ao laboratório de referência em boas condições para
análise laboratorial.
• Fazer o seguimento de 100% dos casos notificados, cujo espécimes foram colhidos depois dos primeiros
14 dias do início da paralisia ou que tenham sido colhidos apenas uma amostra.

6.7. VIGILÂNCIA DO SARAMPO/RUBÉOLA

O Sarampo, quando complicado é uma doença mortal, e pode influenciar a malnutrição e causar a cegueira.
Moçambique experimentou epidemias de sarampo no período do ano 2002 -e 2005, com mais de 50 mil casos
notificados, tendo-se verificado o pico no ano 2003, com 28 mil casos notificados. A ocorrência destes surtos
influenciou o Ministério de Saúde (MISAU) à adoptar a estratégia de eliminação do sarampo, realizando uma
campanha de vacinação contra o sarampo em menores de 15 anos em 2005, o que resultou numa redução
acentuada de novos casos desde 2006.

Em 2007, o MISAU iniciou a vigilância baseada no caso, com a investigação de todos casos suspeitos de
sarampo e posterior confirmação laboratorial. Actualmente, recorrre-se a vigilância do sarampo também para
monitorar os casos de rubéola no país.

6.7.1. Objectivos
• Detectar, notificar e investigar os casos suspeitos de sarampo ou rubéola,
• Identificar a população de risco,
• Realizar investigação adicional para cada caso de sarampo confirmado laboratorialmente.
• Determinar se o genótipo é local ou importado.

6.7.2. Estratégias de eliminação do sarampo


As estratégias de eliminação do sarampo inclue:
• Alcançar e manter a cobertura vacinal contra o sarampo de pelo menos 95%.
• Implementar uma campanha nacional de vacinação de reforço, com coberturas de pelo menos 95%.
• Implementar campanhas nacionais periódicas de seguimento com coberturas de pelo menos 95%, numa
frequência que depende do acúmulo dos susceptíveis.
• Vigilância do sarampo baseada no caso, com confirmação laboratorial.

6.7.3. O Processo da vigilância do Sarampo


Notificação
O sarampo é uma doença de notificação obrigatória e de investigação epidemiológica obrigatória imediata.

Definição de caso
Caso suspeito - todo paciente que, independente da idade e situação vacinal, apresentar febre e erupção
maculopapular.

Caso suspeito de sarampo importado - todo caso suspeito que tenha história de viagem para fora do país,
nos últimos 30 dias a contar da data que o caso foi notificado, ou que tenha história de contacto com alguém
que viajou para fora do país, no mesmo período.

83
Caso confirmado - todo paciente considerado como caso suspeito e que foi comprovado em laboratório como
sendo “positivo para antígenos IgM”.

Caso confirmado por ligação epidemiológica - paciente que, em um período máximo de 7 a 18 dias, teve
contacto com um ou mais casos de sarampo, confirmado com exame laboratorial “não reactivo” ou “negativo
para IgM,” em amostra de sangue colhido precocemente (1º e 3º dia, a partir do aparecimento do exacntema),
mas que teve contacto com um ou mais casos de sarampo confirmados pelo laboratório (dentro de um período
de 7-18 dias antes do aparecimento dos sinais e sintomas).

Caso clínico ou compatível: quando se fez a suspeita clínica enquanto não houve colheita de amostra para
sorologia, o caso não foi investigado ou evoluiu para óbito sem a realização de qualquer exame laboratorial.
Ou então, todo caso com IgM indeterminado, para sarampo. Recorrer apenas a confirmação clínica do sarampo,
representa uma falha grave do sistema de vigilância epidemiológica do sarampo.

Caso descartado - todo paciente considerado como caso suspeito e que não foi comprovado como caso de
sarampo pelo exame laboratorial (IgM negativo).

Qualquer caso suspeito de sarampo deve ser notificado à unidade sanitária mais próxima, que por sua vez irá
notificar ao nível distrital para comunicação posterior aos níveis superiores (provincial ou central). Para acelerar
a investigação do caso e resposta, pode-se usar a notificação por telefone, rádio, ou outro meio rápido possível.

Os casos suspeitos de sarampo devem ser investigados dentro de 24 horas depois de recebida a informação
do caso suspeito, usando a ficha de investigação de caso (Anexo).

As amostras de sangue devem ser colhidas ao primeiro contacto com os casos suspeitos para testá-las para IgM
do sarampo. No caso de epidemia, testar somente as primeiras cinco amostras para confirmação.

As amostras de sangue devem ser colhidas dentro de 0 - 30 dias (idealmente dentro de 6 dias) do início da
erupção cutânea.

Retire 5ml de sangue venoso e coloque dentro de um tubo para o teste. Para separar o soro das células, pode-
se usar qualquer um dos seguintes métodos:
• Deixe o sangue repousar em ângulo sem agitar por pelo menos uma hora, para decantar as célu-las e
depois coloque o soro num tubo de vidro.
• Se uma geleira estiver disponível, refrigere a amostra por 4 - 6 horas, até o coágulo retrair e depois
retire o soro par o tubo de vidro.
• Se uma centrifugadora estiver disponível, deixe o sangue em repouso por 30 - 60 minutos e depois
centrifugue a amostra a 2000 rpm por 10 - 20 minutos e coloque o soro num tubo de vidro limpo.

Rotule as amostras como segue: nome, idade, sexo e data da colheita do sangue. Transporte a amostra numa
caixa isotérmica com acumuladores e a ficha de investigação devidamente preenchida num saco plástico, os
quais devem ser entregues ao ponto focal de vigilância para envio ao laboratório.

As amostras devem chegar ao laboratório, de preferência nos primeiros 3 dias após a sua colheita.

Atenção
• As amostras devem ser conservadas a uma temperatura entre + 4o C - + 8o C, para prevenir o crescimento de
bactérias, até que estejam prontas para serem transportadas. O soro pode ser conservado na geleira por um máximo
de 7 dias.

84
6.7.4. Identificação de surto de sarampo e rubéola
Deve-se suspeitar surto de sarampo, se notificar-se cinco ou mais casos de sarampo, dentro de 30 dias numa
área administrativa.

O surto de sarampo e confirmado se registarem-se três casos positivo IgM para sarampo, dentro de 30 dias
numa área administrativa. Considera-se confirmado o surto de rubéola se se registarem 5 casos positivo IgM
para rubéola em 30 dias numa área administrativa.

Em caso de confirmação de surtos de sarampo ou rubéola, deve-se colher amostras de urina ou swab faríngeo
para serotipagem. Em resposta aos casos positivos ou surtos confirmados, os profissionais ou trabalhadores
de saúde devem vacinar todas as crianças com idade entre os 9 - 59 meses, nas áreas afectadas e circunvizinhas,
independentemente do seu estado vacinal. As crianças devem receber também suplemento de vitamina A.

Atenção
• Para cada caso positivo de sarampo, deve-se fazer uma investigação adicional, verificando ocorrência de mais
casos, bem como a cobertura vacinal na área afectada.

6.8. VIGILÂNCIA DO TÉTANO NEONATAL

Moçambique foi certificado como tendo eliminado o tétano neonatal (TNN) em 2011. Contudo, esforços devem
ser continuados para evitar o ressurgimento de novos casos da doença e a vigilância, é o mecanismo importante
para monitorar a tendência dos casos.

6.8.1. Estratégias de eliminação do TNN


A estratégia recomendada para a eliminação do TNN está focaliza na abordagem de alto risco porque o TNN
frequentemente ocorre em áreas com acesso limitado aos serviços básicos de saúde, tais como os cuidados pré-
natais e parto seguro.

A abordagem de alto risco inclui:


• Identificar os distritos de alto risco, por exemplo, distritos com casos notificados de TNN ou taxa
estimada de mais de um caso de TNN por 1,000 nascidos vivos.
• Garantir que as mulheres recebam duas ou mais doses de VAT durante as consultas pré-natais.
• Monitorar as coberturas da VAT por dose (VAT1, VAT2 e VAT3) através de inquéritos de cobertura
e de impacto.
• Desenvolver um micro plano distrital, o qual deve incluir:
- Três rondas de vacinação com toxóide tetánico devidamente espaçadas (um mês entre a primeira
e a segunda e seis meses entre a segunda e a terceira ronda) para todas as mulheres em idade fértil
(MIF's) nos distritos considerados de risco para TNN.
- Assegurar as actividades de informação, educação e comunicação para saúde (IEC), para atingir
pelo menos 80% de cobertura das mulheres em idade fértil com três doses de VAT em áreas
consideradas de alto risco.

Os critérios para a identificação dos distritos de alto risco incluem:


• Incidência dos casos de TNN.
• Cobertura da VAT2+ nas mulheres grávidas
• Cobertura da DPT3
• Estado urbano/rural
• Outros, como a cobertura das consultas pré-natais e factores sócio-ambientais.

A eliminação do TNN deve ser mantida através de:


• Melhoria na cobertura de rotina da VAT2+ nas mulheres grávidas.
• Melhorias na cobertura de rotina da DPT3.

85
• Implementação da vacinação nas escolas, para todas as alunas com 15 anos ou mais de idade.
• Melhorar o acesso e uso de serviços de parto seguro.
• Vigilância efectiva do TNN.

6.8.2. Objectivos da vigilância do TNN


• Monitorar o estado de eliminação do tétano neonatal;
• Detectar e investigar casos e contribuir para a identificação dos principais fatores de risco associados
à doença;
• Responder apropriadamente a um caso de TNN.
• Iniciar a vigilância comunitária do TNN.
• Produzir e disseminar informações epidemiológicas aos profissionais ou trabalhadores de saúde e à
comunidade

6.8.3. O processo de vigilância do tétano neonatal


Notificação - trata-se de uma doença de notificação e investigação obrigatória.

Definição de caso
Caso suspeito - todo recém-nascido que o parto correu bem e mamou normalmente nas primeiras horas, que entre
o 2º e o 28º dia de vida, apresentou dificuldade em mamar, choro persistente, indepen-dente do estado vacinal da
mãe, do local e das condições do parto. São também considerados suspeitos, todos os óbitos entre o 2º e o 28º dia
depois do parto, que apresentavam as mesmas características, com diagnóstico indefinido ou ignorado.

Caso confirmado - todo o recém-nascido cujo parto correu bem, mamou normalmente nas primeiras horas e,
entre 2º e o 28º dia de vida, apresentou dificuldade em mamar, que evoluiu para situação de não mamar e apresentou
dois ou mais dos seguintes sinais ou sintomas: trismo, contratura dos músculos da mímica facial, olhos cerrados,
pele da fronte pregueada, lábios contraídos, hiperflexão dos membros superiores junto ao tórax, hiperextensão
dos membros inferiores e crises de contraturas musculares, com inflamação ou não do coto umbilical.

Caso descartado - todo caso suspeito que após a investigação epidemiológica, não preenche os critérios de
confirmação de caso.

Busca ativa - sistematicamente, deve-se realizar busca activa de casos de TTN, particularmente nas áreas
consideradas de risco, onde há rumores de casos, onde a notificação é inconsistente e irregular ou nas áreas
que não tenham sido notificado casos. As actividades de busca activa devem incluir revisão dos livros e
processos clínicos nos hospitais e clínicas, registos de igrejas, cemitérios e cartórios, conversas com pediatras,
ginecologistas, obstetras, enfermeiros, parteiras e líderes comunitários.

Conduta frente a um caso - encaminhar a mãe para vacinação; divulgar a ocorrência do caso aos gestores ou
profissionais de saúde (avaliar as falhas que favoreceram a ocorrência da doença e corrigi-las) e aos líderes comunitários,
envolvendo-os na vigilância e acções de prevenção permanente da doença. Promover à vacinação adequada das
mulheres em idade fértil (MIF); cadastrar e treinar as parteiras tradicionais; fazer busca activa de possíveis casos,
investigando todos os óbitos ocorridos antes dos 28 depois do nacimento, sem diagnóstico definido.

O profissional ou trabalhador da saúde deve fazer a investigação do caso dentro de 24 horas após a recepção
da notificação de um caso suspeito de TNN, usando a ficha de investigação de caso (Anexo).

Para análise epidemiológica, os profissionais ou trabalhadores de saúde devem manter e rever periodicamente,
a lista e mapear os casos confirmados de TNN, uma vez a investigação esteja completa. Visitar a mesma área
um mês depois de examinar os cartões de VAT, dê uma segunda dose de VAT a toda MIF que não tiver tomado
pelo menos duas doses.

Para mais detalhe em relação à vigilância de doenças, consulte o Manual de Vigilância Epidemiológica do MISAU,
editado pelo Departamento de Epidemiologia.

86
USO DE FRASCOS ABERTOS DE VACINA EM SESSÕES SUBSEQUENTES
E SEGURANÇA DA VACINA (POLÍTICA DE FRASCO ABERTO)

7. 1 POLÍTICA DE FRASCO ABERTO

Frasco aberto refere-se ao frasco multi-dose do qual uma ou mais doses de vacina foram retiradas, segundo
procedimentos padronizados. A política estabelece que todos os frascos abertos de vacinas líquidas, com
conservantes devem ser usados na sessão seguinte, dentro de 28 dias (4 semanas) a partir da data em que o
frasco ou ampola é aberto. Quanto ás vacinas liofilizadas e as vacinas líquidas sem conservantes, devem ser
descartadas 6 horas após a sua reconstituição, independentemente de se tratar de brigada móvel ou posto fixo
de vacinação.

A política do frasco aberto, recomendada pela OMS aplica-se às vacinas líquidas como a OPV, IPV, DPH-
HepB-Hib, PCV13 e VAT desde que estejam satisfeitas a seguintes condições:
• A vacina satisfaz os requisitos da OMS para a potência e estabilidade térmica.
• A vacina tenha sido embalada de acordo com os padrões estabelecidos pela OMS.
• A vacina contenha concentração apropriada de conservante.

Todas as vacinas líquidas (OPV, IPV, DPH-HepB-Hib, PCV13 e VAT) adquiridas pelo MISAU satisfazem
estes critérios e consequentemente, os frascos abertos não usados completamente, podem ser usados na sessão
seguinte.

Atenção:
Seja sempre respeitoso e acolhedor com as mães. Não retire a vacina antes que a criança chegue. Não reconstitua a
vacina até que a criança esteja pronta para ser vacinada. Não encha antecipadamente as seringas com qualquer vacina.

No entanto, a política do frasco aberto requer que estejam satisfeitas as seguintes condições:
• O prazo de validade não tenha sido ultrapassada.
• A técnica de assépsia tenha sido usada durante a retirada das doses usadas.
• Os frascos tenham sido conservados sob condições apropriadas de cadeia de frio.
• O monitor do frasco de vacina, não tenha atingido o ponto de descarte.
• O frasco de vacina não tenha sido submerso na água.

Uma vez reconstituídas as vacinas (BCG e VAS), estas devem ser descartadas no fim de cada sessão ou 6 horas
após a sua reconstituição, conforme o que acontecer primeiro.

7. 2 POTÊNCIA DA VACINA

A potência da vacina num frasco aberto é determinada principalmente por três factores:
• Estabilidade da vacina ao calor
• Se a vacina foi ou não reconstituída
• Se a vacina contém conservantes

Os frascos abertos da vacina de OPV, PCV13, VAT e DPT-HepB-Hib, permanecem potentes, desde que os
frascos tenham sido conservados sob condições apropriadas de cadeia de frio e o prazo de validade não tenham
sido ultrapassados. Um bom indicador, de exposição das vacinas, ao calor, é o Monitor de Frasco de Vacina
(VVM), actualmente, colocado nos frascos das vacinas.

89
Figura 7.1: Localização do VVM nas ampolas e frascos de vacinas

VVM

VVM

VVM
Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

A estabilidade ao calor de vacinas liofilizadas reduz substancialmente quando estas vacinas são reconstituídas
com seu diluente.

7. 3 SEGURANÇA DA VACINA

A segurança da vacina no frasco multi-dose é primariamente dependente do:


• Risco de contaminação com microorganismos patogénicos
• Efeito bacteriostático ou antiviral dos conservantes no frasco

O risco de contaminação é alto no frasco mutli-dose do que no frasco de dose única porque o frasco é
repetidamente exposto cada vez que se retira uma dose de vacina.

As vacinas liofilizadas e as liquidas que não contêm conservantes, não devem ser mantidas mais do que o
tempo limite recomendado pelo fábricante e nao mais de 6 horas após a sua reconstituição.

Atenção:
O uso de vacinas virais que tenham sido mantidas mais tempo do que o recomendado depois de serem reconstituídas,
pode causar sindrome do shock tóxico.

90
EQUIPAMENTO DE INJECÇÕES

8.1 TIPOS DE EQUIPAMENTO DE INJECÇÕES

O seguinte material pode ser usado para administrar vacinas injectáveis:


• Seringas e agulhas de uso único
• Seringas e agulhas esterilizáveis
• Seringas preenchidas

8.1.1 Seringas e agulhas de uso único


As seringas e agulhas de uso único são apropriadas para todo tipo de estratégias de vacinação, incluindo o uso
nos postos fixos, nas brigadas móveis e nas campanhas. Nestes casos, uma seringa e agulha esterilizadas são
usadas para cada injecção e devem ser destruídas imediatamente depois de usadas. Há dois tipos de agulhas
e seringas de uso único: Descartáveis e auto-destructíveis.

Seringas e agulhas descartáveis podem ser usadas para vacinação somente em locais onde haja garantias de
que serão imediatamente destruídas depois de usadas uma única vez, o que pode ser verificado pela monitoria
do consumo e supervisão do processo de deposição final.

Figura 8.1 Seringa e agulha descartável

Seringas e agulhas auto-destructíveis são feitas de maneira que seja impossível usá-las mais do que uma vez.
Consequentemente, elas apresentam um risco mínimo de transmissão de infecções por via sangínea, de pessoa-
para-pessoa. São o tipo de seringas preferido para administrar vacinas, especialmente nos casos de campanhas.

Figura 8.2 Seringa e agulha auto-destructível

Moçambique introduziu o uso de seringas AD no PAV em Julho de 2001, altura em que introduzia a
vacina tetravalente DPT/Hep B. Isto ajudou a minimizar os riscos que eram impostos por provável
esterilização inadequada, a qual resultava em injecções pouco seguras.

93
No geral, as seringas e agulhas de uso único devem ser usadas somente nos locais onde possam ser destruídos
de forma segura depois de usadas.

Figura 8.3 Seringas auto-destrutíveis (AD)

8.1.2 Seringas e agulhas esterilizáveis


Seringas e agulhas esterilizáveis podem ser usadas na vacinação de rotina em locais onde se possa garantir,
entre cada uso das mesmas, o cumprimento dos procedimentos de limpeza e esterilização, conforme verificado
pelas visitas de supervisão e pelo uso rotineiro de monitores de tempo de esterilização (panelas de pressão) e
de temperatura (estufas). Não são prácticas nem económicas para as campanhas e não devem ser usadas
para este propósito. Uma seringa e agulha esterilizadas devem ser usadas para cada injecção. Seringas e
agulhas esterilizáveis devem ser esterilizadas antes de serem usadas pela primeira vez e depois de cada uso
subsequente.

Atenção:
O Programa Nacional de Vacinação não recomenda mais o uso de seringas e agulhas esterilizáveis no programa, quer
nos postos fixos, quer nas brigadas móveis, quer nas campanhas de vacinação em massa. O uso de seringas e agulhas
esterilizáveis no PAV deixou de ser pratica no país no ano de 2001, aquando da introdução da vacina DPT/Hep B.

8.1.3 Seringas preenchidas


São seringas já preenchidas com dose única de vacina e que vêm com a agulha já fixada da fábrica. Este tipo
de equipamento pode ser usado apenas uma vez.

Figura 8.4 Seringa preenchida

94
Cada seringa preenchida e sua respectiva agulha são esterilizadas e seladas num pacote próprio pelo fabricante.
Antes de usar, o trabalhador de saúde remove o pocote e a cápsula que envolve a agulha. Depois de usadas, a
seringa e a agulha devem ser dispostas de forma segura.

8.2 USO DE SERINGAS AUTO-DESTRUCTÍVEIS

O êmbolo das seringas auto-destructíveis pode ser puxado e metido apenas uma vez, prevenindo, assim, a sua
reutilização. Isto requer que os trabalhadores de saúde abandonem as prácticas de:
• Aspirar ar para injectar no frasco
• Aspirar para verificar se a agulha está dentro do vaso (de realçar que os locais selecionados para
administrar vacina não possuem grandes vasos sanguíneos - PATH, 2000)

Atenção:
Com o uso de seringas auto-destructíveis a aspiração não é mais recomendável.

8.3 PREVENÇÃO DE PICADA COM AGULHAS

Os trabalhadores da saúde frequentemente se picam acidentalmente com agulhas e podem se injectar pequenas
e perigosas quantidades de sangue infectado com o vírus da Hepatite B, hepatite C e do HIV.

8.3.1 Factores que podem levar à picada acidental


• Recolocar a tampa da agulha
• Mau manuseamento de seringas e agulhas usadas
• Posicionamento incorrecto ou inseguro do paciente
• Práticas de disposição que deixam seringas e agulhas usadas acessíveis ao público

As seguintes medidas podem contribuir para prevenir as picadas acidentais por agulhas:

8.3.2 Minimizar o manuseamento de agulhas e seringas

Picadas acidentais podem ocorrer a qualquer momento, mas elas são mais frequentes durante e imediatamente
depois da injecção. Os métodos para minimizar o manuseamento de agulhas e seringas são:
• Colocar uma caixa incineradora em todas as mesas de vacinação e para cada vacinador para permitir
a disposição imediata de seringas e agulhas usadas.
• Não remover manualmente a agulha contaminada da seringa.
• Não andar à volta da área de vacinação carregando agulhas e seringas usadas.
• Não re-encapar as seringas.
• Aspirar a dose de vacina, injectar ao paciente e colocar imediatamente a seringa usada numa caixa
incineradora sem pousá-la entre estes passos.
• Não separar manualmente o lixo.

8.3.3 Depositar as seringas e agulhas numa caixa incineradora


Todas as seringas e agulhas devem ser dispostas com segurança depois de usadas. Antes da sua destruição, as seringas
e agulhas devem ser colocadas numa caixa incineradora à prova de água e resistente à perfuração de agulhas.
Alternativamente, recipientes feitos de plástico espesso (como baldes) ou de metal, podem ser usados para colectar
seringas e agulhas e transporta-las para um incinerador ou outro sítio onde serão queimadas.

95
Figura 8.5 Caixas incineradoras

8.3.4 Queimar ou incinerar caixas incineradoras


Uma caixa incineradora de 5 litros pode comportar aproximadamente 100 seringas. Quando cheia, deve ser
destruída (queimada ou incinerada) o mais próximo possível do local do uso e logo depois de terminar a sessão
de vacinação. O local de incineração deve ser seguro. As incineradoras de combustão que atinjam temperaturas
acima de 800º C, são as de preferência, embora o método de queimar possa também ser usado noutros tipos
de incinerador, ou, por exemplo, numa cova, num tambor ou forno.
Algumas caixas incineradoras são feitas de material inflamável. Aproximadamente 4 minutos depois de iniciar
o fogo, as seringas e agulhas no interior da caixa começam a queimar. Dependendo do tipo de seringas, pode
demorar pelo menos uma hora para ficarem completamente destruídas.

Algumas seringas podem não ficar completamente destruídas pelo processo de combustão, mas não representarão
nenhum risco para transmissão de infecções depois de queimadas. Contudo, mesmo assim devem ser tomados
cuidados para evitar picadas acidentais enterrando os restos numa cova, metendo numa latrina ou num local
onde o público não tenha acesso.

Atenção:
A disposição correcta de seringas e agulhas usadas é uma boa práctica. As seringas e agulhas auto-destructíveis uma
vez usadas devem ser colectadas numa caixa incineradora, depois incinerada ou queimada e enterrada.

96
COMO ORGANIZAR UMA SESSÃO DE VACINAÇÃO

9.1 ORGANIZAÇÃO DE UMA SESSÃO DE VACINAÇÃO

9.1.1 Objctivo de uma sessão de vacinação


O objectivo de uma sessão de vacinação é o mesmo, quer seja num posto fixo quer numa brigada móvel. É a
protecção das crianças e mulheres contra doenças preveníveis pela vacinação. Assim, o trabalhador de
saúde deve assegurar que todos os potenciais clientes:
• Recebam todas as vacinas devidas
• Conhecçam a importância da vacinação e o respectivo calendário
• Tenham um cartão com o registo das vacinas recebidas
• Se sintam satisfeitas com a experiência durante a sessão de vacinação

Ao nível da unidade sanitária é fundamental que haja integração entre a equipa de vacinação e as demais
equipas ou colegas, no sentido de evitar as oportunidades perdidas de vacinação, que se caraterizam pelo facto
do acompanhante da criança ou uma mulher elegível ser atendida em outros serviços dentro da unidade sanitária
sem que seja verificada a situação vacinal da criança ou mulher elegível, ou haja encaminhamento para a sala
onde possa tomar a vacina.

Para atingir os objectivos acima citados, deve-se realizar as seguintes tarefas:


• Limpar o local da sessão
• Preparar quantidade suficiente de agulhas e seringas para aplicar injecções com segurança o que requer
uma seringa e uma agulha por injecção a aplicar.
• Preparar a vacina e todos os outros materiais necessários à realização de uma sessão de vacinação
• Arranjar espaço suficiente, mesa e cadeiras para permitir que as mães se movimentem confortavel-
mente
• Deseje as boas vindas às mães e as faça sentir confortáveis
• Faça educação para a saúde incluindo a importância de conservar os cartões de vacinação
• Decida para cada mãe e criança o (s) tipo (s) de vacina a ser administrada de acordo com os seguintes
critérios
- Idade da criança
- Vacina (s) já aplicada (s)
- Datas em que foram aplicadas (intervalo)
- Presença de cicatriz de BCG

• Vacine as mães e as crianças usando as técnicas apropriadasRegiste as vacinas aplicadas no cartão, no


livro de registo da vacinação e na folha de contagem.
• Descarte toda a vacina recosntituída no final da sessão ou ao fim de 6 horas depois da reconstituição.
• Limpe o local no fim da sessão.
• Tenha um colega para fazer entrevistas à saída de vez em quando para avaliar a satisfação das mães
com os serviços de vacinação.

9.1.2 Planificação de uma sessão de vacinação


Uma boa planificação pode aumentar a cobertura de uma sessão de vacinação, reduzir o desperdício e a quebra
vacinal. Para alcançar estes objectivos, o trabalhador de saúde deve:
• Assegurar que os pais e encarregados das crianças e as mulheres elegíveis estejam informadas sobre
o local e quando os serviços de vacinação estarão disponíveis.
• Prover estes serviços de forma fiável e conforme o planeado.
• Evitar roturas de stock de vacina e materiais de injecção.

99
Os trabalhadores de saúde devem planificar as suas actividades de vacinação nos postos fixos e brigadas móveis
de modo a que possam atingir as coberturas planificadas usando os recursos disponíveis da forma mais eficiente
possível. A comparação das taxas de desperdício da vacina, taxas de cobertura, custos de vacinação por criança,
o feed-back da comunidade em relação ao local, à hora, frequência das sessões pode ajudar no desenho das
estratégias mais apropriadas.

9.1.3 Calendário para as sessões das brigadas móveis


O calendário das brigadas móveis deve ser feito em cada uma das unidades sanitárias de maneiras que seja
possível cobrir a população-alvo dentro de um determinado período de tempo. Se poucas mães e mulheres
elegíveis afluem às sessões das brigadas móveis, pode-se reduzir a frequência destas, de modo a reduzir o
desperdício e os custos com as deslocações. É melhor planificar poucas sessões que possam ser cumpridas de
forma fiáveil, do que planificar muitas sessões e depois as cancelar devido à falta de recursos. Para mais detalhes
sobre as brigadas móveis, ver capítulo 10.

9.1.4 Envolvimento da comunidade


É importante ter um bom relaccionamento com a comunidade. A comunidade deve ser envolvida na planificação
e implementação do plano de acção da vacinação. Os líderes comunitários e as mães ou pais que irão trazer
os seus filhos para a vacinação devem ser envolvidos. Pode ser útil consultar aos pais que não tenham vacinado
os seus filhos sobre as razoes de ainda não serem vacinadas e como eles e a comunidade podem influenciarem
o aumento da cobertura vacinal.

A seguir apresentam-se algumas sugetões de como pode ser planificada uma brigada móvel de vacinação:
• Programe a sessão para as horas mais convenientes das mães.
• Tente ir sempre para o mesmo lugar, à mesma hora e no mesmo dia da semana/do mês para ajudar
as pessoas a lembrar o dia da vacinação.
• Se houver alguma emergência, informe às mães e aos líderes locais porque a sessão foi cancelada, peça
desculpas pelos transtornos e planeie uma nova data.

9.1.5 Equipamento a levar numa brigada móvel (BM)


• Equipamento da cadeia de frio para transportar vacinas
- Caixas isotérmicas pequenas e grandes
- Acumuladores congelados
- Termómetro

• Equipamento de injecção
- Seringas Auto-Destructíveis
- Caixas Incineradoras

• Material de Registo
- Cartão de vacina
- Fichas de contagem
- Canetas

• Equipamento e medicamentos para outras tarefas


- Balanças e sacos de pesagem
- Corda
- Medicamentos
- Cápsulas de Vitamina A
- Tesouras para abrir as cápsulas de vitamina A

100
• Material de Educação para a Saúde
- Cartazes e tríplicos
- Albuns seriados

Atenção:
Deixe os acumuladores no congelador por pelo menos 2 dias para congelarem bem, antes de usa-los para a brigada
móvel.

9.1.6 Transporte para brigada móvel (BM)


Assegure a disponibilidade de transporte. Pode ser um carro, motorizada ou bicicleta. Solicite o meio de
transporte com antecendência, partilhando o seu plano de deslocações às comunidades, de modo a evitar
alterações de uma hora que podem comprometer a credibilidade da equipa e o sucesso da actividade da brigada.

9.1.7 Como arrumar as vacinas


Decida sobre a quantidade certa a levar. Arrume frascos suficientes de cada tipo de vacina, dependendo do
número de doses por frasco e do número esperado de clientes a vacinar com cada tipo de vacina.
• Retire os acumuladores do congelador/refrigerador.
• Arrume os acumuladores no fundo e nos lados da caixa isotérmica.
• Retire a vacina do refrigerador; primeiro os frascos abertos cujo o monitor de frasco de vacina (VVM)
tenha começado a mudar, frascos que tenham sobrado na sessão anterior, rotulados “frascos devolvidos”,
e frascos com a data de expiração mais próxima.
• Embrulhe as vacinas DPT/Hepatite B e VAT com pedaço de jornal ou papelão, para que não congelem.
• Coloque as vacinas, os diluentes e o termômetro, no meio da caixa isotérmica.
• Coloque os últimos acumuladores em cima da vacina, na caixa istoérmica.
• Fecha a tampa firmemente.
• Leve quantidade suficiente de cápsulas de vitamina A.

Figura 9.1 Arrumação da vacina na caixa isotérmica

101
9.1.8 Realizando uma sessão de vacinação

- Escolha do local de vacinação

Pode ser numa casa, escola ou num local aberto. Se for fora, procure um local com sombra para manter a vacina
e as caixas isotérmicas longe dos raios solares.

- A sessão de vacinação

Para manter a qualidade da vacina durente uma sessão de vacinação é necessário guardá-las em caixas isotérmicas
pequenas, uma que contém as vacinas necessárias para uma sessão de vacinação, e a outra mais pequena que
fica na mesa de vacinação com as vacinas já preparadas - Modelo RCW42.

Figura 9.2 Caixa isotérmica de mesa, do tipo RCW2

Para usar uma caixa isotérmica pequena de meas do tipo RCW2 proceda do seguinte modo:
• Coloque dois acumuladores frios, um a frente e o outro atrás.
• Preencha o espaço do meio com o número e frascos abertos e preparados para o início da sessão de
vacinação.
• Tire os frascos de vacina somente para encher a seringa. Depois guarde-os imediatamente e mantenha
sempre a tampa da caixa fechada.

As sessões de vacinação devem ser integradas com outros serviços preventivos e promotivos. Assim, sempre
que possível, uma sessão de vacinação deve incluir:
• Registo e triagem
• Pesagem
• Tratamento
• Administração dos antígenos correctos.
• Suplementação com micronutrientes, incluindo a Administração de vitamina A.
• Promoção do aleitamento materno.
• Cuidados pré-natais
• Educação para a Saúde e aconselhamento sobre planeamento familiar.

- Mensagens específicas a serem incluídas numa sessão de vacinação

102
Existem 6 mensagens essenciais que as mães e outras mulheres em idade fértil devem receber se pretende
que elas sejam completamente protegidas contra as doenças preveníveis pela vacinção.
• A data e hora da vacinação seguinte devem ser bem especificadas. Escreva o dia, por exemplo, Segunda-
feira, e a data, por exemplo, “quatro semanas a partir de hoje”. Se o calendário não for comum, dê
outros pontos de referência para facilitar que se recordem , por exemplo, as fases da lua, os festivais
ou outros eventos comuniutários.
• Dê a mãe ou a mulher em idade fértil um registo escrito da data e hora da próxima sessão de vacinação.
Isto pode ser lido por um membro literado da família ou da comunidade que ajudará a mãe.
• Diga a mãe onde ela deve apresentar-se para a vacinação seguinte. Isto é particularmente impor-tante
para o caso em que ela possa mudar de residência.
• O número de visitas ainda necessárias para que a criança esteja completamente vacinada ou o número
de doses de VAT que a mulher ainda tem de receber.
• O tipo de vacina (s) administrada (s).
• Que efeitos colaterias podem ocorrer.
• Como essses efeitos colaterais podem ser tratados.

Cada uma destas mensagens deve ser dada mais de uma vez. A probabilidade de elas recordarem-se destas
mensagens aumenta em função de números de vezes que os trabalhadores de saúde transmitirem a informação
de forma consistente. Verifique a compreensão dos clientes fazendo perguntas de insistência.
• De regresso ao Centro de saúde
• Descarte os frascos abertos de BCG e Srampo
• Descarte frascos com o monitor do frasco de vacina (VVM) que já estejam no ponto ou para além do
ponto de descarte.
• Registe o nnúmero de frascos descartados na ficha de contagem.
• Marque os frascos de “devolvidos”, coloque-os sempre no mesmo lugar no refrigerador e use-os primeiro
na sessão seguinte.
• Coloque os acumuladores de volta na câmara do refrigerador ou congelador.
• Limpe o equipamento

Atenção:
Seja sempre respeitoso e acolhedor com as mães. Não retire a vacina antes que a criança chegue. Não reconstitua a
vacina até que a criança esteja pronta para ser vacinada. Não encha antecipadamente as seringas com qualquer vacina.

9.1.9 Frequência das sessões de vacinação


No esquema da vacinação de rotina, as unidades sanitárias com posto fixo de vacinação devem oferecer serviços
de vacinação diariamente. Elas devem também realizar brigadas móveis com periodicidade definida nas normas
das brigadas móveis.

Para actividades especiais tais feiras de saúde ou campanhas especiais de vacinação, às unidades sanitárias
devem levar a cabo actividades de mobilização social para as sessões planificadas, e garantir que todas as
sessões sejam realizadas conforme o plano.

9.1.10 Causas de desperdício


As vacinas podem ser desperdiçadas quando elas expiram seu prazo de validade ou quando a cadeia de frio quebra.
As vacinas também podem ser desperdiçadas durante a sua utilização. As principais causas de desperdício das
vacinas durante a utilização são as quantidades que sobram no frasco, quantidades excessivas que os trabalhadores
de saúde retiram com a seringa, e a vacina descartada no fim da sessão. Assim, a quantidade de vacina desperdiçada
durante a sessão de vacinação depende de três principais factores: a) o tamanho do frasco (no. de doses por frasco),
b) a possibilidade de usar os frascos abertos nas sessões subsequentes (política do frasco aberto) e c) habilidades
do trabalhador de saúde.

103
9.1.11 Estratégias para reduzir o desperdício
• Monitorizar a utilização da vacina e o desperdício
• Planificação cuidadosa da requisição e distribuição da vacina.
• Uso apropriado dos frascos mono e multi-doses.
• Manutenção cuidadosa da cadeia de frio.
• Atenção à segurança da vacinação.
• Redução das oportunidades perdidas de vacinação.

9.2 FORTALECIMENTO DOS SERVIÇOS DE VACINAÇÃO

9.2.1 Estratégias para melhorar e suster altas coberturas de rotina


Existem vários factores que contribuem para uma baixa cobertura dos serviços de vacinação. Estes factores
necessitam de ser identificados para cada Unidade Sanitária e para cada Distrito, e soluções apropriadas
esboçadas e aplicadas para cada problema ou constrangimento. Os planos de acção Distrital e da unidade
sanitária, devem focalizar nas estratégias que irão contribuir para o melhoria da cobertura de rotina. Algumas
estratégias para ulltrapassar problemas comuns estão listadas abaixo:
• Aumentar o acesso à vacinação assegurando que todas as unidades sanitárias realizem a vacinação nos
seus postos fixos e nas brigadas móveis como apropriado.
• Usar todas as oportunidades para vacinar todas as crianças e mulheres elegíveis.
• Organizar actividades especiais tais como, semanas ou dias de vacinação, especialmente em áreas com
deficiente cobertura sanitária ou baixas coberturas vacinais.
• Este exercício pode ser realizado em um certo número de dias e repetido periodicamente dependendo
da disponibilidade logística e do pessoal. Durante esses dias de saúde, por exemplo, “Dias Mensais de
Saúde”, devem ser integradas outras actividades tais como, promoção das redes mosquiteiras,
suplementação com ferro, desparasitação, planeamento familiar, etc.
• Estender os serviços das brigadas móveis para as populações de difícil acesso.
• Expandir a rede sanitária conforme apropriado.
• Aumentar a capacidade das US para realizarem os serviços de vacinação através da alocação do pessoal
e do desenvolvimento de habilidades. Todas as US devem ter pessoal doptado de conhecimento e
habilidades sobre a vacinação e mobilização social.
• Envolver outros sectores externos ao Ministério da Saúde na provisão dos serviços de vacinação, por
exemplo, o sector privado.
• Estimular a participação comunitária, por exemplo, através do envolvimento da comunidade na
consciencialização e promoção da vacinação, seguimento pela comunidade dos faltosos, e educação
e aconselhamento familiar.
• Assegurar que toda a logística para a vacinação esteja disponível a todo o momento e funcione
devidamente. Cadeia de frio ou outro equipamento com defeitos deve ser levado à reparação imediatamente
para não interromper a provisão dos serviços por longos períodos de tempo.

9.2.2 Estratégias para reduzir as oprtunidades perdidas de vacinação


Algumas estratégias para reduzir as oportunidades perdidas estão listadas a seguir:
• Implementação da estratégia AIDI (Atenção Integrada às Doenças da Infância).
• Triagem das crianças e mulheres nas consultas externas.
• Campanhas de recuperação em comunidades de difícil acesso.
• Realizar mais vezes as brigadas móveis de modo a tornar os serviços mais acessíveis.
• Introduzir a política de vacinação nas escolas, especialmente para a eliminação do tétano materno e
neonatal.
• Capacitação técnica do pessoal de saúde que suporta os serviços de vacinação em matéria de administração
de vacinas e as contra-indicações da vacinação.

104
9.2.3 Estratégias para reduzir a quebra vacinal
A quebra vacinal é determinada comparando a diferença nas taxas de cobertura entre:
• BCG e Sarampo
• DPT/Hepatibe B 1 e DPT/Hepatite B 3, ou VAP1 e VAP3, ou BCG e VAS.

Quebras vacinais superiores a 10% devem ser investigadas e de modo a identificar as suas causas. Algumas
causas já conhecidas podem podem incluir:
• Factores sociais (ex., recusa por cumprimento de hábitos religiosos).
• Factores geográficos (ex., longas distâncias a percorrer).
• Factores sazonais, por exemplo, emprego, agricultura (época de sementeira, colheita), cheias, etc.
• Não verificação dos cartões de peso das crianças que vão às consultas dos serviços curativos.
• Falta de mobilização social e/ou de informação às mães sobre a necessidade de voltar para as doses
seguintes.
• Gestão deficiente da unidade sanitária, por exemplo, longos tempos de espera, mau atendimento,
cobranças não previstas por lei (ilícitas), nas actividades de vacinação, controle de crescimento e
consulta pré-natal , ruptuta de stock de vacinas ou materiais de injecção, avarias da cadeia de frio,
cancelamento de uma actividade de brigada móvel, etc.
• Sessões de vacinação realizadas em horas e lugares pouco ou não convenientes.
• Elevado número de abcessos pós-vacinação devido à baixa qualidade da vacinação.

Aos gestores distritais e das unidades sanitárias que oferecm os serviços de vacinação, o PAV recomenda que
sejam adoptadas as seguintes medidas para reduzir a quebra vacinal:
• Abastecimento contínuo de vacinas
• Reprogramação das visitas (Brigadas Móveis) canceladas, se possível.
• Mobilização social sobre a importância da vacina, as contraindicações e efeitos adversos.
• Comunicação interpessoal com mensagens padronizadas sobre a importância da vacinação e do
cumprimento do calendário vacinal.
• Extensão dos serviços fixos ou das brigadas móveis para alcançar cada vez mais as populações de
difícil acesso.

Adicionalmente, deve-se estabelecer um sistema de seguimento dos faltosos tanto nas unidades sanitárias como
nas comunidades. Os responsáveis da vigilância epidemiológica e os activistas da saúde nas comunidades
devem trabalhar juntos no seguimento dos faltosos. Os registos devem ser mantidos actualizados e revistos
regularmente pelos trabalhadores de saúde.

105
106
GRIGADAS MÓVEIS

10.1 VACINAÇÃO EM ÁREAS DISTANTES E DE DIFÍCIL ACESSO

Em princípio, a mobilização social deveria ser orientada de forma a que as crianças fossem vacinadas nos
postos fixos de vacinação onde normalmente estão garantidas as condições para uma vacinação de qualidade.

Há casos em que a população tem dificuldades em vacinar os seus filhos devido à falta de transporte, pois
reside em áreas muito distantes, ou tem que percorrer longas distâncias a pé. Estas áreas constituem um campo
aberto às epidemias, caso não sejam realizadas acções programadas de vacinação.

Não restam dúvidas de que o processo de vacinação através das brigadas móveis é bastante oneroso, mas
infelizmente, devido a dificuldade da rede sanitária cobrir as zonas remotas do país, esta actividade ainda é
de extrema importância para o PAV.

10.1.1. Brigada Móvel de Vacinação


Refere-se a uma equipa constituída por técnicos de saúde, que se desloca periodicamente à uma ou várias
comunidades, com objectivo de fornecer os serviços de vacinação aos grupos alvo do PAV, envolvendo a
comunidade local.

Uma brigada móvel de vacinação, torna-se valiosa se puder alcançar o grupo alvo do PAV, que fica longos períodos
aguardando pela vacinação, devido a longas distâncias que percorrem para chegar às unidade sanitárias (US).

Não é aceitável a existência de Brigadas Móveis se os resultados não as justificarem.

Por esta razão, torna-se importante traçar algumas orientações (normas) para a sua implementação, tais como:
• A planificação de brigadas móveis deve ser incluída nos planos orçamentais dos Distritos, de modo a
garantir a sua sustentabilidade e flexibilidade na acção.
• Sempre que possível, é necessário, que as brigadas móveis sejam realizadas a partir das unidades sani-
tárias estratégicas e não apenas das sedes dos Distritos. Isso, requer recursos adicionais, como meios
de transporte e combustível.
• A planificação das actividades das brigadas móveis deve ser feita vários dias ou semanas antes da sua
execução, possibilitando desse modo, os contactos necessários com os responsáveis das áreas a visitar
e a participação dos agentes comunitários de saúde como os agentes polivalentes e elementares de
saúde (APE), parteiras tradicionais) e lideres comunitários.
• Nenhuma brigada móvel deve deslocar-se sem haver um estudo prévio da área a vacinar. Para tal, é necessário
ter um mapa da área de saúde, que vai permitir a escolha de um ponto estratégico central ao nível dos vários
bairros ou aldeias e a verificação de aldeias ou bairros que se encontram num raio de 8 km.
• Ter o conhecimento da população estimada das áreas a vacinar pelas brigadas móveis. Deste modo,
deverão ser conhecidos os grupos-alvo (n.º de crianças menores de um ano de idade, mulheres em idade
fértil, mulheres grávidas), para ajudar na avaliação dos resultados e no cálculo das vacinas necessárias.
• Fazer a planificação dos locais de concentração da periferia para o centro, iniciando a actividade pelos
bairros mais distantes e populosos. Não é aceitável a vacinação pela brigada móvel num raio abaixo
de 8 km da unidade sanitária, onde, preferencialmente, deve ser exercida uma intensiva acção de
esclarecimento e mobilização para que a vacinação seja feita no posto fixo.
• A brigada móvel nunca deve deslocar-se sem que tenha garantia das estruturas locais dos bairros ou
das aldeias a visitar de que, no dia determinado, nas horas combinadas previamente e no local de
concentração designado, as crianças da área estarão presentes. É um trabalho de preparação que o
responsável da unidade sanitária deve orientar e supervisar. Uma saída para um pequeno bairro, sem
a preparação antecipada com vista à mobilização da população dos bairros vizinhos, representa um
trabalho de elevado custo e os resultados poderão ser nulos ou não justificáveis.

109
• Sempre que possível, uma área deverá ser visitada no mínimo 3 a 4 vezes por ano. Isto significa que
a cada 2 ou 3 meses deve se fazer visitas para cada ua das áreas. No entanto, em algumas áreas,
dependendo das condições de acessibilidade ao longo do ano, podem ser programadas saídas das equipas
avançadas para vacinação, com uma periodicidade mais curta, mas nunca inferior a um mês para uma
mesma área, pois, neste caso, as crianças poderão não terem completado o calendário de vacinação no
primeiro ano de vida.
• Utilizar o meio de transporte mais económico possível - como bicicleta ou motorizada, para os locais
mais próximos da unidade sanitária.
• As brigadas móveis, para além do PAV e dos programas como a nutrição, saúde materno infantil ou
planeamento familiar, devem integrar outras actividades para rentabilizar o tempo, como a saúde escolar,
educação para saúde, recuperação de doentes com TB e faltosos ao TARV. Neste caso, o meio de
transporte a utilizar deve ser uma viatura se possível.
• No fim de cada actividade da brigada móvel, deve ser feita uma avaliação dos resultados, na presença
de todos os elementos da equipa e outros participantes, usando instrumentos definidos como a ficha
de resumo diário das actividades das brigadas móveis, em anexo.

Atenção
• A actividade de Brigadas Móveis deve obedecer a uma planificação prévia e aprovação do responsável Distrital
de Saúde ou da Unidade Sanitária. O objectivo é alcançar os melhores resultados com o custo mais baixo possível.

10.2 BRIGADA MÓVEL - ESQUEMAS A CONSIDERAR

Tabela 10.1 Situções a considerar na vacincação nas brigadas móveis


Idade a 1ª visita da 2ª visita da 3ª visita da 4ª visita da
quando Brigada Brigada Brigada Brigada Observação
da 1.ª visita Móvel Móvel Móvel Móvel
DPT/HepB3 Na última
BCG DPT/HepB1 DPT/HepB2 + visita (4.ª)
+ + + Pólio3 +PCV3
Pólio 0 Pólio1 + PCV1+ RV Pólio2+ a criança
Até 6 Semanas 1ª PCV2+RV 2ª + Anti-Sarampo deverá ter
IPV 9 meses de
(verificar a cicatriz idade
da BCG) ou então 8,5
meses, pode
vacinar.

Mais de 6 DPT/HepB1 DPT/HepB2 + DPT/HepB3


Semanas e + + +
menos de Pólio1 Póio2 Pólio3
8,5 Meses +PCV1+ +PCV2+ +PCV3+
BCG+ RV 1ª + RV 2ª +IPV Anti-Sarampo A vacina Anti-Sarampo será administrada
a partir dos 8,5 meses de idade ou aos 9
(verificar a cicatriz meses
da BCG)

8,5 Meses ou DPT/HepB1 + DPT/HepB2 + DPT/HepatiteB3 + N.B. Estas crianças não farão a RV1 e 2
mais PCV1+ Pólio2 +PCV2 dose.
Pólio1 + BCG + (verificar a cicatriz Pólio3 +PCV3
Sarampo da
BCG)

CRIANÇAS COM VACINAÇÃO ANTERIOR INCOMPLETA

A situação vacinal deve ser analisada caso a caso. As vacinas a administrar dependerão das doses anteriormente
recebidas e da idade da criança. O mais importante é vacinar a criança de modo a permitir que esta seja
completamente vacinada até aos 9 meses de idade.

110
COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA SOCIAL E DE COMPORTAMENTO

Um dos objectivos da abordagem dos cuidados de saúde primários é capacitar as comunidades, através da
provisão de informação e educação para a saúde, de modo a tomar controle sobre a sua saúde e sobre o meio
ambiente adoptando comportamentos e atitudes conducentes a um melhor estado de saúde individual e colectiva.

Existem vários factores associados a comunicação para a mudança de comportamento dentre eles os factores
pessoais e ambientais, os quais se encontram resumidos no Modelo Socio-ecológico.

O Modelo Sócio-Ecológico comporta cinco níveis hierárquicos: ambiente individual, interpessoal, comunitário,
organizacional e de políticas. A abordagem mais eficaz da prevenção e controle de saúde pública usa uma
combinação de intervenções em todos os níveis do modelo.

Modelo Sócio-ecológico

11.1 CONCEITOS BÁSICOS

• Advocacia: compreende o esforço organizado para informar e motivar os decisores de modo a criar
um ambiente favorável à mudança. O propósito da advocacia é atingir mudanças específicas nas políticas,
nos programas ou alocação de recursos que beneficiem a população envolvida nesses processos.
• Mobilização Social: processo que envolve a mobilização de parceiros a nível nacional e local para
uma causa comum, aumentando a conscientização e a demanda por uma mudança.
• Comunicação para a mudança social: Processo de engajamento e empoderamento dos indivíduos e
comunidades para influenciar positivamente e ou reforçar as normas sociais e práticas colectivas.
Enfatiza o diálogo (público e privado), a importância da comunicação horizontal, o papel das pessoas
como agentes de mudança e a necessidade de negociar habilidades e parcerias. Através do diálogo, as
pessoas ( homens, mulheres e crianças) podem superar obstáculos e identificar caminhos para ajudá-
las a atingir as metas que traçaram para si. A abordagem de comunicação para a mudança social tira
o foco do indivíduo para a mudança colectiva, acção comunitária e mudança de longo prazo e sustentável.
• Comunicação para a Mudança de Comportamento: processo baseado em pesquisa para motivar
mudanças sustentáveis a nível individual e comunitário no conhecimento, atitudes e comportamentos.
A Comunicação para a mudança de comportamento é desenhada para atingir objectivos mensuráveis,
para o alcance e envolvimento de audiências específicas. Esta baseia-se no reconhecimento de que a
mudança de comportamento é um processo e que as pessoas geralmente passam por várias etapas antes
de mudarem seu comportamento.

11.2 QUAIS SÃO AS ESTRATÉGIAS A SEREM USADAS?

Existem várias estratégias, algumas das quais incluem:


• Advocacia - junto dos líderes comunitários, religiosos, praticantes de medicina tradicional, matronas
e outras pessoas influentes da comunidade para mobilizarem as famílias a aderirem à vacinação e outros
serviços oferecidos na US.

113
• Mobilização social - Através do fortaleci-
mento das parcerias com as rádios comu-
nitárias para a produção de programas e
disseminação de mensagens chave sobre
vacinação. Estabelecimento de parcerias com
o sector privado para o apoio em re-cursos
durante as campanhas e vacinação de rotina.
Fortalecimento da parceria com o sector de
Educação na disseminação de mensagens chave
sobre a importancia da vacina.
• Comunicação para a promoção do serviço -
Através do fortalecimento da comunicação Inter-
pessoal entre o profissional de saúde e as mães
ou cuidadores sobre a importância do cumpri-
mento do calendário de vacinação bem como
a promoção dos diálogos comunitários sobre
a vacinação. Revitalização e formação dos
Comités de Saúde em conteúdos relativos
à vacinação.

11.3 QUEM DEVE SER ENVOLVIDO NOS DIÁLOGOS COMUNITÁRIOS PARA A MUDANÇA DE
COMPORTAMENTO?

O comportamento individual é extremamente importante para a saúde do indivíduo. Mas geralmente não é o
indivíduo quem toma as decisões sobre a sua própria saúde ou a mãe sobre a saúde da sua criança. Assim, as
actividades de comunicação devem envolver pessoas que tomam as decisões-chave na família e na comunidade
em relação à vacinação. Um programa de vacinação bem planificado eado inclui actividades educativas
direcionadas a uma série de grupos tais como:
• Pais e cuidadores de crianças.
• Crianças em idade escolar.
• Mulheres grávidas.
• Líderes comunitários.
• Líderes religiosos.
• Mães e sogras.
• Praticantes de Medicina Tradicional.

114
11.4 A QUE NÍVEL A INTERVENÇÃO DEVE TOMAR LUGAR?

As actividades de comunicação podem ter lugar a diferentes níveis: individual, famíliar, comunitário, distrital etc.

Figura 11.1: Níveis de intervenção das actividades de comunicação

11.5 QUAIS OS CANAIS OU MEIOS A USAR?

Existem vários canais de comunicação dependendo da audiência que se pretende envolver. Existem os canais
electrónicos como a Televisão e a Rádio, os canais impressos, como os jornais e revistas, e o canal interpessoal
que é aquele que decorre entre duas pessoas ou um grupo de pessoas, cara a cara. Os meios de comunicação
de massas como a televisão e a rádio, são canais que atingem um grande número de pessoas em simultâneo.
No entanto, têm a desvantagem de serem geralmente unidireccionais, e, como tal, não permitem a interacção
entre as pessoas que participam no programa.
A comunicação interpessoal, permite maior interacção entre as pessoas, as quais podem partilhar as suas
experiências e esclarecer as suas dúvidas.

O trabalhador de saúde deve decidir sobre a melhor forma de atingir a audiência pretendida - casa, comunidade,
unidade sanitária, escola, igreja ou local de trabalho? Por exemplo, mulheres em idade fértil (MIF's)
podem ser alcançadas através dos serviços de atenção à criança, incluindo as sessões de vacinação, nas consultas
pré-natais e nas consultas de planeamento familiar. Os homens podem ser alcançados através dos locais de
trabalho, igrejas, reuniões comunitárias ou em casa (fora do horário normal de trabalho). Os meios de comunicação
de massa, tais como a rádio e a televisão são mais usadas para alcançar a população geral. Enquanto esses
canais podem ser organizados a nível nacional, mensagens para grupos específicos são melhor comunicadas
cara a cara.

11.6 QUEM PODE COMUNICAR?

Além do diálogo, comunicação interpessoal, que é mantido entre o técnico de saúde e o utente na unidade
sanitária, outros intervenientes como por exemplo o APE, o activista, a parteira tradicional, o líder religioso,
o praticante de Medicina tradicional, o professor e os estudantes, podem ter um papel importante para influenciar
determinados comportamentos e práticas.
Profissional de saúde: pode aproveitar quando a mãe leva a sua criança ao peso, para dialogar com a mãe ou

115
cuidadora sobre a importância das vacinas e o cumprimento do calendário de vacinação e da importância de
levar a criança regularmente, para receber outros serviços como o controlo do crescimento, a Vitamina A e o
Mebendazole.

O Líder religioso: pode partilhar mensagens chave com os seus crentes durante o culto ou promover discussões
sobre a importância da vacinação e outros assuntos relacionados, nos grupos de jovens, nos grupos dos homens
e nos grupos das mulheres( pertencentes às confissões religiosas). O líder religioso também pode fazer uso do
guião dos líderes religiosos para a promoção de saúde educação e protecção da criança, como instrumento para
apoiar o diálogo nas comunidades. Nas visitas domiciliárias, o líder religioso pode solicitar as famílias o cartão
de saúde das crianças para verificar se têm as vacinas, a Vitamina A, o mebendaxole e o controlo de peso em
dia. Caso não estejam em dia tem que referir à US.

O Líder comunitário: Durante as reuniões comunitárias pode aproveitar a ocasião para alertar as famílias
sobre a necessidade de levar as crianças à US para tomarem as vacinas e receber outros serviços. Nas visitas
que efectuar às casas dos vizinhos e familiares, poderá pedir o cartão de saúde da criança para verificar se a
mesma está com as vacinas o peso e entre outros serviços em dia. O praticante de medicina tradicional: poderá
perguntar aos seus utentes se as suas crianças têm as vacinas em dia, e se possível, pode pedir para ver o cartão
de saúde da criança e encaminha-la à US, caso necessário. Os praticantes que têm fichas de referência, poderão
fazer uso das mesmas para referir as crianças à US.

O APE: durante as visitas domiciliárias, poderá pedir as famílias para mostrar o cartão de saúde da criança a
fim de verificar se tem as vacinas, a Vitamina A e o peso em dia. Caso não tenha, poderá oferecer vitamina
A e encaminhar a criança à US para receber outros serviços.

Os professores: podem partilhar a informação com os alunos sobre os benefícios da vacinação e da lavagem
das mãos para a prevenção de doenças. Pode ainda estimulá-los para convencerem os pais a levar os seus
irmãos mais novos à US. As crianças quando bem orientadas podem funcionar como agentes da mudança.

Por forma a garantir que todos estes actores intervenham na promoção da vacinação é importante que o técnico
de medicina preventiva coordene com os mesmos, estabeleça mecanismos de monitoria e mantenha encontros
regulares.

11.7 QUE MÉTODO USAR PARA MOTIVAR A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA?

Existem diferentes métodos através dos quais se pode motivar a participação comunitária. Recomenda-se o
uso de método de aprendizagem participativo e o diálogo. Estes métodos usam pequenos grupos de aprendizagem,
estudos de caso, simulações e dramatizações.

O método participativo tem várias vantagens: os participantes jogam um papel activo e tem maior probabilidade
de se recordarem do que tiver sido tratado durante a sessão. Este método é particularmente relevante para as
pessoas com baixa escolaridade. Outras vantagens desta abordagem são:
• Permite a descoberta de crenças e práticas das pessoas na comunidade
• Cria uma aproximação entre o profissional ou trabalhador da saúde e os participantes.
• Mostra o interesse e o respeito do trabalhador de saúde pela opinião dos participantes.

Torna o ambiente mais acolhedor. A técnica da dramatização consiste na encenação de um problema, por duas
ou mais pessoas, numa situação hipotética em que os papéis são vividos tal como na realidade. As pessoas
representam para elas mesmas a fim de adquirir capacidades de comunicação e de solução de problemas e
entender melhor a situação. Nestas representações, o trabalhador de saúde pode explorar os eventos sob
diferentes pontos de vista e desenvolver empatia pela comunidade. Por exemplo, um homem pode representar

116
o papel de uma mulher e assim entender as dificuldades e às pressões que elas enfrentam para a adopção de
práticas mais saudáveis.

11.9 COMO O TS PODE TORNAR O PROGRAMA DE VACINAÇÃO NUM SUCESSO?

Para o sucesso de um programa de vacinação, há necessidade de participação comunitária e o envolvimento


de todas as lideranças locais. Qualquer infomação acerca da saúde que for dada à comunidade será passada
aos outros através de contactos informais. Pode-se encorajar este processo, através da selecção de membros
influentes da comunidade e dando-lhes uma formação sobre educação para a Saúde. ..

11.10 VISITA PORTA-A-PORTA

Sem prejuízo das acções acima mencionadas, a visita porta a porta, quando bem executada, pode contribuir para
o aumento da cobertura vacinal e melhoria de outras actividades, particularmente de saúde materno infantil,
planeamento familiar, saneamento do meio e prevenção de doenças (Figuras 11.2 e 11.3).

A visita porta a porta deve sempre ser uma visita e não um acto de fiscalização. Deve ter por objectivo
esclarecer, sensibilizar e ouvir os problemas da população, num espírito de fraternidade e compreensão, com
a maior delicadeza e respeito pelos usos, costumes, crenças e tradições da população.

O visitante deve ter sempre em mente que ninguém nasce sabendo tudo e se a população não cumpre com
determinadas normas ou orientações definidas pelo Ministério da Saúde na área da vacinação, não deve ser
culpada por isso, pois não tem conhecimento suficiente sobre os benefícios de vacinação na prevenção de
doenças evitáveis por vacina. Sabe-se que uma grande percentagem dessa população não escuta rádio, não lê
jornais, não frequenta as reuniões do bairro nem tem Centro de Saúde e, por isso, merece uma atenção especial.
Não é aceitável uma visita de “corrida”, porque desse modo não é possível atingir o verdadeiro objectivo. É
fundamental tentar perceber quais são as práticas nessa comunidade e quais são as barreiras em relação à
procura dos serviços de saúde, particularmente na área de saúde da criança, cuidados pré-natais, higiene e
saneamento. Na base dessa informação, deve-se conduzir o diálogo sobre as questões que se pretende melhorar.

11.10.1 Quem deve participar na visita porta a porta?


Os profissionais ou trabalhadores de saúde, APES, Pontos Focais de RED/REC, voluntários que trabalham na
área de saúde, alunos dos institutos e centros de formação, ONG's e outros, todos eles devidamente preparados,
tendo o domínio dos conteúdos a serem abordados assim como as técnicas de comunicação interpessoal.

11.10.2 Quando é que se deve fazer uma Visita Porta a Porta?


Ao longo do ano, normalmente nas tardes dos dias úteis. Raramente será necessário exceder o período diário
normal de trabalho do funcionário.

117
Figura 11.2: Ficha de registo para a visita porta-a-porta (face anterior)

118
Figura 11.3: Ficha de registo para a visita porta-aporta (face posterior)

119
11.10.3 Em que áreas de prevenção deve incidir a visita porta a porta?
Sempre que possível, além do PAV, deve-se priorizar as consultas pré-natais, partos institucionais, consultas
preventivas da criança (consultas de crescimento), TP e higiene e saneamento do meio ambiente.

A população irá, certamente, apresentar problemas de outras áreas de saúde, que deverão ser escutados e
registados e transmitidos superiormente para a sua resolução.

11.10.4 Fases da visita porta a porta (VPP)


A visita porta a porta compreende várias fases que são: preparação, execução, controlo e avaliação.

11.10.4.1 Fase de preparação


• Sempre que possível, deve haver um croqui (planta) do bairro a visitar; conhecer a sua população, o
número do quarteirão e a localização de cada um.
• Marcar encontros com os responsáveis do bairro e discutir com eles todos os pormenores relativos à
visita (datas, horas, elementos de apoio, esclarecimento da população)
• Distribuir as equipas (dois ou três elementos por cada quarteirão), prevendo-se a data, hora e o transporte
para o efeito.
• Organizar fichas do controle das visitas porta a porta, as guias de referência, lápis, pranchetas, borrachas, etc.
• Iniciar a preparação das equipas, instruir sobre os calendários de vacinação, interpretação do cartão
de saúde da criança, da ficha pré-natal, do cartão de tratamento de TP, utilização correcta de uma latrina,
metodologia da VPP e técnicas de comunicação interpessoal a seguir no relacionamento com as famílias.
• Entregar fichas de controle e guias de referência.

11.10.4.2 Fase de execução


• Colocação de uma equipa em cada quarteirão para realizar visita casa-a-casa.
• Cada equipa tem a responsabilidade de sensibilizar os pais ou cuidadores das crianças menores de 5
anos sobre a importância e benefícios da vacinação, da Vitamina A e do desparasitante e, sobre a
necessidade de levarem as suas crianças à US para receberem as vacinas, a Vitamina A, o desparasitante
e fazer o controlo do peso.
• Solicitar o cartão de saúde da criança a fim de verificar se tem as vacinas em dia e se a criança está a
receber a Vitamina A e o Mebendazol de 6 em 6 meses (dependendo da elegibilidade).
• A equipa tem ainda a responsabilidade de verificar o cartão de VAT da mãe, a ficha de consulta pré-
natal (no caso de haver uma mulher grávida), cartão de tratamento de TP.
• Durante a visita porta a porta a equipa deverá observar se a casa dispõe de uma latrina com tampa,
sistema de lavagem das mãos junto as latrinas (como por exemplo existência de tip-tap), se tem
copa(mesa) para a secagem da loiça, se a casa e o quintal estão limpos.
• Sensibilizar os pais das adolescentes e as próprias adolescentes sobre a importância da vacina contra
o tétano e da vacina contra o câncro do colo de útero e sobre a necessidade de irem a US para receber
todas as doses previstas.
• Registar todas as situações irregulares na ficha de controle e entregar as fichas de e cartões convite.
Para a ida à Unidade sanitária.
• Saudações de despedida

No fim da visita, devolver os Cartões e as guias de referência que tenham sobrado à US.

11.10.4.3 Avaliação imediata da visita


Logo depois da visita, deve-se juntar todas as fichas preenchidas para uma análise da situação encontrada. Os
procedimentos de avaliação imediata são os seguintes:

1. Se a população do bairro é conhecida, deve-se calcular o grupo-alvo de crianças menores de cinco anos
de idade, de mulheres grávidas, das MIF's e , de acordo com o n.º dos que não cumprem com as normas

120
estabelecidas para cada grupo, calcular a sua percentagem, analisando-a, para conhecer o grau de participação
da população na procura de cuidados de saúde no bairro visitado.

Exemplo:
N.º da população do Bairro = 30.000 habitantes
N.º de crianças menores de 5 anos = 30.000 x 17.1% =5.130
N.º de grávidas previstas = 30.000 x 5% = 1.500

Crianças que não cumprem com as datas de vacinação e as que nunca foram à vacinação = 800
Crianças que não vão ao peso = 3.550
Mulheres Grávidas faltosas às CPN ou que nunca a frequentaram = 750

Assim, vamos apresentar um exemplo de crianças menores de um ano de idade, quanto ao seu estado
de vacinação.

Percentagem (%) de crianças cujas mães não cumprem com o calendário de


vacinação = 800: 5,130 x 100 = 16%.

Isto significa que, em cada 100 crianças daquele bairro, 16 destas as mães não cumprem com a vacinação.

2. Quando o n.º da população do bairro não é conhecido, para o cálculo da percentagem das crianças cujas
mães não cumprem com o calendário de vacinação, utiliza-se a média de pessoas por família que, em
Moçambique, varia de 5 - 6 pessoas.

Exemplo:
N.º de casas visitadas = 5.000
N.º médio de pessoas por família = 6
N.º da população = 5.000 x 6 = 30.000 habitantes

É preciso calcular a percentagem de casas com latrinas, utilizando o n.º de casas com latrinas dividido pelo
n.º total de casas visitadas. Proceder da mesma maneira em relação ao cálculo de casas com lixo.

A partir daqui, podem-se calcular os grupos-alvo e proceder com os passos seguintes.

11.10.4.4 Avaliação Tardia


Quinze dias depois da visita porta a porta deve-se proceder à avaliação dos cartões de referência entregues
às mães no dia da visita porta a porta. A avaliação deve ser feita da seguinte forma:
• Conferir as guias de referência que deram entrada na US e registá-los na ficha de recolha de dados.
• Fazer a lista das mães que não foram à US, apesar de terem sido sensibilizadas.
• Entregar a lista dos faltosos ao responsável do PAV e SMI.
• Avaliar a relação entre o número de faltosos e o dos que vieram à US:

É importante calcular a percentagem de faltosos que responderam à VPP. De salientar que o impacto esperado neste
tipo de visitas é o aumento da demanda pelos serviços de vacinação, Vitamina A, Mebendazole, controlo de peso
e o aumento de número de mulheres que procuram os cuidados de saúde pré-natais

Atenção
• A visita porta a porta é uma experiência longa que já deu resultados muito positivos. Está mais do que provado que a visita
porta a porta é uma metodologia eficaz para a mobilização da população porque permite uma comunicação directa com a mãe
da criança na sua própria casa, onde ela facilmente pode compreender as mensagens de saúde transmitidas pelo visitante.
• Vale a pena o esforço!

121
122
CADEIA DE FRIO

As vacinas são sensíveis ao calor e ao congelamento, devendo, por isso, serem conservadas em temperaturas
correctas desde a altura em que são produzidas até ao uso. O sistema usado para manter e distribuir a vacina
em boas condições (manter a potência da vacina) é chamado de cadeia de frio (Figura 12.1). A cadeia de frio
consiste em uma série de relações de armazenamento e transporte, desenhados com o objectivo de manter as
vacinas dentro de temperaturas aceitáveis até alcançar os grupos alvos. Falhas em qualquer um dos pontos da
cadeia de frio pode tornar a vacina inútil. Mesmo pequenas, exposições a temperaturas adversas pode ser
prejudicial, pois o efeito é cumulativo.

Farmaceutica/
Figura 12.1: Cadeia de frio Fabricante

Solicitação das vacinas

Estatísticas e
Estimativas anuais
Aeroporto

Análise

Reporte mensal/ Armazém central


Verificação

Registo diário Armazém regional/


Distrital

Unidade sanitária

Mulheres e crianças

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

O calor e a luz solar destróem ou reduzem a eficácia de todas as vacinas. As vacinas da Pólio, Sarampo e BCG
são mais rapidamente destruídas pelo calor por este matar as partículas vivas que as vacinas contém. O
congelamento destrói a DPT/Hepatite B e a VAT. Estas vacinas quando congeladas formam grânulos que não
se dissolvem mesmo depois de agitados fortemente (Figura 12.2).

Figura 12.2: Vacinas sensíveis ao congelamento


Não submeta estas vacinas à temperaturas de congelamento
• Cólera
• Difteria, Tosse convulsa, Hepatite B e Meningite (DPTHepBbHib)
• Influenza (Hib)
• Papilomavírus humano (HPV)
• Pneumocócica (PCV13)
• Pólio inactiva (IPV)
• Rotavírus
• Tétano

Devido à sensibilidade das vacinas à temperaturas adversas, deve-se prestar uma atenção crítica às temperaturas
de conservação recomendadas para cada tipo de vacina em todos os estágios de transporte e durante o
armazenamento.

125
Manter a cadeia de frio requer que as vacinas e o diluente sejam:
• Colectadas do fabricante ou do aeroporto logo que estejam disponíveis.
• Transportadas entre os +2ºC e os +8ºC do aeroporto ou de um depósito para o outro.
• Conservadas a temperaturas correctas no depósito central, provincial, distrital e nas unidades sanitárias.
• Transportada entre os +2ºC e os +8ºC para as brigadas móveis e durante as sessões das brigadas móveis.
• Mantidas entre os +2ºC e os +8ºC durante as as sessões de vacinação; e
• Mantidas entre os +2ºC e os +8ºC durante o regresso das sessões das brigadas móveis para a unidade
sanitária.

A cadeia de frio só funciona devidamente se as pessoas responsáveis tiverem conhecimentos e habilidades


sobre como organizar e manter o equipamento da cadeia de frio disponível.

O equipamento usado na cadeia de frio deve ser de qualidade e quantidade apropriada para permitir uma
conservação correcta da vacina á medida que ela vai de um estágio da cadeia de frio para o outro até alcançar
o consumidor final.

É importante notar, como referenciado na capítulo 4, que certas vacinas podem ser conservadas a temperaturas
diferentes conforme se trate de depósito central, provincial, distrital ou da unidade sanitária. A tabela 12.1 as
diferentes temperaturas recomendáveis para a conservação das vacinas nos diferentes pontos da cadeia de frio.

Tabela 12.1: Temperaturas de conservação de vacinas a diferentes níveis de cadeia de frio


Tipo de vacina Níveis Central e Provincial Níveis Distrital e U. Sanitária
BCG - 15ºC a - 25ºC + 2ºC a + 8ºc
Anti-Pólio - 15°C a - 2 5ºC + 2°C a + 8ºC
Anti-Sarampo - 15ºC a - 25ºC + 2ºC a + 8ºC
DPT/Hepatite B + 2ºC a + 8ºC + 2°C a + 8ºC
Anti-Tétano + 2ºC a + 8ºC + 2ºC a + 8ºC

12.1 EQUIPAMENTO DA CADEIA DE FRIO

Os diferentes níveis dentro do sistema de saúde necessitam de diferentes equipamentos de frio para o transporte
e conservação das vacinas e diluentes a temperaturas correctas. Por exemplo, os nívelis central e provincial
usam câmaras de frio, congeladores, caixas isotérmicas maiores e, às vezes, camiões com refrigerador para
transporte das vacinas. As unidades sanitárias necessitam de geleiras com um comparti-mento de congelamento,
caixas isotérmicas médias e pequenas de mesa.

12.1.1 Câmaras de frio


A câmra de frio é uma sala construída com material especial, que é mecanicamente mantida fria, cuja temperatura
é ajustável ao nível desejado. As câmaras frias são encontradas nos depósitos centrais, provinciais e regionais,
onde grandes quantidades de vacina são conservadas.

12.1.2 Como trabalhar com segurança na câmara de frio:


• Se alguem estiver a trabalhar dentro da câmara fria, deve-se tomar o cuidado de evitar que ela fique
fechada acidentalmente dentro da câmara.
• Para evitar lesões por frio, deve-se usar roupa quente e permanecer por pouco tempo dentro da câmara
de frio.
• A quantidade de diesel no tanque do gerador deve ser regularmente verificada e o tanque re-abestecido
conforme necessário.
• O técnico de frio deve verificar regularmente o equipamento, especialmente os cintos, filtros e o
compressor.

126
12.1.3 Armazenamento da vacina na câmara de frio
• As vacinas devem ser guardadas nas prateleiras.
• É aconselhável arrumá-las por ordem de expiração para evitar a possibilidade de algumas vacinas
expirarem antes de serem usadas.
• As câmaras de frio não devem ser superlotadas. As vacinas devem ser arrumadas com espaço adequado
entre elas para permitir a circulação adequada de ar.

12.1.4 Como cuidar da câmra de frio


- Cuidados diários
• Deve-se ler o termômetro diariamente e ajustar a temperatura aos valores recomendáveis.
• A ficha de registo de temperatura, a qual se encontra afixada na câmara de frio deve ser verificada.
• Qualquer ruído estranho no funcionamento da câmara de frio, deve ser investigado e reparado.
• No final do dia, todas as portas do local onde está instalada a câmara de frio devem ser fechadas e as
luzes apagadas.

- Cuidados semanais
• Deve-se testar o alarme que indica a mudança para temperaturas adversas.
• Deve-se testar o gerador desligando a fonte principal de corrente e deixando-o funcionar durante 5
minutos.

- Cuidados mensais
• Mensalmente os técnicos de frio devem fazer a manutenção da câmara de frio.
• Quando necessário, deve-se solicitar urgentemente a peça sobressalente para o funcionamento adequado
da câmara de frio.

12.2 REFRIGERADORES (GELEIRAS)

Existem fundamentalmente dois tipos de refrigeradores: de compressão e de absorção.

12.2.1 Refrigeradores de compressão


Muitos refrigeradores eléctricos e solares são do tipo compressão. Um exemplo de refigerador com um sistema
de refrigeração do tipo compressão é o congelador horizontal que pode ser ajustado para funcionar como
refrigerador (Figura 12.2 e Figura 12.3). O refrigerador do tipo compressão usa um motor eléctrico de compressão
para circular o fluído frio chamado refrigerante. A bomba comprime o refrigerante do estado gasoso para o
estado líquido, um processo que retira o calor.

O sistema de compressão cricula o ar muito rapidamente e assim tem maior efeito de arrefecimento do que o
sistema de absorção. A temperatura no interior do refrigerador é controlada por um termostato automático que
liga e desliga o compressor de acordo com a temperatura desejada.

O termostato pode ser girado para temperatura mais quente ou mais fria conforme necessário. O mínimo dá a
temperaturas mais quente e o máximo a temperatura mais fria.

Os refrigeradores do tipo compressão consomem muita energia eléctrica para arrancar, mas também necessitam
constantemente de supremento de energia, para funcionar, em situações de voltagem baixa e não estável. Isto
limita a sua utilização aos locais onde haja suprimento de energia eléctrica fiável.

12.2.2 Refrigeradores do tipo absorção


Os refrigeradores de absorção usam o calor produzido pela electricidade ou pela chama do gás ou petróleo,
para produzir o ciclo de frio, sob pressão produzida pelo hidrogênio (Figura 12.2). O calor faz circular a amônia

127
e a água num sistema fechado de tubos. No evaporador dentro do refrigerador o fluído de amônia converte-
se em gás, que absorve o calor do ar interior. À medida que o gás circula para fora do refrigerador onde condensa
em líquido, liberta o calor para o ar exterior.

Os refrigeradores do tipo absorção são menos eficientes do que os do tipo compressão por causa da fraca
circulação do refrigerante, mas são muito mais recomdáveis para os locais onde haja energia fraca e pouco
fiável. Nestes casos deve-se usar refrigeradores a petróleo ou a gás.

Figura 12.2: Refrigerador de absorção

Refrigerador vertical do tipo absorção,


Petróleo/Eléctrica com câmara de congelação

Compartimento de
congelação
Refrigerador horizontal do tipo compressão,
eléctrica com câmara de congelação

Compartimento de
refrigeração

Figura 12.3: Refrigerador horizontal do tipo compressão

Abertura superior:
Rede elétrica, bateria
solar ou energia direta Compartimento de
solar revestida de gelo congelamento
(em alguns modelos)

Compartimento de
conservação de vacinas

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

128
Figura 12.4: Refrigerador horizontal do tipo compressão

Abertura superior:
Gás ou Petróleo Compartimento de
congelamento

Compartimento
de vacinas

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

12.2.3 Modelos de refrigeradores


Os modelos mais comuns de refrigeradores usados no país são as geleiras verticais modelo RAK, SIBIR e
ZERO, e as geleiras horizontais modelo RCW 42 EK, RCW 42 AC, RCW42 EG e ZERO. É importante
conhecer e referir o modelo do refrigerador quando fizer a requisição de peças sobressalentes para efeitos de
reparação/manutenção.

12.2.4 Como instalar um refrigerador


• Coloque o refrigerador no local mais frio da sala.
• A sala deve ser bem ventilada com boa ventilação a volta do refrigerador.
• Evite locais onde o refrigerador possa apanhar sol pelas portas ou janelas.
• Mantenha o refrigerador na sombra e longe de qualquer fonte de calor.
• O refrigerador deve ser colocado a pelo menos 40 cm do tecto e 15 cm das paredes.
• Para manter o refrigerador seco, coloque-o sobre um estracto de madeira.
• O refigerador deve permanecer firme e nivelado sobre o estrado.
• O refrigerador deve estar bem nivelado. Para verificar isso, coloque um prato raso com água em cima
da geleira. Quando bem nivelado, a água ficará à igual distância dos bordos do prato. Se estiver
desnivelado, coloque pequenos pedações de madeira por baixo, até ficar na posição desejada. A porta
deve estar hermèticamente fechada.
• Os refrogeradores de tipo absorção devem estar bem nivelados, caso contrário, não irão funcionar
devidamente.

Para verificar se a geleira fecha correctamente:


• Coloque um papel fino no ponto de encontro entre a porta e o corpo da geleira e eche a porta.
• Puxe devagar o papel. Se o mesmo sair facilmente é porque a porta não está a fechar completamente.
• Tente ajustá-la. Se não fôr possível localmente resolver o problema, contacte o técnico de frio.
• Se a geleira fôr eléctrica, use uma tomada exclusiva para ela. Evite o uso de fichas triplas que podem
provocar sobrecarga ou desconexão acidental, desligando assim a geleira.

129
12.2.5 Arrumação da vacina no refrigerador
Nos refrigeradores verticais, o espaço do refrigerador é composto por prateleiras onde são arrumados os
pacotes de vacinas. Os pacotes devem ser colocados de forma a manter uma distância aproximada de dois
dedos entre uma caixa e outra e com uma distância idêntica das paredes da geleira, de modo a permtir a livre
circulação do ar frio, conforme mostra a Figura 12.6.

• Na prateleira superior, coloque as vacinas anti-pólio, antisarampo.


• Na segunda prateleira, arrume as vacinas da BCG e frascos abertos (VAP, DPT/Hepatite B e VAT que
tenham sobrado da sessão anterior de vcacinação). Os frascos abertos devem ficar dentro de uma
caixa assinalada “vacina devolvida”.
• Na terceira prateleira, coloque a DPT/Hepatite B e VAT.
• Na última prateleira, coloque as caixas de diluentes e acumuladores de gelo.
• Nunca guarde vacinas na parte inferior da geleira nem na parte interior da porta, por serem os locais
menos frios.
• Conserve os diluentes das vacinas de sarampo e BCG na parte inferior da geleira, a fim de os refrigerar
antes da sua utilização. O diluente deve estar à mesma temperatura da vacina para não prejudicar a sua
potência no momento da reconstituição (diluição).

Os refrigeradores horizontais têm dois compartimentos, sendo um para congelação e outro para a refrigeração
das vacinas, divididos por um separador plástico que serve para impedir o congelamento das vacinas.

As vacinas anti-pólio, anti-sarampo e BCG devem ser colocadas próximas do separador, por ser a zona mais
fria. A DPT/Hepatite B e a VAT devem ser colocadas depois das vacinas acima referidas, mais afastadas do
separador.

Em qualquer das geleiras recomendadas para conservação das vacinas:


As vacinas mais antigas devem ser colocadas numa posição tal que seja fácil usá-las em primeiro lugar. Pode-
se colocar-lhes uma marca para às identificar melhor. Por exemplo, a vacina mais recente pode ser colocada
à direita ou na parte de trás da prateleira, e a mais antiga à esquerda ou na parte da frente da prateleira. Assim,
como rotina, pode-se adoptar a pratica de usar as vacinas à esquerda ou à frente primeiro. O termómetro deve
ser colocado juntamente com as vacinas DPT/Hepatite B e VAT.

Atenção
Use sempre primeiro as vacinas que estão há mais tempo na geleira, observando sempre as datas de expiração e o
estado do monitor do frasco de vacina (VVM), se existir (ver interpretação do VVM no capítulo 13).

130
Figura 12.5: Arrumação da vacina num refrigerador vertical

12.2.6 Como cuidar de um refrigerador


• Verifique a temperatura no interior do refrigerador duas vezes por dia.
• Verifique se a chama é azul, o que sugere que o refrigerador funciona devidamente e que manterá as
temperaturas ideiais.
• Verifique a formação do gelo no evaporador. Se o gelo atingir 6 mm ou mais de espessura, descongele
o refrigerador. Congelamento espesso no evaporador irá resultar na subida da temperatura.
• Depois do descongelamento, limpe e seque dentro e fora do refrigerador.

131
Figura 12.6: Arrumação da vacina numa geleira horizontal

Atenção
Nunca coloque mais do que 6 acumuladores grandes ou 10 acumuladores pequenos por dia

12.2.7 Como manter a vacina fria no refrigerador


• Coloque a vacina no compartimento correcto.
• Evite abrir a geleira desnecessariamente.
• Mantenha a temperatura entre os + 2ºC e os + 8ºC, baseado no registo da temperatura duas vezes por
dia.
• Descongelar o refrigerador regularmente.
• Arrumar as vacinas com espaço suficiente entre as caixas para permitr circulação do ar.
• Evitar arrumar a vacina em contacto com o evaporador.

12.2.8 Falhas de energia


Na eventualidade da falha de energia deve-se proceder da seguinte maneira:
- Se tratar-se de refrigerador a gás/eléctrico ou petróleo/eléctrico
• Desligue o regulador de gás e acenda a chama de gás ou a petróleo.
• Verifique se a chama está a arder orrectamente.
• Verifique se o cilindro de gás tem gás suficiente. Se o gás for insuficiente e não houver um cilindro
de reserva, transfira a vacina para o centro de saúde mais próximo onde a cadeia de frio possa ser
mantida. Proceda de igual modo, se o petróleo for insuficiente e não houver de reserva.
• Deligue o interruptor de electricidade
- Se o refrigerador for somente eléctrico
• Não faça nada e não abra a porta do refrigerador até que esteja pronto para transferir a vacina para outra
unidade sanitária onde a cadeia de frio possa ser mantida.
• Mantenha a vacina por um período de tempo seguro.
• Comunique ao seu supervisor ou ao técnico de frio

132
12.3 CAIXAS ISOTÉRMICAS

As caixas isotérmicas são usadas para conservar as vacinas frias durante o transporte. Estes contentores são
desenhados para manter o ar frio dentro e prevenir a entrada de ar quente. Por isso, durante o trans-porte da
vacina, deve-se evitar abrir esses contentores.

12.3.1 Arrumação correcta de vacinas nas caixas isotérmicas


Quando os acumuladores estão congelados, devem ser colocados sobre a superfície de uma mesa em uma linha
só, durante 5 a 10 minutos, depois de retirados do congelador. Quando o gelo no interior do acumulador começar
a se movimentar, então o acumulador está pronto para ser colocado no interior da caixa isotérmica para a
conservação da vacina. Com exposição a temperatura ambiente, a temperatura no interior do acumulador irá
subir ligeiramente a ponto de não constituir perigo para o congelamento das vacinas DPT/HepatiteB e VAT.

Apesar de todo este cuidado, é recomendável que estas vacinas sejam embrulhadas com material leve e não
sejam colocadas em contacto com os acumuladores para evitar o risco de congelamento.

Os passos a seguir são os seguintes:


• Forre primeiro os lados e o fundo da caixa com os acumuladores de gelo
• Arrume as vacinas. Lembre-se que as vacinas DPT/HepB e VAT não devem ficar em contacto directo
com os acumuladores de frio. Coloque-as no meio das outras e embale-as com plástico ou outro material
de embrulho ou caixinha.
• Coloque um termómetro ou monitor no interior da caixa.
• Quando tiver arrumado todas as vacinas e o termómetro/monitor na caixa, coloque acumuladores de
frio por cima.
• Feche bem a caixa de forma a não permitir a entrada do ar e mantenha-a na sombra.
• Mantenha as vacinas no frio até a sua aplicação.
• No local de vacinação, mantenha a caixa isotérmica na sombra e fechada.
• Só tire da caixa a vacina que será imediatamente utilizada.

Para representação esquemática da arrumação da vacina numa caixa isotérmica, veja a figura 10 no capítulo
9.1.7.

Para conservação de vacinas já preparadas para aplicação, durante uma sessão de vacinação, utiliza-se uma
caixa isotérmica pequena “RCW2”.

12.4 ACUMULADORES

Os acumuladores são contentores plásticos que se enchem de água ou gelatina. São colocados na câmara
frigorífica para congelarem antes de serem usados nas caixas isotérmicas para o transporte e conservação de
vacina.

Durante a sessão de vacinação, os frascos de vacina são colocados nos acumuladores para evitar que se abra
frenquentemente as caixas isotérmicas, o que subiria facilmente a temperatura interna.

Assegure-se de que as tampas dos acumuladores estão bem fechadas para que a água não pingue. Os acumuladores
devem ser preenchidos de líquido até cerca de um dedo do topo ou até á marca perto do topo do acumulador,
para permitir a expansão da água.

133
Figura 12.7: Caixa isotérmica média / grande

Figura 12.8: Caixa isotérmica pequena

Figura 12.9: Caixa isotérmica de mesa


Figura 12.10: Acumuladores

134
MONITORES DO SISTEMA DE CADEIA DE FRIO

Existem diferentes instrumentos usados na monitoria do sistema de cadeia de frio. Os mais comuns são os
termómetros, os cartões monitores, o Monitor do frasco de vacina (VVM) e relógio de congelamento.
Adicionalmente, quando se suspeita de congelamento de vacina, também usa-se o teste de agitação.

13.1 REGISTO DE TEMPERATURA

O registo de temperatura é feito diariamente duas vezes ao dia, de manhã e a tarde, usando instrumentos de
medição de temperatura chamados termómetros. A temperatura é registada em fichas especialmente desenhadas
para o efeito (vide a ficha 13.1, no anexo xx). Esta tarefa é muito importante dado que qualquer falha no
funcionamento do refrigerador poderá ser detectada precocemente e tomadas medidas imediatamente, através
do reajustamento do termostato. Isto irá evitar a perda da vacina ou a administração de vacina que tenha sido
exposta a altas temperaturas.
Em caso de não possuir a ficha na Unidade sanitária, poderá recorar a pagina para copiar ficha para garantir
a monitoria da temperatura da geleira.

Tabela 13.1: Descrição de instrumentos de monitoria de temperatura de meios de frio.


Nível Equipamento de Frio Instrumento de Monitoria da Temperatura
Central e Provincial Camaras de frigorificas Beyond Wireless
Congeladores LogTag
FridgeTag
Termómetro ambiental
Termómetros analógicos
VVM

Central e Provincial Camião frigorifico Termómetro analógico


• Durante o Transporte Caixas Isotérmicas Logtag
VVM

Distrital/Unidade sanitárias Refrigeradores FridgeTag


Congeladores Termómetro analógico
Coldtrace
VVM

Distrito e Unidades Sanitária Caixas Isotérmicas LogTag


• Durante o transporte Termómetro analógico
VVM

Existem vários tipos de termómetros. Os mais comuns são:


• Fridge-tag (figura 13.1) - Usado para avaliar a temperatura durante 30 dias. Indica a mais recente
temperatura de conservação de vacinas, historial dos últimos 30 dias do acondicionamento de vacinas.
Ilustra e visualiza os indicadores (alarmes) de temperatura fora do padrão +2ºC a +8ªC. Observa-se
directamente sem necessidade de um programa ou computador. A substituição é indicada quando a
bacteria é fraca.

137
Figura 13.1: Fridge-tag

Log-tag (figura 13.2) - Serve para ilustrar do gravador ou com mais detalhes, baixando os dados registrados
através de cabo USB LogTag para um computador .

Figura 13.2: Log-tag

Indicadores eletrônicos de congelamento (Figura-13.4): são pequenos dispositivos digitais que são colocados
com vacinas sensíveis ao congelamento durante o transporte ou armazenamento (veja a Figura 13.4). Os
dispositivos têm um indicador visual que mostra se a vacina foi exposta ao congelamento temperaturas. Uma
vez que o indicador de alarme é acionado, o dispositivo não é mais utilizável e deve ser descartado. Caso
contrário, dispositivo pode ser usado até que a bateria interna expire.

138
Figura 13.3: Freeze-tag

13.3 MONITOR DO FRASCO DE VACINA (VVM)

Todas as vacinas usadas pelo PAV tem o respectivo monitor de frasco de vacina. Os monitores de frascos de
vacinas líquidas situam-se na parte lateral (cilíndrica) do frasco de vacina, enquanto o monitor das vacinas
liofilizadas (em pó), situa-se na parte superior (topo) do frasco de vacina (Figura 13.7).

Figura 13.4: Localização do VVM nas ampolas e frascos de vacinas

VVM

VVM

VVM

VVM

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

139
Os monitores de frascos de vacinas VVM são os únicos dispositivos usados para rotinamente monitorar a
exposição ao calor das vacinas em toda a cadeia de frio. Um VVM é um rótulo indicador químico estampado
no frasco da vacina, pelo fabricante da mesma. A medida que o frasco da vacina vai percorrendo a cadeia de
frio, o VVM regista sua exposição cumulativa ao calor por meio de uma mudança gradual na sua cor. Se a cor
do quadrado interno do VVM for a mesma ou mais escura que o círculo externo, significa que a vacina foi
exposta a muito calor e deve ser descartada (Figura 13.5).

O principal objectivo do VVM é garantir que as vacinas danificadas pelo calor, não possam ser administradas.
O estágio do VVM também é usado para decidir quais vacinas podem ser seguramente mantidas após a
ocorrência de uma quebra na cadeia de frio, minimizando assim o desperdício desnecessário de vacinas. Além
disso, o estágio do VVM ajuda ao técnico do PAV decidir sobre qual vacina deve ser usada. O lote de vacinas
que mostrar exposição significativa ao calor, deve ser o primeiro a ser distribuído e usado, de seguida o lote
que mostrar menor exposição ao calor, mesmo que o seu prazo de validade seja longo.

O VVM deve sempre ser verificado e registrado manualmente na ficha de controle de chegada das vacinas na
unidade sanitária. O técnico do PAV deve verificar o VVM antes de abrir o frasco da vacina, para ver se a
vacina foi danificada pelo calor. Use o frasco apenas se a data de validade não tiver passado e se o quadrado
interno do VVM estiver com a cor mais clara do que o círculo externo.

Atenção
O VVM não mede a exposição a temperaturas de congelamento. Se a vacina estiver congelada, deve fazer o teste
de agitação

Figura 13.5: Mudança de cor no monitor de frasco de vacina e sua interpretação


Exposição cumutativa ao calor

Ponto de
Cor inicial descarte

A cor inicial do interior do VVM nunca é branco puro, é sempre Além do ponto de
levemente púrpura e começa a ficar mais clara que o círculo externo. descarte. As cores
Deste ponto em diante, o quadrado interno começa a aumentar a quadradas são mais
tonalidade da cor, até que a temperatura e ou a duração do calor escuras do que o
atinjam um nível que degrada a vacina, momento em que o ponto círculo externo
de descarte do VVM fica evidente

NÃO USE ESTA VACINA


USE ESTA VACINA
INFORME O SEUSUPERVISOR

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

140
13.5 TESTE DE AGITAÇÃO (SHAKE TEST)

É um teste simples que pode ser feito em qualquer estágio da cadeia de frio. A velocidade de sedimentação
de um frasco suspeito de ter congelado é comparada com a de um frasco similar de DP/Hepatite B ou VAT
que se sabe tenha sido conservado a temperaturas correctas.

Tabela 13.2: Descrição de instrumentos de monitoria de temperatura de meios de frio.


1. Leve um frasco de vacina feito pelo mesmo fabricante, com mesmo número de lote e tipo, da vacina que você deseja testar
2. Marque claramente o frasco como “CONGELADO”
3. Congele o frasco num congelador ou num compartimento de um frigorífico até que o conteúdo esteja completamente sólido
4. Deixa o frasco congelar. Não aqueça
5. Leve o frasco “TESTE ” do lote que você suspeita ter sido congelado
6. Segure o frasco CONGELADO e o frasco TESTE juntos em uma mão
7. Agite os dois frascos vigorosamente por 10-15 segundos
8. Coloque os dois frascos em uma superfície plana, lado a lado e inicie a observação continua dos dois frascos até terminar o teste
(Atenção: Se os frascos tiverem etiquetas grandes que possam ocultar o conteúdo do frasco, vire os dois frascos de cabeça para baixo
e observe a sedimentação no gargalo do frasco)
Use uma fonte de luz adequada, para comparar a taxa de sedimentação
SE,
9. O sedimento do frasco TESTE for mais lentos que o frasco 10. Sedimento for semelhante nos dois frascos
CONGELADO OU
ENTÃO O sedimento do frasco TESTE for mais rápido que frasco
CONGELADO
ENTÃO
11. Use o lote da vacina 11. VacIna estragada:
Avise o seu supervisor. anule todas as vacinas afectadas em um
recipiente marcado “VACINA DANIFICADA PARA
DESTRUIÇÃO-NÃO UTILIZAR”
12. Discard all affected vaccine once you have received perision
to do so
13. Preencha o formulário de perdas

141
Figura 13.6: Comparação do frasco deliberadamente congelado e o frasco suspeito

Frasco deliberadamente Frasco suspeito

USA ESTA VACINA

Se os sedimentos no
frasco suspeito se
depositarem mais
lentamente, a vacina
suspeita pode ser usada

Sedimento
espesso NÃO USE ESTA
VACINA
Quase claro
Se os sedimentos no
frasco suspeito
assentarem na mesma
proporção, a vacina
suspeita NÃO pode ser
usada

Fonte: The vaccine cold chain (http://apps.who.int/immuzation_standards/vaccine_quality/pqs)

142
GESTÃO DA VACINA

14.1 PROCUREMENT DE VACINA

As estimativas anuais para o procurement da vacina para todo o país são feitas pela unidade central do PAV
numa base anual. Estas estimativas têm em conta:
• Se houve rupturas de stock.
• O aumento da população menor de 1 ano.
• O desperdício de vacina.

O pedido é enviado ao Centro de Medicamentos e Artigos Médicos (CMAM) do MISAU e ao UNICEF, que
facilitam processo de procurement para todo o programa de vacinação.

Antes da vacina chegar ao país, normalmente recebe-se um fax no depósito central do PAV dando a seguinte
informação:
• Tipo de vacina a ser desembarcada.
• Número de frascos ou doses esperadas.
• No de voo.
• Hora de partida do país de origem.
• Hora de chegada ao país receptor (neste caso, Moçambique).
• No do Airway Bill (AWB).
• No de embalagens esperadas e o peso bruto.

Uma vez se tenha recebido esta informação:


• A MEDIMOC inicia os procedimentos para o desalfandegamento da mercadoria.
• O depósito central prepara espaço para armazenar a vacina.
• Disponibiliza-se transporte para colecta imediata da vacina logo que desembarcar no aeroporto.

Quando a vacina chega no depósito central deve-se proceder do seguinte modo:


• Verificar e registar o estado dos monitores de vacina que acompanham as caixas individuais de vacina,
para avaliar a manutenção da cadeia de frio durante o transporte.
• Verificar e registar as condições dos acumuladores que acompanham as caixas individuais de vacina.
• Verificar e registar a quantidade de vacina recebida e as embalagens.
• Uma vez que se confirme que as vacinas foram transportadas adequadamente, elas são organizadas
pela data de expiração e armazenadas a varias temperaturas recomendadas, isto é, entre - 15º C e - 25º
C para a VAP e a Sarampo e Rubéola e a BCG, e entre + 2º C e 8º C, para as vacinas da DPT/Hepatite
B e VAT.

14.1.1 Como calcular as necessidades em vacina


É importante receber as quantidades correctas de vacina durante cada período de abastecimento, por exemplo,
durante cada mês. Se poucas quantidades forem recebidas, pode haver ruptura antes do abastecimento seguinte,
causando atrasos nas actividades de vacinação. Se muita quantidade for solicitada, algumas vacinas podem
expirar antes de serem usadas e serem desperdiçadas. Adicionalmente, existe sempre o risco de falhas na
energia, ou avaria do refrigerador. Nestes casos, se houver muito stock de vacina, uma grande quantidade da
vacina poderá ser destruída enquanto o refrigerador estiver avariado.

Assim, é importante calcular a quantidade exacta de vacina necessária para cada unidade sanitária.

Os passos seguintes ajudam na estimativa das quantidades de vacina necessária:


• A = Estimar o tamanho da população total. Pode-se usar dados do censo se estiverem disponíveis.

145
• B =Calcular o grupo-alvo em %.
• C = Estimar a cobertura esperada.
• D =Calcular o número de doses a serem administradas.
• E = Estimar a quantidade de vacina necessária.
• F=Estimar o desperdício (converter em factor de desperdício).
• G = Calcular a quantidade de vacina incluindo o desperdício.
• H = Estimar o stock de segurança, normalmente 25% de G.
• I =Calcular a quantidade total de vacina incluindo o stock de segurança.
• J =Calcular o número de frascos de vacina, tendo em conta que a vacina sempre
• vem em frascos.

Tendo em conta os passos acima, a seguinte fórmula é usada para o cálculo da quantidade de vacina necessária:

E= BxCxD

A seguir estima-se o desperdício (F) que é convertido em factor de desperdício (FD).

No país foi estabelecido que o desperdício ocorre aos seguintes níveis para as diferentes vacinas:

BCG 50%
VAP 20%
Sarampo 30%
DTP/Hepatite B 20%
VAT 25%

Estas taxas de desperdício correspondem aos seguintes factores de desperdício:

Figura 14.1: Taxas de desperdício e factores correspondentes


Taxa de
desperdício 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60%
de vacina
Factor de
desperdício 1.05 1.11 1.18 1.25 1.33 1.43 1.54 1.67 1.82 2.00 2.22 2.50
equivalente

Qualquer taxa de desperdício pode ser convertida em factor de desperdício aplicando a seguinte fórmula:

Por exemplo, para converter uma taxa de desperdício de 40% em factor de desperdício, fica:

Uma vez calculado o fator de desperdício, calcula-se a quantidade de vacina necessária incluindo o desperdício
(G), usando a seguinte fórmula: G = E + F

Segue-se o cálculo do stock de segurança (H), que corresponde a 25% da vacina calculada na alínea anterior
(G). Assim, teremos: H = G x 25%

146
Finalmente, a quantidade total de vacina (I) necessária para o distrito será dada pela soma da quantidade de
vacina incluindo o desperdício (G) com o stock de segurança (H), isto é, I = G + H.

Exemplo de cálculo de necessidades em vacinas para um distrito com uma população total de 35.000
habitantes.

Exemplo de vacina de dose única - BCG


A= População total (Pt) = 35.000

B= Grupo-alvo = 4% da Pop Total = 35.000 x 4% = 1.400 crianças

C= Cobertura esperada = 95%

D= Número de doses a administrar por criança = 1 dose

E = Número de doses de vacina = B x C x D

Ou seja, 1.400 x 95% x 1 = 1.330


F= Estimar o desperdício para a BCG, geralmente 50% (FD = 2)
G= Calcular a quantidade de vacina incluindo o desperdício = E x F

Ou seja, 1.330 x 2 = 2.660


H =Estimar o Stock de Segurança, geralmente 25% de G

Ou seja, 2.660 x 0,25 = 665


I = Calcular a quantidade total de vacina = G + H

Ou seja, 2660 + 665 = 3.325 doses de BCG necessárias para todo o ano no distrito.

Como a BCG vem em frascos de 20 doses cada, divide-se a quantidade total de vacina calculada (I) em doses
por 20, para saber quantos frascos de vacina (J) são necessários.

Assim teremos: J = I / 20

Frascos de BCG = 3.325/20 = 166,25 frascos, arredondados para 167 frascos de BCG.

Exemplo de vacina de dose Múltipla - DPT/Hepatite B


A = População total (Pt) = 35.000

B = Grupo-alvo = 4% da Pop Total = 35.000 x 4% = 1.400 crianças

C = Cobertura esperada = 90%

D = Número de doses a administrar por criança = 3 dose

E =Número de doses de vacina = B x C x D

Ou seja, 1.400 x 90% x 3 = 3.780


F = Estimar o desperdício para a DPT/Hepatite B, geralmente 20% (FD = 1,25)

G = Calcular a quantidade de vacina incluindo o desperdício = E x F

147
Ou seja, 3.780 x 1,25 = 4.725
H = Estimar o Stock de Segurança, geralmente 25% de G

Ou seja, 4.725 x 0,25 = 1.181


I = Calcular a quantidade total de vacina = G + H

Ou seja, 4.725 + 1.181 = 5.906 doses de DPT/Hepatite B necessárias para todo o ano no distrito.

Como a DPT/Hepatite B vem em frascos de 10 doses cada, divide-se a quantidade total de vacina calculada
(I) em doses por 10, para saber quantos frascos de vacina (J) são necessários.

Assim teremos: J = I / 10

Ou seja, Frascos de DPT/Hepatite B = 5.906/10 = 509,6 frascos, arredondados para 510 frascos de DPT/Hepatite B.

13.1.2 Estimativa das necessidades em seringas AD


Continuando os passos iniciados acima, os cálculos devem continuar para estimar a quantidade de seringas
autodestrutíveis - AD (K) para a aplicação da vacina. A fórmula para tal é a seguinte:

K (Total seringas AD) = (E (número de doses de vacina) + H (stock de segurança) ) x 1,11 onde:

E = Número de doses de vacina calculada acima


H = Stock de segurança da vacina em causa.

1,11 é o factor de desperdício corresponde à taxa de desperdício de 10%, geralmente considerado o valor
máximo aceitável para o desperdício de seringas.

Continuando o exemplo acima para a BCG, teremos:

E = 1.330
H = 665
Taxa de desperdício para seringas, 10% ~ FD = 1,11

Ou seja, K (Total Seringas AD) = (1.330 + 665) x 1,11 = 1995 x 1,11 = 2.215 Seringas AD para a BCG

Continuando o exemplo acima para a DPT/Hepatite B, teremos:

E = 3.780
H= 1.181
Taxa de desperdício para seringas, 10% ~ FD = 1,11

Ou seja, K (Total Seringas AD) = (3.780 + 1.181) x 1,11 = 4.961 x 1,11 = 5.507 Seringas AD para a DPT/Hepatite B.

Nota: para obter o número total de seringas autodestrutíveis (AD) para injecção, é necessário somar a quantidade de
seringas AD necessárias para cada vacina. Considerando que na aplicação das vacinas DPT/Hepatite B, VAS e VAT,
usa-se o mesmo tipo de seringas de 0,5 ml, o total de seringas AD de 0,5 ml será:

Total AD (0,5 ml) = Seringas AD (DPT/Hepatite B) + Seringas AD (VAS) + Seringas AD (VAT)

No caso da BCG, porque usa seringas AD de graduação diferente de qualquer outra vacina, a quantidade total
necessária deve ser considerada separadamente. Assim, para a BCG teremos:

148
Total seringas AD (0,05 ml) = Seringas AD (calculadas para a BCG).

13.1.3 Estimativa das necessidades em seringas de diluição


Para calcular o número total de seringas de diluição necessárias divide-se o número total de doses de vacina
calculado pelo número de doses por frasco, neste caso 20 se se tratar de BCG e 10 se for VAS, ou seja, o
número total de frascos é igual ao número de seringas de reconstituição. Deve-se acrescer 10% de desperdício,
que convertido em factor de desperdício (FD) é igual a 1,11.

Assim, a fórmula será:

Continuando o exemplo acima para a BCG, teremos:

L = Total de seringas de diluição

H =Total de doses de vacina da BCG incluindo o stock segurança= 3.325

1,11 é o FD ~ à taxa de desperdício de 10%

3.325
Logo, L (Total des seringas de diluição) = ------------------ x 1,11 = 166 x 1,11
20

= 185 seringas de diluição só para a BCG são necessárias para todo o ano no distrito.

A vacina DPT/Hepatite B não necessita de seringas de diluição, por isso não são aqui calculadas.

Nota: para obter o número total de seringas de diluição (SD) para todas as vacinas injectáveis liofilizadas
(BCG e VAS), é necessário somar a quantidade de seringas de diluição (SD) necessárias para cada vacina, isto
é, Total SD = SD (BCG) + SD (VAS).

Todas estas necessidades podem ser resumidas numa tabela de acordo com cada tipo de seringas, como no
exemplo a seguir:
Tabela 14.1 Tipos de vacina e respectivas seringas
Tipo de vacinas Tipo de seringas Total
BCG 0,05 ml
DPT Hepatite B, VAS e VAT 0,5 ml
Para diluição 5 ml

14.1.4 Estimativa das necessidades em Caixas Incineradoras


Finalmente o cálculo das necessidades termina com a estimativa do número de caixas incineradoras (M)
necessárias para a deposição de todas as seringas, tanto as
Auto-Destructíveis (K) assim como as de Diluição (L). Estima-se que cada caixa incineradora deve comportar
100 seringas. Assim, a fórmula para o cálculo do número de caixas incineradoras (M) será:

K+L
M (Número de caixas incineradoras) = ------------------------- x 1,11
100

149
onde,

K =Número total de seringas AD

L = Número total de seringas de diluição


1,11 é o FD ~ à taxa de desperdício de 10%,

Continuando o exemplo acima para a BCB, teremos:

K =Número total de seringas AD = 2.215

L = Número total de seringas de diluição SD = 185

1,11 ~ Factor de Desperdício (FD) para as caixas incineradoras;


2.215 + 185
M (Número de caixas incineradoras) = ---------------------------------- x 1,11
100

= 24 x 1,11 = 27 caixas incineradoras para a BCG.

Continuando o exemplo acima para a DPT/Hepatite B, teremos:

K =Número total de seringas AD = 6.883

L = Número total de seringas de diluição SD = 0

1,11 é o FD ~ à taxa de desperdício de 10%,

5.507
M (Número de caixas incineradoras) = ---------------------------------- x 1,11
100

= 55,07 x 1,11 = 61,127 ~ 62 caixas incineradoras para a DPT/Hepatite B.

Nota: para obter o número total de caixas incineradoras (Cx Inc) para todas as vacinas injectáveis (BCG,
DPT/Hepatite B, VAT e VAS), é necessário somar a quantidade de caixas incineradoras necessárias para cada
vacina, isto é, Total Cx Inc = Cx Inc (BCG) + Cx Inc (DPT/Hepatite B) + Cx Inc (VAT) + Cx Inc (VAS).

Os cálculos acima apresentados sobre a estimativa das necessidades podem ser resumidos na tabela seguinte:

150
Tabela 14.2 Cálculo das necessidades em vacina da BCG e respectivos materiais de injecção segura

151
Tabela 14.3 Cálculo das necessidades em vacina da DPT/Hepatite B e respectivos Materiais de injecção segura

Nota:

No cálculo das necessidades há que ter sempre em conta o número de doses necessárias para cada tipo de
vacina

u A vacina BCG é uma dose única


u A vacinação antitetânica compreende, em média, 2 doses por ano
u A vacina DPT Hepatite B é dada em 3 doses
u A vacina anti-sarampo é dada numa dose única
u Avacina Antipólio e dada em 4 doses

152
14.2 REQUISIÇÃO DE VACINA

Para proceder à requisição de vacina é necessário definir os seguintes parâmetros:


• Definir o período de abastecimento
• Calcular as necessidades para o período
• Estabelecer o nível dos stocks críticos
• Calcular a quantidade a ser requisitada

O período de abastecimento é trimestral para os níveis central e provincial, e mensal para os níveis distrital e
de unidade sanitária.

Para os níveis central e provincial, as necessidades de vacina para o período serão calculadas dividindo a
quantidade anual por 4 (o ano tem 4 trimestres). Para os níveis distrital e de unidade sanitária as necessidades
da vacina para o período serão calculadas dividindo a quantidade anual por 12 (o ano tem 12 meses).

Continuando com o exemplo acima para a BCG,

Quantidade Total de Vacina

• Para Depósito Central/Provincial

Quantidade total calculada da vacina BCG: 3.325 ~ 3.340 (os frascos são de 20 doses cada)

• Para Depósito Distrital/Unidade Sanitária

Quantidade total calculada da vacina BCG: 3.325 ~ 3.340 (os frascos são de 20 doses cada)

Período de Abastecimento

• Para Depósito Central/Provincial

Período de abastecimento trimestral, logo: 3.340/4 = 835 ~ 840 doses por trimestre.

• Para Depósito Distrital/Unidade Sanitária

Período de abastecimento mensal, logo: 3.340/12 = 278,3 ~ 280 doses por mês.

Stocks Críticos (Máximo e Mínimo)

Os níveis de stock críticos compreendem o stock máximo, o stock mínimo e o ponto de requisição.

O stock máximo é a quantidade trimestral ou mensal calculada como ilustrado na alínea anterior, conforme
se trate de depósito central/provincial ou distrital/unidade sanitária, respectivamente.

Assim, continuando com o exemplo acima para a BCG, para o nível distrital/US o stock máximo mensal
é:

3.340/12 = 278,3 ~ 280 doses

O stock mínimo corresponde ao stock de segurança, geralmente considerado 25% das necessidades reais. É
importante recordar que no cálculo da quantidade total anual da vacina já estão incluídos os 25% do stock de

153
segurança (ver alínea H da tabela de cálculo das necessidades em vacina e materiais de injacção). Assim, 25%
de 280 doses correspondem ao stock de segurança, isto é,

280 x 25% = 70 doses.

Isto significa que a quantidade real de vacina necessária é igual a 280 - 70 = 210 doses.

Ponto de Requisição

Para calcular o ponto de requisição usa-se a quantidade real necessária. Continuando com o exemplo da
BCG, teríamos:

280 - 70 = 210 doses de BCG é a quantidade real de vacina necessária por mês

Neste caso é necessário ter-se uma idéia de quanto tempo é necessário para o carro ir até ao depósito provincial
ou distrital e voltar. Para fins práticos adota-se o tempo de uma semana, considerando que o mês tem 4
semanas. Isto significa que quando sobrar quantidade de vacina para uma semana, deve-se fazer uma nova
requisição. Este é o ponto de requisição.

Continuando o exemplo anterior da BCG, teríamos:

210/4 = 52,5 ~ 53 doses de BCG correspondem ao ponto de requisição; como os frascos de BCG são de
20 doses, pode-se arredondar para 60 doses.

Isto significa que quando sobrarem 60 doses de BCG (ponto de requisição) + as 70 doses do stock de
segurança, o responsável do PAV no distrito ou na unidade sanitária, deve fazer uma nova requisição da vacina
BCG. Enquanto o carro vai trazer a nova vacina, ele/ela vai usando ao longo da semana as 130 (60+70) doses
que sobram. Assim, teoricamente, até á altura em que o carro chegar com a nova vacina, o responsável do PAV
terá no seu depósito cerca de 70 doses de BCG, correspondente ao stock de segurança. É importante notar que,
em condições normais, o stock de segurança é igual em todos os meses, isto é, é sempre de 70 doses, neste
exemplo.

A quantidade de vacina a requisitar é dada pela seguinte fórmula:

Qunat. Requisitar (Qreq) = Stock Máximo (S Max) - Stock Disponível (S Disp) + Ponto de Requisição (Preq)

Continuando exemplo da vacina da BCG acima, teríamos:

S Max = 280 doses


S Disp = 90 doses
Preq = 60 doses

Qreq = S Max - S Disp + Preq


Qreq = 280 - 90 + 60 = 250

Nota: o stock disponível é a quantidade de vacina existente em stock na altura em que se emite a requisição.
Pode ser encontrado através da contagem física ou calculado subtraindo do stock máximo o total da vacina
gasta , ou seja:

Stock Disponível (S Disp) = Stock Máximo (S Max) - Total Vacina Gasta (Aviada + Perdas).

154
Outro exemplo ainda com a BCG para o nível do distrito/US:

S Max = 280 doses


S Disp = 170 doses
Preq = 60 doses

Qreq = S Max - S Disp + Preq


Qreq = 280 - 170 + 60 = 170

Os mesmos passos são usados para calcular as necessidades a requisitar para outras vacinas e materiais de
vacinação.

Nota:

É muito importante observar as seguintes condições:


• Uma nova requisição deve ser feita antes ou o mais tardar quando o stock alcança o ponto de requisição
• De cada vez que se emite uma requisição, deve-se requisitar todos os antígenos com o respectivo
diluente.
• Se houver actividades suplementares, como por exemplo, campanhas, deve-se emitir uma requisição
separada, para não interferir com os cálculos para a rotina.

14.3 CONTROLE DE STOCK DE VACINA E MATERIAIS

Para controlar a quantidade de vacina recebida no depósito distrital e distribuída às unidades sanitárias e manter
o controle da vacina à medida que é entregue ao pessoal do PAV, é necessário manter os registos. Esses registos
mostrar-lhe-ão imediatamente:
• Que quantidade de cada vacina se encontra no refrigerador.
• A data de expiração de cada vacina.
• Que vacinas foram aviadas aos centros de saúde e dispensários.
• Que vacinas foram devolvidas pelos centros de saúde e dispensários.
• Quanta vacina foi aviada para o depósito distrital ou unidade sanitária e as datas.

155
Figura 14.4: Ficha de requisição de vacina para os níveis provinciais, distritais e de unidade sanitária

Estes dados devem ser guardados numa ficha de registo de stock de vacina, usando uma ficha separada para
cada tipo de vacina. Para tal, pode-se usar, por exemplo, um livro de registo de stock de vacinas e materiais
recebidos ao longo do ano. Proceda da seguinte maneira:
• Divida o livro em secções separadas de várias páginas para cada tipo de vacina ou outro material ou
equipamento usado.
• Prepare tabelas para cada vacina e identifique as colunas com na tabela 12. As páginas frontais do livro
são usadas para registar os detalhes de cada vacina ou seringas AD ou diluente ou outro material/equipa-
mento.
• Para cada vacina recebida ou aviada, deve-se registar todos os detalhes incluindo o número de lote, a
data de expiração, o estado do monitor do frasco de vacina (VVM), a quantidade, etc.
• Depois de cada recepção ou aviamento, deve-se calcular e registar o stock em balanço. O balanço
registado deve ser verificado periodicamente a intervalos regulares, através de contagem física, por
exemplo, uma vez por mês no nível distrital e de unidade sanitária, e trimestralmente nos depósitos
provincial e central.

156
Figura 14.5. Ficha de controle de stock de vacinas e materiais de vacinação

14.4 TESTE DE POTÊNCIA DA VACINA

As vacinas não são rotineiramente enviadas para o teste a menos que uma grande quantidade tenha sido exposta
a uma falha da cadeia de frio. Não é econômico testar pequenas quantidades.

A potência e segurança das vacinas são testadas pelo fabricante antes de serem liberadas para o mercado. É
mandatório que os protocolos de produção sejam devidamente assinados pela Autoridade Nacional de Controle
Laboratorial e sejam submetidos com cada lote recebido pelo depósito central. Esses protocolos devem conter
todos os detalhes dos testes realizados e devem incluir os testes de esterilidade, testes de inocuidade, considerações
finais, testes de identidade e datas de expiração de cada lote.

Devido aos custos e complexidade envolvidos no teste das vacinas, a OMS forneceu um guião sobre a quantidade
de vacina sob suspeita que justifique um teste (tabela 1a.4).

157
Tabela 14.4. Informação para testar a potência da vacina
Nr. de doses Nr de doses Tempo em que se Condições de
Vacina envolvidas necessárias para o espera a resposta transporte
justificando teste (permitindo testes
um teste repetidos)

VAP (oral) 2.000 50 1 mês

Sarampo (Liofilizada- 2.000


congelada)

BCG (Liofilizada- 20.000 2º C a 8º C


congelada)
100 3 mêses
DPT/Hepatite B 200.000

Tetanus Toxóide (VAT) 50.000

Nota: não é normal levar vacina de uma unidade sanitária para ser testada. A quantidade é muito pequena para
justificar o custo de transporte e do teste.

Algumas vezes é necessário testar a potência das vacinas em uso num programa de vacinação, particularmente
quando se suspeita de sua potência.

As amostras a serem testadas devem ser colhidas nos pontos onde é mais provável a cadeia de frio estar
enfraquecida. Essas amostras devem ser claramente identificadas com a data, o local e o nome da pessoa que
as colheu. As amostras são depois embrulhadas, colocadas numa caixa isotérmica com acumuladores e enviadas
ao laboratório onde serão testadas. Os resultados obtidos irão ditar as acções subsequentes.

158
MANUTENÇÃO DOS REFRIGERADORES

15.1 REFRIGERADOR (GELEIRA) ELÉCTRICO

15.1.1 Funcionamento do refrigerador eléctrico


• Para o bom fiuncionamento do refrigerador elétrico deve-se observar periodicamente o seguinte:
• Se está bem ligado à fonte de corrente eléctrica.
• Se a tomada é exclusiva. Evite o uso de fichas múltiplas.
• Se o fio não tem emendas, o que é de evitar.
• Utilize sempre um estabilizador de voltagem.
• O refrigerador deve ser ligado num estabilizador da corrente eléctrica para se evitar os danos que podem
advir da oscilação da corrente eléctrica.

O refrigerador deve ser ligado num estabilizador da corrente eléctrica para se evitar os danos que podem advir
da oscilação da corrente eléctrica.

O refrigerador possui um botão com números ou palavras (máximo e mínimo) para regular o seu funcionamento
de acordo com a temperatura que se deseja. Para tal, gire lentamente o botão, mas sem se esquecer que nem
sempre o número mais alto corresponde à temperatura mais fria. Em caso de dúvidas, veja o manual de instruções
para uso de refrigeradores. É necessário aguardar, pelo menos uma hora, antes de verificar a nova temperatura.

Se o refrigerador deixar de funcionar:


• Verifique o fornecimento de energia.
• Verifique se o refrigerador está ligado à tomada.
• Verifique se o botão principal está ligado e, se o botão de controlo também está na posição passagem
de corrente.
• Controle os fusíveis.
• Chame o técnico de frio se o refrigerador não funcionar após estes cuidados.

Se o refrigerador não produzir frio suficiente:


• Faça as verificações indicadas anteriormente.
• Verifique se o botão de controlo está na posição “máximo”. Se não estiver, aumente um pouco e espere
uma hora para ler novamente a temperatura.
• Veja se o termostato está a funcionar.
• Verifique se as portas estão devidamente fechadas.
• Controle a acumulação de gelo no compartimento de congelamento.
• Verifique se a circulação do ar é boa dentro e fora do refrigerador.
• Ver se o condensador e a unidade de esfriamento não estão sujos ou obstruídos por poeira.

Atenção
Em caso de falta de energia eléctrica, evite que a temperatura dentro do refrigerador suba até a um nível perigoso
(acima de 8ºC.). Não permita que a porta seja aberta.

É de extrema importância providenciar de imediato, a transferência das vacinas para uma camara lenta, se
existir, ou para uma unidade sanitária mais próxima, onde haja uma geleira a funcionar devidamente.
Alternativamente, transfira as vacinas simplesmente, para uma caixa isotérmina com um número considerável
de acumuladores de gelo, obedecendo sempre à regra de arrumação de vacinas na caixa isotérmica.

161
15.1.2 Manutenção do refrigerador eléctrico:

15.1.2.1 Manutenção Diária


• Anote a temperatura da geleira (manhã e tarde) e preencha o registo.
• Mantenha sempre a temperatura das vacinas entre os 2 a 8ºC.

15.1.2.2 Manutenção semanal


• Controle a acumulação do gelo no compartimento de congelação.
• Se o gelo atingir 5mm ou mais de espessura, descongele-o.
• Depois do descongelamento limpe e seque dentro e fora do refrigerador.

15.1.2.3 Manutenção mensal


• Faça o inventário do stock das vacinas e verifique se a informação sobre a disponibilidade das vacinas
é a mesma que consta nos registos.
• Limpe o condensador e a unidade de refrigeração, remova a sujidade e a poeira, com uma escova leve.
• Faça limpeza da borracha da porta e pulverize-a com o pó de talco cirúrgico.
• Controle a ferrugem e a danificação da chaparia ou parte externa da geleira e, se possível, mande pintar.

15.1.3 Causas mais frequentes do mau funcionamento dos refrigeradores eléctricos.


Para melhor compreensão das causas mais frequentes de mau funcionamento dos refrigeradores e sua solução,
siga a seta correspondente à insuficiência dectetada e procure na respectiva coluna, a (s) causa (s) e as medidas
a tomar.

162
Figura 15.1: Causas frequentes de mau funcionamento dos refrigeradores eléctricos

163
Causas mais frequentes do mau funcionamento dos refrigeradores eléctricos (Continuação)

164
15.2 REFRIGERADOR (GELEIRA) SOLAR

Este tipo de refrigerador funciona através da energia solar. O refrigerador solar é a melhor solução para as
áreas onde não há perspectivas de abastecimento de energia eléctrica, a curto prazo, mais distantes e de difícil
acesso aos centros de abastecimento de petróleo.

Os apontamentos que se seguem limitam-se a descrever, de uma forma simples, a constituição do sistema solar
bem como os cuidados de manutenção essencial, não dispensando a leitura e consulta do manual próprio de
cada marca e fabricante, onde todas as questões são apresentadas de uma maneira pormenorizada.

15.2.1 Constituição do sistema refrigerador solar de vacinas


As partes básicas que compõem o sistema de fornecimento de energia solar são:

Colector solar e baterias.

O colector captura a energia do sol, através dos painéis, passa-a em forma de electricidade para o regulador,
no refrigerador. O regulador controla o fornecimento de energia para a bateria assim como o fluxo da energia
do colector ou bateria, para as partes móveis do refrigerador.

O colector solar pode ser montado no telhado (tecto) ou no solo onde não haja nenhum obstáculo que faça
sombra durante o dia, no inverno ou verão (árvores, prédio, etc.)

As duas luzes na parte da frente do refrigerador, funcionam quando a bateria tiver pequena quantidade de
energia.

• A Luz Amarela, quando acende, é o sinal de que não deve-se congelar os acumuladores de gelo.
• A Luz vermelha, quando acende, é o sinal de que a bateria não têm energia para manter em funciona-
mento o refrigerador.

15.2.1.1 Peças móveis do refrigerador


A energia do colector solar é fornecida, em primeiro lugar, para o cartão do regulador. Este certifica que a
energia para as baterias é correctamente controlada.

A Unidade de “controlo danfoss” retira a energia disponível da bateria e do colector solar e usa-a para operar
o motor no compressor.

O Sensor de temperatura verifica se o compartimento das vacinas têm a temperatura correcta. Se aquecer
demais, o sensor actuará sobre o regulador permitindo que o compressor funcione para arrefecer o refrigerador.

Quando o refrigerador estiver suficientemente frio, o regulador desliga o compressor, cortando o fornecimento
de energia no referido refrigerador.

Normalmente, o compressor funciona durante 20 minutos e depois desliga-se durante um período de tempo.
O tempo de inactividade depende muito da temperatura do local onde o refrigerador se encontra instalado e
da rapidez de aquecimento do conteúdo do refrigerador.

Quando o refrigerador estiver a congelar os acumuladores de frio, o período de ligação do compressor prolongar-
se-á durante muitas horas até os mesmos acumuladores ficarem congelados. Aí começa, de novo, o ciclo do
compressor (de arranque-paragem).

O Interruptor de descongelamento permite parar o fluxo de energia para o compressor. Terá de o utilizar
quando precisar de descongelar a bandeja para retirar o gelo que aí se tenha acumulado.

165
Figura 15.2: Peças móveis do refrigerador solar

Importante: Mesmo com o interruptor de descongelação desligado (OFF), os circuítos ainda continuam com
potência. Não toque em qualquer peça eléctrica.

Atenção
A instalação do refrigerador e das baterias não pode ser feita num lugar onde a luz do sol incide directamente em
qualquer altura do dia. O espaço livre entre o refrigerador e as paredes, prateleiras ou tecto deve ser de, pelo menos,
30 cm em cada sentido.

15.2.1.2 Interruptores
Existem normalmente dois tipos de interruptores, um da bateria que actua para a desligar o refrigerador quando
a corrente eléctrica fornecida for demasiadamente forte e outro de descongelamento, que desliga o fornecimento
de energia para o compressor (o refrigerador aquece lentamente e põe o gelo a derreter).
Para verificação da temperatura no compartimento das vacinas é necessário:
• Registe a temperatura duas vezes por dia.
• Este registo deve ser feito com a âmpola do termómetro perto do termostato do refrigerador e a tampa
fechada durante, pelo menos, uma hora antes do registo.
• Coloque as vacinas no refrigerador respeitando as condições.
• Verifique sempre a temperatura do refrigerador (deve estar entre + 2ºC a + 8ºC).
• Coloque as vacinas somente no compartimento reservado para tal.
• Deixe espaço livre entre as vacinas (as que estiverem nas paredes do refrigerador), para circulação de ar.
• Não encha demais o compartimento de vacinas.
• Coloque as vacinas no refrigerador de acordo com a data de validade mais longa por baixo das vacinas
com a data de validação mais próxima (primeiras a serem usadas).
• Nunca guarde alimentos ou bebidas no refrigerador. Colocar apenas pacotes de gelo (condição a
respeitar).
• Coloque os acumuladores de frio na respectiva bandeja.
• Coloque os novos acumuladores de frio sempre nas manhãs.
• Se o refrigerador tiver a luz de aviso acesa, não congele os acumuladores de frio.

166
15.2.2 Cuidados com o sistema

15.2.2.1 Tarefas diárias Verificar e registar a temperatura do refrigerador, todas as manhãs e todas as
tardes.
• Verificar a ventilação, a grelha de ventilação pode estar bloqueada.
• Verificar as luzes de aviso.

15.2.2.2 Tarefas semanais


• Verificar a formação de gelo na bandeja. Se o gelo atingir 5mm ou mais de espessura, descongelar o
refrigerador. Ver se a tampa veda convenientemente.
• Retirar o fundo do compartimento de vacinas para impedir a formação de gelo pela existência da água
(usar um pano seco e macio ou uma esponja).
• Limpar o colector, lave com água limpa e um pano macio, com muito cuidado, começando do ponto
mais alto para baixo; realizar esta operação de manhã ou ao fim da tarde.
• Verificar se há qualquer sombra sobre o colector.

15.2.2.3 Tarefas mensais


• Limpar o compartimento do compressor, retire a tampa e observe se o condensador e o compressor
estão limpos.
• Limpar qualquer sujidade ou poeira com uma escova macia.
• Limpear o exterior do refrigerador com um pano húmido.

Atenção
Não use escovas metálicas ou com partes metálicas junto dos circuítos eléctricos, bem como joalharia pessoal ( anéis,
relógio, pulseira de metal, etc.).

15.2.2.4 Tarefas semestrais


• Retirar a tampa da bateria e verificar o seu estado.
• Verificar as ligações da bateria (podem estar soltas, corroídas ou sem lubrificação).
• Verificar o nível do electrolítico (água) e aumentar até ao nível desejável, se for necessário.
• Observar se há porcas e parafusos desapertados no colector.
• Ver o vedante da tampa do refrigerador: abrir o refrigerador, colocar uma tira de papel fino na parte
frontal do armário, fechar a tampa e apertar a lingueta. Puxar a tira do papel. Se a mesma sair facilmente,
o vedante da tampa (porta) precisa de ser ajustado.

Atenção
As baterias contêm ácido que pode causar lesões em contacto com a pele ou com os olhos. Portanto, é necessário
confirmar se as baterias estão colocadas num local seguro e inacessível a crianças. Nunca aproximar das baterias
qualquer objecto ou material que provoque chama (fogo), porque os gases podem incendiar e provocar uma explosão.

167
168
PLANIFICAÇÃO

16.1 PLANIFICAÇÃO NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA RED/REC

Entende-se por planificação um conjunto de acções orientadas para alcançar objectivos bem definidos. Pode-
se ainda chamar planificação à operação de coordenar na totalidade todas as de acções preventivas ligadas à
vacinação na comunidade, para alcançar o objectivo geral do PAV,que consiste em de reduzir a morbi-
mortalidade por doenças preveníveis pala por vacinação através do alcance das coberturas vacinais acima de
de 90% a nível nacional.

O processo de planificaçãoo engloba cinco áreas importantes para futuros o programa de vacinação em
Moçambique, nomeadamente: (1) reduzir desigualdades na cobertura da vacinação, (2) integrar os serviços
de saúde, (3) fornecer vacinas depois da infância, usando uma abordagem de ciclo de vida, (4) responder a
insegurança e conflito, (5) aumentar a vacinação urbana.

16.1.1 Objectivos da planificação


• Determinar os recursos e estratégias necessários para alcançar as metas estabelecidas;
• Garantir o uso efieciente dos recursos disponiveis;
• Garantir a monitoria dos processos e resultados dos objectivos tracados do Programa Alargado de
Vacinação.

Os objectivos acima referidos serão acançados através da implementação da estratégia Alcançando Cada
Distrito/Comunidade (RED/REC), com foco na US/ comunidade. Esta estratégia é composta por cinco
componentes operacionais, nomeadamente:
• Planificação e Gestão de Recursos;
• Atingir os grupos alvos de dificil acesso;
• Comunicação e ligacao com a comunidade;
• Supervisão e apoio técnico; e
• Monitoria e uso de dados para acção.

16.2 PLANIFICAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS

A planificação e gestão de recursos é geralmente fraca ao nível do distrito. Os planos distritais devem possuir
o diagnóstico da situação financeira actual e, a cada nível, detalhes dos recursos humanos e financeiros
necessários para alcançar todas as crianças elegíveis, de uma maneira sustentada. Este processo carece de uma
microplanificação cujos passos são os seguintes:

Figura 16.1: Passos para o processo de microplanificação


Acções
1. Preparativos
2. Análise situacional
3. Definir objectivos e metas anuais
Planificação e
Gestão de Recursos 4. Identificar problemas e planificar actividades
5. Estimar as necessidades de recursos
6. Seleccionar indicadores para monitoria
7. Usar o microplano como uma ferramenta de gestão
8. Monitorizar o progresso

171
16.2.1 Preparativos
• Orientação da equipa da US para orientação sobre a importância, benefícios dos processos de micro-
planificação.
• Realização de reunião de micro-planificação inclusiva, incluindo membros da comunidade e actores
de outros sectores, com facilitadores da Equipa Distrital de Gestão de Saúde (DHMT).
• Visita de populações de alto risco para compreender melhor as barreiras subjacentes ao acesso e uso
dos serviços.

16.2.2 Análise situacional


• Desenho do Mapa operacional - o processo de levantamento de comunidades da area de aude
• Coordenação pelo nível distrital para garantir que nenhuma área ou populações fiquem excluídas.
• Análise do desempenho e identificação de barreiras para população de alto risco;
• A análise dos dados da vacinação local:
• Taxas de cobertura das vacinas (todos antígenos e flutuações sazonais) e taxas de desistência (Penta
1-Penta 3 e para a análise ulterior incluir Penta3-MR1, MR1-MR2).
• Números da população alvo não vacinada por unidade sanitária/comunidade.
• Estratégias para prestação de serviços e resultados: frequência dos serviços fixos, de proximidade e
outros serviços de vacinação e resultados comparados as metas.

16.2.3 Definição de objectivos e metas anuais


• Definição de metas anuais com crescimento incremental, determinadas para cada distrito e áreas de
saúde, com base nas realizações do ano anterior, com vista a alcançar a meta nacional conforme descrito
no plano nacional plurianual completo.

16.2.4 Identificação de problemas/Barreiras e elaboração do plano


• Identificação de áreas problemáticas usando os números da população alvo vacinada e desistências
para mostrar zonas com baixa cobertura.
• Reunião com os líderes comunitários para discutir barreiras para a vacinação nas suas zonas.

16.2.5 Estimativa das necessidades

16.2.6 Seleção de indicadores para a monitoria


• Rever o progresso usando relatórios mensais consolidados da US, avaliações trimestrais e visitas de
supervisão de apoio.
• Incluir contribuições do grupo de monitoria, tais como avaliações da qualidade de dados, etc.

16.2.7 Uso do microplano como ferramenta de gestão


• Rever o progresso, agir e resolver os problemas identificados durante o processo de implementação.

16.2.8 Monitoria do progresso


• Monitorar mensalmente os indicadores de processo e todas as taxas de cobertura de antígenos e
desistências.
• Envolver todos os trabalhadores de saúde envolvidos no programa de vacinação e os representantes
da comunidade na monitoria.
• Rever o progresso através dos relatórios mensais, gráficos de monitoria, avaliações trimestrais e relatórios
das visitas de supervisão de apoio nas reuniões mensais da DHMT.
• Monitorar o progresso dentro das comunidades de alto risco.

172
16.3 ATINGIR AS POPULAÇÕES ALVO DE DIFÍCIL ACESSO

Alcançar as “populações alvo” foca-se na melhoria da igualdade no acesso e utilização dos serviços de vacinação
e outros serviços de saúde de forma custo efectiva através de uma combinação de estratégias de prestação de
serviços que respondem as necessidades da comunidade:
• Populações de difícil acesso:Que se encontram em regiões recondidas e de difícil acesso
• Grupos religiosos que não aceitam a vacinação
• Refugiados e deslocados

Passos para o alcance dos grupos de difícil acesso:


- Rever o microplano e frequência das sessões de vacinação nos últimos 3-6 meses, em particular nas áreas
previamente desfavorecidas, para sustentar e elevar a cobertura através de uma lente da igualdade.
- Identificar grupos que requerem atenção especial e assegurar os recursos necessários para abrange-las,
ex. coordenar com o sector da agricultura, Instituto Nacional para Gestão de Calamidades (INGC) alcançar
refugiados e comunidades deslocadas, autoridades políticas ou ONGs, OCBs, ORs para alcançar zonas
inseguras, ACNUR etc.
- Monitorizar a eficiência das sessões de vacinação (isto é, garantir que todas as metas estão a ser alcançadas
e, caso não, trabalhar com as comunidades para reorientar as estratégias).
- Reunir regularmente com os líderes das comunidades que se opõem a vacinação para discutir questões e
encontrar soluções apropriadas.
- Usar coeficientes distritais específicos para a população alvo: Evite aplicar coeficientes nacionais para
estimar a população alvo. Use novos coeficientes distritais específicos correspondentes ao seu distrito
recentemente desenvolvidos e aprovados pelo MISAU.

16.4. COMUNICAÇÃO E LIGAÇÃO COM A COMUNIDADE

A participação efectiva da comunidade requer parcerias com as comunidades através de acções de apoio e
coordenadas pelo SDSMAS, trabalhadores de saúde e membros da comunidade atravez do trabalho conjunto
para o alcance dos objectivos comuns.
o envolvimento das comunidades no processo de planificacao permite um desenvolvimento de confianca mutua
e sentido de apropriacao dos servIcos de saude.

Os serviços de vacinação necessitam de estar melhor integrados na estrutura comunitária, o que pode ser
conseguido através de consultas permanentes entre a comunidade e os gestores dos serviços de saúde. A
comunicação para a vacinação deve ser considerada uma componente chave do plano distrital, visando motivar
as comunidades a fazer uma utilização efectiva dos serviços de vacinação e outros serviços de saúde disponíveis.

“Engajar as comunidades” - significa que o sistema de saúde deve partilhar com estas comunidades a
responsabilidade por garantir a prestação de serviços de vacinação e outros serviços para sobrevivência materna
e infantil de qualidade, equitativos, acessíveis e aceitáveis, enquanto também apoiam e garantem abordagens
com base nos direitos para empoderar as comunidades.

Fortalecer o envolvimento da comunidade através de comunicação para mudança de comportamento, além de


envolver as comunidades na mobilização de recursos local, responsabilização, igualdade e prestação de serviços
integrados, é crucial para alcançar as populações alvo e reduzir desigualdades. Os indicadores de monitoria foram
refinados para serem mais orientados aos resultados e foi incluída discussão sobre os papéis de supervisão e
garantia da qualidade dos níveis superiores do sistema de saúde.

173
16.5. SUPERVISÃO E APOIO TÉCNICO

A Supervisão de apoio é uma actividade contínua que promove a qualidade dos serviços de saúde ao avaliar
periodicamente e fortalecer as habilidades, atitudes e condições de trabalho dos provedores. Inclui capacitação
regular no local, feedback construtivo e seguimento com o pessoal para garantir que tarefas de rotina e recém
introduzidas estão a ser correctamente desempenhadas.

A supervisão de apoio regular, melhora a segurança, eficiência e eficácia dos serviços de vacinação. A supervisão
de apoio acrescenta à supervisão tradicional ao enfatizar o seguinte:
- Capacitação no local para responder as perguntas dos trabalhadores de saúde, corrigir problemas antes
de se tornarem grandes obstáculos e oferecer reciclagens contínuas para os trabalhadores de saúde.
- Desempenho participativo e melhoria da qualidade através de diálogo interactivo e pacífico com os
trabalhadores de saúde.
- Documentação do feedback regular e construtivo.
- Visitas de supervisão devidamente marcadas consoante a carga laboral da unidade sanitária e para evitar
inconveniências para o pessoal de saúde, mães e encarregados.
- Aplicar as constatações da supervisão na micro-planificação e desenvolvimento de estratégias.

16.6. MONITORIA E USO DE DADOS PARA ACÇÃO

Figura 16.2. Passos a seguir no âmbito de monitoria de dados para acção


Passos Ferramenta RED-REC

Monitoria 1. Definir o processo de monitoria


& Uso de 2. Seleccionar indicadores e metas
Dados para Vide o manual RED-REC
3. Recolher dados e submeter relatórios
Acção
4. Analisar e discutir
5. Actuar

Monitoria para Acção é mais do que recolher dados, analisar dados e redigir relatórios. Monitoria activa usa
informação continuamente a todos os níveis para medir o progresso, identificar problemas e desenvolver
soluções práticas e planos de actividades realistas. Monitoria para Acção envolve todos: gestores, supervisores,
trabalhadores de saúde, funcionários locais e a comunidade.

A monitoria da abordagem RED/REC constitui parte integrante da monitoria do programa Alargado de


vacinação, no qual os gestores do PAV de diferentes niveis, devem monitorar o progresso da implementação
daestrategia usando painéis ou outras ferramentas de monitoria pela unidade sanitária e distrito o que irá permitir
a avaliacao do desempenho das 5 componentes da Estratégia RED-REC através do uso dos indicadores nucleares.

A monitoria do RED/REC ajuda os gestores a tomarem decisões melhores e atempadas, sem sobrecarregar os
provedores de serviços com a recolha de dados. As ferramentas de monitoria e indicadores RED/REC foram
concebidos para usar dados existentes que são recolhidos através dos sistemas de informação em saúde e o
sistema de informação do programa de vacinação. Apesar de estes indicadores serem para os supervisores
monitorarem, também podem ser usados para “auto-avaliação” pelos trabalhadores de saúde nas unidades
sanitárias e pelas equipas distritais de saúde.

16.6.1 Questões a serem respondidas no processo de Monitoria


No processo de monitoria deve se garantier a respostas as seguintes questões:
• As suas metas estão a ser alcançadas?
• Consegue-se alcançar quem está fora do alcance?

174
• As estratégias de prestação estão a funcionar?
• Tem confiança no facto de estarem a dar injecções seguras?
• Quais problemas estão a contribuir para o não alcance das suas metas: taxas de desistência, oportunidades
perdidas, rupturas de stock de vacinas?

16.6.2 Tipos de Monitoria


A monitoria pode ser feita a varios niveis a destacar:
- Monitoria do desempenho a nível da unidade sanitária, que também serve de folha resumo.
- A monitoria do desempenho a nível distrital e a folha resumo com os dados da US e do distrito.
- Monitoria do desempenho a nível nacional.
- O resumo a nível nacional do desempenho da abordagem RED/REC a nível subnacional.
Figura 16.3. Ciclo de Monitoria

Definir o seu
processo de monitoria

Agir e actualizar os seus Selecionar indicadores e


micro-planos definir metas

Recolher dados e
Analisar e discutir submeter relatórios

16.6. 3 Monitoria para processo de Acção


Existem cinco passos principais para monitoria que são:
1. Definir o processo de monitoria,
2. Selecionar indicadores e definir metas;
3. Recolher dados e submeter relatórios;
4. Análise de dados e discussão; e
5. Acção e actualização do microplano

16.7 EXEMPLO DE UM PROCESSO DE PLANIFICAÇÃO POR ETAPAS

• Desenhar o mapa de cada zona sanitária incluindo a distância do centro de saúde a cada aldeia / comuni-
dade e a respectiva população.
• Determinar a população-alvo por estratégia (fixa, móvel, avançada).

Figura 16.4. Exemplo de mapa de uma zona sanitária

175
Tabela 16.1. População por Estratégia
Dados demográficos
Estrategia fixo de aldeia 148 População fixo 279,644 População alvo fixo 12,864
Estrategia avançada de aldeia 87 População avançada 67,170 População alvo avançada 3,090
Estrategia móvel de aldeia 86 População de móvel 46,415 População alvo móvel 2,135
Total aldeias População total 393,229 População alvo total 18,089

Figura 16.5. Fluxograma para identificar as áreas de prioridade e as estratégias fixos e avançados

Tabela 16.2. Necessidades em vacina e materiais de injeção segura para postos

176
Tabela 16.3. Necessidades em vacina e materiais de injeção segura para a estratégia das brigadas móveis

5. Agregar os planos das áreas de saúde em plano distrital.

177
Tabela 16.4: Necessidades totais em vacina e materiais de injeção segura

178
6. Determinar o número de sessões por estratégia, fixa, móvel e avançada.
Geralmente, as sessões são realizadas em todos os dias úteis nos postos fixos e 3 - 4 vezes por ano nas
brigadas móveis e avançadas.
7. Determinar o número de equipamentos necessários (refrigeradores, caixas isotérmicas, carros, motorizadas,
bicicletas, etc.).
8. Orçamente as actividades planeadas incluindo a comunicação, supervisão, monitoria e avaliação.

16.8 GRUPOS-ALVO DO PAV

16.8.1 O que é e quais são os grupo-alvo do PAV?


Grupo-alvo do PAV é um determinado grupo específico de pessoas a que o PAV direciona as suas acções de
vacinação. Para se obter os grupos-alvos é relevante que seja conhecido o número da população de cada área
gerida por uma Unidade Sanitária.

Os Grupos-alvo do PAV prioritários são os seguintes:


• Crianças de 0 a 23 Meses;
• Mulheres grávidas.

Também constituem grupos-alvo do PAV:


• Mulheres em idade fértil (15-49 anos)
• Alunos das escolas (primeiras e segundas classes)
• Trabalhadores de empresas cuja actividade profissional os torna vulneráveis ao risco de contrair o tétano.

As crianças, que não tenham recebido todas as vacinas completamente antes completar um ano de vida, deverão
ser vacinadas até aos 23 meses, mas devem ser registadas como crianças fora do grupo-alvo. Estas crianças
não são incluídas na avaliação do PAV.

16.8.2 Como se calculam os grupos-alvo do PAV?


Para crianças dos 0 - 11 meses:

A taxa para o cálculo do grupo-alvo para BCG = (4%)


População da área X 0,04

Exemplo: População da área= 20.000


Taxa para cálculo = (4%)

a) Grupo-alvo (0 - 11 meses BCG) = 20.000X 0,04


Grupo alvo (0-11 meses BCG) = 800 (crianças a vacinar na área).

a) Para as outras vacinas: A taxa para cálculo do grupo-alvo = (3,9%); no entanto, pode-se também usar
4% como nos exemplos anteriores, dada a diferença ser insignificativa.
Grupo-alvo (0-11 meses para DPT, Polio e VAS) = 20.000 X 0,039
Grupo-alvo (0-11 meses para DPT, Polio e VAS) = 780

b) Para as Grávidas: Taxa para cálculo do grupo-alvo = (5%); Grupo-alvo de grávidas protegidas contra o
tétano = 20.000 X 0,05 = 1000

c) Para as Mulheres em Idade Fértil no geral (MIF's): Taxa para cálculo = (24,9%); Grupo-alvo das
MIF´s = 20.000 X 0,249 = 4980

179
d) Grupo-alvo alunos = Alunos da 1ª classe do ensino primário da área.

e) Grupo-alvo de trabalhadores = Nº de trabalhadores das empresas cuja actividade os torna vulne-ráveis


a contrair o tétano.

Atenção:
O cálculo dos grupos-alvo é obrigatório e deve ser feito no início de cada ano para priorizar as áreas a serem abrangidas
em primeiro lugar e permitir também o cálculo das necessidades em termos de vacinas, materiais, etc.

Exemplo do cálculo dos grupos-alvo:


O Grupo-alvo dos 0-11 meses, numa população de 20.000 habitantes, de acordo com o exemplo acima referido,
seria de 800 crianças para vacinar durante todo o ano. Assim, para o nível da Unidade Sanitária, é interessante
avaliar o grau de cumprimento de vacinação mensal. Por isso, é preciso saber quantas crianças devem ser
vacinadas no fim de cada mês. Por exemplo:

Grupo-alvo dos 0-11 meses para BCG (anual) = 800


Grupo-alvo mensal dos 0-11 meses = 800 : 12
Grupo-alvo mensal dos 0-11 meses = 66,6 (67 crianças a vacinar mensalmente)

Taxas adoptadas pela Direcção Nacional de Planificação e Cooperação para cálculo dos diferentes grupos-alvo
do PAV.
Tabela 16.5: Taxas adoptadas no cálculo dos diferentes grupos-alvo

Idades Variações Taxas a aplicar no


processo de planificação
Gravidas previstas 5% 5%
Partos previstos 4.5% 4.5%
Crianças menores de 1ano 4% 4%
Crianças entre 1-4 anos 13-16% 13,3%
Crianças entre 0-4 anos 17-20% 17,3%
Crianças entre 5-14 anos 25-30% 27,0%
Crianças entre 0-14 anos 42-50% 44,3%
Mulheres em idade fértil 22.8% 24.9%

A população total do ano pode ser obtida através das estruturas administrativas, através de um mini-recenseamento,
por inquérito ou por estimativa. Por estimativa terá de ser aplicada a taxa de crescimento natural (TCN) de
2,6% (0,026), que é a média Nacional, ou a taxa de crescimento natural da província, se conhecida, em relação
à população do ano anterior.

Habitantes em 1996 + (hab. de 1996 x TCN) = habitantes em 1997

Exemplo do cálculo da Taxa de Crescimento Natural para uma população de 50.000 habitantes em 2000:

50.000 + (50.000 x 0,026) = 51.300 habitantes (2001).

Cada Unidade Sanitária deve conhecer os grupos-alvo do PAV que, ao mesmo tempo, constituem a meta:
- número de crianças 0-11 meses
- número de mulheres grávidas existente
- número das mulheres em idade fértil ( MIF´s)
- número de trabalhadores das empresas selecionadas para VAT
- n.º de crianças da 1.ªs classes

180
INVENTÁRIO E REQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTO E MATERIAL PAV

Existe uma ficha especifica para a identificação do material, do equipamento e das necessidades do PAV. A
referida ficha contem o equipamento necessário para uma Unidade Sanitária com o PAV a funcionar (ver tabela
17.1). É através dessa ficha que se pode fazer o levantamento do material existente nas Unidades Sanitárias e
do que falta, ou ainda, do que necessita de substituição.

Tabela 17.1: Ficha estandardizada para a requisição de material e equipamento do PAV

Descrição Exis- Subs- Necessi- Requi-


Obs:
tente tituir dades sição
Cadeia de frio Código
Geleira a petróleo/eléctrica/gás E3/22 1
Congelador para acumuladores 1
Caixa isotérmica RCW2 E/4 53 2
Caixa isotérmica IVC 3 (INALSA) E4/67 2
Caixaisotérmica RCW12 1
Caixa isotérmica RCW25 1
Acumuladores de frio E/515 20
Monitores da cadeia de frio E6/16 2/gel.
Termómetros E6/28 2
Monitor de congelação ( freeze-tag) E6/14 1/gel.
Seringas Auto-destrutíveis 0,05 ml (BCG) E8/18 50
Seringas Auto-destrutíveis 0,5 ml E8/12 200
Seringas de 5 ml para diluição E8/03 25
Motorizada (para CS Sede ou US com DMS´s 1
Cartões de Saúde da criança 500
Cartões de VAT 500
Manual de Normas do PAV 1
Ficha A01-A - Registo diário de crianças 50
Ficha A01 - Registo diário de crianças e frascos abertos
Ficha A02-A - Registo diário de VAT nas Escolas 50
Ficha A02-A - Registo diário de VAT
Ficha A03 - Resumo mensal - US 50
Ficha A03 - Resumo mensal - US
Ficha A11 Controlo de movimento mensal de vacinas 15
Ficha de planificação para as Brigadas Móveis 5
Ficha de actividades das Brigadas Móveis 50

183
Inventário do equipamento da cadeia de frio

Este inventário ajuda a melhorar a planificação da cadeia de frio e actualiza a informação sobre o estado do
equipamento.

Os objectivos do inventário são:


• Quantificar a quantidade/tipo de equipamento da cadeia de frio, caixas isotérmicas, instrumentos de
monitoia de temperatura e outro material envolvido no processo de conservação de vacinas;
• Recolher dados para cada equipamento (p. ex.: fabricante, modelo, idade, origem, localização actual,
etc.)
• Informar a respeito do estado actual do equipamento (funcionamento, necessidade de manutenção ou
reparação, etc).
• Apoiar a análise das lacunas em termos da capacidade e da adequação do equipamento da cadeia de
frio de acordo com as necessidades;
• Elaborar o plano de “reabilitação” da cadeia de frio.

O equipamento da cadeia de frio deve estar sempre actualizado.

Métodos para realizar um inventário da cadeia de frio

Existem pelo menos 3 métodos para elaborar o inventário da cadeia de frio


1.º Método: Visitas regulares pelo técnico da cadeia de frio à unidade Sanitaria para a recolha de dados;
2.º Método: Inventário feito pelo gestor do programa utilizando um formulário de inventário
3.º Método: Recolha de informação durante a distribuição de vacinas às unidades Sanitarias.

Dados a recolher para o inventário

Além de simples contagem física, o inventário funciona como uma ferramenta de gestão para o programa de
vacinação. Os dados recolhidos para o efeito devem ser de boa qualidade.
O equipamento da cadeia de frio deverá conter pelo menos os seguintes dados:
- Localização do equipamento (centro de saúde ou clínica, centro de saúde distrital ou hospital,depósito
distrital/provincial/central, etc.)
- Tipo, fabricante, modelo e número de série do equipamento
- Idade ou ano de instalação
- Estado de funcionamento do equipamento (se funciona bem, se tem de ser reparado, se está avariado
sem reparação, etc.)
- Fonte de energia (electricidade, solar e Gas)
- Capacidade (volume de armazenamento, capacidade de congelação)

Para além disso, dever-se-á também obter os seguintes dados:


- Origem ou fornecedor do equipamento
- Valor de aquisição
- Outras characterísticas técnicas (p.ex., consumo de energia, voltagem, etc.).

Qualidade dos dados do inventário

Existem três níveis de qualidade dos dados, dependendo do método de inventário:

- Primeira qualidade: Um técnico qualificado visita sistematicamente cada local e unidade onde o equipamento
do PAV está situado. A informação técnica sobre o funcionamento do equipamento individual é geralmente
rigorosa e fiável.

184
- Segunda qualidade: O inventário é actualizado através da recolha sistemática de dados dos profissionais
de saúde. São obtidas informações sobre a localização exacta, as características técnicas o estado de funcionamento
do equipamento.

- Terceira qualidade: um inventário sobre o equipamento fornecido ao PAV por vários doadores (p.ex.
UNICEF,OMS, RotaryInternational, DANIDA, etc.). Os dados sobre o preço e origem do equipamento são
normalmente rigorosos, mas a informação sobre a localização, data de instalação e estado de funcionamento
do equipamento é de uma forma geral impreciso.

Periodicidade do inventário por nível de intervenção

Como mencionado acima, é vital que o inventário do equipamento da cadeia de frio esteja actualizado.
Recomenda-se que o inventário seja actualizado segundo os intervalos de tempo indicados na tabela abaixo e
sempre que receber um equipamento novo.

Tabela 17.2: Periodicidade recomendada do inventário da cadeia de frio por nível


Inventário do
equipamento da Nacional Provincial Distrital Zona de Saúde Unidade Sanitária
Cadeia de Frio

Frequência 1 vez por ano 2 vezes por ano 3 vezes por ano 4 vezes por ano 1 vez por mês

185
186
MONITORIA E AVALIAÇÃO DAS ACTIVIDADES DO PAV

18.1 A MONITORIA E AVALIAÇÃO DAS ACTIVIDADES DO PAV

A monitoria e avaliação é um acto essencial para a gestão do Programa Alargado de Vacinação (PAV), sem
o qual não é possível conhecer, em determinado momento, como foi feita a utilização dos recursos, bem como
até que ponto as actividades do programa permitiram a obtenção dos resultados esperados ou o cumprimento
dos objectivos definidos.

Através da monitoria e avaliação, é possível saber se o plano está correctamente elaborado, se a execução tem
correspondido à expectativa e identificar quais as alterações a introduzir para a melhoria do programa.

Analisando a execução:

No PAV, a Monitoria do plano elaborado ou dos serviços, é usada para rastrear continuamente as mudanças nos
indicadores ao longo do tempo, isto é, para medir o progresso no alcance dos resultados, ao recolher informações
sobre insumos, actividades, resultados imediatos e, por vezes, resultados de curto prazo e também permite
identificar e corrigir os erros de planificação e programação. Por outro lado, a Avaliação, é usada para avaliar a
eficácia do PAV na redução da morbi-mortalidade por doenças preveniveis por vacinas, ou seja, para saber em
que medida o programa está a atingir os resultados esperados, tanto como, para entender por que os resultados
definidos previamente foram ou não atingidos, contribuindo, assim, para medir o impacto das acções realizadas.

Sem prejuízo da monitoria e avaliação obrigatória a realizar a nível provincial e nacional, é na Unidade Sanitária
que, primeiramente se deve efectuar a monitoria e avaliação como um processo de apreciação permanente do
trabalho do pessoal do PAV. Neste caso, mencionam-se em seguida, as principais acções sobre as quais deve
incidir a monitoria e avaliação baseada num questionário semanal e mensal, a preencher pelos intervenientes:

SEMANALMENTE
• Foram realizadas todas as sessões de vacinação planificadas?
• As vacinas eram em quantidade suficiente? Estavam dentro do prazo?
• Foram mantidas à temperatura conveniente até ao momento da administração?
• A temperatura do refrigerador foi controlada e registada duas vezes ao dia e sempre mantida entre os
+ 2º C e + 8º C?
• A aplicação das vacinas tem obedecido às regras de uma boa técnica e respeita rigorosamente o
calendário vacinal?

189
• A cicatriz da vacina de BCG tem sido observada na altura da administração das 1as Doses de DPT/HepB
e PÓLIO?
• Foram registados os casos de abcessos em crianças vacinadas?
• Todas as mulheres grávidas e as crianças do grupo-alvo, incluindo as crianças doentes, tiveram o seu
estado vacinal controlado e receberam as vacinas necessárias?
• Todas as Mulheres em Idade Fértil que frequentam a Unidade Sanitária estão a ser
• vacinadas contra o Tétano de acordo com o calendário de 5 Doses?
• As mulheres grávidas e as mães acompanhantes receberam esclarecimentos sobre o calendáro vacinal
e sobre a data de vacinação seguinte?
• Todo o pessoal de saúde tem participado na Educação Sanitária?

MENSALMENTE
• Quantas doses de cada vacina forma aplicadas em comparação com a meta mensal?
• Qual foi a quebra entre a 1.ª e 3.ª doses da vacina DPT/HepB/PÓLIO? Foi superior a 20%? Como
corrigir?
• Quantos casos de doenças-alvo do PAV foram registados? Em que bairros? Há tendência de aumentar
o n.º de casos? que fazer? Os casos têm algum relacionamento com a cobertura vacinal?
• Há casos de doenças-alvo do PAV em crianças vacinadas? Porquê? Quais as medidas a tomar ou
tomadas para evitar novos casos?
• Os vacinadores têm sido informados dos erros mais frequentes registados nos inquéritos de cobertura
vacinal?
• Em quantos bairros foram realizados trabalhos de esclarecimento e de mobilização social da população
(reuniões, visitas porta a porta, etc.) ou foram vacinados através de Brigadas Móveis?
• O Boletim Epidemiológico Semanal e os dados estatísticos do mês anterior foram analisados e enviados
ao nível superior dentro do prazo?

18.2 DEFINIÇÃO DE ALGUNS INDICADORES ÚTEIS PARA O PAV

Os indicadores são muito importantes para a monitoria e avaliação do PAV. Assim, existem dois tipos de
indicadores: Quantitativos e Qualitativos

18.2.1 Indicadores quantitativos


São aqueles que nos dão a conhecer o volume do trabalho realizado por uma determinada instituição ou área
de Saúde, etc.

Alguns exemplos:
• A Taxa de cobertura vacinal
• A taxa de cobertura de crianças completamente vacinadas antes de um ano de vida
• A taxa de cobertura de mulheres grávidas protegidas
• O Índice do cumprimento

18.2.1.1 Taxa de cobertura vacinal (TCV)


Para se calcular esta taxa, utiliza-se a seguinte fórmula:

ou

190
18.2.1.2 Taxa de Cobertura de Crianças Completamente Vacinadas antes de um ano de vida (CCV)
Do mesmo modo, pode-se calcular a Taxa de Cobertura de Crianças Completamente Vacinadas antes de um
ano de vida (CCV)

Este indicador é útil para conhecer o esforço dispendido na mobilização da comunidade, avaliar o grau de
esclarecimento da população em relação aos problemas da vacinação e determinar o nível de funcionamento
dos serviços.

Por outro lado, este indicador permite um acompanhamento da gestão do programa.

No entanto, o indicador não é o mais exacto para a avaliação dos serviços de vacinação por 3 razões:
• Baseia-se, para o cálculo do grupo-alvo, em dados demográficos que podem não ser os reais.
• Utiliza o número de doses aplicadas que pode não ser o correcto.
• Não inclui a qualidade da vacina.

Não basta no processo de avaliação conhecer a percentagem de crianças que receberam uma dada vacina ou
completaram todas elas. É muito mais importante calcular e saber quantas delas foram realmente imunizadas
por uma vacinação completa e correcta, isto é, que obedeceram a todos os critérios de qualidade que a seguir
se indicam:
• Ter cartão de Saúde
• Ter cicatriz de BCG
• Ter recebido no mínimo as 14 doses sem erros no calendário:
- BCG
- OPV1, DPT-HepB-Hib1, PCV1, Rotavirus1, com idade mínima de 2meses
- Intervalo mínimo de 1 mês entre as segundas e terceiras doses
- IPV (ao 4 mês)
- Sarampo com a idade mínima de 9 meses

Essa percentagem de crianças com vacinação completa e correcta representa a taxa de cobertura vacinal com
critérios de qualidade, que é obtida através de inquéritos periódicos de cobertura vacinal, especialmente
realizados para esse fim, com uma metodologia própria.

18.2.1.3 Controle da cobertura vacinal com dados de rotina


A taxa de cobertura obtida através de dados de rotina, pela sua importância como indicador do PAV, deve ser
controlada por meio de uma avaliação frequente, o que poderá ser feito todos os meses (US e Distrito),
trimestralmente (DPS e MISAU).

191
O quadro seguinte, que serve de exemplo para as Unidades Sanitárias, apresenta um controlo trimestral da
vacinação anti-Sarampo, numa área imaginária.

Uma tabela idêntica deve ser elaborada no início do ano, para cada tipo de vacina.

Tabela 18.1: Controlo trimestral da taxa de cobertura vacinal da vacina anti-Sarampo, por
dados obtidos através da cobertura de rotina
G. ALVO META REALIZAÇÃO TAXA DE ÍNDICE DE
TRIMESTRE CUMULATIVO CUMULATIVA COBERTURA CUMPRIMENTO
Trimestral Cumulativo
1.º trimestre 513 410 380 380 74% 93%
2.º Trimestre 1026 820 372 752 73% 92%
3.º Trimestre 1539 1230 390 1142 74% 93%
4.º Trimestre 2052 1640 295 1537 75% 94%

A primeira coluna indica os trimestres do ano.

A 2.ª coluna indica o n.º de crianças menores de um ano de idade existentes nessa área (grupo-alvo). Esse
grupo-alvo é colocado por trimestre, de uma forma cumulativa, isto é, multiplica-se o valor do primeiro trimestre
pelo número de trimestre em causa. Por exemplo:

Grupo-alvo do 1.º trimestre - = 513


Grupo-alvo do 2.º trimestre - 513 X 2 = 1.026
Grupo-alvo do 3.º trimestre - 513 X 3 = 1539
Grupo-alvo do 4.º trimestre - 513 X 4 = 2.052

A 3.ª coluna indica a meta cumulativa por trimestre. O procedimento é igual ao da coluna 2. Porém, deve-se
calcular a meta antes de tal procedimento. Por exemplo:
Meta do 1.º trimestre - 513 X 0,8 = 410
Meta do 2.º trimestre - 410 X 2 = 820
Meta do 3.º trimestre - 410 X 3 = 1230
Meta do 4.º trimestre - 410 X 4 = 1640

Nota: As metas são planificadas pelo sector de Estatística e Planificação Provincial, com base nas metas
atribuídas pela Direcção Nacional de Planificação e Cooperação, Departamento de Planificação.

A coluna 4 inscreve o n.º de vacinações feitas contra o Sarampo, a crianças menores de um ano de idade, por
trimestre e cumulativamente. Para calcular o n.º de vacinações cumulativas procede-se do seguinte modo:

1.º trimestre = 380


2.º trimestre 380 + 372 = 752
3.º trimestre 752 + 390 = 1142
4.º trimestre 1142 + 395 = 1537

A coluna 5 apresenta as taxas de cobertura vacinal, por trimestre. A taxa de cobertura é calculada de uma
maneira cumulativa, segundo a seguinte fórmula:

192
Realizado cumulativo = 1142
Grupo-alvo cumulativo = 1539

A coluna 6 regista o índice do cumprimento cumulativo do plano sectorial, em relação à meta. Exemplo:

Exemplo do 2.º trimestre:

Meta cumulativa do 2.º trimestre = 820 e No cumulativo de crianças menores de 1 de idade vacinadas =752

18.2.1.5 Controlo através do gráfico cumulativo


O controlo do gráfico cumulativo é um outro modo de avaliar o cumprimento de vacinações. O gráfico que a
seguir se exemplifica deve ser elaborado logo no princípio do ano, para permitir o lançamento mensal de dados,
para a sua actualização.

Figura 18.1: Frequência cumulativa de taxas de cobertura da vacina Anti-Sarampo, área X e ano Y

J F M A M J J A S O N D
Mensal 115 135 130 113 126 133 122 135 133 120 137 138
Cumul. 115 250 380 493 619 752 874 1009 1142 1262 1399 1537

Para elaborar um gráfico cumulativo deste tipo deve-se proceder do seguinte modo:
• Na linha vertical à esquerda (ordenada), traçar a escala que vai servir de base à marcação dos dados
cumulativos mensais. No caso presente, cada espaço de 10 mm corresponde ao valor 200, o que significa
que cada mm. Representa 20 crianças vacinadas (200:10).

193
• Marcar o ponto correspondente ao grupo-alvo do Plano no gráfico acima apresentado no ponto
corresponde ao valor 2052. Se o gráfico é feito no computador, a meta anual é igual ao grupo-alvo
(2052). Este número divide-se por 12, o que corresponde ao número de meses do ano, para acumular
os valores mensais, por exemplo: Meta anual 2052:12 = 171. Este número de crianças a vacinar, vai
servir para os valores cumulativos mensais e, no gráfico, a linha que representa a meta anual far-se-á
automaticamente.
• Marcar os dados cumulativos mensais no gráfico, no ponto de cruzamento da linha vertical do mês em
questão com a linha horizontal, na escala correspondente e uni-los com por uma linha tracejada, podendo
ser de côr diferente. Essa linha representa a taxa de cobertura, quando relacionada com a linha do grupo-
alvo.
• Analisando o gráfico apresentado, verifica-se que a linha de valores cumulativos realizados não atinge
a linha cumulativa do grupo-alvo, o que significa que não se está a vacinar todas as crianças.
• Por outro lado, podemos combinar no mesmo gráfico as 1ªs e 3ªs doses de um determinado antígeno
para avaliar a quebra vacinal de forma genérica. Esta combinação nós da uma visão rápida no gráfico
do cumprimento ou não do calendário vacinal.

18.2.2 Indicadores qualitativos


São aqueles que nos indicam a qualidade de serviços prestados e a qualidade de procedimentos, por exemplo:
• Índice de quebra vacinal
• Taxa de utilização de vacinas
• Disponibilidade de Gás
• Disponibilidade de vacinas

Quebra vacinal
Geralmente calcula-se para as vacinas de doses múltiplas. Mas pode também ser calculada entre diferentes
vacinas de dose única. É a diferença entre o número de pessoas vacinadas com as 1as e o número de pessoas
vacinadas com as doses subsequentes (2ªs ou 3ªs doses) de uma determinada vacina. Normalmente, a diferença
é maior que Zero, por isso, se chama de Quebra Vacinal.

18.2.2.1 Índice de Quebra Vacinal


É um indicador que serve para avaliar o esforço que o pessoal de saúde faz para informar a população sobre
a importância de completar a vacinação, principalmente as vacinas de doses múltiplas, como a DPT-HepB-
Hib.

Como se calcula o Índice de Quebra Vacinal?


Se, por exemplo, durante o ano foram vacinadas 1.023 crianças com a 1ª dose da DPT-HepB-Hib foram apenas
aplicadas 383 vacinas com a 3ª dose, o Índice de Quebra Vacinal (IQV) será:

O Índice de Quebra Vacinal de 62.6% é muito elevado. O índice de quebra vacinal ideal deve ser inferior a
10%. Este indicador revela o esforço feito pela Unidade Sanitária na planificação correcta do horário e a
movimentação da equipe da Brigada Móvel bem como o trabalho desenvolvido para a mobilização social das
comunidades e a consciencialização da população.

194
Para os principais problemas que originam índices de quebra vacinal elevados e as estratégias para reduzi-los,
Ver Capítulo 8.

18.2.2.2 Taxa de utilização de vacinas (TUV)


É um indicador importante para a gestão do Programa. Pode ser calculada trimestralmente, utilizando dados
estatísticos trimestrais e as fichas de stock de vacinas. A fórmula é a seguinte:

• O denominador é obtido através da ficha de contagem (modelo A01): Vacinas distribuídas (utilizadas).
• O numerador é facilmente conhecido através de fichas A03 ou A04 da US e do Distrito, respectiva-
mente.

Exemplo da taxa de utilização da vacina DPT-HepB-Hib

N.º de crianças vacinadas dentro e fora do grupo-alvo =2000


N.º de Doses de vacinas gastas = 3800, então:

A taxa de utilização de 52,6% é muito baixa atendendo a que a aceitável seria a partir de 90%, especifica-
mente para a Penta. A diferença entre 100% e 52,6% que é de 47.4%, denominando-se a taxa de desperdício.
Porém, também pode-se calcular directamente a Taxa de Desperdício da Vacina (TDV), da seguinte forma:

195
A taxa de utilização é um indicador muito útil para apreciação da qualidade da planificação do PAV.

O ideal estaria acima de seguintes valores:


Tabela 18.2
Vacina Taxa de utilização ideal
DPT-HepB-Hib; VAT 90%
MR 75%
BCG 40
OPV 75%
IPV 95%
PCV 95%
Rotavirus 95%

18.2.2.3 Disponibilidade de Recursos

Por exemplo, disponibilidade de Gas (Disp. Gas) nas US's (mensal, trimestral, anual...)

É um indicador que permite avaliar a qualidade da logística e da utilização dos recursos, nomeadamente, do
Gas. Exemplo do cálculo:

Unidades Sanitárias com Disponibilidade de vacinas

Calcula-se da mesma maneira que a disponibilidade de Gas, p.e:

18.3 AVALIAÇÃO POR INQUÉRITOS

Os dados de rotina permitem avaliar a cobertura vacinal. No entanto, sabemos que a cobertura obtida através
de dados de rotina não é muito exacta. A população estimada pode ser diferente da população real. Muitas
vezes, o número de doses aplicadas, não corresponde à realidade. Por isso, é preciso realizar inquéritos periódicos
que nos possam permitir avaliar, de uma forma mais exacta, a cobertura vacinal e o funcionamento do Programa
Alargado de Vacinação em geral.

Os inquéritos são mais aproximados à realidade porque não dependem dos dados demográficos, que, por vezes,
não são exactos. Se houvesse dados exactos no momento da avaliação do número de crianças do grupo-alvo
ou, se fosse possível contá-las uma a uma, é claro que a estimativa, a partir dos dados de rotina, seria mais
aproximada que a obtida por amostragem.

O Pais utiliza 2 tipos de inquéritos para avaliar a cobertura vacinal:


• Inquérito dos 30 conglomerados, seguindo a metodologia da OMS
• Inquérito de “75 casas”

Usa-se ainda, um terceiro tipo, o Inquérito à saída, com a finalidade de avaliar o cumprimento das normas do
programa.

196
Por outro lado, existem também outros inquéritos nomeadamente:
• IDS, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)
• IMASIDA realizado pelo Instituto Nacional de Saúde (INS)

Estes inquéritos são realizados num espaço de tempo longo e a nível nacional, sendo que a confirmação das
coberturas através destas fontes pode não ser possível de forma imediata.

18.3.1 Inquérito 75 casas


Neste inquérito escolhem-se 75 casas próximas da Unidade Sanitária em estudo, num raio de 1km em redor.
Portanto, não representa toda a população servida pela US. Provavelmente, as pessoas que vivem mais próximas
da unidade sanitária tê-la-ão visitado mais vezes e, portanto, teriam cumprido o Calendário de Vacinação e
teriam tido maior frequência às consultas pré-natais, etc.

Ao visitar as casas se investiga (no caso do PAV), o estado vacinal das crianças menos de 3 anos. Os resultados
do inquérito permitirão o cálculo dos seguintes indicadores:
• Percentagem de crianças menores de um ano de idade com vacinação em dia;
• Percentagem de crianças de 12-23 meses com vacinação completa e com vacinação completa e correcta.
(As definições destes termos encontram-se nas páginas seguintes.).

Como só realizamos o inquérito nas casas mais próximas da US, o resultado que se obtém representa apenas
o melhor resultado possível da área de saúde. Não obstante, é muito útil e permite aprender muito sobre a
população e o nível do trabalho realizado pela US.

Por exemplo, quando se consegue uma percentagem de 30% de crianças com vacinação em dia, é muito
provável que a cobertura total da nossa área seja inferior a esta percentagem. Será então urgente tomar-se
medidas para mudar a situação vacinal daquela área.

No caso de se encontrar crianças que não estão vacinadas ou com erros de calendário ou ainda com vacina não
em dia, durante o inquérito, devem ser encaminhadas para a US.

Este tipo de inquérito está bem adaptado para avaliação ao nível dos Distritos e deve ser realizado com o apoio
de um supervisor provincial, isto é, da DPS.

Com a mesma metodologia, é possível também avaliar os outros Programas, como por exemplo, o Programa
de Controle das Doenças Diarreicas e o Programa de SMI (pré-natal e pesagens de crianças sadias). É, de facto,
conveniente que ao se realizar uma avaliação com esta metodologia se incluam, desde logo, os outros Programas.
Evita-se, deste modo, a realização de vários inquéritos por cada Programa, o que, para além de perda de tempo
e de energias, acabariam por acarretar grandes custos e cansaço por parte da população.

Na página seguinte, encontra-se um Modelo de Ficha Padrão que, no entanto, pode ser adaptado conforme a
necessidade.

197
Figura 18.2: Ficha de inquérito a 75 casas

INQUÉRITO A 75 CASAS

UNIDADE
SANITÁRIA_______________________________DISTRITO__________________________________

Preencher uma ficha para cada família onde exista, pelo menos, uma criança com menos de 3 anos de idade,
(nascidas depois de _______/_______/_______)

Pessoa entrevistada ________________________________________________ (mãe, pai, avó, tia, etc.)

Nome da criança
Data de Nascimento ou idade
Tem Cartão de Saúde S/N S/N S/N
Data da última pesagem
Nº de pesagens antes de 1 ano de idade
Perímetro braquial
Tem cicatriz de BCG S/N/ausente S/N/ausente S/N/ausente
BCG
PÓLIO 0
PÓLIO1
PÓLIO2
PÓLIO3
IPV
PCV1
PCV2
PCV3
Rotavirus1
Rotavirus2
DPT-HepB-Hib1
DPT-HepB-Hib3
DPT-HepB-Hib3
Sarampo Rubeola1
Sarampo Rubeola2

198
VAT na mulher:
Durante a última gravidez foi à CPN? Sim ; Não

Tem um documento que comprova as Doses de VAT que recebeu?

Sim Não

Se tem documento, de que tipo? ______________________________________

Doses Datas
1.ª Dose
2.ª Dose
3.ª Dose
4.ª Dose
5.ª Dose

Quantas Doses de VAT recebeu na última gravidez?___por história Não sabe

Controle das Doenças Diarreicas (CDD):

Quando uma das suas crianças estiver com diarreia, costuma dar menos, mais, ou a mesma quantidade de
líquidos como quando não tem diarreia?

Normal ; Mais ; Menos ; Não sabe

Mostrar o pacote de SRO à mãe:

Conhece isto? SIM ; Não ; (Se não, não fazer mais perguntas)

Para que serve? Diarreia Outro ; Não sabe (se não, evitar mais perguntas)
Se disser que serve para diarreia: Qual é o seu efeito?
_________________________________________________________________________________________

Alguma vez utilizou o pacote? Sim Não ; Não se lembra

A última vez que a sua criança teve diarreia, utilizou o pacote?

Sim ; Não ; Não se lembra

A casa tem latrina? Sim ; Não

Data:_____/_____/____

Assinatura do inquiridor
____________________________
(Nome bem legível)

199
18.3.1.1 Definições para os inquéritos à saída e de 75 casas

a) Vacinação completa e correcta (criança maior de um ano de idade):

• Tem Cartão de Saúde;

• Recebeu 10 antigénos sem erros de calendário:


- BCG,
- DPT-HepB-Hib1, 2 e 3,
- IPV, OPV 1, 2 e 3,
- PCV 1,2,3,
- Rotavirus 1,2
- Sarampo e Rubeola1

• Intervalo mínimo de 4 semanas na aplicação da DPT-HepB-Hib2, OPV2, PCV 2, e DPT-HepB-Hib3,


OPV3, PC3.

• Sarampo recebida a partir de uma idade mínima de 8,5 meses;

• Tem cicatriz de BCG

NB: A OPV “0” não entra na definição de vacinação completa e correcta.

b) Vacinação completa, (Criança com idade igual ou superior a um ano):

• Recebeu as 14 Doses sem critérios de qualidade (BCG, DPT-HepB-Hib 1, 2 e 3, OPV 1, 2 e 3, PCV


1,2,3, Rotavirus 1 e 2 e Sarampo e Rubeola 1).

c) Vacinação incompleta: (Criança com idade igual ou superior a 1 ano):

• Ainda não completou as14 Doses (BCG; Pólio 1,2,e 3; DPT/HepB 1,2 e 3; PCV 1,2e 3, Rotavirus 1
e 2, e Sarampo e rubeola) (por rever)

d) Vacinação em dia (e correcta)

Criança menor de dois meses:


• Tem Cartão de Saúde
• Recebeu BCG e tem cicatriz

Criança de 2 a 9 meses:
• Tem Cartão de Saúde
• Recebeu BCG e tem cicatriz
• Recebeu DPT-HepB-Hib1, Pólio1, PCV1, Rotavirus1.

Se passou mais de um mês desde a aplicação da 1.ª Dose,


• já recebeu a 2.ª Dose da DPT-HepB-Hib 2, Pólio2, PCV2, Rotavirus2

Se passou mais de 1 mês de idade desde a aplicação da 2.ª Dose da


• já recebeu IPV e a 3.ª Dose DPT-HepB-Hib 3, Pólio 3 , PCV 3

200
Criança maior de 9 meses:
• Tem Cartão de Saúde
• Recebeu BCG e tem cicatriz
• Recebeu DPT-HepB-Hib1, OPV 1, PCV 1, Rotavirus1 (REVER)
• Se passou mais de um mês desde a aplicação da 1.ª Dose, já recebeu a 2.ª Dose
• Se passou mais de 1 mês de idade desde a aplicação da 2.ª Dose da DPT-HepB-Hib, OPV,PCV, IPV
já recebeu a 3.ª Dose
• Recebeu a vacina anti-Sarampo e rubeola.

NB: Para crianças com idade igual ou superior a 1 ano, a definição de “criança com vacinação em dia”
é a mesma que a de “criança com vacinação completa e correcta”.

18.3.2 Inquérito à saída


Este tipo de inquérito é realizado à saída da Unidade Sanitária que se avalia. Avalia o cumprimento das normas do
funcionamento da Unidade Sanitária, como por exemplo, o grau de aproveitamento das oportunidades para vacinar
todas as crianças que se apresentam à US, independentemente do motivo que as trouxe. Permite conhecer o grau
de cumprimento do calendário de vacinação por parte dos técnicos de saúde.

Como se realiza?
O técnico de saúde que realiza este tipo de inquérito deve-se instalar à saída da US que se pretende avaliar,
solicitando, a todos os acompanhantes das crianças dos 0-23 meses de idade, o Cartão de Saúde, quando estes
se dirigem às suas casas. O Cartão deve ser analisado atentamente. Com a ajuda do calendário móvel, ler a
idade da criança no Cartão e verificar se as doses das vacinas aplicadas foram feitas na idade correcta ou, se
naquele dia, faltou alguma vacina que deveria ter sido aplicada à criança.

Por exemplo, se no Cartão de Saúde de uma criança de 10 meses de idade faltar a vacina anti-Sarampo na
altura do inquérito, significa que não aproveitam as oportunidades de vacinar todas as crianças que vão a essa
US. (normalmente envia-se a criança em causa ao sector de vacinação).

Se tiverem sido aplicados todos os antigenos em função da idade, sem erros de calendário, a criança será
considerada como “em dia”. (O calendário vacinal encontra-se no Capítulo 3 deste manual, enquanto que as
definições encontram-se nas páginas seguintes neste capítulo).

18.3.2.1 Indicadores a calcular na avaliação:

201
O ideal será não consentir oportunidades perdidas e vacinas não efectivas.

Atenção:
Sempre que, durante o inquérito, se detectam crianças que saem da US sem a vacina necessária ou que
tenha vacina não efectiva, devem ser encaminhadas para a sala de vacinação logo depois de preencher a
ficha do inquérito.

Conhecidos os resultados do inquérito, deve-se realizar um encontro com os trabalhadores locais (US avaliada)
para correcção e solução dos erros encontrados, como forma de melhorar a qualidade de prestação dos serviços
de vacinação. É um inquérito fácil de se realizar e dá informações importantes sobre a qualidade de atendimento
por parte do pessoal de Saúde.

O procedimento mais correcto seria o de dar-lhes a conhecer os referidos erros e capacitá-los de forma a evitar
que cometam os mesmos erros.

Na página seguinte encontra-se uma ficha para recolha de dados durante o inquérito. Essa ficha é um modelo
que se pode adaptar de acordo com as informações que desejamos obter. Por exemplo, pode-se fazer um
inquérito para saber se as crianças com diarreia foram atendidas correctamente e se as mães perceberam bem
as informações relacionadas com a preparação e administração do soro oral, em casa. (arranjar um melhor
exemplo actual).

Figura 18.3: Ficha de inquérito à saída

FICHA DE INQUÉRITO À SAÍDA

UNIDADE SANITÁRIA ________________________________ DISTRITO _____________________________

INQUÉRITO A CRIANÇAS DOS 0-23 MESES


1 2 3 4 5 6
MOTIVO DA VISITA
DATA DE NASCIMENTO
TEM CARTÃO S/N S/N S/N S/N S/N S/N
DATA DE BCG
CICATRIZ S/N S/N S/N S/N S/N S/N
DATA DA PÓLIO 0
DATA PÓLIO 1
DATA PÓLIO2
DATA PÓLIO3
IPV
DATA PCV1
DATA PCV2
DATA PCV3
DATA Rotavirus1
DATA Rotacirus2
DATA DPT-HepB-Hib 1
DATA DPT-HepB-Hib 2
DATA DPT-HepB-Hib 3
DATA Sarampo Rubeola1
DATA Sarampo Rubeola2
OPORTUNIDADE PERDIDA S/N S/N S/N S/N S/N S/N
VACINAÇÃO INCORRECTA S/N S/N S/N S/N S/N S/N
CRIANÇA EM DIA S/N S/N S/N S/N S/N S/N

202
EFICÁCIA DA VACINAÇÃO

19.1 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA

O objectivo do PAV é diminuir a incidência das doenças-alvo e não apenas vacinar crianças. É importante
seguir a evolução do número de casos destas doenças para verificar se o Programa é efectivo, tem impacto e
corresponde ao que se espera dele.

Todas as unidades sanitárias devem seguir a evolução das doenças-alvo do PAV (Tuberculose, a Difteria, o
Tétano, a Tosse Convulsa, a Poliomielite, Hepatite B, Diarreais por Rotavírus, Pneumonia, Sarampo, Rubéola
e Carcinoma do Colo do Útero.

O seguimento deve ser feito através do sistema de notificação de doenças transmissíveis, com o Boletim
Epidemiológico Semanal (BES), que, depois de uma análise local, é enviado aos níveis distrital, provincial e
finalmente para o nível central. A interpretação destes ao nível provincial e central é de extrema importância
para uma boa gestão do programa. Não obstante, a interpretação destes dados é muito importante também ao
nível distrital, principalmente para o Sarampo, a Pólio e o Tétano Neonatal.

19.1.1 Avaliação para pólio e tétano


Para a Pólio ou Tétano, se o Programa de Vacinações funcionar correctamente, deve-se verificar uma diminuição
do número de casos. Isto poderá verificar-se facilmente através de um gráfico linear com dados anuais. É
preciso seguir as mudanças a longo prazo, ao longo de vários anos, para poder realmente identificar a eficácia
do PAV.

Em relação ao Tétano Neonatal, nenhuma criança deve aparecer com a doença se a mãe tiver sido vaci-nada.
Todos os casos de Tétano Neonatal de mães vacinadas devem ser investigados.

19.1.2 Avaliação para o sarampo


Pode se seguir a evolução através de um gráfico com dados anuais. Isto pemite seguir as tendências a longo
prazo. Porém, os dados anuais dão uma informação incompleta.

O Sarampo é uma doença que evolui para epidemias de curta duração, podendo ser de 2 a 6 meses. Estes surtos
não podem ser bem identificados com dados anuais. Por isso, será melhor um gráfico linear, representando
os casos mensais de Sarampo em cada Distrito. Mas, neste caso, também a evolução recente do Sarampo pode
ser mal interpretada. Não se deve ficar satisfeito com as actividades de vacinação porque há poucos casos de
Sarampo: pode ser que se esteja num ano calmo.

Do mesmo modo, não é porque temos um surto que o PAV é inefectivo. O objectivo do PAV para o Sarampo
é diminuir a magnitude dos surtos, quer dizer, ter surtos de menor importância (como por exemplo, um surto
com 100 casos num Distrito, num ano, em lugar de 1000 casos registados durante um surto precedente, e
aumentar os intervalos entre os surtos, isto é, ter um surto em cada 5 anos ao invés de intervalos de 3 anos.
Por isso, para avaliar o impacto do PAV na morbilidade por Sarampo, deve-se seguir a sua evolução no Distrito
durante vários anos.

O objectivo final do PAV é evitar que mais crianças e outros elementos do grupo alvo morram por
doenças facilmente preveníveis por vacinas.

O BES permite igualmente avaliar a qualidade do trabalho, através da observação da percentagem de casos
vacinados. Num Distrito rural, se o PAV funcionar correctamente e a cadeia de frio for boa, pode haver menos
de 5% dos casos de Sarampo em crianças vacinadas. Caso a percentagem for maior, deve-se verificar o bom

205
funcionamento da geleira e das técnicas de vacinação dos trabalhadores de saúde (nas cidades com alta cobertura
vacinal, a percentagem de casos vacinados pode ser superior a 5%, sendo o máximo aceitável de 10%).

19.2 REGISTO, ANÁLISE E INTERPTRETAÇÃO DE DADOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Para uma vigilância epidemiológica permanente é necessária a utilização de gráficos ou tabelas, que permitam
uma análise de dados de uma forma rápida e clara.

A forma mais simples de análise faz-se pelo lançamento mensal dos casos de doença num gráfico (um para
cada tipo de doença) e por área de saúde.

O exemplo anterior de casos de sarampo mostra como acompanhar a evolução da doença e levar à tomada de
decisões no momento adequado. No caso referido, ilustrou-se como através do gráfico é possível intensificar
a vacinação no início do surto epidêmico.

Outra forma, também fácil, de análise de dados pode ser efectuada pela elaboração de tabelas de incidência
das doenças, por grupos de idade e estado vacinal, que podem ser actualizados mensal, trimestral/semestralmente.

Vejamos alguns exemplos:


Tabela 19.1: Incidência e frequência do sarampo, por grupos de idade, 1.º trimestre
Idade N.º de casos Frequência relativa %
Menores de 9 meses 5 6,25
De 9 a 23 meses 40 50,0
Mais de 24 meses 35 43,75
TOTAL 80 100,00

O quadro seguinte só será possível elaborá-lo quando haja um registo do estado vacinal de cada caso, o que
se pode conseguir através da utilização de fichas próprias.

Tabela 19.2: Incidência e frequência relativa do sarampo por estado vacinal


Estado vacinal N.º de casos Frequência relativa %
Vacinado com prova 7 9,3
Vacinado por história 5 6,7
Não vacinado 52 69,3
Vacinado com menos de 15 dias 4 5,3
Vacinado antes de 8,5 meses 2 2,7
Sem informação 5 6,7
Total 75 100,0
Fonte: Dados fictícios

O terceiro processo na apresentação de dados compreende a localização dos casos num mapa de uma
determinada área de saúde, com sinalização de bairro, quarteiro, cidade, etc, com uso de pioneses, alfinetes
de cabeça de diferentes cores. A cor poderá variar de acordo com o número de casos que representa, ex: cor
branca= 1 caso; vermelha = 5 casos; amarela = 10 casos, etc.

Este processo de controle é útil para mostrar a aglomeração de casos e indica com precisão onde se pode
suspeitar o aparecimento de um surto epidémico numa área onde a aglomeração aumenta.

206
19.3 NOTIFICAÇÃO DE ÓBITOS OU AVALIAÇÃO DA LETALIDADE

É sempre de interesse calcular a taxa de letalidade que é a percentagem de um determinado número de casos
observados e que faleceram.

Na unidade sanitária é importante acompanhar o número de óbitos que se vão registando, para apreciação da
evolução da doença e da sua gravidade. Porém, só nas unidades sanitárias dotadas de camas de internamento,
hospitais rurais, provinciais e centrais podem-se obter dados para o cálculo da taxa de letalidade, quando os
seus registos forem fiáveis.

A taxa de letalidade (TL) calcula-se do seguinte modo:

207
208
SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE SAÚDE (SIS)

19.1 CONCEITOS

Um sistema de informação de saúde é um conjunto de instrumentos, normas e actividades relacionados entre


si, que produz informação útil para tomada de decisões na área de saúde.

Dirigir é decidir, face a uma informação. Quem não recebe informação não dirige correctamente; quem recebe
informação e a não utiliza, também não pode dirigir com sucesso. Um dirigente que não tem ou não usa
informação, geralmente comete erros sucessivos e não consegue atingir os objectivos. Este dirigente nem sequer
é capaz de avaliar os resultados do seu trabalho e corrigir os erros que comete por não conhecer as suas causas.

O SIS não tem nenhum sentido se não leva à tomada de decisões e acções aos diferentes níveis de
atenção

19.1.1 Instrumentos
Os instrumentos são os impressos (livros de registo e fichas) através dos quais os dados são registados, recolhidos
e enviados.

19.1.2 Normas
As normas definem quem deve realizar as várias actividades do SIS ( por exemplo, quem deve enviar os dados
e quem os deve elaborar), qual é a periodicidade de envio (semanal mensal, anual, etc.) e qual o fluxo que os
impressos devem seguir.

19.2 ACTIVIDADES DO SIS

As actividades compreendem o registo, a recolha, o controlo de qualidade, o envio, a recepção, a elaboração,


a apresentação e a interpretação de dados.

19.2.1 O registo
Consiste em tomar nota num impresso de um caso diagnosticado em ambulatório (exemplo: caso de diarreia),
de uma actividade realizada, ex: (a administração de uma dose de vacina antipólio) ou de um recurso recebido,
ex: (a chegada de uma remessa nova de vacinas).

19.2.2 A recolha
É o acto de transferir os dados dos registos ou fichas diárias para a ficha de resumo. Este passo permite organizar,
com uma certa periodicidade, os dados em grandes categorias. Mensalmente são recolhidos (somados) os
dados de vacinas administradas.

19.2.3 Controlo de qualidade


Consiste em verificar se os dados nos diferentes impressos estão completos, correctos, consistentes e atempados.

No primeiro caso (completos), verifica-se se há ou não diferença entre casos observados e registados (exemplo:
casos de sarampo diagnosticados e os registados nas consultas externas); se há unidades sanitárias que não
enviaram resumos precisos nem qualquer informação.

No segundo caso (correctos), confirma-se se os dados são lógicos, se conferem (somas correctas e sem grandes variações
em relação a dados anteriores), são compreensíveis (números corrigidos e duvidosos), respeitam as normas de
preenchimento dos impressos, se existem e são utilizadas definições padronizadas de doenças ou actividades, etc.

211
No terceiro caso (consistentes), verifica-se se os dados podem ser analisados e confirmados a partir das várias
fontes existentes sem apresentarem grandes diferenças (Por exemplo, Ficha de contagem, Livro de registo,
Resumo Mensal e Gráfico de Monitoria). Por outro lado, os mesmos dados devem ter concordância em relação
aos dados da mesma categoria. Exemplo a simultaneidade entre as doses administradas no mesmo período,
deve ser verificada.

No Quarto caso (atempados) certifica-se se os impressos chegam dentro do prazo estabelecido.

Atenção:
O controlo de qualidade é uma actividade que tem de ser realizada por rotina pelos trabalhadores que registam,
recolhem, enviam e recebem os dados.

Por vezes, o pessoal que recebe os impressos das unidades sanitárias do nível inferior tem possibilidade de
corrigir os erros (ex: é possível corrigir um cálculo de uma taxa quando são conhecidos o numerador e o
denominador). Em outros casos mais frequentes, é impossível corrigir erros quando os dados de base não estão
disponíveis. Por outro lado, é frequentemente possível suspeitar um erro pelas razões acima mencionadas:
dados ilógicos e grandes diferenças com dados precedentes.

Sempre que houver dúvidas quanto à qualidade da informação recebida, principalmente quando há erros
evidentes, é necessário pôr uma referência na nota de acompanhamento do resumo enviado para o nível superior
e procurar-se um esclarecimento junto da US donde os dados foram recebidos, podendo revelar-se necessária
uma imediata supervisão.

19.2.4 A elaboração ou tratamento de dados


Consiste na agregação de dados para transformá-los em informações. Tem por objectivo obter uma informação
que, por sua vez, levará à tomada de decisões. Um dado considerado isoladamente não permite interpretações
e, portanto, não é útil para tomar decisões. Por outro lado, diferentes tipos de dados juntos, de uma forma
lógica, permitem, parcialmente, conhecer e compreender uma realidade.

É claro que quando os dados são falsos, incompletos ou errados, as decisões não serão as mais convenientes e
desejadas, podendo colocar em risco as acções já programadas ou a programar.

19.2.5 Apresentação
Consiste na organização das informações em tabelas e gráficos. Estes meios facilitam a análise e compreensão
das informações, em particular os gráficos que evidenciam uma situação sobre a qual é, talvez, necessário
tomar uma decisão.

19.2.6 Interpretação
Consiste na individualização dos factores que determinam uma certa realidade. Por exemplo: se as taxas de
cobertura do PAV na sede do distrito diminuíram durante o último ano, é possível que as causas que estiveram
na origem daquela situação seja uma ou algumas das seguintes:
• O abastecimento em vacinas não foi suficiente;
• Houve prolongadas rupturas de stock de petróleo;
• A geleira ficou inoperante durante um tempo significativo;
• Houve transferência de alguns trabalhadores mais dinâmicos
• A população perdeu confiança em relação aos serviços prestados pela US
• A população perdeu confiança por maus tratos dos trabalhadores de saúde

Saber interpretar é a premissa indispensável para poder escolher medidas correctivas adequadas e não tomar
iniciativas descabidas. Se por exemplo, no nosso distrito a taxa de cobertura de uma determina vacina baixou
fundamentalmente por causa da falta de petróleo, seria uma escolha errada tentar resolver o problema pedindo
mais vacinas ou uma nova geleira ou mais pessoal.

212
19.2.7 Envio
Consiste na transmissão dos impressos de resumo para o nível superior. O envio deve:
• seguir percursos pré-fixados (ex: da Direcção Distrital ao Núcleo de Estatística e Planificação);
• respeitar os prazos estabelecidos (ex: transmissão, envio, dentro da primeira semana do mês);
• utilizar meios de transporte ou mensageiros definidos (ex: não se pode enviar um relatório anual de
um distrito através de uma pessoa não fiável ou que não pertence à saúde, simplesmente pelo facto de
que esta se desloca à capital provincial).

19.2.8 Recepção
É o acto de receber os impressos enviados pelo nível inferior. Infelizmente nem sempre os impressos enviados
são recebidos ao nível superior por diferentes razões: por exemplo, erros de endereço, utilização de mensageiros
que não são de confiança e problemas de correio.

A maioria dos trabalhadores de saúde limita-se ao registo, recolha e envio de dados ao nível superior sem os
elaborar, interpretar e utilizar. É um ponto a corrigir. Impõe-se que as unidades sanitárias aprendam a agregar
os dados, apresentá-los em gráfico e tabelas de modo que, através deles, possam tirar conclusões que levem à
tomada de medidas apropriadas.

Só quando todas estas actividades (do registo à interpretação para tomada de decisão) são levadas a cabo, o
SIS pode constituir um instrumento de trabalho essencial, deixando de ser uma questão burocrática com pouco
interesse e importância ou de interesse de alguém colocado no nível superior ou no estrangeiro. Portanto, o
SIS deve ser reconhecido pelos trabalhadores como um indispensável e constante instrumento de trabalho para
conhecer, de forma sistemática, quais os principais problemas que devem enfrentar, quais são os recursos
disponíveis, qual é o volume de trabalho realizado e quais os resultados do próprio esforço.

Para tal, todo o processo, desde o registo ao arquivo, passando pela recolha, controlo de qualidade, deve
obedecer ao maior cuidado e o mais alto sentido de responsabilidade.

A qualidade de dados é melhor quando a sua utilidade resulta clara de imediato.

19.3 RESUMO

O SIS permite-nos individualizar situações preocupantes que precisam de medidas corretivas mas, não nos
permite conhecer os factores determinantes. As decisões e acções apropriadas poderão ser tomadas somente
depois de uma análise mais pormenorizada no local onde os dados são registados e enviados.

O SIS é o instrumento que ajuda a decidir os objectivos, programar actividades e distribuir recursos; o mesmo
instrumento permite-nos avaliar as decisões tomadas anteriormente, através do processo de avaliação/monitorização.

Lembre-se sempre que:


O SIS não tem nenhum sentido se não leva à tomada de decisões e de acções aos diferentes níveis de
atenção

213
214
217
GUIÃO DE SUPERVISÃO DE APOIO PARA O PROGRAMA ALARGADO DE VACINAÇÃO

I. INTRODUÇÃO

O Programa Alargado de Vacinação (PAV) tem enfrentado muitos problemas em relação ao cumprimento das
normas do seu funcionamento, principalmente ao nível das Unidades Sanitárias (US) onde o pessoal é de
diferente categoria, maioritariamente do nível elementar e sem formação prévia em PAV. É na perspectiva de
se corrigir todos os aspectos negativos que elaboramos este instrumento que servirá de guia de orientação
durante as visitas de supervisão.

II. OBJECTIVO

Melhorar a supervisão dos gestores do PAV de modo a deixar recomendações claras e objectivas e melhorar
o desempenho do pessoal nos distritos e unidades sanitárias.
No final de cada visita de supervisão, a equipe de supervisão vai-se encontrar com o pessoal em serviço no
local visitado para discutir os resultados do trabalho, acordar acções correctivas para reduzir ou eliminar os
aspectos fracos encontrados. Devem ser produzidas actas do encontro para que haja um registo das recomendações
e acções acordadas. As actas serão posteriormente discutidas na DPS, Médico chefe, chefe do PAV Provincial
e pessoal do local visitado. A acta final da visita, com conclusões da DPS, vai ser produzida. Durante a visita
seguinte, a equipa vai fazer a verificação do seu cumprimento, assegurar que as falhas foram ou estão sendo
eliminadas.

PASSOS PARA SUPERVISÃO

1. A primeira atitude que devemos tomar quando pretendemos fazer uma visita de supervisão é dar oportunidade
ao chefe provincial ou distrital do PAV de identificar os distritos ou unidades sanitárias a serem visitadas e,
onde existem problemas.
Exemplos de alguns problemas:
• Constantes rupturas de stock de vacinas nas unidades sanitárias
• Mau funcionamento da geleira
• Não controlo da temperatura da geleira, etc.

2. Fazer uma rápida analise das fichas de registo, gráficos cumulativos de actividade, cobertura e quebra vacinal
comparando com o mesmo período do ano anterior;

3. Verificar se estes instrumentos (fichas de registo) existem para cada vacina, estão actualizados até o mês
anterior e se o gráfico mostra crescimento regular;

4. Verificar a plano de actividades do PAV, isto é, se há um plano de supervisão, calendário de saídas, se o


programa anual está feito de modo a garantir que cada concentração tenha no mínimo uma visita trimestral, o
programa mensal está de acordo com o programa anual para cobrir cada distrito, se as saídas das brigadas
móveis são feitas em integração com outros programas; (Os pontos 1 a 4 não podem ser colocados em forma
de questionário ex: plano de supervisão sim, não; calendário de saídas, qual é o mínimo aceitável; qtas
supervisões feitas por ano, etc.)

5. Avisar com antecedência as unidades sanitárias sobre a visita;

6. Ler os manuais de consulta e de supervisão antes de iniciar a visita;

7. Ler a ficha de supervisão

8. Se chegar a unidade sanitária e tiver muito movimento nunca interrompa as actividades. Comece por preencher
na ficha de supervisão os aspectos que necessitam observação;

218
I. Informação Geral
Data do Preenchimento:
Província/Distrito:
Nome da Unidade Sanitária: Tipo:
Nome do Provedor: Posição:
Nome do Supervisor:
Data da Supervisão:
Grupos alvos para o ano: Crianças >1ano: MG: MIF:
Nr de locais para BM's: Nr de locais para BM's avançados:
Nr de locais de difícil acesso: População total:
As actividades do PAV são geridas pelo pessoal treinado: Sim:……….. Não:……………

A. Aspectos a verificar no nível provincial e/ou distrital (Depósitos de vacina)

Se sim, a quanto tempo o provedor foi treinado:


Os microplanos e orçamentos nacionais são preparados anualmente? Sim……… Não……….

Nr. Descrição da questão Sim Não


1 Existe um sistema de registo de stock de entradas e saídas de vacinas no depósito?
2 O mesmo é devidamente usado?
3 Existem ficha de controlo de temperaturas das geleiras do PAV?
4 O registo é feito devidamente segundo as normas?
5 As temperaturas de conservação de vacinas estão na escala correcta (entre +2°C a +8°C) (DPTHbHIb;
VAT, BCG,VAS, PCV, RV,IPV, )
6 As temperaturas de conservação de vacinas estão na escala correcta (entre -15°C a -25°C) (POLIO)para
o tipo de vacina colocada naquela
7 Há vacinas fora do prazo, frascos de DPTHepBHib, PCV ou VAT que tenham sido congelados,
tem frascos com MVM (Monitor de Frasco de Vacina) que indica “não usa o frasco.”?
8 Há ruptura de vacina. Se sim, (verifique o stock físico)
9 As quantidades de vacinas requisitadas ou recebidas obedecem o grupo alvo?
10 O Depósito de Vacinas está limpo e bem organizado?
11 Tem havido problemas com oscilação da corrente eléctrica,
Falta de botijas de gás?
12 O técnico sabe como fazer a manutenção preventiva das geleiras, e as instruções destes procedimentos
estão afixadas na parede acima da geleira?
13 Qualquer funcionário sabe a quem comunicar quando há um problema com a geleira (verifique se
tem o nome e o contacto afixado na parede acima da geleira)
14 Quando a geleira tem um problema, ele é reportado dentro de 1 dia?
15 Quanto tempo leva para ser reportado e resolvido o problema da geleira?
16 Há acumulação de gelo, as placas separadoras e os acumuladores estão nos devidos lugares e tem
água?
17 O fundo da geleira não contem água, e a geleira não tem outros produtos como (comida, sangue,
água para beber, etc.)

B. Aspectos a verificar no nível da Unidade Sanitária


Nr. Descrição da questão Sim Não
II. Plano do Programa Alargado de Vacinação
1 Existe um Plano de Trabalho actualizado do PAV (mensal/trimestral) incluindo divulgação e
mobilidade?

2 Existe vacina anual e trimestral, seringa AD, seringa de mistura e previsão de segurança para o HF?

3 O alcance e os serviços estáticos foram restabelecidos de acordo com a abordagem RED?

4 Existe um plano de mobilização social incorporado no plano do PAV?


III. Entrega de Serviços de Imunização
1 Todas as sessões de Imunização planeadas foram realizadas?

2 A Unidade Sanitária tem monitorado a cobertura de imunização mensalmente?

3 Em caso afirmativo, compare a cobertura com a área total de captação de crianças sobreviventes?
Coberturas das vacinas abaixo: Grupo alvo (Cob%):
BCG:……………….(………%)
Penta3:…………….(………%)
OPV3:……………...(………%)
PCV3:……………....(………%)
Rota2:……………...(………%)
MR1:……………....(………%)
MR 2:……………....(………%)
VAT Gr2+:….……...(………%)
VAT MIF2+:………..(………%)

4 A Vitamina é oferecida como parte do seu programa de imunização de rotina?

5 Está em uso a actual política do frasco multidose (Política de frascos abertos)?

6 Existe um mecanismo de rastreamento de faltosos? Se sim, Especifique.


………………………………………………………………………
IV. Ferramentas de Monitoria do PAV
1 Existe um gráfico de monitoria mensal das vacinações actualizado para o corrente mês e usado
correctamente?

2 O Índice de Quebra Vacinal é monitorado mensalmente?

3 Qual é o actual Índice de Quebra Vacinal para as vacinas listadas abaixo?


Penta1-Penta3…………………%
Penta1-MR1………………….%
MR1-MR2…………………..%
VATGr 1-VATGr2……………...%
VATMIF1-VATMIF2……………%

4 O Supervisor visitou esta US no último trimestre?

5 Existe algum feedback escrito pelo Supervisor?

6 Realizam quaisquer reuniões regulares de avaliação de desempenho do PAV conduzidas pelo comité
de saúde?

7 Houve algum programa em que o comité de saúde da área de saúde estivesse envolvido na avaliação
do PAV?

8 Se sim, quem com que frequência?....................................................................................

9 Tem explorado o grau de satisfação dos utentes dos serviços do PAV?


V. Vacina e Gestão da Cadeia de Frio
1 Existe vacina suficiente pelo para 1 mês na Unidade Sanitária?

2 A pessoa responsável pela cadeia de frio sabe as acções a serem tomadas durante a interrupção de
energia?
VI. Segurança de Injecções
1 Existe quantidade suficiente de seringas AD para um mês?

2 As Caixas Incineradoras são usadas para agulhas e seringas?

3 O Incinerador está disponível e é usado adequadamente?

4 Tem usado uma seringa de diluição para cada frasco?

5 No final de cada sessão de vacinação o que faz com as caixas incineradoras cheias?
(especifique)……………………………………………………………………................................

6 O que faz quando se depara com um EAPV (Evento Adverso Pós-


Vacinação)…………………………………………………………………………………...………
………………………………………………......................................................................................
VII. Mobilização e Envolvimento Comunitário
1 Como é que a mobilização é realizada para a imunização na
comunidade?........................................................................................................................................
.............................................................................................................................................................

2 Quém Mobiliza a População alvo ao nível da comunidade?..............................................................

3 Existe um envolvimento comunitário na selecção dos locais de brigadas móveis (BM's)

4 Existe envolvimento comunitário na calendarização das BM's?

5 Existe envolvimento comunitário na mobilização das mães?

6 Com que frequência os comités de saúde comunitária se reúnem?

7 As mães conhecem o calendário de vacinação infantil

8 Os cuidadores conhecem as doenças preveníveis pela vacinação

9 Mencione algumas
VIII. Suporte de nível superior
1 A US tem recebido feedback nos relatórios mensais do PAV?

2 A US tem recebido políticas e directrizes do PAV?

3 O Distrito realiza encontros de revisão (balanços periódicos)?

4 Se sim, com que frequência?..............................................................................................................

5 A US recebe suporte financeiro para realizar as actividades do PAV?

6 A US recebe suporte um regular fornecimento de formatos para registos e relatórios


IX. Observações do Supervisor
1 O nr de Lote das vacinas e a data de expiração são preenchidos?

2 Tem geleiras fora de uso?

221
3 Quantas? Tipo:…………. Razões do não
funcionamento:…………………………………………………………………..

4 A Geleira está colocada perto da parede, objecto de calor, luz solar?

5 Qual é a temperatura actual apresentada pela geleira………………… º C

6 Existe alguém que regista a temperatura da geleira duas vezes por dia incluindo fins-de-semana?

7 A temperatura do refrigerador de> + 8ºC e ou <2ºC foi registada no último mês? Qual foi o alcance? º C

8 Existe um material desnecessário colocado acima da geleira?

9 Existe acumuladores suficientes no compartimento de congelação?

10 Verifica-se gelo acima da quantidade aceitável (acima de 5mm)?

11 Qual é o método de descongelamento usado?

12 As vacinas estão conservadas em compartimentos apropriados?

13 Existe vacina fora do prazo dentro da geleira?

14 Existe vacina sem rótulo dentro da geleira?

15 Existem vacinas Penta e VAT, congeladas e confirmadas com o teste de agitação?

16 Existe frascos de vacinas com VVM que tenha alcançado o estado de descarte?

17 As seringas são reencapadas?

18 O Calendário de vacinação para criança e mulher e as contra indicações para a vacinação são
explicadas?

19 O Estado de imunização das crianças e das mães é verificado?

20 As mães são informadas quando devem regressar para a próxima vacinação?

21 As vacinas de BCG e Sarampo reconstituídas, são descartadas após 6h?

22 O número de frascos de vacinas de BCG e Sarampo é igual ao número de seus diluentes?

23 Está em uso a política de frascos multidose?

24 Os frascos abertos de vacina estão devidamente rotulados e mantidos na geleira?

25 Existe um lugar específico na geleira para conservar frascos abertos?

26 Esta US está usar fichas de registo e formatos de relatório apropriados?

27 As fichas de registo e formatos de relatório usados são bem preenchidos?

28 O relatório está completo?

29 O Relatório é atempado?

30 Verifique a validade das doses, comparando os relatórios de imunização dos livros de registo para:
Penta1 e Penta3; VAT1 e VAT2

31 Verificar a validade das doses, verificando a idade da criança quando recebeu a vacina?
1) Número de doses de PENTAVALENT1 recebidas antes das 6 semanas de idade no mês
anterior. Número:………….

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2) Número de doses de SARAMPO recebidas antes dos 9 meses de idade no último mês.
Número:…………………..

32 As datas de nascimento para todas as crianças são documentadas?

33 Todas as datas das vacinas recebidas são documentadas?

34 Existe um provedor designado como responsável das brigadas móveis?

35 Existem livros de registo para comunidade?

36 A taxa de desperdício é monitorada?

37 Se sim, compare as taxas de desperdício de:


1.BCG…….. 2.Sarampo…….. 3.Penta………. 4.OPV…… 5.VAT…………

X. Entrevista a saída

Questões
1. Os pais/cuidadores das crianças foram explicados sobre a vacina e os EAPV?
2. Os clientes sabem quando voltar para a próxima vacinação?

Pergunta 1 Pergunta 2
1ª Entrevistada Sim Não Sim Não
2ª Sim Não Sim Não
3ª Sim Não Sim Não
4ª Sim Não Sim Não
5ª Sim Não Sim Não

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OBSERVAÇÕES GERAIS

Aspectos positivos

Aspectos por melhorar

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19.4 FICHAS DO PAV E O MODO DE PREENCHIMENTO
Codificação Descrição Ver Anexos
SIS-A01-A Livro de registo de vacinação de crianças 1
SIS-A01 Ficha de registo diario do pav para posto fixo ou brigada móvel; bcg, polio, dtp-hepb-hib, pcv, 2
rv e sarampo
SIS-A02 Ficha de registo diario do PAV para posto fixo ou brigada móvel - VAT 3
SIS-A02-A Ficha de registo diario do PAV para brigada móvel - VAT 4
SIS-A03-A Ficha de resumo mensal do PAV para nível da Unidade Sanitária - BCG, Polio, DPT-HepB-Hib, 5
PCV, RV e Sarampo
SIS-A03-B Ficha de resumo mensal do PAV para nível da Unidade Sanitária - VAT 6
SIS-A04-A Ficha de resumo mensal do PAV para nível distrital - BCG/Polio primário 7
SIS-A04-B FICHA DE RESUMO MENSAL DO PAV PARA NÍVEL DISTRITAL - Polio1 / DPT-HepB- 8
Hib1 / PCV1 / RV1 -
SIS-A04-C FICHA DE RESUMO MENSAL DO PAV PARA NÍVEL DISTRITAL - Polio2 / DPT-HepB- 9
Hib2 / PCV2 / RV2
SIS-A04-D FICHA DE RESUMO MENSAL DO PAV PARA NÍVEL DISTRITAL - Polio3 / DPT-HepB- 10
Hib3 / PCV3 / RV3
SIS-A04-E Ficha de resumo mensal do PAV para nível distrital - Sarampo 11
SIS-A04-F Ficha de resumo mensal do PAV para nível distrital - VAT 12
SIS-A05-A Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provincial - BCG/Polio primário 13
SIS-A05-B Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provincial - Polio1 / DPT-HepB-Hib1 / PCV1 / RV1 14
SIS-A05-C Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provincial - Polio2 / DPT-HepB-Hib2/PCV2/ RV2 15
SIS-A05-D Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provinciall - Polio3 / DPT-HepB-Hib3/PCV3 16
SIS-A05-E Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provincial - Sarampo 17
SIS-A05-F Ficha de resumo mensal do PAV para nível Provincial - VAT 18

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