Redação

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Apesar do avanço da tecnologia, que nos traz uma gama de conhecimentos sobre o certo

e errado, e de a Lei Caó (lei 7.716/89), que combate o racismo no Brasil, ter completado
32 anos no último dia 5 de janeiro, vivemos um retrocesso na questão racial. As atitudes
criminosas provêm desde o meio virtual (internet e redes sociais) ao pessoal, em que os
intolerantes se manifestam sem se importar com os valores do ser humano.
No Brasil, as causas do racismo podem ser associadas, principalmente, à longa
escravização de povos de origem africana e a demora na abolição da escravidão que, a
meu ver, foi limitada, por não inserir os escravos libertos no meio social, nem lhes
permitir os direitos à educação e ao mercado de trabalho, tornando-os marginalizados.
Em diversas leituras em que me ative para alinhar o pensamento sobre o tema, encontrei
várias definições, e o modo mais simples para a compreensão, seja do intelectual, seja
do mais leigo leitor, foi a perspectiva de que o racismo é a “denominação da
discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos
por causa de sua etnia ou cor”.
Dessa forma, apesar de alguns não admitirem, a questão da cor da pele, bem como de
seus desdobramentos, é fato predominante entre nós. Para mim, não há, quando se trata
destas questões, o julgamento implícito ou aquela desculpa clássica do “não quis dizer
isso”. Tudo está escancarado, e a “pessoa” age de forma consciente em seus atos e
palavras quando quer atingir a integridade do outro.
Este é o chamado racismo estrutural aflorando nas interações individuais, “que, de
maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, tende a ser ainda mais
perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos,
situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente,
a segregação ou o preconceito racial”.
Atualmente, mesmo com as leis proibitivas de atos preconceituosos, são constantes os
ataques a negros, mulheres, índios e outras classes denominadas, de forma pejorativa,
“minorias”. Digo pejorativa porque somos maioria no país. Há uma maioria de mulheres
e negros.
As questões acima citadas modificam-se ao acaso das situações e dos jogos das forças
sociais, mas reiteram-se continuamente. Esse é o quebra-cabeça com o qual se
defrontam intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, segregados e
arrogantes, subordinados e dominantes, no Brasil e em todo o mundo.
Sob a ótica da discriminação, não podemos dissociar racismo e preconceito. O termo
“preconceito” é conhecido na teoria e na prática por boa parte da população. Ele se
apresenta de diversas maneiras, em atitudes de desrespeito, discriminação e ódio.
Algumas das expressões de preconceito mais comuns no Brasil são racismo, machismo,
homofobia, transfobia e xenofobia. Infelizmente, essas categorias discriminadas são
empurradas para a marginalidade, a prostituição, e, consequentemente, para a
morteRecentemente, a Câmara dos Deputados instalou comissão formada por vinte
juristas negros para revisar e aperfeiçoar leis sobre racismo no Brasil, entre elas, o
Estatuto da Igualdade Racial. O colegiado deve estudar, entre outros pontos, medidas
para combater a prisão em massa do povo negro, a truculência nas abordagens policiais
e considerar o cruzamento do racismo com outros tipos de discriminação, como o
machismo e a homofobia.
Dados do Departamento Penitenciário Nacional, divulgados em 2020, no 14º Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, mostram que, a cada três presos em 2019, dois eram
negros. Os negros somam 66,7% da população carcerária, estipulada em 755.274
reclusos.
Outra lei que poderá ser aperfeiçoada pelos juristas é a das cotas raciais. A intenção é
combater o racismo institucional no setor privado, punindo-se com mais rigor práticas
de racismo nas empresas.
Ainda no âmbito das leis, o Brasil passou a fazer parte da Convenção Interamericana
Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância. O texto
aprovado agora em fevereiro pelo Senado Federal passa a integrar o ordenamento
jurídico brasileiro.
Desse modo, o Brasil “se compromete a prevenir, eliminar, proibir e punir, de acordo
com suas normas constitucionais e com as regras da convenção, todos os atos e
manifestações de racismo, discriminação racial e intolerância”.

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