Bps n21 Desenvolvimnto
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DESENVOLVIMENTO RURAL
1 APRESENTAÇÃO
A questão agrária brasileira, apesar de seus impasses e problemas, continua
negligenciada na agenda governamental. No período 2011-2012, ela foi agravada
pela seca no Semiárido e pela ineficiência das ações que poderiam mitigar seus
efeitos mais perversos. Além disso, a definição de novas regras no âmbito do
Código Florestal terá consequências para o cumprimento do mandato consti-
tucional relativo à função social da terra, dificultando ainda mais a obtenção de
terras para o Programa de Reforma Agrária.
A desaceleração da reforma agrária, que vinha ocorrendo desde 2008, agra-
vou-se no último ano. Esta edição do periódico Políticas sociais: acompanhamento e
análise mostra o desempenho recente do programa, ressalta algumas de suas carac-
terísticas e os embates que trava em diferentes frentes, desde a obtenção de terras
até as questões derivadas do frágil equacionamento ambiental dos assentamentos.
O tratamento que vem sendo dispensado à agricultura familiar, analisado
pela ótica do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), aponta disfunções, revelando a concentração da aplicação de recursos
nas áreas e nos setores mais capitalizados: a região Sul absorveu 51% do total de
recursos, distribuídos em crédito de custeio e de investimento; e o Nordeste recebeu
apenas 13% dos recursos aplicados em 2011.
Também mereceu destaque especial uma apresentação do Programa de
Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT), contextualizando
e analisando a implementação da perspectiva territorial, iniciativa inovadora do
ponto de vista do planejamento, mas que enfrenta dificuldades operacionais para
articular e coordenar as ações identificadas como necessárias em cada um dos
territórios já identificados.
Finalmente, o Tema em destaque trata da conformação do território rural
a partir da análise dos embates e das disputas pelo domínio territorial e de seus
recursos naturais (florestais, minerais etc.) sob a lógica de acumulação do capital.
Ou seja, apresenta o rural visto a partir da territorialização dos conflitos agrários.
324 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
2 FATOS RELEVANTES
5. A fonte de informações estatísticas do referido estudo foi o Censo Agropecuário de 2006, do IBGE. As definições de
“agricultores familiares de baixa renda” e “agricultores assentados em projetos de reforma agrária” seguiram as normas
operacionais do crédito rural vigentes no Plano Safra 2006-2007. A primeira definição contemplou agricultores que
obtiveram uma renda bruta anual familiar de até R$ 3 mil, sendo no mínimo 30% desta auferida por meio de atividades
desenvolvidas no interior do estabelecimento agropecuário. A segunda definição contemplou agricultores familiares
assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário
(PNCF) e reassentados de áreas afetadas pela construção de barragens.
326 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
6. Uma excelente análise sobre a luta de classes no sertão nordestino está em Elegia para uma re(li)gião: Sudene,
Nordeste, planejamento e conflito de classes, de Francisco de Oliveira. Segundo o autor, o “Nordeste algodoeiro-pecuário”
viveu, no século XX, um movimento pendular de violência oriundo da ambiguidade estrutural na qual se desenvolveram
a pecuária extensiva e a economia algodoeira. Esta ambiguidade estrutural – a coexistência do latifúndio e do minifúndio –
oferecia lógica peculiar à economia da região. Por um lado, as culturas de subsistência viabilizavam um baixo custo
de reprodução da força de trabalho. Por outro, a “cessão” de um pedaço de terra aos trabalhadores mantinha-os
dependentes e submissos (Oliveira, 1981).
7. Essa delimitação supõe uma exploração minimamente rentável e não danosa ao meio ambiente. Para mais informa-
ções, ver: Guimarães Filho e Lopes (2002).
Desenvolvimento Rural 327
8. Esse novo olhar sobre o sertão reforça, em primeiro lugar, a ideia de que o semiárido é viável, uma região na
qual é possível construir ou resgatar relações de convivência entre os seres humanos e a natureza, com base na
sustentabilidade ambiental e combinando qualidade de vida das famílias sertanejas, promoção da cidadania e
incentivo a atividades econômicas e tecnologias apropriadas para a região (Silva, 2006, p. 26).
9. O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) é destinado às famílias com renda até meio salário mínimo por mem-
bro da família incluídas no Cadastro Único do governo federal e que residem permanentemente em área rural sem
acesso ao sistema público de abastecimento de água.
10. Para mais informações, ver Malvezzi (2007, p. 14).
11. Com o objetivo declarado de acelerar o processo de instalação de cisternas no semiárido, em dezembro de 2011, o governo
federal suspendeu o apoio ao programa implementado pela Articulação do Semiárido (ASA) e anunciou a compra de milhares
de cisternas de plástico/PVC, que deveriam ser instaladas nas comunidades via convênios com estados e municípios. A medida
foi amplamente contestada pelos movimentos sociais do semiárido, que realizaram ato público, com a participação de mais
de 15 mil pessoas, no dia 20 de dezembro de 2011, na cidade de Petrolina. Segundo os manifestantes, a cisterna de placa
construída a partir da metodologia desenvolvida pela ASA utiliza insumos e mão de obra locais, dinamiza a economia regio-
nal, associa um trabalho pedagógico com as famílias e, principalmente, promove a autonomia, pois os próprios beneficiários
aprendem a realizar a manutenção das cisternas. A cisterna plástica, entretanto, tem custo unitário 58% mais alto que a
cisterna de placa, é produzida em centros industriais longínquos, é mais frágil, beneficia poucas empresas fornecedoras, gera
dependência da comunidade em relação a estas empresas, produz lixo ambiental, entre outras desvantagens. Diante da pressão
social e de denúncias de que a medida, na verdade, objetivava favorecer o reduto eleitoral do ministro Fernando Bezerra, do
MI, o governo federal recuou, restabeleceu o contrato com a ASA e reduziu a compra pública de 300 mil cisternas de plástico
para 60 mil.
330 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
14. Por exemplo, após a morte de um jovem trabalhador que atuava no almoxarifado químico da monocultura de
abacaxi de determinada empresa, vítima de uma grave doença hepática, 53% dos trabalhadores desta empresa foram
diagnosticados com alterações na função do fígado devido à exposição diária a agrotóxicos no trabalho.
Desenvolvimento Rural 333
preservá-lo para a presente e as futuras gerações. O Artigo 170, além disso, cita
o meio ambiente como um dos princípios que devem reger a ordem econômica.
O meio ambiente é, pois, um direito difuso. Aplicá-lo aos imóveis rurais implica
relativizar o direito de propriedade: para que este seja legítimo, seu detentor não
deve prejudicar os direitos da coletividade. Assim, a atividade econômica em um
estabelecimento rural deve, além de propiciar prosperidade ao proprietário, ser
benéfica ou, ao menos, não causar danos a terceiros. Isto implica, entre outros
aspectos, não prejudicar os bens e serviços ecossistêmicos, como ar, água e clima,
que são de uso comum de todos.
Essa sintonia não ocorre com o novo Código Florestal. A Lei no 12.651/2012
é resultado da iniciativa de um grupo de parlamentares defensores de interesses do
setor do agronegócio, cujo principal objetivo era proteger produtores rurais em
débito com a legislação ambiental das ações fiscalizatórias e punitivas do Estado
e legalizar áreas de exploração agropecuária em desacordo com o código anterior,
como as reservas legais e áreas de preservação permanente (APPs). Em seu con-
junto, apresenta dispositivos que visam reduzir áreas de proteção ambiental para
manter e ampliar o uso alternativo do solo.
Uma análise do capítulo X dessa lei, o qual trata do Programa de Apoio e Incen-
tivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente, permite evidenciar a subordi-
nação do direito ambiental aos interesses econômicos. Seu Artigo 41 estabelece três
eixos de ação a fim de que os proprietários cumpram a lei ambiental: i) pagamen-
to ou incentivos financeiros a serviços ambientais; ii) compensação a medidas de
conservação e recuperação ambiental; e iii) incentivos à comercialização, inovação,
aceleração para recuperação, conservação e uso sustentável de recursos naturais.
Por pagamentos ou incentivos são consideradas retribuições, monetárias ou não,
a atividades de conservação que redundem em melhorias ao meio ambiente, quais
sejam (Brasil, 2012a, Artigo 41, I):
a) sequestro de carbono;
b) conservação da beleza cênica natural;
c) conservação da biodiversidade;
d) conservação dos recursos hídricos;
e) regulação do clima;
f ) valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico;
g) conservação e melhoramento do solo; e
h) manutenção de áreas de preservação permanente, de reserva legal e áreas
de uso restrito.
Desenvolvimento Rural 335
será beneficiado pela lei, embora, ao todo, tenha vinte módulos fiscais. Outras
benesses favorecem imóveis de até dez ou quinze módulos, como a liberação de
áreas desmatadas de APP para a continuidade de atividades agropecuárias (Brasil,
2012a, Artigos 61-A, § 4o, I, e 61-B).
O novo Código Florestal está completamente dissociado do princípio cons-
titucional da função social da terra, seja por seu conteúdo estritamente produti-
vista, seja pelo fato de sequer aludir ao princípio em seu texto. Ao dar demasiada
ênfase à produção, parece ter o caráter de um código agrícola que protege os
produtores rurais da fiscalização do Estado. Subordina a questão do meio am-
biente à lógica de mercado, em uma concepção equivocada de que transformar
os bens e serviços ecossistêmicos em mercadorias seria a única solução para pre-
servar o meio ambiente, uma vez que o Estado seria incapaz de exercer o poder
de polícia em prol da garantia de direitos da coletividade. Perdeu-se, ainda, uma
grande oportunidade de se discutir o modelo agrário brasileiro, ao não se incluir,
em conjunto com as questões ambiental e econômica, a questão social relativa à
equidade na distribuição da terra no país. A lei acaba por cristalizar ainda mais o
modelo agrário iníquo imperante, concentrando eventuais ganhos de um incerto
mercado de serviços ambientais em poucas mãos.
TABELA 1
Assentamentos segundo a forma de obtenção da terra em projetos criados em 2011
e em projetos criados até 2010 (jan.-dez./2011)
Assentamentos em projetos
Assentamentos em projetos criados em 2011
criados até 2010
Total de famí-
Projetos Famílias lias assentadas
Origem/ Famílias
Projetos ho- nos projetos (C)
obtenção assentadas
Capaci- Assentadas mologados (unidade)
Área (unidade) (A + B)
(unidade) dade (unidade) (unidade)
(ha) (B)
(unidade) (A)
Fonte: Diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento do Incra e Sistema de Informações de
Projetos de Reforma Agrária (Sipra).1
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea.
Nota: 1 A partir de dados de 27 de janeiro de 2007.
A tabela 1 mostra ainda que foram obtidas de forma onerosa (via desa-
propriação e compra) menos de 6% da área total incorporada ao programa; as
demais 94,5% são terras públicas. A transformação de muitas terras públicas em
projetos de assentamento rural cumpre ao menos dois objetivos: reconhecimento
de direitos e da garantia de estabilidade da posse da terra e continuidade de prá-
ticas de conservação ambiental (projetos “verdes”: florestais, agroextrativista, de
desenvolvimento sustentável, entre outros). É importante ressaltar, entretanto,
que a destinação de terras públicas para a criação de assentamentos rurais não tem
qualquer impacto sobre a concentração fundiária.
TABELA 2
Famílias assentadas em projetos criados em 2011 por região e forma de obtenção
da terra (2011)
Projetos criados Área obtida Capacidade criada Famílias assentadas
Região/origem da terra Famílias Famílias
(unidade) (%) (ha) (%) (unidade) (%)
(unidade) (%)
Onerosa 53 49 103.961 5 2.785 31 1.824 36
Norte 5 5 21.190 1 553 6 144 3
Nordeste 34 31 69.201 4 1.643 18 1.213 24
(Continua)
Desenvolvimento Rural 341
(Continuação)
Projetos criados Área obtida Capacidade criada Famílias assentadas
Região/origem da terra Famílias Famílias
(unidade) (%) (ha) (%) (unidade) (%)
(unidade) (%)
Sudeste 6 6 6.419 0 266 3 247 5
Sul 1 1 804 0 68 1 58 1
Centro-Oeste 7 6 6.346 0 255 3 162 3
Terra pública 55 51 1.796.896 95 6.270 69 3.290 64
Norte 41 38 1.595.260 84 3.578 40 1.733 34
Nordeste 9 8 198.883 10 2.556 28 1.475 29
Sudeste 2 2 681 0 32 0 19 0
Sul 2 2 1.924 0 95 1 58 1
Centro-Oeste 1 1 148 0 9 0 5 0
Total 108 100 1.900.857 100 9.055 100 5.114 100
TABELA 3
Número de famílias assentadas nos projetos de reforma agrária1 – por trimestre e
regiões (jan.-dez./2011)
Famílias assentadas por trimestre Famílias
Regiões e Unidades Federativas (UFs) (unidade) assentadas
1o 2o 3o 4o Total (%)
(Continuação)
Famílias assentadas por trimestre Famílias
Regiões e Unidades Federativas (UFs) (unidade) assentadas
1o 2o 3o 4o Total (%)
TABELA 4
Número de famílias assentadas em 2011 por período de criação do projeto
(jan.-dez./2011)
Projetos que receberam novas famílias em 2011 Famílias assentadas Famílias assentadas
Período de criação do projeto
(unidade) (unidade) (%)
1900-1984 18 79 0,36
1985-1994 226 1.191 5,42
1995-1998 661 3.592 16,35
1999-2002 570 2.418 11,00
2003-2006 564 3.902 17,76
2007-2010 483 5.685 25,87
2011 96 5.108 23,24
Total 2.618 21.975 100,00
Fonte: Relatório 0229/SDM/Sipra.1
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea.
Nota: 1 Com dados disponibilizados em 6 de março de 2012.
TABELA 5
Projetos de reforma agrária em execução1 por período de criação (1900-primeiro
semestre de 2012)
Capacidade de Famílias
Projetos Área Área média Famílias assen- Área assen-
Período de criação famílias supor- assentadas
criados (ha) (A/C) tadas tada
dos projetos tada (unidade) (unidade)
(unidade) (A) (ha) (%) (%)
(B) (C)
TABELA 6
Projetos de reforma agrária em execução por grande região (1900-primeiro semestre
de 2012)
Capacidade
Projetos Famílias Área Projetos Famílias
Área abrangida de famílias Área mé-
Regiões criados assentadas abrangida criados assentadas
(ha) suportada dia (ha)1
(unidade) (unidade) (%) (%) (%)
(unidade)
A região Norte concentra a maior parte dos quase 9 mil projetos existentes,
tanto em área abrangida (71% do total) quanto em número de famílias assentadas
(44%), embora no Nordeste haja quantidade maior de projetos. Apenas cinco es-
tados (Pará, Maranhão, Mato Grosso, Bahia e Rondônia) concentram 60% da área
atualmente apropriada por projetos de assentamento e 53% das famílias assentadas.
TABELA 7
Fases dos projetos de reforma agrária1 em execução (1900-primeiro semestre de
2012)
(Continuação)
TABELA 8
Projetos de assentamento em execução1 por fase do projeto – Brasil e Grandes Regiões
(1900-primeiro semestre de 2012)
Fases do Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
projeto (unidade) (%) (unidade) (%) (unidade) (%) (unidade) (%) (unidade) (%) (unidade) (%)
Projetos em
1.304 63,5 1.909 46,7 442 59,9 216 26,6 846 69,2 4.717 52,9
fase inicial
Assentamento
822 40,0 1.307 32,0 214 29,0 117 14,4 601 49,2 3.061 34,3
criado
(Continua)
346 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
(Continuação)
Fonte: Sipra.2
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea.
Notas: 1 Em execução em 30 de junho de 2012.
2
Com dados disponibilizados em 18 de julho de 2012.
TABELA 9
Formas de obtenção de terra para a constituição de projetos de assentamentos rurais
(1900-primeiro semestre de 2012)
Capacidade Capacidade
Famílias Famílias
Forma de Projetos Área de famílias Projetos Área de famílias
assentadas assentadas
obtenção (unidade) (ha) assentadas (%) (%) assentadas
(unidade) (%)
(unidade) (%)
Onerosa 5.898 31.660.433,98 609.790 520.082 66,2 33,5 53,8 55,9
Compra e venda 520 1.575.965,71 53.458 46.484 5,8 1,7 4,7 5,0
Desapropriação 5.378 30.084.468,27 556.332 473.598 60,3 31,8 49,1 50,9
Não onerosa 2.333 57.530.064,73 408.952 321.952 26,2 60,9 36,1 34,6
Reconhecimento 1.577 34.971.873,63 175.224 150.496 17,7 37,0 15,5 16,2
Discriminação 61 3.618.561,36 29.477 23.904 0,7 3,8 2,6 2,6
Arrecadação 695 18.939.629,73 204.251 147.552 7,8 20,0 18,0 15,9
Outras não
384 2.161.524,39 46.656 32.219 4,3 2,3 4,1 3,5
onerosas1
(Continua)
Desenvolvimento Rural 347
(Continuação)
Capacidade Capacidade
Famílias Famílias
Forma de Projetos Área de famílias Projetos Área de famílias
assentadas assentadas
obtenção (unidade) (ha) assentadas (%) (%) assentadas
(unidade) (%)
(unidade) (%)
Em obtenção 299 3.150.089,93 67.170 55.909 3,4 3,3 5,9 6,0
Total 8.914 94.502.113,02 1.132.568 930.162 100 100 100 100
Fonte: Sipra.2
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea.
Notas: 1 Inclui as seguintes formas: adjudicação, cessão, confisco, dação, doação, incorporação, reversão de domínio
e transferência.
2
Com dados disponibilizados em 18 de julho de 2012.
Nos projetos criados entre 2003 e 2010, apenas 28,8% das famílias foram
assentadas em terra obtida por desapropriação; 26,7% se incorporaram à reforma
agrária após serem instaladas em projetos criados por governos estaduais, basi-
camente em terras públicas estaduais. Na região Norte, a arrecadação e a discri-
minação de terras públicas federais possibilitou a incorporação ao programa de
reforma agrária de cerca de 65 mil famílias (18% do total).
Da atual área ocupada com assentamentos rurais (94,5 milhões de hec-
tares), menos da terça parte (30 milhões de hectares) foi obtida via desapro-
priação por interesse social, pelo descumprimento da função social da terra,
especificamente quanto ao quesito de produtividade. A perda de intensidade
do uso deste mecanismo de obtenção de terras resulta, ao menos em parte, da
limitação dos atuais índices de produtividade, que permanecem em patamar
extremamente baixo. Prevista em lei, a revisão destes índices deveria refletir
os avanços técnicos da agricultura brasileira, que têm sido apropriados quase
que exclusivamente pelo grande agronegócio. Os índices em uso foram cons-
truídos com base no Censo Agropecuário de 1975, e sua atualização vem sen-
do reivindicada pelos movimentos sociais rurais, pelo menos, desde meados da
década de 1990. Algumas propostas foram construídas com a participação do
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa), mas nenhuma conseguiu ultrapassar o veto da
bancada ruralista no Congresso Nacional.17
17. A atualização desses índices, que balizam os procedimentos de desapropriação de terras improdutivas, por interesse
social, deveria ser periódica, como estabelece a Lei no 8.629/1993, mas tem enfrentado, e perdido, um embate político
com os ruralistas, que não reconhecem – para este efeito – os avanços técnicos da agricultura brasileira. A desapropriação
para fins de reforma agrária deve atender aos critérios, às condições e aos limites expressos na legislação, levando em
consideração critérios econômicos – expressos pelos índices Grau de Utilização da Terra (GUT) e Grau de Eficiência da
Exploração (GEE). A fonte de informação sobre a produtividade é o Cadastro de Imóveis Rurais do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), e os atuais índices foram estipulados tendo por base os resultados dos censos
agropecuários de 1970 e 1975 do IBGE.
348 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
estabelecidos por atos normativos. A partir de 2003, esta regulação passou a incluir
a obrigatoriedade do licenciamento ambiental. Neste intuito também foi emitida
a Norma de Execução da Diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de
Projetos de Assentamento (DT) no 69/2008, do Incra, que institui dois grupos
de projetos de reforma agrária: i) projetos criados pelo Incra por meio de obtenção de
terras, na forma tradicional, denominados projetos de assentamentos (PAs), e
projetos ambientalmente diferenciados – projeto agroextrativista (PAE), projeto
de desenvolvimento sustentável (PDS) e projeto de assentamento florestal (PAF);
e ii) os projetos reconhecidos pelo Incra, criados por órgãos governamentais para
acesso às políticas públicas do PNRA e que podem seguir o modelo tradicional
ou estar voltados para a preservação ambiental (Incra, 2008).
Os projetos ambientalmente diferenciados se situam quase que totalmente
no Norte: são 561 projetos, que ocupam mais de 44 milhões de hectares, onde
estão instaladas quase 160 mil famílias. Nas demais regiões há apenas 56 projetos
deste tipo, em 567 mil ha, atendendo 13,4 mil famílias. O Norte, entretanto,
também abriga um conjunto significativo de projetos convencionais: eles ocupam
uma área de 23 milhões de hectares (48% menor que a dos projetos ambientais),
mas são em maior quantidade (quase três vezes) e abrigam mais de 50% das fa-
mílias assentadas na região.
TABELA 10
Tipos dos projetos de assentamento em execução: número, área e número de famílias
assentadas (1900-jun./2012)
Família Famílias
Projetos Área Projetos Área
Tipo de projeto assentadas assentadas
(unidade) (ha) (%) (%)
(unidade) (%)
Projetos ambientais ou “verdes” 617 44.565.810 173.219 7 47 19
Outros tipos 8.297 49.936.302 756.943 93 53 81
Total 8.914 94.502.113 930.162 100 100 100
Fonte: Sipra.1
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea .
Nota: 1 Com dados disponibilizados em 18 de julho de 2012.
TABELA 11
Projetos em execução: área média útil por família em projetos de assentamento rural
no Pará (2012)
Grupos de área Projetos Projetos Porcentagem acumulada
(ha) (unidade) (%) (%)
Menos de 1 58 5,36 -
De 1 a 3 120 11,09 16,45
De 3 a 5 66 6,10 22,55
De 5 a 10 421 38,91 61,46
De 10 a 15 225 20,79 82,26
De 15 a 20 85 7,86 90,11
De 20 a 30 63 5,82 95,93
De 30 a 50 24 2,22 98,15
De 50 a 100 12 1,11 99,26
De 100 a 200 4 0,37 99,63
De 200 a 500 1 0,09 99,72
De 500 a 1 mil 2 0,18 99,91
(Continua)
18. Ver determinações no Artigo 12 da Lei no 12.651/2012: “Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de
vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel: I – localizado na Amazônia
Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel
situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais.” (Brasil, 2012a).
350 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
(Continuação)
Grupos de área Projetos Projetos Porcentagem acumulada
(ha) (unidade) (%) (%)
Mais de 1 mil 1 0,09 100,00
Total 1.082 100,00 -
Fonte: Sipra. 1
Elaboração: Coordenação de Desenvolvimento Rural/Disoc/Ipea.
Nota: 1 Com dados disponibilizados em 18 de julho de 2012.
TABELA 12
Porcentagem da área degradada de projetos de assentamento selecionados no Pará
Área Área do Capacidade Famílias Data de
Projeto degradada projeto de famílias assentadas Forma de obtenção criação do
(%) (ha) (unidade) (unidade) projeto
Projeto de Assentamento
Manoel Crescêncio de 98 18.894,804 465 367 Desapropriação 26/11/1986
Souza
Projeto de Assentamento
90 4.512,000 103 28 Desapropriação 31/3/1987
Colônia Reunidas
Projeto de Assentamento
61 11.426,947 149 148 Desapropriação 12/5/1987
Novo Horizonte
Projeto de Assentamento
98 8.252,563 82 72 Desapropriação 9/7/1987
Ribeirão de Fogo
Projeto de Assentamento
93 52.315,840 750 134 Desapropriação 4/8/1987
Colônia Verde Brasileira
Projeto de Assentamento
74 5.084,846 92 89 Desapropriação 4/8/1987
Castanhal Araras
Projeto de Assentamento
71 25.211,708 420 399 Desapropriação 7/8/1987
Jocon/3 irmãos
Projeto de Assentamento
80 21.000,000 415 328 Arrecadação 1/9/1987
Jacunda
Projeto de Assentamento
68 75.000,000 1.476 1.070 Desapropriação 10/5/1988
Rio da Esquerda
Projeto de Assentamento
74 72.260,806 1.473 1.243 Desapropriação 31/10/1991
Cinturão Verde I e II
Projeto de Assentamento
50 9.695,000 193 190 Desapropriação 2/9/1992
Cristalino
Projeto de Assentamento
99 1.333,647 35 35 Desapropriação 24/9/1992
Barcelona
Projeto de Assentamento
51 2.977,650 73 55 Desapropriação 24/9/1992
João Canuto
(Continua)
352 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
(Continuação)
Área Área do Capacidade Famílias Data de
Projeto degradada projeto de famílias assentadas Forma de obtenção criação do
(%) (ha) (unidade) (unidade) projeto
Projeto de Assentamento
77 1.987,145 43 37 Compra e venda 12/11/1992
Sagitário
Projeto de Assentamento
82 17.165,471 430 352 Arrecadação 10/1/1995
Tancredo Neves
Projeto de Assentamento
57 4.725,3193 191 177 Compra e venda 26/12/1995
Rio Branco
Projeto de Assentamento
66 14.921,890 517 505 Desapropriação 11/3/1996
Palmares
Projeto de Assentamento
94 21.432,540 400 366 Desapropriação 24/9/1996
Agrisa
Projeto de Assentamento
91 12.851,290 305 305 Desapropriação 24/9/1996
Camarana
Projeto de Assentamento
55 18.900,000 252 251 Desapropriação 10/6/1997
Uirapuru
Projeto de Assentamento
78 2.241,323 49 47 Desapropriação 8/11/2002
Unidos para Vencer
Projeto de Assentamento
77 3.921,597 75 64 Desapropriação 23/10/2003
Rio das Cruzes
19. Conforme dados do Incra, do Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra) e do SDM
(Incra, 2012b).
Desenvolvimento Rural 353
20. Conforme Artigo 99 da Lei no 8.171/1991: “A partir do ano seguinte ao da promulgação desta lei, obriga-se o
proprietário rural, quando for o caso, a recompor em sua propriedade a Reserva Florestal Legal, prevista na Lei no
4.771, de 1965, mediante o plantio, em cada ano, de pelo menos um trinta avos da área total para complementar a
referida Reserva.” (Brasil, 1991).
354 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
TABELA 13
Execução orçamentária dos programas finalísticos do MDA (2011)
Montante autorizado Montante Nível de
Programas finalísticos (R$) liquidado execução
(lei + créditos) (R$) (%)
Programa Novo Mundo Rural: Assentamentos para Trabalhadores
994.300.000 827.482.294 83,2
Rurais
Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios
677.981.503 422.031.008 62,2
Rurais (PRONAT)
Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na
418.078.868 346.506.691 82,9
Agricultura Familiar (Pronater)
Programa Desenvolvimento Sustentável de Projetos de Assenta-
505.228.800 343.805.764 68
mento
Agricultura Familiar – Programa Nacional de Fortalecimento da
246.821.426 204.070.339 82,7
Agricultura Familiar (PRONAF)
Programa de Gerenciamento da Estrutura Fundiária e Destinação de
243.901.352 122.206.416 50,1
Terras Públicas
Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) 91.190.450 78.330.931 85,9
Programa Brasil Quilombola (PBQ) 33.096.635 30.479.513 92,1
(Continua)
21. Os procedimentos foram definidos pela Resolução no 289/2001 (revogada) e atualizados pela Resolução no 387/2006,
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Desenvolvimento Rural 355
(Continuação)
Montante autorizado Montante Nível de
Programas finalísticos (R$) liquidado execução
(lei + créditos) (R$) (%)
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) 31.000.000 21.453.396 69,2
Programa de Cidadania e Efetivação de Direitos das Mulheres 28.363.650 19.978.966 70,4
Programa de Gestão da Política de Desenvolvimento Agrário 24.473.508 18.367.214 75
Programa Paz no Campo 13.096.024 4.340.971 33,1
Programa Nacional de Conservação, Manejo e Uso Sustentável da
2.200.000 633.265 28,8
Agrobiodiversidade
Total 3.309.732.216 2.439.686.768 73,71
Fonte: Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal, da Secretaria do Tesouro Nacional (Siafi/STN).
Elaboração: Disoc/Ipea.
Quase metade dos recursos aplicados em 2011 pelo MDA foi gasto pelos
programas exclusivamente direcionados para a reforma agrária: “Assentamentos
para Trabalhadores Rurais” e “Desenvolvimento Sustentável de Projetos de Assen-
tamento”. A estes dispêndios deve-se somar boa parte dos recursos consumidos
com o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura
Familiar, que atende aos assentados e agricultores familiares.
Embora o recurso aplicado no Programa Novo Mundo Rural: Assentamentos
para Trabalhadores Rurais, em 2011, tenha sido maior que o do ano anterior,
ficou aquém do observado em 2008 e 2009. Cabe a este programa cadastrar,
selecionar e homologar as famílias beneficiárias do Programa de Reforma Agrária
e realizar os procedimentos necessários à obtenção de terras. Segundo avaliação do
Incra, o recurso destinado à ação Obtenção de Imóveis Rurais para Reforma Agrária
foi insuficiente e impactou negativamente o programa, pois, desde o início do ano,
já havia um passivo de R$ 855,8 milhões, remanescentes de 2010, dos quais 72%
eram para pagamento de novas áreas a serem incorporadas à reforma agrária e
28%, para o pagamento de comandos judiciais em processos de desapropriação
(Incra, 2012b). Mesmo com a suplementação orçamentária de R$ 400 milhões,
não foi possível atender a toda a demanda do ano, por falta do correspondente
financeiro; ainda restou um passivo de cerca de R$ 210 milhões para 2012.
O Incra aponta a insuficiência de recursos humanos para cumprir todas as ações
do programa, que, além da obtenção de terras, envolvem funções relativas ao
licenciamento ambiental, o qual deve preceder a entrada das famílias nos projetos.
A maior parte dos recursos (70%) foi destinada ao pagamento de desapro-
priações e aquisição de 167 imóveis, abarcando uma área de 314,6 mil ha; do to-
tal gasto, 84% foi pago em Títulos da Dívida Agrária e 16%, em moeda corrente.
Estes imóveis, após a imissão na posse, a ser concedida pelo Poder Judiciário em
ação de desapropriação, serão incorporados ao Programa de Reforma Agrária.
356 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
GRÁFICO 1
Evolução dos recursos aplicados pelos principais programas que integram as ações
de reforma agrária (2008-2011)
(Em R$)1
1.000.000.000
900.000.000
800.000.000
700.000.000
600.000.000
500.000.000
400.000.000
300.000.000
200.000.000
100.000.000
0
22. Conforme o Relatório de gestão do exercício de 2011 do Incra: “Para que um projeto de assentamento possa
ser oficialmente consolidado pelo Incra faz-se necessário o cumprimento de alguns pré-requisitos: a demarcação do
perímetro (obrigatório) e das parcelas, quando existentes; a concessão do Crédito Apoio a Instalação; a existência
de habitação para as famílias assentadas (oriundas do crédito habitação ou não); a infraestrutura básica concluída,
qual seja: estradas de acesso, sistema de abastecimento de água para consumo humano e eletrificação rural; e a
titulação definitiva em pelo menos 50% das famílias assentadas. Além dos requisitos acima devem ser verificadas as
condições de sustentabilidade econômico-social e ambiental das famílias assentadas nos projetos consolidados (...).
Tais condições são de grande complexidade, exigindo a atuação concomitante de diversos setores, o que dificulta e
atrasa o processo de consolidação dos assentamentos. Desta forma, desde 2005 o Incra não vem consolidando seus
assentamentos, procurando agir de maneira mais criteriosa de forma a garantir que todas as etapas do processo de
consolidação sejam cumpridas. Em que pese as dificuldades, já explicitadas, quanto ao alcance da efetiva consolidação
dos projetos de assentamento, a Diretoria vem impondo um novo ritmo às ações de desenvolvimento no sentido de
satisfazer esses requisitos e implementar as condições para a consolidação dos Projetos” (Incra, 2012a).
Desenvolvimento Rural 357
23. Para mais informações, ver tabelas do anexo estatístico desta edição.
358 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
TABELA 14
Portarias de reconhecimento por superintendências regionais e municípios (2011)
Famílias
Superintendência Área
Ordem Comunidade Município assentadas
Regional (ha)
(unidade)
1 Mangal e Barro Vermelho Sítio do Mato 9.041,71 156
24. Ver detalhes sobre a execução orçamentária no anexo estatístico desta edição.
Desenvolvimento Rural 359
GRÁFICO 2
Evolução do crédito PRONAF por modalidade
2A – Número de contratos
2.000.000
1.800.000
1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
1998-1999
1999-2000
2000-2001
2001-2002
2002-2003
2003-2004
2004-2005
2005-2006
2006-2007
2007-2008
2008-2009
2009-2010
2010-2011
2011-2012
Custeio Investimento Total
2B – Recursos negociados
14.000.000.000,00
12.000.000.000,00
10.000.000.000,00
8.000.000.000,00
6.000.000.000,00
4.000.000.000,00
2.000.000.000,00
0,00
1998-1999
1999-2000
2000-2001
2001-2002
2002-2003
2003-2004
2004-2005
2005-2006
2006-2007
2007-2008
2008-2009
2009-2010
2010-2011
2011-2012
Fonte: Banco Central do Brasil (BCB) – somente exigibilidade bancária; Banco Cooperativo do Brasil (BANCOOB); Banco Coope-
rativo Sicredi S/A (Bansicredi); Banco da Amazônia S/A (Basa); Banco do Brasil S/A (BB); Banco do Nordeste S/A (BN); e
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).1
Nota: Atualizações até a Safra 2008-2009 – BCB: até jun./2008; BANCOOB: até set./2008; Bansicredi: até maio/2009; Basa:
1
até jun/2008; BB: até maio/2009; BN: até abr./2009; e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses sujeitos a alterações.
Data da impressão: 13/7/2009, às 14h45. Safra 2009-2010: BCB: até jun./2009; BANCOOB: até jul./2010; Bansicredi:
até abr./2010; Basa: até out./2009; BB: até jun./2010; BN: até maio/2010; e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses
sujeitos a alterações. Data da impressão: 24/8/2010. Safra 2010-2011: BCB: até jun./2009; BANCOOB: até jun./2011;
Bansicredi: até jun./2011; Basa: até jun./2011; BB: até jun./2011; BN: até jun./2011 e BNDES: até jul./2006 – últimos três
meses sujeitos a alterações. Valores deflacionados pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna da Fundação Getulio
Vargas (IGP-DI/FGV). Safra 2011-2012: BCB: até jun./2009; BANCOOB: até nov./2011; Bansicredi: até jun./2011; Basa:
até nov./2011; BB: até abr./2012; BN: até fev./2012; e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses sujeitos a alterações.
Desenvolvimento Rural 361
TABELA 15
Número de contratos e montante do PRONAF por enquadramento (2010-2011 e
2011-2012)
Variação
2010-2011 2011-2012
(%)
Ano agrícola/enquadramento
Contratos Montante Contratos Montante Contratos Montante
(unidade) (R$ milhões) (unidade) (R$ milhões)
Grupo A 67.001 806,01 17.859 220,84 -73 -73
Grupo A/C 5.016 22,03 3.191 13,50 -36 -39
Grupo B 444.330 895,60 197.712 455,90 -56 -49
Fonte: BCB (somente exigibilidade bancária), BANCOOB, Bansicredi, Basa, BB, BN e BNDES. 1
Nota: 1 Atualizações
até a Safra 2010-2011 – BCB: até jun./2009; BANCOOB até jun./2011; Bansicredi: até jun./2011; Basa:
até jun./2011; BB: até jun./2011; BN: até jun./2011; e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses sujeitos a alterações.
Valores deflacionados pelo IGP-DI/FGV. Safra 2011-2012: BCB: até jun./2009; BANCOOB: até nov./2011; Bansicredi:
até jun./2011; Basa: até nov./2011; BB: até abr./2012; BN: até fev./2012 e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses
sujeitos a alterações.
362 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
TABELA 16
Número de contratos e montante do PRONAF por regiões e enquadramento (2011-2012)
Centro-Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste
Regiões/ enquadra-
mento Contratos Montante Contratos Montante Contratos Montante Contratos Montante Contratos Montante
(unidade) (R$ milhões) (unidade) (R$ milhões) (unidade) (R$ milhões) (unidade) (R$ milhões) (unidade) (R$ milhões)
Grupo A 1.425 27,61 10.160 99,7 2.307 42,1 2.435 27,33 1.532 24,11
Grupo A/C 571 2,37 334 1,35 417 1,66 868 3,56 1.001 4,56
Grupo B 641 1,47 3.028 6,54 172.167 397,96 118 0,27 21.758 49,65
Agricultura Familiar
33.431 717 17.823 395 65.645 566 301.150 3.902 143.450 2.345
(CDE)
Total 36.071 747,99 31.345 502,22 240.536 1.007,56 316.948 3.968,44 167.744 2.423,68
Fonte: BCB (somente exigibilidade bancária), BANCOOB, Bansicredi, Basa, BB, BN e BNDES. 1
Nota: 1 Atualizações: Safra 2011-2012: BCB: até jun./2009; BANCOOB: até nov./2011; Bansicredi: até jun./2011; Basa: até
nov./2011; BB: até abr./2012; BN: até fev./2012 e BNDES: até jul./2006 – últimos três meses sujeitos a alterações.
TABELA 17
Número de contratos, montante financiado e valor médio contratual do PRONAF por
modalidade e tipo de atividade (exercício de 2011)
Contratos Montante financiado Valor médio contratual
Finalidade/modalidade
(unidade) (R$) (R$)
Custeio agrícola 485.263 4.691.113.707,69 9.667,16
Custeio pecuário 175.279 1.674.312.218,27 9.552,27
Investimento agrícola 218.158 3.045.164.163,08 13.958,53
Investimento pecuário 661.201 3.894.106.710,40 5.889,44
Total 1.539.901 13.304.696.799,44 8.639,97
Fonte: banco de dados do Banco Central do Brasil – Anuário estatístico do crédito rural do exercício de 2011. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?RELRURAL2011>.
25. Não confundir ano-exercício com ano agrícola. O relatório disponibilizado pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) propicia uma análise por ano agrícola. Porém, informações sobre destinação do crédito são restritas à
modalidade. O Anuário do crédito rural, por sua vez, fornece informações detalhadas da destinação do crédito quanto
aos produtos agrícolas, mas as informações se referem ao ano-exercício. A combinação destas fontes propicia ampliar
a análise do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Este anuário está disponível na
página do Banco Central: <http://www.bcb.gov.br/?RELRURAL2011>.
364 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
TABELA 18
Número de contratos, montante financiado, valor médio contratual do PRONAF
custeio por produtos da lavoura (exercício de 2011)
Montante Valor médio Montante
Contratos Contratos
Produtos financiado do contrato financiado
(unidade) (%)
(R$) (R$) (%)
(Continuação)
Fonte: banco de dados do Banco Central do Brasil – anuário estatístico do crédito rural do exercício de 2011. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?RELRURAL2011>.
27. Os itens apresentados no Anuário estatístico do crédito rural do exercício de 2011 foram agregados conforme as
principais culturas em âmbito nacional, repetindo-os nas desagregações regional e estadual.
28. Ver tabela 7.15 do anexo estatístico desta edição.
366 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
29. Destaca-se, no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), a potencialização do capital social
do território em consonância com sua otimização produtiva.
30. O PTDRS ressalta que os projetos devem ter viabilidade econômica, técnica e ambiental, com foco no desenvolvi-
mento sustentável.
31. Para mais informações, ver Brasil, 2005a.
32. É importante frisar que, nos documentos consultados, é insistente a prerrogativa de estímulos a todas as atividades
econômicas potenciais no território, sem foco exclusivo na agricultura.
368 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
33. A composição ministerial do Programa Territórios da Cidadania é a seguinte: Casa Civil, Secretaria-Geral da Presi-
dência da República e Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP),
Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério da Saúde (MS) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ministério da
Integração Nacional (MI), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério das
Cidades (MCidades), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Incra, Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)
e Ministério da Educação (MEC).
34. O ordenamento respeitou a metodologia de microrregiões estabelecida pelo IBGE.
35. Demanda social refere-se à presença de assentados de reforma agrária, agricultores familiares, acampados, indí-
genas, quilombolas, pescadores e extrativistas – artesanais (Brasil, 2005b).
Desenvolvimento Rural 369
37. O desenvolvimento é percebido como uma melhoria dos indicadores sociais, como o IDH.
38. Santos e Araújo (2010) e Favareto (2010).
39. Sobre ajuste espacial, ver Harvey (2005).
Desenvolvimento Rural 371
40. Faz parte dos projetos que compõem o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
41. O projeto pode ser encontrado no endereço eletrônico da Bahia Mineração (Bamin): <http://www.bamin.com.br/
interna.php?cod=7>. Acesso em: outubro de 2012.
42. As referências feitas às denúncias da Comissão Pastoral da Terra (CPT) foram noticiadas entre 2010 e 2012.
372 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
ção das famílias ribeirinhas – tanto aquelas que tiverem sua mão de obra absorvida
pela construção da ferrovia como aquelas que migrarem para outras regiões.
Tanhaçu compõe, com outros dezenove municípios, o território Sertão
Produtivo desde 2007. No mesmo território, outras cinco obras estão ocorren-
do sob o impulso do PAC. Em Caetité, além da passagem da Fiol, a Bamin vai
explorar o projeto Pedra de Ferro e a obra de uma usina eólica, em fase de lici-
tação. Usinas deste tipo estão em construção em Candiba, Guanambi e Pindaí,
municípios do mesmo território.
Consensuou-se atribuir à energia eólica um “selo verde”. Reconhecida como
forma limpa e menos contaminante de produção, é apresentada como alterna-
tiva à crescente demanda por fontes e geração de energia. Mas, a menos que
se considere a existência de vazios demográficos em pontos oportunos para a
implantação de usinas, investimentos deste porte se fazem acompanhar qua-
se sempre de processos de expropriação. Um caso emblemático ocorreu no
México, quando muitos movimentos sociais da América Latina se opuse-
ram ao projeto do Corredor Eólico de Istmo de Tehuantepec, em vista do
risco que o empreendimento oferecia ao modo de vida de comunidades in-
dígenas e camponesas da região. Ademais, como costuma ocorrer em obras
deste porte, as comunidades que ocupam o território, por serem vistas como
sujeitos passivos e sem direito à terra, não são consultadas com antecedência.
Suas formas de organização e sua relação com o ambiente são tratadas como ques-
tões menores em relação às benfeitorias de uma usina, rodovia, ferrovia e outras
ações do gênero. A exclusão das comunidades no planejamento das mudanças re-
alizadas no território é apenas o primeiro momento de um processo expropriató-
rio, no qual, não raro, a abordagem das empresas envolvidas pode gerar conflitos
violentos, que, pelo aparato policial ou pelo uso ilegítimo da força, ameaçam a
vida daqueles que resistem.
A adequação do território ao desenvolvimento capitalista por meio da ins-
talação de estruturas fixas e sociais foi assinalada como processo histórico deter-
minante na produção e modificação do espaço. Sem a intervenção estatal, esta
conformação não se realiza – o aparato jurídico e a base estrutural, que permitem
o deslocamento do capital, requerem regulação e incentivo do Estado. O projeto
Pedra de Ferro, da Bamin, por exemplo, dificilmente seria um expoente da mi-
neração sem o escoamento permitido pela Fiol. Neste contexto, refletir sobre as
condições de efetivação das ações dos programas Territórios Rurais e Territórios
da Cidadania exige analisar caso a caso os conflitos em torno das obras previstas e
em andamento no território Sertão Produtivo à luz da experiência dos camponeses
e do que vem sendo divulgado pelos movimentos sociais.
374 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
43. Os processos podem ser acessados no endereço eletrônico do Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM): <https://sistemas.dnpm.gov.br/SCM/Extra/site/admin/pesquisarProcessos.aspx>.
44. Nota pública da Coordenação Nacional da CPT sobre conflitos no campo envolvendo mortes.
Desenvolvimento Rural 375
45. A existência de uma situação de trabalho escravo revela uma rede de relações precárias e degradantes, as quais
permitem inferir que haja outras pessoas sob as mesmas condições. Um caso que vem a público pode ser entendido
como expoente de um cenário que se repete, mas não é divulgado, pois o trabalho escravo só se apresenta à medida
que é denunciado (CPT, 2011).
46. Entre 2003 (criação do território da cidadania Sul do Pará) e 2010, foram resgatados, nos municípios que o com-
põem, 2.205 trabalhadores em situação análoga à de escravos.
47. Foram resgatados 221 trabalhadores em ações do grupo móvel do Ministério Público do Trabalho e Emprego (MPT)
em todo o território da cidadania de Cocais desde o ano de sua criação até 2010.
48. Novamente, nesse caso da fazenda São Domingos, constata-se um político como proprietário do estabelecimento:
o ex-deputado Antônio Bacelar, atual diretor de Relações Institucionais e Desenvolvimento da Companhia de Pesquisas
de Recursos Minerais (CPRM), do MME.
376 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
4.1 Introdução
Entre 2011 e 2012, assuntos de grande importância entraram na pauta política.
Temas como o Código Florestal, o Código de Mineração, a compra de terras
por estrangeiros, a reprimarização da pauta exportadora e grandes obras de in-
fraestrutura apareceram com algum destaque nas agendas dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário. Outros temas, não menos relevantes, têm sido permanen-
temente pautados por movimentos sociais do campo, como a regularização das
terras quilombolas, a demarcação dos territórios indígenas, a reforma agrária, a
soberania alimentar e nutricional e a eclosão de inúmeros conflitos no campo, so-
bretudo os homicídios de lideranças camponesas e o trabalho escravo. Estes temas
aparecem, em geral, como fatos isolados, ora resíduos de arcaísmos, ora produto
de desajustes localizados em grupos ou indivíduos.
Não é possível, todavia, compreender os fenômenos e suas determinações
sem apreender como acontecimentos aparentemente autônomos e separados no
tempo e no espaço estão, ao fim, relacionados entre si. Também não é possível
superar os dilemas do presente considerando-os uma perpetuação do passado,
espécie de eternização do tempo e congelamento de uma história traduzida em
condenação das gerações futuras ao inevitável.
Parte-se do pressuposto que disputas e conflitos sociais não são eventos iso-
lados, e suas relações não são evidentes. Problemas conjunturais, por sua vez, só
podem ser compreendidos inserindo-os no interior do processo histórico, em que
ganham forma e conteúdo. A história, porém, não é derivação pura e simples das
estruturas de poder ou das frações de classe que hegemonizam uma formação so-
cial específica. O processo histórico é resultado também das experiências vividas
pelas classes trabalhadoras, das respostas e estratégias que estes dão ao modo de
produção em que se constituem enquanto classe.
50. O conceito de campesinato designa o conjunto de trabalhadores que laboram na terra e são detentores dos meios
de produção (Bottomore, 2010). Entende-se, porém, não existir apenas um campesinato, mas diversos campesinatos
que mobilizam terra e instrumentos de trabalho de formas bastante distintas, sem embargo das condições objetivas de
vida que dão unidade ao vasto conjunto dos sujeitos que laboram na terra.
378 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
4.2 Da territorialidade dos conflitos aos sujeitos: a identidade pela luta e a
luta pela identidade
Comumente, os conflitos no campo são interpretados e representados como fatos
resultantes de casos fortuitos, acidentes de percurso que não guardam relação com
o movimento geral dos sistemas econômico e político. Esta representação guarda
correspondência com o modo como a questão agrária é hegemonicamente defini-
da na atualidade. Geralmente, as disputas comparecem na esfera pública como re-
síduo de um problema social desarraigado das questões estruturais que compõem
os dilemas do tempo presente. Assim, a questão agrária, tal como os conflitos, vem
sendo apenas administrada, mantida sob controle, dado que sua não resolução não
compromete a acumulação de capital no curto prazo (Martins, 1999).
Contudo, entre 2003 e 2010, houve o maior número de conflitos no campo
no Brasil. Considerando-se levantamento anual da CPT, realizado desde 1985,
este dado merece mais detalhamento. Se, por um lado, pode-se considerar que os
conflitos são inerentes ao próprio avanço dos capitais, por outro, elementos novos
parecem fortalecer conjunturalmente a tendência expropriatória de um sistema
econômico e político que funciona aqui e agora.
Os dados recentes da CPT (2012) apontam que os casos de conflito no campo
aumentaram de 1.186, em 2010, para 1.363, em 2011; destes, 1.035 referem-se
aos conflitos por terra,51 260 envolvem questões trabalhistas52 e 68 relacionam-se
51. Nessa seção consideram-se a somatória dos conflitos por terra, as ocupações e os acampamentos a partir dos
dados da CPT (2012).
52. Segundo a CPT (2012), esse conflito envolve trabalho escravo, superexploração, desrespeito trabalhista e ações
de resistência.
Desenvolvimento Rural 379
TABELA 19
Distribuição dos conflitos no campo por Unidade Federativa e por região (2011)
Distrito Espírito
Acre 2,30 Alagoas 3,70 0,30 0,30 Paraná 0,40
Federal Santo
Minas Rio Grande
Amazonas 3,20 Bahia 8,80 Goiás 2,40 5,60 2,20
Gerais do Sul
Rio de Santa
Amapá 3,70 Ceará 1,30 Mato Grosso 3,20 1,40 1,80
Janeiro Catarina
Mato Grosso São
Pará 13,10 Maranhão 18,40 2,60 5,10
do Sul Paulo
Rondônia 5,80 Paraíba 1,30
Roraima - Pernambuco 5,50
Tocantins 4,20 Piauí 2,50
Rio Grande
0,10
do Norte
Sergipe 0,30
Total 32,40 Total 42,00 Total 8,60 Total 12,50 Total 4,50
Fonte: CPT (2012).
Elaboração dos autores.
53. A Ferrovia Norte-Sul, concessionarizada à Vale S/A, foi concebida com o propósito de ampliar e integrar o sistema
ferroviário brasileiro. Terá 1.980 km de extensão e cortará os estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas
Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, ligando Senador Canedo-GO a Belém-PA. Conectar-se-á, a sul, em Anápolis-
GO, com a Ferrovia Centro-Atlântica e, a norte, em Açailândia-MA, com a Estrada de Ferro Carajás. O trajeto da ferrovia
segue paralelo à rodovia Belém-Brasília e ao leito do rio Tocantins. Incorporada aos PACs 1 e 2, já teve concluído o
trecho sul, entre Uruaçu-GO e Anápolis-GO – Pátio de Santa Isabel (GO)-Pátio de Jaraguá (GO) –, totalizando 71 km.
As obras iniciaram-se em 1987, durante o governo José Sarney.
54. A BR-163 atravessa longitudinalmente o país. Com 3.467 km de extensão (dos quais quase 1.000 km não são
asfaltados), liga Tenente Portela-RS a Santarém-PA. Também incorporada ao PAC, a BR-163 teve os seguintes trechos
concluídos: três lotes do trecho 2, referente à BR-163, a qual liga o Pará a Mato Grosso, totalizando 180 km; e o trecho
3 da BR-163, totalizando 52 km.
55. O Ministério dos Transportes e a Secretaria Especial de Portos preparam o Plano Nacional de Logística Integrada
(PNLI), que analisará de forma conjunta os projetos de investimento em portos, rodovias, ferrovias e hidrovias até
2030. O objetivo é garantir maior eficiência do sistema logístico para atender ao crescimento do comércio exterior
brasileiro. A proposta reunirá dois planos já existentes: o Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT) e o Plano
Nacional de Logística Portuária (PNLP).
380 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
Ainda de acordo com a CPT (2012, p. 7), os conflitos por terra passaram de
853, em 2010, para 1.035, em 2011, um crescimento de 21,32%, envolvendo
91.735 famílias (458.675 pessoas). Estes conflitos continuam notabilizados,
sobretudo, pela enorme quantidade de “despejos violentos determinados pelo
Poder Judiciário e executados pelo Poder Executivo”, por ataques aos direitos
adquiridos pelas comunidades tradicionais e pela invisibilização da questão fun-
diária (CPT, 2012, p. 110). A tabela 20 mostra como eles se distribuem nas
regiões e nos estados brasileiros.
TABELA 20
Distribuição dos conflitos por terra por Unidade Federativa e região (2011)
Distribuição Distribuição Distribui- Distribuição Distribuição
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
(%) (%) ção (%) (%) (%)
Distrito Espírito
Acre 2,8 Alagoas 4,5 0,4 0,2 Paraná 0,4
Federal Santo
Rio
Minas
Amazonas 3,2 Bahia 9,5 Goiás 0,6 4,4 Grande 2,4
Gerais
do Sul
Rio de Santa
Amapá 4,8 Ceará 1,5 Mato Grosso 2,9 0,7 0,8
Janeiro Catarina
Mato Grosso São
Pará 12,1 Maranhão 21,6 3,1 6,6
do Sul Paulo
Rondônia 5,3 Paraíba 1,5
Roraima 0 Pernambuco 5,8
Tocantins 1,4 Piauí 2,9
Rio Grande
0,1
do Norte
Sergipe 0,4
Total 29,7 Total 47,9 Total 7,0 Total 11,9 Total 3,6
A espacialidade dos conflitos, por certo, não tem como determinante prin-
cipal o lugar de residência dos povos do campo e da floresta. Porém, esta variável
deve ser considerada quando observada a participação percentual das regiões no
total de conflitos. Em outros termos, embora o Centro-Oeste, o Sul e o Sudeste
apresentem uma pequena participação no total de conflitos, nunca é demais lem-
brar que o avanço do capital nestas regiões expulsou parte relevante de sua po-
pulação camponesa, a qual, por sua vez, passou a ter na migração uma estratégia
de sobrevivência e reprodução social. Outro fator a ser considerado diz respeito à
organização dos sujeitos em luta e sua capacidade de resistir aos processos expro-
priatórios em contextos específicos.
No que tange à participação de cada estado em relação ao total dos conflitos
por terra em sua região, tem-se o seguinte quadro:
Desenvolvimento Rural 381
TABELA 21
Distribuição dos conflitos por terra por Unidade Federativa em relação ao total
da região (2011)
Distribuição Distribuição Distribuição Distribuição Distribuição
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
(%) (%) (%) (%) (%)
Distrito Espírito
Acre 9,4 Alagoas 9,5 5,6 1,6 Paraná 10,8
Federal Santo
Rio
Minas
Amazonas 10,7 Bahia 19,8 Goiás 8,3 37,4 Grande 67,6
Gerais
do Sul
Mato Rio de Santa
Amapá 16,3 Ceará 3,2 41,7 5,7 21,6
Grosso Janeiro Catarina
Mato Grosso São
Pará 40,7 Maranhão 45,2 44,4 55,3
do Sul Paulo
Rondônia 17,9 Paraíba 3,2
Roraima 0 Pernambuco 12,1
Tocantins 4,9 Piauí 6,0
Rio Grande
0,2
do Norte
Sergipe 0,8
Total 100,0 Total 100,0 Total 100,0 Total 100,0 Total 100,0
56. Codó pertence ao território rural dos Cocais. Dos quatorze conflitos registrados, oito envolveram posseiros e dois,
quilombolas, todos contra a Usina de Costa Pinto, matriz do grupo Cosan, uma das maiores unidades produtivas de
açúcar e álcool do Brasil.
57. Barreirinhas é a “porta de entrada” para o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, polo turístico nacional.
Recentemente, foram encontrados vestígios de petróleo e gás na bacia de Barreirinhas, entretanto, desde 2009 a
Petrobras vem fazendo perfuração na região. Em Barreirinhas, os dezoito conflitos catalogados envolvem sete casos
com posseiros, dez casos com assentados e um caso com comunidade quilombola.
58. Todos os conflitos registrados na cidade de Urbano Santos envolvem posseiros e a Suzano Celulose, a qual também
figura em conflitos por terra em outras cidades maranhenses (Anapurus, Barreirinhas, Beláqua, Brejo, Milagres, Matões,
Parnarama, Santa Quitéria, São Bernardo e São Luís), nas quais possui filiais ou interesse de investimentos.
59. Em Afuá, conhecida como a “Veneza da Ilha de Marajó”, por ser repleta de canais e palafitas, localiza-se o Parque
Estadual Charapucu. Todos os 29 conflitos registrados neste município envolvem comunidades ribeirinhas.
60. Em Marabá, dos treze conflitos registrados, sete envolvem sem-terra e seis, movimentos sociais.
61. Em Anapu, dos dezessete conflitos registrados, seis envolvem movimentos sociais; oito, assentados; e três, sem-terra.
382 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
TABELA 22
Principais sujeitos atingidos por conflitos de terra no Brasil (2011)
Categorias Participação (%)
Posseiros 22,6
Movimento social 1
20,4
Sem-terra 17,0
Quilombolas 9,9
Índios 9,5
Assentados 8,6
Ribeirinhos 6,0
Pequenos proprietários 1,5
Outras2 3,0
Sem identificação 1,5
Total 100,0
Assim, basta olhar para as exíguas fontes de informações existentes para “des-
cobrir” uma multidão63 de “gentes” e coletivos espalhados pelo “Brasil profundo”:
indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, seringueiros,
faxinalenses, comunidades de fundo e fecho de pasto, pomeranos, ciganos, gerai-
zeiros, vazanteiros, piaçabeiros, pescadores artesanais, pantaneiros, comunidades
de terreiros afrorreligiosos, assentados da reforma agrária, pequenos agricultores
e tantos outros sujeitos que surgem aqui e ali por todos os cantos do continente.
Olhar para esses sujeitos, porém, não é apenas visá-los. Como pondera
Virgínia Fontes (Fontes, 2010), estudos sobre processos sociais requerem, em
termos de análise, um movimento duplo, que caminha em direções opostas: de
um lado, é preciso explicitar o fio de conjunto dos processos, sem cair no equí-
voco de reproduzir sujeitos ocultos a presidirem os conflitos e as lutas sociais; de
outro, é necessário trazer os sujeitos singulares e o conjunto das atividades que
eles realizam para existir, objetiva e subjetivamente, pois a produção material da
vida social remete a relações sociais concretas, e estas relações marcam os sujeitos
em suas consciências singulares e em seus modos de vida.
Há, entre os sujeitos que povoam os campos brasileiros, os assentados da
reforma agrária, aqueles cuja identidade está forjada na luta para entrar na terra
tornada cativa. Dada a abrangência nacional de suas lutas e organizações e a
importância política conquistada, sobre eles há vasta literatura. Os assentados da
reforma agrária64 integram os campesinatos que passaram por algum processo de
expropriação, retornando ao campo como forma de realização, ainda que par-
cial, de um desejo de autonomia. Trata-se de uma categoria social recriada pelas
próprias contradições do processo de expansão do capital no campo.
Os demais sujeitos que povoam os campos são comumente agregados
pelo Estado no conceito genérico de povos e comunidades tradicionais.65
Diferentes parâmetros identitários têm sido utilizados para definir os sujeitos que
vivem no campo e na floresta. Extrativistas, coletores de produtos não madei-
reiros e pescadores artesanais são imediatamente identificados pela atividade
econômica que realizam; quilombolas, pomeranos e povos indígenas, pela origem
63. Estimativas apontam que o conjunto das populações tradicionais ocupa, ainda que de forma precária, 200 milhões
de ha, cifra correspondente a 20% das terras brasileiras. Se somadas as terras ocupadas pelos assentados da reforma
agrária, ter-se-ia pouco mais de 290 milhões de hectares ocupados por aproximadamente 11,6 milhões de pessoas no
campo, cifra que representa aproximadamente 40% da população rural. Este número, porém, vem aumentando nos
últimos anos, devido à infinidade de gente que se identifica para reivindicar e resistir ao processo de desterritorializa-
ção e à perda de autonomia dos seus territórios.
64. De acordo com dados do Sipra de 30 de junho de 2012, os assentamentos rurais ocupam 94,5 milhões de hectares
(11% do território nacional), com 930.162 famílias assentadas em 8.914 projetos.
65. O Decreto no 6.040/2007 instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais (PNPCT), ação do governo federal que pretende fortalecer e proteger os povos do campo e da floresta, por
meio da ênfase no reconhecimento, no fortalecimento e na garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais,
econômicos e culturais, além de respeitar e valorizar a sua identidade, as suas formas de organização e as suas instituições.
384 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
66. O Plano Nacional para a Promoção dos Produtos da Sociobiodiversidade (PNBSB) foi criado pelo governo federal
para promover a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e garantir alternativas de geração de renda para
as comunidades rurais, por meio do acesso às políticas de crédito, à assistência técnica e à extensão rural, a mercados
e aos instrumentos de comercialização e à política de garantia de preços mínimos.
Desenvolvimento Rural 385
67. O termo r-existência, mais que um mero neologismo, ressalta que os sujeitos não apenas reagem aos estímulos
externos, como se o seu estar no mundo fosse de um mero sujeito passivo. Este termo, portanto, realça o caráter
ativo dos sujeitos, que elaboram suas ações e estratégias a partir de práticas e valores próprios. A este respeito, ver
Porto-Gonçalves (2010).
386 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
Milton Santos (Santos, 2010), não é um conceito em si, mas um conceito utili-
zável para a análise social, se se encarar sempre a partir do seu uso. Trata-se aqui,
portanto, de território usado, ressaltando, pois, que só interessa cotejá-lo se olha-
do a partir dos sujeitos que o utilizam. De que forma se dariam os processos de
apropriação dos territórios, se o cerne da questão são suas formas de uso e aqueles
que os utilizam? Quem deles se apropria, onde, como, em face de quê e de quem?
Em linhas gerais, território é o espaço físico apropriado; lugar onde as pes-
soas se organizam social, cultural e politicamente. É o local onde se enraízam as
atividades econômico-produtivas, e que, portanto, está não só inserido em um
contexto histórico mas também se constitui na própria história dos sujeitos que
se territorializam, dando significado e sentido particular e original a um determi-
nado espaço apropriado.
Se é assim, portanto, todo território – entendido como espaço usado, ocupado
e significado – é objeto de formas de uso privilegiado por grupos hegemônicos no
processo histórico. O espaço, porém, não é algo inerte, passivo, mera derivação
de formações sociais e econômicas externas (Steinberger, 2006). O espaço social
é um espaço criado que varia no tempo; é um espaço criado, relacional, vivido,
percebido e imaginado. Este espaço criado e vivido existe, porém, dentro dos
limites impostos pelos aparatos legais e institucionais que conferem ao Estado
o importante papel de principal agente econômico legitimamente constituído,
responsável por conectar políticas estatais, processos financeiros e desenvolvimento
industrial (Harvey, 2005). É na medida em que cumpre este papel, pois, que o
Estado, direta ou indiretamente, patrocina inúmeras formas de violação aos direitos
dos povos e das comunidades do campo e da floresta.
68. Pensava-se e executava-se assim o projeto de “modernização”, produto do retorno de capitais externos alijados
pelas altas taxas de inflação e pelo problema da dívida externa. A estas medidas seguiram-se outras destinadas a ga-
rantir a solvabilidade dos direitos dos credores. Entre elas, merecem destaque a reforma da Previdência, com ênfase no
corte dos gastos e no estímulo à consolidação de um mercado previdenciário privado, na política monetária baseada
em taxa de juros elevadíssima, na adoção de uma política de controle fiscal bastante rígida e, por fim, na mudança do
perfil de intervenção do Estado na economia, dando impulso à privatização de empresas estatais e serviços públicos
(Filgueiras et al., 2010).
Desenvolvimento Rural 387
69. Comumente chamada de Convenção UPOV (sigla em francês para Union Internationale pour la Protection des
Obtentions Végétales; em português: União para Proteção das Obtenções Vegetais).
388 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
70. O comércio internacional de produtos agrícolas, segundo aponta Jean Ziegler (2012), atinge pouco mais de 10%
da produção de todas as culturas. Isto significa dizer que se todos os detentores de contratos de compra e venda
resolvessem receber a mercadoria previamente comprada, não haveria produção suficiente para atender a demanda.
O mecanismo funciona da seguinte forma: os produtores vendem sua produção por um preço prefixado na colheita.
Assim, em caso de queda no preço no momento da entrega, o agricultor está protegido pelo preço previamente ajus-
tado em um contrato a termo. Em caso de alta no preço dos alimentos, entretanto, os especuladores saem ganhando.
71. Segundo aponta Larissa Packer (Packer, 2012), somente a China anunciou dispor de US$ 30 bilhões para aquisição
de terras no país.
72. A esse respeito, vale ressaltar que foi criada, no Rio de Janeiro, a Bolsa Verde do Rio (BVRio), primeira bolsa de
valores que pretende desenvolver o mercado de ativos ambientais, sobretudo os créditos de carbono e papéis relacio-
nados ao novo Código Florestal, financiando e transformando áreas de preservação permanente e reserva legal em
ativos financeiros negociáveis.
73. A Lei no 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), estabe-
lece e define as diferentes categorias de unidades de conservação existentes no território nacional. Atualmente, as Re-
servas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) – categoria de unidade de conservação definida no SNUC –, podem
ser criadas por mera declaração de vontade do particular, indicando área de sua propriedade como espaço territorial
especialmente protegido. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), existem
570 RPPNs no país. Em 2011, o MP e o MMA anunciaram acordo para concessão à iniciativa privada de unidades de
conservação federal. No plano estadual, diversos governos têm anunciado a concessão de unidades de conservação à
iniciativa privada, sobretudo para a exploração de turismo rural e/ou ecológico.
74. A concessão de florestas públicas é regida pela Lei no 11.284/2006. A cada ano, o ICMBio seleciona as florestas
que serão submetidas a processo licitatório. Em 2012, o Plano Anual de Outorga Florestal previu a concessão de 4
milhões de hectares de florestas públicas.
Desenvolvimento Rural 389
75. O estado do Acre já possui um sistema estadual de serviços ambientais e uma agência reguladora que visa nego-
ciar títulos referentes à prestação de serviços ambientais.
390 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
76. A grande política, segundo Antonio Gramsci (2007), é aquela ligada à luta pela destruição, defesa e/ou conserva-
ção de estruturas econômico-sociais orgânicas de um dado sistema de ordenação da economia e do poder. A pequena
política, por sua vez, compreenderia as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura
já estabelecida, decorrência das lutas pela hegemonia travada entre as diversas frações de uma mesma classe política.
Integra a natureza da grande política, segundo Gramsci (2007), a tentativa de excluir-se do âmbito interno da vida
estatal, reduzindo as opções e disputas ideológicas ao plano da pequena política. Esta parece ser a relação histórica
estabelecida pelas frações hegemônicas do capital em relação à política de reforma agrária.
Desenvolvimento Rural 391
TABELA 23
Participação efetiva das commodities nas exportações (2002 e 2011)
2011 2002
Itens de exportação Valor Valor Participação
Participação (%)
(US$ bilhões) (US$ bilhões) (%)
Commodities brutas 122,45 47,83 16,9 28,08
Commodities beneficiadas 36,026 14,07 8,9 14,85
Commodities industrializadas 20,1 7,88 5,98 9,92
Produtos manufaturados 72,094 28,17 27,01 44,75
Operações especiais 5,2/3,1 2,05/1,23 1,44/0,867 2,39/1,44
Total 256,04 100,00 60,3 100,00
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/MDIC).
Elaboração: Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
TABELA 24
Quantidade exportada das principais commodities (2003-2011)
(Em 1 mil t)
Produtos 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Soja em grão 19.890 19.248 22.435 24.958 23.734 24.499 28.563 29.073 32.985
Farelo de soja 13.602 14.486 14.422 12.332 12.474 12.288 12.253 13.668 14.355
Açúcar bruto 8.354 9.566 11.579 12.807 12.443 13.624 17.925 20.939 20.153
Açúcar refinado 4.561 6.198 6.568 6.063 6.916 5.848 6.368 7.061 5.204
Suco de laranja 1.590 1.584 1.777 1.772 2.066 2.054 2.069 1.978 2.007
Carne bovina 620 925 1.085 1.225 1.286 1.023 926 951 820
Celulose 4.566 4.987 5.545 6.238 6.570 7.202 8.586 8.793 8.880
(Continua)
392 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
(Continuação)
Produtos 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Minério1 175 218 224 243 269 282 266 311 331
Alumínio 656 583 561 614 581 547 649 525 487
Petróleo 12.607 12.036 14.313 19.191 21.974 22.371 26.749 32.602 31.258
Fonte: Secex/MDIC.
Elaboração: AEB.
Nota: 1 Milhões de toneladas.
77. Evidentemente, a expansão do agronegócio está sustentada, em parte, nas operações da política de crédito rural,
que assumiu sempre um forte viés indutor das culturas a serem cultivadas, do lugar e modo de produzi-las, reforçando
a tendência concentradora e especializante da estrutura produtiva.
Desenvolvimento Rural 393
GRÁFICO 3
Evolução da área plantada de cultivos agrícolas selecionados (2003 e 2010)
(Em ha)
25.000.000
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
Arroz (em casa) Cana-de-açúcar Feijão (em grão) Mandioca Soja (em grão) Trigo (em grão)
2003 2010
Fonte: PAM/IBGE.
FIGURA 1
Migração da produção agrícola ao longo do tempo (1980 e 2007)
78. Mesmo nos seus períodos iniciais (1952-1958), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
tinha uma lógica territorial intrínseca às suas intervenções. A priorização de financiamentos em infraestrutura, na déca-
da de 1950, tinha por escopo a integração econômica das áreas urbanas, cuja fragmentação freava o desenvolvimento
urbano-industrial. O seu primeiro financiamento, em 1952, realizado com a Rede Ferroviária Federal, tinha por objetivo
estreitar a ligação entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, principais polos do Sudeste. Concentrando 75%
dos investimentos nesta região, o banco deu impulso decisivo à metropolização destas áreas.
79. No setor petroquímico, o BNDES atuou no processo de incorporação dos ativos da Copesul – Indústria Química e Meio
Ambiente, da Ipiranga, da Petroquímica Paulina e da Petroquímica Triunfo pela Braskem, do grupo Odebrecht. Em troca,
a Petrobras passou a deter 30% do capital votante e 25% do capital total da empresa. A última movimentação em
curso, que concentrará ainda mais o setor, é a possível incorporação da Quattor (controlada pela Petrobras e pela
Unipar) pela Braskem. No setor de alimentação, o governo articulou a entrada deste banco e dos fundos de
pensão para alavancar a fusão entre Sadia e Perdigão, formando a Brasil Foods (BRF), empresa que se tornou a
maior exportadora de carnes processadas do mundo e terceira maior exportadora brasileira. No setor de carnes,
subsidiou a aquisição da Seara pelo grupo Marfrig, bem como atuou na fusão dos grupos Bertin e JBS Friboi.
No setor de papel e celulose, participou da fusão entre a Votorantim Celulose e Papel e a Aracruz Papel e Celulose,
dando origem à maior empresa do mundo de celulose de fibra curta e quarta maior de celulose total. No setor sucroal-
cooleiro, o banco vem fornecendo fortes subsídios para a construção de usinas e expansão de áreas de plantio de cana
(Milanez, Barros e Faveret Filho, 2008).
Desenvolvimento Rural 395
80. Estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que, entre 2001
e 2010, as florestas plantadas no mundo cresceram em média 2,1% ao ano (a.a.), ao passo que no Brasil este cres-
cimento foi de 3,7% a.a. Segundo a Associação de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF), entre 2005 e 2010,
o plantio de eucalipto se expandiu para um maior número de estados, indicando a abertura de novas fronteiras ao
setor: enquanto em 2005, 70% das florestas de eucalipto estavam concentradas nos estados de Minas Gerais, São
Paulo e Bahia, em 2010 Tocantins e Piauí aparecem no cenário, e Mato Grosso do Sul aumentou sua participação de
3% para 8%.
396 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
GRÁFICO 4
Distribuição da área de expansão de florestas plantadas financiadas pelo BNDES
(2001-2010)
(Em %)
35
30
25
20
15
10
5
0
São Paulo
Bahia
Espírito Santo
Minas Gerais
Paraná
Pará
Santa Catarina
Maranhão
Piauí
Fonte: BNDES.
GRÁFICO 5
Evolução dos títulos minerários (1988-2011)
(Em unidade)
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Fonte: DNPM.
Para dar cabo das perspectivas de expansão, o governo insere nos PACs
1 e 2 o desenvolvimento da cartografia geológica dos territórios amazônicos e
não amazônicos, mapeando áreas onde será possível encontrar recursos minerais.
398 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
Aproximadamente 25% do território foi mapeado com alta resolução. O PAC 2 pre-
vê o mapeamento em alta resolução de mais de 1 milhão de km², medida essencial
para a definição de ambientes geológicos favoráveis à presença de recursos minerais.
A expansão da atividade tem gerado, por sua vez, intensa expectativa de mu-
dança nos marcos regulatórios81 do setor. A reforma do Código de Mineração en-
trou na ordem do dia e expressa, em síntese, os objetivos já indicados pelo governo
no Plano Nacional de Mineração 2030, lançado em 2011. O Plano Nacional de
Mineração 203082 apresenta diretrizes gerais para áreas de geologia, recursos mine-
rais, mineração e transformação mineral. Segundo o documento, o novo marco re-
gulatório deverá contemplar a ampliação e intensificação da exploração; promover
a verticalização do setor, por meio das indústrias de base; aumentar a participação
do Estado nos resultados econômicos, rediscutindo-se as alíquotas incidentes so-
bre a exploração e acerca dos municípios habilitados a pagamento de royalties; e
desenvolver instrumentos de mitigação dos impactos ambientais (Milanez, 2012).
Além do Código de Mineração, outro projeto importante vem sendo discutido no
Congresso Nacional, apontando a Amazônia como território a ser anexado à expansão
das atividades minerais. Elaborado em 1996, o Projeto de Lei no 1.610/1996 foi desen-
gavetado e colocado em discussão no Congresso Nacional. O documento pretende, em
síntese, regulamentar o Artigo 231 da Constituição Federal,83 que trata da mineração
em terras indígenas. Paralelamente, o Projeto de Lei no 44/2007 é apresentado no Con-
gresso Nacional propondo a suspensão do Decreto no 4.887/2003, que regulamenta os
processos de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das ter-
ras ocupadas por quilombos. Este projeto tornaria competência exclusiva do Congresso
Nacional tal atribuição, extensível também ao reconhecimento e à demarcação de terras
indígenas. Caso seja aprovada a proposta, não haverá nenhum marco normativo capaz
de orientar o Estado nos processos de titulação dos territórios. Por que estas proposições
normativas surgem agora? Por que, quinze anos após sua formulação, um projeto de lei
é resgatado dos escaninhos do Congresso Nacional e passa a compor a agenda de discus-
sões e votações? Embora não seja o motivo único, as figuras 2 a 4 sintetizam os motivos
81. Desde 2004, foi lançado um conjunto de iniciativas que pretendem amparar a expansão do setor nos próximos anos, as quais
vão desde a elaboração de planos estratégicos e novos marcos regulatórios até a ampliação do conhecimento técnico sobre o ter-
ritório. Entre as iniciativas, estão o Programa Nacional de Mapeamento Geológico – Pronageo (2004); a criação da Rede Brasileira
de Informação dos arranjos produtivos locais (APLs) de base mineral (2004); a publicação da Carta Geológica do Brasil ao Milioné-
simo (2004); o aumento do conhecimento geológico e geofísico do território, com recursos do Plano Plurianual de Investimentos
(2006); o lançamento do Programa Nacional de Formalização da Produção Mineral (2006); a implantação de 57 telecentros
minerais (2006-2010); a elaboração da Cartografia Geológica, Náutica e Terrestre da Amazônia (2008); o lançamento do Progra-
ma Nacional de Extensionismo Mineral (2008); o lançamento do Plano Nacional de Agregados Minerais para Construção Civil
– PNACC (2008); a publicação do mapa da geodiversidade do Brasil, na escala 1:2.500.000 (2008); o aumento do conhecimento
geológico e geofísico do território, com recursos do PAC (2008); o lançamento do Plano Nacional de Mineração 2030 – PNM
2030 (2010); e, por fim, a elaboração do novo marco regulatório e a criação da Agência Nacional de Mineração – ANM (2010).
82. O Plano pretende nortear as políticas direcionadas ao setor no médio e longo prazo, antes dele outros três planos
foram elaborados (I PMD 1965/1974; II PDM 1981/1990; PPDSM 1994).
83. O Artigo 231, § 3o , da Constituição Federal, estabelece que “o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos
os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados
com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei” (Brasil, 1988).
Desenvolvimento Rural 399
FIGURA 2
Terras indígenas e títulos minerários
84. Os dados estão subestimados para os quilombos, pois não estão incluídos no universo pesquisado os já reconhecidos
pela Fundação Cultural Palmares.
400 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
FIGURA 3
Assentamentos rurais e títulos minerários
FIGURA 4
Territórios quilombolas e títulos minerários
85. Na época, o rio Xingu e seus afluentes foram mapeados para definição de pontos mais favoráveis para barramen-
tos. Na década de 1980, a Eletronorte inicia os estudos de viabilidade técnica e econômica do chamado Complexo
Hidrelétrico de Altamira. Em 1989, foi realizado o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira, patrocinado
pelos Kaiapós, contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu. O encontro ganhou imprevista notoriedade,
com a maciça presença da mídia nacional e estrangeira, de movimentos ambientalistas e sociais. Durante a exposição
de Muniz Lopes (então presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
Ibama) sobre a construção da usina Kararaô, a índia Tuíra levantou-se da plateia e encostou a lâmina de seu facão
no rosto do diretor da estatal, em sinal de advertência e para expressar sua indignação. O evento é encerrado com o
lançamento da Campanha Nacional em Defesa dos Povos e da Floresta Amazônica, exigindo a revisão dos projetos
de desenvolvimento da região, a Declaração Indígena de Altamira e uma mensagem de saudação do cantor Milton
Nascimento. O encontro é considerado um marco do socioambientalismo no Brasil.
Desenvolvimento Rural 403
86. Na memória dos antigos está também presente a figura de Coriolano Bahia, proprietário da fazenda Macacos,
onde funcionava uma usina de açúcar que entrou em declínio no final da década de 1930. Após a falência, as famílias
continuaram a viver no território doado por ele. Entretanto, em razão de a doação não ter sido formalizada, o território
tornou-se gleba pública. Em 1960, a prefeitura de Salvador doou o terreno para a Marinha, que, em 1971, construiu
uma barragem e uma vila militar.
87. Em 4 de outubro de 2011, o Diário Oficial da União (DOU) publicou o reconhecimento da Fundação Cultural Palmares
da comunidade de Rio dos Macacos como remanescente de quilombo (Fundação..., 2011).
88. A Marinha tenciona construir na área um novo grupamento de fuzileiros navais de Salvador, uma unidade hos-
pitalar, um hotel de trânsito e novas residências. Por meio de uma nota de esclarecimento, informou ter colocado à
disposição da comunidade um terreno situado a cerca de 1 km do território em disputa; além disso, tem procurado
retirar os moradores de forma pacífica (Brasil, 2013).
89. Em 2012, a comunidade sofreu novas ameaças de despejo. Em maio, o conflito se agravou: fuzileiros navais do 2o
Comando do Distrito Naval invadiram o território do quilombo Rio dos Macacos para impedir que um morador recons-
truísse sua casa, destruída com as chuvas de dezembro. O conflito assumiu ampla repercussão nacional e internacional,
mobilizando diversos setores da sociedade civil em prol desta comunidade. Neste contexto, o Incra liberou o Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação atestando que os moradores da comunidade Rio dos Macacos são quilombolas,
descendentes de escravos. Logo, quando a Marinha instalou-se ali, a comunidade já residia no território em litígio.
A certificação permite sustar a retirada compulsória da comunidade do território.
404 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
90. A Companhia Rio Paracatu (RPM) iniciou a mineração de ouro de forma empresarial em 1987. Em 2004, a companhia foi
comprada pela empresa canadense Kinross Gold Corporation. A empresa de mineração de zinco foi fundada em 1974, em
Paracatu, mas só entrou em operação em 1988. Hoje, a empresa pertence à companhia Votorantim Metais Zinco, terceira
maior mineradora do Brasil e maior produtora de zinco da América Latina. A empresa tem duas minas no município:
uma a céu aberto e outra subterrânea. A vida útil das minas é de quatro anos a partir de 2011.
91. A CPT (2012) registra conflitos por terra no município entre comunidades quilombolas e a Kinross.
92. O caso de Paracatu apresenta-se como o mais grave no mundo: a mina situada no perímetro urbano tem baixos
teores de ouro (0,4 g/t de minério), o que implica maior volume de rejeitos e arsênio liberado.
93. A barragem possui rejeitos de arsênio depositados a céu aberto, o que aumenta os riscos ambientais e à população. A mi-
neradora capta e utiliza três vezes mais “água nova” que toda a cidade de Paracatu, devolvendo água suja para o ambiente.
94. A mineradora minimizou ou omitiu os impactos socioambientais negativos nos processos de licenciamento, o que
impediu o estabelecimento de medidas de precaução e prevenção, cujas consequências atingem a atual e as futuras
gerações de Paracatu. O Estado outorgou à RPM/Kinross o automonitoramento de suas atividades, impedindo que a
população atingida tome ciência dos reais perigos a que se expõe (Santos, 2012).
95. Segundo Enríquez (2007), o número de casos de câncer aumentou significativamente em Paracatu nos últimos
anos, assim como o número de internações por doenças dos aparelhos circulatório e respiratório.
96. Disponível em: <http://www.kinross.com.br/jeito_kinross.php?id_category=12>. Acesso em: 4 abril 2013.
Desenvolvimento Rural 405
97. Para mais informações, consultar a página eletrônica da Fundação Oswaldo Cruz: <http://www.conflitoambiental.
icict.fiocruz.br/>.
98. Há denúncias de grilagem das terras da comunidade do Machadinho. O procurador Paulo Maurício Serrano Neves, em nota
ao caso Paracatu, acusa a empresa mineradora de envolvimento na “chacina dos irmãos Canela”, membros da comunidade
quilombola residente no Vale do Machadinho, área na qual a mineradora intencionava construir o local de depósito dos rejeitos.
406 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
99. O “atraso” é, em verdade, resultado do processo de reprodução do capital intrinsecamente desigual, dado que ele se
reproduz de formas distintas em determinados espaços econômico-sociais, territorializando zonas de localização diferen-
ciada de atividades econômicas. No Brasil, a concentração do desenvolvimento industrial em território paulista redefiniu
a divisão regional do trabalho nacional, transformando o Nordeste em exército industrial de reserva do centro-sul, ao tem-
po que destruía as economias regionais pela captação dos excedentes gerados para financiar a centralização de capitais.
A produção paulista transformou-se, assim, em uma espécie de equivalente geral da economia brasileira, dado que os
custos de reprodução da força de trabalho (mais baixos em São Paulo) determinam os limites e as possibilidades de
expansão das outras regiões. A este respeito, ver Oliveira (1981).
Desenvolvimento Rural 407
100. Parte substancial do PAC é operada pelo BNDES, que possui em sua carteira, segundo dados divulgados até junho
de 2011, R$ 212 bilhões em infraestrutura energética investidos em 192 projetos e R$ 39 bilhões em logística investidos
em 84 projetos.
101. O Brasil é, atualmente, o grande financiador da iniciativa por meio do BNDES e do próprio PAC, que passou a incorporar
em seu interior parte do portfólio de investimentos prevista na Iniciativa para a Integração de Infraestrutura para a América do
Sul (IIRSA). Inúmeras obras executadas em países da América do Sul são financiadas com recursos do BNDES e do Banco do
Brasil, mediante o Programa de Financiamento às Exportações (Proex). Em contrapartida, são as empresas brasileiras as exe-
cutoras dos projetos. Entre 2003 e 2010, foram liberados mais de R$ 10 bilhões em obras na América do Sul (Garcia, 2011).
408 Políticas Sociais: acompanhamento e análise
FIGURA 5
Tipologia dos produtos que lideram a produção microrregional e agregação de
regiões por homogeneidade socioeconômica (2002-2023)
Acima de tudo, o PNLT explicita um dos modos pelos quais o espaço é po-
liticamente representado na esfera pública. A sua reprodução integra uma leitura
de mundo e um projeto de intervenção sobre os territórios que não consideram
os sujeitos na cartografia das políticas públicas.
Em destaque no mapa da figura 5, pode-se observar que o PNLT identifica
a produção microrregional predominante no período 2002-2023. Somando-se
as microrregiões com produção predominante de recursos naturais e as de baixa
intensidade tecnológica, ter-se-ia 35% do território brasileiro com atividades pro-
dutivas predominantemente vinculadas exclusivamente à exploração dos recursos
naturais. Agregando-se as atividades de média intensidade tecnológica vinculadas
à mineração, esta porcentagem subiria para 51,6%.
O PNLT pretende, ainda, reduzir desigualdades regionais, com ênfase na
intervenção em áreas economicamente “deprimidas”. Trata-se da pretensão de
incrementar o potencial de desenvolvimento econômico em regiões onde os indi-
cadores econômicos e sociais são inferiores às médias nacionais. As intervenções
previstas concernem à implantação de melhorias em infraestrutura viária e reca-
pacitação de portos. Em suma, estas intervenções são respostas à fragmentação
do espaço geográfico no bojo da competição intercapitalista102 engendrada pela
dispersão de investimentos produtivos. O encurtamento das barreiras espaciais,
obra do desenvolvimento dos meios de transporte e das comunicações, permitiu
aos capitais a exploração plena das “virtudes do espaço”, como oferta de trabalho
a baixos custos, recursos naturais e sociais, infraestrutura, incentivos fiscais etc.
(Harvey, 2010).
Harvey (2005), citando Marx, diz que a indústria de transportes e comuni-
cações, ao “vender” a mudança de localização de empreendimentos produtivos,
produz diretamente valor, uma vez que a condição espacial economicamente
definida pertence ao processo de produção. A circulação de mercadorias é um
momento da produção, motivo pelo qual o produto só estaria acabado, segun-
do Marx, quando ele estivesse disponível à venda no mercado. Contudo, alerta
Harvey (2005), transportes e comunicações têm suas leis próprias de realização,
uma vez que exigem elevadas somas de capital imobilizado e que a sua produção
e o seu consumo ocorrem no momento do seu próprio uso. Assim,
103. Neste cenário, segundo a CPT (2012), até dezembro de 2011, foram emitidos apenas onze títulos às comunidades
quilombolas; somente três das 44 áreas decretadas para desapropriação haviam sido tituladas: Família Silva (RS),
Colônia São Miguel (MS) e Preto Forro (RJ). Em 2011, o governo federal publicou apenas um decreto de desapropriação
beneficiando a Comunidade Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais. No Plano Plurianual 2012-2015, o Programa Brasil
Quilombola foi substituído pelo programa Enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, sob responsa-
bilidade da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Apesar de haver mais de 3 mil comunida-
des quilombolas no país, apenas 6% delas tiveram suas terras regularizadas. Vale reafirmar que é direito garantido pela
Constituição Federal que as comunidades remanescentes de quilombos possuam os títulos das terras que ocupam.
Desenvolvimento Rural 413
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