Matopiba 1

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Matopiba em Édson L.

Bolfe2

crescimento agrícola Daniel de C. Victória3


Elisio Contini4
Gustavo Bayma-Silva5

Aspectos territoriais e Luciana Spinelli-Araujo6


Daniel Gomes7

socioeconômicos1
Resumo – O Brasil se tornou um dos líderes mundiais no agronegócio, e isso foi possível por causa
da disponibilidade dos recursos hídricos, das condições de solo e clima, de resultados de pesqui-
sas, do empreendedorismo da agroindústria e de políticas de governo. A vasta região do Cerra-
do localizada no Norte-Nordeste brasileiro denominada Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia – vem sendo incorporada à produção e se consolida como importante fronteira agrícola. Na
última década, a produção de soja e milho da região passou de seis milhões para 14 milhões de
toneladas, e esse incremento justifica a necessidade de o crescimento agrícola se fundamentar em
bases sustentáveis. Este artigo analisa a expansão agrícola, identificando as principais trajetórias das
mudanças do uso e cobertura da terra. O aumento da produção de soja e milho está relacionado à
expansão tanto sobre áreas previamente antropizadas quanto das antropizadas mais recentemente –
depois de 2002. Indicadores socioeconômicos, como o IDH e o PIB, cresceram significativamente
nas últimas décadas nos municípios do Matopiba, o que está relacionado ao aumento da produção
agrícola. O estudo conjunto de dados em bases territoriais e socioeconômicos permitiu melhor
compreensão dos processos de expansão, retração, transição, conversão e intensificação agrícola
no Matopiba e pode apoiar as políticas públicas da região.
Palavras-chave: agricultura, cerrado, desenvolvimento regional, geotecnologias.

Matopiba in agriculture expansion: territorial and socioeconomic aspects

Abstract – Over the last decades, Brazil has become one of the global leaders in agriculture produc-
tion. Factors contributing to such results include natural resources availability, favorable climate
conditions, agricultural research, producer and agroindustry entrepreneurship and governmental
policies towards the agricultural sector. The region known as MATOPIBA (Maranhão, Tocantins,
Piauí and Bahia), in the North/Northeast of Brazil, has become an important agriculture frontier. In
the last decade, soy and corn production rose from 6 to 14 million tons. However, it’s important to

1
Original recebido em 21/6/2016 e aprovado em 12/9/2016.
2
Pesquisador da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa. E-mail: [email protected]
3
Pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária. E-mail: [email protected]
4
Pesquisador da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa. E-mail: [email protected]
5
Analista da Embrapa Monitoramento por Satélite. E-mail: [email protected]
6
Pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente. E-mail: [email protected]
7
Analista da Embrapa Meio Ambiente. E-mail: [email protected]

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guarantee that the agriculture expansion in the region happens with sustainability in mind. For this,
integrated analysis of social, biophysical, infrastructure, rural credit, and economical characteristics
plays an important role in establishing regional public policies. This work analyzed the agriculture
expansion in the region and the land use / cover change trajectories. Agriculture expansion in the
region happened in areas deforested in the past and in areas deforested in more recent periods (af-
ter 2002). Socioeconomic indicators, such as the Human Development Index and Gross Domestic
Produce, increased in the last decades, in part related to the growth of agriculture production. By
studying socioeconomic factors along other geospatial datasets, it’s possible to gain a better under-
standing of the processes related agriculture in MATOPIBA, such as expansion, retraction, transition
and intensification, helping establish public policies for the region.
Keywords: agriculture, cerrado, regional development, geotecnologies.

Introdução teiras agrícolas brasileiras, como a do Matopiba,


que abrange 337 municípios.
A liderança do Brasil em agricultura tro-
pical foi estabelecida em decorrência das con- O processo de ocupação da agricultura
dições edafoclimáticas propícias, das inovações mecanizada nos cerrados baianos começou na
tecnológicas, das políticas públicas e do em- década de 1980. Áreas tidas como marginais
preendedorismo dos agricultores, ultrapassando foram transformadas em agrícolas por causa
assim as propriedades agrícolas. O agronegócio da nova realidade econômica na região, e isso
é responsável por 25% do PIB do País, e as dinamizou e modernizou a economia local
perspectivas para os próximos anos são elevadas (BATISTELLA; VALLADARES, 2009; SANTOS,
– a produção de grãos deve passar dos atuais 2008). No Piauí, a ocupação começou na déca-
200 milhões de toneladas para 250 milhões em da de 1970 com projetos para a cajucultura e a
2024–2025, com destaque para milho e soja. Na pecuária. Na década de 1990, as mudanças de
cadeia de carnes (bovina, suína e de aves), esti- uso da terra foram intensificadas por causa da
ma-se incremento de 30% até 2024, superando produção de grãos, cuja consequência foi o des-
33 milhões de toneladas (PLANO..., 2015). E o matamento de extensas áreas (AGUIAR, 2008).
governo federal, reforçando sua política agrícola, A região sul-maranhense, por causa da produção
promoveu aumento dos recursos destinados ao de soja, transformou sua estrutura agrária tradi-
Plano Agrícola e Pecuário 2016–2017, com pro- cional de subsistência em agricultura tecnificada.
posta de R$ 202 bilhões para financiamento e A área de soja passou de 176 mil para 372 mil
custeio da safra de verão (PLANO..., 2016). hectares em 2000–2005, incentivada também
pela melhoria da infraestrutura rodoviária do
Em paralelo à necessidade de fortaleci-
estado (STUDTE, 2008). Somente nos últimos
mento da agricultura, existe a crescente deman-
dez anos, a produção de soja do Matopiba do-
da pela sustentabilidade ambiental das cadeias
brou – 4,3 milhões de toneladas em 2004 e 8,6
produtivas. O conceito de desenvolvimento
milhões de toneladas em 2014. E o crescimento
sustentável, definido como o conjunto de mu-
da produção de milho foi ainda mais expressivo,
danças estruturadas e articuladas que canalizam
mais de 215%, passando de 1,7 Mt para 5,3 Mt
a dimensão da sustentabilidade nos diversos ní-
no mesmo período (IBGE, 2016). Tal evolução só
veis da sociedade (AGENDA 21, 2002), cada vez
foi possível por causa das condições favoráveis
mais é atrelado ao desenvolvimento econômico,
às práticas agrícolas, disponibilidade de terras e
social e ambiental. No meio rural, o debate é
políticas agrícolas.
intensificado quando são analisados os fatores
relacionados à legislação ambiental, políticas Recentemente, o governo estabeleceu o
públicas, pobreza rural e produtividade das fron- Plano de Desenvolvimento Agropecuário para

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a região via Decreto Federal nº 8.447, de 6 de dez mesorregiões (IBGE, 2010), 337 muni-
maio de 2015 (BRASIL, 2015). O plano prevê a cípios – Maranhão 135, Tocantins 139, Piauí
orientação de programas, projetos e ações fede- 33 e Bahia 30 – e possui 73.848.967 hectares
rais relativos a atividades agrícolas e pecuárias (Figura 1). Abrange os biomas Cerrado (91%),
a serem implementados na região. Também Amazônia (7,3%) e Caatinga (1,7%), sendo a
como parte do governo, a Embrapa tem gerado cobertura vegetal natural formada predominan-
pesquisas para o Matopiba. Dadas a diversidade temente por savanas (63,6%), áreas de tensão
de sistemas de produção e a complexidade so- ecológica8 (15%) e floresta estacional decidual
cioeconômica da região, é de grande relevância (10,7%). Quanto ao relevo, 47,9% são de áreas
analisar conjuntos de dados em bases territoriais planas (até 3% de declividade) e 33,7% de
e socioeconômicos para melhor compreender áreas suavemente onduladas (de 3% a 8%).
processos de expansão, retração, transição, Há grande variedade de solos, predominando
conversão e intensificação agrícola. Mais re- no relevo mais elevado os Latossolos (31,1%),
centemente a Embrapa desenvolveu um projeto Argissolos (12,8%), Plintossolos Pétricos (8,7%),
especial para estabelecer um plano estratégico Neossolos Quartzarênicos Órticos (8,7%) e
de atuação no Matopiba. Entre as ações estão as Neossolos Litólicos (7,2%); nas áreas mais bai-
relacionadas às geotecnologias, que englobam xas, Plintossolos Argilúvicos e Háplicos (3,9%),
os sistemas de informações geográficas (SIG), Gleissolos (1,0%) e Planossolos (0,9%).
sistemas de posicionamento global por satélite A região possui duas estações climáticas
(GPS) e o sensoriamento remoto, por meio de bem definidas: uma seca, de maio a setembro, e
imagens de satélite. A caracterização da região outra chuvosa, de outubro a abril, com precipita-
em bases territoriais abrange aspectos físico-bió- ção média anual de 800 mm a 2.000 mm. Suas
ticos, infraestrutura logística, áreas institucionais pastagens plantadas ocupam cerca de 8 milhões
e a identificação, delimitação e caracterização de hectares, 3 dos quais com indicativos de de-
dos polos de produção agrícola. Vários planos gradação (ANDRADE et al., 2016). A estrutura de
de informações gerados pela própria Embrapa e pesquisa e extensão rural é formada por quatro
demais órgãos governamentais foram organiza- Unidades da Embrapa e 278 escritórios públicos
dos e servem como base de dados geoespaciais estaduais de assistência técnica.
para análises integradas com as áreas sociais e
econômicas que buscam apoiar o desenvolvi- A realidade agrária da região possui com-
mento agropecuário regional. plexa e diferenciada estrutura (Figura 2). Dentro
das terras legalmente atribuídas se destacam
Assim, este artigo busca analisar a expan- aproximadamente 170 mil hectares de áreas
são agrícola do Matopiba nos últimos anos e quilombolas (AQs); 3,3 milhões de hectares
identificar trajetórias de uso e cobertura da terra de assentamentos rurais (ARs); 4,1 milhões de
e aspectos socioeconômicos da região, informa- hectares de terras indígenas (TIs); 6,4 milhões de
ções multidisciplinares de grande interesse para hectares com unidades de conservação federais
os setores público e privado. (UCsF); e 8 milhões de hectares com unidades
de conservação estaduais (UCsE) de proteção in-
tegral e de uso sustentável. As AQs representam
Área de estudo cerca de 0,25 % da região; os ARs, 4,5 %; as TIs,
A área definida como Matopiba 5,6 %; e as UCsF e UCsE, 19%. Dessa forma,
(MONITORAMENTO..., 2015) compreende descontadas as sobreposições espaciais e recor-

8
Por tensão ecológica entende-se os contatos entre tipos de vegetação que podem ocorrer na forma de ecótono, quando a transição
se dá por uma mistura florística, ou na forma de encrave quando existe uma transição edáfica. Havendo essa transição, ocorre uma
interpenetração dos tipos de vegetação. No segundo caso, é um artifício cartográfico usado quando a escala de mapeamento não separa
os tipos de vegetação presentes na área, mas indicando sua ocorrência.

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Figura 1. Distribuição espacial dos 337 municípios das dez mesorregiões do Matopiba.

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Figura 2. Espacialização das áreas quilombolas, assentamentos rurais, terras indígenas e unidades de conser-
vação federais e estaduais do Matopiba.
Fonte: Brasil (2014), Funai (2014), Incra (2014).

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tados os limites específicos dos municípios do e iv) de 2011 a 2014 (MONITORAMENTO...,
Matopiba, especialmente nas UCs, aproximada- 2015). O trabalho sobrepôs as áreas desmatadas
mente 16 milhões de hectares, ou seja, 22 % de do Cerrado nos diversos períodos com as várias
seu território, são de áreas legalmente atribuídas. aptidões agrícolas, o que gerou informações
sobre a estratégia de uso da terra, e analisou os
dados sobre infraestrutura e logística regional,
Fonte de dados e metodologia aspectos do crédito rural, políticas públicas, área
plantada e quantidade produzida das principais
O estudo, para a radiografia da área, fez
commodities da região – soja e milho –, que
cruzamentos de diversos planos de informações
foram confrontados com os valores do PIB e do
geográficas e socioeconômicas, usando sistemas
IDHM, por município, em 2000–2010.
de informações geográficas e planilhas eletrô-
nicas. Foram usados dados: do desmatamento
do Cerrado em 2002–2014, gerados a partir da
Resultados
interpretação visual de imagens Landsat (re-
solução espacial de 30 metros), do Projeto de
Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Produção agrícola
Brasileiros por Satélite (PMDBBS) (2011) do Os dados da PAM para a soja mostram que
Ibama; ii) do mapeamento do uso e cobertura a área plantada no Matopiba foi de 591.276 ha
das terras de 2000, 2010 e 2012, gerados via em 1995, de 1.795.831 ha em 2005 e de
classificação de imagens Modis (resolução 3.292.760 ha em 2014 (Figura 3). A evolução da
espacial de 250 metros) (IBGE, 2015a); iii) do produção agrícola municipal de 2004 a 2014
mapeamento das áreas agrícolas de 2005, 2009 (IBGE, 2016) é altamente relacionada à expan-
e 2011, via imagens Modis, com resolução são da área colhida, que passou de 1,5 Mha
espacial de 250 metros, (BOLFE, 2015); iv) do em 2004 para 3,3 Mha em 2014 (Figura 3). A
mapa de aptidão agrícola (LUMBRERAS et al., exemplo de outras regiões de ocupação recente,
2015); v) da Produção Agrícola Municipal (PAM) como o Mato Grosso do Sul, o cultivo da soja
(IBGE, 2016); vi) do Índice de Desenvolvimento já começou tecnificado, com produtividade
Humano Municipal (IDHM) (ATLAS..., 2015); elevada, e a disponibilidade de terras aptas à
vi) do Produto Interno Bruto (PIB) (IBGE, 2015b); mecanização favoreceu sua intensificação.
e vii) socioeconômicos e políticas públicas da A produção de milho também mostra forte rela-
região. ção com a área colhida, ressaltando que a partir
Na primeira análise, o estudo identificou a de 2011 a produção de 2ª safra passou de 16 mil
dinâmica e o crescimento da produção de milho e ha, ou 2% da área colhida, para 260 mil ha, 24%
soja em 1995, 2005 e 2014. Em seguida, avaliou-se da área colhida em 2014 (Figura 4).
a dinâmica de uso da terra em 2000, 2010 e 2012, Isso mostra que embora o aumento da pro-
de forma regionalizada, com base em mapea- dução de milho esteja relacionado ao aumento
mentos do uso da terra e cobertura. Outra análise da área colhida, este último ocorreu nos últimos
cruzou dados de desmatamento do Cerrado do anos também por causa do maior uso das terras,
PMDBSS com dados do mapeamento das áreas que passaram a ser cultivadas duas vezes por
agrícolas geradas pela Embrapa e identificou o ano, dando início ao processo de intensificação
período específico do desmatamento das áreas agrícola no Matopiba. Os destaques são os muni-
posteriormente convertidas em áreas agrícolas. cípios de Formosa do Rio Preto e São Desidério,
Os períodos de desmatamento foram assim divi- na Bahia, e Balsas, no Maranhão (Figura 5).
didos: i) até 2002 (MONITORAMENTO..., 2009); A área plantada com milho foi de 647.169 ha em
ii) de 2003 a 2008 (MONITORAMENTO..., 2009); 1995, 562.033 ha em 2005 e 1.076.528 ha em
iii) de 2009 a 2010 (MONITORAMENTO..., 2011); 2014, com destaques para os municípios de São

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Figura 3. Evolução da área colhida e da produção de soja no Matopiba de 2004 a 2014.
Fonte: IBGE (2016).

Desidério, BA, Balsas e Tasso Fragoso, MA. Além maiores áreas desmatadas e os maiores percen-
do tradicional oeste da Bahia, destaca-se o sul tuais de desmatamento em relação à área de
do Piauí e Maranhão, conhecido como Anel da cerrado dentro dos estados (Tabela 1).
Soja.
Beuchle et al. (2015) analisaram as alte-
A área cultivada com soja, milho e algo- rações do Cerrado em 1990–2010 por meio
dão (1ª safra), de 9,33 Mha em 2001, passou de imagens Landsat e concluíram que 53% do
para 17,43 Mha em 2014 para todo o Cerrado. bioma havia sido desmatado até 2010. A média
No Matopiba, os valores foram de 1,2 Mha e anual de desmatamento diminuiu em 2000–
2,2 Mha nos respectivos anos – a área de soja 2010 em relação ao período 1990–2000. A taxa
passou de 0,97 Mha para 3,42 Mha; a de mi- de desmatamento também caiu: de 12,949 km2/
lho, de 0,1 Mha para 0,4 Mha; e a de algodão, ano em 2000–2005 para 11,812 km2/ano em
de 0,04 Mha para 0,3 Mha (AGROSATÉLITE 2005–2010.
GEOTECNOLOGIA APLICADA, 2015).
Ao analisar a dinâmica regional do uso e
cobertura da terra para 2000, 2010 e 2012 (IBGE,
Mudança do uso da terra 2015a), pode-se observar os principais proces-
De 2008 a 2011, o desmatamento sos de conversão do uso da terra no Matopiba
do Cerrado foi da ordem de 7.000 km²/ano (Figura 6). As principais transições para áreas
(MONITORAMENTO..., 2015). Nesse período, agrícolas (acima de 30 mil ha) estão destacadas
os estados do Matopiba responderam pelas de vermelho e representam o uso da terra an-

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Figura 4. Evolução da área colhida (1ª e 2ª safras) e da produção de milho no Matopiba de 2004 a 2014.
Fonte: IBGE (2016).

terior a sua conversão para a agricultura (2000 em 2005–2010 foram identificados 950 mil
–2010 e 2010–2012). De 2000 a 2010, houve ha de novas áreas agrícolas. Esse crescimento
aumento de 1,7 Mha de áreas agrícolas (Ac), ocorreu tanto sobre áreas que passaram pelo
oriundas principalmente de áreas de pastagem processo de antropização anterior a 2002 (47%)
natural (Ap_nat; 1,58 Mha), de vegetação flo- quanto sobre áreas que passaram pelo processo
restal (Veg_fl) e derivadas de áreas de mosaicos de antropização recente – 44% em 2003–2008 e
de agropecuária com remanescentes florestais 7% em 2009–2010 (Figura 7). Maranhão e Piauí
(Ag_remanes). se destacam pelo maior percentual de expansão
Já de 2010 a 2012, ocorreu aumento de da agricultura sobre áreas desmatadas em pe-
1,3 Mha Ac, sendo 1,2 Mha também provenien- ríodos recentes, o que indica rápida conversão
tes de Ap_nat e de Veg_fl. Os dados mostram de áreas naturais em agricultura de larga escala.
que a maior parte das terras convertidas em A transição de áreas naturais diretamente para
áreas agrícolas são oriundas de pastagens na- áreas agrícolas já foi observada em Mato Grosso
turais. Essas áreas, segundo IBGE (2015a), são em 2001–2004 (MORTON et al., 2006).
definidas como “área ocupada por vegetação De 2010 a 2014, foram mapeados
campestre (natural) sujeita a pastoreio e outras 1,26 Mha de novas áreas agrícolas, 30% estabe-
interferências antrópicas de baixa intensidade”. lecidas em locais antropizados em 2009–2014.
Os resultados da segunda análise, com Observa-se também o uso de terras com históri-
cruzamento de informações do período dos co de ocupação anterior a 2002 (48%). Isso mos-
desmatamentos do Cerrado com os dados do tra que a expansão da agricultura no Matopiba
mapeamento das áreas agrícolas, revelam que vem ocorrendo tanto sobre terras previamente

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A B C

D E F

Figura 5. Área plantada de soja e milho no Matopiba em 1995, 2005 e 2014.


Fonte: IBGE (2016).

antropizadas quanto sobre novas áreas. Nos dois estados – 51,9 mil km2 em Tocantins e 49,4 mil
períodos analisados (2005–2010 e 2010–2014), km2 na Bahia. Maranhão e Piauí contavam com
Maranhão e Piauí são os estados que usam o 32,6 mil km2 e 9,5 mil km2 de áreas antropiza-
menor percentual de terras antropizadas até das, respectivamente9. De 2000 a 2014, a área
2002 (Figura 7). Já a expansão da agricultura de baiana agrícola do Matopiba cresceu 1,5 vez,
larga escala em Tocantins e Bahia usou de 50% mas no Maranhão, em Tocantins e no Piauí, a
a 65% de terras abertas no passado. Esse fato expansão foi de 3,2, 8,7, e 11,5 vezes, respec-
pode estar associado ao maior estoque de terras tivamente (AGROSATÉLITE GEOTECNOLOGIA
antropizadas no Cerrado até 2002 nesses dois APLICADA, 2015).

9
Dados extraídos da apresentação dos resultados do PMDBBS, bioma Cerrado, para 2002–2008 (MONITORAMENTO..., 2009).

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Tabela 1. Desmatamento do Cerrado em 2008–2011.

Área de Desmatamento 2008–2009 Desmatamento 2009–2010 Desmatamento 2010–2011


UF cerrado
(km2) km2 % do cerrado km2 % do cerrado km2 % do cerrado

MA 212.092 2.338 1,10 1.583,77 0,75 1.310,62 0,62


TO 252.799 1.311 0,52 979,74 0,39 1.160,61 0,46
BA 151.348 1.000 0,66 718,05 0,47 1.002,97 0,66
MT 358.837 833 0,23 769,89 0,21 797,92 0,22
PI 93.424 701 0,75 980,27 1,05 1.292,23 1,38
GO 329.595 664 0,20 593,58 0,18 640,67 0,19
MG 333.710 534 0,16 524,30 0,16 720,56 0,22
MS 216.015 241 0,11 310,36 0,14 311,81 0,14
SP 81.137 7,5 0,01 3,26 0,00 4,87 0,01
PR 3.742 1 0,03 1,08 0,03 2,07 0,06
DF 5.802 1 0,02 4,80 0,08 0,04 0,00
RO 452 0,8 0,18 0,06 0,01 0,00 0,00
Total 2.038.953 7.632,3 6.469,16 7.244,37
Fonte: Monitoramento... (2015).

Figura 6. Mudanças de uso e cobertura


da terra do Matopiba em 2000, 2010 e
2012. Ac – área agrícola; Ag_remanes
– mosaico de agropecuária com rema-
nescente florestal; Ap_nat – pastagem
natural; Ap_plant – pastagem plantada;
Veg_camp_Ac – mosaicos de vegeta-
ção campestre com áreas agrícolas;
Veg_fl – vegetação florestal; Veg_fl_Ac
– mosaico de vegetação florestal com
áreas agrícolas.

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Figura 7. Proporção da época de antropização das áreas de expansão agrícola em 2005–2010 e 2010–2014
no Matopiba.

Aptidão agrícola trições de drenagem (Plintossolos Argilúvicos e


Háplicos, Gleissolos e Planossolos).
Os dados da aptidão agrícola (Figura 8)
revelam significativa proporção de terras com Ao cruzar as classes de aptidão agrícola
elevado potencial para o desenvolvimento de com as áreas desmatadas, observou-se que o
agricultura intensiva – aproximadamente 26 desmatamento ocorrido até 2002 não privilegiou
milhões de hectares ou 35% do total da região áreas de boa aptidão para lavouras – 36% do des-
– e classificadas como de boa e regular aptidão. matamento ocorreu em áreas de aptidão regular.
Lumbreras et al. (2015) destacam que no Matopiba Nos desmatamentos de 2010–2011, foi maior o
ocorre grande variedade de solos, sob condições percentual de áreas de boa aptidão, ensejando a
climáticas diversas, com reflexos em qualidades ampliação da agricultura de larga escala na re-
e vulnerabilidades distintas para o uso agrícola. gião. Nota-se também que a proporção de áreas
Desde solos com grande potencial para agricul- desmatadas de boa aptidão tem aumentado,
tura, como Argissolos e Latossolos, até solos de exceto em 2008–2009, e com alto percentual
elevada vulnerabilidade à degradação, com altos de desmatamentos em áreas de aptidão restrita
conteúdos de areia (Neossolos Quartzarênicos), para lavouras (23%) e aptidão para pastagens
de cascalhos (Plintossolos Pétricos) e fortes res- plantadas (21%) (Figura 9). As áreas de boa

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Figura 8. Aptidão agrícola do Matopiba.
Fonte: Lumbreras et al. (2015).

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 49


Figura 9. Proporção da aptidão agrícola das terras antropizadas no Matopiba.

aptidão para lavouras no cerrado do Matopiba aspectos rodoviários, ferroviários, hidroviários,


correspondem a aproximadamente 10 Mha, armazenagem de grãos, indústrias esmagadoras
5 Mha dos quais já estavam desmatados em de soja, processadoras de milho, usinas e destila-
2011. Provavelmente, os 4,1 Mha de lavouras de rias de álcool, frigoríficos e indústrias de celulose
soja e milho colhidos em 2014 não foram todos e papel. Estes dados foram acessados de fontes
de áreas de elevada aptidão. Porém, os números do Ministério dos Transportes, Departamento
indicam que o estoque de terras antropizadas e Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit),
de boa aptidão para lavouras está caindo, e isso Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
ressalta a importância da sustentabilidade, em Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
que o aumento de produtividade, via implemen- Vegetais (Abiove), União da Indústria de Cana-
tação de novas tecnologias, deve ser objetivo de de-açúcar (Unica), Associação Brasileira Técnica
curto prazo.
de Celulose e Papel (ABTCP) e Associação
Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne
Infraestrutura e logística (Abiec), de 2010 a 2015.
Foram analisadas as principais informa- A região possui 12,4 mil km de rodovias
ções sobre a infraestrutura e logística da região: pavimentas com pista simples e apenas 55 km

50 Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016


de pistas pavimentas duplicadas. Possui 5 mil km Realidade socioeconômica
de estradas classificadas como “leito natural”, ou
O Matopiba possuía 5,9 milhões de habitan-
seja, rodovias construídas em primeira abertura, tes em 2010 (população urbana e rural), 57,6% no
em terreno natural, sem atendimento às normas, Maranhão, 25,30% no Tocantins, 12,72% na Bahia
podendo eventualmente receber revestimento e 4,75% no Piauí. O Maranhão destaca-se também
primário. Esse grupo de rodovias, segundo o por possuir a maior densidade populacional da re-
Dnit (TERMINOLOGIAS..., 2007), não atende gião (14,18 hab/km²) (Tabela 2). Aproximadamente
às normas rodoviárias de projeto geométrico, 35% da população dessa região, ou seja, 2,04
não se enquadram, portanto, em nenhuma das milhões de habitantes, residia no meio rural. Na
classes de rodovias estabelecidas pelo depar- Bahia, 42% da população do Matopiba residia
tamento. Destacam-se também os 4,1 mil km no meio rural; No Piauí e Maranhão, 39%; e no
de rodovias implantadas conforme as normas Tocantins, 22%. A média brasileira residente no
rodoviárias de projeto geométrico e ainda não meio rural em 2010 foi de 15,3%, bem inferior à de
pavimentadas, 1,6 mil km de rodovias em obras todos os estados do Matopiba.
e 1,1 mil km planejados. A região possui também A população rural, de 1991 a 2010, cres-
11 km de travessias, ou seja, trechos de transpo- ceu em apenas quatro microrregiões, todas no
sição de rios sem pontes, 4,9 mil km de hidrovias Maranhão: Lençóis Maranhenses (32,1%), Baixo
de navegação principal e 4 mil km de trechos Parnaíba Maranhense (14,7%), Itapecuru Mirim
de navegação inexpressível. A malha ferroviária (9,2%) e Alto Mearim e Grajaú (3,7%). Nas de-
totaliza 1,6 mil km em operação, 1,5 mil km de mais 27 microrregiões, houve decréscimo da po-
ferrovias projetadas e 166 km em implantação. pulação rural, com destaques para Barreiras, BA
(-0,5%), Porto Nacional, TO (-13,9%), Gurupi, TO
Quanto à armazenagem de grãos, o
(-38,8%) e Alto Parnaíba Piauiense, PI (-31,6%).
Matopiba possui aproximadamente 7,5 milhões
Bertolínia, PI, perdeu mais da metade da popu-
de toneladas de capacidade estática, com desta-
lação rural, embora seu PIB tenha crescido 170%
ques para o oeste baiano e o sul maranhense e
em 1999–2011. Suspeita-se que o crescimento
piauiense. De forma geral, existe grande número do PIB da microrregião possa favorecer a migra-
de armazéns de baixa capacidade, inferiores ção, dadas as oportunidades em outros setores
a 200 mil toneladas. A capacidade estática é e pelo fato de a agricultura tecnificada exigir
bem inferior à atual produção regional de soja menos trabalhadores.
e milho, em torno de 14 milhões de toneladas.
Os dados identificam apenas três processa- A principal característica da estrutura agrí-
cola do Matopiba é a concentração da produção.
doras de milho – duas no Maranhão (Caxias e
Dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2009) per-
Imperatriz) e uma em Tocantins (Araguaína) – e
mitem distribuir os 250.238 estabelecimentos em
três indústrias esmagadoras de soja, sendo duas
classes de renda, em termos de salários mínimos.
na Bahia (Barreiras e Luís Eduardo Magalhães)
A Tabela 3 mostra que a grande maioria dos es-
e uma no Piauí (Uruçuí). As bases acessadas tabelecimentos rurais, quase 80%, está na classe
mostram na região quatro plantas de celulose e de 0 a 2 salários mínimos, representando apenas
papel no Maranhão (Imperatriz, Coelho Neto e 5,22% da renda bruta e 0,48 salário mínimo por
São Luiz), dois grandes frigoríficos em Tocantins estabelecimento. Considerando que em cada esta-
(Araguaína e Gurupi) e nove unidades de usinas belecimento residam cinco pessoas, então a renda
e destilarias de álcool – cinco no Maranhão per capita seria de 0,12 salário mínimo – quase
(Aldeias Altas, Campestre do Maranhão, 1 milhão de pessoas muito pobres. No outro extre-
Chapadas das Mangabeiras e Coelho Neto com mo, 1.020 estabelecimentos superam 200 salários
duas) e três em Tocantins (Arraias, Gurupi e mínimos mensais e se apropriam de quase 60%
Pedro Afonso) (Figura 10). da renda agrícola regional (ALVES; SOUZA, 2015).

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 51


A B

C D

Figura 10. Matopiba – rodovias; ferrovias e hidrovias; armazenagem de grãos, processadoras de milho e es-
magadoras de soja; e fábricas de celulose e papel, frigoríficos e usinas e destilarias.
Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (2015), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (2015), Associação Brasileira
Técnica de Celulose e Papel (2015), Brasil (2007, 2010), Conab (2014), Terminologias... (2007) e Unica (2014).

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Tabela 2. População e densidade demográfica dos estados do Matopiba em 2010.

Densidade demográfica
Estado Área (ha) População % relativa
(hab./km² )
Maranhão 23.982.347 3.401.352 57,63 14,18
Tocantins 27.772.052 1.493.296 25,30 5,38
Bahia 13.214.498 750.686 12,72 5,68
Piauí 8.204.588 256.455 4,35 3,13
Total 73.173.486 5.901.789 - 8,07
Fonte: IBGE (2010).

Tabela 3. Renda bruta dos estabelecimentos rurais do Matopiba.

Salários mínimos Estabelecimentos % renda bruta


% est rb/est/slmm
mensais (slmm) (est) (rb)
(0,2] 199.801 79,84 5,22 0,48
(2,10] 34.917 13,95 8,35 4,36
(10,200] 14.500 5,79 26,74 33,64
>200 1.020 0,42 59,68 1.067,21
Total 250.238 100 100 7,29
Fonte: Alves e Souza (2015).

Dados recentes confirmam esse quadro [...] uma região muito rica e carente ao mes-
de dicotomia entre ricos e pobres. Colussi (2015) mo tempo, que precisa de organização rural,
mostra uma considerável evolução agrícola da investimentos em logística, capacitação de
região – a quarta maior produtora de grãos, mas trabalhadores e melhores serviços públicos.
com aproximadamente 10% da produção nacio- O indicador genérico para mensurar o
nal –, resultado, principalmente, da experiência progresso da região é o PIB (Tabela 4). Tocantins
de agricultores oriundos do Sul do País. Quanto e Bahia possuem PIB per capita relativamente
à distribuição dos benefícios, destaca-se a colo- elevado – em termos gerais. O PIB per capita do
cação do Secretário de Agricultura de Tocantins: Matopiba é próximo de R$ 8.000,00, apenas 40%
É uma região muito rica, mas a riqueza ain- do PIB per capita do Brasil em 2010, R$ 19.878,00,
da está nas mãos de poucos. Só uma família segundo o IBGE (2015b). Considerando só
oriunda do Sul, que sonhava plantar mil hec- Tocantins e Bahia, o PIB per capita subiria para
tares, hoje possui 80 mil plantados. 60% do nacional. Portanto, o problema maior da
O desafio não são os ricos, os que vence- pobreza está no Piauí e o no Maranhão.
ram e realizaram uma epopeia de crescimento A Tabela 5 mostra o PIB per capita
na região, mas sim os muito pobres. Como as das microrregiões do Matopiba em 2010, e a
principais culturas – soja, milho e algodão – Figura 11, a visualização das microrregiões nas
são altamente tecnificadas, principalmente em últimas três décadas.
maquinário, a criação de empregos expande-se
O Índice de Desenvolvimento Humano
aos poucos, para pessoas capacitadas, e deixa à
Municipal (IDHM), que mede o grau de desen-
margem a grande massa de trabalhadores sem
volvimento humano de um país, região ou muni-
formação profissional.
cípio, considera três indicadores básicos: saúde,
Segundo Rodrigues (2016), o Matopiba é educação e renda. Sua escala de valores é de 0 a 1,

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 53


Tabela 4. PIB per capita do Matopiba em 2010.

Estado PIB (1.000 reais) População PIB per capita (1.000 reais)
Tocantins 17.240.135,04 1.383.445 12,46
Bahia 8.668.662,23 750.489 11,55
Piauí 1.753.706,68 254.950 6,88
Maranhão 19.283.648,65 3.513.256 5,49
Total 46.946.152,60 5.902.140 7,95
Fonte: IBGE (2010).

Tabela 5. PIB per capita das microrregiões do Matopiba em 2010.

PIB PIB per capita


N° Microrregião
(1.000 reais) (1.000 reais)
1 Barreiras (BA) 5.705.002,84 19,94
2 Porto Nacional (TO) 5.152.436,94 15,96
3 Gurupi (TO) 2.115.073,70 15,41
4 Alto Parnaíba Piauiense (PI) 639.088,05 14,66
5 Rio Formoso (TO) 1.679.193,67 14,48
6 Miracema do Tocantins (TO) 1.863.917,10 13,10
7 Gerais de Balsas (MA) 1.613.064,69 12,37
8 Chapadas das Mangabeiras (MA) 822.898,13 12,10
9 Araguaína (TO) 3.236.389,99 11,61
10 Jalapão (TO) 771.265,04 10,72
11 Dianópolis (TO) 1.179.874,30 9,99
12 Santa Maria da Vitória (BA) 1.538.010,62 8,63
13 Imperatriz (MA) 4.604.995,02 8,12
14 Porto Franco (MA) 866.235,97 7,88
15 Bertolínia (PI) 271.362,52 6,67
16 Bico do Papagaio (TO) 1.241.984,30 6,32
17 Alto Médio Gurguéia (PI) 483.217,84 5,49
18 Bom Jesus da Lapa (BA) 928.454,86 5,42
19 Médio Mearim (MA) 2.080.785,64 5,05
20 Alto Mearim e Grajaú (MA) 1.490.388,40 4,78
21 Caxias (MA) 1.966.275,43 4,72
22 Coelho Neto (MA) 384.163,33 4,40
23 Chapadas do Extremo Sul Piauiense (PI) 360.038,27 4,36
24 Cotegipe (BA) 497.193,92 4,33
25 Chapadinha (MA) 900.047,67 4,09
26 Presidente Dutra (MA) 778.805,38 4,08
27 Chapadas do Alto Itapecuru (MA) 837.338,49 4,00
28 Codó (MA) 1.053.158,64 3,99
29 Itapecuru Mirim (MA) 833.795,90 3,96
30 Baixo Parnaíba Maranhense (MA) 509.523,94 3,67
31 Lençóis Maranhenses (MA) 542.172,05 3,08
Total 46.946.152,60 7,95

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Figura 11. Variação da contribuição percentual no PIB real de 1990 a 2010 nas microrregiões do Matopiba.
Fonte: IBGE (2015b).

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 55


com cinco classes: i) 0 a 0,499 – muito baixo; tos sacrifícios e competência, mas de enriquecer
ii) 0,5 a 0,599 – baixo; iii) 0,6 a 0,699 – médio; também os agricultores pobres, com vocação e
iv) 0,7 a 0,799 – alto; e v) a partir de 8 – muito vontade para atividades agrícolas.
alto.
A Figura 12 mostra o desenvolvimento
Em 2010, apenas dois municípios possuíam regional por meio do IDHM. Em 1991, o IDHM
IDHM muito baixo no Maranhão: Jenipapo dos é muito baixo em todos os municípios. Em 2000,
Vieiras e Fernando Falcão. Com IDHM médio começam a aparecer melhoras – municípios
foram classificados 161 municípios, ou seja, de IDHM baixo e médio –, mas a revolução é
quase a metade da região – em 1991, todos vista em 2010, com apenas dois municípios no
possuíam índice muito baixo (Tabela 6). Quanto Maranhão com IDHM muito baixo e igual pro-
às microrregiões, em 2010 oito possuíam mu- porção dos que possuem IDHM baixo e médio.
nicípios com IDHM alto: 2 em Barreiras (BA), Os 13 municípios de IDHM alto são Palmas,
3 em Porto Nacional (TO), 2 em Gurupi (TO), Paraíso do Tocantins, Gurupi, Araguaína, Guaraí,
2 em Araguaína (TO), 1 em Imperatriz (MA), 1 Porto Nacional, Pedro Afonso, Alvorada, Colinas
em Rio Formoso (TO), 1 em Dianópolis (TO) e do Tocantins e Dianópolis, em Tocantins;
1 em Miracema do Tocantins (TO). Apenas em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia; e
duas microrregiões, no Maranhão, há municípios Imperatriz, no Maranhão.
com índice muito baixo: Alto Mearime Grajaú e
Médio Mearim.
Políticas públicas
Vários fatores e políticas públicas foram
Os principais atores do crescimento da
responsáveis pela melhoria da qualidade de
produção agrícola no Matopiba foram os agricul-
vida na região, como investimentos em saúde,
tores, em grande número vindos do Sul do País.
educação e na renda via Bolsa Família. Mas a
Em sua maioria, não eram de famílias abastadas,
revolução da produção agrícola local também
com grande poder financeiro, mas pequenos
desempenhou papel fundamental ao criar renda
produtores de gestão eminentemente familiar.
para as famílias dos agricultores que revolucio-
Vieram com suas tradições de trabalho, de orga-
naram a região, com empregos nas lavouras e
nização, de culto à educação e treinamento, do
nas cadeias do agronegócio, como serviços de
chimarão, do Centro de Tradições Gaúchas e do
venda de insumos e assistência técnica. A hipó-
Grenal (COLUSSI, 2015).
tese levantada neste trabalho é a de que a disse-
minação dos efeitos de crescimento agrícola em Reconhece-se a ajuda de governos com a
um modelo concentrado, como o ocorrido no construção da infraestrutura mínima, como esco-
Matopiba, demora a se espalhar para a socieda- las e centros de saúde. Na produção agrícola, o
de como um todo, mas ocorre. Não é objetivo crédito para investimentos em máquinas e equi-
de nenhuma política pública empobrecer os que pamentos e para o custeio das safras foi funda-
criaram riquezas na região, a maioria com mui- mental. Esse tem sido um importante instrumento

Tabela 6. Número de municípios do Matopiba em cada categoria do IDHM em 1991, 2000 e 2010.

IDHM 1991 % relativa 2000 % relativa 2010 % relativa


Muito baixo 337 100 298 88,43 3 0,89
Baixo 0 36 10,68 160 47,48
Médio 0 3 0,89 161 47,77
Alto 0 0 13 3,86
Fonte: Atlas... (2015).

56 Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016


Figura 12. Índice de De-
senvolvimento Humano
Municipal (IDHM) do Ma-
topiba em 1991, 2000 e
2010.
Fonte: Atlas... (2015).

governamental para o incentivo à produção em dimensões. Consequentemente, os agricultores


regiões de expansão como o Matopiba. Lá, a se descapitalizaram para custear suas safras e
principal estratégia dos agricultores sulistas foi adquirir máquinas e equipamentos. Contaram,
imobilizar recursos com aquisição de terras, há portanto com o crédito agrícola governamental.
alguns anos, relativamente baratas, o que permi- A Tabela 7 mostra como foi a concessão
tiu uma estrutura agrária com glebas de grandes de crédito agrícola em 2015 para o Matopiba.

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 57


Tabela 7. Crédito agrícola para o Matopiba em 2015.

Investimento Comercialização
Estado Custeio Total
(milhões de reais) (milhões de reais)
Bahia 3.509 1.706 399 5.614
Maranhão 1.009 890 108 2.007
Piauí 845 488 93 1.426
Tocantins 1.446 1.494 127 3.067
Matopiba 6.809 4.578 727 12.114
Brasil 90.726 40.159 23.347 154.232
Fonte: Banco Central do Brasil (2016).

Os R$ 12 bilhões representam 7,9% do crédito mos mais caros e na venda de produto por preço
agrícola total para o Brasil naquele ano, mas a abaixo do que conseguem os grandes produtores
produção de milho e soja do Matopiba equi- organizados; não disponibilidade de eletrificação
vale a 9,4% da produção nacional. Na safra rural, de irrigação, deficiências da assistência
2014–2015, o Matopiba produziu 11% do total técnica, dificuldade de acesso a terra, a recursos
nacional de soja e 7,5% do de milho, com des- financeiros e educação deficiente. E o principal
taque para a Bahia. Do total de crédito agrícola objetivo das políticas públicas é eliminar essas
concedido para a região, 56% foram para custeio distorções. Os autores destacam como propostas:
da safra e 38% para investimento. Já os créditos i) Dar aos pequenos produtores acesso à eletrifi-
para comercialização foram insignificantes. A cação rural, à telefonia e à Internet; ii) Investir em
Bahia ficou com 46% dos recursos, comprovan- irrigação em regiões de secas periódicas, como
do o potencial dos cerrados do estado, e o Piauí parte do Matopiba; iii) Disponibilizar crédito
recebeu apenas 11,8%. para aquisição de terra aos agricultores que não
O conceito de território teve grande ên- as possuem, ou que as possuem em quantidade
fase a partir da década de 1990 no Nordeste. insuficiente, com juros e prazos compatíveis com
Em 2003, o governo brasileiro incorporou essa sua renda futura; iv) Criar acesso a leasing para
dimensão espacial no desenvolvimento rural por máquinas e equipamentos; v) Incentivar e apoiar
meio dos Territórios da Cidadania: o cooperativismo como forma de organização dos
[...] um espaço físico, geograficamente de- produtores; vi) Facilitar formas de trabalho fora da
finido, geralmente contínuo, caracterizado propriedade agrícola para a complementação da
por critérios multidimensionais, tais como o renda familiar; (vii) Tornar os preços dos insumos
ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, modernos acessíveis; e viii) Ampliar o programa
a política e as instituições, e uma população de compra antecipada e de compra de insumos
com grupos sociais relativamente distintos, para venda aos pequenos produtores ainda não
que se relacionam interna e externamente por
suficientemente organizados.
meio de processos específicos, onde se pode
distinguir um ou mais elementos que indicam Em 2015, o governo federal lançou o Plano
identidade, coesão social, cultural e territorial. de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba,
(REFERÊNCIAS..., 2003, p. 22-23). em que a abrangência territorial da área foi
Segundo Alves e Souza (2015), a principal delimitada por meio das características físico-
causa da concentração da produção, o que impede -bióticas, agrárias, agrícolas e socioeconômicas
que milhões de produtores produzam renda para regionais. O objetivo desse plano é promover
uma vida digna no campo, são as imperfeições de ações de desenvolvimento territorial, observadas
mercado. Essas se manifestam na compra de insu- as seguintes diretrizes: i) Desenvolvimento e

58 Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016


aumento da eficiência da infraestrutura logísti- turas perenes das áreas antropizadas. O segundo
ca relativa às atividades agrícolas e pecuárias; recomenda limites para a expansão da fronteira
ii) Apoio à inovação e ao desenvolvimento tecno- agrícola, priorizando as áreas com pastagem de-
lógico voltados às atividades agrícolas e pecuá- gradada e conservação de áreas de preservação.
rias; e iii) Ampliação e fortalecimento da classe Foram estabelecidas diretrizes como: i) Mitigação
média no setor rural, por meio da implementa- do risco climático e o zoneamento agroeco-
ção de instrumentos de mobilidade social que lógico dos diversos produtos agrícolas; ii) Uso
promovam a melhoria da renda, do emprego e sustentável dos recursos naturais, especialmente
da qualificação profissional de produtores rurais. a água (aquífero do Urucuia) e os sistemas de ir-
Além disso, o Ministério da Agricultura, Pecuária rigação mais eficientes; iii) Ampliação da cadeia
e Abastecimento criou uma agência para o de- de valor quanto à agregação de valor por meio
senvolvimento da região, como catalizadora das da produção de insumos agropecuários e do
ações públicas (MONITORAMENTO..., 2015). processamento da produção; e iv) Transferência
de tecnologia com participação multissetorial –
A Embrapa continua envolvida na região
finanças, indústria, terceiro setor e fornecedores,
com projetos de pesquisa, desenvolvimen-
entre outros –, especialmente nas áreas socioe-
to, inovação e transferência de tecnologias.
conomicamente mais frágeis.
Recentemente, desenvolveu o Projeto Especial
Plano Estratégico de Atuação da Embrapa na re- Um dos destaques foi a organização do
gião do Matopiba, que fez profundo diagnóstico zoneamento de risco climático do Matopiba,
e uma proposta consistente de desenvolvimento instrumento poderoso de política agrícola,
agrícola com sustentabilidade – econômica, particularmente direcionado à concessão de
social e ambiental (BOLFE, 2015). Foram execu- crédito oficial. Esse zoneamento abrangeu as
tadas ações de: i) Avaliação estratégica prévia, principais culturas da região: milho, soja, feijão,
contemplando as principais políticas públicas algodão e consórcio milho-braquiária. Usando
com reflexos no território; ii) Identificação de análises espaciais, foram elaborados mapas de
oportunidades e ameaças, diretrizes e critérios caracterização climática e restrições térmicas,
para atuação da Embrapa; e iii) Espacialização de com indicação de riscos climáticos e épocas de
áreas homogêneas, com base nas diretrizes pré- semeadura. Essas informações estão disponíveis
-estabelecidas para atuação da Embrapa, como para formuladores de políticas públicas, agentes
subsídio para a definição de ações de PD&I de financiamento agrícola e produtores rurais via
e TT, e, se possível, estruturação da atuação Sistema de Monitoramento Agrometeorológico
dos diversos Centros de Pesquisa no território. (AGRITEMPO, 2015).
Delimitaram-se aspectos territoriais e definiram-
-se diretrizes estratégicas de atuação na região
a partir de bases de dados físicos-bióticos, eco- Considerações finais
nômicos, sociais, agrários, de infraestrutura, de
O Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí
desenvolvimento tecnológico e de inovação.
e Bahia – se consolidou como importante fron-
Para a definição das diretrizes de pesquisa teira agrícola na última década. O aumento da
agropecuária, de responsabilidade direta da produção de grãos é focado especialmente nas
Embrapa, o projeto partiu de dois pressupostos culturas de soja e milho e está assentado em dois
básicos para uma agricultura sustentável e com- principais processos relacionados à dinâmica
petitiva. O primeiro refere-se à intensificação agrícola. A expansão e a conversão de áreas
produtiva e diversificação, incluindo irrigação, dividem praticamente de forma igualitária o
produtividade do capital, extensão da safra, percentual das áreas plantadas nos últimos anos.
sistemas integrados, fruticultura, pecuária, meli- Maranhão e Piauí se destacam na expansão da
ponicultura, aquicultura, florestas e demais cul- agricultura sobre terras desmatadas recentemen-

Ano XXV – No 4 – Out./Nov./Dez. 2016 59


te. A expansão da agricultura de larga escala em Mas a análise do IDHM mostra grande melhoria
Tocantins e na Bahia ocorreu principalmente no desenvolvimento econômico-social da região
sobre as terras desmatadas antes de 2002. nas últimas décadas para a maioria dos municí-
Recentemente, o processo de conversão agrícola pios estudados – os índices passaram de muito
ocorreu sobretudo pela substituição de pasta-
baixo/baixo para médio/alto. Destaca-se aqui a
gens naturais pela agricultura de larga escala,
necessidade de investimentos em infraestrutura
favorecidas pela mecanização e intensificação
da produção. na região. De forma geral, deve-se priorizar o
uso dos corredores multimodais do Arco Norte,
A realidade agrária da região é complexa
integrando os quatro estados. Essas melhorias
e merece especial atenção dos agentes públicos
têm sido previstas no Plano Nacional de Logística
e privados. As áreas legalmente atribuídas – qui-
lombolas, terras indígenas, assentamentos rurais Portuária, mas a velocidade da expansão e o
e unidades de conservação federais e estaduais dinamismo agrícola regional tornam necessária
– somam praticamente 22% do território. Os a revisão a cada safra.
dados de aptidão agrícola indicam que aproxi- Vários fatores sociais e econômicos,
madamente um terço das terras do Matopiba é
associados a políticas públicas, foram respon-
classificado como de elevado potencial para o
desenvolvimento de agricultura intensiva. Dados sáveis pela melhoria da qualidade de vida da
mostram que grande parte dos desmatamentos população do Matopiba nas últimas décadas.
da década de 1990 ocorreu em áreas de aptidão Investimentos em saúde, educação e melhoria
regular para lavouras; nos desmatamentos mais da renda via Bolsa Família são importantes, mas
recentes, foi maior o percentual de áreas de boa a produção agrícola também desempenhou
aptidão para lavouras. Essa dinâmica indica que papel de destaque. O aumento da produção de
o estoque de terras antropizadas, de boa aptidão grãos estabeleceu novo patamar de renda para
para lavouras, está diminuindo e a expansão as famílias dos agricultores, gerando novo leque
de novas áreas agrícolas dependerá do acesso
de empregos diretamente nas propriedades ru-
a áreas que hoje possuem cobertura natural.
Assim, desenha-se um cenário em que o aumen- rais e nas cadeias do agronegócio.
to da produtividade deve ser incentivado. As políticas públicas, de orientação ime-
No Matopiba, aproximadamente um diata para a sociedade e os agentes locais, são
terço da população é rural, e sua densidade formas de garantir que a expansão agrícola da
demográfica é relativamente baixa. Mesmo com região seja planejada e amparada em bases le-
forte migração, principalmente do Sul do Brasil, gais. O governo federal, por meio do Ministério
a população rural da maioria das microrregiões da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem
decresceu na última década, e isso pode ser olhado com atenção para a região, com destaque
explicado pelo crescimento do PIB, que se torna
para o lançamento do Plano de Desenvolvimento
vetor de migração para os centros urbanos do
Agropecuário do Matopiba. Da mesma forma, a
interior dadas as novas oportunidades no comér-
cio e na indústria. A estrutura agrícola possui for- Embrapa tem fortalecido as ações de pesquisa,
te característica de concentração da produção, desenvolvimento, inovação e transferência de tec-
e na grande maioria dos estabelecimentos rurais nologias no Matopiba. Recentemente, conduziu
é baixa a renda bruta, indicando um quadro de um projeto especial focado no estabelecimento
dicotomia entre ricos e pobres. do Plano estratégico de atuação da Embrapa na
O PIB da região representa muito bem essa região do Matopiba. Esse projeto estabeleceu di-
dicotomia. Tocantins e Bahia possuem valores retrizes de atuação com foco no desenvolvimento
100% superiores aos do Piauí e do Maranhão. agrícola econômico, social e ambiental.

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