Flavia-Costa1989, 20
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Introdução
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com menores IDH do Brasil (IBGE-IDH, 2010) condição que colaborou para,
rapidamente, o município ter sido considerado em abril de 2020: a capital
de contaminação de COVID-19 no Brasil (G1-PARÁ, 2020). Breves teve 24%
da população contaminada em pouco menos de 20 dias, número que
obrigou o governo estadual a decretar lockdow no período de 07 a 17 de
maio de 20202. Neste trabalho, será analisada as implicações da pandemia
do COVID-19 no município de Breves, como caso emblemático da região
marajoara. Além das fontes secundárias aqui tratadas advindas de
entidades e institutos de pesquisa, também foram fundamentais os
relatórios do Observatório do Marajó. Todas integradas à linha de reflexão
interdisciplinar dos campos da sociologia, da saúde coletiva e da história
que caracterizam a abordagem crítica do artigo.
2 Sobre a gravidade da pandemia no município, o relatório técnico da UFPA- CUMB afirma: “O panorama
de Breves permanece em situação preocupante. Apesar de os indicadores estarem melhores do que em
períodos anteriores, a incidência de casos confirmados (casos novos acumulados a cada 10.000 habitantes)
é maior do que a incidência nacional e regional, sendo menor apenas que a incidência estadual. Em relação
à incidência de óbitos, o indicador de Breves supera os indicadores nacional, estadual e regional”
(UFPA/CUMB, 2020).
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colonial-escravocrata nos faz compreender porque 1% da população
brasileira concentra 80% da riqueza nacional (OXFORD, 2021), o futuro,
forjado a partir das primeiras décadas do século XXI, ainda mantém o
mesmo diapasão de desenvolvimento desigual combinado com destruição
ambiental e apagamento de subjetividades, em especial, dos povos da
floresta.
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O direito à saúde e a sua territorialidade é a maior reivindicação das
populações das águas que vivem na região com a maior ilha fluviomarítima
do mundo. Isso implica em considerar a determinação social da saúde
como resultado dos aspectos socioeconômicos e culturais no plano
macro, bem como das relações interpessoais e individuais dos ribeirinhos e
da maneira como essas relações se inscrevem no cotidiano (plano micro)
das comunidades da beira do rio, ou seja, como trabalham, geram renda,
como acessam bens e serviços,, conhecer hábitos mais marcantes e formas
de associação e organização social (GARBOIS; SODRÉ; DALBELLO-ARAUJO,
2021). Tanto a dimensão macro como a micro forjam à
complementariedade entre as zonas urbana e rural de Breves, mas não sem
considerar que na sede do município (zona urbana) concentra-se os
serviços de saúde, educação e transporte e na zona rural, os riscos, danos e
problemas socioambientais com a forma predatória de exploração das
florestas de várzea da região somado à imigração que crescia em
decorrência das ocupações diretas ou indiretas relacionadas às atividades
madeireiras. A malária exemplifica bem essa realidade na medida em que é
uma das doenças endêmicas resultantes desse processo que continua
afligindo comunidades ribeirinhas e população marajoara em geral. A
ausência de políticas em saúde adequadas e a permanente precarização
da infraestrutura em saúde somam-se aos aspectos macro/micro que, por
sua vez, revelam uma grande vulnerabilidade social, exposta pela falta de
equidade em saúde na região, agravando os problemas que atingem
diretamente a qualidade de vida da população.
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e de água potável. Como avalia Luti Guedes do Observatório do Marajó 3 “o
Marajó ilustra com clareza o projeto político de vulnerabilização das
populações rurais do Brasil profundo” (GUEDES, 2020). Sobre isso, o
importante trabalho feito pelo Observatório aponta que os moradores
negros e ribeirinhos da zonal rural são os que mais sofrem com a pandemia.
Trata-se portanto do “aprofundamento das desigualdades sociais” e da
“intensificação das vulnerabilidades históricas”. Os grupos mais vulneráveis
são as comunidades ribeirinhas e populações periféricas dos municípios do
Marajó Ocidental. Entre elas, as vilas ribeirinhas localizadas bem distante
da sede da cidade Breves (zona urbana onde se localiza os únicos hospitais
do município). Os moradores dessas vilas deslocam-se horas pelos rios e
furos (braços de rios) para ter acesso aos serviços hospitalares. No entanto,
muitos não conseguem fazer esse deslocamento seja pela dificuldade de
transporte ou então pelo custo da gasolina e passagem. As pessoas
infectadas teriam que se deslocar por horas, alguns casos, dias para serem
atendidas em Breves. Sobre o tema, importante destacar:
Considerações Finais
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economia capitalista, dessa vez foi decisiva para a agudização das
violações de diretos (insegurança alimentar, desemprego, precarização em
saúde, doenças endêmicas e déficit educacional), atingindo, em especial,
comunidades ribeirinhas na zona rural, onde está concentrada a maior
parte da população marajoara e os maiores atingidos na pandemia. O
conjunto dessas situações revela as múltiplas expressões da questão social
na região e, ao mesmo tempo, a ausência de políticas públicas
territorializadas numa região onde avança, em escala exponencial, a
extrema pobreza.
Referências
160 | Revista Espirales, Edição Especial: Dossiê Covid-19 na América do Sul, 2021.
OBSERVATÓRIO DO MARAJÓ. Cadernos do Marajó – 40 dias de Marajó com
coronavírus, 2020. Disponível em
https://www.observatoriodomarajo.org/40diasmarajocovid19. Acesso em
30 de jan. 2021
161 | Revista Espirales, Edição Especial: Dossiê Covid-19 na América do Sul, 2021.