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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA – IP
PROCESSOS EDUCACIONAIS 2

ANTONIO MIGUEL PEREIRA JUNIOR


CRISTAL RULL MORALES
ERIKA LETÍCIA SANTIAGO DO NASCIMENTO
EVERTON PEDRO MATIAS MARTINS
ISABELA DE OLIVEIRA LYRA
SAMYRA DE ARAÚJO FERRO ROCHA
SARAH MARIA LINS DE SOUZA

ANÁLISE CRÍTICA ELABORADA A PARTIR DE ENTREVISTA COM


PSICÓLOGA ESCOLAR EDUCACIONAL

Maceió
2024
ANTONIO MIGUEL PEREIRA JUNIOR
CRISTAL RULL MORALES
ERIKA SANTIAGO DO NASCIMENTO
EVERTON PEDRO MATIAS MARTINS
ISABELA DE OLIVEIRA LYRA
SAMYRA DE ARAÚJO FERRO ROCHA
SARAH MARIA LINS DE SOUZA

ANÁLISE CRÍTICA ELABORADA A PARTIR DE ENTREVISTA COM


PSICÓLOGA ESCOLAR EDUCACIONAL

Trabalho Avaliativo apresentado ao programa


de Graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Alagoas como requisito para
avaliação na disciplina Processos
Educacionais 2.
Professor: Cristóvão Silva

Maceió
2024
A presente entrevista foi realizada com uma Orientadora Educacional de uma
escola particular de Maceió. Formada em Psicologia e Pedagogia, ela trabalha na
escola há muitos anos, já tendo passado por cargos de Assistente de Professora,
Professora e Orientadora de todo o Ensino Infantil, hoje em dia atua diretamente com
as turmas de maternal 1 e 2, em conjunto com a Coordenadora Pedagógica.
Conversamos sobre sua experiência, percepções sobre a psicologia e o lugar do
profissional no contexto escolar. Neste trabalho iremos fazer uma análise da entrevista
a partir de discussões a respeito da Psicologia Escolar Educacional fomentadas na
disciplina.
O(a) psicólogo(a) escolar e educacional pode ser entendido(a) por
alguns como o(a) interventor(a), mediador(a) e auxiliador(a) do processo de
aprendizagem. Contudo, esta não parece ser uma atuação exclusiva. A psicóloga, no
decorrer de sua fala, explicitou que as demandas presentes em sua trajetória de
trabalho nas escolas se situam além do aprender e ensinar, principalmente por
exercer orientação às classes do ensino infantil, período no qual a BNCC - Base
Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018) indica que o desenvolvimento das crianças
se dá através da construção de significados sobre si próprias e sobre o mundo. Em
seu trabalho, numa escola renomada, com franquia de outro país, ela observa que os
alunos ali inseridos são um recorte específico de famílias com condições financeiras
boas. Por esse motivo, alguns responsáveis requerem da escola a resolução de
dificuldades - como demandas de socialização, questões oriundas do ambiente
familiar, da falta de interação dos responsáveis em disponibilizar tempo suficiente para
um bom desenvolvimento da criança - no entendimento de que a mensalidade que
pagam serve para que eles não precisem intervir junto com a escola nas questões
envolvidas entre ela e a criança.
É evidente que a profissional compreende que sua atuação junto com a
equipe é muito significativa pelo fato de, através do modo que eles estabelecem
vínculos com as crianças, propor a construção de autonomia desde cedo, além de
entender que ali, para alguns, pode ser o único espaço para se trabalhar o respeito
com quem é diferente, e assim estar contribuindo para um crescimento e
desenvolvimento de crianças conscientes de suas potencialidades e limites.
A partir do exposto, é possível entender, como destacado por Alves et al.
(2023), que as intervenções da atuação da psicologia escolar na educação infantil,
vem tentando ultrapassar o olhar para as dificuldades do aluno, o compreendendo de
forma integral nesse espaço, garantindo a estimulação dos campos de experiências
traçados pela BNCC, bem como buscando atuação com as famílias, professores e
demais atores do contexto escolar.
Visto isso, entende-se que, apesar do psicólogo escolar estar inserido
na escola, onde é compreendida a construção de aprendizagem, é preciso agir em
outras esferas também envolvidas na dinâmica escolar, que podem ser concebidas
como dependentes umas das outras, pois se lida com a integridade do indivíduo, com
suas diversas facetas.
A reinvenção e constante atualização são aspectos que não podem ser
desvinculados da atuação do psicólogo(a) na área educacional, tendo em vista que o
aprendizado não é um processo estático e isolado. O contexto social, econômico e
cultural afeta as dinâmicas educacionais, questão evidenciada no período de
pandemia em razão do coronavírus. Assim, com a rápida expansão de casos do
COVID-19 no Brasil, em 11 de maio de 2020, o presidente do Conselho Nacional da
saúde anuncia a Recomendação N° 036, a qual consta a implementação de medidas
de distanciamento social mais restritivo (lockdown) nos municípios (Brasil, 2020).
Entretanto, em março de 2020, o fechamento das escolas já acontecia, de acordo com
a orientação do governo, como medida de segurança e prevenção da transmissão do
vírus.
Nesse período, o processo de ensino-aprendizagem sofreu impactos
consideráveis e, no início, as dificuldades de organizar uma estrutura de ensino à
distância – que não envolve as mesmas dinâmicas e estratégias do ensino presencial
– foram evidentes em diversas Instituições, situações que enfatizam a falta de preparo
da escola e formação inadequada dos profissionais escolares num panorama em que
o domínio e utilização das tecnologias como ferramentas de aprendizagem faria muita
diferença. Dessa maneira, a psicóloga ressalta como existia uma psicologia no
ambiente escolar antes da pandemia e depois da pandemia, já que esse período
alterou substancialmente a forma como se davam os processos educacionais no
ambiente escolar e as relações entre a família e a escola. Nessa situação, os pais
tiveram que enxergar a realidade do ensino: tinham que conviver por mais tempo com
uma criança da qual não sabiam tudo. Muitas vezes, não sabiam do que a criança
gostava, não sabiam o que fazer para acalmá-la em momentos de euforia ou
desespero.
Com a pandemia, vários processos tiveram que ser reinventados e essas
mudanças envolviam a equipe, crianças e famílias. Na escola, mesmo os toddlers
tinham atividades remotas, então a profissional participou ativamente nesse contexto:
ampliava a comunicação com os pais por mensagens, perguntando sempre de
dificuldades e desafios; passou a fazer reuniões online com os pais que manifestavam
questões. Algumas reuniões naturalmente acabavam por ser uma espécie de terapia
com os pais, os quais colocavam suas questões naquele momento e expressavam
suas angústias e incertezas.

Além disso, o período imediatamente posterior, em que as crianças retornaram


às escolas e houve essa reintegração à vida cotidiana, a questão era como
cuidar/ensinar/educar sem tocar nas crianças – Se manter distante, usar máscara, ter
cuidado com o contato. Esse processo de adaptação é complicado para as crianças
e para os profissionais, os quais precisam se adequar às diferentes maneiras de
interação e dinâmicas afetivas para manter sua própria segurança.

Um aspecto que também se mostra interessante para discussão é o


acolhimento da escola às crianças com necessidades escolares específicas (NEE).
Essa nomenclatura foi proposta por Poker (2007) como forma adequada para
substituir termos com carga ideológica negativa, como “deficiência” ou
“desajustamento social ou educacional”. Esse atendimento é diferenciado em razão
das necessidades, o que acarreta um custo para a escola. A escola adotou o
entendimento de que a convivência das crianças típicas com as NEE é proveitoso
para todos os envolvidos, que desfrutam da oportunidade de conviver e aprender a
aceitar e lidar com as diferenças, tornando-se um aprendizado que transcende o
mundo escolar e se espraia na vida social. Capellini e Rodrigues (2009) apontam que
a formação dos professores é um fator essencial no processo de inclusão de alunos
com necessidades educacionais específicas nas salas de aula, e essa inclusão é de
interesse de toda a sociedade. Nesse sentido, todo o corpo de trabalho vem
recebendo formação para compreender as questões inerentes às crianças NEE e
participar do processo de inclusão.

Ademais, durante a entrevista a psicopedagoga falou muitas vezes em como


foi importante durante sua atuação profissional a articulação com outros profissionais
de ramos diferentes ou do mesmo ramo, para melhorar todo o trabalho da equipe,
diminuindo a sobrecarga dos mesmos e proporcionando a integração do trabalho.
Neste sentido, segundo Furtado (2009) “A interdisciplinaridade se refere a conceitos
e teorias voltados para a compreensão de fenômenos, enquanto a
interprofissionalidade diz respeito a práticas voltadas à solução de problemas
empíricos específicos” (apud Baviera; Gutierrez, 2021, p. 2). Portanto, apesar do
conceito de interprofissionalidade ser mais utilizado no campo da saúde, sobretudo
nos projetos envolvidos no Sistema Único de Saúde - SUS, ao seguir esse conceito
de trabalho interprofissional, em que vários profissionais trabalham em conjunto para
a solução de problemas, entrou muito em acordo com o que a profissional e seus
colegas de trabalho exercem diariamente na escola que trabalham.
Vale ressaltar que existem alguns conceitos como a Multiprofissionalidade, que
em alguns casos no dia a dia da escola ela é aplicada, porém, existe uma diferença
entre o trabalho multiprofissional e o interprofissional. No primeiro, existem vários
profissionais trabalhando cada um na sua função, cada um separadamente do outro,
convivendo no mesmo espaço, mas sem construir um trabalho junto. Já no
interprofissional, existe um trabalho em equipe, troca de informações, troca de
saberes, opiniões, todos contribuem juntos para um fim, que é dar um melhor serviço
para as pessoas (Araújo et al., 2017). Ter uma equipe bem articulada, capacitada,
desenvolvendo maneiras de dar um melhor processo de ensino e aprendizagem para
cada aluno é algo que faz toda a diferença, não só para os alunos, mas para as
famílias deles.
Essa interprofissionalidade foi essencial em vários processos, uma vez que,
para o Psicólogo ou Orientador Educacional (que é seu cargo atual), trabalhar sozinho
numa escola é praticamente impossível, pois são muitas demandas, muitas crianças,
as famílias das crianças, enfim, muitos desafios diários. Neste sentido, a psicóloga
nos informou que todo o funcionamento da escola sempre é bem pensado e feito em
colaboração de vários profissionais, professores, psicólogos, pedagogos, cada um
com sua experiência e função, dispostos a não só repassar seu conhecimento,
saberes e experiências, como também a aprender uns com os outros, cada um se
ajudando da maneira que pode.
A profissional entrevistada falou sobre sua atuação nas três esferas: criança,
família e equipe, no entanto fica evidente uma ênfase nas famílias através de seu
trabalho. Mesmo com um escopo menor, já que atualmente é responsável apenas
pelo Maternal 1 e 2, as demandas que a profissional da psicologia na escola são
diversas e, muitas vezes, vão além do escopo de atuação. A profissional nos relata
que é comum os responsáveis esperarem um trabalho clínico dela, mas, como
tentativa de diminuir essa expectativa, ela evidencia que seu cargo é de “Orientadora
Educacional”. Apesar dessa demanda ser comum, conta que seu maior desafio é
implicar a família nos processos educacionais de suas crianças. Devido a faixa etária,
o trabalho com os alunos é muito focado na socialização e aspectos cognitivos, é uma
fase que o estímulo dentro de casa é essencial para o desenvolvimento das
habilidades esperadas. O que ocorre comumente é quando determinada criança não
atinge as expectativas, os pais cobram da escola um plano de ação, sem se
perceberem como parte desse processo. Seu papel nessa situação se torna
justamente trazer esse entendimento e estimular a participação ativa dos pais.
Além disso, seu trabalho é muito pautado na escuta, então faz parte de sua prática
abrir espaço para conversas, tanto com a equipe, quanto com as famílias para quem
sentir necessidade por motivos diversos, para expor preocupações, buscar
orientações ou alinhar planos de ação. A partir dessa escuta de maneira cotidiana ou
planejada, surgem vários pontos que serão desenvolvidos posteriormente em
conjunto com família, criança e equipe. Percebemos aí a presença da escuta
psicológica que se faz tão necessária para dar voz àqueles sujeitos, abrindo caminhos
para melhor compreender os complexos contextos que envolvem o coletivo da escola,
ressignificar demandas, bem como criar planos de intervenção que façam sentido
individual e coletivo (Guzzo, 2014).

Referências
ALVES, Crislaine do Nascimento et al. Psicologia Escolar E Educação Infantil:
Direcionamentos Da Bncc E Possibilidades De Atuação. Sociedade em Debate, v. 5,
n. 1, 2023.

ARAÚJO, Thaise Anataly Maria de et al. Multiprofissionalidade e


interprofissionalidade em uma residência hospitalar: o olhar de residentes e
preceptores. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 21, p. 601-613, 2017.

BAVIERA, Bruna Valquiria; GUTIERREZ, Beatriz Aparecida Ozello.


Interdisciplinaridade e interprofissionalidade no atendimento de saúde da
pessoa idosa. Revista Kairós-Gerontologia, v. 24, p. 385-404, 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional da Saúde. Recomendação Nº 036,
de 11 de maio de 2020.
CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho; RODRIGUES, Olga Maria Piazentin Rolim.
Concepções de professores acerca dos fatores que dificultam o processo da
educação inclusiva. Educação, v. 32, n. 03, p. 355-364, 2009.

GUZZO, Raquel de Souza Lobo. Psicologia Escolar. Desafios e Bastidores na


Educação Pública. Alínea. 2014.

POKER, Rosimar Bortolini. Dificuldades de aprendizagem e educação inclusiva.


Aprender-Caderno de Filosofia e Psicologia da Educação, v. 2, n. 9, 2007.

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