Quem e o Eu de Romanos 7 Teologia Biblic
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Vox Scripturae – Revista Teológica Internacional – São Bento do Sul/SC – vol. XXVII – n. 1 – jan-abr 2019 – p. 93-112
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Jair de Almeida Junior
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Quem é o “Eu” de Romanos 7?
ISSN 0104-0073
eISSN 2447-7443
DOI 10.25188/FLT-VoxScript(eISSN2447-7443)vXXVII.n1.p93-112.JAJ
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações 4.0 internacional
RESUMO
Este artigo objetiva dar uma breve noção a respeito das principais interpretações sugeridas
para o “eu” de Romanos 7.7-25. A personificação da história de Israel: afirma-se que
o objetivo de Paulo foi retratar a condição do povo de Israel na ocasião do recebimento
da Lei no Sinai e suas consequências. A Trajetória do Cristão: a interpretação adotada
principalmente pelos estudiosos reformados, divide o texto em duas partes reconhecendo
o passado ímpio e o presente convertido do regenerado. Biografia de Paulo: explica-se o
“eu” como se Paulo estivesse falando de sua própria experiência. Referência à Queda de
1
Artigo recebido em 23 de março de 2019, e aprovado pelo Conselho Editorial em reunião
realizada em 15 de abril de 2019, com base nas avaliações dos pareceristas ad hoc.
2
Graduado em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pelo Seminário
Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, Mestre em Novo Testamento
pelo Centro de Pós-graduação Andrew Jumper e em Ciências da Religião pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutor em Letras pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie; doutor em Humanidades pela Universidade de São Paulo.
Com pós-doutorado pela universidade de Lisboa/Universidade Aberta de Lisboa.
Professor na área de Teologia Exegética do Novo Testamento no Seminário Teológico
Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição e ministro presbiteriano. E-mail:
[email protected].
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ABSTRACT
This article aims to give a brief notion about the main interpretations suggested for the
“I” of Romans 7.7-25. The personification of Israel’s history: it is stated that Paul’s goal
was to portray the condition of the people of Israel on the occasion of receiving the Law
at Sinai and its consequences. The Path of the Christian: the interpretation adopted by
reformed scholars mainly, divides the text into two parts acknowledging the past wicked
and the present converted of a regenerated. Biography of Paul: explains the “I” as if Paul
was speaking of his own experience. Reference to the Fall of Adam: the “I” is understood
in the edenic environment on the temptation of first man. The Theological “I” of Paul:
the apostle was trying to resolve a theological dilemma in that he was. The Theory of
Lloyd-Jones: Paul treats of someone who is in process of conversion. The Unregenerate
Man: interpretation espoused and affirmed as preferable theologically and exegetically.
It understands that the apostle is leading his Christian audience to assume, for didactic
purposes, the condition of someone who wants to fulfill the law unassisted of the Holy
Spirit, for it realizes the tragedy of such condition.
Keywords: Sin. Law. Flesh. Regenerate. Unregenerate Man.
INTRODUÇÃO
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95
Quem é o “Eu” de Romanos 7?
3
ALMEIDA JR., Jair. As várias faces do Eu. São Paulo: Fonte Editorial, 2012, p. 25.
4
MOO, Douglas. Israel and Paul in Romans 7.7-12. In: New Testament Studies.
Cambridge, vol. 32, n. 1, jan./1986, p. 123.
5
MOO, 1986, p. 123, 124.
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6
MOO, 1986, p. 126.
7
MOO, Douglas. The Epistle to the Romans. The new international commentary on
the New Testament. Grand Rapids: William. B. Publishing Company, 1996, p. 431,
441, 424.
8
KARLBERG, Mark W. Israel’s History personified: Romans 7.7-13 in relation to Paul’s
teaching on the “Old Man”. In: Trinity Journal, Deerfield, vol. 7, n. 1, primavera de
1986, p. 65.
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Deus da antiga e transitória dispensação. Há forte contraste ético, pois uma vez
que a graça toma lugar na vida do pecador, a Lei não mais o condena nem o
escraviza. É o Espírito que o governa, concedendo-lhe habilidade para vencer o
pecado e praticar a justiça. Há um comportamento diferenciado esperado para o
nascido de Deus. Ele já vive algo da realidade futura, no tempo presente, pois já
morreu e ressuscitou juntamente com Cristo. Vê-se, assim, uma sobreposição de
aeons na vida do crente9.
2 A TRAJETÓRIA DE UM REGENERADO
9
ALMEIDA JR., 2012, p. 84.
10
CRANFIELD, C.E.B. Romans. The international critical commentary. vol.
1, Edinburgh: T. & T. Clark Limited, 1987, p. 330, 331; BRUCE, F.F. Romanos -
introdução e comentário. 5. ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1988, p. 116, 119.
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proposta pelos defensores dessa linha11. Fica sem explicação o motivo que levaria
um convertido a clamar atônito e em desespero, sem saber quem o poderia salvar.
11
ALMEIDA JR., 2012, p. 84, 85.
12
GUNDRY, Robert L. The moral frustration of Paul before his conversion: sexual lust
in Romans 7.7-25. In: Pauline Studies: Essays presented to Prof. F.F. Bruce on his
70th Birthday, ed. Donald Hague e Murray J. Harris. Grand Rapids: Eerdmans, 1980,
p. 228, 229.
13
GUNDRY, 1980, p. 229.
14
GUNDRY, 1980, p. 229.
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Martin mostra que Paulo já havia tratado a queda com especial interesse
na epístola (Rm 5.12-21). Para aqueles que defendem o “eu” adâmico, prossegue
15
ALMEIDA JR., 2012, p. 85, 86.
16
GUNDRY, 1980, p. 232, 233.
17
ALMEIDA JR., 2011, p. 86
18
GUNDRY, 1980, p. 235.
19
ALMEIDA JR., 2011, p. 86
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esse autor, tal destaque de Adão sugere que ele é o “eu” personificado no capítulo
sete. Na verdade, como nas outras interpretações, o primeiro homem não está
“sozinho” ali, mas representa toda raça humana. Afirma-se que, especialmente
Romanos 7.7-13 deveria ser entendido à luz de Gênesis 320. Segundo Barth, toda
porção de Romanos 7.7-25 contém inúmeros paralelos com Gênesis 1-321. De
acordo com os defensores dessa linha de interpretação, certamente a História da
Salvação está presente em todo arcabouço teológico do apóstolo Paulo22. Por causa
disso, seria fácil compreender por que ele distingue os períodos históricos como
segue: a) o período sem Lei, compreendendo o tempo entre a Criação e a queda; b)
o período da Lei, que se inicia na queda e vai até a morte de Cristo; e c) o período
da graça, que se inicia na morte de Cristo e alcança a eternidade23.
Olhando o texto com estes “óculos”, compreende-se que há grande
ênfase à pessoa de Adão na teologia paulina. Assim sendo, o “eu” de Romanos
7.7-25 é prontamente identificado com o primeiro homem, relacionando-o a
Romanos 5.12-21. Uma vez descoberta a identidade do “eu” como sendo Adão,
segundo os defensores dessa interpretação, surgem, então, vários “paralelos claros”
entre o texto-base e Gênesis 1-3. Assim, a Lei (Rm 7.7) referida pelo apóstolo
é identificada com o mandamento prescrito a Adão, que proibia o consumo do
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O período sem Lei, indicado
por Paulo (Rm 7.9), diz respeito ao espaço de tempo entre a Criação e a ordem
dada pelo Criador quanto ao fruto da referida árvore. A cobiça (Rm 7.7), embora
uma referência direta à Lei mosaica, tem como conteúdo o desejo despertado
pela serpente. Nesse sentido, a cobiça é apontada como originadora e raiz de todo
pecado. É o supremo egoísmo que enfatiza o próprio ser, separando-o de Deus. O
engano causado pelo pecado (Rm 7.11) é uma forma de se referir à astúcia e ao
logro produzido pelo diabo lá no Éden. A morte resultante do pecado (Rm 7.11, 13)
alude àquela espiritual consequente da desobediência, evidenciando a decepção e
o fracasso inalienáveis ao homem. Os proponentes dessa visão afirmam que ela é
a única que preserva o pleno sentido dos termos vida e morte que ocorrem no texto
20
MARTIN, B.L. Some reflections on the identity of e)gw= in Rom. 7:14-25. In: Scottish
Journal of Theology, Cambridge, vol. 34, n. 1, 1981, p. 43.
21
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Novo Século, 2002, p. 362-365.
22
Os paralelos sugeridos seguem aquilo que foi exposto por Robert H. Gundry, op. cit.,
p. 230.
23
GUNDRY, 1980, p. 229.
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Quem é o “Eu” de Romanos 7?
24
ALMEIDA JR., 2012, p. 87.
25
SANDERS, E.P. Romans 7 and the purpose of the law. In: PIBA 7 (1983). Dublin, p.
44-59; ALMEIDA JR., 2012, p. 87, 88.
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6 A TEORIA DE LLOYD-JONES
26
LLOYD-JONES, Martin. Romanos - Exposição sobre capítulos 7.1 – 8.4 – A Lei.
Suas funções e seus limites. São Paulo: PES, 2001, p. 265ss.
27
LLOYD-JONES, 2001, p. 266, 267.
28
LLOYD-JONES, 2001, p. 268, 269.
29
LLOYD-JONES, 2001, p. 272, 273.
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Então, que tipo de homem Paulo está descrevendo? Ele está descrevendo
um homem que está experimentando uma intensa convicção de pecado, um
homem a quem foi dado, pelo Espírito, ver a santidade da Lei; e se sente
inteiramente condenado. Está ciente, pela primeira vez, da sua fraqueza
e do seu completo fracasso. Mas não sabe mais nada. Ele tenta cumprir
a Lei por suas próprias forças, e vê que não pode. Em consequência,
sente-se condenado; sente-se réu convicto. Ele não sabe, não entende a
verdade acerca do evangelho, acerca da salvação do Senhor Jesus Cristo
e por seu intermédio. (...) Perdem sua autoconfiança, sua justiça própria,
estão “mortas”, foram “mortas” pela Lei; em vista disso, procuram se
acertar, mas não conseguem. Essas pessoas podem permanecer nessas
condições durante dias, semanas e até anos. Então lhe é revelada a verdade
sobre Cristo e Sua obra de plena salvação, e elas encontram paz, alegria,
30
LLOYD-JONES, 2001, p. 269, 271.
31
LLOYD-JONES, 2001, p. 271, 272.
32
ALMEIDA JR., 2012, p. 79-83.
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Propõe uma nova condição de ser humano, alguém que está “em
processo de conversão”. Tal situação pode perdurar por tempo considerável, algo
bastante difícil de compreender com base nas Escrituras.
7 O NÃO REGENERADO
33
LLOYD-JONES, Martin. Romanos, p. 332, 333.
34
ALMEIDA JR., 2012, p. 233.
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ele está, na verdade, tomando sobre si a persona do fraco35. Paulo usa a figura de
quem está sob a carne e vendido à escravidão do pecado.
Embora a interpretação do “eu” de Romanos 7 como sendo a experiência
de todo cristão encontre ainda os seus defensores em nossos dias, diz Stuhlmacher,
a maioria dos intérpretes atuais de Paulo tem se convencido de que o “eu” descrito
ali pode apenas traduzir a experiência do “eu” adâmico ou da humanidade, de
forma geral, antes do batismo, e sem Cristo36. Hoekema declara sua posição sobre
Romanos 7.7-25 afirmando que esse texto trata do ser humano não-crente, alguém
que faz uso da Lei em sua tentativa de subjugar o pecado. Por se tratar de um
não-salvo, o “eu” não experimenta a atuação do Espírito Santo. Por isso, só pode
aludir à vida do não-regenerado, sob a ótica de um ser humano regenerado, a
saber, Paulo37. Hoekema explica que o verso 13 de Romanos 7, que se inicia com a
frase: “Acaso o bom se me tornou em morte”, resume a situação descrita no verso
5. Juntamente com o v.14, o verso 13 forma uma ponte ligando a parte anterior à
seção posterior do capítulo, onde Paulo exporá mais detalhadamente o assunto que
foi introduzido no verso 5 que, nitidamente, tratava do não-regenerado vivendo
segundo a carne38. Stuhlmacher vai além e afirma que toda a estrutura textual
contida entre 7.7 – 8.1-7 é determinada pelo contraste entre Romanos 7.5 e 6.
Segundo ele, o verso 5 é explanado em 7.7-25, e o verso 6, em 8.1-1739. Dessa
forma, há uma progressão lógica antitética na transição do capítulo 7 para o
capítulo 8 de Romanos. O primeiro retrata o desespero do ser humano sem Cristo
que, embora tente fazer o bem, vive na carne e é dominado pelo pecado, enquanto
o segundo mostra a bem-aventurada vida dos que já nasceram do Espírito. É
a antítese irreconciliável que separa a vida segundo a carne daquela vivida no
Espírito.
Hoekema enfatiza que não há qualquer referência ao Espírito Santo
em Romanos 7.13-25, sabidamente o único poder que realmente vence a carne,
35
ORIGENES. Commentary on the epistle to the Romans, Books 6-10. In: The Fathers
on the Church. Washington: The Catholic University of America Press, 2002, vol.
104, p. 36, 37.
36
STUHLMACHER, Peter. Paul’s letter to the Romans. Louisville: Westminster/John
Knox Press, 1994, p. 114, 115.
37
HOEKEMA, Anthony A. O cristão toma consciência do seu valor. Campinas: Luz
para o Caminho, 1987, p. 64.
38
HOEKEMA, 1987, p. 64, 65.
39
STUHLMACHER, 1994, p. 115.
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40
HOEKEMA, 1987, p. 66.
41
HOEKEMA, 1987, p. 66.
42
HOEKEMA, 1987, p. 66, 67.
43
ALMEIDA JR., 2102, p. 99.
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por Cristo e aplicada a nós pelo Espírito44. Quanto ao “eu”, é “pintado” como
irremediavelmente condenado, pois busca por seus esforços viver a Lei de Deus.
Stuhlmacher argumenta que o estilo de narrativa no tempo presente
não significa, necessariamente, que Paulo está se referindo ao seu estado
atual. Tal recurso literário deve ser entendido com base na tradição judaica de
arrependimento. Se estiver certo, não haverá nenhuma necessidade de vincular as
afirmações do texto primeiramente e somente aos cristãos. Certamente, argumenta
o autor, a tradição de “lamento” e o contraste entre as duas principais afirmações
em 7.25b: “De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo da lei
de Deus, mas, segundo a carne da lei do pecado”; e 8.1: “Agora, pois, já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”, que estão ligadas à ação de
graças do verso 25a, também impedem que alguém relegue Romanos 7.7-25
simplesmente ao passado. Stuhlmacher explica que Paulo, deliberadamente, insere
a gratidão no verso 25 para demonstrar que, embora a necessidade de livramento
do “eu” já tenha sido suprida, permanece sempre presente para o indivíduo em
forma de arrependimento. Em outras palavras, o “eu” que é sumarizado em
Romanos 7.25 e versos seguintes, dá graças a Deus porque ele já se encontra livre
da fatal acusação da Lei, apenas por causa de Cristo e através dele. Sua gratidão,
continua Stuhlmacher, também é causada pela consciência de que recebeu a
capacitação, através do dom do Espírito Santo, de cumprir o mandamento de
Deus. Portanto, conclui ele, se não fosse por Cristo e o Espírito, o “eu” continuaria
na mesma trágica necessidade retratada nos versos 7ss45. Portanto, apenas duas
possibilidades se ajustam com o texto: temos um regenerado refletindo sobre sua
condição anterior ou sobre a condição de alguém que ainda não recebeu o dom de
Cristo e do seu Espírito. Certamente, Stuhlmacher está certo em sua conclusão.
Por fim, diz Hoekema, é necessário atentarmos para aquilo que Paulo
ensina em Romanos 8.4: “A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que
não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. Este verso não se aplica
ao cumprimento da Lei efetuado por Cristo, em nosso benefício, ou seja, aquilo
que a teologia rotulou de “justiça ativa” de Cristo46. Antes, é uma afirmação da
44
HOEKEMA, 1987, p. 67, 68.
45
STUHLMACHER, 1994, p. 115.
46
Cranfield acertadamente indica que a justiça aqui não se refere à justificação operada
por Cristo, mas sim àquilo que a justiça requer do ser humano. Argumenta também que
é improcedente a sugestão que a expressão e)n h(mi=n em Romanos 8.4 indique que a
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do pecado”; “porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse
faço”; “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”.
Quando observamos a estrutura do texto percebemos que o objetivo
de Paulo foi trazer a coletividade romana para a singularidade da experiência do
“eu” descrito no texto. No verso 7: “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo
nenhum. Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois
não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: não cobiçarás”, é nítida a
intenção de Paulo de que o “nós” (ele e a igreja de Roma) “encarne” o “eu” que
conheceu a cobiça. De igual forma ocorre no verso 14: “Porque bem sabemos que
a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado”.
O tempo presente é utilizado como “óculos 3D”, para dar maior realismo
à experiência do “eu” à qual o apóstolo introduz sua audiência. Assim também,
no final, no verso 25: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira
que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas segundo a
carne, da lei do pecado”. Se um cristão genuíno assumisse, por finalidade didática,
a situação de um não-regenerado que tenta fazer o bem, isto é, cumprir a lei de
Deus, como era o caso de judeus sinceros em seu judaísmo, o resultado seria
exatamente esse. Perceberia que a mente busca obedecer à Lei, enquanto a lei do
pecado é a que predomina, pois tal indivíduo é carnal e vendido à escravidão do
pecado (v. 14). Por isso: “Graças a Deus por Jesus Cristo”, conclui o regenerado,
depois de excursionar pela experiência de um “bom ímpio”. Paulo jamais disse
ou diria que ele ou qualquer salvo está vendido à escravidão do pecado e vive
na carne. Na verdade, afirma exatamente o contrário (Rm 6.6, 9-14, 17, 18, 22,
23): “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não
estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, e Espírito de Deus habita em vós. E,
se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.8, 9).
Diante do exposto, é nossa opinião que o “eu” de Romanos 7 é um não-
CONCLUSÃO
51
É possível que mesmo um fariseu hipócrita acreditasse que garantiria o favor de Deus
pelo cumprimento meramente exterior da Lei. Pode ser que Paulo tenha utilizado como
modelo do “eu” a narrativa do jovem rico, conforme registrada por Marcos. Tal sugestão
não significa dizer que é do jovem rico que fala em Romanos 7. Seria apenas um modelo
de alguém que tenta cumprir a Lei por si mesmo. Veja-se: ALMEIDA JR., Jair. Uma
Hipótese Plausível da Identidade do “Eu” de Romanos 7. In: Fides Reformata. São
Paulo, n. 1, vol. 14, 2009, p. 101-115.
52
Conquanto seja nossa opinião que o apóstolo tem em mente um judeu, o perfil do
“eu” de Romanos 7 também é perfeitamente aplicável a moralistas da época do Novo
Testamento, como era o caso dos estoicos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA JR., Jair. Uma Hipótese Plausível da Identidade do “Eu” de Romanos 7. In:
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