Núcleos Acessibilidade Instituições
Núcleos Acessibilidade Instituições
Núcleos Acessibilidade Instituições
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
UBERLÂNDIA
2022
PATRÍCIA SILVA CIPRIANO
UBERLÂNDIA
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.
CDU: 37
André Carlos Francisco
Bibliotecário - CRB-6/3408
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, por toda a minha vida e pela trabalhosa,
porém gratificante, trajetória para alcançar o título de mestre em Educação. Sem Deus, jamais
conseguiria concluir esta etapa na minha vida. Creio que Deus me fortaleceu e me amparou nos
momentos mais difíceis. Sempre que ouço a música “Está tudo bem” de Kellen Byanca, me
emociono ao lembrar de toda a caminhada em que Deus me carregou no seu colo.
Ingressei em 2020 no Programa de Pós-Graduação no auge da pandemia de COVID-19.
Momento este em que vivenciamos profundamente o distanciamento das pessoas mais
próximas, especialmente dos nossos familiares. A pandemia nos marcou com diversas perdas
de amigos, familiares e de pessoas que nem ao menos conhecíamos, mas que nos causavam a
comoção e tocavam nossos corações aflitos diante de tamanha perplexidade vivida neste
momento histórico. Para estes momentos, nos restou a fé e a esperança em tempos melhores.
No contexto acadêmico também não foi diferente, o sonho em adentrar o espaço físico
da UFU foi destruído com as medidas de distanciamento e substituído pelas aulas remotas.
Aproveito para agradecer de coração e parabenizar a todos os professores do Programa de Pós-
Graduação, pelas aulas maravilhosas, os debates e todo conteúdo ministrado com excelência,
ainda que de modo virtual. Agradeço de modo especial também à minha Orientadora Lázara
Cristina da Silva pelos belíssimos encontros semanais nas orientações e reuniões do Grupo de
Pesquisa GEPEPES, momento de grande valia e de aprendizado. Obrigada por acreditar em
mim, sempre me apoiar e compreender minhas limitações. Saiba que sinto um carinho especial
por você e te admiro muito. Agradeço também imensamente à minha Coorientadora Prof.ª
Priscila Alvarenga Cardoso, outra pessoa essencial para a conclusão deste trabalho, por todo
apoiou e contribuições valiosíssimas para o desenvolvimento deste trabalho.
Realmente não foi e não é tarefa fácil exercer os diversos papéis na sociedade: mulher,
companheira, mãe, dona de casa, trabalhadora, violinista (uma nova paixão na minha vida) e
estudante, mas, ainda assim, tive muita ajuda e agradeço também a Deus por ter providenciado
pessoas tão especiais que me apoiaram, entenderam e permitiram partilhar minhas angústias e
meus anseios.
Agradeço à minha companheira, Luciana de Sousa Freitas, e aos nossos filhos, Andrey
Nickolas, Vyctor Hugo e Boby (nosso filho peludo) pela compreensão nos momentos de
ausência, por todo o carinho, paciência nos momentos mais estressantes e pelo
companheirismo, saibam que os amo muito e levarei todos vocês em meu coração. Também
não posso deixar de agradecer a alguns amigos, em especial, Luiz André Santos e Alex Pedro
Fonseca Cardoso, por sempre emprestarem seus ouvidos e me acolherem quando mais preciso,
por todo apoio e carinho em todos os momentos da minha vida. Também agradecer a cada
colega do grupo GEPEPES, especialmente à Leiliane e Fernanda, por me incentivarem e me
auxiliar nesta caminhada do mestrado.
Agradeço aos meus pais, Anilza Maria Silva Cipriano e Sebastião Donizetti Cipriano,
pelo dom da vida e por me darem o melhor exemplo de como ser uma pessoa de bem, honesta
e trabalhadora. Agradeço por tudo que fizeram e fazem por mim, cada um com seu jeitinho de
ser, não medindo esforços para amparar cada filho. Agradeço também meus irmãos Cristiane
Silva Cipriano e Bruno Silva Cipriano, cunhada e sobrinhos por alegrarem a minha vida e em
especial, ao meu cunhado Alex Alexandre da Silva, que infelizmente nos deixou em razão da
contaminação da COVID-19, obrigada por ter sido meu grande amigo, esposo e pai maravilhoso
para minha irmã e sobrinha. Um grande abraço especial à todos os meus professores, familiares
e amigos, mesmo os que não citei (pois não há espaço suficiente para citar cada nome)!
“Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu
aceito a pessoa. Quando eu rejeito a língua, eu
rejeitei a pessoa porque a língua é parte de nós
mesmos. Quando eu aceito a língua de sinais,
eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em
mente que o surdo tem o direito de ser surdo.
Nós não devemos mudá-los, devemos ensiná-
los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes ser
surdo. ”
(Terje Basilier)
RESUMO
A inclusão escolar do estudante com deficiência é tema recorrente nos debates acadêmicos
principalmente acerca das vantagens e desvantagens da proposta de incorporação da mesma no
espaço educacional. Embora haja esforços governamentais e legislativos neste sentido e
pretensões em garantir o direito das pessoas com deficiência à educação, em todos os níveis de
escolarização, a área da educação especial enfrenta diversos posicionamentos e reflexões
divergentes. Esta pesquisa centra-se na atuação dos Núcleos de Acessibilidade (NA) das
Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) em prol da inclusão do estudante surdo. Como
problema de pesquisa buscamos entender quais as contribuições dos NA das IFES de Minas
Gerais na formação dos graduandos surdos? Parte-se da hipótese que os NA são fundamentais
para a inclusão educacional do estudante surdo no ensino superior nas IFES de Minas Gerais e
desenvolvem um trabalho de grande importância para o sucesso formativo acadêmico dos
estudantes surdos. Estabelecemos como objetivo geral compreender a atuação dos Núcleos de
Acessibilidade na efetivação de políticas de inclusão educacional dentro das IFES e suas
contribuições para o processo formativo de estudantes surdos. Mais especificamente,
pretendemos: compreender alguns aspectos relacionados ao processo educacional do estudante
surdo no ensino superior; descrever o histórico da criação, institucionalização e atuação dos NA
no âmbito das IFES, bem como identificar quais as atribuições dos NA para efetivação de
políticas institucionais de inclusão de estudantes surdos e analisar o impacto das ações dos NA
nos processos educativos dos estudantes surdos nas IFES de Minas Gerais. A presente pesquisa
caracteriza-se por abordagem qualitativa, exploratória de natureza básica, desenvolvida por
meio de uma pesquisa bibliográfica para levantamento do referencial teórico, tendo como base
os autores: Quadros (2004), Mendes (2006), Castilho (2008), Gadelha (2009), Mazzotta (2011),
dentre outros, além de vários documentos concernentes às legislações vigentes sobre
acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência (PcD), e especialmente direcionados aos
surdos. Também foi desenvolvida uma pesquisa de campo desenvolvida junto aos Núcleos de
Acessibilidade das IFES de Minas Gerais por meio da aplicação de questionário on-line aos
coordenadores dos referidos núcleos, para obter informações sobre as ações desempenhadas
para garantir o acesso, permanência e conclusão de surdos, respeitando o recorte temporal entre
2008 e 2019. Foi realizado o levantamento do referencial teórico, uma primeira coleta de
informações preliminares e posteriormente aplicamos uma segunda coleta de dados através de
questionário online aos coordenadores e realizadas a análise dos dados a partir da proposta
metodológica de análise de conteúdo de Bardin (2011). A discussão dos resultados da pesquisa
foi desenvolvida a partir do referencial foucaultiano, com base na análise do processo inclusivo
sob a perspectiva da biopolítica e governamentalidade. A pesquisa demonstrou que a inclusão
dos estudantes surdos no ensino superior tem aumentado consideravelmente em decorrência do
crescente número de matrículas de pessoas com deficiência na Educação Básica. Nossa
pesquisa evidenciou a existência de 17 instituições Federais de Ensino Superior em Minas
Gerais e, destas, 14 informaram que possuem Núcleos de Acessibilidade em atividade.
The school inclusion of students with disabilities is a recurring theme in academic debates,
mainly about the advantages and disadvantages of the proposed incorporation of the same in
the educational space. Although there are governmental and legislative efforts in this direction
and pretensions to guarantee the right of people with disabilities to education, at all levels of
schooling, the area of special education faces different positions and divergent reflections. This
research focuses on the performance of the Accessibility Centers (NA) of the Federal
Institutions of Higher Education (IFES) in favor of the inclusion of deaf students. As a research
problem, we seek to understand what are the contributions of the NA of the IFES of Minas
Gerais in the formation of deaf students? It starts from the hypothesis that the NA are
fundamental for the educational inclusion of the deaf student in higher education in the IFES
of Minas Gerais and develop a work of great importance for the academic training success of
deaf students. We established as a general objective to understand the performance of the
Accessibility Centers in the implementation of educational inclusion policies within the IFES
and their contributions to the training process of deaf students. More specifically, we intend to:
understand some aspects related to the educational process of the deaf student in higher
education; to describe the history of the creation, institutionalization and performance of the
NA within the scope of the IFES, as well as to identify the attributions of the NA to implement
institutional policies for the inclusion of deaf students and to analyze the impact of the actions
of the NA in the educational processes of deaf students in the IFES of Minas Gerais. This
research is characterized by a qualitative, exploratory approach of a basic nature, developed
through a bibliographic research to survey the theoretical framework, based on the authors:
Quadros (2004), Mendes (2006), Castilho (2008), Gadelha (2009), Mazzotta (2011), among
others, in addition to several documents concerning the current legislation on accessibility and
inclusion of people with disabilities (PwD), and especially aimed at the deaf. A field research
was also carried out with the Accessibility Centers of the IFES of Minas Gerais through the
application of an online questionnaire to the coordinators of these centers, in order to obtain
information on the actions taken to guarantee the access, permanence and completion of deaf
people. , respecting the time frame between 2008 and 2019. A survey of the theoretical
framework was carried out, a first collection of preliminary information and later we applied a
second data collection through an online questionnaire to the coordinators and data analysis
was carried out from the methodological proposal of Bardin's content analysis (2011). The
discussion of the research results was developed from the Foucauldian framework, based on
the analysis of the inclusive process from the perspective of biopolitics and governmentality.
The research has shown that the inclusion of deaf students in higher education has increased
considerably as a result of the growing number of enrollments of people with disabilities in
Basic Education. Our research evidenced the existence of 17 Federal Institutions of Higher
Education in Minas Gerais and, of these, 14 informed that they have Accessibility Centers in
activity.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18
SEÇÃO 1 ................................................................................................................................. 24
CAPÍTULO EPISTEMOLÓGICO ...................................................................................... 24
SEÇÃO 2 ................................................................................................................................. 30
PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................................ 30
SEÇÃO 3 ................................................................................................................................. 37
APROXIMAÇÕES TEÓRICAS E LEGISLAÇÕES SOBRE ACESSO,
ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO ...................................................................................... 37
SEÇÃO 4 ................................................................................................................................. 52
O ESTUDANTE SURDO NO ENSINO SUPERIOR: POLÍTICAS DE
ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO ...................................................................................... 52
Programa de Acessibilidade na Educação Superior – Incluir. ............................... 57
Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Perspectiva da Acessibilidade Linguística
dos Surdos ............................................................................................................................... 65
Núcleos de Acessibilidade nas Instituições de Ensino Superior: Objetivos e
Políticas Institucionais............................................................................................................ 73
Núcleos de Acessibilidade e Serviços de Apoio a Inclusão de Estudantes com
Deficiência nas IES Públicas.................................................................................................. 73
A Estruturação e Organização do Sistema Integrado de Núcleos de Acessibilidade
75
SEÇÃO 5 ................................................................................................................................. 78
NÚCLEOS DE ACESSIBILIDADE NAS IFES DE MINAS GERAIS: POLÍTICAS
INCLUSIVAS DE ACESSO, PERMANÊNCIA E CONCLUSÃO DOS ACADÊMICOS
SURDOS – PESQUISA DE CAMPO ................................................................................... 78
Resultados e Análises - Primeira Coleta de Dados – Pesquisa Inicial ................... 78
Segunda Coleta de Dados – Sob a Ótica dos Coordenados dos Núcleos de
Acessibilidade .......................................................................................................................... 82
5.2.1. Caracterização dos Núcleos de Acessibilidade das IFES de Minas Gerais .................... 82
5.2.2. Caracterização dos Coordenadores dos Núcleos de Acessibilidade das IFES de Minas
Gerais 103
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 109
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 112
APÊNDICE 1 ........................................................................................................................ 120
APÊNDICE 2 ........................................................................................................................ 123
APÊNDICE 3 ........................................................................................................................ 136
APÊNDICE 4 ........................................................................................................................ 138
18
INTRODUÇÃO
A inclusão escolar de estudantes com deficiências tem sido tema recorrente nos debates
acadêmicos desde 1990, discutindo-se acerca das vantagens e desvantagens da inclusão no
contexto escolar. Entre as visões sobre a inclusão escolar podemos destacar duas segundo
Mendes (2006, p. 396): “[...] a ideia da inclusão total – posição que defende que todos os
estudantes devem ser educados apenas e só na classe da escola regular” e “a ideia de que a
diversidade de características implica a existência e manutenção de um contínuo de serviços e
de uma diversidade de opções”. São diversas as práticas e os pressupostos a respeito do tema
inclusão que levam a falsa imagem de consenso entre estas diferentes posições que podem ser
extremamente divergentes.
No Brasil, a reflexão acerca de uma educação inclusiva se depara com o paradoxo do
otimismo de pesquisas e estudos que apontam o crescimento histórico das matrículas de
estudantes com deficiências na escola comum no país e os questionamentos diversos que nos
remetem às barreiras que ainda impedem as escolas de se abrirem às diferenças, ou ainda as
dificuldades na implementação de políticas públicas que assegurem o sucesso no processo
educativo destas pessoas.
A exemplo, conforme Mantoan (2008, p. 29), em seu texto sobre “Inclusão Escolar:
caminhos, descaminhos, desafios e perspectivas”, a autora retrata sobre a dualidade do processo
de inclusão no espaço educacional à luz do princípio de garantia do direito à educação para
todos, enfrentado pelas escolas tanto em nível básico quanto superior do nosso país. Além disso,
a autora destaca o caráter cultural assistencialista e terapêutico da Educação Especial apenso a
um sistema escolar elitista, meritocrático e homogeneizador, propagando a exclusão e
dificultando a vida escolar e acadêmica de muitos estudantes.
Mantoan (2008, p. 30), diz ser o tempo da globalização e aceitação das diferenças,
especialmente da diferença de direito. Entretanto, reafirma que “nossos caminhos educacionais
estão se abrindo, à custa de muito esforço e da perseverança de alguns diante da resistência de
muitos”. Acrescenta também sobre a dificuldade das escolas em encontrarem ações e medidas
capazes de inovar e promover o desenvolvimento educacional dos estudantes com e sem
deficiências.
19
Leonardo (2008, p. 437-439) realizou um estudo para fins de verificação dos principais
resultados do processo de implantação de projeto inclusivo em duas escolas públicas de
educação básica do Estado do Paraná. A pesquisa foi realizada com a participação de 13
professores, e foi aplicado um questionário contendo 4 perguntas abertas. Os resultados
demonstraram que a maioria das mudanças realizadas no ambiente escolar ocorreram no âmbito
da infraestrutura.
O estudo também evidenciou que a maioria dos participantes tem pouco conhecimento
sobre as deficiências e inclusão escolar, bem como não possuem qualificação profissional para
atender o público da Educação Especial. A autora ainda reafirma que proporcionar o processo
inclusivo vai além de mudanças físicas e arquitetônicas, sendo necessário também a aquisição
de recursos humanos, pedagógicos, materiais, além da necessidade do estabelecimento de um
novo paradigma no marco conceitual e ideológico, capaz de desencadear a efetivação de
políticas públicas, de serviços e a participação de toda a comunidade. (LEONARDO, 2008, p.
441 – 440)
O Brasil é historicamente marcado pela exclusão de negros, de mulheres, de índios, de
pobres e também o mesmo contexto é evidenciado para com as pessoas com deficiências (PcD)
nas redes de ensino. Portanto, faz-se necessário repensar o modo de funcionamento escolar sob
a lógica da inclusão. A esse respeito, Silva1 (2008, p.52) considera a inclusão um processo
construtivo e que demanda adequações materiais, físicas, mudanças e reestruturações nos
projetos políticos pedagógicos, nos processos avaliativos e formativos de pessoal, uma vez que
a escola deve se abrir à diversidade e às diferenças, além de ressaltar a importância na adoção
de medidas eficazes para socialização, integração e inclusão.
De acordo com a perspectiva da Educação Inclusiva o enfoque principal da escola é a
inserção dos excluídos em razão de alguma condição ou por motivo de discriminação ou
diferença no espaço educacional, com vistas à equiparação de oportunidades, na eliminação de
barreiras tanto atitudinais, pedagógicas, arquitetônicas e de comunicação visando o acesso
pleno à vida acadêmica e participação em todas as atividades.
No que se refere ao Ensino Superior, com o intuito de incitar e ampliar ações por parte
das universidades federais públicas do país, afim de garantir o acesso, a permanência e a plena
participação das PcD ao ensino superior, foi criado pelo MEC o Programa de Acessibilidade da
1
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva – Secretária de Educação Básica/MEC de 2007 a 2012.
20
Educação Superior (Incluir), em 2005. Além disso, este programa teve como objetivo a criação
e consolidação dos Núcleos de Acessibilidade (NA) nas Instituições Federais de Ensino
Superior (IFES), responsáveis pela organização, suporte pedagógico, planejamento educacional
voltado às necessidades educativas especiais dos acadêmicos com deficiências e
implementação das políticas de inclusão e acessibilidade, de modo a contemplar os referenciais
políticos e principais aspectos da legislação vigente no âmbito da educação inclusiva com
enfoque no público da Educação Especial.
Inicialmente, o programa Incluir lançava editais para seleção de projetos elaborados
pelas universidades federais interessadas em busca de incentivos governamentais financeiros
para criação e/ou reestruturação dos Núcleos de Acessibilidade nas IFES. Os projetos tinham a
finalidade de explicitar as estratégias e ações a serem adotadas para eliminação/redução das
barreiras e entraves quanto ao acesso e a permanência das PcD ao ensino superior. Entretanto,
a partir do ano de 2012, o programa Incluir passou a atender todas as IFES configurando um
marco histórico para consolidação de políticas de acessibilidade.
Nossa pesquisa busca compreender se as ações dos NA contribuem efetivamente para o
processo educacional e formativo dos estudantes surdos2 no ensino superior, tendo em vista o
contexto atual das manifestações crescentes acerca da garantia da educação bilíngue e da
relevância de eliminação das barreiras comunicativas, imprescindíveis para o desenvolvimento
das habilidades e potencialidades de caráter cognitivo e social.
Diante disso, esta pesquisa procurará responder: Como os NA das IFES de MG atuam
em prol do processo educacional do estudante surdo? Assim, diante destes problemas, ainda
questionamos os seguintes desdobramentos: Quais as contribuições na formação do mesmo?
As IFES mineiras têm efetivado políticas institucionais internas de inclusão de surdos? De que
maneira os NA contribuem para compreensão da educação inclusiva nestas instituições?
2
O trabalho tem como foco o estudante surdo, ou seja, aqueles que expressam suas experiências e seu
conhecimento de mundo por meio da Libras, conforme explicitado pelo Decreto 5.626/05, excetuando os discentes
com deficiência auditiva (DA). Embora haja o reconhecimento da importância de ações voltadas para melhor
acesso e acessibilidade à pessoa com DA, o público-alvo da pesquisa são os usuários da Língua Brasileira de
Sinais, cujo grau de comprometimento do sentido da audição é um fator limitante especialmente pelas barreiras
comunicativas enfrentadas pelos surdos, dificultando o acesso às informações e ao conhecimento quando não bem
assessorados, em contrapartida com os DA que fazem uso de próteses auditivas e não utilizam a Libras para
comunicação.
21
SEÇÃO 1
CAPÍTULO EPISTEMOLÓGICO
Nossa pesquisa adotou como referencial teórico os estudos Foucaultianos, com base nos
trabalhos e publicações do influente filósofo francês Michel Foucault, uma vez que analisam e
problematizam a concepção de biopolítica, governo e governamentalidade a partir dos
acontecimentos históricos de modo à construir a norma, a qual governa, direciona e subjuga os
sujeitos, passíveis de análise, tal como um deslocamento para entender os efeitos e as
contribuições das políticas públicas voltadas à educação, e, de modo especial à educação de
surdos no ensino superior.
Na visão de Foucault, os discursos são instrumentos para estruturação das técnicas de
governamento. No que concerne à educação, os discursos a respeito da democratização do
ensino, do acesso à educação e de qualidade, atuam como reguladores de indivíduos,
perpetuando a ideia da importância da educação para todos, abrindo a
possibilidade/obrigatoriedade para todos os sujeitos adentrarem no espaço educacional.
No final do século XVIII, de acordo com Foucault (2005, p. 291) surge uma nova
tecnologia de poder denominada "biopolítica da espécie humana”. O referido autor esclarece
que “a biopolítica lida com a população, e a população como problema político, como problema
a um só tempo científico e político, como problema biológico e como problema de poder”
(FOUCAULT, 2005, p. 292)-293. Tal tecnologia tem o intuito de regular as ações e o
comportamento da população, pois a lei “define formas de intervenções gerais exclusivas de
medidas particulares, individuais, excepcionais, e porque a participação dos governados na
25
3
Em sua obra “Do governo dos vivos”, produto da edição feita por Michel Senellart das aulas do curso de Michel
Foucault no Collège de France, em 1980.
26
Para Thoma (2016, p. 758) a escolarização voltada aos estudantes surdos é ofertada tanto
em classes bilíngues ou em escolas bilíngues, e essa ação conquistada através das políticas
públicas reverberam o que a autora denominou como “estratégias para que as identidades e a
diferença surda sejam normalizadas e governadas”. Embora a inclusão escolar defendida e
proposta pelo MEC apresente uma compreensão distinta sobre educação bilíngue, se comparada
com os anseios e entendimento da comunidade surda, ainda assim, a escola tem a função social
de produzir e formar indivíduos produtivos, consumidores e aptos para a vida em sociedade.
Na lógica binária com que vem sendo pensada, vemos que a educação
bilíngue, segundo a lógica da política de inclusão, vê na escola comum o
espaço mais adequado para que essa educação possa acontecer. De acordo
com o movimento surdo, são nas escolas bilíngues específicas para surdos que
os surdos devem estar, pois nelas há uma comunidade linguística e cultural
com a qual as crianças e jovens surdos podem identificar-se e construir sua
diferença política e cultural. (THOMA, 2016, p. 759)
Para Thoma (2016, p. 761) há uma distinção notória dos discursos sobre a pessoa com
surdez que circulam no MEC, compreendendo a surdez como deficiência, admitindo que “o
surdo deve ser incluído na escola comum por meio de AEE no contraturno, tendo a presença de
intérprete de língua de sinais em sala de aula”, se comparado ao discurso anunciado pela Feneis.
Esta considera o surdo enquanto indivíduo pertencente à uma identidade cultural e linguística
diferente e característica à forma de apreensão e manifestação das experiências na modalidade
viso-gestual-motora. Ainda reitera a perspectiva da “necessidade de se criarem ambientes
linguísticos adequados para que os surdos possam adquirir língua de sinais e desenvolver-se
por meio dela com pares surdos, o que, nessa perspectiva, não é viável nas escolas comuns”,
onde não há o contato entre pares e a língua de instrução prevalecente é a língua portuguesa.
SEÇÃO 2
PERCURSO METODOLÓGICO
Nesta seção, delineia-se a lógica interna a ser utilizada na presente pesquisa. Segundo
Minayo (1994), a metodologia de pesquisa pode ser compreendida como um caminho a ser
seguido e deve ocupar o lugar central na teoria, pois se trata, em linhas gerais, de um conjunto
de técnicas a serem adotadas para estruturarmos uma realidade. O presente estudo inseriu-se no
campo da abordagem pesquisa qualitativa, quanto à natureza é básica e quanto aos objetivos é
exploratória.
Conforme Gil (2002, p. 41) as pesquisas exploratórias “têm como objetivo proporcionar
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir
hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de
idéias ou a descoberta de intuições”, ou ainda, o pesquisador, após fazer um levantamento
bibliográfico vai em busca das experiências de algumas pessoas envolvidas, a partir de uma
determinada temática, afim de entrevistá-las para compreender e analisar a vivência prática no
cotidiano.
Nosso objeto de estudo será as ações dos Núcleos de Acessibilidade em atividade nas
IES públicas federais do Estado de Minas Gerais, afim de verificar quais as contribuições para
o processo de realização e integralização dos cursos de graduação de surdos que ingressaram,
permaneceram ou concluíram sua formação no período entre 2008 e 2019.
Feitas essas considerações, destacamos ainda a complexidade da discussão relativa ao
tema inclusão escolar de estudantes com deficiências como elementos que elevam à relevância
científica desta proposta e enfatizamos a necessidade de mais produções científicas na área que
31
discutam essa temática no contexto do ensino superior. Destacamos também que, por meio da
investigação proposta, será possível repensar nas propostas da oferta da educação em nível
superior, voltadas aos estudantes surdos, de modo a promover a efetiva participação deles nos
espaços acadêmicos.
Isso poderá possibilitar oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e
profissional, bem como, não restringindo sua participação em determinados ambientes e
atividades acadêmicas devido à deficiência. Essa investigação contribui também para o debate
sobre a democratização desse nível de ensino como elemento de promoção da inclusão social.
Daí, a relevância social desta pesquisa.
A quantidade de Núcleos de Acessibilidade presentes nas diferentes IES públicas
espalhadas pelas diferentes regiões do país intensificou o desejo de conhecer melhor a realidade
dos NA das Instituições Federais de Ensino Superior de Minas Gerais, bem como as ações
desenvolvidas, recursos disponibilizados pelos mesmos e analisar as seguintes variáveis:
a) Quantos sujeitos surdos ingressaram nas instituições públicas federais de Minas Gerais
a partir da criação dos Núcleos de Acessibilidade, respeitando o recorte temporal entre 2008 a
2019, ou seja, três anos após o início do lançamento de editais do programa INCLUIR (2005);
b) Destes, verificar aqueles que foram aprovados no tempo curricular esperado para
integralização do curso para identificar e analisar as influências dos Núcleos de Acessibilidade
para a realização do curso escolhido;
c) Quantos sujeitos surdos integralizaram o curso com dilação de prazo para sua
realização;
d) Quantos sujeitos surdos ainda não integralizaram o curso, mas que estão ainda com
matrículas ativas.
A pesquisa foi dividida em duas fases: a primeira fase compreendeu a organização geral
através da pesquisa em ambiente virtual para levantamento do referencial bibliográfico e teórico
para escrita do texto, tendo como base os autores: Quadros (2004), Mendes (2006), Castilho
(2008), Mazzotta (2011), Gadelha (2009), dentre outros, além de vários documentos
concernentes às legislações vigentes sobre acessibilidade e inclusão das pessoas com
deficiência (PcD), e especialmente direcionados aos surdos. Além disso, foi traçada a
sistematização do percurso metodológico e foi confeccionado um questionário para
32
4
Google Docs é um serviço on-line do Google, sendo um processador de texto on-line que permite criar e formatar
documentos de texto, além de colaborar com outras pessoas em tempo real. Google Docs, Planilhas e
Apresentações do Google são aplicativos de produtividade que permitem criar diferentes tipos de documentos
on-line, trabalhar neles em tempo real simultaneamente com outras pessoas e armazená-los on-line no Google
Drive. Permite editar e compartilhar documentos on-line, e dispõe de recursos para criar e analisar enquetes,
sendo um software gratuito.
34
5
A pesquisa de levantamento ou “Survey” visa descrever a distribuição das características ou de fenômenos que
ocorrem naturalmente em grupos da população.
35
elementos. Nesse momento, segundo Bardin (2011), começamos a fazer um recorte dos textos
selecionados, para categorização das temáticas e codificação dos dados.
É imprescindível explorar os materiais; assim, “[...] os dados brutos são transformados
sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata do
conteúdo” (BARDIN, 2011, p.133). Nessa fase, o pesquisador consegue apreender no material
pesquisado as temáticas que, por sua vez, devem ser organizadas e recortadas em núcleos
comuns, a partir das frequências em que aparecem no texto e dos significados afins com os
objetivos da pesquisa.
Por fim, deve haver um tratamento exaustivo com os dados, no qual é possível construir
a categorização, as inferências sobre o conteúdo, ou seja, consegue-se apreender as mensagens
presentes nas falas. Esse movimento de categorização precisa ser construído a partir dos
objetivos do trabalho, da literatura e dos dados obtidos na pesquisa.
Para Bardin (2011), podemos na Análise de Conteúdo nos valer de inúmeras técnicas,
sendo elas: análise categorial, análise de enunciação, da expressão, das relações, análise léxica
ou sintática, entre outras.
Nossa opção pelo procedimento de análise se deve a um processo de análise categorial,
por compreendermos que essa técnica é a que mais se adéqua aos objetivos propostos na
pesquisa. Conforme Bardin (2011, p.147), o processo de categorização constitui uma “[...]
operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em
seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente
definidos”. Nessa fase buscam-se os pontos comuns encontrados nas falas para a construção
das categorias.
No critério de categorização, optamos pelas categorias temáticas. Segundo Franco
(2008), o tema é a mais útil unidade de registro em Análise de Conteúdo, sendo indispensável
em estudos sobre propaganda, opiniões, valor, representações sociais, entre outros. Dessa
forma, faremos um movimento de análise de cada questionário para buscar a repetição das
temáticas. Nesse momento da pesquisa é importante, conforme Bardin (2011, p. 98), ir além de
uma leitura superficial dos dados; é necessário questionar:
O que está dizendo esta pessoa realmente? Como isso é dito? Que poderia ela
ter dito de diferente? O que ela não diz? Que diz sem dizer? Como as palavras,
as frases e as sequencias se encadeiam entre si? Qual é a lógica discursiva do
conjunto? Será que posso resumir a temática de base e a lógica interna
específica da entrevista?
36
Organizamos então nossas categorias a partir de uma leitura aprofundada dos dados
obtidos na pesquisa. De uma maneira geral, o estudo poderá representar uma importante
contribuição no sentido de compreender as contribuições dos Núcleos de Acessibilidade nos
processos de e na escolarização de surdos no ensino superior, público-alvo de nossa pesquisa.
Esperamos participar, de forma ativa, do processo de formação e desenvolvimento
profissional dos professores e pesquisadores, da definição e implementação de políticas
institucionais de formação dos docentes para a educação inclusiva, o que, certamente produzirá
impactos positivos na melhoria da qualidade do ensino fundamental, médio e superior e da
pesquisa. Portanto, dentre os principais produtos resultantes desta pesquisa, projetamos:
1) produção e apresentação de trabalhos nos eventos nacionais relacionados às
políticas públicas de atendimento às pessoas com deficiência no contexto
educacional, especialmente no ensino superior;
2) Produção e publicação de artigos em periódicos especializados;
Com o intuito de colaborar com as discussões sobre o aluno com deficiência, esta
pesquisa pretende contribuir com a reflexão da pesquisa realizada junto ao Gepepes - Grupo de
Estudos e Pesquisa Políticas e Práticas em Educação Especial e Inclusão Educacional, formado
em 2009, coordenado pelas professoras doutoras Lázara Cristina da Silva e Vilma Aparecida
de Sousa, que tem como finalidade realizar estudos na área da educação especial e da inclusão
educacional. Além disso, o Gepepes promove debates e estudos envolvendo as políticas
públicas, formação docente, metodologias de ensino, estudo de Língua Brasileira de Sinais,
dentre outros, e almeja ampliar essa pesquisa em parceria com a Faced/UFU e o Depae/UFU,
contemplando também os Núcleos de Acessibilidades das IFES de outros estados.
A troca de experiências entre os professores pesquisadores membros do Gepepes e os
professores ingressantes/pós-graduandos da Linha de Política e Gestão da Educação se
constituirá em oportunidade de melhoria do trabalho docente para ambos os grupos. A
investigação também possibilitará que professores do Ensino Superior, órgãos públicos e
privados tenham acesso aos resultados das reflexões e análises realizadas pelo grupo, bem
como, aos materiais e instrumentos de pesquisa produzidos. Do mesmo modo, viabilizará a
preparação de jovens pesquisadores e docentes do ensino superior por meio da iniciação
científica, Mestrado e Doutorado, consolidando os estudos do PPGED/UFU na área de Políticas
de Formação docente e educação inclusiva e especial.
37
SEÇÃO 3
APROXIMAÇÕES TEÓRICAS E LEGISLAÇÕES SOBRE ACESSO,
ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO
especiais ou centros de reabilitação foi comparado como uma ação segregatória, assim como
também a segregação em locais de trabalho, haja vista muitas empresas ou instituições separam
as minorias dos demais em salas ou departamentos.
No âmbito da integração, os grupos minoritários estão dispostos no mesmo local com
os demais ditos “normais”, todavia não interagem plenamente, faltam mudanças culturais e
atitudinais, baseada numa relação unilateral, na qual as minorias precisam se adaptar ao sistema
ou estrutura preestabelecida. Muitos confundem o processo de integração com a inclusão
simplesmente pelo fato de as minorias estarem adentrando o mesmo espaço, mas, na realidade
se constitui como integração.
Feitosa (2020) conceitua o processo inclusivo como um ambiente cuja organização,
gestão, estrutura física e estratégias atendam a todos os sujeitos de uma determinada empresa
ou qualquer espaço que envolva o contato entre pessoas, com aceitação e valorização das
diferenças, enaltecendo as potencialidades de cada pessoa e provendo ações efetivas para suprir
as limitações e fragilidades de todos os colaboradores, uma vez que todos somos diferentes. A
figura abaixo nos ajuda à compreender e visualizar, com mais clareza, a distinção destas
nomenclaturas:
Para Silva (2019) a temática da educação inclusiva é bastante discutida nos tempos
atuais e esta área ainda se encontra em processo de grandes transformações e de profundas
reflexões, uma vez que encontra várias “pedras pelo caminho”, ou seja, entraves e dificuldades
na promoção de uma educação para todos e de qualidade, entre outras palavras, uma educação
39
que viabilize a formação holística e participação de todos na sociedade. Este estudo pretende
esmiuçar o processo histórico cultural da educação, com enfoque especial para a educação
inclusiva, de modo a, não proferir respostas prontas, mas convidar a pensar sobre um modelo,
aplicável, ideal de educação inclusiva.
Outro ponto importante é compreender que a oferta da educação está amparada nas
questões políticas e governamentais. Para tanto, Silva (2019) retrata sobre as influências
negativas do neoliberalismo para a educação, tais como o individualismo e o gerenciamento
das instituições com base no mercado. Ademais, aponta a luta travada para uma efetivação da
educação inclusiva no Brasil, principalmente após o regime militar, período de grandes censuras
e proibições, com a redação da Carta Magna, por influência francesa, dentre outros movimentos
internacionais, em prol da educação inclusiva no Brasil.
Silva (2019, p. 78) destaca ainda “quatro princípios basilares para o estabelecimento das
políticas de educação inclusiva: a) Democratização; b) Universalização; c) Flexibilização e; d)
Acessibilidade”. Os dois primeiros responsáveis pela normatização e aplicabilidade da
educação inclusiva, ambos, imprescindíveis para a garantia de uma educação para todos,
quando outrora era apenas privilégio dos mais afortunados.
Porém, a instauração destas políticas de inclusão e oferta de uma educação para todos
estimulou a repartição das instituições educacionais em unidades públicas e privadas, de acordo
com a classe econômica e interesses da clientela atendida, nos níveis de escolarização da
educação infantil ao ensino médio, e, posteriormente, aos níveis do ensino superior,
principalmente pela necessidade de formação de corpo docente para atender a demanda
educacional, seja ela particular ou pública.
É possível visualizar, como mostra Silva (2019, p. 81), o aumento significativo do
número de instituições de ensino superior (IES) privadas, em comparação com as IES públicas,
principalmente pelo “investimento de recursos públicos em iniciativas privadas”. Apenso a isto,
a educação especial ganha um novo olhar e cuidado ao estender a ofertada da educação especial
para os alunos com deficiência/superdotação como ensino complementar ou suplementar,
através do AEE, de preferência no ensino regular e em instituições comunitárias ou
filantrópicas, capazes de receber investimentos públicos do governo.
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.” (BRASIL, 2015, p. 1)
Ao longo do corpo textual, é possível entender que os impedimentos podem ser oriundos
de problemas ou malformações nas estruturas fisiológicas, com prejuízo funcional no âmbito
motor, psicológico ou sensorial, necessitando de todo um acompanhamento biopsicossocial,
por meio de uma equipe multiprofissional em congruência com as mais diferenciadas áreas de
conhecimento.
No decorrer de todo o processo evolutivo do homem, é notória a capacidade intelectual
e proatividade em unir esforços para categorizar, conceituar e classificar tudo e todas as coisas
em torno do ser humano, prelúdio para fins de sustentação, perpetuação e registro do
conhecimento revelado e adquirido. Isto confere ao homem a possibilidade de avaliação de
todas as ações políticas, sociais, econômicas ou incitar o processo reflexivo dos atos,
comportamentos, compreender os motivos, as causas e as transformações atitudinais para
assim, repensar as práticas sociais e históricas e realizar intervenções necessárias para
desenvolvimento e melhor qualidade de vida.
Aliada à perspectiva da apropriação do conhecimento e relevância da conceituação e
definição das sentenças, objetos ou elementos (abstratos ou concretos), por conseguinte, a Lei
nº 13.146/2015, Art. 3º, traz considerações pertinentes sobre acessibilidade:
Além disso, a Lei 13.146/2015 traz a conceituação e concepção do venha a ser “desenho
universal”, ou seja, postura consciente e preliminar na criação, confecção e inovação de
produtos, objetos, espaços físicos e serviços, atendendo à todas as necessidades, especificidades
e singularidades de cada indivíduo, dispensando adaptações ou projetos específicos. Vale
ressaltar, de acordo com o Art. 3º (inciso III) que a criação de produtos engloba elaboração de:
42
instituições escolares, uma vez que o direito passou a ser de todos, ou seja, o direito se estende
às camadas mais populares (minoria).
Um ano após a Constituição de 1988 ser formalizada, verificou-se esforços no sentido
de discutir e refletir sobre a situação das pessoas com deficiência e a preocupação em integrá-
las na sociedade. Em prol da garantia do apoio às pessoas com deficiência quanto à sua
integração social, em de 24 de outubro de 1989, foi sancionada a Lei 7.853, contextualizando a
CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência) como
órgão criado para atender os requerimentos das PcD e tutela jurisdicional dos interesses deste
grupo.
Muitos estudos e reflexões surgiram a partir deste momento histórico, até mesmo em
relação às nomenclaturas a serem utilizadas, como verifica-se termos arcaicos “portadores de
necessidades especiais”. Entretanto, vislumbrar o passado nos permite compreender o presente
e pensar para o futuro. Nesta vertente, a lei traz contribuições pertinentes, principalmente ao
retratar sobre o respeito à dignidade humana, a necessidade de equiparação das oportunidades,
para assegurar o exercício dos direitos de todos. Destarte, a lei prevê a aniquilação de toda e
qualquer discriminação e atitudes discriminatórias, haja vista o direito à cidadania e bem-estar
social.
No âmbito educacional a Lei 7.853/89 assegura a inclusão e a oferta da Educação
Especial, gratuita e obrigatória, a inserção de escolas especiais, tanto em instituições públicas
como particulares, matrícula compulsória e, conforme o Art. 8º inciso I, retrata conduta
caracterizada como crime passível de multa e reclusão de 2 à 5 anos: “recusar, cobrar valores
adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
44
currículo diferente ao ofertado para os demais estudantes. Para tanto, a avaliação formativa é
imprescindível durante o processo educacional para identificar os conhecimentos e
aprendizagens já conquistados, perceber as fragilidades, dificuldades educativas e fazer um
planejamento estratégico para transpor as barreiras educacionais.
Além disso, outro quesito fundamental para o desempenho educacional dos estudantes
é a formação de professores, entre outras palavras, garantia de capacitação profissional e
atualização do corpo docente, crucial para aquisição de novas metodologias, técnicas de ensino
e compartilhamento de experiências bem sucedidas entre pares, com vistas à preparação dos
professores para lidarem com os desafios do processo educacional e às mudanças político-
econômicas, sociais e culturais.
Outro marco histórico é a promulgação da Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, em 08 de
outubro de 2001, através do Decreto n° 3.956. De acordo com o Ministério da Educação e
Cultura, segundo Brasil (2001, p. 8), inclusão compreende todas as formas de equiparação de
oportunidades, aceitação das diferenças em razão da heterogeneidade e diversidade cultural
com vistas à garantir o pleno desenvolvimento e acesso em todos os espaços da sociedade.
O artigo I estabelece a conceituação de discriminação como toda e qualquer forma de
exclusão, diferenciação ou desvalorização de qualquer indivíduo em razão de sua deficiência.
Entretanto, esclarece que todas as ações e medidas desenvolvidas pelo Estado para promover a
integração das pessoas com deficiência não constituem como formas de discriminação,
preferência ou diferenciação.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007), engendrada a partir
do desempenho da ONU (Organização das Nações Unidas), a qual é formada por países
membros, voluntários, tem a finalidade de discutir diversos temas e acontecimentos, estipular
metas e planos em prol da paz e desenvolvimento mundial. O Brasil é um dos países membros
da ONU e tem conquistado prestígio e reconhecimento mundial por sua parceria, incentivos e
ações políticas para o cumprimento dos princípios de cidadania e dignidade humana. Nosso
país foi um dos protagonistas na construção da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência.
A Corde juntamente com outras entidades, como por exemplo o Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – Conade, têm contribuído grandiosamente nas
redações dos artigos do documento supracitado, composto por 50 artigos em defesa dos direitos
46
Segundo Piovesan (2008, p. 887-888), a luta para garantia dos direitos acerca da
igualdade originou-se em razão das práticas discriminatórias e de segregação social,
48
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada pela Lei
nº 12.796, de 2013) § 1o Haverá, quando necessário, serviços de apoio
especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de
educação especial. § 2o O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns
de ensino regular. § 3o A oferta de educação especial, nos termos
do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da
vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018). (BRASIL, 1996, p. 24)
Num primeiro momento, a PNEEPEI (2008) retrata o contexto histórico pela qual a
educação foi marcada por ações políticas de uma educação excludente, por práticas
49
SEÇÃO 4
O ESTUDANTE SURDO NO ENSINO SUPERIOR: POLÍTICAS DE
ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO
O 4º parágrafo, do mesmo artigo, ratifica o exposto no inciso III do Art. 3º deste decreto,
ao abordar sobre a criação e disponibilização de recursos tanto didáticos como paradidáticos,
visando uma maior flexibilização de instrumentos e materiais tecnológicos para difusão e
assimilação de conhecimentos, informações, comunicação e para o desenvolvimento
socioeducacional dos alunos com deficiência.
Destaca-se aqui a peculiaridade dos estudantes surdos em fazer parte do grupo de
usuários da língua de sinais e de um sistema linguístico visual-espacial, ou seja, apreendem seu
conhecimento de mundo por meio das experiências visuais, intensificando a extrema
primordialidade da utilização de recursos visuais capazes de estimular e ampliar o aprendizado.
Na determinação supracitada, há a reiteração do Decreto de Nº 5.626/05 no que tange
aos preceitos, orientações e medidas a serem adotadas para a educação de surdos/deficientes
auditivos. Isto porque nota-se uma preocupação em atender às necessidades específicas dos
estudantes surdos com atenção especial às característica e demandas da perda ou ausência do
sentido da audição.
É possível observar ainda no 5º parágrafo (Art. 5º) do Decreto Nº 7.611/11, os núcleos
de acessibilidades como prerrogativa da acessibilidade no âmbito do ensino superior,
retomando o entendimento da educação especial ofertada ao longo da vida (inciso II do Art.
55
pardos, indígenas e pessoas com deficiência) de vagas preenchidas segundo o último censo da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Importante destacar que a Lei 13.146 (2015, p. 6) em seu Art. 28, contempla nossa
temática e objeto de pesquisa, com enfoque no processo de educação de surdos, ao fazer menção
no inciso II, quanto a garantia de incentivar e implementar: “aprimoramento dos sistemas
educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e
aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as
barreiras e promovam a inclusão plena”. Cabe aos nossos esforços, verificar na prática como as
instituições de ensino, e especificamente, como os NA estão se organizando para garantir os
direitos dispostos nas legislações. Além disso, a referida lei acrescenta, conforme o exposto:
23.250 em 2011, indicando crescimento de 358%, sendo que 72% das matrículas de estudantes
com deficiência estão em Instituições Privadas de Educação Superior.
Martins e Napolitano (2017) realizaram um importante estudo, coletando dados a
partido do Censo demográfico de 2010, ao constatar o indício de 45,6 milhões de pessoas com
algum tipo de deficiência, com faixa etária entre 14 e 64 anos. Desta população, 23,9%
apresentavam graus de severidade, do tipo visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. De
acordo com dados do IBGE (2012), a deficiência visual obteve o maior percentual de incidência
(18,6%), sucedida pela deficiência física (7%), deficiência auditiva (5,1%) e por último, a
deficiência intelectual (1,4%).
Além disso, de acordo com os autores, o aumento de matrículas de pessoas com
deficiência no ensino superior está relacionado com a implementação de políticas públicas
voltadas à promoção de acessibilidade e inclusão, a exemplo do REUNI (Plano de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais instituído através do Decreto Nº 6.096,
de 24 de Abril de 2007), do PROUNI (Programa Universidade para Todos, instituído pela Lei
Nº 11.096, de 13 de Janeiro De 2005) e do programa Incluir (Programa de Inclusão no Ensino
Superior), os quais contribuíram para garantia de vagas e na assistência estudantil. (MARTINS;
NAPOLITANO, 2017, p. 109 – 110)
pessoas com deficiência auditiva (DA), 2.556 eram de pessoas declaradas surdas e 157 com
surdocegueira, conforme gráfico abaixo.
Fonte: Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2019. Elaborado por Deed/Inep com base
nos dados do Censo da Educação Superior.
Nota: Um mesmo discente pode ter mais de um tipo de deficiência, transtorno global do
desenvolvimento ou altas habilidades/ superdotação. 2021
Gráfico 1- Demonstrativo do Total de Alunos com Deficiência, com Deficiência Auditiva e Surdez nas
Demonstrativo do Total de Alunos com Deficiência, com
IFES Brasileiras (2020 - 2011)
Deficiência Auditiva e Surdez nas IFES Brasileiras (2020
- 2011)
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011
TOTAL DE ALUNOS (PCD) 15.016 13.971 12.422 10.667 11.650 12.889 10.602 6.648 5.577 4.437
SURDOS 980 902 585 555 483 368 355 336 577 488
DEFICIÊNCIA AUDITIVA 1.796 1.929 1.737 1.518 1.543 1.395 1.160 1.186 758 645
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior.
É possível perceber que no período de 2011 a 2020 houve um aumento significativo do número
de matrículas de PcD no ensino superior nas IFES de todo o Brasil. É possível também visualizar que o
número de pessoas com deficiência auditiva/surdos sempre esteve abaixo da metade do grupo de PcD,
evidenciando predominantemente a presença de outros tipos de deficiência nas IFES brasileiras.
Também ficou demonstrado no gráfico 1 a predominância no número de matrículas de pessoas com
deficiência auditiva nas IFES brasileiras em comparação com os denominados surdos (usuários da
Libras).
Esta realidade em âmbito nacional também não difere muito da realidade das IFES mineiras
disposta no Gráfico 2, em que foi constatado o aumento do número de matrículas de PcD no período
entre 2011 e 2020, e, ratifica a expressividade de outros tipos de deficiência na Educação Superior das
IFES de Minas Gerais. Além disso, é evidente que pessoas com deficiência auditiva adentram em maior
número no ensino superior nas IFES mineiras do que os estudantes surdos.
61
Gráfico 2- Demonstrativo do Total de Alunos com Deficiência, com Deficiência Auditiva e Surdez nas
IFES Mineiras (2020 - 2011)
2.500
2.000
1.500
1.000
500
-
2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011
TOTAL DE ALUNOS (PCD) 1.667 1.372 1.231 820 2.746 797 655 759 502 562
SURDOS 114 97 20 21 14 9 11 5 26 19
DEFICIÊNCIA AUDITIVA 239 276 188 135 220 160 140 81 137 155
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior.
No caso das línguas de sinais nacionais, o seu caráter de risco está menos no
nível de proximidade da extinção do que no fato de a grande maioria das
pessoas que delas dependem para o seu desenvolvimento linguístico,
cognitivo, social e cultural só poderem ter acesso a ela de maneira tardia.
Como agravante, esse contato tardio frequentemente se dá não com uma
língua de sinais plenamente desenvolvida e gramaticalizada, mas com uma
versão pidgnizada da língua, utilizada por usuários que a dominam
precariamente como uma segunda língua. E completando esse quadro
dramático, todo esse processo precário de aquisição ocorre sob a mediação de
uma sociedade que carrega fortes estereótipos e falsos conceitos sobre a
natureza das línguas de sinais e sobre o estatuto social das pessoas surdas.
(MEC/SECADI, 2014, p. 9)
O documento, em sua página 18, também retrata a garantia das provas serem traduzidas
para a Língua Brasileira de Sinais, através dos recursos de vídeos gravados antecipadamente.
Além disso, todo material deve ser acessível em Libras, prevê a utilização de recursos e
tecnologias assistivas, garantindo também a presença dos tradutores e intérpretes de Libras
(Libras/LP) nos processos de avaliação. A redação da prova de Língua Portuguesa, na
modalidade escrita, poderá ser adotada na escrita de sinais ou filmada em Libras.
Jakimiu (2019), em seu artigo intitulado “a extinção da Secadi: a negação do direito à
educação (para e com a diversidade)”, explana sobre a extinção da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) no “ano de 2019, em
consonância com a agenda neoliberal anunciada, Jair Bolsonaro aprova o Decreto 9.465
que altera a estrutura administrativa do Ministério da Educação”. Na visão da autora, a
extinção da Secadi é vista de modo negativo, uma vez que a mesma “... representa, um marco
histórico do ponto de vista da garantia do direito à educação para a diversidade já que passa,
pela primeira vez, a reconhecer os sujeitos historicamente excluídos como titulares do direito
à educação e parte constitutiva da formulação das políticas educacionais.” (JAKIMIU, 2019,
p. 122)
O Decreto 9.465 de 02 de janeiro de 2019, alterou a estrutura administrativa do
Ministério da Educação transpondo a responsabilidade acerca da Educação Especial, entre
64
O Decreto 9.465/2019 clama pela revisão, análise e garantia das políticas educacionais
voltadas aos estudantes surdos, com vistas à assegurar a educação bilíngue, em espaço
apropriado, com professores bilíngues com qualificação para o exercício profissional, uma vez
que estes quesitos estão sancionados em diversas leis, decretos, convenções, resoluções, dentre
outros. Além disso, o corpo textual discorre sobre a educação especial e, separadamente sobre
a educação bilíngue, fato que tem repercutido no Brasil, principalmente após aprovação pelo
senado nacional do projeto de lei 4.909/2020 em 25 de maio de 2021, e posterior sanção da Lei
14.191/21, configurando um grande marco e conquista para as comunidades surdas de nosso
país.
65
Ainda que a Lei 14.19/21 seja bastante recente, não se pode prever as consequências e
repercussões de sua sanção para a colocação prática da lei, uma vez que o movimento surdo
exige a desvinculação da Educação Bilíngue da Educação Especial.
Por fim, outro quesito crucial quando o assunto se trata do acesso ao ensino superior, é
importante retomar a lei 13.146/2015, no seu Art. 30, fundamentada especificamente sobre os
mecanismos a serem adotados para seleção, ingresso e continuidade de estudantes no ensino
superior e de educação profissional ou tecnológica, visando a conscientização das instituições
de ensino para o cumprimento da legislação, propiciando acessibilidade à educação. O inciso I
enfatiza a preferência no atendimento voltada às pessoas com deficiência nas IES e serviços e
o inciso II informa a obrigatoriedade de disponibilização de formulários para descrição dos
recursos imprescindíveis para plena participação nas atividades e desempenho acadêmico.
É reservado o direito das PcD em terem acesso à sistemas de avaliações acessíveis e
compatíveis com as especificidades da deficiência, retratado pelo inciso III, ao passo que o
inciso IV ratifica a relevância da disponibilização de recursos tecnológicos e tecnologia
assistiva, informados previamente e de sua livre escolha. O inciso V prevê a dilação de prazo,
tanto no processo seletivo, como para as atividades acadêmicas, desde que comprovada a
necessidade. Especificamente para o público da educação de surdos, por fim, seguem os incisos:
“VI – adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que
considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade
escrita da língua portuguesa; VII – tradução completa do edital e de suas retificações em
Libras.” (BRASIL, 2015, p. 7-8)
Nossa pesquisa objetiva verificar como ocorre o processo de inclusão no ensino superior
de alunos surdos, e, para tanto, é imprescindível compreender a respeito do direito garantido por
lei acerca do direito à comunicação e acesso à educação, conforme se encontra escrito na lei
10.436 de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), ou seja,
regulamenta como língua oficial do nosso país, alegando ser esta, toda e qualquer forma de
expressão e comunicação que se utilize como canal, a visão, o espaço e a capacidade motora
66
para que haja transmissão de ideias, pensamentos abstratos ou que permitam a interação
interpessoal viabilizando o entendimento, resultando em comunicação.
A lei ainda estabelece sobre o apoio das empresas e instituições públicas no sentido de
garantir o uso e a difusão da Língua Brasileira de Sinais por todo território brasileiro, oriunda
das comunidades surdas, e do atendimento público e de saúde para as pessoas com deficiência
auditiva. Além disso, esclarece que a Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua
portuguesa e preconiza a inserção dela, nos Cursos de Formação da Educação Especial,
fonoaudiologia e Magistério, tanto em nível médio como superior, como componente curricular,
em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
Segundo o Decreto de nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que foi criado para
regulamentar a Lei nº 10.436/2002 e o artigo 18 da Lei nº 10.098/2000, este último sancionado
em 19 de dezembro de 2000, que tratam da Língua Brasileira de Sinais e das medidas adotadas
para promoção de acessibilidade para pessoas com deficiência, respectivamente. Esclarece, de
antemão a distinção de “pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva bilateral, compreende
e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura
principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.”, de deficiência auditiva
“perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por
audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.”. (BRASIL, 2005, p. 1)
Posteriormente, dá outras providências quanto à inserção da Libras como disciplina
curricular nos cursos de formação de professores, nas áreas de Licenciatura ou Magistério,
Educação Especial e Fonoaudiologia, não sendo obrigatória para os demais cursos de nível
superior ou profissional. Aborda sobre os requisitos necessários para formação dos
profissionais instrutores, tradutores, intérpretes e docentes, e os níveis de qualificação e
certificado de proficiência, devidamente comprovado por instituições credenciadas e
convalidadas, para o ensino da Libras na educação básica ou no ensino superior, inclusive sobre
a prioridade das pessoas surdas nos cursos de formação.
Além disso, reforça as leis 10.436/2002 e 10.098/2000, no que tange aos direitos do
acesso à saúde e a educação, “em todos os níveis, etapas e modalidades”, além da garantia do
AEE para suprir as necessidades educativas dos alunos surdos, utilização de recursos e
tecnologias da informação e comunicação, bem como, estruturação de processos avaliativos
concernentes com a peculiaridade da língua natural (L1 – Libras) e aprendizado na modalidade
da língua portuguesa (L2).
67
evidenciada na lei 10.436/02, sofreu modificação para a forma atual após sanção do decreto
5.626/05, em razão de critérios gramaticais da língua portuguesa quanto à colocação da primeira
letra maiúscula quando a sigla ter capacidade de ser pronunciada como uma palavra, em
contrapartida com as siglas com todas as letras maiúsculas, impronunciáveis como palavras.
(LIMA, 2018).
Além disso, segundo Lima (2018), a promoção de uma educação inclusiva voltada ao
corpo discente de surdos deve prever acessibilidade linguística, através da presença de
tradutores e intérpretes de Libras para oferta do ensino na primeira língua dos surdos (L1) e do
português como segunda língua, na modalidade escrita, além da garantia de recursos didáticos,
materiais acessíveis e metodologia de ensino concernentes e adequados às especificidade da
condição da surdez e a criação de salas bilíngues.
É importante destacar a Língua Brasileira de Sinais – Libras, como perspectiva de
acessibilidade linguística, uma vez que a Lei 13.146 de 2015 considera alguns tipos de barreiras
capazes de acarretar impedimento das pessoas com deficiência aos diversos serviços, ambientes
ou inacessibilidade aos processos comunicativos e informativos, ao caracterizar a Libras como
meio de comunicação e acessibilidade para pessoas surdas, conforme prevê o Art. 3º, inciso V:
Silva (2019) reitera que a falta de acessibilidade vivenciada pelas pessoas surdas
acontece em razão da prevalência do português como língua de instrução no ambiente
educacional, divergente da primeira língua (L1) utilizada pelas comunidades surdas do Brasil
(Língua Brasileira de Sinais – Libras, regulamentada pela Lei Nº 10.436/2002). A autora ainda
relata que há escassez de orientações e informações na própria LDB sobre esta temática.
A Lei nº 12.319, de 1 de setembro de 2010, regulamenta a profissão de Tradutor e
Intérprete de Libras, destacando que este profissional necessitará traduzir/interpretar de forma
consecutiva ou simultânea, especificando que somente cursos devidamente reconhecidos, de
extensão universitária e de formação continuada é que poderão formar indivíduos para atuarem
69
na área. Brasil (2010) relatou que foi disponibilizado, até dia 22 de dezembro de 2015, a
realização de exame por meio de bancas de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras
– Língua Portuguesa, oferecidos pela União e acrescentou:
Este prazo foi estipulado para acelerar o processo de certificação de profissionais com
vistas à corroborar na difusão da Língua Brasileira de Sinais pelo Brasil, capacitando aqueles
já inseridos na comunidade surda e fluente da língua de sinais, ao passo que as instituições
angariaram tempo para formar profissionais qualificados em níveis mais altos de conhecimento
(graduação (Letras-Libras), pós-graduação, mestrado e doutorado). As competências e
princípios para a prática efetiva da profissão também foram descritos, conforme citado:
Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando
pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura
do surdo e, em especial:
I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação
recebida;
II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade,
sexo ou orientação sexual ou gênero;
III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;
IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa
do exercício profissional;
V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito
social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele
necessitem;
VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. (BRASIL,
2010, p. 1-2)
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, no seu Art. 4º, inciso 3, acerca
das decisões governamentais condescendente com suas lutas e reinvindicações.
O embasamento em legislações vigentes, como por exemplo, a Declaração de
Salamanca, Plano Curricular Nacional de Língua Estrangeira, a Convenção Internacional sobre
Direitos das Pessoas com Deficiência e outros documentos afins, serviram para ratificar a
necessidade de uma atenção maior voltada aos interesses dos surdos, ao demonstrar ser a Libras
o meio de comunicação legal sancionado, capaz de oferecer recursos linguísticos na modalidade
visual-espacial efetivos para compreensão, acesso aos diversos conhecimentos e interação
interpessoal.
Ademais, reiteram a primordialidade da oferta do ensino na língua de instrução dos
surdos (L1- Libras e L2 – o português na modalidade escrita) e da educação bilíngue
propriamente dita, em escolas ou classes bilíngues ou em instituições inclusivas. Vale ressaltar
a ênfase dada à educação bilíngue destinada aos surdos-cegos, grupo característico e
pertencente às comunidades surdas.
A problemática em questão gira em torno da expressividade numérica de estudantes
surdos nascidos em famílias ouvintes (95%) e da aquisição tardia da Libras, impactando
diretamente no desenvolvimentos holístico das competências e habilidades, sejam elas,
linguísticas, culturais, intelectuais e até mesmo afetivas. Neste quesito, há que se destacar a
relevância do contato entre pares, poderoso instrumento contra privação linguística,
estimulação de práticas educacionais com diversidade de materiais adequados às características
destes alunos e metodologia de ensino e formação docente qualificada para atuação
profissional. Reiteramos ser o Ensino Superior o nosso objeto de pesquisa, voltado aos surdos,
e para garantia destes direitos adquiridos por lei é imprescindível a presença e atuação dos NA
nas IES, afim de promover acessibilidade e inclusão à uma educação e de qualidade.
Barboza e Dorziat (2019, p. 96) realizaram uma pesquisa qualitativa-descrita, a partir
de estudos surdos, ou seja, “surgem, colocando em evidência as problemáticas das pessoas
surdas, as questões culturais, linguísticas, de diferença, identidade e relações de poder”, por
meio de entrevista em Libras sob a ótica de 3 estudantes surdos do ensino superior em relação
à vivência acadêmica, quais as dificuldades enfrentadas e a percepção de como acontece na
prática o processo inclusivo. Após as entrevistas, este estudo chegou à conclusão de que os três
estudantes se reconhecem como surdos, ou seja, vivenciam e apreendem novos conhecimentos
a partir das experiências visuais.
73
SEÇÃO 5
NÚCLEOS DE ACESSIBILIDADE NAS IFES DE MINAS GERAIS: POLÍTICAS
INCLUSIVAS DE ACESSO, PERMANÊNCIA E CONCLUSÃO DOS
ACADÊMICOS SURDOS – PESQUISA DE CAMPO
“Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem
mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os
resultados somente através das experiências.” Carl Gustav Jung
Esta sessão tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa de campo realizada
junto aos coordenadores das IFES mineiras, com base nos respondentes dos questionários
aplicados. Retomando o exposto acerca dos objetivos gerais e específicos, nosso estudo visa
compreender se as ações dos NA contribuem efetivamente para o processo educacional e
formativo dos estudantes surdos no ensino superior, tendo em vista o contexto atual das
manifestações crescentes acerca da garantia da educação bilíngue e da relevância de eliminação
das barreiras comunicativas, imprescindíveis para o desenvolvimento das habilidades e
potencialidades de caráter cognitivo e social.
Diante disso, esta pesquisa procurará responder: Como os NA das IFES de MG atuam
em prol do processo educacional do estudante surdo? Assim, diante destes problemas, ainda
questionamos os seguintes desdobramentos: Quais as contribuições na formação do mesmo?
As IFES mineiras têm efetivado políticas institucionais internas de inclusão de surdos? De que
maneira os NA contribuem para compreensão da educação inclusiva nestas instituições?
Inicialmente, com vistas à obter uma noção do quantitativo de IFES de Minas Gerais,
realizamos uma consulta em ambiente virtual. Nos mais diversos sites visualizamos os nomes
das instituições e através da “Fala.BR – Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à
Informação” foi possível confirmar a existência de 17 Instituições Federais de Ensino Superior
em MG, conforme quadro 1, já informado na seção “Percurso Metodológico”:
79
Desta forma, apenas 03 IFES não participaram da “Coleta de Informações Iniciais sobre
os Núcleos de Acessibilidade das IFES de MG”, conforme especificado no quadro abaixo:
1; 7%
SIM
NÃO
14; 93%
Gráfico 4- Demonstrativo das IFES Mineiras que atenderam/atendem alunos surdos desde a criação
do(s) Núcleo(s) de Acessibilidade
1; 7%
SIM
NÃO
14; 93%
mesmos, denotando a perspectiva de organização para atender as PcD no ensino superior. Vale
ressaltar que em alguns casos, uma IFES pode possuir apenas 01 NA para atender a demanda
da sede da instituição e para os campis ou possuir mais de um NA (um em cada unidade – sede
e campis).
Estes dados obtidos podem ser melhor visualizados no gráfico de número 5, descrito
abaixo:
Gráfico 5- Demonstrativo do ano de criação dos Núcleos de Acessibilidade das IFES Mineiras de 2008
a 2022
84
Dos respondentes na segunda coleta, é possível concluir que no período de 6 meses após
a primeira e a segunda coleta dados, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (CEFET-MG) ainda havia concluído a realização da implantação dos NA em sua
instituição e/ou campis. Desta forma, iremos concentrar os resultados a seguir com base nas
instituições (14) que já possuem seus NA já criados/implantados.
Quando questionados sobre como se deu o processo de criação dos NA, as respostas
mais recorrentes revelaram a predominância da criação através de resoluções, portarias,
comissões ou comitês. Uma parcela dos coordenadores responderam que a criação dos NA
ocorreu em razão da necessidade de cumprimento ao Decreto Nº 7.611/2011, visto que o mesmo
prevê a implementação de políticas e ações voltadas à acessibilidade e inclusão das PcD no
ensino superior.
Cabe ressaltar que uma instituição alegou que a criação do NA transcorreu em razão da
participação no Programa Incluir lançado em 2005. Contrastando com os dados dos anos de
criação dos mesmos, é possível visualizar que a maioria dos NA pesquisados foram
implantados/criados após o ano de 2012, a partir do qual os incentivos financeiros outrora
destinados nos processos seletivos concorrenciais do Programa Incluir (2005-2011), passaram
a ser universalizados, distribuídos para as universidades e previstos na matriz orçamentária por
parte do governo, haja vista as publicações das legislações e a necessidade de maior atenção
para com o acesso das PcD ao ensino superior.
Também buscamos averiguar sobre como os NA são financiados, e, para esta questão,
uma parcela significativa reiterou a destinação de verbas oriundas do Programa Incluir, outros
85
Estes dados revelam a concentração maior da vinculação dos NA das IFES Mineiras à
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Pró-Reitoria de Ensino, vinculação esta que subsidia o
apoio e auxílio para as ações dos NA. Para melhor ilustrar estes dados confeccionamos o gráfico
6, descrito a seguir:
86
Gráfico 6- Demonstrativo do Vínculo dos Núcleos de Acessibilidade à Outras Unidades das IFES
PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS
ESTUDANTIS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO
7%
7% 22% PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
7%
DIRETORIA DE AÇÕES AFIRMATIVAS
7%
DIRETORIA DE ENSINO
29%
21%
DIRETORIA DE ASSUNTOS
ESTUDANTIS
OUTRA(S)
Gráfico 7- Demonstrativo dos Núcleos de Acessibilidade que possuem Projeto de Criação ou Resolução
Própria de Criação
4; 29%
SIM
NÃO
10; 71%
SIM
7; 50% 7; 50%
NÃO
Esta temática ocupa espaço relevante entre os objetivos dos 14 NA, destacado no
discurso de 05 NA. A perspectiva dos coordenadores destes NA coadunam com os textos
discursivos das legislações vigentes voltadas aos direitos das PcD quanto ao acesso à educação,
independentemente do nível de ensino. Este fato nos chama a atenção ao verificar que grande
parte dos NA não possuem uma política interna de inclusão educacional. Conforme Foucault,
os discursos são difundidos e ocasionam o assujeitamento social, fato percebido ao
visualizarmos a semelhança da fala da legislação e dos coordenadores, apenso à falta de
autonomia dos NA em estabelecer uma política interna de inclusão educacional.
nem sempre o óbvio é evidente. Em outras palavras, ao traçar um paralelo com o que está
descrito em diversas legislações, à oferta do AEE no ensino superior é descrita como algo óbvio,
mas na prática todo este discurso ainda é obscuro e incompreensível.
Além disso, outra situação que enfatiza a função dos NA como algo mais abrangente é
a fala de que o AEE é ofertado para o público da educação especial. Com os crescentes
movimentos das comunidade surdas do Brasil, principalmente acerca da militância e anseios
em desvincular a educação de surdos da educação especial, ou seja, a busca da consolidação da
educação bilíngue, reitera o entendimento de que a função do NA deve ir além do atendimento
ao público da educação especial e ir ao encontro de ações voltadas à especificidades e
potencialidades dos estudantes, tornando o espaço acadêmico como um ambiente acolhedor e
pressentido pelos estudantes como um caminho transponível.
Entre os objetivos mais citados, compreende-se que os NA são órgãos responsáveis por
fornecer suporte técnico, científico, acadêmico e pedagógico necessários às atividades de
ensino, pesquisa e extensão, ou ainda para a produção de novos conhecimentos, especialmente
na área da educação especial e/ou inclusiva.
Dentre os objetivos citados, outro quesito que merece atenção, na perspectiva dos
coordenadores dos NA, é o apoio e orientação pedagógica ao corpo docente. Isto porque é
imprescindível o apoio aos professores para que estes possam desenvolver seu trabalho
didático-pedagógico. Além disso, a troca de experiências entre profissionais se estabelece como
ferramenta para melhoria das estratégias de ensino e aprendizagem e para suprir as necessidades
específicas de PcD dentro da sala de aula.
fala muito da questão dos jogos de poder e os discursos visando o assujeitamento social frente
aos interesses políticos. Para tanto, a determinação imposta pelo governo em estabelecer a
inclusão educacional das PcD, desde a educação básica até o ensino superior, ou ainda ao longo
da vida, caracteriza a intencionalidade governamental em tornar as PcD corpos rentáveis e
produtivos aos jogos de poder governamental.
h) Atendimento à legislação
Entretanto, esta colocação ficou confusa uma vez que a pergunta se referiu aos objetivos
dos NA, órgãos responsáveis pelos serviços de apoio e inclusão de PcD no ensino superior. Esta
fala nos remete aos discursos difundidos na legislação vigente, em que na maior parte textual
se dirige mais à escola comum do que ao ensino superior. Este discurso exacerbado focado na
escola comum, por vezes, nos dá a sensação da mensagem subentendida de subestimação da
capacidade das PcD em adentrar o ensino superior.
Em continuidade com os demais dados obtidos, dos 14 respondentes da pesquisa, 08
disseram que há sala própria para o(s) Núcleos de Acessibilidade, 02 responderam não ter sala
própria e 04 disseram que alguns NA possuem sala própria e alguns NA estão em salas
compartilhadas com outros setores da Instituição. Ficou demonstrado que grande parte dos NA
possuem sala própria, mas também existem IFES mineiras que não possuem sala própria ou
dificuldades em organizar um espaço próprio de atendimento.
No entanto, nos surpreende que dos 14 respondentes, apenas 03 disseram possuir
assento nos conselhos superiores e direito a voz e voto, 09 disseram não possuir assento nos
conselhos superiores e direito a voz e voto e 02, apesar de não terem assento nos conselhos
superiores afirmaram ter direito a voz e voto no conselho ou colegiado próprio da instituição.
Esta questão expressa a necessidade de maior representatividade dos NA nos conselhos
superiores e participação nas questões relacionadas ao ensino e extensão nas IFES mineiras.
Quando questionados sobre possuem ou não uma política interna de inclusão
educacional, 06 responderam sim, 04 responderam não e 04 não possuem, mas estão em fase
de elaboração.
Na introdução deste estudo, reiteramos a importância de implementação desses Núcleos
de Acessibilidade como um espaço de discussões e reflexões sócio-político-educacionais no
interior das IES, para fomentar a construção de novos conhecimentos e de novas alternativas
de ação na área da Educação Especial, tendo em vista, as dificuldades enfrentadas tanto por
profissionais que atuam nas IES, quanto pela população por ela atendida. Entretanto, dos 14
93
respondentes da pesquisa, apenas 04 evidenciaram possuir espaço para avaliação do(s) Núcleos
de Acessibilidade na avaliação institucional.
A avaliação institucional configura como importante ferramenta para sondagem dos
principais problemas e dificuldades enfrentados pelo corpo discente, docente e profissionais
técnico-administrativo, na promoção de possíveis alternativas e estratégias para sanar os
problemas. Isto se aplica às ações exercidas pelos NA e para estabelecer discussões e reflexões
acerca da acessibilidade, inclusão e aceitação das diferenças, objetivos relatados anteriormente
pelos coordenadores dos NA.
Na questão sobre se houve ou há o atendimento dos NA voltados aos estudantes surdos
usuários da Libras – Língua Brasileira de Sinais, desde a sua criação, 12 IFES/Campus (86%)
responderam sim e apenas 2 (14%) responderam que não, conforme gráfico 9. Estes dados se
confirmam e contrastam com os dados verificados quanto ao aumento do quantitativo de
estudantes surdos no espaço acadêmico, até mesmo com base nos dados do Censo da Educação
Superior expostos anteriormente.
2; 14%
SIM
NÃO
12; 86%
Gráfico 10- Demonstrativo dos Núcleos de Acessibilidade que possuem acessibilidade visual e
informativa no entorno do Núcleo de Acessibilidade
3; 21%
SIM
NÃO
11; 79%
Gráfico 11- Demonstrativo dos Núcleos de Acessibilidade que oferecem acessibilidade visual no
espaço interno
0; 0%
SIM
NÃO
14; 100%
Gráfico 12- Demonstrativo dos Núcleos de Acessibilidade que possuem atendente ou membro da
equipe treinado na Libras
4; 29%
SIM
NÃO
10; 71%
14
13 13 13
12
11 11
10
8
7 7
6
4
1 3 0 1 3 1 2
SIM NÃO
Gráfico 14- Demonstrativo dos serviços e/ou recursos de tecnologia assistiva disponibilizados pelos
Núcleos de Acessibilidade aos estudantes surdos
12
11
8
7 7
6
5 5 5 5
4 4 4 4
3
2 2 2
0 1 1
MATERIAL RECURSOS DE
TRADUTOR- MATERIAL RECURSOS DE DISPOSITIVOS
INSTRUTOR DE DIDÁTICO ACESSIBILIDADE
INTÉRPRETE DE DIDÁTICO EM INFORMÁTICA LUMINOSOS
LIBRAS DIGITAL À
LIBRAS LIBRAS ACESSÍVEIS ACESSÍVEIS
ACESSÍVEL COMUNICAÇÃO
NÃO 2 12 6 3 4 1 11
SIM, SUFICIENTE 5 2 4 4 5 5 1
SIM, INSUFICIENTE 7 0 4 7 5 8 2
O gráfico 15 nos permite visualizar que a metade dos respondentes da pesquisa alegaram
realizar ações promovendo a acessibilidade na participação em processos seletivos para
estudantes com deficiência de modo integralmente, em contrapartida, 02 respondentes alegam
que ainda não adotam ações capazes de promover acessibilidade em processos seletivos e 05
propiciam acessibilidade, porém parcialmente. É importante salientar que a acessibilidade nos
processos seletivos coadunam com a exigência de viabilização do acesso ao ensino superior.
Gráfico 15- Demonstrativo das Ações dos NA - Processo Seletivo, Assessoramento Pedagógico e Formação para
Corpo Docente
8 8
5 5
3 3
FORMAÇÃO SOBRE ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO PARA O CORPO DOCENTE E CORPO TÉCNICO DA INSTITUIÇÃO
sobre acessibilidade e inclusão para o corpo docente e técnico das instituições, ainda que de
modo insuficiente.
Gráfico 16- Demonstrativo das ações dos NA – Recursos de Tecnologia Assistiva (Aquisição, Disponibilização,
Orientação) e Produção de Materiais Didáticos em Diferentes Formatos
8 8
6 6
4 4 4
3 3 3
Gráfico 17- Demonstrativo das ações dos NA – Organização do AEE e Orientação às Famílias
6
5
3 3 3
Por último, e, não menos importante, o gráfico 18 retrata uma expressividade de ações
voltadas ao desenvolvimento de projetos de ensino, quando comparado com as atividades de
pesquisa e extensão. Mesmo que de maneira parcial, grande parte das instituições desenvolvem
ações em prol do desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão voltados aos estudantes
surdos nas IFES mineiras.
102
Gráfico 18- Demonstrativo das ações dos NA – Desenvolvimento de Projetos de Ensino, Pesquisa e
Extensão
7 7
5 5 5
4 4
3
2
De modo resumido, em relação aos dados dos gráficos 16, 17 e 18, quanto às ações dos
NA obtemos os seguintes resultados:
Todas as análises a partir dos dados coletados revelam que há um assujeitamento das
IFES mineiras frente ao discurso da inclusão e acessibilidade no ensino superior. Atualmente
as IES tem se mostrado preocupadas e conscientes da necessidade de desenvolvimento de ações
voltadas ao acesso, permanência e conclusão, embora grande parte das ações sejam
desenvolvidas parcialmente ou que ainda os serviços e/ou recursos sejam insuficientes.
Portanto, é primordial que haja uma interação/comunicação fortalecida entre governo e IES
para que haja a destinação de recursos financeiros suficientes para subsidiar os gastos com os
serviços e recursos capazes de atender as necessidade educativas dos estudantes com deficiência
e organização das IES na prestação dos serviços e desenvolvimento de ações inclusivas.
Gráfico 19- Demonstrativo do Quantitativo de Coordenadores dos Núcleos de Acessibilidade por Sexo
10
4 3
0
MULHERES HOMENS
0
ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO
6; 43% SIM
8; 57% NÃO
2; 14%
SIM
NÃO
12; 86%
2; 14%
SIM
NÃO
12; 86%
Gráfico 25- Demonstrativo das Funções Exercidas pelos Coordenadores nas IFES
3; 21%
TÉCNINO-ADMINISTRATIVO
DOCENTE
11; 79%
Para tanto, após analisarmos estes dados, é possível visualizar uma expressividade
feminina na gestão dos NA nas IFES mineiras e a área de conhecimento mais cursada pelos
coordenadores participantes da pesquisa é a pedagogia, apesar de que todos possuem pós-
graduação, alguns em nível de especialização, outros mestrado e doutorado. Entretanto, nem
todos os coordenadores possuem experiência profissional voltada às PcD e em gestão, ainda
que seja uma pequena parcela dos envolvidos na pesquisa. Finalizamos esta seção com as falas
dos coordenadores em relação à quais ações podem corroborar para melhoria e/ou
fortalecimento dos Núcleos de Acessibilidade com vistas a garantir o acesso, permanência e
conclusão da formação acadêmica de surdos, conforme quadro 7, descrito abaixo:
Quadro 6- Opiniões do Coordenadores sobre Quais Ações podem Corroborar para Melhoria e/ou
Fortalecimento do NA
Importante destacar que a grande maioria dos coordenadores (13) possui tempo de
atuação no NA inferior à 2 anos, em contrapartida com apenas 01 que informou tempo de
atuação superior. O tempo de atuação no NA agrava mais ainda quando contrastado com o
tempo de atuação na IFES. Destarte, a grande maioria disse que a forma de designação para a
coordenação é através de cargo de confiança. Uma pequena parcela disse que a designação se
dá através de nomeação, eleição ou escolha de pares. Além disso, apenas 02 coordenadores
afirmaram receber gratificação pela atuação no NA, um número muito pequeno.
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
atendimento aos estudantes surdos. Em algumas instituições foi relatada necessidade de mais
recursos, serviços e profissionais capazes de atender as especificidades dos estudantes surdos,
inclusive a necessidade de mais Tradutores/Intérpretes de Libras no ambiente acadêmico para
suprir a demanda.
Reiteramos nosso interesse em pesquisar na área da educação inclusiva voltada ao
sujeito Surdo, com vista a aprofundar mais no conhecimento do objeto de estudo,
principalmente no âmbito do ensino superior. Além disso, investigar quais as dificuldades mais
assolam os estudantes Surdos, tanto no acesso, no decorrer do percurso da graduação e
posteriormente à formação, perscrutar se as políticas de educação inclusiva e de acessibilidade
atendem de fato as necessidades destes alunos, se há de fato a equiparação de oportunidades
entre alunos Surdos e demais estudantes que não compõe o quadro da educação especial, ou
ainda, tentar descobrir possíveis soluções para os entraves e problemas enfrentados pelos
mesmos, a partir da sondagem do atual contexto da educação em nível superior.
Portanto, faz-se necessário pensar e repensar constantemente sobre o atual contexto da
inclusão social, de modo a refletir criticamente e conscientemente sobre os direitos das pessoas
com deficiência e a garantia dos mesmos, haja vista a grande preocupação na promoção de
acessibilidade e inclusão para proporcionar maior efetividade e participação social destes
indivíduos e especialmente dos surdos, público-alvo da pesquisa.
112
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE 1
*Obrigatório
1. E-mail *
3. SIGLA
SIM
NÃO
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS
ESTUDANTIS REITORIA
SIM
NÃO
APÊNDICE 2
1. E-mail *
SIM
4. SIGLA *
124
ANTES DE 2005
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
DEPOIS DE 2020
125
REITORIA
VICE-REITORIA
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
OUTRA(S)
Outro:
SIM
NÃO
SIM
126
NÃO
14. NÚCLEO TEM ASSENTO NOS CONSELHOS SUPERIORES? QUAL(IS)? EM CASO *AFIRMATIVO,
POSSUI DIREITO A VOTO E VOZ?
SIM
NÃO
SIM
NÃO
SIM
NÃO
SIM
NÃO
PEDAGOGO
PSIICOPEDAGOGO
TRADUTOR/IINTÉRPRETE DE LIIBRAS
GUIIA--IINTÉRPRETE
IINSTRUTOR DE LIIBRAS
PSIICÓLOGO
ASSIISTENTE SOCIIAL
REVIISOR BRAIILLE
TRANSCRIITOR BRAIILLE
OUTROS
22. SE NA QUESTÃO ANTERIOR MARCOU SIM PARA OUTROS , CITE QUAIS OUTROS
PROFISSIONAIS O NÚCLEO É COMPOSTO.
INSTRUTOR DE LIBRAS
RECURSOS DE ACESSIBILIDADE À
COMUNICAÇÃO
RECURSOS DE INFORMÁTIICA
ACESSÍVEIS
ORIENTAÇÃO ÀS FAMÍLIAS
27. EM SUA OPINIÃO, QUAIS AÇÕES PODEM CORROBORAR PARA MELHORIA E/OU
FORTALECIMENTO DOS NÚCLEOS DE ACESSIBILIDADE COM VISTAS A GARANTIR O ACESSO,
PERMANÊNCIA E CONCLUSÃO DA FORMAÇÃO ACADÊMICA DE SURDOS?
40. COM BASE NO TOTAL DE SURDOS ATENDIDOS ENTRE 2008 E 2019, QUANTOS
INTEGRALIZARAM O CURSO NO TEMPO CURRICULAR ESPERADO? INFORMAR UM MEIO DE
CONTATO DOS ACADÊMICOS (E-MAIL / TELEFONE / WHATSAPP)
41. COM BASE NO TOTAL DE SURDOS ATENDIDOS ENTRE 2008 E 2019, QUANTOS *
INTEGRALIZARAM O CURSO COM DILAÇÃO DE PRAZO? INFORMAR UM MEIO DE
CONTATO DOS ACADÊMICOS (E-MAIL / TELEFONE / WHATSAPP)
42. COM BASE NO TOTAL DE SURDOS ATENDIDOS ENTRE 2008 E 2019, QUANTOS NÃO
INTEGRALIZARAM O CURSO? INFORMAR UM MEIO DE CONTATO DOS ACADÊMICOS (E-
MAIL / TELEFONE / WHATSAPP)
44. GRADUAÇÃO *
ESPECIALIZAÇÃO
MESTRADO
DOUTORADO
NÃO POSSUO
134
SIM
NÃO
SIM
NÃO
SIM
NÃO
TÉCNICO-ADMINISTRATIVO
DOCENTE
APÊNDICE 3
APÊNDICE 4