Pedro Smith Menandro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E ECOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

PEDRO SMITH MENANDRO

SISMOESTRATIGRAFIA DO LOBO DELTAICO DO RIO DOCE

VITÓRIA

2011
2

PEDRO SMITH MENANDRO

SISMOESTRATIGRAFIA DO LOBO DELTAICO DO RIO DOCE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Oceanografia, do Departamento
de Oceanografia e Ecologia do Centro de
Ciências Humanas e Naturais da Universidade
Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção de grau de Oceanógrafo.

Orientador: Prof. Drº Alex Cardoso Bastos.

VITÓRIA
2011
3
4
5

SISMOESTRATIGRAFIA DO LOBO DELTAICO DO RIO


DOCE

Por

Pedro Smith Menandro

Submetido como requisito parcial para a obtenção de grau de


Oceanógrafo
na
Universidade Federal do Espírito Santo
Novembro de 2011
© Pedro Smith Menandro

Por meio deste, o autor confere ao Colegiado do Curso de Oceanografia e ao


Departamento de Oceanografia e Ecologia da UFES permissão para reproduzir
e distribuir cópias parciais ou totais deste documento de monografia para fins
não comerciais.

Assinatura do autor _____________________________________________


Curso de graduação em Oceanografia
Universidade Federal do Espírito Santo

Certificado por _____________________________________________


Prof. Dr. Alex Cardoso Bastos
Orientador – DOC/CCHN/UFES

Certificado por _____________________________________________


Profª. Drª. Valéria da Silva Quaresma
DOC/CCHN/UFES

Certificado por _____________________________________________


Kleverson Alencastre do Nascimento
PPGOAm/DOC/CCHN/UFES

Aceito por _____________________________________________


Prof. Dr. Ângelo Fraga Bernardino
Coordenador do Curso de Oceanografia – DERN/CCHN/UFES
6

AGRADECIMENTOS
À Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por
conceder a bolsa de iniciação científica para este projeto, e ao Edital Ciências
do Mar – Capes/UFES/UFRJ/Uerj que possibilitou a coleta dos dados utilizados
nesse trabalho.
Ao meu orientador Alex Bastos, pelas oportunidades, orientações e apoio, além
de servir sempre como referência de conhecimento.
Aos meus familiares, principalmente meu pai, minha mãe e minhas irmãs, que
sempre me apoiaram e acreditaram na minha capacidade. À Mayara,
companheira de todas as horas, pelo carinho, amor e compreensão.
A toda equipe do Labogeo, em especial ao Kleverson e ao Alex Evaristo, que
me ajudaram muito a chegar até aqui.
Agradeço também a Valéria, pelo aceite em participar da banca e por todo
apoio ao longo do curso, sempre disponível em ajudar e aconselhar.
Aos amigos das antigas, e aqueles do curso, que tornaram melhor esses
quatro anos, e que espero que fiquem pro resto da vida. Entre eles, Rubinho
(vulgo Rômulo), Md, Gastão, Lucas Cabral, Guabiroba, Robertinho, Baiana,
Sabrina, Elisa (e a galera do estudo), Flor, Brunin, e todos aqueles que
injustamente eu me esqueci de citar.
Aproveito pra agradecer também a todos aqueles que de alguma forma
ajudaram a completar esse trabalho.
7

Dedico esse trabalho aos meus avôs,


que certamente se orgulhariam.
8

RESUMO

O delta do Rio Doce representa o principal ambiente deltaico do Espírito Santo,


e está localizado em uma área importante economicamente para o Estado,
além de ter o potencial de fornecer informações que permitem reconstruir
paleoambientes.
Nesse trabalho buscou-se analisar a configuração estratigráfica dos depósitos
sedimentares do lobo deltaico do Rio Doce, o que pode, além de auxiliar no
entendimento dos processos envolvidos na evolução sedimentar da costa,
fornecer alguns resultados que possam servir de base para instalações
submarinas.
Utilizou-se a sismoestratigrafia como método de análise, buscando sempre
incrementar as interpretações com o máximo de fatores interferentes (variação
relativa do nível do mar, aporte sedimentar, entre outros), e destacando
algumas correlações encontradas com a distribuição de ecocaráteres e com
resultados sedimentológicos da área. A partir da interpretação de registros
sísmicos de alta freqüência adquiridos próximo à desembocadura do Rio Doce,
foram reconhecidas duas unidades sísmicas que representam depósitos
sedimentares Holocênicos – constituintes do lobo deltaico do Rio Doce, e
depósitos interpretados como Pleistocênicos ou transgressivos.
Assim, foi possível construir um modelo de configuração estratigráfica que
permitiu inferir o limite de ocorrência dos depósitos do lobo deltaico do Rio
Doce.

Palavras-chave: sismoestratigrafia; delta; Rio Doce.


9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Depósitos Quaternários da Planície Costeira do Rio Doce. (Suguio et


al., 1982) ......................................................................................................... 16

Figura 2 - Esquematização da transmissão e da reflexão do sinal sísmico


conforme as diferentes impedâncias acústicas das camadas sedimentares.
(Fonte: Ayres Neto, 2000) ............................................................................... 19

Figura 3 - Esquema dos padrões de terminação de refletores nos limites


superior e inferior de uma sequência sísmica (Fonte: Mitchum Jr et al, 1977) 20

Figura 4 - Ilustração dos padrões de reflexão dentro de uma sequência sísmica.


Fonte: Ribeiro, 2000 ......................................................................................... 21

Figura 5 - Esquema das configurações de fácies sísmicas ( Mitchum et al,


1977) ............................................................................................................... 22

Figura 6 – Geometrias externas típicas de algumas unidades de fácies


sísmicas (Mitchum Jr. et al., 1977) .................................................................. 23

Figura 7 - Classificação morfológica de deltas em função da atuação


hidrodinâmica predominante. Fonte: Modificado de Galloway, 1975, apud Silva,
2004 ................................................................................................................. 24

Figura 8 - Unidades morfoestratigráficas: Planície deltaica, Frente deltaica e


Pró-delta. (Masselink e Hughes, 2003) ........................................................... 25

Figura 9 - Configuração estratigráfica representando topset, foreset e bottomset


em uma sequência vertical. Fonte: Modificado de Reading, 1979, por Silva et
al., 2004............................................................................................................ 26

Figura 10 - Indicação do local do levantamento sísmico (linhas em preto) ..... 28

Figura 11 – Mapa de ecocaráteres com as estações de coleta de sedimento . 32

Figura 12 – Linha sísmica – indicação do ecocaráter 2 (em verde) e do 1 (em


marrom), e presença de gás marcada em círculos amarelos. ......................... 33
10

Figura 13 - Linha sísmica (com localização indicada na porção superior


esquerda) com indicação das superfícies e unidades sísmicas interpretadas . 34

Figura 14 - Interpretação da linha sísmica localizada ao norte. Indicações:


Superfície S1 em vermelho; Superfície S2 em azul; Unidades sísmicas U1
(inferior) e U2. Clinoformas progradantes na U2 bem nítidas. ........................ 35

Figura 15 - Interpretação e indicação das superfícies e unidades sísmicas.


Reconhecimento da geometria em formato de cunha e de refletores inclinados
sigmoidais. ....................................................................................................... 36

Figura 16: Interpretação de um transecto sísmico – SO/NE (localização


indicada na parte superior esquerda da imagem). Indicação das superfícies,
das unidades sísmicas encontradas, da relação com os tipos de eco, e de um
pacote que foge das características padrões encontradas .............................. 36

Figura 17: Esquema ilustrando o modelo de configuração das unidades


sísmicas identificadas, acompanhado pelo gráfico da curva de paleoníveis
relativos do mar com a indicação do período de formação das unidades
sísmicas interpretadas (gráfico adaptado de Suguio et al., 1985) ................... 37

Figura 18: Mapa batimétrico (adaptado de Marangoni, 2009) com o limite de


ocorrência dos depósitos regressivos traçado em pontilhado .......................... 39
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12

2 OBJETIVOS .................................................................................................. 14

2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 14

2.2 Objetivo Específico.................................................................................. 14

3 ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................... 15

3.1 Localização e aspectos gerais ................................................................ 15

3.2 Evolução da Planície Costeira do Rio Doce durante o Quarternário ....... 16

4 SISMOESTRATIGRAFIA .............................................................................. 18

4.1 Considerações Iniciais ............................................................................ 18

4.2 Características do método sísmico ......................................................... 18

4.3 Padrões de terminações dos refletores sísmicos .................................... 19

4.4 Fácies sísmicas ....................................................................................... 21

5 AMBIENTE DELTAICO ................................................................................ 24

6 METODOLOGIA ........................................................................................... 28

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................. 30

8 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................ 40

9 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 41
12

1 INTRODUÇÃO

A análise evolutiva da configuração morfológica e sedimentar de uma região


costeira envolve diversos fatores a serem considerados em escalas espaço-
temporais variáveis, como dinâmica sedimentar associada à circulação de
correntes, variação relativa do nível do mar, aporte sedimentar, entre outros.
O estudo de ambientes deltaicos é, portanto, de enorme importância, visto que
são ambientes de interesse econômico e podem fornecer informações
ambientais que permitem a reconstrução de paleoambientes. De acordo com
Silva (2004), os deltas geralmente estão associados a rios de grande descarga
aportando em bacias nas quais os processos de ondas e marés são
insuficientes para dispersar os sedimentos que ali chegam, promovendo
progradação da linha de costa. São vários os fatores combinados que geram
variadas formas de deltas, e dentre tais fatores, Bhattacharya e Giosan (2003)
mencionam a descarga sedimentar fluvial, a assimetria de deltas gerada por
diferentes processos costeiros (por exemplo, a influência de correntes
longitudinais), e o contexto paleogeográfico. Além dessas numerosas forçantes
que interferem na evolução de deltas, Elliot (1989) ressalta que esses são
ambientes com conexões com sistemas fluviais, com sistemas de plataforma, e
eventualmente com mar aberto.
Com isso, o propósito de interpretar as terminações e configurações dos
refletores sísmicos do depósito sedimentar em frente à desembocadura do Rio
Doce está correlacionado com vários processos sedimentares, tectônicos e
eustáticos e auxiliará no entendimento da evolução Holocênica do pacote
sedimentar em questão.
Sabendo do grande potencial econômico da Bacia do Espírito Santo em
relação ao campo energético, focaliza-se nesse trabalho a região deltaica do
Rio Doce. Essa região está inserida na plataforma de Regência (ES), onde já
existem alguns campos produtores de gás e óleo, embora seja ainda
necessário o aprofundamento de estudos que envolvam morfologia e
estratigrafia dos depósitos sedimentares para o melhor entendimento dos
processos hidrodinâmicos e sedimentares. Assim, busca-se colaborar para
fundamentação de projetos para instalação de estruturas, determinação de
13

trajetórias de dutos, além de fornecer resultados que contribuem para o melhor


conhecimento da evolução sedimentar dessa região e de deltas de forma geral.
14

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral


Interpretar o depósito sedimentar holocênico de uma porção do lobo deltaico do
Rio Doce utilizando uma abordagem sismoestratigráfica.

2.2 Objetivos específicos


- Definir espacialmente a distribuição dos ecocaráteres
- Reconhecer superfícies e unidades sísmicas e associar aos processos
sedimentares de formação do depósito
- Definir o limite de ocorrência dos depósitos regressivos do lobo deltaico do
Rio Doce com base na sismoestratigrafia
15

3 ÁREA DE ESTUDO

3.1 Localização e aspectos gerais


A Bacia Hidrográfica do Rio Doce possui enorme importância para o Espírito
Santo e associada a ela há o principal ambiente deltaico presente no estado,
que vem sendo objeto de estudo desde a década de 1970. Embora os
trabalhos científicos nessa região tenham começado há bastante tempo, faltam
estudos que permitam o melhor entendimento da evolução do delta, além de
servirem de base de dados para eventuais necessidades.
A bacia hidrográfica do Rio Doce está situada na região Sudeste, entre os
paralelos 18°45' e 21°15' de latitude sul e os meridianos 39°55' e 43°45' de
longitude oeste, compreendendo uma área de drenagem de cerca de 83.400
km², dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante ao
Estado do Espírito Santo. O Rio Doce, com uma extensão de 853 km, recebe
este nome quando do encontro do Rio Piranga com o Rio do Carmo, e deságua
no oceano Atlântico no povoado de Regência, no Espírito Santo (Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio Doce).
As características climáticas foram descritas por Bandeira Jr. (1975, apud
Suguio et al., 1982) e podem ser sintetizadas como um clima, segundo a
classificação de Köppen, tropical quente e úmido com chuvas de verão e
inverno seco. Os ventos dominantes são os de nordeste e os de sudeste,
estando estes últimos associados à frente frias.
A planície deltaica do Rio Doce está localizada no Setor 2 da classificação de
Martin et al (1996), onde os depósitos quaternários encontram-se bem
desenvolvidos (Fig.1). De acordo com Mendes (1984), na planície deltaica do
Delta do Doce destacam-se cordões de areia, com estratificação paralela,
mergulhando levemente para o mar; às vezes observa-se estratificação
cruzada acanalada. Os depósitos arenosos da frente deltaica estendem-se até
os sedimentos prodeltaicos e são mais finos do que as areias dos cordões
litorâneos. Os depósitos de prodelta apresentam estratificação paralelo-
horizontal, com marcas onduladas e sinais de bioturbação.
16

Figura 1: Depósitos Quaternários da Planície Costeira do Rio Doce. (Suguio et al.,


1982)

3.2 Evolução da Planície Costeira do Rio Doce durante o Quaternário


As flutuações do nível relativo do mar durante o Quaternário na costa brasileira
propiciaram particularidades no desenvolvimento do delta do Rio Doce. Várias
investigações foram feitas (Suguio et al.,1982; Dominguez et al., 1983; Suguio
et al., 1985) analisando a sequência da sedimentação quaternária, o que gerou
até mesmo um questionamento, já refutado, sobre a validade da designação de
delta para esse ambiente em questão (Dominguez, 1990) devido a grande
contribuição para a progradação deltaica de sedimentos oriundos da deriva
costeira que acabam sendo bloqueados pela desembocadura fluvial –
semelhante a ação de um molhe artificial.
A evolução sedimentar quaternária pode ser descrita da seguinte maneira, de
acordo com Suguio et al. (1982). Primeiramente, há aproximadamente 120 mil
anos durante o máximo da transgressão Cananéia (Suguio e Martin, 1978,
apud Suguio et al., 1982), o nível do mar estava cerca de 8-10 metros acima do
17

atual, o que deixou os vales entalhados na Formação Barreiras afogados, com


o curso inferior do rio formando um grande estuário. Com o início da regressão
formaram-se terraços pleistocênicos e pontais arenosos que fecharam as
entradas dos vales afogados, formando-se lagunas. A última grande
transgressão teve início há aproximadamente 18 mil anos, e foi interrompida há
cerca de 6,5 mil anos, quando a transgressão atingiu um máximo e o nível do
mar permaneceu estacionário até cerca de 5,5 mil anos AP. Nesta época,
formaram-se ilhas barreiras que isolaram o sistema deltaico intralagunar, fato
comprovado por datações de radiocarbono de conchas de moluscos (Suguio et
al., 1982). Com a regressão subseqüente, entre 5.100 a 3.900 anos AP,
movimentos progradantes levaram ao domínio dos ambientes fluviais e à
abertura de uma saída para o oceano.
É válido ressaltar a constatação de Dominguez et al. (1983), que concluíram
que a progradação não se deu apenas à custa dos sedimentos expostos
durante a última regressão; importante papel pode ser atribuído a deriva
litorânea, que pode ter introduzido quantidades significativas de sedimentos na
planície costeira do Rio Doce.
18

4 SISMOESTRATIGRAFIA

4.1 Considerações iniciais


A sismoestratigrafia é uma ferramenta para identificação, mapeamento e
interpretação de sequências estratigráficas a partir da análise de dados
sísmicos, que inclui reconhecimento e interpretação dos padrões e das
configurações dos refletores (Urien et al, 2003; Lopes, 2004; Pontes, 2005;
Cruz, 2008).
Um dos fundamentos sismoestratigráficos é a análise das terminações e das
configurações das reflexões sísmicas, o que permite associações de conotação
cronoestratigráfica e correlações com variações relativas do nível do mar, bem
como com a evolução sedimentar de determinada região (Mitchum Jr. et al,
1977).
Outro princípio é a definição de unidades cronoestratigráficas a partir das
reflexões (interfaces, estratos, discordâncias); entretanto, os limites entre
unidades litológicas são muitas vezes transicionais ou gradacionais e não
produzem reflexões (Kearey et al, 2009). Dessa forma, reflexões sísmicas não
representam necessariamente contatos litológicos (Ribeiro, 2000).

4.2 Características do método sísmico


O método sísmico é uma investigação indireta que se baseia nas diferentes
velocidades de ondas sísmicas em diferentes meios. O sinal acústico sempre é
refletido quando encontra uma interface de diferente impedância acústica
(Fig.2), sendo esta última função de diversos fatores relacionados às
propriedades do meio; essas interfaces são registradas e designadas como
refletores sísmicos (Ayres Neto, 2000).
19

Figura 2: Esquematização da transmissão e da reflexão do sinal sísmico conforme as


diferentes impedâncias acústicas das camadas sedimentares. (Fonte: Ayres Neto,
2000)

Existem vários equipamentos de fonte sísmica de diferentes freqüências


emitidas, que definirão a aplicabilidade para determinadas finalidades de
acordo com a atenuação e a penetração do sinal sísmico. Seguindo nessa
linha, as fontes sísmicas de alta freqüência produzem melhor resolução,
permitindo aplicação na investigação de espessura de camadas rasas de
sedimentos, por vezes em uma resolução centimétrica, em estudos de
assoreamento de reservatórios, na caracterização da estratigrafia recente, com
resultados satisfatórios para a coluna sedimentar holocênica (Souza, 2006),
conforme objetivou esse trabalho.

4.3 Padrões de terminação dos refletores sísmicos


Para individualizar sequências ou unidades deposicionais, é interessante
identificar os padrões de terminação dos refletores sísmicos, que dentre os
principais estão onlap, toplap, downlap, truncamentos erosional e as
concordâncias (Mitchum Jr. et al, 1977), conforme ilustrado na figura 3.
20

Figura 3: Esquema dos padrões de terminação de refletores nos limites superior e


inferior de uma sequência sísmica (Fonte: Mitchum Jr et al, 1977).

Seguindo as descrições feitas por Mitchum Jr et al (1977) e Ribeiro (2000), no


limite superior temos o toplap com reflexões/estratos terminando lateralmente,
diminuindo gradualmente de espessura mergulho acima e ascendendo ao
limite superior. O toplap evidencia um hiato não deposicional e ocorre quando o
nível de base é muito baixo, a ponto de impedir a continuidade de deposição.
Em alguns casos pode ocorrer by-pass sedimentar e pequenas erosões acima
do nível de base.
Já o truncamento mostra terminações laterais por terem sido seccionadas de
seu limite deposicional original, podendo ser erosional ou estrutural (intrusão
ígnea, deslizamento gravitacional, fluxo de sal, ruptura estrutural).
No limite inferior (baselap) aparecem frequentemente dois tipos de
terminações: i) onlap - reflexão inicialmente horizontal terminando
deposicionalmente contra uma superfície inicialmente inclinada ou quando uma
reflexão com certa inclinação termina deposicionalmente mergulho acima
contra uma superfície de maior inclinação; ii) downlap - quando uma reflexão,
inicialmente inclinada, termina mergulho abaixo contra uma superfície
originalmente horizontal ou inclinada.
A concordância ou conformidade ocorre quando as reflexões/estratos de duas
unidades sísmicas ou sequências adjacentes se apresentam paralelas com as
superfícies que as delimitam.
21

Figura 4: Ilustração dos padrões de reflexão dentro de uma sequência sísmica. Fonte:
Ribeiro, 2000.

4.4 Fácies sísmicas


A identificação dos padrões de terminação de refletores ajuda a construir,
delimitar e interpretar fácies sísmicas. Fácies sísmica, de acordo com Mitchum
et al (1977), pode ser definida como um grupo de reflexões que apresentam
determinado padrão, ou conjunto de características, que o diferencia dos
grupos adjacentes dentro de uma sequência sísmica.
De acordo com Ribeiro (2000), na interpretação das fácies sísmicas são
descritos os parâmetros dos padrões de reflexão observados numa unidade
sísmica ou numa seqüência (como exemplos, configuração, continuidade,
amplitude, freqüência), e a partir daí interpreta-se o significado geológico. Os
principais padrões de configuração das reflexões para análise de fácies sísmica
estão ilustrados na Figura 5, e serão descritos conforme a concepção de
Mitchum et al (1977), Ribeiro (2000), Alves (1999) e Pontes (2005).
22

Figura 5: Esquema das configurações de fácies sísmicas. Fonte: Mitchum et al, 1977.

A configuração paralela/subparalela indica uma uniformidade da taxa de


deposição dos estratos sobre uma superfície estável, ou uniformemente
subsidente. São feições presentes em sistemas fluviais, evaporíticos, planícies
abissais e em plataforma. Refletores ondulados sugerem processos de
decantação, floculação e precipitação, podendo ocorrer em sistemas
evaporíticos e em planícies abissais (Ojeda, 1991, apud Pontes, 2005).
As configurações progradantes ocorrem em áreas onde os estratos
superpõem-se lateralmente, formando superfícies inclinadas denominadas
clinoformas. São produtos de processos sedimentares de tração, fluxo
gravitacional e decantação, presentes em sistemas deltaicos, na plataforma,
nas bordas de plataforma e em leques costeiros (Pontes, 2005). Os diferentes
tipos de clinoformas são resultados das variações de aporte sedimentar e
espaço de acomodação.
A configuração caótica é representada por reflexões descontínuas num arranjo
desorganizado. Esse tipo de configuração é interpretado como camadas
depositadas num ambiente variável de energia relativamente alta ou como a
deformação de estratos posteriormente à deposição. Cânions submarinos,
talude, estruturas de deslizamento, complexos de corte e preenchimento de
canais e zonas altamente falhadas, dobradas ou contorcidas podem ter
expressão sísmica caótica (Alves, 1999).
O padrão de fácies sísmica transparente mostra, geralmente, poucos refletores
e de baixa amplitude, indicando pouco contraste de impedância acústica,
23

podendo ser a expressão sísmica de unidades litológicas homogêneas e/ou


não estratificadas.
A configuração divergente é caracterizada por uma unidade em formato de
cunha em que a maior parte do espessamento lateral é acompanhada pelo
espessamento das camadas dentro da unidade. Podem ocorrer em deltas,
leques costeiros, taludes, planícies abissais, e sugerem variação espacial da
taxa de deposição ou inclinação progressiva, ou combinação de ambos (Alves,
1999).
Refletores hummocky consistem de reflexões irregulares e descontínuas, com
padrão ondulado não-sistemático. Em águas rasas são observados em
prodeltas ou ambientes interdeltaicos (Ribeiro, 2000).
A geometria das fácies sísmicas também é uma característica importante, que
pode fornecer informações sobre o tipo de deposição que ocorreu, e assim
permite inferências sobre o tipo de ambiente. A Figura X ilustra os principais
padrões de geometria de algumas unidades de fácies sísmicas.

Figura 6: Geometrias externas típicas de algumas unidades de fácies sísmicas


(Mitchum Jr. et al., 1977).
24

5 AMBIENTE DELTAICO
Por definição, deltas estão geralmente associados a rios com grande descarga
sedimentar aportando em bacias nas quais os processos costeiros como ondas
e marés são insuficientes para dispersar os sedimentos (Silva et al., 2004).
A morfologia do ambiente deltaico é resultante da combinação de vários
fatores, dentre os quais podem ser citados o regime fluvial, a ação de
processos costeiros, a área drenada associada com a fonte dos sedimentos, a
morfologia da plataforma continental, a tectônica, entre outros.
A conjugação resultante desses fatores dificulta a definição de uma
classificação que abranja todos essas forçantes. Por vezes, aparecem alguns
padrões de sedimentação que permitem a distinção de tipos deltaicos, além de
possibilitar a identificação de setores. Galloway (1975, apud Mendes, 1984)
propôs três tipos de deltas, conforme a predominância dos atuantes
hidrodinâmicos: i) deltas dominados por rios; ii) deltas dominados por ondas; iii)
deltas dominados por marés (Fig. 7).

Figura 7: Classificação morfológica de deltas em função da atuação hidrodinâmica


predominante. Fonte: Modificado de Galloway, 1975, apud Silva, 2004.
25

A distribuição sedimentar ao longo de um ambiente deltaico mostra,


horizontalmente, um afinamento granulométrico em direção ao mar, isto é, os
sedimentos mais grossos se depositam próximos à desembocadura, enquanto
os mais finos depositam-se na porção distal. Já numa seção vertical, observa-
se uma granuloascendência da base para o topo (ver, por exemplo, Masselink
e Hughes, 2003).
Essas características, que marcam uma progradação da linha de costa,
formam um modelo morfodinâmico (Fig.8) com três unidades
morfoestratigráficas: planície deltaica, frente deltaica e prodelta (Masselink e
Hughes, 2003).

Figura 8: Unidades morfoestratigráficas: Planície deltaica, Frente deltaica e Pró-delta.


(Masselink e Hughes, 2003)

A sedimentação na planície deltaica pode ser complexa, pois nessa zona


podem estar presentes diversas feições, como lagos, planícies de inundação,
e, dependendo da morfologia, diversos canais distributários. Contudo, os
depósitos sedimentares são chamados de topsets, que consistem geralmente
de sedimentos mais grossos, acamados horizontalmente ou com gradiente
muito suave, sobrepondo os sedimentos de uma antiga frente deltaica.
A frente deltaica é a transição da planície deltaica até a região do pró-delta.
Apresenta depósitos conhecidos como foresets, os quais são constituídos por
areias e siltes e marcam a região de maior sedimentação de deltas
26

progradantes. Esta região marca o depósito progradacional, formando as


clinoformas, que são acamamentos inclinados na direção da progradação.
A região de pró-delta não aparece necessariamente em todos os deltas, sendo
uma região que apresenta somente sedimentos bem finos (silte e argila)
depositados em águas mais profundas, em condições de baixa turbulência.
Esses depósitos formam os bottomsets, geralmente acamados em sequência
levemente inclinada, que poderão ser recobertos por sedimentos da frente
deltaica e posteriormente por areias de praia em uma grande escala temporal.

Figura 9: Configuração estratigráfica representando topset, foreset e bottomset em


uma sequência vertical. Fonte: Modificado de Reading, 1979, por Silva et al., 2004.

A respeito da arquitetura dos depósitos deltaicos, é importante destacar o papel


dos ciclos de mudanças do nível relativo do mar, que podem produzir registros
importantes na sequência estratigráfica dos depósitos e assim auxiliar no
entendimento da evolução sedimentar de determinado ambiente.
Elliot (1989) e Porebske & Steel (2006) deram contribuições importantes para a
compreensão da influência das variações do nível relativo de mar na evolução
27

de sistemas deltaicos. Segundo a visão dos autores mencionados


anteriormente, o balanço entre o aporte sedimentar e as variações relativas do
nível do mar permitem a progradação da feição deltaica.
Porebske & Steel (2006) propõem ainda uma abordagem para classificação de
sistemas deltaicos que envolve a evolução desses ambientes regressivos de
acordo com a posição sobre a plataforma.
Liquete et al. (2008) conseguiram reconhecer 5 unidades sísmicas na
plataforma continental prodeltaica de Barcelona, dentro de um contexto
cronoestratigráfico pelo método sismoestratigráfico. Os resultados desse
estudo indicaram a importância das variações globais do nível relativo do mar
na formação dos depósitos; contudo, a preservação desses depósitos parece
ser principalmente controlada por fatores como o fluxo sedimentar oriundo de
rios, o espaço de acomodação, a subsidência e a compactação do pacote de
sedimentos, a morfologia local e, em menor escala, a atividade neotectônica.
28

6 METODOLOGIA
O estudo sismoestratigráfico foi realizado a partir de registros sísmicos de alta
freqüência obtidos com o perfilador de subfundo modelo Stratabox, o qual
emite pulsos na faixa de 10 kHz. Os dados foram coletados na plataforma
interna adjacente a desembocadura do Rio Doce (Fig. 10), em fevereiro de
2011, e posteriormente analisados no software SonarWizMAP-4, da
Cheasepeak Technology.
A abordagem sismoestratigráfica permitiu a interpretação dos depósitos a partir
do reconhecimento de terminações dos refletores (com base em Mitchum Jr.,
1977), da identificação de ecocaráteres e de fácies sísmicas, e posterior
contextualização cronoestratigráfica dentro do cenário evolutivo do ambiente
deltaico do Rio Doce.

Figura 10: Indicação do local do levantamento sísmico (linhas em preto).


29

Para melhor compreensão e definição da classificação dos ecocaráteres foram


agrupados aos dados sísmicos, resultados sedimentológicos de amostras de
sedimento superficial (9 Estações de coleta) coletadas com uma draga do tipo
Van-Veen. O tratamento das amostras consistiu no procedimento de lavagem
das amostras, que foram então peneiradas para definir os teores de lama e de
areia. O processamento e análise das amostras foram feitos pela aluna
Estefânia Godinho, que cedeu os dados para a análise realizada nessa
monografia.
30

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira parte dos resultados consiste no reconhecimento de ecocaráteres a
partir da assinatura sísmica dos registros sísmicos – penetração do sinal,
reflexão superficial e refletores de subfundo (Damuth, 1975), e posteriormente
correlacionar a resposta acústica do registro sísmico com o tipo de sedimento
superficial. Esse tipo de análise auxilia na compreensão dos principais
processos sedimentares atuantes.

Assim, foi possível reconhecer três padrões principais de eco: i) Ecocaráter tipo
1: caracteriza-se pela alta penetração do sinal, com refletor superficial de alta
reflexão e a presença de vários refletores subsuperficiais acompanhando o
fundo; nesse tipo 1 observou-se, eventualmente, a presença de gás e formas
de fundo; ii) Ecocaráter tipo 2: caracterizado pela baixa penetração do sinal
acústico e o refletor superficial de alta reflexão; iii) Ecocaráter tipo 3: refletor
superficial de baixa reflexão associado a um refletor subsuperficial de alta
reflexão; eventualmente aparecem pacotes que parecem indicar a presença de
lama.

Tabela 1: Ecocaráteres

Ecocaráter

Tipo 1: caracteriza-se pela alta


penetração do sinal, com
refletor superficial de alta
reflexão e a presença de
vários refletores
subsuperficiais acompanhando
o fundo; estruturas de gás nos
sedimentos.
31

Tipo 2: caracterizado pela


baixa penetração do sinal
sísmico; refletor superficial de
alta reflexão.

Tipo 3: refletor superficial de


baixa reflexão, associado a um
refletor subsuperficial de alta
reflexão; eventualmente
aparecem pacotes que indicam
a presença de lama.

É possível observar no mapa de ecocaráteres (Fig. 11) alguma alternância


entre os ecos tipo 1 e tipo 3. Os dois tipos de assinatura sísmica mostram
alguma penetração do sinal sísmico no pacote sedimentar, o que parece estar
associado à grande quantidade de sedimento lamoso presente oriundo da
desembocadura do Rio Doce. Já o eco tipo 2 aparece principalmente nas áreas
mais profundas e distantes da costa; pela sua configuração (alta reflexão e
pouca penetração), esse tipo de registro está representando um sedimento
mais reflexivo (ver teor de areia na Tabela 2), e sugere a indicação de uma
área com processos sedimentares típicos de plataforma.
Vale ressaltar ainda, que no ecocaráter 1 é possível identificar freqüentes
trechos do registro nos quais o sinal ficou ausente devido a diferença de
impedância acústica, o que foi interpretado como presença de gás no pacote
sedimentar. Grossmann (2002) menciona a presença de matéria orgânica
combinada com alta taxa de sedimentação como características comuns de
estuários que criam condições apropriadas para a geração e preservação de
gás biogênico. Embora não tenha sido feita nenhuma análise desse material,
32

as condições locais provavelmente contribuem para acumulação de gás


biogênico.

Figura 11: Mapa de ecocaráteres com as estações de coleta de sedimento.


33

A Tabela 2 abaixo apresenta os resultados dos teores de lama e de areia para


cada uma das estações de coleta do sedimento superficial. Observa-se que o
teor de lama é bem alto em todas as amostras; a única que mostrou um teor de
areia mais alto (Estação 04) está localizada em um local onde o ecocaráter tipo
2 apareceu na classificação de acordo com o Mapa de ecocaráteres (Fig. 11).
Dessa forma, o tipo de sedimento superficial parece ser um dos principais
fatores que atuam na definição do ecocaráter do registro sísmico (penetração
do sinal maior onde há maiores teores de lama).

Tabela 2: Resultados do tratamento sedimentológico das amostras de sedimento


superficial.
Estação de coleta Teor de areia Teor de lama

Estação 01 10,4% 89,6%


Estação 02 11,9% 88,1%
Estação 03 5% 95%
Estação 04 50,5% 49,5%
Estação 05 10,8% 89,2
Estação 06 13,9% 86,1%
Estação 07 9,7% 90,3%
Estação 08 26,2% 73,8%
Estação 09 4,7% 95,3%

Figura 12: Linha sísmica – indicação do ecocaráter 2 (em verde) e do 1 (em marrom),
e presença de gás marcada em círculos amarelos.

Nessa linha sísmica (Fig.12), que está localizada mais ao norte do


levantamento, é possível notar que o ecocaráter tipo 2 aparece nas partes mais
34

profundas (mais distantes da costa), provavelmente começando a sair do lobo


deltaico, a partir dos 25 metros aproximadamente. O trecho restante representa
o ecocaráter tipo 1, com a presença de gás marcada em círculos amarelos, e
refletores plano-paralelos bem nítidos. Tal região sugere ser essa uma área de
frente deltaica.

Sismoestratigrafia
A partir da análise sismoestratigráfica foram reconhecidas superfícies sísmicas
nos registros que indicam momentos transgressivos e regressivos, e que
permitiram individualizar duas unidades sísmicas do arcabouço estratigráfico.
As superfícies sísmicas foram nomeadas como S1 e S2. A superfície S1
aparece irregular nas regiões mais próximas à costa, sotoposta ao depósito
deltaico, e eventualmente ela aflora nas partes mais profundas, tornando-se o
fundo do mar atual. O sinal sísmico não mostrou boa penetração quando
encontrou essa superfície, além disso, ela desaparece no registro quando há
presença de gás no sedimento. Ela superfície foi interpretada como
transgressiva, limitando, abaixo dela, depósitos pleistocênicos ou de mar baixo.
Já a superfície S2 permitiu maior penetração do sinal acústico, e foi
interpretada como regressiva. Nas partes mais próximas da costa ela
representa o fundo do mar, e se estende até onde vão os depósitos
regressivos, como se observa na Figura 13.

Figura 13: Linha sísmica (com localização indicada na porção superior esquerda) com
indicação das superfícies e unidades sísmicas interpretadas.

Foram identificadas duas unidades sísmicas (U1 e U2). É válido mencionar que
pela hierarquia sísmica, essas unidades aqui definidas poderiam ser tratadas
35

como fácies sísmicas, e subdividir cada fácie sísmica em mais sismo-unidades;


entretanto, como não se sabe ao certo a escala temporal que está envolvida
nesses registros sísmicos, optou-se por trabalhar com unidades sísmicas que
representam momentos de nível relativo do mar.
A unidade sísmica (U1) aparece limitada no topo pela superfície transgressiva
S1, e sua estratigrafia não é bem nítida, ora pela baixa penetração do sinal, ora
pela limitação de visualização do método; sendo assim, não foi possível
classificar o formato dessa unidade pela classificação das geometrias externas.
A expressão sísmica dessa unidade está associada ao ecocaráter tipo 2, cuja
penetração do sinal é baixa e não possibilita a identificação de estruturas
internas. A unidade U1 foi interpretada como representante de depósitos de
nível do mar baixo ou depósitos pleistocênicos.
O pacote sedimentar delimitado entre as superfícies sísmicas S1 e S2 foi
reconhecido como unidade sísmica U2, que foi interpretado como
representante dos depósitos regressivos do lobo deltaico do Rio Doce. As
características dos registros sísmicos dessa unidade, por estar limitada no topo
pela superfície S2 (que permitiu penetração do sinal sísmico), podem ser
correlacionadas ao ecocaráter tipo 1, e portanto sua estratigrafia foi mais
nitidamente visualizada; foi possível reconhecer refletores inclinados na forma
de clinoformas sigmoidais com terminações em downlap sobre a superfície S1
(ver Fig. 14 e Fig. 15), o que indica a progradação costeira. A U2 possui
geometria em forma de cunha, com o afinamento dos depósitos até que a
superfície S1 aflore no fundo do mar, indicando assim um possível limite de
ocorrência dos depósitos regressivos que formam o lobo deltaico do Rio Doce.

Figura 14: Interpretação da linha sísmica localizada ao norte. Indicações: Superfície


S1 em vermelho; Superfície S2 em azul; Unidades sísmicas U1 (inferior) e U2.
Clinoformas progradantes na U2 bem nítidas.
36

Figura 15: Interpretação e indicação das superfícies e unidades sísmicas.


Reconhecimento da geometria em formato de cunha e de refletores inclinados
sigmoidais.

É interessante destacar que a interpretação das superfícies e unidades


sísmicas nos registros mostrou-se coerente com a distribuição dos
ecocaráteres: a superfície S1associada ao ecocaráter tipo 2 e a superfície
sísmica S2 associada ao ecocaráter tipo 1 (Fig. 16).

Figura 16: Interpretação de um transecto sísmico – SO/NE (localização indicada na


parte superior esquerda da imagem). Indicação das superfícies, das unidades
sísmicas encontradas, da relação com os tipos de eco, e de um pacote que foge das
características padrões encontradas.

Na linha sísmica da Figura 16, aparece no final um pacote sedimentar menos


reflexivo, no momento em que a superfície sísmica S1 parece mergulhar
37

novamente. Esse pequeno depósito registrado pode ser indicativo de alguns


processos eventuais, entretanto, para uma avaliação mais precisa seriam
necessários mais dados, como uma extensão dessa linha sísmica ou
testemunhagens do pacote sedimentar nesse local.
Uma síntese das interpretações sísmicas feitas nesse trabalho é observada no
modelo ilustrado na Figura 17, acompanhado do gráfico da curva de nível
relativo do mar para a costa leste brasileira (Suguio et al, 1985).

Figura 17: Esquema ilustrando o modelo de configuração das unidades sísmicas


identificadas, acompanhado pelo gráfico da curva de paleoníveis relativos do mar com
a indicação do período de formação das unidades sísmicas interpretadas (gráfico
adaptado de Suguio et al., 1985).
38

Assim, o conceito aplicado nas interpretações é que a superfície S1,


transgressiva, marca o limite dos depósitos de mar baixo, ou seja, abaixo dela
estão os depósitos pleistocênicos (unidade sísmica U1). No período de rápida
subida do nível relativo do mar não foi possível observar um registro
sedimentar nos dados sísmicos analisados, ou por limitação do equipamento,
ou por não ter ficado um depósito sedimentar. Com a descida do nível do mar,
a influência da sedimentação oriunda do Rio Doce aumentou, e assim foi
possível interpretar outra superfície sísmica, regressiva (S2). Assim, foi
interpretado nesse trabalho que a unidade U2 possui aproximadamente 5000
anos, e é alimentada pelos sedimentos oriundos da desembocadura do Rio
Doce, e eventualmente outros sedimentos retrabalhados de cordões litorâneos,
enquanto a unidade U1, sendo pleistocênica, só continua sendo soterrada ou
retrabalhada nas partes onde ela aflora (nas maiores profundidades), por
sedimentos trabalhados por processos típicos de plataforma.
A partir de todas essas interpretações dos registros sísmicos, é possível
realizar uma estimativa da extensão de ocorrência da unidade sísmica U2, cujo
limite representa, nesta interpretação, até onde chegam os depósitos
regressivos que formam o lobo deltaico do Rio Doce. Esse limite não forma
necessariamente um desenho alinhado com a costa, pois as influências em
cada região são diferentes (proximidade com desembocaduras de rios,
Plataforma de Abrolhos, entre outros fatores).
Esse limite de ocorrência da U2 foi delineado sobre um mapa batimétrico da
região (adaptado de Marangoni, 2009). Primeiramente observou-se no software
SonarWizMap 4 as coordenadas do ponto no qual a superfície S1 aflora na
superfície do fundo mar em cada linha sísmica; assim, foram plotados no mapa
batimétrico essas coordenas, e posteriormente traçado o limite (linha
pontilhada) dos depósitos regressivos da unidade sísmica U2 (mapa da Fig.
18).
A linha que representa o limite da extensão dos depósitos do lobo deltaico (U2)
traçada no mapa batimétrico ficou restrita entre as isóbatas de 25 m e 30 m.
Esse resultado é relativamente coerente, visto que as coordenadas marcadas
no SonarWizMap 4 apresentaram os seguintes valores de profundidade: a)
linha mais ao norte: 25,4 m; b) linha NO-SE: 30,5 m; c) linha SO-NE: 25,9 m; d)
39

linha mais ao sul: 27,3 m. Além disso, o limite traçado mostra relação com a
distribuição dos ecocaráteres definidos anteriormente.

Figura 18: Mapa batimétrico (adaptado de Marangoni, 2009) com o limite de


ocorrência dos depósitos regressivos traçado em pontilhado.

No estudo de Neil & Allison (2005), por meio da análise de transectos sísmicos
e um conjunto de dados sedimentares (análise radioquímica, sedimentológica,
e testemunhagem), os autores conseguiram definir o limite aproximado do delta
submerso do Rio Atchafalaya (Louisiana, EUA). Nos registros sísmicos também
apareceram as clinoformas progradantes e presença de gás nos sedimentos.
40

8 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS


• Foram identificados três padrões de ecocaráteres, que auxiliaram no
entendimento dos processos sedimentares e foram correlacionados com a
análise sismoestratigráfica.
• Os resultados dos teores de lama e de areia corroboraram os tipos de eco
encontrados de acordo com a penetração do sinal.
• Foram reconhecidas duas superfícies sísmicas (S1 e S2), que foram
interpretadas como a representação de dois momentos diferentes de nível
relativo de mar – transgressivo e regressivo, respectivamente.
• A partir das superfícies S1 e S2, foi possível individualizar duas unidades
sísmicas – U1 e U2.

• O limite de ocorrência de U2 foi traçado e interpretado como limite da


extensão dos depósitos regressivos do lobo deltaico do Rio Doce, mostrando
correlação com os ecocaráteres.
• É interessante que esse tipo de estudo seja realizado para outras partes da
costa do Espírito Santo para verificar se esse padrão encontrado se estende
para o sul e para o norte.
41

9 REFERÊNCIAS

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