Pedruzzi. C Simulacao Computacional de Pluma Do Rio Doce
Pedruzzi. C Simulacao Computacional de Pluma Do Rio Doce
Pedruzzi. C Simulacao Computacional de Pluma Do Rio Doce
CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
VITÓRIA
2011
CHRISTIAN VASCONCELLOS PEDRUZZI
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Ambiental, do Centro
Tecnológico da Universidade
Federal do Espírito Santo, como
requisito parcial para a obtenção
do Grau de Mestre em Engenharia
Ambiental.
Área de Concentração: Recursos
Hídricos
Orientador: Prof. Dr. Daniel Rigo
VITÓRIA
2011
1
CHRISTIAN VASCONCELLOS PEDRUZZI
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________
Prof. Dr. Daniel Rigo
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador
__________________________________
Prof. Dr. Edmilson Costa Teixeira
Universidade Federal do Espírito Santo
Examinador Interno
__________________________________
Prof. Dr. Moacyr Cunha de Araujo Filho
Universidade Federal de Pernambuco
Examinador Externo
2
DEDICATÓRIA
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, familiares, amigos e antepassados por me darem força nos momentos
de dificuldade e felicidade.
4
RESUMO
A bacia hidrográfica do Rio Doce abriga em sua parte baixa a região norte do Espírito
Santo e tem suas águas requeridas para diferentes usos, o que a torna cada vez mais
economicamente e ambientalmente importante. Na região costeira norte do Espírito
Santo deságua, no oceano, a pluma fluvial desta bacia, que influência grande parte das
características ambientais no entorno da foz.
O objetivo do presente estudo foi simular a pluma fluvial do Rio Doce e estudar seu
comportamento no oceano, utilizando o sistema de modelos computacionais SisBsHiA,
com a aplicação do modelo 2DH e do modelo lagrangeano. O modelo 2DH foi
utilizado para geração dos campos de velocidade, enquanto o modelo Lagrangeano foi
utilizado na simulação do comportamento da pluma do rio em diferentes cenários, nos
quais foram analisados seus principais padrões comportamentais e processos
hidrodinâmicos, associados as forçantes naturais.
O modelo 2DH foi calibrado com o uso de dados de maré e de correntometria e seus
resultados foram utilizados nos estudos das forçantes ambientais e foram acoplados ao
modelo lagrangeano para o estudo da dinâmica da pluma. Os resultados do modelo
lagrangeano foram contrastados com imagens de satélite, para análise do modelo e
estudo da pluma.
A análise dos resultados indicou que o vento tem atuação predominante sobre a
dinâmica da pluma, entretanto sua importância é sobrepujada pela vazão do rio e maré
quando sua intensidade diminui. Foram identificados um padrão de comportamento da
pluma associado a incidência de ventos NE e um padrão associado a ventos SE, ambos
com alta intensidade. O uso do modelo lagrangeano em conjunto com imagens de
satélites permitiu a identificação de características da dinâmica de plumas, em geral e da
pluma do Rio Doce, observadas na revisão de literatura. Entretanto, os resultados
obtidos foram considerados com ressalvas, pois o modelo apresentou melhor
aplicabilidade para condições de vento de alta intensidade. Este fato possivelmente
ocorre devido às limitações do método 2DH, as características dos dados de entrada do
modelo e as simplificações adotadas quanto às características ambientais da pluma e da
região costeira.
5
ABSTRACT
The Doce River hydrographic basin houses in its lower part the northern part of Espírito
Santo and has its water required for different uses, which increases the economic and
environmental importance of these river over time. In the northern coast of Espírito
Santo discharges its fluvial plume , which highly influences the surrounding river mouth
natural characteristics.
The aim of this study is to simulate the Doce River fluvial plume and study its behavior.
The study is carried out through 2DH model and a lagrangean model. 2DH model was
calibrated and its results were employed to study the mechanism which controls the
plume. Lagrangean model results were compared with satellite images to analyze the
model and plume behavior.
Results indicated that wind effect figures as the main mechanism controlling plume
behavior, however its importance is overwhelmed by the river outflow and tide effect,
when its intensity diminishes. Two behavior patterns were observed associated with NE
wind incidence and SE wind incidence, both with high intensity. The application of
lagrangeano model associated with satellites images allowed the characterization of
plume dynamics, has observed in the literature about this issue. However, better results
were achieved for high wind conditions, thus caution is needed to result interpretation.
Such results can be explained due to 2DH method limitations and environmental
characteristics simplifications.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura.3.1 - Classificação de deltas fluviais, com deltas dominados pelo rio, por ondas e
por maré. Fonte: Adaptado de Galloway, (1975, apud DAVIS JR e FITZGERALD,
2004). ......................................................................................................................... 18
Figura 3.2- Plot vermelho: série temporal das componentes Leste (superior) e Norte
(inferior) dos vetores de correntes medidas por ASA (2003) a 2m de profundidade nas
coordenadas 19º 41,7’S e 39º 49,8’W. Plot azul: mesma série temporal subtraída da
forçante maré (componentes M2 e S2). Período dos dados: 12/10 a 14/11/2002, dt= 20
min.Fonte: ASA, 2003 apud Campos, 2011. ................................................................ 24
Figura 3.3- Imagem aérea da foz do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo.
Fonte:INPE,2010 ........................................................................................................ 27
Figura 4.4- Mapa batimétrico gerado pela interpolação de dados de cartas náuticas e
campanha de levantamento batimétrico. ...................................................................... 40
Figura 5.1- Rosa dos ventos referentes aos dados do período entre 2000 e 2010 para
7
região da foz do Rio Doce. .......................................................................................... 52
Figura 5.2- Dados maré simulados e medidos in situ, para campanha de medição
maregráfica de 19/03/2010 a 24/03/2010 ..................................................................... 54
Figura 5.3- Dados do módulo da velocidade simulados e medidos in situ, para duas
campanhas: A) de 09/03/2009 a 16/03/2010; B) 29/05/2008 a 05/06/2008. .................. 55
Figura 5.4- Dados de direção das correntes simulados e medidos in situ, para duas
campanhas: A) de 09/03/2009 a 16/03/2010; B) 29/05/2008 a 05/06/2008................... 56
Figura 5.5- Série temporal da variação da elevação da superfície da água simulados nos
cenários 1 e 2. ............................................................................................................. 57
Figura 5.6-Série temporal, com dados a cada seis horas, do módulo da velocidade do
vento, gráfico A, e ângulo do vento, gráfico B, utilizados na simulação do cenário 2. . 58
Figura 5.13- Série temporal do ângulo dos vetores de vento e ângulo dos vetores de
velocidade da corrente, a cada seis horas, resultantes das simulações. ......................... 66
8
Figura 5.14 - Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 3, com indicação
circular quanto a principal observação. Quadro abaixo - distribuição das particulas no
instante 15:00:00 do dia 7/5/2001. ............................................................................... 69
Figura 5.15 - Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
5/5/2001. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
6/5/2001. ..................................................................................................................... 70
Figura 5.17- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
29/9/2005. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
30/9/2005. ................................................................................................................... 73
Figura 5.18- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 5, com indicção
linear quanto a principal observação. Quadro abaixo - distribuição das particulas no
instante 15:00:00 do dia 14/4/2009. ............................................................................. 76
Figura 5.19- Quadro acima - imagem de satélite do dia 19/04/2009 obtidas pelo satélite
Cbers. Quadro abaixo - imagem de satélite do dia 19/01/2004 obtidas pelo satélite
Cbers. ......................................................................................................................... 77
Figura 5.20- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
12/4/2009. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
13/4/2009. ................................................................................................................... 78
Figura 5.21- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 6, com indicações
circulares quanto as principais observações. Quadro abaixo - distribuição das particulas
no instante 15:00:00 do dia 5/4/2005. .......................................................................... 80
Figura 5.22- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
3/4/2005. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
4/4/2005...................................................................................................................... 81
9
Figura 5.24- Quadro acima - imagem de satélite do dia 16/08/2000 obtidas pelo satélite
Landsat 5. Quadro abaixo - imagem de satélite do dia 23/05/2001 obtidas pelo satélite
Landsat 7. ................................................................................................................... 85
Figura 5.25- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
16/7/2005. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
17/7/2005. ................................................................................................................... 86
Figura 5.26- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 8 , com indicações
quanto as principais observações. Quadro abaixo - distribuição das particulas no
instante 15:00:00 do dia 11/4/2006. ............................................................................. 88
Figura 5.27- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
9/4/2006. Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia
10/4/2006. ................................................................................................................... 89
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1- Vazão media mensal do Rio Doce referentes. Fonte: Coelho (2007) .......... 28
Tabela 4.2 - Vazões do Rio Doce na estação de Colatina e em sua foz. ........................ 42
Tabela 4.3 - Constantes harmônicas da Barra do Rio Doce impostas no contorno aberto.
................................................................................................................................... 45
Tabela 4.4 - Resumo das condições de contorno consideradas nas simulações. ............ 46
Tabela 5.0- Resultados do critério de comparação entre os erros médios obtidos, para
maré e correntes(magnitude), segundo Cawley & Hartnett (1992) e critério de avaliação
da direção de corrente, segundo Odd & Murphy
(1992)...............................................................................................................................53
Tabela 5.1- Cenários e respectivas imagens de satélite e condições ambientais. ........... 67
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14
2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 16
12
4.2.4 Equações básicas do modelo lagrangeano ............................................... 35
5.2 Calibração..................................................................................................... 52
6 CONCLUSÕES .................................................................................................. 92
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 94
13
1 INTRODUÇÃO
O oceano costeiro pode ser considerado um receptor de água doce e materiais drenados
trazidos pela contínua descarga dos rios. Do ponto de vista físico o local onde este
fenômeno ocorre, os estuários, pode ser considerado uma fonte de liberação de um
fluido mais leve em um fluido mais denso, resultando em uma pluma de águas do rio
sobre o oceano, também chamadas de plumas (LIU et al.,2008). As plumas atuam no
transporte de sedimentos, nutrientes, materiais orgânicos e poluentes do continente para
os oceanos. Em contrapartida, os oceanos, devido às forçantes naturais como maré e
vento, percolam suas águas em parte das bacias hidrográficas dos rios afetando
processos naturais e atividades antrópicas nos estuários (STACEY, 1999).
14
gestão de recursos hídricos. Dentro deste escopo, diversos modelos são encontrados e
vastamente aplicados como, por exemplo, o Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental
(SISBAHIA). Diante da aplicabilidade deste e de outros modelos computacionais a
ambientes estuarinos, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos como ferramentas de
análise acadêmica e gestão ambiental (AMARAL, 2003; NOGUEIRA, 2006;
PEREIRA, 2006; DIAS, 2007; SALDANHA, 2007; BARBOSA, 2008; ARENTZ,
2009).
Na foz do Rio Doce e sua região costeira adjacente foram realizadas algumas pesquisas
de modelagem computacional e processamento de imagens de satélite. No tocante a este
ultimo, destacam-se os estudos de Coelho (2007), Zoffoli (2011) e Campos (2011), onde
o primeiro analisou a dinâmica sedimentar da foz do Rio Doce, e os demais
pesquisaram a pluma fluvial do Rio Doce e sua distribuição no oceano. No que tange a
modelagem computacional, destaca-se o estudo de ASA (2003, apud. Campos, 2011)
que analisou a hidrodinâmica da pluma do Rio Doce, utilizando também a avaliação de
dados coletados in situ.
15
2 OBJETIVOS
16
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 PLUMAS
De acordo com Kourafalou (1996) uma pluma pode ser definida como uma estrutura
dinâmica resultante da descarga de um fluido de menor densidade em um fluido de
maior densidade, que contribui como uma fonte de momentum. Do ponto de vista de
estudos costeiros as plumas são o resultado da descarga de rios, material continental
drenado, nos oceanos.
De acordo com Mann & Lazier (2006) as plumas costeiras podem ser classificadas
como plumas fluviais e estuarinas. Na primeira há um domínio da descarga do rio sobre
os efeitos de marés resultando em uma liberação direta de água doce continental em
direção ao mar. Na segundo, os efeitos das marés dentro do estuário promovem a
mistura da maior parte da água provinda da drenagem continental. Apesar desta
classificação, uma série de variações do termo foi observada na literatura científica:
pluma do rio (MESTRES, 2007); pluma boiante ou pluma flutuante (YANKOVSKY, et.
al, 2001); pluma estuarina ( KOURAFALOU, 1996) e pluma de água doce ( XING &
DAVIES, 1999). A ampla variação de termos para se definir um mesmo fenômeno se
explica pela diversidade de profissionais que estudam as plumas.
3.2 ESTUÁRIOS
De maneira geral, a definição do que é um estuário pode variar de acordo com o foco de
estudo ou até mesmo com o profissional que realiza o estudo. Os profissionais da área
ambiental adotam o termo para definir a região interior de um ambiente costeiro que se
estende rio acima até o limite de influência da maré, sendo marcante a característica de
17
interação das águas do rio com a do mar. Esta interação pode estender-se até a
plataforma continental adjacente, caracterizando a chamada pluma estuarina, levando
muitos pesquisadores a também considerar essa região como parte do estuário
(MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002).
Figura.3.1 - Classificação de deltas fluviais, com deltas dominados pelo rio, por ondas e por
maré. Fonte: Adaptado de Galloway, (1975, apud DAVIS JR e FITZGERALD, 2004).
18
3.3 MODELAGEM COMPUTACIONAL
A descrição dos processos hidrodinâmicos nos ambientes costeiros pode ser expressa
por equações diferenciais. Estas equações baseiam-se nas leis de conservação de massa
(equação da continuidade), conservação de substâncias (equação da difusão de
substâncias, e.g. sal), transporte de calor (equação da condução de calor) e conservação
de momentum (equação do movimento) (HOLZ e SUNDERMAN, 1980). O conjunto
destas equações é chamado de modelo matemático.
Yankovisky & Chapman (1997) propuseram que a estrutura das plumas pode ter uma
variedade de formas dependendo da circulação do ambiente. Entretanto, a maioria das
plumas pode ser categorizada pelas formas de interação com o fundo. Diante dessa
premissa, as plumas podem ser classificadas em pluma advectada pelo fundo (PAF),
pluma superficialmente advectada (PSA) e pluma intermediária (PIN). As PAF
acompanham as corrente costeiras mantendo o contato com o fundo, com densidade
20
igual em toda a coluna de água. Nas PSA mantêm-se na camada superficial da água
formando uma camada fina. Este tipo de pluma pode se espalhar por longas distâncias
sobre a plataforma continental e tem pouco ou nenhum contato com o fundo. As PIN
ocorrem com freqüência, principalmente quando se espalham no sentido da plataforma
continental, mantendo contato com o fundo por certa distância e posteriormente
perdendo contato com o substrato do fundo. Portanto, a parte da pluma próxima ao
continente será uma PAF e parte distal será uma PSA. No mesmo estudo, Yankovisky e
Chapman (1994) sugerem que a geometria da plataforma continental adjacente a foz e a
geometria da desembocadura influenciam diretamente no tipo de pluma a ser formada.
Valores elevados de declividade da plataforma continental geralmente formam PSA.
Valores baixos de declividade formam PAF. Profundidades de desembocaduras
superiores a profundidade de seu oceano adjacente formam PSA. Apesar das valiosas
informações desse estudo, a complexidade morfológica dos ambientes estuarinos e
costeiros exige que outros parâmetros sejam também adotados para a compreensão do
comportamento das plumas.
A variação da vazão do rio é um dos fatores que podem modificar a dinâmica de uma
pluma. Vazões elevadas propiciam a criação de vórtices que se desprendem da pluma,
pois nessas situações as plumas atingem longas distâncias e possuem quantidades
elevadas de água menos densa. Vazões altas e baixas propiciam a formação de vórtices
ao redor da pluma e próximos a costa. Os vórtices, por sua vez, dominam a dinâmica na
região de descarga do rio, provocando a advecção da água do entorno da pluma. Estes
processos tendem a se intensificar dramaticamente quando há ocorrência correntes
costeiras.
Xing & Davies (1999) ao estudarem o Rio Ebro, via modelagem e dados de campo,
observaram que a corrente superficial gerada por ventos possui forte influência sobre a
circulação da pluma e altera significativamente o seu comportamento. Contudo, sua
atuação limita-se a uma camada superficial, cuja espessura esta relacionada a
intensidade do vento. Os estudos de Liu et al. (2008) no Rio Danshui e de Yankovisky
et al.(2001) corroboram com Xing & Davie (1999) e indicam que o comportamento da
pluma pode estar diretamente relacionado a direção e intensidade do vento, entretanto, a
variedade de padrões de comportamento da pluma para um mesmo vento pode estar
associada a diferentes anomalias de densidade (provocadas principalmente pela vazão
21
do rio) e variação de maré, que apesar de possuírem menor influência que o vento,
fomentam o aumento a área da pluma.
De acordo com Rennie (1999 apud FONG & GEYER, 2002), devido a sua sensibilidade
a forçantes ambientais, as plumas naturais muitas vezes não se assemelham a plumas
idealizadas, como as plumas flutuantes estudadas em laboratório e em experimentos
numéricos. Plumas reais têm seu destino fortemente influenciado por forçantes como
vento e correntes costeiras, pois estes fatores dominam seu comportamento
macroscópico. Portanto, qualquer estudo que pretenda prever o transporte de água de
uma pluma deve levar em consideração a influência dos ventos e fluxos ambientais
James (2002) ressalta que alguns fatores não incluídos nos modelos computacionais,
como os sólidos em suspensão e a floculação provocada por interação de partículas,
podem ser significativos no estudo de ambientes costeiros. Se a concentração de sólidos
em suspensão é muito alta a densidade relativa da água pode fluir como uma corrente de
densidade influenciando na hidrodinâmica. Contudo, a inclusão desses fatores torna-se
difícil devido a complexidade de sua parametrização.
22
ainda mais evidente durante os períodos de maré de quadratura.
Trochimczuk & Schettini (2003) que estudaram a pluma do estuário do Rio Itajai (SC),
afirmam que as variações de descarga fluvial do rio proporcionam a formação tanto de
plumas fluviais como de estuarinas. Os autores sugerem também que a concentração de
material particulado em suspensão e a proporção de água doce na pluma costeira são
proporcionais a descarga fluvial, e que independentemente da descarga fluvial o desvio
da pluma ocorre sempre em direção norte-nordeste, evidenciando a predominância de
correntes oceânicas sobre a dinâmica da pluma.
23
Figura 3.2- Plot vermelho: série temporal das componentes Leste (superior) e Norte (inferior)
dos vetores de correntes medidas por ASA (2003) a 2m de profundidade nas coordenadas 19º
41,7’S e 39º 49,8’W. Plot azul: mesma série temporal subtraída da forçante maré (componentes
M2 e S2). Período dos dados: 12/10 a 14/11/2002, dt= 20 min.Fonte: ASA, 2003 apud Campos,
2011.
De acordo com Zoffoli (2011) a análise das reflectâncias nas diferentes bandas
espectrais permite a identificação e a determinação da distribuição espacial de alguns
constituintes das plumas costeiras. Em seu estudo sobre a pluma do Rio Doce a análise
dos espectros de reflectância demonstrou que os constituintes dominantes da pluma de
sedimentos foram o fitoplâncton e substâncias dissolvidas havendo uma relação entre a
intensidade da vazão do rio e a área da pluma.
Campos (2011), que analisou a variabilidade espacial e temporal da pluma do Rio Doce,
também através de sensoriamento remoto, observou que a vazão do rio Doce é a
principal forçante que controla a área do núcleo da pluma, porém esta área não é
diretamente proporcional a vazão, pois outros fatores, como o vento, também
influenciam na dimensão da área.
ASA (2003 apud CAMPOS, 2011) ao realizar o levantamento dos perfis de salinidade e
temperatura em estações oceanográficas na região estuarina do Rio Doce (no dia 18 de
março de 2002, com vazão do rio igual a 948 m³/s) concluiu que a estrutura termohalina
vertical da coluna de água indicava que a pluma se espalha no ambiente costeiro em
25
uma fina camada superficial sobre a água oceânica. Com isso, o vento atua
principalmente no espalhamento das regiões periféricas da pluma, sendo efetivo mesmo
em baixas velocidades. Estas informações corroboraram para os estudos de Campos
(2011) que constatou padrões da pluma do Rio Doce, apresentados a seguir: presença de
circulação ciclônica ao sul da desembocadura, típicos dos meses de baixa vazão
(outono-inverno), estando associados a presença de ventos constantes de N-NO com
intensidades superiores a 5 m/s; presença de protuberância circular orientada entre SE e
S que ocorrem em períodos de vazões médias e altas e em diversas situações de vento;
e para vazões extremas o padrão de distribuição mostra uma dispersão radial a partir da
desembocadura.
26
3.6 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo contempla a foz do Rio Doce, região norte do litoral do Espírito Santo,
incluindo parte da zona estuarina da bacia hidrográfica do Rio Doce e sua zona costeira
adjacente (Figura 3.3).
Figura 3.3- Imagem aérea da foz do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo. Fonte:INPE,2010
27
3.6.1 VAZÃO DO RIO DOCE
Por ser de grande importância social, ambiental e econômica para os estados de Minas
Gerais e Espírito Santo o Rio Doce possui uma ampla rede de estações hidrográficas,
com aproximadamente cinqüenta e dois postos pluviométricos e cinqüenta e oito postos
fluviométricos, todos pertencentes à ANA -Agência Nacional de Águas- (ANA , 2005).
Coelho (2007) calculou a vazão média (Qmédia) de longa duração, período entre 1939 e
2005, utilizando dados da estação fluviométrica de Colatina-ES e obteve valores iguais
a 918m³/s. No mesmo estudo são apresentadas as vazões médias para cada mês, como
demonstrado na Tabela 3.1.
Tabela 3.1- Vazão media mensal do Rio Doce referentes. Fonte: Coelho (2007)
3.6.2 CLIMA
A região da foz do Rio Doce encontra-se em zona caracterizada por chuvas tropicais de
verão, com estação seca durante o outono e inverno. A temperatura média anual é de
22°C, ficando a média das máximas entre 28° e 30° C, enquanto que as mínimas
apresentam-se em torno de 15°C. De acordo com dados do Centro Tecnológico de
28
Hidráulica da Universidade de São Paulo (CTH/USP), entre fevereiro e 1972 e janeiro
de 1973, os ventos de maior freqüência são os provenientes do quadrante nordeste (NE)
e os ventos de maior intensidade são do quadrante sudeste (SE). Os primeiros estão
associados aos ventos alísios, que sopram durante a maior parte do ano, enquanto os
últimos estão relacionados às frentes frias que chegam periodicamente à costa capixaba
(BANDEIRA et. al. 1975 apud ALBINO, 1999).
3.6.3 ONDAS
Assim como os ventos as ondas procedem de dois setores principais, NE e SE, com
predominância do primeiro. As ondas do setor SE, associadas às frentes frias, embora
sejam menos freqüentes, são mais energéticas do que as do quadrante NE, associadas
aos ventos alísios (Bandeira et al., 1975 apud ALBINO, 1999).
A análise das ocorrências de onda para a costa do Espírito Santo, considerando 45 anos
de dados de ondas do ECMWF, realizada por Piumbini (2010) mostra a predominância
de ondas com períodos entre 7,0s e 8,0s para as estações do verão e primavera, e 8,0s e
9,0s para o outono e inverno. No mesmo estudo, a análise da altura significativa as
ondas apresenta ocorrência em torno de 1,0m a 2,0m.
3.6.4 MARÉ
29
3.6.5 GEOMORFOLOGIA
De acordo com Martin et. al. (1996) a foz do Rio Doce localiza-se na região em que os
depósitos do quaternário tiveram seu maior desenvolvimento. Estando este processo
associado às desembocaduras fluviais.
O Rio Doce é a principal área fonte de sedimentos terrígenos para a região marinha
norte do estado do Espírito Santo, isto se deve a sua grande capacidade no transporte de
sedimentos desde a bacia hidrográfica até o mar. A pluma formada por sua descarga de
sólidos em suspensão inicialmente apresenta concentrações de 4mg/l, diminuindo
rapidamente a concentração para 2 e 1mg/l. A redução da concentração de partículas
suspensas na coluna d’água indica a deposição deste material ao longo da pluma,
recobrindo de lama os depósitos de areias terrígenas até a profundidade de 20-25m
(SUMMERHAYES et al., 1976 apud PRATA,2007).
30
4 MATERIAIS E MÉTODOS
31
O SISBAHIA tem discretização espacial via elementos finitos e adota diferenças finitas
na discretização temporal. Oferecendo os seguintes módulos: hidrodinâmico, transporte
advectivo-difusivo euleriano, transporte advectivo-difusivo Lagrangeano, qualidade de
água e geração de ondas. Além disso, possui um módulo tridimensional e um módulo
bidimensional. Este ultimo, utiliza as equações da continuidade e quantidade de
movimento pro mediadas na vertical (ROSMAN, 2009).
(1)
(2)
33
(3)
Simbologia Significado
Velocidade promediada na vertical na
U
direção x
Velocidade promediada na vertical na
V
direção y
t Tempo
34
estar flutuando, misturados ou ocupando apenas uma camada na coluna d’água.
(4)
(ROSMA,2009).
35
(5)
(6)
No limite sul deste contorno encontra-se a praia de Barra do Riacho e no limite norte
encontra-se a praia de Cacimbas. Através do programa Surfer o contorno foi
digitalizado para criar a linha de costa e margens e limites do Rio Doce.
36
Figura 4.1- Imagem de satélite com contorno terrestre do domínio do modelo.Fonte: INPE-
2010. Organização e Geoprocessamento: Christian V. Pedruzzi- 2011O contorno de mar foi
definido através da analise de imagens da banda 2 dos satélites LANDSAT5, CBERS 2 e
CBERS 2B. Salienta-se que esta banda (com intervalo espectral de 0,52-0,60 µm) apresenta
sensibilidade à presença de sólidos em suspensão, servindo como um indicador da do
espalhamento pluma no oceano.
As análises das imagens corroboraram com os estudos de Coelho (2007) e Prata (2007),
demonstrando que os processos hidrodinâmicos mais relevantes, quanto à pluma do rio,
ocorrem em um raio de aproximadamente 30Km a partir de sua desembocadura.
37
Figura 4.2- Representação do domínio modelado.
38
Figura 4.3- Representação da malha de elementos quadrangulares do domínio modelado.
4.4 BATIMETRIA
39
fevereiro de 2010. O levantamento batimétrico realizado foi feito em parte do Rio Doce
e em parte da foz do Rio Doce (oceano adjacente), uma vez que as cartas náuticas da
DHN não possuíam dados batimétricos detalhados nessas regiões.
Todos os dados batimétricos foram então referenciados ao nível médio do mar (Z 0).
Utilizando o programa Surfer os dados batimétricos foram interpolados, pelo método
Kriging, gerando um grid de informações (dados X,Y,Z). Estas informações foram então
inseridas no modelo SISBAHIA. A Figura 4.4 representa o mapa batimétrico resultante.
Figura 4.4- Mapa batimétrico gerado pela interpolação de dados de cartas náuticas e campanha
de levantamento batimétrico.
As variações do nível d’água devido à maré, atuantes como uma forçante física do
modelo, foram consideradas na fronteira aberta do mesmo a partir de constantes
harmônicas.
Além das marés obtidas através das constantes harmônicas foram utilizados dados
maregráficos medidos in situ, para calibração do modelo hidrodinâmico. A maré foi
medida em um ponto dentro do estuário em estudo (Figura 4.5), na posição aproximada
de 413707 E e 7828415 S, onde foram realizadas três medições entre fevereiro de 2010
e março de 2010.
Os dados de magnitude e direção das correntes foram obtidos de estudos realizados pela
PETROBRAS(PETROBRAS, 2010). Estes foram registrados a cada 3 horas e medidos
em sete campanhas de medição durante os anos 2008 e 2009. As medições foram feitas
com uso de um ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler) instalado na posição
aproximada de 427488 E e 7838531 S, em profundidade aproximada de 20m, com
relação ao nível médio do mar (PETROBRAS, 2010). A Figura 4.5 apresenta a
localização dos pontos de medição do marégrafo e do ADCP.
Os dados de vazão da primeira fonte foram utilizados durante a simulação dos cenários,
enquanto os da segunda fonte foram utilizados no processo de calibração do modelo.
Mesmo havendo uma distância de aproximadamente 107 km, entre a foz do rio e a
estação fluviométrica de Colatina, a magnitude da escala modelada e a escassez de
dados justificaram a utilização dos dados da estação de Colatina. A Tabela 4.2 apresenta
os dados das vazões do Rio Doce da estação de Colatina e das campanhas feitas na foz
do rio.
Após a escolha do período (entre os anos de 2000 e 2010) os dados foram processados e
inseridos no modelo, de acordo com o período desejado, como forçante variável no
tempo e uniformes no espaço. Sendo, estes dados também adotados para verificação do
vento predominante durante os registros das imagens de satélite.
4.9 RUGOSIDADE
De acordo com Albino (1999), Prata (2007) e Coelho (2007) a planície deltaica do Rio
Doce possui um volumoso aporte sedimentar com praias extensas compostas por areias
litoclásticas grossas e médias provenientes dos rios Doce, São Mateus e Itaúnas.
43
Considerou-se, portanto, que o domínio do modelo possui leito com transporte
sedimentar, cuja rugosidade recomendada varia entre 0,0070m e 0,0500m.
44
Tabela 4.3 - Constantes harmônicas da Barra do Rio Doce impostas no contorno aberto.
45
considerada no domínio do modelo a atuação da força de Coriolis.
Figura 4.6 - Contorno fechado com localização da imposição da vazão do rio, e contorno aberto
representados no domínio do modelo
Variável temporalmente e
Superfície Cisalhamento eólico
uniforme espacialmente
Constante temporalmente e
Rugosidade
uniforme espacialmente
Fundo
Batimetria Constante temporalmente
46
4.11 CONDIÇÕES INICIAIS
O processo de calibração pode ser definido como a etapa em que parâmetros do modelo
são ajustados com o intuito de reproduzir os dados medidos in situ, sendo um processo
interativo de comparação entre os valores medidos em campo e os valores gerados na
modelagem. Esse processo depende fortemente da disponibilidade de dados de campo
confiáveis e da experiência do modelador, pois geralmente os ajustes são feitos nos
fatores incertos conhecidos, como coeficiente de rugosidade de fundo, passo de tempo e
condições de contorno (ROSMAN,2009).
A avaliação das marés simuladas, para a Estação maregráfica, utilizou dados de uma
47
campanha devido à maior disponibilidade de dados desta, medidos entre 19 e 24 de
março de 2010. Já a avaliação dos resultados de magnitude e direção das correntes, para
a Estação ADCP, utilizou dados de duas campanhas, medidos entre 29 de maio a 5 de
junho de 2008, para primeira campanha, e entre 9 a 16 de março de 2009, para a
segunda. Durante a calibração foram adotados os valores de correntometria referentes a
60% da coluna de água, para a seleção dos dados provenientes das medições com
ADCP. A utilização de dados com diferentes datas para diferentes parâmetros físicos
justificou-se pela escassez de dados medidos em concomitância para região estudada.
N
1
E i 100 (8)
N 1i 0
N número de observações.
De acordo Odd & Murphy (1992) muitos modelos não obtêm sucesso, pois não foram
escolhidos adequadamente, ou então, foram calibrados com dados inadequados e
metodologias impróprias. Estes autores sugerem que no mínimo 80% das diferenças
entre a direção medida e a simulada estejam dentro da faixa de 20 , para a e calibração
de modelos hidrodinâmicos computacionais.
48
4.13 CENÁRIOS PARA O ESTUDO DAS FORÇANTES
Uma vez executado o modelo hidrodinâmico este foi acoplado ao modelo Lagrangeano
onde a pluma do Rio Doce foi simulada através da inserção de uma fonte de
lançamentos de partículas com região fonte retangular, na seção do rio.
Ressalta-se que o presente trabalho não pretendeu simular nenhum tipo específico de
substância, sendo o lançamento de partículas apenas uma forma de “marcar” a água
proveniente da vazão do rio. Foi adotado o módulo advectivo e difusivo e não foram
adotadas taxas de decaimento para as partículas.
49
A pluma gerada pelo modelo Lagrangeano foi então comparada a imagem de satélite.
Destaca-se que apesar das limitações devido à disponibilidade de dados do banco de
imagens utilizado, as imagens escolhidas procuraram representar as condições típicas de
vazão e vento para região modelada. Na Figura 4.7 são apresentadas as etapas da
metodologia empregada.
ESCOLHA DA IMAGEM
>>
DEFINIÇÃO DO CENÁRIO COM CONDIÇÕES
AMBIENTAIS DETERMINADAS PELA DATA DA IMAGEM
>> >> >>
EXECUÇÃO DO MODELO HIDRODINÂMICO
Figura 4.7- Processo de definição de cenários e obtenção de resultados para comparação com
imagem de satélite.
50
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 GEOMORFOLOGIA
De acordo com Campos (2011) na região em estudo observa-se uma correlação entre os
ventos e correntes superficiais, onde as correntes das áreas mais rasas se orientam na
direção aproximada do vento, principalmente quando provenientes do quadrante S-SE.
Na maioria das situações de vento do quadrante N-NE também há correlação entre
direção dos ventos e correntes, entretanto, em algumas situações as correntes não
acompanham a direção do vento.
51
Figura 5.1- Rosa dos ventos referentes aos dados do período entre 2000 e 2010 para região da
foz do Rio Doce.
5.2 CALIBRAÇÃO
Na Tabela 5.0 são apresentados valores referentes aos erros médios obtidos para
elevação e magnitude de corrente, e os percentuais obtidos para direção de corrente.
52
Tabela 5.0 – Resultados do critério de comparação entre os erros médios obtidos, para maré e
correntes (magnitude), segundo Cawley & Hartnett (1992) e critério de avaliação da direção de
corrente, segundo Odd & Murphy (1992).
Estação Maregráfica
Campanha
19/03/2010
Campanha Campanha
Estação ADCP
29/5/2008 9/3/2009
Erros médios de
Erro satisfatório
corrente 51,40% 35,30%
≤20%
(magnitude)
Direção da Percentual satisfatório
60,34% 64,44%
corrente* ≥80%
*Percentuais obtidos das diferenças entre direções medidas e simuladas que variaram entre 20º
Cawley & Hartnett (1992) consideraram que para os dados de maré o erro satisfatório
podem ter limites superiores a 5%, portanto, os dados apresentados demonstram que o
modelo teve boa reprodução de dados de elevação, mesmo tendo alcançado um valor
2,6% acima do prescrito como satisfatório. Já para o caso dos resultados de magnitude
e direção de corrente, estes apresentaram valores bem superiores aos estabelecidos pela
literatura.
53
Figura 5.2- Dados maré simulados e medidos in situ, para campanha de medição maregráfica de
19/03/2010 a 24/03/2010
Apesar deste parâmetro não ter sido quantificado, a análise gráfica indica que a
oscilação da maré apresenta uma boa concordância de fase entre os dados medidos e
simulados. Entretanto, observam-se diferenças de valores durante os períodos de maior
amplitude de maré. Esta disparidade pode estar relacionada a variações da vazão do Rio,
adotada como constante no período das simulações, e/ou imprecisão dos dados
batimétricos utilizados.
54
regem a circulação hidrodinâmica da região. Esta suposição é corroborada pelos os
dados de direção de correntes (Figura 5.4) que também apresentam alguma similaridade
entre os dados medidos e simulados, apesar de não terem obtido valores satisfatórios na
análise quantitativa.
A)
B)
Figura 5.3- Dados do módulo da velocidade simulados e medidos in situ, para duas
campanhas: A) de 09/03/2009 a 16/03/2010; B) 29/05/2008 a 05/06/2008.
A)
55
B)
Figura 5.4- Dados de direção das correntes simulados e medidos in situ, para duas campanhas:
A) de 09/03/2009 a 16/03/2010; B) 29/05/2008 a 05/06/2008
As divergências observadas nos gráficos das Figuras 5.3 e 5.4 possivelmente estão
relacionadas à resolução temporal dos dados de vento, a não consideração de atuação de
ondas e/ou a imprecisões na batimetria. Outras explicações cabíveis para ocorrência das
dissemelhanças observadas podem ser atribuídas à natureza do processo de modelagem,
que adota simplificações nas equações que governam o processo hidrodinâmico, bem
como aproximações feitas para as condições de contorno.
56
Durante o processo de calibração definiram-se os fatores que propiciaram uma melhor
resposta do modelo hidrodinâmico, expostos a seguir: valores de coeficiente de
rugosidade de fundo iguais 0,004m e passo de tempo igual a 60s e (demonstrando
número de Courant médio igual a 3). Além disso, foram ajustadas a diferenças de fase
nos contornos abertos.
Nas simulações dos cenários 1 e 2 foram observados os resultados gráficos para o ponto
de monitoramento “Estação ADCP” e os resultados espaciais para toda a região
modelada. O gráfico mostrado na Figura 5.5 apresenta a série temporal de elevação da
superfície livre da água, demonstrando as marés de sizígia e quadratura consideradas em
ambos os cenários. Na Figura 5.6 são apresentados os dados de vento, módulo e
direção, utilizados na simulação do cenário 2.
Figura 5.5- Série temporal da variação da elevação da superfície da água simulados nos
cenários 1 e 2.
57
A)
B)
Figura 5.6-Série temporal, com dados a cada seis horas, do módulo da velocidade do vento,
gráfico A, e ângulo do vento, gráfico B, utilizados na simulação do cenário 2.
58
Para ilustrar o padrão espacial de correntes em diferentes situações de maré e comparar
os diferentes cenários foram criados mapas com os padrões de correntes (isolinhas do
módulo da velocidade e direção) para a região modelada. Na maré de sizígia os valores
para a preamar (Figura 5.7) foram obtidos no instante t=226800s e para a vazante
(Figura 5.8) foram obtidos três horas adiante, no instante t=237600s. Na maré de
quadratura os valores para a preamar (Figura 5.9) foram obtidos no instante t=777600s e
para a vazante (Figura 5.10) foram obtidos três horas adiante, no instante t=788400s.
Nas Figuras dos dois cenários observa-se uma forte influência da vazão do Rio Doce
nas adjacências de sua foz, condizendo com as observações de Campos (2011).
Na maré de sizígia os campos de velocidades mostram-se mais intensos que nas marés
de quadratura no dois cenários, corroborando com o observado por ASA (2003 apud
CAMPOS, 2011). Os valores de velocidade de corrente observados para o cenário 2
são, de forma geral, superiores aos valores observados no cenário 1. Além disso, na
comparação entre cenários, para o mesmo instante de tempo, notam-se drásticas
mudanças no padrão de escoamento da região.
59
A) Cenário 1
B) Cenário 2
B) Cenário 2
B) Cenário 2
B) Cenário 2
Na Figura 5.13 são apresentados os ângulos do vetor vento e os ângulos dos vetores de
velocidade das correntes para o cenário 1 e cenário 2, a cada seis horas, permitindo a
análise da direção das correntes e comparação entre cenários. Nota-se no gráfico, que os
ângulos para o cenário 2 respondem as mudanças de direção do ventos enquanto os
dados do cenário 1 apresentam inversão de sentido praticamente regular, demonstrando
a influência da maré sobre estes.
65
Figura 5.12- Série temporal do módulo da velocidade do vento e velocidade das correntes para o
cenários 1 e 2 resultantes das simulações.
Figura 5.13- Série temporal do ângulo dos vetores de vento e ângulo dos vetores de velocidade
da corrente, a cada seis horas, resultantes das simulações.
66
5.4 SIMULAÇÃO DA PLUMA E USO DE IMAGENS DE SATÉLITE
67
Os dados de intensidade e direção do vento para o cenário 3 são apresentados na Tabela
5.2. Na Figura 5.14 são apresentadas a imagem de satélite e mapa de distribuição de
partículas (sobreposta a imagem) referente ao cenário 3. Nota-se na imagem de satélite
a presença de sólidos em suspensão bem próximos a linha de costa e ao longo de sua
extensão, que evidenciam forte ocorrência de processo de ressuspensão na linha de
costa, corroborando como observado por Lorenzzetti et al (2007). Entretanto, percebe-
se que há maior presença destes ao norte da foz do rio (indicação circular vermelha no
quadro superior da Figura 5.14).
68
Figura 5.14 - Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 3, com indicação circular
quanto a principal observação. Quadro abaixo - distribuição das particulas no instante 15:00:00
do dia 7/5/2001.
69
Figura 5.15 - Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 5/5/2001.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 6/5/2001.
70
Os dados de intensidade e direção de vento para o cenário 4 são apresentados na Tabela
5.3. Na Figura 5.16 são apresentadas a imagem de satélite e mapa de distribuição de
partículas (sobreposta a imagem) referente ao cenário 4. Nota-se na imagem de satélite
a retenção de parte da pluma na região frontal da foz do rio, apresentando um formato
protuberante pouco definido que se espalha para o norte da foz (indicação circular
vermelha no quadro superior da Figura 5.16), além disso, observa-se um possível
processo de recirculação ao sul da foz (indicação circular amarela no quadro superior da
Figura 5.16). Os resultados da simulação demonstram que a vazão do rio, próxima a
vazão média, atua na advecção da pluma permitindo que esta atinja posições distais à
linha de costa, contudo, a influência de correntes geradas pelo vento SE parece conter
este processo advectivo. Na Figura 5.17 observa-se a formação de vórtices na região sul
da foz, com retenção da pluma e deslocamento das partículas no sentido sul-norte.
Diante do exposto, considera-se que a comparação dos resultados da simulação com a
imagem de satélite apresentou pouca similaridade no cenário 4.
71
Figura 5.16-Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 4, com indicações circulares
quanto as principais observações. Quadro abaixo - distribuição das particulas no instante
15:00:00 do dia 1/10/2005.
72
Figura 5.17- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 29/9/2005.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 30/9/2005.
73
Os dados de intensidade e direção para o cenário 5 são apresentados na Tabela 5.4. Na
Figura 5.18 são apresentadas a imagem de satélite e mapa de distribuição de partículas
(sobreposta a imagem) referente ao cenário 5. A retenção da pluma na região frontal da
foz do rio demonstra-se ainda mais marcante quando comparada ao cenário 4,
apresentando protuberância bem definida (indicação linear vermelha no quadro superior
da Figura 5.18), condizendo com o padrão de comportamento observado por Campos
(2011).
74
Tabela 5.4 - Dados de vento utilizados durante a simulação do cenário 5.
75
Figura 5.18- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 5, com indicção linear
quanto a principal observação. Quadro abaixo - distribuição das particulas no instante 15:00:00
do dia 14/4/2009.
76
Figura 5.19- Quadro acima - imagem de satélite do dia 19/04/2009 obtidas pelo satélite Cbers.
Quadro abaixo - imagem de satélite do dia 19/01/2004 obtidas pelo satélite Cbers.
77
Figura 5.20- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 12/4/2009.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 13/4/2009.
79
Figura 5.21- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 6, com indicações circulares
quanto as principais observações. Quadro abaixo - distribuição das particulas no instante
15:00:00 do dia 5/4/2005.
80
Figura 5.22- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 3/4/2005.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 4/4/2005.
81
Os dados de intensidade e direção de vento para o cenário 7 são apresentados na Tabela
5.6. Destaca-se nesta simulação a alta intensidade do vento NE. Na Figura 5.23 são
apresentadas a imagem de satélite e mapa de distribuição de partículas (sobreposta a
imagem) referente ao cenário 7. Nota-se na imagem de satélite a presença de
sedimentos em suspensão provenientes da região ao norte da foz (indicação retangular
vermelha), entretanto, é possível visualizar a pluma fluvial, com coloração mais escura
(indicada pela seta amarela), fenômenos como vórtices (indicados pelas setas
vermelhas) e recirculação (indicado pela seta azul no quadro superior da Figura 5.23).
No mapa resultante da simulação pode ser observada a presença dos vórtices (indicada
pelas setas verdes) e de processos de recirculação ao sul da foz (indicada pela seta azul
no quadro inferior da Figura 5.23), que demonstram a boa habilidade do modelo em
representar os principais processos ambientais para este cenário.
82
Tabela 5.6 - Dados de vento utilizados durante a simulação do cenário 7
83
Figura 5.23-Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 7. Quadro abaixo -
distribuição das particulas no instante 15:00:00 do dia 18/7/2005. Ambos com indicações
quanto as principais observações.
84
-
Figura 5.24- Quadro acima - imagem de satélite do dia 16/08/2000 obtidas pelo satélite Landsat
85
5. Quadro abaixo - imagem de satélite do dia 23/05/2001 obtidas pelo satélite Landsat 7.
Figura 5.25- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 16/7/2005.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 17/7/2005.
86
Os dados de intensidade e direção de vento para o cenário 8 são apresentados na Tabela
5.7. Na Figura 5.26 são apresentadas a imagem de satélite e mapa de distribuição de
partículas (sobreposta a imagem) referente ao cenário 8. Nota-se na imagem de satélite
a concentração da pluma na frente da foz (indicação circular vermelha), plumas de
sedimentos em suspensão um pouco mais fracas, paralelas a linha de costa e ao sul da
foz (indicações lineares verdes), e um pequeno vórtice ao norte da foz (indicação
circular amarela no quadro superior da Figura 5.26). Da mesma forma, o mapa de
distribuição de partículas demonstra a presença de maior quantidade de partículas em
frente a foz, a presença de plumas paralelas a costa ao sul da foz e a formação de um
pequeno vórtice.
87
11/4/2006 15:00 4,14 -81,67 N
Figura 5.26- Quadro acima - imagem de satélite referente o cenário 8 , com indicações quanto
as principais observações. Quadro abaixo - distribuição das particulas no instante 15:00:00 do
dia 11/4/2006.
88
Figura 5.27- Quadro acima - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 9/4/2006.
Quadro abaixo - distribuição das partículas no instante 15:00:00 do dia 10/4/2006.
89
A análise dos cenários demonstrou que o modelo apresenta melhores resultados nas
simulações em que os ventos variaram pouco em direção e intensidade, e em simulações
com intensidade alta de ventos. Este fato pode ser explicado pela possível existência de
estratificação da pluma do rio, que a torna mais suscetível a correntes geradas por vento,
assim como proposto por Campos (2011). Posto isso, ressalta-se que os dados de vento
adotados no presente trabalho consideram a escala de tempo sinótica (6h) e a
uniformidade espacial, impossibilitando o modelo de representar eventos com resolução
temporal inferiores há 6 horas. A adoção de dados de vento com baixa resolução
temporal (6h) não permite a representação de oscilações de curto período, entretanto
Marques (2009) ao comparar dados de campo com dados do Reanalyses verificou a boa
representação destes dados, contudo, estudos de Siminato et al.(2006) demonstraram
que os dados do Reanalyses subestimam em até 50% os eventos de alta intensidade.
Como nos cenários 1 e 2, quase todos os outros cenários formaram vórtices próximos ao
entorno da desembocadura. Este fato é supostamente explicado pela indução da vazão
do rio na formação dos vórtices, que são ainda mais intensos quando associados à
atuação dos ventos, corroborando com os resultados de Liu et al. (2008) e Yankovisky
et al.(2001). Quanto a variação da vazão observou-se que valores elevados, como nos
cenário 5 e 6, apresentaram propagação de plumas para regiões mais distais à linha de
90
costa, enquanto os demais cenários mantiveram a pluma bem próxima a costa e/ou
desembocadura. Entretanto, estas observações devem ser consideradas com ressalvas
devido à utilização de um mesmo formato de barra para diferentes vazões.
91
6 CONCLUSÕES
Ciente das ressalvas, conclui-se que o vento tem atuação predominante no padrão de
distribuição da pluma quando este ocorre com forte intensidade, a vazão do rio
influência na formação de vórtices no entorno da desembocadura, predominando no
movimento advectivo da pluma nas proximidades da foz. A maré, por sua vez, atua no
espalhamento da pluma podendo predominar em condições fracas de vento e em regiões
distais à foz.
93
8 REFERÊNCIAS
94
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