INTERAÇÃO

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"Quem não se comunica...

”:
interação verbal e
comunicação humana

COMUNICAÇÃO, INTERAÇÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDOS

A linguagem humana é uma capacidade abstrata que possibili-


ta a transmissão de variadas informações entre os usuários de uma
língua, que é o sistema que possibilita uma das formas de concreti-
zação dessa habilidade natural para transmitir ideias e conceitos e
expressar diferentes sentimentos. Essa capacidade de nossa espé-
cie pode ser manifestada também em outros meios, como a lingua-
gem dos sons, das cores, dos gestos, do cinema. Neste livro, pri-
vilegiamos a observação da linguagem que se realiza pelos meios
concretos de expressão linguística, isto é, a linguagem verbal.

À diferença dos outros animais, os homens se servem des-


ses e de outros expedientes para entrarem em contacto

uns com os outros. Costuma-se dar o nome de linguagem


a qualquer desses meios de comunicação, mas, desde os
tempos mais remotos, o termo se aplica aquela aptidão
humana para associar uma cadeia sonora (voz) produzida
pelo chamado aparelho fonador a um conteúdo significati-
vo e utilizar o resultado dessa associação para a interação
social uma vez que tal aptidão consiste não apenas em pro-

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loll-g.\u(‘mu'n.\nlnum!I - Introdugdo à pragmática

duzir e enviar, mas ainda em receber e reagir & comunica-


ção. Compreendida dessa maneira, a linguagem aparece
como o mais ditundido e o mais eficaz Instrumento natural
de comunicagiio & disposigiio do homem (BORBA, 1998,
p. 9-10).

Como parte da elaboragao de nossas trocas sociais nas dife-


rentes comunidades, a comunicagdo humana pode ser conside-
rada como o contato estabelecido entre usuarios de uma lingua,
levando em conta diferentes e complexos aspectos.

* O contato pode ser realizado na modalidade escrita ou fa-


lada, ou seja, os canais de comunicagéo são o meio sonoro (os
sons da fala reconhecidos como parte do sistema sonoro da lingua
e também alguns sons que adquirem valor expressivo em contex-
tos situacionais de uso) - no caso da lingua falada - ou as repre-
sentagoes gréficas da escrita (as letras e outros sinais aceitos no
sistema de escrita de uma lingua, quando esta o tiver) - no caso
da lingua escrita.
* O compartilhamento de conhecimento sobre o cédigo que
permite o contato entre os participantes de um processo de tro-
ca linguistica. O cédigo, no nosso caso, são as diferentes linguas
naturais (aquelas linguas que surgiram e se desenvolveram espon-
taneamente nas interagdes sociais e histdricas dos homens). É ne-
cessério que haja um determinado grau de conhecimento mútuo a
respeito da lingua utilizada no processo comunicativo.
* O interesse e a necessidade de compartilhar informagoes,
pensamentos, sentidos, ideias. Entre os usuarios de uma lingua,
há, na interagdo verbal (o momento em que o uso da lingua se
efetiva em um contexto situacional especifico), uma troca dialdgica,
isto é, uma interagéo entre emissor e receptor. Esse contato entre
produtor de uma mensagem e o seu receptor estabelece atitudes

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"Quem
S A * nteração el é o AR g

rosponsivan nos usudrios: é procino renglr no que é produzido lin-


guisticamente, Neane sontido, falar ou encraver 6 sempre ne dirlglr
a um outro é a suas palavras que renpondem dquelas manlfentadas
na Interagdo.

Quem comunica não o faz simplesmente para transmitir In-


formagdes e/ou racaber o doclfrar mensagoens: antes, quor
mals que Isso, pretende controlar as Informações para saber
atd que ponto consegulu ser compreondido polo [receptor].
Na verdade, o [emissor] espoera sompre uma resposta, Isto
6, algum tipo de reagdo, Dal entender-se, também de modo
amplo, a comunicação como estimulagho para uma respos-
ta (BORBA, 1908, p, 23),

* O processo de comunicagio compreende os seguintes


elementos:

a) o emissor (o produtor de formas lingulsticas em um contexto


definido, o falante ou o escritor);
b) o receptor (em um contexto delinido, o ouvinte ou o leitor);
c) o código (as diferentes linguas naturais, por exemplo);
d) o canal (o0 melo pelo qual uma mensagem é transmitida: a
escrita ou a fala, por exemplo);
e) a mensagem (aquilo que é dito em um meio e contexto es-
pecificos, em um determinado cédigo);
1) o referente (os assuntos sobre os quais se fala).

* A comunicação humana se dá em meio a constantes trocas


de papéis entre o emissor e o receptor. Aquele que fala também dá
A voz para o que ouve. Assim, a Interagéo verbal entre os partici-
pantes do processo comunicativo é dinâmica e néo pode ser vista
como troca mec@inica de mensagens, com os envolvidos assumin-

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(Coteçho Conerho tee 1 - o ZT PITIDSOD

do um único papel. Dependendo do gónero em questão, falante é


receptor se revezam o tempo todo na modalidade oral de uso da
lingua. Na modalidade escrita, essa troca de papéis é mais limita.
da, o que dependeré da situagio de uso da linguagem e dos mo-
dos de contato por meio dos variados géneros de textos escritos,
* A leitura é vista também como atividade comunicativa, mag
realizada a distdncia. O emissor - o escritor de um texto - não
está, em geral, fisicamente próximo do receptor de suas mensa-
gens - o leitor. No entanto, ambos estão envolvidos em uma ação
que implica conhecimento e reconhecimento de código linguístico,
apreensão e produção de sentidos, conhecimento de mundo com-
partilhado. É distinto do que ocorre nas interações mais típicas da
fala (como a conversa informal entre amigos), em que há a troca
face a face com os falantes inseridos em mesmos espaço e tempo.
Nesses casos, há maiores possibilidades de reformulações do que
é dito, de trocas de assuntos, de alterações de posses de fala, de
correções do conteúdo e da forma das mensagens. Aspectos mais
difíceis de ocorrer no uso da modalidade escrita. Cabe lembrar
que, quando se empregam termos como fala e falantes, faz-se refe-
réncia a utilizagdes da linguagem nas duas modalidades da lingua,
a falada e a escrita.
* Os interlocutores, por meio de uma lingua, simbolizam um
mundo e os referentes a respeito dos quais produzem mensagens.
Como a linguagem possui a propriedade da simbolizagao, as unida-
des linguisticas, quando organizadas sistematicamente, permitem o
acesso a significados que possibilitam, de alguma forma, o recorte
do mundo em que os falantes estéo situados. Essa significagéo e
simbolizagéo substituem o ausente nos processos de comunicagao
e também criam referentes para a produgéo de sentidos.
* Os elementos que podem produzir simbolizagéo são, entre
outras possibilidades, os signos verbais, os indices, os icones e
os simbolos propriamente. O termo para este último tipo de ele-
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Quem não se comunica... interação verbal e comunicagao humana

mento não nos deve levar a uma má interpretação, pois os signos


verbais também, a sua maneira, simbolizam.

Índice
Classificados por muitos como signos naturais, uma vez que
nao são exatamente criados pela intervengao humana, os indices
indicam relagoes de causa e efeito que percebemos no mundo que
nos rodeia, como a nuvem carregada que indicia chuva.

Ícone
Os icones estabelecem uma relação de identidade entre a re-
presentação criada pelo homem e o elemento do mundo repre-
sentado, em uma relação direta. A placa que costuma aparecer
nas portas de banheiros masculinos refere-se, de forma imediata,
ao ser humano de gênero masculino que pode utilizar o banheiro.
Uma fotografia 3 x 4 é outro exemplo de icone, pois representa
diretamente o retratado.

Simbolo
Já o simbolo é um tipo de representagdo mais complexa,
contex-
uma vez que metonimicamente representa um conceito
definida.
tualmente situado, a partir de uma orientagéo cultural
é possivel
A balanga, por exemplo, é o simbolo da justiga, mas
constatar que a representagdo não consegue alcancar a totali-
ba. O simbolo
dade do que o conceito abstrato de justiga englo
aquela que se refere
representa apenas uma parte do conceito,
partes envolvidas em um
à necessidade de igualdade entre as
lembrar que 0 simbolo
determinado caso. Também é importante
tura em que ele se situa. Em
é interpretado de acordo com a cul
do luto é a cor preta, mas,
muitos paises do Ocidente, o simbolo
éo, é a cor b ranca que sim-
para paises do Oriente, como 0 Jap
boliza o mesmo estado.

”n
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O Conesdo lal | lntroduçõo gy,

Signo linguistico
O elementos almbólicos como on algnon verbaln nÃo nho n 6x.
prossão de uma relação direta o Imediata entre algo do mundo o n
unidade que 0 6VOCA, COMO UMA palavra ou um morfema, por exem.
plo. As palavras, como algnos verbale, são representngbon nio do
objetos reais e únicos no mundo, mas sim de concoltos, do Imagons
conceptualg, resultantes de categorlzagées que a linguagem verbal
taz do mundo, Ou seja, vomos o mundo por melo de nosso flitro
cognitivo, nosso conhecimento de mundo: a nossa visao do quo
é o mundo, seus elementos, suas propriedades, eventos e agoes,
tudo categorizado por meio de nosso olhar, inserido, no entanto, em
uma coletividade social e cultural da qual nos sentimos parte. Por
exemplo, o signo verbal “brincadeira” é formado de uma associagao
insepardvel entre uma parte material que o expressa (os sons ou
as letras da escrita) - o significante/imagem acustica - e um con-
ceito mental do que seja uma brincadeira - o significado/contetdo.
Porém, o signo néo se refere, por ele mesmo, a um tipo único de
brincadeira no mundo, pois cada usuério que se apropriar do signo
em um contexto especifico irá, a partir de um significado denotativo
basico, compartilhado por todos os usuérios da lingua, atribuir sen-
tidos a palavra “brincadeira”. Sentidos que podem coincidir com o
significado do dicionério denotativo ou sentidos que definam o que
é brincadeira, tendo em vista a experiéncia particular do falante, seu
conhecimento de mundo e sua categorizagéo cognitiva.

E por isso que se diz que a linguagem categoriza a reali-


dade, isto é, classifica-a em categorias na medida em que
toda comunicagéo se faz
representa essa realidade. Como
resulta que ele
com base nesse processo de simbolizagéo,
comunica: néo ha
é totalmente arbitrario com relagéo ao que
entre a cadeia fônica e
nenhuma relação direta e necessaria
1998, p. 10).
seu conteudo significativo (BORBA,
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“Quem não se comunica,..“: interação verbal e comunicação humana

« Os participantes do processo comunicativo precisam com-


partilhar conhecimento linguístico e conhecimento de mundo para
que a produção dos efeitos de sentido seja pertinente ao contexto
situacional da enunciação, Nessa troca comunicativa em busca do
sentido expresso por meio de elementos da linguagem, os usuários
de uma língua precisam decidir, e fazer que o interlocutor reconhe-
ça essa decisão e dela compartilhe, se será a dimensão denotativa
ou conotativa da linguagem que estará em jogo.
* O processo comunicativo será influenciado também por dife-
rentes estilos adotados pelos interlocutores. Nessas escolhas que
os falantes fazem para se comunicar, um ou mais dos elementos
do processo de comunicação podem estar em destaque, gerando
a presença mais preponderante de uma das funções da linguagem
). A
propostas pelo linguista russo Roman Jakobson (1896-1982
uma função
cada um dos elementos da comunicação corresponde
da linguagem, como representado na Figura 1.
(função lelerencial)

Mensagem
(função poética)

Desunatárlo
-

láuca)
o eo função g; conativa)
(fun
(lunça
Con
função expressiva

Códlgo
(função metalinguistica)

s.
comunicação e suas fungoe
Figura 1 - Elementos da Acesso
ns/codlgo.]pg>.
paadllmflge
Fonte: Disponivel em: <http://acd.ufr|.br/~
em: dez. 2011.

pelos usuari; os
ona das par a us o
As formas linguisticas seleci guagem, pelas dife-
a visão sob re a lin
estão condicionadas, ness

an
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,|
Coleção Conexão Inicial 1 - Introdução à Pragi
ná,
UL ]

rentes funções que os usudrios da lingua atribuem a elas median|g


necessidades comunicativas, o que implica considerar que g es.
colha de unidades linguisticas e das vérias possibilidades de com.
binagao depende da intencionalidade discursiva. Essas diferentes
funções tém sido, tradicionalmente, consideradas como funções
da linguagem: referencial (em terceira pessoa, destaca a relação
entre a linguagem e o mundo); expressiva (em primeira pessoa o
com a presenga de elementos linguisticos que destacam o posicio.
namento pessoal do falante em relação a um determinado estado
de coisas); conativa (destaca a segunda pessoa, e o foco está no
receptor, no ato de convencimento de variados efeitos de sentido);
metalinguistica (fala-se do cddigo empregado na interagéo); poéti-
ca (em destaque os recursos linguisticos utilizados para obtenção
de efeitos de sentido); fatica (o contato entre os falantes é o que
esta em destaque).
O fragmento apresentado a seguir, extraido do conto "O bebé
de tarlatana rosa”, do escritor João do Rio (1881-1921), recria a
cena de um animado didlogo entre amigos. Vamos utiliza-lo para
observar o funcionamento comunicativo da linguagem.

Havia no gabinete o barao Belfort, Anatélio de Azambuja de


que as mulheres tinham tanta implicéncia, Maria de Flor, a
extravagante boémia, e todos ardiam por saber a aventura
de Heitor. O siléncio tombou expectante. Heitor, fumando um
gianaclis auténtico, parecia absorto.
— É uma aventura alegre? indagou Maria.
- Conforme os temperamentos.
- Suja?
— Pavorosa ao menos.
- De dia?
— Não, Pela madrugada.
— Mas, homem de Deus, conta! suplicava Anatdlio. Olha que

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an T a TR . . o verbal
e comunicarà
uMmcação humana

está adoecendo a Maria, Heitor


Puxou um largo trago à ci-
garreta (cf. MORICONI, 2001, p. 28),

* Na construgdo do cenério, com a indicação da situagéo e


dos personagens envolvidos na interagéo verbal, observa-se o
predominio da função referencial da linguagem. Há formas lin-
guisticas na terceira pessoa, conferindo ao trecho o sentido de
objetividade para um relato feito por um narrador que observa,
à
parte, a situagéo.
* Os participantes da interagéo verbal se revezam nos papéi
s
de emissor e receptor, como ocorre em uma conversacéo tipica da
modalidade oral, em que há constantes trocas de turno (momento
de posse da fala por um falante).
* Quando, no primeiro dialogo, Maria indaga Heitor, os dois se
tornam os participantes do processo comunicativo. Maria, o emis-
sor; Heitor, o receptor. Os dois compartilham do mesmo cédigo (a
lingua portuguesa), falam de um referente comum ao conhecimento
de mundo deles; e a troca verbal se da (no simulacro da literatura
escrita) por meio de um canal oral.
* A participagdo de Anatólio, no final do didlogo, evidencia a
presenca das fungdes emotiva e conativa, pois as escolhas linguis-
ticas evidenciam não só o estado emocional aflito em que Anatdlio
se encontrava, diante da ansiedade em saber o final da histéria
contada por Heitor, como também a linguagem dirigida para o re-
ceptor, com o intuito de provocar uma reação naquele que ouve o
que é dito.
* Vemos também que a troca verbal se da predominantemen'te
dita
por meio da linguagem denotativa. A excecao da última frase
por Anatélio, construida em linguagem figurada. Evidentemente,
eml;;eg_º
Maria não est4 de fato adoecendo. O que ocorreu foi o
de uma hipérbole, para conferir ao trecho a imagem de uma Maria
aflita para conhecer o desfecho da história.

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ática
Coleção Conexão Imicial 1 - Introdução à pragm

OS
LER O MUNDO E SEUS SENTID

A linguagem permite a relação entre o homem e o mundo que


o circunda, com toda a sorte de complexidades em torno de aspec-
tos sociais, históricos, culturais e ideológicos. Uma das formas de
contato com a linguagem verbal, estabelecendo uma das possíveis
relações entre o homem e o mundo, é a leitura dos sentidos, ex-
pressos por textos escritos, orais, sincréticos, que fazem o ser so-
cial estabelecer diferentes graus de interação com outros membros
da sociedade, ou seja, a leitura (considerada como compreensão
do mundo dos sentidos) é um dos modos da interação verbal, no
sentido de que o ato de ler é compreender construções simbólicas.
Considera-se que o elemento fundamental que possibilita a in-
teração verbal é o texto, entendido como unidade de comunicação
(sem dimensões predefinidas), construída por elementos do siste-
ma da língua e por aspectos que dizem respeito ao seu uso e sua
abertura para a pluralidade de sentidos. Dessa forma, a unidade
textual é aberta, pronta para diferentes leituras (desde que autoriza-
das pelos elementos textuais), a partir do momento em que come-
ça a funcionar como uma das peças do jogo da interação verbal.
Sendo assim, o texto (oral ou escrito) é formado por aspectos:
lexicais e gramaticais (a estrutura morfossintática), semânticos (os
significados) e pragmáticos (responsáveis pela inserção do texto
no contexto de uso, com as mais diferentes funções articuladas em
nome de práticas comunicativas e seus agentes, numa interlocução
envolvida em constantes produções de sentido).
Parte-se, então, do princípio de que a interação verbal implica,
para os usuários da linguagem, a percepção e a compreensão de
duas instâncias textuais:

* Uma que projeta o usuário da língua num universo linguístico,


no mundo da língua e de seu sistema.

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*Quem não 5¢ comunica J nteração verbal e comunic ação humana

* E outra que projeta esse mesmo usuário no mundo do uso


da lingua e de seus efeitos de sentido, derivados de uma prática de
linguagem contextualizada,

Os assuntos de que trata este livro partem da concepção de


texto como espaço de contato entre os interlocutores participantes
da troca verbal, constituídos pela linguagem, pela história, pela so-
ciedade e pela ideologia. Num processo dialógico, esses sujeitos
têm seus espaços de constituição e atuação construídos em torno
das atividades de linguagem. Assim, o ato de colocar em funcio-
namento uma língua leva em conta elementos diversificados, mas
complementares, que instituem um bloco complexo, que envolve
leitura, material linguístico e sentido.
A pratica comunicativa, enfim, na concepgéo que nos parece
a ideal, é vista como parte de um processo que concebe lingua e
linguagem como interação entre sujeitos com papéis ativos nos
processos comunicativos e dialogicos, cada um com uma contribui-
ção a dar no processo de formagéo dos efeitos de sentido.
Assim, usar uma lingua é ativar o conhecimento linguistico ao
lado do conhecimento de mundo. Para que se compreenda essa
concepção, é preciso considerar que o uso da linguagem exige mui-
de
to do seu usuário, que deve colocar em jogo, nessa atividade
interagéo, experiéncias e conhecimentos néo apenas linguisticos.

ENUNCIAGAO, ENUNCIADO E CATEGORIAS DO PROCESSO


ENUNCIATIVO

ndo um falante (na


O funcionamento da linguagem se dá qua
ema lingufstico e se
modalidade oral ou escrita) toma posse do sist
ragao fei-
dirige para outro(s) falante(s), o(s) receptor(es). Nessa inte
uma interação verbal, semif.íos
ta por meio de uma lingua, portanto
s, informagoes,
são produzidos a partir do momento em que intengde

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Coleção Conexdo Inicial 1 - Introdução
à Pragmiticy

concoltos, idelas são transmitidos, Nessa troca verbal, o falante pro.


dutor sempre estd inserido em um contexto definido, localizado em
um espago específico, em um determinado recorte temporal,
Dessa
forma, o momento em que a linguagem é produzida é aquele em que
um eu fala a um tu (ou você), em um aqu! e agora.
O caminho do sistema (a estrutura linguística) para o discurso
(a
língua em funcionamento produzindo sentidos nas trocas verbais)
foi realizado, com destaque, pelo linguista francês Émile
Benvenis-
te (1902-1976). Esse espaço do discurso é possível
por conta da
introdução da noção de instância de produção da
linguagem, que
não é equivalente à fala saussuriana, instável, caótica
e individual,
Pelo ato contextualizado de produção da linguagem
é que a língua
se torna discurso,

Como teorizou Benveniste, a enunciagéo é a instancia


de me-
diagéo entre a lingua e a fala, ou seja, é por meio dos
momen-
tos efetivos de troca verbal que o sistema linguistic
o se atua-
liza e de fato produz sentidos para os falantes que se
utilizam
de uma lingua para se comunicar com seus inter
locutores',

As chamadas categorias da enunciagéo sao elementos linguisti-


cos que só fazem sentido quando um individuo os utiliza
na interação
verbal, como o eu, que se torna efetivo produtor de
sentidos quando
é empregado por um falante em processo comunicativo concretizado.
Na perspectiva de Benveniste sobre a linguagem e seu uso, a
enunciagdo é a instância de trés elementos que constituem seus
dominios - ego, hic e nunc (o eu, situado num aqui e agora)
-, isto
6, as categorias que indicam pessoa, espago e tempo da enuncia-
ção. Os termos latinos são empregados por Benveniste para qué

1 A abordagem sobre enunciação é feita com base em Benvenisto (1989, 1991) e F»ofl"‘(‘ 999)vol
No site da UnivespTV, há uma apresentação da enunciação feita por José Luiz Fiorin,
Di iponi
em: : <hitp:/lunivespty.cmais.
Tunis i
com.br/enuncincan >>. Acesen am: . dez 2011
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“fuerm N30 5e COMUNKA 4
.* interação verbal é Ccomunicação õ
human a

fique impressa a noção de que


todas as línguas (na verdade,
as for todas
mas de linguagem) possue
m categorias que indicam
pessoa,
espaço e tempo, dentro das es
pecificidades de cada sistema
utili-
zado nos processos comunicativos,
Consequentemente, o produto da
enunciação, aquilo que é
produzido verbalmente por falantes
situados em espaços e tempos
determinados, é o enunciado, que po
de ser construído de forma a
revelar elementos do processo da tro
ca verbal - ou de forma a apa-
gar (pelo menos como efeito de sentido) esses
mesmos elementos.
Vejamos como isso se processa em dois exem
plos:

* “O clima no pais é agradavel”: alguém em determinado


lo-
cal e tempo produziu esse enunciado (do contrério não haveria
linguagem), mas não ha marcas formais evidentes de quem é o
enunciador, por exemplo;
* “Eu digo que o clima no pais é agradavel”: nesse caso, o
falante — o enunciador — está inscrito linguisticamente por meio do
uso de uma categoria de pessoa, o pronome eu.

A presencga do enunciador pressupde um enunciatério; os dois


criados pelo uso da linguagem, mas não exatamente elementos do
mundo real, pois são imagens elaboradas na troca comunicativa.
O processo enunciativo - e a troca verbal dai resultante — esta
submetido 4 ordem da história, ou seja, todo ato de dizer esta re-
lacionado constantemente a outros textos, numa ampla trama in-
tertextual, em que os enunciados produzidos relacionam-se co_m
outros anteriormente produzidos e, ainda, com outros que ser?o
em uma tensao
pProduzidos. E essa relagao intertextual, fundada
constante entre o eu que diz e o outro receptor, podera se dar
for-
de forma contratual ou polémica, provocando, nas diferentes
nas interagoes, rupturas ou
Mações de sentidos contextualizadas
continuidades de saberes e conhecimentos.

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Codeção Conrexão mo 1 - Wemadrão i oragmánau

O apar ho
da enunci
formalel ação
Berveníste (1999 estabelecey a noção de que as linguas pos-
suem um apareiho formal da enunciagdo, isto é, um conjunto sistêmi-
co de undades inguisticas que formalizam as categorias de pessoa,
espaco e tempo. Quando o falante, na posição de enunciador, coloca
a ingua em funcionamento em um ato de enunciagio, palavras va-
Des da Ínqua, como eu, aqui e agora, tormam-se significativas, pos-
sbiltando a Iocalzação das referências de pessoa, espaço e tempo.

m—mmwmmam—
f=goras de pessoa, de espaço e de tempo, que são centrais
ro exercico da Íngua. Os elementos dessas categorias foram
Sencminadcs embreadores, termo trado da mecânica. Em-
breagem é um mecanismo
que penmite unir um motor em
roftação 20 Sisterra de rodas que não estão girando. Pala-
was como “eu”, "W, “aqui”, “aí”, “al”, *agora”, “então” são
chamados embreadores, embreantes ou déiticos, porque só
genhem referência quando se conecta a Éngua & stuação de
comurnicação. Se lermos, num quadro de recados, o seguinte
terto: *Estve procurando-o hoje. Esteja lá amanhã sem faita”,
nêo szberemos quem é que esteve procurando, quem ele es-
teve buscando, quando esteve fazendo isso, quando e onde a
pessoa procur
deve estar
adasem falta. Isso, porque alguém
deve ter apagado os elementos da situação de comunicação
que permitiriam ancorar os déticos: nome do destinatário do
recado, local e data em que a mensagem foi escrita, nome do |
destinador. Esses dados são obrigatérios, por exemplo, numa |
carta, exatamente para que possamos saber os referentes dos
déiticos que aparecem no texto (FIORIN, 2011).

A seguir, veremos como as categorias da enunciação se manifes-


tam na língua portuguesa.

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Quem 3 se comunca .* nteração verbal e comunicação humana

1) Pessoa: vista nos estudos sobre a enu


nciação da seguinte
maneira:

* Pessoa: são os participantes diretos


da enunciagao: eu e tu.
0 pronome eu é ampliado na forma nés (ampli
ado porque nés não
é um plural de eu, mas uma expansão do enunciador em
conjunto
com outros participantes da comunicagao), e tu, plur
alizado e am-
pliado na forma do vós.
* Não pessoa: não participa diretamente da enunciagao, mas
se coloca como o referente de muitas trocas verbais - ele, plurali-
zado na forma eles.

A utilizagao das unidades linguisticas que demarcam a categoria


de pessoa no discurso pode produzir os mais diferentes efeitos de
sentido, tendo em vista os propdsitos dos enunciadores. Por exemplo,
uma historia pode ser contada em primeira ou terceira pessoa. Na pri-
meira pessoa, as categorias da pessoa — os parceiros da enunciagéo —
estão explicitadas no enunciado. Ou então a histéria pode ser contada
em terceira pessoa, nesse caso o destaque esté para o pronome ele.
Essas escolhas são feitas pelo enunciador tendo em vista a obtenção
de efeitos de sentido ora de subjetividade, ora de objetividade.
A subjetividade é resultante do efeito de proximidade com aquilo
que é dito, o que gera um comprometimento maior do enunciador com
da ob-
o que é enunciado. Esse efeito revela o que a outra dimenséo,
exemplo, diante
jetividade, procura negar (ou mascarar). Estamos, por
Os posicionamen-
de valores pessoais evidenciados pela linguagem.
em primeira pessoa, as
tos, as criticas, os pontos de vista declarados
0s gostos, as formas d.e
palavras indiciadoras das opinides pessoais,
enunciados caracteri-
encarar o mundo e os fatos estão presentes em
zados como subjetivos.
:
distal nciamento,
Por sua vez, a objetividade produz efeito de
no qual não se observa comprometimento explicito do enunciador

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PTTA § ¢ mumlm,.‘mdpr
apm.’:
1 ln1 2

com o que é enunciado. Estamos,


portanto, diante de uma dimen.-
são de sentidos em torno de uma observ
agéo distante de valoreg
ou juizos pessoais, que coloca a linguagem num
Plano referencigy,
Cabe lembrar que a objetividade é um simulacro
, uma criagéo da
linguagem, pois todo enunciado é produto de um enunci
ador loca.
lizado em espago e tempo definidos, nessa perspectiva, sub
jetivo
sempre. Assim, o que temos são efeitos de sen
tido de objetividade
que procuram deixar implicitas marcas do processo de enunci
agéo.

2) Tempo: o tempo linguistico não se confunde com o tempo crono


-
légico, como aquele demarcado pela sucesséo de eventos numa
linha
temporal porque ele é estabelecido no momento em que um falant
e
toma a palavra e funda um instante do agora, a partir do qual acont
eci-
mentos s&o localizados. Ao escrever uma narrativa ficcional, posso lo-
calizar minha histéria no presente, no século XVI ou ainda em um futuro
muito distante, sem que haja compromisso com o tempo cronolégico
em que me situo como falante. Como diz o escritor italiano Umberto
Eco (n. 1932), “basta falar de algo para esse algo passar a existir"2,
Dessa forma, o tempo linguistico é marcado na enunciagéo, já que
é a categoria linguistica que localiza movimentos em fungéo do ato
enunciativo. Ou o tempo é simulténeo & enunciagéo, ou é anterior, ou é
posterior ao momento da enunciag&o. Assim, simultaneidade (presen-
te), anterioridade (pretérito) e posterioridade (futuro) são momentos de
referéncia, marcos temporais estabelecidos na enunciagao.
Na perspectiva dos estudos sobre a enunciagao, os tempos
verbais são definidos em relação aos momentos de referéncia da
enunciagéo, circunscrevendo momentos dos aconteciment
os em
relação a cada um dos momentos de
referéncia:

*Em relagéo & simultaneidade ao momento


presente da enun-
ciagéo, o tempo Presente é concomitante a esse
momento de refe-
réncia, podendo ser um presente Pontua
l (“Vejo que agora chove”),
2 Esse posici
A e ona
Pr men
a to do escritor italiano está na quar
quartta capa da edição brasileira do rom
ance

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o At cA AL T YT

um presente durativo (A situago econóômica atilh ho n no país") ou,


uinda, UM presenta m"""m"'""“l ("A Água forvo 4 com graus"), Já
0 pmldrllo perteito & anterior no momento presente da muuu'lm:no
ou seja, um protérito do prenenteno ("Choveu
momento ontem noste lmlv‘m"’) .E!"
do rolorbne
o futuro do presente & posterlor lA prosonte
("Dopols colocarel an calxan no lugar”),

* Em relação & anterloridade no momento prosonto da onun-


ciação, temos:
a) o concomitante do protórito, ou noja, um prosente do pretóri-
to, aquilo que ocorre dontro do marco temporal passado (pretórito
porteito, indicando acontecimento pontual, do aspecto acabado, e
pretérito imperfelto, Indicando acontecimento não pontual, de as-
pecto inacabado, durativo: "Quando ele chegou, ou ouvi sua voz”;
"Quando ele chegou, eu ouvla uma musica alta");
b) o anterior ao pretérito, aqullo que é representado pelas formas
simples ou compostas do pretérito mals que perfolto, ou seja, um pre-
térito do pretérito (“Quando ele chagou, eu Já tinha arrumado a casa”);
c) e o postorior ao pretérito, representado pelo futuro do preté-
fito em suas formas simples (aspecto Inacabado: “Naquola festa,
ou compostas
percebl que meu amigo não alcangarla seu sonho")
(aspecto acabado: “No Início da festa, estava previsto que no final
meu amigo teria alcangado seu objetivo”").

o & po st er lo ri da de ao mo me nt o presente da enun-


* Em relaçã
ciação, temos: r um presente do
oaontudo po
a) o concomitante do futuro, rapr o que vem eu
ro do pre sen to si mp le s (" An
futuro com formas do futu
viajarel para o Japão"); do futuro -,
erl or em rel açã o ao futu ro - UM passi ado
b) o ant do futuro do P
nte (“Ano
mas compostas
representado pelas for
);
que vem terei viajado para o Japão"
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Coleção Conexão Intcial 1 - Introdução à Pragmática

c) e o posterior em relação ao futuro — futuro do futuro (“Viajare-


mos depois que ela voltar”), uma forma do futuro do presente com
sentido de posterioridade.

3) Espago: ao contrério do tempo e da pessoa (necessariamen-


te marcados nas formas verbais e pronominais, por exemplo), a
categoria de espago nao precisa estar instalada de forma explicit
a
no texto. Quando marcada, é por meio de adjuntos adverbi
ais, ad-
vérbios de lugar e pronomes demonstrativos.
A partir de uma perspectiva tradicional, temos
o espago em trés
dimensdes: do falante, do receptor e das referén
cias estabelecidas
no discurso. As formas linguisticas são selecionadas
a partir do pon-
to de vista privilegiado no espago da enunciação:
um este, um esse
ou um aquele; um aqui, um af ou um lá, entre
outras possibilidades.

Enunciativo e enuncivo
Como ocorre com a categoria de pessoa,
as categorias de tem-
po e espaço podem ser utilizadas para transmitir efeitos
de ob-
jetividade ou subjetividade. Se há a utiliz
agao de categorias que
ancoram o enunciado em processo
comunicativo localizado e es-
pecifico, temos efeitos de proximida
de e comprometimento maior
com o dito, como em “Hoje eu não vou ao
mercado” e “Aqui, nesta
sala, não é possivel respirar”. As formas hoje, aqu
i e nesta sala
situam obrigatoriamente o espaço e o tem
po do enunciador em
contextos definidos,
Entretanto, se utilizamos categorias que não
ancoram o enun-
ciado em situações específicas de enunciaçã
o, produz-se um efeito
de distanciamento e objetividade, como em “No séc
ulo XIX, houve
muito avanço industrial” e “Em planetas
perto do Sol, faz muito
calor”. Esses enunciados, para produzirem seus efeitos de sen
tido,
não ancoram necessariamente o enunciador no século
XIX nem em
outros planetas do sistema solar,

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o
nãose wmum(av..'z interação verbal e comunicagao humana
Quem

Quando há proximidade, diz-se que há a presenca de catego-


rias enunciativas (eu/tu, aqui, agora), como em “Eu hoje não saio
daqui”. POr outro lado, quando há distanciamento, diz-se que há
a presençã de categorias enuncivas (ele, /4, então), como em “O

residente do país saiu do norte da África no final do més de de-


zembro de 1967".

pebreagem e embreagem
os
A instalagao das categorias da enunciagao nos enunciad
al
& reconhecida como debreagem actancial (de pessoa), tempor
,
(de tempo) e espacial (de espago). A debreagem ocorre quando
o
na lingua, são definidas as referéncias por meio da utilizagé de
categorias do aparelho formal da enunciagao. Devemos lembrar

que o eu de um texto não é exatamente o eu do mundo real, mas


a
uma categoria de pessoa instaurada no discurso por meio de um
ao
debreagem, que é uma das operagdes fundamentais da produg
e-
linguistica, em que o ato produtivo de linguagem projeta as cat
-
gorias da pessoa, do espago e do tempo naquilo que é dito. Des
a
sa forma, verifica-se que a enunciagéo se descola de si mesm e
r, as categorias
projeta, de acordo com os interesses do enunciado
linguisticas da enunciagéo.
s das cate-
Ainda devemos ficar atentos para as subversõe no uso
s de sen-
gorias da enunciagao, produzindo os mais diferentes efeito
es de
tido, Como em toda interagéo verbal, os falantes são conscient
es do aparelho
suas escolhas e perspicazes ao selecionarem unidad
formal da enunciagéo, concretizando a linguagem como espago dina-
géo.
mico e aberto a incontéveis possibilidades de significa
erminadas cate-
Desse modo, temos a embreagem quando det
gorias empregadas não correspondem às categorias que seriam
unicagao,
esperadas em processos neutros e corriqueiros de com
isto é, para criação de diversos efeitos de sentido, pes soas são
Utilizadas no lugar de outras, espaços e tempos Se subvertem, em

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N e Ó
on o LONMGR m ms ee T - Ty

ad e, de )distanciamento
e ,
de se nt id os de pr ox im id Á
rome da produção esentificagao, de anteriori-
de pr
de subjetividade,
de oRetviCade.
udº.
dade Ou p«wvd em que, por exemplo,
em br ea ge m ac ta nc ia l,
Temos. então, a
pessoa e coloca-se
um eu que fala nega SuA instância de primeira
uma professora, ao dar bronca
em terceira pessoa. Por exemplo,
o quero barulho aqui”, diz
em uma classe, em vez de dizer “Na
sor a ndo que r bar ulh o na sala ”. Nesse caso, houve em-
*A profes
ncia l enu nci va na util izag ao de uma terceira pessoa,
breagem acta
se esp era va uma prim eira , e tam bém na utilizagdo de uma
quendo
nci a esp aci al no luga r de uma categoria enunciativa como
referd
. A esc olh a rel aci ona -se ao des ejo de criagao de um efeito de
2qw
papel social e a autori-
dstenciamento, de objetividade, em que 0
dade da professora são destacados.
uma ca-
Quanto 2 embreagem espacial, poderia haver uso de
o uso de uma
tegoria enunciva no momento em que se esperava
, ao ver um
categoria enunciativa. Por exemplo, quando uma mae
Sho que não a visita ha muito tempo, diz “Venha cá, me traga de lá
um beio”. O filho e a mãe são enunciador e enunciatário num mes-
mo espaço e tempo, dessa forma ela poderia ter utilizado não um
lá (categoria do distanciamento), mas uma categoria enunciativa,
de proximidade. Mas não é, naturalmente, um erro; ha sim o desejo
de instalar um efeito de sentido. O uso de um elemento enuncivo
como o lá intensifica uma distancia e torna o encontro mais forte.
Uma embreagem temporal pode ser exemplificada quando uma
crianga, brincando com bonequinhos que imitam o cenário faroes-
: :‘;2’;:;"?“"“3:“‘0 pegar um boneco com uma arma: “Agora
3 . contexto, a crianga poderia dizer algo como
ador
m::a: :ª'gº';- : que agora ind.ica a presenca do enunci
ó po utilizado cria o espaço da imaginação e
S : F
da bribri ncadeira, distante da realidade imediata em que se instaura
o enunciador.
E”

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R T
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«quem não Se comunica...”; interação verbal e comunic 4AÇão humana

Em suma...

O processo comunicativo e a interação verbal definem ospaços


de utilização da linguagem em meio a constantes produções do
sentidos, a partir dos interesses de um falante situado em um con-
texto específico. No próximo capítulo, vamos definir a pragmática e
observar seus conceitos centrais e seus temas de estudo.

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