Simposiocienciasmedicas2017 Artigo6
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Resumo
Trata-se de um relato de caso acerca da paciente M.G.S.S., sexo feminino, 36 anos, casada,
religião católica, reside em Fortaleza com marido e filhos, diagnosticada com transtorno da
compulsão alimentar. O objetivo do estudo foi evidenciar com base na experiência vivida a
importância da intervenção nutricional no tratamento da compulsão alimentar e na remissão dos
episódios compulsivos e a eficiência da metodologia interdisciplinar por meio da mudança do
comportamento alimentar, proporcionado pelo Programa Interdisciplinar de Nutrição aos
Transtornos Alimentares e Obesidade (PRONUTRA), que atua no Núcleo de Atenção Médica
Integrada (NAMI). O atendimento nutricional é embasado na Nutrição comportamental, sendo
aplicadas suas técnicas através das fases educacional e experimental, onde é trabalhado o
comportamento alimentar através de atividades sobre alimentação saudável, imagem corporal e
ditadura da beleza, tipos de fome e sentimentos e sensações em relação à comida. Essas
temáticas são abordadas de forma interativa, colaborando para mudar positivamente o olhar da
paciente acerca da relação com a comida e com o corpo. Com o tratamento interdisciplinar e a
alta do programa, observou-se o sucesso no alcance do objetivo de melhorar a relação com a
alimentação e com a imagem corporal, melhorando os componentes social, sentimental e cultural.
Introdução
Materiais e Métodos
A paciente procurou o PRONUTRA informando ter uma obsessão por comida. Relatou que
começou a engordar após a gestação, engordou 40 kg e recebeu posteriormente o diagnóstico de
diabetes mellitus. Paciente informou que não sente fome, mas sente muita ansiedade e tem
descontrole alimentar.
O programa utiliza a metodologia recomendada, sendo assim atendimento com equipe
interdisciplinar envolvendo os três profissionais de saúde (nutricionista, psicólogo e psiquiatra),
auxiliando dessa forma as diversas questões que estão presentes no transtorno alimentar.
As sessões de Nutrição, acontecem semanalmente e são trabalhadas questões pertinentes
a mudança do comportamento alimentar, da relação com a comida, imagem corporal e identificar
a vontade de querer se alimentar para suprir alguma demanda emocional. Em cada sessão há
uma meta acordada com o paciente, que deve-se tentar seguir para êxito do tratamento. Com o
passar dos atendimentos, sem estipular tempo para diminuição dos sintomas, a adesão às metas
demonstra o controle do transtorno e a progressão do paciente no auto-controle.
O objetivo do tratamento interdisciplinar é melhorar a relação com a alimentação e com a
imagem corporal por meio da mudança do comportamento alimentar , fazendo uso de atividades
educativas que englobam temas como transtorno de compulsão alimentar; conceitos básicos de
alimentação saudável; tipos de alimentos; fome e saciedade; alimentos e sentimentos; mitos e
verdades sobre a alimentação; imagem corporal; comer consciente, além de vídeos motivacionais
e discussão de textos que compreendem a relação da mídia/sociedade com os padrões estéticos
impostos.
Seguindo o protocolo do PRONUTRA, foram realizadas diversas atividades educativas,
além de utilizar a principal ferramenta da nutrição que é o diário alimentar, que deve ser
preenchido com todas as refeições realizadas da semana, os horários, os níveis de fome e
saciedade, além dos sentimentos envolvidos em cada refeição e aos diversos alimentos presentes
na alimentação, sendo assim possível conhecer os hábitos alimentares do paciente. A proposição
e a adesão de metas semanais – não apenas alimentares, mas comportamentais, fazem parte do
monitoramento.
Resultados e Discussão
Paciente entrou no PRONUTRA em agosto de 2015 e teve alta em junho de 2016, teve
uma ótima evolução e conseguiu receber alta em menos de um ano de tratamento. Quando iniciou
o tratamento, M.G.S.S. pesava 96,8 kg, 1,56 m de altura, índice de massa corporal de 39,78
kg/m², indicando obesidade grau II, circunferência da cintura de 118 cm, indicando um alto risco
de doença cardiovascular. Paciente com diagnóstico prévio de diabetes mellitus e hipertensão
arterial. Alimentava-se mal, com episódios compulsivos recorrentes.
M.G.S.S. começou a se alimentar melhor ao longo dos atendimentos, levando lanches como
iogurtes, frutas e saladas para o trabalho, preparando suas refeições nos finais de semana. Após
três meses de atendimento, paciente começou a cessar episódios compulsivos e relatava não
sentir culpa ao se alimentar, assim como não sentia mais tanta preocupação com o peso.
No início dos atendimentos, foram realizadas várias atividades educativas, assim como:
pirâmide dos alimentos; macronutrientes; tipos de vontade; elaboração de pratos; fome e
saciedade; planejamento alimentar; rotulagem dos alimentos; tipos de alimento: in natura,
processados e ultraprocessados; alimentação consciente.
Nos atendimentos seguintes, que foram prévios a fase de alta, foi colocada em prática a
fase experimental com uso de vídeos, textos, explicação e observação dos padrões da mídia e da
sociedade, assim como a aceitação do seu corpo e trabalhando o sentimento de culpa ao se
alimentar. Foram realizadas atividades como: leitura do livro “o peso das dietas”; vídeo “de bem
comigo, não foque no peso”; peso e imagem corporal; 25 maneiras de amar o seu corpo; leitura
de textos “como sobreviver no mundo da pseudo-imagem corporal” e “ser satisfeito com meu
corpo faz a diferença”.
A paciente G.M.S.S. ingressou no PRONUTRA com vários fatores como família e amigos
que atrapalhavam a melhora, um peso muito elevado e a insatisfação com o corpo. Foram
observados muitos avanços, que foram possíveis através de tratar não somente o transtorno em
si, mas as relações multicausais no comer transtornado da paciente, acessando emoções e
sentimentos que estavam aliados a estes comportamentos, propiciando um novo relacionamento
com o alimento e com o corpo (NUNES, 2012). Assim, aos poucos foram obtidos avanços como a
melhora do padrão alimentar a consciência de não rotular alimentos como bons e ruins, auxiliando
na redução da culpa ao se alimentar, tendo como consequência a redução do peso – paciente
entrou no programa com 96,8 kg e teve alta com aproximadamente 91,7 kg.
Além disso, para a melhora do paciente é necessário que ocorra um tratamento
interdisciplinar aliado juntamente à motivação, vinculo e adesão efetiva do paciente. Devido à
complexidade da condição clínica dos transtornos alimentares é necessária uma abordagem
multiprofissional, com uma equipe composta por psiquiatra, nutricionista e psicólogo (Gorgati et
al., 2002).
Conclusão
Agradecimentos
Referências
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Position of the American Dietetic Association: nutritional
interventionin the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa and binge eating. J Am Diet
Assoc, v.12, p. 2073 -2082, 2006.
CROW, S.J. et al. Increased mortality in bulimia nervosa and other eating disorders. Am J
Psychiatry. 2009;166:1342-6.
GORGATI, Soraia Bento; HOLCBERG, Alessandra S.; OLIVEIRA, Marilene Damasco. Abordagem
psicodinâmica no tratamento dos transtornos alimentares. Rev. Bras. Psiquiatr, volume 24,
número 3, 2002.
JACOBI, C. et. Al. Coming to terms with risk factors for eating disorders: application of risk
terminology and suggestions for a general taxonomy. Psychol Bull. 2004;130(1):19-65.