Cenário Epidemiológico Da Infecção Pelo HIV e AIDS No Mundo

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NOTA Cenário Epidemiológico da Infecção

pelo HIV e AIDS no Mundo


Epidemiological setting of HIV infection and
AIDS in the World
Telma Alves Martins1, Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr2
Carl Kendall3, Rosa Maria Salani Mota2

No decorrer dos últimos 30 anos a populações chaves de alto risco (homens que
epidemia de AIDS trouxe consequências muito fazem sexo com homens e transexuais a maioria
devastadoras para famílias, comunidades e países, dos casos incidentes. As trabalhadoras do sexo
sendo um dos maiores desafios para a saúde tem doze vezes mais chance de serem positivas
pública. Mais de 7.000 pessoas são infectadas com para o HIV quando comparadas com outras
o vírus diariamente, e uma pessoa morre a cada 20 mulheres[4].
segundos de uma doença relacionada à AIDS. A Além impacto da epidemia na saúde, o
doença é atualmente a 5ª causa de morte entre HIV funciona como uma lente que amplia os
adultos e a principal causa entre as mulheres com males da sociedade e as deficiências de nossos
idades entre 15 e 49 anos[1-2]. sistemas sociais. Desta forma a reposta a epidemia
A região da África subsaariana continua pelos governos dos países tem proporcionado uma
sendo a mais atingida com 60% das pessoas oportunidade para fortalecer o tecido social,
vivendo com HIV no mundo, onde mulheres melhorar a justiça social e reforçar os sistemas que
representam 58% deste total. O Caribe, o Leste prestam serviços essenciais aos segmentos mais
europeu e a Ásia central, com uma prevalência de vulneráveis das comunidades. É necessário se
1% na população em geral são também áreas obter o equilíbrio entre a intensificação do
fortemente afetadas pela epidemia. A maioria das trabalho nos países mais afetados e a identificação
pessoas que vivem com HIV tem direito ao de outros contextos, como os grandes centros
tratamento antirretroviral, porém esta situação é urbanos, onde o impacto do HIV está afetando
quase sempre desigual, particularmente com comunidades específicas – especialmente homens
maiores dificuldades para populações-chave em que fazem sexo com homens, profissionais do
situação de risco[3]. sexo e pessoas que usam drogas[5].
A epidemiologia na America Latina e Não são apenas os números que
Caribe tem destacado o aspecto de epidemia preocupam os governantes. Desde seus primeiros
concentrada na região. Entre a população em geral dias, a epidemia foi acompanhada por uma
a prevalência de HIV na America Latina esta em epidemia social de comparável gravidade.
níveis estáveis (0,2-0,7%), no entanto o Caribe Baseada no medo, na ignorância, e no preconceito
ainda tem uma das mais altas taxas de com os grupos fortemente afetados pelo HIV, a
prevalências no (<0,1-3%). Todavia estão nas epidemia do estigma e da discriminação
1. Secretaria da Saúde do Estado do Ceará.
2. Universidade Federal do Ceará.
3. Tulane University, Estados Unidos.
Autora Correspondente: Telma Alves Martins
E-mail: [email protected]
Recebido: 15/05/2014
Aprovado: 22/06/2014

Rev Fisioter S Fun., 2014 Jan- Jun; 3(1):4-7


Cenário da Infecção pelo HIV/AIDS Mundial

freqüentemente sobrecarrega a capacidade e este o caso do Brasil cuja prevalência da infecção


vontade de comunidades e países para responder a pelo HIV na população em geral esta em torno de
epidemia. Em muitos países, inclusive no Brasil, 0,6%[16], e em 5,9% entre usuários de drogas
as pessoas que vivem com o HIV perderam seus ilícitas[17], 14,2% entre os homens que fazem sexo
empregos, suas moradias e o acesso aos cuidados com homens[18] e 4,9% entre mulheres
de saúde ou outros serviços públicos. profissionais do sexo[19].
A epidemia de HIV no mundo continua a As estimativas são de que
ter efeitos profundos em mulheres, homens e aproximadamente 718 mil indivíduos vivam com
transgêneros. Globalmente mulheres trabalhadoras o HIV/AIDS no Brasil, porém apenas 80%
sexuais são 13,5 vezes mais prováveis de viver conhecem seu diagnóstico. Nos últimos 10 anos a
com HIV que outras mulheres. Em países no oeste taxa de detecção de AIDS no Brasil sofreu uma
da África, uma substancial proporção de novas elevação de cerca de 2%, com diminuição nas
infecções (10–32%) vem ocorrendo, como Regiões Sudeste e Sul e elevação nas demais
resultado do trabalho sexual. Em Uganda, regiões. O crescimento do número de casos entre
Swaziland e Zâmbia, 7% a11% de novas infecções heterossexuais teve um reflexo direto sobre a
são atribuídas ao trabalho sexual com clientes e razão masculino/feminino, onde se observa
parceiros regulares. A prevalência média de HIV declínio nesta razão (M/F) que passou de 15:1 em
entre trabalhadores sexuais ao redor do mundo 1986 para 1,4: 1 em 2005. Entre os jovens (de 15-
varia de 22% no leste e sul da África (oito países) 24 anos) houve inversão da razão M/F (0,9: 1)
a 17% no oeste e África Central (17 países), para entre os anos de 2000 a 2005. A Região Nordeste
menos de 5% em todas as outras regiões[6]. está entre as que têm os piores indicadores de
Em outras regiões do mundo as taxas de AIDS no país, com aumento de 62,6% na taxa de
prevalência de HIV entre as profissionais do sexo detecção de AIDS e elevação de 33,3% no
variam de taxas menores que 1%[7-9] a taxas coeficiente de mortalidade nos últimos 10 anos.
maiores que 5%[10-12]. Além disso, aumentaram as taxa de detecção
Estudo realizado com profissionais do sexo (3,7%) em < 5 anos de idade, e em 72,3% entre os
de 8 cidades brasileiras mostrou mais altas taxas jovens de 15 a 24 anos, comparando os anos de
de prevalência no Rio Grande do Sul (17,9%- 2003 e 2012. No contexto da região Nordeste, o
19,5%) e menores taxas (1,2%-2,4%) em estado do Ceará concentra 16% dos casos
Sergipe[13]. A prevalência do HIV para as PS no diagnosticados, e ocupou o 19º lugar no ranking
Brasil foi de 6,7%de em Imbituba-Santa Catarina nacional, e 3º no Nordeste no ano de 2012[20].
(e 1% em Campo Grande[14]. A epidemia de AIDS no Ceará apresenta
A epidemia de AIDS se expande entre os uma tendência de crescimento no período de 1996
municípios brasileiros com 87 por cento destes a 2012, com destaque para este último ano,
registrando pelo menos 01 caso de AIDS em 2008. quando a incidência no sexo no feminino foi duas
Apesar de a interiorização ser uma tendência atual vezes maior que a de 1997, ano que sucedeu a
da epidemia, os casos de AIDS continuam introdução da terapia antirretroviral no país.
concentrados em municípios mais populosos. Embora os homens ainda registrem a maioria dos
Cidades brasileiras com menor contingente casos, observa-se um crescimento entre as
populacional (< de 50 mil habitantes) notificam mulheres, passando a razão M/F a ser de 2,5:1 em
apenas 11% de todos os casos do país, enquanto 2010. Entre os anos de 2003 a 2005 observou-se
1% dos municípios brasileiros, que tem mais de uma inversão da razão M/F confirmando a forte
500 mil habitantes notificam 51,5% de todos os presença da mulher na epidemia. A maior
casos de AIDS[15]. proporção dos casos de AIDS foi notificada em
A epidemia no Brasil é do tipo de indivíduos na faixa etária de 20 a 40 anos de
concentrada considerando os parâmetros idade[21].
estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, A cidade de Fortaleza ocupou a 6ª posição
que nomeia nesta situação países cuja prevalência na detecção de casos entre as capitais da Região
da infecção por HIV é de menos de 1% entre Nordeste. Registra mais da metade do total de
parturientes de 15 a 49 anos, e mais de 5% em casos do estado, e vem apresentando crescimento
sub-grupos da população sob maior risco, sendo (14,9 casos/100.000 hab em 2001 para 26,4
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casos/100.000 hab em 2012) nas taxas de detecção nordeste, não sendo exceção o Ceará. Estratégias
de casos[19]. A taxa de mortalidade por AIDS que promovam a melhoria da vigilância
apesar de pequenas variações vem se mantendo epidemiológica e a disseminação da informação
constante e elevada (5,78 /100.000 hab em 2008 e poderão contribuir para a gestão das ações de HIV
5,75/100.000 hab em 2012) [22]. e AIDS, e mudança nos indicadores de saúde para
A epidemia de AIDS no Brasil, ainda a população em geral, populações chaves e
apresenta taxas de detecção crescentes na região pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA).

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