Estudo de Caso

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IX Congresso Brasileiro de Energia Solar – Florianópolis, 23 a 27 de maio de 2022

INTEGRAÇÃO DE SISTEMA DE ARMAZENAMENTO EM USINA


HÍBRIDA EÓLICA-SOLAR: ESTUDO DE CASO NO MUNICIPIO DE CASA
NOVA, BAHIA

Lucas Espirito Santo Fernandes – [email protected]


Ricardo Cerqueira Medrado – [email protected]
Rodrigo Lemos Miranda – [email protected]
Centro Universitário Senai CIMATEC, Departamento de Geração, Transmissão e Distribuição
Jose Bione de Melo Filho – [email protected]
Marcio de Carvalho Filho – [email protected]
Willian Ramires Pires Bezerra – [email protected]
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), Departamento de Pesquisa, desenvolvimento e Inovação

Resumo. A geração de energia elétrica por meio da utilização de fontes renováveis tem crescido consideravelmente ao
longo dos últimos anos. Especialmente no Brasil, as fontes solar e eólica têm se destacado devido à alta disponibilidade
de irradiação solar e vento existente no território nacional. Entretanto, essas fontes possuem uma característica
intermitente em sua produção de energia, demandando alternativas para estabilização das curvas de geração. A
combinação de usinas de diferentes fontes de geração e o uso de bancos de baterias surgem como modelos promissores
para otimização da geração. Este trabalho, fruto do projeto P&D+I, visa o dimensionamento de um sistema de
armazenamento de energia utilizando baterias de lítio, com objetivo de controlar a curva de geração de uma usina
híbrida eólico-solar, analisando a condição do controle do curtailment, as ultrapassagens superiores e inferiores dos
limites estabelecidos no estudo e o custo do sistema de baterias. O estudo avaliou a inserção de baterias em uma usina
híbrida hipotética de 1,5MW eólico e 1MWp fotovoltaica. Três cenários com diferentes capacidades de armazenamento
de energia foram avaliados: 1,2 MWh, 1,4 MWh e 1,8 MWh e todos demonstraram melhoria no desempenho da planta,
em termos de controle do curtailment da geração, quando comparados à usina híbrida sem armazenamento. Dentre os
sistemas comparados, o armazenamento de 1,4 MWh apresentou a melhor atenuação de excedente vinculada ao retorno
financeiro da planta, exibindo o melhor custo-benefício.

Palavras-chave: Usinas Híbridas, Armazenamento, Energia Renovável

1. INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos na geração de energia elétrica, principalmente em usinas eólicas e fotovoltaicas, são
alavancados pela crescente demanda por fontes de energia renováveis, motivada por preocupações ambientais. Entretanto,
devido às características de sazonalidade e intermitência de produção, os benefícios econômicos da exploração individual
destas tecnologias acabam sendo impactados pelos baixos rendimentos mensais de geração. Nesse sentido, a utilização
de sistemas híbridos surge com a proposta de complementariedade de fontes renováveis de forma a minimizar os custos
de implantação e otimizar a geração de energia elétrica. Quando as fontes são consideradas de forma independente, o
dimensionamento da rede elétrica exige que se leve em consideração os picos de geração; o que leva ao
sobredimensionamento da fonte provocando aumento nos custos da energia (MOUHADJER, 2019).
Os sistemas de geração híbrida (SGH) crescem como um modelo vantajoso para geração de energia elétrica. Uma
tendência geral no cenário mundial é a exploração das potencialidades da hibridização combinando múltiplos recursos de
energia, destacando a combinação entre as fontes eólica e solar. Devido a intermitência e grande sazonalidade dessas
fontes, sistemas de armazenamento de energia podem ser utilizados para o gerenciamento energético da planta, permitindo
o controle da curva de geração e demanda da usina.
Deste modo, há diversas vantagens na implantação de uma usina hibrida eólica-solar-armazenamento. A integração
de um sistema de armazenamento de energia elétrica em uma usina eólica-solar permite complementar o suprimento de
potência para a rede, em períodos em que a produção de energia é inferior a demanda. Por outro lado, também é possível
absorver energia excedente, em períodos em que a produção é superior à demanda da rede.
Diversas tecnologias podem ser aplicadas ao sistema de armazenamento, utilizando princípios térmicos, mecânicos,
químicos e eletroquímicos. Dentre essas tecnologias, as baterias eletroquímicas destacam-se por serem uma modalidade
com grande potencial de aplicações em matrizes elétricas, devido à alta densidade de energia armazenada, versatilidade
e baixo tempo de resposta (EPE, 2019). Em especial, pode-se destacar a classe de baterias eletroquímicas de íons de lítio
(MARIA L. et al, 2009). O modelo de armazenamento a íons de lítio possui maior densidade de energia, alta expectativa
de vida, baixo tempo de recarga e alta eficiência quando comparado a outras soluções de mercado. Apesar dos benefícios
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técnicos de desempenho, a tecnologia de armazenamento de íons de lítio ainda possui um custo mais elevado que outras
técnicas mais tradicionais de armazenamento.
No trabalho de BNEF, (2019) é demostrado que existe uma alta perspectiva de crescimento no mercado de sistemas
de armazenamento para os próximos anos, onde uma gama de aplicações envolvendo juntamente as fontes eólicas e
solares surgem com grande potencial. Todavia, existem grandes desafios a serem vencidos. Um dos grandes desafios no
Brasil está na questão regulatória, onde o regramento setorial na temática precisa ser atualizado para acompanhar as
tendências e incentivos globais (EPE, 2018). Como iniciativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), foi
aberta consulta pública para regulamentar usinas híbridas em território nacional no ano de 2020. A Consulta Pública nº
061/2020 recebeu sugestões em duas fases, sendo aprovado em novembro de 2021 a regulamentação para o
funcionamento de Centrais Geradoras Híbridas (UGH) e centrais associadas. O normativo traz as definições e as regras
para o processo de outorga desses empreendimentos e para a contratação do uso dos sistemas de transmissão (CUST -
Contrato de Uso do Sistema de Transmissão), além de definir a forma de tarifação dessas usinas e da aplicação dos
descontos legais nas tarifas de uso do sistema de transmissão.
Neste contexto de grandes desafios e estudos da potencialidade de sistemas híbridos de geração de energia, buscando
antecipar ações de pesquisa aplicada e proposições de soluções comerciais, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(CHESF) lançou em 2017 a Chamada Pública P&D+I nº 02/2017 no qual foi selecionado o projeto de P&D+I1 intitulado
“Sistema inteligente com aerogerador integrado às fontes de energia eólica, solar e storage como plataforma de
desenvolvimento visando melhorias contínuas no processo de geração de energia elétrica” que visa o desenvolvimento
de um sistema inteligente de geração híbrida baseado em previsões temporais de curto e médio prazo.
Para desenvolvimento e aplicação das tecnologias, será especificada uma planta híbrida piloto com a convergência
das fontes solar, eólica e acumulação de energia, uma solução em escala de cabeça de série. O presente trabalho apresenta
parte dos estudos considerados para o dimensionamento de um sistema de armazenamento de energia em baterias para as
condições de geração de uma usina híbrida eólica-solar a ser instalada no município de Casa Nova, BA, no Parque Eólico
de Casa Nova empreendimento da Chesf. Com intuito do controle da curva de geração de energia, o sistema de baterias
foi dimensionado para armazenar a energia em momentos de excedentes de geração e injetar a energia em momentos de
pouca geração, controlando o escoamento da potência buscando elevar a eficiência do sistema.

2. METODOLOGIA

O estudo foi realizado com base em dados de medição da velocidade, frequência, direção dos ventos, irradiação
solar, medidos na usina Eólica Casa Nova e o histórico de Preço da Liquidação das Diferenças Horário (PLD horário),
fornecidos pela Câmera de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Os dados de irradiação solar e geração do local
foram extraídos do Global Solar Atlas que possui ferramenta para essa modelagem, utilizando como base uma usina de 1
MWp.
A partir dos dados de vento e de um aerogerador pertencente ao parque eólico local com potência nominal de 1,5
MW, foi calculada e modelada a curva de geração eólica (Lopez, 2012) pela Eq. (1).

(𝒄𝒑 ∗ 𝝆 ∗ 𝑨 ∗ 𝑽𝟑 )
𝑷𝑬 = (1)
𝟐

Sendo: 𝑃𝐸 a potência de geração eólica (kW), 𝑐𝑝 o coeficiente de potência (adimensional), 𝜌 a densidade do ar


(kg/m³), 𝐴 a área varrida pelo rotor da turbina eólica (m²) e 𝑉 a velocidade do vento que incide na turbina eólica (m/s).
Almejando a suavização de potência gerada na saída de uma usina hibrida, foi proposto estudo de dimensionamento
para um sistema de armazenamento BESS (Battery Energy Store System) utilizando a tecnologia de lítio. O estudo
realizou a avaliação de três cenários com diferentes capacidades de armazenamento de energia, analisando, assim, a
potência nominal de injeção, o controle do curtailment, o custo de aquisição, a frequência e duração das ultrapassagens
da curva de injeção frente aos limites estabelecidos para o estudo.

2.1 Premissas do Estudo

Para dimensionamento do sistema de armazenamento foram simuladas as curvas de geração do SGH e estabelecida
regras de controle para carga ou descarga das baterias. Um dos critérios escolhido para o controle da recarga das baterias
foi manter um patamar de energia injetada pelo SGH que respeitasse os limites de capacidade de escoamento da rede
(controle de curtailment). Neste estudo, foi considerado um controle de injeção máxima de potência de 1,5 MW,
condizente com o contrato MUST (Montante de uso do Sistema de Transmissão) da planta.
O controle de carga e descarga do sistema de armazenamento na simulação, também consiste em ter como base um
ponto de estabilidade (operação), onde o sistema deveria manter constante a injeção de energia na rede. O diagrama desse
controle está presente na Fig. 1.

1
Projeto P&D+I ANEEL de número PD-00048-0217/2020 selecionado na Chamada Pública CHESF de P&D+I nº
02/2017, em execução pelo Senai CIMATEC com conclusão prevista para março/2025. Projeto financiado pela CHESF
através do investimento obrigatório em Pesquisa e Desenvolvimento instituído pela Lei nº 9.991/2000.
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Figura 1 - Diagrama de blocos do sistema de controle.

Utilizando um ponto de referência, o sistema de armazenamento é solicitado a manter o nível de geração no valor
especificado, dentro de uma variação de ±15% do valor por onde a curva de geração pode excursionar, como apresentado
na Fig. 2.

Figura 2 - Representação do sistema de controle.

Devido às características sazonais da geração eólica e solar, apresentando valores diferentes de potência ao longo
do ano, a escolha do ponto de referência para o controle da injeção da potência teve como relação a potência nominal do
aerogerador (1,5 MW) e a potência ativa de geração de cada mês, considerando doze meses de medições. Nesse sentido,
cada mês possui um valor de setpoint de operação, como retratado na Fig. 3.

Figura 3 - Relação de potência nominal e potência ativa.

As simulações compararam sistemas de armazenamento com capacidade de energia entre 1,2 MWh, 1,4 MWh e 1,8
MWh. Todos os três sistemas possuíam potência nominal de 1 MW.

2.2 Métricas de comparação dos sistemas

Para o dimensionamento do sistema de armazenamento mais adequado para a aplicação do SGH do projeto foram
utilizados três critérios: Capacidade de controlar curtailment, duração das ultrapassagens e custos. A capacidade de
controle do curtailment de cada um dos sistemas foi avaliada com base na duração de eventos de ultrapassagens superiores
apresentadas por cada sistema ao longo de um ano (segmentado em patamares horários).
Uma ultrapassagem superior é registrada quando a injeção do SGH ultrapassa 15% do ponto de estabilidade. Por
sua vez, a ultrapassagem inferior é registrada quando a injeção do SGH fica abaixo de 15% desse mesmo ponto.
Importante registrar que para fins regulatórios, a ultrapassagem superior é mais crítica que a inferior, pois, a depender do
MUST contratado, a geradora pode ser multada pela ultrapassagem. O comparativo de custos é apresentado na Tab. 1
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(custo médio pelo kWh de R$ 4.844,68/kWh). Os dados de custos foram obtidos a partir de valores de mercado para o
sistema em estudo (referência de Dez/2021), em propostas formuladas pelos principais fornecedores.

Tabela 1 - Comparativo de custos dos sistemas de armazenamento bateria lítio

TIPO LIFEPO4 LIFEPO4 LIFEPO4


Energia útil (kWh) 1200 1400 1800
Custo Total R$ 5.861.616,00 R$ 6.838.552,00 R$ 8.792.424,00

Alinhado aos valores de custo de implementação do sistema, também foi realizado comparativo da venda de energia
no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Nesta análise, foram observados os benefícios econômicos em armazenar
energia no período de alta geração e a descarga do BESS no período de baixa geração, visando estabilidade. A análise de
custos avaliou se os ganhos financeiros advindos do controle de estabilidade compensariam o investimento do sistema
em um período de tempo aceitável.

2.3 Simulações realizadas

Para reduzir o volume de dados das simulações, as curvas de geração solar e eólica foram modeladas em “dias
típicos mensais”. Cada mês foi representado por 24h típicas, calculadas com base na média de geração diária naquele
mês. Desta forma, foi possível simplificar a análise sem perder a característica da sazonalidade anual das gerações eólica
e solar. Elaborou-se um algoritmo em linguagem PYTHON para tratar os dados de irradiação solar e velocidade de vento
e apresentar as curvas de geração. Esses dados foram novamente tratados, apresentando a curva de dia típico de cada mês
do ano. Por fim, o algoritmo exerce o controle da curva injeção, através do controle de carga e descarga das baterias.
Na Fig. 4 são apresentadas as curvas de geração do SGH nas quatro estações do ano, inverno (mês de junho),
primavera (mês de setembro), verão (mês dezembro) e outono (mês de março), levando em consideração o sistema de
armazenamento com capacidade de 1,4 MWh e potência instantânea de 1 MW. As linhas contínuas azul e amarela
representam a curva de geração dos ativos aerogerador e usina fotovoltaica, respectivamente. A linha verde representa a
curva de funcionamento do BESS. A curva vermelha informa a geração da planta sem o controle do armazenamento e a
roxa com o controle do armazenamento. Por fim, as linhas tracejadas pretas e amarelas, caracterizam o limite de injeção
da planta e os limites de ±15%, respectivamente.

Figura 4 - Curva de geração SGH.


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Nessas simulações (apresentadas na Fig. 4) é possível observar o funcionamento do algoritmo que busca manter a
injeção em um ponto de estabilidade. É possível observar, ainda, a injeção de potência instantânea, o controle de
curtailment e a duração das ultrapassagens inferiores e superiores, parâmetros que foram utilizados na comparação dos
cenários.

3. RESULTADOS

A partir da metodologia proposta, pôde-se realizar um comparativo entre a duração em horas das ocorrências de
ultrapassagens dos limites estabelecidos, considerando os cenários com e sem armazenamento. Estão representadas na
Fig. 5 e Fig. 6 a quantidade de horas das ultrapassagens do limite superior e inferior, respectivamente, ao longo de doze
meses para um dia típico de cada mês referente. Dessa forma, é caracterizado o comportamento de geração em um dia
típico, que representa a média das quantidades de horas de ultrapassagens inferiores e superiores no respectivo mês.

Figura 5 - Quantidade de horas da ultrapassagem do limite superior para o dia típico de cada mês do ano.

A partir da análise dos resultados apresentados na Fig. 5, observa-se a notória diminuição das ultrapassagens do
limite superior para o sistema com o armazenamento se comparado ao sistema sem armazenamento. Pode-se observar
que todos os sistemas de armazenamento são eficazes para o controle do curtailment. O aumento da capacidade de energia
do sistema de armazenamento é diretamente proporcional à redução das ultrapassagens superiores. Percebe-se que do
sistema de 1,2 MWh para o de 1,4 MWh, a quantidade de ultrapassagens cai para um sexto. Já o sistema de 1,8 MWh foi
capaz de zerar todas as ultrapassagens, armazenando completamente o excedente.
Na Fig. 6 é apresentado um comparativo semelhante à da primeira, mas focado em verificar as extrapolações do
limite inferior.

Figura 6 - Quantidade de horas da ultrapassagem do limite inferior para o dia típico de cada mês do ano.
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Pode-se notar que ocorreram alterações consideráveis nos eventos de ultrapassagens inferiores com a inserção do
sistema de armazenamento a partir de 1,2 MWh. Isso se deve ao fato de o armazenamento conseguir manter a curva de
injeção durante as primeiras horas de queda da geração, mantendo próximo ao setpoint estabelecido. Por outro lado, o
aumento da capacidade do sistema de armazenamento não trouxe benefícios significativos para a redução das
ultrapassagens inferiores.
Devido às características das fontes geradoras eólica e fotovoltaica, que possuem vales muito expressivos no final
das tardes e início das noites, mesmo grandes sistemas de armazenamento demonstram dificuldades em manter o patamar
de injeção próximo ao nominal nestes horários. O estudo do dimensionamento também avaliou, durante as simulações,
se a potência de 1 MW seria suficiente para atender as demandas de carga e descarga (em patamares horários). Para isto,
foram levantadas as máximas solicitações da bateria de cada mês, utilizando-se a capacidade de 1,4 MWh como referência
para simulação, apresentado na Fig. 7 e Tab. 2.

Figura 7 - Solicitações máximas a bateria.

Tabela 2 - Valores das máximas solicitações.

SOLICITAÇÕES
MÊS
MÁXIMAS (kW)
Abril 334,1754
Maio 354,4316
Junho 316,5731
Julho 263,1947
Agosto 322,678
Setembro 665,8492
Outubro 514,2268
Novembro 579,2655
Dezembro 522,439
Janeiro 493,6194
Fevereiro 478,2644
Março 579,4911

Os resultados acima apresentados demonstram que a potência de entrega de 1 MW é suficiente para o sistema em
estudo, tendo em vista que a maior solicitação ocorreu no mês setembro, no valor de aproximadamente 665,84 kW. Vale
ressaltar, que as simulações levaram em conta patamares horários, não observando eventos transitórios que possam
demandar maiores potências instantâneas do sistema de armazenamento, como o sombreamento dos módulos
fotovoltaicos. Para atender a este tipo de eventualidade, o sistema foi especificado com potência com valor próximo ao
nominal da geração solar.
Por fim, é exposto o ganho na venda de energia no ACL, a partir da Fig. 8. Nela consta o ganho mensal de cada
sistema a partir de mudança de injeção de potência devido ao controle do armazenamento. O ganho é estimado a partir
da diferença da geração hora a hora da planta com armazenamento e sem o armazenamento. Esse resultado é multiplicado
pelo valor médio do PLD horário para se chegar ao “lucro” mensal de venda. Também, foi considerado que o
armazenamento de energia é igual a injeção no final do mês.
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Figura 8 - Lucro da venda de energia no ACL.

Pode-se notar que o aumento da capacidade de armazenamento nem sempre resulta no aumento do lucro, analisando
separadamente os meses. Isso ocorre, devido ao controle de estabilidade utilizado não focar na alteração do valor do PLD
horário. Nesse sentido, a depender da excursão do valor durante o dia o aumento do armazenamento pode acarretar
prejuízo, pois o sistema de controle utilizado no estudo visa estabilidade de injeção e não métricas de inteligência de
mercado. Outro ponto a se destacar, são os meses em que o retorno permaneceu igual com o aumento do sistema de
armazenamento. Nesses meses, a curva de geração não apresentou necessidade em armazenar mais energia, pois não
existiu excedente suficiente para justificar o aumento do armazenamento. Assim, o lucro permaneceu igual nos três
cenários apresentados, embora o investimento tenha sido maior.
Na Tab. 3 os valores de lucro mensal são compilados em um lucro anual dos três sistemas. O objetivo é apresentar
o tempo de um payback simples dos três sistemas. Esse cálculo consiste na relação do investimento total com o retorno
anual. Outro dado apresentado, é o custo anual do MUST. Esse custo é composto pelo valor do MUST contratado de
1,5 MW (premissa do estudo) multiplicado pela Tarifa do Uso do Sistema de Transmissão de Geração (TUSTg). O valor
da tarifa utilizada nesse estudo foi de R$ 11,69/kW e teve como base a nota técnica da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE) sobre o cálculo da TUST (EPE, 2021).

Tabela 3 - Comparativo do retorno financeiro.

RETORNO
CUSTO ANUAL DO INVESTIMENTO PAYBACK
ARMAZENAMENTO ARBITRAGEM
MUST TOTAL SIMPLES
(ANUAL)
1,2 MWh R$ 227.112,48 R$ 210.546,00 R$ 5.861.616,00 26 Anos
1,4 MWh R$ 234.845,81 R$ 210.546,00 R$ 6.838.552,00 28 Anos
1,8 MWh R$ 243.028,62 R$ 210.546,00 R$ 8.792.424,00 36 Anos

É notório que se todo o retorno anual da venda de energia for utilizado para se pagar o sistema, o armazenamento
de 1,8MWh apresenta o pior retorno. Enquanto os armazenamentos de 1,2 MWh e 1,4MWh possuem 2 anos de diferença
para o retorno financeiro, o terceiro armazenamento apresenta um retorno de 8 anos de diferença do anterior, assim
possuindo o pior payback entre as três configurações. Importante ressaltar que não foram considerados algoritmos de
arbitragem visando máximo lucro, tampouco foram calculados outros benefícios econômicos que possam advir da
prestação de serviços ancilares ou da participação de leilões de capacidade. Estes parâmetros, quando inseridos no modelo
podem reduzir drasticamente o payback dos sistemas de storage.

4. CONCLUSÃO

O sistema de armazenamento é capaz de suavizar a curva de geração de uma usina hibrida com fontes intermitentes
como eólica e solar, durante boa parte do dia. Os três cenários de capacidade de energia apresentaram resultados
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impactantes para essa suavização, se comparados com os resultados sem o BESS. O controle do sistema de
armazenamento apresentou um bom funcionamento para manter a curva de geração do SGH dentro da margem
estabelecida. Conforme demonstrado, nas estações de verão (dezembro) e outono (março) ocorre uma queda abrupta de
geração no início da noite devido à baixa geração do aerogerador e dos módulos fotovoltaicos, demandando rápida
descarga do sistema de armazenamento.
Para tentar manter a curva dentro da margem de operação estabelecida, o sistema BESS utiliza toda a energia
disponível em poucas horas, não sendo capaz de corrigir o vale de injeção durante todo o período noturno. Já nas estações
de inverno (julho) e primavera (setembro), a fonte eólica apresenta boa curva de geração quando a solar está em baixa e
alinhada com o armazenamento, é constatada uma boa estabilidade da curva de injeção da planta durante todo o dia.
Importante ressaltar, que no mês de setembro o BESS apresentou um excelente controle de curtailment, em manter a
curva abaixo do valor de injeção nominal da planta.
O estudo demonstrou, ainda, a importância da integração da geração solar e eólica, dada sua complementariedade
nos períodos de dez da manhã à três da tarde (alta produção fotovoltaica e baixa eólica) e no período da madrugada (alta
produção eólica e sem geração solar).
Levando em consideração apenas critérios técnicos de seleção, o sistema de armazenamento de 1,8 MWh se mostrou
mais interessante para controle de geração da planta, pois obteve excelentes resultados zerando as ultrapassagens
superiores, e resultados ligeiramente melhores no controle das ultrapassagens inferiores.
Vale ressaltar, que o aumento de capacidade de energia do sistema de armazenamento impacta nos custos. Por esta
razão, seu dimensionamento deve levar em consideração os benefícios financeiros decorrentes do aumento da capacidade
de armazenamento. Assim, deve-se atentar para o retorno do investimento das três configurações. O sistema de 1,8 MWh
apresentou o pior retorno financeiro, com um payback muito superior às demais configurações, o que desaconselha sua
instalação no cenário hipotético do estudo. Em relação aos armazenamentos de 1,2MWh e 1,4MWh a diferença do retorno
do investimento é de apenas 2 anos e atrelado a isso, o segundo sistema apresentou excelentes resultados com a diminuição
das ultrapassagens. Dessa forma, o armazenamento de 1,4 MWh apresentou o melhor alinhamento de benefícios tanto
financeiros como técnicos para a planta.
Um ponto a se destacar é que controles de carga e injeção de potência, que possuam como objetivo resultados
financeiros (arbitragem), poderiam ser empregados para maximizar os benefícios gerando mais receita e reduzindo o
tempo de payback do sistema. Tais algoritmos serão objeto de desenvolvimento ao longo do Projeto de P&D+I.
Apesar de auxiliar na estabilidade do sistema, nenhum cenário de armazenamento foi capaz de manter a curva de
geração do SGH próxima ao valor de potencial nominal da usina ao longo de todo o ano. Isto indica que, em plantas
híbridas não há como se exigir um critério de contratação de MUST baseado na soma das capacidades instaladas das
fontes geradoras. Neste sentido, entendemos como acertada e providencial a publicação, por parte da ANEEL da
Resolução Normativa nº 954/2021.
Por fim, a partir dos resultados obtidos, pode-se se especificar as características que o sistema de armazenamento
deverá apresentar para satisfazer a operação do SGH. Considerando a metodologia proposta, a configuração do sistema
de armazenamento que atende satisfatoriamente as condições de geração possui especificação de potência instantânea de
1 MW e capacidade de armazenamento a partir de 1,4 MWh. Isso devido, as diminuições das ultrapassagens superiores
vinculado ao retorno financeiro apresentado. O Cenário de 1,4 MWh foi o que exibiu o melhor relação custo-benefício.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) pelos dados compartilhados e suporte
técnico e financeiro para a pesquisa. Ao SENAI CIMATEC pelo suporte técnico-científico e financeiro para o projeto. E
a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) pelo suporte técnico e incentivos a pesquisa das Usinas Híbridas.

REFERÊNCIAS

BNEF. Acesso em 26 de novembro de 2021, disponível em Bloomberg NEF: https://about.bnef.com/blog/energy-storage-


investments-boom-battery-costs-halve-next-decade/
EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Estudos do Sistema de Transmissão: Cálculos da TUST – Análise de Sensibilidade
de 2021. Nota Técnica, 2021.
EPE, Empresa de Pesquisa Energética. BEN - Balanço energético Nacional 2018: Ano base 2017. Rio de Janeiro. EPE,
2018, 292 p.
EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Sistemas de Armazenamento em Baterias: Aplicações e Questões Relevantes
para o Planejamento. 2019.
Lopez, R. A. Energia Eólica. São Paulo: Artliber. 2012,
MARIA, L.; OLIVEIRA, R. d.; FLORIANO, G. H. F. Análise da viabilidade técnica e econômica das baterias de lítio-
ar. Transactions on Power Systems, IEEE, v. 24, n. 3, p. 1469–1477, 2009.
MOUHADJER, Samir, NEÇAIBIA Ammar e BENMEDJAHED, Miloud. Hybrid photovoltaic-wind system for the
electricity production in isolated sites. International Conference of Computer Science and Renewable Energies
(IEEE/ICCSRE). Agadir, Mrcco: junho de 2019.
IX Congresso Brasileiro de Energia Solar – Florianópolis, 23 a 27 de maio de 2022

INTEGRATION OF STORAGE SYSTEM IN HYBRID WIND-SOLAR PLANT: CASE STUDY IN CASA


NOVA MUNICIPALITY, BAHIA

Abstract. Electricity generation through renewable sources has grown considerably over the past few years. Especially
in Brazil, solar and wind sources have stood out due to the high availability of solar radiation and wind present in the
national territory. However, these sources have an intermittent characteristic in their production, demanding alternatives
to stabilize the generation curve. The combination of plants from different generation sources and battery banks appears
as a promising model generation. This work, the result of the project P&D+I, aims to size an energy storage system to
control the generation curve of a wind-solar hybrid power plant, analyzing the control condition of curtailment, upper
and lower exceeding of established limits in the study, and the cost of the battery system. The study evaluated the insertion
of batteries in a hypothetical hybrid power plant of a 1.5MW wind generator and 1MWp photovoltaic. The 1.2 MWh, 1.4
MWh, and 1.8 MWh storage capacities were evaluated, and it showed an improvement in plant performance in terms of
controlling the curtailment of the generation compared to the hybrid plant without storage. The 1.4 MWh storage
presented the surplus linked to the financial return of the plant, showing the best cost-benefit.

Keywords: Hybrid Plants, Storage, Renewable Energy

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