Neurociencia e Linguagem
Neurociencia e Linguagem
Neurociencia e Linguagem
NEUROCIÊNCIA e LINGUAGEM
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59735
Neurociência e
Linguagem
Tainá Thies
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Thies, Tainá
Neurociência e Linguagem / Tainá Thies. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde,
2021.
108 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6724-4
3 Aquisição da escrita 59
3.1 Processo de aquisição da escrita 59
3.2 Métodos sintéticos de alfabetização 72
3.3 Métodos analíticos de alfabetização 78
4 Transtornos de linguagem 85
4.1 Estágios de desenvolvimento linguístico 85
4.2 Transtornos relacionados à aquisição da linguagem 92
4.3 Possibilidades de intervenção pedagógica 100
Vídeo
APRESENTAÇÃO
Esta obra compreende as diferentes visões teóricas sobre a
evolução da linguagem humana até que se tornasse o que é hoje.
Assim, partimos das neurociências para entender a linguagem
e os processos cognitivos que possibilitam essa habilidade. O
campo das neurociências é vasto e conta com estudos sobre
diferentes temas, sempre tentando elucidar a ligação entre nosso
cérebro e nossos comportamentos, entre eles, a linguagem.
Junto às neurociências, outras áreas científicas são necessárias
para compreendermos a linguagem em sua totalidade, portanto
utilizamos também conceitos ligados à linguística e à aquisição de
linguagem, por entendermos que uma habilidade tão complexa
como a linguagem não pode ser olhada somente por um ângulo.
No primeiro capítulo discutimos a evolução da linguagem,
compreendendo o campo das neurociências e a relação entre
as estruturas cerebrais que evoluíram durante muitos anos para
possibilitarem a produção da linguagem enquanto um processo
cognitivo complexo, que precisa de prática e de interação para
ser desenvolvido com maestria pelos seres humanos.
No segundo capítulo nos debruçamos sobre a linguagem
oral. Para compreendê-la em sua totalidade, distinguimos os
fatores envolvidos em sua produção a nível cerebral e fonológico,
verificando as principais estruturas e rotas para a produção e
compreensão da linguagem. Ainda, discutimos o papel da variante
linguística na aquisição de linguagem e na interação humana.
Já no terceiro capítulo damos ênfase à linguagem escrita,
detendo-nos nas etapas de aquisição de escrita e alfabetização,
passando por diferentes métodos e sua ligação com uma
alfabetização e um letramento eficientes.
Por fim, o quarto capítulo contempla transtornos de
aprendizagem de linguagem, fazendo uma distinção entre
dificuldades e transtornos e esmiuçando o papel da escola e do
professor nesse contexto.
Nesta obra são levantadas discussões de natureza reflexiva acerca do
fazer pedagógico em relação à aquisição, às dificuldades e aos transtornos
de linguagem, compreendendo que aprender a falar, ler e escrever depende
de um esforço coletivo de muitos agentes, entre eles, aluno, família e
escola. Dessa forma, as neurociências contribuem para compreendermos
como um processo complexo como a aquisição da linguagem deve ser
considerado por diferentes vieses e com um olhar global sobre todos os
sujeitos envolvidos no processo.
Boa leitura!
1
A evolução da
linguagem humana
Seja bem-vindo à disciplina de Neurociência e Linguagem.
Neste capítulo, vamos nos concentrar em compreender como se
deu o processo de evolução da espécie humana e a evolução da
faculdade da linguagem nos seres humanos. Também lançaremos
luz sobre o campo das neurociências e sobre as estruturas neu-
roanatômicas que possibilitam a produção da linguagem. Por fim,
elucidaremos os processos cognitivos envolvidos na capacidade de
produção e compreensão da linguagem.
Esperamos que você aproveite muito os estudos desta obra e
se aprofunde nos temas de seu interesse. Vamos lá?!
10 Neurociência e Linguagem
dessem origem aos mamíferos. Obviamente, tudo isso levou muito
tempo (RIDLEY, 2004).
Figura 1
Evolução dos seres vivos
Adaptado de EkaterinaP/Shutterstock
mamíferos
pássaros
répteis
artrópodes
anelídeos peixes ósseos
anfíbios
equino-
dermos
moluscos
peixes cartilaginosos
nematoides
agnados
platelmintos
celenterados
esponjas
protistas
protistas
12 Neurociência e Linguagem
australopithecus precisavam se adaptar a diferentes climas e vegeta-
ções, evoluindo também.
Figura 2
Linha do tempo da evolução dos hominídeos
Iesde S/A
A evolução do ser humano Foram necessários milhões de anos para que a evolução preparasse
ocorreu de modo linear, isto é, terreno para uma espécie que conseguisse empregar seu cérebro de
em uma sucessão de diferentes
maneira diferenciada, utilizando suas faculdades cognitivas de diversas
representantes até chegar ao
Homo sapiens? Justifique. maneiras, o que possibilitou o surgimento da linguagem humana como
a conhecemos hoje.
14 Neurociência e Linguagem
1.2 A evolução da linguagem
Vídeo Você deve estar se perguntando como a linguagem evoluiu. Todas
as línguas surgiram com essa evolução? Evidentemente, não. Para ten-
tarmos compreender como se deu a evolução da linguagem, teremos
que estudar algumas teorias. Não temos como encontrar a resposta
correta, a menos que um dia inventemos uma máquina do tempo, afi-
nal, não há como realizar observações de como a linguagem humana se
formou. Todavia, há teorias que, com base em muitos estudos, tentam
compreender e desmistificar como a nossa linguagem se desenvolveu.
Quadro 1
Componentes da faculdade da linguagem
FLSE
Sistema sensório-motor
FLSA
FL Capacidade neuronal e fonológica
Sistema conceitual-intencional
FLSE Recursividade
(Continua)
16 Neurociência e Linguagem
Autores acreditam no big bang linguístico,
isto é, que os sapiens adquiriram a faculdade
Corrente
de linguagem de modo súbito. Para eles,
descontinuísta
houve uma mutação genética muito
grande, possibilitando o surgimento dessa
capacidade cerebral. Desafio
Após a leitura das teorias que
tentam decifrar a origem da
linguagem, descubra qual delas
Para que possamos ter uma maior compreensão das diferentes mais se aproxima do seu próprio
pensamento e pesquise mais
hipóteses de surgimento da faculdade de linguagem no ser humano, para se aprofundar no assunto.
vamos conferir os principais autores de cada corrente.
Charles Darwin
Robin Dunbar
Para esse autor, a linguagem surgiu por meio de uma prática re-
corrente entre os primatas, o grooming – o conhecido catar piolhos, rea-
lizado entre os macacos. No entanto, o grooming não serve apenas para
a limpeza, mas tem como função principal a conexão entre os indiví-
duos de um bando e a aquisição de influência sobre outros indivíduos,
que pode ser potencialmente favorável às necessidades, fornecendo
comida, proteção ou não agredindo o outro.
18 Neurociência e Linguagem
Dean Falk
A hipótese genética
20 Neurociência e Linguagem
Portanto, as teorias descontinuístas tentam mostrar que, provavel-
mente, um gene compartilhado com primatas sofreu modificação na
sua estrutura quando do surgimento dos sapiens. Essas alterações fica-
ram latentes até que se consolidassem as mutações na localização da
laringe, as quais possibilitariam a produção da linguagem verbal.
Quadro 2
Neurociências
Neurocitologia/
Celular Células que formam o SN
Neurobiologia celular
Neuroanatomia: morfolo-
Populações de células nervosas que gia das células
Sistêmica
constituem sistemas funcionais Neurofisiologia: aspectos
funcionais
Estruturas neurais que produzem Psicofisiologia/
Comportamental
comportamento Psicobiologia
Com relação aos profissionais que atuam nessa área, Lent (2001)
afirma que podemos separá-los em duas grandes categorias, inde-
pendentemente da sua formação. Temos os neurocientistas, os quais
pesquisam na área de neurociências, e os profissionais do campo da
saúde, que muitas vezes investigam e aplicam as pesquisas realizadas
pelos pesquisadores para garantir saúde e qualidade de vida.
22 Neurociência e Linguagem
há possibilidade de áreas distintas conversarem e encontrarem solu-
ções em conjunto para melhorar a educação em seus diferentes níveis.
Grande parte dos estudos sobre linguagem teve como base pesquisa
com pessoas que apresentavam distúrbios nessa área. Somente após o
surgimento de tecnologias avançadas de exames por imagens é que foi
possível desvendar a linguagem no cérebro de pessoas sem distúrbios.
eJ
ad
olyg
on/Sh
utterstoc
k
Cerebelo
Tronco encefálico
Lobo frontal
Lobo parietal
Wikim
edi
Lobo
aC
om
ns
occipital
mo
Lobo
temporal
24 Neurociência e Linguagem
como linguagem ou planejamento são produzidas em conjunto por di-
versas áreas, distribuindo o trabalho.
k
toc
e ao córtex auditivo primário, essa área
ers
utt
também combina a entrada dos sons
Sh
ay/
com outros sentidos.
yw
art
Curiosidade
Você sabia que, ao con-
trário do aprendizado de
segunda língua quando
criança, que possibilita
que a área de Broca Responsável por controlar a produção
utilize sua especificidade da fala. Como está próxima à área
para ambas as línguas, Área de
motora, está implicada no controle
depois de adultos utiliza- Broca
de língua e boca, ou seja, do aparelho
mos uma região diferente
fonador que articula as palavras.
para aprender uma se-
gunda língua? Saiba mais
assistindo ao vídeo Como
seu cérebro muda ao falar
outros idiomas.
Disponível em: https://www. As áreas não trabalham sozinhas, elas se complementam para rea-
youtube.com/watch?v=_fmqo8p-
57Q. Acesso em: 18 dez. 2020. lizar o trabalho da linguagem. A figura a seguir ilustra as estruturas
implicadas na linguagem.
Iesde S/A
26 Neurociência e Linguagem
esquerdo, envolvendo as áreas de Broca e Wernicke e áreas adjacentes
a essas duas principais. Todavia, devemos também lembrar de que a
emoção é um componente fundamental na linguagem, possibilitando
a prosódia, a qual localiza-se no hemisfério direito.
Propriedades
As línguas da linguagem, Permite que nos
Dinâmica Comunicativa
evoluem. segundo comuniquemos.
Sternberg
A linguagem pode
gerar inúmeras Estruturada Pode-se analisar
Gerativa e
formas de em níveis sons, sílabas,
produtiva
expressão dentro múltiplos palavras, frases
de sua estrutura. ou textos.
Saiba mais Então, isso significa que, por meio da linguagem e das línguas, nós
A arbitrariedade do signo nos comunicamos, e para isso utilizamos um sistema estruturado e ar-
foi inicialmente postulada bitrário; isto é, por que em português nomeamos uma mesa de mesa?
pelo linguista Ferdinand
de Saussure e nos fala so- A resposta mais simples é porque em algum momento alguém deu
bre a dualidade do signo esse nome ao objeto – na verdade, um outro nome na origem da nossa
(uma palavra qualquer),
formado por um signifi- língua, provavelmente em latim, o qual foi evoluindo para mesa, afinal,
cado e um significante, as línguas também evoluem, esse é um dos seus princípios.
sendo a relação entre
eles arbitrária. Assista ao Comunicamo-nos por uma língua que entende que alguns sons com-
vídeo Sobre o princípio da
arbitrariedade do signo em binados têm significado, enquanto outros não, ou seja, há uma estrutura
Saussure para entender para compreendermos a língua. Ao mesmo tempo, essa estrutura pode
melhor esse conceito.
ser analisada em diferentes níveis, pois por ser complexa oferece diver-
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=GHLmdj- sas formas de compreensão, de um fonema a um texto.
L3HA. Acesso em: 18 dez. 2020.
As línguas são criativas. A língua portuguesa permite inúmeras
variações, possibilitando que criemos sentenças completamente
distintas umas das outras. É exatamente essa criatividade que per-
mite que uma língua evolua.
28 Neurociência e Linguagem
1. Compreensão e decodificação na recepção da linguagem. Atividade 3
30 Neurociência e Linguagem
De acordo com Lent (2001), temos os seguintes léxicons:
•• Fonológico: guarda os sons dos idiomas aprendidos; sons de fo-
nemas, palavras e frases. Localizado na área de Wernicke.
•• Semântico: permite reconhecer o contexto e o significado das
palavras. Localizado nos giros angular e supramarginal – intima-
mente ligados à área de Wernicke – e nos giros temporais médio
e inferior.
•• Sintático: guarda as regras da linguagem. Localizado na área
de Broca.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Esperamos que você tenha apreciado essa passagem pelas ori-
gens do Homo sapiens e pelas maravilhas que o cérebro humano foi
capaz de atingir em bilhões de anos de evolução. Tenha em mente
que compartilhamos sim muitas características com nossos primos
primatas, mas que a linguagem humana é única e foi capaz de criar
toda a sociedade em que vivemos.
Sem a linguagem, ainda estaríamos na Idade da Pedra, mas graças ao
poder de criar coisas que não estão ao nosso alcance visual, lembrar de ex-
periências e relatá-las aos outros, pudemos nos tornar de fato humanos.
GABARITO
1. Não. Embora talvez tenhamos aprendido que uma espécie deu origem à outra, sendo
extinta no mesmo momento, não é a verdade. Muitas espécies conviveram ao mesmo
tempo até o Homo sapiens passar a reinar sobre a Terra. Para que isso acontecesse,
este muito provavelmente exterminou e ao mesmo tempo se juntou a outras espécies.
32 Neurociência e Linguagem
2
Linguagem oral e leitura
Neste capítulo vamos compreender como a linguagem oral se
processa no cérebro e quais estruturas estão envolvidas nessa
habilidade. Além disso, vamos identificar como a linguagem oral
funciona em um nível de articulação, isto é, na fala.
Com base no estudo da fala, seguiremos com uma discussão
sobre as variantes da língua, afinal, o cérebro de todos os falantes
possui um funcionamento muito parecido para processar a lingua-
gem, porém, sendo ela um produto social, terá características pró-
prias do lugar onde é falada, da idade, do gênero, da classe social e
do momento sociocultural em que é produzida.
Por fim, veremos como esses aprendizados de linguagem oral
se conectam para possibilitar a formação de circuitos capazes de
produzir a leitura da palavra escrita.
Esperamos que a leitura seja muito produtiva. Bons estudos!
34 Neurociência e Linguagem
sons com as áreas da física, engenharia, mecânica, além de outras que têm
interesse no estudo dos sons.
Assim, a audição
tornou possível detectar as vibrações do ar e da água provocadas
pelos movimentos dos animais e das plantas, bem como desen-
volver todo um sistema de comunicação através da vocalização,
isto é, da emissão “intencional” de vibrações do meio. Através dos
sons tornou-se possível identificar a presença de certos objetos
Bigorna
Martelo
Canal
Estribo
Cóclea
Tímpano
36 Neurociência e Linguagem
ção segue para a área de Wernicke, a qual processa diversos aspectos
da linguagem, além do auditivo (LENT, 2010). Observe na imagem a
seguir as principais áreas envolvidas na linguagem oral.
Área de Wernicke
Área de Broca
Lobo parietal
Ada
Lobo frontal
pt
ada
de
M
edu
sAr
t/S
Lobo
hut
ters
occipital
toc
k
Lobo temporal
Área motora
envolvida na
vocalização Córtex auditivo
primário
Tronco
encefálico
Cerebelo
38 Neurociência e Linguagem
nador, o qual é composto pelos sistemas articulatório, fonatório e
respiratório, conforme a imagem a seguir.
Sistema articulatório:
faringe, língua, nariz,
palato e dentes
Cavidade nasal
Faringe Nariz
Boca
Glote
Esôfago
Pulmão
Pleura
Brônquios
Sistema respiratório:
pulmões, brônquios,
traqueia e diafragma
Diafragma
Shutterstock
Adaptada de
VerctorMine/
40 Neurociência e Linguagem
como esses sons são produzidos. Veja no quadro a seguir como classi-
ficar as consoantes de acordo com cada categoria.
Quadro 1
Classificação das consoantes
Figura 2
Glote e pregas vocais
Glote
signua/Shutterstock
e De
Traqueia
ad d
pta a
Ad
Cartilagem
Aberta Fechada
Estado da glote e, consequentemente, das pregas vocais. Pregas vocais e glote abertas produzem
consoantes desvozeadas. Pregas vocais e glote fechadas produzem consoantes vozeadas.
42 Neurociência e Linguagem
Figura 3
Articuladores
Lábio superior
Alvéolos
Véu palatino
Adaptada de Andrea
Danti/Shutterstock
Úvula Posterior
Média
Lâmina da
língua Anterior
Ápice da língua
Dentes
inferiores
Lábio inferior
Localização dos articuladores ativos e passivos, envolvidos nos pontos de articulação das
consoantes.
Quadro 2
Lugares de articulação das consoantes no sistema articulatório
Parte anterior da
Alveopalatal Parte média do palato duro /ch/ /j/
língua
Parte média da lín-
Palatal Parte final do palato duro /nh/ /lh/
gua
(Continua)
Quadro 3
Modos de articulação em relação à passagem do ar pelos sistemas respiratório,
fonador e articulatório
Ar Articuladores Consoantes no PT
Obstrução total do
Oclusiva Véu palatino levantado p, t, c, b, d, g
ar na boca
Obstrução total do
ar na boca; ar se
Nasal Véu palatino abaixado m, n, nh
dirige à cavidade
nasal
(Continua)
44 Neurociência e Linguagem
Ar Articuladores Consoantes no PT
Obstrução na linha Articulador ativo e pas-
Lateral central da boca, ar sivo se tocam, deixando l, lh
sai pelas laterais espaço nas laterais
Quadro 4
Características empregadas para descrever vogais
Descrição Especificidade
Nível alto /i/ /u/
Nível médio-alto /e/ /o/
Posição vertical da língua na
Altura da língua Livro
articulação Nível médio-baixo /é/ /ó/
Uma dica de leitura
para se aprofundar em
Nível baixo /a/
como ensinar consciên-
Anterior /e/ /i/ cia fonológica para as
crianças, auxiliando-as no
Posição anterior/ Posição horizontal da língua Central /a/
processo de alfabetiza-
posterior da língua na articulação ção, é a obra Consciência
Posterior /o/ /u/ fonológica em crianças
pequenas. Embora não
Arredondados /o/ /u/ seja uma obra brasileira,
Arredondamento Lábios podem ser arredon- ela foi adaptada para
dos lábios dados ou não nosso contexto, trazendo
Não arredondados /a/ /e/ /i/
diversas atividades diver-
tidas e eficazes no ensino
Fonte: Elaborado pela autora com base em Silva, 2003, p. 66-68. do reconhecimento e da
produção dos sons.
Logo, podemos usar essas categorias para classificar também as vo-
ADAMS, M. J. et al. Porto Alegre:
gais. Como exemplo, podemos citar a vogal /a/, que é uma vogal baixa Artmed, 2007.
central não arredondada.
46 Neurociência e Linguagem
Portanto, encontramos variações em todos os níveis da língua: fo- Vídeo
nológico, morfológico, lexical, discursivo, pragmático e sintático. Você sabia que no dia 5
de maio é comemorado
As línguas mudam todos os dias, evoluem, mas a essa mudança o Dia Internacional da
diacrônica se acrescenta uma outra, sincrônica: pode-se perceber Língua Portuguesa?
Para celebrar esse dia,
numa língua, continuamente, a coexistência de formas diferen-
a Editora Porto fez um
tes de um mesmo significado. Essas variáveis podem ser geográ- vídeo, publicado pelo
ficas: a mesma língua pode ser pronunciada diferentemente, ou canal MGM, com a leitura
de um poema do escritor
ter um léxico diferente em diferentes pontos do território. […]
Valter Hugo Mãe, O
Mas essas variáveis podem também ter um sentido social, quan- paraíso são os outros, por
do, em um mesmo ponto do território uma diferença linguística diferentes falantes do
é mais ou menos isomorfa de uma diferença social. O problema português ao redor do
mundo. Confira!
se torna distinguir as variáveis linguísticas das variáveis sociais
correspondentes. (CALVET, 2002, p. 89-90, grifos do original) Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=_f7HOH1igAg. Acesso
em: 18 dez. 2020.
Sabemos, por exemplo, que vogais no português brasileiro po-
dem ser abertas ou fechadas em diferentes locais do país. É o caso
da palavra seleção. Talvez você fale essa palavra com o primeiro e Glossário
aberto, algo como séleção, ou talvez você fale com o e fechado: sêle- isomorfo: diz-se do objeto
ção. Outro exemplo muito clássico são as diferentes palavras para que tem a mesma forma de
outro; nesse caso, palavras que
o mesmo objeto. Como você chama a mandioca? Aipim? Macaxeira? possuem a mesma forma.
Ou ainda por outro nome?
Esse pensamento faz com que haja uma variante que por anos foi
identificada como culta, classificando indiretamente todas as outras
variantes como incultas. Hoje, vemos um movimento que tenta retirar
essa valoração dessa diferenciação. Por isso, atualmente nos referimos
às normas da gramática como norma padrão, não mais como culta.
Assim, pelo menos, entendemos que há um padrão gramatical, e que,
do ponto de vista teórico, esse padrão não teria maior peso sobre os
outros falares. Logicamente na prática não funciona tão bem assim.
(Continua)
48 Neurociência e Linguagem
Natureza Variação Características Exemplos
/l/ por /r/ (Cleusa –
Rotacionismo
Creusa)
/lh/ por /l/ (palha – pa-
Despalatalização
lia)
Quando um som se
Iotacionismo transforma em /i/ (mu-
lher – muié/folha – foia)
Ditongo se transfor-
Monotongação ma em vogal (pouco
– poco)
Vogais que se encon-
tram antes da sílaba
Alçamento das vo-
tônica acabam tendo a
gais médias
posição da língua ele-
vada (menino – minino)
Então, conforme Calvet (2002), a ação das pessoas sobre a língua tem
objetivos, entre eles, a modernização da língua, que podemos visuali-
zar no novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (BRASIL, 2014).
50 Neurociência e Linguagem
A defesa da língua vem muitas vezes por aqueles que não conseguem Livro
entender que as mudanças são inevitáveis em uma língua, afinal, quan- Para entender como
funciona a língua do
tas palavras estrangeiras já estão em nosso vocabulário? Há ainda ponto de vista da socio-
aqueles que pensam em depuração, querem um padrão de língua que linguística e compreender
mais sobre o preconceito
é próprio da classe social da qual fazem parte, tentando fazer com que linguístico, sugerimos a
variantes menos prestigiadas sejam diminuídas, configurando assim leitura do livro A língua de
Eulália: novela sociolin-
um preconceito linguístico.
guística. Na trama, três
estudantes universitárias
Uma coisa é certa, a língua não é apenas uma faculdade cognitiva,
encaram diferentes
embora seja dependente da cognição. Ela é um produto da e para a realidades linguísticas,
entendendo melhor
sociedade, funcionando como um veículo de valores, ideias e conheci-
sobre a própria língua.
mentos, mas também de exclusão.
BAGNO, M. São Paulo: Contexto,
1997.
Sh
ut
te r
sto
ck
Módulo auditivo
Módulo
visual
O módulo auditivo é localizado na frente do cérebro e fica a cargo do processamento dos sons
da fala. Subprocessamento: sons e pronúncia. O módulo visual é localizado na parte posterior do
cérebro, sendo responsável por acessar as imagens visuais. Subprocessamento: letras e palavras.
52 Neurociência e Linguagem
Portanto, o módulo auditivo não utiliza toda a área referente à au-
dição, mas sim algumas partes que fazem o reconhecimento dos sons
ligados às formas.
54 Neurociência e Linguagem
Figura 5
Circuitos da leitura
rstock
n/S
hutt
e
Circuito superior
go
J o ly
a de
d
ta
ap
Ad
Módulo
visual
Módulo auditivo
Circuito inferior
Por esse circuito, cada letra é mapeada com seu som corresponden-
te, para que a palavra toda possa ser decodificada. Esse processo só é
possível após a aprendizagem de que há relações entre a letra e o som.
O início da alfabetização proporciona que esse circuito se forme, e é
preciso que ele se firme para que o circuito inferior possa se desenvol-
ver com excelência. À medida que vamos aprendendo a pronúncia das
palavras e armazenando-as no circuito inferior, a decodificação vai se
enfraquecendo, embora continue sendo ferramenta poderosa para a
compreensão de palavras novas e também de outras línguas.
KATO, M. São Paulo: Martins Fontes, Para um leitor iniciante, porém, cujo vocabulário visual ainda é
1990. muito limitado — mesmo para aqueles alfabetizados pelo mé-
todo global —, o processo de leitura envolve muito pouco re-
conhecimento visual instantâneo, consistindo a leitura, mais
frequentemente, em operações de análise e síntese, sendo a
apreensão do significado mediada quase sempre pela decodifi-
cação em palavras auditivamente familiares. (KATO, 1990, p. 26)
56 Neurociência e Linguagem
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Esperamos que este conteúdo tenha ajudado a compreender o pa-
norama geral do funcionamento da linguagem oral e da leitura. Partindo
desse conhecimento, das leituras e dos vídeos indicados, é possível se
aprofundar cada vez mais para compreender o processo da linguagem.
Ao entender que é necessário o aprendizado sólido dos sons para
haver base para a leitura, o processo de alfabetização se torna menos
complexo, iniciando-se ainda na aquisição da linguagem oral, permi-
tindo a intervenção desde cedo para ajudar as crianças a se tonarem
leitores competentes.
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Edições Loyola,
2007.
BRASIL. Acordo ortográfico da língua portuguesa: atos internacionais e normas correlatas.
2. ed. atual. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2014. Disponível
em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508145/000997415.
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CALVET, L. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
COELHO, I. Sociolinguística. Florianópolis: LLV; CCE; UFSC, 2010.
DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler.
Porto Alegre: Penso, 2012.
KANDEL, E. R. et al. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. Rio de
Janeiro: Atheneu, 2010.
MARTINEZ, A. M. B.; ALLODI, S.; UZIEL, D. Neuroanatomia essencial. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2015.
PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras,
1996.
SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 7 ed.
São Paulo: Contexto, 2003.
GABARITO
1. Ao começarmos a exercitar nossa língua materna, nosso aparelho fonador vai se es-
pecializando nos sons presentes nessa língua, perdendo a capacidade de promover
padrões motores de fala diferentes daqueles já aprendidos.
3. Para que a leitura seja possível, é preciso inicialmente aprender os sons da língua por
meio da linguagem oral, pois a leitura necessitará do reconhecimento dos fonemas
ligados aos símbolos gráficos no papel para poder se realizar.
58 Neurociência e Linguagem
3
Aquisição da escrita
A linguagem escrita nos envolve a todo momento. Está no
trânsito, no trabalho, na igreja e na escola, em todas as relações,
da tese científica à lista de mercado. Ela nos possibilita adquirir
conhecimentos e permite encontros com outras culturas e visões
que, sem ela, não seriam possíveis. Por meio da escrita viajamos,
amamos e odiamos.
Portanto, neste capítulo vamos nos debruçar sobre os proces-
sos de aprendizagem da escrita, entendendo a importância de se
discutir sobre métodos de ensino e compreendendo que, mesmo
necessitando de um caminho, o caminho não pode ser o método
apenas, e sim o olhar para o aluno que está aprendendo a escrever.
60 Neurociência e Linguagem
É ainda um sistema notacional porque a língua escrita é formada
por um conjunto finito de símbolos que podem se repetir no papel,
isto é, temos na língua portuguesa um conjunto de vogais, consoantes,
marcas gráficas (como acentos, pontuação etc.) e números que formam
um conjunto de elementos pertencentes unicamente a nossa língua.
Aquisição da escrita 61
ça atribui sentido aos signos à sua volta, sejam eles concretos, como os
brinquedos, ou abstratos, como as regras.
62 Neurociência e Linguagem
Figura 1
Estágios da escrita de Luria
Estágio
1 Garatujas e rabiscos Não auxiliam a crian-
ça a lembrar o que foi
“anotado”.
Estágio
2 Ajudam a criança a
Marcas não diferenciadas
lembrar alguma coisa
entre as marcas feitas.
Estágio
3 Rabiscos curtos para Demonstram percepção
palavras e rabiscos dos sons da fala.
longos para frases
Estágio
Biw3ds/Shutterstock
4 Passagem da marca no
Marcas com conteúdo
papel para um signifi-
cado atribuído a essa
marca.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Vygotsky, Luria e Leontiev, 1988.
Artigo
https://www.scielo.br/pdf/ep/v36nspe/v36nspea09.pdf
Aquisição da escrita 63
Portanto, para Luria, a criança inicia seu processo de alfabetização
com marcas indistintas que não a auxiliam a lembrar do que estava
pensando quando escreveu, mas que a encorajam a perceber que
pode fazer marcas que a auxiliarão. Em seguida, passa para o segundo
estágio, quando consegue lembrar de uma ou outra coisa, com base
em suas marcas. Já estabelecido esse processo, a criança passa a iden-
tificar que há sons longos e curtos, palavras e frases, e que pode re-
presentar essa distinção por meio de suas marcas no papel, até que,
chegando ao quarto estágio, compreende que um símbolo pode signifi-
car algo, adentrando, depois, no processo de alfabetização formal, não
descrito por Luria, pois para ele:
antes que a criança tenha compreendido o sentido e o meca-
nismo da escrita, já efetuou inúmeras tentativas para elaborar
métodos primitivos, e estes são, para ela, a pré-história de sua
escrita. Mas mesmo estes métodos não se desenvolvem de ime-
diato, passam por um certo número de tentativas e invenções,
constituindo uma série de estágios. (VYGOTSKY; LURIA; LEON-
TIEV, 1988, p. 188)
64 Neurociência e Linguagem
Portanto, para Ferreiro e Teberosky era importante considerar tanto a
leitura quanto a escrita em seu desenvolvimento, visto que são habilida-
des conjuntas na aquisição desse sistema de representação, sendo que a
leitura é um processo que começa antes mesmo de se aprender a ler, iden-
tificando marcas e sons. Assim, com base em suas pesquisas, chegaram a
cinco níveis de desenvolvimento da escrita, conforme a figura a seguir.
Figura 2
Níveis do desenvolvimento da escrita de Ferreiro e Teberosky
Nível 2
Usa letras, mas sem a correspon-
Pré-silábico
dência com o som.
Nível 3
Usa uma letra para representar
uma sílaba, em geral uma letra
Silábico
que represente um dos fonemas
da sílaba.
Nível 4
Silábico- Faz junção de letras que represen-
-alfabético tam sílabas e de letras que repre-
sentam sons de uma só letra.
Biw3ds/Shutterstock
Nível 5
Há compreensão de que cada le-
Alfabético
tra corresponde a um som.
Aquisição da escrita 65
ção entre o som e sua representação gráfica. Elas entendem que esses
níveis englobam a compreensão de que há um princípio alfabético, isto
é, de que palavras são formadas por grafemas (letras), os quais, por
sua vez, representam fonemas (sons), priorizando o lado fonológico do
aprendizado (FERREIRO, 2011).
Nível
3 Representação de cada
Estágio plenamente
som com suas letras cor-
alfabético
respondentes, sem do-
mínio de ortografia.
Nível
Biw3ds/Shutterstock
66 Neurociência e Linguagem
que Ferreiro e Teberosky não descreveram um estágio ortográfico em
que a criança já atingiu pleno domínio das regras da língua. Isso ocorre
porque, para as pesquisadoras, no momento em que atinge o nível alfa-
bético, a criança está pronta para o aprendizado das regras pelo ensino
formal. No entanto, ambas priorizam a experiência da criança no pro-
cesso de aprendizagem da escrita na etapa anterior ao ensino formal.
Quadro 1
Fases e estágios de leitura e escrita para Frith
O reconhecimento de palavras
como McDonald’s se dá primeiro
1a na leitura e de modo muito bási-
Reconhecimento da pala- co, com associação por padrões
Habilidades
1 vra por sua forma e uso, visuais óbvios.
logográficas
como em McDonald’s.
Após o reconhecimento de pala-
1b vras por formas mais complexas
é que a escrita pode acontecer.
A habilidade alfabética se mani-
festa primeiro na escrita, com a
2a
aprendizagem de produção das
Decodificação de cada le- letras.
Habilidades
2 tra com a correspondên-
alfabéticas Após o aprendizado da escri-
cia de seu som.
ta da forma das palavras e sua
2b
ligação com o som, é possível
empregar a habilidade na leitura.
(Continua)
Aquisição da escrita 67
A leitura volta a ser a primeira a
3a utilizar a habilidade ortográfica por
Análise da palavra como meio do acesso direto à palavra.
Habilidades
3 um todo, sem decodifica-
ortográficas Após o estabelecimento da leitu-
ção por acesso direto.
3b ra de palavras completas, é pos-
sível escrever as palavras.
Figura 4
Fases do desenvolvimento da escrita por Linnea Ehri
Andrew Krasovitckii/Shutterstock
Usa marcas e pistas na palavra para
Fase efetuar a leitura; pistas como marca,
pré-alfabética contexto, desenho, cores, letras do
seu nome etc.
(Continua)
68 Neurociência e Linguagem
Fase
alfabética Leitura fluente.
consolidada
Aquisição da escrita 69
criam um ambiente artificial para o aprendizado da língua escrita, en-
tendendo o aluno como ser passivo e colocando no centro do proces-
so o professor, que seleciona o que é melhor para o aluno. Assim, de
acordo com Soares (2018), tivemos ao longo desse tempo mudanças de
paradigmas muito relevantes para a alfabetização. Segundo a autora,
pode-se afirmar que a ruptura metodológica entre a soletração
e esses métodos, ocorrida no final do século XIX, foi uma pri-
meira mudança de paradigma na área da alfabetização; uma
segunda e mais radical mudança de paradigma ocorre quase
um século depois, em meados dos anos 1980, com o surgimen-
to do paradigma cognitivista, na versão da epistemologia ge-
nética de Piaget, que aqui se difundiu na área da alfabetização
sob a discutível denominação de construtivismo. (SOARES, 2018,
Leitura p. 20, grifo do original)
O Brasil participa do Pro-
Portanto, após a entrada de outras ciências, em especial a psicolo-
grama Internacional de
Avaliação de Estudantes gia cognitiva, a psicologia do desenvolvimento e as ciências linguísti-
(PISA), que em sua última
cas, nos estudos do processo de alfabetização, novos rumos para se
aplicação, em 2018, vol-
tou a apresentar baixos pensar métodos foram surgindo, e, assim, o paradigma dos métodos
índices de desempenho
se ampliou do foco em som versus imagem dos métodos analíticos e
dos alunos em Leitura,
Matemática e Ciências. sintéticos para englobar uma revolução teórico-conceitual de entender
Para entender melhor
a criança como sujeito ativo da alfabetização.
esses índices, acesse a
matéria intitulada Pisa:
Dessa forma, Soares (2018) nos explica que o construtivismo não
como o desempenho do
Brasil no exame se com- propõe um método específico, e sim uma reflexão a respeito da utiliza-
para ao de outros países
ção de métodos pré-concebidos e do processo com base nas necessi-
da América Latina, que
apresenta uma análise dades e no desenvolvimento da criança, pensando, assim, um próximo
detalhada dos fatores
passo, que seria a retirada dos métodos de alfabetização da cena. Por
envolvidos.
um período, estabeleceu-se então uma dicotomia entre os métodos
Disponível em: https://www.bbc.
com/portuguese/brasil-50646695. sintético e analítico e a não utilização de métodos.
Acesso em: 18 dez. 2020.
Embora o construtivismo tenha parecido ser uma salvação para os
Caso você tenha inte-
resse em acessar todos índices de alfabetização, estamos aqui anos depois ainda com índices
os resultados da prova, baixos de leitura e escrita. Ou seja, mesmo que essa reflexão tenha
indicamos a leitura do
relatório produzido pela possibilitado compreender que um método não pode colocar a si mes-
Diretoria de Avaliação da mo como centro do processo, devendo levar em consideração a criança
Educação Básica do MEC.
enquanto sujeito que constrói seu aprendizado, o construtivismo não
Disponível em: http://download.
inep.gov.br/acoes_internacionais/ conseguiu alavancar o processo de alfabetização como se pensava. Ain-
pisa/documentos/2019/relatorio_ da hoje há, como diz Soares (2018), a questão dos métodos, por ser
PISA_2018_preliminar.pdf. Acesso
em: 18 dez. 2020. ainda uma questão a ser discutida na tentativa de proporcionar um
aprendizado efetivo de leitura e escrita.
70 Neurociência e Linguagem
Assim, Soares (2018, p. 25, grifos do original) nos diz que “métodos
de alfabetização têm sido sempre uma questão porque derivam de con-
cepções diferentes sobre o objeto da alfabetização, isto é, sobre o que
se ensina quando se ensina língua escrita”.
Aquisição da escrita 71
língua escrita e aquele que lê ou escreve pressupõe o exercício
simultâneo de muitas e diferenciadas competências. É o que
se tem denominado alfabetizar letrando.
Livro Dessa forma, a prioridade no ensino de leitura e escrita é o conhe-
Para aprofundar suas lei- cimento e a escolha de múltiplos métodos, a depender da necessidade
turas sobre alfabetização
e letramento, indicamos dos alunos, sempre pensando em uma alfabetização que seja significa-
as obras a seguir, de tiva e que contemple o trabalho de letramento. Com isso, não se quer
autoria de três escritoras
conceituadas na área: dizer que a faceta linguística, ou seja, o aprendizado das letras e de
Alfabetização em processo; seus sons, seja menos importante – afinal, sem a aquisição do código
Letramentos, mídias, lin-
guagens; e Letramento: um não há a habilidade de uso da escrita –, mas sim que o processo de alfa-
tema em três gêneros. betização não deve ter como objetivo apenas a faceta linguística, e sim
FERREIRO, E. São Paulo: Cortez, formar leitores e escritores críticos e competentes.
2017.
ROJO, R. São Paulo: Parábola Por isso, vamos nos aprofundar nos métodos sintéticos e analíticos,
Editorial, 2019.
SOARES, M. Belo Horizonte:
para que a faceta linguística possa ser entendida como alicerce para
Autêntica; CEALE, 2007. a construção de um aprendizado significativo, mas instigamos você a
continuar seus estudos sobre o processo de alfabetização e letramento
com outras leituras, para que possa aumentar seu repertório de ensino
de escrita e leitura.
Disponível em: https:// após a Revolução Industrial é que se vislumbra a necessidade de uma
www.youtube.com/ mão de obra qualificada, que necessitava estar alfabetizada para seguir
watch?v=W_8yIABYF9Q. Acesso
em: 18 dez. 2020.
72 Neurociência e Linguagem
melhor as instruções de produção. Nesse cenário, a escola toma para
si a tarefa de alfabetizar, buscando meios para o ensino das letras em
métodos já utilizados e consolidados em outras esferas (ALMEIDA, 2008).
Reconhecimento Memorização
Memorização das
Disponível em: https://
das letras no de combinações
letras do alfabeto
pedagogiaaopedaletra.com/
alfabeto como silábicas como BA -
de modo oral. historia-das-cartilhas-de-
um todo. BE - BI - BO - BU.
alfabetizacao-as-mais-antigas/.
Acesso em: 18 dez. 2020.
Reconhecimento
das letras em Reconhecimento
sequências de cada letra.
to /
rs us
menores.
ck
te ik
ut av
Sh esl
h
ac
Vy
Aquisição da escrita 73
Dessa forma, Fontes e Benevides (2013, p. 3) afirmam que “o méto-
do alfabético ou de soletração caracteriza-se pela aplicação através de
uma sequência fixa baseada nos estímulos auditivos e visuais, sendo a
memorização o único recurso didático utilizado”. Veja a seguir o resu-
mo das etapas do método.
Figura 5
Resumo das fases do método de soletração
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Alfabeto – letra, Sílabas Palavras Sentenças Contos,
nome e forma histórias e
textos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Mendonça, 2011.
Saiba mais
Maria Montessori
desenvolveu um método
3.2.2 Método fônico (fonético)
de ensino que também O método fônico nasce na França do século XVIII como uma crí-
engloba a alfabetiza-
tica ao método de soletração, espalhando-se para a Alemanha no
ção. Seus estudos se
basearam na observação, século XIX, sendo incorporado aos trabalhos de Maria Montessori
habilidade que deve
no século XX (FRADE, 2007).
estar presente a todo o
momento em sala de aula
Esse método inicia o trabalho com a relação da fala com a escri-
para se compreender o
desenvolvimento de cada ta para entender a alfabetização como processo de entendimento do
aluno. Saiba mais sobre
nosso sistema de representação. A escrita é um processo de represen-
o método montessoriano
lendo a matéria produzi- tação, isto é, um conjunto de sinais gráficos que foram escolhidos alea-
da pelo Lar Montessori.
toriamente para representar alguns aspectos detectáveis da fala, como
Disponível em: https:// sons e pausas. Assim, a escrita não é uma transcrição da fala, e sim
larmontessori.com/o-metodo/.
Acesso em: 18 dez. 2020. uma convenção gráfica de seus elementos (ROJO, 2006). Veja a seguir o
resumo de como o método se estrutura.
Figura 6
Resumo das fases do método fônico
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Letras som Sílabas Palavras Sentenças Contos,
e forma histórias e
textos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Mendonça, 2011.
74 Neurociência e Linguagem
O método fônico apresenta as seguintes etapas, conforme Frade
(2007), sempre com a característica de selecionar primeiramente os
sons mais fáceis, e em seguida os mais complexos.
Relações
União dos sons
Aprendizado da entre vogais e
e suas formas,
forma e do som consoantes, das
descoberta
das vogais. simples para as
da sílaba e da
complexas.
palavra.
Aprendizado de
Aprendizado da
cada som em
forma e do som
conjunto com sua
kc
das consoantes.
to
rs forma.
tte
hu
/S
us
vik
sla
he
ac
Vy
Aquisição da escrita 75
Apesar das críticas, o método fônico é conhecido por produzir cons-
ciência fonológica nos alunos, em especial em crianças pequenas, uma ha-
bilidade que faz com que o aluno seja capaz de manipular os sons e refletir
sobre os mesmos. Há muitos defensores desse método, principalmente
se verificamos os índices de alfabetização no país após o uso de métodos
que não levam em consideração a consciência fonológica.
76 Neurociência e Linguagem
Portanto, a dificuldade talvez se deva à necessidade que muitos pro-
fessores ainda têm (por questões de formação) de utilizar métodos que
sejam mistos, que permitam tanto a liberdade da criança no aprender
quanto a estruturação do ensino das letras e dos sons.
Artigo
http://periodicos.estacio.br/index.php/reeduc/article/viewFile/518/633
Figura 7
Resumo das fases do método silábico
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Letras – Sílabas Palavras Sentenças Contos,
consoantes histórias e
e vogais textos
Aquisição da escrita 77
Segundo Frade (2007), a estrutura dentro do método silábico se
apresenta conforme o esquema a seguir.
Estudo das
Apresentação das
famílias
palavras-chave.
kc
silábicas.
to
rs
tte
hu
/S
us
vik
sla
Leitura he
ac
Vy
A pesquisadora e autora
Leonor Scliar-Cabral, em Embora apresentassem uma estrutura bem delimitada, algumas
entrevista ao jornal Ga-
zeta do Povo, defendeu
cartilhas traziam variações na ordem de apresentação e de destaque
o uso do método fônico, das sílabas, em especial na escolha das sílabas com vogais e consoan-
mas com a ressalva de
que ele sozinho não faz a
tes e com encontros vocálicos.
alfabetização acontecer.
Mesmo que esses métodos sejam reconhecidos como tradicionais,
Leia a matéria e entenda
o ponto de vista da é preciso considerar que a educação foi desenvolvendo tentativas e es-
autora.
tratégias para que os alunos também tivessem acesso aos significados
Disponível em: https://
em conjunto com a forma e o som. Assim, não é incomum encontrar
www.gazetadopovo.com.br/
educacao/o-metodo-fonico-e- materiais que trazem esses métodos sintéticos em conjunto com brin-
essencial-mas-sozinho-nao-e-
cadeiras e histórias. Obviamente, atividades como ditado e leitura em
suficiente-para-alfabetizar/. Acesso
em: 18 dez. 2020. voz alta são atividades privilegiadas nesses métodos, para o entendi-
mento de como a fala se transforma em um sinal gráfico (FRADE, 2007).
78 Neurociência e Linguagem
Dessa forma, o centro dos métodos analíticos é a significação, e não
mais a correlação entre som e forma. Segundo Sebra e Dias (2011, p. 312):
para além do nível da palavra, a maioria dos métodos analíticos Vídeo
toma o contexto como absolutamente relevante para a leitura Paulo Freire foi um
de uma palavra. Assim, […] em tais métodos considera-se que educador e filósofo da
educação que pensou a
a aprendizagem de leitura e escrita só pode ocorrer a partir de alfabetização de adultos
unidades que sejam significativas à criança. Em geral, métodos com base na reflexão
globais ou ideovisuais partem de unidades como palavras, tex- crítica da realidade de
seus alunos. Para ele,
tos, parágrafos, sentenças ou palavras-chave (como no método
a alfabetização não era
de Paulo Freire). É a partir destas unidades maiores e, portanto, apenas o decodificar ou
significativas que, em um segundo momento, o aprendiz chega- entender, mas o refletir
e agir sobre o mundo a
ria a uma compreensão das unidades menores que compõem
sua volta. Seu método
as palavras, porém sem necessidade de instrução sistemática e atravessa os anos com
explícita para isso. o olhar acurado de que
devemos ensinar a refletir
Portanto, os métodos analíticos colocam em cena a ampliação do mais do que a conhecer
as letras. Para compreen-
conhecimento de mundo do leitor por meio da leitura e da escrita. der mais sobre quem foi
Embora sejam divididos entre palavração, sentenciação e global, as Paulo Freire e o porquê
da importância de seu
autoras nos explicam que eles podem trabalhar conjuntamente, envol- pensamento, indicamos
vendo diferentes modalidades sensoriais. o vídeo Programa Paulo
Freire Vivo 3, do canal TV
Vamos então aos métodos dito analíticos? UFPB.
Aquisição da escrita 79
lho, podem ser utilizados flashcards, isto é, cartões que apresentam em
um lado a palavra e no outro a imagem do que a palavra representa.
Além disso, exercícios sensoriais, como escrita em areia, também são
empregados para a compreensão dos movimentos da escrita da palavra
(FRADE, 2007). Veja a seguir como se estrutura o método.
Figura 8
Resumo das fases do método de palavração
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Palavras Sílabas Letras Sentenças Contos,
histórias e
textos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Mendonça, 2011.
Figura 9
Resumo das fases do método de sentenciação
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Sentenças Palavras Sílabas Letras Contos,
histórias e
textos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Mendonça, 2011.
80 Neurociência e Linguagem
trabalho com a percepção visual, com a globalização e com ideias que
vão além de sinais na página, funcionando como um processo natural.
Aquisição da escrita 81
•• A aprendizagem da leitura deve ocorrer a partir de unidades
maiores que sejam significativas para a criança (palavras, sen-
tenças, textos), com incentivo à associação direta entre palavras
e significados. (SEBRA; DIAS, 2011, p. 313, grifo do original)
Disponível em: https://bdm.unb.br/ Assim, ao entender textos e seus usos, refletindo sobre os proces-
bitstream/10483/7373/1/2013_ sos de construção deles, as crianças adquiririam a consciência da cor-
AndressaRejaneMendesMoreira.pdf.
Acesso em: 18 dez. 2020. respondência letra-som de maneira natural, apresentando-se com a
seguinte sequência:
Figura 10
Resumo das fases do método global
Biw3ds/Shutterstock
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
fase fase fase fase fase
Contos, histórias Frases Palavras Sílabas Letras
e textos.
82 Neurociência e Linguagem
própria língua. Por isso mesmo é que se coloca a questão dos métodos: Atividade 3
devemos utilizar um só? Ele deve ser padrão para todos? Enquanto pro- Devemos padronizar o ensino de
fessores, devemos usar o método como uma tábua de salvação? alfabetização por um determina-
do método? Justifique.
Ao contrário, devemos compreender todos os métodos disponíveis
bem como as reflexões advindas do construtivismo, mas, acima de
tudo, devemos entender quem é o aluno, de onde ele vem e como se
relaciona com o mundo das letras e, assim, escolher a melhor rota para
a alfabetização. Uma coisa é certa: precisamos ter em mente a necessi-
dade de alfabetizar letrando.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Esperamos que este capítulo tenha ampliado seus conhecimentos
acerca da questão dos métodos empregados na alfabetização e das fases
pelas quais a criança passa no aprendizado da escrita. Este é um breve
resumo para que você tenha as bases para pesquisar cada vez mais e se
tornar um alfabetizador reflexivo.
A questão dos métodos, talvez, não deva ser qual método usar como
um único caminho, e sim quais métodos usar, e em que momento do pro-
cesso de alfabetização, com os perfis distintos dos alunos.
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com.br/editora/anais/fiped/2013/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_101_
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FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da
alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação, Santa Maria, v. 32, n. 1,
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Aquisição da escrita 83
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KRESS, G. Before writing: rethinking the paths to literacy. Londres: Routledge, 1997.
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São Paulo: Ícone, 1988.
GABARITO
1. O aprendizado da língua escrita requer um ensino formal, pois, diferentemente da lín-
gua oral, não é aprendido por observação e tentativa, como a fala. A língua escrita se
utiliza de vias já estabelecidas, como visão e reconhecimento dos fonemas, mas preci-
sa de prática e uma estrutura que vai do simples ao complexo para ser compreendida
como uma representação do mundo e dos sons.
2. A alfabetização é tão antiga quanto a escrita, que, quando inventada, precisou ser
conhecida por aqueles que tinham acesso à educação. O método mais antigo é o al-
fabético, ou de soletração, sendo usado ainda por muitos séculos após sua invenção.
84 Neurociência e Linguagem
4
Transtornos de linguagem
Neste capítulo vamos entender como a linguagem funciona do
ponto de vista do funcionamento tido como normal, compreen-
dendo que há etapas e variações na aquisição de linguagem. Além
disso, vamos refletir sobre as dificuldades e os transtornos de lin-
guagem, quais são os principais e como os diferenciamos.
Por fim, discutiremos sobre o papel da escola em relação aos
alunos com dificuldades e transtornos de aprendizagem, e quais
estratégias podem ser utilizadas com esses estudantes para pro-
moção de sua inclusão.
Bons estudos!
Transtornos de linguagem 85
Se falamos da linguagem oral, somos capazes de sentir o som,
perceber e reconhecer suas características, refletir sobre esse som
elaborando-o e nos expressar por meio da articulação das palavras.
E assim se dá a linguagem, uma habilidade com diversas estruturas
envolvidas e que aciona diferentes funções cognitivas para o seu
funcionamento pleno.
Lorelyn Medina/Shutterstock
86 Neurociência e Linguagem
dos e serve como suporte de leitura e escrita para pessoas cegas. Saiba mais
Esse sistema utiliza marcas em relevo no papel, com seis pontos distri- Que tal entender mais
sobre como funciona o
buídos em duas colunas, dando origem a 63 símbolos distintos (LEMOS; sistema braille? O vídeo
CERQUEIRA, 2014). Como os cegos leem #3
(como funciona o braile),
Não classificamos a Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou o braille publicado no canal de
Renata Schechter,
como formas de intervenção em transtornos de linguagem, pois, em- traz uma explicação
do funcionamento da
bora a falta de visão ou audição obviamente interfira na aquisição da
escrita de maneira clara e
linguagem típica, são transtornos decorrentes de outras situações que, detalhada.
Disponível em: https://www.
em sua maioria, não envolvem as áreas linguísticas no cérebro. Ain-
youtube.com/watch?v=w2qytW6X-
da, não sendo transtornos, essas deficiências necessitam de suporte WYg&app=desktop. Acesso em: 18
dez. 2020.
auxiliar de linguagem, no caso do braille, ou mesmo uma linguagem
própria, como no caso da Libras.
Artigo
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022007000200013&script=sci_arttext
Livro
O desenvolvimento típico da linguagem tem uma sequência mais
Para entender mais sobre
ou menos contínua, com algumas variações de criança para criança.
como a Libras pode ser
Esse desenvolvimento é dado em partes por componentes genéticos uma língua natural e
conhecer seu funciona-
da nossa espécie, mas com grande papel do ambiente na aquisição da
mento, indicamos a obra
linguagem (PEDROSO; ROTTA, 2016). intitulada Língua de sinais
brasileira: estudos linguís-
Para que a linguagem seja possível, a criança precisa de cuidado- ticos, que traz reflexões
sobre a interface entre a
res que interajam com ela de modo a estimular as aproximações com
Libras e a linguística, bem
a fala e os símbolos. Portanto, o cuidador – mãe, pai ou responsável como exemplos da estru-
tura da Língua Brasileira
– tem uma tarefa muito importante no desenvolvimento infantil, em
de Sinais.
todos os sentidos, mas em especial na linguagem. Sem o contato com a
QUADROS, R. M. Porto Alegre:
fala e as correções do seu cuidador, o bebê não aprende a falar. Artmed, 2005.
Transtornos de linguagem 87
comportamentos. Assim, Bowlby (1989, p. 118) desenvolve a teoria
do apego, a qual
considera a propensão para estabelecer laços emocionais ín-
timos com indivíduos especiais como sendo um componen-
te básico da natureza humana, já presente no neonato em
forma germinal e que continua na vida adulta e na velhice.
Durante a primeira infância, os laços são estabelecidos com
os pais (ou pais substitutos), que são procurados para prote-
ção, conforto e suporte.
A teoria do apego identifica que o bebê cria vínculo com seu cui-
dador como forma inicial de proteção, estabelecendo um padrão de
laços emocionais íntimos e permeando a aprendizagem da comuni-
cação, a qual se estabelece como emocional, uma vez que se dirige
às suas relações íntimas, na maioria das vezes a mãe, mas também
outros cuidadores.
88 Neurociência e Linguagem
Logo, o desenvolvimento da linguagem no cérebro se dá da par-
te posterior (parte de trás do cérebro) para a anterior (parte frontal).
Assim, compreensão dos significados e entendimento de que a comu-
nicação se dá por textos são as primeiras habilidades adquiridas. Na
sequência são aprendidos, já na região frontal do cérebro, os aspectos
sonoros e a sua ligação gráfica. Somente após a consolidação desses
aspectos é que o cérebro está pronto para a aquisição das regras gra-
maticais, sempre de modo gradativo.
Figura 2
Fases normais para aquisição da linguagem
balbucia de
aponta para
modo replicado –
7-9 meses objetos
“bububu”
(Continua)
Transtornos de linguagem 89
Idade Compreensão Expressão Gestos
produz de 150
a 200 palavras;
frases de 2 a 3
palavras; nomeia
2 anos objetos
formula sentenças
continua a com estrutura
desenvolver a ainda utiliza
gramatical e faz
compreensão gestos,
perguntas
3 anos adequando-os à
comunicação
Tem a sintaxe
clara e a fala é
compreensível
4 anos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Pedroso e Rotta, 2016, p. 119.
90 Neurociência e Linguagem
incessante de sílabas familiares que se tornam esboços das primeiras
palavras, girando geralmente em torno de papapa e mamama. Ao
produzirem comportamentos em seus cuidadores, o bebê entende
que utilizar tal forma de comunicação é efetiva para receber a
atenção de que necessita, utilizando cada vez mais a linguagem
falada. Nessa fase também estão presentes onomatopeias e
imitações de sons, em especial de animais. O bebê já identifica,
também nessa fase, seu nome quando é chamado, utiliza gestos e
presta atenção quando lhe falam, em uma preparação para a etapa
linguística que vem a seguir (GÓMEZ; TERÁN, 2008).
Transtornos de linguagem 91
Atividade 1 Uma das maiores angústias de pais e cuidadores é que a criança
Todas as crianças desenvolvem não esteja se desenvolvendo como deveria. Muitas vezes esse pensa-
a linguagem no mesmo tempo? mento se dá em comparação com outras crianças. Por isso, precisamos
Justifique.
compreender que, mesmo que haja uma consistência no desenrolar da
aquisição da linguagem, há também variações que são consideradas
normais no desenvolvimento infantil.
92 Neurociência e Linguagem
De acordo com Sampaio e Freitas (2014), nas dificuldades de apren-
dizagem há um descompasso entre o desempenho do aluno e o ní-
vel de desenvolvimento em que ele se encontra e suas capacidades
cognitivas. No entanto, essas dificuldades podem ser transitórias e ter
melhora significativa ao se adaptar o método de ensino para o nível
cognitivo da criança. Segundo Ohlweiler (2016, p. 107):
As dificuldades de aprendizagem podem ser chamadas de per-
curso, causadas por problemas da escola e/ou da família, que
nem sempre oferecem condições adequadas para o sucesso da
criança. Nessa categoria também se incluem as dificuldades que
a criança pode apresentar em alguma matéria ou em algum mo-
mento da vida, além de problemas psicológicos, como falta de
motivação e baixa autoestima.
Transtornos de linguagem 93
de comprometimento das funções cognitivas e a maturação do cérebro
dessa criança (OHLWEILER, 2016).
Transtorno
Transtorno do
da fonação Disfasias
ritmo
(disfonia)
Retardo no
Transtorno da
Afasias desenvolvimento
articulação
da fala
94 Neurociência e Linguagem
Normalmente esses transtornos geram sofrimento psíquico para a Filme
pessoa, e muito mais para a criança, que pode sofrer bullying e ter A gagueira é influencia-
da por fortes fatores
suas relações interpessoais dificultadas.
emocionais e aparece
As afasias são transtornos que dificultam a compreensão ou a normalmente já na infân-
cia, fazendo com que a
expressão da linguagem oral, a depender da área afetada por uma criança sofra muito com
lesão. Assim, não se constituem como um transtorno de aprendi- as dificuldades na comu-
nicação. Um ótimo filme
zagem, uma vez que acontecem quando o indivíduo já adquiriu a para entender melhor
linguagem e, por uma lesão, passa a apresentar grandes incapaci- como se processa esse
transtorno é O discurso do
dades de falar ou compreender a fala. rei. Assista e amplie seus
conhecimentos culturais
Já a disfasia se classifica “como a inabilidade para adquirir a e sobre esse transtorno.
linguagem oral em uma criança com competência cognitiva adequada, Direção: Tom Hooper. Reino Unido:
sem doença e/ou lesão cerebral importante” (PEDROSO; ROTTA, Momentum Pictures, 2010.
e, por conseguinte, também não consegue se expressar. Duas situações são muito
importantes de serem
O retardo no desenvolvimento da fala possui abrangência discutidas quando falamos
em atraso de linguagem.
para diferentes situações, por exemplo: pode ser que uma criança Uma delas é a relação da
apresente dificuldades em adquirir a linguagem oral por falta de dificuldade de aquisi-
ção da linguagem e um
estímulo ou mesmo por ter um outro transtorno de desenvolvimento. possível transtorno do
Normalmente identificamos o retardo da fala naquelas crianças que espectro autista. A segun-
da é a crescente procura
têm constantes dificuldades com alguns fonemas, como o /r/ do dos pais pelo ensino
personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, ou então em crianças bilíngue, o qual, para uma
criança com dificuldade ou
com um vocabulário pobre para sua idade. transtorno de linguagem,
pode se tornar uma dupla
Esse último é o que mais encontraremos na escola, pois os ante- dificuldade. Para saber
riores muitas vezes não passam despercebidos aos pais, mas a troca mais sobre esses dois
assuntos, indicamos dois
de letras ou a falta de vocabulário pode ser encarada como falta de vídeos do canal Terapia
socialização ou de um método de ensino. A maioria das pessoas não da criança que levantam
as questões apontadas de
sabe quais são as etapas do desenvolvimento de seus filhos, e assim uma forma crítica. Vale a
não conseguem reconhecer quando uma troca de letras se torna algo pena conferir!
Transtornos de linguagem 95
mas também na leitura e na escrita, podendo vir a apresentar dislexia,
um transtorno da linguagem escrita.
Saiba mais Segundo dados da Associação Brasileira de Dislexia, entre os anos
A Associação Brasileira de de 2013 e 2018, 40% dos pacientes avaliados pela associação foram
Dislexia desenvolve um
trabalho de formação de
diagnosticados com dislexia. Desses pacientes, 67% eram do sexo mas-
profissionais, informação culino e 81% apresentava antecedentes familiares, isto é, dislexia na fa-
à comunidade, diagnós-
tico de pacientes, bem
mília. Ainda, foram identificadas alterações em exames de audiometria,
como de divulgação de processamento auditivo e visual e exames neurológicos (ABD, 2017).
informações de apoio a
profissionais de diversas Por essa amostra podemos perceber que, mesmo sem números
áreas. Visite o site e des-
brasileiros oficiais atuais, temos alta prevalência de dislexia na popula-
cubra os materiais que
podem auxiliar na prática ção brasileira. De acordo com Pedroso e Rotta (2016, p. 136):
pedagógica com alunos
com dislexia. A definição da Associação Internacional de Dislexia, em 2003,
refere-se a um transtorno específico do aprendizado de origem
Disponível em: https://www.
dislexia.org.br. Acesso em: 18 dez. neurobiológica. Caracterizado por dificuldades no reconheci-
2020. mento exato das palavras, na fluência, na soletração e nas habili-
dades de decodificação. Estas dificuldades resultam, geralmente,
de um déficit no componente fonológico da linguagem, não es-
perado em relação às outras habilidades cognitivas e após uma
efetiva instrução escolar. Secundariamente, pode haver proble-
mas na compreensão da leitura com redução no vocabulário e
no aprendizado de base.
96 Neurociência e Linguagem
dificuldade em nomear pessoas, cores, objetos e figuras geomé-
tricas; representações gráficas aceleradas e pobres; e desinte-
resse por letras. Essas características, aliadas à investigação de
possíveis fatores genéticos, são evidências claras e merecedoras
de investigação e estimulação imediata.
Transtornos de linguagem 97
de linguagem localizadas no cérebro, é preciso uma abordagem
interdisciplinar, incluindo-se a família, para propiciar o desenvolvi-
mento da linguagem na criança com dislexia. Dessa forma, Moojen
e França (2016) chegam a algumas estratégias que promovem a
otimização do aprendizado e evitam problemas emocionais, como
baixa autoestima. Veja as estratégias no quadro a seguir.
Quadro 1
Estratégias pedagógicas para crianças com dislexia
Domínio Atividades
Explicar o problema à criança e demonstrar apoio
Dar maior atenção às dúvidas desse aluno
Preparar materiais apropriados para o nível de leitura
Apreciar as qualidades do aluno
Atitudes
Não solicitar leituras públicas, a menos que o aluno tenha tempo
para se preparar para isso
Entender que o aluno vai se distrair, pois a leitura exige muito do disléxico
Fonte: Elaborado pela autora com base em Moojen e França, 2016, p. 155-156.
98 Neurociência e Linguagem
Como podemos perceber, a dislexia, mesmo sendo um transtorno Vídeo
cujas origens são biológicas e genéticas, não pede uma intervenção A apraxia da fala é
medicamentosa, e sim pedagógica, com mudanças de paradigmas de um transtorno que
pode acompanhar um
como a escola funciona e aceita esse aluno. Quantos alunos disléxi- diagnóstico de autismo
cos não passaram anos sofrendo calados porque a escola era inflexível ou não. Para entender
mais o que é esse
com eles? Quantas vezes professores acharam que era preguiça de ler, transtorno e como
e não um transtorno? identificá-lo, assista
à entrevista com a
Assim, embora seja um transtorno que não acontece em de- fonoaudióloga Ana Lúcia
Kozonara no vídeo O que
corrência de métodos de ensino, com certeza se liga a eles para é apraxia da fala, do canal
seu bom desenvolvimento. Em certa medida, essa situação asse- de Mayra Gaiato.
Transtornos de linguagem 99
4.3 Possibilidades de intervenção pedagógica
Vídeo Por muito tempo – e até hoje – pensou-se que as dificuldades de
aprendizagem da linguagem fossem um problema apenas do aluno e
de sua família. Com esse pensamento, ao identificar a dificuldade, a es-
cola muitas vezes solicitava aos pais que fizessem uma avaliação médica
ou psicológica e que procurassem aulas de reforço. Ainda hoje, muitas
escolas oferecem aulas de reforço como atividade de contraturno.
as salas de aula, em especial das escolas públicas, como baixos Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=JADhk2CG-
salários, cargas horárias altas, sucateamento e falta de formação QYo&app=desktop. Acesso em: 18
continuada de qualidade, que dê ferramentas e desenvolva ha- dez. 2020.
Figura 3
Fatores envolvidos na compreensão da linguagem oral
Acuidade
Capacidade de escutar os sons,
auditiva
isto é, a própria audição
(Continua)
Memória
Habilidade de lembrar de sons para que sejam
auditiva
reconhecidos posteriormente
widd/Shutterstock
Fonte: Elaborada pela autora com base em Gómez e Téran, 2008.
Segundo Gómez e Téran (2008), podemos dividir as atividades para
crianças da educação infantil em:
Artigo
https://www.scielo.br/pdf/rbee/v17n3/v17n3a11.pdf
Atividade 3 Para refletir mais sobre a intervenção pedagógica pensada para transtornos
e dificuldades de linguagem, indicamos a leitura do artigo Intervenções em
As dificuldades de linguagem linguagem escrita: uma revisão da literatura com vistas à redução dos transtornos
são características que podemos funcionais de aprendizagem, de autoria das docentes Jáima Oliveira e Tania
atribuir somente aos alunos? Moron Saes Braga e publicado pela Revista Brasileira de Educação Especial.
Que tipo de intervenção é Nesse artigo você encontrará diferentes pontos de vista sobre intervenções
pedagógicas, podendo se aprofundar naquelas que achar mais interessantes.
preciso para saná-las?
Acesso em: : 18 dez. 2020 .
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Neste capítulo vimos algumas discussões muito atuais no âmbito
escolar, as quais esperamos que você aprofunde em outras leituras
e pesquisas, pois cada vez mais temos visto um movimento de conter
crianças, o qual não permite que sejam crianças que correm e desco-
brem o mundo, sendo, contudo, constantemente tolhidas pelo bem
de ficarem sentadas, em ordem. Nesse movimento, escola e medicina
entendem a criança como alguém que apresenta uma lista de sintomas
que devem ser catalogados, rotulados, medicalizados. Assim, temos
alunos cada vez mais estigmatizados no processo de aprendizagem,
gerando transtornos emocionais, repetências e abandono escolar.
REFERÊNCIAS
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www.dislexia.org.br/estatisticas-2013-2018/. Acesso em: 18 dez. 2020.
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Brasília: CFP, 2016.
NEUROCIÊNCIA e LINGUAGEM
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