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OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO: O APRENDER A SER NO


DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DO SER HUMANO

BORBA, Karina Silva da Silva


SILVA, Caroline Vaz da

RESUMO
As inúmeras e constantes mudanças no mundo e na sociedade, ainda no século XX,
evidenciaram que o próximo século traria a necessidade de um novo aprendente.
Um sujeito preparado para uma vivência global e uma sociedade sem fronteiras de
comunicação, apesar das diferenças culturais. Diante desse desafio a Unesco
patrocinou a Conferência Nacional sobre Educação realizada na Tailândia, em 1990.
Jacques Delors foi o responsável por coordenar a equipe que preparou o relatório
sobre o evento. Os quatro pilares da educação são parte desse relatório e
constituem conceitos base para a educação que prepara o ser humano para o
século XXI. Os pilares são aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a
conviver e aprender a ser. Esta pesquisa busca compreender os conceitos contidos
nos pilares e como essa apropriação contribui para a formação integral do ser
humano. Considerando o viés da psicopedagogia, buscou-se livros e publicações
em revistas e periódicos na área da educação para nortear este trabalho. A
metodologia utilizada, através da revisão bibliográfica, explica como o aprender a
aprender, o aprender a fazer e o aprender a conviver revelam um sujeito capaz de
aprender a ser. Essa formação integral reflete na sociedade, através de um sujeito
capaz de comunicar, realizar, cooperar e protagonizar a própria história.

Palavras-chaves: Quatro pilares da educação. Aprender. Aprendente.


Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

O mundo está em constante mudança e faz-se urgente a preparação do ser


humano, enquanto aprendente, para viver e comunicar-se com essa nova realidade
globalizada. Assim, essa pesquisa parte do livro Educação: um tesouro a descobrir,
fruto do relatório de Jacques Delors sobre a Conferência Nacional sobre Educação
em Jomtien/Tailândia, para a UNESCO. O olhar principal é lançado para o capítulo
quatro do livro: Os quatro pilares da educação. Os quatro pilares são aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser e, os três
primeiros, ao serem internalizados pelo aprendente, consolidam o quarto pilar.
Ao mesmo tempo em que o mundo está constantemente mudando, cada ser
humano também muda. Essa mudança se dá, sobretudo, pela extraordinária
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capacidade do ser humano em aprender. Esse aprender conduz o aprendente por


caminhos mais assertivos e felizes e ajuda na construção de uma sociedade mais
justa. Essa aprendizagem não se dá, simplesmente pelo repasse de informações,
ela é resultado do entendimento de conceitos e da capacidade de colocá-los em
execução nas diversas situações, ao longo de toda a vida. É uma aprendizagem
mais profunda e, uma vez adquirida, é capaz de transformar o aprendente, as
situações que se-lhe-apresentam e o meio que o cerca.
A delimitação do tema foi por abordá-lo sob a ótica da psicopedagogia,
convergindo para a linha de pesquisa sobre o desenvolvimento humano e os
aspectos metodológicos para compreensão das fases geracionais e o
desenvolvimento das relações afetivas, e sociais, na criança, no adulto e na velhice.
A pesquisa busca entender como o aprender a ser contribui para o desenvolvimento
do ser humano, enquanto aprendente e pessoa.
O primeiro capítulo desta pesquisa traz a introdução do trabalho e apresenta
o tema, suas divisões e a forma como foi desenvolvida, também a metodologia, o
referencial teórico e a conclusão a que se chegou com este estudo.
Considerando-se que o aprender a ser reflete em si o desenvolvimento dos
outros três pilares, tem-se, pormenorizada, a análise destes. Dessa forma, este
trabalho principia seu segundo capítulo considerando a necessidade de uma nova
aprendizagem no século XXI. Na sequência, o subcapítulo que traz o primeiro
recorte do tema e trata do aprender a conhecer e a aquisição dos instrumentos de
aprendizagem. O segundo subcapítulo traz a importância de unir teoria e prática no
aprender a fazer. O terceiro subcapítulo mostra o valor das relações afetivas e
sociais no aprender a conviver. Os três pilares, juntos, evidenciarão o aprender a ser
e a sua contribuição no desenvolvimento humano, que é o foco dessa pesquisa,
tratado no quarto subcapítulo. O quinto subcapítulo desta pesquisa trata da
metodologia adotada para o desenvolvimento.
Para elucidar esta questão, optou-se pela revisão do tipo narrativa, através de
pesquisa bibliográfica qualitativa. Partindo do relatório de Jacques Delors, a
literatura pesquisada trouxe pontos de intersecção entre os pilares da educação nos
ambientes de aprendizagem e a importância da educação no desenvolvimento
integral do ser humano. Autores como Celso Antunes e Rômulo Silva enriquecem a
pesquisa ao minuciar os pilares da educação nos ambientes de aprendizagem. Já,
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Genoveva Claro e Andreza Lopes norteiam o processo de aquisição desta


aprendizagem, através do olhar psicopedagógico.
Por fim, as considerações finais constituem o último capítulo dessa pesquisa,
apresentando a relação entre os quatro pilares da educação e a formação integral
do ser humano, o crescimento do sujeito enquanto aprendente e o reflexo desse
desenvolvimento na sociedade.

2. APRENDER A SER: O MAPA PARA O TESOURO.

No final século XX, quando se olhava para o futuro, para a chegada de um


novo século e um novo milênio, havia muitas incertezas. Os avanços tecnológicos e
o anúncio de um mundo sem fronteiras para a comunicação, trouxeram também a
preocupação com o impacto dessas mudanças nas pessoas. Conforme Mello,
Almeida Neto e Petrillo (2020, p. 65), “a educação deve permitir que todos possam
coletar, selecionar, ordenar, gerenciar e utilizar esse volume de informações e servir-
se dele”.
Não havendo mais limites para a aquisição de informações, a posse de um
computador e conexão à internet bastariam para a comunicação e a aprendizagem.
Contudo, que tipo de mudanças seriam necessárias para formar o cidadão dessa
nova realidade? Um ser cognoscente, preparado para comunicar-se com o mundo
inteiro, em tempo real. Capaz de transitar com agilidade, desenvoltura e bom senso
por todos os ambientes, físicos e virtuais.
Assim, conforme Antunes (2013), em 1990, a Unesco patrocinou, em
Jomtien/Tailândia, a realização de uma grande Conferência Nacional sobre
Educação, com o objetivo de discutir a formação desse novo aprendente, seu
desenvolvimento pleno, sua capacidade de caminhar por um mundo globalizado e
pensar de forma autônoma e crítica sobre as inúmeras informações recebidas
constantemente. Antunes continua dizendo que:

Foram definidos conceitos de fundamentos da educação e, no relatório


editado em 1999 e transformado no livro Educação: um tesouro a descobrir,
Jacques Delors, que coordenou a reunião, apresentou a proposta de uma
educação direcionada para quatro tipos fundamentais de aprendizagem
e que ficaram conhecidos como “Os quatro pilares da Educação”
(ANTUNES, 2013, p.15, grifos do original).
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Os quatro pilares são conceitos para uma educação plena, desenvolvida ao


longo de toda a vida. Não são um fim em si mesmos, mas caminhos para que o
aprendente seja instrumentalizado em seu ambiente de aprendizagem. Conforme
Delors (1998, p. 90) os quatro pilares da educação são: “aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser”. Estão
intimamente ligados e todos são necessários na construção desse aprendente
integral, no entanto, os três primeiros refletem na solidez do quarto pilar.
Os quatro pilares dão a sustentação necessária para a formação integral
desse aprendente do século XXI. São como as quatro pernas de uma cadeira,
conferindo segurança, equilíbrio e estabilidade, não apenas no aprender, mas
também no exercício dos conhecimentos adquiridos (ANTUNES, 2013).
Os pilares compreendem conceitos que devem nortear a educação ao longo
da vida e em todas as áreas, começando pela família, tendo ênfase na escola e
chegando aos demais ambientes de aprendizagem. Assim, a aquisição destes
conceitos contidos nos pilares, não está limitada a conhecimentos transmitidos de
forma rotineira, repetitiva e mecânica, depende da compreensão da essência de
cada um.
Cabe ressaltar que não se busca uma padronização na educação. Dada a
vastidão cultural e as diferenças existentes entre os povos, não seria possível nem
apropriado para a humanidade. Representaria perda de identidade e prejuízo
cultural. O que se busca é uma mesma compreensão do que é a educação e como
se chegar ao desenvolvimento integral do aprendente do século XXI, com o
pensamento globalizado. A partir dessa compreensão, vezes por pensamento
dedutivo, vezes indutivo, e até intuitivo, é que se constrói os saberes que embasam
o aprender a ser.
A psicopedagogia, segundo Claro (2018, p. 67) “tem por objeto de estudo a
aprendizagem e visa conhecer o ser aprendente e aquele que produz
conhecimento”. Em suma, essa pesquisa pretende analisar o que são os quatro
pilares da educação na sua essência, como se dá essa apropriação pelo
aprendente, chegando a sua contribuição na formação integral do ser humano.

2.1. Aprender a conhecer: entender como se aprende.


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No momento histórico e social em que se encontra o mundo, o termo


aprender é muito mais amplo que ouvir conhecimentos repassados ou decorar
conteúdos isolados das disciplinas escolares. O processo da aprendizagem é
particular e difere entre um aprendente e outro. Cada ser humano tem um modo de
aprender e a ação norteadora da psicopedagogia é fundamental neste processo.

A psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem e visa


conhecer o ser aprendente e aquele que produz conhecimento. Dessa
maneira busca compreender o sujeito em sua totalidade, ou seja, neste
despertar de século, a psicopedagogia procura “induzir” o outro a conhecer
o que é conhecer (CLARO, 2018, p. 67, grifo do original).

Aprender é, antes de tudo, saber utilizar os instrumentos do conhecimento. É


necessário entender como se aprende para aprender melhor. Este aprender a
conhecer ou aprender a aprender “está relacionado à aquisição dos meios
necessários à compreensão do mundo e ao resgate do prazer em aprender, é um
processo que deve acompanhar o indivíduo por toda a vida [...]” (SAITO e DIAS,
2012, p. 136).
Percebe-se que, interiorizar o conceito de aprender a conhecer reflete no
aprender a ser uma capacidade de absorver o conhecimento e não apenas isso,
mas também de identificar os meios para tal.
Delors (1998, p. 92) afirma que: “Aprender para conhecer supõe, antes de
tudo, aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento”. A
memória deve ir além da capacidade de relembrar momentos marcantes ou
recentes. Segundo Lopes (2020, p. 127) “a capacidade de aprender algo e de
armazenar na memória de longo prazo faz parte do desenvolvimento e traz
mudanças relativamente estáveis e duradouras ao comportamento humano”. Tal
armazenamento na memória permite a consulta das informações quando
necessário. Esse resgate do conhecimento tanto pode ancorar como descartar uma
nova informação, através da reflexão, com base no que já se sabe. A autora
continua dizendo que “o conhecimento que é armazenado nessa memória afeta a
maneira como percebemos o mundo e tem influência significativa em nossas
tomadas de decisão” (LOPES, 2020, p. 133).
Faz-se necessário que aquele que aprende adquira a capacidade de
compreensão daquilo que vê, lê ou ouve, conseguindo em sua mente, não apenas
compreender, mas realizar a relação destes conhecimentos com outros,
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anteriormente adquiridos, consolidando-os ou refutando-os à medida que conhece.


Nas palavras de Delors (1998, p. 91) é:

O aumento dos saberes, que permite compreender melhor o ambiente sob


os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual,
estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a
aquisição de autonomia na capacidade de discernir.

Nessas condições, cada aprendente deve ser levado, em seu ambiente de


aprendizagem, a fazer uso do pensamento dedutivo. Faz-se necessário que esse
aluno seja inserido em um contexto de pesquisa e aprenda a analisar conceitos. É
preciso que tais metodologias lhe sejam apresentadas como base para um saber
sólido. O entendimento conceitual e a percepção de como se aprende é muito mais
complexo que decorar informações. Cabe ao aprendente tornar-se um ser reflexivo.
Uma vez compreendido, esse aprender a aprender revela-se um grande tesouro,
capaz de transformar. Diaz (2011, apud Claro, 2018, p. 21) reitera dizendo que a
aprendizagem é:

Um processo mediante o qual o indivíduo adquire informações,


conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, para construir de modo
progressivo e interminável suas representações do interno (o que pertence
a ele) e do externo (o que está “fora” dele) numa constante relação
biopsicossocial com seu meio e fundamentalmente na infância, através da
ajuda proporcionada pelos outros.

Dessa forma, pode se observar que a curiosidade, o encantamento por


entender o mundo que o cerca e o prazer da descoberta devem acompanhar esse
ser aprendente por toda a vida. Percebe-se aqui a ação dos pensamentos indutivo e
intuitivo. E tudo começa nas primeiras relações da criança com o meio social, tanto
na convivência familiar como na escolar.
Contudo, esse aprender a aprender não está restrito a infância. Nas palavras
de Delors (1998, p. 89): “Não basta, de fato, que cada um acumule no começo da
vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se
indefinidamente”.
Por certo os avanços tecnológicos tornam o mundo cada vez menor, pela
grande quantidade de informações às quais se tem rápido acesso. Mas, ao mesmo
passo, esse mundo também está em constante mudança. Todos os dias se
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acrescentam novas descobertas ao que já se sabe sobre algo. Daí, ser necessário
que a aprendizagem ocorra por toda a vida.
Nota-se que não é só o mundo que está em constante mudança, o ser
humano também, até porque um atua sobre o outro, levando à essas
transformações. Continua Delors (1998, p. 89): “É, antes, necessário estar à altura
de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar,
aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um
mundo em mudança”. Assim, muitas vezes, é justamente a maturidade que
evidencia a capacidade de adquirir ou ampliar o conhecimento ou traz as
experiências que lhe oportunizam.

.2. Aprender a fazer: fazer mais e melhor.

O aprender a fazer, com o novo século, deixou de ser apenas aprender um


ofício e desempenhá-lo com sucesso. Não consiste mais em aprender e replicar
processos mecânicos, tão pouco em obter uma formação técnica, fator determinante
em muitos processos seletivos há algum tempo.

Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de


preparar alguém para uma tarefa material bem determinada, para fazê-lo
participar no fabrico de alguma coisa. Como conseqüência, as
aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como
simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas
continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar. (DELORS,
1998, p. 93)

O aprender a fazer vai preparar o aprendente para colocar em prática os


conhecimentos adquiridos. Não se trata, apenas, de saber seguir manuais ou imitar
exemplos ofertados. É, também, compreender o caráter cognitivo das múltiplas
atividades e ter o entendimento das próprias competências para alcançar um
objetivo. Conforme Antunes (2013, p. 31) competência é a “capacidade de mobilizar
recursos mentais para encontrar soluções de problemas de diferentes naturezas”.
Assim, o aprender a fazer também prepara um sujeito reflexivo, capaz de buscar em
seu repertório de conhecimentos os meios necessários para o fim que espera.
A competência também pode ser compreendida como “o entrelaçamento
multifacetário de conhecimentos, habilidades e atitudes (decisões) para agir de
modo adequado e apropriado em uma determinada situação-problema do mundo
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vivido” (MELO; ALMEIDA NETO; PETRILLO, 2020, p. 46, grifos do original). Esse
entrelaçamento de conhecimentos, habilidade e atitudes, nas suas múltiplas faces,
vai se desdobrar desde a aplicação das diversas áreas do conhecimento na prática
cotidiana até o desenvolvimento da atividade laboral, de fato.
É certo que a educação primária não tem como preparar um aluno para sua
futura carreira profissional, tendo em vista que não se sabe qual será. Entretanto,
nas palavras de Silva (2017, p. 262) “é importante que a educação aprimore as
habilidades de seus alunos, ou os levando a descobrir que tem esses talentos”.
Assim, a escola e os demais ambientes de aprendizagem, não buscam
ensinar um fim, mas os meios para o desenvolvimento daquele que aprende. O
caminho para o entendimento dos conceitos que levam o aluno ao aprender a fazer.
Compreensão que desperta no aluno a sensação de ter encontrado um tesouro que
jamais lhe será tirado, o próprio aprender.
Obviamente, não se busca por um aprendente capaz de fazer,
absolutamente, tudo com perfeição. O aprender a fazer possibilita ao indivíduo
buscar no seu repertório de conhecimentos a solução mais eficaz para uma
situação. E, em caso de não haver um conhecimento prévio para tal, saber trabalhar
cognitivamente, para obter as informações necessárias e chegar ao resultado
esperado.
Os seres humanos são dotados de habilidades, talentos que os distinguem
uns dos outros e se fazem complementares nas atividades cotidianas. O aprender a
fazer não se destina à um modelo de trabalho ou trabalhador, seu objetivo é mais
amplo, é a preparação de um indivíduo que atuará conjuntamente com outros, de
maneira formal ou informal, no desenvolvimento de uma atividade ou projeto
(DELORS, 1998).
A mesma habilidade que torna uma pessoa especial, também evidencia quão
importantes são a cooperação e a reciprocidade na execução dos projetos, sejam
escolares, profissionais ou sociais. Metodologias ativas, como a Instrução entre
Pares, incentivam o trabalho em equipe e promovem interação, além de
aumentarem a produtividade e proporcionarem aprendizagem recíproca (MELLO;
ALMEIDA NETO e PETRILLO, 2020).
Entende-se que o aprender a fazer prepara um indivíduo que aproveita a
oportunidade de aprender com outro que tem mais experiência ou domina um
determinado campo de conhecimento. Isso para aprender a fazer melhor. Mas
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também é um sujeito que vê uma relação de troca e não retem o conhecimento que
possui apenas para si. É capaz de absorver e de compartilhar. Entende que o
conhecimento não pesa ao ser adquirido, tão pouco se extingue ao ser
compartilhado.
Fala, também, de um indivíduo com expertise na sua área de conhecimento e
que sabe o quanto sabe. Contudo, um indivíduo com a humildade de reconhecer
quando algo está fora de seu domínio de conhecimento. E, que se faz necessário
que outro some seus saberes, para alcançar o sucesso esperado.
O processo de aprender a fazer inicia-se na infância, mas é no percurso da
vida que se intensifica e se consolida. Muitos mestres, já de avançada idade,
identificam-se como eternos aprendizes. Assim, entende-se também, que esse
saber fazer é um aprendizado constante, ao passo que “a educação ocupa cada vez
mais espaço na vida das pessoas à medida que aumenta o papel que desempenha
na dinâmica das sociedades modernas” (DELORS, 1998, p. 103). Percebe-se então,
uma educação que perdura por toda a vida, seja no âmbito acadêmico, seja no
profissional.
Na sociedade hodierna, em sua estrutura plural e dinâmica é possível
encontrar um ambiente de aprendizagem, seja sala de aula, empresa ou outro, onde
um jovem ensina aprendentes de todas as faixas etárias, inclusive idosos. A sala de
aula tradicional previa a relação contrária, onde o professor, mais velho, era detentor
do saber e ensinava seus alunos mais jovens. Essa sociedade moderna prevê
multiformes aprendizagens através de agentes distintos.
Para Delors (1998, p. 105) “a educação ao longo de toda a vida torna-se
assim, para nós, o meio de chegar a um equilíbrio mais perfeito entre trabalho e
aprendizagem bem como ao exercício de uma cidadania ativa”.
De fato, todo ser humano precisa sentir-se um cidadão, aceito como parte de
um todo, para ser pleno. Precisa ser ouvido, atuante, participante, para sentir-se
completo. Reconhecer e ter reconhecida a sua capacidade de contribuir para fazer
melhor numa sociedade que busca, constantemente o equilíbrio. Piaget (1994, p.
65), ao analisar o desenvolvimento humano, afirma: “Na realidade, a tendência mais
profunda de toda a atividade humana é a marcha para o equilíbrio. E a razão – que
exprime as formas superiores deste equilíbrio – reúne nela a inteligência e a
afetividade”.
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Em suma, o aprender a fazer dá ao aprender a ser a visão de um indivíduo


que sabe colocar em prática os saberes adquiridos, mas que reconhece que é
possível fazer mais e melhor quando se trabalha em conjunto.

2.3. Aprender a conviver: construir relações.

O aprender a conviver parte de dois princípios básicos: conhecer a si mesmo


e conhecer o outro. Conhecer-se enquanto pessoa que pensa, sente, decide, muda
de ideia, sofre frustração, recomeça, é a base da construção da identidade.
Somente o sujeito com sua identidade definida consegue colocar-se no lugar
do outro para entendê-lo. Libânio (2012, apud SILVA, 2017, p. 266) afirma que: “O
caminho da autêntica formação para viver juntos passa por uma dupla descoberta: a
do próprio valor e a do valor dos outros”. Não basta apenas saber o próprio valor, é
necessário reconhecer o valor do outro. Este outro que também é dotado de virtudes
que o distinguem e qualificam. Delors (2013, p. 98) concorda ao afirmar que:

Passando à descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si


mesmo, e por dar à criança e ao adolescente uma visão ajustada do mundo,
a educação, seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola,
deve antes de mais ajudá-los a descobrir-se a si mesmos. Só então
poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos outros e compreender as
suas reações.

A sociedade de hoje é plural e as diferenças estão presentes em todos os


âmbitos. Daí tamanha dificuldade em se colocar no lugar do outro. Claro (2018,
p.19) afirma que, “no processo de construção do conhecimento, é preciso
compreender que todo o sujeito é racional e manifesta seus desejos, ânsias e
vontades, mas é na interação com o seu meio e seus pares que esse sujeito se
entende como ser humano”. De fato, as pessoas são diferentes. São seus valores,
ética, costumes e escolhas que falam de si e lhe conferem identidade. Segundo
Mello, Almeida Neto e Petrillo (2020, p. 52) o aprender a conviver deve levar o
aprendente a desenvolver “o conhecimento a respeito dos outros, de sua história,
tradições e espiritualidade”.
Em tese, para colocar-se no lugar do outro é preciso estar disposto a ouvir,
reconhecer o seu valor. Normalmente o ser humano tem facilidade para falar, não
para ouvir. E ouvir a história do outro, seus desejos, motivações, decepções, pode
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tanto dar sentido às atitudes contrárias como revelar coisas em comum. Percebe-se
que, acima de tudo, todos os seres humanos buscam as mesmas coisas: respeito,
compreensão, afeto, reconhecimento das virtudes. O ser humano, seja criança ou
adulto, só executa uma função exterior ou mesmo interior quando motivado por uma
necessidade, alguma mudança que gera um desequilíbrio e leva a um reajustamento
de conduta. Como uma palavra de alguém que pode causar simpatia ou gerar um
conflito (PIAGET, 1994).
Supõe-se que as pessoas têm o poder de escolha quanto a algumas de suas
relações como o casamento ou as amizades, mas ainda nessas relações que se
imagina ter controle, há divergências de pensamento. O bom senso diz que para
viver bem em família e entre amigos é preciso ser tolerante, ter paciência e tentar
compreender o outro. Assim, presume-se que as mesmas atitudes devem ser
tomadas nas relações que não são escolhidas, mas agregadas pela vida.

Portanto, conflitos devem ser trabalhados de forma que os membros da


equipe conheçam-se uns aos outros como interdependentes e fazendo com
que se sobressaiam as semelhanças ao invés das diferenças. Assim, torna-
se possível a busca por objetivos comuns e a tensão cede lugar à
cooperação. (SAITO; DIAS, 2012, p. 138)

Certo adágio diz que o ser humano deve construir mais pontes e menos
muros. Quando o aprendente, desde a tenra idade, ainda em família, começa a
perceber que as diferenças existem, mas que as relações devem apoiar-se nas
semelhanças e nos objetivos comuns, esse aprendente se desenvolve, enquanto
pessoa, com maior facilidade de lidar com os conflitos.
Resolver um conflito não significa, necessariamente, que alguém vai mudar
drasticamente de opinião, mas que se busca um equilíbrio, uma combinação de
ideias, valores e contribuições. Libânio (2012; apud SILVA, 2017, p. 265) diz que:
“Aprender a viver juntos implica a capacidade de entrar nesse jogo de diálogo no
equilíbrio difícil da tolerância e de seu limite”.
Uma vez adquirida essa habilidade de buscar as semelhanças, os múltiplos
talentos que podem tornar o que é bom ainda melhor, o aprendente consegue
conviver com seus grupos de forma mais harmoniosa e produtiva. E, inúmeras
vezes, as diferenças vão diminuindo diante dessas semelhanças que surgem.
Antunes (2013, p. 39) diz que a amizade “é um conjunto de fenômenos psíquicos
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que se manifestam sob a forma de emoções, e estas provocam sentimentos”. Uma


relação distante, que foi agregada pela vida pode tornar-se uma amizade.
Tanto construir muros como pontes provocam sentimentos, a diferença é que
os muros separam e isolam, enquanto as pontes aproximam encurtando as
distâncias. O aprender a conviver vai estruturar um aprender a ser que não
compromete a sua legitimidade ou ética, mas consegue respeitar o outro e conviver
harmoniosamente, por entender o seu valor.

.4. Aprender a ser: protagonizar a própria história.

O aprender a ser tem a ver com o desenvolvimento integral e este ultrapassa


o decorar informações ou agir de forma a adequar-se a um modelo imposto.
Segundo Delors (1998, p. 81): “O desenvolvimento humano é um processo que visa
ampliar as possibilidades oferecidas às pessoas”. Desenvolver é possibilitar o
crescimento de algo que já existe, ainda que de forma singela. Percebe-se, então,
que há um ponto de partida para a jornada do aprender a conhecer, a fazer, a
conviver e a ser. Desenvolver-se é um processo e, durante todo o arco formativo,
esse processo deve ofertar ao aluno elementos que o conduzam num crescimento
contínuo, integral e equilibrado, em todos os sentidos de sua vida, trazendo
confiança, estima e respeito para as suas relações (SILVA, 2017).
Em suma, há uma nobre e árdua missão a ser desempenhada pelos diversos
ambientes de aprendizagem, formais e não formais: despertar o que está latente no
aprendente, levando-o ao crescimento. Missão esta, também, para todos aqueles
vocacionados para orientar o saber. Silva (2017, p. 273) afirma que o
psicopedagogo deve dar “o suporte real da criatividade, da liberdade e da
inteligência do aluno, ou seja, ele apenas desperta e orienta essas qualidades em
seus alunos”.
Percebe-se que o aprendente deve ser protagonista em seu processo de
formação integral. A educação, baseada nos quatro pilares vistos até aqui,
apresenta ao aprendente ferramentas para que ele construa seu saber. “À educação
cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente
agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele” (DELORS,
1998, p. 89).
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O desenvolvimento pleno leva a um aprendente que consegue olhar para si,


reconhece suas habilidades e identifica suas deficiências. E, que não vê o precisar
de ajuda como fraqueza, mas como uma oportunidade de crescimento diferenciada.
Que mantém a autoestima, pois não busca ser perfeito, mas ser melhor a cada dia.
Essa autoestima que é a “saborosa emoção da felicidade de ser” (ANTUNES, 2013,
p. 72).
Aprender a ser, fala de um indivíduo que consegue transitar entre ambientes,
com públicos distintos, que usa diversas linguagens, sem parecer tolo ou
despreparado aos mais instruídos, nem inacessível ou arrogante aos mais simples.
Alguém capaz de dialogar com pessoas mais jovens e mais velhas, transmitindo e
absorvendo saberes sem, contudo, comprometer seu lugar no agora.

Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial, conferir a
todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus
talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio
destino (DELORS, 1998, p. 100).

Dessa forma, tem-se um indivíduo que consegue lidar com toda a diversidade
da sociedade hodierna, sem perder sua identidade, mas também sem discriminar o
que é diferente de si. Alguém que leva a paz consigo, não a dissensão. Um ser
humano que mantém sua força de caráter e não compromete o que julga certo, mas
também tem sensibilidade frente a situações que exigem soluções imediatas e
diferenciadas. Resumidamente, “a educação manifesta aqui, mais do que nunca, o
seu caráter insubstituível na formação da capacidade de julgar” (DELORS, 1998, p.
47).

METODOLOGIA

Através de pesquisa bibliográfica na área da educação, fez-se a escolha do


tema pelos quatro pilares da educação do século XXI. A delimitação do tema foi por
abordá-lo sob a ótica da psicopedagogia, daí o uso frequente da expressão
aprendizagem. A pesquisa converge para a linha de pesquisa sobre o
desenvolvimento humano e os aspectos metodológicos para compreensão das fases
geracionais e o desenvolvimento das relações afetivas, e sociais, na criança, no
adulto e na velhice.
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Para elaborar este artigo, optou-se pela revisão do tipo narrativa, através de
pesquisa bibliográfica qualitativa, a partir da análise de livros de autores clássicos e
contemporâneos e artigos oriundos de repositórios e revistas científicas. Um vasto
material foi encontrado sobre o assunto de interesse, porém sobre o viés político.
Como não é do interesse desta pesquisa discutir se é ou não possível pensar numa
educação globalizada, com base no capitalismo e nas diferenças entre os países, tal
material não foi incluso neste trabalho. O estudo busca elucidar como o aprender a
ser contribui na formação integral do ser humano. Assim, a busca voltou-se à análise
pelo viés psicopedagógico, tendo os seguintes descritores: quatro pilares da
educação, psicopedagogia e aprender.
O primeiro recorte traz o aprender a conhecer e a aquisição dos instrumentos
de aprendizagem que conferem autonomia ao aprendente e aumentam sua
capacidade de discernimento. O segundo recorte fala da importância de unir teoria e
prática no aprender a fazer e estar preparado para, não apenas interagir com o
meio, mas também atuar sobre ele e transformá-lo de modo construtivo. O terceiro e
último recorte discute as relações humanas no aprender a conviver, os desafios em
superar as diferenças e como a cooperação mútua edifica a sociedade. Os três
pilares, juntos, evidenciam o aprender a ser e a sua contribuição no
desenvolvimento humano, as mudanças possíveis ao longo da vida e as
transformações na sociedade.
O referencial teórico percorre discussões sobre o desenvolvimento do ser
humano, a aprendizagem, o trabalho e a vida em sociedade. A pesquisa qualitativa
debruçou-se sobre a obra de Delors (1998), na perspectiva de que a educação deve
ser global e com equidade, baseada na compreensão do processo de
aprendizagem. Na mesma direção, Antunes (2013), Saito e Dias (2018) e Silva
(2017) consideram os quatro pilares da educação nos diversos ambientes de
aprendizagem. O processo de aquisição da aprendizagem e como sua apropriação
reflete no desenvolvimento integral do ser humano é, ainda, esquadrinhado por
Claro (2018).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os quatro pilares da educação sob o viés psicopedagógico, é


possível compreender essa educação como um tesouro ao alcance do aprendente,
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esperando para ser descoberto. Desde a família, passando pela escola e chegando
ao convívio social, cabe aos ambientes de aprendizagem munir o aprendente com
os instrumentos para encontrá-lo. O tesouro não é entregue, mas sim o mapa.
A psicopedagogia vai olhar para o aprendente e sua aprendizagem,
principalmente no ambiente escolar, mas não apenas nele. Vai contemplar também
o ambiente familiar, que antecede a escola e, ainda, os diversos ambientes de
aprendizagem que lhe sucedem. Vai observar o desenvolvimento desse aprendente,
no seu convívio social, com diferentes faixas e grupos geracionais, já que a
diversidade contribui com experiências de vida e saberes que enriquecem. E essa
riqueza da descoberta de si, do outro e da aprendizagem advinda das relações
humanas é aquecida e acrescida pela afetividade.
Cada pilar vai oferecer ao aprendente conceitos norteadores para que ele
edifique seu desenvolvimento através de ferramentas de construção da
aprendizagem, para toda a vida. O aprender a aprender vai direcionar a
compreensão, a autonomia e o senso crítico. O aprender a fazer vai ensinar a unir
teoria e prática e trabalhar em equipe, buscando resultados mais assertivos. O
aprender a conviver vai formar um cidadão de paz, com identidade, mas que valoriza
o outro. Os três pilares fortalecem o aprender a ser. Este fala da capacidade de
caminhar pelas estradas da vida, encontrando muitas e diferentes pessoas, dando o
melhor de si e descobrindo o melhor delas.
Fica evidente a contribuição do aprender a ser para o desenvolvimento
humano. Quando se pensa no desenvolvimento pleno do ser humano, se espera um
desenvolvimento que manifeste, antes de tudo, crescimento. Crescimento físico,
saudável, do âmbito biológico, tanto quanto for possível. Mas, sobretudo,
crescimento intelectual, na capacidade de amadurecer ao passo que a vida segue.
Crescimento enquanto pessoa, não melhor que os demais, mas melhor que si
mesmo ontem. Crescimento em todos os sentidos da vida, desenvolvimento integral.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. A prática dos quatro pilares da Educação na sala de aula.


fascículo 17. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. (Coleção na Sala de Aula)
16

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UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI; Tradução:
José Carlos Eufrázio. UNESCO: Publicação MEC, 1998. Disponível em:
http://www.livrosgratis.com.br/download_livro_27263/educacao-
_um_tesouro_a_descobrir_relatorio_para_a_unesco_da_comissao_internacional_so
bre_educacao_para_o_seculo_xxi Acesso em 05/11/2021.

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2020. (Série Panoramas da Psicopedagogia)

MELLO, Cleyson de Moraes; ALMEIDA NETO, José Rogério Moura de; PETRILLO,
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28/09/2021.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia; Tradução: Maria Alice Magalhães


D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 20. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1994.

SAITO, Leila Miyuki; DIAS, Silas Barbosa. Os quatro pilares da educação nas
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Pesquisa, [S.l.], v. 28, n. 54, p. 133-141, jul. 2018. ISSN 2596-2809. Disponível em:
<http://periodicos.unifil.br/index.php/Revistateste/article/view/225>. Acesso em:
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SILVA, Rômulo Davi da. Os quatro pilares da educação como ideias guias para a
psicopedagogia contemporânea. Revista TC Brasil, v. 1, n. 2, p. 252-278. ISSN
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Artigo-os-quatro-pilares-da-educacao-como-ideias-guias-para-a-psicopedagogia-
contemporanea.html. Acesso em: 16/11/2021.

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