Osquat 1
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Osquat 1
RESUMO
As inúmeras e constantes mudanças no mundo e na sociedade, ainda no século XX,
evidenciaram que o próximo século traria a necessidade de um novo aprendente.
Um sujeito preparado para uma vivência global e uma sociedade sem fronteiras de
comunicação, apesar das diferenças culturais. Diante desse desafio a Unesco
patrocinou a Conferência Nacional sobre Educação realizada na Tailândia, em 1990.
Jacques Delors foi o responsável por coordenar a equipe que preparou o relatório
sobre o evento. Os quatro pilares da educação são parte desse relatório e
constituem conceitos base para a educação que prepara o ser humano para o
século XXI. Os pilares são aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a
conviver e aprender a ser. Esta pesquisa busca compreender os conceitos contidos
nos pilares e como essa apropriação contribui para a formação integral do ser
humano. Considerando o viés da psicopedagogia, buscou-se livros e publicações
em revistas e periódicos na área da educação para nortear este trabalho. A
metodologia utilizada, através da revisão bibliográfica, explica como o aprender a
aprender, o aprender a fazer e o aprender a conviver revelam um sujeito capaz de
aprender a ser. Essa formação integral reflete na sociedade, através de um sujeito
capaz de comunicar, realizar, cooperar e protagonizar a própria história.
1. INTRODUÇÃO
acrescentam novas descobertas ao que já se sabe sobre algo. Daí, ser necessário
que a aprendizagem ocorra por toda a vida.
Nota-se que não é só o mundo que está em constante mudança, o ser
humano também, até porque um atua sobre o outro, levando à essas
transformações. Continua Delors (1998, p. 89): “É, antes, necessário estar à altura
de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar,
aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um
mundo em mudança”. Assim, muitas vezes, é justamente a maturidade que
evidencia a capacidade de adquirir ou ampliar o conhecimento ou traz as
experiências que lhe oportunizam.
vivido” (MELO; ALMEIDA NETO; PETRILLO, 2020, p. 46, grifos do original). Esse
entrelaçamento de conhecimentos, habilidade e atitudes, nas suas múltiplas faces,
vai se desdobrar desde a aplicação das diversas áreas do conhecimento na prática
cotidiana até o desenvolvimento da atividade laboral, de fato.
É certo que a educação primária não tem como preparar um aluno para sua
futura carreira profissional, tendo em vista que não se sabe qual será. Entretanto,
nas palavras de Silva (2017, p. 262) “é importante que a educação aprimore as
habilidades de seus alunos, ou os levando a descobrir que tem esses talentos”.
Assim, a escola e os demais ambientes de aprendizagem, não buscam
ensinar um fim, mas os meios para o desenvolvimento daquele que aprende. O
caminho para o entendimento dos conceitos que levam o aluno ao aprender a fazer.
Compreensão que desperta no aluno a sensação de ter encontrado um tesouro que
jamais lhe será tirado, o próprio aprender.
Obviamente, não se busca por um aprendente capaz de fazer,
absolutamente, tudo com perfeição. O aprender a fazer possibilita ao indivíduo
buscar no seu repertório de conhecimentos a solução mais eficaz para uma
situação. E, em caso de não haver um conhecimento prévio para tal, saber trabalhar
cognitivamente, para obter as informações necessárias e chegar ao resultado
esperado.
Os seres humanos são dotados de habilidades, talentos que os distinguem
uns dos outros e se fazem complementares nas atividades cotidianas. O aprender a
fazer não se destina à um modelo de trabalho ou trabalhador, seu objetivo é mais
amplo, é a preparação de um indivíduo que atuará conjuntamente com outros, de
maneira formal ou informal, no desenvolvimento de uma atividade ou projeto
(DELORS, 1998).
A mesma habilidade que torna uma pessoa especial, também evidencia quão
importantes são a cooperação e a reciprocidade na execução dos projetos, sejam
escolares, profissionais ou sociais. Metodologias ativas, como a Instrução entre
Pares, incentivam o trabalho em equipe e promovem interação, além de
aumentarem a produtividade e proporcionarem aprendizagem recíproca (MELLO;
ALMEIDA NETO e PETRILLO, 2020).
Entende-se que o aprender a fazer prepara um indivíduo que aproveita a
oportunidade de aprender com outro que tem mais experiência ou domina um
determinado campo de conhecimento. Isso para aprender a fazer melhor. Mas
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também é um sujeito que vê uma relação de troca e não retem o conhecimento que
possui apenas para si. É capaz de absorver e de compartilhar. Entende que o
conhecimento não pesa ao ser adquirido, tão pouco se extingue ao ser
compartilhado.
Fala, também, de um indivíduo com expertise na sua área de conhecimento e
que sabe o quanto sabe. Contudo, um indivíduo com a humildade de reconhecer
quando algo está fora de seu domínio de conhecimento. E, que se faz necessário
que outro some seus saberes, para alcançar o sucesso esperado.
O processo de aprender a fazer inicia-se na infância, mas é no percurso da
vida que se intensifica e se consolida. Muitos mestres, já de avançada idade,
identificam-se como eternos aprendizes. Assim, entende-se também, que esse
saber fazer é um aprendizado constante, ao passo que “a educação ocupa cada vez
mais espaço na vida das pessoas à medida que aumenta o papel que desempenha
na dinâmica das sociedades modernas” (DELORS, 1998, p. 103). Percebe-se então,
uma educação que perdura por toda a vida, seja no âmbito acadêmico, seja no
profissional.
Na sociedade hodierna, em sua estrutura plural e dinâmica é possível
encontrar um ambiente de aprendizagem, seja sala de aula, empresa ou outro, onde
um jovem ensina aprendentes de todas as faixas etárias, inclusive idosos. A sala de
aula tradicional previa a relação contrária, onde o professor, mais velho, era detentor
do saber e ensinava seus alunos mais jovens. Essa sociedade moderna prevê
multiformes aprendizagens através de agentes distintos.
Para Delors (1998, p. 105) “a educação ao longo de toda a vida torna-se
assim, para nós, o meio de chegar a um equilíbrio mais perfeito entre trabalho e
aprendizagem bem como ao exercício de uma cidadania ativa”.
De fato, todo ser humano precisa sentir-se um cidadão, aceito como parte de
um todo, para ser pleno. Precisa ser ouvido, atuante, participante, para sentir-se
completo. Reconhecer e ter reconhecida a sua capacidade de contribuir para fazer
melhor numa sociedade que busca, constantemente o equilíbrio. Piaget (1994, p.
65), ao analisar o desenvolvimento humano, afirma: “Na realidade, a tendência mais
profunda de toda a atividade humana é a marcha para o equilíbrio. E a razão – que
exprime as formas superiores deste equilíbrio – reúne nela a inteligência e a
afetividade”.
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tanto dar sentido às atitudes contrárias como revelar coisas em comum. Percebe-se
que, acima de tudo, todos os seres humanos buscam as mesmas coisas: respeito,
compreensão, afeto, reconhecimento das virtudes. O ser humano, seja criança ou
adulto, só executa uma função exterior ou mesmo interior quando motivado por uma
necessidade, alguma mudança que gera um desequilíbrio e leva a um reajustamento
de conduta. Como uma palavra de alguém que pode causar simpatia ou gerar um
conflito (PIAGET, 1994).
Supõe-se que as pessoas têm o poder de escolha quanto a algumas de suas
relações como o casamento ou as amizades, mas ainda nessas relações que se
imagina ter controle, há divergências de pensamento. O bom senso diz que para
viver bem em família e entre amigos é preciso ser tolerante, ter paciência e tentar
compreender o outro. Assim, presume-se que as mesmas atitudes devem ser
tomadas nas relações que não são escolhidas, mas agregadas pela vida.
Certo adágio diz que o ser humano deve construir mais pontes e menos
muros. Quando o aprendente, desde a tenra idade, ainda em família, começa a
perceber que as diferenças existem, mas que as relações devem apoiar-se nas
semelhanças e nos objetivos comuns, esse aprendente se desenvolve, enquanto
pessoa, com maior facilidade de lidar com os conflitos.
Resolver um conflito não significa, necessariamente, que alguém vai mudar
drasticamente de opinião, mas que se busca um equilíbrio, uma combinação de
ideias, valores e contribuições. Libânio (2012; apud SILVA, 2017, p. 265) diz que:
“Aprender a viver juntos implica a capacidade de entrar nesse jogo de diálogo no
equilíbrio difícil da tolerância e de seu limite”.
Uma vez adquirida essa habilidade de buscar as semelhanças, os múltiplos
talentos que podem tornar o que é bom ainda melhor, o aprendente consegue
conviver com seus grupos de forma mais harmoniosa e produtiva. E, inúmeras
vezes, as diferenças vão diminuindo diante dessas semelhanças que surgem.
Antunes (2013, p. 39) diz que a amizade “é um conjunto de fenômenos psíquicos
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Mais do que nunca a educação parece ter, como papel essencial, conferir a
todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento,
sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus
talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio
destino (DELORS, 1998, p. 100).
Dessa forma, tem-se um indivíduo que consegue lidar com toda a diversidade
da sociedade hodierna, sem perder sua identidade, mas também sem discriminar o
que é diferente de si. Alguém que leva a paz consigo, não a dissensão. Um ser
humano que mantém sua força de caráter e não compromete o que julga certo, mas
também tem sensibilidade frente a situações que exigem soluções imediatas e
diferenciadas. Resumidamente, “a educação manifesta aqui, mais do que nunca, o
seu caráter insubstituível na formação da capacidade de julgar” (DELORS, 1998, p.
47).
METODOLOGIA
Para elaborar este artigo, optou-se pela revisão do tipo narrativa, através de
pesquisa bibliográfica qualitativa, a partir da análise de livros de autores clássicos e
contemporâneos e artigos oriundos de repositórios e revistas científicas. Um vasto
material foi encontrado sobre o assunto de interesse, porém sobre o viés político.
Como não é do interesse desta pesquisa discutir se é ou não possível pensar numa
educação globalizada, com base no capitalismo e nas diferenças entre os países, tal
material não foi incluso neste trabalho. O estudo busca elucidar como o aprender a
ser contribui na formação integral do ser humano. Assim, a busca voltou-se à análise
pelo viés psicopedagógico, tendo os seguintes descritores: quatro pilares da
educação, psicopedagogia e aprender.
O primeiro recorte traz o aprender a conhecer e a aquisição dos instrumentos
de aprendizagem que conferem autonomia ao aprendente e aumentam sua
capacidade de discernimento. O segundo recorte fala da importância de unir teoria e
prática no aprender a fazer e estar preparado para, não apenas interagir com o
meio, mas também atuar sobre ele e transformá-lo de modo construtivo. O terceiro e
último recorte discute as relações humanas no aprender a conviver, os desafios em
superar as diferenças e como a cooperação mútua edifica a sociedade. Os três
pilares, juntos, evidenciam o aprender a ser e a sua contribuição no
desenvolvimento humano, as mudanças possíveis ao longo da vida e as
transformações na sociedade.
O referencial teórico percorre discussões sobre o desenvolvimento do ser
humano, a aprendizagem, o trabalho e a vida em sociedade. A pesquisa qualitativa
debruçou-se sobre a obra de Delors (1998), na perspectiva de que a educação deve
ser global e com equidade, baseada na compreensão do processo de
aprendizagem. Na mesma direção, Antunes (2013), Saito e Dias (2018) e Silva
(2017) consideram os quatro pilares da educação nos diversos ambientes de
aprendizagem. O processo de aquisição da aprendizagem e como sua apropriação
reflete no desenvolvimento integral do ser humano é, ainda, esquadrinhado por
Claro (2018).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
esperando para ser descoberto. Desde a família, passando pela escola e chegando
ao convívio social, cabe aos ambientes de aprendizagem munir o aprendente com
os instrumentos para encontrá-lo. O tesouro não é entregue, mas sim o mapa.
A psicopedagogia vai olhar para o aprendente e sua aprendizagem,
principalmente no ambiente escolar, mas não apenas nele. Vai contemplar também
o ambiente familiar, que antecede a escola e, ainda, os diversos ambientes de
aprendizagem que lhe sucedem. Vai observar o desenvolvimento desse aprendente,
no seu convívio social, com diferentes faixas e grupos geracionais, já que a
diversidade contribui com experiências de vida e saberes que enriquecem. E essa
riqueza da descoberta de si, do outro e da aprendizagem advinda das relações
humanas é aquecida e acrescida pela afetividade.
Cada pilar vai oferecer ao aprendente conceitos norteadores para que ele
edifique seu desenvolvimento através de ferramentas de construção da
aprendizagem, para toda a vida. O aprender a aprender vai direcionar a
compreensão, a autonomia e o senso crítico. O aprender a fazer vai ensinar a unir
teoria e prática e trabalhar em equipe, buscando resultados mais assertivos. O
aprender a conviver vai formar um cidadão de paz, com identidade, mas que valoriza
o outro. Os três pilares fortalecem o aprender a ser. Este fala da capacidade de
caminhar pelas estradas da vida, encontrando muitas e diferentes pessoas, dando o
melhor de si e descobrindo o melhor delas.
Fica evidente a contribuição do aprender a ser para o desenvolvimento
humano. Quando se pensa no desenvolvimento pleno do ser humano, se espera um
desenvolvimento que manifeste, antes de tudo, crescimento. Crescimento físico,
saudável, do âmbito biológico, tanto quanto for possível. Mas, sobretudo,
crescimento intelectual, na capacidade de amadurecer ao passo que a vida segue.
Crescimento enquanto pessoa, não melhor que os demais, mas melhor que si
mesmo ontem. Crescimento em todos os sentidos da vida, desenvolvimento integral.
REFERÊNCIAS
MELLO, Cleyson de Moraes; ALMEIDA NETO, José Rogério Moura de; PETRILLO,
Regina Pentagna. Educação 5.0 - educação para o futuro. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 2020. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/183513/pdf/0 Acesso em:
28/09/2021.
SAITO, Leila Miyuki; DIAS, Silas Barbosa. Os quatro pilares da educação nas
organizações de aprendizagem. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e
Pesquisa, [S.l.], v. 28, n. 54, p. 133-141, jul. 2018. ISSN 2596-2809. Disponível em:
<http://periodicos.unifil.br/index.php/Revistateste/article/view/225>. Acesso em:
16/11/2021.
SILVA, Rômulo Davi da. Os quatro pilares da educação como ideias guias para a
psicopedagogia contemporânea. Revista TC Brasil, v. 1, n. 2, p. 252-278. ISSN
2527-0532. João Pessoa, 2017. Disponível em: https://docplayer.com.br/59890123-
Artigo-os-quatro-pilares-da-educacao-como-ideias-guias-para-a-psicopedagogia-
contemporanea.html. Acesso em: 16/11/2021.