Aula 5
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e a construção da prática
transformadora
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não
é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fossemos
os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos
a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles.
Paulo Freire
A importância
da prática transformadora na escola
A
gora é o momento de assumir uma preferência, de definir uma opção, diante das tendências
pedagógicas dominantes, o que o presente estudo faz no sentido da ação supervisora compro-
metida com a prática transformadora. Isso vai além de uma simples escolha entre ideologias
“de direita” ou “de esquerda”, como se fazia há alguns anos: diz respeito à construção de relações
democráticas e dialógicas – por isso a epígrafe de Paulo Freire –, com a crença no poder transformador
da Educação e o desejo de educar para a cidadania.
No entanto, isso não implica abrir mão das especificidades da atuação e da necessidade de unir,
como se deseja há tanto tempo, a competência técnica – (sem ser tecnicista) – ao compromisso polí-
tico (sem desenvolver ações político-partidárias no interior da escola). Afinal, como diz Vasconcellos
(2001, p. 71), “[...] o supervisor educacional é o intelectual orgânico que ajuda o grupo na tomada de
consciência do que está se vivendo, para além das estratégias de intransparências que estão a nos
alienar”.
Aprender a Aprender a
conhecer fazer
Aprender a Aprender a
conviver ser
seria uma cultura da sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates educativos
das próximas décadas. O que estamos estudando nas escolas? Não construiremos uma
ciência e uma cultura que servem para a degradação/deterioração do planeta?
Virtualidade – Esse tema implica toda a discussão atual sobre a educação a distância e
o uso dos computadores nas escolas (internet). A informática, associada à telefonia, nos
inseriu definitivamente na era da informação. Quais as consequências para a educação,
para a escola, para a formação do professor e para a aprendizagem? Consequências da
obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante da pluralidade dos meios de
comunicação? Eles abrem os novos espaços da formação ou irão substituir a escola?
Globalização – O processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura,
a história e, portanto, também a educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários
prismas. A globalização remete também ao poder local e às consequências locais da
nossa dívida externa global (e dívida interna também, a ela associada). O global e o local
se fundem numa nova realidade: o glocal. O estudo dessa categoria remete à necessária
discussão do papel dos municípios e do regime de colaboração entre União, estados,
municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da Educação Básica. Para pensar a
educação do futuro, é necessário refletir sobre o processo de globalização da economia,
da cultura e das comunicações.
Transdisciplinaridade – Embora com significados distintos, certas categorias como
transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e outras como complexidade
e holismo também indicam uma nova tendência na educação que será preciso analisar.
Como construir interdisciplinarmente o Projeto Pedagógico da escola? Como relacionar
multiculturalidade e currículo? É necessário realizar o debate dos PCN. Como trabalhar
com os temas transversais? O desafio de uma educação sem discriminação étnica, cultural,
de gênero.
Dialogicidade, dialeticidade – Não se pode negar a atualidade de certas categorias freireanas
e marxistas, a validade de uma Pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O capital,
privilegiou as categorias hegelianas determinação, contradição, necessidade e possibilidade.
A fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação [...]. A educação popular e
a pedagogia da práxis deverão continuar como paradigmas válidos [...].
Nas sociedades de classe, em que o poder está confinado nas mãos de uma minoria, a
administração tem servido historicamente como instrumento nas mãos da classe domi-
nante para manter o status quo e perpetuar ou prolongar ao máximo seu domínio. O que
não significa que ela não possa vir a concorrer para a transformação social em favor dos
interesses das classes subalternas. (PARO, 1986, p. 32)
Aprender a Aprender a
conviver ser
1. A atividade desta aula tem como ponto de partida a leitura de uma crônica de Rubem Alves.
Perguntas de criança
(ALVES, 2007)
Há muita sabedoria pedagógica nos ditos populares. Como naquele que diz: “É fácil levar a
égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer ela a beber a água...” [...]. Aplicado à educação:
“É fácil obrigar o aluno a ir à escola. O difícil é convencê-lo a aprender aquilo que ele não quer
aprender...”
Às vezes eu penso que o que as escolas fazem com as crianças é tentar forçá-las a beber a
água que elas não querem beber. Bruno Bettelheim, um dos maiores educadores do século passado,
dizia que na escola os professores tentaram ensinar-lhe coisas que eles queriam ensinar mas que
ele não queria aprender. Não aprendeu e, ainda por cima, ficou com raiva. Que as crianças querem
aprender, disso não tenho a menor dúvida. Vocês devem se lembrar do que escrevi, corrigindo a
afirmação com que Aristóteles começa a sua Metafísica: “Todos os homens, enquanto crianças,
têm, por natureza, desejo de conhecer...”
Mas, o que é que as crianças querem aprender? Pois, faz uns dias, recebi de uma professora,
Edith Chacon Theodoro, uma carta digna de uma educadora e, anexada a ela, uma lista de perguntas
que seus alunos haviam feito, espontaneamente. “Por que o mundo gira em torno dele e do sol?
Por que a vida é justa com poucos e tão injusta com muitos? Por que o céu é azul? Quem foi que
inventou o Português? Como foi que os homens e as mulheres chegaram a descobrir as letras e
as sílabas? Como a explosão do Big Bang foi originada? Será que existe inferno? Como pode ter
alguém que não goste de planta? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Um cego sabe o que
é uma cor? Se na Arca de Noé havia muitos animais selvagens, por que um não comeu o outro?
Para onde vou depois de morrer? Por que eu adoro música e instrumentos musicais se ninguém na
minha família toca nada? Por que sou nervoso? Por que há vento? Por que as pessoas boas morrem
mais cedo? Por que a chuva cai em gotas e não tudo de uma vez?”
José Pacheco é um educador português. Ele é o diretor da Escola da Ponte, localizada na
pequena cidade de Vila das Aves, ao norte de Portugal. É uma das escolas mais inteligentes que já
visitei. Ela é inteligente porque leva muito mais a sério as perguntas que as crianças fazem do que
as respostas que os programas querem fazê-las aprender. Pois ele me contou que, em tempos idos,
quando ainda trabalhava numa outra escola, provocou os alunos a que escrevessem numa folha de
papel as perguntas que despertavam a sua curiosidade e ficavam rolando dentro das suas cabeças,
sem resposta. O resultado foi parecido com o que transcrevi anteriormente. Entusiasmado com
a inteligência das crianças – pois é nas perguntas que a inteligência se revela – resolveu fazer
uma experiência parecida com os professores. Pediu-lhes que colocassem numa folha de papel
as perguntas que gostariam de fazer. O resultado foi surpreendente: os professores só fizeram
perguntas relativas aos conteúdos dos seus programas. [...]
O filósofo Ludwig Wittgenstein afirmou: “[...] os limites da minha linguagem denotam os
limites do meu mundo”. Minha versão popular: “[...] as perguntas que fazemos revelam o ribeirão
onde quero beber...” Leia de novo e vagarosamente as perguntas feitas pelos alunos. Você verá que
elas revelam uma sede imensa de conhecimento! Os mundos das crianças são imensos! Sua sede
não se mata bebendo a água de um mesmo ribeirão! Querem águas de rios, de lagos, de lagoas,
de fontes, de minas, de chuva, de poças d’água... Já as perguntas dos professores revelam (perdão
pela palavra que vou usar! É só uma metáfora, para fazer ligação com o ditado popular!) éguas
que perderam a curiosidade, felizes com as águas do ribeirão conhecido... Ribeirões diferentes
as assustam, por medo de se afogarem... Perguntas falsas: os professores sabiam as respostas...
Assim, elas nada revelavam do espanto que se tem quando se olha para o mundo com atenção.
Eram apenas a repetição da mesma trilha batida que leva ao mesmo ribeirão...
Eu sempre me preocupei muito com aquilo que as escolas fazem com as crianças. Agora
estou me preocupando com aquilo que as escolas fazem com os professores. Os professores que
fizeram as perguntas já foram crianças; quando crianças, suas perguntas eram outras, seu mundo
era outro... Foi a instituição “escola” que lhes ensinou a maneira certa de beber água: cada um
no seu ribeirão... Mas as instituições são criações humanas. Podem ser mudadas. E, se forem
mudadas, os professores aprenderão o prazer de beber de águas de outros ribeirões e voltarão a
fazer as perguntas que faziam quando eram crianças.
(Disponível em: <www.ac.gov.br/nte/crianca.htm>. Acesso em: 29 mar. 2007.)
Reflita sobre o texto e sobre o que foi visto nesta aula, sobre a prática transformadora do super-
visor educacional. Depois, redija um pequeno texto sintetizando suas conclusões.