Martins 2020

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DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, EM CRIANÇAS AUTISTAS, POR

MEIO DA MUSICALIZAÇÃO 1
Isabela Gonçalves Pécora Martins

Resumo: O presente artigo trata do desenvolvimento da linguagem, por


meio da muzicalização, de crianças autistas, que estudam na Educação Infantil
em uma Escola Particular de Ensino em Resende-RJ. O principal objetivo da
pesquisa foi identificar práticas que se utilizam da musicalização para o
desenvolvimento da linguagem de crianças autistas. A pesquisa foi realizada
qualitativamente por um levantamento bibliográfico ecoleta de questionários
virtuais,realizados com as professoras e a coordenadora pedagógica da
Educação Infantil, além da professora de música. Foi possível através dos
dados coletados perceber que a música tem sim uma íntima relação com o
desenvolvimento da linguagem. Porém, sugere-se a continuidade de pesquisas
na área com a utilização da música como recurso facilitador da aprendizagem,
para as crianças autistas
Palavras-chave:Autismo. Musicalização.Linguagem.

1 INTRODUÇÃO

A pesquisa foi realizada com o tema desenvolvimento da linguagem de


crianças autistas, por meio da musicalização.Para compreender melhor sobre o
assunto,foi realizada uma investigação em crianças autistas, que frequentam
uma Instituição de Ensino Particular, na cidade de Resende/RJ,
especificamente na Educação Infantil.
A pesquisa permitiu analisar de que formaessas crianças desenvolvem a
linguagem quando entram em contato com práticas de musicalização.
Procurou-se por meio dapesquisa, expressa neste artigo, atingir os
seguintes objetivos: apresentar as principais definições de autismo; buscar

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Artigo produzido como requisito obrigatório para a aprovação na Unidade de Aprendizagem Conclusão
dos Processos Investigativos, curso de Pedagogia da UnisulVirtual, em 2020.1, sob a orientação do
professor Dr. Jorge Alexandre Nogared Cardoso.
entender como se desenvolvem as crianças com autismo, seus
comportamentos, fala e linguagem, em um ambiente em que a brincadeira seja
favorecida; identificar práticas que se utilizam da musicalização para o
desenvolvimento da linguagem de crianças autistas.
Para a realização deste estudo foi feita uma pesquisa qualitativa, através
da distribuição de questionários virtuais aos professorese a coordenação, da
Educação Infantil, de uma Instituição Particular de Ensino, da cidade de
Resende/RJ, que mantém em seu quadro escolar algumas crianças autistas
cursando a Educação Infantil. A escolha desta Instituição deu-se por ser uma
escola inclusiva que segue os parâmetros impostos pelo Plano Municipal de
Educação.
Como na época da pesquisa o país estava vivendo uma situação
peculiar, devido ao surgimento da epidemia da Covid-19, a realização da
modalidade virtual foi a única alternativa viável para a realização da coleta de
dados, visto que a observação em loco da realidade escolar não seria possível.
As opções de coleta de dados foram organizadas da seguinte maneira:
questionário 1, aplicado para todas as professoras da Educação Infantil, ou
seja, do Infantil 2,3 e 4, mais as professoras de Educação Física e de Religião,
totalizando cinco professoras; questionário 2, para a coordenação da Educação
Infantil e questionário 3, para a professora de Música.
Ao fim desta coleta de dados, foram analisadas as questões de acordo
com os seguintes critérios: respostas que permitiram caracterizar a música
como um recurso utilizado pela escola para aprendizagem e respostas que
denotam como a música em atividades com crianças autistas pode se tornar
um facilitador do desenvolvimento da linguagem.
Para a consulta de documentos, foi realizado um levantamento das
referências bibliográficas do período compreendido entre os anos de 2015 e
2020, tendo como focos de investigação, por meio de estudo exploratório, as
seguintes palavras-chave: Autismo, Educação Infantil, Música ou Musicalização
e Linguagem. Foram selecionados 11artigos científicos e um trabalho de
conclusão de curso de pós-graduação. As fontes de pesquisa foram
especificamente: Scielo, Universidade de São Paulo (USP), Universidade

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Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Faculdade Paulista
de Artes (FPA), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e
Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).
Também foi realizado um levantamento bibliográfico, com embasamento
teórico para corroborar a pesquisa e compreender melhor a realidade
vivenciada por um corpo docente de uma instituição escolar, que faz uso da
música em sua prática pedagógica e poder analisar de que forma se dava o
desenvolvimento da linguagem especificamente das crianças autistas.
O crescente número de crianças autistas frequentando o ensino regular
tem mostrado que é possível conviver com elas e ajudá-lasa enfrentarem suas
barreiras de comunicação, mas isto ainda é um desafio muito grande para os
professores. Estando mais próxima da realidade da criança com autismo pode-
se entender como se desenvolvem quais são seus comportamentos, fala e
linguagem.
Ao citarem De Vitta, De Vitta e Monteiro (2010), Aporta e Lacerda (2018)
mostram que professores da Educação Infantil de diferentes escolas
entendem,na maioria das vezes, que a deficiência,seja ela física, motora,
sensorial ou comportamental de um indivíduo, estásempre associada ao
conceito de incapacidade, diferença e anomalia, atrelando a criança, de certa
forma, a esse “rótulo”.
É comum observar os comportamentos de autistas e perceber que seu
relacionamento com outras pessoas pode ser bem restrito e a linguagem que
desenvolvem depende muito do grau de comprometimento de seu transtorno e
da forma com que pessoas que estão ao seu redor lidam com essa questão.
Farrell (2008) relaciona as principais características das crianças
autistas com relação à comunicação e a linguagem: podem não compreender o
propósito da comunicação; iniciam muito pouco a comunicação com os outros;
não demonstram compartilhar interesses com os outros; podem apresentar
atraso na aprendizagem da fala ou ausência de fala; podem fazer uso limitado
ou inadequado de gestos, contato visual, expressões faciais ou linguagem
corporal; podem ter um bom vocabulário e falar fluentemente, mas não se

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comunicar de maneira eficaz; podem falar indiretamente para a pessoa, em vez
de com esta; podem ter problemas no timing social das comunicações.
Sinaliza ainda como critérios diagnósticos relacionados à interação
social: o comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos
não-verbais; o fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares,
próprios do nível de desenvolvimento; a ausência de tentativas espontâneas de
compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas e a
ausência de reciprocidade emocional (FARRELL, 2008).
Uma visão que consiga enxergar a educação especial, mais
especificamente o transtorno do espectro autista (TEA), como algo visível, que
mereça a atenção da equipe escolar e o apoio necessário ao profissional que
estará lidando diretamente com a criança que apresenta o espectro autista, é,
na verdade, uma esperança de que a escola possa um dia ter a inclusão como
algo real. Sendo assim, pretendi com esta pesquisa investigar se existem
formas mais palpáveis ou ferramentas utilizadas para auxiliar a aprendizagem
destas crianças. Se sim, é possível utilizar de um simples brincar com a
mediação correta, com um espaço lúdico de brincar e aprender, para conseguir
atingir a aprendizagem de crianças autistas?
Pesquisas mostram como pessoas com autismo são privadas de muitas
experiências sociais ou são expostas a situações de difícil manejo social,
porque têm-se socialmente reproduzidas, dia após dia, práticas de exclusão.
Tais práticas, por vezes, são travestidas da intenção de proteção, ou são
justificadas pela crença de limitações/deficiência tão definitivas que colocam
ponto final nas possibilidades de interação e desenvolvimento da pessoa com
TEA (FARRELL, 2008).
A brincadeira é uma atividade fundamental no desenvolvimento infantil,
sendo que, por meio dela, a criança brinca sozinha ou em interação com outras
crianças, resolve problemas, elabora hipóteses, pensa sobre si e sua atuação
no meio, favorecendo a elevação dos modos de pensamento, comportando-se
além do que é habitual para sua idade, criando uma zona de desenvolvimento
proximal (CHIOTE, 2013).

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Autores como Tamanahaet al. (2006) demonstraram em seus estudos
que as crianças autistas possuem comprometimento no desenvolvimento da
linguagem devido a falhas na imaginação e na capacidade simbólica.
E, de acordo com Cipriano e Almeida (2016), o brincar como intervenção
lúdica traz inúmeros benefícios para as crianças com transtorno do espectro
autista, favorece a formação de vínculos afetivos; o estabelecimento e
aprofundamento das relações; amplia sua comunicação e compreensão;
melhora expressão de sentimentos e insatisfações; possibilita maior qualidade
de vida.
Chiconet al (2018) apontam que o desenvolvimento da brincadeira de
faz de conta da criança com autismo tem se apresentado como um desafio
para os profissionais da área educacional, devido não somente às dificuldades
de interação social, peculiaridades nos processos comunicativos e interesses
restritos, mas também em função da maneira como se apresenta a imaginação
nessa criança.
Em sua pesquisa,Chicon et al (2018) realizam um estudo de caso com
crianças autistas e durante um momento de brincadeira livre percebem que
uma criança toma a iniciativa da brincadeira, após a mediação da profissional
continua no jogo imaginário e corresponde à ideia apresentada pela
interlocutora. Esta é sem dúvida uma atitude importante para o
desenvolvimento da criança autista, essa iniciativa mostra o grau de interesse
da criança, a sua curiosidade e desejo exploratório, bem como o
relacionamento com seus colegas, procurando-os para brincar.
Chicon et al (2018) apresentam ainda os seguintes achados em sua
pesquisa: maior repertório de brincadeiras e ampliação do tempo de
permanência em uma mesma atividade lúdica; iniciativa em criar brincadeira de
faz de conta; interação com os colegas durante o jogo; exploração dos diversos
cantinhos da brinquedoteca e de outros espaços e objetos; maior autonomia e
segurança na relação com os outros e o meio físico.
Chiote (2013), em um estudo de caso com uma criança autista, analisou
as situações de brincadeira como satisfatória na relação sujeito-sujeito,
podendo observar as nuances das interações e da qualidade das

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manifestações da criança com autismo, vivenciando momentos de
manifestação de afeto, de percepção do outro, de ações que, muitas vezes,
não são esperadas por parte dessas crianças devido ao diagnóstico.
Praticamente não vemos crianças autistas como crianças ditas
“normais”, que falam, pensam, interagem e brincam. É sabido por muitos que
crianças autistas possuem certa dificuldade de comunicação que muitas vezes
as acabam isolando de certos momentos de aprendizagem. Por isso, vemos
educadores tratando crianças autistas como incapazes de estabelecer um
vínculo ou algum diálogo com outra pessoa e acabam por diminuir a presença
desta no grupo ou no contexto em que está inserida. Pensando nesse aspecto,
surgiu a ideia de explorar como a criança autista, reage diante de um ambiente
que favoreça o brincar.
A linguagem lúdica, assim como a música, constitui ferramenta de
aprendizagem que auxilia a criança a compreender conceitos, vivenciar
situações que favoreçam a aprendizagem, a comunicação e a interação. Sendo
assim, este trabalho correlacionará as definições de: autismo, linguagem lúdica
e musicalização.

2FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A presente pesquisa aborda especificamente como a criança autista


desenvolve sua linguagem quando entra em contato com a musicalização.
Para tanto, é preciso conhecer a fundo quais os comportamentos e
desenvolvimentos de uma criança autista, a fim de poder fazer inferências de
uma possível interação e propiciar um melhor desenvolvimento de sua
linguagem.
Além disso, será necessário abordar de que forma a musicalização
poderá favorecer o desenvolvimento da linguagem da criança autista,
abordando como a música e a prática pedagógica que faz uso deste recurso ,
sendo por meio da brincadeira, do lúdico ou os materiais e procedimentos
adequados são considerados recursos para favorecer a aprendizagem da
criança.
Dessa forma, a seguir será realizada uma análise de alguns autores que

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abordam os assuntos principais desta pesquisa.
O psiquiatra americano, Leo Kanner (1943), em sua unidade
psiquiátrica, começou a observar algumas crianças e percebeu que possuíam
um limitado interesse por outras pessoas, seus comportamentos eram
essencialmente repetitivos e insistiam em manter as rotinas e apresentavam
uma linguagem bem peculiar. Passou a denominar crianças que possuíam este
quadro como “autistas” (FARREL, 2008).
Mais tarde,outros autores, como Cunha (2015),passaram a caracterizar
o autismo em uma “tríade” de comprometimentos que se referem ao
comprometimento da interação social, dificuldades de comunicação e
insistência em atividades restrito-repetitivas. (CREPALDI eBAUMER, 2019).
Há ainda uma outra nomenclatura relacionada ao autismo, denominada
Transtorno do Espectro Autista (TEA), nome sugerido pela psiquiatra
LornaWing, passou a ser empregado para indicar o autismo e várias outras
condições que compartilham semelhanças importantes. Além do autismo, os
transtornos do espectro autista incluem as seguintes condições: transtorno
global do desenvolvimento sem outra especificação ou autismo atípico (forma
mais branda de autismo); síndrome de Asperger; síndrome de Rett; transtorno
desintegrativo da infância; transtorno semântico-pragmático e transtorno da
personalidade esquizóide (FARREL, 2008).
Os autores Crepaldi e Baumer (2019), citam Cunha (2015) para afirmar
que a idade de início dos transtornos, para a maioria das crianças, é
provavelmente por volta dos primeiros três anos de vida. As causas deste
transtorno são bem variadas, talvez todas afetando os mesmos sistemas
cerebrais, possui uma base biológica e um forte componente genético.
Diversos genes podem interagir com fatores ambientais para levar aos
transtornos, mas ainda não se sabe exatamente quais são esses genes.
Farrel (2008) citaVolkmar e Nelson(1990) para estimar que cerca de um
terço das crianças com transtorno do espectro autista apresentam
epilepsia.Cita também, Lord e Schopler (1987) para exemplificar que a
proporção entre homens e mulheres identificados com o transtorno é de
aproximadamente 4:1 ou 5:1, quando há outras dificuldades de aprendizagem.

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Estima-se ainda, que o autismo clássico atinge de 10 a 30 crianças em cada 10
mil, embora o índice para a população que inclui crianças mais velhas e adultos
seja mais elevado (FARREL , 2008).
Com relação à inteligência, as crianças com transtornos do espectro
autista incluem desde alunos que apresentam dificuldades profundas de
aprendizagem até alunos com capacidade acima da média. Os alunos
portadores desse transtorno que apresentam dificuldades de aprendizagem
graves ou profundas requerem abordagens específicas (FARREL, 2008).
Farrel (2008) salienta que quando encontramos uma criança ou um
jovem com dificuldades em comunicar-se ou interagir é essencial estabelecer
uma provisão educacional adequada para que eles possam e consigam obter o
maior progresso possível em termos de aprendizagem.
Nesse contexto estão inseridas as crianças com necessidades
educacionais especiais que apresentam deficiências em algumas ou todas as
áreas da fala, linguagem e comunicação, podendo se enquadrar nesse quadro
as seguintes variedades de dificuldades: atraso, deficiências ou transtornos na
fala e na linguagem; dificuldades de aprendizagem específicas; transtornos do
espectro autista (TEA); deficiências sensoriais (como: deficiência auditiva) e
deficiências físicas (FARREL, 2008).
Tamanaha et al (2006) conseguiram observar em seus estudos a
hipótese de que a criança com autismo possui características peculiares
durante a atividade lúdica e que estas quando identificadas e analisadas,
podem proporcionar diferentes tipos de comportamentos, vivências e
sensações.
Sendo assim, é possível observar que a atividade lúdica possui
benefícios e que pode ser mais bem aproveitada quando valorizada e colocada
em prática. Cabe aos profissionais da educação utilizarem esta abordagem
com estratégias que favoreçam o uso de estímulos visuais, sonoros, táteis,
utilizando diversos recursos, como: livros, brinquedos pedagógicos, fantoches,
fantasias, computadores entre outros.
A brincadeira é uma atividade lúdica fundamental para a criança interagir
e construir conhecimentos sobre si mesma e a realidade que a cerca, nela as

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crianças ressignificam o que vivem e sentem. A brincadeira é também uma
forma particular de comunicação, de prazer, de recreação, de espaço para agir
por conta própria, tomar decisões, transgredir e dar novo sentido às coisas
(CORSINO, 2006).
Até mesmo a criança que possui uma tendência ao isolamento, a
comportamento repetitivo, e a dificuldade na interação, conseguem brincar. A
brincadeira e o lúdico podem fazer parte do universo da criança autista, mas
para isso é preciso pensar no brincar como forma de intervenção terapêutica e
não banalizá-lo como algo rotineiro, que não promove nem acrescenta nada,
pelo contrário a brincadeira promove um aumento de habilidades
comunicativas e desenvolve a fala, a linguagem e a comunicação.

3DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De uma maneira geral, pôde-se observar que a escola pesquisada


possui dois alunos autistas matriculados na Educação Infantil e que procura
atender às demandas de acordo com as necessidades de cada um. A resposta
da coordenação pode exemplificar essa observação: “O aluno é sempre
convidado a experimentar e dentro de duas necessidades individuais é
atendido. Assim, de forma lúdica são envolvidos, mas respeitado suas
limitações.”
As professoras também confirmaram a presença dainclusão, ao serem
indagadas sobre terem tido crianças autistas em sala de aula, afirmaram que
sim, e somente uma não o relatou.Disseram que, na maioria das vezes, as
crianças conseguiam corresponder aos objetivos propostos pela atividade, e
que inicialmente algumas se incomodavam principalmente com o barulho, mas
que aos poucos foram se acostumando.
De acordo com Rocha, Vasques e Lamônica ( 2019), em estudos sobre
a inclusão, através de um levantamento de estudos científicos, que permitiu
investigar instrumentos de avaliação curricular para o ensino de aprendizes do
Transtorno do Espectro Autista (TEA),no último século, sujeitos com

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necessidades especiaisconseguiram avançar e conquistar importantes direitos.
Oacesso a educação foi um deles, deu-se por meio do fortalecimento das
políticas para a inclusão escolar no Brasil e no mundo, permitiram que,nos
últimos 20 anos, aprendizes com variadas necessidades especiais passassem
a fazer parte das salas de aulas comuns.
De acordo com a Lei nº 3190 de 01 de julho de 2015, que define oPlano
Municipal de Educação do Município de Resende para a Educação especial, a
meta é universalizar, para a população de quatro a dezessete anos, o
atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Esta lei estabelece
ainda que estudantes com transtorno do espectro autista devem ter
oportunidade de desenvolvimento pessoal e social, que considere suas
potencialidades, bem como não restrinja sua participação em determinados
ambientes e atividades com base na deficiência (RESENDE, 2015).
Com base nesta Lei e na resposta da coordenação, fica evidente que a
escola é inclusiva e procura oferecer todas as ferramentas para seus alunos
procurando atender, respeitar as necessidades e limitações de cada um.
Dessa forma, pode-se ressaltar a importância da inclusão sob o ponto de
vista do desenvolvimento de estratégias, que devem ser pensadas e criadas
procurando enfatizar as características de cada aluno, considerando suas
diferenças e potencialidades.Deve ser ter um olhar atento e enxergar a pessoa
com deficiência não como alguém com incapacidades, mas como um indivíduo
que necessita de procedimentos especiais de acordo com suas necessidades
(APORTA, LACERDA, 2018) .
Aporta e Lacerda(2018) citam Neves et al (2014) para reforçar que ainda
há uma restrita produção acadêmica sobre o processo de escolarização formal
e as dimensões curriculares para alunos com Transtorno do Espectro Autista
(TEA), em programas de Mestrado e Doutorado no Brasil. Os autores sugerem
o desenvolvimento de mais pesquisas que ofereçam e confirmam estratégias
pedagógicas para que o aluno com TEA aprenda os conteúdos nos espaços
formais de ensino.

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A pesquisa de Aporta e Lacerda(2018) mostrou que a professora ao
enxergar seu aluno autista como um aprendiz, passou a conseguir construir as
atividades visando também sua aprendizagem. Este fato permitiu um olhar para
a construção social a favor do aluno, deixando para trás a visão biológica da
deficiência.
Em relação ao uso da música na prática pedagógica escolar, foi feito o
questionamentoàs professoras da Educação Infantil sobre a frequência no uso
da prática docente de atividades envolvendo a música.Pôde-se observar que
todas relataram fazer uso diário da música em sua prática pedagógica. A
coordenação também disse que usa a música como recurso pedagógico, e
que,quando há algum incentivo para as professoras realizarem atividades que
envolvem a música, como recurso facilitador de aprendizagem, elas reagem
positivamente e são favoráveis à proposta.
Autores também confirmam a importância da música como favorávelà
aprendizagem e citamTrainor e Hannon (2013), para explanar que o contato
com a música, mesmo que informal, auxilia no desenvolvimento de
capacidades não musicais, como as habilidades sociais. Já na primeira infância
é possível observar isto, por meiodas canções de ninar e das trocas de sons
que ocorrem na tentativa de seguir a melodia de uma determinada música. Isso
permite que a criança construa traços significativos com aquela cultura, desde
a primeira infância, dando início ao desenvolvimento da linguagem e ao
processo interacional (FREIRE, MARTELLI, ESTANISLAU e PARIZZI, 2018).
A musicalidade de acordo com Malloch (1999), Queiroz (2003), propicia
ao ser humano a capacidade de vivenciar , experimentar, sentir, perceber os
diferentes tipos de sensações que podem ser provocadas pelo estímulo
musical através da integração entre o mundo interno e o mundo externo e que
de certa forma, acabam sendo incorporadas a determinado tipo de cultura,
fazendo com que as expressões de arte e de afeto sejam consolidadas
(FREIRE, MARTELLI, ESTANISLAU e PARIZZI, 2018).
Mas quando se interrogou sobre as brincadeirasque envolviam o uso da
música, das cinco entrevistadas, apenas duas disseram que usam sempre este

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recurso nas brincadeiras e as outras três disseram que ás vezes utilizam
brincadeiras com músicas.
A música permite de certa forma um contato com a linguagem.Através
das cantigas de roda, por exemplo, se estimulam a música e a linguagem
utilizando-se de uma simples brincadeira. Sendo assim, cabe uma reflexão
neste estudo: se a músicafaz parte da rotina das aulas das professoras, com
uso diário, as brincadeiras também deveriam ter um enfoque maior no uso da
música, visto que é uma atividade constante na Educação Infantil e que uma
estimula a outra.
Asbrincadeiras, de acordo com as perguntas realizadas às professoras,
propiciam o desenvolvimento da linguagem das crianças. Segundo elas,
quando as crianças brincam desenvolvem sua imaginação, interpretam
personagens, reproduzem falas de adultos, por exemplo, ou criam suas
própriashistórias, ou seja, em suas respostas disseram também que: “o brincar,
pleno de movimento, ativa, movimenta e amplia a capacidade de falar e
organizar pensamentos por meio da fala.”
Cipriano e Almeida (2016) também caracterizam a brincadeira como
uma fonte de comunicação, pois até mesmo quando está sozinha a criança
consegue brincar, conversando com alguém ou com seus próprios brinquedos.
Isso se refletirá diretamente no desenvolvimento da linguagem e,
consequentemente, na ampliação do vocabulário, bem como no exercício da
pronúncia das palavras e frases.
Perguntando às professoras sobre a realização de Projetos Pedagógicos
envolvendo a musicalização, todas disseram que já desenvolveram um projeto
com essa temática e comentaram os seguintes benefícios da musicalização
para a turma: aumento da percepção corporal e coordenação motora. Fizeram
os seguintes comentários: “através da musicalização pude perceber que as
crianças desenvolveram ritmo, linguageme conhecimentos em vários aspectos
que abordamos na Educação Infantil”; “muitos benefícios, principalmente o
melhor entendimento do conteúdo”; “desenvolvimento motor, social e até o
trabalho com crianças tímidas, que através da música conseguiram se
envolver”.

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Mudando um pouco a pergunta, foram questionadas quais seriam os
principais objetivos do uso da música nas atividades, tendo sido relatados:
despertar o interesse da criança, propiciar a interiorização de conceitos e/ou
favorecer o desenvolvimento motor. Mas 80% marcaram a interiorização de
conceitos como um fator preponderante. Essa resposta remete ao conceito de
linguagem, que permite o sujeito através da interação com o outro viver
experiências novas e a partir delas conhecer novas palavras e significados,
podendo utilizá-los em diferentes contextos.
Em ambas as perguntas pôde-se notar que a linguagem foi um item
ressaltado mais de uma vez, demonstrando a notoriedade do fato: a música
tem sim uma íntima relação com o desenvolvimento da linguagem.
A pesquisa de Silva e Silva (2018) também mostrou que os benefícios
da música estão em consonância com as respostas das professoras. Foram
estimulados com a aula de música doze educandos com TEA de uma Escola
Especial, e, ao final do experimento, foram observados como resultados dos
principais benefícios da música para os alunos: reforço da autoestima, estímulo
da interação social e um melhor desenvolvimento psicomotor.
A música também pode facilitar o desenvolvimento da fala e da
linguagem, pois através das canções e dos jogos musicais as crianças
desenvolvem diferentes formas de comunicação e quando estão diante de um
grupo isso fica ainda mais evidente, como, por exemplo, nas aulas de
musicalização, em que o aluno utiliza tanto a fala cantada como a brincadeira
com uso de instrumentos musicais para interagir com o outro. (SILVA eSILVA,
2018).
A música e a linguagem se inter-relacionam no início da vida,e, ao longo
do desenvolvimento infantil, vão se distanciando e separam-se quando a
criança aprende a diferenciar o que é canto e o que é fala. Os autores citam
ainda as pesquisas de Rocha e Boggio (2013) para evidenciar que os
estímulos musicais advêm de diversasorigens, indicando que existem
semelhanças entre a música e a linguagem,mostrando que há ativação dessas
áreas cerebrais durante a fase de desenvolvimento infantil (FREIRE,
MARTELLI, ESTANISLAU e PARIZZI, 2018).

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Algumas professoras também citaram a importância da música para
estimular o desenvolvimento motor das crianças. Este achado corrobora com a
afirmação de Silva e Silva (2018) que disseram que a música trabalhaa
funcionalidade do comportamento, através de aspectos psicomotores. E para a
criança autista o trabalho com a Psicomotricidade também é de grande
relevância, pois estimula não só as potencialidades físicas do movimento
humano, mas o desenvolvimento das habilidades cognitivas, afetivas e sociais.
Sobre o uso da música apenas em sala de aula ou em outros momentos,
as respostas foram unânimes, uma vez que todas disseram que a música
existe na escola também em outros momentos como: “em apresentações“ ou
“na aula de música”, “em todas atividades escolares” ou ainda “em uma
atividade de ciranda de livro, um trabalho de música em que a criança ensine
aos pais uma música nova”.

Santos (2018), em sua pesquisa de Doutorado, demonstrou a


importância de se desenvolver um ambiente musicalizador adequado,através
da mediação, para impulsionar o desenvolvimento global das crianças
autistas.Este achado demonstra que a escola pesquisada procura promover
em seus espaços e em todas as atividades escolares um ambiente favorável à
prática da musicalização.
Sobre o autismo, foi realizada a indagação de já ter tido crianças autistas
em sala de aula e, em caso afirmativo, como se comportavam quando a
atividade proposta envolvia a música como recurso, se a criança conseguia
corresponder aos objetivos propostos pela atividade e quais eram as
dificuldades observadas. Das 5 entrevistadas, somente 4 responderam a esta
questão. Uma delas disse somente que, sim, já teve crianças autistas, mas não
respondeu o restante da pergunta.As outras três foram mais específicas: “ A
criança tinha dificuldade com barulho, mas aos poucos ele foi se
acostumando”; “Tenho e eles gostam da música”; “Sim. Percebia que algumas
vezes o excesso de barulho as deixava mais irritadas, mas o contato com a
música afetava positivamente a linguagem”.
Para a coordenação foi questionado se existe algum procedimento
adotado pela escola com o uso da música para favorecer a aprendizagem de

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alunos autistas. A resposta encontrada foi: “Sim. As aulas de música, assim
como qualquer estratégia com esta demanda, requerem a vivência.Alguns
exigem menos tempo, menos barulho, mais visual e outros com estratégias
corporais. Assim de forma lúdica são envolvidos, mas respeitado suas
limitações.”
Na literatura sobre Autismo são encontradas diversas relações que
podem ser estabelecidas entre o TEA e a música (ALVIN, 1978; BALL, 2004;
BROWN, 1994; BROWNELL, 2002; BUDAY, 1995; EDGERTON, 1994;
MALLOCH; TREVARTHEN, 2009; OLDFIELD, 2001; ROBARTS, 1996). O
aspecto não-verbal da música é um dos fatores de destaque como o principal
meio de ligação entre essas pessoas eos seus interlocutores. Isso é observado
tanto em músicas puramente instrumentais, como em situações de um texto
cantado ou narrado (SAMPAIO, LOUREIRO, GOMES, 2015).
A música atrai e estimula de alguma maneira os alunos autistas, fazendo
com que pequenos momentos sejam prazerosos e sem perceber tornam-se
fatores significativos para estímulos de seu desenvolvimento. Uma explicação
científica para este fato, é que, de acordo com Guerrer e Menezes (2014),
áreas cerebrais que aparentemente não poderiam ser estimuladas pela música,
como a área do processamento da linguagem, por exemplo, que nos autistas é
reduzida, acaba sendo estimulada porque é sobreposta por outra área cerebral,
que estimula as habilidades musicais. Este fato comprova o que foi dito
anteriormente, a musicalidade é algo que chama atenção da pessoa autista e
deve ser vista como um possível progresso com melhoras no âmbito do
comportamento social e na efetividade da comunicação (CREPALDI
eBAUMER, 2019).
Estudos mostram que a prática da musicalização em sala de aula atrai a
atenção do aluno autista. Com frequência se observa o aluno interessado pela
música, ela tem o poder de conquistar o autista. E a interação, integração e
socialização desse aluno acabam sendo conquistadas, cabendo ao professor
saber valer-se deste importante recurso que é a música para explorar a
interação com esse aluno (CREPALDI e BAUMER, 2019).
Sendo a linguagem um importante elemento do desenvolvimento

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humano e comprometida em indivíduos com TEA é de suma importância que
este aspecto seja estimulado e faça parte das atividades escolares deste
aprendiz (ROCHA, VASQUES, LAMÔNICA, 2019).
Já Silva e Silva (2018) comentam que a música traz influência positiva
para as pessoas com TEA, mas existem alguns casos mais severos de autismo
em que a criança pode não gostar de música. Algumas têm mais sensibilidade
a determinados tipos de sons, portanto, cabe ao professor saber respeitar as
necessidades de cada um, e ao propor as atividades ter bem claros os
objetivos a serem atingidos, para não se frustrar. Diante disso os autores
relatam que a música para o autista não traz somente efeitos benéficos, o
organismo pode sofrerprejuízos com o aumento de adrenalina, aceleração do
ritmo cardíaco, aumento de pressão arterial, levando-o a crises de
comportamento. Isso trará ainda mais prejuízos para a sua saúde.
Santos (2015) complementa dizendo que alguns autistas possuem
muita facilidade para reproduzir melodias, seja cantando ou tocando
instrumentos. Já outrosnem tanto, o grau de severidade na interação e de
comunicação costumam ter uma reação corporal ao estímulo sonoro/musical e
acabam afetando a relação com a música, pois os atingem diretamente, sem
defesa. A autora conclui afirmando que a utilização dos estímulos
sonoros/musicais com esses indivíduos deve ser feita de forma controlada, no
tempo e na medida certas, com profissionais formados para isso.Porém,
ressaltam que a aplicação de exercícios musicais ajuda a estimular o potencial
do cérebro, levando-o a maior eficiência quando ativa a área da memória. A
música é sem dúvida, um fator que transforma o ser e estimula o
desenvolvimento pessoal e da saúde do indivíduo. Com base em experiências
vividas no dia a dia com crianças com TEA, percebe-se que a música pode
transformá-los de alguma maneira, cada um de seu jeito respeitando seu grau
de compreensão (SILVA e SILVA, 2018).
Já em relação às aulasde música,a professora foi indagada sobre
observar melhora no desenvolvimento da comunicação de crianças autistas e
em quais aspectos e relatou o seguinte: contato visual, trocas comunicativas
ou recepção da proposta por meio de gestos ou fala. Sendo que mais de um

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critério destes poderia ser marcado, a mesma disse que observa essa melhora
na comunicação, mas apenas por gestos ou fala.
Estudos mostram que pessoas com TEA apresentam uma maior
evidência no processamento dos sistemas funcionais nas canções do que na
fala. Este fato também foi encontrado ao citar os autores Kern, Wolery e
Aldridge (2007), que relataram o sucesso de alguns tratamentos musico-
terapêuticos, que se basearam na transmissão de informações por meio de
texto cantado (SAMPAIO, LOUREIRO, GOMES, 2015).
A música favorece a verbalização e, de acordo com as capacidades de
cada um promove através das emoções reações fisiológicas e psicológicas,
permite, de certa forma, comunicar qualidades uns aos outros. Para a criança
com TEA nem sempre é fácil transmitir suas emoções, falar de si, do que está
sentindo, mas a emoção musical propicia à criança a se revelar, seja através
de uma dança, um instrumento ou uma canção (SILVA e SILVA, 2018).
Em relação à observação das habilidades musicais de expressão sonora
por meio da voz, emissão de sons, falando e/ou solfejando, a pesquisa desta
autora mostrou que, em todas as crianças, ocorreu uma maior evolução na
expressão sonora não verbal, ainda que tenham também melhorado sua forma
de comunicação verbal. Alguns no início do processo só utilizavam o grito e,
aos poucos, foram ampliando as expressões sonoras e tornando-as mais
diversificadas, passando a soltar sons com vogais e a cantarolar baixinho ou a
falar e cantar de uma maneira bem particular, passando a articular melhor as
palavras (SANTOS, 2018).
Na pesquisa acima, não foram observadas evoluções significativas da
fala interpessoal para a fala intrapessoal. Para os autistas, a habilidade de
regular sua própria fala e seu comportamento é algo que exige muito
desempenho. No entanto, em entrevista aos responsáveis das crianças, uma
comunicação mais efetiva no desenvolvimento nas formas de comunicação não
verbal e, também, na fala interpessoal, foi observada (SANTOS, 2018).
Em relação ao interesse das crianças autistas pela música, a professora
de Música disse que existe o interesse tanto pela música instrumental, sem o

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uso da voz, como pela música apenas cantada, sem o uso do instrumento
musical.
Santos (2015) explica em seu artigo que em sua vasta experiência como
Musicoterapeuta e Educadora Musical, há mais de 25 anos, sempre se
interessou em fazer pesquisa usando a música com os indivíduos autistas. Sua
prática clínica, pedagógica, com as crianças autistas demonstrava que havia
sempre um interesse e uma atração especial pela música. De acordo com ela,
era possível perceber que a música afetava diretamente as crianças e a partir
disso percebeu que existe uma ponte entre a música e o mundo autista. O
impacto da música é perceptível, pois, segundo ela, eles deixam seu
“mundinho” de isolamento, para olhar na direção do estímulo sonoro e muitos
tornam-se capazes de compartilhar a experiência musical, seja tocando ou
cantando, apesar das dificuldades apresentadas nos domínios de comunicação
e interação.
Santos (2018), durante sua pesquisa, pode constatar que, ao explorar os
instrumentos musicais, as crianças autistas puderam entrar em contato com
diversos tipos de instrumentos e diante disso conseguiram explorá-los de
diversas formas, mas o processo deu-se ao longo da pesquisa. Uns
inicialmente exploravam só os instrumentos de interesse, como foi o caso do
teclado eletrônico, e com a mediação do professor foram ampliando seus
interesses por outros instrumentos. Já outros, conseguiam fazer determinadas
escolhas e aperfeiçoar-se, dando mais propósito à utilização dos instrumentos.
O estudo concluiu neste aspecto, que tanto o processo de escolha quanto as
ações propositais foram se desenvolvendo à medida que eram dadas às
crianças meios para que isso pudesse ocorrer.
Já na observação da imitação com a voz e nos instrumentos musicais,
foi constatado que alguns deram início a estas habilidades nas últimas sessões
musicais, imitando as ações do professor para extrair o som do instrumento
musical, tentando reproduzir no instrumento musical melodias que acabaram
de escutar. A partir desse resultado, pode-se identificar a importância de
desenvolver a imitação nos indivíduos autistas, até mesmo na aprendizagem
de conteúdos musicais. Neste sentido, concluiu-se que a imitação atuou como

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um fator impulsionador da aprendizagem musical,facilitando a assimilação de
conteúdos musicais em crianças autistas ( SANTOS, 2018).
Ao final da pesquisa com a música em crianças autistas, foram
observadas melhoras na comunicação da maioria das crianças, com criação de
estratégias não verbais para se comunicar e certa curiosidade em aprender
palavras novas.Nainteração também foram observadas melhorias, umas
passaram a chamar outras crianças para brincar, outras começaram a
desenvolver a capacidade de empatia, outras começaram a cantar músicas
para interagir com outras crianças, enquanto outros passaram a se despedir e
a agradecer espontaneamente.Esses comportamentos, segundo os
responsáveis, foram identificados em diversas situações,inclusive durante as
brincadeiras (SANTOS, 2018).
Ao questionar sobre o oferecimento de materiais que a escola tem para
o trabalho com a música, tanto a coordenação quanto as professoras relataram
que a escola possui vários recursos para a utilização da música na prática
pedagógica. Foram citados os seguintes materiais ou recursos: “materiais
adaptados”; “chocalhos, pratos, caixas de som e tambor”; “temos uma
bandinha: tambor, pandeiro, chocalhos e etc.” e “o violão, a percussão e a
possibilidade da confecção durante as aulas”.
Na pesquisa de Silva e Silva (2018), foi observado que durante
encontros de musicalização, os alunos autistas puderam explorar os sons de
diferentes instrumentos como: xilofone, clavas, maracas, tambor, castanholas,
pandeiro, guizos, os mais comuns; até outros mais específicos e que nunca
haviam visto, o xilindró, cabuletê, kalimba e a confecção de dois instrumentos,
o pau de chuva e o hundrum. Essa variedade de instrumentos e possibilidades
permitiu uma rica experiência sonora para todo o grupo, demonstrando
bastante interesse pelas aulas, participaram assiduamente com perguntas e
atenção querendo saber sobre cada instrumento.
Neste mesmo estudo, os autores relataram que os alunos, apesar de
ficarem bem eufóricos e agitados com a possibilidade de manusear diversos
tipos de instrumentos, e a proposta por diversas vezes teve que ser mediada
pelo professor para não atrapalhar os objetivos a serem atingidos, e que foi

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muito enriquecedor o uso de instrumentos musicais nas aulas, pois a
curiosidade fez com que todos quisessem mexer, explorar os sons, e até criar
sua própria música, tornando as aulas participativas e cheias de
descobertas.Durante as aulas, todos tocaram suas músicas preferidas e até
criaram uma música em grupo usando os instrumentos de sua preferência
(SILVA e SILVA, 2018).Foi possível perceber que o uso de instrumentos
musicais favorece a aprendizagem não só de habilidades musicais, mas de
novas descobertas e experiências que possibilitam o desenvolvimento da
linguagem de todas as crianças, inclusive das autistas.

3 CONCLUSÕES

Durante a pesquisa, pôde-se observar que a escola possui alunos


autistas matriculados na Educação Infantil e procura adotar medidas inclusivas
para atender às necessidades de cada um, estando inclusive de acordo com a
Lei municipal que rege os princípios da Educação Especial.
Sobre este assunto, pesquisas mostraram que as produções
acadêmicas sobre o processo de escolarização formal de crianças com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda são muito restritas no Brasil, sendo
necessários mais estudos que ofereçam e confirmem estratégias pedagógicas
para que o aluno com TEA aprenda os conteúdos nos espaços formais de
ensino.
Com relação ao uso da música na prática pedagógica escolar, as
professoras e a coordenação disseram que a música é frequente na prática
docente e que em vários momentos da escola ela é utilizada como qualquer
outro recurso que favoreça a aprendizagem.
Foi possível perceber que o uso de instrumentos musicais favorece a
aprendizagem não só de habilidades musicais, mas de novas descobertas e
experiências que possibilitam o desenvolvimento da linguagem de todas as
crianças, inclusive das autistas.

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Pôde-se notar que a linguagem foi um item ressaltado, mais de uma vez,
nas respostas, demonstrando a notoriedade do fato: a música tem sim uma
íntima relação com o desenvolvimento da linguagem.
Quanto ao objetivo desta pesquisa de identificar práticas que se utilizam
da musicalização para o desenvolvimento da linguagem de crianças autistas,
foi possível através dos dados coletados acrescidos do levantamento
bibliográfico, entender que no ambiente escolar existem práticas de
musicalização que de certa forma são enfatizadas na maioria das atividades
escolares e que proporcionam às crianças autistas possibilidades de
desenvolvimento de sua comunicação, seja ela verbal ou não-verbal.
Contudo, sugere-se a continuidade de pesquisas na área para promover
uma melhor inclusão de alunos autistas nas escolas com a utilização da música
como recurso facilitador da aprendizagem.

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