Percepção de Si e Do Outro

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INSTITUTO SUPERIOR DE FORMAÇÃO, INVESTIGAÇÃO E

CIÊNCIA

2º ANO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA SOCIAL DO


TRABALHO

PERCEPÇÃO DE SI E DO OUTRO

DISCENTE:

Amélia Fernando Chirindza

Sadaina Inácio Lemane

Arnaldo Antonio Bernardo

Lurde Boaventura Cau

Noemia Zava

Maputo, Março de 2024


ÍNDICE

Contúdos pág

I. INTRODUÇÃO...........................................................................................................1

I.1. Objectivos.......................................................................................................................2

I.1.1 Geral.............................................................................................................................2

I.1.2. Específicos...................................................................................................................2

I.2. Metodologia....................................................................................................................2

I.2.1. Tipo de pesquisa..........................................................................................................2

II.1. Imagem Corporal..........................................................................................................3

II.2. Satisfação com a imagem corporal...............................................................................4

II.3. A satisfação com a imagem corporal e o género...........................................................5

II.4. A satisfação com a imagem corporal e a relação romântica.........................................7

II.5. A satisfação com a imagem corporal e o parceiro romântico.......................................8

II.6. O medo da intimidade e a intimidade.........................................................................10

II.6.1. O medo da Intimidade nas relações românticas.......................................................10

II.7. O medo da intimidade e a satisfação com a imagem corporal....................................11

III. Conclusão..................................................................................................................12

Referencias Bibliograficas..................................................................................................14
I. INTRODUÇÃO

O indivíduo vive e sente através de e com o corpo, sendo este o nosso “cartão-devisita”
(Garner, 1997), o nosso primeiro contacto com o outro e também connosco. O estudo do
corpo e da sua vivência torna-se, por isso, um elemento chave no estudo do ser humano, já
que “será também através do corpo que nós experienciamos o mundo e conseguimos
compreender o mundo” (Barbosa, 2008, p. xxiv). No presente trabalho, propomo-nos a
refletir sobre a perceção de si e do outro. Importa assinalar que não ambicionamos
compreendê-lo na sua imensa complexidade, pelo que optamos por focar uma componente
da imagem corporal que tem recebido crescente atenção dos autores já que traduz a mais
importante medida de sofrimento (“distress”) associada à mesma (Thompson, Heinberg,
Altabe, & TantleffDunn, 1999). Os indivíduos demonstram-se cada vez mais insatisfeitos
com a sua imagem e esta tem vindo a ser associada a problemáticas como depressão,
perturbações alimentares e stress, que condicionam o bem-estar do sujeito, pelo que urge
compreender este fenómeno.

Nesta optica, podemos considerar as relações de intimidade como fundamentais para o


desenvolvimento saudável e bem-estar do sujeito (Hatfield, 1984) e como um dos
contextos que influencia e é influenciado pela satisfação com a imagem corporal (Cash,
Thériault & Annis, 2004). Como tal, procuramos compreender a satisfação no seio das
relações amorosas. Neste sentido, optamos por explorar a satisfação do indivíduo e a
satisfação percebida do parceiro romântico, este outro significativo que aparenta assumir
um papel preponderante na forma como o sujeito se perceciona. Apesar de os estudos
evidenciarem esta relação, pouca ênfase tem sido dada à mesma, nomeadamente, em
relação à população masculina o que, irá reforçar a pertinência deste trabalho.

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I.1. Objectivos

I.1.1 Geral
Refletir sobre a perceção de si e do outro.

I.1.2. Específicos
Constituem objectivos específicos:

 Identificar os fenómenos surgem na perceção de si e do outro;

 Descrever de que forma o receio dos indivíduos face à intimidade comprometerá a


forma como estes se percecionam, se sentem no seu corpo, ou até como
percecionam que o outro o sente.

I.1.3 Importância

O processo perceptivo de si e do outro, é uma ferramenta fundamental nos


relacionamentos, pois aguça a interpretação de sinais interiores e exteriores. Provoca
reflexões críticas gerando nas pessoas a necessidade de reavaliarem suas próprias crenças
como mecanismo de preservação da qualidade de vida e da sua identidade humana.

I.2. Metodologia
Para Leville e Dionne (1993: 13), sumarizam tudo ao afirmarem que metodologia, “é o estudo
dos princípios e dos métodos de pesquisa”. Em outras palavras, é uma disciplina que de
uma forma prática, fornece os caminhos e os instrumentos para a busca do saber e para a
elaboração de um trabalho/pesquisa científica, desde as actividades preliminares de um
processo de estudo, até a elaboração de um trabalho de maior rigor metodológico. No entanto,
também pode ser entendida como um guião explicativo para alcançar os objectivos pré-
determinados relacionados ao ao assunto.

I.2.1. Tipo de pesquisa


O tipo de estudo para este trabalho é de cunho descritivo, pois descreve um fenómeno ou
situação, e que, permitirá ao pesquisador a observar, registar, analisar, fenómenos, sem
manipulá-los, com objectivo que procuram responder os objectivos acima referenciados.
(MARCONI & LAKATOS, 1999).

Para a elaboração deste trabalho foram privilegiadas as fontes primárias de investigação,


com recurso à dissertações, teses, livros, originais dos autores de referência.
CAPÍTULO. II - FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

II.1. Imagem Corporal


A imagem corporal tem sido alvo de grande interesse nos últimos anos e a quantidade de
estudos que abordam este constructo tem aumentado de forma considerável nas últimas
décadas. Entre 2000 e 2010 o número de publicações acerca do tema foi o dobro do
número da década anterior (Cash & Smolak, 2011).

Numa fase inicial, este conceito aparecia maioritariamente em trabalhos referentes a


perturbações alimentares. Entretanto, um maior número de estudos permitiu compreender
de outra forma a sua relevância e, por isso, começou a surgir associado a uma amostra mais
abrangente, bem como a várias áreas do funcionamento psicossocial (eg, Altabe &
Thompson, 1996; Cash, Thériault, Annis, 2004; McDonagh, Morrison & McGuire, 2008;
Barbosa, 2008, Cash & Smolak,2011; Sabik, 2012).

Entretanto, apesar deste crescente número de estudos, a imagem corporal é um constructo


de grande complexidade e carácter multidimensional, pelo que se torna difícil de aceder.

A imagem corporal começou por ser considerada um constructo unidimensional centrado


essencialmente em aspetos perceptivos e neurológicos reunidos no conceito de esquema
corporal que coordenaria os movimentos e postura do corpo (Cash & Smolak, 2011).

Portanto, com o avançar dos anos e com o conhecimento adquirido no estudo deste tema, o
conceito evoluiu para multidimensional e várias definições foram sendo propostas.

Para Schilder (1950 cit in Thompson, Heinberg, Altabe &TantleffDunn, 1999) clarificaram
o conceito introduzindo o caráter multidimensional do mesmo, enfatizando os processos
psicológicos envolvidos na construção da imagem corporal, como as emoções, atitudes,
valores e relações sociais.

Neste sentido, a sua conceção centrava-se na consciência psicológica da imagem corporal


associando ao conceito noções teóricas da psicanálise e da sociologia. Foi a partir da
definição do autor que os trabalhos subsequentes se basearam, daí o seu pioneirismo no
estudo da imagem corporal, tal como a compreendemos hoje (Barbosa, 2008).

No âmbito nacional, destaca-se a definição de Barbosa (2008) que entende a imagem


corporal como uma “construção biopsicossocial, parcialmente determinada por, mas não

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reduzida a, um corpo físico e objetivo salientando-se a vivência dinâmica e emocional de
um corpo emboído de significados, construídos ao longo do tempo e baseados nas
experiências vividas” (Barbosa, 2001; Barbosa, 2008; Barbosa, Matos & Costa, 2011)

II.2. Satisfação com a imagem corporal


Apesar de partirmos do conceito de imagem corporal não nos propomos, neste trabalho, a
explorá-lo na sua totalidade, dada a sua grande complexidade. Por conseguinte, optamos
por colocar o enfoque numa das componentes da mesma: a satisfação. Na literatura, a
satisfação com a imagem corporal tem vindo a ser concetualizada como uma discrepância
entre a imagem corporal real e a imagem corporal ideal (Fitzgibbon et al. 2000 cit in Sklar,
2008; Barbosa, 2008; Paap & Gardner, 2011),

Porém, entre a forma como o indivíduo percepciona a sua imagem e a forma como gostaria
que a sua imagem realmente fosse. Partindo desta concepção, vários estudos têm verificado
que a insatisfação é um fenómeno cada vez mais comum na população o que levou a que
fosse mencionado como um “descontentamento normativo”, já que a insatisfação parece
ser mais frequente do que a própria satisfação com a imagem corporal (Cash & Pruzinksy,
1999; Thompson, Heinberg, Altabe, & Tantleff-Dunn, 1999; Markey & Markey, 2005).
Além de ser um constructo importante a explorar, dada a sua frequente manifestação nos
indivíduos, a satisfação com a imagem corporal traduz, segundo Thompson, Heinberg,
Altabe e Tantleff-Dun (1999), a mais importante medida de sofrimento (“distress”)
associada à imagem corporal, uma vez que representa e salienta a avaliação subjetiva do
indivíduo.

Nesta perspectiva, As publicações sobre a satisfação com a imagem corporal têm


evidenciado que esta surge associada a outras problemáticas, tais como: baixa autoestima,
depressão, humor depressivo, ansiedade social e perturbações alimentares, sendo cada vez
mais pertinente o estudo do constructo já que esta problemática tem implicações no
quotidiano dos indivíduos e no seu bem-estar. A imagem corporal é construída no seio das
especificidades contextuais e individuais do ser humano pelo que é um processo em
constante reconstrução e (re)significação.

Deste modo, é um fenómeno que se inicia no nascimento e que vai sendo progressivamente
estruturado segundo um “processo de mediatização indivíduo-famíliasociedade” (Barbosa,
2008 p.47), implicando a contínua influência de fatores sociais e culturais (Pruzinsky &
Cash, 1990). Os fatores propiciadores da insatisfação corporal têm vindo a ser descritos na
literatura e surgem componentes sociais como os media, a etnia, a classe social e família e
componentes psicológicos como crenças, relação mãe-filha e o papel do autocontrolo
(Ogden, 2004).

Importa salientar que estas variáveis não são mutuamente exclusivas e é na integração de
todos os contextos e na importância de diferentes fatores que se pode explorar e
compreender a insatisfação corporal como um fenómeno e também como algo
experienciado de forma única por cada indivíduo. De todos os fatores que influenciam a
satisfação com a imagem corporal, as diferenças de género têm sido bem documentadas na
literatura.

II.3. A satisfação com a imagem corporal e o género


A literatura perscrutada deixa transparecer uma ideia consensual: há uma maior
insatisfação corporal por parte das mulheres comparativamente com os homens, já que elas
se mostram mais descontentes com o seu peso, tamanho e formas corporais e com a
aparência física em geral (Helm, 2009; Çatikkas, 2011; Brennan, Lalonde & Bain, 2011),
sendo prevalecente o número de estudos sobre a insatisfação com a imagem corporal que
se foca na população feminina (Morrison, Doss & Perez, 2009; Helm, 2009; Ferguson,
Munoz & Contrera, 2011; Pruis & Janowsky, 2010; Sabik, 2012).

Os investigadores têm avançado com algumas explicações para o predomínio da


insatisfação com a imagem corporal junto das mulheres. Admitem, nomeadamente, que a
influência dos media pode estar associada a esta questão, na medida em que há uma maior
exposição de uma figura ideal feminina magra nos diferentes meios de comunicação.
(Kakeshita, Almeida, 2006; Helm, 2009; Pruis & Janowsky, 2010; Slater, Tiggeman, Firth
& Hawkins, 2010; Sabik, 2012).

Outrosim, parece haver também uma maior internalização desta figura ideal por parte das
mulheres, quando comparadas com os homens, e, como tal, quanto mais distantes se
situam desse ideal mais insatisfeitas as mulheres se parecem sentir.

Uma outra justificação para esta discrepância prende-se com a hipótese de que as
diferenças de género reflitam uma crença da população feminina de que a sua aparência
física, incluindo tamanho e formas corporais, constitui um aspeto central do seu valor
enquanto pessoa, representando um importante preditor do seu sucesso nas relações
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próximas. Apesar da insatisfação com a imagem corporal ser mais evidente junto das
mulheres, na população masculina esta questão também se verifica.

Os media parecem dar cada vez mais ênfase a esta figura ideal e há um maior número de
imagens, anúncios e campanhas que recorrem à mesma, o que parece contribuir para uma
maior insatisfação com a imagem corporal no sexo masculino que, tal como as mulheres,
procura corresponder e aproximar-se do corpo ideal (Farquar & Wasylkiw, 2007).

Deste modo, a insatisfação com a imagem corporal deixa de ser uma problemática
circunscrita à população feminina para ser uma preocupação partilhada pelo sexo
masculino. Contudo, apesar de ser comum a homens e mulheres, que convergem quanto ao
desejo de corresponder à figura ideal, os dois géneros parecem diferir quanto à forma como
experienciam a insatisfação. Todavia, enquanto o objetivo da maioria das mulheres é
perder peso, os homens procuram maioritariamente ganhar massa muscular sem que isso
implique mais massa gorda.

Desta maneira, as estratégias utilizadas para atingir a figura ideal são também díspares: os
homens recorrem a exercícios físicos potenciadores do aumento da massa muscular; as
mulheres optam por uma dieta alimentar mais restritiva.

As diferenças de género estendem-se também às áreas específicas do corpo que geram


maior insatisfação, com o sexo feminino a demonstrar preocupação com as zonas do rosto,
abdómen, ancas, coxas e pernas e o sexo masculino a focar-se nos genitais e músculos
(Gaspar, 1999).

Neste sentido, Çatikkas (2011) verificou que, nas mulheres, a proporção entre a cintura e a
anca era preditora da sua satisfação com a imagem corporal bem como a percentagem de
gordura no corpo, por outro lado, nos homens, essas medidas não pareciam relacionar-se
com a satisfação com a imagem corporal o que é coerente com as propostas de Ogden e
Taylor (2000).

A satisfação com a imagem corporal das mulheres será mais influenciada pela gordura e
formas corporais do que a dos homens, alertando para a necessidade de explorar outros
fatores na compreensão da insatisfação junto dos homens, nomeadamente, a
muscularidade, que foi também sugerida por outros estudos (McCabe & McGreevy, 2010).
Barbosa (2008) encontrou também diferenças de género relativamente à satisfação com o
peso. A autora estudou o impacto das relações de vinculação aos pais, aos pares e ao par
romântico junto da imagem e vivências corporais e percebeu que o sexo feminino era mais
suscetível à insatisfação com a imagem corporal. Contudo, a autora salienta que, ainda que
o género seja um preditor importante nas questões associadas ao corpo, a qualidade das
relações românticas surge como um fator fulcral para as mesmas.

Apesar de serem várias as diferenças entre género acerca da satisfação com a imagem
corporal, alguns autores registaram também semelhanças na vivência desta satisfação.
Brennan, Lalonde e Bain (2011) encontraram algumas das diferenças supramencionadas,
mas verificaram que as diferenças entre géneros se esbatem quando os participantes se
referem às suas emoções e percepções sobre a imagem corporal quando em contacto com o
sexo oposto.

Portanto, ambos parecem sentir-se preocupados com o impacto que a sua aparência terá no
contato com o outro e parecem considerar que a sua atratividade física influenciará uma
possível relação significativa com um parceiro romântico. De facto, o papel da satisfação
com a imagem corporal na vivência de relações românticas é transversal a homens e
mulheres, e apesar de serem escassos os estudos que se focam nesta relação são
concordantes na ideia que há uma relação recíproca entre ambas.

II.4. A satisfação com a imagem corporal e a relação romântica


A vivência da imagem corporal está reciprocamente ligada à forma como o indivíduo
vivencia as relações interpessoais, nomeadamente, as relações românticas (Cash, Thériault,
& Annis, 2004; Morrisson, Doss & Perez, 2009; Meltzer & McNulty, 2010; Juarez &
Pritchard, 2012). Nesta relação, o parceiro romântico parece assumir um papel de extrema
relevância constituindo-se a satisfação percebida do companheiro como um importante
preditor da satisfação do próprio indivíduo com a sua imagem corporal e com a relação
amorosa (Helm, 2009; Juarez & Pricthard, 2012).

Desta maneira, a influência das relações românticas e do parceiro romântico na satisfação


com a imagem corporal tem sido estudada por alguns autores que procuraram compreender
de que forma é que ambas se relacionavam. Um dos fatores que parece mediar esta relação
é o género, na medida em que o papel da relação romântica parece ser significativo na
satisfação com a imagem corporal do indivíduo para homens e mulheres, contudo, há

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diferenças entre ambos. As mulheres reconhecem, mais prontamente, a influência da
relação amorosa para a sua satisfação com a imagem corporal do que os homens
(Ambwani & Strauss, 2007). Os autores sugerem que esta discrepância resultará da
influência do papel de género masculino, o que é coerente com outros trabalhos (Goins,
Markey & Gillen, 2011). Homens e mulheres parecem distinguir-se também quanto à
componente da relação romântica que mais condiciona a sua satisfação. Juarez e Pritchard
(2012) verificaram que a confiança na relação é o maior preditor da satisfação com a
imagem corporal nas mulheres, mas não nos homens o que pode sugerir que apenas as
mulheres são suscetíveis à mesma enquanto o sexo oposto parece não se sentir ameaçado
nem confrontado pelo nível de confiança na relação. Quanto aos homens, é o apoio que
prediz a sua satisfação com o corpo, sendo que quanto mais apoiados se sentem mais
satisfeitos se encontram (Juaez & Pritchard, 2012).

Deste modo, devido à discrepância de resultados, a importância da duração da relação para


a satisfação com a imagem corporal carece ainda de investigação.

Para Tom,Chen, Liao e Shao (2005) compararam solteiros e casados e verificaram que o
casamento parecia atenuar o desejo do indivíduo de que o seu companheiro romântico
correspondesse ao ideal e também de corresponder, ele próprio, a essa figura.

Contudo, numa análise posterior, os autores alertam para a necessidade de considerar que
os participantes do estudo se mostravam muito satisfeitos com a sua relação conjugal e,
como tal, os resultados pareciam indicar que seria a qualidade da relação conjugal que
contribuía para que a figura ideal não fosse tão importante para os casados
comparativamente com os indivíduos solteiros.

II.5. A satisfação com a imagem corporal e o parceiro romântico


Da mesma forma que o estudo da influência da relação romântica na satisfação com a
imagem corporal do indivíduo se revela escasso, a influência do parceiro romântico carece
ainda de exploração na literatura (Meltzer & McNulty, 2010).

O primeiro estudo que abordou este tema (Fallon & Rozin, 1985) focou-se na influência
que o sexo oposto teria na satisfação com a imagem corporal do indivíduo e encontrou
resultados pertinentes que se verificaram em trabalhos posteriores.
Assim, para os homens, não havia diferenças significativas entre o corpo ideal, o corpo real
e o corpo que consideravam mais atraente o que sugere que há, em geral, uma satisfação
com a imagem corporal.

Deste modo, a população feminina desejaria um corpo mais magro do que aquele que
acredita possuir e ainda que considera que a figura ideal feminina para o sexo masculino é
uma figura mais magra do que aquela que os homens efetivamente escolheram como figura
ideal.

Posteriormente, Tantleff-Dun e Thompson (1995), estudaram 108 casais heterossexuais


relativamente à influência do parceiro romântico na satisfação com a imagem corporal
sendo um dos primeiros estudos que aborda o casal em conjunto. Neste estudo, os autores
não encontraram diferenças entre géneros relativamente à satisfação com a imagem
corporal evidenciando a crescente presença do fenómeno geral de insatisfação na
população masculina.

No entanto, homens e mulheres divergem relativamente aos fatores que mais influenciam
esta satisfação, isto é, para as mulheres a variável que melhor explica a insatisfação com a
imagem corporal é a sua percepção acerca de qual a figura feminina ideal do parceiro
romântico, enquanto para os homens é a figura ideal masculina que as mulheres
verdadeiramente escolhem aquela que melhor explica a insatisfação com a imagem
corporal.

Neste sentido, os casais parecem mais capazes de concordar na silhueta que atribuem aos
homens do que naquela que atribuem às mulheres com elas a considerarem-se, em geral,
mais gordas do que aquilo que os seus companheiros acham. Por isso, os homens parecem
reconhecer as companheiras como fonte de informação e incorporar as mensagens
positivas e negativas que recebem na construção da sua satisfação mas as mulheres
parecem sentir-se insatisfeitas independentemente das mensagens positivas que recebem.

II.6. O medo da intimidade e a intimidade


A intimidade surge como a componente com mais influência no sucesso e satisfação com a
relação romântica (Prager & Buhrmester, 1998; Costa & Narciso, 2002).

Waring (1989 cit in Chelune, Waring, Vosk, Sultan & Ogden, 1994) defendem uma
associação entre a capacidade de desenvolver uma relação íntima de proximidade e

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confiança e o desenvolvimento de distúrbios emocionais, sintomas psicossomáticos e
insatisfação conjugal. Por sua vez, Larson, Hammond e Harper (1998) sugerem que sem
intimidade o casal não conseguirá ter confiança e que, por isso, a relação amorosa não terá
sucesso. Deste modo, sendo a intimidade uma peça integrante do sucesso das relações
românticas e uma necessidade inequívoca do ser humano (Alperin, 2001) o seu estudo
torna-se deveras pertinente.

Os autores têm-se debruçado sobre o conceito de intimidade. Contudo, é um conceito


abrangente, complexo que encerra uma multiplicidade de definições, não só no senso
comum como na comunidade científica, pelo que se torna difícil de definir.

II.6.1. O medo da Intimidade nas relações românticas


A intimidade é uma componente estruturante da relação romântica (Costa, 2005) e, como
tal, o medo da intimidade poderá desempenhar também um papel relevante na forma como
o indivíduo vivencia as suas relações íntimas, nomeadamente, as amorosas. De facto, os
estudos parecem ser consensuais em afirmar que o medo da intimidade contribui para que
haja insatisfação com a relação romântica independentemente da concepção que os autores
utilizam: nos que se referem ao medo da intimidade (Chelune, Waing, Vosk, Sultan &
Ogden, 1984; Rivera, Cruz & Munoz, 2011), naqueles que usam a percepção de risco da
intimidade (Brunnel, Pilkington & Webster, 2007) e, ainda naqueles que se focam na
frequência e qualidade do self-disclosure (Sprecher & Hendrick, 2004).

Deste modo, o impacto do medo da intimidade para as relações torna-se evidente sendo
importante compreender de que modo é que este ocorre. Os indivíduos que percecionam a
intimidade desta forma parecem envolver-se menos em relações românticas e, mesmo
quando se envolvem, parecem evitar e recear a intimidade por medo de serem rejeitados ou
traídos pelos seus companheiros.

II.7. O medo da intimidade e a satisfação com a imagem corporal


Apesar de surgirem algumas publicações que exploram a influência do parceiro romântico
para a satisfação com a imagem corporal, esta continua a ser uma área pouco explorada na
literatura (Sklar, 2008).

Do mesmo modo, são escassos os estudos que abordam o impacto da vivência da imagem
corporal para a experiência de relações íntimas. Aacerca da imagem corporal no contexto
interpessoal, os resultados pode se afirmar que uma maior insatisfação com a imagem
corporal surge associada a uma maior preocupação acerca da aprovação e aceitação nas
interações sociais, tanto para homens como para mulheres, refletindo a importância da
satisfação com a imagem corporal para as relações interpessoais. Os autores procuraram
também explorar o papel do padrão de vinculação na vivência da imagem corporal e das
relações românticas. Portanto é importante evidenciar que uma vinculação segura está
associada a uma maior satisfação com a imagem corporal e, paralelamente, quanto mais
preocupado o indivíduo se revela no seu estilo de vinculação maior a sua insatisfação

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III. Conclusão

Com a realização deste trabalho, procuramos explorar a vivência do corpo e a forma como
esta se desenvolve de acordo com as experiências vividas na relação romântica do
indivíduo. Optamos por focar a atenção na satisfação com a imagem corporal e também na
satisfação percebida do companheiro romântico, por contemplarmos o papel fulcral que o
outro significativo desempenha no modo como o sujeito se sente e se perceciona.
Sublinhamos ainda o papel do medo da intimidade enquanto possível potenciador da
insatisfação por constranger o funcionamento inter e intrapessoal do indivíduo.
Acreditamos que trabalho irá contribuir para a compreensão de uma problemática tão
frequente e deveras complexa como a insatisfação com a imagem corporal na percepção de
si e do outro. Sendo esta uma componente tão intrinsecamente interligada ao
funcionamento intra e interpessoal do indivíduo, a sua compreensão viabiliza a potenciação
da relação do sujeito consigo e com os outros implicando, enquanto objetivo último, a
promoção e compreensão do bem-estar do ser humano.
13
Referencias Bibliograficas
Barbosa, R. (2008). Contextos relacionais de desenvolvimento e vivência corporal. Tese de
Doutoramento. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Porto Portugal

Cash, T. F., Thériault, J., & Annis, N. M. (2004). Body image in an interpersonal context:
Adult attachment, fear of intimacy and social anxiety. Journal of Social and Clinical and
clinical practice. New York: Guilford Press.

Farquhar, J. C., & Wasylkiw, L. (2007). Media images of men: Trends and consequences
of body conceptualization. Psychology of Men & Masculinity,8(3), 145.

Garner, D. (1997). Body image survey results. Psychology Today – New York -, 30, 30-
45.

Lakatos, E.M.Marconi, M. (1999). Metodologia científica; 2o edição.S.P: editora Atlas

Thompson, J. K., Heinberg, L. J., Altabe, M., & Tantleff-Dunn, S. (1999). Exacting
beauty: Theory, assessment, and treatment of body image disturbance. American
Psychological Association.

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