Misticismo - Uma Abordagem Bibli - Rose-Marie Berthoud
Misticismo - Uma Abordagem Bibli - Rose-Marie Berthoud
Misticismo - Uma Abordagem Bibli - Rose-Marie Berthoud
histórica
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
EDITORA MONERGISMO
SCRN 712/713, Bloco B, Entrada 28 — Ed. Francisco Morato
Brasília, DF, Brasil — CEP 71.760-620
www.editoramonergismo.com.br
1ª edição, 2019
Berthoud, Jean-Marc
Misticismo: uma abordagem bíblico-histórica / Jean-Marc Berthoud, tradução P. S. Athayde Ribeiro — Brasília,
DF: Editora Monergismo, 2019.
ISBN: 978-85-69980-94-0
CDD 230
SUMÁRIO
Prefácio
Introdução
Preâmbulo
PRIMEIRA PARTE
SEGUNDA PARTE
TERCEIRA PARTE
Misticismo e avivamento
Em nossos dias, uma grande parte da igreja evangélica mundial foi
profundamente tomada por um desejo ardente de avivamento espiritual. É
encorajador. Por zelo, muitos se engajam em fazer jejuns e orações; outros
lutam com ardor por um arrependimento e transformação moral, esperando
inaugurar um período de avivamento poderoso e generalizado.
Entretanto, essa busca por uma nova experiência com o poder e
presença de Deus apresenta várias falhas, que são camufladas pela atual
abordagem evangélica sobre avivamento. Um dos elementos que falta é o
anseio por uma reforma doutrinária. Poucos têm compreendido por que não
há mais avivamento espiritual em grande escala, como o ocorrido nos anos
1858-1859. De fato, desde esse período, o cristianismo evangélico sofreu
uma reversão doutrinária considerável, até meados do século XIX, em relação
às posições teológicas sustentadas pela maior parte dos cristãos evangélicos
desde a Reforma. Concretamente, a teologia do evangélico típico atual está
totalmente em desacordo com a teologia bíblica e ortodoxa das principais
confissões de fé protestantes históricas, no que diz respeito a doutrinas tais
como o caráter de Deus, a criação, a queda do homem, o pecado, a lei divina,
a natureza da conversão, a natureza e extensão da obra de Deus na salvação,
etc. Constatamos isso quando examinamos o Catecismo de Genebra, de
Calvino, a Confissão de la Rochelle, da Igreja Reformada da França, a
Confissão dos Países Baixos (Belga), das Igrejas holandesas, a Confissão
helvética posterior, de Heinrich Bullinger, das Igrejas reformadas suíças, o
Catecismo de Heidelberg, os Cânones de Dort, a Confissão de Westminster e
o Catecismo de Westminster, dos presbiterianos anglo-saxões, a Confissão de
Savoy, dos congregacionalistas ingleses, a Confissão de 1689 [dos batistas],
os 39 artigos dos anglicanos, ou mesmo a Confissão de Augsburgo, dos
luteranos, etc.
Para conseguir o avivamento, atualmente muitos cristãos fazem todo o
tipo de abstinências. Mas, apesar de tanta consagração, por que são incapazes
de parar por um instante para considerar as razões da ausência do poder
regenerador de Deus nas igrejas contemporâneas? Não seria porque a maior
parte das igrejas deixou de crer no que diz a Bíblia sobre a criação, a
condição pecadora do homem, o caráter de Deus e a natureza da salvação?
No que concerne a essas áreas, elas não creem mais no que criam seus pais
espirituais da Reforma e dos grandes avivamentos.
Por que os evangélicos não questionam sua teologia? Não passaria por
suas mentes a percepção de que ela possa ser uma das causas possíveis pela
falta de avivamento? Essa estranha incapacidade de questionar sua teologia
não viria do fato de que boa parte dos cristãos evangélicos tornou-se tão
mística que a Palavra escrita de Deus não faz mais parte de suas
considerações? Os cristãos tornaram-se tão centrados em si mesmos e em
suas experiências que a doutrina e a teologia não passam de questões
secundárias? Muitos as consideram dispensáveis para a vida da alma. Assim,
querer conhecer a verdade de maneira mais profunda resultaria em letargia
espiritual. Uma igreja que não mais crê que sua fidelidade ao credo teológico
e doutrinário é importantíssima aos olhos de Deus e que a substitui por suas
experiências — tal igreja caiu no misticismo. Distanciando-se do princípio
primário de que é preciso crer numa doutrina bíblica correta, isto é, de acordo
com os ensinos dos apóstolos, e cuidar de observá-la, os evangélicos
desviaram-se da verdade. A doutrina não é senão o próprio ensino dado por
Deus. O fato de o Senhor negar o avivamento deveria surpreender-nos? Não
nos esqueçamos de que Jesus disse ao Pai: “santifica-os na verdade. A tua
Palavra é a verdade”.
Ainda que imperfeito, consideremos um exemplo que poderá nos
ajudar a compreender melhor a obra que Deus faz através de sua igreja. Um
condutor de trem pode chegar no seu destino imprimindo velocidades
diferentes. Ele avança, normalmente, numa velocidade habitual; mas
circuntâncias especiais podem fazer com que pise forte no acelerador, a fim
de cobrir uma longa distância em curto espaço de tempo. Da mesma maneira,
há períodos em que Deus age com uma velocidade e poder que nos são
familiares. Mas, em certos momentos, lhe agrada pressionar o acelerador e
derramar o seu poder sobre sua igreja, de modo a fazer com que milhares de
pessoas entrem no seu reino em pouco tempo, e que essa igreja trabalhe
eficazmente em todas as áreas da vida. Mas não basta apenas pressionar o
acelerador para que o trem chegue no destino mais rapidamente. Para isso é
preciso que o trem preencha a condição essencial: ele tem de seguir nos
trilhos. Porque se o trem saísse dos trilhos, a aceleração da máquina
provocaria um desastre imenso e um descarrilamento seria certo. Portanto, é
muito provável que o misticismo seja mesmo um dos maiores inimigos do
verdadeiro avivamento espiritual, porque desvia o crente dos trilhos da
Palavra de Deus e da luz de suas verdades doutrinárias. Historicamente, o
misticismo sempre acabou por reorientar os crentes numa direção diferente da
ensinada nas Sagradas Escrituras. Então, perguntaríamos: uma igreja que, em
sua orientação, tornou-se mística e anti-bíblica, possui posição e orientação
corretas que lhe permitam experimentar o poder do avivamento? Ou acaso
não abusaria desse poder, o que a conduziria à queda perigosa em crenças e
práticas não bíblicas? Em seu estudo sobre o avivamento no País de Gales de
1904-1905, o autor nos mostra o perigo de um avivamento que se deu num
país onde a igreja estava infectada pelo misticismo, quando deveria estar
impregnada pela doutrina bíblica, firmada sobre os trilhos de uma fé
teológica e ortodoxa. Se, pela leitura deste estudo sobre o misticismo, o leitor
se sentir estimulado a reavaliar seriamente suas doutrinas e sua fé, ou
constatar a ausência, em si mesmo, de uma fé teológica verdadeiramente
bíblica, o autor se sentirá recompensado pelo seu trabalho.
— David Vaughn
PREÂMBULO
Vivemos em uma época caracterizada por uma grande confusão
doutrinária e falsificações espirituais de todos os tipos. Quando consultamos
os catálogos de obras cristãs evangélicas, ficamos surpresos ao ver os títulos
atraentes que desfilam diante dos nossos olhos. O mercado foi invadido por
um tipo de literatura que procura manipular os crentes e os estimula a cobiçar
todo o tipo de bênçãos, supostamente espirituais, acompanhadas, é claro, de
um manual para produzi-las e obtê-las. Os crentes tornam-se verdadeiros
aprendizes de feiticeiro.
A incredulidade e a ausência de amor por Deus e pelo próximo,
próprios de uma grande parte do cristianismo contemporâneo, têm como
consequência o vazio espiritual. Procura-se instintivamente um substituto
para preenchê-lo. Esse vazio — estado insuportável para a alma humana, que
somente a reconciliação com Deus através de Jesus Cristo e seu amor podem
preenchê-lo — desperta uma sede insaciável por obter qualquer coisa que
possa satisfazê-la. Muitos estão abertos para crer em qualquer coisa, desde
que isso produza experiências, que se dizem vindas de Deus, e que os
satisfaçam. Em certos meios se ensina que é preciso ver para crer, e isso
produz ainda mais incredulidade. O estudo da Bíblia interessa cada vez
menos aos cristãos. Ora, é o conhecimento das Escrituras que nos dá
discernimento espiritual. Aprendemos no livro de Oseias (4.6) que o povo
pereceu por falta de conhecimento. Mas a maior parte dos cristãos não deseja
mais esse conhecimento; eles fogem do esforço, especialmente do esforço
intelectual. Preferem procurar direcionamentos divinos que caiam do céu, em
vez de estudar e praticar a Palavra de Deus, que é a expressão fiel de seu
pensamento e vontade; muitos dos seus líderes sabem muito bem como
mantê-los na ignorância, o que faz com que se tornem facilmente
manipuláveis e entrem com olhos vendados na via enganosa de suas próprias
visões.
Para compreender essa situação, pareceu-nos útil pesquisar no passado
quais poderiam ser as raízes do misticismo cristão do nosso tempo. É preciso
deixar claro que distinguimos a verdadeira mística cristã — real comunhão
com Deus, em Jesus Cristo e pelo Santo Espírito, fiel aos ensinos da Bíblia
— do misticismo pseudo-cristão, falsificação da verdadeira comunhão do
cristão com seu Deus. Assim, num primeiro momento, vamos nos debruçar
sobre o célebre avivamento do País de Gales do começo do século [isto é, do
século XX], o qual examinaremos através da lente de vários observadores.
Num segundo momento, mencionaremos diversas personalidades e
correntes que influenciaram o cristianismo evangélico.
PRIMEIRA PARTE
BREVE HISTÓRICO DOS AVIVAMENTOS DO PAÍS DE GALES
(SÉCULOS XVIII-XIX)
a. O mundo em chamas[47]
O objetivo dessa obra foi lembrar os acontecimentos que marcaram o
avivamento do País de Gales e deles extrair ensinos, ao menos aqueles
considerados úteis pelo autor e que não contrariavam seus pontos de vista,
tendo como alvo preparar-nos para o avivamento futuro. Ele cria, como todos
os seguidores e líderes do movimento Vineyard, num próximo avivamento
mundial de extensão extraordinária. Suas predições, suas profecias e visões
eram todas nesse sentido.
Joyner não via nenhuma necessidade de uma norma fixa, absoluta,
exterior e objetiva, como as Escrituras, que pudesse servir como teste para
suas visões sobre o fim dos tempos. Para ele, a Palavra de Deus não era
suficiente, nem o único critério. Era preciso mais. Ele escreve:
O verdadeiro cristianismo é essencialmente uma relação com
Cristo, e uma relação é essencialmente uma comunicação
[compreendida aqui como receber profecias, visões]. Como o
Senhor declarou quando foi tentado, o homem não viverá apenas
de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (Mateus
4.4). Notem que o verbo sair foi empregado no presente e não no
passado. Não podemos nos contentar com o que ele disse no
passado; é preciso escutar o que ele diz hoje. Isso não quer dizer
que novas doutrinas serão estabelecidas ou serão incluídos outros
elementos no cânon das Escrituras; mas, subentende-se que
devemos todos ter com ele uma relação pessoal e viva. (op. cit.,
p. 140)
Sua afirmação de não querer promover novas doutrinas, de maneira
nenhuma o impede de estabelecê-las (perceba aqui sua dialética!). Essas
novidades, ele vai tirá-las de seus sonhos e visões. Que tremenda blasfêmia
dizer que não podemos mais nos contentar com o que foi dito no passado.
Sua explicação sobre o tempo presente do verbo sair não passa de um
sofisma, isto é, um erro de lógica que zomba das afirmações bíblicas sobre a
suficiência da Palavra de Deus (veja Salmos 119; 2 Timóteo 3.16), e sobre a
atualidade dessa Palavra hoje. Além disso, é o resultado de uma exegese
fantasiosa.
No final dessa obra, Joyner descreve uma visão que se cumprirá,
afirma ele, em uma geração. Não vamos nos deixar impressionar por suas
predições fabulosas, mas ainda assim ficamos pasmos com a quantidade de
pessoas que o seguem tão docilmente. Será que ainda é possível denunciar o
mal e advertir os cristãos dos perigos que os ameaçam? Quando Hitler
escreveu Mein Kampf, ele exibiu seus planos à luz do dia. Seu livro obteve
um grande sucesso. Todos podiam lê-lo, todos podiam conhecer seus projetos
malignos. Quase todos foram seduzidos. Hitler pôde, então, executar
livremente grande parte dos seus planos criminosos. É errado crer que as
falsas doutrinas vão desaparecer num passe de mágica. Vemos a igreja
apóstata, a prostituta, crescer cada vez mais e pouco a pouco preparar o
surgimento do Homem da iniquidade (literalmente o sem Lei), o Iníquo.
Paralelamente, a igreja fiel, a Esposa se santificará cada vez mais, na espera
pela vinda do seu Esposo bem amado. E nessa situação, é exigido às
sentinelas que previnam aqueles que ainda podem ser advertidos.
Joyner, como Bickle, prediz um avivamento universal extraordinário,
produzido por um derramamento ou um batismo com o Espírito Santo
coletivo tão grandioso que, em comparação, não se falaria mais de
Pentecostes ou dos avivamentos do passado:
Ainda que o avivamento no País de Gales tenha sido tão
extraordinário, ele não passou de uma degustação do que
acontecerá no fim dos tempos. (p. 159)
Se não nos prepararmos para o avivamento que virá, então é melhor
morrer, escreveu Joyner. E chega até a ameaçar:
Prepare-se ou morra! (p. 161)
E continua:
O Senhor revelou a muitos que em breve acontecerá um
derramamento do seu Espírito. Esse avivamento será maior que
todos os que o precederam. Esta visão compreende os elementos
chave da colheita que virá e o que o Senhor está fazendo,
atualmente, na igreja, para prepará-la. (p. 165)
Essa efusão produzirá finalmente mudanças radicais, tanto na
igreja como no mundo. Essas mudanças terão de ser
compreendidas por aqueles que quiserem ser úteis nas mãos de
Deus em um dos maiores acontecimentos da história. Àqueles
que diligentemente buscam a Deus e obedecem a sua vontade,
esta visão não causará nenhum problema. Tudo isso lhes parecerá
como um movimento natural do Espírito levando-os a mais luz e
intimidade com Deus. Os que estiverem no seu conforto e
resistirem à mudança passarão por momentos muito difíceis. (p.
165)
O desejo pela novidade e mudança está bem na moda. Basta
observar o que se passa na esfera escolar e no culto. [...] Na
verdade, haverá muitos cristãos que serão perseguidos porque
optarão pela Palavra de Deus e não pela mudança.
O Senhor prepara para a colheita futura uma imensa rede
espiritual, capaz de conter tudo o que será recolhido. Ele forma
essa rede unindo o seu povo. [...] O Espírito constrangerá os
pastores a unirem-se a outros pastores, profetas a outros profetas;
assembleias inteiras visitarão outras assembleias fora de sua
esfera doutrinária e construirão relacionamentos com elas. Isso
vem do Senhor. (p. 165-166)
O Espírito constrange [...], isso vem do Senhor [...], dito de outra
maneira, submetam-se a Deus, isto é, a nós, senão vocês terão problemas.
Assim começa o totalitarismo espiritual característico das seitas mais
perigosas.
Desde há muito vemos uma grande parte do movimento evangélico
daqui e de outros cantos do mundo — e na Suíça de língua francesa, muitos
reformados e católicos romanos fazem o mesmo — rapidamente seguir esses
profetas, graças à velocidade dos meios de comunicação, aos seminários
organizados e ao espírito de profecia dos adeptos desses falsos profetas, que
também anunciam os mesmos acontecimentos, porque o mesmo espírito
anima a todos. Voltemos às nossas citações:
Ele [o Espírito] começa a derrubar as barreiras que existem entre
os líderes, porque é aí que a maior parte das barreiras tem sua
origem e onde elas são mais sólidas. Quando esses muros caírem,
o corpo por inteiro começará a harmonizar-se. Se os líderes
resistirem a essa ação do Espírito Santo, o Senhor fará com que
ela prossiga através das assembleias. [...] Alguns pastores e
líderes que continuarem resistindo a essa onda de unidade serão
exonerados de suas funções. Alguns permanecerão endurecidos
de tal maneira que se oporão e resistirão a Deus até o fim. A
maior parte deles aceitará a mudança e se arrependerá de sua
resistência. (p. 166)
Querer manter-se na fé em Jesus Cristo, recusar andar pelo que vê e
perseverar na sua Palavra será considerado como resistência ao Espírito e
uma revolta aberta contra Deus. Aqueles que permanecerem nesse campo
serão perseguidos.
Os que estiverem unidos pela doutrina, ou que se apegarem a
personalidades, não demorarão a ser extirpados. Somente os que
estiverem unidos em e por Jesus resistirão à pressão que a
colheita exercerá sobre a igreja. (p. 167)
Pronto! Agora ficou claro! A palavra doutrina tornou-se desprezível e
algo a ser negligenciado. No entanto, essa palavra significa simplesmente
ensino. Quando gostamos de um autor, nos interessamos por tudo o que
escreve para que possamos melhor compreendê-lo. Seu pensamento e sua
pessoa formam um todo. O ensino de Jesus teria se tornado desprezível? O
que o próprio Senhor Jesus Cristo diz sobre suas Palavras, sobre o seu ensino
e doutrina?
Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem
em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Se guardardes
os meus mandamentos, permanecereis no meu amor. (João
15.7,10)
Se me amais, guardareis os meus mandamentos [...] Aquele que
tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e
aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o
amarei e me manifestarei a ele [...] Se alguém me ama, guardará
a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos
nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras.
(João 14.15,21,23,14)
Jesus jamais dissocia sua Palavra de sua Pessoa. Há uma ligação tão
íntima entre elas que as torna indissociáveis. Joyner contrapõe a união com
Jesus à doutrina e sua Palavra, o que é radicalmente contrário às palavras de
Cristo citadas acima. Isso nos faz concluir que o Jesus de Joyner é um falso
cristo.
Para Joyner, a união, ou uma maior intimidade com Cristo, é obtida
pela profecia, por uma experiência imediata, ou por uma sensação de amor. É
preciso experimentar Deus, senti-lo. Joyner prevê uma perseguição daqueles
que guardarão os mandamentos de Jesus, mas não se coloca, evidentemente,
nesse campo (Apocalipse 12.17; 14.12)!
Ele prediz a união em um movimento mundial único de todos os
cristãos, e diretrizes únicas para o governo das cidades. Esse movimento terá
uma única direção. Isso foi igualmente predito na Bíblia, mas os cristãos fiéis
no testemunho de Jesus e aos seus mandamentos estarão excluídos de tal
movimento de unificação universal. Ao contrário de Joyner, vemos nisso os
agentes do Anticristo preparando sua vinda.
Participando dessa colheita, todos os grupos de ministérios ou de
influência, com identidades particulares, finalmente se fundirão
em uma identidade cristã única. Comandos únicos serão
formados para dirigir cidades e vilas. Elas serão constituídas por
pastores e líderes vindos de todos os meios. Sua unidade e
harmonia no trabalho, como também nas variadas assembleias,
deixarão o mundo maravilhado. (p. 168)
Os que se recusarem a colaborar serão tidos como sectários,
intolerantes, que adoram suas obras em vez de Deus:
Haverá problemas para aqueles que caírem, a ponto de adorar a
obra de Deus em lugar do Deus da obra. (p. 169)
Os que se opuserem, os quais Joyner denomina pedras de tropeço,
serão descartados por profetas especialmente enviados por Deus para esse
ministério:
Mas a maior parte dentre eles será igualmente liberta pela unção
extraordinária que virá. Não será o Senhor que enviará os que se
sentem chamados para atacar e destruir as coisas antigas. Muitas
pedras de tropeço estarão na igreja, as quais causarão confusões
e, de vez em quando, alguns danos. Essas pessoas se
considerarão profetas enviados para julgar e libertar. Os que
servirem nas equipes de liderança terão de ter muito
discernimento para descartar essas pedras. Para que essa
distinção possa ser feita e para que não haja erro quanto às pedras
de tropeço, o Senhor levantará uma quantidade considerável de
profetas, doutores, pastores e apóstolos, habitados pelo Espírito
de Finéias.
Junto com a colheita, virá sobre o mundo uma terrível tribulação,
que terminará por destruir as obras que não foram ordenadas pelo
Senhor. (p. 169)
Ele prediz guerras nucleares, sobretudo nas nações do terceiro mundo.
É mais cômodo (e diplomático)! A feliz América será poupada. Ela bem
merece, aquela que produziu tão grandes líderes e profetas de Deus!
As guerras se multiplicarão. Até mesmo ataques nucleares, mas
serão limitados e acontecerão, sobretudo, entre as nações do
terceiro mundo. Grandes massas de revoltosos tomarão posse de
tudo o que estiver em sua passagem. Um de seus primeiros alvos
será a infraestrutura das igrejas das grandes denominações e os
grandes ministérios, que desaparecerão quase que do dia para a
noite. As religiões pagãs, as seitas e a feitiçaria, se multiplicarão
como um flagelo, mas elas próprias se tornarão alvo dos
amotinados. [...] O medo e densas trevas cobrirão a Terra, mas
será ainda mais impactante a glória que estará sobre os santos.
Grandes multidões virão ao Senhor e esse movimento será tão
considerável em certos lugares, que cristãos jovens exercerão o
ministério de pastor para grandes grupos de crentes. (p. 170)
Em que isso concorda com as instruções de Paulo sobre a constituição
de presbíteros (1 Timóteo 3.1-9)? Além disso, Isaías nos diz que um povo
governado por mulheres e crianças é sinal de decadência e omissão dos
homens. Isso prenuncia calamidades muito próximas. Para Joyner, isso é um
bom presságio:
Espontaneamente acontecerão grandes reuniões, que alterarão a
vida de cidades inteiras. Milagres extraordinários se tornarão
banais e aqueles que hoje são considerados grandes, serão
percebidos pelos jovens crentes como quase sem nenhuma
importância. A aparição de anjos aos santos será comum e uma
glória visível do Senhor aparecerá sobre alguns por longos
períodos em que o poder fluirá através deles. (p. 171)
Não foram os milagres de Jesus ou dos apóstolos que operaram
conversões, mas a pregação da cruz. Pois é ela que convence do pecado e
leva ao arrependimento, à fé em Jesus Cristo e à obediência, pelo ministério
do verdadeiro Espírito Santo.
A Igreja Primitiva e as Escrituras não serão mais o modelo para a igreja
de hoje:
Essa colheita será tão impressionante que não se terá mais a
Igreja Primitiva como modelo; todos dirão que certamente o
Senhor guardou o seu melhor vinho para o fim. A Igreja
Primitiva constituía as primícias; agora, haverá uma verdadeira
colheita! Foi dito que o apóstolo Paulo havia posto o mundo de
cabeça para baixo. Agora, dos apóstolos que serão ungidos, se
dirá que endireitaram um mundo que estava de cabeça para
baixo. As nações tremerão quando seus nomes forem
mencionados. (p. 171)
Para esses profetas, o arrebatamento da igreja não faria parte de suas
considerações. Para eles, como para os Testemunhas de Jeová, a esperança do
cristão é, antes de tudo, terrestre:
Para mim é impossível exprimir aqui a amplitude exata desses
acontecimentos, nem o caos ou a ação do Espírito Santo. Quanto
ao arrebatamento, ou a Segunda Vinda do Senhor Jesus, tenho
minha ideia, mas não recebi nada sobre esse assunto nesta visão.
O que foi me permitido ver resumiu-se no caos que imperará e no
avivamento que se intensificará. (p. 172)
Tanto as verdades bíblicas, como os mandamentos de Deus, que
refletem o caráter santo e imutável de Deus Pai, Filho e Espírito Santo são
rebaixados:
A revelação crescente de Jesus suplantará — como a luz do sol
nascente faz diminuir a luz da lua — a enorme variedade de
doutrinas que no passado julgávamos importantes. Quando a
igreja começar a ver “aquele em quem estão escondidos todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento”, as verdades que
absorviam a atenção serão vistas como insignificantes
(Colossenses 2.5). (p. 173)
A sabedoria e o conhecimento de Cristo não podem ser opostos à sua
Palavra. Aqui, manifestamente, só pode tratar-se de um falso cristo:
O orgulho espiritual e a exaltação dos homens, das verdades ou
das obras individuais, cairão sob o julgamento implacável do
Senhor e logo será compreendido tratar-se de fogo estranho.
Aqueles que continuarem a oferecê-lo desaparecerão do
ministério em razão de manifestações tão impressionantes que
um santo e puro temor do Senhor tomará todo o corpo de Cristo.
Isso ajudará a igreja a entrar numa real adoração espiritual e
numa unidade fundamentada sobre esse louvor. (p. 173)
A unidade, assim constituída, será fundamentada sobre o louvor, e não
sobre a verdade. Os que recusarem essa união para louvar a Deus serão
eliminados.
Os instrumentos que atualmente ele prepara terão uma ousadia e
confiança tais que deixarão este mundo pasmo e tomado pelo
medo. Os milagres serão uma constante na vida daqueles que
viverem nesse tempo. Para eles isso será tão normal, como no
passado foi para Israel colher o maná. Alguns dos feitos do
Senhor em favor do seu povo não terão precedentes, e
ultrapassarão os milagres bíblicos mais impressionantes. Serão
vistos como quase normais, e se produzirão porque a presença do
Senhor provocará maior admiração do que suas obras. Ele estará,
então, muito próximo do seu povo. (p. 174-175)
Os únicos prodígios e milagres preditos na Bíblia para tal época são os
da segunda besta. Veja o que nos diz João:
Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres,
parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce toda a
autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra
e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal
fora curada. Também opera grandes sinais, de maneira que até
fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que
habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado
executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra
que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada,
sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta,
para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer
quantos não adorassem a imagem da besta. (Apocalipse 13.12-
15)
Joyner continua:
O Senhor abrirá o entendimento de sua Palavra bem além de
nossa atual compreensão. Os livros não foram ainda abertos
como haverão de ser. Quando forem abertos, nosso progresso na
compreensão das verdades, até as mais elementares, como a
salvação, o novo nascimento, etc., será enorme. Nisso o corpo de
Cristo como um todo ganhará mais solidez, como também
profundidade em suas motivações. O que é espiritual se tornará,
para a igreja, mais real do que o natural. Quando o verdadeiro
fundamento for estabelecido na igreja (nossa união e nosso apego
ao próprio Jesus), haverá tal derramamento do Espírito de
revelação como jamais houve. (p. 175)
Por que fazer brilhar diante dos nossos olhos um conhecimento divino
direto, adquirido nesta terra por iluminação imediata, como a pregada pelo
gnosticismo? Cristo nos deixou sua Palavra, que é suficiente e capaz de fazer
com que o homem de Deus alcance a maturidade espiritual e seja
perfeitamente habilitado para toda boa obra:
Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste
inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância,
sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a
salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2
Timóteo 3.14-17)
Joyner acrescenta:
A renovação carismática e a terceira onda foram ações notáveis
do Espírito Santo. Ainda que, às vezes, os frutos tenham parecido
superficiais, multidões realmente encontraram o Senhor. Mas,
dramático foi o retorno ao mundo de tão grande número deles.
Apesar de tudo e de muito trabalho, um grande número, dos que
foram levados ao reino, permaneceu e cresceu. [...]
Neste trabalho, não resista ao Senhor. Procure uma maior
intimidade com ele, e esteja aberto aos outros membros do corpo
de Cristo. [...] A unção quebrará rapidamente todos os nossos
jugos. A Reforma [do século XVI] nos mostrou o caminho. As
renovações carismáticas e pentecostais começaram a nos
conduzir à verdade. Graças ao avivamento que está próximo,
finalmente conheceremos Jesus como nossa vida. (p. 175-176)
Joyner, em sua nova concepção do cristianismo, apagou quase que
completamente a Palavra escrita de Deus, como também a história da igreja.
Segundo ele, antes das renovações pentecostais e carismáticas, não existia
grande coisa que fosse realmente boa. Todos os que morreram como mártires,
desde os primeiros séculos até nossos dias, não são muito dignos de
consideração, uma vez que tinham uma teologia diferente da sua. Antes de
Joyner e dos profetas do Metro Vineyard, Jesus não podia ser conhecido
como a nossa vida. Quando Paulo diz “Cristo é minha vida”, sem dúvida
alguma isso não passa de uma pobre ilusão. Os discípulos e os cristãos
autênticos de todos os séculos viveram a realização das promessas do Senhor
Jesus Cristo citadas em João 15 e outros textos. Isso Joyner nega
categoricamente.
Esses exemplos sobre Joyner são suficientes para convencer-nos de que
estamos lidando com um falso profeta, e também são falsos profetas todos
aqueles que seguem e propagam seu ensino.
b. A batalha final[48]
Examinemos, para terminar, outra obra de Rick Joyner, A batalha final.
Alguém poderia perguntar por que perdemos tempo em ler e refutar tal obra.
Fazemos isso na esperança de ver alguns retornarem ao bom senso, aqueles
que poderiam aindar ter alguma dúvida. Não escrevemos para aqueles que
estão convencidos da falsidade dessa obra, embora seja útil para estes
perceber em que pântano o mundo cristão está atolado e possam ajudar
alguns. Muitos se perguntam como ter discernimento. A Bíblia nos diz que o
estudo da Palavra torna-nos sábios, inteligentes e nos dá esse discernimento.
A crítica dessa obra poderá ser uma ajuda prática para aqueles que não
aprenderam a avaliar, pelas Escrituras, tudo o que leem ou ouvem.
O livro A batalha final foi editado pela Jeunesse en Mission [Juventude
em missão], em 1997. Sabemos que a Jeunesse en Mission infiltrou-se em
todas as igrejas (inclusive a católica) e trabalha ativamente para construir
pontes entre as comunidades cristãs, em nome de um amor sem doutrina e
sem preocupação com a verdade. Ela introduziu, igualmente e em todos os
lugares, comportamentos e doutrinas carismáticas, tanto quanto fizeram os
movimentos Vineyard, Toronto e outros. Nem tudo é ruim na Jeunesse en
Mission, e é isso que torna sua sedução mais sutil e faz com que todo o
questionamento seja difícil. Sua máxima, vista em todos os lugares onde
atuam — não é preciso julgar, não é preciso criticar — não leva à reflexão e
não contribui para fazer cristãos, homens feitos ou adultos, “aqueles que,
pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o
bem, mas também o mal” (Hebreus 5.14). Adiante veremos a demonstração
disso.
Essa obra faz referência a uma nova série de visões que Rick Joyner
teria recebido do Senhor. Essas experiências foram, primeiramente, escritas
em várias publicações americanas, atraindo assim a atenção das igrejas e dos
líderes cristãos, ávidos por esse tipo de fábula. Essencialmente, essas visões
teriam como alvo encorajar os crentes a tornarem-se vencedores, a fim de
enfrentar a batalha final diabólica contra a igreja.
Essas visões são todas orientadas na perspectiva definida pelos profetas
de Kansas City e sua escatologia triunfalista. Evidentemente, ela não vem do
Deus de Jesus Cristo, mas do anjo caído que consegue fazer-se passar por
Deus, assim como de seus asseclas, os demônios, que se fazem passar por
defuntos. A Bíblia, no entanto, é categórica. Ela nos proíbe fazer contato com
os mortos, sejam santos ou não! Portanto, trata-se de mensagens ocultistas!
Que tenhamos consciência disso!
Joyner viu aparecer diante dele uma horda de demônios montados não
sobre animais, mas sobre os cristãos! Com sua sutileza habitual, nosso
profeta declarou:
Essas pessoas professavam as verdades cristãs para apaziguar
suas consciências, mas viviam uma vida de compromisso com os
poderes das trevas. (p. 18)
Não foi por inocência que Joyner pôs em cena aqueles que
professariam as verdades cristãs para apaziguar suas consciências e que, ao
mesmo tempo negociariam com os poderes das trevas!
Essa horda de demônios disparava suas flechas contra os partidários do
avivamento de Kansas City. O nome que essas flechas levavam não era
ocasional, uma vez que se tratava dos nomes daqueles que ousavam colocar
em dúvida a autenticidade da obra dos profetas de Kansas City e de seus
apoiadores. Eram as flechas inflamadas da Acusação, da Maledicência, da
Calúnia e da Crítica. Um belo exemplo de manipulação por intimidação.
Quando os preguiçosos, os medrosos, os simples, os ignorantes, por
questionarem, são tratados dessa maneira, suas bocas são fechadas. É por isso
que tantas pessoas, devidamente intimidadas, seguem esses profetas como
ovelhas mansas e são levadas para o matadouro sem nenhuma pena. Quanto
aos batedores à frente dessa horda de demônios, eles se chamam: Rejeição,
Amargura, Impaciência, Resistência a perdoar, Luxúria. Todos muito na
moda nas terapias de autoajuda de hoje.
Joyner viu em seguida uma guerra civil espiritual sendo preparada na
igreja:
O Senhor prepara líderes que estarão prontos para dar início a
essa Guerra Civil espiritual, a fim de libertar os homens. Isso
implicará a escravidão ou liberdade. O segundo desafio, que será
mais difícil para alguns, será o dinheiro. Exatamente como a
Guerra Civil americana, que às vezes parecia querer destruir a
nação inteira, o que virá sobre a igreja também às vezes parecerá
marcar seu fim. Entretanto, como a nação americana não apenas
sobreviveu, mas tornou-se a nação mais poderosa da terra, assim
será também com a igreja. Ela não será destruída, mas as
instituições e as doutrinas que mantiveram os homens na
escravidão, essas serão. (p. 37)
Certamente não foi graças a sua santidade que ela se tornou a nação
mais poderosa da terra. Basta constatar sua arrogância, seu desprezo aberto à
Lei de Deus, seu frenesi em destruir quem ousa resisti-la e as falsas doutrinas
que destila.
Nessa visão, o Senhor parabeniza a Rick Joyner e o exorta a munir-se
da melhor arma para travar essa guerra: o amor do Pai... Esta expressão o
amor do Pai não é nem um pouco nova. Todas as manifestações torontistas
tinham por alvo experimentá-lo. Continuemos na leitura de nosso autor:
Eu fechava os olhos e via a glória de Deus, o que era
reconfortante, porque não podia mais viver sem vê-la, agora que
a tinha experimentado. (p. 41)
Que visão pobre e banal da santidade e da grandeza de Deus! Ver a
glória de Deus e sua santidade e sentir-se reconfortado! Que contraste com a
visão de Isaías 6.1-6! Isso confirma que não podia ser a glória do Deus
verdadeiro. O entendimento e a reflexão são rebaixados.
Jesus lhe diz: O que torna justo diante de Deus não é crer com a
mente, mas crer com o coração. (p. 45)
A fé verdadeira é um dom de Deus, que faz com que nossa mente
iluminada se apegue às verdades bíblicas. Ela não elimina o uso da razão. O
encontro, nos lugares celestiais, entre Joyner e grandes personalidades cristãs
e o diálogo travado por eles, ultrapassa todos os limites, tanto do imaginável
como da blasfêmia, tamanha sua frivolidade, insensatez e irreverência. Mas,
para Joyner, esses contos de fadas são um meio muito útil para transmitir
suas próprias ideias e assim, pouco a pouco, modificar a mentalidade dos
cristãos e sua atitude em relação à autoridade e veracidade da Bíblia. Em sua
visão, Joyner chega na região habitada pelas virgens insensatas. Esta é a
região na qual estão aqueles que vivem no estrato mais baixo do céu. Um dos
habitantes lhe explica:
Há algo como uma hierarquia. A recompensa por nossa vida
terrestre é a posição que teremos para toda a eternidade. Esta
grande multidão é composta daqueles a quem o Senhor chamou
de virgens insensatas. Nós conhecíamos o Senhor, tínhamos fé
que sua cruz era nossa salvação, no entanto não vivíamos de fato
para ele, mas para nós mesmos. Não tínhamos nossas lâmpadas
cheias do óleo do Espírito Santo. É verdade, nós temos a vida
eterna, mas desperdiçamos nossas vidas sobre a terra. (p. 87)
A Bíblia nos diz que as virgens insensatas encontraram a porta fechada
e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Mas ele respondeu: “Não vos
conheço” (Mateus 25.11,12). Joyner, à maneira dos liberais, sem o menor
escrúpulo, se permite falsificar e reinterpretar as Escrituras como lhe convém
e falsear a lógica (as virgens insensatas, nessa obra, dizem que ainda têm a
vida eterna, quando é evidente que jamais a tiveram!). Constatamos aqui a
persistência da teoria que examinamos anteriormente sobre os dois tipos de
cristãos, os carnais, aqueles que vivem para eles mesmos, e os espirituais, que
vivem verdadeiramente para Deus.
Nessa região onde habitam as virgens insensatas, Joyner conversa com
diferentes pessoas, inclusive com aquele a quem chama de “o grande
reformador”. Ele não cita o seu nome, mas podemos facilmente concluir que
se trata de João Calvino em pessoa! Ele fica surpreso em vê-lo nesse lugar e
lhe pergunta a razão. Calvino responde:
Eu estou aqui porque cometi um erro enorme [...]. O apóstolo
Paulo passou do nível em que se considerava superior aos
grandes apóstolos, para aquele em que dizia ser o maior dos
pecadores. Eu fiz como ele, mas de forma inversa. Eu parti do
fato de que era um dos maiores pecadores a encontrar a graça,
para chegar a pensar que era um dos grandes apóstolos. Foi por
orgulho e não por insegurança [...] que comecei a atacar todos os
que não viam as coisas exatamente como eu as via. [...] Ninguém
ousou me questionar, porque o teria feito em pedaços. Pensei que
rebaixando os outros, me elevaria. Acreditava que era o próprio
Espírito Santo! [...] No fim, eu não servia mais ao Senhor, mas ao
ídolo que eu tinha feito de mim mesmo e, no fim de minha vida,
eu era, literalmente, um inimigo do verdadeiro Evangelho, ao
menos na prática, ainda que meus ensinos e escritos tivessem a
aparência de ser impecavelmente bíblicos. (p. 94)
Fora o aspecto absolutamente cômico da passagem, que injúria a
Calvino! Examinemos a imagem do reformador traçada por Joyner: era um
poço de orgulho que julgava ser o Espírito Santo e que estava pronto para
destruir quem quer que o questionasse; era inimigo do Evangelho; seus
escritos e ensinos tinham aparência de ser bíblicos, mas, subentende-se, não o
eram realmente.
Se, segundo Joyner, Calvino apenas fingia conhecer Jesus, então o que
fazia nos lugares celestes? Joyner, no entanto, deveria saber o fim que está
reservado aos hipócritas e mentirosos:
Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os
idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira. Eu, Jesus,
enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas.
(Apocalipse 22.15-16a)
Na verdade, ele não está preocupado em saber, uma vez que a Palavra
escrita não exerce nenhuma autoridade sobre ele. Joyner questiona, ainda,
Calvino:
Se é verdade que você tornou-se um inimigo do Evangelho,
como é possível que esteja aí? Perguntei eu.
Pela graça de Deus, eu sempre tive fé na obra da cruz para minha
salvação pessoal, ainda que tenha, efetivamente, desviado outros
ao conduzi-los a mim mesmo e não ao Senhor. Mas, no entanto,
nosso Salvador amado permanece fiel para conosco, ainda que
sejamos infiéis. Foi também por graça que o Senhor me tirou da
terra antes da hora, para que aqueles que estavam sob meu poder
pudessem encontrá-lo e conhecer somente a ele. (p. 95)
Que ilusão! Se o Senhor permanece fiel a si mesmo, às suas promessas
e ameaças, por outro lado não permanece “fiel” àqueles que romperam a
aliança feita com ele, que perseveram na desobediência e que desprezam sua
Palavra escrita. Calvino certamente sabia e agia em consequência disso. Basta
ler uma ou outra das suas biografias para julgar se Calvino era a espécie de
homem aqui descrita por Joyner.[49] Ele põe na boca de Calvino um dialeto de
Canaã frouxo, que o reformador vomitaria se ainda estivesse no mundo!
Além disso, o relato de Joyner é totalmente anacrônico. Se um certo Calvino
realmente lhe falou, sem dúvida alguma tratou-se de um demônio utilizando a
máscara do reformador.
Em seguida, vem um diálogo com a mulher do reformador (Idelette de
Bure). Julgue você mesmo. Joyner coloca-se aqui no mesmo diapasão do
mundo americano e descreve o que seus leitores gostariam de ouvir:
Depois, uma mulher que eu não conhecia se separou deles. Ela
era de uma beleza e graça de cortar o fôlego, sem que tivesse
nada de sensual ou sedutor.
“Eu era a sua mulher na terra”, disse ela. “Grande parte do que
você sabe sobre ele veio na realidade de mim, de maneira que o
que vou lhe dizer não diz respeito somente a ele, mas a nós dois.
Pode-se reformar a igreja sem reformar sua alma. Podemos
decidir o curso da história e não fazer a vontade de Deus, nem
glorificar seu Filho. Se nos engajamos a fazer a história humana
isso é possível, mas é uma obra efêmera, que desaparecerá como
se dissolve uma espiral de fumaça”. (p. 96-97)
Quem reina sobre a história do mundo e das pessoas é Deus. A
verdadeira mulher de Calvino sabia disso. Essa mulher da visão de Joyner
não passa de uma invenção estúpida, ou foi inspirada por demônios, produto
de uma inspiração delirante e caluniadora. A pseudo-mulher de Calvino
continua:
Somente guardando a alma pura pode-se exercer um impacto
sobre o mundo que seja útil aos propósitos de Deus. Meu marido
perdeu sua alma por minha causa, e a encontrou no fim de sua
vida, porque fui tirada da terra para dar-lhe uma nova chance. A
maior parte do que ele fez foi por mim, mais do que pelo Senhor.
Eu o pressionei e lhe dei uma grande parte do que ensinou. Fiz
uso desse expediente para encher o meu ego, porque, naquela
época, uma mulher não era reconhecida como líder espiritual. Eu
vivi sua vida em seu lugar, a fim de viver minha vida através
dele. E, rapidamente, fiz com que fizesse tudo isso por simples
fidelidade a mim. (p. 96)
É um delírio! Ela queria “encher seu próprio ego”! Esta é a expressão
psicológica de uma reivindicação feminista vinda diretamente da América.
Em suma, o pobre Calvino foi um tolo governado por uma mulher que lhe
assoprava todo o seu ensino! Em seguida ela lhe fez confissões delirantes
sobre a qualidade do amor existente entre ela e seu marido, que tudo não
passava de hipocrisia e de uma vida de mentira, etc., etc.
O grande reformador faz esta última exortação ao nosso viajante
celeste:
Não tente ensinar aos outros o que você mesmo não faz. A
Reforma não é somente uma doutrina. (p. 99)
Quem disse que a Reforma foi somente uma doutrina?
A verdadeira Reforma vem somente de uma real união com o
Salvador. Quando se está sob o jugo de Jesus Cristo e carregamos
o seu fardo, o próprio Jesus está ali para carregá-lo. Só podemos
fazer suas obras com ele, e não somente por ele. Somente o
Espírito faz as coisas do Espírito. Se estivermos debaixo do seu
jugo, não faremos nada por interesse político ou pela história.
Tudo o que é feito em razão de pressões do poder ou por causa
das circunstâncias dará fim ao verdadeiro ministério. (p. 99)
Calvino teria sido o maior dos hipócritas. A sede de poder teria dirigido
todas as suas ações. Não teria tido nenhuma comunhão com Jesus Cristo. De
novo, Joyner apenas rebaixa a doutrina ou o ensino das Escrituras. Ele tece
belas frases que soam ocas. Na verdade, ele descreve a si mesmo e não
percebe.
Em seguida, Joyner encontra um homem que considera como um dos
maiores escritores de todos os tempos, que percebemos tratar-se, talvez, de
um C. S. Lewis de sua fabricação. Esse escritor lhe diz:
[...] Eu era honrado pelos reis, mas não fui fiel ao Rei dos reis.
Fiz uso dos maiores talentos e da mente penetrante da qual fui
dotado, para atrair os homens a mim mesmo por minha
sabedoria, e não ao Senhor. Além disso, eu o conhecia somente
por ouvir falar e foi dessa maneira que obriguei os homens a
conhecê-lo. Fiz com que conhecessem o raciocínio dedutivo, em
vez do Espírito Santo que eu mal conhecia. Não os levei a Jesus,
mas a mim mesmo ou a outros como eu, que achavam que o
conheciam. (p. 109)
Pobre escritor! Ele teria também figurado entre os maiores hipócritas
deste mundo. Achava que conhecia a Jesus. O que ele faz, então, nos lugares
celestes? Por outro lado, o raciocínio dedutivo, isto é, o bom senso, o
verdadeiro, a boa lógica que não contradiz o bom senso dos Provérbios e da
Sabedoria que é Jesus Cristo, tudo isso é diminuído em benefício do Espírito
Santo. Como se o Espírito Santo, que inspirou as Escrituras, pudesse negar-se
a si mesmo. E faz com que esse escritor diga:
Se tivesse buscado o Senhor em vez de conhecê-lo
intelectualmente, os milhares de pessoas que eu teria ensinado
teriam, por sua vez, trazido milhões. [...] É preciso buscar o
Senhor em vez de conhecê-lo mentalmente. (p. 110)
Outra vez, Joyner opõe o conhecimento de Cristo à mente. No novo
nascimento, a mente é transformada pelo Espírito Santo de tal maneira que
nossos pensamentos são gradualmente levados cativos à obediência de Cristo
(2 Coríntios 10.5). A mente é renovada enquanto meditamos na Palavra com
o auxílio do Espírito Santo: “Compreendo mais do que todos os meus
mestres, porque medito nos teus testemunhos” (Salmos 119.99). Jesus diz em
Mateus 12.24, que erramos por não conhecer as Escrituras. A Bíblia descreve
a impiedade em termos de mente pervertida (Efésios 4.18; Romanos 1.21-
22). Nenhuma conversão e nenhum progresso espiritual é possível sem o uso
contínuo do pensamento.
Joyner encontra várias vezes o Senhor sob a aparência de um
personagem chamado Sabedoria, que ensina:
Você fica impressionado quando lhe dou uma palavra de
conhecimento sobre a doença física de alguém, ou outra
revelação qualquer. Isso acontece quando você toca a minha
mente apenas levemente. Se você tivesse a minha mente de
forma plena, seria capaz de conhecer inteiramente todos os que
viesse a encontrar, como fez em sua experiência aqui. Você veria
qualquer homem exatamente como o vejo. Entretanto,
permanecer plenamente em mim é muito mais enriquecedor.
Você tem de ter meu coração para saber como utilizar
corretamente esse conhecimento. Só então você julgará como eu.
(p. 124)
Esse conhecimento direto — unívoco — do pensamento de Cristo, na
verdade é uma identificação com Cristo, uma autodivinização. Esse suposto
Cristo que lhe fala é um falso cristo, porque diz que ele pode tornar-se como
Deus, obter um livre acesso à própria mente de Cristo e atingir assim a
onisciência. Nada mais do que uma repetição da mentira da serpente a Eva no
Jardim do Éden. Além disso, é uma negação grotesca da ordem da criação.
As faculdades humanas, ainda que renovadas pelo Espírito Santo, não são
nada para ele. Tudo deve vir de uma identificação do crente com Deus, de sua
mente com a mente divina. Trata-se aqui de uma total divinização ocultista.
Segundo Joyner, a Sabedoria prossegue:
Só posso lhe dar meu conhecimento sobrenatural na medida em
que você conhecer meu coração. Os dons do Espírito que enviei à
minha igreja são apenas as primícias dos poderes do século
vindouro. Eu o chamei para ser um dos mensageiros desses dias,
e por consequência, você tem de conhecer esses poderes. Você
tem de desejar ardentemente os dons, porque eles fazem parte de
mim, e os dei para que você seja como eu. (p. 125)
Esse falso cristo o lisonjeia, lhe prediz uma carreira extraordinária, faz
com que brilhem os poderes e dons espantosos que deve desejar e cobiçar
para ser um homem de Deus. É possível notar a linguagem do inimigo de
nossas almas. São sempre as mesmas coisas.
Ele passa diante dos tronos e reconhece o apóstolo Paulo, ao qual diz:
Estou exultante por este momento. Sei que tu estás ciente de
como tuas cartas têm sido um guia para a igreja e como elas,
ainda hoje, exercem mais influência do que todos nós. Elas são
uma das maiores fontes de luz sobre a terra.
“Obrigado”, diz o apóstolo amavelmente. “Mas você não imagina
como desejávamos este encontro. Você é um soldado do último
combate. Você e os outros têm sido esperados por nós. Vimos
esses dias somente de forma confusa, pela nossa visão profética
limitada, e você foi escolhido para vivê-los. Prepare-se para a
última batalha. Vocês são aqueles que esperávamos”. (p. 126)
De novo a bajulação grosseira e estúpida. Quem se deixaria levar por
tal jogo? Somente aquele que ama esse tipo de aparência. Joyner joga flores
em si mesmo pela boca de Paulo! É evidente que não é o Paulo da Bíblia.
Joyner lhe pergunta:
O que tu dirias à minha geração, que poderia nos ajudar no
combate?
E Paulo responde:
Poderia dizer-lhe, agora, apenas o que já disse em minhas cartas.
Gostaria que você as compreendesse melhor a partir de agora,
quando lhe informo que não estive à altura de tudo para o que fui
chamado.
E Joyner acrescenta:
Foi o que Paulo me informou, olhando bem nos meus olhos. (p.
126)
“Olhando bem nos meus olhos”, esta expressão Joyner a utilizará
inúmeras vezes, o que, ele crê, irá demonstrar a legitimidade, a sinceridade e
a veracidade de seus personagens e visões. E o seu Paulo acrescenta:
Pela graça de Deus, pude terminar minha carreira. Entretanto,
não fiz todo o caminho que me havia sido traçado. Passei ao
largo dos propósitos mais elevados que me tinham sido dados a
realizar. Isso acontece com todos. (p. 127)
O Paulo verdadeiro completou tudo o que Deus decidiu que devia
realizar (as obras preparadas por Deus antes da fundação do mundo). Os
cristãos verdadeiros — apesar de seus erros, fraquezas e falhas —
seguramente também realizam, pela graça soberana de Deus, todas as obras
para eles preparadas. E essas boas obras os seguem no mundo vindouro. Seu
apóstolo acrescenta:
Como você pôde ler em minhas cartas, eu evoluí de uma posição
para outra: no começo eu pensei que era superior aos apóstolos
mais eminentes, mas depois reconheci que era o maior dos
pecadores. (p. 127)
Em 2 Coríntios 11.5; 12.11, Paulo está ironizando, ele não está se
comparando, seriamente, aos falsos apóstolos. O Paulo de Joyner
continua:
Não era somente por humildade, mas era a pura verdade. Ele me
havia confiado muito, muito mais do que eu podia fazer. Somente
um creu perfeitamente, obedeceu perfeitamente, concluiu
perfeitamente o que lhe foi dado para fazer, mas você pode fazer
muito mais do que eu fiz. (p. 127)
As obras que Deus preparou de antemão para que Paulo as realizasse
ele as realizou, porque o que Deus decide sempre se realiza. Quando alguém
não crê na soberania de Deus, como Joyner, se permite dizer o que diz. Mas,
em Paulo, vemos uma plena demonstração da soberania de Deus. Ele realizou
toda a obra que Deus lhe havia designado, tendo sido sustentado e apoiado
por ele. O Paulo verdadeiro pôde escrever no fim de sua vida:
Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da
minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não
somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.
(2 Timóteo 4.6-8)
O Paulo de Joyner acrescenta:
Sou muito grato ao Senhor por utilizar minhas cartas como ele o
fez. Mas, me preocupa o fato de muitos de vocês as utilizarem
mal. Elas falam a verdade do Espírito Santo e são a Escritura.
Sim, o Senhor me deu pedras importantes para edificar sua igreja
eterna, mas essas não são pedras fundamentais. As fundações
foram postas somente por Jesus. Minha vida e meu ministério
não são modelo para aquilo a que vocês foram chamados.
Somente Jesus é o modelo. Se o que escrevi for utilizado como
fundamento, não suportará o peso daquilo que é preciso
construir. O que escrevi deve ser erguido sobre o único
fundamento capaz de resistir o que vocês irão enfrentar, mas não
é o fundamento. Você tem de ver meus ensinos através dos
ensinos do Senhor, e não tentar compreendê-lo segundo minha
perspectiva. Suas palavras são o fundamento. Eu apenas construí
sobre elas, desenvolvendo-as. A maior sabedoria, as verdades
mais poderosas, são suas palavras, não as minhas. (p. 128)
Joyner se alia aos erros do liberalismo. Os que utilizam os erros do
método histórico-crítico constantemente contrapõem o ensino de Paulo ao de
Jesus. Tudo isso é uma teia de mentiras. Cremos, com a igreja histórica de
todos os séculos, que os escritos de Paulo foram plenamente inspirados pelo
Espírito Santo e, por consequência, são o próprio pensamento de Deus (1
Tessalonicenses 2.13; 1 Coríntios 14.34). Aliás, Joyner diz isso no início do
parágrafo, para em seguida apressar-se em insinuar o contrário. Ele faz uso da
dialética para confundir o pensamento dos seus leitores e introduzir a dúvida
e novas doutrinas insidiosamente. Em relação aos fundamentos, lembramos a
Joyner as palavras de Paulo:
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo
ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício,
bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor. (Efésios
2.20,21)
Sempre, para Joyner, a vida e o ministério de Paulo “não são o modelo
para o que fomos chamados a ser”. Ora, Paulo disse explicitamente em 1
Coríntios 11.1-2: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”; e
em 1 Tessalonicenses 1.6: “com efeito, vos tornartes imitadores nossos e do
Senhor”. O pretenso Paulo de Joyner acrescenta:
Você tem de saber que eu não andei em todos os caminhos que
me foram oferecidos. Há, para cada crente, muito mais
possibilidades do que fiz uso. Todo crente verdadeiro tem o
Espírito Santo. O poder daquele que criou todas as coisas está
nele. O menor santo tem o poder de transportar montanhas, de
parar exércitos, de ressuscitar os mortos. Se você quer realizar,
durante sua vida, tudo para o que foi chamado, meu ministério
não deve ser considerado a derradeira etapa, mas como um ponto
de partida. O seu alvo não é ser como eu, mas como o Senhor.
Você pode ser como ele e pode fazer tudo o que ele fez e ainda
mais, porque ele guardou o melhor vinho para o fim. (p. 128)
Ele faz com que Paulo diga tudo o que deseja que seus leitores creiam.
Temos a impressão de ouvir a antiga serpente, como aos nossos primeiros
pais, fazer com que brilhem aos nossos olhos as capacidades que estariam em
nós: o poder do Criador... nada mais do que isso! Transportar montanhas,
parar exércitos, ressuscitar mortos: “Se me escutarem, serão como os deuses”
— lhes sussurra aos ouvidos. Esse é o ensino da Nova Era, da mística natural.
Devemos nos tornar super-homens, fazedores de prodígios e milagres. Joyner
comenta:
Eu sabia que naquele lugar falava-se apenas a verdade. Eu sabia
que o que Paulo dizia era verdade e que muitos tinham utilizado
mal o seu ensino ao considerá-lo como o fundamento, em vez de
construir sobre o fundamento dos Evangelhos; mas ainda era
difícil aceitar que Paulo estivera longe de cumprir sua vocação.
[...] Eu o tinha posto sobre um pedestal, o que tinha sido uma
transgressão, da qual ele tentava me livrar. (p. 129)
Chegou lá! Abriu o jogo! Inventar, ele próprio, uma doutrina, seria
arriscado. É melhor que ela saia da boca do apóstolo Paulo, e o caso fica
encerrado! Mas Joyner hesita. Parece refletir melhor. Inverteu totalmente a
coisa e depois, finalmente, convenceu-se da veracidade das palavras de
Paulo, ainda mais porque foram ditas “nos lugares celestes, onde só se fala a
verdade”. Se ele, um “profeta de Deus”, foi convencido, nós também
podemos! E os cordeiros seguem o lobo disfarçado de ovelha...
Ele [Paulo] me olhou diretamente nos olhos e me disse: “Eu sou
seu irmão. Eu o amo, assim como todos os que estão aqui. Mas
você tem de compreender. Nós encerramos a carreira e não
podemos tirar, nem acrescentar mais nada ao que plantamos na
terra. Você pode. Nós não somos sua esperança. Você é a nossa.
E o que conversamos apenas confirma o que já escrevi, mas
ainda resta muito a ser escrito por você”. (p. 129)
A esperança do apóstolo Paulo é Joyner! Essa conversa confirma que é
o diabo quem fala.
Minha geração serviu para colocar os fundamentos; ela começou
a construção, e essa honra será sempre nossa. Mas cada andar,
construído sobre o fundamento, faz com que ele suba mais alto.
Não seremos o edifício que devemos ser, se vocês não chegarem
mais alto. (p. 129)
Certamente não é o discurso do Paulo da Bíblia, ao qual Joyner atribui
afirmações contraditórias no que diz respeito aos fundamentos. O Paulo de
Joyner prossegue:
A cruz é o poder de Deus, o centro de tudo a que somos
chamados a viver. Se lhes falta poder para transformar o coração
e a mente dos discípulos de seu tempo, é porque vocês não vivem
e não pregam a cruz. Consequentemente, a gente tem dificuldade
em notar diferença entre os discípulos e os pagãos. Isso que nos
deram para pregar não é o evangelho, nem a salvação. Vocês têm
de retornar à cruz. (p. 130)
Um pouco de verdade para disfarçar a mentira. Perfeito! Ele fala da
cruz, então não pode ser um falso profeta. É o que dirão os que não conhecem
a Bíblia. Assim Joyner conclui, depois de sua longa discussão com esse
apóstolo Paulo imaginário:
[...] eu sentia que tinha recebido uma bênção da igreja universal.
A grande nuvem de testemunhas nos encorajava e sustentava
plenamente. (p. 132)
Mais tarde, ele encontra novamente a Sabedoria, que lhe diz:
Você poderá ficar mais perto de mim e até mais, como ninguém
jamais ficou. Eu preparei o caminho para que todos fiquem tão
perto de mim quanto realmente desejem. Se você desejar
realmente ficar ainda mais perto de mim como nem Paulo esteve,
você pode. Alguns desejarão isso e farão tudo para descartar o
que possa impedir sua intimidade comigo e entregar-se
totalmente a ela. Eles terão o que procuram. [...]. Desejo isso não
apenas aos meus líderes, mas a todos aqueles que reivindicam
meu nome. Quero estar muito mais próximo de você e de todos
os que invocam o meu nome, como jamais estive com alguém
sobre a terra. Você é quem decide sobre nossa intimidade e não
eu. (p. 134)
Alguém poderia estar mais perto de Deus do que Paulo ou o apóstolo
João? Agora, o demônio faz saltar aos olhos as experiências de êxtases e de
união mística com Cristo. Mas como cabe a nós decidirmos, então mãos à
obra! Esforcemo-nos, por qualquer que seja a disciplina, para atingir o
Nirvana. Corramos após os sinais e milagres. Façamos milagres nós mesmos,
pois somos deuses! Enfim, ele reconhece um evangelista da sua infância:
Enquanto escutava, me senti impulsionado a levantar os olhos
para um dos tronos não muito distante. Era um grande
evangelista de minha infância, e muitos pensavam que ele tinha
recebido mais poder do que qualquer um em toda a história da
igreja. Havia lido coisas sobre ele e escutado mensagens
gravadas. Era difícil permanecer insensível à sua humildade
autêntica e à evidência de seu amor pelo Senhor e pelas pessoas.
(p. 138)
A aparência de humildade e de amor é a maior arma dos falsos mestres
para afastar qualquer pensamento de suspeita quanto às suas pessoas, ações
ou doutrinas. Não é por outra coisa que Joyner enfatiza várias vezes a
humildade.
Entretanto, sentia também que alguns dos seus ensinos tinham
sérios desvios. Fiquei surpreso, como também aliviado, por vê-lo
sentado num grande trono. Eu estava fascinado pela humildade e
amor que dele emanavam. Quando me virei para o Senhor, para
perguntar se podia falar com aquele homem, com toda evidência
percebi como o Senhor o amava. (p. 139)
Joyner vê sentados em grandes tronos até mesmo aqueles que ensinam
falsas doutrinas. Trata-se aqui, certamente, de William Branham, que
corresponde bem à descrição dada por Joyner. Mas Branham, o falso profeta
da doutrina “Só Jesus”, não cria na Trindade. Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo (três Pessoas, mas Um só Deus) eram para ele uma só e
mesma pessoa, com Jesus assumindo papéis diferentes de acordo com as
necessidades e as circunstâncias do momento. É a velha heresia do
modalismo. Branham tinha um poder de cura e uma extraordinária
capacidade de vidência, e quando de suas idas à Suíça, os lugares de reunião
lotavam. Ele próprio dizia que não podia fazer nada se o anjo negro que se
colocava continuamente ao seu lado não lhe desse as revelações e ditasse o
que fazer. O autointitulado Senhor lhe diz:
Só queria que você o visse aqui, explicou o Senhor, e que
compreendesse sua posição em relação a mim. Você tem muito
que aprender sobre este assunto. Ele era um mensageiro para a
igreja dos últimos dias, mas a igreja não pôde compreender no
devido tempo. Por um momento, é verdade, ele mergulhou no
desânimo e no erro, e sua mensagem foi deformada. É preciso
retomá-la. (p. 139)
Que mensagem Joyner quer passar aqui? Sem dúvida a mensagem de
que os erros e as falsas doutrinas não são graves. É preciso amar esse
evangelista como o autodenominado Senhor o amava e fechar os olhos para a
doutrina. Devemos procurar compreendê-lo; ele foi infeliz. Devemos resgatar
sua mensagem e imitá-lo; fazer prodígios, milagres e alinhar-se às obras do
Anticristo!
Finalmente, A batalha final foi colocada no mesmo nível da Escritura.
O próprio leitor pode julgar pelo posfácio, que está no dorso da capa dessa
obra, escrito por Colin Urquhart:
Não somente este livro dá uma visão clara dos lugares celestes,
mas também reforça nossa compreensão sobre o que Jesus
ensinou nos Evangelhos. É uma obra atualíssima, porque torna
claro o combate espiritual que cada cristão tem de enfrentar,
queira ou não.
Ele “reforça nossa compreensão”, isto é, explica e confirma o que Jesus
ensinou nos Evangelhos! Que mentira, que desonestidade intelectual a ponto
de torcer as Escrituras dessa maneira!
A leitura desses livros mostra-nos um flagrante crescimento da
apostasia: o homem procura cada vez mais sair da ordem criacional (sua
natureza humana), e deseja tornar-se como Deus. Mas ele só pode parodiá-lo
com o poder de Satanás. Muitos dos que dizem que a Escritura é sua regra de
vida não discernem mais o mal e ficam presos nessa cegueira. Por quê?
“Porque não creram na verdade” que é a Palavra de Deus — o próprio Jesus
disse isso: a tua Palavra é a verdade (João 17.17), “e [....] deleitaram-se com a
injustiça [...] por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro,
para darem crédito à mentira” (2 Tessalonicenses 2.9-12).
Que tristeza! Todos esses líderes religiosos que creem ser objeto de
grandes bênçãos, que rivalizam em suas experiências, que glorificam uns aos
outros, não buscam a glória de Deus somente. Onde está, então, seu
discernimento? Como ainda alguém pode confiar neles? Que Deus tenha
misericórdia dos cristãos cegos que os seguem. Que ele abra seus olhos e que
os falsos doutores sejam desprezados!
1. No Antigo Testamento:
À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais
verão a alva. (Isaías 8.20)
2. No Novo Testamento:
a. Jesus:
Respondeu-lhes Jesus: Não provém o vosso erro de não
conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus? (Marcos 12.24)
Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em
mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não
credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras? (João
5.46-47)
b. Os apóstolos:
Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente [...] por vossa
causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: NÃO
ULTRAPASSEIS O QUE ESTÁ ESCRITO. (1 Coríntios 4.6)
Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus e
Deus nele. (João 3.24)
Aqui está uma promessa do próprio Deus para fortalecer e encorajar
aqueles que amam sua Palavra e se esforçam para colocá-la em prática, com a
ajuda do Senhor, qualquer que sejam as dificuldades encontradas:
Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma
porta aberta, a qual ninguém pode fechar — que tens pouca
força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu
nome. Porque guardaste a palavra da minha perseverança,
também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre
o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.
Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome
a tua coroa. (Apocalipse 3.8,10-11)
TERCEIRA PARTE
MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL, IOGA E OUTRAS PRÁTICAS
RELIGIOSAS NOS CÍRCULOS EVANGÉLICOS
Diante da invasão de certas práticas orientais, que se infiltraram em
todos os lugares, assumindo mil aspectos diferentes e de acordo com a
conveniência de cada um, parece-nos imprescindível procurar compreender
melhor qual seria sua origem, como também a influência real que exercem no
meio cristão através de suas diversas manifestações.
Citaremos neste trabalho alguns textos que nos permitirão captar
melhor o sentido e o conteúdo espiritual de diversos movimentos de
espiritualidade oriental, que têm marcado fortemente o Ocidente a partir do
começo do século XX. Faremos referência, mais particularmente, aos estudos
que se tornaram clássicos nesta área: o de Lit-sen Chang, Maurice Ray e
Denis Clabaine.
1. A meditação transcendental
Examinemos, primeiramente, os textos de Lit-sen Chang[51] sobre a
meditação transcendental. Lembremos que, antes de sua conversão e durante
cinquenta anos, ele foi um dos promotores mais devotados dessa prática.
As pessoas afeitas à reflexão percebem que a cultura moderna
está doente e que perdeu sua alma. O homem moderno percebe
que a corrida materialista é uma via sem saída e tornou-se uma
terrível ameaça. A fim de escapar do demônio do desespero, o
homem do Ocidente é uma presa fácil das seduções religiosas do
Oriente. Uma nova corrente humanista surgiu, enfatizando a
autonomia humana. O homem-deus veio substituir o Deus-
homem. Ele está em busca dele mesmo, de seu próprio mundo
interior, do espaço sem limite e de uma consciência cósmica.
Pela via da meditação transcendental, falsos profetas
introduziram no Ocidente uma droga e disso fizeram a religião do
povo. (p. VII)[52]
A meditação tem por base a repetição de mantras.[53] Esta prática
é muito importante nas escolas hindus. Segundo a tradição, um
mantra é um texto secreto, ou mesmo uma sílaba extraída dos
escritos dos sábios. Diz-se que ele dá à pessoa que o recita, sob a
influência de algum espírito, um poder místico. Ele deve ser
recitado continuamente até que as atividades da mente sejam
fixadas em torno do mantra. Este é o símbolo ativo de uma
divindade particular, e se alguém medita e repete um mantra por
muito tempo, fazendo esforço para se identificar com ele, aquele
que medita torna-se um com a divindade. Segundo sua crença,
nossa energia espiritual se irradia para o exterior, mas a
meditação é capaz de concentrá-la no interior e de liberar o
potencial espiritual que cada um de nós possui. Assim, aquele
que medita pode se identificar com a divindade da qual provém o
mantra.
Ora, segundo a Bíblia, os deuses que os hindus adoram são
falsos. Na realidade, são espíritos de demônios. O salmo 96 verso
5 define claramente o status dos deuses pagãos: “Todos os deuses
dos povos são demônios” (Tradução da Septuaginta). Os deuses
pagãos dos hindus são, portanto, falsificações satânicas, são
demônios disfarçados de divindades. O objetivo do mantra é
convidar um espírito de demônio para que tome o controle das
faculdades humanas. O mantra (normalmente uma palavra em
sânscrito ou uma frase invocando um deus hindu) é repetido
silenciosamente para si mesmo (ou cantado em alta voz) até que
a consciência do mundo exterior seja desligada. Depois, pouco a
pouco ele elimina os pensamentos. A alteração da consciência
resultante da supressão da percepção exterior e dos pensamentos
resultará, finalmente, numa experiência súbita de unidade, na
qual o eu parecerá ser um com o universo. Assim, a supressão
das faculdades mentais durante a prática da meditação abre a
pessoa para a influência de demônios. Essa busca por um estado
mental e físico nas meditações orientais é um convite à
influência, até mesmo ao controle, de espíritos malignos.
Isso vai diretamente de encontro ao mandamento de Jesus a seus
discípulos: “Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais
escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na
presença do Filho do Homem” (Lucas 21.36). (p. 21-22)
A palavra velar, em grego, é agrupneo, que significa estar acordado,
portanto, não dormir. Isso não dá espaço algum para um segundo estado ou
um estado de diminuição da consciência. E quando se tem sono, é uma luta
para permanecer acordado! Para termos força e escaparmos de todas essas
coisas — das seduções de todo tipo que estão no mundo[54] — teremos de
usar todas as nossas faculdades.
Continuemos com nossa leitura de Lit-sen Chang:
Segundo o ensino de Maharishi, “a meditação transcendental é o
caminho que leva a Deus; é um bom método de oração que nos
conduz direto ao Criador. A chave da plenitude, em todas as
religiões, se encontra na prática regular e intensa da meditação
transcendental. É um processo que provoca um encantamento
crescente a cada passo. Sobre esse caminho da transcendência, o
domínio desse encanto faz a fé crescer. Mais ainda, a meditação
transcendental é tão simples que podemos começar a praticá-la
com qualquer grau de fé que se tenha, porque ela produz a fé
naquele que não a tem, e dissipa a dúvida da mente do cético,
possibilitando-lhe uma experiência direta com a realidade”.
Através dos ensinos de Maharishi e de suas próprias palavras,
podemos ver claramente a verdadeira natureza da meditação
transcendental. Ainda que ela se proclame puramente neutra,
científica e não religiosa, não passa de hinduísmo disfarçado. [...]
(p. 22)
A meditação transcendental é uma forma secularizada da prática
da ioga. [...] Por uma estratégia e através da publicidade, os
defensores da meditação transcendental tentam nos fazer crer que
ela não é uma religião, mas uma técnica ou uma ciência que visa
um descanso profundo ou um relaxamento. [...] Um representante
da “Fundação Americana para a Ciência da Inteligência Criativa”
(outro nome para a meditação transcendental), dizia: “A
meditação transcendental não é uma religião, mas uma simples
técnica que qualquer um pode praticar durante 15 a 20 minutos
todos os dias”. (p. 23)
Curiosamente, acrescentamos, está aí exatamente o que se diz e o que
observamos a propósito do atual falar em línguas (dizemos “atual” em
oposição ao falar em línguas da época do apóstolo Paulo). Qualquer um pode
fazer isso; até mesmo um não cristão! Muitos católicos praticam esse falar
em línguas há muito tempo, depois da imposição de mãos feita por
pentecostais. O resultado? Um retorno e um apego ainda maior às devoções
tradicionais da Igreja Católica Romana, entre as quais a própria Maria lhes
falando através de línguas ou profecias.[55]
Foi esse o objetivo daqueles que lhes impuseram as mãos? Certamente,
não! Então por que resultou nisso? Uma boa árvore pode dar maus frutos?
Sobretudo, não deveriam pelo menos questionar-se? Porque, se isso os
tivesse deixado mais consequentes, teriam de renegar algumas doutrinas
caras aos seus corações, como também as experiências que elas produzem!
Como sua vida espiritual está fundamentada sobre essas experiências e
doutrinas, isso seria, para eles, o desespero e o vazio. Não teriam mais nada a
apegar-se em sua vida espiritual.
Que a nossa oração seja: Que tudo o que é abalável em mim, seja
abalado, para que reste o que é inabalável, isto é, Cristo e seus
mandamentos. Os verdadeiros nascidos do Alto devem aprender a apegar-se a
essa única Rocha. Citemos, de novo, Lit-sen Chang:
Maharishi Mahesh Yogi tornou-se o líder espiritual não somente
dos Beatles, mas de milhões de adolescentes no mundo inteiro,
para isso utilizando-se de técnicas de marketing. (p. 50-51)
Bob Larson, cantor muito conhecido, compositor e guitarrista,
depois de sua conversão [ao cristianismo] [...] escreveu vários
livros [...] nos quais [...] explica a natureza satânica do que os
hippies e os Beatles tentavam realizar. Assim, revelou o
propósito que o diabo tinha para a sua própria vida, ou seja, como
fazer dele um instrumento que destruísse inteiramente o senso
moral de sua geração. (p. 24)
2. A verdadeira meditação espiritual
Do ponto de vista espiritual e bíblico, diz-nos Lit-sen Chang, meditar
significa pensar, refletir sobre a Palavra de Deus, suas leis, preceitos,
estatutos, mandamentos, promessas e sobre as coisas que são verdadeiras,
nobres, justas, puras, amáveis e aceitáveis a seus olhos, isto acompanhado de
súplicas, orações, louvores e ações de graças. Ele explica:
Ora, a meditação transcendental faz exatamente o contrário; faz
com que a mente fique vazia, expulsa os pensamentos, concentra-
se sobre sons sem significados e os repete indefinidamente.
É um salto no escuro, uma fuga negativa, um culto místico, uma
autointoxicação, e mais ainda, é uma técnica de suicídio
intelectual e uma aventura perigosa que conduz ao suicídio
espiritual. (p. 55)
Lit-sen Chang nos lembra como o próprio Deus nos providenciou uma
meditação pura:
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e
noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele
está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-
sucedido. (Josué 1.8)
Feliz o homem [...] cujo prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei
medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a
corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja
folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.
(Salmos 1.2,3)
Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o
mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do
SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR
são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis
do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces
do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se
admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa.
Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das
que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que
ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de
grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do
meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha
minha e redentor meu! (Salmos 19.8-14)
Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti [...]
Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo [...] Baixem
sobre mim as tuas misericórdias, para que eu viva; pois na tua lei
está o meu prazer. Quanto amo a tua lei! É a minha meditação,
todo o dia! [...] Compreendo mais do que todos os meus mestres,
porque medito nos teus testemunhos [...] Os meus olhos
antecipam-se às vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas
palavras. (Salmos 119.11,47,77,97,99,148)
Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é
amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se
algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em
mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco. (Filipenses
4.8-9)
Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as
coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.
(Colossenses 3.1,2)
Entretanto, é preciso reconhecer que não se pode alcançar a Deus
por nossos próprios esforços, nem pela meditação. Isso só é
possível por sua graça, porque ele nos salvou, porque nos
ressuscitou a todos e nos fez assentar nos lugares celestiais, em
Cristo Jesus (Efésios 2.5-6) e nos tornou capazes de fixar nossos
corações e mentes sobre as coisas do alto. Essa é a verdadeira
meditação transcendental. (p. 56-58)
Portanto, segundo as Escrituras, a meditação cristã não é uma
meditação no vazio, mas um esforço intelectual que deve conduzir à ação.
Devemos ler o livro da Lei e meditar nele dia e noite. Dito de outra maneira,
devemos pensar na Palavra, refletirmos e nos concentrarmos nela, sob os
olhos de Deus, pedindo ao Espírito Santo que ilumine nosso entendimento e
abra nossa mente. Devemos estar cada vez mais impregnados do pensamento
do Senhor, a fim de que pouco a pouco se torne nosso. Para a nossa satisfação
intelectual? Não! — A fim de agirmos fielmente, conforme tudo o que está
escrito.
Desssa forma, compreendendo corretamente os seus mandamentos,
agiremos de maneira que lhe agrade.
3. O que é meditar?
Maurice Ray, em seu livro Non au yoga [Não à ioga],[67] mostra o que
está por trás dessa prática e demonstra sua incompatibilidade com a Palavra
de Deus. Dez anos antes, ele tinha escrito o livro L’occultisme à la lumière
du Christ [O ocultismo de acordo com Cristo].[68] E conforme a
recomendação do autor, os que têm amor pela verdade, após a leitura do seu
livro, farão como os bereanos: examinarão as Escrituras para ver se o que foi
dito é verdade, e se deixarão convencer pela Palavra de Deus. Porém, outros
não levaram em conta esta recomendação. Acharam que a posição do autor
do Não à ioga era muito sectária e minimizaram a importância dessa saudável
recomendação.
E qual foi o resultado? Segundo Maurice Ray, às vezes abertamente, ou
sob disfarce religioso, o ocultismo pôde continuar seu trabalho de sabotagem
ou de corrupção de toda espiritualidade cristã autêntica.
Foi assim que nestes dez últimos anos[69] o ocultismo conquistou para
sua causa milhares de adeptos, sob a forma sedutora, atrativa, certamente
nova para os ocidentais, mas completamente normal no Oriente: a ioga (p.
10-11).
De acordo com Maurice Ray, os meios que acompanham a ginástica e
que são recomendados para se alcançar o estado de graça, de iluminação, do
prazer interior, do absoluto, do mundo dos espíritos, são os mesmos que
acabamos de examinar:
a) Expulsar os pensamentos.
b) Concentrar-se sobre um objeto, uma imagem (piedosa ou não), uma
visualização.
c) Repetir palavras indefinidamente.
Vejamos o que diz Maurice Ray em seu livro Não à ioga:
Os cristãos que se alimentam da ioga são aqueles católicos
romanos e protestantes mais preocupados com o humanismo
cristão do que com sua fidelidade ao Cristo da Escritura. (p. 60)
A própria técnica da ioga admite um tempo de vazio interior, de
passividade, conduzindo à intuição pura, “conforme a linguagem
própria do ocultismo. [...] Num mundo submisso às forças
sobrenaturais inimigas da Escritura, a intuição pura e consentida
não abre a porta para o Espírito Santo, mas para o que lhe é
contrário”. (p. 64-65)
Que não imagine (aquele que pretende fazer o hatha-ioga) que
terá, por si mesmo, a liberdade de colocar limites aos efeitos
possíveis das práticas que vai consentir.
[...] ele não sabe que essas práticas que ultrapassam a humilde
condição humana conduzem seus adeptos a experimentar estados
extáticos, paranormais, cujo mecanismo, uma vez ativado,
escapará ao seu controle. [...] ele vai saber, como diz um dos seus
Mestres, que “qualquer pessoa que pratique um pouco seriamente
o hatha-ioga vai ganhar a introdução de novas faculdades como a
telepatia, a clarividência, a adivinhação, e todos os poderes de
um estado de vida transcendente indispensável às ações ocultas
[...]”. (p. 82)
Segundo Maurice Ray, a ioga encontrou na Suíça um forte interesse,
graças, entre outras coisas, a um professor de teologia, que por ocasião de
uma mesa redonda na televisão, declarou:
A ioga não é uma prática condenada pelo Evangelho de Cristo;
ao contrário, ela favoriza a busca e a prática espirituais, segundo
as próprias exigências do Evangelho.
Prossegue Maurice Ray:
O que concluir, senão que um de nós dois está enganado em sua
interpretação da verdade cristã? [...] Ainda assim, seria
importante, neste caso, discernir quem faz o jogo do Inimigo.
Porque, se a ioga está entre aquelas exigências compatíveis com
o Evangelho, então é absurdo, senão escandaloso, censurar seus
adeptos. Mas se os que me contradizem — retomando uma
expressão de Paulo aos Coríntios — utilizam argumentos
contrários ao conhecimento de Deus, isso é de extrema gravidade
para eles mesmos e para aqueles que eles desviam.
Em nenhum momento nos esquecemos das recomendações de
Paulo a Timóteo (2 Timóteo 2.23): “repele as questões insensatas
e absurdas, pois sabes que só engendram contendas”. Não se trata
aqui de questões fúteis e disputas de palavras [...] que gerariam
suspeitas e vãs discussões. Trata-se de velar pelo conteúdo do
nosso ensino, conforme a advertência apostólica: quem quer que
ensine diferente, que propague heresias ou introduza inovações,
que ultrapasse as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, a
doutrina que conduz à verdadeira piedade [...] corre o risco de ter
crido em vão. (p. 4-6)
O que um cristão procura na ioga? Vejamos a resposta do abade
Déchanet, citada por Maurice Ray:
O senhor abade Déchanet [...] não está pedindo salvação à ioga,
mas espera simplesmente que esta ascese [...] o torne receptivo à
fé, à graça, ao amor de Deus [...], que ela o torne receptivo a
alguns apelos de Cristo (a docilidade, a justiça, a paz, o respeito
aos outros) às vezes esquecidos pelos cristãos [...] que dê ao seu
corpo uma boa saúde, a fim de fazê-lo um bom instrumento de
oração [...], que ela lhe dê paz ao coração sobre a qual possa
enxertar a paz de Cristo [...], que ela desperte em seu espírito
certas energias escondidas, para um conhecimento melhor, uma
percepção mais profunda do mistério de Deus. (Ray, op. cit., p.
11)
E esta é a resposta de Maurice Ray (destacamos o trecho inteiro):
Muitos dizem que a salvação do homem está na obra de Cristo.
Mas, a partir dessa salvação, dada gratuitamente por Deus e
recebida pelo homem, buscam em outros lugares — e não nos
caminhos traçados por Deus — os instrumentos necessários para
a sua manutenção sob a graça, para a vida e fortalecimento desse
homem na fé. A Igreja Primitiva perseverava na doutrina e no
ensino das Escrituras, na comunhão fraternal, no partir do pão,
nas orações. [...] Então, tem-se a impressão de que nem a Igreja
Primitiva, nem o apóstolo Paulo teriam entendido os métodos do
Espírito em sua totalidade. Sim, tem-se a impressão de que um
último método deveria ser revelado e trazido ao conhecimento
dos cristãos.
Fiéis à revelação das Escritursa, críamos até aqui que, por causa
da morte de Cristo por nossas ofensas e por sua ressurreição para
nossa justificação, o Espírito Santo não somente teria feito de nós
novas criaturas, mas que somente ele teria condições de levar a
cabo a boa obra que havia começado em nós. [...]
Recorrer às técnicas orientais para aproximar-se mais do Senhor
e revigorar uma igreja fossilizada poderia ser considerado
blasfêmia. Uma igreja se fossiliza quando vive da tradição, da
justiça própria, do moralismo, do formalismo, em vez de viver da
Palavra do seu Senhor ressuscitado. Quando ela tiver consciência
disso, não serão as técnicas, ainda que orientais, que a trarão de
volta ao seu Deus. Isaías anuncia: “Habito com o contrito e
abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e
vivificar o coração dos contritos”.
A igreja que está morrendo precisa de arrependimento, e não de
técnicas, ainda que sejam espirituais. Essa nova vida espiritual
que os homens buscam, Cristo a dá. Pois é o Espírito que nos
convence do pecado, nos conduz na verdade, nos tira dentre os
mortos, nos faz sábios, pacificadores, amorosos, nos faz crescer
até à estatura perfeita. O Espírito toma o que pertence a Cristo e
nos comunica. Jesus nunca disse que esta comunicação seria
facilitada por qualquer que fosse a técnica. Além disso, ele disse
claramente nas Escrituras que o Espírito é dado para aqueles que
o pedem. Se alguém dissesse que ele foi dado e recebido apenas
sob certas condições e sugerisse com isso que a prática da ioga
facilitaria a recepção do Espírito, nós responderíamos segundo os
Evangelhos, ou seja, que o Espírito é dado, primeiramente, por
causa do amor do Pai, do qual Cristo é o doador — enfim, que
ele é recebido pela fé. Esta fé não tem nada a ver com esforços
“yogânicos” para se receber o Espírito, mas com a confiança,
pela mente regenerada, na Palavra do Senhor, nas promessas e
em suas ordens, conforme Atos 10.44 e 5.32. (Ray, op. cit., p. 20-
21)
Quem poderia responder melhor? Esses textos de Maurice Ray,
escritos em 1959, são de uma enorme relevância. Por isso achamos bom
destacá-los. No que diz respeito à ioga e à meditação transcendental, são
sempre muito atuais. Mas outras práticas espirituais entraram na cristandade
pouco tempo antes do início do século XX. Elas penetraram em todos os
círculos, sem quase nenhuma oposição. Aqueles que não as adotaram,
permaneceram, no entanto, abertos...
Enfim, se realizou o desejo daqueles que trabalharam para a sua
propagação! Por isso são muito gratos ao Senhor! Essas práticas são: a busca
pelo batismo com o Espírito Santo como uma segunda experiência,[70] o atual
falar em línguas,[71], o profetismo atual, a cura interior, o exorcismo a todo
custo, as curas em série, experiências de todo o tipo, sendo a última a de
Toronto. (Desde então, sem dúvida, houve outras.)
Tente substituir, em todas as exortações de Maurice Ray citadas, as
palavras ioga, hatha-ioga e práticas orientais, pelas práticas citadas acima...
Vale a pena gastar um pouco de tempo para fazer esse pequeno exercício e
veremos que é curioso como eles se adaptam bem ao texto!
É bom destacar aqui que Maurice Ray não estaria muito de acordo com
nossa aplicação daquilo que escreveu sobre a ioga em 1959 aos fenômenos
carismáticos, cujo ponto culminante foi a famigerada bênção de Toronto.[72]
Maurice Ray, se levarmos em conta suas declarações por ocasião do encontro
da renovação carismática de Vennes, citado acima nas notas, tornou-se,
atualmente, favorável a essas manifestações. Porque, naquela época, ele via
no fenômeno de Toronto os primeiros sinais de um grande avivamento
futuro. Embora reconhecendo os aspectos benéficos de seu ministério,
devemos concluir de tudo isso: 1) Maurice Ray não concorda mais com o que
escreveu em seu livro sobre a ioga; 2) Ou pratica (sem se dar conta) o método
de dois pesos, duas medidas; 3) Ou, então, que teria, talvez, mudado de
posição. Apenas constatamos esse desvio infeliz. Entenda-se como quiser!
8. Outras práticas religiosas atuais
Por que fizemos tantas citações, de diferentes autores, sobre a
meditação transcendental? Simplesmente porque é preciso conhecer um
pouco a tática do inimigo para não sermos enganados, ou para escaparmos da
armadilha na qual estamos presos?
Ficamos pasmos ao ver com que rapidez uma grande parte do mundo
evangélico se precipita em experiências cada vez mais irracionais, ou ao
menos, se abre para receber qualquer que seja a bênção, ou seja, “se Deus
quer...”, como dizem, confundindo seus desejos com o de Deus. Alguns
reformados, considerados equivocadamente mais reflexivos, seguem o
mesmo caminho. Chegamos a um ponto em que não reconhecemos mais a
voz do Bom Pastor. No entanto, Jesus disse: “Minhas ovelhas ouvem a minha
voz e elas me seguem”.
As ovelhas estão errantes (não se sabe mais onde está a verdade; corre-
se para todo e qualquer show evangélico), desanimadas (doentes, com
depressão, mais ou menos profunda), famintas (nunca saciadas, sempre à
procura de mais). Quando um lobo disfarçado em pastor surge e lhes oferece
alimento envenenado, embora lhes prometendo alegria, amor, cura e
prosperidade, elas caem de olhos fechados.
Toda a sabedoria, reflexão, todo o bom senso parece ter desaparecido!
É o caos, não há mais nenhum discernimento! “Meu povo perece por falta de
conhecimento” (Oseias 4.6-10), mas esse conhecimento o povo cristão não
parece desejá-lo; prefere correr após uma multidão de doutores que o orienta
segundo sua cobiça.
Quando nos distanciamos de Deus e da prática dos seus mandamentos,
nos tornamos cada vez mais cegos. Mas como as coisas decaíram tão
rapidamente? O que ativou esse processo? O que influenciou fortemente
nosso mundo e a cristandade há alguns decênios? Teriam sido, entre outras
coisas, essas práticas vindas do Oriente?
Porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se
dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a
peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso. (Apocalipse
16.12-14)
As práticas que acompanham a ioga ou a meditação transcendental são
encontradas em todas as atividades ocultas, ainda que disfarçadas por
vocabulário bíblico.
É evidente que a busca de um batismo com o Espírito Santo, como
sendo uma segunda experiência, e o falar atual em línguas, não têm nada a
ver com o ensino da Escritura.[73] São experiências iniciáticas com mantras
carismáticos, sejam humanas, ou ocultas (mas sabemos aonde leva a
passividade e a repetição, ainda que, inicialmente, se trate de uma fabricação
humana). São obtidas exatamente como são os mantras orientais: produzir o
vazio, cessar todo raciocínio (conhecemos alguém que foi exorcizado do
demônio da reflexão, porque era um obstáculo para que recebesse o batismo
com o Espírito Santo), abandonar qualquer resistência, deixar-se levar,
concentrar-se sobre o que se deseja, visualizá-lo, repetir palavras
indefinidamente (é preciso ajudar o Espírito Santo). “Bastam duas ou três
palavras que se repitam e está bom, é assim que funciona!”, inúmeras vezes
nos repetem isso.
Vejamos o que escreve o evangelista Fernand Legrand sobre esse
assunto:
O falecido Thomas Roberts, incontestavelmente um dos líderes
pentecostais mais influentes no mundo de fala francesa, dizia em
alto e bom som, mesmo já estando com idade avançada e cansado
por causa de suas muitas pregações, que bastava falar em línguas
por alguns momentos, para ser renovado em seu corpo. Assim ele
fazia propaganda do dom de línguas e o recomendava como um
remédio para o cansaço. Tal era o uso que fazia desse dom do
Espírito.
Mas, todos os recordes bizarros foram batidos por Gaston
Ramseyer,[74] antes pastor reformado, depois pregador
pentecostal muito ouvido e que gozava de grande audiência em
outras igrejas, além daquelas do “avivamento” carismático. Seu
livro intitulado Vous raisonnez trop [Você raciocina demais], não
obstante algumas páginas de bom senso, deixa-nos perplexos
com sua insistência no falar em línguas. Ele trata a insônia com o
dom de línguas, em termos que podem ser verificados por
qualquer pessoa:
“Então digo a todos aqueles que têm problemas de insônia, por
não conseguirem parar os seus raciocínios e pensamentos, que
falem em línguas e então conseguirão dormir. Se você ainda não
recebeu o presente divino, peça a ele, que lhe dará. Se você fala
em línguas interiormente, na sua cama, seus raciocínios cessarão
e você dormirá logo. [...] Permita-me que eu insista. Em vez de
voltar dez vezes para sua cama, fale em línguas, e ore a Jesus.
Você não precisará mais de sonífero. O remédio é infalível”.
Fazendo coro com Thomas Roberts, ele acrescenta: “Até seu
cansaço físico e cerebral desaparecerá”.
Fernand Legrand continua:
É essa gente que pretende nos explicar a Bíblia. [...] Roberts e
Ramseyer, para citar apenas alguns, caem na triste categoria
daqueles que profanam as coisas sagradas e que, de um dom
espiritual destinado a ser um sinal público para o Israel descrente
quanto à salvação dos pagãos, fazem uma prescrição absurda de
medicina alternativa.[75]
Thomas Roberts, proveniente do pentecostalismo moderado da Igreja
apostólica do País de Gales, foi um pregador apreciado.[76] Com o passar dos
anos ele tornou-se a ponta de lança do carismatismo francófono. Foi também
o vetor de transmissão da experiência pentecostal nos arraiais católicos
romanos. Ali ele viu acontecer sua segunda bênção com os sinais que a
acompanham. Trabalhou incansavelmente para promover a comunhão entre
os carismáticos protestantes e católicos; comunhão na Santa Ceia, do lado
protestante, e na falsamente chamada Eucaristia, entre os católicos.
Consagrou-se com tanto zelo que acabou por ver sua identidade evangélica
diluída. Ao ver sua descendência espiritual, de maneira milagrosa, dirigir-se
em línguas à Virgem Maria, ele não podia opor-se, porque tinha sido por seu
ministério e pela imposição de suas mãos que esses católicos tinham recebido
esse dom. Não tendo jamais contestado sua própria experiência, não podia
contestar a deles, sob pena de negar-se a si mesmo. É como a galinha que
chocou os ovos da pata e seguiu os seus patinhos em direção ao lago, até que
ela mesma entrou na água: ficou tão molhada que acabou se afogando.
Thomas Roberts fez o mesmo. Fernand Legrand continua:
Como os seus filhos espirituais, animados pelo mesmo espírito,
oravam à Virgem, ele então fez o mesmo. Um dos meus amigos
apontou isso seriamente e o reprovou. Ele não negou a coisa, mas
tentou atenuá-la, dizendo: “Não era preciso ver a oração que se
fazia à Maria como a viam os católicos, mas como um louvor a
Deus pelo serviço dessa humilde serva”.
Ainda que sua explicação seja forçada, o fato é que ele se dirigia a ela.
É preciso lembrar que além desse grave erro de doutrina, está aí também o
pecado considerado como uma abominação, que consiste em invocar o
espírito de uma morta! Que essa morta tenha sido uma santa, não muda em
nada um caso que cheira à necromancia (Deuteronômio 18). Como D.
Cormier, em seu tempo, compreendeu muito bem, o espírito que força as
pessoas nessa direção não pode ser o Espírito Santo.
Não, o erro nunca é de graça. Há sempre uma relação de causa e efeito.
Uma doutrina que torce os textos das Escrituras, que silencia sobre outros e
que privilegia a experiência em detrimento da Bíblia, no momento pode
parecer agradável ao paladar, mas vai acabar ficando amarga no estômago.
Os pais do falar em línguas comeram uvas verdes e agora os dentes dos seus
filhos se embotaram. Acabamos de dar uma visão geral; veremos onde isso
vai dar a longo prazo.[77]
Thomas Roberts[78] era muito conhecido pelos frequentadores dos
retiros da “União de oração de Charmes” com Louis Dallière, como também
da “Porta Aberta” de Lux, perto de Chalon-sur-Saône. Muitos pastores
reformados e evangélicos e, através deles, muitos fiéis, foram influenciados,
tanto por ele como pela assiduidade nesses encontros. E podemos observar
que bom número de pastores que conservavam, à época, uma mensagem fiel,
clara e penetrante, hoje não a têm mais. Diluíram-na até que perdesse o seu
verdadeiro poder espiritual e acabaram por desviar seus ouvintes da Palavra
de Deus, conduzindo-os por fim a outro Evangelho. E diante das experiências
religiosas de todo o tipo, hoje não sabem mais distinguir o Espírito Santo do
espírito do diabo que procura falsificá-lo. Na melhor das hipóteses,
aconselham esses ouvintes a serem prudentes. Então o que seria melhor: ser
“prudente” em relação à meditação transcendental e à ioga, ou romper de vez
com isso para não participar das obras do diabo?
É nesse círculo — mas graças também ao apoio da Juventude em
missão, movimento não confessional que se infiltrou em todos os lugares —
que se prepara, lenta mas continuamente, a abertura dos evangélicos ao
catolicismo e a todas as denominações protestantes liberais; e em seguida, à
visão sincretista de uma igreja universal, a um ecumenismo no qual todos se
unam em volta de um amor informe e de carismas indiferenciados. Não se
fala mais daquilo que poderia nos separar. Porque isso seria contrário ao
amor. É preciso amar-se! Queremos nos reunir em torno do Cristo vivo e
não em torno da doutrina, porque nela está a letra que mata e divide.
Manteve-se a “vida”, mas esqueceu-se tanto do “caminho” como da
“verdade”, os únicos que podem levar-nos à vida. Infelizmente! Um Cristo
destituído de sua doutrina ou de seu ensino é um Cristo que não tem mais
nada a dizer. É um ídolo mudo. Não é mais o Cristo da Bíblia! Não se fala
mais do inferno, porque isso poderia provocar medo.
Segundo esses pregadores, não é mais preciso falar de arrependimento
aos judeus. Eles não precisam disso, uma vez que já são o povo de Deus!
Esquecem-se dos apelos insistentes dos profetas? Aqueles não eram apelos ao
arrependimento? Esquecem também da pregação biblicamente robusta dos
apóstolos no dia de Pentecostes, ou nas sinagogas judaicas do século I?[79]
Segundo esses apóstolos da heresia do amor, é preciso falar menos aos
homens dos seus pecados, do que do Salvador e de sua próxima vinda. Um
auditório que não seja instruído com a Lei de Deus, pela qual é possível
tomar conhecimento do seu pecado, a longo prazo não será mais capaz de
compreender o significado dessa palavra. Menos ainda do arrependimento!
Arrepender-se do quê? Ser salvo do quê? Ser perdoado para quê?
Querem muito ouvir a palavra amor. Querem muito tentar uma
experiência que possa trazer esse amor. Pode-se melhor sentir Deus nos
louvores, nas orações, nos carismas, no cair de costas de todos os tipos, como
também nas curas.
Chega-se a pretender, de maneira totalmente insensível, que os judeus,
hindus, muçulmanos e os cristãos têm o mesmo Deus.[80] Ora, Jesus disse aos
judeus incrédulos: “Vós tendes por pai o diabo” (João 8.44); e também: “Eu
vim no nome do meu Pai e vós não me recebestes; se outro vier em seu
próprio nome, vós o recebereis” (João 5.43). E a seus discípulos: “Aquele que
me recebe, recebe aquele que me enviou” (João 13.20). Portanto, o que não
recebe aquele que é o caminho, a verdade e a vida, também não recebe o seu
Pai.
E o que nos dizem as Escrituras — a única norma dos cristãos — sobre
as religiões não cristãs? Os profetas da Antiga Aliança não convidavam o
povo de Israel para fazer experiências com as religiões à sua volta. Pelo
contrário, esse povo deveria manter-se longe de tudo o que dizia respeito ao
culto dos ídolos. Se desobedecessem e não voltassem para Deus, a promessa
de julgamento não falharia. E que drama é o relato sobre a vida dessa nação,
e as inúmeras profecias anunciando o exílio e depois o seu cumprimento!
Que terrível é ler as circunstâncias da tomada de Jerusalém pelos romanos no
ano 70 d.C., descritas com enorme cuidado pelo historiador da época, Flávio
Josefo. Tantas advertências receberam! Que história trágica teve esse povo. E
nós não somos muito melhores com todas as nossas negações. Isso também
foi escrito para nossa instrução!
9. A corrida pelo que não sacia
Corre-se atrás dos fazedores de milagres e sensações. Quando ousamos
fazer alguma objeção, nos respondem: “Deus deve ser adaptado aos nossos
tempos. Os jovens querem o êxtase da droga, do sexo, etc., então, Deus tem
de fazer com que passem por uma experiência forte para que sejam tocados”.
Um presbítero de uma igreja evangélica nos disse esta frase clichê: “O falar
em línguas é o substituto da droga; por isso que um drogado que fala em
línguas é curado da droga”. Ele não percebeu que se tratava apenas de uma
troca de drogas!
E o que dizer das escolas de louvor? Parece que podemos conseguir
tudo através do louvor! Da mesma maneira que no pensamento positivo!
Louva-se a Deus até que a atmosfera se aqueça e todos se sintam alegres,
eufóricos (uma espécie de transe, dizem os que já praticaram o ocultismo,
porque conhecem a coisa de perto), dão-se as mãos, sentem algo como uma
corrente elétrica que passa. Sente-se uma sensação de bem-estar, de
plenitude. Creem ter sentido a presença de Deus.
Esses grupos de oração e louvor tornaram-se um instrumento
emocional para provar a existência de Deus, para tocá-lo, para senti-lo.
Convida-se descrentes para participarem desse êxtase místico. Se se deixam
levar, também entram no circuito; então também provam toda sorte de
experiências (gritos, tremor, êxtase, cair por terra, etc.). Os cristãos que
vivem abertamente no pecado também sentem as mesmas coisas,
supostamente provenientes de Deus, o que só fará com que se permaneçam
no pecado.
Salmos 33.1 nos diz: “Aos retos fica bem louvá-lo”. “O louvor convém
aos homens retos.” Existe retidão onde se abusa de Deus? E o que pensar
dessas escolas de profetas nas quais se aprende a desenvolver o dom da
adivinhação, a visualizar uma realidade que se imagina “profética”. E das
sessões de ajuda baseadas na busca do pensamento do Senhor, o que a
psicologia chama de “inspiração súbita”. Nelas encontramos todas as terapias
que estão na moda e que devem servir para nos liberar. Não nos é exigido
andar a toque de revelação, mas que peçamos sabedoria (Tiago 1.5).
Além disso, muitos dos nossos problemas físicos seriam por causa de
uma perna curta demais. É preciso alongá-la e o Doutor Jesus vai fazer isso
muito bem! Numa sessão de evangelização, com demonstração no palco, esse
Jesus teria trabalhado tão bem que a perna teria ficado longa demais. O
evangelista teve de “re-orar”, com a ajuda de todo o auditório, para que Jesus
viesse em socorro da perna!
A maior parte dos nossos problemas psíquicos seria por causa de um
traumatismo do passado, dizem eles. Organizam grupos de oração sem fim.
Concentram-se e ficam esperando ouvir o Senhor, até escutar uma pequena
voz e que todo o tipo de ideias e imagens surjam na mente. Em todo o lugar é
assim... sempre a mesma coisa. Seja na América, na Nova Zelândia ou na
Europa: foi o pecado do pai! Como estamos cheios de psicologia, interpreta-
se tudo segundo a psicologia, que substitui a Palavra de Deus. Trata-se de
Freud requentado!
Na Bíblia não nos é exigido olharmos para trás e mergulharmos no
passado, mas sim:
Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedia, corr[ermos], com perseverança, a carreira que nos
está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador
da fé, Jesus. (Hebreus 12.1-2)
Agora o olhar deve estar voltado para frente, com os olhos fitos em
Jesus. Ora, todos estão sob um peso, sob um fardo imenso. É o que se espera
quando se pratica a meditação carismática e tenta-se, com todas as forças,
permanecer com o Senhor, apesar dos ataques violentos do inimigo que
reclama seus direitos, porque “[...] serão consumidos pelas suas iniquidades”
(Levítico 26.39).
Muitos cristãos se sentem terrivelmente frustrados, e com razão! Os
profetas e evangelistas da moda prometem sucesso, riqueza, alegria, amor,
paz, êxtase, cura, e ainda por cima, todos os dons espirituais. Cobiça-se cada
vez mais, auxiliados por frases que oferecem todo o tipo de esperança, tais
como: “Aqueles que quiserem dar um passo a mais com o Senhor, ou receber
algo a mais para auxiliar melhor os outros, levantem-se!”.
Quem recusará ficar melhor equipado para ser mais útil? Para deixar
bem claro que deu liberdade a todos, sem nenhuma manipulação, o pregador
do momento, por ocasião de um encontro na Catedral de Lausanne,
acrescentou: “Aqueles que se sentirem constrangidos fiquem sentados!”. É
preciso coragem para permanecer sentado, quando a massa se levanta como
um só homem. Em Nuremberg também era preciso ter coragem para não
levantar o seu braço direito!
Para fazer um tratamento de rejuvenescimento evangélico, corre-se
para Toronto ou para as suas sucursais em todo o mundo. A impressão de que
se está num hospital psiquiátrico não leva muito tempo para ser sentida. O
pregador então grita aos seus adeptos: “Os caminhos de Deus não são os
nossos caminhos; não resista ao Espírito Santo, deixe-se levar”. E somos
pegos!
Não se consegue mais refletir sobre a legitimidade de uma experiência.
Por quê? Porque funciona! O fim justifica os meios. Queriam ficar
revigorados, suspiravam por uma comunhão intensa com Deus e a qualquer
preço. Conseguiram!
Algumas experiências não eram esperadas: rir convulsivamente sem
motivo algum, cair de costas ou de frente, uns sobre os outros, trombar-se,
gritos, andar de quatro, sensações de bebedeira, “andar sobre os ombros”, de
cabeça para baixo e pernas para cima...! Mas Deus falou, ele nos encheu de
amor, ele até brincou de Pai leão, se divertindo com o seu leãozinho e até lhe
ensinou a rugir.[81] Que privilégio! Além disso, para se convencer de que foi
bem compreendido, ainda explicou por meio dessas experiências — de
maneira “psicológica” — o amor de Deus Pai. Não faltou nada. Até pessoas
para nos ajudar e tapete que nos conduzisse até lá, tudo foi planejado!
Não nos surpreendamos se, em todos esses esquemas, que levam a um
amor inebriante ou a uma pseudo-libertação, a psicologia não estiver ali
misturada, uma vez que ela vai também buscar suas bases na mitologia
(Freud) e nas revelações ocultas (Jung). Os semelhantes se atraem.
Fizeram com que crêssemos que, para ser um cristão espiritual normal,
fossem necessários sinais e a busca por dons. Aliás, trata-se sempre do
mesmo: línguas, profecias, milagres, exorcismos; dos outros dons, ligados ao
culto, por exemplo, se faz pouco caso.
Quando há manifestações em cadeia, se diz: “Está se movendo!”. “Há
fogo em todo o lugar! É o avivamento!” É verdade? É possível, quando
vemos a depressão que se instala em tantas almas, sem falar do pecado, dos
divórcios, da imoralidade na igreja, do aliciamento pelo dízimo, etc.? São
palavras que não podemos mais pronunciar — por causa do “amor”. Por isso
a procura por prazer para escapar de tantos males fabricados por essas
práticas carismáticas.
Paulo escreve à igreja de Deus em Corinto e a todos os santos que
estão na Acaia, e se dirige aqui aos cristãos que aceitavam facilmente “outro
Jesus”, ou que seguem “outro espírito”:
Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua
astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte
da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo
alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais
espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho
diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o
tolerais. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais
apóstolos. [...] Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros
fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é
de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de
luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se
transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme
as suas obras. (2 Coríntios 11.3-5; 13-15)
Se isso aconteceu no tempo de Paulo, por que não aconteceria no
nosso? Nosso fundamento é o Cristo da Bíblia ou outro “cristo”? É preciso
ter coragem e se questionar.
Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi
posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica
sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a
demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a
obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra
de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá
galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas
esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. (1
Coríntios 3.11-15)
Então nos perguntamos: apesar disso tudo, pode o Senhor agir num
meio tão cheio de confusão? Sim, porque ele cuida dos seus, daqueles que
por um tempo foram seduzidos, a fim de que sejam depurados, purificados e
limpos (Daniel 11.35; 12.10).
Ele pode até usar um falso doutor. Pois usou um asno para falar com
Balaão. Ele usa a quem quiser, num determinado momento, visando
especialmente alguma pessoa. E num tempo de apostasia, ele permite ao
inimigo de nossas almas semear o joio abundantemente. A confusão e a
sedução são cada vez maiores. Mas, coragem! Aqueles que receberam o amor
à verdade serão salvos. A dificuldade será grande para escapar disso, como
também é difícil escapar do ocultismo tradicional. Os outros, os que creem
ser ricos, continuarão crendo na mentira (2 Tessalonicenses 2.9-12). Que
Deus nos dê esse amor pela verdade!
Aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. (1
Coríntios 1.21)
A pregação da cruz de Cristo é uma loucura tão grande que o cristão
será sempre tentado a empregar outros meios para conduzir as pessoas a
Cristo. Os judeus incrédulos, do tempo de Jesus, pediam milagres; os
religiosos e incrédulos do nosso tempo pedem a mesma coisa. Nada mudou.
Quanto menos esperamos em Deus, mais vamos procurar por sinais,
esquemas e truques da moda. Ora, todos esses truques só servirão para mexer
com os sentimentos efêmeros das pessoas. Uma multidão entusiasmada por
Jesus não significa nada. Jesus sabia muito bem quando entrou em Jerusalém
em cima de um jumento. Todo o mundo o aclamava. Mas, alguns dias após,
foram muitos os que gritaram: “Crucifica-o!”.
Porque a palavra da cruz é loucura para os que se perdem; mas,
para nós os que somos salvos, ela é o poder de Deus. (1 Coríntios
1.18)
Os judeus pedem por milagres e os gregos procuram a sabedoria,
mas nós pregamos a Cristo, e este crucificado; escândalo para os
judeus, loucura para os gentios. (1 Coríntios 1.23)
Pedir por milagres e sinais é querer andar pela vista; é fazer parte desta
geração má. Jesus disse:
Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe
será dado, senão o do profeta Jonas. (Mateus 12.39)
Jesus os leva de volta às Escrituras. Sob a Antiga Aliança, os cultos a
Baal eram frequentemente misturados ao culto do verdadeiro Deus (prática
muito atual!). A Bíblia inteira trata disso a fim de nos prevenir. Ainda que um
sinal ou um milagre se realize, isso não prova que ele vem de Deus.
Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te
anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio
de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que
não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse
profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova,
para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso
coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso
Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis
a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis. (Deuteronômio
13.1-4)
Mas como reconhecer isso? Deus nos colocou numa armadilha? Não!
Todas as práticas que não estão em sua Palavra, mas, sobretudo, que são
próprias do ocultismo, não provêm de Deus. Se Israel recebeu ordem para
fazer exatamente o que lhe havia sido prescrito pelo Eterno, não foi por
acaso. Sempre achamos que somos os mais espertos. Ninguém que acredita
ter discernimento das coisas, mas se desvia da Palavra de Deus, permanecerá
impune.
Voltemos aos sinais. Se o cristão não deve procurar por sinais e
milagres para ser mais espiritual, então o que deve fazer para distinguir-se do
mundo? Ele mesmo deve ser um sinal e um milagre. Num mundo em trevas e
pervertido, não é extraordinário ter passado da escravidão de Satanás para o
Reino de Deus e ter uma vida transformada por Jesus Cristo? Não é
extraordinário ter a ousadia de viver de maneira diferente das outras pessoas e
fazer isso cada vez melhor, com a ajuda do Senhor? O Espírito Santo nos foi
dado para que possamos praticar os mandamentos de Deus, qualquer que seja
a situação.
É mais fácil passar despercebido e agir como a maioria. Não é um
testemunho extraordinário não roubar, ser honesto, não enganar, tentar fazer
o melhor trabalho, não jurar, não colocar o seu coração naquilo que os pagãos
glorificam — as posses e prazeres de toda a sorte? Não é um testemunho
extraordinário não ser adúltero, não ter amantes, não abortar, recusar-se em
aprovar a evolução teísta ou ateia, a homossexualidade ou a ideologia de
gênero, ser casto antes do casamento, educar seus filhos segundo o Senhor,
num mundo em que é preciso nadar contra a corrente, em que é preciso lutar,
perseverar e ficar firme? O combate é duro, feroz, mas a tentação nunca é
forte demais. A vitória nos foi assegurada. Se aceitarmos a comunhão nos
sofrimentos de Cristo (1 Coríntios 10.13), ele nos preparará os meios para
sairmos vitoriosos de todos os combates (Filipenses 3.10).
A Pastoral da renovação, presidida pelo grupo de Oração e
discernimento, reuniu-se em Lausanne, no dia 13 de março de 1995, para
refletir sobre o fenômeno da bênção de Toronto. O que foi, de fato, essa
bênção? Segundo os responsáveis não foi um avivamento, que é
caracterizado por arrependimento, pela busca de santidade e engajamento
cristão. Mas o que foi então? Segundo eles, tratou-se:
[...] principalmente de uma preparação para um avivamento
futuro. Foram os seus primeiros sinais. A igreja de hoje não está
preparada para um avivamento. Se alguém dissesse para a igreja:
“Você mesma terá de morrer aos pés da cruz”, ela responderia:
“Mas já estou tão doente, cheia de feridas interiores, como me
pedir ainda para que eu morra, se já estou quase morta; mais um
esforço e não sobrará nada”. É por isso que os cristãos têm de ser
primeiro revigorados e deixar-se cuidar pelo amor do Pai [...]
para mais tarde ter energia para arrepender-se...!
Essa explicação é inacreditável. Mas está totalmente na linha do
cristianismo atual. Como os pastores evangélicos deixaram de compreender
totalmente a obra da cruz! Essa atitude mostra o seu retorno à doutrina da
salvação pelas obras, como também a um culto ao evangelho da
prosperidade, da saúde e da felicidade em todas as áreas.
Encontrar uma base bíblica para justificar todos esses fenômenos seria
uma tarefa bem difícil. Entretanto, os promotores dessas experiências
encontraram várias.
Um versículo muito utilizado por esses promotores do erro e que
anestesia quase que definitivamente a reflexão daqueles que querem apenas
ouvir uma falsa explicação, é o seguinte:
Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará
uma pedra? [...] ou uma cobra? [...] um escorpião? Ora, se vós,
que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem? (Lucas 11.11-13)
Este é o versículo senha que abre a porta para qualquer coisa. E não
vimos ainda tudo: “As riquezas do Senhor são infinitas!”. Outro versículo
muito citado:
Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo. (1
Coríntios 12.3)
O que Paulo queria dizer? Certamente não quis dizer que bastaria
pronunciar a frase Jesus é o Senhor para fazer com que todas as pretensões e
ações de quem a pronuncia sejam confiáveis.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos
céus. (Mateus 7.21-22)
E o Senhor ilustra seu discurso com exemplos bem atuais: profetizar,
expulsar demônios, operar milagres, mas tudo isso sem praticar a justiça!
Eles estão bêbados, mas não de vinho; andam cambaleando, mas
não de bebida forte. (Isaías 29.9)
Este versículo foi citado por uma conselheira paroquial no momento
desse encontro, cujo objetivo era discernir o que teria sido a bênção de
Toronto. Ninguém, então, disse que esse versículo de Isaías foi dito num
contexto de julgamento. Uma vez que a maioria compreendia que os
fenômenos de Toronto vinham diretamente de Deus, não havia espaço para
os contrários, porque estes semeariam a dúvida e apagariam o Espírito...
Como gerenciar todos esses fenômenos? Esta foi, finalmente, a grande
questão que surgiu na reunião do Grupo de discernimento reunido em
Vennes-sur-Lausanne. De fato, como gerenciar todas essas bênçãos, porque o
risco de fugir ao controle é grande! Alguns aconselharam prudência... — Ora,
os que praticam o ocultismo sabem muito bem que é preciso ser prudente e
que, sobretudo as pessoas de mente frágil, não devem aventurar-se. Vejam
só! Este foi o conselho dado! Que contradição! Como se aproximar-se
verdadeiramente de Cristo pudesse causar dano à psique das pessoas. Ao
contrário, Cristo traz a libertação. Ele veio para os que estavam cansados e
sobrecarregados, para os humildes, para aqueles que querem colocar toda a
sua confiança sobre ele. Ele lhes promete o descanso de suas almas. Mas, há
aqui uma condição:
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim [...], porque o
meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus 11.28-30)
Somente uma pessoa teve a coragem de dizer: “Esse é outro
Evangelho!”. E foi humilhado publicamente. Diante de uma oposição como
essa, de uma hostilidade que paralisa física e intelectualmente qualquer
pessoa que queira reagir, como deve ter sido grande a assistência do Espírito
para com ele.
E a conclusão foi a seguinte: “Amemo-nos cada vez mais e estejamos
ainda mais abertos uns aos outros, para que sejamos um”. O amor e a
unidade! Estes são a onda do momento. Essa busca se vê em todo o lugar, até
mesmo no meio secular. Como meio de sedução, o diabo não poderia ter feito
melhor escolha! Ele escolheu o que Cristo pediu a seu Pai — amor e unidade
— para que o mundo nele cresse..., mas aqui, sem o caminho da cruz e o
amor da verdade (João 17). Neste mesmo capítulo, Cristo nos diz:
Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram
teus, e tu mos deste; e guardaram a tua palavra. [...] Eu rogo por
eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado,
porque são teus; [...] Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os
odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do
mundo. [...] Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.
Aqui Jesus ora somente por aqueles que o Pai lhe deu e que guardam
sua Palavra. Todos nós merecemos a morte. Foi do seu agrado salvar alguns,
quando deu por eles a sua vida em sacrifício.
Voltemos ao versículo 9 de Isaías capítulo 29. Como puderam
contradizer, na reunião, a pessoa que o citou? Porque teria sido penoso e
teriam que renegar tudo o que tinham vivido, pois a experiência está acima da
Palavra. Não são melhores que os outros, com sua tradição.
Vejamos estes versos em seu contexto. Todos os comentaristas dizem
que os versículos 9 a 14 anunciam o julgamento. Consultemos a Bíblia
anotada:
Isaías 29.9-14: Cegueira dos habitantes de Jerusalém; Deus
continua castigando-os com seus julgamentos.
V. 9-10: Ficai estupefatos e estatelados..., o povo recebe o
discurso do profeta com uma incredulidade misturada com
surpresa. A fé, que não têm, seria necessária para compreender e
aceitar essas estranhas predições. [...] O profeta lhes anuncia,
como castigo por sua cegueira voluntária, uma cegueira ainda
maior vinda de Deus.
V. 10: Os profetas são chamados aqui de olhos e cabeças da
nação: eles deveriam velar pelos outros, ensiná-los e conduzi-los;
mas, ao contrário, são eles que os desviam. [...]
V. 11-12: As revelações dos verdadeiros profetas são, para o
povo, como um livro selado, ou um livro impossível de ser lido.
— Os que sabem: os sacerdotes e profetas. Não é por falta de
conhecimento que não entendem a profecia, mas porque sua
incredulidade os impede de ver o seu significado divino. [...] Se
quisessem compreender, eles poderiam. Coisa completamente
diferente é a multidão descrita nas seguintes palavras: os que não
sabem ler fazem parte da multidão ignorante, que não pode fazer
outra coisa senão deixar-se enganar pelos que vieram antes;
porque eles próprios não têm um entendimento nem mesmo
superficial das palavras proféticas.[82]
O versículo 14 nos diz: Por isso continuarei a fazer uma obra
maravilhosa no meio deste povo; sim, com prodígios e milagres
(veja Dt 28.45-46; 58-59).
É claro que para aqueles leitores que não levam em conta o sentido
preciso dos textos que citam (e de seu contexto), as palavras “prodígios” e
“milagres” sempre têm um sentido positivo e, para eles, os comentaristas da
Bíblia anotada são apenas intelectuais, teólogos que não têm o Espírito e que
novamente estão enganados.
É preciso acrescentar mais para mostrar que se trata de outro
evangelho? Deus não previu nenhuma experiência ou técnica para nos
fortalecer espiritualmente que não fosse o arrependimento e a obediência à
sua Palavra e uma grande comunhão com Jesus Cristo pelo Espírito Santo.
10. Como ser libertado do pecado?
Cristo e sua Palavra nos libertam pela ação do Espírito Santo. Jesus
disse àqueles que haviam crido nele: “Se permanecerdes em minha palavra,
verdadeiramente sereis meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará [vos tornará livres]” (João 8.31-32). É pelo arrependimento e um
retorno – em Cristo e pelo Espírito — à prática da Palavra de Deus, à
obediência a seus mandamentos, que seremos livres. O verdadeiro
conhecimento de Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida, passa pelo
conhecimento de sua Palavra e por colocá-la em prática.
Quando navegamos nas águas turbulentas desse Evangelho truncado e
falsificado, nos tornamos incapazes de compreender a verdade, ainda que ela
seja escrita preto no branco. Somos tomados de tal maneira pela experiência
de uma real sensação de comunhão com Deus (como é o caso da prática da
meditação transcendental examinada amplamente), que nossa lógica é
bloqueada, fica como que paralisada. É preciso, então, ter coragem dobrada,
um espírito determinado para se autoviolentar — porque Cristo nos diz que o
Reino de Deus se toma por violência (Mateus 11.12), e procurar, com toda
sua força, o pensamento de Deus em sua Palavra. O Espírito Santo virá em
nosso socorro. Isso, talvez, leve tempo. Mas pouco importa!
Não se trata de intelectualismo. Procurar compreender é um ato de
obediência. E, sobretudo, não diga: vou ver o que o Senhor vai me dizer
através da oração. Essa seria a melhor maneira de aumentar a confusão. Isso
seria algo como aquelas duas senhoras que, estando grávidas, não sabiam se
podiam interromper a gravidez ou não. Então decidiram procurar saber a
vontade do Senhor pela oração. O Senhor teria dito a uma delas: “Pode
abortar. Faça isso”; e à outra, “Mantenha o seu filho” (!)
Se há alguma coisa que nos desagrada, não temos de buscar, pela
oração, a vontade do Senhor, porque ele já a revelou claramente em sua
Palavra. Somente quando nos rebaixamos — nas exigências do nosso ego —
que Cristo poderá crescer em nós mesmos. A menos que aceitemos carregar
nossa cruz dia a dia, não poderemos ser seus discípulos. Levar nossa cruz é
colocar-se na posição do condenado que vai ser crucificado e deve carregar
sua cruz até o lugar do suplício. É aceitar morrer todos os dias, por Jesus
(Mateus 16.24). Morrer para si mesmo é renunciar ao pecado e suas
concupiscências, é procurar praticar os mandamentos de Deus. Nós não
estamos sozinhos. Jesus, o Filho de Deus, o próprio Deus, está conosco!
“Estou crucificado com Cristo; e logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim” (Gálatas 2.20). Um cristianismo de concupiscência e de
licenciosidade é outro evangelho.
Sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela
excelência do conhecimento de Cristo Jesus, [...] para conhecê-
lo, e o poder da sua ressurreição e a participação dos seus
sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte. (Filipenses 3.8-
11)
Não se trata de uma mortificação insana. Não procuramos o
sofrimento. Num dia, ou noutro, o sofrimento estará lá; não faltará ao
encontro. É o quinhão de todos sobre esta terra. Foi também o de Cristo e dos
seus discípulos e não somos maiores que o nosso Mestre. O Espírito Santo
nos foi dado, entre outras coisas, para que sejamos capazes de suportar.
Vejamos as exortações de Jessie Penn-Lewis:
“Trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também
a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos” (2 Coríntios
4.10).
Qual o significado dessas palavras? Por que é tão necessário
trazer em seu corpo a morte de Jesus? — Porque o corpo está
exposto aos ataques do mundo, da carne e do diabo, ainda que em
espírito o resgatado já esteja nos lugares celestes, unido ao
Senhor ressuscitado e esteja participando do seu trono. Por esta
morte cotidiana, o crente é cada vez mais conformado à morte do
seu Salvador, enquanto que a vida espiritual de Cristo, a vida
segundo o Espírito, se fortifica mais e mais.
Nossa maior vitória é morrer com Cristo em sua morte. Essa é a
própria manifestação da vida divina em nós.
É preciso, também, que a morte atue constantemente em seu
resgatado, para que haja nele uma contínua manifestação da vida
de Jesus.
Se as raízes do crente são fracas e insuficientemente
desenvolvidas, se a ênfase for colocada sobre a vida, ao invés de
estar sobre a morte de Cristo, essa vida permanece frágil e fica
exposta a todos os ardis do inimigo na esfera espiritual.
Manter a atitude de morte[83] permite à vida se manifestar. A
morte age em mim e a vida em vós, diz o apóstolo (2 Coríntios
4.2). A morte em ação? A morte ativa? Sim, é isso mesmo;
porque se trata aqui da morte de Cristo. Não de uma morte
qualquer. Ela é ativa; por ela temos a libertação; ela opera a
separação do pecado; ela faz morrer a atividade da carne e nos
torna conforme o Senhor em sua morte.
A vida que jorra da união com Cristo em sua morte desenvolve
maravilhosamente o crente. [...] A vida nova não destrói a
personalidade; ela a desenvolve ao máximo[84] para o louvor de
Cristo, que comunica sua vida.
A igreja precisa desse derramamento de poder.[85] A morte de
Cristo, com Cristo, faz jorrar a vida. Mas essa vida, ponto
culminante da vida de ressurreição, leva à cruz. A ação da cruz é
constantemente necessária para separar do pecado: “O sangue de
Jesus nos purifica de todo pecado” (1 João 1.7).
[...] Se todos os membros do Corpo de Cristo, unidos ao Chefe,
quisessem viver uma vida crucificada (conformando-se à sua
morte), encontrariam essa plenitude gloriosa, esses rios de água
viva que o mundo tanto precisa.
Escondidos na morte de Jesus, encontrariam também um refúgio
seguro contra todas as armadilhas do Diabo. Pela cruz, ele é
vencido.[86]
“Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No
mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo” (João 16.33).
“Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também
eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo
inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra”
(Apocalipse 3.10).
“Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14.12).
A verdade é clara e luminosa. Mas, por causa da nossa natureza
pecaminosa, de nossos próprios pecados, de ideias falsas recebidas em casa,
ou na igreja, na escola, ou na universidade, ou por diferentes falsos doutores
(estamos todos no mesmo barco), a verdade é escondida, abafada e
contaminada. É através de muita busca (cf. com a pérola de grande preço) e
tribulações, sondando as Escrituras com a ajuda do Senhor que nunca nos
abandona, que aprenderemos a conhecer a Cristo, a fim de levar todo o
pensamento cativo à sua obediência.
Observações preliminares
O declínio doutrinário e espiritual que iremos descrever agora foi, antes
de tudo, produzido nos círculos cristãos que aberta e exclusivamente
reivindicavam o Evangelho. Esses mesmos cristãos evangélicos, aliás, se
levantavam contra outro movimento ainda muito mais grave: o racionalismo
anti-bíblico e anti-trinitário, representado por aqueles que os reformadores
chamavam de libertinos, dos quais Miguel Servet é um exemplo bem típico.
Os libertinos são os precursores dos socinianos unitarianos do século XVII,
dos deístas racionalistas do século das Luzes e dos materialistas científicos e
políticos anticristãos e ateus dos dois últimos séculos. Foi dessa corrente
funesta que nasceu a crítica bíblica racionalista e dialética, cujo fruto
envenenado é o liberalismo protestante, o modernismo católico e a neo-
ortodoxia barthiana e neo-evangélica. Essa tradição anticristã forjou uma
exegese primeiramente racionalista, depois dialética, que recusa todo o
aspecto propriamente transcendente da revelação e desenvolve uma
exposição dialética que procura guardar certa “ortodoxia”, sob o manto de
uma linguagem evangélica. Mas, de fato, trata-se de um agnosticismo
exegético, filosófico e ético incapaz de extrair doutrinas sólidas e precisas do
texto das Escrituras.
O movimento que queremos estudar é, evidentemente, outro. Os
homens cujos erros doutrinários vamos analisar eram, em sua maior parte,
cristãos evangélicos sinceros, zelosos e corajosos, que quase sempre
provaram uma consagração e uma devoção pela causa de Deus, até hoje,
exemplares. Mas, apesar do seu apego ao evangelismo, às obras da fé e a
alguma forma de santificação, gradualmente foram se distanciando do ensino
dos apóstolos em certos pontos. Não se trata daqueles adversários de fora,
como são os teólogos apóstatas que acabamos de mencionar, mas de homens
que, inconscientemente, com frequência e na maior boa fé contribuíram, sem
saber, para corromper os fundamentos da fé a partir do interior das igrejas.
Esse movimento doutrinário está, evidentemente, ligado a outros
desenvolvimentos, em particular nos campos ético e filosófico. O
antinomismo — rejeição à autoridade normativa da Lei divina para a
santificação da vida individual e social — como também o idealismo
filosófico — rejeição a toda relação essencial entre o pensamento humano e a
realidade — contribuíram, de fato, para a deterioração da doutrina bíblica da
santificação. Mas todos esses movimentos têm algo em comum: eles jamais
enfatizaram a soberania, a autoridade e o poder extraordinário de Deus, o
valor normativo absoluto de sua Lei, a infalibilidade de sua revelação, mas
sim o homem e suas capacidades. Dessa forma eles exaltam o homem,
fazendo dele a medida para todas as coisas.
Vejamos essa história mais de perto.
a. O arminianismo
O primeiro momento foi o arminianismo, que deve o seu nome a Jakob
Hermandzoon, ou Arminius (1560-1609), teólogo holandês que foi quem o
inspirou.[105] O ensino de Armínio se aproximava do semipelagianismo da
Igreja romana por sua insistência sobre a compatibilidade entre a soberania
divina e o livre-arbítrio de um homem, aliás, escravo do pecado. Pelo fato de
que Cristo, segundo Armínio, teria morrido por todos os homens, a salvação
dependeria, no fim das contas, mais da livre escolha daquele que ouve o
Evangelho que do decreto eterno de Deus. A doutrina da depravação total do
homem perdido dá lugar aqui a um ponto de vista muito mais favorável às
capacidades espirituais humanas não regeneradas. Não queremos nos ater
demasiadamente nesse movimento, mas é evidente que se trata de uma
primeira brecha na visão calvinista e agostiniana do mundo. A ênfase dos
reformadores sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana é
deslocada em favor do homem.
Sob uma forma modificada, os ensinos de Armínio foram adotados na
França por Moisés Amyraut (1596-1664), que foi por muito tempo professor
de teologia na Academia Reformada de Saumur.[106] Essa mudança de ênfase
de Deus para o homem teve por efeito obscurecer as doutrinas bíblicas da
justificação e da santificação, abrindo assim a porta para novos
desdobramentos.[107]
b. O pietismo
O pietismo é um movimento de renovação espiritual que se
desenvolveu na Alemanha após a Guerra dos Trinta Anos, no fim do século
XVII, numa reação contra o dogmatismo estéril e a falta de espiritualidade de
uma parte importante da Igreja luterana. Os pietistas se voltaram contra a
teologia e contra a doutrina, em nome de uma piedade viva e da leitura
pessoal da Bíblia. Mas em seu zelo simplificador, o pietismo sacrificou, em
nome da redescoberta de uma experiência cristã autêntica, uma parte
importante das doutrinas essenciais do cristianismo. A diferença capital, por
exemplo, entre a justificação e a santificação, pedra angular do avivamento
cristão do século XVI, tornou-se incompreensível nesse sistema de piedade
“viva” que não via mais sentido no que lhes parecia ser apenas questiúnculas
teológicas.
A tendência, já manifestada no arminianismo, de acentuar a resposta
humana, em detrimento da graça de Deus, foi reforçada consideravelmente
pela importância que os pietistas deram para a experiência cristã, a qual se
tornou quase normativa. Esta abordagem rompeu claramente com o equilíbrio
dos reformadores do século XVI, que haviam mantido em uma síntese viva e
dinâmica uma doutrina sólida, uma piedade cheia de esperança e uma fé
missionária conquistadora.
O historiador G. R. Cragg descreve assim alguns aspectos negativos do
pietismo:
A regeneração era o seu tema mais importante e era definida não
como doutrina, mas como a experiência central e indispensável
de todo verdadeiro cristão. [...] Ao interiorizar o cristianismo, os
pietistas tornaram-no subjetivo. [...] Os sentimentos assumiram
um lugar tão importante em sua vida religiosa que o papel da
razão foi por eles veementemente desprezado. Como o intelecto
não podia sondar os mistérios do destino humano, então os
sentimentos e a intuição tiveram que preencher esse papel. O
forte ataque contra a razão era dirigido contra dois tipos de
adversários: o teólogo dogmático e o livre pensador racionalista.
Como escreveu Zinzendorf: “Aquele que quiser compreender
Deus, utilizando sua própria inteligência, tornar-se-á,
inevitavelmente, um ateu”. O pietismo não soube manter um
equilíbrio sadio entre a vitalidade espiritual e o vigor intelectual.
Aí encontramos o seu erro mais grave e a causa essencial de sua
esterilidade teológica. [...] Apesar da distância que mantinha em
relação a todo debate teológico, o pietismo se via obrigado a
insistir fortemente sobre a responsabilidade moral do cristão.[108]
Mais adiante Cragg, ao comentar a duração relativamente curta da
influência desse movimento, tece comentários que se situam bem no centro
de nossas preocupações atuais:
A maneira como o pietismo via a doutrina era tanto débil quanto
utilitarista. Ele tratava a nova vida simplesmente como um
processo subjetivo, esquecendo-se, por isso, que a justificação
deve sempre ser vista como um ato de Deus. Reduzia a conversão
à participação em uma série, quase ritualística, de experiências
tornadas obrigatórias. Tal atitude implicava dizer que nossa
maneira de sentir era determinante para sermos aceitos por Deus.
Um pensamento como esse é o sinal certo de que o legalismo
invadiu a vida religiosa.[109]
Como corretamente notou Donald W. Dayton, cuja obra Theological
Roots of Pentecostalism [As raízes teológicas do pentecostalismo][110] servirá
de guia na sequência do nosso texto, uma perda tão grave do sentido
teológico conduz, em pouco tempo, à incapacidade de perceber as
verdadeiras dimensões da vida espiritual. Não se compreende mais o abismo
do pecado, menos ainda a imensidão da graça. Uma consequência dessa
redução doutrinária e espiritual foi a ideia, presunçosa e ingênua, de que o
cristão regenerado podia vencer seu pecado e alcançar, já na vida presente, a
perfeição moral. O cristão não era mais perfeitamente justo em sua posição
de justificado em Cristo; era, entretanto, sempre obrigado a trabalhar com
temor e tremor por sua santificação em sua vida terrestre. Neste sentido, o
pietismo preparava o caminho para aquele perfeccionismo que se tornaria o
cavalo de batalha do metodismo.
c. O metodismo
John Wesley (1703-1791) foi, sem dúvida, a conquista mais importante
do movimento pietista. Wesley é, incontestavelmente, um dos gigantes da
história da igreja; teve um papel crucial na história das origens evangélicas do
pentecostalismo. Aos seus dons de pregador do Evangelho, ofício em que
rivalizou com os maiores nomes de seu século, tais como George Whitefield
(1714-1770) e Jonathan Edwards (1703-1758), acrescentou um dom
extraordinário de organização das comunidades cristãs que fundava. Se
devemos aqui criticar algumas de suas orientações teológicas, cujas
consequências posteriores foram particularmente nefastas, é preciso primeiro
reconhecer os enormes benefícios que o seu infatigável ministério trouxe para
as ilhas britânicas e, sobretudo, entre as camadas mais pobres de uma
população deslocada e abalada pelo traumatismo social da revolução agrícola
e empobrecida por uma revolução industrial então na sua primeira fase
particularmente brutal.
Wesley foi herdeiro tanto do arminianismo quanto do pietismo. Sua
pregação era, sem dúvida, marcada pela ação soberana da graça divina
transformando o coração e a vida dos homens que ouviam a proclamação das
Boas Novas, mas sua teologia punha ênfase, claramente, na participação ativa
do não convertido na operação de sua salvação. Além disso, ele insistia, tal
como o discurso pietista, sobre o papel central que a experiência emocional
devia ter na vida cristã. É preciso acrescentar que as preocupações essenciais
de Wesley não eram propriamente doutrinárias e que sua teologia era
incoerente e frequentemente contraditória. Diferentes historiadores o
interpretaram de maneira bastante variada, sem, no entanto, deformar demais
o seu pensamento. Entretanto, temos de constatar que sobre um ponto sua
influência teve um papel decisivo na via que leva ao pentecostalismo: sua
teoria de uma perfeição moral acessível ao cristão, através de uma
experiência externa à regeneração.
No que concerne à sua teologia, Wesley foi mais centrado sobre a obra
de Cristo do que foram os seus sucessores metodistas do século XIX. Wesley,
segundo o historiador A. S. Wood:
[...] percebeu que a obra específica do Espírito Santo era
glorificar o Filho e aplicar as bênçãos da redenção de Cristo.[111]
Tratando-se da santificação, ele ensinava a doutrina bíblica tradicional
de um crescimento gradual na graça e na santidade. Mas ele tinha sido
marcado profundamente por sua conversão ocorrida entre os irmãos morávios
e pelo seu ensino sobre a possibilidade de alcançar, aqui embaixo, uma vida
cristã moralmente impecável. Foi também fortemente influenciado por alguns
aspectos do ensino místico católico, em particular na tradição corrompida de
Madame Guyon. Essas influências fizeram com que defendesse a
possibilidade, para o cristão adulto bem experimentado no caminho da
santificação, de fazer o que chamava “uma segunda experiência”, que daria
àquele que a experimentasse uma santidade completa. Assim, no processo de
uma santificação gradual, seria possível ter uma experiência instantânea que
produziria no crente uma santidade de vida total, definitiva. A partir de 1772,
Wesley ficou plenamente convencido sobre a possibilidade de tal experiência.
Mas ele mesmo constantemente afirmou jamais tê-la experimentado. Para
Wesley:
[...] certamente todo aquele que nasceu de novo em Cristo
recebeu o Espírito Santo e o Espírito testifica com o seu espírito
que é filho de Deus. Mas isso de maneira nenhuma quer dizer
que tenha obtido a perfeição cristã.[112]
Tal concepção da perfeição cristã implica, claramente, uma noção
insuficiente sobre a gravidade do pecado e a extensão do seu efeito sobre o
homem. Como é a Lei divina que nos dá a medida do nosso pecado,
concluímos que tais concepções devem partir de uma noção bastante
defeituosa das exigências dessa Lei. É isso, com efeito, o que encontramos
em Wesley. Para ele:
O pecado é a transgressão de uma lei conhecida. [...] A
transgressão involuntária de uma lei divina ou desconhecida é
chamada pecado de maneira imprópria.[113]
Uma definição do pecado como essa simplifica bastante o problema da
santificação! Mas, como frequentemente é o caso, os discípulos de Wesley
foram muito mais longe do que o mestre. Joseph Benson, cuja visão
arminiana foi a causa direta da ruptura final entre Whitefield e Wesley, e
mais particularmente John Fletcher (1729-1785), o sucessor nomeado por
Wesley, começaram a utilizar a expressão, depois tornada clássica, de o
batismo de Pentecostes do Espírito Santo, para nomear essa segunda
experiência. Seria interessante saber se aqui se tratou da primeira utilização
dessa expressão nesse sentido. Numa carta datada de 7 de março de 1778 e
endereçada a sua futura esposa, Fletcher escreveu:
Você vai encontrar minha visão sobre essa questão (da perfeição
cristã) nos sermões de Wesley sobre a perfeição cristã e sobre o
cristianismo bíblico, que estabelecem uma diferença, ou seja,
uma distinção mais precisa entre o cristão batizado pelo poder
pentecostal do Espírito Santo e o crente que, como os apóstolos
após a ascensão do Senhor, ainda não está cheio desse poder.[114]
Fletcher falaria até (como tinha feito um Joaquim de Fiore no século
XII) de três épocas espirituais: a do Pai, a do Filho e a do Espírito Santo.
Segundo esta perspectiva, a nossa época, a do Espírito Santo, seria
caracterizada pela segunda experiência de um suposto batismo com o Espírito
Santo, experiência que daria acesso ao poder espiritual verdadeiro. Fletcher
nisso se distanciou fortemente do ensino mais sóbrio de Wesley. Uma bela
carreira estava prometida para essas novas visões. Começamos a descobrir as
raízes históricas precisas do pentecostalismo. Foi na América que se
encontrou o terreno favorável para a expansão dessas novidades.
i) 1859
Phoebe Palmer, em seu livro La promesse du Père [A promessa do
Pai], evocou o tema das últimas chuvas, em parte para justificar o seu
ministério de mulher evangelista, mas também para incitar seus leitores a
buscar o “batismo completo com o Espírito Santo”, que tem a virtude de
conceder o poder espiritual a todos os que o recebem.
ii) 1867
No mês de julho desse ano foi fundada a célebre Associação nacional
de reuniões de evangelização ao ar livre para promover a santidade. O
objetivo explícito desse movimento era promover a experiência pentecostal
do batismo com o Espírito Santo, através de reuniões públicas. Tratava-se de
“uma experiência específica, positiva, consciente e instantânea”.[119]
A maior parte dos círculos evangélicos norte-americanos da última
década do século XIX viveu a generalização desse tipo de encontro, típico
“de um pentecostalismo precursor”. Havia algo como que uma obsessão
universal a favor da atualização dramática da experiência de Pentecostes. As
formulações de Fletcher fizeram submergir tanto o calvinismo tradicional
como as explicações propriamente wesleyanas sobre uma santificação
completa.
iii) 1870
Asa Mahan, então presidente da Universidade Adrian, dirigida por
metodistas perfeccionistas, publicou sua obra célebre Le Baptême du Saint-
Esprit [O batismo com o Espírito Santo], hoje ainda um dos pilares da
teologia pentecostal. Na verdade, é daí que vem a doutrina do batismo com o
Espírito Santo como uma segunda obra decisiva da graça, posterior à
salvação, permitindo ao crente ser revestido de poder para o serviço.
iv) 1877
Mesmo o célebre pregador e evangelista D. L. Moody (1837-1899) fez
— segundo a fórmula recebida — a experiência desse batismo. Em 1877 ele
publicou em seus Discours doctrinaux [Discursos doutrinários] um sermão
intitulado “O batismo do Espírito Santo para o serviço”. Ele escreveu:
Em certo sentido, e de um modo restrito, o Espírito Santo habita
todo crente; entretanto, existe também outro dom que poderia ser
chamado de dom do Espírito Santo para o serviço. Este dom me
parece ser completamente diferente e distinto, tanto da conversão
como da certeza da salvação. Deus tem muitos filhos que não têm
poder e a razão disso é que estes não têm o dom do Espírito
Santo para o serviço.[120]
Moody afirmava, também, em seu livro muito popular La puissance
secrète [O poder secreto], publicado em 1881, a necessidade de uma segunda
experiência.
v) 1899
Reuben A. Torrey, que sucedeu a Moody na chefia do seu Instituto
Bíblico após sua morte, era um defensor entusiasta do batismo com o Espírito
Santo como segunda experiência. Ele propagou esse ensino através de muitos
livros, tais Comment obtenir la plénitude de la puissance [Como obter a
plenitude do poder] (1897) e Le baptême du Saint-Esprit [O batismo com o
Espírito Santo] (1895). Algumas de suas obras tornaram-se clássicos da
literatura pentecostal do século XX.
Na Inglaterra, a partir de 1875, o movimento de Keswick avançou
pelas mesmas águas, mas de maneira mais prudente. A primeira metade do
século XIX havia sido marcada pelo ministério do pastor reformado escocês
Edward Irving (1792-1834), que foi um dos precursores importantes do
movimento pentecostal. Ele tinha assustado a maior parte dos círculos
evangélicos britânicos de sua época, em razão de seus excessos carismáticos.
[121]
O final desse século [XIX] foi mais propício a essas novas orientações.
Em Keswick, interessavam-se mais pela segunda experiência com o Espírito
Santo como resposta ao problema do pecado do que como fonte de poder.
Pouco tempo antes de sua morte, Asa Mahan tornou mais respeitável esse
movimento de santidade, colocando-o, por assim dizer, sobre as pias
batismais. Moody, de sua parte, vai assegurar ao movimento relações
frutíferas com o reavivalismo americano. Esse movimento inglês exerceu
uma influência notória sobre homens da importância de A. B. Simpson
(1843-1919), pastor presbiteriano que foi o fundador da Aliança cristã e
missionária,[122] Andrew Murray, pastor sul-africano reformado que travou
um duro combate contra o liberalismo de seu tempo e ainda conhecido como
autor de grande número de obras de edificação, e A. J. Gordon, fundador do
célebre Gordon-Conwell College nos Estados Unidos. Gordon, a partir de um
estudo renovado do livro de Atos dos Apóstolos, ligado às suas experiências
no trabalho de avivamento, chegou à conclusão eminentemente pentecostal
de que:
[...] as Escrituras parecem ensinar que existe uma segunda etapa
no desenvolvimento espiritual, que é distinta e separada da
conversão, às vezes por um lapso de tempo bastante longo, às
vezes quase simultâneo. Nós alcançamos esse nível espiritual por
uma renovação particular do Espírito Santo e não simplesmente
por um crescimento regular.[123]
Sob a influência dos escritos de Jessie Penn-Lewis e de Evan Roberts,
célebre pregador do Avivamento do País de Gales, e do seu jornal, The
Overcomer [O vencedor], o movimento de Keswick prolongou-se de forma
importante. De maneira inesperada, essa influência se estendeu até nossos
dias, com a ajuda dos variados escritos de Watchman Nee, também adepto
das ideias de Keswick e marcado pelo ensino místico da senhora Penn-Lewis.
[124]
[1]
No original Mysticisme d'hier et d'aujourd'hui, ou seja, Misticismo de ontem e de hoje. [N. do R.]
[2]
Extraído da introdução por J. Cynddylan Jones, no The Awakening in Wales, por Jessie Penn-Lewis,
The Overcomer Literature Trust, Poole, England, s. d.
[3]
Jessie Penn-Lewis, em colaboração com Evan Roberts, La guerre aux Saints, edição inglesa, 1912,
primeira edição francesa, Paris, 1916.
[4]
Místico católico romano sobre o qual falaremos na segunda parte deste estudo.
[5]
Henri Bois, Le réveil au Pays de Galles, Toulouse, 1905.
[6]
Rick Joyner, Le monde en feu, J. F. Oberlin, Mâcon, 1996. [Edição brasileira: Rick Joyner, O mundo
em chamas. Rio de Janeiro: Danprewan, 2000.]
[7]
Entre outras, de D. M. Phillips, Evan Roberts, the Great Welsh Revivalist and his Work, Marshall
Brother, 1906.
[8]
Em todo pensamento anarquista revolucionário dos séculos XVIII-XX, o fogo é o símbolo da ação
da Revolução. Veja o estudo magistral de J. H. Billington, Fire in the Minds of Men. Origins of the
Revolutionary Faith, Basic Books, New York, 1980. O processo revolucionário começou por uma falsa
mística destrutiva da ordem de Deus na personalidade daquele que fazia a experiência.
[9]
Esse falso ensino sobre a cruz foi amplamente retomado por Watchman Nee e sua escola. Veja W.
Nee, La libération de l'Esprit, Fontenay-sous-Bois, Farel, 1975.
[10]
Bois, op. cit., p. 438 e seguintes. Ele tem de escrever exatamente como lhe vem. Deus lhe pede que
enfatize uma palavra quatro vezes e não três, como tinha feito…, etc.
[11]
Jessie Penn-Lewis em colaboração com Evan Roberts, La Guerre aux Saint. Un livre, à l’usage des
croyants, sur l’activité des esprits séducteurs parmi les enfants de Dieu, Bureau de l’Alliance Biblique,
Genève, 1912, p. 5-8.
[12]
Jessie Penn-Lewis com a colaboração de d’Evan Roberts, La Guerre aux Saints, Deuxième édition
abreviada, Introdução de I. Brunel, Chez Mme G. Brunel, Nîmes, s.d. p. 8-10. Reedição, Edições
l’Oasis, 2015.
[13]
Em francês à la lisière, referência a um tipo de vestimenta curta, cobrindo ombros e braços, com
uma fita estendida e controlada pela mãe, que impedia a criança de se distanciar. [N. do T.]
[14]
Veja Watchman Nee, L'homme spirituel, Résurrection et Imprimerie Nouvelle L.-A. Monnier,
Bevaix et Neuchâtel, 1968, que desenvolve e sistematiza esse ensino teológico errado da senhora Penn-
Lewis.
[15]
Sobre a verdadeira busca por direção espiritual, veja: Garry Friesen e Robin Maxson, Vos décisions
et la volonté de Dieu, Vida, Miami, 1989 e Sinclair Ferguson, A la découverte de la volonté de Dieu,
Europresse, Chalon-sur-Saône, 1988. Veja também a obra de James Packer: Connaître Dieu, Grâce et
Vérité, 1984; o vigésimo capítulo trata da direção espiritual.
[16]
Veja a obra de J. Penn-Lewis, Soul and Spirit, The Overcomer Literature Trust, s. d. Na p. 26, uma
nota indica que se o leitor quiser saber mais, deve ler a obra La Guerre aux Saints escrita em 1912, na
qual ela fala explicitamente sobre tudo isso.
[19]
Thoughts on Religious Experience, Carlisle, Pennn.: The Banner of Truth, 1978, p. xviii.
[20]
H. E. Alexander, Fondé sur le Roc, Maison de la Bible, Genève, 1943, revista e corrigida sob o
título de Contre vents et marées, H. E. et J. H. Alexander, Maison de la Bible, 1983.
[21]
Na Advertência em Recueil de divers traités de théologie mystique, Jean de la Pierre, Cologne,
1699, p. 6-7.
[22]
François Ribadeau Dumas, Fénelon et les saintes folies de Madame Guyon, Mont-Blanc, Genève,
1968, p. 141-142.
[23]
M. L. Gondal, Madame Guyon, Beauchesne, Paris, 1989.
[24]
Louis Cognet: Histoire de la Spiritualité chrétienne, III, p. 27, Aubier, Paris, 1966.
[25]
Hans Küng, Le Christianisme et les religions du monde, Seuil, Paris, 1986.
[26]
Wesley’s Works, vol. VI, p. 48, Sermon LXXXVI: On Perfection, em: De la sanctification selon
Watchman Nee, de Olivier Baudraz, Dissertação de Mestrado, na Faculdade Livre de Teologia
Reformada d'Aix-en-Provence, 1984, p.3.
[27]
Jessie Penn-Lewis, Life Out of Death, The Overcomer Literature Trust, Christian Literature
Crusade, s. d.
[28]
Maurice Ray, Non au yoga, Ligue pour la lecture de la Bible, Lausanne, 1969, p. 64-65.
[29]
Op. cit., p. 82.
[30]
Olivier Baudraz, De la sanctification selon Watchman Nee, Dissertação de Mestrado, na Faculdade
Livre de Teologia Reformada d'Aix-en-Provence, 1984.
[31]
Baudraz acrescenta em nota: “Ficamos muito perturbados pela onipresença do caráter mórbido
desse contexto, e após a leitura de centenas de páginas, nas quais a brutalidade divina é explicitada, nós
mesmos fomos mergulhados em angústias e tremores que deviam ser superadas por leituras mais
serenas e sadias”.
[32]
Henri Blocher, “De l’âme et de l’esprit”, Ichthus, sept.-oct. 1997.
[33]
Veja os estudos seguintes: Jean-Claude Larchet, Ceci est mon corps. Le sens chrétien du corps chez
les Pères de l'Eglise, La Joie de Lire, Genève, 1996; Roger Verneaux, Philosophie de l'homme,
Beauchesne, Paris, 1985 ; Robert H. Gundry, Soma in Biblical Theology, Zondervan, Grand Rapids,
1987.
[34]
Le Courant é uma revista trimestral publicada por Living Stream Ministry, 1853 West Ball Road,
Anaheim, CA 92804-5590, USA. Le Courant é distribuído por Le Courant de vie, 44 rue Monge,
75005 Paris, France.
[35]
Henry A. Boardman, The “Higher Life” Doctrine of Sanctification Tried by the Word of God,
Sprinkle, Harrisonburg, 1996.
[36]
Edição brasileira: Na dinâmica do Espírito: uma avaliação das práticas e doutrinas (São Paulo:
Vida Nova, 1991). [N. do R.]
[37]
Antinomismo ou antinomianismo: oposição ou indiferença à lei de Deus.
[38]
Tom Wells, Prends courage, mon ami!, Europresse, Chalon-sur-Saône, 1993.
[39]
Wolfgang Bühne, La troisième vague, CLV, Maison de la Bible, Genève, 1992.
[40]
Alan Morrison, The Serpent and the Cross. Religious Corruption in an Evil Age, K. & M. Books,
Birmingham, 1994.
[41]
Mike Bickle, Grandir dans le prophétisme, Carrefour, Crissier, 1996.
[42]
John MacArthur: Spiritualité en crise, Maison de la Bible, Genève, 1996, p. 243 e 262.
[43]
Parecem ser, igualmente, defensores da tricotomia!
[44]
Marilyn Ferguson: La révolution du cerveau, Calmann-Levy, Paris, 1974, p. 63. Sobre a hipnose
veja o estudo muito instrutivo de Eddy Marie-Couste: “L’hypnose et autres pratiques de suggestion ou
d'autosuggestion”, em Perspective scientifique et chrétienne (Novembro 2017).
https://www.youtube.com/watch?v=JGsrqTpSMdg&feature=youtu.be
[45]
Ibid., Marilyn Ferguson, p. 64.
[46]
Denis Clabaine, Le yoga face à la Croix, Auteur-éditeur, Genève, 1980, p. 210.
[47]
Rick Joyner, Le monde en feu, J. F. Oberlin, Mâcon, 1996.
[48]
Rick Joyner, L’ultime assaut, Jeunesse en Mission, Lausanne, 1997.
[49]
Jean-Marc Berthoud, Calvin et la France, L’Age d’Homme, Lausanne, 1999. Veja também: Jean-
Marc Berthoud, Calvino, Genebra e a propagação da Reforma na França do Século XVI, Monergismo,
Brasília, 2017.
[50]
Shafique Keshavjee, Le Roi, le Sage et le Bouffon, Seuil, Paris, 1998. [Edição brasileira: O rei, o
sábio e o bufão. São Paulo: Nova Alexandria, 1998].
[51]
Lit-sen Chang, Transcendental Meditation, Presbyterian and Reformed, Nutley, New Jersey, 1978.
Traduzido por nós.
[52]
Em geral indicamos entre parêntesis (…) os números de páginas do livro citado.
[53]
Mantra: “Palavra em sânscrito significando fórmula sagrada” (Larousse). “Fórmula sagrada do
brahmanismo, emanação do princípio divino” (Petit Robert).
[54]
Veja sobre este tema o belo estudo de Evald Lövestam, Spiritual Wakefulness in the New
Testament, CWK Gleerup, Lund, 1963.
[55]
Fernand Legrand, Le signe du parler en langues, Ed. de Bérée, CH 1326 Juriens, 1990.
[56]
Denis Clabaine, Le Yoga face à la Croix, Auteur-éditeur, Lunel, 1980.
[57]
Denis Clabaine: Le Yoga face à la Croix, Autor-editor, Lunel, 1980. Todos os destaques são de
Denis Clabaine.
[58]
Marlyn Ferguson, La révolution du Cerveau, Calmann-Lévy, Paris, 1974.
[59]
Marlyn Ferguson, La révolution du cerveau, op. cit., p. 128.
[60]
Veja o excelente livreto de Fernand Legrand, Le signe du parler en langues, Editions de Bérée, CH
1326 Juriens.
[61]
De fato, muitos pensam como ela. Após ter ouvido os três cassetes sobre a Bênção de Toronto,
ficamos muito preocupados por ter visto a confusão espiritual em que mergulharam os adeptos dessa
“bênção”. Não podemos mais confiar neles, ainda que em outros assuntos possam acertar. Temos
apenas de repetir: examinai todas as coisas à luz da Palavra escrita, e retende o que é bom!
[62]
Jean-Marc Berthoud, Jacques Ellul entre Marx et Calvin, p. 13, A.V.P.C., Lausanne, incluído em
Jean-Marc Berthoud, Apologie pour la Loi de Dieu, L’Âge d’Homme, Lausanne, 1996. Veja sobre
Freud a brilhante monografia de Rousas J. Rushdoony, Freud, Monergismo, Brasília, 2018, como
também David Bakan, Freud et la tradition mystique juive, Payot, Paris, 1964.
[63]
J. J. Walter, Psychanalyse des rites. La face cachée de l’histoire des hommes, Denoël, Paris, 1977.
[64]
Upanishad: palavra sânscrita que designa os textos sagrados hindus, considerados como revelados e
que datam do fim do período védico (entre 700 e 300 antes de Jesus Cristo).
[65]
Trata-se aqui da libertação do que a Bíblia chama de “carne”, ou seja, o princípio que dirige nossa
natureza pecadora, que é dominada pela ação do Príncipe das trevas que age nos “filhos da perdição”,
que são os homens sem Deus. Os filhos de Deus, os verdadeiros cristãos, são devedores à ação do
Espírito Santo, que anima a sua nova natureza. Veja a forte oposição entre “carne” e “Espírito” escrita
pelo apóstolo Paulo na carta aos Romanos, capítulo 8, versículos 5 a 17.
[66]
Entretanto é preciso distinguir entre a busca demoníaca da felicidade absoluta, dos prazeres
normais da vida dos homens que vivem no temor de Deus, isto é, na ordem, o âmbito — tanto afetivo
como emocional — que lhes proporciona obedecer, em Cristo e pelo Espírito, aos mandamentos de
Deus.
[67]
Maurice Ray, Non au yoga, Ligue pour la Lecture de la Bible, Lausanne, 1969, p. 10-11.
[68]
Maurice Ray, L’occultisme à la lumière du Christ, Ligue pour la Lecture de la Bible, Lausanne,
1959.
[69]
Esse livro foi escrito em 1959. Essa invasão espiritual dataria, então, do final dos anos cinquenta.
[70]
Galates 3.2,3: “Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei” (ou por
qualquer que seja a obra que não a de Jesus Cristo!) “ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos
que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?”.
[71]
O falar em línguas atual, por oposição ao falar em línguas na época de Paulo.
[72]
Texto escrito em 1995. Datam o começo dessa Bênção de Toronto em 20 de janeiro de 1994.
[73]
As línguas da Igreja Primitiva eram línguas verdadeiras, faladas nas nações da época. Tratava-se
de ações de graças para com Deus — não exortações dirigidas aos homens ou ordens dadas aos
demônios! Veja 1 Coríntios 14 e note os versículos referentes a isso. O objetivo dessas línguas
(anunciadas na profecia de Isaías 28.11, que teve seu cumprimento na época de Paulo — é ele quem
diz: 1 Coríntios 14.21) — era de ser um sinal de julgamento para os judeus incrédulos (1 Coríntios
14.22). Esse sinal era, além disso, necessário para demonstrar publicamente que desde então era
possível louvar a Deus, o Deus dos judeus, nas línguas das nações, porque agora, a salvação era
também para os pagãos. Esse sinal foi compreendido. Desde então, toda a história da igreja nos mostra
que judeus e gentios cristãos se unem para adorar o mesmo Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Por isso,
esse sinal não é mais necessário.
[74]
Falecido em 1993 em IBETO, Orvin, cantão de Berna.
[75]
Fernand Legrand, Le signe du parler en langues, Ed. de Bérée, CH 1326 Juriens, Vaud., p. 161-
162.
[76]
Veja sobre isso em: <http://www.fraternite-arbredevie.fr/pasteur-thomas-roberts-figure-du>
[77]
Ibid., p. 176-177.
[78]
Muito instrutiva a curta biografia de Thomas Roberts editada em um suplemento ao número 59 do
periódico Tychique, revista ecumênica de auxílio a grupos de oração e comunidades da renovação
carismática católica.
[79]
Em 1996, sobre a esplanada de Montbenon em Lausanne, a comunidade judaica, com a
colaboração de evangélicos milenaristas pentecostais da região festejaram os 3000 anos de Jerusalém.
Eles soltaram diversos balões portando a inscrição: Jesus (re)tornará. O retorno estando entre
parêntesis, judeus e evangélicos podiam então, cada qual, interpretá-lo da maneira mais conveniente.
[80]
Sábado e domingo, 26 e 27 de outubro de 1996, aconteceu na avenida Rumine, em Lausanne, a
abertura oficial de um centro antirreligioso para a paz no mundo, presidida pelo pastor Shafique
Keshavjee, exercendo então na Igreja Evangélica Reformada do Cantão de Vaud, a função de Mediador
entre as diferentes religiões. Foi ele quem animou o grupo COREAME que procurava promover um
acordo ecumênico entre crentes pluralistas das igrejas oficiais e os círculos evangélicos. Esse mesmo
Shafique Keshavjee, no início dos anos 1970 (isso antes de sua entrada como estudante na Faculdade
de Teologia de Lausanne), professava convicções bíblicas das mais claras e coerentes. Assim acontece
a apostasia de uns... como de outros. Atualmente, Shafique Keshavjee deixou amplamente, graças a
Deus, esses erros sincretistas.
[81]
Todos esses detalhes são autênticos, contados com fidelidade por egressos da bênção de Toronto.
[82]
La Bible Annotée, Ancien Testament, Les Prophètes, Volume I, p. 154-155.
[83]
Não é passividade, ou um abandono da razão, mas uma submissão ativa e pensada à Cristo e a sua
doutrina. Um Cristo sem doutrina não é o Cristo da Bíblia.
[84]
Ainda somos nós, a criatura não é anulada, mas conformada a Cristo.
[85]
Não se trata, é claro, do poder segundo o mundo e menos ainda de um poder segundo as ideias de
John Wimber, do movimento Vineyard e de seus discípulos.
[86]
Jessie Penn-Lewis: Le parfait développement de la vie de résurrection dans le racheté, Imprimeries
Réunies, Valence-sur-Rhône, 1951 (esgotado). Não concordamos, manifestamente, com todos os
escritos desta autora.
[87]
Estudo dado pelo Groupe de Réflexion Biblique, Vevey (Suisse), em 27 de fevereiro de 1988 e
publicado no Nº 11-12, maio-agosto de 1990 da revista Résister et Construire.
[88]
Gervais Dumeige, Textes doctrinaux du Magistère de l’Église sur la foi catholique, Imprimatur de
1969, Éditions de l’Orante, Paris, 1975.
[89]
Ibid., p. 347.
[90]
Ibid.
[91]
Ibid., p. 350.
[92]
Ibid.
[93]
Que se trata aqui do verdadeiro ensino tradicional da Igreja romana está abundantemente provado
pela leitura dos catecismos da Contra-Reforma: Catecismo do Concílio de Trento, Éditions Itinéraires,
Nº 137, setembro-outubro de 1969 e Catecismo de São Pio X, Éditions Itinéraires, Nº 116, setembro-
outubro de 1967. Esse ensino apenas retoma, em sua essência, o de Tomás de Aquino em seu Tratado
sobre a graça, Suma Teológica (1a-2ae Questões 109-114). Encontramos esse mesmo ensino nas obras
de Charles Journet, Entretiens sur la grâce, Éditions St. Augustin, Saint Maurice, 1969. Este último foi
um dos mais lúcidos e vigorosos adversários, desde o começo dos anos vinte, tanto do liberalismo
protestante como do ecumenismo nascente, que já mostrava tendências não doutrinárias e socializantes,
tão largamente propagadas neste fim do século XX em todos os círculos cristãos. Veja as obras notáveis
de Charles Journet: L’esprit du Protestantisme en Suisse, Nouvelle Librairie Nationale, Paris, 1926 e
L’Union des Églises, Bernard Grasset, Paris, 1927. Precisamente sobre a doutrina da graça, a Igreja
Católica Romana praticamente não mudou desde o Vaticano II, como testemunha uma conferência
dada em Lausanne em 26 de janeiro de 1968, pelo Cardeal Suenens.
[94]
Charles Journet, Entretiens sur la grâce, p. 93.
[95]
Ibid., p. 17 e 19.
[96]
Ibid., p. 97.
[97]
Georges Bavaud, Le réformateur Pierre Viret (1511-1571): sa théologie, Labor et Fides, Genève,
1984, p. 189. Sobre todo o debate fundamental entre os reformadores e a Igreja Católica Romana, veja
a obra definitiva de Martin Chemnitz, Examination of the Council of Trent, Concordia, Saint Louis,
1986, 4 vols. Sobre a questão da justificação somente pela fé veja o Tomo I, p. 455-552. Sobre a
doutrina da justificação, veja a obra clássica de James Buchanan, The Doctrine of Justification, Baker,
Grand Rapids, 1977. Sobre estudos mais recentes que levam em conta os debates atuais, veja: R. C.
Sproul et alli., Justification by Faith Alone, Soli Deo Gloria (P.O. Box 451, Morgan Pennsylvania
15064), 1995; Philip Eveson, The Great Exchange. Justification by Faith Alone in the Light of Recent
Thought, Day One Publications (6 Sherman Road, Bromley, Kent BR1 3JH), 1996; Kevin Reed,
Making Shipwreck of the Faith. Evangelicals and Roman Catholics Together, Protestant Heritage Press
(P.O. Box 180922, Dallas, Texas), 1995. Sobre o dogma da justificação veja, com algumas reservas:
Alister McGrath, Iustitia Dei: A History of the Christian Doctrine of Justification, 2 Vols, Cambridge
University Press, Cambridge, 1994-1995; Charles P. Carlson, Justification in Earlier Medieval
Theology, Martinus Nijhof, The Hague, 1975.
[98]
Georges Bavaud, op. cit., p. 189-190.
[99]
Ibid., p. 190.
[100]
Ibid.
[101]
Ibid.
[102]
Ibid., p. 191.
[103]
O Breve catecismo de Westminster, Questão 35, em Les Textes de Westminster, Kerygma, Aix-en-
Provence, 1988, p. 73.
[104]
Stuart Olyott, Un précis de la Foi chrétienne (texto não publicado). Sobre a doutrina bíblica da
santificação, veja: John Murray, Sanctification, Collected Writings, Banner of Truth, Edinburgh, 1977,
Vol. II, p. 275-317, assim como a tese de Mestrado de A. B. R. Clark, Romains 7.14-25 e a doutrina da
santificação, Faculdade Livre de Teologia Reformada, Aix-en-Provence, 1987, e J. C. Ryle, Holiness,
James Clarke, London, 1952.
[105]
Richard A. Muller, God, Creation and Providence in the Thought of Jacob Arminius, Baker,
Grand Rapids, 1991.
[106]
François Laplanche, Orthodoxie et prédication. L’oeuvre d’Amyraut et la querelle de la grâce
universelle, P.U.F., Paris, 1965; Pierre du Moulin, Éclaircissement des controverses saumuriennes ou
défense de la doctrine des Églises réformées, Pierre Aubert, Genève, 1649.
[107]
Veja a obra de John L. Girardeau, Calvinism and Evangelical Arminianism Compared as to
Election, Reprobation, Justification and Related Doctrines, Sprinkle, Harrisonville, 1984 (1890);
Christopher Ness, An Antidote against Arminianism, Still Waters Revival Books, Edmonton (Canada),
1988.
[108]
G. R. Cragg, The Church and the Age of Reason 1648-1789, Penguin Books, London, 1966, p.
104-105.
[109]
Op. cit., p. 106.
[110]
Donald W. Dayton, Theological Roots of Pentecostalism, Asbury Press, Grand Rapids, 1987, p.
37.
[111]
A. S. Wood, “John Wesley Theologian of the Spirit”, Theological Renewal, Nº 6, June-July 1977,
p. 26. Citado por Dayton, op. cit., p. 44. Sobre tudo o que segue, sou profundamente devedor ao livro
notável de Donald Dayton.
[112]
Dayton, op. cit., p. 50. Veja também o número especial de La Revue Réformée, Nº 146, 4, 1986,
dedicada a Whitefield e Wesley.
[113]
Texto citado por Olivier Baudraz, De la sanctification selon Watchman Nee, Dissertação de
Mestrado da Faculdade Livre de Teologia Reformada de Aix-en-Provence, 1984.
[114]
Dayton, op. cit., p. 50. Fletcher, que originalmente se chamava Fléchère, vinha da Suíça de língua
francesa. Estabeleceu-se na Inglaterra em 1750.
[115]
Sobre essas questões veja a obra insubstituível de Benjamin B. Warfield, Perfectionism,
Presbyterian and Reformed, Philadelphia, 1974, p. 70. Sobre a teologia de Charles Finney, veja o
estudo de Charles Hodge, “Finney’s Lectures on Theology”, no Essays and Reviews Selected from the
Princeton Review, Carter, New York, 1857 (Princeton Review, 1847), reproduzido na coletânea de
artigos reunidos por Marc Noll, The Princeton Theology, 1812-1921, Presbyterian and Reformed,
Philadelphia, 1983, p. 165-175. Sobre Finney, veja também: “Clive Tyler, Charles Finney and the
Disappearance of Revival”, em: The Way Ahead, Carey Publications, Sussex, 1974; Miles J. Stanford,
“Fini Finney”, em: Lettres de feu, Publications de Résister, Genève, 1973, p. 37-40; e, sobretudo, o
estudo fundamental de Keith J. Hardman, Charles Grandison Finney 1792-1875: Revivalist and
Reformer, Syracuse University Press, Syracuse, (N.Y.), 1987.
[116]
Dayton, op. cit., p. 68.
[117]
Ibid., p. 72. Não se deve confundir isso com a influência do Espírito Santo de Deus, pela qual os
pecadores são convertidos.
[118]
Ibid., p. 79.
[119]
Ibid., p. 90.
[120]
Ibid., p. 102.
[121]
Arnold Dallimore, The Life of Edward Irving: The Forerunner of the Charismatic Movement,
Banner of Truth, Edinburgh, 1983.
[122]
A.W. Tozer, Wingspread. A. B. Simpson: A Study in Spiritual Altitude, Christian Publications,
Harrisburg, 1943.
[123]
A. J. Gordon, The Twofold Life; or Christ’s Work for Us and Christ's Work in Us, Revell, 1895, p.
33 e 46.
[124]
Veja as obras já citadas de Olivier Baudraz e de Miles J. Standford.
[125]
Dayton, op. cit., p. 107-108.
[126]
Miles J. Standford, Lettres de feu, op. cit.
[127]
J. H. Merle-d’Aubigné, L’expiation de la croix, Beroud, Genève, 1867, p. 9.