Uma Refutação Bíblica Ao Dispensacionalismo A.W. Pink PDF

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Uma Refutao

Bblica ao
Dispensacionalismo

ARTHUR W. PINK

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Ao Senhor Pertence a Salvao
2

Ttulo do original ingls: A Study on Dispensationalism (1952)

Traduo: Vanderson Moura da Silva

Edio: Felipe Sabino de Arajo Neto

Salvo indicao em contrrio, os textos escritursticos empregados so sempre oriundos da


verso da Bblia de Almeida Revista e Corrigida, da Imprensa Bblica Brasileira.

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SUMRIO

PREFCIO EDIO BRASILEIRA..............................................................................................4


CAPTULO 1.......................................................................................................................................7
CAPTULO 2.....................................................................................................................................13
CAPTULO 3.....................................................................................................................................19
CAPTULO 4.....................................................................................................................................25
CAPTULO 5.....................................................................................................................................32
NOTA DE ESCLARECIMENTO .....................................................................................................39
UMA BREVE BIOGRAFIA ..............................................................................................................40

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PREFCIO EDIO BRASILEIRA


O dispensacionalismo foi um movimento que surgiu em meados do
sculo 19, na Inglaterra, como reao ao estado de frieza e liberalismo em que
se encontrava a igreja oficial. Comeou com reunies de estudo bblico em
que uma nova maneira de interpretar as Escrituras foi desenvolvida. Partindo
do texto de 2 Timteo 2.15, e entendendo em sentido literal o verbo grego
orthotomeo, ali empregado, como faz a Verso Inglesa King James, o movimento
julgou encontrar neste texto a chave para a correta interpretao da Bblia,
ao traduzir aquele verbo como dividir corretamente e no manejar
corretamente a palavra da verdade (com o sentido figurado de ensinar, expor
ou interpretar corretamente), como temos em nossas verses em portugus.

Foi assim que esse movimento passou a dividir em dispensaes o


modo como Deus tem administrado o seu plano para a salvao do homem
ao longo da histria, dispensaes estas no s diferentes mas at mesmo
separadas entre si, como se fossem compartimentos estanques. Entendeu-se
que, em cada uma, Deus tratou ou trata os homens de um modo
peculiarmente diferente, inclusive no que diz respeito salvao. Foram
nomeadas sete dessas dispensaes, sendo as mais importantes a da Lei, que
vai do Sinai (quando a lei foi dada atravs de Moiss) at a rejeio de Cristo
pelos judeus, e a da Graa, que compreende o perodo subseqente e atual,
que vai da oferta do evangelho aos gentios (estabelecimento da Igreja) at a
dispensao do reino (milnio), que ser a ltima, segundo esse modo de
entender a Bblia.

Esse movimento teve grande divulgao na Amrica do Norte por


meio das conferncias de John N. Darby, um dos seus fundadores e principais
expoentes. Tambm se tornou popular com a criao de institutos bblicos e
alguns seminrios, principalmente os que no tinham filiao denominacional,
grandemente influenciados com esse novo modo de interpretar as Escrituras.
Mas foi especialmente com a publicao da Bblia de Referncia de Scofield, em
1909, com suas notas explicativas de rodap, que ele se tornou conhecido em
quase todo o mundo. Praticamente todas as denominaes foram
influenciadas por esse novo modo de interpretar, inclusive as de tradio
reformada.

O mesmo fato aconteceu no Brasil, tambm impulsionado pela criao


de institutos bblicos interdenominacionais, pela publicao de livros de
orientao dispensacionalista, pelas conferncias profticas e escatolgicas que
se tornaram populares, especialmente nas ltimas dcadas, e tambm pela
publicao da Bblia de Referncias de Scofield, em portugus.

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Alem de dividir a histria do trato de Deus com a humanidade em sete


dispensaes, a hermenutica dispensacionalista se caracteriza tambm, dentre
outros, pelos seguintes pontos: 1) uma dicotomia rgida entre Israel e a Igreja;
2) uma interpretao literalista das Escrituras, especialmente com respeito a
profecias; 3) uma distino contrastante entre lei e graa. e 4) uma distino
contrastante entre reino terreno e reino espiritual. As implicaes mais graves
desse modo de interpretao esto nas reas da eclesiologia e da soteriologia,
embora, de um modo geral, apenas as implicaes escatolgicas sejam as mais
conhecidas e enfatizadas no Brasil.

Nas duas ltimas dcadas essa posio tradicional do


dispensacionalismo vem sofrendo mudanas por parte de alguns
dispensacionalistas, particularmente nos Estados Unidos da Amrica, os quais,
em dilogo com reformados, tm se aproximado bastante da posio aliancista
(ou pactual) esposada em nossas confisses. Essas mudanas dizem respeito
principalmente s questes relacionadas com os conceitos de lei, graa e reino.
Novos rtulos para representar essa tendncia foram cunhados, como, por
exemplo, dispensacionalismo progressivo e neodispensacionalismo. Mas
essas mudanas, embora significativas e salutares, ainda so tmidas e no
contam com o apoio macio da maioria dos dispensacionalistas.

Estas consideraes so feitas neste prefcio para situar o leitor no


contexto em que Arthur W. Pink escreveu este livro. Sua preocupao com
as Escrituras e o seu correto entendimento. Tendo vivido entre 1886 a 1952,
seu quadro de referncia nesta obra o do dispensacionalismo clssico, ou
tradicional. Pink foi pastor, telogo e expositor das Escrituras. Como tal,
queria que elas fossem corretamente entendidas e aplicadas. Escreveu este
livro para combater o dispensacionalismo dos seus dias e para mostrar que h
unidade e coerncia nas Escrituras. A obra continua atual e relevante, pois o
dispensacionalismo clssico ainda aquele que predomina na maioria dos
crculos evanglicos de nossos dias.

Para Pink, a Bblia ensina que Deus tem apenas um povo a que chama
de seu, apenas um modo de salv-lo, apenas um propsito final para ele, sem
distino de etnias, classes ou pocas. E toda a Bblia (Antigo e Novo
Testamento) se aplica a esse nico povo e a todo ele, em todos os tempos e
lugares. Com uma exegese cuidadosa e coerente ele expe as diferentes
passagens das Escrituras que mostram isso. Ao mesmo tempo em que expe
as falcias da hermenutica dispensacionalista, apresenta a harmonia e a
coerncia que h entre as passagens do Antigo e do Novo Testamento,
especialmente aquelas que apresentam profecias no Antigo e seu
cumprimento no Novo. Seu propsito mostrar a unidade de toda a
revelao divina e o aspecto progressivo que nela se encontra.

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A preocupao do autor no apenas apologtica, mas tambm


pastoral. Nesta obra no h apenas argumentao teolgico-exegtica
convincente, mas ensinos homilticos de um pastor que ama a Deus e o povo
que esse Deus escolheu. uma leitura agradvel, instrutiva e confortadora. O
leitor se beneficiar com o tempo gasto nestas pginas.

Rev. Joo Alves dos Santos

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CAPTULO 1
Havendo escrito tanto sobre a inspirao quanto a interpretao da
Sagrada Escritura1, necessrio, a fim de dar completude ao mesmo, prover
um ou dois artigos sobre a aplicao dela. Primeiro, porque isso est
estreitamente relacionado prpria exegese: se uma aplicao ou um emprego
errneos de um versculo forem feitos, ento, nossa explicao dele, com
certeza, est errada. Por exemplo, o papismo insiste em que apascenta as
minhas ovelhas (Joo 21.15-17) foi a concesso de Cristo a Pedro de um
privilgio especial e de uma honra peculiar, sendo uma das passagens a qual
aquele sistema maligno apela em apoio de sua disputa pela primazia daquele
Apstolo. Todavia, nada h em qualquer um dos prprios escritos de Pedro
que indique que ele considerasse aquelas injunes de seu Mestre como
constituindo a ele Bispo Universal. Ao invs disso, em sua primeira
Epstola, h claramente o contrrio, pois o encontramos ali exortando os
ancies ou bispos: Apascentai o rebanho de Deus, que est entre vs, tendo
cuidado dele, no por fora, mas voluntariamente; nem por torpe ganncia,
mas de nimo pronto; nem como tendo domnio sobre a herana de Deus,
mas servindo de exemplo ao rebanho (5.2,3).

Desse modo, fica bem claro pela passagem acima que os preceitos de
Cristo em Joo 21.15-17 se aplicam ou so pertinentes a todos os pastores. Por
outro lado, as palavras de nosso Senhor para Pedro e Andr: Vinde aps
mim, e eu vos farei pescadores de homens (Mt 4.19) no se aplicam gama e
lista de Seus discpulos, mas s queles a quem ele chama e qualifica para o
ministrio. Isso evidente pelo fato de que em nenhuma das Epstolas, onde
tanto os privilgios como as obrigaes dos santos so especificamente
definidos, h qualquer preceito ou promessa tal. Assim, por outro lado,
devemos sempre tomar cuidado ao, sem justificao, restringir o escopo de
um versculo; e por outro lado, estar constantemente prevenidos contra fazer
do que geral aquilo que manifestamente particular. somente ao atentar
cuidadosamente para a Analogia da F geral que seremos preservados de um e
de outro equvoco. A Escritura sempre interpreta a Escritura, mas muita
familiaridade com o seu contedo e uma comparao diligente e em orao de
uma parte com a outra se fazem necessrias antes que qualquer um seja
justificado ao dogmaticamente decidir o sentido ou a aplicao precisos de
qualquer passagem.

1
Visto que os artigos que compem o presente livro foram escritos em 1952, provavelmente o autor
estava se referindo aos livros The Divine Inspiration of the Bible (1914?), Profiting from the Word of God
(1930-2) e The Interpretation of the Scriptures (1950-2), disponveis para acesso e download gratuitos na
Internet. O segundo j ganhou verso em nosso idioma: Enriquecendo-se com a Bblia, da Editora Fiel
(N. do T.)

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Mas h uma razo adicional, e que imperiosa hoje, pela qual devemos
escrever sobre nosso presente tpico, e essa a de expor o erro moderno e
pernicioso do dispensacionalismo. Essa uma artimanha do Inimigo, com o
propsito de tomar dos filhos no pequena poro daquele po2 que seu Pai
celestial proveu para suas almas; uma artimanha em que a ardilosa serpente
aparece como um anjo de luz, fingindo fazer da Bblia um novo livro ao
simplificar muita coisa nela que deixa o iletrado espiritual perplexo. triste
ver quo completamente bem sucedido tem sido o diabo por meio dessa
inovao sutil. provvel que alguns de nossos prprios leitores, ao
perscrutarem os artigos sobre a interpretao das Escrituras, sintam mais de
uma vez que estamos tomando uma liberdade indevida para com a Sagrada
Escritura, que fazemos uso de certas passagens de uma maneira de todo
injustificvel, que apropriamos dos santos desta era crist o que no lhes
pertence, mas antes dirigido queles que viveram em uma dispensao
inteiramente diferente do passado, ou a algum que ainda do futuro.

Esse moderno mtodo de maltratar as Escrituras pois moderno ele


certamente , sendo bem desconhecido da Cristandade at pouco mais de um
sculo atrs, e somente em anos recentes sendo adotado por aqueles que esto
de fora do crculo estreito onde ele se originou baseado em 2 Timteo
2.153: Estuda para mostrar a ti mesmo aprovado a Deus, um obreiro que no
precisa ficar envergonhado, dividindo corretamente a palavra da verdade.
Muito pouco ou nada em absoluto dito sobre as duas primeiras oraes
daquele verso, mas muito sobre a terceira, que explicada como
corretamente seccionando as Escrituras para os dois povos diferentes aos
quais elas pertenam. Esses mutiladores da Palavra nos dizem que tudo do
Antigo Testamento, de Gnesis 12 em diante, pertence inteiramente a Israel
segundo a carne, e que nenhum de seus preceitos (como tais) so obrigatrios
queles que so membros da Igreja, a qual o Corpo de Cristo, nem quaisquer
das promessas encontradas nele podem ser por eles legitimamente
apropriadas. E isso, seja devidamente notado, sem uma nica palavra nesse
sentido, seja por parte do Senhor ou de qualquer um de Seus Apstolos, e a
despeito do uso que o Esprito Santo faz das Escrituras mais antigas em toda
parte no Novo Testamento. Longe de o Esprito Santo ensinar que os cristos
praticamente considerem o Antigo Testamento tanto como o fariam a um
almanaque obsoleto, Ele declara: Porque tudo que dantes foi escrito, para

2
Mateus 15.26 (N. do T.)
3
Na traduo direta da verso inglesa King James original do autor, que opta por ser mais literal ao texto
grego. A propsito, Rightly Dividing the Word of Truth o ttulo de um popular opsculo de C. I.
Scofield que, junto com a sua Bblia anotada, contribuiu enormemente para a difuso do
dispensacionalismo, j que faz uma exposio simples e esquemtica daquela doutrina; hoje, pode ser
livremente acessado e descarregado da Internet. Em portugus, esse livrete foi publicado pela Imprensa
Batista Regular e pelo Depsito de Literatura Crist, com o ttulo Manejando Bem a Palavra da
Verdade (N. do T.)

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nosso ensino foi escrito, para que pela pacincia e consolao das Escrituras
(Antigo Testamento) tenhamos esperana (Rm 15.4).

No satisfeito com seus esforos determinados para nos privar do


Antigo Testamento, esses pretensos super-expositores dogmaticamente
asseveram que os quatro Evangelhos so judaicos, e que as Epstolas de Tiago
e Pedro, Joo e Judas so designadas para um piedoso remanescente judaico
num futuro perodo de tribulao, que nada seno as Epstolas Paulinas
contm a verdade da Igreja, e milhares de almas crdulas aceitam-nas ipse
digit aqueles que se negam a assim agir so considerados como ignorantes e
superficiais. Todavia, Deus Mesmo no proferiu uma simples palavra nesse
sentido. Certamente, no h nada em absoluto em 2 Timteo 2.15 para
justificar tal mtodo revolucionrio de interpretar a Palavra: aquele versculo
tem tanto a ver com o seccionar da Escritura entre diferentes dispensaes
quanto com o distinguir entre estrelas de grandezas variadas. Se aquele
versculo for cuidadosamente comparado com Mateus 7.6, Joo 16.12 e 1 aos
Corntios 3.2, seu sentido fica claro. O ocupante do plpito tem de ser
diligente em se equipar para dar s diferentes classes de ouvintes seus o
sustento a seu tempo (Lucas 12.42, ARA). Dividir corretamente a Palavra da
Verdade , para ele, ministr-la adequadamente aos vrios casos e
circunstncias de sua congregao: aos pecadores e santos, aos indiferentes e
inquiridores, aos bebs e pais, ao tentado e aflito, ao apstata e cado4.

Embora haja grande variedade no ensinamento da Palavra, h uma


inequvoca unidade subjacente ao todo. Ainda que Ele empregasse muitos
porta-vozes, as Sagradas Escrituras tm seno um Autor; e, embora Ele
antigamente tenha falado muitas vezes, e de muitas maneiras aos pais, pelos
profetas e nestes ltimos dias pelo Filho (Hb 1.1,2), todavia, Quem falou
por eles era e Aquele em quem no h mudana nem sombra de variao
(Tg 1.17), que, por todas as eras, declara: Eu, o Senhor, no mudo (Ml 3.6).
Do comeo ao fim, h perfeita concordncia entre todas as partes da Palavra:
ela apresenta um sistema de doutrina (nunca lemos as doutrinas de Deus, mas
sempre a doutrina: vide Dt 32.2; Pv 4.2; Mt 7.28; Jo 7.17; Rm 16.17, e
contraste com Mc 7.7; Cl 2.22; 1 Tm 4.1; Hb 13.9), pois que um todo nico
e orgnico. Tal Palavra nos apresenta uniformemente um s caminho de
salvao, uma s regra de f. De Gnesis a Apocalipse h uma Lei Moral
imutvel, um Evangelho glorioso para os pecadores que perecem. Os crentes
do Antigo Testamento eram salvos com a mesma salvao, eram devedores ao
mesmo Redentor, eram regenerados pelo mesmo Esprito, e eram
participantes da mesma herana celestial, como o so os crentes do Novo
Testamento.

4
Pode ser tambm que dividir corretamente a Palavra da Verdade esteja se referindo necessidade de
se cotejar os textos escritursticos com os seus respectivos contextos, como a exegese sadia o requer (N.
do T.)

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bem verdade que a Epstola aos Hebreus faz meno de uma


esperana melhor (7.19), um melhor testamento ou concerto (7.22), melhores
promessas (8.6), melhores sacrifcios (9.23), alguma coisa melhor para ns
(11.40) e, todavia, importante reconhecer que o contraste entre as sombras e
a substncia. Romanos 12.65 fala da proporo [ou analogia] da f. H uma
devida proporo, um perfeito balanceamento, entre as diferentes partes da
Verdade revelada de Deus, a qual se faz necessrio ser conhecida e observada
por todos que pregarem e escreverem em conformidade com a mente do
Esprito6. Ao advogar essa analogia, essencial reconhecer que o que feito
conhecido no Antigo Testamento era tpico do que exposto no Novo e,
portanto, os termos usados no anterior so estritamente aplicados no ltimo.
Muita discusso desnecessria ocorre sobre se a nao de Israel era ou no um
povo regenerado. Isso muito irrelevante: externamente, era considerada
como povo de Deus e correspondia a ele e, como o Esprito afirmou
mediante Paulo: so israelitas, dos quais a adoo de filhos, e a glria, e os
concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais so os pais, e dos quais
Cristo segundo a carne (Rm 9.4,5).

A regenerao ou no-regenerao afetava a salvao de indivduos entre


eles, contudo, no afetava a relao de aliana do povo como um todo.
Repetidamente Deus se dirigia a Israel como apstata, porm, nem uma vez
sequer Ele assim designou qualquer nao pag. No foi aos egpcios nem aos
cananeus que Jeov disse: Voltai, filhos rebeldes, e eu curarei as vossas
rebelies, ou, Convertei-vos, filhos rebeldes... porque eu vos desposarei (Jr
3.22, 14). Ora, essa analogia ou similaridade entre as duas alianas e os
povos debaixo delas que a base para a transferncia das estipulaes do
Antigo Testamento para o Novo. Desse modo, a palavra circunciso
usada no ltimo, no com identidade de sentido, mas segundo a analogia, pois
agora a circunciso a do corao, no esprito (Rm 2.29), e no a da carne.
De maneira semelhante, quando Joo encerra sua primeira Epstola com
filhinhos, guardai-vos dos dolos, ele toma emprestado um termo do Antigo
Testamento e o utiliza num sentido neotestamentrio, pois, por dolos ele
no se refere a esttuas materiais feitas de pedra e madeira (como se referiam
os profetas quando empregavam a mesma palavra), mas a objetos interiores de
culto carnal e sensual. Assim tambm temos que ver o Israel antitpico e
espiritual em Glatas 6.16, e ao Monte Sio celestial e eterno em Hebreus
12.22.

A Bblia consiste de muitas partes, primorosamente correlacionadas e


vitalmente interdependente umas das outras. Deus controlou tanto todos os
agentes que Ele empregou em sua escrita, e coordenou tanto seus esforos, a
que eles produziram um s Livro vivo. Dentro daquela unidade orgnica h,
5
Na traduo direta da King James Version (N. do T.)
6
Romanos 8.27, KJV (N. do T.)

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de fato, muita variedade, mas nenhuma contradio. O corpo do homem


um apenas, ainda que seja composto de muitos membros, diversos em
tamanho, caracterstica e operao. O arco-ris somente um, entretanto,
reflete de forma distinta os sete raios prismticos, e esto harmoniosamente
misturados. Assim se d com a Bblia: sua unidade aparece na perfeita
consistncia de seus ensinamentos, de uma ponta a outra. A unicidade e tri-
unidade de Deus, a deidade e a humanidade de Cristo unidas em uma Pessoa,
o concerto eterno que assegura a salvao de todos os eleitos pela graa, o
caminho de santidade e a nica senda que conduz ao cu, so claramente
revelados no Antigo e no Novo Testamento de maneira semelhante. O ensino
dos profetas a respeito do carter glorioso de Deus, as inalteradas exigncias
de Sua justia, a total depravao da natureza humana, e o caminho apontado
para a restaurao disso, so idnticos ao do ensinamento dos Apstolos.

Se for levantada a questo, visto que as Escrituras Sagradas so uma


estreita unidade, ento por que Deus Mesmo as dividiu em dois Testamentos?
Talvez simplificar a matria se perguntarmos por que Deus designou dois
corpos principais para iluminar a terra o sol e a lua. Porque, tambm, o
esqueleto humano duplo, possuindo duas pernas e dois braos, dois
pulmes e dois rins etc.? No a resposta a mesma em cada caso: para
incrementar e suplementar um ao outro? Porm, mais diretamente, pelo
menos quatro razes podem ser sugeridas. Primeiramente, para expor mais
distintamente os dois pactos que so a base dos lidares de Deus com toda a
humanidade: o concerto das obras e o da graa simbolizado pelo velho
do Sinai e o novo ou cristo. Segundo, para mostrar mais claramente os
dois grupos separados que so unidos naquele Corpo nico que constitui a
Igreja da qual Cristo a Cabea, a saber, os judeus e os gentios redimidos.
Terceiro, para demonstrar mais claramente a maravilhosa providncia de
Deus: usando os judeus por tantos sculos para serem os ecnomos do
Antigo Testamento, o que os condena por sua rejeio a Cristo; e em
empregar os papistas por toda a idade das trevas para preservar o Novo
Testamento, o qual denuncia suas prticas idoltricas. Quarto, para que um
pudesse confirmar o outro: tipo por anttipo, profecia por cumprimento.

As relaes mtuas dos dois Testamentos. Essas duas divises


principais parecem-se com a estrutura dual do corpo humano, onde os dois
olhos e ouvidos, mos e ps, correspondem-se e complementam um ao outro.
No h apenas uma adequao geral, mas especial e mtua. Logo, elas
precisam ser estudadas juntamente, lado a lado, para serem comparadas at
nos menores detalhes, pois em nada so independentes umas das outras, e
quanto mais precisa a inspeo, mais minuciosa parece a acomodao, e mais
intrnseca a associao. ...Os dois Testamentos so como os dois querubins do
propiciatrio, voltados para direes opostas, todavia, encarando-se um ao

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outro e eclipsando com glria um lugar de misericrdia7; ou, outra vez, eles
so como o corpo humano ligado juntamente por juntas e tendes e
ligamentos, com um crebro e um corao, um par de rins, um sistema de
respirao, circulao, digesto, nervos sensores e motores, onde a diviso
destruio (A. T. Pierson, de Knowing the Scriptures).

7
Em ingls, propiciatrio mercy seat (literalmente, assento de misericrdia). Pierson faz trocadilho,
impossvel de ser reproduzido em portugus (N. do T.)

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CAPTULO 2
Alguns dispensacionalistas no vo to longe quanto outros a ponto de
arbitrariamente erigirem quadros de avisos sobre vastas sees da Escritura,
advertindo os cristos para que no pisem em cho que pertence a outros;
todavia, h uma concordncia geral entre eles em que o Evangelho de Mateus
embora se ache no princpio do Novo Testamento e no no fim do
Antigo! no pertinente queles que so membros do corpo mstico de
Cristo, mas inteiramente judaico, que o sermo do monte legalstico e
no evangelstico, e que seus preceitos severos e debilitadores da carne no
so obrigatrios aos cristos. Alguns vo to longe que insistem em que a
grande comisso com a qual ele termina no designada para ns hoje, mas
tem em vista um piedoso remanescente judaico depois que a era presente
estiver findada. Em apoio a essa selvagem e perversa teoria, apela-se a e pe-
se grande nfase sobre o fato de que Cristo representado, mais
proeminentemente, como o filho de Davi ou Rei dos Judeus; mas eles
ignoram um outro fato conspcuo, a saber, que em seu verso de abertura o
Senhor Jesus apresentado como o filho de Abrao, e ele era um gentio! O
que contraria ainda mais essa hiptese insustentvel como se o Esprito
Santo intencionalmente a antecipasse e refutasse o fato de que Mateus
o nico dos quatro Evangelhos onde a Igreja mencionada, isso por duas
vezes (16.18; 18.17)! conquanto no Evangelho de Joo seus membros
sejam retratados como ramos da Videira, membros do rebanho de Cristo, que
so designaes dos santos que no tem quaisquer limitaes dispensacionais.

Igualmente notvel o fato de que a mesmssima Epstola que contm


o versculo (2 Tm 2.15) sobre o qual esse moderno sistema est baseado
declara enfaticamente: Toda Escritura inspirada por Deus e til para o
ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra (3.16,17, ARA). Muito longe de amplas sees suas serem concebidas
para outros grupos de pessoas, e excludas de nosso uso imediato, TODA
Escritura tem em vista e necessria a ns. Primeiro, ela toda til para o
ensino, o que no seria o caso se fosse verdade (como os dispensacionalistas
insistem dogmaticamente) que Deus possui mtodos inteiramente diferentes
dos da era presente para tratar com os homens do passado e do futuro. Em
segundo lugar, toda Escritura nos dada para a educao na justia ou para
o agir direito, mas ficamos completamente perdidos em saber como regular
nossa conduta se os preceitos em uma parte da Bblia esto agora
ultrapassados (como os professores do erro asseveram) e injunes de carter
contrrio tomaram seu lugar; e se certos estatutos tm sentido para outros que
ocuparo este cenrio aps a Igreja haver sido removida dela. Em terceiro
lugar, toda Escritura dada para que um homem de Deus possa ser perfeito

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e perfeitamente habilitado para toda boa obra precisa ele de cada parte da
Palavra para lhe fornecer todas as instrues necessrias e produzir uma vida
de santidade completa.

Quando o dispensacionalista fortemente pressionado com essas


objees, ele tenta se desenroscar de seu dilema declarando que, ainda que
toda Escritura seja para ns, muita coisa dela no dirigida a ns. Mas,
realmente, tal distino sem importncia. Em sua exposio de Hebreus 3.7-
11, Owen corretamente salientou que, ao fazer citao do Antigo Testamento,
o Apstolo a introduzia com o Esprito Santo diz (no disse), e observou:
Tudo o que foi dado por inspirao do Esprito Santo e est registrado nas
Escrituras para o uso da Igreja, Ele o planejou para falar a ns at hoje. Assim
como Ele vive para sempre, tambm Ele continua a falar para sempre; ou seja,
enquanto Sua voz ou palavra for til para a Igreja Ele nos fala agora.
Muitos homens inventaram vrios jeitos de diminuir a autoridade das
Escrituras, e poucos esto dispostos a reconhecer uma fala imediata de Deus
para si nelas. No mesmo sentido escreveu aquele competente comentarista,
Thomas Scott: Devido s imensas vantagens da perseverana, e s tremendas
conseqncias da apostasia, devemos considerar as palavras do Esprito Santo
como dirigidas a ns.

No somente a assero de que, embora toda Escritura seja para ns


todos, ela no a ns, sem sentido, como tambm impertinente e impudente,
pois nada h em absoluto na Palavra da Verdade para apoi-la e evidenci-la.
Em lugar nenhum o Esprito deu o mais ligeiro aviso de que uma passagem tal
no para o cristo, e menos ainda que livros inteiros pertenam a algum
outro. Alm disso, um tal princpio manifestamente desonesto. Que direito
tenho eu de fazer qualquer uso daquilo que propriedade de outro? O que meu
vizinho pensaria caso eu pegasse cartas que foram endereadas a ele e alegasse
que elas foram pensadas para mim? Alm do mais, descobre-se que uma tal
teoria, quando posta em teste, intrabalhvel. No que diz respeito a essa, por
exemplo, para quem dirigido o livro de Provrbios ou, ainda, a primeira
Epstola de Joo? Pessoalmente, este escritor, aps haver perdido muito
tempo em esquadrinhar vintenas de livros que pretendiam dividir
corretamente a Palavra, ainda considera o todo da Escritura como graciosa
revelao a si e para si, como se no houvesse uma outra pessoa na terra,
cnscio de que no pode se dar ao luxo de dispensar qualquer poro dela; e
fica triste de corao por aqueles a quem falta uma tal f. Referente a isso
conecta-se aquele alerta: Mas receio que, assim como a serpente enganou a
Eva com a sua astcia, assim tambm sejam corrompidas as vossas mentes, e
se apartem da simplicidade... [que h em] Cristo (2 Co 11.3, ARA).

Mas no h muitas passagens no Velho Testamento que no tm


relao direta com a Igreja hoje? Certamente que no. Tendo em vista 1 aos

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Corntios 10.11 Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras [=tipos], e
esto escritas para aviso nosso Owen observou de modo sentencioso:
exemplos do Antigo Testamento so instrues do Novo Testamento. Por
suas histrias somos instrudos sobre o que evitar e o que imitar. Essa a
principal razo pela qual elas esto registradas: para que aquilo que estorvava ou
encorajava os santos do Antigo Testamento fosse posto em crnicas para o
nosso proveito. Mas, mais especificamente, no esto os cristos
desautorizados para aplicar a si prprios muitas promessas dadas a Israel
segundo a carne durante a economia mosaica, e esperar um cumprimento da
mesma para si prprios? No absolutamente, pois se esse fosse o caso, ento
no seria verdade que tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi
escrito, para que pela pacincia e consolao das Escrituras tenhamos
esperana (Rm 15.4). Que conforto eu posso extrair daquelas sees da
Palavra de Deus que esse povo diz que no dizem respeito a mim? Qual
esperana (i.e. uma bem fundada segurana de algum futuro bom) possvel
poderia ser inspirada hoje nos cristos pelo que pertence a ningum seno aos
judeus? Cristo veio aqui, meu leitor, no para cancelar, mas para que
confirmasse as promessas feitas aos pais: e para que os gentios glorifiquem a Deus
pela sua misericrdia (Rm 15.8,9)!

Deve-se tambm ter em mente que, ficando com o carter do concerto


debaixo do qual foram feitos, muitos dos preceitos e das promessas dadas aos
patriarcas e seus descendentes possuam uma importncia e um valor espirituais
e tpicos, tanto quanto carnais e literais. Como exemplo do primeiro, pegue
Deuteronmio 25.4: No atars a boca ao boi, quando trilhar, e a seguir
observe a aplicao dessas palavras feita em 1 aos Corntios 9.9,10:
Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou no o diz certamente por ns?
Certamente que por ns est escrito; por que o que lavra deve lavrar com
esperana.8 Deuteronmio 25.4 intentava reforar o princpio de que o labor
deveria ter seu galardo, de modo que os homens pudessem trabalhar
animadamente. O preceito determinava igualdade e semelhana: se assim
com as bestas, muito mais quanto aos homens, e em especial os ministros do
Evangelho. uma ilustrao contundente da liberdade com a qual o Esprito
de graa aplica as Escrituras do Antigo Testamento, como parte constituinte
da Palavra de Cristo, aos cristos e s suas preocupaes.

O que verdade sobre os preceitos do Antigo Testamento (falando de


modo geral, pois h, naturalmente, excees a toda regra) vale igualmente s
promessas do Antigo Testamento os crentes de hoje possuem plena

8
Omitimos um trecho em que o autor esclarece um problema da traduo desses versculos pela King
James Version. A tradicional Bblia inglesa, em vez de certamente, traz juntamente [altogether]. A
passagem suprimida : A palavra juntamente provavelmente um pouco forte demais aqui, pois pantos
vertida certamente em Atos 28.4, e sem dvida em Lucas 4.23, e no texto significa
asseguradamente (Revised Version americana) ou principalmente por ns (N. do T.)

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16

garantia em misturar com elas a f9 e esperar receber a substncia10 delas.


Primeiro, porque aquelas promessas foram feitas aos santos como tais, e o que
Deus d a algum Ele d a todos (2 Pd 1.4) Cristo adquiriu as mesmssimas
bnos para cada um de Seus remidos. Em segundo lugar, porque a maioria
das promessas do Antigo Testamento era tpica em sua natureza: as bnos
terrenas prefiguravam as celestiais. Isso no nenhuma assero arbitrria de
nossa parte, pois qualquer um que foi ensinado de Deus sabe que quase todas
as coisas durante as antigas economias possuam um sentido figurado,
representando profeticamente as melhores coisas que estavam por vir. Muitas
provas disso sero por ns dadas daqui a pouco. Em terceiro lugar, no se
deve excluir um cumprimento literal para ns daquelas promessas, pois, visto
como ainda estamos na terra e no corpo, nossas necessidades temporais so as
mesmas deles, e caso nos encontremos nas condies vinculadas quelas
promessas (seja expressas ou implcitas), ento podemos contar com a
realizao delas: de conformidade com a nossa f e obedincia, assim ser
conosco.

Mas, seguramente, devemos passar um trao definido e largo entre a


Lei e o Evangelho. nesse ponto que o dispensacionalista considera sua
posio ser a mais forte e inexpugnvel; todavia, em nenhum outro lugar ele
exibe mais sua ignorncia, pois no reconhece a graa de Deus abundando
durante a era mosaica, nem consegue perceber que a Lei tenha qualquer lugar
legtimo nesta era crist. Lei e graa so para ele elementos antagnicos, e
(para citar uma de suas divisas favoritas) no se misturaro mais do que leo
e gua. No poucos daqueles que ora so estimados como os campees da
ortodoxia contam a seus ouvintes que os princpios de lei e graas so
elementos to contrrios que onde um est em exerccio, o outro deve ser
necessariamente excludo. Porm, isso um erro muito srio. Como pode a
Lei de Deus e o Evangelho da graa de Deus serem antagnicos? Um O exibe
como luz, o outro O manifesta como amor (1 Joo 1.5; 4.8), e ambos so
necessrios a fim de revelar plenamente Suas perfeies: se um deles que seja
for omitido, apenas um conceito parcial de Seu carter ser formado. Um
torna conhecida Sua justia, o outro mostra Sua misericrdia, e Sua sabedoria
demonstra a perfeita coerncia que h entre eles.

Ao invs de lei e graa serem contraditrias, elas so complementares.


Ambas apareceram no den antes da Queda. O que foi seno a graa que fez
uma concesso aos nossos primeiros pais: De toda a rvore do jardim
comers livremente? E foi lei o que disse: Mas da rvore da cincia do bem
e do mal, dela no comers. Ambas so vistas na poca do grande dilvio,
pois se nos diz que No porm achou graa aos olhos do Senhor (Gn 6.8),

9
Hebreus 4.2 (N. do T.)
10
Na KJV, Hebreus 11.1 traz substncia [substance] em vez de fundamento, como na Edio Revista
e Corrigida de Almeida (N. do T.)

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conforme os Seus procedimentos subseqentes para com ele demonstraram


claramente; ao passo que Sua justia produziu um dilvio sobre o mundo dos
mpios. Ambas operaram lado a lado no Sinai, pois enquanto a majestade e a
justia de Jeov eram expressas no Declogo, Sua misericrdia e graa eram
claramente evidenciadas nas provises que Ele fez em todo sistema levtico
(com seu sacerdcio e sacrifcios) para expiao dos pecados deles. Ambas
brilharam em sua meridiana glria no Calvrio, pois, ao passo que, por um
lado, a abundante graa de Deus aparecia ao dar Seu prprio Filho amado
para ser o Salvador dos pecadores, Sua justia exigia que a maldio da Lei
fosse infligida sobre Ele enquanto levasse a sua culpa.

Em tudo das obras e dos caminhos de Deus ns podemos discernir um


encontro conjunto de elementos aparentemente conflitantes as foras
centrfugas e centrpetas, as quais esto sempre em ao no domnio material,
ilustram esse princpio. Assim o em conexo com as operaes da divina
providncia: h uma constante interpenetrao do natural e do sobrenatural.
Tambm assim se d nas Escrituras Sagradas: elas so o produto tanto da
agncia de Deus quanto da do homem: so uma revelao divina, todavia,
postas em linguagem humana, e comunicadas atravs de meios humanos; elas
so inerrantemente verdadeiras, mesmo escritas por homens falveis. Elas so
divinamente inspiradas em todo jota ou til, todavia, o controle da superviso
do Esprito sobre os amanuenses no exclua nem interferia no exerccio
natural de suas faculdades. Dessa maneira tambm em todos os tratos de
Deus com a humanidade: embora exera Sua alta soberania, no obstante, Ele
lida com ela como criaturas responsveis, expondo Seu invencvel poder sobre
elas e dentro delas, mas de modo algum destruindo sua agncia moral. Os tais
podem apresentar profundos e insolveis mistrios mente finita, todavia, so
fatos reais.

Sobre o que acaba de ser salientado ao qual outros exemplos


poderiam ser acrescidos (a pessoa de Cristo, por exemplo, com Suas duas
distintas porm unidas naturezas, de modo que, embora Ele fosse onisciente,
todavia, crescia em sabedoria; era onipotente, no obstante, cansou-se e
adormeceu; era eterno, contudo, morreu) porque tantos tropeam no
fenmeno da lei e da graa divinas em exerccio lado a lado, operando ao
mesmo tempo? Lei e graa apresentam algum contraste maior do que o
profundo amor de Deus para com Seus filhos, e Sua eterna ira sobre Seus
inimigos? No, absolutamente, nada maior. A graa no deve ser considerada
como um atributo de Deus que eclipsa todas as Suas outras perfeies. Como
Romanos 5.21 to claramente nos diz, Para que, assim como o pecado reinou
na morte, tambm a graa reinasse pela justia, e no s custas de ou para a
excluso dela. Divina graa e divina justia, divino amor e divina santidade so
to inseparveis quanto a luz e o calor o so do sol. Ao conceder graa, Deus
nunca anula Suas reivindicaes sobre ns, antes nos capacita a satisfaz-las.

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Ficou o filho prdigo, depois do seu retorno penitente e de ser perdoado,


menos obrigado a se conformar s leis da casa de seu Pai do que antes de
deix-la? No, mas, de fato, mais ainda.

Que no h conflito algum entre a Lei e o Evangelho da graa de Deus


est claro o bastante em Romanos 3.31: Anulamos, pois, a lei pela f? De
maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei. Aqui, o Apstolo antecipa uma
objeo que provavelmente seria trazida contra o que ele disse nos versculos
26-30. O ensinamento de que a justificao inteiramente pela graa,
mediante a f, no demonstra que Deus afrouxou Suas reivindicaes, mudou
o padro de Suas exigncias, e ps de lado as demandas de Seu governo? Mui
longe disso. O plano divino de redeno no , de forma nenhuma, uma
anulao da Lei, mas a sua glria e o seu cumprimento. Nenhum respeito
maior podia ter sido exibido Lei do que no fato de Deus determinar salvar
Seu povo do trmite dela ao enviar Seu Filho co-igual para cumprir todas as
suas exigncias e suportar em Si Mesmo a penalidade daquela. , maravilha
das maravilhas; o grande Legislador humilhou-Se inteira obedincia dos
preceitos do Declogo. O Prprio que deu a Lei encarnou-se, sangrou e
morreu, debaixo da sua sentena condenatria, em vez contrari-la em um
nico til. Desse modo, a Lei foi de fato exaltada, e para sempre feita digna de
honra.

O mtodo divino de salvao pela graa foi estabelecer a lei de uma


forma trplice. Primeiramente, por Cristo, o Fiador do eleito de Deus, tendo
nascido sob a lei (Gl 4:4), cumprindo seus preceitos (Mt 5.17), sofrendo sua
pena no lugar de Seu povo, e desse modo Ele trouxe a justia eterna (Dn
9.24). Segundo, pelo Esprito Santo, pois na regenerao Ele escreve a Lei
sobre seus coraes (Hb 8.10), atraindo as afeies deles para si, de forma que
segundo o homem interior, deleitem-se na lei de Deus (Rm 7.22).
Terceiro, como fruto de sua nova natureza, o cristo voluntria e alegremente
toma a Lei por sua regra de vida, de modo que declara, eu mesmo, com o
entendimento sirvo lei (Rm 7.25). Nesse caso, a Lei estabelecida no
apenas na alta corte celeste, mas nas almas dos redimidos. Mui longe de lei e
graa serem inimigas, elas so mutuamente criadas: a primeira revela a
necessidade do pecador, a ltima supre-a; uma faz conhecidos os requisitos de
Deus, a outra nos capacita a satisfaz-las. A f no contrria s boas obras,
mas as realiza em obedincia a Deus por amor e gratido.

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CAPTULO 3
Antes de voltarmo-nos ao lado positivo de nosso presente tpico, foi-
nos necessrio expor e denunciar esse ensino que insiste em que muita coisa
na Bblia no tem nenhuma aplicao imediata para ns hoje em dia. Tal
ensino um tratamento temerrio e irreverente da Palavra, o qual produz as
mais malignas conseqncias nos coraes e nas vidas de muitos para no
falar da promoo de um esprito farisaico de auto-superioridade. Consciente
ou inconscientemente, os dispensacionalistas esto, na realidade, repetindo o
pecado de Jeoiaquim, que mutilou a Palavra de Deus com sua faca (Jr 36.23).
Em vez de abrirem as Escrituras11, esto inclinados a cerrar a maior parte
delas ao povo de Deus hoje. Eles so exatamente iguais a muitos engajados
em fazer a obra do diabo, como os da Alta Crtica, os quais, com suas facas de
dissecar, esto erroneamente dividindo a palavra da verdade. Esto
procurando forar uma pedra goela abaixo daqueles que esto pedindo po12.
Essas so realmente acusaes severas e solenes, mas nada acima do que o
caso requer. Estamos bem cientes de que eles sero inaceitveis a alguns de
nossos prprios leitores; mas o remdio, embora necessrio algumas vezes,
raramente saboroso.

Em vez de estarem comprometidos na mpia obra de opor uma parte


das Escrituras a outra, esses homens estariam de longe melhor empregados
em mostrar a perfeita unidade da Bblia e a bendita harmonia que h entre
todos os seus ensinos. Porm, em vez de demonstrarem a concordncia entre
os dois Testamentos, eles esto mais preocupados em seus esforos para
demonstrar a discordncia que dizem haver entre aquilo que pertence
Dispensao da Lei e aquilo que est abarcado debaixo da Dispensao da
Graa, e para efetuar o seu maligno desgnio todos os princpios sos de
exegese so lanados ao lu. Como amostra do que aludimos, eles citam:
Olho por olho, dente por dente, mo por mo, p por p (Ex 21.24) e ento
opem a ele: Eu, porm, vos digo que no resistais ao mal; mas, se qualquer
te bater na face direita, oferece-lhe tambm a outra (Mt 5.39), e em seguida
exultantemente asseverado que aquelas duas passagens somente podem ser
reconciliadas atribuindo-as a diferentes povos em diferentes eras; e com tal
manuseio superficial das Sagradas Escrituras, milhares de almas crdulas so
enganadas, e outras milhares mais se permitem ficar desnorteadas.

Se aqueles que possuem uma Scofield Bible13 se voltarem a Exdo 21.24,


vero que na margem oposta o editor reporta seus leitores a Levtico 24.20;
Deuteronmio 19.21, e cf. Mateus 5.28-44; 1 de Pedro 2.19-21; sobre os quais

11
Lc 24.32. (N. do T.)
12
Lc 11.11 e Mt 7.9. (N. do T.)
13
A Bblia Scofield tambm est disponvel em portugus, pela Imprensa Batista Regular. (N. do T.)

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este breve comentrio feito: A proviso em xodo lei e justo; nas


passagens do Novo Testamento, graa e misericordioso. Quo longe estava o
Sr. Scofield de ser coerente consigo mesmo pode ser visto por uma referncia
na qual ele declara pgina 989, no incio do Novo Testamento, sob os
Quatro Evangelhos, onde expressamente afirma: O sermo do monte lei,
no graa [itlico nosso]: verdadeiramente as pernas do coxo no so
iguais14. Em sua nota marginal a xodo 21.24, o Sr. Scofield cita Mateus
5.38-44, como graa, ao passo que, em sua introduo aos Quatro
Evangelhos, ele declara que Mateus 5-7 lei, e no graa. Em qual daquelas
asseres ele quis que seus leitores acreditassem?

Pode-se ainda levantar a questo: Como voc vai reconciliar xodo 21.24
com Mateus 5.38-44? Nossa resposta , nada h entre eles para reconciliar,
pois coisa alguma h neles que se entrechoque. A passagem anterior um dos
estatutos designados para os magistrados pblicos fazerem cumprir, ao passo que
o ltimo estabelece regras para indivduos em particular viverem por elas! Por que
esses que intitulam a si mesmo como os que dividem corretamente as
Escrituras no fazem a distribuio apropriada entre as diferentes classes s
quais elas so dirigidas? Que xodo 21.24 contm sim estatutos para
magistrados pblicos fazerem cumprir claramente demonstrado
comparando-se Escritura com Escritura. Em Deuteronmio 19.21, a mesma
injuno outra vez registrada, e se o leitor retornar ao versculo 18 ler ali:
E os juzes bem inquiriro, etc. Seria real benefcio para a comunidade se
nossos juzes hoje deixassem de lado seu sentimentalismo frouxo e lidassem
com os criminosos sem conscincia e brutais de um modo que conviesse aos
seus feitos violentos em vez de fazerem um deboche da justia.

Antes de deixarmos o que est diante de ns nos ltimos trs


pargrafos, seja salientado que, quando nosso bendito Senhor acrescentou a
Mateus 5.38, Eu, porm, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que
vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam (versculo 44), Ele no estava
promovendo um preceito mais benigno do que o que j tinha sido enunciado
anteriormente. No, o mesmo princpio gracioso de conduta havia sido
imposto no Antigo Testamento. Em xodo 23.4,5, Jeov deu mandamento
por meio de Moiss: Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento,
desgarrado, sem falta lho reconduzirs. Se vires o jumento daquele que te
aborrece deitado debaixo da sua carga, deixars, pois de ajud-lo? Certamente
o ajudars juntamente com ele. Novamente lemos em Provrbios 25.21: Se
o que te aborrece tiver fome, d-lhe po para comer, e se tiver sede, d-lhe
gua para beber.

O mesmo Deus que nos ordena: A ningum torneis mal por mal;
procurai as coisas honestas, perante todos os homens. Se for possvel, quanto
14
Pv 26.7, KJV. (N. do T.)

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21

estiver em vs, tende paz com todos os homens. No vos vingueis a vs


mesmos, amados, mas dai lugar ira (Rm 12.17-19), tambm ordenou a Seu
povo no Antigo Testamento: No te vingars nem guardars ira contra os
filhos do teu povo; mas amars o teu prximo como a ti mesmo: eu sou o
Senhor (Lv 19.18); e, por isso, Davi foi grato Abigail por dissuadi-lo de
tomar vingana sobre Nabal: Bendita sejas tu mesma, que hoje me tolheste
de derramar sangue, e de que por minha prpria mo me vingasse (1 Sm
25.33, ARA). To longe estava o Antigo Testamento de permitir qualquer
esprito de amargura, malcia ou vingana, que expressamente declarou: No
digas: Vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor, e ele te livrar (Pv 20.22). E
novamente: Quando cair o teu inimigo, no te alegres, nem quando tropear
se regozije o teu corao (Pv 24.17). E outra vez: No digas: Como ele me
fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra (Pv
24.29).

Mais uma amostra da inescusvel ignorncia evidenciada por esses


dispensacionalistas fazemos citao de How to Enjoy the Bible, de E.W.
Bullinger. Nas pginas 108 e 110 lemos em Lei e Graa: Pois queles que
viviam debaixo da Lei podia-se dizer correta e verdadeiramente: E ser para
ns justia quando tivermos cuidado de fazer todos estes mandamentos
perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado (Dt 6.25). Contudo,
queles que vivem nesta presente Dispensao da Graa declarado como
verdade: Nenhuma carne ser justificada diante dele pelas obras da lei (Rm
3.20). Porm, isso o prprio oposto de Deuteronmio 6.25. O que, ento,
devemos dizer, ou fazer? Qual dessas duas afirmaes verdade e qual falsa?
A resposta que nem uma nem outra so falsas. Mas ambas so verdadeiras
se corretamente dividirmos a Palavra da Verdade quanto sua verdade e
ensino dispensacionais. Duas palavras distinguem as duas dispensaes:
Fazer distinguia a primeira; Feito, a segunda. Ento a salvao dependia do
que o homem tinha que fazer, agora depende do que Cristo fez. por
declaraes tais como essas que almas inconstantes15 ficam fascinadas.

No assombroso que algum to renomado por sua erudio e


conhecimento das Escrituras faa afirmaes to manifestamente absurdas
como as acima? Ao opor Deuteronmio 6.25 contra Romanos 3.20, ele
tambm podia ter arrazoado que fogo o prprio oposto de gua. Eles so
realmente elementos contrrios, todavia, cada um deles tem seu uso prprio
em seu lugar azado: um para cozer, o outro para refrescar. Pense em algum
que se tenha erigido como um mestre de pregadores afirmando que, sob a
economia mosaica, a salvao dependia do que o homem tinha que fazer.
Porque, em tal caso, por quinze sculos nem um nico israelita tinha sido
salvo. Houvesse sido a salvao obtenvel por esforos humanos, nenhuma
necessidade teria de Deus enviar Seu Filho aqui! A salvao nunca foi passvel
15
2 Pd 2.14. (N. do T.)

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22

de ser granjeada por mritos humanos, na base da atuao humana. Abel


obteve testemunho de que era justo, porque ofereceu a Deus um cordeiro que
foi morto (Gn 4.4; Hb 11.4). Abrao foi justificado pela f, e no pelas obras
(Romanos 4). Debaixo da economia mosaica foi expressamente anunciado
que o sangue que far expiao pela alma (Lv 17.11). Davi percebeu que
se tu, Senhor, observares as iniqidades, Senhor, quem subsistir? (Sl 130.3);
e por isso ele confessou: Farei meno da tua justia, e s dela (Sl 71.16).

Que por todos os meios a Palavra da Verdade seja corretamente


dividida; no por reparti-la em diferentes dispensaes, mas fazendo
distino entre o que doutrinal e o que prtico, entre o que diz respeito ao
no salvo e o que dito do salvo. Deuteronmio 6.25 endereado, no a
pecadores de fora, mas queles que esto em relao pactual com o Senhor; ao
passo que Romanos 3.20 uma declarao que se aplica a todo membro da
raa humana. Uma tem a ver com a justia prtica na caminhada diria que
seja aceitvel a Deus; a outra uma declarao doutrinria que assevera a
impossibilidade de aceitao por Deus na base dos feitos da criatura. A
primeira se relaciona com a nossa conduta nesta vida em conexo com o
governo divino; a segunda afeta nossa posio eterna diante do trono divino.
Ambas as passagens so igualmente aplicveis aos judeus e aos gentios em
todas as eras. Nossa justia em Deuteronmio 6.25 uma justia prtica aos
olhos de Deus. o mesmo aspecto da justia que em se a vossa justia no
exceder a dos escribas e fariseus de Mateus 5.20, em o justo de Tiago 5.16
e em pratica a justia de 1 Joo 2.29.

Os santos do Antigo Testamento eram os objetos do mesmo concerto


eterno, tinham o mesmo bendito Evangelho, foram gerados para a mesma
herana celestial que os santos do Novo Testamento. De Abel em diante,
Deus lida com os pecadores em graa soberana, e segundo os mritos da obra
redentora de Cristo que era retroativa em seu valor e eficcia (Romanos
3.25; 1 Pedro 1.19,20). No achou graa aos olhos do Senhor (Gn 6.8).
Que eles eram partcipes das mesmas bnos do concerto que ns fica claro
por uma comparao entre 2 Samuel 23.5 e Hebreus 13.20. O mesmo
Evangelho foi pregado a Abrao (Gl 3.8), sim, nao de Israel aps ela haver
recebido a Lei (Hb 4.2) e, por conseguinte, Abrao exultou-se em ver o Dia de
Cristo e se alegrou (Joo 8.56). Jac, moribundo, declarou: A tua salvao
espero, Senhor (Gn 49.18). Como Hebreus 11.16 afirma, os patriarcas
desejavam uma ptria melhor [do que a terra de Cana, na qual habitavam], isto
, a celestial. Moiss recusou ser chamado filho da filha de Fara... Tendo
por maiores riquezas o vituprio de Cristo do que os tesouros do Egito (Hb
11.24-26). J exclamou: Eu sei que o meu Redentor vive... em minha carne
verei a Deus (19.25,26).

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Quando Jeov proclamou Seu nome a Moiss, Ele Se revelou como O


Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e gracioso (Ex 34.5-7, KJV). Quando
Aro pronunciou a bno sobre a congregao, ele foi ordenado a dizer: O
Senhor te abenoe e te guarde; o Senhor faa resplandecer o seu rosto sobre
ti, e tenha misericrdia de ti; o Senhor levante sobre ti o seu rosto, e te d a
paz (Nm 6.24-26). Nenhuma bno mais notvel e mais grandiosa pode ser
invocada hoje. No possvel uma passagem tal como essa ser harmonizada
com o conceito estreito da economia mosaica que acolhido e est sendo
propagado pelos dispensacionalistas. Deus tratou em graa com Israel por toda
sua longa e variada histria. Leia o livro de Juzes do comeo ao fim e observe
quo freqentemente Ele levantou libertadores para eles. V adiante para Reis
e Crnicas e observe Sua benignidade longnime em enviar-lhes profeta aps
profeta. Onde no Novo Testamento h uma palavra que, pela pura graa,
exceda ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornaro
brancos como a neve (Is 1.18)? Nos dias de Jeocaz o Senhor foi gracioso
com eles (2. Reis 13.22-23, KJV). Eles foram convidados a dizer ao Senhor:
Remova toda iniqidade, e receba-nos graciosamente (Osias 14.2, KJV).
Malaquias convidou Israel: implorai a Deus, que Ele ser gracioso para
convosco (1.9, KJV).

A concepo que o piedoso remanescente de Israel tinha do carter


divino durante a economia mosaica era radicalmente diferente da rgida e
medonha apresentao dela feita pelos dispensacionalistas. Oua o que o
salmista declarou: Gracioso o Senhor, e justo; sim, nosso Deus
misericordioso (116.5, KJV). Oua-o novamente, enquanto irrompe em
louvor de adorao: Bendize, minha alma, ao Senhor, e no te esqueas de
nenhum de seus benefcios. ele que perdoa todas as tuas iniqidades, e sara
todas as tuas enfermidades... No nos tratou segundo os nossos pecados, nem
nos retribuiu segundo as nossas iniqidades (103.2,3,10). Podem os cristos
dizer mais do que isso? No de se admirar que Davi exclamasse: Quem
tenho eu no cu seno a ti? e na terra no h quem eu deseje alm de ti. A
minha carne e o meu corao desfalecem: mas Deus a fortaleza do meu
corao, e a minha poro para sempre (73.25,26). Se for levantada a
questo: Qual, ento, a grande distino entre as eras mosaica e crist? A
resposta , a graa de Deus estava ento confinada a uma nao, mas agora ela
flui para todas as naes.

O que verdadeiro no geral vlido no particular. No somente os


tratos com Seu povo durante os tempos do Antigo Testamento eram
substancialmente os mesmos daqueles com Seu povo agora, mas minuciosamente
tambm. No h discordncia alguma, mas perfeita harmonia e concordncia
entre eles. Note cuidadosamente os seguintes paralelismos: Sua herana nos
santos (Ef 1.18): A poro do Senhor o seu povo; Jac a corda da sua
herana (Dt 32.9). Amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o

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24

princpio para a salvao (2 Ts 2.13): Com amor eterno te amei (Jr 31.3).
Em quem temos a redeno (Ef 1.7): Com Ele est redeno abundante
(Sl 130.7, KJV). Para que nele fssemos feitos justia de Deus (2 Co 5.2 1):
No Senhor tenho eu justia e fora (Is 45.24, KJV). O qual nos abenoou
com todas as bnos espirituais... em Cristo (Ef 1.3): Os homens sejam
abenoados nele (Sl 72.17, ARA). O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos
purifica de todo pecado (1 de Joo 1.7): Tu s toda formosa, amiga minha, e
em ti no h mancha (Cantares 4.7).

Corroborados com poder pelo seu Esprito no homem interior (Ef


3.16): No dia em que eu clamei, me escutaste; alentaste-me, fortalecendo a
minha alma (Sl 138.3). [O] Esprito de verdade... vos guiar em toda a
verdade (Joo 16:13): Deste o teu bom esprito, para os ensinar (Ne 9.20).
Eu sei que em mim, isto , na minha carne, no habita bem algum (Rm
7.18): Todas as nossas justias [so] como trapo da imundcia (Is 64.6).
Exorto-vos, como a peregrinos e forasteiros (1 Pd 2.11, ARA): Vs sois
estrangeiros e peregrinos (Lv 25.23). Andamos por f (2 Co 5.7): O justo
pela sua f viver (Hb 2.4). Fortalecei-vos no Senhor (Ef 6.10): Eu os
fortalecerei no Senhor (Zc 10.12). Ningum as arrebatar da minha mo
(Joo 10.28): Todos os seus santos esto na tua mo (Dt 33.3). Quem
permanece em mim e eu nele, esse d muito fruto (Joo 15.5, ARA): De
mim achado o teu fruto (Osias 14.8). Aquele que em vs comeou a boa
obra a aperfeioar (Fp 1.6): O Senhor aperfeioar o que me concerne (Sl
138.8). Outras inumerveis harmonias semelhantes podem ser acrescentadas.

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CAPTULO 4
Como das promessas do Antigo Testamento em particular que os
dispensacionalistas querem privar o cristo, uma refutao mais definida e
detalhada de tal erro ora requerida vindo, como obviamente vem, dentro
do escopo do nosso presente tpico. Transcreveremos aqui o que escrevemos
sobre isso h quase vinte anos atrs16.

1. Visto que a Queda alienou a criatura do Criador, no podia haver


relao alguma entre Deus e os homens seno por alguma promessa da
Sua parte. Ningum pode reivindicar coisa alguma da Majestade nas
alturas sem uma garantia dEle Mesmo, nem a conscincia pode ser
satisfeita a no ser que tenha uma concesso divina para algum bem
que esperemos dEle.
2. Em todas as eras, Deus quer ter Seu povo dirigido por Suas promessas,
para que esse possa exercer f, esperana, dependncia dEle Mesmo:
Ele lhe d promessas a fim de test-lo, quer confiasse nEle e contasse
com Ele ou no.
3. O Intermedirio das promessas o Deus-homem Mediador, Jesus
Cristo, pois no pode haver relao nenhuma entre Deus e ns exceto
atravs do rbitro17. Em outras palavras, Cristo deve receber todo bem
por ns, e devemos dele obt-lo em segunda mo.
4. Que o cristo sempre vigie para no contemplar qualquer promessa de
Deus fora de Cristo. Seja a coisa prometida, seja a bno desejada,
temporal ou espiritual, no podemos goz-la legtima ou
verdadeiramente seno em e por Cristo. Por isso, o Apstolo lembrou
os glatas: Ora, as promessas foram feitas a Abrao e sua
posteridade. No diz: E s posteridades, como falando de muitas, mas
como de uma s: E tua posteridade, que Cristo (3.16) ao citar
Gnesis 12.3, Paulo no estava provando, mas afirmando que as
promessas de Deus a Abrao no diziam respeito em absoluto sua
posteridade natural, mas somente queles dentre os seus filhos
espirituais aqueles unidos a Cristo. Todas as promessas de Deus aos
crentes so feitas a Cristo, o Fiador da aliana eterna18, e so
transferidas dEle para ns tanto as promessas mesmas e as coisas
prometidas. E esta a [completa] promessa que ele nos fez: a vida
eterna (1 Joo 2.25), e, como 5.11 conta-nos, esta vida est em seu
Filho assim tambm a graa e todos os outros benefcios. Se eu ler
qualquer uma das promessas, descubro que todas e cada uma delas

16
Na revista mensal que A. W. Pink publicava, chamada Studies in the Scriptures, numa srie de 18
artigos sob o ttulo de Dispensationalism, no comeo dos anos trinta (1933-4). (N. do T.)
17
J 9.33. (N. do T.)
18
Hb 7.22. (N. do T.)

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continham Cristo em seu regao, Ele Mesmo sendo a nica grande


Promessa da Bblia. A Ele foram elas primeiramente dadas; dEle
provm toda eficcia, dulor, valor e importncia delas; por Ele tornam-
se perfeitamente claras ao corao; e nEle todas elas esto, sim, e
amm (R. Hawker, 1810).
5. Visto que todas as promessas de Deus so feitas em Cristo, segue-se
claramente que nenhuma delas est disponvel a qualquer um que esteja
fora de Cristo, pois estar fora dEle estar fora da merc divina. Deus
no pode considerar uma tal pessoa seno como objeto de Sua ira,
como combustvel para Sua vingana: no h esperana nenhuma para
homem algum at que esteja ele em Cristo. Porm, pode-se perguntar:
Deus no concede nenhuma coisa boa queles que esto fora de Cristo,
enviando Sua chuva sobre o injusto, e enchendo os ventres dos mpios
com boas coisas (Salmo 17.14)? Sim, Ele realmente concede. Ento,
no so esses benefcios temporais bnos? Certamente no: longe
disso. Como Ele diz em Malaquias 2.2, amaldioarei as vossas
bnos; e j as tenho amaldioado, porque vs no pondes isso no
corao (cf. Dt 28.15-20). Para o mpio, os benefcios temporais de
Deus so como comida dada aos bovinos ela no faz seno prepar-
los para o dia da matana (Jr 12.3, e cf. Tg 5.5).

Havendo apresentado acima um breve esboo sobre o assunto das promessas


divinas, examinemos agora uma expresso admirvel, porm pouco notada, a
saber os filhos da promessa (Rm 9.8). No contexto, o Apstolo discute a
rejeio dos judeus por Deus e a vocao dos gentios, que era um ponto
particularmente doloroso para os primeiros. Depois de descrever os
privilgios nicos desfrutados por Israel como nao (versculos 4 e 5), ele
assinala a diferena que h entre eles e o Israel de Deus antitpico (versculos
6-9), a qual ele ilustra pelos casos de Isaque e Jac. Ainda que os judeus
houvessem recusado o Evangelho e tivessem sido rejeitados por Deus, no se
devia supor que Sua palavra tivesse falhado no cumprimento (verso 6), pois
no apenas as profecias concernentes ao Messias foram cumpridas, mas a
promessa quanto semente de Abrao estava sendo levada a cabo com
sucesso. Mas o mais importante era apreender corretamente o que ou a quem
tal semente abrangia. Por que nem todos os que so de Israel
[espiritualmente falando] so israelitas [na natureza]: Nem por serem
descendncia de Abrao so todos filhos; mas: Em Isaque ser chamada a tua
descendncia (versculos 6 e 7).

Os judeus imaginavam erroneamente (como os modernos


dispensacionalistas imaginam) que as promessas feitas a Abrao no tocante
sua semente referiam-se a todos os descendentes dele. Sua jactncia era
somos descendentes de Abrao (Joo 8.33), ao que Cristo replicava: Se
fsseis filhos de Abrao, fareis as obras de Abrao (versculo 39 e vide

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Romanos 4.12). A rejeio de Ismael e Esa por Deus foi a prova decisiva de
que as promessas no foram feitas aos descendentes naturais como tais. A
escolha de Isaque e Jac mostrou que a promessa estava restrita a uma
linhagem eleita. No so os filhos da carne que so filhos de Deus, mas os
filhos da promessa so contados como descendncia. Porque a palavra da
promessa esta: Por este tempo virei, e Sara ter um filho (Rm 9.8,9). Os
filhos de Deus e os filhos da promessa so uma e a mesma coisa, sejam
eles judeus ou gentios. Assim como Isaque nasceu de forma sobrenatural,
tambm nascem todos os eleitos de Deus (Joo 1.13). Assim como Isaque,
por causa disso, foi herdeiro da bno prometida, tambm o so os cristos
(Gl 4.29; 3.29). Filhos da promessa idntico a os herdeiros da promessa
(Hb 6.17, e cf. Rm 8.17).

As promessas de Deus so feitas aos filhos espirituais de Abrao (Rm


4.16; Gl 3.7), e no h possibilidade de alguma delas deixar de ser executadas.
Porque todas quantas promessas h de Deus, so nele [a saber, Cristo] sim, e
por ele o Amm (2 Co 1.20). Elas esto depositadas em Cristo, e nEle
encontram sua confirmao e corroborao, pois Ele a soma e a substncia
delas. Inexprimivelmente bendita aquela declarao aos filhos de Deus de
inclinao humilde todavia, um mistrio escondido queles que so sbios
em suas prprias presunes. Aquele que nem mesmo a seu prprio Filho
poupou, antes o entregou por todos ns, como nos no dar tambm com ele
todas as coisas? (Rm 8.32). As promessas de Deus so numerosas: relativas
essa vida e tambm quela que est por vir. Elas dizem respeito a nosso bem-
estar temporal, tanto quanto ao espiritual, cobrindo tanto as necessidades do
corpo quanto quelas da alma. Qualquer que seja o carter delas, nenhuma
pode se cumprir em ns exceto em, atravs de e por Aquele que viveu e
morreu por ns. As promessas que Deus deu a Seu povo so absolutamente
seguras e dignas de confiana, pois foram feitas a ele em Cristo:
infalivelmente certo que elas tero realizao, pois foram efetuadas atravs de
e por Ele.

Uma abenoada ilustrao, sim, exemplificao do que acaba de ser


mostrado achado em Hebreus 8.8-13, e 10.15-17, onde o Apstolo cita as
promessas dadas em Jeremias 31.31-34. Os dispensacionalistas objetaro e
diro que aquelas promessas pertencem aos descendentes naturais de Abrao,
e no so para ns. Mas Hebreus 10.15 [KJV] introduz a citao daquelas
promessas ao afirmar expressamente: Do que o Esprito Santo [no era]
uma testemunha para ns. Tais promessas tambm se estendem aos crentes
gentios, pois elas so a garantia da graa baseada em Cristo, e nEle crendo,
judeus e gentios so um (Gl 3.26). Antes que a parede de separao fosse
derrubada, os gentios eram deveras estranhos aos concertos da promessa
(Ef 2.12), mas quando essa foi removida, os fiis gentios tornaram-se co-
herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo

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evangelho (Ef 3.6)! Como o expressa Romanos 11, eles participam da raiz e
da seiva da oliveira (versculo 17)! Aquelas promessas em Jeremias 31 no so
feitas nao judaica como tal, mas ao Israel de Deus (Gl 6.16), ou seja,
para a inteira eleio da graa, e cumprem-se infalivelmente em todos eles no
momento da sua regenerao pelo Esprito.

luz clara de outras passagens do Novo Testamento, parece


extremamente estranho que algum que esteja familiarizado com o mesmo
negue que Deus tenha celebrado essa nova aliana com aqueles que so
membros do corpo mstico de Cristo. Que os cristos so participantes de suas
bnos fica claro por 1 Corntios 11.25, onde faz-se citao das palavras do
Salvador na instituio de Sua ceia, dizendo: Este clice o Novo
Testamento [ou Nova Aliana] no meu sangue; e outra vez por 2
Corntios 3.6, onde o Apstolo declara que Deus nos fez tambm capazes de
ser ministros dum novo testamento, ou aliana, pois a mesma palavra
grega utilizada nessas passagens o em Hebreus 8.8, e 10.16, onde traduzida
como aliana. No primeirssimo sermo pregado aps a nova aliana ser
estabelecida, Pedro disse: Porque a promessa vos diz respeito a vs, a vossos
filhos, e a todos os que esto longe, i.e. os gentios: Efsios 2.13
classificados como tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (Atos 2.39).
Ademais, os termos de Jeremias 31.33,34 so mais certamente cumpridos a
todos os cristos de hoje: Deus o Deus da aliana deles (Hb 13.20), Sua lei
entesourada em suas afeies (Rm 7.22), eles O conhecem como seu Deus,
suas iniqidades esto perdoadas.

A afirmao do Esprito Santo em 2 Corntios 7.1, deve, para todos os


que se curvam autoridade da Escritura Sagrada, dirimir a questo do direito
do cristos s promessas do Antigo Testamento de uma vez por todas. Ora,
amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundcia
da carne e do esprito, aperfeioando a santificao no temor de Deus. Quais
promessas? Ora, aquelas mencionadas no final do captulo precedente. Lemos
ali: E que consenso tem o templo de Deus com os dolos? Porque vs sois o
templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei; e eu serei o seu Deus,
e eles sero o meu povo (6.16). E onde Deus tinha dito isso? Ora, bem l
atrs, em Levtico 26.12: E andarei no meio de vs, e eu vos serei por Deus,
e vs me sereis por povo. Essa promessa foi feita nao de Israel nos dias
de Moiss! E novamente lemos: Pelo que sa do meio deles, e apartai-vos, diz
o Senhor; e no toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vs
Pai e vs sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso (2 Co
6.17, 18), as quais palavras so uma referncia manifesta a Jeremias 31.9 e
Osias 1.9,10.

Observe agora mui especialmente o que o Esprito Santo diz por meio
de Paulo concernente quelas promessas do Antigo Testamento. Primeiro, ele

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diz aos santos do Novo Testamento: Temos tais promessas. Ele declarou
que aquelas antigas promessas eram deles: que elas so de seu interesse pessoal
e de direito deles. Que eles eram herdeiros no unicamente em esperana, mas
em poder. Suas para delas fazerem pleno uso, alimentarem-se, desfrutarem,
deleitarem-se e darem a Deus graas pelas mesmas. Visto que Cristo Mesmo
nosso, tudo nosso (1 Co 3.22,23). , leitor cristo, no tolere que homem
algum, sob pretexto de corretamente dividir a palavra, desligue ou roube
voc das grandssimas e preciosas promessas de seu Pai (2 Pd 1.4). Se ele
est satisfeito em se isolar em umas poucas Epstolas do Novo Testamento,
deixe-o se isolar que seja prejuzo dele. Mas no admita que ele confine voc
a uma to estreita rea. Segundo, somos por este meio ensinados a usar
aquelas promessas como motivos e incentivos ao cultivo da piedade pessoal,
na obra privada de mortificao e no dever positivo da santificao prtica.

Uma prova contundente e conclusiva de que as promessas do Antigo


Testamento pertencem aos santos dos dias correntes encontrada em
Hebreus 13.5, onde novamente se faz o uso prtico do mesmo. Ali, os cristos
so exortados: Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o
que tendes. Tal exortao reforada por esta graciosa considerao: porque
ele disse: No te deixarei, nem te desampararei. Visto ser o Deus vivo sua
poro, seu corao deve se regozijar nEle, e toda a ansiedade acerca do
suprimento de toda sua necessidade deve ser para sempre removida. Mas
estamos agora mais especialmente interessados na promessa citada aqui:
porque ele disse: No te deixarei, etc. E a quem, primeiramente, foi dada tal
promessa? Ora, a quem estava para liderar Israel na terra de Cana como
uma referncia a Josu 1.5 mostra. Desse modo, ela foi feita a uma pessoa
particular em uma ocasio especial, a um general que tinha de processar uma
grande guerra debaixo do comando imediato de Deus. Encarando essa difcil e
exigente situao, Josu recebeu de Deus a garantia de que Sua presena
estaria sempre consigo.

Mas, se o crente der lugar incredulidade, o diabo muito capaz de lhe


dizer que a promessa no pertence a voc. Voc no o capito dos
exrcitos19, comissionado por Deus para derrotar as foras de um inimigo: o
poder daquela promessa cessou quando Cana foi conquistada e morreu com
aquele a quem foi feita. Em vez disso, como Owen destacou em seus
comentrios sobre Hebreus 13.5, Para manifestar a semelhana do amor que
existe em todas as promessas, com sua validao no nico Mediador, e o
interesse geral dos crentes em cada uma delas, a despeito de como e em que
ocasio foram dadas a algum, essa promessa a Josu aqui aplicada
condio do mais fraco, mais desprezvel e mais pobre dos santos; a todos e a
cada um deles, seja quais forem seu caso e sua condio. E, indubitavelmente,
no h a mnima falta nos crentes, em si mesmos e em sua prpria consolao,
19
Nm 2.3,10,18,25, ARA. (N. do T.)

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para no se achegarem de modo mais particular quelas palavras de verdade,


graa e fidelidade, as quais em vrias ocasies e em diversos perodos foram
anunciadas aos santos de outrora, justamente Abrao, Isaque, Jac, Davi e o
restante, os quais andaram com Deus em sua gerao: tais coisas, de uma
maneira especial, esto registradas para nossa consolao.

Observemos agora cuidadosamente o uso que o Apstolo fez daquela


antiga porm imortal promessa. Primeiro, ele aqui se vale dela a fim de fazer
com que sua exortao aos cristos para os deveres de mortificao e
santificao seja cumprida. Segundo, ele chega a uma inferncia lgica e
prtica da mesma, declarando: De modo que com plena confiana digamos: O
Senhor quem me ajuda, no temerei; que me far o homem? (Hb 13.6,
ARA). Assim, chega-se uma dupla concluso: uma tal promessa para inspirar
em todos os crentes a confiana no socorro e na assistncia de Deus, e com
ousadia e coragem diante dos homens mostrando-nos a que propsito ns
devemos aplicar os compromissos divinos. Essas concluses esto baseadas
no carter do Promitente: porque Deus infinitamente bom, fiel e poderoso,
e porque Ele no muda, eu posso confiadamente declarar com Abrao: Deus
prover (Gn 22.8); com Jnatas: Para com o Senhor nenhum impedimento
h (1 Sm 14.6); com Jeosaf, No h quem te possa resistir (2 Cr 20.6);
com Paulo: Se Deus por ns, quem ser contra ns? (Rm 8.31). A
presena permanente do Senhor todo-suficiente garante auxlio e, portanto,
qualquer sobressalto da inimizade do homem ser removido de nossos
coraes. Meu pior inimigo nada pode contra mim sem a permisso de meu
Salvador.

De modo que com plena confiana [ns] digamos [espontaneamente,


sem hesitar com incredulidade]: O Senhor quem me ajuda, no temerei; que
me far o homem?. Observe atentamente a mudana de nmero, do plural
para o singular, e aprenda dali que princpios gerais devem ser apropriados por
ns no particular, assim como preceitos gerais devem ser tomados por ns
pessoalmente o Senhor Jesus individualizou o no tentareis o Senhor
vosso Deus de Deuteronmio 6.16, quando assaltado por Satans, dizendo:
Tambm est escrito: No tentars o Senhor teu Deus (Mt 4.7). somente
aplicando as promessas e os preceitos divinos a ns mesmos pessoalmente
que podemos misturar com a f20 os mesmos, ou fazer um uso apropriado e
proveitoso deles. Deve-se tambm ser cuidadosamente notado que uma vez
mais o Apstolo confirmou seu argumento por um testemunho divino, pois
as palavras: O Senhor quem me ajuda, no temerei; que me far o
homem? no so suas, mas uma citao daquelas usadas por Davi no Salmo
118.6. Desse modo, novamente nos demonstrado que a linguagem do
Antigo Testamento exatamente adequada aos casos e circunstncias dos

20
Hb 4.2. (N. do T.)

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cristos hoje, e que direito e privilgio deles livremente se apropriarem da


mesma.

Com plena confiana digamos exatamente o que o Salmista disse


quando estava severamente pressionado. Foi durante uma temporada de
aguda aflio que Davi expressou sua confiana no Deus vivo, em um tempo
em que parecia que seus inimigos estavam a ponto de trag-lo; mas, vendo a
onipotncia de Jeov e contrastando Seu poder com a fraqueza da criatura,
seu corao ficou fortalecido e animado. Porm, que o leitor perceba
claramente o que isso encerrava. Significa que Davi voltava sua mente do que
se via para o que se no via. Significa que seu corao estava ocupado com o
Todo-Poderoso. Mas significa muito mais: ele estava ocupado com o
relacionamento do Onipotente para consigo. Significa que ele reconhecia e
percebia o vnculo espiritual que havia entre eles, de modo que podia,
verdadeira e justamente, comprovar: o Senhor quem me ajuda. Se Ele
meu Deus, meu Redentor, meu Pai, ento se pode confiar que Ele se
responsabiliza por mim quando fico grandemente oprimido, quando meus
inimigos ameaam me devorar, quando minha panela de farinha21 est quase
vazia. Que meu seja a linguagem da f, e a concluso que a segurana da f
tira da infalvel promessa dEle, que no pode mentir.

21
1 Rs 17.14. (N. do T.)

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CAPTULO 5
Nestes artigos estamos procurando mostrar o uso que os crentes devem
fazer da Palavra de Deus: ou, mais particularmente, como tanto privilgio
quanto dever deles receber o todo dela como dirigido diretamente para si mesmos,
bem como voltar-se mesma para informao prtica, apropriando-se de seu
contedo para suas necessidades pessoais. A Bblia um livro que no requer
tanto o empenho de nosso intelecto quanto requer para o exerccio de nossas
afeies, conscincia e vontade. Deus no-las deu, no para nosso
entretenimento, mas para nossa educao, para fazer conhecido o que Ele
exige de ns. Ela deve ser o guia do viajante enquanto ele viaja pelo labirinto
deste mundo, o mapa do marinheiro enquanto ele singra pelo mar da vida.
Logo, sempre que abrimos a Bblia, a diligncia indispensvel que cada um de
ns deve ter diante dele , o que h para mim hoje? Que relao tem a
passagem ora diante de mim sobre meu presente caso e minhas presentes
circunstncias que aviso, que encorajamento, que informao? Que
instruo h para me dirigir na administrao de meus negcios, para me guiar
no encargo de meus afazeres domsticos e sociais, para promover uma
caminhada mais prxima de Deus?

Devo ver que todo preceito visa a mim, inclusive em toda promessa.
Mas para grandemente se recear que, pela incapacidade de se apropriar da
palavra de Deus para seu prprio caso e circunstncias, h muita leitura e
estudo da Bblia que de pouco ou nenhum proveito real alma. Nada nos
proteger mais das infeces deste mundo, livrar das tentaes de Satans, e
ser um to eficaz preservativo do pecado como a Palavra de Deus recebida
em nossas afeies. A lei do seu Deus est em seu corao; os seus passos no
resvalaro (Sl 37.31) somente pode ser dito daquele que fez apropriao
pessoal daquela Lei, e est apto a comprovar com o salmista: Escondi a tua
palavra no meu corao, para eu no pecar contra ti (119.11). S enquanto a
Verdade est efetivamente operando em ns, influenciando-nos de uma
maneira prtica, ela amada e venerada por ns, estimula a conscincia, e
somos guardados da queda no pecado aberto como Jos foi preservado
quando malignamente procurado pela mulher de seu amo (Gn 39.9). E
somente quando pessoalmente sairmos e cotidianamente ajuntarmos nossa
poro de man, e alimentarmo-nos do mesmo, haver proviso de fora para
o desempenho da obrigao e a produo do fruto para a glria de Deus.

Tomemos Gnesis 17.1 como uma simples ilustrao. Sendo, pois,


Abro da idade de noventa e nove anos, apareceu o Senhor a Abro, e disse-
lhe: Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda em minha presena e s perfeito
ou sincero. Como deve o cristo aplicar um tal versculo para si mesmo? Em
primeiro lugar, que ele observe a quem esse sinal de favor e honra foi exibido:

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a saber, quele que o pai de todos os que crem (Rm 4.11,12,16) e ele
foi a primeira pessoa no mundo de quem se diz haver o Senhor aparecido! Em
segundo, observe quando foi que Jeov lhe apareceu: a saber, em sua velhice,
quando a fora da natureza estava gasta e a morte estava escrita sobre a carne.
Em terceiro, note atentamente o carter particular em que o Senhor era agora
revelado a ele: o Todo-poderoso, ou mais literalmente "El Shaddai" o
Deus todo-suficiente. Quarto, considere a exortao que acompanhava a
mesma: anda em minha presena e s sincero. Quinto, pondere nesses
detalhes luz da seqncia imediata; Deus est fazendo promessa de que ele
geraria um filho por Sara, que h muito passara da idade de ter filhos
(versculos 15-19). Tudo que por Deus deve ser efetuado por Seu possante
poder: Ele pode e deve fazer todas as coisas a carne para nada aproveita22,
nenhum movimento da mera natureza de qualquer utilidade.

Ora, quando o crente pondera naquele memorvel incidente, esperana


deve ser inspirada nele. El Shaddai to verdadeiramente seu Deus como Ele o
foi de Abrao! Isso est claro em 2 Corntios 7.1, pois uma daquelas
promessas : Eu serei para vs Pai... diz o Senhor Todo-poderoso (6.18), e
em Apocalipse 1.8, onde o Senhor Jesus diz s igrejas: Eu sou o Alfa e o
mega... o Todo-poderoso. uma declarao de Sua onipotncia, para
quem todas as coisas so possveis. O Deus todo-suficiente fala do que Ele
em Si Mesmo auto-existente, independente; e o que Ele para Seu povo
o Supridor de toda necessidade dele. Quando Cristo disse a Paulo: Minha
graa suficiente para ti23, era totalmente aquela da qual Jeov disse a Abrao.
Indubitavelmente o Senhor apareceu ao patriarca em forma visvel (e
humana): Ele aparece assim a ns perante os olhos da f. Amide Ele se apraz
em encontrar-se conosco nas ordenanas de Sua graa, e enviar-nos em nosso
caminho regozijo. Algumas vezes Ele Se manifesta (Joo 14.21) a ns nos
recolhimentos da privacidade. Freqentemente Ele aparece para ns em Suas
providncias, mostrando-Se forte em nosso favor. Agora, diz Ele, ande
diante de Mim de maneira sincera, na crente percepo de que Eu sou todo-
suficiente para ti, cnscio da Minha onipotncia, e tudo estar bem contigo.

Aduzamos agora algumas das muitas provas das asseveraes feitas em


nossas frases de abertura, provas fornecidas pelo Esprito Santo e pelo Senhor
Jesus na aplicao que Eles fizeram das Escrituras. muito impressionante,
de fato, descobrir que o primeirssimo mandamento moral que Deus deu
humanidade, a saber, o que devia regular a relao matrimonial, foi
indiretamente expresso em termos tais que compreendia uma lei divina que
universal e perpetuamente comprometedora: Portanto, deixar o varo o seu
pai e a sua me e apegar-se- sua mulher, e sero ambos uma carne (Gn
2.24) citado por Cristo em Mateus 19.5. Quando um homem tomar uma
22
Jo 6.63. (N. do T.)
23
2 Co 12.9, KJV. (N. do T.)

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mulher, e se casar com ela, ento ser que, se no achar graa em seus olhos,
por nela achar coisa feia, ele lhe far escrito de repdio (Dt 24.1). Aquele
estatuto foi dado nos dias de Moiss, entretanto, encontramos nosso Senhor
referindo-se ao mesmo e dizendo aos fariseus de Seu tempo: Pela dureza dos
vossos coraes vos deixou ele escrito esse mandamento (Marcos 10.5).

O princpio pelo qual estamos aqui contendendo belamente ilustrado


no Salmo 27.8: Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu corao te
disse a ti: O teu rosto, Senhor, [eu] buscarei. Desse modo, ele tornou
particular o que era geral, aplicando para si mesmo pessoalmente o que foi
dito aos santos coletivamente. Tal o uso que sempre cada um de ns deveria
fazer de toda parte da Palavra de Deus como vemos o Salvador em Mateus
4.7, modificando o vs de Deuteronmio 6.16 para tu. Outra vez assim
em Atos 1.20, KJV, encontramos Pedro, quando aludindo apostasia de
Judas, alterando o que a habitao deles do Salmo 69.25 [KJV] para que a
habitao dele fique desolada. Isso no era tomar uma liberdade indevida com
a Sagrada Escritura, antes, era fazer uma aplicao especfica do que era
indefinido.

No te glories na presena do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes;


porque melhor que te digam: Sobe para aqui; do que seres humilhado diante
do prncipe a quem j os teus olhos viram (Pv 25.6,7). Sobre esse verso,
Thomas Scott com justia observou: No pode haver dvida razovel de que
nosso Senhor referia-se quelas palavras em Sua admoestao aos ambiciosos
hspedes na mesa do fariseu (Lucas 14.7-11), e assim foi compreendido.
Logo, assim como isso d a sano dEle ao livro de Provrbios, tambm
mostra que aquelas mximas podem ser aplicadas a casos similares, e que no
precisamos limitar sua interpretao exclusivamente ao assunto que deu
ensejo a elas. Nem mesmo a presena de Cristo, Seu santo exemplo, Sua
celestial instruo, podia restringir a luta entre os Seus discpulos sobre qual
deles deveria ser o maior. Amar ter o primado (3 Joo 9,10) a peste da
piedade nas igrejas.

Eu o Senhor te chamei... e te darei por concerto do povo, e para luz


dos gentios; tambm te darei para luz dos gentios, para seres a minha
salvao at extremidade da terra (Is 42.6; 49.6). Essas palavras foram
proferidas pelo Pai sobre o Messias, todavia, em Atos 13.46,47 achamos Paulo
dizendo de si mesmo e de Barnab: Eis que nos voltamos para os gentios.
Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para
que sejas de salvao at aos confins da terra! Assim, outra vez em Romanos
10.15 encontramos que o Apstolo foi inspirado a fazer aplicao ao servo de
Cristo do que foi dito imediatamente dEle: Quo formosos sobre os montes
so os ps do que anuncia as boas-novas, que proclama a paz (Is 52.7, ACF):
Como pregaro, se no forem enviados? como est escrito: Quo formosos

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os ps dos que anunciam a paz, dos que anunciam a paz (Rm 10.15). Perto
est o que me justifica... quem h que me condene? (Is 50.8,9): o contexto
demonstra de forma inequvoca que Cristo quem ali fala, no obstante, em
Romanos 8.33, 34 o Apstolo no hesita em aplicar tais palavras aos membros
de Seu corpo: Quem intentar acusao contra os escolhidos de Deus?
Deus quem os justifica. Quem os condenar?.

A inefavelmente solene comisso dada a Isaas concernente sua


gerao apstata (6.9,10) foi aplicada por Cristo ao povo de Seu tempo,
dizendo: E neles se cumpre a profecia de Isaas (Mt 13.14,15). De novo, em
29.13, Isaas anunciou que o Senhor disse: Este povo se aproxima de mim, e
com a sua boca, e com os seus lbios me honra, mas o seu corao se afasta
para longe de mim, enquanto em Mateus 15.7 encontramos Cristo dizendo
aos escribas e fariseus: Hipcritas, bem profetizou Isaas a vosso respeito,
dizendo: Este povo honra-me com os seus lbios, etc. Mais notvel ainda a
repreenso de Cristo aos saduceus, que negavam a ressurreio do corpo:
No tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de
Abrao, o Deus de Isaque, e o Deus de Jac? Ora, Deus no Deus dos
mortos, mas dos vivos (Mt 22.31,32). O que Deus falou imediatamente a
Moiss na sara ardente foi igualmente tencionado para a instruo e o
conforto de todos os homens at o fim do mundo. O que o Senhor disse a
uma pessoa em particular, Ele diz a todo favorecido em ler a Sua Palavra.
Assim, isso nos faz ficar preocupados em ouvir e atentar mesma, pois pela
Palavra seremos julgados no ltimo grande dia (Jo 12.48).

O princpio fundamental pelo qual estamos aqui contendendo est


claramente expresso novamente por Cristo em Marcos 13.37: E as coisas que
vos digo digo-as a todos: Vigiai. Essa exortao aos Apstolos dirigida
diretamente aos santos em todas as geraes e lugares. Como bem o disse
Owen: As Escrituras falam a toda era, toda igreja, toda pessoa, no menos do
que queles a quem primeiro foram elas dirigidas. Isso nos mostra como
devemos ser tocados ao ler a Palavra: devemos l-la como uma carta escrita
pelo Senhor da graa a partir do cu, a ns nominalmente. Se h livros no Novo
Testamento particularmente restringidos, esses so as Epstolas pastorais,
no obstante, a exortao encontrada em 2 Timteo 2.19 generalizada:
Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqidade. Aqueles que
gostam tanto de restringir a Palavra de Deus diriam que sofre pois comigo as
aflies como bom soldado de Jesus Cristo (versculo 3) endereada ao
ministro do Evangelho, e no pertence classe e fileira dos crentes. Porm,
Efsios 6.10-17 mostra (por implicao necessria) que ela se aplica a todos os
santos, pois a figura do combatente novamente empregada, e empregada ali
sem limitao. A escola Bullinger insiste em que Tiago e Pedro que alertou
sobre aqueles que no ltimo tempo andariam segundo suas prprias

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concupiscncias mpias escreveram aos crentes judeus; mas Judas (dirigida


a todos os santificados) declara que eles vos diziam (versculo 18).

J vos esquecestes da exortao que argumenta convosco como filhos:


Filho meu, no desprezes a correo do Senhor (Hb 12.5). Tal exortao
retirada de Provrbios 3.11, de modo que aqui tem prova adicional de que os
preceitos do Antigo Testamento (tal como suas promessas) no esto restritos
queles que estavam debaixo da economia mosaica, mas aplica-se com igual
direitura e fora queles sob a nova aliana. Observe bem o tempo do verbo
que argumenta: conquanto escrito mil anos antes, Paulo no diz que tinha
argumentado as Escrituras so uma Palavra viva, atravs da qual seu
Autor fala hoje. Repare tambm que argumenta convosco os santos do Novo
Testamento: tudo que est contido no livro de Provrbios tanto verdade
quanto a instruo do Pai aos cristos, da mesma forma que o contedo das
Epstolas Paulinas. Do comeo ao fim daquele livro, Deus se dirige a ns
individualmente como Meu filho (2.1; 3.1; 4.1; 5.1). Tal exortao to
prementemente carecida pelos crentes hoje como o era por qualquer um que
viveu em eras passadas. Ainda que filhos de Deus, somos ainda filhos de
Ado obstinados, orgulhosos, independentes, demandando ser
disciplinados para estar debaixo do cajado do Pai, suport-lo mansamente e
ser desse modo exercitado em nossos coraes e conscincias.

Uma palavra agora sobre aplicao transferida, pela qual queremos dizer o
dar uma variao literal linguagem que seja figurada, ou vice-versa. Desse
modo, sempre que o escritor anda sobre estradas de gelo, ele hesita para no
literalizar a orao: Sustenta-me, e serei salvo (Sl 119.117). Em paz
tambm me deitarei e dormirei, porque s tu, Senhor, me fazes habitar em
segurana (Sl 4.8) para ser dado em sua mais ampla extenso, e considerado
tanto quanto o repouso do corpo sob a proteo da Providncia quanto o
repouso da alma na segurana da graa divina protetora. Em 2 Corntios 8.14
Paulo insiste em que devia haver uma igualdade na doao, ou uma justa
distribuio do fardo, na coleta que estava sendo realizada para aliviar os
santos aflitos em Jerusalm. Tal apelo era sustentado em: Como est escrito:
O que muito colheu no teve de mais; e o que pouco, no teve de menos.
Essa uma referncia ao man apanhado pelos israelitas (Ex 16.18): aqueles
que colheram a maior quantidade tinham mais para dar aos idosos e enfermos;
assim, os cristos ricos devem usar seu excedente para prover para os pobres
do rebanho. Contudo, grande cuidado precisa ser tomado para que no
colidamos com a Analogia da F: assim, os da casa de Saul se iam
enfraquecendo (2 Sm 3.1) certamente no tem o significado de que a carne
se enfraquece medida que o crente cresce na graa, pois a experincia crist
universal atesta que o pecado interior se move com vigorosa intensidade,
tanto no fim quanto no comeo.

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Uma breve palavra sobre dupla aplicao. Ao passo que os pregadores


devem sempre estar alertas para no tomar o po dos filhos e lan-lo aos
cachorrinhos24, ao aplicar ao no salvo promessas dadas a ou declaraes que
digam respeito aos santos; por outro lado, precisam lembrar aos crentes da
fora contnua das Escrituras e de sua presente convenincia aos seus casos. Por
exemplo, o gracioso convite de Cristo, vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mt 11.28), e se algum tem sede,
venha a mim, e beba (Joo 7.37), no devem ser limitados nossa primeira
aproximao do Salvador como pecadores perdidos, mas, como diz 1 Pedro
2.4, chegando-vos no tempo presente. Repare tambm em choram e
no tem chorado em Mateus 5.4, e tm fome no verso 6. De maneira
semelhante, a auto-humilhante palavra, quem te diferena (1 Co 4.7) hoje:
primeiro dos no-salvos; segundo, do que ns ramos antes do novo
nascimento; e, terceiro, dos outros cristos com menos graas e dons. Ora, ele
um Deus soberano e, por isso, nada tens do que te jactar e nenhuma razo
para te gloriares.

Uma palavra agora sobre a aplicao do Esprito da Palavra ao corao, e


nossa tarefa fica completada. Isto descrito em um versculo tal como
Porque o nosso evangelho no foi a vs somente em palavras, mas tambm
em poder, e no Esprito Santo, e em muita certeza (1 Ts 1.5). Aquilo muito
mais do que possuir uma mente informada ou as emoes excitadas, e algo
radicalmente diferente de ficar impressionado pela oratria, sinceridade etc. do
pregador. A pregao do Evangelho tem de ser acompanhada por uma
operao sobrenatural do Esprito, e pela graa eficaz de Deus, de modo que
as almas sejam divinamente avivadas, convencidas, convertidas, libertas do
domnio do pecado e de Satans. Quando a Palavra aplicada pelo Esprito a
uma pessoa, ela atua como a entrada de uma espada de dois gumes dentro do
homem interior, traspassando, ferindo, matando sua autocomplacncia e
justia prpria25 como no caso de Saulo de Tarso (Rm 7.9,10). Isso a
demonstrao de Esprito (1 Co 2.4), pela qual Ele d provas da Verdade
pelos efeitos produzidos no indivduo ao qual ela salvificamente aplicada,
para que tenha ele muita certeza i.e. ele sabe que a Palavra de Deus
devido transformao radical e permanente operada em si.

Ora, o filho de Deus tem necessidade diria dessa graciosa obra do


Esprito Santo: fazer a Palavra operar eficazmente (1 Ts 2.13, KJV) dentro
de sua alma e verdadeiramente dirigir sua vida, para que ele possa com
gratido reconhecer: Nunca me esquecerei dos teus preceitos, pois por eles
me tens vivificado (Sl 119.93). Para tal vivificao obrigao e privilgio dele
orar (versculos 25, 37, 40, 88, 107, 149, etc.). um pedido fervoroso para que
ele possa ser renovado de dia em dia no homem interior (2 Co 4.16), para
24
Mc 7.27. (N. do T.)
25
Hb 4.12. (N. do T.)

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que ele possa ser corroborado com poder pelo seu Esprito (Ef 3.16), para
que ele possa ser reavivado e incentivado a andar na vereda dos mandamentos
de Deus (Sl 119.35). uma petio sincera, para que seu corao possa ter
temor, por um contnuo senso da majestade divina, e derretido por uma
percepo de Sua bondade, de modo que ele possa ver a luz na luz de Deus26,
reconhecendo o mal nas coisas interditas e a bno das coisas ordenadas.
Vivifica-me27 uma orao por graa vitalizadora, para que lhe possa ser
ensinado o que til (Is 48.17), para o aumento de sua f28, o fortalecimento
de suas expectativas, o ardor de seu zelo. equivalente a leva-me tu,
correremos aps ti (Cantares 1.4).

26
Sl 36.9. (N. do T.)
27
Sl 119.25. (N. do T.)
28
Lc 17.5. (N. do T.)

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NOTA DE ESCLARECIMENTO
A. W. Pink escreveu a presente srie de cinco artigos imediatamente
antes de sua morte em 15 de julho de 1952. Eles foram publicados em sua
revista Studies in the Scriptures para as edies (algumas pstumas, portanto) de
junho a outubro daquele mesmo ano. Mesmo aps o rompimento de Pink
com o dipensacionalismo (no incio da dcada de 1930), vrios
dispensacionalistas, infelizmente, continuaram (e ainda continuam!)
republicando alguns dos escritos de Pink da poca em que foi
dispensacionalista [a saber, The Redeemers Return (1918) e The Antichrist (1922-
3) e Parables of Matthew 13 (1927-8) sem tradues em portugus.]
Entretanto, tais artigos demonstram que a posio do escritor permaneceu,
aps sua considerao ponderada sobre o assunto (nas suas prprias palavras),
contrria quela escola de pensamento teolgico at a sua morte.

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UMA BREVE BIOGRAFIA

Arthur Walkington Pink (1886-1952)

Evangelista e erudito bblico nascido em Nottingham, Inglaterra, A. W.


Pink foi dedicado a Cristo por sua me antes de nascer. Porm, quando
jovem, afastou-se da f de seus piedosos pais e aderiu Teosofia (o
movimento Nova Era de sua poca). Entretanto, em 1908, passa por uma
contundente experincia de converso ao Evangelho e, simultaneamente,
sente-se chamado para o ministrio. Assim, em 1910, aos vinte e quatro anos
de idade, cruza o Atlntico para entrar no Instituto Bblico Moody, em
Chicago, mas sai de l aps dois meses, para assumir uma igreja, a primeira de
uma srie de esforos fracassados no ministrio pastoral. Em 1916, casou-se
com Vera E. Russell.

Nos anos seguintes ao abandono do curso, veio a adotar uma posio


teolgica ardente e estritamente calvinista, aps aplicar-se ao estudo do
pensamento puritano. Logo estaria manejando uma prolfica pena, tornando-
se professor itinerante da Bblia em 1919, devotando, a partir de ento, sua
vida ao estudo e exposio do Livro Santo, que viria a ler mais de cinqenta
vezes e num ritmo de at dez captulos por dia (!). Em 1922, deu incio a uma
revista mensal com o ttulo de Studies in Scriptures, voltada exposio das
Escrituras e cujos artigos viriam a ser a fonte da maioria de seus trabalhos, que
circulou entre cristos de lngua inglesa espalhados pelo mundo e que nunca
chegou a atingir uma tiragem de mil exemplares, e que circulou at poca de
sua morte; foi, sem dvida, seu maior monumento. De 1925 a 1928, atuou na
Austrlia, pregando, escrevendo e pastoreando duas congregaes entre 1926
e 1928, quando retornou Inglaterra. No ano seguinte, retornava aos Estados
Unidos para mais oito anos de pastoreios mal-sucedidos no Colorado, em
Kentucky e na Carolina do Sul. Para alguns, a razo da fraca acolhida de seu
ministrio nesse campo deveu-se personalidade excntrica (de fato, Pink no
se encaixava em qualquer lugar).

Em 1934, retornou em definitivo sua ptria natal, fazendo residncia


na Ilha de Lewis (Esccia) em 1940, onde permanece em isolamento

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praticamente at sua morte, sem nenhuma ligao formal com qualquer


denominao posio que no deve ser defendida nem justificada. A partir
de ento, seu servio no Reino de Deus passou a ser escrever dzias de livros
e mais de dois mil artigos, todavia, sem sucesso editorial.

Em sua poca, Arthur Pink era praticamente desconhecido e,


certamente, no era apreciado. O estudo por conta prpria da Bblia firmou-
lhe a convico de que muito do moderno evangelismo era defeituoso. Fez
frente crescente aceitao do arminianismo mesmo em tradicionais redutos
calvinistas, como as igrejas batistas, levando adiante, com zelo incansvel, os
princpios da ento abandonada literatura reformada. Para ele, o declnio
espiritual da Gr-Bretanha era resultante de um evangelho que nem feria
(com convico de pecado) nem curava (pela regenerao).

Aps o seu falecimento em 1952, porm, ele veio a ter significativa


influncia. Tendo suas obras republicadas por The Banner of Truth Trust, veio a
alcanar um pblico muito maior como conseqncia (quase 178 mil
exemplares vendidos apenas de The Sovereignty of God, por exemplo). Seu
bigrafo Iain Murray observou: A difundida circulao de seus escritos aps
sua morte tornou-o um dos mais influentes autores evanglicos da segunda
metade do sculo XX. Familiarizado com toda a gama da verdade, Pink
raramente se desviou dos grandes temas: graa, justificao e santificao. A
nossa gerao tem com ele uma grande dvida, pela permanncia da luz que
ele lanou, pela divina graa, sobre a verdade da Bblia Sagrada. Seus escritos
lanaram a fasca que deu incio ao reavivamento da pregao bblica e
levaram muitos leitores a focalizarem o corao na vida de acordo com a
Palavra de Deus.

Algumas frases de A. W. Pink:

A tendncia da moderna teologia se se pode cham-la de teologia


sempre rumo deificao da criatura ao invs da glorificao do
Criador.

No perguntamos: Cristo seu Salvador, mas: Ele, real e


verdadeiramente, seu Senhor? Se Ele no for seu Senhor, ento, com a
mais absoluta certeza, Ele no seu Salvador.

O fundamento de todo verdadeiro conhecimento de Deus deve ser


uma clara apreenso mental de Suas perfeies como reveladas nas
Escrituras. No se pode confiar, adorar ou servir a um Deus
desconhecido.

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O Deus deste sculo vinte no se assemelha mais ao Soberano


Supremo das Escrituras Sagradas do que a bruxuleante e fosca chama
de uma vela se assemelha glria do sol do meio-dia. O Deus de que se
fala atualmente no plpito comum, comentado na escola dominical em
geral, mencionado na maior parte da literatura religiosa da atualidade e
pregado em muitas das conferncias bblicas, assim chamadas, uma
fico engendrada pelo homem, uma inveno do sentimentalismo
piegas. Os idlatras do lado de fora da cristandade fazem deuses de
madeira e de pedra, enquanto que os milhes de idlatras que existem
dentro da cristandade fabricam um Deus extrado de suas mentes
carnais. Na realidade, no passam de ateus, pois no existe alternativa
possvel seno a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum
deus. Um Deus cuja vontade impedida, cujos desgnios so frustrados,
cujo propsito derrotado, nada tem que se lhe permita chamar
Deidade, e, longe de ser digno objeto de culto, s merece desprezo.

Livros traduzidos no Brasil:

Attributes of God (Os Atributos de Deus, Editora PES)


Profiting from the Word of God (Enriquecendo-se com a Bblia, Editora
Fiel)
Studies on Saving Faith (Estudo sobre a F Salvfica, Site
Monergismo.com)
A Study of Dispensationalism (Uma Refutao Bblica ao
Dispensacionalismo, Site Monergismo.com)
The Doctrine of Justification (A Doutrina da Justificao, Site
Monergismo.com)
The Seven Sayings of the Saviour on the Cross (Os Sete Brados do Salvador
sobre a Cruz, Site Monergismo.com)
The Sovereignty of God (Deus Soberano, Editora Fiel)

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