5 - Linguagem em Arteterapia
5 - Linguagem em Arteterapia
5 - Linguagem em Arteterapia
4 Arteterapia ................................................................................................ 13
Crença e Fé ................................................................................................ 20
12.1 Aplicação......................................................................................... 36
16.1 A vida secreta das fotos pessoais e das fotos de família ................ 45
17 BIBLIOGRAFIAS ................................................................................... 50
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1 LINGUAGEM EM ARTETERAPIA
Fonte: institutofreedom.com.br
4
De acordo com COUTINHO (Op. cit.), a criação artística, de fato, ajuda o
indivíduo a reforçar seus aspectos saudáveis. Abre as portas da sensibilidade,
possibilitando a construção de meios para a transformação pessoal.
Mas antes de partir para a criação artística, é necessário que o arteterapeuta
favoreça ao indivíduo um contato consigo para poder externalizar o sentimento que
proporcionará a transformação. A expressividade espontânea, antes das artes, está
na linguagem corporal. O corpo também é um canal de comunicação entre consciente
e inconsciente, tornando-se fundamental o reconhecimento da consciência corporal,
a partir da qual se obtém maior domínio do corpo e do espaço e, por conseguinte,
maior segurança.
Para WEIL & TOMPAKOW (1986), o homem é programado para perceber e
discernir, mas o hábito de atentar para as ferramentas-símbolo (palavras) afastou-o
A LINGUAGEM FALADA E ESCRITA PODE TER AFASTADO O
da percepção consciente do “aqui e agora”. HOMEM DE SI MESMO? LINGUAGEM VERBAL X NÃO VERBAL.
5
Quando desenha no papel, objeto que existe fora dela, a criança interage com
ele, com o lápis, a cor, o chão, a parede, ligando a sua ação com os mais diversos
movimentos corporais: exclama, canta, balança-se ou até manifesta o silêncio. A
criança promove uma comunhão entre ela e o meio; entre ela e o cosmos. A
propriedade que a criança estabelece com os seres, com os objetos, com as
situações, depende da intensidade afetiva, do tônus energético que ela mantém como
qualidade de relação com o mundo.
Tal como o instrumento é o prolongamento da mão, o mundo é o prolongamento
do corpo. A relação física sensorial que a criança estabelece com o desenho
possibilita a experiência de novas realidades (DERDYK, 2003, p.60).
Ao longo do tempo, têm sido desenvolvidos métodos e técnicas que
conseguem mudar muitos de nossos estados emocionais, e até atingir a estrutura da
nossa personalidade: a Arteterapia é uma delas.
BAPTISTA (2003), no entanto, afirma que expressão corporal é pouco utilizada
pelos arteterapeutas em detrimento de outras formas expressivas, porém é um dos
canais mais expressivos da Arteterapia, abrangendo uma infinidade de técnicas e de
propostas, como o toque, a massagem e o movimento, por exemplo.
Para a autora, o trabalho corporal pode ser o fio condutor do processo
terapêutico, uma vez que corpo e mente estão sempre ligados; processos psíquicos
e biológicos se processam no corpo.
As primeiras vivências do ser humano estão relacionadas aos aspectos
sensoriais, ficando registradas em nossa memória corporal. A pele é o maior órgão do
corpo humano, e também possui papel importante no desenvolvimento do homem,
pois o tato é o primeiro sentido a se desenvolver.
A pele, portanto, é o primeiro veículo de comunicação do ser com o mundo,
proporcionando acesso às demais linguagens.
“(…) no tempo dos nossos ancestrais, a ‘consciência’ humana formou-se a
partir do relacionamento sensorial da nossa pele com o mundo exterior” (JUNG, apud
BAPTISTA, 2003).
A consciência corporal facilita a assimilação do mundo interior e exterior. “A
expressão corporal fala para além das palavras, trazendo uma ponte direta para o
universo do imaginário e simbólico. É do movimento espontâneo que nasce o arsenal
simbólico de cada um” (BATISTA, 2003).
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O trabalho corporal em Arteterapia, assim como a observação da forma dos
movimentos naturais, permite a transformação dos símbolos trazidos do gesto para o
concreto – expressão artística.
Embora o ser humano esteja dominando cada vez mais as novas tecnologias,
e desenvolvendo meios de comunicação mais complexos e eficazes, não há como
despojar-se do homem primitivo e seu sistema de comunicação. Embora muitas vezes
procuremos nos apoiar em linguagens e gestos convencionais, nosso corpo é reflexo
daquilo que somos e das experiências que trazemos.
Tornar-se ciente do corpo e das suas operações equivale a tornar-se ciente da
alma, fazendo que o sujeito mergulhe profundamente em si próprio, de onde
emergem, por meio da Arteterapia, tanto as impressões deixadas no em seu corpo,
quanto os produtos concretos da subjetividade (gestual, figurativo, sonoro etc.).1
Desenho
Podem ser utilizados o giz de cera, pastel a óleo, pastel seco, lápis de cor, lápis
de cor aquarelado, hidrocor, carvão e lápis grafite. Todos têm significado terapêuticos
semelhantes. No desenho, a coordenação motora fina é bastante trabalhada, portanto
o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o intelectual. A atenção, a
concentração e o contato com a realidade são explorados.
O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é indicado em
pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e reproduzir a realidade tal
como ela é. A imensa dificuldade que encontram em reproduzir, não é só o medo de
errar, é a própria dificuldade de dar direcionamento em sua vida. É indicado para
pessoas dispersas, sonhadoras, confusas e adolescentes.
Pintura
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Quanto mais expressão, mais autoconhecimento e mais autoconfiança. A
pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida.
Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando
ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o
resultado.
Modelagem
A modelagem pode ser feita com massa caseira, argila, biscuit, cera de abelha,
plasticina, papel machê e massa de modelar.
O efeito da modelagem atua nas sensações físicas (leva ao relaxamento) e
viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização
de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser livre ou
dirigida. Pessoas rígidas ou ansiosas, tem ganhos muito grandes.
A sensação de estar em contato com o barro, pode ser muito gratificante ou
não. A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado
de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser moldável,
integra o ser com o mundo exterior, mostrando-o que pode adaptar-se às situações,
sendo fluida, recebe projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a
libertação das tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação
calmante.
No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação motora. No
emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser
conhecidas e trabalhadas.
Nos casos de negação e resistência à argila, oferta-se o papel machê ou a
massa de farinha de trigo, pois de início não devemos forçar, e com a adaptação a
estes recursos, aos poucos inclui-se o barro.
O papel machê é um material frio e viscoso, mas que também nos oferece
retornos, pois podemos moldá-lo e criar, não chegando aos efeitos da argila, por não
ser um produto natural primitivo.
A massa de farinha de trigo e sal, é feita pelo próprio terapeuta, com ou sem
ajuda do paciente, variando cores. E ao contrário do papel machê, é utilizada estando
morna, para melhor manuseio. Em termos terapêuticos, pode levar os adultos, a
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recordações maternas, ou da infância. Proporciona também a capacidade criadora,
autoestima, catarse emocional, autoconfiança e autodomínio.
Construção
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Sucata
Colagem
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entre si, pela presença de polaridades cromáticas, a posição e ocupação sobre o
suporte e o movimento.3
4 ARTETERAPIA
Fonte: arteterapiamarisepiloto.blogspot.com.br
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duas guerras mundiais, uma das principais mudanças foi a queda do mito de que a
razão e a ciência seriam a resposta para tudo.
Por volta de 1950 – a chamada era pós-industrial, seguindo o surgimento da
arte educação e alimentada pelas mesmas preocupações, surge a Arteterapia.
Margareth Naumburg – artista plástica, educadora e psicóloga americana – foi quem
primeiro interessou se pelas pontes que entrevia entre o trabalho desenvolvido na sua
escola, onde utilizava-se o método Montessori e o campo da psiquiatria e da
psicoterapia. Em suas palavras: “A convicção de que a expressão livre na arte é uma
forma simbólica de linguagem nas crianças, básica a toda educação, cresceu através
dos anos. Concluí que esta expressão espontânea na arte poderia ser básica também
ao tratamento psicoterápico. ” Naumburg não foi a primeira a utilizar o termo
arteterapia, mas ficou conhecida como “mãe” da arteterapia por ter sido a primeira a
diferenciá-la claramente como um campo específico, estabelecendo os fundamentos
teóricos sólidos para seu desenvolvimento. Em suas palestras, livros e ensinamentos,
sempre ficou clara sua crença na importância da atividade criativa e expressiva para
o desenvolvimento pleno de cada ser humano e de cada comunidade social. Muitos
foram seus seguidores.
Em 1969, foi oficialmente fundada a Associação Americana de Arteterapia
(AATA). Na década de 1980, essa abordagem foi trazida ao Brasil por Selma Ciornai,
psicoterapeuta gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados
Unidos, quem a desenvolveu em São Paulo, criando o curso de Arteterapia no Instituto
Sedes Sapientiae.
A Fundamentação Existencial
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Wilhelm Reich e Viktor Frankl. A visão existencial não implica uma atitude ingênua
diante de fatores coercitivos, mas afirma que o indivíduo não é apenas um “produto
do meio”, e sim que pode interagir com o meio de forma criativa, inusitada e
transformadora. Para Sartre, um dos expoentes dessa corrente filosófica, o ser
humano é visto sempre em possível estado de refazer-se e de escolher e organizar a
própria existência criativamente, sendo sujeito da própria história, artista da própria
vida.
Tanto na arte como na terapia manifesta-se a capacidade humana de perceber,
figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo, retirando
a experiência humana do cotidiano, estabelecendo novas relações entre seus
elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o sonhado, o temido
com o vislumbrado, trazendo assim novas integrações e possibilidades de
crescimento. Essa afirmação da centelha de divino em cada um de nós, essa fé na
capacidade humana de ser o artista da própria existência está entranhada na
Arteterapia. Baseado nessa premissa, o objetivo de uma terapia de base existencial é
trabalhar em direção à constante expansão da consciência, a fim de facilitar que as
pessoas venham a se tornar agentes das próprias transformações na vida. Na
Arteterapia, a visão existencial se manifestará na atitude do terapeuta, quem vai
estimular e facilitar o movimento da criatividade e expressão artística do cliente,
sugerindo experimentos, técnicas e facilitando elaborações e buscas de significado.
O cliente é visto como sujeito ativo em seu processo terapêutico que, com o terapeuta,
explora as formas que produziu, encontrando, criando e dialogando com os
significados nela desvelados.
A fundamentação fenomenológica
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como é vivido e experienciado. Fenomenologia significa “o estudo daquilo que
aparece”. O fenômeno deve ser descrito tanto quanto possível sem interpretações
provenientes de referenciais externos. Em arteterapia, esse método possibilita
procurar o sentido que certas experiências ou situações tem para a pessoa, para o
cliente. Para isso, o terapeuta necessita deixar-se envolver existencialmente,
deixando brotar sentimentos e sensações que propiciem uma compreensão intuitiva,
pré-reflexiva dessa experiência para, em seguida, estabelecer certo distanciamento
que lhe permita uma reflexão em que procurará nomear aquela vivência de forma que
se aproxime o mais possível do próprio vivido.
Nesse sentido, o conhecimento de alguns modelos teóricos amplia o poder de
observação do terapeuta e sua capacidade de compreensão do fenômeno. Outra
característica marcante da abordagem fenomenológica no trabalho terapêutico, é a
ênfase no processo. Na arteterapia, o terapeuta estará sempre atento à presença e
ao comportamento (verbal ou não-verbal) do cliente, focalizando mais o como do que
o porquê, ou seja, mais a qualidade da experiência descrita do que as explicações
causais, e tanto o conteúdo como a forma como esse conteúdo é comunicado
(estrutura das frases, tom e ritmo da voz, gestos, olhar etc.). Atenção deve sempre
ser dada aos movimentos, sentimentos, padrões de pensamentos, qualidade de
contatos (com o terapeuta, consigo próprio, com o mundo, com os outros, com o
próprio trabalho) que afloram durante a confecção do trabalho, bem como ao modo
como materiais, cores e formas são escolhidos e trabalhados. Em outras palavras,
deve-se dar atenção à qualidade da experiência, a quando o processo de contato e
expressão flui de maneira contínua e energizada e a quando se torna emperrado,
desvitalizado ou interrompido. E tudo isso em cada etapa do processo: antes, durante
e depois da atividade de arteterapia desenvolvida.
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palavras não são a melhor linguagem para expressar o que é contatado. É comum
sentirmos dificuldade em transmitir em palavras, sensações e sentimentos
intensamente presentes, assim como imagens e sensações intensamente vivas para
nós em sonhos e visões. Porém, por termos a capacidade de nos expressar por meio
de diversas linguagens expressivas, frequentemente sensações, sentimentos e visões
são muito melhor expressos em imagens, cores, movimentos ou sons.
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de uma tomada de consciência. Falta consciência! E aí, vem a doença como o
caminho que o ser humano pode seguir rumo à cura.
Vale aqui comentar as sábias reflexões sobre a cura que a Dra. Jeanne
Achterberg, psicóloga americana, professora do Saybrook Institute nos Estados
Unidos, fez na sua palestra no XXVIII Congresso da Associação Americana de
Arteterapia, em 1997. A perspectiva da Dra. Achterberg sobre a cura é que não é
suficiente uma mudança apenas na medicina, mas uma mudança nos valores
humanos. E comenta: “O futuro está além do que alcançamos conhecer, mas o
presente está além do que podemos acreditar, fazemos tanto barulho com a
tecnologia que não conseguimos descobrir que o portal mágico está em nossas
mentes. Mas o tempo chegou, a revelação já ocorreu, e nossos guardiões já viram
relâmpagos na obscuridade que chamamos realidade. E agora, entramos naquele
breve intervalo que ocorre entre o relâmpago e o trovão. ” Criar novas imagens é
fundamental, portanto. E essa é uma das funções da Arteterapia. Dra. Achterberg
acredita que a verdade da medicina é que tudo cura alguém (o que traz muita confusão
às nossas metodologias de pesquisa), nada cura a todos, e nada cura para sempre,
nenhuma pílula, poção ou manipulação. Na história dos métodos de cura e da
medicina sempre estiveram presentes a imagética e as artes criativas e, quando há
doença, os doentes podem contar com um círculo de cura. Dependendo da cultura e
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do tempo, coisas distintas são colocadas nesse círculo, quimioterapia, radiação,
manipulação, antibiótico, cristais etc.
Mas o que Dra. Achterberg realmente acredita é que a cura está em outro lugar:
nas nossas mentes, na nossa alma. Os vínculos formados nesses círculos de cura
são invisíveis e poderosos, podemos chamá-los de amor, contato humano,
intencionalidade à distância, preces, vibração, energia, desenvolvemos vários nomes
para isso, mas o importante é que nesse círculo algo acontece, e acontece em todas
as culturas através dos tempos. Dra. Achterberg chama de imagética os sonhos, as
visões, as imagens, que levam a insights para atribuição de significados e renovação
de valores mais importantes para os seres humanos, fenômeno largamente
comprovado na história da humanidade como fonte de medicina e cura. Imagética é
simplesmente pensamento com qualidade sensorial. O uso da imaginação tem
provado ser intervenção poderosa em muitos aspectos das doenças físicas.
Pesquisas demonstram que cerca de 60% das pessoas tem imagens visuais.
Essas imagens podem ser também auditivas e olfativas. O uso da imagética, da
imaginação e dos processos simbólicos na medicina e na cura é uma poderosa
estratégia para provocar mudanças em pensamentos, comportamentos e/ou
processos fisiológicos. No uso da imagética para cura, encontramos alguns
ingredientes básicos e centrais que são necessários: Um lugar especial, um espaço
no ambiente onde a pessoa possa sentir-se num espaço sagrado, ritualístico; Tempo
e regularidade – pesquisas mostram que o tempo necessário para usar a imaginação
como um recurso de cura é 22 minutos, mais ou menos 3. A maioria das experiências
de meditação tem essa duração; Intenção – dedicar um tempo e adentrar o espaço
sagrado que a pessoa criou para si mesma, ou seja, sua intenção, é mais importante
do que a forma de visualização; Sistema de apoio – pessoas que podem facilitar o
processo de cura formando o círculo de cura, anteriormente citado; Estado alterado
de consciência – necessário antes que qualquer cura significativa através da
imaginação possa se dar.
Crença e Fé.
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processos de cura são absolutamente entrelaçados na psique. Parece fácil manter-
nos saudáveis com essas práticas. Qual é, então, a natureza da doença? Por que,
com uma frequência e intensidade variáveis, adoecemos? Talvez o mais importante
não seja saber o que nos faz adoecer, mas sim o que nos torna saudáveis. Esse é o
foco do trabalho em Arteterapia.
O ser humano está doente. No atual contexto sócio econômico, passamos por
várias crises e talvez estejamos cansados de ler, ouvir e sentir problemas como
desigualdade social, miséria, guerras, violência urbana, atentados suicidas,
sequestros, assassinatos, além de desastres ecológicos que ameaçam a
sobrevivência do planeta, criando uma sensação de crescente ameaça e insegurança.
“Amedrontados e confinados, cada um se volta para si, desconectado do outro
e da natureza. As relações tornam-se mais apressadas, superficiais, “descartáveis”.
O utilitarismo impregna nossas relações profissionais e amorosas. ”Selma Ciornai
Esse cenário acarreta:
♦ a síndrome da incerteza: transformações rápidas e enormes dúvidas de
como sobreviver no mundo atual;
♦ a síndrome da solidão: os contatos no trabalho, na família são
frequentemente marcados pela intolerância, irritação e competitividade e nos sentimos
sós;
♦ a síndrome da dessensibilização: em relação a si próprio e à dor do outro;
♦ a síndrome da indiferença e do desencantamento em relação ao mundo:
pessoas se queixam de apatia, falta de paixão – nada tem graça! Estresse, ansiedade,
síndrome do pânico e depressão são as doenças “da alma” dos nossos tempos.
Nesse contexto, a arteterapia pode oferecer a ajuda necessária para nós
mesmos e para que a nossa sociedade e o mundo se tornem melhores. Já vimos no
decorrer deste trabalho que é essencial praticar atividades criativas. Devemos deixar
emergir fatores de personalidade promotores da criatividade, como sensibilidade,
percepção, apreensão empática, flexibilidade, não julgamento, receptividade às
diferenças e a novas ideias, capacidade de apaixonar-se por causas e pessoas,
21
capacidade de adaptar se criativamente e de criar e apreciar novas realidades, para
que possamos conviver em uma sociedade mais justa.
7 ARTETERAPIA E ESPIRITUALIDADE
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entenderam perfeitamente o que lhes fora comunicado através da arte. Pode-se dizer
que a arte é a linguagem natural da humanidade. ” Fayga Ostrower.
“No trabalho de arteterapia, quando a pessoa começa a mexer com materiais
de arte, ela vai se deliciando com a fluidez de uma cor lentamente se misturando com
a outra, com as formas que as pressões de seus dedos vão criando na argila… esses
efeitos a vão fascinando, banhando-a internamente e, sem que se dê conta, vai
acalmando o seu ritmo interno, entrando em outra sintonia… E, nesse sentido, o
trabalho com arte é uma meditação ativa. ” Selma Ciornai.
Fonte:weheartit.com
Cito aqui literalmente a Dra. Achterberg, por ter definido tão sensível e
profundamente a experiência do sagrado depois de ler sua definição, não consegui
pensar numa forma melhor de colocar essa questão: “Sabemos que existem aspectos
poderosos e invisíveis em nosso ser. Tudo é sagrado – o oxigênio é sagrado, o
hidrogênio é sagrado porque nosso espírito vive nessas moléculas, e a consciência,
seja lá o que seja, pode adentrar aquilo que chamamos de matéria, interagir com ela,
amá-la, compreendê-la. O carbono em nossos ossos foram um dia parte das estrelas,
o sangue em nossas veias foram um dia parte dos oceanos, e os fluidos em nossos
corpos que estão dançando com a lua e as estrelas, o sole as marés, somos todos
23
nós… Pensem em nossos pulmões, e de como respiramos moléculas de cada santo,
sábio e pessoas que amamos… Não somos separados. Pensem neste círculo de cura
e nos vínculos que existem entre nós. Somos quimicamente relacionados, não
terminamos em nossas peles.
Somos realmente moléculas de luz concentradas e dançantes… E quando
penso em mim e nas pessoas a minha volta desta forma, meus pensamentos voltam-
se a ideias mais transcendentes do que as que normalmente contemplamos em nossa
consciência. Então, espero que a medicina, e por medicina me refiro a tudo o que
ajuda nos processos de cura, possa realmente começar a levarem conta a totalidade
do que somos, a considerar que não terminamos em nossas peles, e que o que está
além de nossas peles talvez seja mais fundamental para nossos processos de cura.
E que o acesso de um a outro, ao mundo interno, ao mundo mais transcendente pode
bem ser as visões, imagens ou sonhos imateriais. ” Cada um de nós necessita de um
canal de expressão a que recorrer quando estamos vivendo momentos onde sentimos
nossa alma mergulhar em uma noite negra e sombria. Para uns é pintar, para outros
é escrever, o que importa realmente é poder reacender e manter o fogo criativo.
Quando as pessoas começam a expressar-se através da dança, das artes plásticas,
da música, o que elas expressam é verdadeiro, original, espontâneo.
A arteterapia como poder de cura se espalha hoje em dia por hospitais, clínicas,
escolas e instituições. Não para levar as pessoas a serem artistas do pincel ou do
lápis, mas para que possam ser artistas do manter-se vivos e bem. O que pode ser
mais sagrado que isso?4
25
do inconsciente, da ordem do indizível. Por este motivo, é utilizada com excelentes
resultados nos processos terapêuticos, sendo instrumento de catarse, na expressão
de sentimentos, pensamentos, ideias, fantasias, traumas e comportamentos
emocionais mal elaborados, que impulsionam o indivíduo ao movimento de
autoconhecimento, de cura e controle de alguma doença ou distúrbio. Na clínica
infantil, a arte é uma importante ferramenta pois viabiliza o vínculo terapêutico, já que
a criança ainda não é detentora de um discurso linguístico bem estruturado para falar
de sua queixa, dificultando, portanto, um vínculo terapêutico. Igualmente importante
são os casos traumáticos, onde em uma possível presença de dissociação
psicológica, perde-se partes de um todo vivido, em que um discurso dissociado
apresenta somente partes da cena do evento, pois determinados elementos, mais
dolorosos, escapam à luz da consciência, configurando-se um importante mecanismo
de defesa psíquico. Neste caso, a arte e principalmente a pintura, por não passar pelo
crivo da racionalidade e por ter livre passagem sem nenhuma criticidade do intelecto,
fazem emergir de maneira espontânea conteúdos psicológicos inconscientes que
estavam latentes ou que não encontravam uma forma de comunicação de maneira
tão precisa, visto que a linguagem escrita ou falada muitas vezes não dá conta do que
se tenta exprimir, sendo a produção artística, um excelente aparato na clínica.
Neste caso, a arte se mostra um importante recurso não só como meio de
autoconhecimento, mas também de catarse, melhorando a qualidade de vida do
paciente, promovendo sua inclusão social, aumentando sua autoestima e promovendo
uma vida mais gratificante e feliz. Por ser “alquímica”, transmuta sentimentos e
emoções, materializa medos, receios, fantasias, indo de encontro a nossa própria
essência, ao nosso eu, às nossas raízes genealógicas, históricas, sendo um
importante recurso de autotransformação, pois como foi dito anteriormente, conteúdos
que não eram da ordem da consciência passam a emergir de modo que possam
proceder uma desconstrução e ressignificação de elementos que, embora não
estavam à luz da consciência, não eram menos vivos e atuantes, muito pelo contrário.
Estes conteúdos que não estavam clarificados, trabalham de forma mais viva e forte,
exatamente por não estar no âmbito da consciência e consequentemente dificultando
o controle e elaboração deles. A partir da elucidação e conscientização deste, se pode
trabalhar elementos da história de vida do paciente, tais como dificuldades relacionais,
interpessoais, intrapessoais e familiares, bem como a ansiedade e o estresse do dia-
26
a-dia, resgatando através da arte o potencial criativo e ressignificando vivências do
paciente.
Psiconeurologicamente, através da produção artística, é dada ao paciente a
oportunidade do desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade intuitiva, visto que
o exercício do hemisfério direito, a parte do cérebro responsável pela criatividade e
intuição pode ser treinada e desenvolvida através de competências que,
historicamente foram relegadas a escanteio pela cultura da racionalidade, do
pragmatismo, da intelectualidade e do raciocínio lógico como preponderastes em uma
sociedade ocidental capitalista, que visa a produtividade e o lucro.
Nos tratamentos psiquiátricos, a arte é uma ferramenta fundamental, pois os
portadores de distúrbios mentais, taxados pela sociedade como incapacitados e
improdutivos, e por consequência marginalizados, podem, através da produção
artística trabalhar os processos de cura, atribuindo sentido e significado à sua
existência, por sentirem-se úteis e produtores, ao mesmo tempo em que desenvolve
uma atividade psicolúdica na manifestação íntegra de seu ser e no resgate da sua
criança interior. O resultado deste processo não só proporciona o alivio de sintomas,
mas o trabalho ativo de conteúdos psíquicos subjacentes represados, encontrando
oportunidade de ressignificação através de novas (re) leituras da realidade e da
mudança de perspectiva neste tipo de abordagem psicoterapêutica.
Vale a pena salientar que a arte como ferramenta aplicada a clínica, é um
processo atentamente guiado, onde a tríade terapeuta, paciente e arte estão
intrinsecamente vinculados em um contexto com um fim específico de catarse,
expressão do sofrimento e elaboração de sentimentos, na desconstrução de padrões
de pensamentos e comportamentos que porventura contribuíram ao paciente o estado
de adoecimento. Existe quebra de paradigmas de suas vivências de modo a construir
novos padrões mais saudáveis, criando novas perspectivas e construindo uma nova
realidade que possa proporcionar o encontro do eu do paciente enquanto essência e
desta forma, buscando a harmonia e a saúde.
Importante ressaltar que a arte na clínica nunca deve ser considerada um
passatempo ou simples relaxamento, pois como foi exposto acima ela remete a fins
terapêuticos e resultados específicos. Não existe contraindicação para a utilização da
arteterapia, podendo ser utilizada em qualquer abordagem da clínica individual, em
psicoterapias grupais e em qualquer faixa etária, tais como o público infantil,
27
adolescente, adulto e idoso. Abrange qualquer condição socioeconômica e grau de
instrução, atendendo as mais diversas queixas, sejam de ordem física, psicológica ou
psicossomática, dentre elas as doenças autoimunes, a depressão, o Alzheimer,
problemas neuropsicofísicos em geral. Dentre as artes que participam nos processos
de cura, podemos citar a arteterapia (desenhos, mandalas, pintura, escultura e
trabalhos com argila), a musicoterapia (canto, instrumentos musicais), psicodrama
(teatro) e a biodança. O tipo de procedimento a ser utilizado vai depender da história
de vida do paciente, de sua queixa clínica, bem como de seus interesses, propensões
e limitações. Cada caso é um caso único, onde se necessita realizar todo um
procedimento personalizado para aquele paciente.
Pode-se utilizar uma mescla de recursos que a psicoterapia da arte oferece,
sempre respeitando as limitações e escolha do paciente. Vale a pena salientar que,
embora a Arteterapia ofereça recursos importantíssimos na clínica, ela é uma
ferramenta que não substitui um tratamento psicológico aprofundada.5
A Arteterapia é o uso das diversas linguagens artísticas, valendo-se do seu
amplo potencial criativo, mobilizador e facilitador do autoconhecimento, para promover
não só processos terapêuticos como também processos de desenvolvimento do ser
humano, nos mais diversos contextos.
O trabalho consiste em vivenciar linguagens artísticas diversas, como Desenho,
Pintura, Modelagem, Música, Expressão Corporal (dança, mímica, representação),
Escrita Criativa (textos, poesias), Mosaico, Recorte e Colagem, de maneira que as
pessoas possam ampliar suas formas de expressão.
A Arteterapia não exige e não ensina técnica artística, valendo-se da arte não
como produção artística, mas como linguagem. Os trabalhos não têm nenhuma
pretensão técnica, funcional, estética ou comercial. O objetivo é estimular a
autonomia, a ousadia, a autopermissão, o contato e a expressão. Assim, numa sessão
de Arteterapia são legitimadas trocas espontâneas da linguagem artística utilizada,
bem como o uso simultâneo delas num mesmo trabalho, interrupções, “estragos”,
tentativas incomuns, ousadias, frustrações, incompatibilidades. O arteterapeuta vem
não como instrutor ou apreciador, mas como ouvinte do que o cliente diz com sua arte.
Proporcionando que através dela ele fale. O que for. Com qualquer cor, forma, textura,
10.2 Movimentarte
30
bipolaridade, depressão aguda e outras doenças psicológicas e psiquiátricas. Mas o
projeto não se limita a esses casos. Indivíduos que tenham dificuldades em tomar
decisões, finalizar atividades ou em lidar com seus próprios sentimentos também
podem participar das oficinas itinerantes ou no ateliê, localizado na Tijuca, bairro do
Rio de Janeiro.
“O projeto é contemplado com recursos das sete artes. São utilizados materiais
plásticos, recicláveis, poesia, música e, agora, com o advento da informática, misturo
muito a fotografia com o recurso da cibernética. A minha função é ser um facilitador
no processo de amplificação do olhar da pessoa para vida ou para o problema que ela
está vivendo. Vejo que a arte coloca o ego do tamanho perfeito. O adicto, de forma
geral, vai perder o ego, cair para as doenças; ou perder para o ego, vai roubar, vai
cometer estelionato, e até mesmo morrer. Então, a arte e a criação são reguladoras
do ego. Através da aceitação, ela começa a ter outra atitude, o posicionamento dela
perante ao mundo, no meu ver arteterapeutico”, afirma Paulo.
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Com o objetivo de fazer com que cada indivíduo possa fazer descobertas pessoais
pelos caminhos da música e do teatro, deixando para trás censura estética e a
preocupação com o certo e errado, o importante é utilizar seus próprios recursos como
fonte artística e ter a capacidade de transformar sua presença na sociedade.7
10.7 Teatroterapia
Fonte: analisedehoje.wordpress.com
A Arteterapia é uma modalidade terapêutica que tem por objetivo trazer ao nível
da consciência ocorrências inconscientes que precisam ser confrontadas. Segundo
Carl G. Jung, todo material inconsciente se manifesta por meio de imagens, daí a
importância da arte no processo terapêutico. Através da linguagem artística é possível
lançar luz sobre esse material, para que ele possa ser devidamente elaborado - por
meio da reflexão e desdobramentos - e integrado no plano da consciência. De outro
modo, o fazer artística, por si só, também é capaz de acionar processos internos
capitais para o bem-estar psicológico, transformando a energia psíquica e
equacionando ocorrências íntimas.
Diferentemente de uma oficina técnica, que tem por finalidade a elaboração de
um produto com qualidades definidas por um modelo, a oficina arteterapêutica tem
por objetivo elaborar um produto espontâneo e autêntico, a partir do qual possamos
nos reconhecer, questionar e realizar.
Apesar de não poder ser compreendida como terapia no seu sentido mais
amplo, o atendimento arteterapêutico modelado em oficinas pode servir como um
desdobramento eficiente para aqueles que já se encontram em terapia de modo
contínuo, auxiliando no processo ao oferecer uma vivência diferenciada, em termos
espaciais e de abordagem, e em conjunto com outras pessoas.
Se na oficina técnica, aprendemos a percorrer um caminho sinalizado e
eficiente, na oficina arteterapêutica trabalhamos nosso próprio caminho, seja por meio
Foi em 1954 que Nise da Silveira escreveu uma carta para Carl G. Jung, em
busca de esclarecimento para a recorrência de determinado forma na produção dos
pacientes do hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro, local onde trabalhou e
pesquisou por longos anos. Essas formas eram circulares, ora harmônicas, ora
caóticas. Nise já havia identificado essas formas com a forma das mandalas antes
mesmo de receber a resposta de Jung, que confirmou sua suspeita. Jung também
acrescenta que a mandala representa uma compensação do inconsciente no sentido
de organizar alguma possível desordem da psique.
Na forma circular da mandala, por não ser possível determinar um local de início
e término de sua borda periférica ou qual sua área superior e inferior, a noção de
totalidade e completude se afirma, sugerindo uma rotação que unifica e harmoniza as
partes.
A rigor, a palavra mandala significa círculo mágico, cuja função seria a proteção
daquilo que suas margens contêm, evitando sua debandada e impedindo que seus
conteúdos internos sofram possíveis influências de elementos contaminantes. Em
termos psicológicos, a mandala representa a totalidade da personalidade, que
compreende tanto o material consciente quanto inconsciente. Assim sendo, construir
uma mandala, além de auxiliar na organização dos processos psíquicos, também
pode ajudar a esclarecer sobre os conteúdos mais profundos da psique.9
12 A TERAPIA DA ARTE
Diferentes meios artísticos estão sendo usados como uma forma de lidar com
barreiras pessoais e buscar a resolução de conflitos interiores difíceis de serem
verbalizados.
12.1 Aplicação
36
outros. Segundo a psicóloga e arteterapeuta Fabíola Gaspar, o processo criativo pode
ser utilizado na solução de qualquer dificuldade, como a de ordem psicomotora,
cognitiva, de comunicação, relações sociais e conflitos emocionais. “O importante é
acordar as potencialidades que já temos, às vezes adormecidas. Quando as
despertamos, temos a força para enfrentar os desafios da vida e alcançarmos sonhos
e metas”, completa.10
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dessas realidades. ” [...] e continua, “fracionar e rejuntar, como faz a colagem, não
repõe a unidade quebrada. Ela não pasteuriza nem pacifica. Não tem vocação
democrática se isto for entendido como união de todas as diferenças. Há diferenças
que não cabem em determinadas formas, mas cabem em outras. ” ((Richter, 1993. P.
63).
Acredito que a segurança na colagem seja relativa e que toda a expressão
plástica nos reserva grandes surpresas. E talvez a técnica deva ser escolhida pelo
cliente desde o primeiro contato, para onde o seu desejo aponta. Mas como coloquei
no início deste texto, não tenho respostas, mas “uma colagem” de pensamentos ainda
em construção e, claro, um pequeno recorte diante de um tema imenso.11
41
A arteterapia também pode ser utilizada na reabilitação de pessoas com
dificuldades motoras. “O que acontece, muitas vezes, é que a pessoa está em casa
debilitada e limitada apenas a assistir TV. Com a pintura, o desenho e outras técnicas
utilizadas durante as aulas, o resultado é muito interessante. Além do
reestabelecimento motor, a arteterapia trabalha a parte cognitiva com a escolha das
cores, uso do pincel ou de outros materiais”.
Porém, Joseane ressalta que a técnica da arteterapia não precisa ser
direcionada apenas como auxílio de doenças, mas para a prevenção. “Ela pode ser
apenas uma atividade para pessoas que buscam viver melhor”.13
“A poesia é o que permite o real, ainda que hoje o real a oculte, entulhado na
rotina dos sistemas”. A afirmação do poeta e contista Márcio André é contundente e
pode parecer inverossímil para os que têm pouca ou nenhuma intimidade com a
poesia. Há os que separam poesia e arte, como se a poesia não fosse arte, como se
não fosse ela uma linguagem primordial, como se sua origem não se confundisse com
a própria origem da linguagem. O músico e poeta Arnaldo Antunes, em um artigo
sobre o tema, afirma que “talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem
verbal deixou de ser poesia”, ou questionar a origem do discurso não poético.
Costumam me perguntar se, no contexto da Arteterapia, a poesia é considerada
arte. Afirmo que sim, mesmo reconhecendo que ela ocupa um lugar muito discreto,
apesar de ser uma linguagem artística primordial. Felizmente, na minha formação em
Arteterapia ela esteve presente, e pude, assim, confirmar o que a experiência de vida
já me mostrara, uma vez que a poesia chegou cedo na minha vida.
Devo confessar que o que li a respeito da poesia no contexto arteterapêutico,
durante a formação, estava bem aquém do potencial curador da poesia, talvez porque
faltasse ao autor uma intimidade maior com esse gênero literário e não tenha podido
olhá-lo com uma percepção mais ampla. Mas a verdade é que a poesia é uma ponte
maravilhosa entre o mundo visível e o mundo invisível e, como todas as modalidades
artísticas, tem o poder de tocar o intangível, o invisível.
Fonte:www.osul.com.br
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nascimento místico, o qual conduz à possibilidade de renovar e regenerar a existência
daquele que empreende sua busca”. Na poesia de Barros, a origem, a perfeição, está
na criança. Não é, portanto, por acaso que entendo a Arteterapia como uma
abordagem que busca curar as feridas mais profundas, escondidas, cuja origem,
muitas vezes, encontra-se na passagem da infância, com inúmeras possibilidades de
realidade, para o adulto, que caminha reto e se perde dos potenciais criativos no meio
do caminho.14
Toda foto que uma pessoa tira ou guarda é também um tipo de autorretrato, um
tipo de “espelho com memória” que reflete aqueles momentos e aquelas pessoas que
foram tão especiais que mereceram serem fixados para sempre no tempo.
Consideradas coletivamente estas fotos tornam visível o fluxo das estórias da vida
destas pessoas e servem como rastro, trilha, impressão visual que mostram onde
estas pessoas estiveram (seja emotivamente como fisicamente) e talvez acenem para
onde elas se encaminham. Até mesmo as reações das pessoas a cartões postais,
fotos de revistas e fotos tiradas por outras pessoas podem fornecer uma chave
reveladora dos segredos da vida interior destas pessoas.
O verdadeiro significado de uma foto se encontra não tanto nos seus aspectos
visíveis e sim nas evocações que os detalhes destas fotos suscitam na mente e no
coração de cada observador. No momento em que se observa uma fotografia, a
pessoa na verdade cria espontaneamente o significado que imagina resultar da
imagem fotográfica, e este significado pode ser diferente daquele que o fotógrafo
A maioria das pessoas guarda suas fotos sem nunca perguntar-se o porquê.
Mas, justamente porque as fotografias pessoais registram para sempre os momentos
importantes do quotidiano (e as emoções inconscientes associadas a estes
momentos), elas podem servir como pontes naturais para dar acesso, para explorar e
comunicar os sentimentos e as lembranças (incluindo aquelas que foram
profundamente enterradas ou há muito esquecidas), juntamente às temáticas
terapêuticas que estas lembranças e sentimentos trazem à tona. Os terapeutas
consideram que as fotos dos seus pacientes funcionam, frequentemente, como
construções simbólicas e objetos de metáfora transacional que oferecem “insights”
silenciosos do mundo interior de uma maneira que as palavras sozinhas simplesmente
não poderiam jamais representar ou decodificar.
Sob a direção de um psicoterapeuta treinado para utilizar as técnicas de
fototerapia, os pacientes exploram os significados de suas fotos e dos seus álbuns de
família a nível emocional além dos seus significados visíveis. Estas informações
mantêm-se latentes em toda fotografia pessoal do paciente, mas quando são
utilizadas para estimular o diálogo terapêutico, cria-se uma conexão menos censurada
com o inconsciente.
Durante as sessões de Fototerapia as fotos não são utilizadas somente para
serem contempladas em uma reflexão silenciosa, mas, ao contrário são criadas
ativamente, posa-se, fala-se às fotos e escuta-se a elas, as fotos são utilizadas para
ilustrar novas narrações, novos papéis e para serem visualizadas novamente na
memória e na imaginação, além de serem integradas nas expressões de Arteterapia
ou para que seja implementado um diálogo entre as próprias fotografias.
46
16.3 Quais são as técnicas utilizadas na Fototerapia?
48
pessoal ou social, por outro lado não é a mesma coisa que ativar e reelaborar tais
experiências sob o acompanhamento e os cuidados de um psicoterapeuta profissional
(fotografia-em-terapia).
Fonte:br.pinterest.com
17 BIBLIOGRAFIAS
BARBOSA, Ana Mae. Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: 1980 e novos
temos/ 8 ed -São Paulo: Perspectiva, 2010. Acesso em 13/10/2017.
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SAVIANI, Iraci. Ateliê terapêutico–Encontrarte: viver arte, criar e recriar a vida. In:
Ciornai, Celma (Org.). Percursos em Arteterapia: ateliê terapêutico, Arteterapia
no trabalho comunitário, trabalho plástico e linguagem expressiva, Arteterapia
e história da arte. São Paulo: Summus, v.63. 2004, 317p. (Coleção novas buscas
em Psicoterapia). Acesso em 13/10/2017.
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