ARTETERAPIA

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1 SUMÁRIO

2 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2

3 ARTETERAPIA ........................................................................................... 3

3.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA .......................................................... 6

3.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA ................. 11

3.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA ... 14

4 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM


PACIENTE ADICTOS ............................................................................................... 17

4.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS


AOS DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS ......................................................... 18

5 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA .......... 24

6 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE


ARTETERAPIA ......................................................................................................... 25

7 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER ........................... 27

8 CULTURA DE PAZ E ARTETERAPIA ...................................................... 35

9 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA (TEA) ......................................................................................................... 43

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 46

1
2 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

2
3 ARTETERAPIA

Arteterapia é uma área de atuação profissional que utiliza recursos artísticos


com finalidade terapêutica (CARVALHO, 1995, p;23, apud REIS, 2013, p. 143). Na
definição da Associação Brasileira de Arteterapia, “é um modo de trabalhar utilizando
a linguagem artística como base da comunicação cliente profissional. Sua essência é
a criação estética e a elaboração artística em prol da saúde”. Conforme delimita a
Associação, a arteterapia é uma especialização destinada a profissionais com
graduação na área da saúde, como Psicologia, Enfermagem e Fisioterapia, embora
se reconheça sua utilização por pessoas formadas nas áreas das artes e da educação,
desde que sem o enfoque clínico.

Fonte: institutopsicologiaemfoco.com.br/2016/11/11/saude-mental-e-arte/

A arteterapia usa a atividade artística como instrumento de intervenção


profissional para a promoção da saúde e a qualidade de vida, abrangendo hoje as
mais diversas linguagens:

 Plástica: que são os desenhos, as esculturas;


 Sonora: através de música, instrumentos;
 Literária: escrita criativa, poesias, utilização de contos, mitos:
 Dramática: ligada a expressão cénica, teatral, porém diferente do teatro
convencional;
3
 Corporal: pode acontecer desde um relaxamento, técnicas de
respiração, como também trabalhos envolvendo a dança, dança
expressiva, criativa.

Lembrando que todas essas linguagens, são linguagens onde não é enfatizado
a questão estética.

Técnicas expressivas:

 Desenho;
 Pintura;
 Modelagem: pode acontecer com argila, que é um excelente material de
trabalho, mas também pode ser usado massinha de modelagem com os
pequenos, com biscuit;
 Música;
 Poesia;
 Dramatização e dança.

Tendo em vista a formação do profissional e o público com o qual trabalha, a


arteterapia encontra diferentes aplicações: na avaliação, prevenção, tratamento e
reabilitação voltados para a saúde, como instrumento pedagógico na educação e
como meio para o desenvolvimento (inter) pessoal através da criatividade em
contextos grupais.
Desse modo, os campos de atuação da arteterapia tem se ampliado,
abrangendo além do contexto clínico, com uma aplicação bem expressiva, o
educacional, com os projetos de arte-educação, com um enfoque no trabalho de
habilidades sociais diante da arteterapia, o campo comunitário, outro enfoque é o
hospitalar, que ocorre com pacientes já internados em quadro crônico, pacientes que
estão entre um tratamento e outro e o organizacional. ((REIS, 2014)
No entanto, o desenvolvimento da arteterapia como área específica de trabalho
deu-se na Psicologia, ligado primordialmente à questão da saúde mental, como
veremos adiante.
Importante se faz refletir sobre a arte como uma ferramenta de trabalho do
psicólogo, contextualizando historicamente a arteterapia, discutindo os pressupostos
4
fundamentais que sustentam esta prática e apresentando suas principais abordagens
teóricas. Este trabalho vem contribuir no sentido de mostrar um panorama geral
acerca da arteterapia, que permitirá a estudantes e a psicólogos conhecer uma
especialização de que ainda pouco se fala nos cursos de graduação universitários,
avançando ao refletir sobre a própria contribuição da arte na atuação do psicólogo,
seja na clínica, seja em outros contextos, como um meio para trabalharmos com a
(inter) subjetividade em uma concepção estética do humano.
Hoje a arteterapia não está mais restrita aos consultórios, revelando-se um
valioso instrumento para intervenções também nas áreas da Psicologia social,
escolar, organizacional, da saúde e hospitalar. O que se quer mostrar aqui é que a
arte é um poderoso canal de expressão da subjetividade humana, que permite ao
psicólogo e a seu cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo, acessar conteúdos
emocionais e retrabalhá-los através da própria atividade artística.
Uma grande diversidade de temas, desde traumas e conflitos emocionais,
aspectos das relações interpessoais em um grupo, expectativas profissionais, gênero
e sexualidade, identidade pessoal e coletiva, entre outros, podem ser abordados pelo
psicólogo através da arte. Ela é uma ferramenta que amplia as possibilidades de
expressão, indo além da abordagem tradicional, que é baseada na linguagem verbal.
A mediação da arte na comunicação apresenta algumas vantagens, entre as
quais a expressão mais direta do universo emocional, pois não passa pelo crivo da
racionalização que acompanha o discurso verbal. Além disso, com a atividade
artística, facilitamos o contato do sujeito com suas questões por um viés criativo, e
não apenas dando forma a determinado conteúdo subjetivo, mas também podendo
reconfigurar em novos sentidos.
O modo como esse processo acontece encontra diferentes explicações em
função da perspectiva teórica considerada, como será analisado adiante, mas a ideia
central é essa: a atividade criadora como um instrumento e a arte como um caminho
de transformação subjetiva. Como método de trabalho do psicólogo, a arteterapia
poderá ser adaptada a diferentes objetivos, bem como sustentada sobre diferentes
abordagens teóricas, cabendo ao psicólogo a escolha da linha com que mais se
identifique. Serão enfocadas as abordagens consideradas principais e que foram as
primeiras a marcar presença no desenvolvimento da arteterapia: psicanálise,
junguiana, gestalt. Embora cada uma delas tenha seu modo próprio de trabalhar com
5
o fazer criativo, todas reconhecem que a arte promove o autoconhecimento e
potencializa a criatividade, habilidades essenciais ao desenvolvimento, tanto de um
indivíduo como de um grupo com quem o psicólogo esteja trabalhando.

3.1 HISTÓRICO DA ARTETERAPIA

Entre os anos 20-30, as teorias de Freud e Jung trouxeram as bases para o


desenvolvimento inicial da arteterapia como campo específico de atuação, segundo
descrevem Carvalho e Andrade (1995, apud REIS, 2014, p; 144). Os autores
relembram que Freud, ao analisar algumas obras de arte (por exemplo, o Moisés, de
Michelangelo), observou que elas expressavam manifestações inconscientes do
artista, considerando-as uma forma de comunicação simbólica, com função catártica.
A ideia freudiana de que o inconsciente se expressa por imagens, tais como as
originadas no sonho, levou à compreensão das imagens criadas na arte como uma
via de acesso privilegiada ao inconsciente, pois elas escapariam mais facilmente da
censura do que as palavras. Apesar desse grande achado, o próprio Freud não
chegou a utilizar a arte como parte do processo psicoterapêutico.
Jung (1875-1961, apud, REIS, 2014, p. 145), ilustre discípulo de Freud, com
quem posteriormente rompeu ao desenvolver sua própria teoria, a Psicologia analítica,
foi quem propriamente começou a usar a linguagem artística associada à psicoterapia.
Diferentemente de Freud, que considerava a arte uma forma de sublimação das
pulsões, Jung considerava a criatividade artística uma função psíquica natural e
estruturante, cuja capacidade de cura estava em dar forma, em transformar conteúdos
inconscientes em imagens simbólicas (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 145). Ele
sugeria aos seus pacientes que desenhassem ou pintassem livremente seus sonhos,
sentimentos, situações conflitivas, etc., analisando as imagens criadas por eles como
uma simbolização do inconsciente individual e coletivo (ANDRADE, 2000, apud REIS,
p. 145). Jung utilizava o desenho livre para facilitar a interação verbal com o paciente
e porque acreditava na possibilidade de o homem organizar seu caos interior
utilizando-se da arte (ANDRADE, 2000, p.52, apud REIS, p 145).
Partindo dessas duas vertentes teóricas, o uso da arte como instrumento
terapêutico foi progressivamente ganhando espaço. A educadora norte-americana

6
Margareth Naumburg (1890-1983) pode ser considerada a fundadora da arteterapia,
pois foi a primeira a sistematizá-la, em 1941 (ANDRADE, 1995, 2000, apud REIS, p
145). Seu trabalho é denominado Arteterapia de Orientação Dinâmica, e foi
desenvolvido com base na teoria psicanalítica (Naumburg, 1966). Nessa perspectiva,
as técnicas de arteterapia visam a facilitar a projeção de conflitos inconscientes em
representações pictóricas, sendo esse material submetido à interpretação seguindo o
modelo teórico proposto por Freud.
No Brasil, a história da arteterapia nasce na primeira metade do século passado
entrelaçada com a psiquiatria e influenciada tanto pela vertente psicanalítica quanto
pela junguiana. Estas encontram-se representadas respectivamente nas figuras de
Osório Cesar (1895-1979, apud REIS, p 145) e Nise da Silveira (1905-1999, apud
REIS, p 145), psiquiatras precursores no trabalho com arte junto a pacientes em
instituições de saúde mental. Ambos contribuíram para o desenvolvimento de uma
outra abordagem frente à loucura, contrapondo aos métodos agressivos de contenção
vigentes na época (eletrochoque, isolamento) à possibilidade de expressão da loucura
e de sua eventual cura através da arte. Conforme relata Silveira, nesse caminho
alternativo, construiu-se um tratamento mais humano, com inegáveis efeitos
terapêuticos na reabilitação dos pacientes, que promovia a recuperação do indivíduo
para a comunidade em nível até mesmo superior àquele em que se encontrava antes
da experiência psicótica (2001, p.19, apud REIS, p 145).
Em 1923, Osório Cesar já era estudante interno no Hospital Psiquiátrico de
Juqueri, localizado em Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, e, a partir
de 1925, aí trabalhou como médico ao longo de 40 anos (ANDRIOLO, 2003, apud
REIS, p 145). Já em 1925, cria a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, e, em
1948, é o organizador da 1ª Exposição de Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de
Arte de São Paulo. Sobre seu trabalho de arte com psicóticos, o Dr. Osório publica,
em 1929, sua obra principal, A Expressão Artística nos Alienados, na qual apresenta
seu método de classificação e de análise de obras de arte de pacientes psiquiátricos.
Andriolo (2003, apud REIS, p 145) considera a importância do pensamento de Osório
Cesar, localizando-o no início da formação do campo da Psicologia da arte no Brasil,
onde sua obra representaria um exemplo consistente de leitura freudiana de arte,
embora hoje passível de crítica pelo reducionismo da obra artística a uma psicologia
individual e patologizante, em detrimento dos seus aspectos históricos e sociais.
7
No que tange à história da arteterapia, Carvalho e Andrade destacam o papel
de Osório Cesar pela contribuição que trouxe no plano teórico, ao articular os
conceitos freudianos à análise da arte, considerando-o o precursor no Brasil da
análise da expressão psicopatológica de doentes mentais. Na perspectiva
psicanalítica clássica, Osório Cesar analisa a simbologia sexual presente nas
produções artísticas de seus pacientes, compreendendo a obra de arte como uma
representação dos desejos pessoais do autor, disfarçados nos elementos simbólicos
presentes nas imagens (CESAR, 1944, apud REIS, p 146). Devemos levar em conta
ainda a relevância do trabalho de Osório Cesar para a valorização da arteterapia, pois
ele realizou mais de 50 exposições divulgando a expressão artística de doentes
mentais, procurando, com isso, afirmar a dignidade humana dessas pessoas
(ANDRADE, 2000, apud REIS, p 146). Em termos da prática, de acordo com Carvalho
e Andrade, o seu método era baseado na espontaneidade e na crença de que o fazer
arte já propiciava a cura por si', por ser um veículo de acesso ao conhecimento do
mundo interior (1995, p.34, apud REIS, p 146).
A psiquiatra Nise da Silveira trabalhava no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, em
Engenho de Dentro, Rio de Janeiro
Em 1946, assumiu a Seção de Terapêutica Ocupacional, onde os pacientes
realizam variadas atividades expressivas (sobretudo pintura e modelagem), dando-
lhe uma nova orientação, pois, para ela, a terapia com arte não deveria ter a finalidade
de distrair, mas de contribuir efetivamente para a cura dos pacientes. Em 1952, ela
criou, na mesma instituição, o Museu de Imagens do Inconsciente, composto pelo
acervo crescente das obras produzidas pelos internos, que conta com mais de
300.000 documentos plásticos, entre telas, papéis e esculturas. Desse modo,
constituiu um rico campo de pesquisa, em que a prática realizada na Seção de
Terapêutica Ocupacional era respaldada pelo estudo do valor terapêutico da atividade
criadora, a partir da investigação das imagens arquivadas no Museu de Imagens do
Inconsciente. Essa trajetória é narrada por ela no livro O Mundo Das Imagens, no qual
explica seu método e traz diversos exemplos de análise de obras de arte no processo
psicoterapêutico de pacientes, em uma leitura junguiana.
Embora seja considerada uma pioneira na história da arteterapia no Brasil
(CARVALHO & ANDRADE, 1995; ANDRADE, 2000, apud REIS, 2014, p 146), Nise
da Silveira não aceitava essa denominação ao seu trabalho, preferindo designá-lo
8
terapêutica ocupacional. Ela considerava que a palavra arte trazia uma conotação de
valor, de qualidade estética, que não tinha em vista ao utilizar a atividade expressiva
com seus pacientes (SILVEIRA, 2001, apud REIS, p 146). Apesar disso, críticos de
arte como Mário Pedrosa e outros que passaram a frequentar o Museu de Imagens
do Inconsciente reconheceram ali verdadeiras obras de arte, como analisa Frayze-
Pereira (2003, apud REIS, p 146). Outros aspectos a embasar a crítica de Nise da
Silveira à arteterapia é que esta, se caracteriza pela intervenção do terapeuta,
enquanto, na prática adotada em Engenho de Dentro, as atividades realizadas pelos
pacientes eram absolutamente livres, suas criações davam-se espontaneamente a
partir do material disponibilizado nos ateliers, sendo apenas acompanhadas por uma
monitora, mas não dirigidas por ela. Nisso encontramos uma distinção não somente
metodológica, mas também teórica, pois Nise da Silveira, junguiana, refere-se
especificamente à arteterapia desenvolvida por Margaret Naumburg, psicanalítica, na
qual o paciente é dinamicamente orientado, a partir da relação transferencial, a
descobrir a significação de suas criações, um processo de interpretação que não
ocorria na abordagem proposta por Nise da Silveira.
Para ela, a função terapêutica da arte era permitir a expressão de vivências não
verbalizáveis por aqueles que se encontravam imersos no inconsciente, ou seja, em
um mundo fora do alcance da elaboração racional, cabendo ao terapeuta a tarefa de
estabelecer conexões entre imagens que emergem do inconsciente e a situação
emocional vivida pelo indivíduo. Nessa tarefa, apoiava-se sobretudo na psicologia
analítica de Jung, de onde derivou uma das mais importantes abordagens em
arteterapia, de cujos conceitos principais iremos tratar adiante. Para Nise da Silveira,
as produções artísticas não somente trazem elementos esclarecedores acerca do
processo psicótico (sobretudo quando as obras de um mesmo autor são examinadas
em série, revelando temas recorrentes) mas também trazem um valor terapêutico em
si mesmas, pois davam forma a emoções tumultuosas, despotencializando-as, e
objetivavam forças auto curativas que se moviam em direção à consciência, isto é, à
realidade. Para os pacientes, a atividade criadora permitia não somente dar uma
forma ao seu tumulto emocional, mas também transformá-lo por meio dessa
expressão.
Nise da Silveira destaca que a eficiência do tratamento através de atividades
expressivas se revelou na diminuição da porcentagem de recaídas na condição
9
psicótica e de reinternações de pacientes beneficiados por esse trabalho em Engenho
de Dentro, especialmente quando os egressos continuaram com algum
acompanhamento. Este foi viabilizado por ela com a criação da Casa das Palmeiras,
em 1956, instituição pioneira no atendimento de pacientes em regime de portas-
abertas.

Fonte: hubspot.com

O trabalho de Nise da Silveira inaugurou um novo olhar acerca da relação entre


arte e loucura. Conforme analisa Frayze-Pereira, o Museu de Imagens do
Inconsciente se constituiu, desde sua origem, como um núcleo de pesquisa da
esquizofrenia (2003, p.198, apud REIS, 2014, p 147). No entanto, mais do que
somente dar acesso à interioridade dos esquizofrênicos e levar as suas obras ao
conhecimento do grande público, o autor destaca a importância do Museu na
formação de um novo campo de sentidos, que abre a passagem entre o hospício e o
mundo das imagens, campo que articula Psicologia, arte e política numa trama
cultural. Nesse campo, a arte não só é instrumento de transformação da realidade
interna do esquizofrênico como também de sua realidade externa, à medida que sua
expressão ganha o espaço do Museu: na moldura de uma exposição legitimada pela
cultura, a expressão marginal' certamente ganha o selo de obra de arte'. O marginal,
o louco, o psiquiatrizado, torna-se artista e aos olhos do espectador, gênio' (2003,
p.204, apud REIS, 2014, p 147).

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Embora os psiquiatras Osório César e Nise da Silveira sejam pioneiros no
trabalho com terapias expressivas no Brasil, o desenvolvimento da arteterapia e sua
sistematização no campo específico da Psicologia se deram posteriormente.
Conforme descreve Andrade (2000, apud REIS, 2014, p 147), na construção
desse campo, destaca-se Maria Margarida M. J. de Carvalho, que, em 1980,
implantou o primeiro Curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientae, em São
Paulo. Ela é psicóloga clínica, foi professora do Instituto de Psicologia da USP e
coordenadora, em 1995, do livro A Arte Cura? Recursos Artísticos em Psicoterapia.
Outro marco destacado por Andrade foi a criação, em 1982, da Clínica Pomar, no Rio
de Janeiro, coordenada por Ângela Philippini, onde se oferece curso de formação em
arteterapia de orientação junguiana. Já em 1990, outra abordagem entra no cenário
da arteterapia brasileira, ao ser implantada uma especialização em arteterapia
gestáltica por Selma Ciornai, no Sedes Sapientae. Desde então, a arteterapia vem
crescendo cada vez mais, ganhando outros espaços além da clínica e também outras
molduras teóricas, como a rogeriana, a antroposófica e a transpessoal, entre outras.

3.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS NA ARTETERAPIA

Embora possa ser desenvolvida a partir de diferentes referenciais teóricos, a


arteterapia se define em todos eles por um ponto em comum: o uso da arte como meio
à expressão da subjetividade. Sua noção central é que a linguagem artística reflete
(em muitos casos melhor do que a verbal) nossas experiências interiores,
proporcionando uma ampliação da consciência acerca dos fenômenos subjetivos
(Ciornai, 1995, apud REIS, 2014, p 147). Liomar Quinto Andrade, que é psicólogo
clínico e autor do livro Terapias Expressivas, publicação oriunda de sua tese de
doutorado pela USP, define que a expressividade ou a arte se torna um instrumento
de trabalho quando combinada a um objetivo educacional ou terapêutico,
apresentando como pressupostos fundamentais da arteterapia:
a) A expressão artística revela a interioridade do homem, fala do modo de
ser e visão de cada um e seu mundo. Esse ato revela um suposto sentido,
e cada teoria e método em arte- terapia e terapia expressiva se apodera
desse ato diferentemente
11
b) Por intermédio desse fazer arte', expressar-se, o terapeuta pode
estabelecer um contato com o cliente possibilitando a este último o
autoconhecimento, a resolução de conflitos pessoais e de
relacionamento e o desenvolvimento geral da personalidade (Andrade,
2000, p.18 apud REIS, 2014, p 148).
O autor do trabalho, Raphael Domingues (1912-1979, apud REIS, 2014, p
148), foi um dos pacientes-artistas de Engenho de Dentro que participaram de
importantes exposições, dentre as quais uma realizada em 1949, no Museu de Arte
Moderna de São Paulo, cuja repercussão na imprensa e no meio artístico é examinada
por Dionísio (2001, apud REIS, 2014, p 148). O autor lembra que, nessa ocasião, o
crítico de arte Mário Pedrosa cria o termo arte virgem para designar os trabalhos dos
nove participantes, então pacientes da Dra. Nise da Silveira. Entre eles, Raphael e
Emygdio de Barros (1895-1986, apud REIS, 2014, p 148) são hoje vistos como
grandes artistas esquizofrênicos.
À parte a discussão sobre a qualidade artística ou não dos trabalhos produzidos
em arteterapia, o importante para o psicólogo é que a atividade expressiva se torne
um instrumento à expressão e à reflexão dos sujeitos. Como atividade terapêutica, o
que aqui se pretende não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade,
proporcionar que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de
subjetivação. Desse modo, ela pode ser utilizada como recurso no contexto da clínica,
da educação, da comunidade, da saúde pública, das empresas, em intervenções na
área de dificuldades físicas, cognitivas, emocionais e sociais junto a indivíduos,
famílias, grupos sociais e equipes de trabalho. Uma característica comum às terapias
com arte é que, por meio da vivência expressiva, o sujeito pode dar-se conta do que
de fato sente e, durante esse processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim
o represente e a ele faça sentido (ANDRADE, 2000, p.33, apud REIS, 2014, p 148).
Portanto, na arteterapia, o fazer artístico se constitui como mediação no
processo de autoconhecimento e de (re) significação do sujeito acerca de si próprio e
de sua relação com o mundo.
Outro ponto compartilhado entre as diferentes abordagens é o reconhecimento
da função terapêutica inerente à própria atividade artística e diretamente ligada à
criatividade. Para Ostrower, criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a
algo novo, é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é transmiti-
12
los. Assim, o sentido da arte como ferramenta para o psicólogo não se restringe à sua
função meramente expressiva, mas amplia-se pelo poder transformador da arte como
ação criadora. E aqui compreendo arte como um processo de formatividade, ideia
desenvolvida pelo filósofo italiano Luigi Pareyson (1918-1991, apud REIS, 2014, p
149), que definiu a atividade artística como um formar, cujo resultado é um ser, uma
forma inteiramente nova, pois a arte é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por
fazer e o modo de fazer.
Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é
compreendida como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos de
sua experiência, combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o novo
(Vygotski, 1990, apud REIS, 2014, p 149). Nessa atividade, ele parte do que está
dado, do que é conhecido, reconfigurando-o em uma nova forma a partir da
imaginação, o que culmina na objetivação do produto da imaginação, a qual, ao
materializar-se na realidade, traz consigo uma nova força, que se distingue por seu
poder transformador frente à realidade da qual partiu. Vygostki, na obra Psicologia da
Arte, salienta a função transformadora dessa atividade, que extrai da vida o seu
material, produzindo algo acima desse material, pois a arte está para a vida como o
vinho para a uva (1998, p.307, apud REIS, 2014, p 149). Embora esse não seja um
autor de referência na arteterapia, a ideia de que o fazer criativo é transformador
perpassa esse campo.
Na visão de Ciornai, o propósito fundamental da arteterapia é resgatar a
criatividade na vida, ou seja, contribuir para que o sujeito aprenda a lidar criativamente
com os limites que a vida lhe impõe (1995, p.59), transformando-se assim em artista
da própria vida. Isso é possível porque a arte nos abre a uma realidade alternativa
(1995, p.61, apud REIS, 2014, p 149), na qual o homem pode perceber, figurar e
reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo. Portanto, no
trabalho do psicólogo mediado pelo fazer artístico, destaco como princípios
fundamentais a concepção da arte como atividade expressiva e criativa: não se trata
apenas da expressão da subjetividade, da objetivação de emoções, sentimentos e
pensamentos em uma forma artística (desenho, pintura, modelagem, etc.), mas
especialmente da sua transmutação pela arte, da sua reconfiguração em novas
formas e em outros sentidos, em um processo no qual, ao criar na arte, o sujeito se
recria na vida.
13
3.3 AS ARTES QUE SÃO UTILIZADAS NA TERAPIA PSICOLÓGICA

As artes visuais são as utilizadas na terapia. Falamos de pintura, barro,


colagem, artes cênicas como a atuação, contos, teatro da lembrança, jogos de função,
marionetes. Com a música se utiliza o ritmo, sons, voz, instrumentos, e na escrita
podem ser utilizados diferentes gêneros. A arteterapia é uma forma de dizer a
verdade brincando com o simbólico. As experiências na criação podem representar
atos de agressividade, abandonos, perdas, sentimentos, e o fazem de forma indireta,
sem uma intencionalidade (BASSOLS, 2006, p 20).

Fonte: amenteemaravilhosa.com.br/arteterapia-definicao-beneficios/

No trabalho teatral, dramático ou com palhaços, o paciente fala dele por


meio do personagem. É a arte da ação através do personagem de ficção, um processo
de criação individual e/ou coletivo que se situa entre dois mundos: a realidade e a
ficção. Nas produções de barro se estabelece um diálogo com a matéria, trata-se de
favorecer o reencontro da pessoa com a matéria e acompanhá-la no percurso que vai
do barro até a si mesma.

14
Fonte: websta.org/tag/terapiadoriso

Na pintura, se dá um primeiro passo de desbloqueio, deixando-se levar pelas


imagens que venham, os traços, as formas, as cores, buscando que a mão fuja da
censura do olho, como uma desinibição, para organizar, em um segundo momento, e
pouco a pouco ir adentrando no mais profundo da pessoa.

Fonte: .iped.com.br/materias/educacao-e-pedagogia/arteterapeuta.html

Na dança existe um início, um momento de conscientização do próprio


movimento, no sentido de escutá-lo e se escutar através desse dinamismo,

15
permitindo, posteriormente, uma aproximação para si mesmo e facilitando a
comunicação com o outro. No trabalho de voz busca-se e utiliza-se a voz natural,
desbloqueia-se a respiração; se cria e se transforma a partir de improvisações,
combinando diversas qualidades de sons.

Fonte:www.mediacionartistica.org

Por outro lado, a escrita possibilita novas formas para jogar com a imaginação
a partir das próprias experiências e vivências. Aparecem situações e companheiros
imaginários, itinerários diversos, até chegar à recreação de relatos e contos na ficção.
“A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é o
copiar de sua aparência.”
– Aristóteles –

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4 ARTETERAPIA: CRIATIVIDADE, ARTE E SAÚDE MENTAL COM PACIENTE
ADICTOS

Fonte: www.researchgate.net

A Arteterapia, aplicada ao dependente químico e de acordo com os novos


paradigmas de atenção em saúde mental, é um processo terapêutico
predominantemente não-verbal, por meio das artes plásticas, que acolhe o ser
humano com toda sua diversidade, complexidade, dinamicidade e o auxilia a
encontrar novos “sentidos” para sua vida, objetivando a reinserção e inclusão social.
A Arteterapia também procura respeitar os diversos aspectos dos usuários,
como os afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, aspectos tão
importantes na saúde mental (VALLADARES et al, 2008 p.05). Presume-se, então,
que a análise dos conteúdos das produções simbólicas: cores, profundidade,
criatividade etc apresenta o registro dos momentos de suas vidas.

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4.1 METODOLOGIA USADA EM SESSÕES DE ARTERAPIA APLICADAS AOS
DEPENDENTES QUÍMICOS JOVENS

Atividades de Arteterapia, realizada com um total de 98 usuários jovens de


ambos os sexos de um Hospital Psiquiátrico de Goiânia/GO.
Compuseram o estudo 32 intervenções breves de Arteterapia realizadas duas
vezes por semana, no período matutino, em ambiente inicialmente fechado e
posteriormente descontraído e junto à natureza, com participação média de 15
usuários por sessão, em sua maioria de pessoas do sexo masculino. O período total
abrangeu os meses de agosto a dezembro de 2007.
O grupo foi formado por pessoas aquiescentes ao processo, sendo o mesmo
rotativo, pois a clientela era livre para entrar e sair do grupo e das sessões quando
quisesse.
Os pacientes apresentaram oscilação no diagnóstico clínico (OMS, 2003, apud
VALLADARES et al, 2008 p.06). Os transtornos mentais decorrentes do uso abusivo
de Substâncias Psicoativas variaram entre as drogas: álcool, opióides, canabinóides,
sedativos ou hipnóticos, cocaína, estimulantes, alucinógenos, tabaco, solventes
voláteis. Os usuários se encontravam em fase de desintoxicação das substâncias
psicoativas e estavam internados na Ala de Dependentes Químicos de um Hospital
Psiquiátrico particular de Goiânia/GO.
O tratamento preconizado nesta Instituição aos dependentes químicos era de
28 dias de internação, atendimento por uma equipe multiprofissional e atividades
terapêuticas diversas, além do acompanhamento familiar.
Os objetivos das intervenções de Arteterapia foram facilitar a expressão da
subjetividade dos participantes e auxiliar, tanto no auto expressão, quanto na
elaboração de conteúdos internos, alívio de tensões, angústias, medos, expectativas
e ansiedades, bem como favorecer a integração do grupo. Permitir, ainda, que o
criador pudesse expressar seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em
seguida, melhorar a ativação e a estruturação do processo de seu desenvolvimento
interno.
Foram feitas 6 atividades diferentes entre os grupos, das quais citaremos 3
experiências com os internos:

18
SÉRIE MANDALAS

Objetivos: A mandala tem uma dupla finalidade, o de conservar a ordem


psíquica, se ela já existe; ou de restabelecê-la, se desapareceu. Nesse último caso,
incentiva a criação do ser humano (JUNG, 2005, apud VALLADARES et al, 2008
p.07).
Atividades desenvolvidas: Tipologia de Jung: quatro funções – quatro
elementos da Arteterapia (terra, fogo, ar e água). Utilizou-se dos seguintes materiais:
terra - colagem com areia e pedras coloridas sobre mandala de papel. Fogo - velas e
giz de cera derretidos sobre mandala de papel. Ar – materiais gráficos coloridos
(desenho) sobre modelos diversos de mandala já pré-riscadas sobre papel. Água -
pintura sobre CD.
Desenvolvimento: Elemento Ar (Desenho) – Função Pensamento.
Elemento Terra (Areia e pedras) – Função Sensação.
Elemento Água (Pintura) – Função Sentimento.
Elemento Fogo (Giz e vela) – Função Intuição.
Comentários/Análise: O desenho (Ar) permitiu o distanciamento emocional,
trabalhou a racionalidade, ajudou a organizar os fatos e as ideias. O ar é o símbolo da
liberdade, da expansão, da comunicação e da criação (CHEVALIER &
GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud
VALLADARES et al, 2008 p.07).
Os mesmos autores acima citados afirmam, que a terra é firme, próximo à
realidade, é um símbolo ligado às raízes e às bases da humanidade. Possibilitou ajuda
na estruturação psíquica, permitiu percepções de sensações/fenômenos e favoreceu
a imaginação criativa. A terra é o símbolo da origem da vida, que sustenta, nutri e
acolhe o ser. (et al, 2008 p.07).
A pintura fluida explora o elemento água e trouxe flexibilidade, abertura e
envolvimento. Símbolo que trouxe a expansão, a fluidez, o frescor e o relaxamento.
Facilitou a concretização de imagens psíquicas internas. (CHEVALIER &
GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud
VALLADARES et al, 2008 p.07).
O fogo permite entrar em contato mais rápido com a luz porque faz iluminar
aspectos negativos, sombrios etc. O fogo trouxe uma energia intensa e por meio dele,
19
os jovens drogadictos perceberam um sentido no que estavam fazendo. O fogo é um
símbolo purificador, regenerador e transformador (CHEVALIER & GHEERBRANT,
2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al,
2008 p.08).
Esta série Mandalas possibilitou que se estimulassem as funções psíquicas
menos desenvolvidas, iluminando aspectos sombrios da psique. A utilização dos
quatro elementos na Arteterapia exerce a finalidade de revitalizar áreas desusadas,
núcleos bloqueados, recupera a possibilidade de fluxo da energia psíquica
(PHILIPPINI, 2005, apud VALLADARES et al, 2008 p.08).

SÉRIE CORPO
Objetivos: Resgatar a identidade do dependente químico e preencher o vazio.
“O fato é que o auto-retrato pode ser distorcido da realidade, porque muitas vezes tal
imagem associa-se a aspectos idealizados ou patológicos que geralmente refletem
dificuldades profundas com o próprio corpo” (VALLADARES & CARVALHO, 2005b,
p.40, apud VALLADARES et al, 2008 p.08).
Atividades desenvolvidas: Representação do próprio rosto com técnicas de
desenho e pintura em papel.
Representação do corpo inteiro com técnicas de colagem utilizando-se de
pedaços de papéis, pedras coloridas ou pingos de velas em papel e tecidos.
Representação de personagens com técnica de pintura num mural coletivo.
Desenvolvimento: Representação do próprio rosto – trabalho individual.
Representação do corpo inteiro – trabalho em grupo.
Representação de vários personagens – personagens confeccionados no início
individualmente, mas dentro de uma composição coletiva.
Comentários/Análise:
A representação do próprio rosto possibilitou “expressar o mundo interno” dos
usuários. A ação criativa revelou a riqueza inconsciente dos dependentes químicos.
A representação do corpo inteiro foi um trabalho de juntar fragmentos (pedaços
de papel, pingos de velas ou pedras coloridas). Representou simbolicamente a
construção ou reintegração das personalidades fragmentadas e em desordem dos
adictos.

20
Com a representação de vários personagens permitiu-se estabelecer uma
ponte entre o intrapsíquico e o extra psíquico, possibilitou-se a percepção de si mesmo
e analisar a troca com o outro e a integração do grupo.

SÉRIE CONSTRUÇÃO
Objetivos: A construção resgata a edificação, a estruturação, a organização e
a elaboração da matéria e ao mesmo tempo, simbolicamente, incitam o indivíduo a
construir sua vida pessoal (VALLADARES & NOVATO, 2001, apud VALLADARES et
al, 2008 p.12).
Atividades desenvolvidas: Construção de uma cidade com sucata.
Desenvolvimento: Cada usuário deveria construir sua própria casa e algum
elemento coletivo da cidade de forma individual. Depois coletivamente deveriam
montar a cidade com os elementos já confeccionados e criar novos elementos,
pessoas e ambientes.
Comentários/Análise:
O exercício possibilitou ao jovem dependente químico construir e transformar
na ação criativa, pois a Arteterapia é um processo alquímico e não é só uma catarse.
A simbologia que mais esteve presente nos trabalhos foram:
- Flor: “Símbolo da natureza efêmera da vida e da beleza, e da eterna
renovação da vida. É uma imagem do “Centro” e, portanto, uma imagem arquetípica
da alma. As flores anunciam a primavera, que revela a aceleração do ciclo de evolução
pessoal. Assinalam o cumprimento de uma meta ou tarefa que exigiu muita dedicação”
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON,
1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.12).
- Sol: “É representado frequentemente como personificação da luz e, por
conseguinte, ao mesmo tempo, da inteligência cósmica suprema, do calor, do fogo e
do princípio vital. Imagem simbólica da ressurreição e, de modo geral, de cada novo
começo” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991;
LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13).
- Pássaros: são símbolos antigos da alma humana, do elemento ar e do
processo de transformação. Os pássaros voando para cima podem representar idéias
sendo divulgadas ou trazidas à luz” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT,
2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES ET AL, 2008 p.13).
21
- O número Dois: “O dois indica tensão, separação e conflito. Ele é uma ligação
saudável que anuncia o retorno da harmonia” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003;
CIRLOT, 2005; FINCHER, 1991; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008
p.13).
As atividades mais prazerosas para os usuários, segundo relato verbal deles
foram:
- Mandalas com velas: o fogo purifica e regenera. Mensageiro entre o mundo
dos vivos e dos mortos. A vela é o símbolo da luz, da alma individualizada e da relação
entre o espírito e a matéria (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2003; CIRLOT, 2005;
FINCHER, 1991; JUNG, 2005; LEXIKON, 1994, apud VALLADARES et al, 2008 p.13).
- Construção da cidade: A pessoa com a vivência de construção e de
transformação sente-se apta e segura a dar forma, direção e movimento à sua própria
vida, o que se constitui não só num processo externo, mas também interno do
indivíduo (SAAD, 1998, apud VALLADARES et al, 2008 p.13).
Ao criar e transformar materiais expressivos, os usuários puderam vivenciar
sensações, ideias, sonhos, desejos, expectativas, fantasias relacionando-se de uma
outra forma com o material e, consequentemente, a atividade pode despertar neles a
identificação de sentimentos, atitudes e dificuldades que até então não eram
expressos nem modificados, porque a comunicação não-verbal fala por si só, sem
necessariamente ter que ser expresso de maneira verbal.
As sessões de Arteterapia facilitaram a expressão da subjetividade dos
participantes e auxiliaram, sobremaneira, tanto no auto expressão, como na
elaboração de conteúdo internos e alívio de tensões. Permitiram, ainda, que o criador
pudesse expressar seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em
seguida, melhorassem a ativação e a estruturação do processo de seu
desenvolvimento interno.
Aspectos da persona dos usuários puderam ser vistos em trabalhos feitos
durante as sessões de Arteterapia, quando eles criaram personagens fictícios ou não
e ao narrar suas histórias, o que permitiu a eles entrar em contato com os aspectos
psíquicos para serem compreendidos e transformados.
A sombra é representada pelos sentimentos negativos, como raiva, frustração
e inveja, que se acumulam no inconsciente e não são facilmente expostos pelas
pessoas em geral. Sentimento de revolta, medo e raiva experenciados pelos usuários,
22
muitas vezes não podem ser aceitos pela sociedade e expressos por eles, e se
acumulam como sombras no seu inconsciente. Oferecer oportunidades para que
estes símbolos (sombras) venham à tona por meio dos trabalhos plásticos, de maneira
lúdica e que não ameace a estrutura psíquica juvenil, favorece a sua elaboração.
A sombra normalmente está implícita e presente, ao mesmo tempo, em
qualquer trabalho artístico, o que sugere dizer que os dependentes químicos tenham
projetado em seus personagens e histórias aspectos sombrios da sua personalidade
e relacionados com seu momento de vida atual.
Na dinâmica do processo arteterapêutico, quando as imagens internas são
projetadas, elaboradas e transformadas do material plástico ao produto expressivo
final, é como se as pessoas externassem simbolicamente parte de si, e, ao mesmo
tempo, levassem as imagens e os conteúdos trabalhados “para dentro” novamente,
mas desta vez decodificados e ressignificados (VASCONCELLOS & GIGLIO, 2006,
apud VALLADARES et al, 2008 p.14).
A Arteterapia trabalha com símbolos, que são imagens arquetípicas e
apresentam características individuais e coletivas simultâneas. Os dependentes
químicos, ao trazerem as imagens e os símbolos para o plano material, trouxeram
também conteúdos de sua história pessoal inseridos na história coletiva da
humanidade (inconsciente coletivo); assim, as significações encontradas nas culturas,
nos mitos e nas religiões, simultaneamente, faziam ligação com a história de vida dos
usuários, que expuseram cores, formas e símbolos representativos do seu mundo
subjetivo, com significados especiais para eles naquele momento de vida, elementos
que também os ligam aos significados que estes foram tendo para a humanidade ao
longo dos tempos.
As imagens dos usuários ao serem projetadas nas produções plásticas,
mostraram suas histórias de vida e o momento existencial deles, sinais sugestivos ou
não de fragilidade emocional como: suas angústias, medos, objetivos, metas e planos
futuros.
Concluindo, trabalhar a Arteterapia com dependentes químicos permite a troca
com o outro que possui características semelhantes às suas e ainda, favorece o
compartilhar de dificuldades e anseios relacionados à própria dependência, podendo
os personagens expressar e lidar de uma forma mais natural com a doença.

23
Este trabalho pode trazer contribuições importantes para a área de saúde
mental, pois a Arteterapia é uma prática acessível ao tratamento de dependentes
químicos e pode ser um suporte importante para esta clientela, cujos resultados vêm
sendo satisfatórios. É importante também apontar que este estudo poderá ser utilizado
em contextos de Arteterapia clínica ou institucional, tendo em vista o valor e a eficácia
do trabalho arteterapêutico aqui demonstrados.
A saúde mental vem ampliando seus conhecimentos e utilizando-se de novas
práticas na assistência a seus usuários, assim, o investimento no trabalho e em
práticas complementares e criativas, com jovens dependentes químicos, é fator
importante no novo cenário da atenção em saúde mental.
Este tipo de atendimento, no qual se incluem as sessões de Arteterapia,
permite que se valorize o potencial existente em cada ser humano, objetivando
melhorar sua saúde e qualidade de vida.

5 OS SENTIMENTOS PROPORCIONADOS PELA ARTETERAPIA

No que diz respeito aos sentimentos, podemos perceber que o grupo de


arteterapia teve grande importância no que diz respeito ao bem-estar e autoestima do
indivíduo. A participação no grupo promove sentimentos admiráveis na vida dos
usuários, como ser um indivíduo único e importante, considerando estes aspectos nas
mais diversas realidade, culturas e crenças.
Segundo Potter (2013, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), em tempos
modernos, a saúde era considerada como apenas a ausência de doenças, pelos
indivíduos e sociedades. Esta percepção ignorava os estados profundos de saúde,
desconsiderando em muitos momentos, a saúde mental dos indivíduos.
A maneira como nos sentimos a respeito de nós mesmos é algo fundamental,
pois esse sentimento afeta todas as nossas relações. Assim nossas ações e reações
respondem de acordo com o que ou quem pensamos ser. A autoestima é um conceito
positivo que o indivíduo tem em relação a si mesmo de estar em paz e sintonia com o
seu eu e estar realizando as atividades que deseja continuar realizando (WOSIACK,
2011, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51).

24
Segundo Werneck (2010, apud FACCO, S.C.M., et al 2016, p. 51), não há
empecilho que uma pessoa que se aprecie tenha a humildade de perder que ainda
menos sabe, do que na realidade sabe. Nada impede que essa pessoa, peça ajuda
espiritual e psicológica. A autoestima não é uma incubadora de orgulho, pelo contrário,
permite ser realidade de maneira positiva, onde devemos adiar a satisfação e conviver
com as frustrações.
Aliada a essas percepções, constatasse que a arteterapia pode beneficiar as
pessoas no resgate da autoestima e da autoconfiança, para o melhor enfrentamento
e resolução de conflitos, melhorando consideravelmente a sua qualidade de vida,
como também, suas relações pessoais.

6 A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PESSOAIS NO GRUPO DE ARTETERAPIA

Nesta terceira categoria, assuntos referentes às relações pessoais emergiram


a partir da questão: Qual o ponto positivo do grupo de arteterapia?

“O ponto positivo é que o pessoal vai ajudando, todo mundo se ajuda né (...)” (J)

“Às vezes eu estou parado com o desenho e vem alguém e pergunta se quer
Alguma ajuda para fazer alguma coisa, não falo nada, mas fica na cabeça né? (...).
Fica na cabeça (...) Sinal que o pessoal está querendo ajudar uns aos outros. ” (J)

“Fica junto com os amigos. ” (PAM)

Os amigos são bem legal, respeita todo mundo, respeito (...)” (PAM).

A partir das falas acima, observa-se o grupo de arteterapia como um mediador


de criação de vínculos entre usuários e colaboradores, desenvolvendo assim, um
ambiente propicio e agradável de interação. Notou-se também o laço afetivo
interligado ao grupo de arteterapia, por ser satisfatório o resultado de desenvolvimento
das atividades propostas no grupo e de extrema importância significativa para todos
os usuários participantes.
25
Segundo Ciornai (2004, apud FACCO, S.C.M., ET AL 2016, p. 52), quando se
faz arte com consciência, percebem-se muitas alternativas, percebem-se a cada
momento alterações concretas no trabalho em que se está elaborando. Dialoga com
possibilidades transformando, se alterando, se interligando, para formar um todo
harmonioso. Ou seja, exercita-se o diálogo com transformação, a arteterapia nos
exercita na expressão das emoções, libertando-nos para novos sentimentos e
sensações, proporcionando conforto e bem-estar interno.
Pode-se perceber que a arteterapia tem uma importante influência na mudança
de hábitos, possibilitando qualidade de vida dos sujeitos envolvidos.
Considerando este trabalho, podemos destacar algumas dificuldades em sua
realização, como a produção e publicação escassa de estudos relacionados à
temática da arteterapia, tanto desenvolvida em CAPS quanto em outros espaços.
Essa limitação, assim como, o desenvolvimento deste estudo, sugere novas
pesquisas relacionadas a essa temática, as quais favoreçam a promoção da saúde
aos diversos sujeitos. Além do CAPS, outras pesquisas semelhantes a esta podem
ser desenvolvidas em lugares como clinicas, com pacientes de todas as faixas etárias,
em hospitais, instituições de longa permanência, com abordagens de temáticas
características dos lugares e usuários, levando em consideração sempre a
problemática da patologia, com o intuito de promoção e prevenção do bem-estar do
paciente, ajudando na melhora do usuário e sua recuperação tanto física como
mental.
Tendo em vista todos os aspectos abordados neste estudo, sabemos que a
mudança de hábitos e atitudes é algo que requer algum tempo, isto por questões
culturais e emocionais, interferindo no tratamento da saúde mental de cada indivíduo.
Nessa perspectiva, foi de suma importância os relatos dos usuários, os quais
participam da oficina de arteterapia a mais de dois anos. Esse tempo permite
identificar a evolução do tratamento de cada caso clínico, assim como, as relações a
ele vinculadas.
Em relação a arteterapia como método de terapia para ajudar os usuários do
CAPS, o mesmo possibilita a superação de tensões, estresse e conflitos internos, a
medida que os usuários participaram, cada um no seu tempo de melhora dependendo
de seu diagnóstico e evolução em particular.

26
Diante do conjunto de evidencias geradas, é de grande necessidade a
arteterapia como método terapêutico na saúde mental dos usuários do CAPS,
amenizando as tensões e provendo bem-estar do usuário, destacando a importância
da inserção do profissional enfermeiro nestes espaços de cuidado, fortalecendo a
promoção, prevenção e reabilitação da saúde dos indivíduos e da coletividade. Além
do CAPS a arteterapia pode ser desenvolvida em outros espaços, com outros
públicos, como acima no texto citado pois ela perpassa o significado da arte como ator
principal, ela traz a promoção da saúde em meio a esses sentidos.

7 ARTETERAPIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER

A arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no contexto da relação


profissional, com pessoas acometidas por doenças, traumas ou que buscam pelo
desenvolvimento pessoal. O desenvolvimento da arte e a reflexão sobre os processos
e trabalhos artísticos resultantes estimulam as pessoas a ampliar o conhecimento de
si e dos outros; aumentar a autoestima; lidar melhor com sintomas físicos e psíquicos,
estresses e experiências traumáticas; desenvolver habilidades físicas, cognitivas e
emocionais e desfrutar do momento proporcionado pelo fazer artístico (A. A. A, 2013,
apud D’ALENCAR, 2014, p 3)
Na arteterapia, verifica-se a adoção do trabalho em grupo devido à
possibilidade de crescimento individual e coletivo. Desta forma, o processo terapêutico
grupal permite que os sujeitos despertem para assuntos desconhecidos e/ou
inconscientes, discutam, reflitam e transfiram para a vida, conhecimentos que os
auxiliarão a serem agentes de sua própria saúde, durante ou após o período de terapia
(SOUZA, 2011, apud D’ALENCAR, 2014, p 3).
O trabalho de grupo é um conceito geral que se refere ao que acontece dentro
deste, durante a vida de cada indivíduo que busca constantemente preservar sua
identidade. Contudo, não inclui apenas o conteúdo do que é dito ou feito, mas também
a maneira pela qual os membros interagem entre si e sua relação com o líder. A
vantagem primordial na composição grupal é o fato de que uma variedade de pessoas
com problemas ou objetivos semelhantes está trabalhando no apoio mútuo e no
27
compartilhar de experiências comuns. Estas, dentro de um ajuntamento tem,
frequentemente, valor terapêutico, pois as relações vivenciadas, de alguma forma,
afetam a individualidade de cada um (CARDOSO, 2011, apud D’ALENCAR, 2014, p
3).
Habitualmente, no ambiente hospitalar, as terapias convencionais têm como
intuito assistir à doença, não abrangendo o cuidado holístico à pessoa doente. No
entanto, é sabido que o princípio fundamental da formação do enfermeiro é centrado
no cuidado individualizado ao ser humano, no atendimento às necessidades
biopsicossociais e não apenas no corpo doente, contrapondo ao modelo biomédico,
no qual o diagnóstico é mais valorizado do que a pessoa. Em outras palavras, o
enfermeiro necessita se envolver emocionalmente com o paciente e seus
acompanhantes, sejam eles familiares ou não, com o intuito de manter uma relação
autêntica. Visto que este envolvimento é vital na relação terapêutica, uma vez que
promove empatia e permite que o profissional conheça melhor o paciente e atenda às
suas necessidades, sem prejudicar sua atuação em determinados momentos, para o
desenvolvimento da relação terapêutica (COSTA ET AL, 2005, apud D’ALENCAR,
2014, p 3).
Sendo assim, o cuidado humanizado potencializa as relações humanas para a
promoção de sentimentos de prazer, confiança e respeito mútuo. Restabelecendo
assim, o desejo de viver e cuidar de si mesmo. Durante o processo de ensino-
aprendizagem na formação acadêmica, observaram-se, inúmeras vezes, pacientes
em ambientes hospitalares com pouca ou nenhuma perspectiva de desenvolver
atividade artística ou lúdica.
Sentimento de tristeza perpassam o cotidiano destes, por diversos motivos,
como a ociosidade e a adaptação em um lugar estranho ao seu habitat natural, no
qual os vínculos afetivos e familiares são rompidos e suas barreiras de proteção são
expostas ao processo de adoecimento e morte. Assim, o tempo ocioso gera angústia,
temor, baixa autoestima e pouca socialização, em virtude da permanência em posição
deitada, além do silêncio (BARBOSA et al, 2007, apud D’ALENCAR, 2014, p 3).
Em face dessa problemática, pacientes em situação de doença oncológica e
dos seus acompanhantes, durante a internação hospitalar, motivou o grupo Projeto
Integrado de Pesquisa e Extensão em Perda, Luto e Separação - PLUS+ a realizar
essa intervenção, utilizando como estratégia, na condução de grupos, a arteterapia.
28
Com o intuito de reduzir a ociosidade, criar laços de integração e interação entre as
pessoas, nas unidades de internação e tornar o hospital um ambiente menos
insalubre, de melhor convivência e harmonia.
O PLUS+ foi criado em 2000 e está ligado ao Departamento de Enfermagem e
à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará, composto por
acadêmicos de Enfermagem, Medicina e Psicologia. Tendo como objetivo maior, a
difusão de temas relacionados à tanatologia, através do desenvolvimento da
pesquisa-ação, de relatos de experiência, psico-oncologia, terapias do luto e suicídio,
para pessoas com câncer e seus acompanhantes. Nos treze anos de existência, esse
projeto já realizou diversas atividades, como cursos, eventos, pesquisas e
publicações, atingindo um público-alvo de aproximadamente mil e duzentos
indivíduos.
Diante dessas considerações, é conduzido a reflexão que objetiva relatar a
experiência por meio das atividades de arteterapia com um grupo de pacientes e seus
acompanhantes em um hospital universitário
Dessa maneira, acredita-se que a utilização da arteterapia possibilite mudança
de paradigma, no que diz respeito à promoção da saúde em ambientes hospitalares.
Neste sentido, este estudo torna-se relevante e pode se constitui uma contribuição
importante para a Enfermagem, em sua prática de cuidados aos pacientes
oncológicos, pois ainda é escassa a realização de atividades com abordagem com
arte-terapia nesta área. É evidenciado que na jornada laboral hospitalar traz consigo
momentos de desgaste para os profissionais de saúde, em que muitas vezes,
subestima-se a capacidade de coparticipação do paciente na melhoria da sua saúde.
Deste modo, enfatiza-se que a promoção da saúde, por meio de atividades lúdicas,
torna-se possível dentro do ambiente hospitalar (SOUZA ET AL, 2007, apud
D’ALENCAR, 2014, p 3).

ORGANIZAÇÃO

Um relato de experiência, com o uso da arteterapia, realizado no setor de


oncologia de um hospital universitário, na cidade de Fortaleza – Ceará, desenvolvido
durante o período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Para participar do estudo

29
era necessário que os participantes e acompanhantes que se encontrassem no setor
de oncologia estivessem ativos, lúcidos e aceitassem envolver-se com as atividades.
Excluíram-se os acamados e os em isolamento, devido à baixa imunidade
durante o tratamento de quimioterapia. Ao total tivemos 49 participantes neste estudo.
Os encontros grupais com atividades de arteterapia foram conduzidos por acadêmicas
de graduação do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC),
orientados por professores enfermeiros e terapeutas especialistas em arteterapia e
massoterapia. Sendo realizados semanalmente, com duração média de uma hora,
divididos em três fases, a primeira iniciava-se com a apresentação dos facilitadores e
dos participantes; a segunda consistia na explicação e realização da arteterapia
proposta; e a terceira vislumbrou a avaliação, quando os membros relataram seus
sentimentos diante das atividades.
O processo grupal foi registrado em diário de campo, como instrumento de
coleta das informações relatadas pelos participantes. Para alcançar os objetivos de
cada atividade (aumentar a autoestima, facilitar o autoconhecimento e relaxar),
utilizaram-se métodos da arteterapia, como: pintura, recorte, desenho, colagem,
visualização criativa, técnica do espelho, cromoterapia, argiloterapia, meditação e
massoterapia.
A análise dos dados se deu com a criação de quadros, compostos pelo número
de participantes, gênero representados simbolicamente, objetivo a ser alcançado,
método da arteterapia utilizado e resultados encontrados. A discussão foi realizada
com base em estudos pertinentes à temática.
Já as questões éticas foram fundamentadas na Resolução 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde (M.S. et al, apud D’ALENCAR, 2014, p 5), sendo o estudo
aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa, sob o protocolo nº 019.04.09.
Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Todos tiveram garantia do sigilo e anonimato, e também foi assegurado que a
qualquer momento poderiam não participar das atividades de arteterapia, sem
prejuízo de qualquer natureza ao tratamento.

30
RESULTADOS

O estudo teve início com a inserção das acadêmicas de enfermagem no campo


hospitalar. O setor de oncologia do hospital era divido em dois ambientes: um era
composto por quatro enfermarias, cada uma com dois ou três leitos, iluminado e
agradável e o outro por três enfermarias isoladas com ar condicionado, não permitida
à entrada de acompanhantes e o mínimo possível de fluxo de pessoas, pois os
pacientes estavam em tratamento quimioterápico, com baixa imunidade e requisição
de cuidados específicos. As atividades foram realizadas apenas nas quatro
enfermarias em que se podiam transitar facilmente e teve a participação de 49
pessoas, entre pacientes e acompanhantes.
Os profissionais do setor mostraram-se acolhedores e atenciosos em
apresentar a unidade e os pacientes. Em nenhum momento do desenvolvimento da
arteterapia foi questionado o diagnóstico do participante, pois esse não era o foco do
estudo.
Após a primeira atividade grupal, a equipe de coordenadoras percebeu que se
teria um longo caminho a percorrer, mas com a certeza de que cada momento se
tornaria gratificante para o crescimento profissional e pessoal. Diante do
conhecimento do local e das impressões obtidas, foram desenvolvidas atividades que
envolvessem o autoconhecimento, a autoestima e o relaxamento.
Atividades de arteterapia para o estímulo ao Autoconhecimento, foi
desenvolvida com 16 participantes entre homens e mulheres, com objetivos de
possibilitar interação entre coordenadores e participantes, resgatar pensamentos
sobre quem é, resgatar fatos em fases da vida, resgatar suas características.

31
Fonte: www.eusemfronteiras.com.br

Os métodos usados, foram recorte, colagem, desenhos. Foram elaboraram


crachás com recortes relacionados ao que gostavam de fazer: maquiar, lavar roupas,
cozinhar, costurar, fotografar, ensinar os alunos, cuidar de bebês e idosos;
Desenharam pássaros, representando pensamentos de paz; pessoa alegre por
se enxergar como ser humano extrovertido, feliz e que ajuda os outros. Uma não quis
participar da atividade por não se lembrar do que gostava de fazer.
Na infância, brincar de bonecas e comer chocolate. Na adolescência, sair,
conversar com amigos e namorar. Na fase adulta, casamento, ter filhos, a saída com
amigos, voltar a estudar, trabalhar muito, comprar um carro e viver bem com o marido.
Na velhice, uma idosa relembrou o nascimento da neta.
Recortaram figuras de animais relacionados à personalidade de cada
participante. Borboleta: por gostar de liberdade, de ser livre para voar pelos caminhos
da vida. Peixe: por gostar muito de água. Leão: pela força e conseguir tudo o que
deseja. Cachorro: pela inteligência.
Com o primeiro grupo, observou- se que os objetivos foram alcançados quando
possibilitaram a interação, valorização e elevação do autoconhecimento entre
coordenadores, participantes e seus acompanhantes nas enfermarias. Foram
resgatados pensamentos sobre a realidade vivida, e os relatos mostraram que foram
trazidos da memória fatos ocorridos em cada fase da vida.

32
Vamos citar a experiência feita com um segundo grupo, que teve como objetivo,
resgatar momentos positivos, de felicidades, resgatar o futuro após a alta hospitalar,
aspectos interessantes da vida e o desejo de cada um.
O método usado foi, pintura terapêutica, visualização criativa e a técnica do
espelho.
Os resultados foram momentos de alegria, como colher e plantar na roça,
cuidar do gado, estar com o filho. Uma participante não conseguiu relatar em nenhum
momento alegre. Referiram relaxamento e grande prazer ao realizar a atividade.
Visualizaram a felicidade em momentos marcantes, como estar com a família,
cuidar dos netos, estar num sítio, ter saúde, estar fora do hospital e sentir que não tem
mais câncer.
Relataram também a vontade de ir à igreja, amar o marido, conversar muito
com as pessoas que ama, ouvir música, voltar ao lar, servir a Deus e ser feliz.
Refletiram o quanto são importantes. Sentiram-se surpresos e emocionados.
Perceberam que deveriam cuidar mais de si e valorizar mais o seu potencial.
Relembraram momentos da vida cotidiana, como ter uma boa higiene (tomar
banho, escovar os dentes, pentear o cabelo), pois gostavam de estar limpos mesmo
no hospital.
E teve ainda quem falou do seu desejo de ter a carteira de habilitação, uma
casa com um grande quintal, trabalhar com turismo, voltar à faculdade, uma casa para
abrigar 20 animais.
Com os resultados do segundo grupo, mostra que a elevação da autoestima foi
um dos fatores que mais se destacou nas atividades propostas, por se registrar o
resgate de momentos positivos e de felicidade, além de desejos para o futuro.
Também houve estímulo para que essas pessoas pudessem estar em contato
com sua vida durante seu adoecimento, buscando encontrar alguns aspectos
importantes que pudessem resgatar planos futuros.
Com isso, foi desenvolvido um estudo com o objetivo de relatar a experiência
de atividades de arteterapia com um grupo de pacientes e seus acompanhantes em
um hospital universitário. Relato de experiência realizado em Fortaleza - CE, no
período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011. Participaram dos encontros grupais
49 pessoas que, utilizando os métodos da arteterapia, realizaram diversas atividades,
tais como: pintura, recorte, desenho, colagem, visualização criativa e cromoterapia.
33
No momento destinado às avaliações, os participantes descreveram que a
intervenção permitia dialogar tanto com o processo da vida quanto o enfrentamento
do câncer.
Observou-se com os relatos dos participantes e acompanhantes, que o uso da
arteterapia, no ambiente hospitalar, propiciou resgate de aspectos saudáveis, como:
reviver as lembranças do passado de modo mais harmônico, dar significado positivo
ao adoecimento, relembrar as fases de vida, entre outros.
É possível afirmar que com a elaboração e planejamento de sessões grupais
dentro de enfermarias no hospital pode-se atender a um número maior de pessoas
facilitando interações e integração de pacientes e acompanhantes em situação de
doença grave como o câncer.
A experiência da prática da arteterapia fez com que pudesse ser evidenciado
com esse método de condução simples e de baixo custo como: pintura, recorte,
desenho, colagem, visualização criativa, cromoterapia, argiloterapia, relaxamento,
meditação e
Massoterapia com materiais recicláveis pode trazer referências positivas para a vida
das pessoas que estão submetidas a condição de doença oncológica e seus
acompanhantes em um hospital. Também proporciona autoconhecimento, resgate da
autoestima e sensação de bem-estar. Ocupando horas que são consideradas ociosas,
em que não há atividades a serem realizadas, foi propiciado benefícios como alegria,
visão de futuro e desejo de mudanças a indivíduos adoecidos fisicamente que, muitas
vezes, se encontravam com prognóstico desfavorável.
Considera-se que esse trabalho foi de grande relevância por ser um relato de
experiência, no qual a arteterapia está em destaque, como método que pode auxiliar
na melhoria da qualidade de vida de pacientes com doença oncológica e
acompanhantes nos hospitais.
Podendo ainda ser incluído como estratégia no planejamento da assistência de
enfermagem, pois demonstra que o uso dessa técnica facilita o diálogo entre paciente
e acompanhante, no enfrentamento da patologia.

34
8 CULTURA DE PAZ E ARTETERAPIA

Fonte: espacoelabora.com.br

Auxiliar adolescentes a enfrentar riscos, implica em implantar programas de


"Cultura de Paz", entendida como:

... conjunto de valores, atitudes e comportamentos que traduzem o respeito à vida, à


pessoa humana, à sua dignidade e a todos os direitos do homem, bem como rejeição
da violência sob todas as formas e o comprometimento com os princípios de liberdade,
justiça, solidariedade, tolerância, direitos do homem e compreensão tanto entre as
pessoas, quanto entre os grupos e indivíduos. (Unesco, 1989, p. 53, apud NORGREN,
2011).

As intervenções em Cultura de Paz podem ser muitas: mediação ou condução


positiva de conflitos; desenvolvimento de tolerância ou de competências sociais e
emocionais. Nosso foco será programas de desenvolvimento de competências
socioemocionais, pois há relação significativa entre competência social, acadêmica e
qualidade de vida. Elas podem ser implementadas pela aprendizagem
socioemocional, que se refere à característica ou habilidade de interação e adaptação,
desenvolvida por meio da aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades,
sentimentos e comportamentos (ZINS & ELIAS, 2006; ET AL, apud NORGREN,
2011).
Esse aprendizado deve ser abordado em uma perspectiva de risco e resiliência,
pois funciona como mecanismo de proteção para os indivíduos. O grupo de amigos
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ajuda os jovens a aprender a se relacionar em sociedade, a adaptar suas
necessidades e desejos aos dos outros, a perceber quando é possível ceder e quando
deve se permanecer firme; permite desenvolver a sociabilidade e a intimidade, adquirir
senso de afiliação, de identidade, habilidades de liderança, comunicação e
cooperação. Jovens que aprendem a lidar precocemente com situações difíceis, estão
mais aptos a transpor esse aprendizado para outras situações de sua vida,
favorecendo o desenvolvimento de um processo de resiliência (MASTEN &
COATSWORTH,1998, ET AL, apud NORGREN, 2011).
Realizar programas de aprendizagem socioemocional requer atuar em:
autoconhecimento; tomada de decisão responsável; habilidades de relacionamento;
consciência social; auto regulação (DURLAK & WEISSBERG, 2007, apud NORGREN,
2011). É necessário promover padrões adequados de comunicação; favorecer
padrões de apego seguro; desenvolver a criatividade (como busca de alternativa para
as dificuldades e os problemas vivenciados); desenvolver a competência social e
emocional; ajudar a promover melhoria de qualidade de vida e da funcionalidade da
família, propiciando coesão, consenso e flexibilidade entre seus membros (COWAN
et al, 1996, apud NORGREN, 2011).

5.2 PROGRAMA DE INTERVENÇÃO REALIZADO

Maria de Betânia, 2009, realiza um programa de intervenção primária utilizando


arteterapia com o objetivo de facilitar a transição da 4ª para a 5ª série do Ensino
Fundamental e desenvolver competências sociais. Foi realizado com 75 alunos da
rede pública, com idades entre 9 e 15 anos. (NORGREN, 2009)
A metodologia utilizada foi a pesquisa-intervenção na clínica-social. Foram 18
encontros com atividades de arteterapia e dinâmicas diversas. Os temas trabalhados
foram: mudança e crescimento; autoconhecimento (reconhecer e aprender a lidar com
os sentimentos; conscientizar-se a respeito das capacidades, habilidades e
competências); relacionamentos interpessoais (família, colegas e professores;
empatia e padrões de comunicação efetiva; favorecer o convívio e a valorização da
diversidade); técnicas de resolução de problemas e conflitos; mudança de escola
(expectativas e receios); criatividade, como busca de alternativa para as dificuldades
e os problemas vivenciados e para possibilitar "insights" sobre o processo vivenciado.
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Após a mudança escolar, os alunos foram avaliados em relação a: desempenho
escolar, taxa de absenteísmo, avaliação sociométrica, rede de apoio, percepção da
escola e da mudança; avaliação dos professores e pais. Alguns enfrentaram
problemas sérios entre o término e avaliação do programa: separação de pais;
abandono paterno; diagnóstico de doença crônica; morte de familiares (primo, avô).
Nas entrevistas realizadas, comentaram que os conteúdos aprendidos auxiliaram a
lidar com tais eventos. Os dados obtidos comprovaram a eficácia da intervenção, pois
a maioria dos alunos teve desempenho melhor que o apresentado no ano anterior.
Confirmou-se, assim, a hipótese de que a intervenção contribuiu para adaptação dos
alunos em curto prazo, mostrando-se efetiva no desenvolvimento de habilidades
socioemocionais.
Para lidar com a violência, enquanto educadores e profissionais de saúde,
temos que favorecer a permanência dos alunos na escola e o convívio social; a
ocorrência de relacionamentos interpessoais positivos e a construção do seu projeto
de vida, auxiliando-os a dar voz a seus anseios, enfrentar seus problemas e lidar
exigências e desafios acadêmicos.
Programas de promoção de saúde e cultura de paz são alternativas viáveis e
eficazes para isso. Ajudam jovens a lidar com sua vulnerabilidade, a enfrentar
situações de risco e problemas do dia-a-dia; bem como, promover fatores de proteção
e futuros processos de resiliência.

5.3 ARTETERAPIA COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICO EM SAÚDE MENTAL

A arteterapia é um dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas


áreas do conhecimento, constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a
resgatar o homem em sua integralidade através de processos de autoconhecimento
e transformação (PHILIPPINI,2004, apud COQUEIRO.2010, p.860).
Como campo específico do conhecimento, a arteterapia firma-se nos Estados
Unidos da América, em 1940, com o trabalho de Margareth Nauberg, conhecida como
a “mãe” da arteterapia por estabelecer as fundamentações teóricas para seu
desenvolvimento, além de demarcá-la como área do saber (CIOMAR, 2004, apud
COQUEIRO.2010, p.860).

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A arteterapia recebeu influência de áreas do conhecimento como a Psicanálise
Freudiana, que, no início do século XX, interessou-se pela arte como meio de
manifestação do inconsciente através de imagens. Sigmund Freud observou que o
artista pode simbolizar concretamente o inconsciente em sua produção, retratando
conteúdo do psiquismo. Acerca disso, menciona-se seus estudos realizados sobre as
obras de autores consagrados como Leonardo da Vince e Michelangelo
(FREUD,1970, apud COQUEIRO.2010, p.860).
A Psiquiatria Junguiana, na década de 1920, apropria- se da expressão artística
como parte do processo psicoterápico. Para Jung imagens representam a
simbolização do inconsciente individual e, muitas vezes, do inconsciente coletivo
(JUNG, 1991, apud COQUEIRO.2010, p.860).
A arteterapia é um “processo predominantemente não verbal, por meio das
artes plásticas e da dramatização, que acolhe o ser humano com toda sua
complexidade e dinamicidade. (...) procura aceitar os diversos aspectos dos
pacientes, como os afetivos, culturais, cognitivos, motores, sociais entre outros, tão
importantes na saúde mental” (VALLADARES,2008, apud COQUEIRO.2010, p.860).
É dentro dessa perspectiva inovadora que os CAPS de Fortaleza, através do
Projeto Arte e Saúde, integrante da política de saúde mental desse Município, vêm
desenvolvendo um trabalho articulado à arte na saúde mental, visando a viabilizar e
dinamizar os processos em grupos terapêuticos nos CAPS, utilizando as variadas
expressões artísticas, sendo executado por artistas, arteterapeutas, arte-educadores
e profissionais de saúde mental com formação em arteterapia.
No CAPS/ UFC essas experiências tiveram início em junho de 2007, com a
formação inicial de dois grupos. Oito meses depois, existiam oito grupos em
funcionamento, utilizando-se das mais variadas linguagens artísticas. A arte está
presente nos diversos CAPS de Fortaleza no Projeto Arte e Saúde, com a criação dos
grupos de arteterapia. O projeto recebe assessoria e supervisão sistemática do
Instituto Aquilae, especializado na formação de profissionais em arteterapia.

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA: GRUPO AMIGOS DA ARTE

Em fevereiro de 2008, teve início o grupo de arteterapia intitulado Amigos da


Arte. O nome, escolhido pelos participantes, engloba em seu significado a construção
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dos laços afetivos com base no fazer artístico. Inicialmente, o grupo teve a composição
de 15 membros, homens e mulheres, com idades de 20 a 54 anos. Atualmente, possui
13 participantes.
O contrato terapêutico inicialmente pactuado foi de oito meses, tendo sido
prorrogado de setembro de 2008 para fevereiro de 2009. A alteração no calendário
deu-se em função dos resultados alcançados terem apresentado empiricamente um
nível satisfatório quanto à estabilidade psíquica dos participantes, além da
necessidade surgida em função de prepará-los individualmente (cada um a seu
tempo) a aceitar a alta terapêutica, uma vez que expressam afeição especial a esse
modelo de terapia.
Embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso nesse grupo
terapêutico, procurou-se priorizar as pessoas que expressassem interesse pela arte.
Outro fator prioritário diz respeito aos diagnósticos de transtornos mentais graves,
como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e alguns casos de depressão.
A participação se dava na medida em que essas pessoas apresentassem
condições mínimas de frequentar as sessões. Ressalta-se que a prioridade dada às
pessoas com interesse e afinidade com o fazer criativo e a arte não constituiu
necessariamente um critério para inclusão ou exclusão no grupo, mas se apresentou
como aspecto facilitador do processo. Não significa dar ênfase às técnicas e aos
aspectos estéticos, ao contrário: as nossas intenções vão ao encontro dos processos
criativos e da livre expressão. A arte é então percebida como instrumento de
enriquecimento dos sujeitos, valorização de expressão e descoberta de
potencialidades singulares. A experiência tem mostrado que o desejo e a admiração
pelo fazer artístico são fundamentais na inserção no grupo: há casos em que a
pessoa, por mais que seja estimulada, não demonstra interesse em participar desse
tipo de atividade. Desse modo, respeita-se o desejo do usuário naquele momento,
para que em outra ocasião possa ser feita nova abordagem.
O grupo tem encontros semanais às sextas-feiras, das 8h30 horas às 11 horas,
tendo como facilitadores um artista com formação em artes plásticas, uma assistente
social com formação em arteterapia e uma enfermeira que desenvolve um trabalho
voltado à composição de músicas educativas com temas da área de saúde.
É um grupo do tipo semiaberto marcado pela rotatividade relativa, na qual os
participantes se ausentam por algum período e posteriormente retornam. Segundo
39
relatos dos familiares, tais ausências apontam para alguns motivos, como doença na
família, acúmulo de atividades domésticas e, em alguns casos menos frequentes, de
novos episódios da doença. Cabe notar a existência de uma espécie de “apego
especial” dos usuários a esse tipo de grupo – que a nosso ver poderia, em alguma
medida, justificar o retorno às sessões.
As atividades são realizadas em espaço destinado especificamente a esse fim,
a partir da adaptação de uma das salas do CAPS que ficou conhecida como ateliê,
local onde ficam disponíveis os diversos materiais utilizados nos encontros: tintas,
telas para pintura, papel, giz de cera, argila, pincéis, tecido, material reciclável, dentre
outros.

Fonte: www.alinebarcelos.com.br

Os trabalhos realizados pelos participantes em cada sessão ficam expostos


para secagem, dando ao local um aspecto visual de efusão de cores. Posteriormente,
os criadores podem levar suas obras para casa.
Os primeiros encontros foram basicamente de apresentações e discussão das
expectativas do grupo, com a realização de várias vivências distribuídas ao longo das
sessões iniciais para integrar e, simultaneamente, quebrar resistências. Nesses
encontros iniciais, assim como nos posteriores, utilizamos equipamento de som,
cadeiras, mesas e colchonetes, dispostos em posição circular para simbolizar uma
situação de gestalt fechada (CASTILHO, 1994, apud COQUEIRO.2010, p.861).

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Durante as sessões, utilizamos duas técnicas distintas, a depender do
comportamento dos participantes no momento, ou seja: se a maioria apresenta certo
grau de agitação, utilizamos a técnica de relaxamento com músicas instrumentais,
objetivando reduzir o nível de tensão e angústia, permitindo que as emoções fluam
mais intensamente e a sessão passe a ser um momento de profundo contato com os
sentimentos (MATEUS,1997, MC.CLELLAN, apud COQUEIRO.2010, p.861).
Por outro lado, se as reações dos indivíduos apresentam rebaixamento do
humor, empregamos técnicas de expressão corporal através de jogos coletivos,
movimento corporal com música, visando a melhorar os potenciais emocionais de
modo lúdico. Em cada um desses momentos são desenvolvidas ações que têm por
fim trabalhar as capacidades de se expressar dos participantes tanto no que se refere
ao corpo quanto ao intelecto, não apenas em relação ao grupo, mas também em
relação à descoberta de si, sendo o indivíduo conduzido a ser autor de sua descoberta
(MATEUS,1997, KUNZ, 2004, apud COQUEIRO.2010, p.861).
Assim sendo, iniciamos as atividades com exercícios de relaxamento ou
expressão corporal. Em seguida, abre-se espaço para que os participantes possam
falar como se sentem, dando a oportunidade de refletir sobre suas emoções. A partir
daí, conforme a profundidade e a amplitude dos relatos, os facilitadores propõem
algum tipo de técnica adequada à situação presente, utilizando a expressão artística.
Desse modo, trabalham-se no grupo as dificuldades emergentes.
Na arteterapia, várias modalidades expressivas com propriedades
terapêuticas inerentes e específicas são trabalhadas. Fica a cargo do arteterapeuta
criar um repertório de informações relativo a cada modalidade, adequando-as às
necessidades do usuário a ser atendido (PHILIPPINI,2004, apud COQUEIRO.2010,
p.861).
O grupo Amigos da Arte executou, várias propostas, ou seja, criação de
trabalhos desde pintura em tela, técnicas de pinturas em tecido, monotipia (técnica de
impressão com uso de tinta) e até elaboração de escultura em argila, pintura e
colagem sobre telha, técnicas de pintura sobre gesso. São produzidos também
objetos a partir de material reciclável, como garrafas PET ou canos de papelão.
Ao final de todo o fazer criativo, os participantes são estimulados a observar
seus trabalhos, refletindo sobre seus significados, percebendo o processo desde o
primeiro momento da representação artística. Acerca disso, tem-se a utilização de
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material reciclável como expressão em arteterapia, que resgata a edificação, a
estruturação, a organização e a elaboração da matéria, estimulando a pessoa a
construir de modo pessoal e, simultaneamente, a criar uma consciência
socioambiental. Dessa forma, buscamos possibilitar ao grupo, através do estímulo
individual e/ou coletivo, a criatividade e a expressão artística, dando ênfase ao
processo de criação, à medida que o participante é levado à reflexão e à busca de
significados inferidos ou atribuídos ao que ele produziu.
A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior na área da saúde e,
sobretudo, no campo da saúde mental. O trabalho desenvolvido junto aos usuários do
CAPS Geral da Secretaria Executiva Regional III/ UFC. Apresenta-se como uma das
ferramentas fundamentais que vêm colaborando para amenizar os efeitos negativos
da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento
psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos afetivo,
interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de cada
sessão.
Observa-se que a arteterapia tem possibilitado aos usuários a vivência de suas
dificuldades, conflitos, medos e angústias de um modo menos sofrido. Configura-se
como um eficaz meio para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do adoecimento
mental em si, assim como os conflitos pessoais e com familiares. Nota-se que há uma
minimização dos fatores negativos de ordem afetiva e emocional que naturalmente
surgem com a doença, tais como: angústia, estresse, medo, agressividade,
isolamento social, apatia, entre outros.
Tendo em vista nossas recentes experiências com a utilização de recursos
artísticos como dispositivo terapêutico na saúde mental no referido CAPS SER III/
UFC, percebemos empiricamente que a arteterapia, em qualquer das linguagens
artísticas aplicadas, tem se configurado importante instrumento para ajudar grupos de
pessoas com transtornos mentais, trazendo consigo visíveis resultados em espaço de
tempo relativamente curto.
O grupo Amigos da Arte pode ser percebido como espaço em constante
processo de construção e reconstrução da integração, socialização, liberdade de
experimentação do fazer e expressão artística de seus participantes, tendo como
objetivo fundamental minimizar o sofrimento mental, tornando possível o direito de

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achar o seu elo e o caminho para vida, mesmo que fora do padrão normal socialmente
aceito (MUNARI, 2004, apud COQUEIRO.2010, p.861).
Consideramos que, mediante a interpretação e a reflexão das vivências na
relação terapêutica, a pessoa vai se apropriando dos seus próprios conteúdos,
conhecendo a si mesma e se tornando assim sujeito ativo do processo terapêutico.
Parece razoável pensar nossa experiência com o grupo de arteterapia no CAPS
supracitado e seus desdobramentos como salutar, na medida em que observamos os
resultados. Dessa forma, consideramos a necessidade da ampliação do projeto Arte
e Saúde a partir da criação de novos grupos terapêuticos que percebem na arte um
instrumento importante na busca do bem-estar da pessoa em sofrimento mental e de
promoção da saúde em geral.
Face a um contexto dessa natureza e com base nestas reflexões, esperamos
sensibilizar e estimular outros profissionais da área de saúde mental e artistas de
modo geral a vivenciar essas gratificantes experiências.

9 A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA (TEA)

Em 1911, o termo “autismo” foi primeiramente usado por Bleuler para designar
crianças que, aparentemente, haviam perdido o contato com a realidade resultando
em grande dificuldade ou incapacidade de comunicação. (PEREIRA, et al, 2008, apud
GATTINO, 2009)
Oliveira e Oliveira, (2016, p.1), desenvolvem uma pesquisa para estudar a eficácia
e os benefícios da arteterapia no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA),
e explorar como esse recurso está inserido na atuação do psicólogo.
Para Valladares e Silva, (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016, p 1), a arteterapia
contribui significativamente na humanização nos cuidados à saúde, é um processo
natural no qual o indivíduo comunica o que sente, pensa e a maneira como vivência e
percebe o mundo, processo que ocorrerá de acordo com o seu desenvolvimento
emocional, mental, psíquico e perceptual.

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Segundo Marinho e Merkle, (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016) são chamadas
autistas as crianças que tem inadaptação para estabelecer relações normais com o
outro, um atraso na aquisição da linguagem, apresentam igualmente estereótipos
gestuais, uma necessidade de manter imutável seu ambiente material, ainda que
deem provas de uma memória frequentemente notável.
De acordo com Valladares e Silva (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016), ainda do
autor acima, a arteterapia possibilita oferecer uma assistência globalizada,
favorecendo um ambiente facilitador e propício ao seu comportamento e
desenvolvimento, buscando sempre barrar a estagnação de estímulos, pois esta pode
prejudicar estruturalmente todo seu processo de desenvolvimento normal, acredita-se
que a ampliação dos espaços da arteterapia poderá facilitar a expressão das crianças,
estimulando o desenvolvimento de suas potencialidades expressivas.
A arteterapia, que utiliza a arte no auxílio ao tratamento psicológico, é um
dispositivo terapêutico que absorve saberes das diversas áreas do conhecimento,
constituindo-se como uma prática transdisciplinar, visando a resgatar o homem em
sua integralidade através de processos de autoconhecimento e transformação.
Tommasi (apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016), diz que a arteterapia estimula a
imaginação, libera as manifestações de símbolos, trabalha a afetividade, a expressão
criativa. Trabalha com o ser humano em sua totalidade.
Segundo a autora, a arteterapia tem várias raízes, com sustentação na arte e na
psicologia, e aprofunda ainda mais nessas raízes. A psicologia, por exemplo, surgiu
da filosofia, que por sua vez, surgiu da mitologia. Na pré-história o ser humano já se
expressava artisticamente. O porque ainda é uma incógnita, poderia ser um meio de
comunicação, rituais, forma de expressar sua realidade, seus medos, etc.
Não sabemos ao certo o porquê, mas uma coisa é certa, já estava desenvolvendo
ciência. Passados os tempos, ele vai pensar em sua natureza, o que é o ser humano,
como ele se desenvolve, como se diferencia e, ao fazer isso ele está fazendo filosofia,
o que é a base da psicologia e das demais ciências, como a medicina e a engenharia.
Ao fim do século XIX e início do século XX a atividade artística é levada para os
lugares dos cuidados psiquiátricos. A “arteterapia” científica aparece realmente no
século XX, seguida pela musicoterapia. Nos anos de 1960, reconhece-se a verdadeira
arteterapia como domínio totalmente à parte e relacionado a todo conjunto das
técnicas artísticas (FORESTIER, apud OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2016, p 2).
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Os estudos de Jung influenciaram amplamente o campo da arteterapia, trazendo
à tona discussões sobre importância do mundo imagético na compreensão do
psiquismo e, consequentemente, valorizando a análise das imagens simbólicas
projetadas nas produções artísticas dos pacientes dentro do enquadre
psicoterapêutico.
A reforma da psiquiatria levou a uma ressignificação de saberes e práticas na
saúde mental, o que foi possível pela substituição do paradigma manicomial, marcado
pela exclusão social e olhar simplista e hegemônico biopatológico da psiquiatria, por
novas formas de cuidado
Surge então a arteterapia como um novo campo a ser explorado, dentro de uma
multidimensionalidade e interdimensionalidade existentes em todas as áreas de
conhecimento.
A arte tem um papel importante no campo de conhecimento rico em símbolos e
significados, que proporciona a eclosão de uma linguagem não verbal, possibilitando
a comunicação por meios pouco explorados, buscando promover o desenvolvimento
de habilidades individuais, integração grupal e formação humana.
Importante frisar o fato de que ao lidarmos com pessoas portadoras de
necessidades especiais, devemos estar abertos ao novo.
Concluímos então que, conforme cita Karvonen e Stoxen (2003, apud OLIVEIRA
et al, 2016), o maior problema de pessoas com necessidades especiais são os
comportamentos problemas, e por isso é muito importante uma intervenção
abrangente, que foca o desenvolvimento de habilidades funcionais e não apenas na
redução de comportamentos indesejáveis, a intervenção e estratégias deverá ser de
acordo com os princípios de planejamento centrado na pessoa e na sua capacidade
de fazer escolhas, isso permite que o indivíduo expresse suas decisões e escolhas de
forma adequada ao invés de um comportamento problema. Isto se dá através da
análise funcional e implantação de intervenções abrangentes. A inclusão é um
processo que ocorre continuamente pela vida inteira da pessoa com necessidades
especiais e o principal objetivo é promover uma vida com dignidade e qualidade.

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10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASSOLS, M. (2006). Arteterapia e artigos de educação artística para inclusão


social Vol.1, p 19-25

COQUEIRO, N.F. et al, 2010, Arteterapia como dispositivo terapêutico em saúde


mental, Acta Paul Enferm 2010;23(6):859-62

D’ALENCAR, ÉR, ET AL 2013. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol.


14, núm. 6, 2013, pp. 1241-1248, Fortaleza

FACCO, S. C. M., et al. Revista Espaço Ciência & Saúde, v. 4, 2016, p. 45-54.

GATTINO, Gustavo Schulz. A Influência no Tratamento Musicoterapêutico Na


Comunicação de Crianças Com Transtornos do Espectro Autista, Porto Alegre,
2009

NORGREN, M.B.D, 2011, Construção Psicopedagógica. vol.19 no.18 São


Paulo 2011

REIS, A.C; Arteterapia: a Arte como Instrumento no Trabalho do Psicológico.


Psicologia Ciência e Profissão, 2014, 34 (1), 142-157.

VALLADARES, A. C. A. ET AL. “Arteterapia: criatividade, arte e saúde mental com


pacientes adictos”. In: JORNADA GOIANA DE ARTETERAPIA, 2, 2008, Goiânia.

OLIVEIRA, Marcela Aparecida Eustáquio de; OLIVEIRA, Roselle Fernandes Torres


de. VII de Iniciação Científica da FEPI. A ARTETERAPIA NO TRATAMENTO DO
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA), Itajuba, 2016.

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