Livro Atas XXIX Encontro AULP 2020
Livro Atas XXIX Encontro AULP 2020
Livro Atas XXIX Encontro AULP 2020
Título
ARTE E CULTURA NA IDENTIDADE DOS POVOS
Editor
Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP)
Coordenação editorial
Cristina Montalvão Sarmento
Pandora Guimarães
Patrícia Oliveira
Impressão e acabamento
Europress - Indústria Gráfica
Tiragem
300 exemplares
ISBN
978-989-8271-20-4
Depósito Legal
465506/19
Fotografia de capa e contracapa (panorâmica de Lisboa vista a partir da margem sul do Tejo,
sobre a Ponte 25 de Abril) por João Quaresma, 2016.
Os artigos publicados nesta edição são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Escritos em língua
portuguesa, estes representam variantes da língua consoante o país de origem.
Arte e Cultura na Identidade dos Povos
XXIX Encontro
Associação das Universidades de Língua
Portuguesa
SESSÃO DE ABERTURA
Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais: uma ponte entre o mundo local
e a aldeia global
António Meireles e Joana Baião, Instituto Politécnico de Bragança ........................ 117
Fantasmagorias da modernidade
Vera Spínola, Universidade Federal da Bahia ..... ..................................................... 179
A Rede de Estudos Ambientais dos Países de Língua Portuguesa: REALP: seus obje-
tivos e realizações
João Serôdio Almeida, Universidade Agostinho Neto, e Maria Manuela Morais, Univer-
sidade de Évora.. ........................................................................................................ 313
Educação das comunidades sobre a utilização dos rios como fontes de água para
consumo, com vista à promoção de saúde em Moçambique
Agnes Novela, Universidade Pedagógica ................................................................. 317
Excelências
O comprometimento que as Instituições membros da AULP têm, para com a missão
de promover a comunicação entre si, em prol do desenvolvimento coletivo do ensino e
Excelências
As universidades estão para servir, elas são no seu conjunto o principal sector de pro-
dução do elemento humano qualificado, que a sociedade definiu como a força motora
para o seu desenvolvimento. Por isso, a AULP procura fazer com as universidades da
lusofonia, por via da sua cooperação, partilhem os frutos da sua produção académica e
científica para que o desenvolvimento do espaço se processe com base nos padrões co-
muns a todos os países.
A cada ano que passa e em cada Encontro que organiza, a AULP segue demonstrando
que se consolidou como uma organização, que tornou real o sentido de unidade entre as
Instituições de Ensino Superior Lusófonas, fazendo com que os seus membros participem
activamente na construção de uma cultura científica e de estudos superiores com que to-
dos se identifiquem, sobretudo num mundo globalizado, onde as divergências de pontos
de vista são uma normalidade. Essa coesão e partilha que cultivamos, nos confere um
estatuto distinto, que se caracteriza pela capacidade que as instituições têm de produzirem
activos, que são uma mais-valia nos diferentes sectores dos nossos países, seja tecnológi-
co, comercial, diplomático-político, comunicação, cultural…
Muito Obrigado
Francisco Noa
Professor de literatura e reitor da Universidade Lúrio
E nós? Temos nos sentido exponencialmente sendo passados para trás ou desatualizados?
Onde está o ser humano nessa história?
Como ele pode encontrar seu espaço nesse mundo em transformação? Onde ele pode se
destacar? Onde ele pode fazer a diferença? Qual a grande oportunidade?
Alessandro Gruber
Eu sempre digo que a vida não pode ser trabalhar a semana inteira e ir ao supermercado
no sábado. Não pode ser assim. Essa vida não é humana. Deve haver algo mais, mas aqui,
nessa vida. E essa outra coisa se chama cultura. É a música, a poesia, a natureza, a bele-
za... É o que se deve apreciar e aproveitar porque, caso contrário, isso é uma merda.
Juan Luis Arsuaga, paleoantropólogo
Introdução
Criámos e vivemos num mundo verdadeiramente desconcertante, tal é a rapidez, com
que ocorrem transformações fracturantes, por um lado, e se acumulam, por outro, situa-
ções paradoxais reveladoras de como os seres humanos parecem ter perdido o controlo
sobre o seu próprio percurso evolutivo. Ou, por outra, como se este tivesse ganho vida
própria e passasse a conduzir e moldar a nossa existência. São, por conseguinte, infindá-
veis as expressões desse desconcerto e de um profundo mal-estar que tem sido traduzido
por alguns dos espíritos mais destacados do nosso tempo.
Por um lado, temos a reveladora constatação de um generalizado e acentuado esvazia-
mento interior, caso de Lipovetsky (1993), com a era do vazio, ou do camaronês Achille
Mbembe (2016), com a lúcida, mas angustiada percepção de que o humanismo está che-
gando ao fim. Constatação já outrora avançada por Gianni Vattimo (2002), quando con-
cede que assistimos, hoje, ao crepúsculo da humanidade. Tudo isto, diante das quotidia-
nas demonstrações de niilismo, desigualdades globais com muito poucos tendo muito e
muitos tendo quase nada, com os conflitos sociais transformados em formas de racismo,
ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e ou-
tras paixões exacerbadas e mortais.
Por outro lado, confrontamo-nos com expressões que traduzem sentimentos de um
esgotamento colectivo, expressas, por exemplo, por Byung-Chul Han, em A Sociedade do
Cansaço (2014), ou as indefinições, a ambiguidade e a aguda vocação pelo efémero da
sociedade contemporânea, como nos explica Zygmunt Bauman nas suas várias obras ao
redor da inovadora e desafiante ideia de modernidade líquida.
Technology is not only the machine itself but is the whole set of relationships between hu-
man beings, utensils and fields of knowledge. Another important feature of anthropological
theory is that it enables us to define culture as a set of communicative acts. Communication
is what allows groups and individuals to represent themselves and interact with the world
through norms and values.
When analysing theoretically the features of the artificial information contained in any lin-
guistic message, it becomes clear that this new society is not at all a society of reciprocal
understanding. This excessive communication is too often a symptom of self-expression
rather than the desire to really step into the shoes of another person (Combi, 7).
Daí que no entender da autora que temos estado a analisar, “the greater our awareness
of living in a global world, the more strenuous our defence of local identity is.” Este é,
1. https://yab.yomiuri.co.jp/adv/wol/dy/opinion/culture_180226.html.
Since the character of art and formal representation has never been monolithic, in Africa or
elsewhere, there is a multiplicity of approaches ranging from the figurative and mimetic to
the stylized and abstracted. Thus to generalize about African art is to radically oversimplify
the situation.
Além do mais, é também importante considerar uma das dicotomias mais problemáti-
cas no que a arte africana diz respeito que é o facto de termos, por um lado, artistas afri-
canos vivendo praticamente no Ocidente e que mesmo que resgatem uma certa “autenti-
cidade” africana, estão profundamente presos aos cânones ocidentais que os legitimam e
promovem.
Por outro lado, temos os artistas africanos, mal conhecidos ou mesmo desconhecidos
no Ocidente, e que evoluem fortemente ancorados na tradição e no quotidiano. E, entre os
dois grupos, encontram-se aqueles artistas africanos que, vivendo em África, e que re-
2. (https://ehtrust.org/key-issues/cell-phoneswireless/5g-networks-iot-scientific-overview-human-health-risks/)
A cultura plenamente abrangente de nossos dias exige que se adquira a aptidão para mudar
de identidade (ou pelo menos sua manifestação pública) com tanta frequência, rapidez e
eficiência quanto se muda de camisa ou de meias. Por um preço módico, ou nem tanto, o
mercado de consumo vai ajudá-lo na aquisição dessas habilidades, em obediência à reco-
mendação da cultura.
3. https://science.jrank.org/pages/8379/Arts-Africa-Postcolonial-Postmodern-Transnational.html
Conclusão
Entre posições que traduzem um cepticismo e pessimismo indisfarçáveis, mas de uma
notável lucidez, e outras, não menos clarividentes, de um pragmatismo e um optimismo
inspiradores, procuramos explorar algumas das posições que pontuam a análise dos im-
pactos provocados pela disrupção global dos finais do século XX.
Em todas as posições por nós identificadas, e que exprimem de forma singular aquilo
que são percepções generalizadas, é inegável a transformação das nossas sociedades so-
bretudo nos últimos trinta anos. São mudanças contínuas e aceleradas, do ponto de vista
psicológico, cultural socieoeconómico e existencial, alterando e instaurando novos ima-
ginários, tudo por força da intensa e massiva aceleração tecnológica, que não deixa nada
nem ninguém de fora. E nem um continente historicamente tão marginalizado como o
africano consegue escapar ao vórtice de todas estas mudanças tão rápidas, tão impactan-
tes e de um alcance inimaginável.
Perante a hipótese tão real e tão presente de as máquinas sobreporem-se aos seres
humanos condenando-os à irrelevância, a solução acaba por residir naquilo que está para
além da eficácia matemática e algorítmica das novas tecnologias. Referimo-nos a factores
como imprevisibilidade, sensibilidade, criatividade, imaginação, emoção, falibilidade,
sensibilidade, memória, identidade, isto é, todo um agregado de características tão huma-
nas, demasiadamente humanas, e que têm determinado a trajectória vitoriosa da humani-
dade ao longo dos tempos.
E o desafio e a oportunidade residem na capacidade de os seres humanos reiventarem
essa trajectória, mantendo-se no centro e no comando dos destinos do planeta, naquilo
que eles têm de melhor e distintivo. A cultura, a arte, a ciência e as humanidades são se-
guramente domínios que irão ajudar a assegurar que assim seja.
Paulo Morais-Alexandre
Doutorado em Letras pela Universidade de Coimbra, Professor da Escola Superior de Teatro e Cinema,
IPL, Pró-presidente para as Artes do Politécnico de Lisboa, Investigador do Centro de Investigação
e de Estudos em Belas-Artes – CIEBA da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa
E-mail: [email protected]
Introdução
O Instituto Politécnico de Lisboa assumiu em 2010 heráldica própria, complementan-
do o uso de logotipo criado aquando da fundação do instituto. Tal foi entendido como
complementar ao já existente e não como sua substituição. Toda a estruturação heráldica
foi feita tendo em conta a missão do Instituto e também a sua história e até o património
histórico das unidades orgânicas que o integravam, algumas já seculares, como o ISEL,
ISCAL ou as Escolas das Artes. O resultado redundou na criação de novas formas plásti-
cas que antes não existiam, com óbvias preocupações em termos estéticos, que passam a
constituir também património não só da instituição que o criou, mas tornando-se parte
relevante de um corpus heráldico, no domínio da Heráldica Corporativa, onde nem sem-
pre esta opção foi tomada. Paralelamente na ordenação das armas foi também criada uma
divisa que espelha o que é o Instituto.
Paralelamente houve lugar a uma reforma das distinções atribuídas pelo Instituto,
nomeadamente ao nível das medalhas de mérito já existentes, que foram adequadas à
nova simbologia e foram igualmente criadas as insígnias da presidência e dos professores.
1. Veja-se a este respeito de Humberto Nuno de Oliveira e Miguel Metelo de Seixas – Heráldica Universitá-
ria: Subsídios para o Ordenamento Heráldico da Universidade Lusíada. Lisboa: Universidade Lusíada / Aca-
demia Lusitana de Heráldica, 2004.
2. Qualquer destas instituições adotou paralelamente um logotipo, o que se compreende, não se entendendo,
no entanto, o arrazoado que a Universidade do Minho publicou na sua página para justificar a adoção de logoti-
po, com erros absolutamente grosseiros e que evidencia da parte do autor um desconhecimento de regras básicas
da heráldica, confundindo, nomeadamente, a esquerda com a direita das mesmas: «[…] Outras observações e
comentários poderiam ser feitas sobre a identificação de uma nobreza de segunda, atendendo à posição em
que aparece o elmo, virado para esquerda, e com isso significando uma descendência ilegítima. / Em resumo, a
actividade militar subjacente a um brasão de cavalaria, realizado segundo uma retórica quatrocentista, (invocan-
do D. Manuel I), servindo o modelo familiar da representação genealógica da aristocracia, publicado em plena
República Portuguesa logo após o deflagrar da revolução política que instauraria o regime democrático de go-
vernação, para identificar uma Universidade pública, parece no mínimo insólito.» Cit. Francisco Providência –
“Sobre o “nascimento” da Nova Imagem da UM” in Sítio da Universidade do Minho. Disponível em: https://
www.uminho.pt/PT/uminho/Simbolos-e-Hino/Identidade-grafica/Documents/nova_identidade.pdf. Acedido em
2019, junho, 6. «A falta de qualidades técnicas do actual símbolo (brasão) para o pleno exercício da comunica-
ção com valor de marca e a sua inadequação representativa; por um lado, pela escala e complexidade dos ele-
mentos iconográficos associadas à sua variação cromática e à hesitação entre a linha e a mancha como suportes
de forma, por outro, atendendo ao pressuposto ontológico da universidade enquanto lugar de desenvolvimento
do conhecimento, actualmente representada por insígnias militares de cavalaria na retórica manuelina da herál-
dica nacional de família.» Cit. “Universidade do Minho: Manual de Identidade Visual” in Sítio da Universidade
do Minho. Disponível em: https://www.uminho.pt/PT/uminho/Simbolos-e-Hino/Identidade-grafica/Docu-
ments/Alt.%20Manual_Identidade_UMinho.pdf. Acedido em 2019, junho, 6.
3. «Símbolo do Instituto Politécnico de Bragança: Aspectos descritivos e simbologia inerente / O escudo de
armas do Instituto Politécnico de Bragança pretende identificar a instituição na região do País onde está inserida.
/ O escudo de armas obedece às leis da heráldica portuguesa. No timbre e nas suas cores naturais está represen-
tada uma cegonha, ave de visão imensa, ex-libris de muitas aldeias transmontanas, referência permanente à
natureza e à liberdade, observando-se um pleno respeito das populações. O Instituto Politécnico de Bragança
tem também esta visão de abertura permanente em relação à cultura e o respeito em relação a outras formas de
cultura existentes e complementares. / No bico da cegonha aparece um pequeno ramo de carvalho, árvore pre-
ponderante na região, identificando o Instituto Politécnico de Bragança com os grandes espaços naturais perfei-
tamente conservados na região. / Por detrás do timbre observamos a divisa do Instituto «SCIENTIA ET LA-
BOR» como grito de guerra, dada a sua colocação e segundo as leis da heráldica. / O elmo possui as cores
convencionais, ouro e prata, sendo forrado a púrpura. Como símbolo honorífico que é, tem um penacho de
plumas brancas, identificação do elmo usado nas instituições educativas. / O paquife ondolande, simulador dos
montes e da preponderante floresta de carvalho da região, termina os seus oito braços em folhas de carvalho
estilizadas. O paquife utiliza a cor principal do Instituto Politécnico de Bragança: o vermelho-púrpura. Esta cor
simbólica identifica a instituição com a dignidade, a soberania e o poder cultural. / O escudo tem como fundo a
segunda cor do Instituto: o negro, que simboliza ciência, fartura, fidelidade, modéstia e sofrimento. / Na parte
superior aparece o escudo de Portugal decorado com dois ramos de oliveira, árvore comum da região. Pretende-
-se que o Instituto Politécnico de Bragança, na sua simbologia, e onde quer que esteja representado, se identifi-
que com Portugal e Bragança. / Na parte lateral direita observamos um símbolo que se identifica com a revolu-
ção tecnológica e a agricultura: o arado transmontano. / Na parte lateral esquerda observa-se o símbolo mais
comum à cultura e ao saber: o livro. / Na parte central aparece a mais bela fortificação portuguesa: o Castelo de
Bragança, símbolo de resistência, liberdade e autonomia. / Na parte inferior observa-se uma quadrícula a negro
e púrpura, pretendendo simbolizar o salpicado de terrenos agrícolas da região que assumem um belo quadricu-
lado.». Cit. “Símbolo do Instituto Politécnico de Bragança” in Diário da República. Lisboa: 1995, setembro, 5,
1.ª série B, n.º 205/1995, p. 5628.
4. Cf. informação dos Serviços de Imagem – Viva Voce. 2019, junho, 6.
5. “Símbolo do Instituto Politécnico de Bragança”, p. 5629.
6. «Escudo ibérico: / De azul, castelo de prata, aberto, frestado e lavrado de negro, sustido por um monte de
sua cor; em chefe, dois livros abertos com folhas de sua cor, capas e ferragens de ouro. Correia de sua cor per-
filada e afivelado de oiro. / Elmo de prata volvido a três quartos, tauxiado de negro, guarnecido de oiro e forrado
de vermelho. / Paquife e virol de ouro, prata e azul. / Timbre: dragão de vermelho, armado e linguado de oiro,
segurando na garra dextra uma folha de hera de prata. / Divisa em listel branco, com caracteres maiúsculos a
negro: INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. […] Simbologia: / Castelo – armas falantes em
relação ao topónimo; / Monte – grandeza ou firmeza; / Livro – conhecimento; / Dois (livros) – número perfeito
da criação; / Prata – amizade; / Azul – lealdade; / Vermelho – valor; / Dragão – sabedoria; / Hera – eternidade.»
Cit. “Emblemática do Instituto Politécnico de Castelo Branco” in Diário da República. Lisboa: 1995, março, 9,
1.ª série B, n.º 58, p. 1292.
7. «[…] análise do brasão do IPCB constatou-se que o código simbólico empregue pela heráldica não era
suficientemente conhecido pelo público em geral. Por outro lado, a complexidade própria de um brasão (quer ao
nível da forma ou da cromática), tornava-se num impeditivo à memorização fácil e uma condicionante às pos-
sibilidades de redução ou aplicação em distintos suportes analógicos ou digitais. A quantidade de cores do bra-
são implicava que a impressão fosse no mínimo a quatro cores. Assumindo o princípio de que uma marca grá-
fica tem como primeira função a diferenciação, o brasão do IPCB apresentava lacunas a esse nível. Na verdade,
constatou-se que partilha demasiados elementos gráficos semelhantes ou iguais a outros brasões pertencentes a
organismos militares ou de outros sectores. Sendo que a emblemática da heráldica atribuída ao IPCB era cons-
tituída por um brasão de armas, uma bandeira e um selo, formalmente muito diferentes, não existiam critérios
para o seu uso coerente, pelo que a instituição se fazia representar indiscriminadamente das três formas. Embo-
ra o uso do brasão fosse predominante, esta situação dificultava a criação de uma Identidade Visual marcante e
facilmente identificável pelo público.» Cit. Daniel Raposo e João Neves – “O Instituto Politécnico de Castelo
Branco como marca” in ddiseño: Boletín académico-científico de Información y Desarrollo del diseño en el
ámbito hispano/italiano/portugués. Málaga: 2000, janeiro, ano 3, n.º 5. Disponível em: http://www.arsfluentes.
es/ddiseno/ddiseno-5/documento1.htm. Acedido em 2019, junho, 5.
8. O logotipo do Instituto Politécnico de Castelo Branco pode permitir a seguinte leitura heráldica: de azul
uma torre de prata; por timbre um dragão segurando na garra dextra uma folha de hera, tudo de prata. A justifi-
cação e descrição apresentada pelos autores mostra que não conhecem as regras da linguagem heráldica, que
atribuem significado simbólico às peças que estas dificilmente têm e omitem até alguns elementos da composi-
ção, como se eles não estivessem presentes: «Considerado um símbolo com forte potencial de diferenciação,
manteve-se o dragão, ser mitológico que simboliza sabedoria e desejo da inteligência. Em alusão à nacionalida-
de destaca-se o escudo, que acaba por funcionar como elemento de interligação entre as várias marcas gráficas
criadas. Deu-se ênfase ao castelo que representa a cidade de Castelo Branco.» Cit. Daniel Raposo e João Neves
– ob. cit.. Ao contrário do afirmado não é representado um castelo, mas antes uma torre; não se entende como é
que um escudo é uma alusão à nacionalidade; não se faz referência à folha de hera que o dragão segura na garra;
por fim, o mesmo metal, a prata, é representado no campo do escudo pelo branco e no timbre por prata.
9. «O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) possui um símbolo e um brasão. O símbolo é utilizado na
projeção da imagem e ações do IPB, representando a unidade do Instituto e evidenciando a sua abertura para o
exterior e acompanhando a sua evolução e das respetivas Unidades Orgânicas, de acordo com as necessidades
de diferenciação e posicionamento no contexto do ensino superior e o sentir coletivo da comunidade do IPB. [/]
A utilização do brasão é reservada para ocasiões excecionais, onde se considere necessária uma insígnia formal
e cerimonial, devendo a sua utilização ser aprovada pelo Presidente do IPB, para garantir a conformidade de
uso e para assegurar a sua reprodução em moldes adequados.» Cit. “Símbolos e Brasão” in Sítio do Instituto
Politécnico de Bragança. Disponível em: https://portal3.ipb.pt/index.php/pt/ipb/quem-somos/ipb/simbolos-e-
brasao. Acedido em 2019, junho, 5.
10. “Logotipo IPV – Concurso de Ideias” in Sítio do Instituto Politécnico de Viseu. Disponível em: http://
www.ipv.pt/ci01_19/pconc_ci_2019.pdf. Acedido em 2019, junho, 5.
O primeiro logotipo
A estruturação da imagem institucional do Politécnico de Lisboa começou por ser
feita através da criação de um logotipo, concebido ainda sob a égide da comissão instala-
dora desta instituição e começado a utilizar em 198611, mas apenas registado no Instituto
Nacional de Propriedade Industrial em 200712. Trata-se de um arranjo gráfico da sigla IPL
que remete para a forma de um veleiro / caravela estilizado sobre ondado (fig. 1). Este
logotipo seria utilizado exclusivamente até à criação de simbologia heráldica, altura em
que cairia em desuso, vindo a ser criado posteriormente, em 2012, um novo logotipo13,
também este reformado posteriormente.
O enquadramento legislativo
A legislação relativa à heráldica corporativa é lacunar e anacrónica. Efetivamente em
1991, foi aprovada a “Lei n.º 53/91 de 7 de Agosto – Heráldica autárquica e das pessoas
11. Cf. Arminda Rodrigues – “Instituto Politécnico de Lisboa tem novo logotipo” in Politecnia, Lisboa: 2012,
março, n.º 26, p. 10.
12. Rui Solnado da Cruz – “Ofício Ref. DM/20/2007/65219” in Pasta Logotipos. S.l.:, 2007, abril, 26. Arqui-
vo do Gabinete de Comunicação e Imagem do IPL.
13. Arminda Rodrigues, ob. cit., pp. 10-11.
14. Escudo partido cosido de azul e vermelho carregado com um caduceu rematado na parte superior de um
elmo alado, com duas serpes entrelaçadas, tudo de prata, sobre-o-todo.
Coronel
Não existindo qualquer tradição no uso da “coroa cívica” prevista pela legislação18,
existindo universidades que adotaram o uso do elmo, algo que não tem particular justifica-
15. “Lei n.º 53/91 de 7 de Agosto – Heráldica autárquica e das pessoas colectivas de utilidade pública admi-
nistrativa” in Diário da República, Lisboa: 1991, Agosto, 7, 1.ª série A, n.º 180, pp. 3904-3906.
16. O que não foi feito na altura, nem viria a ser feito até ao presente.
17. «Artigo 7.º Símbolos 1 – O IPL adopta emblemática e traje próprios, a serem aprovados pelo Conselho
Académico do IPL.» Cit. “Estatutos do Instituto Politécnico de Lisboa” in Diário da República. Lisboa: 2009,
maio, 2.ª série, n.º 98, pp. 20492-3.
18. Esta “coroa cívica” destinava-se a todas as armas de pessoas colectivas de utilidade pública administrati-
va e deveria ser «[…] formada por um aro liso, contido por duas virolas, tudo de prata e encimado por três ramos
aparentes de carvalho de ouro, frutados do mesmo.» “Lei n.º 53/91 de 7 de Agosto”, p. 3905.
Timbre
A proposta de timbre derivou da universalidade do ensino superior, mas remetendo
também para os Descobrimentos Manuelinos, através da utilização do corpo da empresa
do rei D. Manuel I, a esfera armilar, um importante instrumento tão aplicado na navega-
ção através da astronomia (fig. 4).
Divisa
Não tinha o IPL até à data da criação das armas qualquer divisa. Na criação desta fo-
ram pensadas várias soluções e ensaiadas várias hipóteses, nomeadamente a utilização, à
semelhança do que sucede, por exemplo, nas armas do Instituto Universitário Militar ou
da Academia Militar, entre vários outros exemplos, de uma divisa camoniana, respetiva-
mente «POR PURO ENGENHO E POR CIÊNCIA»19 e «EM PERIGOS E GUERRAS
ESFORÇADOS»20.
Registe-se por fim que, na diversidade dos saberes de que o Instituto é composto, tem
denominadores comuns, evidenciados igualmente na forma como se relaciona não só
19. Luís de Camões – Os Lusíadas. Lisboa: Antonio Gonçalvez Impressor, 1572, V, 17.
20. Ibidem, I, 1.
Grito-de-guerra
Entende-se o grito de guerra «INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA» não como
uma mera legenda da designação do estabelecimento de ensino, mas exatamente com a
função de um verdadeiro grito de guerra, ou seja, a aglutinação de uma força, neste caso
de saber, de artes, ciência e investigação, reforçando a coesão e solidariedade das unida-
des orgânicas no organismo que as une e a que pertencem.
A proposta para as armas do IPL mereceu a aprovação do respetivo presidente que a
levou a conselho académico e, na sequência da aprovação, foram encomendados os dese-
nhos finais das armas, da bandeira e selos, bem como a iluminura, a um dos mais relevan-
tes ilustradores e iluminadores heráldicos em Portugal, José Colaço, com uma obra muito
significativa e responsável, entre outras, pelas iluminuras das armas do Exército nas últi-
mas quatro décadas21.
Insígnias
Pelo despacho “Despacho n.º 6 /IPL-2010 – Normas do Traje Académico do Instituto
Politécnico de Lisboa”24 foram instituídas as insígnias de professores, da direção do Poli-
técnico de Lisboa e, posteriormente, dos membros do Conselho Geral.
A solução encontrada foi relativamente simples e passou pela utilização de uma me-
dalha oval, com as armas do IPL, suspensa de epitoge, de ouro para o presidente (fig. 5),
de prata para os vice-presidentes e de bronze para os professores25.
Para os membros cooptados do Conselho-Geral foi criado um colar de função. Trata-
-se de uma peça constituída por uma cadeia composta por 12 esferas armilares, 6 escudos
do IPL e 6 elementos geométricos de ligação, interligados, do qual pende a medalha oval
21. Sobre José Colaço veja-se o capítulo dedicado a este artista plástico e heraldista em Paulo Jorge Morais
Alexandre – A Heráldica do Exército na República Portuguesa no século XX. Dissertação de Doutoramento.
Disponível em: Estudo Geral – Repositório Digital. Universidade de Coimbra. Endereço: https://estudogeral.
sib.uc.pt/jspui/handle/10316/12166. Acedido em 2019, junho, 14
22. Veja-se a este respeito: Jorge Silva – “Armas e Traje Académico do IPL” in Politecnia. Lisboa: 2010,
janeiro, n.º 23.
23. Cf. Luís Vicente Ferreira – “Despacho n.º 6 /IPL-2010 – Normas do Traje Académico do Instituto Poli-
técnico de Lisboa” in Sítio do Politécnico de Lisboa. Disponível em: https://www.ipl.pt/sites/default/files/
ficheiros/Normas_Traje_Academico_IPL.pdf. Acedido em 2019, junho, 9.
24. Ibidem.
25. Ibidem.
7 – Medalha de Prata de
Emérito e Serviços Prestados
ao IPL de 1.ª classe
8 – Medalha de Prata de
Emérito e Serviços Prestados
ao IPL de 2.ª classe
A Medalha de Prata de Emérito e Serviços Prestados ao IPL de 2.ª classe, com insígnia
para o peito, com fita de suspensão de seda ondeada de prata, passadeira: de prata, pen-
dente de prata oval, com as armas completas do IPL esmaltadas (fig. 11).
Em 2014 foi criada a Medalha de Prata de Valor e Distinção do IPL, destinada a ga-
lardoar personalidades ainda estudantes ou já diplomados do IPL que se tenham notabili-
zado de forma muito relevante. A condecoração é composta por insígnia de peito, com fita
de suspensão de seda ondeada de prata, com um filete longitudinal de negro, carregada no
centro de uma coroa de louros de ouro, pendente de prata oval tendo no centro as armas
completas do IPL esmaltadas (fig. 12)26.
26. Cf. Luís Vicente Ferreira – “Despacho n.º 4/2014 – Regulamento para atribuição da Medalha de Prata de
Valor e Distinção do IPL” in Sítio do Politécnico de Lisboa. Disponível em https://www.ipl.pt/sites/default/files/
ficheiros/instituto/regulamento_medalha_prata_valor_e_distincao_0.pdf. Acedido em 2019, junho, 9.
Fontes e Bibliografia
“Emblemática do Instituto Politécnico de Castelo Branco” in Diário da República. Lisboa: 1995, março, 9,
1.ª série B, n.º 58.
“Estatutos do Instituto Politécnico de Lisboa” in Diário da República. Lisboa: 2009, maio, 2.ª série, n.º 98.
“Lei n.º 53/91 de 7 de Agosto – Heráldica autárquica e das pessoas colectivas de utilidade pública adminis-
trativa” in Diário da República, Lisboa: 1991, Agosto, 7, 1.ª série A, n.º 180.
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Descrição: Escudo: gironado de oito peças de negro e prata, uma nau entrecambada. Coronel: acadé-
mico, composto por um arco liso com virolas nos bordos superior e inferior encimado por quatro lanternas
bilícnias acesas, das quais duas são aparentes, o intervalo entre cada duas lanternas bilícnias acesas é pre-
enchido por uma folha de figueira, tudo de ouro. Timbre: uma esfera armilar de prata. Grito de guerra:
num listel de prata, ondulado, sobreposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, estilo elzevir: “INS-
TITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA”. Divisa: num listel de prata, ondulado, sotoposto ao escudo, em
letras de negro, maiúsculas, estilo elzevir: “VBI SCIENTIA ET ARS, IBI SAPIENTIA ET PRAXIS”.
Simbologia: O Gironado cita a bandeira do concelho de Lisboa, cidade onde o Instituto Politécnico
de Lisboa está sediado. A Nau alude à gesta marítima portuguesa, onde se aliaram, o conhecimento e a
prática, só possíveis pelo cultivo das ciências e das artes, estabelecendo-se um paralelismo com o deside-
rato do Instituto. A Esfera Armilar remete para as armas nacionais e representa a vocação universal do
ensino ministrado no Instituto Politécnico de Lisboa, vocacionado para a expansão e o intercâmbio de ex-
periências e saberes. A Lucerna Bilícnia simboliza a luz do espírito, a difusão do conhecimento e alude ao
estudo como atividade primordial do Instituto. O número de chamas corresponde às duas vertentes por este
cultivadas: as ciências e as artes. A Folha de Figueira, de uma espécie endémica em Portugal, simboliza a
aplicação dos conhecimentos que caracteriza o ensino superior politécnico representando as ciências e ar-
tes alicerçadas na pesquisa e execução. O Grito de Guerra “INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA”
alude à união do Instituto sob a sua designação e órgãos. A Divisa “VBI SCIENTIA ET ARS, IBI SAPIEN-
TIA ET PRAXIS” que se traduz por “Onde há Ciência e Arte, há Sabedoria e Prática” alude por um lado
às duas vertentes do ensino do Instituto, as ciências e as artes, mas por outro aponta claramente a sua
orientação e vocação expressa na “Lei de Bases do Sistema Educativo” quando se afirma que «O ensino
politécnico, orientado por uma constante perspetiva de investigação aplicada e de desenvolvimento, dirigi-
do à compreensão e solução de problemas concretos, visa proporcionar uma sólida formação cultural e
técnica de nível superior, desenvolver a capacidade de inovação e de análise crítica e ministrar conheci-
mentos científicos de índole teórica e prática e as suas aplicações com vista ao exercício de atividades
profissionais». Os esmaltes significam: OURO, constância e firmeza; PRATA, verdade, riqueza na virtude
e humildade nos procedimentos; NEGRO, sabedoria, honestidade.
Introdução
A sociedade timorense é uma sociedade multicultural, ou seja, uma sociedade com
muitas práticas ou cerimónias rituais. A vivência social dos timorenses é assinalada pela
forte relação entre homem e natureza, e isso se reflecte nas músicas como no caso das
músicas de resistências, músicas de reconciliação, músicas de Tebe Dahur1 na construção
e na inauguração de Uma Lulik2, música religiosa, músicas de casamento e de funeral, que
também fazem parte nas cerimónias rituais da cultura timorense.
Os timorenses já têm, desde tempos primordiais, suas próprias músicas e danças
dahur que os acompanhavam na realização de todas actividades culturais e festivas so-
ciais. É por isso que desde a primeira geração até o actual, os timorenses continuam a
manter todas as práticas culturais e rituais através da música, dahur, tebedai e etc., porque
acreditarem que estas práticas representam pilares básicos da construção de uma vida
feliz entre os vivos e a sua natureza.
A música tocada ou apresentada em algumas cerimónias rituais e oficiais tem uma
posição muito forte, porque ela revela a identidade de determinado grupo que se agrupa
no território de Timor-Leste. Por exemplo, a música da resistência está sempre a ser con-
siderada como verdadeira “representação simbólica de expressão”, porque envolve o sen-
timento e emoções de beleza revolucionária do povo Maubere e de repugnância aos mili-
tares indonésios. A música de resistência comunga o componente de uma realidade
política e sociocultural dos timorenses na luta contra o invasor indonésio.
1. Tebe dahur é uma dança tradicional timorense, utilizada pela comunidade nas festas sociais, cerimónias
culturais, festas religiosas, muitos ritmados em conjunto um grande círculo composto por sons masculino e
feminino, durante o noitecer.
2. Uma Lulik ou casa sagrada. A uma lulik é um sitio sagrado das almas dos ancestrais. Atualmente, Uma
Lulik tem grande importância na continuidade das gerações timorenses, por isso ele tem o poder mágico em
afastar todos os problemas da vida pessoal e social.
A música pode ser agradável, pode manter as pessoas afastadas das ruas, pode gerar empre-
gos, pode engrandecer eventos socioculturais. Creio que a música persiste em todas as
culturas e encontra um papel em vários sistemas educacionais, não por causa de seus servi-
ços ou de outras actividades.
Além disso, este autor considera também a música como discurso, ou como uma arte
que transmite a mensagem sobre um algo sobre a vida do ser humano e suas respectivas
relações na sociedade. Realçamos ainda que as músicas podem estar associadas às
memórias e às lembranças, querendo dizer que as músicas podem transportar as pessoas
para o passado, quando essas pessoas lembram um algo tão importante ou significativo
que aconteceu na sua vida passada, por exemplo, a sua vida infância rodeada pela tristeza
e alegria, e essa memorização do passado através das músicas é sempre reflectida com a
melodia específica. As músicas estão sempre ligadas a celebrações e eventos, por exem-
plo, o nascimento, adolescências, casamento, morte.
Ouvir música é libertar a mente nas incertezas de vida e de stress, por isso, a música é
considerada como uma das modalidades que desenvolve a mente humana, proporcionan-
do um estado agradável de bem-estar, facilitando a concentração e o desenvolvimento do
raciocínio, especialmente a questão relacionada à acção de pensar.
A música é uma expressão humana que integra todo o contexto do individuo ao am-
biente e natureza em uma harmonia constante. A música serve para valorizar o sentido de
viver humano, porque está inter-relacionada com o sentimento. Todos já ouvem alguém a
cantar, ou a sentir ou saborear o som de um instrumento, de modo a poder dar a essência
de vida enquanto obra de arte. É por isso que segundo Glécia Oliveira (2014):
A música é usada para reflectir sobre a interacção entre os seres humanos com as coisas
(vida, culto e rituais que têm os próprios padrões de actividade sociocultural). Daí, a mú-
sica ser entendida como a inter-relação mais íntima com o viver concreto. Envolver o
sentimento mais profundo na vivência sociocultural e mística. Tem os seus próprios pa-
drões de actividade sociocultural, sua própria mistura de peso, espaço, tempo e movimen-
3. Oliveira, Glécia. 2014. Músicas e resistência: uma breve análise historica e discursiva do preconceito racial
e social nas músicas da banda Reflexu’s. In RAS – Revista Angolana de Sociologia, nº 13 – https://journals.
openedition.org/ras/1006 (acesso a 1/5/2019).
2. A música da resistência
A música é uma arma para denunciar os crimes cometidos pelos políticos e a injustiça
social na sociedade global. Na luta pela democracia e pelos direitos humanos, alguns
músicos fizeram seu papel de fazer críticas com letras de musicalidade, e assim dizia Igor
Gomes que
A música e a luta política caminham juntas há um bom tempo. Seja com o Sam Cooke e a
Nina Simone inspirando a luta por direitos civis nos EUA; seja com Chico Buarque e Nara
Leão inspirando a luta contra a ditadura no Brasil; seja com o Racionais MCs denunciando
a violência policial já nos anos 90 na Zona Sul4.
3. Músicas em Timor-Leste
Os timorenses têm suas próprias músicas que passavam de pais para filhos. Eram
cantos de guerra, inovações aos deuses, canção para a inauguração e a construção de
“Uma Lulik” (dahur, tebe dai), ou de da casa sagrada. A função de Uma Lulik é renuir as
4. Esta informação foi tirada no artigo de Igor Gomes intitulado “E a música de protesto, cadê?” publica-
do em https://medium.com/@igorgomes_chico/e-a-m%C3%BAsica-de-protesto-cad%C3%AA-af17c19ece87
(acesso a 2/5/2019).
Comecemos pelos maestros: Simão Barreto, o autor-maestro timorense, com uma carreira
internacional, e Cornélio Vianey da Cruz. Abril Metan, foi um famoso violinista e com-
positor. Teve grande prestígio como músico, morrendo na década de 90 em Timor. No en-
tanto, o ritmo tradicional kore-metan, que ele adoptou, continua a ser tocado e gravado em
Dili pelo seu filho. Mau Soko, pertencente a uma família de músicos distintos e construto-
5. Sau batar é uma actividade de colheita de milhos da comunidade timorense, geralmente essa atividade ti-
nha sido realizado antes do dia de sau batar.
6. Sama hare é de pisar se o arroz, debulhar o arroz e acompanhada com música de Mai ita sama Hare ou
vamos nos debulhar o arroz.
7. Hafolin feto é uma cerimónia de integrar a dote da mulher pela família do noivo
8. Nahe Biti boot ou esteiar se o tapete grande. A cerimónia de Nahe Biti Bo’ot ou cerimónia de reconciliação
é uma cerimónia tradicional e cultural do povo de Timor-Leste. A realização da cerimónia tem por objectivo de
reunir as comunidades timorenses que estão em conflitos
9. Palavra tebe-tebe ou tebe dai é conhecida como dança tradicional e os dançarinos cantam, saltam como
ritmados, sem utilizar instrumentos. E, bidu também uma dança, as mulheres usando os instrumentos tradicio-
nais como babadok, gongo e dadir, os homens dançar entre eles, pode ser entre a frente ou de traz da dançarinas.
10. Eh Maubere Buibere! Eh Timor Lorosa’e ita rain, rai Timor ita nia rain”. Significa o povo Maubere a
terra do Timor sol nascente é a nossa terra, o Timor é a nossa terra.
11. lakodo de bambu é um instrumento musical e acompanha nas várias apresentações da canção timorense.
Esses músicos timorenses são pessoas ligadas directamente à música, têm carácter ser
profissional ou amador da música, e alguns deles estavam e estão a exercer alguma função
no campo da música como instrumentista, cantor ou compositor, porque eles percebem a
totalidade performance da música que vai ser apresentada ao seu público-alvo. Isto é, a
performance é muito importante para um músico a compor a letras de sua música, como
adverte Swanwick (1979, p.44) “(…) a performance é um compromisso muito especial,
um sentimento para o músico como uma espécie de presença”.
É necessário realçar também que a música e a dança tradicionais desempenhavam e
desempenham um papel importante em todas as atividades da vida humana e reconhecida
como os símbolos da identidade de maneira em que cada vez mais a música representa a
presença e o espírito dos ancestrais e também a música entendida como um remédio é que
tem o seu pode de curar os problemas psicológicos enfrentados pelo povo, por causa dos
sofrimentos do passado. A música tem uma força curadora, ela traz a luz, a alegria ou “A
música é a linguagem dos espíritos.” Khalil Gibran13.
14. É necessário justificar que o disco de 12 Músicas da Resistência contadas por veteranos foi lançado
pelo governo sob a pessoa do Primeiro-Ministro Rui Maria de Araújo no Palácio do Governo – veja https://
quedapamusica.wordpress.com/2015/07/25/para-uma-banda-sonora-alternativa-da-resistencia-timorense/
(acesso 1/5/2019).
15. Foi tirado em https://www.pensador.com/frases_arte_musica/ (acesso a 12/5/2019)
Vale a pena dizer também que a música “Lutar lutando” revela-nos uma memória,
uma luta com letras de musicalidade, em busca de justa resistência e em defesa de uma
verdade histórica. Revela-nos também uma história de derramamento do sangue por uma
revolução do povo pela liberdade e autodeterminação com o sangue derretido no corpo,
que simboliza “resistir e vencer” e “a vitória é certa”. Estas expressões eram palavras de
ordem do comando de luta na afirmação da identidade cultural, e por isso que a música
também revela a identidade cultura de um povo, e assim podemos considerar as músicas
de Resistência como músicas de afirmação das identidades (cf. Hargreaves, 2004).
Não podemos esquecer também que há uma outra canção que revela a repugnância do
povo timorense sobre a presença dos javaneses em Timor-Leste, como constata as letras
da canção “Ó Javanês, Ó Javanês”17.
Sabemos ainda que a denúncia da dominação indonésia foi feita pela visão artística,
isto é, através das letras musicais, dos versos poéticos e das pinturas. Muitos países fize-
ram vénia de solidariedade com a luta do povo timorense pela autodeterminação e inde-
pendência, e essa tal solidariedade foi mostrado também por algum grupo jovem com a
apresentação de algumas canções por Timor, por exemplo, canção “Timor dos Trovante”
com letra de João Monge que estava incluída no álbum Um Destes Dias (1990), que acla-
16. Esta música de resistência e revolucionária foi recolhida pelo Tercisio Pinto, e apresentada por ele na 3ª
conferência internacional “A produção do conhecimento científico em Timor-Leste”, 13-15 de Setembro 2018,
organizado pela Unidade de Produção e Disseminação do Conhecimento/Programa de Pós-graduação e Pesqui-
sa da UNTL
17. Esta música de resistência e revolucionária foi escrita por António do Espirito Santo (Watumau), e reco-
lhida pelo Tercisio Pinto, e apresentada por ele na 3ª conferência internacional “A produção do conhecimento
científico em Timor-Leste”, 13-15 de Setembro 2018, organizado pela Unidade de Produção e Disseminação do
Conhecimento/Programa de Pós-graduação e Pesquisa da UNTL
Ai Timor
Calam-se as vozes dos teus avós
Ai Timor
Se outros calam cantamos nós
Talvez, as andorinhas iam apresentar a mensagem de saudade a Timor, mas essa men-
sagem foi recebida com lágrimas e nem ouviam a voz das crianças a chorar. De facto,
como dizia letra da música “Timor dos Resistência” que “já não posso lá voltar/á idade de
lembrar/a Timor” além-de-mar que alguma vez Ruy Cinatti o designa “mulher amada”
(Araújo, 2014).
É necessário revisitar também uma temática bastante interessante que devemos
conhecer como parte integrante do circuito das músicas da Resistência, como o “Resistir
É Vencer” do álbum Olhos Meus, lançado em Novembro de 1999. É um álbum que
reflectia, sobretudo, a luta do povo de Timor e seus respectivos sofrimentos sentidos pela
libertação de sua Pátria Timor-Leste. Outra canção da Resistência que devemos conhecer
e considerar também é “Mate ka Moris Ukun Rasik An” do álbum Today’s Empires,
Tomorrow’s Ashes, inspirada pela vida de Bella Galhos18. Tal fato ocorre quando a memó-
ria coletiva é construída para atender a função de “definir e reforçar o sentimento de
pertencimento e as fronteiras” (Pollak, 1989, p. 1).
É por isso que a música é uma arte que revela a identidade original e digna no viver
humano, e muitas pessoas reconhecem que a música aumenta a qualidade de vida huma-
na, o senso estético. Não se deseja passar um dia sem ela, pois ela evoca a criação. Isto
nos relembra que a educação musical deve contribuir para a formação integral humana
em todos os seus aspectos: físico, espírito, social, intelectual, de forma que cada um pos-
sa desenvolver a sua criatividade e senso crítico, seus valores que o conduzam à sua
18. Bella Galhos foi uma resistente timorense que sobreviveu após do Massacre de Santa Cruz, conseguiu
sair de Timor e viveu no Canadá, e lá que fez várias denúncias contra o regime ditador indonésio e suas relações
norte-americanas. Informação mais completa consulta-se o artigo de Rui Lopes intitulado “Para uma banda
sonora alternativa da resistência timorense” in https://www.google.pt/amp/s/quedapamusica.wordpress.
com/2015/07/25/para-uma-banda-sonora-alternativa-da-resistencia-timorense/amp/ (acesso 2/5/2019).
19. Esta música de resistência e revolucionária foi recolhida pelo Tercisio Pinto, e apresentada por ele na 3ª
conferência internacional “A produção do conhecimento científico em Timor-Leste”, 13-15 de Setembro 2018,
organizado pela Unidade de Produção e Disseminação do Conhecimento/Programa de Pós-graduação e Pesqui-
sa da UNTL
Tan sá Timor oan hakruk be-beik? Porquê, Timor, se inclina a tua cabeça?
Tan sáTimor ulun sudur oioin? Porquê, Timor, estão os teus filhos escravizados?
Tan sáTimor oan a’atan oioin? Porquê, Timor, vagueiam os teus filhos como escravos?
Loke matan! Loron foun to’o iha o knua! Abre os olhos, um novo sol ergue-se sobre a tua aldeia
Loke matan! Loron foun iha ita rain Abre os olhos, um novo sol ergue-se sobre a tua terra
Hader! Kaer rasik o nia kuda talin! Acorda! Toma as rédeas do teu cavalo.
Hader! Ukun rasik ita nia rain Acorda! Toma o controlo da tua terra.
A Fretilin escolheu “Foho Ramelau” como seu hino, porque compreendeu sobretudo
o valor simbólico que o Monte Ramelau tem para os timorenses, e aliás, é a montanha
mais alta de Timor-Leste e representa simbolicamente o carácter de resistência do povo
timorense. Trata-se de uma canção com letras invocatórias que se tornou uma fonte de
inspiração para os guerrilheiros e os militantes patrióticos para se unirem a defender a
Pátria Maubere. Portanto, os velhos, os jovens e as crianças, os artistas, os políticos e até
os guerrilheiros armados, dançam o dahur e cantam as músicas de resistência, como uma
manifestação de recusa a presença do regime de Jakarta – Indonésia. É portanto, a canção
– no período da resistência timorense, e a mesma luta que se viu acontecer no Brasil con-
tra a ditadura militar – foi usada como forma de comunicação e de registro. Porque trans-
mitia uma mensagem sobre “sentimentos de falta, de saudade, de perda, de desespero, de
sofrimento e de luta, compartilhados por todos que sofreram exílio, torturas, prisões e por
quem queria acabar com aquele regime. Através dela era possível passar as idéias que não
eram permitidas pelo regime” (Paulse, 2009, p.205).
Conclusão
Perante uma obra de arte musical e dança tradicional na cultura timorense, pode ser
tem sentido profundo nas suas próprias emoções e sentimentos, da beleza e da harmonia,
a partir de uma escala de notas se pode, de acordo com determinadas leis da tonalidade,
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20. Oliveira, Glécia. 2014. Músicas e resistência: uma breve análise historica e discursiva do preconceito
racial e social nas músicas da banda Reflexu’s. In RAS – Revista Angolana de Sociologia, nº 13 – https://jour-
nals.openedition.org/ras/1006 (acesso a 1/5/2019).
Cristina Graça
Escola Superior de Dança, Instituto Politécnico de Lisboa, Portugal; E-mail: [email protected]
Why should our children bend the knee in fastidious and servile dance, the Minuet, or twirl
in the mazes of the false sentimentality of the Waltz? Rather let them come forth with great
strides, leaps and bounds, with lifted forehead and far-spread arms, to dance the language
of our Pioneers, the fortitude of our heroes, the Justice, Kindness, Purity of our statesmen,
and all the inspired love and tenderness of our Mothers. When the American children dance
in this way, it will make them beautiful beings, worthy of the name of the Greatest Demo-
cracy. That will be America Dancing. (1927/2002, p. 199)
Diremos, pois, que a modern dance americana, ancorada numa elite culta, de expres-
são eminentemente urbana e feminina, contrariou, nas primeiras décadas do século XX,
convenções estéticas e sociais enraizadas, ajudando a redesenhar a própria cultura que a
havia produzido. Mas, se esta “ new force in the American arts” (Foulkes, 2002, p.25)
refletia o espírito inconformista e progressista característico da América, também viria a
corporizar, reativamente, num subtexto de significação latente, a expressão de uma iden-
tidade nacional que, na essência, se revia como branca, anglo-saxónica, cristã e social-
mente estruturada numa perspectiva patriarcal.
1. Martha Graham (1894-1991) Sistematizou e desenvolveu um novo vocabulário de dança que se tornou
simultaneamente um sistema de treino e um instrumento coreográfico. A técnica Graham usa a respiração e a
oposição como princípios estruturantes, dos quais resultaram os conceitos de contraction/release e spiral que a
suportam. Os movimentos em que o corpo se recolhe sobre si mesmo para, logo depois, se expandir, feitos em
diferentes dinâmicas e registos emocionais, associados à teatralidade e tensão da espiral, conferiram ao seu
trabalho uma dimensão angular, definida, forte e assumidamente dependente da gravidade que conferia poder ao
corpo das bailarinas (Jowitt, 2012).
I, too, had a vision – the vision of America dancing a dance that would…have nothing to do
with the sensual lilt of the jazz rhythm: it would be like the vibration of the American soul
striving upward, through labour, to harmonious life. Nor had this dance that I visioned any
vestige of the Foxtrot or Charleston – rather was it the living leap toward the heights, towar-
ds its future accomplishment, towards a new great vision of life that would express Ameri-
ca. It seems to me monstrous that anyone should believe that the Jazz rhythm expresses
America. Jazz rhythm expresses the primitive savage. (Duncan, 1927/2002, p. 198-199)
Também Ted Shawn, em 1938, nas conferências e palestras que proferiu no George
Peabody College for Teachers (Nashville, Tennesse) viria a eleger as mesmas temáticas
para a sua própria definição de uma dança genuinamente americana:
It is our concern that the dance of America shall express the richness, the dignity and mello-
wness of our national tradition; that it have the bigness of heart and long-suffering of our
Lincoln; the vastness of our plains, the majesty of our mountains, the fertility of our soil…
But, beyond this, because of the tradition of our Anglo-Saxon forefathers, who fought and
died to make it possible for us to have Life, Liberty and the Pursuit of Happiness, we must
in all our activities be a torch to the world and in the dance most of all. (1950, p. 114)
He [the American dancer] must know not only how his experience originates...but also what
part it takes in the organic progression of his race. The most difficult problem for the Ame-
rican dancer is the realization of this relationship…because of his conglomerate racial heri-
tage without a common folk-lore or mythology. (Humphrey, 1932, pp. 46-47)
African Americans› natural dancing ability confirmed their closeness to so called primitive
societies, unsophistication, nature, bodies, and sex…white critics had difficulty acknowled-
ging African American dancers› contributions to an aesthetic project that included philoso-
phical ideas about art. Racism limited their involvement in modern dance…and performan-
ce opportunities were scarce. (Foulkes, 2002:77)
2. Frontier, obra de 1935, com música de Louis Horst e cenário de Iasmu Noguchi. Ethel Winter interpreta-a,
numa reconstituição feita pela própria Martha Graham, em http://acceleratedmotion.org/dance-history/creating-
-american-identities-2/primary-sources/. Janet Eilber também interpreta Frontier (com introdução explicativa
de Martha Grahm) em https://www.youtube.com/watch?v=wX--wIO82FY.
3. Bailado composto por três partes (Dances Before Catastrophe/Dances After Catastroph/Prelude to Action)
estreado a 26 de dezembro de 1936, em Nova Iorque, com música de Wallingford Riegger (versão completa em
https://www.youtube.com/watch?v=BXGPJPG3aOE, dançada pela Martha Grahm Dance Company).
4. Bailado estreado a 30 de julho de 1937, em Bennington, Vermont, com música de Henry Cowell.
5. Obra estreada a 19 de dezembro de 1937, em Nova Iorque, com música de Henry Cowell (excerto dançado
por Carrie Ellmore-Tallitsch no Joyce Theater, em 2015, em https://www.youtube.com/watch?v=-aoyWTItS08).
Now Jocasta kneels on the floor at the foot of the bed and then she rises with her leg held
close to her breast and to her head, and her foot way beyond her head, her body open in a
deep contraction. I call this the vaginal cry; it is the cry from her vagina. It is either the cry
for her lover, her husband, or the cry for her children. (1991, p. 214)
Em várias das obras que criou a partir de 1944, Grahm reinterpretou coreograficamen-
te narrativas da mitologia greco-romana. Nelas, a condução do fio diegético deixou de
pertencer ao herói masculino e tornou irrelevantes os feitos guerreiros e as conquistas
territoriais, estandartes tradicionais da afirmação masculina na mitologia, na história e na
política. Revisitados, estes mitos foram o pano de fundo onde Graham inscreveu as suas
“landscape[s] of the human soul” (Graham, 1991, p. 96); mais do que dançar uma histó-
ria, traduziam em forma de movimento as experiências, desejos e perceções de uma pro-
tagonista feminina que a narrativa patriarcal sempre secundarizara enquanto complemen-
to da ação. Medeia, Jocasta, Clitmnestra e Phaedra conduzem a ação a partir do ponto de
vista do seu desejo erótico, ou da frustração dele, em vez de serem objeto passivo do de-
sejo masculino.
Adicionalmente, o recurso a figurinos que cobriam as pernas das bailarinas e impe-
diam a sua exposição ao olhar do espetador masculino contribuiu para uma inversão da
lógica escópica, assente num “male gaze” (Mulvey, 1973, p. 384) que tradicionalmente
desfrutava do corpo feminino enquanto espetáculo6. Ao cobrir os corpos com saias longas
ou com vestidos tubulares, Graham recentrava o olhar sobre o movimento das bailarinas,
em concreto sobre as capacidades expressivas do torso, exponenciadas pelos novos voca-
bulários estabelecidos: a contraction, o release e a spiral.
Em sentido inverso, quando passou a integrar elementos masculinos nas suas coreo-
grafias, o corpo destes surgiu frequentemente exposto, espetacularizado, numa quase nu-
dez que contrastava com os figurinos que velavam o corpo das mulheres. Indicadora de
uma rotura com a economia visual da ordem patriarcal, esta reconfiguração do paradigma
voyeurístico que objetivava e erotizava o corpo masculino era, também ela, um sinal re-
velador das mudanças sociais protagonizadas pelas mulheres:
6. Até um momento relativamente recente no contexto da história da arte, o recetor da obra (coleccionador/
espetador/patrono/dono) era fundamentalmente masculino. De acordo com Berger, sendo este recetor perciona-
do como masculino, era para o deleite do seu olhar que a obra era concebida. No caso paradigmático da pintura,
o corpo feminino nu, idealizado na forma, na sedução, na exposição e no desapossamento da horizontalidade,
era, tanto no lado do produtor/pintor, como no lado do recetor/visualizador, exibido para um olhar masculino
como posse material e simbólica.
Particularmente em Phaedra, uma obra do início dos anos de 1960, Graham iria exa-
cerbar esta subversão da lógica escópica normativa, atribuindo à bailarina “the controling
gaze” (Mulvey, 1973, p. 384) sobre o corpo masculino. O desejo erótico da protagonista
era dado a conhecer pela observação voyeurística do corpo de Hipólito, mediante a mani-
pulação de um conjunto de painéis deslizantes que escondiam e expunham sucessivamen-
te diferentes partes do corpo do afilhado, objeto de desejo. Neste processo, o prazer de ver
é colocado do lado da protagonista que fragmenta e objetifica o corpo observado, sub-
traindo-lhe a sua unidade e completude humana e reforçando, desse modo, o seu papel
controlador.
Errand into the Maze (1947), uma releitura do mito do Minotauro, apresenta, igual-
mente, uma perspetiva incomum quanto à representação do papel masculino. Nesta peça
construída em forma de dueto, o confronto desenrola-se entre Ariadne, aqui a figura
heroica que usurpa o protagonismo e a própria existência de Teseu, e a criatura bestial,
meio homem meio touro, símbolo do medo e da opressão que acaba vencida pela heroí-
na feminina.
Do ponto de vista da economia do olhar, a objetificação do corpo masculino em
Errand into the Maze resulta de múltiplas estratégias. A começar, pela espetacularização
da fisicalidade do bailarino a que atrás aludimos. Em segundo lugar, pela limitação de
movimento a que o seu corpo está sujeito, fragilizado por um adereço cénico que o impe-
de de usar os membros superiores e o impossibilita de se apossar de Ariadne. Como refe-
re Rohlinger (2002) relativamente ao universo da publicidade, a imagem da mulher amar-
rada é um dos símbolos mais poderosos do exercício de controlo do masculino sobre o
feminino. Graham faz uso desta simbologia, mas transfere-a, aqui, para o corpo do baila-
rino homem. E, em terceiro lugar, por um processo de animalização que subtrai a figura
masculina à esfera do humano e do racional, colocando-a, de certa forma, fora da ordem
simbólica criada pelo próprio sistema patriarcal. A figura masculina, derrotada e reduzida
à sua essência biológica e morfológica, transforma-se em inócuo fetiche, construindo,
assim, novas perceções sobre o corpo, nas quais a mulher surge como a construtora de
sentido e o homem como a ideia (re)construída. (Butler, 1999)
Corroborando também esta perspetiva de debilitação simbólica da autoridade mascu-
lina e patriarcal, Burt comenta a propósito de Night Journey (1947): “The only two male
characters in “Night Journey” are blind, marking them as weak and symbolically castra-
ted, just as American men were by their war time experiences”. (1998, p.30)
Embora Graham se tenha demarcado sempre das lutas feministas, a assertividade das
suas heroínas simbolizava, à época, uma ameaça direta à sobrevivência do regime patriar-
cal ao subverter o ideal virginal e incorpóreo epitomizado pela bailarina romântica. Ao
mesmo tempo, a liberdade de expressão em forma de movimento que as suas bailarinas
evidenciavam igualava a liberalização sexual que os anos da guerra haviam trazido às
mulheres e que se constituía como outro fator disruptivo da autoridade masculina:
...dance can absorb and retain the effects of political power as well as resist the very effects
it appears to incorporate within the same gesture. This is what makes dance a potent politi-
cal form of expression: it can encode norms as well as deviation from the norms in structu-
res of parody, irony, and pastiche that appear and disappear quickly, often leaving no trace.
(2006, p.6)
A male movie star´s glamorous characteristics are thus not those of the erotic object of the
gaze, but those of the more perfect, more complete, more powerful ideal ego conceived in
the original moment of recognition in front of the mirror. (Mulvey, 1973, pp. 384-385)
Deste modo, se numa primeira análise o palco parecia confirmar o processo de afirma-
ção que as mulheres haviam encetado socialmente, as subsequentes leituras permitidas
pela polissemia do texto coreográfico levar-nos-ão a uma ideia de retorno à normativida-
de patriarcal. Ou seja, se por um lado a reconfiguração do paradigma voyeurístico levada
Mothers and fathers did not want their sons to be dancers. They thought it was effeminate
and not a very pretty thing to watch. Only when men became heroes – strong, gifted-body
men, as I think they are in my company – only then did we have men (Graham, 1991, p. 170).
7. É curioso que a ideia de uma sensualidade primitiva e exuberante associada aos bailarinos afro-america-
nos, durante muito tempo afastados dos circuitos main stream da modern dance americana, tenha servido, fre-
quentemente, o propósito ideológico e cultural de restituir à normatividade heterossexual a sexualidade ambígua
do bailarino homem: “In fact, white male modern dancers such as Ted Shawn plundered African and Native
American dance traditions for heroic images to display in their choreography that would affirm the masculinity
of male dancers.” (Foulkes, 2002, p. 54)
8. Appalachian Spring pode ser visto integralmente em https://www.youtube.com/watch?v=XmgaKGSxQVw,
com interpretação de Martha Graham (The Bride); Stuart Hodes (The Husband) e Bertram Ross (The Preacher),
na década de 1950.
4. Conclusão
O processo de manipulação e reorganização do movimento levado a cabo por Martha
Graham permitiu mediar de forma inovadora o encontro do público com a dança, fazendo
com que outros universos de fruição estética fossem descobertos, quer ao nível visual,
quer ao nível narrativo. Se, numa primeira fase, o estranhamento da forma, a angularida-
de do movimento, a assunção da gravidade, o despojamento cénico, os corpos atléticos e
mais pesados das bailarinas e as temáticas abordadas a colocaram na periferia do tecido
artístico e cultural da América do seu tempo, o reconhecimento posterior da profunda
americanness da sua dança, através das projeções identitárias que sugeria, não só a trouxe
para o circuito main stream, como a tornou em instrumento apetecível de propaganda do
poder instituído. Em primeiro lugar, pelo domínio técnico e pelo poderio físico dos baila-
rinos capazes de cotejar a tradição balética, importada e estrangeira, usando um sistema
de movimento e de treino genuinamente americanos. Em segundo lugar, pelas represen-
tações identitárias projetadas pelos corpos em cena que, inequivocamente, cumpriam a
normatividade dos biótipos de género e dos padrões de movimento e ofereciam, adicio-
nalmente, imagens de masculinidade e de feminilidade atléticas e vigorosas que reprodu-
ziam a consciência identitária da nação numa simbiose entre o político e o físico: através
I see America dancing, standing with one foot poised on the highest point of the Rockies,
her two hands stretched from the Atlantic to the Pacific, her fine head tossed to the sky, her
forehead shining with a Crown of a million stars. (Duncan, 1927/2002: 199)
Agradecimentos
Agradeço ao Instituto Politécnico de Lisboa, na pessoa do seu Presidente, Professor
Doutor Elmano Margato, o apoio à minha participação no XXIX Encontro AULP.
Referências
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Foulkes, J. (2002). Modern bodies: Dance and American modernism from Martha Graham to Alvin Aley.
Chapel Hill: University of North Carolina Press.
Citado por Fernando Ortiz Woodson afirma que “a função histriônica na África é tão geral
que até podemos assinalar o negro africano como um ator nato. O africano é um ator con-
gênito devido à sua extraordinária emotividade em busca de expressão. (NASCIMENTO,
1961, p. 11).
A arte de causa
Notou-se neste artigo o discernimento da consciência racial como elemento significa-
tivo da produção artística, demandada na realização desta tineta cinematográfica, que
implicou nas relações étnico-raciais da imagem de africanidade. Pois se observou neste
contexto que o engendramento do cinema negro brasileiro se localizou na gênese do
MNU – Movimento Negro Unificado Prudente (2005), cujo surgimento se caracterizou
na irreverência juvenil dos militantes afro-brasileiros, que o fundaram. Isto aconteceu no
ambiente da ascensão internacional dos movimentos de massas da década de setenta.
Constatou-se de tal sorte a inequívoca influencia das lutas pelos direitos civis no EUA
e as descolonizações revolucionarias na África, que foram lideradas respectivamente pelo
afro-americano Reverendo Martim Luther King e pelos intelectuais africanos, tais como:
Samora Machel, Agostinho Neto e Amílcar Cabral.
Notou-se aí como fundamental o fato do tentame de fragmentação dos traços epis-
têmicos das imagens da africanidade, encontrada provavelmente na teleologia do incô-
modo, que viu na africanidade egípcio-bantu a primeira civilização humana. Segundo
Dussel:
(...) [no] mundo da África bantu, negro (kmt em egípcio), hoje ao sul do Saara, é uma das
origens da cultura egípcia – primeira coluna da revolução neolítica. No oitavo milênio aC,
o Saara úmido era atravessado por rios e habitado por numerosos plantadores bantus. A
partir do sexto milênio começou o processo de seca e a origem do deserto; muitos povos
bantus emigraram para o Nilo. (DUSSEL. 2000, p. 26.)
(...) [na] Idade da Pedra Lascada corresponde a uma boa parte do também chamado Período
Paleolítico – uma vastidão de tempo, com milhares de séculos muito obscuros, iniciadas
provavelmente há mais de um milhão de anos atrás. A Idade da Pedra Polida já corresponde
1. Étnico-etiológica da africanidade – É o estudo de uma determinada questão que se dá no âmbito das re-
lações étnico racial da africanidade.
Há várias possibilidades de que o europeísmo fez disto uma espécie de eleição do seu
contrário, no qual se furtaria qualquer sentido da edificação da sua dominação hegemôni-
ca, que teve como cimento a eurocolonização. O principal intento da colonização foi
impor o mito da superioridade do eurocaucasiano, sobre todas outras forças segmentarias
e manifestações étnico-raciais diferentes da referência do branco europeu, pela mera in-
tenção de encobrir a qualquer custo a epistemologia africana, que foi a mais antiga, co-
nhecida pela humanidade.
Buscou-se o balbucio desta fragmentação dos traços epistemológico do afrodescen-
dente, promovendo o estereótipo do negro nos meios de comunicação de massas. Para
manutenção deste conciliábulo eurocidental se desenvolveu um discurso, cuja forma su-
geriu um aparência mais sugestiva da nuance da luta pelo respeito a diversidade da afri-
canidade. Este discurso foi adotado pelos setores menos avisados da crítica reflexiva an-
tirracismo, mantendo-o por reprodução um significante pseudoinsigne mais elaborado
com uma insidiosa modernização, escamoteando com o significado abjeto do anacrônico
racismo.
Observou-se aí a tentativa de desenvolver a aviltação dos traços epistêmicos do negro
com reiteração da imagem indigna, que foi promovida pelo racismo. Promoveu-se desta
maneira a configuração do afrodescendente fora da condição plena, demonstrando-o em
uma figuração anômala. Fez-se, por exemplo, assim: mostrou-se o negro em um quadro
de anomalia imagética, que se revelou como decorrência maléfica do racismo. Isto se
tornou algo atrasado e desumano, localizado no lugar obsoleto do politicamente incorre-
to. Este ensejo colocou os racistas em uma situação de inequívoco desconforto em razão
da aparência maléfica.
Fez-se por outro lado o comportamento de demonstração da imagem aviltada do ne-
gro como forma de denúncia antirracista, tornando-se desta maneira mais palatável aos
setores mais folclóricos e menos avisados, que se mostrou “mais cabeça”, ou seja, dife-
rente do convencional sem alterar o status quo. Tratou-se aqui este comportamento racis-
Somou-se a esta situação o sentido histórico da Revolução dos Cravos, cujo desidera-
to se revelou na condição de referência do espírito, da liberdade, da igualdade, da solida-
riedade e da soberania das nações. Este desiderato indicou para possível consolidação do
princípio ético deste processo revolucionário, concorrendo à abertura do caminho de
aproximação identitária entre os povos de língua portuguesa. Pois todos carregaram, com
efeito, o sórdido fardo colonial, mesmos aqueles que o fizeram na condição de mais pri-
vilegiados entre os lusófonos.
Buscou-se para esta pesquisa a linha de abordagem na qual se compreendeu na pelí-
cula Leão de Sete Cabeças, de Glauber Rocha, a fundação do cinema negro brasileiro.
Nô-lo, perceber-se-ia, na irreverência da crítica glauberiana a compreensão do lusitano
como vítima mais privilegiada da eurocolonização, discernido aí inequívoca luta contra a
colonização eurocaucasiano, como componente estruturante da sua original invenção do
cinema negro brasileiro. Na pesquisa doutoral, sobre a película em voga Cardoso, já ob-
servou esta percepção, como segue (Veneno Cardoso L7 Cabeças):
Esta situação foi resultado da aproximação analógica como fenotípico eurocoloniza-
dor, que se constatou nos ibéricos. Ainda assim isto não lhe furtou da condição de vítima
da colonização. Promoveu-se com isto o elemento fundamental para concorrência da uni-
dade identitária, que deu origem a formação da horizontalidade da imagem do íbero-ásio-
-afro-ameríndio.
Tratou-se aí de uma imagem diferente do símbolo eurocidental, que se tornou por isto
minoria em relação imagética do poder eurocêntrico, que se caracterizou na eurohetero-
normatividade, coisificando todas as expressões estranhas a axiologia eurocolonial, con-
figurando-se na verticalidade da hegemonia imagética do euro-hétero-macho-autoritário.
Fez-se desta maneira como uma iracunda potestade inexorável.
Constatou-se neste contexto os processos das relações de culturalidades estranhos
aos nomos eurocaucasiano, que foram concorrentes a hegemonia imagética do euro-
-hétero-macho-autoritário e sua euroheteronormatividade, localizando-se como mino-
Vê-se, então, que as lutas de classes se projetam em lutas de imagem24 que concorrem pela
revolução da imagem de afirmação positiva das minorias que enquanto vulneráveis são
aviltadas na sua própria imagem. A era do conhecimento foi previamente anunciada pelo
cinema ainda na era industrial. (PRUDENTE e SILVA. 2018. 104).
Introdução
A República de Angola é um País da costa ocidental da África austral, cujas fronteiras
foram definidas no fim do século XIX. É o terceiro maior país da África Austral, com uma
superfície territorial de 1.246.700 km quadrados, incluindo o enclave costeiro de Cabin-
da, que se encontra separado do resto do país por uma faixa de território de cerca de cin-
quenta quilómetros, segundo o Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da
Educação (INIDE, 2003). É um país que apesar de ser um espaço ou ambiente multilin-
gue e multicultural, a recente Constituição da República (Angola, 2010) reconhece ape-
nas o português como a língua oficial, língua de prestígio, da burocracia, do ensino, do
funcionamento do estado e da “coesão”.
Os constrangimentos causados pelo conflito armado no país afectaram gravemente o
funcionamento das estruturas sociais. Com o estabelecimento definitivo da paz começa
um ciclo de reconstrução, que não se limita somente às infra-estruturas, mas sobretudo à
coesão e unidade social dos diferentes grupos em todas as suas vertentes. Para isso, re-
quer-se continuamente um sistema educativo que acolha a diversidade, que estimule a
construção de uma sociedade livre, democrática, de paz, de tolerância, unidade nacional
e desenvolvimento justo das comunidades (Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensi-
no de Angola, 2016).
Importa sublinhar que no contexto angolano, não se pode deixar de observar que a
qualidade do ensino ainda deixa a desejar, pois procura satisfazer e completar as estatísti-
cas, deixando cidadãos em estado de analfabetismo funcional. Levantou-se esta constata-
ção porque as políticas educacionais e curriculares angolanas ainda se preocupam com o
número de aprovados em cada ano e em cada classe, deixando de lado a qualidade e a in-
clusão dos grupos, que são mais importante a nosso ver e solicitado pela Lei de Bases do
Sistema de Educação e Ensino. Os saberes escolares transmitidos aos educandos em pro-
cesso de escolarização nada mais são que uma ideologia pautada num currículo monocul-
tural, conservador e elitista, que fomenta a exclusão de certos grupos sociais. Esse proces-
so meramente instrucional, que perdura até os dias actuais, impossibilita que outros
saberes sejam acoplados ao currículo, inviabilizando a questão da unidade e coesão social.
É certo que se registaram alguns avanços muito significativos nos últimos dez anos,
em termos quantitativos, mas também é verdade que ainda persistem debilidades estrutu-
rais que travam as dinâmicas de integração social da generalidade da população. Entre
elas sobressaem os abandonos escolares precoces e todas as saídas do sistema escolar sem
qualquer qualificação profissional. Estas debilidades não podem considerar-se inscritas
Em função da figura acima exposta, queremos aqui relevar que o primeiro desafio para
coesão social é desconstruir/repensar o actual paradigma. Obviamente, que de tal proces-
so resultarão tensões, conflitos, resistências próprios de uma mudança que homenageia a
diversidade e a coesão, caminhando a passos largos para um paradigma multicultural, que
mobiliza processos dinâmicos em várias direcções. Este talvez seja o maior desafio da
multiculturalidade, não ocultar as desigualdades, as contradições e conflitos das socieda-
des actuais, mas trabalhar, dialogar e intervir neles, de modo a tornar possível a promoção
e o reconhecimento da riqueza da diversidade e uma convivência plural e harmónica entre
os principais sujeitos e actores, resultando num processo de coesão social, desenvolvi-
mento e fortalecimento da nação.
Conclusão
Angola, igual a muitas nações no mundo, e em particular em África, tem um mosaico
cultural rico e diversificado. O presente artigo pretende demonstrar que, apesar de várias
tentativas, o sistema educativo, ainda não consegue dar resposta às aspirações que a di-
versidade dos grupos sociais têm sobre ele. A escola devia preparar cidadãos para inseri-
-los na sociedade e não desvinculá-los, desintegrá-los da sua cultura e do seu povo, difi-
cultando a luta pela igualdade, conquista dos direitos, patrocinados pela política educativa
e curricular vigente.
Os sistemas de educação vigentes na maioria dos países africanos foram criados pro-
positada e especificamente para reforçar a ideologia colonial de dominação, segundo a
qual, os africanos precisam civilizar-se, pois são selvagens e sem cultura. É desta forma
preconceituosa que o sistema colonial difundia e incutia menosprezo na mente dos africa-
Referências
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tural moçambicano. RILP – Revista Internacional em Língua Portuguesa, nº 32, pp.100-120.
Patrícia Oliveira
Observatório Político / ISCSCP – Universidade de Lisboa
Associação das Universidades de Língua de Portuguesa
Introdução
A comunicação apresentada durante o XXIX Encontro Anual da Associação das Uni-
versidades de Língua Portuguesa (AULP), no Instituto Politécnico de Lisboa, no início de
julho de 2019, é baseada na minha tese de doutoramento em ciência política, dedicada ao
estudo da cultura política através do filme documentário, em Portugal, ao longo do perí-
odo de 1974-2012. Aquela apresentação e o texto aqui proposto, Convergências políticas
no cinema novo luso-brasileiro, são por isso apenas parte do resultado desse trabalho
maior de investigação e de redação. O objectivo inicial era o de sintetizar as principais
ligações políticas no movimento do cinema novo luso-brasileiro (CNLB), demonstrando
que a prática do documentário permitiu estabelecer redes de cultura política.
Nesta versão escrita da apresentação, em termos de estrutura, não excluí uma primei-
ra parte dedicada à apresentação dos conceitos fundamentais e às possibildiades de en-
quadramento metodológico do filme documentário na ciência política. A segunda parte
centra-se no cinema novo luso-brasileiro, mais concretamente nas contribuições dos
aspectos sociais e políticos do movimento que permitem identificar redes de cultura polí-
tica. A terceira parte é dedicada à análise das convergências políticas no cinema, em par-
ticular no filme documentário enquanto instrumento de cultura política.
Os argumentos apresentados ao longo do texto são apoiados pelos episódios e mo-
mentos históricos registados nos filmes documentário do chamado período do cinema
novo – desse cinema com ambições fraternas e expansionistas, desse activismo político e
social através do cinema e das suas narrativas documentais. O material de referência é
vasto, e a influência da personalidade dos próprios cineastas é naturalmente multidimen-
sional e complexa. As opções metodológicas de execução e expositivas adoptam diferen-
tes estratégias nos diversos trabalhos que podem ser consultados sobre o tema. As refe-
rências a Glauber Rocha, Fernando Lopes, Paulo Rocha e António da Cunha Telles, por
exemplo, são incontornáveis e sistemáticas.
Constituem pontos de partida para esta reflexão os filmes documentário As Armas e o
Povo (Colectivo dos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, 1975, Portugal) e
Cinema Novo (Erik Rocha, 2016, Brasil), os quais tomados igualmente como referência
ao longo do texto. É também pelo facto destes filmes documentário terem tido um bom
acolhimento e recepção por parte do público em geral que o estudo das redes de cultura
política luso-brasileiras adquire outras oportunidades de compreensão e aprofundamento.
Trata-se, portanto, da constatação da necessidade de abordagens culturais da política que
promovam a investigação sobre o cinema e as relações culturais e políticas em português.
“As Armas e o Povo” é o mais célebre filme da revolução portuguesa. Rodado durante a
semana entre o 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974, junta as grandes movimentações de
massas aos discursos de Mário Soares e Álvaro Cunhal e a libertação dos presos políticos
às entrevistas de rua conduzidas pelo cineasta brasileiro Glauber Rocha. Assinado pelo
Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, é um documento histórico
inestimável, feito a quente e em cima do acontecimento por vários técnicos e realizadores
portugueses. Uma obra incontornável do cinema militante europeu, “As Armas e o Povo” é
também um manifesto sobre a relação entre cinema e política, não apenas como mero difu-
sor dos acontecimentos, mas sobretudo como participante ativo do ato revolucionário. (Fo-
lha de sala da Cinemateca Portuguesa, 2019)
é curioso... A primeira pessoa, uma das primeiras pessoas que assistiu a montagem do Be-
larmino foi o Cacá Diegues e depois o Glauber Rocha. O Belarmino chegou a passar no
festival de Pésaro clandestinamente. O primeiro festival de cinema novo...O mesmo festival
que deu ao Glauber Rocha o prêmio pelo Barravento deu o prêmio de crítica para mim pelo
Belarmino. E aí ficamos muito amigos, tivemos imensas relações, eu e o Glauber, sobretudo
em Paris, e depois aqui em Lisboa já na fase final do Glauber, quando eu era diretor de co-
-produções do serviço público, já muito depois do 25 de Abril. Naquela época, tivemos a
ideia de fazer um filme que se chamava Uma Cidade Qualquer. Depois que ele morreu, eu
dei o roteiro para a mãe dele… a relação com o cinema novo brasileiro foi sempre muito
forte. (Sales, 2009, p. 143)
Conclusão
A abordagem insterdisciplinar, convocando áreas comunicantes das ciências sociais e
das humanidades, permitiu quebrar pré-conceitos latentes na ciência política, ao mesmo
tempo abrindo campo ao estudo de abordagens cinematográficas da política e das rela-
ções de poder.
Em suma, este texto prentendeu abordar de forma sintética os principais aspectos so-
ciais, políticos e mesmo históricos do cinema novo de expressão portuguesa, aqui abor-
dados no enquandramento luso-brasileiro. Possivelmente alguns poderão questionar a
fórmula singular aqui utilizada – movimento, em vez de movimentos, uma vez que vários
pescursos, estilos ou estéticas cinematográficas são reconhecidas; ou luso-brasileiro, em
vez de português e brasileiro, porém os discursos pós-coloniais já extrapolam a discussão
aqui apresentada; outros poderão preferir outras designações – cinema marginal, cinema
periférico ou novo cinema.
Ao longo do texto pretendemos evidenciar que em vários momentos a produção cine-
matográfica, a ideologia cultural e artística, a relação com o público e as tentativas de
internacionalização do cinema e do filme documentário de expressão portuguesa consti-
tuíram uma realidade, através de abordagens partilhadas sobre os fenómenos socais e
políticos luso-brasileiros, e naturalmente os estéticos também. Referimo-nos, por isso, às
redes políticas e culturais luso-brasileiras.
A pesquisa pelas identidades dos povos através da artes e das culturas, sobretudo,
através do cinema e do discurso do filme documentário, permitiu explorar e desvendar
redes de poder simbólico, constituídas com relativa autonomia e independência, em parte
possível devido ao movimento do cinema novo.
As convergências políticas no cinema novo luso-brasileiro abordam aspectos diversos
e relacionados não só com a história e estética do movimento do cinema novo, como
também com os contextos sociais e políticos, com os movimentos culturais de protesto
que potenciaram a internacionalização e a criação de redes de cultura política entre Por-
tugal e o Brasil. Assim, se demonstra que há ainda por aprofundar conhecimento e inves-
tigação que advêm das identidades e das culturas em rede e em português.
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Beaudry, L., Ferrer, C e Pleau, J. C. (Dir.). (2011). Art et politique: la représentation en jeu. Québec, Cana-
dá: Presses de l’Université du Québec.
Introdução
A Geografia é uma ciência que supre a estruturação da formação humana, por este
motivo se apresenta em todo currículo letivo da formação educativa, o que exige do pro-
fessor uma atenção diferenciada para a didática e aplicá-la em idades diferentes adaptadas
aos conteúdos específicos.
Nas ações teóricas e práticas deste artigo nortearemos sentidos na temática da Geogra-
fia Cultural relacionado à Arte Educação, o que experimentamos teoria e prática com di-
dáticas específicas, sendo a dança circular “a ciranda”, que é praieira e geográfica por si,
uma ferramenta na linguagem cultural, para comunicar a ciência geografia aos discentes.
É currículo pessoal desta atividade ter participado como professor de geografia dos
ensinos fundamental, médio e superior, tanto em escolas particulares como públicas, bem
como, ter a formação em Pedagogia Waldorf, esta que em muito nos dá suporte filosófico
através da antroposofia, para atuar em sala de aula quando experimentamos a época de
geografia no ensino fundamental I (no Brasil hoje denominado de Séries Iniciais). Com
este suporte vivenciamos a geografia do quarto ano (para alunos de 9 anos de idade),
classe que requer bastante cuidado para trazer aspectos científicos da geografia, com em-
basamento teórico e com o suporte da arte, através da ciranda, a teoria geográfica, com
palavras novas ao alunado, chega através do movimento de corpo, integração do grupo,
exercício físico, integração do grupo classe e relações humanas.
Os conteúdos surgem intercalados com os assuntos do currículo escolar, neste caso
temas como equador, Greenwich, hemisférios, quadrantes, latitude, longitude, norte, sul,
oeste e fazer o azimute com o leste e norte magnético do planeta Terra, chegam para o
grupo com a roda da dança de ciranda.
Esta atividade é praticada e realizada anualmente na Escola Waldorf Recife na época
de geografia no 4° ano escolar, também praticado na UPE – Universidade de Pernambuco
onde trabalho nos cursos de licenciatura em Geografia e Pedagogia. Como currículum já
realizamos esta dinâmica artística geográfica na Universidade Federal de Pernambuco,
aos alunos do 8° período de licenciatura em Geografia, ao alunado do curso de Pedagogia
da FAFIRE quando era professor nesta faculdade, em colégios como no Arco-Íris e CMR
– Colégio Militar do Recife. Apresentamos também em janeiro de 2017 à UniCV na cida-
de de Praia em Cabo Verde, na ocasião, aos discentes formandos em Licenciatura em
Geografia. Realizamos no mesmo mês e ano citados, a mesma prática do Letramento
Cartográfico para alunos da Escola de Formação de Professores da Guiné-Bissau, bem
“O traçado nômade, ainda que siga pistas ou itinerários rituais, não tem a função do percur-
so sedentário que consiste em distribuir aos homens um espaço fechado, atribuindo a cada
um a própria parte e, a partir daí, regulando a comunicação entre as partes. O traçado nôma-
de faz exatamente o contrário, distribui os homens (ou os animais) num espaço aberto, in-
definido não comunicante” (Deleuze, Gilles e Guattari, 1996, apud Careri, 2013).
Este assunto nos contata com a gênese das categorias espaciais quando, do que é cons-
truído, seja arquitetura e o que não é construído é antiarquitetura, nos pondo à observar
todos os espaços culturalmente envolvidos na composição territorial da sociedade, para
assim, sabermos nos organizar e dialogar com as comunidades em suas paisagens de ação.
O espaço preenchido de ocupações sedentárias e dinâmicas também se encontram nos
arredores das escolas e, destes espaços pudemos realizar verdadeiros diálogos didáticos
em visitas com crianças em torno da paisagem onde estuda.
“dança no coletivo. E é numa roda, cantando para o povo que ali se sente feliz, ilustre e ao
mesmo tempo popular. As cantigas de ciranda normalmente fazem uma narrativa do coti-
diano simples de um povo, da própria relação do cirandeiro. Lia sempre amou a praia e o
mar, por isso suas letras retratam tanto essa paisagem”.
Uma ligação umbilical com as ondas praieiras, o sistema praial, e sua paisagem,
as letras que falam desta relação de ir e vir das ondas e da sua relação social, cultural,
geográfica, que pode sim ser elemento didático em linguagem dialógica da ciência e
da cultura.
Através da leveza da musicalidade da roda cirandeira, pode-se contribuir com a for-
mação da criança e supri-la com elementos estruturantes à humanidade tais como: ritmo,
equilíbrio, foco, rumo, orientação. E tudo ser base para um entendimento saudável, alicer-
ce e disponível à humanidade, inerente à Geografia, que com estas práticas são prenuncia-
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António Meireles
Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Santa Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal
E-mail: [email protected]
Joana Baião
Centro de Investigação de Montanha,Instituto Politécnico de Bragança,
Campus de Santa Apolónia, 5300-253 Bragança, Portugal
E-mail: [email protected]
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João Fernandes
Escola Superior de Dança, Instituto Politécnico de Lisboa /Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos
em Música e Dança, Portugal; E-mail: [email protected]
Madalena Xavier
Escola Superior de Dança, Instituto Politécnico de Lisboa /Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos
em Música e Dança, Portugal; E-mail: [email protected]
Choreography is a curious and deceptive term. The word itself, like the process it describes,
is elusive, agile, and maddeningly unmanageable. To reduce choreography to a single defi-
nition is not to understand the most crucial of its mechanisms: to resist and reform previous
conceptions of its definition. (Forsythe, 2011, p. 90)
Within the current contemporary dance climate, there are a myriad of approaches to devi-
sing dance. Many practitioners are beginning to blur the relationship between dancer and
choreographer, inviting audiences to reconsider their perceptions of creativity. Within a
more traditional dance company setting, however – where a choreographer is credited for
the production of a dance and the dancers for performing it – it can still be argued that dan-
cers are not recognised as having a creative contribution, despite it being an important part
of their role. (Farrer, 2014, p. 95)
There is no single method for working with performers. All have their merits as far as I am
concerned: previously composed work, work proposed by others or by myself, work com-
posed by two or three people or by a single individual. This reflection on what is at stake
gives way to a great variety of rehearsal modes, to open modes that make the idea of a
rough version acceptable. What is essential, however, is that the project be planned around
the performers, as roles are not interchangeable. (Charmatz & Launay, 2011, p. 46)
Dance practice itself explodes the traditional assumption in the terms of the processes in-
volved in the making works today and the created products themselves (...) Their choreo-
graphic process includes working with movement material on their own body. This range of
performing involvement is large in that some choreographers complete their movement
(...) these problems or tasks require the dancers to create some sort of mental imagery – a
landscape of Manhattan, the feel of being touched on a certain part of their body, the dynamic
and kinematic feel of being a piston moving back and forth.” (Kirsh et al., 2009, p. 191).
(...) os projetos e atividades programadas partem, muitas vezes, de desafios específicos lan-
çados a artistas e/ou companhias, permitindo ao serviço educativo ter um papel ativo no
processo de criação; (...) todos os públicos são potenciais públicos-alvo, uma vez que é ne-
cessário um trabalho contínuo de sensibilização, captação e formação para todos (...). (p.170)
Apesar do papel do espectador, se ter vindo a redefinir, ao longo do século XX, com
(por vezes) a sua participação ativa nas performances, a sua relação com as obras artísti-
cas não deve passar pela passividade da assistência a um espetáculo, mas sim na capaci-
dade de despertar os sentidos e potenciar uma real interpretação do que está a ser visto.
Neste sentido, é fundamental mudar este paradigma que apenas foi conseguido, nos últi-
mos anos, até pela única companhia de dança tutelada pelo Estado Português, a Compa-
nhia Nacional de Bailado (CNB). Guerreiro (2017) refere de forma crítica que “Nem
sempre a CNB conseguiu olhar para a capacidade instalada e proporcionar variadas mo-
dalidades de apropriação por parte dos públicos a quem não basta tratar por espectado-
res.” (p.75). Não obstante, apesar de tardio, a Companhia Nacional de Bailado, na direção
artística de Luísa Taveira, também começou a apostar, em Projetos de Aproximação à
Dança, que visavam “(...) aproveitar os extraordinários recursos humanos que integram a
companhia para multiplicar as experiências de formação de públicos.” (Guerreiro, 2017,
p.75). Surgem assim alguns projetos como por exemplo: O ciclo de debates “Eu não per-
cebo nada de dança” com curadoria e moderação de Cristina Peres; o curso de história da
dança “Da vida da obra coreográfica: repor, reconstruir e recriar” concebido por Maria
José Fazenda, onde se articulavam sessões teóricas e a assistência aos espetáculos da
CNB; e ainda os designados projetos de aproximação à dança, para crianças e jovens, nos
últimos anos, orientados pela bailarina/coreógrafa Catarina Câmara, onde estudantes
acompanham os ensaios da companhia, para compreensão da construção da obra coreo-
gráfica; realizam um workshop e assistem ao espetáculo. É neste tipo de trabalho de inter-
-relação com a obra coreográfica que consideramos, que este mediador pode intervir nas
estruturas profissionais, pois:
6. Conclusão
No contexto da dança contemporânea, refletindo sobre as práticas coreográficas, des-
tacámos a sua dimensão plural, reveladora da afirmação de valores idiossincráticos e
premissas que promovem a reconfiguração dos seus elementos constitutivos e de noções
como coreógrafo e intérprete. O coreógrafo contemporâneo define-se pela especificidade
do seu discurso. Aos intérpretes é solicitada a resposta a desafios eminentemente criati-
vos, mas também o domínio específico sobre o corpo, o movimento e suas formas de
manipulação e configuração. A reflexão sobre as práticas coreográficas contemporâneas
permitiu-nos, ainda, constatar que, apesar dos seus princípios de abertura e diversidade, é
possível identificar ferramentas de sistematização dos modos de operar dos coreógrafos
contemporâneos. A relação potencialmente colaborativa que se estabelece entre coreógra-
fos e intérpretes materializam-se em obras cujos formatos de apresentação e receção são
também diversificados e abrangentes.
A circunstância de afirmação da singularidade da obra coreográfica, condição essen-
cial da produção artística contemporânea, conduz-nos à necessidade incontornável de
dissipar a distância entre a obra e o seu público. Nesta perspetiva, sugere-se como para-
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Introdução
Organizada pelo Núcleo de Estudos Amazônicos, do Centro de Estudos Avançados
Multidisciplinares, da Universidade de Brasília (NEAz/CEAM/UnB)1, a Vivência Ama-
zônica tem proporcionado aos/às tecnicos/as-administrativos/as, professores/as estudan-
tes de diversos cursos da UnB conhecer um pouco da região Amazônica, seus povos
indígenas, populações e comunidades tradicionais, seu ambiente, e tem possibilitado mu-
danças significativas na aprendizagem e na vida dos participantes. A realização da viven-
cia Amazônia tem também possibilitado trocas de experiencias e conhecimentos, e con-
tribuído para o intercâmbio científico, técnico e cultural.
O processo de construção desse projeto e a sua efetivação tem aproximado a comuni-
dade acadêmica da Universidade de Brasília à realidade e causas amazônicas. Pode-se
dizer que esse processo, como um todo, tem contribuido para que a UnB esteja mais
atenta e disposta a defender a Amazônia e os direitos de seus povos indígenas e comuni-
dade tradicionais, camponeses e agricultores familiares.
Vivência Amazônica
O processo de preparação da vivência amazônica é fruto de uma construção coletiva
que envolve estudantes, professores e técnicos/as-administrativos/as da Universidade de
Brasília e de outras instituições de ensino, ciência e tecnologia nacionais e internacionais
e, principalmente, representantes de grupos sociais e étnicos que trabalham e vivem nas
regiões percorridas pelas Vivências Amazônicas. Esse processo de construção ocorre
anualmente e possui uma duração superior a seis meses, antes do início da Vivência Ama-
zônica propriamente dita e tem como pilares o diálogo, a colaboração e a solidariedade.
Durante os meses que antecedem a ida dos participantes à região amazônica, surgem
diversos desafios que estimulam os/as estudantes e os demais componentes do coletivo
a criarem métodos colaborativos e solidários para resolve-los. Na discussão da agenda
de organização e funcionamento desse processo de construção; a definição do período da
viagem de campo da Vivência Amazônica; a elaboração do roteiro da viagem e a mobi-
lização dos recursos faz-se necessário o uso do diálogo, da comunicação, do pensamen-
to crítico e questionador. É preciso encontrar uma forma que unifique as vontades e in-
teresses de um coletivo extremamente diverso e numeroso. Cabe confirmar que esse
processo de contrução da vivência mobiliza centenas de participantes da comunidade
universitária e da sociedade, particularmente os/as representantes de povos e comunida-
des amazônicas.
Os aprendizados se iniciam já nos primeiros encontros. São momentos de interação
que proporcionam ao coletivo um contato mais próximo da ideia/concepção da Vivência
Amazônica, familiarizando os envolvidos com as dinâmicas da Amazônia, com o projeto
e compartilhando as experiências anteriores. Os encontros subsequentes iniciam o pro-
“Queria expressar um pouco do que a gente já viveu um com o outro, teve até mudanças no
meu processo acadêmico. Eu estava um pouco perdida sobre o que eu ia fazer, e ter esse
contato deu uma ampliada dentro do meu próprio curso, sobre o que mais eu posso estudar,
o que mais eu posso fazer, o que mais eu posso pesquisar. Tá sendo muito interessante por-
que a gente nem foi ainda e eu já aprendi tanta coisa” (Estudante de Serviço Social).
“A vivência me fez entender que eu sou uma pessoa em constante transformação. E como
eu, que sou um ser em constante transformação, quero também transformar a realidade que
eu vivo. Como eu quero passar isso para as pessoas. Qual o papel que eu tenho no mundo e
na Universidade, isso é essencial. Eu acho que isso precisa estar no coração de cada um.
Que sejamos todos sujeitos de transformação. De se transformar e transformar a realidade”
(Estudante de Ciencias Ambientais).
3. Foi utilizado um Raspberry Pi 2B com o sistema operacional livre Raspbian e um dongle wireless usb,
transformado num access point simples sem necessidade de senha para conexão ou autenticação. Foi instalado
um software chamado Known para publicação e compartilhamento de conteúdo
Bibliografia
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Introdução
A visita de estudo actualmente constitui um desafio pedagógico, no sentido de que
demanda uma planificação à rigor e por outro, constitui uma estratégia pedagógica rele-
vante para a efectivação de um processo de ensino e aprendizagem satisfatório.
A visita que se apresenta neste estudo realizou-se com os estudantes que frequenta-
vam o 4º ano de Licenciatura no período Regular e Pós-laboral, num total de sessenta e
seis estudantes, tendo faltado dois estudantes de cada grupo, o que perfaz um total de
sessenta e quatro estudantes participantes à aula. O destino da visita foi o Museu Nacional
de Arqueologia de Benguela, um edificio erguido nos finais do século XVII e a sua cons-
trução terminou no início do século XVIII, serviu para armazenar escravos no período
conhecido como a ‘’Era do Tráfico de escravos’’ que eram transportados para várias par-
tes do mundo através do litoral benguelense principalmente para as Américas; classifica-
do como Monumento Histórico Nacional aos 02 de Fevereiro de 1949 pelo Boletim Ofi-
cial nº 5; reclassificado pelo Diário da República nº 64, de 11 de Novembro de 1995 pelo
Ministério da Cultura de Angola.
A visita de estudo é uma das estratégias que mais estimula os alunos, dado o carácter
motivador que constitui a saída do espaço escolar. Contudo, mais do que um passeio,
constitui uma situação de aprendizagem que favorece a aquisição de conhecimentos, pro-
porciona o desenvolvimento de técnicas de trabalho, facilita a sociabilidade. Um dos
objetivos das novas metodologias de ensino-aprendizagem é, precisamente, promover a
interligação entre a teoria e a prática, a escola e a realidade (Martins et al., 2006, p. 30).
Cada aluno é influenciado pelo meio em que está inserido, pelo que vai construindo e re-
construindo de acordo com as diversas interpretações que vai fazendo. Estas apresentam-
-se resistentes à mudança, influenciam fortemente as novas aprendizagens e interagem
com o processo de ensino e aprendizagem (Solbes, Jaime & Más, 2006; Ramos, 2009).
Contudo, o professor precisa reunir um conjunto de estratégias que integre actividades
apropriadas que encorajem os alunos a trabalharem com vários tipos de materiais que o
passado deixou para trás, a fazer e a responder questões que visem interrogar e avaliar
fontes em relação a investigações particulares e no contexto da sociedade que as produziu.
À propósito do debate actual em História e do seu ensino-aprendizagem em estreita
relação com as fontes, Irene Nakou (2001) citado por Costa (2007) apresentou uma
Metodologia
O estudo em reportagem procurou indagar possibilidades e formas de implementar
com sucesso uma aula que induzisse os alunos na criação de temáticas actualizadas e ac-
tuantes que constituem lacunas não só no processo de ensino e aprendizagem da História,
mas também no contexto angolano.
Trata-se de um estudo de natureza descritiva e essencialmente qualitativa, que se pre-
ocupa entender em profundidade o fenómeno em análise (Ngungui, 2017), com contornos
de estudo de caso, tendo sido aplicada como “estratégia investigativa através da qual se
buscou analisar, descrever e compreender determinados casos particulares (de indivíduos,
grupos ou situações)” (Morgado, 2012).
Técnicas de recolha de dados: este estudo manteve como técnicas de recolha de
dados a análise de conteúdo e a observação (directa) ou participante da experiência de
aprendizagem.
Instrumentos: Foi feita a análise de conteúdo das narrativas contidas nos relatórios
produzidos pelos alunos após a realização da visita de estudo.
Amostra participante: estudantes do Regime Regular e Pós-laboral do 4º anos do
curso de Licenciatura em História do ISCED-Benguela.
1. Angelina Lopes Luís Aguiares Ngungui professora no Instituto Superior de Ciências da Educação, com a
categoria de professora Associada, Licenciada em História, Mestre em Didáctica do Ensino Superior, Doutorada
em Ciências da Educação, Especialidade de Educação em História e Ciências Sociais. Lecciona as disciplinas
de Seminário Especializado e Metodologia de Recolha e Pesquisa Histórica aos 4º anos do período Regular e
Pós-Laboral do Curso de Ciências Sociais para Licenciatura em História. Correio electrónico: aguiaresa@
gmail.com
A Especialista fez um breve historial da instituição, seu papel social e informou sobre
a existência de um considerável acervo bibliográfico na sua Biblioteca, disponível para o
público em geral e para os interessados em explorar matéria sobre a Arqueologia, História
e outras áreas de interesse. Aproveitou para realçar que o MNAB tem dentre os seus Pro-
jetos, levar as escolas do ensino geral e à universidade, palestras, seminários e conferên-
cias, ou ainda as denominadas “exposições itinerantes”, para se fazerem conhecidos e
divulgar as suas principais atividades sociais. Após esta introdução, a Especialista deu
voz aos alunos que apresentaram as inquietações, que não são todas aqui reportadas, mas
apenas aquelas que foram possíveis de serem registadas durante a discussão, conforme a
figura 2.
• Porque é que o MNAB não vai as escolas divulgar sobre a sua função social?
• O que faz o Ministério da Cultura e o MNAB diante das invasões de populares que
orquestram aos sítios arqueológicos?
• Sendo que o estado gasta tanto dinheiro para manter o funcionamento do MNAB e
escavações, que retornos obtém?
Conclusões
É imperioso que se implemente um processo de ensino e aprendizagem que conduza
o aluno para o depertar de um saber fazer alicerçado na prática, de formas a gerar-se uma
situação de aprendizagem que favoreça a aquisição de conhecimentos, conhecer novos
fazeres, bem como articular os conhecimentos obtidos em contexo real de sala de aula
com os novos, de forma a produzir conhecimentos novos que lhe permitam enfrentar os
desafios quotidianos.
Estimular as atividades fora da sala de aula, como o caso de uma visita de estudo, por
ser considerada como estratégia de aprendizagem que promove a relação entre a teoria e
a prática, a interdisciplinaridade, tendo sempre em atenção o lugar de interesse a visitar,
a sua articulação com os conteúdos ministrados e o alcance dos objectivos preconizados,
para que o formando atribua significado ao conhecimento adquirido.
A visita de estudo ora reportada, aportou aos estudantes a possibilidade de criação de
temáticas que se prendem com a área de Arqueologia e sua articulação com a História, o
que permitirá os alunos abordarem questões atinentes ao domínio da Arqueologia, e ou-
tros aspetos de impacto do MNAB, atividades desenvolvidas, e sua importancia na aqui-
sição de valores, da comunicação, preservação das memórias e dos patrimónios materiais
e imateriais que permeiam a nossa sociedade.
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I. Introdução
Desde a sua fase embrionária até aos dias de hoje, a revolução técnico-científica indu-
ziu mudanças significativas nas relações sociais, nas práticas culturais e na forma de
conservar e preservar a sua memória, a histórica e cultural de geração em geração.
Segundo Alvin Toffler (Toffler, 1980), a sociedade humana conheceu três grandes
ondas da revolução técnico-científica, nomeadamente:
i) A revolução agrícola, há 800 anos atrás, decorrente do cultivo da terra como
factor de produção da riqueza;
ii) A revolução industrial, há 300 anos atrás, decorrente da manufactura e comercio,
e tinha o capital como factor de produção da riqueza;
iii) A revolução informacional ou sociedade do conhecimento, que surgiu há 50
anos atrás, decorrente da produção do conhecimento como factor de criação da
riqueza.
A sociedade do conhecimento é caracterizada pela mudança de paradigma, redes,
computadores, colaboração e interdisciplinaridade. Na sociedade do conhecimento, os
computadores e telecomunicações têm um papel importante nas mudanças, que são tam-
bém económicas, sociais, culturais, politicas, religiosas, institucionais e até mesmo filo-
sóficas ou mais precisamente, epistemológicas1.
1. Epistemologia significa ciência, conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas relaciona-
dos com a crença e o conhecimento, sua natureza e limitações. É uma palavra que vem do grego. A epistemo-
logia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, e também é conhecida como
teoria do conhecimento e relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência. É uma das principais
áreas da filosofia, compreende a possibilidade do conhecimento, ou seja, se é possível o ser humano alcançar o
conhecimento total e genuíno, e da origem do conhecimento. A epistemologia também pode ser vista como a
filosofia da ciência. A epistemologia trata da natureza, da origem e validade do conhecimento, e estuda também
o grau de certeza do conhecimento científico nas suas diferentes áreas, com o objectivo principal de estimar a
sua importância para o espírito humano. A epistemologia surgiu com Platão, onde ele se opunha à crença ou
opinião ao conhecimento. A crença é um ponto de vista subjectivo e o conhecimento é crença verdadeira e jus-
tificada. A teoria de Platão diz que conhecimento é o conjunto de todas as informações que descrevem e expli-
cam o mundo natural e social que nos rodeia.
No âmbito mais alargado utilizado nesta pesquisa e no seu suporte teórico, a con-
cepção de cultura está relacionada com as vertentes social, material e mental como
agregadores da identidade e memória que possibilitam a interação entre cultura e ciên-
cia cognitiva com suporte das novas tecnologias. Assim, a cultura digital será a repre-
sentação e relação da dinâmica social (indíviduo, grupo e instituição) material (artefac-
tos) e mental (valores, crenças e atitudes) que em simbiose determinam comportamentos
no contexto da sociologia do conhecimento. Paralelamente é também um objectivo re-
alizar o levantamento das tradições orais para redefinir a cibercultura actual com recur-
so a valores tradicionais com sustentabilidade sociológica, antroplógica e ambiental
com retorno e valor acrescentado para as comunidades envolvidas neste processo de
inclusão digital. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:5
2014XG0614(08)&from=EN
A sociedade de informação e conhecimento reduziram as fronteiras culturais, tornan-
do-as menores, e proporcionando uma convergência de processos, sistemas e pessoas. O
grande desafio do momento é a manutenção das identidades locais num mundo globaliza-
III. Metodologia
Segundo Minayo (1994), a pesquisa é uma actividade básica da ciência na sua inda-
gação e construção da realidade.
Atendendo a complexidade, a heterogeneidade e a multidisciplinaridade do tema em
abordagem, no presente artigo adoptou-se por estudo exploratório de natureza sistémica,
utilizando abordagens qualitativas e quantitativas com procedimentos de estudo de casos
múltiplos2, e uso de métodos de recolha de dados como entrevistas, observação, questio-
nários, revisão bibliográfica e análise de dados.
É um dos objectivos do projecto integrado e-Otyioto a criação de um portal do patri-
mónio cultural com uma Base de Dados Multidimensional em BackOffice, não só com
informações de valor cultural, mas também capaz de apoiar os processos de tomada de
decisão de carácter cultural, analisando e estabelecendo padrões e tendências por regiões
culturalmente semelhantes, numa sequência de Dados, Informação e Conhecimento.
2. Estudo de casos múltiplos: realiza-se quando os investigadores estudam dois ou mais sujeitos, situações
ou depósitos de dados.
Tabela 1 – RCS do portal e-Otyioto, regiões culturais e respectivas designações de Base de Dados Nr
Designação da RCS Região Cultural Base de Dados/WebSite
2) Resgatar
a. restaurar
b. registar
c. filmar
d. gravar
e. fotografar
Resultado 2: INFORMAÇÕES histórico-culturais estruturadas e registadas
3) Digitalizar
a. textos
b. vídeos
c. imagens
Resultado 3: BASE DE DADOS DIGITAIS de Informações do Património Cultu-
ral e histórico
4) Virtualizar
a. criar websites e portais
b. criar bibliotecas virtuais
c. Criar museus Virtuais
d. Estabelecer Links
Resultado 4: Informação e CONHECIMENTO
5) Inovação Cultural
a. Produção artística Digital
b. Novos produtos culturais inovadores
c. Cibercultura: Espaços virtuais de colaboração e redes sociais
Resultado 5: interacção, colaboração em Plataformas Virtuais, novas indústrias cul-
turais, ensino das línguas nacionais em Ambientes virtuais de Aprendizagem
(AVAs), como por exemplo, o ensino do OluNyaneka, Oshiherero, Olumbundu ou
OshiWambo usando a plataforma AlfaBantu ou Moodle.
V. Resultados
Sendo um projecto integrado, os resultados do projecto e-Otyioto são apresentados
por subprojectos que potenciam os processos de recolha, estruturação, digitalização e
divulgação da informçãono portal por RCS.
Entre 2013 a Março de 2016 fez-se a alfabetização digital de 136 capacitados, dos
quais 132 cidadãos + 4 formadores em Informática Básica nacionais das áreas periféricas
e rurais, dos quais:
a) 30 na Tchavola/Arredores da cidade do Lubango
b) 20 na no Manquete – nas Profundezas da comuna do Mucope, província do Cune-
ne. A entrega de certificados realizada em Outubro de 2016.
c) 82 em Kaluquembe na província da Huila.
Figura 13 – Alfabetização digital nas Oficinas de inclusão Digital Vs inclusão Social nas localidades rurais,
na RCS Ohamba
Prémios atribuídos
Figura 17 – Xadrez Historico de Angola – 1845 a 1945 Figura 18 – Pequenos negocios com
base nos produtos resultantes do
resgate e inovação dos artefactos e padrões locais
Figura 22 – Combate Engolo vs Capoeira: Mestre de Engolo (no Humbe/Cunene) vs Mestre Cobra Mansa
(Brasil)
VII. Conclusão
Os resultados do primeiro teste do projecto no que toca a inclusão social por meio de
inclusão digital, são satisfatórios. Foram criadas bases para a fase de recolha e digitaliza-
ção de dados e informações nas oficinas de inclusão digital que servem como pontos de
recolha de dados das refereidas localidades rurais, e a sua aposterior inserção no Portal
web e-Otyioto.
A adesão da população ao projecto de Inclusão Digital vs Inclusão Social pode ser
considerado de nível muito alto.
Conseguiu-se identificar e compreender as questões problemáticas do processo de
inclusão digital, resumidas em 4 categorias de recursos sem as quais não é possível falar-
-se de inclusão digital, como forma de inclusão social, nem da digitalização e virtualiza-
ção do patrimonio cultural de Angola, nomeadamente:
• Recursos Materiais (acesso às máquinas e à conexão – infraestrutura tecnológica)
• Recursos Digitais (material que se encontra disponível online – Conteúdos)
• Recursos Humanos (orientação para o desenvolvimento das capacidades, compreen-
são e pesquisa – Capacitação)
• Recursos Sociais (estruturas sociais, comunitárias e institucionais que dão suporte ao
acesso às TIC – Organização). Conclui-se que a inclusão digital contribui para o
desenvolvimento sócio-económico de toda a sociedade e ajuda a reduzir as assime-
trias entre as zonas rurais e urbanas.
1. Introdução
A linguagem afastar-se-á do consenso, e exprimirá o desejo e a imaginação
Abdul Varetti
Figura 1 – Leonilson. Puros e duros, 1991. Bordado e pedras sobre voile, 24 × 20 cm.
A obra de Bispo é marcada pelo delírio – “Eu preciso dessas palavras. escrita” (Figu-
ra 2). O corpo está presente em suas obras assim como está presente na obra de Leonilson.
Figura 2 – Arthur Bispo do Rosário. Eu preciso dessas palavras. escrita. Estandarte (bordado sobre tecido),
Michel Foucault (2013), no seu conhecido texto, “De espaços outros”, onde ele discute
o espaço em que vivemos, aborda as utopias como alocações sem lugar real. Assim, “são as
alocações que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia dire-
ta ou invertida. É a própria sociedade aperfeiçoada, ou é o inverso da sociedade; mas, de
toda forma, essas utopias são espaços fundamentalmente, essencialmente, irreais” (Fou-
cault, 2013, p. 115), não assumindo um lugar concreto. É o que pode ser percebido nas
obras de Lamonier, quando o artista apresenta soluções utópicas para problemas reais, atra-
vés do paradoxo. Boris Groys vê a arte contemporânea como “local de revelação do para-
doxo que administra o equilíbrio de poder”, e considera que “a maior dificuldade de lidar
com a arte moderna é nossa relutância em aceitar interpretações paradoxais e auto-contra-
ditórias como adequadas e verdadeiras” (Groys, 2015, p. 15). O autor vai mais longe, ao
afirmar que “na realidade, ser um objeto paradoxo é exigência normativa implícita na exe-
cução de qualquer obra de arte contemporânea” (Groys, 2015, p. 24), e ele continua
Figura 4 – Álvaro Lapa. As profecias de Abdul Varetti, escritor falhado. 1972, bordado sobre tecido,
estrutura metálica.
“Há neste trabalho uma afirmação absolutamente luminosa do que seria uma sociedade
utópica”, considera Miguel von Hafe Pérez, “em que há uma espécie de equiparação do
humano e do natural, algo que em termos sociais surge como um igualitarismo vital” (Como
citado em Marmeleira, 2018). Essa série, de cerca de 1972, apresenta um momento ímpar
e marcante na obra do artista, tanto pelo afastamento da pintura, e pelo uso de materiais
“pobres”, quanto, e, principalmente, pela introdução de um elemento que, a partir daí, con-
tinuará a povoar seu trabalho: a linguagem escrita. Hafe Pérez pontua que “o fato de atribuir
a autoria a Abdul Varetti não funciona em termos de heteronomia. É uma personagem que
lhe aparece entre o sonho e a realidade e que tem a ver com essa visão utópica, solar da
realidade” (Como citado por Marmeleira, 2018). Tal qual Randopho Lamonier, Lapa tam-
bém pratica o engajamento político. Porém, nas suas profecias, sua abordagem é mais
fluida e subjetiva. Ao tratar da temática religiosa, por exemplo, Lapa profetiza que:
AS RELIGIÕES SERÃO
DESCONSIDERADAS. A EXPERI-
ÊNCIA MÍSTICA SERÁ RE-
CONHECIDA, E UM FATO
COMUNICÁVEL.
Figura 6 – Randolpho Lamonier. Vista da exposição MitoMotim, Associação Cultural VideoBrasil. Obras da
série Profecias. Guerreirxs Guarani Kaiowá vencem luta por sua terra ancestral – 2034 e Exército Queer
incendeia igrejas e inaugural o estado laico no Brasil – 2028. 2018, bordado, colagem e costura em tecido,
155 x 185 cm cada uma.
Hoje, vemos a primeira geração de artistas brasileiros na qual a política está disputando
hegemonia na representação do país. Porque a política sempre foi presente na arte brasilei-
ra, mas de forma periférica. Nesta geração de hoje, a desigualdade, as violências que muitas
vezes ficaram recalcadas vieram à tona de maneira muito forte. Esses artistas parecem estar
respondendo a este nosso momento político. (Como citado por Lichote, 2018).
Nota-se que o momento atual é de muita polarização, no Brasil. Isso pode ser consta-
tado, por exemplo, a partir de reações conservadoras a exposições como “Queermuseu” e
a obras como “La bête”, de Wagner Schwartz, mostrando que a arte é um espaço de dis-
cussão política, o que demonstra que ela ainda tem o poder de provocar.
A exposição ‘Arte democracia utopia – Quem não luta tá morto’ mostra também a
diversidade de pautas levantadas na sociedade brasileira hoje, como, o racismo, que apa-
rece, entre outros, no trabalho de Paulo Nazareth, a questão indígena, que está na obra de
Maria Thereza Alves e de Randolpho Lamonier, que também veicula a discussão de gê-
nero em obras como as “Profecias”.
Voltando à aproximação entre as profecias de Lapa e de Lamonier, será abordada, a
seguir, a maneira como os dois artistas se relacionam com o presente e o futuro. Ao com-
parar esses dois momentos, a época atual e o futuro, eles demonstram otimismo com re-
lação ao que está por vir. Álvaro Lapa (Fig. 7) afirma que:
Figura 7 – Álvaro Lapa. As profecias de Abdul Varetti, escritor falhado. 1972, bordado sobre tecido, estrutura
metálica.
TOMA POSSE
PRIMEIRA
PRESIDENTA NEGRA DO
BRASIL
2027
E ainda:
EM 2050
DESCOBRIMOS:
BRASIL É
AMÉRICA
LATINA!
Figura 11 – Álvaro Lapa. As profecias de Abdul Varetti, escritor falhado. 1972, bordado sobre tecido,
estrutura metálica.
MST
SAI EM CRUZADA
NACIONAL E FAZ A
REFORMA
AGRÁRIA
COM AS PRÓPRIAS MÃOS
2021
Figura 12 – Randolpho Lamonier. Da série Profecias. MST sai em cruzada nacional e faz a reforma agrária
com as próprias mãos – 2021. 2018, bordado, colagem e costura em tecido, 155 x 185 cm.
(Figura 13) Ao aproximar as obras desses artistas, nota-se que existem alguns pontos
que os aproximam e outros que os afastam. Enquanto Lamonier pratica uma arte ativista,
panfletária, com viés ideológico, Lapa se coloca como um artista sonhador, enquanto
Leonilson adota uma atitude intimista, auto-biográfica.
Figura 13 – Randopho Lamonier. Mapa das rebeliões dxs operárixs da indústria. Cidade Industrial – Conta-
gem – 2023. 2018, bordado, colagem e costura em tecido, 155 x 185 cm. Álvaro Lapa. As profecias de Abdul
Varetti, escritor falhado. 1972, bordado sobre tecido, estrutura metálica. Leonilson. O Zig-zag. 1991, bordado
e pedras sobre tecido, 33 x 22 cm.
Referências
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Recuperado de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
Foucault, M. (2013). De espaços outros. Estudos Avançados, USP, 27(79), pp. 113-122.
Groys, B. (2015). Arte, Poder (1a ed.). Belo Horizonte: Editora UFMG.
Veneroso, M. C. F. (2012). Caligrafias e Escrituras (1a ed.). Belo Horizonte: C/Arte.
Marmeleira, J. (2018, Fevereiro 8). Álvaro Lapa: entre a escuridão e a luz. Recuperado de http://www.pu-
blico.pt/2018/02/08/culturaipsilon/noticia/pintar-e-amar-de-novo-1802026
Lichote, L. (2018, Setembro 15). Mostra no Museu de Arte do Rio reflete efervescência do país. O Globo.
Recuperado de http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/mostra-no-museu-de-arte-do-rio-reflete-eferves-
cencia-do-pais-23070217
Siquara, C. A. (2019, Março 6). Randolpho Lamonier amplia seu raio de ação no cenário das artes visuais.
O Tempo. Recuperado de http://www.otempo.com.br/o-tempo-contagem/randolpho-lamonier-amplia-seu-raio-
-de-a%C3%A7%C3%A3o-no-cen%C3%A1rio-das-artes-visuais-1.2145410
Vera Spínola
Doutora em Administração, mestre em Economia e bacharel em Letras pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA); E-mail: [email protected]
Ao vaguear pela exposição “Passagens por Paris: Arte Moderna na Capital do Século
XIX”, o quadro “O Conforto Moderno dos Objetos” (Figura 1) foi um dos que mais me
chamou a atenção. Trazia a seguinte legenda:
O tempo já é dos objetos, a sociedade de consumo que se iniciara no final do século XIX
começa a instalar-se para ficar. A sala da princesa Bibesco é um oceano de coisas – e ela
mesma parece um objeto a mais. Seu retrato é feito por aquilo que ela possui, não pelo que
ela é. A obra, também num impressionismo tardio, poderia ser tanto de crítica quanto de
adesão à ostentação visível num “apartamento moderno” (MASP, 2013, p. 66)
Em outras palavras, a tela “O Conforto Moderno dos Objetos” (Figura 1) é uma repre-
sentação polissêmica, como a maioria dos objetos identificados com a arte. O quadro
pode ser tanto uma exaltação quanto uma crítica ao consumo.
O ensaio “Paris Capital do Século XIX” foi escrito em 1935. Nele, Benjamin se propôs
a mostrar as novas formas de vida e de criações decorrentes da revolução industrial a partir
do século XIX. Ele diz entrar no universo da fantasmagoria, que o dicionário define como
a arte de fazer surgir, de fazer ver, imagens luminosas por efeito de ilusões de ótica. Pode
ser também, no sentido figurado, uma ideia ou expressão que se opõe ao que é racional.
À primeira vista, a mercadoria parece uma coisa trivial, evidente. Analisando-a, vê-se que
ela é uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas. Como
valor de uso, não há nada misterioso nela, quer eu a observe sob o ponto de vista de que
satisfaz necessidades humanas pelas suas propriedades, ou que ela somente recebe essas
propriedades como produto do trabalho humano (MARX, 1983, p.70).
1. flâneur – Charles Baudelaire desenvolveu um significado para flâneur de “uma pessoa que anda pela
cidade a fim de experimentá-la”.
A cena era tão chocante que, em sua fantasmagoria angustiante e poética, multiplica o
velho por sete.
O poeta não é um flâneur qualquer, que sente o prazer fugaz da circunstância. A cena
é passageira, mas dela procura extrair o eterno ao observar “Os sete horríveis monstros
tinham o ar eterno”. E na sua inquietação vai procurar refúgio em casa, onde não encontra
tranquilidade. O temporal de fora dá lhe a impressão de estar vivenciando um naufrágio
sem qualquer perspectiva de salvação:
O poema Os Sete Velhos inspirou o desenho do artista holandês Jan Mensiga3 (Figura
2), em contraste com o quadro “O Conforto Moderno dos Objetos” (Figura 1).
As duas obras de arte expressam dimensões opostas da modernidade, pós-revolução
industrial: de um lado os consumidores de uma profusão de objetos sem valor de uso, e
É também reivindicado pelos Surrealistas como seu antecessor, pois foi o primeiro a tentar
deliberadamente traduzir nos seus versos ‘certo espírito secreto’, corrigindo, pela visão
transfiguradora, a objetividade de naturalista, e reconstituindo, por meio de imagens e de
analogias audaciosas, que dão um sentido profundo ao mundo concreto, uma super-realida-
de (FERREIRA, 1995, p. 28)
O poeta se deixou levar pela fantasmagoria do flâneur descrita por Walter Benjamin,
e começa a viajar no brilho de personagens e coisas imaginárias. Numa atitude claramen-
te surrealista, como se começasse a pintar um quadro além daquilo que via, na cesta de
verduras identifica formas humanas. Os repolhos se transformam em seios; os nabos, em
ossos; as uvas, em olhos; o melão, em um ventre. O efeito da luz do sol contribui para as
imagens brilharem e se multiplicarem:
Além de poeta, escritor e professor, Godofredo Filho foi também diretor do IPHAN,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cargo que exerceu por cinquenta
anos (1936-1985). O espaço urbano foi assim objeto de trabalho e preocupação. Para ele,
modernizar significava também preservar, logo a ‘cidade moderna’ não se oporia à ‘cida-
de museu’.
A professora de literatura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mônica Mene-
zes observou:
Nesse texto está visível a ambivalência do estereótipo, na qual convivem tanto a dominação
e o prazer, quanto o medo e a recusa. O negro é desejado e amado (embora o amor seja
carnal), mas também é execrado e punido com a miséria e a fome. É o discurso do coloni-
zador que se repete com tudo que há de normativo, racionalizador e excludente (MENE-
ZES, 2005, p. 8)
Figura 3 – Incêndio no Pelourinho. João Alves (Acervo do Museu Afro Brasileiro, São Paulo/SP)
O pintor João Alves (Ipirá 1906-Salvador 1970) e o poeta Godofredo Filho (Feira de
Santana 1909-Salvador 1992) foram contemporâneos.
Sob a perspectiva do poeta, o abandono dos governantes levou à degradação da Ladei-
ra da Misericórdia. Seus sentimentos são contraditórios. Refere-se à sensualidade e a
atração que sente pelas negras, mas ao mesmo tempo propunha que a população carente
fosse removida para se preservar a cidade museu. Os personagens do poema de Godofre-
do podem ser identificados com a população negra desesperada com o incêndio da Figura
3. As pinceladas não detalham os semblantes, as feições, mas mostram que a população
Referências
BENJAMIN, Walter. Paris, capitale du XIXe siècle 1939. Quebec: Chicoutimi, 2003. Disponível em
http://www.urbain-trop-urbain.fr/wp-content/uploads/2011/04/Benjamin_Paris-capitale-du-XIXe-
si%C3%A8cle.pdf, acesso em 10 set. 2018.
FERREIRA, Maria Ema Tarracha. Introdução. O Livro de Cesário Verde. 4ª edição. Lisboa: Editora Ulis-
seia, 1995, p.7-29.
GODOFREDO FILHO. Ladeira da misericórdia. Salvador: Ed. Macunaíma, 1979.
LIMA, Márcio Santos. João Alves, O Pintor da Cidade: relações dialógicas entre a pintura “primitiva”
e o modernismo baiano. Salvador, 2012. Disponível em
https://ppgav.ufba.br/sites/ppgav.ufba.br/files/dissertacao_marciolima_parte01-merged.pdf. Acesso em 21
mar. 2019.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. –
Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
MASP, Museu de Arte de São Paulo. Passagens por Paris: arte moderna na capital do século XIX. Ca-
tálogo da Exposição, 2013.
MENEZES, Mônica. As Bahias de Godofredo Filho. Salvador: I Enecult, 2005, disponível em http://
www.cult.ufba.br/enecul2005/MonicadeMenezesSantos.pdf. Acesso em 20 out. 2018.
SANTOS, Milton. O Centro da Cidade do Salvador: Estudo de Geografia Urbana. 2ª Edição. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo; Salvador: Edufba, 2008.
Sites Consultados
http://www.revistazunai.com/traducoes/charles_baudelaire.htm, tradução de Duda Machado. Acesso em 16
out. 2018
https://www.google.com/search?sa=X&q=Images+Les+Sept+Vieillards+Jan+Mensiga&tbm=isch&sourc
e=univ&ved=2ahUKEwiEuI3z7ZbhAhUkD7kGHX5JC9cQ7Al6BAgJEBE&biw=1034&bih=620%20-%20
imgrc=NBdsfPVOdwXbIM#imgrc=IbwQFtyKM7rfmM. Acesso em 01 jun. 2019
http://www.citador.pt/poemas/num-bairro-moderno-cesario-verde. Acesso em 15 out. 2018.
Introdução
Este trabalho pretende descrever e interpretar analiticamente os traços culturais, como
o uso dos símbolos na cerimónia ritual do casamento baseado nas tradições (adat) herda-
das pelos nossos antepassados, de uma geração para a outra. Ann Swideler (1986) afirma
que a cultura em geral, fala sobre arte, crença, lei, morais costumes, e todos os hábitos
rituais. Estas percepções estão bem visíveis na tradição timorense com a realização de
cerimónias rituais com nascimento, recepção dos convidados, casamento, fúnebre. Ann
Swideler (1986) citado por Hannerz (1969, p.184) que:
Culture as beliefs, ritual practices, art forms, ceremonies, language, gossip, stories, rituals
of daily life – means through which “social processes of sharing modes of behavior and
outlook within a community” take place.
“Familia tradicional iha nia prosesu tenle liu hosi dalan oioin cultura nian nune’e parte hosi
mane “mane-foun” mak nu’udar kandidatu mane-foun tenke apresenta na ka apresenta hosi
ninia família ba família uma-mane ka família feto nain kona-ba kandidata mak atus sai feto-
-foun. Hafoin diskusaun ida ho prosesu tempu naruk nian, no iha ona konkordansia hosi
parte rua, depois kontinua ba etapa ida seluk mak borlake ne’e bele dehan katak família
ne’e hakarak forma sira niaan nu’udar família moderna (intergrasaun entre cultura tradicio-
nal no cultura ekleziatika)”2.
Família tipo tradicional no seu processo, tem de ultrapassar várias etapas culturais onde
da parte do homem que é o candidato para “mane-foun” tem de apresentar o candidato à
família matriarcal para ser Feto-Foun. Depois de uma discussão longa, e ter concordância
“Mak ami respeitu lia na’in hosi família boot uma fukun Kaebau ho familian mak ami
hamta’uk no hadomi (Celestino). “Mak ami respeitu lia na’in hosi família boot uma fukun
Lelo-Mau ho familia mak ami hamta’uk no hadomi” (João).
Conclusões
Depois de fazer uma leitura compreensiva, percebemos que o lançamento de batar-
-musan (grão de milho) simboliza os materiais que vão ser entregues pela família do
noivo. É verdade que é apenas uma afirmação, mas tem o seu significado próprio no
ritual de casamento. Esta expressão é entendida como uma afirmação metafórica para
dizer que “um grão de milho” significa “um búfalo”, ou um objecto como disco de ouro.
Vale a pena acrescentar aqui que é a aplicação das seguintes metáforas usadas pelos lia-
-na’in no processo da cerimónia ritual de casamento.
• Ai-funan (flores) é a metáfora (personificação) das mulheres em geral, particular-
mente as meninas.
• Nahe dalan (preparar caminho) é metáfora de abrir o novo caminho para outra casa
sagrada que nunca teria antes.
• Ai-kaletek (ponte) é a metáfora de criar uma nova relação entre duas casas centrais-
-casas sagradas.
• Uma ho ahi (casa e fogo) é a metáfora da casa sagrada-casa central, lugar onde a
geração duma família vem.
• Bee manas ai-tukan (Água quente e brasas de fogo) é a metáfora do débito de
gratidão que mostra o suor e o cansaço do pai e da mãe.
• A corrente da ribeira não destrói é a metáfora de que nenhumas as forças podem
destruir a relação das duas famílias.
• Tahan hitu (7 folhas) é a metáfora de dinheiro. Cada folha representa 1000.00 ez,
sete folhas quer dizer 7 mil dólares.
Introdução
A educação tradicional Angolana é, geralmente, entendida como uma educação assen-
te na tradição oral, nos valores, nos hábitos e costumes. São transmitidos às novas gera-
ções através da oralidade, isto é, por meio dos contos, de lendas, de mitos, de provérbios,
de advinhas, de danças, dos ritos de iniciação e outros.
Assim, Angola, sendo um país plurilingue, comporta uma gama de tradições culturais
onde iremos destacar o “Efuko” rito de iniciação feminina, geralmente praticada pela
comunidade Nyaneka-Nkhumbi na Província da Huíla.
Em Angola, esta festa de iniciação é praticada por vários grupos: Ganguela, Tshokwe,
Nyaneka-Nkhumbi e Ambó. A menina deve ser iniciada quando lhe aparece a primeira
menstruação. Em alguns grupos, iniciam-nas antes e, noutros, depois de passar dois anos
ou mais (Altuna, 2014).
Tendo em conta a cultura de cada grupo, as formas, bem como as práticas dos ritos de
iniciação, variam, tal como afirma Imbamba (2010, p.34), “cada cultura tem expressões
peculiares que a distinguem das demais, pois ela não é um uniforme de todas devem re-
ceber e vestir indiscriminadamente”.
Estas comunidades entendem que, através deste rito, educa-se as meninas para uma vida
adulta. Assim, no sentido geral, educação significa o meio através do qual hábitos, costumes
e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a outra mais nova.
4. Metodologia
O nosso estudo é descritivo de natureza qualitativa, onde recolhemos os dados através
de uma entrevista semi-estruturada aplicada a 10 participantes, cujo critério de seleção
baseou-se em seguintes fatores: os participantes pertencem ao grupo etnolinguístico Nya-
neka-Nkhumbi, a idade que varia entre o 30 à 60 anos, ter participado em algumas festas
do efuco, conhecer profundamente a cultura Nyaneka e o interesse que mostrado pelos
mesmos em participar e colaborar na investigação.
Para tal, foi necessária a construção de um guião de entrevista que serviu de orienta-
ção para a aplicação das entrevistas. Dos dados recolhidos e analisados, foi possível sin-
tetizar as principais ideias.
Assim, quando perguntamos aos participantes sobre o papel do rito de iniciação efuko
(festa da puberdade), dos 10 entrevistas 8 correspondendo a 80%, reconhecem que a fes-
ta de puberdade contribui para o resgate e valorização da cultura angolana. Ainda na
mesma questão 6 participantes correspondente a 60%, dizem que esta festa promove a
identidade dos povos e preservação da cultura Angolana. Numa outra questão sobre a
importância do efuco, 10 participantes correspondente a 100% concordam da ideia de
que, o cumprimento e o respeito aos valores culturais, serve de base de orientação para a
educação dos jovens, pois nestas cerimónias aprende-se a obediência e respeito aos mais
velhos, a propriedade familiar, privada, o valor a dignidade da mulher como pilar na edu-
cação da família.
Na Terceira pergunta sobre a importância da exigência da menina em apresentar-se
virgem no ato, dos 10 entrevistados, 100% responderam:
Na quinta pergunta e última sobre a qualificação da mulher que passa pela festa da
puberdade, 1 participante revelou que o objetivo é educar, embora que nem toda semen-
te cai em solo arável (dito por um Padre), os demais participantes mostram que é bom
educar as novas gerações segundo os costumes dos antepassados no entanto como a
cultura não é imutável nem sempre todos seguem os mesmos passos.
Por últimos o único padre (Padre Sapalalo) entrevistado fez uma abordagem do pon-
to de vista religioso, dizendo que a religião católica tem fundamento no cristianismo de
origem Europeia, entre tanto antes da colonização as populações angolanas já
professavam algumas religiões consideradas pagãs, logo era necessário evangelizar a
cultura para que as pessoas tenham fé no cristianismo sem obrigá-las a abandonar as
suas culturas.
Considerações Finais
Em síntese o estudo permitiu-nos colher conhecimentos de forma mais profunda so-
bre a cultura angolana, concretamente do grupo etnolinguístico Nyaneka-Nkhumbi, isto
é, sobre o Efuko e sua importância para a educação das meninas.
Ao recorrer a diferentes bibliografias, permitiu-nos reconhecer o valor contido em
certas culturas dos povos que, muitas vezes, parecem mais festas simplesmente para co-
mer, beber e dançar, enquanto o foco principal consiste na educação dos povos.
Ainda podemos compreender que a educação assente aos ritos de iniciação para os
africanos em particular angolanos podem contribuir para a educação dos jovens no que
concerne, a responsabilidade social, o combate a promiscuidade, a prevenção de doenças
transmissíveis sexualmente bem como a precaução e prevenção de gravidez precoce que
muito assola a juventude angolana.
Assim pensamos que com esta investigação podemos contribuir para a sensibilização
da população na valorização dos ritos de iniciação, bem como orienta-las de formas a
fazerem um bom aproveitamento destes valores e ao mesmo tempo eliminar as práticas
menos boas contidas nos ritos de iniciação.
Introdução
A sexualidade é um dos aspectos mais complexos da humanidade. O fenómeno possui
múltiplas dimensões, que englobam sexo, orientação sexual, papéis e identidades de
género, erotismo, prazer, intimidade e reprodução (World Health Organization (WHO),
2010). Como reitera ainda a OMS, a sexualidade é vivenciada e expressa em diferentes
formas, que incluem pensamentos, fantasias, crenças, atitudes, valores, comportamentos,
práticas, papéis e relacionamentos. Considerando a multiplicidade de traços abrangidos,
é inegável que a sexualidade ocupa uma parte central da vida humana (Manguvo e Nya-
nungo, 2018). Aprender seus vários aspectos, como subentende o Fundo de População
das Nações Unidas (UNFPA) (2015), é um processo vitalício que começa na infância e
progride através da adolescência e idade adulta com efeitos significativos no bem-estar
dos indivíduos e das comunidades em geral.
Considerando o papel central que a sexualidade desempenha na humanidade, o UN-
FPA e a Federação Internacional de Planeamento Familiar (IPPF) defendem a adoção e
expansão mundial de programas de educação sexual nas escolas. Galvanizada pela neces-
sidade de um currículo holístico que inclua vários aspectos da sexualidade, a IPPF propôs
uma abordagem baseada no currículo, a saber: Educação Abrangente em Sexualidade
(CSE). A IPPF (2010) define CSE como “uma abordagem baseada em direitos que visa
dotar os jovens com os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que precisam para
determinar e desfrutar da sua sexualidade, física e emocionalmente, individualmente e em
relacionamentos.” O objetivo do CSE, como a UNFPA (2015) reitera, é equipar os jovens
com conhecimentos e habilidades na exploração dos seus próprios valores e atitudes, de
modo a fazer escolhas responsáveis sobre os seus comportamentos sexuais e relações
sociais. A CSE também se concentra em outros tópicos amplos, como relações de género,
infecções sexualmente transmissíveis, prevenção do HIV e AIDS, bem como relações
emocionais e responsabilidades relacionadas com a sexualidade.
O UNFPA trabalhou em parceria com várias organizações governamentais e não-go-
vernamentais e a sociedade civil para ampliar a implementação da CSE em escolas em
todo o mundo. De acordo com isto, a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
sobre os Direitos das Mulheres demonstrou um compromisso em adotar a CSE nos currí-
culos escolares. Em 2013, representantes dos países da África Oriental e Austral também
concordaram em adotar e implementar os programas da CSE como parte integral das
medidas formuladas para combater as infecções pelo HIV entre os jovens (UNFPA,
2015). Desde então, um número considerável de países africanos propôs a adoção de di-
Conclusão
A necessidade urgente de incorporar a educação em sexualidade como parte dos cur-
rículos escolares na África Austral não é discutível, considerando que a África Austral é
o epicentro do HIV / SIDA mesmo na região da África Subsaariana. Não há dúvida de que
a implementação da educação em sexualidade nas escolas ajudará bastante no combate à
pandemia do HIV / AIDS. É, no entanto, lamentável que a sexualidade africana tenha sido
continuamente interpretada a partir de uma perspectiva ocidental e, no entanto, contrária
à sexualidade ocidental sem reservas que é publicamente compartilhada através de revis-
tas, anúncios, programas de televisão, publicações científicas e muitos outros caminhos;
a sexualidade no contexto africano está muito escondida na arena privada (Manguvo e
Nyanungo, 2018). O enraizamento de algumas práticas tradicionais, mitologias e tabus
associados à sexualidade, bem como a tenacidade de algumas formas tradicionais de edu-
cação sexual, continuam exercendo poderosa influência sobre os marcos ideológicos con-
temporâneos da sexualidade. Esses fenómenos ditam quais componentes dos currículos
de educação sexual voltados para o Ocidente são aceitáveis ou inaceitáveis. Se quisermos
compreender plenamente as dimensões psicológicas e sociais da implementação do CSE
na África Austral, os fatores culturais e contextuais que envolvem o assunto devem ser
envolvidos. A abordagem do “tamanho único” para a educação em sexualidade, consagra-
da no plano CSE, pode não fornecer aos jovens africanos a informação de que necessitam
para fazer escolhas acertadas. É, portanto, imperativo que os planejadores dos currículos
de educação em sexualidade considerem os aspectos convergentes e divergentes e ex-
traiam das fortalezas das heranças coexistentes, a fim de construir uma pedagogia integra-
da de educação sexual que seja culturalmente relevante para os jovens da África Austral.
Referências bibliográficas
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www.ehpsa.org/all-documents/newsletters/pn-april17/365-uganda-cse/file.
Motivação
O número elevado de pacientes diagnosticados com Hepatite B no Centro Médico
Israel no Município de Cazengo, preocupou-nos e procuramos saber as causas que estão
na origem desta patologia.
Formulação do problema
Qual é a incidência da hepatite B nos pacientes atendidos no Centro Médico Israel no
Município do Cazengo Província do Cuanza Norte de Janeiro à Junho de 2018?
Objectivos do estudo
• Geral:
– Avaliar a incidência da hepatite B nos pacientes atendidos no Centro Médico Israel
no Município do Cazengo Província do Cuanza Norte de Janeiro à Junho de 2018.
• Específicos:
– Determinar o número de casos positivos e negativos à hepatite B nos pacientes aten-
didos no Centro Médico Israel no município do Cazengo no Ano de 2018;
– Identificar o género e a faixa etária mais afectados pelo VHB;
– Conhecer as condições socio-económicas dos pacientes.
Hipóteses
H1 – O género feminino é o mais afectado;
H2 – A faixa etária dos 25 a 30 anos é a mais afectada.
NOÇÕES GERAIS
• Hepatite B:
– Patologia que acomete a região hepática, cujo agente etiológico é o vírus da hepati-
te B pertencente à família hepdnaviridae (Engelkirk & Duben-Engelkirk, 2012).
• Vírus:
– Agentes infecciosos com capacidade replicativa, originariamente distinguidos pelo
seu tamanho, que vária entre os 20 à 200 nm e virulência como a capacidade de um
bioagente produzir casos graves ou fatais (Rouquayrol e Gurgel 2013).
Vias de transmissão
Na perspectiva de Beltrán e Ayala (2003) as principais vias de transmissão são:
• Sexual;
• Percutânea (uso de drogas intravenosas);
• Perinatal;
• Horizontal;
• Transfusão;
• Nosocomial.
Período de incubação
• O período de incubação do vírus da hepatite B pode variar de 15 a 180 dias, com um
período médio de 90 dias (de uma forma geral);
• 12 a 14 semanas nos casos em que a infecção se deu por transfusão de sangue.
Manifestações clínicas
Os sintomas começam a surgir no período prodrómico ou pré-ictérico, que dura vários
dias e se caracteriza pelo aparecimento de:
• Fraqueza;
• Anorexia;
• Mal estar;
• Perda de apetite;
• Náuseas;
• Vómitos;
• Icterícia (20%);
• Febre ligeira e urina escura;
• Assintomático (Júnior, 1998).
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional transversal descritivo e analítico, com uma abor-
dagem quali-quantitativa na base de recolha de dados.
• População: 3.000
• Amostra: 196
Gráfico 3 – Distribuição dos casos positivos do Gráfico 4 – Distribuição dos casos do VHB
VHB segundo a faixa etária segundo o nível de escolaridade
Gráfico 5 – Distribuição segundo a classe social Gráfico 6 – Distribuição de casos positivos por VHB
segundo os meses em estudo
SUGESTÕES
– Desenvolver campanhas de sensibilização através de palestras, rádio, televisão, fo-
lhetos informativos de modo a alertar a população sobre a problemática da hepatite
B, no que se refere a prevenção, transmissão e tratamento, uma vez que ela é uma
doença que não tem cura tal como a sida;
– Investir no estudo e desenvolvimento de pesquisas relaccionadas a Hepatite B;
– Sensibilizar todas as grávidas a fazer o exame serológico para detecção do AgHBs
e de outros marcadores, de modo a diminuir a propagação do vírus da hepatite B
pela transmissão vertical.
Vicente Paulino
Professor Convidado no Programa de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Nacional Timor Lorosa’e.
Prólogo
A questão das doenças graves na sociedade timorense é uma das questões que precisa
ser estudada de forma intensiva, de modo a poder encontrar as soluções curativas, usando
algumas técnicas locais (tradicionais) em consonância com a medicina moderna que está
sob controlo das máquinas tecnológicas. Sabendo que dentro do regime de propriedade
intelectual vigente na medicina moderna concentra-se mais, ou confia-se mais nas tecno-
logias, do que na medicina tradicional. Todavia, sabemos que em alguns casos, a própria
medicina moderna possui grande equipamento tecnológico, mas não consegue resolver o
problema de uma doença grave de um paciente. Há aqui, portanto, um desequilíbrio mui-
to grande entre o valor de sensibilidade humana em relação ao próprio ser e à própria
humanidade. Muitas vezes, os médicos e os enfermeiros perdem a sua sensibilidade hu-
mana perante o outro ser, porque eles concentram-se mais no som da máquina de contro-
lo “tic-tac-tic-tac” sem comunicar com o paciente; ou seja, confiam disparadamente nas
informações obtidas no laboratório, dizendo ao seu paciente que já “não pode fazer mais
nada”. Este tipo de atitude dos profissionais de saúde não acontece só em Timor-Leste,
mas em todo o mundo. Ora bem, o que importa aqui é apresentar algumas propostas cura-
tivas para algumas doenças graves, usando o método do cruzamento da medicina tradicio-
nal com a medicina moderna. Este tipo de curativo é aplicado pelos timorenses no aten-
dimento de pessoas com doenças graves, por exemplo, uma mão ou uma perna partida no
acidente motorizado, o coração buracado e etc.
Uma das partes menos saudáveis da infeliz herança de “solução curativa” de determi-
nada doença, tantas vezes admitida sem “análise cuidadosa”, é o ego dos profissionais da
1. Este artigo foi escrito a partir da nossa experiência no atendimento de algumas pessoas com doenças leves
e graves, usando a prática terapêutica natural, isto é, com plantas medicinais que abundam em Timor-Leste e
acompanhado com o “método consolativo” baseada na “terapia espiritual”. Sendo assim, esclarecemos que não
somos “curandeiros tradicionais” nem “médicos profissionais”, mas como simples cidadãos temos também
obrigação para dar a nossa contribuição sobre a forma como fazer junção entre saberes locais e modernos no
atendimento dos doentes que se baseia na prática terapêutica medicinal.
Rothschuh (1978) observa que a sua referida pirâmide quadrangular apresenta algu-
mas “possibilidades” de ajuda dada pelo médico ao seu paciente, e de certeza que este
apoio é essencialmente clínico e social. Entendendo também que a doença cria uma rela-
ção de proximidade entre doente, médico e sociedade, isto é, há relação: (1) de uma pes-
soa consigo mesma – na medida em que se sente mal e pede auxílio; (2) entre essa pessoa
e um médico; (3) entre a pessoa e a sociedade; (4) entre o médico e a sociedade; (5) entre
o médico e a pessoa que, ao procurá-lo, se transforma em paciente (obs cit. Hegenberg,
1998, p.14).
Na abordagem de ciências sociais, ou talvez ainda ligada à percepção filosófica, a
doença é definida como “ausência de saúde”, ou “ausência de doença” (Albuquerque &
Oliveira, 2002). Duas percepções ainda poucas abordadas e esclarecedoras, mas Albu-
querque & Oliveira (2002) advertem que essas concepções, de forma geral, foram expli-
citadas pelos especialistas em medicina que estudaram sobre a representação da saúde e
a doença na sociedade ao longo dos tempos (Blaxter,1990; Calnan,1987; Cornwell,1984;
Herzlich,1973; Stacey,1988). Contudo, procuramos dar algumas dicas relacionadas a es-
tas percepções: a “ausência de saúde” pode ser entendida como falta de um atendimento
formal dos serviços da saúde; ou por outras palavras, há um paciente com uma doença
grave que necessita um tratamento urgente mas não há serviços de saúde que o atendam,
e daí podemos dizer que há uma “ausência de saúde” – ou falta de assistência médica para
atender o tal paciente.
Se for assim, cada pessoa humana faz a “reserva de saúde” com recurso a um investi-
mento ou garantia de vida saudável, e “reserva de saúde” nesse sentido é um acto digno
na defesa contra a doença ou recuperação dela (Herzlich,1973; Albuquerque & Oliveira,
2002) com “acção preventiva imediata”, isto é, no nível de “prevenção antecipada” da
doença é precisar necessariamente de criar uma agenda da “reserva de saúde” como for-
ma de controlar o nosso corpo na “escala humana” (mais no aspecto querer saudável) e na
“escala divina” (mais no aspecto da fé, da caridade e esperança, significa que o acto de
O conceito de doença é o traço de união entre pensamento e ação, à beira do leito de enfer-
mo. Esse conceito organiza as ideias recolhidas nas concretas investigações e estabelece
alicerces em que assentar cada fase da atividade médica; a ele cabe tornar inteligíveis as
transformações que ocorrem no paciente, fundamentando, assim, eventuais indicações tera-
pêuticas. O conceito de doença possibilita a ação médica (Hegenberg, 1998, p.17).
Estes estados da saúde colectiva podem ser entendidos também a partir das concep-
ções da medicina social, da medicina familiar e medicina preventiva (tanto local com
moderno). Esta categorização das concepções se constitui pelas teórico-paradigmáticas,
políticas e ideológicas com profundas reflexões em torno do campo do saber e de práticas
(Paim, 2005; Foucault, 1979).
Aqui há duas questões, primeiro a prevenção: a doença é causada por infeções e por isso é
essencial melhorar o acesso aos serviços de saúde, melhor o tratamento de infeções co-
muns. Depois podemos trabalhar nas escolas, ajudar médicos e enfermeiros timorenses para
poderem detetar melhor estes casos3.
Sabendo que uma doença afecta facilmente uma pessoa com um “pequeno retoque de
infecção”, que de facto pode ser tratada facilmente também se detectada a tempo, mas se
o paciente não consultasse ao seu médico familiar ou esse médico não atende e trata de
imediato seu paciente, daí a doença pode degenerar e causar graves problemas ao pacien-
te, incluindo danos às válvulas do coração, se o sintoma de doença é mais para a “cardía-
ca reumática”. No caso deste, os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e especia-
listas medicinais) usam, muitas vezes, a tecnologia medicinal (tecnologia termo-tera-
peutica) para detectar os sintomas da doença que afecta o paciente, aliás, segundo Josh
Francis, responsável da Menzies School of Health Research de Darwin,
Tecnologia que apesar de cara permite detetar com muito mais eficácia, em mais locais e em
regiões mais isoladas, uma doença que, outrora, só era detetada com o estetoscópio, instru-
mento que podia deixar escapar “até metade dos casos”4.
2. Esta informação é de World Heart Federation, e cadastrada em “Notícia da Lusa” sob o título “Timor-
-Leste com um dos índices mais elevados do mundo de doença cardíaca reumática” – disponível em www.noti-
cias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/24039508.html (acesso a 15/6/2019).
3. Ibidem,
4. Ibidem.
5. Informação foi tirada na notícia da Lusa, intitulada “ONU saúda plano de ação contra doenças não-
-transmissíveis em Timor-Leste”, datada de 30 de Novembro de 2018 – disponível em www.noticias.sapo.tl/
portugues/lusa/artigo/25210037.html (acesso a 15/6/2019).
Conhecer plantas medicinais usadas pelos timorenses para curar doenças especí-
ficas
Timor-Leste é conhecido como o mundo da medicina tradicional, onde os seus ha-
bitantes usam as plantas da terra para curar as doenças leves e graves. Timor-Leste é um
país de “imensa planta medicinal” e cada planta tem a sua função de curar, e de certeza
que se combina com o “o rito de cura”, conhecido em língua local tétum por “hamulak
kura nian”. O nosso conhecimento sobre abundância das plantas medicinais em Timor-
-Leste através de alguns estudos feitos por William Dampier (1729), Henri Forbes
(1884 e 1885), Alfred Russel Wallace (1869) e defende Vicente Paulino (2012, p.15)
que
Ainda há alguns portugueses (ou seja, servidores do Estado Timor Português de en-
tão), como a “contribuição descritiva” de F. Morreira (1968) sobre algumas plantas medi-
cinais usadas pelos timorenses na prática de cura. Alberto Osório de Castro também fez
uma nota descritiva sobre algumas plantas de Timor na sua obra “Ilha Verde e Vermelha
de Timor” (1943) e Ruy Cinatti (1954) pela sua parte apresentou uma lista de “vocabulá-
rio indígena de algumas plantas timorenses” a partir de uma observação directa no local
onde a população usa como “remédio” para curar a sua doença.
Para a melhor compreensão sobre a existência das plantas em Timor-Leste, particular-
mente as plantas medicinais, apresentamos desde já a lista de 105 plantas medicinais em
Timor-Leste elaborada por Xisto Martins (2017) com base na informação bibliográfica
constante em Cinatti (Gomes, 1955), Correia (1968), Collins (2005) e Collins et al (2006.
2007) e Sousa et al. (2011) e no resultado de sua própria pesquisa (2015).
Além das plantas medicinais específicas acima apresentadas, há também outro estudo
de carácter científico e de carácter informativo que fala de “130 plantas medicinais” asso-
ciadas às práticas fitoterapêuticas tradicionais (Casquilho & Xavier, 2019) que algumas
delas são explicitadas por alguns timorenses de forma sucinta sobre a sua aplicabilidade
6. Bunak é uma língua, ao mesmo tempo, o nome de um dos grupos etnolinguisticos de Timor-Leste.
7. Tétum é uma língua, ao mesmo tempo, o nome de um dos grupos etnolinguisticos de Timor-Leste.
Estas plantas medicinais são actualmente também objecto de estudo ou fazem parte do
objecto da “antropologia médica” (Laplatine, 1991). É uma denominação dada ao “estudo
curativo” socialmente aceitável, porque através de uma explicação antropológica medici-
nal compreendemos o modo como se formam os distintos agentes de cura, o modo como
as plantas medicinais podem modificar a realidade cultural e social da sociedade relativa-
mente o seu uso na prestação de serviços primários de saúde. Encontra-se hoje em Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS) está empenhada em desenvolver as medicinas tradicio-
nais como “medicina alternativa” à prestação de serviços primários de saúde, o exemplo
concreto desta acção encontra-se nos trabalhos dos “médicos de pés-descalços na China”
(OMS, 1984), e em Timor-Leste quando é que pode acontecer?
U-gapa (em bunak) U-gapal (em bunak) Na prática da cura, U-gapa e U-gapal são
ou du’ut nakukun ou du’ut-nakloke usados de forma espontânea para curar a doença
(em tétum) (em tétum) “ran-mutin – sangue branqueado”
8. Para resolver de imediato o problema da doença “tafui-ran – vómito de sangue”, o remédio é melhor juntar
a folha de Maraun e Ai-nino num pacote de tratamento. E assim, o problema de “tafui-ran” é resolvido nuns
instantes.
9. O sentido desta afirmação é aplicável quando os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros especialis-
tas) já fizeram várias tentativas de resolver o problema da doença do paciente, mesmo assim, em alguns casos,
esses profissionais de saúde obrigam a família do paciente a aceitar a sua análise “laboratorial” que de facto não
dá nenhuma “solução substancial” ou “solução convencível”, e isso vai ser acidentalmente fatal. Como no caso
de um bebé recém-nascido como um problema de saúde, os médicos especialistas pediram aos pais do bebé para
aceitar o diagnóstico do laboratório para que esse bebé seja operado de imediato, se não diziam médicos: “tenke
opera deit, tanba laiha meius atu salva nia – tem que operar mesmo porque já não há meios para o salvar”, daí
ocorreu a operação e alguns dias depois, o bebé ficou com mais problema, e os médicos disseram: “ami labele
halo tan buat ida – nós não podemos fazer mais nada” (Paulino & Araújo, 2018). Este tipo de atitude é um in-
sulto e eticamente os médicos não estavam a brincar mesmo com os sentimentos da família do paciente, é uma
incapacidade de análise laboratorial e incapacidade de dar “solução alternativa” para resolver o problema do
paciente que neste caso é o bebé recém-nascido.
Epílogo
Os profissionais de saúde de Timor-Leste podem apostar na medicina tradicional
como “alternativa curativa” da medicina moderna, seguindo alguns países lusófonos que
apostam na medicina tradicional para resolver o problema da saúde dos seus cidadãos.
Por exemplo, Moçambique já aplicou a “medicina tradicional”, na sua política de preven-
ção de algumas doenças menores e graves, ou seja, “Moçambique tem vindo a apostar na
Agradecimentos
Agradecemos a Etelvina Bau pela sua ajuda na identificação de algumas “plantas
medicinais” (apresentadas nas figuras) associadas a “práticas curativas tradicionais”, ou
tecnicamente conhecido por “terapia orgânica e natural”. Além disso aos senhores anóni-
mos que partilharam experiências sobre o uso das plantas medicinais no tratamento das
doenças.
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versity of Ottawa, Canada.
10. É advertido por Rafael Custódio Marques no encerramento do colóquio sobre a cooperação do domínio
de medicina tradicional para os países de língua portuguesa em Macau.
1. Introdução do Artigo
A oferta de alimentação para a coletividade acontece por parte das Unidades de Ali-
mentação e Nutrição (UAN), as quais possuem o cardápio como principal instrumento
direcionador do trabalho, visto que as etapas do fluxo produtivo o seguem como base
(NOVELETTO; PROENÇA, 2014). Desta maneira, o processo de planejamento do car-
dápio visa incluir dimensões de qualidade, sendo estas: nutricional, sensorial, simbólica,
de serviços, higiênico-sanitária e regulamentar, com propósito de obter refeições conside-
radas satisfatórias à clientela (ALEXANDRE, 2007).
Ao incluir a dimensão nutricional no planejamento, enfatiza-se a capacidade de utili-
zação deste como instrumento de promoção da saúde, bem como para a prevenção de
doenças e estímulo aos hábitos saudáveis (MOTA et al, 2017). Mas, além disso, é impor-
2. Procedimentos Metodológicos
O estudo se insere no âmbito do Projeto intitulado “Controle de qualidade das refei-
ções produzidas e transportada destinadas aos universitários da Universidade Federal da
Bahia”, aprovado no comitê de ética em Pesquisa da Escola de Nutrição da Universidade
Federal da Bahia, com o parecer número nº 228.318/2012. Caracteriza-se como estudo de
caso, com coleta de dados primários e secundários relacionados aos cardápios planejados
e executados no Serviço de Alimentação coletiva de Restaurante Universitário em Insti-
tuição de Ensino Superior da cidade de Salvador (Ba), região do Nordeste do Brasil.
A gestão deste serviço vem sendo realizada por concessionárias prestadoras de servi-
ços terceirizadas, que produzem e/ou distribuem refeições em três restaurantes localiza-
dos em diferentes campus da Universidade. No total são distribuídas entre desjejum, al-
moço e jantar cerca de 2.970 refeições por dia.
Para avaliar a relação entre a cultura alimentar local, os cardápios foram avaliados
com vistas à identificação de marcadores identitários da alimentação. Os cardápios ava-
liados do Serviço de Alimentação em foco eram do tipo rotativo com ciclo de nove sema-
nas, padrão intermediário e compreendiam café da manhã, almoço e jantar. O café da
manhã é composto por café infusão, leite integral, pão com manteiga e recheio, e acom-
panhamento. No almoço e jantar são oferecidos dois tipos de saladas cruas, prato princi-
pal, acompanhamentos, opção ovolactovegetariana, guarnição, sobremesa e suco.
Todos os alimentos e/ou preparações do cardápio foram analisados neste estudo, sen-
do classificadas como regional, quando se tratava de alimentos ou preparações que são
característicos da região nordeste do Brasil; nacional, quando consumidos nas diferentes
regiões do Brasil; ou internacional, quando se tratava de preparações já incorporadas ao
gosto do brasileiro, mas cuja origem ou uso remete claramente a outros países. A análise
3. Resultados e Discussão
A alimentação tem relação direta com a cultura e a identidade de um povo e das pes-
soas; por isso é considerada como uma memória coletiva e social. No entanto, observam-
-se transformações nos hábitos alimentares em ritmo acelerado na sociedade, resultado de
um universo cada vez mais globalizado (SOUSA & SOUSA, 2015). Essa perspectiva
globalizante co-existe com um movimento de valorização das culturas alimentares e gos-
tos locais.
Para abordar essa relação no contexto da alimentação institucional, os alimentos ou
preparações ofertadas no cardápio foram identificados como pertencentes à cultura ali-
mentar regional, nacional brasileira, ou como internacional. Após a análise mais geral,
buscou-se identificar os marcadores identitários da alimentação regional e nacional de
forma quantitativa, para uma expressão numérica geral (Tabela 1) e qualitativa, no senti-
do de descrever os principais marcadores presentes (Quadro 01).
Passando a uma discussão pelo prisma das refeições ofertadas, no que diz respeito ao
desjejum, observou-se que a presença de alimentos como o cuscuz, mingau, mungunzá,
banana da terra e raízes (como mandioca e inhame cozidos). Tais alimentos caracterizam
a composição típica de café da manhã do nordeste brasileiro.
O cuscuz, originalmente africano, está relacionado à presença do milho no Brasil,
vinculada aos povos indígenas. No entanto, este alimento assume diferentes formas nas
diferentes regiões do Brasil. A versão nordestina do cuscuz de milho consiste em uma
massa de fubá temperada com sal e açúcar, cozida no vapor de uma panela específica
para este fim, denominada cuscuzeira (FARIAS et. al, 2014). O cuscuz de milho é fre-
4. Considerações Finais
Ao analisar a expressão da cultura alimentar local na elaboração de cardápios de um
restaurante universitário, foi possível observar que a perspectiva pretensamente homoge-
neizadora dos gostos em restaurantes institucionais não se sustenta e a cultura local se faz
notar em vários elementos. Ao incorporar elementos da cultura alimentar regional e na-
cional, o cardápio do RU contribui para o fortalecimento das identidades sociais, sempre
consolidando a concepção do respeito à diversidade cultural e aos hábitos alimentares
locais. Deste modo, acredita-se que as avaliações positivas realizadas no cardápio em
foco indicam que eles exercem o papel de identificação dos usuários com este, seja no
aspecto sensorial, nutricional e de identidade cultural.
Este estudo colocou em relevo a discussão sobre a elaboração de cardápios institucio-
nais capazes de orientar a oferta de alimentação adequada sanitária e nutricionalmente
para coletividades, mas que também considere a comida enquanto expressão identitária e
elemento da cultura. Acredita-se que essa discussão contribui para que os serviços de
alimentação para coletividades possam se orientar por conceitos mais ampliados de saúde
e segurança alimentar e nutricional, incluindo em perspectiva a cultura alimentar.
Agradecimentos
Ao Grupo de Pesquisa e Extensão do Restaurante Universitário (GPERU), ao Nú-
cleo de Segurança Alimentar e Nutricional (NuSA) da Universidade Federal da Bahia
(UFBA).
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Pedro Vita
Universidade Kimpa Vita
Motivação
Actualmente é grande o número de adolescentes que fazem uso abusivo de bebidas
alcoólicas, tornando-se preocupante e consequentemente um problema de saúde pública.
A dificuldade da medicina neste diagnóstico e tratamento, resultam na importância da
abordagem desta investigação.
Formulação do problema
Qual é o impacto do alcoolismo em adolescentes nos bairros São Filipe e Tala-Hady
no município do Cazengo na província do Cuanza Norte nos anos de 2016 e 2018?
Objectivos do estudo
• Geral:
– Analisar o impacto do alcoolismo em adolescentes nos bairros São Filipe e Tala-
-Hady no Município do Cazengo na província do Cuanza Norte nos anos de 2016 e
2018.
• Específicos:
– Comparar a incidência do alcoolismo nos bairros S. Filipe e Tala-Hady no Municí-
pio do Cazengo da província do Cuanza Norte nos anos de 2016 e 2018;
– Reconhecer o género e a faixa etária mais afectados pelo alcoolismo;
– Identificar as características sócio demográficas dos bairros São Filipe e Tala-Hady;
– Esclarecer os principais factores de risco para o consumo do álcool na adolescência;
– Determinar o tipo de bebida mais consumida pelos adolescentes nos dois bairros.
Hipóteses
H1 – Os adolescentes dos bairros São Filipe e Tala-Hady consomem bebidas alcoóli-
cas de produção caseira;
H2 – O género masculino é o que mais consome.
NOÇÕES GERAIS
• Alcoolismo:
Doença que afecta a saúde física, o bem-estar emocional e o comportamento do indi-
víduo. (Araújo, 2007).
ÁREA DE ESTUDO
A área em estudo está localizada na zona sul da Província do Cuanza Norte, entre as
coordenadas Geográficas, longitude 15°11›29»E, 15°12›00»E e latitude 09°15›00»S,
09°31›00»S1, com uma área total de 1174 km², e com uma população estimada em
165.839 habitantes.
O levantamento foi feito com base a fotografias aéreas (ortofotos) a escala 1/20.000.
O levantamento foi feito com um aparelho de estação total da Laica, e utilizou-se as
coordenadas geográficas no sistema no sistema de referenciação WGS-84.
Bairro Quitata
(São Filipe)
Úlcera gástrica (ferida que se forma no tecido que reveste o estômago causada pela má
alimentação e acumulação de bactérias)
O estômago tem como função principal a digestão de alimentos proteicos).
Tratamento e prevenção
• O tratamento deve ser acompanhado por uma equipa de especialistas no campo emo-
cional e clínico (médicos, psicólogos, sociólogos), que trabalham para a desintoxi-
cação, reabilitação, tratamento clínico e manutenção do organismo;
• Apoio familiar;
• Associação anónima (AA);
• Papel da escola, igreja, polícia, INAC, Família e Promoção da mulher;
• Uso de Extracto de Própilis, produto natural produzido pelas abelhas (para desinto-
xicação do organismo);
• Uso de Suco Detox, cheio de vitaminas e minerais (ajuda o fígado na filtragem do
sangue e das toxinas vindas dos alimentos e medicamentos);
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo observacional transversal descritivo e analítico, com uma abor-
dagem quali-quantitativa na base de recolha de dados.
– Observacional (observamos os adolescentes para medir o estado do alcoolismo e
posteriormente intervir);
– Transversal (analisamos os dados colectados ou observados);
– Descritivo (Descrevemos e registamos a frequência do alcoolismo em adolescentes
na área estudada e num determinado tempo)
– Abordagem qualitativa (estudamos as particularidades dos adolescentes);
– Abordagem quantitativa (utilizamos as técnicas estatísticas, obtendo-se números
através de cálculos e que estes foram apresentados em forma de gráficos e tabelas).
Questionário
– Foi construído um questionário adaptado à realidade e que contou com a participa-
ção dos adolescentes dos dois bairros em referência;
– Seleccionamos as variáveis de interesse e de forma livre e anónima foram preenchi-
das, mantendo o sigilo.
Colecta de dados
– Previamente foram realizadas consultas preliminares com os responsáveis dos bair-
ros e encarregados dos adolescentes para esclarecer a finalidade de estudo.
Material usado
– Impresso contendo o questionário de consentimento livre e esclarecido;
–C aneta;
–P rancheta
– Telemóvel, contendo GPS, o que permitiu a localização das coordenadas e o mape-
amento da área em estudo;
– Transporte.
População e amostra
População aproximadamente de 165.839;
Amostra de 250 adolescentes (Bairro São Filipe, obtida de forma intencional);
Amostra de 250 adolescentes (Bairro Tala-Hady, obtida de forma intencional).
CONCLUSÃO
• Quanto ao número de consumidores
Bairro São Filipe: Bairro Tala-Hady
– 2016 (60,4%); – 2016 (77,2%);
– 2018 (59%). – 2018 (51%).
• Quanto ao género:
Bairro São Filipe
– 2016 predominou o género masculino com 53%;
– 2018 prevaleceu o género masculino com 55%, confirmando a segunda hipótese.
Bairro Tala-Hady
– 2016 predominou o género masculino com 53,9%;
– 2018 prevaleceu o género masculino com 65%, confirmando a segunda hipótese.
SUGESTÕES
– Promover campanhas de sensibilização através de palestras nos bairros São Filipe e
Tala-Hady, bem como nas escolas com objectivo de informar aos adolescentes dos
riscos associados ao alcoolismo;
– Criação de uma sociedade anónima para alcoólicos que pretendem expor os seus
problemas;
– Propor a Administração Municipal do Cazengo a criação de políticas públicas e
projectos direcionados a população adolescente, como por exemplo a criação áreas
de lazer, Centros de reabilitação para adolescentes alcoólicos;
– Estender o projecto a nível da VII Região Académica, em todos os municípios das
Províncias do Cuanza Norte e Uíge, envolvendo equipas de trabalho constituídas
por investigadores, docentes e discentes;
– Sugerir assinatura de um protocolo de cooperação entre a Escola Superior Politéc-
nica, Direcção Provincial da Saúde, Gabinete Provincial de Educação e INAC, para
projectos comuns em benefício da comunidade e em particular os adolescentes;
– Proibir a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos, e controlo eficaz dos
locais do fabrico caseiro;
– Proibir a venda de bebidas alcoólicas próximo das Instituições de Ensino;
– As publicidades de venda de bebidas alcoólicas que se façam depois das 22 horas;
– Que haja controlo eficaz na venda de bebidas alcoólicas em adolescentes nas mara-
tonas;
– Estudar-se mecanismos de implementação de uma multa aos encarregados que en-
volvem adolescentes na compra de bebidas alcoólicas, bem como os vendedores
infractores;
– Proibir a realização de concursos no uso de bebidas alcoólicas.
Introdução
A longevidade acrescida nas sociedades contemporâneas origina problemas novos de
organização e sustentabilidade, particularmente dos sistemas de segurança social e saúde,
e obriga a uma redefinição da organização das famílias progressivamente confrontadas
com os cuidados aos seus idosos, que nem sempre conseguem assegurar.
Também a melhoria do apoio a grávidas e dos cuidados de saúde, particularmente
neonatais, e uma maior consciência social são responsáveis pelo crescimento das neces-
sidades de apoio a crianças com patologias incapacitantes e défices de autonomia que
requerem cuidadores especializados e assistentes pessoais.
Os cuidados são assegurados, informalmente, por familiares, quase sempre sem qua-
lificação e sem apoios estatais, por profissionais também sem qualificação, geralmente
designados por informais e por profissionais com formação, regra geral de curta ou muito
curta duração, e com níveis remuneratórios muito baixos.
Nenhuma destas situações é justa, à luz dos direitos de quem necessita de cuidados e
de quem os presta, pelo que é urgente procurar no espaço do ensino superior Lusófono um
consenso de princípio quanto à necessidade de assegurar formações nestas áreas que pos-
sam contribuir positivamente para uma mudança profunda que sirva de alicerce a novas
carreiras profissionais de cuidadores e assistentes pessoais.
Conclusão
Ser cuidador ou assistente pessoal é uma das mais meritórias ocupações familiares e
uma das profissões do futuro, mas está-se ainda no limiar de um processo caracterizado
por uma confrangedora falta de conhecimento sobre a realidade da prestação dos cuida-
dos, uma quase completa ausência de reflexão conceptual sobre o múnus de ser cuidador,
de inexistência de regulamentação adaptada ao contexto familiar e profissional dos cuida-
dos e níveis de formação claramente desadequados das necessidades de um mundo em
completa transformação social, tecnológica e comunicacional.
1. Introdução
Os cursos de engenharia são, em Portugal, os cursos que mais alunos atraem no Ensi-
no Superior. A região de lisboa oferece cerca de 3 500 vagas a cada ano, constituindo-se
como a região de maior oferta de vagas para cursos de Engenharia no país. Nas institui-
ções públicas a admissão ao primeiro ano dos cursos do Ensino Superior é realizada
através de Concursos Nacional de Acesso em que os alunos concorrem a nível nacional.
As colocações no ensino privado são realizadas a nível de cada escola não existindo uma
base comparativa nacional. Por estas razões o nosso trabalho se centra no estudo dos
cursos de engenharia do Ensino Superior Público da região de Lisboa.
A relevância deste estudo estará em tentar perceber quais as alternativas de cursos que
os alunos consideram face ao curso que escolhem em primeira opção para seguir no Ensi-
no Superior. Esta análise irá fornecer-nos indicações sobre os cursos que os alunos de cada
área de engenharia também consideram passível de seguir profissionalmente. Dá-nos as-
sim indicações sobre o racional mental dos alunos no seu ingresso no Ensino Superior.
Os alunos que pretendem ingressar no Ensino Superior Público Português concorrem
ao Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior onde são seriados pela sua média de
candidatura. Esta é uma média ponderada entre a classificação do Ensino Secundário e as
classificações dos exames das disciplinas consideradas específicas para cada curso. Cada
Curso pode optar por ponderar de modo ligeiramente diferente cada uma das componen-
tes da nota de acesso ao Ensino Superior: nota do Ensino Secundário e notas dos exames
considerados como específicos para acesso ao curso pretendido. Ou seja, um aluno pode-
rá apresentar notas de candidatura diferentes para diferentes cursos do Ensino Superior.
Os exames do Ensino Secundário são considerados como provas de acesso aos cursos de
Ensino Superior e são definidas pela Direção Geral do Ensino Superior (DGES) com três
anos de antecedência. Os três anos de duração do Ensino Secundário em Portugal. Esta
prática obvia que ao alunos tenham de prestar provas em cada Universidade ou Politécni-
co a que se queiram candidatar. É um sistema centralizado mas justo e transversal na sua
essência de concurso nacional. Todos os alunos candidatos a um mesmo curso prestam as
mesmas provas nacionais. Cada curso pode também prever uma percentagem de vagas
locais e existem, por lei, vagas para diversas categorias de candidatos: deficientes, filhos
de diplomatas, atletas de alta competição, militares, etc.
Na candidatura ao Ensino Superior, os alunos podem escolher até seis cursos desde
que tenham realizado os exames nacionais requeridos para esses cursos. De salientar que
os cursos de Engenharia exigem como provas específicas os exames de Matemática e de
Tabela 1 – Cursos das “grandes” áreas de Engenharia com notas de acesso mais elevadas na região de Lisboa.
Devemos salientar que da análise da tabela 1 se constata que todos os cursos, exceto
um, são cursos oferecidos pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. A
exceção trata-se de Engenharia Civil cuja maior nota de acesso se registou na Faculdade
de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa. Todos os cursos, também
com exceção da Engenharia Civil, apresentam uma nota de acesso superior a 15 valores.
Em todos os cursos listados as vagas oferecidas foram totalmente preenchidas na primei-
ra fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior.
Definidos os cursos em que se centrou a nossa análise, foi elaborada a lista dos colo-
cados a cada um deles e esta foi cruzada com as listas de candidatos aos restantes cursos
de engenharia da área de Lisboa. De salientar que o volume de dados envolvidos esta
análise nos condicionou a que esta se centrasse apenas na região de Lisboa.
A escolha de um curso no Ensino Superior é uma tarefa complexa para os estudantes
em que sentimentos e racionais concorrem para a escolha. Vários estudos abordam a
complexidade mental envolvida, os dilemas e ânsias associados à escolha (Agrey & Lam-
4. Conclusões
Este estudo mostra-nos as alternativas que os candidatos ao Ensino Superior em Por-
tugal consideram para cada curso na área das Engenharias em Lisboa. Os alunos esco-
lhem um percurso na Universidade ou no Politécnico entre, habitualmente, os 17 e os 18
anos de idade. Bastante cedo para a maioria ter já definido o seu futuro profissional. As
escolhas reveladas neste estudo mostram-nos essa mesma escolha difusa, com a maioria
dos alunos a escolher cursos de diversas áreas, optando na sua maioria por vários cursos
na mesma escola. A maioria escolherá atendendo ao prestígio da escola e pela garantia
tradicional de emprego para os seus diplomados. Este foi um dos perfis que encontrámos:
escolher diversos cursos de engenharia mas na mesma escola. É um perfil que se encon-
tra, por exemplo, na escolha dos cursos de Física Tecnológica e Eng. Mecânica. Um outro
perfil foi de alunos que preferem uma área muito claramente em detrimento de outras.
Escolhem assim determinado curso optando por várias escolas. Encontramos este perfil,
por exemplo, na escolha dos cursos de Biomédica e de Informática.
O estudo revela-nos também os cursos que poderemos considerar como alternativas e
ajuda-nos a perceber o racional dos nossos futuros alunos. Uma das vantagens competiti-
vas deste estudo para as escolas será permitir que estas elaborem percursos complemen-
tares. Por exemplo que permitam aos alunos frequentar dois cursos e obter os dois graus
num período de tempo mais curto que a soma da duração dos dois cursos. Algumas insti-
tuições de ensino já o fazem, como por exemplo a Universidade Católica Portuguesa que
conjuga uma dupla licenciatura em Direito e Gestão, possibilitando a obtenção dos dois
diplomas em quatro anos.
A informação obtida sobre os cursos considerados como alternativa pelos alunos é
também uma vantagem para as instituições na planificação e divulgação da sua oferta
formativa. Sabem a priori quais os cursos que os alunos mais considerarão como alterna-
tiva ao curso considerado em primeira opção. Podem assim oferecer percursos escolares
multidisciplinares e unidades curriculares de opção com uma muito maior recetividade
pelos alunos.
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1. Introdução
O desenvolvimento tecnológico é visto pelos seus participantes, como um fenómeno
que, por si só, é positivo porque significa o progresso e é intrinsicamente bom. Na socie-
dade moderna, o progresso significa o uso de tecnologias cada vez mais avançadas que
supostamente melhoram a qualidade de vida de todos. Assim, através das inovações tec-
nológicas, a vida do homem sobre a fase da terra torna-se cada vez mais facilitada, mais
confortável e agradável. Assim, a tecnologia é o elemento que propicia, não só o avanço
da sociedade, como também, determina as suas condições de desenvolvimento e progres-
so. No entanto, os problemas climáticos que ameaçam o mundo actual e futuro devem-se
ao uso e ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia sem sustentabilidade. (Colectivo
de actores GEST, 2004)
A dependência tecnológica dos países subdesenvolvidos ou em via de desenvolvimen-
to tem-se manifestado com a importação principalmente por parte destes, de tecnologias
necessárias para a exploração das suas abundantes reservas de recursos naturais que, por
sua vez, servem como os principais produtos de exportação. E, consequentemente, o ba-
lanço comercial sempre tem sido negativo para os países subdesenvolvido (Vide tabela 1).
Angola é um país que não está alheio à realidade dos países em via do desenvolvimen-
to, cuja importação de tecnologia é um facto, o que obriga a um grande esforço na forma-
ção de quadros qualificados para o domínio destas tecnologias e na inovação.
O objetivo deste trabalho é espelhar a dependência científica e tecnológica dos países
subdesenvolvidos.
Tabela 1 – Quadro comparativo dos valores de produtos no mercado internacional (Silva, 2008)
2. Base Teórica
Aqui abordam-se os principais conceitos relacionados com a sociedade, ciência, tec-
nologia, inovação e educação.
Segundo a página Web do Conceito de (2011) A sociedade é um conjunto de indiví-
duos que partilham uma cultura com as suas maneiras de estar na vida e os seus fins e, que
interagem entre si para formar uma comunidade. Embora as sociedades mais desenvolvi-
Tabela 4 – Dados de 2017 dos docentes com formação diferenciadal na Ecola Superior Politecnica
do Cwanza Norte
Conclusão
• O domínio científico e tecnológico é utilizado pelas sociedades desenvolvidas como
forma de dominar economicamente aos países em via de desenvolvimento;
• Angola tem um déficit de quadros para fazer frente aos desafios técnico-científicos e
económicos necessários e imprescindível para o desenvolvimento da sua sociedade
no mundo, cada vez mais competitivo e globalizado, pelo que faz falta, a aposta na
educação massiva da sua população;
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Introdução
Para a maioria dos brasileiros, a saúde e o campo místico das religiões está fortemen-
te interligado. A promoção da saúde perpassa, assim, o campo metafísico, tornando a re-
ligião fator de grande importância para o alcance daquela, podendo ser percetível essa
situação com a procura das pessoas de ajuda em igrejas, terreiros, templos, centros espí-
ritas, casas de curandeiros e rezadeiros para amenizar males físicos e espirituais na busca
da saúde ao tempo que também buscam ajuda médica, profissional. É através das rezas,
passes, banhos e afins e com a utilização de tratamento e medicamentos receitados por
profissionais que a população procura dia-a-dia se despir de problemas físicos e, também,
espirituais.
Além disso, a raça vem se demonstrando fator crucial no acesso à saúde no Brasil. O
acesso da população a ela é comprovadamente restrito em relação à raça branca, mas
também, em contrapartida, existe uma procura por saberes advindos e preservados pelas
religiões afro-brasileiras e que tem como resultado a melhoria dos que procuram, sendo
essas pessoas os adeptos da religião, simpatizantes e também as comunidades que entor-
nam os terreiros.
Com isso, e com base na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que
como já traduz o nome, tem como objetivo o direito à política de saúde da população
negra com a promoção da equidade em saúde, e da necessidade de estimular o reconheci-
mento dos saberes e práticas de saúde das religiões afro-brasileiras para atingir esses
objetivos, é que este estudo pretende abordar estratégias para a promoção da saúde em
comunidades tradicionais de terreiro em Sergipe.
Assim, tem-se como objetivo desta pesquisa abranger potencialidades na promoção
de saúde para povos de terreiro em Sergipe, estado do nordeste brasileiro, com base nos
aspectos de raça, etnia e religiosidade na busca pela equidade desse direito; fazer uma
4. Conclusão
Percebe-se, portanto, que a junção dos aspectos raça, etnia e religião demonstra-se
eficaz na promoção da saúde. Fica evidente, primeiramente, a real necessidade de igual-
dade no acesso a saúde de qualidade, inclusive por parte do próprio Estado brasileiro,
com a emissão de documentos a fim de estudar e criar mecanismo para que essa realidade
seja modificada. No mais, que o aspecto raça é algo que torna ainda mais dificultoso o
acesso a condições dignas de saúde como educação, segurança e não é diferente com o
bem-estar físico dessa parcela da população que, diga-se de passagem, compreende mais
da metade de toda a população do país.
Outrossim, em nada seria dificultoso utilizar da religião para esses fins, uma vez que
ela, conforme evidenciado no decorrer do artigo, é algo importante e natural na vida dos
brasileiros. Demonstrou-se que a maioria dos brasileiros tem uma religião, acreditam
nela, frequentam de forma regular e ainda a utilizam e acreditam como meio de melhora
física e espiritual. Além disso, é algo que ocorre não só com as religiões afro-brasileiras,
mas sim com diversas religiões, como na Igreja católica em tempos atrás.
Também fica perceptível que já há a ideia de que as religiões afro-brasileiras tem ca-
pacidade de promover e ajudar na saúde e bem-estar de uma maneira geral. Seja com base
nas próprias práticas comum a elas de recepção, acolhimento, ajuda dos que são na maio-
ria das vezes excluídos socialmente, e também na utilização das relações mais específicas
em relação aos males e como eles são tratados dentro da visão da crença.
A Conferência e o Plano analisados foram importantes para toda essa análise, pois
parametrizaram com seus dados e apontamentos essa conclusão. E Sergipe, não diferen-
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da Saúde, São Paulo: 2010;34(4):488-497.
SILVA, José Marmo da. Religiões e Saúde: a experiência da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasilei-
ras e Saúde. Saúde Soc. São Paulo, v.16, n.2, p.171-177, 2007.
Nélia Carvalho
Escola Superior de Saúde-Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Susana Batista
Escola Superior de Saúde-Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Alexandra Dinis
Escola Superior de Saúde-Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
1. Introdução
O envelhecimento atual da população, representa um dos fenómenos demográficos
mais preocupantes das sociedades modernas. Portugal não é exceção e os dados do Insti-
tuto Nacional de Estatística (INE, 2017), estimam que o total de pessoas com idade supe-
rior a 60 anos, irá ultrapassar em 2050 os três milhões e a população com mais de 75 anos
sofrerá um acréscimo que rondará os 80%.
No conjunto dos 28 Estados Membros da União Europeia, Portugal apresenta o 5º
valor mais elevado do índice de envelhecimento e o 3º valor mais baixo do índice de re-
novação da população em idade ativa. Estes dados levantam preocupações que exigem
um maior e melhor conhecimento dos problemas e necessidades desta população, nome-
adamente as questões de saúde, patologias e consequências associadas.
A principal causa de incapacidade neurológica grave nos idosos, de acordo com a
American Heart Association, são os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), estimando-se
uma prevalência anual de 15 milhões de pessoas em todo o mundo. Os AVCs representam
atualmente a primeira causa de morte em Portugal, constituem a principal causa neuroló-
gica de disfagia e estão associados a múltiplas complicações médicas que levam a hospi-
talizações prolongadas com custos significativos nos cuidados de saúde (OPSS, 2017).
A disfagia é clinicamente diagnosticada em 40 a 70% dos doentes nos três primeiros
dias após o AVC, contudo a incidência de aspiração de saliva, alimentos e/ou líquidos
pode variar entre os 20 e os 45% nos primeiros cinco dias (Mourão, Almeida, Lemos,
Vicente & Teixeira, 2016). Etimologicamente, o termo disfagia provém dos étimos gre-
gos “dis” que significa dificuldade e “phageo” que se refere à alimentação (Silva, 2015).
A American Speech and Hearing Association (ASHA, 2011), define disfagia como uma
desordem na deglutição, caracterizada por dificuldades no ato de levar o alimento ou a
saliva da boca até o estômago. A deglutição por sua vez, corresponde um comportamen-
to sensório-motor controlado por numerosos componentes que vão desde o sistema ner-
Critérios de
Critérios de inclusão Critérios de exclusão
seleção
Pessoas com outro tipo de patolo-
gias
Adultos com idade superior a 18 anos, pós
Participantes Pessoas que não apresentem alte-
AVC, com alteração da deglutição
ração da deglutição e que não se
encontrem em situação de AVC
As intervenções de outros profis-
Intervenções Todo o tipo de intervenções apenas do EEER
sionais de saúde
Intervenções do EEER dirigidas à pessoa Resultados que não abrangem in-
com alteração da deglutição, pós AVC, que tervenções do EEER face à pes-
“Outcomes”
promovam a independência da pessoa nas ati- soa com alteração da deglutição,
vidades comer e beber em situação de AVC
Estudos experimentais e quasi-experimentais
Outros desenhos para além dos
Desenho Revisões sistemáticas com e sem metanálise
definidos na inclusão
Estudos randomizados controlados
Num primeiro momento, obtivemos uma lista (com título e resumo) de 873 artigos
filtrados, que foi submetida a uma avaliação crítica por dois revisores, de forma indepen-
3. Resultados
No estudo 1 de Hughes (2011), Management of dysphagia in stroke patients ficou
demonstrado que existe a necessidade de se proceder a uma avaliação holística da pessoa
para garantir a hidratação e as necessidades nutricionais de forma efetiva e segura. A hi-
giene oral e o estado nutricional, assumem-se como elementos fulcrais na gestão da pes-
A prevalência da disfagia nos Doentes pós AVC encontrada nos estudos analisados,
(42% e 67%) vem reforçar a variabilidade referida em outras pesquisas similares. Apesar
de se tratar de um indicador importante na monitorização das complicações das pessoas
portadoras de AVC, observámos que tem sido uma variável subestimada nos diferentes
estudos realizados, espectável face á escassez de realização de diagnósticos precoces, de
avaliações específicas e respetivos registos.
As alterações neurológicas, mecânicas e/ou mesmo psicogénicas consequentes à
ocorrência do AVC, estão presentes na maioria destes Doentes conduzindo a disfunções
musculares (sensorio-motoras) que alteram efetivamente a deglutição com instalação da
disfagia (sobretudo do tipo orofaríngea).
Ficou demonstrado, que os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Reabilita-
ção são elementos centrais nas equipas multidisciplinares, no que concerne ao diagnósti-
co e tratamento da disfagia. A efetividade das intervenções dos EEER integram progra-
mas/processos reabilitativos que se desenvolvem em várias fases, e que vão desde a
avaliação clínica inicial da deglutição (designada à beira do leito) através da anamnese e
exame físico do doente; da observação morfodinâmica ou estrutural visualizada ou atra-
vés do exame radiológico em complementaridade coma fona audiologia; aplicação de
testes específicos devidamente protocolados; realização de testes de ingestão oral; inter-
venções instrumentais de deglutição, complementares às avaliações clínicas, realizadas
por análise objetiva da biodinâmica; monitorização sistematizada da higiene oral e do
estado nutricional do doente; aplicação de exercícios de resistência muscular da região
cervical associada a posturas e técnicas de deglutição compensatórias.
Menos consolidadas são as evidências reveladas nos estudos sobre as correlações
existentes entre o diagnóstico precoce da disfagia (alterações da deglutição) e a redução
do risco de pneumonia, o menor tempo de internamento e o melhor custo-efetividade,
resultante da redução dos dias de internamento. Assim, consideramos pertinente o desen-
volvimento de futuros estudos randomizados e de carater longitudinal, que permitam ava-
liar o potencial de recuperação das pessoas com disfagia e o seu impacto nos tempos e
frequência de internamentos e respetivos custos-efetividade.
Como nota final, consideramos que os resultados deste estudo demonstram que o in-
vestimento na efetividade de cuidados especializados por parte dos EEER, como pilar de
reforço dos serviços de saúde, numa lógica de continuidade de cuidados, pode ser um
recurso muito vantajoso tanto para os doentes, como para as famílias e para os sistemas
de saúde no geral, face ao aumento das taxas de prevalência e incidência do AVC e disfa-
gias consequentes.
Referências
American Heart Association (2011). Heart disease and stroke statistics – 2011 update: a report from the
American Heart Association. Circulation, 123, 18-209.
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10.1177/1747493016639057. Epub 2016 Mar 22.
Introdução
As mordeduras de serpentes constituem um problema de saúde em vários países do
mundo. Estes acidentes são considerados uma doença tropical negligenciada responsável
por uma alta morbilidade e mortalidade no Sudeste Asiático e África subsariana. A di-
mensão deste problema de saúde em Angola é desconhecida.
Mundialmente, permanece indefinida a incidência exata das mordeduras de serpentes
em humanos e, por conseguinte, não é conhecido o real número de envenenamentos. Os
países que apresentam números confiáveis sobre a incidência, morbidade e mortalidade,
são ainda escassos (Slagboom, Kool, Harrison e Casewell, 2017). O Sudeste da Ásia e a
África subsariana são de longe as regiões mais afectadas, sendo a Índia o país que maior
número de mortes apresenta por mordeduras de serpentes no mundo.
A educação comunitária assim como o incremento do nível de conhecimentos nos
profissionais da saúde, médicos e enfermeiras, sobretudo nas zonas endémicas de serpen-
tes, constitui um passo importante para um melhor manuseio clínico das mordeduras de
serpentes (Gutiérrez et al., 2015).
Objetivos
Caracterizar conhecimentos, atitudes e práticas clínicas dos profissionais de saúde
angolanos diante das mordeduras por serpentes nas Províncias selecionadas.
Metodologia
Foi realizado um estudo observacional descritivo transversal com 151 profissionais da
saúde dos hospitais provinciais das províncias de Cuanza Sul, Benguela, Malanje e Huíla.
Foi aplicada uma técnica de amostragem poli-etápica. Na primeira etapa foram sele-
cionadas quatro das 18 Províncias do país, com uma técnica probabilística por conglome-
rados (considerou-se cada Província como um conglomerado). Logo foram seleccionados
dois municípios por Províncias (oito municípios no total), com uma técnica não probabi-
Conclusões
1. Existe pouca experiência de profissionais da saúde sobre a ocorrência de mordedu-
ras de serpentes, e pouco conhecimento em relação à nomenclatura das mesmas e
sua identificação perante fotos (imagens).
2. As manifestações locais no local da picada (dor) são as mais frequentes, seguidas
pelas manifestações de neurotoxicidade (parestesias), manifestações sistémicas
(mialgias) e oftalmopatia (dor ocular).
3. Em relação ao perfil terapêutico, existe maior frequência de acidentados com mor-
deduras de serpentes com tratamento pré-hospitalar, em relação ao tratamento ins-
titucional, e estes não recebem soro antiofídico, como acção emergente, embora a
maior percentagem tenha evoluído para a cura.
Referências
Slagboom, J., Kool, J., Harrison, R. A., & Casewell, N. R. (2017). Haemotoxic snake venoms : their func-
tional activity, impact on snakebite victims and pharmaceutical promise. British Journal of Haematology,
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Novel Perspectives on the Pathophysiology of Envenoming. Toxins, 2(12), 304. https://doi.org/10.3390/toxins
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Chafiq, F., El Hattimy, F., Rhalem, N., Chippaux, J.-P., Soulaymani, A., Mokhtari, A., & Soulaymani-Benchei-
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gou region (eastern Senegal): comparison of various methods for assessment of incidence and mortality. The
Journal of Venomous Animals and Toxins Including Tropical Diseases, 22(9), 1–6. https://doi.org/10.1186/
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Chippaux, J.-P., Akaffou, M. H., Allali, B. K., Dosso, M., Massougbodji, A., & Barraviera, B. (2016). The
6 th international conference on envenomation by Snakebites and Scorpion Stings in Africa: a crucial step
for the management of envenomatioN. Journal of Venomous Animals and Toxins Including Tropical Diseases,
10-12. https://doi.org/10.1186/s40409-016-0062-y
I. INTRODUÇÃO
Células a-Si de junção são células de silício não cristalinas. A camada do semicondutor
é apenas 0.5-2.0 μm de expessura; consequentemente, menos matérias primas são
necessárias para a sua produção do que para as células de silício cristalina [1]. O filme de
silício de amorfo é depositado numa superfície, tal como o gás, vidro, aluminium, ou
plastico; desta forma é sempre referenciado como filme fino. Este tipo de células possui
eficiência entre 6% a 8% [2]. A faceta mais intrigante de tal tecnologia é o significante
declínio na sua eficiência durante as primeiras centenas de horas de iluminação. Isto é
reduz aproximadamente cerca de 30% da sua eficiência inicial, após 1000 h [3] isto ad-
vém devido o efeito Staebler-Wronski [4]. Tradicionamente, a tecnologia de silicone cris-
talino tem sido a escolha preferida no mercado fotovoltaico graças a sua eficiência de
conversão de energia. Portanto, apesar da baixa conversão de eficiência, a tecnhologia
a-Si possui um custo menor de produção de electricidade por watt [5]. Por conseguinte,
foi mostrado que a tecnologia a-Si domina em condições quentes devido ao seu menor
coeficiente de temperatura de energia [6]. Este tipo de photocelulas, parece-nos adequa-
das para o clima tropical africano, desta forma foi escolhido para o estudo.
Devido ao clima e a localização de Angola, a energia solar parece ser uma boa opção
para investigação. Este estudo analisa os efeitos da ridiação solar, temperatura ambiente
dos painéis fotovoltaicos, dados metereológicos, bem como humidade relativa no desem-
penho da tecnologia thin-film a-Si, sistema de grelha amarrada, no periodo de Setembro
de 2011 à Setembro 2012. A importância deste estudo está na análise de um sistema foto-
voltaico no seu primeiro ano de operação, afim de percebermos o desempenho inicial,
bem assim como as perdas ocorridas no princípio da vida útil, e avaliarmos os factores
que afectam o seu desempenho. Detalhes na tecnologia fotovoltaica e configuração usada
nesta pesquisa são abordadas nas seguintes secções.
II. EXPERIMENTAL
A importância deste estudo está na análise de um sistema fotovoltaico no primeiro ano
de operação, a fim de compreender o desempenho inicial e perdas acontecendo no princí-
pio da duração do sistema, e para classificar os factores que afectam o seu desempenho.
Um sistema fotovoltaico está localizado na central do Hoji Ya Henda, Luanda, Angola, e
a média de irradiação diária nesta região de Luanda ronda os 4.5 kW h/m2/dia, e altera
Figura 6. – a. Tensão de circuito aberto; b. corrente de curto circuito com variação da radiação.
3.2. Temperatura
A temperatura ambiente determina a temperatura de operação da célula solar, ava-
liando os dados disponíveis no computador conectado a internet, encontramos vantagem
ao avaliarmos o comportamento do a-Si sob alta temperatura ambiente. Para melhor
compreender o comportamento do sistema de película fina sob variação de temperaturas,
existe uma relação entre a temperatura ambiente da célula solar, considerada na figura 5
versus a temperatura média ambiente do painel. Uma vez que medindo a temperatura
actual das células actuando no campo é difícil, a temperatura dos painéis obtiveram os
seguintes registos:
A tensão de circuito aberto bem como corrente a curto de circuito têm valores máximos
em temperatura ambiente que vai de 30oC à 36o C. Isso implica que houve outra variável
afectando as temperaturas dos painéis. Ao examinarmos os dados metereológicos e compa-
rando aos resultados obtidos, notamos que quando o vento situou-se acima de 2 m/s ou so-
prando em direcção aos lados frontais e laterais do painel, a temperatura registada decresceu
3.3. Humidade
Um estudo de humidade de alta temperatura foi feito nos módulos fotovoltaicos c-Si
PV, e a degradação do seu desempenho devido o início de umidade são discutidas nesta
secção. Quando as células fotovoltaicas são expostas sob humidade a longo, prazo haverá
alguma degradação no desempenho. Foi observado que o alto conteúdo do vapor de água
no ar causa delaminação encapsulante.
Dos resultados experimentais, é evidente que a humidade relativa tem efeitos signifi-
cantes no desempenho das células a-Si. Isso pode ser explicado ao olharmos para o cir-
cuito equivalente de uma célula solar tal como demostrado na figura 15.
Figura 15 – Circuito equivalente para a célula solar do amorfo.O colector actual Irec significa perdas de
combinação na camada-i
3.4. Inverter
A energia máxima produzida pelo sistema foi comparada com a transmitida pelo
inversor afim de calcular a eficiência de toda configuração e verificação da eficiência da
conversão de energia do inversor que foi avaliado em cerca de 90%. Fig. 16 demostra a
energia produzida e convertida com a media calculada de 50% conversão de eficiência.
Foi muito baixa a que tinha sido estimada pelo fabricante. Desta forma, Quando a efici-
ência do sistema foi considerado com o inversor, reduziu em quase 12%, de 4.9% para
4.2%. isto foi duas vezes o montante da redução na eficiência causada pela combina/
ção de factores que incluem, velocidade do vento, aumento da temperatura ambiente,
umidade, eficiência da conversão real de energia do inversor, e uma degradação geral do
sistema.
Figura 16 – Comparação de energia convertida pelo inversor (Pac) e pela energia produzida
pelo sistema fotovoltaico (Pmax).
REFERENCES
[1] A. Nakajima, M. Ichikawa, T. Sawada, M. Yoshimi, K. Yamamoto, Optimization of device design for
thin-film stacked tandem solar modules in terms of outdoor performance, Jpn. J. Appl. Phys. 43 (2004) L1162.
[2] Antony F, Dürschner C, Remmers K. Photovoltaics for professionals. Berlin: Solarpraxis AG; 2000.
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[4] Staebler D, Wronski C. Applied Physics Letter 1977; 31:292.
[5] Jansen KW, Kadam SB, Groelinger JF. The advantages of amorphous silicon photovoltaic modules in
grid-tied systems. Hawaii, USA: IEEE 4th World Conference on Photovoltaic Energy Conversion; May 2006.
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[8] Kolodziej A. Staebler-Wronski effect in amorphous silicon and its alloys. Opto-Electronics Review
2004; 12(1):21e32.
A Rede Luso Brasileira de Estudos Ambientais – RLBEA foi criada em 1997 no Rio
de Janeiro com o objetivo global de concretizar os termos da Declaração de Lisboa de
1977, através da cooperação científica na área do ambiente e do desenvolvimento susten-
tável, entre Portugal e o Brasil, e com um objetivo específico de implementar um curso de
Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais em ambos os países.
Nesse sentido foi estabelecido um protocolo entre diferentes instituições governamen-
tais e universitárias. Pelo lado português assinaram o protocolo a Universidades de Avei-
ro (UA), a Universidade de Évora (UE), a Universidade dos Açores, a Universidade Nova
de Lisboa, o Ministério do Ambiente, e a Junta Nacional de Investigação Científico e
Tecnológico, atual FCT (órgão com vinculo ao Ministério da Educação e Ciência); pelo
lado brasileiro, assinaram o protocolo a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), a Universidade Federa de Santa Catarina (UFSC), a Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Ministério do Meio Ambiente, o CNPq e a
CAPES.
Dando cumprimento aos objetivos estruturais definidos na sua génese, em 2004 a
RLBEA expandiu as suas atividades para a África lusófona e, naquele ano, incorporou
nas suas atividades, a Universidades Eduardo Mondlane de Moçambique e a Universida-
de de Cabo Verde; mais tarde, em 2009, a Universidade Agostinho Neto de Angola parti-
cipou em vários eventos da Rede. Todavia, apenas, em 2011, durante o XIV Encontro
anual da Rede, realizado em Recife, o Conselho Superior, no âmbito de suas atribuições
protocolares, oficializou, como membros efetivos a Universidade Eduardo Mondlane
(Moçambique), a Universidade Agostinho Neto (Angola), a Universidade de Cabo Verde
e também a Universidade de Lisboa (Portugal). Nesta mesma Reunião, com a adesão dos
novos membros, foi igualmente decidido alterar o nome da Rede para “Rede de Estudos
Ambientais dos Países de Língua Portuguesa – REALP”.
No âmbito das atividades estruturais desta Rede, foi considerado prioritário: (1) con-
tribuir para a preservação do ambiente e para a melhoria da qualidade de vida das popu-
lações, aspeto essencial para o desenvolvimento sustentável das nações e harmonia das
relações internacionais; (2) promover a formação avançada de recursos humanos para a
investigação, a análise, o planeamento e a decisão em questões ambientais; (3) promover
a realização de investigação integrada entre instituições nacionais e internacionais, otimi-
1. Introdução
A promoção de saúde, garante condições de vida e de trabalho seguros. De acordo
com a OMS (organização Mundial de Saúde), a saúde é definida como estado de comple-
to bem estar, físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doenças. Esta defi-
nição é enfatizada na conferência de Alma-Ata. A saúde é um direito humano fundamen-
tal, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta
social, cuja realização requer a ação de muitos outros setores.
De acordo com a carta de Ottawa, os pré-requisitos e as perspectivas para a promoção
de saúde, é o envolvimento dos diversos sectores, como Educação, Habitação, Agricultu-
ra, obras públicas, entre outras. Entretanto, a abordagem nesta comunicação será em vol-
ta do sector da Educação, minha área de actuação.
A Educação e Saúde são sectores chave para a continuidade de uma nação. Todos os
aspectos inerentes a educação e as mudanças a ele sujeitos têm em vista a criação de um
mundo melhor onde homens, mulheres e crianças possam viver em harmonia, não só
entre sí, mas entre estes e o meio ambiente que os rodeia. A relação entre os humanos e
entre estes com o ambiente é determinado não apenas socialmente, mas em grande medi-
da pela cultura. O conjunto de crenças, hábitos e custumes, passados de geração em ge-
ração ao longo dos tempos pode até certo ponto colocar em risco a saúde de uma uma
comunidade ou de um povo. A carta de Otawa (1986), refere que os factores culturais
podem favorecer, assim como prejudicar a saúde.
A declaração de Alma-Ata (1978), sobre os cuidados primários de saúde, destaca mais
uma vez a educação como um dos sectores que deve estar envolvido na ação de promoção
de saúde das comunidades, do ponto de vista de consciencialização e sensibilização dos
povos para a adopção de práticas culturais saudáveis como forma de prevenir-se das do-
enças. É também considerada pela carta de Otawa (1986) como um dos pré-requisitos
para a promoção de sáude.
Durante as actividades de pesquisa universitária, realizadas por estudantes no âmbito
das actividades curriculares sobre a Educação ambiental, constatou-se que uma comuni-
dade residente no interior do parque nacional do limpopo, possuia um hábito cultural de
fecalismo a céu aberto, pois de acordo com os seus argumentos as fezes dos diferentes
membros de uma família nunca se devem misturar. Esta prática é também notória em al-
gumas zonas costeiras do nosso país, como é o caso de Cabo Delgado, onde as popula-
Objectivo: Com este estudo pretende-se trazer uma reflexão sobre o papel das Uni-
versidades na mudança de algumas práticas nas comunidades, com vista a promoção de
Saúde em Moçambique
2. Fundamentação Teórica
A Educação é o caminho pelo qual poderá encontrar-se mudanças por meio de acções
dos estudantes nas comunidades. Estas acções podem ser por forma de implementação de
projectos que criem mudanças nos estilos de vida das populações e promovam a saúde
(Vilaça, 2014). Para além do desenvolvimento científico do Homem, as universidades
tem o papel de apoiar as comunidades na resolução de problemas como forma de tornar
melhor a vida das mesmas, por isso deve doptar os seus estudantes de habilidades para
realizarem acções reflexivas, individual ou colectivamente (Vilaça & Mabote, 2016) e
criarem mudanças positivas nos estilos de vida.
Um dos grandes problemas enfrentados pelas comunidades viventes em países em via
de desenvolvimento ou destruidos quer por causas naturais ou antropogénicas (guerras),
é o acesso a água potável. A água consumida por milhares de pessoas em todo mundo é
imprópria (sem nenhum tratamento prévio), retirada em poços ou rios. O UNICEF (2015),
estima que cerca de 748 milhões de pessoas em todo mundo não tem acesso a água potá-
vel e esta é apontada pela OMS, como a causa de cerca de 3,5 milhões de mortes. Estas
mortes estão associadas ao consumo de água contaminada principalmente por agentes
microbiológicos patogénicos de origem fecal. Muitas populações rurais ignoram este fac-
to, muitas vezes por falta de alternativas hídricas para satisfazerem as suas necessidades,
mas algumas vezes por suas próprias práticas, consideradas culturais. As universidades
não conseguiriam criar fontes de água potável, mesmo se assim desejassem, tampouco
levar as populações à regiões acessíveis a água potável, pois estas são questões governa-
3. Metodologia
As Universidades desempenham um papel fundamental no ensino, pesquisa e extensão
dos conhecimentos produzidos para a sociedade, com vista a ajudar na solução dos mais
variados problemas que exitem e a melhorar as condições de vida da sociedade. É neste âm-
bito, de pesquisa, que foram desenvolvidos dois estudos por estudantes da Universidade
Pedagógica de Moçambique, com o objectivo de analisar a qualidade microbiológica da água
consumida pela população de dois postos administrativos de um dos distritos da Província de
Maputo, pois nestas regiões são observadas algumas prácticas que muito provavelmente
contaminam as águas e que culminam com o surgimento de doenças. O primeiro estudo,
sobre a análise de coliformes fecais e totais das águas do rio Sabié e o outro com os mesmos
parâmetros de análise nas águas do rio Incomati. O primeiro Estudo teve duas etapas:
1ª Etapa: Estudo com a População do Posto Administrativo de Matucanhane,
Distrito de Moamba
Esta etapa baseou-se em inquérito à uma amostra de 41 famílias, sobre os seus hábi-
tos, no concernente à fonte de água para as suas necessidades, sobre os seus cuidados de
higiene e ainda sobre os cuidados que têm com água que é usada para o consumo.
2ª Etapa: Análise Laboratorial de Amostras de Água Retirada dos Rios acima
Referidos
Foram colhidas três amostras de água, sendo duas nos dois leitos do rio e uma no meio
do leito, em frascos estéreis de 250ml. Esta colheita foi efectuada em três dias dferentes.
4. Resultados
4.1. Resultados do Inquérito à População
Da primeira etapa do estudo, sobre os hábitos da população em relação a água alguns
resultados estão apresentados nas tabelas seguintes:
Pergunta N.º 7: Quais são os métodos usados na escola para tratar água do consumo?
Respostas Nº de Respostas Percentagem (%)
Fervura 4 9.70
Adicionar certeza 12 29.20
Nenhum 25 60.90
Total das respostas 41 –
Total Inquiridos 41 100
5. Conclusão
A população da localidade envolvida no estudo (Matucanhane), depende totalmente
do rio, como fonte de água para o consumo. Porém, de acordo com os parâmetros estabe-
lecidos pelo MISAU (Ministério da Saúde), a água dos rios Sabié, no posto administrati-
vo de Matucanhane e Incomati, no posto administrativo de Moamba Sede, é imprópria
para o consumo humano, pois apresenta níveis de contaminação por coliformes fecais.
Esta população não conhece os métodos de tratamento da água para o consumo. Al-
guns por questões ligadas aos hábitos não os adoptam.
Diante desta grande conclusão, a população destas localidades deverá adoptar medi-
das para o tratamento de água que consome, bem como mudar algumas práticas, tais
como fecalismo a céu aberto, cuidados de higiene pessoal e colectiva próximo às fontes
de água para o consumo, pois os rios são o único recurso de água de que a população rural
dispõe. Esta mudança só será possivel se houver o envolvimento da comunidade acadé-
mica nas comunidades, como forma de apoiar o sistema de saúde na prevenção de doen-
ças.
Maria de Fátima
Escola Superior Politecnica do Uíge (ESPU) UNIKIVI
INTRODUÇÃO
A schistosomiase é uma das parasitoses mais prevalentes no mundo, sendo endêmica
em 76 países na África, Ásia e América. Estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas
se encontram infectadas enquanto outras centenas de milhões vivem em zonas endêmi-
cas, expostas a infecção e cerca de 20.000 pessoas morrem anualmente devido a doenças
associadas, como cancro urogenital e fibrose (2) A schistosomiase urogenital e a intestinal
são doenças endêmicas em Angola. A OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula que
11.3 milhões de pessoas em Angola estejam em risco de contrair schistosomiase. Contudo
estas estimativas assentam em poucos estudos epidemiológicos e os dados não são reco-
lhidos de forma sistemática (1).
Em Angola os estudos mais recentes incidem principalmente sobre o reconhecimento
e prevalência da infecção de Schistosoma haematobium em várias populações (3, Cardo-
so, 2010, 4, Sousa-Figueiredo et al., 2010) e nas suas repercussões no desenvolvimento
de patologias genito-urinárias (5, Figueiredo et al., 2013, 6, Figueiredo, 2014, 7, Botelho
et al., 2015, 8, Santos et al., 2015, 9, Grácio, 2018). Embora também existam já estudos
antrpológicos sobre a importância dos significados e ações associados à infecção por es-
quistosomas na região do Bengo (10, Maghema, 2010).
No que se refere ao papel que moluscos dulçaquícolas, potenciais hospedeiros inter-
mediários destes parasitas, em Angola, depois do trabalho de Cristopher A.Wright em
1963, Allan et al. (2017) publicaram o estudo mais recente, sobre os moluscos existentes
nas regiões do Bengo, Cuanza Norte e Malange, salientando os responsáveis pela trans-
missão de S. haematobium como sendo Bulinus globosus.
Relativamente às infecções animais os estudos mais recentes tratam essencialmente
dos prezuízos económicos devido às infecções por Fasciola spp. (11, Noel et al., 2013),
não existem estudos epidemiológicos sobre os moluscos hospedeiros intermediários des-
te tramatódeo, que também pode infectar o homem.
Resultados
Apresentamos os resultados preliminares de uma pesquisa cujas as colheitas foram
realizadas entre o período de 2015 e 2016 entre os meses de Maio a Setembro em 4 mu-
nicípios da província do Uíge sendo estes Songo, Ambuíla, Uíge, Quitexe e Negage.
Foram visitados 52 biótipos. As caraterísticas físicas e demostra que a temperatura da
água varia entre 19ºC e 23ºC e o Ph entre 3,5 e 9.1 (tabela 1), foram observados presen-
ça de plantas em cerca e 70% dos lacais visitados. A vegetação mais prevalente observa-
da em todos os 52 locais foi capim (57%), plantas macrófitas (52%), nenúfares (37%),
juncos (35%) e jacintos de água (13%) essencialmente em cursos de água da periferia da
cidade do Uíge. Foram observados nas correntes de Água do município do Uíge como
Candombe, Piscina uma grande quantidade de plástico, latas e outros poluentes como
ilustra figura 2
Foram colectados um total de 823 espécimes incluindo os três gêneros mais importan-
tes Biomphalaria, Bullinus, Lymnea e outras menos conhecidas mais nem por isso em
menor quantidade, como distribuído na tabela 1.
A) Brotia B) Melanoides
G) Biomphalaria
Eliminação de larvas
Das espécies de caracóis colheitas depois da exposição a luz poucas eliminaram cer-
carias tendo encontrado apenas 10 caracóis que eliminaram larvas. As larvas eliminadas
possuíam bastante vitalidade depois de mortas fazendo recurso a literatura espécie dispo-
nível a classificamos como xifidiocercaria. A cercaria e alongada ovalada incolor e espi-
nhosa, o otario oral é circular e seu estilete é inserido no tecto do otario oral, a pré faringe
é muito curto, o genital primordial é globular a cauda é esbelta.
Conclusões
Os resultados preliminares do presente trabalho indicam a presença de caracóis em
todos os municípios e locais visitados. Na província do Uíge ao contrário de estudos rea-
lizados e reportados por outros autores foram encontrados caracóis em zonas urbanas e
periféricas da cidade do Uíge onde os rios e riachos apresentam-se bastante contaminados
de matérias inertes como plásticos, latas material lodoso em abundância e sugere que os
padrões de transmissão estão intimamente relacionados à abundância e distribuição espa-
cial de caracóis vectores.
Foram encontradas outras espécies de caracóis os do gênero Brotia, Melanoides, e do
gênero Thiara não reportados pelo estudo recente de Fiona et all 2017
Podemos notar que maioria dos caracóis não expeliam larvas, mas alguns essencial-
mente proveniente do município do Songo e Ambuíla expeliram cercarias.
Os locais com maior população de caracóis em termos de abundancia foi o município
do Songo seguido do município de Ambuíla.
Bibliografia
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3. Cardoso, S. (2010) – Schistosomose urinária e helmintoses intestinais: contribuição para o estudo clíni-
co-epidemiológico e da resposta imune humoral na comunidade angolana. Província do Bengo (Ibéndua, Sun-
gue e Úlua). Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Biomédicas, especialidade
de Biologia Molecular em Medicina Tropical e Internacional, 171 pp. (http://run.unl.pt/bitstream/10362/4076/3/
Tese MSc_SheilaCardoso.pdf)
4Sousa-Figueiredo, J. C., Gamboa D., Pedro, J. M., Fanc, C., Langa, A. J., Magalhães; R., J. Russell Sto-
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5. Figueiredo J, Richter J, Belo S, Grácio MA (2013) Urogenital Schistosomiasis Presenting Genital and
Urinary Tract Lesions and Abdominal Discomfort in a Steril Angolan Woman. J Genit Syst Disor 2:3.
doi:10.4172/2325-9728.1000115
1. INTRODUÇÃO
A malária representa um grande problema de saúde pública nas regiões tropicais e
subtropicais devido ao seu endemismo nestas zonas, favorecido pela abundância de
precipitação, altas temperaturas e grande quantidade de águas estagnadas. Constitui uma
das principais causas de morte na África subsaariana e, particularmente, em Angola
(UNICEF, 2008).
A doença é um importante problema de saúde pública e a principal causa de morbi-
lidade e mortalidade em Angola (Gosoniu et al., 2010). Em 2004, foram notificados
3,2 milhões de casos de malária, dois terços dos quais ocorreram em crianças com menos
de 5 anos de idade (Rowe et al. 2009; UNICEF, 2008).
O Huambo tem sentido as consequências desta doença e o governo local tem imple-
mentado programas de prevenção e combate.
Os factores ambientais relacionados com o NDVI têm sido considerados na determi-
nação da taxa de ocorrência de malária quer nas populações residentes nestas zonas como
entre viajantes não imunes (Haddawy et al., 2018).
Devido a natureza e ecologia do mosquito Anopheles1 (sobretudo a fêmea – vector
transmissor do causador da malária, Plasmodium falciparum), o clima tem uma forte in-
fluência sobre a sua capacidade de sobreviver, por isso, a temperatura, humidade, preci-
pitação, elevação, vegetação e águas residuais são importantes determinantes da trans-
missão da malária. Vários estudos mostraram a associação entre factores ambientais e
ocorrência de malária em populações autóctones (UNICEF, 2008; Haddawy et al., 2018).
Pelo facto de os métodos entomológicos serem muito difíceis de implementar, indicado-
res baseados em tecnologia de detecção remota têm sido utilizados como variáveis subs-
titutas para avaliar a densidade dos mosquitos. Entre esses indicadores utilizados em apli-
1. O anofeles, melga, mosquito-prego ou simplesmente mosquito, é um género de mosquito com ampla dis-
tribuição mundial, presente nas regiões tropicais e subtropicais, incluindo Portugal, Brasil, China, Índia e Áfri-
ca. É o agente transmissor da malária e, em alguns casos, da filariose.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
O estudo foi realizado no Município capital da Província do Huambo que leva o mes-
mo nome (Fig. 1), área que apresenta um clima alternante húmido e seco por influência
da altitude (acima de 1774 m), a temperatura mínima é de 7ºC e a máxima de 30ºC, mar-
cada por duas estações com temperaturas médias anuais de cerca de 19ºC (Diebel et al.,
2019; Nhamba, 2016); possuindo assim um clima Tropical de Altitude (Cwb) ou Clima
Oceânico (Cwb), caracterizado por época chuvosa e quente com noites amenas e dias
relativamente quentes e época seca e fria (cacimbo) com dias amenos e noites relativa-
mente frias (Quissindo et al., 2016; Diebel et al., 2019).
A município do Huambo (designada por Nova Lisboa entre 1928 e 1975), ocupa uma
área de 2 609 km² e tem cerca de 1 204 000 habitantes (Ceita, 2014). É limitada a Norte
pelo município do Bailundo, a Este pelo município de Chicala-Choloanga, a Sul pelo
2.3. Metodologia
Índice de Vegetação de Diferença Normalizada
O NDVI (da sigla inglesa Normalized Difference Vegetation Index) obtido a partir do
IRI / LDEO foi calculado conforme proposto por Jensen (1996):
Figura 2 – Mapas temático (a) de precipitação média anual, (b) de cotas de altitudes,
(c) do município do Huambo
Este mapa mostra o número de meses favoráveis para a transmissão da malária, com
base nas médias da precipitação. De acordo com Harrison Arroz (2016), esta condição é
definida como a coincidência de: valores de precipitação superiores a 800 mm, tempera-
tura média entre 18C e 32ºC e HR maior que 60%.
De acordo com a análise espacial feita, o período mais crítico (com condições favorá-
veis para o vector da malária), é o compreendido entre meados de Fevereiro e finais de
Março, por haver uma boa combinação entre a presença de vegetação fotossintéticamente
activa e elevada precipitação.
Alguns estudos realizados na África Austral mostraram que existem dois períodos
com maior percentual de ocorrência de condições climáticas adequadas para transmissão
de malária para esta zona, que são: final de Janeiro a final de Abril e princípio de Outubro
a final de Novembro (Grover-Kopec et al., 2006; World Health Organization & Unicef,
2003; Harrison Arroz, 2016).
Segundo Grover-Kopec et al. (2006), a temperatura, precipitação e HR são factores
que determinam a abundância e a taxa de ciclo de alimentação dos mosquitos Anopheles
que transmitem a malária. A temperatura também impulsiona a taxa de desenvolvimento
do parasita Plasmodium no interior do vector. O valor combinado das condições climáti-
cas favoráveis é uma indicação do limite inferior para potencial transmissão da malária.
Relatos sobre maior ocorrência da malária na estação chuvosa em relação à seca fo-
ram feitos por Chanda et al. (2012) e OMS (2012), que concluíram num de seus estudos
que na Zâmbia, a malária é endémica, com pico de transmissão sazonal entre Dezembro
e Maio e coincidindo com a estação chuvosa e húmida. Já a ADPP (2006), afirma que em
Angola há um aumento de transmissão durante a estação das chuvas, com um pico entre
os meses de Janeiro e Maio.
Os dados cedidos pelo Departamento de Estatística do Hospital Regional do Huambo
relativamente ao período de Janeiro de 2017 a Março de 2019 mostraram a mesma ten-
dência (Fig. 5). Os meses que registaram maior número de casos da doença foram: Abril
com 7608 casos em 2017 e 2516 em 2018, Maio com 7305 em 2017 e 1894 em 2018 e
Março com 3747 em 2017 e 3938 em 2018. Já os meses de Julho, Agosto e Setembro
registaram o menor número de casos de malária. De um modo geral, o ano de 2017 foi
mais severo no número de casos de malária do que o de 2018, sobretudo nos meses críti-
cos de Abril e Maio.
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
As conclusões do presente estudo são:
– É notável a presença de vegetação (cultivos agrícolas) ao longo do ano nas zonas
suburbanas e urbanas do Município do Huambo;
– O período compreendido entre meados de Fevereiro e finais de Março, do ponto de
vista climático e de presença de vegetação, é o mais crítico para a ocorrência da
malária;
– Entre as principais causas da maior ocorrência da malária na “zona alvo” por nós
referenciada citam-se a existência de águas paradas, focos de lixo e concentração de
vegetação (cultivos agrícolas) em zonas habitadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADPP – Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo. (2006). Educação para Prevenção da Malária/
Paludismo: Ministério da Saúde, Programa Nacional de Controlo da Malária.
INTRODUÇÃO
A história das universidades acompanha a evolução das sociedades e reflete todas as
transformações que esta sofre, estando sempre a montante das transformações, através da
produção, da multiplicação e da transferência de conhecimento e de tecnologias.
A primeira revolução industrial, a geração 1.0., na sequência da invenção da máquina
a vapor e da energia hidráulica, contribuiu para a transformação dos transportes e para o
início da mecanização de muitos processos de produção nas fábricas, mas também levou
ao aumento da produtividade. Teve repercussões no sistema de ensino porque criou novos
desafios ligados à aposta na invenção e na inovação e, claro, com efeitos nas metodolo-
gias de ensino.
A segunda revolução, a geração 2.0, na sequência da descoberta da eletricidade e da
criação da primeira correia transportadora e da linha de montagem nos processos de produ-
ção, transformou radicalmente as sociedades e os modos de vida, sobretudo com a melhoria
da mobilidade e do conforto nas deslocações, como consequência da massificação da pro-
dução de automóveis. Este processo revolucionou a logística multiplicando as economias
de escala e o lucro nas transações comerciais, com efeitos absolutamente transversais em
toda a sociedade. As repercussões no sistema de ensino foram inevitáveis, com realce para
a transformação das condições físicas e materiais de suporte ao ensino e à aprendizagem.
Mas o mundo acelerou verdadeiramente, e os fenómenos tornaram-se efémeros, foi com
a entrada na Era da computação e da automação, conhecida como geração 3.0, que relativi-
zou o tempo, o espaço e os custos, de forma transversal e impactante. O mundo globalizou-
-se, determinadas culturas tornaram-se hegemónicas e o planeta homogeneizou-se.
O deslumbre está a acontecer agora, pois estamos a viver a era da internet das coisas
e da computação nas nuvens, a famosa geração 4.0. Os dispositivos móveis deixam de ser
tão importantes pois o armazenamento e o acesso à informação estão a distância de um
click e conservados na nuvem. Isso tem significado um desafio para as universidades por-
que os estudantes conseguem aceder muito rapidamente à informação de qualidade e o
papel do professor também deve ser repensado para que continue a ser relevante para o
estudante e para o sistema de ensino universitário.
A quantidade de informação disponível na núvem é tal, que a capacidade do ser huma-
no de processar e potenciar a informação, transformando-a em conhecimento e tecnologia
torna-se obsoleta e demanda outros mecanismos, felizmente ao alcance da inteligência
humana e que se traduz na inteligência artificial. Os robôs estão a transformar-se em ver-
dadeiros substitutos do homem, com vantagens competitivas e comparativas enormes
para o crescimento económico. A geração 5.0 não é uma utopia, já é uma realidade.
Figura 1 – Ciclo virtuoso dos efeitos transversais e retroativos do Ensino Superior no crescimento económico
e no desenvolvimento sustentável
Adaptado de: (Nascimento, 2017; Nascimento, 2017)
i) O modelo de organização
Existe uma grande diversidade de modelos de organização das universidades a nível
mundial, mas algumas das suas características são comuns e são identitárias do seu esta-
tuto. Todas elas têm órgãos de governo típicos, como: a) o Conselho Geral (cuja denomi-
nação varia de país para país, mas que tem mais ou menos a mesma função e a represen-
tação de todas as classes constituintes da comunidade académica); b) o Reitor/Chanceler/
Presidente da universidade; c) os decanos ou diretores de Faculdades, Escolas, Institutos
e Departamentos.
O provimento dos órgãos de governo também varia em função dos países e pode ser
por nomeação pelo Governo ou por eleição pela comunidade académica, havendo ainda
variações e especificidades no formato do processo de nomeação ou de eleição.
Todas as universidades têm os 3 pilares comuns e transversais de desenvolvimento da
sua missão, que são o ensino, a investigação e a transferência de conhecimento e tecnolo-
gia ou extensão universitária.
As universidades podem estar organizadas: a) em sistemas universitários, como é o
caso das universidades americanas, que configuram uma federação de diferentes institui-
ções com maior ou menor autonomia em relação a um órgão central comum, de adminis-
tração global. Normalmente têm uma única denominação do sistema, só que cada uma
das instituições integrantes, para além da designação do sistema, ainda tem um acréscimo
de designação particular. Existem sistemas universitários que possuem órgão de gestão de
topo totalmente independentes; b) em múltiplos campi (campus) e/ou polos. Esta organi-
zação não permite o nível de autonomia das instituições integrantes dos sistemas univer-
sitários. Os campi são dependentes de uma administração central e não se trata de uma
Figura 2 – Modelo de visão universitária, com equilíbrio entre a relevância interna e a externa
• O Estado
Nesse quadro, sem prejuízo para especificidades inerentes aos diferentes contextos, o
Estado exerce essencialmente um papel triplo: a) como entidade de tutela/superinten-
dência do Ensino superior – responsável por definir os eixos prioritários de desenvolvi-
mento e as políticas nacionais para o setor. O Estado constrói todo o sistema regulamentar
e legal e assume as despesas inerentes à sua implementação. Exerce igualmente a superin-
tendência das instituições públicas e a tutela global do setor; b) como entidade instituido-
ra das instituições públicas de ensino superior – como forma de garantir o serviço públi-
co, o acesso, a equidade e a inclusão, o Estado cria instituições públicas de ensino superior,
que, ao abrigo da responsabilidade inerente ao seu papel de entidade instituidora, praticam
propinas uniformes para todos os cursos e abaixo do custo real, de modo a salvaguardar a
abertura de oportunidades para que todos os que aspiram ingressar o Ensino Superior e te-
nham capacidade e vocação para determinados cursos onerosos, mas estratégicos para o
Se cada um dos atores identificados cumprir cabalmente com o seu papel, as IES terão
asseguradas as condições para um funcionamento harmonioso e poderão cumprir cabal-
mente com a sua tripla missão de ensinar/formar/capacitar, de investigar e de transferir
conhecimento e tecnologia para o Estado, para a sociedade civil e para as empresas.
Mas a Universidade pública não deve negligenciar a relevância interna, que tem a ver
com a essência da sua missão, de desenvolver competências em áreas importantes para a
formação integral e integrada, incluindo valores cívicos e sociais do ser humano, preparan-
do-o enquanto cidadão, mas igualmente enquanto Ser social. Os estudantes universitários
devem ser capacitados para desempenhar todos os papeis na sociedade. A Universidade
deve igualmente formar quadros que possam transmitir conhecimentos transversais e uni-
versalistas a todos os estudantes das diferentes áreas científicas e disciplinares, como com-
plemento ao seu perfil académico na especialidade escolhida. Para tal, as universidades
devem implementar estratégias para preservar as áreas disciplinares que estão inscritas no
seu ADN, tornado os programas mais relevantes, com um ajustamento e modernização das
metodologias e das ferramentas, mas continuando a cumprir com a sua missão de construir
competências sociais e cívicas, de modelar a personalidade dos cidadãos, definindo o Ser
e o Estar em sociedade, contribuindo assim para a estabilidade e para a paz mundiais.
A estratégia da aposta na formação a distância é indiscutivelmente uma opção viável
para contornar os constrangimentos ligados à estrutura demográfica e geográfica de deter-
minados países. Os países nórdicos, por exemplo, desenvolveram-se rapidamente e reu-
niram condições que lhes permitem oferecer um ensino superior de excelente qualidade,
mas vêm-se a braços com o envelhecimento da sua população e com a escassez de estu-
dantes. Por outro lado, alguns países da América do Sul e Central e de África, se encon-
tram em um estádio de desenvolvimento do ensino superior e universitário ainda inci-
piente e que não consegue responder às demandas de uma população muito jovem. A
cooperação internacional surge como uma excelente via para a procura do equilíbrio ne-
cessário a nível mundial, colocando as vantagens comparativas e competitivas dos dife-
rentes países em articulação, em prol da construção de um sistema global de ensino uni-
versitário. O uso das Tecnologias de Ensino a distância provoca a relativização do tempo,
do espaço e dos custos promovendo benefícios e ganhos significativos a todas as nações,
com um ensino de qualidade elevada e acessível. A viabilização destes projetos poderia
ser feita de 3 formas: a) Presencial – através de programas conjuntos no âmbito dos 3
pilares tradicionais da missão universitária (Ensino, Investigação e Extensão). Envolveria
uma aposta muito grande em programas académicos de mobilidade internacional e em
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos a presente comunicação com algumas considerações finais, retomando os
tópicos propostos para o debate:
Existe uma crise dos modelos universitários clássicos ao passar do industrialismo
para a era da informação? Qual é o propósito da universidade do futuro e qual será o
modelo de negócios das universidades?
Da reflexão efetuada, concluímos que os modelos clássicos não estão em crise, mas
que as universidades estão a atravessar por mais um momento de transição para um novo
paradigma dominado pela inteligência artificial, que demanda delas alguns reajustes ao
modelo, nomeadamente:
a) Que repensem as suas estratégias de gestão científica, pedagógica e administrati-
va e os princípios e valores que as suportam, redefinindo e reajustando o modelo e
a visão estratégica, com equilíbrio entre a relevância interna e a externa. Concreta-
mente, as instituições devem definir novas ofertas formativas, novos programas
adaptados às novas exigências do perfil dos profissionais do futuro, em áreas e com
competências específicas e relevantes para a nova era da inteligência artificial, sem
descurar a sua missão clássica e que as identifica como universidades.
b) Que levem em consideração a importância vital da garantia da autonomia das
universidades públicas e que definam um modelo de negócio e de financiamento
que seja realmente sólido e permita à Universidade tornar-se resiliente e robusta.
Este modelo deve permitir à Universidade, cumprir com a sua missão com pereni-
dade, excelência, isenção, rigor e objetividade, nos 3 pilares clássicos, o Ensino, a
investigação e a transferência de conhecimentos e tecnologia.
c) Que definam um modelo de negócio e de financiamento que seja realmente compar-
ticipado pelo Estado, pelas famílias e pelo setor empregador, de forma proporcional.
d) Que tenham estratégias de preservação da sua identidade, como universidade.
e) Que beneficiem de um suporte efetivo da entidade instituidora, no quadro da estra-
tégia nacional de ensino superior, devendo as universidades reivindicar que o seu
orçamento seja objeto de um pacto nacional, como um assunto de Estado, a par da
saúde, da segurança e da defesa nacionais.
DOCUMENTOS CONSULTADOS
Araújo, F. (2019). O Índice da Felicidade Interna Bruta. Obtido em 12 de maio de 2019, de https://www.
infoesco/la.com/sociedade/felicidade-interna-bruta-fib.
Nascimento, J. (2017). Qualidade e relevância do Ensino Supeior. Praia: Ministério da Educação.
Reitoria. (2017). Subsídios para a construção de um modelo de financiamento do Ensino Superior em Cabo
Verde. Praia: Universidade de Cabo Verde.
Rita Falcão
Gabinete de Desenvolvimento Internacional, Universidade NOVA de Lisboa, Portugal; E-mail: [email protected]
Anifa Assane
Universidade de Lúrio, Moçambique; E-mail: [email protected]
Lóide Chivinda
Universidade Katyavala Bwila, Angola; E-mail: [email protected]
Marta Mendonça
Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique; E-mail: [email protected]
Sabino do Nascimento
Universidade Agostinho Neto, Angola; E-mail: [email protected]
Athanasia Panoutsou
European Foundation for Management Development (EFMD), Belgium; E-mail: [email protected]
1. Introdução
O Projeto Universidade Desenvolvimento e Inovação – África (UDI-África) foi finan-
ciado pela União Europeia (UE) em 2017, em resposta a um concurso do Programa Eras-
mus+ para o reforço das capacidades no domínio do ensino superior. O UDI-África inclui
quatro universidades de Angola e Moçambique, universidades da Bélgica, Holanda, Por-
tugal e Reino Unido, além da Fundação Europeia para o Desenvolvimento da Gestão
(EFMD), numa parceria coordenada pela Universidade NOVA de Lisboa (NOVA). O
projeto visa melhorar a qualidade do ensino nas instituições africanas, facilitando respos-
ta mais eficaz aos desafios socioeconómicos locais. A estratégia UDI-África enquadra-se
no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da
Organização das Nações Unidas (ONU) (United Nations, 2019).
Este artigo visa apresentar o projeto UDI-África, os seus principais objetivos, atores e
progressos. Apresentamos também uma análise crítica do impacto local e social do proje-
to na primeira metade da sua implementação. No que se segue, a introdução descreve os
propósitos gerais do desenvolvimento sustentável, explicando como este projeto aborda
alguns dos ODS, e os implementa no contexto da relação entre as instituições Europeias
e Africanas.
1.2.1. Angola
De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento (2019), a fim de acelerar os
esforços de redução da pobreza, as autoridades angolanas desenvolveram uma nova visão
para o país para 2011–2015 com os seguintes objetivos:
“1) Promoção e aceleração do crescimento e competitividade através da diversifica-
ção económica; 2) Redução da pobreza através do desenvolvimento de capital humano e
intervenções direcionadas, especificamente através da criação de emprego no setor priva-
do; 3) Crescimento equilibrado e desenvolvimento harmonizado em paralelo com a pro-
teção dos recursos naturais; 4) Eficiência e prestação de contas na gestão de políticas
públicas, com ênfase no fortalecimento institucional e no desenvolvimento da capacidade
humana (African Development Bank, 2019).”
Na cidade de Luanda, modernos arranha-céus entopem o centro da cidade, cercados
por musseques, onde vive 70% da população. Na província de Luanda (26% da popula-
ção) coexistem as áreas rurais e o maior parque industrial nacional. A Província de Ben-
guela (8,4% da população) tem as suas principais atividades no setor agrícola, juntamen-
te com a extração de minério e indústria metalúrgica.
1.2.2. Moçambique
O Governo de Moçambique tem um foco na promoção do crescimento inclusivo para
a estratégia de redução da pobreza. A estratégia tem dois temas abrangentes de estabilida-
3. Impacto esperado
O UDI-África trouxe as seguintes mudanças no que diz respeito à operação dos par-
ceiros africanos a nível institucional, nacional e internacional:
1. Os parceiros africanos contam agora com uma equipa de Champions (docente e
não-docente) que estão a mudar de forma estável e estratégica as suas instituições,
através da transferência e disseminação do conhecimento que receberam na Europa.
2. Uma ligação institucional ativa e sólida está a ser desenvolvida para promover o
desenvolvimento sustentável e inclusivo em Angola e Moçambique, em particular
nas regiões onde as Universidades Parceiras estão implantadas.
3.2. Individual
3.2.1. Champions:
O projeto formou os parceiros para desenvolverem e gerirem projetos com impacto
local em diferentes setores. Dois inquéritos dirigidos aos Champions apresentaram resul-
tados muito positivos em ambas as avaliações (EFMD, 2018).
Após a sua formação na Europa e depois de regressarem às suas tarefas profissionais
diárias, os Champions reconheceram os benefícios para o ensino, investigação e gestão
3.2.2. Juniors:
Após o ICP, os Champions selecionaram e começaram a treinar jovens colegas (Juniors)
para se envolverem no UDI-África. Um inquérito recente dirigido aos Juniors confirmou a
relevância e aplicabilidade do novo conhecimento ao seu contexto e área científica. Igual-
mente importante, eles reconheceram a influência do projeto para ajudá-los a entender o
conceito de empreendedorismo social, como usar o novo conhecimento para desenvolver
projetos relacionados e como envolver partes interessadas relevantes. (EFMD, 2019a). Os
Juniors participaram na 1ª Conferência Internacional em Luanda, onde foram promovidos a
Champions II. Eles participarão também na 2ª Conferência Internacional em Maputo.
Além da participação ativa no projeto, seja recebendo ou dando formação, um dos
impactos identificados inerentes à rede UDI-África foram alguns Champions que recen-
temente iniciaram doutoramentos e investigação colaborativa fora das suas instituições e
países, principalmente nalgumas universidades portuguesas. Isto aumentará o número de
doutoramentos nas universidades africanas, o que ainda é bastante limitado, contribuindo
fortemente para o aumento da qualidade do Ensino Superior.
3.3. Institucional
As Universidades Africanas já estabeleceram os CADIs para coordenar uma série de
atividades que têm uma perspetiva de impacto social e económico nas comunidades lo-
cais. No geral, os relatórios dos resultados dos CADIs (EFMD, 2019a) forneceram indi-
cadores importantes sobre o impacto que o projeto está a ter localmente. Um canal de
comunicação entre os CADIs e as comunidades locais foi estabelecido e informa os
CADIs sobre prioridades, a natureza dos eventos a serem organizados, bem como os pro-
jetos que se espera venham a desenvolver. Além disso, esses eventos têm um propósito
educativo e fornecem formação sobre questões de empreendedorismo social. Dessa for-
ma, tornam-se parte do processo de geração e disseminação de conhecimento que come-
çou na Europa com o ICP e os Champions, depois os Juniors e agora os estudantes e a
comunidade. Muitos dos indicadores de qualidade estabelecidos para o projeto são inspi-
rados pelo BSIS, a estrutura do EFMD para a avaliação e medição do impacto das insti-
tuições de ensino superior. Uma visão geral do progresso do projeto, em relação aos indi-
3.4. Social
Os CADIs vão promovera inovação social e a abordagem do empreendedorismo, aproxi-
mando a universidade da sociedade. Isso acontece através da interação com a comunidade
local numa série de seminários e ações de formação. Estas atividades têm um duplo propósi-
to, educativo e promocional. Mais de 10 eventos foram organizados desde novembro de
2018 para informar a comunidade sobre o papel dos CADIs e para treinar professores e atores
da comunidade local sobre questões de empreendedorismo social. Os seus exemplos mos-
tram que as atividades envolvem as comunidades ao redor das universidades e, em alguns
casos, atingem os decisores políticos de alto nível. Sem dúvida, oferecem espaço para troca
de conhecimento e beneficiam o desenvolvimento do curso e dos projetos de empreendedo-
rismo social. Em Maputo e Luanda, o Projeto Nguzu-CPLP, que está a organizar Bootcamps
de Inovação nas regiões, estará a cooperar com o projeto tendo em vista os próximos Cursos.
Em Moçambique, está em andamento uma colaboração com a Ideialab (EFMD, 2019a).
Estas partes interessadas estarão envolvidas no planeamento e avaliação dos cursos de
Inovação e Empreendedorismo Social que estão a ser desenvolvidos durante 2019 em to-
das as instituições parceiras africanas para os seus alunos. Espera-se que esses cursos de-
sempenhem um papel impactante, ajudando os alunos a ligarem-se à atividade económica
e aos processos sociais locais de forma a criar novas cadeias de valor ou ajudar a melhorar
as existentes, sempre com preocupação em inclusão, desenvolvimento sustentável e me-
lhoria social. Os alunos terão um forte apoio institucional para desempenhar esse papel. O
UDI-África financiará os alunos com os melhores projetos de empreendedorismo social
para apresentarem sua ideia na Conferência Internacional Final em Bruxelas em 2020.
4. Conclusões
Este artigo apresenta resultados preliminares de um projeto ainda em curso. Conscien-
tes dos desafios em envolver os parceiros do Norte e do Sul na gestão e implementação
de projetos, fizemos um esforço para criar canais e procedimentos de comunicação com
Agradecimentos
Este trabalho resulta da implementação do Projeto UDI-Africa Referência No:586047-
EPP-1-2017-1-PT-EPPKA2-CBHE-JP cofinanciado pelo Programa Erasmus+ da União
Europeia. Gostaríamos de agradecer a todos os Departamentos/Faculdades envolvidos na
organização do ICP das Instituições Europeias: King’s College London, Maastricht Uni-
versity, Université Libre de Bruxelles, NOVA (Escola Doutoral, IHMT, SBE; NOVAfri-
ca), e aos Parceiros Associados: Instituto de Empreendedorismo Social, rede ÚNICA e
GirlMove. Deixamos também um reconhecimento a todas as equipas reitorais das Uni-
versidades Africanas envolvidas no projeto pelo seu empenho e apoio permanente. Para a
realização da 1ª Conferência Internacional em Luanda foi imprescindível o apoio do Mi-
nistério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação de Angola, pelo que gostarí-
amos também de agradecer à Senhora Ministra Maria do Rosário Sambo que esteve en-
volvida no UDI-África desde a sua génese. Por fim expressamos a nossa gratidão a todos
os envolvidos direta ou indiretamente no Projeto UDI-Africa.
Referências
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aaionline.org/wp-content/uploads/2015/09/AAI-SOE-report-2015-final.pdf
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1019-1051. Obtido de http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221844645N4pCJ4py0Bk40IF4.pdf
Andreia Vieira
Diretoria de Cooperação Internacional, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil;
E-mail: [email protected]
1. Introdução
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi criada, no então Distrito
Federal, por decreto datado de 04 de dezembro de 1950, cujo teor a define como herdeira
da primeira Universidade do Distrito Federal. Desde sua criação vem se consolidando, no
cenário acadêmico nacional e internacional, tendo sua história e importância reafirmadas
pela consolidação do ensino, da pesquisa e da extensão, de alta qualidade. Desde sua
fundação, a UERJ destaca-se por seu pioneirismo: foi a primeira universidade pública do
Brasil a oferecer o ensino superior noturno, permitindo a qualificação de estudantes tra-
balhadores; foi a segunda instituição universitária a possuir um hospital de clínicas volta-
do para o ensino; é a Universidade brasileira com maior número de projetos de interação
com a sociedade (extensão universitária); foi a primeira a implantar o sistema de cotas,
com importantes programas de inserção acadêmica dos alunos ingressantes por reserva de
vagas, até hoje referências no país; destacou-se na implantação de programas de qualifi-
cação docente da rede pública do estado; foi inovadora no estímulo à produção acadêmi-
ca (Programa Prociência), responsável pela formação, em seis décadas, de recursos hu-
manos qualificados para o Estado do Rio de Janeiro e para o país.
Com suas atribuições ampliadas para todo o Estado do Rio, a UERJ definiu sua voca-
ção para a interiorização, incorporando instituições educacionais e científicas do antigo
Estado do Rio de Janeiro (Duque de Caxias, São Gonçalo, Nova Friburgo) e ampliando
suas ações para Angra dos Reis (Ilha Grande), Resende, Teresópolis e Petrópolis.
Por ser mantida pelo Estado, a UERJ é diretamente dependente da situação eco-
nômica e dos recursos gerados pelo nível de desenvolvimento do Estado do Rio de
Janeiro, o que implica – mais do que as demais instituições de ensino superior sediadas
no Rio – que ela tenha como vocação principal o desenvolvimento científico cultu-
ral, assim contribuindo para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Sua mis-
são estratégica, dessa forma, é atuar, de maneira decisiva, como uma agência de desen-
2. O Sistema de Cotas
2.1 Histórico
Em 2000, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) aprovou
uma lei que introduziu modificações nos critérios de acesso às universidades estaduais
fluminenses e reservou 50% das vagas para estudantes egressos de escolas públicas. A Lei
nº 3524, de 28 de dezembro de 2000, destinava a cota de 50% das vagas das universidades
públicas estaduais do Estado do Rio de Janeiro: UERJ e UENF, para estudantes que tives-
sem cursado integralmente os ensinos fundamental e médio em instituições da rede públi-
ca dos Municípios ou do Estado do Rio de Janeiro.
Em 9 de novembro de 2001, a Lei nº 3.708, regulamentada pelo Decreto nº 30.766, de
04 de março de 2002, determinou a reserva de 40% das vagas para os cursos de ensino
superior de ambas Universidades estaduais, para estudantes autodeclarados negros e par-
dos e a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou o projeto do Depu-
tado José Amorim (PPB), que declarou que a cota de 40% foi estabelecida com base na
representatividade de negros e pardos na população fluminense. Juntas, as etnias soma-
vam, em 1999, 38,2% dos habitantes do Estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE).
Em 4 de setembro de 2003, a Lei nº 4.151 foi promulgada, incluindo o conceito de
“carentes”. A questão social passou a também ser considerada, exigindo, como pré-con-
dição para a entrada nesta universidade através do sistema de cotas, a real comprovação
da condição de carência socioeconômica dos candidatos. Foi estabelecida a reserva de
45% do total das vagas oferecidas, distribuídos pelos seguintes grupos de cota: 20% para
estudantes oriundos da rede pública de ensino, 20% para negros e 5% para pessoas com
deficiência e integrantes de minorias étnicas. A UERJ definiu como minorias étnicas os
indígenas nascidos no Brasil.
A Lei nº 5074, de 17 de julho de 2007, foi publicada incluindo, no último grupo de
cotas, os filhos de policiais civis, militares, bombeiros militares e de inspetores de segu-
rança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço.
Atualmente a legislação está balizada pela Lei nº 8121, de 27 de setembro de 2018,
que prorroga a reserva, por mais 10 anos, para as Universidades públicas estaduais, com
a inclusão de quilombolas e estabelece os percentuais em 20% das vagas reservadas a
negros, indígenas e alunos oriundos de comunidades quilombolas, 20% das vagas reser-
vadas aos alunos oriundos de ensino médio da rede pública, seja municipal, estadual ou
federal e 5% das vagas reservadas aos estudantes com deficiência, e filhos de policiais
civis e militares, bombeiros militares e inspetores de segurança e administração peniten-
ciária, mortos ou incapacitados em razão de serviço.
Até o ano de 2000, o ingresso de estudantes de baixa renda, oriundos de escolas pú-
blicas, nas Universidades era reduzido. Soma-se a essa questão social, a questão racial, e
sobre esse aspecto as primeiras iniciativas de implantação de programas de ação afirma-
tiva no Brasil, como ferramentas de combate ao racismo e à desigualdade racial foram
iniciadas em meados da década de 1990.
3. Conclusão
Com o destacado pioneirismo na adoção do sistema de cotas dentre as IES, estaduais
e federais, a UERJ – universidade socialmente referenciada – reafirma seu compromisso
de ser uma Universidade pública, inclusiva, democrática e plural, cujo espaço é mantido
com os recursos da sociedade, providos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e com
a primordial missão de produzir conhecimento, pesquisa e extensão, promovendo e efeti-
vando transformações relevantes para a sociedade, contribuindo, de forma efetiva, para a
redução das desigualdades.
Segundo Octávio Ianni “a sociedade é desigual e não é democrática”. Portanto, é im-
portante e imprescindível atuar para transformar as estruturas que produzem a necessida-
de de implantação de políticas públicas de ações afirmativas, conquistando-se, por fim, a
redução das desigualdades sociais em nosso país.
Nessa perspectiva a Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ defenderá,
firmemente, a política de cotas, pelos resultados e sucesso obtidos, visando contribuir
para a redução do preconceito racial, social e de classe.
Referências
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universidades estaduais (2015)”. Levantamento das políticas de ação afirmativa (GEMAA), IESP-UERJ, pp.
1-24.
Clotilde Palma
Instituto Politécnico de Lisboa
1. Sobre o papel das Finanças Públicas e o caso português veja-se MARQUES, Ana Cristina Lino – “As fi-
nanças públicas e a cidadania e a educação fiscal”, Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal, VIII (2),
Março de 2016.
2. Neste contexto veja-se a obra Políticas de Cidadania e Educação Fiscal na Lusofonia, Coordenação de
Clotilde Celorico Palma, Almedina, Abril de 2019.
3. Da experiência comparada de vinte e oito Administrações Fiscais em colaboração com o EURO social
(Programme Régional de l’ Union européenne pour la cohésion sociale en Amerique Latine), o Institute of
Development Studies (IDS) e o Forum sur Administration Fiscale (FAF), a OCDE lançou uma interessante
publicação em 2015 – Edifier une culture fiscale du civisme et de citoyenneté – Un document de referénce
global de l´’éducation des contribuables.
4. Neste sentido veja-se AAVV, SANTOS, António Carlos dos Santos e LOPES, Cidália, org., Fiscalidade
outros olhares, Vida Económica Editorial, 2013.
5. Cfr. PALMA, Clotilde Celorico e PITA, Mónica – “Para uma Política de Educação e Cidadania Fiscal – Os
casos do Brasil, de Espanha e de Portugal”, em co-autoria com Mónica Pita, Revista de Finanças Públicas e
Direito Fiscal, Ano VIII, n.º2, 2015.
6. Veja-se a este propósito COSTA, Paulo Nogueira da – “Estado, Democracia, Impostos e Cidadania Fiscal”,
Revista de Finanças Públicas e Direito Fiscal, VIII (2), Março de 2016.
7. Todos Ed. OCC, Almedina, Lisboa, 2017.
8. Trata-se, como é sabido, de uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem vinculações políticas
ou religiosas, oficialmente constituída a 4 de Junho de 2002, cujo principal propósito é assegurar de forma
contínua um programa de intervenção dentro dos serviços pediátricos dos hospitais portugueses, através da vi-
sita de palhaços profissionais que trabalham em estreita colaboração com os profissionais de saúde, realizando
actuações adaptadas a cada criança e a cada situação.
9. IDI&CA – Projetos de Investigação, Desenvolvimento e Criação Artística do Politécnico de Lisboa. O
IDI&CA visa a dinamização da Investigação Científica, Desenvolvimento, Inovação e Criação Artística no IPL,
apoiando a realização de projetos propostos pelos docentes e suas equipas.
10. Neste contexto veja-se PALMA, Clotilde Celorico, “As Políticas de Educação e Cidadania Fiscal – o caso
de Portugal e do Projecto de Educação e Cidadania Fiscal”, op. cit..
11. Políticas de Cidadania e Educação Fiscal na Lusofonia, Coordenação de Clotilde Celorico Palma,
op. cit..
3. Conclusões
A internacionalização e a cooperação do ensino são realidades imprescindíveis desde
há muito para assegurar um ensino de qualidade adaptado aos desafios do mundo actual.
No caso da Subárea em Fiscalidade do ISCAL esta realidade tem sido efectivada com
o envolvimento de docentes, discentes e diversos actores a nível nacional e internacional,
cientes que todos estamos que a qualidade do ensino implica inevitavelmente ultrapassar
fronteiras e falarmos todos numa linguagem universal de forma a podermos vencer juntos
os desafios da globalização.
Estamos juntos nesta e em tantas outras tarefas, para podermos falar a uma só voz
desta tarefa essencial da Cidadania e Educação Fiscal.
Sebastião Tumitangua
Professor na Escola Superior Politécnica do Namibe – Angola; E-mail: [email protected]
Introdução
Angola é um país africano em subdesenvolvimento, pós-conflito civil, vivendo uma
época de paz desde 2002. A pesquisa de Ferreira (2005) sobre «justiça e reconciliação
pós-conflito em África» salienta que “após a existência de um conflito violento com con-
sequências sociais desastrosas, as sociedades vêm-se confrontadas com a necessidade de
promover a reconciliação e consolidar a paz, com o objetivo central de prevenir um res-
surgimento da violência.” (p. 10).
Existe uma vasta diversidade cultural em Angola, que foi subvalorizada na época co-
lonial, mas que após a paz nacional se almeja valorizar, conhecer e transmitir como patri-
mónio nacional. A cultura e a educação estão interligadas. Acredita-se que através da
educação escolar se pode contribuir para a manutenção da paz, a prevenção do ressurgi-
mento de guerra ou conflitos internos e o aumento da unidade nacional.
Esta comunicação tem como objetivo mostrar que a diversidade cultural existente no
país, tornada em princípio educativo, pode contribuir para a coesão social angolana. Para
a concretização deste objetivo fez-se uma pesquisa bibliográfica nessa área para o apoio
teórico e legislativo.
Com base no princípio educativo da diversidade cultural, nomeadamente para a cons-
trução da tolerância e respeito pelo «outro», em relação à sua cultura ou seu grupo lin-
guístico, apresentam-se dois exemplos empíricos e realizáveis de como executar esse
princípio na educação formal em Angola: (1) a expansão do ensino das línguas autóctones
nas escolas; e, (2) transformar práticas culturais em conteúdo pedagógico, tendo como
exemplo o uso da planta Ximenia Americana L pelo grupo étnico herero da região sul de
Angola.
1. A Educação
A educação é um fator importante na formação individual. Para Silva (2011) “a edu-
cação escolar, exerce uma função central na experiência formativa dos indivíduos”
[Os Estados-Signatários] concordam […] que a educação deve capacitar todas as pessoas para
participar efectivamente numa sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos e religiosos e promover
as actividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz [itálico adicionado]. (p. 6).
2. A Cultura e a Educação
A importância da cultura na coesão social e na manutenção da paz, em países pós-
-conflito, foi, por exemplo, referida no supramencionado estudo de Ferreira (2005):
No plano teórico, a resolução de conflitos assente no valor da cultura local e das abordagens
tradicionais locais, surgida no início dos anos 90, é actualmente aplicada também à constru-
1. Fonte: https://www.pensador.com/frases_nelson_mandela_inspirar_ser_alguem_melhor/
2. Adoptado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Re-
solução N.º 2200-A (XXI), de 16 de Dezembro de 1966.
Entrada em vigor: 3 de Janeiro de 1976, em conformidade com o artigo 27.
3. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO).
4. Fonte: https://en.unesco.org. Em português “construindo paz na mente dos homens e das mulheres”.
Com base no Artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que pro-
pugna o direito de todos à educação e a Lei de Bases do Sistema de Educação, começou-
-se a reduzir a negação da identidade cultural angolana e a sua paulatina inserção no en-
sino (Silva, E., 2011). Existem vários modos de introduzir a diversidade cultural como
princípio educativo e transformá-los em meios de coesão social, nesta comunicação apre-
sentamos dois: (1) a expansão do ensino das línguas autóctones; e, (2) transformar práti-
cas culturais em conteúdo pedagógico.
7. Quino (2002) clarifica que “a nível de Angola cruzam-se seis línguas, de carácter mais amplo: Umbundu,
Quimbundu, Quikongo, Cokwe, Fiote, Cuanhama” (p. 146).
A Constituição da República (2010), Artigo 19º, refere que “o Estado valoriza e pro-
move o estudo, o ensino e a utilização das demais línguas de Angola”. O alvo está no
Artigo 21º, alínea n) “Proteger, valorizar e dignificar as línguas angolanas de origem
africana, como património cultural, e promover o seu desenvolvimento, como línguas de
identidade nacional e de comunicação” (p. 11). Segundo a Lei 17/16, de 7 de outubro,
Artigo 16º, alínea 2, “o Estado promove e assegura as condições humanas, cientifico-
-técnicas, materiais e financeiras para a expansão e generalização da utilização no ensino
das demais línguas de Angola”. Acredita-se que esse ensino precisa de uma maior expan-
são a nível nacional para melhores resultados na coesão social angolana,
Nota conclusiva
Alberto (2014, p. 75) aponta entre os caminhos para consolidação da nação (angola-
na): “O dever de todos os angolanos é contribuir para a consolidação da nação e salva-
guardar os resultados positivos já conquistados, sobretudo, a paz, a reconciliação e har-
monia nacional, promovendo o desenvolvimento sustentável generalizado. (...) Incentivar
a Educação das novas gerações sobre a importância dos valores culturais, particularmen-
te, a cultura de Paz, reconciliação e Harmonia Nacional. (...) A valorização da cultura de
grupo social e a respectiva divulgação para o bem da nação”.
Acredita-se que através da educação escolar, tendo como princípio educativo a diver-
sidade cultural, se pode contribuir para a manutenção da paz, a prevenção do ressurgi-
mento de guerra ou conflitos internos e o aumento da coesão social angolana.
Referências Bibliográficas
Alberto, P. E. (2014). Angola: Povos e cultura. In Ministério da Cultura. Colóquio sobre identidade cultu-
ral, identidade nacional (comunicações). Realizado em Luanda em agosto de 2008. Luanda: Ministério da Cul-
tura, 9-18.
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UNESCO
Chicumba, M.S. (2013). A educação bilingue em Angola e o lugar das línguas. IV Colóquio Internacional
de Doutorandos/as do CES: Cabo dos Trabalhos.
1. Introdução
Aqui me disseram-me.
5. Possíveis causas de problemas no uso dos clíticos por alguns falantes angolanos
Os vários problemas de colocação do pronome clítico, identificados nos exemplos
apresentados em 4, revelam que a sua origem está relacionada com o insuficiente conhe-
cimento explícito da língua, especificamente da norma padrão do PE, vigente no país.
Nesse caso, Endruschat (1994) afirma que ao estudar a Língua Portuguesa, um não luso-
-falante encontra com um fenómeno sintático inexistente nas outras línguas românicas e
nas de origem bantu: a colocação dos pronomes pessoais átonos, também denominados
clíticos, em relação ao verbo principal. Ao optar por construções que exijam anteposição
ou posposição, o falante tem de considerar não só o tipo de oração e a estrutura sintática
verbal mas também os aspetos semânticos, sendo que, algumas vezes podem-se encontrar
duas construções consideradas corretas. Veja-se o exemplo: Na casa encontram-se pesso-
as./ Na casa se encontram pessoas.
Na verdade, em Português, verbo e pronome clítico formam um complexo sintático e
semântico, servindo de base à cliticização do verbo. Na ênclise, colocação não-marcada,
e na mesóclise, caso especial da ênclise, esta cliticização traduz-se por alternâncias mor-
fo-fonológicas.
Ao aspeto referido associa-se a qualidade do processo de ensino/aprendizagem que,
na nossa opinião, deve ser melhorada em prol do crescimento dos falantes (aprendentes).
Sabendo que a linguagem desempenha um papel fundamental na comunicação e na vei-
culação de aprendizagens (escolares e não escolares), a estimulação linguística é pedra
essencial no crescimento do sujeito. Para além do domínio implícito da língua, as apren-
dizagens escolares, particularmente a competência no emprego e colocação dos prono-
mes clíticos, implicam formas de apreensão do conhecimento que mobilizem um conjun-
to de processos cognitivos conducentes à consciencialização do conhecimento já
implícito e à análise e explicitação de regras, estratégias e técnicas que devem ser objeto
de um ensino sistematizado, rigoroso e cuidado por parte da escola. (Sim-Sim et al.,
1997).
Um aspeto ainda considerável, na base dos problemas relacionados com a colocação
do pronome clítico no discurso (oral e escrito) dos falantes angolanos, é a interferência
linguística quer do PB, por meio do contacto com cidadãos brasileiros que chegam ao
nosso país, de telenovelas, de programas televisivos e de livros em PB, quer das línguas
nacionais faladas no nosso território.
Viti (2012) e outros autores como Mendes (1985), Mingas (2002) e Ançã (1999) de-
fendem a ideia de a interferência linguística ser um aspeto natural e inevitável, na medida
em que se verifica entre os falantes uma tendência crescente para a adaptação de estrutu-
A lista apresentada mostra os verbos reflexos que selecionam um GPrep com a prepo-
sição de e que não dispensam o uso do pronome clítico nas construções em que ocorrem.
Em nenhum destes casos podem os pronomes clíticos reflexos ser parafraseados por a
Dando sequência à referência efetuada no ponto anterior, pode dizer-se que o grupo
preposicional é formado pela preposição “com” e pelo grupo nominal. Vejamos: Encon-
trei-me com a Joana. Nesta frase, são enunciadas as propriedades mais relevantes dos
pronomes clíticos reflexos em Português Europeu. Deste modo, põem-se em evidência
frases com verbos reflexos, seguidos de outros (também reflexos) que são regidos pela
preposição com, interligando-se com os pronomes clíticos reflexos, em conformidade
com o quadro seguinte.
Preposição: com
Aborrecer-se com;
Alarmar-se com;
Alegrar-se com;
Antagonizar-se com/a/em/
por;
Absorver-se com; Chatear-se com;
Admirar-se com; Deleitar-se com;
Atrofiar-se com; Deliciar-se com;
Concentrar-se com/em; Desassossegar-se com;
Debater-se com; Divertir-se com;
Verbos de Enfadar-se com; Enfurecer-se com;
Verbos
abstração/ação Enganar-se com; Enervar-se com;
Emotivos
mental e física Estafar-se com; Ensimesmar-se com;
Fatigar-se com; Entristecer-se com;
Mentalizar-se com/em; Exceder-se com;
Moer-se com; Humilhar-se com/a/em/por;
Preocupar-se com; Indignar-se com;
Prevenir-se com/em Inquietar-se com;
Impressionar-se com;
Irritar-se com;
Orgulhar-se com/a/em/por/de;
Passar-se com;
Zangar-se com;
VERBOS Casar-se com;
SIMÉTRICOS Parecer-se com
A lista apresentada acima mostra verbos reflexos que selecionam um GPrep com a
preposição com e que não dispensam o uso do pronome clítico nas construções em que
ocorrem. Em nenhum destes casos podem ser parafraseados por a mim próprio, a mim
mesmo; a ti próprio, a ti mesmo ou outras de sentido equivalente (Fonseca, 2012:45).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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boa: Universidade Nova. (Dissertação de Mestrado)
A criação do ensino superior em Angola, uma antiga aspiração das elites minoritárias
(sobretudo urbanas e europeizadas) com influência no contexto socioeconómico e políti-
co da então colónia, só ocorreu em 1962 e posteriormente ao início da luta de libertação
nacional em 4 de Fevereiro de 1961.
Os Estudos Gerais Universitários de Angola e de Moçambique são promulgados a 21
de Agosto de 1962 (Decreto-Lei nº 44530), após um agitado processo político entre o
governo provincial de Angola e o governo central de Lisboa.
Muitas personalidades ligadas a Angola se distinguiram academicamente, antes ou
durante o período colonial do ensino universitário, também em Portugal ou noutros qua-
drantes, no corolário do atribulado caminho para a sua independência em 11 de Novem-
bro de 1975.
De algumas delas, nomeadamente no campo das Matemáticas, aqui se traçam perfis
biográficos.
Muitas outras, que se distinguiram no âmbito do tema deste trabalho, não puderam ser
contempladas como frequentemente acontece nestas situações.
O presente texto deve a elaboração aos 2 primeiros autores; a biografia de seu Pai
Délio por Isabel, todas as outras e a tabela final pelo João. O terceiro ordenou pela forma
abaixo, adaptou localmente, e relacionou, quando oportuno, os Professores e a História.
Os 3 primeiros são ordenados pela influência que tiveram em ambos os continentes:
1. David Lopes Gagean (1916-1994)
2. Délio Nobre Santos (1912-1977)
3. Ilídio Melo Peres do Amaral (1926-2017)
Os 4 seguintes deixam também o seu traço nas histórias de Angola, Cabo Verde, Mo-
çambique e Portugal:
4. José Frederico Bravo de Drummond Ludovice (1919-2007)
5. Sérgio Duarte Fonseca (1913-1994)
6. José Luís Rodrigues Martins (1914-1994)
7. Manuel Fernandes Laranjeira (1928-2003)
Por fim, ilustram-se os criadores que não integraram a Universidade em Angola até
1975:
25. Carlos Mar Bettencourt Faria (1924-1976)
26. Augusto Guilherme Mesquitela Lima (1929-2007)
27. António Aniceto Ribeiro Monteiro (1907-1980)
28. Jerónimo ElavokoWanga (1934-2007)
Cada um dos Autores – com relevo para Isabel e João – deixaram a marca do seu co-
nhecimento dos biografados, que incluiu Sá da Bandeira. O terceiro deve referir que os
Académicos 1, 4, 5, 6, 8, 15, 20, 21,23,25, 26 e 28 mantêm nele um traço indelével, assim
como José Tiago de Oliveira, seu pai.
A tabela elaborada por João Minga imprime aos mesmos nomes uma ordem diferente,
inspirada pela data de entrada nos EGUA e pela afinidade entre estes:
Início Saída
NOME N F Categoria Especialidade
EGUA/UL EGUA/UL
Emérito
António Aniceto
1907 1980 -------- --------- Univ. Nac. del Matemático
Monteiro
Sur
Délio N. Santos 1912 1977 09/1963 1968 Catedrático Filósofo
José L. R. Martins 1914 1994 09/1963 1974 Catedrático Físico
Matemático/
David L. Gagean 1916 1994 09/1963 1974 Extraordinário
Engenheiro
Matemático/
Sérgio D. Fonseca 1913 1994 10/1963 1974 Assistente
Engenheiro
Carlos Dinis da Gama 1941 ----- 04/1968 09/1974 Catedrático Engenheiro Minas
José N. Marat Mendes 1939 ---- 1968 1975 Associado Físico
Pedro Braumann 1919 2003 1969 08/1974 Catedrático Matemático
Manuel F. Laranjeira 1928 2003 1969 1974 Catedrático Físico
Gerberto C Dias 1940 ---- 10/1969 1974 Associado Matemático
José M. Sena Neves 1936 ---- 10/1969 08/1974 Assistente Matemático
Manuel N. Murta 1919 1992 04/1970 10/1973 Catedrático Matemático
Carlos Alberto Medeiros 1942 ---- 10/1970 1974 Catedrático Geógrafo
José Frederico D
1919 2007 10/1970 1975 Assistente Arquitecto
Ludovice
Nair L. Santos 1942 ---- 10/1970 1975 Assistente Matemática
João C. M. Raposo
1929 2006 1971 1976 Assistente Matemático
Beirão
Matemático/
Hélder F. Coelho 1944 ---- 1971 1973 Catedrático
Informático
Carlos Braumann 1951 ---- 10/1971 1974 Catedrático Matemático
Matemático/
José Marques Henriques 1941 ---- 02/1972 05/1975 Associado
Informático
Estas páginas são a primeira colecção biográfica sobre a História da Matemática An-
golana, incluindo, quando relevante, as vidas dos Professores de Sá da Bandeira e de
importantes Físicos – assim como as daqueles que marcaram as ciências, apesar de afas-
tados das Universidades.
Agradecemos o apoio de Alexandra Padinha.
Bibliografia
Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos
História e Memórias
Autoria: AAVV
http://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=1879
Sinopse:
A criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola
Etnomatemática do Povo de Angola:
[CITATION] Tusona/Sona-an ideographic script found among the Luchazi and Cokwe of eastern Angola
and adjacent areas
G Kubik – Les peuples Bantu: migrations, expansion et identité…, 1987
Cited by 5 Related articles
[CITATION] Analyse Numerique des Ideogrammes Tskokwe de l’Angola: Expressions Symboliques du
Nombre dans une Culture Traditionelle Africaine
T Vergani – Gèneve: Université de Gèneve-FAPSE (tese de…, 1983
Cited by 5 Related articles
Um discurso conjugal em relevo para uma (des) codificação posicional das figuras esculpidas nos’ Mabaia
Manzangu’de Cabinda
T Vergani – Revista internacional de estudos Africanos, 1988 – africabib.org
1. Introdução
Tornaram-se emergentes pesquisas na área da educação musical, com uma tendência
em compreender como configuram a prática pedagógico-musical de professores atuantes
em diversos níveis de ensino, que segundo, (Del Ben e Henstschke, 2002. pp. 49), visa
investigar “o que pensam ou fazem aqueles engajados nos diversos processos de ensino e
aprendizagem ou transmissão e apropriação musical”. Apesar da não obrigatoriedade do
professor especialista na educação infantil, muitos professores de Artes em especial da
música estão atuando nesse cenário. Entretanto, há uma escassez de informações referen-
tes a esses profissionais, fato que dificulta a elaboração de políticas públicas voltadas para
a formação iniciada e continuada destes professores. Considerando essa realidade, apre-
sentamos nesse texto o seguinte problema: Como acontecem as práticas pedagógicas
musicais realizadas pelos professores de Artes nos (Centros Municipais de Educação
infantil – CEMEI) na cidade de Montes Claros, Minas Gerais? Essa comunicação, obje-
tiva-se apresentar um projeto de pesquisa em andamento, que corresponde a um levanta-
mento sobre as práticas pedagógicas musicais, realizadas pelos professores de Artes, que
evidenciam a conteúdos para a disciplina Música, afim de descobrir algumas lógicas que
sustentam e guiam as suas ações pedagógicas.
Para averiguar tais lógicas é necessário compreender a formação específica dos pro-
fessores. A não formação específica em música dificulta as ações pedagógicas desses
profissionais, fazendo com que muitos desses docentes continuem tratando a música
como uma atividade simples do dia a dia escolar. Como a música está presente em todos
os meios e em todas as sociedades, na escola ela tem um papel fundamental. No proces-
so do fazer musical, ela vem como forma de inserir e reparar socialmente. Considerar a
música como prática social e não apenas um conhecimento erudito ou escolar – “que
implica em estabelecer um diálogo com vivências e conhecimentos musicais do cotidia-
no dos alunos e de suas práticas extraescolares” (Souza, 2002 Apud Pereira & Figueire-
do, 2018). (Ilari, 2018) acrescenta o “musicar” seria de acordo com a autora “modos de
1. Pedagogo responsável pela educação na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental.
Enquanto prática social, a música é, possivelmente, uma das mais antigas formas de comu-
nicação do homem. Ela faz parte do universo infantil e é importante para o desenvolvimen-
to da criança e da sociedade. Por meio da música, a criança pode perceber o mundo que
existe a sua volta e experimentar sentimentos diferenciados, uma vez que ela propicia uma
vivência estética.
Ou seja, a criança precisa vivenciar em um todo a música, como uma linguagem artís-
tica e estética. O professor é o profissional que atua de forma mais direta com a criança,
sendo imprescindível uma reflexão sobre o seu pensar em agir profissional. Investigando
suas concepções, perspectivas com o ensino de música nesse contexto pedagógico.
No Brasil, a educação infantil caracteriza-se pela primeira etapa da educação básica,
possui objetivos e estratégias próprias e é oferecida em creches e pré-escolas, a primeira
abrange crianças de zero a três anos, e a segunda de quatro a cinco anos (Lei 9,394/96.
Art.30). O ensino para as crianças de seis ou sete anos de idade aconteceram praticamen-
te no século XX. (Brasil, 1854). Diferente da história do ensino da criança pequena em
outros países, no âmbito de instituições formais, ter se iniciado antes das primeiras pro-
postas brasileiras (Freitas & Biccas, 2009, pp. 137). O atendimento as crianças tinham um
caráter assistencialista, em que seu principal objetivo era cuidar. Nessa época o aspecto
educativo era negligenciado, as creches eram vistas como um lugar para guardar as crian-
ças. Segundo (Lages & Caldeira, 2009, pp. 5),
a política assistencialista do governo imprimiu uma cultura de creche, (...) crianças pobres
precisavam de alimentação, de cuidados e de higiene, revelando uma construção histórica e
social da educação infantil, perpassada por quadros ideológicos.
Praticamente na década de 90, com a Constituição de 1988, que esse panorama veio a
mudar. Com esse documento a educação infantil deixou de ser vinculada à Secretaria de
Assistência Social e passou a integrar a pasta da educação (Brasil, 1988). Buscou-se esta-
belecer uma nova proposta de trabalho, focando no aspecto educativo e ampliando docen-
tes habilitados, buscando adquirir uma melhor qualidade.
A identidade da educação infantil foi sendo construída, percebendo-se que as ideias tradi-
cionais, baseadas no assistencialismo, em visões equivocadas da creche como sinônimo de
lugar destinado somente para oferecer alimentação, cuidados e higiene, cedessem lugar
para espaços que integrassem o cuidar-educar, que permitissem à criança ter acesso à cultu-
ra, a todos os conhecimentos construídos pelo homem. (Lages & Caldeira, 2009, pp.9).
O RCNEI é um guia de reflexão de cunho educacional, que tem como objetivo auxi-
liar o professor “na realização de seu trabalho educativo diário junto às crianças peque-
nas” (Brasil, 1998, p. 5). Este documento aponta a música como proposta específica e de
grande importância para educação musical, o que garante a educação musical nesses es-
paços de ensino. Reforçando o objetivo da área, sobre o desenvolvimento integral da
criança (BRASIL, 1998ª, p. 11), colocando o brincar juntamente com o cuidar e educar,
ampliando o desenvolvimento infantil e aprendizagens.
Em 2008, várias discussões acerca da educação e música tornaram-se emergentes com
o a Lei 11.769 de agosto de 2008 que tornou a música “conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo”, do ensino de Arte (Art. 26, parágrafo 6°). Nesse cenário, cabem discutir espa-
ços de atuação para o educador musical, suas práticas e perspectivas.
A (Base Nacional Comum Curricular – BNCC) é a mais recente política pública da
educação brasileira e contém diversos conteúdos para serem trabalhados na educação
infantil, entre eles, a música no campo experiência “Traços, sons, cores e formas” (Brasil,
2017, p. 44), esse documento apresenta vários objetivos de aprendizagem e desenvolvi-
mento para educação infantil, inclusive no campo da educação musical. Esse documento
é de caráter normativo e será implantado em todo território nacional. É importante ressal-
tar que, a implantação do BNCC só será possível se houver uma revisão da formação
inicial e continuada dos professores (Brasil, 2017).
Nesse contexto tornam-se imprescindíveis discussões acerca da prática-pedagógica
na educação infantil.
Pesquisas na área da educação musical tem ganhado destaque no que diz respeito a
estudos que abordam as práticas pedagógicas musicais, bem como o pensamento docente
e fundamentos que norteiam a ação do professor. Nessa perspectiva (Beineke,2001) e (Del
Ben, 2001), abordam em suas pesquisas que as ações pedagógicas dos professores de mú-
sica, embasam em conhecimentos considerados legítimos para interpretar e orientar sua
prática. (Del Ben & Hentschke, 2002); (Pereira & Periva,2013) e (Gomes, 2011) reforça a
compreensão quanto as concepções e práticas pedagógicas, perante a perspectiva dos pro-
fessores de música, procurando investigar o que pensam e fazem esses profissionais.
A prática pedagógica acontece em contextos distintos e diversificados envolvendo
sujeitos e situações diferentes. Segundo (Lobato, 2007, pp. 35).,
A prática pedagógica é uma atividade humana que se diferencia da atividade em geral, de-
finida como ato ou conjunto de atos em virtude dos quais um sujeito ativo modifica a maté-
ria-prima e tem por resultado um produto. O que diferencia a atividade humana da ativida-
de em geral é a finalidade, um projeto ou o resultado ideal, que termina com um produto
concreto ou resultado real.
A prática pedagógica não se limita apenas em uma atividade humana; ela é, além dis-
so, “uma prática social, pois tem o homem como sujeito e objeto de sua ação transforma-
dora” (Lobato, 2007, pp. 35).
Pesquisar sobre a prática docente, sobre as diversas possibilidades e limites, sobre
sonhos e desejos sendo eles implícitos ou muitas vezes explícitos no trabalho educativo,
se apresenta como uma tarefa importante para melhor compreender como as relações se
apresentam no contexto escolar. É importante que se busque uma reflexão, abrindo cami-
nhos para extrair novas ideias, novas práticas e perspectivas, buscar constantemente o
entendimento das ações cotidianas e a suas relações com as práticas pedagógicas, a fim de
que conheçamos melhor quem são os professores atuantes na educação infantil, possibi-
litando caminhos para elaboração de políticas públicas voltadas a formação inicial e con-
tinuada destes profissionais.
Sendo ela uma arte que contribui para o pensamento criativo, vem ganhando cada vez mais
espaço nas pré-escolas, que devem respeitá-la como forma de arte responsável por parte do
desenvolvimento da criança (tanto cognitivo como social, cultural etc.), e não somente
como apoio às atividades escolares.
Um fator que deve ser amplamente valorizado e que não poderia deixar de ser mencionado
é a relevância do papel da interação entre as crianças durante as aulas, mediada pelo educa-
dor musical. Essa interação certamente trará contribuições importantes para promover o
desenvolvimento cognitivo-musical e a habilidade de interação social das crianças.
4. O Ensino de Musica
4.1. Como Fator de Integração Social e Diversidade Cultural
Ao verificar estudos na área da educação musical, encontra-se vários aspectos que jus-
tifiquem a importância da música na educação básica vão desde de trabalho com a diversi-
dade cultural, a possibilidade que a educação musical tem de aproximar e integrar aluno e
escola, escola com a comunidade, um outro enfoque diz respeito à importância da educação
musical no desenvolvimento de conhecimentos e habilidades. Tais reflexões são necessá-
rias para propiciar currículos com o intuito de garantir uma educação musical de qualidade.
Como a música está presente em todos os meios e em todas as sociedades; na escola
ela tem um papel fundamental. No processo do fazer musical, ela vem como forma de
inserir e reparar socialmente, e traz algumas considerações sobre as funções da música na
sociedade e na educação. Merriam aponta dez categorias principais da função da música:
expressão emocional, prazer estético, divertimento e entretenimento, comunicação, re-
presentação simbólica, reação física, imposição de conformidade as normas sociais, vali-
dação das instituições sociais e dos rituais religiosos, contribuição para continuidade e
estabilidade da cultura, contribuição para a integração da sociedade. (apud Hummes,
2004, pp. 10-11). Para Hummes as dez funções na música são para:
[...] formar um marco de referência para se pensar a sociedade e a escola, e seu papel de
fomentadora da cultura e do ensino musical. Podemos considerar essas categorias como um
A construção de uma cultura musical básica comum através do ensino de música escolar
coaduna-se à função de promover coesão social, mas, em uma compreensão parcial, isso
parece chocar-se com as tendências atuais de valorizar a diversidade cultural e as diferenças
entre os alunos (Pereira & Figueiredo, 2018).
A música é uma prática social que constitui instância privilegiada de socialização, onde é
possível exercitar as capacidades de ouvir, compreender e respeitar o outro. Estudos e pesqui-
sas mostram que a aprendizagem musical contribui para o desenvolvimento cognitivo, psico-
motor, emocional e afetivo e, principalmente, para a construção de valores pessoais e sociais
de crianças e jovens. A educação musical escolar não visa a formação do músico profissional,
mas o acesso à compreensão da diversidade de práticas e de manifestações musicais da nossa
cultura, bem como de culturas mais distantes. A música também se constitui em campo espe-
cífico de atuação profissional. Pelo seu potencial para desenvolver diferentes capacidades
mentais, motoras, afetivas, sociais e culturais de crianças, jovens e adultos, a música se con-
figura como veículo privilegiado para se alcançar as finalidades educacionais almejadas pela
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). (Pereira, 2010, pp. 67).
o ato de aprender é dinâmico e tem por base as interações sociais entre diversos indivíduos,
que, por sua vez, possuem características distintas, e que ocupam categorias sociais e iden-
Diante disso, o “musicar” seria de acordo com a autora “modos de interação social”,
juntamente com o educar, possibilitando trocas de ideias entre seres humano. A “atividade
musical coletiva também influencia positivamente os comportamentos pró-sociais (ajuda,
cooperação e altruísmo) em bebês, crianças e adultos” (Cirelli et al, 2014; Kirschner;
Tomsello, 2010; Hove & Riisen, 1999 Apud Ilari, 2014).
Percebe-se que a música é um importante instrumento para promover integração so-
cial, e para que ela seja um elemento eficaz, quanto a alcançar os objetivos pelos quais
está inserida nas escolas, em especial de educação infantil, que trata esse texto, entende-
-se que deve ser ministrado nesses espaços de ensino, por um profissional especialista,
tendo em vista que a música é de fundamental importância para a formação integral do
educando, assim como também promoção do enriquecimento cultural, educacional, artís-
tico e social da criança.
5. Conclusão
A partir da pequena amostra de resultados dessa pesquisa, acreditamos poder contri-
buir para a identificação que aponte as circunstâncias do ensino de música na educação
infantil na cidade de Montes Claros. Entendermos a importância da investigação acerca
das práticas pedagógicas na sala de aula de educação infantil, que será essencial para
promover uma reflexão e uma compreensão de tais práticas musicais, afim de descobrir
algumas lógicas que sustentam e guiam as suas ações pedagógicas dos profissionais atu-
antes. (Beineke apud Sadalia, 2001, pp. 104), corrobora “é preciso dar voz, ao professor,
incentivando-o a refletir sobre sua prática, visando também a que ele se reconheça como
um profissional, cujo conhecimento é influenciado por suas experiências e reflexões”. Ou
seja, é essencial compreendermos os conhecimentos que os professores adquirem através
da sua própria ação, nos quais defrontam com o cenário prático da escola, o que o torna
um profissional prático reflexivo (Beineke, 2001, pp. 100). Perceber a criança como su-
jeito, prioritário da experiência musical, a fim de contribuir para a formação musical e
humana das crianças.
O ensino de música nas escolas, como uma prática humana e social, é formado pelas
ações dos seus participantes e um direito humano que “contribui para interação social e
formação de identidade cultural, fortalecendo os vínculos entre os membros de uma so-
ciedade”; (Conselho Nacional de Educação, 2013, pp. 5-7). Sendo a música um importan-
te instrumento para promover integração social, e para que ela seja um elemento eficaz,
quanto a alcançar os objetivos pelos quais está inserida nas escolas, em especial de edu-
cação infantil, que trata esse texto, entende-se que deve ser ministrado nesses espaços de
ensino, por um profissional especialista, tendo em vista que a música é de fundamental
importância para a formação integral do educando, assim como também para promoção
do enriquecimento cultural, educacional, artístico e social do criança.
Refletir sobre as práticas pedagógicas também podem contribuir para o desenvolvi-
mento profissional, visto que permite ao professor uma construção de conhecimentos, a
partir das situações únicas encontradas no contexto prático escolar, “não é suficiente de-
Referências
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Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Website. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/
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Figueiredo, S. L. F. (2011). Educação musical escolar. Educaç.o Musical Escolar, Rio de Janeiro, ano 21,
n. 8, p. 5-9, jun. Textos complementares à série Educação Musical Escolar com veiculação no programa Salto
para o Futuro/TV Escola de 27/06/2011 a 01/07/2011.
Nsambu Vicente
Doutorando em História Contemporâneo – Universidade de Évora; Mestre em Ciências da Educação
com especialidade em ensino da História de Angola pelo Instituto Superior de Ciências
da Educação-ISCED; Licenciado em História pela Faculdade de Ciências Sociais-FCS/ UNA e Professor no
Instituto Superior Politécnico Atlântida. E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A presente comunicação visa reflectir sobre A representação da mulher angolana na
toponímia: Um factor de coesão social. O objectivo principal é assumir uma postura
responsável, sobre a necessidade de homenagear a mulher, (re)valorizando o seu contri-
buto no período da Luta de Libertação Nacional (1950 – 1975) através da toponímia
sob formas a conservar a memória colectiva à luz da Lei n.º 14/16, Lei de Bases da
Toponímia
Para a escolha do tema teve-se em atenção as seguintes razões: (i) Pouca representa-
ção feminina na toponímia do país; (ii) Insuficiência de estudos ligados à toponímia na
academia angolana, particularmente de figuras femininas.
Para alcançar os objectivos, socorramo-nos dos seguintes métodos: (i) Histórico:
Permitiu saber o desempenho da mulher nas várias fases da luta de libertação nacional,
independentemente do seu domínio e do movimento ou partido que tenha pertencido;
(ii) Observacional: Fruto das nossas múltiplas viagens ao país e sobretudo, na cidade de
Lwanda, permitiu perceber a insuficiência que há no reconhecimento do papel desempe-
nhado pela mulher na história recente de Angola (luta de Libertação Nacional, no comba-
te ao analfabetismo, contra a pobreza, etc.); (iii) Comparativo: Permitiu aferir a dispari-
dade de nomes de figuras femininas ligados tentáculos político do partido MPLA em
detrimento dos outros; (iv) Bibliográfico: Lemos alguns livros e artigos que abordam a
participação da mulher angolana na luta de libertação, apesar da insuficiência de biblio-
grafia no contexto angolano.
Partindo do pressuposto que a história e a memória são partes integrantes e necessá-
rias para o entendimento das contradições da sociedade em determinados grupos e o seu
modo de preservar a história; autores como Marc Bloch (2001) e Le Goff (1990), entre
outros, uns dedicados à crítica – tomando como argumentos a espontaneidade da memó-
2. Importa aqui lembrar que, no início da Luta Armada, as mulheres prostitutas jogaram um papel fundamen-
tal na condição de informantes. São elas que em alguns casos,tiravam informações aos soldados portugueses e
transmitiam aos nacionaistas angolanos. Discussão que traremos num artigo a ser publicado.
3. No caso da UNITA se destacaram senhoras como Augusta Sakuanda, Felizmina Lucas e Sessa Namaliata
pertencentes a 1ª região. Na segunda região se destacaram na região 2ª, Eunice Sapassa e Laurinda Chissako e
na 3ª região Marta Chiwale, Salomé Epólua.
No caso da mulher ligada ao partido, UNITA, a sua integração massiva na luta de li-
bertação nacional, deu-se em 1970, quando as senhoras em todas as bases militares cen-
trais, de zona e de sector, começaram a participar activamente nos serviços auxiliares de
tropas, administração, logística e intendência (Idem).
A 18 de Junho de 1972, tendo-se constatado a capacidade demonstrada pelas mulheres
no seu envolvimento em actividades político-militares nas bases, a 8.ª Conferência Anual
da UNITA proclamou-se sob orientação de Jonas Savimbi, a Liga da Mulher Angolana
(LIMA), ao defender:“ (…) mulheres do nosso país a vossa emancipação não pode ser
uma dádiva dos homens, mas a vossa conquista nas fileiras do combate” (Idem).
Partindo destas considerações, a mulher ligada àquele partido, passaram a fazer servi-
ços de manutenção militar como, os trabalhos de sargento dia, ronda, oficial dia, preven-
ção, patrulhamento das bases num raio de um quilómetro, instrução içar e arriar a bandei-
ra, demonstrações militares: ginástica educativa, luta corpo a corpo, baioneta, pista de
obstáculos, salto em altura, e em comprimento, saltos mortais, enfim todos os exercícios
que antes eram reservados apenas aos homens (Cf. Ibidem).
No partido, UNITA, enquanto algumas mulheres combatiam nas zonas rurais, outras,
no meio urbano, se destacavam nas células clandestinas. Cita-se nomes de Amélia Edite
Epalanga, Melita Tita Malaquias, Celestina Jamba, Cecília Moreira Teresa Numanaua
Kakunda.
No livro de Margarida Paredes, intitulado “Combater duas vezes: Mulheres na luta
armada”, dedicado às mulheres combatentes em Angola, a autora, apresenta alguns teste-
munhos:
[…] até 1968, nas zonas onde combatemos, tais grupos não integravam senhoras nas suas
unidades operacionais. As mulheres permaneciam nas aldeias participando nas actividades
clandestinas organizadas em células: formavam comités, recolhiam informações, recolhiam
as quotizações do povo em dinheiro, géneros alimentícios, roupas, medicamentos, sal ou
produtos de higiene para os combatentes (JAMBA, 2014 in www.a-contribuicao-da-mulher-
na-construcao-da-paz-regional-miraldina-jamba).
No presente artigo, procuramos apresentar de forma sucinta, o seu papel uma vez que
as acções do dia-a-dia e a história não são duas dimensões irreconciliáveis. Pelo contrário,
os modos de vida das pessoas são influenciados pelos contextos históricos, sociais e polí-
ticos que se podem traduzir, por vezes, em novos aspectos da vida quotidiana.
Interpretar as placas toponímicas do município de Tala tona não tem sido fácil para quem se
desloca ou trabalha naquela zona. A solução para muita gente tem sido usar pontos de refe-
rência para chegar ao seu destino. considera que o Tala tona “é um autêntico labirinto”,
onde “safa-se quem puder” (Idem).
4. A avenida Deolinda Rodrigues que parte de Catete e termina no largo 1º de Maio. A outra rua com a mesma
designação começa no cemitério do kamama e termina no Lwanda Sul.
CONCLUSÃO
Considerando a brevidade destes apontamentos, conclui-se que há carência de estudos
que abordam sobre a toponímia, particularmente feminina por não fazer ainda parte das
grandes discussões no contexto angolano, sobretudo nas universidades.
Neste artigo, buscou-se reflectir sobre a importância de homenagear a mulher porque,
estamos cientes que elas se destacaram na luta de Libertação Nacional, onde dirigiram
missões importantes, independentemente do movimento que pertencia, contribuição que
se notou fundamentalmente na luta clandestina. Também ainda, a mulher, contribuiu na
luta contra o Analfabetismo, ensino, mobilização e organização do povo.
Angola precisa, estudar e publicar os nomes das mulheres que se envolveram na luta
de Libertação Nacional desde o seu início, sem olhar no colorido partidário, para o garan-
te da unidade nacional e conservação da memória colectiva e coesão social.
5. Nascida no dia 08.03.1946 na localidade de Nossa Senhora da Graça – Cabo Verde. Foi uma activista e,
acolheu os guerrilheiros do MPLA vindos do Maquis na 2ª Região Militars em Cabinda. Acolheu figuras como
Comandante Gika, Pedalé, Nzagi, Delfim de Castro e João Lourenço, actual presidente da República de
Angola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
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1. Introdução
É amplamente consensual a importância do ensino superior como promotor de desen-
volvimento social e econômico, sobretudo a nível regional (AMARAL; MAGALHÃES,
2002; ALBERT, 2003; PUCCIARELLI; KAPLAN, 2016; ETZKOWITZ; LEYDES-
DORFF, 2000); e o seu papel de gerador de processos de transferência de tecnologia e de
inovação (ETZKOWITZ, et al., 2000; CARAYANNIS; RAKHMATULLIN, 2014), e es-
pecialmente na atração e manutenção de atividades de alto valor econômico numa socie-
dade cada vez mais globalizada e competitiva (CHATTERTON; GODDARD, 2000; ET-
ZKOWITZ et al., 2000; HARKAVY, 2006; HEITOR; HORTA, 2016).
Pucciarelli e Kaplan (2016) identificaram três desafios centrais que as instituições de
ensino superior enfrentarão com implicações fundamentais para o ensino e pesquisa uni-
versitários: (1) a necessidade de aumentar o prestígio e a participação de mercado; (2) a
necessidade de ampliar a mentalidade empreendedora; e (3) a necessidade de expandir as
interações e valorizar a co-criação com os atores sociais. Neste contexto, alguns autores
entendem que a ciência tem como papel primordial fortalecer o desenvolvimento social e
econômico dos países (MACLAREN, 2012; HEWITT-DUNDAS, 2013; SANTOS FI-
LHO, 2015; HEITOR; HORTA, 2014; 2016).
Os objetivos e as finalidades aos quais a universidade se propõe a cumprir são fatores
que impulsionam o crescimento da ciência e da tecnologia no mundo. Sua realidade bási-
ca é o reconhecimento de que o conhecimento é o elemento de maior poder e capaz de
afetar a ascensão e a queda de profissões, classes sociais e até mesmo de nações.
Percebemos que é cada vez mais premente compreender como estas instituições
se adaptam às mudanças recentes e moldam suas estratégias para alcançar sucesso em
novos ambientes. Igualmente relevante, para reitores e líderes das universidades, são as
pesquisas que apresentam as melhores práticas facilitando os processos de mudança den-
tro de suas organizações (MCKENNA; SUTHERLAND, 2006; BAPTISTA; LIMA;
1. Esta pesquisa é parte da tese de doutorado da autora Caroline Lievore, com orientação dos coautores Dr.
Luiz Alberto Pilatti (UTFPR – Brasil) e Dr. João Alberto Sobrinho Teixeira (IPB – Portugal).
2. Metodologia da pesquisa
A pesquisa classifica-se do ponto de vista do objeto como uma pesquisa bibliográfica,
de natureza aplicada, predominanetemente qualitativa e do ponto de vista dos procedi-
mentos técnicos caracteriza-se como um estudo comparativo.
O corpus documental da pesquisa foi composto por entrevistas semiestruturadas, além
dos documentos institucionais do IPB e da UTFPR e documentos legais do Brasil e de
Portugal.
A escolha dos entrevistados foi direcionada aqueles que tinham experiências relevan-
tes no percurso histórico da Instituição, através do processo bola de neve, sendo que no
Brasil a saturação ocorreu no sétimo entrevistado e em Portugal no décimo quinto. Fon-
tanella; Ricas; Turato (2008) apontam que, em estudos qualitativos, o mais significativo
nas amostras intencionais não é a quantidade de entrevistados, mas a representatividade
destes elementos e a qualidade das informações obtidas.
A fim de obter diferentes pontos de vista e experiências de um grupo diverso de parti-
cipantes e gerar evidências empíricas ricas, todos os participantes têm um alto nível de
envolvimento e liderança com responsabilidades que contribuem para o desenvolvimento
estratégico das instituições analisadas.
Foram entrevistados sete gestores e docentes da UTFPR, doze gestores ligados dire-
tamente ao Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Além destes, entrevistamos cinco
docentes vinculados ao ensino superior de Portugal, entre estes: um docente da Universi-
dade do Porto (UP) e ex-secretário de Estado do Ensino Superior e Ciência, e um ex-reitor
da UP, atualmente vinculado à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior
(A3ES), dois docentes ligados ao Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos
(CCISP) que também atuaram como Presidentes de outros Politécnicos e um docente li-
gado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Na apresentação dos resultados, para garantir o anonimato, os entrevistados foram
codificados como Entrevistado (E) e numerados (1, 2, 3, etc.). Estas entrevistas foram
realizadas nas cidades de Ponta Grossa, Curitiba localizadas no Brasil, e Bragança, Mi-
randela, Porto e Braga localizadas em Portugal, durante os meses de janeiro e setembro
Isto posto, a região e os atores sociais que a compõe são fontes importantes de legiti-
midade e recursos para o funcionamento dos politécnicos (HASANEFENDIC; PATRI-
CIO; DE BAKKER, 2017). Para o bom funcionamento do ecossistema de investigação, o
estabelecimento de parcerias torna-se um meio importante para garantir este tipo de pes-
quisa, mais prática, aplicada e regionalmente integrada. Isto significa dizer que a existên-
cia de indústrias na região onde os politécnicos estão inseridos tornaria mais plausível sua
atuação na pesquisa. Contudo, a baixa concentração de indústrias na região do IPB não
impediu o desenvolvimento na investigação. Pelo contrário, o IPB viu uma oportunidade
e se dispôs a realizar uma investigação regionalizada, mas sem deixar de apostar em pro-
jetos nacionais ou globais.
Nesta linha de pensamento, o E20 afirma que; “quando o nosso trabalho é relevante
não há fronteiras e, portanto, nós trabalhamos com empresas de todo o país e todo o
mundo”. Mas os entrevistados concordam que seria muito interessante, por via da ciência
da tecnologia, fortalecer os territórios de menor densidade populacional, como é o caso
da região de Trás-os-Montes e capacitá-los para atrair jovens altamente especializados.
O PE (IPB, PE, 2014-2018) do IPB, já apresentava uma estratégia para tornar a insti-
tuição referência na investigação aplicada em algumas áreas de especialização. O Institu-
to se propôs a três objetivos: (i) identificar áreas estratégicas de investigação aplicada e
promover a integração dos investigadores em unidades de investigação; (ii) sustentar o
IPB nos rankings de impacto da produção científica e, (iii) promover a integração dos
investigadores do IPB em redes internacionais de investigação. De fato, nas entrevistas
percebemos que estes objetivos vem sendo alcançados e o IPB tem sido sucessivamente
considerado o melhor politécnico de Portugal pela SCImago Institutions Ranking2.
2. O ranking SCImago classifica as IES através de um indicador global que tem em consideração a perfor-
mance das instituições na pesquisa, na inovação e no impacto societal. Até 2016 a SCImago avaliava as insti-
tuições em indicadores individuais, e colocou o IPB na 1ª posição entre todas as universidades e politécni-
cos portugueses em três indicadores: impacto normalizado, excelência com liderança e impacto tecnológico
(SCImago, 2016). Em 2018, na avaliação que mostra somente o resultado global, o IPB aparece entre as 15
melhores IES do país e mantem a 1ª posição entre todos os politécnicos do País.
5. Conclusão
Autores como Kerr (1982); Wolff (1993); Moutlana (2009); Louw (2008); Du Pré
(2010), apontam que além do ensino e aprendizagem, as universidades têm uma “vida
pública” e precisam fazer uma contribuição social. Seu foco está em servir a sociedade e,
mais particularmente, sua comunidade imediata. Moutlana (2009) e Engel-Hills et al.
(2010) apontam que, quando o destinatário do conhecimento é a indústria ou a sociedade,
a universidade deve transferir tecnologia, isso caracteriza as UTs ou Politécnicas. Na
perspectiva de Wolff (1993), não é só tradicional e justo que a universidade sirva à socie-
dade, mas também extremamente útil que o faça. O vínculo que se estabelece entre a
universidade e o mercado se operacionaliza por meio de parcerias que favorecem a troca
de conhecimentos, tecnologias e principalmente, o compartilhamento de resultados.
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“À medida em que áreas diferentes do globo são postas em interconexão umas com as
outras, ondas de transformação social atingem virtualmente toda a superfície da terra e a
natureza das instituições modernas” (Giddens, 1990:6)
4. Para mais informações do verbete Língua de Acolhimento de autoria da Dra. Mirelle São Bernardo e Dra.
Lúcia Maria Barbosa, consultar: http://periodicos.unb.br/index.php/obmigra. Data de acesso: 29 maio 2019
Essa mudanças são essencialmente construídas pelo discurso, tendo em vista a relevância
que a linguagem ocupa em um mundo de fluxos rápidos nas redes digitais e nos atravessa-
mentos das fronteiras físicas e cibernéticas da globalização” (Lopes, 2013, p. 11).
3. O PLAc no CEFET/MG
O ensino do Português como Língua de Acolhimento (PLAc) refere-se a uma nova
situação socioeducativa nos estudos linguísticos do Português Língua Estrangeira (PLE).
Trata-se de uma abordagem desenvolvida com o objetivo de assistir às demandas de um
novo público, composto principalmente por imigrantes em situação de vulnerabilidade,
imigrantes em condição de refúgio, portadores de visto humanitários e apátridas. Um
projeto de ensino construído no intuito de promover a autonomia linguística desses imi-
grantes e auxiliá-los a pertencer a uma nova sociedade.
Inserido no projeto de internacionalização da Língua Portuguesa (Oliveira, 2013), o
PLAc tem como norte uma prática didática-pedagógica crítica e não prescritiva de agen-
ciamento da questão migratória. É uma prática transversal e multidisciplinar, em que é
necessário recorrer a outras áreas do saber como o Direito Internacional, Geopolítica,
Direitos Humanos, Sociologia etc.
No CEFET/MG, o projeto de extensão Português como Língua de Acolhimento
(PLAc) tem ensinado o Português Brasileiro para imigrantes, refugiados e portadores de
visto humanitário gratuitamente. Em funcionamento desde o segundo semestre de 2016,
Trata-se, antes, de propiciar encontros que provoquem uma interlocução em língua portu-
guesa, na certeza de que os textos produzidos e os laços que então se criam são promotores
de uma certa qualidade de sociabilidade que trará ao refugiado aquilo que lhe falta: a garan-
tia de estar construindo um aqui e um agora estreitamente implicados com a produção de
sua subjetividade. (p. 284)
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INTRODUÇÃO
A língua é um dos elementos de identificação, pois diferencia a forma como as pesso-
as se expressam e veem as coisas; como compreendem e interpretam o mundo. O Portu-
guês, sendo maioritariamente língua segunda dos angolanos, surgiu como uma opção
neutra e única que permitiu e permite à nação angolana o seu contacto com o mundo
exterior. Assim, optou-se pelo Português como língua oficial de Angola, colocando o
interesse nacional à frente de qualquer preconceito nacionalista.
No dizer de Fromkin & Rodman, (1993) a língua e a sociedade estão intimamente
relacionadas. Assim, o domínio das línguas é importante para a socialização das pessoas.
Neste sentido, Angola apesar de ser um país multilingue, o seu ensino formal era mono-
lingue, sendo a língua portuguesa a única língua do ensino e da administração. As línguas
angolanas excluídas do ensino formal até 2008 são agora integradas por fases no sistema
de ensino, iniciando na primária, quatro anos após a paz nacional estabelecida em 2002
(Patatas e Quintas, 2019)
Nesta sequência, Quino (2002: p. 146) diz que “a situação linguística angolana é,
culturalmente, distinta quanto às diversidades de etnias existentes no país, realizando as
funções socioculturais e identitárias da comunidade. Em Angola cruzam-se seis línguas,
de carácter mais amplo: Umbundu, Quimbundu, Quikongo, Cokwe, Fiote, Cuanhama”.
Assim “todas as línguas nacionais são estruturalmente diferentes e pertencem a duas
grandes famílias linguísticas: a família das línguas bantu e a das línguas não bantu.“
(Costa, 2015: p. 18).
Deste modo, tal como o Português exerce a função de unidade nacional, a Língua
Umbundu também tem a mesma função. Não só por ser a segunda língua mais falada
depois do português, mas porque os falantes dessa língua que se situam no corredor Cen-
tro Sul de Angola, que corresponde às províncias de Bié, Huambo, Benguela, uma parte
do Kwanza Sul e outra da província da Huíla, estão espalhados em quase todas as provín-
cias de Angola. Aí constituíram grandes comunidades, sobretudo em Luanda. Pode dar-se
o exemplo da zona de Kacuaco, Viana entre outras. Aí, os ovimbundu são a maioria.
Neste sentido, o Umbundu não é apenas falado no corredor Centro Sul, mas em todo o
país, unindo pessoas e famílias pelo fato de terem o mesmo idioma. Além disso, o povo
umbundu identifica-se pela sua simplicidade e irmandade, ou seja, é comum, nas zonas
dos ovimbundu, as pessoas saudarem indivíduos estranhos. A língua e a sociedade estão
relacionadas como já foi referenciado, ou seja, a língua influencia a cultura e a cultura que
é visível na vivência do povo, também é evidente na língua.
1. Línguas em angola
Em cada sociedade há diversas variáveis que influenciam o seu funcionamento como:
escolas, políticas, agentes educativos, estruturas, culturas, o contexto histórico. Neste
sentido, a 11 de Novembro de 1975, Angola tornou-se independente seguido de um longo
período de guerra civil, que deslocou pessoas e famílias inteiras para quase todas as pro-
víncias. Este facto fez com que as comunidades dos ovimbundu fora do Centro Sul do país
crescessem em número. Deste modo, os hábitos e costumes desse povo são vividos aí
onde se encontram, sobretudo a irmandade e a simplicidade.
No dizer de (Costa, 2015: p. 143). “A realidade de Angola é muito diversificada, cons-
tituída por grupos étnicos diferentes, por culturas diferentes que coabitam no mesmo es-
paço nacional, sem por vezes se aperceberem e naturalmente os idiomas e os falares são
diversos.” Angola sendo um país em reconstrução em todos os âmbitos, incluindo o da
educação às mentalidades para uma coesão social, é urgente o incentivo o povo à neces-
sidade de criar pontes entre o seu passado histórico e o seu presente, a fim de se perspeti-
var um futuro promissor e estável.
2. Evolução Histórica
O hoje das sociedades está ligado ao desenvolvimento global do mundo. Assim, as
línguas ganham vitalidade dentro do sistema educativo. Neste sentido, historicamente as
línguas angolanas na educação formal passaram por exclusão, visto que na época colo-
nial, as línguas angolanas foram excluídas do ensino.
As línguas angolanas começaram a ser mais valorizadas, sobretudo após a paz nacio-
nal alcançada em 2002. Para Chicumba (2013: p. 8) “as línguas nacionais constituem,
irrefragavelmente a base fundamental da identidade cultural do povo Angolano. Elas re-
sistiram ao longo dos tempos ao processo da glotofagia em que estavam sujeitas enquan-
to prevaleceu o regime colonial e se fortaleceram na unidade dos seus povos”. Nesta linha
de pensamento, Carvalho (2008: p. 141) comenta que “no processo de devir histórico e
cultural, começa-se, gradativamente, a valorizar as línguas nacionais, por constituírem, a
par do Português, um património histórico-cultural”. Neste sentido, o povo umbundu que
possui características peculiares, pode contribuir para a harmonia nacional e para o desen-
volvimento social. Para tal a escola tem de exercer o seu papel de ensinar e difundir essa
língua de um modo especial.
Nesta sequência, Chicumba (2013: p. 9) reforça dizendo que “as línguas nacionais
constituem a base fundamental da preservação da herança e identidade culturais dos po-
vos, transmitidas durante séculos das gerações tradicionais às novas gerações. Por conse-
guinte, a escolarização deve constituir-se como tarefa primária para a sua manutenção”.
Falando de heranças e de transmissão de culturas, hábitos e costumes, o Papa Francisco
na sua Encíclica “Cristo Vive” diz que a vivência dos adultos deve ser profunda. É esta
Neste sentido, ainda acrescenta-se dizendo que a Lei 17/16, de 7 de outubro, Artigo
16º, alínea 2, refere que “o Estado promove e assegura as condições humanas, cientifico-
-técnicas, materiais e financeiras para a expansão e generalização da utilização no ensino,
das demais línguas de Angola”.
Tal como a língua portuguesa é importante em Angola por ser um vetor para a unifi-
cação da nação. O ensino de línguas angolanas também o é e segue as diretrizes da Decla-
ração Universal dos Direitos Linguísticos (UNESCO: 1996) que considera que
Os direitos coletivos dos grupos linguísticos podem incluir ainda (...) de acordo com
as especificações do ponto 2 do artigo 2°:
se há esperança para a paz no mundo, ela reside nos nossos cidadãos mais jovens. Se que-
remos ter paz, temos de ensinar as nossas crianças a respeitarem-se umas às outras, a res-
peitarem a diversidade de valores”. A autora realça que “com crianças pequenas, as mensa-
gens de educação para a paz começam por lhes fornecer vias de aprendizagem sobre as suas
próprias culturas.
Nesta linha de pensamento, uma educação familiar e escolar para a aceitação própria,
para o respeito, a irmandade desde pequeno pode contribuir para a coesão social em An-
gola. É evidente que estas duas entidades são cruciais na vida e na formação de uma
criança. Assim, a sua aprendizagem faz-se em dois tempos “o primeiro é a sua abertura
pessoal-corporal, emocional e mental – a algo novo. O segundo é o da incorporação do
novo em sua maneira particular de viver a vida” (Casassus: 2007, p. 34). Aqui está a im-
portância de os adultos transmitirem, profundamente os valores culturais aos mais novos,
a fim de que eles cresçam com raízes firmes (Francisco, 2019). “A educação escolar vem
sendo considerada como um processo que permite às crianças terem acesso a uma cultura
universal, pela qual poderiam construir uma autonomia pessoal.” Gatti (prólogo de Ca-
sassus: 2007, p. 22).
Este progresso é o resultado de uma elaboração das estruturas operacionais que derivam da
interiorização da ação. A perspectiva de Vygotsky sublinha as origens sociais das funções
mentais superiores e o papel dos instrumentos psicológicos nomeadamente da linguagem.
Mas para os dois autores, a tomada de consciência, portanto o carácter consciente e volun-
tário, e uma organização num sistema hierárquico, estão na base da evolução verificada
quando da formação dos conceitos científicos abstractos. (MARTINS: 1998, p. 19).
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Filomena Velho
Presidente do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira e Marinha, Luanda
E-mail: [email protected]
Introdução
A existência em África de uma costa extensa e rica em biodiversidade e recursos
marinhos exige uma exploração e gestão sustentáveis e tal deve ser baseado em capaci-
tação a nível de pós-graduação. Tal inclui um vasto leque de ecossistemas marinhos de
grande produtividade (ex. corrente de Benguela, mangais, estuários, baías). A capacida-
de de investigação e de formação ao nível de programas de doutoramento nacionais e
internacionais na área do mar da Universidade do Algarve, as condições de excelência
a nível laboratorial e de campo-mar (ex. navios oceanográficos) da Faculdade de Ciên-
cias da Universidade Agostinho Neto, o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira e
Marinha e a Academia de Pescas e Ciências do Mar do Namibe (doravante Universida-
de de Pescas e Ciências do Mar do Namibe) suscita uma complementaridade perfeita
entre os parceiros. O desenvolvimento de um programa de doutoramento na área das
Ciências do Mar entre os dois países, (em cotutela e/ou associação) visa valorizar o
processo de internacionalização do ensino superior e da investigação científica e tecno-
lógica em Portugal e Angola, permitindo capacitar quadros avançados, sem a necessi-
dade de períodos longos de ausência no estrangeiro, fomentando a disseminação do
conhecimento, de modo a garantir que as ciências e tecnologias do mar forneçam res-
postas para o desenvolvimento global e dos oceanos mais sustentável, mais justo, mais
equitativo e mais inclusivo.
Figura 1 – O lançamento oficial do projeto LuandaWaterFront foi realizado em dezembro de 2018, no dia 4,
na presença da Sra. Ministra do Mar e das Pescas de Angola, Dra. Victoria de Barros Neto. Teve como
objetivo a divulgação do projeto para os interessados na Baía de Luanda, incluindo a academia, autoridades
públicas e comunidade local.
Figura 2 – A análise de risco ecológico (ERA workshop) decorreu em 30 de maio de 2019 e possibilitou a análise
dos riscos ecológicos associados à Qualidade de Vida da Baía de Luanda, através da análise das perspetivas dos
interessados (pesca, petróleo, residencial, comunidade pesqueira, turismo, investigação, conservação).
Conclusões
O forte desenvolvimento do programa de doutoramento na especialidade de Ciências
do Mar na Universidade do Algarve será usado como referência, com as alterações ade-
quadas para a implementação de um novo curso de Doutoramento em Angola em Ciên-
cias do Mar. Para sustentar esta e outras ações, a futura plataforma, Centro Colaborativo
de Excelência em Ciências do Mar (CCEMAR) a estabelecer pelos parceiros atuais e
alargado a outros interessados, deverá servir como referência internacional em atividades
de investigação em temas críticos e/ou emergentes na área das ciências marinhas em re-
giões tropicais e subtropicais que, face às alterações climáticas e tropicalização das zonas
temperadas, tem também interesse crescente nas regiões do sul da Europa.
A atual proposta de Colaboração Luso Angolana para Formação de Excelência em
Ciências do Mar em África contribuirá ativamente para um crescimento azul sustentável
e para os ODS da Nações Unidas, no que concerne a: garantir o acesso à educação inclu-
siva, de qualidade equitativa e, promover oportunidades de aprendizagem ao longo da
vida para todos (ODS4); garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável
Agradecimentos
Projeto n.º 333191101 LuandaWaterFront – “Luanda Bay Ecological Assessment: A
waterfront based approach to reduce environmental risks and increase quality of life”,
financiado pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e pela Fundação para a Ciência
e a Tecnologia, I.P.
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Paulo Cavaco
Administrador do IPBeja; E-mail: [email protected]
Leandro de Lajonquière
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – Brasil. École Doctorale Pratiques et Theorie du
Sens da Université Paris 8 Vincennes – Saint Denis, França. E-mail: [email protected]
1. Introdução
A cultura de cada país guarda entre si contrastes, dramas, aproximações e impasses,
os quais devem ser abordados de uma forma crítica em seu contexto sócio-histórico e
político. Para compreendermos as conjunturas de Angola e Brasil, será necessário abordá-
-las levando em consideração, para além dos aspectos socioculturais, o efeito produzido
pela colonização em ambos os países. Em outros termos, precisamos discutir sobre como
as nossas instituições educativas funcionam e como alguns discursos operam nelas, com
vistas a saber se produzem a emancipação dos sujeitos ou reiteram lugares de segregação
justificados pelo discurso pedagógico e médico2 no que tange aos problemas de escolari-
zação de crianças e adolescentes.
Há um consenso, segundo o qual, reitera Melman (1997/2000), de que “o futuro polí-
tico dos países que, no passado, foram colonizados parece marcado por um traço repetiti-
vo. O exercício do poder se mostraria mais preocupado pelos interesses privados, pesso-
ais até mesmo estrangeiros do que pelo interesse nacional” (p.13). Nesse sentido, podemos
observar que “a independência política exibida não impediria, assim, a continuação do
sistema de exploração herdado do colonialismo, e isso apesar da introdução de uma de-
mocracia parlamentar” (p.13). Reitera ainda o autor que,
1. Esta discussão é derivada de nossa última missão de estudos realizada através do Programa Pró-Mobilida-
de Internacional CAPES/AULP, no âmbito do projeto de implementação do Laboratório de Psicologia, Psicaná-
lise e Educação (LPPE), do Instituto Superior de Ciências, da Educação da Universidade 11 de Novembro, em
parceria com a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisa financiada pela
CAPES/AULP, processo n°. 99999.000412/2016-03.
2. Nos referimos aqui às práticas de medicalização da vida e dos problemas de escolarização, critica pertinente
frente ao abuso de medicação, por exemplo Metilfenidato indicados para crianças que apresentam hiperatividade.
É preciso ainda ressaltar que as autoras colocam em suspeição o uso do termo “difi-
culdades de aprendizagem”, ao mesmo tempo em que os interroga. Em vista disso,
optam, assim como nós, em inserir a expressão “dificuldades no processo de escolariza-
ção”, pois “não consideram que apenas os alunos possam apresentar dificuldades, mas
que estas, se porventura existirem, terão soluções sempre relacionais, ou seja, uma vez
que acontecem nas relações entre o processo de escolarização e os alunos”. (Canhici e
Gomes, 2016, p. 489).
Desse modo, as dificuldades no processo de escolarização devem ser contextualizadas
levando em consideração o processo sócio histórico daquele país, sobretudo num contex-
to ainda marcado após longos e sucessivos anos de guerra civil. Canhici e Gomes (2016)
chamam atenção para o fato de que com a independência de Angola, em 1975, a dinâmica
das políticas de ensino generalizou-se por todo o país. Nesse sentido, Cabinda, sendo
parte deste, seguiu a mesma dinâmica para formação de uma sociedade justa e de um
homem novo, colocando em destaque a importância da educação e do processo de alfabe-
tização nessa formação.
Reis e Gomes (2018) ressaltam o estudo desenvolvido por Silva Neto, segundo o qual
como consequência da antiquada educação colonial a que Angola esteve submetido por
quatro séculos, no período pós-independência, o sistema educacional angolano tem se
caracterizado pela inércia. Ainda de acordo com essa autora, a partir de 1977 – dois anos
após a independência, o país herdou da colonização portuguesa um sistema de educação
precário, praticamente inexistente, caracterizado pelo acesso limitado ao ensino do se-
gundo grau, pela falta de investimentos em qualidade, de ensino e de pessoal, para estru-
turar um sistema de educação. Nesse período, o novo governo enfrentou muitas dificulda-
des, como o analfabetismo de 1/3 da população adulta, escassez e ausência de materiais
básicos de aprendizagem, fraca cobertura do sistema de ensino, 2/3 da população em
idade escolar fora do sistema de ensino e a inadequação dos conteúdos educativos, o que
dificultava o sucesso escolar de muitos alunos. Na tentativa de minimizar os desafios
educacionais do país, o governo angolano aprovou, ainda em 1977, um plano nacional de
ação para a educação de todos.
Assim, a educação realiza-se por meio de um sistema unificado, constituído pelos seguintes
subsistemas de ensino: subsistema de educação pré-escolar; subsistema de ensino geral;
Por outro lado, tem se tornado hábito esgrimir, alternativa ou conjuntamente, como causas
dos mesmos a falta de maturação das capacidades cognitivo-afetivas da clientela escolar e
a impertinência das práticas pedagógicas desenvolvidas circunstancialmente. Assim, um
punhado de capacidades, como também um catatau de métodos mais ou menos adequados,
um sem-número de erros, dificuldades, fracassos, problemas e distúrbios de aprendizagem
Observa-se que a demanda por laudos psicológicos, os quais confirmam muitas vezes
as opiniões e “hipóteses” dos professores, que em geral tem grande poder de convenci-
mento sobre a criança e seus familiares, vão ao encontro do discurso liberal segundo o
qual vencem sempre os mais aptos (Patto, 1992). A autora é contundente e crítica:
A crença na incompetência das pessoas pobres é generalizada em nossa sociedade [...] Di-
zem para o oprimido que a deficiência é dele e lhe prometem uma igualdade de oportunida-
des impossíveis através de programas de educação compensatória que já nascem condena-
dos ao fracasso quando partem do pressuposto de que seus destinatários são menos aptos à
aprendizagem escolar (Patto, 2010, p.76).
3. O encaminhamento geralmente é feito para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), serviços de saúde men-
tal, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), mas inclui também o Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), o qual desenvolve o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).
4. A “Orientação à Queixa escolar” tem sido ultimamente se destacado como uma abordagem crítica para o
tratamento dos problemas de escolarização, uma vez que essa prática leva em conta os diversos atores: família,
escola e os profissionais envolvidos. Uma leitura mais aprofundada pode ser acompanhada em SOUZA, B.P.
(2007). Apresentando a orientação à queixa escolar. In B.P. SOUZA. (Eds.). Orientação à queixa escolar. São
Paulo: Casa do Psicólogo.
Quando, numa escola, encaminha-se um aluno para avaliação psicológica em razão de sua
indisciplina ou do fato de não aprender conforme os parâmetros esperados, almeja-se de
boa-fé que, assim, possa vir a se obter alguma informação útil sobre as causas do episódio.
Isso parece, em princípio, tão possível como pertinente. Entretanto, o consabido desenrolar
da história, ao qual esse gesto corriqueiro dá início, já deveria ser suficiente para que alguns
espíritos (psico)pedagógicos tivessem começado a desconfiar de empresa semelhante. De
Considerando todo este debate, estamos de acordo com Arendt (2007), segundo a qual
defende que a crise periódica da educação se converteu em um problema político. Os vãos
e inumeráveis esforços das autoridades pelo seu controle da situação mostra bem toda a
Considerações Finais
Reconhecemos que algumas práticas de atendimento às crianças e aos adolescentes
com problemas no processo de escolarização, se estiverem despolitizadas, tendem a pro-
duzir repressão e a redobrar a segregação em que os pobres historicamente são submeti-
dos. Assim, entendemos que tanto a busca pelos serviços de saúde e socioassistenciais no
Brasil, bem como a criação de Gabinetes Psicopedagógicos em Cabinda, em nosso enten-
dimento, são dispositivos que podem além de beneficiar os alunos, trabalhar no sentido de
introduzir novas discursividades que alterem o entendimento do sujeito na sociedade: ele
deixaria de ser apenas o indivíduo criado e estigmatizado a partir da relação com a norma,
para alcançar o estatuto de sujeito propriamente dito como efeito das relações e interações
sociais.
Esperamos que esta discussão possa contribuir no sentido despertar a atenção dos
agentes públicos responsáveis pelo desenvolvimento e implementação de políticas públi-
cas educacionais comprometidas com uma educação de qualidade, responsável e emanci-
padora.
Referências
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ele existe (p. 13). Association Freudienne Internationale. Porto Alegre: Artes e Ofícios.
1. Introdução
A mobilidade acadêmica é uma prática constante nas universidades e assunto de estu-
dos com focos variados. Existe pesquisa cujo o foco são os desafios, os ganhos e os aspec-
tos dificultadores da mobilidade, com resultados que apontam para a adaptação ao meio
sociocultural e o domínio do idioma no país destino como sendo os principais desafios
(Oliveira; Freitas, 2017). Existe pesquisa que foca nos fatores que determinam a experiên-
cia de participação e de não participação em programas de mobilidade, assim como contri-
butos e motivações que as pessoas têm para participar desse tipo de programa, com resul-
tados que indicam um conjunto de fatores como determinantes à participação em
mobilidade acadêmica como institucionais, familiares, individuais, financeiros e linguísti-
cos (Santos; Ferreira, 2018). Existe estudo que indica a importância da flexibilização cur-
ricular para a promoção da mobilidade acadêmica nacional e internacional com a defesa de
que o vínculo temporário do estudante com a instituição receptora amplia sua formação
(Pereira dos Santos; Gomes Dias, 2012). Estudos envolvendo programas de mobilidade
acadêmica com o foco na valorização do idioma português não foram localizados. Entre-
tanto, localizou-se o estudo de Luce; Fagundes; Mediel (2016) que trata da dimensão in-
tercultural como elemento importante da mobilidade acadêmica na tentativa de definir os
objetivos nacionais (brasileiros) e interinstitucionais que se deseja para a mobilidade. En-
tre as conclusões, está a necessidade de fortalecer, dentro da universidade, a oferta de
idiomas, sobretudo a Língua Portuguesa, para apoiar alunos estrangeiros em mobilidade
no Brasil. Considerando que a união europeia, com a assinatura da Declaração de Bolonha,
contribuiu, entre outros aspectos, para ampliar efetivamente e intensamente a mobilidade
acadêmica e explicitou que o fluxo de alunos estrangeiros é considerado um forte indicador
de atratividade à instituição, qualificar as ações das instituições de ensino superior no Bra-
sil para receber maior número de estrangeiros, outra conclusão do estudo de Luce; Fagun-
des; Mediel (2016), é importante porque os interessados em participar de programas de
mobilidade têm especial interesse em aprender idiomas (Luce; Fagundes; Mediel, 2016).
Este estudo objetiva apresentar o programa de mobilidade internacional e interinstitu-
cional chamado de Engenheiro 3I.
O Programa Engenheiro 3I acontece entre a Universidade Tecnológica Federal Paraná
(UTFPR), membro da AULP e localizada no Brasil, e a Universidade de Tecnologia de
Da época em que o Brasil foi colônia de Portugual, passando pela independência, até
os dias atuais, a força de um idioma, enquanto domínio político e econômico, ganhou
destaque na medida em que houve a percepção de que o processo produtivo depende da
comunicação. Se antes o domínio do colonizador se dava também pela imposição que a
colônia fosse um país monolíngue, a realidade mudou quando o inglês assumiu destaque
no mercado dos negócios e a valorização do domínio de línguas se dava por países bilín-
gues. Hoje, tem-se uma valorização das competências linguísticas sem precedentes (Se-
vero, 2013). A nova realidade valoriza o multilínguismo, capacidade de uma pessoa se
comunicar em várias línguas, isso porque no contexto atual quanto mais línguas uma
pessoa domina e usa, maiores são as possibilidade de atuação dessa pessoa (Nóbrega,
2016).
Uma estratégia para valorizar o uso da língua portuguesa e aumentar seu status e pres-
tígio entre as línguas usadas, incentivando os multilíngues a usá-la é a união dos países
que elegeram o português como língua oficial. Em 1996 foi criada a Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), com sede em Lisboa. São membros do CPLP, Por-
tugal e oito nações, todos ex-colônia de Portugal: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau,
Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste (CPLP, 2019). A
Guiné Equatorial, localizada na África Ocidental, foi a última a entrar na Comunidade. O
país elegeu a língua portuguesa sua 3ª língua oficial em 20 de julho de 2010, isso porque
os equatoguineenses estavam
O português como língua oficial também é usado em Macau (China). Ao todo são dez
países que usam o Português como língua oficial (Nóbrega, 2016).
A valorização interna da língua portuguesa no Brasil acontece de variadas maneiras,
por entidades como a Academia Brasileira de Letras e a Casa de Machado de Assis, que
cumprem “o que está no artigo 1° do seu estatuto: zelar pela integridade da língua portu-
guesa” (Kiskier, 2014, p.1115) e por meio de leis. Por exemplo, a Lei de Diretrizes e
4. Conclusão
A Língua Portuguesa é uma das línguas oficiais do Brasil, cohabitando com línguas
cooficiais e não oficiais. Seu prestígio social e status econômico, político e cultural pode
ser potencializado no âmbito educacional por ações estabelecidas entre universidades
membros do AULP com universidades não membros da AULP, mas que ofertam a língua
portuguesa como disciplina ou como Unidades de Valor. Programas de mobilidade acadê-
mica como o Engenheiro 3I, criado entre a UTFPR/Brasil e a UTC/França, prestigia a
Língua Portuguesa na esfera educacional, introduzindo-a como elemento fundamental
para o desenvolvimento da interculturalidade no perfil do engenheiro do futuro, compro-
metido com a inovação e atuante na indústria.
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pp.368–377. Doi:10.3233/978-1-61499-703-0-368
Gabriel Benguela
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – Universidade de Lisboa. Portugal;
CAPP-FCT – colaborador; E-mail: [email protected]
1. Introdução
A 26 de setembro de 2017, foi eleito João Manuel Goncalves Lourenço como terceiro
Presidente da República de Angola, sucedendo a José Eduardo dos Santos, que liderou
Angola de forma autoritária e patrimonial durante 38 anos. Depois da sua tomada de pos-
se, João Lourenço prometeu uma série de reformas com o propósito de alterar as perce-
ções dos cidadãos e transformar o país.
O Presidente João Lourenço nos seus discursos emite mensagens cujo propósito é
mudar a consciência dos cidadãos e credibilizar as instituições do Estado. Destas mensa-
gens identificamos as seguintes medidas e ações: Detenção de altos dignatários e funcio-
nários do Estado, constituição de processos judiciais, retenção de capitais com proveni-
ência duvidosa, repatriamento de capitais indevidamente transferidos para o estrangeiro e
expulsão de estrangeiros ilegais, através de operações policiais.
O estudo foi elaborado em duas fases, na primeira foi feita a revisão da literatura e a
elaboração da parte teórica, na segunda a análise dos discursos e discussão dos resultados.
O artigo comporta uma introdução, desenvolvimento e conclusões.
5. Opções Metodológicas
O objetivo geral deste estudo é identificar como foram representados mediaticamen-
te os dois primeiros discursos do Presidente João Lourenço e quais foram as principais
Categorias
Progresso Valores políticos- Desafios sociais Desafios
ideológicos económicos
Promoção do Reforço da ligação Melhoria da Impulso a iniciativa
Estado Social entre os poderes do qualidade da privada para a
Estado informação publica criação de negócios
Produção e Governação inclusiva e Promoção, controlo dos atos
distribuição de participativa divulgação e criação ilícitos no setor
energia elétrica de mais jornais, financeiro e
rádio e televisão bancário
Produção e Consolidação da Melhoria da Incentivo ao crédito
distribuição de água democracia pluralidade e à economia
canalizada multipartidária liberdade de
expressão
Modernização das Aprofundamento das Promoção das Criação de uma
Forças Armadas relações bilaterais e mulheres indústria militar e
multilaterais de defesa
Inserção de angolanos Proteção do meio Incentivo a criação
no sistema das Nações ambiente da indústria
Unidas, na União extrativa e de
Africana e nas processamento
organizações regionais
Implementação das Investimentos em
autarquias locais infraestrutura e
transportes públicos
Combate a Corrupção
e a Impunidade
Promoção da Justiça
Promoção do mérito,
do profissionalismo, da
transparência e do rigor
Reforma dos serviços
públicos
Fonte: Produção própria
Categorias
Valores políticos-ideológicos Desafios sociais Desafios económicos
Conquista de um país Promoção da Transparência na Erradicação dos tempos
independente, livre, unido, em contratação de serviços difíceis que o país vive
paz e reconciliado públicos economicamente
Reforço do sistema Garantir a Liberdade de Adotação de incentivos fiscais
democrático Religião, Crença e Culto e para as empresas
Expansão dos serviços
museológicos
Implementação de Autarquias Melhorar o sistema de Estabilização macroeconómica
educação do país
Aposta num sistema judicial Melhorar a qualidade dos Promoção da agricultura, da
célere para a resolução de Serviços Públicos de Saúde indústria transformadora e
conflitos nas áreas alimentar
administrativas, económica e
financeira
Melhoria dos sectores de Apoiar as áreas responsáveis Dinamização das indústrias
Defesa e Segurança pelo combate à corrupção e siderúrgicas, de construção,
aos crimes económicos e telecomunicações e
financeiros tecnologias de informação
Fonte: Produção própria
Conclusões
A análise da representação mediática do conteúdo dos discursos de João Lourenço,
levam a concluir que há nos discursos, uma representação transversal dos principais pro-
blemas do país. constata-se ter havido uma mediatização diversificada e declinada num
tom maioritariamente positivo, com forte incidência no tema sobre cooperação interna-
cional, governação e críticas da oposição, correspondendo a uma representação em espé-
cie de publicidade das medidas apregoadas pelos discursos, numa cobertura quase que
total da atividade do Governo.
O que se depreende dos discursos, é que há um valor simbólico em cada frase, que
promove a intenção política do Presidente em alterar a percepção dos cidadãos, codifica-
das e com significados e ideologias que pretendem demostrar a maneira como quer admi-
nistrar o país e como avalia a realidade nacional e em última análise, aborda os diversos
tipos de problemas que afligem os cidadãos.
Crê-se que este artigo pode despertar o interesse para a análise dos processos de mu-
danças e ajudar a recontextualizar as práticas pouco transparentes que os discursos vêm
criticando, visando constituir sentidos que respondam às circunstâncias específicas de
cada contexto.
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Martinho Borromeu
Decano da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Nacional Timor-Lorosa’e.
1. Introdução
É nossa intenção apresentar, no contexto da AULP, algumas das preocupações e de-
senvolvimentos em torno das direções temáticas que a Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas (FFCH) da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) tem vindo a assu-
mir, tendo em consideração a atual realidade social, cultural e política de Timor-Leste.
Neste sentido, são três as linhas de orientação e investigação que se traduzem: a) numa
vertente política e de direitos humanos; b) numa vertente cultural; c) numa vertente edu-
cativa. Estas três vertentes têm como finalidade elevar a qualidade da educação e promo-
ver a coesão social em Timor-Leste.
A vertente política e de direitos humanos efetiva-se com o estudo dos processos de
reconciliação nacional para a paz em Timor-Leste e a tentativa de apontar soluções para
determinados problemas; a vertente cultural tem como preocupação a forma como é se
pode desenvolver a filosofia em Timor-Leste de forma gradual e progressiva; a vertente
educacional tem como finalidade o estudo e a defesa da necessidade da criação da disci-
plina de filosofia no ensino secundário em Timor-Leste.
1. Neste ponto, é importante salientar que já foram produzidos estudos dentro destas temáticas e que devem
ser aproveitados para análise, comparação, consolidação e reflexão. Entre alguns dos estudos mais recentes,
podemos citar os trabalhos da autora Anabela Barros (BARROS, Anabela Leal (2019). O Galo do Oriente –
Contos e Lendas de Timor-Leste. Ribeirão: Edições Húmus); a Timor-Leste Studies Association, através da
TLSA Conference 2015, 2013, 2011, 2009; a Revista Diálogos, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Nacional de Timor-Lorosa’e, entre outros.
2. A filosofia dos sábios designa-se pelo conjunto de ideias filosóficas de alguns indivíduos que estão presen-
tes nas comunidades nativas e que ainda não sofrerem influências das sociedades ocidentais.
Referências Bibliográficas
BARROS, Anabela Leal (2019). O Galo do Oriente – Contos e Lendas de Timor-Leste. Ribeirão: Edições
Húmus.
BORGES, Talitha (2015). Direito à Verdade e Justiça de Transição: a Comissão de Acolhimento, Verdade
e Reconciliação de Timor-Leste. Dissertação de mestrado não publicada, Mestrado Direito Internacional da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, Brasil.
CAVR (2005) Chega!: The Report of the Commission for Reception, Truth and Reconciliation in Timor-
-Leste, Executive Summary, Dili: CAVR.
DURAND, Frederic (2010). História de Timor-Leste. Tradução de Daniel Lacerda. Lisboa: Editora Lidel.
ORUKA, Henry Odera (1991). Sage Philosophy: Indigenous Thinkers and Modern Debate on African
Philosophy. Nairobi: African Centre For Technologies Studies Press.
RUNES, Dagobert (1990). Dicionário de Filosofia. Lisboa: Editorial Presença.
SENGHOR, Leopold (1969). Ce que L’Homme Noir Apporte. L’Homme de Coleur. In Castellaneta. C.,
Antologia Lírica. Milano: Sansoni.
SÍLVIO, Elia (1989). A Língua Portuguesa no Mundo. São Paulo: Editora Ática.
SPIVAK, Gayatri (2010). Pode o Subalterno Falar? Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos
Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG.
TRIBESS, Camila (2013). CAVR Timor-Leste: Disputas entre a formação de verdades e a construção de
justiças. Compreender Timor-Leste, I, TLSA Conference 2013. 170-175.
Introdução
O Instituto Superior de Ciências de Educação do Cuanza Sul (ISCED CS) emana do
então pólo universitário do Cuanza Sul, o qual tinha sido integrado ao Centro Universi-
tário de Benguela no ano de 2002, pertencente ainda à Universidade Agostinho Neto
(única universidade pública na altura), tendo iniciado as suas actividades com um uni-
verso de apenas 107 estudantes nos cursos de licenciatura em Pedagogia e ensino da
Psicologia.
Com o redimensionamento da universidade Agostinho Neto e o consequente surgi-
mento das regiões académicas (no ano de 2009), o Cuanza Sul foi inserido na região
académica II sob a égide da Universidade Katyavala Bwila (UKB), com sede em Bengue-
la. Foi deste modo que o Pólo Universitário se transformou em Instituto Superior de Ci-
ências da Educação do Cuanza Sul como Unidade Orgânica desta Universidade.
Actualmente a instituição ministra sete cursos de graduação: Ensino da Pedagogia,
Psicologia, História, Sociologia, Matemática, Geografia e Química e três cursos de Pós
graduação: Mestrado em Educação Pré – Escolar, Mestrado em Ensino Primário e Mes-
trado em ciências da educação, o qual contempla três especializações: Ensino da Matemá-
tica, Língua portuguesa, História e Geografia.
A instituição tem neste momento um universo de 2.262 estudantes nos cursos de licen-
ciatura, 134 nos cursos de pós graduação e conta com um quadro docente constituído por
18 Doutores, 26 Mestres e 21 licenciados. Quanto aos egressos, até ao presente momento
foram lançados no mercado de trabalho 2.385 licenciados e 37 mestres.
O ISCED CS é um espaço de produção, transmissão e divulgação do conhecimento,
que no contexto das outras instituições do Ensino superior, desenvolve suas activida-
des com base na tríade Ensino, Investigação e Extensão Universitária e para o efeito, no
2. A Internacionalização do ISCED CS
A internacionalização do ensino superior é uma tendência global e tem sido foco de
atenção da Universidade Katyavala Bwila e consequentemente do Instituto Superior de
Ciências da Educação do Cuanza Sul no intuito de impulsionar a cooperação académica
que promova a excelência no Ensino, Investigação e Extensão Universitária.
Entre vários convénios internacionais da UKB, o ISCED CS tem em funcionamento
os convénios com a Escola Superior de Educação de Lisboa, a Faculdade de Educação de
São Paulo (FEUSP), a Universidade do Centro Oeste (UNICENTRO), a Universidade do
Estado de Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Estão em tramitação os convénios com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) e com a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
4. Conclusões
O Instituto Superior de Ciências da Educação do Cuanza Sul tem tirado bom proveito
dos convénios internacionais o que tem contribuído muito nos processos da difusão e
socialização do conhecimento; no aprimoramento curricular e criação de novos cursos;
no fornecimento de subsídios para o aperfeiçoamento da estrutura e directrizes da própria
universidade com acções formativas (ensino – pesquisa – extensão) na linha da busca da
qualidade; no Conhecimento da comunidade universitária sobre a problemática interna-
cional e actuar na busca de soluções plausíveis (mobilidade docente, discente e pessoal
administrativo).
5. Referências Bibliográficas
Bernheim, C. T e Chaui, M. S (2003): Desafios da Universidade na Sociedade do Conhecimento. Artigo
produzido pelo Comité Científico Regional para a América Latina e o Caribe, do Fórum da UNESCO, Paris.
Instituto Superior de ciências da Educação do Cuanza Sul (2016 –2017): Síntese das principais activida-
des.
Oberdan Dias da Silva (1997, Palestra proferida no II Simpósio Multidisciplinar “A Integração Universida-
de-Comunidade”, em 10 de outubro de 1996),. Integração III(9):148-9
Tiago Castela
Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC), Portugal; E-mail: [email protected]
Cesaltina Abreu
Universidade Agostinho Neto, Angola
Eurídice Monteiro
Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), Cabo Verde
Marina Mello
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brasil
Ricardo Cardoso
Yale-NUS College, Singapura
Jacqueline Freire
Universidade Federal do Pará (UFPA), Brasil
1. Os autores Cesaltina Abreu, Marina Mello, e Tiago Castela são membros da actual Direcção da AILPcsh,
que iniciou o seu mandato em 2015. Os autores Eurídice Monteiro, Jacqueline Freire, e Ricardo Cardoso são
membros da Direcção eleita, que tomará posse em Outubro de 2019.
2. A RCSS havia sido fundada em 1978, principalmente por docentes da recentemente fundada Faculdade de
Economia de Coimbra, entrando posteriormente para o conselho editorial docentes de Letras. O Centro de Es-
tudos Sociais foi então fundado como associação, inicialmente com o objectivo único de ser a entidade que
publicaria a revista (Cardina e Ribeiro 2018, 20). A revista dedicou três números a uma seleção de atas do
Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais de 1990. No número 32, foram publicados os textos das
sessões plenárias, sob os temas “Democracia e desigualdades sociais”, “Os novos sujeitos sociais”, e “Transna-
cionalização da cultura, saberes e identidades”. Nos números 33 e 34 foram publicados textos seleccionados
agrupados em seis temas.
3. Ao longo do artigo, utilizaremos a expressão “com língua portuguesa”, já que maior parte dos países de
língua oficial portuguesa têm outras línguas oficiais, nacionais, ou de reconhecimento oficial a escalas locais. A
constituição angolana prevê “proteger, valorizar as línguas angolanas de origem africana”, sendo as mais fala-
das o Umbundu e o Kimbundu, sem nenhuma predominar, como aliás é também o caso em Moçambique, onde
existem 23 línguas nacionais. No Brasil, há várias línguas co-oficiais à escala municipal, como o Guarani em
municípios do estado do Mato Grosso do Sul. Em Portugal, a língua mirandesa é oficialmente reconhecida.
4. Em 1988, Cardoso havia sido um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). No
campo académico, havia-se notabilizado como um dos principais proponentes da teoria da dependência. Em
1992, integrou o governo do Presidente Itamar Franco como ministro, e em 1994 foi eleito Presidente.
5. “‘1º Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais’: Portugal.” Estudos Avançados, 4 (8): 211-212.
6. “‘1º Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais’: Portugal.” Estudos Avançados, 4 (8): 212.
7. A primeira parte desta secção adapta e expande a comunicação “Ciência e sociedade: um convite à refle-
xão” da autora Cesaltina Abreu, docente e directora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências
Sociais da UAN, na sessão de abertura das XI Jornadas Científicas da Faculdade de Ciências da mesma univer-
sidade, a 23 de Novembro de 2011.
Bibliografia
Almeida, J. F. (1991). “Democracia, desigualdades, valores”. Revista Crítica de Ciências Sociais 32: 29-34.
Brah, A. (2011). Cartografias de la diáspora: Identidades en cuestión. Madrid: Traficantes de Sueños.
Cardina, M., e A. S. Ribeiro (2018). “40 anos com o CES: Entrevista com António Sousa Ribeiro por Mi-
guel Cardina”. e-cadernos CES 29: 13-35.
Cardoso, F. H. (1991). “Democracia e desigualdades sociais”. Revista Crítica de Ciências Sociais 32:
23-27.
Carrozza, C. e T. Castela (2017). “Por Universidades Comuns: Espaço e Genealogia das Emergências nas
Universidades Europeias Contemporâneas”. Portugal, território de territórios: Atas do IX Congresso Portu-
guês de Sociologia. Lisboa: Associação Portuguesa de Sociologia.
Martins, C. B. (2009). “A reforma universitária de 1968 e a abertura para o ensino superior privado no
Brasil”. Educação & sociedade 30 (106): 15-35.
Chegados próximos do fim do XXIX Encontro da AULP não posso deixar de referir e
agradecer o ambiente de cooperação, abertura e partilha que senti ao longo destes três dias
de trabalhos.
Levámos a cabo, numa organização conjunta AULP e IPL, este Encontro das Univer-
sidades de Língua Portuguesa, com a participação de cerca de duzentos conferencistas de
diferentes países de expressão oficial portuguesa, para além das muitas individualidades
convidadas, com responsabilidades académicas, culturais e políticas, e que nos honraram
com a sua presença.
Devo referir, pela sua importância política, a presença do Sr. Ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Prof. Manuel Heitor, na sessão de abertura,
bem como, do Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior, Prof. João Sobrinho Teixeira,
na sessão de abertura e de sessão de encerramento.
A AULP é uma instituição com mais de três décadas de existência, dela fazendo parte
mais de 130 membros espalhados pelos oito países que têm por língua oficial o português.
A AULP vive da vontade exclusiva dos seus membros, rege-se por princípios demo-
cráticos, possui uma presidência rotativa e a preocupação de ser uma organização abran-
gente e representativa dos seus membros.
Os encontros anuais da AULP, envolvendo muitos atores com responsabilidades na
gestão e na condução das políticas de ensino e investigação das instituições de ensino
superior, são um espaço privilegiado para o diálogo, troca de experiências e para o esta-
belecimento de acordos de cooperação no âmbito da nobre missão que as nossas organi-
zações detêm.
Cabe-nos a nós, académicos, livres de freios políticos de ocasião, darmos corpo e con-
substanciarmos o trabalho de desenvolvimento e de coesão social dos nossos concidadãos.
Nesta linha de raciocínio, há um passo determinante que urge implementar como um
verdadeiro instrumento para aproximação dos nossos povos – A Mobilidade Académica
AULP de alunos, e porque não, de docentes e funcionários não docentes.
Expressa que foi a adesão a este programa pelos membros da AULP, expresso que foi
o incentivo à sua concretização, a AULP, pelo seu posicionamento, constitui-se como a
instituição ideal na sua promoção e desenvolvimento e na mediação, necessária, entre as
instituições de ensino superior do espaço de língua portuguesa.
Contudo, face ao atual número de interessados (100 candidaturas), a operacionaliza-
Muito Obrigado,
Excelências.
São vários os aspectos que ressaltam desse XXlX Encontro, cujo balanço pormenori-
zado, a AULP irá disponibilizar nas actas do mesmo.
Permitam-me igualmente destacar aqui neste fórum, a pertinência dos estudos foca-
dos na igualdade étnica e racial, de povos de origens distintas, a quem a história conferiu
o privilégio de partilharem o mesmo espaço, realçando o exemplo dos esforços para a
afirmação da identidade afro, sobretudo no Brasil.
Realço também as tendências para a compreensão de grandes manifestações artísticas
folclóricas, a música, a dança, o cinema nos quais se descrevem traços identitários da
história dos povos.
A coesão social por via da educação é outro aspecto a destacar, que realça o papel da
escola, e como tal de todos nós, na promoção da igualdade social e, para muitos de nós, a
efectivação de uma unidade nacional enquanto factor de uma convivência sã nos nossos
países.
Merecem também destaque a evolução tecnológica e o impacto da sua aplicação para
a garantia do desenvolvimento sustentável, a continuidade dos estudos voltados para o
impacto da utilização da mesma e para a elevação da qualidade de ensino e melhoria dos
serviços de saúde, em particular na identificação das causas e de novos métodos de cura
de doenças.
Não posso deixar de destacar a pesquisa em volta dos desafios para a identificação e
estudo das línguas indígenas, assim como não podia deixar de ser, para os estudos direc-
cionados para as novas tendências no ensino da língua que nos une, o português.
Termino felicitando uma vez mais, o Instituto Politécnico de Lisboa, particularmente
à escola de música que, em três ocasiões, levou-nos a essência da música clássica, com
interpretações fabulosas e desempenhos magníficos dos seus exímios executores.
Não posso deixar de parte o reconhecimento pelo passeio a história de Lisboa, que nos
levou ao passado e imaginário de viver nos Jardins do Palácio dos Marqueses de Frontei-
ra e no mosteiro do São Vicente de Fora.
Agradecer a oportunidade que nos foi proporcionada ao tomarmos contacto com a
famosíssima e riquíssima gastronomia portuguesa. O nosso muito obrigado.
Muito obrigado