Ebook Gestão Capital Giro
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Sumário
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5
UNIDADE 1 ......................................................................................................................... 9
CAPITAL DE GIRO................................................................................................................ 9
Capital Circulante Líquido (CCL) ou Capital de Giro Líquido (CGL) ...... 11
UNIDADE 2 ....................................................................................................................... 15
Gestão do Capital de Giro ................................................................................................ 15
Ciclo Operacional, Econômico e de Caixa ........................................... 15
Necessidade de Capital de Giro (NCG) ............................................... 25
Saldo de Tesouraria (ST) .................................................................... 26
UNIDADE 3 ....................................................................................................................... 32
Política de Crédito.............................................................................. 32
Credit Score........................................................................................ 35
Administração do Disponível ............................................................. 36
Modelo do Caixa Mínimo Operacional ............................................... 38
Considerações Finais sobre a Gestão do Capital de Giro .................... 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................... 45
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GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO
INTRODUÇÃO
Antes de se iniciar a discussão sobre a gestão do capital de giro, convido você a refletir e
responder a seguinte pergunta:
Podemos pensar que as empresas existem para oferecer produtos e serviços que
satisfaçam às necessidades ou desejos dos consumidores. Ou até mesmo que algumas
criam desejos por produtos e serviços inovadores. Mas será que atender ou criar demanda
é suficiente? Claro que não! Precisamos nos lembrar sempre que a empresa é um conjunto
de recursos financeiros aplicados em ativos que por meio da sinergia entre eles devem
gerar valor ao longo do tempo.
Desta forma, entendemos que a gestão financeira garante que a empresa gere valor, por
meio de decisões de captação e aplicação de recursos que afetam o curto e o longo prazo.
Portanto, corroborando a hipótese inicial de que não é suficiente a empresa ter um grande
mercado consumidor fiel, produtos inovadores e uma imagem sem arranhões se a mesma
não puder criar valor, podemos assumir que a gestão financeira deve perseguir os três
objetivos apresentados na figura 1.
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• Curtíssimo Prazo
• Liquidez
1o
• Médio Prazo
• Lucratividade/Rentabilidade
2o
• Longo Prazo
• Retorno ao acionista/proprietário
3o • Gerar Valor
Note que dividimos os objetivos de acordo com o prazo em que eles se tornam prioritários.
Assim, no curtíssimo prazo, qualquer empresa deve ser capaz de honrar seus
compromissos financeiros (objetivo de liquidez) para poder dar continuidade às suas
atividades, deve conseguir pagar seus fornecedores, colaboradores, suas despesas
operacionais, impostos etc. Este objetivo tem relação direta com o fluxo de pagamentos e
recebimentos diários da organização. Durante os seus primeiros estágios, provavelmente
suas operações não serão lucrativas, já que este é o objetivo de médio prazo.
A rentabilidade/lucratividade tornam-se prioritárias no médio prazo e ocorrem quando
para um determinado volume de vendas, os custos e despesas gerados são inferiores, o
que resulta no lucro. Quando as operações passam a ser lucrativas, a gestão financeira
deve garantir que a rentabilidade gerada seja suficiente para manter o negócio atrativo.
Pensemos em rentabilidade como uma relação entre lucro e capital investido.
A partir deste estágio, temos que lembrar que a empresa começou porque um
empreendedor ou um conjunto de empreendedores investiram seu capital e, portanto,
esperam obter retorno sobre este investimento. É aí que começamos a falar sobre o
objetivo que passa a ser prioritário: criar valor. Assaf Neto (2010) destaca que a
administração financeira está voltada para a criação de riqueza, e a orientação básica das
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decisões financeiras das empresas segue o objetivo principal de maximização da riqueza
de seus proprietários.
Esse objetivo da administração financeira é mensurado a partir do valor que suas ações
ordinárias alcançam no mercado, refletindo em última análise, as expectativas dos
acionistas com relação aos resultados das decisões financeiras tomadas.
Uma empresa somente cria valor se o retorno do capital investido em sua atividade
exceder o custo de oportunidade das fontes de financiamento. Ao tomar decisões de
investimento que promovam esse diferencial economicamente favorável, a empresa passa
a promover um aumento de seu valor agregado, revelando uma atraente aplicação de seus
recursos (ASSAF NETO, 2010, p. 24).
Mas como podemos relacionar a gestão do capital de giro ao objetivo de geração de valor
da empresa? Para respondermos a esta questão, vamos primeiro entender o que é o
capital de giro.
O capital de giro é aquele volume de capital investido no curto prazo responsável por
possibilitar que as atividades operacionais da empresa tenham continuidade. São aqueles
recursos que a empresa deixa no seu caixa para fazer frente às necessidades de
pagamento. São também os recursos investidos no financiamento de seus clientes (já que
muitas vendas são a prazo) e nos seus estoques. Ou seja, o capital de giro equivale a todo
o investimento feito no Ativo Circulante da organização, que tem liquidez no curto prazo
e que é responsável por financiar suas necessidades operacionais identificadas desde a
aquisição de matérias-primas ou mercadorias até o recebimento pela venda do produto
acabado (Figura 2).
Quantas vezes ouvimos relatos de empresas que tiveram que encerrar suas atividades por
falta de capital de giro? Uma pesquisa de 2016 calculou a taxa de mortalidade de empresas
no país, apurada a cada dois anos pelo Sebrae e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou
a escassez de crédito para capital de giro entre as razões da “quebradeira”, ao lado de freio
no consumo, associado ao aumento do peso dos impostos no período. Dos 1,8 milhão de
empreendimentos lançados em 2014, 600 mil (ou 33% deles) fecharam as portas até o fim
de 2016.
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Figura 2: Capital de Giro.
Fonte: Matias (2007, p. 29)
Agora podemos então relacionar a gestão do capital de giro ao objetivo de criar valor. Pela
análise da Figura 2 e pela apresentação do seu conceito, fica claro que para financiar o
volume adequado de capital de giro, a empresa precisa de recursos. Sabemos que tais
recursos podem ser captados de diversas fontes diferentes e que a cada uma delas está
associado um custo de capital. Fornecedores e bancos, por exemplo são fontes de recursos
de curto prazo (estão apresentados no Passivo Circulante) e constituem alternativas muito
comuns de financiamento do capital de giro. Mas será que estas duas fontes resultam no
mesmo custo de capital para a empresa? Se pensarmos em uma empresa brasileira, fica
fácil imaginar que captar recursos comprando a prazo de fornecedores resulta numa
alternativa muito mais “barata” do que pagar juros decorrentes de empréstimos
bancários. Lembre-se que uma empresa somente cria valor se o retorno do capital
investido em sua atividade exceder o custo de capital das fontes de financiamento.
Assim, a gestão incorreta do capital de giro pode resultar em uma excessiva necessidade
de recursos que acabarão por gerar custos acima da capacidade da empresa gerar retorno,
o que impede que o objetivo de gerar valor seja alcançado. Por isso agora vamos falar
sobre a gestão do capital de giro, seus indicadores e estratégias.
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UNIDADE 1
CAPITAL DE GIRO
Já ficou claro pela discussão anterior, que o termo giro se refere aos recursos de curto
prazo da empresa, e são comumente identificados como aqueles que são convertidos em
caixa dentro de um ano. No Balanço Patrimonial, os elementos de giro são identificados
no Ativo Circulante e no Passivo Circulante (Figura 3).
A vo Não Circulante
Realizável a Longo Prazo
Inves mentos
Imobilizado
Intangível Patrimônio Líquido
O capital de giro representa o total de volume de recursos necessários para que a empresa
financie suas necessidades operacionais, que englobam as atividades que vão desde a
compra das matérias-primas até a venda e o recebimento dos produtos elaborados.
O que torna a gestão do capital de giro tão desafiadora para grande parte das empresas é
o fato de que as atividades que compõem a sua operação não costumam acontecer de
maneira sincronizada. Imaginemos que em uma indústria, as matérias-primas são
compradas e estocadas durante determinado período de tempo antes de serem utilizadas
na produção. Quando o processo produtivo se inicia, os estoques de matérias-primas são
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agora estoques de produtos em elaboração que se convertem em estoques de produtos
acabados quando o processo produtivo termina. Tais produtos ficarão na empresa por
mais um tempo até que sejam vendidos. Durante todas estas etapas, em algum momento
a empresa pagou seu fornecedor e recebeu do cliente (este evento pode ocorrer inclusive
após a venda do produto acabado). Dá para imaginar que definir de maneira sincronizada
prazos de pagamento de fornecedor, prazos de recebimento de clientes, políticas de
estocagem, fazer o planejamento e controle da produção não é tarefa fácil e muitas vezes
a empresa é incapaz de otimizar a gestão de todas estas atividades que compõem a sua
operação?
Agora podemos ter maior compreensão do quão desafiadora é a gestão do capital
de giro. Além disso, o volume de capital de giro varia de acordo com o volume de vendas,
sazonalidade do negócio, fatores cíclicos da economia, tecnologia e política de negócios
(Figura 4).
Assaf Neto (2012) destaca que a administração do capital de giro diz respeito à
administração das contas dos elementos de giro, ou seja, dos ativos e passivos circulantes,
e as inter-relações existentes entre eles. Devemos lembrar que a empresa deve conseguir
10
dar continuidade às suas operações ao mesmo tempo que deve garantir a manutenção da
sua capacidade de pagamento e maximizar sua rentabilidade.
Já vimos que a gestão do capital de giro pode se tornar desafiadora para muitas empresas,
especialmente devido à falta de sincronização entre os elementos da sua operação.
Portanto, o entendimento dos principais indicadores e parâmetros utilizados para o
diagnóstico e acompanhamento da gestão financeira de curto prazo da empresa é de
grande importância. Falaremos inicialmente sobre o Capital Circulante Líquido (CCL)
também denominado Capital de Giro Líquido (CGL).
O CCL é obtido pela diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. Reflete a
folga financeira por representar o volume de capital de giro (Ativo Circulante) financiado
por recursos de longo prazo. Vejamos melhor analisando a Figura 5:
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Passivo Circulante
A vo Circulante $20
$35
CCL = $15
Passivo Não Circulante
$30
A vo Não Circulante
Patrimônio
$65
Líquido
$50
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caso todo o Ativo Circulante seja convertido em dinheiro, este montante não seria
suficiente para cobrir todas as obrigações de curto prazo caso as mesmas fossem pagas no
mesmo momento. Tal condição coloca a empresa em uma situação de maior risco em
relação à sua capacidade de pagamento, quando comparada a uma empresa com LC maior
do que 1. E o que podemos falar sobre o Capital Circulante Líquido nestes casos em que o
Passivo Circulante é maior do que o Ativo Circulante? Vejamos na Figura 6:
A vo Circulante
$70 Passivo Circulante
$110
CCL = -$40
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representa uma situação em que há recursos de terceiros de curto prazo sendo utilizados
para financiar os investimentos de longo prazo da empresa, gerando um descasamento de
prazos entre captação e aplicação arriscado, já que parte da dívida da empresa tem prazo
de resgate menor que o retorno da aplicação destes recursos.
A análise do CCL faz parte de um diagnóstico inicial da gestão do capital de giro da empresa.
Conforme já discutido, este indicador nos permite avaliar o risco associado à relação entre
os investimentos feitos no giro da empresa (Ativos Circulantes) e o volume de recursos
captados no curto prazo (Passivos Circulantes). Na próxima unidade serão apresentados
outros indicadores que complementam a análise e o diagnóstico da gestão do capital de
giro nas empresas.
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UNIDADE 2
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Compra Início Fim Recebimento
Matéria- Fabricação Fabricação Vendas Vendas
Prima
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A soma de todos os prazos operacionais descritos indica o tempo médio decorrido desde
a compra da matéria-prima até o momento do recebimento do valor da venda. Quanto
mais longo se apresentar este período, maior será a necessidade de recursos para financiar
o giro da empresa. Assim, podemos definir o ciclo operacional como o intervalo de tempo
em que não ocorrem ingressos de recursos financeiros na empresa, demandando-se
capital para financiá-lo, sendo estimado pela soma do prazo médio de estocagem e do
prazo médio de recebimento.
A importância do diagnóstico do ciclo operacional está no fato de que, por ser um período
em que não há entrada de recursos financeiros, a empresa precisa buscar meios para
manter sua operação. Assim, quanto mais longo este período, mais recursos serão
necessários (Figura 8).
Necessidade de
Recurso Acumulada
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O prazo médio de estocagem, que consiste no tempo médio requerido entre o
recebimento da matéria-prima e a venda do produto acabado, é calculado dividindo-se os
estoques médios (média de dois períodos) pelo custo do produto ou da mercadoria
vendida diário (considerado o CPV anual dividido por 360).
Supomos uma empresa que tenha $300 mil de estoques médios e que seu custo do
produto vendido anual seja de $1.500.000. Neste caso, seu PME seria de 72 dias e
calcularíamos da seguinte forma:
Sabemos agora que o produto fica em média 72 dias na empresa antes de ser vendido.
Lembremos que este período envolve a permanência do produto na empresa em suas
diversas formas: matéria-prima, produto em elaboração e produto acabado.
O prazo médio de recebimento consiste no tempo médio necessário para transformar as
contas a receber em caixa, ou seja, o período entre a venda e seu efetivo recebimento.
Pode ser calculado dividindo-se o valor médio das contas a receber (média de dois
períodos) pelas receitas de vendas diárias (considerando as receitas anuais divididas por
360).
Supomos que aquela mesma empresa que tenha PME de 72 dias em média, $255.000 de
contas a receber e um faturamento anual de $2.750.000. Neste caso, seu PMR seria de
aproximadamente 33 dias e poderíamos estimá-lo da seguinte forma:
Ciclo Operacional
Ciclo Econômico
PMP PMR
Ciclo Financeiro (Caixa)
Para que possamos estimar a duração do ciclo financeiro ou de caixa, torna-se necessário
identificar o prazo médio de pagamento da empresa. Este prazo constitui o tempo médio
entre a recepção da matéria-prima e seu pagamento ao fornecedor. Podemos estimá-lo
dividindo o valor médio dos fornecedores pelas compras diárias.
Uma das maneiras de calcularmos o valor das compras é somarmos ao custo do produto
vendido (CPV) do período os estoques finais (EF) e subtrairmos os estoques iniciais (EI).
COMPRAS = CPV + EF - EI
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Vamos supor que aquela mesma empresa que apresentou um ciclo operacional de 105
dias, tenha divulgado no seu último balanço um valor de estoques equivalente a $350.000
e que no ano anterior esta conta era de $250.000 (por isso seu estoque médio foi de
$300.000). O valor do custo do produto vendido, como já vimos, foi de $1.500.000, e a
média dos fornecedores era de $300.000.
Neste caso, as compras do período totalizaram $1.600.000 e, portanto, o seu prazo médio
de pagamento de fornecedores foi de 68 dias.
21
Figura 10: Ciclos operacional, econômico e de caixa da empresa exemplo.
Quando falamos em gestão do capital de giro, devemos ter em mente que todas as
decisões operacionais do dia a dia da empresa como compra de mercadorias de
fornecedores, negociação de prazos com clientes, planejamento e controle da produção
afetam a duração do seu ciclo operacional e de caixa. Conforme já discutimos, quanto mais
longo o ciclo operacional e especialmente o ciclo de caixa, mais recursos a empresa deverá
conseguir obter para financiar a continuidade das suas operações. Se formos considerar as
altas taxas de juros cobradas pelos bancos brasileiros e até mesmo o custo de
oportunidade do capital próprio, podemos concluir que é estratégica a gestão dos prazos
médios. Portanto, vamos resumir a maneira como podemos calcular os prazos discutidos
nesta unidade na Figura 10.
22
ASSISTA AGORA A VIDEOAULA SOBRE PRAZOS MÉDIOS, CICLO OPERACIONAL E
CICLO DE CAIXA
Uma das estratégias que devem ser perseguidas pela empresa é a redução do seu ciclo
operacional e especialmente do seu ciclo de caixa para que a necessidade de recursos
externos à operação seja a menor possível. Isso ocorre porque qualquer que seja a fonte
destes recursos externos (bancos ou capital próprio), o custo deste capital será mais alto
do que aquele capital vindo da própria operação, como aquele obtido com os
fornecedores.
Apesar de não ser a situação ideal quando falamos em gestão do capital de giro, é muito
comum a empresa precisar de recursos para financiar seu ciclo de caixa. Já falamos que
um dos grandes desafios está na falta de sincronização dos elementos de giro, o que
dificulta por exemplo, que o recebimento pela venda dos produtos aconteça antes do
pagamento dos fornecedores. Por isso, a análise e dimensionamento da necessidade deste
investimento no capital de giro pode ser estratégica para a empresa.
Assaf Neto (2012) afirma que uma importante metodologia de estudo da posição de
equilíbrio de uma empresa é aquela baseada na distinção de seus ativos e passivos
circulantes em itens operacionais e financeiros. Tal distinção permite que se identifiquem
as efetivas necessidades de capital de giro de uma empresa, ou seja, o volume de
investimento operacional em giro adequado para seu equilíbrio financeiro. A Figura 11
ilustra os principais valores patrimoniais e financeiros que compõem cada um desses
grupos.
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O ativo circulante financeiro é formado sem apresentar necessariamente vínculo direto
com o ciclo operacional da empresa. Não denota qualquer comportamento
preestabelecido, variando mais em função da conjuntura e do risco de maior ou menor
liquidez que a empresa deseja assumir.
FINANCEIRO
Emprés mos Bancários
Caixa e Bancos Financiamentos
Aplicações Financeiras Duplicatas Descontadas
CIRCULANTE
CIRCULANTE
Dividendos e IR
OPERACIONAL
OPERACIONAL
Fornecedores
Salários e Encargos
Duplicatas a Receber
Impostos e Taxas
Estoques
Adiantamento de
Clientes
O ativo circulante operacional é composto de valores que mantêm estreita relação com a
atividade operacional da empresa. Seus elementos são diretamente influenciados pelo
volume de negócios (produção e venda) e características das fases do ciclo operacional
(condições de recebimentos das vendas e dos pagamentos a fornecedores, prazos de
estocagem etc.).
O passivo circulante financeiro inclui as dívidas da empresa junto a instituições financeiras
e outras obrigações que também não apresentam nenhum vínculo direto com sua
atividade operacional. Alterações que possam ocorrer no volume de atividade ou nas fases
operacionais não repercutem diretamente sobre o passivo financeiro.
O passivo circulante operacional representa as obrigações de curto prazo identificadas
diretamente com o ciclo operacional da empresa, ou seja, as dívidas de funcionamento,
especialmente com fornecedores.
24
Necessidade de Capital de Giro (NCG)
Outro parâmetro importante para a gestão do capital de giro nas empresas é o saldo
disponível ou saldo de tesouraria, que envolve as contas financeiras do ativo e do passivo
circulantes. O saldo de tesouraria (ST) corresponde à diferença entre o ativo circulante
financeiro e o passivo circulante financeiro.
O saldo de tesouraria funciona como uma reserva financeira da empresa para fazer frente
a eventuais expansões de necessidade de investimento operacional em giro. O aumento
do passivo circulante financeiro, devido por exemplo a sucessivos empréstimos bancários
ou descontos de duplicatas, pode acarretar aperto financeiro e consequente aumento do
risco financeiro. A gestão do capital de giro financeiro está intimamente ligada à liquidez
da empresa, ou seja, sua capacidade de pagamento. Normalmente, problemas na gestão
do capital de giro operacional resultam na deterioração do saldo de tesouraria (MATIAS,
2007).
A necessidade de capital de giro, conforme já vimos, surge do desequilíbrio entre a geração
e a aplicação dos recursos operacionais, em que o ativo circulante operacional não pode
26
ser totalmente financiado pelo passivo circulante operacional. Assim, a empresa passa a
ter que buscar recursos externos ao seu ciclo operacional para financiar o capital de giro,
que podem ser recursos próprios (custo de oportunidade) ou recursos de terceiros
(bancos). Podemos apresentar esquematicamente as relações entre o capital circulante
líquido (CCL), a necessidade de capital de giro (NCG) e o saldo de tesouraria (ST) da
seguinte maneira (Figura 12):
Assim, se o capital circulante líquido pode ser entendido como a soma da necessidade de
capital de giro e o saldo de tesouraria, podemos então estimar o saldo de tesouraria (ST)
por meio da diferença entre o capital circulante líquido (CCL) e a necessidade de capital de
giro (NCG).
SE CCL = NCG + ST
Então:
ST = CCL - NIG
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Se a “Empresa A” tem a seguinte estrutura (Figura 13):
PC FINANCEIRO
AC FINANCEIRO $20
$30
PC OPERACIONAL
$40
AC OPERACIONAL
$60
PASSIVO NÃO
CIRCULANTE + PL
ATIVO NÃO
$80
CIRCULANTE $50
CCL = $30
NCG = $20
ST = $10
Neste caso, o ativo circulante é de $90 e o passivo circulante é de $60, o que significa que
a empresa tem uma folga financeira, já que $30 de seu capital de giro estão sendo
financiados por recursos de longo prazo (PNC + PL). Além disso, identificamos uma NCG de
$20 ($60 - $40), já que as fontes de recursos operacionais (fornecedores, salários,
impostos) financiam somente $40 dos $60 investidos na operação da empresa (em
estoques e contas a receber, principalmente). E finalmente, vemos que apesar da empresa
ter uma NCG positiva, seu ST é de $10, já que sua folga financeira é superior à sua
necessidade de capital de giro ($30 - $20). Agora vamos analisar a estrutura da “Empresa
B” (Figura 14).
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AC FINANCEIRO PC FINANCEIRO
$30 $50
AC OPERACIONAL
$35 PC OPERACIONAL
$30
CCL = -$15
NCG = $5
ST =- $20
29
evidencia potenciais problemas de solvência e se a empresa não conseguir renovar seus
passivos financeiros, dos quais se apresenta bastante dependente, sua posição financeira
será agravada.
À medida que se eleva a diferença entre o capital circulante líquido (CCL) e a necessidade
de capital de giro (NCG), revela-se maior deterioração da situação financeira da empresa,
tornando sua atividade operacional mais dependente de recursos externos. Além disso,
uma NCG positiva e um CCL negativo ao mesmo tempo, configura-se um agravamento da
situação financeira, expondo a riscos a continuidade dos negócios.
Uma estrutura de menor risco deve apresentar um CCL maior do que a NCG, denotando a
presença de uma reserva financeira no saldo de tesouraria para atender às sazonalidades
da empresa. Por isso, uma empresa pode conviver com um CCL negativo desde que sua
NCG também seja negativa.
Toda empresa possui um limite financeiro capaz de suportar determinado volume de
negócios. Quando o volume de vendas exceder este limite, ou quando a capacidade de
financiar os negócios se reduzir, tem-se uma consequente redução na margem de
segurança da empresa. Nestas situações, uma expansão no volume de vendas ocasiona
um crescimento da NCG superior ao aumento do CCL, fazendo com que ocorra o
overtrading. A palavra overtrading significa o ato de fazer negócios superiores à
capacidade de financiamento da necessidade de capital de giro, decorrente desses
negócios.
Uma situação muito comum que leva ao overtrading ocorre quando uma empresa decide
promover economias de escala através de uma grande expansão em seu nível de produção
e vendas. Além da redução da capacidade ociosa, o aumento do volume de atividade
operacional proporciona maior diluição dos custos fixos com uma consequente redução
do custo unitário do produto.
De acordo com Assaf Neto (2012), esta expansão das operações de produção e vendas
demanda naturalmente maior volume de investimentos em giro (duplicatas a receber e
estoques, por exemplo). O overtrading ocorre quando o CCL existente não for suficiente
para cobrir financeiramente estes investimentos adicionais. A NCG passa a crescer
30
bastante, superando em pouco tempo o nível de CCL, resultando em saldos de tesouraria
negativos.
31
UNIDADE 3
Política de Crédito
O crédito fornecido ao cliente, por meio das vendas a prazo da empresa, é um dos
principais itens da gestão do capital de giro. Ele é importante na alavancagem de vendas e
responsável por grande parte dos recursos aplicados no ativo circulante. A política de
crédito definida pela empresa influencia o fluxo de caixa e os investimentos necessários
em capital de giro, já que alterações de prazo e condições de pagamento alteram as vendas
e muitas vezes o perfil da clientela e pressupõem um gasto maior com cobrança para
receber dos inadimplentes e podem ainda aumentar as perdas com devedores duvidosos.
A política de crédito torna-se, desta forma, estratégica para a gestão do capital de giro. O
estabelecimento da política de crédito envolve a definição de processos e padrões para a
análise e concessão do crédito, monitoria e controle e cobrança. Porém, sabemos que
existe, na maioria das organizações, um conflito natural entre vendas e concessões de
crédito. A área de vendas necessita cumprir metas e cotas, buscando aumentar o retorno
da organização, enquanto que a área de crédito tem regras e políticas restritivas de
concessão de crédito aos clientes que possam oferecer risco de não-recebimento,
buscando reduzir o risco da organização. O problema de conflito emerge na tensão da
busca de maior faturamento com o menor volume de perdas de crédito.
A política de crédito é composta de quatro elementos, conforme podemos visualizar
adiante:
32
Padrão: tem relação com os critérios mínimos para a
liberação de crédito a um cliente. Estes critérios podem ser
rígidos ou não – quanto mais rígidos, menores serão os riscos
de inadimplência e insolvência, mas também menores os
volumes de vendas;
Prazo: tem relação quanto ao tempo médio de
recebimento – quanto maior o prazo, maior também será a
chance de não-recebimento;
Desconto: pode motivar os clientes a anteciparem o
pagamento quando julgarem o desconto interessante,
diminuindo assim a necessidade de capital de giro da empresa;
Cobrança: está relacionada ao estabelecimento de
estratégias de recebimento de créditos atrasados.
33
Capital: identifica a situação patrimonial do tomador, de forma
a dimensionar seu potencial de pagamento, através de
informações financeiras e demonstrações contábeis, que
fornecem informações relevantes para a análise da situação
econômico-financeira do tomador, sua estrutura de capital,
seu nível de endividamento, sua capacidade de geração de
caixa, seu nível de liquidez etc. (verificar posse de ativos fixos
e de outros bens, patrimônio líquido, endividamento, estrutura
de capital, relação de bens etc);
Capacidade: mede a habilidade dos administradores em gerir
seu negócio, diz respeito ao desempenho econômico e à
geração de recursos financeiros futuros (verificar receitas,
despesas, resultados, comprovantes de renda, declaração de
imposto de renda etc.);
Condição: identifica a influência de fatores externos ao
ambiente da empresa ou da pessoa física, tais como mudanças
macroeconômicas, variações de câmbio, sazonalidade de
mercados etc. (verificar variáveis econômicas e setoriais);
Colateral: diz respeito à qualidade das garantias oferecidas
pelo tomador do recurso (verificar garantias como hipoteca de
imóveis, alienação de máquinas e veículos, penhor de
estoques, avais e fianças etc.);
Conglomerado: relaciona o tomador do financiamento a um
grupo de empresas ou pessoas, e possibilita a avaliação mais
homogênea para todo o grupo (verificar dados financeiros do
grupo econômico, demonstrativos consolidados).
34
A análise quantitativa apoia-se no uso de modelos matemáticos. Com a crescente e rápida
evolução das tecnologias da informação, diversos tipos de modelos de avaliação de risco
de crédito têm sido criados, cada um para fins específicos e cada vez mais completos em
termos de variáveis que explicam o comportamento do tomador de crédito. Para tanto,
diversas técnicas estatísticas têm sido utilizadas, de acordo com as necessidades de cada
organização fornecedora de crédito.
Credit Score
Credit score pode ser definido como o processo de atribuição de pontos às variáveis de
decisão de crédito mediante a aplicação de técnicas estatísticas. A análise de crédito por
pontuação tenta incorporar uma série de variáveis na concessão de crédito, variáveis estas
que podem abranger aspectos como localização, situação patrimonial, garantia etc..
De acordo com Matias (2007), trata-se da definição da probabilidade de que um cliente
com certas características pertença ou não a um grupo possuidor de outras determinadas
características consideradas desejáveis, ficando a critério de a instituição conceder ou não
crédito ao cliente.
O credit score é um sistema utilizado por quem fornece crédito, em que são analisadas
diversas informações sobre o cliente (tais como os Seis C’s de crédito) para que ao mesmo
seja atribuído um score (nota) que irá refletir seu risco de não-pagamento para a empresa
concedente do crédito. Os principais pontos positivos do uso do credit score são:
Administração do Disponível
Sabemos que em uma situação ideal, em que uma empresa tenha controle total sobre sua
liquidez, seu saldo de caixa seria zero. Porém, fatores como alto custo do dinheiro,
incerteza do fluxo de caixa e ocorrência de imprevistos fazem com que qualquer entidade
precise manter, em magnitudes diferentes, um nível mínimo de caixa.
Existem três motivos principais para que uma empresa mantenha um valor mínimo no
caixa:
36
eventualidades. Em geral, quanto mais propensa ao risco se
mostrar a empresa, menor a quantidade de dinheiro mantido
no caixa por este motivo;
Especulação: a existência de recursos no caixa por este motivo
decorre da perspectiva de uma oportunidade futura para fazer
negócios.
Existem vários modelos para determinar o valor que uma empresa pode deixar em caixa.
O fluxo de caixa é uma metodologia que permite à empresa determinar o seu fluxo de
recursos futuros e, a partir desta informação, administrar o caixa e assim minimizar sua
necessidade de recursos. A seguir serão apresentados alguns modelos que tratam da
determinação do caixa mínimo.
37
Modelo do Caixa Mínimo Operacional
360
Giro de Caixa =
Ciclo de Caixa
Suponhamos que uma empresa tenha projetado para certo período desembolsos totais de
R$4,5 milhões. Sabemos que o seu ciclo de caixa é de 30 dias, ou seja, este é o intervalo de
tempo entre o pagamento do fornecedor e o recebimento pelas vendas, ou o intervalo de
tempo em que a empresa somente desembolsa recursos. Desta forma, podemos calcular
o seu giro de caixa e seu caixa mínimo operacional:
360
Giro de Caixa = = 12 vezes
30
Um ciclo de caixa de 30 dias indica que o caixa da empresa gira, ou se renova 12 vezes no
período (neste caso, no ano).
R$4.500.000
Caixa Mínimo Operacional = = R$375.000
12
38
Neste caso, a empresa deve manter um caixa mínimo de R$375.000,00. E caso seu ciclo de
caixa diminua e, portanto, seu giro de caixa aumente, este valor pode ser reduzido, já que
o caixa mínimo operacional será menor quanto maior for o giro do seu caixa.
Assim, vamos supor que a mesma empresa do exemplo anterior reduza o seu ciclo de caixa
de 30 dias para 24 dias. Neste caso, seu giro de caixa passará de 12 para 15 vezes e se o
mesmo volume de desembolsos previstos for mantido, seu novo caixa mínimo operacional
será de R$300.000,00, ou seja, 20% menor do que o valor calculado anteriormente.
Modelo Baumol
39
$
Tempo
Figura 15: Modelo Baumol
0,5𝑖𝑅
𝑁= √
𝑏
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feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a empresa despende $2,50
referentes ao custo vinculado a esta operação. Desta forma, temos:
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Modelo de Miller e Orr
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h*
z*
m*
t1 t2
O ponto de retorno, ao qual a empresa deve voltar toda vez que o caixa estiver acima ou
abaixo de determinado ponto, pode ser obtido da seguinte maneira:
3
𝑧 ∗ = 𝑚 + √(0,75𝑏δ2 )/𝑖
sendo m o menor valor que pode assumir o caixa, b o custo de cada transação de
investimento ou resgate, δ2 a variância diária do caixa e i a taxa de juros diária. O valor
mínimo do caixa será determinado pela empresa e deve levar em consideração a aversão
da gerência ao risco.
Uma das principais características deste modelo é que ele leva em conta a variância do
caixa, ou seja, empresas com grande dispersão neste ativo possuem maior risco e por isso
precisam manter maiores volumes de recursos financeiros no caixa.
Sabemos que o caixa mínimo m deve ser definido pela empresa e que já vimos como
calcular o ponto de retorno z*. Falta apenas visualizarmos como podemos calcular o limite
superior h*:
h* = m + 3z*
Suponhamos que uma determinada empresa tenha identificado que a variância do seu
fluxo de caixa tenha sido, em determinado período, de R$62.900,00 e que a taxa de juros
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do mercado seja de 1% ao dia. Consideraremos também um custo de R$2,85 para cada
transação, além de um caixa mínimo definido pela empresa de R$3.500,00. Aplicando o
modelo de Miller e Orr teremos:
Desta forma, para a empresa do exemplo, o limite superior seria de R$14.713,40 e seu
ponto de retorno de R$3.737,80.
Uma das principais vantagens do modelo Miller e Orr é a existência de um limite inferior e
um limite superior no qual o caixa da empresa poderá variar, o que torna o modelo flexível,
permitindo sua adaptação às condições de administração de caixa.
Conforme foi possível observar após o estudo desta disciplina, a gestão do capital de giro
pode ser um grande desafio para as empresas. Garantir uma folga financeira e uma
adequada liquidez que equilibrem risco e retorno, negociar prazos com clientes e
fornecedores, estruturar o ciclo operacional de maneira a minimizar a necessidade de
capital de giro devem ser prioridades da gestão financeira de curto prazo. Mercados como
o brasileiro, em que o custo do dinheiro é elevado, exigem ainda maior atenção por parte
das empresas. Administrar o capital de giro, fazendo com que as operações da empresa
estejam bem estruturadas, permitindo um crescimento sustentável e gerando valor para
o acionista é possível, desde que ferramentas de gestão sejam utilizadas para que haja
planejamento e controle dos resultados financeiros.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assaf Neto, A.; Silva, C. A.T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2012.
Matias, A. B. Finanças corporativas de curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. São
Paulo: Atlas, 2007.
Silva, A. A. Gestão Financeira: um estudo acerca da contribuição da contabilidade na
gestão do capital de giro nas médias e grandes indústrias de confecção do estado do
Paraná. Dissertação de Mestrado em Controladoria e Contabilidade. Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo: FEA-USP. 2002.
Silva, C.A.T. Contribuição ao estudo do capital de giro a partir do retorno sobre o ciclo
financeiro. Tese de Doutorado em Controladoria e Contabilidade. Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade. São Paulo: FEA-USP. 1996.
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