Decreto 774.2024 - Reg Lei Do Pantanal
Decreto 774.2024 - Reg Lei Do Pantanal
Decreto 774.2024 - Reg Lei Do Pantanal
Data: 14/03/2024
Título: DECRETO 774-24
Página(s): 1 a 5
O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO, no uso das atribuições que lhe confere
o artigo 66, inciso III, da Constituição Estadual, tendo em vista o que consta no Processo SEMA-
PRO-2024/02626, e
DECRETA:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Este decreto tem por objeto regulamentar os procedimentos administrativos a serem
observados para supressão de vegetação nativa, substituição de pastagens nativas e manejo da
vegetação campestre visando sua restauração e manutenção nas paisagens da Planície Alagável da
Bacia do Alto Paraguai - BAP, para efeito da exploração ecologicamente sustentável e uso
alternativo do solo no Pantanal Mato-grossense.
I - Planície alagável: corresponde a área inundável da Bacia do Alto Paraguai - BAP, área
relativamente plana, sujeita às inundações sazonais, causadas por transbordamentos de rios ou pela
concentração pluviométrica associada à impermeabilidade do solo.
II - Serviços ambientais das áreas úmidas: estocagem periódica da água e a sua lenta
devolução para os igarapés, córregos e rios conectados, reduzindo com isso a flutuação do nível da
água e o perigo de enchentes e secas catastróficas; recarga dos aquíferos; retenção de sedimentos;
purificação da água; fornecimento de água limpa; dessedentação de animais, silvestres e
domésticos; regulagem do microclima; recreação (banho, pesca, lazer); ecoturismo; manutenção da
biodiversidade; estocagem de carbono orgânico; moradia para populações tradicionais; fornecimento
de produtos madeireiros e não madeireiros (fibras, plantas medicinais, frutas, etc.), pescados e
produtos agropecuários;
III - Pastagens nativas: são as áreas naturais de campo com predominância de espécies
herbáceas nativas de valor forrageiro. Correspondem às fitofisionomias de campos limpos,
inundáveis ou não, campo cerrado, campo de murundu, vazantes, bordas de lagoas, entre outros, no
Pantanal;
IV - Formação campestre: áreas em relevo um pouco mais elevado em relação à categoria
“campo alagado e área pantanosa”, mas ainda sujeitas às inundações periódicas. São as áreas
localmente chamadas de campos, cobertas por gramíneas e outras plantas herbáceas, com poucos
arbustos e árvores;
V - Formação savânica: são paisagens contendo vegetação arbórea, arbustiva e campestre
em proporções variáveis, mas necessariamente contendo uma matriz campestre;
VI - Campos alagados: são áreas cobertas por vegetação herbácea que inundam em
determinado período do ano, conhecidas localmente como campos limpos, onde ocorrem as
principais espécies nativas forrageiras para os animais silvestres e gado;
VII - Campos de murundu: são áreas mal drenadas de matriz campestre com pequenas
elevações (ilhas) ocupadas por espécies de plantas lenhosas de cerrado;
VIII - Murundu: É um tipo de microrrelevo em forma de pequenas elevações ou montículos ou
cocurutos, geralmente arredondados, com altura entre 0,1 a 1,5 m e diâmetro de até 20 m,
temporariamente inundável nas partes mais baixas, durante o período chuvoso, formado em solos
hidromórficos com deficiência em drenagem, contendo comumente no perfil concreções
ferruginosas, apresentando grande importância ecológica por controlar o fluxo de água, a deposição
de nutrientes, a conservação de água de superfície e a biodiversidade;
IX - Solos hidromórficos: solos que em condições naturais se encontram saturados por água,
permanentemente ou em determinado período do ano, independentemente de sua drenagem atual e
que, em virtude do processo de sua formação, apresentem no seu perfil, comumente, cores
acinzentadas, azuladas, esverdeadas e/ou cores pretas, resultantes do acúmulo de matéria orgânica;
X - Restauração: restituição da cobertura vegetal nativa, abrangendo diferentes abordagens
que podem contemplar controle de espécies lenhosas em campos nativos, implantação de sistema
agroflorestal, reflorestamento, condução da regeneração natural, regeneração natural passiva,
reabilitação ecológica ou restauração ecológica;
Parágrafo único Para fins de aplicação das regras dispostas nesse Decreto será utilizada a
delimitação do Bioma Pantanal estabelecida pelo IBGE.
CAPÍTULO II
DA AUTORIZAÇÃO PARA RESTAURAÇÃO DA
VEGETAÇÃO NATIVA
Art. 3º Será admitido o controle da colonização das espécies lenhosas com finalidade de
restauração de formação campestre em paisagens do Pantanal, mediante autorização do órgão
ambiental estadual competente.
§ 2º A autorização para manejo da vegetação para finalidades definidas no caput deste artigo
só será emitida para áreas que estejam localizadas dentro das categorias de vegetação “pastagens”,
“formação campestre”, “formação savânica” e “campos alagados”, delimitadas no mapa do Anexo I,
respeitos os limites do Art. 5º do presente decreto.
§ 4º Para identificação das categorias contidas no §1º será adotado o mapa elaborado pela
EMBRAPA, contido no Anexo I do presente decreto.
§ 1º Consideram-se indivíduos jovens das espécies arbóreas previstas no inciso II, aquelas
com altura inferior a 5 metros ou diâmetro a altura do peito-DAP menor ou igual a 5 cm.
Art. 8º A autorização de manejo para a restauração das formações campestres nativas terá
validade de 3 (três) anos, podendo ser realizadas as atividades por todo o período dentro da área
autorizada pelo órgão ambiental competente.
Parágrafo único Deve ser proibido depositar esse material no interior ou nas bordas de
ambientes florestais e de cerrado, em cordilheiras, capões e murundus, por constituir material
altamente inflamável capaz de gerar incêndios danosos neste tipo de ambiente.
CAPÍTULO III
DA AUTORIZAÇÃO DE LIMPEZA DE PASTAGEM CULTIVADA
CAPÍTULO IV
DA SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO NATIVA
Art. 13 Na planície alagável do Pantanal, a supressão da vegetação nativa em propriedades
rurais está limitada ao máximo de até 40% da propriedade.
§ 4º A localização das áreas de reserva legal nos imóveis localizados na Planície Alagável da
Bacia do Alto Paraguai - BAP, priorizará total ou parcialmente as áreas correspondentes aos
corredores da biodiversidade e de seus remanescentes relevantes de vegetação nativa, sempre que
a propriedade possuir corredores em seus limites.
§ 3º O projeto de supressão de vegetação nativa que tenha como objetivo a substituição por
gramínea exótica, deverá apresentar estudo da área de intervenção, que contenha entre outras
exigências a justificativa para substituição das forrageiras nativas por exóticas, com emissão da
respectiva ART, conforme Termo de Referência Padrão.
§ 2º Será indeferida pela SEMA a supressão de vegetação nativa que incidir nas áreas de
corredores da biodiversidade e seus remanescentes relevantes de vegetação nativa, salvo quando a
somatória da APP, reserva legal e corredores de biodiversidade represente 60% ou mais da área da
propriedade rural.
CAPÍTULO IV
MANEJO COM USO DE FOGO
Art. 20 O uso do fogo para manejo direto da vegetação campestre ou para remoção de leiras
de material lenhoso já removido, deverá ser precedido da autorização de queima controlada e
atender as medidas impostas pelo órgão ambiental no ato autorizativo.
Art. 23 O uso do fogo para o manejo da biomassa vegetal combustível das áreas de Reserva
Legal poderá ser autorizada apenas se estas incluírem em seu perímetro áreas com vegetação
campestre ou de cerrado.
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 26 É permitido o pastoreio extensivo na área de reserva legal, visando a para redução
de biomassa vegetal combustível, e, consequentemente, o risco de incêndios florestais, observados
os seguintes critérios:
I - será admitido apenas nas áreas de pastagem nativa em área de reserva legal;
II - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação
nativa da área de Reserva Legal;
III - o uso pecuário extensivo não poderá comprometer a manutenção da diversidade de
espécies e a resiliência da Reserva Legal.
Art. 27 Não será permitido suprimir nenhum tipo de vegetação nativa dos murundus, nem
aplainar seu relevo.
Art. 31 A SEMA publicará os Termos de Referência Padrão para obtenção das Autorizações
descritas no presente decreto.
MAURO MENDES
Governador do Estado
FABIO GARCIA
Secretário-Chefe da Casa Civil
MAUREN LAZZARETTI
Secretária de Estado do Meio Ambiente