Fibromialgia

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ATÉ O ABRAÇO DÓI: COMO SE DÁ A EXPERIÊNCIA DE ENFRENTAMENTO DE

PESSOAS DIAGNOSTICADAS COM FIBROMIALGIA

Katya Regina Nunes de Almeida1


Vânia Maria Congro Teles²

RESUMO

A Fibromialgia é uma doença psicossomática que gera dor generalizada em todo corpo
do indivíduo que é por ela acometido, sendo essa acompanhada de fadiga, insônia,
depressão, angústia, entre outros. A natureza dos sintomas é subjetiva, o que dificulta o
seu diagnóstico. O sofrimento psíquico causado por ela gerou o interesse de se
pesquisar, utilizando os métodos bibliográficos, qualitativos e descritivos, como se dá a
experiência de enfrentamento de pessoas diagnosticadas com Fibromialgia, como é o
seu cotidiano, os fatores psicossomáticos e os sofrimentos psíquicos ligados a ela. As
informações e as entrevistas realizadas mostram que o enfrentamento da síndrome se
dá através de medicações, atividade física e terapia. Embora a psicologia seja uma
importante aliada no tratamento dos sintomas psíquicos, emocionais, esse recurso
ainda não vem sendo explorado de forma plena.
Palavras-Chave: Fibromialgia, dor, psicossomática, enfrentamento.

ABSTRACT

Fibromyalgia is a psychosomatic illness that generates generalized pain in the hole body
of the individual that is affected by it, being accompanied by fatigue, insomnia,
depression, anxiety, among others. The nature of the symptoms is subjective, which
makes diagnosis difficult. The psychic suffering caused by it has generated the interest
of researching, using bibliographic, qualitative and descriptive methods, such as the
experience of coping with people diagnosed with Fibromyalgia, such as their daily life,
psychosomatic factors and psychic suffering related to it. The information and interviews
carried out show that the syndrome is dealt with through medication, physical activity
and therapy. Although psychology is an important ally in the treatment of psychic and
emotional symptoms, this feature has not yet been explored in its plenitude.
Keywords: Fibromyalgia, pain, psychosomatic, coping.

1 INTRODUÇÃO

“A dor é como se fosse um grito de dentro para fora, uma dor que você não consegue
dar nome. Era como se minha carne e meu corpo estivessem gemendo”. (Orquídea)
______________________________
Graduanda do Curso de Psicologia da Católica de Vitória Centro Universitário. E-mail:
[email protected],
2
Psicóloga pela PUC/RJ, Mestre em Psicologia da Personalidade, Cognitiva e Social pela UFRJ,
Especialista em Psicologia Clínica. E-mail:[email protected]
A Fibromialgia é uma síndrome que gera dores generalizadas em todo o corpo. As
pessoas afetadas passam por dificuldade de definirem essa dor, relatam sintomas de
fadiga, sensação de que não dormiram, alterações na memória, dificuldades de
concentração, sentem muita ansiedade, dormências, depressão, tontura, dores de
cabeça e ficam muito sensíveis ao toque. Segundo o CID 10 (Classificação Internacional
de Doença), (2008, M79.7, p. 150), “Esta síndrome tem como característica o sofrimento
causado aos portadores, ou seja, quanto mais avançado o estágio, maior o sofrimento,
principalmente no âmbito psicológico”
Durante muito tempo a Fibromialgia não foi reconhecida como doença por não
apresentar sintomas expressos no corpo que pudessem caracterizá-la de forma
específica. Desta forma muitas dúvidas foram levantadas sobre a veracidade das dores
apresentadas pelas pessoas afetadas.
Durante largos anos, os doentes Fibromialgicos foram rotulados como doentes
psiquiátricos, uma vez que, apesar das queixas generalizadas de dor e da
acentuada fadiga, estas não eram justificadas pelas análises normais nem
fundamentadas por outros exames médicos realizados. (SÁ et al., 2005, p. 102).
A Fibromialgia veio a ser reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial da
Saúde) no ano de 1992. Como o sistema de Classificação Internacional de Doença
ressalta o seu aspecto psicológico, conclui-se que se trata de uma doença
psicossomática. Ressalta-se que o termo “Psicossomático” é uma junção das palavras
gregas psique (alma) e soma (corpo). Assim, ele engloba em si, as enfermidades que
afetam não só o corpo, mas também o psicológico, a alma.
Nesse processo de reconhecimento da doença, fatores psicossomáticos são relevantes,
pois acredita-se haver uma interação entre sofrimento psíquico e sofrimento físico.
Segundo Cruz e Pereira Junior (2011, p. 47):
O problema mente-corpo tem sido tema de discussão desde a antiguidade. As
concepções sobre saúde e doença e sobre a natureza das enfermidades
constroem-se dentro de uma perspectiva dualista, que considera mente e corpo
como entidades distintas, ou numa perspectiva monista, que considera a
unicidade e indissolubilidade de ambos.
No estudo da Psicossomática, a partir de uma visão holística, o homem é concebido de
forma a possuir um único princípio vital em que a mente é capaz de produzir doenças no
corpo e vice versa. Segundo Fritz Perls (1998, p. 24) "Desde o surgimento da medicina
Psicossomática, a estreita relação entre atividade mental e física se tornou cada vez
mais flagrante".
Por afetar um número considerável de pessoas, a Fibromialgia desperta o interesse,
bem como a necessidade de aprofundamento no tema ampliando o conhecimento,
trazendo o que já se estudou e despertando a possibilidade de um novo olhar sobre os
aspectos que a envolve. Martinez e outros, (1999) alerta que está síndrome pode ser
considerada um importante problema de saúde e socioeconômico, aconselhando
que pesquisas devem ser realizadas, envolvendo os diversos aspectos que a
compõe.
Diante desse cenário, propõe-se a presente pesquisa intitulada “Como se dá a
experiência de enfrentamento de pessoas diagnosticadas com a Fibromialgia.” O estudo
tem por objetivo geral: a compreensão do enfrentamento de pessoas com diagnóstico de
Fibromialgia, sob a perspectiva da Psicologia Humanista e Existencial, com o interesse
de proporcionar conhecimentos para a sociedade de forma geral, podendo contribuir
para um melhor enfrentamento das pessoas afetadas pela Fibromialgia, bem como os
profissionais que lidam com pessoas que possuem esse diagnóstico entre familiares,
proporcionando uma prática mais efetiva no cotidiano.
Além desse objetivo geral, a pesquisa teve por finalidade verificar os fatores
psicossomáticos em pessoas com a Fibromialgia, os sofrimentos psíquicos causados
pela dor nessas pessoas, bem como identificar quais as estratégias de enfrentamento
elas utilizam para lidar cotidianamente com a dor.
Além do interesse científico, acadêmico e social sobre o tema, esse estudo teve um
interesse pessoal da pesquisadora diante da experiência no trabalho missionário na
percepção diária junto à Comunidade Água Viva, uma Comunidade Católica que tem por
missão resgatar a dignidade dos filhos de Deus, levando pessoas com crises
existenciais, depressão, síndromes, somatizações dentre outros a um processo de cura
interior. Ao notar que muitas das pessoas que chegam procurando por ajuda
apresentam questões psíquicas que afetam o organismo físico e a Fibromialgia tem sido
uma doença com muita recorrência. Partindo dessas histórias, surgiu o desejo de
compreender como se dá a experiência de enfrentamento no cotidiano dessas pessoas
que lidam com as dores e incapacidades geradas pela doença e assim poder abrir por
meio dessa pesquisa um caminho que contribua no dia a dia delas e dos que com elas
convivem.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Desde a antiguidade, inúmeros estudiosos se dedicaram a encontrar uma conceituação


que melhor definisse e justificasse os conceitos de saúde e doença. A princípio, as
funções corporais estavam ligadas a questões espirituais. Era algo sagrado. Descartes
no século XVII alterou essa visão afirmando que corpo e mente deviam ser
separadamente analisados. Segundo ele, o corpo era como uma máquina e poderia ser
estudado, bem como “consertado” desde que a medicina se especializasse em cada
“peça” da máquina (ORNELLAS, 1999). “Para tanto, bastava atuar “física ou
quimicamente, para consertar o “defeito” no funcionamento de um mecanismo
enguiçado” (CAPRA, 1982, p. 116).
Posteriormente, acreditavam poder ser denominado com saúde, o indivíduo que não
apresentava nenhum problema em nenhum campo, seja físico, psíquico, mental ou
emocional. Ou seja, o sujeito saudável era aquele com ausência de doença, apesar de
reconheceram ser uma conceituação um tanto quanto utópica, tendo em vista que
ninguém consegue estar completamente bem em todas as áreas da vida. Demandas
sempre existirão.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou saúde como sendo um
completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência da doença.
Afirma que esse estado depende de qualidade de vida. A qualidade de vida, por sua
vez, está ligada a fatores econômicos, sociais, educacionais, ocupacionais,
ambientais e pelo próprio estado de saúde. (FERRAZ,1999).
Com o passar do tempo, percebeu-se que saúde e doença não poderiam ser tratadas de
forma antagônica. Saúde é um termo complexo que envolve inúmeras variáveis, não
podendo ser conceituada apenas com base em fatores fisiológicos. A visão sobre ela
precisa abarcar todos os fatores e processos que circundam o ser humano. Sendo
assim, faz-se necessário, de acordo com Rosa, Cavicchioli & Brêtas (2005), levar em
conta os fatores psicológicos, sociais, políticos, econômicos e ambientais em torno do
individuo; qualquer inadequação ou alteração em um deles irá promover o seu
desequilíbrio, afetando sua saúde.
Segundo Caprara (2003), o paciente não pode ser visto mais apenas como um objeto,
um composto de órgãos nos quais o médico intervém, mas como um sujeito ativo,
integral, autêntico, com necessidades e valores, o que faz com que a relação
médico/paciente seja uma troca, uma interação. Nesse sentido, Queiroz (2003) ressalta
que sem desmerecer a importância e relevância do trabalho da medicina, entender o
processo saúde/doença na atualidade exige que se leve em conta, não só as questões
objetivas, mas também as subjetivas.
Dentro desse pressuposto, as questões ligadas ao ser humano e ao ambiente onde ele
se encontra inserido, bem como as questões sociais do mundo, precisam ser vistas de
forma integral. Segundo Mendes (1996), não se pode negar que alimentação saudável,
estabilidade profissional e financeira, lazer, infraestrutura adequada, educação de
qualidade, equilíbrio emocional afetam diretamente a saúde do indivíduo.
Partindo desse propósito, surge a Psicologia Humanista e Existencial, que tem uma
compreensão da integralidade do indivíduo e que fornece uma ampla perspectiva
holística, caracterizando a pessoa como um todo. Segundo Perls (1998, p. 24) na
doutrina Holística "um dos fatos mais notórios a respeito do homem é que ele é um
organismo unificado", o que favorece o estudo de doenças de fundo psicossomático.
A Psicologia Humanista e Existencial acredita que o indivíduo seja capaz de
compreender a autenticidade da sua existência, assumindo-se como um ser livre e
capaz de fazer escolhas. Teixeira (2006) esclarece que nessa abordagem, o centro é o
indivíduo e não o problema que ele traz. Sua dor psíquica é apenas o resultado das suas
dificuldades em fazer escolhas mais autênticas e significativas, pelo que as intervenções
terapêuticas privilegiam a autoconsciência, a autocompreensão e a autodeterminação.
Segundo Deurzen-Smith (1996), o objetivo da Psicologia Humanista e Existencial é
facilitar ao indivíduo uma atitude mais autêntica em relação a si próprio. Tal atitude o
capacitará para se posicionar frente às situações com domínio e controle pessoal. O
indivíduo não tem poder sobre os acontecimentos que podem ocorrer na sua vida, mas
pode escolher de que modo confrontará com eles, como enfrentará suas crises
pessoais, como se posicionará frente à doença física, como externalizará suas emoções
e sentimentos.
Partindo dessa compreensão, o psicólogo Carl Rogers revolucionou a área da
psicoterapia ao desenvolver a Terapia Centrada no Cliente. De acordo com Rogers e
Kinget, (1965/1979, p. 159) "todo organismo é movido por uma tendência inerente para
desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a
favorecer sua conservação e seu enriquecimento".
Ele continua afirmando: "Descobrimos, dentro da pessoa, sob certas condições, uma
capacidade para a reestruturação e reorganização do self, e, consequentemente, a
reorganização do comportamento, o que tem profundas implicações sociais" (Rogers,
1947, p. 368). De acordo com seus conceitos, o ser humano, caso encontre um meio
favorável, é capaz de se refazer, de se reestruturar, de ressignificar uma situação na
qual esteja vivenciando.
Para Rogers (1982), a tendência atualizante afirma que a motivação do ser humano esta
relacionada com a busca de satisfazer as suas necessidades básicas, de poder
expressar suas emoções, de perceber-se enquanto organismo individual com aquilo que
o especifica. Nesse sentido, é extremamente relevante a forma como esse indivíduo se
percebe, como enxerga a si mesmo e o mundo. A atualização é o que vai alterando esse
processo a cada tempo. A capacidade de percepção não é algo simples, pois envolve
uma parte que pode ser ignorada ou negada, o que se enxerga com precisão e também
as informações que são recebidas, mas distorcidas. Para que o agir e reagir seja
preciso, o individuo necessita relacionar-se bem com o outro e consigo mesmo,
aprendendo a livrar-se do que altera sua percepção. Um desafio, tendo em vista que o
contexto no qual se insere interfere significativamente nessa busca pelo melhor de si. O
outro, especialmente os mais próximos, exerce grande influência sobre o sujeito.
Essas abordagens e tendências contribuem para o entendimento sobre o homem e os
processos do adoecimento que desenvolve. Nelas, nenhum aspecto é deixado de lado;
ele é analisado em sua totalidade. Tudo é importante e precisa ser visto com um olhar
especial. A partir dessa ótica, algumas doenças ganharam um enfoque diferente. Em
razão dos sintomas físicos e psíquicos ligados a ela, receberam a nomenclatura de
doenças psicossomáticas.
Souza (2015) esclarece que o termo “psicossomática” resulta das palavras gregas:
psique (alma) e soma (corpo). Assim, as doenças psicossomáticas podem ser vistas
como aquelas que não afetam somente o corpo, mas atingem também a vivência
psicológica. Elas possuem uma estreita relação com emoções e sentimentos. Como
consequência das questões psíquicas, ocorrem as dores e as doenças físicas.
Há na atualidade, uma compreensão que a mente pode gerar uma doença no corpo.
Assim também como leva à percepção que pessoas quando possuem uma doença que
gera certo sofrimento, elas são afetadas psicologicamente, podendo o incômodo vivido
desencadear em depressão, medo, perda de sentido da vida, dentre outras doenças que
estejam ligados a psique. Segundo Carvalho (2006, p.27),
A Psicossomática busca um entendimento da relação mente-corpo e dos
processos de adoecimento. Ela parte da observação de distúrbios físicos nos
quais os processos emocionais desempenham um certo papel, ou de situações
clinicas nas quais uma perturbação psicológica aumenta o risco de desenvolver
ou agravar determinada doença física.
Há muitos estudos sobre a Psicossomática e que partem de princípios diferentes em
relação a origem dos sintomas. Segundo Cruz e Junior citado por Groddeck (1923,
p.219), “a doença não provém do exterior, o próprio ser humano a produz; o homem só
serve do mundo exterior como instrumento para ficar doente.” Já Pierry Marty, apud
Cruz e Junior (2011, p. 53), “a somatização, então, surgiria em decorrência de estruturas
psíquicas deficitárias na capacidade de representação e elaboração simbólica. Assim, o
sintoma ocorreria pela ausência de sentido, em virtude da incapacidade do psiquismo de
lidar com o distúrbio.” Para Joyce McDougall (1996) apud Cruz (2011, p. 54),
O conceito de desafetação para explicar o processo de somatização. Esse
conceito corresponde a um mecanismo que ejeta do psiquismo percepções,
pensamentos e fantasias capazes de (res)suscitar afetos insuportáveis, ou seja,
relacionados a experiências traumáticas primitivas.
Ainda de acordo com Cruz (2011, p. 57), a neurofisiologia, também na teoria sobre as
emoções, explicam a relação que existe em aspectos cognitivos, emocionais e os
processos somáticos, como Willian James que defende que existe uma relação entre as
experiências das emoções com os processos corporais, crê que a experiência emocional
aparece a partir da percepção das mudanças no corpo. Assim para eles a emoção que
precede uma sequência de eventos começa com a ocorrência de um estímulo e finaliza
com um sentimento, que é uma experiência emocional consciente, que geram uma
resposta corporal.
E apesar das diferenças existentes entre os diversos autores e teorias,
[...] Nota-se um consenso acerca da existência de uma relação entre aspectos
cognitivos, emocionais e manifestações somáticas, excluindo a possibilidade de
um a completa separação funcional entre mente e corpo. É unanime a convicção
de que processos emocionais são acompanhados por alterações fisiológicas,
demonstrando a interligação entre mente e corpo. (CRUZ, 2011, P. 63)
As doenças psicossomáticas confirmam a visão monista, que é a compreensão da
unidade entre corpo e mente. Tal visão gera uma nova possibilidade de tratamento, pois
ao perceber a pessoa como um todo, capaz de gerar adoecimento no corpo por fatores
psíquicos e vice versa, abre-se um novo leque para esse tratamento uma vez que a
partir de então, as pessoas podem serem tratadas tanto no aspecto físico quanto
psíquico, o que pode contribuir com o enfrentamento da dor no seu cotidiano.
As doenças atualmente catalogadas e definidas são vastas, assim como os sintomas
específicos ligados a todas elas. Dentre algumas delas, existe um sintoma capaz de
afetar significativamente o estado psíquico do individuo: a dor. Quando ela se manifesta
de forma persistente, o doente se vê desestruturado emocionalmente. Ela desperta
sentimentos e emoções que se não tratadas, podem acarretar danos ainda maiores.
O ser humano foi criado com uma capacidade enorme de adaptação. Ele consegue
ressignificar realidades, criar novas normas, enfrentar diversas situações impostas
pelo meio. Todavia a dor crônica é capaz de paralisá-lo, alterando significativamente
e de forma negativa a sua vida e tudo que se encontra ligado a ela. O sofrimento
que se experimenta leva o indivíduo a estabelecer estratégias adaptativas capazes
de preservar o organismo, porém estes processos adaptativos podem conduzir,
inclusive, à degradação de sua saúde física e mental (CANGUILHEM, 1995;
LAURELL; NORIEGA, 1989).
Besset e outros (2010) relata que existe três aspectos psíquicos ligados à dor: 1) a
impotência diante da dor e da capacidade de saná-la; 2) tomada de atitude que leva a
processos não produtivos e 3) o sentimento de rejeição a quem está vivenciando a dor.
O sentimento de impotência acaba por promover a dependência e a regressão nos
processos (LIMA E CARVALHO, 2008). Para confrontar cada um deles, as estratégias
de enfrentamento mais eficazes estão ligadas à distração da atenção, a capacidade de
ressignificar as sensações dolorosas e aumento das atividades comportamentais.
A dor em si mesma pode, em grande parte dos casos, ser tratada com medicações.
Todavia, os reflexos dela sentidos no âmbito psíquico e emocional, nem sempre são
aliviados por via medicamentosa. Diante dessa realidade, faz-se necessário a
intervenção terapêutica que permite ao enfermo, exteriorizar em palavras o seu
sofrimento psíquico.
Dentre as inúmeras enfermidades que possuem a dor como um de seus sintomas e
agravante está a Fibromialgia.
A Fibromialgia é uma síndrome clínica que se manifesta, principalmente, com dor
no corpo todo. Muitas vezes fica difícil definir se a dor é nos músculos ou nas
articulações. Os pacientes costumam dizer que não há nenhum lugar do corpo
que não doa. Junto com a dor, surgem sintomas como fadiga (cansaço), sono
não reparador (a pessoa acorda cansada, com a sensação de que não dormiu) e
outras alterações como problemas de memória e concentração, ansiedade,
formigamentos/dormências, depressão, dores de cabeça, tontura e alterações
intestinais. (CARTILHA... 2011, p. 6)
Outro fator relevante com relação à doença em questão é o fato de não haver uma
causa específica para a sua manifestação. McCain, (1996) acredita que sua existência
esta ligada, provavelmente a aspectos multifatoriais como depressão, ansiedade,
etc., embora não haja consenso sobre isso. O que se pode afirmar é que fatores como
estresse, esforço físico excessivo podem agravar o seu quadro, aumentando o processo
doloroso já existente.
Em razão da complexidade existente para a detecção leva o seu portador a se sentir
culpado, como se estivesse simulando uma situação. Fato que agrava seu estado de
sofrimento. O receio de não ser compreendido por familiares e por aqueles com quem
convive socialmente, pode levá-lo a não compartilhar o que sente. Segundo Chiesa et al
(2002) tal posicionamento fragiliza o portador de dor crônica, transformando suas
vidas, das famílias e da comunidade onde estão inseridos.
Segundo Lazslo (2012, p. 52), é preciso haver "a compreensão das doenças enquanto
experiências pessoais passiveis de intervenção psicoterapêutica". Sendo assim, analisar
quais os sofrimentos psíquicos causados pela dor dos pacientes com Fibromialgia é algo
possível e necessário, além de contribuir sobremaneira para o seu enfrentamento.
Quando se fala de enfrentamento, recorda-se que a Psicologia a define como a
capacidade do indivíduo de se adaptar as situações ligadas a ele ou que são próprias do
seu desenvolvimento. É definida por Folkman e Lazarus (1998, p. 219) como os
“esforços orientados tanto para ação quanto intrapsíquicos, para controlar (dominar,
tolerar, reduzir, minimizar) demandas internas e ambientais e conflitos entre elas”.
Enfrentamento ou “coping” (...) são esforços cognitivos e comportamentais que
mudam constantemente, para administrar exigências específicas, internas ou
externas, avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos do
indivíduo. (LAZARUS e FOLKMAN, 1984, p. 141)
O enfrentamento é o mecanismo que se interpõe entre indivíduo e ambiente, buscando
otimizar seu processo de adaptação às situações com as quais se depara. Visando tal
fim, faz-se o uso de métodos conhecidos como estratégias de enfrentamento (Portnoi,
1999). A função delas é trabalhar a situação visando mudar o problema estressor e
controlar os desconfortos resultantes da situação vivida, ainda que esta não se altere.
Para tanto, é necessário desviar o foco do problema para lança-lo nas emoções. Em
quadros dolorosos como ocorre na Fibromialgia, o enfrentamento voltado para a emoção
tem maior probabilidade de ocorrer, gerando resultados mais eficazes. Como a dor
crônica é algo de difícil resolução, as estratégias de enfrentamento mais utilizadas são
as centradas na emoção (Portnoi, 1999). Em se tratando da Fibromialgia, consiste em
principalmente aprender a lidar com a dor.
Com relação à dor, o individuo busca encontrar estratégias para lidar com ela, seja
confrontando, evitando ou alterando seu estado doloroso. Por se tratar de dor crônica,
faz-se necessário respostas de enfrentamento que visam ajudá-lo a suportar a dor,
suportar o desconforto, executar tarefas mesmo se sentindo limitado, etc. Esses
mecanismos comportamentais auxiliam no convívio com a dor. De forma prática, os
doentes utilizam medicações, terapias, massagem, exercícios físicos leves. Acredita-se
que tais práticas os ajudam a terem reservas suficientes de energia para enfrentar
eventuais necessidades físicas extras (COFFITO, 1999).
Por envolver aspectos físicos e psíquicos, o tratamento envolve o uso de medicação,
mas também requer auxilio não medicamentoso. A Revista Brasileira de Reumatologia
afirma que:
O tratamento tem como objetivos o alívio da dor, a melhora da qualidade do
sono, a manutenção ou restabelecimento do equilíbrio emocional, a melhora do
condicionamento físico e da fadiga e o tratamento específico de desordens
associadas. Inicialmente, educar e informar o paciente e os seus familiares,
proporcionando-lhes o máximo de informações sobre a síndrome e assegurando-
lhes que seus sintomas são reais. A atitude do paciente é um fator determinante
na evolução da doença. Por isso, procuramos fazer com que este assuma uma
atitude positiva frente às propostas terapêuticas e seus sintomas (2004, p. 18).
As estratégias de enfrentamento podem se dar pela escolha de três posicionamentos:
confronto da realidade; evitando a realidade ou traçando mecanismos que auxiliem na
mudança das situações problema. Ressalta-se que para o último, os caminhos são a
busca de informação, o conhecimento sobre a doença, o apoio familiar e social, as
terapias. Em contraposição a esse, a negação do problema é agravar o quadro é
estender a dor e o sofrimento do seu portador.
Independente do mecanismo de enfrentamento de cada pessoa afetada, o que não se
pode negar é que há um sofrimento psíquico que precisa ser levado em consideração.
Faz-se importante conhecer esses sofrimentos para colaborar na intervenção de forma
mais assertiva, bem como um suporte psicológico, uma vez que grande parte dos
portadores apresentam sinais de depressão. No entanto é importante a combinação
dessa forma de tratamento com a educação familiar, uma vez que o apoio psicológico
dos familiares ajuda na melhora da qualidade de vida.
Nesse sentido, a psicologia pode atuar investigando quais estratégias de enfrentamento
o indivíduo e sua família utilizam para lidar com seu quadro doloroso e seu sofrimento
psíquico. Palma (2013) descreve as estratégias de enfrentamento mais estudadas:
Negação – poderoso mecanismo contra a ansiedade que pode ser adaptativa, transitória
e desadaptativa e constitui-se em um meio eficaz de proteção emocional; repressão –
lembrança esquecida e expulsa da consciência; projeção – desejo ou impulso atribuído à
outra pessoa ou objeto; deslocamento – redirecionamento das características de um
objeto para outro; sublimação – diante das limitações do ambiente, conseguir o máximo
grau de satisfação; formação reativa – reação oposta à pulsão que deseja rejeitar;
regressão – retorno a formas anteriores de funcionamento e desenvolvimento;
racionalização – negar os aspectos emocionais dando ênfase a uma abordagem
intelectual; voltar-se contra si próprio – direcionar a agressão contra si mesmo, podendo
evoluir para automutilação e suicídio.
A psicologia tem a missão de compreender o sujeito em sua dimensão biológica,
psicológica e social, levando-o a se autoconhecer. Para tanto, analisa o individuo, o
meio onde ele se encontra inserido e seus relacionamentos, bem como a forma como
convive na sociedade. Assim, contribui para que haja compreensão de si mesmo. Como
resultado, aprende-se a lidar com suas demandas, seu sofrimento psíquico. Ao alterar
seus conceitos, altera-se automaticamente sua relação com os processos dolorosos.
Segundo Baró (1997), o horizonte da psicologia na sociedade deve ser a
conscientização, auxiliando o indivíduo a chegar a um saber crítico sobre si e sobre a
sua realidade. Como consequência, o sujeito consegue ultrapassar a barreira que o
paralisa e cria mecanismos que o leve a superação. Se sua queixa não pode ser
solucionada, estratégias para minimizá-la ou para lidar com ela são encontradas. Já
Zogbi (2017) salienta que cabe ao psicólogo na sociedade o papel de desmistificador,
pois se ele busca a mudança do indivíduo, não pode deixar de fora toda situação que o
conduziu até ali.
Dentro desse aspecto, os psicólogos podem atuar como estimuladores da busca
pela qualidade de vida dos fibromiálgicos. As terapias devem ser participativas
levando-os a mudar sua visão a cerca da sua doença. Ele precisa perceber que
através das técnicas e da palavra, sua dor pode ser visibilizada. Com isso, torna-se
possível dar nomes aos seus sentimentos criando formas mentais para lidar com
eles (SIMONTON, CREIGHTON, 1987).
Ao tratar o portador de Fibromialgia, o psicólogo dever perceber quão intrínseca é a
relação entre sofrimento físico e sofrimento psíquico. Ao contrário, corre o risco de
menosprezar o processo doloroso do seu paciente, desqualificando sua vivência real.
Além disso, desconsidera a compreensão que foi construída acerca dos processos de
estresse e dor (VANDENBERGHE E FERRO, 2005; FERRO E VANDENBERGHE,
2010).
Entrelaçar os processos físicos com a emoção, cognição e dinâmicas interpessoais,
embora desafiante e complexo é a razão para se tratar a dor crônica em clinicas
psicológicas. A complexidade desse entrelaçamento se reflete no campo dos
tratamentos psicológicos, pois inúmeros profissionais focam em apenas um desses
aspectos. Uma vez que a Fibromialgia atinge todas essas dimensões do ser humano,
todas elas precisam ser abordadas e tratadas para que o paciente possa alcançar a tão
desejada qualidade de vida. Embora tenha uma doença, que possa aprender a
minimizar seus sintomas e áreas atingidas, e desenvolver resiliência.
A resiliência é uma característica importante para o enfrentamento das dores causadas
pela fibromialgia, seja psíquica ou física. Segundo Aldo Melillo, Elbio Néstor Suárez
Ojeda & cols, o conceito de resiliência ao longo da história passou por várias definições.
Uma que representa bem é a adotada por Luthar e outros (2000), que definem
resiliência como “um processo dinâmico que tem como resultado a adaptação positiva
em contextos de grande adversidade” (p. 543). E pode ser compreendida em três
componentes essenciais:
“1. a noção de adversidade, trauma, risco ou ameaça ao desenvolvimento
humano;
2. a adaptação positiva ou superação da adversidade;
3. o processo que considera a dinâmica entre mecanismos emocionais,
cognitivos e socioculturais que influem no desenvolvimento humano.”
A Fibromialgia gera em indivíduos afetados dores constantes, que levam as pessoas a
desenvolverem a resiliência para passar pelo processo de suportar a dor no seu dia a
dia, uma vez que essas dores são crônicas.
Esse processo consiste em fases. Segundo Palma (2013), o inicio do tratamento
consiste em aceitar o diagnóstico. Se houve o diagnóstico de Fibromialgia, rejeitar esse
fato não trará nenhum benefício; estudar sobre a doença e colher informações que
auxiliem no enfrentamento do problema e no equilíbrio das emoções; reorganizar sua
vida, adequando-a a sua realidade atual; aceitar ajuda profissional.
Após essa fase, aprender a lidar com a doença e com todas as implicações que ela traz.
Apoiar-se nos familiares, no profissional médico e psicólogo, bem como planejar um
futuro com qualidade de vida. Por fim, reconhecer que a doença traz alguns ganhos
(atenção, cuidados, etc.) e desejar abrir mão deles para viver de forma ativa,
reintegrando-se à sociedade.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa teve um delineamento descritivo, tendo “[...] como objetivo


primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno” (GIL,
2009, p. 28). O estudo foi de natureza qualitativa:

A pesquisa Qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados,


nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a
obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos
pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando
compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos
participantes da situação em estudo (GODOY, 2010, p.58).
Para chegar aos objetivos da pesquisa, foram entrevistadas 5 (cinco) mulheres com
diagnóstico de Fibromialgia, com idade entre 30 e 56 anos.
A amostra foi por conveniência ou acessibilidade que se dá pela escolha de elementos
que contribuem com a pesquisa, em que o pesquisador tenha acesso e que possam
representar o universo pesquisado (GIL, 2009).
Esta pesquisa foi realizada na Associação Água Viva, mais conhecida como
Comunidade Água Viva.Foram selecionadas pessoas que buscam por atendimento
nesse espaço com a queixa referente a doença da Fibromialgia. A Associação atende a
pessoas com questões existenciais, como depressão, síndromes entre outros.
As mulheres diagnosticadas com Fibromialgia que responderam a essa pesquisa foram
escolhidos por acessibilidade e de forma voluntaria participaram da entrevista
semiestruturada.
A entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual
confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por
outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o
autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais
livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de
alternativas. (MANZINI, 1991, p. 154),
As entrevistas aconteceram de forma individual, com duração média de 30 minutos. Em
dias diferentes de acordo com a disponibilidade dos participantes e pesquisador. Todos
os dados foram transcritos na íntegra permitindo que a análise fosse detalhada.
Foi utilizada uma entrevista semiestruturada que considerou dados sócio demográficos
como nome, idade, gênero, quando recebeu o diagnóstico da Fibromialgia, como era
antes do diagnóstico, após o diagnóstico, sobre o significado e os recursos de
enfrentamento utilizados diante desse processo. Esse tipo de entrevista fundamenta-se
em perguntas ou tópicos, que não necessitam estar em uma ordem lógica, sendo,
flexível, podendo assim outros tópicos serem abordados durante a entrevista (SILVA;
DESSEN, ; DESSEN, 2009).
Esta pesquisa tem por objetivo fins acadêmicos e não trouxe prejuízos aos participantes.
A participação se deu por meio da assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido, a mesma fornece todas as informações necessárias sobre a pesquisa e a
forma como à mesma seria realizada. Para garantir a identidade de cada um, todos os
nomes citados são fictícios.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Visando alcançar os objetivos específicos propostos para esse estudo, realizou-se


entrevistas com cinco (05) mulheres que possuem diagnóstico de Fibromialgia. As
entrevistas foram gravadas e posteriormente, transcritas. O passo seguinte foi a
interpretação dos dados coletados. Foi aplicada nesta pesquisa a técnica descritiva
fenomenológica.
A parte da pesquisa dedicada às entrevistas é uma busca por conhecer na prática os
enfrentamentos dos sintomas físicos e psíquicos que envolvem as pessoas com
Fibromialgia.
Violeta é casada, tem 55 anos de idade, do lar. Após longo período de dores, recebeu o
diagnóstico de Fibromialgia em 2009; Margarida é casada, tem 44 anos de idade,
assistente de médico, foi diagnosticada em 2010; Tulipa é casada, tem 39 anos de
idade, professora. Foi diagnosticada também no ano de 2010; Rosa é casada, tem 56
anos de idade, secretária. Foi diagnosticada em 2012, embora já possuísse o os
sintomas há bem mais tempo; Orquidea é solteira, tem 37 anos de idade, terapeuta. Foi
diagnosticada em 2008. A diversidade de idade e profissão é relevante, pois apresenta
situações variadas que podem influir no resultado durante e após a investigação.
Em relação aos fatores psicossomáticos e a dor, todas as entrevistadas alegam que
conviveram durante um longo tempo com um quadro doloroso que acabou por levá-las a
procurar ajuda médica, o que veio a culminar no diagnóstico de Fibromialgia. Para se
chegar a essa qualificação, os médicos que as atenderam realizaram exames clínicos.
Nessa ocasião, realizaram toque em partes específicas do corpo, dando o diagnóstico
com base nesse procedimento. Apenas Violeta passou por exame de ressonância e
Margarida por testes físicos. Tal quadro demonstra a subjetividade da doença, bem
como a dificuldade de comprovação, o que faz com que o indivíduo sinta como se
estivesse simulando uma enfermidade.
Nesse sentido afirma:
“Procurei o Ortopedista com dores na cervical e dores de cabeça. [...] e ai ele
tocou em 4 pontos só e disse [...] teu diagnostico é de fibromialgia, ele disse que
nem precisava tocar em mais pontos, para saber, os 4 eram suficientes”.
(VIOLETA, 2018), explica que o início da síndrome: “Comecei a sentir dores
específicas em um órgão e com o passar do tempo foram se espalhando: num
braço, depois no outro; nos dois; nas pernas; na cabeça; olhos; boca. Até doer
todo corpo. [...] fui ao médico e ele fez uns testes físicos”. (MARGARIDA, 2018)
Já Tulipa ressalta que “Sentia muitas dores, um cansaço fora do comum, fadiga,
o corpo inteiro fica dolorido, dores nos pés, joelhos, lombar, quadril, nos
cotovelos, ombros e nas mãos e também no pescoço e na cervical, o que me
leva a ter dores de cabeça, dores de cabeça tensionais, o corpo fica dolorido ao
ser tocada. (TULIPA, 2018) [...]Fui a um médico através dos sintomas e do
quadro clínico me deu esse diagnostico, porque não existem exames para
Fibromialgia”. (ROSA, 2018) diz “Eu entrei para a casa de acolhida da
Comunidade Água Viva com síndrome do pânico e depressão e eu tinha muitas
dores na coluna, dores ao toque, no cotovelo, nos braços, muitas dores de
articulação, dificuldade de abaixar, levantar, enfim muitas dores.[...] cheguei ao
médico ele começou a fazer alguns testes de toques e a medida que ele
apertava eu sentia muita dor e ele disse: você sente dores em muitos lugares;
onde eu toco você sente dor, tinhas problemas com abaixar, levantar, tudo!! Eu
sentia muita dor e ali ele me trouxe esse diagnóstico de Fibromialgia. A
entrevistada Orquidea afirma que sentia “Muitas dores, torcicolos, dores nas
juntas, dores para fazer qualquer tipo de movimento; comecei a ter problemas
com o intestino, para fazer movimentos simples, comecei a sentir dores como se
meu corpo inteiro ficasse formigando, repuxando; se as pessoas me
encostassem doía, se tentassem fazer um carinho doía e sentia mais dor em
alguns pontos específicos. Dói por dentro e por fora. [...] o diagnóstico foi
informado por um médico, ortopedista”. (ORQUIDEA, 2018)
O processo para diagnosticar o sofrimento e o quadro doloroso da pessoa dando a ele o
nome de Fibromialgia é feito apenas clinicamente, não ocorrendo exames
complementares que o reforcem. Chiesa e outros (2002) ressalta que esse diagnóstico
leva ao questionamento familiar quanto à veracidade da doença, o que por sua vez,
fragiliza o doente aumentando seu sofrimento psíquico. Esse diagnóstico impreciso
também gera desconfiança terapêutica, o que pode ser a razão pela qual os pacientes
não dão a devida atenção à doença.
Como forma de tratamento, os médicos prescreveram medicações para quatro das cinco
entrevistadas, visando combater as dores. Para Violeta foi sugerido como complemento
para o tratamento, a prática de atividades físicas e para Orquidea, a participação num
grupo de autoajuda. O que se verifica é que embora o ser humano seja uma totalidade,
não havendo possibilidade de se separar corpo e psique, os médicos ainda persistem na
ideia de se tratar apenas os sintomas físicos, não sugerindo ao seu paciente, a busca
por um tratamento psicológico, visando tratar todo sofrimento psíquico causado pela dor.
As afirmações corroboram com a descrição dos sintomas da Fibromialgia, relatados na
Cartilha para Pacientes (2011). Nela, são retratadas as afirmações de pessoas que
possuem a doença e dizem que a sensação é que não há nenhuma parte do corpo que
não doa. Essa dor é acompanhada de fadiga, cansaço, dores de cabeça, tontura, entre
outros.
De acordo com o Quadro 1 referenciado anteriormente (pag.7), podemos apreender que
a relação do paciente com fibromialgia com a dor é diferenciada. Há um “alarme” de dor
mesmo quando não existe uma causa para tal.
Como tratamento paliativo para a dor, as entrevistadas fazem o uso de medicações e
todas citam a prática de exercício físico. Já com relação ao enfrentamento da dor, as
estratégias utilizadas são conversas, distrações, passeios, hidroterapia,
autoconhecimento. O que se constata é que a dor, bem como o sofrimento psíquico
resultante dela, faz com que o fibromiálgico busque mecanismos de adaptação que os
levem a conviver melhor com essa realidade. Nesse aspecto (VIOLETA, 2018) explica:
‘Meu primeiro desejo é não sair da cama. Para driblar a dor, procuro me distrair,
conversar, sair, caminhar, procuro subir uma escada, ao invés de pegar a escada
rolante, procuro movimentar o corpo. A princípio fico mal humorada, irritada, indignada.
Ao conseguir desfocar, me sinto melhor”. Já (MARGARIDA, 2018) relata como enfrenta
a dor: “Tomo medicação e fico deitada. A princípio comecei a caminhar por indicação
médica, mas interrompi as atividades por causa da síndrome de pânico”. (TULIPA, 2018)
descreve como lida com a dor: “Eu reduzo um pouco o ritmo, mas continuo fazendo
minhas atividades diárias, incluindo atividades físicas. Somente quando sinto dores
intensas, tomo medicação e me deito”. (ROSA, 2018) diz que seu enfrentamento da dor
se dá “identificando os fatores internos que desencadeiam as dores, com medicação,
atividade física e acompanhamento psicológico”. E (ORQUIDEA, 2018) afirma que “hoje
não enfrento mais”.
O ser humano é uma engrenagem completa que abriga em si alegrias e tristezas,
vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, saúde e doença. Diante dessa realidade, é
impossível que os quadros dolorosos inexistam. O que diferencia um indivíduo e outro é
a forma como se lida com elas (FACHINI, 1993).
A fibromialgia possui o seu desenrolar, evoluindo ou se estabilizando. Não obstante,
traz implicações que vão desde as questões físicas quanto à sua adaptação a essa
nova realidade. No que diz respeito ao aspecto físico, requer alterações de ritmo das
atividades rotineiras, mudanças de ambiente e de trabalho, dividir tarefas, entre
outras. A dor crônica leva o fibromiálgico a fazer uso de recursos já existentes ou o
levam a criar novos visando se adequar às mudanças ocorridas em sua vida.
No que diz respeito ao sofrimento psíquico da pessoa com Fibromialgia, as
entrevistadas ressaltam tristeza, angústia, irritação, impotência, incapacidade e
depressão. Essas emoções e sentimentos resultantes da doença confirmam que a
dificuldade de se conviver com a dor gera instabilidade emocional diante das
implicações causadas pelo adoecimento (CHIESA e outros, 2002; SATO, 2001). Tal
afirmação é confirmada pelas participantes:
A entrevistada Violeta diz: “Sinto tristeza, angústia, medo, uma certa impotência diante
da dor e alguns questionamentos”. Por sua vez Margarida descreve seu quadro: “ As
dores nas juntas e no corpo faziam com que me sentisse deprimida querendo ficar o
tempo todo na cama e no escuro. Sinto impotência, esgotamento físico, como se eu não
conseguisse fazer nada, porque até pisar não consigo; angústia muito grande, tristeza,
vontade de ficar prostrada sem me mexer”. Tulipa relata: “Eu comecei a ter síndrome do
pânico, depressão e as dores me faziam ficar muito triste e depressiva, passei a ter
compulsão alimentar, engordei muito. Também fico nervosa e sinto raiva”. Rosa conta:
“Eu sentia angústia pelas dores e depressão, o que me levava a querer ficar parada; eu
não queria movimentar, nem fazer atividade física em razão das dores”. E Orquídea
afirma que sentia “depressão, medo, angústia, tristeza profunda, sensação de
incapacidade por não ter o que fazer, não ter como resolver, sensação de não ter saída,
de não te o que resolver, impotente. A dor gera irritação. Tira a alegria, o que traz a
sensação de depressão. Por mais que as pessoas tentem nos fazer sentir melhores,
nada traz alegria. Percebi que a Fibromialgia está muito ligada a momentos de stress, de
tristeza, porque eu estava vivendo um momento de profunda tristeza, de traição, de dor.
Ela não está ligada tanto ao físico; é como se fosse um grito de dentro para fora, uma
dor que você não consegue dar nome; era como se minha carne e o meu corpo
estivessem gemendo. E as vezes alguma coisa que você não consegue lidar,
sentimentos que você não consegue dar nomes geram essas dores”.
As descrições trazidas pelas entrevistadas confirmam o aspecto subjetivo da dor. Essa
subjetividade se torna um problema para o doente, mas também para a área medica e
cientifica que tenta explicar sua origem; causa impotência no Fibromiálgico que não
consegue comprovar suas queixas. Conforme Le Breton (2003), o tratamento dos
sintomas psíquicos e emocionais ligados à síndrome complementa o equilíbrio do
indivíduo e sua melhor adequação à realidade social.
Dentre todos os sintomas psíquicos descritos, faz-se necessário dar um enfoque para a
depressão que está, na maioria das vezes, atrelada ao quadro de Fibromialgia. Os
sintomas da depressão complicam o quadro da doença, pois geram: aumento da
sensação de dor, impossibilitando a adesão ao tratamento; diminui o suporte social e
desregula os sistemas humoral e imunológico. Pacientes com doenças crônicas que
estão depressivos mostram maior incapacidade que aqueles não depressivos
(JACOBSON e JACOBSON, 2001). Além dos aspectos aqui citados, a dor aliada à
depressão resulta em significativa incapacidade física (WILSON, 2002).
Os aspectos emocionais e psíquicos ligados ao processo doloroso precisam ser levados
em conta, uma vez que alteram sobremaneira o quadro da doença, já doloroso por si só.

A interpretação da dor no cérebro sofre várias influências, dentre elas das


emoções. As emoções positivas, como alegria e felicidade, podem diminuir o
desconforto da dor e as negativas, como tristeza e infelicidade, podem aumentar
este desconforto. Em parte, isto é explicado pelos neurotransmissores
(substâncias químicas cerebrais que conectam as células nervosas), como a
serotonina e a noradrenalina, que têm papel importante na interpretação da dor e
na depressão. Desta forma, pacientes com Fibromialgia que não estejam bem
tratados do quadro depressivo terão níveis mais elevados de dor. É importante
ressaltar que a piora observada no quadro doloroso é real e não é “psicológica”
(CARTILHA..., 2011, p. 10)

Quando o indivíduo perde a saúde, experimenta um sentimento de luto. Esse estado é


um processo doloroso, pois há uma despedida de uma forma de vida para dar lugar à
uma nova realidade mais limitada. De acordo com Milani e Oliveira (2012), perder a
saúde gera um abalo nas emoções da pessoa afetada e uma obrigatória mudança na
rotina. Assim como os sintomas físicos precisam ser tratados, a dor da perda também
precisa ser elaborada.
Algumas pessoas na situação de doença ficam tão fragilizadas, que mesmo seus
mecanismos de defesa mais bem elaborados caem por terra, algumas pessoas
transpõem a experiência tornando-se mais fortes internamente. Outras, entram para
a cronicidade física e emocional e, aliada ao sofrimento físico emerge uma dor
emocional de perder a condição de sadio (MILANI; OLIVEIRA, 2012, p. 57-58)
Os relatos sobre os efeitos gerados pela dor traz uma ideia de que a Fibromialgia se
encaixa no limite entre a doença física e a psicológica, uma vez que traz em si sintomas
passíveis de serem descritos e diagnosticados, mas também aspectos emocionais
subjetivos que não podem ser diagnosticados. Enquanto estudiosos se debruçam sobre
a doença buscando os meios para decifrá-la, a dor e suas consequências permanecem.
As estratégias de enfrentamento do sofrimento psíquico causado pelas dores
decorrentes da Fibromialgia, a pesquisa buscou conhecer quais as formas de tratamento
que as entrevistadas utilizam para lidar com ele. Como já relatado nos estudos sobre
essa síndrome, a convivência com a dor é um traço recorrente nos relatos das
entrevistadas. Frente à ausência ou a ineficiência em se tratar a doença, elas criaram
suas próprias estratégias para lidar com a dor física e psíquica. Violeta disse: “Fui em
um psiquiatra que me receitou uma medicação. Hoje aprendi a me conhecer melhor;
perceber quando as dores estão surgindo. Isso faz com que eu lide melhor com ela, mas
ainda tenho dificuldade em compreender e aceitar a Fibromialgia”. Já Margarida relata:
“Não faço nenhum tratamento específico. Fui ao psicólogo por causa da síndrome de
pânico e não da Fibromialgia. Enfrento o sofrimento psíquico com medicação”. Por sua
vez, Rosa diz: “A terapia é o que tem me ajudado muito a sair da crise e não entrar nela.
Os atendimentos me ajudam a lembrar os fatores psicológicos (problemas familiares,
stress) que contribuíram para o surgimento da Fibromialgia. Isso me ajuda a não só lidar
com a dor, mas superá-la”. Rosa esclarece: “Estou sempre recebendo acompanhamento
na Comunidade Agua Viva da qual faço parte, identificando o momento que a dor
começa e que fatores me fizeram sentir. Sempre acontece algo que me desestabiliza
antes da dor”. Por fim, Orquídea relata: “Fiz terapia sistêmica familiar e atendimento de
oração”.
Diante do que coloca as entrevistadas, percebe-se que as ideias defendidas pela
psicologia humanista existencial fazem sentido. Suas concepções afirmam que o
indivíduo não é um ser reativo; ele é o autor das situações a ele impostas podendo agir
sobre elas, alterando seu resultado. De Carvalho (1990) apud Castañon (2007) defende
que a:
“pessoa como being-in-the-process-of-becoming, ou seja, como ser em processo
de tornar-se. A pessoa em seu pleno funcionamento é proativa, autônoma,
orientada por escolhas, adaptável e mutável, em suma, é um ser num processo
de contínua transformação. O ser humano para os humanistas é um organismo
único, com a habilidade para direcionar, escolher, e alterar os motivos que guiam
o projeto de seu curso de vida”. (p.111)
Mais que tratamento, o sofrimento psíquico requer enfrentamentos. Como traz Rogers
na tendência atualizante, o ser humano tem uma propensão natural para a saúde e para
o crescimento. Ele é perfeitamente capaz de buscar suas potencialidades, de fazer
escolhas que resultem não só no seu bem estar físico, mas também, no seu equilíbrio
emocional.
Por enfrentamento entende-se todos os “… esforços cognitivos e comportamentais que
se modificam constantemente, com finalidade de administrar exigências específicas,
internas ou externas, avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos do
indivíduo” (LAZARUS; FOLKMAN, 1984, p.141). Essa necessidade é peculiar nos
indivíduos com Fibromialgia, uma vez que precisam lidar com um quadro de dor intensa
ou persistente. Em outras realidades, a pessoa busca resolver seu problema através de
seus próprios esforços. Todavia, na síndrome em questão, o impacto dos sintomas
excede seus limites, levando-o a buscar ajuda visando minimizá-los.
Se ajustar ao quadro doloroso significa lidar as limitações físicas, funcionais, sociais
ligadas a ele, aprendendo a conviver e a ressignificar a realidade. Isso se deve ao fato
da doença atingir inúmeras áreas da vida do indivíduo, paralisando sonhos, projetos de
vida e levando a um certo grau de dependência de terceiros. Também ressalta-se aqui o
sistema de saúde que nem sempre se encontra preparado para sanar a dor,
normalmente só oferecendo um paliativo que a minimiza.(PORTINOI, 2001)
Assim, como estratégias de enfrentamento, a participante Violeta relata: ‘Hoje aprendi a
me conhecer melhor; perceber quando as dores estão surgindo. Isso faz com que eu lide
melhor com ela, mas ainda tenho dificuldade em compreender e aceitar a Fibromialgia”.
Margarida diz: “Enfrento o sofrimento psíquico com medicação. Não fui para tratar a
fibromialgia, mas o tratamento psicológico acaba ajudando”. Tulipa afirma que “A terapia
é o que tem me ajudado muito a sair da crise e não entrar nela. Os atendimentos me
ajudam a lembrar os fatores psicológicos (problemas familiares, stress) que contribuíram
para o surgimento da Fibromialgia. Isso me ajuda a não só lidar com a dor, mas superá-
la”. Já Rosa esclarece que “Os acompanhamentos na Associação da qual faço parte são
imprescindíveis, pois ajudam a lidar com as questões interiores e a enfrentar o processo
doloroso causado pela Fibromialgia”. Por fim, Orquidea afirma que “Como fundadora da
Comunidade Agua Viva, a convivência e o tratamento da comunidade me fez aprender a
lidar com as dores, a lidar com a situação; aceitar que não dependia de mim”.
Lazarus e Folkman (1984) explicam que o enfrentamento visa administrar ou alterar os
problemas no ambiente. Segundo eles, quando esse problema é passível de solução,
foca-se nele. Não sendo possível sua resolução, o enfrentamento deve ser voltado para
a situação estressora, ou seja, busca-se atacar os desconfortos, o sofrimento psíquico
decorrente do problema. Como a dor crônica é algo de difícil resolução, as estratégias
de enfrentamento mais utilizadas são as centradas na emoção (PORTNOI, 1999).
Gimenes (1997) ressalta que o indivíduo pode se ajustar ou enfrentar a situação que se
coloca diante dele. O ajustamento está ligado a rotinas, pensamentos e comportamentos
automáticos, incluindo até mesmo o enfrentamento. Entretanto, enfrentar é um processo
no qual a pessoa precisa alterar o seu curso de vida, passando a adotar mecanismos
que não seguiria em situações de ‘normalidade’. Essas ações se justificam em
condições de estresse que precisam ser administradas e se dá gradativamente
ocorrendo entre a pessoa e o ambiente onde ela se encontra inserida visando otimizar o
processo de ajustamento. Tais posicionamentos são denominados estratégias de
enfrentamento e requerem análise dos seus resultados e das consequências geradas
por eles. (LAZARUS; FOLKMAN, 1984)
Conforme já estudado no referencial teórico, as pessoas que convivem com dores
intensas normalmente, utilizam como estratégias de enfrentamento ações que visem
evitar sua ocorrência; que minimizem o quadro vivido; a busca por mecanismos que lhes
permitam se distanciar do problema. Embora tais posturas promovam melhoria a curto
prazo, não são eficientes para reabilitá-las e para devolver a elas a capacidade
funcional.
De acordo com Milani e Oliveira (2012), perder a saúde gera um abalo nas emoções da
pessoa afetada e uma obrigatória mudança na rotina. Assim como os sintomas físicos
precisam ser tratados, a dor da perda também precisa ser elaborada. Assim, a melhora
do quadro doloroso está na forma como o indivíduo se posiciona com relação a ele. Se
opta pela prostração e inércia, tanto os sintomas físicos quanto os psíquicos tendem a
piorar, o que pode gerar uma situação crônica. Não obstante, se faz a escolha por se
tratar, buscar apoio psicológico, cuidar do aspecto emocional, os sintomas serão
minimizados, o que resultará no bem estar do fibromiálgico.
A intervenção psicológica num primeiro momento investiga os fatores psicológicos que
podem ter gerado o quadro doloroso, bem como estar contribuindo para a sua
manutenção ou até mesmo, sua intensificação. A partir daí, analisa cada possível causa,
buscando, juntamente com o cliente, encontrar o melhor caminho para saná-la. Para
isso, não há uma metodologia única; a escolha se dará com base na individualidade de
cada um, bem como no grau de intensidade do seu quadro.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo vem passando por transformações constantes e por aquisições de novos


conhecimentos. As buscas trazem consigo um ritmo que vai se tornando mais acelerado
na mesma proporção com que os avanços ocorrem. Não se pode dizer com certeza que
em função disso, mas o que se observa nos tempos atuais é o aparecimento de doenças
psicossomáticas. Essas requerem que estudiosos se debrucem para estudá-las,
buscando-se a cura ou as melhores estratégias para enfrentá-las.
Dentro desse contexto, esse estudo debruçou-se sobre a Fibromialgia e suas nuances.
Quanto aos sofrimentos psíquicos constatou-se que ela é uma doença onde os métodos
para a sua identificação são imprecisos, por ter caráter subjetivo o que gera sofrimento
diante de um diagnóstico que não tem nada que comprove a dor. É psicossomática, pois
além das dores generalizadas em todo corpo, apresenta em seu quadro de sintomas:
angústia, fadiga, depressão, ansiedade, entre outras. Sendo os últimos, ligados a fatores
emocionais.
A sua existência no indivíduo faz com que ele tenha prejuízos de ordem social, familiar,
profissional. Aquele que a tem carrega o fardo de sustentar uma doença não constatada
por exames específicos o que pode gerar a ideia de simulação; não consegue mais
realizar todas as atividades do seu dia a dia que lhe eram comuns; precisa aprender a
lidar com todo sofrimento psíquico resultante da dor. Enfim, uma pessoa que tem sua
qualidade de vida prejudicada.
Partindo desse pressuposto, para lidar cotidianamente com as dores geradas pela
Fibromialgia a pessoa precisa encontrar mecanismos de enfretamento para lidar com o
psíquico, o que contribuirá diretamente, no físico. Foi relatado pelas participantes que a
atividade física alivia muito as dores, apesar de não desejar fazer devido as grandes
dores, mas o ato de se exercitar já alivia as dores, conversar, sair, distrair também foram
apontados pelas entrevistadas.
A pesquisa qualitativa realizada junto a uma amostra de cinco (05) mulheres mostrou
que seus diagnósticos foram feitos com base no toque de pontos específicos do corpo.
O tratamento sugerido para quatro (04) delas foi medicamentoso, não havendo sugestão
para que procurassem apoio psicológico para lidarem com a doença.
Em função disso, todas alegam trazer consigo a sensação de impotência diante dos
sintomas experimentados; quatro (04) apresentam quadro depressivo; três (03)
ressaltam conviverem com a tristeza. Como tratamento utilizam atividade física e quatro
(04) fazem terapia através da Associação Agua Viva. Segundo elas, esse processo
auxilia na minimização dos sintomas e traz uma maior qualidade de vida.
Por ser a associação uma entidade Católica, ali também acontece momentos de
espiritualidade, o que pode levar a uma conclusão de que essas pessoas atribuam sua
melhora à fé. Não se pode negar que esse fator seja considerado pelas participantes da
pesquisa, todavia, quem atua nesse local constata a importância das técnicas
terapêuticas no alivio dos sintomas. O fato de poderem falar de seu sofrimento psíquico,
das suas histórias de vida, de suas realidades, de suas emoções trazem um ganho
significativo a elas. Não obstante sugere-se que seria interessante realizar estudos que
desconsiderassem espaços religiosos a fim de verificar se há diferenciação na vivência
das estratégias de enfrentamento.
Após discorrer sobre a teoria que envolve a temática e pesquisar na prática sua
veracidade, constata-se que realmente elas endossam e retratam a realidade de um
indivíduo fibromiálgicos. O que se ressalta negativamente é o fato das participantes
ainda não terem se atentado para a busca de atendimento psicológico, tirando de si, a
oportunidade de fazerem uso de uma importante ferramenta que muito auxiliaria no seu
quadro emocional.
O estudo realizado mostra a importância da psicologia no tratamento das doenças
psicossomáticas. Quando a doença começa a interferir no dia a dia da pessoa; quando
há sinais de depressão, estresse, angústia, entre outros. O atendimento psicológico é
capaz de acolher os problemas psicossociais, o sentimento de incapacidade e
impotência diante da dor, bem como o sofrimento psicológico.
As abordagens utilizadas durante o atendimento podem ser significativas para devolver
ao cliente sua capacidade funcional, desenvolvendo um trabalho conjunto que resulte na
elaboração das estratégias de enfrentamento que sejam mais adequadas a ele,
permitindo com tais ações que ele se ajuste de forma mais adequada à sua realidade.
Nessa busca, ele possui o direito de se posicionar ativamente e até mesmo, criticamente
diante da construção que está sendo elaborada.
O resultado da pesquisa trouxe a confirmação do referencial teórico discorrido nesse
estudo. Através dela, constata-se a visão humanista existencial que enxerga o ser
humano na sua inteireza e revela que a tendência atualizante é fato. Diante das
circunstâncias, o indivíduo busca forma de se adaptar, de ressignificar a sua realidade,
encontrando novos caminhos, novas formas para viver.
Ao final desse estudo, faz-se necessário afirmar a gama de conhecimento adquirido
durante a exploração da temática em questão. Todo conteúdo reunido e aqui
apresentado será de grande relevância para a autora da pesquisa e para os
profissionais ligados à psicologia.

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