Cartilha Potencialidades Sertão Nordestino

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Cartilha

POTENCIALIDADES DO SERTO NORDESTINO:


CONVIVENDO COM O SEMIRIDO

Apresentao
Esta cartilha se destina a alunos do ensino mdio e tem como objetivo abordar as
caractersticas do Domnio Morfoclimtico da Caatinga, ou Serto Nordestino,
ressaltando suas potencialidades e desmistificando vises pejorativas da regio.
Pretendemos ampliar a percepo dos alunos sobre o modo de vida sertanejo, que carrega
consigo a convivncia diria com a diversidade da Caatinga, superando as conseqncias
de um descaso poltico antigo, mas ainda atual, com a regio e quem nela vive.
Realizao e Apoio:
PIBID GEOGRAFIA UFBA
LEAGET UFBA
Coordenao:
Prof. Dr. Marcia Aparecida Procpio da Silva Scheer
Prof. Maria das Graas Bispo de Jesus
Prof. Claudia Teles da Paixo
Redao:
Carlos Bename
Claudemir Assuno
rico Santana
Gilton Santos
Joo dos Santos Passos
Juarez Lima
Lara Moraes
Leandro Lopes
Mariana Barbosa
Ramom Machado
Thiago de Aquino

Reviso:
Neyde Maria Santos Gonalves
Aurlio Gonalves de Lacerda
Ilustraes do trabalho:
Alex Garcia
Diagramao do trabalho:
Edu Moraes Nunes

Revista Orbis Latina, vol.5, n1, janeiro-dezembro de 2015. ISSN: 2237-6976

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1. Domnio da Caatinga
O Domnio Morfoclimtico da regio semirida nordestina (ou Domnio da
Caatinga) compreende uma extensa rea (aproximadamente 800 mil km) que se localiza,
sobretudo, na Regio Nordeste do Brasil, alcanando tambm parte do estado de Minas
Gerais. A Caatinga marcada pelo clima tropical semirido, com distribuio irregular
das chuvas, temperatura anual variando entre 20C a 28C , Vegetao Xerfila e
arbustiva, formas de relevo diversificadas, abrangendo desde superfcies aplainadas a
chapadas, alm de solos rasos e pedregosos em maior parte da sua extenso.

Voc sabia?
A palavra Caatinga indgena, de origem tupi, e quer dizer "mata branca", "mata rala" ou
"mata espinhenta". Recebeu esse nome dos ndios que habitavam a regio porque durante o
perodo de seca a vegetao fica esbranquiada, quase sem folhas, da surgiu o nome deste
Domnio.

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Domnios Morfoclimticos A classificao foi criada pelo gegrafo brasileiro Aziz


Ab'Saber, que conceitua os Domnios Morfoclimticos Brasileiros como extenses territoriais
que possuem caractersticas comuns de clima, formas de relevo, tipos de solo, vegetao e
hidrologia. Aliada s caracterizaes naturais, a atividade humana constitui tambm um
critrio de definio dos Domnios, de acordo com as potencialidades de cada um deles.
Vegetao Xerfila Denominao dada a plantas adaptadas a regies secas, marcadas por
baixos ndices pluviomtricos. Dessa forma, esse tipo de vegetao apresenta como
caractersticas principais as razes grandes para captar gua do subsolo, folhas espinhentas
para reduzir a perda de umidade e caules prprios para o armazenamento de gua.
Entre as regies semiridas do mundo, a regio nordeste do Brasil a mais
povoada. Regio essa marcada por relaes contraditrias e conflituosas no uso da terra,
pelos latifndios e seu modelo agrrio/agrcola intensivo em oposio ao modo de vida
dos verdadeiros sertanejos, que reconhecem o potencial da rea e lutam por uma relao
mais harmoniosa entre os homens e natureza.
necessrio lanar um novo olhar sobre a Caatinga, evitando discursos que
encaram essa regio como problema e que no fornece perspectivas produtivas para os
que ali querem permanecer.

No confunda... DOMNIO MORFOCLIMTICO com BIOMA


A determinao dos Biomas est ligada, essencialmente, aos fatores biticos existentes em
uma determinada rea, principalmente as formas e associaes vegetais, tendo o clima e solo
como condicionantes de suma importncia para essas comunidades biticas e suas
diferenciaes.
J o Domnio Morfoclimtico, como j foi dito, uma classificao que leva em conta a
dinmica existente entre clima, vegetao, solo, condies hidrolgicas e formas do relevo,
com destaque para essa ltima. No a toa que a denominao dos Domnios relaciona-se
com a forma de relevo e o clima ou a vegetao predominantes. Por exemplo:
Cerrado Chapades recobertos por Cerrados e penetrados por Florestas Galerias;
Caatinga Depresses Interplanlticas Semiridas do Nordeste.

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Voc sabia?
Personagem tpico do serto, o vaqueiro ainda hoje mantm tradies e bravuras herdadas dos
tempos da civilizao do couro. A lida do vaqueiro atrs dos rebanhos foi elemento
formador de cidades, base de alimentao e motivadora de rituais, festas e mitos.
O que mais chama a ateno a vestimenta ou gibo de couro, feita por vaqueiros que
passam a tradio de pai para filho. Essa vestimenta inclui chapu, guarda-peito, luvas,
perneiras, todos feitos artesanalmente em couro, utilizados como proteo contra os espinhos
da Caatinga e possveis surpresas que podem encontrar.

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2. O semirido nordestino e o seu potencial


A convivncia com o semirido um modo de vida e produo que respeita os
saberes e a cultura local e, utilizando tecnologias e procedimentos apropriados
ao contexto ambiental e climtico, constri processos de vivncia na diversidade
e harmonia entre as comunidades, seus membros e o ambiente, possibilitando
assim uma tima qualidade de vida e permanncia na terra, apesar das
variaes climticas. (IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuria
Apropriada).
O semirido nordestino, ou o Domnio da Caatinga, ainda hoje tem seus
potenciais subestimados e comumente atrelado a uma imagem distorcida de
improdutividade e condies ambientais adversas, veiculada, principalmente, atravs dos
grandes meios de comunicao.
Ao contrrio dessa imagem difundida pela mdia, as caractersticas do semirido
apresentam diversas possibilidades de produo e apropriao desta regio pelas
comunidades, desde que sejam aplicadas prticas de um manejo ambiental adequado e
atividades econmicas compatveis com as suas condies climticas, principalmente em
funo da irregularidade pluviomtrica, levando em conta tambm a sua dinmica
hidrolgica e as condies do solo (pedologia da regio).
Entre estas prticas destaca-se a agricultura de sequeiros, que consiste na
produo viabilizada apenas com a gua da chuva, independente de projetos de irrigao.
Alm disso, so utilizadas plantas nativas e prticas agrcolas menos agressivas ao solo,
evitando seu empobrecimento e processos erosivos.

A Agricultura de Sequeiros colocada em prtica na maioria das vezes, atravs da


policultura de orgnicos, ou seja, uma produo agrcola de culturas diversificadas e
que possibilita um maior aproveitamento das qualidades pedolgicas da regio, j que
no utilizam agrotxicos e substncias agressivas ao solo.

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Ao contrrio do que se imagina, o solo do semirido apresenta, em sua maior


extenso, grande quantidade de nutrientes necessrios para atividades agrcolas. O que
tem ocorrido um desgaste gradual deste solo, atravs de prticas agrcolas inadequadas.
O beneficiamento da pequena produo agrcola tambm fundamental. Essa produo
tem um importante papel no abastecimento da regio, j que o mercado interno depende,
essencialmente, dos pequenos produtores, sabendo-se que a agricultura irrigada ,
sobretudo, voltada para o mercado externo.
Para o funcionamento adequado da Agricultura de Sequeiros necessrio tambm
prticas de captao e aproveitamento da gua da chuva e do subsolo (para que o
pequeno agricultor consiga produzir mesmo em perodos de estiagem). Estas prticas so
viabilizadas atravs de cisternas e poos, desde que sejam construdos em locais
apropriados.
Outra prtica que representa um aproveitamento das potencialidades do semirido
a formao dos Fundos de Pasto, que consiste na utilizao coletiva de reas para a
agricultura familiar e criao de caprinos.
Estas prticas de manejo ambiental adequadas s condies do semirido j so
amplamente utilizadas por grande parte dos pequenos produtores da regio, muitas vezes
atravs de pequenas propriedades de agricultura familiar. Elas se contrapem ao modelo
de desenvolvimento das grandes empresas multinacionais, que expandem suas reas de
cultivo agrcola, atravs dos latifndios e das monoculturas, para que possam produzir
cada vez mais para o mercado externo, mecanizando o campo e utilizando prticas
agrcolas agressivas ao solo.
Vale lembrar que o potencial da regio no est ligado apenas s suas condies
de produo, mas, sobretudo, pela diversidade e riqueza cultural do seu povo. Sua
expresso se revela seja na culinria ligada s frutas e produtos locais como umbuzada,
carne-do-sol com piro de leite, cuscuz, beiju, canjica seja no artesanato como
cestarias, rendas, trabalhos feito em couro, xilogravura , na msica, nas brincadeiras de
roda e em outras inmeras manifestaes culturais. Tais manifestaes reforam as
potencialidades da Caatinga e de seu povo e atestam a sua importncia para a construo
de uma identidade regional e, inclusive, nacional.
O termo latifndio utilizado para designar extensas reas rurais pertencentes grandes
produtores que, geralmente, direcionam sua produo para atender o mercado externo. Este
tipo de propriedade surgiu no Brasil junto com o processo de colonizao do seu territrio
(ligado ao modelo plantation) e, desde ento, vem produzindo diversos conflitos decorrentes
da distribuio desigual de terras. Atualmente esse processo de concentrao de terras vem se
intensificando com a modernizao da agricultura e a ampliao do agronegcio.

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3. Aspectos Naturais
Como o clima interfere na dinmica do semirido nordestino?
Vrios fatores so responsveis pela formao da regio semirida no Brasil. O
clima semirido resultado, essencialmente, da interao entre as massas de ar que
influem na regio, o seu relevo e sua posio geogrfica. Estas variveis ocasionam uma
variabilidade sazonal das chuvas na regio.
Apesar do ndice pluviomtrico em alguns lugares da Caatinga ultrapassar 1500
mm anuais, em grande parte dessa regio o ndice no chega a 700 mm e, em outros
pontos, no passa de 450 mm anuais. Essas regies onde a quantidades de chuvas muito
baixa constituem o chamado polgono da seca e as condies pluviomtricas de tais
regies dificultam as prticas de agricultura e pecuria. A perda de gua por evaporao
nesta rea muito grande, sendo maior do que a quantidade de chuva precipitada. Por
conta disso, a regio semirida apresenta as maiores mdias trmicas do pas, acima de
26C.
Alm da distribuio irregular das chuvas, as irregularidades sazonais tambm
influenciam na dinmica do semirido. Poucos meses concentram quase toda chuva do
ano. O tempo de permanncia sem chuvas varia de 6 a 9 meses ou mais, na Caatinga.
Alm disso, as chuvas possuem caractersticas torrenciais, causando desequilbrios
ambientais, como forte processo erosivo. Segundo os gegrafos Sueli Angelo Furlan e
Jos Bueno Conti (2009), so grandes quantidades concentradas em pouco tempo.
So inmeras as causas da semiaridez da Caatinga. Todavia, ainda no possvel
explicar com exatido todos os processos dos quais resulta esse cenrio. Sabe-se que o
relevo, as caractersticas da dinmica atmosfrica regional, os fortes ventos alsios que
no trazem umidade regio e a perda por evaporao so fatores de suma importncia
que ajudam a explicar o clima da regio.
importante destacar que, apesar da irregularidade das chuvas, a Caatinga possui
perodos de grandes ndices pluviomtricos, durante os quais possvel, atravs de
sistemas de captao, armazenar a gua da chuva para os perodos de estiagem.

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verdade que o solo da Caatinga improdutivo?


Os solos da Caatinga so diversificados, podendo existir mais de um tipo em uma
mesma regio. Alm disso, possuem tambm uma grande quantidade de minerais bsicos

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para diferentes culturas. Isso ocorre, principalmente, por causa dos baixos ndices
pluviomtricos da regio, que dificultam o desgaste/eroso do solo e, conseqentemente,
a perda dos seus nutrientes. Os solos que possuem excesso de sais tambm podem ser
utilizados, desde que sejam efetuadas tcnicas de correo e de melhoria na sua
capacidade de drenagem.
Para efeito de comparao: o solo da regio semirida perde menos sais e
nutrientes do que o solo da regio amaznica (que se desgasta por conta da lixiviao
causada pelas chuvas intensas). Portanto, os solos da Caatinga so frteis, desde que
sejam utilizadas prticas adequadas de manejo. Essa situao fica ainda mais ntida
quando se observa que mesmo depois de longos perodos de seca, a vegetao
rapidamente se renova aps uma chuva, tomando um aspecto verde. Isso demonstra o
potencial agricultvel da Caatinga.
As formaes do relevo
A regio semirida nordestina composta por
dois grandes planaltos principais, Borborema e as
chapadas da bacia do Rio Parnaba. Alm disso,
encontram-se tambm regies de maior altitude,
com destaque para a Chapada Diamantina e a
Chapada do Araripe. Dentro desse domnio h
uma grande diversidade de formas e estruturas do
relevo, no qual se pode evidenciar desde
chapadas com formato tabular a depresses
interioranas que, segundo o gegrafo Jurandyr
Ross (1985), so denominadas depresses
Sertaneja e do So Francisco. Na poro central do estado da Bahia, o planalto da
Chapada Diamantina destaca-se com a sua beleza e diversidade, onde a altitude passa dos
1000 metros.
Algumas reas mais midas, denominadas brejos, aparecem s vezes na Caatinga, localizando-se em algum vale fluvial mido ou, principalmente, em trechos de
maior altitude. Nesses locais, a ocupao humana caracterizada, desde a poca
colonial, pelo desenvolvimento da pecuria extensiva de corte. (VESENTINI,
2003, p. 268)
Aos poucos se percebe que a populao da regio adapta suas atividades de acordo com as potencialidades de cada rea hidrolgicas, topogrficas, climticas dentro
deste domnio morfoclimtico diversificado. Trata-se de um equilbrio dinmico buscado
por aqueles que dependem da Caatinga para a sua subsistncia.

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4. A importncia da gua no domnio da Caatinga


A gua um elemento natural insubstituvel para o homem, mas sua distribuio
no planeta no ocorre de maneira uniforme. No caso da Caatinga, o grande problema se
d no pela falta de chuvas, mas sim pela sua distribuio irregular. Isso ocasiona
estiagens prolongadas e um grande nmero de rios intermitentes, ou seja, que no
possuem um fluxo de gua contnuo. Quando isso acontece, o sertanejo, por vezes, se v
condicionado a caminhar muitos quilmetros a procura de gua.
A difuso de cisternas para captar a gua da chuva um importante avano com o
qual as famlias nordestinas contam para garantir gua no perodo de seca. O aude
outra maneira de combater a seca, matando a sede e necessidades de homens e animais.

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No entanto, os audes secam rapidamente no perodo de estiagem, devido ao


grande ndice de evaporao. Alm disso, a gua que os sertanejos dispem para
consumo, muitas vezes salobra e lamacenta, imprprias para o consumo humano.

Em meio a tantos rios intermitentes, por que o So Francisco perene?


O Velho Chico, como comumente chamado o Rio So Francisco, tornou-se um dos
principais smbolos do Domnio da Caatinga, mas importante lembrar que ele no percorre
apenas parte do semirido nordestino, pois sua nascente est localizada na Serra da Canastra,
em Minas Gerais. Por sua nascente se localizar em rea de maior umidade e maiores ndices
de precipitao daqueles normalmente, encontrados do semirido, torna-se possvel a
continuidade do fluxo de gua, mesmo em perodos de estiagem na Caatinga, o que faz com
que o So Francisco seja classificado como rio perene.

O problema de captao e armazenamento de gua para os perodos de estiagem


seria, certamente, minimizado se fosse aliada a construo de cisternas e audes ao
potencial hidrolgico do subsolo em algumas reas da regio. Para isso, seria necessrio
arcar com os custos para aberturas dos poos, bem como de uma fonte de energia para
extrair essa gua. O importante perceber que as tcnicas criadas para solucionar a
questo esto vinculadas, tambm, ao interesse poltico e econmico dos grandes agentes
que interferem na dinmica da regio. No se pode esperar apenas uma soluo tcnica
para uma realidade que depende, em muito, de um esforo poltico crtico para repensar o
desenvolvimento da regio.
O que significa a transposio do Rio So Francisco?
Para entender melhor sobre a transposio, preciso listar algumas caractersticas
da Bacia Hidrogrfica do So Francisco. Ela uma das principais bacias hidrogrficas
brasileiras (e totalmente nacional), percorrendo uma rea de 2.830 km, abrangendo terras
de seis estados, sendo eles: Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Gois e Minas Gerais,
alm do Distrito Federal.
Ela uma bacia muito importante para os nordestinos, pois abrange a rea mais
seca do pas, o semirido. No entanto, existem reas desta regio que no so banhadas
por nenhum rio permanente, tornando-se ainda mais ridas. Nessas reas a populao
pobre tem de buscar outras formas de manter sua subsistncia.
O projeto de transposio do rio So Francisco surge nesse contexto, sob o rtulo
de uma possvel soluo para o problema dos perodos de estiagem no semirido. Ele
consiste em transpor parte da gua do rio atravs de dois canais, que totalizam 700
quilmetros de extenso para os estados do Rio Grande do Norte, Paraba e Cear, alm
de reas semiridas de Alagoas, Pernambuco e Sergipe e assim irrigando a regio
semirida do Nordeste brasileiro.

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O projeto foi elaborado pelo Governo Federal, nomeado de Projeto de Integrao


do Rio So Francisco com Bacias Hidrogrficas do Nordeste Setentrional e est sob
responsabilidade do Ministrio da Integrao Nacional MI.
Observa-se na Figura 1 a extenso do rio
principal e que a maior parte da sua bacia est
em Minas Gerais, Pernambuco e Bahia. Na
Figura 2 pode-se observar onde sero
construdos os canais da transposio, por onde
passaro e a integrao desses canais com outros
rios, da advm o nome do projeto.
Os idealizadores do projeto alegam que a
transposio ir melhorar a qualidade de vida da
populao mais pobre da regio semirida, por
que garantiria a disponibilidade de gua nos
perodos de seca.

Mas o que no divulgado na grande mdia que o custo desta transposio


supera R$ 4,5 bilhes, abrangendo somente 5% do territrio e 0,3% da populao do
semirido brasileiro. A obra ainda ir afetar intensamente o ecossistema ao redor de todo
o rio So Francisco, perenizando rios intermitentes, o que afetar as populaes
ribeirinhas que dependem dos perodos de vazante para suas atividades de subsistncia,
alterando a biodiversidade e a dinmica da fauna local. Vale lembrar que a percentagem
de gua desviada para o uso domstico, voltado para a populao pobre muito reduzida
se comparada ao volume de gua disponibilizado para as grandes extenses de
fruticultura irrigada, pertencente aos projetos do agronegcio. Afinal, para quem feita a
transposio?

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Voc sabia?
O Rio So Francisco tambm conhecido como o Nilo Brasileiro, pois ambos passam em
reas de clima semirido, sendo de grande importncia para a populao que vive prxima s
suas margens.

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5. O bioma Caatinga
A Caatinga, alm da classificao de Domnio Morfoclimtico, tambm um dos
principais Biomas brasileiros. Constitui-se, principalmente, de plantas xerfilas que se
adaptam facilmente aridez. J foram identificadas cerca de 600 espcies, em um total de
1.356 tipos de plantas. um bioma especial e caracterstico da biodiversidade brasileira.
Suas rvores geralmente perdem as folhas na estao seca o que confere um aspecto
cinzento a toda paisagem. Muitas de suas rvores so lenhosas, o que representa uma
potencialidade para fornecimento de madeira de boa qualidade, destacando-se entre elas o
Blsamo, a Caraibeira, o Pau d'arco, a Canafstula e Aroeira.
Nesse bioma destaque especial dado ao Juazeiro, rvore que, simbolicamente,
representa a resistncia ao clima semirido da Caatinga, mantendo suas folhas mesmo
nos perodos de estiagem. Isso ocorre por que o Juazeiro possui razes muito longas, o
que possibilita a captao de gua do subsolo. Caracterizam ainda o Bioma Caatinga os
Umbuzeiros, a Mandioca e os Cactos, a exemplo do Mandacaru.

Impactos ambientais na Caatinga


A Caatinga atualmente apresenta metade de sua cobertura vegetal devastada. De
acordo com pesquisadores, a principal causa da destruio do bioma da Caatinga deve-se
a retirada da mata nativa para ser convertida em carvo e lenha destinados a plos
cermicos no Nordeste e a reas siderrgicas em Minas Gerais e Esprito Santo. H
tambm outros fatores, como expanso de rea para bicombustveis e pecuria bovina.

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Algumas das conseqncias do desmatamento so:


desertificao Refere-se diretamente a retirada da mata nativa e do manejo inadequado
do solo. As reas afetadas, portanto, apresentam, entre outras caractersticas, solos
improdutivos e escassez hdrica.
assoreamento de rios e riachos Esse fato ocorre em virtude da retirada da vegetao dos
solos, principalmente quando ocorre nas matas ciliares (vegetao presente nas margens
dos rios). Com o desmatamento, o solo desnudo fica frgil, se tornando mais vulnervel a
ao das guas e os ventos que ocasionam desgaste e transporte dos seus sedimentos.
Dessa forma ocorre a reduo da profundidade e velocidade dos rios afetados.
perda de biodiversidade A perda gentica, que ocorre em funo da devastao,
impossibilita o maior conhecimento de espcies nativas e, no caso da flora, terem seus
usos potencializados, como, por exemplo, no setor farmacutico ou na agricultura.
Uma das polticas de combate a esse processo de devastao pode ser realizada a partir
do reflorestamento. De acordo com a cientista florestal Gerda Nickel Maia o
reflorestamento, ou seja, a restaurao da floresta destruda ou degradada significa, na
verdade, recompor toda essa comunidade com suas inmeras formas de vida e interaes
entre elas.
bem verdade que, atualmente, a prtica do reflorestamento no se d nos moldes
indicados pela autora, pois o que acontece, de fato, o uso do termo para outros fins,
como, por exemplo, plantao de apenas uma espcie vegetal (monoculturas) e sua
explorao econmica atravs da madeira e da celulose, atividade esta tambm chamada
de Silvicultura.
REFLORESTANDO A CAATINGA
Demarcar a rea a ser reflorestada e, quando estiver em meio a pastagens, isol-la do
gado.
Escolher espcies adaptadas regio do plantio.
Observar o clima, o solo e usos anteriores da terra, para ver se necessrio aplicar
fertilizantes para facilitar o crescimento das mudas plantadas.
Utilizar em torno de 50% de espcies pioneiras, aproveitando suas caractersticas de
rpido crescimento para fazer sombra para outras espcies. Ex. Angico, catingueira,
cumaru, faveleiro, imburana.
Privilegiar o uso de rvores frutferas, com o objetivo de atrair a fauna.
Diversificar ao mximo as espcies plantadas, para chegar o mais prximo possvel
do ambiente natural.
Quando possvel, plantar em linha e colocar estacas, para facilitar futuros trabalhos de
manuteno das mudas plantadas.
Proceder ao replantio das espcies j extintas.
Realizar limpezas de manuteno (roadas e coroamento) at o 3 ano aps o incio
do plantio.
Fonte: adaptada de www.apremavi.com.br

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Voc sabia?
A nossa Constituio protege alguns biomas, porm, a Caatinga ficou de fora.
Percebam no Artigo 225./ Pargrafo 4:
Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e
coletividade o dever de defend-lo e preserv- lo para as presentes e futuras geraes.
4 - A Floresta Amaznica brasileira, a Mata Atlntica, a Serra do Mar, o Pantanal MatoGrossense e a Zona Costeira so patrimnio nacional, e sua utilizao far-se-, na forma da
lei, dentro de condies que assegurem a preservao do meio ambiente, inclusive quanto ao
uso dos recursos naturais.
Obs.: Existe hoje um processo em andamento no Senado para a incluso deste Bioma nas leis
de preservao ambiental.

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Bibliografia sugerida

Os Domnios de Natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas Obra do


reconhecido gegrafo Aziz Ab' Saber, na qual o autor analisa o espao territorial
brasileiro, tendo como fundamento o que o mesmo denomina de domnios paisagsticos.
Obra essencial para a compreenso do tema por parte de todo e qualquer interessado.
Educao no contexto do semi-rido brasileiro Para aqueles que desejam conhecer
mais sobre o tema, o livro est repleto de artigos onde a relao entre educao e a
convivncia com o semi-rido ressaltada.
Para uma Geografia Crtica na Escola - Conjunto de textos reunidos pelo Gegrafo
Jos William Vesentini, na qual o mesmo aborda a questo do ensino da geografia em
uma perspectiva crtica, propondo questes para se pensar em uma geografia escolar mais
ativa e preocupada com o senso de cidadania dos educandos.
Tempo e Clima no Brasil - Essa obra ao abordar os sistemas de tempo atuantes no Brasil
atrelado com as variaes climticas vem fornecer um timo material para pesquisadores
da rea. Questes que se destacam hoje na temtica ambiental como as mudanas
climticas tambm so aqui levantadas.
Para ensinar e aprender Geografia Obra muito importante para todos aqueles
docentes que tentam levar sala de aula uma geografia mais coerente, onde o ensino se
realize de forma mais construtiva tanto para o aluno, quanto para o professor.
Olhe na rede: Instituto regional da pequena agropecuria apropriada. www.irpaa.org
Voc sabia?
O cordel um tipo de literatura popular impressa e divulgada em folhetos ilustrativos.
Recebeu este nome em Portugal, porque, era comercializado normalmente em praa pblicas
e expostos presos a cordes. Os autores normalmente usam esta poesia para falar
humoristicamente de acontecimentos do cotidiano do serto, como festas, poltica, disputas,
milagres, vida dos cangaceiros, seca, dentre outros.

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Bibliografia consultada
AYOADE, J. O. Introduo climatologia para os trpicos. 3. Ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1991.
AB'SABER, Aziz Nacib. Os domnios de natureza no Brasil: potencialidades
paisagsticas. So Paulo, SP: Atelie Editorial, 2003.
MAIA, G. N. Caatinga: rvores e arbustos e suas utilidades. 1. ed. So Paulo:D&Z
computao grfica e Editora, 2004.
MENDONA, F. Geografia fsica: cincia humana? 7 ed. So Paulo, SP: Contexto,
2001.
MENDONA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Ins Moresco. Climatologia noes
bsicas e climas do Brasil. So Paulo: Oficina de Textos, 2009.
MUNHOZ, C. Transposio do Rio So Francisco: salvao ou equvoco? Portal
Educacional,
2005.
Disponvel
em
<http://www.educacional.com.br/noticiacomentada/051007not01.asp> Acesso em 25 de
maro/2011.
ROSS, Jurandyr L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. So Paulo: Edusp,2009.
SENE, E.; MOREIRA, J. C. Geografia geral e do Brasil: espao geogrfico e
globalizao. So Paulo, Scipione, 1998.
VESENTINI, J. W. Geografia Srie Brasil. 1 ed. So Paulo: Editora tica, 2003.
ALBUQUERQUE, M. A.; BIGOTTO, J. F.; VITIELLO; M. A. Geografia Sociedade e
Cotidiano. 1 ed. So Paulo: Escala Educacional, 2010.

Revista Orbis Latina, vol.5, n1, janeiro-dezembro de 2015. ISSN: 2237-6976

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ABC do Serto
Luiz Gonzaga
(Composio: Z Dantas e Luiz Gonzaga)
L no meu serto pros caboclo l
Tm que aprender um outro ABC
O jota ji, o le l
O sse si, mas o rre
Tem nome de r
O jota ji, o le l
O sse si, mas o rre
Tem nome de r
At o ypsilon l pissilone
O eme m, O ene n
O efe f, o g chama-se gu
Na escola engraado ouvir-se tanto ""
A, b, c, d,
F, gu, l, m,
N, p, qu, r,
T, v e z
Ateno que eu vou ensinar o ABC
A, b, c, d, e
F, gu, ag, i, ji,
ka, l, m, n, o,
p, qu, r, ci
T, u, v, xis, pissilone e Z

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Riacho do Navio
Luiz Gonzaga
(Composio: Luiz Gonzaga e Z Dantas)
Riacho do Navio
Corre pro Paje
O rio Paje vai despejar
No So Francisco
O rio So Francisco
Vai bater no meio do mar
O rio So Francisco
Vai bater no meio do mar
Ah! se eu fosse um peixe
Ao contrrio do rio
Nadava contra as guas
E nesse desafio
Saa l do mar pro
Riacho do Navio
Saa l do mar pro
Riacho do Navio
Pra ver o meu brejinho
Fazer umas caada
Ver as "peg" de boi
Andar nas vaquejada
Dormir ao som do chocalho
E acordar com a passarada
Sem rdio e nem notcia
Das terra civilizada
Sem rdio e nem notcia
Das Terra civilizada.

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Alma do Serto
Luiz Gonzaga
(Composio: Adaptao Renato Murce)
Ai como bonito a gente ver
Em plena mata, o amanhecer
Quando amanhece
At parece que o serto
Com alegria
Vai despedindo a escurido
E a passarada
Em renovada, to contente
Alcana o espao
Num grande abrao a toda gente
Quando amanhece
O sol aparece em seu esplendor
Secando o orvalho
Faz da campina, imensa flor
Sai o caboclo
Levando ao ombro, o enxado
Vai pra roa
Donde ele tira o ganha po
Quando amanhece
Ao despertar de um novo dia
A natureza
Traz para a mata a alegria
E tudo muda
Com a chegada dessa hora
Cantando todos
Em louvor nova aurora

Recebido em 15/10/2014
Aprovado em 31/10/2014

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